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VII Encontro de Iniciação Científica e Pós-Graduação

IFSP – Campus São Paulo

A
PLATAFORMA GEOIKP - BASE DE DADOS DE SOLUÇÕES BASEADAS NA
NATUREZA¹

SALES, Priscilla Barreiros²


MORAES, Marília Miranda de³
LUCCHESE, MARIA CECÍLIA⁴

RESUMO
O artigo apresenta parte de pesquisa de Iniciação Científica onde se vem
pesquisando intervenções realizadas em vários países com o objetivo de minimizar os
efeitos de eventos extremos.
A pesquisa levantou dados da plataforma Geospatial Information Knowledge
Platform (GeoIKP), pertencente ao Operandum Project, que se dedica a estudar e
divulgar estratégias de mitigação de riscos de eventos hidrometeorológicos.
As intervenções são soluções baseadas na natureza (SBNs, ou NBSs em inglês),
que se propõem a utilizar recursos naturais na mitigação de eventos como secas
prolongadas, ondas de calor, alagamentos e deslizamentos, etc.
Após um levantamento inicial de intervenções espalhadas pelo planeta, a pesquisa
focou em levantar casos de três países: Inglaterra, Espanha e Brasil. Nesses países, o
maior realizador de intervenções foi o poder público, principalmente nas áreas urbanas,
onde os problemas afetam mais pessoas. Por serem soluções normalmente mais baratas
do que as tradicionais, essas soluções tendem a aumentar, e o artigo apresenta alguns
resultados da pesquisa até aqui realizada e faz algumas considerações sobre estes
casos.
Palavras-chave: plataforma GeoIPK; mudanças climáticas; soluções baseadas na
natureza

INTRODUÇÃO
“Como um organismo individual, as cidades recebem a entrada de materiais, água,
energia e alimentos. Elas transformam e armazenam parte dessa entrada e geram
resíduos no processo. Embora cubram apenas 1% a 3% da área terrestre do planeta e
abriguem 50% da população, as cidades são responsáveis por cerca de 70% da
produção de CO2, 60% do uso residencial de água e 76% do uso industrial de madeira.”
(McKinney, 2010 apud ADLER e TANNER, 2015, pg. 65).

Essas transformações antrópicas vêm ocasionando sérias mudanças no padrão do


clima terrestre e as cidades são ecossistemas que vem sofrendo de forma acentuada as
consequências dos eventos extremos decorrentes dessas mudanças. Gestores urbanos
vêm procurando soluções para minimizar os efeitos desses eventos, e cada vez mais está
se recomendando a utilização de soluções baseadas na natureza, soluções cujo melhor
entendimento é objetivo maior da pesquisa que orienta este artigo.
Nela buscou-se levantar dados disponíveis na Plataforma on line GeoIKP -
Geospatial Information Knowledge Platform, localizada no sítio do Operandum Project e
que reúne informações sobre intervenções realizadas no planeta, para lidar com eventos
extremos, como secas, tempestades, alagamentos etc.1
1
Projeto de Iniciação Científica - PIBIFSP 2022 IFSP.
² Graduanda em arquitetura e urbanismo; priscilla.sales@aluno.ifsp.edu.br
³ Graduanda em arquitetura e urbanismo; marilia.miranda@aluno.ifsp.edu.br
⁴ Arquiteta e urbanista, Dra. em teoria e história do urbanismo; cecilia.lucchese@ifsp.edu.br.

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Estas soluções têm em comum serem baseadas na natureza, isto é, elas utilizam
elementos naturais, principalmente vegetação, para minimizar os efeitos desses eventos,
ou proteger margens de cursos d’água e encostas, de solapamentos ou deslizamentos.
O Operandum Project foi criado com o objetivo de disponibilizar ferramentas e
metodologia para demonstrar a efetividade de soluções baseadas na natureza (SBN) de
reduzir riscos hidro-metereológicos. O sítio na web foi projetado para divulgar ações e
intervenções feitas por colaboradores e empresas, em intervenções e laboratórios ao ar
livre, e são estas ações que vem sendo divulgadas.
As pesquisas, e a manutenção do site, contam com recursos da União Europeia, e
deve ser por isso que a maior parte das intervenções registradas acontece no espaço
europeu, e teve por objetivo aumentar a resiliência de áreas rurais e urbanas naquele
contexto.
De acordo com o site, SBN (NBS em inglês) são soluções que são inspiradas e
apoiadas pela natureza. Elas podem proporcionar benefícios ambientais, sociais e
econômicos e ajudar a se construir resiliência através de intervenções em cidades e na
paisagem.
Soluções baseadas na natureza são, como o nome sugere, soluções inspiradas na
engenharia natural dos ciclos vegetais, da água, de seres vivos etc. Têm como objetivo
serem menos invasivas ao ambiente do que os métodos convencionais usados até os
dias atuais.
AHERN, PELLEGRINO e BECKER (2012, p. 36) dizem que:
“Assim, para o mundo intensamente urbanizado do século 21, com maiores carências
ambientais, sociais e climáticas, o baixo rendimento dessas infraestruturas
especializadas do século passado se torna ainda mais flagrante. Isto pode ser observado
tanto no momento de sua modernização e substituição, no caso dos países
desenvolvidos, quanto na sua implantação de novo nos países emergentes”.
No site da Operandum as SBNs estão apresentadas numa plataforma interativa, a
GeoIKP, que traz uma série de informações sobre cada uma delas, muitas vezes com
fotos e com geolocalizações, e numa ferramenta cartográfica georreferenciada acessada
a partir da plataforma.
A pesquisa procurou levantar as intervenções realizadas para minimizar problemas
decorrentes dos seguintes problemas ambientais: deslizamentos de terra, tempestades,
alagamentos ou inundações urbanas, secas severas e ondas de calor.
Este artigo explora de forma sintética os resultados obtidos até agora, bem como
relata os problemas encontrados na manipulação da plataforma GeoIKP, que
aparentemente apresenta algumas instabilidades.
Também traz alguns dos dados coletados e informa os futuros passos da pesquisa.

OBJETIVOS
O objetivo geral da pesquisa até aqui realizada foi conhecer a plataforma GEOIKP,
através da exploração dos dados lá depositados.
Os objetivos específicos foram coletar e analisar dados de intervenções
relacionadas aos fenômenos ambientais já citados, independente de em que país
tivessem sido realizadas, traduzi-los e agrupá-los por país e cidade, construindo planilhas
de dados para análise.

METODOLOGIA
Para desenvolvimento da pesquisa, inicialmente foram definidos elementos para
agrupamento das informações, que compuseram a linha mestra das planilhas criadas.
Esses foram: país, cidade, tipo de intervenção ou categoria (se verde, azul, cinza ou
híbrida2), tipo de evento extremo, título do SBN, localização geográfica, agente
empreendedor, local específico e abrangência da intervenção).

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Então passou-se a levantar os dados, sendo o elemento selecionador o tipo de
evento extremo, e a preencher as informações na planilha, num trabalho bastante
minucioso e artesanal, uma vez que não era possível fazer o download dos dados
existentes.
Durante esse processo observou-se que alguns dados que haviam sido coletados
num primeiro momento, não apareciam mais numa segunda coleta, e foram feitas várias
tentativas de entender o fenômeno e verificar se esses voltavam a aparecer na
plataforma, mas isto não ocorreu.
Com isso a previsão inicial de casos para cada tipo de evento não se mostrou
verdadeira. Por exemplo, esperava-se haver mais casos a respeito de ondas de calor do
que os demais eventos, mas verificou-se que há muito mais dados a respeito de
fenômenos climáticos relacionados a alagamentos e deslizamentos de terra do que a
ondas de calor.
Outra inconsistência foi encontrada a partir da forma de acesso à plataforma. Foi
observado que a depender do dispositivo eletrônico e perfil de navegador 3, os resultados
mostrados para uma mesma solução se davam em quantidades e ordens diferentes, de
modo que não é possível saber ao certo, no ponto em que a pesquisa se encontra, quais
são todos os casos de uma determinada SBN.
Desta forma, admitiu-se um erro na coleta de dados, em relação ao quantitativo
proposto pelo projeto de pesquisa, que dizia que seriam levantados todos os dados
existentes sobre um determinado evento. Passou-se, portanto, a partir daí, a se trabalhar
com um número x de dados levantados, que não deve representar o universo de dados
da plataforma daquele evento, e, portanto, ao se falar que existem intervenções para
ondas de calor em um determinado país, é importante ressaltar que isto não significa que
estão esgotadas todas as intervenções existentes disponibilizadas na plataforma para
esse evento extremo, naquele país.
Assim, os quantitativos tabulados exprimem somente situações mais relevantes
entre os dados encontrados.
Neste segundo momento do levantamento de dados da plataforma, quando ficaram
claras as limitações existentes no tipo de levantamento proposto, optou-se por concentrar
os estudos da segunda fase da pesquisa a alguns países, e a tabulação concentrou-se
em casos achados na Espanha e na Inglaterra (por serem os países em que até aquele
momento somavam o maior número de intervenções encontradas para minimizar os
fenômenos selecionados) e no Brasil, por haver interesse em entender os casos em
nosso país.
Com os dados levantados, foram feitas algumas análises do seu conjunto, que se
passa a relatar no próximo item.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados e tabulados um total de 131 casos, sendo 12 relacionados
somente a minimização de ondas de calor, 1 somente a secas, 24 a alagamentos e entre
esses, 21 relacionados a alagamentos urbanos e os restantes estão relacionados a mais
de um tipo de evento climático, sendo muito comum a combinação de alagamentos com
ondas de calor, ou de alagamentos e deslizamentos, por exemplo.
Nos países selecionados foram um total de 92 intervenções, sendo 63 na
Inglaterra, 21 na Espanha e 8 no Brasil. A Tabela 1 detalha melhor essas informações.

25
Entende-se por verde, intervenções que usam vegetação, por azul, intervenções que usam água e cinza,
intervenções que usam águas servidas.
36
A plataforma permite que a pessoa se cadastre como pesquisador, ou como morador, ou como gestor de
políticas, por exemplo.
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Tabela 1 - Casos e Tipos de eventos na Inglaterra, Espanha e Brasil
Evento extremos
Nº de Nº de
País Alagamen Alagamen Tempesta Deslizam Secas Ondas de
casos cidades
tos tos urb. des entos severas calor
Inglaterra 63 58 37 9 9 0 2 6
Espanha 21 12 6 3 0 1 1 10
Brasil 8 7 0 6 1 0 0 1
Fonte: Plataforma GeoIKS, 2022

Na Inglaterra os alagamentos predominam em áreas costeiras, nem sempre


habitadas densamente, enquanto a Espanha, que conta com uma grande porção de seu
território com um clima árido e quente, tem nas ondas de calor o maior motivo das
intervenções.
Quase todos os casos de eventos de ondas de calor nesses três países ocorreram
em áreas urbanas, onde a maior quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, a
presença menor de vegetação e o adensamento construtivo cria um ambiente propício a
formação de ilhas de calor. Isso é observado em relação aos outros eventos, há uma
predominância consistente de intervenções em áreas urbanas, o que mostra que são as
cidades e as populações urbanas aquelas que mais vem sofrendo os efeitos dos eventos
extremos.
Entre as soluções aplicadas 35 são verdes, isto é, significam ampliação de
vegetação, 10 são azuis, significam ampliação de uso da água e o restante são mistas ou
híbridas, isto é, misturam infraestruturas verde e azul, ou, e em alguns casos, verde, azul
e cinza.
No Brasil, as intervenções realizadas, em sua maioria, se propuseram a minimizar
os alagamentos urbanos, dois casos em São Paulo, dois no Rio de Janeiro, um em
Curitiba e um em Benevides (PA). A tabela 2 mostra mais dados dos casos brasileiros.
Dois deles não se enquadram no tema da pesquisa por serem casos que tratam de
eutrofização. Foram coletados de todo modo para melhor observação de como se dão as
soluções baseadas na natureza no Brasil. Por esta mesma razão estes dois casos não
foram contabilizados na Tabela 1, pois são dois casos de exceção.

Tabela 2 – Intervenções com SNB no Brasil

Fonte: Plataforma GeoIKP, 2022.

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‘Ainda é possível notar que todos os casos usam infraestrutura verde, e em dois casos a
água pluvial recebe algum tipo de tratamento para melhorar a qualidade do recurso
hídrico, e todas eles foram aplicados em áreas urbanas. As intervenções são bastante
diversificadas e resta saber se elas tem realmente conseguido minimizar os efeitos dos
eventos para o qual foram pensadas.
Espera-se nas próximas etapas da pesquisa, quando serão selecionados alguns
casos para análises mais aprofundadas, verificar se isso vem de fato ocorrendo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desses resultados dos trabalhos realizados no primeiro semestre, o que se
pretende agora é estudar com mais profundidade alguns dos casos até aqui selecionados,
através do levantamento de outras informações disponibilizadas na plataforma e de uma
pesquisa mais extensa na web para esses casos, a partir de sites de busca.
Espera-se com isso poder verificar se as SBNs selecionadas estão sendo eficazes
em minimizar os problemas para o qual foram propostas, e também o que sua execução
pode ter significado para os moradores das áreas onde foram inseridas, seja em termos
ambientais, sejas em termos paisagísticos, e se assim tiveram rebatimentos na qualidade
de vida dessas pessoas.
Com isso espera-se ter um retrato importante das consequências desse tipo de
intervenção, uma vez que cada vez mais essas soluções vêm sendo recomendadas e
praticadas por algumas de suas características (baixo custo, eficiência e beleza), e uma
melhor compreensão de sua aplicação aparece como sendo bastante importante e
necessário, num momento em que os eventos extremos estão aumentando
significativamente, como decorrência das mudanças do clima.

REFERÊNCIAS

ADLER, Frederick R. e TANNER, Colby J. – Ecossistemas urbanos – princípios


ecológicos para o ambiente construído. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.

AHERN, Jack; PELLEGRINO, Paulo; BECKER, Newton. - Infraestrutura verde:


desempenho, estética, custos e método. In COSTA, Lucia M. S. A e MACHADO, Denise
B. P. (orgs.)- Conectividade e resiliência: estratégias de projeto para a metrópole. Rio
de Janeiro: Rio Books/PROURB, 2012.

Sítios eletrônicos pesquisados:

Operandum Project, 2022. Disponível em:<https://www.operandum-project.eu/>. Acesso


em agosto de 2022.

Plataforma GeoIKP, 2022. Disponível em: <https://geoikp.operandum-project.eu/>.


Acesso em agosto de 2022.

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