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Estado laico
Estado laico ou secular é aquele que não se manifesta em assuntos religiosos, garante
a liberdade religiosa e não adota religião oficial.

Um Estado laico não pode adotar uma religião oficial e nem privilegiar uma religião, além de aceitar e
garantir a liberdade de culto religioso.

O Estado laico surgiu junto ao republicanismo a fim de garantir que


houvesse igualdade entre todos os cidadãos. Após diversas guerras e
conflitos por conta de religião, as pessoas começaram a enxergar a
necessidade de separar as decisões estatais da Igreja, pois ela não
poderia servir como base para justificar as ações do governo.

A junção entre Estado e Igreja foi abandonada com o modo de governar do


Antigo Regime pela maioria dos países, pois os monarcas absolutos de
antes necessitavam da suposta bênção divina para justificar as suas ações.
O republicanismo e a dissolução do poder estatal no Parlamento retiraram o
peso das ações governamentais da religião e colocaram-no inteiramente no
povo, na competência dos agentes públicos e no âmbito do Estado.
Afinal, o que é o Estado laico?
Estado laico ou, no âmbito religioso, Estado secular é aquele que não
adota religião oficial, não interfere nos assuntos religiosos – a menos que
esses estejam relacionados diretamente com questões jurídicas – e não se
deixa ser influenciado por nenhum viés unilateral religioso, ou seja, é
independente de qualquer religião.

A palavra secular também é utilizada para designar algo que é laico. Secular
vem do latim saeculare, que significa mundano, ou seja, o que é do mundo
físico e “não pertencente a Deus".

Em um Estado laico, não é vedada a prática religiosa, muito pelo


contrário, as pessoas são protegidas pela Constituição para manifestarem
livremente suas crenças e cultos, desde que observado o princípio de que a
religião pertence à vida privada e não pode servir de parâmetro para um
agente público em exercício do dever.

Em um Estado laico, não se admite qualquer ação governamental ou


estatal justificada por meio de assuntos religiosos. Muito menos se
admite que assuntos religiosos assumam o caráter de lei para a garantia da
hegemonia de apenas um grupo religioso. No âmbito de um Estado laico,
entende-se que toda e qualquer visão religiosa de mundo deve ser respeitada
e que a liberdade de culto e de crença deve ser garantida.

Para que isso seja possível, há uma Constituição e leis que garantem o culto
e respeitam todas as religiões. Do mesmo modo, aqueles que se abstêm de
escolher uma crença religiosa, preferindo definirem-se enquanto ateus ou
agnósticos, devem ser respeitados.
Dado o fato de que o Estado deve respeitar todas as religiões, ele não
pode favorecer uma em detrimento de outra. Desse modo, é vedado ao
governo ou aos agentes públicos de um Estado laico deixarem que a sua fé
influencie as suas decisões enquanto pessoas públicas.

Entende-se que a religião é algo pessoal, que o favorecimento de algumas


vertentes em detrimento de outras pode ocasionar conflitos civis e religiosos
e que o Estado, enquanto organismo que deve garantir a igualdade, não pode
tomar parte em tais conflitos a menos que em defesa da pluralidade e da
igualdade.

Leia também: Estado laico x Estado religioso

Tipos de Estado
A seguir, comentaremos os tipos de Estados e suas relações com a
religião, também discutiremos essa relação em países específicos, como a
Alemanha e a Índia.

● Estado confessional

Estado confessional é aquele que adota uma religião oficial. Essa religião
adotada não terá poder irrestrito e absoluto e pode não estar tão
fortemente ligada às decisões governamentais e às políticas de Estado. No
entanto, o simples fato da adoção de uma religião oficial pode excluir a
importância das outras.

● Estado teocrático
Teocracias ou estados teocráticos são aqueles em que há uma religião
oficial adotada e os sistemas Legislativo e Judiciário estão sob tutela
dessa religião. As atuais teocracias são os países subjugados às leis
islâmicas (como o Irã) e o Vaticano, sob domínio da Igreja Católica.

● Estado ateu

Um Estado ateu é aquele que combate à religião em seu interior por não
enxergar nas práticas religiosas algo que reforce a ideologia e a postura de
tal Estado. Exemplos de Estados ateístas são os países socialistas do século
XX, como a União Soviética, a China e a Coreia do Norte. Todos os países
mencionados garantem, hoje, a liberdade religiosa, e a Rússia (integrante da
extinta União Soviética) é, atualmente, um país laico.

Leia também: Democracia – conceito, origem, tipos e exemplos

Relação entre Igreja e Estado na Alemanha


A Alemanha nunca foi, de fato, totalmente laica, na contramão das outras
repúblicas e de Estados nacionais ocidentais modernos. Otto von Bismarck,
o chanceler que realizou o processo de unificação da Alemanha no século
XIX, tomou uma série de medidas que visava a separar os domínios
estatais das igrejas, mas essas foram anuladas, em 1919, pela República
de Weimar.

A República de Weimar foi o período republicano que a Alemanha viveu entre


1919 e 1933, regida por um sistema republicano democrático e constitucional.
No entendimento da equipe de juristas, cientistas políticos e economistas que
participaram da Assembleia Constituinte (entre eles, estava o sociólogo Max
Weber), a reaproximação entre Estado e Igreja era justificável por conta da
histórica participação do protestantismo nos governos alemães.

A ascensão do governo nazista na Alemanha, que colocou fim à República de


Weimar em 1933, reaproximou ainda mais os domínios religiosos
(cristãos) do Estado. Um dos elementos pelos quais Hitler justificou os planos
de perseguição aos judeus e o estabelecimento do que ele chamou de raça
pura foi a religião cristã. Segundo o líder nazista, somente a raça ariana
(branca e oriunda dos povos germânicos), que fosse igualmente cristã, teria o
direito a habitar e prosperar no território alemão. A intenção de Hitler era levar
a cabo o seu projeto de expansão da Alemanha e intensificação de seu
governo tirânico.

Durante a Guerra Fria (conflito político-ideológico iniciado após a derrota do


nazismo e o fim da Segunda Guerra Mundial), sobretudo após a construção
do Muro de Berlim (que separou Berlim Oriental de Berlim Ocidental), houve
uma disputa ideológica entre religiosos e políticos muito forte. Berlim
Oriental, de governo marxista, não admitia a participação religiosa dentro do
governo e desestimulava a religião entre a população, assim como fez a
União Soviética. A Berlim Ocidental, de orientação política liberal e capitalista,
mantinha um sistema de aproximação do governo com lideranças cristãs
católicas e protestantes.

Atualmente, a Alemanha é um país oficialmente laico, apesar de apresentar


uma espécie de flerte com a religião cristã nas políticas educacionais, por
exemplo. O ensino religioso de tradição cristã é obrigatório nas escolas
alemãs e, geralmente, é ministrado por professores com formação para
atuarem no ensino religioso, geralmente oriundos da vertente católica ou
protestante do cristianismo. Na Baviera, como em outros Estados alemães, a
fixação de crucifixo na sala de aula é obrigatória por lei.

Leia também: Crítica de Nietzsche à moral cristã

Relação entre Igreja e Estado na Índia


O caso indiano é bastante complicado, pois o antigo Estado hindu
(denominação para o modo de governar indiano predominante no país até o
século XIX) deixou como sequela o sistema de castas |1|, extremamente
excludente. Também eram comuns, como resultado do antigo sistema
político-religioso, os casamentos infantis. Hoje, a Índia é um país laico,
porém com sequelas do Estado teocrático que permanecem na cultura do
povo indiano.

Esculturas em templo hindu.

Educação laica e educação confessional


A ideia de uma educação laica advém do iluminismo francês. Os teóricos
iluministas acreditavam que o avanço político poderia ser alcançado com o
avanço científico e que, quanto mais amplificado fosse o alcance do
conhecimento na sociedade, melhor. Daí surgiu a necessidade de se pensar
em uma educação pública, gratuita, universal e laica.

Durante a Idade Média até a Modernidade, as instituições de ensino eram


somente confessionais, ou seja, adotavam concepções religiosas por serem
mantidas por ordens religiosas e igrejas. O sistema educacional brasileiro
permite a existência de escolas confessionais de natureza privada ou que o
sistema público de ensino estabeleça parcerias com instituições
confessionais, desde que observada a garantia de acesso de toda e
qualquer criança a essas instituições, não importando a sua crença ou fé
religiosa.

Leia também: Diferença entre ética e moral

Qual é a importância do Estado laico?


A história da humanidade presenciou diversas formas de conflitos
religiosos e políticos causados ou sustentados pela religião. Na
Antiguidade, por exemplo, Sócrates foi executado após ser julgado por
denúncias de, entre outras coisas, professar a fé em outros deuses que não
os gregos. A condenação do filósofo, considerada mais tarde uma injustiça
por Platão e Aristóteles, deu-se por conta da contrariedade causada por
Sócrates em políticos poderosos de Atenas.

Até hoje não existe qualquer indício de que Sócrates realmente tenha
professado a fé em outros deuses. No entanto, o que está em jogo não é a
culpa ou não do pensador, e sim a postura do júri e da Assembleia de Atenas
ao julgar um homem por sua suposta crença religiosa contrária.

Ao vermos a utilização da religião como arma para condenar um ser


humano por causa de atritos políticos, fica evidente a importância de
preservar-se o direito de todos de professarem e cultuarem os seus deuses.
Em outro momento da história, a humanidade presenciou as Cruzadas, que
consistiu em um conflito político com interesses políticos e territoriais que se
fez passar por uma guerra santa (guerra motivada por questões religiosas).

Outro momento que chocou a humanidade foi o holocausto, provocado pelo


governo nazista na Alemanha. O genocídio perpetrado pelos nazistas tinha,
em sua superfície, uma justificativa religiosa (a crença antissemita de que os
judeus eram responsáveis pela ruína alemã). No entanto, a intenção nazista
era colocar no inimigo político (aparentemente pela religião) a culpa pelas
mazelas sociais para unir a população em torno de uma ideologia e,
consequentemente, em apoio ao líder (no caso, Adolf Hitler)

A importância do Estado laico centra-se no fato de que a liberdade


religiosa é um direito humano fundamental, o qual que deve ser garantido.
Somente um Estado laico pode resguardar o respeito e a igualdade entre
toda e qualquer religião, sem privilegiar algumas ou depreciar outras. Deve-
se lembrar que o ato de não professar fé em Deus (ateísmo) e o de não optar
por religiões ou se abster de decidir acerca de uma religião (agnosticismo)
também devem ser respeitados.

Leia também: Direitos Humanos – o que são, artigos, como surgiram

Quando surgiu o Estado laico no Brasil?


Em 7 de janeiro de 1890, foi promulgado o Decreto 119-A, que tornava o
Brasil (já republicano desde o golpe de 1889) um país laico. No ano seguinte,
foi promulgada a Constituição Federal de 1891, a primeira da República.
Esse documento também garantia a liberdade religiosa e retirava do governo
e do Estado a adoção de uma posição religiosa oficial.

O Decreto 119-A trouxe uma série de mudanças para a vida civil e para a
organização governamental brasileira. Nessa ocasião, foi criado o
casamento civil, tornando o casamento religioso opcional e a união civil a
forma reconhecida pelo governo. Os cemitérios, antes administrados por
igrejas, passaram a ser geridos pelo poder público.

A opção pelo Estado laico faz parte do pensamento republicano e do


positivismo, ideais que moveram as ações dos militares responsáveis pela
Proclamação da República e pelo governo provisório do Marechal Deodoro
da Fonseca.

Martinho Lutero e o Estado Laico


A Reforma Protestante, iniciada por Lutero, ocasionou o início de uma
revisão da relação entre Estado e Igreja. Muitas das críticas do reformador
contidas em suas 95 teses não eram apenas erros da Igreja Católica, mas
erros da Igreja Católica cometidos sob a permissão estatal ou em conluio
com governantes.

Lutero, o reformador da Igreja.

Lutero entendia que os dois domínios, da religião cristã e do Estado (que ele
chamou domínio da Espada), eram criações divinas, porém distintas. O
domínio da religião cristã era o primeiro e mais natural. Lutero acreditava que,
se todos fossem verdadeiramente cristãos, haveria ordem e respeito, não
sendo necessário o domínio da espada.

Como eram poucos os cristãos verdadeiros, isto é, que seguiam os


ensinamentos de Cristo, foi necessário, segundo Lutero, que Deus criasse o
domínio da espada para manter o funcionamento de tudo em sua perfeita
ordem.

Notas

|1| Para a religião hinduísta tradicional, os seres humanos pertencem a


castas, que são estabelecidas pelas divindades e são hereditárias. O sistema
de castas tradicional estabeleceu a existência de cinco castas. A mais nobre
seria a dos brâmanes, que teriam surgido a partir da cabeça da divindade
Brahma, da mitologia hindu. A mais inferior seria a dos parias, que teriam
surgido a partir da sujeira dos pés de Brahma. Esse sistema fez com que os
párias fossem considerados sujos, “intocáveis” e indignos, o que os levou à
marginalização extrema na sociedade indiana durante muito tempo. Com o
fim da dominação inglesa, que ocorreu na primeira metade do século XX, a
política de castas passou a ser repensada. A proibição efetiva pela lei ocorreu
com a Constituição Indiana de 1947. No entanto, a discriminação em razão
das das castas hindus ainda acontece na Índia.

Por Francisco Porfírio


Professor de Sociologia

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Estado laico"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/estado-laico.htm. Acesso em 11 de janeiro de
2024.

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https://brasilescola.uol.com.br/amp/sociologia/estado-laico.htm

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