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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

Trabalho para a matéria de Filosofia da religião:

A tolerância como proposta para uma convivência pacífica entre religião e


política

Catarina Machioni Spagnol

Universidade Católica Portuguesa

Sob a orientação do prof. Américo Pereira

Abril de 2017
A tolerância como proposta para uma convivência pacífica entre religião e política

Num contexto histórico de conflitos intensos pela disputa de poder entre a Igreja e o
Estado, era necessário encontrar uma solução que servisse ao propósito de conciliar o âmbito
político e o religioso. A tolerância passa a ser a proposta de John Locke para uma relação de
convivência pacífica entre a religião e a política, de modo que ela torna-se essencial para a
manutenção da vida na coletividade e para o exercício do bem comum.

Segundo John Locke, o objetivo da tolerância não era instituir a supremacia de uma
determinada religião em detrimento de outra. O ponto central da sua proposta era o exercício da
liberdade num mundo em que o indivíduo era punido em virtude da fé que ele propagava. Logo,
a tolerância era necessária para a manutenção do bem comum. Nas palavras de John Locke:
“Numa palavra, ninguém pode impor-se a si mesmo ou aos outros, quer como obediente súdito
de seu príncipe, quer como sincero venerador de Deus: considero isso necessário sobretudo pra
distinguir entre as funções do governo civil e da religião, e para demarcar as verdadeiras
fronteiras entre a Igreja e a comunidade.” 1

O bem abrange duas esferas distintas e separadas e que podem conviver em harmonia,
desde que a tolerância seja o elemento de restauração da ordem. Desse modo, o conceito de
felicidade passa por uma fissura institucional: a felicidade do céu passa a pertencer ao âmbito
religioso e a felicidade da terra fica entrelaçada ao âmbito político e uma não deve interferir
negativamente na outra.

Com a cisão sugerida, no texto “Cartas acerca da tolerância”, John Locke delimita a
área de atuação das duas esferas e define que a comunidade é uma sociedade de homens
constituída apenas para a preservação e melhoria dos bens civis dos seus membros e na relação
dos bens civis John Locke inclui vida, liberdade, saúde física e libertação da dor, e posse de
coisas externas, tais como terras, dinheiro, móveis, etc. Os preceitos da tolerância exigem que a
comunidade religiosa nunca interfira no âmbito político que por sua vez, teria como principal
obrigação zelar pelo bem civil.

Ao elaborar a ideia da tolerância religiosa, Locke reconheceu o significado da religião


na vida do indivíduo e deixou um espaço vago para ser preenchido pela importância do sagrado
na sociedade, contudo, preencher esse espaço vazio e optar por uma determinada religião que o
preencha deveria ser uma escolha livre, a partir da capacidade de argumentação e sedução da
igreja em relação ao fiel. O livre exercício da fé passa a ser um direito garantido pela lei.

1
Locke, John. Carta acerca da tolerância. Tradução de Anoar Aiex. Ed. Abril Cultural. P 03

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