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Por uma psicologia

retamente ordenada
Rafael de Abreu

Grande parte da psicologia atual está absorvida nos maiores vícios humanos e isso reflete
em seu modo de atuar. Estimular desordens, muitas vezes, é sua marca registrada, e,
consequentemente, faz com que pessoas que lutam para manter o mínimo de sanidade no
seu dia-dia, e/ou sintam a necessidade de buscar ajuda profissional, afastem-se desses
profissionais dos psicológicos em geral, com medo de terem suas vidas desordenadas
dentro dos consultórios. Uma coisa é certa: o homem precisa da psicologia. Mas precisa de
uma psicologia ordenada, de uma psicologia que esteja inserida na realidade e que o leve a
corresponder de modo objetivo diante da vida que se apresenta. Como diz a psicóloga
tomista e doutora em filosofia, Zelmira Seligmann, «aquele que chega ao psicólogo
procura respostas, procura ajuda naquilo que ele mesmo não consegue entender, porque
– no final – ele procura a verdade inevitável». O homem não quer uma psicologia
estimuladora de vícios, quer uma psicologia que estimule as virtudes.
Diante do interesse com o que se passa dentro dele mesmo e de como melhorar determinado
aspecto que tanto o incomoda pessoalmente quanto em relação com os outros, o homem
tem sede da verdade, daquela verdade que fará com que sua vida seja efetivamente livre e
não uma liberdade ideológica, que aprisiona atos e pensamentos. Por conta disso, uma
psicologia ordenada é o que ele precisa e a Psicologia Tomista possui um arcabouço teórico
e prático pronto para ordenar a vida do homem, para ordenar as nossas vidas. Não podemos
desistir da psicologia, pois «toda a Segunda Parte da Suma Teológica, dedicada a estudar
o homem como imagem de Deus, é um grande tratado de psicologia fundamental, não só
teórica, mas também prática», apresenta-nos o padre e psicólogo tomista, Ignacio
Andereggen, em seu excelente texto Tomás, o psicólogo.
Esta é a bússola que orienta a caminhada existencial do homem; quanto mais intacta se
preserve a ordem, mais ajudará o homem a relacionar-se consigo mesmo, com as demais
pessoas e com o mundo de maneira saudável, realística, de modo que o senso de proporções
seja preservado.
Somos seres dinâmicos e precisamos preservar esse dinamismo vital em nós. Alguém
psiquicamente saudável é alguém que consegue ser dinâmico, correspondendo
objetivamente e ordenadamente na realidade. E o inverso disso é quando uma pessoa é
vencida por uma emoção desordenada que o paralisa diante de uma realidade que pede
movimentação.
Conhecer-se é fundamental. Crescer é algo necessário. Sem as virtudes, a ordem e uma
dinâmica ordenada teremos avanços medíocres e conquistas vazias. Por isso, o homem não
deve desistir de procurar a psicoterapia, mas não qualquer psicoterapia; deve procurar uma
que o ajude a crescer e que não o amarre nos vícios.
O homem só conseguirá conhecer-se diante de um olhar ordenado para ele. Qual é o seu
olhar para si mesmo?
Buscam-se as virtudes ou, inevitavelmente, cai-se no abismo dos erros e vícios. Acredita-
se na realidade ou acredita-se em qualquer coisa. A hora de se ordenar é agora.
E, para o homem ser efetivamente bom, ele precisará necessariamente das virtudes:
prudência, justiça, fortaleza e temperança. Elas são virtudes principais (cardeais) e
contribuem para uma formação saudável do caráter; pois, negligenciando as virtudes, o
caráter humano é deformado pelos vícios. A virtude aqui é entendida como hábito
operativo bom e o vício, como hábito operativo ruim.
Diante desse contexto, manter-se equilibrado psiquicamente está relacionado com o
desenvolvimento das virtudes, que, longe de ser somente um adestramento humano, é uma
disposição interna.
Quanto mais o homem se desenvolve nas virtudes mais livre ele é, pois, como diz o próprio
Aquinate, «um ato de virtude não é mais que o bom uso do livre arbítrio». Desta forma, o
homem precisa de uma ordem interna que o oriente no seu mundo externo; e, diante disso,
o único caminho é preservar as potências superiores da sua alma: a Inteligência e a
Vontade.
Longe de ser governado por instâncias inconscientes da sua psiquê — que seria como ser
movido pelo que há de desordem dentro dele —, pois assim o homem acabaria trilhando
um caminho de alienamento de si mesmo, e «uma alma alienada de si mesma, logo a
desordem segue», ensina-nos Fulton Sheen. Assim sendo, o homem, afastado do caminho
de ordenamento, torna-se presa fácil do que há de desordem dentro dele, pois é o homem
— lembra de maneira brilhante Gustavo Corção — «extraordinariamente engenhoso na
arquitetura de sua infelicidade... o homem se encarrega frequentemente de inventar sua
desventura». Diante da certeza que fomos mal-educados em algum grau na vida, o homem
precisa da verdade da ordem para que retorne ao caminho de uma paz efetiva e longe das
máscaras que faz desenvolver uma hipocrisia existencial.
O homem ordenado tem no centro da sua personalidade a inteligência, pois é com ela que
se apreende a verdade das coisas e esta, informando à vontade, passa ele a desejar essas
verdades apreendidas, deslocando-o em direção ao bem. «O agir do homem depende da
vontade iluminada pelo intelecto que quer ver a verdade. O homem é um guia para si
mesmo — lembra-nos Zelmira Seligmann — pela inteligência que captura a realidade. É
por isso que vemos a importância do conhecimento da verdade, da qual surge a ação
moral. A importância de ser muito honesto na busca pela verdade; não viver enganando-
se, mentindo para si mesmo».
O homem precisa ser corajoso para ser efetivamente ordenado, algo tão caro numa
sociedade que quer que o homem somente realize seus desejos como um eterno bebê. Nessa
busca pelo prazer, onde se exclui a realidade, o homem caminha a passos largos para as
neuroses, porque vai, mais cedo ou mais tarde, rebelar-se contra a realidade simplesmente
pelo fato dela não ser como ele queria. A imperfeição que temos na realidade não deve
afastar o homem de buscar para sua própria vida um aperfeiçoamento para uma relação
pessoal e interpessoal.
Assim sendo, longe de buscar uma redefinição da humanidade — que só leva ao caos —,
a Psicologia Tomista busca preservar a ordem natural do homem em busca da verdade, da
ordem e da felicidade; porque, como nos lembra o maior psicólogo tomista da atualidade,
Martín Echavarría, «por natureza queremos, e não podemos deixar de querer, a
felicidade».

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