Você está na página 1de 2

E.E.E.F.M.

PROFª DAURA SANTIAGO RANGEL

PROF. HUMBERTO OLIVEIRA – FÍSICA – www.fisicaconectada.com.br

Aluno (a): _________________________________________________________ Turma: _________


MAIS RICO E QUENTE: MORADORES DE BAIRROS NOBRES
TÊM QUE PAGAR PARA NÃO SENTIR CALOR
Ainoã Geminiano / 21 de fevereiro de 2016

Os bairros mais nobres de João Pessoa são os mais quentes da cidade, no período seco do ano. Foi o
que mostrou um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Assim,
moradores de bairros de classe média e alta estão tendo que gastar mais para ter um conforto térmico.

Manaíra é o que tem a pior ‘ilha de calor’, seguido do Cabo Branco, apesar da proximidade da praia, com
um aumento de mais de 5 graus na temperatura, em relação a espaços mais arborizados. O Bancários, na
zona Sul, é o terceiro mais quente.

Consumo maior. O estudo revelou que as áreas verdes perderam espaço para as edificações e ruas
encobertas de asfalto ou calçamento, que aquecem e impermeabilizam o solo.

Além disso, as moradias e os espaços de trabalho são estruturas que utilizam climatização artificial, obtida
com sistemas mecânicos que, além de aumentar o consumo de energia, contribuem para a elevação da
temperatura no ambiente externo.

E, segundo a pesquisa, em se tratando de conforto térmico não adianta ter na cidade concentrações de
vegetação (como a Mata do Buraquinho e o Parque Arruda Câmara), se não há uma distribuição regular
de árvores nas ruas e bairros da cidade.

Temperatura sobe longe da mata

Para mostrar a realidade das áreas urbanizadas de João Pessoa, o estudo tomou como base as
características da Mata do Buraquinho, área da cidade que mais se aproxima da vegetação original. “Há
alguns trechos, a exemplo da Avenida Pedro II, que passa pela área urbanizada e pela Mata do
Buraquinho, em que as pessoas conseguem sentir na pele essa diferença de temperatura”, o geógrafo
Joel Silva dos Santos, coordenador da pesquisa.

O aposentado José Job Sobrinho mora há 6 anos no bairro de Manaíra, apontado como o mais quente da
Capital. Ele gosta de andar por outras áreas da cidade e percebe a diferença de temperatura.

“Existe uma lanchonete no Centro da cidade, que gosto de frequentar, só porque tem um vento muito
gostoso e frio que passa pela frente. A gente fica lá sentado conversando. É muito diferente daqui. Eu
moro no terceiro andar de um prédio, mas não consigo dormir sem um ventilador bem perto de mim”,
afirmou.

Regulador. Um dos conceitos da pesquisa diz que o conforto térmico nas áreas urbanas é influenciado
pela geometria das cidades, os níveis de umidade, a propriedade térmica dos materiais que cobrem o solo
e, o mais importante, a vegetação disponível. As árvores funcionam como reguladores de temperatura,
absorvendo e dissipando o calor. Também são responsáveis pelo controle da radiação solar, criando uma
espécie de filtro dos raios, além de controlar os ventos, a umidade do ar e filtrar parte da poluição
ambiental.

Umidade e desconforto. Além ter uma grande área do solo encoberta por prédios, calçadas, calçamentos e
asfaltos, João Pessoa tem um item natural que contribui para o desconforto térmico: a alta umidade do ar.
Uma consequência da cidade estar junto ao oceano e ter vários bairros com altitude no mesmo nível do
mar. “Quando a umidade é alta, o ar que aquece demora a resfriar. Com isso, as noites se tornam muito
quentes, no litoral. Isso não acontece no interior, onde a umidade é mais baixa. Lá, o ar aquece e resfria
na mesma rapidez, o que faz com que ocorram dias quentes e noites frias”, explicou o meteorologista
Ednaldo Araújo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Ele disse que as ilhas de calor são uma realidade, mas que João Pessoa ainda tem sorte de não permitir
construção de prédios altos nas ruas próximas da orla. “É uma cidade praticamente toda alcançada pelos
ventos que vêm do oceano, já que não existem barreiras que impeçam as correntes de ar”, acrescentou.

32,7°C foi a temperatura mais alta registrada no bairro dos Bancários.

Telhados verdes são opção

Na falta de espaços com terra livre para plantio nos bairros mais atingidos pelas ilhas de calor, uma
sugestão apontada pelos especialistas é a construção dos ‘telhados verdes’, que são jardins cultivados na
cobertura dos prédios. A medida já é bastante utilizada em países da Europa. “Claro que as árvores
plantadas diretamente no chão conseguem atingir portes maiores e ter maior influência no clima. Mas os
jardins suspensos também funcionam, começando o resfriamento pelo próprio prédio, reduzindo a
utilização de meios mecânicos de refrigeração”, disse Joel Silva.

Apesar dessa comprovação, João Pessoa praticamente não tem prédios com jardins suspensos. Uma das
raras exceções é o hotel Verde Green, que foi construído justamente no bairro de Manaíra, no ano de
2008. O local do empreendimento foi escolhido por já haver estudos na época que mostravam ser o bairro
com menos arborização da cidade. “Como a empresa tem uma proposta de envolvimento com as
questões ambientais, o hotel foi trazido para cá também com a finalidade de colaborar com a recuperação
do verde no bairro”, disse o assistente de sustentabilidade, Rafael Santos.

Falta planejamento. O estudo da UFPB mostrou que o crescimento imobiliário de João Pessoa, sem um
planejamento ambiental, provocou desequilíbrio no clima urbano e a criação das ilhas de calor. Enquanto
isso, a vegetação da cidade, capaz de regular o clima, está concentrada em áreas isoladas. “É necessário
que a cobertura verde esteja espalhada de forma homogênea pela cidade. Para isso, é preciso haver
planejamento”, disse Joel.

Segundo o geógrafo, com tantos debates em pauta sobre os problemas ambiental, o assunto é discutido
em todo mundo, o que tem aumentado a preocupação dos gestores com tema. “Apesar disso, ainda é
grande a distância entre o que é colocado no papel e do que é posto em prática. O planejamento das
cidades atualmente é muito pensado na especulação imobiliária. Já existe em João Pessoa, por exemplo,
a Lei que determina a criação de telhados verdes nos prédios, mas ninguém cumpre”, afirmou.

Apostando na conscientização

Apesar da redução da área verde em João Pessoa, a secretária de Meio Ambiente do município, Daniella
Bandeira não acha necessário a criação de uma legislação que obrigue o replantio de árvore. Segundo
ela, a Capital mantém cerca de 30% de sua área coberta pela vegetação e a gestão pública deve apostar
na educação ambiental dos moradores. Para isso, a pasta está executando o plano de arborização, com a
finalidade de recuperar a área verde perdida da cidade.

“Os pessoenses são muito receptivos à distribuição de mudas. Temos um viveiro que trabalha na
produção de mudas e estamos fazendo um trabalho de recuperação de nosso verde. Claro que o
resultado demora a aparecer, porque as árvores precisam de tempo para crescer”, disse Daniella.
Segundo a secretária, a meta da pasta é fechar o ano de 2016 com 100 mil mudar plantadas ou
distribuídas.

Disponível em: http://correiodaparaiba.com.br

Você também pode gostar