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Unidade III

Unidade III
5 A SINTAXE E A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL

5.1 Sintaxe de colocação

Um dos aspectos a se considerar na organização sintática das frases, e destas no texto, é se não
produz ambiguidades. Dependendo do texto, isso pode ser intencional, mas em outros constitui erro no
uso dos termos.

Imagine uma construção como a seguinte:

(1) Todos vão à festa sem noção.

No exemplo, o sintagma “sem noção” produz a ambiguidade, pois não podemos entender se a festa é “sem
noção” ou se todos estavam “sem noção”. É uma questão referente ao que se denomina sintaxe de colocação.

Ambiguidade ou anfibologia designa os equívocos de sentido, provenientes de construção defeituosa


da frase ou do uso de termos impróprios.

Veja os exemplos a seguir:

Comprei uma calça para meu irmão com uma perna curta.
(quem tem a perna curta: o irmão ou a calça?).

Ele perdeu um amigo de vinte anos.


(o amigo tem vinte anos ou já era conhecido há vinte anos?).
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É preciso considerar que a ordem direta da língua é S V C, ou seja, sujeito + verbo + complementos.
Destes, primeiro os obrigatórios, depois os acessórios. Por exemplo, em:

(2) Encontrei minha amiga na rua.

O sujeito é oculto (eu), o verbo transitivo tem como complemento “minha amiga” (objeto direto) e o
sintagma “na rua” é uma circunstância de lugar, portanto um complemento acessório e não obrigatório
como o objeto.

Dependendo da intenção no texto, esses elementos podem assumir outras posições. Se a intenção é
enfatizar o objeto, por exemplo, temos:
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(3) Minha amiga, encontrei na rua.

Trata‑se da topicalização do objeto. Veja, entretanto, que o deslocamento foi do sintagma todo, o
qual representa o complemento do verbo. Poderia haver outra inversão, como:

(4) Na rua, encontrei minha amiga.

Nesse caso, como o adjunto adverbial foi deslocado do final para o início da oração, deve ser isolado
pela vírgula. Falaremos sobre o uso da vírgula mais adiante.

A topicalização pode ocorrer em nível de período, como em:

(5) A caneta, Maria disse que João perdeu.

Veja que há duas orações e que o sintagma que corresponde ao objeto da segunda oração foi
deslocado para o início da oração.

Essa inversão pode ocorrer no interior do sintagma, por exemplo, como em:

(6) A janela ficou um pouco aberta.

(7) A janela ficou aberta um pouco.

Nos exemplos (6) e (7), o sintagma “um pouco aberta”, que tem a função de predicativo do sujeito,
teve uma inversão de seus termos; e, nessa mudança, houve alteração tanto de sentido quanto de
função sintática.

Veja que, na oração (6), a estrutura sintática é sujeito “a janela” + verbo de ligação “ficou” + predicativo
do sujeito “um pouco aberta”. Já na oração (7), a estrutura passa a ser de sujeito “a janela” + verbo de
ligação “ficou” + predicativo do sujeito “aberta” + adjunto adverbial “um pouco”.

Entende‑se, nessa alteração, que na primeira estrutura (6) o advérbio “pouco” modifica o adjetivo
“aberta”, produzindo o sentido de que a abertura da janela era de menor quantidade. Já na segunda
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estrutura (7), o sentido produzido é do quanto ficou aberta, pois o advérbio está articulado ao verbo.

Veja as frases a seguir:

O gato comeu o rato.


O rato, o gato comeu.

As frases se diferenciam porque uma delas tem um dos termos colocado no início da oração,
frequentemente separado por vírgula.

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O português permite a topicalização de muitos termos da oração:

a. O gato comeu o rato rapidamente.

b. Rapidamente, o gato comeu o rato.

Essas frases descrevem a mesma situação, mas fazem isso tomando elementos diferentes como
ponto de partida.

(3) a. Os meninos trouxeram o presente para a mãe.

b. Para a mãe, os meninos trouxeram o presente.

c. O presente, os meninos trouxeram para a mãe.

Observação

Note que as frases acima não são necessariamente sinônimas. Cada


uma delas tem um elemento topicalizado (os meninos em a; para a mãe
em b; o presente em c).

Perini (2005) aponta que outro recurso da língua portuguesa para colocar termos em realce é a
clivagem. Perceba, a seguir, como as estruturas clivadas se formam com o auxílio do verbo “ser” mais
“que” (às vezes quem), além da anteposição do termo clivado.

A. O cachorro mordeu o homem.

B. Foi o cachorro que mordeu o homem.

C. Foi o homem que o cachorro mordeu.

5.1.1 Advérbios transpostos


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Certos advérbios podem ocorrer em diversas posições na oração. Veja as diversas posições do advérbio
“aparentemente” nas orações a seguir:

a. Aparentemente, Aldo gostaria de mudar de emprego.

b. Aldo, aparentemente, gostaria de mudar de emprego.

c. Aldo gostaria, aparentemente, de mudar de emprego.

d. Aldo gostaria de mudar de emprego, aparentemente.


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Portanto, vimos que a organização sintática em uma oração e/ou em um período guia a produção
de sentido no texto a ser produzido, por isso é importante que seu produtor pense nas possibilidades
oferecidas pela língua e em qual a melhor forma de dizer o que pretende.

As estratégias de inversão podem ser utilizadas por várias razões, entre elas está o efeito expressivo
no texto. É o que observamos geralmente em textos poéticos – “De tudo ao meu amor serei atento
antes” (fragmento do Soneto de fidelidade, de Vinícius de Moraes).

Observação

É importante que se evitem ambiguidades quando não seja esse


o objetivo. Também é importante que não se façam inversões sem que
haja intenção de realçar algum sintagma ou de produzir relevância sobre
determinados elementos da oração.

Saiba mais

Pesquise o uso da ambiguidade em anúncios publicitários. Você vai notar


que nesse gênero textual esse recurso é utilizado para chamar a atenção
do leitor.

Veja algumas reflexões de Sírio Possenti sobre a importância da colocação das palavras nas frases e
as mudanças de significação no texto:

Na prática escolar típica, tanto os ensinamentos quanto os exercícios e as


avaliações param, frequentemente, na identificação de objetos e funções.
É comum que se solicite a alunos ou vestibulandos que respondam se tal
palavra é um adjetivo ou um substantivo, se um certo “que” é uma conjunção
integrante ou um pronome etc. (...) Eu diria que o mais importante não é
identificar, mas tentar explicitar o que é que tal palavra ou locução está

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fazendo aí. Especialmente, que importância tem para a significação. Com
quais outras palavras ou expressões está relacionada? Se mudasse de lugar,
provocaria uma mudança de sentido? (...) Outra coisa interessante a fazer com
uma frase como essa seria deslocar a palavra “ontem” para todos os lugares
da frase que ela pode ocupar e tentar verificar se, mudada sua posição, muda
o sentido da frase. Por exemplo, ”ontem o chefe disse que...”, “o chefe ontem
disse que...”, “o chefe disse ontem que...”, “o chefe disse que ontem...”. Seria
interessante verificar, além disso, que certas construções não funcionam: “o
ontem chefe disse que...”, “o chefe que ia disse ontem viajar...” etc. Penso que
essas atividades seriam, além de ilustrativas, interessantes, isto é, os estudantes
talvez fizessem tal trabalho com prazer (...) (POSSENTI, 2001, p. 30).

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5.2 Sintaxe de concordância

Outra questão importante a se destacar em relação à sintaxe é a concordância verbal, isto é, do


sintagma verbal com o sujeito da oração, principalmente quando há inversão na sintaxe.

(8) Entrou na sala muitas pessoas interessadas no assunto.

Nesse caso, o sujeito é “muitas pessoas interessadas no assunto”, cujo núcleo é o substantivo
“pessoas”, que se encontra no plural, o que leva o verbo a concordar com ele, passando a “entraram”.

Esse tipo de “erro” ocorre bastante, principalmente na língua falada, situação comunicativa em
tempo real, na qual, muitas vezes, o falante não elabora bem o pensamento e, portanto, não organiza a
sintaxe com rigor.

Além da posposição do sujeito ao verbo, há outras situações em que o risco de não haver concordância
é grande. É o caso, por exemplo, de sintagmas muito extensos ou da tendência em concordar com o
elemento mais próximo. Vejamos os exemplos a seguir:

(9) As pesquisas de opinião pública sobre a eleição no Brasil indica que haverá segundo turno.

(10) Toda pessoa com boas intenções em relação aos outros agem dessa maneira.

Veja, a seguir, como Possenti mostra um ponto de vista conservador em relação à concordância:

Em uma das colunas de Josué Machado, cujo tema é a concordância verbal,


pergunta, entre outras coisas, se alguém escreveria “a oposição atrasaram
as unidades” e “o atraso na entrega atrapalharam”. O leitor imagina que
está diante de exemplos de linguagem completamente absurdos, porque,
de fato, em nada se assemelham aos feitos típicos de variação do tipo
“nós vai pescá”, “eles pesco dois pexe” dos quais podemos não gostar,
mas, claramente existem. [...] Indo um pouco adiante na leitura da coluna,
o segredo se esclarece: os fatos citados não ocorreram exatamente como
citados. Ocorreram no próprio jornal, mas as frases completas eram: “A
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oposição dos moradores da Lapa e da vila Leopoldina (zona oeste), bairros


próximos aos cadeiões, atrasaram as unidades da cidade de S. Paulo” e “O
atraso na entrega de produtos importados, como as pias dos banheiros e os
telhados especiais também atrapalharam, disse o delegado”. Josué Machado
comenta: “Isso ocorre quando o redator passa mal, mistura na cuca os
anexos plurais do sujeito singular e o transforma num monstro capaz de
remeter o verbo também para o imerecido plural”. [...] Uma abordagem mais
científica tentaria mostrar que há uma certa regularidade nas diferenças (ou
erros, como diria Josué) ocorridas com a chamada regra de concordância,
regularidade que esses dois fatos exemplificam de forma muito interessante.
Certamente, ninguém diria “a oposição atrasaram” (ou, pelo menos, isso
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seria muito raro, um exemplo absolutamente excepcional de hipercorreção).


Mas, já que, entre “o atraso” e “a oposição” e os verbos que deveriam
concordar com esses sujeitos há uma enorme massa de material linguístico,
e já que essa enorme massa termina com formas plurais (“bairros próximos
aos cadeiões” e “banheiros e telhados especiais”), que ficam próximas dos
verbos, estes dois fatores – a massa e as formas plurais próximas – explicam
as concordâncias fora da norma. Isto é: quanto mais o verbo estiver longe
do sujeito, menos provavelmente concordará com ele. E se, entre o sujeito e
o verbo, houve alguma expressão que pareça um sujeito e estiver mais perto
do verbo do que o sujeito, o verbo tenderá a concordar com essa expressão,
não com o sujeito (POSSENTI, 2001, p. 33‑34).

5.3 Sintaxe de regência

Outra questão a se considerar é a de regência. Em muitos casos, não se observa a regência do verbo,
principalmente quando há o relator “que” e não se utiliza a preposição que deve acompanhar o verbo,
como em:

(11) O amigo que confio é esse.

O correto seria: O amigo em que confio é esse. O verbo “confiar” é transitivo indireto, regido pela
preposição, pois quem confia, confia “em”. Nesse caso, o “que”, pronome relativo que introduz a segunda
oração, deve ser acompanhado da devida preposição.

Vamos recordar a regência de alguns verbos?

Assistir:

(12) Assistimos o enfermo durante toda a noite.

(13) Assistimos ao enfermo durante toda a noite.

Em qual das duas orações o verbo está utilizado com a devida regência? Na primeira, pois quando
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tem o sentido de socorrer, prestar auxílio, esse verbo é transitivo direto e quando tem o sentido de ver,
presenciar, torna‑se transitivo indireto.

Nos exemplos dados, analisando a regência, não se pode dizer “assistir ao enfermo”, visto que, se isso
ocorrer, não haverá humanidade na ação, pois aquele morrerá sem a piedade dos que o cercam, o que
seria inadmissível em uma situação como essa.

Aspirar:

(14) Aspiramos o ar puro do ambiente.

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(15) Aspirava ao cargo de gerente.

No primeiro caso, o verbo é transitivo direto e tem o sentido de sorver, inspirar o ar, enquanto no
segundo tem o sentido de desejar, almejar algo.

Agradar:

(16) A nova diretora agradou a todos.

Agradar, no sentido de ser agradável, causar agrado, é transitivo indireto, por isso é regido pela
preposição “a”.

Chegar:

(17) Chegamos ao nosso destino.


(18) Chegou em casa cedo.

O verbo chegar é transitivo indireto e a preposição “em” é exclusiva diante da palavra casa.

Ir:

(19) Irei a Salvador em janeiro.


(20) Irei para Salvador em janeiro.

O verbo ir é transitivo indireto e, seguido da preposição “a”, tem o sentido de ir e voltar logo, ou seja,
sem se fixar no lugar, ao passo que seguido da preposição “para” a ideia é contrária, é de permanência
e intenção de se fixar no local.

Morar:

(21) Moramos em São Paulo desde criança.


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(22) Moro à rua Pereira da Silva, s/n.

O verbo morar é transitivo indireto e, quando seguido do substantivo rua, deve‑se utilizar a preposição
“a”.

Namorar:
(23) Joana namorou Sérgio por muito tempo.

O verbo namorar é transitivo direto, por isso não deve ser seguido de preposição.

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Obedecer:
(24) Obedecemos às leis do país.

O verbo obedecer é transitivo indireto, regido pela preposição “a” e tem o sentido de submeter‑se. O
verbo desobedecer deve ser usado da mesma forma.

Pagar:
(25) Paguei a conta ao farmacêutico.

O verbo pagar é transitivo direto e indireto. O objeto que tem o sentido do que se deve é direto e o
que indica a quem se deve é indireto.

Preferir:
(26) Prefiro cinema a televisão.

Esse verbo é transitivo direto e indireto e tem o sentido de dar prioridade a um elemento em vez do
outro.

Querer:
(27) Quero uma resposta agora.
(28) Quero a minha amiga como a uma irmã.

Com o sentido de objetivar, querer algo, é transitivo direto, ao passo que com o valor de estimar,
querer bem, é transitivo indireto.

Visar:
(29) Visamos ao sucesso.
(30) O chefe visou todos os documentos.

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Visar com o sentido de vistar, pôr visto, é transitivo direto, mas com o sentido de ter em vista,
objetivar, é transitivo indireto, portanto regido por preposição.

Observação

A regência – como a pronúncia, a acentuação, ou seja, como tudo


na língua – não é imutável. Cada período tem sua regência, conforme o
contexto da época. Assim, não podemos seguir hoje a mesma regência que
seguiam os clássicos.

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Veja um exemplo em relação a essas mudanças apresentado por Celso Pedro Luft (2008):

Regência do verbo “assistir” (no sentido de “ver”).

A regência originária (transitiva indireta) “assistir a algo” está ligada ao traço “estar presente, junto”.
O obscurecimento desses traços levou à troca para “presenciar, ver”, que regem a construção transitiva
direta “assistir algo, assisti‑lo”. Por isso, um dicionário dedicado à regência da língua culta deve levar em
conta essas inovações.

Apresentamos alguns verbos, os quais são comumente usados em textos que circulam na sociedade.
Entretanto, há muitos outros verbos. Para conhecê‑los, procure um dicionário de regência verbal, como
o de Celso Luft, por exemplo.

6 O uso da vírgula

Sobre a vírgula

A vírgula pode ser uma pausa... ou não.


Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.


23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.


Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.


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Isso só, ele resolve.


Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.

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Morfossintaxe da língua portuguesa

Vamos perder, nada foi resolvido.


Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.


Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo!

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA. Disponível em: <http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=50196&cat


=Artigos&vinda=S>. Acesso em: 09 dez. 2011.

A pessoa que consegue exprimir verbalmente o que quer dizer também sabe escrever e pontuar
corretamente. Dessa forma, o sistema de pontuação é a base da organização da língua escrita. Mas
como isso acontece?

O sistema de pontuação deve auxiliar o sentido de um texto. Portanto, decorre daí que todo sinal
de pontuação serve para separar as unidades sintático‑semânticas de um enunciado. Mas a pontuação
não poderá romper a indivisibilidade natural das unidades sintático‑semânticas ao separar os elementos
linguísticos.

Observação

A pontuação deve auxiliar a combinação dos componentes


sintático‑semânticos das frases da maneira mais precisa possível, visando a
atingir o sentido que se pretende transmitir.

Caro aluno, como você pode verificar, a pontuação está ligada à estrutura sintático‑semântica da
frase. Assim, aquela frase “Vírgula é pausa para respirar”, dita por muitos, não tem fundamento. O uso
da vírgula pode prejudicar o entendimento de um texto se não for empregada adequadamente, e isso
pode ser observado a partir da estrutura sintática na construção do texto.
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Veja esses exemplos de diferenças de sentido nos pares de frases apresentados por Luft (1996) em
relação ao emprego da vírgula:

a. Veio até ele.


b. Veio, até ele.

a. Falará, brevemente, com o diretor.


b. Falará brevemente com o diretor.

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a. Não é, meu amigo.


b. Não é meu amigo.

a. O aluno trabalha, segundo o professor.


b. O aluno trabalha segundo o professor.

a. Não fala, de medo.


b. Não fala de medo.

Saiba mais

Procure verificar em jornais e revistas o uso da vírgula. Perceba como


elas contribuem para a clareza de ideias.

Um método que pode auxiliar‑nos é verificar que a vírgula separa normalmente a informação básica
das informações secundárias. Assim, podemos observar em:

(31) A noite, que estava apenas começando, foi serena e alegre.

Veja que a informação principal está na oração “A noite foi serena e alegre”, a outra oração, “que
estava apenas começando”, apresenta‑se como informação secundária no período. No entanto, o
exemplo anterior é de um período composto, em que há mais de uma oração. Vejamos em um período
simples, quer dizer, que tem apenas uma oração, o que ocorre.

Primeiramente, não podemos nos esquecer de que a organização sintática de nossa língua é S V C
(sujeito + verbo + complementos), e, nessa ordem, o que for complemento obrigatório não pode ser
separado, assim como não se pode separar o sujeito do predicado. Então, temos:
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(32) O povo brasileiro consciente e bem informado deverá votar em um dos candidatos à presidência
do país.

No exemplo, há três sintagmas: “o povo brasileiro consciente e bem informado” + “deverá votar”
+ “em um dos candidatos à presidência do país”. O primeiro é o sujeito, o segundo, o verbo transitivo
indireto e o último, o objeto indireto. Portanto, não há vírgula na oração, pois nenhum elemento pode
ficar isolado.

Quando o sintagma corresponder a um complemento não obrigatório, ele poderá ser isolado por
vírgula. Então, poderíamos ter:

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(33) Surpreendidos pela notícia do aumento do combustível, os motoristas correram para os postos
de gasolina.

Veja que o sintagma isolado é um predicativo do sujeito, um complemento acessório na oração. Se


os elementos forem deslocados na oração, isso deve se dar pelo uso da vírgula. Veja o exemplo:

(34) Sob o sol quente, os maratonistas chegavam ao final do percurso.

No exemplo, o sintagma “sob o sol quente” é um adjunto adverbial, que, pela ordem direta, estaria
no final da oração. Então, como foi deslocado, deve ser isolado pela vírgula. Se esse raciocínio for sempre
utilizado, não haverá mais dúvida quanto ao uso da vírgula ao se construir orações, períodos, textos.

Resumo

Sintaxe de colocação: um dos aspectos a se considerar na organização


sintática das frases é se não há ambiguidades. Em alguns textos, isso pode
ser intencional, mas em outros constitui erro no uso dos termos.

Topicalização: a organização sintática em uma oração direciona a


produção de sentido no texto. É importante que seu produtor pense nas
possibilidades oferecidas pela língua e qual a melhor forma de dizer o que
pretende.

Não se devem fazer inversões sem que exista intenção de realçar algum
sintagma ou de produzir relevância sobre determinados elementos da
oração.

Sintaxe de concordância: outro aspecto da sintaxe, a concordância


verbal, isto é, do sintagma verbal com o sujeito da oração. Deve‑se observar
a concordância, principalmente quando há inversão na sintaxe ou os
sintagmas são muito extensos.

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Sintaxe de regência: outra questão a se considerar é a de regência. Em
muitos casos, não se observa a regência do verbo, principalmente quando
há o relator “que” e não se utiliza a preposição que deve acompanhar o
verbo.

Pontuação: o uso da vírgula pode prejudicar o entendimento de um


texto se ela não for empregada adequadamente. Isso pode ser observado a
partir da estrutura sintática na construção de um texto.

A organização da língua portuguesa é S V C (sujeito + verbo +


complementos), e, nessa ordem, o que for complemento obrigatório não
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poderá ser separado, assim como não se pode separar o sujeito do predicado.
Já quando o sintagma corresponder a um complemento não obrigatório,
ele poderá ser isolado por vírgula.

Exercícios

Questão 1. Uma mesma frase pode ter sentidos diferentes em situações distintas. Por exemplo, uma
frase como “Eu estou com fome” é percebida de diferentes maneiras quando dita por uma adolescente
de classe alta em um shopping center ou por uma criança subnutrida que não se alimenta há dias no
sertão nordestino. Em outras palavras, isso quer dizer que:

A) Para entender uma frase, basta decifrar suas palavras.

B) A fome é um fenômeno que independe de classe social.

C) O texto deve ser entendido em seu contexto.

D) O português é uma língua com pouca clareza linguística.

E) A mudança na ordem dos sintagmas internos de uma frase não altera o seu sentido.

RESPOSTA

Alternativa correta: C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa:

O próprio enunciado explicita que uma mesma frase pode ter sentidos diferentes em situações
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distintas. Dessa forma, para entendê‑la não basta apenas decifrar as palavras presentes no eixo
sintagmático.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa:

A fome está diretamente associada à classe social do sujeito. A alternativa B, portanto, é incorreta.

C) Alternativa correta.

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Justificativa:

O próprio enunciado explicita que uma mesma frase pode ter sentidos diferentes em situações
distintas. O linguístico está diretamente associado à situação comunicativa, ou seja, ao contexto.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa:

O idioma português tem clareza linguística. A exemplo de outros idiomas, a língua está diretamente
associada a um contexto, que pode explicar fenômenos naturais como ambiguidade, metáfora,
eufemismo etc.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa:

A alteração na ordem dos sintagmas numa oração possibilita, também, a alteração de sentido.

Questão 2. Leia, com atenção, o texto a seguir:

As palavras: como aprendi a ler

Jean‑Paul Sartre

(...) Eu ainda não sabia ler, mas já era bastante esnobe para exigir os meus livros. Meu avô foi ao patife de seu
editor e conseguiu de presente Os Contos do poeta Maurice Bouchor, narrativas extraídas do folclore e adaptadas
ao gosto da infância por um homem que conservava, dizia ele, olhos de criança. Eu quis começar na mesma
hora as cerimônias de apropriação. Peguei os dois volumezinhos, cheirei‑os, apalpei‑os, abri‑os negligentemente
na “página certa”, fazendo‑os estalar. Debalde: eu não tinha a sensação de possuí‑los. Tentei sem maior êxito
tratá‑los como bonecas, acalentá‑los, beijá‑los, surrá‑los. Quase em lágrimas, acabei por depô‑los sobre os joelhos
de minha mãe. Ela levantou os olhos de seu trabalho: “O que queres que eu te leia, querido? As Fadas?” Perguntei,
incrédulo: “As Fadas estão aí dentro?” A história me era familiar: minha mãe contava‑a com frequência, quando

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me levava, interrompendo‑se para me friccionar com água‑de‑colônia, para apanhar debaixo da banheira o
sabão que lhe escorregara das mãos, e eu ouvia distraidamente o relato bem conhecido; (...)

Ao cabo de um instante, compreendi: era o livro que falava. Dele saíam frases que me causavam
medo: eram verdadeiras centopeias, formigavam de sílabas e letras, estiravam seus ditongos, faziam
vibrar as consoantes duplas: cantantes, nasais, entrecortadas de pausas e suspiros, ricas em palavras
desconhecidas, encantavam‑se por si próprias e com seus meandros, sem se preocupar comigo: às vezes
desapareciam antes que eu pudesse compreendê‑las, outras vezes eu compreendia de antemão e elas
continuavam a rolar nobremente para o seu fim sem me conceder a graça de uma vírgula.

Disponível em: <http://ler‑e‑escrever.blogspot.com/2008/11/jean‑paul‑sartre‑as‑palavras‑como.html>. Acesso em: 27 out. 2011.

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A passagem “outras vezes eu compreendia de antemão e elas continuavam a rolar nobremente para
o seu fim sem me conceder a graça de uma vírgula” tem, por objetivo, afirmar que a vírgula:

A) Muda o sentido de uma frase, se usada indevidamente.

B) Deve ser usada com critério, em locais específicos da frase.

C) É um acessório, utilizada, na frase, como produtora de efeito de sentido.

D) Tem a função de dar um toque especial à entonação da frase.

E) É um sinal de pontuação condicionado, apenas, a regras gramaticais.

Resolução desta questão na Plataforma.


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