Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
, IV85
RESUMO
INTRODUÇÃO
objetivando concretizar as acões específi-
Os pontos que se seguem objetivam cas contra a doença humana e a tomada
de maneira suscinta levantar elementos de de decisões no controle da transmissão. O
interesse atual que a pesquisa vem enfati- tema pode ser apro f un dado em publica-
zando em doença de Chagas, no que tange ções recentes como de Brcner & Andrade
à sua etiopatogenia e epidemiologia. Em (9^ os anaís do Congresso Internacional
particular, os comités específicos do sobre Doença de Chagas (l 1), etc.
CNPq (7) e do TDR (33) têm buscado de- Q presente texto pretende dar uma
finir as áreas de investigação prioritária, visão simples e abrangente da doença de
* Em parte subsidiado pelo CNPq e pelo TDR (WB/UNDP/WHOJ
** Pesquisador Titular da FIOCRUZ. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina da UFMG. Se-
cretário Geral do Comité Cientifico Internacional de Luta Contra a Doença de Chagas (ht-
terchegas}.
18 Rev. Pat. Trop. 14 (1): 17-29, fan.ffun.. 1985 DIAS, J.C.P. - Etiopatogenia e história natural da doença de chagas humana..
0-2 17 69 86 19,8
3-5 6 83 89 6,7
6-10 3 83 86 3,5
11 e + 0 52 52 0,0
TOTAIS 26 287 313 8,3
s
f
DCH.AGU
5'
(aparente ou
inoparen-
te)
DCH
CRÓNICA
INDETERMI-
NADA
DCH
Lesões estabilizadas
í
CRÓNICA Evolução benigna
(não desenvolvimen-
DETERMINADA to de ICCou arritmi-
as gr a v e s }
DCH CRÓNICA
INDETERMINADA
Evolução maligna
PERMANENTE
(= C U R A ?? )
JCPD/19K1
DIAS, J.C.P. - Etiopatogenia e história natural da doença de chagas humana... 23
22 Rev. Pai. Trop. 14 (1): l 7-29, /an.ffun., 1985
•;«
ro **• _
S, B 9
l" 3§:£
05 &5
(U ^l" jS
TABELA 3 — Morbidade e mortalidade em doença de Chagas. Importância da cardio-
patia crónica chagásica. Frequência e papel prognóstico das alterações Í 8 ~N
eletrocardiográficas entre populações não selecionadas de áreas endémi- s-15
-*> i> ?r
cas e entre casos fatais e não fatais da cardiopatia crónica chagásica o x í? ii
-1 CU
(CCC).(15).
o o
Achados eletrocardíograficos mais Dias e col.. eMiiíiti entre ,404 Laranja e col.: 683 casos de CCC
frequentes* trabalhadores rurais não seleci»- estudados em população feral, ||
nados, entre 20 e 40 anos de idade. no oeste de M. Gerais, 1956
no oeste de M. Gerais, 1976 G CD
Hão Chagásicos Casos Casos fatais
chagásicos
(332 pacientes)
(72 pacientes) não faiais (200 pacientes)
l |
(483 pacientes)
s ê-
Extra -sístole b vemricuiares 1,2 22.2 31,7 69.0 l» Ca
BCRD" 0,6 19,4 46,0 52.0 »
Alteração primária de ré polariza ç ao 3,6 19,d 12,8 13,0
Bloqueio A-V de 1." grau 0,6 5.6 28.6 15,0 W Frt ^3
tica, em complexidade crescente, desde as tiveram traçados alterados no período cific antibodies and important acute in-
diagnóstico da CCC, em especial no que
tange às alterações do ritmo e da condu- unidades mais periféricas de atendimento iifíiido, bem como maior presença de dis- flamatory process in the heart and other
médico até os Hospitais Centrais e clíni- pcristalses digestivas nos casos cujo qua- organs. This phase hás a short duration
ção de estímulo, devendo ser associado às
cas especializadas (16). Em particular, dro agudo foi mais exuberante (17). Estes and is much more severe among young
manobras acima referidas (16, 20, 23).
Quando aplicada a estudos populacionais neste contexto é fundamental que se ;ichados reforçam a importância do con- children, chiefly under two years age.
em associação com inquéritos sorológicos, aprimorem, nos Países endémicos, os me- trole vetorial no que toca à incidência e à Acute inflamation and severe dennerva-
canismos e as instituições de previdência ovolução da tripanosomose humana, per- tion in this phase can result in important
a comparação de eletrocardiogramas em
social, possibilitando-se amplo, precoce e mitindo inclusive inferir que diferentes consequences in the chronic stage, which
sistema pareado (ou de grupos etários
duradouro benefício ao chagásico crónico padrões de morbidade crónica podem de- is characterized by low parasitemia, high
homogéneos) para indivíduos soropositi-
pender — dentre outros fatores - das ca- rates of circulating antibodies, chronic in-
vos e soronegativos, indica perfeitamente com cardiopatia em evolução (16. 20).
uicterísticas da infecção inicial. flamation, fibrosís and immune auto-
a gravidade e o peso médico-social da Recorde-se finalmente que estudos
Conclui-se que o tratamento do agresson mechanisms.
doença de Chagas na área (7,15, 21, 33). recentes vêm fortemente sugerindo que, a
problema Chagas envolve múltiplas di-
Ao nível individual é muito importante o longo prazo, as ações de controle de vetor
mensões, como o controle do vetor, o
diagnóstico correto e precoce das arrit- parecem ter forte influência no quadro de
manejo clínico dos indivíduos, a investi-
mias cardíacas da CCC, face a boa pers- morbi-mortalidade da doença de Chagas The clinicai picture and the severity
Hiição, a legislação trabalhista e o sistema
pectiva de atenção médica mormente humana. De um lado existem algumas evi- of the disease can vary in different geo-
de previdência social. Tais medidas envol-
após o desenvolvimento dos modernos dências de que as reinfecções sucessivas graphic regions, possibly because of diffe-
vem uma perspectiva interinstitucional e
anti-arrítmicos (amiodarone, propafeno- não só podem ocorrer, como mesmo agra- rent factors such as the parasite strain,
multidisciplinar, que podem perfeitamen-
na, mexiletine) e dos marca-passos ele- var o curso da doença de Chagas crónica the inoculum, severity of the acute phase,
te implementar-se nas áreas endémicas, de
trônicos(16, 19). (3, 8, 17). Por outro, estudos longitudi- the host general conditions (inctuding
maneira coerente e racionalizada. Pelo
Resta perguntar se o tratamento es- nais- recentes vêm demonstrando que os sex, age, nutrition, labour, intercurren-
que se conhece na América Latina, tal de-
pecífico pode beneficiar o paciente cróni- quadros agudos de menor gravidade ocor- ces), etc. The clinicai evolution is protei-
rem em crianças menores de dois anos e sideratum não é utópico ou impossível. A
co. A supressão total ou parcial do parasi- form but generally the chronic patients
se associam a altas densidades de triato- opção política pela saúde pode conduzir a
to irá interromper o curso de um processo remain several years or forever with an as-
clínico em evolução? Várias pesquisas, em míneos (alta pressão de transmissão). A uma priorizaçâ"o nas ações contra a doen-
ça de Chagas capaz de reduzir a curto symptomatic (or olygosimptomatic) cli-
andamento, pretendem responder a esta profilaxia anti-vetorial bem conduzida re- nicai pattern. Chronic Chagas' heart di-
pergunta capital, ao lado de outras que duz drasticamente a densidade do vetor prazo sua incidência e a médio prazo, seus
índices de morbi-mortalidade (16, 18, 20, sease can appear in 10 to 30% of the cases
buscam novas drogas que sejam ativas íntradomiciliar e os casos agudos desapa- with important consequences to the pa-
contra o agente etiológico da doença de recem ou passam a surgir muito esporadi- 33)
tients lit"e and work capacity.
Chagas. camente, em grupos etários mais elevados,
Sabe-se que algumas intercorréncias sempre mais benignos (17). A longo pra-
(desnutrição, alcoolismo, dietas inade- zo (20 ou 30 anos) a evolução'dos indiví-
quadas, outras parasitoses, "stress") po- duos que apresentaram cardiopatia aguda The medicai care system of the en-
dem agravar o quadro clínico da cardiopa- mais intensa e em baixa idade será pior demic áreas need to have a very clear and
tia chagásica aparente benigna em mode- que dos pacientes com quadro agudo operative knowledge about the diagnostic
SUMMARY
los experimentais. Neste sentido e' fun- benigno, lembrando as ideias de Koberle and therapeutic procedures on HCD. On
damental que a atenção médica contem- (22) sobre a importância de quadro agudo the other hand, the available prophytatic
Ethiopathogeny and Natural History measures must be emphasized in order
ple os chagásicos em qualquer forma clí- no "destino da fase crónica". Seguindo-se of Human Chagas* Disease
nica, viabilizando-se uma real prevenção em Bambuí, MG, Brasil, 115 pacientes not only to reach the transmission con-
de incapacidades (20, 27). A atenção ao com fase aguda detectada há mais de 30 trol but also to obtain possible benefits
chagásico deve ser democratizada nas anos, verificou-se prevalência de altera- on the morbidity and mortality pattern
ções eletrocardiográficas atuais significati- Acute HCD is characterized by high of the disease in the region, at long or mé-
iíreas endémicas, buscando-se difundir as
parasitemia, low leveis of circulating spe- dium term.
noções técnicas de diagnóstico e terapéu- vamente maior naqueles indivíduos que
Rev. Pai. Trop. 14 (lj: 17-29, jan./fun., 1985 DIAS, J.C.P. - Etiopatogenia e história natural da doença de chagas humana... 2V
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11 - CONGRESSO INTERNACIONAL SO- 21 - FORICHON, E. - Contribuition aux es- gas. Rio de janeiro, Guanabara Koogan
BRE DOENÇA DE CHAGAS. Rio de timations de morbidité et de mortalité Ed., 1979.
01 A N D R A D E , Z.A. - A patogenia da doen- Janeiro. 1979. -Anais, Rio de Janeiro, dans Ia maladie de Chagas. França, Uni-
ça de Chagas. Ciência e Cultura. 31 Ind.graf. Cruzeiro do Sul, 1979. vers. Paul Sabatier, Toulouse, França, 30 - SANTOS, R.R. - Imunopatologia da
(Suplementei: 55-59, 1979. 1974. 47 p. Tese. doença de Chagas, In: Tosta, C.E.
12 COURA, J.R. - Evolutive pattern in Cha- (Organ.) Progressos da imunologia
02 - ANDRADE. ZA. & ANDRADE, S.G. - gas' disease and the life span of Trypa- 22 - KOBERLE, F. - Chagas' disease and das paiasitoses: Brasília. Sociedade
Forma Mih-aguda da miocardite chaga- nosoma cruzi in human infection Ame- Chagas' syndromes: the pathology of Brasileira de Medicina Tropical, 1977
sica, Rc\ Inst. Mcd. trop. São Paulo. 5: rican Trypanosomiasis Research. In: American Trypanosomiasis. Advances p. 82-105.
273-280. 1963. PROOCEDINGS OF AN INTERNA- in Parasitology (Academic Press, Lon-
TIONAL SYMPOSIUM PAHO/WHO don &New York), 6: 63-116, 1968.
31 - SCHLEMPER JR, B.R. - Caiaclerização
03 - ANDRADE. Z. & ANDRADE, S.G. Só. Publ. 318 (Washington, USA): 378- de cepas do Trypanosoma cruzi isola-
Patologia. In: Brener, Z. & Andrade. Z. 383,1976. 23 - LARANJA, F.S.; DIAS, E.; NOBREÇA,
das de pacientes com diferentes formas
írypanosoma cruzi e Doença de Cha- G. & MIRANDA, A. - Chagas' disease. clínicas da doença de Chagas. Rio de
gas Rio de janeiro, Guanabara Koogan 13 DIAS, E.; LARANJA. F.S. &NÓBREGA, A clinica, epidemiologic and pathologic Janeiro, Depto. de Medic. Preventiva
Ed., 199-248. 1979. G.C. - Doença de Chagas. Mcm. Inst. study. Circulation, 14: 1035-1060, da Fac. de Medic. da UFRJ. 1982. 130
Oswaldo Cruz, 43: 495-582, 1946. 1956. p. Tese.
04 - BOGL10LO. L. - As causas anatómicas
da insuficiência cardíaca na cardiopatia 14 DIAS. J.CJ*. - Mecanismos de transmis- 24 - LOPES, E.R. - Contribuição ao estudo
(miocardite) chagásica crónica. In: Dé- são. - In: Brener, Z. & Andrade, Z. dos gânglios cardíacos (sistema nervoso 32 -TAFURl.W.L. - Alterações ultra-estrutu-
court, L.V. & Campos. O. M. (Coord.) Trypanosoma cruzi e Doença de Cha- autónomo) em chagásicos crónicos. rais dos componentes muscular, inters-
Modernos conhecimentos sobre doença gas, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan Uberlândia. Fac. Med. Triângulo Minei- ticial e nervoso do coração, esôfago e
de Chagas. Belo Horizonte. Universida- Ed. 152-174,1979. ro, 1965. Tese. intestinos na doença de Chagas expe-
de Federal de Minas Gerais; Academia rimental e humana. Belo Horizonte.
Mineira de Medicina, 283-302. 1981. 15 DIAS, J.C.P. - Epidemiologia da doença 25 - MACEDO, V.O. - Forma indeterminada UFMG, Belo Horizonte, MG, 1974. Te-
de Chagas. Diálogo Médico (Lab. Ro- da doença de Chagas. J. Brás. Med., 38: se.
05 - BRANDÃO, H J.S. - A lesão neuronal na che),5:6-21, 1979. 3440,1980.
moléstia de Chagas. In: Décourt, L.V. & 33 - TDR (UNDP/WB/WHO) - International
Campos, O.M. (Coord.) Modernos co- 16 - DIAS, J.C.P. - Clínica e terapêutica da 26 - OLIVEIRA, J.S.M - A fisiopatotogia da workshop on Chagas' Disease Research.
nhecimentos sobre doença de Chagas. doença de Chagas. Belo Horizonte, Se- moléstia de Chagas. An. Simp. Molés- Clinicai & evolutive aspects. Rio de Ja-
Belo Horizonte, Universidade Federal cretaria de Estado da Saúde, 74 pp. tia de Chagas. Publ. Acad. Ciénc. Est. neiro, Brasil (in preparation), 1983.
de Minas Gerais; Academia Mineira de 1981-82. São Paulo, 16:82-95, 1979.
Medicina, 65-81, 1981. 34 - TEIXEIRA, A.R.L. - Perspectivas de va-
17 - DIAS, Í.Cf. - Doença de Chagas em 27 - PORTO, C.C. - Contribuição do eletro- cinação contra a doença de Chagas. In:
06 - BRASIL, A. - Evolução e prognóstico da Bambuí, Minas Gerais, Brasil. Estudo cardiograma no prognóstico e evolu- TOSTA, C.E. Progressos da imunologia
doença de Chagas. Arq. Brasil. Cardiol. clínico-epidemiológico a partir da fase ção da doença de Chagas. Belo Hori- das parasitoses. Soe. Brasil. Medic.
18:365-380, Í965. aguda, entre 1940 e 1982. Belo Hori- zonte, Fac. Medic. Univ. Fed. M.G., Trop. (Brasília): 106-137, 1977.
zonte, Fac. de Medicina da UFMG, 1963. 218 p. Tese de doutoramento.
07 - BRASIL. Cons.Nac.Pesq. -Epidemiologia Brasil, 376, 1982 pp, Tese. 35 - TEIXEIRA, A.R.L. - Imunopatologia da
da doença de Chagas. Objetivos e me- 28 - PRATA, A. - Prognóstico e complicações doença de Chagas. An. Simp. Moléstia
todologia dos estudos longitudinais. 18 DIAS, J.C.P. - Análise e perspectivas de da doença de Chagas. Rev. Goiana de de Chagas. Acad. Ciências Est. Sáb Pau-
Relatório Técnico n° l, 46 pp., 1974. controle da doença de Chagas no Brasil Med., 5 (2): 87, 1959. lo, Publ. 16:56-71, 1979.
Rev. Brás. Malariol. D.Trop., 35: 109-
08 - BRENER. Z. - O Parasito: relações hos- 119,1983. 29. REZENDE, J.M. - Clínica: manifestações 36 - ZELEDON, R. - Universidad Nacional.
pedeiro-parasito. In: Brener, Z. & An- digestivas. In:Brener, Z.&Andrade, Z. San José, Cp>ta Rica. Informação pes-
drade Z. Trypanosoma cruzi e Doença 19 - DIAS, J.C.P.; CANÇADO, J.R. & CHIA- Trypanosoma cruzi e Doença de Cha- soal.
de Chagas. Rio de Janeiro. Guanabara RI, CA. - Doença de Chagas. In: Ne-
KooganEd.. 1-41. 1979. ves, J. Diagnóstico e tratamento das
doenças infecciosas e parasitárias. Rio
09 - BRENER. Z. & ANDRADE, Z. (Organ.) de Janeiro, Guanabara Koogan Ed.,
- Trypanosoma cruzi e Doença de 582-611,1978.
Chagas. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan Ed., 463 pp., 1979. 20 FARIA. CAJF.; DIAS, J.CP.; CINTRA,
M.L. & RODRIGUES, L.O. - Chagas'
10 - CHAGAS. C. - Pathogenic processes of disease and work. An. Congr. Intern.
American Trypanosomiasis. Mem.Inst. D. Chagas (Rio de Janeiro): 3-2 - J-7,
Os\valdoCruz.8:3-38. 1916. 1979.