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O “Proyecto Educativo Institucional” (PEI-EPE) é um http://www.epe.edu.co/uploads/4/8/4/2/48423709/proyecto_
documento institucional que orienta as práticas e posturas educativo_institucional_epe.pdf
pedagógicas institucionais e está disponível em:
escolar, entendido, segundo García (1998, p. 97) denominado na EPE como “desenvolvimento do
“como o conhecimento proposto e elaborado na pensamento matemático”.
escola” que surge como um conhecimento No trabalho cotidiano com matemática,
diferente do conhecimento científico, cotidiano, as relações e modelos matemáticos encontrados
entre outros, e que apresenta características pelos alunos nas suas atividades são inesperados
próprias do ambiente escolar. para eles. Sabendo disso, o professor atua como
um mediador entre o aluno e o conhecimento e
A matemática na EPE deve sempre estar disposto ao diálogo, ou seja,
com disposição para escutar o aluno, valorizar
Quando se considera a relação suas propostas, fazer perguntas e participar da
estabelecida pelo conhecimento nas escolas pesquisa.
percebe-se que, nos processos pedagógicos, se Neste processo de construção dialógica
busca construir uma interação entre o estudante, do conhecimento matemático, as formas de
o professor e o conteúdo disciplinar. Na EPE, pensamento para a elaboração e desenvolvimento
essa interação ocorre entre o estudante, o das atividades matemáticas são importantes,
professor e as atividades a serem realizadas. sendo um dos principais aspectos do trabalho.
Essas atividades são consideradas como um Também de igual importância é o trabalho
sistema aberto no sentido de um intercâmbio coletivo em um contexto de criatividade,
entre o conhecimento, as emoções e as invenção e pesquisa. Os alunos parecem conviver
possibilidades do entorno. No caso das aulas de bem com o erro matemático, pois têm confiança
matemática, essa relação entre emoções e o em si e no grupo de trabalho que constrói as
entorno não é concebida como um método ou possibilidades e soluções possíveis de maneira
uma didática, mas como um “fazer matemática” colaborativa. O aluno sabe que para todo
ou uma forma de matematizar os problemas e problema existem variadas formas de solução e
analisar as consequências do desenvolvimento que elas só aparecem se todos compartilharem
desses problemas. seus resultados.
Neste processo, a EPE não desenvolve O que se percebeu foi que a escola
as atividades em função dos conteúdos proporciona que as aprendizagens sejam distintas
matemáticos, mas utiliza esses conteúdos na entre os alunos. Cada aluno aprende coisas
medida em que eles sejam úteis para o diferentes de maneira diferente. A escola se
desenvolvimento das atividades. Não se espera preocupa em criar ambientes de investigação
que os estudantes memorizem algum conceito ricos de possibilidades e para que os alunos
matemático ou algum procedimento algébrico, aprendam matemática por diversos processos
mas que se utilizem desses conceitos e como por ensaio e erro, aprender fazendo,
procedimentos na medida em que eles sejam aprender inventando ou por descobrimento.
importantes como ferramentas para a resolução Como na EPE a perspectiva de trabalho
de algum problema. Neste contexto, essas com a matemática não está centrada em metas a
ferramentas matemáticas são utilizadas somente serem atingidas, percebeu-se que no processo de
se o estudante consegue se apropriar do seu aprendizagem o problema proposto para
significado. Por isso, o estudo teórico da investigação é menos importante do que o
matemática também é importante nas aulas da ambiente constituído para a sua abordagem.
EPE e o estudante desenvolve esses estudos Conforme relatado pelos professores
como parte de um processo mais amplo, como entrevistados, os estudantes não recebem uma
em um projeto, por exemplo, na medida em que nota pelo seu trabalho, mas ficam muito
sejam necessários. satisfeitos e orgulhosos se conseguem
Na resolução de problemas desenvolver uma nova estratégia de abordagem
matemáticos, os estudantes inventam variáveis e ou uma solução para um problema. Os estudantes
estabelecem correlações entre grandezas. Este apresentam gosto pela matemática porque ela
processo apresenta uma dinâmica muito variada, desenvolve um sentido de realização e de
porém, existe uma pré-disposição para o protagonismo. No trabalho com a matemática os
trabalho. Pode-se afirmar que existe uma postura alunos desenvolvem, além da capacidade de
ou uma atitude positiva dos alunos para a trabalhar em grupos, a capacidade de elaborar
realização das atividades. Os alunos parecem normas de conduta, desenvolvem liderança e
partir de uma convicção de que sempre é possível auto-organização.
encontrar regularidades, ou seja, os alunos Para que uma atividade matemática
apresentam uma confiança em si e no grupo de tenha significado para os alunos e para os
trabalho de que sempre é possível construir professores, ela deve se basear em pesquisa e
conhecimento matemático nas suas atividades. O resolução de problemas. Para abordar e resolver
aluno confia que vai aprender matemática nas esses problemas matemáticos, os alunos
suas atividades. Todo esse processo é
compreensão da realidade e dos diferentes modos dos alunos da EPE fortalece a capacidade criativa
de se encontrar as explicações para os problemas e a capacidade dos alunos em fazer matemática.
estudados. No desenvolvimento do pensamento
Para Lucena, Saraiva e Almeida (2016), matemático dos alunos da EPE, também está
o princípio dialógico, ou seja, o diálogo, presente o princípio hologramático. Neste
desenvolve a capacidade de reflexão e se princípio não só a parte está no todo, mas o todo
fundamenta em uma maneira de pensar não também está presente nas partes. Essa lógica,
dogmática, mas com uma interpretação da segundo Morin (2011), imobiliza o pensamento
diversidade da realidade que permite a linear, pois vai “além do reducionismo, que só vê
compreensão e a construção do conhecimento as partes, e do holismo, que só vê o todo” (p. 75).
num processo “contínuo, infinito e crítico” (p. Assim, nas atividades de matemática da EPE, os
181). alunos desenvolvem metáforas, ou hipóteses
iniciais para explicarem os problemas. Nessas
A dialógica trata da articulação de
ideias antagônicas e não antagônicas, metáforas apresentam características decorrentes
que podem ou não ser complementares da imaginação de cada um, as quais se
na busca da religação de diferentes constituem em partes que contém características
saberes. É possível, diante deste do todo, que é o problema. O todo, representado
processo, fazer uma leitura das partes e
das relações com o todo do pelo problema proposto está impregnado das
conhecimento em busca da metáforas de cada aluno, isto é, pelas concepções
compreensão significativa da e entendimentos desses alunos. Então o todo
complexidade do mundo (...) A contém as partes, que contém o todo. Esse
valorização das várias maneiras de
pensar o mundo, a multiplicidade de sistema evolui para novas concepções num
interações, a interpretação dos processo recursivo e dialógico permanente.
processos contraditórios, a
possibilidade de pensar a realidade de Respondendo aos questionamentos
maneira diversificada que, embora
antagônicas, são complementares, têm iniciais
no diálogo o seu operador teórico
fundamental. Assim, o diálogo não Pelo exposto até aqui, é possível
pode ser concluso, acabado, responder as questões iniciais dessa pesquisa: (i)
determinante e definitivo, pois ele
representa o embate das múltiplas
qual a concepção sobre a natureza do
vozes que se manifestam e, do mesmo conhecimento matemático da EPE? e (ii) o que
modo, as múltiplas consciências e significa conhecer matemática na EPE?
mundos que se articulam (LUCENA; Sobre a natureza do conhecimento
SARAIVA; ALMEIDA, 2016, p. 181).
matemático presente na proposta pedagógica da
Segundo Morin (2011, p. 74), “um EPE, pode-se afirmar que ela apresenta
processo recursivo é um processo em que os características de uma compreensão com
produtos e os efeitos são ao mesmo tempo causas influências da filosofia Aristotélica. Nesta
e produtores do que produz”. Neste sentido, os perspectiva filosófica, a matemática é um
problemas propostos nas atividades de instrumento que é utilizado para interpretar e
matemática da EPE geram, no pensamento dos descrever o mundo, seus fenômenos e objetos.
alunos, hipóteses, metáforas explicativas. Porém, Segundo Machado (2013), a matemática é fruto
essas metáforas – que determinam o pensamento da criação humana e surge da interação do
abdutivo – geram uma relação muito intensa com pesquisador com os problemas do mundo. Seu
o entorno, por meio de pesquisa, investigação, instrumental teórico e abstrato é utilizado pelos
experimentação e vivências permanentes. A cada alunos da EPE nessa perspectiva, a de explicar
momento desse processo é possível que se inicie fenômenos e construir hipóteses para a solução
outro processo de interação com o entorno, se de problemas.
convertendo num ponto de partida para outra Porém, a matemática na EPE também
interação. Desta forma, essas relações com o apresenta as características do quase-
entorno fazem que tanto o aluno quanto o próprio empiricismo de Lakatos. Para Lakatos, conforme
entorno se modifiquem num processo recursivo Molina (2001), o conhecimento matemático é
de interação. construído a partir da interação social humana.
Nas aulas de matemática da EPE foi Lakatos defendeu que o conhecimento
possível observar que esse processo recursivo matemático é falível e deve ser levado à público
tem grande importância nas atividades que para sofrer críticas e refutações. Na EPE, o que é
envolvem invenção de regularidades, utilização levado a público para discussão não é a
de algoritmos para encontrar padrões, construção matemática propriamente dita, mas o
de fractais, etc. O processo recursivo presente no conhecimento construído com a utilização do
desenvolvimento do pensamento Matemático instrumental teórico da matemática, sempre na
medida da necessidade.
PADERES, A. M.; RODRIGUES, R. B.; GIUSTI, S. SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P.; A pesquisa
R.; Teoria da complexidade: percursos e desafios para científica. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T.
a pesquisa em educação. Revista de Educação. v. 8, (Orgs). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Ufrgs,
n. 8, p. 01-13, 2005. 2009, p. 31-42.
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Luciano Sant’Ana Agne - Doutor em Educação em Ciências e Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS), Professor de Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul (IFRS).