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FACULDADE DE TEOLOGIA INTEGRAL – FATIN

TEOLOGIA I
PROFESSOR: ELIAS GOMES
ALUNO: ABDÊNEGO FELIPE SILVA ANDRADE

ATIVIDADE AVALIATIVA

Faça um comentário usando suas argumentações dos seguintes tópicos:

O CARÁTER

1. Atributos naturais de Deus.


A questão da classificação dos atributos divinos tem ocupado a atenção dos
teólogos por longo tempo. Várias classificações tem sido sugeridas, a maiorias das quais
distingue duas classes gerais. Essas classes são designadas por diferentes nomes e
representam diferentes pontos de vista, mas substancialmente são as mesmas, nas
diversas classificações.
Os atributos naturais são representados por existência, simplicidade, infinidade,
etc... ou seja, de maneira distinta de sua vontade. Deus é auto existente, isto é, ele tem
em si mesmo a base de sua existência. Diferente do homem, Deus não tem sua causa
na existência como algo que foi criado. Esse atributo de Deus podemos também de
chamar por incomunicáveis, por isso, torna Deus independente. “Porque assim como o
Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao filho ter vida em si mesmo.” João 5.26.
A imutabilidade de deus é necessariamente concomitante com a sua aseidade.
Pela qual não há variação de mudanças nele e nem em seus propósitos e promessas.
Até a razão nos ensina que não é possível nenhuma mudança em Deus, visto que
qualquer mudança é para melhor ou para pior. Mas em Deus há perfeição absoluta,
melhoramento e deterioração são igualmente impossíveis. A imutabilidade de Deus é
ensinada em algumas passagens bíblicas, como a seguinte: “Mas tu permaneces o
mesmo, e os teus dias jamais terão fim. “Salmo 102.28.
A infinidade de Deus é a perfeição pela qual ele é isento de toda e qualquer
limitação. Ao atribui-la a Deus, negamos que haja ou que possa haver quais quer
limitações do Ser divino e dos seus atributos. Isso implica que ele não é limitado de
maneira nenhuma pelo universo. Isso não implica sua identidade com a soma total das
coisas existente nem exclui a coexistência das coisas finitas e derivadas, com as quais
ele mantém relação. A infinidade de Deus deve ser concebida como intensiva, antes que
extensiva, e não deve ser confundida com extensão ilimitada, como se Deus estivesse
espalhado pelo universo todo. Portanto, é uma realidade em deus que somente Ele pode
compreender plenamente.

2. Onisciência
O CONHECIMENTO DE DEUS. O conhecimento de Deus pode ser definido
como aquela perfeição pela qual ele, de maneira inteiramente peculiar conhece a si
mesmo e conhece todas as coisas possíveis e reais. Esse conhecimento é inerente a
Deus e não obtido de fora. Além disso, é sempre completo e claramente distinto na
consciência de Deus. Chama-se onisciência, porque é todo-compreensivo. Deus
conhece a si mesmo e tudo que está contido no seu plano. Ele conhece todas as coisas
como realmente acontecem, o passado, o presente e o futuro, e as conhece em suas
relações reais. Está inteiramente familiarizado com a essência oculta das coisas, que o
conhecimento do homem não pode penetrar. O real, bem como o possível, está presente
na sua mente. A onisciência de Deus é claramente ensinada em várias passagens da
Escritura. Veja:
“SENHOR, tu me sondaste, e me conheces.
Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.
Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos.
Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo
conheces.
Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão.
Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir.
Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás
também.
Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,
Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.
Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim.
Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas
e a luz são para ti a mesma coisa;
Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe.
Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito;
maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.
Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas
profundezas da terra.
Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram
escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas
havia.”
SaImo 139.1-16.

3. Onipotência
O poder soberano ou a onipotência de Deus. A soberania de Deus também
encontra expressão no poder divino ou onipotência, o poder para executar sua vontade.
A onipotência de Deus não deve ser entendida como afirmando que Deus pode fazer
tudo. A Bíblia nos ensina que há muitas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode
mentir, pecar, transformar-se e nem negar a si mesmo (Nm 23.19; ISm 15.29; 2Tm2.13;
Hb 6.18; Tg 1.13,17). Os escolásticos erraram quando ensinaram que ele podia fazer
toda espécie de coisas que são inerentemente contraditórias e podia até mesmo
aniquilar-se. É mais correto dizer que, em virtude de sua onipotência, Deus pode, pelo
mero exercício de sua vontade, realizar tudo que ele decidiu levar a cabo. E se ele assim
desejasse, ele poderia fazer mais do que realmente faz acontecer (Gn 18.14; Jr 32.27;
Zc 8.6; Mt 3.9; 26.53). A onipotência de Deus encontra expressão no nome El-Shaddai,
e é claramente mencionada em diversas passagens da Escritura (Jó 9.12; SI 115.3; Jr
32.17; Mt 19.26; Lc 1.37; Rm 1.20; E f 1.19).
A soberania de Deus é Seu poder e domínio sobre toda a criação. Tudo que
existe está debaixo do seu poder. Nada acontece sem a permissão de Deus e nada pode
impedi-lo de cumprir Seus planos. Deus é o soberano, o rei, a autoridade suprema sobre
tudo que existe e acontece. Quando afirmamos que Deus é soberano, queremos dizer
que Ele está infinitamente elevado acima da mais elevada criatura, que Ele é o Altíssimo,
o Senhor dos céus e da terra; Que Ele não está sujeito a ninguém, não é influenciado
por nada, e que é absolutamente independente. Na antiguidade Deus reclamou a um
Israel apóstata: “pensavas que eu era teu igual” (Sl 50.21). Este é o problema hoje, o
conceito do povo em relação a Deus é humano demais. E acreditamos que isto é
responsável pela grande irreverência em muitas congregações dos dias atuais.

4. Onipresença.
Deus está presente em todos os lugares. Contudo, não devemos pensar sobre
ele como se ocupasse todos os espaços, porque ele não tem dimensões físicas. É como
espírito que ele está em todo lugar. Ainda que isso exceda a compreensão de criaturas
como nós, presas ao corpo, o próprio Deus está presente em toda parte, em sua
majestade e poder. Almas necessitadas que oram a ele de toda parte no mundo estão à
sua vista e recebem sua atenção pessoal. A crença na onipresença de Deus é ensinada
em Sl 139.7; Jr 23.23-24; At 17.27-28.
Quando Paulo fala do Cristo que subiu ao céu como enchendo todas as coisas
(Ef 4.8-10), a disponibilidade de Cristo em toda parte, na plenitude do seu poder,
certamente faz parte do significado. Pai, Filho e Espírito Santo são onipresentes, ainda
que a presença pessoal do Filho glorificado não seja física (no corpo). Sua imensidade,
em virtude dessa perfeição, ele transcende todo o espaço e, ao mesmo tempo, está
presente com todo o seu ser em cada ponto dele. Não está parcialmente em nosso país,
e parcialmente em outros países, mas enche cada parte do espaço com seu ser inteiro.
Chama-se isso também sua onipresença. Deus é imanente em todas as suas criaturas
e na criação inteira, mas não é de modo nenhum limitado por elas. Essa perfeição de
Deus revela-se também claramente (lR s 8.27; Is 66.1; SI 139.7-10; Jr 23.23-24; At 7.48-
49; 17.27-28)
5. Atributos morais de Deus.
Os atributos morais de Deus são geralmente considerados como as perfeições
divinas mais gloriosas. Não que um atributo de Deus seja em si mesmo mais perfeito e
mais glorioso que outro, mas, relativamente ao homem, as perfeições morais de Deus
refulgem com um esplendor todo seu. Geralmente são discutidos sob três títulos: a
bondade de Deus; a santidade de Deus; e a justiça de Deus.
Na bondade de Deus geralmente é tratada como uma concepção genérica,
incluindo diversas variedades que se distinguem de acordo com os seus objetivos. Daí,
em nossa atribuição de bondade a Deus, a ideia fundamental é a de que ele é, em todos
os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que deve ser como Deus, e, portanto,
corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra Deus.
Na Santidade de Deus a palavra hebraica para “ser santo” que significa separado
é uma das palavras mais proeminente do antigo testamento. Todavia, já se vê que não
é correto pensar na santidade primariamente como uma qualidade moral ou religiosa,
como geralmente se faz. Sua ideia fundamental é a de uma posição ou relação existente
entre Deus e ima pessoa ou coisa.
Na justiça de Deus, esse atributo relaciona-se estreitamente com o da santidade
de Deus. Shedd fala da justiça de Deus como um modo de sua santidade, e Strong lhe
chama simplesmente santidade transitiva. Contudo esses termos se aplicam à
geralmente denominada justiça relativa de Deus, em distinção de sua justiça absoluta.

A NATUREZA DO HOMEM

1. Tricotomia
A interpretação trina do homem é fundamentada sobre algumas passagens
bíblicas que sugerem que o homem é formado por corpo alma e espírito, apenas. Essa
visão tem suas bases voltadas para a filosofia grega, que está alheia dos relatos bíblicos.
Essa ideia foi sugerida pelo aprofundamento dos estudos de Aristóteles sobre as
informações deixadas por Platão. Esse raciocínio foi encontrado também em alguns pais
da Igreja, como Tertuliano, e nos escolásticos (teólogos católicos por volta do século XII
e XIII), como Tomás de Aquino. A ideia básica dessa forma de ver o homem, é a
supremacia do Espírito em relação ao corpo e alma, embora a alma seja superior ao
corpo. Assim, o Espírito diz respeito aos sentimentos espirituais; a Alma ao que é de
natureza intelectual, emocional ou volitivo; Corpo, refere-se unicamente aos sentidos
naturais, como, visão, tato, olfato, audição e paladar. A fundamentação desse
pensamento nasce a partir dos textos que seguem: “O mesmo Deus da paz vos santifique
em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis
na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts.5.23) “Porque a palavra de Deus é viva, e
eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto
de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
propósitos do coração” (Hb.4.12) Mas, nesta visão é possível ressaltar alguns problemas,
pois como explicar os “pensamentos” e os “propósitos do coração”? Onde eles se
encaixam? E, segundo outros textos que afirmam a existência da consciência do
homem? E textos, como Mc.12.30, que não falam nem sobre “espírito” nem “corpo”? “A
tricotomia, do modo em que é comumente definida, põe em perigo a unidade e
imaterialidade da nossa mais elevada natureza” A concepção da tricotomia, acaba por
recortar o homem em três partes distintas, onde alma e espírito são distintos entre si e
do corpo. É como se fossem três aspectos autônomos em um mesmo homem. Mas tal
postura não pode ser sustentada à luz das escrituras, pelas seguintes razões:
• Nas escrituras, a palavra espírito, assim como alma, é utilizada para a mesma
substância (Ec.3.21; Ap.16.3);
• Atribui-se a palavra alma em referência a Deus (Am.6.8; Is.42.1; Hb.10.38)
• Os mortos são chamados de alma (Ap.6.9, cf. 20.4)
• Perder a alma é perder tudo (Mc.8.36, 37)
Os versículos demonstrados para a visão tricotomista podem ter sua explicação mais
razoável da perspectiva bíblica. Em 1Ts.5.23, Paulo não tem por propósito enumerar as
facetas da constituição humana, nem mesmo distingui-las, mas demonstrar um
apanhado da sua natureza nas principais relações. Esse fato pode ser demonstrado em
um texto alternativo, Mc.12.30. neste texto notamos que existem quatro aspectos
separados da constituição humana, coração, alma, entendimento e forças, mas ninguém
se arrisca a afirmar uma quadricotomia baseado neste texto. Ou seja, em ambos textos
se nota que o autor não tem interesse de segmentar o homem, mas demonstrar que
cada aspecto de sua constituição imaterial deve estar presente em seu relacionamento
com Deus. Com referência à Hb.4.12, podemos notar que o autor de Hebreus fala que a
Palavra de Deus é suficientemente poderosa para dividir alma e espírito. O que se nota
neste texto é a ênfase da profundidade da ação da Bíblia na vida de um homem. Outro
detalhe importante é que a palavra de Deus divide, e só pode-se dividir o que está junto.
Ou seja, as evidências a favor da tricotomia são pouco conclusivas. Assim, é mister
compreender o que ser a visão dicotomista do homem.
2. Dicotomia
A exposição geral da natureza do homem na Escritura é claramente dicotômica,
a interpretação dual do homem é baseada não somente no relato da criação, mas
também na observação do texto bíblico que sugere que o homem é formado de um
aspecto material (corpo) e outro imaterial (alma, espírito, coração, pensamentos,
consciência). A própria palavra “Dicotomia” sugere isso. A origem da palavra é grega, e
formada pela junção do substantivo “di,ca”, que significa dois, e “te,mnw”, que significa
cortar, traduzido satisfatoriamente por “formado de duas partes”. Assim é importante
demonstrar alguns princípios bíblicos que asseguram essa posição: O relato da criação
“A natureza dupla do ser humano que é material e imaterial é determinada pelo modo
como o homem foi criado”, o corpo do pó da terra e a alma é soprada por Deus. “E formou
o Senhor o homem do pó da terra e soprou nas suas narinas o fôlego da vida, e o homem
foi feito alma vivente” (Gn.2.7).
Deve atentar para a ordem dos fatos na narrativa mosaica, pois não afirma que
o homem foi criado alma vivente e depois Deus soprou o espírito, mas, o homem passa
a ser alma vivente apenas após o sopro de Deus. Sobre isso Strong afirma que “a vida
de Deus se apossou do barro e, como resultado, o homem teve uma alma”. Outro detalhe
importante que deve ser notado são as considerações de Jó com respeito a essa
percepção: Tão certo como vive Deus, que me tirou o direito, e o Todo-Poderoso, que
amargurou a minha alma, enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro de Deus nos
meus narizes, nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará
engano. (27.2-4) Nota-se que para Jó era certo que ele era uma criatura de Deus e que
sua vida natural estava intimamente ligada ao “sopro de Deus” em suas narinas, como
ele mesmo assegura. Pensamento semelhante é esboçado Eliú, que pouco depois: Na
verdade, há um espírito no homem, e o sopro do Todo-Poderoso o faz sábio. (32.8) O
Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida. (33.4) Eis que diante
de Deus sou como tu és; também eu sou formado do barro. (33.6) O que podemos
observar é que para a cosmovisão hebraica a criação de Deus era um fato real, tal como
narrado em Gênesis.
Outro fato mais interessante ainda, é que, segundo estudiosos, Jó é um homem
que viveu muito antes que Moisés pudesse ter escrito o livro de Gênesis. Ou seja, a
tradição judaica já sustentava o fato da criação, mas de uma perspectiva ainda
dicotômica desta. E a mesma percepção com respeito a constituição do homem
permanece. Nota-se que em nenhum momento o relato de Jó ou Eliú. parece esboçar a
constituição humana além do que é material ou imaterial.
O uso intercambiável dos termos “alma” e “espírito” é notório nas escrituras que
os termos “alma” e “espírito” podem ser utilizados de maneira intercambiável. Esse fato
pode ser evidenciado. Note: “De manhã, achando-se ele de espírito perturbado...”
(Gn.41.8) Em sua narrativa sobre as origens de seu povo, Moisés ressalta a história que
envolve José no período que estava no Egito. Neste tempo, Faraó teve um sonho um
tanto estranho, e isto o estavam incomodando. Nessa altura na narrativa mosaica afirma
que, pela manhã após o sonho, Faraó estava confuso, ou como Moisés afirma, de
espírito perturbado. Entretanto, em um dos Salmos dos filhos de Coré podemos
encontrar um sentimento distinto, mas aplicado à alma do indivíduo. Observe: Por que
estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro em mim? (Sl.42.5) Sinto
abatida dentro em mim a minha alma... (v.6) O que se pode ressaltar deste texto, senão
o relato da tristeza do salmista exilado no extremo norte da Palestina, que anseia por
voltar ao templo em Jerusalém. Mas o que os dois textos têm em comum? O que parece
óbvio, a expressão de um sentimento, embora um atribua à alma e outro ao espírito.
Seria isto uma prova de que alguns sentimentos se reportam a alma e outros ao espírito?
Não, significa que os termos, alma e espírito, são utilizados de maneira intercambiável
para expressar o mesmo fato. Vamos observar outros versículos: Agora está angustiada
a minha alma, e que direi eu? (Jo.12.27) Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em
espírito e afirmou... (Jo.13.21) A palavra grega referente ao sentimento expresso pelo
vocábulo “angustia” é “tara,ssw”, que denota basicamente inquietação, angústia. Este
vocábulo grego é encontrado nas duas sentenças, mas ora atribuído à alma, ora ao
espírito. Ou seja, ou Jesus tem dificuldade de reconhecer a que aspecto da sua
constituição se reportam as emoções, ou os termos alma e espírito são utilizados de
maneira intercambiável.
3. Imagem e Semelhança de Deus.
Esse tópico visa cuidar especificamente do aspecto mais interessante do
homem, a saber a Imagem e a Semelhança de Deus em que foi criado o homem.
Normalmente nas obras de Teologia Sistemática utiliza-se um termo em latim para
designar esse fato, Imago Dei (Imagem de Deus), e por isso continuam nesta forma neste
estudo. Imago Dei é o grande diferencial na criação do homem, é o que, por certo,
diferencia o homem do resto da criação.
Entretanto, é tema antigo de debates teológicos, pois historicamente, não se
chegou a um consenso a respeito deste termo. Assim é válido observar algumas das
diferentes opiniões históricas sobre esse tema Breve Histórico Alguns dos “Pais da
Igreja” concordavam que a Imagem de Deus no homem consistia em suas capacidades
racionais, morais e na capacidade para a santidade. Entrementes alguns tendiam a crer
que existiam alguns aspectos físicos pertencentes a essa Imagem de Deus. Em outros
desses “Pais da Igreja”, criam que Imagem e Semelhança eram aspectos distintos e que
como tal tinham implicações distintas. Para Clemente de Alexandria e Orígenes (gregos),
que rejeitavam qualquer relação do termo com o corpo, criam que Imagem estava
relacionado a características do homem como tal, e Semelhança como qualidades não
essenciais do homem. Esse tipo de abordagem, que distingue Imagem de Semelhança,
foi também encontrada nos escolásticos, embora nem sempre expressa do mesmo
modo. Já os reformadores abandonaram a distinção entre Imagem e Semelhança, pois
“consideravam a justiça original como incluída na imagem de Deus e como pertencente
à própria natureza do homem em sua condição originária”. Alguns teólogos mais
recentes têm discordado de todas essas possibilidades, como Scheleiermacher, que
rejeitou a possibilidade de que houvesse justiça original no homem original, pois cria que
essa justiça só era possível por meio de desenvolvimento. O significado do termo: as
palavras hebraicas de Gênesis 1.26,27 são tselem e demuth, o equivalente às palavras
gregas eikon e homoiosis (que em latim são imago e similitudo). Tselem significa imagem
moldada, uma figura moldada, imagem no sentido concreto da palavra (2Rs.11.18;
Ez.23.14; Am.5.26). Já demuth também se refere à ideia de similaridade, mas num aspecto
mais abstrato ou idealístico. Segundo “o autor bíblico parece estar tentando expressar
uma ideia muito difícil, na qual deseja deixar claro que o homem, de alguma maneira, é
o reflexo concreto de Deus”. Embora durante muito tempo se tentou diferenciar as
palavras, nos relatos bíblicos as palavras imagem e semelhança são empregadas como
sinônimos. Em Gn.1.26 são empregues as duas palavras, mas no v.27 apenas a primeira
delas. Em Gn.5.1 só ocorre a palavra semelhança e no v.3 ambas novamente. Porém
em Gn.9.6 aparece apenas a palavra imagem. Ou seja, são utilizadas em Gênesis de
maneira intercambiável. Outro detalhe importante é que, até mesmo as preposições
utilizadas são igualmente intercambiáveis (cf. Gn.1.26,27 e 5.1-3). Portanto o que se
pode concluir até aqui é que não se deve apoiar na utilização das palavras unicamente
para enfatizar diferenças de ênfases ou de aspectos desse fato.
Logo, é prudente os aspectos envolvidos a fim de encontrar uma definição mais
plausível para os termos utilizados em Gênesis. Aspectos envolvidos: Antes de procurar
definir, é importante observar na literatura bíblica algumas afirmações relevantes para
compreensão correta do termo teológico Imago Dei. Justiça Original A imagem de Deus,
na qual foi criado o homem, certamente inclui o que normalmente se denomina “justiça
original”. Esse termo diz respeito a condição do homem, que foi criado sem pecado. Esse
fato tem grande respaldo escriturístico. Em Gn.1.31, após a criação do homem fala que
tudo o que Deus fizera eram muito bom. Salomão também faz uma boa observação do
homem com criatura especial de Deus quando diz: “Eis o que tão somente achei: que
Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”. (Ec.7.29) O Novo
Testamento testemunha de maneira semelhante, mas o faz retratando a condição do
salvo como uma volta a um estado anterior. Paulo, em sua epístola aos colossenses faz
a seguinte observação: “Não mintais uns aos outros,, uma vez que vos despistes do
velho homem com seus feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o
pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3.10). Em Efésios,
Paulo faz semelhante afirmação: “...e vos revistais do novo homem, criado segundo
Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef.4.24).

4. Queda(pecado).
Quando Adão e Eva pecaram, eles caíram do seu estado de justiça (ou retidão)
original para um estado de corrupção espiritual, moral, emocional e física. Nossos
primeiros pais “se tornaram mortos em pecados e inteiramente corrompidos em todas as
suas faculdades e partes do corpo e da alma” (Confissão de Fé de Westminster 6.2). A
culpa deste “pecado original” foi imputada, e a resultante corrupção da alma e do corpo,
foi transmitida para todos os seus descendentes naturais. Esta corrupção herdada é
descrita como “depravação total”, proveniente da palavra em Latim “depravatio”, que
significa a “perversidade” (“pravitas”) que está enraizada nos nossos corações e alcança
cada um dos aspectos do nosso ser e da nossa vida.
Nós manifestamos os frutos desta depravação em nossas vidas todo dia: “o
pecado sempre jorra desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada”
(Confissão Belga, artigo 15). Palavra de Deus para Jeremias identifica esta “fonte
contaminada” com o coração do homem, significando a sede do nosso intelecto, vontade
e emoções, ou seja, tudo o que nos faz distintamente humanos, forma as nossas
personalidades, e determina a nossa conduta externa (Jeremias 17:1,9). O pecado não
pode ser culpado por causa do meio, da repreensão, da educação, ou por causa dos mal
exemplos que os outros nos concedem. Nós somos pecadores no próprio coração. Isto
não significa dizer que os seres humanos são tão perversos quanto eles podem ser.
Na bondade de Deus, há no homem depois da queda um resto de luz natural.
Assim ele retém ainda alguma noção sobre Deus, sobre as coisas naturais e a diferença
entre honrado e desonrado e pratica um pouco de virtude e disciplina exterior. Esta luz
natural é, contudo, limitada, e explica apenas porque o homem não é mais perverso do
que já, uma vez que o homem caído nãousa apropriadamente nem mesmo em assuntos
cotidianos” (Cânones de Dort, capítulos III-IV, artigo 4). Sendo está “luz natural”
restringida, a raça humana iria rapidamente destruir a si mesma. Nós somos propensos,
por natureza, a odiar a Deus e ao nosso próximo (Catecismo de Heidelberg, P.6). Então,
Deus criou o homem assim tão mal e perverso? Não, pelo contrário, Deus criou o homem
bom e à Sua imagem, isso é, em verdadeira justiça e santidade, de modo que ele
pudesse conhecer corretamente a Deus, o seu Criador, amá-lo de coração, e viver com
Ele em eterna felicidade para O louvar e glorificar. Nós desafiamos o Deus vivo, vivendo
a vida de nossa própria maneira, e fazendo guerra uns com os outros. Então, a escuridão
natural coexisti paralelamente com a “luz natural”, em nós.
Significativa em profundidade, a depravação humana é abrangente em seu
alcance e efeitos. Nenhuma parte do nosso ser, em nenhum momento da nossa
peregrinação terrena, em nenhuma faceta da vida e do trabalho neste mundo, em
nenhum relacionamento com homem ou com Deus, em nenhum dos nossos
pensamentos, sentimentos, palavras, ou ações, é preservada não corrompida ou isenta
da nossa depravação. Os cristãos, ou seja, os que nasceram de novo, descobrem
rapidamente que a depravação, como “a lei do pecado” em seus membros, ainda
guerreia contra a “lei” das suas mentes, ou seja, contra as coisas que ele
conscientemente crê e sabe ser a vontade de Deus para as suas vidas (Romanos 7:23).
Eles falam como Paulo: “Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside
em mim” (Romanos 7:21). O remédio de Deus para a depravação total do Seu povo é a
salvação tripla em Cristo. Primeiro, em regeneração, novidade de vida é implantada no
crente. Segundo, pelo processo de santificação, esta nova vida é nutrida, incrementada,
e tornada frutífera. Terceiro, é trazida à perfeição final (ou glorificação) na morte, quando
a alma do crente é tornada perfeita, e assim, no último dia, o seu corpo será ressurreto
à semelhança do corpo glorioso do Cristo ressurreto. O nosso conforto, enquanto isto, é
saber que nossos pecados são perdoados em nome de Cristo, e as nossas enfermidades
remanescentes são cobertas por Sua paixão e morte.
Estas enfermidades incluem fraqueza ou debilidade de compreensão no que diz
respeito ao conhecimento da verdade; fraqueza ou debilidade na fé face a dúvidas e
dificuldades; e fraqueza ou debilidade na vontade, no que diz respeito a obedecer aos
mandamentos de Deus e resistir às tentações para pecar. Todas estas enfermidades são
cobertas pela concessão e imputação da justiça de Cristo ao crente, “como se eu nunca
tivesse cometido pecado algum ou jamais tivesse sido pecador; e, como se
pessoalmente eu tivesse cumprido toda a obediência que Cristo cumpriu por mim”
(Catecismo de Heidelberg, P.60).

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