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NOME: Ricardo Gustavo Garcia de Mello

Mestrando do Prolam/USP

Oliveiros S. Ferreira entendo por hegemonia a supremacia de uma conduta sobre


a outra, o que implica afirmar que as condutas são praticas cotidianas que traduzem o
predomínio de uma determinada concepção do mundo sobre as diversas visões do
mundo. Tal supremacia de uma conduta reside na aceitação ativa da concepção do
mundo dominante.

O fator desta supremacia não deve ser explicado por intermédio da coação dos
aparelhos repressivos. Porque a introdução do conceito hegemonia responde à
necessidade de diferenciar o momento de violência do momento de
consentimento/aceitação da concepção do mundo dominante. [FERREIRA, 1986]

A reflexão sobre o conceito hegemonia tem por objetivo buscar compreender as


relações entre subordinados e dirigentes, com a preocupação particular de explicar
porque o grande número de despossuídos não só suporta a dominação da minoria de
grupos privilegiados, mas como ele resolve se mobilizar para sustentar os valores
sociais e as estruturas políticas que legitimam sua subordinação, num ato de servidão
voluntaria. E também porque tal reflexão explica o problema inverso: porque em certas
circunstancias o grande numero se rebela por não poder tolerar os grilhões que os
acorrenta.

A questão da hegemonia é fundamental para o pensamento sociológico das


estruturas sociais. As estruturas sociais, ou seja, o sistema social só se mantém porque a
sociedade, no caso, o grande numero sustenta a concepção do mundo dominante.

A concepção do mundo não é a mesma coisa que visão do mundo, apesar de


terem certo vinculo. A visão do Mundo: é a captação do dado real pelo aparato
biopsíquico do individuo, ela é imediata e individual. A concepção do Mundo: é
formada quando certos homens se aproximam uns dos outros, entendem-se entre si,
desenvolvem relações de contato duradouras, compreendem a sua posição enquanto
“Nós coletivo”, e se vendo através da organização capaz de julgar os fatos e de
expressar sua vontade coletiva.

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O individuo só pode situar sua percepção/experiência em um quadro maior de
compreensão dentro de um grupo que tem uma ideia de um “Nós coletivo”. O que difere
a visão do mundo da concepção do mundo, é que a visão do mundo é imediata,
ocasional e particular, enquanto a concepção do mundo é coletiva, organizada e
abrangente. Isto não exclui que certas personalidades, ou seja lideres, tenham uma
concepção do mundo.

Segundo Oliveiros é necessária a compreensão do que seja uma concepção do


mundo para o entendimento do problema da hegemonia. Da perspectiva hegemônica,
uma concepção do mundo, é um sistema de organização das condutas coerente com um
determinado conjunto de valores expressos numa maneira coerente de pensar, agir e ser.
A concepção do mundo responde as necessidades do homem enquanto ser em relação.
[FERREIRA, 1986]

Aceitando a hegemonia como a supremacia de uma conduta sobre outra, ou a


supremacia de uma concepção do mundo sobre a outra, o âmbito onde ela é exercita é
no campo da política associado ao da cultura. Neste contexto a política é compreendida
axiologicamente como uma concepção ativa do mundo com valores traduzidos na
conduta.

A partir desta perspectiva tomamos a concepção do mundo como uma forma


orgânica de expressar as quatro posses essenciais: as almas, o sexo, o excedente e o
poder, a partir de um sistema de valores que são traduzidas nas condutas ordenando com
coerência os modos de pensar, agir e ser. Exemplo de valores sociais que expressam as
quatro posses essenciais, estão presentes no lema do Partido da Ordem: propriedade,
família, religião e ordem. A propriedade é a forma de expressão do excedente, a família
expressa o sexo, a religião expressa as almas e a ordem expressa o poder. O sistema de
valores que expressam as posses essenciais tem a reputação social de serem os valores
nucleares. Eles são assim denominados porque a sociedade e a cultura nucleiam-se em
torno destes valores e não de outros, são estes que dão respostas às perguntas do homem
enquanto ser em relação. Os valores nucleares respondem às perguntas inevitáveis do
convívio humano, ao problema de suas relações com a morte, com a família, com o
excedente e com o Estado.

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A existência de um sistema de valores nucleares confirma a existência de uma
concepção do mundo dominante e atuante, que se expressa como supremacia de uma
conduta sobre a outra.

São os valores nucleares que nós fornecem uma consciência coletiva comum aos
diversos segmentos, grupos e indivíduos que compõem a sociedade. Eles confirmam as
ideias de Durkheim de que a sociedade e mais do que a soma de seus membros, ou em
outros termos é mais do que a soma das visões do mundo. A sociedade é “o conjunto de
crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade forma
um sistema determinado que tem sua vida própria: pode chamar-se consciência coletiva
ou comum” [DURKHEIM, apud FERREIRA, 1986, p.101]

Os valores nucleares que consagram socialmente as posses feito a abóbada ou a


pedra angular estruturante da sociedade. São eles o sustentáculo do sistema.

O sistema é um conjunto de elementos inter-relacionados que dependem


reciprocamente uns dos outros de maneira a formar um todo orgânico. Apesar de terem
indivíduos e grupos objetivamente diversos e de interesses antagônicos existe entre eles
um elo ou nexo de relação e dependência. [FERREIRA, 2004]. Tal elo ou nexo de
dependência fazem com que a parte só possa ser compreendida em relação ao todo. Este
elo ou nexo que confere a noção de sistema é dado pelo compartilhamento da maioria
de um mesmo núcleo de valores. A sociedade geral tem seus valores nucleares, os
grupos e os indivíduos também tem os seus próprios valores, e eles refletem e refratam
os valores nucleares da sociedade.

Partilhar do mesmo núcleo de valores não exclui a desigualdade do sistema entre


indivíduos e grupos na escala de fruição de valores. A desigualdade de que falamos nos
termos de Rousseau, não é a desigualdade autorizada pela natureza, mas da
desigualdade que depende de uma espécie de convenção, que é estabelecida ou pelo
menos autorizada pelo consentimento dos homens, ou seja, desigualdade produzida
socialmente. A escala de fruição de valores tem por base a riqueza, o prestigio e o
poder. A alta e a baixa Posição Política estão condicionadas pelo lugar que os indivíduos
e os grupos ocupam na escala de fruição de valores, os de alta posição política têm
maior usufruto das posses essências e os de baixa posição têm pouco usufruto das
posses essenciais. “(Por posição política, entendemos a posição relativa ocupada na
escala de fruição dos valores sócio-econômicos: ser mais ou menos rico, ser mais ou

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menos respeitado e homenageado pela camadas superiores, fazer-se ou não obedecer
pelas camadas inferiores).” [FERREIRA, 2004, p.52]

Apesar de haver baixas e altas posições na escala de fruição de valores, isto não
impede que partilhem da mesma Concepção do Mundo.

A ideia de posses se caracteriza pela disposição ou usufruto de uma coisa ou de


um direito, que a sociedade valoriza. Aquele que usufrui de alguma posse exerce uma
função social que lhe confere reconhecimento.

A alta e a baixa posição política do usufruto de posses não se caracterizam pela


relação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. “São os
interesses políticos (ligados às posições políticas e não as situações de classe) que
comandam as ações do grupo: o desejo de alterar, ou conservar uma posição...”
[FERREIRA, 2004, p.52]

Dizer que a alta e a baixa posição política não são determinadas pela luta de
classes, não elimina a competição e a luta entre indivíduos e grupos.

A competição e a luta tanto individuais como grupais, são constantes. Devido ao


sentimento inato de Autonomia, Independência e Poder. Tal sentimento se faz presente
no sistema como desejo de subir na escala de fruição de valores.

Quando mais o individuo subir na escala de fruição de valores, mais abrangente


é sua visão do funcionamento do sistema.

O sistema ou a sociedade não é um sujeito Ativo, o que existe de ativo são


indivíduos e grupos de ação. O sistema aos olhos do grande numero atua como se fosse
um Sujeito Ativo, uma força oculta que conduz os homens a partir do acaso que o
acorrente as necessidades.

Como se o sistema fosse produto exclusivo da vontade das minorias seletas. Tal
fatalismo que parece dominar o sistema não é mais do que uma aparência ilusória, da
indiferença cotidiana da homem simples que esta preso a cadeia das necessidades
objetivas, que por isto, deixam os fatos correrem na mão de poucos que tem alta posição
política, por não estarem submetidos as mesmas necessidades objetivas do grande
numero, gozando de maior liberdade, podem nas sombras tecer as rédeas que vão
enredar a vida coletiva.

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O destino do grande numero é assim manipulado de acordo com os interesses
dos pequenos grupos ativos, é assim que se da o enquadramento do movimento das
massas pela ação das minorias. Os fatos amadureceram com a aparência dos fenômenos
naturais, uma erupção ou terremoto, do qual todos são vítimas. Por isto é tão
importante subir na escala de fruição dos valores, para ter uma visão mais abrangente do
sistema.

Referências Bibliográficas

FERREIRA, Oliveiro S. Os 45 cavaleiros húngaros. Hucitec ed. Unb SP-


Brasília, 1986

FERREIRA, Oliveiro S. A Teoria da “Coisa Nossa”. Ebooksbrasil, 2004

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