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MARINHA DO BRASIL

BASE NAVAL DE VAL-DE-CÃES

CÁLCULO DE CARGA NOS PICADEIROS


DA DIVISÃO DE DOCAGEM

Belém
2019
CÁLCULO DE CARGA NOS PICADEIROS
DA DIVISÃO DE DOCAGEM

1 – FUNÇÃO DOS BERÇOS E PICADEIROS

Todos os blocos agem como molas e qualquer carregamento sobre os mesmos


irá causar compressão em alguma quantidade; a quantidade depende da pressão sobre o
bloco e do módulo de elasticidade do material.
Um fator fundamental que afeta a carga é a área de contato da quilha do navio
sobre os blocos e a posição dos mesmos sob o navio. A carga total sobre o bloco é uma
função da pressão sobre o bloco e da área desta pressão. Assim, um bloco com menor
zona de apoio localizado entre dois blocos de maior área irá sofrer um maior pressão. A
figura abaixo mostra uma representação da carga sobre os blocos.

Figura 1 - Carga sobre os blocos

Figura 2 - Contato quilha-bloco


Vê-se que nem sempre a zona de contato abrange toda a área do bloco. Quando
esta é pequena, a pressão aumenta em demasia e pode romper o material, conforme a
figura 2. Nesta Base Naval por vezes se utiliza pranchas de madeira sobre os blocos que
recebem a carga concentrada, e distribuem-na sobre uma área maior nos blocos abaixo.

Os picadeiros utilizados na BNVC são feitos de três materiais diferentes,


conforme mostram as seguintes fotos:

Figura 3 - Picadeiros de concreto e madeira (timborana)

Figura 4 - Picadeiros de aço fundido


2 – MEDIDAS DOS PICADEIROS

Área
MATERIAL ALTURA LARGURA COMPRIMENTO da
carga
Madeira 0,3 metros 0,4 metros 1,2 metros 0,48m²
Concreto 0,65 metros 0,45 metros 1,2 metros 0,54m²
Aço fundido 0,65 metros 0,5 metros 1,2 metros 0,6 m²

3 – CÁLCULO DA CARGA NOS BLOCOS

Quando a embarcação é docada sobre os blocos, seu peso deve ser suportado
pelo sistema dos blocos. Se o centro longitudinal de gravidade da embarcação (LCG)
for localizado próximo ao centro da linha da quilha, então os blocos sofrerão esforços
similares. Assim, o diagrama de carga terá aproximadamente uma configuração
retangular.

Figura 5 - Carregamento sobre o sistema de blocos

Nesta suposição, a carga por metro linear sobre os blocos é constante e igual ao
peso do navio dividido pelo comprimento da quilha. Esta carga irá atuar sobre o
comprimento total dos blocos.

As propriedades dos materiais utilizados estão delineadas abaixo.


(Retirados do IPT)

Propriedades mecânicas da madeira dos picadeiros (Timborana).

Flexão:
Resistência (fM) a flexão: 105,8 MPa
Módulo de elasticidade: 13141 MPa

Momento de Inércia em relação à flexão resultante da carga: 0,0576m^4

Propriedades mecânicas do aço dos picadeiros

Resistência (fM) a flexão: 380 MPa


Módulo de elasticidade: 210Gpa
Momento de Inércia em relação à flexão resultante da carga: 0,072m^4

Propriedades mecânicas do concreto dos picadeiros

Resistência (fM) a flexão: 5 MPa (40 MPa compressão)


Módulo de elasticidade: 20GPa
Momento de Inércia em relação à flexão resultante da carga: 0,0648m^4

As configurações montadas pela BNVC para as docagens utiliza sempre a


madeira para receber diretamente a carga pontual da quilha. Assim, o que estiver abaixo
desta recebe a carga distribuída ao longo da área. Considerando a peça de madeira como
uma pequena viga bi-apoiada (por conta das amarrações da configuração dos blocos)
que recebe carga concentrada no centro, levando em consideração a reação da peça
abaixo, temos a seguinte configuração de carga atuante sobre a mesma:

Figura 6 0 - Configuração de carga sobre a madeira

Realizando os cálculos para o momento fletor da mesma, levando em


consideração a resistência à flexão, e utilizando o critério de falha da compressão do
bloco de concreto, temos a seguinte carga máxima:

Dados:
Comprimento L, Carga (P1), carga de reação por metro (q1) igual a P/L
Resistência (fM) a flexão: 146,9 MPa

ΣFx = 0: HA = 0

ΣMA = 0

q1*L*(L/2) - P1*L/2 + RB*L= 0

ΣMB = 0

- RA*L - q1*L*(L - L/2) + P1*L/2 = 0

Após realizar os cálculos, vemos que as reações Ra e Rb são iguais a zero.

Temos então que encontrar a força cortante (Q) e o momento fletor máximo (B) para a
configuração:

a) A primeira seção da viga é 0 ≤ x1 ≤ L/2

Q(x1) = + RA + q1*(x1 - 0)
Q1(0) = + 0 + P/L*(0 - 0) = 0 (kN)
Q1(L/2) = + 0 + P/L*(L/2 - 0) = P/2 (kN)

Momento Fletor (B):


M(x1) = + RA*(x1) + q1*(x1)2/2
M1(0) = + 0*(0) + P/L*(0 - 0)2/2 = 0 (kN*m)
M1(L/2) = + 0*(L/2) + P/L*(L/2 - 0)2/2 = PL/4 (kN*m)

Temos portanto o momento fletor máximo na configuração. O segundo passo é


encontrar a tensão de flexão máxima atuante na peça, através do módulo da seção.

b) Cálculo da tensão de flexão sobre a peça de madeira.


𝐵
Fórmula: = Momento fletor dividido pelo Momento de Inércia que é
𝐼/𝑦
dividido pela distância até a fibra do topo da peça.

Utilizando os dados da peça de madeira e o critério de TRESCA, temos então:

(𝑃×1,2𝑚)/4
0,0576𝑚^4 = 52,9 Mpa
0,15𝑚

Realizando os cálculos, temos que a madeira suporta até 6,77x10^7 Newtons para
flexão.

4 – CÁLCULO DA COMPRESSÃO NO CONCRETO

Os blocos suportam até 40Mpa de compressão. Temos a força atuando sobre


as madeiras e distribuidas sobre a área do bloco (0,54m²). Isto nos dá uma pressão de
125MPa, superando, portanto, a capacidade do bloco. A tensão a ser colocada sobre as
madeiras, de forma a ser distribuída a compressão no concreto, é de apenas

2,16*10^7 Newtons, ou seja, em torno um terço da capacidade total de flexão do


bloco de madeira.

5 – COMPRESSÃO NORMAL ÀS FIBRAS DA MADEIRA

Levando em consideração que a pressão sobre o bloco de madeira exerce uma


compressão normal às fibras, e levando em conta a NBR 7190, temos a seguinte
condição:

Observando a norma citada, a compressão normal equivale a um quarto da


compressão paralela às fibras. A resistência de compressão paralela às fibras da madeira
Timborana verde (pior cenário) equivale a 44,7 MPa, portanto a compressão normal
seria 11,175MPa.
Realizando os cálculos, temos que a carga máxima sobre a madeira seria
𝑃
equivalente a = 11,175MPa.
0,48𝑚²

Efetuando os cálculos, temos 5,36*10^6 Newtons.

O aço fundido possui propriedades mais resistentes, e portanto atende os requisitos dos
materiais acima expostos.

HÉLIO DE AMORIM E SILVA NETO


Primeiro-Tenente (EN)
Encarregado da Seção de Docagem

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