Você está na página 1de 1

Publicar (para) a compreensão mútua: coleções de livros, traduções e diplomacia

cultural (Argentina e Brasil, anos 1930-1950)


(Tradução do resumo submetido ao evento)
Mariana de Moraes Silveira
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
marianamsilveira@gmail.com

Durante o período entreguerras, instituições privadas, acadêmicos, escritores e artistas


se envolveram na promoção e no aperfeiçoamento dos intercâmbios transfronteiriços.
Especialmente depois do estabelecimento do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual
(1926), vinculado à Liga das Nações, a noção de “desarmamento moral” se tornou um topos
poderoso, e a diplomacia cultural se transformou em uma questão central das relações
internacionais. No caso da América Latina, esses processos se entrelaçaram com complexos
debates identitários, à medida que os múltiplos projetos americanistas que vinham ganhando
força desde o final do século XIX adquiriram novos significados perante o choque causado
pela Primeira Guerra Mundial, com uma subsequente busca para pontos de referência distintos
da Europa. Países vizinhos puderam, assim, emergir como interlocutores privilegiados, com
uma importância estratégica renovada.
Este trabalho analisa processos de circulação, tradução e publicação de livros entre o
Brasil e a Argentina. Adotando uma perspectiva transnacional, ele demonstra que os impressos
constituíram mecanismos vitais dos esforços para forjar a compreensão mútua e a cooperação
transfronteiriça. Mais precisamente, a análise enfatiza as articulações concretas e as intenções
que circundaram a “Biblioteca de Autores Brasileiros Traduzidos ao Castelhano”, cujo
primeiro volume foi publicado em Buenos Aires em 1937, e a “Coleção Brasileira de Autores
Argentinos”, iniciada no ano seguinte no Rio de Janeiro. Até o começo dos anos 1950, essas
coleções publicaram, respectivamente, 12 e 10 traduções de ensaios, trabalhos historiográficos
e memórias políticas. Ambas estiveram associadas a acordos culturais assinados em meados
dos anos 1930 e a iniciativas oficiais para promover revisões nos livros didáticos de história e
geografia, buscando favorecer a amizade e a compreensão mútua entre os dois países. Com
foco nos prefácios que foram encomendados para cada uma das traduções, o trabalho procura
contribuir, simultaneamente, para a análise das bases institucionais dos debates que atravessam
fronteiras e para a diversificação dos meridianos intelectuais considerados relevantes na
história cultural.

Você também pode gostar