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consórcio intermunicipal
(Condesus) promueve la articulación de los municipios en favor del desarrollo regional. Para tanto, se
realiza una investigación cualitativa, de naturaleza exploratoria-descritiva y con bosquejo del método
estudio de caso. Como resultado, se obtuvo que en el Condesus es una asociación publica de derecho
privado, cuya estructura administrativa está compuesta por la Presidencia; El Consejo de intendetes
y la Secretaría Ejecutiva; y que el mismo desarrolla proyectos enfocados en el desarrollo de la Cuarta
Colonia, a partir de las cooperativas municipales. Conocer la estructura de gobernanza del Condesus
posibilita el ententimiento de una dinámica original por medio de la cual se espera comprender el
proceso de desarrollo regional.
1. Introdução
Sob uma percepção mais ampla acerca do tema em epígrafe, considera-se que, nos
processos endógenos de desenvolvimento regional, são os atores da própria localidade que,
ao adotarem estratégias, a partir do potencial desenvolvimentista existente em seu território,
controlam o processo de transformação local visando aumentar o bem-estar da comunidade
da qual fazem parte (Vázquez Barquero, 2001). O que leva à percepção de que o conjunto de
recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais regionais constitui o ponto de parti-
da para o desenvolvimento de uma comunidade territorialmente localizada.
No entanto, faz-se necessário lembrar que, para promover o desenvolvimento, os planos
regionais necessitam estar relacionados a estruturas de governança regional, resultantes da
ação coletiva dos atores públicos e privados que interagem dentro de um contexto espacial,
institucional, político e cultural específico (Tapia, 2005).
O termo governança regional refere-se às iniciativas ou ações que expressam a “capa-
cidade de uma sociedade organizada territorialmente, para gerir os assuntos públicos a par-
tir do envolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos e institucionais”
(Dallabrida, 2000:46), dentre as quais se podem citar: os fóruns ou conselhos regionais de
desenvolvimento, as agências ou consórcios de desenvolvimento local ou regional, os grupos
de interesse e as associações.
No Brasil, um caso no qual se observa a ocorrência de políticas de desenvolvimento
regional por meio da articulação dos atores regionais através de um plano de governança ter-
ritorial pode ser observado na Quarta Colônia no Rio Grande do Sul, cuja região encontra-se
localizada no centro-oeste do estado (Xavier, 2012).
Na Quarta Colônia, há evidências sobre a existência de ações compartilhadas entre os
municípios: Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande,
Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins. Este compartilhamento de ações tor-
na-se possível devido às características geográficas e culturais locais que favorecem a busca
por estratégias conjuntas capazes de minimizar as precariedades e maximizar as potenciali-
dades da região (Xavier, 2012).
Todavia, mesmo diante dessas potencialidades locais, por muito tempo notou-se na
Quarta Colônia a carência por uma sintonia entre os interesses do homem da cidade e o do
campo. O que proporcionou questionamentos acerca da construção e conduções de estratégias
para minimizar a precariedade da região. Tal cenário estimulou, em 1996, o surgimento do
Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus), formado por nove
municípios pertencentes à região, que consorciados constituem uma aliança estratégica em
busca do desenvolvimento sustentável da região (Battistella, Erdmann e Wittmann, 2008).
Essa aliança intermunicipal constitui uma associação pública de direito privado e
sem fins econômicos, cuja administração é realizada pelos prefeitos dos municípios envol-
vidos, com o apoio de uma Secretaria Executiva (Quarta Colônia, 2011). Tais predicados
caracterizam o consórcio como um caso no qual predomina a existência de uma adminis-
tração pública.
O presente artigo tem como objetivo descrever, por meio da análise da estrutura de
governança, como o Condesus promove a articulação dos municípios da Quarta Colônia
o próprio governo. Nesse processo, cada um dos envolvidos tem seu papel para contribuir com
o desenvolvimento regional (Buarque, 2006).
Ressaltada a importância da participação ativa dos atores locais para o desenvolvimen-
to endógeno, Coe e colaboradores (2004) destacam que tal concepção envolve aspectos de
governança, como forma de viabilizar o inter-relacionamento. Sobretudo para que seja possí-
vel contemplar os pressupostos ressaltados por Vázquez Barquero (2001), Sotarauta (2005),
Buarque (2006) e Normann (2012). No presente estudo, remete-se à governança como o
termo utilizado por Willianson (1996), segundo o qual as decisões tomadas no âmbito de uma
organização estão diretamente relacionadas ao seu ambiente institucional.
Sob esse entendimento, Bobbio (2005) aponta que governança se baseia em acordos
e contratos negociados junto a uma multiplicidade de atores. Partilhando da mesma visão,
Moreiras, Tambosi Filho e Garcia (2012) a compreendem como o conjunto de processos, cul-
turas, políticas, normas e leis que regulam o modo como uma relação interorganizacional é
administrada. Enquanto Suzigan, Garcia e Furtado (2007) relacionam o termo à capacidade
de coordenação que agentes (empresas, organizações, instituições) exercem sobre as inter-
relações produtivas, comerciais, tecnológicas e outras, influenciando diretamente o desenvol-
vimento de um arranjo local.
Nesses preceitos, Storper e Harrison (1991) salientam que a governança é estruturada
pelas relações de cooperação existentes, pelo grau de hierarquia, liderança e comando pre-
sente entre os participantes do sistema. Enquanto Gilpin (2002) ressalta que a mesma resulta
de redes formadas por organizações públicas e privadas em um nível regional, nacional ou
internacional, que contêm em si uma função social. Contexto no qual o governo passa a atuar
mais como um mediador num processo de negociação política.
De forma mais aprofundada, Humphrey e Schmitz (2000) apontam para as ações de go-
vernança visando à criação de sistemas voltados à promoção do desenvolvimento dos produto-
res locais, centros de prestação de serviços tecnológicos e associações/agências governamentais
voltadas para este fim. Abordagem que se aproxima do propósito do presente estudo.
Mais especificamente, no que diz respeito às associações e agências locais de desenvol-
vimento, Humphrey e Schmitz (2000) apontam que tais instituições atuam como elementos
viabilizadores do processo de desenvolvimento regional por meio de ações de fomento à com-
petitividade e de promoção do conjunto das empresas.
A partir dos pressupostos apresentados, pode-se aproximar o termo governança da te-
mática do desenvolvimento regional. Sobre essa aproximação, Albertin (2003:93) salienta
que a governança regional “tem sido usada como forma de trabalhar em conjunto e usar o
poder coletivo na busca de soluções para problemas comuns”. Quando relacionada com seu
objetivo, a mesma é definida por ações coletivas de diversos atores na busca do seu desenvol-
vimento.
Dallabrida (2000:46) ressalta que a governança regional é utilizada para se referir às
“iniciativas ou ações que expressam a capacidade de uma sociedade organizada territorial-
mente, para gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos
atores sociais, econômicos e institucionais”. Para Löffler (2001:212), a mesma tem como ob-
jeto “a ação conjunta, levada a efeito de forma eficaz, transparente e compartilhada, pelo
Estado, pelas empresas e pela sociedade civil, visando uma solução inovadora dos problemas
sociais”. O que pode criar possibilidades de um desenvolvimento sustentável futuro para to-
dos os participantes.
Para Dallabrida e Becker (2003), as articulações inerentes à governança regional in-
cluem todos os processos que se dão com o objetivo de diagnosticar a realidade, definir priori-
dades, planejar ações e determinar como os recursos financeiros, materiais e humanos devem
ser alocados. Visando a dinamização das potencialidades e a superação dos desafios, a favor
do desenvolvimento regional.
Nessa visão, considera-se que a governança regional pode atuar como um mecanismo
de “aprofundamento democrático e de desenvolvimento como ‘expansão das liberdades’, mas
também pode ser mecanismo de socialização dos custos e privatização dos ganhos do desen-
volvimento” (Rover, 2007:114).
Ressaltada a função da governança regional, alerta-se para o fato de que, junto à elabo-
ração de um plano/programa compartilhado por atores locais, emerge a necessidade de veri-
ficar quem realmente participa, toma decisões e se beneficia das ações realizadas. Sobre esse
argumento, salienta-se que a existência de um plano de governança não garante que todos os
problemas, necessidades e interesses de uma região sejam contemplados, seja pela ausência
de recursos ou assimetrias na distribuição de poder (Rover e Henriques, 2006).
A partir das argumentações destacadas, acredita-se que boa parte dos aspectos aborda-
dos por Dallabrida (2000), Humphrey e Schmitz (2000), Albertin (2003), Dallabrida e Becker
(2003), Rover (2007), Suzigan, Garcia e Furtado (2007) e Moreiras, Tambosi Filho e Garcia
(2012) remetem ao Condesus. Dessa forma, considera-se pertinente observar se os pressupos-
tos pelos autores em questão encontram-se presentes na unidade de análise da pesquisa.
Além disso, conforme aspectos apontados por Rover e Henriques (2006), torna-se rele-
vante compreender a estrutura de governança do Condesus como mecanismo mediador das
relações e interesses entre os municípios associados a favor do desenvolvimento endógeno.
Na presente seção são apresentadas metodologias de análise mostradas pelo Instituto Latinoa-
mericano y del Caribe de Planificación Económica y Social (Ilpes, 1998) e por dois autores que
estudam o desenvolvimento regional: Boisier (1996) e Buarque (2006). Esses esquemas/me-
todologias são vislumbrados como possibilidades de análise de um plano de desenvolvimento
regional, uma vez que se observa uma dificuldade em encontrar um consenso a respeito de
modelos de análise validados sobre o tema.
Baseando-se na análise dessas três metodologias, se pretende destacar preocupações co-
muns presentes em projetos regionais exitosos. As características, aspectos e dinâmicas apre-
sentados a seguir serviram como base para a elaboração dos procedimentos metodológicos
adotados e a determinação de pontos iniciais a serem observados na análise de resultados.
Como primeira metodologia de análise a ser destacada, o Ilpes (1998) propõe um pro-
cesso, baseado em algumas características comuns à maioria dos processos de desenvolvimen-
to que, juntas, poderiam conferir solidez ao processo de desenvolvimento regional. Sob essa
forma de análise, a vantagem da gestão local do desenvolvimento reside na capacidade de
se conhecer quais são os recursos que estão disponíveis — recursos naturais de cada lugar —
e estabelecer um canal direto e dinâmico de interação entre os agentes econômicos e o terri-
tório.
Aprofundando o estudo sobre o método em destaque, considera-se que o desenvolvi-
mento regional supõe uma série de pré-requisitos ou dinâmicas, tais como: a) compromisso
mínimo entre os atores; b) busca de um diálogo entre os representantes políticos e econômi-
cos; e c) superar a incompreensão mútua que aparece na ausência de locais de reunião entre
as esferas econômica e social.
Partindo dos pressupostos destacados, o Ilpes (1998) ressalta que o alcance do desen-
volvimento regional resulta de um processo que se baseia em um princípio simples: devem-se
tomar as medidas necessárias para resolver os problemas e promover potencialidades locais.
Este princípio é formulado por meio de diferentes fases, conforme apresenta o quadro 1.
Quadro 1
Fases e conteúdo da dinâmica de desenvolvimento regional
I. Coleta de dados, análise e diagnóstico: informação Proporciona o conhecimento da capacidade de desenvolvimento,
as oportunidades e potencialidades, como os recursos disponíveis
para tanto.
II. Definição de uma estratégia Estabelecimento dos objetivos gerais. Decide-se onde e como se
quer chegar.
III. Elaboração do plano de ação Permite pré-avaliar os projetos separadamente, identificar sua
estrutura e estudar sua viabilidade.
d. Acompanhamento:
d.1. Controle e avaliação das ações implementadas.
Além dessas quatro etapas do planejamento do desenvolvimento, Buarque (2006) res-
salta que, para ter sucesso, um plano precisa responder a questões tais como: a) O que somos?
(realidade atual); b) De onde viemos? (história da evolução recente); c) Onde estamos situa-
dos? (contexto externo); d) Aonde queremos chegar com o plano de ação? (visão de futuro);
e) O que se deve e pode fazer para chegar aonde queremos?; f) Onde concentrar as ações?;
g) Com que meios se podem implementar as ações?; e h) Como se organizar para executar e
acompanhar as ações?
Além das metodologias propostas pelo Ilpes (1998) (quadro 1) e por Buarque (2006),
Boisier (1996) sugere o hexágono de desenvolvimento regional como uma metodologia ca-
paz de articular inteligentemente seis vértices. O autor em questão defende o pensamento de
que o desenvolvimento de um território organizado depende da existência, da articulação e
das condições de manejo de seis elementos, que normalmente estão presentes em qualquer
território organizado: a) atores, b) instituições, c) cultura, d) procedimentos, e) recursos, e
f) entorno; conforme resume o quadro 2.
Quadro 2
Hexágono do desenvolvimento regional
Elementos Descrição
Atores Consiste em identificá-los por categorias (membros da sociedade civil, agrupamentos empresa-
riais, movimentos sociais e outros) e definir o papel de cada um no plano de desenvolvimento e
governança local.
Cultura Refere-se ao potencial cultural da região no que diz respeito à capacidade de promover a cooperação,
à solidariedade, à autorreferência e à identificação da sociedade com o próprio território.
Recursos Consiste em definir quais os recursos que serão trabalhados pelo plano de desenvolvimento (hu-
manos, financeiros, materiais e/ou psicossociais).
Instituições Consiste no exame do ambiente institucional da região e na identificação de quais instituições
exercem influência e poder na governança local.
Procedimentos Refere-se à natureza de gestão do governo territorial, sendo importante destacar o conjunto de ações
que representam o exercício da autoridade, a capacidade de liderança e a tomada de decisões de
curto e longo alcance.
Entorno Relaciona-se com tudo o que é externo à região ou à província. É o meio externo, configurado pela
multiplicidade de organismos, sobre os quais não se tem controle, mas com os quais a região como
um todo se articula necessariamente.
Figura 1
Dinâmica do processo de desenvolvimento regional
Processos ex ante
Tomada de decisões
Cultura local Instituições
Acompanhamento, controle
e avaliação
Recursos Procedimentos
locais
Atores locais
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de Boisier (1996), Ilpes (1998), Buarque (2006) e dos dados
coletados.
4. Método de estudo
A presente pesquisa foi realizada em duas etapas subsequentes, sendo a primeira uma pesqui-
sa documental e bibliográfica e a segunda a realização de entrevistas semiestruturadas junto
aos grupos de atores (gestores) que integram a estrutura administrativa do caso.
No que se refere à pesquisa documental e bibliográfica, Yin (2005) destaca que, para os
estudos de caso, o uso mais importante de documentos é corroborar e valorizar as evidências
oriundas de outras fontes, o que permite que sejam feitas inferências a partir de documentos.
As inferências devem ser tratadas somente como indícios que valem a pena ser investigados
mais a fundo, passíveis de ser falseadas em pesquisas futuras. Destacada a importância dessa
etapa, para a presente pesquisa foram consultados, além de materiais bibliográficos: sites da
internet, livros, estatutos, relatórios e materiais técnicos disponibilizados pelo consórcio que
contêm informações históricas e atuais sobre o caso em estudo.
Posteriormente, na segunda etapa da pesquisa foram realizadas entrevistas semiestru-
turadas, que, segundo Yin (2005:116), constituem “uma das mais importantes fontes de in-
formações para um estudo de caso”. Esse procedimento foi aplicado ao conjunto de atores
formais que integram o Condesus, separados em dois grupos, cuja divisão, sintetizada pelo
quadro 3, foi estabelecida a partir da estrutura de cargos que compõe o consórcio.
Quadro 3
Grupos de atores (gestores) entrevistados durante a pesquisa
Grupos Descrição
Secretaria Executiva (G1) Secretário executivo do Condesus
Conselho de Prefeitos (G2) Prefeitos dos nove municípios integrantes do Condesus
Destaca-se que, para a condução das entrevistas, foram considerados aspectos ressal-
tados por Gil (2009), tais como: preparação do roteiro de entrevista, estabelecimento do
contato inicial, formulação das perguntas, estímulo a respostas em profundidade, registro das
respostas e conclusão da entrevista.
O protocolo de entrevistas foi dividido em cinco blocos. Os primeiros quatro blocos
buscaram identificar a etapa de planejamento regional que, segundo os pressupostos teóricos
apresentados por Ilpes (1998) e Buarque (2006), deve orientar as ações de governança ter-
ritorial, que ocorrerão nos seguintes momentos: coleta de dados (delimitação da região/terri-
tório, elaboração de diagnóstico e prognóstico); tomada de decisões (elaboração da visão de
futuro, demarcação de estratégias, programas e projetos, definição de instrumentos e formu-
lação de modelos de gestão); execução (momento no qual aquilo que foi planejado é colocado
em ação); e avaliação (reflexão sobre os impactos e resultados das ações executadas).
Finalmente, o quinto bloco foi objeto da averiguação da pesquisa em relação à dinâmica
existente entre as seis variáveis apresentadas por Boisier (1996): entorno, cultura, instituições,
recursos, procedimentos e atores, que juntas caracterizam o projeto político de desenvolvimen-
to resultante do planejamento regional elaborado.
Com relação ao tempo de duração das entrevistas, ressalta-se que a realizada com o
secretário executivo do Condesus (G1) durou 2h30min, enquanto as realizadas junto aos nove
prefeitos membros do Conselho de Prefeitos (G2) tiveram em média 45 minutos de duração,
cada uma. Salienta-se que a entrevista com o G1 teve maior duração em relação às demais
pelo fato de o secretário executivo estar diretamente envolvido desde os momentos preceden-
tes à origem do consórcio até o momento atual. No mais, considera-se importante frisar que
nenhum dos autores do artigo possui qualquer tipo de envolvimento com o caso em estudo.
Após a realização das entrevistas semiestruturadas e coleta das fontes secundárias, foram
realizadas a tabulação e a análise de dados. Nesse momento, as entrevistas foram gravadas
e transcritas, o que facilitou a categorização das informações e a identificação de elementos
necessários para a análise.
O tratamento dos dados qualitativos foi feito seguindo o método da análise de conteúdo
(Bardin, 1977), com o auxílio do software NVivo 8.0, com o qual foi possível codificar, filtrar,
fazer buscas, questionar e categorizar os dados para responder ao problema de investigação.
A análise de conteúdo tem por objetivo identificar o que foi relatado sobre o tema em
estudo. O método de análise de conteúdo possibilitou ao pesquisador definir um conjunto de
elementos que, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, geraram indicadores que permitiram a inferência de conhecimentos relativos
às condições de produção destas mensagens (Bardin, 1977).
O método de análise de conteúdo seguiu as indicações de Bardin (1977), as quais des-
crevem que se devem percorrer três principais etapas, conforme descrito a seguir:
Nesta seção são apresentados os resultados obtidos pela pesquisa, que viabilizaram que fosse
alcançado o objetivo de descrever, através da análise da estrutura de governança, como o
Condesus promove a articulação dos municípios da Quarta Colônia em prol do desenvolvi-
mento regional.
No entanto, ressalta-se que, durante a realização e análise das entrevistas, identificou-
se que seria insuficiente analisar a estrutura de governança do Condesus sem que antes se
buscasse conhecer o contexto de surgimento do mesmo. Percebe-se que se torna importante
elencar a compreensão dos momentos que precederam e influenciaram diretamente a origem
do consórcio, ou seja, como destaca Yin (2005), há a necessidade de relevar fatos que o tor-
nam um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real e caracterizam o estu-
do como um estudo de caso. O que foi feito no primeiro momento da discussão dos resultados,
para que, em seguida, fossem feitas as demais análises, visando atingir ao objetivo proposto.
A partir das considerações apresentadas pelo secretário executivo do Condesus e das fontes
secundárias observadas, procurou-se compreender os processos ex ante ao planejamento e
consolidação do consórcio, subdivididos em duas etapas: a) processos ex ante: precedentes; e
b) processos ex ante: dificuldades.
No que diz respeito aos precedentes, por meio dos dados observados, verificou-se que
houve momentos preponderantes que levaram ao surgimento do consórcio e que, de certa
forma, influenciaram diretamente a maneira pela qual se configura a estrutura de governança
do Condesus, identificados na figura 2, em ordem cronológica:
Figura 2
Processos ex ante: precedentes à criação do Condesus
Além dos precedentes, outros pontos importantes e influentes foram observados para
a análise da atual estrutura de governança do Condesus. Tais pontos se referem aos aspectos
que caracterizam dificuldades enfrentadas pelos agentes regionais durante os momentos ex
ante à criação do consórcio. Seguindo o mesmo critério adotado para a análise dos prece-
dentes, foram analisados pontos evidenciados especialmente pelo secretário executivo, o que
se deve ao fato de ele ser, dentro do universo dos entrevistados, aquele que acompanhou o
processo de surgimento do Condesus desde o começo.
Observou-se por meio da análise das entrevistas realizadas que houve dificuldades en-
frentadas para que o consórcio fosse implementado e que as estratégias propostas pelo mesmo
fossem postas em prática. Dentre os empecilhos, destacaram-se: a) problemas conjunturais
relacionados à superficialidade dos projetos de futuro para os municípios da região; b) carên-
cia por planos que buscassem a transformação e a valorização da realidade e cultura local; c)
resistências ideológicas em relação à integração regional; d) fragilidade das relações locais;
e) necessidade de construção de uma identidade regional; f) lutas políticas nos e entre os
municípios da região; g) entraves burocrático-legais; h) cobrança por resultados que se refle-
tissem nas atividades econômicas; e i) deficiência por programas de governo que visassem o
desenvolvimento a médio e longo prazo (quadro 4).
Quadro 4
Processos ex ante: elementos dificultadores ao surgimento do Condesus
Processos ex ante
Inexistência de um projeto futuro
Superficialidade e fragmentação das ações propostas
Desvalorização da realidade e da cultura local
Resistência à visão regional
Fragilidade das relações locais e regionais
Dificuldades Lutas políticas na região
Aspectos burocrático-legais
Período eleitoral
Ausência de cooperativismo
Visão economicista
Imediatismo
Figura 3
Governança no Condesus
Quadro 5
Pontos propulsores e restritivos do desenvolvimento relacionado às ações do Condesus,
na região da Quarta Colônia
Pontos propulsores do desenvolvimento Pontos restritivos do desenvolvimento
− Surgimento de identidade regional − Baixo relacionamento com as comunidades/regiões do
entorno
− Cooperativismo
− Baixa participação de atores econômicos e sociais
− Prioriza ações que beneficiam a todos os integrantes
− Pouco relacionamento entre o consórcio e as instituições
− Não prioriza os interesses individuais
− Necessidade de qualificação e retenção de recursos
− Valorização das potencialidades locais
humanos
− Fortalecimento da “marca” Quarta Colônia
− Carência por obras de infraestrutura relacionada à
− Plano de desenvolvimento, baseado nos interesses recepção de turistas
regionais
No entanto, observa-se na segunda coluna do quadro 5 que, mesmo diante dos aspec-
tos positivos ressaltados, o Condesus carece de melhorias no que diz respeito a aspectos tais
6. Considerações finais
Diante dos objetivos estabelecidos, observou-se que o Condesus constitui uma associação pú-
blica de direito privado, que conta com uma estrutura administrativa composta pela a) Pre-
sidência; b) Conselho de Prefeitos e c) Secretaria Executiva. O consórcio tem seus projetos
focados no desenvolvimento da Quarta Colônia, com suas ações determinadas pelo cooperati-
vismo envolvendo os nove municípios da região, conforme ilustra a figura 3.
As principais estratégias e projetos propostos pelo Condesus são elaborados pela Secre-
taria Executiva, que também é a responsável pelos procedimentos administrativos dentro do
consórcio, executando funções tais como manejo orçamentário, gestão de projetos e relações
públicas. Como principais fontes de obtenção de recursos financeiros por parte do consócio,
destacam-se as mensalidades pagas pelos associados e os recursos adquiridos junto a órgãos
federais e estaduais. Tais observações fornecem as bases para que o objetivo principal da pes-
quisa tenha sido alcançado.
Ao se conhecerem os relatos sobre os momentos históricos que precederam a criação
do Condesus (figura 2), observou-se que o consórcio é resultante de seguidas ações que
tiveram como interesse principal o surgimento de um sentimento de valorização da cultura
local e, consequentemente, a conscientização dos envolvidos sobre a necessidade de se es-
tabelecer ações cooperativas que tenham como objetivo beneficiar a região como um todo.
Conforme destacado por Boisier (1996), Ilpes (1998), Vázquez Barquero (2001), Sotarau-
ta (2005), Tapia (2005), Buarque (2006) e Normann (2012), a cooperação constitui um
elemento central para que se possa obter êxito através de políticas integradoras visando o
desenvolvimento regional.
Apesar das dificuldades ex ante enfrentadas decorrentes da ausência de uma visão re-
gional viabilizadora de um projeto de futuro regional e dos impasses/obstáculos vivenciados
(quadro 4), nota-se que o consórcio trouxe para a região benefícios, tais como fortalecimento
da “marca” local, ascensão do turismo, planejamento regional e realização de obras de infra-
estrutura (especificamente estradas) (primeira coluna do quadro 5). O alcance desses resulta-
dos benéficos só foi possível devido ao fato de o consórcio ter construído entre seus membros
uma visão cooperativa e integradora, que favoreceu o surgimento de uma identidade regional
e o reconhecimento da região pelas pessoas de fora; resultados estes estreitamente relaciona-
dos ao elemento cultura ressaltado por Boisier (1996).
Outro ponto relacionado ao hexágono de Boisier (1996) detectado como carente por
melhorias diz respeito à necessidade de definição de estratégias que visem qualificar a mão
de obra local (especialmente mediante cursos de capacitação continuada) e reter os recursos
humanos capacitados na região, inibindo a migração destes para outros centros (segunda
coluna do quadro 5).
Além dos aspectos levantados durante a etapa de análise de resultados, outra contri-
buição relevante relaciona-se ao caráter exploratório do estudo que, através de uma pesquisa
baseada em estudos anteriores, propõe uma dinâmica original por meio da qual se espera
compreender o processo de desenvolvimento regional (figura 1).
Como limitação da pesquisa, ressalta-se que foi considerada a inclusão de um grupo que
envolvesse os atores sociais dos municípios da Quarta Colônia (moradores, representantes de
associações de bairro e dos municípios) e outro que abarcasse os atores privados locais (re-
presentantes de associações empresariais/comerciais e industriais da região). Porém, durante
a realização da pesquisa, observou-se que a inserção desses grupos inviabilizaria a conclusão
do trabalho, sendo este ponto uma sugestão para a realização de pesquisas futuras.
Outra sugestão futura compete à possibilidade de replicar a metodologia utilizada em
outros casos, na tentativa de se obter resultados que venham a corroborar ou falsear as aná-
lises aqui realizadas e, consequentemente, contribuir com o avanço teórico de estudos envol-
vendo a mesma temática.
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