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Licenciatura em Engenharia Civil

TEORIA DE ESTRUTURAS

Apontamentos das Aulas Teóricas

José Filinto Castro Trigo


Manuel Trigo Neves

Março 2014

Capítulo 1 – Introdução

Versão 6

Teoria de Estruturas – 06
Índice:

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
1.1 A TEORIA DE ESTRUTURAS ....................................................................................... 1
1.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ..................................................................................... 2
1.3 ESTADO DE TENSÃO .................................................................................................. 3
1.4 ESTADO DE DEFORMAÇÃO ELÁSTICA – LEI DE HOOKE GENERALIZADA ..................... 4
1.5 HIPÓTESES E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ................................................................. 5
1.6 GRAUS DE LIBERDADE DE UM CORPO RÍGIDO ............................................................ 7
1.7 LIGAÇÕES AO EXTERIOR ........................................................................................... 7
1.8 ESTRUTURAS PLANAS E ESPACIAIS ............................................................................ 7
1.9 ESTRUTURAS RETICULADAS...................................................................................... 8
1.10 PRINCÍPIO GERAL DO EQUILÍBRIO .............................................................................. 9
1.11 DETERMINAÇÃO DO GRAU DE HIPERESTATICIDADE EM ESTRUTURAS RETICULADAS
PLANAS ................................................................................................................... 10
1.11.1 Introdução.............................................................................................................. 10
1.11.2 Estruturas contínuas .............................................................................................. 10
1.11.3 Estruturas articuladas (sistemas articulados rígidos planos, estruturas
articuladas indeformáveis ou treliças) .................................................................. 11
1.12 REDUÇÃO DA SOLICITAÇÃO A UMA SECÇÃO ............................................................ 13
1.12.1 Esforços internos ................................................................................................... 14
1.12.2 Expressão da solicitação interna normal .............................................................. 15
1.12.3 Expressão das solicitações internas tangenciais ................................................... 16

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Bibliografia:
Structural Analysis – R. C. Hibbeler
Apontamentos de Estruturas I do Bacharelato em Engenharia Civil do ISEP – José
Carvalho e Manuel Trigo Neves
Mecânica e Resistência dos Materiais – V. Dias da Silva
Apontamentos de Resistência de Materiais da FEUP – Mota Freitas
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Teoria de Estruturas – 06 i
1 Introdução

1.1 A Teoria de Estruturas

A Teoria de Estruturas estuda a resistência mecânica oferecida pelas estruturas


reticuladas, isto é, os corpos constituídos por peças lineares, executados com materiais
isótropos, contínuos e homogéneos, deformando-se em regime de elasticidade perfeita, com
deformações muito pequenas em relação às dimensões do corpo em que ocorrem e ligados
entre si e com o exterior de certas formas peculiares.

Define-se como peça linear uma peça em que uma das dimensões é consideravelmente
superior às outras duas e que pode ser entendida como gerada por uma figura geométrica
plana no seu deslocamento ao longo de uma linha recta (ou curva, com grande raio de
curvatura), mantendo-se perpendicular a essa linha.

P PP' - Fibra
P'

G S G' Eixo Longitudinal


(Fibra Neutra)

Figura 1.1 – Peça linear

Nota: A secção S pode não ser constante, desde que assuma uma variação contínua e
lenta.

As Teorias da Elasticidade e da Plasticidade estudam a resistência mecânica oferecida à


acção das solicitações pelos corpos sólidos de quaisquer natureza e forma e de qualquer
maneira ligados ao exterior.

Nas barras de eixo curvilíneo a Teoria de Estruturas ou a Resistência dos Materiais


conduzem a resultados que diferem aproximadamente de 5% dos valores correctos oferecidos
pela Teoria Matemática da Elasticidade se:

Teoria de Estruturas – 06 1
H 1

P 7

Figura 1.2 – Barras de eixo curvilíneo

E conduzem a erros inferiores a 5%, quando aplicadas a barras rectilíneas se:

H 1

L 5

Figura 1.3 – Barras de eixo rectilíneo

H 1 H 1 H 1
Geralmente  em barras de betão armado e  a  em barras de aço.
L 10 L 20 L 30

1.2 Conceitos fundamentais

Forças interiores ou esforços internos – forças que umas partes de um corpo exercem
sobre as outras (por exemplo, os esforços axial e transverso e os momentos flector e torsor).

Forças exteriores – forças que o meio exterior ao corpo sólido sobre ele exerce.

Forças de superfície – forças exteriores que actuam na superfície do corpo (por


exemplo, os pesos dos objectos suportados por uma estrutura, as pressões aerodinâmicas
nas paredes de um edifício sujeito à acção do vento).

Forças de massa – forças exteriores que actuam na massa do corpo (por


exemplo, a força da gravidade, as forças de inércia correspondentes às acelerações
introduzidas por sismos).

Figura 1.4 – Forças exteriores


Teoria de Estruturas – 06 2
Estas forças exteriores instalam no corpo:


um estado de tensão, representado simplificadamente por: 



um estado de deformação, representado também, de forma idêntica, por: 


Movimento de corpo rígido – deslocamento dos pontos que constituem um corpo, sem
que varie a distância entre eles.

Deformação – variação da distância entre dois pontos quaisquer no interior do corpo


sólido.

Tensão – força interna por unidade de superfície.

Extensão – variação da distância entre dois pontos no interior do corpo, dividida pela
distância inicial.

1.3 Estado de tensão

Considerando um ponto P de um corpo submetido a forças exteriores e admitindo, ainda


nesse ponto P, três elementos de superfície, infinitesimais, paralelos aos eixos coordenados:

z y

 yz

 yx zy zx xz
x
zy
P
yzxy z

yz xy
zxxy
 xzyx
y
x

O xz

Figura 1.5 – Estado de tensão

Teoria de Estruturas – 06 3
As tensões nesses elementos terão por componentes:

x y z

xz  yx zx

xy  yz zy

Facilmente se conclui que apenas seis componentes são independentes, uma vez que:

xy   yx ; zx  xz ; zy   yz

(Reciprocidade dos índices)


Em cada ponto existem, pelo menos, três direcções ortogonais entre si tais que nos
elementos de superfície a elas perpendiculares apenas ocorrem tensões normais (), sendo as
tensões de corte () nulas. Essas direcções designam-se por Direcções Principais.

1.4 Estado de deformação elástica – lei de Hooke generalizada


Fy

Fx

Fz Fz

y x
Fx
O z

Fy Fy

Fx

Fz Fz

Fx

Fy

Figura 1.6 – Lei de Hooke generalizada

y z x
y  z  x 
E E E
 x   z    y  x   y    z  y   z    x

E - Módulo de elasticidade longitudinal ou de Young

 - Coeficiente de Poisson

Teoria de Estruturas – 06 4
G - Módulo de elasticidade transversal ou de Coulomb

E
G
2  1   

As extensões ficarão expressas por:

x 
    y  z   x  
  y   z   1       
x 
E E E E
x  y z 
1
 y   y     x   z  
E
 z  z     x   y  
1
E

Numa situação mais genérica, em que não sejam nulas as tensões de corte, as distorções
resultarão iguais a:

yz xz xy


 yz   xz   xy 
G G G

1.5 Hipóteses e princípios fundamentais

Hipóteses fundamentais relativas à constituição da matéria:

Continuidade
Homogeneidade
Isotropia

Hipóteses fundamentais relativas à natureza das deformações:

 Proporcionalidade com as tensões - Lei de Hooke    E   

 Grandeza muito pequena em relação às dimensões do corpo em que ocorrem


 Destas duas hipóteses decorre o Princípio da Sobreposição de Efeitos:

Teoria de Estruturas – 06 5
F1 F1

F2 F2

Figura 1.7 – Princípio da sobreposição dos efeitos

Princípio de Saint-Venant

A distribuição das tensões e das deformações na secção S1 , desde que suficientemente


afastada das acções exteriores, é uniforme, função da resultante das acções exteriores,
independentemente do seu número, da sua distribuição e da forma como actuam.

Figura 1.8 – Princípio de Saint-Venant

Hipótese de Bernoulli-Navier

Numa peça sujeita a esforço normal e a momento flector constantes, as secções


transversais rectas mantêm-se planas e perpendiculares ao eixo durante a deformação:

Teoria de Estruturas – 06 6
Antes

Depois

Figura 1.9 – Hipótese de Bernoulli-Navier

1.6 Graus de liberdade de um corpo rígido

No espaço – 6 (3 translações e 3 rotações)


No plano – 3 (2 translações e uma rotação)

1.7 Ligações ao exterior

Apoios. Ligações ao exterior:

 1ª ordem: ou (biela)
 2ª ordem:
 3ª ordem:

1.8 Estruturas planas e espaciais

Enquanto nas estruturas planas os eixos das peças e as solicitações pertencem a um


plano, nas estruturas espaciais os eixos referidos podem ou não pertencer a um só plano:

Teoria de Estruturas – 06 7
y

x x

x
y
z z

x x

Figura 1.10 – Estruturas planas e espaciais

1.9 Estruturas reticuladas

Estruturas reticuladas são estruturas constituídas por peças lineares (barras), ligadas
entre si e com o exterior por:

1. Articulações sem atrito (estruturas articuladas)

2 3

1
Figura 1.11 – Estruturas articuladas
As extremidades das barras concorrentes num nó têm todas os mesmos 1 e 2, mas
diferentes 3.

Teoria de Estruturas – 06 8
2. Ligações de continuidade (estruturas contínuas)

Figura 1.12 – Estruturas contínuas

As extremidades das barras concorrentes num nó têm todas os mesmos 1, 2 e 3.

Enquanto nas estruturas articuladas os nós não transmitem momentos flectores (só
transmitem esforços axiais), nas estruturas contínuas os nós transmitem esforços axiais,
esforços transversos e momentos flectores:

3. Ligações dos dois tipos (estruturas mistas)

Figura 1.13 – Estruturas mistas

1.10 Princípio geral do equilíbrio

Os corpos objecto de estudo são considerados em equilíbrio estático sob a acção das
forças exteriores que os solicitam: forças directamente aplicadas e reacções dos apoios.

A condição de equilíbrio estático fornece seis equações gerais de equilíbrio; suficientes


para a determinação das reacções dos apoios nos corpos ditos isostáticos e insuficientes nos
hiperestáticos.

No plano, estas equações reduzem-se a três.

Teoria de Estruturas – 06 9
1.11 Determinação do grau de hiperestaticidade em estruturas reticuladas planas

1.11.1 Introdução

As estruturas podem classificar-se em:

Isostáticas

Hipostáticas

Hiperestáticas

Condição para um sistema (estrutura) ser isostático:

N.º de ligações ao exterior = Nº de equações de equilíbrio fornecidas pela


condição de equilíbrio estático

Mas esta condição não é suficiente, existindo excepções:

Figura 1.14 – Equilíbrio instável

Nesta estrutura o deslocamento horizontal é possível, pelo que o equilíbrio é instável.

1.11.2 Estruturas contínuas

Para a determinação do grau de hiperestaticidade em estruturas contínuas suprimem-se


ligações, de modo a obter uma estrutura isostática a partir da estrutura dada. Como cada corte
de uma barra corresponde a interromper um momento flector, um esforço axial e um esforço
transverso, por cada corte de uma barra são eliminadas três incógnitas hiperestáticas.
Teoria de Estruturas – 06 10
3

3 3

Grau de liberdade = 3 cortes x 3 incógnitas por corte = 9


Figura 1.15 – Grau de hiperestaticidade em estruturas contínuas

Podem também constituir-se arcos de três rótulas que são, também, estruturas
isostáticas.

Figura 1.16 – Grau de hiperestaticidade em estruturas contínuas

Regra prática:
O grau de hiperestaticidade de uma estrutura reticulada contínua, com todos os apoios
encastrados, pode obter-se multiplicando por 3 o número de polígonos formados pelas barras
da estrutura e por barras fictícias, ligando os apoios.

1.11.3 Estruturas articuladas (sistemas articulados rígidos planos, estruturas


articuladas indeformáveis ou treliças)

Nas estruturas articuladas, em cada nó podem estabelecer-se duas equações de


equilíbrio de forças concorrentes e complanares.

Teoria de Estruturas – 06 11
Designando por:
a – número de componentes de reacções nos apoios,
b – número de barras e
n – número de nós,

resultarão 2n equações a (a+b) incógnitas.

Se b  2n  a - estrutura articulada interiormente isostática.

Estruturas articuladas deformáveis – assumem configurações de equilíbrio compatíveis


com as forças exteriores. Pode acontecer que as forças exteriores sejam equivalentes a 0 (R=0
e M R  0 ) e o sistema não fique em equilíbrio sob a acção dessas forças exteriores. A
condição de equilíbrio das forças exteriores, que é necessária e suficiente para corpos rígidos
indeformáveis, é ainda uma condição necessária, mas não suficiente, para o equilíbrio dos
sistemas articulados deformáveis.

A condição necessária e suficiente de rigidez de uma estrutura articulada é que


b  2n  3 , sendo esta construída a partir de um triângulo, composto por três barras, e
adicionando a este um novo nó e duas novas barras, sequencialmente.

Se b  2n  3 - treliça indeformável e interiormente hiperestática (Figura 1.17);

Figura 1.17 – Treliça indeformável e interiormente hiperestática

Se b  2n  3 - treliça deformável e interiormente hipostática (Figura 1.18).

Teoria de Estruturas – 06 12
Figura 1.18 – Treliça deformável e interiormente hipostática

1.12 Redução da solicitação a uma secção

F1 F1
F3
F3

z
I II II
I
F2 -R
F2
x
R
S
F4 y F4

Figura 1.19 – Redução da solicitação a uma secção

R - resultante dos esforços internos da secção S, do lado I

-R - resultante dos esforços internos da secção S, do lado II

R e -R estão em equilíbrio

F1

A
z
I

F2
x
f
y

Figura 1.20 – Esforço e tensão

Teoria de Estruturas – 06 13
 A - área elementar

f - esforço interno elementar

f
  - Tensões (  e  )
A

R    dA

1.12.1 Esforços internos

No caso geral, a resultante R pode:

F1

a) ter três componentes:


R x - Esforço Transverso (Vx) Rz
Rx
R y - Esforço Transverso (Vy) z
I
R z - Esforço Normal (N)
F2
x Ry
R
y
Figura 1.21 – Forças

F1

My
b) provocar três momentos:
M x - Momento Flector

M y - Momento Flector (1) z


I Mz
M z - Momento Torsor (T) F2 Mx

x
(1)
- O momento My
y
representado, com o
sentido negativo, introduz
tracção nos pontos de
Figura 1.22 – Momentos
coordenada x positiva.
Teoria de Estruturas – 06 14
Nz = ∫ z dA Vx = ∫ zx dA Vy = ∫ zy dA

Mx = ∫ z × y dA My = ∫ z × x dA T = ∫ (zy × xzx × y) dA

Notação de Karman: zy

z – eixo perpendicular à superfície

y – eixo paralelo à superfície

No plano, estes esforços resumem-se a três:

Um esforço normal – N
Um esforço transverso – V
Um momento flector – M

1.12.2 Expressão da solicitação interna normal

O caso mais geral é o de Flexão Composta Desviada:

My Mx N
z   x y z
Iy Ix A

Teoria de Estruturas – 06 15
1.12.3 Expressão das solicitações internas tangenciais

Duas componentes para o esforço transverso:

Vy
Vx  Sy
Vx  zx  b
a  Iy

Vx x
a zy
Vy  Sx
Vy  zy 
b  Ix

zx

Figura 1.23 – Tensões tangenciais

Resultando numa tensão tangencial total de:


z
 zy
z  zx 2  zy 2

 zx

Figura 1.24 – Tensões tangenciais

Teoria de Estruturas – 06 16
E a contribuição do momento torsor:

dA
T 
T  z 
It x 

Figura 1.25 – Momento torsor

Teoria de Estruturas – 06 17

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