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Curso de Braille Básico com o uso de

Tecnologias Assistivas

INTRODUÇÃO AO BRAILLE EM 5 MINUTOS


Por José Antônio Borges

IMPORTANTE: Para que você consiga ler corretamente este texto é obrigatório que você tenha instalado no
seu computador a fonte SimBraille. Esta fonte é instalada automaticamente quando você instala o
programa Braille Fácil. Você também pode pegar esta fonte na Internet no site:
https://code.google.com/p/braille-font/downloads/detail?name=SimBraille.ttf

1. Aprendendo o essencial:

O Braille é um sistema de transcrição que pode ser lido por toque. Nele, os caracteres são
representados por conjuntos de seis pontos, numa matriz de 3 linhas e duas colunas, que são
conhecidos como células (muita gente no Brasil chama de celas, que é uma corruptela do inglês
“cell”).

Para identificar os pontos dentro da célula usam-se números de 1 a 6, como na figura:

Com 6 pontos é possível representar 63 arranjos, sem contar com o espaço, o que é suficiente para
o alfabeto e para muitos caracteres.

Nota: neste texto, para ficar mais fácil de ser lido, usaremos no código em Braille sempre 6
pontinhos, alguns bem pretinhos e outros bem pequeninos, por exemplo:

sim (2 3 4; 2 4; 1 3 4) que representa a palavra “sim”.

Em particular as letras, quando necessário, serão referidas por seus pontos.

Por exemplo: o “s” da palavra “sim” algumas vezes será conhecido como 2-3-4, que são os pontos
marcados.

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O Braille é geralmente escrito em papel, mas também pode ser escrito em tecido, plástico, etc.
Existem várias máquinas dedicadas a produzir Braille, desde impressoras manuais ou
computadorizadas até painéis, em que as letras se modificam dinamicamente através de pontinhos
de plástico que sobem e descem, sob o controle de um computador.

As 63 possibilidades de combinações de pontinhos foram organizadas por Louis Braille há mais de


150 anos, que os associou a dois tipos de informação:
• Letras alfabéticas;
• Notas musicais;

É interessante pensar nisso: Braille era cego e um grande músico (ganhava a vida como professor,
mas também era um famoso concertista de órgão nas igrejas de Paris). Outra coisa interessante é
que as mesmas combinações de pontos podem representar coisas diferentes, dependendo do
contexto, por exemplo: d representa a letra d em textos ou a nota dó colcheia em música. Em
japonês, hebraico ou chinês, este código também tem outros significados.

Porém, para nós no Brasil, é importante saber o significado dos pontos que representam o alfabeto.
Aqui Louis Braille foi muito esperto, criando um código facílimo de decorar. Veja como é simples:

a. Ele usou os 4 pontos superiores para as letras de a até j, eliminando algumas combinações que
seriam difíceis de identificar, sendo cego. Por exemplo, ele usou apenas o pontinho 1 para
representar a letra a, mas deixou de lado a possibilidade de usar só o pontinho 2 ou só o 4 ou só
o 5, pois o leitor se confundiria. Veja as escolhas de Braille:

A b c d e f g h i j
1; 1 2; 1 4; 1 4 5; 1 5; 1 2 4; 1 2 4 5; 1 2 5; 2 4; 2 4 5

a b c d e f g h i j

Quer decorar? Pegue um papel e saia escrevendo pelo menos 20 palavras de até quatro letras,
em Braille (limitando-se a usar palavras contendo letras de a até j). No guia deste curso e
disponível no ambiente do curso, você pode encontrar uma folhinha própria para exercitar as
letras Braille.

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b. Todas as letras até agora não usaram a linha inferior (ou seja, os pontos 3 e 6). Então Braille
usou a mesma sequência de pontos agregado a um pontinho para as próximas 10 letras:

K l m n o p q r s t
1 3; 1 2 3; 1 3 4; 1 3 4 5; 13 5; 1 2 3 4; 1 2 3 4 5; 1 2 3 5; 2 3 4; 2 3 4 5

k l m n o p q r s t

Em seguida usou dois pontinhos para as letras restantes.

U v x y z
(1 3 6; 1 2 3 6; 1 3 4 6; 1 3 4 5 6; 1 3 5 6)

u v x y z

Sentiu falta do W? Braille não usou esta letra porque, na época, ela não existia no idioma francês.
Essa letra depois foi agregada, usando a seguinte codificação: w (2 4 5 6).

Está ficando difícil de decorar? Claro que não, exige um pouco de paciência, mas com certeza em
menos de 2 horas você saberá TUDINHO de cor! Se você tem crianças em casa, ensine-as e verá
que em menos de 15 minutos elas já decoraram o código.

Ensine-as e depois peça para suas crianças traduzirem o texto a seguir:

a faca afiada corta os abacates


(1; espaço 1 2 4; 1; 1 4; 1; espaço 1; 1 2 4; 2 4; 1; 1 4 5; 1; espaço 1 4; 1 3 5; 1 2 3 5; 2 3 4 5; 1; espaço 1 3
5; 2 3 4; espaço 1; 1 2; 1; 1 4; 1; 2 3 4 5; 1 5; 2 3 4)

Nota: Nós defendemos fortemente que o Alfabeto Braille seja ensinado para todas as crianças.
Afinal, é um código matematicamente muito bem bolado e enseja inúmeros exercícios mentais para
as crianças, além, obviamente, de ser um instrumento de integração social!

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c. Mas e as outras letras? Bem, ele usou uma lógica não tão óbvia assim, mas saiba que é possível
representar qualquer caractere em Braille, sendo que, em alguns casos, há macetes muito
interessantes!
• Números: escreva como se fossem letras. 1 se escreve a, 2 se escreve b, 3 é o c, e assim
por diante, sendo que o zero se escreve como j. Para diferenciar, números de palavras,

preceda o número pelos pontos 3-4-5-6 (#). Por exemplo, o número 125 se escreve algo

parecido com #abe, ou seja: #abe (3 4 5 6; 1; 1 2; 1 5);

• Indicar maiúsculas também é simples: basta usar os pontos 4 e 6 antes da palavra, por
exemplo :

.abade (4 6; 1; 1 2; 1; 1 4 5; 1 5) para representar a palavra Abade.


Duas vezes este símbolo indica uma palavra em caixa alta: ..abade (4 6; 4 6; 1; 1 2;

1; 1 4 5; 1 5) para representar a palavra ABADE.

d. Acentos:
Bem... Acentos não seguem uma regra tão simples: as letras mais os acentos são representados
por códigos especiais. Pior que isso, dependendo da língua, são diferentes. Veja na tabela 1
abaixo a relação completa de letras, inclusive, os acentos.

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Tabela 1 – codificação Braille para a língua portuguesa.

Braille americano
Muitas coisas vêm para o Brasil a partir do exterior e nós estranhamos porque o Braille, às vezes,
parece estar escrito errado. Não é isso não: é que alguns códigos nos Estados Unidos são diferentes.
a) Maiúsculas. As maiúsculas não são precedidas por 4-6, mas por 6 apenas.

,abacate (6; 1; 1 2; 1; 1 4; 1; 2 3 4 5; 1 5)

Ao invés de .abacate (4 6; 1; 1 2; 1; 1 4; 1; 2 3 4 5; 1 5)

b) Números também começam por 3-4-5-6, mas as letras posteriores são rebaixadas.

#123 (3 4 5 6; 2; 2 3; 2 5)

Ao invés de #abc (3 4 5 6; 1; 1 2; 1 4)

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2. O Braille e os avanços tecnológicos:


O acesso à informação em Braille tem evoluído consideravelmente nos últimos anos. Braille agora
pode ser traduzido e formatado com um computador. Caracteres em Braille também podem ser
inseridos diretamente em um computador com seis teclas no seu teclado e nos programas voltados
para uso por cegos (como o DOSVOX, onde basta usar as teclas control-alt-F9 para passar a digitar
em Braille com as teclas FDS JKL). Além disso, o texto que é inserido em um computador por meio
de digitalização ou digitação pode ser traduzido de forma muito fácil para Braille, usando um
software especial como o Braille Fácil!

3. Revisão Braille:
A transcrição automática é um grande avanço na produção de Braille. Mas nenhum programa é
perfeito: quando o material transcrito automaticamente é de algo mais sério, deve ser sempre
verificado por um Revisor Braille qualificado.

A produção perfeita de Braille, especialmente o Braille que não é literário (por exemplo, de textos
matemáticos, musicais, física, química, etc.), é uma habilidade que exige treinamento, curiosidade
intelectual, paciência e meticulosidade e, infelizmente, no Brasil, só se encontram pessoas com estas
habilidades nos grandes centros de produção Braille.

Um equívoco comum!

Se você abrir o Bloco de Notas do Windows ou o Microsoft Word e selecionar a fonte Braille
Kiama ou SimBraille terá a impressão que é facílimo digitar Braille. LEDO ENGANO! Tente
bater uma letra maiúscula, um número ou um acento: sai tudo errado. Use sempre o Braille
Fácil para transcrever textos para Braille.

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