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Princípio e Fundamento 1 – Deus [23]

Meditação
Em 31 de julho de 1556, morreu Santo Inácio de
Loyola, ele havia escrito um pequeno livro chamado
Exercícios Espirituais que ele usava para ajudar os
outros a se aproximarem de Deus, ele o fazia de
maneira pessoal, não havia vários praticantes, mas
apenas um e ele os fazia por 30 dias, mas antes de ini-
ciar esses exercícios espirituais, ele deu a eles o texto
que hoje vamos tentar reler e meditar juntos que são
chamados Princípio e Fundação, Princípio em ter-
mos de origem e Fundação na medida em que serve de
fundamento, a construção de uma casa, é a rocha so-
bre a qual construir a nossa vida, é o sentido da vida
do homem.
Coloque-se na presença de Deus
Oração preparatória: [46] “pedir a graça de Deus
Nosso Senhor para que todas as minhas intenções,
ações e operações sejam ordenadas puramente ao
serviço e louvor de sua divina majestade”.
História: [23] “O homem é criado para louvar,
reverenciar e servir a Deus, nosso Senhor, e através
disso salvar sua alma.”
Pedido: entenda a força dessas verdades.

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1. Nossa noção de Deus.
Em nosso tempo, perdemos um pouco a verdadeira
noção de Deus.
O padre Cornélio Fabro, filósofo italiano, falecido
há poucos anos, grande conhecedor de São Tomás de
Aquino, Hegel, Kierkegaard, grande pesquisador da
liberdade humana, escreveu um livro no qual diz que o
ateísmo moderno se baseia em um erro de princípio
que origina uma filosofia desviante, e se chama princí-
pio da imanência: “Penso, logo existo”. É quando o
pensamento do homem se baseia nele mesmo e não no
ser das coisas. Quando diferentes filósofos se baseiam
nesse princípio, eles acabam no ateísmo.
“Deus é evidentemente de um só maneira, e por isso o
conceito de Deus deve ter também um conteúdo muito
preciso; por isso, para o homem, a admissão de Deus
deve orientar-se e manifestar-se de uma só maneira,
quer dizer, segundo um conteúdo que exclui toda am-
biguidade.
Deste modo, o campo do ateísmo se faz muito mais am-
plo: ateus, pois não só há de que dizer que são os que
afirmam sem sembra de dúvidas que Deus não existe,
que o conceito de Deus é contraditório, etc. senão que
entram dentro do ateísmo todas as concepções de Deus
que resultam errôneas e inadequadas, quer dizer, as que
negam ou desvirtuam alguma de suas características
fundamentais, … ateísmo ‘por excesso’ na medida em
que corrompem o conceito de Deus e atribuem a ele uma
forma de ser que contradiz sua natureza.” [CORNELIO

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FABRO, Introduzione all’Ateismo moderno.] [1]

Para reconhecer a Deus requer:


a) Deus é reconhecido como o Ser Supremo …
b) Deus é único e Sumo …
c) Deus é espírito, isto é, seu ser realiza em grau
supremo a forma mais elevada do ser, que é a vida se-
gundo a inteligência e a vontade …
d) Deus é transcendente em si mesmo e não a
soma ou totalidade do mundo ou imerso nele como
força, vida, Razão universal…
e) Deus é uma Pessoa supremamente livre em
suas relações com o mundo e o homem e, portanto, a
criação do mundo e do homem procede da pura liber-
alidade de Deus e não da necessidade intrínseca de
sua natureza…
Se falta alguma dessas características, estou fa-
lando de um Deus diferente e, portanto, poderíamos
dizer que esse é o ateísmo que penetrou em minha
própria vida.
Resumindo: se eu nego alguma das características
de Deus, na verdade sou ateu, não aceito o verdadeiro
Deus.
Para entender bem o começo e o fundamento, para
[1] Cornélio Fabro (Flumignano, 24 de agosto de 1911 –
Roma, 4 de maio de 1995) foi um sacerdote, teólogo, filó-
sofo, historiador da filosofia e tradutor italiano, membro
da Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor
Jesus Cristo.

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entender que Deus é a origem da minha vida e o fim
para o qual devo tender, devo ter uma ideia clara de
Deus. E quem pode me dar hoje uma ideia clara de
Deus? Para isso, recebemos o imenso dom de Deus
que é Jesus Cristo. Ele vai nos ajudar a purificar nos-
sas mentes e nossos corações sobre a ideia que temos
de Deus.
Recordamos algumas das suas perfeições:
A sua bondade: “…só Deus é bom”. (Mc 10,18)
Sua sabedoria: “Nele estão escondidos todos os
tesouros e sabedoria das ciências.” (Cl 2,3)
Seu poder: “Nada é impossível para Deus.” (Lc
1,37)
A sua providência: “Abraça fortemente todas as
coisas de um extremo ao outro e ordena-as a todas
suavemente” (Sb 8,1; 14,3), “…ele organizou tudo com
número, peso e medida”. (Sb 11,20)
Sua onipresença: “Ele não está longe de nós,
pois Nele vivemos, nos movemos e existimos”. (Hb
17,27-28); de modo especial está naqueles que o amam
como Pai e Amigo: se alguém me ama, guardará a
minha palavra, e meu Pai o amará e nós viremos para
ele e nele faremos nossa morada. (Jo 14,23)
A sua condição de espiritual (não material): “…
Deus é espírito e os que o adoram devem adorá-lo em
espírito e em verdade”. (Jo 4,24)
Todas as perfeições que as criaturas têm, Deus pos-
sui em grau infinito: “Grande é YHWH e mui digno de
louvor, sua grandeza insondável”. (Sl 14 15,3)

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2. Purificar a noção de Deus
Para conhecer as perfeições de Deus damos três
passos:
1.º Afirmação: reconhecemos que Deus possui
todas as perfeições que vemos nas criaturas: bondade,
misericórdia, beleza, poder …
2.º Remoção: a essas perfeições é necessário re-
mover todos os defeitos e limites que elas têm nas
criaturas…
3.° Eminência: elevando essas perfeições ao seu
grau máximo, assim Deus é A Bondade, é O Bem, é A
Verdade, é A Vida …
Mc 10,18 Jesus respondeu: “Por que me chamas
bom? Ninguém é bom senão só Deus.”
Porém por mais que nos esforcemos para purificar,
através destes passos, as perfeições de Deus, temos
que perceber claramente que quando alguém fala de
Deus, o que diz é inferior ao que pensa, porque as per-
feições de Deus não podem ser expressas em palavras.
O que eu digo é uma ideia de Deus, mas isso não é
Deus. O último passo é reconhecer que essa ideia é im-
perfeita e limitada. A realidade de Deus é infinita-
mente maior. Só então estou me aproximando do
verdadeiro conhecimento de Deus. E aí fará sentido o
que Santo Inácio diz no Princípio e Fundamento:
que Ele (Deus) me criou do nada para um determi-
nado fim, Ele tem um projeto para mim.
São João da Cruz escreve, comparando o ser das

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criaturas com o ser de Deus:
“Todo o ser das criaturas comparado aos ser infinito de
Deus nada é. Resulta daí que a alma, dirigindo suas
afeições para o criado, nada é para Deus, e até menos
que nada, pois conforme já dissemos, o amor a
assemelha e torna igual ao objeto amado e a faz descer
ainda mais baixo. Esta alma tão apegada às criaturas não
poderá de forma alguma unir-se ao ser infinito de Deus,
porque não pode existir conveniência entre o que é e o
que não é. …
Toda a beleza das criaturas comparadas à in-
finita beleza de Deus não passa de suma feal-
dade, …
A alma cujo amor se reparte entre a criatura e o Criador
testemunha sua pouca estima por este, ousando colocar
na mesma balança Deus e um objeto que dele está infini-
tamente distante. …
E toda a bondade das criaturas posta em par-
alelo com a bondade infinita de Deus mais
parece malícia. …
Toda a sabedoria do mundo, toda a habilidade
humana comparada à sabedoria infinita de Deus
são pura e suprema ignorância. …
A alma cujo amor se reparte entre a criatura e o Criador
testemunha sua pouca estima por este, ousando colocar
na mesma balança Deus e um objeto que dele está infini-
tamente distante. [2]

O homem é criado por Deus e para Deus, qual é a

[2] SAN JUAN DE LA CRUZ, Subida al monte Carmelo, Vol.


1, c. 4.

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nossa noção de Deus? O primeiro esforço que temos
de fazer é precisamente purificar a nossa noção de
Deus através destes três passos: afirmação das per-
feições, eliminação dos limites que as criaturas têm,
atribuindo-lhe um modo supremo e máximo, mas
dando um último passo, fazendo uma comparação de
todas as perfeições acumuladas das criaturas com as
de Deus que as tem no mais alto grau.
Cat.I.C. 41 As criaturas, todas elas, trazem em si certa
semelhança com Deus, muito particularmente o homem
criado à imagem e a semelhança de Deus. Por isso
as múltiplas perfeições das criaturas (sua verdade, bon-
dade e beleza) refletem a perfeição infinita de Deus. Em
razão disso podemos falar de Deus a partir das per-
feições de suas criaturas, “pois a grandeza e a beleza das
criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor” (Sb
13,5).
Cat.I.C. 42 Deus transcende a toda criatura. Por isso, é
preciso incessantemente purificar nossa linguagem
daquilo que possui de limitado, de proveniente de pura
imaginação, de imperfeito, para não confundirmos o
Deus “inefável, incompreensível, invisível, inat-
ingível” com as nossas representações humanas. Nossas
palavras humanas permanecem sempre aquém do Mis-
tério de Deus.
Cat.I.C. 43 Assim falando de Deus, nossa linguagem se
exprime, sem dúvida, de maneira humana, mas ela
atinge realmente O próprio Deus, ainda que sem poder
exprimi-lo em sua infinita simplicidade. Com efeito, é
preciso lembrar que “entre o Criador e a criatura não se
pode notar uma semelhança, sem que se deva notar en-

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tre eles uma ainda maior dessemelhança”, e que “não
podemos apreender de Deus o que ele é, mas apenas O
que ele não é e de que maneira os outros seres se situam
em relação a ele”.

A Santíssima Virgem, que meditava em seu coração


todas as palavras e ações de Jesus, ajuda-nos também
neste processo. Em nome do Pai, do Filho e do Es-
pírito Santo. Amém.
(Antes de ir para a cama, se possível de joelhos, e fazendo o
sinal da cruz, faça esta oração:)
Meu Deus e Senhor, em quem creio e espero, a
quem adoro e amo de todo o coração, agradeço por ter
me criado, me redimido, me feito cristão e preservado
este dia. Dê-me a graça de conhecer meus pecados e
me arrepender deles.
(Faça um breve exame de consciência, seguindo, por exemplo,
estas indicações:)
1.º. Agradeça a Deus pelos benefícios recebidos
(principalmente durante o dia).
2.º. Peça a graça, a luz, para conhecer suas faltas e
pecados e rejeitá-los.
3.º. Examine as faltas ou pecados cometidos du-
rante o dia, especialmente o seu defeito dominante.
4.º. Peça perdão a Deus por todos esses pecados e
faltas.
5.º. Resolva, com a graça de Deus, não cometê-los
novamente amanhã.
Além disso, nos dias dos Exercícios, recomenda-se
fazer um exame sobre os próprios Exercícios: a fideli-

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dade às indicações que são dadas, os “acréscimos” que
Santo Inácio propõe, ou seja, seus conselhos para
fazer melhor os Exercícios, e sobretudo a docilidade às
inspirações do Espírito Santo. As seguintes perguntas
podem ajudá-lo a fazer o exame de Exercícios:
Tenho mantido viva a sede de Deus? Quero
aproveitar tudo o que for possível? (cf. EE 20).
Mantenho a coragem e a generosidade de dar a
minha pessoa e tudo o que tenho à disposição do meu
Criador e Senhor? (cf. EE 5)
Estou sendo generoso com o que Deus me mostra e
me pede? Sou dócil à graça de Deus?
Estou fazendo propósitos específicos? Eu tomo
nota deles, assim como as inspirações?
Fiz as anotações necessárias na apresentação dos
tópicos?
Coloquei esforço nas meditações? Na presença de
Deus, na composição do local, no pedido, nos pontos,
na discussão… ?
Tenho conseguido reconhecer meus erros quando
penso em Deus? Reconheço Deus como o princípio e o
fim da minha vida? Tenho em conta a importância da
salvação da minha alma?

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Oração
Meu Senhor Jesus Cristo, cheguei ao fim do dia, e
em teu nome vou descansar; mas antes de cair na in-
consciência do sono quero reafirmar minha fé e meu
amor por Ti. Quando você vivia na terra, você também
cansava e dormia; Quero juntar o meu descanso ao teu
descanso e o meu sonho ao teu sonho; e que essas ho-
ras que viverei inconsciente sejam também para glória
de Deus e bem de minha alma; Eu quero dormir sob a
proteção de sua Divina Presença; que minha fé em Ti
seja mantida viva em minha alma; e que o fogo do seu
amor ilumine meu coração durante toda a noite e seja
a luz do meu novo despertar. Amém.
Pai-Nosso… Três Ave-Marias… Glória…

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Anotações:

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