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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO AMBIENTAL

Atualizado em 28/12/2018: novos julgados + questões de concurso

Pontos atualizados: nº 07 (Info 914); nº 02 (Info 916); nº 02 (Info 919); nº 03 (Info


919)

1. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E CAMPO ELETROMAGNÉTICO


1.1. Legitimidade dos limites fixados pela Lei 11.934/2009 – (Info 829) –
IMPORTANTE!!!

No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de


efeitos nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos
elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica,
não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme estabelece a Lei 11.934/2009.
STF. Plenário. RE 627189/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 8/6/16 (repercussão geral)
(Info 829).

2. COMPETÊNCIA
2.1. ANIMAIS: Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais
vivos no Município – (Info 919)

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam
eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de
expansão urbana do Município.
Essa lei municipal invade a competência da União.
O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expansão
urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à
exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de
animais vivos e sua fiscalização.
Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos
animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional ao direito dos
empresários do agronegócio de realizarem a sua atividade.
Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal
já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos
produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a
ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.
STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 11/10/18
(Info 919).

2.2. É inconstitucional lei estadual que prevê a supressão de vegetal em APP para
a realização de atividades exclusivamente de lazer – (Info 916) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em


Área de Preservação Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções
com área máxima de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material.
Há inconstitucionalidade formal porque o Código Florestal (lei federal que prevê
as normas gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, CF/88) não permite a
instalação em APP de qualquer tipo de edificação com finalidade meramente
recreativa.
Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso e abuso da
lei estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer
individual, violando o art. 225, caput e § 1º, III, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 19/9/18 (Info 916).
OBS: A competência legislativa concorrente cria o denominado “condomínio
legislativo” entre a União e os Estados-Membros, cabendo à primeira a edição de
normas gerais sobre as matérias elencadas no art. 24 da CF; e aos segundos o exercício
da competência complementar — quando já existente norma geral a disciplinar
determinada matéria (CF, art. 24, § 2º) — e da competência legislativa plena (supletiva)
— quando inexistente norma federal a estabelecer normatização de caráter geral (CF,
art. 24, § 3º).

2.3. Estado-membro pode legislar sobre controle de resíduos de embarcações,


oleodutos e instalações costeiras – (Info 872)

Em tese, o Estado-membro detém competência para legislar sobre controle de


resíduos de embarcações, oleodutos e instalações costeiras. Isso porque o objeto
dessa lei é a tutela ao meio ambiente, sendo essa matéria de competência
concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 9/8/17 (Info 872).
OBS:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

2.4. Normas municipais podem prever multas para os proprietários de veículos que
emitem fumaça acima dos padrões aceitáveis – (Info 870) – IMPORTANTE!!!

É constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação


de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima
de padrões considerados aceitáveis.
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da
poluição, quando se tratar de interesse local.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 29/6/17 (Info 870).
OBS:
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões: O
Município de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto,
estipulando a aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que
emitem fumaça acima de padrões considerados aceitáveis.

O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis
com a CF/88? SIM.

De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente? A competência para


legislar sobre o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da
CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: (...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do


art. 24. Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre
a proteção das florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem
complementar a legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas
estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em
outras palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre
para legislar a respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a
editar posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa
naquilo que for contrário à legislação da União.

Mas os Municípios não estão elencados no caput do art. 24...: É verdade. No entanto,
mesmo assim eles podem legislar sobre os assuntos do art. 24, desde que o façam
para atender peculiaridades municipais, ou seja, no interesse local. Essa autorização
para que os Municípios legislem sobre matérias de competência concorrente está
prevista no art. 30, I e II, da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que
couber;

Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber,
ou seja, naquilo que for de interesse local. Em virtude do exposto, conclui-se que os
Municípios possuem competência para legislar sobre o meio ambiente, limitada
esta, no entanto, ao tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente
local.

Controle da poluição ambiental: O controle da poluição ambiental, especialmente


aquele destinado a impedir a degradação dos índices de qualidade do ar, consiste em
matéria que se insere na esfera de competência legislativa dos Municípios, observado
o interesse local e desde que as medidas de regulação normativa não transgridam nem
conflitem com o âmbito de atuação que a Constituição atribuiu à União e aos Estados-
membros.

2.5. Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente – (Info 857)

Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam


fundamentadamente.
STF. 2ª Turma. ARE 748206 AgR/SC, Rel Min. Celso de Mello, j. 14/3/2017 (Info 857).
OBS: Dessa forma, o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente,
juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e
desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais
entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). Se o Município legisla sobre
Direito Ambiental, fazendo de forma fundamentada segundo seus interesses locais,
não há, em princípio, violação às regras de competência.

2.6. Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana – (Info


776)

O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a


União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse
regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes
federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).
O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o
emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido município,
inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras
culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio
ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a
preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF
entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores
canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da
respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da
colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a
necessidade de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir
gradativamente o uso do fogo como método despalhador e facilitador para o corte
da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98.
STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 5/3/15 (repercussão geral) (Info
776).

3. SISNAMA
3.1. É inconstitucional lei estadual que exige prévia autorização da ALE para que
os órgãos do SISNAMA possam celebrar instrumentos de cooperação no Estado –
(Info 919)

É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, lei estadual que
exige autorização prévia do Poder Legislativo estadual (Assembleia Legislativa)
para que sejam firmados instrumentos de cooperação pelos órgãos componentes do
Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.
Também é inconstitucional lei estadual que afirme que Fundação estadual de
proteção do meio ambiente só poderá transferir responsabilidades ou atribuições
para outros órgãos componentes do SISNAMA se houver aprovação prévia da
Assembleia Legislativa.
STF. Plenário. ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/18 (Info 919).

4. CÓDIGO FLORESTAL
4.1. Análise da constitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) –
(Info 892)

O STF analisou a constitucionalidade do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e


decidiu:
1) declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e
“instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais
ou internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b, da Lei nº 12.651/2012;
2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de modo a
se condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade
pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta;
3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV,
para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água
intermitentes configuram área de preservação permanente;
4) declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”,
contidas no art. 3º, parágrafo único;
5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir
compensação apenas entre áreas com identidade ecológica;
6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo
a afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos
programas de regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos
ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes,
aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012,
segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão
da pretensão punitiva”.
Todos os demais dispositivos da Lei foram considerados constitucionais.
STF. Plenário. ADC 42/DF, ADI 4901/DF, ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI
4937/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 28/2/18 (Info 892).
OBS:
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Código Florestal: A Lei 12.651/12, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa,
ficou conhecida como sendo o novo Código Florestal. Foram ajuizadas cinco ações
discutindo a constitucionalidade desta lei: uma ADC e quatro ADIs. O STF realizou o
julgamento conjunto dessas ações.

ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS


1) são inconstitucionais as expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias
à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”,
contidas no art. 3º, VIII, b, do Código Florestal
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
VIII - utilidade pública:
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos
serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive
aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano
aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos,
energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações
necessárias à realização de competições esportivas
estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração,
exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e
cascalho;

Esse conceito de “utilidade pública” é utilizado em diversas partes da Lei 12.651/12


com a finalidade de excetuar a proteção às áreas de preservação permanente e de
uso restrito. Veja, por exemplo:
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em
Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas
hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo
impacto ambiental previstas nesta Lei.
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes,
dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de
utilidade pública.

Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos


o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura
física associada ao desenvolvimento das atividades, observadas
boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas
áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse
social.

Assim, em casos de utilidade pública seria possível a “mitigação” da proteção


ambiental. Ocorre que o STF, concordando com os argumentos de um dos autores da
ADI (PSOL), entendeu que não se pode aceitar que um Estado, “ao qual é imposta
constitucionalmente a defesa e preservação do meio ambiente, conceba a gestão de
resíduos (construção de aterros sanitários) e o lazer como hipóteses de intervenção e
supressão de vegetação em áreas de preservação permanente e em áreas de uso
restrito”. Em outras palavras, não se mostra compatível com o art. 225 da CF/88
autorizar-se a relativização da proteção da vegetação nativa protetora de nascentes,
por exemplo, para “gestão de resíduos” ou para a realização de competições
esportivas.

2) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de
modo a se condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou
utilidade pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade
proposta.
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
VIII - utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos
serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive
aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano
aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos,
energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações
necessárias à realização de competições esportivas estaduais,
nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto,
neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias
na proteção das funções ambientais referidas no inciso II deste
artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e
motivadas em procedimento administrativo próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento
proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo
federal;

IX - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da
vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do
fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção
de plantios com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena
propriedade ou posse rural familiar ou por povos e
comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a
cobertura vegetal existente e não prejudique a função
ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a
esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre
em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as
condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos
ocupados predominantemente por população de baixa renda
em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições
estabelecidas na Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e
condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos
recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da
atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro
e cascalho, outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e
motivadas em procedimento administrativo próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta,
definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

Conforme já explicado no item anterior, em casos de utilidade pública ou interesse


social, seria possível a “mitigação” da proteção ambiental, como no exemplo do art.
8º:
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em
Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas
hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo
impacto ambiental previstas nesta Lei.
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes,
dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de
utilidade pública.
A intervenção em áreas de preservação permanente deve ser excepcional, a fim de
evitar o comprometimento das funções ecológicas de tais áreas. Diante disso, o STF
afirmou que essa previsão do art. 3º, VIII e IX, é constitucional, mas que a
interpretação a ser dada é a de que somente pode haver intervenção em área de
proteção permanente (APP) em casos excepcionais e desde que comprovada a
inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta.

3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV,
para fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água
intermitentes configuram área de preservação permanente.
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
XVII - nascente: afloramento natural do lençol freático que
apresenta perenidade e dá início a um curso d’água;

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em


zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:
(...)
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água
perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros;

A definição de nascente envolve perenidade (característica do que é perene =


duradouro). Ocorre que o STF afirmou que não se pode negar proteção também aos
entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes. Assim, a interpretação
deve ser a de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água, mesmo que
intermitentes, também configuram área de preservação permanente.

4) são inconstitucionais as expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art.


3º, parágrafo único.
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela
explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar
e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e
projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art.
3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006;
(...)
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o
tratamento dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V
deste artigo às propriedades e posses rurais com até 4 (quatro)
módulos fiscais que desenvolvam atividades
agrossilvipastoris, bem como às terras indígenas demarcadas
e às demais áreas tituladas de povos e comunidades
tradicionais que façam uso coletivo do seu território.

O Código Florestal, em diversos dispositivos, estabelece um tratamento diferenciado


para a “pequena propriedade ou posse rural familiar”. Esse art. 3º, parágrafo único,
confere o mesmo tratamento diferenciado às terras indígenas demarcadas e demais
áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais.
O STF declarou a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”,
de forma que tais terras e áreas poderão receber o tratamento diferenciado mesmo
sem demarcação e titulação. Isso porque a titulação do território das comunidades
tradicionais e dos povos indígenas representa uma mera “formalidade”, de caráter
declaratório (e não constitutivo). Em outras palavras, mesmo sem demarcação ou
titulação, tais territórios já existem e devem receber tratamento diferenciado
independentemente dessas formalidades. A exclusão dessas palavras foi, portanto,
para beneficiar os povos indígenas e as comunidades tradicionais.

5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir
compensação apenas entre áreas com identidade ecológica.
Veja o que diz a Lei:
Art. 48. A CRA pode ser transferida, onerosa ou
gratuitamente, a pessoa física ou a pessoa jurídica de direito
público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da
CRA e pelo adquirente.
(...)
§ 2º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva
Legal de imóvel rural situado no mesmo bioma da área à qual
o título está vinculado.

CRA é a sigla para Cota de Reserva Ambiental. A compensação da Reserva Legal é


um mecanismo previsto no Código Florestal segundo o qual o proprietário ou
possuidor que não estiver cumprindo os percentuais de Reserva Legal em sua
propriedade poderá regularizar a situação adquirindo (comprando) CRAs.

Quem tem uma propriedade que cumpre os percentuais de Reserva Legal e possui
vegetação excedente (“a mais” do que exige a lei) pode emitir CRA e quem tem déficit
de Reserva Legal pode compensá-lo comprando CRA. Nesse sentido:
http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/decisao-do-stf-sobre-o-
novo-codigo-florestal-enfraquece-a-cota-de-reserva-ambiental/.

O novo Código Florestal adotou o critério do bioma para fins de compensação da


Reserva Legal. Assim, o § 2º do art. 48 previu que a CRA pode ser utilizada para
compensar Reserva Legal de imóvel situado no mesmo bioma da área à qual o título
está vinculado. Em outras palavras, o proprietário que quiser adquirir CRA deverá
comprar de imóveis rurais situados no “mesmo bioma”.
O STF entendeu que a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como
mecanismo de compensação. Isso porque pode acontecer de, dentro de um mesmo
bioma, existir uma alta heterogeneidade de formações vegetais. Assim, pela redação
legal, o proprietário poderia, dentro de um mesmo bioma, “compensar” áreas com
formações vegetais completamente diferentes, já que, como dito, existe essa grande
heterogeneidade.
Desse modo, o STF acolheu os argumentos técnicos no sentido de que as
compensações devem ser realizadas somente em áreas ecologicamente
equivalentes, considerando-se não apenas o mesmo bioma, mas também as diferenças
de composição de espécies e estrutura dos ecossistemas que ocorrem dentro de cada
bioma. Em outras palavras, não basta que a área seja do mesmo bioma, é necessário
também que haja identidade ecológica entre elas.

6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a


afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos
programas de regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos
ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes,
aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo
o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão
punitiva”.
O art. 59, §4º e 5º conferiu uma espécie de anistia aos proprietários que cometeram
ilícitos ambientais relacionados com a supressão irregular de vegetação em Áreas de
Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito, desde que cumpridos
alguns requisitos. Confira:
Art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão, no
prazo de 1 (um) ano, contado a partir da data da publicação
desta Lei, prorrogável por uma única vez, por igual período,
por ato do Chefe do Poder Executivo, implantar Programas de
Regularização Ambiental - PRAs de posses e propriedades
rurais, com o objetivo de adequá-las aos termos deste
Capítulo.
(...)
§ 4º No período entre a publicação desta Lei e a implantação
do PRA em cada Estado e no Distrito Federal, bem como após
a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo
cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou
possuidor não poderá ser autuado por infrações cometidas
antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de
vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva
Legal e de uso restrito.
§ 5º A partir da assinatura do termo de compromisso, serão
suspensas as sanções decorrentes das infrações mencionadas
no § 4º deste artigo e, cumpridas as obrigações estabelecidas
no PRA ou no termo de compromisso para a regularização
ambiental das exigências desta Lei, nos prazos e condições
neles estabelecidos, as multas referidas neste artigo serão
consideradas como convertidas em serviços de preservação,
melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente,
regularizando o uso de áreas rurais consolidadas conforme
definido no PRA.

22 de julho de 2008 foi a data da edição do Decreto nº 6.514/2008, que regulamentou


a Lei nº 9.605/98 (lei que trata sobre sanções penais e administrativas relacionadas
com o meio ambiente).

O STF afirmou que esses dispositivos são válidos, mas que se deve evitar a
prescrição e a decadência. Assim, deve-se dar interpretação conforme a Constituição
ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo que, durante a execução dos termos de compromissos
subscritos nos programas de regularização ambiental, não corra o prazo de decadência
ou prescrição. Aplica-se aqui a mesma solução prevista no § 1º do art. 60 da Lei nº
12.651/2012:
Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para
regularização de imóvel ou posse rural perante o órgão
ambiental competente, mencionado no art. 59, suspenderá a
punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei
nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo estiver
sendo cumprido.
§ 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de
suspensão da pretensão punitiva.
§ 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização
prevista nesta Lei.

ARGUMENTOS INVOCADOS PELO STF PARA A DECLARAÇÃO DE


CONSTITUCIONALIDADE DOS DEMAIS DISPOSITIVOS
Meio ambiente como direito e dever: O art. 225 da CF/88 estabelece que “todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Sob essa
perspectiva, o meio ambiente assume função dúplice no microssistema jurídico, na
medida em que representa simultaneamente um direito e um dever dos cidadãos, os
quais se posicionam, paralelamente, também de forma simultânea, como credores e como
devedores da obrigação de proteção respectiva.

Homem é parte indissociável do meio ambiente: O homem é parte indissociável do


meio ambiente. Por intermédio das interações genéticas biologicamente evolutivas
que se sucederam nos últimos milhares de anos, o meio ambiente produziu a espécie
humana, cuja vida depende dos recursos nele contidos. Nesse ponto, nem os mais
significativos avanços tecnológicos permitirão ao homem, em algum momento futuro,
dissociar-se do meio ambiente, na medida em que a atividade humana inventiva e
transformadora depende da matéria nele contida, sob todas as suas formas.

Homem é produto (e não proprietário) do meio ambiente: A capacidade de os


indivíduos desestabilizarem o equilíbrio do conjunto de recursos naturais que lhes
fornece a própria existência tem gerado legítimas preocupações, as quais se
intensificaram no último século. Afinal, recursos naturais são escassos; determinados
danos são irreversíveis ou extremamente agressivos à natureza; alterações climáticas
tornaram-se problema real; e a poluição se alastra pelos grandes centros, entre outras
evidências empíricas da crise ambiental. Portanto, o foco no crescimento econômico
sem a devida preocupação ecológica consiste em ameaça presente e futura para o
progresso das nações e até mesmo para a sobrevivência da espécie humana. O homem
apenas progride como ser biológico e como coletividade quando se percebe como
produto — e não proprietário — do meio ambiente.

Políticas ambientais devem estar em harmonia com o mercado de trabalho e com o


desenvolvimento social: Por outro lado, as políticas públicas ambientais devem
conciliar-se com outros valores democraticamente eleitos pelos legisladores, como o
mercado de trabalho, o desenvolvimento social, o atendimento às necessidades
básicas de consumo dos cidadãos etc. Dessa forma, não é adequado desqualificar
determinada regra legal como contrária ao comando constitucional de defesa do meio
ambiente (art. 225), ou mesmo sob o genérico e subjetivo rótulo de “retrocesso ambiental”,
ignorando as diversas nuances que permeiam o processo decisório do legislador,
democraticamente investido da função de apaziguar interesses conflitantes por meio de
regras gerais e objetivas. Não se deve desprezar que a mesma Constituição que protege
o meio ambiente também afirma que o Estado brasileiro deve garantir a livre iniciativa
(arts. 1º, IV, e 170) e o desenvolvimento nacional (art. 3º, II), erradicar a pobreza e a
marginalização, e reduzir as desigualdades sociais e regionais (arts. 3º, III, e 170, VII),
proteger a propriedade (arts. 5º, “caput” e XXII, e 170, II), buscar o pleno emprego
(arts. 170, VIII, e 6º) e a defender o consumidor (arts. 5º, XXXII, e 170, V).

A proteção ambiental deve conviver com a tutela do desenvolvimento: O desenho


institucional das políticas públicas ambientais suscita, assim, o duelo valorativo entre
a proteção ambiental e a tutela do desenvolvimento, tendo como centro de gravidade
o bem comum e a pessoa humana, num cenário de escassez. Portanto, o
desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente não são políticas
intrinsecamente antagônicas.

Proteção ambiental não significa ausência completa de impacto do homem na


natureza: Nessa medida, a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras
não pode significar a ausência completa de impacto do homem na natureza,
consideradas as carências materiais da geração atual e também a necessidade de gerar
desenvolvimento econômico suficiente para assegurar uma travessia confortável para
os nossos descendentes. O suposto conflito entre meio ambiente e desenvolvimento
econômico é tão somente aparente, envolvendo diversas nuances, em especial a justiça
intergeracional, demandando escolhas trágicas a serem realizadas pelas instâncias
democráticas (Parlamento e chefia do Poder Executivo), não podendo ser decidido
apenas com base na convicção de juízes, por mais bem-intencionados que sejam.

Princípio da vedação ao retrocesso não está acima do princípio democrático: Por fim,
o STF ressaltou que o princípio da vedação ao retrocesso não se sobrepõe ao princípio
democrático, no afã de transferir ao Judiciário funções inerentes aos Poderes Legislativo
e Executivo, e nem justifica afastar arranjos legais mais eficientes para o desenvolvimento
sustentável do país como um todo.

5. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
5.1. É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP – (Info
896) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente


protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida
provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88.
Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida
mediante lei em sentido formal.
A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei
em sentido estrito.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida
provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas
no art. 62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/4/18 (Info 896).
OBS:
Unidades de conservação: Unidade de conservação é...
- um espaço territorial (incluindo os recursos ambientais ali presentes, como as águas),
- espaço esse que possui características naturais relevantes
- e que é legalmente instituído pelo Poder Público (demarcado com limites físicos)
- com o objetivo de que seja conservado
- passando, portanto, a ser administrado com base em regime especial
- aplicando-se garantias adequadas de proteção.

As unidades de conservação são regidas pela Lei nº 9.985/2000.

Criação e ampliação: A criação ou a ampliação das unidades de conservação pode ser


feita por meio de LEI ou DECRETO do chefe do Poder Executivo federal, estadual
ou municipal.
Extinção ou redução: A extinção ou redução de uma unidade de conservação somente
pode ser feita por meio de LEI ESPECÍFICA.

Atenção: mesmo que a unidade de conservação tenha sido criada por decreto, ela só
poderá ser suprimida mediante lei. Essa determinação consta no art. 225, § 1º, III, da
CF/88:
Art. 225. (...)
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas
somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;

No mesmo sentido é o art. 22, § 7º da Lei nº 9.985/2000:


Art. 22 (...)
§ 7º A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de
conservação só pode ser feita mediante lei específica.

Mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 fala em espaços territoriais especialmente
protegidos... isso abrange as unidades de conservação? SIM. As unidades de
conservação são uma das espécies de espaços territoriais especialmente protegidos.
Podemos citar outros dois exemplos:
• Áreas de Preservação Permanente (APP);
• Áreas de Reserva Legal.

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação concreta: A MP 558/12


(posteriormente convertida na Lei 12.678/12) reduziu os limites territoriais (ou seja, o
tamanho) de algumas unidades de conservação. As unidades foram reduzidas a fim
de que no local que sobrou fossem construídas usinas hidrelétricas. A Procuradoria-
Geral da República ajuizou ADI contra esta MP alegando:
1) que o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige que a redução nos limites da unidade de
conservação seja feita por meio de lei em sentido formal;
2) não havia urgência que justificasse a edição de uma medida provisória no presente
caso.

O STF concordou com a ADI proposta? SIM. O STF julgou procedente a ADI para,
sem pronunciamento de nulidade, declarar a inconstitucionalidade da MP 558/2012,
convertida na Lei nº 12.678/2012.

MP pode ser utilizada para ampliar, mas não para reduzir espaços de proteção
ambiental: A jurisprudência do STF aceita o uso de medidas provisórias para
ampliar espaços de proteção ambiental, mas nunca para reduzi-los. Assim, é
possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas
sempre veiculando normas favoráveis ao meio ambiente. Normas que signifiquem
diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser editadas por meio
de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos
órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A adoção de medida provisória nessas
hipóteses possui evidente potencial de causar prejuízos irreversíveis ao meio ambiente
na eventualidade de não ser convertida em lei. Dessa forma, é inconstitucional a
edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio ambiente
equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades
de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema
protegido. A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de
medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações
previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.

Art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido formal: Ao se interpretar o art. 225, §
1º, III, da CF/88, chega-se à conclusão de que a alteração ou supressão de espaços
territoriais especialmente protegidos haverá de ser feita por lei formal, com
possibilidade de abrir-se amplo debate parlamentar, com participação da sociedade
civil e dos órgãos e instituições de proteção ao meio ambiente. Essa é a finalidade do
dispositivo constitucional, que assegura o direito de todos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Apesar de medida provisória ter força de lei, em caso
de diminuição do regime jurídico protetivo do meio ambiente deve ser observado
o princípio da reserva legal.

Ausência de urgência: O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente


poderá editar medidas provisórias em caso de relevância e urgência. A definição do
que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em
regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do
Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo
em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos
requisitos da MP. No caso concreto, o STF entendeu que era uma dessas situações
excepcionais e que não ficou demonstrado, de forma satisfatória, a presença da
relevância e urgência na edição da MP 558/2012. À época da edição da medida
provisória, os empreendimentos hidrelétricos que justificariam a desafetação das
áreas protegidas ainda dependiam de licenciamentos ambientais, nos quais deveriam
ser analisados os impactos e avaliada a conveniência e escolha dos sítios a serem
efetivamente alagados. Assim, não havia urgência em se editar o ato.

Proibição de retrocesso: Além dos aspectos formais acima explicados, esta MP


também é inconstitucional sob o prisma material. A norma impugnada contrariou
o princípio da proibição de retrocesso socioambiental. Isso porque as alterações
legislativas atingiram o núcleo essencial do direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225 da CF/88). A aplicação do princípio da
proibição do retrocesso socioambiental não pode engessar a ação legislativa e
administrativa, sendo forçoso admitir certa margem de discricionariedade às
autoridades públicas em matéria ambiental. Contudo, no caso concreto houve a
indevida alteração de reservas florestais com gravosa diminuição da proteção de
ecossistemas, à revelia do devido processo legislativo, por ato discricionário do Poder
Executivo, e em prejuízo da proteção ambiental de parques nacionais.

Por que o STF julgou procedente a ADI, mas sem pronunciamento de nulidade? Porque
os efeitos da MP, convertida em lei, já se concretizaram. Com a redução do tamanho
das unidades de conservação, foram instaladas usinas no local, empreendimentos que
já estão em funcionamento. Assim, houve um alagamento irreversível das áreas
desafetadas e a execução dos empreendimentos hidrelétricos já não permite a
invalidação dos efeitos produzidos, dada a impossibilidade material de reversão ao
status quo ante. O STF considerou, portanto, que havia uma situação de fato
irreversível e que não se poderia determinar a retirada dessas usinas de lá. Ficou,
então, assentado que, daqui para a frente (ou seja, a partir desse julgamento),
quaisquer outras medidas no sentido de desafetação ou diminuição de áreas de
proteção ambiental haverão de cumprir o que a Constituição exige. Dessa forma, é
como se o STF tivesse dito o seguinte: neste caso concreto, não iremos anular os efeitos
produzidos pela MP porque se tornaram irreversíveis. No entanto, fica assentado que
é inconstitucional a edição de futuras medidas provisórias que reduzam a proteção
ao meio ambiente.

6. VAQUEJADA
6.1. É inconstitucional a prática da vaquejada – (Info 842) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”.


Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento
cruel, razão pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma
atividade cultural, não possa ser permitida.
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,
incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da
observância do disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas
que submetam os animais à crueldade.
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 06/10/16 (Info 842).

7. ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS


7.1. É inconstitucional lei estadual que, ao tratar sobre matéria de competência
concorrente (art. 24 da CF/88), simplesmente determina que devem ser observadas as
regras previstas na lei federal – (Info 914) – IMPORTANTE!!!

A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos


geneticamente modificados (OGM) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88).
No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais
e aos Estados-membros editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§
1º e 2º).
Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer
atividade relacionada com os OGMs naquele Estado deveria observar
“estritamente à legislação federal específica”.
O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma
verdadeira “renúncia” ao exercício da competência legislativa concorrente prevista
no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu mão de sua
competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88.
Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e
consagra o monopólio da União, sem atentar para nuances locais.
Assim, é inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo
comercial e das atividades com organismos geneticamente modificados à regência
da legislação federal.
STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/9/18 (Info 914).
OBS:
O Estado-membro tem competência para editar lei regulamentando as atividades
realizadas com organismos geneticamente modificados (OGMs) no âmbito estadual?
SIM. A regulamentação das atividades com organismos geneticamente modificados
(OGMs) é matéria considerada como sendo de competência legislativa concorrente
porque envolve “produção e consumo”, “meio ambiente”, “direito do consumidor” e
“defesa da saúde”, nos termos do art. 24, V, VIII e XII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico; (...)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (...).
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais
não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender as
suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do


art. 24. Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre
a proteção das florestas.

A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem
complementar a legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas
estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.

Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em
outras palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre
para legislar a respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a
editar posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa
naquilo que for contrário à legislação da União. Importante também esclarecer que
a competência da União restringe-se a estabelecer “normas gerais”. Logo, se a União
fizer uma lei geral que estabeleça muitos detalhes, esta lei também será
inconstitucional por invadir a competência dos Estados-membros.

Lei do Rio Grande do Sul: Em 2000, o Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei
estadual nº 11.463 tratando sobre o tema da seguinte forma:
Art. 1º O cultivo comercial e as atividades com organismos
geneticamente modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa,
testes, experiências, em regime de contenção ou ensino, bem
como os aspectos ambientais e fiscalização obedecerão
estritamente à legislação federal específica.

O art. 2º diz que a Lei entra em vigor no dia de sua publicação e o art. 3º fala que ela
revoga as leis em sentido contrário. Em outras palavras, a lei estadual é só isso mesmo.
Ela diz apenas que, no RS, toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs
“obedecerão estritamente à legislação federal específica”.

Essa Lei estadual possui algum vício? SIM. O STF considerou que essa lei é
INCONSTITUCIONAL.
Por quê? Em primeiro lugar, deve-se reiterar que o Estado-membro poderia legislar
sobre esse tema. O “problema” está no conteúdo. O STF entendeu que essa lei do
Estado do Rio Grande do Sul significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da
competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em
outras palavras, o Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art.
24, § 2º da CF/88. O ente federado não pode se recusar a implementar as providências
impostas a ele pelo legislador constituinte. Segundo o Min. Marco Aurélio,
“O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se
considera o federalismo cooperativo. A lógica mostra-se
intransponível e direciona ao estabelecimento de normas
gerais pela União e à atuação dos Estados no atendimento das
peculiaridades regionais. O Estado se exime de cumprir o
dever constitucional de providenciar a implementação,
harmoniosa e atenta aos interesses regionais, de valores
consagrados na Lei Fundamental.”

O Brasil possui uma extensa dimensão territorial e, por essa razão, é indispensável
que exista um tratamento particularizado para essa matéria, tendo em vista a
diversidade biológica verificada no país. Assim, é necessário que sejam elaboradas
políticas públicas específicas à realidade local. O respeito às necessidades regionais é
uma condição de viabilidade da Federação. Em outras palavras, só há Federação com
a autonomia dos Estados-membros sendo exercida. Essa Lei do RS foi uma lei
remissiva, ou seja, ela falou o seguinte: a competência para tratar sobre esse assunto é
minha também, mas façam aí tudo o que a legislação federal determinar. Para o STF,
“a banalização de normas estaduais remissivas fragiliza a estrutura federativa
descentralizada, e consagra o monopólio da União, sem atentar para nuances
locais.”

8. AMIANTO
8.1. É proibida, em todo o Brasil, a utilização de qualquer forma de amianto – (Info
886)

As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais.


O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie
de amianto), é inconstitucional.
Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei nº
9.055/95, por ofensa ao direito à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de
redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e
segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225,
CF/88).
Com isso, é proibida a utilização de qualquer forma de amianto.
STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias
Toffoli, j. 24/8/17 (Info 874).
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/11/17 (Info
886).

8.2. É proibida a utilização de qualquer forma de amianto – (Info 874) –


IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)

As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais.


O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie
de amianto), é inconstitucional.
Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei
9.055/95, por ofensa ao direito à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de
redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e
segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225,
CF/88).
STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias
Toffoli, j. 24/8/17 (Info 874).

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