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Programa de Pós-Graduação em Fı́sica

Curso de Inverno - 2013: Introdução ao Cálculo

CURSO DE INVERNO:
INTRODUÇÃO AO CÁLCULO

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação/UFSC


Pró-Reitoria de Ensino de Pós-Graduação/UFSC
Programa de Pós-Graduação em Fı́sica - CFM/UFSC
Projeto REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
Programa de Pós-Graduação em Fı́sica
Curso de Inverno - 2013: Introdução ao Cálculo

CURSO DE INVERNO:
INTRODUÇÃO AO CÁLCULO

Cronograma do curso e ministrantes:


05/08/2013 - Funções I (seções 1.1 a 1.4) - Ariel Werle
06/08/2013 - Funções II (seções 1.5 a 1.7) - Rafael Heleno
07/08/2013 - Funções III (seções 1.8 e 1.9) - Paloma Boeck Souza
09/08/2013 - Limites I (seções 2.1 a 2.3) - Bruno Clasen Hames
10/08/2013 - Limites II (seções 2.4 a 2.6) - Carlos Eduardo Krassinski
Soares

Coordenação:
Felipe dos Passos.

Supervisão:
Prof. Dr. Marcelo Henrique Romano Tragtenberg
Departamento de Fı́sica - UFSC

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v 1.2 01/08/2013
Sumário

1 Funções 5
1.1 Conceito, domı́nio, imagem e gráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Paridade das funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.1 Função par . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.2 Função ı́mpar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.3 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Monotonicidade de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Tipos especiais de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4.1 Função constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4.2 Função polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4.3 Função módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4.4 Função Racional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4.5 Função Periódica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4.6 Função limitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4.7 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.5 Operações com funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.5.1 Operações entre funções e números reais . . . . . . . . . . . . 23
1.5.2 Operações entre funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.5.3 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.6 Tipos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.6.1 Função sobrejetora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.6.2 Função injetora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.6.3 Função bijetora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.7 Função inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.7.1 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.8 Funções exponenciais e logarı́tmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.8.1 Função Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.8.2 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.8.3 Função Logarı́tmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.8.4 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3
4 SUMÁRIO

1.9 Funções trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40


1.9.1 Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.9.2 Funções Trigonométricas Inversas . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1.9.3 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.10 Respostas dos exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2 Limites de funções e funções contı́nuas 51


2.1 Limites de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.1.1 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.2 Limites laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.2.1 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.3 Indeterminações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.3.1 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.4 Limites no infinito e limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.4.1 Limites no infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.4.2 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.4.3 Limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.4.4 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2.5 Limites fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.5.1 Primeiro limite fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.5.2 Segundo limite fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.5.3 Terceiro limite fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2.5.4 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.6 Funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
2.6.1 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
2.7 Respostas dos exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Capı́tulo 1

Funções

1.1 Conceito, domı́nio, imagem e gráfico


Vamos apresentar aqui um dos conceitos mais importantes da Matemática. É
um conceito que faz parte do “vocabulário” básico da Matemática.

Definição - Dados dois conjuntos A e B não vazios, chama-se função (ou aplicação)
de A em B, representada por f : A → B; y = f (x), a qualquer relação binária
que associa a cada elemento de A um único elemento de B.

Portanto, para que uma relação de A em B seja uma função, exige-se que
a cada x ∈ A esteja associado um único y ∈ B, podendo, entretanto existir
y ∈ B que não esteja associado a nenhum elemento pertencente ao conjunto
A.

Observação I - Na notação y = f (x), entendemos que y é imagem de x pela função


f , ou seja, y está associado a x através da função f .

Exemplo 1 - Seja a função f (x) = 4x + 3, então f (2) = 4.2 + 3 = 11, portanto, 11


é imagem de 2 pela função f ; f (5) = 4.5 + 3 = 23, portanto 23 é imagem de
5 pela função f , f (0) = 4.0 + 3 = 3, etc.

5
6 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Para definir uma função, necessitamos de dois conjuntos (Domı́nio e Con-


tradomı́nio) e de uma fórmula ou uma lei que relacione cada elemento do domı́nio
a um e somente um elemento do contradomı́nio.
Quando D(f ) ⊂ R (domı́nio contido no conjunto dos reais) e CD(f ) ⊂ R
(contradomı́nio contido nos reais), sendo R o conjunto dos números reais, dize-
mos que a função f é uma função real de variável real. Na prática, costumamos
considerar uma função real de variável real como sendo apenas a lei y = f (x) que
a define, sendo o conjunto dos valores possı́veis para x, chamado de domı́nio e o
conjunto dos valores possı́veis para y, chamado de conjunto imagem da função.
1
Assim, por exemplo, para a função definida por y = , temos que o seu domı́nio
x
é D(f ) = R∗ , ou seja, o conjunto dos reais diferentes de zero (lembre-se que não
1
existe divisão por zero), e o seu conjunto imagem é também R∗ , já que se y = ,
x
1
então x = , portanto y também não pode ser zero. O sı́mbolo ⊂ lê-se “contido
y
em”.
Dada uma função f : A → B definida por y = f (x), podemos representar os
pares ordenados (x, y) ∈ f onde x ∈ A e y ∈ B, num sistema de coordenadas
cartesianas. O gráfico obtido será o gráfico da função f .
Assim, por exemplo, sendo dado o gráfico cartesiano de uma função f , podemos
dizer que:

a) A projeção da curva sobre o eixo dos x nos dá o domı́nio da função.

b) A projeção da curva sobre o eixo dos y nos dá o conjunto imagem da função.

c) Toda reta vertical que passa por um ponto do domı́nio da função, intercepta o
gráfico da função em no máximo um ponto.

Isso pode ser verificado na Figura 1.1.



Exemplo 2 - Dada a função f : {−3, 2, 0, 5} → R, definida pela fórmula f (x) =
2x2 + 1. Determine a sua imagem.


Neste exercı́cio, o domı́nio é dado, ele vale D = {−3, 2, 0, 5} e o con-
tradomı́nio são todos números reais. Como já estudamos, a imagem de um
número é o elemento pertencente ao contradomı́nio que está relacionado à este
número, e para achar este número devemos aplicar sua lei de formação.

- a imagem do −3 é também representada por f (−3), e f (−3) = 2(−3)2 + 1,


então f (−3) = 19;
- f (2) = 2(2)2 + 1, então f (2) = 9;
- f (0) = 2(0)2 + 1, então f (0) = 1;
√ √ √
- f ( 5) = 2( 5)2 + 1, então f ( 5) = 11.
1.2. PARIDADE DAS FUNÇÕES 7

Figura 1.1: Gráfico da função f (x).

Agora que já achamos as imagens de todos pontos do domı́nio, podemos dizer
que o conjunto imagem desta função é Im = {19, 9, 1, 11}.

1.1.1 Exercı́cios Propostos


5
1. Determine o domı́nio e imagem da função real y = .
x+4

2. Determine o domı́nio e imagem da função f (x) = 2x + 6.


2x + 5
3. Dada a função f (x) = , determine seu domı́nio.
x−2

1.2 Paridade das funções

1.2.1 Função par

A função y = f (x) é par, quando ∀ x ∈ D(f ), f (−x) = f (x), ou seja, para todo
elemento do seu domı́nio, f (x) = f (−x). Portanto, numa função par, elementos
simétricos possuem a mesma imagem. Uma consequência desse fato é que os gráficos
cartesianos das funções pares são curvas simétricas em relação ao eixo dos y ou eixo
das ordenadas. O sı́mbolo ∀ lê-se “para todo”.
8 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Exemplo 4 - y = x4 + 1 é uma função par, pois f (x) = f (−x), para todo x. Por
exemplo, f (2) = 24 + 1 = 17 e f (−2) = (−2)4 + 1 = 17.

1.2.2 Função ı́mpar


A função y = f (x) é ı́mpar, quando ∀ x ∈ D(f ), f (−x) = −f (x), ou seja, para
todo elemento do seu domı́nio, f (−x) = −f (x). Portanto, numa função ı́mpar,
elementos simétricos possuem imagens simétricas. Uma consequência desse fato é
que os gráficos cartesianos das funções ı́mpares são curvas simétricas em relação ao
ponto (0,0), origem do sistema de eixos cartesianos.

Observação II - Se uma função y = f (x) não é par nem ı́mpar, diz-se que ela não
possui paridade.
1.3. MONOTONICIDADE DE FUNÇÕES 9

O gráfico abaixo, representa uma função que não possui paridade, pois a curva não
é simétrica em relação ao eixo dos y e, não é simétrica em relação à origem.

1.2.3 Exercı́cios Propostos


4. Determine quais das funções abaixo são pares, ı́mpares ou sem paridade.
a) senx b) cos x c) tan x
d) x e) x2 f) x2 + 78
g) x5 + x4 h) (senx)2 + (cos x)2 i) tan x + senx
x2 + 3 senx
j) x2 + cos x k) 4 l)
x + 22 x
m) |x3 + x5 |

1.3 Monotonicidade de funções


Define se a função é crescente ou decrescente.

Definição - Sejam (A, >) e (B, >) conjuntos ordenados. Então

1. f é estritamente crescente quando


∀ x, y ∈ A, (x > y =⇒ f (x) > f (y)).
2. f é estritamente decrescente quando
∀ x, y ∈ A, (x > y =⇒ f (y) > f (x)).
3. f é monótona não-decrescente quando
∀ x, y ∈ A, (x > y =⇒ f (x) > f (y)).
4. f é monótona não-crescente quando
∀ x, y ∈ A, (x > y =⇒ f (y) > f (x)).

1.4 Tipos especiais de funções


1.4.1 Função constante
Uma função é dita constante quando é do tipo f (x) = k, onde k não depende
de x.
10 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Alguns exemplos de funções constantes são as funções f (x) = 5 e f (x) = −3.

Observação III - O gráfico de uma função constante é uma reta paralela ao eixo
dos x.

1.4.2 Função polinomial

As funções polinomiais podem ser classificadas quanto a seu grau. O grau


de uma função polinomial corresponde ao valor do maior expoente da variável do
polinômio, ou seja, é o valor de n da função

n
X
P (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + . . . + an xn = ai xi , ∀ n 6= 0.
i=0

Sejam f (x) e g(x) polinômios de graus quaisquer. Sempre valem as seguintes


leis:

a) O grau de f (x).g(x) é a soma do grau de f (x) e do grau de g(x).

b) Se f (x) e g(x) têm grau diferente, então o grau de f (x) + g(x) é igual ao maior
dos dois.

c) Se f (x) e g(x) têm o mesmo grau, então o grau de f (x) + g(x) é menor ou igual
ao grau de f (x).

Funções polinomiais de primeiro grau

Uma função é dita do 1º grau, quando é do tipo y = ax+b, onde a 6= 0. São exemplos
de funções do 1º grau f (x) = 3x + 12, onde a = 3 e b = 12, e f (x) = −3x + 1, onde
a = −3 e b = 1.

Propriedade 1 - O gráfico de uma função do 1º grau é sempre uma reta.


1.4. TIPOS ESPECIAIS DE FUNÇÕES 11

Propriedade 2 - Na função f (x) = ax + b, se b = 0, f é dita função linear e se


b 6= 0, f é dita função afim.

Propriedade 3 - O gráfico intercepta o eixo dos x na raiz da equação f (x) = 0 e,


b
portanto, no ponto de abcissa x = − .
a
Propriedade 4 - O gráfico intercepta o eixo dos y no ponto (0, b), onde b é chamado
coeficiente linear.

Propriedade 5 - O número a é chamado coeficiente angular da reta e fornece a


inclinação da mesma.

Propriedade 6 - Se a > 0, então f é crescente.

Propriedade 7 - Se a < 0, então f é decrescente.

Exemplo 5 - Determine a função f (x) = ax + b, sabendo-se que f (2) = 5 e f (3) =


−10.
Podemos escrever
5 = 2.a + b
−10 = 3.a + b

Fazendo a subtração da relação de cima pela de baixo, temos


5 − (−10) = 2a + b − (3a + b)
15 = −a, logo,
a = −15

Substituindo o valor de a em uma das duas equações, temos


5 = 2(−15) + b
b = 35

Escolhemos a primeira equação para esta substituição, mas poderı́amos es-


colher a segunda que resultado seria o mesmo. Encontrados os valores de a e
b, temos a função procurada
y = −15x + 35.
12 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Funções polinomiais de segundo grau

Uma função é dita do 2º grau quando é do tipo f (x) = ax2 + bx + c, com a 6= 0.


São exemplos de funções do segundo grau as funções f (x) = x2 − 2x + 1, com a = 1,
b = −2, c = 1, e y = −x2 , com a = −1, b = 0, c = 0.
Graficamente a função do 2º grau y = ax2 + bx + c é sempre uma parábola de
eixo de simetria vertical. Suas raı́zes são encontradas utilizando-se da Fórmula de
Bhaskara

−b ± b2 − 4ac
x=
2a

Propriedade 1 - Se a > 0, a parábola tem um ponto de mı́nimo.

Propriedade 2 - Se a > 0, a parábola tem um ponto de máximo.

Propriedade 3 - O vértice da parábola é o ponto V (xv , yv ) onde


b
xv = −
2a
D
yv = − , onde D = b2 − 4ac.
4a
Propriedade 4 - A parábola intercepta o eixo dos x nos pontos de abscissas x0 e
x00 , que são as raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0.

Observação I - A parábola pode não interceptar o eixo dos x. Nesse caso, a


parábola não terá raı́zes para y = 0.

Propriedade 5 - A parábola intercepta o eixo dos y no ponto (0, c).


D
Propriedade 6 - ymax = − , (a < 0)
4a
D
Propriedade 7 - ymin = − , (a > 0)
4a
Propriedade 8 - Forma fatorada: sejam x1 e x2 as raı́zes de f (x) = ax2 +bx+c, então
ela pode ser escrita na forma fatorada da seguinte forma y = a(x−x1 )(x−x2 ).

Exemplo 6 - Esboce o gráfico da função f (x) = x2 − x − 2.


1.4. TIPOS ESPECIAIS DE FUNÇÕES 13

Vamos primeiro calcular as raı́zes usando Bhaskara. Os coeficientes são:


a = 1, b = −1 e c = −2. Colocando na fórmula de Bhaskara, temos

(−1)2 − 4· 1· (−2) 1± 1+8
p
−(−1) ±
x= =
2· 1 2
 1 + 3
1±3 x =
0
=2
2

x= 1 − 3
2  x00 = = −1
2
As duas raı́zes são 2 e –1, então já sabemos os pontos por onde a parábola
corta o eixo x. No gráfico, fica

Agora fazemos o estudo dos coeficientes. Vamos primeiro olhar para o c. Ele
vale –2, então o gráfico da parábola com certeza corta o eixo y no ponto –2.
Vamos marcá-lo

Pelo coeficiente a sabemos que ela tem a concavidade para cima, e pelo b
sabemos que logo após o ponto de corte com y ela tem que descer. Traçando
o esboço, temos o seguinte
14 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Curiosidade - Como chegar na Fórmula de Bhaskara

A ideia é completar o trinômio ax2 + bx + c de modo à fatorá-lo num quadrado


perfeito. Assim, inicialmente multiplicamos a igualdade por 4a e em seguida
somamos b2 aos dois lados da igualdade

ax2 + bx + c = 0

4a2 x2 + 4abx + 4ac = 0

4a2 x2 + 4abx + 4ac + b2 = b2

4a2 x2 + 4abx + b2 = b2 − 4ac

(2ax + b)2 = b2 − 4ac



2ax + b = ± b2 − 4ac

2ax = −b ± b2 − 4ac

−b ± b2 − 4ac
x=
2a

1.4.3 Função módulo


O conceito de módulo de um número real está associado à ideia de distância de um
ponto da reta à origem. Como existe uma correspondência biunı́voca entre os
pontos da reta e os números reais, pensar na distância de um ponto à origem ou
pensar no módulo de um número é exatamente a mesma coisa.
Assim, |5| = | − 5| = 5, pois o número 5 está a uma distância de 5 unidades da
origem, e −5 também está a 5 unidades da origem. De modo geral podemos dizer
1.4. TIPOS ESPECIAIS DE FUNÇÕES 15

que
se a > 0, |a| = a
se a < 0, |a| = −a
se a = 0, |a| = 0

Definimos então uma função que, a cada número real x associa o módulo de x,
ou seja, a distância de x à origem. Temos assim
(
x se x > 0
f (x)
−x se x < 0

O gráfico dessa função tem o seguinte aspecto

Pois, para os valores positivos ou zero da variável independente x, o valor da


variável dependente y é o mesmo que x, pois |x| = x; para valores negativos de
x o valor de y é −x, pois |x| = −x. Dessa forma, o gráfico é constituı́do de duas
semi-retas de mesma origem. Outra maneira interessante de olhar para o gráfico de
y = |x| é considerar que ele coincide com a reta y = x para valores de x positivos
ou zero, enquanto que para valores negativos de x tomamos a semi-reta “rebatida”,
pois, nesse caso, |x| = −x. Esta semi-reta “rebatida”, evidentemente, é simétrica
da original em relação ao eixo horizontal.
16 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Essa última consideração nos permite rapidamente entender como será o gráfico
de y = |f (x)| para uma dada função f conhecida. De fato
(
f (x) se f (x) > 0
|f (x)| = .
−f (x) se f (x) < 0
Portanto, seu gráfico está sujeito às seguintes caracterı́sticas

a) Coincide com o gráfico de f para todos os valores da variável independente x


nos quais a variável dependente é positiva ou zero.

b) É o desenho da função “rebatido”, ou seja, simétrico com relação ao eixo hor-


izontal do gráfico de f para todos os valores da variável independente x nos
quais a variável dependente é negativa.

Dada uma função f , podemos pensar na função g(x) = f (|x|). De fato, pela
definição da função valor absoluto de um número real, a função g pode ser en-
tendida como sendo
(
f (x) se x > 0
f (x) =
f (−x) se x < 0
1.4. TIPOS ESPECIAIS DE FUNÇÕES 17

Observemos que para a construção desse novo gráfico só são considerados os valores
de f em que a variável x é não negativa. Isto é, para x assumindo valores positivos
ou zero, a função g coincide com a função f , e para x assumindo valores negativos,
a função g é igual à função f calculada no oposto de x. Assim

A parte do gráfico de f em que x é negativo é irrelevante para a construção do


gráfico de g, ou seja, o gráfico de g apresenta simetria em relação ao eixo vertical.

1.4.4 Função Racional

Uma função racional é da forma

p(x)
f (x) =
q(x)

onde p e q são polinômios.


O domı́nio de uma função racional é o conjunto de todos os números reais, com
exceção daqueles que anulam o denominador (as raı́zes de q).
O gráfico de uma função racional tem assı́ntotas verticais nestes pontos em que o
denominador se anula, quando isso ocorre. Também pode ter assı́ntotas horizontais,
que ocorrem se f (x) se aproxima de um valor finito quando x → ±∞.
O comportamento de uma função quando x → ±∞ é chamado limite no infinito.
“Assı́ntotas” são retas das quais o gráfico aproxima-se cada vez mais, sem nunca
tocá-las.

Consideremos a função racional f , definida por

x2 − 4
f (x) =
x2 − 1

O gráfico dessa função fica


18 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
4 3 2 1 0 1 2 3 4

Nota-se que o valor x = 1 e x = −1 não estão contidos no domı́nio da função.

1.4.5 Função Periódica

A função f : A → R será considerada periódica se houver p ∈ R∗ tal que f (x + p) =


f (x) para todo x em A.
Se f (x + p) = f (x) para todo x em A, temos

f (x) = f (x + p) = f (x + 2p) = . . . = f (x + kp) x ∈ A e k ∈ Z∗ .

Se f : A → R for considerada uma função periódica, o menor valor positivo de p


será denominado perı́odo de f , o qual indicamos por P (f ).
1.4. TIPOS ESPECIAIS DE FUNÇÕES 19

1.4.6 Função limitada

A função f : A → R será considerada limitada superiormente se houver b ∈ R tal


que f (x) 6 b, para todo x em A.

A função f : A → R será considerada limitada inferiormente se houver a ∈ R


tal que f (x) > a, para todo x em A.

A função f : A → R será considerada limitada, se f for limitada inferior e


superiormente, isto é, ∀ x ∈ A, f : A → R é limitada se, e somente se, existe
a, b ∈ R onde a 6 f (x) 6 b.

A função f : A → R será considerada limitada no gráfico cartesiano se ele estiver


inteiramente dentro de uma faixa horizontal.
20 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

1.4.7 Exercı́cios Propostos

5. (UNIFOR) A função f , do 1º grau, é definida por f (x) = 3x + k. O valor de


k para que o gráfico de f corte o eixo das ordenadas no ponto de ordenada 5 é:

a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5

6. (EDSON QUEIROZ - CE) O gráfico abaixo representa a função de R em R


dada por f (x) = ax + b (a, b ∈ R). De acordo com o gráfico conclui-se que:
1.4. TIPOS ESPECIAIS DE FUNÇÕES 21

a) a < 0 e b > 0
b) a < 0 e b < 0
c) a > 0 e b > 0
d) a > 0 e b < 0
e) a > 0 e b = 0
5 7
7. Calcule a raiz da função y = x− .
3 8
8. (UNIFORM) O gráfico da função f , de R em R, definida por f (x) = x2 + 3x −
10, intercepta o eixo das abscissas nos pontos A e B. A distância AB é igual a:

a) 3 b) 5 c) 7 d) 8 e) 9

9. (CEFET - BA) O gráfico da função y = ax2 + bx + c tem uma só intersecção


com o eixo Ox e corta o eixo Oy em (0, 1). Então, os valores de a e b obedecem
à relação:

a) b2 = 4a
b) −b2 = 4a
c) b = 2a
d) a2 = −4a
e) a2 = 4b

10. (ULBRA) Assinale a equação que representa uma parábola voltada para
baixo, tangente ao eixo das abscissas:

a) y = x2
b) y = x2 − 4x + 4
c) y = −x2 + 4x − 4
d) y = −x2 + 5x − 6
e) y = x − 3
22 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

11. (UEL) A função real f , de variável real, dada por f (x) = −x2 + 12x + 20, tem
um valor:

a) mı́nimo, igual a −16, para x = 6.


b) mı́nimo, igual a 16, para x = −12.
c) máximo, igual a 56, para x = 6.
d) máximo, igual a 72, para x = 12.
e) máximo, igual a 240, para x = 20.

12. (PUC - MG) O lucro de uma loja, pela venda diária de x peças, é dado por
L(x) = 100(10 − x)(x − 4). O lucro máximo, por dia, é obtido com a venda
de:

a) 7 peças
b) 10 peças
c) 14 peças
d) 50 peças
e) 100 peças

13. (UE - FEIRA DE SANTANA) Considerando-se a função real f (x) = −2x2 +


4x + 12, o valor máximo desta função é:

a) 1
b) 3
c) 4
d) 12
e) 14

14. (ACAFE) Seja a função f (x) = −x2 − 2x + 3 de domı́nio [−2, 2]. O conjunto
imagem é:

a) [0, 3]
b) [−5, 4]
c) ] − 3, 4]
d) [−3, 1]
e) [−5, 3]

15. Dada a função |x–2| = 3, ache os valores possı́veis para x.

16. Dada a função |x2 –3| = 13, ache os valores possı́veis para x.

17. Dada a função |x + 3| = 2x − 5, ache os valores possı́veis para x.


1.5. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 23

1.5 Operações com funções


Podemos somar, subtrair, multiplicar e dividir os números reais de forma a en-
contrar novos números reais. Analogamente, também podemos fazer estas operações
com funções de forma a encontrar novas funções. Estas operações serão definidas a
seguir.

1.5.1 Operações entre funções e números reais


Aplicando certas operações entre uma função e um número real podemos en-
contrar novas funções cujos gráficos estão relacionados entre si por deslocamentos,
expansão ou reflexão. Isto nos capacita a fazer facilmente o esboço de muitos gráficos
de funções.

a) Translações - Consideremos inicialmente, as translações, que são deslocamentos


do gráfico de uma função em k unidades (para cima, para baixo, para a direita
ou para a esquerda).
Seja f (x) uma função e k um número real positivo (k > 0). Podemos produzir
uma nova função g(x) pela soma de f (x) com k, onde g(x) = f (x) + k. O
gráfico de g(x) será igual ao gráfico de f (x) deslocado para cima em k unidades
(uma vez que cada coordenada f (x) fica acrescida pelo mesmo número k). Ou
seja, g(x) é uma translação vertical de f (x) em k unidades para cima. Da
mesma forma, se fizermos h(x) = f (x − k), então o valor de h em x é igual
ao valor de f em x − k. Portanto, o gráfico de h(x) = f (x − k) será igual
ao gráfico de f (x) deslocado em k unidades para a direita (uma translação
horizontal).
As diferentes translações (horizontais e verticais) estão resumidas e exempli-
ficadas na Figura 1.2.

Translações horizontais e verticais: Seja f (x) uma função e k um


número real positivo (k > 0)
Translação Vertical:
g(x) = f (x) + k, desloca o gráfico de y = f (x) em k unidades para cima.
g(x) = f (x) − k, desloca o gráfico de y = f (x) em k unidades para baixo.
Translação Horizontal:
g(x) = f (x + k), desloca o gráfico de y = f (x) em k unidades para a
esquerda.
g(x) = f (x−k), desloca o gráfico de y = f (x) em k unidades para a direita.

Exemplo 7 - Dado y = x, use o gráfico desta função e as transformações para obter


os gráficos de y1 = x + 2 e y2 = x − 2.
Sabendo que o gráfico da função y = x é uma reta com inclinação de 45°
com o eixo x. Desenhando todos os gráficos no mesmo sistema de coorde-
24 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.2: Exemplificações de novas funções g(x) obtidas por translações horizontais e
verticais do gráfico de f (x).

nadas, basta observarmos que y1 = y + 2, ou seja, o gráfico de y1 é igual ao


gráfico de y deslocado em 2 unidades para cima. Analogamente, observa-se
que y2 = y − 2, ou seja, o gráfico de y2 é igual ao gráfico de y deslocado em 2
unidades para baixo. Estes gráficos estão representados na Figura 1.3.

Exemplo 8 - Dado y = x2 , use o gráfico desta função e as transformações para


obter os gráficos de y1 = (x − 5)2 e y2 = (x + 5)2 .
Sabendo que o gráfico da função y = x2 é uma parábola com concavidade
para cima, e que os gráficos de y1 e y2 tratam de deslocamentos horizontais,
desenhando todos os gráficos no mesmo sistema de coordenadas, observarmos
que o gráfico de y1 será deslocado em 5 unidades para direita. Analogamente,
observa-se que y2 será o gráfico de y deslocado em 5 unidades para a esquerda.
Estes gráficos estão representados na Figura 1.4.

b) Expansões e Compressões - Seja f (x) uma função e k um número real positivo


1.5. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 25

Figura 1.3: Exemplo de translação vertical: Gráficos de y, y1 e y2 .

(k > 0). Podemos produzir uma nova função g(x) pela multiplicação de f (x)
por k, onde g(x) = k· f (x). O gráfico de g(x) será igual ao gráfico de f (x)
expandido por um fator k na direção vertical (pois cada coordenada de f (x)
fica multiplicada pelo mesmo número k). Podemos também produzir uma
nova função h(x) da seguinte forma: h(x) = f (x.k). Neste caso, o gráfico de
h(x) será igual ao gráfico de f (x) comprimido horizontalmente por um fator
k, pois o valor de h em x será igual ao valor de f em x.k.

As diferentes expansões e compressões estão resumidas a seguir.

Expansões e Compressões horizontais e verticais: Seja f (x) uma


função e k um número real positivo (k > 0)
Expansão:
g(x) = k.f (x), expande verticalmente o gráfico de y = f (x) por um fator
k.
g(x) = f ( xk ), expande horizontalmente o gráfico de y = f (x) por um fator
k.
Compressão:
g(x) = ( k1 ).f (x), comprime verticalmente o gráfico de y = f (x) por um
fator k.
g(x) = f (k.x), comprime horizontalmente o gráfico de y = f (x) por um
fator k.
26 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.4: Exemplo de translação horizontal: Gráficos de y, y1 e y2 .

Exemplo 9 - Dada a função cosseno (y = cos x). A Figura 1.5 ilustra as trans-
formações de expansão e compressão aplicadas a esta função com k = 2. Por
exemplo, para obter o gráfico de y = 2. cos x, multiplicamos todas as coorde-
nadas y do gráfico de cos x por 2. Isso significa que o gráfico de y = 2. cos x é
igual ao gráfico de y = cos x expandido verticalmente por um fator 2.

c) Reflexões - Seja f (x) uma função. O gráfico de g(x) = −f (x) é o gráfico de f (x)
refletido em torno do eixo x, pois o ponto (x, y) será substituı́do pelo ponto
(x, −y). De forma análoga o gráfico de h(x) = f (−x) será igual ao gráfico
de f (x) refletido em torno do eixo y. Estas regras estão resumidas abaixo e
exemplificadas na Figura 1.6.

Reflexões: Seja f (x) uma função.


g(x) = −f (x), reflete o gráfico de y = f (x) em torno do eixo x.
g(x) = f (−x), reflete o gráfico de y = f (x) em torno do eixo y.

1.5.2 Operações entre funções


Além das operações entre funções e números reais, também podemos fazer
operações entre duas funções de maneira a formar novas funções. Assim, dado duas
1.5. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 27

Figura 1.5: Exemplificações de expansões e compressões do gráfico de y = cos x.

funções, f (x) e g(x), podemos combiná-las para formar novas funções através da
soma, subtração, multiplicação, divisão e composição destas funções (f + g, f − g,
f.g, f /g, f ◦ g). Estas novas funções serão definidas a seguir.

a) Soma e Diferença - Dadas as funções f e g, sua soma (f + g) e diferença (f − g)


são assim definidas:

i) soma (f + g)(x) = f (x) + g(x)


ii) diferença (f − g)(x) = f (x) − g(x)

o domı́nio das novas funções f + g e f − g é a intersecção dos domı́nios de f


e g. Ou seja, se o domı́nio de f é A e o domı́nio de g é B, então o domı́nio
de (f + g) é a intersecção A ∩ B, pois tanto f (x) quanto g(x) devem estar
definidas.

b) Produto (multiplicação) - Dadas as funções f e g, seu produto é assim definido:


(f.g)(x) = f (x).g(x).
O domı́nio de f.g é a intersecção dos domı́nios de f e g (A ∩ B).

c) Quociente (divisão) - Dadas as funções f e g, seu quociente é assim definido:


f f (x)
(x) = .
g g(x)
O domı́nio de f /g é a intersecção dos domı́nios de f e g, excluindo-se os pontos
onde g(x) = 0, pois não podemos fazer a divisão por zero. Assim o domı́nio
de f /g é {x ∈ A ∩ B | g(x) 6= 0}.
28 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.6: Reflexões do gráfico de f (x).

√ √
Exemplo 10 - Sejam f (x) = 4−xe x − 2. As funções soma, diferença, produto
e quociente de f com g são:
√ √
(f + g)(x) = 4 − x + x − 2

√ √
(f − g)(x) = 4−x− x−2

√ √
(f.g)(x) = 4 − x· x − 2 = (4 − x)(x − 2)
p


4−x 4−x
r
(f /g)(x) = √ = .
x−2 x−2

Como o domı́nio de f é D(f ) = (−∞, 4] e o domı́nio de g é D(g) = [2, +∞),


então o domı́nio de f + g, f − g e f.g é intersecção dos domı́nios de f e g, ou
seja, é [2, 4]. O domı́nio de f /g é (2, 4], onde o ponto 2 foi excluı́do porque
g(x) = 0 quando x = 2.

d) Composição - Além das operações básicas (soma, subtração, multiplicação e di-


visão), existe ainda uma outra maneira de combinar duas funções para obter
uma nova função, a composição de funções. Dadas duas funções f e g, a
função composta de g com f , denotada por g ◦ f (“ g bola f ”), é definida por:
1.5. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 29

(g ◦ f )(x) = g(f (x))

O domı́nio de g ◦ f é o conjunto de todos os pontos x no domı́nio de f


tais que f (x) está no domı́nio de g. Simbolicamente temos D(g ◦ f ) = {x ∈
D(f )/f (x) ∈ D(g)}.
Podemos também representar a função composta pelo diagrama abaixo (Figura
1.7).

Figura 1.7: Diagrama representando a operação de composição de funções. (Imagem


retirada de função composta. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
[Consult. 2011-07-11]).

Exemplo 11 - Sejam f (x) = x2 e g(x) = x − 1, encontre as funções compostas f ◦ g


e g ◦ f.

Temos,

(f ◦ g)(x) = f (g(x)) = [g(x)]2 = (x − 1)2

(g ◦ f )(x) = g(f (x)) = f (x) − 1 = x2 − 1

Observação: Note que no exemplo acima f ◦ g 6= g ◦ f . Isto acontece em geral,


ou seja, a composição de funções não é comutativa.

Exemplo 12 - Sejam f (x) = 2x − 5 e g(x) = x. Encontre cada uma das funções
abaixo e seus respectivos domı́nios.

a) f ◦ g b) g ◦ f c) f ◦ f d) g ◦ g

Primeiro precisamos conhecer os domı́nios de f e g. O domı́nio de f é D(f ) =


(−∞, +∞) e o domı́nio de g é D(g) = [0, +∞).
30 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES


a) (f ◦ g)(x) = f (g(x)) = 2· g(x) − 5 = 2 x − 5

O domı́nio de f ◦ g é o conjunto de todos os valores de x no domı́nio


de g tal que g(x) esteja no domı́nio de f , ou seja

D(f ◦ g) = {x ∈ D(g) = [0, +∞)/g(x) ∈ D(f ) = (−∞, +∞)} = [0, +∞).



b) (g ◦ f )(x) = g(f (x)) = f (x) = 2x − 5
p

D(g ◦ f ) = {x ∈ D(f ) = (−∞, +∞)/f (x) ∈ D(g) = [0, +∞)} =


[5/2, +∞)

Pois, f (x) = 2x − 5 deve estar dentro do domı́nio de g, ou seja, f (x) =


5
2x − 5 > 0, o que significa que 2x > 5, então x > .
2
c) (f ◦ f )(x) = f (f (x)) = 2· f (x) − 5 = 2(2x − 5) − 5 = 4x − 10 − 5 = 4x − 15

D(f ◦ f ) = (−∞, +∞).


p√ √
d) (g ◦ g)(x) = g(g(x)) = g(x) = x= 4x
p

D(g ◦ g) = [0, +∞).

1.5.3 Exercı́cios Propostos


18. Suponha que seja dado o gráfico de y = f (x). Escreva as equações para as
novas funções g(x), cujos gráficos sejam obtidos a partir do gráfico de f (x),
da seguinte forma:

a) deslocamento de 3 unidades para cima;


b) deslocamento de 5 unidades para baixo;
c) reflexão em torno do eixo y;
d) deslocamento de 4 unidades para a esquerda;
e) expansão vertical por um fator de 2;
f) reflexão em torno do eixo x;
g) compressão vertical por um fator de 6.

19. Explique como obter, a partir do gráfico de y = f (x), os gráficos a seguir.

a) y = 6f (x) b) y = −f (x)

c) y = −6f (x) d) y = 6f (x) − 2

20. Trace o gráfico de f para os 3 valores de c em um mesmo sistema de coorde-


nadas (utilize translações, reflexões e expansões).
1.6. TIPOS DE FUNÇÕES 31

a) f (x) = 3x + c com c = 0; c = 2 e c = −1
b) f (x) = 3(x − c) com c = 0, c = 2 e c = −1

21. Esboce o gráfico da função f (x) = x2 + 6x + 10. (Dica: tente completar


o quadrado e escrever esta função através de operações da função x2 com
números reais adequados).

22. Dado f (x) = x3 + 2x2 e g(x) = 3x2 − 1.Encontre f + g, f − g, f.g e f /g e


defina seus domı́nios.
√ 1
23. Dado f (x) = x − 1 e g(x) = . Encontre f.g e f /g e defina seus domı́nios.
x
√ √
24. Sejam f (x) = x e g(x) = 2 − x. Encontre cada uma das funções abaixo e
seus respectivos domı́nios.

a) f ◦ g b) g ◦ f c) f ◦ f d) g ◦ g

25. É possı́vel fazer a composição de três ou mais funções. Por exemplo a função
composta f ◦ g ◦ h pode ser encontrada calculando-se primeiro h, então g e
depois f , como a seguir: ( f ◦ g ◦ h)(x) = f (g(h(x))). Sabendo disso, encontre
x
f ◦ g ◦ h dado f (x) = , g(x) = x10 e h(x) = x + 3.
x+1
26. Até agora usamos a composição para construir novas funções mais complicadas
a partir de funções mais simples. Em cálculo, frequentemente é útil decompor
uma função mais complicada em outra mais simples. Sabendo que f = g ◦ h,
decomponha f e encontre a função h, dado

a) f (x) = x2 + 1, g(x) = x + 1
b) f (x) = 3x + 1, g(x) = x + 1

27. Sabendo que f = g ◦ h, decomponha f e encontre a função g sabendo que



f (x) = x + 2 e h(x) = x + 2.

1.6 Tipos de funções


1.6.1 Função sobrejetora
É aquela cujo conjunto imagem é igual ao contradomı́nio.
32 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

1.6.2 Função injetora


Uma função y = f (x) é injetora quando elementos distintos do seu domı́nio possuem
imagens distintas, isto é, x1 6= x2 ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 ).

1.6.3 Função bijetora


Uma função é dita bijetora, quando é ao mesmo tempo, injetora e sobrejetora.

Exemplo 13 - Considere três funções f , g e h, tais que:


A função f atribui a cada pessoa do mundo, a sua idade.
A função g atribui a cada paı́s, a sua capital.
A função h atribui a cada número natural, o seu dobro.
Podemos afirmar que, das funções dadas, são injetoras:

a) f , g e h
b) f e h
c) g e h
d) apenas h
e) nenhuma delas.

Sabemos que numa função injetora, elementos distintos do domı́nio, possuem


imagens distintas, ou seja,

x1 6= x2 ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 ).

Logo, podemos concluir que:


f não é injetora, pois duas pessoas distintas podem ter a mesma idade. g
é injetora, pois não existem dois paı́ses distintos com a mesma capital. h é
1.7. FUNÇÃO INVERSA 33

injetora, pois dois números naturais distintos possuem os seus dobros também
distintos. Assim é que concluı́mos que a alternativa correta é a de letra c).

1.7 Função inversa


Suponha que um cientista esteja analisando a produção de mel de uma colmeia.
Ele coleta dados desta produção com o tempo, registrando a produção de mel, em
litros, a cada intervalo de 1 hora. A Tabela 1.1 fornece alguns dos dados desta
experiência. A produção de mel P é uma função do tempo t: P = f (t).

Tabela 1.1: Produção de mel como função do tempo.

t (h) P (l)
0 10
1 12
2 16
3 22
4 30
5 42

Suponha agora, que outro cientista analisando a mesma colmeia, queira analisar
o tempo necessário para que a produção de mel atinja certos nı́veis em litros. Ou
seja, este outro cientista está pensando em t como uma função de P (olhando a
Tabela 1.1 ao contrário). Essa função, chamada função inversa de f , é denotada
por f −1 , e deve ser lida assim: “inversa de f ”. Logo, o tempo t é uma função do
volume de mel P : t = f −1 (P ).
A função inversa é uma função em que trocamos as variáveis dependentes com as
variáveis independentes da função. No entanto, nem todas as funções admitem in-
versa, ou seja, existem restrições para a existência da função inversa. Para entender
estas restrições, temos que pensar sobre o que é a função inversa e das definições da
função sobrejetora, injetora e bijetora. Se f (x) = y, isto significa que f transforma
x em y, então a sua inversa, f −1 transforma y de volta em x. Ou seja, a relação
entre o domı́nio e a imagem da função f é invertida para a função f −1 .

domı́nio de f −1 = imagem de f
imagem de f −1 = domı́nio de f

Esta relação só pode ser invertida se a função for bijetora, pois neste caso seu
contradomı́nio é igual ao seu conjunto imagem (sobrejetora), permitindo a troca
entre o domı́nio e a imagem; e elementos distintos do seu domı́nio possuem imagens
distintas (injetora), permitindo que f −1 seja definida de forma única.
Graficamente, podemos determinar se uma função é injetora e, portanto, se
poderá admitir inversa, caso também seja sobrejetora, através do teste da reta
34 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

horizontal. Passando uma reta paralela ao eixo dos x, esta deve cortar o gráfico
da função em apenas um ponto para que a função seja injetora, pois, se uma reta
horizontal intercepta o gráfico de f em mais de um ponto, então, isto significa que,
existem números x1 e x2 tais que f (x1 ) = f (x2 ). Ou seja, neste caso f não é uma
função injetora (Figura 1.8).

Figura 1.8: Exemplificação do teste da reta horizontal para uma função f não injetora,
pois a reta intercepta mais de um ponto do gráfico de f . (Imagem retirada da referência:
Stewart, J., Cálculo, vol.1, 6ª edição, Cengage Learning, 2010.)

Na Figura 1.9, temos um diagrama de flechas, onde pode-se observar que a


função f admite inversa pois é bijetora, enquanto a função g não admite inversa
(mais de um elemento distinto do seu domı́nio (3 e 2) possui a mesma imagem (4)).

Figura 1.9: Diagrama de flechas das funções f (bijetora) e g (não bijetora). (Imagem
retirada da referência: Stewart, J., Cálculo, vol.1, 6ª edição, Cengage Learning, 2010.)

Agora que sabemos o que são funções inversas, vamos ver agora como calcular
estas funções. Se tivermos uma função y = f (x) (f é bijetora) e formos capazes de
1.7. FUNÇÃO INVERSA 35

isolar x nessa equação escrevendo-o em função de y, então encontramos x = f −1 (y).


Se quisermos voltar a chamar a variável independente de x, devemos trocar x por
y na expressão encontrada e chegamos à equação y = f −1 (x).
Para fazermos o gráfico da função inversa basta traçarmos a reta y = x e obser-
varmos a simetria. O gráfico de f −1 é obtido refletindo o gráfico de f em torno da
reta y = x, como ilustrado na Figura 1.10.

Figura 1.10: Exemplificação da simetria em torno da reta y = x dos gráficos de f e


f −1 . (Imagem retirada da referência: Stewart, J., Cálculo, vol.1, 6ª edição, Cengage
Learning, 2010.)

Exemplo 14 - Encontre a função inversa de f (x) = x3 + 5.

(1º passo) escrevemos y = f (x)

y = x3 + 5;

(2º passo) isolamos x na equação, escrevendo-o em termos de y

x3 = y − 5 =⇒ x = (y − 5)1/3 ;

(3º passo) para expressar f −1 como uma função de x, trocamos x por y.


A equação resultante é y = f −1 (x) (função inversa de f ).

f −1 (x) = (x − 5)1/3 .

Exemplo 15 - Encontre a função inversa de f (x) = 3x + 2

(1º passo) y = 3x + 2;

y−2
(2º passo) x = ;
3
x−2
(3º passo) f −1 (x) = .
3
36 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

1.7.1 Exercı́cios Propostos


28. a) O que é uma função bijetora? b) A partir do gráfico, como dizer se uma
função é injetora?

29. Se f for uma função injetora tal que f (2) = 9, quanto é f −1 (9)?

30. Verifique se a função f admite inversa (dica: verifique se a função é bijetora).

x 1 2 3 4 5 6
a)
f (x) 1,5 2,0 3,6 5,3 2,8 2,0

x 1 2 3 4 5 6
b)
f (x) 1 2 4 8 16 32
1
c) f (x) = (x + 5)
2
d) g(x) = |x|

31. Dado f (x) = 10 − 3x. Encontre a fórmula para a função inversa f −1 (x).
4x − 1
32. Dado f (x) = . Encontre a fórmula para a função inversa f −1 (x).
2x + 3
33. Dado as funções abaixo encontre as fórmulas das funções inversas.

a) 2x + 3

b) 4x
r
x
c) +1
2

1.8 Funções exponenciais e logarı́tmicas


Veremos agora outros dois tipos de funções que fazem parte da nossa vida diária.
Estamos falando da função exponencial e da função logarı́tmica.

1.8.1 Função Exponencial


A função exponencial ocorre frequentemente em modelos matemáticos que des-
crevem processos da natureza e da sociedade. Esta é utilizada na descrição do
crescimento populacional, e também no fenômeno de decaimento radioativo.

Potenciação

Se a é um número real e n é inteiro e positivo, a expressão an representa o produto


de n fatores iguais a a, ou seja:

an = a × a × a . . . × a , (1.1)
| {z }
n

nessa expressão a é denominado base e n o expoente.


1.8. FUNÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS 37

Sendo n um número inteiro e positivo define-se:

 n
1 1
−n
a = = n. (1.2)
a a

Sendo a um número real positivo, e m e n número inteiros e positivos, define-se:


an/m = m
an (1.3)

Propriedades - Regras básicas da potenciação

1. ax+y = ax ay
ax
2. ax−y =
ay
3. (ax )y = axy

4. (ab)x = ax bx

Função Exponencial

A função f : R → R é dada por f (x) = ax com a 6= 1 e a > 0 é denominada


função exponencial de base a e definida para todo x ∈ R. São exemplos de funções
exponenciais
 x
1
f (x) = 2x , f (x) = , f (x) = 3x .
3

O número e
Dentre todas as bases possı́veis para a função exponencial, existe uma que é
mais conveniente para aplicação em cálculo. Na escolha de uma base a pesa muito
a forma como a função y = ax cruza o eixo y. Portanto devemos analisar a inclinação
da reta tangente neste ponto. A reta tangente a uma curva é aquela intercepta a
curva em um único ponto. Quando escolhemos a base e, a inclinação desta reta é
exatamente 1. O valor correto de e até a quinta casa decimal.

e = 2, 71828 (1.4)

Gráfico

O comportamento da função exponencial é caraterizado pela sua base. A função


é decrescente quando a base está entre (0, 1) e crescente quando esta é maior do que a
unidade. Na Figura (1.11) apresentamos o gráfico de algumas funções exponenciais.
Note que todas as curvas se interceptam no par ordenado (0, 1), não importando
qual seja a base.
38 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.11: Função exponencial.

1.8.2 Exercı́cios Propostos


Resolva os seguintes exercı́cios.

34. Esboce o gráfico da função y = 3 − 2x e determine seu domı́nio e imagem.

35. Esboce o gráfico da função y = 21 e−x − 1 e estabeleça o seu domı́nio e imagem.

36. Sob condições ideais sabe-se que uma certa população de bactérias dobra a
cada 3 horas. Supondo que inicialmente existam 100 bactérias. Encontre (a)
a população após 15 horas, (b) a população após t horas. (c) A população
após 20 horas.

37. Um isótopo de sódio 24


Na, tem uma vida média de 15 horas. Uma mostra
desse isótopo tem massa 2g. Encontre (a) a quantidade remanescente após 60
horas. (b) A quantidade remanescente após t horas. (c) Estime a quantidade
remanescente após 4 dias.

1.8.3 Função Logarı́tmica


A função inversa da função exponencial é a função logarı́tmica. A função é
definida como
f (x) = loga x, a > 0, a 6= 1 (1.5)

A função logaritmo é definida pra x ∈ (0, ∞) e tem imagem Im(f ) = R. Quando


a base do logaritmo é e, chamamos logaritmo natural.

loge x = ln x (1.6)

Propriedades - As funções logarı́tmicas tem as seguintes propriedades

1. loga (b· c) = loga b + loga c


1.8. FUNÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS 39
 
b
2. loga = loga b − loga c
c
3. loga (bn ) = n loga b

Na Figura (1.12) apresentamos o gráfico da função logarı́tmica na base e (gráfico


de ln x).

Figura 1.12: Função logarı́tmica de base e.

Exemplo 14 - Vamos encontrar o valor do logarı́tmo de base 10 de 100 (log10 100,


que por convensão também é escrito da forma log 100).
Podemos escrever log 100 = y. Das operações com logarı́tmo temos
100 = 10y
102 = 10y , donde encontramos que
y = 2, ou seja,
log 100 = 2.

1.8.4 Exercı́cios Propostos


Resolva os seguintes exercı́cios.

38. Resolva a equação e5−3x = 10.

39. Calcule log8 5.

40. Esboce o gráfico da função y = ln(x − 2) − 1.

41. Se a população de bactérias em um experimento começa com 100 e dobra a


cada três horas. (a) Encontre o número de bactérias após t horas. (b) Encontre
a função inversa e explique o seu significado. (c) Quando a população atingirá
50 000 bactérias?
40 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.13: Representação de um arco de circunferência.

1.9 Funções trigonométricas


O estudo dos ângulos e as relações angulares em figuras planas ou tridimensionais
é conhecida como trigonometria. As funções trigonométricas são mais fáceis de
serem definidas utilizando um cı́rculo unitário, como mostra a Figura (1.14). Porém,
antes de começarmos o estudo das relações trigonométricas, precisamos entender o
significado de graus e sua relação com radianos.

Relação entre graus e radianos

Podemos entender por grau ou radiano como sendo a unidade de medida polar
de um arco de circunferência, ou seja, é a unidade do ângulo existente entre dois
eixos que definem um arco de circunferência. A Figura 1.13 mostra a representação
de um arco de circunferência, onde R é o raio da circunferência, L é o arco e θ é o
angulo entre os dois eixos.
Escrevemos a medida do ângulo θ em graus (°) ou radianos (rad). Quando damos
uma volta completa na circunferência, andamos 360°. Assim, 1
4 da circunferência
equivale a 90° ou um ângulo reto.
Equivalente a medida em graus, podemos escrever medidas de ângulos em radi-
anos. A relação entre graus e radianos pode ser dada por

π rad = 180°

que equivale ao ângulo de metade de uma circunferência. Dessa relação, temos


também que uma volta completa 360° = 2π rad.

Relações trigonométricas

Com a relação acima em mente, podemos definir agora as relações trigonométricas.


1.9. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 41

Figura 1.14: Cı́rculo de raio unitário.

Definição - Seja θ o ângulo medido no sentido anti-horário a partir do eixo x, ao


longo do cı́rculo. Então o cos θ é coordenada horizontal do fim do arco de
cı́rculo e sua componente vertical o senθ. A razão entre senθ e cos θ é definido
como tan θ. As definições no cı́rculo implicam que as funções trigonométricas
são periódicas com perı́odo 2π.

Um triângulo retângulo tem três lados, os quais são identificados como hipotenusa,
cateto adjacente a um dado ângulo θ e cateto oposto ao ângulo. Quando a hipotenusa
é igual a um, como mostrado na Figura (1.14), senθ e cos θ são iguais aos lados
oposto e adjacente respectivamente. Portanto, do teorema de Pitágoras podemos
tirar a identidade trigonométrica fundamental

1 = sen2 θ + cos2 θ . (1.7)

1.9.1 Funções Trigonométricas


A definição das funções trigonométricas através do cı́rculo de raio unitário fornece
uma interpretação geométrica para cada uma das funções trigonométricas. Entre-
tanto podemos também fazer a definição algébrica destas funções. Além disso, ver-
emos que para cada função trigonométrica existe uma correspondente que é igual a
1 sobre a função.

Função seno e cossecante

A função seno é definida como

f (x) = senx , D(f ) = R , I(f ) = [−1, 1] . (1.8)


42 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.15: Representação gráfica da cossecante (cosseca ou csc a) como escrito no


padrão inglês) e da secante (sec a), onde θ = a).

Na Figura 1.14 podemos ver como a função sen é definida através do cı́rculo
trigonométrico. Por sua vez, definimos a função cossecante como

1
f (x) = cossecx = , D(f ) = {x ∈ R | x 6= nπ},
senx . (1.9)
com n ∈ Z , I(f ) = {R | 1 < |x|}

A definição geométrica da cossecante é dada pela distância entre y = 0 até o


ponto de intersecção entre uma reta (ponto U na Figura 1.15), que passa pelo ponto
onde uma reta que sai do centro e intersecciona a circunferência trigonométrica
fazendo um ângulo θ com a horizontal (ponto M na Figura 1.15), e o eixo y. O
ângulo entre tal reta e o eixo y é o mesmo que a reta que passa pelo centro faz com
o eixo x (ver Figura 1.15 onde θ = a).
Na Figura (1.16) mostramos o gráfico da função seno e cossecante.

Função cosseno e secante

Definimos a função cosseno para dado f (x) tal que

f (x) = cos x , D(f ) = R , I(f ) = [−1, 1] . (1.10)

A função secante é definida como

1
f (x) = sec x = , D(f ) = {x ∈ R | x 6= n π2 },
cos x (1.11)
com n ∈ Z , I(f ) = {R | 1 < |x|} .
1.9. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 43

Figura 1.16: função senx linha cheia e função cossecx linha pontilhada.

A definição geométrica da secante é dada pela distância entre x = 0 até o ponto


de intersecção entre uma reta (ponto V na Figura 1.15), que passa pelo ponto onde
outra reta que sai do centro O intersecciona a circunferência trigonométrica fazendo
um ângulo θ com a horizontal (ponto M na Figura 1.15), e o eixo x (ver Figura 1.15
onde θ = a).
Na Figura (1.17) apresentamos o gráfico das funções cosseno e secante.

Figura 1.17: Função cos x e sec x.

Função tangente e cotangente

Seguindo com as definições vamos examinar a tangente e a cotangente. Definimos


uma função f (x) tal que
44 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.18: Representação trigonométrica da tangente (esquerda) e da cotangente


(direita).

f (x) = tgx , D(f ) = {x ∈ R | x 6= π


2 + nπ} ,
(1.12)
com n ∈ Z , I(f ) = R .

A definição geométrica da tangente é dada pela reta que toca o cı́rculo trigonométrico
e é perpendicular ao eixo x. A medida da tangente é tomada por sua projeção sobre
o eixo y para cada ângulo θ. Na Figura 1.18 temos a representação de alguns valores
da tangente para valores de θ dados.
Por sua vez, a função cotangente é definida a partir de

1
f (x) = cotgx = , D(f ) = {x ∈ R | x 6= nπ} ,
tgx (1.13)
com n ∈ Z , I(f ) = R .

A definição geométrica da cotangente é dada pela reta que toca o cı́rculo trigonométrico
e é perpendicular ao eixo y, como mostrado na Figura 1.18.
A Figura 1.19 mostra o gráfico das funções tangente e cotangente para os valores
de x.

1.9.2 Funções Trigonométricas Inversas


Quando tentamos encontrar as funções inversas trigonométricas, temos uma
dificuldade. Como as funções trigonométricas não são injetivas, elas não têm funções
inversas. A dificuldade é superada restringindo-se o domı́nio dessas funções de forma
a torná-las injetoras. As funções inversas são chamadas arcsen, arccos e arctan. A
1.9. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 45

Figura 1.19: Função tgx linha cheia e função cotgx.

inversa da função seno é a função arcsen


h π πi
f (x) = arcsenx , D(f ) = [−1.1],
I(f ) = − , (1.14)
2 2
A inversa da função cosseno é definida de modo similar

f (x) = arccos x , D(f ) = [−1.1],


I(f ) = [0, π] (1.15)
A função tangente pode ser tomada no intervalo − π2 , π2 . Assim a função inversa


da tangente é definida como f (x) = arctgx. Diferentemente das funções arcsen e


arccos em que o domı́nio é definido no intervalo [−1, 1], a função arctg tem domı́nio
em todo o conjunto dos reais.

h π πi
f (x) = arctgx , D(f ) = R,
I(f ) = − , (1.16)
2 2
A Figura (1.20) mostra as três funções trigonométricas inversas.

1.9.3 Exercı́cios Propostos


Resolva os seguintes exercı́cios

42. Se cos θ = 2
5 e0<θ< 2,
π
determine as outras funções para este ângulo.

43. Determine todos os valores de x no intervalo [0, 2π] tal que senx = sen2x.

44. Esboce o gráfico das seguintes funções em um perı́odo: y = 4sen(x), y =


1 + senx, y = sen(x − 2 ),
π
y = cos(x − 2 ),
π
y = 2sen( x4 ). Determine seu
domı́nio e imagem.

45. Determine o perı́odo das funções: y = sen6x, y = sen( x3 ), y = 5sen4x, y =


4sen(2x + π6 ).
√ 
46. Calcule: arcsen( 12 ), arccos 3
e tg arcsen( 13 ) .

2
46 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

Figura 1.20: Funções trigonométricas inversas arccos x linha cheia, arcsenx linha
tracejada vermelha e arctgx linha tracejada azul.

1.10 Respostas dos exercı́cios propostos


1. D = {x ∈ R / x 6= −4}; Im{y ∈ R / y 6= 0}

2. D = {x ∈ R / x > −3}; Im{y ∈ R / y > 0}

3. D = x ∈ R / x > − 25 e x 6= 2


4. a) ı́mpar b) par c) ı́mpar d) ı́mpar e) par f) par g) sem paridade h)


par i) ı́mpar j) par k) par l) par m) par

5. e)

6. a)
21
7. x =
40
8. c)

9. a)

10. c)

11. c)

12. a)

13. e)

14. b)

15. −1 e 5

16. ±4
1.10. RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS 47

17. 8

18. a) g(x) = f (x) + 3 b) g(x) = f (x) − 5 c) g(x) = f (−x)

d) g(x) = f (x + 4) e) g(x) = 2f (x) f) g(x) = −f (x)

1
g) g(x) = f (x)
6
19. a) expansão vertical do gráfico de f (x) por um fator 6;
b) reflexão em torno do eixo x do gráfico de f (x);
c) expansão vertical do gráfico de f (x) por um fator 6 seguida de uma reflexão
em torno do eixo x;
d) deslocamento vertical em 2 unidades para baixo do gráfico de f (x) seguido
de uma expansão vertical por um fator 6.

20. a) b)

21.

22. (f + g)(x) = x3 + 5x2 − 1, D = (−∞, +∞)

(f − g)(x) = x3 − x2 + 1, D = (−∞, +∞)

(f.g)(x) = 3x5 + 6x4 − x3 − 2x2 , D = (−∞, +∞)

x3 + 2x2 1
   
f
(x) = , D = x | x 6= ± √
g 3x2 − 1 3
48 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

x−1
23. (f.g)(x) = , D = [1, +∞)
x

(f /g)(x) = x x − 1, D = [1, +∞)

24.
a) (f ◦ g)(x) = (2 − x)1/4 , D(f ◦ g) = (−∞, 2]

b) (g ◦ f )(x) = 2 − x, D(g ◦ f ) = [0, 4]
p

c) (f ◦ f )(x) = x , D(f ◦ f ) = [0, +∞)


1/4
p √
d) (g ◦ g)(x) = 2 − 2 − x, D(g ◦ g) = [−2, 2]

(x + 3)10
25. (f ◦ g ◦ h)(x) =
(x + 3)10 + 1

26. a) x2 b) 3x

27. x

28. a) Uma função f é chamada de função bijetora quando ela é injetora (nunca
assume o mesmo valor duas vezes) e sobrejetora (seu conjunto imagem é igual
ao seu contradomı́nio).
b) O gráfico deve satisfazer ao teste da reta horizontal, ou seja, qualquer reta
horizontal deve interceptar o gráfico da função no máximo em um ponto desta.

29. 2

30. a) não b) sim c) sim d) não


1 10
31. f −1 (x) = − x2 +
3 3
3x + 1
32. f −1 (x) =
4 − 2x
x−3
33. a) f −1 (x) =
2
x2
b) f (x) =
−1
4

c) 2x2 − 2

34. D = R; I = (−∞, 3)

4 2 0 2 4
1.10. RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS 49

35. D = R; I = (0, +∞)


10

4 2 0 2 4

t
36. a) N = 3200 bactérias b) N (t) = 2 3 · 100 c) N = 10159 bactérias

37. a) M = 0, 125 g b) M (t) = 21−t/15 (g) c) M = 0.0236830714 g

38. x = 0.899138302

39. 0.773976032

40.

6 2 3 4 5 6 7 8 9 10

t
41. a) N (t) = 2 3 
· 100 
N
b) t = 3· log2 . Agora temos o tempo em função do número de bactérias.
100
c) Após t ' 26, 9 horas.
√ √
21 21
42. senθ = ; tgθ =
5 2
h π i
43. 0, , π, 2π
3
44.
4
4sen(x)
3 1 +sen(x)
sen(x− π2 )
2 cos(x− π2 )
2sen( x4 )
1

40 π π 3π 2π 5π 3π 7π 4π 9π 5π 11π 6π 13π 7π 15π 8π


2 2 2 2 2 2 2 2
50 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES

π π
45. , 6π, , π
3 2
π π
46. , , 0, 35...
6 6
Capı́tulo 2

Limites de funções e funções


contı́nuas

2.1 Limites de funções1


Desejamos saber o que acontece com os valores de uma função f (x) quando x
se aproxima de um dado ponto a.
Por exemplo, se
f (x) = 2x − 3
o que acontece com os valores de f (x) quando x assume valores próximos de 4?
Se h(t) representa a altura de uma árvore no instante t, o que acontece com os
valores h(t) quando t assume valores arbitrariamente grandes?
Observe a tabela abaixo para a função f (x) = 2x − 3.

x 3.8 3.9 3.99 4 4.01 4.1 4.2


f (x) 4.6 4.8 4.98 5 5.02 5.2 5.4

Vemos nesta tabela que quanto mais próximo de 4 tomamos o ponto x, mais o
valor f (x) se aproxima de 5. Diremos que o limite de f (x) quando x tende a 4 é 5.
Na verdade podemos fazer com que f (x) se aproxime de valores próximos de 5
quanto desejarmos, somente aproximando os valores de x o suficiente do valor 4.
Por exemplo, se desejamos aproximar x de tal modo que a diferença em f (x)
seja menor que 0.03, isto é

|f (x) − 5|< 0.03,

Para verificar isso, vamos ver como a desigualdade acima se comporta. Substi-
tuindo acima f (x) = 2x − 3, temos
1 As Seções 2.1, 2.2 e 2.3 foram baseadas no livro Kuelkamp, Nilo - Cálculo I, 2ª ed. 2001,
Editora da UFSC. Portanto, qualquer semelhança não é mera coincidência.

51
52 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

|2x − 3 − 5|< 0.03

ou seja,

|2x − 8|< 0.03

2|x − 4|< 0.03

Isso equivale a

|x − 4|< 0.015

Disso, podemos dizer que, para aproximar f (x) mais próximos que 0.03 de 5,
devemos deixar x mais próximo que 0.015 do valor x = 4. Ou seja,

f (x) − 0.03 < 5 < f (x) + 0.03 desde que x − 0.015 < 4 < x + 0.015. (2.1)

Se agora trocarmos os números 0.03 e 0.15 por dois números positivos ε e δ,


respectivamente, na expressão 2.1, temos

f (x) − ε < 5 < f (x) + ε desde que x − δ < 4 < x + δ. (2.2)

Assim, podemos escrever


|f (x) − 5| < ε, (2.3)

e
|x − 4| < δ. (2.4)

Novamente, substituindo f (x) = 2x − 3 na expressão 2.3, encontramos


ε
|x − 4|< .
2
Comparando a expressão acima com a expressão com a expressão 2.4, vemos
que
ε
δ≤ ,
2
ε
ou seja, para f (x) = 2x − 3, aproximando x de 4 por um valor δ = , aproximamos
2
f (x) de 5 por um valor ε. Podemos escrever isso de outra forma do seguinte modo

|x − 4|< δ ⇒ |f (x) − 5| < ε,

ou equivalente,

x ∈ (4 − δ, 4 + δ) ⇒ f (x) ∈ ( 5 − ε, 5 + ε).

Podemos representar o que foi discutido acima na forma gráfica.


2.1. LIMITES DE FUNÇÕES 53

5 +ε
5
5−ε

4
f(x) =2x−3

00 1 2
x
3 4−δ 4 4 + δ 5

A partir desse exemplo, obtemos a seguinte definição.

Definição - Seja a função f definida no intervalo I, com a ∈ I. Dizemos que f (x)


tem limite L quando x tenda para a, se dado ε > 0, existir δ > 0 tal que

x ∈ I e 0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < ε.

Simbolicamente, podemos escrever a definição acima da forma

lim f (x) = L.
x→a
54 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

f(x)

L +ε

L
L−ε

x a−δ a a +δ

Exemplo 1 - Seja f (x) = 4x2 +5. Usando a definição vamos mostrar que lim f (x) =
x→0
5.

Queremos encontrar ε > 0 para que obtenhamos δ > 0, tal que

0 < |x − 0| < δ ⇒ |f (x) − 5| < ε.

Para determinar um tal δ, partimos da desigualdade desejada e a transformamos


sucessivamente em outras, a ela equivalentes, até que se torne fácil de descobrir uma
condição sobre |x − 0| que assegure a validade daquelas desigualdades.
Desejamos obter

|f (x) − 5| < ε.

Para isso, substituı́mos f (x) = 4x2 + 5 na expressão acima

|4x2 + 5 − 5| < ε

|4x2 | < ε

4|x2 | < ε

ε
x2 <
4

ε
|x| <
2

ε
|x − 0| < .
2
2.1. LIMITES DE FUNÇÕES 55

Dessa forma, podemos ver que



ε
0 < |x − 0| <
2
assegura que

|f (x) − 5| < ε.

ε
Portanto, podemos tomar δ = , ou qualquer outro número positivo menor do
√ 2
ε
que para que obtenhamos valores tão próximos de L= 5 quanto desejarmos.
2
1
Por exemplo, se queremos que o limite se aproxime de 5 mais que , tomamos
100
1
ε= , ou qualquer número positivo menor que esse, e calculamos o valor de δ
100
1
r
1
100 10 1
δ= = = ;
2 2 20
1
se queremos que os valores de f (x) se aproximem mais de 5 que ε = ,
10000
1
r
1
10000 1
δ= = 100 = ,
2 2 200
e assim por diante.
A seguir, veremos as propriedades dos limites que nos ajudam a calcular limites
sem precisar recorrer à forma usada no Exemplo 1. Cada propriedade é alicerçada
por um teorema. As demonstrações dos teoremas podem ser encontradas no livro
Kuelkamp, Nilo - Cálculo I.

Propriedade 1 - (Unicidade do limite) Se lim f (x) = L e lim f (x) = M, então L


x→a x→a
= M.

Propriedade 2 - Se f (x) = c ∀ x ∈ R, então para qualquer a ∈ R temos lim f (x) =


x→a
c.

Propriedade 3 - Se lim f (x) = L > M, então existe δ > 0 tal que


x→a

0 < |x − a| < δ ⇒ f (x) > M.

Propriedade 4 - Se lim f (x) = 0 e g(x) é limitada no intervalo I−{a}, onde I é o


x→a
intervalo que contém o ponto a, então lim f (x).g(x) = 0.
x→a

Exemplo 2 - Sejam f (x) = x2 − 1 e g(x) = x3 + 3 x2 − 500, mostre que
3

lim f (x).g(x) = 0.
x→1
Vamos calcular lim f (x)
x→1

lim (x2 − 1) = 12 − 1 = 0
x→1
56 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

da propriedade 4 temos portanto que lim f (x).g(x) = 0, o que iremos conferir


x→1
a seguir

lim (x2 − 1)(x3 + 3 x2 − 500) =
3

x→1 √ √
= lim (x5 + 3x2 x2 − 500x2 − x3 − 3 x2 + 500) =
3 3

x→1
=0

Portanto, a solução satisfaz a nossa demonstração e a propriedade 4.

Propriedade 5 - Se lim f (x) = L e lim g(x) = M, então:


x→a x→a

a) lim [f (x) ± g(x)] = L ± M.


x→a
b) Para qualquer c ∈ R, temos

lim c.f (x) = c.L


x→a

c) lim f (x).g(x) = L.M.


x→a
f (x) L
d) lim = desde que M 6= 0.
x→a g(x) M
Observação I - Decorre do item (c) que
h i2
lim f (x)· f (x) = L· L = L2 = lim [f (x)]2 = lim f (x)
x→a x→a x→a

h i3
lim f (x)· f (x)· f (x) = L· L· L = L3 = lim [f (x)]3 = lim f (x)
x→a x→a x→a

donde decorre a forma generalizada

h in
lim [f (x)· f (x)· f (x) . . .f (x)] = lim [f (x)]n = lim f (x) ,
x→a | {z } x→a x→a

para qualquer n.

Exemplo 3 - Dadas f (x) = 2x + 7 e g(x) = x2 − 3, calcule os limites abaixo usando


a propriedade 5.

1. lim f (x)
x→−1
lim (2x + 7) = 5.
x→−1
2. lim g(x)
x→−1
lim (x2 − 3) = −2.
x→−1

3. lim (x2 + 2x + 4)
x→−1
Usando a propriedade 5.a), temos
lim (x2 + 2x + 4) = lim [(2x + 7) + (x2 − 3)]
x→−1 x→−1
= lim f (x) + lim g(x)
x→−1 x→−1 .
=5−2
=3
2.1. LIMITES DE FUNÇÕES 57

4. lim (6 − 2x2 )
x→−1
Podemos usar a propriedade 5.b):
lim (6 − 2x2 ) = lim −2(x2 − 3)
x→−1 x→−1
= −2· lim g(x) .
x→−1
=4
2 3 7 2
 
5. lim x + x − 2x − 7
x→−1 3 3
Usaremos as propriedades 5.b) e 5.c) no cálculo deste limite
2 3 7 2 1
 
lim x + x − 2x − 7 = lim (2x3 + 7x2 − 6x − 21)
x→−1 3 3 x→−1 3
1
= lim (2x + 7)(x2 − 3)
x→−1 3
1 .
= lim f (x)· g(x)
x→−1 3
1
= · 5· (−2)
3
10
=−
3
(x3 + x2 − 3x − 3)
6. lim
x→−1 (2x2 + 9x + 7)
(x3 + x2 − 3x − 3) (x2 − 3)(x + 1)
lim = lim
x→−1 (2x2 + 9x + 7) x→−1 (2x + 7)(x + 1)
(x2 − 3)
= lim
x→−1 (2x + 7)
g(x)
= lim
x→−1 f (x)
−2
=
5
2
=−
5
onde usamos a propriedade 5.d).

Propriedade 6 - Sejam a, b ∈ R, 0 < b 6= 1 e n ∈ N. Então temos

a) lim senx = sena


x→a
b) lim cos x = cos a
x→a
c) lim bx = ba
x→a
d) lim logb x = logb a
x→a
(
√ √ ∀ n se a > 0
e) lim x = a,
n n
x→a n ı́mpar se a < 0.

Propriedade 7 - Se lim f (x) = b e lim g(y) = L, então lim (g◦ f )(x) = L, desde
x→a y→b x→a
que L = g(b). Em outras palavras

lim g(f (x)) = g( lim f (x)).


x→a x→a


Exemplo 4 - Seja f (x) = x2 + 1 e g(x) = x, então
lim f (x) = lim (x + 1) = 2
2
x→1 x→1
58 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

√ √
lim g(x) = lim x= 2
x→2 x→2

portanto, da propriedade 7, temos


lim (g◦ f )(x) = 2.
x→1

Propriedade 8 - Sejam b ∈ R, 0 < b 6= 1 e n ∈ N. Se lim f (x) = L, então


x→a

a) lim senf (x) = senL


x→a
b) lim cos f (x) = cos L
x→a

c) lim bf (x) = bL
x→a
d) lim logb f (x) = logb L, desde que L > 0
x→a
(
√ ∀ n se L > 0
e) lim f (x) = L
pn n

x→a n ı́mpar se L < 0.

Propriedade 9 - Se f (x) 6 h(x) 6 g(x) para todo x num intervalo aberto I − {a},
e se lim g(x) = lim f (x) = L, então lim h(x) = L.
x→a x→a x→a

Exemplo 5 - Calcular os limites.


x2 + 5x − 1
1. lim
x→1 2x − 12
x2 + 5x − 1 12 + 5· 1 − 1 5 1
lim = = =−
x→1 2x − 12 2· 1 − 12 −10 2

2. lim (x2 + cos x)


x→π

lim (x2 + cos x) = lim x2 + lim cos x = π 2 + cos π = π 2 − 1


x→π x→π x→π

3. lim (x3 − 2x)4


x→−2

Da observação I, temos
 4
lim (x3 − 2x)4 = lim (x3 − 2x)
x→−2 x→−2

= [(−2)3 − 2· (−2)]4
= (−8 + 4)4
= (−4)4
= 256.
2.1. LIMITES DE FUNÇÕES 59

p
4. lim x4 + 9x3 + 10x2 − x + 5
3

x→−3

= (−3)4 + 9(−3)3 + 10(−3)2 − (−3) + 5


p
3


= −64 = −4.
3

x· senx
5. lim
x→π/2 x+1
π π π
· sen ·1 π
2
= π 2 = 2 = .
+1 π + 2 π+2
2 2

6. lim ln(x3 − 3x2 − 30)


x→5

= ln(53 − 3· 52 − 30)
= ln 20 = ln(5· 22 ) = ln 5 + ln 22 = ln 5 + 2 ln 2.

2
7. lim 2x +3x+5
x→−2

2
= 2(−2) +3(−2)+5
= 23 = 8.

2.1.1 Exercı́cios propostos


4x2 − 11x + 6
1. Seja f (x) = . Para cara ε dado, determine δ tal que |f (x)−5| <
x−2
ε sempre que 0 < |x − 2| < δ.

a) ε = 4 b) ε = 2

c) ε = 1 d) ε = 0, 08

Sugestão: Simplifique a fração que define f por x − 2.

2. Calcule os limites.

x2 − 12x + 36
a) lim (3x2 − 7x − 4) b) lim
x→−1 x→6 x−5
p
c) lim 5x2 + 3x + 2 d) lim log(x4 − 3x + 10)
x→−2 x→−3

e) lim cos x· sen(x + π) f) lim esenx


x→π x→−π
60 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

2.2 Limites laterais


Até agora, analisamos o comportamento de f (x) quando x se aproxima de a tanto
por um lado como pelo outro sem fazer distinção, ou seja, sem determinar se x se
aproxima de a pela esquerda (para valores de x menores que a ou x : −∞ → a) ou
pela direita (para valores de x maiores que a ou x : +∞ → a). Agora analisaremos
esses dois casos separadamente.

Definição - Seja f : (a, b) → R uma função.


Diremos que f (x) tem limite L quando x tende para a pela direita

lim f (x) = L,
x→a+

quando, dado ε > 0, existir δ > 0 tal que

x ∈ (a, b) e a < x < a + δ ⇒ |f (x) − L| < ε.

Diremos que f (x) tem limite L quando x tende para b pela esquerda

lim f (x) = L,
x→b−

quando, dado ε > 0, existir δ > 0 tal que

x ∈ (a, b) e b − δ < x < b ⇒ |f (x) − L| < ε.

lim f (x) = L lim f (x) = L


x→a+ x→b−

As propriedades vistas para limites também valem para o limites laterais e tem
demonstrações análogas.

Exemplo 5 - Consideremos a função



2
 x ,

 se x < 2
f (x) = 1, se x = 2 .

 4 − x, se x > 2

Então temos
2.2. LIMITES LATERAIS 61

lim f (x) = lim− x2 = 4


x→2− x→2

lim f (x) = lim− (4 − x) = 2.


x→2+ x→2
Observe que f (2) = 1, ou seja, f (2) 6= 4 e f (2) 6= 2. Portanto os limites
laterais são ambos diferentes do valor no ponto x = 2.

Propriedade 10 - Seja a ∈ I, onde I é um intervalo aberto e, seja f (x) tal que


f : I − {a} → R uma função. Então f (x) tem limite L quando x tende a a se,
e somente se, f (x) possuir limite L quando x tende a a pela esquerda e pela
direita, ou seja,

lim f (x) = L ⇐⇒ lim+ f (x) = lim f (x) = L


x→a x→a x→a−

Exemplo 6 - Seja

 x + 1, se x < 1
 3

f (x) = 3, se x = 1 .

 x + 1, se x > 1

Então temos

lim f (x) = lim+ (x + 1) = 2


x→1+ x→1

lim f (x) = lim (x3 + 1) = 2


x→1− x→1−

Assim, pela propriedade 10 temos que lim f (x) = 2.


x→1

[Observe que f (1) = 3 6= 2 = lim± f (x).]


x→1

Exemplo 7 - Seja a função


(
x2 − 2x, se x 6 3
f (x) = .
4 − x, se x > 3

Então,

lim f (x) = lim+ (4 − x) = 1


x→3+ x→3

lim f (x) = lim− (x2 − 2x) = 3.


x→3− x→3
Vemos que lim+ f (x) 6= lim f (x). Assim, pela propriedade 10, não existe
x→3 x→3−
limite de f (x) quando x tende a 3, ou seja,

lim f (x) = @.
x→3
62 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

2.2.1 Exercı́cios Propostos


3. Para cada função a seguir, calcule lim+ f (x), lim− f (x) e lim f (x) caso este
x→a x→a x→a
exista.
(
3 − x2 se x < 0
f (x) =
a) 2x se x > 0
a=0
x2 − 3x − 4
f (x) =
b) x−4
a=4
(
x2 − 4x − 1 se x < 2
f (x) =
c) 2−x se x > 2
a=2

 2x + 3 se x < −1


f (x) = −x se x > −1
d) 
 0 se x = −1

a = −1

2.3 Indeterminações
2x3 − 2
Vamos agora calcular o limite lim
x→1 1 − x
Vemos que neste caso não podemos aplicar a propriedade 5, já que o denomi-
nador possui limite 0. Resolvemos agora esse limite de uma maneira diferente
2x3 − 2 2(x3 − 1)
lim = lim
x→1 1 − x x→1 −(x − 1)
2(x2 + x + 1)(x − 1)
= lim −
x→1 (x − 1)
= lim −2(x2 + x + 1)
x→1
= −2.3
= −6
No cálculo de limites de funções, podemos encontrar outras expressões cujos valores
não são imediatamente determinados. Ao todo, são sete os sı́mbolos de indeter-
minação:
0 ∞
, , 0.∞, ∞ − ∞, 00 , 1∞ e ∞0
0 ∞
Durante o cálculo de limites, sempre que chegarmos a um destes sı́mbolos, pre-
cisamos buscar uma alternativa para obter o valor do limite. Quando fazemos isto,
estamos fazendo o levantamento da indeterminação.

Exemplo 8 - Calcule os limites.


x−3
1. lim .
x→3 x2 − 9
0
Temos aqui uma indeterminação do tipo e usamos da fatoração para
0
2.3. INDETERMINAÇÕES 63

levantá-la. Assim procedendo, temos

x−3 x−3
lim = lim
x→3 x2 − 9 x→3 (x + 3)(x − 3)
1
= lim
x→3 x + 3
1
=
6

x3 − 4x2 + 3x
2. lim .
x→1 x2 + 3x − 4

Este problema é análogo ao anterior. Para obter a fatoração dividire-


mos numerador e denominador por x − a, onde a = 1. Fazendo isso,
obtemos

x3 − 4x2 + 3x (x − 1)(x2 − 3x)


lim = lim
x→1 x2 + 3x − 4 x→1 (x − 1)(x + 4)
x2 − 3x .
= lim
x→1 x + 4
2
=−
5


x−2
3. lim .
x→4 x−4

Para resolver essa indeterminação, o produto notável a2 − b2 = (a +


b)(a − b) pode nos ajudar quando o aplicamos ao denominador
√ √ √
x−2 ( x − 2) ( x + 2)
lim = lim · √
x→4 x − 4 x→4 (x − 4) ( x + 2)
x−4
= lim √
x→4 (x − 4)( x + 2)
1
= lim √
x→4 x+2
1
= .
4


3
x+2
4. lim .
x→−8 x+8

Neste problema, faremos a substituição de variável y = 3
x, donde ob-
servamos que x = y . Portanto, quando x → −8 temos y → −2. Assim
3


3
x+2 y+2
lim = lim
x→−8 x+8 y→−2 y3 + 8
y+2
= lim
y→−2 (y + 2)(y 2 − 2y + 4)
1
= lim 2
y→−2 y − 2y + 4
1
= .
12
64 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS


4
x−1
5. lim √ .
x→1 6 x − 1

Para extrair as raı́zes deste problema, faremos uma substituição de variáveis


do tipo x = y n , onde a potência n deve ser um número que é divisı́vel
tanto por 4 como por 6. O primeiro número dentro dessa condição é 12,
logo x = y 12 , onde y > 0. Assim, quando x → 1 temos y → 1, de modo
que

x−1 y 12 − 1
p
4
4

lim √ = lim p
x→1 6 x − 1 y→16
y 12 − 1
y −13
= lim 2
y→1 y − 1
(y − 1)(y 2 + y + 1)
= lim
y→1 (y − 1)(y + 1)
(y 2 + y + 1)
= lim
y→1 (y + 1)
3
= .
2

2t3 + 3t2 − 1
6. lim .
t→−1 3t2 + 5t + 2

2t3 + 3t2 − 1 (2t2 + t − 1)(t + 1)


lim = lim
t→−1 3t2 + 5t + 2 t→−1 (3t + 2)(t + 1)
(2t2 + t − 1)
= lim
t→−1 (3t + 2) .
0
=
−1
=0
2.4. LIMITES NO INFINITO E LIMITES INFINITOS 65

2.3.1 Exercı́cios propostos

4. Calcule os limites.
x2 + 5x − 14 x2 − 6x + 9
a) lim b) lim
x→2 x−2 x→3 x−3

2x2 + x − 6 5x3 + 23x2 + 24x


c) lim d) lim
x→−2 x+2 x→−3 x2 − x − 12

x3 + 65x2 + 63x − 1 x4 − 3x2 − 4


e) lim f) lim
x→−1 x+1 x→2 x−2

2x3 − 13x2 + 17x + 12 x5 − x3 − 5x2 + 5


g) lim h) lim
x→4 x2 − 6x + 8 x→1 x2 + x − 2

(a + h)2 − a2 (a + h)3 − a3
i) lim j) lim
h→0 h h→0 h

t4 − 1 t5 − 1
k) lim l) lim
t→1 t − 1 t→1 t − 1

√ √
16 − x − 4 3
x−3
m) lim n) lim
x→0 x x→27 x − 27

x2 − 9x 3
x−1
o) lim √ p) lim √
x→9 x−3 x→1 x−1
√ √
x3 − 1 x−2
4 5

q) lim √ r) lim
x→1 6
x−1 x→32 x − 32

2(x − 3) − 2
p
h
s) lim t) lim √ , (a > 0)
x→5 x−5 h→0 a − a2 + h
√ √ √ √
a+h− a 3
a+h− 3
a
u) lim , (a > 0) v) lim
x→0 h h→0 h

2.4 Limites no infinito e limites infinitos

2.4.1 Limites no infinito

Nas seções anteriores deste capı́tulo analisamos o comportamento de uma função


f (x) quando x se aproxima de um ponto a. Nesta seção voltaremos nossa atenção
para duas situações.
A primeira consiste na análise do comportamento de uma função f (x) quando
x assume valores positivos arbitrariamente grandes, ou valores negativos de módulo
arbitrariamente grande.
A segunda é um caso em que o limite da função não existe, pois seu valor não se
aproxima de número algum. É o caso em que a função assume valores (positivos ou
66 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

negativos) de módulo arbitrariamente grande. Quando esses valores são positivos,


dizemos que a função tende a +∞, e quando são negativos, dizemos que a função
tende a −∞. Observe que −∞ e +∞ não são números; são sı́mbolos usados para
indicar o que acontece com os valores assumidos pela função.
1
Vamos analisar a função f (x) = .
x

x −100 000 −100 −10 −1 1 10 100 100 000


f (x) −0, 00001 −0, 01 −0, 1 −1 1 0,1 0,01 0,00001

Que graficamente fica

Vemos que para x positivo muito grande (x → +∞), esta função tende a zero
(f (x) → 0), o mesmo sendo verificado para x negativo de módulo muito grande,
(x → −∞). Assim, podemos dizer que
1
lim = 0.
x→±∞ x
Definição - Seja a função f (x) definida no intervalo (a, +∞). Então,

lim f (x) = L
x→+∞

toda vez que o número L satisfizer a condição de que, para qualquer ε > 0,
existe A > 0 tal que |f (x) − L| < ε sempre que x > A.

Definição - Seja a função f (x) definida no intervalo (−∞, b). Então,

lim f (x) = L
x→−∞

toda vez que o número L satisfizer a condição de que, para qualquer ε > 0,
existe B < 0 tal que |f (x) − L| < ε sempre que x < B.

Teorema - Se n é um número inteiro positivo, então


2.4. LIMITES NO INFINITO E LIMITES INFINITOS 67

1 1
lim =0 e lim = 0.
x→+∞ xn x→−∞ xn

Exemplo 9 - Encontre o limite das funções abaixo quando x → +∞.

x2 − 1
a) f (x) =
x2 + 1
x2 1
x2 − 1 2
− 2
lim 2 = lim x x
x→+∞ x + 1 x→+∞ x2 1
+ 2
x2 x
1
1− 2
= lim x
x→+∞ 1
1+ 2
x
=1

4x4 − x2
b) f (x) =
3x4 + x3
4x4 x2
4x4 − x2 4
− 4
lim = lim x 4 x
x→+∞ 3x4 + x3 x→+∞ 3x x3
4
+ 4
x x
1
4− 2
= lim x
x→+∞ 1
3+
x
4
=
3

Exemplo 10 - Encontre o limite das funções abaixo quando x → −∞.

a) f (x) = 1 + ex

lim (1 + ex ) = lim 1 + lim ex


x→−∞ x→−∞ x→−∞
=1+0
=1
 
x
b) f (x) = ex
x+1
    
x x
lim ex = lim . lim ex
x→−∞ x+1 x→−∞ x + 1
x→−∞
x

 x 
= lim  . lim ex
x→−∞ x 1  x→−∞
+
 x x
1
= lim  . lim ex
 
x→−∞ 1  x→−∞
1+
x
= 1· 0
=0
68 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

2.4.2 Exercı́cios Propostos


x3
5. Calcule o limite de f (x) = se x → +∞.
2x3 + 7x
x 2
6. Calcule o limite de f (x) = + e−x se x → −∞.
x+1

2.4.3 Limites infinitos


1
Vamos agora analisar a seguinte função f (x) = .
x

x −100 000 −100 −10 −1 1 10 100 100 000


f (x) −0, 00001 −0, 01 −0, 1 −1 1 0,1 0,01 0,00001

Que graficamente fica

Quando tomamos x indo a zero pela direita (x → 0+ ), esta função tende a +∞ (f (x) →
+∞). Já quando x vai a zero pela esquerda (x → 0− ), a função tende a −∞ (f (x) →
−∞). Assim
1 1
   
lim+ = +∞ e lim− = −∞.
x→0 x x→0 x

Definição - Seja f uma função definida em um intervalo aberto contendo a, exceto,


possivelmente, em x = a, dizemos que

lim f (x) = +∞
x→a

se para qualquer A > 0, existe δ > 0 tal que f (x) > A sempre que 0 <
|x − a| < δ.

Definição - Seja f uma função definida em um intervalo aberto contendo a, exceto,


possivelmente, em x = a, dizemos que

lim f (x) = −∞
x→a
2.4. LIMITES NO INFINITO E LIMITES INFINITOS 69

se para qualquer B < 0, existe δ > 0 tal que f (x) < B sempre que 0 <
|x − a| < δ.

Além dos limites infinitos definidos acima, podemos considerar ainda os limites
laterais infinitos e os limites infinitos no infinito.

lim f (x) → ±∞ e lim f (x) → ±∞.


x→a± x→±∞

Teorema - Se n é um número inteiro positivo qualquer, então


(
1 1 +∞ para n par
lim = +∞ e lim = .
x→0+ xn x→0− xn −∞ para n ı́mpar

Exemplo 11 - Resolva os seguintes limites.

a) lim tan x
x→ π
2

senx
lim tan x → lim
x→ π
2
− π
x→ 2 − cos x
→ +∞
b) lim (x2 + x − 1)
x→+∞

1 1
lim (x2 + x − 1) = lim x2 (1 + − )
x→+∞ x→+∞ x x2
→ +∞
c) lim (5x3 + 2x2 − 3x + 8)
x→−∞

2 3 8
lim (5x3 + 2x2 − 3x + 8) = lim x3 (5 + − 2 + 3)
x→−∞ x→−∞ x x x
→ −∞
x+2
d) lim−
x→4 x2 − 2x − 8
x+2 x+2
lim− = lim−
x→4 x2 − 2x − 8 x→4 (x + 2)(x − 4)
1 x−4=u
= lim− ; com − , temos
x→4 (x − 4) 4 − 4 = 0−
1
= lim−
u→0 u
→ −∞

2.4.4 Exercı́cios Propostos


7. Resolva os limites.

a) lim (−3x3 + 5x)


x→−∞

3+x
b) lim−
x→1 x2 + 2x − 3
70 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

2.5 Limites fundamentais


Muitas vezes, para calcular limites, pode ser útil reduzir o problema ao cálculo
de limites fundamentais, que estudaremos a seguir.

2.5.1 Primeiro limite fundamental


senx
Vamos analisar a função f (x) = .
x

senx
x senx
x
1 0,8414709 0,841470
0,1 0,0998334 0,998334
0,01 0,0099998 0,999983
0,001 0,0009999 0,999999

que graficamente fica

senx
Vemos acima o que provou-se anteriormente, ou seja, que lim = 1.
x→0 x

Exemplo 12 - Calcule os limites usando o primeiro limite fundamental.

sen4x
a) lim
x→0 x
sen4x 4sen4x
lim = lim
x→0 x x→0 4x
4senu
= lim
u→0 u
= 4· 1
=4

onde fizemos a substituição 4x = u.


2 − 2 cos2 x
b) lim
x→0 x2
2.5. LIMITES FUNDAMENTAIS 71

2 − 2 cos2 x 2 − 2(1 − cos2 x)


lim = lim
x→0 x2 x→0 x2
2sen2 x
= lim 2
x→0 xsenx 2
= 2· lim
x→0 x
= 2· 12
=2

2.5.2 Segundo limite fundamental


x
1

Tomaremos agora a função f (x) = 1+ . Calculando o valor de f (x) para
x
alguns valores de x, temos a tabela abaixo.

x
1

x 1+
x
1 2
10 2,59374
100 2,70481
1000 2,71692
10 000 2,71814

O gráfico de f (x) tem a forma abaixo.

Para valores de x muito grandes (x → ±∞), esta função se aproxima de e, que é um


número irracional 
chamado
xconstante de Euler (e = 2, 71828...). Como foi visto,
1
sabemos que lim 1 + = e.
x→∞ x
x
3

Exemplo 13 - Calcule o limite lim 1+ .
x→∞ x
3 1
Faremos a substituição = , que nos dá x = 3u.
x u
72 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

x 3u
3 1
 
lim 1+ = lim 1+
x→∞ x u→∞ u
u 3
1

= lim 1+
u→∞ u
u 3
1
 
= lim 1 +
u→∞ u
= e3

2.5.3 Terceiro limite fundamental


bx − 1
Veremos agora o limite lim = ln b, (0 < b 6= 1).
x→0 x
Para calcular esse limite, faremos uma mudança de variável, tendo em vista que,
quando x tende a zero, bx tende a 1. Então, para x pequeno bx é aproximadamente
1+ 1
u onde u é um número grande. Logo, bx − 1 é aproximadamente u.
1
Agora é
preciso isolar x, para encontrar o limite fundamental
1 u+1
bx = 1 + =
u u
1 u
=
bx u+ 1 
u
ln b = ln
−x

 u + 1
u
−x ln b = ln
u+1
−1
1 1 1 1
    
u u
x=− ln = ln = ln 1 +
ln b u+1 ln b u+1 ln b u
Feito isso, temos que para x → 0, u → ∞. Assim
1
bx − 1 1+ −1
lim = lim u
u→∞ 1 1

x→0 x
ln 1 +
ln b u
ln b
= lim
1
 
u→∞
u ln 1 +
u
ln b
= lim u
1

u→∞
ln 1 +
u
ln b
=  u 
1

ln lim 1 +
u→∞ u
ln b
=
ln e
= ln b

Exemplo 14 - Calcule os seguintes limites usando o terceiro limite fundamental.


ln(x + 1)
a) lim+
x→0 x

Faremos a substituição ln(x + 1) = u =⇒ x = eu − 1 o que nos dá


que para x → 0 temos u → 0. Assim
2.5. LIMITES FUNDAMENTAIS 73

ln(x + 1) u
lim = lim u−1
x→0+ x u→0 e −1
e −1
 u
= lim
u→0 u
−1
eu − 1

= lim
u→0 u
= (ln e)−1
=1

2.5.4 Exercı́cios Propostos

tan x
8. Calcule o limite lim usando o primeiro limite fundamental.
x→0 x

1−x
2

9. Calcule o limite lim 1+ usando o segundo limite fundamental.
x→∞ x

4x − 1
10. Calcule o seguinte limite lim+ usando o terceiro limite fundamental.
x→0 2x
74 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

2.6 Funções contı́nuas


Vejamos as seguintes funções.

a) f (x) = x3 − x2 − x + 2 b) f (x) = − ln(x − 1)2 + 1

(
x+2 se x 6= 2
c) f (x) = tan x d) f (x) =
1 se x = 2

Olhando para o gráfico, tente achar suas peculiaridades.


Perceba que o gráfico a) evolui de forma “suave” e sem “buracos”, no entanto
o gráfico b) apresenta um buraco para x = 1, ou seja, uma descontinuidade
para este valor de x. A função apresentada no gráfico c) também apresenta
1

descontinuidades, para os valores de x = n − π, com n ∈ Z, a função tan x é
2
descontı́nua. A função do gráfico d) também apresenta uma descontinuidade para
x = 2. Em suma, se para construir o gráfico de uma função for necessário tirarmos
a caneta do papel, então esta função apresenta uma descontinuidade neste ponto.

Definição - se lim f (x) = f (a) a função é contı́nua no ponto a .


x→a

Propriedades - Se f, g : X → R forem funções contı́nuas em a ∈ X e se c for uma


constante, então as seguintes funções também são contı́nuas

1. f + g
2. f − g
3. c.f
4. f · g
f
5. (desde que g(a) 6= 0)
g
2.6. FUNÇÕES CONTÍNUAS 75

2.6.1 Exercı́cios Propostos

11. Analise a função do gráfico a seguir e indique quais os pontos de descon-


tinuidade e os intervalos em que a função é contı́nua.

12. Encontre os valores de x para os quais as seguintes funções são descontı́nuas.


3x 2
a) f (x) = b) f (x) = e1/x
(x − 2)2
3x 1
c) f (x) = ln(x2 − 1) d) f (x) = e x2
(x − 2) 2
76 CAPÍTULO 2. LIMITES DE FUNÇÕES E FUNÇÕES CONTÍNUAS

2.7 Respostas dos exercı́cios propostos


1. a) δ = 1 b) δ = 0, 5 c) δ = 0, 25 d) δ = 0, 02

2. a) 6 b) 0 c) 4 d) 2 e) 0 f) 1

3. a) 0; 3; @ b) 5; 5; 5 c) 0; −5; @ d) 1; 1; 1

4.
a) 9 b) 0 c) −7 d) −3 e) −64 f) 20
9 8
g) h) − i) 2a j) 3a2 k) 4 l) 5
2 3
1 1 2 9 1
m) − n) o) 54 p) q) r)
8 9 3 2 80
1 1 1
s) t) −2a u) √ v) 2/3
2 2 a 3a
1
5.
2
6. 1

7. a) +∞
b) −∞

8. 1

9. e−2

10. ln 2

11. Pontos de descontinuidade: x = {−2, −1, 1, 2, 3}


Intervalos: (−∞, −2), (−2, −1), (−1, 1), (1, 2), (2, 3), [3, +∞)

12. a) x = 2 b) x = 0 c) x ∈ [−1, 1] d) x = {0, 2}

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