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Mo SBP n01 Out2016 Saude Na Era Digital PDF
Mo SBP n01 Out2016 Saude Na Era Digital PDF
Manual de Orientação
Departamento de Adolescência
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Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital
de sexo explícito ou pornografia e foram altera- sexting, incluindo pornografia, acesso facilitado
dos pela Lei 10.764 de 2003 para incluir a ilici- às redes de pedofilia e exploração sexual online;
tude da conduta no âmbito da Internet e tornar compra e uso de drogas, pensamentos ou gestos
as penas mais graves. O artigo 73º do ECA prevê de autoagressão e suicídio; além das “brincadei-
ainda, que a inobservância às normas de preven- ras” ou “desafios” online que podem ocasionar
ção aos direitos da criança importará em respon- consequências graves e até o coma por anóxia
sabilidade da pessoa física ou jurídica, nos ter- cerebral ou morte.
mos da Lei.
Dados e indicadores da pesquisa realizada
A recente Lei nº 12.965 de 2014 – o Marco pelo Comitê Gestor da internet (CGI) e o Centro
Civil da Internet em seu artigo 29º – explicita a Regional de Estudos para o Desenvolvimento da
necessidade do controle e vigilância parental e a Sociedade de Informação (Cetic.br), a TIC KIDS
educação digital, como formas de proteção fren- ONLINE-Brasil de 2015 estudaram, em entrevis-
te às mudanças tecnológicas, em especial sobre tas domiciliares nos 350 municípios das cinco
os impactos provocados nas famílias e, especi- regiões do Brasil, 3068 famílias selecionadas em
ficamente, nas rotinas e vivências das crianças amostragem estratificada com os pais de crian-
e dos adolescentes. Porém, tanto os pais como ças e adolescentes entre 9 a 17 anos de idade.
os educadores nas escolas precisam aprender Do universo de 29.7 milhões nesta faixa etária,
como exercer esta mediação e serem alertados 23.7 milhões ou 80% são usuárias da Internet:
sobre os riscos e os limites necessários para as- 97% nas classes sociais A e B, 85% na classe C e
sumirem esta responsabilidade. Além disso, as 51% nas classes D e E. O uso diário é intenso e
crianças e adolescentes devem ser informados 66% acessam a Internet mais de uma vez ao dia.
das necessidades de hábitos saudáveis, de modo O telefone celular se tornou o principal disposi-
sistemático. A Lei 13.185 de 2015 – institui o tivo em 83%, além dos computadores de mesa,
programa de combate à intimidação sistemática tablets ou computadores portáteis ou consoles
e fatos ou imagens que depreciem, incitem à vio- para videogames. Importante observar que 1 em
lência, adulteração de fotos ou dados pessoais cada 3 crianças e adolescentes ou 31% da amos-
com o intuito de criar meios de constrangimento tra acessaram a Internet apenas por meio do te-
psicossocial (bullying) ou através da rede mun- lefone celular, 86% em casa, 73% na casa de ou-
dial de computadores (cyberbullying), pois este tra pessoa, 31% na escola e 19% em lanhouses.
fato vem se tornando frequente e apresenta con- Dados relevantes e demonstrativos dos danos
sequências perigosas. à saúde podem ser resumidos, como: em 37%
viram alguém ser discriminado na Internet, nos
Estudos científicos comprovam que a tec-
últimos 12 meses ou 8,8 milhões de crianças e
nologia influencia comportamentos através do
adolescentes que são expostos aos discursos de
mundo digital, modificando hábitos desde a in-
ódio, intolerância e violência, além de 20% que
fância, que podem causar prejuízos e danos à
foram tratadas de forma ofensiva na internet, ca-
saúde. O uso precoce e de longa duração de jo-
racterizando uma das formas de cyberbullying.
gos online, redes sociais ou diversos aplicativos
com filmes e vídeos na Internet pode causar di- Nesta amostra, 21% dos adolescentes deixa-
ficuldades de socialização e conexão com outras ram de comer ou dormir por causa da internet,
pessoas e dificuldades escolares; a dependência 17% procuraram informações sobre formas de
ou o uso problemático e interativo das mídias emagrecer, 10% formas para machucar a si mes-
causa problemas mentais, aumento da ansieda- mo (self-cutting), 8% relataram formas de expe-
de, violência, cyberbullying, transtornos de sono rimentar ou usar drogas e 7% formas de cometer
e alimentação, sedentarismo, problemas auditi- suicídio. Muitos outros dados merecem nossa re-
vos por uso de headphones, problemas visuais, flexão, como: 77% enviam mensagens instantâ-
problemas posturais e lesões de esforço repeti- neas ou usam as redes sociais quando sozinhos
tivo (LER); problemas que envolvem a sexualida- e 61% já postaram fotos ou vídeos na Internet,
de, como maior vulnerabilidade ao grooming e 39% já tiveram contato com pessoas que não co-
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Departamento de Adolescência • Sociedade Brasileira de Pediatria
nheciam pessoalmente e 18% encontraram com da cultura de ódio e intolerância e devem ser
desconhecidos – sendo que na faixa etária entre proibidos.
15-17 anos este dado aumenta para 27% – além • Estabelecer limites de horários e mediar o
de 21% já terem repassado informações pesso- uso com a presença dos pais para ajudar na
ais para outras pessoas que só tiveram contato a compreensão das imagens. Equilibrar as ho-
partir da relação online. Em 11% das famílias, os ras de jogos online com atividades esportivas,
pais nada sabiam sobre as atividades de seus fi- brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em con-
lhos e em 41% sabiam mais ou menos, demons- tato direto com a natureza.
trando os problemas de segurança e de privaci-
• Conversar sobre as regras de uso da Internet,
dade de crianças e adolescentes que assim estão
configurações para segurança e privacidade
expostos numa rede totalmente incontrolável e
e sobre nunca compartilhar senhas, fotos ou
accessível em qualquer momento ou horário ou
informações pessoais ou se expor através da
de qualquer lugar.
utilização da webcam com pessoas desco-
Portanto, a SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIA- nhecidas, nem postar fotos íntimas ou nudes,
TRIA (SBP), que agrega 22.000 médicos pediatras mesmo com ou para pessoas conhecidas em
cuidando do futuro do Brasil, RECOMENDA: redes sociais.
• O tempo de uso diário ou a duração total/dia • Monitorar os sites/programas/aplicativos/
do uso de tecnologia digital seja limitado e filmes/vídeos que crianças e adolescentes
proporcional às idades e às etapas do desen- estão acessando/visitando/trocando mensa-
volvimento cerebral-mental-cognitivo-psi- gens, sobretudo em redes sociais. Manter os
cossocial das crianças e adolescentes. computadores e os dispositivos móveis em
• Desencorajar, evitar e até proibir a exposição locais seguros, e ao alcance das responsabi-
passiva em frente às telas digitais, com expo- lidades dos pais (na sala) ou das escolas (du-
sição aos conteúdos inapropriados de filmes rante o período de aulas).
e vídeos, para crianças com menos de 2 anos, • Usar antivírus, antispam, antimalware e
principalmente, durante as horas das refei- softwares atualizados ou programas que ser-
ções ou 1-2 h antes de dormir. vem de filtros de segurança e monitoramento
• Limitar o tempo de exposição às mídias ao má- para palavras ou categorias ou sites. Alguns
ximo de 1 hora por dia, para crianças entre 2 restringem o tempo de uso de jogos online e
a 5 anos de idade. Crianças entre 0 a 10 anos o uso de aplicativos e redes sociais por fai-
não devem fazer uso de televisão ou compu- xa etária. Ainda assim, é importante explicar
tador nos seus próprios quartos. Adolescentes com calma e sem amedrontar as crianças e
não devem ficar isolados nos seus quartos ou adolescentes sobre quais são os motivos e
ultrapassar suas horas saudáveis de sono às perigos que existem na Internet, espaço vazio
noites (8-9 horas/noite/fases de crescimento e virtual e onde nem tudo é o que parece ser!
e desenvolvimento cerebral e mental). Estimu- • Aprender / Ensinar a bloquear mensagens
lar atividade física diária por uma hora. ofensivas ou inapropriadas, redes de ódio,
• Crianças menores de 6 anos precisam ser mais violência ou intolerância ou vídeos com
protegidas da violência virtual, pois não con- conteúdos sexuais e como denunciar cyber-
seguem separar a fantasia da realidade. Jogos bullying em helplines ou através da SAFERNET
online com cenas de tiroteios com mortes ou ou disque-denúncia tel. 100.
desastres que ganhem pontos de recompen- • Conversar sobre valores familiares e regras
sa como tema principal, não são apropriados de proteção social para o uso saudável, crí-
em qualquer idade, pois banalizam a violên- tico, construtivo e pró-social das tecnologias
cia como sendo aceita para a resolução de usando a ética de não postar qualquer men-
conflitos, sem expor a dor ou sofrimento cau- sagem de desrespeito, discriminação, intole-
sado às vítimas, contribuem para o aumento rância ou ódio.
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Departamento de Adolescência • Sociedade Brasileira de Pediatria
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Departamento de Adolescência • Sociedade Brasileira de Pediatria
• Seja respeitoso online e trate os outros como • Classificação Indicativa do Ministério da Jus-
gostaria de ser tratado, afinal você merece tiça e Cidadania, portal e guia prático. Acces-
respeito de todos também. Evite repassar sível em:
mensagens que possam humilhar, ofender, – http://portal.mj.gov.br/ClassificacaoIndica-
zombar ou prejudicar a pessoa que receber tiva/EscolhaTipo.jsp
este seu recado. – http://justica.gov.br/seus-direitos/classifi-
cacao
• Crescer e construir o seu corpo precisa de
– http://www.justica.gov.br/seus-direitos/
horas de sono e alimentação balanceada e
classificacao/guia-pratico/guia-pratico.pdf
saudável. Se você estiver se sentindo can-
sado, sonolento, com fome ou sem apetite, • Nabuco, CN, Eisenstein, E, Estefenon, SGB
ou com dor de cabeça, nas costas, nos olhos (2013): Vivendo ESSE Mundo Digital, impactos
ou nos ouvidos, desligue o seu celular ou na saúde, na educação e nos comportamen-
seu computador, converse com seus pais ou tos sociais (2013): Porto Alegre, Ed ARTMED.
consulte seu médico pediatra. Conversan- Disponível como e-book: http://loja.grupoa.
do, a gente se entende e tudo ficará melhor! com.br/livros/psicologia-geral/vivendo-esse-
Sempre é bom ter mais cuidados de saúde -mundo-digital/9788565852951
e você é responsável por sua saúde física e • Estefenon, SGB, Eisenstein, E. (2008): Geração
mental, e lembre que para ser um adulto me- Digital, riscos e benefícios das novas tecno-
lhor e capaz, requer socialização, conversa e logias para crianças e adolescentes, Rio de
reflexão! Janeiro, Ed Vieira & Lent. Abrusio, J (coord)
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Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital
(2015): Educação Digital. São Paulo, Revista • AAP, American Academy of Pediatrics, Coun-
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resenha do tradutor Valdemar Setzer dispo- • Christakis DA, Garrison MM, Herrenkohl T et
nível em http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/ al. Modifying media content for pre-school
como-proteger-resenha.html children: a randomized controlled trial. Pedia-
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para a Cidadania Digital, ensino fundamental • Geel MV, Vedder P, Tarilon J: Relationship
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trics.org/cgi/doi/10.1542/peds.2016_1358 net e no texto do documento):
• AAP, American Academy of Pediatrics Council • Antivírus: programa de computador que loca-
on Communications and Media: Media and liza e corrige, limpando os estragos causados
Young Minds por programas de vírus.
• Available online: www.pediatrics.aappu- • Avatar: palavra derivada do sânscrito e reve-
blications.org/content/early/2016/10/19/ renciada como divindade pelos hinduístas e
peds.2016-2591 que significa a manifestação corporal de um
• AAP, American Academy of Pediatrics, Coun- ser imortal. É usada pela realidade virtual
cil on Communications and Media: Media Use como figura para emprestar sua vida simulada
in School-aged Children and Adolescents. para o transporte dos jogadores online para
Pediatrics 2016;138(5):e2016-2592 dentro dos mundos paralelos do ciberespaço,
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Departamento de Adolescência • Sociedade Brasileira de Pediatria
como se fosse uma máscara digital que trans- • Dieta midiática: refere a quantidade e quali-
forma a identidade das pessoas. dade & tipo de mídia que é consumida (pla-
• Antimalware: programa que se instala no taforma e conteúdos na imprensa/revistas/
computador ou dispositivos para proteger da livros, ou televisão, computador, portáteis
transmissão de vírus. como notebooks ou telefones celulares e
smartphones). E à semelhança da alimentação
• Antispam: programa que se instala no com-
e dietas, as “dietas midiáticas” precisam ser
putador ou dispositivos para se proteger de
progressivas dependendo da idade e matu-
mensagens comerciais ou não desejadas que
ridade da criança e daí os conteúdos serem
lotam a caixa de correio eletrônico, geralmen-
“nutritivos” e pró-sociais saudáveis ou preju-
te contendo publicidade de algum produto ou
diciais e desequilibrados, ou ainda, saudáveis
materiais de pornografia e que podem captu-
em qualidade, mas danosos em quantidade.
rar dados confidenciais do usuário. (outro pa-
rágrafo). • Emoticons e emojis: forma de comunicação
paralinguística usando ícones ou símbolos
• Bullying: termo inglês utilizado para descre-
criados para significar uma emoção através
ver atos de violência física, psicológica ou se-
de uma sequência de caracteres tipográfi-
xual, intencionais, para intimidação, ofensa,
cos, como: “;0>))” ou “^-^” ou uma imagem,
humilhação, depreciação, maltrato ou ameaça
usualmente pequena que traduz ou tenta ex-
por um indivíduo (bully) ou grupo de indivídu-
pressar a emoção que a pessoa está sentindo
os/pares de colegas, com o objetivo de agredir,
ao transmitir as palavras nas trocas de men-
amedrontar ou exercer o poder da força contra
sagens e na pressa de se comunicar que vão
outro indivíduo ou grupo de indivíduos/pares
sendo cada vez mais incorporadas aos com-
de colegas incapaz(es) de se defender.
portamentos e relacionamentos online .
• Cyberbullying: é o mesmo ato de violência do
• Gamificação: uso de elementos dos games
bullying que ocorre nas redes sociais ou em
numa atividade do mundo real de uma for-
jogos online, na Internet, mas que extrapola e
ma atraente para trocas de mensagens com a
dissemina sem qualquer controle.
perspectiva de jogar online.
• Cybernautas ou cibernautas: são as pessoas
• Grooming: técnicas de sedução ou comporta-
que usam a Internet, redes sociais ou jogos
mentos sedutores que acontecem nas redes
online através dos computadores ou de qual-
sociais quando uma pessoa mal-intencionada
quer outro dispositivo das tecnologias de in-
ou pedófila tenta atrair uma criança ou adoles-
formação e comunicação (TICs).
cente com falsidades ou inventando histórias
• Desafios ou brincadeiras perigosas: jogos en- ou mentiras para capturar a atenção da vítima.
tre colegas adolescentes com confrontação
• Helpline: rede de ajuda online e que pode ser
de poder e teste de limites corporais do ga-
acessada de qualquer computador.
nhador ou do perdedor, como recompensa ou
castigo pela tarefa que foi (ou não) realizada • Hotline: serviço de recebimento de denún-
ou cumprida, caracterizando uma das formas cias anônimas de crimes e violações contra os
de violência do bullying / cyberbullying, po- Direitos Humanos na Internet, contando com
dendo causar sufocação por enforcamento, procedimentos efetivos e transparentes para
convulsões, dores-de-cabeça, cortes-no-pes- lidar com as denúncias. Accessível e gratuito
coço, fraturas, traumatismo craneano, hipóxia e pode ser acessado de qualquer computador.
e morte. Sempre verificar lesões no pescoço, • Links: “objeto” que pode ser uma palavra,
cortes ou pequenos hematomas, olhos ver- nome ou uma sigla que liga uma página à ou-
melhos, dores-de-cabeça. Consta no CID-10 tra, facilitando a navegação por múltiplos si-
como item Y93.85, como causa externa de ati- tes. Pode estar associado a fotos ou textos e
vidade de desmaio ou sufocação ou choking geralmente é acessado por uma curta linha de
game activity. texto em azul e sublinhado.
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Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital
• Nude: palavra popular que significa um pe- • Videogames ou jogos online: desenhos ou
dido para a pessoa enviar uma foto ou ima- jogos interativos de ação e muito dinamismo
gem nua ou sem roupas com a intenção de se com sons e coloridos espantosos e que cha-
expor à opinião de outra (ou outras) – ato ou mam a atenção por serem atraentes e reque-
comportamento perigoso que pode caracteri- rerem bastante concentração e habilidade
zar crime de exploração sexual. para se ganhar pontos ou recompensas e que
• On-line ou online e off-line ou offline: signifi- podem ser jogados em solitário ou em grupos
ca estar ligado ou conectado à Internet ou ao de colegas ou com parceiros desconhecidos.
contrário, desligado ou desconectado. Tornam-se viciantes por serem bastante atra-
tivos aos adolescentes que conseguem “do-
• Self-cutting: cortes de automutilação que ge-
minar” o jogo e “vencer” o adversário ou sua
ralmente as adolescentes fazem como gestos
equipe (ou não). Atualmente as indústrias que
de autoagressão ou gestos suicidas, com o
exploram este entretenimento são lucrativas
significado de não sentir a dor do sofrimento
e investem em campeonatos entre adoles-
por bloqueio emocional ou afetivo. Compor-
centes que assim se tornam “atletas virtuais”,
tamento que se tornou mais frequente prin-
apesar de serem totalmente sedentários pois
cipalmente em adolescentes com transtornos
ficam sentados inúmeras horas no jogo e sem
alimentares ou depressivos e que assim ex-
desconectar e sair para outras atividades es-
pressam a sua dor em fotos nas redes sociais
colares ou tarefas diárias do convívio familiar.
e compartilham este feito pseudo-heroico
Cada videogame tem nomes e figuras carac-
de sacrifício com outras colegas adolescen-
terísticas dos “heróis”, que ficam marcantes
tes, em vez de procurar ajuda para resolver
e que são usados pela indústria de consumo
seus problemas emocionais ou familiares.
para vender produtos, também.
Algumas usam piercing também colocando
objetos como brincos ou pulseiras ou fazen- • Vlogs: são vídeoblogs que se transformaram
do tatuagens para cobrir os cortes feitos nos nos diários pessoais, mas que são públicos na
braços ou nos tornozelos, para disfarçar as ci- Internet, onde o usuário conta sobre si mes-
catrizes. mo ou sobre seu dia, sua vida ou algum tema
e deixa-os abertos como mural para a opinião
• Senha: um código que pode conter letras ou
dos amigos ou do público em geral.
números e que dá o acesso ao computador,
telefone celular ou outros dispositivos com • Webcam: câmera de vídeo conectada ao com-
acesso a programas e aplicativos. É sempre putador usada na transmissão de imagens
pessoal e intransferível e uma medida de se- ou para monitorar ambientes, em videocon-
gurança e privacidade. ferências ou outras aplicações. Atualmente
são partes embutidas nos computadores ou
• Sexting: mensagens, fotos ou vídeos de con-
notebooks ou laptops e em muitos telefones
teúdo sexual que são transmitidas como com-
celulares e smartphones, e assim as pessoas
portamentos de sedução ou atração de outra
conseguem ‘se ver’ à distância, enquanto con-
pessoa através da Internet e que pode carac-
versam conectadas – por isso, também, usa-
terizar exposição corporal de criança ou ado-
das em alguns jogos online.
lescente e crime de exploração sexual online.
• Wi-Fi: produto certificado e que pertence à
Frequentemente acompanham o ato de cyber-
classe dos dispositivos da rede local sem fios
bullying entre adolescentes.
e que facilitam o acesso à Internet, geralmente
• Site: conjunto de páginas da Internet sobre em residências, escritórios ou escolas e locais
um determinado tema ou descritivo de um públicos. Muitas crianças e adolescentes, atu-
autor ou que descreve uma instituição como almente, só querem ir a locais com Wi-Fi, para
se fosse um cartão-de-visitas e contato. conectarem com a Internet e assim poderem
• Software: programas que permitem ao com- jogar online e mesmo sem saber do que se tra-
putador realizar as tarefas programadas. ta, perguntam: tem wifi? e se pronuncia uáifai.
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Departamento de Adolescência • Sociedade Brasileira de Pediatria
• www: dos termos em inglês, world wide web, esporte, ao lazer, à profissionalização, à cul-
que descreve o ambiente multimídia da Inter- tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
net com a reunião de textos, imagens, víde- convivência familiar e comunitária” (arts. 3º
os e muito movimento e que pode ser aces- e 4º)3.
sada de qualquer computador ou dispositivo • Nota-se, ademais, a preocupação do legisla-
da tecnologia de informação e comunicação dor brasileiro revelada pela recente Lei nº
(TIC). 12.965/2014, o Marco Civil da Internet, o
• Youtubers: adolescentes que produzem si- qual, além de fomentar a educação digital4,
mulações de jogos eletrônicos ou vídeos em seu artigo 29 faculta aos pais usuários
com tutoriais sobre qualquer tema e criações das TICs a opção de livre escolha de programa
próprias e que podem ser editadas e disse- para exercício de controle parental a filhos
menores como formas de proteção às mudan-
minadas entre colegas e nas redes sociais,
ças tecnológicas, em especial sobre os impac-
sem qualquer custo e podem ser tornadas lu-
tos provocados nas famílias, em especial nas
crativas, dependendo dos acessos de outros.
rotinas e vivências das crianças e dos adoles-
Muitas vezes incentivam a prática de desafios
centes5.
ou brincadeiras perigosas ou dietas mágicas
Porém, tanto os pais como os educadores nas
para emagrecer ou ficar mais “sarado” (mus-
escolas precisam aprender como exercer esta
culoso) ou qualquer mania ou modismo.
mediação e serem alertados sobre os riscos
e os limites necessários para assumirem esta
responsabilidade.
Adendos Legais para Consultas • A recente Lei nº 13.185/2015 institui o pro-
(agradecimentos à Dra. Juliana Abrusio, advogada es- grama de combate à intimidação sistemática
pecializada em direitos digitais em São Paulo, Nethics). a fatos ou imagens que depreciem, incitem
à violência, à adulteração de fotos ou dados
• No Brasil, a Constituição Federal (1988) no
pessoais com o intuito de criar meios de cons-
artigo 227 assegura a proteção integral da
trangimento psicossocial (bullying) ou atra-
criança e do adolescente como prioridade
vés da rede mundial de computadores (cyber-
absoluta1 de acordo com a Convenção dos
bullying).
Direitos da Criança aprovada pela Assem-
bléia Geral das Nações Unidas (1989)2. O • A Lei nº 11.829/2008 conferiu nova redação
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ao artigo 241, e respectivos parágrafos e alí-
Lei nº 8069/1990, reitera que “a criança e neas, do Estatuto da Criança e Adolescente,
o adolescente gozam de todos os direitos para considerar como crime a transmissão,
fundamentais inerentes à pessoa humana pela internet, de conteúdos que contenham
(...) assegurando-lhes (...) todas as oportuni- sexo explícito ou pornográfico envolvendo
dades e facilidades, afim de lhes facultar o criança ou adolescente6.
desenvolvimento físico, mental, moral, espi- • A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inci-
ritual e social, em condições de liberdade e so X assegura o direito fundamental à priva-
de dignidade”. E ainda, “é dever da família, cidade, no que inclui as crianças e adolescen-
da comunidade, da sociedade em geral e do tes, a cuja tutela legal deve-se dar a máxima
poder público assegurar, com absoluta prio- atenção em questões envolvendo as TICs,
ridade, a efetivação dos direitos referentes à pela facilidade e falta de transparência quan-
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao to à privacidade dos indivíduos.
1 Art. 227 da Constituição Federal: É dever da família, da sociedade 2 O Decreto nº 99.710 de 21 de Novembro de 1990 promulga, no
e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com Brasil, a Convenção sobre os Direitos da Criança, da qual o Brasil
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à ratificou em 24 de setembro de 1990.
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 3 No mesmo sentido, cite-se, ainda, artigo 17: O direito ao respeito
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem,
exploração, violência, crueldade e opressão. da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos es-
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Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital
paços e objetos pessoais. E, artigo 18: É dever de todos velar pela Parágrafo único. Cabe ao poder público, em conjunto com os pro-
dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qual- vedores de conexão e de aplicações de internet e a sociedade ci-
quer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou vil, promover a educação e fornecer informações sobre o uso dos
constrangedor. (ambos artigos da Lei nº 8069/ de 1990 – Estatuto programas de computador previstos no caput, bem como para a
da Criança e do Adolescente). definição de boas práticas para a inclusão digital de crianças e ado-
lescentes.
4 Art. 26 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet): O cumpri-
mento do dever constitucional do Estado na prestação da educa- 6 Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, pu-
ção, em todos os níveis de ensino, inclui a capacitação, integrada blicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de siste-
a outras práticas educacionais, para o uso seguro, consciente e ma de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro
responsável da internet como ferramenta para o exercício da ci- que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
dadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico. criança ou adolescente. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos,
e multa.
5 Art. 29 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet): O usuário § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
terá a opção de livre escolha na utilização de programa de com- I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das foto-
putador em seu terminal para exercício do controle parental de grafias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;
conteúdo entendido por ele como impróprio a seus filhos menores, II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computa-
desde que respeitados os princípios desta Lei e da Lei no 8.069, de dores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. artigo.
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Departamento de Adolescência • Sociedade Brasileira de Pediatria
Diretoria
Triênio 2016/2018
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