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Hoje falaremos sobre dois atributos “muito fáceis” de Deus: Onisciência e Soberania.

Textos:
Onisciência: Sl 139:1-4; Jó 37:16; Hb 4:13; 1 Jo 3:20
Soberania: Dt 10:17; 1Tm 6:15-16
O debate
Origem dos termos: sobre a
Onisciência – do latim OMNI=tudo e SCIENTE = ciência, saber. impassibili
dade de
Soberania – do latim SUPERANIA – de SUPERANUS = superior, acima de tudo e de Deus. Deus
todos. pode
sofrer? Filo
de
I. ONISCIÊNCIA (capacidade de conhecer tudo) Alexandria
argumentav
Wayne Grudem coloca esse atributo de Deus da categoria de atributos comunicáveis e da a que não.
subcategoria atributos mentais. Anselmo
de
Cantuária
1. Significado. Onisciência significa que Deus sabe tudo, todas as coisas reais e dizia que
possíveis, sem esforço e igualmente bem. A. W. Tozer escreveu: os termos
como
“Deus conhece instantaneamente, e sem esforço algum, tudo e todas as
compaixão
coisas, todo pensamento e todos os pensamentos, todo espírito e todos
os espíritos, todo o Ser e todos os seres, toda a criação e todas as
eram para a
criaturas, toda pluralidade e todas as pluralidades, toda lei e todas as nossa
leis, todas as relações, todas as causas, todos os pensamentos, todos os experiência
mistérios, todos os enigmas, todos os sentimentos, todos os desejos, mas não
todos os segredos ocultos, todos os principados e potestades, todas as em relação
personalidades, todas as coisas visíveis e invisíveis no céu e na Terra, a Deus. Em
ação, espaço, tempo, vida, morte, bem, mal, céu e inferno. Como Deus Deus isso
conhece todas as coisas perfeitamente, Ele não conhece uma coisa era
melhor do que outra, mas a tudo igualmente bem. Ele nunca descobre figurativo.
nada, nunca se surpreende, nunca se assusta. Deus nunca imagina
como sendo algo nem busca informações nem faz perguntas (exceto
quando inquire os homens para o próprio bem deles).”

Berkhof define o conhecimento de Deus como sendo “aquela perfeição divina por meio
da qual Ele, em uma maneira completamente singular, conhece a Si mesmo e conhece
todas as coisas possíveis e reais em um ato simplíssimo e eterno”.
Wayne Grudem observando essa afirmação diz que “trata-se de um fato espantoso, pois o
Próprio Ser Divino é infinito e limitado”.
É lógico dizer que somente um Deus Infinito pode conhecer-se infinitamente. É o que
Paulo afirma em 1Co 2:10,11.
Achei muito interessante um comentário que encontrei numa antiga apostila de teontologia
(doutrina do Ser de Deus) do STPN, quando ele diz que o conhecimento de Deus tem vários
nomes dependendo do objeto conhecido. Com respeito aos fatos presentes, pode ser chamado
simples conhecimento ou visão. Com respeito ao passado pode ser chamado de memória.
Com relação ao futuro, pode ser chamado de presciência. (Gn 18:18; Jr 1:4,5; Dn 2:22; 1Pe
1:2).
Seria uma espécie de manifestação da onisciência de Deus no tempo humano. Essa é a forma
fácil de entendermos essa perfeição de Deus.

Então, o que é onisciência? É a qualidade do saber de Deus, do conhecimento que Deus


possui. Mas, qual é o conhecimento que Deus possui? Quando pensamos naquilo que Deus
conhece, nossa mente ignorante e limitada é tendente a pensar que o conhecimento que DEUS
possui é o nosso conhecimento de maneira maior, ampliada, superior. Nós igualamos o
conhecimento de Deus ao nosso com a diferença de que Ele tem mais conhecimento, só isso.
Outros chegam à loucura de pensar que futuramente o homem construirá supercomputadores
com inteligência tal que vai superar o homem e fazem da ciência o seu deus.
Mas o que vemos é que, mesmo que essa ciência humana traga algum benefício ao homem,
ela é derivada (Êx 35:31), é limitada, e não produz transformação na mente e no coração. (o
cientificismo já tentou emancipar o homem pelo conhecimento) Deus prova a fragilidade
e a limitação do conhecimento humano pela “loucura” do Evangelho (1Co 1:19-21). A ciência
humana produz informação, mas não produz transformação. A onisciência de Deus produz
informação e transformação.
O conhecimento que Deus possui é Total e Eterno. Escute esse comentário: “O
conhecimento de Deus não tem tamanho, é ilimitado, infinito. Ele conhece todas as coisas.
Ele conhece a Si mesmo de uma maneira perfeita, conhece a sua criação de uma maneira
perfeita e conhece todos os homens de uma maneira absolutamente perfeita. Com relação a
Si próprio, ninguém jamais poderá perscrutá-lo plenamente, mas Ele se conhece plenamente
e esse é um fato espantoso para a nossa mente finita e assustada. Mas, é bastante lógico que
só o Ser infinito como Deus pode conhecer-se em cada detalhe. Este fato para nós está acima
de qualquer concepção. Qual dentre nós se conhece pelo menos 10%? Conhecemo-nos muito
pouco, e o pouco que conhecemos é imperfeito, confuso e inexato. Mas com Deus não. Deus
sonda as profundezas do seu próprio coração perfeito. Conhece cada detalhe, cada
sentimento, cada motivação, cada propósito, do Seu próprio coração.”
Nosso conhecimento parte do zero e começa a crescer. O conhecimento de Deus é total desde
a eternidade, nunca aumentou, nem diminuiu.
Mas antes de irmos para os textos bíblicos, eu ainda quero colocar aqui que a onisciência de
Deus é Total, e quero ler mais uma parte da apostila:
Ter conhecimento total é, por exemplo, conhecer todas as pessoas que passaram por esse
planeta. Conhecer os seus nomes, os seus pensamentos, a quantidade de células do corpo de
cada uma delas, o número de dias que cada uma viveu, as inclinações, as afeições, os
sentimentos. Ter conhecimento total significa conhecer todos os seres angelicais, as hostes
celestiais, os querubins, serafins, as hostes malignas, suas intenções, propósitos, ações,
limitações. Ter conhecimento total significa conhecer animais, insetos, larvas, bactérias,
plantas, flores, árvores, que um dia existiram, existem e existirão sobre toda a face da terra.
Ter conhecimento total significa conhecer todos os planetas, galáxias, sóis, estrelas,
meteoros, como disse Davi: "Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu
nome" (Sl 147: 4). Deus conhece até as coisas que poderiam ter acontecido (Mt 11:21 alguém
leia este texto). Veja que este texto não é uma simples retórica de Cristo, é de fato, sua
onisciência de saber que aquelas cidades já teriam se arrependido.
O Heber Carlos de Campos traz algumas características desse conhecimento. Ele traz 7
características, mas vou ler apenas 4 delas:
1. o conhecimento de Deus é ABRANGENTE. Nada escapa do conhecimento de
Deus. Nós conhecemos um pouco de pouquíssimas coisas, mas Deus sabe e conhece
TUDO. Ele conhece a SI mesmo e a toda criação.
2. O conhecimento de Deus é EXAUSTIVO. Além de conhecer tudo, Deus tem um
conhecimento exaustivo deles. Tudo é transparente a Seus olhos (Sl 147:5);
3. O conhecimento de Deus é INFINITO. Exaustivo é diferente de infinito. Exaustivo
diz respeito às coisas que foram criadas, mas Ele conhece além da criação. O
conhecimento de Si mesmo, por exemplo, Ele é infinito e o conhecimento que Ele
tem a respeito dele mesmo também é infinito.
4. O conhecimento de Deus é ARQUÉTIPO. Em outras palavras, Deus conhece o
universo como ele sempre existiu em sua própria e eterna ideia antes que viesse a
existir na realidade do tempo e no espaço.
o Heber até traz uma ilustração: O conhecimento que um arquiteto tem do edifício que
vai construir é limitado, pois a ideia mais aperfeiçoada vem depois que o edifício é
concluído. Ele está sujeito a erros de cálculo e de projeção. Mas Deus tem um
conhecimento perfeito na sua eterna ideia. A criação do mundo é apenas a manifestação
histórica de sua ideia eterna.
PRA RELEMBRAR:
Quais os objetos do conhecimento de DEUS?
1. Ele mesmo. 2. O homem. 3. A criação. 4. A Eternidade
E quais as características da onisciência de DEUS?
1. É abrangente. 2. Exaustivo. 3. Infinito. 4. Arquétipo.

2. Escrituras. Deus conhece todas as suas obras desde o início (At 15: 18).

Esse é o texto que narra o concílio de Jerusalém. E esse é o parecer de Tiago acerca da
inclusão dos gentios no plano da salvação. Tiago está fazendo referência ao texto de Am
9:11,12. O que fica claro aqui, então, é que tudo o que estava acontecendo e o que ainda iria
acontecer estava dentro do conhecimento eterno de Deus. A inclusão dos gentios não é um
acidente de percurso.
Achei muito interessante um comentário de Agostinho que diz:
“Antes de citar o salmo 23, ele já está inteiro em nossa mente. Dizemos então a primeira
metade e sabemos que parte já foi falada e qual falta ser citada. Deus conhece a história
toda de uma vez só, simultaneamente, porque ele não está limitado pelo tempo e pela
sucessão de eventos, mas ele também sabe qual parte da história é passado hoje e qual é
futuro, porque o tempo para ele não é sem importância e irreal” (Confissões, XI.31)
Ele conta o número das estrelas e chama a todas pelo seu nome (SI 147: 4).

Alguns atribuem a autoria deste salmo ao profeta Zacarias. Portanto seria um salmo pós
exílico.
Eu trouxe um comentário de Calvino sobre esse texto.
Como o ajuntamento do povo sobre o qual o salmista falou parecia uma impossibilidade,
surge algum fundamento para a opinião dos que crêem que ele confirma esse ajuntamento
neste versículo. A conexão que atribuem às palavras do salmista é esta: como, no mínimo,
não é mais difícil reunir homens que se acham proscritos e dispersos do que contar as
estrelas, não havia razão por que os israelitas exilados e peregrinos deviam perder a
esperança de seu regresso, contanto que recorressem, em unanimidade, a Deus como sua
única cabeça. Há também alguma plausibilidade na conjectura de que o salmista estaria
aludindo a esta promessa: "Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe
disse: "Será assim a tua posteridade" [Gn 15.5]. Mas, como o salmista logo em seguida fala
sobre a ordem das coisas na natureza, a tradução mais simples, creio eu, é entender este
versículo com uma referência à admirável obra de Deus vista nos céus, onde contemplamos
a sua sabedoria ímpar, ao regular, sem qualquer grau de variação, os multiformes, complexos
e sinuosos percursos das estrelas. Para ensinar sobre essas obras, o salmista assinala a
função fixa e distinta delas; e, em toda a multidão delas, não há confusão. Por isso, ele
exclama: Grande é Deus e ilimitado tanto em poder como em entendimento. Disso
aprendemos que não pode haver maior estultícia do que o fazermos de nosso juízo o
instrumento para medir as obras de Deus, que manifesta nelas, como sempre o faz, seu
incompreensível poder e sabedoria.
A ideia aqui, então, é que a onisciência de Deus conhece as estrelas, então conhece cada
pessoa para juntá-las novamente.
O número exato de estrelas no universo é impossível de determinar com a tecnologia atual,
mas podemos fazer estimativas razoáveis.
A nossa galáxia, a via láctea, possui entre 200 e 400 bilhões de estrelas
Se considerarmos uma média de 100 bilhões de estrelas por galáxia, a ciência chega a 10
sextilhões de estrelas no universo observável.

Nosso Senhor demonstra sua onisciência quando declara o que poderia ter
acontecido em Tiro e Sidom (Mt 11:21).
É importante deixar claro que não é um conhecimento hipotético de Cristo, mas
um conhecimento de fato. Em Cristo temos a totalidade da plenitude da divindade
de Deus (Cl 2:9). significa que todas as características e atributos de Deus estão
presentes em Jesus Cristo. Veja Cl 2:3:
"em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”
Deus conhece tudo a respeito de nossas vidas mesmo antes do nosso nascimento
(SI 139:16).
O salmo 139 é o hino da onisciência e soberania de Deus.
O comentário da Bíblia de Genebra diz o seguinte: “O salmista alegra-se na
predestinação de Deus de todos os acontecimentos de sua vida, sabendo que cada bênção
que recebia era, por fim, uma dádiva da graça de Deus.” Em outras palavras, a história
de cada já está escrita. Porém, precisamos ter muito cuidado para não cairmos no
determinismo radical que tire a responsabilidade humana dos atos os homens (At
4:27,28). Outro versículo deste salmo que aponta a onisciência de Deus é o verso 2:
Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus
pensamentos. Em Cristo também enxergamos essa onisciência em Mt 9:4: “Jesus,
porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso
coração?”
Vamos às aplicações...
3. Aplicações.
a) Onisciência e segurança. Nada pode vir à luz na vida de um cristão que surpreenda
a Deus e faça com que Ele o expulse de sua presença. "Nenhum
informante pode nos denunciar, nenhum inimigo pode fazer uma acusação nova,
nenhum segredo oculto pode ser revelado para expor o nosso passado; nenhuma
fraqueza insuspeita de nosso caráter pode vir à luz para nos afastar de Deus, pois
Ele nos conhece completamente antes que nós O conhecêssemos e nos chamou
para Si com o conhecimento total de tudo o que depunha contra nós".
Sua onisciência não afeta os seus outros atributos. O Seu amor por exemplo. Deus é
o quem mais nos conhece e é o que mais nos ama.

b) Onisciência e sensibilidade. Todos os alertas feitos por Deus vêm de um Ser


onisciente, por isso deveríamos ser extremamente sensíveis a eles. Ele não nos
alerta apenas com base no que pensa que pode acontecer. Ele sabe. Lembremos do
alerta a Caim, por exemplo: ⁷ Se procederes bem, não é certo que serás aceito?
Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra
ti, mas a ti cumpre dominá-lo (Gn 4:7). E outros alertas, como ao próprio povo de
Israel, inúmeras vezes.

c) Onisciência e conforto. Quando enfrentamos as circunstâncias inexplicáveis da


vida, invariavelmente nos refugiamos e encontramos conforto na onisciência de
Deus. Ele não só conhece o que realmente aconteceu, mas também o que poderia
ter acontecido. Ele sempre sabe que o bem e a glória acabarão resultando dos
eventos que não conseguimos entender. Por isso não teremos tudo o que pedimos.
⁸ Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos
caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor,
⁹ porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus
caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais
altos do que os vossos pensamentos. (Is 55:8,9).
Jesus disse em Mt 6:31 que o Pai sabe de tudo o que necessitamos.

d) Onisciência e sobriedade (moderação, temperança, equilíbrio). A sobriedade


deveria caracterizar todas as pessoas quando entenderem que deverão apresentar-
se diante do Deus que sabe todas as coisas (Hb 4:13). ¹³ E não há criatura que não
seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas
e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.
É isso meus irmãos, Deus conhece todas as coisas plenamente. Cristo disse que até os
cabelos da vossa cabeça estão contados. Tem alguns que não precisa ser oniscientes pra
saber não.

II. SOBERANIA
⁷ Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço
todas estas coisas.
⁸ Destilai, ó céus, dessas alturas, e as nuvens chovam justiça; abra-se a terra
e produza a salvação, e juntamente com ela brote a justiça; eu, o Senhor, as
criei.
⁹ Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de
barro entre outros cacos. Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes?
Ou: A tua obra não tem alça.
Isaías 45:7-9

1. Significado. Soberano significa principal, chefe, supremo. Trata primeiramente


de posição (Deus é o Ser supremo do universo); depois, de poder (Deus é o poder
supremo do universo). As Escrituras revelam como Ele exerce esse poder. Como
soberano pode ser um ditador (o que Deus não é) ou alguém que poderia
abdicar do uso de seu poder (algo que Deus não fez). Deus exerce o poder total
sobre todas as coisas, mesmo que possa escolher deixar que certos eventos
ocorram de acordo com as leis naturais que Ele mesmo estabeleceu.
Então a lição colocam a soberania sob duas perspectivas:
• Fala da posição. Qual a posição de Deus no universo. Ele é o Ser
Supremo. A palavra geralmente subtendida por soberano é a palavra
hebraica “adon” que quer dizer “governante”, “mestre”, ou “dono”. Na
forma escrita exclusivamente para Deus é a variação dessa palavra que é
‫ אֲ ֹדנָי‬adonay, que quer dizer SENHOR dos senhores. No grego é a palavra
κύριος, que quer dizer: dono, controlador, soberano. Ou seja, em ambas
as línguas bíblicas, traz a ideia de dono, daquele que está acima de tudo e
de todos. Que pode tudo sem ser impedido ou questionado.
• Fala de poder. Nesse sentido, Deus é o poder supremo do universo. Nós
podemos inferir a partir desses conceitos que todos os governantes da terra
e todo poder exercido no universo é deriva de Deus. É o que Paulo nos diz
em Rm 13.1 (alguém leia).
Outro ponto interessante da lição é quando ele coloca os dois extremos que são
evitados na forma de como Deus exerce sua soberania.
• Deus não é um ditador. Um déspota, um tirano.
• Deus não é um anarquista. Um anarquista é alguém que defende o
anarquismo, uma filosofia política que busca a abolição de todas as formas
de governo e autoridade. Deus não renuncia à Sua Soberania. Ele governa
de tal modo que Ele não é um ditador, nem um democrata ou um
anarquista. Ele exerce seu poder de modo direto e por suas leis naturais.
E por que Deus, sendo Soberano não se torna um ditador? Porque todos os atributos
de Deus se regulam nele mesmo. A Soberania de Deus é regulada por Sua misericórdia,
Seu amor, Sua sabedoria, Sua graça etc. O Wayne Grudem diz Deus “poderia ter destruído
Israel e de Moisés levantado uma grande nação (Êx 32:10), mas não o fez.
O Grudem ainda coloca algo interessante:
Há, porém, algumas coisas que Deus não pode fazer. Deus não pode desejar nem
fazer nada que negue o seu caráter. É por isso que a definição da onipotência é lavrada
em termos da capacidade divina de fazer "tudo o que for da sua santa vontade". Deus
não é capaz de fazer absolutamente tudo, mas tudo o que é compatível com o seu caráter.
Por exemplo, Deus não pode mentir. Em Tito 1.2, ele é chamado (literalmente) "o Deus
que não pode mentir" ou "o Deus que nunca mente". O autor de Hebreus diz que no
juramento e na promessa" é impossível para Deus mentir" (Hb 6.18). Em 2Timóteo 2.13
afirma-se de Cristo que ele "de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo". Além disso,
afirma Tiago: "Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta" (Tg
1.13). Assim, Deus não pode mentir nem pecar nem se negar a si mesmo nem ser tentado
pelo mal. Não pode deixar de existir nem cessar de ser Deus nem agir de maneira
incompatível com nenhum dos seus atributos.
Isso significa que não é totalmente correto dizer que Deus pode fazer qualquer coisa.
Mas devemos entender as passagens bíblicas, dentro dos seus respectivos contextos, que
querem dizer que Deus pode fazer qualquer coisa que deseje fazer, ou qualquer coisa que
seja compatível com o Seu caráter.
Wayne Grudem diz: “que embora o poder de Deus seja infinito, o uso desse poder é
limitado pelos seus outros atributos (assim como todos os atributos de Deus delimitam
todas as suas ações). Eis aqui, portanto, outro caso em que haveria compreensão
equivocada se um dos atributos fosse isolado do caráter de Deus e enfatizado de maneira
desproporcional”
Como esse governo de Deus se dá na prática?
Alguns teólogos argumentam que o governo soberano de Deus se dá por meio da
preservação e cooperação.
Preservação. Deus conserva as propriedades daquilo que Ele criou, e faz isso
diretamente (Hb1:3)
Cooperação. Deus agem por meio dos processos naturais (Sl 148.8; Sl 104:27-29;
Mt 6:26; Pv 16:33). Isso é diferente do deísmo.
2. Escrituras. Deus tem um plano (At 15:18) abrangente (Ef 1:11), e tudo está sob
seu controle (SI 135: 6), inclusive o mal, ainda que o Senhor não se envolva com
ele (Pv 16:4), seu principal objetivo é o louvor de sua glória (Ef 1:14)

3. Aplicações. A soberania de Deus parece contradizer a liberdade ou a


responsabilidade que o homem possui. Mesmo que possa ter essa aparência, a
perfeição da soberania é claramente ensinada nas Escrituras.
A. W. Pink diz algo interessante: “Ressaltar a soberania de Deus, sem acentuar, ao
mesmo tempo, que a criatura é responsável, tende ao fatalismo; preocupar-se
tanto em manter a responsabilidade do homem, ao ponto de perder de vista a
soberania de Deus, é exaltar a criatura e rebaixar o Criador’
Então, não devemos negá-la apenas porque não conseguimos conciliá-la com a
liberdade e a responsabilidade que possuímos.
E mais, se Deus é soberano, como a criação pode estar tão repleta de coisas
malignas? O homem foi criado com genuína liberdade, mas o exercício dessa liberdade
em rebelião contra Deus introduziu o pecado na raça humana. Embora tenha sido Deus
quem estabeleceu o plano, Ele não esteve, de modo algum, envolvido na introdução do
mal, seja no caso de Satanás ou, posteriormente, no de Adão. Apesar de Deus odiar o
pecado, por motivos não revelados a nós, o pecado existe por permissão do Senhor.
De alguma maneira, o pecado deve fazer parte do plano eterno de Deus (caso
contrário, Deus não seria soberano), sendo que o Senhor não o criou (caso contrário, Ele
não seria santo).
Isso lembra aquele intenso debate teológico acadêmico do Supralapsarianismo e
Infralapsarianismo. (alguém um dia me perguntou no seminário se eu era infralapsariano
ou supralapsariano, eu respondi igual o professor Arthur Eduardo: eu sou é rubro negro).
INFRALAPSARIANISMO SUPRALAPSARIANISMO
Cria Elege alguns
Permite a queda Cria
Elege alguns Permite a queda
Providencia a salvação Providencia a salvação
Chamado dos eleitos à salvação Chamado dos eleitos à salvação

Soberania e liberdade formam uma antinomia, isto é, "uma contradição entre


dois princípios aparentemente válidos ou entre inferências corretamente deduzidas desses
princípios". “Antinomia” é o encontro de duas ou mais leis, que parece se contradizer. E
nesse caso as duas leis, ou os dois princípios que parecem se contradizerem e a soberania
de Deus e a responsabilidade humana. Uns chama de “livre arbítrio”, outros (os
reformados) chamam de “livre agência”.
Livre arbítrio é a capacidade de julgamento sem sofrer influência alguma. É
capacidade de escolher, moral e espiritualmente, perfeitamente boa e santa.
Livre agência é a capacidade de ações normais do dia a dia. É a liberdade que o
homem tem de agir segundo a sua natureza. Inclusive escolhas morais.
Então como conciliar essas duas realidades? (A responsabilidade humana e a
Soberania de Deus). Essa semana eu li um artigo no site monergismo que tinha o seguinte
título: “A Soberania do Homem e a Responsabilidade de Deus”. O pecado afetou o
homem até esse ponto de querer respostas que lhe satisfaçam. Os homens não estão
preocupados em resolver a tensão, mas colocar Deus dentro do seu entendimento
limitado. É isso que a teologia do processo faz, tenta responder a essas questões que
acabam anulando algum aspecto dos atributos de Deus.
Lutero, que era bem “carinhoso” com as palavras disse: “como se a Majestade,
que é o Criador de todas as coisas, tivesse de se curvar a uma das escórias de Sua
criação”. É isso, irmãos, Deus não se submete ao tribunal da justiça ou da razão humana.
Contudo, as antinomias na Bíblia são apenas contradições aparentes, não
definitivas. É possível, aceitar as verdades de uma antinomia e viver com elas, aceitando
pela fé o que não somos capazes de entender.
Ou, então, podemos harmonizar as contradições aparentes em uma antinomia,
mas isso acabará levando-nos a enfatizar demais uma verdade e a negligenciar ou até a
negar a outra. A soberania não deve anular a livre agência, e a livre agência não deve
enfraquecer a soberania.

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