Lei de Drogas (L 11.343/2006) alterada pela L 13.840/2019
Bibliografia utilizada: PDF Estratégia
1. A Lei de Drogas (LD) instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas (Sisnad), prescrevendo medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social dos usuários e tipificando alguns crimes específicos, relacionados sobretudo ao tráfico de drogas. 2. Drogas são definidas pela lei como substâncias que causam dependência, especificadas em lei ou em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo federal (a cargo, atualmente, da Anvisa). A LD, nos crimes que tipifica, possui leis penais em branco, cujo conteúdo é estabelecido por Portaria da Anvisa que arrola o que é considerado entorpecente/droga. 3. O uso, o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais dos quais possam ser extraídas e produzidas drogas é proibido do Brasil. Essa é a regra, que pode ser excepcionada por lei ou regulamento, ou quando plantas com propriedades psicotrópicas são utilizadas em rituais religiosos, como determina a Convenção de Viena, da qual o Brasil é signatário. A União pode ainda autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais mencionados acima, mas para uso exclusivamente medicinal e científico e por prazo predeterminado, mediante fiscalização. 4. O Sisnad tem o escopo de articular, integrar, organizar e coordenar atividades relacionadas a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários; a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. O Sisnad deve operar em articulação com os Sistemas de políticas públicas sobre drogras dos Estados, DF e municípios, com o SUS e com SUAS (Sistema Único de Assistência Social). 5. A LD (alterada pela L 13.840/19) estabelece um conjunto de competências da União no objeto por ela regulado. Entre essas competências está a coordenação do Sisnad; a formulação, coordenação e execução de uma política nacional sobre drogas; a integração das políticas sobre drogas com os outros entes políticos; a sistematização e divulgação de dados estatísticos sobre prevenção, tratamento, acolhimento e reinserção de usuários, bem como de repressão ao tráfico; adoção de medidas de repressão aos crimes transfronteiriços, etc. 6. Para alimentar as políticas sobre drogas com dados consistentes, a LD determina que as entidades de assistência social e de atendimento à saúde comuniquem ao respectivo sistema municipal de saúde os óbitos relacionados ao uso de drogas, preservando a identidade das pessoas. 7. A LD apresenta um duplo objetivo: de um lado ela está interessada em traçar políticas e diretrizes para prevenir o uso de drogas e oferecer atenção e reinserção na sociedade dos usuários dependentes dessas substâncias; de outro, ela busca meios de reprimir a produção não autorizada e o tráfico ilícito dessas substâncias. As atividades de prevenção visam reduzir os fatores de vulnerabilidade e risco e promover os fatores de proteção. As atividades de atenção visam os dependentes, buscando a melhoria da qualidade de vida e a redução dos riscos relacionados ao uso de drogas; as atividades de reinserção devem incluir dependentes e seus familiares. 8. Em seu art. 23ss, a LD (alterada substancialmente nesse ponto pela L 13.840/19, regula o tratamento do usuário ou dependente de drogas. Deve ser dado prioridade ao tratamento ambulatorial, incluindo excepcionalmente formas de internação em unidades de saúde e hospitais gerais com equipes multidisciplinares. Nos casos em que a internação é necessária, são considerados dois tipos de internção: a voluntária (com assentimento do dependente, e seu término se dá por determinação médica ou solicitação escrita do internado) e a involuntária, feita a pedido de familiar, responsável legal ou, na falta desses, de servidor público da área de saúde, assistência social ou órgãos públicos integrantes do Sisnad, com exceção de servidores da segurança pública. A internação involuntária deve perdurar apenas no período necessário à desintoxicação, com prazo máxima de 90 dias. Seu término se dá por alta médica ou a pedido do responsável pela solicitação de internação. A internação, em qualquer caso, só será recomendada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. Toda internação e alta devem ser comunicadas à Defensoria Pública e ao MP. A partir do art. 27, a LD trata dos crimes e das penas. 9. Art. 28 – “Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo”. A doutrina, diante desse artigo, chegou a cogitar que teria havido descriminalização do consumo pessoal de drogas, uma vez que a lei não determinou medida de privação de liberdade para o usuário. Ocorre que não aconteceu descriminalização – a conduta está tipificada – mas diminuição da carga punitiva. É o entendimento do STF. A objetividade jurídica do delito é a saúde pública. Inclui os verbos adquirir (comprar, obter) guardar, ter em depósito, transportar, trazer consigo. É um tipo misto alternativo e a prática de mais de uma conduta não implica concurso. Para que o crime seja o tipificado no art. 28, é necessário que os verbos acima estejam relacionados com o seguinte objetivo: o consumo pessoal, e para determinar se a droga encontrada destina-se a consumo pessoal, além da natureza e quantidade da substância apreendida, deve ser levado em conta o local e as condições da apreensão, as circunstâncias pessoais e sociais, bem como a conduta e os antecedentes do agente. O STJ e o STF não tem admitido o princípio da insignifância relativamente ao crime de posse de droga para consumo próprio, por se tratar, na interpretação dessas Cortes, de crime de perigo abstrato, contra a saúde pública. Sobre as penas: a) advertência sobre os efeitos da droga: aplicada pelo juiz, geralmente na audiência premilinar do JEC (onde tramita o crime de posse de droga para consumo próprio), após o MP propor transação consistente em advertência; b) prestação de serviços à comunidade: geralmente é um pena alternativa, mas nesse delito aparece como pena principal. Terá prazo de 5 meses, devendo ser gratuita e não ultrapassar a razão de uma hora por semana; c) comparecimento a programa ou curso educativo: duração máxima de 5 meses, também pode ser aplicada em audiência preliminar. Em caso de não cumprimento, a medida educativa pode ser substituída por multa ou admoestação verbal. As penas de 5 meses dos itens b e c podem ser aplicadas por 10 meses em caso de reincidência. Caso o agente se recuse a cumprir as penas acima arroladas, o juiz deve designar audiência onde admoestará o agente e, se for o caso, aplicará multa (mínimo quarenta, máximo cem-dias multa). “A conduta fumar...”, p. 302, Andreucci