Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Clínica Freudiana - Isidoro Vegh PDF
A Clínica Freudiana - Isidoro Vegh PDF
CLÍNICA
FREUDIANA
I<5IDOQO
VEGH
•
escuta
Equipe de realização
A CLÍNICA FREUDIANA
Traducãó de
'
Carolina Marieln Tarrío
© by Isidoro Vegh
© by Editor:t Escuta para a cdiçlo em l1ngua ponupcaa
Vegh, lsidoro.
A clln.ica freudiana/ lsidoro Vegh; tradução
Carolina Mariela Tanio. --São Paulo: Editora Escuta,
1989.
Bibliografia.
ISBN 85.7137.022.2
CDD-150.1952
- 150.195
-157.9
89.2227 -616.8917
PRÓLOGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A CLÍNICA FREUDIANA: SEMINÁRIO . . . . . . . . . . 13
A clínica freudiana: uma aposta perdida . . . . . . . . . . 15
Clfnica freudiana: as perguntas do pequeno Hans . . . . 31
Perversões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Ao analista por seu desejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
A clínica freudiana, função do escrito . . . . . . . . . . . . 71
O homem da areia . . . . . . . ; . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Janeiro de 1984
A CLÍNICA fREUDIANA:
$EMINÁQIO
A ClÍNICA fREUDIANA:
UMA AP00TA PERDIDA*
UMA APOSTA
...é fácil ver que observando este método estamoo seguros de conven-
cer, já que es1ando todoo os tennoo entendidos e perfeitamente livres
de equ!vocos pelas defiruçõcs e estando os princfpíoo de acordo entre
si, se na demousll<IÇão subsúru.i-se sempre menlalmen~ o dcfwido pe-
las defiruç6es, a Corça ínvencfvel das conseq~ias não pode deixar
de ter IOdo seu efeito,6
... PERDIDA
O JOOO DO OUTRO
O fato de que um analista fonnule a regra fundamental da
análise instaura a possibilidade do lugar do Outro, qualquer
que seja a teoria à qual adira.
Continuemos com esta pequena história. O sujeito diz:
"bom, o primeiro que me ocorre, mas é ridfculo, é decompor
aliquis em a e liquis". Ridículo, várias veres diz isto, e Freud
lhe diz. que não se preocupe com isso, que continue falando e
diz. aquilo que vocês já sabem: "Reliquien-liquefação-lfqui-
dos-flu!do" - em alemão é Reliquem-L iquidation-Flussigkeit-
Fluid - a ttadução de L6pez BaUesteros é bastante boa.
E af aparece uma pergunta. O sujeito diz: "Bom, já desco-
briu alguma coisa?" e freud responde: " Não, mas prossiga".
Dizer " Não, mas prossiga" tampouco 6 banal, é o modo como
o analista se situa, suspendendo todo saber desde um lugar,
que não é senão lugar estrutural, para que a análise alcance sua
eficácia. Suspende identificar-se ao saber suposto. Freud diz
"Não, prossiga".
S - - - - - - - - Sq
ainda wna criança, segundo a crença que diz que os judeus pa-
ra a Páscoa coshunam matar os cristãos, ou algum cristão para
usar seu sangue para suas cerimônias".
Freud faz um breve comentário: "Como o senhor vê, isto
já tem alguma relação com o teiXUl de que falávamos antes". O
sujeito prossegue e se lembra de outro santo, Santo Agostinho,
e de algo que Santo Agostinho e screveu sobre as mulheres.
Também de um escóto de KJeinpaul que fala das vítimas dos
judeus que seriam reencarnações do Redentor: conta que viu
em sua viagem um velho - lembrem-se que Freud fala deste
senhor como de um jovem - um velho original, com cara de
ave de rapina. Ele fala de um velho original e Freud escuta,
dado que antes ~tavam Simão de Trento e Santo Agostinho,
Orígenes, um dos padres da Igreja. O que faz com que ali onde
o sujeito diz um velho original, a escuta do analista proponha
Orígenes? Que o inconsciente é um discurso que em meio ao
seu dizer produz sua escrita e que esta oão é senão uma escrita
hieroglffica.
Tomemos um exemplo que ·dá Ezra Pound no ABC de la
kcture 1• em antigos caracteres chineses,
15. Sa.t:ouan, M., "E! trabajo dei sucúo", Cuade17103 Sigmund Freud ~ 8,
Buenos Aires, 1981.
Sa!ouan, M., L'inconscient et son S(;1'ÜJc, Pa.ris, Seuil, 1982.
16. Lacan, J., Encere, Pa.ris, Seui.l, 1975, p. 104.
A CLÍNICA fR EUDIANA: SEMINÁRIO 25
CONVICÇÃO DO OUTRO
EX-POSIÇÃO DO ANALISTA
18. Lacan, J., "Du traitement possible de la psychose", tcrits, Paris, Seuil,
1966,p.557.
28 A CLÍNICA FREUDIANA
ex
------------~_____
aliquis
?______
aliquis
O QUE RESTA-A-CONCLUIR
DE FREUD, O DESEJO
DE HANS, AS PERGUNTAS
PRlMEIRAS PERGUNTAS
OUTRA PERGUNTA
SIMBOLISMO, CASTRAÇÃO
castração, desde o lugar que Freud costuma dizer que ela· che-
ga: a mãe disse a Hans quando tinha tiês anos e meio que se
continuasse tocando na coisinha o Dr. A. a cortaria. Serve para
situar a posição subjetiva na qual o pequeno Hans acaba, de>-
pois deste movimento que decide a estrutura que o constitui.
Em Hans a ameaça da castração foi introduzida, e o fato de
que a mãe se refira ao Dr. A. nos permite inferir algo também
de sua estrutura: trata-se de uma estrutura neurótica.
PECADO DE S ABER
O ENIGMA E AS IGNORÂNCIAS
~ = cp
LIBERDADE E ANGÚSTIA
O SEXO DO OUTRO
(sua filha)
Lcdi
~ ~ Softilodi
(cocheiro)
Loisl
Lizzí Saffaladi
(salsicha)
Mizzi
8. Jonea, E., Vida y obra de Sigmund Freud, Buenos Attes, Nova. 1960, To·
mo 11, p. 276. -
• Arroz con lecM : canção infantil, muito popular na ArgentiDa. A canção
d iz assim;
·'Arroz con loche, me quiero casar
con una senorita de San Nicolás
que sepa coscr, que sepa bordar, que sepa abrir la pucrta,
A CLíNICA FREUDIANA: SEMINÁRIO 45
Joãoililho pequeno
pequeno Joãozinho foi sozinho
ao amplo mundo
bengala e chapéu
fue caem bem
está com bom ânimo
mas a mãe chora tanto
já não tem um J oãozinbo
então reflete o menino
e volta para casa rapidamente."'
para ir ajugar.
Cou esta sf, coo esta no, con esta seoorita me caso yo."
on em português:
"Amn doce, quero me casar
com uma senhorita de São Nicolau
quesa.íba costurar, que saiba bordar, que saiba abrir a porta,
para ir brincar.
Com esta sim, com esta oão, com esta senhorita eu me caso."
Brinca-se em roda, com uma criança no meio, que ao fio.al da canção, esco-
lhe, apontando com o dedo, com quem ''vaí se casar" (outra criança da roda), que
ocupa então o lugar da que saiu do centro.
• Htinschenlckínl Ging alleín!ln die weile Welt hineinl St«k wtd Hurl Stehl
ihm gutl lst gar wohlgerrwtl Doch die mutter weínt so sehrl Hal ja num~ Hiins-
CMn mehrl Da besinntl Sich das Kind/ Kehrt tUJch Ha..s geschwindt.
PIRVt'll<9,Õt:0*
Não, eu diria que rejeito a ajuda mb:lica somenle por espírito de con -
t
lradição. Não espero que entendam isto, mas ~assim. claro que oão
posso explicar quem estou tentando enganar desta maneira. Tenho
plena consciência de que não~ possfvel prejudicar os médicos impe-
dindo que me curem. Sei muito bem que o prejudicado sou eu e mais
ninguém. Mas de q ualquer maneira, só por maldade me nego a IICeitar
sua ajuda. Dói o meu ffgado? Magnífico! Que ool}tínue doendo!
que empiricamente e não pode ser válido do mesmo modo para todos
os entes rac1onais, pode servir de mhima para o sujeito que a possui,
mas não de lei para esta ...
7. F~ud, S., ••El porvenír de una UusicSn", O.C., Bw:D06 Ain:s, Amorrortu,
1979, Tomo XXI.
54 A CLíNICA FREUDIANA
listas, que nos oferecemos para que o sujeito temúne wna aná-
• J.ise disposto à criação e ao gozo, é difícil que aJgwn governo,
seja qual for, ofereça wna medalha. Trata-se do im1til;
Um parágrafo depois:
!:<. Laca11, J., " L' Etourdil", Scilicet, n~ 4 , Paris, S~uil , 1973.
* No original "cl nene no me come" que conota um duplo :;entido que se
perde em português. (N, da T,)
A CLÍNICA FREUDIANA: SEMINÁRIO 57
Quem foi o primeiro que disse que o homem faz coisas feias s6
porque não sabe quais são seus verdadeiros intel'CISCS? Que se alguém
o esclarecesse nesse sentido deixaria imediatamente de agir como um
porco e se tomaria nobre e bondooo? Ao se ver esclarecido, e ao per·
ceber no que consiste seu verdadeiro interesse, se daria conta de que
este tem seu centro na ação virtuosa. Oh, quanta inocência! Desde
quando , nestes dltimos milênios, agiu o homem exclusivamente por
seu próprio interesse?...
Um homem - diz páginas depois -sempre e em todos lugares
prefere agir como bem entende e não como lhes dizem a razão e seus
interesses, pois é muito provável que sinta desejos de agir contta seus
interesses e, em alguns casos, digo que deseja positivamente agir dcisa
maneir.t. Mas essa é minha ophúão pessoal, de maneira que a livre e
ilimitada escolha de cada um, o capricho individual, mesmo que seja o
mais louco, produto de uma fantasia levada às vezes ao frenesi, e&<>a é a
vantagem mais vantajosa. que não pode ser incorporada a nenhuma ta-
bela ou escala e que transforma em pcS, ao simples contato, todos os
sistemas e todas as teorias...
9. MaJJliOoi, O., Ckfs pour fimaginaire ou [ autre scene, Paris, Seuil, 1969,
58 A CUNICA FREUDIANA
10. Freud, S., "Tres ensayoe de la teoda leltual", O.C., Buenoe A.il:a,
Amorrortu, 1978, Tomo VII.
A CLÍNICA f'RIW DIANA: SEMI~ÁRIO 59
12. Frnud, S., " f. I yo y el ello", "E I problemn ccon6mioo dcl masoquismo",
O.C., tluenos Aires, Amorrortu, 1979, Tomo XIX.
A CLfNICA FREUDIANA: SEMINÁRIO til
13. San Pablo, "1-;p{stola a los ronlUJlos", Sagrada Hn>üo, Mniliiu, Cut.ólica ,
1969.
62 A CLfN!CA FREUDIANA
14. Fceud, S., "la cabez:a de Medusa;;, O.C., Madrid, Biblioteca Nueva,
1968, Tomo lU.
63 ~
A CLíNICA FREIJDIANA: SEMINÁRIO
I .S. Freud, S., "Hútdria de llDil neurosis i.n.fantil", O.C., Madrid, Biblioteca
Nueva, 1948, Tomo li.
ó4 1\ CLÍJ\<lCA FREUD IANA
cês. Vamos! Pensem oisto mais uma vez.. Mas se hoje oem sequer sa-
bemos onde est.4 a verdadeira vida, o q ue ~ e nem mesmo como se
chama. Se ficamos sem li~ratura nos· arrapalhamos e nos sentimos
perdidos. Não sabemos aquenos unir, o que tolerar, o que amar, o que
odiar, o que respeitar, o que desprezar. A~ mesmo nos parece incô-
modo .sennos homens, homens de verdade, de carne e sangue, com
nosso próprio corpo. Temos vergonha dele e ansiamos por nos trans -
formar em algo hipotttico denominado " O homem comum". NaliCe-
mos mortos e durante muito tempo fonos pos10s no mundo por pais
que por sua vez eslão mortos. E gostamos demais disso. Senúmos ver-
dadeiro prazer, por assim dizer. Logo inventaremos uma maneira de
sermos totalmente engendrados pelas idéias. Mas, basta! Já me cansei
de escrever estas memórias do submundo.
E culmina:
e acrescenta:
14. San Jwm de La Cruz, Urica, Bttell08 Aires, ~pclasz. 1975, p. 60.
lS. I...aam,. J., Op. cil., p. 70.
16. A.111.Dlburu, J.; Coeentino, J, C.; Vegh, I,. " Don a~lrc... el saber y cl se·
xo", Notas de lo E~lo Ff'f!UditJM 111, Buenos Aiml, 1977, p. 9.
17. Idem. Op. dt.
A CLÍNICA fREUDIANA: SEMINÁR IO 77
18. Lacan, J., "D'un di.scoun qui oe sermtpasdu scmblant'', Au~ do dia 10
de março de 1971.
19. Vegh, 1., "Interpretar, transmitir, traduzir", capítulo de8te livro.
O HOMEM DA AQt:JA*
REENCONTRO
O HOMEM...
A AREIA, AS BRASAS
4. Freud, S.; ••Lo Sinicstro.., O.C., Buenos Aira, Amonortu, 1979, Tomo
XVII. (Nesta edição o título 6 ''Lo ominoso,.).
S. Hoffmann, E. T. A., El hcmb~ de la arena, Buenos Aima, Noé, 1976,
* Puig, Manuel; escritor argentino, autor do livro Boquilils pintadas, que faz
uma crítica à classe média argentina, através de várias cartas que uma personagem
manda oucra. J:. autor de outros livroo como: O beijo do mulher aranhil, T M BueTI().f
AiresaffaireK.. (N. da T.)
A CLfNJCA FREUDIANA: SEMINÁRIO 83 .
E logo acrescenta:
Algo espantoso penetro11 na minha vida.
Por que areia? Por que a areia a ponto de dar o nome a es-
se homem?
Desde então, o protagonista sofreu intensos terrores, até
que, premido por sua curiosidade, decide um dia ficar no gabi-
nete de seu pai no momento em que chega o homem da areia.
Quando iam domúr, todas as noites escutavam-se os pas-
sos de alguém que vinha reunir-se com seu pai. O sujeito es-
conde-se no gabinete do pai e descobre que o tal homerp da
areia não é senão um personagem que ele já conhece, suma-
A CLfNICA FREUDIANA: SEMINÁRIO 85
O que mais nos chocava nele, criançaa, eram suas grossas mãos
peludas e ossudas e quando as punha sobre um objeto qualquer, to!N-
VIUIIO$ muito cuidado para não locá-lo em aeguida. Ele havia notado
esta repugnância e era pan ele um prazer tocar oe puteizinhos c aa
frutas que nossa mãe nos punha oo prato.
SeU$ dedcc calram entio tão pesadamente sobn: mim qliC rodas as
articulações de meus membros estalaram. Girou mi.nhas mãos, depois
meus pé$, para lá e pam cL
DOIS TRIÂNGULOS
Fig,l
A BORBOLETA
O OBJETO
CORTINAS
O REAL E O SINISTRO
brem uma torre, têm a idéia de subir e desde lá, o sujeito põe a
mão no seu bolso automaticamente, poderíamos dizer, ao modo
da pulsão, descobre a luneta, olha através dela e descobre na
multidão Coppola-Coppelius. Nesse momento volta a te.r um
acesso delirante, quer jogar sua namorada, lhe diz:
"Linda bonequinha, dança, dança."
Quer atirá-Ia, o irmão desta a salva e o sujeito dá voltas na
torre; alguém diz que teriam de resgatá-lo e Coppola-Coppelius
de baixo ironiza:
..Não é necessário, já descerá sozinho."
E, efetivamente, desce, mas não pela escada, atira-se e assim
morre.
É o olhar e o sinistro. O sinistro- diz Freud- não pode
ser situado senão num lugar do relato: os olhos separados, des-
prendidos, ensanguentados, aos ~s do protagonista. Trata-se -
dizemos nós - do olhar. Mas o olhar, quando este se articula
de um certo modo. Quem é Coppelíus? É um advogado, impli-
cação da lei; é também Coppola, wn ótico; outros dois signifi-
cantes foram oferecidos a Freud pela mulher de Rank, estão em
lalangue12: Coppello que quer dizer crisol, coppo, que quer
dizer cavidade orbital. Digo Coppelius, na medida em que não
é quem mediatiza a lei, mas quem a propõe; põe a mão na co-
mida. protbe e goza; oferece a luneta e o sujeito flca preso no
lugar do olhar: Coppelius não é senão quem representa emble·
maticamente o Supereu obsceno e feroz, o Supereu que diz:
goza. O olhar delineado por esta cadeia significante é wn pon-
to, um ponto lwninoso, que não se define como na axiomática
euclidiana, éarente de dimensão. Para que um ponto se recorte,
Lacan propõe o nó borromeano. Onde dois contínuos se inter-
seccíonam com um terceiro é possível' situar no espaço a di-
mensão do ponto. Não há objeto a se não se articula o real, o
simbólico e o imaginário.
12. Lacan, J., t:ncore. Paris, Seuil, 1975, p. 126. "'Lalanguc' serve para
qualquer outra coisa que não a wmunicação. e_ o que a e!l periência do inconsciente
nos mostrou, na meúida em que ele estã feito de ' lalangue' , e~Ul. l alangue que, v~s
~abem , escrevo em uma s6 palavra paro designar o que é o affuire de cada um de
nós, ' lalangue' ch:.mada materna. c nllo à toa a:;s im tli!Jl.."
94 A CLíNICA FREUDIANA
QUANDO A MORlE
SE A PARTIDA É UM ATO
CONVITE
NO DIZER FREUDIANO
MáuroDELACAN
REITERAÇÃO DE FREUD
··. 8. Robert, M., IYEdipe a Moísu. Freud et kt con.science juive, Paris, Cal-
man·Levy, 1974.
9. Freud, S.," AMlisis Wminable e intenninable", O.C., Madrid, Biblioteca
Nueva, 1948, Tomo ID.
10. Cantor, •Fondaments d'UDe théoric gm6rale des ensembles" in Calliers
pourf~.n~lO,Paris, SewU, l 966.
A CLfNJCA FREUDIANA E A PSICANÁLISE DEPOIS DE FREUD 109
... não fui capaz de apagar as mareas da origem wn tanto insdlita que
este trabalho teve.
Na realidade, foi escrito duas vezes. A primeira há alguns anos,
em Viena, quando nem sequer pensava na possibílídade de publi·
cá-lo. Decidi não prosseguir, mas a tarefa nio concluída me IOrtura-
va como uma alma penada... 12
11. Fn:ud, S., "Aoilisis de llD caso de IICIIn)Sjs obacaiva", O.C., Madrid, Bi-
blioteca Nueva, 1948, Tomo ll.
12. Fn:ud, S., "Moisés y la religidn mono~ta", O.C,, Madrid, Biblioteca
Nueva, 1948, Tomo lll.
110 A CLÍNICA FREUDIANA
Setembro de 1979
PSICANÁLISt: f PSICANÁLISE*
que sua letra inaugura, sem por isto sofrer menos a exclusão
que esta lhe inflige.
Freud sabia sorrir perante os que acreditavam na bondade
humana. Tampouco avalizava oenhwna f'tlosoíaa do pessi-
mismo. Seu dualismo conseqüente não o fazia $lbrigar wna
esperança sem obstáculos no porvir da humanidade - lem-
brem-se de "O mal-estar na cultura"1 - nem na história futura
da psicanálise.
Freud, em vida, praticoQ o exercfcio deste painel: várias
vezes teve que sustentar sua palavra para apontar onde era
proposta wna opção que desdizia a disciplina que ele propug-
nay,Jl • . Digo: teve que s ustentar sua palavra; não foi mera
questão de gosto pela pol~mica - várias vezes reiterou sua
aversão ao confronto pdblico - mas resposta desde a ética
que está oos próprios fundamentos da psicanálise: sua relação
com a yecdade.
Numa carta que respondeu a Einstein não reconheceu
outro valor que tomasse digna de admiração qualquer teoria.
Convido-os, pois, a me acompanharem na ficção que lhes
proponho, por um tempo que os ponteiros do relógio não me-
dem: estamos sentados na frente de cinco cadeiras - número
ideaJ para wn pôquer - que aguardam cmco pessoas que irão
falar - irão jogar- para nós: Adler, Jung, Rank, Jones (até a
porta será acompanhado por suas mulheres) e Freud.
O primeiro 6 Adler e joga sua carta: segundo Freud, de
fato, a neurose resultaria do desenvolvimento de instintos
perversos e de seu '' frncassado recalque" ao Inconsciente; e
nesses dois fatores reside, na sua opinião, o primun movens
do psiquismo neurótico. De nossa exposição desprender-se-á,
no entanto, que a perversão, .na medida em que se manisfesta
na neurose e na psicose, é o produto não de um instinto mas
de um objetivo_ fmal fictício, e que o recalque é apenac; um
resultado secundário , detenninado pela pressão do. sentimento
de comunidade. Mas o aspecto biológico de uma atitude se-
6. Rank, O., El trawno del nac:imielllo, Buenos Aires, Paid6s, 1972, p. 14.
7. Vp. ciJ., p. 33.
A CLÍNICA f'REUDlA NA E A PSICAt-:ÁLISF. I>EI'OJS DE l'REL'D 115
por elas. No f1m das contas, seria uma prQva contra os difa-
madores mostrar que Freud aceitava que cada um jogasse à
sua maneira.
Assim, pois, arriscou sua cartada: - ... pois me parece ve~
rossfmil que a fase fática nas meninas normais s6 seja uma
forma atenuada da identificação com o pênis do pai que
existe nas mulheres homossexuais e, como tal, de uma natu-
reza essencialmente secundária e defensiva8 ... Vimos que pa-
ra proteger-se da aphanisis a menina levanta barreiras contra
sua teminilidade, especialmente a da identificação com o pê-
nis9 ... A "fase fálica" de Freud é, na menina, provavelmente
uma construção defensiva secundária, mais do que uma ver-
dadeira etapa do desenvolvimento. 10
Freud, a quem .láo haviam escapado as companhias femi-
ninas de seu discípulo e amigo, decidiu responder-lhes, tanto
a elas quanto a ele. Não havia descoberto faz tempo que a
voz se prestH pant sustentar as palavras do Outro?
- Obrigais-me a repetir o que já disse. Jones entendeu
que o plural onde o incluía não era uma formalidade. A reaJi-
dade anatõmica da vagina não decide sobre sua inscrição in-
consciente. A fase fática vale tanto no homem quanto na
mulher. A partir daí surgirão as diferenças.
Não à sexualização e seu complemento sociológico do
sentimento de comunidade ; não à espiritualização da libido;
não à biologia nativista; não à diferença sexual sustentada na
naturalidade anatõmica.
Em todas e cada uma de suas respostas, Freud reitera: pa-
ra o homem não há sexo sem Édipo, o objeto da pulsão é o
mais variável, a culminação é a castração que não é senão a
do pênis.
Giros em círculos monotemáticos próprios de certos delí-
. rios, ou delírio da ciência que quebra a "saudável" relação
com a realidade garantida pelo senso comum?
Novembro de I 979
Por acaso não é isso que foi ensinado a Freud por suas
pacientes histéricas às quais bastava responder com indigna-
ção ao abraço de um homem para serem reconhecidas no
sintoma que as nomeava?
Gozo e criação, dois fins do tratamento que no discurso
p6s-freudi~o tomaram-se trabalho e amor.
Deslizamentos oode o que é proposto se dá ao preço do •
que é excluído: .a. morte como condição do gozo, a castração
como subjetivação da morte.
"Mas o senhor s6 nos fala do que é baixo, dos instintos"
- diz nosso interlocutor. " O ser humano não se reduz a isto,
* Na gtria argeotioa "rana" (rã) 6 usado para desígnAr alguém esperto, es-
pertalhão. (N. da R.)
122 A CLÍNICA FREUDIANA
ainda que isto seja parte de seu ser. Sua aspiração a fins mais
nobres, seu compromisso com projetos mais elevados, suas
obras mais sublimes, são prova de que s6 falta completar o
texto freudiano, propor à análise, uma síntese; à procura do
objeto da pulsão, um ideal que oriente seu destino; à repeti-
ção arbitrária. o saber de uma consciência que a guie; às pro-
fundezas que o amarram, a diáfana superffcie da comunhão
com a realidade e mais ainda com a realidade humana."
Certamente há algo com que concordamos no que o se-
nhor diz: não é o sujeito puro do prazer quem mostrará o pa-
radigma da felicidade. O século XVill abunda em sua pro-
posta e no texto mais bem acabado, o libertino do relato sa-
diano, culmina na própria prova de seu fracasso.
Mas Lacan nos lembra que tampouco Kant desde a lei
moral sustentada no bem universal, resolve a questão. No
exemplo da Crftica da rauw prdtica3 não duvida de que o
sujeito colocado frente à alternativa entre 'gozar sexualmente
de uma bela mulher ao fim do que oferecerá sua cabeça à
guilhotina, ou então, conservar sua vida em troca de absti-
nência, decidirá pelo último.
A breve fábula que contamos supõe seu questionamento.
Será Kant com Sade, a lei e sua transgressão que irão ar-
ticular urna e outra.
• Mas, que lei é esta senão a lei do discurso?
"Interpretação dos sonhos", "Psicopatologia da vida co-
tidiana", "O chiste e sua relação com o Inconsciente.,4 , três
textos cheios de jogos de palavras, equívocos, duplos sentidos
produzidos no e pelo movimento do discurso.
Superfície do texto leva-nos ao aforismo freudiano: a
anatomia é o destino - e n6s acrescentamos - da letra: ~to
mia marcada pela letra, significante fático articulador primor-
dial da diferença dos sexos; letra condutora do trilho que de
6. Op.dt.
A CLfNICA FREUDIANA E A PSICANÁLISE DEPOIS DE FREUO 125
INTRODUÇÃO
O TEMPO DO MITO
1. Op. ai.
2. Op. dl.
3. Op. cil.
A CLfNlCA FREUDiANA EA PSICANÁLISE DEPOIS DE f'REUD 129
5. Op. cil.
A C LÍN ICA FREUDIANA E A PS ICANÁL ISE DEPOIS DE FREUO 133
6. Op. cit.
134 A CLÍNICA FREUDIANA
7. Op.cil.
8. Op.cil.
A CLÍNICA fREUDIANA E A PSICANÁLISE DEPOIS DE FREUD 135
10. Fr:eud, S., "La reaponsabilidad mOilll. por e! contenido de los sue005",
O .C., Buenos Aires, Amorrortu,1979, Tomo XIX, p. 13S,
l i. Freud, S., " La descomposicicSn de la personalidad psíquica" ,O.C., Bue-
oosAiRs, Amanottu,l979, TomoXXll.
140 A CLÍNICA FREUDIANA
DE NOSSOS TEMPOS
Agosto de 1981
A CL(NICA FREUDJANA E A PSICANÁLISE DEPOIS DE FREUD 141
Tm
S(,#..)
.
canalista do analisante. 9
A insistência do significante que se repete, é o lugar .que
aponta o que o discurso oculta. Se as formações do l nconscten-
te são matéria privilegiada, é porque nelas se manifesta esta
repetição em ato. Em "Signorelli"10, o SigMr abatido remete
13. Lacao, 1., ··Proposiúoo du 9 oaob~ 1967 surte psychanalysce de I' &o.
le", Sc!Jicet n!! 1, Paris, Scuil, 1968, p. 14. " Radiopbocic..: "c'c:st suppoeer lc sa·
voir de lastxw:turc qw daolle d.i.fc:ours de l'Malysu:, a plaoede v&ilE'. "i! supor o
saber da c:atrutura quem no dilc~ do aoalbta.liem lugar de verdade". Op. cit., p.
98.
14. Laca.o, J., "La double iucriptlon fieudienoe DC acrait doDC du rcsaort
d'aocunc barrià'e saii3SUlÍerule, IIllili de la practique m&nc qui en JlOIIC la qucstion,
l savoir la coupw-e dont l'inoonJcient a ae d&ister ltmoigne qu'il ne coiUiiBtait
qu'en clle, aoit que p1ua 1e discours est lnterp~lt, plus il ae coníume d'~tre inooiUI·
cient". "A dupla i.Nc:riçlo freudiana n5o seria, portanto, da competência de ne~
ar
nhuma blttein &aUSSuriM.a, ~Dio da própria prática q~W situa a quealio, isto 6, o
c.one do qual o inooOIClente ao deai.atir tc:atomunho que do conaisti.a maia do que
nele, ou seja, que quanto mais o discurso~ interpretado, mais se confirma ser in·
consciente." Radiophonie, Op. cit., pp. 70 c 7t.
A CLÍNICA fREUDIANA E A LÓGICA DO INCONSCIENTE 151
Maio de 1978
lS. BlaDchot, M., El upaci.o lilerario, Blla)()l Ai.ra, Paid&, 1969, p. 32. Ci·
ta a distiD{;Io de M~ aolm o duplo estado da palaVIll.
16. t..c;an,I., "LogiqueduPhantume",Op.cit.,p.17.
17. t.acan.J.,E~,Paria,Souil, 1975,p,20.
18. Nuio, J. D., "Tnocmisaion et IDocmlcleot'', Omic.ar?, n'l4, Paria,
1978,p. 39. .
A VONTADE DA LtTQA*
2. S<:hopenhauer, A., Die W~lt ais \Ville und Vonte/bmg (O mundo como
vontade e rcpreeentaçio), Zurique, Diogeoes, 1977.
3. Op. cit., Livro IV, capftulo 41, p. .542.
4, Op. cit., p. 584.
A CLÍNICA FREUDIANA E A LÓGICA DO INCONSCIENTE 155
AEA-+A~A
A ~A-+AEA
traÇo = sujeito
23. Op. dt., p. 232. "Cet objel (Je a) 8Upport ee qui, dans la pulaíon. cst d6fi·
ni et &p6c:iM de ce que l'entt6eenjc:u do aigni.fiaDldlms la viede l"hommeloi pu-
met de faire surgir lca sem du scxc. A savoir que pour l'll.ommt, et parcc qu'il
coo.nait ta signiflllllts. 1e scxe ct a signi.fu:aôoaa aont loujoun SU8CCptiblea de
préscntifier la p~ de la mort."
.. La díslinction cnue pulsíon de víc et pulsion de mort C31 vm pollt autant
qu'elle mani feste deUJ- aspects de la pulsioo."
162 A CLÍNICA FREUDIANA
Janeitõ dê 1980
O ~ONHO t UMA E0CQITURA*
FICÇÃO PRIMEIRA
4. "".que lc à gnifi6 n'a rien l falJ'c 11vcc Jes oreilles. mai& sealcment aveç la
lecCurc,la leçiW'e dece qu'onentend de aignifianL Leaignifit,ce n'est pucequ'oo
eoleod. Ce qu'oo entend , c'est le signifWlt. Le ligniti6, c' est J'effet du s1gnifWIL"
" •••que o lignificado não a:m Olda a ver com as orelhas. mas aomenll: com a
leitura, a leitura disto qoe se oove de &ignifiCIIJ1~ O significado nio 6 aquilo que t
ouvido. hto que t ouvido t o sigoificanle. O significado to efeito do significan-
te." Encore, P.ns, Seuil, 1975, p. 34.
5. "S' dé.signant dans le oontex.te 1e terme productif de l'effet signifiant (ou
sigpifiance), on voil que ce ~erme est latente dana la m.6tonymie , patent dans la m6·
laphorc." tcrits, p. 515. "S' designando no contexto o tenno produtivo do e feito
significante (ou signif'dnci.a), ve-se que esll: ll:nnO 61atcoll: na meton.fJnia e pata!-
11: na met4fora.''
A CLÍNICA FREUDIANA E A LÓGICA DO INCO NSCIENT E 167
6. .....que l'ecriture en 110mme eat qudquc dlOIC qui se crouve, da f&it d'ette
cette repr&entation de la parole.••"
" ••Ja rcpr61enlation de moca., c'e.t 1'6:rlturc". "Alon. repr&entation de
mora, ça vcut din: Ie qudque cliJ.oae, ça veut din: que te mot e8t ~jlll avant que
voua cn faltlic:z la repr&cotation 6crill: avcc tout ce qu•elle comporte."
" •••que a eecritum t, afinal de contas, alguma coiaa que se enoontta pelo fato
de ser cata rcprcaentação da palavra. •• "
" ••.a repreeenlaçlo de palaVIlll 6 a e.aiQinl." "Entllo, rcpraeniBÇio de pala-
VIU. ino quer dizer alguma coisa, quer d.iz.cr que a palaVR jã cslá alf, anlel de q oe
voe:& !Içam a rcpreacnw.;io acrita dela com tudo isto que ela comporta." Uan.
J., "D'un d.iac:ows qui oe aerait pu du eembt.nt". Aula do dia 10 de março de
1971.
7. Se lembrannos a eq~ocia do signo e da rcpn:acntaçJo pd-cooacicll~
''Lc àgnifiallt a l etre eun:g~ cornme tel, il e8t au pôle oppoa6 de la aigDifica·
tioll. La aignification. elle, eaft en jeu dallS la Vomelbmg ." " O significante, ao
eer rcgiattado como til, CDCOOira·ae 1110 pcSI.o opoalO ao da signifu:açlo. A aignlfi-
c~ão, ela, entra em jogo na VorsteUuttg". Lacan, J., Les quatre concepts fonda -
menJaw: de la psychaMlyse, Paris, Seuil, 1973, p . 201 .
Tamb6JD.: "Lc prccolliCient. pour tout dite, e$t d'OI'C6 et ~jl dana le •1. et le
sGiut de l'i.Dcon.scient, !ui, s'il poe on prob~, c'cst pour autant qu'ils'eet 00118·
168 A CLfNICA FREUniANA
O SONHO E O REAL
tiblé à un tout autie niveau, à un niveau plus radical de l'emergeuce de l'acte d'ê·
DOnciation..,
"0 pfé.oonsciente, este, sim, se coloca wn problema ~ porque se coostituiu
num outro Dfvcl, num Dfvel mais radical da emerg&lcia do ato da emmciaçio." La-
can. l., "L'identification,.. Aula do dia 10 de janeiro de 1962.
8. lcrits, op. dt., p. 553.
9. Collentino, l, C., "El 'ombligo' dei sueiio: una 'letra' freudiana", Lacan y
elpsicoan46sis en Amlrica Latina, Caracas, 1980.
A CLÍNICA FREUDIANA E A LÓGICA DO INCONSCIENTE 169
10. " •••oommc réel., c'est-à-dire de l'impossible leque! s'annonce: il n'y a pas
de rapport sexuel." " ••.como real, ou seja do impossfvel, o qual se enuncia: não há
relação sexual." Scilicet, n~ 4, Paris, Seu i!, 1973, p. ll.
I i. Lacan, J., "D'uu dí.soours qui ne serait pas du semblant", Liturat.em:.
12. Idem, lO de março de 1971.
13.Miller, J. A., Omicar?, n~ 20121, Paris, 1980, p. 49.
A ÉTICA E O ATO ANAIITICO*
1. Ver " Supl.etncnto <k las Notas", n~ 3, 1981, Bacucla F.mldiana de Buenos
Aires.
2. ldon .
A CLÍN ICA FREUDIANA E A LÓGICA DO INCONSCIENTE 173
K---------~~------~a
(Eu não sou) < > (recusado)
destituição subjetiva t eles-ser
4. Op. cil.
S. " Suplemento dG las Nollls".
"' San Martin é um líbenador argentino, muito mitificado por codos, e ao
qual se dá exuemo valor na escola, como um dos maiores homens da história ar-
gentina (fazendo as crianças decorarem e saberem tudo a respeito do qi!C disse) -
por isso o "sofrime-n to" do emmciado. (N. da T .)
A CLÍNICA FREUI>lANA E A LÓG ICA DO INCONSCIENTE 179
Novembro de 1980
UMA DIFICULDADE
PLURAL
"' Vcr.são escrita do trabalho apre....::ntado nas Jornadas sobre '·La Translcrcn-
cia" realizadas no Teatro Sha do dia 25 a 28 de novembro de 1982.
182 A CLÍNICA FREUDIANA
• O auror faz menção ao tango: " yira' ' - A pala vra. yira, com y e niio girn ,
com 8· IJallsparentn n tlpica entonação ponenha e, também , significa, além do sen·
tido normal do girar, alguém que anda de porta em porta, uma pessoa perdida, que
" gira" de um lado p;u-a outro, cenc.ando encontrar algo. encontrar-~ . (N. lia T .)
A CLÍNICA FREI.: DIANA E A LÓG ICA DO INCONSCIENTE 183
ESCRITOS
d~ desejo
n D : demanda
J: identificação
T: transferência
RESISTÊNCIA, RESISTÊNCIAS
Estou morto
Estou morto porque não tenho desejo
Não tenho desejo porque acredito possuir
Acredito possuir porque não ensaio dar
Ensaiando dar a gente vê que não tem nada
Vendo que não se tem nada ensaia-se se dar
Ensaiando se dar a gente vê que é nada
Vendo que se é nada desejar-se advir
Desejando advir vive-se.
DISCURSOS
S, : Significante unário
agente outro S 2 : Significante binário - Saber
verdade Produção '$ :Sujeito barrado
a :objeto - mais-de-gozo
$ $1
a~S2
impotência
impossível
$ s,)~ -;:___
a------$
S
1
( a~ S2 ""' impossível
impotência " " ' ~------- s2
$ a
_ ___-
pela linha da identificação I (ver gráfico do oito interior), ou
então, continua-se pela linha pontilhada do desejo -d-.
_..;,
impossível ~
a
s,
A abstinência do analista, sua disposição para sustentar,
em resposta a essa presença que o reclama como tal, uma
função, semblant de a - em castelliano se traduz por sem-
blante, aparência - pennite um movimento que relança a ór-
bita. Lacan diz: só na análise, pelo ato analítico, é possível
., alcançar o conceito do objeto a . O analista, semblant de a,
produz em ato o relançamento do discurso; outra volta, outra
revolução, com uma possibilidade: que um significante novo
se produza, talvez - diz Lacan - menos imbecil. De wna for-
ma ou de outra, chegar-se-á novamente a este lugar x, com
uma diferença: se o giro se produz com S 1 no lugar do agen-
te, o analista identificado ao ideal, o sujeito se encontra como
quando começou. Se o analista suporta a função de a, o mo--
vimento é diferente, também volta a esse lugar x e o signüi-
cante 1 é produzido, mas com uma diferença - diz Lacan: é
possível que seja menos bobo. Por que será ~os bo~?
Porque há uma experiência que o sujeito fez; a linha pontl-
Ihada, aquela que sustenta o desejo do analista, é também a
que o ~ompanha num movimento pelo qual ele pen:ebe que é
o Outro que constitui o movimento da pulsão, também pode-
mos dizer, a .demanda com a qual ele gira. Presença do ana-
lista responde: com sua função ao tempo no qual a resistência
o reclama aquém de toda palavra.
NA CLíNICA
TRAGÉDIA
Aquilo que odiado deveria 5er, recupera-se às custas do que deve ser
amado.
1ROPEÇO FREUDIANO
Por que Freud não pôde responder por que uma rllha se
separa do pai? Uma resposta, não pretendo esgotar a questão, me
servirá também para dizer para que servem essas pequenas le-
trinhas chamadas matemas. Se o Édipo é como diz a histori-
nha: ..ao menino mau que quer donnir com a sua mãe, o pai
vem, castiga-<> e lhe corta o pintinho", não se sabe como re-
solver a questão quando é a menina quem quer donnir com o
pai: tal era o problema como Freud o colocava. Mas, se ao
invés desse modo empirizado essa estrutura, o Édipo, for es-
crita com letras, a princípio trata-se de Outro para quem sua
filha <>u seu filho aparecem corno o objeto que vem tomá-lo
precisamente Outro, senão seria Outro com wn significante a
menos -S(Jj..); no lugar do Outro pode estar uma mãe com seu
filho ou um pai com sua filha.
Agamen6n no lugar de A (Outro), I1igê nia, objeto a -
Lacan lembra que quando se vê wn menino de mão dada com
seu pai, ali está o objeto a - sua separação, o corte, é a cas-
tração. Qual é a instância que reclama isto? Grécia, a oniem
social.
A
a
COMÉDIA
•
escuta