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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA

KEYLON VICENTE GOMES DE ANDRADE

A VERDADE NA PROPAGANDA ELEITORAL:


FAKE NEWS​ E MENTIRAS TELEVISIONADAS NO 2º TURNO DA ELEIÇÃO
PRESIDENCIAL DE 2018

Recife
2019

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA

KEYLON VICENTE GOMES DE ANDRADE

A VERDADE NA PROPAGANDA ELEITORAL:


FAKE NEWS​ E MENTIRAS TELEVISIONADAS NO 2º TURNO DA ELEIÇÃO
PRESIDENCIAL DE 2018

Monografia apresentada ao Departamento de


Comunicação Social do Curso de Publicidade e
Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco,
como requerido obrigatório para a obtenção do Título de
Bacharel em Publicidade e Propaganda, sob orientação
do Prof. Dr. Rogério Luiz Covaleski.

Recife
2019

2
FOLHA DE APROVAÇÃO

KEYLON VICENTE GOMES DE ANDRADE

A VERDADE NA PROPAGANDA ELEITORAL:


FAKE NEWS​ E MENTIRAS TELEVISIONADAS NO 2º TURNO DA ELEIÇÃO
PRESIDENCIAL DE 2018.

Monografia apresentada ao Departamento de


Comunicação Social do Curso de Publicidade e
Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco,
como requerido obrigatório para a obtenção do Título de
Bacharel em Publicidade e Propaganda, sob orientação
do Prof. Dr. Rogério Luiz Covaleski.

Banca Examinadora:
Prof. Dr. Rogério Covaleski (UFPE)
Assinatura: _________________________
Prof. Dr. André Vouga (UFPE)
Assinatura: _________________________
Emanuel Veiga (Prefeitura de Igarassu)
Assinatura: _________________________

Recife
2019

3
O súdito ideal do governo totalitário não é o nazista convicto nem o comunista convicto, mas
aquele para quem já não existe a diferença entre o fato e a ficção.
(Hannah Arendt)

4
AGRADECIMENTOS

Ao meu pai e minha mãe, que serão para sempre o meu maior exemplo, meu principal
alicerce e a minha grande motivação. Cada sonho e cada realização é fruto do carinho e apoio
incondicional que recebo deles.
À Caio Gomes, Ketily, Igor, Bella, Day Duarte e Bia Calado, gente com quem tenho a
sorte de compartilhar tantos momentos felizes por tanto tempo. A Leo, Pedro, Cegala,
Anderson, Guta, Caio e Marília por colocarem tantos sorrisos no meu rosto nestes quatro anos
de CAC. A todos os amigos e famílias que encontrei no mercado publicitário. À Pamela
Acioli, por toda a parceria e por todo o amor.
Para falar a verdade, e tendo honestidade como matéria deste trabalho acredito que
seja essencial, estou sendo breve porque me faltam palavras que consigam expressar todo o
meu agradecimento. Sem dúvida sou também (e muito!) grato a tantas outras pessoas. Para
cada um que me guiou nesta jornada, me deu uma oportunidade, me fez crescer, me
aconselhou, me ensinou e me ajudou a aprender: meu muito obrigado.

5
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar como programas políticos feitos para
televisão e exibidos no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) do segundo turno
da eleição presidencial brasileira de 2018 refletem o cenário atual do marketing político no
contexto global da era da pós-verdade. A análise dos programas de Jair Bolsonaro (Partido
Social Liberal) e Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores) tem o propósito de observar e
registrar a utilização das seguintes técnicas de propaganda política: difusão de diferentes tipos
de mentiras, reivindicação do monopólio da verdade, disseminação de notícias falsas e até
mesmo denúncias contra tais notícias.

Palavras-chave​: ​Fake news​, Marketing Político, Eleições, Horário Gratuito de Propaganda


Eleitoral, Televisão.

6
ABSTRACT

The present work aims to analyze the political campaign ads made for television and shown
during the second round of the brazilian’s 2018 presidential election reflects the current
scenario of political marketing in the global context of the post-truth era. The object of the
analysis of the run-off between Jair Bolsonaro and Fernando Haddad is how different types of
lies, fake news spread and even denunciations against such news was used as propaganda
strategy.

Keywords​: Fake News, Political Consulting, Elections, Party Political Broadcast, Television.

7
SUMÁRIO

1. ​INTRODUÇÃO​……………………….………………………….……………………. 09

2. A ERA DAS ​FAKE NEWS​……………...……………………………………………….​1​4


2.1. ​Definições​……………….…………………………………...….…….……........19
2.2. ​Putin e a propaganda russa: uma torrente de mentiras​……….…….…….....22
2.3. ​Sem precedentes: eleição americana e governo Trump​…………....………....24
2.4. ​Eleições brasileiras de 2018: as mentiras e o mito​...........…..…...…..………...27
2.4.1 ​Fake News​ favoráveis a Jair Bolsonaro…..………....……..………..…....28
2.4.2 ​Fake News​ favoráveis a Fernando Haddad……...……...………….…......31

3. SEGUNDO TURNO: ANÁLISE DO HGPE​……………………………...…………....34


3.1 Dia 12/10 – Foro de São Paulo e a suástica​….…......……...….....………........36
3.2 Dia 13/10 – ​Fake news​ ​e kit gay​…….…..…..………………….....…..….........40
3.3 Dia 15/10 –​ ​Disputa de verdades: da tevê aos tribunais​……………...……...43
3.4 Dia 16/10 –​ ​Tortura e comparações​……………….………..........….…...........45
3.5 Dia 17/10 – Os donos da verdade​…….…………....………...…...….…….......49
3.6​ ​Dia 18/10 – Decisão do TSE e José Dirceu​..…...….……………..…….….......50
​ …………......…...…........51
3.7 Dia 19/10 – Nordeste e o escândalo do ​Whatsapp…
3.8 Dia 20/10 – Repercussões​……………….…...…………..………...….….….....54
3.9 Dia 22/10 –​ ​Escândalo do ​Whatsapp​: disputa de narrativas​...........................55
3.10 Dia 23/10 – Herzog e escândalo do ​Whatsapp.​ ...…..…….….…..…………..58
3.11 Dia 24/10 – Mulheres e ​dog-whistle.​ ...………...………...…..…..…………....58
3.12 Dia 25/10 – Farc, o pior prefeito do Brasil, kit gay e ateísmo​……………...60
3.13 Dia 26/10 – O último dia​……….……...……..….........…………...….……....66
3.14 Inserções​….………....….…..………..……….………………...….………......67

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS​…………..………………………………………………..71

8
1. INTRODUÇÃO

Todos mentimos. A mentira faz parte do nosso dia a dia e isso não acontece à toa. Foi,
em parte, graças à mentira que o ser humano conseguiu se adaptar para uma vida em
sociedade e desenvolveu tarefas, políticas e até mesmo Estados gozando de uma relativa
harmonia junto aos outros seres humanos (SMITH, 2015, n.p). O historiador Yuval Noah
Harari (2015, n.p) conta que “um grande número de estranhos pode cooperar de maneira
eficaz se acreditar no mesmos mitos” e assim foram tecidas as grandes redes de cooperação
humana: baseando-se em mentiras bem contadas.
A palavra verdade remete ao conceito grego ​aletheia e esta definição implica conhecer
o ser das coisas como se apresentam, implica dizer como as coisas são. Mas o nosso conceito
de verdade também advém do conceito latino ​veritas,​ que remete às coisas que foram, que
investiga como as coisas se sucederam para entender como elas são. A verdade, portanto, é o
resultado do uso de nossas ferramentas investigativas para descobrir qual é a realidade
empírica. Claro que atualmente, com instrumentos sofisticados como as ciências, as análises
críticas e um verdadeiro mar de informações da era digital fica mais fácil supor que temos um
número maior de meios de descobrir a verdade. Porém, concomitantemente a esta evolução,
as ferramentas de deturpação dos fatos e propagação de mentiras também estão em constante
aperfeiçoamento.
Com o surgimento da publicidade moderna, surgiu também uma nova e eficaz maneira
de contar histórias e modificar a conduta das pessoas. Para potencializar o seu efeito de
persuasão, foram usadas desde o início muitas táticas mentirosas, exageradas e desleais para
vender produtos, serviços e até mesmo ideias. A venda desta última costuma ser chamada de
propaganda. O conflito entre a verdade e a mentira está presente em diversas áreas do
conhecimento, mas nos campos da comunicação – como a publicidade e a propaganda –
podemos ver uma evolução cada vez mais acelerada e com potencial devastador para a
sociedade.
A propaganda político-eleitoral, marketing político ou simplesmente propaganda
tornou-se através dos séculos uma ferramenta multifacetada essencial para a atividade política
em todo o mundo. Ela expõe políticas públicas para a população, serve a interesses tanto de
governos quanto de oposições, dissemina ideias de vários partidos e ideologias distintas e

9
mostrou-se parte vital para a manutenção das democracias liberais e estados sociais como
conhecemos. Mas a propaganda revelou-se também um mecanismo indispensável para a
manipulação e disseminação de ideias nocivas para sociedades democráticas. Assim como
para a ascensão e manutenção de governos autoritários. Noam Chomsky (2015) avisa que “A
propaganda política está para uma democracia assim como um porrete para um Estado
totalitário”. É através da propaganda política e de suas estratégias que grupos exercem
controle na população. Isso posto, este trabalho trata de uma das estratégias mais eficazes no
marketing político: a mentira.
O pesquisador francês Guy Durandin afirma que a mentira é provavelmente o
procedimento mais eficaz justamente porque “quando se tem êxito, passa despercebida” e, em
seu livro As Mentiras na Propaganda e na Publicidade (1997), analisa a publicidade e a
propaganda a partir de definições claras de verdade e mentira.

A mentira consiste em transmitir intencionalmente a alguém uma visão da realidade


diferente da que achamos verdadeira. Ela se define portanto em relação a verdade.
[...] Chamamos de conhecimento verdadeiro aquele mais fiel possível em relação à
realidade considerada, ou seja, que permite fazer previsões verificáveis.
(DURANDIN, 1997, n.p)

Muitos líderes carismáticos e partidos políticos ao longo da história não se importaram


em serem infiéis à realidade quando ela ia de encontro às suas ideologias. Muitos outros
utilizaram deliberadamente a mentira como instrumento político e de propaganda. No
próximo capítulo vamos tratar de alguns exemplos contemporâneos desse fenômeno – como
Vladimir Putin (Rússia) e Donald Trump (EUA) – e de como o atual contexto da mentira no
marketing político e na propaganda nacional e internacional traçou rumos para a eleição
presidencial brasileira de 2018. Precisaremos evidenciar o que é a “era da pós verdade” e qual
é a diferença do nosso momento histórico atual no que diz respeito ao uso da mentira como
estratégia de marketing político se comparado a períodos históricos anteriores. Analisaremos
também o confronto das duas principais candidaturas das eleições gerais brasileiras de 2018 –
Jair Bolsonaro e Fernando Haddad – e qual foi o papel da verdade, da mentira e do uso dessas
narrativas como estratégias de campanha de ambos os candidatos.
A eleição presidencial de 2018 no Brasil foi um fenômeno único. Houve uma grande
pluralidade de candidaturas, muitas delas novas na disputa pelo cargo mais alto do executivo e
defendendo uma verdadeira ruptura no sistema político vigente. O pleito foi palco de

10
reviravoltas históricas, como o registro e cassação da candidatura do ex-presidente Lula, que
ocupava então o primeiro lugar nas pesquisas eleitorais mesmo preso e inelegível de acordo
com a Lei da Ficha Limpa1 e também o atentado a faca contra o então candidato favorito na
disputa Jair Bolsonaro. Mas além disso, também foram consolidadas diversas novas
abordagens como estratégias de marketing político.
Durante todo o trabalho, usaremos a obra do autor Gaudêncio Torquato, Novo Manual
de Marketing Político (2014), para identificar as diferentes estratégias de marketing, os
discursos, as mobilizações, articulações e quesitos técnicos das campanhas. O livro será
essencial, também, para evidenciar possíveis estratégias inovadoras ou que contrariam o
consenso das pesquisas atuais sobre marketing político.
Notícias falsas, manipulação da verdade e disseminação de boatos são temas sempre
presentes em disputas eleitorais, mas nos últimos tempos elas foram extremamente ampliadas
com o uso das rede sociais e a ascensão, como defende artigo2 de Ethan Zuckerman3, das
chamadas “bolhas ideológicas”: cenários virtuais onde só existe diálogo com pessoas que
compartilham das mesmas visões políticas. As duas candidaturas vencedoras na disputa do
primeiro turno, de Jair Bolsonaro do Partido Social Liberal (PSL) e de Fernando Haddad do
Partido dos Trabalhadores (PT), focaram seu discurso para a própria bolha ideológica e
chegaram ao segundo turno com um desafio: transpor sua retórica da bolha para a massa.
Por um lado, a campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro não teve precedentes na história
brasileira. Por ter pouco tempo destinado à sua candidatura no Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral (HGPE) na televisão, desenvolveu uma campanha focada quase
exclusivamente na internet. Memes, correntes de ​Whatsapp​, videos amadores, ​tweets
provocativos e mensagens rápidas foram o que espalharam as propostas, ideias e críticas aos
concorrentes do candidato. Esta estratégia foi muito eficaz principalmente por ser baseada em
uma forte desconstrução da mídia tradicional (jornalismo e grandes veículos de comunicação)
e dos políticos tradicionais como detentores da verdade.

1
Lula está inelegível? Entenda a Lei da Ficha Limpa
<https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,entenda-a-lei-da-ficha-limpa,70002451466>
2
ZUCKERMAN, Ethan. ​Redes sociais criam bolhas ideológicas inacessíveis a quem pensa diferente​.
Disponível em:
<​https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/09/1920816-cada-macaco-no-seu-galho---zuckerman.shtml​>
Acesso em: 10 dez, 2018.
3
Diretor do Centro de Mídia Cívica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

11
Por outro lado, a campanha do PT no primeiro turno teve dois momentos distintos: um
em que defendia a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outro em que
focava na transferência dos possíveis votos de Lula para Fernando Haddad. Essa estratégia
eleitoral, que levou Haddad para o segundo turno, também foi marcada pela forte
desconstrução da mídia tradicional como detentora da verdade ao falar de perseguição
política, midiática e judicial4.
Podemos afirmar que a utilização de notícias falsas ou tendenciosas através das mais
diversas mídias5 teve grande impacto na polarização que criou o segundo turno das eleições,
como aponta um estudo6 do instituto de pesquisa em propaganda computacional da
Universidade de Oxford. “De um lado, apoiadores do PT estão martelando mais vezes as
mesmas fontes. Do outro, apoiadores do Bolsonaro compartilham notícias falsas em maior
amplitude e replicam quase todas as fontes identificadas como falsas”, afirma o estudo.
Porém, foi no segundo turno que os candidatos precisaram impreterivelmente conciliar
esse discurso a uma outra mídia: a televisão. Embora nesta eleição esse meio tenha tido que
ceder o seu protagonismo para as mídias sociais, ela é, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia
mais recente, o meio preferido de 63% dos brasileiros para se informar7. No cenário onde
ambos os candidatos compartilharam do mesmo tempo de HGPE, foi uma plataforma
importante para a disputa que deu a Jair Bolsonaro a vitória sobre Fernando Haddad.
Na eleição presidencial de 2018 o horário político da televisão foi palco para uma
disputa de narrativas políticas. Grande parte das discussões que dominaram as rede sociais,
pronunciamentos e entrevistas dos candidatos foram transportadas para o Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral, principalmente porque, pela primeira vez na história da Nova República
não aconteceram debates entre os candidatos que chegaram ao segundo turno. Os embates
entres os dois candidatos e seus discursos na televisão só puderam ser vistos no horário
eleitoral.

4
​CHAPOLA, Ricardo. ​Por que o PT não muda já de candidato, mesmo com Lula barrado​.
<​https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/03/Por-que-o-PT-n%C3%A3o-muda-j%C3%A1-de-candidat
o-mesmo-com-Lula-barrado​> Acesso em: 15 nov. 2018.
5
​BENITES, Afonso. ​A máquina de ‘fake news’ nos grupos a favor de Bolsonaro no WhatsApp​.
<​https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/26/politica/1537997311_859341.html​> Acesso em: 15 nov. 2018.
6
MACHADO, Caio et al. ​News and Political Information Consumption in Brazil: Mapping the 2018
Brazilian Presidential Election on Twitter ​<​https://comprop.oii.ox.ac.uk/research/brazil2018​> Acesso em: 15
nov de 2018.
7
​Pesquisa Brasileira de Mídia
<​http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/p
esquisa-brasileira-de-midia-pbm-2016-1.pdf​> Acesso em: 05/12/2018.

12
No terceiro capítulo analisamos, portanto, os programas eleitorais para televisão feito
por ambas as candidaturas no segundo turno da eleição presidencial brasileira de 2018. Essa
investigação busca não apenas evidenciar as técnicas de marketing político utilizadas pelas
peças publicitárias que foram ao ar do dia 12 de outubro ao dia 26 de outubro, mas também
fazer uma análise do discurso para examinar a presença de uma “disputa de verdades”, isto é,
o embate entre fatos e percepções que está tão presente no contexto da pós-verdade.
A análise do discurso dos programas eleitorais busca também evidenciar os diferentes
usos de ​fake news ​pelas campanhas de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. Tanto com a
finalidade de disseminar a notícia falsa para ganho político ou buscando desmenti-la e
combatê-la na plataforma do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, seja buscando com
isso ter algum ganho político ou apenas com o objetivo de minimizar os efeitos negativos das
fake news na corrida eleitoral. Para tanto, precisaremos, a partir de definições claras postas a
seguir, classificar os diferentes tipos de mentiras presentes nos vídeos do HGPE, bem como
evidenciar as suas finalidades no marketing político e no contexto específico da disputa
​ addad.
Bolsonaro ​versus H

13
2. A ERA DAS FAKE NEWS

Todas as eras da história humana foram eras de ​fake news​. Notícias falsas existem
desde que existem notícias, mentiras existem desde o início da comunicação humana e a
instrumentalização da mentira para atingir meios políticos e sociais existe desde a formação
das mais rudimentares instituições políticas e sociedades. Claro, o uso da mentira e de
narrativas sobre a verdade no marketing político, na propaganda eleitoral e nas comunicações
governamentais existem desde a aurora destes campos da comunicação. Embora seja repetido
à exaustão que o uso estratégico da mentira na comunicação é um advento do século XXI isto
é, bem, uma mentira.
Não à toa, Noah Harari (2018) chama o ​homo sapiens de “espécie da pós-verdade”,
um dos fatores essenciais para o triunfo da nossa espécie é “aceitar narrativas” e a história
vêm nos mostrando que relatos falsos têm uma vantagem intrínseca em relação à verdade
quando se trata de unir pessoas. Embora tenhamos um certo senso crítico que nos dispõe a ter
uma certa aversão a histórias muito mirabolantes, se a mentira tiver um pé na realidade, tem
muito mais facilidade – até mesmo que a verdade – de convencer pessoas. “Na prática, o
poder da cooperação humana depende de um delicado equilíbrio entre verdade e ficção”,
afirma o autor.
A propaganda política explorou e muito esta técnica de convencimento nas campanhas
eleitorais e na propaganda governamental. O presidente estadunidense de 1913 a 1921,
Woodrow Wilson, foi eleito com o slogan de campanha “Paz sem Vitória”, onde surfava na
onda do pacifismo americano da opinião pública na época que não queria se envolver na
Primeira Guerra Mundial. Noam Chomsky (2015) afirma que, já no cargo, o presidente usou
seu poder para criar uma comissão de propaganda e em apenas seis meses convencer a
população a entrar na guerra, através de várias técnicas de manipulação da verdade. Este
exemplo mostra como a instrumentalização da mentira pode ser usada não só para ganhar uma
eleição, mas também para governar.
Existe sempre uma maneira de justificar o uso da mentira para alguns, mesmo para os
que dizem ver nela um grande mal para a sociedade. Em ​A República​, de Platão, Sócrates
defende o seu princípio ético de que “A verdadeira mentira é igualmente execrada pelos
deuses e pelos homens”, mas também defende o uso da mentira para lideranças políticas, “Se

14
compete a alguém mentir é aos líderes da cidade no interesse da própria cidade, em virtude
dos inimigos ou dos cidadãos: a todas as demais pessoas não é lícito este recurso”.
Se quisermos nos focar na história brasileira, podemos ver sempre presente o uso de
mentiras para estratégia política e de marketing. O livro de Cristina Tardáguila e Chico Otávio
(2018) sobre as contradições dos últimos chefes de Estado brasileiro aponta diferentes vezes
que esses políticos mentiram para ganhar eleições ou durante seu governo. São vários os
exemplos.
Tancredo Neves mentiu a respeito do seu frágil estado de saúde na eleição indireta
para presidente e morreu sem assumir. O primeiro presidente eleito pelo voto direto após a
redemocratização, Fernando Collor de Mello, disse em sua campanha que “sem dúvida” não
tocaria jamais na poupança dos eleitores e no governo, instaurou o Plano Collor que congelou
por 18 meses a poupanças de muitos brasileiros. Seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso,
disse em sua campanha de reeleição que ao contrário do que muitos afirmavam, não haveria
política de desvalorização da moeda, mas pôs em prática e o real foi desvalorizado após sua
vitória. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua campanha vitoriosa em 2002,
defendeu sua eleição como uma maneira de acabar com a corrupção no governo, porém sua
presidência foi alvo de diversos escândalos de corrupção, como o mensalão.
É importante também salientar um exemplo mais recente, pois este trata do objeto
tratado aqui: o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral na TV. Na campanha à reeleição de
Dilma Rousseff em 2014, quando a candidata pelo PSB Marina Silva começou a ameaçar à
candidatura da petista, a então presidente fez uma campanha mais agressiva no HGPE. A
propaganda vinculava propostas da equipe de Marina como benéficas apenas aos banqueiros e
que as mesmas tirariam comida da mesa do povo. Dilma chegou a afirmar “Eu não tenho
banqueiro me apoiando e me sustentando” em alusão à evento que comemorava os 90 anos do
Banco Itaú onde o presidente do banco, Roberto Setúbal, defendeu a candidatura de Marina.
A irmã de Roberto, Neca Setúbal, apoiou Marina – inclusive financeiramente – em eleições,
como a de 2014. A verdade, porém, é que a candidatura de Dilma Rousseff foi a que mais se
beneficiou de verbas do setor bancário. Em um mês de corrida eleitoral, Dilma havia recebido
dos bancos R$ 15,8 milhões, mais que o dobro que a campanha do PSB, com R$ 6 milhões8.

8
<​https://veja.abril.com.br/politica/dilma-ataca-bancos-mas-e-a-favorita-do-setor-nas-eleicoes/​> Acesso em 16
de maio. 2019.

15
Depois de eleita, Dilma Rousseff nomeou o então diretor-superintendente do ​Bradesco Asset
Management​ Joaquim Levy para ser ministro da Fazenda.
Como podemos ver, as mentiras se mostram ainda atualmente muitas vezes intrínsecas
ao marketing, à comunicação governamental e também às campanhas eleitorais, embora seja
uma característica humana há muito tempo. O chanceler alemão Otto Von Bismarck chegou a
afirmar, no século XIX, que “Nunca se mente tanto quanto depois de uma caçada, durante
uma guerra ou antes de uma eleição”9. Então, o que há de tão diferente nos últimos anos que
fazem pesquisadores chamarem esta era, mais do que todas as outras, de era das ​fake news?​
A resposta parece ser o início da era digital no contexto da pós-modernidade. O uso
cada vez mais frequente de estratégias políticas mentirosas como ataques ao jornalismo,
divulgação de notícias falsas, visões idealistas de mentiras justificáveis e de heróis emissários
da verdade foi cultivado e retroalimentado na internet nas últimas décadas. Esse fenômeno é
especialmente prejudicial devido a atual condição sociocultural nas sociedades ocidentais: a
pós modernidade, onde há um certo rompimento da racionalidade como única possibilidade
de compreensão do mundo. Essa soma de fatores culminou na chamada Era da Pós Verdade.
Christian Dunker define a pós-verdade como uma espécie de segunda onda do
pós-modernismo, em que havia o relativismo cultural da verdade.

A versão contemporânea da pós verdade retoma, de maneira modificada, vários


aspectos pré-modernos da verdade, ou seja, uma verdade inflacionada de
subjetividade, mas sem nenhum sujeito. Uma verdade que é moralmente potente,
mas que não produz transformações éticas relevantes. Uma verdade que se confunde
com os processo sociológicos de individualização, com as prerrogativas estéticas do
gosto e com a força política das religiões (DUNKER, 2017, p. 18).

Para Michiko Kakutani, autora do livro A morte da verdade: Notas sobre a mentira na
era Trump (2018), essa ascensão da subjetividade, junto da espetacularização da
individualidade, foram fenômenos essenciais para o surgimento da pós-verdade. “Com a
adoção da subjetividade veio também uma diminuição da verdade objetiva: a glorificação da
opinião acima do conhecimento, das emoções acima dos fatos”, alerta a autora.
As tecnologias – como a TV, rádio e sobretudo as mídias digitais – tiveram papel
importante para esta cultura onde a opinião pública reage mais a apelos emocionais e crenças

9
"Die schönsten Zitate der Politiker​" - Página 192, Peter Köhler - Schlütersche, 2005.

16
subjetivas do que à informações verificáveis, resultados de pesquisas e à realidade objetiva. A
adequação às concepções individuais torna-se mais importante que a veracidade dos fatos.
Dunker (2017) defende a hipótese de que a pós-verdade nasceu em 2011 quando ficou
claro que o ataque americano ao Iraque era baseado em uma ficção: que o país tinha armas
químicas10. Mas que durante todo o tempo da invasão, grande parte da população americana e
mundial acreditava que o governo americano estava falando a verdade, baseando-se apenas
em opinião.
É importante evidenciar, portanto, a distinção da mentira antes e depois da
pós-verdade. Mentiras, manipulações e falsidades políticas não são o mesmo que a
pós-verdade, pois a novidade não é mais a desonestidade dos políticos, da publicidade, da
propaganda ou de instituições – pois como vimos isto sempre existiu –, a novidade está na
criação de uma cultura de verdades individuais onde cada grupo de pessoas decide no que vai
acreditar mesmo que essa crença não seja sustentada ou contrarie evidências empíricas. O
auto-engano e a credulidade cega sempre existiram, a novidade é uma cultura que valoriza a
subjetividade do indivíduo até mesmo na hora de determinar o que é verdade.

O argumento pós-moderno de que todas as verdades são parciais (e dependem da


perspectiva de uma pessoa) levou ao argumento de que existem diversas maneiras
legítimas de entender ou representar um acontecimento. Isso tanto encorajou um
discurso mais igualitário quanto possibilitou que as vozes dos outrora excluídos
fossem ouvidas. Mas também foi explorado por aqueles que quiseram defender
teorias ofensivas ou desacreditadas. (KAKUTANI, 2018, n.p).

Adam J. Butler afirma que na pós-verdade mentiras não apenas são acreditadas, mas
também propagadas e disseminadas, levando mais pessoas a acreditarem nela11. A ampliação
das técnicas de disseminação de informação em redes sociais amplifica esse problema,
principalmente levando em consideração que as pessoas estão, cada vez mais, se cercando em
“bolhas ideológicas”12 inacessíveis para quem pensa diferente. Renée DiResta, pesquisadora
que estuda o uso de mídias sociais para a propagação de desinformação, defende que essas

10

<​http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL270622-5602,00-ESTUDO+DIZ+QUE+BUSH+FEZ+AFIRMAC
OES+FALSAS+SOBRE+O+IRAQUE.html​> Acesso em 16 de maio. 2019.
11
BUTLER, Adam J. What could scientists do about ‘posttruth’? 2017, p. 01. Disponível em:
<https://www.sajs.co.za/article/view/3513/4375>. Acesso em 16 de maio. 2019.
12
ZUCKERMAN, Ethan. Redes sociais criam bolhas ideológicas inacessíveis a quem pensa diferente.
Disponível em:
<​https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/09/1920816-cada-macaco-no-seu-galho---zuckerman.shtml​>
Acesso em: 10 dez, 2018.

17
bolhas criam um mundo de comunidades isoladas que vivem e operam de acordo com seus
próprios fatos. “A internet não está mais apenas refletindo a realidade; mas sim moldando-a”,
afirma DiResta13.
Em 2016, o Dicionário Oxford (​Oxford Dictionaries)​ elegeu “pós-verdade”
(post-truth) como a palavra do ano, definindo-a como “aquilo que se relaciona ou que denota
circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública do
que os apelos à emoção e à crença pessoal”. Nesta década, muitos líderes políticos e
campanhas eleitorais usaram a mentira como estratégia de comunicação política e, como
vimos, o uso dessa tática nesta era de subjetividade pode ser ainda mais eficaz que em
qualquer outra época da história.
Neste contexto é que surgiu o termo “​fake news”​ para designar um tipo de conteúdo
pseudo jornalístico, uma nova distribuição deliberada de mentira como notícia. Este
neologismo foi criado pois o fenômeno, embora cheio de precedentes, torna-se
completamente novo dentro da conjuntura da pós-verdade. Um novo negócio formou-se na
internet e foi baseado completamente na criação de sites de notícias falsas que utilizavam
complexos algoritmos para a criação e viralização de textos absolutamente fictícios. Estes
textos utilizam do sensacionalismo e do clima de polarização na política para gerar tráfego no
seu site e ganhar dinheiro com a quantidade de cliques, como aponta vídeo da BBC14. Para
uma sociedade que vive cada vez mais em bolhas ideológicas, é muito fácil acreditar em uma
notícia falsa que confirma o viés do receptor.
Esse fenômeno de notícias falsas se tornou um problema ainda maior nos períodos
eleitorais, sendo usado por muitas campanhas, seja por criação da própria equipe de campanha
ou de apoiadores, como veremos a seguir. Muita campanha de marketing político – seja na
Rússia, na Inglaterra, nos EUA, no Brasil ou na Índia – utilizou das ​fake news como estratégia
para vencer eleições, mas esse não é o único problema. Todas elas utilizaram o ​embate às fake
news como um tipo de estratégia também. Essa estratégia consiste em apontar ​fake news e
outros tipos de mentiras dos adversários (mesmo quando eles estão falando a verdade), falar

13
DIRESTA, Renée. Social Network Algorithms Are Distorting Reality by Boosting Conspiracy Theories.2016.
Disponível em:
<https://www.fastcompany.com/3059742/social-network-algorithms-are-distorcing-relity-by-boosting-cospiracy-
theories>. Acesso em 16 de maio. 2019.
14
Disponível em:
<​https://www.bbc.com/news/video_and_audio/headlines/38919403/how-do-fake-news-sites-make-money​>
Acesso em 16 de maio. 2019.

18
que grupos de mídia são também propagadores de mentiras (mesmo sem provas para sustentar
a afirmação) e autointitula-se o emissário da verdade (mesmo propagando mentiras).

2.1 Definições

Como vimos, o uso da verdade e da mentira sempre foi questão central na publicidade
e também na propaganda. Mais do que um obstáculo para o consumidor ou cidadão conseguir
exercer seu papel de emissor da mensagem publicitária, a retórica mentirosa pode ser uma
estratégia muito eficaz de transmissão de mensagem e por isso existem mecanismos que
buscam localizar e exibir campanhas mentirosas, assim como punir seus patrocinadores e
divulgadores.
O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, por exemplo, rechaça a
mentira na publicidade já em seus princípios gerais. O 23º artigo defende “Os anúncios
devem ser realizados de forma a não abusar da confiança do consumidor, não explorar sua
falta de experiência ou de conhecimento e não se beneficiar de sua credulidade.”15, o que é
complementado pelo 27º artigo, que defende que informações estejam ancoradas em dados
comprobatórios.
Já especificamente para o marketing eleitoral, o Código Eleitoral Brasileiro deixa
claro em seu 84º artigo que contar mentiras na propaganda é ilegal.

Constitui crime, punível com detenção de 2 (dois) meses a um 1 (ano) ou pagamento


de 120 (cento e vinte) a 150 (cento e cinquenta) dias-multa, divulgar, na propaganda,
fatos que se sabem inverídicos, em relação a partidos políticos ou a candidatos,
capazes de exercer influência sobre o eleitorado (Código Eleitoral, art. 323)16.

Inclusive, como veremos em algumas disputas entre os candidatos, é atribuição do


Tribunal Superior Eleitoral averiguar denúncias sobre mentiras e irregularidades que chegam
ao seu conhecimento para verificação por parte dos órgãos de investigação, especialmente
Ministério Público Eleitoral e Polícia Federal. São diversas as mentiras e tipos de mentiras
denunciadas ao TSE no período das eleições e o pleito eleitoral de 2018 não foi diferente.

15
CONAR. Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Disponível em:
<​http://www.conar.org.br​>. Acessado em: 26 mar. 2019.
16
Código Eleitoral. Disponível em: <​http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737.htm​>. Acesso em: 26 mar.
2019.

19
Existem várias maneiras de classificar mentiras no marketing político, alguns autores
classificam por sua finalidade, outros pelo seu impacto e outros pela intenção do emissor. O
cientista político John Mearsheimer, autor do livro “Por que os líderes mentem: Toda a
verdade sobre as mentiras na política internacional” classifica as mentiras contadas na retórica
política em três categorias:

1. Mentira clássica: ocorre quando um líder político diz algo ciente da farsa e
espera que os demais acreditem na informação como se fosse a mais pura
verdade;
2. Distorção: ocorre quando o político enfatiza fatos a seu favor, ignorando ou
minimizando os que são contra seus interesses.
3. Ocultação: ocorre quando o líder omite um fato ou silencia sobre uma parte
importante do fato que está narrando ou argumento que está fazendo.

Essa diferenciação é adequada para a classificação as mentiras nas atitudes políticas e


também da comunicação governamental de diferentes líderes, porém, o intuito deste trabalho
é analisar o uso das mentiras como estratégia especificamente no marketing político-eleitoral,
por isso vamos recorrer a definição do sociólogo Guy Durandin, que foi um dos precursores
dos estudos da publicidade e propaganda utilizando a psicologia social.
Durandin (1997), em seu livro “As Mentiras na Propaganda e Publicidade”, evidencia
um número maior de classificações para as mentiras encontradas tantos nos anúncios quanto
nos discursos e campanhas políticas. Ele divide as mentiras em quatro tipos e também define
para elas três operações distintas e as aplica tanto na publicidade quanto na propaganda. Os
tipos de mentira são:

1. Mentiras a respeito de si mesmo: forja-se intenções, fatos e atos supostamente


feitos pelo emissor;
2. Mentiras a respeito do adversário: forja-se intenções, fatos e atos supostamente
feitos pelo inimigo político;
3. Mentiras a respeito do ambiente: forja-se uma narrativa enganosa sobre fatos, e
circunstâncias acontecendo no momento presente;

20
4. Mentiras referentes: invenção de fatos passados e revisionismos históricos,
assim como suposição de fatos futuros sem haver respaldo acadêmico para tal.

Essas mentiras podem ser operadas de diferentes maneiras em diferentes contextos. É


o que o autor chama de “diferentes transformações da realidade”. As distintas operações da
mentira são:

1. S​upressão: fazer acreditar que não existe uma coisa que existe. Aqui estão as
omissões, negações e manipulação de imagens;
2. Adição: fazer acreditar na existência de coisas que não existem. Aqui estão a
dissimulações, “embelezamento” e justificativas;
3. Deformação: Falar de uma coisa que existe mas caracterizando-a de modo
falacioso. Aqui estão as deformações de natureza quantitativa (exagerações
ou minimizações), qualitativas (mentira sobre identidade, característica ou
motivo), e pelo contrário (implicar falsamente uma característica sua ao
adversário).

Essa definição é essencial ​para efeito de elucidação deste trabalho. ​Partindo de


definições claras fica, portanto, mais fácil visualizar as mentiras na propaganda e de que
maneira elas foram usadas como estratégia de marketing político em diferentes circunstâncias,
incluindo no contexto da pós-verdade. Iremos evidenciar os seus usos no âmbito internacional
e especificamente no objeto do trabalho – o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral da
campanha política para presidente do Brasil em 2018 no segundo turno – nos próximos
capítulos.
O uso dos diferentes tipos de mentiras e de suas operações supracitadas é ainda mais
devastador nesta era onde há uma maior relativização dos fatos. Muitos líderes como
Vladimir Putin e Donald Trump, respectivamente na Rússia e nos Estados Unidos, souberam
utilizar esse cenário muito bem em sua comunicação governamental e em sua propaganda
eleitoral, criando táticas baseadas em mentiras que se valeram da fragilidade atual dos fatos e
do jornalismo para promover a sua imagem e suas ideias. Eles inspiraram muitos outros e,
portanto, entender o seus tipos de propaganda é essencial para compreender a conjuntura da
eleição brasileira de 2018.

21
2.2 Putin e a propaganda russa: uma torrente de mentiras

Muitos políticos em todo o mundo se beneficiam deste contexto da pós-verdade para


utilizar mentiras nas suas campanhas eleitorais e comunicações governamentais. A jornalista
Anne Applebaum aponta um grupo – que ela chama de ​neobolcheviques – como sendo
pessoas que mais conseguem usar o cenário atual para criar uma política populista baseada na
disseminação de desinformação. Seriam Donald Trump, nos Estados Unidos; Nigel Farage na
Grã-Bretanha; Marine Le Pen, na França, Jarosław Kaczyński na Polônia e Viktor Orbán, na
Hungria. Outros autores e pesquisadores apontam diferentes líderes no mundo como vozes da
era da pós-verdade. Desde ditadores como Xi Jinping, Nicolás Maduro e Mohammad bin
Salman, que utilizam suas máquinas estatais de controle midiático na China, Venezuela e
Arábia Saudita, a até líderes democráticos que utilizaram de ​fake news e estratégias
mentirosas nas suas campanhas eleitorais, como muitos apontam que foi o caso de Narendra
Modi, primeiro-ministro da maior democracia do mundo, a indiana, em 201917.
Porém, talvez nenhum líder tenha se valido tanto da era pós-verdade para usar
estratégias mentirosas nas propagandas de maneira tão eficaz como Vladimir Putin, presidente
da Rússia. Putin teve uma grande vitória eleitoral em 2018, com 76.89% dos votos válidos, o
que pode confirmar a sua alta popularidade, embora existam várias denúncias de fraude.
Kakutani (2018) afirma que um dos fatores para essa popularidade é a propaganda política
usada para confundir e exaurir o povo russo com uma torrente de mentiras.
Um relatório da ​Rand Corporation classifica a propaganda de Putin como “uma
mangueira de incêndio da falsidade (​firehose of falsehood)​ ”, pois consiste em um intenso e
ininterrupto fluxo de mentiras, meias-verdades, ​fake news e informações contraditórias com o
objetivo de esconder a verdade, sobrecarregar e confundir quem estiver tentando prestar
atenção18. É um tipo de propaganda que não está compromissada com a realidade pois sabe
que na nossa era a opinião tem, para muitas pessoas, mais valor que a realidade verificável. O
relatório afirma que na propaganda do governo russo liderado por Putin são criadas evidências
– como fotografias, reportagens, encenações com atores e etc. – e distribuídos em canais de
notícias dominados pelo governo como ​RT e ​Sputinik News que são “mais uma mistura de

17
<​https://www.bbc.com/news/world-asia-india-47797151​> Ac​esso em: 24 maio. 2019.
18
Christopher Paul e Miriam Matthews, “The Russian ‘Firehose of Falsehood’ Propaganda Model. Santa
Monica: RAND Corporation, 2016.

22
infoentretenimento e desinformação do que jornalismo baseado em fatos, embora seus
formatos tenham, intencionalmente, a aparência de noticiários respeitáveis”19.
Mas a estratégia não para por aí. Como fruto da nossa era atual, é claro que a
disseminação dessas mentiras como propaganda política é feita de maneira muito eficaz na
internet. Além dos já citados sites feitos apenas para proliferação de ​fake news,​ existe também
uma grande rede de divulgadores. São as auto intituladas “brigadas da web”, geralmente
chamadas de “exércitos de trolls russos”, que utilizam muitas contas falsas nas rede sociais
para divulgar notícias pró-Rússia e pró-Putin20. Eles reciclam notícias falsas e, com muita
rapidez e utilizando diversos canais, postam e comentam as notícias para criar a percepção de
apoio popular e de que a informação passada é verdade, por estar em diversas fontes. O
relatório, assim como o estudo da Revista Science, The science of Fake News21, afirmam que
se a sua primeira informação recebida sobre o assunto for a versão produzida e mentirosa,
dificilmente você vai mudar de opinião, mesmo confrontado com a informação verdadeira.
O próprio presidente Vladimir Putin está incessantemente usando essa tática nas suas
propagandas e nos seus pronunciamentos. Em 2014, durante a Crise da Crimeia, mesmo com
notícias, fotos e vídeos amplamente divulgados de soldados russos ocupando prédios do
governo ucraniano e suas bases militares, Putin afirmou que na verdade se tratavam de
soldados locais22. Apareceram diversas matérias nos canais dominados pelo governo, assim
como na internet, confirmando a versão do presidente. Semanas depois, o presidente afirmou
que havia sim soldados russos na região da Crimeia. As matérias continuaram confirmando,
como se essa sempre tivesse sido a versão oficial do governo.
Desta maneira, mentiras óbvias podem criar propagandas muito eficazes. O
ex-campeão mundial de xadrez e líder russo pró-democracia Garry Kasparov tuitou em
dezembro de 2016: “O objetivo da propaganda moderna não é apenas desinformar ou
disseminar ideias específicas. É esgotar o pensamento crítico para aniquilar a verdade”23. De
acordo com a escritora turca Zeynep Tüfekçi a principal tática da propaganda política na
nossa era é criar uma confusão com uma enxurrada de informações mentirosas e

19
Ibid., 5.
20
<​http://www.interpretermag.com/14302/​> Acesso em: 24 maio. 2019.
21
Matthew Baum, Filippo, Menczer, Gordon Pennycock e Steven A. Sloman - Artigo na Science Magazine.
Março 2018.
22

<​https://www.npr.org/sections/thetwo-way/2014/03/04/285653335/putin-says-those-arent-russian-forces-in-crim
ea​> Acesso em: 24 maio. 2019.
23
<​https://twitter.com/kasparov63/status/808750564284702720​> Acesso em: 24 maio. 2019.

23
desinformação para deixar o eleitor com uma sensação de impotência, sem ter a certeza de
que fonte confiar, para enfim confiar na palavra do líder, dita na sua propaganda.

2.3 Sem precedentes: eleição americana e governo Trump

No ano de 2016 aconteceu nos Estados Unidos da América uma eleição extremamente
polarizada entre as figuras da democrata Hillary Clinton e do republicano Donald Trump.
Esse embate foi o cenário perfeito para o uso de toda essa técnica de propaganda russa. À
época do desenvolvimento desta pesquisa ainda há um debate sobre a escala da interferência
direta de hackers russos no processo eleitoral americano, bem como da participação de Trump
nessa interferência, porém, de acordo com o relatório24 do procurador especial do
Departamento de Justiça Robert Mueller sobre o tema, não há dúvidas que a máquina de
propaganda russa agiu na eleição favorecendo a candidatura de Donald Trump.
A ​Internet Research Agency​, uma agência de propaganda digital russa comandada por
um oligarca ligado a Vladimir Putin e especializada nas já citadas disseminações de notícias
falsas através de exércitos de ​trolls,​ criou vários desses ​trolls ​(contas falsas) para divulgar
material que favorecia a campanha de Donald Trump, assim como materiais depreciativos
sobre Hillary Clinton25. Kakutani (2018) aponta que as técnicas eram diversas: desde
organizar comícios favoráveis a Trump e espalhar rumores sobre possíveis fraudes eleitorais
cometidas pelo Partido Democrata até encorajar grupos de minorias – negros, latinos e a
comunidade LGBT – a não votarem. Muitas dessas mensagens (e outras mentiras) foram ditas
diretamente pelo então candidato Donald Trump.
O Buzzfeed News fez uma análise26 com as 40 principais notícias divulgadas sobre os
candidatos na eleição e concluiu que as notícias falsas têm mais alcance que as notícias reais,
divulgadas por grandes fontes de notícias, como os jornais New York Times, o Washington
Post e a NBC News. Especificamente na época da eleição, as ​fake news realmente viralizaram
em comparação com as notícias divulgadas nas mídias tradicionais, elas geraram mais

24
<​https://edition.cnn.com/2019/04/18/politics/full-mueller-report-pdf/index.html​> Acesso em: 24 maio. 2019.
25
<​https://www.vox.com/2019/4/18/18485602/mueller-report-findings-obstruction-russia-collusion​> Acesso em:
24 maio. 2019.
26

<​https://www.buzzfeednews.com/article/craigsilverman/viral-fake-election-news-outperformed-real-news-on-fac
ebook​> Acesso em: 24 maio. 2019.

24
engajamento total no Faceook que todas as notícias dos 19 maiores veículos de comunicação
combinados.

Figura 1 – Comparativo do engajamento de matérias e notícias falsas na eleição americana.

Fonte: BuzzFeed News.

As mentiras mais compartilhadas foram: "Papa Francisco choca o mundo e endossa


Donald Trump para presidente"; "WikiLeaks confirma que Hillary vendeu armas para o
Estado Islâmico"; "Acabou: E-mail de Hillary sobre o Estado Islâmico vazou e é pior do que
podíamos imaginar."; "Hillary é desqualificada de assumir qualquer cargo federal" e "Agentes
do FBI responsável pela investigação dos e-mails vazados de Hillary foi encontrado morto em
aparente assassinato-suicídio". Todos favoráveis à Donald Trump e contrários a Hillary
Clinton.
Mas isso não foi só um problema da campanha de Trump e dos russos, nem mesmo
um problema apenas das eleições. Donald Trump, como candidato e como presidente, foi
responsável por inventar e disseminar mentiras em uma quantidade que não foi vista em
nenhum outro presidente americano da era moderna. É, assim como Vladimir Putin, um
adepto da técnica da “mangueira de incêndio de falsidades”, uma torrente tão grande de
mentiras que fica difícil desmentir todas. Mas muitos apontam que isso não se dá apenas a

25
uma estratégia de propaganda, mas sim de uma compulsividade. Adversários como o
socialista-democrata Bernie Sanders e o republicano Ted Cruz já o chamaram de “mentiroso
patológico”, artigos do Washington Post27, Independent28, CNN29, Rolling Stone30, USA
Today31 e muitas outros veículos de mídias tradicionais apontam mentiras e chamam o
presidente de mentiroso. Até mesmo o seu ex-advogado pessoal, Michael Cohen, disse em
testemunho32 que Donald Trump é um mentiroso. De acordo com o ​Fact Checker33, a
plataforma de checagem de fatos do Washington Post, no momento que escrevo este capítulo
Donald Trump falou 10.111 “alegações falsas ou enganosas” desde que assumiu a
presidência.
A Freedom House, uma ONG que fiscaliza a democracia, advertiu que o primeiro ano
do governo Trump produziu “uma deterioração mais forte e mais rápida os padrões
democráticos norte-americanos do que em qualquer outro momento que se tenha registro”34 e
no relatório de 2019, ao fazer o balanço sobre a metade do mandato de Donald Trump, a ONG
afirma que a deterioração da democracia continua.
Tão apontado como propagador de ​fake news em sua campanha política, o presidente
Trump usou este termo em janeiro de 2017, uma semana antes de tomar posse na presidência,
tomando posse também da expressão para si. Em resposta à uma pergunta da imprensa, ele
chamou um repórter da CNN de ​fake news35. Ao mesmo tempo, começou a repetir o termo no
Twitter. Desde então virou uma estratégia para atacar a mídia tradicional e apontar para si a
posição de porta-voz da verdade. Essa tática foi reutilizada muitas vezes, incluindo no Brasil.

27

<​https://www.washingtonpost.com/news/opinions/wp/2018/09/13/time-to-stop-counting-trumps-lies-weve-hit-th
e-total-for-compulsive-liar/?utm_term=.6231b7c8b33c​> Acesso em: 24 maio. 2019.
28

<​https://www.independent.co.uk/voices/donald-trump-justin-trudeau-lies-pathological-dangerous-a8261886.html
> Acesso em: 24 maio. 2019.
29
<​https://edition.cnn.com/2019/04/29/politics/donald-trump-lies-washington-post/index.html​> Acesso em: 24
maio. 2019.
30
<​https://www.rollingstone.com/politics/politics-news/trump-lies-media-828495/​> Acesso em: 24 maio. 2019.
31
<​https://www.usatoday.com/story/opinion/2019/05/23/trump-liar-cover-up-talker/1205452001/​> Acesso em:
24 maio. 2019.
32
<​https://www.apnews.com/0fa9971e62114304a5e04358158bce8f​> Acesso em: 24 maio. 2019.
33
<​https://www.washingtonpost.com/graphics/politics/trump-claims-database/?utm_term=.ecc2fa9572f4​>
Acesso em: 24 maio. 2019.
34
Freedom House, “Freedom in the World 2018”
<​https://freedomhouse.org/report/freedom-world/freedom-world-2018​>
35
<​https://edition.cnn.com/videos/politics/2017/01/11/donald-trump-jim-acosta-cnn-fake-news.cnn​> Acesso em:
24 maio. 2019.

26
2.4 Eleições brasileiras de 2018: as mentiras e o mito

Muitos temiam que todo esse cenário global de ascensão de técnicas mentirosas no
marketing e de discursos políticos anti-fatos pudesse ter um papel central nas eleições gerais
brasileiras de 2018. Assim como a eleição americana de 2016, o contexto brasileiro dois anos
depois estava marcado por uma polarização política que, embora já estivesse cada vez mais
presente nas eleições brasileiras, após o processo de ​impeachment ​da ex-presidente Dilma
Rousseff e da prisão do ex-presidente Lula, ficou mais acirrada. No fim das contas, a
polarização “esquerda ​versus ​direita” foi materializada no embate das candidaturas de
Fernando Haddad ​versus ​Jair Bolsonaro e o discurso sobre ​fake news,​ mentiras na propaganda
e distorções da mídia tradicional teve um papel importantíssimo para ambas as candidaturas.
O ​firehose of falsehood foi utilizado incessantemente na internet durante as eleições
por apoiadores de ambas as candidaturas, porém, ao se tratar dos apoiadores de Jair
Bolsonaro, houve um uso bem maior da técnica de disseminação de ​fake news do que do
adversário. Segundo pesquisa do IDEIA Big Data36 realizada de 26 a 29 de outubro com 1.491
pessoas no país e que analisou Facebook e Twitter, 98,21% dos eleitores de Jair Bolsonaro
(PSL) foram expostos a uma ou mais notícias falsas durante a eleição, e 89,77% acreditaram
que os fatos eram verdade.
Segundo esta pesquisa, a história de que Haddad implantou uma política de
distribuição de “kit gay” nas escolas, que falaremos mais à frente, foi exposta a 73,9% do
eleitorado brasileiro, mas desproporcionalmente. Foi exposta para apenas 10,5% dos eleitores
que Fernando Haddad, mas 83,7% dos eleitores de Jair Bolsonaro compraram a ideia.
Diversas ​fake news sobre fraudes nas urnas impactaram cerca de 86% do eleitorado, onde
74% dos eleitores de Jair Bolsonaro acreditaram enquanto 22,6% dos eleitores de Fernando
Haddad confiaram nessas mensagens. Foi disseminada nas rede sociais também a mensagem
que o candidato petista defende pedofilia e incesto em um livro, o que chegou a 44% do
eleitorado. 74.6% dos eleitores pró-Bolsonaro indicaram que acham essa história verdadeira,
enquanto apenas 9.8% dos eleitores pró-Haddad dizem o mesmo.

36
<​https://secure.avaaz.org/act/media.php?press_id=917​> Acesso em: 26 maio. 2019.

27
Segundo levantamento do Congresso em Foco37, das 123 notícias falsas encontradas
por agências de checagem, 104 beneficiaram Bolsonaro. A agência Lupa, Aos Fatos e o
projeto Fato ou Fake, do Grupo Globo, criaram diversas matérias sobre as diversas ​fake news
divulgadas pelas candidaturas, por apoiadores ou pelos próprios candidatos e, de acordo com
o levantamento, 84,5% delas eram favoráveis a Jair Bolsonaro ou contrárias a Fernando
Haddad e ao Partido dos Trabalhadores, enquanto 19 notícias, cerca de 15,5%, foram
favoráveis a Fernando Haddad e contrárias a Jair Bolsonaro e ao Partido Social Liberal. Para
podermos melhor evidenciar quais dessas notícias falsas apareceram no Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral, estão referenciadas abaixo, em sua totalidade, com as datas da
checagem feita pelas agências.

2.4.1 ​Fake News​ favoráveis a Jair Bolsonaro

1. Enquete do G1 sobre corrida presidencial (16/8/18)


2. Aluna expulsa de sala por apoio a Bolsonaro (20/8/18)
3. Silvio Santos cita Bolsonaro como próximo presidente (22/8/18)
4. Pesquisa mostra Bolsonaro com 86% das intenções de voto (23/8/18)
5. PT defende estatizar rádios e tvs religiosas (29/8/18)
6. Frase de Dilma sobre greve de fome pró-Lula (3/9/18)
7. Livro citado por Bolsonaro tem carimbo de escola de Maceió (4/9/18)
8. Arnaldo Jabor apoia Bolsonaro (5/9/18)
9. Agressor de Bolsonaro filiado ao PT (6/9/18)
10. Agressor de Bolsonaro em foto com Lula (6/9/18)
11. Agressor de Bolsonaro assessor da campanha de Dilma (7/9/18)
12. Esquema de assassinato de Bolsonaro (7/9/18)
13. Novas fotos de agressor de Bolsonaro com Lula (10/9/18)
14. Vídeo mostra mãe e criança agredida por petistas (13/9/18)
15. Fátima Bernardes reformou casa do esfaqueador de Bolsonaro (14/9/18)
16. Pe. Marcelo Rossi e apoio a Bolsonaro (14/9/18)
17. Agressor de Bolsonaro ao lado de Gleisi Hoffmann (14/9/18)
18. Ato pela saúde de Bolsonaro (17/9/18)
19. Agressão por José Rainha (17/9/18)
20. Obras bilionárias da Guiné Equatorial e dívida perdoada por Lula (18/9/18)
21. TSE deu códigos de urnas eletrônicas para a Venezuela (18/9/18)

37
<​https://bit.ly/2EN0iYE​> Acesso em: 26 maio. 2019.

28
22. Manifestação pró-Bolsonaro em Brasília (19/9/18)
23. Capa da revista Veja sobre pesquisas eleitorais compradas (21/9/19)
24. Gilmar Mendes deixará Brasil se Bolsonaro for eleito (21/9/18)
25. Jean Wyllys ministro da Educação de Haddad (24/09)
26. Vídeo de Lula pedindo votos para Bolsonaro (24/9/18)
27. Caravana de motos em apoio a Bolsonaro (24/9/18)
28. Cabe ao estado decidir sexualidade de crianças (24.9)
29. Sandy declarou apoio a Bolsonaro (25/9/18)
30. Ilustração de ato sexual em cartilha do MEC (25/9/18)
31. Petistas agridem eleitor de Bolsonaro (25/9/18)
32. Galo da Madrugada como ato pró-Haddad (25/9/18)
33. Deputado ofereceu dinheiro para professoras fazerem campanha contra Bolsonaro (26/9/18)
34. Vice de Amoêdo pede votos para Bolsonaro (27/9/18)
35. Capas de revistas com fraudes nas urnas eletrônicas (27/9/18)
36. Informações da revista Veja sobre processo contra Bolsonaro (28/9/18)
37. Mamadeiras eróticas distribuídas em creches (28/9/18)
38. Exército pede perícia nas urnas eletrônicas (29/9/18)
39. Vídeo de manifestação pró-Bolsonaro (29/9/18)
40. Protesto #EleNão não aconteceu (30/9/18)
41. Manchete sobre pesquisa Ibope para Presidência (1/10/18)
42. Manifestação pró-Bolsonaro é a maior da história (1/10/18)
43. Ato contra Bolsonaro é carnaval de 2017 (1/10/18)
44. Chico Xavier previu chegada de Bolsonaro à Presidência (2/10/18)
45. Camiseta "Jesus é travesti" de Manuela D´Ávila (2/10/18)
46. Convocação para eleitores do PT votarem em 8 de outubro (2/10/18)
47. Pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia aponta que não há segundo turno (2/10/18)
48. Mesário pode falsificar assinatura de eleitores (3/10/18)
49. Mulher acusa Ibope e Datafolha de fraudes (3/10/18)
50. Livro infantil sobre incesto (4/10/18)
51. Protesto na frente da Universal (4/10/18)
52. Menção a Bolsonaro em diálogo de Sérgio Machado e Renan Calheiros (5/10/18)
53. Empresas prometem demitir 1 milhão se esquerda ganhar (5/10/18)
54. PF apreendeu urnas eletrônicas em van (5/10/18)
55. "Somos mais populares que Jesus" (5/10/18)
56. Amoêdo desistiu de candidatura e pede voto para Bolsonaro (6/10/18)
57. Vídeo de Haddad "jogando a toalha" (6/10/18)
58. Pe. Fabio de Mello a favor de Bolsonaro e contra LGBTs (6/10/18)
59. Rodrigo Santoro com camiseta de apoio a Bolsonaro (6/10/18)

29
60. Manifestantes nus contra Bolsonaro (6/10/18)
61. Trump apoia Bolsonaro no Twitter (7/10/18)
62. Delação de Palocci sobre urnas encomendadas (7/10/18)
63. Urna programada para voto em Haddad (7/10/18)
64. Áudio de Pedro Bial criticando possível governo Haddad (8/10/18)
65. Boletim de urna mostra mais votos em Haddad que total de eleitores (8/10/18)
66. Vídeo de Lula relaciona PT ao fascismo e nazismo (9/10/18)
67. Manuela D'Ávila quer acabar com feriados cristãos (9/10/18)
68. Gabeira diz que Bolsonaro é limitado mas patriota (9/10/18)
69. Plano de governo para confiscar bens (9/10/18)
70. Haddad prometeu fazer Lula presidente se passasse ao segundo turno (9/10/18)
71. Bandeira LGBT tremularia junto com brasileira (9/10/18)
72. 72 milhões de votos anulados (10/10/18)
73. Propaganda eleitoral de Bolsonaro contra intolerância (10/10/18)
74. Kit gay para crianças (10/10) / Também desmentido por Fato ou Fake (16.10)
75. Plano de poupança compulsória (11/10/18)
76. Luana Piovani apoia Bolsonaro (11/10/18)
77. 72 milhões de votos nulos e fraude nas urnas (11/10/18)
78. Projeto de lei torna a pedofilia legal (13/10/18)
79. Haddad filmado recebendo propina (14/10/18)
80. Haddad de Ferrari (14/10) / Também desmentido por Aos Fatos
81. Índices reais de pesquisa para Presidência (15/10/18)
82. Bolsonaro é o político mais honesto do mundo (15/10/18)
83. Defesa de sexo entre pais e filhos (15/10/18)
84. Livro de Haddad com mandamentos do comunismo e incesto (16/10/18)
85. Homem preso com drogas usava camiseta de apoio a Lula (16/10/18)
86. Tuíte de Haddad elogiando Maduro (16/10/18)
87. Áudio de advogado sobre fraude eleitoral (17/10/18)
88. Áudio de Haddad e Manuela em trama contra Exército (17/10/18)
89. Deputado do PT ofereceu dinheiro por gravação (17/10/18)
90. Código para reiniciar urna após voto para governador (18/10/18)
91. Lula apanhando de policiais (18/10/8)
92. Crise só acaba com Lula na Presidência (18/10/18)
93. Kit satânico para crianças (18/10/18)
94. Assessora da Haddad abandonou reunião (19/10/18)
95. Áudio com cúpula do PT, Ciro, Boulos e Bonner (19/10/18)
96. Roberto Carlos apoio a Bolsonaro (19/10/18)
97. Áudio com orientações da Globo contra Bolsonaro (22/10/18)

30
98. Entrevista com Lula autorizada um dia antes do segundo turno (22/10/18)
99. Loja de empresário apoiador de Bolsonaro incendiada (22/10/18)
100.Petista chamando Haddad de traidor (22/10/18)
101.Ato pró-Bolsonaro (22/10/18)
102.Roger Waters envolvido em esquema de corrupção do PT (22/10/18)
103.Urnas irregulares apreendidas em carro particular (23/10/18)
104.Fraude em urnas recolhidas no Paraná (24/10/18)

2.4.2 ​Fake News​ favoráveis a Jair Bolsonaro

1. Haddad lidera Datafolha (5/9/18)


2. Bolsonaro chegou andando no hospital após facada (6/9/18)
3. Teoria da conspiração ataque Bolsonaro (10/9/18)
4. Jovem morreu ao tentar provar que facada em Bolsonaro era falsa (11/9/18)
5. Áudio fake de Bolsonaro no hospital (20/9/18) / Também verificada em Aos Fatos
6. Empresários deixarão de pagar salário mínimo se Bolsonaro for eleito (3/10/18)
7. Orientação Globo para cobertura de campanha (4/10/18)
8. Camiseta com ofensas a nordestinos usada por Flávio Bolsonaro (5/10/18)
9. Vice de Bolsonaro propôs confisco de poupanças (6/10/18)
10. Eduardo Bolsonaro orienta não votar com camiseta de Jair Bolsonaro (7/10/18)
11. Filho de Bolsonaro fez vídeo criticando nordestinos (9/10/18)
12. Bolsonaro diz que paciente com câncer custa caro ao estado (9/10/18)
13. Plano-bomba de Bolsonaro (11/10/18)
14. Márcio França declara apoio a Haddad (12/10/18)
15. Bolsonaro quer mudar padroeira do Brasil (16/10)
16. Bolsonaro simulou facada para esconder câncer (17/10/18)
17. Bolsonaro se alistou ao exército de Hitler (18/10/18)
18. Datafolha e Ibope só entrevistaram eleitores do Sul e do Sudeste (19.10)
19. Bolsonaro investigado por dinheiro sujo em campanha (24/10/19)

Para entender o fenômeno da disseminação de notícias falsas na eleição brasileira é


preciso levar em consideração o papel das páginas pró-PT e pró-Bolsonaro na internet. A
página Dilma Bolada, por exemplo, fez parte ativa da campanha para reeleição da presidente
Dilma Rousseff em 2014. O artigo “Bolsonaro Zuero 3.0: Um estudo sobre as novas
articulações do discurso da direita brasileira através das redes sociais” traça, a partir da análise

31
da página Bolsonaro Zuero 3.0, qual é o papel desempenhado por páginas que endossaram
desde cedo a campanha de Bolsonaro à presidência

É possível observar que nas redes sociais, ao contrário dos tradicionais meios de
comunicação, opiniões que outrora tenderiam ao silêncio agora encontram
espaço para expressão, tanto pelo sentimento de coletividade quanto pela
impessoalidade do perfil online. O crescimento contínuo de páginas como
Bolsonaro Zuero 3.0, seu poder de articulação online e os meios pelos quais
as discussões são desenvolvidas (como a linguagem alternativa das
fotomontagens) demandam estudos mais aprofundados e interdisciplinares, por
tratar-se de uma forma recente, complexa e controversa de discutir política.

Porém, a mídia mais importante para a disseminação de mensagens políticas e ​fake


news foi, sobretudo na eleição de 2018, o Whatsapp. 120 milhões de brasileiros usam o
aplicativo. Segundo levantamento do Datafolha38, o WhatsApp é a rede mais popular entre os
eleitores: 66% têm conta no aplicativo, 48% dos eleitores têm o costume de assistir vídeos
sobre política na internet. Os eleitores de Jair Bolsonaro têm o índice mais alto de usuários
nas redes sociais: 81%, contra 59% entre os eleitores de Fernando Haddad. 40% dos eleitores
do candidato do PSL compartilham notícias sobre política brasileira e eleições no WhatsApp,
enquanto apenas 22% dos eleitores do candidato do PT.
De acordo com relatório da agência de checagem de fatos Lupa, feito a pedido da
Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Só 4
das 50 imagens mais compartilhadas por 347 grupos de WhatsApp são verdadeiras39.
Em reportagens dos jornais El País40 e O Globo41 onde os jornalistas acompanharam
por dentro como são os grupos de Whatsapp de apoiadores de Jair Bolsonaro e suas
conclusões foram bem parecidas: existe muita disseminação de notícias falsas. muitos
membros e muitos grupos. Isso não aconteceu por acaso. Jair Bolsonaro, sua família e seus
aliados políticos sempre defenderam o uso do Whatsapp como estratégia política,
contornando o fato de que a coligação chefiada pelo PSL só teria 8 segundos de televisão,
como aponta reportagem da Revista Piauí de antes da eleição42. Durante o segundo turno da

38
<​https://glo.bo/2QoGrQs​> Acesso em: 26 maio. 2019.
39

<​https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/wp-content/uploads/2018/10/Relat%C3%B3rio-WhatsApp-1-turno-Lupa-2F
-USP-2F-UFMG.pdf​>Acesso em: 26 maio. 2019.
40
<​https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/26/politica/1537997311_859341.html​> Acesso em: 26 maio. 2019.
41

<​https://oglobo.globo.com/brasil/fake-news-odio-ao-pt-mensagens-patrioticas-marcam-grupo-pro-bolsonaro-no-
whatsapp-23157750​> Acesso em: 26 maio. 2019.
42
<​https://piaui.folha.uol.com.br/oito-segundos-na-teve-897-grupos-de-whatsapp/​> Acesso em: 26 maio. 2019.

32
eleição presidencial de 2018 o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem afirmando que
empresários estariam bancando uma campanha contra o PT através de disparos em massa de
mensagens no WhatsApp. Como veremos mais na frente, essa matéria foi objeto de discussão
na disputa eleitoral.
Assim como Donald Trump, nos Estados Unidos, mesmo depois de eleito a
comunicação de Jair Bolsonaro continuou marcada por uma retórica de “porta-voz da
verdade”, ataque às instituições (incluindo a mídia tradicional) e disseminação de informações
falsas em sua propaganda política e declarações. Aos moldes do ​Fact Checker do Washington
Post, a agência Aos Fatos também criou um site compilando as declarações controversas do
presidente. Desde que tomou posse até a atualização mais recente da plataforma, em 17 de
Maio de 2019, Jair Bolsonaro havia dado 186 declarações falsas ou distorcidas43.

43
<​https://aosfatos.org/todas-as-declara%C3%A7%C3%B5es-de-bolsonaro/​> Acesso em: 26 maio. 2019.

33
3. SEGUNDO TURNO: ANÁLISE DO HGPE

“Os políticos sempre distorceram a realidade, mas a TV – e mais tarde a internet – lhes
deu novas plataformas para prevaricar”, é o que afirma Michiko Kakutani (2018). Então, as
candidaturas vencedoras do primeiro turno da eleição de 2018 ganharam a oportunidade de
exibir as suas propostas – e prevaricar na distorção da realidade – no meio mais poderoso do
marketing eleitoral: a propaganda na televisão. O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral é
garantido por lei aos partidos políticos brasileiros, na programação das emissoras de rádio e
TV, para efeito de divulgação de suas plataformas políticas e propagandas de seus candidatos
às eleições e, enquanto no primeiro turno havia uma disparidade na distribuição de tempo à
cada presidenciável (corresponde a um cálculo proporcional à representação na Câmara dos
Deputados de cada um dos partidos que integram a coligação44), no segundo turno ambos os
candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) dispuseram do mesmo tempo.
David Axelrod e Karl Rove, os consultores de estratégia política responsáveis pelas
vitoriosas campanhas presidenciais de Barack Obama e George W. Bush, respectivamente,
explicam em seu curso conjunto sobre eleições que, mesmo com a força das mídias sociais, a
televisão continua sendo o meio mais poderoso para espalhar as ideias dos candidatos45.
Axelrod diz:

Certamente as mídias sociais revolucionaram a comunicação em algumas maneiras.


Mas ainda é verdade que a arma nuclear da política é a televisão. Custa mais para
atingir as pessoas porque os hábitos dos telespectadores são difusos mas você pode
alcançar pessoas em uma amplo calibre através da TV como em nenhum outro meio.

Duda Mendonça enfatiza em seu livro Casos e Coisas que o uso da televisão em uma
campanha política no Brasil é essencial e retrata a dimensão que as mensagens difundidas
podem tomar. Ele compara o poder de penetração do conteúdo transmitido em um comício e
em um programa eleitoral no horário gratuito. Neste paralelo ele reforça como em um único

44
Disponível em:
<https://www.huffpostbrasil.com/2018/07/20/entenda-como-e-feita-a-divisao-do-tempo-de-tv-no-horario-eleitora
l_a_23485856/> Acesso em: 26 mar. 2019.
45
Disponível em:
<https://www.masterclass.com/classes/david-axelrod-and-karl-rove-teach-campaign-strategy-and-messaging>
Acesso em: 13/03/2019

34
programa exibido na tevê se pode atingir diversas capitais e milhões de pessoas ao mesmo
tempo.
Lavareda (2009) destaca as principais qualidades que um comercial político deve
conter. Para ele, a produção deve buscar entreter o público, já que a exibição ocorre em meio
à programação normal das emissoras. Afinal, o comercial estará dividindo espaço com
novelas, telejornais e até mesmo outros anúncios do comércio comum muito mais criativos e
atraentes. Sob esta ótica as propagandas do HGPE vêm evoluindo e tornando-se cada vez
mais persuasivas e eficazes, atrelando-se a diversas técnicas do marketing para o
convencimento.
A influência deste meio é tanta que muitos sociólogos criticam as consequências dele
na mente dos eleitores. Segundo Bourdieu (1997) a televisão cria uma forma perniciosa de
violência simbólica, onde quem exerce ou sofre a influência da comunicação pela mídia o faz
com cumplicidade, envolvendo-se ou aceitando mesmo que inconsciente. O autor chama,
também, a maneira com que as informações são passadas na televisão de fast thinking,​ em
alusão ao ​fast food,​ dizendo que o meio transmite informações muito rapidamente e
superficialmente. A TV se mostra assim propícia para a disseminação de mentiras.
Especialmente no Brasil, onde de acordo com pesquisa da Kantar Ibope Media na
última década a soma diária de aparelhos ligados entre as TVs de sinal aberto e fechado
aumentou em uma hora46, a televisão continua sendo o meio mais consumido dos brasileiros e
portanto, essencial para o marketing político. De acordo com texto da Fundação Getúlio
Vargas “as pesquisas também mostram que são falsos os argumentos de que os eleitores
brasileiros tendem a ignorar e desprezar o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral”47. Não é
à toa que os candidatos costumam gastar a grande maioria do dinheiro de suas campanha na
propaganda televisiva, como podemos confirmar nas declarações de conta de todos os
presidenciáveis ao Tribunal Superior Eleitoral.
Dos candidatos que chegaram ao segundo turno em 2018, Fernando Haddad (PT) foi o
que investiu mais em “produção de programas de rádio, televisão ou vídeo”. Foram lançados

46
Consumo médio de TV por indivíduo cresce em mais de 1 hora nos últimos 10 anos, afirma Kantar IBOPE
Media
<https://www.kantaribopemedia.com/consumo-medio-de-tv-por-individuo-cresce-em-mais-de-1-hora-nos-ultimo
s-10-anos-afirma-kantar-ibope-media/> Acesso em: 13/03/2019
47
HORÁRIO GRATUITO DE PROPAGANDA ELEITORAL (HGPE)
<​http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/horario-gratuito-de-propaganda-eleitoral-hgpe​>
Acesso em: 26 mar. 2019.

35
R$ 16.141.199,20, o equivalente a 43.04% das despesas de sua campanha na eleição. Jair
Bolsonaro (PSL), porém, teve um investimento mais modesto: de R$801.806,27, o que
configura 27.48% das despesas de sua campanha, também uma larga fatia48.
O HGPE foi veiculado no período de 31 de agosto de 2018 a 04 outubro de 2018 no
primeiro turno e, já o segundo turno, o período cujas propagandas serão analisadas neste
capítulo, teve início dia 12 de outubro de 2018 e foi ao ar até o dia 26 de outubro de 2018.
Existem duas as formas de propaganda eleitoral na televisão (e também no rádio)
brasileira. A primeira, que analisaremos no próximo tópico é o HGPE e este dispôs para o
segundo turno da referente eleição 5 minutos para cada candidato a presidente poder divulgar
suas propostas. Indo ao ar na tevê das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40, de segunda-feira
ao sábado. A ordem de veiculação da propaganda de cada candidato no primeiro dia do
horário eleitoral foi definida por sorteio da Justiça Eleitoral (primeiro Jair Bolsonaro e depois
Fernando Haddad) e, a cada dia de propaganda esta ordem era alternada. Neste trabalho
seguirei a ordem de veiculação.
A outra forma de propaganda eleitoral na TV, que será tratada brevemente em um
tópico subsequente aos do horário eleitoral, é a inserção. Os canais de televisão reservaram,
para cada presidenciável, 25 minutos, de segunda a domingo, nos quais foram veiculadas
inserções de 30 e 60 segundos.
Vamos, portanto, a partir do conceito de Patrick Charaudeau, que define análise de
discurso como “a arte de dirigir-se ao maior número de indivíduos para fazê-los aderir a
valores comuns” (2008, p. 241) e fundamenta a análise em específico do discurso político no
seu livro “Discurso Político”, analisar os discursos trazidos pelos candidatos Jair Bolsonaro e
Fernando Haddad no HGPE e em algumas inserções evidenciando o uso de mentiras e ​fake
news​, bem como retórica sobre as mentiras e​ fake news​ nestes vídeos.

3.1 Dia 12/10 – Foro de São Paulo e a suástica

A propaganda eleitoral gratuita no segundo turno das eleições de 2018 começou no dia
12 de outubro e, em sua primeira inserção, Jair Bolsonaro (PSL) levou para a televisão as suas
já conhecidas táticas das rede sociais: a pregação do medo da volta do comunismo e as

48
Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais <​ http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/​> Acesso em:
13/03/2019.

36
comparações do Brasil com Venezuela e Cuba. Além das acusações sobre o Foro de São
Paulo, o vídeo mostra também a sua relação com sua família.
Na peça, uma voz em ​off n​ arra imagens da queda do muro de Berlim, e, em seguida,
diz que, enquanto a “Europa se libertava de um marco do comunismo” na “América Latina
um encontro selava a criação do Foro de São Paulo, um grupo político com viés ideológico
comunista, de esquerda, liderado por Lula e Fidel Castro”.

Figura 2 – Captura de tela de trecho sobre o Foro de São Paulo.

Fonte: ​https://youtu.be/utK1FWV9R_k

Sempre em tom severo e com trilha alarmista, a propaganda aponta para a


consequência do alinhamento com governos latino americanos de esquerda: uma crise ética,
moral e financeira vivida no Brasil. “Estamos à beira de um abismo”, conclui.
A propaganda caracteriza a organização como “um grupo político com viés ideológico
comunista”, embora o Foro de São Paulo seja uma agremiação que une partidos políticos de
esquerda e centro-esquerda da América Latina, contando com algumas legendas que se
denominam comunistas mas também outras que se definem como socialistas,
social-democratas, trabalhistas, progressistas, nacionalistas e várias outras ideologias à
esquerda do espectro político49.
No livro “As Mentiras na Propaganda e Publicidade” o sociólogo Guy Durandin
classifica afirmações desta natureza como um tipo específico de “deformação de natureza
qualitativa”: a chamada “mentira sobre a identidade”.

49
Disponível em: <​http://forodesaopaulo.org/partidos​> Acesso em: 20. Mar. 2019.

37
A mentira sobre a identidade tem por objetivo confundir, para modificar a conduta
de uma pessoa. Ao acreditar estar tratando com determinado indivíduo, ela se
conduzirá de certa maneira; mas na verdade está diante de outro, o que logicamente
requereria outra conduta. (DURANDIN, 1997, n.p)

Claro que não é a primeira vez que líderes usam a pregação do medo ao taxar
falsamente um grupo adversário de comunista como estratégia em suas propagandas políticas.
Do Ministro da Propaganda do regime Nazista Joseph Goebbels ao senador americano Joseph
McCarthy, essa retórica já foi repetida diversas vezes na história do marketing político.
Importante lembrar, inclusive, que no Brasil o medo do comunismo difundido em
propagandas já produziu dois golpes políticos – o que iniciou a ditadura do Estado Novo em
1937, através do falso Plano Cohen e também o golpe de Estado em 1964, através da falsa
associação de João Goulart ao comunismo – (TARDÁGUILA; OTAVIO, 2018, n.p). Não é
novidade.
A campanha do PSL chama Cuba, país que vive sob uma ditadura comunista de “país
mais atrasado do mundo” nesta inserção. Não está claro qual critério foi utilizado pela
campanha para esta designação, mas de acordo com a ONU, que realiza estudos para
categorizar os países menos desenvolvidos do mundo usando critérios como renda, recursos
humanos e vulnerabilidade econômica50, o país caribenho não configura a lista de 47 países.
Na realidade, dos países apontados pelo relatório da organização em 2018 apenas um é
americano: o Haiti.
Cuba é um país atrasado em relação à industrialização, acesso à informação,
tecnologia e muitos outros aspectos51, mas não é o “país mais atrasado do mundo”. Essa
classificação é uma deformação de outra natureza, a quantitativa, pois é uma mentira
caracterizada pelo exagero da verdade.
Já na primeira propaganda do petista Fernando Haddad no segundo turno o candidato
se apresenta, clama por união, afirma que a democracia está em risco, traz a tona declarações
violentas do oponente e atribui a ele uma onda de violência que estaria tomando conta do país.
“Nos últimos dias, multiplicaram-se os ataque e até assassinatos motivados pelo ódio de
alguns seguidores do candidato Jair Bolsonaro (PSL)”, diz a apresentadora.

50
Disponível em:
<​https://www.un.org/development/desa/dpad/wp-content/uploads/sites/45/LDCcategory-2018.pdf​> Acesso em:
20. Mar. 2019.
51
Disponível em:
<​https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/12/internet-movel-comeca-a-funcionar-em-cuba-mas-precos-sao-p
ouco-acessiveis.shtml​> Acesso em: 20. Mar. 2019.

38
Um dos casos usados para ilustrar essa onda de violência é o de uma jovem que
registrou em boletim de ocorrência afirmando que teria sido agredida enquanto caminhava em
Porto Alegre com um adesivo da bandeira LGBT e a frase "#EleNão" – mote dos protestos
contra Jair Bolsonaro (PSL) –. Segundo a jovem, os agressores teriam dado socos e usado um
canivete para marcar um desenho que remete à cruz suástica, símbolo do nazismo, no corpo
dela.
Figura 3 – Captura de tela de trecho sobre ato violento.

Fonte: ​https://youtu.be/utK1FWV9R_k

Porém, de acordo com laudo apresentado pela Polícia Civil e baseado em perícia,
depoimentos de lojistas e moradores e na análise de imagens de doze câmeras de segurança
que registraram a movimentação na data e hora da suposta agressão, ela havia se mutilado ou
consentido com o ato. A mulher decidiu não representar criminalmente52. “São doze câmeras
com visualização perfeita. Na área que ela percorreu, nenhuma mostra a jovem ou as pessoas
que ela denuncia. [...] A pele dela não foi cortada. O que machucou mais foi a epiderme.”
apontou o delegado53.
A notícia com o relato mentiroso foi usada na propaganda como estratégia política,
embora não houvesse ainda a comprovação de que a afirmação fosse verdadeira ou não, ela
foi divulgada buscando que o público acreditasse nela mesmo assim. Ao abordar o livro “The
Image: A Guide to Pseudo-events in America” de Daniel Boorstin, Michiko Kakutani (2018)
descreve que este fenômeno acontece porque “A ideia de “credibilidade” estava substituindo a

52
<​https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45947425​> Acesso em: 20. Mar. 2019.
53
Dsponível em:
<​https://oglobo.globo.com/brasil/jovem-que-disse-ter-sido-marcada-com-suastica-vai-ser-indiciada-por-falsa-co
municacao-de-crime-diz-delegado-1-23181117​> Acesso em: 22. Mar. 2019.

39
ideia de verdade. As pessoas estavam pouco interessadas em saber se algo era um fato, o
importante era se parecia ‘conveniente acreditar nele’.”
Gaudêncio Torquato (2014) afirma que “os eleitores decidem primeiro de acordo com
os mecanismos básicos de conservação da sua vida e da preservação da espécie”. A
propaganda petista faz um apelo a esse impulso do eleitor de temer ser violentado por
eleitores do candidato adversário para gerar uma repulsa a Bolsonaro.
O que a jovem fez foi uma deformação de natureza qualitativa, a “mentira sobre a
identidade”. A propaganda, porém, ignorante acerca da veracidade dos fatos, apenas
disseminou um boato que mais tarde seria comprovado falso.

3.2 Dia 13/10 – ​Fake news​ e kit gay

No dia seguinte, 13 de outubro, o HGPE começou com o programa da coligação “O


Povo Feliz de Novo”, do petista Fernando Haddad. O programa tem trechos parecidos com o
do dia 12, com apresentações do candidato, de propostas, de uma fala do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e de programas sociais criados nas gestões do Partido dos Trabalhadores.
Mas o foco da peça publicitária, sem dúvida, são as notícias falsas.
A campanha levou a vice na chapa, Manuela D'Ávila (PCdoB), para falar sobre as ​fake
news e alertar os telespectadores sobre supostas mentiras que estariam sendo divulgadas pela
campanha de Jair Bolsonaro e seus apoiadores. "Eles espalham fake news, notícias falsas,
atacam a nossa moral e até as nossas famílias. Eles jogam sujo. Dá para confiar em quem usa
religião e até crianças só para nos atingir?", indaga a ex-deputada.
D'Ávila expõe algumas das mentiras difundidas na internet apresentadas
anteriormente, com matérias de agência de checagem de fatos comprovando que as
informações não procedem, além de solicitar a quem possivelmente vier a receber tais notícias
o encaminhamento de denúncias ao TSE. Esse pedido evidencia uma estratégia defendida por
Torquato (2014), que “o eleitor sempre deve ter acesso aos canais do candidato”.
A primeira delas é o “kit gay”. Em várias ocasiões, incluindo em entrevista ao Jornal
Nacional, Bolsonaro aponta que Fernando Haddad e os governos petistas criaram um kit de
materiais escolares para incentivar jovens nas escolas a transformarem-se em homossexuais.
Além de afirmar que um livro em específico, o “Aparelho Sexual e Cia.”, editado no Brasil
pela editora Companhia das Letras, fazia parte parte desta cartilha.

40
Figura 4 – Captura de tela de trecho sobre o “kit gay”.

Fonte: ​https://youtu.be/r4ZsG4W-T88

“Kit gay” é o termo pejorativo usado por críticos para se referir ao Escola Sem
Homofobia, material composto por um caderno e peças impressas e audiovisuais
encomendado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ao Ministério
da Educação, então chefiado por Fernando Haddad, e elaborado por um grupo de ONGs
especializadas visando combater a homofobia nas escolas54. O Escola Sem Homofobia,
porém, foi vetado pela presidente Dilma Rousseff (PT) e nunca foi lançado.
Quanto ao livro “Aparelho Sexual e Cia”, tanto o Ministério da Educação quanto a
Companhia das Letras negam que a obra tenha sido utilizada no Escola Sem Homofobia ou
outro programa escolar. O livro nem sequer foi indicado nas listas oficiais de material didático
55
.
A campanha do PT aponta, portanto, para uma mentira clássica (MEARSHEIMER,
2012, n.p) proferida pelo candidato do PSL. É uma “mentira a respeito do adversário” que
opera como uma deformação de natureza qualitativa. Esta afirmação, mesmo sendo uma
mentira sobre identidade facilmente desmentida, funcionou muito bem como estratégia de
marketing político para Jair Bolsonaro. Antes da entrevista no Jornal Nacional, Bolsonaro
aparecia com 18% a 20% das intenções de votos na pesquisa Ibope. Depois, Bolsonaro

54
<​https://novaescola.org.br/conteudo/1579/uma-analise-do-caderno-escola-sem-homofobia​> Acesso em: 22.
Mar. 2019.
55
<​http://www.brasil.gov.br/noticias/educacao-e-ciencia/2016/01/mec-nao-distribuiu-nas-escolas-livro-de-educac
ao-sexual-citado-em-video-na-internet​> Acesso em: 22. Mar. 2019.

41
aparece com 22%56. Como veremos à frente, mesmo com a desmentida da campanha do PT,
Bolsonaro continuou compartilhando esta notícia falsa.

Figura 5 – Captura de tela de trecho sobre a camiseta de Manuela D’Ávila.

Fonte: ​https://youtu.be/r4ZsG4W-T88

Outra notícia falsa apontada pela campanha de Fernando Haddad é justamente uma
que envolve a vice-presidenciável. A foto que circulou a internet mostrava Manuela D'Ávila
exibindo a frase “Jesus é travesti” na sua camiseta, quando, na verdade, se trata de uma edição
e a imagem original dizia a frase “Rebele-se”. A agência de verificação de fatos Lupa
apontando a mentira em seu site57 e essa matéria foi usada na campanha.
Essa foi uma mentira a respeito do adversário, do tipo de supressão. Essas
manipulações de imagens são muito comuns na internet, não só com personalidades políticas.
Mas com elas a história nos mostra que esse tipo de manipulação pode ter consequências
catastróficas, como quando Joseph Stalin ascendeu ao poder e falsificou diversas fotos,
removendo inimigos políticos expurgados da União Soviética e modificando o registro sobre
acontecimentos importantes58. Sem uma apuração posterior dos fatos, a verdadeira história
poderia ter se perdido para sempre.
A coligação “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, do candidato Jair
Bolsonaro, exibiu no dia 13 de outubro o mesmo programa eleitoral que havia exibido no dia
anterior.

56
<​https://piaui.folha.uol.com.br/bolsonaro-e-haddad-vao-ao-jn-bombam-no-twitter-e-crescem/​> Acesso em 28.
Mar. 2019.
57
<https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/10/02/verificamos-manuela-jesus/> Acesso em 28. Mar. 2019.
58
<​https://www.history.com/news/josef-stalin-great-purge-photo-retouching​> Acesso em 28. Mar. 2019.

42
3.3 Dia 15/10 – Disputa de verdades: da tevê aos tribunais

A primeira segunda-feira do segundo turno, dia 15 de outubro, chega em um contexto


bastante polarizado e conturbado. A campanha do PT enviou um pedido formal ao Tribunal
Superior Eleitoral solicitando a retirada de dois trechos das últimas inserções (peças de
propaganda de 30 segundos exibidas ao longo da programação das emissoras de TV) da
campanha de Bolsonaro, vinculadas na sexta-feira e sábado (12 e 13 de outubro).
No primeiro trecho são feitas comparações dos governos petistas ao governo chavista
venezuelano, o que, para a coligação de Haddad, seria uma tentativa de atingir sua honra e
marcar de forma negativa, além de atacar o projeto de governo e a trajetória do PT59. Já no
segundo a campanha de Bolsonaro diz que "Haddad quer desarmar a população", enquanto
Bolsonaro "acredita que o cidadão deve ter o direito a legítima defesa". Além de completar
afirmando: "A esquerda defende a legalização da maconha e do aborto. Bolsonaro é
radicalmente contra as drogas e para ele o direito a vida é sagrado".
O TSE não viu irregularidades ou mentiras nestes trechos e o ministro Luís Felipe
Salomão afirmou que "É certo que, no ambiente democrático, as diferenças aparecem por
ocasião da campanha eleitoral, e mesmo que a propaganda transmita mensagens provocantes
ou desagradáveis ao adversário, é forçoso reconhecer que faz parte do discurso político" e
negou o pedido de suspensão na segunda-feira. A campanha de Bolsonaro chegou a exibir
estes trechos novamente no dia seguinte, como abordaremos mais à frente.
Mas outra decisão do TSE que também inflamou os ânimos para este dia 15 partiu do
ministro Sérgio Banhos, que negou um pedido de direito de resposta apresentado pela
campanha de Jair Bolsonaro contra Fernando Haddad. Segundo a acusação, a campanha do
PT teria feito uso irregular em uma inserção da propaganda eleitoral veiculada na TV na
sexta-feira (12), que dizia que Bolsonaro "votou contra os mais pobres, contra os direitos dos
trabalhadores, contra a lei que protege as pessoas com deficiência, contra os direitos das
empregadas domésticas, contra o 'Bolsa Família”. Os advogados acusaram a campanha petista
de ser mentirosa ao utilizar uma fala de Bolsonaro fora de contexto, induzindo ao erro através
do uso de montagem e da distorção.

59

<​https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,tse-nega-pedido-de-haddad-para-suspender-propaganda-de-bols
onaro,70002548384​> Acesso em 14. Abril. 2019.

43
O ministro, porém, afirma que “A divulgação do posicionamento político do candidato
no exercício do mandato parlamentar – especificamente quando da votação da ‘PEC das
domésticas’ – é de suma importância para a formação da opinião do eleitor. Não se pode,
portanto, vedar a divulgação da informação por aquele que a detém, ao fundamento de que,
oportunamente, ela pode prejudicar o candidato na disputa eleitoral"60.
No dia 15 de outubro a campanha da coligação “Brasil acima de tudo, Deus acima de
todos” não chegou a exibir materiais novos no horário eleitoral gratuito, apenas uma nova
edição dos materiais antigos já citados anteriormente. Incluindo o trecho onde defende uma
passagem bíblica como bandeira de sua campanha: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará”, colocando-se como defensor da verdade.

Figura 6 – Captura de tela de trecho sobre passagem bíblica.

Fonte: ​https://youtu.be/34PhmUW_dus

Torquato (2014) chama esse tipo de discurso utilizado aqui por Bolsonaro de brilho
carismático e fala que pode ser muito eficaz dado que “A população, nestes tempos de
descrença na política, aumenta sua fé, procurando na mística religiosa recompensa para as
mazelas da vida.” ele lembra também que “A aura do iluminado, a eloquência do pregador e a
bondade do crente passam a ser vistos como valores em ascensão.” Bolsonaro busca, ao usar a
retórica de porta-voz da verdade, mostrar que tem esse brilho carismático religioso.
A campanha petista, porém, discorda. O vídeo do seu programa eleitoral neste dia 15
reprisou vários materiais de campanha exibidos na semana anterior, incluindo os que

60

<​https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/eleicoes/2018/10/14/tse-nega-direito-resposta-bolsonaro-haddad
-propaganda.htm​> Acesso em: 14. Abril. 2019.

44
denunciam Jair Bolsonaro de promover mentiras e notícias falsas. Ironicamente, uma peça
publicitária da campanha de Fernando Haddad teve a sua veiculação barrada pelo TSE neste
mesmo dia justamente por, de acordo com o ministro Sérgio Banhos, poder ser entendido
como ​fake news61.
Na peça publicitária, a campanha petista afirmava que o adversário votou contra Lei
Brasileira de Inclusão (LBI). No entanto, a lei foi aprovada por unanimidade na Câmara dos
Deputados e entrou em vigor em 2016. Bolsonaro teria, na verdade, votado apenas contra um
destaque do texto, que tratava da especificidade, da identidade de gênero e da orientação
sexual da pessoa com deficiência. Claramente uma mentira classificada como “a respeito do
adversário”, do tipo “deformação qualitativa”, que busca caracterizar um fato (votação contra
trecho da LBI) de maneira falaciosa (como votação contra toda a LBI).
Abismados com as notícias falsas e acusações, o Tribunal Superior Eleitoral, por meio
da sua então presidente Rosa Weber, convocou para terça-feira (16) uma reunião com os
coordenadores jurídicos das duas campanhas62. A ministra pediu um pacto para combater as
fake news no segundo turno das eleições que envolvesse serenidade, compromisso contra a
violência e contra divulgação de mensagens sem fundamentos atacando as urnas, dentro e fora
das campanhas de na televisão. Os representantes de ambos os candidatos se comprometeram
com esse pacto.

3.4 Dia 16/10 – Tortura e comparações

Porém, o dia seguinte entrou para a história da campanha como um momento crucial
para esquentar ainda mais os ânimos das duas candidaturas dentro e fora da televisão. Na
ausência de debates presidenciais na tevê no segundo turno, os candidatos partiram para um
confronto nas redes sociais. Neste dia 16 de Outubro, Haddad chamou atenção para o fato de
que ex-líder Ku Klux Klan David Duke elogiou Bolsonaro e afirmou que ele "soa como nós",
para quem o candidato do PSL respondeu que “por coerência, apoiem o candidato da
esquerda”. Foi só o começo das trocas de farpas.

61
<​https://www.huffpostbrasil.com/2018/10/16/pt-tem-propaganda-barrada-pelo-tse-fake-news_a_23562644/​>
Acesso em: 17. Abril. 2019.
62

<​https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/tse-convoca-campanhas-de-haddad-e-bolsonaro-para-reuniao-
sobre-fake-news-dfjiresyl7pc2a04qjb4f7i0m​> Acesso em: 14. Abril. 2019.

45
Discussões neste mesmo teor continuaram ecoando nesta terça-feira também nas
televisões dos brasileiros. Na campanha de Fernando Haddad é feita uma associação de
Bolsonaro com Steve Bannon, um assessor político estadunidense que serviu como diretor
executivo da campanha presidencial de Donald Trump, onde houve grande disseminação de
notícias falsas. Esta associação tem como base elogios públicos que o americano havia feito à
Jair Bolsonaro e o encontro dele com Eduardo Bolsonaro, o filho do presidenciável, e serviu
como argumento para falar que a campanha de Jair Bolsonaro estaria usando ​fake news como
tática de marketing político também. Mas as associações não param por aí.

Figura 7 – Captura de tela de trecho sobre Steve Bannon.

Fonte: ​https://youtu.be/F828EAha0go

“Você sabe o que é tortura?”, perguntou o narrador da campanha petista ao exibir


cenas do filme “Batismo de Sangue”, narradas por Amelinha Teles, uma vítima deste crime
bárbaro durante o período da ditadura militar. O intuito da peça publicitária é bem claro:
associar o candidado do PSL às torturas e as barbaridades, o que faz sem nenhuma
dificuldade. Bolsonaro de fato homenageou o Carlos Alberto Brilhante Ustra no auge do
processo de ​impeachment ​de Dilma Rousseff. O então deputado dedicou seu voto na Câmara
dos Deputados em 2016 à memória de Ustra, o militar que comandou o Destacamento de
Operações de Informações em São Paulo no auge da repressão militar e foi condenado pela
Justiça Brasileira pela prática de tortura no período63. A propaganda petista exibe o voto de
Jair Bolsonaro, além de mostrar entrevista onde o mesmo afirma ser favorável a tortura.

63

<​https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/04/18/Impeachment-Bolsonaro-e-Ustra.-Um-coronel-da-ditadur
a-homenageado-no-Congresso​> Acesso em 21.Abril.2019.

46
Figura 8 – Captura de tela de trecho sobre homenagem à Ustra.

Fonte: ​https://youtu.be/F828EAha0go

A campanha petista segue, então, fazendo associações das posições do adversário


sobre tortura com algumas fotos, vídeos e notícias dos seus eleitores protagonizando
perseguições, agressões e até um assassinato: o de Romualdo Rosário da Costa, o Môa do
Katendê. Testemunhas relataram que ele foi vítima de facadas desferidas por apoiadores de
Bolsonaro após ter defendido o voto no PT.64 A propaganda se encerra com a mensagem
“Bolsonaro. Quem conhece a verdade, não vota nele”.
Os advogados da campanha de Bolsonaro alegaram ao Tribunal Superior Eleitoral que
o programa em questão viola a lei eleitoral ao fazer tais ligações, que eles consideram
inverídicas, e que pode portanto pode acirrar os ânimos da população. O TSE acatou a
reclamação e vetou a sua veiculação dias depois, tendo o Ministro Luis Salomão chamado o
trecho de “distopia simulada na propaganda”65. Como veremos, a campanha da coligação O
Povo Feliz de Novo exibiu este vídeo mais algumas vezes até ele ser vetado pelo TSE.
É importante ressaltar este caso porque embora o TSE tenha vetado a propaganda
alegando que ela está forjando um cenário falso, todas as informações dadas como
argumentação – homenagem de Bolsonaro a um torturador, os crimes feitos pelo torturador e
casos de violência causados por apoiadores – são verdadeiras. Pode-se dizer que a decisão do

64

<​https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/10/17/investigacao-policial-conclui-que-morte-de-moa-do-katende-
foi-motivada-por-briga-politica-inquerito-foi-enviado-ao-mp.ghtml​ > Acesso em 21.Abril.2019.
65
<​https://veja.abril.com.br/politica/tse-veta-propaganda-de-haddad-na-tv-que-associa-bolsonaro-a-tortura/​>
Acesso em 21.Abril.2019.

47
ministro de chamar o cenário descrito pela campanha petista de distopia simulada é o
equivalente a, usando as definições de Guy Durandin (1997), classifica-la como uma “mentira
a respeito do ambiente” operando como “deformação”. Ou seja: ele afirma que a campanha
forja uma narrativa enganosa sobre fatos e circunstâncias que de fato existem. O ministro não
aponta porque a narrativa descrito seria enganosa, apenas que pode “incitar comportamentos
violentos” e o descreve enquadrando-o em trecho do Código Eleitoral “criar, artificialmente,
na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais”.
A propaganda de Jair Bolsonaro neste mesmo dia exibe e acentua trecho de discurso
do senador eleito Cid Gomes discutindo com militantes do Partido dos Trabalhadores e exibe
o candidato do PSL falando sobre segurança pública. Porém, seu foco principal é um
comparativo entre Bolsonaro com Fernando Haddad, o que chamam de “debate sobre planos
de governo”.
Na parte do comparativo referente a segurança pública, a campanha mostra no lado
esquerdo da tela onde estão sendo exibidas as propostas do candidato petista a frase
“Bandidos Armados”, embora a apresentadora descreva a proposta de Haddad para segurança
pública como “Haddad quer desarmar a população”.

Figura 9 – Captura de tela de trecho sobre “bandidos armados”.

Fonte:​ https://youtu.be/F828EAha0go

O plano de governo, assim como as declarações do mesmo, não corroboram com a


afirmação de que sua proposta para segurança pública seja armar bandidos.

Nesse contexto, a política de controle de armas e munições deve ser aprimorada,


reforçando seu rastreamento, por meio de rigorosa marcação, nos termos do Estatuto

48
do Desarmamento. A redução da violência causada pelo uso de arma de fogo passa
por utilizar inteligência acumulada para retirar armas ilegais de circulação e represar
o tráfico nacional e internacional. (Plano de Governo da coligação O Povo Feliz de
Novo66).

É feita, portanto, na inserção gráfica da campanha de Jair Bolsonaro uma afirmação


falaciosa, buscando induzir eleitor a uma conclusão falsa, embora possa ser classificado como
hipérbole. É uma “mentira a respeito do adversário” operada como adição. Como citado
anteriormente, a campanha petista entrou com recurso que foi negado pelo TSE.
Ao que parece, a intenção da campanha do PSL aqui, ao se contrapor a Fernando
Haddad afirmando que busca “legítima defesa” como solução para a violência é o apelo a
autoridade, que segundo Torquato (2014), é um dos conceitos centrais do embasamento do
discurso de candidatos. “Os cidadãos exigem ordenamento, disciplina. Essas demandas
convergem para o perfil da autoridade” afirma o autor.

3.5 Dia 17/10 – Os donos da verdade

No dia seguinte67, o campanha da coligação liderada pelo PSL pôde dar a sua resposta
à peça petista sobre tortura e eles aproveitaram a oportunidade para continuar com a disputas
de narrativas sobre a verdade, sobre que campanha é a porta-voz dela e qual campanha é
responsável por disseminar mentiras. Primeiro, foi lida pela narração uma declaração da
campanha. Transcrevo a seguir os trechos referentes a este embate de verdades:

Na propaganda eleitoral do PT o Brasil está assistindo a forma mais baixa e triste de


fazer campanha. Cenas deploráveis e condenáveis expondo pessoas de uma forma
covarde. Uma propaganda milionária, paga com o seu dinheiro, para criar uma obra
de ficção terrorista que semeia medo e mentiras. [...] Nossa campanha é baseada em
fatos, sem manipulação, sem “marquetagem”, mostrando a realidade que eles
querem fazer você esquecer. [...] (HGPE, 07/09/2018)

A campanha também mostra depoimentos de eleitores desaprovando o vídeo petista


que classificam como “filme”, “mentira” e ato de “desespero” e só depois partem para outros
aspectos da candidatura de Bolsonaro, traçando críticas aos governos Lula e Dilma e
apontando novos caminhos.

66
<​https://pt.org.br/wp-content/uploads/2018/08/plano-de-governo_haddad-13_capas.pdf​> Acesso em
21.Abril.2019.
67
HGPE do dia 17 de outubro de 2018 <​https://youtu.be/77ZjiatosjQ​> Acesso em 21.Abril.2019.

49
Já a campanha de Fernando Haddad deste dia já começa relembrando a “história do kit
gay”, chamando novamente de mentira, classificando como ​fake news e mostrando notícia
que aponta que o TSE mandou tirar do ar uma peça publicitária da campanha do PSL sobre o
tema. A campanha petista também reexibe o vídeo sobre a tortura na íntegra, bem no início da
peça, e expõe também uma série de propostas e um retrato dos governos petistas totalmente
oposto da visão da campanha de Jair Bolsonaro.
Evidentemente, a intenção da campanha de Fernando Haddad neste vídeo é usar o
“combate às ​fake news​” como estratégia eleitoral tanto buscando elucidar os eleitores sobre o
tema, quanto para aviltar a campanha de Jair Bolsonaro, chamando-a de mentirosa.

3.6 Dia 18/10 – Decisão do TSE e José Dirceu

Nesta quinta-feira, a coligação “O Povo Feliz de Novo” continuou a reexibir o


material sobre a tortura e acusou o candidato opositor de ser subserviente à interesses dos
Estados Unidos, exibindo vídeo onde Jair Bolsonaro bate continência para a bandeira deste
país, trechos isolados de entrevistas onde o mesmo afirma que quer firmar parcerias e acordos
com os americanos e, novamente, exibem a ligação com Steve Bannon como acusado “de
espalhar notícias falsas para ganhar eleições”.

Figura 10 – Captura de tela de trecho sobre decisão do TSE.

Fonte: ​https://youtu.be/tdodiALXuBM

A peça foi finalizada com a apresentadora noticiando decisão do TSE de retirar do ar


páginas que estariam disseminando mentiras sobre o programa Escola sem Homofobia

50
desenvolvido pelo Ministério da Educação à época em que o presidenciável Fernando Haddad
estava à frente da pasta, chamado pelos opositores de “kit gay”.
A coligação “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos” também exibiu um filme
com trechos novos mesclados com materiais já exibidos. O filme começa falando sobre José
Dirceu e exibe notícias que apontam para influência do político preso e condenado na pela
Operação Lava Jato na campanha de Haddad, critica a gestão econômica e de política externa
os governos petistas e aponta um novo caminho com testemunhal do economista Paulo
Guedes. Foi o primeiro programa sem disseminar informações aqui classificadas como falsas
ou atacar o adversário de fazê-lo.

3.7 Dia 19/10 – Nordeste e o escândalo do ​Whatsapp

Esta sexta-feira foi um dia-chave para a estratégia da campanha de Jair Bolsonaro no


Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. O candidato à Presidência do PSL, Jair Bolsonaro,
dedicou o programa à região Nordeste, única onde foi derrotado por Fernando Haddad. O
programa de Bolsonaro no HGPE exibiu notícias sobre obras paradas na região e uma
animação feita por um locutor com sotaque nordestino, com um texto rimado, inspirado na
literatura de cordel.
A música cita promessa de Bolsonaro de aumentar o valor do Bolsa Família e dar uma
13ª parcela do benefício, além de falar sobre distribuição de “livro de besteira” nas escolas,
fazendo uma alusão velada ao “kit gay”, no que parece uma maneira de driblar a
determinação do TSE para que a campanha não fale mais sobre o tema.
Ocorre uma mistura da mentira clássica com a mentira por ocultação. Pois não apenas
não é verdade que existam esses “livros de besteira” sendo distribuídos nas escolas, como há a
omissão do objeto da mentira em si, assim como a omissão da discussão sobre ele. É,
portanto, uma mentira referente, pois age como invenção de fatos passados e revisionismos
históricos, mas opera como supressão, pois faz a​creditar que não existe uma coisa que existe.

51
Fotografia 11 – Captura de tela de trecho sobre “livro de besteira”.

Fonte: ​https://youtu.be/RG6sPpGmCg4

Já o programa do candidato Fernando Haddad no HGPE, por estar proibido de


mostrar o filme sobre tortura, exibiu neste mesmo dia exibiu uma versão diferente do trecho
sobre a suposta violência do candidato adversário, onde continua mostrando falas polêmicas
de Bolsonaro, assim como notícias e vídeos sobre atitudes violentas de seus apoiadores. Uma
das imagens exibidas é a parede de um banheiro do curso de Ciências Sociais na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) que
contém mensagem homofóbica e uma suástica no nome de Bolsonaro.

Fotografia 12 – Captura de tela de trecho com pichação de suástica.

Fonte: ​https://youtu.be/RG6sPpGmCg4

52
Não se sabe se essa pixação, como várias outras que surgiram neste período de
campanha, foi feita por apoiadores ou até mesmo opositores do candidato do PSL, como foi
caso da igreja de Nova Friburgo, onde após a análise de imagens encontradas em câmeras de
segurança, a Polícia Civil afirmou que as pessoas que deixaram a cruz suástica no local foram
as mesmas que picharam as mensagens “#EleNão” e “Ele jamais”68. Isto é o que John
Mearsheimer chama de ocultação, isto é, uma estratégia caracterizada por silenciar-se sobre
uma parte importante do fato que está narrando, no caso silenciar-se sobre ninguém saber ao
certo quem fez a pichação.
O mesmo pode ser dito da imagem mostrada a seguir pela campanha de Fernando
Haddad: a jovem que disse ter sido agredida por três homens por usar camisa com a frase “Ele
não” e teve uma suástica desenhada em seu corpo. Esta notícia, como apontamos
anteriormente, já foi mostrada em um programa eleitoral do PT e, de acordo com o delegado
do caso, foi um relato mentiroso. No dia da exibição do programa eleitoral em questão a
perícia da polícia ainda não havia sido divulgada.
Em seguida, o programa trata de notícia que foi capa da Folha de São Paulo69 no dia
anterior: empresários estariam bancando campanha contra o PT através de disparos em massa
de mensagens no WhatsApp para favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro.

Fotografia 13 – Captura de tela de trecho sobre notícia da Folha de São Paulo.

Fonte:​ https://youtu.be/RG6sPpGmCg4

68
<​https://istoe.com.br/policia-identifica-autores-de-pichacao-em-igreja-de-nova-friburgo/​> Acesso em
28.Abril.2019.
69
<​https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/10/18/​> Acesso em 02.Maio.2019.

53
Embora na matéria da jornalista Patrícia Campos Mello não exista nenhuma
especificação do conteúdo das mensagens, a apresentadora do programa petista as classifica
como “notícias falsas contra o PT e Fernando Haddad”. A campanha do PT entrou com uma
ação no TSE sobre o escândalo70 e o tribunal fez uma investigação judicial. Mais tarde, o
plenário do TSE decidiu por unanimidade que não havia elementos suficientes para
comprovar a alegada conduta ilícita.71 É importante ressaltar que a matéria da Folha de São
Paulo não apresentou nenhuma evidência sobre as alegações feitas, tampouco a campanha
petista o fez ao mostrá-la no programa eleitoral. Assim como nos casos da suástica, foram
feitas acusações sem provas contundentes como estratégia de marketing político.
Depois disso, o “programa Haddad Presidente” posiciona-se contra proposta de Jair
Bolsonaro sobre ensino à distância, Haddad também aparece para apresentar diferentes
propostas de governo e o programa finaliza com apresentadora falando sobre a equipe de Jair
Bolsonaro.

3.8 Dia 20/10 – Repercussões

O sábado72 foi usado para mostrar as repercussões da campanha do dia anterior, o


candidato à Presidência da República pelo PT, Fernando Haddad voltou a mencionar as
investigações com relação à denúncia sobre suposto esquema de fake news espalhadas pelo
WhatsApp em benefício do candidato Jair Bolsonaro (PSL), mostrando imagens de
reportagem transmitida no Jornal Nacional. Além de mostrar seu ​jingle,​ posições e
declarações polêmicas de Bolsonaro e propostas de governo.
O programa de Bolsonaro, por sua vez, não fez referência alguma sobre o assunto da
investigação sobre o Whatsapp. O candidato do PSL apenas reexibiu o programa do dia
anterior, buscando conquistar votos do público do Nordeste.

70

<​https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,em-nota-ao-tse-whatsapp-afirma-que-nao-foi-contratado-pela-cam
panha-de-jair-bolsonaro,70002605708​> Acesso em 02.Maio.2019.
71

<​http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Dezembro/tse-julga-improcedente-acao-de-investigacao-contr
a-bolsonaro-por-abuso-de-poder-economico-1​> Acesso em 02.Maio.2019.
72
HGPE do dia 20 de outubro de 2018 <​https://youtu.be/-lHXQOWOUas​> Acesso em 21.Maio.2019.

54
3.9 Dia 22/10 – Escândalo do ​Whatsapp​: disputa de narrativas

Na semana seguinte, o Partido Social Liberal (PSL) e o Partido dos Trabalhadores


(PT) trouxeram muitos materiais novos para o horário eleitoral. Cada um tentando, a sua
maneira, ganhar a narrativa ao apontar que seu adversário está espalhando notícias falsas. O
programa da coligação Brasil acima de tudo, Deus acima de todos já começa chamando a
campanha petista de “uma máquina de mentiras e notícias falsas”.

Fotografia 14 – Captura de tela de trecho sobre “Mentiras e notícias falsas”.

Fonte: ​https://youtu.be/irqxPYDAqOc

Em seguida a narração faz uma linha do tempo de acusações do partido que


envolveram atos ilícitos e disseminação de mentiras. A lista começa exibindo manchete da
Folha de S. Paulo73 sobre delação de um ex-executivo da Odebrecht para ilustrar o
“​Escândalo dos Aloprados”​ , onde petistas teriam usado dinheiro oriundo de uma transação
entre a Odebrecht e a cervejaria Itaipava para tentar comprar um dossiê contra o tucano José
Serra.
Depois, o vídeo mostra matéria da BBC Brasil sobre investigação de uma rede de
perfis falsos na internet usados para defender e fazer campanha para Dilma Rousseff nas
eleições de 2010, a “​Rede de fakes do PT​”74, mostra trecho do programa CQC onde o repórter
questiona político petista sobre suposto uso de “​fakes no Distrito federal”​ , exibe matéria do

73
<​https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/04/1875877-dinheiro-de-escandalo-dos-aloprados-veio-da-odebrec
ht-diz-delator.shtml​> Acesso em 03.Maio.2019.
74
<​https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43118825​> Acesso em 03.Maio.2019.

55
G1 sobre delação premiada onde marqueteira Mônica Moura afirma que publicitário Jeferson
Monteiro recebeu R$ 200 mil para reativar conta “Dilma Bolada” no twitter, o que a narração
classifica como “​Propina para blogueiro​”, exibe também matéria do O Antagonista75 sobre
suposto pagamento de militância online para disseminar conteúdo favorável ao PT, os
“​Cybermortadelas​”e finaliza com notícia do Uol sobre Fernando Haddad ter publicado em
seu Twitter que Jair Bolsonaro votou contra Estatuto da Pessoa com Deficiência, quando, na
verdade, Bolsonaro se absteve da votação, e que por isso a postagem foi excluída.76 A
narração classifica este episódio como “​Mentira contra Bolsonaro​”.
Toda essa linha do tempo serviu na criação da narrativa na propaganda que culminou
com a defesa da campanha de Jair Bolsonaro às acusações do Escândalo do Whatsapp. A
narração classificou o escândalo como “matéria mentirosa”, “uma história sem pé nem
cabeça”, “sem nenhuma prova ou evidência” e “um verdadeiro aloprados 2”. Em seguida, o
vídeo volta a se focar em diversas denúncias de corrupção dos governos petistas. Torquato
(2014) aponta que esse é o argumento da “herança maldita”, quando o político afirma que os
governos adversários fizeram uma administração pública falha e agora precisa-se de alguém
para consertar.

Figura 15 – Captura de tela de trecho sobre “Fake News e Corrupção”.

Fonte: ​https://youtu.be/irqxPYDAqOc

75
<​https://www.oantagonista.com/internet/o-pt-inventou-cybermortadela/​> Acesso em 03.Maio.2019.
76
<​https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/10/14/apos-dizer-que-bolsonaro-votou-contra
-deficientes-equipe-de-haddad-apaga-tuite.htm​> Acesso em 03.Maio.2019.

56
Depois, com a chegada da apresentadora do programa eleitoral, a campanha exibe
propostas para diferenciar Jair Bolsonaro dos líderes petistas, mostra uma fala do
presidenciável e outra do seu aliado Onyx Lorenzoni e é finalizada com jingle da campanha.
A propaganda do Partido dos Trabalhadores também se inicia já falando do tema das
fake news​. A apresentadora afirma que as notícias falsas são materiais criados pela campanha
do adversário de forma ilegal, fazendo referência à matéria da Folha de S. Paulo sobre o
escândalo do Whatsapp. Também é afirmado novamente que o chamado kit gay nunca existiu
e o livro exibido por Jair Bolsonaro nunca foi distribuído nas escolas públicas.

Figura 16 – Captura de tela de trecho sobre matéria da Folha de S.Paulo.

Fonte: ​https://youtu.be/irqxPYDAqOc

O programa eleitoral continua a falar de Bolsonaro mostrando trechos de vídeos do


presidenciável durante a sua carreira política: defesa da tortura, da ditadura militar brasileira,
da morte de inocentes, crítica ao uso de bolsas assistencialistas e suposta proximidade política
à Michel Temer.
A propaganda exibe cenas do Nordeste, defende as gestões petistas para a regiã oe
para o Brasil, mostra propostas, depoimento do ex-presidente Lula e finaliza com fala de
Fernando Haddad em um comício eleitoral convidando Jair Bolsonaro ao debate.
Torquato (2014) afirma que os debates vêm despertando cada vez menos interesse dos
eleitores, o que vai de encontro com a estratégia da campanha do petista de insistir na
realização de um para evidenciar suas diferenças ao candidato adversário.

57
3.10 Dia 23/10 – Herzog e escândalo do ​Whatsapp

Faltando apenas cinco dias para o segundo turno77 das eleições, os candidatos
resolveram manter a mesma retórica. Na propaganda de Fernando Haddad foi apresentado
uma visão negativa sobre um eventual governo Bolsonaro a partir de suas declarações e
pronunciamentos intercalados de mensagens de eleitores corroborando esta visão. Neste
segmento, a propaganda exibiu uma entrevista de Ivo Herzog, filho do jornalista torturado e
assassinado pelo regime militar brasileiro nas instalações do DOI-CODI Vladimir Herzog,
para ilustrar fala de Jair Bolsonaro em apoio à tortura e ao regime militar. Trecho semelhante
ao programa eleitoral do dia 16 de outubro, que foi suspenso pelo TSE. O programa ainda
mostra propostas e faz um exercício imaginativo de como seria o Brasil após um ano de
governo Haddad.
O horário gratuito de propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro exibiu novamente o vídeo
do dia anterior em resposta ao Escândalo do ​Whatsapp​. A repetição de tópicos importantes
pode ser uma estratégia muito importante para a eficácia da transmissão da mensagem, ainda
mais em uma tão importante quanto a que este programa se propõe: se defender de um
escândalo envolvendo ​fake news e, portanto, o lugar de Jair Bolsonaro como porta-voz da
verdade.
Torquato (2014) afirma que uma das linguagens imprescindíveis que devem ser
dominadas pelo candidato em uma disputa eleitoral é a linguagem da coerência, isto é, o
candidato deve manter-se firme as suas posições, aos seus valores e aos seus objetivos.
Bolsonaro mostra-se ao eleitorado desde o início da campanha como alguém que difundir a
verdade, como podemos ver com a repetição constante do trecho bíblico “E conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará”, portanto seria uma falha de estratégia (não estaria
seguindo a linguagem da coerência) se o candidato do PSL não se defende-se do Escândalo do
Whatsapp ​por mais de um programa eleitoral.

77
HGPE do dia 23 de outubro de 2018 <​https://youtu.be/ZreMthJlmZQ​> Acesso em 21.Maio.2019.

58
3.11 Dia 24/10 – Mulheres e ​dog-whistle

O programa eleitoral do candidato Jair Bolsonaro (PSL) exibido nesta quarta-feira foi
direcionada especialmente ao público feminino, parte do eleitorado que apresentava grande
rejeição ao presidenciável78. A apresentadora exibiu dados, notícias e estatísticas para
argumentar que os governos petistas não deram a devida atenção ao combate à violência
contra a mulher e nem amparo às mulheres vítimas de violência. O argumento principal é que
o discurso do Partido dos Trabalhadores sobre o tema é uma mentira.

Fotografia 17 – Capturas de tela dos trechos sobre discurso petista.

Fonte: ​https://youtu.be/g9adOO_3kek

Em seguida, a apresentadora aponta quais desejos as mulheres têm para o Brasil e


entre eles está “queremos um governo que preserve a inocência das crianças nas escolas”, o
que é novamente uma referência velada à polêmica do suposto kit gay. Esta tática é o que
autores anglófonos chamam de ​dog whistle politics – assim como o apito para cães só pode
ser ouvido por estes animais e passa despercebido por nós humanos, uma mensagem
codificada transmite um significado para o grande público e outro para um grupo específico
de pessoas, geralmente a sua base eleitoral –. Para o grande público, a campanha do PSL pode
estar defendendo de maneira genérica a preservação da inocência das crianças nas escolas

78
<​https://exame.abril.com.br/brasil/rejeicao-de-bolsonaro-entre-as-mulheres-pode-atrapalhar-2o-turno/​> Acesso
em 03.Maio.2019.

59
através de políticas públicas, mas para o público que já foi impactado com a notícia falsa
sobre o “kit gay” e acredita nela, a propaganda de Bolsonaro está se posicionando contra a
suposta distribuição de livros como o “Aparelho Sexual e Cia”, reforçando esta mentira.
Embora mais sutil, esta parte da propaganda que fala sobre a inocência das crianças se
assemelha com trecho sobre “livros de besteira” do HGPE de Jair Bolsonaro no dia 19 de
outubro. É também uma mentira referente, pois age como invenção de fatos passados e
revisionismos históricos, mas opera como supressão, pois faz acreditar que não existe uma
coisa que existe.
A propaganda ainda depoimentos de mulheres apoiando a candidatura de Jair
Bolsonaro: as deputadas Joice Hasselmann e Dayane Pimentel, a ex-ministra do STJ Eliana
Calmon e Dona Denise, uma mulher a quem o então deputado ajudou. Esta última mensagem
se inicia com o título “Esta é uma história verdadeira”.
Já o HGPE do candidato Fernando Haddad exibe um vídeo com forte apelo
emocional, falando de medos e possíveis cenários catastróficos para a sociedade brasileira
com a eleição de Jair Bolsonaro: aumento da violência, mortes decorrentes do uso de armas
de fogo, guerra com a Venezuela e instabilidade democrática. Os argumentos são amparados e
ilustrados com declarações do próprio Jair Bolsonaro e do seu filho Eduardo Bolsonaro. A
campanha exibe também diferentes propostas e jingles em formato de repente e rap.

3.12 Dia 25/10 – Farc, o pior prefeito do Brasil, kit gay e ateísmo

Figura 18 – Captura de tela de trecho de Haddad pedindo um basta às notícias falsas.

Fonte: ​https://youtu.be/RzGPSyvwEk8

60
Como vemos na figura 18, na quinta-feira antes das eleições, o programa eleitoral do
Partido dos Trabalhadores reexibiu muitos dos trechos já exibidos anteriormente, com uma
nova edição, apenas com uma nova edição. O foco do vídeo foi invocar a união dos
brasileiros na defesa de valores como democracia, educação e geração de trabalhos. Exibiu o
jingle da mistura de repente com rap, apelo emocional contra o armamento e depoimentos de
vítimas da ditadura, além de vídeo do próprio candidato pedindo união e o fim de notícias
falsas. Novamente repete-se este clamor anti-​fake news.​
Já o programa eleitoral do Partido Social Liberal na tarde desta quinta-feira manteve
uma narrativa parecida com a do dia anterior, mas com o um tema diferente. Invés de falar
especificamente de violência contra a mulher, a propaganda de Jair Bolsonaro fala sobre os
índices de violência no geral. A propaganda começa com a descrição de um cenário de terror
vivido pelo Brasil: quase 64 mil assassinatos em 2017, 26 mil no primeiro semestre de 2018,
crime organizado e ganho de território para as FARC no Brasil.

Figura 19 – Captura de tela de trecho sobre as FARC.

Fonte: ​https://youtu.be/RzGPSyvwEk8

Porém, enquanto as primeiras informações são baseadas em dados, o mesmo não pode
ser dito da última. Não há evidências que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
estejam ganhando espaço no território brasileiro como aponta a propaganda. A peça
publicitária, inclusive, ecoa o mesmo que é dito no programa de governo de Jair Bolsonaro.

Além disso, as FARC participaram do Foro de São Paulo, fundado pelo PT e pelo
ditador cubano. A verdade é que o número de homicídios no Brasil passou a crescer
de forma consistente a partir do 1º Foro de SP, no início dos anos 1990. Houve até

61
“bolsa crack” em cidades administradas pela esquerda, como por exemplo em São
Paulo. (PLANO DE GOVERNO, 2018, p. 26, ARQUIVO ELETRÔNICO79)

A afirmações sobre a ligação do Foro de São Paulo, ao qual o Partido dos


Trabalhadores é membro, com as Farc foi classificada como “insustentável” pela agência de
checagem Aos Fatos80, assim como as informações sobre epidemia de crack e “bolsa crack”.
A afirmação, acompanhada da imagem de guerrilheiros armados espera transmitir aos
eleitores a mensagem de que grupos armados das Farc estão invadindo o Brasil para trazer
violência, embora a organização paramilitar tenha feito em 2016 um acordo de paz com o
governo colombiano visando desarmar-se e tornar-se um partido político. Gerando redução
drástica de mortes, desarmamento e findando o braço militar das Farc81.
Esta é, portanto, é uma “mentira a respeito do adversário”, onde podemos observar o
fato ser forjado para dar lugar a uma narrativa de ataque ao adversário (os governos petistas)
como responsável por permitir a disseminação de uma organização terrorista em solo
brasileiro. É o uso da mentira como estratégia política. É mentira como ferramenta de
storytelling para a propaganda sobre a ascensão da violência no país. Esta mentira opera como
“adição”: faz acreditar na existência de coisas que não existem.
Os outros trechos da propaganda tratam de outro tema: as pessoas com deficiência no
Brasil. É mostrado o encontro do presidenciável com diversos líderes de instituições que
trabalham com a inclusão da pessoa com deficiência e também um depoimento da esposa do
presidenciável, Michele Bolsonaro. O vídeo acaba com trecho que havia sido exibido no dia
22 de outubro sobre ​fake news​ e corrupção nos governos do PT.
A noite, porém, a campanha do candidato Jair Bolsonaro exibiu um vídeo diferente.
Também focando na onda de violência que assola o país, a peça publicitária apontou, em
narração ​off​, a corrupção dos governos do PT como uma das causas do problema. Afirmou
que os petistas “em sua propaganda, mentem, caluniam e inventam” e em seguida fez uma
descrição da vida pública de Fernando Haddad.

79

<​http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000614517/proposta_153
4284632231.pdf​> Acesso em 07. Maio.2019.
80

<​https://aosfatos.org/noticias/bolsonaro-subestima-numero-de-mortes-causadas-por-policiais-em-seu-plano-de-g
overno/​> Acesso em 07. Maio.2019.
81

<​https://g1.globo.com/mundo/noticia/acordo-de-paz-com-as-farc-completa-um-ano-com-reducao-drastica-das-m
ortes-veja-como-esta-a-situacao-na-colombia.ghtml​> Acesso em 07. Maio.2019.

62
Haddad foi o pior prefeito do Brasil e não conseguiu se eleger. [...] Haddad criou o
kit gay e, por mais que ele tente esconder, a gente mostra a verdade. [...] Haddad e
Manuela são ateus. Na eleição, desrespeitam a fé do povo brasileiro indo a missas e
cultos.[...]

Essa afirmação de que Haddad foi o pior prefeito do país está ancorada por diversas
matérias de blogs compartilhados exaustivamente por eleitores de Jair Bolsonaro nas mídias
sociais, mas poucas aponta dados que sustentam esta declaração. As que apontam dados
geralmente referenciam a pesquisa da Vox Populi encomendada pela TV Bandeirantes em
201482, embora a própria campanha de Jair Bolsonaro não tenha referenciado esta fonte. O
instituto de pesquisa em questão entrevistou eleitores de oito capitais brasileiras e fez um
ranking das avaliações dos prefeitos destas cidades no momento. Haddad teve a pior avaliação
entre os oito prefeitos, com 16% de respostas positivas. A título de comparação, o mais bem
avaliado, ACM Neto, teve 61% de aprovação. O Brasil tem 5.570 municípios, portanto
afirmar que Haddad foi o chefe do executivo mais mal avaliado se comparado com outros sete
não é o mesmo que afirmar que ele foi o mais mal avaliado de todo país.
Esta pode ser considerada uma “mentira a respeito do adversário”, onde forja-se fatos
sobre o oponente político, neste caso que foi o pior prefeito do Brasil. Ou também uma
“mentira referente”, onde estão enquadrados os revisionismos históricos, neste caso revisa-se
o cenário do Brasil no momento da gestão de Fernando Haddad na prefeitura. Das duas
maneiras, a mentira é operada como “deformação” de maneira quantitativa, ao extrapolar o
fato de Haddad ter sido o mais mal avaliado entre alguns prefeitos para ser tido como o mais
mal avaliado do país.
Torquato (2014) afirma que um dos conceitos centrais para o embasamento do
discurso dos candidatos é a “experiência bem-sucedida”, onde o candidato tenta se contrapor
ao inusitado, imprevisível e ao improviso. Podemos afirmar que a candidatura do PT buscou
utilizar este conceito e, ao chamar Haddad de “pior prefeito do Brasil”, a intenção da
campanha do PSL foi desconstruir essa imagem.
Para ilustrar a declaração “Haddad criou o kit gay e, por mais que ele tente esconder, a
gente mostra a verdade” da argumentação, a campanha exibe vídeo com André Lázaro,

82

<​https://noticias.band.uol.com.br/noticias/100000725503/vox-populi-haddad-e-o-prefeito-com-menor-avaliacao-
positiva.html​> Acesso em 07. Maio.2019.

63
ex-secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do ministério da
Educação na gestão de Fernando Haddad em que o mesmo fala “Um dos materiais didáticos,
um dos filmes, tinha um beijo na boca. Um beijo lésbico na boca. A gente ficou uns três
meses discutindo até onde entrava a língua”. As imagens, de 2010, foram reveladas em
reportagem exibida em maio de 2011 pelo Jornal da Record, quando Lázaro já havia saído do
cargo.

Figura 20 – Capturas de tela de trecho sobre beijo lésbico.

Fonte: ​https://youtu.be/vDn1FnBXHjY

A campanha do PSL voltou a tocar no tema, desta vez mais explicitamente, mesmo
com diversas decisões do Tribunal Superior Eleitoral determinando a remoção de vídeos e
programas eleitorais em que o candidato usa a expressão "kit gay" por "informação
equivocada"83. A fala do ex-secretário ao descrever uma cena de beijo para uma peça
audiovisual que iria compor o projeto Escola Sem Homofobia é irrelevante para o fato de que
o projeto não aconteceu de fato. Mas diferente da afirmação mentirosa sobre a presença do
livro “Aparelho Sexual e Cia.” na cartilha citada em propagandas anteriores, os materiais
audiovisuais em questão fizeram sim parte do projeto em sua primeira etapa, embora tenha
havido solicitações de alterações neles antes do seu total cancelamento. Visto no contexto da
campanha, este trecho do filme publicitário pode ser visto como mais um ​dog whistle sobre o
livro, o que a tornaria uma mentira referente operando como supressão. Porém, visto
isoladamente, é uma difusão da informação sobre a existência do Escola Sem Homofobia,
embora chame-o pelo nome pejorativo “kit gay”.

83

<​https://www.huffpostbrasil.com/2018/10/25/bolsonaro-desafia-a-justica-eleitoral-e-explora-kit-gay-na-tv_a_23
571949/​> Acesso em 07. Maio.2019.

64
Neste trecho há também a afirmação que o presidenciável Fernando Haddad e sua
vice-presidenciável Manuela D’Ávila são ateus e estão fingindo não ser ao frequentar missas
e cultos na campanha. Para ilustrar a afirmação, o vídeo exibe um trecho de uma entrevista de
Manuela para a revista Isto É onde ela fala “[...] Para brasileiros que não são cristãos, como eu
[...]”.
Figura 21 – Captura de tela de trecho sobre ateísmo de Manuela D’Ávila.

Fonte: ​https://youtu.be/vDn1FnBXHjY

O trecho leva a crer que D’Ávila está falando que não é uma cristã e, embora exista
um grande de número de religiões não-cristãs no mundo, infere que portanto ela é ateia.
Porém, como podemos ver na íntegra do vídeo84, ela se classifica como cristã nesta mesma
fala. O trecho não captura completamente o contexto. A candidata estava tecendo uma crítica
a manutenção de feriados cristãos no calendário oficial do país. Reproduzo aqui a fala
completa:
Quando a gente vai conversar, quando a gente sai da macropolítica para a vida real e
chega numa escola de ensino fundamental ou de ensino médio, e começa a ver como
a não laicidade do estado impacta pessoas que fazem outras opções, que não a da
maré, da onda. Pega um estudante brasileiro de religião afro, ele não tem liberação
de nenhum dos seu rituais. ​Os católicos ou cristãos, como eu, todos os domingos
são liberados. Os metodistas, que têm um tempo específico, um determinado turno
de um dia do nosso calendário útil. Acaba que isso prejudica e faz com que
brasileiros que não são cristãos como eu​ sejam penalizados. Não é certo.
(D’ÁVILA, 2018, Isto É, Grifo meu.)

Pelo contexto completo, podemos ver que a então pré-candidata à presidência pelo
PCdoB está dizendo claramente que é cristã até mesmo no trecho exibido na propaganda de
Jair Bolsonaro. A vírgula, colocada na legenda do vídeo, altera o sentido da frase. A

84
<​https://youtu.be/qN2pJBCOZ1c​> Acesso em 07. Maio.2019.

65
campanha se aproveitou da ambiguidade da fala isolada e exibiu-a junto à locução acusando-a
de ser ateia para induzir o espectador ao erro. É uma “mentira a respeito do adversário” que
opera como uma “deformação de natureza qualitativa”. É uma mentira que se vale de uma
evidência forjada para ser acreditada.
Para fazer a acusação contra Fernando Haddad, por outro lado, a campanha não exibiu
nenhuma evidência que ele seria ateu. O mesmo se define como cristão ortodoxo e
frequentemente conta histórias sobre avô líder religioso do qual herdou a fé85. É, portanto,
também uma “mentira a respeito do adversário” que opera como uma “deformação de
natureza qualitativa”.
A campanha petista denunciou a propaganda ao TSE, que tirou a propaganda do ar e
proibiu a veiculação da peça no dia seguinte. "O vídeo com declarações da candidata
representante foi de fato editado, de modo a induzir o eleitor a acreditar que ela afirma não ser
cristã, quando o contexto integral de sua fala comprova exatamente o contrário", afirmou o
ministro Carlos Horbach em referência a decisão. A propaganda acaba com uma mensagem
de Jair Bolsonaro clamando por união e um áudio de uma ligação do ex-presidente Lula
falando “é guerra, quem tiver com artilharia mais forte ganha”.

3.12 Dia 26/10 – O último dia

As últimas propagandas políticas deste último dia, a sexta-feira anterior ao segundo


turno da eleição presidencial de 2018, não trouxeram muitas novidades. Ambas as coligações
exibiram uma mistura de partes de suas propagandas já exibidas nos dias anteriores, mas com
uma nova edição.
A propaganda do presidenciável Jair Bolsonaro exibida à tarde foi a mesma exibida no
dia anterior, porém, devido à decisão do TSE, à noite a campanha do PSL vinculou um vídeo
um uma pequena diferença: sem os trechos sobre o suposto ateísmo de Fernando Haddad e
Manuela D’Ávila, mas com todas as outras acusações. O programa eleitoral exibe novamente
uma mensagem de Jair Bolsonaro mas termina com um aviso da apresentadora do programa:
“Atenção! Nas próximas horas, os adversários de Bolsonaro vão tentar de tudo para enganar

85

<​https://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/71577-petista-recebe-apoio-de-chalita-e-mira-eleitor-religioso.shtml​>
Acesso em 07. Maio.2019.

66
você. O PT mentiu durante 13 anos. Fique agora com os últimos cinco minutos de mentiras do
PT”.
A última propaganda eleitoral do Partido dos Trabalhadores para a campanha de
Fernando Haddad nesta eleição repete várias acusações contra Bolsonaro enquanto exibe
trechos de vídeos do candidato adversário, reexibe jingle e mensagens de Fernando Haddad
sobre as suas propostas de campanha e termina com o candidato pedindo voto aos eleitores
brasileiros no domingo.

3.14 Inserções

Como dito anteriormente, além das propagandas do Horário Gratuito de Propaganda


Eleitoral, foram exibidas também inserções de 30 e 60 nos canais de televisão. A grande
maioria das inserções, especialmente às do Partido dos Trabalhadores, eram trechos retirados
das propagandas do HGPE, não trazendo grandes novidades para a discussão.
A campanha de Fernando Haddad, por exemplo, exibiu uma série de inserções com
falas polêmicas do adversário Jair Bolsonaro e afirmava que quem conhecia as opiniões deles
sobre os temas tratados não votaria nele. Uma peça importante no discurso de
autoproclamação da emissão da verdade do qual ambos as campanhas se valeram.

Figura 22 – Captura de tela de trecho de inserção do PT.

Fonte: ​https://youtu.be/dIJ2k8Jfxoo

67
A campanha do PSL exibiu algumas inserções parecidas. Destaco três delas. Na
primeira afirmavam que “O PT tá desesperado porque tá perdendo a eleição” e listam uma
série de afirmações feitas pela campanha petista sobre Jair Bolsonaro que eles consideram
mentirosas. Algumas tratamos aqui anteriormente.

Figura 23 – Capturas de tela de trecho de inserção do PSL.

Fonte: ​https://youtu.be/rGRwcwzfAh0

No vídeo o locutor afirma que as mentiras são: a associação de Bolsonaro ao


ex-presidente Michel Temer, argumentando que o mesmo só deveria ter sido associado à
Dilma Rousseff por ter sido seu vice, a notícia da jovem que disse ter sido marcada com
suástica por eleitores de Bolsonaro, mas que a perícia concluiu que a marca foi automutilação,
a pichação de suástica em uma igreja feita por pessoas contrárias à Bolsonaro e a afirmação
de que o candidato do PSL iria tirar direitos trabalhistas, onde a campanha argumenta que sua
visão busca “destravar economia”.

68
Figura 24 – Captura de tela de trecho de inserção do PSL.

Fonte: ​https://youtu.be/WWP-pM3exQo

Em outra inserção, a campanha do PSL exibe um vídeo que representa uma espécie de
fluxograma de porque “O Brasil está à beira do caos” e entre os motivos citados está a
“manipulação de informações” e as “mentiras” que seriam perpetradas pelos governos
petistas. Para finalizar, foi exibida também uma inserção em que o narrador falava de maneira
cantada e rápida o que seriam contradições do seu concorrente na disputa pela presidência. No
jingle e​ stão presentes várias das mentiras já tratadas anteriormente.

Bota a máscara, tira a máscara. / Faz a marca, muda a marca. / Põe vermelho, muda
tudo. / Fala em taxa, tira a taxa. / Cria o kit, diz que não. / Apoia o Maduro, esconde
ele. / Era ateu, e vai na missa. / Afaga o Ciro, Cid xinga. / Pra rimar! Pra rimar! Só
pra rimar / Constituição, muda, não muda. / Põe estrela, tira estrela. / Ofende o
bispo, quer apoio. / Dirceu tá junto, não tá mais. / E na cadeia, não vai mais. / Lula
manda, ele faz. / Haddad, para! Tá feio.

69
Figura 25 – Captura de tela de trecho de inserção do PSL.

Fonte: ​https://youtu.be/nPtS7VDhm2o

Nesta inserção a peça faz apontamentos sobre a troca da identidade visual da


campanha de Fernando Haddad, sobre o suposto ateísmo do candidato, sobre a suposta
existência do “kit gay” e faz crítica à posturas do petista. É também uma peça importante na
disputa de narrativas e, claro, na disputa de verdades que permeou a campanha. Torquato
(2014) afirma que “o eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de
marketing” e por isso o candidato deve evitar parecer um “candidato sabonete” e é
exatamente isso que a inserção de Bolsonaro afirma que Haddad está sendo. Além de insinuar
que Haddad está mentindo, insinua que ele está mudando apenas para agradar, deixando de
lado a autenticidade

70
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos vídeos de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro para o Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral, respectivamente de responsabilidade das coligações “O Povo Feliz de
Novo” e “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos”, mostra evidências claras de que a
disputa de narrativas e a disseminação de mentiras exerceram um papel central nas eleições
brasileiras de 2018. O Brasil está inserido, portanto, do contexto global da “era da
pós-verdade”.
Tanto a candidatura de Jair Bolsonaro quanto a de Fernando Haddad de valeram de
diferentes estratégias para se beneficiar deste cenário. Ambas as campanhas e seus apoiadores
se utilizaram de notícias falsas e pronunciamentos mentirosos em toda a campanha.
Especificamente no objeto analisado, as peças de propaganda feitas para o HGPE, pudemos
ver uma série de mentiras e de táticas de desconstrução de fatos. Muito embora, assim como
em outras mídias, fica evidente uma desproporcionalidade na proliferação das ​fake news por
parte da candidatura do PSL.
Ficou claro, a partir dos vídeos analisados, que a campanha de Jair Bolsonaro foi
bastante semelhante à de outros líderes tratados neste trabalho, como Vladimir Putin, na
Rússia, e Donald Trump, nos Estados Unidos. Uma enxurrada de informações e, entre elas
algumas inverídicas, foi utilizado como estratégia de convencimento. Podemos ver isso, por
exemplo, quando o tema é o chamado “kit gay”, onde a candidatura de Bolsonaro repetiu – de
diferentes maneiras durante a campanha – a mentira sobre a sua existência.
Em contraste a isso, podemos ver que a campanha de Fernando Haddad buscou
utilizar a plataforma do HGPE para se defender das notícias falsas e para usar a retórica da
pós-verdade a seu favor ao deslegitimar a candidatura adversária como sendo apenas calcada
em mentiras. A campanha petista usa matérias jornalísticas, depoimentos de eleitores e da
vice presidenciável Manuela D’Ávila para desmentir o que consideram notícias falsas, bem
como para reivindicar que, no contexto da “era das ​fake news​”, sua candidatura que é a
porta-voz da verdade.
Também ficou demonstrado a maneira como a campanha de Fernando Haddad usou
uma narrativa virulenta e condenatória, às vezes até divulgando informações sem a veracidade
comprovada (como denúncias de agressão por apoiadores de Bolsonaro), com o objetivo de

71
desconstruir a candidatura adversária. O que, em uma plataforma onde não há espaço para
retratação, exerce um papel de desinformação.
No HGPE analisado ficou observamos que ambas as campanhas estavam
reivindicando para si esse monopólio da verdade. Jair Bolsonaro, repetidas vezes, falou que a
passagem bíblica “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” seria a guia da sua
campanha, enquanto a campanha de Fernando Haddad repetiu em todos os programas que a
campanha do seu oponente seria baseada em mentiras, inclusive com o slogan “Jair
Bolsonaro. Quem conhece a verdade não vota nele”. Dissemos que na era da pós-verdade há
uma grande relativização do que é ou não considerado fato e, ao reivindicar para si a verdade
e afirmar que o adversário está proliferando mentiras, as campanhas de Jair Bolsonaro e
Fernando Haddad mostram entender e trabalhar o seu ​marketing ​político dentro deste
contexto.
Além disso, esclarecemos quais foram as mentiras utilizadas pelos candidatos a partir
de definições claras e de como tais mentiras foram operadas no ​marketing ​político e quais
foram os objetivos para cada uma delas. Manipulações de vídeos de opositores, omissão de
informações importantes, divulgação de informações falsas ou sem comprovação de sua
veracidade e muitas outras técnicas foram utilizadas no HGPE analisado. O Ministro da
Propaganda do regime Nazista, Joseph Goebbels, afirmou que “uma mentira repetida mil
vezes se torna verdade” e, como vimos, atualmente os “​trolls ​russos”, os grupos de ​Whatsapp
e as milícias virtuais nas rede sociais ajudam e muito nesta repetição de mentiras e na difusão
de notícias falsas, mas a televisão ainda desempenha um papel muito grande na propagação
dessas farsas.
Ficou evidente que a disseminação de mentiras teve um papel importante nesta
eleição, mas a partir deste trabalho, demonstra-se que o uso da propaganda na televisão foi
muito significativo para a construção deste problema. Pudemos ver que algumas das mentiras
divulgadas nas rede sociais foram transpostas para a televisão no HGPE com o objetivo de
ampliar o seu impacto, assim como outras, por sua vez, foram levadas ao HGPE com o
objetivo de reduzir o seu impacto. O que fica evidente, portanto, é que mesmo com o avanço
acelerado do uso da internet nas campanhas políticas, a televisão ainda tem uma grande
importância na eficácia das estratégias política, mesmo as que envolvem o cenário da
pós-verdade.

72
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SANTOS, Kassia Nobre dos. ​Em Busca da Credibilidade Perdida: A Rede de


Investigação Jornalística na Era das Fake News​. São Paulo: PUC-SP, 2018.

ZUCKERMAN, Ethan. Mistrust, Efficacy and the New Civics: Understanding the Deep
Roots of the Crisis of Faith in Journalism. Massachusetts: Aspen Institute, 2017.

74
APÊNDICE

TABELA 1 – Vídeos analisados.

Vídeo Disponível no link

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/utK1FWV9R_k


dia 12 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/r4ZsG4W-T88


dia 13 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/34PhmUW_dus


dia 15 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/F828EAha0go


dia 16 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/77ZjiatosjQ


dia 17 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/tdodiALXuBM


dia 18 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/RG6sPpGmCg4


dia 19 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/-lHXQOWOUas


dia 20 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/irqxPYDAqOc


dia 22 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/ZreMthJlmZQ


dia 23 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/g9adOO_3kek


dia 24 de outubro.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/RzGPSyvwEk8


dia 25 de outubro, a tarde.

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/vDn1FnBXHjY


dia 25 de outubro, a noite

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral do https://youtu.be/jcy2leazv6Y


dia 26 de outubro.

75
Inserção do PT https://youtu.be/dIJ2k8Jfxoo

Inserção do PSL https://youtu.be/rGRwcwzfAh0

Inserção do PSL https://youtu.be/WWP-pM3exQo

Inserção do PSL https://youtu.be/nPtS7VDhm2o

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ANEXOS

FIGURA 1 – Comparativo do engajamento de matérias e notícias falsas na eleição


americana (BuzzFeed News).

FIGURA 2 – Captura de tela de trecho sobre o Foro de São Paulo (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 12 de outubro).

77
FIGURA 3 – Captura de tela de trecho sobre ato violento (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 12 de outubro).

FIGURA 4 – Captura de tela de trecho sobre o “kit gay”. (Horário Gratuito de


Propaganda Eleitoral do dia 13 de outubro).

78
FIGURA 5 – Captura de tela de trecho sobre a camiseta de Manuela D’Ávila. (Horário
Gratuito de Propaganda Eleitoral do dia 13 de outubro).

FIGURA 6 – Captura de tela de trecho sobre passagem bíblica (Horário Gratuito de


Propaganda Eleitoral do dia 15 de outubro).

79
FIGURA 7 – Captura de tela de trecho sobre Steve Bannon (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 16 de outubro).

FIGURA 8 – Captura de tela de trecho sobre homenagem à Ustra (Horário Gratuito de


Propaganda Eleitoral do dia 16 de outubro).

80
FIGURA 9 – Captura de tela de trecho sobre “bandidos armados” (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 16 de outubro).

FIGURA 10 – Captura de tela de trecho sobre decisão do TSE (Horário Gratuito de


Propaganda Eleitoral do dia 18 de outubro).

81
FIGURA 11 – Captura de tela de trecho sobre “livro de besteira” (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 19 de outubro).

FIGURA 12 – Captura de tela de trecho com pichação de suástica (Horário Gratuito de


Propaganda Eleitoral do dia 19 de outubro).

82
FIGURA 13 – Captura de tela de trecho sobre notícia da Folha de São Paulo (Horário
Gratuito de Propaganda Eleitoral do dia 19 de outubro).

FIGURA 14 – Captura de tela de trecho sobre “Mentiras e notícias falsas” (Horário


Gratuito de Propaganda Eleitoral do dia 22 de outubro).

83
FIGURA 15 – Captura de tela de trecho sobre “Fake News e Corrupção” (Horário
Gratuito de Propaganda Eleitoral do dia 22 de outubro).

FIGURA 16 – Captura de tela de trecho sobre matéria da Folha de S.Paulo. (Horário


Gratuito de Propaganda Eleitoral do dia 22 de outubro).

84
FIGURA 17 – Capturas de tela dos trechos sobre discurso petista (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 24 de outubro).

FIGURA 18 – Capturas de tela dos trechos sobre discurso petista (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 25 de outubro).

85
FIGURA 19 – Captura de tela de trecho sobre as FARC (Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral do dia 25 de outubro).

FIGURA 20 – Capturas de tela de trecho sobre beijo lésbico (Horário Gratuito de


Propaganda Eleitoral do dia 25 de outubro).

86
FIGURA 21 – Captura de tela de trecho sobre ateísmo de Manuela D’Ávila (Horário
Gratuito de Propaganda Eleitoral do dia 25 de outubro).

87
FIGURA 22 – Captura de tela de trecho de inserção do PT.

FIGURA 23 – Capturas de tela de trecho de inserção do PSL.

88
FIGURA 24 – Captura de tela de trecho de inserção do PSL.

FIGURA 25 – Captura de tela de trecho de inserção do PSL.

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