Você está na página 1de 76

PARTE Ira

TEXTO LA TINO E VERSÃO PORTUGUESA

A tradução apresentada em seguida é baseada na edição


LTÍtica de Adriaan P a t t in, Le Liber de Causis, édition étahlie à
/ 'aide de 90 ms a vec int roduction e n o tes (TvFil 28 ( 1 966) p . 90-
203 e da edição de Pien-e Magn ard et a l i i . La Demeure de / ' être .
,

1\ 11to u r d 'zm anonyme. Paris, Vrin , 1 990; e da tradução com intro ­

d u ção de Dennis J. Brand, Tlte Book <�l Causes. Milwaukee,


M . U.P., 1 98 1 .
Foi con s u l tada, também, Sancti Thomae de A quino super
/,ibrwn de Causis Expositio, tanto a edição de H . D . S affrey , Fri­
hourg 1 954, (e sua tradução em ing l ês de Vincent Guagl iard, et
a l i i , C a th . Univ. of Am. Press, Washington, DC, 1 995) como a de
C :eslai Pe ra , Taurini, Marietti, 1 95 5 .
Alertamos que a tradução portuguesa não constitui uma
L·dição crítica, mas uma tentativa criteriosa de apresentar um texto
kgível e fiel à sua ori gem, capaz de revelar o l ugar de destaque que
1 i LdC mereceu n a história da fi l o sofi a , mormente do s éc u l o X I I I .
O Livro das causas - Liber de causis

PROPOSIÇÃO 1

1. Toda causa primeira influencia mais o seu efeito do


que a causa universal segunda.

2. Por i sso, quando a causa u n i versal s e gunda retira a sua


força de alguma coisa, a cau s a uni versal primeira não a reti ra d e st a .

3 . A razão disso está no fato de a causa uni versal p ri mei ra


agirsobre o efe i to da causa segunda, antes mesmo que sobre el a
venha a agir a causa universal segunda que a acompanha.

4 . Quando, então, a causa segunda, que acompanha o efei­


to, age, sua ação não escapa à causa prime i ra que está acima dela.

5. E quando a causa segunda, que segue o efeito, fica dele


separada, a causa primeira, que está ac i ma da causa segunda, não é
s ep a rad a
dele, porque é a sua causa.

6 . I l u s tramos i s t o então,
, pelo exemplo do ser, do v i vo e do
homem.

7 . A ssim ocolTe, porque convêm que a coisa sej a em pri­


meiro l ugar ser, em seguida vivo e, fin almente, homem.

8. O v i vo, então, é a causa próxima do homem ; o ser, a


c aus a longínqua.

9 . O ser é, en tão mais fortemente causa do homem do que


,

o vivo, porque ele é causa do vivo, que é c au s a do h o mem .

1 0 . D a mesma forma, quand o se afirma a racionalidade


corno causa do homem, o s er é causa do homem mais expressiva­
mente do que a racional i dade porque ele é causa da causa dessa.
,

92 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

CAPITULUM PRIMUM

1 . Omn i s causa primaria plus est influens super causal u m


:; 1 1 u m quam causa universal is secunda.

2. Cum ergo removet causa uni versal i s secunda virtutem


suam a re, causa universali s pri ma non aufert virtutem suam ab eo.

3. Quod est guia causa universalis prima agi t in causatum


L·ausae secundae, antequam agat in ipsum causa universali s secun­
d a quac sequitur ipsurn.

4 . Cum ergo removet causa secunda quae sequi tur causa­


l um, non excusat ipsius actio a causa pri ma quae est supra ipsam.

5. Et quando separatur causa secunda a causato, quae se­


q uitur i psum, non separatur ab eo prima quae est supra ipsam, quo­
n i am cst causa ei .

6. Et nos quidem exempli ficamus i l l ud per esse et vivum et


homi nem.

7. Quod est guia oportet u t s i t res esse i n primi s , dei nde v i ­


v u m , postea homo.

8. Vivum ergo esta causa hominis propi nqua; et esse, causa


cius longi nqua.

9 . Esse ergo vehementi us est causa homi n i quam v i v um,


quoniam est causa v i vo quocl est causa homi n i .

1 0 . E t simil i ter, quando ponis rationalitatem causam homi­


nis, cst esse vehementius causa homini quam rationalitas, quoniam
est causa causae eius.

Col eção Filosofia - 1 07 93


O L i vr o das causas - Liber de causis

1 1 . E a prova daquilo que se disse é que, quando se retini


do homem o poder racional, não há mais um homem, mas um ser
vivo, resp irando e sensível . E quando se lhe tirar o vivo, não sobra
mais o v i vo, mas resta o ser, porque não lhe é retirado o ser, mas o
vivo, porque a causa não é eliminada em razão da retirada do seu
efeito ; o homem continua, então, u m ser. Quando pois, um indiví­
,

duo não é um homem, é um animal , quando não é um animal, é tão


somente um ser.

1 2 . Agora, então, está bem claro que a causa pri meira lon­
gínqua é mais envolvente e mais vigorosamente causa ela coisa do
que a causa próxima.

1 3 . Por esta razão, a operação da causa longínqua se liga


mai s fortem e n t e à coisa do que a operação da causa próxima. Isto
somente é assi m porque a coisa em p rimeira instância sofre a i nflu­
ência da causa longínqua; só em seguida sofre uma força que é su­
bordi nada à pri m ei ra .

1 4 . E a causa pri meira aj uda a causa segunda n a sua opera­


ção, porque toda ação que a causa segunda realiza, a causa pri mei­
ra ta m bé m a realiza; e ela o faz até de uma outra forma, mai s nobre
e mais sublime.

1 5 . E qu a ndo a causa segunda é retirada de seu efeito, a


causa pri m eira não é ret irada, porque ela adere à coisa mais env o l ­

vente e fortemente do que a causa próxima.

1 6 . E o efeito não está l igado à cau s a segunda, senão pela


força da causa pri meira.

1 7 . A razão disso é o fato que quando a causa segunda


produz uma coisa, a causa prime i ra, que está acima del a, exerce in­
fluência sobre esta coisa por sua própria força. Por isso, adere com
uma aderência mais forte à coisa, e a conserva.

94 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 1 . Et i l l ius quidem signum est quod quando tu re m o v e s


v i rlutem rationalem ab homine, non remanet homo et remanel v i ­
\' ll l11 spirans sensibile. Et quando removes a b e o vivum, n o n rcma -

1 1 d vivum sed remanet esse, quoniam esse non removetur ab eo,


scd removetur v i vum, quoniam cau�a non removetur per remotio-
1 1 e m causati sui, remanet ergo homo esse. Cum ergo individuum
1100 est homo, est ani mal, et s i non est animal , est esse tantum.

1 2 . Iam igitur manifestum est et planum quod causa prima


longinqua est plus comprehendens et vehementius causa rei quam
L·ausa prop m qua .

1 3 . Et propter i l lud fit eius operatio vehementioris adhae­


rentiac cum re quam opcratio causae propinquae . Et hoc quiclem
1 100 fit secundum hoc nisi quia res in primis non patitur nisi a vir-
1 u te lonqingua; deinde patitur secundo a virtute quae est sub pri ma.

1 4. Et causa prima adiuvat secundam causam super opera­


l i onem suam, quoniam omnem operationem quam causa efficit se­
c unda, et pri ma eti am causa efficit; verumtamen efficit eam per
modum alium, altiorem et sublimiorem.

1 5 . Et quando removetur causa secunda a causato suo, non


rcmovetur ab eo causa pri ma, quoniam causa prim a est maioris ct
vehementioris aclhaerentiae cum re quam causa propinqua.

1 6 . Et non figitur causatum causae secundae nisi per virtu­


t e m causae pri mae.

1 7 . Quocl est q ui a cau s a segunda quando facit rem, i nfluit


causa prima quac cst supra eam super i l iam rem ele virtute sua,
quare adhaeret ei adhaerentia vehementi et servat eam.

Coleção Filosofia - 1 07 95
O Livro das causas - Liber de causis

1 8 . Por isso agora está claro e distinto que a causa longín·


qua é mais fortemente causa da coisa do que a causa próxima qul' ,

a acompanha e que ela derrama sobre esta coisa a sua força e :i


conserva, que ela não se separa da coisa quando a causa segunda
ass i m o fizer, mas que antes nela permanece e a ela adere com urna
aderência forte, como mos t ra mo s e expomos .

PROPOSIÇÃO II

19. Todo ser superior é ou acima da eternidade e antes


dela, ou com ela, ou depois dela e acima do tempo.

20. O s e r que é antes da eternidade é a causa pri mei ra, por­


que é a causa da eternidade.

2 1 . Mas o ser que é com a eternidade é a inteligência, por­


que e l a é um ser secundári o de modo uniforme* , em conseqüência
disso nem sofre nem é destru ído.
* "De mane i ra u n i tá r i a " : o t e x t o l a t i n o d i z, "sec111ulu111 /111bit11di11em ", o que signi­
fi c a "e(){/e11 1 111udo et 1111 if'ormiter ", c uj a tradução l i teral é " d o m e s m o modo e u n i ­
formemente" ( Patt i n , 1 3 8 ) .

22. O ser que é d e poi s da eternidade e acima do tempo, é a


alma, po rq u e el a é a mais baixa no horizonte da eternidade e aci ma
do tempo.

23 . I s to i ndica que a causa pri m eira é antes da própria eter­


n idade, o que significa que nela o ser é adquirido .

24. Digo que toda eterni dade é ser enquanto que todo ser
não é etern idad e . O ser, en tão, é mai s comum do que a eterni dade.
E a causa pr i m e i ra está a ci m a da ete rn i dade, porque a eterni dade é
seu efeito.

96 Coleção Filosofia - 1 07
J an Gerard J oseph ter Reegen

1 8 . Iam ergo manifestum est et planum quod c a u s a l o n -


1 •. 1 1 1q u a est vehementius causa rei quam causa pro p inqua quac se­
q 1 1 i tur eam, et quod ipsa influit virtutem suam super eam cl scrvat
" : 1 rn, e t non separatur ab ea separatione suae causae prop i n q u ac,
1 1 1 1 mo remanet i n ea et adhaeret ei adhaerentia vehementi , secu n­
d 1 1 111 quod ostendimus et exposui . nus.

CAPITULUM SECUNDUM

1 9 . Omne esse superius aut est superi us eternitate et ante


1 psam, a ut est cum aeterni tate, aut est post actcrnitatem et supra
1 rn1 pus .

20. Esse vero quod est ante aeternitatem est causa prima,
q uoniam est causa ei .

2 1 . Scd esse quod est cum aeternitate est inteligenti a quo-


1 1 iam est esse secundum, secundum habitudinem unam, unde et non
patitur negue destruitur.

22. Esse vero quod est post aeterni tatem est supra tempus
1 · s t anima, quoniam est in horizonte aeternitatis i nferius ct supra
1 rn1pus.

23. Et significatio quod causa prima est ante aeternitatem


q1sam, es t quod esse in i psa est acquisitum.

24. Et dico quod omnis aetern i tas est esse, sed non omne
1·sse est aeterni tas . Ergo esse est p lus commune quam aeternitas. Et
, · a u s a prima est supra aeternitatem, quoniam acterni tas est causa-
1 1 1 111 ipsius.

( :oJeção Filosofia - 1 07 97
O Livro das causas - Liber de causis

25 . A intelig ê ncia é conj unta ou igual à eternidade, porqu1 ·

lhe é coextensiva, e ela não conhece alteração, nem destruição .

26. E a alma esta ligada à eternidade de modo i nferim ,

porque el a é mais susceptível do que a intel igênci a para recelw1


uma impress ão, e ela está acima do tempo, porque é a sua causa.

PROPOSIÇÃO III

27. Toda alma nobre tem três operações ; porque há nu�


suas operações uma animada*, uma intelectual e uma operação
divina.
* O texto l atin o diz aqui . . . anima/is" ; Pattin adverte, referindo-se tan to 11
"

A lberto Magno como a Gundi ssal i n o : "operatio anima/is ab a n im a et 1w11


ab animali dieta, a n im al is enim motus est ille qui ab a nima fit, sirnt na/11
ralis a natura" ( 1 3 8 ) . A versão francesa de Pierre Magnard usa "cmi
mcmt " (43 ) . Optamos pela palavra "an i mado".

2 8 . Sua op e ração é divina porque ela di spõe a n aturezi1


pela força que possui em virtude da c aus a pri mei ra.

29. Sua operação é intelectual porqu e ela mesma conhecl'


as coisas pela força da i ntelig ê ncia que está nela.

30. A sua oper ação é ani mada, porque move o corpo pri
meiro e todos os corpos naturai s, porque ela é a causa do mov i
menta dos corpos e a causa da operaç ão da natureza.

3 1 . E a alma somente efetua essas operaçõ es porque ela


mesma é i m ag e m do poder superior.

32. I s t o é assim porque a c a usa pri meira criou o ser da


alma e por causa di sso a alma, feita desta manei ra, efetua a opera·
ção divina por intermédio da i ntelig ê ncia .

98 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

25 . Et i n t e l l i g enti a appo n itur vel parificatur aeternitati ,


quoniam extenditur cum ea; et non alteratur negue destrui tur.

26. Et anima annexa est cum aeternitate inferius, quoniam


cst susceptibilior impressionis quam intel l i gentia, et est supra tem­
pus, quoniam est causa temporis .

CAPITULUM TERTIUM

27 . Omn i s an i ma nobilis tres habet operationes ; nam ex


o perationibus eius est operatio animali s et operatio i ntellectibilis et
operatio divi na.

28. Op er atio autem divina est quoniam ipsa praeparat natu­


ram cum virtute quae est in ipsa a causa prima .

29. Eius autem operatio i ntellectibil i s est qu o n i am ipsa scit


res per virtutem intelligentiae quae est in ipsa.

30. Operatio autem eius animalis est quoniam ipsa movet


corpus primum et 01nnia corpora n atu r a l i a , quon i am ipsa est causa
motus c o rp o ru m et causa operationis naturae.

3 1 . Et non efficit anima has operationes nisi qouniam ipsa


cst e x emplum s u p e rior v irtuti s .

32. Quod e s t quia causa pri ma creavi t esse ani mae medi­
a n t e i n t ell i g en t i a , et propter i l lud facta cst anima effici e ns op e rat i
­

onem d i v i na m .

Coleção Filosofia - 1 07 99
O Livro das causas - Liber de causis

3 3 . Depois , então, que a causa p rime i r a criou o ser da


alma , a colocou como um estrado p ara a inteligênci a sobre o qual
esta p oss a e fetuar s u as op e r aç õ es .

34. Por essa razão , pois, a alma, que poss u i intelecto, reali­
za uma operação i n tele c t u al . E porque a alma recebe uma impres ­

são da intel igência, ela é de uma ope r ação inferior àquela d a inteli­
gênc ia, porque se imp rime em algo que está abai x o dela.

35. As coisas procedem desta maneira porq u e a alma não


se impri me nas coisas senão pelo movi m ento a saber, o que está
,

abai xo dela somente recebe sua operação se ela se movi mentar. Por
esta razão, então , a alma move os corpos. Ist o é, e m realidade, uma
prop ri e dad e da alma: vivificar os co r p o s quando exerce sobre elas
a sua p róp r i a força e os conduz diretamente a uma operação reta.

36. Agora, ent ão está claro, conforme demonstramos, que


,

a alma p ossui três operaç õ es porque ela tem três forças : a força di­
,

vi na, a força i ntelectual e a força que p e r t e n ce à sua essência, como


expomos e demonstramos .

PROPOSIÇÃO IV

37. A primeira das coisas criadas é o ser e antes dele


não existe outra coisa criada.

3 8 . A raz ão disso é o fato que o ser está aci ma da s e n si b i li ­

dade, ac i m a da alma e ac i m a da i nteligência, e que d e p o i s da causa


pri meira não há nada que s ej a m a i s a m p lo e cr i ado antes cio que
ele.

3 9 . Por este motivo, e le foi feito s u p erior a to d as a s coi sas


cri adas e mais fortemente unido.

1 00 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

3 3 . Postquam ergo creavit causa prima esse ani m ae pos u i t ,

l'am sicut stramentum intelligentiae in quod efficiat ope ra t i on c s s u ­


as.

34. P ropter illud ergo ani ,na intellectibilis effi cit operatio-
11cm intelectibilem. Et guia anima suscipit impressionem intel l i ­
gcntiae, facta e s t inferioris operationis quam i p sa i n impressione
s u a i n i d guo d est sub ipsa.

35. Q uod est q u i a ipsa non imprimit in res n i s i per motum,


s c i l i cet guia non recipit q uo d est sub ea o p er a tionem eius nisi i p s a
moveat ipsum. Proptcr hanc ergo causam fit q u o d anima movet
corpora ; de pro p ri et a te namgue a n i m ae cst ut vivificet corpora
q uando i n fl u i t sup e r ca v i rtutem suam et directe p ro d ucit ea ad
opcrationem rectam.

3 6 . Man i fe stum cst igitur nunc q uo d anima habet tres ope­


rat iones, quoniam habet v i rtutes tres: scilicet virtutem divinam et
virtutem i n tell i gibi lcm et vi rtutem eius e s sentiae secundum quod
,

n arrav i mu s et ostendimus.

CAPITULUM QUARTUM

3 7 . Pri ma rerum creataru m est esse et non est ante ipsum


creatu m aliud.

3 8 . Quod est q u i a esse cst s u p ra s c ns u m et supra animam et


s upra i ntel ligcntiam, ct non e s t p o s t causam primam latius ncque
plus causatu m i ps o .

3 9 . Prop ter illud ergo factum est s u p eriu s creatis rebus om­
n ibus et vchcmentius unitum.

Coleção Filosofia - 1 07 1 () 1
O Livro das causas - Liber de causis

40. E foi feito desta maneira somente em razão de sua pro­


x imidade ao ser puro e ao Uno verdadeiro, em que, de forma ne­
nhuma, existe plural idade.

4 1 . Ainda que o ser criado seja um, ele é também múltiplo,


a saber porque recebe a multiplicidade.

42 . Ele, em verdade, não é fei to múl tiplo senão pelo fato de


ser composto de finito e i nfinito, mesmo sendo simples e não ha­
vendo entre as coisas criadas, n ada mais simples cio que ele.

43. Disso resulta que tudo que dele segue a causa primeira
é àclzili, isto é i nteligênci a, completa e a últi m a em poder e outras
perfeições.

44. As formas inteligíveis são nele mai s ampla e expressa­


mente universais. E a parte dele que é mais baixa, é igualmente in­
tel i gência, mas é uma i nteligência que lhe é inferior em completu­
de, poder e bondades . E as formas i nteligíveis nela não são tão en­
vol ventes como aquel as que estão na p ró pri a i nteligência. O ser
criado primeiro, pois, é todo i n teiro inteligência, mas nele a i nteli­
gência é di versificada da maneira que dissemos .

45 . E porque a i nteligênci a se diversifica, a forma inteligí­


vel torna-se diferente. E do mesmo modo que de uma forma única,
pelo fato de se diversificar no mundo inferior, provêem indivíduos
infi nitos em número, da mes ma forma, do ser primeiro, pelo fato
de ser diversificado, surgem formas inteligívei s em nú mero infi ni­
to .

46 . Portanto, embora estej am diversificadas, não são sepa­


radas u mas das outras como na separação dos i ndivíduos.

47 . A razão é que elas são unidas sem corrupção e são se­


paradas sem disjunção, porque são a unidade dotada de multiplici­
dade e a multiplicidade na unidade.

1 02 Coleção Filo�ofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

40. Et non est factum ita nisi propter suam propinqu i talcm
1 · -, s c puro et uni vero, in quo non est multitudo aliquorum modo-
1 1 1 111 .

4 1 . Et esse creatum quamvis sit unum tamen multiplic at ur ,

"l' i l i cet quia ipsum recipit multiplicitatem.

42 . Et ipsum quidem non est factum multa, nis1 quia ip ­

" 1 1 111, quamvis sit simplex et non sit i n creatis s i mplicius eo, tamen
1 ' ' t compositum ex finito et infinito.

4 3 . Quocl est quia omne quocl ex eo sequitur causam pri-


1 1 1a m est áchili id est intelligentia, completa et ultima in potentia et
l l' I iquis boni tatibus.

44. Et formae intellectibiles in ipso sunt l atiores et vehe-


1 1 1cntius uni versales . Et quod ex eo est inferius est intelligentia ite-
1 1 1 111, verumtamen est sub illa inte lligentia in complemento et vir-
1 1 1 t e et bonitatibus. Et non sunt formae i ntel lectibiles in i l l a ita di­
l:itatae s i cut est earum l ati tudo in illa intelligentia . Et esse quidem
ncatum primum est i n tel ligentia totum, verumtamen intelligenti a
1 1 1 ipso est diversa per moclum quem diximus.

45 . Et quia cliversifi catur i ntelligentia, fit illic forma inte­


l l ccti b i l i s diversa. Et sicut ex forma una, propterea quod diversifi-
1 : ilur in mundo inferiori, proveni unt i ndividua infinita i n multitucli-

1 1 c , si m i l i ter ex esse creato primo, propterea quocl cliversificatur,

; 1 ppar ent fo rm a e i ntellectibil c s infin i tae .

46. Verumtamen, quamvis cliversifi centur non seiunguntur


.ili invicem sicut est seiunctio i nclividuorum.

4 7 . Quod est quoniam ipsae u niuntur absque corruptione et


"l' p aran tur absque seiunctione, q u o niam sunt unum habens multi­
t 1 1dinem et multitudo i n u n itate .

( 'oleção Filosofia - 1 07 1 03
O Livro das causas - Liber de causis

4 8 . E as inteligênci as p r i meiras transmite1n para as intel i··


gências segundas as perfeições que recebem da causa p rimeira t' ,

desenvolvem as perfei ç ões n aquelas até c h ega r à ultima delas .

(V) 49 . As inteligênci a s superiores pri meiras que seguem a


causa p ri mei ra, i mprimem fo rmas segundas, estáveis, que não são
destruídas de forma que sej a necessário refazê-las novamente. Por
sua parte, as inteli g ência s e g undas imprimem formas declinan tes L'
separáveis como é a al ma.
,

Vários manuscritos in iciam aqui a q u i n ta proposi ção, aumentan­


do o total delas, en tão, para 32. N ó s segui mos a e d i ç ã o de Patt i n e Mag­
nard , que n ão a d o t a m esta pos i ç ão, comum nas e d içõe s l a t i n as .

5 0 . Aquela, com efeito, resulta da i mpressão da inteligên­


cia seg u nda que segue o ser criado mais baixo.

5 1 . E as almas não se mu l t iplica m senão da maneira em


que o fazem as inteligências. Isto é desta forma porque o ser da
alma d e fato tem um limi te , mas o qu e lhe é i n fe rior por s i , é sem
limite.

5 2 . As almas, pois, que seguem ai aclzili, isto é a inte l igên­


c i a, são completas, pe rfeita s e pouco i n c l i n adas à q u e d a e à separa­
ção ; q uanto às al mas que seguem o ser mai s baixo, elas estão abai­
xo das almas superiores quan t o à sua p e rfeiç ão e sua te ndê nc ia à
qu e da .

5 3 . E as a l mas sup e riores transmitem, para as a lmas in fe r i ­

o res , as perfei ções q u e recebem da i nteligência.

54. Toda a a l m a q u e recebe da i n teligência m a i s força


exerce mais fo rt ement e sua i m pressão; o que foi por ela i mpresso é
fixo e es t áv e l e seu movi mento é uni for m e e contínuo. M as a
,

alma, que nasce dela, e em que a força da i n tel i gênci a é m enor fica ,

inferior às almas primeiras quanto à marca que i mprime, e aquilo


q u e é impresso por ela é fraco, evanescente e destrutível.

1 04 Col eção Fi losofia - 1 07


Jan Gerard J oseph ter Reegen

4 8 . Et i ntel ligentiae primae influunt super i ntell igen t i as se­


l ' l l ndas bonitates quas recipiunt a causa prima, et intendunt ho n i ta­
l c s i n eis, usquequo consequuntur u l ti mam earum.

49. I11tell ige11tiae superior ..;S primae, quae sequuntur cau­


sam pri mam, i mprimunt formas secundas, stantes, quae non des-
1 ruuntur ita ut sit necessárium iterare eas vice alia. lntelligentiac
a u tem sccundae i mpri munt formas declines , separabi les, sicut cst
; 1 11 1 ma.

50. lpsa namque cst ex i mpressione i n tel lige11tiae sccundae


q uac sequitur esse crcatum i11feri u s .

5 1 . E t 11 0 11 multiplica11tur animae nisi per modum q u o mul-


1 i pl i cantur i ntell igentiae. Quod est quia esse animae i terum habct
l'i nem, sed quod ex eo est i nferi us est i11finitum.

52. lgitur animae quac sequuntur ai ach ili idest intell i gen-
1 i am, sunt completae, pcrfectae, paucae declin i tationis ct separatio-
1 1 i s : et animae quae sequuntur esse inferi us su11t i n complemento et
declinatione sub animabu s superioribus.

53. Et ani mae superiores i n tluunt bonitates, quas recipiunt


; 1 h i ntel l i gentia, super animas i nferi ores.

54. Et 01nnis ani ma recipiens ab i ntel l i gentia virtutem plus,


L' S t
super impressionem fortior, et quod impressu m est ab ea est fi­
.r nm , stan s, et est motus eius motus aequalis, conti nuus. Et i l i a in
qua ex ea est virtus i n tell igentia minus, est i n impressione sub ani ­
m abus primis, e t e s t quod a b c a i rnpressurn e s t clcbile, evanescens,
destructi bi l e .

Coleção Filosofia - 1 07 105


O Livro das causas - Liber de causis

5 5 . Todavia, ainda que sej a assim, fica o fato de que a alma


permanece pela geração .

5 6 . De qualquer maneira demonstramos por que as formas


inteligíveis se fizeram múltiplas, por que não existe ser senão sim­
ples e uno, e por que razão as almas foram produzidas múltiplas,
algumas mais fortes do que as outras, e por que seu ser é uno e
si mples sem diversidade.

PROPOSIÇÃO V

57. A causa primeira é superior à descrição*, e as lín­


guas fracassam ao falar dela, quando descrevem o seu ser, por­
que ela está acima de toda causa, e dela podemos falar somente
através das causas segundas, que são iluminadas pela luz da
causa primeira.
* "Na rraria " é a palavra usada cm lati m ; trad uções anti gas e mo­
dernas, c i tadas por Pattin ( 1 46), apresentam "sign i fi cação, descri ção".
O pt a mos pela ú l t i ma palavra.

5 8 . Isto é assim, porque a causa primeira não deixa de i lu­


minar o seu efeito, e ela mesma não é iluminada por nenhuma ou­
tra luz, porque ela é a luz pura acima da qual não exi ste outra.

5 9 . De tudo isso segue, então, que é somente da causa pri­


meira que não se pode falar; e isto se dá desta fo r ma somente por­
que aci ma dela não existe nenhuma causa através da qual possa ser
conhecida.

60. Tod a coisa, de fato é s o me n te conhecida e descrita a


,

part i r de sua própri a causa. Quando uma coisa, pois , é somente


causa e não efeito, n ão é conhecida por uma causa primeira nem
descri ta, porque ela é superior à descrição, e nenhuma palavra a
atinge.

1 06 Coleção Filosofia - 1 07
J an Gerard J oseph ter Rcegen

5 5 . Verumtamen, guamvis si t i ta, tamen permanct per gc­


l l l ' rationem .

5 6 . I am ergo ostensum est guare factae sunt formae i n tc l l i -


1 • 1 h i lcs multae, e t non est esse nisi unum, simplex, e t guare fact ac
·.1 1 11t multae ani mae, guarum guaedaid sunt fortiores alii s guibus­
d : 1 1 11, et esse earum est unum simplex, in guo non est di versitas.
1 VI)

CAPITULUM QUINTUM

5 7 . Causa prima superior est narrati one et non deficiunt


l 1 1 1 g u ae a narratione eius nisi propter narrationem esse ipsius, guo-
1 1 1 a m ipsa est supra omnem causam ; et non narratur n i s i per causas
"1·rnndas guae i l luminantur a lumine causae p ri mae .

5 8 . Quod est quoniam causa prima non cessat illuminare


1 a u s atu m suum et ipsa non i lluminatur a l u m i n e alio, q u o niam i p se
1 ·, 1 l u men purum supra quod non est l umen.

59. Ex illo ergo facta e st pri ma sola eius deficit narratio; ct


1 11 l11 est ita nisi q u i a supra i psam non est causa per guam cognos-
1 a i ur.

60. Et omnis quidem res non cog n oscitur et nanatur nisi ex


1 psa causa sua. Cum ergo res est causa tantum et 11 0 11 est causatum,
1 1 1 H1 s c i tu r per causam primam ne g u e n mTatur, guoniam e s t s u p eri o r
1 1 : 1 rrati o11e, negue consegu itur eam loquel a.

1 'oleção Filosofia - 1 07 1 07
O Livro das causas - Liber de causis

6 1 . Isto ocorre porque a des c ri ç ão só se faz atrav é s de p:i


l av ras, as palavras através da inteligência, a i nteligência através d1 1
raciocín i o * , o raciocínio através d a imaginação, a imag inação atrn
vés dos sentidos. Ora a caus a primeira está aci ma de todas as coi
,

sas, porque e l a é a sua causa. É por isso ela n ão ca i sob os sentidos,


a i m agi n ação a razão, a i ntel ig ê n c ia e a palav ra; ela não é portanlo
,

descri tível .
* O l a t i m usa a palavra "cogitatio ", s i g n i ficando rac i ocín i o 1•

"111 editatio", cuj a s i g n i ficado é apresen tado como " i mag i n ação : formaçi\o
de i mage n s ' ' (Patt i n , 1 48 ) .

62. E re p ito que ou a coisa é sensível e c ai sob os sentidos,


ou ela é i maginável e cai sob a imaginação, ou subsiste estávd
conforme uma d ispos i ção única e é intel igível , ou ela é mutável,
destr u tív e l suj eita à geração e à con-u p ção e c ai sob a razão O ra .
, .

a c a usa primei r a está acima d a s coisas i ntel ig í vei s perpétuas, e


acima das coisas destrutíveis, e por i sso nem os sentidos nem a ,

i maginação, nem a razão, nem a inteligência t ê m poder sobre el a .

63 . Chega-se a e l a somente p or meio da causa s egunda que


é a i nte l i g ê ncia Portanto, não é nomeada pel o nome d e seu pri mei
. ­

ro e fe ito senão de uma mane i ra diferente e melhor, porque o qu�·


pertence ao efeito p erte nde mais à causa, mas ele u ma forma mais
e lev ada, e melhor e mais nobre como demon stramo s .
,

PROPOSIÇÃO VI

64. A inteligência é uma substância que não se divide.

65 . Isto se e x p l i c a da s eg u i nte forma: se e l a n ão tiver gran­


deza, nem corpo, nem m o v i mento, sem dúvida a l g u m a e l a n ão se
divi d e .

66. R e p eti ndo todo ser di vis í vel só se divide em multipli­


,

c i dade, gra n de za o u movimento .

1 08 Coleção Filoso fia - 1 07


Jan Gerard Joseph ter Reegen

6 1 . Quod est guia n arratio non fit nisi per loquclam, ct lo­
qucl a per i ntelligentiam, et i ntel l i gentia per cogitationem, ct cog i ­
l a l i o per meditationem, e t meditatio per sensum. Causa autcm pri-
1 1 1 a est supra res omnes, guoniam est causa eis; propter i l l ud fi t
quod i psa non cadit sub sensu et meditatione et cogitatione et i nte­
l l i gentia et loguela; non est ergo r. .mabilis.

62. Et dico iterum quod res, aut est sensibilis et cadit sub
·;L·nsu, aut est meditab il i s et cadit sub meditatione, aut est fixa stans
'>L'CUndum dispositionem u nam et est i ntel lectibi l i s, aut est conver­
l i hi l i s , destructibilis, cadens sub generatione et corruptione et est
t·adens sub cogitatione. Et causa pri ma est supra res i ntelligibiles
sempiternas et supra res destructibiles, g uapropter non cadunt su­
per eam sensus negue meditatio negue cogitatio, negue i ntel ligen­
l ia.

6 3 . Et ipsa guidem non significatur n i s i ex causa secunda


q u ae est i ntel l i gentia et non nominatur per nomen causati sui primi
nisi per modum aliarem et meliorem, guon i am guod cst causato est
L"ausae iterum, verumtamen per modu m sublimiorem et meliorem
L'l nobil iorem, s i cut ostendimus .
1 V II)

CAPITULUM SEXTUM

64. Intelligentia est substantia guae non dividi tur.

6 5 . Quod est guia si non est cum magn itudine negue cor­
p u s negue movetur, tunc procul dubio non dividitur.

66. Et i terum omne divisibile non clividi tur n i s i aut in mul­


l i tucli nem aut in magni tudi nem aut i n motum suum.

Coleção Filosofia - 1 07 1 09
O Livro das causas - Liber de causis

67 . Quando, então, alguma coisa é conforme esta disposi


ção, el a é submissa ao tempo, porque uma coisa só sofre a divis111 1
no tempo . E, de fato, a i nteligência não é no tempo: ao contrário,
ela é com a eternidade; por esta razão foi feita mais alta e mais eh·
vada do que todo corpo e toda multiplicidade. S e alguém nela e 1 1
contra multiplicidade, essa é encontrada como se fosse uma únirn
coi sa. E porque a i nteligência existe desta forma, ela não admi ll'
d i v i são de forma alguma.

68. A prova di sto é a volta da inteligência à sua própri a es


sência: i sto quer dizer que ela n ão se torna coextensiva à coisa ex
tensa, de forma que uma de suas extremidades seja separada da
outra.

69. As coisas procedem desta forma, porque quando e l a


quer conhecer a coisa corporal , e l a se torna coextensiva e subsisll'
estável , conforme sua disposição, porque ela é a forma ele ondl'
nada se espalha. Os corpos, porém, não são ass i m .

7 0 . Isto demonstra q u e a inteligência não é u m corpo, e qul'


sua substância e sua operação não são divicliclas, porque uma e ou·
tra formam u ma só real i dade. Porém, a i ntel igência é múltipla por
causa das perfeições que lhe advêm da causa pri meira . Mas , embo··
ra sej a múltipla desta forma, porque ela mesma apesar disso SL'
aproxima cio Uno, ela é una e não cl i v icl i cla. A in tel igência, pois,
não a dmi t e divisão, porque ela é a primeira c o i s a cri ada pela causa
primei ra, e porque a u n idade dela é mai s digna do que a divisão.

7 1 . Então, desde j á é confirmado que a i n teligência é uma


substância que não tem grandeza nem corpo, nem é movida por um
dos modos cio movi mento corporal : isto é assim, porque ela foi
produzida acima do tempo e com a ete rn i dade, como demonstra­
mos.
(VIII)

1 1 () C oleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

6 7 . Cum ergo res est secundum hanc disposi tioncrn, cst sub
tcmpore, quoni am non recipit divi sionem n i s i in temporc . Et i n tc­
l l igenti a quidem non est in tempore, i mmo est cum aetcrni tatc ;
quapropter facta est al tior et superior omni corpore et omni m u l t i ­
tudine. Quod si inveniatur i n e a multitudo, n o n invenitur nisi cxis­
tens quasi sit res una. Cum ergo intelligentia sit secundum hunc
modum , peni tus div i sionem non recipit.

6 8 . Et significatio quidem illius est redi tio sui super essen­


t i am suam, scilicet guia non extenditur cum re extensa, i ta ut s i t
u n a suarum cxtremitatu rn secunda a b i lla.

69. Quod est guia quando vult scientiam rei corporalis ex­
tenditur cum ea* , et i psa s tat fixa secundum suam di spositionem,
quoniam est forma a qua non pertransit aliquid. Et corpora quidern
non sunt i ta.
* S. Tomás diz: " 11011 extenditu r cw11 ea " diferente da maioria
dos manuscritos.

70. Et signifi catio quod i n tell i gentia non est corpus negue
clividitur eius substantia et operatio eius, est quod u traeque sunt res
una. Et i ntelligentia quidem est multa propter bonitates quae ad ve­
n i unt ei a causa prima. Et i psa quamvi s multipl icetur per hum: mo­
dum, tamen guia appropinquat Uni, fit unum et non dividitur. Et
intell igentia quidem non recipit divi sionem, quon i am est primum
creatu m quod creatum est a causa pri ma, et unitas est dignior ea
quam d i visio.

7 1 . Iam ergo verificatu m est quod i n tel ligentia substantia


e s t q uae non est cum rn agni tudi ne neq ue corpus negue movetur per
aliqucm modorum motus corporei : quapropter facta est supra tem­
pus et curn aeternitate, si cut ostendimus.

Coleção Filosofia - 1 07 1 1 1
O Livro das causas - Liber de causis

PROPOSIÇÃO VII

72. Toda inteligência conhece o que está acima e o qm�


está abaixo dela : mas ela conhece o que está abaixo dela por­
que é a sua causa, e ela conhece o que está acima dela, porque é
daí que recebe as perfeições.

7 3 . E, de fato, a inteli gência é uma substânci a i ntel igíve l ;


então, ela conhece conforme a s u a substância a s coisas q u e recebe
do alto e as coisas de que é a causa.

74. Ela di stingue, então, o que está acima e o que está


abaixo dela; sabe que o que está acima dela é a sua causa e o que
está abaixo foi por ela causado ; ela conhece sua causa e seu efeito
conforme o seu grau de causal i dade, a saber conforme a maneira de
sua própria substância.

7 5 . Da mesma forma, aq uele que conhece só conhece uma


coisa melhor do que ele mesmo, e uma coisa mais baixa e menos
boa cio que e l e, conforme a maneira de sua própria substância e de
seu próprio ser, e não conforme a maneira que estas coisas são.

76. S e as coisas forem assim, sem dúvida as perfeições que


descerem da causa primeira sobre a i nteligência são, em si, i nteli­
gíveis ; e, da mesma forma, as coisas corporais sensíveis serão, na
inteli gência, i nteligíveis .

77. A razão está no fato d e q ue as coi sas q u e estão na i nte­


l igência não são elas mes mas i mpressões, mas antes causas elas
i mpressões. I sto demonstra que a própria i n tel igência é a causa das
coisas que estfto abaixo dela, pelo s i mples fato que ela é a i nteli­
gência. Se, pois, a inteli gênci a é a causa das coi sas porque ela é
inteligência, sem nenhuma dúvida as causas elas coisas na i nteli­
gência são também inteligíveis .

1 12 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

CAPITULUM SEPTIMUM

72. Omnis i ntell i gentia scit quod supra se et q u od est sub


se : verumtamen sc i t quod est sub se quoni am est c a u s a ei, et s c i t
q uod e s t supra se quoniam acquiri t bo n itates a b eo.

7 3 . Et intelligentia quidem est sub sta nt i a i ntell i g i b i l i s ; ergo


sccundum rnodum suae substantiae scit res quas acquirit desuper et
rcs q u i bus es t c a usa .

74. Ergo ipsa discernit quod est supra eam et quod est sub
ca, et s cit quod i l l ud quod est supra se est causa ei, et quod e s t sub
ca est causatum ab ea; et cognosci t causam suam et causatum
s u u m per modum qui est causa eius scilicet per modum suae
,

substa11ti ae.

7 5 . Et similiter omnis sciens 11011 scit rem meli orem et rem


i nfer i ore m et deteriorem 11isi secu11dum modum suum suae subs­
l antiae et sui esse, 11011 secu11dum modum secu11dum quem re s sunt .

7 6 . Et s i hoc it a est, tunc procul dubio bonitates quae des­


ccndu11t super i n tel l ige11tiam a causa prima, sunt in ea i ntellectibi­
l cs et s i militer res corporeae se11sibi les s u11t in intelligentia inte-
1 lectibiles.

77 . Quod est qu o11i am res qu a e sunt in intelligentia 11011


s u 11t i mpress iones i p s ae i mmo su11t causae imp re s sio n u m Et s i gni­
, .

l'i catio i l l i u s cst quod i11telligentia ipsa est causa rerum quae sunt
s ub ea per hoc quod est i 11te ll i g entia ta11tum . S i ergo i ntelligentia
L'St causa rerum per hoc quod est i 11te l l i genti a tu11c procul dub i o
,

L·au sae rerum i n intell i g entia sunt i nt el l e ctib i le s et ia m .

Coleção Filosofia - 1 07 1 1 :l
O Livro das causas - Liber de causis

7 8 . Então, está claro que as coi sas que estão acima da intc
l igência e as coisas que estão abaixo dela existem na i nteligência
por causa de uma força inteligível; e, semelhantemente, as coisas
corporais na intel igência, e as coisas inteligíveis na inteligência são
inteligíveis, porque ela mesma é causa de sua causa e, porque s<í
apreende as coisas conforme a maneira de sua própria substância,
ela própria apreende as coisas , porque ela é inteligência através dl'
uma apreensão i nteligível, sejam estas coisas inteligíveis ou corpo­
rais.
(IX)

PROPOSIÇÃO VIII

79. A estabilidade* e a essência de toda inteligência lhe


advêm do bem puro que é a primeira causa.
* Em latim fixio, "duratione con tin ua sine decision e. . . "; poder
se- ia usar "consi stênc ia". Ambas têm sentido (Patti n , l 54) .

80. A força, pois, da i nteligên c i a possui uma uni dade mai �


forte do que as coisas segundas que vêm depois dela, porque essas
n ã o ch e g a m ao seu conhec i mento. A I n tel i gência é somente desta
manei ra porque é a causa daquilo que está abaixo dela.

8 1. A s ignificação disso é aq uilo de que nos lembramos: 1 1


inteligência é regente de todas as coisas que estão abaixo dela pela
força divina que está nela e por mei o desta força ela mantêm ess a s
coisas, porque é através dela que é c a usa ; ass i m a i ntel igêncin
mantém todas as coisas que estão abai xo dela e as envol ve.

114 Coleção Filosofia - 1 07


Jan Gerard Joseph ter Reegen

7 8 . Iam ergo manifestum est quod res supra inte l l igentiam


1 · 1 sub ea, sunt (in intelligentia) per v irtutem intellecti bilcrn et s i -
1 1 1 i l iter res corporeae cum intell i gentia sunt i ndelectibiles e t rcs i n ­
l l' i lectibiles i n i ntelligentia sunt i ntellectibiles, quoniam ipsa est
t·ausa causae earum; et quoniam ipsa non apprehendit res nisi per
1 11o d um suae substantiae et ipsa qLoia est i nteli gência, apprehend i t
IL' S apprehe11sio11e i 11 telectibil i , s i v e i 11 telectibiles res sive corpo-

1rae.

CAPITULUM OCTA VUM

79. Om11is i 11tellige11tiae fi xio et esse11tia eius est per boni­


l a lem puram quae est causa prima.

80. Et virtus quidem i ntelligentiae est vehementioris u n ita-


1is quam res secundac quac sunt post cam, quo11iam ipsae 11011 acci­
p i unt cognitionem eius. Et 11011 est facta i ta, n i s i quia causa est ei
q u od cst sub ea.

8 1 . Et sign i ficatio eius est illud cuius nos rememoramur:


1 1 1 tclligentia est regens omnes res quae sunt sub ea per virtutem di­
,· i nam quae est i n ea et per eam retinet res , quo11iam per eam est
t · ;1 u s a rerum ; et ipsa retinet omnes res quae su11t sub ea et com­
p re hendi t eas.

l 'oleção Filosofia - 1 07 1 15
O Livro das causas - Liber de causis

82. A razão disso é que tudo que é o primeiro para as co i


sas, e q u e é a s u a causa, mantêm e rege essas mesmas coisas e nad11
delas lhe escapa, em razão de sua alta força. A inteligência, pois, l '
príncipe* das coisas abai xo dela, e as mantêm e as rege, como 11
natureza mantem e e rege as coisas que estão abaixo dela, e iss1 1
pela força da inteligência. E semelhantemente, a i nteligênci a rege 11
natureza pelo poder divino.
* A palavra latina usada é "princeps", que traduzi mos por "prí11
c i pe" e n ão por "princípio' ', como M agnard , e outros, e m fu nção da s pa
lavras "regem" e "regit'' (duas vezes) que vêm em seguida.

83. De fato, a i ntel i gência somente se atém a manter a�


coisas que vêm depois dela, a regê-las e a desenvol ver a sua forç11
sobre elas , porque essas coisas não são força substancial em rel a
ção a ela: a o contrário, e l a é a força das forças substanciais, porqul'
é a causa delas .

84. E desta forma a i nteli gência envolve os seres engen


drados e a natureza e o hori zonte da natureza, i sto quer dizer 11
alma: ela está, de fato, acima da natureza.

8 5 . A causa disso é o segu inte: a natureza contêm a gera·


ção, a alma contêm a natureza, a i ntel igência contêm a alma.

86. A i nteli gência contêm, então, todas as coisas; e a i nte­


ligência é desta maneira por causa de grande eminênci a da causa
primeira acima de todas as coisas, porque ela é a causa da i ntel i ­
gência, e* da alma e da natureza e das outras coisas.
* Mantivemos a versão original, como també m e m 87ss, com a

repetição "e . . . . e . . . " porque isso reforça a idéia da eminência da causa


pri mei ra .

8 7 . Desta forma a causa pri meira não é a intel igência, nem


a alma, nem a natureza, mas ela está acima da i nteligênci a e da
alma e da natureza, porque ela criou todas as coisas . Para dizer a
verdade, ela criou a i nteligência sem intermediário, mas ela criou a
alma e a natureza e as outras coisas por intermédio da i ntel igência.

1 16 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

8 2 . Quod est quoni am omne quod est primum rebus e l c a u ­


· , ; 1 eis, est retinens illas res et reg en s eas et non e v adi t ab e o ex i p s i s

. i l iquid propter virtutem suam a l t a m . Ergo i n telligentia e s t princeps


1 1 1 nnium quae sunt sub ea et regens eas, sicut natura regit quae sunl
•, 1 1 h ea per v i rtut e m i ntel l i gentiae. Et s i m i l i ter intelligentia r e g i t per
v i rtutem divinam.

8 3 . Et intelligcnti a qu i d em non facta est retinens re s qu ae


·, i 1 n t post eam et regens eas et su s p en d e n s vi rtutem suam super cas,
1 1 i s i guoniam ipsae non sunt virtus substantialis e i , i mmo ip s a est
v i rt u s virtutum substantialium, quo n i a m est causa ei us.

84. Et intelligentia quidem comprehendit generata et natu-


1; 1 111 et horizontem naturac, scilicet animam, nam ipsa est supra
1 1aturam.

8 5 . Quod est guia natura conti net generati onem et anima


rnntinet naturam et intelli g en ti a conti net animam .

86. Ergo intelligenti a continet omnes res ; et non est facta


1 n t el lig e nt i a
i ta nisi propter causam pri mam guae supereminet om-
1 1 i hu s rebus, quoniam est causa intel l i genti ae ct a n i m ae et n a t u rae
l'l rc liqui s rebus.

87 . Et causa guidem pri ma non est intelligentia negue ani­


ma n egue natura, i mmo cst supra intelligenti am et ani mam et natu­
ra m , quoniam e s t creans omnes rcs . Veru mtamen est c rea n s i n tel l i ­
gentiam absque rncdio et creans ani mam et naturam ct rel iquas res ,
1 11cd i ante i ntel l i gentia.

Coleção Filosofia - 1 07 1 17
O Livro das causas - Liber de causis

8 8 . Desta maneira a ciência divina não é como a ciência cio


ser inteligente, nem como a ciência da alma, antes ela está aci m a
da ciência da inte l igência e da c i ê n c i a da a l m a , porque ela c r i a a s
ciências .

8 9 . Assi m o poder divino está aci ma de todo poder da i nte·


ligência e da alma e ela n atureza, porque ele é a cau s a de todo po­
der.

90. E a intel igência possui uma yliathim* porq ue ela é ser e


forma, e a alma, de modo semelhante, possu i uma yliath im, e a
n atureza também . Assim não exi ste uma yliath im da causa pri mei ­
ra, porque ela é somente ser.
* Yliathim, Pattin , 1 57 , significa un i v ersal idade, ou algo tota l :
M agn ard usa helyatim.

9 1 . Se qualquer um "é neces sári o que ela possua


d i ssesse:
uma yliathim", nós diríamos, então : sua yliathi111 é a i n fi n i tude e
sua individualidade é o b e m p u ro , que estende t o d a s s u as perfei­
ções sobre a i nteligência, e sobre as ou tras coisas por i n termédio
dess a i n teli gênci a.
(X)

1 18 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

8 8 . Et scienti a qui dem d i v i n a non est sicut scicn t i a i n tc­


l l cctibili s negue sicut scientia ani mae; i mmo est s upra sci c n t i a m
1 1 1 te l l i gentiae e t scientiam ani mae, quoniam est creans scien t i a s .

89. Et quidem v i rtus d i v i m est supra 01nnem virtutem i n -


1 l'.! Iectibilem et ani malem et n atural em, quoniam est c au s a 0 1n n i
v i rtuti .

90. Et intell igenti a est habens helyatill, quoniam est esse et


rorma et s i m iliter anima cst h abens helyatin . Et n atura est h abens
lwlyatill. Et causac q u i dem pri mae non est helyatin , quon i am i p s a
c s t e s s e tantu m .

9 1 . Quod si dixeri t aliqui s : necesse e s t ut s i t ei helyatin, d i ­


n; m u s : lzelyatin s u u m e s t i nfi n itum et i ndivi duum s u u m e s t boni tas
pura, i nfluens super i nteligentiam omnes bonitates et super rel iquas
rcs medi ante i ntelligentia .

Coleção Filosofia - 1 07 1 19
O Livro das causas Liber de causis
-

PROPOSIÇÃO IX

92. Toda inteligência está repleta de formas ; porém, en­


tre as inteligências existem umas que contêm formas menos
universais e outras que contêm formas mais universais.

9 3 . Isto ocorre porque as formas que estão nas i ntel igências


segundas e inferiores de modo particular, estão nas intel igências
primeiras de modo uni versal ; e as formas que estão nas inteligên­
cias primeiras de modo universal , estão nas i ntel igências segundas
de modo particular.

94. As inteligências pri meiras possuem um grande poder


porque são de uma unidade mais forte do que as i nteligências se­
gundas e inferiores ; e as inteligênci as segundas e i nferiores possu­
em forças mais fracas porque são de uma uni dade menor e de uma
multiplicidade maior.

95 . A cau sa di sso é a seguinte: as inteligênci as que estão


perto do Uno, da Verdade pura, são em uma quanti dade menor e de
uma força maior, e as inteligências que estão mai s distantes do
U no , da Verdade pura, são em uma quantidade maior e de uma for­
ça menor.

96.E porque as inteli gências que estão perto do U no, da


Verdade pura são em quantidade menor, pode-se deduzi r que as
formas que procedem das i nteligênc i as pri meiras, o fazem por pro­
cessão úni ca, universal.
Alguns manuscr i tos completa m : "don de acon tece que as formas
das inteligências s egu nda s procede m por processão part i c u l ar, m ú l ti p l a"
( Patti n , 1 5 9 ) .

1 20 Coleção Filosofia - 1 07
J an Gerard J oseph ler Reegen

CAPITULUM NONUM

92. Omnis intelligenti a plena est formis ; v e ru m t a m e n ex


1 1 1 tell igenti i s s u n t quae continent formas m i n u s uni v ers ale s c t e x eis
s u n t quae continent formas plus u n i versales .

9 3 . Quod cst quoniam formae quae sunt i n inte lli g enti i s sc­
r u n cli s
i nferioribus per moclum particularem, sunt in i n telligenti is
pri rnis per modum universalem; et formae quae sunt i n i n tel l i gen-
1 i is primis per moei um universal em sunt i n i ntell i genti i s se c u n cl i s
per modum particularem.

94 . Et p ri rnis i ntelligentii s est v i rtus magna, quoniarn sunt


vchementioris unitatis quam i ntel l i genti ae secundae infe r iore s ; et
i n tc l l i gentii s sccundis i n fcrioribus sunt vi rtutes clebiles, quoniam
sunt m inoris unitati s et pluris multiplicitatis .

95 . Quod es t quia i n telligentiae propinquae Uni, puro vero


s u n t m i nori s quanti tatis et maiori s virtutis, et i n te l ligentiae quae
s u n t lon g i nq u i o r i s ab Uno, puro vero sunt p l u r is qua n t i tati s et clc­
l l i l i oris virtuli s .

9 6 . Et q u i a i ntel ligentiae propinquac Uni , puro vero sunt


1 n i n or i s q u a n t i t ati s accidit i nde ut formae quae procedunt ex i n te-
,

1 l i gentii s primis, proceclant processione uni versal i unita.

Coleção Filosofia - 1 07 12 1
O Livro das causas - Liber de causis

97 . Enfim, nos dizemos que as formas que vêm das intel i


gências primeiras para as segundas são de uma processão mais fra­
ca e de uma separação mais forte.

9 8 . Por isso, as i nteligências segundas dirigem seu o lhar à


forma universal que está nas inteligências universais, dividindo l'
separando-a, porque elas só podem receber estas formas na sua
u nidade e verdade conforme o modo em que s ão capazes de rece­
bê-las, a saber por divisão e separação.

99. De forma semelhante, nenh uma elas coisas recebe o que


está acima delas senão da forma cm que ela puder recebê-lo, e não
do modo e m que a coisa foi recebida.
(XI)

PROPOSIÇÃO X

100. Toda inteligência entende as coisas perpétuas,


aquelas que não são destruídas e não caem sob o tempo.

1 O 1 . Isto acontece pela seguinte razão : se a inteligência é


semp re aquilo que não se move, então, ela é causa para as coisas
perpétu as, que não se destróem nem se muda m e nem caem sob a
geração e a corrupção. Certamente a inteligência é assim porque
ela entende cada coisa por seu ser próprio, e seu ser próprio é eter­
no, que não se corrompe.

102 . Porque é ass im nos dizemos que as coisas dcstrutí­


,

veis vêm ela corporalidade isto é, de uma causa corporal e tempo­


,

ral , não de u m a causa i n teligível e eterna.


(XII)

PROPOSIÇÃO XI

103. Todos os seres primeiros são uns nos outros, con­


forme a maneira que convém a cada um de ser um no outro.

1 22 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

97. Et nos quidem abbrevi arnus et dicimu s q u ocl formac


q u ae aclven iunt ex i ntelli gentii s primis secunclis sunt clebi l iori s pro­
t·cssioni s et vehementioris separationis .

9 8 . Quapropter fit quod intelligentiae secundae pro 1 c 1 u 11 l


·; i sus suos s uper u11iversalem f)rmam, quae est in intell i gcnti i s
1 1 11iversalibus, e t dividunt eam e t sep ar ant eam, quoniam i psae non
possunt reci pere ilias formas secundum veritatem et certitudinem
t·arum, n i s i per modum secundum quem possunt reci pere ea s , sci l i ­
c c t per separationem e t divisionem.

99. Et s i m i l i ter aliqua ex rebus non r ec i p i t quod est supra


L'am 11i s i per modu m secundum quem potest reci pere ipsu m , 11 0 11
per moclum secundum quem est res recepta.

CAPITULUM DECIMUM

1 00. Omnis intel l i gentia i 11tel l ig i t res sempiternas quae no11


destruuntur negue cadunt sub tempore.

1 0 1 . Quod est quoniam si i ntel ligentia est semper quae 11011


movetur, tu11c ipsa est causa rebus sempiternis quae 110 11 destru u n­
t ur nec pennutantur negue cadunt sub ge11e ratio n e et corru ptio11e.
l �t i ntcll i gcntia quidem 11on est i ta, 11isi guia i ntelligit rem per esse
s u u m , et e s s e s u u m est sempiternum quod no11 corrumpitur.

1 02 . Cum ergo hoc sit ita, dici mus quod res destr.uctibiles
su11t ex corporcitate, scilicet ex causa corporea temporali , 110 11 ex
causa i 11 tellecti b i l i aeterna.

CAPITULUM UNDECIMUM

1 03 . Primorum omnium quaedam sunt in quibusdam per


modum quo licet ut sil unum eorum i n al i o .

Coleção Filosofia - 1 07 1 23
O Li vro das causas - Liber de causis

1 04 . Isto é assim, porque no ser existem a v i da e a int e l i ·

g ê n ci a , na v ida há o ser e a i n t el i g ê nci a , e na inteligência há o ser l'


a vida.

1 05 . Portan to, o ser e a vida são na inte l i g ê n c i a duas ai


achili, i sto é, inteligências, o ser e a i n tel i gênc i a são na vida duas
v i d as e a i n t eligê n c i a e a vida são doi s seres no ser.

1 06. Isto s o me n te é des t a forma, porque cada um dos pr i ­


mei rospri n c íp i os é c au s a ou efeito. O e feito, então, está na causa
conforme o modo da c au s a , e a c a u sa está no efei to conforme o
modo do efe i to .

1 07 . Res u m i ndo, nós d i ze mos que urna c o i sa agente, a sa­


ber aq uela que está n u m a outra por modo de causalidade, está lú
s o m e n t e seg u n do o grau de s u a causal idade. Por exemplo, o senti­
do está n a a l m a de modo a n i m ad o a a l m a está na i nt e l i gên c i a de
,

modo i n t e l i g í ve l a i nte l i g ên c i a no s e r de modo essencial , e o ser


,

primei ro está na i n te l i g ênc i a de modo i n t el i g í v e l a i nte l ig ê n c i a na


,

a l m a de m od o animado, a alma no sentido de modo sensível.

1 08 . Reiteremos, então, e di ga mos que o s en t i d o e s tá na


alma e a i n t e l i g ê nc i a
na causa p r i me i ra do modo q u e l h es é pró­
,

pri o , corno demon stramos .


(XIII)

PROPOSIÇÃO XII

109. Toda inteligência entende a sua própria essência .

1 1 O. O q u e é assim porq u e o e n t e nd e n te e o e nt e n di do es­


tão j u ntos; como a i nt el i gên c i a é o entendente e o entend ido, e n t ão
sem dúvida nenhuma ela vê sua própria essência.

1 24 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J o seph ler Reeg e n

1 04. Quod est guia in esse sunt vita et intc l l i gcntia, ct 1 11

ct vi t a .
v i ta sunt esse et i n telligentia, et in intell igenti a sunt esse

1 05 . Verumtamen esse et vita i n i ntelligentia sunt duac o i


uchili, id est intel l igentiae, et esse et i ntell igentiae i n vita sunt duac
v i tae, et intelligentia et vita in es<·e sunt duo esse.

1 06. Et i ll ud guidem non est ita nisi guia unumguodguc


pri morum aut est causa aut causatum. Causatum ergo in causa est
per modum causae et causa i n causato per modum causati .

1 07 . Et nos guidem abbrev iamus et dici mus guod res


agens, vel guae est in re per modum causae, 11011 est in ea nisi per
modum gui est causa eius, sicut sensus in anima per modum ani­
malem, et anima in i ntell i gcnti i s per modum i ntcl lectibi lem, et in­
t e l l i gentia in esse per modum essentialem, et esse primum in inte­
l li gentia per modum intellectibilem, et intell i gentia in anima per
moclum ani malem, et anima in sensu per moclum scnsibi lem.

1 08 . Et redeamus et dicamus guod sensus in anima et i nte­


l l igentia in causa prima sunt per modos suos, guod ostendimus.

CAPITULUM DUODECIMUM

1 09 . Omnis intel l i gentia i ntel ligit essentiam suam.

1 1 O. Quod est guia intelli gens et i n tel lectum sunt si mui ;


cum ergo est intelligenti a i ntelligens e t intcllcctum, tunc procul clu­
bio viclet essentiam suam.

Coleção Filosofia - 1 07 1 25
O Livro das causas - Liber de causis

1 1 1 . E quando ela vê a sua própria essência, sabe que por


sua inteligência co m pre ende a sua es s ênci a . *
*
Vari an te B ardenhewer: reconhece que é uma i n te l i gência, q ue
compreende a s i mesma. (Patti n , 1 63 ) .

1 1 2. E quando ela conhece a sua essênci a , conhece a s ou­


tras cois a s que existem ab aixo dela, porque é nel a que tem a sua
origem .

1 1 3 . Portanto, estas estão nela d e modo inteligíve l . A inte­


l i gênci a , pois, e as coisas conhecidas são u m .

1 1 4 . Neste sentido , se as coisas conhecidas e a int e ligência


são um e se a inteligência conhece o seu p róprio ser, então, sem
dúvida nenhuma, quando ela conhece a s u a e ssência , conhece as
ou tras coisas, e qu a ndo ela conhece as outras coisas, co nhece sua
essência, e quando as conhece, isto acontece somente porque elas
estão n a i n teligência. A i n teligência, então, conhece assi m como
d e m o n s t ramos, a sua própri a essência e as c o i s as pensadas s i m u l ­
taneamente.
(XIV)

PROPOSIÇÃO XIII

1 15. As coisas sensíveis estão em toda alma, enquanto


ela é o exemplo delas, e as coisas inteligíveis estão nela, porque
ela as conhece.

1 1 6. Isto é somente desta maneira, porque ela se estende


e n tre ascoi sas intel igíveis, que não são movidas, e as coisas sensí­
veis que são mov i das .

1 1 7 . E, p o rque a a l m a é assim, acont e ce que e l a produz* as


coi sas corporai s : por esta razão, ela é feita causa dos corpos, e cau­
sada a p ar ti r da inteligência que é antes dela.
* Seguimos a sugestão de Patt i n , l 6 5 , porq ue nos parece melhor
que a palavra "faç01111 er" de M agn ard.

1 26 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

1 1 1 . Et, quando videt essenti am suam, scit q uod i n lc l l i g i t


p e r intelligentiam essentiam suam .

1 1 2 . Et, quando scit essentiam suam, scit reliquas rcs q u ac


s unt sub ea, q uoniam sunt ex ea.

1 1 3 . Verumtamen in ea sunt per modum intellectibi lem.


Ergo i ntell i gentia et res intellectae sunt unum.

1 1 4 . Quod est g u i a, s i res intellecta et i ntell i gentia sunt


u num, et i n telligentia scit esse suum, tunc procul dubi o quando scit
css e ntiam suam, scit rel iqu a s res, et quando scit rel iquas res , scit
L�ssentiam suam et quando scit res, tunc ipsa non scit eas nisi g u i a
,

s u n t i ntel lectae. Ergo i ntelligentia s c i t essentiam su a m e t scit res


i ntellectas si mul, sicut ostendimus .

CAPITULUM DECIMUM TERTIUM

1 1 5 . l n omni anima res sensibiles sunt per hoc quod est


cxemplum eis, et res i ntelectibiles in ea sunt, guia scit eas .

1 1 6 . Et non facta est ita nisi quia ipsa expans a est i n ter re s
i ntel l ectibiles quae 11011 moven t ur et i n ter res sensibi les quae mo­
vcntur.

1 1 7 . Et guia anima sic est, fit quod impri mit res corporeas,
quapropter facta esta causa corporum et facta est c a usata ex i n te ll i ­
gcntia quae est ante eam.

Coleção Filosofia - 1 07 1 27
O Livro das causas - Liber de causis

1 1 8 . Desta manei ra as coisas que são produzidas pela al 11111


estão, por razão de exemplaridade, na alma, po rque as coi sas sc11
síveis são exemplares ti rados de acordo com o modelo da alma; l '
as coisas que estão aci ma da alma , estão na alma por acré scimo .

1 1 9 . Por esta razão, reiteremos e d i g amos que as coisa.�


sensíveis estão todas na alma de forma causal, mas que a alma l;
causa exemplar.

1 20. Entend o por alma a fo rça que produz* as coisas sen


síveis .
* (variante : age sobre a s . . . ) .

1 2 1 . Portanto, a fo rça eficiente que está na alma não é ma­


terial, e a força corporal que está na al ma é espiritual, e a força
que p rodu z as coisas que tem uma dimensão, é ela mesma sem di­
mensão .

1 22 . M a s as coisas i ntel igíveis estão na al ma d e modo aci ..


dental , porque coisas i nte l i g íveis, isto é aq u el as que não se divi­
dem, estão na alma pelo modo da divi são. Conseqüentemente, as
coisas i nteligíveis, un idas por natureza, estão na al m a pelo modo
da mult i pli c i d ade ; n ão movidas, elas estão na alma pelo modo do
movimento .

1 23 . Desta forma, está agora esclarecido que as coisas in­


teligíveis e sensív ei s se e nco n tram n a alma, mas que as coi sas sen­
síveis, corporai s e em movim e nto, estão lá pelo modo da alma, es­
piri tual, u nido, e que as co i sas intel igíveis, unidas e sem movi ­
mento, estão n a alma pelo modo d a mul t ipli c id a de e d o mo v imen­
to .
(XV)

1 28 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 1 8 . Res igitur quae imprimuntur ex an ima s u n l in ani ma


per i ntentionem exemp l i , scilicet quia res sensibiles exem p l i rican­
l ur secundum exemplum animae; et res quae cadunt supra an i ma m
q1 11t in anima per modum acquisitum.

1 1 9 . Cum ergo hoc sit i ta, redeamus et dicamus quod res


scnsibiles omnes in anima sunt per modum causae, praeter quod
anima est causa exemplaris.

1 20 . Et i ntelligo per ani mam virtutem agentem res sensi-


Ili les.

1 2 1 . Verumtamen virtus efficicns in ani ma non est materi­


; d i s , et virtus corporea in anima est spiri tuali s , et vi rtus i mpri mens
i 1 1 rebus habentibus d i mensiones est sine d i mensi one.

1 22 . Res autem i n tellcct i b i les i n ani ma sunt per modum


acci dentalem, sci l i cet quia res i ntellectibiles quae non di vicluntur
sunt i n anima per modum clivisibilem. Ergo res intellectibiles uni­
l ae sunt in an ima per modum qui multiplicatur, et res i ntellectibiles
quae non movenlur sunt in anima per modum motus.

1 23 . lam ergo ostensum est quod res intellectibiles et sen­


sibiles sunt i n ani ma, verumtamen res sensibiles, corporeae, motae
' Lm t i n anima per modum spiritualem, unitum, et quod res intellec-
1 i bi les, unitae, quicscentes, sunt i n an i ma per modum qui multipli­
catur, motum.

Coleção Filosofia - 1 07 1 29
O Livro das cau sas - Liber de causis

PROPOSIÇÃO XIV

124. Todo ser, que conhece a sua própria essência, pai·u


ela volta, através de uma volta completa .

1 25 . Isto acontece porque o conhecimento não é nada m a i•,


do que u ma ação inteligível . Quando, então, o ser cognoscente c o
nhece a sua própria essênci a, ele volta a ela pela operação de s u : i
i nteligência.

1 26 . I sto só pode acon tecer porque o cognoscente e o co


nhecido são uma única coisa, porque o conheci mento de quem co
nhece a sua própria essência vem de si mesmo e vai para si mesmo
vem de s i mesmo porque é o cognoscente, vai para si mesmo por
que é o conhecido.

1 27 . A razão di sso tudo é o seguinte: estando dado que o


conhecimento é ciência do cognoscente, e que o cognoscente co
nhece a sua própri a essência, então sua operação é de voltar para
sua própria essência; sua substância volta, então, à sua essência.

1 28 . Quero dizer a respeito d a volta d a substância à s u a e s


sência, q u e e l a subsiste p o r s i d e maneira estável, sem precisar n:i
sua estabilidade e na sua essência de qualquer outra coisa que 1 1
faça subsistir, porque ela é u ma substância si mples e sufi ciente po1
si mesma.
(XVI) (cf. Pattin, 1 68 )

PROPOSIÇÃO XV

129. Todos os poderes, para os quais não existe limite,


dependem de um infinito primeiro que é o poder dos poderes,
não porque ele é adquirido de forma estável nas coisas existen­
tes, mas antes porque é o poder para as coisas existentes qm•
possuem estabilidade.

1 30 Coleção Filosofia - 1 07
J an Gerard Joseph ter Reegen

CAPITULUM QUARTUM DECIMUM

1 24 . Omnis sciens gui scit essentiam suam est recliens ad


cssentiam suam reditione completa.

1 25 . Quod est guia scientia non est nisi actio i n tellectibili s .


( 'um ergo scit sciens suam essentiam, tunc redit per operationem
s u a m intellectibilem ad essentiam suam .

1 26 . Et hoc non est ita nisi guoniam sciens et scitum sunt


rcs una, guon iam scientia scientis essentiam suam est ex eo et ad
n1 m : est ex eo guia est sciens, et ad eum guia est scitum.

1 27 . Quod est guia propterea guod scientia est scientia sci­


l' n t i s , et sciens scit essentiam suam, est eius operatio rediens ad es­
sentiam suam; ergo substantia eius est redi ens ad essentiam ip s iu s
i terum.

1 2 8 . Et non significo per redi tionem substantiae ad essenti­


a m suam, nisi guia est stans, fixa per se, 11011 indigens i n sui fixione
l' l sui essentia re alia rigente ipsam, guoniam est substantia sim­
p l e x , sufficiens per seipsam.

CAPITULUM QUINTUM DECIMUM

1 29 . Omnes virtutes guibus non est finis pendentes sunt per


i n fi n i tum primum guod est v i rtus v irtutum, non guia ipsa sit acgui­
s i ta fi xa, stans in rebus entibus, immo est vi rtus rebus entibus ha­
hcntibus fixionem.
* Diz o texto de S. To más : 11 0 11 quia s u n t acq uisitae, stantes in
rc bus, i m mo sunt. . .

Coleção Filosofia - 1 07 131


O Livro das causas - Liber de causis

1 30 . E se alguém d i sser que o ser pri m e i ro c r i ado, a s ab e r a


i n te l igê n ci a , é também poder para o qual n ão existe l i m i t e , respo 1 1
deremos que o s e r criado não é o poder, mas s i m u m c erto poder.

1 3 1 . Entretanto, o poder d a i n t el igê n c i a torna-se i nfi n i to


somente para aqu i l o q ue lhe é i n feri or, e não para aqu i l o que lhe t'
superior: de fato, ele não é poder puro, que só é poder porq u e é po
der, e que é u m a coisa que n ão é fi n it a nem para o inferior n e m
p ara o superior. Mas o ser cri ado pri me i ro , a saber a i ntel igência.
t e m u m l i m i te, e para seu po d e r e x i s te u m l i mite, dentro do q u a l
s u a causa se mantêm.

1 3 2. Mas o s er pri m e i ro cri ador é o p r i m e i ro i n fi n i to puro .

1 3 3 . I sto é des t a forma p e l a s e g u i nte razão : se os s eres


fortes n ão t i v erem limite que é adqu i rido do i n fi n i to pri meiro l'
puro, a trav és do qual são seres infi nitos, e se é o ser pri m eiro p n'>
prio que c ol oca as coisas que não tem l i m i te, então, ele está s e m
dúvida al g u m a ac i ma do i n fin i t o .

1 34. M as o ser pri m ei ro c r i ado, a saber a i ntel igência, n ã o


é não fi n i t o : até antes se d i z que é i n fi n i to , mas não se d i z que e ll'
p rópri o é o não finito.

1 3 5 . O ser p ri m ei ro é, então, med ida dos seres pr i me i ros


inteli gívei s e d o s seres s e g u n d os sensíveis, e i ss o porque foi e k
q u e cr i ou o s seres e os m edi u com a medida q u e co nvê m a todo
s er .

1 3 6 . Por i s so rei teremos e digamos q u e o ser pr i m ei ro qlll'


é c r i ador, está aci ma do i n fi n i t o , mas
que o ser s e g und o , que é cri ·
ado , é i n fi n i to ; e aquilo que se e ncont ra en tre o pri meiro criador e o
ser s eg u n do cri ado é n ão fi n i to .

1 32 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 30 . Quod si aliguis dicat guod ens primum crca t u m . sc i l i ­


n; t i ntel l i gentia, est virtus etiarn cui non est fin i s , cliccmus q uod
1 1on est ens creatum virtus, immo est ei virtus guaeclam.

1 3 1 . Et virtus guiclem eius non est facta infinita nisi i n fc­


rius, 11011 superius, guoniam ipsa non est virtus p ura guae non cst
v i rtus, nisi guia est v irtus, et est res guae non fi nitur i nferius negue
superi us. Ens autem primurn creatum, sci l i cet intelligenti a, h abet
fi nem et virtuti cius est finis secundum quem remanet causa eius.

1 32 . Ens autern pri mum creans est infinitum pri mum pu-
rum.

1 3 3 . Quocl est guia, si entibus fortibus non est finis propter


suam acguisitionem ab i nfi n i to primo puro propter guocl sunt entia
i nfinita et si ens pri mum ipsum est quod ponit res quibus non est
l"inis, tunc ipsum procul clubio est supra infinitum.

1 34. Ens autem creatu m prirnurn scilicet intell igentia, non


c s l non fi n itum ; immo clicitur guocl est infi n i tum, negue dicitur
quod est ipsu m met guod est non finiturn.

1 35 . Ens ergo primum est mensura entium primorum inte­


l lectibil ium et entium secundorum sensibilium, scilicet guia ipsum
cst quod creavit entia et mensuravit ea mensura convenienti omni
cnti .

1 3 6 . Recleamus ergo et clicamos quod ens primum creans


cst supra i nfi n i tum, secl ens secundum creatum est infinitum; et
quod est i nter ens primum creans et ens secundum creatum cst non
fi nitum.

Coleção Filosofia - 107 1 33


O Livro das causas - Liber de causis

1 37 . E as outras perfeições simples, como vida e luz 1·


aquelas que lhe são semelhantes, são as causas de todas as coisa�
que possuem perfeições , porque o i nfinito é pela causa primeira e 1 1
primeiro causado é a causa de toda a vida, e d a mesma forma a �
outras perfeições descem da causa prima, em primeiro lugar sobn·
o pri meiro causado, que é a intel igência. Em seguida, descem so·
bre todos os outros efeitos, inteligíveis e corporais , mediante a i n ·
tel igênci a.
(XVII)

PROPOSIÇÃO XVI

138. Toda força unida é mais infinita do que uma força


múltipla.

1 39 . E isto porque o infinito primeiro , que é a intel igência,


está perto do Uno, puro e verdadeiro. Por causa dele, acontece que,
em todo poder perto do Uno, puro e verdadeiro, exi ste i nfinidade
maior do que num poder distante dele.

Isto ocorre porque quando uma força começa a se


1 40 .
multiplicar, a sua unidade é destru ída, e quando sua unidade é des­
truída, sua infinidade também o é. E sua infinidade é destruída so­
mente quando se dividir.

1 4 1 . A manifestação disso é que a força dividida quanto


mais se une e se agrega, tanto mais cresce e se torna forte, e mais
adm i ráveis operações real iza. Em com p ensação, q u ando s e parte e
se divide, tanto mais dimi nui e se enfraquece, e mais operações
i mperfei tas produz.

1 42 . Assim, então, se t o r na manifesto e claro, q u e q u an to


mais uma força estiver perto do Uno, verdadeiro e puro, tanto mais
forte é a sua u nidade, mai s visível e mani festa é a sua i n fi n i tude e
grandes, nobres e admiráveis são suas operaçõe s .
(XVIII)

1 34 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 37 . E t reliquae bonitates s implices, sicut vila e t l u mcn ct


q u ae sunt eis similia, sunt causae reru m omnium habentium bo n i ­
l : i l cs, scil icet quod infinitu m est a causa prima e t causatum pri m u m
l " S l causa omnis vitae e t simi l i ter reliquae bonitates descendentes a
l·: iusa prima super causatum p ri n . u m i n primi s , et est intelligcntia,
i il' i nde descendunt super reliqua causata i ntellectibili a et corporea,
1 1 1cdiante i ntelligentia.

CAPITULUM SEXTUM DECIMUM

1 3 8 . Omnis v i rtus unita plus est infi n ita quam vi rtus multi-
p l icata.

1 39. Quod est quia i nfini tum primum quod est i n telligentia
l'S l pro p i n qu u m Uni, p u ro et vero . Propter i llud ergo factum est
q uod in otnni virtute propinqua Un i , puro et vera est infinitas plus
quam i n virtute l onginqua ab eo.

1 40 . Quocl est quia virtus, quando i ncipit multiplicari , tunc


destruitur unitas eius, et quando destruitur eius u nitas, destru i tur
L'ius i n fi n i tas . Et non destruitur i nfi n i tas eius nisi quia dividitur.

14 l . Et illius quidem significatio est v i rtus divisa, et quod


i psa quanto magis aggrcgatur et unitur, magnificatur et vehemcnti­
or fi t ct efficit operationes rni rabilcs; et quan to magis partitur et di­
v i d i tur, m i noratur et debilitatur et efficit operationes viles.

1 42. Iam igitur mani festum est et planum quocl virtus,


q uanto plus aproxi mat Uni, puro vero, fit vehementior eius u n i tas,
L'l q uanto vchementius fit unitas , est infi n i tas in ea magis apparens
ct rnan ifestior et sunt operationes eius operati ones magnae, m1ra­
bi les et nobil es.

Coleção Filosofia - 1 07 1 35
O Livro das causas - Liher de causis

PROPOSIÇÃO XVII

143. Todas as coisas possuem o ser graças ao ser pri·


meiro, e todos os seres vivos são movidos por sua essência gra·
ças à vida primeira, e todos os inteligíveis têm conhecimento
graças à inteligência primeira.

1 44. Vej a porque: no caso de toda causa dar a seu efei to


alguma coisa, neste caso, sem dúvida alguma, o ser pri meiro dá o
ser a todos os efeitos.

145. E da mesma forma a vida dá a seus efeitos o mov i­


mento, porque a v i da é duas coisas : uma processão que vem do s e r
primeiro, em repouso e perpétuo, e o primeiro movimento .

1 46 . E do mesmo modo a inteligência dá o conhecimento a


seus efeitos.

1 47 . Isto tem a seguinte expl icação : todo conhecimento


verdadeiro existe somente na inteligência, e a inteligênci a é o pri­
meiro cognoscente que é, e ela estende o conheci mento s o bre os
outros que têm conheci mento.

1 48 . Reiteremos e digamos que o ser pri mei ro está em re­


pouso e é causa das causas, e se ele mesmo dá o ser a todas as coi­
sas, o faz através de criação. Mas a vida primeira dá a vida àqueles
que estão abaixo de la , não através de criação, mas através d e in­
formação * . E semelhantemente, a i nteligência somente dá conhe­
cimento e outras co i sas àq uele que está abaixo de la por modo de
informação * .
* "Informar" = i mpr i m i r u ma forma" n o sentido neopl atôn ico,
"

"dar ex istência determi n ada" (XIX).

1 36 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerarei J oseph ter Reegen

CAPITULUM SEPTIMUM DECIMUM

1 43 . Res omnes h abent entia propter ens pri m u m , c l rcs v i ­


vae omnes sunt motae per essenti am suam propter vi tarn pri m a m ,
L'l res intellecti b i les o rn n e s habent scientiam propter intel l i ge n t i a m
pri mam.

1 44. Quod est qui a, si omnis causa dat cau s ato sua aliq u i cl ,
t unc procul dubio ens primum clat causatis omnibus ens .

1 45 . Et s i m i l i ter vita dat causatis suis motu m , q u i a vila est


process10 procedens ex ente primo quieto, sempi terno, et primus
mot u s .

1 46 . Et s i m i l i ter i n telligenti a d a t causat i s suis scientiam.

1 47 . Quod est quia omnis scientia vera 11011 est n i s i in i nte­


l l i genti a et i ntelligen t i a est pri m u m sciens quod est, et est influens
scientiam super rel iqua scientia.

148. Redeamu s autern et di camus quod e n s pri rnum est


quietum et est causa causarum, et, s i ipsum dat omni bus rebus e n s ,
lunc i p s u m dat ei s per modum creationi s . V i t a autem pri ma d a t e i s
quae sunt ea v i tam, non per mod u m creati o n i s i m m o per modu m
formae. Et simi l i ter intell igen t i a non dat e i s quae s u n t sub ea de
scientia et rel i q u i s rebus n i s i per mod u m formae .

Coleção Filosofia - 1 07 1 37
O Livro das causas - Liber de causis

PROPOSIÇÃO XVIII

149. Entre as inteligências, há aquela que é inteligência


divina, porque esta recebe das bondades primeiras procedentes
da causa primeira, mediante uma recepção múltipla. Há, tam­
bém, aquela que é somente inteligência, porque, das perfeições
1>rimeiras, não recebe nada senão por intermediário da inteli­
gência primeira. Entre as almas, há aquela que é alma inteligí­
vel, porque depende da inteligência. Há igualmente aquele que
somente é alma. No meio dos corpos naturais, há aquele que
possui uma alma que o rege e dirige; e há aqueles que são so­
mente corpos naturais, e que não tem alma.

1 50. I sto acontece porque ela não é a série toda das inte­
l i gências, nem a série toda das al mas, nem a s ér i e toda dos corpos
que depende da causa que está acima dela: somente aquilo que nela
é compl eto e acabado depende da causa que está aci ma dela.
( v ej a G11agliardo. 1 1 6) .

1 5 1 . Isto é ass i m porque não toda i nteligência depende por


suas perfei ções do ser da causa pri meira, senão aquela que é a in­
teligência o r i g i nalmente completa e acabada. De fato, aquela pode
receber as perfeições que procedem da causa primei ra, de tal forma
que a sua u n idade se torna forte.

1 52 . Igual mente, n ão é toda al ma que depende da i nteli­


gência, mas aq uela que é completa e acabada e mais forte mente li­
gada à i n teligência, na medida em que depende ela i n teligência e é
uma i ntel i gência completa.

1 5 3 . Enfim, da mes ma manei ra. nem todo corpo natural


tem uma alma, mas somente aquele que é completo e acabado,
como se fosse racional.

1 38 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

CAPITULUM DUODEVICESIMUM

1 49. Ex intelligenti is est quae est intelligentia d i v i na , q u o ­


niam ipsa recipit ex bonitatis pri mis quae procedunt ex caus a pri m a
rcceptione multa. E t d e eis e s t quae est i ntelligentia tantum, q u o n i ­
am non recipit e x bonitatibus primis, n i s i mediante i ntelligentia. E t
ex animabus e s t anima i n tellectibilis, quoniam e s t pendens p e r i n­
tclligenti am; et ex eis est quae anima tantu m. Et ex corporibus na­
t uralibus est cui est anima regens ipsum et faciens di rectionem su­
per ipsu m ; et de eis sunt quae sunt corpora naturalia tantum quibus
1 1 011 est anima.

1 50. Et hoc 110n fit ita nisi quoniam est ipsa expositio ne­
quc intel l ectibilis tota neque ani malis tota neque corporea tota, non
pendet per causam quae est supra eam, nisi quae est ex ea comple­
ta, integra et quae pendet per causam quae est supra eam.

1 5 1 . Scilicet guia non omnis intelligentia pendet per boni­


t ates esse causae pri mae, nisi quae ex eis est i ntel l igentia completa
i n pri m i s integra. Ipse eni m potest recipere boni tates descendentes
e x causa pri ma et pendere per eas u t vehemen s fiat sua uni tas .

1 5 2 . Et similiter non omnis anima pendet per i ntel lige11ti­


am, nisi quae ex eis est completa, integra et vehementius simul
c u m intelligentia, per hoc q uod pendet per i ntelligentiam, et est i n ­
t e l l igentia completa.

1 5 3 . Et s i m i l i ter iterum non omne corpus n aturale habet


an i mam n i s i quod ex eis est completum, i n tegrum, quasi sit ratio­
nale.

Coleção Filosofia - 1 07 1 39
O Livro das causas - Liber de causis

1 54. As outras ordens i nteligíveis são formadas seguindo


este exemplo.
(XX)

PROPOSIÇÃO XIX

155. A causa primeira rege todas as coisas criadas, sem


se misturar com elas.

1 56. Isto se explica ela s eguinte forma: seu governo não en­
fraquece sua u n i d ade, elevada acima ele toda coisa, nem a des trói , e
a essência ele sua u n idade, embora separada d as coisas, n ão i mpede
que as governa.

1 57 . A razão d i s s o : a causa pri m e i ra é estável, sempre i n ­


separável d e sua unidade p u ra, e e l a governa todas a s coisas criadas
e estende sobre elas o poder da vida e as perfeições n a medida das
capacidades e possibil i dade del as . De fato, o bem primeiro estende
suas perfeições sobre todas as coisas através de u m fluxo único.
Portanto, cada coisa recebe deste fluxo na medida de seu poder e
de seu ser.

1 58. O bem primeiro estende sobre todas as coisas suas


perfeições s o mente de um modo ú n i co, porque só é perfeição por
causa do seu ser, seu ente e sua força, de tal forma que é o bem, e
o bem e o ente s ão u m a ú n i c a coisa. Então , da mesma maneira que
o ente primeiro é ser e bondade de uma única forma, convêm que
estenda suas bondades sobre as coisas por u m único fl u x o . M as as
bondades e os dons são diversifi c ados através daquele que recebe.
Porque aq ueles que recebem as perfeições, n ão as recebem da
mesma m aneira: antes certos recebem mais do que outro s , e isto
por causa da grandeza de sua genero s i dade (cf. Patt i n , 1 7 8).

1 40 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

1 54. Et secundum hanc formam sunt reliqui orcl i ncs i n lc­


l l ectibiles.

CAPÍTULUM UNDEVICESIMUM

1 55 . Causa prima regil res creatas omnes praeter quod


comrnisceatur curn eis .

1 56. Quod e s t q u i a regimen non debilitat unitatem cius


cxaltatam super omnem rern negue destruit eam neque prohibet
cam essenti a unitati s : eius sciuncta a rebus quin regat res .

1 57 . Quod e s t q u i a causa prima e s t fi xa, stans cum unitate


s uapura semper, et i psa regi t res creatas omnes et influit s uper eas
virtutem v i tae et bonitates secundum modurn vi rtuturn earum re­
ceptibilium et possibililatem earum. Pri ma eni m bonitas i n fl u i t bo­
nitates super res omnes i nfluxione una; verumtamen unaguaeque
rcrum recipit ex ilia i nfluxione secundum modum suae virtutis et
sui esse.

1 5 8 . Et bonitas pri ma non influit bon itates super res omnes


nisi per rnodu m unum, guia non est bonitas nisi per suum esse et
suum ens et suam virtutem, i ta quocl est boni tas et bonitas et ens
sunt res una. S icut ergo ens primum et bonitas sunt res u na, fit
guod ipsurn influit bonitates super res influxione communi sua. Et
diversificantur bonitatcs et clona ex concursu recipienli s . Quod est
guia rec i pientia boni tates 11011 recipi unt aequali ter, i m mo quaedarn
eorum reci piunt plus quam quacdarn, hoc q u i dem est propter mag­
nitudinem suae l argi tatis.

Coleção Filosofia - 1 07 141


O Li vr o das causas - Liber de causis

1 5 9 . Retornemos ao nosso assunto, e digamos que ent n·


todo agente que age somente por seu próprio ser, e aquilo que pro
duz, n ão existe um elo de ligação, nem outra coi sa i ntermediária. 1 ; .

não há elo ele ligação entre o agente e seu efeito, se não u m acrés
cimo do ser: a saber quando o agente e seu efeito são colocados c 1 1 1
relação p o r u m instrumento, quando o agente não faz nada por seu
próprio ser, e quando são compostos. É por isso que o receptor rc
cebe através de uma conexão contínua entre ele mesmo e aquell'
que o fez, e, então, o agente é separado de seu produto.
Tradução de Anawati , cf. Patt i n , 1 7 8 .

1 60. Mas o agente que não admite absolutamente u ma co·


nexão entre ele mesmo e seu efeito, é um agente e governante ver­
dadeiro, que faz as coisas por causa da beleza, depois ela qual não t;
mai s possível que exista qualquer outra beleza, e governa sua ope­
ração de maneira perfeita. *
* B ardenhcwer: "com uma perfe ição total ( Patt i n , 1 79 ) ; o l atim
diz: "per ultimum regiminis" ( i d . ) .

1 6 1 . É assim, porque governa da mesma forma que age e


age somente pelo que é, então seu ser é igual ao seu governo . Por
i sso se acha que aj a e governe pela beleza mai s perfeita e por um
governo em que n ão existem diversidades nem rodeios. E as opera­
ções e o governo não são diversi ficadas pelas causas pri meiras se­
não conforme o mérito daquele que as recebe .
(XXI)

PROPOSIÇÃO XX

162. A causa primeira é rica por si mesma, e não existe


nada mais rico do que ela.
* Alguns man uscri tos d i zem, s i mplesmente "pri111u111" (Seg u i mos
fon tes de Patt i n , 1 80).

1 6 3 . E a razão disso é a sua unidade, porque esta não é es­


parsa nela mesma, mas antes sua uni dade é pura, porque é si mples
duma si mplicidade extrema.

1 42 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 59 . Redeamus ergo et dicamus quod i nter om11e age 11 s


q uod agit per esse suum tantu m , et inter factum s u u m non est co11-
t i nuator negue res alia medi a. Et non est continuator i n ter agens et
l"actum nisi additio super esse, sci licet quando agen s et factum sunl
per i 11 s trumen tu m et no11 facit pn esse suum et su11t compos ita.
Quapropter recipiens recip i t per continuationem inter ipsum et
factorem suum et est tunc agens seiunctum a facto suo.

1 60. Agc11s vero, inter q u o d et inter factu m suum no11 est


conti nuator pe11itus, est agens ve r um et regens vcrum, faciens res
per fi n e m decoris , post quod non est possibi le ut s i t decus aliud et
rcgit factum s uu m per ultimum reg i m i n i s .

1 6 1 . Quod e s t q u i a regit res per m o d u m quem agi t et no11


agit nisi per ens suum; ergo ens i terum est regímen eius. Q u a prop ­

ter fi t quod regi t et agi t per ultimum decoris et regi men in quo 11011
est diversi tas negue tortu ositas . Et 11011 diversifica11tur operatio11es
et reg i m e n propter causas pri mas 11i s i secu11 d u m m e r i t u m recipie11-
tis.

CAPITULUM VIGESIMUM

1 62. Pri mum est dives per seips u m et 110n est dives maj u s .

1 63 . Et significatio eius est u11i tas eius, 11011 q u i a u 11itas s i t


sparsa i n i p s o , immo est u11i tas pura, quo11 i am est s i mplex i n fi ne
s i mplicitati s .

Coleção Filosofia - 1 07 1 43
O Livro das cau s as - Liber de causis

1 64. E se alguém quiser saber se a causa primei ra é r ica ,

que proj ete o seu espírito sobre as coisas compostas e que as pes­
qui se através de uma procura cuidadosa. Achará, com certeza, qul'
todo composto é um ser menor, po 1:que tem necessi dade ou de um
outro, ou das coisas de que é c o mpos to Mas a única coisa s i mples,
.

aquela que é o bem, é una, e sua u n idade é o bem, e o bem é uma


coisa uma.

1 65 . Então, é m ais rica aquela coisa que estende e sobre a


qual nenhum fluxo detTama, de forma alguma, qualquer coisa que
seja. As outras coisas, inteligíveis ou co rp o r a i s não são ric a s por
,

s i , mai s ai nda, precisam que o Uno verdadei ro estenda sobre elas


suas pe rfeições e todas as graças .
(XX I I )

PROPOSIÇÃO XXI

166. A causa primeira está acima de todo nome com


que é nomeada.

1 67 . P orque ela não tolera nem a dimi n uição, nem mesmo


a perfeição . De fato, aqui lo que é menos ser é i ncompleto, e n ão
pode efetivar operação acabada enquanto é menos ser. O que é
c omp l et o na nossa opi n i ão, embora sej a auto-sufi c i en te, n ão p o de
, ,

de forma alguma, criar qualquer outra coisa, nem estender de si


mesmo sej a o que for.

1 6 8 . Se, então, sob nosso ponto de vis t a a s i t u aç ão for essa,


repeti mos e dizemos que a pri meira causa não é um ser menor,
nem apenas um ser acabado : é antes ele tudo aci ma cio ser acabado.

1 69 . Porque cria as coi sas e estende sobre e l as as suas


perfeições através ele um fl uxo acabado, porque ele é o bem, que
não tem limi te nem medida.

144 Coleção Filosofia - 1 07


Jan Gerard J oseph ter Reegen

1 64 . Si autem aliquis vult scire quod causa pri ma est dives,


proiciat mentem suam super res compositas et inquirat de eis inqui­
ritione perscrutata. lnveniet eni m omne compositum dimi nutum,
i ndigens quidem aut alio aut rebus ex quibus componitur. Res au­
tem s implex una quae est bonitas, est una et unitas eius est bonitas
et bonitas est res una.

1 65 . Il i a ergo res est dives maj u s quae intluit, et non fit in­
fl uxio super ipsam per aliquem modorum. Reliquae autem res, in­
tellectibiles sint aut corporeae, sunt non dives per seipsas, immo
i ndigent Uno vero influente super eas boni tates et omnes gratias .

CAPITULUM VIGESIMUM UNUM

1 66. Causa prima est super omnem nomen quo nominatur.

1 67 . Quoniarn non perti11et ei di rni11utio neque cornple­


mentum sol u rn ; quoniam diminuturn est no11 completum et 11011
potest efficere operationern completam, quando est diminutum. Et
cornpleturn apud nos, quarnvi s sit sufficiens per seipsum, tarnen
non potest creare aliquid aliud neque i ntluere a seipso al iquid o m­
nino.

1 6 8 . S i ergo hoc i ta est apud nos, tunc dicimus quod


prirnurn non est dimi11utum neque completum tantum , i mmo est
supra completum.

1 69. Quoniarn est creans res et intluens bonitates super eas


i ntluxione compl eta, quoniam est bonitas, cui non est finis neque
dimensiones.

Coleção Filosofia - 1 07 1 45
Jan Gerard J oseph ter Recgt · 1 1

1 70 . O primeiro bem, então, enche de perfeições todos m


mundos; entretanto, todo mundo recebe desta bondade somc 1 1 l t ·
conforme a medida d e s u a potência.

1 7 1 . Agora, então, está demonstrado e manifesto que 1 1


causa primeira está acima de todo nome com que é nomeado, e s11
perior a ele e mais elevada.
(XXIII)

PROPOSIÇÃO XXII

172. Toda inteligência divina conhece as coisas enqua n�


to inteligência, e as governa enquanto divina.

1 7 3 . Isto porque a propriedade da i nteligência é o conlw


ci mento * , e n ão existe outra coisa que complete e assegure sua i 1 1
tegridade senão o conhecer. Aquele q u e governa é, então, Deus.
bendito e altíssimo* * , porque enche as coisas com perfeições . E i l
inteligência é o primeiro criado e o que há de mais parecido co1 1 1
Deus altíssimo, e por isso ela governa os coisas que estão abai xn
dela. E da mesma forma q u e Deus, bendito e altíssimo, estende 1 1
bondade sobre as coisas, do mesmo modo a intel igência estende t i
conhecimento sobre as coisas que estão abaixo dela.
* O u : a ciência. * * Algun s : "que sej a ben d i to e louvado'', (Patti 1 1 ,
1 84).

1 74. Entretanto, embora a i ntel i gência governe as coisas


que estão abaixo dela, Deus, bendito e altíssimo, precede a intel i
gência através de seu governo, e ele governe as coisas através dt·
um governo de ordem mai s ele v ad a e s u p e r i or ao governo da intc
ligência, porque é ele que dá o governo à i nteligência.
(cf. 1 7 3 )

1 46 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 70. Bonitas ergo prim a i mplet omn i a s aecula bon i tati b u s ;


veru mtamen 01nne s aecu l u m non recipit de illa bonitate, nisi s e ­
cundum modum suae potentiae.

1 7 1 . Iam ergo ostensum est et manifestum quod causa pri ­


ma est super o mne nomen quo nominatur et superior eo et alior.

CAPITULUM VIGESIMUM SECUNDUM

1 72 . Omnis intelligentia divina scit res per hoc quod ipsa


est i ntell i gentia, et regit eas per hoc quod est d i v i na.

1 73 . Quod est quia proprietas intel l i gentiae est scientia, et


non est eius complementum et integri tas nisi ut scien s . Regens ergo
cst Deus, benedi ctus et sublimis, quoniam i pse replet res bonitati­
bus. Et i ntelligentia est primum creatum et est plus similis Oco su­
blimi, et propter illud regit res quac sunt sub ea. Et sicut Deus be­
nedictus et excel sus intluit bonitatem super res, simil i ter i ntell i ­
gentia i ntluit scientiam super res quae sunt a b ea.

1 74. Verumtamen, quamvi s intell igentia regat res quae


sunt sub ea, tamen Deus bcndictus et sublimis precedi t intelligenti­
am per regímen et regit res regimine sublimioris et alti oris ordinis
quam sit regímen intelligentiae, quoni am est i llud quod dat intell i ­
gentiae regí men .

Coleção Filosofia - 1 07 1 47
O Livro das causas - Liber de causis

1 75 . Isto se comprova pelo fato de que as coisas que são


governadas pela inteligência, recebem o governo do criador da in­
teligência, porque nenhuma entre as coisas se subtrai ao seu gover­
no, porque ele quer fazer com que todas as coisas recebam todas
j untas a sua perfeição. E isso é assi m porque nem as coisas dese­
jam a inteligência ou desej am recebê-l a; mas todas desej am a per­
feição que vem do primeiro e desej am recebê-la com um grande
desej o . Não há pessoa que duvide disso.
(XXIY)

PROPOSIÇÃO XXIII

176. A causa primeira está em todas as coisas conforme


uma disposição única*, mas todas as coisas não existem na cau­
sa primeira conforme uma disposição única.
* A l guns: "eodem modo = da mesma forma" (Patti n , 1 85 ) .

1 7 7 . I s s o é assim, porque embora a causa primeira exista


em todas as coisas, cada uma a recebe de acordo com a medida de
sua própria possibilidade . *
* O grego usaria a palavra 8uvaµtcr, t8.

1 78 . Eis a razão : entre as coisas, há aquelas que recebem a


causa pri meira através de uma recepção unificada, e outras que a
recebem por uma recepção múltipla; há aquel as que recebem por
uma recepção eterna, outras por uma recepção temporal ; há aquelas
que recebem por uma recepção espiri tual, outras por uma recepção
corporal.

1 48 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 7 5 . Et significatio i l l i u s est q u od res , quae rec i p i u n l re­


g í men intel ligentiae, recipi unt reg ímen creatori s intel ligen t i ae ,
q u o d est g u i a n o n refugit regi men e i u s al iqua ex rebus o mn i n o ,
quoni am v u l t u t faci at recipere bonitatem suam s i m u l omnes res .
Quod est q u i a non est quod 01nnis res desiderat i n telligentiam nec
desi derat recipere eam, et res omnes desi derant bonitatem ex pri mo
et desiderant recipere ipsam desideri o multo. ln i l l o non est aliquis
q u i dubitet.

CAPITULUM VIGESIMUM TERTIUM

1 7 6 . Causa prima existit in rebus omnibus secundum dis­


positionem unam, sed res ornnes non exi stunt i n prima sccundum
d i spositionem unam.

1 77 . Q u'bd est q u i a, quamvis caus a prima exi s tat i n rebu s


o m n i b u s , tamen unaquaeque rer u m rec i p i t e a m secundum modum
s u ae potentiae.

1 7 8 . Quod est q u i a, ex rebus sunt q u ae rcc i p i u n t causam


p r i ma m reccptione u n i ta, et ex ei s s u nt q u ae rec i pi u n t eam recept i ­
one rn ultiplicata, et ex e i s s u n t q u ae rccipiunt e a s receptione acter­
na, et ex eis sunt quae rcci p i u n t eam receptione spiritual i , et ex e i s
s u n t q u ae recipiunt e a m receptione corporal i .

Coleção Filosofia - 1 07 1 49
O Livro das cau s a s - Liber de causis

1 79 . A diversidade da recepção não depende da causa pri­


meira, mas daquele que recebe . O receptor é diversificado, e por
i sso aquilo que é recebi do é diversificado. Mas, existindo o uno
não di verso que estende, este derrama sobre todas as coi sas as per­
feições de uma maneira igual ; de fato, a partir da causa primeira as
perfeições são estendidas sobre todas as coisas de maneira igual .
Conseqüentemente, são as coi sas a razão da diversi dade da i nflu­
ência da perfeição sobre as coisas . Então, sem dúvida nenhuma,
todas as coisas não se encontram na causa pri meira de um modo
único. Assim, está demonstrado que a causa primeira se encontra
em todas as coi sas de modo único, e que todas as coisas não se en­
contram nela de modo único.

1 80 . É, então, conforme o grau de proximidade à causa


primeira e conforme a aptidão da coisa em receber a causa prima,
conforme esta medida, um coi sa pode receber da Causa Pri meira e
nela se deleitar. Isto é assim, porque a coisa recebe da causa pri­
meira e se deleita nela somente na medida do seu próprio ser. E
compreendo por ser somente a i ntel igência* : de fato, é na medida
que a coisa conhece a causa primeira criadora que recebe dela, na
sua medida, e se deleita nela, como demonstramos.
* (V ersão apresen tada cm Pattin, 1 87 )
(XXV)

PROPOSIÇÃO XXIV

1 8 1 . As substâncias inteligíveis unificadas* não são en­


gendradas por outra coisa. Toda substância subsistente por sua
essência própria não é engendrada por outra coisa.
* V ari ante : "si mples" ; e n q uan to "un (ficatae" se opõe a "111ultipli­

catae", (Patt i n , 1 87 ) .

1 82 . E se alguém disser: "é possível que ela sej a engendra­


da por outra coi sa", responderemos : se for possível que uma subs­
tância subsistente por sua essência sej a engendrada por outra coisa,
sem dúvida alguma essa substância é inacabada, tendo necessidade
que sej a completada a partir daquilo ele que é engendrada.

1 50 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 79 . Et diversitas quidem receptionis non fi t ex causa pri­


ma sed propter reci piens. Quod est guia suscipiens diversifi catur:
propter illud ergo susceptum etiam diversificatur. Influens vero
existens unum non diversum, influit super omnes res bonitates ae­
qualiter; bonitas namque influit s11per omnes res ex causa aequali ­
ter. Res i g i tur sunt causa diversitatis influxionis bonitatis super res .
Procul dubio igitur n o n inveniuntur res omnes i n prima per modum
u11um. Iam autem ostensum est quod causa prima i nven itur in om­
ni bus rebus per modum unum et non inveni untur in ea om11es res
per modum unum.

1 80 . Ergo secundum propinquitatis causae primae et se­


cu11dum modum quo res potest recipere causam primam , secundum
quantitatem il lius potest reci pere ex ea et delectari per eam. Quod
est quia 11011 recipit res ex causa prima et delectatur i 11 ea 11isi per
mod u m esse sui. Et 0011 intelligo per esse nisi esse et cognitionem,
nam secundum modu m quo cognoscil res causam primam crean­
tem, secundum quantitatern i l l am recipit ex ea et delectatur in ea,
sicut ostendimus .

CAPITULUM VIGESIMUM QUARTUM

1 8 1 . Substantiae unitae intellectibiles non sunt generatae


ex re alia. Omnis substantia stans per essentiam suam est non gene­
rata ex re ali a.

1 82 . Quod si aliquis clicat: possibile est u t sit generata ex re


alia, d i cemus: si possibile est substantia stans per essentiam suam
s i t generata ex alia, procul dubio cst substantia ilia diminuta, indi­
gens ut compleat eam i llud ex quo generatur.

Coleção Filosofia - 1 07 151


O Liv ro das causas - Liber de causis

1 83 . 0 que demonstra isso é a própria geração.

1 84. De fato, a geração não é outra coisa senão a passagem


de um estado de diminuição à pleni tude. Assim, se encontrar uma
coisa que n ão depende de nada na sua geração, isto é, na sua forma
e na sua formação, então, ela mesma é causa de sua própria forma
e de sua perfeição, é sempre perfeita e completa.

1 85 . Exclusivamente por sua relação com aquilo que sem­


pre é sua causa que uma coisa se torna causa de sua formação e de
sua perfeição. Esta ligação une, ao mesmo tempo, sua formação e
sua perfeição.

1 86 . Desde agora, então, está claro que nenhuma substân­


cia subsistente por sua essência é engendrada por uma outra coisa.
(XXVI)

PROPOSIÇÃO XXV

187. Nenhuma substância subsistente por si mesma é


sujeita à corrupção.

1 8 8 . Se alguém disser: "é possível que u m a substância,


subsistente por si mesma, estej a sujeita à corrupção", respondere­
mos : se for possível que uma substância subsistente por si mesma
sej a sujei ta à corrupção, então é possível que ela se separe da es­
sência e que tenha a estabilidade de s u a essência, sem a sua essên­
cia. Ora, isso é i mpróprio e impossível, porque, pelo fato de que ela
é una, simples e não-composta, ela é s i mul taneamente causa e
efeito. Toda coisa suj eita à corrupção é corrompida somente por­
que ela se separa de sua causa; mas enquanto uma coisa fica l igada
à sua causa, que a mantém e conserva, ela n ão perece nem é des­
truída. Se então é assim, a causa de uma substância subsistente por
sua essência j amais será dela separada, porque é inseparável de sua
essência, pelo fato de sua causa ser ela mesma na sua formação.

1 52 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

1 83 . Et significatio illius est generatio ipsa.

1 84. Quod est guia generatio non est nisi via ex dimi n utio ­

ne ad co m plem entum. N am , s i invenitur res non indigens in ge11e­


ratione sui, scilicet i n sua forma et sua formatione, re al ia nisi se
est ipsa causa formationis suae et � sui complementi, est completa,
integra semper.

1 85 . Et non fit causa formation i s suae et sui complementi


ms1 propter relationem suam ad causam suam semper. Ilia ergo
comparatio est formatio eius et ipsius complementum simul.

1 86 . Iam ergo ma11ifcstum est quod omn is substantia stans


per essentiam suam 11on est generata ex re alia.

CAPITULUM VICESIMUM QUINTUM

1 87 . Omnis substantia stans per se ipsam est no11 cadens


sub co r ruptione.

1 8 8 . S i autem aliquis dicat: possibile est ut substantia stans


per se ipsarn cadat sub corruptione, dicemus : si poss ibile est ut
substantia stans per se ipsarn cadat sub corruptione, possibile est ut
separetur eius cssentia et sit fixa, stans per essentiam s u am, sine
essentia sua. Et hoc est i nconveniens et i m possibi le, quoniam,
propterea quod est una, simplex, non compos i ta, est ipsa causa et
causatum simu l . Omnis autem cadentis sub c orr uptione non fit cor­
ruptio nisi per separatio n em suam a causa sua; dum vero permanet
res pen d ens per causam suam retinentem cam et scrvantem eam,
11011 peri t negue destrui t ur. Si ergo hoc ita est, substantiae st an tis
p e r esse11tia m s u a m n o n separatur c a usa scmper, quoniam est i n se­
parabi l i s ab essentia sua, propterea quod causa ei us est i psa i n for­
matione s u i .

Coleção Filosofia - 1 07 1 53
O Livro das causas - Liber de causis

1 89 . E ela somente torna-se causa de si por sua relação


com sua causa, e esta relação é sua formação. Por isso, pelo fato de
estar sempre ligada a sua causa e porque ser ela mesma a causa
dessa rel ação, ela p róp ri a é causa de si mesma, da forma que indi­
camos : não perece, nem é destruída porque é simultaneamente
,

causa e efei to, como demonstramos , há pouco.

1 90. Es tá , então, confirmada que nenhuma substância, sub­


s istente por si mesma, é destruída nem corrompida.
(XXV ll)

PROPOSIÇÃO XXVI

1 9 1 . Toda substância destrutível e não perpétua ou é


composta ou sustentada por outra coisa.

1 92 . Conseqüentemente, a substânci a, ou necessita de coi ­


sas de que ela obtêm seu ser e de que é composta, ou precisa de
um sustento, para sua estab i l idade e sua es s ê ncia . Quando, então,
aqu i lo que a sustenta se separa, ela é corrompida e destru ída.

1 93 . Mas, se uma substância não é composta nem susten­


tada, en tão, ela é simples e p e rpét u a e não conhece nenhuma des­
tru ição nem diminuição.
(XXVIII)

PROPOSIÇÃO XXVII

1 94. Toda substância subsistente por sua essência é


simples, e não é dividida.

l .'i 4 Coleção Filosofia - 1 07


Jan Gerard J oseph ter Reegen

1 89 . Et non fit causa s u i i p s i u s nisi propter rel ati onem suam


ad causam suam; et ilia relatia est formatio eius. Et proptcrea, quia
est semper rel ata ad causam suam et ipsa est causa i l l i us relationis,
est ipsa causa suiipsius per modum quem diximus, guod 11011 p e ri t
negue eti am destruitur, guoniarn est causa et cau satu m simul, s i c u t
ostendimus nuper.

1 90. Iam ergo veri ficatum est guod omnis substantia stans
per sci psum 11011 destrui tur negue corru mpitur.

CAPITULUM VIGESIMUM SEXTUM

1 9 1 . Omn i s substantia destructibilis 11011 sempi terna aut est


compos ita aut cst delata super rem al iam.

1 92. Propterea guod substantia aut est indigens rebus ex


guibus cst ct cst cornposita ex eis, aut est indigens in fi xio11e sua et
sua esse11tia deferente. Cum ergo separatur deferens ea m corrum­ ,

p i tur et destru i tur.

1 93 . Q u od si substantiam 11011 est c omp osita neque delata,


est simplex et sernper, 11011 destruitur negue rninuitur om11 i 110.

CAPITULUM VIGESIMUM SEPTIMUM

1 94. O m11i s substantia stans per csse11ti am suam est s i m­


plex et no11 dividitur.

Coleção Filosofia - 1 07 1 55
O Livro das causas - Liber de causis

1 95 . Se qualquer um di sser: "é possível que sej a dividida",


responderemos: se é possível que uma substânci a subsistente por si
mesma sej a dividida ao mesmo tempo que sej a simp l es, então é
possível que a e ss ê ncia de uma parte sua sej a, por sua vez, subsis­
tente por sua própria essência, como é a essência do todo . Se i sto,
então, for possível , esta parte volta sobre si mesma, e cada u m a de
suas partes faz volta so b re si mesma, da mesma maneira que existe
a volta do todo sobre sua própria essência; ora, i sto é i mpossível. E
s e i sto é i m possível , u ma substânci a, subsistente por s i mesma, é,
então, indi v i s ível e si mples .

1 96 . Se portanto ela não é s i mples, mas composta, então,


uma parte é melhor do que a outra, u m a parte pior do que a outra e
a melhor vem ela pior e a p i or da mel hor, logo que cada uma de su­
as p art e s é sep a ra da ele c a da outra ele suas partes .

1 97 . N es tas cond i ções, sua totali dade não é su fici ente por
si mesma, porque ela precisa das partes ele q ue é composta. De
fato, isto não é da natureza do si mples, mas sim da natureza das
substâncias compostas.

1 9 8 . É, então, notório que toda substância, subsi stente por


sua essênci a, é s i mples e não se divide; e porque ela é s i mples e
n ão admi te d i v isão, ela não adm i te corru pção nem destruição.
(XX I X )

PROPOSIÇÃO XXVIII

199. Toda substância simples é subsistente por si mes­


ma, isto é, pelo fato de sua própria essência.

200. P o rq u e ela foi c r i ada fora do tempo, e na sua subs tan­


cialiclacle estú acima das substâncias temporais.

Coleção Filosofia - 1 07
Ja11 Gerard Joseph ter Reegen

1 95 . Quod si dixerit aliquis: possibile est ut div idatur, cli ­


cemu s : si possibile e s t ut substa11tia stans per s e dividatur et e s t i p­
sa si mplex, possibile est ut essentia partis eius sit per essentiam
eius iterum sicut essentia toti us. Si ergo possibile est illud, redi t
pars super seipsam, e t est omnis pars eius rediens super seipsam,
sicut est reditio totius super essent�dm suam ; et hoc est impossibi le.
Si ergo est impossibile, substantia stans per seipsam est indivisibi­
lis et est simplex.

1 96. S i autem 11011 est simplex sed est composita, pars eius
est mel ior parte et pars ei us vilior parte, ergo res melior est ex re
viliori et res vilior ex re meliori, quando est omnis p ars eius sei­
u ncta ab omne parte eius.

1 97 . Quare est universitas eius non sufici ens per seipsam,


cum indigeat partibus suis ex quibus componitur. Et hoc quidem
non est de natura rei simp l i c i s , immo de natura substantiarum
compositarum .

1 98 . Iam ergo constat quod omnis substantia stans per es­


sentiam suam est simplex, non dividitur; et, quando non recipit di­
visionem et est s i mplex, non est recipiens corruptionem negue
destructionem.

CAPITULUM DUODETRICESIMUM

1 99 . Omnis substantia s implex est stans per seipsam, sci l i ­


cet per essentiam suam.

200 . Nam i psa est creata s i ne tempore, et est in substantia­


l itate sua superior s ubstantiis temporal ibus.

Coleção Filosofia - 1 07 1 57
O Livro das causas - Liber de causis

20 1 . A prova disso e s tá no fato de ela não ser engendrada a


part ir de alguma co isa , porque ela é su bsi stente por sua essência; e
as substâncias engendr ad as a p ar ti r de alguma coisa são s u b s tân­
cias compostas, suj eitas à geração .

202 . Então, está claro que toda substância subsistente por


sua essência só pode ser atemporal, porque ela é mais alta e mai s
elevada que o tempo e as co isa s temporai s .
(XXX)

PROPOSIÇÃO XXIX

203. Toda substância criada no tempo, ou está sempre


no tempo e o tempo não a supera, porque ela e o tempo são
igualmente criados; ou, então, ela é superada pelo tempo e o
tempo a supera, porque ela é criada em determinadas horas do
tempo.

204. Isto ocorre, porque: s e as coi sas criadas se seguem


mutuamente. e uma substância s u p e ri o r somente seg u e u ma subs­
tância que lhe é p arecida e não uma diferente, então existem sub s ­
tâncias parecidas com a substância s u p erior - são as substâncias
criadas que o tempo não supera , que são antes das subs t ânc i as
-

que não são pare c i d as às substâncias perpétuas, e existem substân­


cias que são recortadas pelo tempo, cri adas em determinadas horas
do tempo . Não é, então, possível que as substâncias c riada s cm
dete r mi nad a s horas do tempo estej a m em continuidade com as
substâncias perpétuas, porque de modo algum se parecem com
el as . Então, as substâncias perpétuas no tempo são aquelas que es­
tão em continuidade com as s ubs tâ n cias perpé tuas e elas são inter­
mediárias e ntre as s u bs tân c i a s estáveis e as substâncias cortadas
pelo tempo. N ão é pos s ív e l que as substâncias p erp étua s que estão
acima do tempo toquem as substâncias te m p orai s cri adas no tempo,
senão p e l o intermédio elas substâncias temporai s que e s t ão no tem­
po.

158 Coleção Filosofia - 1 07


Jan Gerard Joseph ter Reegen

20 1 . Et significatio i llius est quod non est generata ex ali­


quo, quoniam est stans per essentiam suam; et substantiae genera­
tae ex aliquo sunt substantiae compositae cadentes sub generatione.

202. I am ergo est mani festum quod 01nnis substanti a stan s


per essentiam suam no11 est nisi in 11011 tempore et guia est altior e t
superior tempore e t rebus temporali bus.

CAPITULUM UNDETRICESIMUM

203 . Omn i s substa11tia creata in tempore aut est semper in


tempore et tempus 11011 supertluit ab eo quoniam est creata et tem­
pus aequaliter, aut supertl u i t super tempus et tempus superfluit ab
ea, quoniam est creata in quibusdam hori s temporibus.

204. Quod est gu i a si creata sequuntur se ad invicem et


substanliam superiorem 11011 sequitur n i s i substa11tiia ei similis, non
substantia dissimil i s ci, sunt substa11tiae similes substantiae superi­
ori - et sunt substantiae creatae a quibus non superfluit tempus -
ante substa11tias quae non assimila11tur substanti i s sempi ternis, et
sunt substantiae abscissae a tempore, creatae i11 quibusdam horis
tempori s . No11 est ergo possibile ut continue11tur substantiae creatae
i11 quibusdam horis temporis cum substant i i s sempiternis, quoniam
non assimilantur ei omnino. Substantiae ergo sempiternae in tem­
pore su11t illae quae conti nua11tur cum substa11tii s sempiterni s , et
sunt mediae inter substantias fixas et inter substa11tias sectas i11
tempore. Et 11on est possibile ut substa11ti ae sempiternae quae sunt
supra tempus sequantur substa11tias temporales creatas i n tempore,
11 isi mediantibus substantiis temporalibus sempiternis i11 tcmpore.

Coleção Filosofia - 1 07 J )l)


O Livro das causas - Liber de causis

205 . E essas substâncias somente foram fei tas intermediá­


rias para que se comuniquem de u m lado com as substâncias mais
altas na permanência, e de outro lado com as substâncias temporais
cortadas pelo tempo na geração ; de fato, embora sej am perpétuas,
elas têm, porém, a sua permanência através da geração e do movi­
mento.

206 . E as substâncias perpétuas, que coexistem com o tem­


po, são p arecidas com as substâncias perpétuas que estão acima do
tempo, pel a perenidade, mas n ão lhes são parecidas na medida em
que estão em movi mento e em geração. Substâncias cortadas pelo
tempo n ão são pareci das com as substâncias perpétuas que estão
ac ima do tempo de alguma manei ra. Se, então, não são parecidas
com elas, n ão podem recebê-las nem entrar em contato com elas.
São, pois, necessári as substâncias que estão em contato com as
substâncias perpétuas que estão acima do tempo; e elas tocarão as
substâncias recortadas pelo tempo.

207 . Elas, então, u nirão por seu movi mento próprio as


substâncias recortadas pelo tempo e as substânci as perpétuas que
estão acima do tempo. Reunir-se-ão por sua capacidade de durar
entre as substâncias que estão aci ma do tempo, e entre as substân­
cias que estão sob o tempo, sujeitas à geração e à corrupção . Reu­
nir-se-ão entre as substâncias boas e as substânci as más, a fim de
que as más não estej am privadas das boas, de toda perfeição e de
todo convívio, e que permanência e estab i l i dade n ão lhes façam
falta.

1 (J( ) Coleção Filosofia - 1 07


Jan Gerard Joseph ter Reege n

205 . Et istae quidem substantiae non factae sunt mediae,


ms1 q uoni am ipsae comunicant substantiis sub l imibus i n perma­
nenti a et communicant substantiis tempo ra l ibus abscissis in tempo­
re per generationern ; ipsae enim, quamvis sint sempiternae tamen ,

permanentia ear um est per generationem et motum.

206 . Et substantiae sempiternae cum tempore sunt similes


substantiis sempi ternis quae sunt supra tempus per durabilitatem et
non assim i l antur eis in motu et generatione. S ubstanti ae autem
sectae in tempore non assimil antur substantii s sempiternis quae
sunt supra tempus per aliquem modorum. S i ergo 11011 assimilantur
e i s tunc non possunt recipere eas neque tangere eas . Necess ariae
,

ergo sunt substantiae quae tangunt substantias sempiternas quae


s u nt supra tempus, et erunt tangentes substantias sectas i n tempore.

207 . Ergo aggregabunt pe r motum suum i nter s u b s tantias


sectas i n tempore et inter substantias sempiternas quae sunt supra
tempu s Et agg reg abunt per du rab i li t a t e m suam i n ter substantias
.

quae sunt supra t e m pus et i nt e r substantias quae s u nt sub tempore,


scilicet cadentes s ub generatione et cotTuptione. Et aggregabunt
i nter substanti as bonas et i nter substantias v i les, ut non priventur
substantiae v i les subs t anti i s bonis et pri ventur omni bon itate et
omni conveni ente, et non s u it eis remanentia neque fixio.

Coleção Filosofia - 1 07 161


O Livro das causas - Liber de causis

Então está demonstrado, a parti r disso, que existem


208 .
duas maneiras de durabilidade: uma é eterna, a outra é temporal .
De fato, uma delas é fixa, tranqüila, a outra se move; e uma delas
agrega e suas operações são simultâneas, nenhuma acontecendo
antes da outra; a segunda, porém, é móvel , extensa, algumas de su­
as operações antecedem outras . A primeira subsiste em repouso ; a
outra é movida. A totalidade de u ma delas resulta de sua essência;
a totalidade da segunda resulta de suas partes, de que qualquer uma
é separada de sua semelhante conforme a ordem do anterior e do
posterior.

209 . Assim, é evidente que há certas substâncias perpétuas


que estão acima do tempo, que há outras que são perpétuas, iguais
ao tempo, e o tempo n ão as supera, que há outras que são cortadas
pelo tempo, e o tempo as supera, da mai s alta até a mais baixa entre
elas, i sto é, de seu princípio até seu fim - e estas são as substâncias
que sofrem de geração e corrupção.
(XXXI)

PROPOSIÇÃO XXX

210. Entre uma coisa cuja substância e atividade estão


no campo* da eternidade e uma coisa cuj a substância e ativi­
dade estão no campo do tempo, existe um intermediário: aquilo
cuja substância depende do momento da eternidade e cuja ope­
ração depende do tempo
* O lati m d i z "i11 1110111e11to ", mas a l g uns traduzem " i111 Gebie­
te ", "dans la limite " (Patt i n , 1 98).

1 62 C oleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard J oseph ter Reegen

208 . Iam ergo ostensum est ex hoc quod durab i l i tati s duae
sunt species quarum una est aeterna, et altera est temporal is. Ve­
rumtamen una durabilitatum duarum est stans, quieta, et durabilitas
altera movetur; et una earum aggregatur et operationes eius omnes
simul, neque quaedam earum est ante quamdam, et altera est cur­
rens, extensa, quaedam operati rmes eius sunt ante quasdam. Et uni­
versalitas unius earum est per essentiam suam, et universalitas alte­
rius est per partes suas quarum unaquaeque est seiuncta suae com­
pari per modum pri mum et postremum.

209 . Iam ergo manifestum est quod substantiaru m quae­


dam sunt quae sempiternae sunt supra tempus, et ex eis sunt sem­
p i ternae aequales tempori et tempus non superfluit ab eis, et ex eis
sunt quae abscissae sunt a temporc et tempus superfluit ab eis ex
superiori earum et ipsaru m inferiori , scilicet ex principio earum us­
que ad extremum ipsarum, et sunt substantiae cadentes sub genera­
tione et corruptione.

CAPITULUM TRICESIMUM

2 1 0. Inter rem cuius substantia et actio sunt in momento


aeternitatis et i n ter rem cuius substantia et actio sunt in momento
tempore existens est medium, et est illud cuius substantia est ex
momento aeternitatis et operatio ex momento temporis .

Coleção Filosofia - 1 07 1 63
O Livro das causas - Liber de causis

2 1 1 . Eis porque: uma coisa cuj a substância está no tempo,


porque o tempo a contém, está sob o tempo segundo todas as suas
d i sposi ções . Por causa disso também a sua ação está sob o tempo ;
porque quando a subst â ncia da coisa está sob o tempo, sem dúvida
algu ma sua ação está sob o tempo . Mas a coisa que está sob o tem­
po conforme todas as suas disposições é separada da coisa que está
sob a eternidade em todas as suas disposições . Continuidade, pois,
só exi s te entre coisas semelhantes . É, então, necessário que exista
uma tercei ra coisa, uma outra, i ntermedi ária entre estas duas, cuj a
sub s tância está sob a e tern idad e e cuj a ação está sob o tempo.

2 1 2 . Porque é i mpossível que exi sta uma coisa cuj a subs­


tânci a estej a sob o tempo e cuj a ação e s tej a sob a ete rn i d ade, por ­

q u e sua ação seria, então, melhor do que sua substânci a, o que é


i m possíve l .

2 1 3 . Está claro, então, que entre as coisas que estão sob o


tempo t an to com a sua substância, quanto com sua ação, e aquelas
cuj a substância e a ç ã o estão sob o momento da ete rn idade, existem
coisas que estão sob a e t er n i dad e por sua substânci a e sob o tempo
por suas operações, como demonstramos.
(XXXII)

PROPOSIÇÃO XXXI

214. Toda substância, que está sob a eternidade em al­


gumas de suas disposições e sob o tempo em outras, é simulta­
neamente ser e geração.

2 1 5 . Porque toda coisa que est á sob a ete rn i dade é v erda ­

dei ramente ser. e to da coisa que está sob o tempo é verdadeira­


m ente ger ação Se, e ntão as co i sas fore m desta forma, a coi s a que
. ,

está sob a ete r n i d a d e e sob o tempo, é ser e geração, n ão de modo


úni co, mas de modos d i ferente s .

1 64 Coleção Filosofia - 1 07
Jan Gerard Joseph ter Reegen

2 1 1 . Quod est quia res cuius substantia cadit sub tempore,


scilicet quia tempus continet eam, est in omnibus dispos i tionibus
suis cadens sub tempore, quare et eius actio cadit sub tempore :
quoniam quando substantia rei cadit sub tempore, procul dubio et
eius actio cadit sub tempore. Res autem cadens sub tempore i n om­
nibus dispositionibus suis seiur cta est a re cadente sub aeternitate
in omnibus dispositionibus sui s . Continuatio autem non est nisi i n
rebus similibus. N ecesse e s t igitur ut s i t res alia tertia medi a i nter
utrasque cuius substantia cadat sub aeterni tate et i psius actio cadat
sub tempore.

2 1 2 . lmpossibile namque est ut s i t res cuius substantia ca­


dat sub tempore et actio eius sub aeternitate: sic enim actio eius
meli or esset ipsius substantiae ; hoc autem est i mpossibile.

2 1 3 . Manifestum igitur est quod inter res cadentes sub


tempore cum suis substantiis et suis actionibus et inter rcs quarum
substantiae et actiones sunt cadentes sub momento aeterni tatis sunt
res cadentes sub aetcrnitate per substantias suas et cadentes sub
tempore per operationes suas, sicut ostendimus.

CAPITULUM TRICESIMUM UNUM

2 1 4. Omnis substantia cadens in quibusdarn dispositioni­


bus suis sub aeterni tate et cadens i n quibusdam dispositionibus suis
sub ternpore est ens et generatio simul .

2 1 5 . Omnis enim res cadens sub aeterni tate est ens vere et
01nnis res cadens sub ternpore est generatio vere. Si ergo hoc i ta est
tunc, si res una est cadens sub aeternitate et tempore, est ens et ge­
neratio non per modum unum sed per modu m et modu m.

Coleção Filosofia - 1 07 1 65
O Livro das causas - Liber de causis

2 1 6 . A partir daquilo que dissemos, torna-se, então, claro


que tudo que é gerado, estando sob o tempo pela substância, possui
uma substânci a que depende do ser puro, que é a causa da pereni­
dade e a causa de todas as coisas, tanto as perpétuas, como as pere­
cíveis .

2 1 7 . É necessário que haja um Uno* para adquirir a s uni­


dades e que ele mesmo não sej a adquirido embora todas as outras
unidades sej am adquiridas .
* "O u n o v erdade i ro" d i ze m a l g u n s manuscritos ( Pattin , 20 1 ) .

2 1 8 . Eis a comprovação de tudo aquilo que estou dizendo:


se for encontrado um Uno que faça adquirir, mas que não é adqu i ­
rido, então, q u a l , a diferença entre e l e e o primeiro que fa z adqui­
rir? Somente é possível o seguinte: ou lhe é semelhante em todas as
suas disposições, ou entre um e outro existe uma diferença. Se,
então, lhe é semelhante em todos os aspectos, não há entre eles
primeiro nem segundo. E se um n ão for semelhante a outro em to­
dos os seus aspectos, sem dúvida nenhuma u m é o pri meiro e o
outro o segu ndo. Então, aquele em que existe uma uni dade estável
que não é tirada de outro, aquele é o Uno pri meiro e verdadeiro,
como demonstramos ; e aquele em que existe uma u n idade obtida a
partir de um outro, aquele está aq uém do Uno pri meiro e verdadei­
ro. Se, então, provier de outra coisa, sua unidade é obtida do Uno
pri meiro . De lá vem a razão por que existe unidade entre o Uno
puro e verdadeiro e também entre os outros unos, e que só existe
unidade pelo U no verdadeiro, que é a causa da unidade.

2 J 9. Então, está claro e evidente que toda uni dade depois


do Uno verdadeiro é algo criado e o b t i d o mas que o U no verdadei­
,

ro e puro cria as unidades , fazendo obter e não obtido, como de­


monstramos .
O fim do documento em alguns man uscri tos d i z : "S audações" . . . "Termi­
nou o sermão" . . . "Louvor ao rei dos rei s , porque afi n a l termi nei o que
comecei " . . . )

1 66 Coleção Filosofia - 1 07

Você também pode gostar