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ANJOS OU HOMENS GENESIS 6 2

A fim de elucidar um texto que a nós nos parece obscuro, uma


das regras da hermenêutica sacra recomenda que: “devemos
interpretar o texto à luz do contexto”. Com base nessa
recomendação, entendemos que “os filhos de Deus” em Gn 6.2
NÃO SÃO ANJOS, MAS SERES HUMANOS, pelas seguintes
razões:

A) Os infratores são seres humanos e o juízo é contra estes;

B) A expressão “tomar uma mulher”, no Antigo Testamento, é um


termo técnico para designar um casamento legítimo e não um ato
de prostituição ou de uma relação sexual ilícita como querem
fazer pensar os adeptos da posição mitológica (Gn 2.21; 6.2;
11.29; 20.2; 21.21; 24.3,4,67; 25.1,20; 26.34; 289; 29.23; 36.2;
Ex 2.1; 6.20,23,25). A esse respeito diz Keil: “No versículo 2 se
declara que ‘viram os filhos de Deus que as filhas dos homens
eram famosas; e tomaram para si mulheres de todas as que
escolheram’, qualquer com cuja beleza eles ficaram
deslumbrados; e estas esposas lhes deram à luz filhos (vs. 4).
Ora, o termo hebraico, laqach ‘ishah, “tomar uma esposa” é uma
frase que se mantém através de todo o Antigo Testamento para
a relação do matrimônio, estabelecida por Deus na criação, e
nunca se aplica a porneia, “prostituição, relação sexual ilícita”.
Isto basta para excluir qualquer referência aos anjos. Porque
Cristo declara distintivamente que os anjos não podem casar-se
(Mt 22.30; Marcos 12.25; em comparação com Lc 20.34). Sobre
esse assunto diz Bruce Waltke: “casaram: literalmente ‘tomaram
para si esposas’, referência a casamentos inter-raciais, não a
fornicação”. (Gênesis pg 141). Não há como afirmar pelo contexto
que “os filhos de Deus”, em Gn 6.2, sejam anjos. Pois, tanto o
texto de Gn 6, quanto os capítulos anteriores e posteriores
apontam para seres humanos.

O capítulo quatro de Gênesis trata do nascimento de Caim e


Abel; do assassinato de Abel por seu irmão Caim; e das
consequências deste ato. Logo em seguida é apresentada a
linhagem ímpia de Caim e no final um descendente de Sete, a
saber, Enos, a partir do qual tem início o culto público a Deus,
com a invocação do seu nome (Gn 4.26).
No capítulo cinco de Gênesis Moises, de uma maneira cuidadosa,
apresenta a linhagem piedosa de Sete,
linhagem esta marcada pela devoção, reverência, temor e
obediência 3 Deus.
Até este ponto, pelo que podemos ver, não há como afirmar que
“os filhos de Deus” sejam anjos. O contexto dos dois capítulos
não nos oferece um ambiente favorável para essa afirmação. Pois
tanto o capítulo quatro quanto o capítulo cinco estão tratando
apenas de homens, de seres humanos e não de anjos.
Já, os capítulos 7,8 e 9 estão fora de discussão; pois, como
podemos ver, tratam apenas de Noé e sua família e dos animais
sendo salvos das águas do dilúvio.
Portanto, resta apenas analisarmos o capítulo de número seis.
Pois, todo o texto e o contexto do capítulo 6 fazem referência
somente a homens, a seres humanos, como veremos a seguir:
Verso 1 – os homens começaram a se multiplicar sobre a face da
terra (homens)
Nasceram-lhes filhas (mulheres)
Verso 2 – Os filhos de Deus viram as “filhas dos homens”.
Verso 3 – A contenda do Espirito do Senhor é com o “homem”;
Porque ele também “é carbe” (aqui não diz que ele é espírito)
O tempo de vida dos antediluvianos, da proclamação do juízo até
o dilúvio seria de 120 anos. Portanto esse juízo é contra o
homem, visto que os anjos são imortais. (Lc 20.36)
Verso 5 – Viu o Senhor à maldade “do homem”
Verso 6 – O Senhor se arrependeu de haver feito “o homem”
Verso 7 – O Senhor prometeu destruir “o homem” que Ele criou
Verso 12 – A terra estava corrompida (Terra = a seres humanos)
Bruce K. Waltke, um dos mais notáveis eruditos do Antigo
Testamento, explicita esta mesma opinião em seu comentário de
Gênesis:
“O conceito de que os anjos tinham relações sexuais com os
mortais é extremamente antigo… Contudo não se ajusta ao
contexto do dilúvio, visto que o juízo do dilúvio é contra a
humanidade (Gn 6.35) e não contra a esfera celestial. Deus
especificamente rotula os ofensores em 6.3 de “carne” (bashar)
“mortal” (na NVI). Esta interpretação também contradiz a
afirmação de Jesus de que os anjos não se casam (Mt 22.30, Mt
12.25). Uma coisa é anjos comerem e beberem (ver Gn 19.13},
outra bem diferente é se casarem e reproduzirem”.
Outro argumento em favor de que o texto faz referência ao ser
humano e não aos anjos está em que:
“Toda carne havia corrompido o seu caminho” (carne = pessoas)
(Gn 6.12). O texto não diz que os anjos haviam se corrompido,
mas que “toda a came”, isto é, os seres humanos haviam
corrompido. E, ainda, no versículo seguinte lemos que: “O fim de
toda came havia chegado” (Gn 6.13). Veja o leitor que o texto não
diz que havia chegado o fim de todos os anjos caídos, mas sim o
fim de toda came.
Como podemos ver o protagonista de todo o texto é o homem, o
ser humano. Nada se diz acerca dos anjos. Portanto, colocarmos
os anjos nesse contexto seria uma violência ao próprio texto
bíblico.
(Extraído do livro “Perguntas Difíceis de Responder” Vol 3;
Soares, Elias; Editora BeitShalom, Pág. 59, 62)

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