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Resumo: A ambiguidade é um fenômeno linguístico utilizado em situações em que palavras ou frases aceitam
duas ou mais interpretações. Em alguns gêneros textuais, o recurso da ambiguidade é utilizado de forma inten-
cional e motivada, como nas tirinhas e charges, para a geração de humor. Os objetivos desta pesquisa são: iden-
tificar e analisar tipos de ambiguidades nos gêneros textuais tirinha e charge; observar como as ambiguidades
se comportam na formulação do humor, compreendendo a mensagem proposta pelo autor; e assimilar como
as imagens que compõem os gêneros supracitados se relacionam com a compreensão dos textos, inferindo
o sentido preferível no entendimento por parte do leitor. A metodologia aplicada na presente pesquisa foi a
coleta de seis tirinhas e cinco charges, disponíveis on-line no Google Imagens, por meio das quais se verifi-
cou o recurso da ambiguidade na geração de humor. A análise das ambiguidades foi realizada através de uma
abordagem qualitativa e sob a ótica da semântica lexical apoiada pela autora Cançado (2008). Os resultados
mostram uma predominância de ambiguidades lexicais sugerindo um propósito na estrutura dos gêneros em
questão; mostram, também, que a duplicidade de sentido proporcionados pela ambiguidade é o que acarreta o
humor; e que as imagens serão um dos fatores desambiguadores do item ambíguo nas tirinhas e charges, além
da escrita, do contexto e do conhecimento de mundo do leitor. Concluiu-se que a ambiguidade, nas tirinhas e
charges analisadas, não deve ser considerada um uso descomedido de linguagem, desvio ou erro gramatical
da Língua Portuguesa, mas sim um fenômeno semântico passível de produzir efeito de sentido, graça e risibi-
lidade no entendimento de mensagens para o leitor.
Abstract: Ambiguity is a linguistic phenomenon used in situations where words or phrases accept two or
more interpretations. In some textual genres, the resource of ambiguity is used intentionally and motivated,
as in comic strips and cartoons, for the generation of humor. The objectives of this research are: to identify
and to analyze types of ambiguities in the textual genres comic strip and cartoon; to observe how ambiguities
behave in the formulation of humor, understanding the message proposed by the author; and to assimilate
how the images that compose the aforementioned genres are related to the understanding of the texts, infer-
ring the preferable meaning in the reader’s understanding. The methodology applied in this research was the
collection of six comic strips and five cartoons, available online in Google Images, through which ambiguity
is a resource in the generation of humor was verified. The analysis of ambiguities was carried out through a
qualitative approach, from the perspective of lexical semantics, supported by the author Cançado (2008).
The results show a predominance of lexical ambiguities suggesting a purpose in the structure of the genres in
question; they also show that the duplicity of meaning provided by ambiguity is what causes humor; and that
the images will be one of the disambiguating factors of the ambiguous item in the comic strips and cartoons,
in addition to the writing, context and knowledge of the reader’s world. It was concluded that ambiguity, in the
comic strips and cartoons analyzed, should not be considered an unmeasured use of language, deviation or
grammatical error in the Portuguese language, rather a semantic phenomenon capable of producing an effect
of meaning, grace and risibility in the understanding of messages for the reader.
* Alunos de graduação filiados ao Departamento de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Este traba-
lho é resultado da disciplina “Oficina de texto: introdução à pesquisa científica”, ministrada pela Profa. Dra. Luana Lopes
Amaral.
1. Introdução
Pelos motivos expostos, a escolha do tema e dos objetos de estudo foi pautada pelo
fato de a ambiguidade ser considerada um erro pela gramática normativa (GN), sendo também
considerada um vício de linguagem e um desvio da norma-padrão da Língua Portuguesa.
Além disso, a pouca existência de pesquisas embasadas na observação e discussão da ambi-
guidade nos gêneros textuais em questão é, também, um fator que motiva esta pesquisa e
justifica a escolha do tema e de seus objetos.
Dito isso, os objetivos desta pesquisa são: (i) identificar e analisar tipos de ambiguida-
des nos gêneros textuais tirinha e charge; (ii) observar como as ambiguidades se comportam
na formulação do humor, compreendendo a mensagem proposta pelo autor; e (iii) assimilar
como as imagens que compõem os gêneros supracitados se relacionam com a compreensão
dos textos, inferindo o sentido preferível no entendimento por parte do leitor.
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2.1 Ambiguidade
Cançado (2008), por sua vez, aponta que a ambiguidade pode ser provocada por muitos
fenômenos linguísticos e os classifica em: ambiguidade lexical, ambiguidade sintática, ambi-
guidade de escopo, ambiguidade semântica, ambiguidade por atribuição de papéis temáticos,
ambiguidades por construções com gerúndios e ambiguidades múltiplas, em que aparecem,
em uma mesma frase, dois ou mais dos tipos de ambiguidades anteriormente citados.
As duas interpretações possíveis dessa sentença são: (i) a notícia que o sujeito leu
foi sobre a greve no trabalho; e (ii) o local onde o sujeito leu a notícia sobre a greve foi em
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seu trabalho. Dividindo as estruturas em colchetes, assim como Cançado (2008), podemos
melhor perceber as estruturas sintáticas presentes na frase:
Vale observar que a primeira sentença, ao ser reorganizada, não atende bem os crité-
rios gramaticais, soando estranha, por exemplo, ao ser pronunciada. Em semântica, o símbolo
asterisco (*) representa a ocorrência de sentenças agramaticais.
Aqui podemos ter duas interpretações: Ana pintou as suas próprias unhas, exercendo o
papel de agente da ação; ou alguém pintou as unhas de Ana, sendo ela beneficiária da ação.
Encontramos nos nossos dados, ainda, um tipo de ambiguidade ligado ao sentido literal
ou metafórico do item lexical. Segundo Cançado (2008), de modo tradicional, a metáfora tem
sido vista como a forma de linguagem figurativa de maior importância, sendo utilizada mais
amplamente na linguagem poética e literária. Ainda segundo a autora, todavia, é bastante
comum encontrar em textos jornalísticos, publicitários, científicos e até mesmo na nossa
linguagem do dia a dia, exemplos nos quais a metáfora é empregada (CANÇADO, 2008).
Assim, essa figura de linguagem apresenta uma palavra ou expressão com sentido
figurado, exercendo uma espécie de comparação. Observemos o exemplo:
No sentido literal, temos um homem que, próximo ao objeto balde, exerceu a ação
de chutá-lo. Já no sentido figurado, podemos dizer que, um homem, em resposta ao seu
sentimento de raiva ou ira, perdeu o controle de suas ações.
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do, porém, a ambiguidade tem suas origens no ‘sujeito falante’ mais que na
língua, o que representa, desta forma, uma falha dos indivíduos, e não da
língua (PACHECO, 2011, p. 4).
Sírio Possenti, entrevistado por Mello e Andrade (2014, p. 392), destaca que “[...] as
línguas não são o que as gramáticas dizem que são, que a ambiguidade não é um vício de
linguagem, embora possa ser um problema na redação da Constituição”.
Sabemos que, com o passar dos séculos, a diversidade dos gêneros textuais foi ampliada
pelas novas tecnologias de informação. Bezerra (2000, p. 1) diz que:
A variedade de textos orais e/ou escritos, produzidos pelos grupos sociais
em geral e em contextos diversos, têm sido objeto de estudo da Lingüística
(sic) Textual, inicialmente, e de teorias da enunciação, posteriormente, bus-
cando-se uma classificação e caracterização para tal variedade de textos.
Muitas propostas surgiram, sobretudo a partir dos anos 80, baseadas em
critérios diferentes (textuais, funcionais, enunciativos, discursivos e outros),
e quase imediatamente seus reflexos atingiram as pesquisas sobre ensino da
escrita (BEZERRA, 2000, p. 1).
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Do inglês comic strips, as tirinhas de banda são gêneros textuais em que se apre-
sentam uma sequência curta de quadrinhos e o seu discurso retrata temáticas variadas.
Normalmente, fazem apelo aos valores sociais e cotidianos de modo humorístico. Segundo
Verceze, Assunção e Sá (2016, p. 1075), “as tirinhas de humor, cujo objetivo está além de ser
um simples entretenimento, visa (sic) também instigar no leitor uma opinião crítica ou refle-
xão sobre situações atuais da sociedade, despertando nele uma reflexão critica (sic) e uma
construção de sentido pela leitura”.
Por fim, visando o humor provocado pelo fenômeno semântico ambiguidade em gêne-
ros textuais, como a tirinha e a charge, vale ressaltar a reflexão que Possenti (2003) suscita:
a questão do lugar do humor na pesquisa acadêmica. Segundo ele, apesar de o humor ter
sido apoderado por praticamente todos os grandes nomes da cultura, descaracterizando-o
como assunto marginal, diferentemente, ele é marginalizado na pesquisa acadêmica. Sírio
Possenti (2003) ainda elenca a questão: quem, além dos próprios humoristas, pesquisam
caricaturas, charges e piadas?
3. Metodologia
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proposta pelo autor ao leitor, como sugere a GN, e como as imagens se relacionam à interpre-
tação mais preferível do item ambíguo no texto, gerando humor. Desse modo, considerando
o aporte teórico e as análises do objeto, foi formulada a conclusão analítica sobre a temática.
Figura 1 – Tirinha 1
Na tirinha acima retratada, temos, ao que parece ser, a neta de uma senhora ligando
para a emergência e relatando um incidente ocorrido com a sua avó. Nos dois primeiros
quadrinhos, fica subentendido a emergência de uma pessoa ser agarrada ao gato de esti-
mação e este ter subido em um poste. Só é possível entender a real necessidade da ligação
no último quadrinho.
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Na tirinha de Jean Galvão, temos o pai de um garoto finalizando o conserto da rodi-
nha de um caminhãozinho. Ao pedir para o filho buscar a porca para concluir o conserto, o
menino se dirige ao quintal a fim de levar Rosinha, a porca, até o pai.
A ambiguidade aqui é gerada pela lexicalidade da palavra porca, que pode possuir
referentes diferentes no mundo: (i) a fêmea do porco; (ii) a peça de metal com furo cilíndrico
para encaixar o parafuso; e (iii) pau do lagar que atravessa os malhais (aparelho mecânico
de espremer frutos). Vale reforçar, ainda, que a ambiguidade lexical aqui é dada por uma
homonímia perfeita, pois o item lexical porca possui a mesma grafia e pronúncia, porém
sentidos diferentes.
Figura 3 – Tirinha 3
A ambiguidade, neste caso, se dá nos itens lexicais cestas (objeto de fibras entrelaça-
das e com alças), sestas (repouso pós-almoço) e sextas (sexto dia da semana). A linguagem
visual colabora para a desambiguação da linguagem escrita da tirinha.
Temos, então, uma ambiguidade lexical por homonímia, especificamente pelo fenô-
meno da homofonia a partir das pronúncias iguais, mas grafias e sentidos diferentes dos
itens lexicais em questão.
Figura 4 – Tirinha 4
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Na tirinha de Dik Browne, temos os personagens em um contexto de guerra no qual
Eddie Sortudo pronuncia a seguinte afirmação para seus companheiros: “O inimigo obteve
o melhor de nós”. Isso causa espanto a Hagar, o Horrível, que responde: “Como assim? A
batalha só está começando!”, dando a entender que seria impossível obter um desempenho
satisfatório diante de seus inimigos em um confronto que ainda se encontra longe do fim. A
fala de Eddie só é compreendida no último quadrinho, quando ele diz: “Olaf desertou! Ele é
o melhor de nós!”.
A frase proferida por Eddie possibilita duas interpretações distintas, pois o sintagma
verbal obteve o melhor de nós pode se referir: (i) à desenvoltura do grupo durante a batalha
para com o inimigo; e (ii) dentre os guerreiros ali presentes, o melhor deles abandonou o
time e se juntou ao rival.
Desse modo, temos uma ambiguidade por atribuição de papéis temáticos, em que
a Mônica pode assumir o papel de paciente, sendo afetada pela ação, ou de beneficiário,
sendo beneficiada pela ação. Além disso, o pronome te também causa uma duplicidade de
significados pelo fato de ocupar dois lugares sintáticos. Esses dois lugares podem equivaler
a pintar na própria pessoa ou pintar a pessoa em outra superfície, conforme demonstrado
anteriormente.
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Embora o pronome oblíquo seja muito preso em seu próprio lugar, a ambiguidade
pode ser desfeita alterando-o. Por exemplo, caso o questionamento “Posso te pintar?” fosse
substituído por “Posso pintar em você?”, a ambiguidade seria desfeita pela mudança do
pronome na sentença por uma preposição, comprovando o papel direto do te como gera-
dor da ambiguidade na tirinha.
Figura 6 – Tirinha 6
Assim sendo, a ambiguidade nessa tirinha se caracteriza como lexical pela polissemia
do verbo passar, que comporta diferentes sentidos a depender da situação. É importante
lembrar que, na língua, o pronome me tem duas leituras sintáticas que seriam, no caso em
específico: (1) pronome oblíquo passar EM mim e (2) pronome dativo: passar PARA mim.
Desse modo, isso gera, também, uma ambiguidade por atribuição de papéis temáticos: no
primeiro caso, a dona do animal fica sendo paciente, sendo afetada pela ação; no segundo,
ela é beneficiária, sendo beneficiada pela ação. Vale ressaltar que o sentido principal neces-
sita crucialmente da sequência de imagens para trazer à tona o sentido evocado pela dona
ao fazer o pedido.
Figura 7 – Charge 1
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Na charge de Ivan Cabral, médico e paciente estão numa consulta. O médico pergunta:
“O que a senhora tem?”, com a intenção de saber o que a mulher está sentindo, culminando
na sua ida ao hospital, mas esta responde: “Nada... os corruptos levaram tudo!”.
Os significados tidos a partir do verbo ter poderiam ser, nesse contexto: (i) algum
mal-estar ou enfermidade que tenha feito com que a paciente sentisse necessidade de consul-
tar com o médico; e (ii) posses e recursos financeiros que a senhora possui.
Desse modo, há uma ambiguidade lexical no item lexical pé direito. Ele tem diferentes
significados que vão variar de acordo com seu sentido literal ou metafórico, gerando dupli-
cidade de sentido. Quando o sentido literal é levado em consideração, tem-se pé como um
membro corporal (no caso da charge, a ser comido). Já no sentido metafórico, refere-se a
começar positivamente.
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vou começar o ano com o pé direito. Tal ambiguidade pode ser considerada sintática porque
a alteração da ordem das palavras pode tirar a duplicidade de sentido: eu vou começar este
ano com o pé direito.
Figura 9 – Charge 3
Aqui ocorre uma ambiguidade lexical pelo fenômeno da polissemia, pois queima pode
tanto se voltar à consumação do shopping pelo fogo quanto ao termo para se referir à liqui-
dação de produtos que logo deixarão de ser vendidos.
Figura 10 – Charge 4
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Na charge de Frank, temos duas senhorinhas, aparentemente não muito adaptadas
às novas tecnologias da sociedade globalizada, tentando realizar o pagamento de um boleto
em um caixa automático. A senhora vestida de verde informa à outra que a máquina está
solicitando a leitura do código de barras. Em sequência, a sua acompanhante inicia a leitura
do código, recitando o papel a partir da finura e grossura dos tracinhos.
Desse modo, a ambiguidade da frase gira em torno do item lexical ler, pois há duas
interpretações possíveis no contexto da charge: a primeira é a de que basta inserir o papel
no leitor infravermelho da máquina que este lerá o código de barras; e a segunda interpre-
tação é a de que uma das senhoras, por não saber que o objeto tem essa função, começa
ela mesma a ler os tracinhos presentes no papel.
Em vista do exposto, há dois tipos de ambiguidades aqui: uma lexical pela polisse-
mia do verbo ler, que comporta diferentes sentidos conforme demonstrado na charge; e a
outra sintática, derivada da duplicidade de sentido em torno do agente que deveria fazer a
ação de ler.
Figura 11 – Charge 5
Aqui a ambiguidade é caracterizada pela homonímia dos itens lexicais doi e dói, e
assento e acento, na qual a primeira é causada pelo fenômeno da homografia (grafias iguais,
mas pronúncias e significados diferentes) e a segunda pelo fenômeno da homofonia (mesmas
pronúncias, mas grafias e sentidos diferentes).
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5. Discussão dos resultados
O humor gerado pela presença da ambiguidade em tirinhas e charges pode ser expli-
cado ao levar em conta certos fatores: (i) é válido ressaltar que um dos sentidos do item ambí-
guo não tem relação alguma com o contexto proposto pelo autor, o que gera uma quebra
de expectativa e, consequentemente, proporciona a comicidade; (ii) é relevante citar que o
contexto amplifica o sentido principal da ambiguidade, ou seja, proporciona novas possibili-
dades de interpretação, causando risibilidade no leitor; e (iii) a importância da imagem, pois
ela também exerce papel crucial no sentido principal a ser captado pelo leitor.
Tendo em vista que os gêneros textuais tirinha e charge apresentam uma relação entre
linguagem escrita e linguagem visual, o sentido e o contexto dependem do conhecimento de
mundo do leitor, já que as ilustrações, descrições e outros fatores auxiliam no entendimento
do sentido principal. Segundo Rabaça e Barbosa (2002, p. 10):
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(lt) Cartum cujo objetivo é a crítica humorística imediata de um fato ou acon-
tecimento específico, em geral de natureza política. O conhecimento pré-
vio, por parte do leitor, do assunto de uma charge é, quase sempre, fator
essencial para sua compreensão. Uma boa charge, portanto, deve procurar
um assunto momentoso (o que em ing. se chama the talhing of town) e ir
direto aonde estão centrados a atenção e o interesse do público leitor. A
mensagem contida numa charge é eminentemente interpretativa e crítica, e,
pelo seu poder ele (sic) síntese, pode ter às vezes o peso de um editorial [...]
O termo vem do fr., charge, carga (RABAÇA; BARBOSA, 2002, p. 10, grifos
dos autores).
6. Considerações finais
Dados os expostos nos itens anteriores, percebe-se que são necessárias novas pesqui-
sas acerca do tema do problema da ambiguidade como geradora de humor nos gêneros
textuais tirinha e charge com o objetivo de compreender os mecanismos de humor no texto
e entender melhor os recursos linguísticos dos gêneros supracitados. Os estudos mais apro-
fundados nesses gêneros se justificariam pela funcionalidade das tirinhas e charges ao serem
frequentemente encontradas no nosso dia a dia, atuando, em sua maioria, criticamente e/
ou expondo, através do humor, tópicos do cotidiano social, tanto nos âmbitos sociocomu-
nicativos quanto no ensino escolar e superior.
Os estudos realizados nesta pesquisa mostram que a ambiguidade lexical se faz predo-
minante nos gêneros analisados, sugerindo um propósito na estrutura das tirinhas e charges.
O léxico, somado às imagens, contribui para uma comunicação multimodal, auxiliando no
entendimento das ambiguidades e uma desambiguação da mensagem proposta pelo autor
ao leitor das tirinhas e charges.
Concluímos que a ambiguidade, nas tirinhas e charges analisadas, não deve ser consi-
derada um uso descomedido de linguagem, desvio ou erro gramatical da Língua Portuguesa,
mas sim um fenômeno semântico passível de produzir efeito de sentido, graça e risibilidade
no entendimento de mensagens para o leitor.
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