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Tipos de coerência

Saiba mais!
Efeito cômico - A história é engraçada pelo choque de incoerência: mesmo imaginando-se
presidente da República, o carregador se trai, atribuindo a si uma ocupação corriqueira
incompatível com a condição da mais alta autoridade do país.

Quando um texto é coerente, todos os seus elementos podem ser compreendidos dentro de
um único significado geral.

Podemos considerar que há coerência textual externa e interna.

Há coerência externa quando ocorre compatibilidade entre os significados do interior do


texto com os dados de uma determinada realidade ou cultura.

Observe que o texto abaixo apresenta uma contradição ou é incoerente com o que ocorre em
nossa realidade.

Durante o inverno, a população do Rio de Janeiro aguarda a neve que rotineiramente


cobre as ruas da cidade.

Quando há compatibilidade entre as diversas passagens que compõem um texto, a coerência


interna está presente.

Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a ideia de
fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se
humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem
regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos
remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular.
Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de
combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez . (Machado de Assis)

Além da coerência narrativa , aquela que observamos ao longo de uma sequência de fatos
narrados, há ainda a coerência argumentativa , que deve ser garantida para que haja
compatibilidade entre os argumentos expostos e a tese que se pretende defender.

Observe a incoerência argumentativa em:

Os números da educação do Censo 2000 são animadores. Os dados mostram que


mais da metade (59,9%) da população brasileira com mais de dez anos não
conseguiu concluir o ensino fundamental (antigo primeiro grau), pois tem menos de
oito anos completos de estudo.

A coerência argumentativa poderia ser garantida no trecho se considerássemos dados


comparativos:

Os números da educação do Censo 2000 são animadores, se compararmos os dados do Censo


de 1991 com os de 2000.

A taxa de escolarização (porcentagem de pessoas que frequentam a escola) cresceu em todas


as faixas etárias, embora os dados mostrem que mais da metade (59,9%) da população
brasileira com mais de dez anos não conseguiu concluir o ensino fundamental (antigo primeiro
grau), pois tem menos de oito anos completos de estudo.

Contrastes
Às vezes, a incoerência pode ser um recurso de linguagem. Veja a questão abaixo, extraída do
vestibular da UNICAMP, que envolve o conceito de coerência textual.

Dois carregadores estão conversando e um deles diz:

"Se eu fosse presidente da República, eu só acordava lá pelo


meio-dia, depois ia almoçar lá pelas três, quatro horas.
Só então é que eu ia fazer o primeiro carreto".
Dois carregadores estão conversando e um deles diz:

A história transcrita contrasta dois mundos, dois estados de coisas: o dia a dia cansativo do
carregador e a situação imaginária em que ele se torna presidente da República.
O carregador não consegue passar para o mundo imaginário, e acaba misturando-o de maneira
surpreendente com o mundo real.

Análise

A incoerência proposital da história está relacionada a dois aspectos.

A: Você percebe qual é a construção gramatical usada nessa história para dar acesso ao
mundo das fantasias do carregador? O recurso é usar a
expressão: "Se eu fosse...".

B: No entanto, no meio da história, o mundo real interfere no mundo irreal de suas fantasias,
com a citação de uma prosaica obrigação ligada à sua profissão: "Só então é que eu ia fazer o
primeiro carreto".

1- "A casa que papai alugara não ficava na praia exatamente, mas numa das ruas que a ela
davam e onde uns operários trabalhavam diariamente no alinhamento de um dos canais que
carreavam o enxurro da cidade para o mar do golfo. " (Mário de Andrade)

No período acima, o segmento "que a ela davam e onde" pode ser substituído, sem prejuízo
para o sentido original do período, por:

a) "para a cuja iam, nas quais".


b) "que lhe conduziam, aonde".
c) "à qual cortavam, em cuja rua".
d) "nela terminavam, às quais".
e) "que nela desembocavam, em que".
2- Rememorando o papel de sua geração, dizia o artista: "Nós não estávamos apenas na
exposição; nós éramos a exposição.

Alterando-se a ordem das palavras, a frase do artista NÃO tem seu sentido alterado em:

a) "Apenas, nós não estávamos na exposição; nós éramos a exposição."


b) "Nós não estávamos; apenas na exposição nós éramos a exposição."
c) "Nós não estávamos na exposição apenas nós; éramos a exposição."
d) "Nós não apenas estávamos na exposição; nós éramos a exposição."
e) "Nós não estávamos na exposição; nós éramos apenas a exposição."

3- "Assim devia ser a relação de autor para leitor: uma face nua num espelho límpido. Mas é
tão difícil... Ou a face está mascarada ou o espelho embaciado." (Mário Quintana)

a) Explique como é que Mário Quintana caracteriza, em sua concepção idealizada, a relação
autor-leitor.
R: Mário Quintana, antes de se mostrar desesperançado com a relação autor-leitor, idealiza-
os. O autor seria um ser franco, que se mostraria integralmente; o leitor aceitaria,
compreenderia completamente o que o autor lhe mostrasse.

b) Reescreva o último período do texto, iniciando-o com "Mesmo que a face...". Faça apenas
as alterações necessárias, preservando a idéia original do autor.
R: Mesmo que a face não estivesse mascarada, o espelho estaria embaciado.

4- "Se, como diz o ditado, ter um é pouco e dois é que seria o bom, quando se trata do Trio
Beaux Arts, os três são demais. No melhor sentido da palavra." (O Estado de S. Paulo,
12/4/96, D4)

a) Qual é "o melhor sentido da palavra" a que o autor se refere?


R: O autor se refere ao melhor sentido da palavra "demais", que, no contexto, significa
excelentes, perfeitos, extraordinários, adjetivando os três integrantes do trio de música
erudita.

b) Qual o contra-senso que ele evitou, ao acrescentar a ressalva "no melhor sentido da
palavra"?
R: Caso não apresentasse a ressalva "no melhor sentido da palavra", o leitor poderia
acreditar que o autor estivesse sugerindo que houvesse integrantes em demasia no trio e,
nesse sentido, o autor não estaria contradizendo o ditado, conforme acredita fazer, mas
acabaria por comprová-lo.

Coesão
É o resultado da união íntima dos elementos que constituem um texto. Os pronomes,
conjunções e advérbios são os principais elementos da coesão textual.

Relação entre palavras

Alguns exemplos de marcadores de coesão.

• Teoria e prática são importantes no desempenho profissional. Esta impulsiona as atividades,


aquela fundamenta as ações.

Observe que os pronomes demonstrativos esta e aquela recuperam, respectivamente, teoria e


prática.

Esta é a razão por que estou feliz: vamos viajar!

O pronome demonstrativo esta antecipa o que será explicitado a seguir: vamos viajar.

• Você me fez sérias revelações e acusações e isso não me sai da cabeça.

O pronome demonstrativo isso refere-se ao que já foi enunciado na oração anterior.

• Proclama-se um democrata, mas nem sempre ouve as reivindicações populares.

A conjunção adversativa estabelece a coesão entre as duas orações, que apresentam idéias
opostas.

Questões sobre coesão textual ganharam cadeira cativa nos novos exames. Veja o exemplo.

Uma propaganda de alimento dietético, de 1995, dizia: "Se o seu


relacionamento com a balança anda um pouco pesado, conheça Slim
Shake. Um alimento balanceado que substitui uma refeição. Slim
Shake faz você emagrecer da maneira mais inteligente que existe:
bem alimentado. Porque Slim Shake tem 50% das suas calorias
provenientes de proteínas, que são essenciais para um
emagrecimento correto: perder gordura e não músculos – tecidos
magros. Isso significa perder peso e não saúde. Manter a forma,
mantendo o bom humor. Emagreça bem alimentado."

O advérbio bem, no final do texto, pode estar se referindo tanto a emagreça quanto a
alimentado.

Levando em conta o que foi dito para o advérbio bem, é possível indicar os sentidos que
podem ser atribuídos a:

• Emagreça bem: pode significar emagreça bastante ou então emagreça de bom humor, de
maneira correta.

• Bem alimentado: significa satisfatoriamente nutrido, sem a perda de nenhum dos


nutrientes essenciais à saúde.

Alguns exames podem solicitar que você transcreva passagens do texto que confirmem os
sentidos de determinados termos. Veja quais seriam no nosso exemplo:

• Emagreça bem: "Se o seu relacionamento com a balança anda um pouco pesado, conheça
Slim Shake"; "Slim Shake faz você emagrecer da maneira mais inteligente."

• Bem alimentado: "(...) perder gordura e não músculos (...)".


Gabarito

1- "A casa que papai alugara não ficava na praia exatamente, mas numa das ruas que a ela
davam e onde uns operários trabalhavam diariamente no alinhamento de um dos canais que
carreavam o enxurro da cidade para o mar do golfo. " (Mário de Andrade)

No período acima, o segmento "que a ela davam e onde" pode ser substituído, sem prejuízo
para o sentido original do período, por:

a) "para a cuja iam, nas quais".


b) "que lhe conduziam, aonde".
c) "à qual cortavam, em cuja rua".
d) "nela terminavam, às quais".
e) "que nela desembocavam, em que".
2- Rememorando o papel de sua geração, dizia o artista: "Nós não estávamos apenas na
exposição; nós éramos a exposição.

Alterando-se a ordem das palavras, a frase do artista NÃO tem seu sentido alterado em:

a) "Apenas, nós não estávamos na exposição; nós éramos a exposição."


b) "Nós não estávamos; apenas na exposição nós éramos a exposição."
c) "Nós não estávamos na exposição apenas nós; éramos a exposição."
d) "Nós não apenas estávamos na exposição; nós éramos a exposição."
e) "Nós não estávamos na exposição; nós éramos apenas a exposição."

3- "Assim devia ser a relação de autor para leitor: uma face nua num espelho límpido. Mas é
tão difícil... Ou a face está mascarada ou o espelho embaciado." (Mário Quintana)

a) Explique como é que Mário Quintana caracteriza, em sua concepção idealizada, a relação
autor-leitor.
R: Mário Quintana, antes de se mostrar desesperançado com a relação autor-leitor, idealiza-os.
O autor seria um ser franco, que se mostraria integralmente; o leitor aceitaria, compreenderia
completamente o que o autor lhe mostrasse.

b) Reescreva o último período do texto, iniciando-o com "Mesmo que a face...". Faça apenas as
alterações necessárias, preservando a idéia original do autor.
R: Mesmo que a face não estivesse mascarada, o espelho estaria embaciado.
4- "Se, como diz o ditado, ter um é pouco e dois é que seria o bom, quando se trata do Trio
Beaux Arts, os três são demais. No melhor sentido da palavra." (O Estado de S. Paulo,
12/4/96, D4)

a) Qual é "o melhor sentido da palavra" a que o autor se refere?


R: O autor se refere ao melhor sentido da palavra "demais", que, no contexto, significa
excelentes, perfeitos, extraordinários, adjetivando os três integrantes do trio de música
erudita.

b) Qual o contra-senso que ele evitou, ao acrescentar a ressalva "no melhor sentido da
palavra"?
R: Caso não apresentasse a ressalva "no melhor sentido da palavra", o leitor poderia acreditar
que o autor estivesse sugerindo que houvesse integrantes em demasia no trio e, nesse
sentido, o autor não estaria contradizendo o ditado, conforme acredita fazer, mas acabaria por
comprová-lo.

Função da palavra

As relações sintáticas e semânticas que se estabelecem numa oração determinam a função de


seus termos.

Leia as frases abaixo e observe a relação das expressões destacadas com os outros termos da
oração.

1. Saímos do carro antes que o alarme tocasse.


2. As rodas do carro travaram.

Observe que na frase 1 a locução ‘do carro’ relaciona-se ao verbo e expressa uma
circunstância de lugar. Já na frase 2, a locução relaciona-se a rodas e especifica uma
característica desse substantivo.

No primeiro caso, temos uma locução adverbial que exerce a função de adjunto adverbial de
lugar, e, no segundo, uma locução adjetiva com função de adjunto adnominal.

Muitos casos de ambigüidade são provocados pela dupla possibilidade de combinação das
palavras na frase.

Observe a frase:

"Os turistas deixaram o hotel inabitável."

Perceba que esta é uma frase ambígua. Essa ambigüidade resulta da possibilidade de se
interpretar o adjetivo inabitável como adjunto adnominal ou como predicativo do objeto.

No caso, admite-se a interpretação de que o hotel já era inabitável sem a interferência dos
turistas (adjunto adnominal) ou a de que o hotel passou a ser inabitável só a partir da
intervenção dos turistas (predicativo do objeto).

Substituindo-se o verbo deixaram por outro verbo ou expressão verbal, é possível traduzir os
dois sentidos possíveis dessa frase:

* Os turistas abandonaram o hotel inabitável.


* Os turistas fizeram o hotel ficar inabitável.

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