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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós Graduação em Engenharia e Tecnologia de Barragens

Alberto Ivan Weinem

ESTABILIDADE DE BARRAGENS DE REJEITO:


Investigações e Ensaios Geotécnicos

Belo Horizonte, 2019


Alberto Ivan Weinem

ESTABILIDADE DE BARRAGENS DE REJEITO:


Investigações e Ensaios Geotécnicos

Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia e Tecnologia


de Barragens – Investigações e Ensaios Geotécnicos, como
requisito parcial para a obtenção do certificado em Especialista
em Engenharia e Tecnologia de Barragens.
Área de Concentração: Estabilidade de Taludes

Orientador: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Ribeiro

Coordenador: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Ribeiro

Área de Concentração: Estabilidade de Taludes

Belo Horizonte
2019
Alberto Ivan Weinem

ESTABILIDADE DE BARRAGENS DE REJEITO:


Investigações e Ensaios Geotécnicos

Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia e Tecnologia


de Barragens – Investigações e Ensaios Geotécnicos, como
requisito parcial para a obtenção do certificado em Especialista
em Engenharia e Tecnologia de Barragens.
Área de Concentração: Estabilidade de Taludes

Prof. Dr. Saulo Gutemberg Ribeiro

Belo Horizonte, 14 de março de 2019


Ao meu amor eterno Ana Valéria Cafezeiro
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que trabalham junto à administração do IEC da


Puc-Minas, Campus Praça da Liberdade, com as quais pude contar para resolver
minhas demandas acadêmicas, inclusive à turma que forneceu durante o curso
aquele cafezinho, essencial! Também à secretaria e à coordenação do curso de
Engenharia e Tecnologia de Barragens, que nos auxiliaram com sua gentileza e
presteza, exercendo seu trabalho com nobreza.

Em especial apreço ao professor Saulo Gutemberg Ribeiro, que teve a


paciência e o interesse necessários para responder a todas as minhas perguntas,
contidas e não contidas. Faço eco desta afirmação aos demais integrantes do corpo
docente, que foram leais com seu compromisso de informar e mostrar caminhos
para seus alunos, de forma que participem desse mundo instigante, o da Engenharia
de Barragens, com suas tecnologias e desafios.

Agradeço aos amigos JP e João que entre algumas cervejinhas das sextas,
contribuíram com alguns esclarecimentos, durante nossas conversas notúrnicas.
Agradeço aos demais colegas e amigos de turma que ajudaram construir um
ambiente gostoso de aprender e conviver.

Por último, aos Céus, que me auxiliaram com alguma concentração, capaz de
me fazer entender a essência desta experiência, compartilhada com todos da turma
de 2019.
RESUMO

A engenharia geotécnica faz parte do mundo de incertezas, nesse contexto, o analista


de estabilidade de maciços deve se cercar de dados que o auxiliem a lidar com este
quadro complexo, onde a dispersão de parâmetros geotécnicos deve ser avaliada.
Felizmente, o esforço e a dedicação de profissionais, ícones da área, nos permitem
que medidas sejam traduzidas em resultados que serão interpretados e consolidados,
de forma que possam ser utilizados com graus de certeza compatíveis com a
magnitude das obras. Para tanto, as informações a serem obtidas dependem de
planejamento prévio; estas estão relacionadas com as investigações de campo e de
laboratório. Neste cenário, o presente trabalho busca elencar tópicos de importância
relacionados aos métodos já consagrados. Objetivamente o que se pretende é
estabelecer um roteiro que contemple os importantes conceitos da engenharia
geotécnica, tais como as condições drenadas e não drenadas e os fenômenos do
sobreadensamento e o da liquefação de solos, com o intuito da obtenção de dados
para modelagem matemática.

Palavras-chave: Investigações geotécnicas. Ensaios de campo e laboratório.


Modelagem. Tensão de sobreadensamento. Liquefação. SPT. CPTu.
ABSTRACT

Geotechnical engineering is part of the world of uncertainties. In this context, the slope
stability analyst must gather data that helps him to deal with this complex framework,
where the dispersion of geotechnical parameters should be evaluated. Fortunately, the
effort and dedication of professionals, icons in the area, allow us to translate results
that will be interpreted and consolidated, so that, they can be used with degrees of
certainty compatible with the magnitude of the works. For that, the information be
obtained depends on prior planning; these are related to field and laboratory
investigations. In this scenario, the present work seeks to list topics of importance
related to the already established methods. Objectively, the aim is to establish a road
map that contemplates the important concepts of geotechnical engineering, such as
drained and undrained conditions and the phenomena of overburdening and of the
liquefaction of soils, in order to obtain data for mathematical modeling.

Keywords: Geotechnical investigations. Field and laboratory tests. Mathematical


modeling. Preconsolidation stress. Liquefaction. SPT. CPTu.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 – Triângulo de Burland Aprimorado (1999) ................................................ 1


Figura 2.1 - Superfícies Potenciais de Ruptura no Aterro e Fundação ....................... 3
Figura 2.2 - Ruptura do Porto de Stigberg................................................................... 4
Figura 2.3 - Forças Atuantes nas Lamelas .................................................................. 5
Figura 2.4 - Forças Atuantes. Ruptura Circular Massa Potencial de Deslizamento .... 5
gura 2.5 - Tipos de Recalques .................................................................................... 8
Figura 2.6 - Ábaco de Osterberg ................................................................................. 9
Figura 2.7 - Faixas de Condutividade Hidráulica em Solos Residuais ...................... 10
Figura 2.8. Parâmetros de Compressibilidade. Curva de Compressão ..................... 11
Figura 2.9 - Analogia Mecânica de Terzaghi. Processo de adensamento ................ 12
Figura 2.10 - Definição do Índice de Compressão Secundária. Variação de e x log t
para um determinado incremento de carga................................................................13
Figura 2.11 - Curvas de Isoespessuras ..................................................................... 15
Figura 2.12 - Diagrama Bilinear para as condições drenada e não drenada. ........... 16
Figura 2.13 - Liquefação a partir da perda de resistência sob carregamentos
Monotônico e Cíclico. ............................................................................................. 17
Figura 2.14 - Índice de Vazios Crítico (CVR). Função da tensão efetiva de
confinamento e do índice de vazios inicial. ............................................................ 18
Figura 2.15 - Ruptura na barragem de Fort Peck, USA. (1938) ................................ 18
Figura 2.16 - Comportamento Tensão x Deformação de Areia Saturada, em Ensaio de
Cisalhamento Direto de 4 amostras. Valor de Pico e Deformação Permanente .... 20
Figura 2.17 - Resultados típicos de resistências no Estado Permanente, para solos
não coesivos. ......................................................................................................... 21
Figura 2.18 - Carta de Plasticidade, mostrando tipos de solos que sofreram liquefação
durante fortes terremotos na China........................................................................ 22
Figura 2.19 - Recomendações de Seed et al. (2003) no que diz respeito a liquefação
de solos. ................................................................................................................. 23
Figura 2.20 - Mecanismo Liquefação – Gatilho Trajetória de tensões na condição não
drenada. Carregamento monotônico.......................................................................25
Figura 2.21 - Cisalhamento não drenado para diferentes Drc.....................................26
Figura 2.22 - Perfil de sondagem .............................................................................. 28
Figura 2.23 - Processo de deposição. Argilas Normalmente Adensadas. ................. 29
Figura 2.24 -. Histórico de Tensões. Deposição, Erosão e Novo Carregamento ...... 30
Figura 2.25 – Determinação Tensão Sobreadensamento. Pacheco Silva.................31
Figura 2.26 - Variações do estado de tensões durante a amostragem ..................... 32
Figuras 2.27 (a) e (b) - Resultados de ensaios triaxiais de uma argila homogênea .. 34
Figura 2.28 - Esquema de Sondagem a Percussão .................................................. 35
Figura 2.29 - Amostrador padrão do tipo Raymond .................................................. 36
Figura 2.30. Valares Típicos de CN para areias ........................................................ 40
Figura 2.31 – Ensaio SPT-T ...................................................................................... 40
Figura 2.32 - Obtenção de índices físicos dos solos, a partir de apenas 2 ensaios. . 42
Figura 2.33 - Carta de Plasticidade de Casagrande .................................................. 42
Figura 2.34- Equipamento para Ensaio de Palheta In Situ ........................................ 43
Figura 2.35 - Resistências não drenada de pico e amolgada.................................... 45
Figura 2.36 - Correlações para obtenção do fator corretor μ para razão de resistência
não drenada. .......................................................................................................... 48
Figura 2.37 - Esquema de câmara triaxial. ................................................................ 49
Figura 2.38 - Caixa de Cisalhamento ........................................................................ 51
Figura 2.39 - Gráficos de Tensão de cisalhamento e Variação da Altura do Corpo de
Prova em função do deslocamento cisalhante para areia seca compacta e fofa. .. 52
Figura 2.40 - Envoltórias de Ruptura para Argilas em condições Drenadas. ............ 53
Figura 2.41 - Esquema do Edômetro. ....................................................................... 53
Figura 2.42 - Gráfico tempo x deformação durante adensamento ............................ 54
Figura 2.43 - Detalhe da sonda do piezocone ........................................................... 55
Figura 2.44 - Resultados típicos de ensaio com piezocone. ..................................... 56
Figura 2.45 - SBT para classificação preliminar de solos. ......................................... 57
Figura 2.46 - - Razão da Resistência Cisalhamento Liq. x Resistência de Ponta CPT
Normalizada ...........................................................................................................58
Figura 2.47 - Razão da Resistência Cisalhamento Liq. x Número de Golpes SPT....59
Figura 2.48 – Sugestão para a variação da condutividade hidráulica (k) x (SBT Ic) . 61
Figura 2.49 – Fronteira aproximada entre solos que respondem de forma dilatante e
contrátil, usando parâmetros normalizados CPT. .................................................. 62
Figura 2.50 – Curvas equivalentes Clean Sand ........................................................ 64
Figura 2.51 - Drenos verticais para acelerar o Adensamento. .................................. 65
Figura 2.52 – Padrões de Instalação de Drenos Verticais......................................... 66
Figura 2.53 – Capacidade de descarga x tensão confinante lateral..........................68
Figura 2.54 - Métodos de Alteamento de Barragens de Mineração .......................... 71
Figura 2.55 – Distribuição de acidentes x altura ........................................................ 73
Figura 2.56 – Distribuição de acidentes x Tipo de Sequenciamento ......................... 74
Figura 2.57 – Acurácia e Precisão ............................................................................ 75
Figura 2.58 – Placa de Recalque instalada no terreno de fundação ......................... 78
Figura 2.59 – Esquema de instalação do Marco Superficial (MS) ............................. 79
Figura 2.60 – Esquema de sonda de Inclinômetro .................................................... 79
Figura 2.61 Inclinômetro automatizado ..................................................................... 80
Figura 2.62 Inclinômetro Poor Man's Method ............................................................ 81
Figura 2.63 – Esquema de instalação, com três tipos de piezômetro ....................... 81
Figura 2.64 – Esquema de Indicador de Nível d’Agua automatizado ........................ 82
Figura 2.65 – Geometria de Medidor de Vazão. Placa Triangular.............................83
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Fatores de Segurança Mínimos para deslizamentos................................ 6


Tabela 2.2 -Valores típicos de OCR .......................................................................... 30
Tabela 2.3 - Critério para classificação de qualidade de amostras ........................... 34
Tabela 2.4 - Influência do tipo de martelo, para composição de 14 m de comprimento,
martelo com coxim de madeira e cabeça de bater de 3,6 Kg. ............................... 36
Tabela 2.5. Valores de NSPT. Solos Arenosos e Argilosos ...................................... 37
Tabela 2.6 -. Influência do uso de coxim, para composição de 14 m de comprimento,
martelo com pino guia e cabeça de bater de 3,6 Kg. ............................................. 37
Tabela 2.7 – Fatores de Correção Cn ....................................................................... 39
Tabela 2.8. Sensibilidade de Argilas ......................................................................... 46
Tabela 2.9. Sensibilidade de Argilas. Alguns depósitos brasileiros. .......................... 46
Tabela 2.10 – Estimativa de permeabilidade de solo, baseada em ensaios CPT
normalizados pelo critério SBT(n)................................................................................60
LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Métodos Construtivos de Aterros sobre Solos Moles .......................... 14


Quadro 2.2 – Comparação entre barragens de rejeito .............................................. 71
Quadro 2.3 – Quadro de Atribuição de Tarefas..........................................................77
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
a Relação entre An/Ac
aeb Fatores que dependem do solo (fórmula de Skempton)
AeB Parâmetros de poro pressão (Ensaio Triaxial)
An e Ac Áreas da ponta do cone
ATM Atmosfera (unidade)
b Fator de forma geométrica do aterro
Bq Poropressão normalizada
c' Coesão efetiva
Cc Índice de compressão do solo
CD Ensaio adensado drenado (Consolidated drained)
Ch Coeficiente de adensamento horizontal
CH Argila de alta compressibilidade
CL Argila de baixa compressibilidade
CN Coeficiente de correção para cálculo NSPT
CPT Ensaio de penetração do cone, ensaio do cone holandês
CPTu Ensaio do piezocone
Cs Índice de recompressão do solo
CU Ensaio adensado não drenado (Consolidated Undrained)
Cv Coeficiente de adensamento vertical
Cα Índice de compressão secundária
Cα Fator de resistência (fórmula de Skempton)
Cαε Índice de compressão secundária específica
D Diâmetro
Dr Densidade relativa do solo
Drc Densidade Relativa na Tensão Confinante
E Módulo de elasticidade
e Índice de vazios do solo
E Extrema plasticidade (Extreme plasticity)
Eu Módulo de elasticidade na condição não drenada
ev0 Índice de vazios para a tensão vertical efetiva inicial in situ
FC Fração de finos (Fine Content)
FS Fator de segurança no estado limite de equilíbrio
fs Resistência lateral
Fs Resistência lateral normalizada
Ft Atrito lateral, ou adesão no ensaio SPT-T
Gs Densidade real dos grãos de solo
H Altura do maciço, ou do corpo de prova
H Alta plasticidade (High plasticity)
harg Espessura da camada de argila
hat Espessura ou altura do aterro
I Fator de influência obtido no ábaco de Osterberg
IB Índice de Fragilidade não Drenada
Ic Índice SBT
IP Índice de plasticidade
K Condutividade hidráulica
K0 Coeficiente de empuxo no repouso
LL Limite de liquidez
MH Silte de Alta Compressibilidade
ML Silte de Baixa Compressibilidade
Nkt Correlação entre ensaios de piezocone e resistência não drenada EP
NSPT Número de golpes do ensaio SPT
NSPT,60 Número de golpes normalizado a 60% da energia aplicada no ensaio
SPT
OCR Over-Consolidation Ratio, ou RSA, Razão de Sobre Adensamento
p' Tensão vertical efetiva média
p' Tensão octaédrica (σ'oct )
Q Ensaio imediato
q Tensão de cisalhamento octaédrica (τoct)
qc Resistência de ponta
qt Resistência de ponta corrigida
Qt Resistência de ponta normalizada
R Ensaio rápido
S Resistência de cisalhamento
s Resistência de cisalhamento no centro da fatia
S Ensaio lento
SBT Propriedade de engenharia dos solos
SBTn Propriedade de engenharia dos solos (normalizada)
SF Fator de segurança do método sigma stress
Sm Força mobilizada de cisalhamento
Sr Força resistente ao cisalhamento
St Sensibilidade da argila
Su Resistência de cisalhamento não drenada
Su(cor.) Resistência não drenada corrigida
Su(EP) Resistência não drenada do Ensaio de Paleta
Sua Resistência não drenada amolgada
Su(pico) Resistência de Pico ao Cisalhamento
Su(Liq) Resistência ao Cisalhamento na Liquefação
t*p
tg ϕ' Tangente do ângulo de atrito efetivo
Tr Índice de torque
u Poropressão
u1 Medida de poropressão na face do cone
u2 Medida de poropressão na base do cone
UU Ensaio não adensado, não drenado (Unconsolidated Undrained)
v0 Volume inicial
w Umidade
wc Umidade (water content)
wL Umidade do solo correspondente ao LL
wp Umidade correspondente ao LP
β Comprimento da fatia
γ* Peso específico natural do solo
γat Peso específico do aterro
γd Peso específico do solo seco
Γnat Peso específico natural do solo
γsat Peso específico do solo saturado
γsub Peso específico submerso
γw Peso específico da água
Δ σ3 Variação da pressão confinante durante o ensaio
Δe Variação do índice de vazios
Δe Variação do índice de vazios
Δh Recalque
Δhi Recalque imediato
Δua Variação da poropressão em relação ao ar nos vazios do corpo de prova
Δσv Variação da tensão vertical
Δσv Variação da tensão vertical
εv Deformação vertical específica
ϴ Ângulo do eixo positivo “x” até a linha de aplicação da tensão normal
μSu(EP Resistência não drenada do Ensaio de Paleta Corrigida
ϱ Densidade do solo
σ'c Tensão de confinamento efetiva
σ'm Tensão efetiva de sobreadensamento
σn Tensão normal no centro da fatia
ΣSm Somatório das forças de cisalhamento mobilizadas
ΣSr Somatório de resistência de cisalhamento
σ'vm Tensão de sobreadensamento
σ'vo Tensão vertical efetiva inicial in situ
σx Tensão total na direção “x” no centro da base
σy Tensão total na direção “y” no centro da base
τn Tensão de cisalhamento no centro da fatia
τxy Tensão de cisalhamento no plano “xy” no centro da base
υ Coeficiente de Poisson
υu Coeficiente de Poisson na condição não drenada
ϕ' Ângulo de atrito efetivo
ψ Parâmetro de estado
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 Objetivo ......................................................................................................... 1
1.2 Justificativa .................................................................................................. 1
1.3 Metodologia .................................................................................................. 2
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................. 3
2.1 Aterros Sobre Solos Moles ............................................................................. 3
2.2 Estabilidade de Taludes .................................................................................. 4
2.2.1 Método do Equilíbrio Limite............................................................................................... 4
2.2.2 Fator de Segurança (FS) ................................................................................................... 5
2.2.3 Método Tensão Sigma ....................................................................................................... 6
2.3 Deformações com Carregamentos Verticais ................................................. 7
2.3.1 Recalques Elásticos ........................................................................................................... 8
2.3.2 Recalques Primários por Adensamento ....................................................................... 10
2.3.2.1 A Analogia Mecânica de Terzaghi ...................................................................... 11
2.3.3 Recalques Secundários por Compressão .................................................................... 12
2.3.4 Métodos para Controle de Recalques ........................................................................... 14
2.4 Liquefação em Maciços ................................................................................. 15
2.4.1 Resumo .............................................................................................................................. 15
2.4.2 Critérios .............................................................................................................................. 16
2.4.2.1 Modelo do Estado Crítico ..................................................................................... 19
2.4.2.2 Critério do Parâmetro de Estado (ψ).................................................................. 21
2.4.2.3 Critério Composicional .......................................................................................... 22
2.4.3 Resistência ao Cisalhamento na Liquefação ............................................................... 23
2.4.4 Gatilho da Liquefação Estática ....................................................................................... 24
2.4.5 Fundamentos em Barragens com Alteamento a Montante ....................................... 26
2.5 Investigações Geotécnicas ........................................................................... 28
2.5.1 Conceituação: Solos Pré Adensados ............................................................................ 29
2.5.2 Amostras de Solo ............................................................................................................. 31
2.5.3 Sondagens a Percussão ................................................................................................. 34
2.5.4 Ensaio SPT-T .................................................................................................................... 40
2.5.4.1 O Índice de Torque (Tr) .......................................................................................... 41
2.5.4.2 O Conceito de N Equivalente (Neq) ..................................................................... 41
2.5.5 Ensaios de Caracterização ............................................................................................. 41
2.5.6 Ensaio De Palheta (Vane Test) ...................................................................................... 43
2.5.7 Ensaios Triaxiais ............................................................................................................... 48
2.5.7.1 Parâmetros De Poropressão A e B..................................................................... 50
2.5.8 Ensaio de Cisalhamento.................................................................................................. 51
2.5.9 Ensaio de Adensamento Oedométrico ......................................................................... 53
2.5.10 Ensaio do Piezocone ..................................................................................................... 54
2.5.10.1 Classificação Preliminar de Solos (SBT) ........................................................ 56
2.5.10.2 Resistência não Drenada SU .............................................................................. 57
2.5.10.3 Razão de Resistência não Drenada na Liquefação ..................................... 57
2.5.10.4 Condutividade Hidráulica ................................................................................... 59
2.5.10.5 Parâmetro de Estado (ψ) ........................................................................................... 62
2.6 Drenos Verticais ............................................................................................. 64
2.6.1 Zonas de Amolgamento .................................................................................................. 66
2.6.2 Capacidade de Descarga dos Drenos Verticais Pré-fabricados ............................... 67
2.7 Barragens de Resíduos de Mineração ......................................................... 68
2.7.1 Resumo .............................................................................................................................. 68
2.7.2 Materiais de Deposição de Rejeitos .............................................................................. 69
2.7.3 Aterros Hidráulicos ........................................................................................................... 69
2.7.4 Tipos de Barragens de Mineração ................................................................................. 70
2.7.5 Algumas Estatísticas de Falhas Ocorridas em Barragens de Mineração ............... 72
2.8 Sistema de Monitoramento de Barragens por Instrumentos ..................... 75
2.8.1 Medidores de Deslocamento Verticais .......................................................................... 77
2.8.1.1 Placas de Recalque .................................................................................................... 78
2.8.1.2 Medidor de Recalque tipo Magnético .................................................................... 78
2.8.2 Medidores de Deslocamentos Horizontais ................................................................... 78
2.8.2.1 Marcos de Deslocamento Superficial .................................................................... 79
2.8.2.2 Inclinômetros ............................................................................................................... 79
2.8.3 Piezômetros....................................................................................................................... 81
2.8.4 Indicadores de Nível d’Água (INA)................................................................................. 82
2.8.5 Medidores de Vazão ........................................................................................................ 83
3 CONCLUSÕES E SUGESTÕES .................................................................................................. 83
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 85
1

1 INTRODUÇÃO
1.1 Objetivo
O presente trabalho descreve um roteiro que aborda os principais tópicos da
mecânica dos solos, no que concerne a investigação geotécnica de campo, ensaios
de laboratório e dispositivos de monitoramento em maciços terrosos. Tem como
objetivo específico organizar as informações obtidas, para, em um segundo
momento, conceber modelos simplificados com parâmetros de resistência e
elasticidade próximos da realidade, bem como suas condições de contorno, de
forma que o analista de estabilidade possa fazer uma avaliação baseada em ordens
de grandezas confiáveis, considerando a dispersão existente nos materiais
presentes no solo. O triângulo de Burland (fig. 1.1) demonstra esta integração.

Figura 1.1 – Triângulo de Burland Aprimorado (1999)


Fonte: GeoStudio Engineering Book, Sigma Modeling, (2017)

1.2 Justificativa
O Método do Equilíbrio Limite e a Analogia Mecânica de Terzaghi estão
completando 100 anos de existência; e mesmo antes deste período, tenta-se
explicar as verdadeiras causas de vários fenômenos que ocorrem no interior da
massa sólido-líquida-gasosa denominada solo. As obras de aterro têm sua
complexidade aumentada à medida que o assunto está relacionado com as
denominadas barragens de rejeito de mineração, envolvendo lamas e areias fofas
saturadas. Aliás, o momento atual conclama a indústria de mineração e sociedade
para enfrentarem um de seus maiores desafios; isto significa aplicar as boas práticas
e as melhores tecnologias disponíveis.
2

1.3 Metodologia
Este trabalho pretende concatenar ideias de diferentes autores, apresentando
numa certa ordem, importantes tópicos: como a dos estados de tensões, aos quais
estas estruturas podem estar submetidas; suas deformações e como medi-las.

O trabalho se inicia com o tópico Aterros sobre Solos Moles, seguido pelo
conceito de Estabilidade de Taludes. Na sequência é abordada a questão dos
diferentes tipos de recalques, na seção denominada: Deformações com
Carregamentos Verticais, associada ao fenômeno do sobreadensamento.

Em seguida, a importância do nível das tensões de confinamento e do


excesso de poropressão, abordando o tema Liquefação em Maciços. Nesse ponto, o
trabalho chama atenção para uma das grandes questões que deve ser encarada
pelo engenheiro geotécnico ao ter que discernir e contextualizar as condições
drenadas e não drenadas do solo. Como exemplo cita o acidente ocorrido na
barragem de Fort Peck, Missouri, USA (1938), quando naquela ocasião, não havia
ensaios de laboratório na condição não drenada. Porém, aquela estrutura havia sido
projetada segundo o critério do Índice de Vazios Crítico (CVR) proposto por
Casagrande (1936). O problema vem a ser entendido por Schofield e Wroth (1968)
com a formulação do modelo Cam-Clay, na Universidade de Cambridge, na
Inglaterra e em paralelo pelos trabalhos de Castro (1969), orientado por
Casagrande, na Universidade de Harvard, nos USA.

A necessidade de medir as tensões que atuam na massa terrosa e quanto a


mesma pode resistir necessitam de campanhas de sondagens e de coletas de
amostras, sob este aspecto, a seção Investigações Geotécnicas aborda este
importante assunto. Por último, são apresentadas as seções sobre Barragens de
Rejeito e Monitoramento.

O analista de estabilidade depende do norteamento da campanha de


programação de sondagem e ensaios, para a entrada de dados em um modelo, de
forma confiável. Com estes dados computados, de acordo com este modelo (vetorial
ou numérico), o analista poderá verificar como a estrutura, ou obra está se
comportando in situ e qual será seu comportamento em um determinado intervalo de
tempo.
3

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Aterros Sobre Solos Moles
Segundo a NBR-7250 os solos predominantes argilosos que apresentam
resultados de sondagem a percussão com NSPT entre 3 e 5 são denominados moles,
enquanto aqueles com NSPT entre 0 e 2 são considerados solos muito moles.
Normalmente são solos transportados por aluvião e encontrados em região de
depósitos sedimentares e encontram-se em condições saturadas, com nível freático
elevado. Possuem resistência extremamente baixa, são homogêneos e bastante
compressíveis (MARANGON, UFJF, 1990).

Levando em conta as características dos solos moles, um aterro instalado


sobre este solo irá deformar, podendo romper. Cargas aplicadas produzirão
respostas pela fundação, que não somente depende das suas características de
compressibilidade e adensamento, mas também das taxas de carga no tempo nela
aplicada. A Teoria de Terzaghi, abordada adiante, explica o fenômeno do excesso
das poropressões e do adensamento ao logo do tempo a partir da aplicação de
cargas sobre terreno mole. A resistência de cisalhamento do maciço pode não
suportar a carga imposta, dado o seu excesso de poropressão, ou por falta de
drenagem suficiente, atingindo seu limiar de deformação seguido da ruptura. As
falhas podem ocorrer apenas na região do aterro, e ou pela fundação, como
apresentado na figura 2.1.

Figure 1 - Figura 2.1 - Superfícies Potenciais de Ruptura no Aterro e Fundação

Figura 2.1 - Superfícies Potenciais de Ruptura no Aterro e Fundação


Fonte: Modificado de Gopal; Rao (1991).

A engenharia de solos necessita medir a estabilidade da obra de aterro, nas


condições drenada e não drenada, assim como suas deformações. Certas
deformações, no sentido relativo, mesmo não causando a ruína da obra, poderão
4

acarretar problemas no seu mal funcionamento, ou servicibilidade. No passado


essas medições eram estimadas de forma separada e simplificada. Na atualidade
isto é feito de modo acoplado, como será apresentado mais adiante.

2.2 Estabilidade de Taludes


2.2.1 Método do Equilíbrio Limite
No caso de estradas e barragens, surge a necessidade da Engenharia
Geotécnica lidar com maciços, cuja geometria (a altura, a base e o topo) é bem
definida. Estes são denominados taludes finitos. (FIORI, 2016, p.35).

Os primeiros estudos de estabilidade de taludes finitos para massas


potenciais de deslizamento se deram no início do século XX. O método do Equilíbrio
Limite, teve sua origem com os trabalhos de Petterson (1916) em Gothenberg,
Suécia, devido à ruptura do Porto de Stigberg, conforme esquema da figura 2.2.
Para o caso em questão, percebeu-se que a massa desestabilizada ocorria sobre
superfície aproximadamente circular e que se fragmentava em fatias, ou lamelas.

Figura 2.2 - Ruptura do Porto de Stigberg.


Fonte: Modificado de Fellenius, 1926

O método de cálculo de estabilidade de taludes evoluiu, dando lugar a outros


métodos. Baseados nas equações da estática, tornou-se necessário fazer algumas
simplificações, dado a falta de equações perante o número de incógnitas. Após as
simplificações propostas pelos pioneiros Fellenius, Bishop e Janbu, surgiram os
métodos mais rigorosos, mas isto só foi possível devido a força computacional que
5

auxiliou na aplicação do cálculo numérico iterativo. Estes métodos desenvolvidos por


Spencer, Morgenstern-Price e outros buscam satisfazer todas as equações da
estática em termos de forças horizontais e verticais, e dos momentos em torno de
um determinado ponto situado normalmente acima da crista do talude,
representando o centro do arco de círculo passando pelos pontos de entrada e saída
da superfície potencial de deslizamento (fig. 2.3).

Figura 2.3 - Forças Atuantes nas Lamelas


Fonte: GeoStudio Engineering Book, Slope Modeling, (2018)

2.2.2 Fator de Segurança (FS)


O método do Equilíbrio Limite é baseado nas equações da estática, porém as
fatias que compõem a massa potencial de deslizamento possuem o mesmo fator de
segurança, ou FS. Este método utiliza o critério de ruptura de Mohr-Coulomb para o
cálculo da resistência de cisalhamento, S ou Su, que é comparada à resistência
mobilizada Sm na base da fatia. O fator de segurança é obtido pela expressão FS =
ΣSr/ΣSm, podendo ser deduzido conforme mostra a figura 2.4.

Figura 2.4 - Forças Atuantes. Ruptura Circular em Massa Potencial de Deslizamento


Fonte: Modificado de Engineering Book, 2018
6

As distribuições de tensões computadas nem sempre são representativas


com as existentes no campo. A limitação é devido ao fato de que o método do
Equilíbrio Limite considera as lamelas como corpos rígidos e igual FS para as
componentes de resistências coesivas e friccionais de todos os solos envolvidos na
análise. As deformações que ocorrem anteriores à ruptura não são consideradas
(GEOSTUDIO ENGINEERING BOOK, SLOPE MODELING, 2018 pp. 7-9).

Com relação à norma de Estabilidade de Taludes, NBR-11682/2009, os


fatores de segurança FS para deslizamento de taludes são classificados em nove
níveis, em função do nível da segurança contra danos materiais, ambientais e vidas
humanas, de acordo com a tabela 2.1.

Grau de segurança
Perdas de vidas
Alto Médio Baixo
Grau de segurança
Perdas materiais e ambientais

Alto 1,5 1,5 1,4


Médio 1,5 1,4 1,3
Baixo 1,4 1,3 1,2

Tabela 2.1. Fatores de Segurança Mínimos para deslizamentos


Fonte: NBR-11682/2009

2.2.3 Método Tensão Sigma


A partir do advento dos computadores a modelagem numérica se utiliza da
força computacional, para estimar estados de tensões e deformações. As premissas
do método do Estado Limite descritas no parágrafo anterior deixam de ser
necessárias.

Com a popularização dos computadores pessoais várias companhias de


software disponibilizaram pacotes de programas geotécnicos. O método Tensão
Sigma é uma das rotinas integradas no software GeoStudio 2018, da empresa
canadense Geo-Slope International Ltd.

Distinguindo do tradicional F.S. do método do Estado Limite, com o do


método Tensão Sigma com Elementos Finitos, será utilizada a expressão: S.F. =
7

ΣSr / ΣSm , definindo localmente o Fator de Segurança (Stability Factor), para cada
fatia

A partir da equação de Mohr-Coulomb, a resistência disponível em cada fatia é:

𝑆𝑟 = 𝑠. 𝛽 = 𝑐 ′ . 𝛽 + 𝜎𝑛 . 𝑡𝑎𝑛𝜙 ′ . 𝛽

Onde:

s = Resistência ao Cisalhamento no centro da base da fatia


β = Comprimento da fatia
σn = Tensão Normal no centro da base da fatia

Do mesmo modo a força de cisalhamento mobilizada calculada no centro da base da


fatia é: Sm = τmβ.

Por se tratar de equações lineares os cálculos para obtenção dos S.F. são feitos
sem a necessidade iterações numéricas.

As tensões no centro da base das fatias, Normal e de Cisalhamento, são calculadas


a partir das equações deduzidas dos círculos de Mohr:

𝜎𝑥 +𝜎𝑦 𝜎𝑥 −𝜎𝑦 𝜎𝑥 −𝜎𝑦


𝜎𝑛 = + . cos 2𝛳 + τ𝑥𝑦 . 𝑠𝑖𝑛 2𝛳 𝜏𝑛 = 𝜏𝑥𝑦 cos 2𝛳 − . sin 2𝛳
2 2 2

Onde:

σx = Tensão total na direção “x” no centro da base


σy = Tensão total na direção “y” no centro da base
τxy = Tensão de cisalhamento no plano “xy” no centro da base
ϴ = Ângulo medido a partir do eixo positivo “x” até a linha de aplicação da tensão
normal

A linha de aplicação da tensão normal é perpendicular ao plano da base da fatia,


onde a tensão de cisalhamento é perpendicular ao centro da base (GEOSTUDIO
ENGINEERING BOOK, SLOPE MODELING, 2018 pp. 231-234).

2.3 Deformações com Carregamentos Verticais


As deformações devidas aos carregamentos verticais e a acurácia nas
estimativas dos recalques são assuntos de grande importância na Engenharia
Geotécnica. Esses deslocamentos ocorrem em duas parcelas, de forma imediata,
após a aplicação da carga e lentamente com o tempo sob o efeito da carga aplicada.
8

2.3.1 Recalques Elásticos


Os recalques elásticos, ou imediatos (fig. 2.5), não consideram variações no
volume de água. No caso do recalque primário por adensamento há variações de
volume devido à expulsão de água dos vazios do solo. Enquanto que para a
compressão secundária os recalques ocorrem por ajuste plástico do tecido do solo,
com tensão efetiva constante (DAS, 2007, p. 244).

Deformações rápidas são observadas em solos arenosos e solos argilosos


não saturados, enquanto que nos solos argilosos saturados os recalques são muito
lentos, pois é necessária a saída de água dos vazios do solo (SOUZA PINTO, 2006,
p.183).

“Os tipos de recalques são divididos em recalques imediatos (Δhi),


recalques por adensamento primário (Δh) e recalques por compressão
secundária (Δhsec)” (ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 81).

Figura 2.5 - Tipos de Recalques


Fonte: Segundo (Rixner; Kreamer; Smith, 1986). Modificado por ALMEIDA; MARQUES, 2010

O emprego da Teoria da Elasticidade para o cálculo das tensões no interior


do solo, dado um carregamento de superfície, pode ser utilizado para o cálculo de
9

recalques imediatos, distorcionais, ou não drenados, com a utilização da equação


(SOUZA PINTO, 2006, p.187).

2𝛥𝜎𝑣 .𝑏.(1−𝜐2 )
𝛥ℎ𝑖 = , sendo 𝜎𝑣 = 𝐼. (𝛾𝑎𝑡 . ℎ𝑎𝑡 )
𝐸

Onde:

Δσv = a carga aplicada na fundação

b = fator de forma geométrico, por exemplo, a geometria do aterro

υ = coeficiente de Poisson. Para a condição não drenada υ u=0,5

E = o módulo de elasticidade. Para a condição não drenada, Eu

I = o fator de Influência, que pode ser obtido pelo ábaco de Osterberg (fig. 2.6)

γat = o peso específico do aterro

hat = a altura do aterro

Figura 2.6 - Ábaco de Osterberg


Fonte: Poulos; Davis, (1974). Modificado por ALMEIDA; MARQUES,( 2010).
10

Entretanto, para Leroueil, os recalques podem ser classificados em


construtivos e de longo prazo (LEROUEIL apud ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 81).
Considerando que os recalques construtivos são constituídos pelas parcelas dos
recalques imediatos (Δhi) e dos recalques por recompressão primária (Δharec), ou
seja, da condição in situ até o instante que se inicia o trecho virgem de compressão.
Este depende da tensão de pré adensamento, enquanto que os recalques de longo
prazo são a soma dos recalques por adensamento primário virgem (Δh adp) e dos
recalques por compressão secundária (Δhsec).

2.3.2 Recalques Primários por Adensamento


Nos solos saturados, quando é exercido um acréscimo de tensão, ocorre
simultaneamente um aumento da poropressão. Em se tratando de solos arenosos, a
dissipação desse excesso de pressão produzido pela água ocorre num intervalo de
tempo relativamente pequeno (fig. 2.7), dado à condutividade elevada das areias. No
caso das argilas, porém, isto ocorre lentamente, por conta da baixa condutividade
hidráulica dos solos argilosos. (DAS, 2007, p. 251).

Figura 2.7 - Faixas de Condutividade Hidráulica em Solos Residuais


Fonte: VARGAS 1976, apud ORTIGÃO, 2006.

Os recalques primários podem ser calculados pela Teoria da Elasticidade em


meios porosos contínuos. Os parâmetros de entrada são o módulo de elasticidade E
e o coeficiente de Poisson υ. Nos casos drenados simples, são obtidos pelos
gráficos do tipo Poulos & Davis (1974). Outro modo é pelo processamento numérico,
11

por iteração, sendo utilizados modelos de solo do tipo elástico, elastoplástico e


demais outros (ORTIGÃO, J.A.R., 2006, p. 195).

Para o cálculo do recalque primário até o seu final utiliza-se a curva


proveniente do ensaio de compressão edométrica, ou de adensamento. Para facilitar
a identificação da tensão de pré adensamento da amostra é utilizada no eixo das
abscissas, a escala logarítmica das tensões, ao passo que o eixo das ordenadas é
apresentado na escala linear (fig. 2.8). Os métodos mais utilizados no Brasil, para
identificação da tensão de pré adensamento são os de Casagrande e
Pacheco Silva (SOUZA PINTO, 2006, pp. 190-193).

Figura 2.8. Parâmetros de Compressibilidade. Curva de Compressão


Fonte: ALMEIDA; MARQUES, 2010.
𝛥ℎ 𝛥𝑒
A partir do Diagrama de Fases do Solo, tem-se a expressão: = 1+𝑒 = 𝜀𝑉 .
𝐻 𝑣0

Por simples substituição chega-se a fórmula:

[𝐶𝑠 ] 𝜎′𝑣𝑚 [𝐶𝑐 ] 𝜎′𝑣0+𝛥𝜎𝑣


𝛥ℎ = ℎ𝑎𝑟𝑔 [ . 𝑙𝑜𝑔 ( )+ . 𝑙𝑜𝑔 ( )]
1 + 𝑒0 𝜎′𝑣0 1 + 𝑒0 𝜎′𝑣𝑚

Sendo 𝐶𝑠 𝑒 𝐶𝑐 os índices de recompressão e compressão; 𝑒𝑣0 o índice de


vazios in situ da profundidade estudada e 𝛥𝜎𝑣 o acréscimo de tensão no meio da
subcamada (ALMEIDA; MARQUES, 2010, p.84).

2.3.2.1 A Analogia Mecânica de Terzaghi


A deformação da massa de solo no tempo devido ao adensamento pode ser
explicada pela Analogia Mecânica proposta por Terzaghi em 1925.
12

Figura 2.9 - Analogia Mecânica de Terzaghi. Processo de adensamento


Fonte: Terzaghi, Karl; Peck, Ralph B.1948

A figura 2.9 apresenta o modelo de um recipiente contendo água,


representando conter solo saturado a partir de uma equivalência mecânica, onde o
esqueleto sólido é constituído por molas, imersas em água, entremeadas por
êmbolos perfurados. Os furos têm o significado dos poros ocupados por água na
massa sólida. O diâmetro desses furos equivale aos vazios do solo. A partir de um
tempo inicial ti=0 é aplicada uma variação de tensão vertical Δσ capaz de produzir
um excesso de poropressão h=Δσ/γw. A medida que o conjunto de molas se deforma
em cada compartimento, o equivalente h de poropressão cai, tendendo a zero num
tempo final tf=∞. As curvas de carga de água, em função do tempo são denominadas
isócronas. As deformações entre os êmbolos, com a expulsão do excesso de água,
é denominado consolidação. (TERZAGHI; PECK 1948, pp. 74-75).

Considerando a drenagem unidimensional, o cálculo dos recalques é feito


aplicando a Teoria de Terzaghi.

2.3.3 Recalques Secundários por Compressão


Esta classe de deformação comparada às demais, descritas anteriormente,
não são tão expressivas para a maioria dos solos. Este tipo de deformação está
associada ao rearranjo da estrutura relativa aos sólidos, também denominado de
fluência. Sua deformação corresponde com o último trecho retilíneo da curva e é
lenta, varia com o logaritmo do tempo. As tensões efetivas variam muito pouco.

Segundo Almeida; Marques, (2010), “As deformações que ocorrem


principalmente no fim do adensamento, que não podem ser atribuídas à dissipação
por excesso de poropressão, ainda remanescentes no corpo de prova, mas
13

pequenas, dá-se o nome de adensamento secundário” (MARTINS, 2005; apud


ALMEIDA; MARQUES, 2010).

Hipótese A: o recalque secundário, segundo Mesri (1973); Jamiolkowski et al.


(1985), pertence ao estágio, quando o adensamento da camada mole não sofre mais
a influência da variação no valor da tensão efetiva, em outras palavras, não depende
mais da drenagem. (MESRI,1973; JAMIOLKOWSKI et al. et al.,1985, APUD
ALMEIDA; MARQUES, 2010).

Hipótese B: A resistência da argila depende da viscosidade, da velocidade da


deformação vertical e da temperatura. Alguns autores já descreveram o fenômeno
de diversas maneiras, (por exemplo: Taylor e Merchant, 1940; Mitchell, 1964;
Kavazanjian e Mitchell, 1984; Leroueil et al, 1985; Martins e Lacerda, 1985).
(MARTINS, 2005; apud ALMEIDA; MARQUES, 2010).

Figura 2.10 - Definição do Índice de Compressão Secundária. Variação de e x log t


para um determinado incremento de carga
Fonte: (DAS, 2007).

Os valores de Cαε, em função da deformação específica, para as argilas


sobreadensadas (S.A.) são da ordem de 0,001 ou menos. No caso das argilas
normalmente adensadas (N.A.) variam entre 0,005 a 0,02 podendo atingir até 0,03.
Em se tratando de solos orgânicos, estes ficam a partir de 0,04 ou mais.
DAS, (2007).

Vale sublinhar que uma camada de argila com 10 metros de altura, tendo um
coeficiente de compressão secundário de 1% e o seu adensamento primário durar 2
14

anos; 20 anos após a construção, deverá ocorrer um recalque adicional de 10 cm


(1% de 10 metros); dos 20 aos 200 anos mais 10 cm e assim sucessivamente.

O cálculo do recalque por adensamento secundário, segundo a abordagem


tradicional é dado pela expressão abaixo, sendo 𝐶𝛼 obtido por ensaio e calculado
como indicado na figura 2.10.

𝑡
𝐶𝛼 . ℎ𝑎𝑟𝑔 . 𝑙𝑜𝑔 𝑡 ∗
𝑝
𝛥ℎ𝑠𝑒𝑐 =
1 + 𝑒𝑣0

2.3.4 Métodos para Controle de Recalques


Os métodos para controle de recalques, ou deformações de aterros, executados
sobre fundações constituídas por solos moles são bastante variados, conforme
listados no quadro 2.1

METODOLOGIAS EXPERIÊNCIAS
CARACTERÍSTICAS
CONSTRUTIVAS BRASILEIRAS
Remoção da camada mole, total Eficaz, grande impacto Vargas (1973); Cunha e
ou parcial ambiental, necessidade Wolle (1984); Barata
de sondagem (1977)
Expulsão do solo com ruptura Utilizada para depósitos Zaeyen et al. (2003)
controlada (aterro de ponta) de pequena espessura e
muito dependente da
experiência local;
necessária sondagem
para aferição da
espessura de solo
remanescente
Construção em etapas Utilizada na maioria dos Almeida et al. (2001);
casos; é necessário Davies e Parry (1985);
monitoramento do Almeida et al. (2008b)
ganho de resistência;
não favorável para
prazos exíguos
Drenos verticais e sobrecarga no Utilizada para acelerar Almeida, Rodrigues e
aterro recalques, com grande Bittencourt (1999); Almeida
experiência acumulada. et al. (2001); Sandroni e
Usa-se a sobrecarga Bedeschi (2008);
temporária para diminuir
recalques primários e
secundários
remanescentes
Bermas de equilíbrio e/ou reforço Adotada frequentemente Palmeira e Fahel (2000);
é necessário avaliar se a Oliveira, Almeida e Erlich
força de tração do (2009)
reforço é realmente
mobilizada in situ
Aterros sobre estacas com Ideal para prazos Almeida et al. (2008ª);
plataforma de Geogrelhas exíguos; diversos Sandroni e Deotti (2008_
layouts e materiais
podem ser utilizados
15

Colunas Granulares Aceleração de recalques Mello et al. (2008); Garga e


Medeiros (1995)
Pré carregamento por vácuo Pode substituir Marques e Leroueil (2005)
parcialmente a
necessidade de
sobrecarga com material
de aterro;
deslocamentos
horizontais são bem
menores que os de
carregamentos
convencionais.
Quadro 2.1 – Métodos Construtivos de Aterros sobre Solos Moles
Fonte: Modificado de ALMEIDA, 2010, Modificado pelo autor

Os perfis de sondagens e as curvas denominadas de isoespessura (fig. 2.11),


são importantes para avaliação dos métodos construtivos a serem adotados na área
em estudo (ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 50).

Figura 2.11 - Curvas de Isoespessuras


Fonte: PUC-Rio. Certificação Digital 1212881/CA

2.4 Liquefação em Maciços


2.4.1 Resumo
O termo liquefação significa a mudança do estado sólido para o líquido. Em
se tratando de solos é a transformação de uma massa sólida que possui uma certa
resistência ao cisalhamento, que se transforma em massa líquida, sem resistência
(NRC: NUCLEAR REGULATORY COMMISSION, 1985, p. 3).
16

A liquefação é intrínseca aos solos granulares, em especial nos casos de


areias e siltes finos saturados; principalmente no estado fofo. Ocorre a medida que
carregamentos monotônicos ou cíclicos interferem com o maciço, podendo produzir
um acréscimo nas poropressões, que praticamente anula as tensões efetivas;
quando não há tempo suficiente para dissipá-las. Isto pode significar um gatilho que
levará a massa de solo ao Estado Permanente.

Segundo Poulos, no Estado Permanente a deformação de qualquer massa é


contínua, com volume constante, a tensão normal efetiva é constante, com
velocidade constante (POULOS, 1981; apud, CAKMAK 1987. p. 183).

A partir deste estágio não há mais volta. A mudança de estado ocorre quando
as tensões atuantes nessa massa tocam a envoltória de resistência de Mohr-
Coulomb (fig. 2.12), até culminar no estado conhecido como liquefação.

Figura 2.12 - Diagrama Bilinear para as condições drenada e não drenada.


Zonas de Liquefação Potencial.
Fonte: Modificado de SLADEN et al., 1985; apud DAVIES, et. al, 2002)

2.4.2 Critérios
Os critérios para determinar a susceptibilidade de liquefação de solos são: o
critério histórico, quando se tem informações de locais que já sofreram processos de
liquefação; o critério geológico, para os sítios com depósitos aluvionares, fluvionares
e aeólicos; o critério de estado, em função da variação do índice de vazios com
relação a curva crítica de vazios; e o critério composicional. Os solos granulares,
desde pedregulhos a siltes grossos, mal graduados tendem a ser susceptíveis,
quando no estado fofo (FRANKE, 2017).
17

São definidas as seguintes condições para o fenômeno físico relacionado a


liquefação de acordo com a perda de resistência (fig. 2.13):

 Perda de resistência, ruptura frágil, com potencial para deformações


ilimitadas (liquefação plena);
 Perda limitada de resistência, com deformação limitada (quase
liquefação);
 Comportamento dúctil, sob cisalhamento não drenado, perda de
resistência e deformação limitada, (sem atingir o estado de liquefação);
 Ganho de resistência, sem liquefação ou deformação significativa,
(comportamento dilatante).

Figura 2.13 - Liquefação a partir da perda de resistência sob carregamentos


Monotônico e Cíclico.
Fonte: (DAVIES, et. al, 2002)

De todos os modos de falha a liquefação estática possui a maior frequência


entre as demais, quando se trata de barragens de rejeitos de mineração. (DAVIES,
et. al, 2002, p. 4)

Segundo Cakmak (1987), foi Casagrande (1936) quem primeiramente


introduziu a ideia denominada Critical Void Ratio (CVR), ou Índice de Vazios Crítico;
que em suas palavras “é o índice no qual um solo não coesivo pode ser submetido,
sem alterar seu volume, ou atingir uma condição de fluxo real”. Conhecido como
Conceito Genérico de Casagrande, foi baseado em ensaios de cisalhamento do tipo
drenado (CASAGRANDE, 1936; apud, CAKMAK, 1987. p. 184).

Ocorre que, em 1938, estava sendo construída a barragem de Fort Peck, no


rio Missouri, MT, USA. O aterro hidráulico foi escolhido como metodologia
construtiva. A barragem de Fort Peck foi construída, baseada na teoria de
Casagrande conhecida como Critical Void Ratio (CVR), ou Índice de Vazios Crítico
18

(1936). Esta analisava o comportamento das areias nos estados compacto e fofo a
partir de ensaios drenados (fig. 2.14).

Figura 2.14 - Índice de Vazios Crítico (CVR). Função da tensão efetiva de


confinamento e do índice de vazios inicial.
Fonte: modificado de CASAGRANDE, 1936, apud FRANKE, 2017.

Já próximo do final de construção da barragem, o corpo de aterro apresentou


recalques expressivos (da ordem de 60 cm), medidos na manhã do 22 de setembro
de 1938, vindo a ocorrer a ruptura no início tarde do mesmo dia (fig. 2.15). O
acidente causou 8 vítimas fatais (WIKIPEDIA, 07.11.2018).

Se trata portanto, de um processo abrupto e rúptil. Neste caso o método


observacional não se aplica, pois ocorre em um curto período de tempo, em que o
solo perde a maior parte de sua resistência e rigidez, porém em um tempo suficiente
para causar falhas capazes de provocar enormes prejuízos ao meio ambiente, a
propriedade e causar vítimas. A liquefação em depósitos de areias tem sido
responsável por rupturas de taludes, diques, barragens de terra e também prédios,
cujas fundações estavam apoiadas nestes depósitos.

Figura 2.15 - Ruptura na barragem de Fort Peck, USA. (1938)


Fonte: Static Liquefaction of Tailings – Fundamentals and Case Histories
19

Segundo a maioria da comissão constituída para avaliar as causas que


produziram o acidente: o recalque foi consequência de uma ruptura da fundação, na
camada constituída por xisto estratificado com bentonita (material mais fraco).
Devido a movimentação da massa, desenvolveu-se no corpo da barragem um novo
estado de tensões (gatilho), que culminou em liquefação parcial. Casagrande, que
fazia parte da minoria, alegou não ter instrumentos para avaliar, mas segundo ele,
de fato houve liquefação. Embora tratar-se de material predominante granular, o
corpo da barragem apresentava densidades relativas, com Dr entre 40% e 50%, o
que não é considerado um estado fofo (JEFFERIES; BEEN, 2016. p. 5-6).

2.4.2.1 Modelo do Estado Crítico


O modelo do estado crítico foi idealizado para estudar o fenômeno da
liquefação de areias e pode ser aplicado para pedregulhos. A abordagem da teoria
do estado crítico consiste na densidade dos materiais e basicamente estabelece que
solos compactos são resistentes e se dilatam, enquanto solos fofos, são pouco
resistentes e se contraem. É claro que os solos possuem uma vasta gama de
densidades, entretanto é necessário explicar o comportamento dos solos para uma
dada condição. O primeiro modelo teórico, idealizado para capturar o espírito do
problema foi o Cam-Clay, apresentado por Schofield e Wroth (1968), também
conhecido como Mecânica dos Solos do Estado Crítico.

Em paralelo aos trabalhos desenvolvidos nessa linha de pesquisa na


Inglaterra, trabalhadores, em especial Castro (1969) orientado por Casagrande, em
Harvard University, apresentaram a visão do estado crítico durante um ensaio de
cisalhamento rápido, ou tipo R, não drenado.

Cakmak (1987) também menciona logo a seguir que Schofield e Wroth (1968)
apresentaram seu trabalho um pouco diferente do de Casagrande (1936). Poulos
(1971, 1981) descreve a diferença entre os dois conceitos, que no caso R1, na figura
2.16, para Schofield, a tensão de pico de cisalhamento τ é correspondente ao estado
crítico, enquanto para o Steady State, ou Estado Permanente, a tensão de
cisalhamento é a mínima sem variação; atingindo grandes deformações.

Vale dizer que, com esta diferenciação de conceitos, o índice vazios crítico é
menor no conceito de Schofield. Outro aspecto é que a forma da curva tensão x
20

deformação é função do estado inicial do material (fofo ou compacto), por outro lado
o Estado Permanente não é função deste (JEFFERIES; BEEN, 2016. p. 1-4).

Figura 2.16 - Comportamento Tensão x Deformação de Areia Saturada, em Ensaio


de Cisalhamento Direto de 4 amostras. Valor de Pico e Deformação Permanente.
Fonte: Cakmak (1987), modificado pelo autor.

Conforme evidenciado na figura 2.16, que ilustra o comportamento da mesma


amostragem de areia saturada, em quatro diferentes casos: para as quatro amostras
são realizados dois ensaios rápidos (R), ou não drenados e dois ensaios lentos (S),
ou drenados; sendo duas amostras (S1 e S2) para estado 1, fofo e outras duas
amostras (R1 e R2) para o estado 2, compacto.

Para Castro (1969), a resistência não drenada no estado permanente,


designada Sus é somente uma função do índice de vazios da areia e não do estado
inicial de tensões, nem do tipo de carregamento (monotônico, ou cíclico), tampouco
de sua estrutura inicial. No estado inicial 1, o solo é denominado contrativo, pois
diminui de volume enquanto é cisalhado e se aproxima do Estado Permanente. Se
21

drenado, diminui de volume. Se não drenado, sofre acréscimo da poropressão. No


estado inicial 2 o solo é dilatante (CASTRO, 1966; apud CAKMAK, 1987 p. 184).

2.4.2.2 Critério do Parâmetro de Estado (ψ)


Segundo Jefferies; Been (1985), a utilização do parâmetro de estado tem
como objetivo a desvinculação relacionada aos aspectos da granulometria, da
gradação de areias e finos e da mineralogia. O tratamento de dados para o ambiente
do laboratório, de forma normalizada, se torna útil (fig. 2.17). Outro aspecto é a base
conceitual, que está apoiada na dilatação do solo (JEFFERIES; BEEN, 1985, apud,
JEFFERIES; BEEN, 2016. p. 43).

Figura 2.17 - Resultados típicos de resistências no Estado Permanente, para solos


não coesivos.
Fonte: (DAVIES, et. al, 2002)

O parâmetro de estado é representado como: ψ=(𝑒0 − 𝑒𝑠𝑠 ) onde e0 é o índice


de vazios inicial (in situ) e ess é o índice de vazios no estado permanente (Steady
State).

De um modo geral pode-se afirmar que solos em estado mais denso que o
estado crítico ψ<0, são solos dilatantes e sob cisalhamento não drenado têm
deformações com resistência elevada, ao passo que os solos no estado fofo maior
que o crítico ψ>0, são solos contráteis e na condição não drenada as deformações
ocorrem com baixas resistências ao cisalhamento (ROBERTSON, 2010a).

É fundamental entender a partir das “novas” lições acerca da resistência dos


solos não coesivos (areias e a maioria dos siltes) é que, como a argila, os
carregamentos rápidos em areias saturadas podem gerar resistência não drenada, e
como a argila esta resistência pode estar numa trajetória dependente da tensão e
22

deformação. Areias e siltes fofos tais como os depósitos submersos das praias de
rejeitos podem ter resistência muito baixa; estes contraem durante o cisalhamento
do mesmo modo que argilas sensíveis. No entanto, diferentemente das argilas que
têm um estado único de compactação referente ao índice de vazios, as areias tem
amplos intervalos de compactação para o mesmo estado de compressão. Estas
largas variações do índice de vazios iniciais das areias, e da estrutura desses
depósitos em escala de campo, significa que as estimativas das resistências não
drenadas para estes materiais são altamente incertas. (DAVIES, 2002).

2.4.2.3 Critério Composicional


Segundo Seed; Idriss (1982), os estudos de Wang (1979) na China revelaram
que, durante terremotos de grande magnitude, os solos que se liquefazem são:
CL, CL-ML e ML. Porém, Wang (1979) não relata como os dados foram coletados e
interpretados (fig. 2.18).

Entretanto, incorporam o relato de Wang:

“Os dados provenientes de laboratório e campo revelam que a grande


maioria dos solos argilosos não se liquefazem durante os terremotos. Mas,
estudos realizados na China em 1979 apontam que certos tipos de solos
argilosos podem ficar sujeitos a severa perda de resistência durante as
vibrações provocadas pelos terremotos”.


 Figura 2.18 - Carta de Plasticidade, mostrando tipos de solos que sofreram
liquefação durante fortes terremotos na China.
 Fonte: Wang (1979), apud Boulanger; Idriss (2004)

Estes solos aparentam possuir certas características combinadas:


23

 Percentagem de finos 0,005 mm < 15%


 Limite de Liquidez < 35
 Teor de Umidade > 0,9 x LL

Solos com estas características, plotados acima da linha A na Carta de


Plasticidade, devem ser testados por carregamento cíclico. De outro modo, solos
argilosos não estão sujeitos a liquefação (fig. 2.19).

Critérios semelhantes são descritos segundo Bray et al. (2004) com materiais
coletados após terremoto de Kocaeli (1999). A partir de ensaios triaxiais com
carregamento cíclico, concluem que solos com IP ≤ 12 e wL > 85% são susceptíveis
a liquefação. (BOULANGER; IDRISS, 2004).

Figura 2.19 - Recomendações de Seed et al. (2003) no que diz respeito a liquefação
de solos.
Fonte: Boulanger; Idriss (2004).

2.4.3 Resistência ao Cisalhamento na Liquefação


Segundo Terzaghi (1996), esta resistência difere da resistência disponível no
momento em que é disparado o gatilho da liquefação, que é denominada resistência
de pico ao cisalhamento.

Segundo Poulos et al. (1985), a resistência ao cisalhamento na liquefação foi


referenciada como a resistência ao cisalhamento não drenada no estado
permanente, Sus.
24

A resistência ao cisalhamento, Su(liq), é a resistência mobilizada para


grandes deformações após o gatilho de liquefação ter sido disparado em solos não
coesivos, saturados e contráteis.

A resistência ao cisalhamento de solos liquefeitos, Su(liq), quando


normalizada em relação à tensão efetiva vertical ϭv’, anterior à ruptura, é utilizada
𝑆𝑢(𝑙𝑖𝑞)
como estimativa da razão de resistência .
Ϭ′𝑣

Segundo Poulos et al. (1985) foi apresentado um procedimento em


laboratório para estimar a resistência ao cisalhamento in situ a partir de ensaios de
compressão triaxiais não drenados com de amostras reconstituídas de alta
qualidade, obtidas com auxílio de pistões. Entretanto, segundo Kramer (1989)
pequenos erros de estimativa do índice de vazios a partir destas amostras podem
causar grandes diferenças nas resistências ao cisalhamento no regime de
deformação permanente, indicando que a resistência ao cisalhamento neste regime
depende apenas do índice de vazios após o adensamento (e anterior ao
cisalhamento).

Entretanto, estudos mais recentes como os de Vaid; Thomas (1995)


indicaram os resultados de laboratório para resistência ao cisalhamento no regime
permanente também podem ser influenciados pelo modo de cisalhamento, da tensão
de cisalhamento de confinamento efetiva e do método de preparo da amostra.
(OLSON; STARK, 2002, p. 629).

2.4.4 Gatilho da Liquefação Estática


Entender e quantificar os fundamentos do comportamento de solos
associados com o gatilho de eventos trágicos é um importante passo relacionado à
análise da liquefação e da determinação do risco de rupturas por liquefação de
estruturas envolvendo estruturas de alto risco, como é o caso das barragens de
rejeito, associadas a extensos danos e perda de vidas humanas. Isto é necessário
para a elaboração de projetos de grande porte, onde a mitigação deste fenômeno,
associada à melhoria desses solos, pode ser introduzida em novos projetos, como
também na recuperação de obras existentes.

A ruptura envolvendo o fluxo por liquefação requer um gatilho que dispara a


liquefação em condição não drenada com deformações acompanhadas de baixa
resistência ao cisalhamento. Quando o solo é cisalhado, seu volume pode aumentar
25

ou diminuir, dependendo de sua densidade e magnitude da tensão efetiva aplicada


neste solo. Entretanto, para Jefferies; Been (2006), quando a mudança de volume é
inibida, devido à condição não drenada, o cisalhamento ocorre com volume
constante e o solo tende a dilatar, ou a contrair. Este mecanismo busca o equilíbrio
com deformações volumétricas elásticas, com o consequente o aumento da poro
pressão. A liquefação é disparada, quando o material não coesivo se encontra
saturado e fofo, provocada por carregamento monotônico (aumento da tensão
cisalhante, como no caso de alteamentos de aterros, mudanças de maré, inclinações
excessivas nos taludes, cargas construtivas, erosões de pé do maciço, enchimento
de reservatórios e acumulação rápida de sedimentos e abatimentos com rupturas
progressivas, produzindo taludes mais íngremes), quando a trajetória de tensão
efetiva atravessa a linha de instabilidade (IL) Lade (1992), conforme figura 2.20.

Figura 2.20 - Mecanismo Liquefação – Gatilho


Trajetória de tensões na condição não drenada. Carregamento monotônico
Fonte: Sadrekarimi (2014)

Como demonstra a figuras 2.21 (a) e (b), Su (pico) e Su(liq) descrevem a


condição liquefação – gatilho e o comportamento subsequente após a ocorrência da
liquefação, respectivamente. A diferença normalizada entre S u (pico) e Su(liq) é
usada para quantificar a redução da resistência não drenada que ocorre, seguida do
início da liquefação.
𝑆𝑢 (𝑃𝑖𝑐𝑜)− 𝑆𝑢 (𝑙𝑖𝑞)
𝐼𝐵 = É comumente definido como Índice de fragilidade não drenada, IB.
𝑆𝑢 (𝑃𝑖𝑐𝑜)

(SADREKARIMI, 2014, pp. 955-956).


26

Figura 2.21(a) e (b) – Cisalhamento não drenado para diferentes Drc.


Fonte: Sadrekarimi (2014)

2.4.5 Fundamentos em Barragens com Alteamento a Montante


No artigo intitulado “A Tale of Four Upstream Tailings Dams”, Martin;
McRoberts (1999), Davies; Martin (2000) reafirmam os fundamentos citados por
Lenhart (1950), Casagrande; MacIvor (1970) e Vick (1992). Também mencionam
que estes fundamentos não são opções e não são intercambiáveis, como conceitos
alternativos da mecânica dos solos. Estes, são baseados em comportamento dos
solos, a partir da experiência com numerosas falhas, já ocorridas, com barragens de
rejeitos e na experiência bem sucedidas de instalações bem gerenciadas, que
tiveram desempenho esperado. São 10 regras que não devem ser negligenciadas:
1) Barragens de montante, necessariamente não são inerentemente instáveis e
perigosas. Elas podem ser seguras como outros tipos de barragens, desde
que se garanta condições favoráveis, desde que as regras de segurança para
projeto, construção e operação sejam observadas;
2) Praias, suficientemente largas, acima da superfície, relativas aos últimos
alteamentos, devem ser mantidas, de forma que se tenha êxito com a
segregação dos materiais mais grossos e se garanta drenagem do
barramento. O talude da barragem não deve ser coberto por lama de rejeito, a
menos que o projetista tenha satisfeito a regra 4. O barramento deve ser
suficientemente largo para reter “pressões de ruptura”, caso a lama venha a
se liquefazer;
3) As taxas de alteamento da barragem devem ser suficientemente lenta, de
forma que haja dissipação do excesso de poro pressão no barramento e na
lama, as elevações devem ocorrer entre 4,6 e 9,2 metros por ano. Mittal;
27

Morgenstern (1976) sugerem que estes alteamentos não devem exceder 1


metro por mês;
4) Deve haver drenagem suficiente pelo colchão drenante e/ou fundação
permeável para manter a areia do barramento em condições drenadas,
prevenindo gradientes que provoquem infiltrações na face do barramento;
5) Análises de projeto devem conter, ambas as condições de resistências não
drenadas e drenadas. Uma ampla gama de fatores, incluindo o tipo de
material, grau de consolidação e trajetória de tensões, deve ser avaliada ao
atribuir a apropriada resistência não drenada;
6) Um alto grau de monitoramento do desempenho, inspeções e uma base
contínua de envolvimento pela projetista, é essencial para checagem que as
premissas de projeto estão sendo satisfeitas e também identificando se
alguma mudança de projeto deve ser realizada;
7) Barragens de rejeitos convencionais, com alteamento a montante, não
devem ser construídas em áreas que ocorrem atividades sísmicas, a menos
que haja uma combinação no melhoramento da construção da obra, relativa à
compactação do barramento e da drenagem;
8) O projeto deve ser consistente em termos de requisitos de projeto, como por
exemplo, largura mínima da praia versus requisitos operacionais, por
exemplo, geometria do reservatório e tamanho da lagoa, necessários para
sedimentação, regulação hidrológica e borda livre;
9) As condições de escoamento no corpo da barragem devem ser bem
definidas, exigindo uma boa compreensão dos perfis de poro pressão e
gradientes hidráulicos. A distinção entre a poro pressão medida em um
determinado ponto e o nível de saturação deve ser bem compreendida e
corretamente aplicada nas análises de estabilidade, especialmente nos casos
em que há forte percolação descendente;
10) Se uma barragem construída a montante é elevada a uma inclinação mais
íngreme do que 4H: 1V, a probabilidade de uma falha estática não drenada
devido a um mínimo gatilho é aumentada. Consequentemente, as barragens
a montante devem ser levantadas em declives de 4H: 1V ou menores
inclinações. Esta regra tem sido por muitas vezes violada.
28

2.5 Investigações Geotécnicas


Investimentos que observam as boas práticas e tecnologias disponíveis para
a engenharia de solos e rochas se utilizam de investigações geotécnicas. Isto se
aplica às obras de fundações, de cortes, de aterros e também de perfurações e
demolições.

A interpretação dos dados provenientes dos ensaios de campo necessitam de


uma aproximação unificada, de modo que os parâmetros de solos são avaliados de
forma consistente e complementar com os ensaios de laboratório (MAYNE, 2006,
p.1).

É a partir dos resultados das investigações geotécnicas que será permitido ao


responsável técnico e ao empreendedor argumentarem, no que diz respeito ao
desempenho dos projetos e aos processos que envolvem a obra, durante e após sua
execução.

Um dos alicerces do projeto geotécnico é estabelecer os requisitos mínimos


relativos à extensão e ao conteúdo das investigações geotécnicas, identificando a
complexidade da obra e do seu risco associado (EUROCODE 7 - BS/EM 1997-
1:2004, p.19).

As investigações preliminares, na região e no local da obra, têm como


objetivos definir o solo, as espessuras de suas camadas e os perfis geológico-
geotécnicos (fig. 2.22). Consistem essencialmente na realização de ensaios de
caracterização e de sondagens a percussão. Entretanto, o uso de métodos
geofísicos, ainda pouco difundidos, são excelentes para obtenção de perfis
estratigráficos.

Figura 2.22 - Perfil de sondagem


Fonte: PUC-Rio. Certificação Digital 1212881/CA
29

Numa segunda etapa das investigações geotécnicas, com base na primeira,


surge a necessidade da realização de outros ensaios de campo e de laboratório.
São as investigações complementares que irão revelar os parâmetros geotécnicos
propriamente ditos (ALMEIDA; MARQUES, 2010, pp. 49-53).

É importante que as etapas de campanhas de investigação relativas ao


diagnóstico, ou fase conceitual, básica e executiva de projeto sejam concatenadas,
de forma a se obter ganhos relativos às análises e ao seu aspecto econômico.

2.5.1 Conceituação: Solos Pré Adensados

Em se tratando de investigações geotécnicas é necessário a obtenção de


amostras de solos e rochas. Para tanto é fundamental se deter nos conceitos de solos
normalmente adensados e pré adensados.

O histórico de tensões de um determinado solo vai desde sua formação até o


tempo presente da sua existência. Durante os períodos de deposição de partículas a
tensão efetiva do solo aumenta. Ao passo que durante os estágios que ocorrem
erosão a tensão efetiva diminui à medida que as partículas de solo são removidas.
Nesse estágio, é conhecido como solo pré adensado. É provável que solos em
estuários de rios e em áreas costeiras existam há apenas poucos séculos, ou mesmo
décadas,podendo apresentar um histórico de tensões com sequências simples de
carregamento. Ao passo que, por exemplo, a argila de Londres revela um histórico de
tensões bastante complexo, tendo em vista se tratar de áreas de depósito muito
antigas, podendo chegar a 1 milhão de anos, alternado por períodos de erosão
(BARNES, G. 2016. pp. 109-111 ).

Figura 2.23 - Processo de deposição. Argilas Normalmente Adensadas.


Fonte: Barnes, G. (2016). Modificado pelo Autor.
30

As situações apresentadas na figura 2.23. consideram que o nível d’água do


mar permaneça acima do nível do solo, apresentando um esquema que mostra uma
sequência de depósitos de partículas.

Solos normalmente adensados ocorrem por deposição de partículas ou por


carregamentos, sem que haja erosão ou descarregamentos. Quando a tensão vertical
efetiva, em tempo mais recente, é menor do que aquela experimentada pelo solo no
passado, o solo é pré adensado (fig. 2.24).

Figura 2.24 -. Histórico de Tensões. Deposição, Erosão e Novo Carregamento


Fonte: Barnes, G. (2016). Modificado pelo Autor

É definido como OCR (Over-Consolidation Ratio), ou RSA (Razão de Sobre


Adensamento) a relação entre a tensão experimentada pelo solo no passado e a atual
tensão. O OCR (tab. 2.2) só é constante e igual a 1, quando o solo é normalmente
adensado. Caso já tenha ocorrido pré adensamentos o OCR varia com a
profundidade.


𝜎𝑚 ′
𝑂𝐶𝑅 = tal que, 𝜎𝑚 é a tensão de pré adensamento.
𝜎𝑣′

Tipos de Solo OCR


Normalmente Adensado 1
Ligeiramente Pré Adensado 1,5 a 3
Acentuadamente Pré Adensado >4
Tabela 2.2 -Valores típicos de OCR

Vale citar alguns processos que resultam em solos pré adensados:


31

 Variações do nível d’água


 Ressecamento da crosta do solo
 Processos-físico químicos
 Envelhecimento e compressão secundária

Outras situações artificiais fazem com que os solos passem da condição


normalmente adensada para pré adensada:

 Remoção de carga extra de estruturas, como tanques de estocagem,


demolição de prédios
 O corte do terreno por intermédio de equipamentos de terraplenagem, e etc.

Um dos métodos para determinação da tensão de adensamento mais conhecido


internacionalmente é o de Casagrande, embora o método de Pacheco Silva é
considerado mais simples (fig. 2.25). (SOUZA PINTO, 2006, p.193).

Figura 2.25 – Determinação Tensão Sobreadensamento. Método Pacheco Silva

Fonte: Souza Pinto

2.5.2 Amostras de Solo


As amostras de solo são classificadas em duas principais categorias:
deformadas e indeformadas. As denominadas amostras indeformadas são
requeridas principalmente para os ensaios de resistências de cisalhamento e de
32

adensamento. Tais amostras são obtidas por meio de técnicas que tentam preservar
a estrutura in situ do solo e sua condição de umidade. As amostras em profundidade
podem ser extraídas com auxílio de lavagem, perfuração e cravação de tubos e
posteriormente arrancadas do interior do maciço; ou por escavação de poços de
inspeção, onde são esculpidas. Após a coleta, em ambos os métodos, são
envelopadas e protegidas para evitar ressecamento e vibrações no transporte do
campo ao laboratório. Entretanto, independentemente do método de extração da
amostra, é praticamente impossível obter uma amostra tida realmente como
indeformada, haja vista que os estados de tensões mudam durante a escavação,
extração, transporte e modelagem dos corpos de prova (fig. 2.26).

Figura 2.26 - Variações do estado de tensões durante a amostragem.


Fonte: PUC-Rio Certificação Digital nº 0711205/CA

Os métodos utilizados para a extração de amostras dependem da qualidade


requerida para as amostras, podendo ser classificadas da seguinte forma, em função
do uso das mesmas.

Classe 1: ensaios de classificação de solo, saturação, densidade, resistência ao


cisalhamento, deformações e adensamento.
Classe 2: ensaios de classificação, saturação e densidade;
Classe 3: ensaios de classificação e saturação;
33

Classe 4: apenas para ensaios de classificação;


Classe 5: apenas para identificação dos estratos de solo.

Para os ensaios de classes 1 e 2 as amostras devem ser indeformadas, enquanto


que para as classes 4 e 5 podem ser deformadas. (CRAIG, 2004. pp. 381-382).

Segundo Ladd; Lamb (1993), para se obter bons resultados nos ensaios de
laboratório é necessário que se disponha de amostras de solos indeformadas de boa
qualidade. Embora considerando uma amostra de solo perfeita, apresenta
inevitavelmente, um determinado alívio do estado de tensões. (LADD; LAMB, 1993,
apud ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 72).

Vários métodos foram propostos para corrigir valores de ensaios de


laboratórios a partir de amostras de qualidade pouco favoráveis.

O método mais conhecido é o de Ladd; Foott (1974), o SHANSEP (Stress History


and Normalized Soil Engineering Properties). Neste método há duas principais
suposições: 1) a produção da tensão de pré adensamento (pc) pode ser obtida de
forma precisa, mesmo para amostras de baixa qualidade. 2) os padrões de OCR no
campo são os mesmos recriados em laboratório (WANG; MAINE, 2008, p. 151). Há
várias críticas a esse método, porém o presente trabalho não pretende entrar no
mérito dessa questão, mas apenas apontar para o fato.

Segundo Ladd; Foot, os resultados de ensaios triaxiais de compressão com


diferentes níveis de tensão de pré adensamento, p.ex. 200 KPa e 400 KPa como
mostrado na figura 2.27 (a) e (b), quando normalizados pelas respectivas tensões de
pré adensamento, tendem apresentar curvas próximas, ou seja, com pouca
discrepância. Na prática os resultados são adotados, pela engenharia. (LADD;
FOOTT, 1974, apud, PARAGOULIAS, S. et al. 2016).

Além dos parâmetros de resistência obtidos em laboratório, estes também


fornecem parâmetros de deformabilidade dos solos, úteis para os cálculos de
recalques de fundações. Não é raro que amostras apresentem perturbações
influenciando em resultados errôneos, principalmente em solos granulares e
parcialmente saturados. O método SHANSEP (Ladd; Foot, 1974) auxilia nessa
questão relacionada às amostras de baixa qualidade. (VELLOSO, D.A.; LOPES, F.R.
2010, p. 89).
34

Figuras 2.27 (a) e (b) - Resultados de ensaios triaxiais de uma argila homogênea
Fonte: Modificado de Ladd; Foott. 1974. Plaxis: SHANSEP MC Model, 2016.

A qualidade de amostras em ensaios de adensamento se faz necessária. A


avaliação é feita pelo índice Δe / e0, sendo Δe a variação do índice de vazios a partir
do início do ensaio até a tensão efetiva in situ σ’v0. Autores brasileiros apresentam
faixa de índices (tab. 2.3) mais condescendentes.

OCR Muito Boa a Boa a Regular Ruim Muito ruim


Excelente
Critério de Lunne, Berre e Strandvik (1997)
1-2 < 0,04 0,04 – 0,07 0,07 – 0,14 > 0,14
2-4 < 0,03 0,03 – 0,05 0,05 – 0,10 >0,10
Critério de Sandroni (2006)
<2 < 0,03 0,03 – 0,05 0,05 – 0,10 > 0,10
Critério de Coutinho (2007)
1 – 2,5 < 0,05 0,05 – 0,08 0,08 – 0,14 > 0,14
Tabela 2.3 - Critério para classificação de qualidade de amostras
Fonte: (ALMEIDA; MARQUES, 2010, pp. 75 - 76).

2.5.3 Sondagens a Percussão


Fazem parte das investigações preliminares, mas podem ter papel
fundamental na fase de investigações complementares. Além dos objetivos
35

mencionados na seção anterior, os ensaios de sondagens a percussão (fig. 2.28)


possibilitam coletar amostras deformadas, determinar o grau de consistência dos
solos finos e o de compacidade dos solos granulares.

Figura 2.28. Esquema de Sondagem a Percussão


Fonte: Aula 4 – Solos e Fundações. Ebah

A norma brasileira NBR-6484/2001 fixa as medidas dos tubos de revestimento


que devem ser de aço, com diâmetro nominal interno 63,5 (Dext = 76,1 mm ± 5 mm
e Dint = 68,8 mm ± 5 mm), podendo ser emendados por luvas, com comprimentos
de 1,00 m e/ou 2,00 m. Durante o procedimento de perfuração do furo de sondagem
também são feitos ensaios de resistência, definidos em função do número de golpes
NSPT. Os golpes são feitos a martelo. O conjunto com massa de 65 Kg, é liberado a
uma altura de queda de 75 cm. As classificações são feitas de acordo com o número
de golpes necessários para cravação do amostrador de solo durante os últimos 30
cm.
36

Figura 2.29. Amostrador padrão do tipo Raymond


Fonte: Revista solos e Rochas (1999)

O amostrador de solo (fig. 2.29) possui diâmetro interno de 34,9 mm e


diâmetro externo de 50,8 mm (cm). As amostras, após coletadas e preparadas, são
encaminhadas ao laboratório para classificação final e confecção dos perfis de
sondagem.
A partir dos trabalhos realizados por Terzaghi; Peck (1948) as normas utilizam
estes índices de resistências (tabela 2.4). Os solos finos e granulares são
classificados em função do número N de golpes denominados NSPT.

Tabela 2.4. Valores de NSPT. Solos Arenosos e Argilosos


Fonte: ABNT:NBR-6484/2001; NBR-7250/1982.
37

Os procedimentos utilizados durante os ensaios SPT empregam diversos


tipos de martelo que podem ser erguidos por manivela e sarilho ou mecanicamente.
Daí surge a necessidade de normalização da energia dispendida nesse processo.

As limitações inerentes ao ensaio SPT aliadas a alguns fatores que


influenciam os resultados, mas que não tem a ver com as características do solo,
nos obriga avaliar de forma crítica os métodos aplicados em questões geotécnicas.
As modernas abordagens sugerem que o número NSPT seja corrigido por conta das
diferenças das energias de cravação e o nível de tensões durante os ensaios.
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 34).

Média da Eficiência das Energias


Estado de Acionamento Manual Acionamento com Gatilho
Equipamento
Composição Nº Desvio Padrão Nº Desvio Padrão
Média % Média %
dados % dados %
Martelo cilíndrico com Velho 69,4 178 3,59 75,5 195 2,95
pino guia, acionado com
Novo 72,,7 153 3,59 81,3 90 3,98
corda
Martelo cilíndrico com Velho 63,2 45 4,78 74,4 23 2,23
pino guia, acionado com
cabo de aço Novo 73,9 54 3,43 83,2 26 2,52

Martelo cilíndrico
Novo 66,5 50 3,74 74,2 39 5,30
acionado com corda

Tabela 2.5 - Influência do tipo de martelo, para composição de 14 m de


comprimento, martelo com coxim de madeira e cabeça de bater de 3,6 Kg.

Fonte: BELICANTA, 1998, apud SCHNAID; ODEBRECHT, 2014.


Média da Eficiência das Energias
Acionamento Manual Acionamento com Gatilho
Sondagem Uso do Coxim
Média Nº Desvio Padrão Média Nº Desvio Padrão
(%) dados (%) (%) dados (%)

Não 72,8 111 3,62 - - -


Local 1
Sim 71,0 104 3,56 - - -

Não - - - 76,1 9 4,54


Local 2
Sim 66,7 51 2,73 75,5 195 2,95

Tabela 2.6 -. Influência do uso de coxim, para composição de 14 m de comprimento,


martelo com pino guia e cabeça de bater de 3,6 Kg.
Fonte: BELICANTA, 1998, apud SCHNAID; ODEBRECHT, 2014.

Segundo Schnaid; Odebrecht, a energia transmitida pelo martelo à cabeça de


bater e às hastes durante o processo de cravação não é igual à teórica para queda
livre. (SCHMERTMANN; PALACIOS; 1979; SEED et. al., 1985 SKEMPTON, 1986,
38

apud SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p. 34), pois a eficiência de energia do martelo


depende do atrito entre cabo e roldanas, do sistema de elevação do martelo e da
geometria do aparato. Em comparação com os sistemas manuais para elevação do
martelo com os países da União Europeia e Estados Unidos onde são do tipo
mecanizado, a energia liberada é de aproximadamente 60%. Por conta desse fato, a
prática internacional aponta para o padrão N60, cujo significado é um valor de
referência, normalizado, para a penetração do amostrador durante os ensaios.

𝑁𝑆𝑃𝑇 . 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎


𝑁𝑆𝑃𝑇,60 =
0,60

As tabelas 2.5 e 2.6 demonstram a faixa de energia utilizada na prática brasileira


para correção de energia para o padrão 𝑁𝑆𝑃𝑇,60

Quanto as correções para os níveis de tensões comparadas ao nível


geostático de tensões in situ, é uma prática recomendável para ensaios em solos
granulares.

Segundo Meyerhof (1957); Skempton (1986), a resistência à penetração


aumenta linearmente com a profundidade (ou se preferir, com a tensão vertical
efetiva; para uma certa densidade) e em função do quadrado da densidade relativa
(tab. 2.7). (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, p.36).

𝜎𝑣′
𝑁𝑆𝑃𝑇 = 𝐷𝑟2 (𝑎 + 𝑏𝐶𝛼 )
100

REFERÊNCIA 𝑪𝑵 𝝈′𝒗 OBSERVAÇÃO


Seed, Idriss e Arango
Skempton 200 (1983)
𝐶𝑁 = KPa
(1986) 100 + 𝜎𝑣′ Dr=40% - 60% para Areias
N.A.
Seed, Idriss e Arango
Skempton 300 (1983)
𝐶𝑁 = KPa
(1986) 200 + 𝜎𝑣′ Dr=60% - 80% para Areias
N.A.
Peck, Hanson, 𝐶𝑁
Thornburn 2000 KPa Areias N.A.
= 0,77 𝑙𝑜𝑔 ( ′ )
(1974) 𝜎𝑣

Liao e Whitman 100


𝐶𝑁 = √ KPa Areias N.A.
(1985) 𝜎𝑣′
39

𝑘
Liao e Whitman (𝜎𝑣′ )𝑟𝑒𝑓
𝐶𝑁 = ⌈ ⌉ - k = 0,4 – 0,6
(1985) 𝜎𝑣′

Skempton 170
𝐶𝑁 = KPa Areias P.A.; OCR = 3
(1986) 70 + 𝜎𝑣′

143
Clayton (1993) 𝐶𝑁 = KPa Areias P.A.; OCR = 10
43 + 𝜎𝑣′

Tabela 2.7 – Fatores de Correção Cn


Fonte: Schnaid; Odebrecht (2014)

Onde, Dr é a densidade relativa, a e b são parâmetros que dependem do solo,


Cα é o fator de correção de resistência, em função do histórico de tensões e 𝜎𝑣′ é a
tensão vertical efetiva em KPa.

 Para os solos normalmente adensados o valor de Cα = 1,


 Cα aumenta à medida que a Razão de Sobreadensamento (OCR) aumenta.
Isto faz aumentar a tensão efetiva horizontal 𝜎ℎ′ e como consequência as
𝜎𝑣′ +2𝜎ℎ′
tensões verticais efetivas médias, 𝑝′ = ( ).
3

Com base neste fato, vários autores sugerem coeficientes de correção de NSPT,
normalizados ao nível de tensão de 1 ATM, ou 100 KPa, o equivalente em solos, da
ordem de 5 metros de profundidade e expressos como: 𝑁𝑆𝑃𝑇,1 = 𝐶𝑁 . 𝑁𝑆𝑃𝑇 . Baseado
neste conceito, são propostas de forma empírica (tab. 2.3), algumas correlações
para CN.

Ainda segundo Schnaid; Odebrecht (2014) p. 37 o valor CN é função do nível


médio das tensões efetivas, da história de tensões, do ângulo de atrito interno do
solo e das características do equipamento de ensaio, isto é, conforme o tipo de
martelo, haste e amostrador (fig. 2.30).
40

Figura 2.30. Valares Típicos de CN para areias


Fonte: Schnaid et al. (2009). Schnaid; Odebrecht, (2014).
2.5.4 Ensaio SPT-T
Segundo Décourt; Quaresma Filho (1991), a sugestão de medir o torque após
a execução dos ensaios SPT foi feita por Ranzini. (RANZINI, 1988; FUNDAÇÕES
TEORIA E PRÁTICA, 1998, pp. 121-122).

Basicamente o equipamento é constituído de uma ferramenta para medir o


torque, denominada Torquímetro, sendo recomendado aparelho com capacidade de
80 Kgf x m, além de Chave Soquete, Disco Centralizador e Pino Adaptador que
serão instalados na parte superior da Bica da sondagem a percussão (fig. 2.31).
41

Figura 2.31 – Ensaio SPT-T


Fonte: Ensaio SPT-T. UNEMAT

A força Ft é calculada logo após a leitura do torque, aplicado no amostrador.

𝑇
𝐹𝑡 =
(40,53. ℎ − 17,40)

Onde Ft = ao atrito lateral ou a adesão (Kgf /cm2)

T = torque (Kgf x cm)

h = penetração do amostrador no solo

Os procedimentos para realização do ensaio estão contidos na mesma norma


de sondagens a percussão a NBR-6484/2001.

2.5.4.1 O Índice de Torque (Tr)


É definido como a relação entre o valor do torque medido (em Kgf x m) pelo
valor de NSPT. Para os solos da bacia sedimentar terciária de São Paulo (BSTSP),
um dos mais estudados no Brasil, a relação T/N é de aproximadamente 1,2. Os
ensaios de SPT-T tem revelado não sofrer influência para os solos estruturados.

2.5.4.2 O Conceito de N Equivalente (Neq)


Têm se como principal objetivo evitar a influência nos resultados de solos
estruturados nos ensaios SPT. Como é conhecido, os solos da BSTSP não são
estruturados. Décourt (1991) propõe que o valor de Neq seja o produto da grandeza
medida durante o ensaio do torque T (Kgf x m) por 1,2. Este ainda sugere que os
resultados sejam observados com cautela, mesmo que já tenham sido
experimentados com êxito, estão distantes de ser caracterizados como prova
definitiva. Caso o raciocínio esteja correto, os valores das sondagens SPT-T seriam
os semelhantes aos dos ensaios SPT realizados para os solos na BSTSP.

2.5.5 Ensaios de Caracterização


Normalmente presentes nas etapas preliminares, os ensaios de
caracterização dos solos são essencialmente econômicos e importantes.
Compreendem os ensaios de granulometria, umidade, limites de Atterberg e a
obtenção de parâmetros físicos, que podem ser extraídos a partir de dois ensaios,
mostrados no esquema da figura 2.32.
42

Figura 2.32 - Obtenção de índices físicos dos solos, a partir de apenas 2 ensaios.
Fonte: UFJF (2005)

A partir dos ensaios de caracterização, é possível identificar a faixa de


compressibilidade das argilas, ao comparar valores de Ip com wL (fig. 2.33). Os
valores de wL, a partir da linha B, onde se situam os materiais classificados como de
elevada compressibilidade H (high plasticity), para a faixa 50% < wL < 70%; V (very
high plasticity), na faixa de 70% <wL < 90%; e para wL > 90%, são denominados E
(extremely high plasticity). (BS 5930 – BSI, 1999). (ALMEIDA; MARQUES, 2010, pp.
51-53).

Figura 2.33 - Carta de Plasticidade de Casagrande


Fonte: PUC-Rio – Certificação Digital nº 1312965/CA
43

2.5.6 Ensaio De Palheta (Vane Test)


O ensaio de paleta foi introduzido no Brasil em 1949, pelo Instituto de
Pesquisa Tecnológica de São Paulo (IPT) e pela Geotécnica S.A., Rio de Janeiro.
Embora tenha sido desenvolvido em 1919 na Suécia, por John Olsson, no final da
década de 1940 o ensaio foi aperfeiçoado e o desenho do aparelho modificado por
Cadling e Odenstad (1950), sendo utilizado até os dias atuais (fig.2.34), permitindo
alta produtividade e resultados de boa qualidade.

A ASTM, American Society for Testing and Materials, realizou conferência em


1987, para normalizar o ensaio em 1987. Servindo como referência internacional a
especificação ASTM STP 104.

A ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, normalizou o ensaio em


1989, conhecido no Brasil como MB 3122: Solo – Ensaio de Paleta in situ – Método
de Ensaio, também conhecido como NBR 10905.

Figura 2.34- Equipamento para Ensaio de Palheta In Situ


Fonte: Ortigão; Collet (1987)

Este ensaio é utilizado para medir resistências não drenadas de solos in situ. Por
meio da cravação de uma palheta com seção cruciforme, é aplicado um torque
necessário a romper a argila em condição saturada. Embora a Norma Brasileira
especifica que o teste pode ser aplicado em argilas até 200 KPa, ou seja, cuja
44

classificação está entre mole e rija, os resultados são satisfatórios em argilas com
resistências até 50 KPa. Conforme prática adquirida, deve-se considerar:

 O uso em solos com NSPT menor ou igual a 2 e resistência de penetração qc


menor ou igual a 1000 KPa;
 Matrizes predominantemente argilosa (> 50% passando na peneira #200, LL
> 25, IP> 4);
 Ausência de lentes de areia, previamente definidas com ensaio de
penetração.

O equipamento é constituído de palheta fabricada em aço de alta resistência,


com quatro aletas, com diâmetro de 65 mm e altura de 130 mm, sendo a altura igual
ao dobro do seu diâmetro. Também são admitidas palhetas com diâmetro de 50 mm
e altura de 100 mm, para argilas rijas, com Su > 50 KPa. A haste fina, com diâmetro
13 mm, transfere o torque aplicado à palheta a partir da mesa de torque. Também
em aço, a haste é protegida por tubo externo com diâmetro de 20 mm. O
equipamento para aplicar o torque possui disco com leitura para medições do
momento aplicado. A rotação que movimenta o conjunto deve ser igual a 6º ± 0,6º
/min. Este movimento é transmitido por um sistema de coroa e pinhão, movido por
manivela, ou motor elétrico. Durante a realização do ensaio são feitas medidas a
cada 2 graus, para a construção da curva torque x rotação. Existem dois tipos de
ensaio. Com o equipamento A, é feita a cravação estática da palheta por
equipamento hidráulico. A palheta é protegida por sapata que deve ser estacionada,
e cravada pelo menos 50 cm a sua frente. O equipamento do tipo B é usado a partir
de furos previamente realizados, mas apresentam resultados sujeitos a erros. Nesse
caso, todo esforço deve ser feito para evitar este último tipo de procedimento. O MB
3122 prescreve recomendações para que seja diminuído o atrito entre a haste fina e
o tubo de proteção. (SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, pp.117-119).

O cálculo da resistência não drenada é feito admitindo-se a hipótese que as


tensões são igualmente distribuídas no cilindro circunscrito à palheta. Embora a
engenharia adote este prática, não é verdadeira esta premissa. Isto é devido a
anisotropia do solo e das dimensões das palhetas, já que as superfícies horizontais
e verticais da palheta não são as mesmas.
45

Segundo Wroth, 1984, os resultados podem variar, segundo dados


conservadores, da ordem de 9% para as argilas de Londres.

Embora existam várias considerações e fórmulas para obtenção das tensões nas
palhetas, dado a forma do carregamento e anisotropia, estas não serão
apresentadas neste trabalho. Porém estas relações são descritas por (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2014, pp.124-128).

A Norma Brasileira define a resistência Su, não drenada, pela seguinte expressão:

𝑇
𝑆𝑢 = 0,86 .
𝜋𝐷3

T é o valor do torque aplicado em KN.m e D o diâmetro em metro.

Figura - 2.35. Resistências não drenada de pico e amolgada.


Gráfico Torque x Rotação.
Fonte: (ORTIGÃO, J.A.R., 2006).

Segundo Almeida (2000) o pico de resistência deve corresponder a menos de


30º, para garantir a qualidade do ensaio (fig. 2.35), de forma que não haja
amolgamento.

Após a execução do ensaio da argila indeformada, são realizadas 10 rotações


completas, para então ser conduzido o ensaio com a argila amolgada. A relação
46

entre as resistências de pico e amolgada (tabelas 2.8 e 2.9) fornece a sensibilidade


da argila, ao passo que, quanto menor a sensibilidade, maior é a importância da
estrutura do material. (ORTIGÃO, J.A.R., 2006, p. 318).

𝑆𝑢
𝑆𝑡 =
𝑆𝑢𝑎

Sensibilidade St
Baixa 2-4
Média 4-8
Alta 8-16
Muito Alta >16
Tabela 2.8. Sensibilidade de Argilas
Fonte: (SKEMPTON; NORTHEY 1952, apud ORTIGÃO 2006).

Local Valor Médio Variação Referência


Santa Cruz, RJ. Zona Litorânea 3,4 Aragão, 1975
Santa Cruz, RJ. Offshore 3,0 1-5 Aragão, 1975
Rio de Janeiro, RJ 4,4 2-8 Ortigão; Collet 1986
Sepetiba, RJ 4,0 Machado, 1988
Cubatão, SP (Alemoa) 4-8 Teixeira 1988
Florianópolis, SC 3,0 1-7 Maccarini et al. 1988
Aracaju, SE 5,0 2-8 Ortigão, 1988
Tabela 2.9. Sensibilidade de Argilas. Alguns depósitos brasileiros.
Fonte: (ORTIGÃO, J.A.R., 2006 p. 322).

A experiência internacional da comunidade geotécnica, com escavações e


construções de aterros, aponta para a necessidade de uma correção dos resultados
a partir do Ensaio de Palheta.

𝑆𝑢(𝑐𝑜𝑟.) = 𝜇𝑆𝑢(𝐸𝑃)

Segundo Bjerrum, 1973, a correção do ensaio de palheta no campo é


necessária, dado à anisotropia, a velocidade de deformação e a fluência do material
analisado. Os valores de μ são empíricos e inferidos através de retro análises, em
casos de ruptura, já ocorridos em aterros e cortes. Alguns autores recomendavam
que os valores de μ fossem obtidos em função do índice de plasticidade da argila,
47

IP. Mas, dado a alta dispersão dos resultados, estudos mais atuais publicados por
Aas, et al. (1986) propõem o índice de resistência normalizada.

𝑆𝑢

𝜎𝑣0

Onde 𝑆𝑢 é a resistência fornecida pelo EP e 𝜎𝑣0 é a tensão efetiva vertical in
situ. (BJERRUM, 1973; AAS et al. 1986; apud ORTIGÃO, J.A.R., 2006 pp. 322-323).

Ortigão, 2006, também sublinha que as experiências com argilas de alta


plasticidade do litoral brasileiro fornecem fator de correção μ, próximo de 1.

A OCR é considerada medida importante para a correção de valores de


resistência ao cisalhamento para argilas com altos valores de IP e em depósitos com
oscilações de níveis do lençol freático. O EP (Vane Testing Shear) é indicado para
obtenção do parâmetro (fig. 2.36).

Segundo Mayne; Mitchell, 1988 a OCR pode ser representada pela relação:

𝑆𝑢
𝑂𝐶𝑅 = 𝛼 ′
𝜎𝑣0

O valor de α pode ser extraído de:

𝛼 = 22. (𝐼𝑃)−0,48

(MAYNE; MITCHELL, 1988; apud ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 60).


48

Figura 2.36 - Correlações para obtenção do fator corretor μ para razão de resistência
não drenada.
Fonte: (AAS et al. 1986; apud ORTIGÃO, J.A.R., 2006).

Segundo Popov, 1976, há a necessidade de considerar a inércia do conjunto de


hastes. A torção elástica das hastes é dada pela expressão:

𝐿
𝑇𝑥 𝑑𝑥 𝑇𝐿
𝜙=∫ =
0 𝐽𝑥 . 𝐺 𝐽𝐺

Onde T é o torque aplicado, L o comprimento da composição de hastes, J o


momento de inércia das hastes e G o módulo cisalhante.

Também devem ser somadas a torção elástica as rotações dos apertos nas
luvas entre as hastes durante a execução do ensaio. É sugerido que seja utilizado
dispositivo que limite a rotação, por meio de batentes, para que não ocorra estas
rotações. (POPOV, 1976; apud SCHNAID; ODEBRECHT, 2014, pp.121-122).

2.5.7 Ensaios Triaxiais


No Brasil os ensaios de compressão são os mais comuns, e são
considerados os ensaios padrão da Mecânica dos Solos.

As amostras cilíndricas são submetidas a tensões axiais e radiais (fig. 2.37).


Na realidade são ensaios axissimétricos. Ainda segundo Ortigão, 2007, as principais
49

referências sobre esses ensaios são as de Bishop; Henkel, 1962 e mais


recentemente Head, 1980. (ORTIGÃO, 2007, pp. 222, 227).

Figura 2.37- Esquema de câmara triaxial.


Fonte: Marangon, UFJF

Ensaios triaxiais na sua versão mais completa são realizados em duas fases:
a do adensamento e a do cisalhamento. A primeira fase, ou de adensamento, é
drenada, já a segunda fase, de cisalhamento, pode ser drenada ou não drenada. Os
corpos de prova podem ser adensados e rompidos com amostras indeformadas, ou
moldadas.

A primeira fase objetiva controlar as deformações. São aplicadas tensões


confinantes iguais a axial, isotrópicas σc. Enquanto que a segunda visa determinar
as trajetórias de tensões totais e efetivas, também conhecida como fase de
cisalhamento, quando são aplicadas tensões de desvio σd.

Ensaios CU, Consolidated Undrained (adensados e não drenados), são


considerados ensaios rápidos (R).

Ensaios CD, Consolidated Drained (adensados e drenados), são ensaios do


tipo lento (S).

Os ensaios triaxiais UU, Unconsolided Undrained (não adensado e não


drenado), são do tipo imediato (Q) e fornecem resultados para o perfil Su de projeto.
Estes resultados podem ser comparados com os de outro tipo de investigação.
(ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 77)
50

O ensaio triaxial de compressão isotrópica (quando as tensões σ1 = σ2 = σ3)


não representa situações comuns na natureza e é pouco utilizado pela Mecânica dos
Solos. Porém, quando se trata de condições onde as tensões são muito elevadas,
da ordem de MPa; e por questões de resistência do próprio equipamento, pode ser
conveniente sua utilização. (ORTIGÃO, 2007, pp. 220).

Obras especiais utilizam ensaios CAU do tipo (S), Consolidated Anisotropic


Undrained (adensado, anisotrópico e não drenado). É necessário estimar, ou
determinar as tensões de campo. A partir da expressão σ’h0 = k0 σ’v0, sendo k0 = (1-
senϕ’). OCRsenϕ’. (ALMEIDA; MARQUES, 2010, p. 77).

2.5.7.1 Parâmetros De Poropressão A e B


Segundo Skempton; Bishop, 1954, durante um ensaio não drenado, a relação
entre as características de resistência do solo irá depender da magnitude da
poropressão aplicada durante o teste. Os parâmetros de poropressão A e B são
convenientes para entender como a poropressão varia de acordo com o estado de
tensões do ensaio. Aplicando este conceito, é possível avaliar a diferença entre os
tipos de ensaio triaxial e estimar a magnitude de poropressões. (SKEMPTON;
BISHOP, 1954; apud, BISHOP; HENKEL, 1957. pp. 5-8).

𝛥𝑢𝑎
 Parâmetro 𝐵 = quando o solo encontra-se totalmente saturado B=1.
𝛥𝜎3
𝛥𝑢
 Parâmetro 𝐴 = 𝛥𝜎𝑑
𝑑

Uma das interpretações de ensaio utiliza o padrão MIT, Lambe; Whitman, (1979)
que fornece o diagrama s’ x t para representação das trajetória de tensões.

(σ’d + σ’c) (σ’d− σ’c)


Sendo: 𝑠 ′ = 𝑡=
2 2

Este padrão é bastante conveniente pois s’ significa o raio do círculo de Mohr e t a


tensão cisalhante. O que facilita a representação de várias trajetórias TTT e TTE em
um único diagrama.

O outro padrão, denominado Cambridge, desenvolvido por Atckinson; Brundy,


(1978), considera a parcela σ2 e fornece o diagrama p’ x q. (ORTIGÃO, 2007, pp.
89,95).

(σ’d + 2σ’c) (σ’d− σ’c)


Sendo: 𝑝′ = q=
3 2
51

3
𝑝′ = σ’𝑜𝑐𝑡 𝑞 = 𝜏
√2 𝑜𝑐𝑡

2.5.8 Ensaio de Cisalhamento


O ensaio de cisalhamento direto é considerado a forma mais antiga e simples
de ensaio de cisalhamento. A amostra de solo é colocada em uma caixa de metal
bipartida. O tamanho dos corpos de prova podem ser 51 mm x 51 mm ou 102 mm x
102 mm de extensão por 25 mm de altura (fig. 2.38)

Figura 2.38 - Caixa de Cisalhamento


Fonte: Google Imagens

Uma força normal é aplicada no topo da caixa de cisalhamento. A força de


cisalhamento é aplicada com o movimento lateral de uma das metades da caixa de
ensaio até provocar a ruptura da amostra de solo. Os ensaios de cisalhamento
podem ser do tipo tensão controlada, ou deformação controlada, isto depende do
tipo de equipamento. As variações da altura do corpo de prova possibilitam medir a
variação volumétrica (fig. 2.39).
52

Figura 2.39 - Gráficos de Tensão de cisalhamento e Variação da Altura do Corpo de


Prova em função do deslocamento cisalhante para areia seca compacta e fofa.
Fonte: Das, 2007.

A caixa de cisalhamento, antes do ensaio, pode ser submersa em água. Isto


possibilita obter resultados de ensaios drenados e não drenados (fig. 2.40),
dependendo da taxa de carregamento, com tempo suficiente para o adensamento,
após a aplicação dos esforços. A drenagem dos corpos de prova é possibilitada com
o auxílio de pedras porosas colocadas no topo e no fundo da caixa. Os ensaios de
cisalhamento direto para areias são relativamente rápidos, pois o excesso de
poropressão gerado pelos carregamentos se dissipam rapidamente, ao passo que,
no caso das argilas, estes ensaios podem consumir até 5 dias, dada a baixa
condutividade hidráulica destes materiais. (DAS, 2007, pp. 304-307).
53

Figura 2.40 - Envoltórias de Ruptura para Argilas em condições Drenadas.


Fonte: Das, (2007).

2.5.9 Ensaio de Adensamento Oedométrico


Este ensaio é realizado em um edômetro (fig. 2.41). O corpo de prova é colocado
dentro de um anel metálico, com duas pedras porosas; uma na base e outra no topo.
Medem 64 mm (2,5 pol.) de diâmetro e 25 mm (1 pol.) de espessura.

Figura 2.41 - Esquema do Edômetro.


Fonte: Marangon, UFJF, 1990.

São aplicadas cargas de prova, enquanto a compressão é medida por intermédio de


relógio, ou extensômetro micrométrico. O corpo de prova é mantido imerso durante o
ensaio. Cada estágio de carga dura 24 horas. Em seguida, a intensidade de carga é
dobrada, fazendo dobrar a pressão sobre o corpo de prova. O peso seco da amostra
é medido no fim do ensaio. (DAS, 2007).
São consideradas três etapas para cada estágio de carregamento, conforme
apresentado na figura 2.42:
54

 Compressão inicial, relativo ao sobreadensamento;


 Adensamento primário, com a cessação do excesso de poropressão;
 Compressão secundária, em função do reajuste plástico da estrutura do solo.

Figura 2.42 - Gráfico tempo x deformação durante adensamento

É instalada uma bureta na torneira, que permite medir a condutividade hidráulica (k)
do solo. O ensaio de carga variável dura 24 horas.
𝑎. 𝐿 ℎ1
𝑘 = 2,3. . 𝑙𝑜𝑔
𝐴(𝑡2 − 𝑡1) ℎ2

Sendo:
a = área da seção transversal do tubo
A = área do corpo de prova de altura L
t1 e t2 = tempos nos quais as alturas h1 e h2 são medidas no tubo.

2.5.10 Ensaio do Piezocone


Este ensaio foi desenvolvido na década de 1950, na Holanda, pelo
Laboratório Holandês de Mecânica dos Solos em Delft. Tem como objetivos
principais identificar as propriedades de engenharia dos solos, SBT (Soil Behavour
Type), a resistência não drenada (Su), a condutividade hidráulica (K), o adensamento
horizontal (Ch), o parâmetro de estado (ψ) e o histórico geológico de tensões (OCR).
Tais parâmetros podem ser calculados a cada 2 cm, ao longo da vertical do furo de
sondagem CPT.
55

Consiste na cravação no solo, de forma contínua, de um cilindro de aço, com


ponta em forma de cone. A penetração deve ser feita com velocidade constante da
ordem de 2 cm/seg. O equipamento possui sensores, acelerômetro e inclinômetro,
para manutenção da verticalidade. Seus sensores medem a resistência de ponta qc,
a resistência lateral fs e a poropressão u. Alguns equipamentos apresentam duas
medidas de poropressão, uma na face do cone, u1, e outra na base do cone, u2 (fig.
2.43), sendo que a maioria dos instrumentos utiliza apenas esta última, necessária
para a correção da resistência de ponta.

𝑞𝑡 = 𝑞𝑐 + (1 − 𝑎). 𝑢2 = 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑎 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑎

Figura 2.43 - Detalhe da sonda do piezocone


Fonte: Lunne et al. (1997)

Onde: qc é a resistência de ponta medida; u2 é a poropressão medida na base do


𝐴𝑁
cone e 𝑎 = 𝐴𝐶

O ensaio do piezocone é aplicado em solos moles. O modelo mais utilizado


possui cone com área de10 cm2, porem existem outros modelos menores. A figura
2.44 apresenta resultados típicos destes ensaios. (ALMEIDA; MARQUES, 2010, p.
62-63).
56

Figura 2.44. Resultados típicos de ensaio com piezocone.


Fonte: Modificado pelo autor, Mayne, 2006.

2.5.10.1 Classificação Preliminar de Solos (SBT)


Dentre várias propostas para o tipo de comportamento de solos, Robertson
(1990) propôs o ábaco da figura 2.45, bastante reconhecido pela comunidade
geotécnica, que relaciona o atrito lateral e a resistência de ponta, ambos
normalizados.

𝑞𝑡 −𝜎𝑣0 𝑢 −𝑢 𝑓
𝑄𝑡 = 𝐵𝑞 = 𝑞 2−𝜎 0 𝑠
𝐹𝑟 = 𝑞 −𝜎 . 100%
𝜎𝑣0 𝑡 𝑣0 𝑡 𝑣0

Sendo 𝑢0 a poropressão estática na profundidade do ensaio de dissipação.


57

Figura 2.45 - SBT para classificação preliminar de solos.


Fonte: (ROBERTSON, 2010, Modificado de ROBERTSON,1990)

2.5.10.2 Resistência não Drenada SU


Segundo Lunne; et al. (1997) a resistência Su, não drenada, pode ser
estimada por intermédio de diversas equações. É comum relacionar a resistência
corrigida qt do cone com o fator do cone NKT.

𝑞𝑡 − 𝜎𝑣0
𝑆𝑢 =
𝑁𝑘𝑡

O valor de Nkt é obtido por correlações de ensaios do piezocone e o da


resistência não drenada do ensaio de palheta, o mais comum para este caso. A
experiência demonstra a necessidade de medir Nkt para cada depósito, e, no caso
de camadas distintas pertencentes ao depósito, um valor de Nkt para cada camada.

2.5.10.3 Razão de Resistência não Drenada na Liquefação


Olson (2001) coletou informações de casos históricos de 33 rupturas por fluxo
de liquefação, para os quais, resultados de CPT ou SPT estavam disponíveis, ou
puderam ser razoavelmente estimados.
58

Apesar das incertezas de cada caso, existe uma tendência aparente,


particularmente para os casos onde a maioria das informações foi disponibilizada
(casos plotados com sólido, meio-sólido, ou círculo aberto, conforme figuras 2.46 e
2.47. O limite superior e médio são propostos nas figuras 2.46 e 2.47. As linhas de
tendência média são regressões lineares de dados, excluindo os casos onde foram
feitas análises simples (casos plotados com triângulos). As linhas de tendência são
descritas como:

𝑆𝑢(𝑙𝑖𝑞)
= 0,03 + 0,0143(𝑞𝑐1 ) ± 0,03 𝑓𝑜𝑟 𝑞𝑐1 ≤ 6,5 𝑀𝑃𝑎
Ϭ′𝑣0

Figura 2.46 - Razão da Resistência


Cisalhamento Liq. x Resistência de Ponta CPT Normalizada
Fonte: OLSON; STARK (2002)

Os limites superiores e inferiores nas figuras 2.46 e 2.47 aproximadamente


correspondem ± 1 desvio padrão (o desvio padrão para ambas as linhas de
tendência foi ±0,025).

𝑆𝑢(𝑙𝑖𝑞)
= 0,03 + 0,0075[(𝑁1 )60 ± 0,03 𝑓𝑜𝑟 (𝑁1 )60 ≤ 12
Ϭ′𝑣0

Na figura 2.xx está incluída a linha apresentada por Olson (1998). Esta é
conservadora para todos os valores de qc1. Na figura 2.xw estão incluídos os limites
para a razão de resistência a liquefação propostos por Stark; Mesri (1992) e as
59

linhas propostas por Stark; Mesri (1992) conforme a Equação


𝑆𝑢(𝑙𝑖𝑞)
= 0,0055(𝑁1 )60,𝑐𝑠 ± 0,03 𝑓𝑜𝑟 (𝑁1 )60 ≤ 12 e Davies; Campanella (1994). Os
Ϭ′𝑣0

dados da figura 2.47 propostos por Stark; Mesri (1992) são conservadores para
todos os valores de (𝑁1 )60, enquanto os propostos por Davies; Campanella (1994)
são não conservadores para os valores de (𝑁1 )60maiores que 8. Os valores
conservadores apresentados por Stark; Mesri (1992) e Olson (1998) incorporam a
correção devido ao conteúdo de finos.

Figura 2.47 Razão da Resistência


Cisalhamento Liq. x Número de Golpes SPT
Fonte: OLSON; STARK (2002)

2.5.10.4 Condutividade Hidráulica


A engenharia geotécnica necessita de métodos que forneçam perfis de
condutividade hidráulica dos solos a partir de ensaios de caracterização no campo. A
condutividade hidráulica dos solos pode variar em até dez ordens de grandeza e
pode ser difícil estimar e avaliar com precisão e acurácia. Entretanto, é aceitável que
sua acurácia esteja na faixa de uma ordem de grandeza. A maioria dos métodos
para obtenção da condutividade hidráulica é demorada e de custo elevado, e estão
sujeitos a efeitos de escala. (ROBERTSON, 2010a)
60

Vários métodos têm sido propostos para estimar a condutividade hidráulica


(k), a partir de resultados de ensaios CPT. Para Robertson (1997), apud Robertson
(2010a) há basicamente duas aproximações: (1) Estimada pelo tipo de solo; (2)
Razão de dissipação durante os ensaios CPTu.

Segundo Lunne et al. (1997); apud Robertson (2010a) sugeriram, a


condutividade hidráulica (k) da tabela 2.10 pode ser estimada utilizando os gráficos
de SBT (Soil Behaviour Type), também proposta por Robertson (1986) e Robertson
(1990). Uma faixa de valores de (k) é sugerida para cada SBT.

Tabela 2.10 – Estimativa de permeabilidade de solo, baseada em ensaios CPT


normalizados pelo critério SBT(n).
ROBERTSON (1990); modificado por LUNNE et al. (1997)

Segundo Jefferies; Davies (1993); apud Robertson (2010), o índice Ic do SBT


poderia representar as zonas do SBT no gráfico SBT (n) normalizado, onde Ic
representa os raios dos círculos concêntricos que definem os limites das faixas dos
tipos de solos.

Ic = [(3.47 - log Qtn)2 + (log Fr + 1.22)2]0.5

Onde:
Qtn = [(qt – v)/pa] (pa/'vo)n
Fr = [(fs/(qt – vo)] 100%
qt = CPT resistência total do cone corrigida
fs = CPT atrito lateral
vo = tensão vertical in situ
'vo = tensão efetiva in situ
61

(qt – v)/pa = resistência do cone parametrizada


(pa/'vo)n = fator de tensão normalizada
n = expoente da tensão que varia com SBT
pa = atmospheric pressure in same units as qt, v and'vo

Ainda, segundo Robertson (2009), este apresentou uma discussão detalhada


sobre a normalização das tensões; e sugeriu a seguinte expressão mais atualizada,
o que permite a variação do expoente n, com ambos SBT n Ic (tipo de solo) e o nível
de tensão empregado (Fig. 2.48). A medida que o grão de solo se torna mais fino, a
resistência do cone normalizada (Qtn) diminui e Fr aumenta. (ROBERTSON, 2010a,
p. 842-843)
n = 0.381 (Ic) + 0.05 ('vo/pa) – 0.15 | para n ≤ 1.0

Figura 2.48 – Sugestão para a variação da condutividade hidráulica (k) x (SBT Ic)
ROBERTSON (2010a).

Segundo Cetin; Ozan et al.(2009); apud Robertson, se o Ic aumenta, é


porque os grãos de solo são mais finos. Então, a medida que o Ic aumenta, a
condutividade hidráulica do solo (k) geralmente diminui.
A relação proposta entre a condutividade hidráulica (k) e o índice SBT Ic é mostrado na fig.
2.42 e pode ser representada pelas expressões:
Quando 1.0 < Ic≤ 3.27 → k = 10(0.952 – 3.04 Ic) m/s
Quando 3.27 < Ic < 4.0 → k = 10(-4.52 – 1.37 Ic) m/s
62

Importante citar que Robertson (2010) esclarece que estes valores de (k) devem ser
utilizados apenas como um guia.

2.5.10.5 Parâmetro de Estado (ψ)


Been; Jefferies (1985) usaram a mecânica dos solos no estado crítico para
desenvolver o conceito de parâmetro de estado (ψ) e aplicaram este conceito aos
resultados do ensaio CPT (Been et al. 1986) e a liquefação de solo (Jefferies; Been,
2006). O parâmetro de estado é definido como a diferença entre o índice de vazios
in situ, e0 e o índice de vazios no estado crítico ecc, relativos à mesma pressão.

Figura 2.49 – Fronteira aproximada entre solos que respondem de forma


dilatante e contrátil, usando parâmetros normalizados CPT.
Fonte: Robertson (2010b).

Jefferies; Been (2006) e Shuttle; Cunning (2007) sugerem que quando solos
possuem parâmetros de estado ψ > - 0,05 na condição de cisalhamento não
drenada sua deformação ocorre com resistência ao cisalhamento baixa. Então,
quando se define uma região no ábaco CPT SBT, que representa o parâmetro de
estado cerca de - 0,05 é útil como técnica de triagem para identificar a
susceptibilidade a liquefação.
Baseado no trabalho de Plewes et al. (1992), Jefferies; Been (2006) e Shuttle;
Cunning (2007), associados a resultados de testes com amostras congeladas,
Robertson et al. (2000), é possível identificar uma zona no ábaco normalizado SBT,
63

relacionado com Qtn e Fr que representa a fronteira aproximada entre os solos


contráteis e dilatantes, mostrados na figura 2.49. Este ábaco também inclui a
fronteira aproximada entre os solos contráteis e dilatantes sugeridos por Olson e
Stark (2003), baseada na resistência normalizada a penetração. Fica claro, na figura
2.50 que o critério sugerido por Olson e Stark (2003) se aplica somente para as
areias puras (clean sands), onde Fr é tipicamente <1%.
Robertson; Wride (1998), sugerem um fator de correção para a resistência
normalizada do cone nas areias siltosas relacionadas às areias puras (Qtn,cs):
𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 = 𝐾𝑐 𝑄𝑡𝑛
Onde Kc representa um fator de correção que é função das características dos
grãos, combinadas com a influência do conteúdo de finos (FC), mineralogia e
plasticidade do solo, que podem ser estimados da seguinte forma:
𝐾𝑐 = 1,0 se 𝐼𝑐 ≤ 1,64
𝐾𝑐 = 5,581𝐼𝑐3 − 0,4031𝐼𝑐2 + 33,75𝐼𝑐 − 17.88 se 𝐼𝑐 > 1,64
A figura 2.50 mostra as curvas equivalentes de resistência à penetração do cone nas
areias puras sobre o ábaco CPT SBT. As curvas Qtn,cs seguem a tendência similar
da fronteira entre as regiões pertencentes aos solos dilatantes e contráteis, definidas
na figura 2.45 e que os valores de Qtn,cs entre 50 e 70 possivelmente representam a
fronteira entre os estados contrátil e dilatante para a maioria dos solos. Robertson
(2010), demonstra que as curvas Qtn,cs são essencialmente as linhas dos parâmetros
de estado (ψ). Consequentemente, solos com valores constantes de Qtn,cs,
essencialmente possuem similares parâmetros de estado e consequentemente a
mesma resposta ao carregamento (ROBERTSON, 2010a pp. 846-847).
64

Figura 2.50 – Curvas equivalentes Clean Sand


(Qtn,cs resistência normalizada a penetração do cone)
Fonte: Robertson; Wride (1998), apud Robertson (2010b)

2.6 Drenos Verticais


Segundo Holtz et al. (1991), o adensamento de um estrato argiloso é um
problema de fluxo transiente em meio poroso. (ABMS, 1998, p.598).

As baixas taxas de consolidação em argilas saturadas, por conta de sua baixa


permeabilidade, podem ser tratadas por meio de drenos verticais que promovem um
encurtamento do caminho para a expulsão d’água do interior do maciço. Com a
utilização dos drenos verticais, a drenagem radial proporciona que a dissipação de
poropressão se torne mais rápida, enquanto a drenagem vertical depende da
primeira. O modo tradicional de instalação dos drenos verticais é por perfuração da
argila. Os furos tem diâmetros da ordem de 200 – 400 mm, preenchidos com areia
graduada (fig. 2.51). A areia utilizada para preenchimento dos furos também
funciona como filtro, garantindo que a argila não seja transportada para dentro do
dreno. Entretanto, a deformação lateral do solo devido ao adensamento pode
produzir deformações no dreno, que venham a comprometer o fluxo de água.
Cuidados especiais devem ser tomados durante o processo de preenchimento dos
furos com a areia graduada de maneira que não ocorra descontinuidades da coluna
de areia.
65

Figura 2.51 - Drenos verticais ´para acelerar o Adensamento.


Fonte: Craig, 2004.

Tubos drenantes, pré-fabricados com polipropileno e preenchidos com areia,


conhecidos como sandwich drains, são bastante utilizados e são mais econômicos,
se comparados com as tradicionais colunas de areia. Estes tubos possuem
diâmetros da ordem de 65 mm e a areia é inserida por meio de ar comprimido, para
evitar falhas no preenchimento. Estes dispositivos normalmente não são afetados
pela deformação lateral da argila. São instalados por meio de um mandril, que
perfura o solo e por vibração o dreno pré-fabricado é introduzido no solo.

Outro tipo é o dreno em forma de fita, conhecido como band drain. É


constituído de um núcleo plástico achatado, com micro canais impressos que é
envolto por uma camada de geotêxtil não tecido. As dimensões típicas desses
drenos são 100 x 4 mm, sendo o diâmetro equivalente para projeto, o seu perímetro
dividido por π. Também instalados utilizando mandril de aço, possuem uma âncora
na extremidade inferior do dreno, que auxilia sua fixação no solo durante a retirada
do mandril e evita a penetração de solo no seu interior.
66

Figura 2.52 – Padrões de Instalação de Drenos Verticais


Fonte: Craig, 2004.

Os padrões de instalação dos drenos normalmente são em forma de


quadrados ou triângulos (fig. 2.52). Como o objetivo principal é a redução do
caminho de percolação da água, o dimensionamento do espaçamento dos drenos é
fundamental. Portanto, não faz sentido a instalação destes drenos em camadas
pouco espessas de argila, pelo fato de que o espaçamento dos drenos deve ser
menor que a camada de solo impermeável.

Um aspecto importante para o sucesso do adensamento é que ambos os


coeficientes de consolidação horizontal (ch) e vertical (cv) sejam bem conhecidos.
(CRAIG, 2004).

2.6.1 Zonas de Amolgamento


Os drenos de areia podem ser executados por intermédio de várias
metodologias. Estas podem gerar maior ou menor grau de amolgamento da porção
do maciço ao redor do dreno instalado.

A cravação por meio de deslocamento de mandril de ponta fechada, causa


importantes perturbações no solo argiloso vizinho aos drenos. Para determinadas
argilas sensíveis, da ordem S maior que 10, essas anomalias podem ser constantes.
𝐾
Na zona de amolgamento o coeficiente de anisotropia 𝐾𝑥 é quase que eliminado,
𝑦
67

sendo controlado pelo coeficiente da argila amolgada Kr, normalmente inferior ao


coeficiente Kv.

O uso da tecnologia de jateamento da argila para execução de drenos de


areia, apresenta resultados que minimiza o amolgamento, desde que sua instalação
seja feita por pessoal especializado, dado sua complexidade. (ABMS, 1998, pp. 599-
600).

Indraratna e Redana (1997) sugerem que a zona amolgada em torno do


dreno é aproximadamente 5 vezes o raio equivalente do mandril. Para um mandril
que tem aproximadamente 45 mm de espessura e 125 mm de largura, seu raio
equivalente seria 55 mm. Portanto, o raio da zona amolgada é 270 mm (0,27 m). Já
no caso de análise em modelos numéricos em 2D a zona amolgada então será 0,54
2(𝑎+𝑏)
m, conforme a igualdade: 𝑑𝑤 = .
𝜋

Uma transformação simples para converter a condutividade a partir de


análises axissimétricas para tensões no plano é dada pela expressão:

𝐾ℎ𝑝 0,67
= , onde n é a razão do espaçamento dos drenos D e a
𝐾ℎ [ln(𝑛)−0,75]

espessura equivalente dw. Portanto, considerando o espaçamento entre drenos D


igual a 1,5 m e dw igual a 0,06 m, n seria igual a 25. Deste modo, a condutividade
horizontal no ambiente 2D seria 27 por cento do valor da condutividade horizontal
das análise axissimétricas.

Segundo Indraratna e Redana (1997), a grosso modo, a condutividade


horizontal na zona amolgada é cerca de 10 por cento da condutividade horizontal
referente ao plano de tensões. Porém, em seu trabalho apresentam equações com
estimativas que o raio da condutividade varia na faixa entre 8 e 16 por cento. (GEO-
SLOPE, 20??, pp.3-4).

2.6.2 Capacidade de Descarga dos Drenos Verticais Pré-fabricados


A capacidade de descarga é provavelmente um dos parâmetros mais
importantes, pois é ela quem controla o desempenho dos drenos verticais pré-
fabricados.
De acordo com Holtz et al. (1991), a capacidade de descarga depende
principalmente dos seguintes fatores: (1) a área disponível do dreno para o
escoamento (2) o efeito da pressão lateral do solo (3) possibilidade de dobra,
68

curvatura ou amassamento do dreno, e (4) colmatação das paredes do dreno, com


materiais finos.
A figura 2.53 apresenta valores de descarga, para diversos tipos de drenos
verticais pré-fabricados em função da pressão lateral provocada pelo solo.

Figura 2.53 – Capacidade de descarga x tensão confinante lateral


Fonte: Indraratna et al. (2015).

2.7 Barragens de Resíduos de Mineração

2.7.1 Resumo

Em escala global, a demanda pelos produtos das indústrias extrativas é cada


vez maior. A extração desses recursos resulta numa produção paralela de um
volume significativo de material residual.

As atividades de mineração produzem importantes alterações na paisagem


decorrentes das aberturas de cavas, acompanhadas da disposição de material
estéril, inerte, ou não aproveitável, decorrente do decapeamento da superfície e da
disposição de rejeitos oriunda dos processos de enriquecimento dos minérios.

Nos primórdios da mineração no Brasil a geração de rejeitos e sua disposição


eram tratadas como desprezíveis. É a partir do século XX que se inicia no país a
construção de barramentos feitos com estéreis para conter os rejeitos de mineração,
69

originários das operações de britagem, peneiramento e lavagem. A lama obtida


neste processo passa a ser represada em grandes volumes nas denominadas
barragens de rejeitos.

Com a importância crescente dos aspectos ambientais na década de 1980, a


atenção foi aumentada para as questões relacionadas à estabilização de barragens
e seu viés econômico. A partir daí, a estabilidade de barragens de mineração tem
ganhado cada vez mais visibilidade na mídia, à medida que a ocorrência de falhas
nos barramentos ficam mais frequentes e são associadas aos danos ambientais e à
vida humana. (IBRAM, 2016, pp. 11.12).

“...Entretanto, as falhas ocorrem, muitas vezes devido à falta de aplicação


adequada dos métodos conhecidos, de projetos mal elaborados, de
supervisão deficiente durante a construção, ou negligência das
características vitais incorporadas na fase de construção”. (Barragens de
rejeitos no Brasil – Rio de Janeiro: CBDB, 2012).

2.7.2 Materiais de Deposição de Rejeitos


As características dos rejeitos dependem do mineral e do beneficiamento
utilizado. Estes materiais podem ser finos, compostos de siltes e argilas, constituídos
na forma de lama, ou por materiais não plásticos que apresentam granulometria
mais grossa, tipo areia (diâmetro acima de 0,074 mm). Neste caso são denominados
rejeitos granulares. (ESPÓSITO, 2000, p.6).
Barragens de rejeitos de mineração podem ser de solo natural ou podem ser
construídas com os próprios rejeitos, sendo classificadas, neste caso, como
barragens de contenção alteadas com rejeitos, e as de solo natural como barragens
convencionais. (IBRAM, 2016, p.).

2.7.3 Aterros Hidráulicos


Muitas barragens de mineração utilizam a técnica do aterro hidráulico com
rejeitos granulares; este método é preferido por conta da maior facilidade de
execução e do aspecto econômico. Entretanto, é tido também como o mais crítico
quanto à segurança. Contudo, caso haja acompanhamento geotécnico para medir
seu desempenho durante a construção, estes riscos podem ser gerenciados.
(ESPÓSITO, 2000, p.2).
Segundo Morgenstern; Küpper (1988) relatam, a segregação gera um
processo de deposição desses materiais, que dependendo do diâmetro dessas
70

partículas, pousam em diferentes distâncias em relação ao seu lançamento. Assim,


as partículas de maior diâmetro se depositariam mais próximas do ponto de
descarga, enquanto que as frações mais finas, ficariam mais afastadas deste ponto.
Entretanto, este fenômeno não ocorre para todas as polpas. Isto depende da
concentração da polpa, da vazão e da velocidade de lançamento. O critério russo
que tem bastante tradição neste tipo de obra, segundo Küpper (1991), é com relação
ao diâmetro das partículas, que tem como propriedade um razoável nível de
segregação:
𝐷60 𝐷90
> 2,5 𝑒 >5
𝐷10 𝐷10

Também segundo Vick (1983), esta deposição hidráulica tem como


característica uma zona de depósito de alta permeabilidade que vai diminuindo a
medida que se afasta dos pontos de descarga.
Segundo Küpper (1991), outro aspecto relevante é com relação à densidade
elevada dos grãos de rejeitos, que proporcionam maior estabilidade das barragens.
Este aspecto é tão importante que justificaria introduzir determinada metodologia
que garantisse o controle de densidade desses materiais. (ESPÓSITO, 2000,
pp.17,18).

2.7.4 Tipos de Barragens de Mineração


Dentre os diversos métodos de deposição de resíduos, as barragens
tem sido o preferido pelas mineradoras no Brasil. Estas barragens podem ser
construídas em etapas, com alteamentos sucessivos ao longo do tempo.
(ESPÓSITO, 2000, p.2).
71

Figura 2.54 - Métodos de Alteamento de Barragens de Mineração


Fonte: IBRAM (2018).

Os alteamentos sucessivos se dão à medida que o processo de extração


mineral ocorre. Esta prática contribui para a diluição dos custos no tempo, o que
favorece a construção dessas estruturas. Os diques de partida, como já deixa clara
sua denominação, marca o início dessas obras de retenção de rejeitos e são
construídas sobre um colchão drenante. Este dispositivo drenante possui geometria
de acordo com o método de alteamento (fig. 2.50), que dentre os mais conhecidos,
podem ser de montante, de jusante, ou pela linha de centro. A comparação destes
métodos é apresentada no quadro 2.2.

Quadro 2.2 – Comparação entre barragens de rejeito


Fonte: (Vick1983; apud Lozano2006)
72

2.7.5 Algumas Estatísticas de Falhas Ocorridas em Barragens de Mineração


Tinha-se a percepção que as barragens de rejeitos poderiam durar para
sempre, entretanto, pequenos e grandes vazamentos tem impostos sérias ameaças
ao ambiente, que permanecem mesmo após o fechamento das minas.
Determinadas características inerentes às barragens de rejeitos tornam-nas
mais vulneráveis do que outras estruturas de barramentos (por exemplo,
reservatórios d’água), dentre elas pode-se citar (1) aterros formados por materiais
coletados na vizinhança ( solo, rejeitos granulares, sobras da mineração e dejetos);
(2) barragens construídas em sequência, com vários alteamentos constituídos de
materiais sólidos combinados com severo incremento de efluentes (além do
escoamento superficial de águas de chuva); (3) falta de regulamentação de critérios
específicos de projeto; (4) falta de requisitos de estabilidade de barragens,
concernentes ao monitoramento contínuo e controle nas fases de implantação, de
construção e operação; (5) alto custo de manutenção das barragens de rejeito após
o seu fechamento.
Com o aumento da pressão da opinião pública, devido aos acidentes e
desastres ocorridos e divulgados pela mídia, várias investigações tem tentado
produzir resumos das causas das maiores falhas de barragens de rejeitos pelo
mundo afora. Segundo Rico et al. (2008), a mais recente delas foi elaborada pelo
International Commission on Large Dams (ICOLD) com 221 incidentes, baseados
em banco de dados de outras instituições, dentre eles a U. S. Commission on Large
Dams (USCOLD), com 185 incidentes, ocorridos entre 1917 – 1989. Este banco de
dados foi suplementado pelo U. S. Environmental Protection Agency, com os
recentes danos ocorridos nos USA e pelo United Nations Environmental Programme,
atualizados até 2006, que se refere a compilação da seleção de 83 maiores rupturas
de barragens de mineração. Estas análises fornecem informações importantes em
fatores de estabilidade de barragens, incluindo características de campo (geologia,
abalos sísmicos, clima e contribuição de precipitação da bacia), seleção de material
de aterro, taxas de alteamento, bem como identificação de fatores de risco
(vulnerabilidade a chuvas extremas, inundações e terremotos).
É óbvio que existem grandes dificuldades na obtenção destes dados, e a
organização das informações das construções antes dos acidentes ocorrerem ao
73

longo da história de construção de barragens de mineração, (fig. 2.48), já que muitos


não são relatados, principalmente nos países em desenvolvimento.
A Análise de distribuição das rupturas de barragens de mineração
concernentes com as Alturas das barragens (Fig. 2.55) mostra que 55,9% dos casos
ocorreram em barragens com mais de 15 metros de altura, enquanto que 22,6% dos
acidentes ocorreram com alturas maiores do que 30 m. A distribuição é similar
quando se considera apenas os acidentes europeus ocorridos em barragens acima
de 15 metros de altura, enquanto este número é 43,2% dos eventos em outros
lugares no mundo. Para contrastar, existe uma percentagem maior de rupturas em
barragens com alturas entre 15 – 30 metros na Europa (42,1%) do que no resto do
mundo (31,1%). Além disso, todas as rupturas de barragens europeias ocorreram
em barragens com alturas menores que 45 m.

Figura 2.55 – Distribuição de acidentes x altura


Fonte: ICOLD (2006).
A medida que o lagoa da barragem é totalmente cheia e a produção da mina
cessa, as barragens se tornam inativas, sendo que em alguns casos estas
continuam com manutenção. Portanto, a classificação adotada quando a barragem
está ativa denominou-se ACT; inativa INM e abandonada AB.

De um total de casos de ruptura, 83% dos casos ocorreram quando a


barragem estava ativa, 15% dos casos de barragens inativas e apenas 2% nas
barragens abandonadas, exceto nas barragens com manutenção.
74

Nas barragens ativas, as causas de ruptura mais frequentes estão


relacionadas com ameaças naturais (liquefação por atividades sísmicas ou chuvas
intensas), seguidos por gerenciamento na operação de barragem e falhas na
estrutura. Gerenciamento na operação de barragem e estabilidade de taludes estão
apenas associadas às barragens de rejeitos ativas. Na Europa, 90% dos acidentes
ocorreram em barragens ativas e 10% em lagoas abandonadas.
Vale lembrar que na Europa existe legislações ambientais fortes, o que ainda
não ocorre totalmente nos países em desenvolvimento.
A figura 2.56 distribui os acidentes ocorridos em função do método de
alteamento. A maior associação de acidentes ocorreu com as barragens de rejeito
construídas pelo método de montante, aqui denominado UPS, representando 76%
dos casos no mundo e 47% das rupturas na Europa. O alteamento a jusante, DOWN
e referido a linha de centro, CTL, representam 15% e 5% respectivamente. (RICO; et
AL. 2008, pp. 846-849).

Figura 2.56 – Distribuição de acidentes x Tipo de Sequenciamento


Fonte: ICOLD (2006).
75

2.8 Sistema de Monitoramento de Barragens por Instrumentos


Um sistema de monitoramento de barragens deve ser elaborado durante as
etapas de construção, operação e descomissionamento, que pode ser de grande
importância para avaliação da segurança em modo contínuo, prevendo potenciais
modos de falha no devido tempo.
Durante a elaboração do projeto são assumidas como premissas as
propriedades físicas dos materiais e as condições de carregamentos. É desejável,
portanto, aprimorar certos procedimentos de projetos baseados em medições de
deformações, tensões e outros comportamentos a partir da obra.
Cartas de risco com níveis de Atenção e Alerta são elaborados, cujos sinais
podem ser emitidos a partir de determinados estados de tensão, ou deformação,
previamente formulados e comparados com dados obtidos pela obra.
Sendo a instrumentação usada para medir a performance da barragem, em
todos os casos, erros e incertezas podem estar envolvidos. Portanto, distinguir e
definir certos termos relacionados à medidas pode ser de grande valia durante o
processo de monitoramento. Acurácia significa a exatidão como um determinado
valor lido representa um verdadeiro valor. Precisão, por sua vez, representa a
repetição ou consistência de um conjunto de medidas obtidas. A diferença entre
acurácia e precisão é mostrada (fig. 2.57), onde a “mosca do alvo” é o verdadeiro
valor.

Figura 2.57 – Acurácia e Precisão


Fonte: Zilly 1975; Dunnycliff, 1988

Porém, são necessários habilidade e julgamento para avaliar o


comportamento de uma estrutura de barramento. Conhecer como uma barragem foi
projetada e construída é essencial para entender sua performance. Este
76

conhecimento fornece uma base para a avaliação do que pode estar acontecendo
com a estrutura. (ASCE, 2000, pp. 10-12)
Outro aspecto é a seleção dos locais onde serão alocados os instrumentos,
que deve refletir o comportamento previsto da estrutura, e ser compatível com o
método de análise adotado durante a interpretação dos resultados.
Um critério prático para a seleção dos locais onde serão instalados os
instrumentos implica em três passos:
(1) Zonas que dependem de interesse, tais como: zonas de fraqueza da
estrutura, zonas de carregamentos elevados e zonas de poropressão
elevadas;
(2) A seleção é constituída por zonas, normalmente por seções onde são
previstos determinados comportamentos representativos, por exemplo,
mudanças na geologia e dos métodos construtivos. As seções instrumentadas
consideradas como básicas são aquelas que irão fornecer dados
compreensíveis, relacionados ao desempenho;
(3) Pelo fato da possibilidade de haver erro de julgamento quanto à
escolha dos locais das seções básicas, a instrumentação deve ser duplicada
em seções secundárias, de forma que estas possam a ser comparadas.

CONSULTORIA E ESPECIALISTA EM
TAREFA INVESTIDOR CONSTRUTOR
PROJETO INSTRUMENTAÇÃO

Planejamento do Programa
X X X
de Monitoramento

Aquisição / Calibragem de
X X
Fábrica

Instalação X X

Cronograma de Manutenção /
X X
Calibragem
Programa e Atualização de
X X
Coleta de Dados

Coleta de Dados X X

Processamento de Dados
X
Coletados
77

Interpretação de Dados X X

Decisão / Implementação dos


X X
Resultados
Quadro 2.3 – Atribuição de Tarefas – Programa de Monitoramento
Fonte: Dunnicliff (1988).

Segundo Dunnicliff (1988), quando se pretende selecionar instrumentos para


definição de um programa de monitoramento (quadro 2.3), as características
fundamentais a serem consideradas são confiabilidade e simplicidade. Na realidade,
o máximo da confiabilidade é inerente com a simplicidade. De um modo geral os
transdutores podem ser colocados na seguinte ordem decrescente de simplicidade e
confiabilidade:
 Óptico
 Mecânico
 Hidráulico
 Pneumático
 Elétrico
Naturalmente que há limitações naquilo que pode ser medido numa estrutura.
Entretanto, relativo ao desempenho, o que se mede em barragens é um conjunto de
medidas de fácil monitoramento, tais como o nível d’água, precipitação, vazão,
temperatura e movimentação sísmica. As cargas e as respostas associadas a estas
(deformações, variações nas tensões) podem ser são controladas por instrumentos.
(DUNNICLIFF, 1988, pp. 40-42)
2.8.1 Medidores de Deslocamento Verticais
A construção de barragens de terra está ligada ao fenômeno do recalque,
quer seja das fundações, do corpo de aterro e de recalques diferenciais entre seções
transversais da barragem, que podem gerar problemas caso não sejam levados em
consideração e tratados adequadamente. No caso das barragens que são
assentadas sobre maciços rochosos, os recalques finais se darão basicamente no
corpo do aterro. Os recalques da fundação e do aterro compactado irão exigir
correção da cota da crista. Porém, no caso de barragens construídas em vales
estreitos, pode ocorrer o fenômeno de arqueamento do núcleo entre as paredes do
cânion, podendo ocorrer o surgimento de trincas nas regiões mais angulosas das
fundações. As medições de recalques devem ser feitas ao longo da construção e
78

durante seu período de operação e de períodos sísmicos. (SILVEIRA, 2008, pp.203-


223).

2.8.1.1 Placas de Recalque


Utilizadas para medir recalques do terreno de fundação, são montadas
durante a construção (fig. 2.58). Tem como objetivo diferenciar os recalques entre a
fundação e o corpo da barragem.

Figura 2.58 – Placa de Recalque instalada no terreno de fundação


Fonte: Freese & Nichols

2.8.1.2 Medidor de Recalque tipo Magnético


O medidor de recalque tipo magnético é formado por uma série de anéis
magnéticos instalados ao longo da vertical, que são instalados no corpo de aterro
compactado e de tubulação em PVC rígido, que passa pelos vários anéis e serve
como guia para o torpedo (sonda). Os anéis são feitos com aço imantado e com isso
geram campos magnéticos, cuja localização é determinada pela sonda. Entre suas
propriedades estão baixo custo, confiabilidade e simplicidade.

2.8.2 Medidores de Deslocamentos Horizontais


Segundo Silveira (2008), as medições dos deslocamentos horizontais são de
grande importância. Os movimentos horizontais são devidos à compressibilidade dos
materiais do aterro, e recebem influência em função da forma do vale na extensão
das ombreiras, onde estes deslocamentos são máximos. Tais deslocamentos nas
ombreiras criam aumentos de tensões horizontais na região central da barragem.
79

2.8.2.1 Marcos de Deslocamento Superficial


Tem como objetivo medir deslocamentos na superfície dos maciços terrosos,
dos enrocamentos, taludes e estruturas. Os marcos instalados (fig. 2.59) tem seu
deslocamento medido por intermédio de estações totais, ou níveis de precisão. Tem
como referência pontos fixos instalados fora do alcance de interferências da
barragem. Podem ser utilizados antes, durante e após a construção.

Figura 2.59 – Esquema de instalação de Marco de Superficial (MS)


Fonte: Commetro

2.8.2.2 Inclinômetros
Os inclinômetros fazem parte dos equipamentos de medição que irão
monitorar os movimentos horizontais do maciço. Estes movimentos podem se
revelar de forma súbita, ou bem lenta. O equipamento comumente utilizado é
constituído por um conjunto de tubos de alumínio ou PVC, contendo quatro ranhuras
internas ao longo de sua vertical. Estas ranhuras são posicionadas nas direções
ortogonais, relativas às ombreiras e os paramentos de montante e jusante (fig. 2.60).

Figura 2.60 – Esquema de sonda de Inclinômetro


Fonte: Mikkelsen
80

Tem sua base ancorada em material competente, geralmente chumbada na


rocha com calda de cimento. Os vários tubos que compõem o inclinômetro são
conectados por luvas telescópicas rebitadas, o que permite o deslocamento entre
eles. (CARIM, 2018).
As leituras das deflexões são feitas com a introdução de um aparelho
denominado torpedo que é encaixado nas ranhuras e levado até o fundo do tubo, e
então, após o equilíbrio da temperatura do instrumento com o interior do tubo, são
procedidas as leituras. Entretanto, os inclinômetros com sensores podem fornecer
estas leituras em tempo real (fig. 2.61), sem haver a necessidade da equipe de
monitoramento ter que se deslocar até o maciço. Sua instalação pode ser feita
durante, ou após o término da obra. O espaçamento anelar entre furo e tubos será
preenchido com material que irá depender do tipo de solo perfurado.

Os inclinômetros que são instalados em série ao longo de um furo de


sondagem são denominados cadeia de inclinômetros (In Place Inclinometer), e
também podem ser instalados para funcionar em perfis horizontais para medir
deslocamentos verticais.

Figura 2.61 Inclinômetro automatizado


Fonte: Jewell Instuments, USA

Outros métodos, com tecnologias mais simples (fig. 2.58), podem ser
aplicados na obra, por meio de topografia, e instalações de cabos internos aos tubos
auxiliando na medida das deformações (CIRCULAR E-C129, 2008, pp. 15-35).
81

Figura 2.62 Inclinômetro Poors Man’s Method


Fonte: (Deschamps, 1998)

2.8.3 Piezômetros
Geralmente os piezômetros são instalados abaixo do nível piezométrico, em
furos dedicados, ou compartilhados com inclinômetros, isto depende essencialmente
do tipo de aplicação na obra e do diâmetro dos tubos. Entretanto, segundo McKeena
(1995), uma distância mínima deverá ser mantida de um equipamento para o outro
afim de evitar danos com curtos circuitos. Os piezômetros multinível de cordas
vibrantes – VW (fig. 2.63a) são do tipo diafragma e podem ser instalados envoltos
por preenchimentos anelares de grout com bentonita de baixa condutividade
hidráulica, e requerem uma quantidade mínima de fluxo de água, possibilitando a
leitura da poropressão em diferentes níveis da estrutura. O preenchimento funciona
também como filtro, de forma que não haja interferência entre os sensores.
82

Figura 2.63 – Esquema de instalação, com três tipos de piezômetro.


(a) furo preenchido com grout, com múltiplos sensores VW (b) furo preenchido com grout e célula de
pressão do tipo espada (c) piezômetro de tubo aberto. Fonte:

Os piezômetros de célula de pressão no formato de espada (fig. 263b)


consistem de uma câmara preenchida com óleo, formada por duas placas de aço
conectadas a um transdutor de pressão de cordas vibrantes. Este mede a pressão
total atuante na célula na direção perpendicular da superfície da espada. Um filtro
poroso instalado no topo da espada protege um segundo transdutor de cordas
vibrantes (VW) que mede a pressão da água.
Os piezômetros de tubo aberto, duplo nível, são instalados com tubos PVC
distintos, em zonas de profundidades específicas com filtros de areia com 1 metro de
espessura, e separados por selos de bentonita de no mínimo 1,5 m, sendo que o
restante do furo preenchido com grout.

2.8.4 Indicadores de Nível d’Água (INA)


O nível freático se define como a superfície superior do corpo d’água
subterrâneo, cuja pressão é correspondente à atmosférica. (SILVEIRA, 2008, pp. 50-
51).

Comparar os níveis de poropressão por meio dos INA é fundamental nos


processos de monitoramento. Assim como os piezômetros, são instalados em furos
preenchidos com a areia, como filtro e bentonita com grout formando o selo no
espaço anelar. As medidas obtidas podem ser manuais, com trena elétrica (piu), ou
automatizadas, como dispositivo similar ao ilustrado na figura 2.64.

Figura 2.64 – Esquema de Indicador de Nível d’Agua automatizado


Fonte: IFSA Sensors & Transducers
83

2.8.5 Medidores de Vazão


As barragens de terra são obras de barramento, cuja estrutura não é
totalmente estanque. Desse modo as vazões de drenagem em barragens devem ter
suas grandezas medidas e acompanhadas, pois são de extrema importância para a
segurança. As infiltrações, pelas fundações, ombreiras e pelo próprio corpo do aterro
podem ser medidas com o emprego de placas de vazão (fig. 2.65), enquanto para
vazões mais intensas são utilizadas calhas do tipo Parshall. Segundo Silveira (2006),
muitos autores renomados na área de mecânica dos solos não abordam
detalhadamente a medição de vazões de drenagem a jusante das barragens de
terra. Outro aspecto fundamental desses instrumentos é que fornecem informações
importantes quanto ao nível de turbidez da água infiltrada e do carreamento de
sólidos. (SILVEIRA, 2008).

Figura 2.65 – Geometria de Medidor de Vazão, do tipo Placa Triangular


Fonte: PUC-Rio. Instrumentação.

3 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

O conteúdo deste trabalho leva, pelo menos, às seguintes conclusões:

A unificação de importantes tópicos de geotecnia associadas à inovação


tecnológica, concernentes com a estabilidade de barramentos, fornece a
possibilidade da utilização das melhores práticas e tecnologias disponíveis;

A integração do campo com escritório, com a utilização de ferramentas


tecnológicas (leia-se equipamentos para investigações geotécnicas, software de
modelagem e dispositivos de monitoramento), quer no âmbito de projeto, operação e
manutenção, é a base para as melhores práticas em obras geotécnicas.
84

Diante do estado-da-arte, sugere-se:

 Pesquisar sobre metodologias para extração do excesso de água, que


compromete a segurança nas barragens de rejeito
 Pesquisar sobre a instalação e a manutenção de piezômetros em barragens
de rejeitos, que garantam seu funcionamento prolongado e fornecimento
confiável de dados.
85

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