Você está na página 1de 34

MARIANA DE SOUZA MARTINS

SOLO GRAMPEADO NA CONSTRUÇÃO DE TALUDES

BELO HORIZONTE
2019
MARIANA DE SOUZA MARTINS

SOLO GRAMPEADO NA CONSTRUÇÃO DE TALUDES

Projeto apresentado ao Curso de


Engenharia Civil da Instituição Faculdade
Pitágoras
Orientador: ÂNGELO SILVA

BELO HORIZONTE
2019
MARIANA DE SOUZA MARTINS

SOLO GRAMPEADO NA CONSTRUÇÃO DE TALUDES

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade Pitágoras como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Engenharia Civil.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Belo Horizonte, de de
MARTINS, Mariana. Solo Grampeado Na Construção De Taludes. 2019.
Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil –
Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte, 2019.

RESUMO
Técnicas de estabilização de taludes vêm sendo cada vez utilizadas,
principalmente devido aos valores e por sua localização em centros urbanos. A técnica
de solo grampeado é uma das soluções mais seguras e econômicas para a
estabilização de taludes muito inclinados. É indicado tanto para terrenos naturais ou
para trechos que foram escavados ou rompidos que necessitem de imediata
estabilização. Esta técnica de grampeamento de solo, pode ser utilizada em taludes
naturais ou em taludes de cortes, ou seja, taludes escavados. A contenção é feita a
partir da realização de escavações sucessivas, seguidas da inserção de grampos e
barras de aço no maciço para a estabilização.

Palavras-chave: Solo grampeado; Estabilidade; Contenção;


MARTINS, Mariana. Solo Grampeado Na Construção De Taludes. 2019.
Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil –
Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte, 2019.

ABSTRACT

Slope stabilization techniques have been increasingly used, mainly due to the
values and their location in urban centers. The stapled soil technique is one of the most
economical and safe solutions for stabilizing sloping slopes. It is indicated both for
natural terrains or for stretches that have been excavated or broken that need
immediate stabilization. This technique of soil stapling can be used on natural slopes
or cut slopes, that is, excavated slopes. The containment is made from the
accomplishment of successive excavations, followed by the insertion of staples and
bars of steel in the mass for the stabilization.

Keywords: Stapled soil; Stability; Containment;


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Solo grampeado em talude ............................................................. 13


Figura 2- Talude natural ................................................................................. 14
Figura 3- Talude escavado ............................................................................ 15
Figura 4- Drenos sub-horizontais profundos .................................................. 17
Figura 5- Drenagem superficial ...................................................................... 17
Figura 6- Detalhe nas sombras na projeção do concreto...............................18
Figura 7- Aplicação do concreto projetado..................................................... 19
Figura 8- Sequência construtiva do solo grampeado ..................................... 20
Figura 9- Escavação em bermas ou nichos ................................................... 21
Figura 10- Tipos de grampos ......................................................................... 22
Figura 11- Grampo instalado no maciço ........................................................ 22
Figura 12- Montagem de um ensaio de tração .............................................. 23
Figura 13- Definição de uma possível superfície de ruptura .......................... 25
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Altura das etapas de escavação (Gässler, 1990) ........................... 20

Tabela 2- Valores típicos de (𝛋) e deslocamentos horizontais e verticais


máximos ........................... ......................................... ......................................... .... 25

Tabela 3 - Valores de deslocamento horizontal..............................................26


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


PVC Policloreto de Vinila.
NATAM New Tunneling Method (novo método de tunelamento)
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12

2 SOLO GRAMPEADO ....................................................................................... 13

2.1 HISTÓRIA .................................................................................................... 13

2.2 DEFINIÇÃO .................................................................................................. 14

2.3 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO ................................................................. 15

2.3.1 Equipamentos ............................................................................................ 15

2.3.2 Chumbadores ............................................................................................ 15

2.3.3 Perfuração ................................................................................................ 16

2.3.4 Injeção ....................................................................................................... 16

2.3.5 Drenagem ................................................................................................. 16

2.3.6 Armação..................................................................................................... 18

2.3.7 Projeção do concreto ................................................................................ 18

2.4 EXECUÇÃO .................................................................................................. 20

2.4.1 Introdução dos grampos ........................................................................... 21

2.4.1.1 Grampos injetados ................................................................................. 21

2.4.1.2 Grampos cravados ................................................................................. 22

3 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL ............................................................. 23

3.1 ENSAIO DE TRAÇÃO................................................................................... 23

3.2 COMPORTAMENTO DO GRAMPO ............................................................ 24

3.3 DESLOCAMENTO EM ESTRUTURAS DE SOLO GRAMPEADO .............. 25


3.4 RESISTÊNCIA AO ARRANCAMENTO......................................................... 26

4 VANTAGENS E LIMITAÇÕES ....................................................................... 28

4.1 VANTAGENS ................................................................................................ 28

4.2 LIMITAÇÕES ................................................................................................ 29

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 31


12

1 INTRODUÇÃO

Existem várias opções de métodos de estabilização de taludes, que promovem


ótimos resultados quando se trata de segurança, porém, os custos de execução e
impactos relacionados ao meio ambiente surgem quando tais métodos são
executados.
A escolha do tipo da contenção depende, dentre outros fatores, da tradição
regional e experiência dos envolvidos na solução do problema. Portanto, a solução
depende das técnicas e equipamentos disponíveis no local da obra (ENGESOL,
2014).
O reforço de solo é uma ótima opção quando se trata da estabilização de
taludes, sejam eles de corte ou aterro. As técnicas de reforços de solos têm como
objetivo elevar a capacidade suportar cargas e reduzir os efeitos de recalques,
possibilitando a realização de obras sobre áreas de instabilidade.
Entre as técnicas de reforço, pode-se destacar a de solo grampeado, que é um
método de reforço in situ. Esta técnica consiste na introdução de elementos no maciço,
que resistem a flexão, tração, cisalhamento e momento fletor. O processo é finalizado
com um revestimento de concreto projetado, com telas de aço eletrosoldadas.
Mas por que utilizar solo grampeado como método de contenção em taludes?
A técnica de solo grampeado é um método utilizado para a melhorar a resistência ao
cisalhamento do solo, em que o reforço do maciço é obtido por meio da inclusão de
elementos, como grampos ou pregos. O solo grampeado é um método de contenção
permanente.
Este trabalho tem como objetivo esclarecer as técnicas, equipamentos e a
forma em que o solo grampeado é executado, visando o comportamento dos
componentes da técnica e apresentar suas vantagens e limitações, mostrando o
aumento significativo do seu uso no decorrer dos anos.
13

2 SOLO GRAMPEADO
2.1 HISTÓRIA

O solo grampeado ou “soil nailing”, em inglês é uma técnica em que o reforço


do solo é feito por meio da inclusão de elementos, como grampos que resistem à
tensões de tração, esforços cortantes e momentos de flexão.
Solo grampeado é uma técnica em contenções de talude. Essa técnica foi
desenvolvida no ano de 1945 pelo professor Landislaw Von Rabcewicz para o
aperfeiçoamento na escavação de túneis rochosos. Esta técnica foi denominada
NATM (“New tunneling Method”). O método NATM fundamenta-se na inserção de um
suporte flexível que permite que ocorra a deformação plástica em volta da escavação
reforçada pelos chumbadores CLOUTERRE (1991).

Figura 1 Solo grampeado em talude

Fonte: Solofort (2016)

Para Zirlis (1992) a técnica de contenção solo grampeado que vem ganhando
espaço cada vez mais, principalmente quando se trata de estabilização de taludes.
Apesar de ser bastante discutida e utilizada, esta técnica não possui normalização
brasileira que regulamente o dimensionamento e execução.
Mesmo não sendo uma técnica que possui normas específicas pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), a utilização do solo grampeado está
14

cada vez maior devido ao seu ao seu baixo custo, sua flexibilidade de adaptação, seu
tempo de aplicação entre outros aspectos. Esta técnica apresenta vantagens em
relação as demais técnicas.

2.2 DEFINIÇÃO DA TÉCNICA


O grampeamento de solos é um processo de contenção utilizado a cortes em
maciços (solo). A técnica de solo grampeado é bem ativa quando se trata de reforço
do solo “in situ” em taludes naturais ou em taludes que são resultados de escavações.
É uma técnica em que o reforço do maciço é obtido por meio da inclusão de
elementos como grampos ou pregos resistentes à tensões de tração, esforços
cortantes e momentos de flexão. Os grampos, são posicionados horizontalmente ou
inclinados no maciço por processo de cravação (grampos cravados) ou injeção
(grampos injetados) com o objetivo de introduzir esforços resistentes de tração e
cisalhamento (ORTIGÃO, PALMEIRA e ZIRLIS, 1993).
Quando utilizada para a estabilização de taludes escavados, habitualmente os
grampos são posicionados na horizontal e os esforços são de tração e quando a
estabilização é feita em taludes naturais os elementos podem ser posicionados
verticalmente ou perpendicularmente á superfície de ruptura.
Em taludes naturais, a contenção pode ser feita de duas formas, descendentes
ou ascendentes, neste caso, a execução se dá apenas na introdução dos grampos e
na face de concreto projetado.

Figura 2 Talude natural

Fonte: Byrne et al., 1998; Ortigão e Sayão, 2000)


15

Figura 3 Talude escavado

Fonte: Byrne et al., 1998; Ortigão e Sayão, 2000)

2.3 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO:

Esse método utiliza, basicamente, chumbadores, concreto projetado e


drenagem, na qual objetiva a estabilização dos taludes de corte de forma temporária
ou permanente. A contenção do talude ocorre por conta da fixação dos chumbadores
sub-horizontais, que são introduzidos no maciço (solo) e depois fixados com calda de
cimento.

2.3.1 Equipamentos

2.3.2 Chumbadores

Os chumbadores são constituídos por barras de aço que são colocados no


maciço através de perfurações e que recebem a injeção de calda de cimento (ABNT
NBR 1487). Os chumbadores, na grande maioria dos casos, são moldados “in loco”,
por meio das operações de perfuração e fixação de armação com injeção de calda de
cimento
As perfurações são realizadas por equipamentos de fácil manuseio, o que
facilita o trabalho em qualquer localização do talude.
16

2.3.3 Perfuração

As perfurações são realizadas por máquinas perfuratrizes. Os furos para os


chumbadores têm sempre a inclinação abaixo da horizontal. A cavidade perfurada
deve estar estável até o processo de injeção ser concluído. Durante o processo a
cavidade deve estar sempre limpa, para isso é utilizado o sistema de lavagem com
água, que é o mais comum.

2.3.4 Injeção

Após a perfuração é feita a instalação e a fixação dos elementos de reforços


metálicos. Os elementos após serem fixados, não podem perder a resistência e devem
ser tratados com anticorrosivos adequados.
As barras são introduzidas e posicionadas com o auxílio de centralizadores,
para garantir o recobrimento correto.
A calda de cimento, é inserida pelo tubo de injeção que é posicionado na parte
inferior da perfuração, onde a calda é injetada de baixo para cima para cima, para
evitar o surgimento de bolsões de ar, e é injetada até que preencha toda a perfuração
Zirlis e Pitta (1992).
A técnica de grampo injetado é a mais segura e diminui o risco de erros
operacionais.

2.3.5 Drenagem

Para a realização da drenagem no maciço grampeado utiliza-se o dreno sub-


horizontal profundo e os drenos de superfície.
Os drenos profundos, são elementos que captam as águas distantes dos
taludes antes que nele despontem. Ao serem captadas, essas águas são conduzidas
pelos drenos até serem despejadas em canaletas.
17

Figura 4 Drenos sub-horizontais profundos

Fonte: (ABMS / ABEF, 1999)

Para os drenos de superfície, ou adjacentes ao revestimento do concreto,


utiliza-se os barbacãs e o dreno de paramento. O dreno barbacã é uma escavação de
uma cavidade com medidas proporcionas preenchidas com materiais arenosos e tem
saída em um tubo de PVC drenante. Mitchell e Villet (1987) recomendam o uso de
tubos de PVC de aproximadamente 100mm diâmetro, comprimento entre 0,3m a 0,5m
e espaçamento idêntico ao dos grampos.
No dreno de paramento é realizado uma escavação, onde é instalada uma
calha plástica drenante que é revestida por uma manta geotêxtil, na vertical da crista
até o pé do talude.

Figura 5 Drenagem superficial

Fonte: (ABMS / ABEF, 1999)


18

2.3.6 Armação

As telas eletrosoldadas têm servido como armação do concreto projetado. A


partir de 1992, têm-se utilizado alternativamente, concreto com fibras metálicas de
aço. Estas promovem uma redução da equipe de trabalho e espessura da parede e
uma consequente economia de 20 a 40% por metro quadrado aplicado (Zirlis et al.,
1999). A instalação é feita em uma ou duas camadas, podendo ser instaladas unto
com a projeção do concreto em camadas ou ates do concreto, dependendo do projeto.
Porém, um cuidado em especial deve ser tomado para evitar que a tela funcione como
resguardo e cause vazios atrás da mesma.

Figura 6 Detalhe nas sombras na projeção do concreto

2.3.7 Projeção do Concreto

Zirlis e Pitta definem concreto projetado como a designação que se dá à


condição em que é feito o concreto sem a utilização de formas, por meio de condução
de ar comprimido”.
O concreto projetado é a ‘consequência’ da aplicação de uma camada de
concreto em todo o talude. O concreto, que é formado pela mistura de cimento, areia
média e pedrisco e sem a adição de água, é pressurizado e conduzido até o bico de
projeção, quando então é adicionada a água, a cerca de 1m do paramento. Outros
componentes podem ser adicionados.
No caso do revestimento em concreto projetado, sua aplicação depende do
correto dimensionamento das redes de condução de ar, vazão e pressão do
19

compressor e principalmente do ajuste da bomba e da projeção manual, Zirlis e Pitta,


(1992). A aplicação do concreto projetado pode ser feita por via úmida ou seca. O
usual é por via seca por ser mais prático.
Zirlis e Pitta (1992) explica a vantagem da aplicação do concreto projetado
realizada por vias secas, pois, apresenta grande praticidade, e o processo pode ser
interrompido e reiniciado sem perda de materiais e tempo para limpeza do
equipamento. A alta energia de projeção do concreto produz uma ótima compactação
e contribui com a alta resistência.

Figura 7 Aplicação do concreto projetado

Fonte: Solatrat (2014)


20

2.4 Execução

Em taludes resultantes de escavações mecânicas ou manuais a execução da


estrutura de solo grampeado é realizado em fases sucessivas de cima para baixo.

Figura 8 Sequência construtiva do solo grampeado

Fonte: (LOUSANO e PAIAS, 2006)

As escavações são realizadas em bancadas, onde a profundidade varia de 1 a


2m em relação ao tipo de solo do local a ser realizada as escavações. Gässler (1990)
indicou em uma tabela profundidades de cada estágio de escavação com relação a
cada tipo de solo.

Tabela 1 Altura das etapas de escavação (Gässler, 1990)


21

Dringenberg e Craizer (1992) explica que durante as escavações o maciço


deve se manter estável. Como toda as técnicas de estabilização, a técnica de solo
grampeado tem o risco de instabilidade local devido á altura a ser escavada; se a face
escavada não se manter estável, ela deve ser instabilizada imediatamente.
Se possível, é recomendado a inclinação da face do talude, pois, reduz de
forma considerável a armadura de reforço (Dringenberg e Craizer, 1992). É
recomendado utilizar uma inclinação de 5° a 10° do paramento, em relação à vertical,
para ter estabilidade geral na fase construtiva. Outro método que pode ser utilizado
para reduzir a movimentação do talude durante a execução do grampeamento do solo
é a utilização de bermas ou nichos.

Figura 9 Escavação em bermas ou nichos

Fonte: Lazarte et al., 2003

2.4.1 Introdução dos grampos


2.4.1.1 Grampos Injetados
As barras são instaladas no maciço após a realização de um pré-furo e após
esse processo segue-se com a injeção da calda do grampo. O material utilizado na
injeção é a nata de cimento (água x cimento) ou argamassa.
Segundo Zirlis e Pitta (1992) a calda de injeção deverá sempre atender o
projeto, não contendo materiais agressivos ao grampo. Se as barras dos grampos
forem de aço, devem receber tratamento anticorrosivo, mas, se forem de plástico
reforçado por fibras, tal tratamento não será necessário, pois, tais materiais são
resistentes a corrosão.
22

2.4.1.2 Grampos cravados


É a cravação por percussão de barras, tubos metálicos ou perfis metálicos
esbeltos com o auxílio de martelete, o que faz o processo de execução ser mais
rápido, porém, tem menor resistência ao cisalhamento solo-grampo. Em alguns casos
de cravação, o uso do martele é feito de forma manual.
Esse método por cravação não é indicado para solos com decorrência de
pedregulhos e nem argilas porosas (Ortigão et al., 1993).
A escolha para ambas técnicas, tanto a de grampos injetados e grampos
cravados não abrange somente meios econômicos, mas também motivos técnicos,
principalmente, o tipo de solo e a eficácia dos grampos nos tipos de solo.

Figura 10 Tipos de grampos

Fonte: Ortigão e Sayão, 2000

Figura 11 Grampo instalado no maciço

Fonte: Ortigão e Sayão, 2000


23

3 - COMPORTAMENTO ESTRUTURAL
3.1 ENSAIO DE TRAÇÃO

Só será possível compreender o mecanismo de trabalho do solo grampeado e


conduzi-lo para as reais condições brasileiras, a partir de análise de resultados de
ensaios de campo com medição de tensão e deformação em todos os elementos que
compõem o Solo Grampeado. Ensaios de tração dos grampos são realizados para a
determinar a resistência ao arrancamento, que varia com o tipo de solo e sua
compacidade. Este tipo de ensaio ainda não está normatizado pela a ABNT no Brasil.
Idealmente, sugere-se que devam ser executados ensaios de arrancamento em
grampos curtos.

. Figura 12 Montagem de um Ensaio de Tração

O procedimento ideal do ensaio inclui também a monitoração por inclinômetros,


que permitem o acompanhamento das etapas construtivas, contribuindo para um
entendimento completo do comportamento. Tais recomendações devem ser adotadas
quando não houver orientações específicas. A Solotrat (2014) visa que devem ser
avaliadas e determinadas as posições e fluxos do lençol freático, que dificilmente são
avaliados na fase do projeto, podendo assim haver um correto ajuste no sistema de
drenagem.
Segundo a ABNT, não há uma norma técnica que regulamente a execução de
ensaios de arrancamento de grampos. Portanto serão apresentados procedimentos e
recomendações de ensaios, segundo empresas que realizam a técnica seguindo
especificações dos responsáveis pela execução da técnica.
24

3.2 COMPORTAMENTO DO GRAMPO

Segundo SILVA (2005) o mecanismo de interação solo-grampo é complexo e


varia de acordo com a metodologia executiva, com as propriedades do solo, com o
tipo de aplicação, com as características dos reforços e outros aspectos. O principal
elemento de interação dos grampos com o solo relaciona-se com a mobilização do
atrito existente entre a superfície dos grampos e o solo que o circunda. Como as
inclusões trabalham à tração, quanto maior o atrito entre o solo e o grampo, melhor
será o desempenho do reforço.
A resistência ao arrancamento não depende somente do tipo e do peso
específico do solo, mas também do processo executivo do grampo. Para os grampos
injetados, a resistência ao arrancamento é maior do que a obtida para os grampos
cravados. Para mobilização do atrito lateral são necessários pequenos deslocamentos
em relação ao solo. São as deformações internas na parede do solo grampeado que
induzem a mobilização do atrito lateral ao longo dos grampos e, posteriormente, as
tensões de tração. Vale destacar que ainda não há uma normatização para isso. Para
obras grandes, ensaios de arrancamento devem ser realizados antes da obra, para
estabelecer o valor da resistência ao arrancamento (𝑞𝑠) que será adotada no projeto.
Porém, para obras pequenas, os ensaios são realizados durante a obra e de acordo
com os resultados o projeto vai sendo ajustado.
Á distribuição de tensões nos grampos, vai se dando conforme o avanço das
escavações, as tensões de tração são desenvolvidas devido à descompressão lateral
do solo. Devido a decorrência das escavações há um aumento nas solicitações axiais
ao longo dos grampos. Por meio de análises de estabilidade, verificou que os grampos
mais solicitados são aqueles mais distantes da base da escavação, são encontrados
no topo da escavação, Springer et al (2001) de acordo com CLOUTERRE (1991), as
tensões são máximas quando dentro do maciço e não na face do paramento.
Os estudos das tensões mostram que o ponto de tração máximo varia em
função da forma de fixação do grampo ao maciço. No grampo livre a tração máxima
se dá em um ponto do maciço, já no grampo fixo, o ponto de tração máxima ocorre
próximo ao paramento.
25

Figura 13 Definição de uma possível superfície de ruptura

Fonte: CLOUTERRE, 1991).

3.3 DESLOCAMENTOS EM ESTRUTURAS DE SOLO GRAMPEADO

Segundo CLOUTERRE (1991), os deslocamentos apresentam-se máximos no


topo da estrutura e nulos na distância 𝜆 do topo da escavação, que é função do tipo
de solo, através do coeficiente empírico (𝜅), da inclinação da parede (𝜂) e da altura
total (H). são apresentados valores do coeficiente empírico (𝜅) e os valores máximos
de deslocamentos verticais e horizontais, baseados em resultados empíricos.

Tabela 2- Valores típicos de (𝛋) e deslocamentos horizontais e verticais


máximos

Fonte: (CLOUTERRE, 1991)

Na tabela abaixo, SPRINGER (2006) apresenta valores de deslocamentos


horizontais obtidos por diferentes autores, além disso, encontram-se também o tipo
de execução dos grampos, se foram injetados ou cravados.
26

A variação dos parâmetros do solo, como ângulo de atrito, coesão e módulo de


deformabilidade podem apresentar curvas de deslocamentos semelhantes, porém, os
valores de deslocamentos são diferentes.

Tabela 3 - Valores de deslocamento horizontal

Fonte: SPRINGER (2006)

Durante a execução da estrutura de solo grampeado, a estabilidade local é um


dos pontos mais importantes durante sua concepção. É indispensável o suporte
eficiente do nível do grampo superior à escavação até a base da mesma, a altura
crítica de escavação não pode ser excedida, pois se ultrapassada, pode ocorrer a
instabilidade global do solo SPRINGER (2006).

3.4 RESISTÊNCIA AO ARRANCAMENTO

Autores como Jewell (1990), Schlosser (1982), realizaram estudos e


concluíram que a estabilidade do solo grampeado é feita em seu estado limite último,
para conhecer o comportamento da estrutura, principalmente à resistência ao
arrancamento desenvolvida na interface solo-grampo. A superfície de ruptura é
vinculada pela rugosidade da parede do furo, pela alteração do estado de tensões do
solo circundante e pela resistência do maciço, devido aos procedimentos de
perfuração, construção e injeção. O comportamento da interface solo-calda de
27

cimento é de difícil compreensão, em consequência da grande variação de solos da


natureza.
A transferência de carga, quando um grampo é tracionado, se dá na calda
cimento para o maciço em forma de tensões cisalhantes e radiais. Franzén (1998) e
Ortigão (1997) definem algumas variáveis importantes sobre a resistência ao
arrancamento como tensões normais, o perímetro do grampo o coeficiente de atrito,
a adesão entre grampo e solo, as características do solo, a profundidade do ensaio,
os métodos de perfuração, as propriedades da calda de cimento e fatores ambientais.
No solo grampeado a forma da estrutura e a inclinação dos reforços atrapalham
na determinação da tensão normal atuante no reforço, sendo sua relevância
dependente do método de execução. Nas barras de aço cravadas na horizontal a
tensão normal fica próxima a tensão geostática, já os injetados, este valor é baixo e
quase constante com a profundidade.
28

4 - VANTAGENS E LIMITAÇÕES
4.1 VANTAGENS
O solo grampeado é uma técnica que vem se desenvolvendo muito e cada vez
sendo mais divulgada e aplicada. Apesar de não existir normas regentes em nosso
país para o dimensionamento dessa técnica, ela vem sendo bastante utilizada,
apresentando ótimos resultados para contenções de grandes taludes, como em
afirmado por Zirlis (1992).
Essa técnica tem como vantagem em relação às demais técnicas de contenção
a rapidez executiva, portanto, sendo economicamente viável. Além disso, os
equipamentos utilizados são de porte pequeno, leves, não apresentam elevado nível
de ruído e vibração e desempenham suas funções em locais de difícil acesso.
Outro aspecto de grande importância citado por França (2007) é a flexibilidade,
permitindo que alterações do projeto inicial sejam realizadas no decorrer da obra.
Alterações como o espaçamento entre grampos, profundidade de escavação e o
comprimento dos grampos. Azambuja et al (2001) definem a flexibilidade como uma
das maiores vantagens do método.
Zirlis e Pitta (1992) e Hachich et al (1999) citam que a economia, quando
comparado a outras técnicas, pode variar entre 10 e 50%. Bruce e Jewell (1986)
concluíram com suas pesquisas que é possível obter uma economia de 10 a 30% em
contenções quando executadas em solo grampeado.
O aumento da utilização dessa técnica deve-se a diversas vantagens,
explicadas por Clouterre (1991), visando os benefícios da aplicação da mesma.
• Baixo custo – O único elemento estrutural utilizado para a estabilização são
os grampos.
Facilidade de execução -Pode ser executada utilizando-se equipamentos
convencionais de perfuração e chumbamento.
• Velocidade na execução – O grampeamento do solo, quanto a execução do
paramento são etapas de rápida execução.
• Condições locais – A utilização de equipamentos de pequeno e médio porte
na durante a execução, o solo grampeado se adapta em diferentes tipos de condições
geométricas.
29

Tipos de Solo - A técnica pode ser empregada a diferentes tipos de solo, sendo
as melhores condições observadas em solos granulares compactos ou argilas
arenosas rijas de baixa plasticidade.
Segurança - Os muros de solo grampeado podem facilmente ser inclinados no
sentido do terreno, contribuindo para melhoraria da estabilidade do muro e redução
do movimento de terra na obra, entre outros fatores.

4.2 LIMITAÇÕES

Como toda técnica, o solo grampeado apresenta um fator negativo, sua


execução não é uma opção aconselhável para áreas com presença do lençol freático,
pois é decorrente instabilidades localizadas, dificultando a aplicação do revestimento.
O grampeamento do solo é limitado principalmente em relação à deformação que
ocorre no maciço, o que pode afetar as estruturas de obras próximas à escavação,
devido á isso, é extremamente importante verificar se as estruturas próximas ao local
da obra são sensíveis aos movimentos do terreno, como explica Feijó e Ehrlich (2005).
De fato, o sistema de solo grampeado apresenta suas limitações, algumas
limitações surgem e devem ser observadas ao se indicar a aplicação de solo
grampeado como intervenção para promover a estabilidade de taludes:
• Presença de nível d’água – A ação da água é significativa na estabilidade de
uma estrutura de contenção, o acúmulo pode até duplicar o empuxo atuante e diminuir
a resistência ao arrancamento decorrente do acréscimo das pressões neutra.
• Condições drenagem – Em condições de drenagem inadequada, a saturação
do solo e o aumento da poro-pressão levam a redução do atrito solo/grampo. Para
Feijó e Ehrlich (2005) o solo grampeado é uma técnica muito competitiva em solos
residuais não saturados por apresentar boas características mecânicas
• Condições de solo – Areias sem coesão aparente, solos contendo alta
quantidade de argila, onde o teor de umidade pode aumentar depois da construção,
devido ao possível ingresso de água que acarretam a perda da resistência do solo.
• Qualidade do Grampo - Em estruturas de longa vida útil, deve-se prestar
atenção particular a durabilidade dos grampos usados em solos corrosivos e para
movimentos em longo prazo, causados por rastejo em solos.
30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A técnica de solo grampeado apresenta-se em plena expansão e tem ganhado


cada vez mais aceitação em obras geotécnicas de estabilização de taludes e
escavações de subsolos. O comportamento do chumbador, em termos de resistência
ao cisalhamento de interface "qs" é de fundamental importância para a execução de
projetos e obras mais econômicas e seguras. A prática de execução dos chumbadores
aliada à programas experimentais de pesquisa vêm demonstrando os benefícios em
se executar as injeções dos chumbadores. Os incrementos no parâmetro são bastante
consideráveis e esta prática deve ser utilizada nas mais variadas obras. O controle
dos volumes e das pressões de injeção e das deformações são fundamentais para
garantir o bom comportamento dos chumbadores
Mesmo não sendo uma técnica normalizada nos padrões brasileiros, a técnica
de solo grampeado vem sendo aperfeiçoada cada vez mais, devido a sua procura,
tanto por praticidade e economia, ela também apresenta métodos construtivos que
facilitam o trabalho, cada método construtivo segue padrões pré-definidos durante a
execução para evitar que ocorram falham que interfiram na eficiência da contenção.
O solo grampeado hoje, apresenta diversos benefícios, vantagens em relação
a outros tipos de contenção, desde sua versatilidade a sua economia, por ser um
método mais em conta que os outros ele vem ganhando mais espaço. Assim como
todo método, com o solo grampeado não é diferente, pois também possuiu
desvantagens, desvantagens essas que podem interferi na execução e na eficácia e
do método.
31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14827 03/ 2002 Chumbadores


instalados em elementos de concreto ou alvenaria- determinação de resistência
a tração e ao cisalhamento

Azambuja, E.; Strauss, M.; Silveira, A. F. G. (2001). Caso histórico de um sistema


de contenção em solo grampeado em Porto Alegre, RS, III Conferência Brasileira
sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE), ABMS. Rio de Janeiro, p. 435-443
BRUCE, D.A.; JEWELL, R.A. (1986). Soil nailing: application and practice. Part 1,
Ground Engineering. 19(8), November, p. 10-15.

CLOUTERRE (1991). Recomendations Projet National Clouterre. Ecole Nationale


des Ponts et Chausseés, Presses de I’ENPC, Paris, p. 269

Corsini, Rodnei. Fundações e contenções. Infraestrutura urbana, projetos, custos e


construções, São Paulo, 2012. Disponível em:
http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-tecnicas/20/artigo271666-1.aspx.
acesso em: 30 mar 2018

Daldegan,Eduardo. Solo Grampeado: Processo executivo e principais


características Disponível em:< http://engenhariaconcreta.com/solo-
grampeado-processo-executivo-e-principais-caracteristicas/> acesso em 23 abr
2018
DRINGENBERG, G.; CRAIZER, W. Estabilidade de taludes por pregagem:
projeto-execução, I Conf. Brasileira sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE),
1992, Rio de Janeiro, pp. 853-864

ENGESOL, ENGENHARIA DE SOLOS LTDA. Fundações e Contenções - 21 anos


de história, confiança e eficiência. Goiânia/GO, 110p, 2014.
32

Feijó, R. L.; Erhlich, M. (2005). Resultados do monitoramento de uma obra


experimental em solo grampeado, IV COBRAE, Conferência Brasileira sobre
Estabilidade de Encostas, ABMS, v. 2, Salvador, pp. 633-642.

GÄSSLER, G. (1990). In-situ techniques of reinforced soil. State-of-the-art report,


Proc. International Reinforced Soil Conference, Glasgow

Ghareh, S. (2015). Parametric assessment of soil-nailing retaining structures in


cohesive and cohesionless soils. Measurment. Vol.73. pp. 341-351.

Hachich, W.; Falconi, F. F.; Saez, J. L.; Frota, R. G. Q.; Carvalho, C. S.; Niyama, S.
(1999). Fundações Teoria e Prática, ABMS/ABEF, 2a edição, editora PINI, São Paulo,
750p.

Jewell, R.A. (1990) Review of Theoretical Models for Soil Nailing. In: Internacional
Reinforced Soil Conference, Glasgow, pp.265-275. Lazart, C.A.; Elias, V.; Espinoza,
D.; Sabatini, P.J. (2003

Juran, I. e Elias, V. (1990). “Behavior and working stress design of soil nailed
retaining structures”, Proceedings of the International Reinforced Soil Conference,
British Geotechnical Society, edited by A. McGown, K. C. Yeo and K. Z. Andrawes,
London.

Mendonça, André. Estudo comparativo de duas estruturas de contenção de uma


obra. 2015. Monografia Bacharelado em Engenharia Civil – Universidade Federal de
Goiás, Goiás, 2015

MITCHELL, J.K.; VILLET, W.C.B. (Editors, 1987). Reinforcement of earth slopes


and embankments, NCHRP Report 290, USA Transportation Research Board,
National Research Council. Washington D.C, USA, p. 323.
ORTIGÃO, J.A.R.; ZIRLIS, A.; PALMEIRA, E.M. (1993). Experiência com solo
grampeado no Brasil - 1970-1993. Revista Solos e Rochas, ABMS, v. 16, pp 291-
304, São Paulo, Dezembro de 1993.
33

Pacheco e Silva, D. (2009). Análise de Diferentes Metodologias Executivas de


Solo Pregado a partir de Ensaios de Arrancamento em Campo e Laboratório.
São Carlos, 313 p. Tese (Doutorado em Geotecnia) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo.

Puc Rio- Certificação Digital N° 0221071/CA. Solo Grampeado: definições,


desenvolvimento e aplicações. Disponível em:< https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/10979/10979_4.PDF> acesso em 15 mar 2018

Springer, F.O. (2006) Ensaios de Arrancamento de Grampos em Solo Residual de


Gnaisse, Tese de Doutorado, PUC-Rio. Rio de Janeiro, 310 p.

STOCKER, M.F.; KORBER, G.W.; GASSLER, G.; GUDEHUS, G. (1979). Soil nailing.
Proc. Int. Conf. on Soil Reinforcement: Reinforced Earth and Other Techniques,
Ecole des Ponts et Chaussées, Paris, France, Vol. 2, p. 469-474

TEIXEIRA, I. J. R, Estudo comparativo de duas alternativas para contenção de


taludes verticais: solo grampeado e cortina atirantada. Trabalho de Conclusão de
Curso: Engenharia Civil - Universidade Federal de Feira de Santana (Departamento
de Tecnologia), Feira de Santana/BA, 2011.

ZIRLIS, A. C.; PITTA, C. A.; SOUZA, G. J. T. Manual de serviços geotécnicos –


Solotrat Engenharia Geotécnica, São Paulo/SP, 4ª Edição, 92p, 2014.

ZIRLIS, ALBERTO. Solo Grampeado Execução, Solart, Goiânia Disponível


em:http://www.solotrat.com.br/assets/pdf/1999-solo-grampeado-execucao.pdf acesso
em: 21. Abr. 2018

ZIRLIS, A.C.; PITTA, C.A.; SOUZA, G.J.T; OLIVEIRA, M. (1992). Soil nailing:
chumbamento de solos, experiência de uma equipe na aplicação do método. In:
COBRAE – Conferência Brasileira de Encostas, vol. 1 – Rio de Janeiro, p. 81-99.
34

http://www.solotrat.com.br/assets/pdf/1999-solo-grampeado-execucao.pdf acessado
em outubro de 2018.

https://www.solofort.com.br/solo-grampeado.html#custom-html-46 acessado em
março de 2019.

Você também pode gostar