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John Wesley
2. Como é, então, que tão pouco tem sido escrito sobre tão sublime e proveitoso
tema? É verdade que alguns de nossos mais eminentes escritores têm ocasionalmente
tocado nele, e possuem diversas reflexões convincentes e bonitas que foram naturalmente
sugeridas por ele. Mas qual deles publicou um tratado regular, ou mesmo um sermão, sobre
o assunto? Talvez, muitos estivessem conscientes de suas inabilidades para fazer justiça à
tão vasto assunto. É possível, possam existir algumas tais mentiras ocultas nos volumosos
escritos do século passado. Mas, se elas estão ocultas, até mesmo, em suas próprias regiões,
se elas já estão enterradas no esquecimento, dá no mesmo, qualquer que seja o uso delas,
como se elas nunca tivessem sido escritas.
3. O que parece faltar ainda, para o uso geral, é um discurso claro sobre a
onipresença ou ubiqüidade de Deus.
Em uma palavra, não existe um ponto do espaço, quer dentro ou fora dos limites da
criação, onde Deus não está.
2. Na verdade, este assunto é também amplo para ser compreendido pelos limites
estreitos do entendimento humano. Nós podemos apenas dizer: O grande Deus, o eterno, o
Espírito Altíssimo, é ilimitado em sua presença, quanto em sua duração e poder. Em
condescendência, na verdade, a nosso fraco entendimento, diz-se que ele habita no céu;
mas, estritamente falando, o céu dos céus não pode contê-lo; mas ele está em todas as
partes do seu domínio. O Deus universal habita no espaço universal; de maneira que
podemos dizer:
3. Se nos atrevermos a tentar uma ilustração disto, um pouco mais adiante, o que é o
espaço ocupado por um grão de areia, comparado àquele, ocupado pelos céus estrelados? É
como uma cifra; é nada; ele desaparece na comparação. O que é ele, então, para toda a
expansão do espaço, ao qual o todo da criação é infinitamente menos do que um grão de
areia? E, ainda assim, este espaço, para o qual o todo da criação não mantém proporção,
afinal, é infinitamente menor, em comparação ao grande Deus, do que um grão de areia;
sim, uma milionésima parte dele, comparado à totalidade daquele espaço.
II
1. Este parece ser o significado claro daquelas solenes palavras que Deus fala de si
mesmo: “Eu não preencho céus e terra?”. E estas provam suficientemente sua
onipresença; a qual pode ainda ser provada desta consideração: Deus age, em todos os
lugares, e, portanto, está em todos os lugares; porque se trata de uma impossibilidade total
que algum ser criado, ou não criado, possa desenvolver-se, onde a sua presença não está.
Deus age no céu, na terra, e debaixo da terra, através de todo o alcance da sua criação;
sustentando todas as coisas, sem o que, tudo, mergulharia, em um só instante, em seu
primitivo nada; governando tudo, todo o momento, dirigindo tudo, e, ainda assim, sem
destruir a liberdade de suas criaturas racionais. Os próprios ateus reconhecem que o grande
Deus governa as partes conspícuas e maiores do universo; que ele regula os movimentos
dos corpos celestes, do sol, lua, e estrelas; que ele é
A alma do todo,
Que preenche, penetra e impulsiona o todo.
Porém, eles não tinham o entendimento de que Deus dá atenção à menor das coisas,
assim como à maior; o entendimento do fato dele presidir sobre tudo que Ele criou, e
governar átomos, assim como mundos. Isto nós não poderíamos saber, a menos que
agradasse a Deus revelar isto de si mesmo. Não tivesse Ele mesmo nos informado assim,
nós não teríamos nos atrevido a pensar que “nenhum pardal cai ao chão, sem a vontade de
nosso Pai que está no céu”, e muito menos afirmar que, “até mesmo os fios de cabelos de
nossa cabeça são todos numerados!”.
2. Esta confortável verdade de que “Deus preenche céus e terra”, nós aprendemos
também do Salmo acima citado: “Se eu subir ao céu, tu estás lá; se eu descer ao inferno, tu
também estás. Se eu tomar as asas da manhã, e permanecer nas partes mais extremas do
mar; até mesmo lá, tua mão me guiará”. O significado claro é: se eu me deslocar para
alguma distância que seja, tu estás lá; tu ainda me cercas, e colocas tua mão sobre mim.
Permite-me voar para alguma distância concebível ou inconcebível; acima, abaixo, ou de
qualquer lado: não faz diferença; tu ainda estás igualmente lá: Em ti, eu ainda “vivo, e me
movo e tenho minha existência”.
3. E onde nenhuma criatura está, ainda assim, Deus está lá. A presença ou ausência
de alguma ou de todas as criaturas não faz diferença com respeito a ele. Ele está igualmente
em tudo, ou na ausência tudo. Muitas têm sido as disputas em meio aos filósofos, se existe
tal coisa como espaço vazio no universo; e hoje geralmente se supõe que todo o espaço
esteja cheio. Talvez, não possa ser provado que todo o espaço esteja preenchido com
matéria. Mas o próprio ateu testemunhará conosco: Jovis omnia plena: “Todas as coisas
estão cheia de Deus”. Sim, e o espaço existe além dos limites da criação (porque a criação
deve ter limites, uma vez que nada é ilimitado, nada pode ser, a não ser o grande Criador),
até mesmo este espaço não pode excluir aquele que preenche o céu e terra.
6. Mais do que isto, nós não podemos acreditar na onipotência de Deus, a menos
que acreditemos em sua onipresença; porque, uma vez que, como foi observado antes, nada
pode agir onde não existe, -- se houver algum espaço, onde Deus não esteja presente, ele
não seria capaz de fazer alguma coisa lá. Conseqüentemente, negar a onipresença de Deus
implica, igualmente, o negar de sua onipotência. Estabelecer limites para um é,
indubitavelmente, estabelecer limites para o outro também.
7. De fato, onde quer que suponhamos que ele não esteja, lá supomos que todos os
seus atributos sejam em vão. Ele não pode exercitar lá, quer sua justiça ou misericórdia;
quer seu poder ou sabedoria. Em um espaço extramundano (por assim dizer), onde
supomos que Deus não esteja presente, nós devemos, é claro, supor que ele não tenha
duração; mas como se supõe que isto esteja além dos limites da criação, então, está além
dos limites do poder do Criador. Tal é o absurdo blasfemo que está implícito nesta
suposição.
8. Mas tudo que é, ou pode ser dito da onipresença de Deus, o mundo faz uma
grande objeção. Eles não podem vê-lo. E isto está realmente na raiz de toda as outras
objeções dele. Isto nosso abençoado Senhor observou há muito tempo: “De quem o mundo
não pode receber, porque eles não o vêem”. Mas não é fácil responder. “Você pode ver o
vento?”. Não pode. Mas você pode, no entanto, negar sua existência, ou sua presença?
Você diz: “Não, porque eu não posso conceber isto pelos meus outros sentidos”. Mas,
através de qual dos seus sentidos, você percebe sua alma? Certamente, você não nega a
existência ou a presença dela! E ainda assim, ela não é o objeto de sua visão, ou de algum
de seus outros sentidos. É suficiente, então, considerar que Deus é um Espírito, como é
nossa alma também. Conseqüentemente, “nenhum homem o viu, ou poderá ver”, com os
olhos da carne e sangue.
III
1. Mas, admitindo que Deus está aqui, assim como em toda parte, que ele está “em
volta de nossa cama, e em nossos passos”; que ele “nos cerca por trás e pela frente, e
coloca sua mão sobre nós”; que conclusão, nós poderemos traçar disto? Que uso, nós
poderemos fazer desta terrível consideração? Não é adequado e correto nos humilharmos
diante dos olhos de sua Majestade? Nós não deveríamos trabalhar continuamente para
reconhecermos sua presença “com reverência e temor divino?”. E não, na verdade, com o
temor dos demônios, que acreditam e tremem, mas com o temor de anjos, como alguma
coisa similar àquele que é sentido pelos habitantes do céu, quando...
3. Especificamente: Se não existe uma palavra em nossa língua; nem uma sílaba que
vocês falem; mas ele “a conhece completamente”; quão cuidadosos vocês seriam ao
“colocarem um vigia em suas bocas e ao manterem a porta dos seus lábios fechada!”.
Quão prudente conviria a vocês, em todo o seu modo de vida; estando avisados por seu
Juiz, que “pelas suas palavras, vocês podem ser condenados!”. Quão prudentes, a fim de
que “alguma comunicação corrupta”, alguma comunicação não generosa; sim, ou discurso
sem proveito, possam “derivar-se da boca de vocês”, em vez “daquilo que é bom para o
uso da edificação, e adequado para ministrar graça aos ouvintes!”.
5. Por outro lado, se vocês já estão inscritos, sob os cuidados do grande Capitão de
sua salvação, e, uma vez que vocês estão continuamente, sob os olhos de seu Capitão, quão
zelosos e ativos vocês deverão ser, para “lutarem a boa luta da fé, e se agarrarem firmes à
vida eterna”; “suportarem as provações, como bons soldados de Cristo”; usarem de toda a
diligência, “lutarem a boa guerra”, e fazerem o que quer que seja aceitável aos olhos dele!
Quão cuidadosos, vocês deverão ser para terem todos os seus caminhos aprovados aos
olhos dele, que tudo vêem; para que ele possa dizer aos seus corações, o que ele proclamará
em voz alta, na grande assembléia de homens e anjos: “Bravo, bons e fiéis servos!”
[Editado por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]
izilda bella