Você está na página 1de 61

A opinião pública que o “cientista” político não vê: a opinião

pública como expressão do fato social.

Nome: Ricardo Gustavo Garcia de Mello

São Paulo
2019

1
1. A Opinião Pública como tema central da Sociologia do Conhecimento.

O ato de opinar não é só a ação de descrever ou falar sobre algo, mas uma tomada
de partido, um julgamento. A opinião é um imperativo da ação humana.

A opinião expressa um juízo de valor sobre um tema, problema ou pessoa que


pode ser falso ou verdadeiro. Esse juízo não é um julgamento apodítico, ou seja, um juízo
de caráter definitivo ou conclusivo, mas um julgamento conjectural com base no cálculo
aproximado ou estimativa daquilo que se conhece por meio da experiência, das Leis
positivas, hábitos, testemunhos das autoridades e, sobretudo, pelo consenso majoritário.
A opinião (doxa) não é idêntica ao conhecimento (episteme), mas disso não se deduz que
seja sinônimo de preconceito. O preconceito é um mau hábito que é formado de modo
não-consciente ou subconsciente que naturaliza um julgamento errôneo e vicioso como
se fosse a verdade.

A opinião demonstra a inclinação do espírito humano ao conhecimento, o homem


é um ser que deseja conhecer, mas isso não significa que ele sempre conhece realmente
alguma coisa ou satisfaça plenamente tal desejo. Esse desejo de conhecer leva o homem
a formular ou aceitar uma opinião. O conhecimento humano é como a natureza humana
– imperfeita, limitada e mortal – nunca é um juízo conclusivo ou definitivo. Só o
julgamento de um Ser divino que goza da onisciência, onipresença, onicompetência e
onividência é definitivo. Um homem não pode ter a consciência cósmica, estar presente
em todos os momentos, ter todas competências e ver sobre todos os ângulos.

A opinião é um juízo de valor humano e não um juízo metafísico, portanto, ela


não é universal, absoluta, perfeita e perene. O julgamento humano é falível, não é como
o juízo de Deus.

“A opinião se caracteriza, portanto, como um movimento do espírito para aceitar


uma proposição como verdadeira sem conhecimento seguro para tal. Ela é um raciocínio
provável.” [MEIRA DO NASCIMENTO, 2016, p.39]

Os indivíduos orientam suas vidas com base nas opiniões de que eles têm das
coisas, a opinião que uma pessoa tem de algo vai ser o parâmetro do seu pensamento e
ação. Esse conjunto de opiniões que o indivíduo tem na cabeça formam um conjunto de
imagens, um mapa pelo qual se orienta.

2
Nos termos de Walter Lippmann (1889-1974) na obra “Opinião pública.” (1922).

O mundo que temos que considerar está politicamente fora de nosso alcance,
fora de nossa visão e compreensão. Tem que ser explorado, relatado e
imaginado. O homem não é um Deus aristotélico contemplando a existência
numa olhadela. [...] E ainda assim esta mesma criatura inventou uma forma de
ver o que nenhum olho nu poderia ver, de ouvir o que ouvido algum poderia
ouvir, de considerar massas imensas assim como infinitesimais, de contar e
separar mais itens que ele pode individualmente recordar. Está apreendendo a
ver com sua mente vastas porções do mundo que ele não podia nunca ver, tocar,
cheirar, ouvir ou recordar. Gradualmente ele cria para si próprio uma imagem
credível em sua cabeça do mundo que está além de seu alcance. [LIPPMANN,
2008, p.40]

É importante enfatizar o fato de que os homens não entram em relação direta com
as coisas, entre os homens e as coisas existem imagens ou representações que
intermediam nossa experiência com o mundo, é como que se fosse necessário um médium
para entrar em contato com as coisas. Nós não experimentamos o mundo de forma direta
na sua facticidade, mas através dessas imagens e representações. É como que se
vivêssemos na caverna e só enxergássemos as coisas por meio dessas representações.

Em todas estas instâncias devemos observar particularmente um fator comum.


É a inserção entre os seres humanos e seu ambiente de um pseudo-ambiente.
A este pseudo-ambiente é que seu comportamento é uma resposta. Mas porque
é um comportamento, as consequência, se eles são fatos, operam não no
pseudo-ambiente onde o comportamento é estimulado, mas no ambiente real
onde as ações acontecem. [...] Pois certamente, no nível da vida social, o que
é chamado de adaptação do ser humano ao seu ambiente se dá através do meio
das ficções. Por ficções não quero dizer mentiras. Quero dizer a representação
do ambiente que em menor ou maior medida é feita pelo próprio ser humano.
[...] De fato, a cultura humana é em grande medida a seleção, o rearranjo, o
traçado de padrões, e a estilização [...] Pois o ambiente real é excessivamente
grande, por demais complexo, e muito passageiro para se obter conhecimento
direto. Não estamos equipados para tratar com tanta sutileza, tanta variedade,
tantas modificações e combinações. E embora tenhamos que agir naquele
ambiente, temos que reconstruí-lo num modelo mais simples antes de poder
manejá-lo. Para atravessar o mundo as pessoas precisam ter mapas do mundo.
[LIPPMANN, 2008, p.30-31]

Esse mundo constituído de representações e imagens, o mundo da opinião,


permitiu que os indivíduos tenham juízos de valor sobre coisas que eles não têm acesso
através da experiência direta ou empírica. A conexão entre o homem e o mundo não é
imediata, mas mediada por essas imagens ou representações.

O sentido de representação não se limita ao significado de imagens postiças, falsas


e travestidas. As representações também revelam com suas imagines e sinais um mundo
social por natureza. A representação não é só a ocultação do ser através de aparências, o
parecer, ela também é a revelação, o aparecer. A representação como parecer significa

3
dissimular, simular e ocultar um ente ou ação. Já a representação como aparecer significa
tornar-se visível, perceptível, revelar-se.

A opinião é o julgamento consciente com base em representações verossímeis que


podem ser verdadeiras ou falsas. A opinião é sinônimo de probabilidade, e não de
preconceito ou de conhecimento definitivo.

O ato de opinar é um juízo orientado pelas seguintes provas de verossimilhança:


a experiência pessoal, as Leis positivas, os costumes, os testemunhos das autoridades e,
sobretudo, o consenso geral ou opinião pública. Entre esses elementos é o consenso geral,
a opinião pública, que mais pesa na avaliação.

O máximo grau de probabilidade de certeza de um julgamento ou opinião


consiste no consentimento geral ou consenso coletivo. Nada produz a sensação de se
estar seguramente certo de algo do que ser aceito pela opinião pública. Ter a própria
opinião ou julgamento aceito publicamente, produz a sensação de segurança de que tal
juízo ou opinião particular deriva da própria natureza humana, são como se fossem
juízos e opiniões inatas.

John Locke (1632-1704) na obra “Ensaio acerca do entendimento humano”


(1689) faz um ensaio crítico ao inatismo que praticamente inaugura os estudos da relação
entre conhecimento e a experiência social. Locke demonstrou que boa parcela daqueles
princípios, representações, ideias ou opiniões consideradas inatas não nasceram
espontaneamente na cabeça dos indivíduos, mas são antes uma corrente majoritária de
opiniões que foram formadas num contexto sociocultural, e que através da coerção ou
pressão psicológica do processo de socialização foram introjetadas pelo aparato psíquico
como um dado da natureza.

A educação, os costumes e, sobretudo, a opinião pública podem apagar ou


imprimir ideias que são consideradas inatas ou naturais. A maior parte das opiniões
individuais não nasceram espontaneamente na cabeça dos indivíduos e nem caíram do
céu, elas são antes resultado da irradiação e penetração da opinião pública.

As opiniões que as pessoas têm na cabeça não correspondem automaticamente ao


mundo factual, e nem são puras invencionices idiossincráticas. Essas imagens ou
representações que orientam o julgamento dos indivíduos são, em sua maioria, um
conjunto de imagens ou representações compartilhadas pelo grande número que, ao

4
mesmo tempo, transcendem a mera soma de imagens ou representações que os indivíduos
tomados isoladamente têm na cabeça. Essas imagens e representações comuns são
herdadas, transmitidas e introjetadas pelo indivíduo no processo socialização onde opera
a opinião pública.

Aqueles aspectos do mundo exterior que têm a ver com o comportamento de


outros seres humanos, na medida em que o comportamento cruza com o nosso,
que é dependente do nosso, ou que nos é interessante, podemos chamar
rudemente de opinião pública. As imagens na cabeça destes seres humanos, a
imagem de si próprios, dos outros, de suas necessidades, propósitos e
relacionamento, são suas opiniões públicas. Aquelas imagens que são feitas
por grupos de pessoas, ou por indivíduos agindo em nome dos grupos, é
Opinião Pública com letras maiúsculas. [ LIPPMANN, 2008, p.40]

A opinião pública que se faz presente na esfera da subjetividade e ao mesmo


tempo ultrapassa o indivíduo, coloca-se como força exterior ou objetiva que é tão concreta
como o mundo material. Essa força exerce um peso enorme sobre os indivíduos. Tal peso
não é sentido apenas pelo intelecto, a própria existência sente esse peso. A estima, a
fama, o reconhecimento, o status ou a reputação de um indivíduo é dependente do
julgamento público.

José Ortega y Gasset (1883-1955) na obra “A Rebelião das Massas” (1929)


demonstra que a opinião particular dos homens é formada, em grande parte, pela opinião
pública.

Como há de se entender este predomínio? A maior parte dos homens não têm
opinião, e é preciso que esta lhe venha de fora a pressão, como entra o
lubrificante nas máquinas. Por isso é preciso que o espírito - seja qual seja -
tenha poder e o exerça, para que a gente que não opina - e é a maioria - opine.
Sem opiniões, a convivência humana seria o caos; menos ainda: o nada
histórico. Sem opiniões, a vida dos homens careceria de arquitetura, de
organicidade. Por isso, sem um poder espiritual, sem alguém que mande, e na
medida que isso seja necessário, reina na humanidade o caos. E paralelamente,
toda deslocação de poder, toda mudança de imperantes, é ao mesmo uma
mudança de opiniões, e, consequentemente, nada menos que uma mudança de
gravitação histórica. [ORTEGA Y GASSET, 2005, p.205-206]

O grande número não formula as suas próprias opiniões sobre o mundo, elas são
antes resultado de um longo processo de difusão e propagação de diversas correntes de
opinião até que entre essas diversas correntes de opinião concorrentes e conflitantes uma
corrente se configura como a dirigente intelectual e moral da vida coletiva, tendo por sua
vez a supremacia ou primazia sobre as diversas opiniões particulares dos indivíduos ou
grupos. Tal opinião se denomina opinião pública.

5
O que eu admito como justo, bom e belo só é socialmente bom, belo e justo se os
outros julgarem da mesma forma. O julgamento da opinião pública tem primazia sobre o
juízo particular.

A força da opinião pública é superior à força da opinião individual por fatores


formadores de concordância ou assentimento, entre esses fatores podemos destacar: o
testemunho das figuras de autoridade; os costumes; as Leis positivas; e o consenso
majoritário. São tais fatores que fazem da opinião pública uma espécie de base mais solida
do que o julgamento particular. Isso não quer dizer que elas sejam sempre verdadeiras.

A opinião pública é o que garante o consenso mínimo necessário para o


funcionamento dos diferentes órgãos, células e átomos do corpo político ou social. A
opinião comum ou pública é necessária para existir uma sociedade, pois as leis escritas
resultam, em parte, do entendimento dos homens sobre as coisas comuns. Enquanto os
costumes operam de forma “subconsciente” ou não-consciente pelo hábito, a opinião
opera de forma consciente e explicita através do julgamento.

Norbert Elias (1887-1990) nos seus artigos “A opinião pública na Inglaterra”,


25/04/1959, e “Habitus nacionais: algumas peculiaridades inglesas e alemãs”,08/10/1960,
sustenta a existência da opinião pública como força independente da soma de opiniões
particulares.

Vocês já debateram – assim ouvi – se há opinião pública ou apenas opiniões


sobre questões públicas. Permitam-me dizer de maneira breve e clara que,
pessoalmente, acredito que haja alguma coisas como a opinião pública de um
país e não apenas opiniões de indivíduos singulares. Dizer que não há opinião
pública, mas apenas opiniões, é uma ilusão de ótica que só se pode manter na
medida em que não se tem consciência das evidências de que, em cada país, a
pluralidade das diferentes opiniões está sujeita a uma base comum. [ELIAS,
2006, p.113]

Para Elias as diferentes opiniões singulares estão sujeitas a uma base comum, a
opinião pública, que não é apenas o consenso sobre certas questões públicas ou temas
comuns. A opinião pública é descritiva e prescritiva, ela não só descreve as coisas comuns
e suas relações públicas, mas também ordena publicamente um tipo de postura, conduta
e opinião.

A opinião pública nasce com a sociedade e é indispensável para o seu


funcionamento. Ela opera como um censor moral que prescreve socialmente antes da lei
positiva e para além da lei positiva o que é o bem, o belo e o justo para aquela sociedade.

6
A opinião pública é um fato social que se enquadra perfeitamente na definição
clássica de Émile Durkheim (1858-1917) apresentada na obra “As Regras do método
sociológico” (1895).

Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é


capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece,
por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela
resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência.
[...]Pode-se defini-lo igualmente: uma maneira de pensar ou de agir que é geral
na extensão do grupo, mas que existe independentemente de suas expressões
individuais. [DURKHEIM, 2007, p.10]

A opinião pública é um fato social com o poder de exercer coerção moral ou


pressão psicológica sobre os indivíduos. E tal poder difuso é reconhecido como a
autoridade moral da própria coletividade que através da opinião pública se mostra como
personalidade psíquica sui generis capaz de resistir as vontades arbitrárias. A opinião
pública como fato social existe independentemente das opiniões particulares.

Um todo não é idêntico à soma de suas partes, ele é alguma outra coisa cujas
propriedades diferem daquelas que apresentam as partes de que é formado. [...]
Em virtude desse princípio, a sociedade não é uma simples soma de indivíduos,
mas o sistema formado pela associação deles representa uma realidade
específica que tem seus caracteres próprios. Certamente, nada de coletivo pode
se produzir se consciências particulares não são dadas; mas essa condição
necessária não é suficiente. É preciso também que essas consciências estejam
associadas, combinadas, e combinadas de certa maneira; é dessa combinação
que resulta a vida social e, por conseguinte, é essa combinação que a explica.
Ao se agregarem, ao se penetrarem, ao se fundirem, as almas individuais dão
origem a um ser, psíquico se quiserem, mas que constitui uma individualidade
psíquica de um gênero novo. [DURKHEIM, 2007, p.105]

A opinião pública não é idêntica à soma das opiniões particulares do mesmo tipo,
ele se difere não só quantitativamente, mas qualitativamente da opinião particular. Ela
apresenta uma natureza sui generis, uma realidade que antecede e transcende a somatória
das opiniões particulares. A opinião pública não é formada pela agregação consensual de
opinião particulares, mas pela associação das opiniões particulares que formam um ser de
natureza diferente das opiniões particulares que a compõem, um Ser social com uma
individualidade psíquica ou personalidade que exerce autoridade moral sobre as opiniões
particulares e ao mesmo tempo penetra em cada psique individual. Certamente, não se
pode produzir a opinião pública sem as opiniões particulares, mas apenas a somatória ou
agregação de opiniões particulares não resulta na opinião pública. É preciso que as
opiniões particulares transcendam a agregação e se associem, e dessa combinação resulta
a opinião pública.

7
No texto “Sociologia (1901)” de Paul Fauconnet (1874 -1938) e Marcel Mauss
(1872- 1950). Eles demonstram a importância da opinião pública. O mundo social do
homem é o mundo da opinião, especificamente, o mundo da opinião pública.

Para empregar a linguagem corrente, poder-se-ia dizer que toda a força dos
fatos sociais lhes advém da opinião. E a opinião que dita as regras morais e
que, direta ou indiretamente, as sanciona. [...] Tudo se passa na esfera da
opinião pública; mas esta é propriamente aquilo que chamamos o sistema das
representações coletivas. Os fatos sociais são, pois, causas porque são
representações ou atuam sobre as representações. O fundo íntimo da vida
social é um conjunto de representações. [MAUSS, 2001, p.20]

A força dos fatos sociais advém da opinião pública, ela que explicita as regras
morais ditando quais devem ser as posturas, condutas e opiniões do indivíduo dentro da
sociedade. As próprias leis positivas são sancionadas direta ou indiretamente pela opinião
pública. A vida social se passa dentro do sistema de imagens ou representações
produzidas pela opinião pública. O fato social é a opinião pública que atua sobre as
opiniões particulares, sobrepondo as representações coletivas sobre as representações
individuais.

Marcel Mauss (1872-1950) na obra, “Relações Reais e Práticas entre a Psicológica


e a Sociologia” (1924). Demonstra que as representações sociais têm uma força superior
às representações individuais. “Ora, no reino social, tudo se posiciona em outro plano,
segundo outras simetrias, com atrações diferentes daquelas do reino da consciência
individual. As palavras “atos” e “representações” não têm, assim, o mesmo valor.”
[MAUSS, 2018, p.255]. Pelo fato das representações sociais não estarem submetidas ao
arbítrio de uma vontade ou opinião particular, elas existem sobre as vontades e opiniões
particulares. Elas compõem o mapa mental compartilhado que torna possível a
comunicação e o reconhecimento da própria realidade social.

Para o psicólogo, Serge Moscovici (1925-2014), na obra “Representações sociais”


(1961) demonstra que nosso aparato psíquico processa as informações e os estímulos de
um dado ambiente com base num conjunto de sinais ou imagens convencionadas
socialmente, as representações sociais. A representação social opera como um parâmetro
para ação, e como uma moldura que enfoca a percepção. A sociedade penetra em nossa
mente, ou seja, é introjetada psicologicamente através dessas imagens ou representações
convencionadas publicamente. Existe uma opinião pública sobre sinais e imagens que
tornam a vida comum legível para os indivíduos, sem tais sinais e imagens públicas a

8
comunicação humana é impossível. Os indivíduos só conseguem se comunicar por sinais
e imagens compartilhados.

[...] as representações possuem precisamente duas funções: a) Em primeiro


lugar, elas convencionalizam os objetos, pessoas ou acontecimentos que
encontram. Elas lhe dão uma forma definitiva, as localizam em uma
determinada categoria e gradualmente as colocam como um modelo de
determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. [...] Mesmo
quando uma pessoa ou objeto não se adequam adequadamente ao modelo, nós
o forçamos a assumir determinada forma, entrar em determinada categoria, na
realidade, a se tornar idêntico aos outros, sob pena de não ser nem
compreendido, nem decodificado. [...] Em segundo lugar, representações são
prescritivas, isto é, elas se impõem sobre nós com uma força irresistível. Essa
força é uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que
nós comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve ser
pensado.” [MOSCOVICI, 2003, p.34-36]

Em Moscovici as representações sociais exercem uma dupla função: primeiro,


como um mapa mental que situa os indivíduos em relação ao ambiente, descrevendo
seletivamente o ambiente; segundo, como um código de regras que contém as normas de
conduta, o dever ser social.

A mente de um homem não existe ilhada do mundo, mas dentro de um conjunto


de relações sociais que formam um contexto sociocultural. O próprio pensamento opera
por meio dessas representações sociais. A opinião de um indivíduo não é só um juízo
pessoal puro, nela contém uma série de opiniões que lhe foram introjetadas na sua
formação e que guardam uma existência que lhe é exterior e independente, essas opiniões
são compartilhadas pelo grande número e se denominam de opinião pública.

O julgamento que um indivíduo faz sobre um tema, problema e sobre as outras


pessoas, é feito com base em juízos de valor que já estão em uso. A opinião particular que
se tem sobre algo é, em parte, o reflexo e a refração da opinião pública.

O pensamento pessoal ou autoral opera através das representações do pensamento


do pensamento político-social. É com base nessas representações sociais que o indivíduo
formula sua imagem do mundo ou cosmovisão. As representações sociais transcendem
os indivíduos descrevendo seletivamente a realidade, e prescrevendo o horizonte de
imagens que opera o pensamento particular. É como se existisse um conjunto seleto de
imagens e sinais que se deve conhecer para estar autorizado a opinar sobre algo.

As representações sociais são mais fortes do que as representações individuais não


só por terem o consenso majoritário, mas pelo fato dos seus sinais e imagens serem uma

9
força que transcende o indivíduo, são sinais e imagens que antecedem o nascimento do
próprio indivíduo e continuarão a existir depois da sua morte. As representações sociais
não são apenas sinais e imagens que descrevem seletivamente a realidade, mas sinais e
imagens de comando. As representações sociais são descritivas e prescritivas.

Nos termos do antropólogo, Henri Hubert (1872-1927), no seu “Estudo Sumário


da Representação do Tempo na Religião e na Magia (1900-1901). “As representações às
quais meu estudo se dedica têm algo de conceitual e também de convencional: elas são
partilhadas por coletividades e têm uma espécie de rigidez legislativa.” [HUBERT, 2018,
p.31]

As representações sociais são sinais e imagens convencionadas socialmente que


além de descreverem seletivamente a realidade, também prescrevem os pensamentos,
opiniões e ações humanas como se fosse uma lei.

A opinião pública explicita o seu caráter seletivo e prescritivo das representações


sociais através do seu modus operandi de julgar as condutas, posturas e opiniões
individuais.

Sendo a opinião pública um fato social, eu penso que o estudo da opinião pública
é melhor empreendido pela sociologia do conhecimento, já que ela não reduz o
pensamento ao plano teorético. A sociologia do conhecimento é um ramo híbrido
formado pela binômio gnose-sociedade que busca compreender as relações entre
conhecimento e existência social. Ela busca antes compreender o senso comum, a vida
ordinária, do que contar a história das ideias ou dos intelectuais, demonstrando quais são
os elementos do fato social que condicionam os pensamentos e ações. Nos termos desse
estudo, a sociologia do conhecimento demonstra que a opinião dos indivíduos é antes
uma expressão subjetiva dos juízos de valor da sociedade do que uma idiossincrasia. O
indivíduo introjeta os juízos de valor da sociedade, a opinião pública, e os expressa em
palavras e atos.

De fato, os comportamento e discursos dos agentes sociais devem ser


ressituados em relação às estruturas mentais através das quais a política é
percebida e que estão longe de serem idênticas às dos cientistas políticos.
[CHAMPAGNE, 1996, p.36]

A importância da formação do substrato social das nossas opiniões - a opinião


pública como expressão do fato social – não aparece nas pesquisas de opinião dos tratados

10
de sondagem matemática dos “cientistas políticos”. A sociologia do conhecimento é, em
parte, o estudo daquilo que o “cientista político” recalcou como dado do “inconsciente
social” pelo fato do seu instrumental analítico não ser capaz de abordar a vida do homem
comum. As “teorias” dos “cientistas políticos” foram feitas para tratar da vida dos
políticos profissionais, operadores do direito e burocratas.

Não se pode compreender a importância da opinião pública enquanto se despreza


a importância do fato social. É verdade que só indivíduo é capaz de pensar, portanto, de
opinar e julgar, já que no plano terreno da história não há entidade metafisica como uma
mente grupal que pensa independentemente das cabeças dos indivíduos. Não obstante, é
reducionista pensar que todas as opiniões, ideias e juízos de valor sejam de natureza
puramente individual e não tenham origem social. Somente de modo limitado o indivíduo
formula por si suas ideias, opiniões e juízos de valor. Ele nasce dentro um contexto
sociocultural onde para se comunicar com os demais ele deve apreender a pensar, falar e
agir em sociedade através do processo de socialização. A pessoa humana primordialmente
pensa, fala e age como a sociedade pensa, fala e age. Isso vale tanto para o mais ignorante
como para o mais sábio. É sobre tal material sociológico que o indivíduo herdou como
padrões de conduta, julgamento e opinião que vai operar suas reflexões e ações. Existe
sempre um contexto social, político, geográfico e histórico no qual o pensamento
particular está situado.

Nos termos de Leo Strauss (1899-1973) o pensamento político-social, em


especial, a opinião pública não são propriamente a filosofia política, mas a matéria prima
da reflexão filosófica. “A filosofia política é aquele ramo da filosofia que está mais perto
da vida política, da vida não filosófica, da vida humana, enfim.” [STRAUSS, 2016, p.27-
28]

A vida social é constituída das coisas políticas que são, por sua natureza, sujeitas
ao juízo de valor, sobretudo, sujeitas à opinião pública. É da essência das coisas políticas,
elas existirem sem neutralidade, não se pode compreende-las sem levar a sério os
julgamentos e opiniões dos homens.

Todo conhecimento política está cercado de opinião política e entremeado a


ela. Por opinião política entendemos, aqui, a opinião enquanto distinta do
conhecimento das coisas políticas: erros, palpites, crenças, preconceitos,
previsões, e por aí vai. É da essência a vida política ser guiada por uma mistura
de conhecimento político e opinião política. [STRAUSS, 2016, p.32]

11
A disputa sobre o que é o bem, a justiça e a beleza é polêmica e gera conflitos, e
só uma opinião pública ou comum sobre o bem pode evitar que os indivíduos se
entredevorem numa luta estéril de todos contra todos. É a opinião pública o árbitro
primordial dos conflitos políticos, e não os aparatos repressivos de Estado. Isso quer dizer
que a censura moral nasce com a própria sociedade e opera através da opinião pública, a
censura não é um elemento extrínseco à sociedade ou uma invenção do Estado.

Quando os homens formam uma opinião comum sobre aquilo que deve ser o bem
e o mal, a justiça e a injustiça, o belo e feio e, por fim, separamos os amigos dos inimigos
nasce a sociedade. A ação humana é orientada por algum pensamento acerca do que é o
melhor e o pior. Isso implica ter um juízo de valor sobre o bem, tal juízo de valor é
expresso como opinião. E quando os homens comungam do mesmo julgamento sobre o
bem se forma a opinião pública. Dessa opinião pública surge o pensamento político ou
pensamento social, o pensamento político surge com a sociedade, ele não aparece a partir
de uma entidade externa ao social. O político é intrínseco ao fato social. O pensamento
político é coevo à vida social.

A opinião pública demonstra que o homem é um animal político consciente da


vida da social.

A vida em sociedade é sempre vida política, a vivência da política não é


exclusividade dos militantes, partidos, legisladores e governos. A política não é uma parte
do convívio humano ou uma esfera, mas sinônimo de vida social. A sociedade é a política.

Com efeito, a ordem política é, antes de tudo, uma ordem mental e as estruturas
políticas existem, em grande parte, sob a forma de representações sociais
incorporadas em cada agente social ... [CHAMPAGNE, 1996, p.24-5]

A ordem política antes de ser uma grande organização composta por diversos
aparatos de poder ou instituições, ela é uma ordem mental que se estrutura socialmente a
partir de opinião comum sobre a vida em sociedade, em outros termos, é uma ordem que
se embasa na opinião pública.

A opinião pública é o juízo de valor social sobre os temas, problemas e ações


humanas, ela exerce o papel de juíza das condutas, posturas e opiniões particulares
operando como censora moral ou polícia dos bons costumes. Antes de manifestar uma
opinião ou agir recorrermos ao tribunal da opinião pública para saber quais são suas
expectativas sobre minha opinião ou ação.

12
O indivíduo aceita ou se conforma à opinião pública, não pelo fato dela ser
“verdadeira” ou “falsa”, mas por ser necessidade de ajustamento ao meio social.

A opinião pública não é uma massa amorfa modelada de acordo com a vontade
dos mais fortes, astutos ou espertos, ele reage diante das vontades arbitrárias. O juízo da
opinião nunca é imparcial, o julgamento público é parcial e seletivo. Ele só adere ou aceita
juízos ou opiniões que estão em consonância ou conformidade. Por isto que existe uma
tendência da opinião privada dissonante se calar diante do público.

A opinião pública tem primazia sobre a opinião particular no processo de


formação do conhecimento. Só isso é o suficiente para justificar a importância do estudo
da opinião pública com base na sociologia do conhecimento.

2. A opinião pública como vontade geral ou os fundamentos da sociedade.

Jean-Jacques Rousseau no seu “Discurso sobre a origem e os fundamentos da


desigualdade entre os homens.” (1754) apresenta uma definição breve de sociedade.

“A sociedade, a princípio, constituiu-se somente de algumas convenções gerais


que todos os particulares se comprometeram a observar e das quais a comunidade se
tornou fiadora perante cada um deles.” [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.202]

A sociedade se constitui de regras compartilhadas pelos mais diferentes indivíduos


e grupos que se comprometeram em obedecê-las. Os indivíduos submetem suas vontades
particulares depositando sua fé ou crédito na sociedade que se torna a fiadora dos
indivíduos.

No artigo “Da Economia Política” de Rousseau que foi publicado em novembro


de 1755 no 5º tomo da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert ( 1751 – 1772). Nesse artigo
ele demonstra a diferença das normas que regem a vida privada, o lar, daquelas normas
que regem a vida pública do corpo político ou sociedade.

O termo Economia (oikonomía) deriva das palavras gregas oikos (casa) e nomos
(norma). A economia são as normas que regem o lar visando o bem-estar familiar. Já a
Economia Política significa as normas que regem a sociedade visando o bem comum ou
bem-estar social. Disso não deduz que o Estado seja uma grande família, e menos ainda
que o governo seja o grande pai.
13
Mesmo que houvesse entre o Estado e a família tantas relações quantas
pretendem inúmeros autores, não se poderia concluir daí que as regras de
conduta apropriadas a uma dessas duas sociedades fossem convenientes à
outras; elas diferem demasiadamente em tamanho para poderem ser
administradas da mesma maneira e haverá ainda uma diferença extrema entre
o governo doméstico, no qual o pai pode ver tudo por si mesmo, e o governo
civil, no qual o chefe quase tudo vê pelos olhos de outrem. Para que as coisas
se tornassem iguais a esse respeito, seria preciso que os talentos, a força e todas
as faculdades do pai aumentassem em razão do tamanho da família e que a
alma de um monarca poderoso estivesse para a de um homem comum assim
como a extensão de um império para a herança de um particular.
[ROUSSEAU, 1958, V.I, p.285]

Na família o pai é pessoalmente o soberano por natureza e não por convenção. O


pai governa por inclinação natural e os filhos estão naturalmente inclinados para obedecer
ao pai. No Estado o governo é tudo menos o pai do povo, ele é um órgão composto de
um conjunto de funcionários sui generis que governa por convenção, e deve trabalhar
para o bem-estar do corpo social assim como o pai trabalha para o bem-estar do lar. Só
nesse aspecto de finalidade de promover o bem-estar que o governo e o pai se aproximam.

E a grande diferença entre o pai e o governo reside no fato do pai necessitar apenas
da própria opinião, ele é capaz de ver tudo o que acontece no seu lar ou família. Já o
governo nunca pode contar apenas com a sua opinião particular, ele não tem a capacidade
de ver por si mesmo tudo o que aconteceu no seu território, o governo não é um pan-
óptico que pode ver tudo o que acontece dos mais diversos ângulos. Essa ideia de
governar como um pan-óptico é um desejo totalitário. O governo só vê pelos olhos dos
outros, ou seja, ela só pode governar através do juízo público da opinião pública. O
governo só consegue enxergar pelos olhos da opinião pública. São os olhos da opinião
pública que freiam os desejos megalomaníacos dos políticos que se consideram um ser
onisciente, onividente, onicompetente e onipresente. O melhor guia para o bem-estar
social é a opinião pública. Disso não se deduz que ela seja perfeita.

O pater familias deve sempre seguir as opiniões particulares que são derivadas da
inclinação natural, e não deixar que a sua natureza seja corrompida pelas forças estranhas
ao seio familiar. Mas no caso do governo, ele deve escutar antes a opinião pública do que
seguir a própria opinião derivada das suas inclinações particulares, o governo deve
colocar o julgamento público acima da sua vontade particular. O melhor modo de
governar é governar pela opinião pública.

De quanto acabo de expor, conclui-se que com razão se distinguiu a economia


pública da economia particular e que, nada tendo a polis de comum com a
família, salvo a obrigação de os chefes tornarem tanto uma quanto outra

14
felizes, seus direitos não poderiam derivar-se da mesma fonte, nem as mesmas
regras de conduta convirem a ambas. [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.287]

No pater familias o pai exerce uma autoridade natural sobre os filhos, e por isso
que a sua opinião particular é o melhor parâmetro para o bem-estar familiar. Na sociedade
ou corpo político as coisas devem ocorrer de modo diferente da família para se alcançar
o bem-estar social. O corpo político ou a sociedade não é constituído pela somatória das
vontades particulares, em outros termos, ele não é estruturado pela agregação dos diversos
patres familias. Por isso que a sociedade não é uma grande família, mas uma
personalidade moral.

No corpo político ou sociedade a vontade particular do governo não é igual a


vontade do pai, o governo é aquele cuja a própria opinião deve estar submetida ao império
da opinião público. O governo não é uma personalidade moral como é o pai, mas um
funcionário que deve cumprir as ordens da sociedade. É a sociedade a personalidade
moral onde reside o princípio de autoridade, e a opinião pública é a explicitação dessa
autoridade moral. O governo deve servir à opinião pública e não o inverso.

Rousseau explica a formação da sociedade como um corpo, o corpo político é a


própria sociedade, e não o conjunto de aparatos de Estado que são apenas órgãos que
compõem o corpo político ou social.

O corpo político tomado individualmente pode ser considerado como um corpo


organizado, vivo e semelhante ao do homem. O poder soberano representa a
cabeça, as leis e os costumes são o cérebro, ponto de partidos nervos e sede da
compreensão, da vontade e dos sentidos, cujos juízes e magistrados são os
órgãos; e comércio, a indústria e a agricultura são a boca e o estômago, que
preparam a subsistência comum; as finanças públicas são o sangue que uma
sábia economia, desempenhando as funções do coração, devolve, distribuindo
pelo corpo o alimento e a vida; os cidadãos são o corpo e os membros que
fazem a máquina mover-se, viver e trabalhar e que não se poderia ferir em
nenhum ponto sem que logo a impressão dolorosa seja levada ao cérebro, desde
que o animal esteja sadio. A vida de um e de outro é o eu comum ao todo, a
sensibilidade recíproca e a correspondência interna de todas as partes. Se essa
comunicação vem a cessar, a unidade formal a desfazer-se e as partes contíguas
a só se prenderem, uma à outra, por justaposição, o homem está morto ou o
Estado dissolvido. [ROUSSEAU, 1958, V.I ,p.288]

Rousseau descreve o corpo político ou sociedade como um conjunto de diferentes


órgãos tendo cada qual a sua função em relação aos demais, e quando um órgão deixa de
funcionar ou é atacado isso afeta todo o organismo social que deve fazer com que os
demais órgãos trabalhem mais para compensar o mau funcionamento, e que também
tenham uma reação contra tudo aquilo que está afetando o corpo político. Lembrando que

15
nenhum órgão pode substituir o outro ou ter uma função diferente. Isso significaria uma
patologia que pode desencadear a anomia geral.

O corpo político é, pois, também, um ser moral que possui uma vontade; essa
vontade geral, que tende sempre à conservação e ao bem estar do todo e de
cada parte, e que constitui a fonte das leis, é para todos os membros do Estado,
em relação a si próprios e a ele, a regra do justo e do injusto. [ROUSSEAU,
1958, V.I, p.288]

Na vida social o Ego de cada indivíduo está vinculado ao Outrem a partir de um


Super-Ego coletivo que detém uma vontade geral, uma consciência coletiva e uma
personalidade moral que se chama sociedade. A sociedade governa por meio da opinião
pública - a opinião pública é o soberano e não o governo - e o governo é um órgão
composto de funcionários que devem executar as ordens do soberano, a sociedade.

Quando Rousseau fala em Estado não está se referindo ao governo que é apenas
um órgão composto de funcionários que devem servir o soberano, a sociedade. O
soberano não é um grupo ou personalidade, mas a própria personalidade moral do corpo
político. Rousseau concebe o Estado como os clássicos gregos concebiam a Cidade de
Atenas ou Esparta, ou seja, Estado como sinônimo de corpo político ou sociedade.

Logo, se faz necessário fazer uma reflexão diferente daquela perspectiva


modernista de Estado apresentada na obra “Leviathan” (1651) de Thomas Hobbes (1588-
1679).

Ora, a teoria da Representação de Hobbes, como se sabe, achasse intimamente


vinculada à questão do pacto de associação. É através da noção do Soberano
como representante dos participantes do pacto que se completa a constituição
do Estado. “Uma multidão de homens – diz Hobbes – é transformada em uma
pessoa quando é representada por um só homem ou pessoa, de maneira a que
tal seja feito com o consentimento de cada um dos que constituem essa
multidão. Porque é a unidade do representante, e não a unidade do
representado que faz que a pessoa seja una. E é o representante o portador da
pessoa, e só de uma pessoa. Essa é a única maneira como é possível entender
a unidade de uma multidão” (Leviatã , 1974, p.102). A primeira diferença que
salta aos olhos é, pois, a do estatuto de separação que Hobbes estabelece entre
o “Estado” e os indivíduos, ao contrário do que acontece no Contrato. O
“Estado” em Rousseau é um modo da coexistência, é um ponto de vista e não
se distingue do conjunto dos seus membros: ao contrário do que acontece com
o seu ilustre antecessor, a política não é assim uma esfera distinta, uma
instância separada. [SALINAS FORTES, 1997, p. 110]

A unidade de uma coletividade, em Hobbes, é assegurada por uma instância


exterior a essa coletividade. A unidade é produzida e imposta do exterior pelo
nível político. No caso de Rousseau, há como uma inversão: a unidade é
produzida pela qualidade da coexistência. [SALINAS FORTES, 1997, p.111]

16
Em Jean-Jacques Rousseau a política não é um poder extrínseco colocado acima
da sociedade como um alienígena ou corpo estranho, mas um poder intrínseco ao próprio
fato social que se forma na coexistência humana.

Por isso que para Rousseau a questão primordial da política é a mesma questão
primordial da sociedade, a questão sobre quais são os poderes que originam e conservam
a sociedade. Sendo de importância secundária as perguntas sobre o funcionamento do
governo ou tipo de governo.

Nos termos da obra “Do Contrato Social ou Princípios do Direito Político” (1762).
“Mesmo, pois, se dispostos a aceitar, como quer Grotius, que “um povo pode dar-se a
um rei”, deveríamos, antes de examinar esse ato de insólita alienação, conhecer aquele
outro e anterior “ato pelo qual um povo é povo”, isto é, a convenção de que se origina,
não o poder, mas a sociedade.” [ROUSSSEAU, p.11]

A sociedade é um corpo político com uma personalidade moral que é movida e


originada por uma vontade geral ou coletiva, não digo a vontade de todos.

Há comumente muita diferença entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta


se prende somente ao interesse comum, a outra, ao interesse privado e não
passa de uma soma das vontades particulares. Quando se retira, porém, dessas
mesmas vontades, os a-mais e os a-menos que nela se destroem mutuamente
resta, como soma das diferenças, a vontade geral. [...] Não sendo o Estado ou
a Cidade mais que uma pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus
membros, e se o mais importante de seus cuidados é o de sua própria
conservação, torna-se-lhe necessária uma força universal e compulsiva para
mover e dispor cada parte da maneira mais conveniente a todos. Assim como
a natureza dá a cada homem poder absoluto sobre todos os seus membros, o
pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é
esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, ganha como já disse, o
nome de soberania. [ROUSSEAU, 1962, p.37-38]

A vontade geral, aquilo que origina e move o corpo político, não resulta da
somatória da agregação das vontades particulares ou da vontade de todos. A agregação
de vontades particulares iguais não resulta na vontade geral, mas na vontade de todos. A
vontade geral resulta da associação das vontades particulares que formam uma
personalidade moral sui generis diferente da soma das personalidades individuais. Essa
personalidade moral exerce uma pressão psicológica sobre as vontades particulares para
que elas cumpram as normas. É dentro dessa lógica apresentada por Rousseau da
formação da vontade geral que origina o corpo político que posteriormente, Émile
Durkheim (1858-1917) vai desenvolver o conceito de fato social apresentado na obra “As
Regras do método sociológico” (1895).

17
Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é
capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece,
por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela
resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência.
[...]Pode-se defini-lo igualmente: uma maneira de pensar ou de agir que é geral
na extensão do grupo, mas que existe independentemente de suas expressões
individuais. [DURKHEIM, 2007, p.10]

Um fato social se reconhece pela coerção moral ou pressão psicológica que é


capaz de exercer sobre os indivíduos, tal poder difuso é reconhecido como a própria
coletividade que age. Ele existe independentemente das vontades particulares, e resiste
diante das vontades arbitrárias penalizando os infratores das regras sociais.

O fato social demonstra que a sociedade não é igual à soma dos fatos psicológicos
ou a agregação das personalidades individuais. A soma dos fatos psicológicos ou
personalidades individuais resulta numa multidão, e não numa sociedade. A sociedade
não é formada pela agregação de indivíduos, mas pela associação dos fatos psíquicos que
formam um ser psíquico sui generis diferente da somatória das psiques individuais. Nos
termos do Contrato Social de Rousseau “O que existe de comum nesses vários interesses
forma o liame social e, se não houvesse um ponto em que todos os interesses
concordassem, nenhuma sociedade poderia existir.” [ROUSSEAU, 1962, p.35] A
sociedade tem uma vontade geral, uma consciência coletiva e, sobretudo, uma
personalidade moral que exerce coerção ou pressão psicológica sobre os atos, posturas e
opiniões individuais. E é a opinião pública que explicita essa coerção moral ou pressão
psíquica da sociedade sobre os atos, posturas e opiniões individuais.

A opinião pública demonstra que existe uma corrente de opiniões majoritária


presente no grande número, e que é compartilhada pelos diferentes grupos e indivíduos
de dada coletividade, mas ao mesmo tempo transcende a somatória das mesmas opiniões.
A opinião pública não é igual a opinião de todos, ela transcende o consenso entre as
opiniões particulares. Não existe opinião pública sem opinião individual, mas quando a
opinião pública está formada ela se sobrepõe às opiniões particulares dos indivíduos e
grupos. Assim como a vontade geral se coloca acima das vontades particulares.

Émile Durkheim na obra “O suicídio: estudo de sociologia” (1897) demonstra a


força da opinião pública. O valor de alguma coisa muda de acordo com o julgamento
público sobre tal coisa.

18
“A coisa só muda de aspecto quando a opinião pública, como se diz, se apropria
do assunto. Então nos tomamos mais exigentes e mais ativos. Mas é a opinião pública
que fala por nossa boca; agimos sob a pressão da coletividade, não como indivíduos.”
[DURKHEIM, 2000, p.408]

Uma coisa passa a ter um valor negativo ou positivo de acordo com a opinião
pública. Os homens julgam antes de acordo com a sociedade do que com a própria
opinião, é a opinião pública que fala pela boca do indivíduo.

Durkheim na obra “Da divisão do trabalho social” (1897) demonstra que a força
dos costumes e da opinião pública sobre a psique dos indivíduos - a coerção moral ou
pressão psicológica - é tão importante para a coesão da sociedade que chega a ser mais
importante do que o uso legal da força. Se não existisse os costumes e a opinião pública
para regular as relações humanas, só haveria repressão física.

“Há estados menos fortes ou mais vagos da consciência coletiva que fazem sentir
sua ação por intermédio dos costumes, da opinião pública, sem que nenhuma sanção
legal seja vinculada a eles e que, no entanto, contribuem para assegurar a coesão da
sociedade.” [DURKHEIM, 1999, p.127-128]

De acordo com o texto “Sociologia (1901)” de Paul Fauconnet e Marcel Mauss.

[...] a sociedade têm verdadeiramente uma natureza própria, que ele determina
nos indivíduos certas maneiras de sentir, de pensar e de agir, e que estes
indivíduos não teriam nem as mesmas tendências nem os mesmos hábitos nem
os mesmos preconceitos se houvessem vivido no meio de outros grupos
humanos. Ora, esta conclusão pode ser generalizada. Entre as ideias que teria,
os atos que realizaria um indivíduo isolado, e as manifestações coletivas, há tal
abismo que estas últimas devem ser referidas a uma natureza nova, a forças
sui generis: caso contrário, permaneceriam incompreensíveis. [MAUSS, 2001,
p.6]

A opinião pública é um fato social e por isso tem uma natureza própria e age como
uma força sui generis que molda o juízo valor ou opiniões dos indivíduos. Os indivíduos
não teriam as mesmas opiniões, posturas e atos se não vivessem em sociedade. A opinião
pública exercer uma coerção moral ou pressão psicológica sobre os indivíduos, fazendo
com que em cada opinião particular seja acrescentada a opinião pública. A pressão da

19
opinião pública sobre os indivíduos é uma das formas pela qual a personalidade moral da
sociedade, o Ser Social, é introjetado no aparato psíquico.

Uma opinião é considerada um fato social ou parte da opinião pública quando ela
é generalizada, e tem o poder de exercer coerção moral ou pressão psicológica sobre as
demais opiniões.

Para empregar a linguagem corrente, poder-se-ia dizer que toda a força dos
fatos sociais lhes advém da opinião. E a opinião que dita as regras morais e
que, direta ou indiretamente, as sanciona. E pode-se mesmo dizer que toda
mudança nas instituições é, no fundo, uma mudança na opinião: é porque os
sentimentos coletivos de compaixão para com o criminoso entram em luta com
os sentimentos coletivos que reclamam a pena que o regime penal se ameniza
progressivamente. Tudo se passa na esfera da opinião pública [...] [MAUSS,
2001, p.20]
A opinião pública explicita as regras de conduta social e opera como censor que
policia os bons costumes. Todos os nossos atos, posturas e opiniões particulares são
julgados pelo tribunal da opinião pública. As grandes mudanças políticas e sociais são,
no fundo, consequências da mudança na opinião pública. Quando se muda publicamente
o julgamento sobre uma coisa, a natureza social dessa coisa se modifica visivelmente.

Nos termos de Émile Durkheim na obra “Educação e sociologia” publicada


postumamente, 1922.

Somos forçados a seguir as regras reinantes no meio social em que vivemos.


A Opinião nos impõe este comportamento, e a Opinião é uma força moral cujo
poder opressivo não é menor do que o da força física. Sua autoridade impregna
usos que, par isto mesmo, são em larga medida excluídos da ação dos
indivíduos. Podemos até infringir as forças morais, mas elas acabarão reagindo
contra nós. E, por causa superioridade delas, dificilmente sairemos vencedores.
Logo, podemos até nos revoltar contra as forças materiais das quais
dependemos e tentar viver de modo diferente daquele determinado pela
natureza do nosso meio físico, mas então a morte ou a doença acabam sendo a
sanção da nossa revolta. Da mesma forma, estamos mergulhados em uma
atmosfera de ideias e sentimentos coletivos que nós não podemos modificar à
vontade. E é em ideias e sentimentos deste gênero que as práticas educativas
se baseiam. Portanto, elas são coisas distintas de nós, já que resistem à nossa
vontade, realidades que têm uma natureza própria, definida e completa que se
impõe a nós.” [DURKHEIM, 2011, p.78-79]

Viver em sociedade é viver sobre o império da opinião pública, somos forçados a


aceitar as regras reinantes no meio social para existir socialmente. A opinião pública é
uma autoridade moral cuja a força psicológica não é menos opressiva do que a força física
dos aparatos repressivos. E o ato de negar essa atmosfera de sentimentos, ideias e juízos
de valor imposta pela opinião pública causa psicologicamente consequências parecidas
com a doença ou morte do corpo que não se adapta ao meio físico. A revolta contra a

20
opinião pública gera a morte social ou o assassinato de reputação. Onde o indivíduo não
tem mais valor social e o seu Ego não existe mais socialmente, ele praticamente deixa de
existir. Um clássico exemplo de punição operada pela opinião pública é o ostracismo, o
desterro da vida em sociedade.

Durkheim na sua obra póstuma, “Lições de Sociologia”, que foi publicada


primeiro pelo reitor da Faculdade de Direito de Istambul, Huseyin Nail Kubali, em 15 de
maio de 1950, demonstra como a opinião pública é basilar para a moral comum. “[...] a
opinião, que está na base da moral comum, se encontra difusa em toda a sociedade...”
[DURKHEIM, 2002, p.10]

A opinião pública é um dos pilares da moral, ela é o conjunto de juízos de valor


compartilhados e difundidos por todo o corpo social. Não existe moral comum sem
opinião pública.

Uma moral é sempre obra de um grupo e só poderá funcionar se esse grupo a


proteger com sua autoridade. Ela é feita de regras que comandam os
indivíduos, que os obrigam a agir de uma determinada maneira, que impõem
limites a suas inclinações e os impedem de ir mais longe. Ora, só há uma força
moral, e por conseguinte comum, que é superior ao indivíduo e pode
legitimamente constituir sua lei, é a força coletiva. Na medida em que o
indivíduo é abandonado a si mesmo, na medida em que ele está livre de toda
coerção social, ele está livre também de toda coerção moral. [DURKHEIM,
2002, p.9]

A opinião pública é sempre obra de uma sociedade e só poderá funcionar nessa


sociedade, só ela é capaz de exercer coerção moral ou pressão psicológica sobre os
indivíduos, obrigando-os a ter uma certa postura, ação e opinião. A opinião pública impõe
limites às arbitrariedades. Só existe uma força moral efetiva, a coerção social, se ela for
superior aos indivíduos. O indivíduo livre de todo coerção moral ou social está
abandonado à própria sorte.

Os únicos sentimentos superiores aos sentimentos individuais são os que


resultam das ações e das reações trocadas entre os indivíduos associados. [...]
Pois, quando os homens pensam em comum, seu pensamento é, em parte, obra
da comunidade. Esta age sobre eles, coloca sobre eles todo o peso de sua
autoridade, contém as veleidades egoístas, orienta os espíritos num sentido
coletivo. [...] Então, cada opinião individual, porque se formou no seio de uma
coletividade, tem algo de coletivo. [DURKHEIM, 2002, p.147-148]

A opinião pública demonstra que existem opiniões comuns, opiniões que são obra
da comunidade. Essas opiniões agem sobre os próprios indivíduos com autoridade moral.
Demonstrando que em cada opinião individual tem algo de social.

21
A opinião pública influência diretamente na vida economia mais do que os
utilitaristas e materialistas supõem. A vida material dentro do convívio social é eivada de
representações sociais que o cálculo matemático não pode captar. Seja qual for a maneira
pela qual a vida econômica esteja materialmente organizada o valor dos bens, recursos e
serviços sempre dependerá da opinião pública.

Para os individualistas o valor de um bem, recurso e serviço se define apenas pela


utilidade material e gosto pessoal. O valor de um bem, recurso e serviço dentro do
contexto social não se reduz a função utilitária e gosto subjetivo, em outros termos, o
valor de uso e o valor subjetivo. Além do valor de uso e do valor subjetivo, os bens,
recursos e serviços numa sociedade possuem o valor de troca, ou seja, o valor social. Não
basta que um bem, recurso e serviço seja útil e bom para um indivíduo particular, é
necessário que tenha utilidade pública ou função social. Aquilo que goza de utilidade e
estima pública pode ser trocado ou intercambiado por qualquer outra coisa, ele tem valor
de troca e pode operar como equivalente geral, ou seja, ser uma moeda.

O valor depende da opinião, é uma questão de opinião. [...] Quantidades muito


desiguais de trabalho podem, portanto, dar origem a propriedades de igual
valor. [...] O valor depende da opinião, é uma questão de opinião. Se construo
uma casa num local que, de repente, se toma um lugar procurado por ser
agradável ou por alguma outra razão, ela irá ganhar muito valor. Se, ao
contrário, a população passar a evita-lo, ela poderá vir a não valer mais nada.
Um capricho da moda pode fazer com que determinado objeto, um
determinado tecido, por exemplo, e, por conseguinte, os agentes naturais
empregados na fabricação desse tecido ou desse objeto subam de preço. [...]
Certamente, seja qual for a maneira pela qual a vida econômica esteja
organizada, o valor das coisas sempre dependerá da opinião pública; e é bom
que seja assim. [DURKHEIM, 2002, p.176]

O valor de troca - o valor social - é o equivalente geral pelo qual todos os bens,
recursos e serviços são intercambiados ou trocados. Esse valor de troca depende da
opinião pública, é a fidúcia pública que garante a existência do valor da moeda. Uma
moeda sem fidúcia social é uma moeda sem valor.

Foi François Simiand (1873-1935) na obra “A moeda, realidade social” (1934)


quem melhor demonstrou que a moeda está lastreada antes na fé pública do que num
metal ou papel. É a crença coletiva na função social da moeda como valor de troca ou
equivalente geral que garante a sua existência.

Como essa valor que neles se reconhece não teria dado, a quem o possui, poder
de obter ações e coisas dos outros homens, por meio da cessão parcial
apropriada dessa riqueza por excelência? Aqui, ainda, contudo sobre o que se
funda essa avaliação de uma coisa “que serve apenas para poder obter algo que

22
serve para tudo”, senão sobre a opinião, sobre a crença que dá a ela um valor
superior a tudo [...] a base é uma crença social, uma fé social. É comum se
opor a moeda lastreada em metal precioso e moeda dita fiduciária. Percebemos
agora que toda moeda é “fiduciária”. O ouro, hoje em dia, é apenas a primeira
das moedas fiduciárias: nada mais que isso, mas também nada menos.
[SIMIAND, 2018, p.101-103]

A moeda, o símbolo da riqueza nacional, é um pedaço de papel que representa


todos os bens, recursos e serviços da sociedade, mas que depende da fidúcia social ou fé
pública para existir. Esse equivalente geral é o parâmetro para os valores dos demais
bens, recursos e serviços. Uma moeda não pode existir sem a crença ou fé que os agentes
humanos depositam nela, ela não existe apenas como metal precioso. Quando uma moeda
não tem boa reputação pública, ela se desvaloriza e cai em desuso se torna um mero
pedaço de papel ou metal.

A moeda está antes lastreada na crença coletiva ou fidúcia pública do que num
metal precioso, ela existe antes como realidade social do que puro dado material. É na
fidúcia pública que reside o poder da moeda nacional.

3. Opinião pública e Poder.

A opinião pública é uma força exterior aos indivíduos que exerce coerção moral
ou pressão psicológica sobre os seus atos, posturas e opiniões, ela é a censura social que
desempenha o papel de policia dos bons costumes. Viver em sociedade é estar policiado
pela opinião pública.

José Ortega y Gasset (1883-1955) na obra “A Rebelião das Massas” (1929)


explica a importância do poderio da opinião pública.

“Poder temporal e poder religioso são identicamente espirituais; mas um é


espírito do tempo - opinião pública intramundana e cambiante -, enquanto o outro é
espírito de eternidade - a opinião de Deus, a que Deus tem sobre o homem e seus
destinos.” [ORTEGA Y GASSET, 2005, p.205]

O poder temporal que mais se aproxima do poder teológico é o poder da opinião


pública. A opinião pública é uma autoridade moral que exerce coerção social ou pressão
psicológica sobre os indivíduos. Colocando ricos e pobres, ignorantes e sábios,
governantes e governados etc., sob o jugo da sua opinião.

23
O artigo “Da Economia Política” (1755) de Jean-Jacques Rousseau demonstrou
que a autoridade absoluta é aquela que penetra no interior do homem, e não aquela que
se sustenta superficialmente pela riqueza, armas e leis positivas.

A mais absoluta autoridade é aquela que penetra até o interior do homem e não
se exerce menos sobre a vontade do que sobre as ações. É verdade que os
povos, com o decorrer dos tempos, transformam-se naquilo que os governos
desejam – guerreiros, cidadãos, homens, quando o querem, ou populaça e
canalha quanto lhes apraz. Todo o príncipe que despreza seus súditos, desonra-
se a si mesmo, mostrando que não soube torná-los estimáveis. Formai, pois,
homens, se desejais dar ordens a homens; se quiserdes que obedeçam às leis,
fazei com que sejam amadas e, para que se faça o que se deve, basta pensar
que se deve fazê-lo . Tal a grande arte dos governos antigos nos tempos de
antanho, em que os filósofos ditavam leis aos povos e só empregavam sua
autoridade para torná-los sábios e felizes. [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.294]

O poder absoluto é aquele que penetra no âmago do indivíduo agindo sobre sua
psique. Tal poderio não é conquistado se utilizando das armas, riqueza e leis positivas,
ele só pode ser conquistado através dos costumes e da opinião pública. “[...] a maior
fonte de autoridade pública reside no coração dos cidadãos e que, para a manutenção
do governo, nada pode substituir os costumes.” [ROUSSEAU, 1958, V.I, p. 294]

A opinião pública atua antes sobre as intenções do que sobre os resultados das
ações. Caso deseje diminuir a criminalidade é necessário antes de se reforçar as leis e os
aparatos repressivos, fazer com que a opinião pública condene o crime como algo mal e
injusto. Para fazer com que um indivíduo mude o seu caráter ou personalidade, é
necessário que ele antes modifique suas opiniões. O uso da força pode reprimir suas
ações, mas não reprimir o seu caráter. É agindo sobre as opiniões do indivíduo que se
modifica sua personalidade. Aquele que deseja modificar o caráter de um povo deve saber
que armas, dinheiro e Leis positivas não são suficientes, para se modificar a personalidade
de um povo é necessário ser capaz de dirigir intelectualmente e moralmente a opinião
pública

A opinião pública exerce coerção moral ou pressão psicológica sobre todos os


indivíduos sejam eles ricos e pobres, ignorantes e sábios, governantes e governados etc.
Ela não serve aos interesses dos grupos e indivíduos poderosos pelo contrário. São antes
os poderosos os primeiros que foram agrilhoados sob o jugo da opinião pública.

Nas palavras de Rousseau na Carta a d'Alembert sobre os espetáculos (1758). “A


opinião, rainha do mundo, não está sujeita ao poder dos reis; eles próprios são os seus
primeiros escravos. ” [ROUSSEAU, 1958, V.I., p.389]

24
Foi José Ortega y Gasset (1883-1955) que melhor demonstrou o poder social da
opinião pública. Ortega y Gasset na obra “História como Sistema” (1941) demonstrou
que quando uma opinião é compartilhada pelo grande número, ela têm uma realidade
independente do consenso dos indivíduos sendo uma força que se coloca acima das
vontades particulares. “[...] quando alguma coisa constitui uma opinião coletiva ou
social, ela é uma realidade independente dos indivíduos, que se situa fora deles como as
pedras se situam fora da paisagem, e com a qual os indivíduos, independentemente da
sua vontade, têm que contar.” [ORTEGA Y GASSET, 1982, p.31]

A opinião pública é um dado da natureza social ou coletiva, não resulta da


somatória das opiniões individuais, ela tem uma realidade independente das vontades
particulares.

Nossa opinião pessoal poderá ser contrária à opinião social, mas isso não lhe
tira nem uma grama da sua realidade. O que é especifico, o constitutivo da
opinião coletiva, é que sua existência não depende de que seja ou não aceitada
por um indivíduo determinado. Partindo da perspectiva de cada vida
individual, aparece a crença pública como se fosse uma coisa física. A
realidade, por assim dizer, tangível da crença coletiva não consiste em que eu
ou você a aceitemos, mas, ao contrário, ela é a que, com ou sem o nosso
beneplácito, nos impõe sua realidade e nos obriga a contar com ela. A esse
caráter da fé social, dou o nome de vigência. Diz-se que uma lei é vigente
quando seus efeitos não dependem de que eu a reconheça, senão que atua e
opera prescindindo da minha adesão, posto que, igualmente do que acontece
com a crença coletiva, para existir e gravitar sobre mim, e até para esmagar-
me, não precisa que eu, individuo determinado, acredite nela. [ORTEGA Y
GASSET, 1982, p.32]

A opinião pública é uma opinião que tenho na cabeça, cuja existência é


independente da minha escolha. As opiniões particulares não têm a mesma concretude da
opinião pública. As opiniões particulares são juízos de valor individuais que se pode ter
ou não ter na cabeça, cuja a existência é efêmera e muda de acordo com os gostos e
vontades. Já uma opinião de natureza pública ou social não se escolhe ter ou não ter, eu
as tenho ainda que de modo involuntário, elas não dependem exclusivamente da minha
vontade para existir, é como se eu tivesse nascido com essas opiniões.

Ortega y Gasset na obra “O homem e a Gente – inter-comunicação humana”


publicada postumamente, 1957, expressa muito bem o modus operandi da opinião
pública.

[...] o imenso conjunto da opinião pública que nos penetra e se insufla em nós,
que quase nos enche por dentro e que sem cessar nos oprime de fora. Advém,
pois, que vivemos, desde que vemos a luz, submersos em um oceano de usos,
que estes são a primeira e mais forte realidade com que nos encontramos: são

25
sensu stricto, o nosso contorno ou o mundo social, são a sociedade em que
vivemos. Através desse mundo social ou de usos, vemos o mundo dos homens
e das coisas, vemos o Universo. [ORTEGA Y GASSET, 1973, p.224-225]

Nós vivemos imersos nesse mundo social onde a opinião pública se infiltra por
todos os poros da nossa psique, tal mundo é a primeira realidade que encontramos ao
nascer e sua força é sentida como um ente externo que está acima de nós, mas que
necessitamos dela para viver. Antes de enxergar o mundo pelos próprios olhos, nós
enxergamos o mundo pelos olhos da sociedade. Antes de termos uma opinião particular
sobre alguma coisa, nós temos uma opinião pública sobre as coisas.

Há, pois, uma diferença radical entre a opinião particular de um grupo, - por
mais enérgico, proselitista e combatente que seja, - e a opinião pública, isto é:
a opinião efetivamente estabelecida e com vigência. Para que esta se afirme,
ninguém tem de preocupar-se em sustê-la, por si mesma e sem necessidade de
defensores, enquanto é vigente, predomina e impera, ao passo que a opinião
particular não tem existência, senão estritamente na medida em que um, vários
ou muitos se dão ao trabalho de sustenta-la.” [ORTEGA Y GASSET, 1973,
p.296]

Existe uma diferença essencial que distingue a propagação da opinião particular


feita por um agitprop, órgão de agitação e propaganda, da opinião pública. Essa diferença
reside no fato de que a opinião particular difundida depende da propagando do
proselitismo enérgico e combatente para existir. Enquanto a opinião pública vigora de
forma generalizada ou coletiva sendo não só uma corrente de opiniões majoritárias, mas
o próprio fato social que antecede e transcende à somatória da agregação de opiniões
particulares individuais e grupais. A opinião de um agitprop depende da propaganda para
existir, já a opinião pública existe como uma personalidade coletiva sui generis que
exerce uma autoridade moral sobre a psique dos indivíduos a partir das próprias relações
sociais.

Quase sempre, em livros, estudos e muito especialmente nas pesquisas que


fazem nos países anglo-saxões determinados Institutos, dedicados ao mister de
investigar a opinião pública, eles confundem esta com uma opinião particular
sustentada por maior ou menor número de indivíduos. Mas, o fenômeno
sociológico fundamental que é a vigência e que se dá, não só na opinião, mas
em todo uso; que é, portanto, o caráter mais substantivo do fato social e da
sociedade como conjunto dos fatos sociais, a vigência não consiste na adesão
individual muito ou pouco numerosa. Todo o acerto de uma sociologia estriba
em que se veja isso claramente. Quando algo é uso não depende da adesão dos
indivíduos, mas precisamente é uso porque a eles se impõe. Graças a isso, tudo
que é o social é realidade diferente do individual. [ORTEGA Y GASSET,
1973, p.296-297]

É comum os “cientistas políticos” em seus estudos ou pesquisas de sondagem de


opiniões confundiram a opinião pública, o fato social, com a opinião majoritário de uma

26
dada conjuntura política. Eles confundem a somatória da agregação de opiniões
particulares do mesmo tipo com a opinião pública que tem um substrato social, e cuja a
vigência não depende necessariamente da adesão individual para existir. A opinião
pública é social porque não é dependente da adesão das multidões para existir, ela existe
porque se impõe aos indivíduos como uma realidade concreta. Por isso que a opinião
pública tem uma realidade diferente da opinião particular assim como o fato social tem
uma realidade diferente do fato puramente individual.

[...] a idéia mesma de vigência, alfa e ômega de toda a Sociologia, mas que
não é fácil de ver e, mesmo uma vez vista, propende a escapar da nossa
intelecção. Insisto em que os seus dois mais assinalados caracteres são estes: I
- A vigência social, seja de que origem for, não se nos apresenta como algo
que depende de nossa individual adesão; mas, pelo contrário: é indiferente à
nossa adesão, está ai, temos de contar com ela e exerce, portanto, sobre nós, a
sua coação - pois, já é coação o simples fato de que, queiramos ou não,
tenhamos de contar com ela; II – Vice-versa: em qualquer momento podemos
recorrer a ela, como a uma instância de poder, na qual nos apoiemos.
[ORTEGA Y GASSET, 1973, p.298]

A vigência é um atributo qualitativo daquilo que faz parte do fato social. Logo, a
vigência social de uma opinião ou juízo de valor é algo que não é está restrito à adesão
individual, e transcende a soma dos aderentes particulares colocando-se como uma força
externa e coletiva que exerce uma coerção moral ou pressão psicológica sobre os
indivíduos aderentes ou recalcitrantes. E ao mesmo tempo, é essa força social que o
indivíduo deve se apoiar para vencer os seus obstáculos.

A sociedade, conjunto dos usos, de um lado no-los impõem; de outro lado,


sentimo-la como instância à qual podemos recorrer e na qual nos podemos
amparar. Uma e outra coisa, - ser imposição e ser recurso, - implicam que a
sociedade é, por essência, poder, um poder incontrastável diante do indivíduo.
A opinião pública, a opinião reinante, tem por trás de si esse poder e o faz
funcionar nas diversas formas que correspondem às diversas dimensões da
existência coletiva. Esse poder da coletividade é o “poder público”. [ORTEGA
Y GASSET, 1973, p.299]

A sociedade é um poderio que se expressa como opinião pública que por um lado
se impõe aos indivíduos, por outro lado, é aquilo que ampara a própria existência
individual. A sociedade é obstáculo e recurso simultaneamente.

Ortega y Gasset na obra “A Rebelião das Massas” (1929) demonstrou que a


opinião pública não foi inventada pelos cientistas políticas, e que ela existe quer os
indivíduos queiram ou não. A opinião pública não é uma questão de opinião pessoal, mas
de existência da própria sociedade.

27
Convém distinguir entre um fato ou processo de agressão e uma situação de
mando. O mando é o exercício normal da autoridade. O qual se funda sempre
na opinião pública - sempre, hoje como há dez mil anos, entre os ingleses como
entre os botocudos -. Jamais alguém mandou na terra nutrindo seu mando
essencialmente de outra coisa que não fosse a opinião pública. Ou acredita-se
que a soberania da opinião pública foi um invento feito pelo advogado Danton
em 1789 ou por S. Tomás de Aquino no século XIII? A noção desta soberania
terá sido descoberta aqui ou ali, nesta ou naquela data; mas o fato de que a
opinião pública é a força radical que nas sociedades humanas produz o
fenômeno de mandar, é coisa tão antiga e perene como o próprio homem.
Assim, na física de Newton a gravitação é a força que produz o movimento. E
a lei da opinião pública é a gravitação universal da história política. Sem ela,
nem a ciência histórica seria possível. Por isso muito agudamente insinua
Hume que o tema da história consiste em demonstrar como a soberania da
opinião pública, longe de ser uma aspiração utópica, é o que pesou sempre e a
toda hora nas sociedades humanas.” [ORTEGA Y GASSET, 2005, 202-203]

O que separa o mando da agressão ou, em outros termos, a autoridade da pura


dominação. É o fato de que aquele que manda estar autorizado pela opinião pública ao
comando. Isso não é uma questão de dispor de riqueza e armas, e nem de ter habilidades,
mas de ser aquele que a sociedade autorizou ao comando por meio da opinião pública.
Um indivíduo ou grupo que deseja comandar a sociedade, mas não é aceito pela opinião
pública pode até dispor de riqueza, armas e habilidades excepcionais, mas será visto
sempre como um dominador ou agressor. Ele vai até poder gozar de poder econômico e
militar, e conseguir reprimir fisicamente os indivíduos, mas nunca vai realmente mandar
sobre as suas cabeças. Só a opinião pública manda na cabeça dos homens. A agressão ou
dominação é um conceito amorfo porque expressa apenas uma relação de superioridade
material, econômica e militar, mas não a capacidade de realmente comandar os homens.
Aquele que manda é capaz de impor sua vontade sobre os outros e ser obedecido.

Nenhuma minoria mandou na maioria se não tivesse algum fundamento na


opinião pública. A opinião pública não surge com a modernidade no Ocidente, ela sempre
existiu em todos os povos e regimes políticos, apesar de não disporem de meios
institucionais e legais para sua exposição e mensuração. A opinião pública é o centro de
gravidade responsável por garantir a coesão social.

Um dos continuadores da obra de Ortega Y Gasset a partir de um enfoque


sociológico e jurídico, Luis Recaséns Siches (1903-1977), na obra “Tratado general de
sociología” (1956) faz uma crítica a visão materialista e reducionista de poder social que
o define somente como relação violenta esquecendo-se da força psicológica da opinião
pública.

28
Sería grave error interpretar el fenómeno de poder social predominante como
mera relación de violencia material. El poder social es cosa muy distinta de la
fuerza física. Aun cuando al poder jurídico le sea dada esencialmente la
facultad de acudir a resortes de fuerza material para imponer el cumplimiento
de una norma al rebelde individual, el poder jurídico no es fuerza física. Los
resortes de fuerza corporal y mecánica son meros instrumentos que maneja el
poder jurídico, precisamente por ser poder jurídico. Ahora bien, normalmente,
se tiene el poder jurídico, se manda en el Estado, porque se tiene un efectivo
poder social. No se manda porque se disponga de las armas, sino que se dispone
de las armas porque efectivamente se-manda, es decir, porque efectivamente
se tiene un poder social máximo. La raíz del poder social está constituida por
los factores psicológicos. Todo poder social, normalmente ejercido, se funda
sobre el reconocimiento del mismo por parte de quienes a él se someten.
[RECASÉNS SICHES, 1991, p.596]

É um grave erro tratar o poder social como sinónimo de violência física, o poder
social compreende cosias que estão além da própria força física ou do uso legal da força
dos aparatos repressivos de Estado. A raiz do poder social reside antes em fatores
psicológicos do que na disposição de armas. Tais fatores psicológicos de ordem coletiva
são os costumes e, sobretudo, a opinião pública.

Ya se ha mostrado que en última instancia un auténtico poder social no se basa


sobre la fuerza física, sino que su principal raíz consiste en un fenómeno de
opinión pública. Consiguientemente, el sistema del orden jurídico positivo
vigente, el cual está en vigor por virtud del apoyo que le da el poder social
preponderante. Descansa en última instancia sobre la opinión pública, y es
influido decisivamente por dicha opinión, en cuanto a sus contenidos, en
cuanto a su mantenimiento, y en cuanto a su reforma y evolución.
[RECASÉNS SICHES, 1991, p.608]

O autentico poder social está embasado antes na opinião pública do que no uso
legal da força. O próprio sistema jurídico ou o direito positivo repousa na opinião pública.
As Leis positivas que não se apoiam no poder social – os costumes e a opinião pública -
não têm força para vigorar, e a lei que não tem vigência social é apenas letra morta. Para
mandar no grande número não basta dispor de boas leis e boas armas, é necessário que
esses indivíduos estejam sob o julgo da opinião pública. O líder é o primeiro que deve
pagar tributos à opinião pública se quiser mandar.

Retomando Ortega y Gasset.

A verdade é que não se manda com os janízaros. Assim, Talleyrand a


Napoleão: "Com as baionetas, Sire, pode-se fazer tudo, menos uma coisa:
sentar-se sobre elas." E mandar não é atitude de arrebatar o poder, mas
tranquilo exercício dele. Em suma, mandar é sentar-se. Trono, cadeira, curul,
banco azul, poltrona ministerial, sede. Contra o que uma ótica inocente e
folhetinesca supõe, o mandar não é tanto questão de punhos como de nádegas.
O Estado é, em definitivo, o estado da opinião...” [ORTEGA Y GASSET,
2005, p.203]

29
O ato de mandar não é um ato ofensivo ou extravagante, mas o ato pacífico de
fazer com que os outros façam as coisas que se quer. O mando não viola o evolver social
da vida dos indivíduos. O trono ou governo de um líder repousa antes no poder social da
opinião pública do que nas boas leis e boas armas.

Recaséns Siches (1903-1977) na obra “Introducción al Estudio del Derecho”


(1970) demonstra que a eficiência ou vigência das leis positivas se deve antes a sociedade
do que as boas armas.

La raíz de la vigencia de un sistema jurídico no puede consistir en una mera


relación de fuerza bruta. Por el contrario, consiste en una resultante de las
voluntades que forman la textura social. La más profunda raíz del mando
jurídico no es la fuerza material. El mando jurídico tiene a su disposición la
mayor concentración de poder y de fuerza que hay en la sociedad, para hacer
cumplir inexorablemente, impositivamente, si es preciso, sus preceptos. Pero
el mando jurídico, en tanto que tal, no se funda en la tenencia de los
instrumentos de fuerza material sino sobre un apoyo de la opinión pública.
Precisamente porque un régimen se instala con la aquiescencia de la opinión
pública, porque cuenta con la resultante de las voluntades que integran la
colectividad, por eso tiene a su disposición el aparato coercitivo. La adhesión
de la opinión pública puede darse en muy diversos grados. Pero un mínimum
de adhesión, que represente la tranquila y normal aceptación de la mayor parte
de las gentes, es siempre indispensable para que se pueda decir que existe un
orden jurídico. Porque, de lo contrario, nos hallaríamos tan sólo ante un mero
fenómeno de brutalidad. [RECASÉNS SICHES, 1997, p.66]

As boas armas sozinhas não são capazes de garantir a vigência ou eficiência do


sistema jurídico. É necessário que o contexto sociocultural não se seja refratário ao texto
constitucional, e que o texto constitucional tenha por base o contexto sociocultural. O
mando jurídico não se funda no medo dos aparatos repressivos de Estado, mas na opinião
pública que policia os atos, posturas e opiniões dos indivíduos antes mesmo da força da
lei agir ou existir.

Pero habitual y normalmente el poder político se basa sobre un hecho de


opinión pública predominante, o sobre el resultado del juego de las varias
corrientes de opinión pública; y se alimenta de tales hechos. Tanto es así, que,
cuando al marido político le falta ese apoyo y ese alimento de la opinión
pública, entonces empieza a desmoronarse. En tales casos, el proceso de su
desmoronamiento puede ser mis o menos rápido, más o menos lento. Pero
cuando eso ocurre, el poder político al cual le falta el consentimiento de la
opinión acaba por derrumbarse. [RECASÉNS SICHES, 1997, p.67]

O poder político que não se apoia na opinião pública, mas se apoia exclusivamente
nas armas e nas leis positivas, a única coisa que ele pode fazer é violentar a sociedade.
Cedo ou tarde, ele vai cair.

Por otra parte, debe evitarse a toda costa el error de interpretar el fenómeno de
poder social predominante como pura relación de violencia material. El poder

30
social es cosa muy distinta de la fuerza física. En definitiva, el poder social se
funda sobre factores de conciencia. No consiste puramente en la posesión de
la fuerza, sino en la obediencia de las personas. Todo poder social se apoya, en
último término, sobre el reconocimiento del mismo por quienes a él se
someten, en suma, sobre la opinión pública predominante. Quien ejerza
exclusivamente la fuerza material podrá dirigir una agresión contra un pueblo,
incluso mantenerla algún tiempo, pero propiamente no ejercerá un mando
político sobre ese pueblo. […] El Estado, en definitiva, es el estado de la
opinión pública. Quien manda jurídicamente dispone de toda la fuerza para
imponer sus normas a los rebeldes. Pero el hecho global de su mando, o, lo que
es lo mismo, el fundamento del sistema político y del orden jurídico, del
régimen como totalidad, na puede ser la fuerza, sino que debe ser una adhesión
de la comunidad. ” [RECASÉNS SICHES, 1997, p.268-269]

Quanto se reduz o poder social à violência física se esquece que existe uma
diferença entre o uso legal da força e a pura violência. O uso da força antes de ser legal
deve ser legitimado socialmente.

Nos termos da obra “O homem e a Gente – inter-comunicação humana”(1957) de


Ortega y Gasset.

O poder público não é, pois, senão a emanação ativa e energética da opinião


pública, na qual flutuam todos os demais usos ou vigências que dela se nutrem.
E a forma, a maior ou menor violência, com que o poder público atua, depende
da maior ou menor importância que a opinião pública atribua aos abusos ou
desvios do uso. [ORTEGA Y GASSET, 1973, p.300]

O poder público ou poder social não se restringe ao uso legal da força pelos
aparatos repressivos de Estado, ele é composto, sobretudo, pelos elementos sociológicos,
em especial, os costumes e a opinião pública. O poder público deve traduzir em ação
coletiva aquilo que a opinião pública defende de forma enérgica.

[...] o poder público supõe sempre atrás de si uma opinião que seja
verdadeiramente pública, portanto: unitária, com robusta vigência. Quando tal
não acontece, em vez de opinião pública nos encontramos somente com a
opinião particular de grupos, os quais geralmente se associam em dois grandes
conglomerados de opinião. Quando tal acontece é que a sociedade se cinde, se
parte ou se dissocia; então, o poder público deixa de sê-lo, fragmenta-se ou se
parte em partidos. É a hora da revolução e da guerra civil. [ORTEGA Y
GASSET, 1973, p.301]

O poder público antes de ser ação estatal é a práxis da opinião pública. Quando
não existe opinião pública não é só o poder público que deixou de existir, mas a própria
sociedade. A sociedade se fragmentou numa miríade de facções com opiniões sectárias
onde não é possível conciliar ou encontrar um ponto pacífico para formar a opinião
pública. Não havendo a existência da opinião público o grande número fico à mercê da
vontade particular dos mais fortes, astutos e espertos. É o momento da luta de todos contra
todos onde os homens se entredevoram.

31
A opinião pública só deixa de existir no estado de anomia social onde impera a
luta de todos contra todos. Nesse estado onde os homens se entredevoram não existe
sociedade, mas aglomeração de massas. A massa não é um dado pré-fato social, mas o
resultado do estado de anomia. O estado de anomia foi muito bem explicitado e
sintetizado por um dos pais fundadores da sociologia, Émile Durkheim (1858-1917), na
obra “O suicídio: estudo de sociologia” (1897).

“A anomia, com efeito, faz surgir um estado de exasperação e de lassidão irritada


que pode, conforme as circunstâncias, voltar-se contra o próprio sujeito ou contra o
outro; no primeiro caso, há suicídio, no segundo, homicídio.” [DURKHEIM, 2000,
p.465]

A anomia é a situação onde as regras sociais não exercem mais coerção moral ou
pressão psicológica sobre as condutas, posturas e opiniões dos indivíduos diante do
crescimento insuportável da corrupção, vícios, delinquência e crimes. Restando somente
a força da lei, ou seja, os aparatos repressivos de Estado para garantir a ordem, mas
mesmo com a hipertrofia dos poderes estatais e reforço punitivo das leis, o Estado sozinho
não é capaz de garantir a Ordem. Numa situação de anomia não existe mais autoridade
moral da opinião pública, já não existe o censor social capaz policiar os atos, posições e
opiniões dos indivíduos, não existe mais o tribunal da opinião pública para julgar a
reputação dos homens. O estado de anomia significa o fim do bem público, aquilo que
havia em comum entre os indivíduos foi dilacerado. Não existe mais os elos da coesão
social, só existe uma massa amorfa de indivíduos atomizados.

A massa é o total oposto da sociedade. A massa é uma aglomeração amorfa de


indivíduos atomizados cujos os contatos são instáveis e transitórios, e cuja a reação aos
estímulos do meio é sempre impulsiva. Na massa está ausente a reflexão e a
responsabilidade, ela não tem uma solidez dada pela coesão social e nem exerce pressão
psicológica ou coerção moral sobre os seus membros, ela não tem uma consciência
coletiva ou personalidade moral como tem a sociedade.

É justamente o fato da massa não ter uma personalidade moral ou consciência


coletiva que faz dela a matéria-prima dos manipuladores. A massa sempre é uma massa
de manobra que adquire as formas que os líderes acham conveniente. Os indivíduos numa
situação de massa estão atomizados e não podem resistir coletivamente à tirania dos mais
fortes, astutos e espertos. A massa transforma o ser humano num joguete, recurso ou

32
instrumento do poder, já que nela não existe uma opinião pública ou autoridade moral
capaz de resistir e fazer oposição às vontades arbitrárias.

A opinião pública só pode ser fabricada ou criada artificialmente numa situação


de anomia onde as massas prevalecem sobre o social. O que difere a opinião pública
fabricada da opinião pública autêntica é o fato da primeira ser produto ideológico da
vontade poder de uma personalidade ou grupo que se traveste de vontade geral, e a
segunda ser a própria expressão do fato social.

Retomando Ortega y Gasset na obra “A Rebelião das Massas” (1929)

O que sucede é que às vezes a opinião pública não existe. Uma sociedade
dividida em grupos discrepantes, cuja força de opinião fica reciprocamente
anulada, não dá lugar a que se constitua um mando. E como a Natureza tem
horror ao vácuo, esse oco que deixa a força ausente de opinião pública enche-
se com a força bruta. Em suma, pois, avança esta como substituta daquela.
[ORTEGA Y GASSET, 2005, p.203-204]

Quando a opinião pública não existe impera a vontade dos mais fortes, astutos e
espertos que violentam fisicamente e psicologicamente o grande número que se coloca
na condição de servo na busca do “melhor” senhor. Se antes todos os homens, em
especial, os poderosos viviam sob o mando da opinião pública. Agora o grande número
se tornou servo de um punhado de homens, e não existe julgo pior do que um julgo que
não é compartilhado por todos.

A opinião pública autêntica não serve às vontades particulares de nenhum grupo


ou personalidade, ela só serve à sociedade. Enfatizando as palavras de Rousseau na Carta
a d'Alembert sobre os espetáculos (1758). “A opinião, rainha do mundo, não está sujeita
ao poder dos reis; eles próprios são os seus primeiros escravos. ” [ROUSSEAU, 1958,
V.I., p.389]

Rousseau na obra “Emílio ou Da educação” (1762) reforça tal conclusão.

“A própria dominação é servil, quando se apega à opinião, pois dependes dos


preconceitos daqueles que governas pelos preconceitos. Para guiá-los como te agrada é
preciso que te conduzas como lhes agrada. Que mudem de maneira de pensar e terás
forçosamente que mudar de maneira de agir.” [ROUSSEAU, 1995, p.66]

A própria dominação é serva da opinião pública, nenhum império ou tirano


conseguiu se impor sobre o grande número sem que nele exista uma certa disposição

33
pública para servir. Para a minoria se impor sobre maioria é necessário que ela disponha
de algo que esteja além das boas armas, já que o grande número é matematicamente mais
forte do que a minoria, é necessário contar com certa disposição pública para servir.

Aquele que deseja mandar num homem deve saber que para isso não basta ter boas
armas e formular boas leis. É necessário, sobretudo, mandar na sua opinião. Aquele que
manda na opinião de um homem reina sobre ele. “Para reinar pela opinião começai
reinando sobre ela.” [ROUSSEAU, 1995, p.215]. Uma personalidade ou grupo só manda
de fato quando exerce sua direção intelectual e moral sobre a opinião pública.

Tal percepção de Rousseau foi delineada quando resolveu concorrer ao prêmio de


1754 da Academia de Dijan na França. Cujo o desafio foi responder “Qual a origem da
desigualdade entre os homens e será ela permitida pela lei natural?”. Como Rousseau
já tinha ganhado o prêmio de 1750 com o seu “Discurso sobre as ciências e as artes.”
Resolveu concorrer novamente apresentando sua resposta sobre origem da desigualdade
entre os homens com o seu “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens.” (1754).

“De que se trata, pois, precisamente neste Discurso? De assinalar, no


progresso das coisas, o momento em que, sucedendo o direito à violência,
submeteu-se a natureza à lei; de explicar por que encadeamento de prodígios o
forte pode resolver-se a servir ao fraco, e o povo a comprar uma tranquilidade
imaginária pelo preço de uma felicidade real. [...] Concebo, na espécie humana,
dois tipos de desigualdade: uma, que chamo de natural ou física, por ser
estabelecida pela natureza e que consiste de natural ou física, por ser
estabelecida pela natureza e que consiste na diferença das idades, da saúde, das
forças do corpo e das qualidades do espírito e da alma; a outra, que se pode
chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de
convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento
dos homens. Esta consiste nos vários privilégios de que gozam alguns em
prejuízo de outros, como o serem mais ricos, mais homenageados do que estes,
ou ainda por fazerem-se obedecer por eles.” [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.165]

Para Rousseau não é a violência que explica o fato do grande número, a maioria,
servir à minoria, a “elite”. A maioria não serve por inclinação natural à minoria a sua
superioridade numérica ou física é um impedimento. Para que a servidão da maioria seja
possível é necessário que o grande número acredite que tal minoria foi eleita pelos
costumes, leis positivas, raça ou pela graça divina. Essa minoria aparentemente
predestinada por Deus ou pela natureza ao governo, só conseguiu tal feito através da sua
capacidade de dirigir moralmente e intelectualmente as opiniões dos homens. Esse feito
não pode ser conquistado através de armas e formulas jurídicas, mas somente por

34
intermédio da opinião pública. Existe uma opinião comum ou pública que é
compartilhada pelos diferentes indivíduos e grupos que faz com que a desigualdade entre
eles seja aceita como natural, é assim que o homem se acorrenta aos grilhões.

4. Vivendo sob o jugo da opinião pública: Censura e Reputação.

A opinião pública é uma autoridade moral que exerce coerção social ou pressão
psicológica sobre os atos, posturas e opiniões dos indivíduos, ela é um agente da censura
moral, a polícia dos bons costumes. Viver em sociedade é estar policiado pela opinião
pública.

Jean-Jacques Rousseau na obra “Emílio ou Da educação” (1762) demonstrou que


moral, opinião pública, política e sociedade são quatros elementos da mesma natureza, e
não podem ser compreendidos de modo isolado.

“O homem depende da estima e o respeito do público para existir. É preciso


estudar a sociedade pelos homens, e os homens pela sociedade: os que quiserem tratar
separadamente da política e da moral nunca entenderão nada de nenhuma das duas.
[ROUSSEAU,1995, p.266]

A opinião pública é a expressão política da própria sociedade que age como censor
moral. O homem para viver em sociedade necessita da estima e respeito social que
derivam do juízo público. Por isto que “[...]todos os bens desta vida se encontram na
opinião...” [ROUSSEAU,1995, p.63]. Não se pode julgar um ato político sem a moral, e
para se julgar moralmente uma ação é necessário a opinião pública.

Nos termos da Carta a d'Alembert sobre os espetáculos (1758) de Rousseau.

“Seria melhor, repito, ser sóbrio e verdadeiro, não somente para consigo mesmo,
mas para com a sociedade , pois tudo quanto é mau no terreno moral, o é no político.”
[ROUSSEAU, 1958, p.V.I. p.416]

Através da opinião pública fica claro observar como o Ego é tributário da estima
pública para existir socialmente. “O olhar do outro passa a ser o fator indispensável no
comportamento social.” [MEIRA DO NASCIMENTO, 2016, p.47]. A necessidade social
é, sobretudo, uma necessidade de reconhecimento, o desejo ser estimado pelos olhos dos

35
outros. O indivíduo necessita de notoriedade pública para existir, ele não pode viver sem
ser notado pelo olhar público. A vida em sociedade é dependente da reputação pública.

O homem social é o homem policiado pela opinião pública. “[...] o homem social
está submetido ao império da opinião.” [MEIRA DO NASCIMENTO, 2016, p. 49].
Viver em sociedade é estar policiado pela opinião pública.

“O que nos leva a concluir que o império da opinião e da opinião pública passa
a funcionar, no estado de sociabilidade, como uma segunda natureza para o homem.
Afinal, sem a reputação, sem as honras, sem o olhar do outro, não haveria vida em
sociedade. ” [MEIRO DO NASCIMENTO, 2016, p.53]

O homem em sociedade não basta a si mesmo, ele deseja ser considerado pelos
outros, busca ser reconhecido e ter uma reputação. E muitas vezes se comporta como um
joguete das opiniões alheias.

Como dissemos, a mola propulsora da vida em sociedade, que acaba por


converter o amor-de-si em amor-próprio, é a tirania da opinião. Viver em
sociedade, nestas condições, é dar-se em espetáculo mais importante do que a
própria busca dos bens efetivos e o parecer ser feliz será mais importante do
que a própria felicidade. Está é uma tendência necessariamente inscrita na vida
social e sua exacerbação, que vai do parecer ao distinguir-se, levará através de
uma degradação inevitável à perversão definitiva das relações entre os homens
em uma dada comunidade.” [SALINAS FORTES, 1997, p.126]

O indivíduo pode se livrar da tirania de um governo ou potência estrangeira, mas


nunca se livra do jugo da opinião pública. Como já bem explicitou Rousseau na Carta a
d'Alembert sobre os espetáculos (1758) “A opinião, rainha do mundo, não está sujeita ao
poder dos reis; eles próprios são os seus primeiros escravos. ” [ROUSSEAU, 1958, V.I.,
p.389]

Nenhum homem pode viver em sociedade sem estar sob o jugo da opinião pública.

[...] não podendo nenhum homem viver civilmente sem honra, todos os estados
em que se carrega uma espada, desde o príncipe até o soldado, e mesmo todos
os estados em que não se a carrega, devem recorrer a essa corte de honra, uns
para prestarem conta de sua conduta e de suas ações, outros de seus discursos
e máximas, todos sendo igualmente dignificados ou desacreditados segundo
aos princípios de honra estabelecidos na nação e sendo todos insensivelmente
reformados pelos tribunais segundo os princípios da justiça e da razão. Limitar
essa competência aos nobres e aos militares, será cortar os galhos e deixar as
raízes, pois, se o ponto de honra faz a nobreza agir, faz o povo falar; uns só se
batem porque os outros os julgam e, para mudar as ações cujo o objetivo é a
estima pública, impõe-se mudar de antemão os julgamentos que se tem a seu
respeito.” [ROUSSEAU, 1958, V.I., p.388]

36
Todos os indivíduos devem prestar conta de suas posturas, condutas e opiniões à
opinião pública. A reputação, a honra ou status social é dependente da opinião pública, o
valor social de um homem depende da estima pública. De acordo com Rousseau o que
vale para a sociedade é aquilo que a opinião pública estima ou valora. O homem social
não pode dispensar a opinião pública sem perder o brio ou ser desonrado, é na opinião
pública que reside o pundonor, o ponto de honra.

Rousseau na obra “Considerações sobre o Governo da Polônia – escrito em 1771-


e sobre sua Reforma projetada em abril de 1772”. Demonstra como a opinião pública é
capaz de assassinar ou salvar reputações.

Mas, para alcançar bom êxito na operação, importaria começar por mudar a
opinião pública relativamente a um estado que, de fato, se transforma
totalmente e fazer que na Polônia não mais se considere um soldado como um
bandido que, para viver, se vende por cinco cêntimos diários, mas como um
cidadão que serve à pátria e está cumprindo o dever. Impõe-se tornar a colocar
o estado na mesma situação em que antigamente se encontrava e na qual ainda
se encontra na Suíça e em Genebra, onde os melhores burgueses se sentem tão
orgulhosos na tropa, carregando armas, quanto no paço municipal e no
conselho soberano. Impõe-se, porém, para tanto, que, na escolha dos oficiais,
não se levem jamais em consideração a classe, a reputação e a fortuna, porém
somente a experiência e a capacidade. Nada mais fácil do que considerar
honroso o manejo eficiente das armas, contribuindo tal atitude para que cada
um se exercite zelosamente para o serviço da pátria, aos olhos de sua família e
dos seus, zelo esse que não se poderá despertar do mesmo modo na canalha
alistada ao acaso e que só sente o sacrifício do exercício.” [ROUSSEAU,1962,
p.317]

Quando se quer elevar o status de um indivíduo ou grupo ao topo da sociedade, é


necessário influir na opinião pública para fomentar um juízo que supervalorize as
posturas, atos e opiniões de tal indivíduo ou grupo. É na opinião pública que se encontra
a estima, a reputação ou status social dos indivíduos. Um indivíduo que não é estimado
publicamente não goza de prestígio social ou fama. Isso é importante frisar, já que
nenhum indivíduo ou grupo é capaz de escapar do tribunal da opinião pública.

Os próprios aparatos repressivos de Estado e não só o seu sistema jurídico estão


submetidos ao tribunal da opinião pública. A polícia e o exército que gozam do uso legal
da força também vivem sob o jugo da opinião pública. Os próprios aparatos repressivos
de Estado devem além de se apoiar na legalidade para exercer o uso força, gozar de boa
reputação pública para agir.

A reputação das forças armadas depende do juízo público, o que separa a ação do
policial ou soldado da ação de um ladrão ou inimigo, é o fato da ação do policial ou

37
soldado serem orientadas pelas leis positivas e gozarem do apoio da opinião pública.
Quando um soldado ou policial faz tudo dentro do império da lei positiva, mas os seus
atos são retratos pela mídia como um ato truculento, bárbaro e cruel, e tal versão é aceita
pela opinião pública. O próprio soldado ou policial devido a pressão pública não enxerga
mais a sua farda como símbolo da legalidade e do sacrifício patriótico, mas como símbolo
da tirania de Estado. Logo, as forças armadas não são mais vistas como guardiões da
ordem, mas aparatos de repressão das liberdades.

Na opinião pública se encontra a forma mais refinada e eficaz de eliminar um


inimigo, o assassinato de reputação. Tal forma não consiste em morte ou tortura física,
mas em fabricar e propagar uma série de factoides capazes de fazer com que o tribunal
da opinião pública condene tal indivíduo ou grupo ao ostracismo ou morte social. O
indivíduo ou grupo que teve a sua reputação assassinada, experimenta a morte em vida.

O tribunal da opinião pública é amável e cruel.

5. Opinião pública como Educadora cívica.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) apresenta em suas obras as duas faces da


opinião pública. A face negativa da opinião pública onde ela opera como desencadeadora
da luta por fama e poder onde impera as aparências e a dissimulação, e a face positiva da
opinião pública onde ela opera como um dos agentes educadores do processo
civilizatório, a censora moral que policia os bons costumes. A opinião pública faz parte
do processo civilizatório, ela age como estimulante, canalizador e repressor dos impulsos.

Para introjetar ou inculcar o amor às leis e instituições políticas, é necessário


contar com a opinião pública.

“Não podemos nos esquecer de que “quem quer que se abale a instituir um povo
deve saber dominar as opiniões e por meio delas governar as paixões dos homens”
(Rousseau, Considerações sobre o governo da Polônia) [... ] Segundo Rousseau, a única
forma de agir sobre os costumes é atuando sobre a opinião pública. Mas para se obter
algum resultado neste domínio, de nada adiantará o recurso à força e à violência. [...]
Não se muda o julgamento público por intermédio de leis, decretos ou pela força.”
[MEIRA DO NASCIMENTO, 2016, p.55]

38
Rousseau nos textos “Considerações sobre o Governo da Polônia – escrito em
1771- e sobre sua Reforma projetada em abril de 1772”.

Explicarei, logo a seguir, o regime de administração que, quase sem tocar ao


fundo de vossas leis, parece-me próprio para elevar ao mais alto grau possível
de intensidade o patriotismo e as virtudes dele inseparáveis. Mas, adotando ou
não esse regime, começai sempre por dar aos poloneses uma alta opinião de si
mesmos e de sua pátria; depois do comportamento que tiveram, essa opinião
não será falsa. É preciso aproveitar a circunstância da ocorrência atual para
elevar as almas ao mesmo nível das almas antigas. É verdade que a
confederação de Bar salvou a pátria agonizante. Impõe-se gravar essa grande
época, com caracteres sagrados, em todos os corações poloneses. Desejaria que
se erigisse em sua memória um monumento e nele se apusessem o nome de
todos os confederados, mesmo daqueles que logo depois puderam trair a causa
comum, pois tão grande ação deve apagar as faltas da vida inteira; que se
instituísse uma solenidade periódica para celebrá-la cada dez anos, não com
pompa brilhante e frívola, mas simples, orgulhosa e republicana; que nela se
fizesse dignamente, mas sem ênfase, o elogio dos cidadãos virtuosos que
alcançaram a honra de sofrer pela pátria sob os grilhões do inimigo; que até
mesmo se concedesse às suas famílias qualquer privilégio honorífico que
sempre reavivasse, aos olhos do público, a bela recordação. [ROUSSEAU,
1962, p.273-274]

É possível modificar para melhor ou pior uma sociedade sem tocar no seu sistema
jurídico através da opinião pública. A opinião pública pode desenvolver o gosto pelas
coisas boas da nação, a alta estima dos cidadãos ou patriotismo, e da mesma forma é por
meio dela que se rebaixa a moral dos cidadãos, desenvolvendo o ódio pelas coisas
nacionais e o gosto por tudo que é exótico. É pela opinião pública que se desenvolve o
desejo de autodeterminação do povo fazendo com que se livre dos grilhões do tirano ou
do imperialismo, e também é através dela que se desenvolve a servidão voluntária e o
entreguismo. Aquilo que uma nação estima ou valora está na sua opinião pública.

Desejaria que, por meio de honrarias, de recompensas públicas, se desse brilho


a todas as virtudes patrióticas, que incessantemente os cidadãos se
preocupassem com a pátria, que dela fizessem a sua preocupação maior, que a
conservassem continuamente diante dos olhos. Desse modo, afirmo, disporiam
de menos meios e menos tempo para se enriquecerem, mas também
conheceriam menos o desejo e a necessidade disso; seus corações aprenderiam
a conhecer uma outra felicidade, diferente do prazer da fortuna - eis a arte de
enobrecer as almas e transformá-las num instrumento mais poderoso do que o
ouro. [ROUSSEAU,1962, p.274]

Aqueles que desejam desenvolver o gosto pelas coisas públicas na sociedade, o


que os antigos denominavam de virtudes patrióticas, é necessário que as atos, posturas e
opiniões considerados justos, belos e bondosos sejam recompensados publicamente. Tal
recompensa não significa somente ganhos materiais, mas uma distinção social que
sinalize um status social mais elevado. É por intermédio da opinião pública que se faz
com que os indivíduos egoístas e egocêntricos não busquem apenas bens materiais e

39
saiam das suas bolhas para se relacionar com outros, já que a felicidade desse mundo não
se encontra no isolamento e na fortuna material, mas no convívio com os outros homens.

Como resultado, assim, dessa operação constitutiva dos usos e costumes e


formadora da opinião, assim como através dos jogos e festividade, formadora
do espírito comunitário, não serão os particulares que se distinguirão, mas é o
público, ou seja, a pátria que aparecerá, que se manifestará, que brilhará e que
se distinguirá das outras, apresentando uma fisionomia própria e
inconfundível. O único meio para evitar a corrupção do corpo político, o único
caminho para o Legislador, tendo em vista impedir o desenvolvimento da
corrupção, é o de implantar nos corações dos membros da comunidade o
patriotismo, tornando a pátria constantemente “presente” através de múltiplas
formas de representação. [SALINAS FORTES, 1997, p. 132]
As festas cívicas e solenidades públicas tem por finalidade desenvolver vínculos
afetivos com as coisas públicas, vínculos que devem transcender as formalidades. A
finalidade das festas cívicas é frear as tendências egoístas e egocêntricas do amor-próprio,
fazendo com por meio do convívio os indivíduos amem a coisa pública e desenvolvam o
patriotismo, o amor à pátria.

Não descuidai de uma certa pompa pública, que seja nobre, convincente e cuja
magnificência esteja mais nos homens do que nas cousas. Não se pode
imaginar até que ponto o coração do povo acompanha seus olhos, e como o
impressiona a majestade do cerimonial. Isso dá à autoridade um ar de ordem e
de regra, que inspira confiança e afasta as ideias de capricho e de fantasia,
ligadas à do poder arbitrário. [ROUSSEAU, 1962, p.276]

O coração dos homens acompanha antes os seus olhos do que as leis positivas, se
quiser mudar o comportamento de um homem é necessário que se tenha modelos de carne
e osso que exemplifiquem materialmente o que é o certo, e o que é o errado. O grande
número compreende a moral através de exemplos concretos e não de modelos abstratos.

Os exemplos são espelhos nos quais as pessoas modelam sua própria


personalidade, eles fornecem socialmente o “Ideal do Eu” ou Super-ego que estrutura o
aparato psíquico do indivíduo.

Ademais, não é com leis suntuárias que se consegue extirpar o luxo. É preciso
extirpá-lo do fundo dos corações, aí infundindo gostos mais sãos e mais nobres.
Proibir as coisas que não se deve fazer é um expediente inepto e inútil, se não
se começar por fazer que as odeiem e as desprezem, e a reprovação de uma lei
só é eficaz quando vem apoiar a reprovação do juízo. Quem se resolve a
instituir para um povo, deve saber dominar as opiniões e, por meio delas,
governar as paixões dos homens. Isso é verdade sobretudo no tocante ao objeto
de que trato. As leis suntuárias antes estimulam o desejo pelo constrangimento,
do que o extinguem pelo castigo. A simplicidade nos costumes e no vestuário
é mais um fruto da educação do que da lei. [ROUSSEAU,1962, p.277]

Proibir legalmente uma conduta e aplicar a repressão física sobre os violadores da


lei, não é o suficiente para garantir que tal conduta não seja repetida ou reproduzida. Antes

40
de aplicar uma proibição legal é necessário preparar o terreno social, em especial, a
opinião pública sobre tal conduta, é necessário fomentar o desprezo e reprovação pública
em relação a tal conduta.

A maioria dos nossos hábitos ou costumes é antes fruto da educação do que da lei.

Eis o ponto importante. É a educação que deve dar às almas a conformação


nacional e de tal modo orientar suas opiniões e gostos, que se tornem patriotas
por inclinação, paixão e necessidade. Uma criança, ao abrir os olhos, deve ver
a pátria e até a morte não deverá senão vê-la. Todo o verdadeiro republicano
sugou com o leite materno o amor à pátria, isto é, às leis e à liberdade. Esse
amor constitui toda a sua existência; só vê a pátria, só vive pela pátria; desde
que fique só, nada vale; desde que fique sem pátria, não existe mais e, se não
morre, é ainda pior. [ROUSSEAU, 1962, p.277]

A educação é de suma importância para qualquer tipo de sociedade ou regime


político, ela não é só algo importante para o Estado formar indivíduos dóceis às leis
positivas. E nem para o Ego desenvolver os seus talentos e habilidades individuais. A
educação é a forma pela qual as gerações adultas preparam aquelas que ainda não estão
maturas para a vida social, ela busca desenvolver ou maturar as condutas, posturas e
opiniões das futuras gerações. Antes da educação ser algo importante para o Estado ou
para o indivíduo, ela é algo importante para a sociedade. Não se pode educar efetivamente
recorrendo apenas ás boas leis e boas armas, é necessário a autoridade moral dos costumes
e da opinião pública.

No texto “Sociologia (1901)” de Paul Fauconnet (1874 -1938) e Marcel Mauss


(1872- 1950), eles deixam claro que a educação é o processo pelo qual o fato social é
introjetado na psique dos indivíduos.

A educação é precisamente a operação pela qual o ser social é acrescentado em


cada um de nós ao ser individual, o ser moral ao ser animal; é o procedimento
graças ao qual a criança é rapidamente socializada. Estas observações nos
fornecem uma característica do fato social muito mais geral do que a
precedente: são sociais todas as maneiras de agir e de pensar que o indivíduo
encontra preestabelecidas e cuja transmissão geralmente se faz por meio da
educação. [MAUSS, 2001, p.12]

A educação é o modus operandi pelo qual o Ser social é introjetado em cada um


dos indivíduos no processo de socialização. Tal concepção de educação não se esgota na
família e na escola, ela tem uma dimensão política que se faz presente, sobretudo, na vida
adulta através da opinião pública.

Víctor García Hoz (1911-1998) demonstrou na sua obra “Pedagogía visible y


educación invisible: una nueva formación humana” (1987) que a educação além de

41
compreender o esforço formal e sistemático de transmissão de conhecimentos pelas
instituições escolares, oficinas e universidades que se denomina: pedagogia, ela também
contempla aquilo que García Hoz denominou de “educação invisível”. A “educação
invisível” são os habiti, valores e opiniões que são transmitidos pela família, vizinhança,
trabalho e pela própria vida cívica. A pedagogia é a face visível da educação e o convívio
é a face invisível da educação.

A pedagogia visível apoia-se principalmente nas áreas verbal e numérica,


porque a palavra e o número são as expressões adequadas do pensamento
científico, isto é, do pensamento mais sistemático e claramente entendido; a
educação invisível realiza-se principalmente nas áreas não verbais da
comunicação humana, na atitude e comportamento pessoal, no tom da voz, nos
gestos, na atividade como meio de expressão de uma pessoa. [...] A pedagogia
visível costuma dar maior importância ao conhecimento e à aquisição de
destrezas, práticas ou mentais, enquanto a educação invisível está mais perto
das atitudes, da iniciativa, das aspirações pessoais, dos valores.” [GARCÍA
HOZ, 1988, p.16-17]

A educação invisível e a pedagogia não devem ser forças antagônicas, mas forças
mutuamente complementares e interdependentes, a contraposição entre pedagogia visível
e educação invisível é uma armadilha dialética contraproducente.

A educação compreende o conjunto de forças socioculturais e figuras de


autoridade moral que atuam no processo de socialização transmitindo experiências,
conhecimentos e, sobretudo, valores que são introjetados pelo aparato psíquico do
indivíduo formando a sua própria personalidade. A educação não forma um homem
abstrato, mas um tipo de homem idealizado socialmente como padrão sociocultural ou
quadro de referência. Uma sociedade só tem seu funcionamento e existência assegurada
quando as regras sociais são introjetadas pelo aparato psíquico dos indivíduos através da
educação. O dever-ser cívico da educação é formar o bom cidadão, e não existe educação
cívica sem opinião pública.

A educação não está restrita às instituições família e escola durante os períodos


de infância e juventude, o adulto também é educado civicamente através da coerção social
ou pressão psicológica da opinião pública. A opinião pública é uma autoridade moral que
julga publicamente nossas condutas, posturas e opiniões individuais, ela é a censora que
policia a vida social.

Sendo a opinião pública uma autoridade moral que educa civicamente os


indivíduos em nome dos padrões e juízos de valores da sociedade. Temos que ter em
mente as ideias de Émile Durkheim (1858-1917) apresentadas na obra “Educação e

42
sociologia” publicada postumamente, 1922. “Isto significa que a autoridade moral é a
principal qualidade do educador, pois é através desta autoridade contida nele que o
dever é dever. [DURKHEIM, 2011, p.71]. Se toda a autoridade moral é um educador, a
educação tem que ser compreendida num amplo sentido.

A educação não começa e termina na escola, ela opera através de todos as relações
sociais e, inclusive, por meio da opinião pública. Ela começa com a família no berço
naquele momento que a criança abre os olhos admira a mãe e suga o leite materno, a mãe
é a primeira figura de autoridade moral que transmite afetivamente os valores nucleares
da sociedade. A mãe personifica a própria pátria para a criança, pois a família é a cellula
mater da sociedade que reproduz materialmente e moralmente os indivíduos. A
reprodução dos animais é puramente reprodução biológica, já a reprodução humana é
biológica e cultural. Por isso que é difícil para um indivíduo amar uma pátria sem ter nela
raízes familiares.

Não adianta acreditar que podemos educar os nossos filhos como quisermos.
Somos forçados a seguir as regras reinantes no meio social em que vivemos.
[...] estamos mergulhados em uma atmosfera de ideias e sentimentos coletivos
que nós não podemos modificar à vontade. E é em ideias e sentimentos deste
gênero que as práticas educativas se baseiam. Portanto, elas são coisas distintas
de nós, já que resistem à nossa vontade, realidades que têm uma natureza
própria, definida e completa que se impõe a nós. [DURKHEIM, 2011, p.78-
79]

A família é o elo primordial na cadeia de transmissão dos valores nucleares da


sociedade. Os pais não educam os seus filhos de acordo com a sua vontade particular,
eles educam seus filhos para que sejam adultos conscientes, responsáveis e independentes
de acordo com os parâmetros de maturidade da sociedade. Os pais criam os filhos para a
sociedade. As regras familiares são antes o reflexo das regras sociais do que um conjunto
de regras peculiares de um dado tipo de família. Na família se opera o processo de
socialização primordial que torna o indivíduo apto ao convívio social.

6. A opinião pública como a Lei das leis: contribuições para a teoria


do Direito e do Estado.

Uma teoria do Estado não deve contemplar apenas os elementos território, povo,
governo e Constituição. Existe diversas dimensões políticas e socioculturais de igual
importância na formação, conservação e expansão do próprio Estado, um exemplo é a

43
opinião pública. O crédito em governos, instituições e leis tem por base a opinião pública.
Nenhum governo, instituição ou lei vigora sem a fé pública.

A fidúcia pública é o que mantem os governos, instituições e leis vigorando ou


funcionando, a perda ou mudança dessa fé pública gera uma crise institucional ou um
problema grave na operação do sistema jurídico. Todo novo governo, lei ou instituição
necessita do referendo da opinião pública para vigorar.

Hermann Heller (1891-1933) na obra “Teoria do Estado” (Staatslehre) publicada


postumamente, 1934. Demonstrou que os governos, instituições e leis positivas não
devem apenas gozar da legalidade, é necessário que também sejam legítimos perante a
opinião pública. Essa função legitimadora da opinião pública demonstra que ela é uma
força social que todos devem contar.

A força da opinião pública não reside no fato dela ser “verdadeira” ou “falsa”, mas
por ser útil socialmente, ter função social.

A enorme importância política da opinião pública consiste no fato de, em


virtude da sua aprovação ou desaprovação, garantir aquelas regras
convencionais que são a base da conexão social e da unidade estatal. A opinião
pública veio tomar sobre si, em muitos aspectos, a função, que na Idade Média,
exercia a disciplina eclesiástica, de velar pela moral social e especialmente a
política, tarefa que os preceitos jurídicos nunca teriam podido chegar a realizar
por si sós. Neste sentido disse Hegel que a opinião pública encerra em si “os
princípios substanciais e eternos da justiça, o conteúdo verdadeiro e o resultado
de toda a constituição, de toda a legislação e da situação em geral, sob a forma
de sadia razão humana, como base moral que a todos penetra sob o aspecto de
convenções, contendo além disso as necessidades verdadeiras e as retas
tendências da realidade” (Rechtsphilos, § 317). Os mais sólidos princípios da
opinião pública são constituídos por esses princípios jurídicos que o legislador
traduz, em parte, em preceitos jurídicos positivos e que o juiz utiliza como
regras interpretativas do direito positivo. [HELLER, 1968, p.213]

As leis do Direito positivo distinguem-se das regras convencionais por estarem


explicitadas numa Constituição escrita, e ter um conjunto de aparatos repressivos e
burocráticos para garantir a penalização dos violadores da Lei. Mas isto, não significa
que as leis e o próprio direito positivo sejam imunes à força social da opinião pública.
Antes do jurista escrever uma lei é necessário que a opinião pública deseje a sua
existência.

A opinião pública é um dos princípios geradores e mantenedores da própria


sociedade, sua existência antecede o Estado democrático de direito, a sociedade civil
moderna, a imprensa e a escolarização. Tais elementos evidenciam e reforçam a opinião

44
pública, mas não lhe dão origem. A opinião pública nasce com a sociedade, não existe
sociedade sem opinião pública e vice-versa.

A opinião pública é um daqueles poderes originários ou fundadores, geralmente


denominado pelos juristas como o poder constituinte. A opinião pública é a norma
originária que antecede e fundamenta o próprio direito positivo, e garante o vigor ou
vigência das leis positivas. Sendo um poder autônomo que não pode ser delegado ou
representado sem ser alienado, ele é uma norma que ordena a si mesmo, ele não recebe
ordens de ninguém.

Esse poder originário reside na própria sociedade e não numa organização de


funcionários ou aparelho. Por isto que os políticos profissionais nutrem um medo da
opinião pública, já que se trata de uma fonte de poder pré-estatal. Quando concebemos a
opinião pública como um poder originário ou norma fundadora da própria sociedade, não
estamos tratando de um poder extrínseco colocado acima da sociedade como um
alienígena ou corpo estranho, mas de um poder intrínseco ao social chamado de regras
sociais.

Émile Durkheim (1858-1917) na obra “Da Divisão do Trabalho Social” (1897).

De fato, uma regra não é apenas uma maneira habitual de agir; é, antes de mais
nada, uma maneira de agir obrigatória, isto é, que escapa, em certa medida,
do arbítrio individual. Ora, somente uma sociedade constituída desfruta da
supremacia moral e material que é indispensável para impor a lei aos
indivíduos; pois a única personalidade moral que está acima das
personalidades particulares é a formada pela coletividade. Além disso, apenas
ela tem a continuidade e, mesmo, a perenidade necessárias para manter a regra
além das relações efêmeras que a encamam cotidianamente. E mais: seu papel
não se limita simplesmente a erigir em preceitos imperativos os resultados mais
gerais dos contratos particulares, ela intervém de maneira ativa e positiva na
formação de todas as regras. Em primeiro lugar, ela é o árbitro naturalmente
designado para resolver os interesses em conflito e atribuir a cada um os limites
que convém. Em seguida, ela é a primeira interessada em que a ordem e a paz
reinem: se a anomia é um mal, é antes de mais nada porque a sociedade sofre
desse mal, não podendo dispensar, para viver, a coesão e a regularidade. Uma
regulamentação moral ou jurídica exprime, pois, essencialmente, necessidades
sociais que só a sociedade pode conhecer; ela repousa num estado de opinião,
e toda opinião é coisa coletiva, produto de uma elaboração coletiva.
[DURKHEIM, 1999, p.X]

As regras sociais são formadas pelos vínculos de mútua dependência e


responsabilidade que foram gerados a partir dos contatos constantes e duradouros que se
consolidaram em padrões de conduta. Essa regularidade nas relações humanas é uma das
caraterísticas constitutivas das regras sociais. As regras sociais não são só um conjunto
de hábitos, mas normas de condutas, um modo de agir obrigatório. O que caracteriza as

45
regras não é só a sua regularidade, mas a sua obrigatoriedade. As regras sociais devem
ser compreendidas numa dupla dimensão: i. na dimensão do ser como regularidade fáctica
das interações; ii. e na dimensão do Dever-ser como modelo e obrigação.

Através da opinião pública as regras sociais intervêm ativamente na formação e


conservação das leis positivas, a sua autoridade moral exerce coerção ou pressão
psicológicas sobre as posturas, condutas e opiniões dos indivíduos. Somente uma
sociedade de fato é capaz de impor suas regras, em especial, sua opinião sobre as opiniões
particulares. Fazer com que sua personalidade moral ou consciência coletiva esteja acima
das personalidades particulares.

Nos termos de Hermann Heller (1891-1933) na obra “Teoria do Estado” (1934).

A opinião publicamente manifestada não é necessariamente idêntica à que


interiormente se professa, ou a que se exprime em um reduzido círculo de
amigos. [...] Esta opinião pública relativamente firme e permanente tem que se
diferenciar da flutuante opinião política de cada dia. Só a opinião pública firme
possui, no seu juízo, certo caráter unitário e constante, perante o qual a
flutuante opinião de cada dia é considerada, na maioria dos casos
acertadamente, como volúvel, crédula e contraditória. [HELLER, 1968, p.212]

A opinião da sociedade, a opinião pública, além de ser a corrente majoritária das


opiniões, ela transcende a soma gregária das opiniões particulares formando a realidade
sui generis do fato social. Ela é uma autoridade moral cuja a personalidade coletiva exerce
coerção ou pressão psicológica sobre os indivíduos. A opinião pública é um censor que
polícia a moral, censurando não só as condutas que violam as leis positivas, mas também
as posturas e opiniões que não estão de acordo com as regras sociais.

Diante dos grandes problemas e temas polêmicos só existe um árbitro ou tribunal


naturalmente designado para resolver os conflitos sem tomar partido de uma das partes,
o tribunal da opinião pública. A opinião pública é o lado mais interessado na busca do
ponto pacífico e manutenção da ordem diante dos conflitos, ela age para promover a
norma e não a anomia.

A sociedade é o produto da elaboração coletiva que repousa num estado, o estado


da opinião pública. Por isso, eu não descrevo a opinião pública com as mesmas palavras
do Maximilien Robespierre (1758-1794) “O Império da opinião pública sobre as
opiniões particulares é doce, salutar, natural, irresistível: o da autoridade e da força é
necessariamente tirânico, odioso, absurdo, monstruoso” A opinião pública faz parte das
regras sociais que regulam o convívio humano, ela é um dos princípios de autoridade que

46
qualifica alguém ao comando – a opinião pública tem o poder de autorizar e desautorizar
ações, leis e governos. A opinião pública é um tipo de autoridade legitimadora que garante
a vigência das leis positivas e do governo, eles devem contar com a opinião pública para
não serem considerados ilegítimos.

A opinião pública não age por meio da força, repressão ou coação, mas através da
coerção moral ou pressão psicológica. O julgamento público opera como censor moral
que julga publicamente a reputação dos atos, posturas e opiniões. O status social ou a
reputação de um indivíduo deriva do tribunal da opinião pública.

Isso fica muito claro nas ideias de John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778). A Lei da Opinião, nos termos de Locke e Rousseau, além de ser
uma espécie de lei que legitima as leis positivas e governos. Tal Lei também julga a
reputação, a honra, a fama ou status social dos indivíduos colocando suas ações,
posicionamentos e opiniões diante de um tribunal público da moral.

As Leis (lato sensu) são o conjunto de normas e parâmetros que separam: o certo
do errado; o bem do mal; o justo do injusto; o amigo do inimigo etc. É nas leis que reside
o princípio de autoridade que todos devem se submeter, e não no arbítrio do mais forte,
astuto ou esperto. E aquele que violar a lei deve sofrer penalização física ou psicológica.

John Locke (1632-1704) na obra “Ensaio acerca do entendimento humano”


(1689) classifica em três tipos de leis – i. lei divina; ii. lei civil; e iii. lei de opinião ou
reputação - os parâmetros pelos quais os homens avaliam os seus atos, posturas e opiniões
julgando se são corretas ou incorretas. Com a lei divina os homens julgam se seus atos
são pecaminosos ou louváveis. Por meio da lei civil julgam se seus atos são inofensivos
ou danosos, e pela lei da opinião ou reputação julgam se suas ações são virtuosas ou
viciosas.

As leis com as quais os homens geralmente relacionam suas ações para julgá-
las corretas ou incorretas podem, a meu ver, compreender as três seguintes: 1)
a lei divina; 2) a lei civil, e 3) a lei de opinião ou reputação, se posso assim
denominá-la. Pela sua relação com a primeira, os homens julgam se suas ações
são pecaminosas ou respeitosas; em função da segunda, se são criminosos ou
inocentes, e, finalmente, em função da terceira, se são virtuosos ou pecadores.
[LOCKE, 2000, p.135]

Para Locke são essas Leis – 1) lei divina; 2) a lei civil; e 3) a lei de opinião ou
reputação também chamada de lei filosófica - os parâmetros pelos quais os homens
julgam a retidão das suas ações, e entre essas leis é a lei da opinião ou da reputação que

47
tem maior peso no julgamento das ações humanas. Já que é o impacto positivo ou
negativo de uma ação na vida pública aquilo que a classifica como virtuosa ou viciosa.

“Para Locke, a maior parte dos homens se pauta por essa lei, [Lei da opinião ou
da reputação], acima das outras duas [lei divina e lei civil]. Sobre as leis divinas e sobre
as penas que delas decorrem, poucos fazem reflexões sérias e, quando as fazem,
principalmente quando infringem essas mesmas leis, não as levam muito em
consideração porque acreditam que um dia se reconciliarão com Deus. Quanto às leis
civis, os homens frequentemente se gabam, na esperança da impunidade. Resta apenas
a lei da opinião, a mais temível de todos.” [MEIRA DO NASCIMENTO, 2016, p.42]

Nos termos de Locke.

A lei filosófica é a medida do vício e da virtude. Terceiro, segundo Lei da


opinião ou da reputação, o “vício” e a “virtude” são nomes pretendidos e
supostos em toda parte como indicadores das ações em sua própria natureza
como certas e erradas. Enquanto são aplicadas dessa maneira, coincidem com
a lei divina antes mencionada. Entretanto, seja o que for que se pretenda, tem-
se como evidente que os nomes “virtude” e “vício”, nos casos específicos em
que se aplicam, através de várias nações e sociedades humanas do mundo,
atribuem-se com constância e apenas às ações consideradas por cada país e
sociedade como reputáveis ou maléficas. Nem é de estranhar que os homens
em toda parte atribuam o nome “virtude” às ações julgadas merecedoras de
recompensa, e denominem “vício” tudo o que é considerado condenável, já
que, se tomassem outra atitude, se condenariam, ou seja, apesar de julgarem
uma ação correta, não permitiriam que fosse louvada, ou não permitiriam que
uma ação errada deixasse de ser condenada. Deste modo, em toda parte a
medida daquilo que se denomina e se considera virtude e vício consiste em sua
aceitação ou rejeição, em seu louvor ou condenação. Estabelece, assim, por um
secreto e tácito consentimento, em várias sociedades, tribos e grêmios de
homens no mundo, um conjunto de ações que são julgadas por eles meritórias
ou condenáveis, segundo o julgamento, as máximas e os costumes de certo
lugar. A medida que os homens geralmente aplicam para determinar o
que chamam de vício ou virtude. Esta é a medida comum da virtude e do
vício, que manifestará a cada um que a considera, embora o que é visto como
vício possa num certo país ser considerado virtude, ou pelo menos, não vício,
em outro; não obstante, em toda parte andam juntos virtude e louvor, vício e
censura. Em toda parte a virtude é aquilo que se pensa digno de louvor:
nenhuma outra coisa, exceto o que tiver a sanção do respeito público, se
denomina virtude. [LOCKE, 2000, p.135-136]

Um ato de importância pública serve como modelo ou exemplo do que deve ser
feito ou do que não deve ser feito. O que deve ser feito é louvável, e o que não deve ser
feito é condenável. Existe na vida pública a dimensão do Dever-ser, ou seja, daquilo que
é modelar e obrigatório. As ações louváveis merecem recompensa pública, prestígio ou
fama, e as ações condenáveis merecem punição, repúdio e desaprovação geral. “A lei

48
da opinião tem o seu suporte no louvor e na reprovação, sua função é a de árbitro da
virtude e do vício.” [MEIRA DO NASCIMENTO, 2016, p.41]

Dentro da vida pública as ações humanas se colocam numa vitrine, e é por isso
que ganham um caráter modelar positivo ou negativo. As penas e recompensas dos atos
públicos são feitas publicamente para que sirvam de modelo ou exemplo daquilo que é
negativo ou positivo à sociedade.

Max Weber (1864-1920) em seu texto “Sobre algumas categorias da Sociologia


compreensiva” (1913), e no ensaio “Conceitos sociológicos fundamentais” publicado
postumamente, 1921. Fornece importantes elementos para refletir sobre a ação humana,
em especial, a ação social que opera dentro do contexto da vida pública ou social.

No ensaio “Conceitos sociológicos fundamentais” Weber deixa claro o que ele


entende por sociologia, e o tipo de ação humana que ele classifica como ação social.

Deve entender-se por sociologia (no sentido aceito desta palavra que é aqui
empregado das mais diversas maneiras possíveis) uma ciência que pretende
entender pela interpretação a ação social para, desta maneira, explicá-la
causalmente no seu desenvolvimento e nos seus efeitos. Por “ação” deve
entender-se um comportamento humano [...] sempre quando o sujeito ou
sujeito da ação ligam a ela um sentido subjetivo. A “ação social”, portanto, é
uma ação na qual o sentido sugerido pelo sujeito ou sujeitos refere-se ao
comportamento de outros e se orienta nela no que diz respeito ao seu
desenvolvimento. [WEBER, 2016, p.612-613]

Apesar de toda relação de ação e reação terem certas características sociais, nem
todas as ações humanas são tipicamente ações sociais. Só é uma ação social quando o
sentido da ação é dirigido ou orientado conscientemente pelas reações dos outros, no caso,
pela opinião pública. O choque inconsciente ou involuntário entre dois corpos é um
contato acidental que não foi provocado, portanto, não é uma ação social. Agora quando
esse choque tem a intenção de provocar uma reação no outro ou no público, tal choque
parte de uma ação social.

Quando numerosos indivíduos numa rua abrem ao mesmo tempo seus guarda-
chuvas durante um temporal chuvoso, estamos diante de uma multidão e não de um
público. Não existe um sentido social ou publicamente compartilhado no ato de abrir os
guardas chuvas.

49
A opinião pública orienta socialmente a ação humana pelo fato dos agentes
humanos orientarem os seus atos com base nas expectativas subjetivas formuladas sobre
qual será a reação da opinião pública.

Para garantir a existência material e cultural da sociedade, a Ordem, é necessário


que a vida comum (res publica) não seja apenas assegurada por leis positivas e armas.
Além das leis positivas - i as leis políticas que regulam as relações entre os cidadãos e o
governo, esse órgão composto de funcionários que executam a vontade dos cidadãos; ii.
as Leis Civis que regulam as relações dos cidadãos entre si; iii. as Leis criminais que
regulam o grau e tipo de penalização dos crimes -, Rousseau demonstra que existe uma
espécie de Lei que antecede as leis positivas, e sua vigência está além das próprias leis
positivas, a Lei dos costumes ou da opinião.

A essas três espécies de leis - [leis políticas, leis civis e leis criminais] - , junta-
se uma quarta [ a lei dos costumes ou da opinião], a mais importante de todas,
que não se grava nem no mármore, nem no bronze, mas nos corações dos
cidadãos; que faz a verdadeira constituição do Estado; que todos os dias ganha
novas forças; que, quando as outras leis envelhecem ou se extinguem, as
reanima ou as supre, conserva um povo no espírito de sua instituição e
insensivelmente substitui a força da autoridade pela do hábito. Refiro-me aos
usos e costumes e, sobretudo, à opinião, essa parcela desconhecida por nossos
políticos, mas da qual depende o sucesso de todas as outras; parte de que se
ocupa em segredo o grande Legislador, enquanto parece limitar-se a
regulamentos particulares que não são senão o arco da abóbada, da qual, os
costumes, mais lentos para nascerem formam por fim a chave indestrutível.
[ROUSSEAU, 1962, p.56]

As leis positivas são, em tese, a expressão formal da vontade geral ou coletiva que
é transcrita juridicamente numa constituição escrita, cujo o comprimento desse código
jurídico é assegurado pelo uso legal da força dos aparatos repressivos de Estado. O código
legal nasce antes da vontade geral do que da arbitrariedade engenhosa dos juristas. As
leis positivas são a forma mediada pela qual a personalidade moral da sociedade garante
fisicamente sua autoridade através da coação ou repressão estatal. Já os costumes e a
opinião pública são as formas imediatas pela qual a personalidade moral da sociedade
garante psicologicamente sua autoridade através da coerção moral ou pressão psicológica.

Lourival Gomes Machado (1917-1967) demonstrou que os costumes e a opinião


pública são para Rousseau aquilo que os sociólogos denominam de regras sociais, ou seja,
as leis espontâneas e orgânicas do próprio corpo político, a verdadeiro constituição do
Estado no sentido clássico do termo – o Estado como sinônimo de Sociedade - repousa
na opinião pública e nos costumes.

50
E não é, sem dúvida simples exigência do decantado moralismo de Rousseau
o acrescentar que “usos, costumes e, sobretudo, a opinião” constituem a mais
importante espécie de lei, embora “não se gravem nem no mármore, nem no
bronze, mas nos corações dos cidadãos”, pois essas normas, surgidas
diretamente das relações e por elas consagradas, podem ser tidas como “a
verdadeira constituição do estado” desde que representam a mais direta e
autêntica expressão do social e, portanto, a constante referência e corretivo do
político. [MACHADO,1968, p.179]

Nos termos de Luiz Roberto Salinas Fortes (1937-1987).

Os costumes e a opinião pública são, assim, o corpo efetivo da nação. É preciso


formá-los, levando em conta as condições naturais da existência do povo
determinado, a fim de que, uma vez existentes, eles se imponham de fato a
todos os membros da comunidade com a força de uma lei natural. [...] a
aprovação que se deve buscar, a opinião que se deve desejar e os olhares que
devemos buscar são os do público. É necessário, assim, que se constitua uma
opinião pública e que ela prevaleça sobre as opiniões particulares, de grupo, de
castas ou de partidos. ” [SALINAS FORTES, 1997, p.131]

Antes da lei positiva existir suas fontes e garantias são os costumes e a opinião
pública. Os costumes e a opinião pública são a forma espontânea e orgânica pela qual a
vontade geral do Corpo político ou vontade coletiva do Ser social se manifesta. As leis
positivas podem ser mecânicas e artificias, mas a os costumes e a opinião pública serão
sempre a expressão natural do corpo político ou do Ser social.

Os costumes são formas de controle social que operam psicologicamente de modo


subconsciente ou não-consciente pelo hábito. “O hábito é aqui efetivamente uma segunda
natureza, assim como é efetivamente uma outra tradução da vontade geral.” [SALINAS
FORTES, 1997, p.121]. Já a opinião pública explicita o Ser social, não é tácita, opera
através do julgamento público dos atos, posturas e opiniões dos indivíduos.

Por conseguinte, a opinião pública é dita uma “espécie de lei”. Mas por que
são considerados os costumes e sobretudo a opinião uma espécie de gênero
Lei? A lei é uma declaração da vontade geral, é a voz através da qual ela se
exprime. A opinião pública, portanto, é também uma declaração, uma
expressão da vontade geral. Ela é, porém, não apenas por este seu caráter, mas
porque atua de uma maneira mais eficaz do que todos os sistemas de legislação,
quase com a força de uma lei natural. É por isso, como vimos, que dela todo o
resto do edifício depende. [SALINAS FORTES, 1997, p.121]

A lei dos costumes ou da opinião pública é a mais importante de todas as leis, ela
antes de estar expressa na letra da lei ou constituição, está impressa na mente dos
indivíduos. Ela foi introjetada na psique dos indivíduos durante o processo de
socialização, exercendo uma coerção moral sobre os atos, posturas e opiniões dos
indivíduos. Não existe organismo social ou corpo político sem os costumes e a opinião
pública. Para constituir uma sociedade não basta dispor das boas leis e das boas armas, é

51
necessário que exista uma disposição social ao cumprimento do dever que é algo formado
apenas por meio dos costumes e da opinião pública. As leis positivas e as armas
envelhecem ou podem ser instrumentalizadas de forma autoritária, mas se os costumes e
a opinião pública forem fortes a tirania será contida.

Os costumes e a opinião pública são a fonte de autoridade de todas as leis, são o


poder originário ou norma originária cujo a força reside no próprio organismo social.

Karl Mannheim (1893-1947) na obra “Sociologia Sistemática: uma Introdução ao


estudo da sociologia” publicada postumamente, 1957. Demonstrou que a coesão e
estabilidade da Ordem não se resume no uso legal da força, os aparelhos repressivos de
Estado além da coação física da lei, o controle social se faz através dos costumes e da
opinião pública exercendo a coerção moral sobre a psique dos indivíduos.

O que garante a estabilidade de um dado sistema? Por que os indivíduos


obedecem a certas regulamentações das suas atividades? Os controles sociais
são os responsáveis pela ordem e pela estabilidade da sociedade. O controle
social é conjunto dos métodos pelos quais a sociedade influencia o
comportamento humano, tendo em vista manter uma determinada ordem.
Existem centenas de controles operando numa sociedade, embora sua
existência passa despercebida. [ MANNHEIM, 1962, p.189]

O controle social dispõe de diversos meios e organizações para moldar


socialmente o comportamento dos indivíduos. Ele não opera somente por aparatos
repressivos de poder, exemplos: tribunal e polícia, ele também opera de forma capilar
através das próprias relações sociais, o controle mútuo entre indivíduos, exemplos desse
controle mútuo são: os costumes; e a opinião pública. Os costumes são formas de controle
social que operam de modo subconsciente ou não-consciente pelo hábito. Já a opinião
pública é uma forma de controla social explicita que opera através do julgamento público
dos atos, posturas e opiniões dos indivíduos. Os costumes e a opinião pública são as
formas pela qual a autoridade moral da própria sociedade se manifesta.

O funcionamento do controle está baseado na existência da autoridade.


Existem pessoas de autoridade, existem afirmações de autoridade. Não há
ordem social sem autoridade, mas as fontes dessa autoridade podem ser
diversas. A fonte da autoridade pode ser a norma, a tradição, a lei estabelecida
ou as palavras de um profeta ou santo. Tanto os anarquistas quanto os adeptos
da força bruta estão equivocados ao supor que a ordem social possa ser
construída sem autoridade e esta não pode fundamentar-se apenas na ameaça
de violência. A maior parte das sociedades está baseada num elaborado sistema
de controles, dos quais a força física constituiu, tão somente, um último
recurso. Os controles existentes são, quase todos, mutuamente dependentes e,
quando um se enfraquece, é imediatamente substituído pelo outro.
[MANNHEIM, 1962, p.190]

52
Não existe ordem social sem autoridade, pensar na existência de uma ordem social
sem a existência da autoridade é conceber uma utopia. A autoridade é aquilo que qualifica
alguém ao comando, e a fonte da autoridade ou princípio de autoridade tem por base
fundamentos sociais que transcendem as habilidades e virtudes pessoais do líder. Suas
fontes ou princípios podem ser: o direito positivo; as crenças religiosas; os costumes e a
opinião pública etc. É um erro pensar que a autoridade só possa se embasar no uso da
violência, o uso força é um dos últimos recursos da autoridade e não a sua fonte. As fontes
ou princípios de autoridade residem na sociedade e não na brutalidade.

As Leis devem assegurar a existência material e cultural da sociedade penalizando


física e psicologicamente os violadores da Ordem. Isso só possível se as leis positivas
refletirem os costumes e a opinião pública, caso contrário, a Lei positiva violenta o corpo
político que ela jurou defender. Uma lei positiva que viola os costumes e a opinião pública
não só corrompe a sociedade, mas coloca suas armas à serviço dos inimigos da vontade
geral.

Assim como a declaração da vontade geral se faz pela Lei, a declaração do


julgamento público se faz pela censura. A opinião pública é a espécie de lei
cujo ministro é o censor, que só faz aplica-la aos casos particulares, a exemplo
do príncipe. O tribunal censório, longe pois de representar o árbitro da opinião
do povo, não passa de seu declarador e, desde que disso se afasta, suas decisões
tornam-se vãs e sem efeito” [ROUSSEAU, 1962, p,110]

As leis positivas devem trabalhar com a opinião pública, mas nunca serão o seu
representante pelo fato da representação alienar o soberano. O tribunal ou órgão censor
que se considera o porta-voz ou representante da opinião pública, está na verdade se
travestindo de vontade geral e consciência coletiva para poder manipular os homens e
assim satisfazer a sua vontade particular.

A opinião pública é o próprio censor e tribunal da opinião, e nenhum órgão pode


representar a opinião pública sem aliená-la. Nos termos de Rousseau “já disse, em outro
ponto , que não estando submetida a opinião pública à coerção, não se necessita de
qualquer indício, no tribunal estabelecido, para representa-la.” [ROUSSEAU, 1962,
p.111]

Uma nação valoriza tudo aquilo que a opinião pública estima, a reputação dos
homens e das coisas reside no juízo público, não podemos esquecer que viver em
sociedade é viver policiado pela opinião pública. O indivíduo numa sociedade só enxerga
o próprio Ego a partir dos olhos de outrem. O que a opinião pública julga como o bem, o

53
belo e o justo é aquilo que uma sociedade considera como bondade, beleza e justiça, e
aqueles que se contrapõem à opinião pública não são considerados apenas opositores, mas
inimigos da sociedade.

É inútil distinguir os costumes de uma nação dos objetos de sua estima, pois
tudo se prende ao mesmo princípio e se confunde necessariamente. Entre todos
os povos do mundo não é em absoluto natureza, mas a opinião que decide a
escolha de seus prazeres. Melhorai as opiniões dos homens, e seus costumes
purificar-se-ão por si mesmos. Ama-se sempre aquilo que é belo ou que se
julga belo. E, porém, nesse julgamento que surge o engano, sendo, pois,
necessário regulá-lo. Quem julga os costumes, julga a honra, e quem julga a
honra, vai buscar sua lei na opinião. [ROUSSEAU, 1962, p,110-111]

A opinião pública educa os indivíduos censurando suas condutas e opiniões, ela é


a polícia dos bons costumes.

“A censura mantém os costumes, impedindo as opiniões de se corromperem,


conservando a sua retidão por meio de aplicações sábias e até algumas vezes, fixando-
os, quando ainda se mostram incertos.” [ROUSSEAU, 1962, p.111]

O poder de censurar ou de policiar os costumes é um dado caraterístico da opinião


pública, é esse tipo de poder que caracteriza sua autoridade moral.

Rousseau chama a atenção do próprio Legislador, no sentido clássico do termo,


para que ele não despreze de modo algum a opinião pública.

“Assim como, antes de erguer um grande edifício, o arquiteto observa e sonda o


solo para verificar se sustentará o peso da construção, o instituidor sábio não começa
por redigir leis boas em si mesmas, mas antes examina se o povo a que se destinam
mostra-se apto a recebe-las.” [ROUSSEAU, 1962, p.48]

Aquele que projeta as “boas” instituições e formula as “boas” leis deve antes de
implementá-las examinar o terreno dos costumes e da opinião pública para ver se tais leis
e instituições formuladas são compatíveis ou refratarias. Caso, essas leis e instituições
não tenham certas raízes socioculturais serão consideradas coisas esdrúxulas ou seres
alienígenas que foram transplantadas por agentes colonizadores. Antes de se implementar
uma nova lei ou instituição é necessário um longo processo de adaptação e aceitação da
nova instituição ou lei pela opinião pública para depois ser assimilada pelos costumes.

Rousseau na Carta a d'Alembert sobre os espetáculos (1758) além de explicar a


função social, cultural e política do teatro e dos espetáculos, e apresentar os elementos

54
para uma teoria da crítica cultural. Ela também apresenta elementos importantes para
refletir sobre a força crítica da opinião pública em relação à formulação arbitrária de
novas leis e o transplante de instituições alienígenas. A opinião pública julga como
alienígena ou ameaça qualquer elemento estranho aos bons costumes do povo.

Para Rousseau existem três espécies de instrumentos com os quais se pode agir
sobre os costumes de um povo. “Conheço unicamente três espécies de instrumentos com
o auxílio dos quais se pode agir sobre os costumes de um povo: a força das leis, o império
da opinião e a atração do prazer.” [ROUSSEAU,1958, V.I, p.350] Entre esses três
instrumentos Rousseau não inclui as armas ou a repressão como meio eficaz de agir sobre
os costumes. Ele considera a opinião pública como o meio mais eficaz para se agir sobre
os costumes de um povo, meio muito mais eficaz do que as leis positivas. A lei positiva
quando é imposta sobre um contexto sociocultural refratário aos seus fundamentos, tal lei
não vigora, não tem função social, é letra morta que só serve para tornar as relações
humanas ainda mais complicadas e conflituosas.

Uma outra observação, não menos importante, é a referente ao fato de que as


coisas relacionadas com os costumes e a justiça universal não se
regulamentam, como as da justiça particular e do direito rigoroso, por meio de
editos e de leis ou, se, algumas vezes, as leis influem nos costumes, isso se dá
somente quando deles tiram a sua força. As leis retribuem então aos costumes
essa mesma força, por uma espécie de reação muito conhecida dos verdadeiros
políticos. A primeira função dos éforos de Esparta, ao entrarem em ação,
consistia numa proclamação pública pela qual incitavam os cidadãos, não a
observar as leis, mas a amá-las a fim de que a sua observância não lhes fosse
penosa. Tal proclamação, que não pode ser considerada como um formulário,
mostra perfeitamente o espírito da instituição de Esparta, pela qual as leis e os
costumes intimamente ligados nos corações dos cidadãos formavam neles, por
assim dizer, um corpo único. [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.384]

A opinião pública é um importante agente da conservação ou mudança social. As


leis positivas só influenciam realmente os costumes quando elas encontram uma situação
onde a opinião pública lhe é favorável. Antes de se mudar os costumes se deve mudar o
estado da opinião pública, não se modifica os costumes do povo com leis, e ainda menos
com armas ou violência.

Por que meios poderá, então, agir o governo sobre os costumes? A minha
resposta e: pela opinião pública. Se nossos hábitos na solidão nascem de nossos
próprios sentimentos, em sociedade originam-se da opinião dos outros.
Quando não se vive em si mesmo, mas nos outros, são os julgamentos destes
que tudo regulam. Aos particulares só parecerá bom e desejável aquilo que o
público julgou como tal e a única felicidade conhecida pela maioria dos
homens é serem considerados felizes. [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.384-385]

55
Um governo ou uma potência estrangeira só pode agir sobre costumes de um povo
através da opinião pública, ele pode até ter formulado as leis mais desenvolvidas do
sistema jurídico e ainda dispor do melhor arsenal militar. Mas mesmo assim isso não é o
suficiente para mudar o caráter de uma sociedade, uma sociedade só muda através da
opinião pública.

“Se um governo - afirmou, na Assembleia de Frankfurt em 1849 o deputado por


Stuttgart, Zimmermann -, é apoiado pela opinião pública, a força física, militar de que
disponha, por pequena que seja, ver-se-á, por isso, centuplicada.” [HELLER, 1968,
p.218]

Quem quiser modificar o modo de vida de uma sociedade ou povo, é necessário


que se torne antes o dirigente intelectual e moral da opinião pública do que o dominante
no campo econômico e militar.

“Quanto à escolha dos instrumentos apropriados para dirigir a opinião pública


[...] tais instrumentos não são leis ou penas ou qualquer espécie de meios coativos. [...].
Suas únicas armas deveriam ser a honra e a infâmia, nunca o uso de qualquer
recompensa útil, punição corporal, nenhuma prisão ou sentença, nenhuma guarda
armada...” [ROUSSEAU, 1958, V.I, p.385]

Os instrumentos apropriados para dirigir a opinião pública não são as leis positivas
e ainda menos as armas, o uso violência sobre a opinião pública é sempre mais
contraproducente do que producente. Aquela personalidade ou grupo que deseja dirigir
a opinião pública deve fazer com que sua opinião seja honrada, reputada, estimada, ou
seja, goze de altíssimo status social tornando-se o status quo.

“As opiniões públicas, embora tão difíceis de se governarem, são, todavia, por si
mesmas, muito volúveis e mutáveis.” [ROUSSEAU, 1958, V.I., p,390]

As opiniões são difíceis de controlar de forma arbitrária, não é fácil submeter a


opinião pública ao mando de uma vontade particular pessoal ou grupal, mas disso não se
deduz que ela seja algo estático, a opinião pública é uma força social dinâmica.

George Santayana (1863-1952) retrata muito bem esse caráter ondular da opinião
pública. “A opinião pública é como o vento. Torna-se, algumas vezes, uma força
formidável, algo em que o homem se vê metido ou contra o qual luta; e, contudo, é

56
invisível, surge repentinamente em rajadas e borrascas, e desaparece misteriosamente.”
[SANTAYANA, 1970, p.90]

A opinião pública é uma força social oceânica que vai da calmaria à agitação e
volta de novo à calmaria, hora é marola, hora é tsunami.

“Assim tem de ser; nem a razão, nem a virtude ou as leis vencerão a opinião
pública, enquanto não se encontrar a arte de mudá-la. Ainda uma vez, essa arte nada
tem a ver com a violência.” [ROUSSEAU, 1958, V.I., p.386]

A arte política consiste antes em saber formar e manusear a opinião pública do


que em desenvolver as virtudes, a razão e as leis. Tal arte política não tem relação com o
uso das armas ou violência. Essa arte de formar e manusear a opinião pública é o que
caracteriza a arte política e o político, e a distingue das artes do filósofo, jurista e militar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO Fernando, Princípios de Sociologia: pequena introdução ao estudo da


sociologia geral. 11.ed. São Paulo, Duas Cidades, 1973.

CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinião: o novo jogo político. Tradução de Guilherme


João de Freitas Teixeira, Petrópolis, Rio de Janiero, Editora: Vozes, 1996.

DURKHEIM, Émile. As Regras do método sociológico. 3ª ed. Martins Fontes, São


Paulo, 2007

DURKHEIM Émile, Educação e Sociologia, Rio de Janeiro, Vozes, 2011.

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia. 1ª ed. Martins Fontes, São Paulo, 2002

DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1ª ed. Martins Fontes, São


Paulo, 2000.

DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. 2ª ed. Martins Fontes, São Paulo,
1999.

ELIAS, Norbert. Escritos &Ensaios I: Estado, processo, opinião pública. Jorge Zahar,
Rio de Janeiro. Ed. 2006

FERREIRA, Oliveiros S. Os 45 cavaleiros húngaros Hucitec ed. UnB , SP-Brasília,


1986.

FREUD Sigmund, Volume 12, textos (1914-196). Introdução ao Narcisismo, Ensaios


de Metapsicologia e Outros Textos, São Paulo Companhia das Letras, 2010

GARCÍA HOZ, Víctor. Pedagogia visível: educação invisível, Editora Nerman, São
Paulo, 1988.

57
HELLER, Hermann. Teoria do Estado. Tradução de Lycurgo Gomes da Motta, São
Paulo: Mestre Jou, 1968.

HUBERT, Henri (1872-1927). Estudo Sumário da Representação do Tempo na Religião


e na Magia (1900 – 1901) . Organização e edição Rafale Faraco Benthien, Miguel Soares
Palmeira, Rodrigo Turin. Edição Bilíngue e crítica. São Paulo, Editora da Universidade de São
Paulo. 2018.

LIPPMANN, Walter (1889-1974). Opinião pública.(1922) Tradução e prefácio de


Jacques A. Wainberg, Petrópolis, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2008.

LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano, Tradução de Anoar Aiex, Nova
Cultural, 2000.

MANNHEIM, Karl. Diagnóstico de Nosso tempo. Editora: Zahar editores, Rio de


Janeiro, 1961.

MANNHEIM Karl, Sociologia Sistemática: uma introdução ao estudo da sociologia.


Tradução de Marialice Mencarini Foracchi, Editora Livraria Pioneira, São Paulo, 1962.

MANNHEIM, Karl (1893-1947). Ideologia e Utopia. (1929) Tradução de Sérgio


Magalhães Santeiro. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

MAUSS, Marcel, Ensaios de Sociologia. São Paulo, Ed. Perspectiva, 2ºedição, 2001.

MAUSS, Marcel. Relações Reais e Práticas entre a Psicológica e a Sociologia.


Organização e Edição: Marcia Consolim, Noemí Pizarroso López e Raquel Weiss. Edição
bilíngue e crítica; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo; 2018.

MACHADO, Lourival Gomes. A política de Jean-Jacques Rousseau; Homem e


sociedade na teoria política de Jean-Jacques Rousseau. São Paulo: Martins Fontes; Edusp, 1968.

MIRANDA ROSA, Felippe Augusto de. Sociologia do direito: o fenômeno jurídico como
fato social. 10ªed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.

MEIRA DO NASCIMENTO, Milton. Opinião pública e Revolução: aspectos do discurso


político na França Revolucionária. 2ed. Discurso Editorial, São Paulo, 2016.

MEIRA DO NASCIMENTO, Milton. A constituinte em debate: colóquio realizado de 12


a 16/05/86, por iniciativa do Depto. De Filosofia da USP, sob a coordenação dos Porf. Luiz
Roberto Salinas Fortes e Milton Meira do Nascimento: São Paulo, SOFIA editora SEAF, 1987.

58
MEILLET, Antoine; Como as palavras Mudam de Sentido (1904-1905). Organização e
edição Rafael Faraco Benthien, Miguel Soares Palmeira; Edição Bilíngue e Crítica. São Paulo,
Editora da Universidade de São Paulo, 2016.

MONZÓN ARRIBAS, Cándido. La opinión pública. Teoría, concepto y métodos.


Editora: Tecnos. Madrid. 1987

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social.


Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 2003.

ORTEGA Y GASSET José. História como sistema Mirabeau ou o politica, Brasilia,


Editora Universidade de Brasilia, 1982.

ORTEGA Y GASSET, José. A Rebelião das Massas. Tradução de Herrera Filho, Ed.
Ridendo Castigat Mores, Versão Virtual PDF, 2005.

ORTEGA Y GASSET, José. O Homem e a Gente – inter-comunicação humana. Nota


introdutória e tradução de J. Carlos Lisboa, 2ª Edição, Editora Libro Ibero-americano, Rio de
Janeiro, 1973.

ORTEGA Y GASSET, José. História como sistema. Mirabeau ou o político. Tradução


de Juan A. Gili Sobrinho e Elizabeth Hanna Côrtes Costa. Brasília, Editora Universidade de
Brasília, 1982.

POCOCK, John Greville Agard. Linguagens do Ideário Político. Organizado Sergio


Miceli e traduzido por Fábio Fernandez. 1.ed. 1.reimpressão. São Paulo, Editora da Universidade
de São Paulo, 2013

QUINTÁS, Alfonso López (1928). A tolerância e a Manipulação. Edição original: La


tolerancia y la manipulación, Rialp, Madrid (2017). 1 ed. São Paulo, É Realizações, tradução:
Gabriel Perissé. 2018.

RECASÉNS SICHES, Luis. Tratado general de sociología, México, Editora Porrúa, 22ª
edição, 1991.

RECASÉNS SICHES, Luis. Introducción al Estudio del Derecho, México, Editora


Porrúa, 12ª edição, 1997.

ROUSSEUA, Jean-Jaques. Emílio ou Da educação. Tradução de Sérgio Milliet,


3ªed.,Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1995.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes; Discurso sobre a


origem e o fundamento da desigualdade entre os homens; Da economia política; Carta a D’

59
Alembert sobre os espetáculos. In: Obras de Jean-Jacques Rousseau. Volume I. Tradução de
Lourdes Santos Machado; revisão de Lourival Gomes Machado; introdução e notas de Paul
Arbousse-Bastide. Porto Alegre: Globo, 1958.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato social; Da sociedade geral do gênero humano;


Projeto de constituição para a Córsega; Cartas ao Sr. Buttafuoco; Considerações sobre o
governo da Polônio; Os projetos de Saint-Pierre; Ensaio sobre a origem das Línguas. In: Obras
de Jean-Jacques Rousseau. Volume II. Tradução de Lourdes Santos Machado; revisão de
Lourival Gomes Machado; introdução e notas de Paul Arbousse-Bastide. Porto Alegre: Globo,
1962.

SALINAS FORTES, Luiz Roberto. Paradoxo do espetáculo: política e poética em


Rousseau. São Paulo, Discurso Editorial, 1997.

SANTAYANA, George. Alternativas para o liberalismo e outros ensaios. Org. Daniel


Cory. Zahar Editora, Rio de Janeiro, 1970.

SIMIAND, François (1873-1935). A Moeda, Realidade Social (1934); organização e


edição bilíngue de Rafael Faraco Benthien e Miguel Soares Palmeira: Tradução de Rafael Faraco
Benthien. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2018

STRAUSS, Leo. Introdução à filosofia política: dez ensaios. Introdução e apresentação


de Hilail Gildin. Tradução, posfácio e notas de Élcio Verçosa Filho, 1ªed. São Paulo, É
Realizações, 2016.

VITA, Luís Washington. Tríptico de ideias. Editorial Grijalbo; Editora Universidade de


São Paulo (edusp); 1967.

WEBER, Max. Metodologia das ciências sociais. Tradução de Augustin Wernet;


Introdução à edição brasileira de Maurício Tragtenberg. 5ª ed. Editora Cortez/Unicamp, São Paulo
e Campinas, 2016.

WRIGHT MILLS, Charles. Poder e Política, Rio de janeiro, Editora: Zahar editores,
1965.

60
61

Você também pode gostar