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Amazônia Oriental

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO – CCHE
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

AGRICULTURA SEM QUEIMA: impacto social da apropriação do


conhecimento na adoção da tecnologia por agricultores familiares
em Igarapé-Açu e Marapanim (PA) – um estudo de caso.

Eduardo Fernandes Cerqueira Segundo

Belém
2011
Eduardo Fernandes Cerqueira Segundo

AGRICULTURA SEM QUEIMA: impacto social da apropriação do conhecimento


na adoção da tecnologia por agricultores familiares em Igarapé-Açu e
Marapanim (PA) – um estudo de caso.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Ciências Sociais do Centro de Ciências
Humanas e Educação da Universidade da
Amazônia como requisito para obtenção do título
de Licenciatura e Bacharelado em Ciências
Sociais.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria de


Albuquerque Vasconcellos

BELÉM - PA
2011
Todos os direitos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais
(Lei no 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Universidade da Amazônia

Segundo, Eduardo Fernandes Cerqueira.


Agricultura sem queima: impacto social da apropriação do conhecimento e adoção da
tecnologia por agricultores familiares em Igarapé-Açu e Marapanim (PA) – um estudo
de caso / Eduardo Fernandes Cerqueira Segundo. – 2011.
XX X f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais) - Universidade


da Amazônia, Centro de Ciências Humanas, Belém, PA, 2011.
Orientadora: Profa. Ana Maria Vasconcelos.

1.Agricultura familiar – Igarapé-Açu. 2. Agricultura familiar – Marapanim. 3. Impacto


social. 4. Agricultura sem queima. 5. Sociologia. 6. Desenvolvimento sustentável. I. Título.

CDD 338.198115 (21. ed.)


Eduardo Fernandes Cerqueira Segundo

AGRICULTURA SEM QUEIMA: impacto social da apropriação do conhecimento


na adoção da tecnologia por agricultores familiares em Igarapé-Açu e
Marapanim (PA) – um estudo de caso.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Ciências Sociais do Centro de
Ciências Humanas e Educação da
Universidade da Amazônia como requisito para
obtenção do título do título de Licenciatura e
Bacharelado em Ciências Sociais.

Orientadora: Profª Dra. Ana Maria de


Albuquerque Vasconcellos

Banca Examinadora

____________________________
Prof.Drª Anna Maria A. de Vasconcellos

_____________________________
Prof. MsC Rose Martins Tavares

Apresentado em: ____/____/_____

Conceito: Excelente

BELÉM - PA
2011
À Betânia Cerqueira, minha mãe.

Que com todas as adversidades que a


vida colocou e, que pelo seu amor incondicional,
nunca deixou–me faltar nada,
principalmente os valores
morais, éticos e de respeito .

À Albenize Cerqueira, minha avó.

Pilar mestre de sustentação da minha família.


AGRADECIMENTOS

O esforço que se concretiza neste trabalho não teria sido viabilizado sem a
orientação e colaboração de pessoas e Instituições que contribuíram de diversas
formas os quais, merecem agradecimentos:

À Deus, pelo dom da vida e companhia diária ao meu lado;

À minha família e parentes, em especial minha tia Rubenise, pela


perseverança e busca de conhecimento constante, em quem me inspiro para minha
realização profissional;

À Professora Drª Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos, pela competente


orientação deste trabalho;

Aos agricultores-parceiros que se dispuseram em participar da minha pesquisa


e, que, compartilharam na construção deste trabalho: Manoel da Silva, João Barros,
José Pereira, Paulo Monteiro, Waldecley Honorato, Francelino, José Luiz Ramos
das Neves, Antônio Barbosa França e João Francisco de Lima Filho;

Aos Agentes Comunitários Locais, Marcos França da Costa e Raimunda da


Silva pelo acompanhamento nas comunidades de Nova Olinda e São João, para
realização das entrevistas;

Ao Dr. Osvaldo Ryohei Kato pela orientação e oportunidade de estagiar na


equipe do Projeto Tipitamba;

A Lucilda Matos pela coordenação das minhas atividades no Projeto Tipitamba


e pela sugestão de introduzir minha proposta de TCC como ação no Projeto
submetido ao CNPq- Edital- Universal 2009 e a Célia e Grimoaldo companheiros na
equipe;

A Embrapa Amazônia Oriental e o Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico - CNPq pela oportunidade de execução do estudo;

A Regina, bibliotecária da Embrapa Amazônia Oriental pela elaboração da


ficha catalográfica e revisão da bibliografia e, ao Pelé, pelo auxilio na localização da
literatura.

Aos professores e coordenadoras do Curso de Ciências Sociais da UNAMA e


colegas, que compartilharam saberes contribuindo para minha formação
profissional;

A todos que direta e indiretamente contribuíram para a concretização deste


trabalho.
“... o saber de todo mundo, é um saber
universal. Aqui tem muita ciência, que é
preciso se estudar. Estudo fino, estudo fino,
que é preciso conhecer. Para ser bom
professor, apresentar o seu saber.”

Mestre Raimundo Irineu Serra.


RESUMO

As mudanças ambientais percebidas atualmente e a necessidade de conter um


crescimento pautado na economia e no uso indiscriminado dos recursos naturais
disponíveis no planeta, elevaram a Amazônia Legal a condições de estudos cada
vez mais elaborados para um modelo de desenvolvimento sustentável. O contexto
da pesquisa se insere dentro do conjunto de projetos que visam o uso da tecnologia
“agricultura sem queima”. O estudo tem como objetivo avaliar o impacto social da
apropriação do conhecimento na adoção da tecnologia na perspectiva sustentável,
tendo como objetivos específicos as dimensões social e ambiental. Os
procedimentos metodológicos abordam o método qualitativo, contemplando uma
população de nove agricultores familiares que empregam a tecnologia “agricultura
sem queima” nas comunidades Nova Olinda, em Igarapé-Açu, e São João, em
Marapanim, Pará. Os resultados apontam que a tecnologia vem contribuindo para
uma transformação social por meio, principalmente, da alteração do conhecimento
em suas atividades produtivas.

Palavras-Chave: Agricultura familiar – Igarapé-Açu. Agricultura familiar –


Marapanim. Impacto social. Agricultura sem queima. Sociologia. Desenvolvimento
sustentável.
LISTA DE FIGURAS
p.

Figura 1 – Trator Triturador da Capoeira (TRITUCAP) ......................................................13


Figura 2 – Cultivo em área triturada: cobertura morta .............................................13
Figura 3 – Entrevista com agricultor da Comunidade Nova Olinda ..........................34
Figura 4 – Entrevista com agricultor da Comunidade Nova Olinda ..........................34
Figura 5 – Sistema de plantio consorciado em área triturada ................................. 40
Figura 6 – Sistema de plantio consorciado em área triturada ..................................43
Figura 7 – Agricultor apresentando sua experiências em eventos .......................... 52
LISTA DE TABELAS
p.

Tabela 1- Número de estabelecimentos agropecuários e tamanho de


áreas distribuídas por gênero, no município de Igarapé-Açu...................35

Tabela 2- Culturas agrícolas temporários e permanentes produzidas


no município de Igarapé-Açu .................................................................. 36

Tabela 3- Número de estabelecimentos e tamanho de áreas distribuídas


por gênero, no município de Marapanim ................................................. 37

Tabela 4- Culturas agrícolas temporários e permanentes produzidas


no município de Marapanim .................................................................... 37

Tabela 5- Agricultores entrevistados na Comunidade Nova Olinda -


Igarapé-Açu e São João – Marapanim .....................................................41
LISTA DE SIGLAS

ACL – Agente Comunitário Local


AMBITEC – Avaliação de Impacto Ambiental da Inovação Tecnológica
ASDCONO – Associação de Desenvolvimento Comunitário de Nova Olinda
ACSJ – Associação Comunitária São João
BMBF – Ministério de Ciência e Tecnologia Alemão
CGTM – Coordenação Geral do Programa de Pesquisa em Ciências da Terra e
Meio Ambiente
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DS – Desenvolvimento Sustentável
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MMA – Ministério do Meio Ambiente
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
PDA/PADEQ/022-P – Projeto Raízes da Terra
PPA – Plano Plurianual
PPG7 – Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
SAF´s – Sistemas Agro-florestais
SHIFT – Studies of Human Impacts on Forests and Floodplains in the Tropics
SPC&T – Subprograma de Ciência e Tecnologia
SUMÁRIO
p.

RESUMO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................8

1.1 CONTEXTO DA PESQUISA...............................................................................10


1.2 DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA.........................................................................12
1.3 O PROBLEMA E OS OBJETIVOS......................................................................13
1.4 A ESTRUTURA DO TRABALHO.........................................................................16

2. REVISANDO A LITERATURA............................................................................. 18
2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL............................................................. 18
2.1.1 Dimensão social do Desenvolvimento Sustentável ...................................19
2.1.2 Dimensão ambiental no Desenvolvimento Sustentável..............................22
2.2 COMUNIDADE....................................................................................................25
2.3 TERRITÓRIO......................................................................................................27
2.4 AGRICULTURA FAMILIAR ................................................................................29

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................31

4. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS.................................................................33

4.1 COLETA DE DADOS..........................................................................................33


4.2 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO PESQUIADA.................................................35
4.2.1 Município de Igarapé-Açu..............................................................................35
4.2.1.1 Comunidade Nova Olinda ..........................................................................36
4.2.2 Município de Marapanim ...............................................................................37
4.2.2.1 Comunidade São João ...............................................................................38
4.3 AGRICULTURA SEM QUEIMA E A DIMENSÃO AMBIENTAL...........................38
4.4 AGRICULTURA SEM QUEIMA E A DIMENSÃO SOCIAL..................................43

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................55
6. REFERENCIAS.....................................................................................................58

APÊNDICE
Roteiro da Entrevista................................................................................................64
8

1-INTRODUÇÃO

Este estudo é parte integrante do projeto intitulado “Percepção pública da


ciência e tecnologia e impacto social da “agricultura sem queima” para recuperação
de áreas degradadas na Amazônia, em comunidades rurais no nordeste paraense,
onde atuei como estagiário, sob o aporte financeiro do CNPq – por meio do Edital
Universal / 2009.

A segunda metade do século XX gerou um alerta global para questões


relacionadas ao modelo de desenvolvimento até então preponderante, com que,
tanto países industrializados como os países em desenvolvimento, têm submetido
suas sociedades. Relacionando estas duas realidades, expõe-se uma evidente
situação de desequilíbrio sócio-ambiental.

Os países em desenvolvimento vivem no dia-a-dia as conseqüências de um


crescimento desigual. A falta de distribuição de bens, somada à pobreza e um
crescimento populacional vertiginoso, resulta no mau uso e utilização inapropriada
de recursos naturais disponíveis. A partir da experiência negativa das sociedades
industriais com as conseqüências de um desenvolvimento desregulado e
eminentemente de cunho econômico, eclodiram movimentos ambientalistas mundo
a fora com a consciência voltada para uso e exploração dos recursos naturais de
forma equilibrada.

Na Amazônia, desde a pré-história que o homem queima a floresta no preparo


de roçados para o cultivo de culturas alimentares e pastoreio de animais. Eram
roçados em pequenas clareiras abertas na floresta, que com o uso do fogo se
concluía a limpeza da área. Após o cultivo por um ou dois anos a área era
abandonada para um período de pousio, ou seja: tempo para regeneração da
vegetação. Segundo Kato et. al (2009 p.494) “ a adoção do modelo químico –
mecanizado está sendo negativo, o que pode ser comprovado com os cultivos de
pimenta-do–reino e soja, onde a vegetação natural (primária ou secundária) é
removida, reduzindo a diversidade e riqueza das espécies. Por outro lado, a
agricultura tradicional, baseada na prática de corte e queima, tem se tornado alvo de
manifestações de ambientalistas e cientistas do mundo inteiro pela emissão de
9

gases que contribuem para o efeito estufa”. Também, Rodrigues et al (2006, p.3),
aponta que “ o rápido crescimento populacional na atualidade e o conseqüente
aumento da pressão de uso da terra na região nas últimas décadas têm causado a
degradação agronômica e ecológica deste sistema de produção”.

É certo que a Amazônia tem sido foco, podendo-se dizer do “olhar do mundo”. Este
olhar se firmou, especialmente, nas ultimas quatro décadas, com desmatamento
acelerado, conversão de terras para a agricultura, queimadas para preparo de solo,
ocupação desordenada por migração, sem falar da execução de grandes obras
(estradas como por exemplo a Transamazônica, barragens e usinas, entre outros),
sem que tenham sido tomados cuidados prévios para pelo menos, minimizar os
impactos ambientais e sociais na região.

A região amazônica por ser extensa, caracteriza-se pela constituição de vários


“territórios” – visto sob um prisma cultural, histórico, econômico e produtivo. Assim, o
que vem se verificando nas últimas décadas na Amazônia, são iniciativas de gestão
do uso da terra e seus recursos naturais através do engajamento de comunidades,
por exemplo, de ribeirinhos, agricultores, extrativistas, quilombolas entre outros.

Em uma escala global, a queima de uma área para implementação do roçado


provoca a morte de organismos do solo e consideráveis perdas nutritivas, inclusive
dos menos voláteis devido á emissão de partículas junto a fumaça do fogo,
diminuindo a sustentabilidade do sistema e a qualidade da terra.

As pequenas propriedades rurais, cujo trabalho está focado na agricultura


familiar, em grande parte das regiões baseiam-se em práticas de corte e queima
para o preparo de áreas. À medida que o fogo desgasta os nutrientes do solo, novas
áreas são abertas na expectativa de melhorar a produção na mesma lógica do corte
e queima. Para os produtores rurais, o esforço empregado nessa técnica não é
recompensador, pois não alcançam uma estabilidade produtiva em uma
determinada área e alteram freqüentemente outras paisagens.

Diante disso, foram introduzidas na zona rural dos municípios de Igarapé-Açu e


Marapanim, no nordeste paraense, novas técnicas baseadas em conhecimentos
técnico-cientificos e tecnologias geradas pela pesquisa agropecuária, com vistas a
10

substituir as praticas de corte e queima, visando segundo Rodrigues (2006, p.3)


“alcançar, de um lado, a melhoria econômica para as fazendas, pela intensificação
da agricultura sem degradação do solo, e do outro lado, busca trazer melhoria na
qualidade ambiental e na conservação dos recursos naturais, resultando em
importantes benefícios para as comunidades locais”.

Esta intervenção no sistema de produção agrícola nas localidades vem se


configurando como uma nova realidade na região, de modo que a realidade social
rural atualmente impõe novas perspectivas de estudos e pesquisas com olhares
interdisciplinares, ou seja, em ambientes agrícolas, onde as Ciências Agrárias
atuam mais fortemente e o olhar da Sociologia se torna profundamente apropriado,
numa visão de compreensão dessa realidade.

Esta pesquisa tem como objetivo avaliar do ponto de vista sociológico, os


impactos sociais da apropriação do conhecimento na adoção da tecnologia
“agricultura sem queima” pelos agricultores (as) familiares numa perspectiva de
desenvolvimento sustentável.

1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA

Nos anos 80 foram iniciados projetos de pesquisas, entre os quais o Projeto:


“Vegetação secundária como vegetação de pousio na paisagem agrícola da
Amazônia Oriental – Função e possibilidade de manipulação”, por meio do
Programa germânico - brasileiro “ Studies of human impacts on forests and
floodplains in the tropics – SHIFT”, Implementado através da cooperação bilateral
entre o Ministério de Ciência e Tecnologia da Alemanha (BMBF) e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq, tendo como
executoras a Embrapa Amazônia Oriental, Universidade de Bonn e Universidade de
Göttingen.

Considerando os riscos de incêndio e a poluição atmosférica provocados pela


queima, esse projeto – denominado de Projeto SHIFT, buscou em área
experimental, alternativa para amenizar ou eliminar essas ações, testando
experimentalmente a substituição do sistema de cultivo de corte e queima pelo de
11

corte e trituração da capoeira que é usada como fonte de nutrientes e matéria


orgânica para o solo em sistemas de produção. Em seguida, outra área foi um
experimento participativo, uma nova abordagem do projeto, onde as áreas foram
definidas pelos agricultores. A pesquisa contou com o uso de um trator denominado
de Tritucap (Fig.1) desenvolvido pelo Instituto de Engenharia Agrícola da
Universidade de Göttingen na Alemanha. Esta máquina corta e tritura a vegetação
secundária sem destruir o sistema radicular, ao mesmo tempo em que o material
triturado é distribuído uniformemente sobre o solo formando uma cobertura morta.

Desse período até então, foram idealizados e incluídos outros projetos no


âmbito da Capoeira e/ou vegetação secundária e em 1992, os projetos em diversas
áreas (economia, agronomia, pecuária) formaram um conjunto denominado de
Projeto Tipitamba, que tendo por base os estudos na capoeira, vem buscando
alternativas às técnicas tradicionais de uso da terra no âmbito da agricultura familiar,
em especial, do Nordeste Paraense. O nome Tipitamba tem sua origem na
linguagem indígena Tiriyó cujo significado é roça abandonada ou capoeira.

Como foi mencionado anteriormente, a idéia e motivação deste trabalho foram


se formatando e se fortalecendo durante um período de estágio na Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA -, na ambiência dos Projetos:

a) “Desenvolvimento e Validação de Estratégias Participativas de Recuperação


de Áreas Agrícolas e Pastagens Degradadas na Amazônia”;
b) “Divulgação cientifica - usando a ciência para transformar paisagens:
divulgação de práticas sustentáveis para a recuperação de áreas
degradadas”.

Esses projetos tiveram apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico – CNPq; Coordenação Geral do Programa de Pesquisa em
Ciências da Terra e Meio Ambiente – CGTM; Programa Piloto para Proteção das
Florestas Tropicais – PPG7; Subprograma de Ciência e Tecnologia – SPC&T – Fase
II. Os projetos acima, por estarem em sintonia com os propósitos do Projeto
Tipitamba, foram executados nos mesmos locais de abrangência do mesmo.
12

Desenvolvendo minhas atividades como estagiário, conheci as comunidades


que adotam a “tecnologia de agricultura sem queima” e dessa forma percebi que
poderia avaliar o impacto social dessa mudança. Minha motivação assim relaciona-
se com o que observei, de modo que apresentei em junho 2009 na disciplina
Metodologia a pré-proposta para meu trabalho de conclusão de curso nas Ciências
Sociais que, por sugestão da equipe dos projetos nos quais estagiava, foi incluída
como ação em Projeto proposto ao CNPq-Edital Universal 2009.

O interesse pela temática é avaliar, do ponto de vista sociológico, os impactos


sociais da apropriação do conhecimento na adoção da tecnologia “agricultura sem
queima” na realidade dos agricultores (as) familiares numa perspectiva de
Desenvolvimento Sustentável, presumindo se os agricultores familiares têm
absorvido “novas práticas” e com isso alterado suas condições socioculturais e
ambientais em sua forma de produção.

Embora ações do Projeto Tipitamba tenham se expandido para outros


municípios do Nordeste Paraense e até mesmo para outros Estados na Amazônia
Legal, foi em Igarapé-Açu e Marapanin que o projeto iniciou, razão pela escolha dos
municípios para este estudo.

1.2 DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA

A tecnologia denominada “agricultura sem queima” é descrita por Rodrigues et


al. (2006, p.3) como sendo:

a) derrubada-e-cobertura morta (em oposição à derrubada-e-queima) da


vegetação secundária, um processo possibilitado pela introdução de
implemento picador de vegetação movido a trator;
b) enriquecimento da vegetação secundária com espécies de árvores
fixadoras de nitrogênio e de rápido crescimento, para melhorar o acúmulo
de biomassa para cobertura morta, produção de carvão, lenha e madeira;
c) adubação do solo em adição à cobertura morta, vinculada a
rotação/associação de culturas, que permite o desenvolvimento de uma
safra adicional a cada período de cinco anos.
13

Fig. 1- Trator Triturador da Capoeira (TRITUCAP)


Fonte: Osvaldo Ryohei Kato.

Fig. 2- Cultivo em área triturada: cobertura morta


Fonte: Pesquisa de Campo

1.3 -O PROBLEMA E OS OBJETIVOS

O problema e objetivos desta pesquisa são expostos a seguir:

1.3.1 O problema

As discussões observadas na literatura a respeito dos conceitos relacionados


ao desenvolvimento sustentável, bem como sua aplicabilidade, são extensas e, a
14

nosso ver, trata-se de conceito ainda em construção uma vez que vão sendo
agregadas novas perspectivas e interpretações.

É certo que para o emprego deste novo modelo de desenvolvimento local,


regional e nacional, em qualquer país, entre outros fatores, a ciência e a tecnologia,
são importantes em todas as áreas do conhecimento, visto o ambiente e a quem
esse desenvolvimento se direciona.

Com o crescente emprego dos resultados da Pesquisa e Desenvolvimento


Agropecuária (P&D) nos processos produtivos agrícola e florestal, surge
paralelamente a necessidade de avaliar os impactos das tecnologias adotadas não
somente em nível econômica, mas também social e ambiental.

Em relação à avaliação do impacto social, Yeganiantz e Macedo (2002 p.10)


colocam que “a área mais complexa e também mais completa para fins de avaliação
de impactos de pesquisa é a social”, ainda, para os autores (p 22).

A avaliação do impacto social da pesquisa cria uma maior sensibilidade e


responsabilidade por parte dos pesquisadores, dos próprios produtores, dos
tomadores de decisão relacionados com a política agrícola e de outros
atores envolvidos com a agricultura na sociedade.

Neste sentido, entende-se que os dois sistemas sociais, grupos produtores dos
conhecimentos técnico-científicos e agricultores como grupo para os quais os
resultados das pesquisas deverão ser direcionados, são protagonistas de um
processo social de desenvolvimento e, portanto precisam estar em estreito
relacionamento.

A Embrapa, nos últimos anos tem iniciado ações de pesquisas para avaliação
de impactos sociais, econômicos e ambientais das tecnologias agropecuárias
geradas e adotadas, sob vários indicadores e dimensões. Em relação à avaliação de
impacto social das tecnologias produzidas, Quirino e Macedo (2000, p.124)
propõem.

que o modo de identificar empiricamente os impactos sociais de produtos


da pesquisa agropecuária, em seu amplo senso, a exemplo de cultivares,
máquinas e equipamentos, manejo animal e vegetal e idéias materializadas
em trabalhos científicos, seja a identificação do impacto que a tecnologia
provoca no primeiro elo em que incide sobre a cadeia de produção, a
resultante interferência no processo produtivo e os resultados que tal
interferência desencadeia sobre os aspectos mais próximos da trama social.
15

O comportamento humano, individual e coletivo, principalmente aquele


relacionado ao processo de produção, é o aspecto a ser privilegiado.

Atualmente, muitos estudos de avaliação do impacto social das tecnologias


geradas pela Embrapa, estão sendo realizados com o emprego da metodologia de
referencia – AMBITEC (ÁVILA, 2001). A metodologia foi criada para avaliação do
impacto de tecnologias na “cadeia produtiva” que segundo Prochnik e Haguenauer
(2001, p.2) é definida como: “um conjunto de etapas consecutivas pelas quais
passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos”. Neste
aspecto, entende-se por insumos todo o instrumental que envolve a produção tanto
no ambiente da produção quanto externos a esse ambiente, por exemplo: terra,
capital, mão de obra, instituições fornecedoras de tecnologias (máquinas e
equipamentos, sementes, mudas, entre outros) , assim como instituições
relacionadas à comercialização, industrialização e consumo dos produtos,
provenientes da produção agrícola.

Como o objetivo desta pesquisa não contempla a cadeia produtiva, uma vez
que prevê o sistema de produção na unidade dos agricultores familiares, não se
optou pela metodologia em uso pela Embrapa.

Os desafios das Ciências Sociais no momento atual, especialmente sobre as


mudanças do modelo de desenvolvimento no mundo, tornam-se bem grandes,
especialmente para a Sociologia, dado as transformações e mudanças que são
atualmente quase que exigidas por força das circunstâncias do sistema de produção
agrícola numa perspectiva de desenvolvimento sustentável.

1.3.2 Objetivos

Conforme explicitado no capítulo anterior, as mudanças ocasionadas por


intervenção no meio social agrícola são importantes para estudos sociológicos, por
permitir uma contribuição efetiva à interação entre a pesquisa agropecuária e a
sociedade usuária dos resultados técnicos - científicos.

Assim, são objetivos desta pesquisa:


16

A) Objetivo Geral:

Avaliar o Impacto social da apropriação do conhecimento na adoção da


tecnologia “agricultura sem queima” pelos agricultores familiares numa
perspectiva de “Desenvolvimento Sustentável” nas comunidades de Nova Olinda
no município de Igarapé-Açu e São João no município de Marapanim.

B) Objetivos Específicos:

Identificar e avaliar a dimensão social e a ambiental dessa intervenção no meio


sócio produtivo dos agricultores, a saber:

• Dimensão Ambiental: identificar se a adoção da tecnologia tem influencia na


recuperação ambiental das propriedades considerando: a diversidade e
condições de manejo das áreas de produção; a diversidade produtiva e a
regeneração de áreas degradadas;

• Dimensão Social: identificar se a adoção da tecnologia tem influencia nas


questões de saúde dos agricultores (as) considerando: a segurança no
trabalho e a saúde ocupacional; nos valores socioculturais considerando a:
organização e/ou fortalecimento das associações de agricultores; na
elevação do conhecimento e na socialização das informações técnicas; na
interação entre pesquisadores e agricultores (as); na facilidade e/ou
obstáculos de participação na execução do Projeto Tipitamba; na forma de
compartilhamento de saberes entre pesquisadores e “agricultores parceiros”

1.4 A ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho está estruturado em quatro capítulos. No capitulo um contextualiza-


se a pesquisa descrevendo a tecnologia, expondo o problema e os objetivos a
serem alcançados no trabalho. O capitulo 2 trata da revisão da literatura onde são
discutidos os conceitos sobre Desenvolvimentos Sustentável, focando a dimensões
17

social e ambiental, bem como os temas que envolvem o objeto da pesquisa, sendo:
comunidade, território e agricultura familiar.

O capítulo 3 descreve os procedimentos metodológicos empregados na


pesquisa. O capítulo 4 trata da apresentação dos resultados mediante a análise dos
dados coletados, bem como a caracterização da região pesquisada, compondo-se
dos municípios de Igarapé-Açu – Comunidade Nova Olinda e Marapanin –
Comunidade São João. Desta maneira se discute a relação entre o referencial
teórico e adoção da tecnologia “agricultura sem queima” visando a dimensão social
e ambiental do Desenvolvimento Sustentável.
18

2- REVISANDO A LITERATURA

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

As discussões observadas na literatura a respeito dos conceitos relacionados


ao Desenvolvimento Sustentável, bem como sua aplicabilidade, são extensas e, a
nosso ver, trata-se de conceito ainda em construção uma vez que vão sendo
agregadas novas perspectivas e interpretações.

O Desenvolvimento Sustentável vem sendo amplamente discutido por diversos


estudiosos em todo o mundo, em vista de uma definição que norteie a ação de
desenvolvimento integrada. O modelo de desenvolvimento dos países pós-
industriais revela um cenário preocupante para o bem estar sócio-ambiental, ou
seja, tem-se a tarefa de encontrar uma solução para o desenvolvimento conjugado
entre indústrias, sociedade, cultura e meio ambiente.

Após muitas ponderações, a definição de desenvolvimento sustentável mais


aceita e difundida é a descrita por Brundtland (1987 p.4) como o processo que
“satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de suprir suas próprias necessidades”. Esta definição pode parecer simples
à primeira vista, porém, na prática, sugere que as diferentes áreas do conhecimento
atuem em complementaridade à causa sócio-ambiental, conciliando questões
ambientais e sociais.

O termo Desenvolvimento Sustentável começou a ser mais difundido no Brasil


a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio-92).

As conseqüências refletidas no meio ambiente sugerem uma nova visão de


desenvolvimento, uma vez que, para Kitamura (1994, p.11) “no final da década de
sessenta, notadamente, crescem as preocupações em todo o mundo acerca dos
efeitos indesejados do desenvolvimento econômico...” Tal efeito, talvez, seja
decorrente de um contexto histórico com raízes no “Fordismo”.

Em relação às contribuições de outras áreas do conhecimento, Sachs (2004,


p.214) adverte que
19

Tudo indica que a idéia do desenvolvimento não perderá a sua


centralidade nas ciências sociais. Mais do que nunca precisamos
enfrentar as abismais desigualdades sociais entre nações e dentro
das nações e fazê-lo de maneira a não comprometer o futuro da
humanidade por mudanças climáticas irreversíveis e deletérias.

Sachs indica que a sustentabilidade apresenta oito dimensões, como sendo:


social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica, política nacional e
política internacional. Tais dimensões são critérios fundamentados em objetivos
sociais, ambientais e econômicos, sugeridos desde 1972 na I Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo (SACHS, 2009, p. 54 -85).

Mais, recentemente, Veiga (2010, p. 39) aponta que “embora capeiem debates
sobre a noção de sustentabilidade em quase todas as áreas do conhecimento, eles
obrigatoriamente têm suas raízes nas reflexões de duas disciplinas consideradas
científicas: ecologia e economia”. Embora enraizados em duas disciplinas
específicas, outras áreas do conhecimento vem contribuindo na ampliação tanto do
conceito quanto da prática sustentável.

No contexto do Desenvolvimento Sustentável a literatura aponta dimensões


das quais as mais citadas e comentadas são: econômica, social, ambiental, cultural
e política. A questão econômica no desenvolvimento sustentável requer que o
público e o privado invertam o fluxo de suas políticas em vista do manejo eficiente
dos recursos naturais disponíveis. A relação cultural prima pela modernização
endógena, de dentro para fora, ou seja, do local para o global. A dimensão política
sugere a participação de estados e municípios na gestão das políticas públicas de
interesse da sociedade (SACHS, 2009, p. 54 - 85).

Considerando os propósitos deste trabalho, duas delas serão comentadas e


discutidas a seguir:

2.1.1 A Dimensão social no Desenvolvimento Sustentável

A dimensão social no modelo de desenvolvimento sustentável, certamente é a


mais complexa e, provavelmente, completa, uma vez que esta dimensão tem
conexão com as demais, ecológica, econômica, geográfica e cultural, direta ou
indiretamente se convergem de forma interdependente tendo como protagonistas os
20

indivíduos que compõem o sistema social. Os reflexos do desenvolvimento


sustentável atingem tanto no modo de produzir como, de consumir e de
comercializar, quer para agricultores – familiares e empresariais; quer para
fabricantes (indústrias em geral) e quer para consumidores na sociedade. O que se
houve comumente em noticiários é: produção consciente, consumo consciente,
comércio justo, entre outras terminologias que em geral, remetem ou se referem ao
processo de desenvolvimento.

O cenário resultante do desenvolvimento embasado profundamente na


modernização vinculada ao crescimento econômico e tecnológico fortaleceu as
desigualdades sociais em vários sentidos, entre os quais trouxe a crise ambiental
que se expandiu para questões sócio-ambientais.

Na zona rural, foco deste trabalho, a literatura indica que o pequeno produtor
rural sofreu a duras penas a falta de condições iguais no meio rural. Embora durante
duas décadas do século passado o meio rural tenha sido alvo de forte estímulo para
o crescimento agropecuário baseado no uso maciço de insumos e aparatos
tecnológicos e, de acordo com Cruz (2007, p.27) “foi adotado um padrão tecnológico
de desenvolvimento que expulsou a força de trabalho considerada improdutiva no
campo.” A categoria dos pequenos agricultores foi enfraquecida pela exclusão do
processo tecnológico em foco na época, contribuindo para que tantos procurassem
nas zonas urbanas melhores condições de vida.

A dita modernização proporcionou também a concentração de riquezas e


favoreceu a um grupo menor de agricultores os – “agricultores empresariais”- que
tiveram acesso a todos os recursos como: terra, capital, tecnologias e
conhecimento. Apesar das conseqüências desastrosas para a categoria, hoje
sobrevive com expectativas melhores.

Na década de 90, houve uma efervescência de eventos que tiveram impactos


significativos no meio rural, baseados nos movimentos sociais rurais. Por esses
movimentos foi reconhecida a noção de agricultura familiar, incorporando e
afirmando uma nova identidade às categorias sociais dispersas na zona rural. O
engajamento pela causa trouxe à agricultura familiar a legitimação frente ao Estado
brasileiro que oportunizou a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da
21

Agricultura Familiar – PRONAF, bem como a reorganização acadêmica de debates


e pesquisas sobre o ambiente rural (SCHNEIDER, 2003, p. 100).

Desta forma, a atuação participante e organizada dos movimentos gerou uma


nova realidade que vem sendo vivenciada pelos agricultores familiares. O acesso a
crédito, escoamento da produção, titulação de terra, acesso a tecnologias e a
própria pesquisa agropecuária voltando-se com ênfase também para este
segmento, trouxe tanto benefícios quanto responsabilidade aos agricultores
familiares no que se refere à sustentabilidade. Cabe a eles também serem parte
responsável pelo rumo dado ao processo de desenvolvimento.

O esforço dos movimentos sociais para dignificar a categoria sustenta a idéia


de permanência dos agricultores e seus familiares na zona rural e que, assim como
a agricultura familiar estabelece uma responsabilidade com a sociedade, a
sociedade através do Estado deve agir reciprocamente, oferecendo com qualidade
os elementos que compõe a justiça social independente de classe social, raça,
gênero entre outros. Essa via de mão dupla da dimensão social segundo
Costabeber e Caporal (2002, p.4).

representa precisamente um dos pilares básicos da sustentabilidade,


uma vez que a preservação ambiental e conservação dos recursos
naturais somente adquirem significado e relevância quando o
produto gerado nos agroecossistemas, em bases renováveis,
também possa ser equitativamente apropriado e usufruído pelos
diversos segmentos da sociedade.

Entende-se que a realidade rural representada através dos produtos oriundos


da agricultura sejam alimentos confiáveis com qualidade biológica, sem uso
excessivo de insumos tóxicos e que possam oferecer níveis elevados de qualidade
de vida da sociedade no sustento alimentar de hoje e das gerações futuras. A
percepção dos agricultores quer familiar e/ou empresariais quanto a riscos ou
efeitos de insumos e tecnologias danosas, determina ou cria novas formas de
relacionamentos da sociedade com o meio ambiente numa interligação entre a
dimensão social e a ecológica do ponto de vista da sustentabilidade, sem prejuízo à
dimensão econômica.

Assim, a dimensão social no modelo de desenvolvimento sustentável sugere


maior participação do indivíduo no processo de desenvolvimento do seu interesse.
22

Sua atuação consiste em diversas frentes, desde a sua organização em grupos


sociais, passando pela consciência de seu posicionamento político até ao
acompanhamento das decisões tomadas em relação ao interesse da sociedade.

Um componente tão essencial ao desenvolvimento é o conhecimento que se


converte em um direito de todos na sociedade e que adquire valor tanto quanto
terra, capital e trabalho. Atualmente, constitui-se em um elemento chave como
dinamizador de mudanças sociais dentro da sociedade. Ao se referir sobre a
dimensão social do conhecimento Suaiden (2005, p. 2) coloca que.

estamos identificando o nível de consciência coletiva que exige a


melhor distribuição dos saberes e das riquezas geradas pela
sociedade. É uma sinalização para a necessidade de diminuir as
desigualdades e socializar o bem estar, a qualidade de vida, a
cidadania e a dignidade humana.

A socialização das informações, em especial, oriundas da pesquisa e


desenvolvimento agropecuário, é de suma importância para a inovação no meio
rural, é atualmente um requisito fundamental para mudanças por que permite
absorção de novos conhecimentos e/ou ajuste em conhecimentos pré-existentes,
em especial dos agricultores. Essa atividade é exercida tanto por meio de
informações escritas em linguagem acessível aos leitores, como de forma oral por
meio de palestras, reuniões e demais métodos empregados para a transferência de
informação como: dia de campo, visita às propriedades, seminários, viagens de
intercâmbio entre agricultores de comunidades distintas, entre outros.

2.1.2 A Dimensão Ambiental no Desenvolvimento Sustentável

Para o contexto deste trabalho a Dimensão Ambiental é indissociável ao


entendimento da realidade das localidades estudadas. Após muitos anos de um
modelo depredador do meio ambiente, onde segundo Brandenburg (1999, p. 72) “a
história da agricultura brasileira é, ao mesmo tempo, a história da degradação de
seus recursos naturais e de um empobrecimento gradual de seu potencial
produtivo”. Esta forma de uso da terra, sempre teve por base o modelo de
desenvolvimento ditado pela revolução verde.
23

A revolução verde primou pelo uso maciço de fertilizantes e pesticidas


químicos e outras tecnologias com o objetivo de obter de maiores lucros e
imediatos. Neste sentido, Capra (2006, p. 247) coloca.

A lavoura como um todo se converteu numa indústria gigantesca,


em que decisões-chaves eram tomadas por agrocientistas e
transmitidas a agroadministradores (...) assim, os agricultores
perderam quase toda sua liberdade e criatividade, e passaram a ser,
na verdade, consumidores de técnicas de produção. Essas técnicas
não se baseiam em considerações ecológicas, pois são forçadas,
pelas conveniências do mercado, a voltar-se para tal ou tal
mercadoria.

Este modelo impôs àqueles agricultores que permaneceram no campo uma


transformação no seu próprio reconhecimento social. Do orgulho de serem
produtores de alimentos comestíveis, passaram a se enxergar como produtores de
matérias-primas industriais convertidas em produtos para serem comercializadas.
(CAPRA, 2006).

A visão ambiental reflete naturalmente em outros aspectos, dentre eles o


econômico, que define o padrão de consumo estabelecido pela sociedade. Portanto,
outro grande desafio é a reestruturação do crescimento econômico. Desta maneira,
a pressão exercida pelo desenvolvimento econômico sobre os recursos naturais e
serviços ambientais deve dar espaço à preocupação bifocal que alguns autores
sugerem, onde a fonte dos recursos naturais úteis ao desenvolvimento esteja
paralelamente amparada pelo respeito e zelo à capacidade de autodepuração do
ecossistema.

Infelizmente no Brasil, evidencia-se uma marca deixada pela profunda


desigualdade social. Notoriamente, os mais pobres estão sujeitos a áreas
degradadas, estreitando a relação avassaladora entre degradação ambiental e
degradação social. Diante dessa realidade, estratégias foram adotadas como
objetivos de governo, como desafio a reestruturação do crescimento econômico,
conforme consta do PPA 2004-2007 (p.5.), para acontecer necessita ter.

Uma abordagem qualitativa (...) a partir de um novo padrão de


produção, e consumo, estimulando o manejo sustentável dos
recursos naturais, bem como coibindo, com rigor, as produtoras de
desequilíbrios ecológicos.
24

Na tentativa de mudar socialmente esta realidade, percebem-se iniciativas de


estratégias de governo constante do PPA 2004-2007 (BRASIL, 2003. p.5) onde
preconiza que a “valorização da diversidade cultural das populações (...) é ao
mesmo tempo um compromisso social e uma oportunidade de desenvolver novas
economias”.

Com base nessas estratégias de governo, várias políticas foram estabelecidas


e ações também foram implementadas como, por exemplo, a criação de áreas de
preservação permanente de recursos naturais, políticas para atender comunidades
tradicionais, delimitação de áreas para comunidades tradicionais, mais incentivos à
agricultura familiar, entre outros.

Em continuidade aos planos de governo, o PPA-2008-2011 (BRASIL...2007.


p.66), já indica que.

O Brasil ingressou em uma etapa de desenvolvimento sustentável, e


caberá ao atual período de governo avançar mais aceleradamente
rumo a esse novo ciclo de desenvolvimento. Um desenvolvimento de
longa duração, com distribuição de renda, combate à exclusão
social, à pobreza e às desigualdades sociais e regionais, respeito ao
meio ambiente e à nossa diversidade cultural, emprego, segurança e
bem-estar social, controle da inflação, ênfase na educação,
democracia e garantia dos Direitos Humanos, presença soberana no
mundo e forte integração continental.

É pertinente que políticas públicas se preocupem com as diversas realidades


presentes no Brasil, em especial na Amazônia. É necessário que os atores sociais,
no caso os agricultores familiares, se reconheçam como sujeitos do seu próprio
destino. No próprio PPA-2008-2011 (BRASIL, 2007, p.74), há um alerta sobre.

o avanço do País na direção de um desenvolvimento


ambientalmente sustentável na medida em que a sociedade e os
governos se conscientizam do risco para as gerações futuras, bem
como para o desempenho econômico do País, de uma má gestão
dos recursos naturais.

Neste sentido, há que ter por parte da sociedade o empenho e a decisão de


acompanhar os investimentos, planos e metas governamentais, colocando-se como
partícipe no processo.
25

A mudança de produção para o modelo em curso de desenvolvimento


sustentável é um desafio para as Ciências Sociais, no sentido de conhecer,
acompanhar e contribuir para um processo de grandes transformações no campo.
Esta dimensão social deve se tornar o centro dos estudos nas dimensões que
suportam o modelo de desenvolvimento sustentável, pois cabe ao homem e
somente ao homem como ser social, as mudanças de atitudes, quer na utilização
dos recursos do planeta quanto na reconstrução e/ou na recuperação do que ainda
for possível recuperar.

2.2 COMUNIDADE

O termo comunidade, em geral, é empregado para designar lugares do ponto


vista geográfico, provavelmente por congregar um numero de pessoas residindo
nesses lugares. De acordo com Mota (2008, p. 24), “a categoria comunidade, assim
como o grupo, é uma categoria de integração que surge no âmbito de uma única
relação, a relação com a sociedade estruturada”. Segundo Heller (1989, p.70-71),
entende-se comunidade como.

[...] unidade estruturada, organizada, de grupos, dispondo de uma


hierarquia homogênea de valores e à qual o indivíduo pertence
necessariamente; essa necessidade pode decorrer do fato de se
estar lançado nela ao nascera, caso em que a comunidade promove
posteriormente a formação da individualidade, ou de uma escolha
relativamente autônoma do individuo já desenvolvido.

A relação entre as comunidades constituídas e as diversas instituições, grupos


e/ou pessoas, forma a Rede Social, que a partir de 1970 os sociólogos consideram
como inerente a vida social. De acordo com Johnson (1997, p.190), “a rede é
simplesmente um conjunto de relações que ligam pessoas, posições sociais ou
outras unidades de análise, como grupos e organizações”. Desta maneira, as redes
são os vínculos concebidos com o mundo interior e exterior à sua realidade. A rede
social que envolve a agricultura familiar pode ser composta de: outros agricultores,
assistência técnica, instituições de pesquisa, fornecedores de insumos, secretarias
municipais de agricultura, entre outros.
26

No interior da Amazônia há diferentes comunidades. Algumas bastante


afastadas dos centros urbanos, outras tem seus limites justamente com centros
urbanos. Cada qual carrega suas peculiaridades e complexidades.

Ao refletirmos sobre as estruturas de socialização nos teóricos clássicos da


Sociologia, percebe-se que comunidade e sociedade possuem características
diferentes. De acordo com Weber (1973, p. 140) compreende-se por comunidade
“uma relação social quando a atitude na ação social (...) inspira-se no sentimento
subjetivo (afetivo ou tradicional) dos partícipes da constituição de um todo”,
enquanto que, para o mesmo autor (1973, p. 140) entende-se sociedade como “uma
relação social quando a atitude na ação social inspira-se numa compensação de
interesses por motivos racionais.” Certamente cada uma possui suas características,
contudo não se livram umas das outras, mesmo que a comunidade tenha sido
historicamente substituída pela sociedade.

A base da Comunidade estaria ligada ao que o sociólogo Émile Durkheim


teorizou de “Solidariedade Mecânica”, cujos laços estariam ligados a igualdade,
enquanto que na Sociedade seria uma “Solidariedade Orgânica” onde haveria uma
complementaridade de interesses entre os sujeitos.

A formação comunitária exige dos indivíduos uma escolha pessoal com caráter
de pertencimento em determinado grupo. De acordo com Heller (1992) apud
Carvalho (2006, p.111) “O tornar-se parte da comunidade implica em uma liberdade
de escolha, não se trata de uma relação causal (...) mas sim de uma escolha livre,
determinada pelo sujeito.” Portanto, cabe ao indivíduo ser responsável pelos seus
destino e escolhas.

Contudo, sociedade e comunidade relacionam-se entre si através de inúmeros


mecanismos da pós-modernidade. O processo comunicativo contribui para que haja
interação e influências de uma sobre outra e vice versa. Esta relação para Anderson
(1960, p. 515) acontece uma vez que.
27

as cidades, grandes ou pequenas, precisam ter acesso a extensas


áreas de abastecimento, da mesma forma que devem ter a
possibilidade de atingir mercados espalhados (...) A cidade, como
fornecedora de produtos industrializados e serviços, é igualmente
uma fonte de recursos para a aldeia ou pequena cidade.

Mesmo separados do ponto de vista territorial e geográfico, comunidade e


sociedade urbana estabelecem interações através de interesses e necessidades
complementares, sendo então dependentes das atividades produtivas uma da outra.

Comunidade é um termo com vários significados tanto sociológicos como não


sociológicos. Do ponto de vista sociológico existem duas dimensões para distinguir
tipos diferentes de comunidades. De acordo com Johnson (1997, p. 45).

o termo tem números significados (...) para alguns sociólogos, como


Ferdinand Tönnies, a idéia de comunidade inclui um sentimento
muito forte de pertenciamento e compromisso mútuo baseado em
uma cultura homogênea, experiência em comum e acentuada
interdependência.

Considerando que as comunidades vão se constituindo em diferentes locais,


regiões etc. se agrupando por vezes naturalmente, é possível assim a formação de
territórios. Desta forma, o próximo seguimento procura definir e discutir a questão de
territórios.

2.3 TERRITÓRIO

O entendimento acerca de território perpassa pela existência de identificação


entre os indivíduos e grupos sociais; os laços formais e informais que moldam até
certo ponto uma personalidade, pois, de acordo com Vasconcellos e Vasconcellos
(2009, p.270) a identificação entre os indivíduos e os grupos sociais é “marcado pela
cultura do contexto em que se situa, e é considerado como conjunto de atividades
culturais, econômicas, políticas e sociais.” Sendo assim, o desenvolvimento
territorial é um espaço construído a partir da conectividade interdependente dos
diversos segmentos da sociedade.

A conectividade e a interdependência entre os segmentos da sociedade civil


organizada geram novas estratégias de desenvolvimento, que para Vasconcellos e
Vasconcellos (2009, p. 269) “introduz uma nova metodologia participativa, pela qual
28

se mobilizam recursos da sociedade civil em parceria com o Estado”. Este cenário


aproximaria a Sociologia dos estudos das comunidades locais, abrangendo suas
potencialidades, prioridades e elaboração de planos integrados de desenvolvimento
territorial.

De acordo com Beduschi Filho; Abramovay (2003, p.3) “territórios não são,
simplesmente, um conjunto neutro de fatores naturais e de dotações humanas
capazes de determinar as opções de localização das empresas e dos
trabalhadores.” Guerra (2009 p.185), referindo-se à Amazônia, diz que.

as mudanças no processo de apropriação de terras na Amazônia,


sejam elas lotes urbanos ou rurais, trazem em seu bojo novas
formas de territorialidades, entendidas como uso que se traduz como
cultura, no sentido de expressão da relação do indivíduo com o seu
meio, no esforço próprio de produzir sua vida material e imaterial (...)
todo processo de ocupação expressa formas ajustadas às
necessidades e visão de mundo do ocupante.

Para Vasconcellos, Rocha e Vasconcellos (2011, p.204), a análise da


categoria território sugere que o exame dos problemas concretos ligados ao
desenvolvimento “deva ocorrer dentro do espaço construído a partir da ação e
interação entre indivíduos em si e entre os indivíduos e o ambiente onde eles estão
inseridos”.

Outro fator proeminente para o surgimento do conceito de território emergiu de


acordo com Vasconcellos e Vasconcellos (2009, p. 263) do desgaste da noção de
região e planejamento regional. “Este desgaste se deu pela incapacidade de
intervenção macroeconômica e macrossocial do Estado.” Tal incapacidade seja
explicada pela influência neoliberal das políticas keynesianas das décadas de 1970
e 1980.

A agricultura familiar na região Norte é expressiva comprovando a crescente


importância desse segmento no Estado, em que grande parte ainda emprega a
prática de corte e queima. Atualmente e, em virtude de novos conhecimentos,
agronômicos e ambientais, essas práticas são vistas com reservas que, embora
tradicionais, carregam um esforço físico muito grande por parte dos agricultores e
apresentam-se como nocivas à própria natureza e ao meio ambiente em que os
29

agricultores estão inseridos. Em geral, os agricultores familiares são organizados em


“associações” pertencentes ás localidades intituladas “comunidades” as quais
poderíamos pensar em “micro-territórios”.

2.4 AGRICULTURA FAMILIAR

A discussão sobre a Agricultura Familiar vem ganhando legitimidade social, ninguém


mais se refere a “pequena agricultura” ou “agricultura de subsistência”. A
formalização na sociedade da expressão vem da década de 90, hoje ocupando
lugar de destaque em políticas públicas, nos meios acadêmicos e na economia.
Baseados no Censo Agropecuário de 1995/96 Buainain; Romeiro e Guanziroli
(2003, p.319) indicam que “os agricultores familiares representam 85,2% do total de
estabelecimentos, ocupam 30,5% da área total e são responsáveis por 37,9% do
valor bruto da produção agropecuária nacional.” Estes indicadores apontam o
relevante papel que a agricultura familiar vem desempenhando na agricultura
brasileira, em especial na produção agrícola de culturas alimentares.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - os


resultados preliminares do censo agropecuário 2006 apontam que o estado do Pará
apresenta um total de 223.370 estabelecimentos com 692.681 pessoas ocupadas
com laços de parentesco com o produtor, na área rural. Esses dados apresentam-se
significativos para ações de políticas publicas para o setor no estado. (IBGE, 2010).

O conceito de Agricultura familiar compreende diferentes interpretações. Para


a fundamentação deste trabalho, adotamos os conceitos a seguir considerando-os
complementares.

Para Wanderley (1997 p.10) agricultura familiar é definida como aquela em


que “a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção,
assume o trabalho no estabelecimento produtivo.” A dinâmica do processo produtivo
nos estabelecimentos distribui as tarefas a serem realizadas de acordo,
principalmente, com o nível de força necessário para realizar tal tarefa. Embora
percebamos um reposicionamento da mulher na zona rural, é comum que os
homens e seus filhos cuidem do roçado, enquanto que as mulheres e suas filhas
30

cuidem da casa e do quintal de seus estabelecimentos, bem como a criação de


pequenos animais.

De forma mais abrangente Cribb e Cribb (2008, p.111) colocam que a agricultura
familiar é definida como.

modelo de cultivo de terras, apoia-se fundamentalmente na gestão e


trabalho de família. Em razão da multiplicidade e diversidade (...)
formam um conjunto abrangendo desde aqueles classificados como
capitalizados com atividades econômicas integradas ao mercado até
os residentes no espaço rural, assalariados agrícolas e não agrícolas
com produção agropecuária voltada quase exclusivamente ao
autoconsumo.

Pelas observações feitas no momento das entrevistas e na participação das


atividades desenvolvidas na ambiência do projeto Tipitamba, constatou-se que estas
duas definições estejam bem próximas das características do grupo ora estudados,
uma vez que utilizam os laços familiares para gerirem a propriedade e distribuírem a
mão-de-obra de acordo com a força que a tarefa exige.

A seguir, serão apresentados os procedimentos metodológicos adotados neste


trabalho.
31

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O caráter empírico contido nesta pesquisa reflete o que Minayo (2007, p. 26)
expõe como trabalho de campo, consistindo em “levar para a prática empírica a
construção teórica (...). Essa fase combina instrumentos de observação, entrevistas
ou outras modalidades de comunicação e interlocução com os pesquisadores.”
Desta forma, a coleta de dados fornece os subsídios necessários para as
observações da pesquisa, possibilitando o teste, a geração e a interação do
pesquisador e suas proposições científicas com o objeto concreto a ser estudado.

Foi considerada a população constituída de homens e mulheres, dentre as 48


famílias participantes do Projeto Tipitamba. As famílias estão distribuídas assim:
(11) da Comunidade Nova Olinda; (13) da Comunidade Novo Brasil e Aparecida;
(15) da Comunidade São João e (4) da Comunidade Nossa Senhora do Rosário,
nos municípios paraenses de Igarapé-Açu e Marapanim.

Assim, empregou-se neste trabalho a metodologia qualitativa em nossa


investigação científica que de acordo com Marconi e Lakatos (2009, p. 269) “difere
do quantitativo não só por não empregar instrumentos estatísticos, mas também
pela forma de coleta e análise de dados.” Entendemos que o tema ora estudado
ocasiona a interpretação dos aspectos em sua profundidade e complexidade, uma
vez que será investigado o comportamento humano, seus hábitos e tendências
comportamentais.

A metodologia qualitativa possibilita que por meio dela, o sujeito - objeto da


investigação – seja evidenciado em suas falas, pensamentos e opiniões. A
visibilidade do sujeito, no caso os agricultores, é uma característica do emprego
qualitativo da análise dos dados, que o analisa em seu conteúdo psicossocial.

O instrumento de coleta de dados contemplou perguntas abertas pois julgamos


importante socializar os resultados aos agricultores.
32

A respeito da metodologia qualitativa, Strauss e Corbin (2008 p.19) indicam


que.

a maioria dos pesquisadores que usa esta metodologia


provavelmente espera que seu trabalho tenha relevância direta ou
potencial tanto para público não-acadêmico como acadêmico. Isso
porque a metodologia ordena que se leve muito a sério as palavras e
as ações das pessoas estudadas.

Como parte do processo foi empregada também, técnicas de observação


participante no período de convivência por ocasião do estágio. Essa técnica foi
aplicada a partir do entendimento segundo Spink (2008 p.71) de que a prática da
pesquisa em micro-lugares “é um apelo para a importância dos pesquisadores se
conectarem com os fluxos constantes de pessoas, falas, espaços, conversas e
objetos, de assumir-se também como actante”, buscando e anotando fragmentos do
cotidiano dos agricultores - como, por exemplo, a comercialização que fazem dos
seus produtos - no momento das entrevistas e que tenham contribuição para
alcançar os objetivos da pesquisa.

A prática da pesquisa está inserida num contexto complexo do que apenas a


presença “em campo”. De fato, este momento existe e requer habilidades e
posicionamento linear do pesquisador. Entretanto, é no cotidiano que o pesquisador
deve se reposicionar “a partir do fluxo de fragmentos corriqueiros e de
acontecimentos em micro-lugares”. A idéia de micro-lugar assume um sentido
figurativo e ilustra situações no dia-a-dia, como encontros e desencontros e todo o
acaso que insere o pesquisador horizontalmente em seus encontros diários. Se for
possível ao pesquisador participar do dia-a-dia do seu objeto de estudo, interagindo
e dialogando em diferentes lugares do cotidiano do entrevistado, poder-se-á
alcançar detalhes de informações que nenhuma entrevista é capaz de absorver.
(SPINK, 2008 p.70).

O cotidiano não sendo apenas um pano de fundo estabelece uma “teia” de


conexões entre o indivíduo e a sociedade e vice-versa, garantindo uma construção
33

permanente e sem fim de sociabilidades. Em tais relações sociais é que são


produzidos e re-produzidos os sentidos e seus efeitos práticos.

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 – COLETA DE DADOS

A população para o estudo foi constituída de nove agricultores participantes do


Projeto Tipitamba em Igarapé-Açu e Marapanim. Em ambos os municípios as
famílias entrevistadas foram sugeridas pelos ACL´s de suas respectivas
comunidades, uma vez que introduzem consideravelmente em suas propriedades a
tecnologia “agricultura sem queima” e que são referências locais para outros
“agricultores parceiros” ou não parceiros.

A coleta de dados se deu por meio de entrevista individual, na residência e/ou


local de trabalho dos agricultores que dispuseram de tempo, em relação aos seus
afazeres. As perguntas foram formuladas para atender os objetivos propostos
conforme roteiro pré – elaborado (Apêndice 1). As visitas foram acompanhadas
pelos agentes comunitários – filhos de agricultores – que têm a função de
acompanhar todas as ações que envolvem os agricultores nas comunidades. Esses
agentes são eleitos em cada comunidade, para servirem de interlocutores entre a
comunidade e o Projeto Tipitamba e são incluídos nos projetos como bolsistas.

No contato com os agricultores (as) nossa conduta foi: 1) expor os objetivos e


finalidades deste trabalho; 2) solicitar concordância do (a) agricultor (a) em participar
da entrevista e 3) proceder a entrevista, acatando a livre manifestação dos
agricultores (as).

As entrevistas se deram de forma tranqüila, cordial e bem à vontade, com


duração em torno 50 minutos cada, bem como com observação do ambiente
(trabalho e/ou residências) e anotações de informações obtidas pelas conversas,
que em geral entram por ocasião da entrevista.
34

Fig. 3- Entrevista do autor com agricultor da Comunidade


Nova Olinda. Fonte: Paulo César Leite

Fig. 4- Entrevista com agricultor da Comunidade


Nova Olinda. Fonte: Paulo César Leite
35

4.2- CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO PESQUISADA

As áreas definida para esta pesquisa localizam-se em dois municípios do Nordeste


paraense, onde as comunidades rurais estão inseridas, tais como:

4.2.1 Município de Igarapé-Açu

Contempla, de acordo com IBGE. (2010) área de 785, 978 km², e uma
população de 14.680 na zona rural e 21.207 na zona urbana, totalizando 35.887
habitantes no município. Distante a 120 km de Belém, o município delimita-se ao
norte com os municípios de Maracanã e Marapanim. Em relação à zona rural, de
acordo como censo agropecuário de 2006, a condição total da distribuição de
unidades de produção e tamanho das propriedades considerando agricultores e
agricultoras podem ser observadas na Tabela 1.

Tabela 1. Numero de estabelecimentos agropecuários e tamanho de áreas


distribuídas por gênero, no município de Igarapé-Açu.

Gênero Nº Unidades Tamanho por Hectares

Masculino 1.675 38.111

Feminino 187 1.974

Total 1.862 40.085


Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006

As culturas agrícolas que fazem parte da produção do município, com mínimo


de 50 pés, conforme Tabela 2 são:
36

Tabela 2. Culturas agrícolas temporários e permanentes


produzidas no município de Igarapé-Açu.

Produto Lavoura Temporária Lavoura Permanente

Banana X

Café-Arábica X

Laranja X

Cana de Açúcar X

Feijão de cor X

Feijão fradinho X

Mandioca X

Milho X
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006

Das culturas apresentadas na Tabela 1 os agricultores-parceiros têm sua


contribuição na produção municipal, em que o projeto Tipitamba por meio da
“agricultura sem queima” contribui para manutenção das culturas, provavelmente,
por considerar como sendo do interesse do agricultor familiar por estes produtos.

4.2.1.1 Comunidade Nova Olinda

Distante 20 km da sede do município, congrega em torno de 60 famílias de


agricultores. A comunidade dispõe de energia elétrica, posto de saúde, escola
municipal e estadual e um campo de futebol. Grande parte das residências é em
alvenaria construída ou em construção. Algumas famílias, além da renda ser obtida
pela atividade agrícola, também recebem aposentadorias. Dispõe de transporte
(ônibus) para Igarapé-Açu de segunda a sábado, sendo três viagens pela manhã e
uma a tarde. Tanto a estrada que nos leva à comunidade, quanto os ramais, não
são asfaltados, apresentando uma enorme dificuldade de locomoção tanto no verão,
devido a poeira, como no inverno, devido aos atoleiros. A organização social dos
agricultores (as) da comunidade é feita através da Associação de Desenvolvimento
37

Comunitário de Nova Olinda – ASDCONO, fundada em 1996, tendo como


presidente atual o agricultor: José Luiz Ramos das Neves.

4.2.2. Município de Marapanim

Possui de acordo com o IBGE (2010) uma área de 795.983 km² e uma
população de 26.605, distribuídos entre zona rural 14.901 e urbana 11.704. Distante
a 142 km de Belém, delimita-se a Leste com Curuçá e ao Norte com Igarapé-Açu.
Conforme IBGE (2010) censo agropecuário 2006, a distribuição de unidades de
produção e tamanho das propriedades rurais, considerando agricultores e
agricultoras podem ser observadas na Tabela 3:
Tabela 3. Numero de estabelecimentos e tamanho de áreas
distribuídas por gênero, no município de Marapanim.

Gênero Nº Unidades Tamanho por


Hectares

Masculino 1.487 16.686

Feminino 276 1.110

Total 1.763 17.797


Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006

As culturas agrícolas que fazem parte da produção do município, com mínimo de 50


pés, conforme Tabela 4 são:

Tabela 4. Culturas agrícolas temporários e permanentes


produzidas município de Marapanim.

Produto Lavoura Lavoura


Temporária Permanente

Banana X

Café-Arábica X

Café canephora X

Laranja X

Cana de Açúcar X

Feijão de cor X

Feijão fradinho X

Mandioca X

Milho X
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006
38

As culturas mais incidentes nas lavouras dos agricultores familiares de


Marapanim também são cultivadas nas áreas dos agricultores-parceiros, culturas
essas que o projeto Tipitamba por meio da tecnologia “agricultura sem queima” vem
contribuído para a manutenção e aprimoramento no município.

4.2.2.1 Comunidade São João:

Fica distante a 90 km da sede do município. Para chegar à sede do município,


os habitantes dessa comunidade passam pelo município de Igarapé-Açu, chegando
até Castanhal, para então apanhar transporte para a sede do município. Assim,
Embora a comunidade São João esteja situada no município, o contato maior é com
a sede do município de Igarapé-Açu, distante 18 km. Por conta de percorrer o trajeto
até a comunidade partindo da comunidade de Nova Olinda, constatamos que a
única escola que passamos é de nível fundamental e atende em torno de 25
crianças que recebem condução de ônibus de casa para a escola. Dispõem de
energia elétrica, pequenos pontos de comércio locais, casas de alvenaria ou em
construção, e outras de pau a pique (com algumas dispondo de parabólica). O
abastecimento de água é feito através de poços abertos e cacimba.

As vias de acesso à comunidade e seus ramais encontram-se na mesma


situação em relação à Nova Olinda, sendo que na comunidade São João percebe-
se em alguns trechos uma presença maior de igarapés de grande volume de água
na margem da pista. Na comunidade, a organização social dos agricultores (as) é
feita a partir da Associação Comunitária São João, fundada em 1996, tendo
atualmente como presidente o agricultor: Paulo Monteiro dos Santos.

4.3 A “AGRICULTURA SEM QUEIMA” E A DIMENSÃO AMBIENTAL

O modelo agrícola em operação no ambiente rural no Brasil, ainda é


fortemente exigente em insumos modernos, agrotóxicos, fertilizantes químicos e
mecanização pesada que, além de comprometer os sistemas biológicos naturais,
causam a poluição do solo e das águas e doenças e enfermidades nos agricultores.
Trata-se de uma cultura assentada no lucro econômico e na produção em maior
escala, neste sentido Rodrigues et.al. (2001 p. 27) colocam que.
39

a emergência da questão ambiental na agenda social é


conseqüência da extensão na qual a humanidade hoje se apropria
dos recursos e altera a capacidade regenerativa da natureza,
causando mudanças em escala global, nos principais sistemas
naturais de suporte a vida.

Provavelmente por conta deste aspecto é que a dimensão ambiental, no


contexto do Desenvolvimento Sustentável sempre foi a mais evidente, com ênfase
voltada para a Natureza. De um modo geral as discussões tratam o
desenvolvimento, tornando a natureza e o seu cuidado, tão importante ou mais
importante do que as necessidades de progresso e desenvolvimento.

Conforme procedimentos metodológicos, a população foi constituída de nove


agricultores parceiros, sendo cinco da Comunidade Nova Olinda e quatro da
Comunidade de São João.

A seguir, são apresentados resultados relacionados à Dimensão Ambiental,


onde se buscou identificar a influencia da tecnologia “agricultura sem queima” na
recuperação ambiental das propriedades sob os aspectos da: diversidade e
condições de manejo das áreas de produção; da diversidade produtiva e a
regeneração de áreas degradadas.

• Condições de manejo das áreas de produção e diversidade produtiva

Foi possível identificar tanto as culturas introduzidas a partir do emprego da


“agricultura sem queima” quanto o tempo de cultivo na mesma área, conforme pode
ser observado na Tabela 5.

Em relação ao agricultor Waldecley, este assumiu há quatro anos a


propriedade de seu irmão, que já trabalhava há sete anos no projeto. A mesma
situação ocorreu com o agricultor Francelino, que assumiu a propriedade do seu
irmão que já trabalhava no projeto há nove anos. Vale ressaltar que esta
propriedade foi uma das que deram base aos experimentos do projeto SHIFT.

Na produção agrícola pautada na derruba e queima, o sistema dependia


primariamente dos recursos da natureza obtidos imediatamente após o período de
40

queima e preparo da área para plantio, sendo gerados os nutrientes necessários


para o desenvolvimento das culturas plantadas. A suficiência, porém, diminuía com
a intensidade e pressão sobre o uso do solo. Em contrapartida, os dados coletados
indicam que a tecnologia “agricultura sem queima” vem proporcionando: a) acúmulo
de nutrientes no solo pela vegetação triturada, b) introdução de espécies
enriquecedoras de capoeira como (feijão guandu, feijão de porco, gliricídeas)
citadas pelos agricultores e c) prolongamento do tempo de cultivo na mesma área.

A introdução de novas espécies demonstra a possibilidade que os agricultores


estão tendo de diversificarem sua produção assim, bem como o manejo
consorciando espécies florestais com espécies frutíferas, alimentares e de
enriquecimento do solo da capoeira. Para este conjunto de práticas, Sampaio (2006,
p. 115) indica que.

essa nova modalidade de produção tem como proposta a diversificação do


plantio, numa só área, composto por plantações, árvores de pequeno, médio
e grande porte e animais, com vista à sustentabilidade dos recursos naturais
renováveis da região amazônica.

Os sistemas agroflorestais – SAF´s, assim estão sendo concebidos para


identificar a transição ecológica ocorrida nas propriedades onde a tecnologia da
“agricultura sem queima” está sendo utilizada.

Fig. 5- Sistema de Plantio consorciado em área triturada


Fonte: Pesquisa de Campo
41

Tabela 5. Agricultores entrevistados na Comunidade Nova Olinda - Igarapé Açu e Comunidade São
João - Marapanim
Tempo de
Agricultor Tempo no Agricultura e Agricultura sem cultivo na
projeto queima queima mesma
área
Cupuaçu, banana, ingá,
pimenta do reino,
Waldecley 4 anos Maracujá, Muruci e graviola; mogno, acácia, 3 anos
mandioca paricá; guandu,
gliricídeas e feijão de
porco
Francelino 2 anos Graviola e mandioca Açaí, maracujá e 6 anos
macaxeira
Comunidade Nova Olinda José 11 anos Mandioca, milho e Açaí e cupuaçu Não utiliza
feijão a mesma
área
João 11 anos Milho, feijão e Milho, mandioca, açaí, 11 anos
Francisco mandioca cupuaçu,
Marcos 11 anos Mandioca, melancia, Graviola, pimenta do 4 anos
França maracujá reino e açaí
Manoel da 9 anos Feijão, mandioca, 9 anos
Silva milho, pimenta do Os cultivos
reino, maracujá, permanecem os
hortaliças mesmos
João Barros 11 anos Milho, mandioca, Açaí, cupuaçu, limão e 11 anos
feijão e pimenta do tangerina
reino
José Pereira 7 anos Milho e mandioca Cacau, açaí, laranja; 7 anos
paricá, mogno e teca
Comunidade São João Paulo 5 anos Milho, mandioca, Maracujá, açaí, limão, 5 anos
Monteiro arroz e feijão tangerina,laranja,
pupunha; mogno
brasileiro e africano,
andiroba, jatobá, paricá,
tatajuba e teca
Fonte: CERQUEIRA SEGUNDO, E. F. (2011)

Comparando a introdução de novas culturas com as que atualmente são


produzidas nos municípios tanto de Igarapé Açu (Tabela 2) quanto de Marapanim
(Tabela 4), é de se esperar que a médio e longo prazos por se tratar de culturas
perenes e semi-peres, os quadros de produção municipais terão outro espelho.

Observa-se pelo tempo de cultivo na mesma área, que a “tecnologia agricultura


sem queima” vem oportunizando maior tempo de uso da terra, possibilitando mais
de uma safra, em alguns casos de cultivos.

• A regeneração de áreas degradadas

Em relação à recuperação do solo com vistas à melhor produção e


conseqüentemente a conservação ambiental, os entrevistados foram unânimes ao
afirmar que a tecnologia ajuda o meio ambiente.

A seguir, transcrevemos trechos das entrevistas que demonstram esta afirmativa:


42

“... ajuda o solo, a atmosfera recebe menos fumaça das queimadas.”

“Muito. Porque diminui a incidência do fogo na propriedade, valoriza a terra


e diminui conflitos com áreas vizinhas por conta da proliferação do fogo em
outras áreas.”

“Sim. Porque a área triturada agüenta anos e anos com nutrientes no solo.”

“Sim. Quando ia queimar não tinha controle dele (fogo) e ele sempre se
alastrava...”

“Sim. Exclusão do fogo no preparo da área..”

“Com certeza. Porque por mais que triture, a área ao redor não sofre tanto
impacto quando na época do fogo...”

“Depende da experiência da pessoa (...) na área de igapó houve melhora


nas espécies nativas da área.”

“Sim, e chegou muito tarde. A matéria prima fica toda na terra (...) a chuva
não leva...”

“Sim. Protege o solo através da cobertura de capoeira triturada e depois


disso é naturalmente.”

A sustentabilidade da “agricultura sem queima” também sugere a


regeneração do solo já desgastado por formas inadequadas de manejo. De acordo
com os dados coletados, a produção tanto das culturas antigas quanto das
introduzidas mais recentemente, apresentaram melhorias na qualidade, tamanho e
produtividade. Transcreveremos a seguir algumas falas obtidas em nossas
entrevistas:

“... as culturas principais (melancia e mandioca) na área triturada produziram


melhor que antes.”

“... visa o fortalecimento e valorização do solo.”

“Sim. Porque a própria capoeira em alguns casos nutre a terra e ajuda o


plantio a melhorar.”

“Sim. Deixa o solo mais protegido.”

“É sim. Porque é um planejamento que tenta minimizar as perdas do


ambiente e da produção.”
43

Contudo, percebe-se em outras falas a necessidade de persistir na prática


provavelmente, por agricultores que estejam em menor tempo, envolvidos no
projeto, como exposto a seguir:

“Esse é o objetivo, mas ainda estamos trabalhando para alcançar.”

“Depende do que se planta. É preciso ter cuidado para cuidar e saber


manejar a espécie cultivada.”

“No primeiro ano não supera a queima porque precisa do adubo para poder
melhorar (...) após o início o rendimento melhora.”

Fig. 6 – Sistema de Plantio consorciado em área triturada


Fonte: Pesquisa de Campo

Sendo assim, percebe-se que a adoção da “tecnologia agricultura sem queima”


não sugere apenas a mudança ecológica do meio ambiente, como também
possibilita aos agricultores novos conhecimentos para lidar com as questões
práticas do dia-a-dia e entender complementarmente a relação com o meio
ambiente.

4.4 A AGRICULTURA SEM QUEIMA E A DIMENSÃO SOCIAL

Conforme proposto neste segmento, são apresentados os resultados sobre a


influencia da tecnologia “agricultura sem queima” nas questões de saúde dos
agricultores (as) considerando: a segurança no trabalho e a saúde ocupacional; nos
44

valores sócio-culturais considerando a: organização e/ou fortalecimento das


associações de agricultores; na elevação do conhecimento e na socialização das
informações técnicas;na interação entre pesquisadores e agricultores (as); na
facilidade e/ou obstáculos de participação na execução do Projeto Tipitamba; na
forma de compartilhamento de saberes entre pesquisadores e “agricultores
parceiros”. Esta dimensão tem como base de interpretação as definições e
conceitos do ponto de vista sociológico.

• A Segurança no trabalho e saúde ocupacional

Com respeito à influência da adoção da tecnologia nas questões de saúde dos


agricultores familiares, sob os aspectos de segurança e saúde ocupacional, os
dados revelam a importância que a adoção da tecnologia “agricultura sem queima”
tem para estas questões. Contudo, a mudança para o manejo da área triturada,
requer em algumas situações a atenção do agricultor para a sua segurança pessoal
no momento de “capina”, para não ser mordido ou picado por algum animal
peçonhento. Traremos algumas falas no que se refere à questão da saúde e
segurança pessoal dos agricultores:

“Melhorou [a saúde]. Porque na época da queima inalava cinzas da queima


e o vento jogava para o olho.”

“Sim. Antigamente a poeira [cinza] fazia muito mal para a vista e respiração.”

“Sim, principalmente minha respiração.”

Um dos entrevistados da Comunidade São João, nos revelou em conversa


posterior a entrevista, que as dores na coluna não são de agora, mas que a
tecnologia “agricultura sem queima” por não necessitar de tantas “capinas”, ajudou a
diminuir o emprego da força de trabalho no roçado. Em relação às condições de
segurança no trabalho, as respostas nos mostram que, pela complexidade inicial da
tecnologia “agricultura sem queima”, deve-se adotar medidas especiais no manejo
da área triturada. A seguir algumas respostas:

“É perigoso assim como a queima. A matéria no solo tem muito graveto,


então não tem como fazer a capina de sandália.”
45

“Aumenta a preocupação que se deve ter na hora de preparar a área (para


a trituração), porque um buraco que seja pode colocar em risco o motorista
do trator.”

“É um pouco difícil de cuidar porque a vegetação esconde alguns animais


que sem cuidado podem ferir”.

No aspecto da saúde, ficou evidente que os agricultores reconhecem a


melhoria no preparo da área em relação à poluição que a queima produz causando
danos à respiração quanto para olhos. No aspecto da segurança no trabalho, os
dados revelam a necessidade de recomendar uso dos Equipamentos de Proteção
Individual – EPIs para que possa fazer o emprego adequado da tecnologia, em
especial no manejo posterior a trituração bem como uma atenção especial em
relação à área a ser triturada pelo trator. Esta situação indica também a
preocupação com a melhoria de sua qualidade de vida.

O valor sócio-cultural se baseia em dois conceitos colocados por Johnson


(1997, p.247) primeiro, conceito de valor como sendo “partes importantes de todas
as culturas porque influenciam a maneira como as pessoas escolhem e como
sistemas sociais se desenvolvem e mudam.” Esta influência no sistema social, é o
reflexo do uso de uma idéia comum sobre algo classificada por um grupo de
pessoas como desejável, por exemplo.

Segundo Johnson (1997, p. 59) cultura é o “conjunto acumulado de símbolos e


idéias e produtos materiais associados a um sistema social, seja ele uma sociedade
inteira ou uma família”. “a cultura não se refere ao que pessoas fazem
concretamente, mas às idéias que têm em comum sobre o que fazem e os objetivos
materiais que usam.” Desta forma, os valores sócio-culturais são resultados
materiais e imateriais produzidos através da relação de troca, compartilhamento e
aprendizado em sociedade.

• A organização e/ou fortalecimento das associações

Em relação à organização e/ou fortalecimento das associações dos


agricultores uma vez que o associativismo é estimulado nas comunidades de
agricultores, e que congrega em sua estrutura, método e finalidade a visão e o
objetivo de quem nela está inserido. Na teoria social, a instituição associativa é vista
46

com importância para a promoção e funcionamento da democracia, possibilitando


às pessoas maneiras de tomarem parte na vida pública. (JOHNSON, 1997, p. 20).

Sobre esta questão, os entrevistados nos deram suas opiniões sobre a


contribuição da tecnologia “agricultura sem queima” no fortalecimento de suas
associações. A seguir, podemos visualizar suas respostas:

“Sim. Antigamente a associação era parada. Com a tecnologia o nível de


produção aumentou. Com isso, conseqüentemente, os encontros e
conversas aumentaram.”

“Sim, porque o grupo ajuda a associação a se manter e conseguir projetos.”

“Sim. O conhecimento ajudou a unir as pessoas no objetivo da associação.”

“Sim, porque o projeto Raízes consegue muitos materiais para a associação


empregar nas propriedades.”

“Sim, porque o fortalecimento e união dos associados trouxeram novos


projetos pra cá.”

“... agora têm bem poucos. O bom é que só ficou quem gosta de cultivar
assim.”

“Muito. Porque embora reduzida, é uma família.”

“Sim, porque ajudou a trabalhar em união com os outros. A força de trabalho


aumenta.”

“Sim, porque através do projeto [Tipitamba] conseguimos outros projetos...”

Na comunidade Nova Olinda (ASDCONO) e na São João, conforme foi


informado existe agricultores parceiros do projeto Tipitamba. A atuação da
ASDCONO tem se mostrado diferenciada tendo em vista ações importantes como,
por exemplo: proponente de projetos no Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Em agosto de 2005 foi proposto o projeto “Mudanças de práticas agrícolas,


biodiversidade e capacitação: semeando alternativas agroecológicas para redução
do desmatamento e das queimadas”. Foi aprovado, e nomeado como PDA/PADEQ/
022-P, nome de identificação junto ao MMA, que posteriormente passou a ser
chamado de Raízes da Terra (segundo o agente que acompanhou nas entrevistas –
nome Fantasia). Esse projeto contemplou mais quatro Associações que também
47

tem como associados agricultores-parceiros: Associação Comunitária Rural São


João, Associação Comunitária Nossa Senhora Aparecida, Associação Comunitária
Novo Brasil e Associação Comunitária Nossa Senhora do Rosário, Incluindo a
Embrapa Amazônia Oriental através do projeto Tipitamba como membro parceiro na
execução do projeto.

A execução dos projetos vem sendo de forma participativa, contando com


quatro agentes comunitários (ACL’s), que são filhos de agricultores, um técnico de
nível superior e o coordenador que é o presidente da ASDCONO, além do
envolvimento das 43 famílias. Todas as atividades são discutidas e definidas
estratégias de atuação dentro do projeto através de assembléias e reuniões nas
Associações

Em abril de 2008, foi submetida nova proposta aos agricultores que participam
do projeto Raízes da Terra. Tratava-se da extração de sementes, de espécies
encontradas nas propriedades dos agricultores e enviadas para beneficiamento à
saboaria da Natura localizada no Município de Benevides. Na ocasião alguns
representantes da Natura tiveram a oportunidade de conhecer a área bem como os
trabalhos que vem sendo realizada em parceria da Embrapa Amazônia Oriental, e
levantaram um grande potencial no fornecimento de Inajá, Tucumã e o Mucajá.

Porém, a ASDCONO fixou-se somente no Inajá. Ficou estabelecido pelo grupo


que se comprometeu o fornecimento de quatro toneladas de caroço limpo com
entrega prevista para setembro de 2008. Hoje são 20 agricultores que participam
diretamente com a Natura nesta atividade. Trabalho este que vem sendo realizado
conjuntamente com os pesquisadores da Embrapa visando principalmente à
otimizar a atividade e o armazenamento dos frutos de interesse.

Nas mesmas condições de execução do anterior, a ASDCONO propôs outro


projeto ao MMA, intitulado “Mudanças de práticas agrícolas, biodiversidade e
capacitação: semeando alternativas agroecológicas para redução do desmatamento
e das queimadas: consolidação”, com o objetivo de consolidar as ações do primeiro
projeto. Este projeto atualmente encontra-se em plena fase de execução1.

1
Informações pessoais fornecidas pela técnica Josie Helen Oliveira Ferreira – tec. ASDCONO.
48

Pelo exposto, observa-se que, não só a tecnologia “agricultura sem queima”,


como o relacionamento interpessoal dos agricultores-parceiros no projeto Tipitamba,
favoreceu muito a atuação da associação. Dessa forma, três situações chamaram
nossa atenção para o que consiste na agregação de valores socioculturais, quando
houve: a) abertura de novas idéias a ponto de a associação sentir a necessidade e
recorrer por esforço próprio às instituições que aportam recursos para projetos de
desenvolvimento, b) perceber a nova visão que a associação está tendo sobre
agricultura com base na agroecologia e, c) congregar em suas iniciativas outras
associações de agricultores, em especial a associação da Comunidade São João
que se localiza em outro município.

• Elevação do conhecimento e socialização das informações técnicas

Em relação ao conhecimento, buscamos compreender se o projeto Tipitamba


está contribuindo para a elevação do saber dos agricultores parceiros. De acordo
com Johnson (1997, p. 48) o conhecimento é “aquilo que consideramos real e
verdadeiro (...) é importante para a sociologia porque é socialmente criado e
também porque dele dependemos para nosso senso de realidade”. Percebe-se que
o envolvimento dos agricultores no projeto Tipitamba não só aumenta como
reconstrói a base de seus conhecimentos, uma vez que as informações são
submetidas à prática do dia-a-dia da vida deles. Sobre a questão de estarem
aprendendo, os agricultores nos responderam:

“Aprendi a trabalhar as plantações em consórcio (SAF´s)”

“Quebra de dormência, manejo do açaí e limão...”

“Não é aprender, mas aumentou o que eu já sabia. Complementou algo que


praticava, mas que não sabia a teoria.”

“Aprendi que se tiver conhecimento qualquer coisa pode dar certo. Antes
não fazia porque não sabia se ia dar certo.”

“O manuseio da área. Quando a trituração chegou, aprendi que poderia


consorciar as culturas através dos espaçamentos.”

Com respeito à necessidade de capacitação para emprego da tecnologia


“agricultura sem queima”, os agricultores indicaram que:
49

“Não precisa de capacitação.”

“Sim, a capacitação é importante para a tecnologia.”

“Não, a própria pessoa pode aprender...”

“Sim, através do técnico. Porque muitas coisas acontecem na lavoura e não


temos informação de imediato.”

“Às vezes sim. É preciso ter cursos para poder conhecer a tecnologia.”

“Sim, precisa capacitar (...) visitar as áreas já cultivadas.”

“Em algumas coisas sim, é preciso cursos.”

“É preciso ter uma capacitação sobre a tecnologia. No caso, através de


reuniões comunitárias entre agricultores e até mesmo com a Embrapa.”

“Sim, pra se trabalhar com ela tem que conhecer antes. Tem que fazer
cursos com os pesquisadores.”

Para constatar se o envolvimento no projeto Tipitamba elevou seus


conhecimentos, os agricultores nos responderam que:

“Sim. Já conheci outras propriedades e vi maneiras muito boas de fazer as


coisas.”

“Sim. O projeto [Tipitamba] levou para conhecer até outros municípios e


realidades diferentes da nossa.”

“Sim. Antigamente tinha o conhecimento repassado das gerações e só. Hoje


em dia mudou muita coisa.”

“Muito. Através de reuniões, dia de campo em outras áreas. Hoje em dia


faço coisas que antes não sabia.”
“Com certeza, porque é bom a oportunidade de parceria com outros
agricultores nos intercâmbios e com os próprios pesquisadores.”

“Sim. Aprendi mais sobre o trabalho sustentável na agricultura, e os cursos


e palestras ajudam a gente entender como deve ser feito.”

“Sim, através de intercâmbio, palestra, seminários e as visitas em outros


projetos.”

“Sim, porque o projeto ajudou a conhecer outros tipos de sistemas, outras


pessoas de realidade diferente da nossa.”
50

“Sim, pois os conselhos recebidos nas atividades do projeto [Tipitamba]


ajuda no dia-a-dia do trabalho, como por exemplo, a diferença entre
produtos químicos (agrotóxicos) e os naturais.”

As informações absorvidas pelos agricultores parceiros adquirem importância


para eles, pois vêem na prática algo real acontecer e mudar. Perguntados sobre
como é feita a socialização das informações geradas pelo Projeto Tipitamba, nos
responderam as principais formas de serem socializadas as informações, como
veremos a seguir:

“Através das reuniões com a equipe do projeto. No dia-a-dia é feita através


dos agentes comunitários em visita na propriedade”.

“É feita através da ASDCONO em parceria com a Embrapa, em dia de


campo, reuniões e treinamentos”.

“É feita através de intercâmbios e palestras com apresentação de vídeos.”

“Através das reuniões mensais”.

“Reunião na associação, agente comunitário que intermedia com a


Embrapa.”

“Reuniões”.

“Através dos agentes, em outras vezes em visitas junto com os


pesquisadores”.

“Através da agente comunitária”.

“Através de reuniões, encontros discussões conjuntas”.

Sabendo que mantêm uma posição reconhecida em suas comunidades, os


agricultores parceiros constantemente estão em contato com os demais agricultores
da localidade, os quais, em alguns casos, manifestam interesse em saber da
tecnologia “agricultura sem queima”. Perguntados se socializam as informações
geradas no Projeto com os demais agricultores não parceiros das comunidades, os
entrevistados nos responderam:

“Às vezes passo (as informações) para um vizinho que se pudesse estaria
no projeto. Quando ele vem aqui (na propriedade) acha bonito os plantios.
Conversamos e eu vou contando como funciona”.

“Sim. Em visita aqui na área me perguntam e eu respondo sobre o projeto”.


51

“Sim. Ajudo quando alguém tem curiosidade. Quando aprendo algo não
tenho problema de ensinar quem quer aprender”.

“Sim. Se perguntarem eu repasso nas conversas do dia-a-dia”.

“Muitas vezes sim. Quando estou no lazer, na pescaria principalmente”.

“Sim, mas é difícil eles praticarem porque não fazem parte do projeto e não
tem acesso a máquina (trituradora). Mas os cuidados sobre o meio
ambiente eles entendem”.

“Sim. Basicamente através de conversas”.

“Sim. Se perguntarem eu falo em conversa informal do dia-a-dia”.

“Sim. Quando fazem visita na propriedade pedem para explicar o


procedimento do processo, troca de materiais (cartilhas, periódicos etc..)”.

Percebe-se que a Embrapa em parceria com a ADSCONO, se preocupam não


somente em variar as formas de atuação em relação à transferência de informação,
de um lado, envolvendo o máximo possível os agentes comunitários nas tarefas
diárias junto aos agricultores em suas propriedades e, de outro, oportunizar a
liberdade aos agricultores em apresentar suas experiências em várias ocasiões
como: visitas de outros agricultores; visitas de estudantes de graduação e pós-
graduação; estudantes estrangeiros, até mesmo na informalidade das relações do
dia-a-dia com os agricultores não parceiros.
52

Fig. 7 – Agricultor apresentando sua experiência em eventos


com o objetivo de socializar a informação
Fonte: Grimoaldo B. Matos

Sobre a importância atribuída à informação, Dowbor (2004 p.137) coloca que


“a informação é um recurso precioso e um poderoso racionalizador das atividades
sociais”. Ainda para este autor (p.139), “além de um direito, a informação bem-
organizada e bem disponibilizada constitui um poderoso instrumento de auto-
regulação na base da sociedade, pois todos os atores sociais, empresários,
secretários municipais, organizações comunitárias etc. passam a tomar decisões
mais bem-informados”.

Assim, acredita-se que a informação resultante do projeto Tipitamba veiculada


sob diversas formas (cartilhas, apresentações orais, folders, cartazes, calendários
entre outros) sendo circulada e disponibilizada entre as pessoas interessados quer
agricultores quer estudantes, contribui para assimilação e sedimentação do
conhecimento.

• Interação entre pesquisadores e agricultores (as)

Em relação à interação entre pesquisadores e agricultores, nossa intenção foi


conhecer por meio de uma única pergunta, respostas relativas às questões de
compartilhamento dos saberes, facilidades e/ou obstáculos de participação na
execução do projeto Tipitamba e a forma com que tudo isso ocorre, uma vez que o
processo de metodologia participativa, num Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento,
parece ser uma iniciativa muito importante por aproximar a sociedade das atividades
de pesquisa.

Tendo por base os propósitos metodológicos do projeto “Desenvolvimento e


Validação de Estratégias Participativas de Recuperação de Áreas Agrícolas e
Pastagens Degradadas na Amazônia” o qual envolveu mais explicitamente,
agricultores (as) familiares, converge com as afirmativas de Vogt e Polino (2003,
p.155).

O conceito de participação dos cidadãos refere-se, basicamente, a


dimensões articuladas, tais como processos de democratização do
conhecimento (circulação de informação qualificada, processos de
aprendizagem social, etc.), existência e disponibilidade de canais de
53

participação – formais ou informais – e incorporação de


conhecimentos e necessidades do contexto social ao
desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Entende-se que tal iniciativa metodológica tem em seu fundamento a interação


decorrente de sua proposta. De acordo com Johnson (1997, p. 131) interação é o
“processo mental radicado em significado que distingue ação de comportamento e
que ocupa lugar central na interação como processo social.” Sendo assim, é por
meio da ação interativa que ocorre a relação recíproca em um contexto social. Nesta
perspectiva, as respostas obtidas dos entrevistados foram:

“Harmoniosa. É bem consistente e sincera porque eles trazem a teoria e eu


tenho a prática. Isso possibilita a troca de idéias”.

“Tem sido bom. Porque me sinto a vontade de perguntar o que eu quero


saber e eles têm como responder ou pesquisar minha dúvida”.

“Tranqüila. Aqui é uma nova escola porque vem pessoas de todo o mundo
através da Embrapa e da ASDCONO”.

“Melhorou bem e não só com eles (pesquisadores). A troca de experiência


sempre acontece seja em reunião como em outros momentos”.

“Relação de compromisso. O objetivo é de troca de conhecimentos”.

“Nota dez. Tratam bem e são abertos ao diálogo, me orientam no que


preciso e através deles conheço outras pessoas interessadas aqui”.

“Normal. É uma troca recíproca de interesses e conhecimento, de ajudar e


ser ajudado”.

“Bacana. Fico satisfeito e acho vantajoso trocar idéia, passar e receber


notícias e informações”.

“Normal. Às vezes vem aqui e conversamos. Mostro o que querem ver e


assim vamos conversando”.

Com respeito à facilidade e/ou obstáculos na participação da execução do


projeto, tendo em vista as respostas que indicam que a relação é boa, de
compromisso, entre outras, deduzimos que as dificuldades foram ao longo do tempo
sendo superadas, uma vez que segundo Oliveira (2002, p. 126)

A relação entre pesquisadores e agricultores, que em um primeiro momento


apresentou-se como distante, com o avanço do trabalho de experimentação
melhorou o entendimento entre estes atores, sobretudo porque os
54

agricultores passaram a entender melhor os objetivos do Projeto Tipitamba


e do trabalho experimental.

Esta melhora na relação entre agricultores e pesquisadores, nos revela a


importância da reciprocidade da interação, uma vez que resultados serão vistos a
partir de um determinado tempo, e não de imediato.

Em relação ao compartilhamento de saberes, uma forma encontrada pelos


pesquisadores de contrabalancear os encontros mais formais, são as visitas in loco
nas propriedades, nas áreas de cultivo, possibilitando compartilhamento através de
conversas, curiosidades e dúvidas aproximando-se o quanto mais da realidade. O
método participativo está relacionado ao que se pretende alcançar. Neste sentido,
Gastal, Almeida e Xavier (2009, p. 253) argumentam que “a participação não é algo
dado, necessita ser construída.” Compreende-se então, que no processo de
participação dos agricultores no projeto Tipitamba, com o estímulo e oportunidade
que são conferida a esse grupo, os agricultores podem se tornar sujeitos no
processo e, protagonistas de mudanças de suas realidades.

Na condição pessoal que tive de estagiário do projeto Tipitamba, percebemos


em visitas às Comunidades a abertura que os agricultores têm com qualquer pessoa
que deseje contribuir ou aprender. A acessibilidade que oferecem, independe da
condição escolar que tiveram. Apesar de toda dificuldade encontrada na zona rural,
percebe-se que são pessoas felizes e esperançosas, abertas realmente a uma nova
visão de vida entre as pessoas.

Do ponto de vista sociológico o desenvolvimento da “agricultura sem queima”,


não representa tão somente a introdução de uma nova tecnologia. Implica uma
mudança social baseado na reconstrução do conhecimento prático que os
agricultores dispõem.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta narrativa, baseada na sistematização dos dados coletados com o


objetivo de avaliar o impacto social da apropriação do conhecimento e da tecnologia
“agricultura sem queima” pelos agricultores familiares numa perspectiva de
“Desenvolvimento Sustentável” nas comunidades Nova Olinda no município de
55

Igarapé-Açu e São João no município de Marapanim sob os aspectos das


dimensões sociais e ambientais, demonstra que:

A tecnologia “agricultura sem queima” vem proporcionando acúmulo de


nutrientes no solo pela vegetação triturada, introdução de espécies enriquecedoras
da capoeira utilizada na trituração e prolongamento do tempo de cultivo em uma
mesma área.
A introdução de novas espécies demonstra a possibilidade que a tecnologia
“agricultura sem queima” oferece ao agricultor de diversificar sua área, consorciando
culturas na mesma área.

Através da transição ecológica vivenciada pelos agricultores, a tecnologia


“agricultura sem queima” ajuda o meio ambiente não apenas conservando, mas
também regenerando áreas degradadas.

A tecnologia “agricultura sem queima” exige persistência de quem dela se


utiliza, uma vez que para se alcançar resultados sustentáveis são necessários
objetivos claros, saber o que será plantado e paciência nos primeiros anos de
transição para a tecnologia.

A mudança para o manejo em área triturada através da tecnologia “agricultura


sem queima”, requer situações de atenção e cuidado por parte dos agricultores,
considerando sua segurança. Percebemos a necessidade de disporem dos
Equipamentos de Proteção Individual – EPI ´ s para os trabalhos posteriores ao da
trituração.

Percebe-se que a tecnologia “agricultura sem queima” é reconhecida pelos


agricultores pela melhoria que proporciona, quando exclui do seu processo à
poluição gerada pela queima e que, freqüentemente, causava incômodos à
respiração e vista dos agricultores.

Constata-se que o associativismo foi fortalecido pelo envolvimento dos


agricultores com o projeto Tipitamba e pela tecnologia adotada, uma vez que
congrega em sua estrutura, método e finalidade bem como visão e objetivos dos
associados. Embora o projeto Tipitamba envolva um número específico de
56

agricultores parceiros, o fortalecimento dessas instituições, agregando


responsabilidades aos ACL´s e coordenadores, possibilitou a execução de novos
projetos nas comunidades, envolvendo outros agricultores.

Acredita-se que a adoção da tecnologia “agricultura sem queima” e a estreita


participação dos agricultores no processo, contribui para uma mudança sócio-
cultural tanto dos pesquisadores quanto dos agricultores como parceiros no
processo.

O conhecimento técnico-científico apropriado e a visão de produção que os


agricultores têm hoje refletem o contexto da sustentabilidade. Ou seja, tanto a
prática produtiva, quanto a participação no processo, conformizam aspectos
importantes para o desenvolvimento sustentável.

Observa-se que há preocupação em variar as formas de socialização das


informações, considerando o ambiente, a formalidade e/ou informalidade adotada
para troca de saberes. Os intercâmbios foram lembrados e citados com entusiasmo
pelos agricultores, possibilitando experiências jamais vividas por eles.

O conhecimento apropriado e/ou reconstruído até agora torna possível o auto-


reconhecimento do valor da atividade que exercem, expondo suas próprias
experiências para diversas pessoas, desde a comunidade até estudantes
estrangeiros.

Reconhece-se que houve um avanço positivo na interação entre agricultores e


pesquisadores, uma vez que qualquer tipo de mudança gera inicialmente desgaste e
conflitos de opinião e interesse. Contudo, ao longo das atividades ambas as partes
foram fazendo parte da realidade umas das outras, possibilitando a reciprocidade
em suas interações.

Do ponto de vista sociológico, a “agricultura sem queima” não representa tão


somente a introdução de uma nova tecnologia. Implica uma mudança social
baseada na reconstrução do conhecimento prático que os agricultores dispõem,
oportunizando outra visão no processo de produção que é a da sustentabilidade
57

ambiental e, por conseguinte, protagonistas do Desenvolvimento Sustentável na


região.

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APÊNDICE: ROTEIRO DE ENTREVISTA

No. ENTREVISTADO:__________
COMUNIDADE:_________________________

ASSOCIAÇÃO A QUE PERTENCE:_____________________________________


MUNICIPIO:________________________________________________________

1.Há quanto tempo o Sr. (a) está envolvido com o Projeto Tipitampa?
___________________________________________________________________

Impactos ambientais no sistema de produção e conservação ambiental:

2. Há quanto tempo o Sr (a) tem utilizado a tecnologia “agricultura sem queima”


___________________________________________________________________
64

3. Durante esse tempo, o Sr (a) está cultivando na mesma área de plantio?


___________________________________________________________________

4. Antes do emprego dessa prática, o que o Sr.(a) cultivava em sua propriedade?


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

5. O Sr (a) acha que a tecnologia “agricultura sem queima” possibilitou introduzir


outros cultivos em sua propriedade? Quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

6. O que mudou em sua área de plantio, com o emprego dessa prática? ( por
exemplo: no solo, na vegetação, no meio ambiente)
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

7. O Sr. (a) acha que a tecnologia “agricultura sem queima” proporciona


conservação ambiental? De que forma?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

8. O Sr. (a) acha a tecnologia “agricultura sem queima”, uma prática sustentável de
produção? porque?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

Impactos Sociais da apropriação do conhecimento e adoção da tecnologia

9. O emprego da tecnologia “agricultura sem queima” trouxe benefícios a sua


saúde? De que forma?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

10. Como o Sr.(a) avalia as condições de segurança no preparo de área para plantio
com o emprego da tecnologia de “agricultura sem queima”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
65

11. O seu envolvimento no Projeto Tipitamba contribuiu para aumentar seus


conhecimentos práticos na atividade agrícola? Como?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

12. O Sr (a) acha que para empregar a tecnologia “agricultura sem queima” o
agricultor (a) precisa de capacitação?De que forma?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

13. O que o Sr. (a) aprendeu que não sabia antes?


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

14. Como é feita a socialização das informações geradas pelo Projeto Tipitamba?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

15. O Sr (a) repassa as informações adquiridas através do Projeto Tipitamba para


outros agricultores “não-parceiros”? De que forma?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

16. O emprego da tecnologia “agricultura sem queima” contribuiu para fortalecer a


associação a que o Sr. (a) pertence? Por quê?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

17. Como tem sido a sua relação de trabalho com os pesquisadores da Embrapa?
(trocam idéias, experiências etc.) Como?

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

Obrigado!
66

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