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STREGONERIA

Na minha tradição, stregoneria, a ética é vista pelo lado pessoal, não existe o conceito da
dualidade bem e mal, principalmente porque acreditamos que tudo tem 3 lados..., 3 prismas,
para ser visto, sentido, vivido e analisado. Então a ética nesse sentido aqui perguntado, não
existe. Porque vai depender do que cada praticante tem dentro de si. Claro que não se
aconselha matar, roubar, atentar conta a existência de um ser, e note qualquer ser... E também
não achamos que magia, feitiço, encantamento, deva ser banalizado. Explicando melhor, não
usamos ou praticamos a magia pra qualquer coisinha banal, tipo: ah, fulana roubou meu
namoradinho, então vou fazer uma magia pra tomar o fulaninho dela..., Ou, magia contra tal
pessoa porque ela me irritou, esse tipo de "magia barata" não existe na stregoneria. Existe um
respeito pela Arte enquanto Arte, a magia é usada sim, à mercê do praticante, mas pelo que
entendo, tem certo critério, e nesse sentido isso ou esse critério, seria uma ética. A não
banalização da magia...
Trabalhamos com magia natural, usamos as forças da natureza, trabalhamos com essas forças a
nosso favor, e não contra nada e/ou ninguém... Não sei se vocês conseguem perceber a linha
tênue existente aqui.
Também na stregoneria, vemos sob outro ponto de vista esse lado bonitinho dos wiccanos, não
fazer mal a nada e a ninguém... Pois se usa muito aquilo que chamamos de esconjurar (tomar
juramento a, prometer, jurar, amaldiçoar; Aurélio) ou desconjurar, que é palavra sinônima. Mas
isso já é outra história...
Não existe para nós a Luz e a Escuridão existe também o lusco fusco.
O dia e a noite... Pois existe também o entardecer...
O preto e o branco, pois existe também o cinza.
O bem e o mal, pois nada é totalmente bom ou totalmente mal, e também o bem pra fulano, é o
mal pra cicrano... Deu para pegar o fio da coisa?
Bem, continuando, pra quem conhece a doutrina da alma dos bretões da Idade das Trevas e/ou
outras culturas antigas e sábias que lidaram com a doutrina da alma, tais como o Livro Tibetano
e Egípcio dos Mortos poderá compreender bem o que tentarei explicar abaixo.
Será um exemplo sobre o que tentei dizer anteriormente. Para melhor exemplificar vamos pensar
no ser humano.

O ser humano...
O que somos nós, afinal das contas?
A cristandade tem acreditado há muito tempo que nós somos duas coisas: corpo e alma. O
primeiro morre, o segundo é imortal, passa por um julgamento e é recompensado ou castigado.
Esta é uma ótima história da carochinha para dizer às pessoas se você quer controlar o seu
comportamento, mas para pessoas como a gente, nós precisamos de um pouco mais de
profundidade. As pessoas em geral usam as palavras “alma” e “espírito” como se elas fossem
sinônimas. Nada poderia estar mais longe da verdade, na minha visão. Uma pessoa NÃO é
formada de apenas dois elementos, um “corpo” e uma “alma”. Este esquema é simplesmente o
resultado do pensamento dualista cristão, no qual o Corpo é mortal, fraco e pecaminoso e a
alma é imortal e santificada e, então, estes dois elementos estão sempre em conflito.
No antigo modo de pensamento, da forma como nós o
conhecemos, uma pessoa é formada por TRÊS elementos, ou partes. Um corpo, um espírito e
uma alma. E é o número três, sem dúvida o número e o conceito mais sagrado à Arte. O 3 e o 9
irão aparecer com grande regularidade. Que uma pessoa, e de fato, todos os seres vivos são
triúnos, ou seja, composto de três grandes partes, é muito importante. O CORPO é o veículo
físico, formado por elementos físicos, que forma a base de praticamente todas as suas
experiências nesta vida que você está vivendo, através dos cinco sentidos. A ALMA é a parte
eterna, imortal e pré-existente de você, a qual é a raiz do seu ENTENDIMENTO. Eu não
conseguiria aqui enfatizar suficientemente o quão é importante o termo entendimento. A ALMA é
o centro do seu entendimento, NÃO da sua consciência! Há uma grande diferença entre
entendimento e consciência. O ESPÍRITO NÃO É imortal como a alma. O espírito é a mudança
constante, a sua parte não totalmente física e ainda não totalmente imaterial, que é a base da
sua CONSCIÊNCIA. O Espírito é a sua parte que está “entre” o Corpo e a Alma.
Assim tudo tem algo entre os seus dois extremos...
Livre arbítrio é um conceito puramente cristão...
Amplamente usado e difundido pelo espiritismo de Kardec...
Para nós da stregoneria, da Arte Antiga (e aqui faço uma pequena ressalva, quando digo nós,
estou me referindo ao clã no qual fui iniciada, pois existem diversas vertentes mesmo dentro da
Stregheria), ficamos também aqui no meio. Vou tentar me explicar melhor; Nem só o destino dita
as regras do jogo da vida. E nem só as escolhas pessoais.
Há três divisões na Natureza: a Terra, o Mar (ou as Águas) e o Céu. (Novamente o três)
Então...
A alma é imortal, eterna. Está acima dos conceitos de tempo e espaço, não é presa a estas
coisas. Acredita-se que a Alma é uma criação, da própria Grande Deusa Negra, que está por
trás de toda a criação. Então a alma é vista como sendo de origem divina, do útero de um ser
divino, feminino. Eu não estou tentando dizer que houve um “começo” linear do tempo, um
começo da alma, e sim, apenas quero identificar que esta Deusa é a “mãe” da sua alma, que ela
é o agente responsável da sua alma. Isto é tudo.
Os cristãos confundem alma com espírito. Eles pensam que os seus primeiros momentos de
consciência, quando os seus espíritos são formados, foram quando a sua alma foi formada. E
assim, eles pensam que a sua parte consciente, conhecida como espírito, é a sua parte eterna.
Eles estão certos em uma coisa: o espírito não existia antes de você nascer, mas a alma sim.
Eles pensam que a alma e o espírito são um e o mesmo, quando a realidade está muito longe
disso.
A alma é tão passiva e quieta que, a menos que alguém a mostre a você, ela irá simplesmente
permanecer lá, silenciosamente observando cada detalhe da sua vida, até a sua morte. Pode ser
que você identifique, sem perceber, o seu self consciente, que é o seu espírito, com o seu “self
verdadeiro”, quando na realidade, a Alma é a causa primária para que você possa fazer
qualquer coisa, até mesmo para que você possa ler estas palavras agora. A alma é a base do
verdadeiro “self”.

O espírito, não sendo inteiramente físico, e ao mesmo tempo, não inteiramente imaterial, é na
verdade dividido em duas “partes”.
Lembrem-se, a Alma é a sua parte mais sutil e o Corpo, a mais física. O Espírito é algo no limite
entre um e outro. Isto significa que o espírito é afetado, e moldado, tanto pela alma quanto pelo
corpo.
A porção do seu espírito que está mais “próxima” do seu corpo é chamada, por nós, de “espírito
denso”, ou espírito “físico”. Esta porção do espírito é a parte que dá origem à sua consciência
física, ou consciência grosseira: o estado de consciência normal, cotidiano, no qual você vive,
come e trabalha. Você está nele agora mesmo, lendo esta página.
A porção do seu espírito que está mais “próxima” da alma é chamada de “espírito sutil”. É a
parte do espírito que dá origem aos estados sutis de consciência, tais como devaneios e
transes.
O que une estas duas coisas? A percepção. Às vezes, você percebe um estado denso de
consciência, como o deste momento. Outras, como em sonhos, você percebe um estado sutil de
consciência. A percepção/entendimento, a presença eterna da sua alma, está sempre lá, seja
qual for o estado no qual você estiver. O espírito, por sua vez, muda constantemente do denso
para o sutil e vice-versa. O espírito é seu reflexo, a consciência, constantemente muda da
consciência grosseira para a consciência profunda sutil, para a intoxicação, para o transe, de
volta para a consciência grosseira e assim por diante.
Este é o motivo pelo qual o Corpo está associado com a Terra. Ele é físico, como a própria Terra.
O espírito está associado com as Águas, porque eles estão constantemente fluindo e mudando.
A alma é associada com o Céu, pois o céu está sempre lá, sempre iluminando a Terra e as
Águas, assim como o entendimento/percepção da alma “ilumina” as experiências do espírito e
do corpo. Todos os seres viventes perfeitamente refletem os Três Reinos da Terra, do Mar e do
Céu. A Terra é sólida, o Céu é aéreo e insubstancial, e as Águas correm sobre a terra,
evaporam, sobem ao céu e voltam novamente à terra na forma de chuva. As águas estão
constantemente movendo, mudando, indo e voltando entre a terra e o céu, assim como o espírito
está sempre se movendo, circulando, mudando entre o corpo e a alma.
Nunca será demais enfatizar como a alma é realmente importante e quão importante é entender
a sua natureza. Ela é a moradia do entendimento/percepção. Sem ela, não haveria nem corpo
nem espírito, pois ela é o único self “verdadeiro”. Se um corpo e um espírito fossem deixados
sem alma, o conjunto corpo-espírito não funcionaria, pois a percepção da alma é tornar todas as
experiências possíveis. A Alma é como um espelho. O Corpo é como o reflexo daquele espelho.
Agora, qual é a relação entre o espelho e as coisas que ele reflete? Sem o espelho, o reflexo
não existiria. Sem o reflexo, como você poderia saber que há um espelho? Idem com a Alma e o
Corpo. O Corpo torna a realidade da alma manifesta, da mesma forma que os reflexos tornam
óbvio que há um espelho ali. O espelho é a única maneira de os reflexos existirem. O espelho
não precisa realmente dos reflexos. Se você pudesse, em teoria, apagar os reflexos do espelho,
o espelho ainda estaria lá! Isto é importante. O espelho tem a sua realidade própria, a sua
própria existência permanente, mesmo sem reflexos. Os reflexos do espelho não têm a sua
própria realidade. Eles precisam do espelho, enquanto que o espelho, com a exceção do fato
que os o tornam conhecido, não precisa dele.

Esta analogia é o melhor que podemos fazer para explicar a relação entre o Corpo e a Alma.
Note como o Corpo e a Alma são diferentes um do outro, e ainda assim, como está intimamente
relacionado um com o outro! Eles são na verdade uma coisa só: o Corpo e a Alma ambos
derivam da mesma realidade comum. É, de fato, como olhar para a mesma coisa de duas
maneiras diferentes. A realidade, ou “Natureza” como nós costumamos chamá-la, é o poder
comum de união que realmente tudo une, em todos os níveis. A VIDA, o viver...

A Alma, a raiz do entendimento, é a moradia daquilo que chamamos de Self Eterno. É este self
que realmente experiência todas as experiências e dramas das suas muitas vidas e mortes,
assumindo-se que você acredita em renascimento. Agora, quando falo do Self Eterno e como ele
experiência as coisas, você deve lembrar que o Self Eterno, ou a Alma existe e percebe tudo em
um nível muito puro, ilimitado e elevado e que um ser humano passa um longo e duro tempo
para realmente chegar a este estado, pois nós, humanos, temos uma mente que inclui estados
mentais que surgem do nosso ser espiritual. Agora, estes vários estados estão obviamente
unidos à alma, pois é a alma que nos torna percebedores destes estados em primeiro lugar. Mas
cada simples palavra que eu disse sobre a Alma, o Entendimento Puro, foram ditas usando
termos, conceitos e pensamentos que se originam da mente mortal, o espírito. Eu não posso
usar de palavras ou outros métodos de comunicação linear para demonstrar nada sobre a alma.
Tudo o que nós pensamos que nós sabemos sobe ela é realmente limitada pelo fato de que a
nossa consciência a percebe em termos puramente conscientes. A Alma está, além disso. Ela é
eterna onde está, escutando, percebendo tudo, agindo como aquele poder que finalmente gera a
nossa consciência e é a raiz verdadeira de todas as nossas percepções. Então, é muito
importante lembrar que quando você lida com espíritos, Deuses, “magia”, ou algo do tipo,
especialmente quando você lida com a idéia de “outros mundos” espirituais que possam existir
isto não é a realidade fundamental daquilo que você está lidando, mas o seu reflexo espiritual. E
todas as pessoas, com os seus espíritos individuais, vêem estas coisas de forma diferente. Este
é o motivo pelo qual uma pessoa vê o mundo inferior ancestral e o Ancestral Deus Cornífero e
outra pessoa vê o Inferno e o Demônio. Então, a idéia básica que eu estou tentando lhes passar
aqui é a de que a experiência do entendimento/percepção quando dentro de um ser humano,
dentro de um espírito e de um corpo, é muito diferente da realidade da experiência pura que a
alma tem quando ela não está dentro de um corpo. De muitas maneiras, este mundo, e estes
“outros mundos” não-físicos que você pode visitar em experiências “fora do corpo” são
largamente metafóricos, não reais. Visões e sons são todas alucinações quando comparados
com a realidade pura que sustenta todas as coisas e que percebe tudo, a mesma realidade
fundamental da qual a alma é uma parte.
No folclore, os espíritos dos mortos e os seres do mundo das Fadas, os quais são em essência
as almas dos mortos, são freqüentemente considerados muito perigosos. Isto porque quando
você morre a ética dos humanos, bem como a sua moralidade e normas sociais que você
aprender durante a sua vida, desaparece com o espírito e a consciência. Você não tem mais um
corpo e você não está mais pensando, ou existindo, da mesma maneira que antes. Você existe
em novas regras do Outro Mundo e estas regras são muitas vezes muito misteriosas para nós
que estamos aqui na terra dos vivos e como o resto do mundo puramente espiritual, elas (as
regras) provavelmente nos serão misteriosas para sempre.

A Arte Antiga tem uma atitude muito realista quando chega a vida após a morte: por mais que a
gente “saiba”, nós admitimos que há muito que nós não sabemos. Novamente, a principal razão
para isto é que uma pessoa morta sabe coisas de uma maneira muito mais direta do que nós
aqui neste mundo, pois os mortos estão livres das limitações das percepções sob as quais os
humanos vivem. Uma grande parte da Arte está aprendendo como superar estas mesmas
limitações ainda quando estamos vivos. Esta é a Arte dos Sábios!

Concluindo...
Sabemos que temos uma alma. Também sabemos que temos um corpo. Sabemos que temos um
espírito e de onde este espírito vem: da interação entre o corpo e a alma. Você sabe que o
espírito é o elemento “mental” em você, a sua parte ativa, e que a alma é a sua parte passiva e
profunda. Você também sabe que o espírito tem duas grandes divisões, o espírito “denso”,
correspondendo aos estados mentais conscientes mais físicos e o espírito “sutil”,
correspondendo aos estados mentais mais sutis. Aonde o espírito denso tende a ser ativo, o
espírito sutil tende a ser passivo. Simples, certo?
De onde nós viemos? O Espírito do Mundo copulou com a Alma do Mundo e a Alma do Mundo
nos gerou. Pense nisso. A união do espírito masculina do mundo e da alma feminina do mundo
causou um ato de co-criação. Hummm... E no nível físico são os Homens e as Mulheres que
causam o nascimento de novas vidas através da cópula. Hummm... O que você pensa que o ato
exterior da cópula está simbolizando? Com um homem e uma mulher copulam, ou dois animais,
uma nova vida, algo totalmente novo, pode ser criado. Isto é muito poderoso, pois ao mesmo
tempo em que uma nova vida surge, misticamente, surpreendentemente, apesar de o homem ter
dado alguns genes e a mulher ter dado outros, a nova vida tem genes próprios totalmente
únicos. O QUÊ? De onde eles vieram? Há algo poderoso aqui. Uma verdadeira Criação. A
grande fonte parece ser sem fim, sem limite, eterno e capaz de gerar para sempre criações e
formas únicas, não importa quantas vezes elas tenha sido fertilizada.
A cópula do seu espírito com a sua alma é um dos assuntos mais profundos da Arte Antiga. Unir
a sua mente ao seu entendimento/percepção mais profundo, o seu espírito à sua alma, teria o
mesmo efeito da cópula física. Fertilização e nova criação em um nível interno. O seu “novo”
estado de ser mental/espiritual seria fertilizado e algo novo seria formado, nascido, não um novo
corpo, mas um novo estado mental: inspiração.
Chame-a como quiser iluminação, inspiração, transcendência, o que for. A união do espírito com
a alma o tornaria conscientemente percebedor de todas as coisas, pois ao invés de ter uma
consciência que é linear, limitada e constantemente mudando, rodando e virando, ela desceria
às raízes mais profundas e puras e o entendimento/percepção mais profundo, trevoso e puro iria
fluir até ela (isso é a cópula entre o espírito e a alma) e as duas se transformaria em uma só.

Isto o tornaria praticamente onisciente, uma vez que você iria sentir o mundo da forma que a
alma sente e o que é a alma, senão um reflexo da Grande Alma? Você finalmente seria um com
todas as formas de criação, todos os estados, todos os mundos. Você teria um
entendimento/percepção consciente purificado e veria a verdade de todas as coisas.
E então, se perde toda essa discursão sobre destino e livre arbítrio, porque sempre estará se
criando à partir de um corpo, um espírito e uma alma, um novo ser e assim sucessivamente...E
não linearmente...

Aradia Patrícia

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