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CONTEÚDO

São 11 capítulos nos quais o autor fala sobre o mundo da ciência e seus métodos, paradigmas,
teorias, linguagens, mitos, preconceitos, equívocos e de sua relação, mais estreita do que se
pensa, com o senso comum.

Procura discorrer e demonstrar essa relação, inclusive de maneira prática, propondo jogos e
desafios para a mente do leitor, além de exemplos práticos e históricos de como a ciência
funciona e tem funcionado. O que ele chama de um “processo de desenvolvimento progressivo
do senso comum.... sem ele, ela (a ciência) não pode existir.”

E através desses exemplos irá explicar a respeito de como se formam os métodos científicos, as
teorias, as ideias e o relacionamento de tudo isto com os fatos, acerca dos quais irá insistir sobre
os limites da observação e da interpretação, ou seja, que os fatos em si não dizem nada. O que
irá dizer será a interpretação que foi dada a eles, que por sua vez foi determinada pela
observação, e esta, pelo método utilizado, que sua vez partiu de uma hipótese que foi formulada
por uma pessoa, ou uma comunidade científica, com suas interferências, pressupostos,
preconceitos, desejos, etc.

Por isso, também irá discorrer sobre o problema da universalização dos fatos, isto é, das
generalizações de fatos empiricamente testados, mas que pertence a um objeto de investigação
impossível de ser esgotado analiticamente. Por isso, dependerá do que ele chama de “salto”,
isto é, do preenchimento dos espaços vazios deixados pela observação. Saída ainda mais
acentuada no caso das teorias.

Deste modo, irá denunciar as equivocadas pretensões acerca do método científico e de seus
seguidores, que já na época do positivismo prometeram desmitificar o pensamento, mas que
ele mesmo é repleto de mitos e dependente da fé. Assim, o autor também irá trabalhar sobre a
inspiração, imaginação, intuição criativa, ou seja, verdades que foram aceitas como tal, mas que
não se chegou a elas pela lógica ou pelo conhecimento acumulado. Enigmas da natureza que
não são desvendados somente pelo método, pelos dados, pelos fatos ou pela razão, mas que
expressados em forma de enunciados científicos verificáveis dentro de certos limites e que
enquanto funcionar, serão aceitos.

Irá encerrar falando sobre verdade e bondade. Resumidamente, irá dizer que hoje a verdade
está mais condicionada ao que dizem os que possuem o poder, do que aquilo que a natureza
diz. Em outras palavras, a comunidade científica prefere, a bem de manter seu status, defender
os velhos paradigmas que sair da zona de conforto. Por isso o autor diz que passaram de
paradigmas para “paradogmas”. Quando se descobre algo que derruba alguma teoria já
consolidada, preferem esconder ou transformá-lo em outra categoria. Por isso, irá encerrar
dizendo:
"Já que a ciência não pode encontrar sua legitimação ao lado do conhecimento, talvez pudesse
fazer a experiência de tentar encontrar o seu sentido ao lado da bondade. Ela poderia, por um
pouco, abandonar a obsessão com a verdade, e se perguntar sobre seu impacto sobre a vida das
pessoas: a preservação da natureza, a saúde dos pobres [...] enfim, esta coisa indefinível que se
chama felicidade. A bondade não necessita de legitimações epistemológicas."

ANÁLISE

É uma obra que poderíamos chamar de heterodoxa. Talvez, pós-moderna, pois percebemos um
desmascaramento do pensamento moderno, um questionamento do conhecimento
universalmente válido.

"Já que a ciência não pode encontrar sua legitimação ao lado do conhecimento, talvez pudesse
fazer a experiência de tentar encontrar o seu sentido ao lado da bondade. Ela poderia, por um
pouco, abandonar a obsessão com a verdade, e se perguntar sobre seu impacto sobre a vida das
pessoas: a preservação da natureza, a saúde dos pobres [...] enfim, esta coisa indefinível que se
chama felicidade. A bondade não necessita de legitimações epistemológicas."

Pelo último trecho exposto acima (sobre o conteúdo), há um nítido pragmatismo, a ideia de que
“se é verdade, não importa, o que importa é se é útil”. É claro que não se trata de um
pragmatismo comercial, pois expressa uma preocupação com questões muito relevantes em
nossos dias. Se o que ele diz ali viesse a acontecer, talvez não se chamaria mais ciência. Não
estou dizendo que tudo que ela produz e produziu com seus métodos, paradigmas, postulados
e tudo mais, não tem valor ou que só trouxe males. Isto seria “cuspir no prato em que
comemos”. É inegável que muito do que o pensamento e o trabalho científico produziram,
trouxe qualidade de vida para as pessoas. Entretanto, também trouxe desgraças em nome do
dinheiro, do poder, do capitalismo, do desejo egoísta.

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