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Eletivas – Conecta Emília

Professora Grazziela Almeida – 6°C/8°C e 9°D

Geração digital: riscos das novas tecnologias para


crianças e adolescentes

Por Evelyn Eisenstein

Eles não saem do computador? Não largam o telefone celular? A era digital está mudando os estilos de
vida, os comportamentos, os relacionamentos familiares e sociais e a saúde de todos! Atualmente as crianças e
os adolescentes vivem em dois mundos: aquele que todos conhecemos, o mundo real, e o mundo digital ou
virtual, que parece muito mais interessante e surpreendente, oferecendo aventuras, oportunidades, a busca pela
autonomia, mas também, perigo e riscos à saúde. O espaço cibernético, o mundo da internet e a velocidade da
comunicação se tornaram o “lugar vivo de verdade” onde todos se encontram, aprendem, jogam, brincam,
brigam, trocam fotos, ganham dinheiro, começam e terminam amizades e namoros. Nesta realidade virtual, todos
os adolescentes podem disfarçar melhor a ansiedade, a confusão, os medos e a alegria da passagem à vida
adulta., o idioma agora é o “internetês” com abreviaturas, emoticons e maneiras diferentes de se expressar e
comunicar. Muitos nem conseguem mais escrever no papel e nem sabem o que é caligrafia ou gramática! A
internet atravessou fronteiras, dissolveu barreiras culturais, penetrou bloqueios políticos, vaporizou diferenças
sociais e cresceu mais rápido e em todas as direções, superando as expectativas do 42 Revista Hospital
Universitário Pedro Ernesto, UERJ futuro planejado nos séculos passados e as certezas tecnológicas. Qualquer
conhecimento ou informação está disponível com o apertar de um botão e que todos podem ter acesso com
liberdade. Usada com respeito e cuidado, a internet pode oferecer aos jovens uma perspectiva mais abrangente
do mundo à sua volta, mas pode também se tornar uma ameaça e oferecer riscos à saúde quando se extrapolam
os limites entre o real e o virtual, entre o público e o privado, entre a intimidade e a distorção dos fatos ou das
imagens “reais”. Novos problemas para os profissionais de saúde, educação, segurança e comunicação e pais
que lidam com as crianças e adolescentes no dia a dia. Saber o que é o tecnoestresse, o cyberbullying, as
mensagens dos videogames, as lan houses e controlar as webcams já são novidades. E, ainda, prevenir os
problemas e tantas outras ameaças à saúde desta geração digital, deve servir de alerta de atualização nos
ambulatórios e consultórios. As recomendações sobre o que fazer para transformar o uso da internet numa fonte
mais segura, ética, educativa e saudável de conhecimentos e como ponte de diálogo entre as gerações devem
fazer agora parte da rotina dos atendimentos da criança e do adolescente e de suas famílias!

PRINCIPAIS RISCOS À SAÚDE

Se pudéssemos definir qual a geração digital, provavelmente, teríamos que considerar os adultos jovens
que hoje têm 25 anos, quase a idade da internet. Muitos jogos de videogames que faziam sucesso, naquela época,
como o Super Mario Bros produzido pela Nintendo são ainda hoje a porta de entrada para as crianças na longa
teia da rede mundial de computadores. A primeira mensagem SMS foi enviada em 1992, os sites começaram a
surgir em 1995 e o programa de correio eletrônico Hotmail apareceu em 1998, quando estas crianças ainda
estavam no ensino médio. Em poucos anos, uma revolução, nem tão silenciosa, foi invadindo todas as casas e
universidades e muitas escolas, inclusive públicas. Os primeiros sistemas de redes sociais, como o Orkut,
apareceram em 2002 e o Skype, sistema de comunicação é de 2003. O Youtube, que exibe filmes e vídeos, surgiu
em 2005 e marcou o momento em que aqueles jovens estavam entrando para a universidade. Esses jovens
cresceram num universo paralelo ao dos pais e de muitos de seus professores. Foram construindo novos
conceitos, mudando comportamentos (Quad.1) e, com isso, forçando as empresas de tecnologia e indústrias a
criar novos produtos e a se adaptar a um novo e crescente mercado: o do mundo digital. Computador, laptop,
telefone celular, iPods, games e mensagens de textos ou blogs fazem parte da parafernália do cotidiano e que
para muitos adultos ainda são enigmas complicadíssimos. Os adolescentes de hoje fotografam tudo com seus
sofisticados celulares, têm acesso a todas as informações nos seus computadores e sabem de tudo em tempo
real. São ágeis, curiosos, informados e dominam a tecnologia. Não são mais o futuro, porque o futuro já é. Mesmo
assim, ainda existe a queda do rendimento escolar, as dificuldades do diálogo, um paradoxal isolamento no meio
da rede de tantos contatos e conexões e a falta de comunicação do afeto nas famílias onde todos ficam
“perdidos”. ‘Com-viver’ num mundo em constante e cada vez mais veloz transformação pode ocasionar riscos e
problemas à saúde, durante uma fase de crescimento e desenvolvimento onde talvez a maturação cerebral seja
estimulada por tantas imagens coloridas em pixels que formam confusões e também problemas de memória e de
concentração. Será que o peGeração digital Ano 10, Agosto de 2011 43 diatra ou o médico da família saberá lidar
com isso ou resolver esta nova situação? Por que, afinal, o computador faz tanto sucesso? Pela velocidade da
informação, pelo acesso gratuito a qualquer local do planeta, por mais distante que seja e por tornar a vida mais
confortável e prática, simplificando as tarefas rotineiras do dia a dia. Praticamente todos os adolescentes criam
seus fotologs e blogs e conversam em chats, trocando mensagens e que vão sendo repassadas através de seus
celulares e computadores. Vão formando novos grupos e tribos, mas continuam isolados cada qual no seu
mundinho virtual. Conversam horas a fio sobre tudo ou sobre nada, vão se revelando ou disfarçando o que não se
quer revelado e inventando mais ainda. A inabilidade para distinguir o verdadeiro do falso ou os antagonismos
verdade/mentira ou real/virtual é o grande problema e a fonte maior dos riscos. Por que disputar o controle
remoto da televisão, que fica na sala e ocupada por toda a família, se ir para o quarto para “ficar na minha” em
outro mundo conversando com a galera, ou bancando o hacker, é bem mais fácil e convidativo? Além de “ficar
plugado” e visitar todos os portais, e “baixar” de tudo: músicas, filmes e a tal da pesquisa que aquele professor
chato pediu para daqui a dois dias em vez de “queimar neurônios” para redigir um trabalho original! O
computador faz, então, o papel de confidente e de melhor amigo, apesar de paradoxalmente estarem cada vez
mais sozinhos, pois as máquinas não transmitem afeto, apesar de hoje em dia “falarem” também, e em muitos
idiomas! Se as crianças e os adolescentes pudessem conversar mais em família sobre tantos temas ainda
hipocritamente considerados tabus, seguramente, não existiria na rede tanto espaço para a pornografia e a
banalização do sexo, vendido como mero produto e desprovido de valores morais, afetivos, emocionais,
espirituais. Pelas características do anonimato e de veículo de comunicação instantânea entre pessoas de vários
grupos, a internet pode se tornar uma ameaça ou uma faca de dois gumes. Da mesma forma que a internet é
usada para discutir temas importantes na sociedade, aproximando opiniGeração digital 44 Revista Hospital
Universitário Pedro Ernesto, UERJ cCrianças e aAdolescentes dUniverso Digital Desafiam limites e transgridem
regras e horários. Tudo é sem fronteiras, sem limites e sem demora e simultâneo. Fantasias e imaginação O
anonimato garante a possibilidade de mentir sobre qualquer coisa. Todos querem ter amigos e pertencer a um
grupo de iguais e sofrem a pressão dos amigos. Mundos real e virtual se confundem e são criados novos códigos
de relacionamento, aumentam os contatos entre o grupo de iguais, mas serão todos amigos? Tornam alvos
preferidos do consumismo e da globalização digital. Alvo de vendas on-line e da pirataria digital, acesso fácil ao
proibido. Enfrentam crises de valores com seus pais e professores sobre o que é “realmente” importante no aqui
e agora virtual. Não existe a fiscalização e muito menos valores sobre o que é “virtualmente” importante, pois
tudo é (quase sempre) “real”.
Procura de sua própria identidade e autonomia. O nome é importante. Construção de uma (ou várias) versão(ões)
virtual da identidade. O nome é substituído por senhas e logins Crescer demora muito tempo Tudo é rápido e imediato
Quadro 1. As crianças e os adolescentes na era digital. ões de pessoas distantes, também reflete o trabalho de pessoas
com motivação ilegal ou criminosa. Crianças e adolescentes, curiosos e impulsivos por natureza e sem informações
sobre perigos da rede, não adivinham quem se esconde por trás de um apelido charmoso. Os abusadores que
usam a internet tentam validar suas crenças e comportamentos. Ao encontrar qualquer um e ainda mais
adolescentes considerados “inocentes”, que se interessam ou concordam com seus valores, eles fortalecem suas
razões, racionalizam e legitimam o que estão fazendo, como se nada fosse condenável, doentio ou cruel em seus
atos. Tudo é banalizado no corriqueiro das falas e imagens, e reivindicado como “liberdade de expressão”.
Aproveitam-se das brechas da legislação e das falhas de fiscalização em vários países, inclusive o Brasil. Mas o
Ministério Público vem atuando e já existem as Delegacias de Repressão aos Crimes Virtuais ou Crimes
Cibernéticos em 11 Estados brasileiros, inclusive com uma Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos
e a SAFERNET BRASIL que pode ser sempre acessada para qualquer denúncia www.safernet.org.br . Mas, nada
mais será como antes! Todos os dias, surgem tecnologias novas e desde que a internet ou a rede das redes,
começou a se popularizar no final dos anos 90, novos conceitos, inclusive de relacionamento, foram
incorporados ao cotidiano das pessoas. E as crianças e adolescentes, com o ímpeto típico da idade,
desvendam, absorvem, lidam com mais facilidades e compartilham os segredos e labirintos da rede. Hoje todo
adolescente da classe média, e cada vez mais das classes populares tem um pen drive e, acoplado a ele, uma
série de objetos cada vez menores e identificados por letras e algarismos que descrevem suas múltiplas
funções: MP3 que reproduzem arquivos de música digital, MP4 que reproduzem vídeos e fotos e MP5 que
possibilitam a adição de uma câmara digital ao aparelho e até receber e gravar transmissões de TV. Baixar
vídeos no YOUTUBE ou falar com colegas no SKYPE, e também navegar na comunidade virtual MySpace
compartilhando de tudo como fotos, festividades, encontros de bandas ou interagindo no fã-clube virtual são
tarefas que envolvem os adolescentes e cada vez mais os irmãos menores e ainda crianças. Atualmente, com
o advento das novas tecnologias, estamos também diante de uma nova revolução, não só dos novos padrões
de relacionamento pessoal, como da forma como aprendemos e manifestamos a nossa sexualidade (Quad.2).
No isolamento seguro de seu quarto ou de seu computador, numa lan house, o/a adolescente inicia seus
relacionamentos com informações de outras pessoas de todos os tipos e idades, cuja identidade real é
desconhecida. Relaciona-se de maneira simultânea e superficial e espera a “repercussão virtual” de sua
imagem, muitas vezes transmitida por uma webcam em tempo real ou em vídeo. Este retorno se traduz em
variáveis quantidades de manifestações, seja no fotolog ou em alguma comunidade virtual ou site de
relacionamento, transformando o internauta numa web-celebridade ou, então, destruindo ferozmente sua
imagem: cyberbullying. Os riscos de fantasias e também de grandes decepções e até de pedofilia existem e
são cada vez mais frequentes, incluindo sites que incitam à violência, redes de drogas e prostituição, além de
redes de tráfico de pessoas nacional e internacional, sexo virtual compulsivo e pornografia. Observa-se uma
busca da experiência sexual que alguns sociólogos denominam de pansexualidade (pan=tudo). Seria a forma
como os adolescentes da geração digital exercem sua sexualidade: uma expressão de liberdade, vazio e
rebeldia, que não depende do gênero e foge dos esGeração digital Ano 10, Agosto de 2011 45 tereótipos
culturais tradicionais. Essa forma de experimentar, “ficando” e testando a sexualidade, acontece mediante
menos envolvimento emocional e compromisso afetivo do que as gerações anteriores. As mensagens de texto
sobre o relacionamento social e a sexualidade se transformaram em simples e curtas, porém, diretas
mensagens de cunho sexual, denominadas de sexting, e que também fazem parte do idioma
adolescentês/internetês criado para diferenciar das mensagens dos pais/adultos e que são hoje em dia
transmitidas pelos celulares e computadores pelos programas dos blogs e do twitter. A linha limite que separa o
uso produtivo e equilibrado da dependência da internet do uso patológico, está sim cada vez mais tênue. Trata-
se de uma questão de grau não só do uso quantitativo e das intermináveis horas diante do computador como
também da qualidade dos conteúdos explorados na rede. Qual pai, mãe, professor ou médico, a essa altura da
vida, já não sabe que “remédio que cura também pode matar”? O uso doentio do computador nessa fase do
desenvolvimento da infância e, especialmente, na adolescência ocorre pois está se formando um novo ego
corporal com consequente elaboração das perdas do mundo infantil, com um importante descompasso entre o
crescimento do corpo e a aceitação psicológica do fato (Tab.). Como resultado, o adolescente cria mecanismos
de manejo onipotente das ideias, além de uma negação igualmente onipotente, segundo a qual não necessita
da ajuda do outro, e que, por si só, se basta, exemplificado pela atividade masturbatória nessa fase de vida.
Portanto, o meio virtual, oferece através das salas de bate-papo e dos jogos eletrônicos, um terreno fértil para
que o manejo onipotente se realize, pois, ao ser criada uma identidade alternativa através de um simples
clique, evita-se o confronto com aspectos mais sensíveis e fragilizados da personalidade em formação.
Constrói um mundo imaginário para enfrentar a própria desorganização interna: tudo funciona segundo seus
desejos onipotentes de controlar as frustrações. E ainda por meio dos jogos e videogames, brinca de Deus,
decidindo sobre o destino, a vida e a morte dos personagens criados pela indústria eletrônica. É comum que os
adolescentes usem os fóruns de apoio on-line para lidar com seus problemas, em busca de atenção

NOME:_________________________________________________TURMA:________
NOME:________________________________________________ DATA:____/____/____
Atividade em dupla
Parte I
1) Retire do texto, três vantagens que podemos encontrar ao usar a internet e a tecnologia.
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2) Retire do texto, três desvantagens que podemos encontrar ao usar a internet e a tecnologia.
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3) Vocês já tinham parado para pensar em todas essas desvantagens?


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4) Como podemos evitar, todos os riscos relatados no texto? Escreva sugestões.


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5) Você considera importante, na escola, debatermos sobre esse assunto? Você já conversou com seus pais
ou responsáveis sobre isso?

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