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entendendo-a como um ser que produz cultura e nela é produzida, que subverte a ordem

das coisas, que transforma o real, que cria possíveis. Esse modo de ver as crianças pode
ensinar não só a compreendê-las melhor mas a ver o mundo a partir de seus olhos, do ponto
de vista da infância.

na conquista da capacidade de ler e narrar o mundo apropriando-nos das diferentes formas


de produção da cultura, expressando, criando, comunicando e transformando. Desafio de
construir educação na escola e nos diferentes espaços de produção cultural de um jeito
diferente, mostrar na mídia outros modelos de educação e outros modos de ser criança que
resistem e também existem.

O trabalho pedagógico numa sociedade cada vez mais visual demanda um trabalho com a
leitura e criação de imagens relacionado ao conhecimento a partir da perspectiva do sujeito
plural.

“A descrição cinematográfica é para o homem moderno infinitamente mais significativa que a


pictórica, porque ela lhe oferece o que temos de exigir da arte: um aspecto da realidade livre
de qualquer manipulação pelos aparelhos, precisamente graças ao procedimento de
penetrar, com os aparelhos, no âmago da realidade”

Considerando que o cinema não é só a arte contemporânea do homem mas a arte criada
pelo homem contemporâneo, a única realmente moderna, Merten (1990) diz que o cinema é
um brinquedo maravilhoso, capaz de dar sentido à fantasia não apenas de quem faz, mas de
quem vê filmes.
Se o cinema permite a sensação de sonhar acordado, o autor alerta que tal brinquedo
também pode ser perigoso, pois o cinema organiza imagens no inconsciente e impõe
conceitos. Revelando seu caráter ambíguo, para Merten o cinema deixa de ser um inocente e
maravilhoso brinquedo para se transformar num instrumento de dominação e massificação
cultural, podendo influenciar pessoas quando coloca o espectador numa posição passiva, e
isso implica pensar num processo de aprendizado e educação, pois a recepção também é
ativa.
Diante da integração das produções culturais na escola, no caso do cinema, há que se
considerar os devidos cuidados na sua apropriação e transposição didática. Os usos da
linguagem audiovisual e a sua relação com imaginário, os diferentes códigos icônicos e
produção de leituras, a possível determinação de um signo sobre outro, a destituição de seu
uso social para seu uso escolarizado e tantos outros aspectos que são necessários discutir a
partir de uma leitura histórica das relações entre cultura e escola para manter a instituição e
seus agentes como formadores. A escola não é espaço de lazer, mas como instância
mediadora, estará aprendendo e ensinando sobre questões implícitas ao que é visto nas
mídias e ao fazer isto, estará sendo mais bem informada sobre aspectos que formam o
gosto, sobre mitos e estereótipos, sobre inculcações de valores subliminares e tantas outras
informações críticas que podem qualificar e apurar seu olhar e quem sabe até potencializar a
fruição de crianças e educadores.
A esse respeito, vale perguntar, como tais artefatos são apropriados pelo professor na escola
e no currículo, pois se acreditarmos que o currículo envolve todas as experiências culturais
que a escola propicia as seus alunos, ele não é neutro, é escolha e exercício de poder.
E como o professor não consegue competir com o mundo dos espetáculos da mídia, ele traz
esse mundo para dentro da sala de aula. Ocorre que, na maioria das vezes, o filme no
âmbito da escola é usado como ilustração e complemento, e uma vez que a escola tem sua
estrutura de trabalho centrada no texto escrito, o cinema não é visto como uma linguagem
com determinados conteúdos e nem em sua especificidade.
Utilizar filmes como pretextos para projetos pedagógicos ou como suporte do trabalho
escolar, pode ser uma das alternativas de aproximação - desde que se tenha a preocupação
em não empobrecer nem limitar o cinema como linguagem e possibilidades culturais -, e
pode ser um começo. Sendo um artefato cultural que as crianças devem se relacionar, em
relação ao conteúdo imaginário, o cinema pode ser uma janela para exercitar a capacidade
humana, possibilitando uma relação com a fantasia vivida simbolicamente através de
emoções compartilhadas com outras crianças que também estão assistindo o filme e isso é
uma experiência que a escola pode assegurar.
é fascinante ter a possibilidade de compartilhar tais reações, pois cinema é emoção e o
desafio é entender tais emoções com novas informações, mesmo sabendo de seu uso aberto
e incerto e de não saber o uso que dele vai ser feito.
No entanto, se hoje a mídia é a grande mediadora substituindo outras interações coletivas,
seus efeitos não são neutros nem onipotentes e implicam a necessidade de mediações
culturais, pois o significado final depende dos usos que a ela atribuímos.

de valorizar e ressignifcar a cultura a fim de reconstruir o espaço escolar como espaço de


formação cultural.

O cinema é um organismo altamente sensível com confluência de várias áreas.

A escolha e seleção de filmes é fundamental. Filmes que desafiam, inspiram, provocam e


colocam coisas que não se conhecia. Filmes como trabalhos que podem ser lidos, assistidos e
interpretados com competência, que são muito ricos para serem aprendido de uma vez só e
que não se esgotam na obra.
Se nos tempos da nossa infância os estúdios produziam considerável número de faroestes,
comédias e aventuras que nem sempre se destinavam às crianças, mas que eram assistidas
nas tardes de domingo como programa obrigatório para a criançada, hoje, apesar das
produções voltadas para o público infantil terem aumentado consideravelmente,
presenciamos certa perda deste hábito cultural.
Se poucas crianças saem de casa para ir ao cinema e se o público de cinema se elitizou,
como a escola pode ajudar a reconquistar? O barateamento do ingresso subsidiado para
estudantes, trabalhadores e professores é uma idéia que deve vir acompanhada por um
projeto de formação de público, objetivando ampliar o repertório cinematográfico para que
as crianças entrem em contato com diferentes produções e encontrem sua identidade na
diversidade cultural, com a possibilidade de trazer a cultura de diferentes lugares do mundo.

Além de criar o hábito de ir ao cinema e sensibilizar esteticamente com conhecimentos que


capacitem as crianças acessarem outros repertórios e referenciais, isso permitiria desviar o
eixo da produção dos grandes centros da cidade para chegar às escolas e periferias deste
Brasil. Aumentando o acervo e o repertório cultural, a diversidade não se daria pela exclusão
e sim pela adequação, pois em se tratando de educação, não se trata apenas de proibir, mas
de ver, assistir, refletir, elaborar a crítica e quem sabe produzir.

Se a escola abrir espaço para as produções culturais, as crianças poderão ultrapassar


fronteiras usufruindo do cinema com suas linguagens e seus códigos. Com uma idéia na
cabeça, uma máquina fotográfica e uma câmara na mão, realizando seus desenhos
animados, aprendendo a manipular um projetor, brincando com pedaços de filmes,
desenvolvendo técnicas de animação, registrando com câmara fixa seus desenhos, as
crianças estarão produzindo um pouco de suas experiências estéticas e exercendo seu direito
à cultura.
Ao abrir novas possibilidades no sentido das produções culturais, o professor estará
alargando os limites dos trabalhos com papel, cartolina e massa de modelar para outras
possibilidades de linguagem, educação e expressão a respeito de como as crianças
interpretam o que aprendem e do que elas pensam, sentem e dizem sobre o mundo e sobre
si próprias.

Assim, tão importante quanto dar mais recursos aos professores e às escolas, é reforçar o
estudo das artes, da literatura, do cinema, da poesia não como objetos apenas formais e
científicos, mas como práticas de vida, como processos criadores, como linguagens e
passaportes necessários para a inserção social. As linguagens da arte, da literatura do lúdico
e das mídias na escola podem e devem estar articuladas à produção de conhecimento como
processo criador, buscando a poética do cotidiano e a beleza nas pequenas coisas: na fala,
no pensamento, no gesto, no olhar, no movimento, na arte de ensinar e aprender, pois
“o pensamento infantil caracteriza-se por um sincretismo que se exerce por analogias e
alegorias, como também caracteriza-se por um grande poder de jogo e imaginação que lhe
confere um cunho poético. Devido a essas potencialidades de seu pensamento, as crianças
são muito contemporâneas, isto é, atualizadas, em suas concepções sobre o mundo:
enxergam os sentidos nas frestas, fissuras, nichos onde conseguem escapar da lógica
habitual”

Uma sala grande, escura, cheia de poltronas, ar condicionado, música


ambiente, com uma imensa tela na frente e algumas “janelinhas” atrás por onde sai uma luz
que aos poucos vai deixando a tela iluminada e nos transporta para um lugar onde deixamos
de ser simples espectadores para viver emoções. Nessa “evasão da realidade” desse
tempoespaço
próprio do cinema parece que as imagens, as músicas e o ambiente permitem nos
identificar com os personagens, vibrar com as aventuras, chorar com as amarguras, enfim,
nos emocionar com a vida. E quando acendem-se as luzes, o letreiro sobe e o filme termina,
a saída do cinema – que acontece ainda sob o impacto do filme - revela o “mundo real” e
nos faz voltar para vida cotidiana.
Neste sentido, buscando construir pistas para uma compreensão da experiência
cultural de crianças com as mídias, particularmente, com o cinema, o texto considera que
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ouvir as crianças e captar seus “modos de olhar” é fundamental para a reflexão da relação
criança e cultura.
Cinema, cultura e educação
Diante da multiplicidade de sentidos que envolve o termo cinema: espaço físico com sala de
projeções de filmes, entretenimento, narrativa, evento cultural, indústria cinematográfica, arte, etc., aqui ele
será entendido como prática social que envolve diversas dimensões, tanto para aqueles que o fazem como
para o público, pois “em suas narrativas e significados podemos identificar evidências do modo como nossa
cultura dá sentido a si própria”
o currículo envolve todas as experiências culturais que a escola
propicia aos seus alunos, há que perguntar como tais artefatos são apropriados na escola,
pois embora ela não seja espaço de lazer, como instância educativa e mediadora, ela poderá
aprender e ensinar sobre muitas questões implícitas ao que é visto no cinema para
potencializar a contemplação e a fruição de crianças.

Para fazer tal mediação, o educador tem um papel vital de fazer perguntas que
instiguem o olhar curioso e que torne visível para o aluno o que se antes não era observável.

discutindo e refletindo sobre a relação cinema, criança, educação e cultura


considero a imagem visual como elemento disparador de novas sensibilidades. Neste
sentido, penso que o cinema pode oferecer uma via privilegiada para elaborarmos novas
apreensões nas possibilidades de sentir o mundo, o outro e nós mesmos. Assim, acredito
que através das narrativas cinematográficas se possa ampliar a discussão sobre a relação
das crianças e as produções culturais com outros olhares, pois tão importante quanto saber
como elas se apropriam do cinema em suas formas e conteúdos, é saber como elas
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interpretam, re-elaboram e significam tais experiências. Afinal, se “as crianças são capazes
de resgatar uma compreensão polifônica do mundo”, muito temos a aprender com elas,
visto que essa compreensão parece estar fazendo muita falta...

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