ALCALÁ, Felipe Gaytán. La invención del espacio político en América Latina:
laicidad y secularización en perspectiva. Revista Religião & Sociedade, Rio de Janeiro, vol. 38, nº 2, p. 119-147, ago, 2018. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/0100-85872018v38n2cap04 > Acesso em: 24 ago. 2021.
Resumo e crítica do conteúdo:
O artigo se propõe analisar a religião e o processo de laicidade e
secularização na América Latina (AL). É notório que a igreja católica teve grande influência no processo de colonização e catequização de povos indígenas. Além do mais, foram responsáveis por grandes avanços em regiões em que o Estado não chegava. Entretanto, com o passar dos anos houve a ruptura do Estado com a Igreja, desassociando a legislação com a religião.
Secularização
A secularização diz respeito ao processo de separação, ou gradual
abandono, das formas tradicionais de estruturação social baseadas na religiosidade. Faz-se uma ruptura do Estado com a igreja, separando qualquer envolvimento de grupos religiosos em espaços públicos. O secularismo teve a igreja católica como principal rival, haja vista o histórico sempre presente do catolicismo na organização pública.
Estado laico
A Laicidade permitiu instaurar a separação da sociedade civil e das
religiões, não exercendo o Estado qualquer poder religioso e as igrejas qualquer poder político. É curioso notar que os interesses das religiões sempre tiveram peso em decisões legislativas, não é à toa que as eleições ganham destaque e os púlpitos viram palanques a favor de candidatos pró- preceitos religiosos. Um exemplo prático foram as eleições brasileiras de 2018, em que vários candidatos se apoiaram nas maiores religiões para angariar votos, mesmo não seguindo os preceitos cristãos em sua vida pregressa. Inclusive o texto afirma que essas atitudes são uma “uma violação da lógica política para a separação entre Estado e igrejas”
Estado Secular Multi-denominacional
Neste quesito a Religião teria um papel mais ativo na vida pública. É
inegável o papel social que as igrejas exercem em segmentos onde o Estado não alcança, seja por ineficiência ou por omissão, fato é que as religiões sempre tiveram um papel caridoso muito por conta dos seus preceitos. A grande questão seria a interferência desses grupos na vida secular das pessoas, afinal nem toda sociedade é partícipe de uma crença. Ademais o autor levanta um questionamento pertinente: todas as religiões fariam parte desse grupo ativo na vida pública? Como bem se sabe religiões de matrizes africanas, por exemplo, costumam sofrer discriminações dos maiores grupos religiosos, à saber, católicos e evangélicos. Nesse sentido, a pluralidade de ideias no mundo religioso necessitaria de um consenso entre essas crenças o que poderá ser mais um obstáculo.
Secularismo Positivo
Seria o reconhecimento do Estado em relação aos feitos e
contribuições da igreja no desenvolvimento das nações. Este tema é relativamente novo e veio como uma forma de neutralização do anti- secularismo. O autor critica em certo ponto o secularismo defendido pela igreja católica, pois parece haver a exclusão da contribuição de outras religiões. Ademais, para Felipe Alcalá o secularismo positivo é “um recurso da Igreja Católica para se apropriar do conceito de conceito de secularismo e dar-lhe novos conteúdos a seu favor.”. Esta manobra muda o significado do termo e reconhece e legitima o papel da religião na vida pública.
Secularismo como regime de convivência
O foco agora é construir a cidadania como centro do secularismo
deixando de lado o Estado e a igreja. Nesse sistema a liberdade de consciência vira protagonista, possibilitando que qualquer pessoa siga a crença que optar e o Estado não limite este direito. A liberdade individual é garantida em meio a um pluralismo religioso, o que parece ser a corrente mais desejável para um Estado democrático de Direito.
Laicidade e Secularismo
Estes termos possuem dimensões diferentes, mas entram no campo
da religião no âmbito público. O laico tem caráter político e deseja distinguir o Estado e a Igreja, já o secular trata-se de um processo moroso de abandono de preceitos que se apoiam a religiosidade. Essa pequena distinção anda em linha tênue no cenário atual, o Brasil, por exemplo, passa por situações em que há uma intromissão dos fundamentos religiosos em contextos jurídicos, muito por conta do panorama legislativo (bancada religiosa) vigente. Por fim, é fato que o país tem um pluralismo religioso grande, todavia, o problema está quando assuntos sensíveis a esses grupos esbarram e limitam a vida de pessoas não praticantes dessas crenças. Um exemplo prático: é o casamento homoafetivo que dificilmente seria aprovado no congresso, mas foi necessário por vias judiciais o seu reconhecimento para que este direito abarcasse a vida de muitas pessoas.