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DE HERMENÊUTICA
PASTOR KENNETH EAGLETON
1
Esboço
2. Definições:
A. Hermenêutica
B. Exegese
C. Teologia bíblica
D. Teologia sistemática
3. A necessidade da hermenêutica
9º Princípio: Quando existir uma contradição aparente com o restante das Escrituras,
procure uma explicação plausível.
Conclusão
A. Revelação
A revelação, no seu sentido bíblico, é o ato pelo qual Deus se faz conhecer ao homem: Sua pessoa,
Sua natureza, Sua palavra, Sua vontade e Seus preceitos.
O Deus de poder e de amor deseja ser conhecido e amado por suas criaturas.
Revelação geral
A revelação de Deus na natureza (Rm 1:19-21; Sl 19:1-5; At 14:15-17).
A voz de Deus dentro da consciência (Rm 2:14-16).
B. Inspiração
A inspiração é a influência exercida pelo Espírito Santo sobre o espírito daqueles que escreveram a
Bíblia para que anunciassem e redigissem de maneira exata e autorizada a mensagem recebida de
Deus. A inspiração diz respeito ao registro da verdade revelada por Deus. 2 Tim 3:16, 17; 1Pe 1:10-
12; 1Pe 1:19-21; Hb 1:1, 2; Jo 8:28; 17:6-8.
C. Iluminação
A iluminação é o processo pelo qual o Espírito Santo concede ajuda sobrenatural para compreender
a Palavra de Deus para aquele que a lê e a estuda. Ele (Espírito Santo) faz essa obra em todo leitor
cristão, em todas as gerações.
Natureza divina – por um lado a Bíblia foi inspirada por Deus através do seu Espírito Santo. Ela é,
portanto, digna de confiança e sem erro. Por ser a própria comunicação de Deus para a humanidade,
ela tem toda autoridade.
Natureza humana – Deus passou por seres humanos para transpor a sua revelação por escrito. Não
foi um simples ditado. Deus usou a própria personalidade, estilo e vocabulário do autor humano. A
Bíblia também reflete a cultura humana do autor humano e da sua audiência.
F. A Infalibilidade da Bíblia
Por infalibilidade nós compreendemos que a Bíblia não é capaz de errar e não contém erros em sua
forma original. Ela é justa, verdadeira e exata.
G. A Autoridade da Bíblia
Por ser a Bíblia a Palavra de Deus e sem erros, entendemos que ela é a palavra final e autoritária no
que diz respeito a toda questão de doutrina e prática, seja moral ou espiritual. Sua autoridade é uma
conseqüência imediata da inspiração. Se Deus inspirou completamente as Escrituras, elas estão
revestidas de Sua autoridade.
H. A Unidade da Bíblia
Na verdade, a Bíblia é mais que um só livro. Ela é uma coleção de 66 livros escritos por mais de 40
autores (+/-45). Os autores humanos do texto sagrado apresentavam uma grande variedade. A Bíblia
foi escrita durante um período de cerca de 1.600 anos, sendo terminada há quase 2.000 anos. Esse
período compreende aproximadamente 40 gerações. É maravilhoso ver todos os grandes temas da
Bíblia se desenrolarem de Gênesis ao Apocalipse, de uma forma coerente e sempre mais completa.
I. Cânon bíblico
Um livro é canônico se a Sinagoga judaica ou a Igreja cristã o reconheceu como portador da
revelação comunicada pelo Espírito de Deus. Por definição, a Palavra de Deus deve conter apenas os
textos inspirados pelo Espírito Santo. Os escritos que não possuem essa qualidade não têm lugar no
cânon.
O cânon não foi decretado por uma pessoa ou por um grupo de pessoas de uma mesma fé. Ele foi
sendo reconhecido na medida em que os livros inspirados apareceram.
O cânon é o fruto da inspiração divina e não de decisões humanas. O cânon existe desde a sua
redação, pois os escritos dos profetas e dos apóstolos têm valor canônico intrínseco. O cânon não foi
dado de uma só vez. Ele começou a se formar assim que as primeiras escrituras inspiradas foram
colocadas nas mãos do povo de Deus.
Antigo Testamento
1. O livro é autorizado - afirma vir da parte de Deus?
2. O livro é profético - foi escrito por um servo de Deus?
3. O livro é digno de confiança - fala a verdade acerca de Deus, do homem, etc.?
4. O livro é dinâmico - possui o poder de Deus que transforma vidas?
5. O livro é aceito pelo povo de Deus para o qual foi originalmente escrito – é reconhecido
como proveniente de Deus?
Novo Testamento
1. O livro tem autoridade apostólica – o autor do livro foi um apóstolo ou alguém
próximo, associado a um apóstolo?
2. O livro foi autorizado - afirma vir da parte de Deus?
3. O conteúdo foi aceito pela igreja?
4 . O livro foi lido e usado nas igrejas?
5. O livro foi reconhecido e usado pelas próximas gerações depois da igreja primitiva,
especialmente pelos primeiros pais da igreja (Justino Mártir, Clemente de Alexandria,
Orígenes, Cipriano)?
J. A Transmissão da Bíblia
Nós cremos que Deus, pela sua providência e seu cuidado especial, guardou sua Palavra pura através
de todas as épocas.
Os livros sagrados foram recopiados à mão durante 3.000 anos, de Moisés à invenção da imprensa
(em 1453). A transcrição do texto hebraico era bastante delicada pois, a princípio, essa língua só
possuía consoantes. Já por volta do ano 100 d.C. os sábios judeus se esforçaram para estabelecer um
texto consonantal hebraico padrão, que deu a base aos trabalhos posteriores dos massoretas. Estes
eram rabinos de Tiberíades e da Babilônia, que do quinto ao décimo séculos depois de Jesus Cristo
completaram uma obra extraordinária. Eles acabaram de fixar o texto do Antigo Testamento
escolhendo o melhor manuscrito entre aqueles que tinham disponíveis.
L. Traduções da Bíblia
A versão dos Setenta (Septuaginta ou LXX) – É a tradução em grego de todo o Antigo
Testamento, feita pelos judeus de Alexandria entre 250 e 150 a.C.
A Vulgata – É uma tradução em latim dos Antigo e Novo Testamentos feita por Jerônimo no
quinto século d.C. Esta tradução passou a ser considerada a tradução oficial da Bíblia pela
Igreja Católica Romana. Durante muito tempo Bíblias em outras línguas nem eram
permitidas pela igreja romana. Até recentemente, as traduções da Bíblia em português,
feitas pela igreja romana, eram feitas a partir da Vulgata e não das línguas originais da
Bíblia.
A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida (COR ou ARC)
Não é a mesma traduzida por João Ferreira de Almeida e impressa em 1753. É na realidade uma
edição brasileira onde foram tirados os lusitanismos e adaptado para o português do Brasil. Ela foi
publicada em 1898 pela Sociedade Bíblica Britânica. A 2ª edição foi publicada pela Sociedade Bíblica
do Brasil em 1969. A 3ª edição foi publicada em 1995. A 4ª edição data de 2009 (ARC).
A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil (ATU ou ARA)
É uma revisão de Almeida, independente da Revista e Corrigida, que foi encomendada a uma equipe
de tradutores brasileiros e publicada pela SBB em 1956. Ela conserva as características principais da
tradução à equivalência formal de Almeida. Sua revisão foi feita à luz dos manuscritos mais antigos
que não estavam à disposição de Almeida. Em 1993 ela passou por uma 2ª revisão pela SBB (ARA).
Publicada também pelas Edições Vida Nova (edição de 1976 com muitas referências e notas
explicativas) e pela Imprensa Batista Regular do Brasil (“Bíblia de Scofield” com referências e
anotações lançada em 1983).
Definições
Teologia Bíblica: “é o estudo da revelação divina no Antigo e no Novo Testamentos.”3 Ela tenta
mostrar o desenvolvimento do conhecimento teológico através dos tempos do Antigo e do Novo
Testamentos.
Teologia Sistemática – “organiza os dados bíblicos de uma maneira lógica ao invés de histórica. Ela
tenta reunir toda a informação sobre determinado tópico... de sorte que possamos entender a
totalidade da revelação de Deus a nós sobre esse tópico.”4
A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA
Os Bloqueios à Compreensão
Cultural - diferença significante entre a cultura dos antigos hebreus, gregos, romanos e a nossa.
L i n g ü í s t i c o - a bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego - três línguas que possuem
estruturas e expressões idiomáticas muito diferentes da nossa própria língua.
A hermenêutica é necessária por causa das lacunas históricas, culturais, lingüísticas e filosóficas que
obstruem a compreensão espontânea e exata da Palavra de Deus.
“A interpretação que visa à originalidade, ou que prospera com ela, usualmente pode ser atribuída
ao orgulho... ao falso entendimento da espiritualidade... ou a interesses escusos...”.5
“A primeira razão por que precisamos aprender como interpretar é que, quer deseje quer não, todo
leitor é ao mesmo tempo um intérprete; ou seja, a maioria de nós toma por certo que, enquanto
lemos, também entendemos o que lemos”.6
Às vezes, aquilo que levamos para o texto, sem o fazer deliberadamente, nos desencaminha ou nos
leva a atribuir ao texto idéias que lhe são estranhas”.7
3 Ibid, p. 11
4 Ibid, p. 11
5 Fee, Gordon e Stuart, Douglas, Entendes o Que Lês? (São Paulo: Edições Vida Nova, 1984), p. 13-14.
6 Ibid., p. 14
7 Ibid., p. 14
8 Ibid., p. 15
INTRODUÇÃO
Neste curso básico não nos propomos a estudar todos os princípios em detalhes, mas passaremos
mais tempo em alguns que julgamos mais importantes neste nível básico.
A Bíblia foi escrita por seres humanos e deve ser tratada como qualquer outra comunicação
humana. Devemos determinar o significado pretendido pelo autor. É necessário, então, desenvolver
nossas habilidades na arte de comunicação e compreensão humanas.
1º
Observe a passagem como um todo.
Pr
in Leia a passagem com seu contexto imediato – pelo menos um parágrafo antes e um
cí parágrafo depois da passagem alvo. (Exemplo: 1 Cor. 8:7 expandir para todo o capítulo 8.)
pi Anote qualquer pergunta que surja quanto à passagem, seu conteúdo e seu contexto. Não
o procure responder ainda as questões que surgirem! (Só levante poeira.)
A Bíblia é revelação em história, distinta dos ensinos de muitas religiões. A maioria das religiões
está arraigada em mitologia, como o Xintoísmo ou o Hinduísmo. Em contraste, a Escritura está
arraigada em história e reivindica ser um documento histórico, o registro da revelação de Deus.
Assim, devemos entender esta revelação no contexto de sua história. 1 Coríntios está lidando com
situações reais, históricas.
É útil organizar a história dos livros históricos cronologicamente e colocar os profetas nos
devidos tempos em que profetizaram.
Exemplo:
A restauração da terra prometida para Israel – Ezequiel 37:11-12
3. É necessária uma compreensão da história do Novo Testamento para entender certas passagens
do Novo Testamento.
Exemplo:
Paulo estava na prisão quando escreveu para os efésios e filipenses - Atos 28:30-31; Efésios
6:19, 20; Filipenses 1:20, 21, 24-25; Filipenses 4:22.
Exemplos:
Daniel 2:31-45 – referências à Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma.
Apocalipse 1-3 – as sete igrejas na Ásia Menor.
Atos 18:2 – O imperador Cláudio expulsou a comunidade judaica de Roma por volta do
ano 49, provavelmente por causa de disputas entre os judeus e os cristãos com relação ao
Messias.
4. Para achar o significado de qualquer passagem, o intérprete deve, em primeiro lugar, descobrir o
máximo possível sobre o autor - quem ele era, onde e quando ele escreveu e as circunstâncias em
que ele escreveu. Além disso, o intérprete deve buscar informações sobre o(s) destinatário(s) - para
quê ou para quem foi escrita a passagem e a colocação histórica na qual eles a leram. Se há
referência a algum evento, esse evento deve ser estudado para entender o significado pretendido.
Exemplo: Mt. 11:23-24 (cf. Gen. 18 e 19).
Situação Física
Referências geográficas
A situação geográfica é útil para se entender uma passagem.
Exemplos:
Oséias: 1, 3, 8, 13 - localizações geográficas.
Juizes 4-5 - referência às tribos que ajudaram e às que não ajudaram
Exemplo: Estude as características da ovelha para entender Salmo 23, Is 53, Ezequiel 34, João10.
Situação Cultural
O modo como as pessoas viveram, os costumes sociais e religiosos da época bíblica são muito
importantes para se obter o significado desejado.
6. Comentários bíblicos
Mesmo para o estudante experiente da Bíblia é melhor consultar o comentário depois de haver
feito o seu próprio estudo. Há várias razões para isto:
1. Nenhum comentarista é infalível;
2. Nenhum comentarista é perito em todas as passagens das Escrituras;
3. O comentarista providencia uma verificação das próprias conclusões do estudante;
4. O comentarista providencia uma perspectiva adicional antes de o estudante finalizar o seu
estudo.
3º
P Observe a relação que o texto tem com o contexto 9
ri
Precisamos examinar o texto em questão com relação ao seu contexto imediato, ao seu contexto
n amplo e tomando em consideração o livro como um todo. Dividiremos esta fase em três
mais
cí O propósito do livro bíblico, a organização do livro, e o contexto imediato.
partes:
pi
OoPropósito do Livro Bíblico
Descubra o propósito do livro bíblico.
Alguns livros citam claramente qual é o propósito do livro.
Exemplos: João (20:31); Lucas (1:1-4).
Outros livros não citam claramente o seu propósito. Neste caso é necessário ler o livro
inteiro procurando descobrir o tema do livro.
Exemplo: Gálatas – o propósito é corrigir os erros da influência judaizante na igreja da
Galácia. Este conhecimento nos ajuda a determinar o sentido da palavra “lei” usada no
livro de Gálatas.
Uma dica para achar o tema: muitos livros dão indícios do tema no começo ou no fim do
livro.
Alguns livros têm mais de um propósito. É o caso do livro de 1 Coríntios. Neste livro o Apóstolo
Paulo trata de vários temas diferentes. O texto estudado precisa ser relacionado com o tema sendo
tratado naquele contexto.
A Organização do Livro
Os livros bíblicos são organizados de maneiras bastante diversas e precisamos reconhecer a maneira
de organização:
Alguns são organizados por uma seqüência cronológica de eventos. Exemplo: 1 Samuel;
Atos.
Alguns livros são organizados como um arranjo poético para causar um impacto emocional.
Exemplo: Cântico dos Cânticos.
Outros podem apresentar um argumento lógico bem construído, onde um argumento
depende do outro. Exemplo: Romanos.
Outros podem ser uma coletânea de visões e/ou oráculos (não necessariamente em ordem
cronológica). Exemplo: Amós
Outros podem simplesmente ser coletâneas soltas de provérbios ou salmos, sem relação
entre si. Exemplos: Salmos; Provérbios.
O conteúdo de um livro, dependendo da sua organização, não aparece sempre em ordem
cronológica. Isto tem muita importância para a interpretação. Exemplo: O livro de Mateus
parece estar organizado mais por temas do que por ordem cronológica.
9 McQuilken, Robertson, Understanding and Applying the Bible (Chicago: Moody Press, 1982), cap. 11, p. 153-
163
Esboço – Para melhor compreender a organização de um livro é necessário que se faça um esboço
dele.
Não use automaticamente as divisões de capítulos e versículos para fazer um esboço. Estes
nem sempre correspondem às mudanças de pensamento.
Procure mudanças no assunto. Uma mudança brusca de assunto constitui um novo item no
esboço principal.
Note que uma mudança entre doutrina e prática constitui uma mudança radical no
pensamento.
Mudanças mais sutis e menos radicais podem constituir subitens no esboço.
O Contexto Imediato
O contexto imediato é o fator mais importante para se determinar o significado de uma passagem.
Exemplo: 1 Tessalonicenses 5:2 – “ o dia do Senhor virá como ladrão à noite” – será que isto significa
que Ele virá quietinho e em segredo, como faz um ladrão? O contexto nos ajuda. Os versículos
seguintes, 3 e 4, mostram que o sentido é que Cristo virá repentinamente e não será quietinho por
causa do contexto anterior de 4:16.
As Narrativas (história)
“A Bíblia contém mais do tipo de literatura chamado “narrativa” do que qualquer outro tipo
literário.” “Mais de 40 por cento do Antigo Testamento é narrativa.”10
As narrativas são histórias inspiradas por Deus. Portanto, não são quaisquer histórias, mas histórias
que nos contam como Deus agiu na história da humanidade e o seu relacionamento com os povos.
Nem sempre somos informados de todos os detalhes da história e frequentemente não somos
10 Fee e Stuart, p. 63
informados dos motivos ou de como Ele fez tal ou tal coisa. As narrativas também são geralmente
de um ponto de vista limitado.
“Todas as narrativas têm um enredo, uma trama, e personagens (sejam divinas, humanas, animais,
vegetais, etc.).”11
É importante notar que existe muita narrativa nos quatro evangelhos. Numa lida rápida, pode
parecer que existem contradições entre as narrativas de eventos específicos nos diferentes
evangelhos. Precisamos nos lembrar de que estas narrativas são feitas de pontos de vista diferentes.
Cada autor humano escreve o seu evangelho com um propósito em mente que é bastante diferente
de outro autor. Os evangelhos não se contradizem, mas se complementam.
11 Ibid., p. 64
12 Ibid., p. 69
13 Ibid., p. 116
A(s) Lei(s)
“O Antigo Testamento contém mais de seiscentos mandamentos que os israelitas deviam guardar
como evidência da sua lealdade a Deus. Apenas quatro dos 39 livros do Antigo Testamento contêm
essas leis: Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.”14
Muitas vezes o Antigo Testamento se refere aos cinco primeiros livros da Bíblia como sendo “os livros
da Lei”, apesar de Gênesis não conter nenhum mandamento e dos outros livros conterem outras
matérias além de mandamentos. Há algumas referências a estes cinco livros como sendo um só
(Exemplo: Josué 1:8).
“Na maioria das ocasiões em que “a Lei” é mencionada na Bíblia, significa a coletânea de matéria que
começa em Êxodo 20 e continua até ao fim de Deuteronômio.”15
Entre os evangélicos não existe um consenso quanto à hermenêutica da lei mosaica no que tange à
sua utilização, hoje, para o cristão. A posição abaixo é a que me parece mais coerente. Em se tratando
da lei mosaica, precisamos levar algumas coisas em consideração: 1) A lei mosaica caracteriza um
período no progresso da redenção e da revelação progressiva de Deus. Antes de Moisés (e, portanto,
antes da lei mosaica) Deus já tratava com seu povo. 2) Jesus Cristo é o personagem central da história
da Bíblia. Tudo no Antigo Testamento apontava adiante para a vinda de Cristo e, após o ministério
terreno dele, tudo aponta para trás – para a pessoa e obra de Cristo. 3) Existem fatores de
continuidade e de descontinuidade entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento.
14 Ibid., p. 137
15 Ibid., p. 137
16 Ibid., p. 138-141 – com adaptações
Os Profetas18
Considerações gerais:
Mais livros individuais da Bíblia enquadram-se neste gênero de literatura do que em qualquer
outro.
Os livros proféticos estão entre as partes mais difíceis da Bíblia para serem interpretados ou
lidos com entendimento.
Os profetas eram, antes de tudo, porta-vozes de Deus. Sua função primária era falar em prol
de Deus para seus próprios contemporâneos. A palavra hebraica para “profeta” significa
“chamado”. Eles eram chamados por Deus para esta função. Tudo que anunciavam e diziam
era da parte de Deus, inclusive as bênçãos, as maldições e as previsões. Vemos uma
preocupação constante dos profetas em dizer “assim diz o Senhor” ou algum outro
equivalente. O Antigo Testamento declara 3.808 vezes que o autor transmite as palavras
expressas de Deus: Isaías – 120 vezes; Jeremias – 430 vezes; Ezequiel – 329 vezes; Amós – 53
vezes; Ageu – 27 vezes em apenas 38 versículos.
Os profetas eram mediadores para fazer cumprir a aliança. É por isto que vemos nos profetas
a ênfase das constantes advertências. Bênçãos são prometidas para a nação se cumprirem a
aliança e maldição se não a cumprirem. (Lev. 26; Dt. 4; e cap. 28-32)
Os profetas tinham também a função secundária de anunciar o futuro, mas na maioria das
vezes este futuro era o futuro imediato de Israel, de Judá e dos países que os cercavam.
Menos de 2% da Profecia do Antigo Testamento é messiânica, menos de 5% descreve
especificamente a era da Nova Aliança e menos de 1% diz respeito a eventos ainda vindouros.
Existem dois propósitos para a profecia que previa o futuro: 1. O propósito principal era
influenciar a conduta dos que ouviam a profecia (Jer. 3:12-15; Oséias 14:1-2). 2. O segundo
propósito só se realizava quando a profecia se cumpria – e isto era de fortalecer a fé e
estabelecer uma confiança no Deus que predisse os eventos (João 13:19; 14:29; 16:4).
A mensagem dos profetas não era original. Eram essencialmente as advertências e promessas
da aliança. Os profetas não foram inspirados para ensinar quaisquer lições ou anunciar
quaisquer doutrinas que já não estivessem contidas na aliança do Pentateuco. Mesmo as
profecias messiânicas não eram novas na sua essência, pois Deus trouxe a noção de um
Messias pela primeira vez através da Lei. Os profetas só acrescentaram os pormenores.
2. Determine onde começa e onde termina o oráculo que forma o contexto imediato do texto a
estudar. Os livros proféticos geralmente podem ser divididos em oráculos. Estes oráculos não foram
normalmente proferidos na mesma época e podem não estar em ordem cronológica.
3. Identifique a forma literária sendo usada pelo profeta. As três formas mais comuns são:
O Processo jurídico. Exemplo: Is. 3:13-26. Deus é retratado, de modo imaginário, como sendo o
demandante, o promotor público, o juiz e o oficial da justiça num processo jurídico contra o réu,
Israel. A forma completa do processo jurídico contém uma carta rogatória, uma acusação, as
evidências e um veredicto (nem sempre todas as partes são explícitas).
O ai. “Ai” era a palavra que os antigos israelitas exclamavam quando enfrentavam a desgraça ou a
morte, ou quando lamentavam num enterro. Três elementos que caracterizam de modo sem igual
esta forma: um anúncio da aflição (a palavra “ai”, por exemplo), a razão da aflição e uma predição
da desgraça. (Exemplo: Hab. 2:6-8)
A Promessa ou “oráculo da salvação”. Seus elementos são: a referência ao futuro, a menção de
mudanças radicais e a menção de bênçãos. Exemplo: Amós 9:11-15
18 Ibid., p. 153-174
5. Nas passagens que fazem uma predição do futuro, devemos usar as seguintes diretivas:
Interprete o texto no seu sentido mais simples, direto e ordinário – a não ser que exista
alguma razão forte para não o fazer.
Identifique passagens figuradas usando as regras normais da linguagem para diferenciar entre
o que é literal e o que é figurado.
o Às vezes a linguagem é obviamente figurada, senão, seria absurda. (Exemplo: Is. 11:1)
o Outras vezes a linguagem figurada é identificada no contexto. (Exemplo: João 2:19,
21)
o Outras vezes as Escrituras podem identificar uma afirmação aparentemente literal
como sendo figurada. (Exemplo: Gen. 3:15 com Gal. 3:16)
6. O Espírito Santo e os autores humanos são os únicos que têm autoridade para interpretar
uma passagem literal como figurada. Nós, como intérpretes, não temos essa autoridade.
Como intérpretes, temos a iluminação do Espírito Santo mas, somos também sujeitos a erros
de interpretação. É criticamente importante que identifiquemos o significado pretendido pelos
autores.
7. Observe novamente que a linguagem figurada não é mística. As verdades mais profundas
podem ser expressas de modo não literal. Na interpretação deve-se descobrir para onde o
figurado aponta, porque o figurado deve ter uma verdade literal. Os intérpretes não têm a
liberdade de designar figuras ou significados espirituais para profecias. Somente a própria
Escritura tem esta autoridade e não os intérpretes.
8. Mesmo que o NT dê a aparência de alegorizar uma passagem específica no AT, isto não dá o
direito ao intérprete de interpretar outras passagens do mesmo modo. (Exemplo: 1 Cor. 10:1-4)
Se um autor no NT estabelece que uma passagem no AT seja figurada, outras referências no AT
referentes ao mesmo assunto podem ter características figuradas. Por exemplo, o tabernáculo é
citado especificamente como um tipo, então, o intérprete pode legitimamente examinar outras
passagens referentes ao tabernáculo com isto em mente.
Tipologia
Os tipos são muito comuns na Bíblia e bem pouco compreendidos. Pessoas, ritos e cerimônias,
atos e eventos, objetos e cargos (como profeta, sacerdote e rei) são usados nas Escrituras
como tipos. Um tipo pode ser definido como um "símbolo profético".
Um símbolo é alguma coisa que representa uma outra. Muitas vezes um objeto material é
usado para representar uma coisa imaterial. Como exemplo, a Bíblia é representada por
carne, leite, pão, fogo, água, semente, espada e luz.
A linguagem simbólica usa objetos para designar uma característica comum à coisa
simbolizada. A responsabilidade do intérprete é identificar o ponto de referência usando a
Bíblia e não a sua própria experiência ou cultura.
As Escrituras usam números, várias matérias, animais e pessoas. Os símbolos na Bíblia devem
ser compreendidos de acordo com as regras normais de interpretação; porém quando um
símbolo é usado para predizer uma coisa futura, o mesmo assume uma característica
profética. Os princípios usados para se compreender uma profecia são aplicados quando os
símbolos proféticos são usados nas Escrituras.
Observe que um tipo muitas vezes contém um símbolo. O tabernáculo é tratado no NT como
um tipo da redenção de Cristo. Porém, dentro do tabernáculo existiam muitos símbolos como a
água, que figurava uma lavagem espiritual.
Um tipo, por definição, é especificamente uma profecia divina planejada. Devemos estar cientes
da tentação de espiritualizar palavras e versículos. Caindo nesta tentação abre-se a porta para
um abuso ilimitado. Para designar uma ilustração ou aplicação como um tipo é tomar para si
uma autoridade que não é nossa.
Essência
Um símbolo normalmente representa alguma coisa Um tipo pode ser diferente em essência daquilo
diferente em essência daquilo que é representado. que é representado como no caso de um símbolo.
Livro e pão são distintos em essência, porém, pão é Pode também ser alguma coisa semelhante ou até
usado para simbolizar a Bíblia. mesmo igual. O sacrifício de animais e o sistema
sacrificial foram projetados para prever o sacrifício
de Jesus na cruz. Morte é semelhante em ambos os
tipos e aquilo que representa Melquizedeque e
Davi são vistos como tipos de Cristo. O tipo e o
objeto representados são seres humanos.
Um símbolo é ilimitado. Pode simbolizar algo no Um tipo, por definição, aponta para o futuro. É
passado, presente e futuro. geralmente um tipo no AT que prefigura alguma
coisa sobre a redenção no NT.
Referência
A coisa simbolizada pode se referir a mais que uma Um tipo se refere a um só significado. Geralmente
coisa. Uma semente pode se referir à Palavra tipologia bíblica se refere à redenção. O
(Mateus 13:19) ou aos filhos do reino (Mateus tabernáculo é usado dessa forma no livro de
13:38). A água pode se referir à lavagem, Hebreus.
satisfação, à Bíblia, ou a Jesus. Uma ovelha pode
simbolizar humildade ou falta de entendimento,
vulnerabilidade ou sacrifício. Uma pomba pode
simbolizar a paz, o poder de Deus ou o Espírito
Santo. A serpente pode simbolizar o mal, Satanás,
ou sabedoria.
Elementos Paralelos
Geralmente existe um só paralelo entre o símbolo e Um tipo pode ter vários paralelos. A páscoa é uma
o que o símbolo representa. Um símbolo pode ser foto que detalha muitos elementos da redenção.
usado como paralelo para várias outras coisas. Também o sistema sacrificial e o tabernáculo. Esses
dois tipos contêm paralelos com a verdade do NT.
Múltiplas Referências
As profecias referem-se ao futuro. As profecias no AT referentes a Jesus Cristo podem ser para
sua primeira ou segunda vinda. Algumas profecias no AT que se referem a eventos logo após
a proclamação da profecia são também aplicadas no NT com respeito ao Messias centenas de
anos depois.
As Cartas (epístolas)19
As epístolas não são uma coletânea homogênea. Algumas foram verdadeiras cartas endereçadas
a destinatários específicos; às vezes indivíduos, às vezes uma igreja e outras vezes um grupo de
igrejas. Outras foram escritas mais como um compêndio de doutrina ou instruções para as igrejas
em geral.
Todas são o que tecnicamente se chama de documentos ocasionais (i.é, surgindo de uma ocasião
específica e visando a mesma) e são do século I.
4. oração (opcional): um desejo ou ações de graça (e.g., Sempre dou graças a Deus a vosso
respeito...)
5. o corpo da carta
6. a saudação final e despedida (e.g., A graça do Senhor Jesus seja convosco)
A maior parte dos nossos problemas em interpretar as epístolas deve-se ao fato de estas serem
ocasionais. Temos as respostas mas nem sempre sabemos quais eram as perguntas ou os
problemas, ou até mesmo se havia algum problema. É muito semelhante a escutar um lado de
uma conversa telefônica e tentar descobrir quem está no outro lado e o que aquela pessoa
invisível está dizendo.
Apesar de as epístolas estarem carregadas de teologia, sempre se deve conservar em mente que
não foram escritas primariamente para fazer uma exposição da teologia cristã. É sempre teologia
ao serviço de uma necessidade específica.
As Parábolas
Muitos dos ensinamentos e discursos de Jesus foram feitos através de parábolas. É importante
compreender essa forma de literatura. A parábola é uma história curta que expressa uma
verdade.
É importante distinguir entre uma parábola e um evento histórico. Um evento histórico muitas
vezes é usado como uma ilustração; mas, uma parábola é uma forma histórica especial. Por
definição a parábola não registra um evento histórico, no entanto, ela expressa uma experiência
válida na vida diária dos ouvintes. Por isso a parábola difere das figuras de comparação, como a
alegoria e o simbolismo profético, que nem sempre expressam uma experiência válida.
Ter um ponto principal é a distinção mais pronunciada entre uma parábola e uma
alegoria. Uma alegoria terá muitas significações paralelas entre a história e as
verdades representadas. No caso da parábola, não podemos tratar cada detalhe
como uma aplicação espiritual.
Isso não quer dizer que a parábola nunca poderá contribuir para uma maior
compreensão de uma doutrina. Quando uma parábola é interpretada, ela pode ser
usada como qualquer outra passagem literal e clara na construção de doutrina. Mas,
geralmente, a linguagem figurada não é o melhor ingrediente para se construir
doutrinas.
Os Salmos20
O Livro dos Salmos é uma coletânea inspirada de orações e hinos hebraicos. Este livro exige algumas
considerações hermenêuticas especiais, pois, ao contrário do restante dos livros da Bíblia, os salmos
são palavras faladas para Deus ou acerca de Deus ,e que estas palavras, também, são a Palavra de
Deus.
Os Salmos nos ajudam a nos expressarmos diante de Deus. São de grande ajuda para o crente que
deseja ter ajuda da Bíblia para expressar alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, esperanças e
pesares.
Davi escreveu quase metade dos Salmos: 73 ao todo. Moisés escreveu um (o Salmo 90), Salomão
escreveu dois (o 72 e o 127), os filhos de Asafe escreveram vários e os filhos de Coré também.
20 Ibid., p. 175-195
A Poesia Hebraica21
Sendo a poesia cheia de linguagem figurada, devemos usar as diretrizes que estudamos para
entender o significado da linguagem não literal. A poesia se diferencia da prosa na sua estrutura
lingüística.
A poesia de certas línguas ou idiomas é distinguida pelo ritmo sonoro que ocorre com o uso de certas
palavras. O número determinado das sílabas dá uma qualidade musical. Tradicionalmente existe
uma rima entre as palavras.
Paralelismo Sinônimo - um pensamento pode ser expresso uma segunda ou terceira vez
de modo diferente em cada linha (Provérbios 1:20, 22, 28, 30-31). A repetição de uma
idéia usando palavras diferentes é muito útil quando se está procurando o sentido
desejado pelo autor.
21 McQuilken, p. 199-205
5º
Faça um estudo das palavras-chave do texto.
P
ri ANÁLISE MORFOLÓGICA
n
A cí
meta é pesquisar cada palavra-chave, palavras repetidas e palavras de sentido obscuro. Palavras são
ospiblocos para se construir um entendimento do significado da passagem. Para se compreender o
significado
o desejado pelo autor temos que considerar os significados das palavras individuais.
Por que as palavras são tão problemáticas? Porque elas raramente têm um significado idêntico em
todos os contextos. Uma palavra pode ter uma variedade de significados de forma que somos
dependentes do contexto para entender o significado pretendido. Em tradução o problema é que
raramente uma palavra, num idioma, significa a mesma coisa em um outro. Assim, a tarefa de um
tradutor é definir o significado de uma palavra no contexto original para procurar uma palavra ou
expressão no seu idioma que dê o significado mais semelhante possível ao original. Considerando-se
que a tarefa é basicamente de interpretação, o estudante fará um estudo direto de todas as palavras
que tenham importância para identificar o significado específico que o autor tinha em mente.
Por serem usadas de um modo especial, palavras técnicas como justificação e palavras figuradas
como morte devem ser estudadas. Assim também, palavras profundas como pecado e amor
devem receber muita atenção nos nossos estudos.
Uma palavra que tenha uma grande variação de significado nem sempre é entendida
completamente ou imediatamente.
Exemplo: Vários usos da palavra “morte” (Leia Colossenses 2:12, 13, 20; 3:5).
1) morte física de Cristo (v.12)
2) as pessoas estão "mortas" antes de se tornarem cristãs (v. 13)
3) as pessoas "que morreram" quando se tornaram cristãs (v.20)
4) um crente deve fazer morrer a natureza terrena (3:5)
Várias palavras no original podem ser traduzidas por uma só palavra no português. Talvez a palavra
traduzida como "amor" em João 21:15-19 seja a ilustração mais famosa desse exemplo. Quando Cristo
perguntou a Pedro se ele o amava, Pedro respondeu com uma palavra diferente, sendo que essa
diferença é difícil de se traduzir em português.
"
Novo " é outra palavra importante nesta categoria. No texto grego, neos fala de uma existência
nova e kainos se refere a um aspecto novo ou uma profundidade nova. Jesus usou kainos em João
13:34.
Quando lemos somente o texto em português é difícil imaginar que uma palavra no grego
pudesse ter tantas variações no português.
Exemplo:
Mateus 4:21 - consertando
Lucas 6:40 - instruído
Romanos 9:22 - preparados
Gálatas 6:1 - corrigi-o
1 Pedro 5:10 – aperfeiçoar
Em primeiro lugar, para achar todas as vezes que uma palavra ocorre na Bíblia, use uma
concordância bíblica:
1. Procure a palavra na concordância;
2. Ache e leia todos os versículos onde a palavra é encontrada;
3. Ao mesmo tempo, faça anotações de como a palavra foi usada (anote o contexto do
versículo e o significado que lhe foi dado);
4. Organize todos os versículos de acordo com seus significados;
5. Escreva um sumário sobre os vários significados e a importância de cada um.
Muitas vezes um autor pode usar o recurso da repetição de uma palavra importante para
dar ênfase. Mt. 28:18-20 – uso da palavra “todo(a)” –usado 4 vezes.
Figuras de Linguagem
(as mais importantes)
I. Figuras de Comparação
A. Símile – Duas coisas diferentes são explicitamente comparadas.
1. Metáfora – a comparação está subentendida (Is. 48:4).
B. Representação – Uma coisa é tomada para representar alguma outra.
1. Símbolos – geralmente um objeto material representando um abstrato. É uma
metáfora mais universal e emblemática.
a) Tipo – um símbolo profético.
V. Perguntas retóricas – perguntas para a afirmação de uma verdade; a resposta é óbvia para os
ouvintes.
VI. Expressões Idiomáticas – próprias de um grupo, pessoa, ou língua específica – não podem ser
bem traduzidas.
A. Omissão
B. Charadas
C. Fábulas
D. Eufemismo – narração incompleta
Primeira regra: A linguagem bíblica deve ser tomada o mais literal possível, a menos que exista uma
dessas três fortes razões para ser considerada figurada:
1. Se a passagem for obviamente irracional, não razoável ou absurda, se tomada literalmente,
pode-se inferir que seja uma figura de linguagem.
Segunda regra: o ponto de vista do autor e dos “receptores” originais, não a nossa própria
percepção, devem controlar nossa compreensão daquilo que seja apropriadamente literal ou
figurado.
As idéias na Bíblia não são determinadas pela estrutura gramatical da língua portuguesa e sim da
língua original (no Novo Testamento, o grego; no Velho Testamento, o hebraico). Na maioria das
vezes, a leitura do texto em português é suficiente para analisar a estrutura gramatical e identificar
como fluem as idéias.
Para se saber como as idéias fluem numa passagem é importante fazer-se várias perguntas sobre
toda a unidade de pensamento:
1. O quê ou quem é o sujeito principal (o agente de ação)?
2. Que ação fez o sujeito (o verbo)?
3. O quê ou quem é o recipiente da ação (objeto direto ou indireto)?
4. Como as diferentes partes da idéia têm sido modificadas por uma palavra ou frase
(adjetivos - toda palavra que modifica a compreensão do substantivo - e advérbios - toda
palavra que modifica a compreensão do verbo, do adjetivo ou outro advérbio).
5. Quais são os relacionamentos entre as várias partes do pensamento? Preposições (para,
antes, depois, por), conjunções (e, mas, entretanto, se, porém, “agora, porém”, também,
da mesma forma, portanto, assim pois, etc.) e interjeições indicam relacionamento.
Conjunções são extremamente importantes. Alguns indicam continuidade de pensamento,
outros contraste e ainda outros, condição.
“Se” – condição – Dt 28:1-3, 13, 15
Quando vemos uma frase que se inicia por uma conjunção, devemos voltar ao contexto
anterior para interpretarmos corretamente a sentença. Alguns exemplos:
“entretanto”, “porém”, “agora, porém”, “mas” – contraste – Jo. 8:1 cf. 7:32b, 45; Rm.
7:6; Mt. 1:19 (ARA); Mt. 6:20 (NVI)
“também”, “da mesma forma” – continuidade – Rm. 8:26)
6. Como a idéia-chave se relaciona com as idéias antes ou depois?
Para se achar outras passagens relacionadas com o texto em questão é necessário usar ajudas tais
como: chave bíblica, dicionário bíblico, enciclopédia bíblica, Bíblias de estudo, etc.
Motivação para o estudo da teologia sistemática: A motivação do nosso estudo deve ser a aplicação
do que aprendemos à nossa vida.
A atitude que devemos ter no estudo da teologia sistemática: humildade. Esta humildade em relação
às doutrinas bíblicas é o resultado do reconhecimento de que: 1) a revelação de Deus é somente
parcial (Ele não nos revelou tudo que Ele sabe), 2) nós somos finitos (e temos dificuldades para
entendermos o que é infinito), 3) somos seres pecadores e imperfeitos, 4) precisamos de uma
mente aberta, e 5) devemos estar prontos a obedecer.
Às vezes não existe uma intenção de citar palavra por palavra do versículo do Antigo
Testamento; simplesmente citavam a idéia do versículo.
Deus, como inspirador da Bíblia, tem o direito de dar o seu próprio sentido para as
passagens do Antigo Testamento.
Mesmo após verificarmos todas as possibilidades para darmos uma explicação plausível às
contradições aparentes, nem sempre conseguiremos. Isto não significa que exista realmente uma
contradição. Só significa que nós não conhecemos a explicação.
Nem todo o ensino do Antigo Testamento se aplica ao cristão do Novo Testamento. Mas a própria
Bíblia deve determinar qualquer mudança na aplicação. Um exemplo é o sistema de sacrifícios de
animais que foi substituído pelo sacrifício de Jesus. Isto inclui também as leis cerimoniais que eram
relacionadas com o Templo (que já não existe mais). As leis civis do Antigo Testamento relacionadas
à nação de Israel como estado não se aplicam mais, pois o Reino de Cristo não é deste mundo, mas é
um reino espiritual.
A regra de base é esta: Toda Bíblia deve ser aceita como norma de fé e prática para todos, em todas
as culturas, em todas as épocas, a não ser que a própria Bíblia coloque limites em como ela deve ser
aplicada. Estes limites podem se encontrar no contexto imediato ou em outras partes da Bíblia.
Infelizmente, muitos estudantes querem compartilhar de uma bênção da Palavra de Deus por
meio de impressões subjetivas sem considerar o significado intencionado pelo autor. Assim, eles
pensam que as impressões são mensagens autorizadas por Deus.
Devemos pagar o preço para nos dedicar ao trabalho de compreender as Escrituras para que o
que nós acreditamos e obedecemos seja realmente a vontade de Deus e não apenas idéias nossas.
Há outros, porém, que são cuidadosos em investigar o significado pretendido pelo autor, mas que
não aplicam as verdades em suas vidas. Seus estudos não incluem uma reflexão nas aplicações
que Deus deseja.
Declarações Explícitas
Quando a doutrina bíblica é explicitamente declarada, a única ação aceita por Deus é a aplicação e a
obediência por meio da fé. Quando a doutrina é claramente ensinada, somos chamados a exercitar
nossa fé. Isso significa mais do que concordar com a verdade. É uma aplicação onde encaramos as
implicações de cada doutrina e aprendemos a usá-las em nossa vida.
Observemos que existem verdades, promessas e mandamentos para se crer e obedecer. No caso
de promessas, a Bíblia está repleta de promessas para o povo de Deus, mas enquanto nossas
mentes não estiverem tranqüilas e refletirem contentamento, nós não as temos verdadeiramente
aplicado.
E se os ensinamentos não são explícitos? Têm menos autoridade? Não! A Bíblia é um livro de
princípios gerais e não somente de declarações explícitas. Observe os seguintes pontos:
1. Os princípios na Bíblia têm a mesma autoridade que as declarações explícitas. Exemplo: Em Mt.
5:22 o que está explícito é usar “racá” ou “louco”, mas o princípio se aplica para outras formas
de insultos também.
2. Não há um princípio (como, por exemplo, o amor) que pode ser usado para enfraquecer uma
declaração explícita.
Princípios Gerais
Um princípio genérico é uma norma que pode ser aplicada em mais de uma situação. Deve ser
tratada da mesma forma que uma declaração explícita: fé e obediência.
1. Princípios declarados explicitamente. Exemplo: amar o nosso próximo como a nós mesmos (Lv.
19:18).
O objetivo é poder determinar todas as implicações do mandamento às situações
contemporâneas.
2. Princípios gerais derivados por dedução lógica de ensinamentos explícitos. Exemplo: Existe
ensino explícito contra o adultério (Ex. 20:14) e contra olhar para uma mulher com intenções
impuras (Mt. 5:28). O princípio que se deduz destes e outros ensinamentos é a necessidade da
pureza sexual. Apesar da pornografia não ser mencionada explicitamente na Bíblia, é uma
aplicação deste princípio.
As Escrituras deixam muitos eventos históricos sem interpretação, mas em muitos deles elas
providenciam julgamentos: a conduta é condenada ou incentivada. Em alguns casos as
Escrituras vão mais além, dando razão para a condenação ou o incentivo.
Livros da Bíblia que não são considerados históricos podem oferecer princípios para serem
aplicados. Orações e hinos registrados nas Escrituras podem providenciar princípios para
aplicação em nossa vida. Porém, esses devem ter a autoridade da inspiração como a de Davi e
Paulo.
CONCLUSÃO
Neste estudo temos visto a importância de uma interpretação cuidadosa da Palavra de Deus. Sem
uma interpretação cuidadosa, corremos o risco de sermos manipulados por pessoas que ensinam
uma falsa doutrina. Corremos também o risco de ensinarmos nós mesmos coisas que a Bíblia
nunca tinha intenção de ensinar.
Lembre-se de que o diabo foi o primeiro intérprete da Palavra de Deus. Ele, através da serpente,
disse a Eva: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do
jardim’?” Ora, sabemos que esta interpretação era errônea. Na tentação de Jesus, o diabo usou
uma passagem bíblica para tentar Jesus. Mas ele usou um texto incompleto e o tirou do seu
contexto imediato, aplicando-o de forma incorreta à situação em que Jesus se achava. Jesus não
foi enganado. Nós também precisamos ficar de sobreaviso.
McQuilkin, Robertson. Understanding and Applying the Bible (Chicago: Moody Press, 1992). Este
livro serviu como base para a confecção desta apostila.
Fee, Gordon e Stuart, Douglas. Entendes o que Lês? (São Paulo: Vida Nova, 2ª edição, 1997).
Virkler, Henry. Hermenêutica Avançada (São Paulo: Vida, 1987).
Lund, Eric e Nelson, P.C. Hermeneutique (Deerfield: Vida, 1985).
Henrichsen, Walter. Princípios de Interpretação da Bíblia (São Paulo: Mundo Cristão, 1978).
Introdução
Há uma terrível mistura doutrinária no cenário evangélico contemporâneo. Isto é tão óbvio que dizê-
lo soa banal. Mas tenho que começar por aqui. A multiplicidade de igrejas neopentecostais
autônomas, isto é, desvinculadas de qualquer denominação, sem quaisquer outras como parâmetro,
e cultivando uma postura monárquica e arrogante ("Deus nos levantou como único porta-voz da sua
Palavra") liquidou a possibilidade de uma interpretação bíblica no cenário evangélico que se possa
chamar de uniforme. Tempos atrás recebi um e-mail zangado de uma pessoa que discordava de
uma interpretação que fiz no Antigo Testamento. Discordar de mim é um direito e é até normal. Mas
o que me intrigou foi o título que a pessoa se atribuiu: "rabino judaico-cristão". Em resposta a ele
apenas perguntei o que era um "rabino judaico-cristão" e quem era Jesus para ele. Não me veio
resposta.
Usa-se muito a Bíblia, mas isso não é garantia alguma de que o usuário está certo. Isto traz certa
confusão, pois estão acontecendo muitos equívocos na interpretação bíblica que desnorteiam nossas
igrejas, tanto na doutrina como na prática. Neste trabalho quero abordar alguns aspectos que nos
ajudarão a entender um pouco mais esta questão.
obedecido como estava. Então eu lhe disse que se sentasse, ficasse calada, nada dissesse, e
deixasse para perguntar em casa (não na igreja) e ao marido (não a mim). Porque está escrito na
Bíblia: "As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas
estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em
casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja" (1Co 14.34-
35). A interpretação bíblica sem análise do contexto cultural e exegético, como ela queria, me
autorizava a agir assim. Cuidado, portanto, com versículos sem conexão com o todo e sem o uso de
regras hermenêuticas, para provar posições.
do erro para a verdade, mas do obscuro para o claro. Se a revelação é progressiva, isto é, caminha
para frente, deve haver um ponto final. E há. É o clímax. Lemos em Hebreus 1.1-2: "Havendo Deus
antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos
nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo". A
palavra final de Deus foi dada por Jesus Cristo. Ele é o ponto final, a chave hermenêutica para se
entender toda a Bíblia.
Isto nos faz entender claramente que o Novo Testamento, o ensino sobre Jesus, é a palavra final. O
Novo interpreta o Antigo. Lemos em Lucas 16.16: "A lei e os profetas duraram até João; desde então
é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele". O tempo antigo
passou. Quando Pedro, na transfiguração, equiparou Moisés e Elias a Jesus, colocando-os como
dignos de atenção, Deus interveio. Retirou Moisés e Elias de cena, e declarou: "Este é o meu amado
Filho, em quem me comprazo; escutai-o" (Mt 17.5). A Igreja não ouve a Moisés e a Elias, e sim a
Jesus. Quando pregamos no Antigo Testamento devemos ter isto em mente: que aspecto de Jesus
este texto mostrará? Pois a pregação da Igreja deve ter Jesus como tônica. Neste sentido, a
interpretação bíblica que faça Jesus desaparecer ou ficar em segundo plano é equivocada.
O uso correto da Bíblia é este: o Novo Testamento é a revelação final de Deus, sendo Jesus "o
cânon dentro do cânon", como Lutero gostava de dizer. Isto é aceito pela nossa Declaração
6
Doutrinária: "Ela (a Bíblia) deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus" .
"Isto é óbvio!", dirá alguém. Mas nos chama a atenção para dois pontos. O primeiro é que devemos
estar atentos à tentativa de rejudaizar a teologia cristã, como temos visto. Evito-me de mais tempo
aqui, pedindo que leiam o anexo aludido anteriormente, "Uma nova reforma", principalmente o tópico
"A rejudaização, um produto tanto teológico quanto comercial". O segundo é que se Cristo é o cânon
dentro do cânon e a palavra final de Jesus, temos que ser muito reticentes quanto às revelações que
surgem amiúde no cenário evangélico. Já citei o episódio de Jorge Tadeu, mas outros, tão ruins
quanto aquele. Segundo o movimento neopentecostal, vivemos na "era do Espírito". Um exemplo
bem claro disto vemos na logomarca da Universal do Reino de Deus. Não é mais uma cruz,
tipificando o ministério de Jesus. Nem uma Bíblia, tipificando a revelação total de Deus. É uma
pomba, tipificando o Espírito. Neste sentido, a revelação, obra do Espírito, continua. A Bíblia é um
depósito de experiências religiosas que pode ser interpretada como se deseja, principalmente pelas
novas revelações, que a ultrapassam.
É preciso considerar que há um equívoco entre dois conceitos: livre exame das Escrituras e livre
interpretação das Escrituras. O livro exame das Escrituras é um direito pela qual a Reforma se bateu
e que nós sustentamos. Todos têm o direito de examinar as Escrituras, de estudá-la. Mas ninguém
pode alegar-se o direito de interpretá-la como quiser. Ao examinarmos a Bíblia, descobrimos que
Jesus vai voltar. Isto é livre exame. Todos podem ler a Bíblia, e ler nela sobre a segunda vinda de
Jesus. Na obra citada de Paulo Romeiro, ele transcreve um sermão de Valnice Coelho, em que ela
marca a volta de Jesus para 2007. Ela tomou a palavra de Jesus "não passará esta geração sem que
todas estas coisas aconteçam", aplicou esta frase à geração que viu Israel retomar Jerusalém
(1967), afirmou que uma geração dura 40 anos, e somou 1967 mais 40 e chegou a 2007. E disse,
textualmente: "Deus me trouxe isso no espírito agora em Israel quando eu estava às margens do
7
Jordão" . Agora, ela saiu do livre exame para a livre interpretação. Qual a base para se dizer que o
versículo citado se aplica à geração que viu Jerusalém voltar às mãos dos judeus? Qual a base para
se dizer que uma geração dura 40 anos? E o que fazer desta declaração de Jesus: "Mas daquele dia
e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai" (Mc 13.32). Nem
Jesus sabe, mas uma pessoa, interpretando a Bíblia como quer, ultrapassa Jesus. Pelo menos já
sabe o ano. A livre interpretação é uma postura arrogante. Nunca, jamais, em tempo algum, alguém
viu na Bíblia o que aquela pessoa vê, agora. Ela se coloca como fonte autorizada e continuada da
revelação divina. Despreza toda a herança teológica de 2.000 anos de cristianismo. Ela ultrapassa a
própria Bíblia.
Uma questão mais: o movimento neopentecostal tem confundido a psiquê, a interioridade humana,
com o ruah, o Espírito do Senhor. Assim, o que a pessoa sente passa a ser verdade. Como se ouve
a frase: "Eu senti em meu coração!". Isto não quer dizer nada. Quando eu tinha 18 anos senti no meu
coração que deveria me casar com a cantora Wanderléia. Ela nem sabe que eu existo. E casei
melhor do que se tivesse casado com ela. Os próprios crentes tradicionais têm confundido seu íntimo
com a voz de Deus. Devemos nos lembrar de Jeremias 17.9: "Enganoso é o coração, mais do que
todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?".
Essa atitude é perigosa. Ela internaliza a verdade, coloca a verdade dentro de nós, ao invés de
colocá-la como externa a nós. Neopentecostais se valem deste recurso, e assim confundem sua voz
interna com a voz do Espírito. Não estou divagando. Estou chamando a atenção para um perigo: tirar
a fonte de autoridade das Escrituras e colocar na pessoa (peço, mais uma vez, que leiam a matéria
"Uma nova reforma").
2. Trazendo os ensinos humanos ao seu crivo, subordinando-os a ela. Todo profeta, todo
pregador, deve ser avaliado à luz das Escrituras. Se ele falar e não se cumprir, ele é falso (Dt
18.22). Se ele falar, cumprir-se o que ele falar e ele desviar o povo da Palavra, deve ser
morto (Dt 13.1-5). O padrão é sempre a Palavra falada de Deus.
3. O bom senso recomenda que se fuja das interpretações que jamais alguém viu, do
ineditismo. Quem se coloca sob holofotes deve ser rejeitado imediatamente.
4. Os batistas não surgiram ontem e têm uma herança teológica coerente, uma teologia
fechada (no sentido de ser completa, de abarcar todas as áreas da vida). Cuidado com
visões fragmentárias, em que toda a Bíblia é analisada à luz de uma parte.
5. Cuidado com o experiencialismo, aquela atitude em que as experiências humanas são
válidas e julgam a Bíblia. É a Bíblia que deve julgar nossas experiências, e não o oposto. A
ordem é FATO > FÉ > EMOÇÃO. Existe um FATO: Deus e sua Palavra. Eu tenho FÉ neste
fato. Como conseqüência de minha FÉ neste FATO experimento a EMOÇÃO de ser salvo,
de ter direção na minha vida, etc. Quando a ordem é invertida, em vez da Bíblia reger minha
vida, minha vida rege a Bíblia. Isto é uma variação da neo-ortodoxia: a Bíblia se torna a
Palavra de Deus pela minha experiência.
6. Como conseqüência, o ensino bíblico criterioso, a hermenêutica correta e a exegese bem
feita devem ser objetos de estudo do pastor, para alimentar sadiamente sua igreja.
Conclusão
Terminar é mais difícil que começar. Mas espero terminar de maneira pelo menos satisfatória. Tenho
visto que o ensino da Bíblia tem sido feito de maneira espetaculosa e pouco sóbria. Não quero ser
juiz, mas por vezes, assistindo programas evangélicos na televisão, surpreendo em ver a Bíblia
sendo esgrimida, mas pouco dela aparecendo, e muito do pregador sendo mostrado. Lembro-me de
uma antiga oração dos crentes, pedindo pelo pregador: "Esconde o teu servo atrás da cruz de
Cristo". Bonita oração! Parece-me que hoje se ora assim, em alguns círculos: "Esconde a cruz de
Cristo atrás do teu servo!". Quem deve brilhar é a Bíblia. Se os trejeitos do pregador brilham mais, se
ele chama a atenção para suas idéias, de modo que elas brilhem, e não a Palavra, algo está errado.
Disse o Batista sobre Jesus: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.30). O bom uso
da Bíblia é aquele em que o pregador diminui e ela cresce. O povo aprende da Bíblia. Quando
aprende das idéias do pregador, algo está errado.
Isto não é hermenêutica, mas o princípio vale. A boa hermenêutica é aquela em que Jesus brilha, a
cruz resplandece, Deus é glorificado. Se a esquisitice triunfa e o culto à personalidade aparece, fuja
do esquema. A síntese é esta: quando examinar a Bíblia, procure por Jesus em suas páginas. E veja
o que sua vida deve absorver do estudo. Se a exegese, produto da hermenêutica, destoa do ensino
da Igreja, do testemunho dos séculos, fique desconfiado. Até mesmo de si próprio. Nenhum outro
fundamento pode ser posto: "Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto,
o qual é Jesus Cristo" (1Co 3.11). É bom firmar as raízes no que conhecemos.
* Preparado para a Convenção Batista Fluminense, em março de 2005, e originalmente encontrado no site da Igreja Batista do
Cambuí, disponibilizado sob autorização
** Isaltino Gomes Coelho Filho é pastor batista, pastoreando a Igreja Batista do Cambuí – Campinas – SP desde 12 de fevereiro de
2000. É natural do Rio de Janeiro – RJ, nascido em 10 de fevereiro de 1948. É Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil, Bacharel em Filosofia pela Faculdade 9 de Julho e tem formação em Psicanálise Clínica pela Sociedade Brasileira de
Psicanálise Cristã. É Pós-Graduado em Educação com especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Católica
de Brasília e Mestre em Teologia com especialização em Antigo Testamento pelo Seminário Teológico Batista Equatorial.
1 COELHO FILHO: "Reflexões sobre o púlpito brasileiro", in HORREL, Scott (coord.). Vox Scrpturae, vol. IV, número 1, março de 1994,
p. 4.
2 HAGIN, Kenneth. O Extraordinário Crescimento da Fé. Rio de Janeiro: Graça Editorial, s/d, p. 17
3 Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, item I - "Escrituras Sagradas"
4 ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em crise. S. Paulo: Mundo Cristão, 1995, p. 59.
5 Ib. ibidem, p. 48.
6 Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, item I - "Escrituras Sagradas"
7 ROMEIRO, op. cit, p. 183.
8 Trabalho apresentado em Congresso Doutrinário na PIB de S. Vicente, SP.
Identifique cada figura de linguagem grifada nos versículos abaixo usando uma das seguintes letras:
a. = símile
b. = metáfora
c. = hipérbole
d. = antropomorfismo
e. = personificação
f. = eufemismo
( ) “Muitos touros me cercam, sim, rodeiam-me os poderosos de Basã.
( ) Como leão voraz rugindo, escancaram a boca contra mim.
( ) Como água me derramei,
( ) e todos os meus ossos estão desconjuntados.
( ) Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo”.
Salmo 22:12-14
( ) “Foram as tuas mãos que me formaram e me fizeram”. Jó 10:8 (Jó falando com Deus).
( ) “Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo.” João 11:11
( ) “...e todas as árvores do campo baterão palmas.” Is. 55:12
( ) “Então tirarei a minha mão e você verá as minhas costas: mas a minha face ninguém poderá
ver”. Ex. 33:23 (O SENHOR falando a Moisés)
( ) “Por que, ó montes escarpados, estão com inveja do monte que Deus escolheu para sua
habitação?” Sl. 68:16
( ) “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será
salvo.” Rm. 9:27b
( ) “Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve ciúmes de sua irmã e disse a Jacó: Dá-me filhos,
senão morrerei.” Gn. 30:1