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FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS


Biologia e Saúde
Botânica Aplicada à Saúde

Plantas tóxicas

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Maputo, Outubro de 2018
Plantas tóxicas

Definição: espécies que produzem substâncias que exercem acção


tóxica sobre organismos vivos.

Hipóteses recentes sugerem que sejam metabólitos secundários –


usados na defesa de predadores

Ex: Glicosídeos cianogénicos: Mandioca brava


Proteína Ricina – Rícino;
Alcalóide estricnina – na Massala.

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Toxicidade (1/4)
Nos vegetais
A margem de certeza de toxicidade é limitada por vários factores entre
eles o indivíduo e seus mecanismos de defesa.
Deste modo, uma planta pode ser tóxica contudo num determinado
individuo não intoxicar – conclusões erradas.

A toxicidade - verificada maioritariamente com base em experiências


em animais - não reflecte por vezes a toxicidade nos humanos ou relatos
acidentais de intoxicação.

Dificuldade em determinar o grau de toxicidade devido a:


• Relatos/ quantidades e/ou parte da planta ingeridas
• Sem identificação científica
• Variação da presença da substância com a estação do ano ou condições
ambientais ou presentes apenas em algumas variedades ou cultivares.

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Toxicidade (2/4)

O termo tóxico vem do grego toxicon que quer dizer flecha envenenada

• Além dos princípios activos, existem substâncias na maioria inactivas, em


parte coadjuvantes às propriedades curativas dos princípios activos, porém
que podem produzir efeitos colaterais indesejáveis.

• Estes componentes químicos podem ter um efeito brando ou forte. Se o efeito


é forte ao ponto de provocar danos no organismo → Substâncias tóxicas.

• No caso das plantas usadas para fins medicinais - devem ser submetidas a
ensaios de toxicidade aguda, sub-aguda e crónica.

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Toxicidade (3/4)

Toxicidade: capacidade de uma substância química produzir lesões, sejam elas


físicas, químicas, genéticas ou neuropsíquicas, com repercussões
comportamentais.

a) Toxicidade aguda - produzida por uma única dose, oral, dermal ou pela
inalação dos vapores. Os sintomas aparecem nas primeiras 24 horas após a
exposição às substâncias. Avalia-se com ensaios a curto prazo.
b) Toxicidade sub-aguda ou sub-crónica - avalia-se com ensaios a médio prazo
(30-90 dias).
c) Toxicidade crónica - resulta da exposição contínua a um defensivo, sendo que
este não causa toxicidade aguda por apresentar-se em baixas concentrações.
Os sintomas surgem após as primeiras 24 horas, semanas ou meses após a
exposição as substâncias. Avalia-se com ensaios a longo prazo (cerca de 3
anos).

Estes ensaios têm a finalidade de avaliar a capacidade em produzir alterações


no organismo. Efeitos teratogénicos (fetos), carcinogénicos (cancro),
mutagénicos (mutações).

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Toxicidade (4/4)

Em remédios/medicamentos

O efeito terapêutico ou tóxico depende muita das vezes da dose


administrada (dosagem)

Dosagem Diária Aceitável (DDA) - quantidade máxima de composto


que, ingerida diariamente, durante toda a vida, parece não oferecer
risco apreciável à saúde.

Margem terapêutica: estabelece a dose a administrar


(informação constante da bula)

Dose terapêutica (acção eficaz) – Dose tóxica (que provoca manifestações nocivas)
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Toxicologia
É a ciência que estuda as intoxicações, as causas, os sintomas, e
consequências bem como os antídotos e seus métodos de
análise.

Pode dividir-se em:

• Toxicologia clínica - Estuda os sintomas e sinais clínicos, visando


diagnosticar envenenamentos e orientar terapia.

• Toxicologia profilática - Estuda a poluição da água, terra, ar e


alimentos, procurando manter e aumentar a segurança para a
vida e saúde humana.

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Toxicologia
• Toxicologia industrial - estuda as enfermidades industriais e a
insalubridade do ambiente de trabalho.

• Toxicologia analítica - análise dos produtos tóxicos visando


determinar sua toxicidade, sua concentração tóxica,
metabolismo, etc.

• Toxicologia forense - estuda os aspectos médico-legais


procurando esclarecer a “causa-mortis” em intoxicações,
visando o esclarecimento da causa das intoxicações.

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Plantas Tóxicas
Exemplos

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Nerium oleander
Família Apocynaceae

Origem indefinida

Muito tóxica. Glicosídeos cardíacos (Oleandrina e


neriina - em todas partes da planta) - forçam a
contração do musculo cardíaco.
• Planta introduzida pelos portugueses.

• Afecta o sistema gastrointestinal (diarréias,


vómito, dor); coração (taxa de batimento
irregular: primeiro acelera e depois reduz o
batimento) e SNC (tremores musculares,
vertigens e coma).

Efeitos rápidos.
Medidas para reduzir a absorção das toxinas:
lavagem estomacal e indução do vómito.
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Dieffenbachia spp
Família Araceae

Origem: México, sul de Argentina

• Ao mastigar uma folha provoca-se a ejeção dos


cristais em agulha de oxalato de cálcio (ráfides).
Esses cristais penetram na mucosa da boca,
faringe, laringe.
• Alguma substância na solução que banha os
ráfides desencadeia um intenso processo alérgico
(edema e excessiva salivação-baba)

• Tratamento com analgésico, antihistamínicos e


carvão medicinal.

Fig. Ráfides no interior de um vacúolo


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Dieffenbachia spp

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Abrus precatorius
Família Fabaceae
Origem: Índia

• É causa de muitos acidentes de


intoxicação, principalmente entre norte-
americanos, por causa da atractividade
causada pelas sementes.

• A toxina é uma proteína chamada abrina.

Sintomas da intoxicação: náuseas, vómitos,


diarréia severa, fraqueza, suor frio e tremor
das mãos, além de um quadro de edema
pulmonar e hipertensão.

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Ricinus communis
Família Euphorbiaceae
Origem: Mediterrâneo, África
Ocidental, Índia

• São comuns acidentes de intoxicação.


As vítimas mais frequentes são
atraídas pelas vistosas sementes.
• A toxina chama-se ricina (8 sementes
– morte adulto) e alcalóides (ricinina-
convulsões).
• Sintomas 2 a 3 h depois: diarréia com
sangue, purgação, sensação de
queimadura na boca e estômago, dor
do estômago, desidratação, redução
da urina, etc.
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Manihot esculenta Crantz
Família Euphorbiaceae
Origem: América do Sul, Central e México

Glicosídeos cianogénicos

Sintomas: distúrbios grastrointestinais (náuseas,


vomitos, cólicas e diarréias) sonolência a coma, entre
outros. Casos agudos pode resultar em morte.

Medidas de tratamento para intoxicação por cianetos


(ver Simões et al., 2001, pág 784).

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Strychnos spp
Família Loganiaceae Strychnos nux-vomica L.
Origem: Índia
Alcalóide estricnina presente no género Strychnos normalmente quando a
semente é mastigada e triturada.

Sintomas:
• Convulsões violentas em todos os grupos de músculos quase continuas, que
pioram com o menor dos estímulos , aumento da pressão sanguínea
• Náusea e vómitos
• Espasmos dos músculos faciais, dilatação das pupilas
• Perda de consciência
• Morte devido a asfixia e/ou exaustão, causada pelos espasmos musculares.

Tratamento
• Carvão activado para adsorver a droga no trato digestivo
• Lavagem estomacal.

Redução das convulsões com medicamentos anti-convulsivos (ex: diazepam) e


outros que provocam relaxamento dos músculos para reduzir a rigidez 16
muscular característica.
Nicotiana tabacum
Família: Solanaceae
Origem: América

Alcalóides: nicotina e anabasina (principalmente nas folhas).


O consumo de tabaco causa mais de 5 milhões de mortes por ano.
Dose letal da nicotina: 50 mg/kg.

Sintomas de Intoxicação por nicotina


Intoxicação aguda: tonturas; náuseas; vómitos; transpiração; palidez;
respiração irregular; convulsões; tremor; diarréia.

Intoxicação crónica: conjuntivite; doenças cardiovasculares (arritmia,


bradicardia, crise hipertensiva, espasmo dos vasos); distúrbios do S.
digestivo (hipersecreção de ácido gástrico, aumento da salivação, dor
epigástrica); sintomas neurológicos (distúrbio da fala, tonturas,
tremores, perda de consciência, neurose); perda de peso; doença
pulmonar obstrutiva crónica.

Tratamento:
Laxantes, carvão activado, fármacos para amenizar os sintomas (ex.
atropina, 2 mg e 5 mg de fentolamina)
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Thevetia peruviana
Família: Apocynaceae
Origem: América tropical
Glicosídeos cardíacos (Tevetina A e B) – em toda planta,
principalmente os frutos e sementes.

Dose letal: 5 a 10 sementes, entre 5 a 8 sementes para


as crianças e entre 8 a 10 sementes para adultos.

Sintomas: entorpecimento, queimação da boca,


náuseas, vómitos, dor abdominal e diarréia; sonolência,
coma, convulsões ocasionais e arritmias cardíacas. A
morte é devido a fibrilação ventricular.

Tratamento: medicamentos antieméticos,


antiespasmódicos e adsorventes intestinais; monitoria
através de eletrocardiograma.

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Datura stramonium
Família: Solanaceae

Origem: América Central, México.

Hiosciamina (folhas, raízes, sementes), hiposcina (raízes);


atropina. Agem como antagonistas competitivos da
acetilcolina nos receptores muscarínicos periféricos e
centrais.

Sintomas: midríase; cicloplegia; pele corada, quente e


seca; boca seca; íleo; retenção urinária; taquicardia;
hiper ou hipotensão; delírio com alucinações;
movimentos mioclónicos; coreoestesia; hipertermia;
coma; parada respiratória; convulsões raras; e
estimulação central seguida de depressão.

Tratamento: de acordo com a sintomatologia:


diazepam, haloperidol e outros fármacos.

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Outras espécies tóxicas
comuns em Moçambique
Família Araceae
• Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng.
(jarros ou copos de leite) (1) (2)
• Philodendron bipinnatifidum Schott
• Monstera deliciosa Liebm (costela de Adão)

Família Euphorbiaceae (3)


• Aleurites fordii Hemsley
• Euphorbia pulcherrima Willd. ex Klotzch
• Jatropha curcas L.
(4) (5)
Plantas usadas na ornamentação (jardins, vasos,
estradas, vedação entre outros)
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(6)
Bibliografia
• Simões, C.M.O. et al (2001). Farmacognósia: da
planta ao medicamento. 3ª Ed.rev. Porto Alegre/
Florianópolis: Ed. Universidade/UFRGS/Ed.da UFSC

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Resultados da Pesquisa de glicosídeos cianogénicos em plantas (2017)
Turma de Botânica aplicada

Passiflora Macadamia Trichilia Jatropha Malus Thevetia Nerium Manihot


edulis integrifolia emetica curcas domestica peruviana oleander esculenta
Folhas Folhas Folhas Folhas Sementes Sementes Sementes Raiz

Cor Medida
Amarelo (sem mudança de cor) Inócuo
Laranja brilhante Inócuo
Laranja Inócuo
Vermelho tijolo/ vermelho Moderadamente
alaranjado Tóxica
Vermelho acastanhado Tóxica
Vermelho acastanhado escuro Muito tóxica
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