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INTRODUÇÃO

Ninguém dá o devido valor à água. A importância da água em operações de utilidades e também na vida é
fundamental. Neste Capítulo vamos revisar as propriedades físicas e químicas dessa incrível substância.

Além disso, discutiremos o ciclo da água na Terra e como a água é reciclada entre a terra, o mar e a atmosfera.
Veremos as propriedades sem igual da água, que a tornam fundamental nos sistemas de resfriamento e aquecimento
de uma planta. Também examinaremos alguns problemas associados com o uso da água como agente de geração de
vapor, resfriamento e uso industrial geral.

Há também vários tópicos especiais ligados à água que devem ser discutidos neste Capítulo; eles preparam o terreno
para muitos dos capítulos subsequentes. Tais tópicos incluem o pH, a condutividade, a dureza e a alcalinidade.

A ÁGUA NA TERRA

Antes de estudarmos como a água é utilizada nos sistemas de resfriamento em suas instalações, devemos colocá-la
num contexto mais amplo. Na Terra, a água é um dos mais importantes participantes do drama de nosso planeta. A
peça se chama cicio hidrológico e é apresentada na Figura 1-1. A palavra hidrológica vem de duas palavras gregas
que significam "estudo da água". Três quartos da superfície do nosso planeta são totalmente cobertos pela água. A
maior parte é água salgada, mas há extensas reservas de água doce, especialmente na América do Norte, nos
Grandes Lagos. A Civilização surgiu e floresceu ao longo dos rios, porque os mesmos forneciam um suprimento de
água doce, assim como meios de transporte.

Como líquido, uma das propriedades da água é a sua capacidade de evaporar, mudando do estado líquido para
vapor. A forma gasosa da água é "vapor da água" ou vapor. O vapor é um gás incolor, inodoro, invisível a olho nu.
Nós falamos casualmente sobre o "vapor' proveniente de uma chaleira de água fervendo, mas a nuvem visível
esbranquiçada é formada, na realidade, por gotículas minúsculas e dispersas de água líquida que se condensaram do
vapor. O vapor é o gás invisível junto ao bico da chaleira.

A água evapora-se das superfícies das lagoas, dos lagos e rios. Como você pode imaginar, a água também se
evapora da superfície dos oceanos no mundo. Talvez você não saiba, mas o vapor da água também é produzido pelo
metabolismo da vegetação. Cada planta e árvore solta vapor de água, juntamente com o oxigênio vital, através dos
minúsculos orifícios de suas folhas.

O vapor da água sobe para a atmosfera. Na medida em que a temperatura do ar cai, parte do vapor de água se
condensa a líquido, produzindo as nuvens. Esse efeito é o mesmo discutido na questão das chaleiras de água
fervendo. Se a temperatura cair abruptamente, a água se junta em gotículas maiores que caem como chuva ou neve,
voltando para a terra. Isso completa um dos circuitos terra/ar do cicio hidrológico (circuito A da Figura 1-1).

Uma vez no chão, a água pode ter dois destinos principais. Se o solo não for muito poroso (por exemplo, contendo
muita argila ou granito), a água corre pelo solo e se junta às lagoas e riachos, eventualmente formando rios. Esse
suprimento de água doce é denominado água superficial e é uma fonte d'água essencial para a indústria e a
civilização. O destino final, ao longo desse trajeto, é o mar. Se o solo for poroso (por exemplo, contendo grandes
quantidades de areia), a água é drenada pelo solo. Isso é chamado de percolação, conforme demonstrado na Figura
1-1. A água que segue esse caminho se junta às correntes subterrâneas ou se acumula nas rochas porosas,
notadamente nas rochas calcárias. Essa água é coletivamente denominada de água subterrânea e é uma importante
fonte de água doce para a indústria e para a vida doméstica. Quando se perfura um poço de água, chega-se à água
subterrânea. As formações rochosas que contêm água são chamadas de aqüíferos, uma palavra vinda do Latim que
significa "que contém água". Isso completa o circuito da água subterrânea do ciclo hidrológico (circuito B da
Figura 1-1).

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Portanto, por que um operador de torre de resfriamento precisa saber tudo isso?

A ÁGUA COMO SOLVENTE UNIVERSAL

É importante conhecer a origem da água a ser utilizada para cada aplicação específica de resfriamento. A razão
disso é que a água é o solvente universal. Isso significa que a maior parte das substâncias da Terra é, em maior ou
menor escala, solúvel em água. O tipo e a quantidade de impurezas da água determinam que tipo de tratamento de
resfriamento será necessário, se o programa será fácil ou difícil de ser controlado, e o que você, como operador,
precisa fazer para manter a boa operação do programa. O tipo e a quantidade de impurezas da água podem ser
determinadas de acordo com a sua fonte.

Vamos discutir os exemplos acima. A água do mar é muito difícil de ser usada num sistema de resfriamento e nunca
recomendada para um sistema de geração de vapor. Ela contém um nível muito elevado de minerais dissolvidos,
incluindo o sal comum, de onde ela recebe o nome de "água salgada". Esses sais são muito corrosivos para a
maioria dos metais menos caros que podemos querer utilizar nos sistemas de resfriamento. Isso quer dizer que
precisaremos usar ligas metálicas muito caras e especiais, resistentes à corrosão da água do mar, a fim de
utilizarmos a água marinha para resfriamento. É realmente uma pena. Existe água marinha em abundância. Seria
ideal para aplicações de resfriamento porque a maioria dessa água é fria, mesmo em climas tropicais.

Há outros problemas com a água do mar. Às vezes, o conteúdo mineral da água marinha forma cristais de
incrustação nos trocadores de calor. Os depósitos incrustantes são formados pela precipitação e pelo crescimento de
cristal numa superfície em contato com a água. Eles se acumulam e interferem na operação dos trocadores de calor.
Além disso, as diversas criaturas que vivem no mar, às vezes, interferem nas operações das plantas.

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RESFRIAMENTO COM ÁGUA DOCE

Por essas razões, preferimos utilizar a água doce nos sistemas de resfriamento e também no s geradores de vapor.
Ela nos permite usar metais menos caros, de certa forma reduz a formação de incrustações e possui uma população
biológica mais definida que conseguimos controlar.

Se queremos utilizar a água superficial para resfriamento, devemos checar a história da água superficial. Essa água
passou sobre áreas que contêm minerais perigosos? Se a água passou sobre uma área mineral, ela tende a dissolver
alguns desses minerais (lembre-se que a água é um solvente universal). Assim, devemos analisar a água e
programar o tratamento do sistema de resfriamento, com base nos resultados dessa análise. A mesma relação é
válida para sistemas de geração de vapor, sendo que para este caso, as restrições relacionadas a qualidade de água
(conteúdo de sais) são ainda mais restritas.

Ao contrário da água do mar, a composição da água superficial muda constantemente. A análise da água pode
mudar se houver uma tempestade corrente acima. Conquanto a água da chuva seja geralmente pura, com freqüência
lança muito material indesejável nos lagos e nos rios. Você já percebeu como o rio fica lamacento depois de uma
grande tempestade? A água superficial também muda durante o ano, conforme a quantidade de chuvas de estação
para estação. Às vezes, há uma grande mudança na química da água superficial durante a primavera, quando a
neve está derretendo. Durante os períodos de pouca chuva, a concentração da linha de sal de um rio pode subir,
causando problemas para aqueles que esperam água doce. A química da água superficial pode também se alterar no
decorrer de vários anos. Algumas regiões do mundo tendem a ter secas periódicas que podem provocar problemas
locais significativos.

Uma outra fonte muito importante de água doce é a água subterrânea. Essa água também contém minerais
dissolvidos que podem provocar incrustação. Porém, há duas grandes vantagens em usar a água subterrânea nos
sistemas de resfriamento: ela causa poucos problemas biológicos e a química da água subterrânea é relativamente
constante. Pode não ser a química ideal, com todos os minerais, mas é relativamente constante através do tempo e
nos permite operar os sistemas de resfriamento com distúrbios mínimos.

Está se tornando cada vez mais difícil obter água subterrânea. Isso requer bombeamento, às vezes de níveis
profundos. Os aquíferos, em algumas regiões do mundo, estão sendo usados mais rapidamente do que o tempo
necessário para a reposição da água, de acordo com o cicio hidrológico. Na medida em que o aqüífero vai se
esgotando, a mesa d'água (essencialmente o topo do aqüífero) baixa. Quando isso acontece, as pessoas precisam
perfurar poços cada vez mais profundos, que fazem a mesa d'água cair ainda mais. Você pode ver o problema.

ÁGUA RECICLADA

Agora podemos entender que existem limites na natureza. Há apenas uma quantidade limitada de água doce
disponível para nós. Por essas razões, a indústria tornou-se muito mais consciente do meio ambiente do que era no
passado. Ao invés de desperdiçar água, nós a recuperamos e a usamos novamente na planta, sempre que possível. A
indústria já está "reciclando" muita água, antecipando-se a futuros problemas de escassez.

Nós planejamos limitar a "descarga" ou efluente de um sistema de resfriamento para otimizar o uso da água. Isso
pode provocar alguns problemas químicos, conforme você poderá verificar num dos próximos capítulos referente ao
tratamento de sistemas de resfriamento. Em sistemas de geração de vapor, buscamos cada vez mais reduzir as
descargas e principalmente aproveitar o condensado gerado após o uso do vapor. Da mesma forma, a descarga de
uma torre de resfriamento ou caldeira não é mero desperdício, pode haver um outro usuário na planta, ainda que a
mesma não seja mais útil para o resfriamento.

Da mesma forma, às vezes procuramos outras fontes de água de reposição para usar numa torre de resfriamento. A
noção completa de reciclagem de água tem recebido ênfase cada vez maior, à medida que as empresas se tornam
mais eficientes e responsáveis em relação ao meio ambiente.

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Você também tem o seu papel. Prestando atenção especial aos testes químicos, alimentação química e parâmetros de
operação dos sistemas, você poderá minimizar o desperdício dos sistemas, otimizar a produtividade de sua planta e
manter os trocadores de calor principais operando sem problemas.

A ÁGUA PARA RESFRIAMENTO / AQUECIMENTO

O que a água tem de tão especial? Por que usamos a água como agente de resfriamento ou aquecimento? Você sabe
que o sistema de resfriamento de seu carro usa água e que a sua casa pode ter um sistema de aquecimento com água
quente.

Além de estar sempre à disposição, a água é usada para resfriamento e aquecimento porque tem uma propriedade
especial. Isso pode parecer estranho, mas a água pode reter bastante calor. Uma determinada quantidade de água
pode absorver uma grande quantidade de energia calorífica comparada a outros líquidos. Isso significa que a água é
um agente de resfriamento e aquecimento efetivo em termos de custo. Pode absorver bastante calor e nós não
precisamos de muita coisa para fazer o resfriamento ou o aquecimento de que necessitamos comparado a outros
líquidos.

A água em forma de vapor é um poderoso agente de aquecimento, também por uma outra propriedade única: ela
tem um ponto de ebulição relativamente alto comparado a outros líquidos. A água em forma de vapor tem energia
tremenda por quilograma. Que bom se pudéssemos ter um suprimento infinito de água pura!

A ÁGUA E SUAS IMPUREZAS

Infelizmente, em vista da água ser um solvente universal, temos de levar em consideração uma variedade de coisas
que podem estar presentes numa determinada água. Nesta seção discutiremos os minerais, os gases e outros
contaminantes dissolvidos.

Na verdade, é positivo que a maioria das águas naturais contenham alguns minerais dissolvidos. Água doce
superficial e de poço tem o gosto agradável graças a esses minerais. Se você for provar uma água absolutamente
"pura", vai ficar espantado com o seu gosto insípido e sem graça. Muita gente gosta de tomar água mineral
justamente porque ela não é uma água "pura".

Em aplicações industriais, a presença de uma pequena quantidade de minerais dissolvidos realmente torna a água
menos corrosiva para muitos metais, ao contrário do que se fosse perfeitamente pura. Tal como o veneno, porém, é
uma questão de graduação. Se a concentração de mineral for muito elevada, alguns dos sais podem produzir
incrustação nos trocadores de calor.

Uma lista de várias impurezas da água pode ser encontrada na Tabela 1-1. O restante desta seção concentra-se em
algumas impurezas importantes.

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SOLUÇÕES COMPARADAS A SUSPENSÕES

Algumas das impurezas da água são solúveis e algumas estão suspensas. As impurezas solúveis incluem gases,
hidrocarbonetos e minerais. Os contaminantes suspensos incluem partículas de lodo, terra, óxidos de metal
(ferrugem) e mesmo algas e bactérias.
Simplificando: Impurezas SOLÚVEIS produzem soluções LÍMPIDAS. Impurezas SUSPENSAS produzem soluções
TURVAS.
Uma solução pode ter cor, mas você, sem sombra de dúvida, enxerga através dela. Às vezes, as soluções de ferro
têm uma cor vermelha, mas enquanto o ferro estiver presente como um material solúvel, a solução continua
límpida.

Vamos examinar a química. Dissemos que as soluções geralmente consistem de minerais dissolvidos. Os minerais
são compostos de átomos. Os átomos que formam os minerais vêm com uma carga positiva ou uma carga negativa,
com os átomos dispostos numa estrutura rigorosa. A carga geral de um mineral é zero, porque as cargas positivas
equilibram exatamente as cargas negativas. Quando um mineral se dissolve na água, o átomos ou grupos de átomos
são "liberados" da estrutura do mineral tornando-se íons dissolvidos, “nadando livremente", todavia conservam a
sua carga. Os íons positivos são chamados cátions. Os íons negativos são ânions.

O cloreto de sódio, sal de cozinha, é um bom exemplo de sal solúvel. Conforme demonstrado na Figura 1-2, o
mineral contém átomos de sódio, cada um com uma carga +1, alternados com átomos de cloreto, cada um com
carga -1. Todos os átomos estão contidos numa estrutura tridimensional. Quando o sal se dissolve na água, sua
estrutura atômica se rompe. É isso que a palavra dissolver realmente significa. Entretanto, os átomos de sódio
conservam sua carga positiva e tornam-se íons de sódio ou cátions. Os átomos de cloreto conservam sua carga

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negativa e tornam-se íons de cloreto ou ânions. Obtemos a quantidade de material iônico presente numa solução
medindo-se a quantidade de eletricidade que os íons podem "transportar". Esse teste é chamado de condutividade e
as unidades do teste são "µmhos", lê-se micromhos [microSiemens]*. Um outro termo é sólidos totais dissolvidos
(STD), que expressa o conteúdo mineral total dissolvido na água.

Quando as suspensões são formadas, a estrutura básica do material não é fragmentada em pedaços do tamanho de
um átomo. Uma rocha, por exemplo, pode ser partida em pedaços minúsculos, mas as peças são bilhões e bilhões de
vezes maiores que os átomos. As suspensões também podem ter uma diversidade de cores, dependendo da cor das
partículas que formam a suspensão. Continuando o exemplo do ferro, se o ferro precipita-se e forma partículas
sólidas de óxido de ferro, a água é turva e tem uma coloração vermelha. O principal a lembrar é que, sendo uma
suspensão, é definitivamente turva. O termo técnico para o fato de ser turvo é turbidez, medida por um
turbidímetro.

Um bom exemplo disso é o sal e a pimenta na sopa. O sal se dissolve na sopa para formar íons e produz uma
solução de sal. A pimenta não é solúvel; pedacinhos dela permanecem intactos e flutuam, produzindo uma
suspensão de pimenta na sopa.

Dureza

A maior parte dos minerais presentes na água são solúveis, até que usemos a água numa aplicação industrial, tal
como o aquecimento ou resfriamento. Alguns minerais, tais como o cloreto de sódio, permanecem bem solúveis e
não são classificados como formadores de incrustação. Naturalmente, mesmo as soluções de cloreto de sódio
formam cristais se toda a água for removida. Porém, em circunstâncias normais, não é um problema.

Os sais de cálcio e magnésio (Ca e Mg) são um problema. Eles estão presentes na maior parte das águas
subterrâneas porque os aquíferos são freqüentemente constituídos de calcário, uma mistura de carbonatos de
magnésio e cálcio. A água dissolve o calcário lentamente e incorpora os sais de magnésio e cálcio como minerais
dissolvidos, formando soluções límpidas.

Infelizmente, os sais de magnésio e cálcio não são muito solúveis, especialmente se a água for aquecida ou a
concentração de minerais for aumentada. Eles se tornam insolúveis, um processo que chamamos de precipitação.
(Precipitação é também usada para descrever a formação de chuva ou neve - sem dúvida você já ouviu esse termo
nas previsões de tempo).

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A precipitação de cálcio e magnésio está fortemente ligada à temperatura. O processo de precipitação geralmente
ocorre nos trocadores de calor, onde a água fresca está sendo aquecida como parte do processo de resfriamento. Os
cristais incrustantes produzidos pelo cálcio e magnésio são fisicamente muito duros; consequentemente, chamamos
o teor de cálcio e magnésio na água de dureza. Exemplos de incrustação de cálcio e magnésio são mostrados na
Figura 1-3. A remoção ou redução da dureza da água por um processo chamado de abrandamento, produz água
abrandada, água esta extremamente importante em sistemas de geração de vapor.

É muito importante monitorar a quantidade de dureza na água de reposição de um sistema de resfriamento e na


água de recirculação. Isso determina até que ponto a água pode ser aquecida sem formar cristais incrustantes e
indica o quanto os minerais podem ser concentrados, antes de serem removidos do sistema pela descarga.

pH

Para entender o pH, temos que dar um pequeno passeio através da química. Primeiro, mesmo a água absolutamente
pura apresenta vestígios de ácido e de base, conforme mostrado na parte de cima da Figura 1-4. Ácido significa que
a água contém íons H+ base significa que a água contém íons OH-. Se você somar H+ a OH-, obtém H2O, água. Se a
concentração de H+ for igual à concentração de OH-, dizemos que a água é neutra, nem ácida nem básica.

Alguns produtos químicos podem mudar o equilíbrio ácido base da água. Há ácidos leves, como o ácido acético
(vinagre), que produz uma leve concentração de ácido (H+) na água. Muitas pessoas acham esse gosto agradável,
como tempero para salada, embora seja acre e "azedo". Um outro material comum, levemente ácido, é a água
carbonatada, também conhecida como soda. Novamente, o gosto acre ou azedo que muitas pessoas apreciam.

Há também ácidos fortes, tais como os ácidos sulfúrico e clorídrico. Esses produzem uma altíssima concentração de
ácido (elevados níveis de H+) e não são usados em alimentos. Naturalmente possuem muitas aplicações industriais.

Quanto ao lado básico, existem componentes que produzem um excesso de OH- em relação a H+. A soda cáustica é
hidróxido de sódio, NaOH. Quando ela se dissolve na água, libera muitos íons OH - e torna a água bastante básica.
Uma outra palavra para básica é alcalina.

Precisamos de um método para medir e expressar a concentração relativa de H + e OH-, de modo que possamos saber
se a água é ácida ou básica. O método deve ser quantitativo para que possamos expressar o nível de acidez ou
basicidade de forma numérica e usá-lo para fazer cálculos. O termo para essa medida é pH. É a medida de
concentração de H+ na água. Ela pode ir de muitos porcentos até abaixo de 0.00000000000001 gramas/litros, com
todos os valores possíveis no meio.

Os cientistas desenvolveram um método para expressar números muito grandes e muito pequenos. Ao invés de
contar os dígitos diretamente, contamos o número de lugares que devemos mover o ponto decimal para chegar a 1.
Se a concentração de H+ for 0.001, devemos mover três lugares decimais para chegar a 1, portanto o pH é 3. Se a
concentração de H+ for 0.00001, devemos mover cinco lugares decimais, portanto o pH é 5. No ponto neutro da
água, onde o ácido e a base são iguais, a concentração de H+ é 0.0000001.

Portanto, o pH de uma solução neutra de água é +7. Lembre-se que o pH pode ser ligeiramente afetado pela
temperatura. Por isso, sempre ajuste o seu medidor de pH para compensar a temperatura da amostra.

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Existem duas coisas fundamentais que você deve lembrar sobre o pH:

1. Como expressa potências de dez (lugares decimais), quando o pH muda em 1 unidade, a concentração real
de H+ muda em dez. Quando o pH muda em 2 unidades, a concentração real de ácido muda em cem. Isso é
chamado de escala logarítmica.

2. O pH funciona ao contrário. À medida que a concentração de H, diminui, o valor decimal é menor, com
mais zeros na frente do 1. Mais zeros causam um valor numérico mais alto de pH. Em outras palavras,
quando o pH sobe, a concentração real do ácido baixa. Quando o pH baixa, a concentração real de H+
sobe.

O pH é uma medida fundamental para controlar a química de qualquer sistema que utiliza água, tanto sistemas de
clarificação, resfriamento, geração de vapor como também os sistemas de efluentes. Todos os problemas mais
importantes do sistema de resfriamento - corrosão, formação de incrustação, crescimento microbiológico - estão
ligados de uma forma ou de outra ao pH. Felizmente temos métodos bem convenientes de medir o pH, os medidores
de pH. Alguns lêem o pH num mostrador tipo relógio, outros dão uma leitura digital. (Muitas das confusões
associadas ao pH provavelmente vêm do fato de o mostrador de um medidor de pH mostrar os valores de pH em
espaços regulares de 0 a 14. Isso implica que o pH é linear, significando que o valor de 2 é o dobro do que o valor
de 1 seria. Cada número no mostrador representa dez vezes a concentração seguinte).

O mais importante de tudo isso é o que você faz com os valores de pH. Você como operador de Utilidades,
certamente saberá como avaliar e corrigir os valores de pH.

ALCALINIDADE

A última impureza sobre a qual vamos falar é a alcalinidade. A alcalinidade surge da interação da água líquida
com o gás de dióxido de carbono (CO 2). O CO2 dissolve-se na água, reagindo com ela e formando um ácido bem
suave, o ácido carbônico. As relações são mostradas na Figura 1-5. O ácido carbônico, na verdade, é o que dá o
agradável gosto acre à soda. O ácido carbônico, no tratamento da água, pode ser tudo, menos agradável.
Examinemos as reações adicionais que podem ocorrer.

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Depois de se formar o ácido carbônico, se fôssemos elevar o pH adicionando soda cáustica ou algum outro agente
alcalino, o ácido carbônico se converteria em íon bicarbonato, HCO 3-. A conversão completa-se quando o pH atinge
8.3. O bicarbonato freqüentemente aparece em águas subterrâneas e superficiais como resultado de uma
solubilização lenta do calcário pela água.

Há ainda outra reação: se o pH continua a subir (lembre-se, isso significa MENOS H +), o H no íon bicarbonato
desaparece. Isso deixa o íon carbonato, CO3-2. Essa reação não é completada até que o pH esteja bem alto, acima de
10 ou 11.

O problema tanto com os íons carbonato quanto bicarbonato é que eles são formadores potenciais de incrustação
nos sistemas de resfriamento e geração de vapor. Eles juntam-se ao cálcio para formar incrustação muito dura (a
origem do termo dureza, você lembra).

O bicarbonato e o carbonato são medidos coletivamente na água, geralmente por titulação com ácido. Os resultados
são relatados como alcalinidade total. As unidades são ppm [mg/L] como carbonato de cálcio. [Uma outra unidade
métrica freqüentemente utilizada é equivalentes por metro cúbico, epm, que é igual a miliequivalentes/L].

RESUMO

Neste capítulo você recebeu a introdução básica à química da água. Agora conhece as várias fontes de água e como
elas se ligam no sistema de reciclagem, no contexto geral do planeta. Embora o elevado ponto de ebulição da água e
sua capacidade de absorver o calor façam dela o agente de resfriamento ideal, existem alguns problemas nos
sistemas de resfriamento industriais e comerciais. Os sistemas de resfriamento têm tendência à corrosão, formação
de incrustação e possível crescimento de materiais biológicos indesejáveis. Discutiremos cada um desses problemas
potenciais em detalhes nos capítulos subseqüentes deste manual.

Você tem também um bom entendimento dos aspectos mais importantes da química da água: impurezas solúveis,
partículas suspensas ou turbidez, dureza, pH e alcalinidade.

Essas considerações fundamentais voltarão a surgir em vários pontos das discussões sobre o tratamento do sistema
de resfriamento, por isso estamos dedicando tanto tempo a elas no início deste curso de treinamento.

LEITURA COMPLEMENTAR

MAIS SOBRE pH

Conforme mencionado no texto, a extensão do valor do íon ácido H + na água é bastante amplo. Pode variar de
valores percentuais em soluções ácidas muito fortes até cair para 0.00000000000001 gramas/litro. É incômodo

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digitar todos esses zeros, por isso os químicos e outros cientistas usam um método para expressar tanto os números
bem pequenos como os números muito grandes. O método é chamado de notação "científica". Vejamos primeiro os
números grandes.

Ao invés de escrever 1.000 ou 1.000.000, o método científico conta os zeros. Fazemos isso, determinando quantas
vezes 1 é multiplicado por dez para se chegar ao número. Chamamos o multiplicador de logaritmo, normalmente
abreviado por “log.”. Eis um exemplo, subindo na escala:

10 = 1 x 10
Multiplicar 1 por dez Valor do log. é 1

100 = 1 x 10 x 10
Multiplicar 1 por dez duas vezes Valor do log. é 2

1000 = 1 x 10 x 10 x 10
Multiplicar 1 por dez três vezes Valor do log. é 3

Isso funciona também para números abaixo de zero, que são aqueles sobre os quais queremos falar na química da
água. No caso de números menores que zero, determinamos quantas vezes precisamos multiplicar por um décimo
para chegarmos ao número desejado, e os valores do log. resultantes são negativos. Por exemplo:

0,1 = 1 x 1/10
Multiplicar 1 por um décimo Valor do log. é -1

0,01 = 1 x 1/10 x 1/10


Multiplicar 1 por um décimo duas vezes Valor do log. é -2

0,001 = 1 x 1/10 x 1/10 x 1/10


Multiplicar 1 por um décimo três vezes Valor do log. é -3

A maior vantagem desse sistema é que você pode expressar números muito grandes ou muito pequenos num espaço
razoável. E semelhante a escrever $1 milhão ao invés de $1.000.000.

Voltando à química da água, vejamos a água neutra acima mencionada. A água é neutra quando a concentração de
H+ é igual à concentração de OH-. Nesse ponto, a concentração de H+ em unidades químicas padronizadas é de
0,0000001 gramas/litros.

Usando a notação científica, escrevemos assim:

0,0000001 = 10-7. O valor do log. é -7

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Podemos simplificar mais, trocando todos os números negativos por números positivos.

- 7 torna-se + 7

Assim, o pH de uma água neutra é +7. O "p" significa "potência de dez", conforme demonstrado nos exemplos
acima. A rigor, a potência de dez do H+ numa água neutra é -7. Para facilitar, nós trocamos os valores negativos por
valores positivos. A Figura 1-4 contém uma tabela sumarizando o pH.

MAIS SOBRE PPM [MG/L]

Se você observar as unidades numa análise de água, verá que alguns dos valores são listados em ppm [mg/L].
Todavia, os valores de alcalinidade e dureza na análise são geralmente expressos como "ppm [mg/L] como
carbonato de cálcio". A razão dessa mudança de unidades encontra suas raízes na história do tratamento da água.

O cal vem sendo usado há mais de cem anos para abrandar a água. Ela abranda a água em parte pela precipitação
da dureza como lodo de carbonato de cálcio. Os primeiros químicos da água expressavam a dureza como
equivalentes de “carbonato de cálcio”, usando ppm [mg/L] como carbonato de cálcio. Essa prática continua até
hoje.

O uso de ppm [mg/L] como carbonato de cálcio permite cálculos envolvendo dureza e alcalinidade. Misturar ppm
[mg/L] de um certo composto com ppm [mg/L] como carbonato de cálcio não funciona se você quer fazer cálculos;
é como misturar laranjas com maçãs. Converter os vários minerais de ppm [mg/L] para ppm [mg/L] como
carbonato de cálcio coloca todos os valores numa base de "maçãs e maçãs". Além disso, o carbonato de cálcio é um
padrão muito conveniente para se usar em química da água, seu peso atômico é exatamente 100 unidades de massa
atômica.

Aqui vai um exemplo. Suponha que a água tenha a seguinte análise:

Cálcio: 132 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio


Magnésio: 30 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio
Sódio: 40 ppm [mg/L] como sódio

Qual a resposta para a questão: qual a concentração total de cátions na água? Os valores de cálcio e magnésio não
podem ser somados ao valor do sódio porque as unidades de concentração são diferentes. A prática comum na
química da água é a conversão de todos os termos da análise em ppm [mg/L] como carbonato de cálcio. 40 ppm
[mg/L] de sódio eqüivalem a 88 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio. Agora os valores podem ser somados:

Cálcio 132 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio


Magnésio 30 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio
Sódio 88 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio
Total Cátions 250 ppm [mg/L] como carbonato de cálcio

Processo similar é utilizado para determinar o teor de ânion. A alcalinidade, um ânion, já é medida em ppm [mg/L]
como carbonato de cálcio. Os outros ânions como cloreto, sílica, sulfato etc., precisam ser convertidos antes de se
determinar o conteúdo total de ânions.

Você não precisa se preocupar com as diferentes unidades usadas nos testes de química da água. As instruções que
você vai seguir no teste, como parte do programa de monitoração dos sistemas de utilidades (ETA, resfriamento,
caldeira, ETE) dará automaticamente as unidades corretas para registrar.

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