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Aulas muito relevantes

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2ª FASE OAB | PENAL | 37º EXAME

Direito Penal e
Processual Penal

SUMÁRIO

Extinção da punibilidade
1.1 Introdução ............................................................................................................. 13
1.2 Causas de extinção da punibilidade ..................................................................... 13
1.3 Questões sobre extinção da punibilidade ............................................................. 24

Da relação de causalidade
2.1. Introdução ............................................................................................................ 27
2.2. Causas absolutamente independentes ................................................................ 27
2.2.1. Conceito ............................................................................................................ 27
2.2.2. Espécies de causas absolutamente independentes ......................................... 27
2.2.3. Consequências das causas absolutamente independentes ............................. 29
2.3. Causas relativamente independentes .................................................................. 29
2.3.1. Conceito ............................................................................................................ 29
2.3.2. Espécies de causas relativamente independentes ........................................... 30
2.4. Dúvida mais recorrente ........................................................................................ 33
2.5 Questões sobre nexo de causalidade ................................................................... 39

Concurso de pessoas
3.1. Conceito de concurso de pessoas ....................................................................... 41
3.2. Requisitos ............................................................................................................ 41
3.2.1. Pluralidade de condutas ................................................................................... 41
3.2.2. Relevância causal das condutas....................................................................... 42
3.2.3. Vínculo subjetivo ............................................................................................... 43
3.2.4. Identidade de infração para todos os agentes .................................................. 44
3.3. Modalidades de atuação no concurso de pessoas .............................................. 44
3.3.1. Autoria .............................................................................................................. 44
3.3.2. Coautoria .......................................................................................................... 47
3.3.3. Participação ...................................................................................................... 48
3.4. Punibilidade do concurso de pessoas.................................................................. 53
3.4.1. Participação de menor importância................................................................... 53
3.4.2. Da cooperação dolosamente distinta ou desvios subjetivo entre os
participantes ............................................................................................................... 53
3.5. Comunicabilidade das elementares e circunstâncias do crime ............................ 54
3.6 Questões sobre concurso de pessoas .................................................................. 57

Juizado Especial Criminal


4.1 Considerações iniciais .......................................................................................... 62
4.2 Conceito de infrações de menor potencial ofensivo.............................................. 63
4.3 Critérios e objetivos dos Juizados Especiais Criminais ........................................ 65
4.4 Competência no Juizado Especial Criminal .......................................................... 67
4.5 Situações de remessa para o Juízo Comum ........................................................ 68
4.6 Citação no âmbito do Juizado Especial Criminal .................................................. 69
4.7 Procedimento Sumaríssimo (Fase processual) .................................................... 73
4.8 Recursos de Apelação e Embargos Declaratórios ............................................... 74
4.8.1 Observações sobre Recursos no âmbito dos Juizados Especiais Criminais ..... 75
4.8.2 Habeas Corpus e Revisão Criminal no Juizado Especial Criminal .................... 76
4.8.3 Pedido de Uniformização de Jurisprudência. ..................................................... 76
4.9 Suspensão Condicional do Processo ................................................................... 77
4.10 Questões sobre Juizado Especial Criminal ......................................................... 81

Emendatio Libelli e Mutatio Libelli


5.1 Introdução ............................................................................................................. 84
5.2 Emendatio libelli .................................................................................................... 84
5.3 Mutatio libelli ......................................................................................................... 87
5.4 Questões sobre Emendatio libelli e Mutatio libelli ................................................. 88

Reformatio In Pejus
6.1 Introdução ............................................................................................................. 93
6.2 Recurso da acusação ........................................................................................... 93
6.3 Recurso da defesa ................................................................................................ 94
6.4 Reformatio in pejus direta ..................................................................................... 94
6.5 Reformatio in pejus indireta .................................................................................. 94
6.6 Questões sobre Reformatio in pejus ..................................................................... 95

Crimes contra a vida


7.1 Homicídio simples ................................................................................................. 97
7.1.1 Conceito de homicídio ....................................................................................... 97
7.1.2 Meios de execução ............................................................................................ 97
7.1.3 Sujeitos do delito................................................................................................ 98
7.1.4 Elemento subjetivo............................................................................................. 99
7.1.5 Consumação ...................................................................................................... 99
7.1.6 Tentativa ............................................................................................................ 99
7.2 Homicídio privilegiado ..........................................................................................100
7.2.1 Motivo de relevante valor social ........................................................................100
7.2.2 Motivo de relevante valor moral ........................................................................100
7.2.3 Domínio de violenta emoção ............................................................................100
7.3 Homicídio qualificado ...........................................................................................101
7.3.1 Conceito ............................................................................................................101
7.3.2 Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe .........102
7.3.3 Motivo fútil.........................................................................................................102
7.3.4 Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ...............................102
7.3.5 À traição, de emboscada ..................................................................................104
7.3.6 Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime ..........................................................................................................................105
7.3.7 Feminicídio .......................................................................................................106
7.3.8 Praticado contra agentes de segurança ...........................................................107
7.3.9 Emprego de Arma de Fogo de uso restrito ou proibido ....................................107
7.3.10 Homicídio contra menor de 14 anos ...............................................................107
7.3.11 Homicídio privilegiado-qualificado...................................................................108
7.4 Homicídio culposo................................................................................................108
7.4.1 Conceito ............................................................................................................108
7.4.2 Modalidades de culpa .......................................................................................108
7.4.3 Concorrência e compensação de culpas ..........................................................109
7.4.4 Perdão judicial ..................................................................................................109
7.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio .......................................................110
7.5.1 Conceito de suicídio..........................................................................................110
7.5.2 Automutilação ...................................................................................................110
7.5.3 Sujeito ativo e passivo ......................................................................................110
7.5.5 Elemento subjetivo............................................................................................111
7.5.6 Consumação e tentativa ...................................................................................112
7.5.7 Figuras típicas qualificadas ...............................................................................112
7.5.8 Formas majoradas ............................................................................................112
7.5.9 Pacto de morte..................................................................................................113
7.6 Infanticídio ...........................................................................................................114
7.6.1 Conceito ............................................................................................................114
7.6.2 Elementos do tipo objetivo ................................................................................114
7.6.3 Sujeitos do delito...............................................................................................115
7.6.4 Consumação e tentativa ...................................................................................116
7.7 Aborto ..................................................................................................................116
7.7.1 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento ...........................116
7.7.2 Aborto provocado por terceiro...........................................................................117
7.7.3 Aborto consensual ............................................................................................117
7.7.4 Aborto legal .......................................................................................................118
7.8 Questões sobre crimes contra a vida...................................................................119

2ª Fase do Júri
8.1 Procedimento do Tribunal do Júri – 2ª Fase ........................................................120
8.1.1 Preclusão da decisão de pronúncia ..................................................................120
8.1.2 Preparação e organização do júri .....................................................................120
8.1.3 Desaforamento .................................................................................................121
8.1.4 Excesso de Serviço ..........................................................................................122
8.1.5 Ausência do defensor .......................................................................................123
8.1.6 Ausência do acusado........................................................................................123
8.1.7 Imprescindibilidade do depoimento da testemunha ..........................................123
8.1.8 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento da sessão .124
8.1.9 Infrutífera condução coercitiva ..........................................................................124
8.1.10 Realização do julgamento ...............................................................................124
8.1.11 Preparo para a composição do conselho de sentença ...................................125
8.1.12 Abertura dos trabalhos....................................................................................125
8.1.13 Ausência de quórum .......................................................................................125
8.1.14 Reunião prévia do juiz com os jurados ...........................................................126
8.1.15 Formação do conselho de sentença ...............................................................127
8.1.16 Recusas motivadas e imotivadas....................................................................127
8.1.17 Separação do julgamento ...............................................................................128
8.1.18 Arguição de impedimento, suspeição ou incompatibilidade ............................129
8.1.19 Estouro da urna ..............................................................................................129
8.1.20 Compromisso e entrega de peças aos jurados ...............................................130
8.1.21 Instrução em plenário .....................................................................................130
8.1.22 Interrogatório do acusado ...............................................................................130
8.1.23. Dos debates ...................................................................................................131
8.1.24 Limite de tempo para as partes.......................................................................132
8.1.25 Referências proibidas .....................................................................................132
8.1.26 Do questionário e sua votação........................................................................132
8.1.27 Sentença .........................................................................................................134
8.1.28 Execução antecipada da pena no júri .............................................................135
8.2 Apelação das decisões do júri .............................................................................136
8.2.1 Considerações ..................................................................................................136
8.3 Apelação do assistente de acusação no procedimento do júri ............................144
8.3.1 Considerações iniciais ......................................................................................144
8.3.2 Procedimento ....................................................................................................145
8.4 Questões sobre 2ª Fase do Júri...........................................................................148
Crimes contra o patrimônio
9.1 Furto ....................................................................................................................149
9.1.1 Conceito ............................................................................................................149
9.1.2 Consumação e tentativa ...................................................................................149
9.1.3 Furto privilegiado ..............................................................................................150
9.1.4 Furto qualificado ...............................................................................................150
9.1.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021 ....................................................152
9.2 Roubo ..................................................................................................................153
9.2.1. Ação nuclear ....................................................................................................153
9.2.2. Espécies de roubo: próprio e impróprio ...........................................................154
9.2.3 Consumação e tentativa ...................................................................................155
9.2.4 Causas especiais de aumento de pena ............................................................155
9.2.5 Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo..............156
9.2.6 Roubo com emprego de explosivo....................................................................157
9.2.7 Roubo qualificado pelo resultado ......................................................................157
9.3 Extorsão...............................................................................................................159
9.3.1 Ação nuclear .....................................................................................................159
9.3.2 Consumação e tentativa ...................................................................................159
9.3.3 Extorsão qualificada..........................................................................................160
9.3.4. Extorsão qualificada pela privação da liberdade ..............................................160
9.4 Extorsão mediante sequestro ..............................................................................160
9.4.1 Conceito e objetividade jurídica ........................................................................160
9.4.2 Consumação .....................................................................................................161
9.4.3 Formas qualificadas ..........................................................................................161
9.4.4 Extorsão mediante sequestro qualificada pelo resultado ..................................161
9.4.5 Delação premiada .............................................................................................162
9.5 Dano ....................................................................................................................162
9.5.1 Ação nuclear .....................................................................................................162
9.5.2 Dano qualificado ...............................................................................................163
9.5.3 Ação penal ........................................................................................................163
9.6 Apropriação indébita ............................................................................................164
9.6.1 Conceito e objetividade jurídica ........................................................................164
9.6.2 Causas de aumento de pena ............................................................................165
9.7 Estelionato ...........................................................................................................165
9.7.1 Ação nuclear .....................................................................................................165
9.7.2 Consumação e tentativa ...................................................................................166
9.7.3 Fraude no pagamento por meio de cheque ......................................................166
9.7.4 Ação penal ........................................................................................................167
9.7.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021 ....................................................168
9.8 Receptação ..........................................................................................................168
9.8.1 Conceito ............................................................................................................168
9.8.2 Receptação qualificada.....................................................................................169
9.8.3 Receptação culposa .........................................................................................169
9.8.4 Receptação punível autonomamente ...............................................................169
9.8.5 Perdão judicial ..................................................................................................169
9.8.6 Tipo qualificado .................................................................................................170
9.9 Escusas absolutórias ...........................................................................................170
9.9.1 Imunidade absoluta...........................................................................................170
9.9.2 Imunidade relativa.............................................................................................170
9.9.3 Exclusão de imunidade ou privilégio .................................................................170
9.10 Questões sobre crimes contra o patrimônio ......................................................171

Crimes contra a honra


10.1. Calúnia..............................................................................................................183
10.1.1. Conceito e objetividade jurídica .....................................................................183
10.2. Difamação .........................................................................................................183
10.3. Injúria ................................................................................................................184
10.3.1. Injúria racial....................................................................................................184
10.4. Aspectos pontuais dos crimes contra a honra ..................................................185
10.4.1. Causas especiais de exclusão da antijuridicidade .........................................185
10.4.2. Ação penal .....................................................................................................185

Lei de Execução Penal


11.1 Comentários à lei de execução penal ................................................................188
11.2 Detração penal...................................................................................................191
11.3 Regimes Prisionais e Modificação do Regime durante a execução da pena .....192
11.4 Unificação de Penas ..........................................................................................193
11.5 Regime disciplinar diferenciado .........................................................................195
11.6 Progressão de regime........................................................................................196
11.7 Exame criminológico ..........................................................................................203
11.8 Regressão de Regime .......................................................................................204
11.9 Prisão domiciliar.................................................................................................206
11.10 Remição de pena: hipóteses legais .................................................................206
11.11 Permissão de saída e saída temporária ..........................................................207
11.12 Monitoração eletrônica.....................................................................................209
11.13 Questões sobre Lei de Execução Penal ..........................................................209

Livramento condicional
12.1 Requisitos ..........................................................................................................213
12.2 Hipóteses de revogação do Livramento Condicional .........................................216
12.3 Suspensão do Livramento Condicional..............................................................216
12.4 Incidentes da Execução Penal ...........................................................................217
12.5 Anistia, Graça, Indulto........................................................................................217
12.6 Aspectos gerais relacionados à execução da medida de segurança.................218

Lei Maria da Penha


13.1. Histórico ............................................................................................................226
13.2 Finalidade da Lei 11.340/06 ...............................................................................226
13.3 Requisitos para a aplicação da lei .....................................................................228
13.4 Âmbito familiar ...................................................................................................229
13.5 Relação íntima de afeto, independentemente de coabitação ............................230
13.6 Direitos assegurados às mulheres .....................................................................230
13.7 Obrigações do Estado na lei ..............................................................................230
13.8 Família e sociedade ...........................................................................................230
13.9 Conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher ..............................231
13.10 Situações e lugares da violência......................................................................231
13.11 Direitos humanos .............................................................................................232
13.12 Formas de violência domésticas e familiares...................................................232
13.12.1 Fato não criminoso (atípico) como forma de violência contra a mulher ........234
13.13 Das medidas integradas de prevenção ............................................................234
13.14 Do atendimento pela autoridade policial ..........................................................236
13.14.1 Prioridade no ECDL ......................................................................................237
13.15 Organização judiciária na Lei Maria da Penha ................................................238
13.16 Medidas protetivas de urgência .......................................................................240
13.17 Prisão preventiva de ofício pelo juiz.................................................................241
13.17.1 Notificação da ofendida ................................................................................242
13.17.2 Das medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor ......................242
13.17.3 Das medidas protetivas de urgência à ofendida ...........................................243
13.18 Do crime de descumprimento de medidas protetivas de urgênca ...................244
13.18.1 Ministério Público – custus legis ...................................................................244
13.18.2 Assistência judiciária.....................................................................................245
13.18.3 Da equipe de atendimento multidisciplinar....................................................245
13.18.4 Orçamento do judiciário ................................................................................245
13.18.5 Competências ...............................................................................................246
13.18.6 Registros das medidas protetivas aplicadas .................................................246
13.19 Juizado Especial Criminal e a Lei Maria da Penha ..........................................246
13.20 Acordo de não persecução penal (ANPP) .......................................................247
13.21 Questões sobre Lei Maria da Penha ................................................................248

Lei de drogas
14.1 Retrospectiva .....................................................................................................249
14.2 Características ...................................................................................................250
14.3 Usuário ..............................................................................................................250
14.4 Tráfico propriamente dito ...................................................................................251
14.5 Bem jurídico tutelado .........................................................................................252
14.6 Sujeito ativo e sujeito passivo ............................................................................252
14.7 Elemento normativo indicativo da ilicitude .........................................................254
14.8 Quantidade de drogas: uso ou tráfico? ..............................................................254
14.9 Tráfico ................................................................................................................255
14.9.1 Consumação ...................................................................................................255
14.9.2 Outras figuras e o tráfico.................................................................................255
14.10 Tráfico privilegiado ...........................................................................................256
14.10.1 Natureza hediondo do tráfico privilegiado .....................................................256
14.11 Tráfico em transporte público...........................................................................259
14.12 Procedimentos .................................................................................................259
14.12.1 Procedimento especial da Lei nº 11.343/06 ..................................................260
14.12.2 Audiência una ...............................................................................................260
14.13 Absolvição sumária ..........................................................................................261
14.13.1 Questões pontuais ........................................................................................262
14.14 Prazo para destruição de drogas apreendidas ................................................262
14.14 Questões sobre Lei de Drogas ........................................................................264

Defesa Preliminar
15.1 Introdução ..........................................................................................................265
15.2 Identificação .......................................................................................................265
15.3 Prazo .................................................................................................................266
15.4 Conteúdo ...........................................................................................................266
15.5 Estrutura da Peça ..............................................................................................266

Lei dos crimes hediondos


16.1 Sistemas para definição de Crime Hediondo .....................................................269
16.2 Rol dos crimes hediondos ..................................................................................271
16.2.1 Homicídio simples ...........................................................................................272
16.2.2 Homicídio qualificado ......................................................................................272
16.2.3 Feminicídio......................................................................................................272
16.3 Correntes ...........................................................................................................273
16.4 Crimes hediondos previstos em leis especiais ..................................................277
16.5 Consequências para os crimes hediondos e equiparados.................................277
16.5.1 Correntes ........................................................................................................278
16.6 Progressão de regime dos crimes hediondos ....................................................280
16.7 Livramento condicional nos crimes hediondos...................................................282

Embargos infringentes e de nulidade


17.1 Conceito .............................................................................................................285
17.2 Identificação .......................................................................................................286
17.3 Base Legal .........................................................................................................286
17.4 Legitimidade ......................................................................................................287
17.5 Cabimento .........................................................................................................287
17.6 Prazo .................................................................................................................287
17.7 Forma e competência para o julgamento ...........................................................288
17.8 Estruturação ......................................................................................................289
17.9 Questões sobre Embargos Infringentes e de Nulidade......................................293

Embargos de declaração
18.1 Cabimento/conteúdo ..........................................................................................294
18.2 Identificação .......................................................................................................295
18.3 Base legal ..........................................................................................................295
18.4 Prazo .................................................................................................................295
18.5 Efeito interruptivo ...............................................................................................296
18.6 Estruturação do recurso.....................................................................................296

Prisão processual
19.1 Introdução ..........................................................................................................301
19.2 Prisão em Flagrante...........................................................................................302
19.2.1 Espécies de flagrante .....................................................................................303
19.2.2 Procedimento para a lavratura do auto de prisão em flagrante ......................309
19.2.3 Garantias legais e constitucionais do preso ....................................................311
19.2.4 Providências judiciais ao receber o auto de prisão em flagrante ....................312
19.3 Peças práticas no contexto de Prisão em Flagrante ..........................................315
19.3.1 Relaxamento de prisão ...................................................................................315
19.4 Liberdade provisória ..........................................................................................320
19.5 Prisão preventiva ...............................................................................................329
19.5.1 Legitimação.....................................................................................................330
19.5.2 Pressupostos ..................................................................................................331
19.5.3 Fundamentos da prisão preventiva .................................................................332
19.5.4 Condições de admissibilidade da Prisão Preventiva.......................................336
19.5.5 Peças privativas de advogado no contexto de prisão preventiva ...................340
19.6 Prisão temporária...............................................................................................345
19.6.1 Decretação por autoridade judicial..................................................................346
19.6.2 Prazo ..............................................................................................................346
19.6.3 Procedimento ..................................................................................................347
19.6.4 Revogação da prisão temporária ....................................................................347
19.6.5 Relaxamento da prisão temporária .................................................................348
19.7 Questões sobre prisão .......................................................................................352
Habeas corpus
20.1 Conceito .............................................................................................................359
20.2 Base Legal .........................................................................................................359
20.3 Espécies ............................................................................................................359
20.4 Legitimidade ativa ..............................................................................................360
20.5 Legitimidade passiva .........................................................................................360
20.6 Admissibilidade/conteúdo ..................................................................................360
20.7 Competência ......................................................................................................361
20.8 Julgamento e efeitos ..........................................................................................363
20.9 Pedido liminar ....................................................................................................363
20.10 Estruturação de Habeas corpus.......................................................................364

Recurso Ordinário Constitucional


21.1 Conceito .............................................................................................................369
21.2 Base legal ..........................................................................................................369
21.3 Identificação .......................................................................................................370
21.4 Cabimento em matéria penal .............................................................................370
21.5 Prazo e processamento do recurso ...................................................................371
21.6 Questões sobre Recurso Ordinário Constitucional ............................................376

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 2ª Fase do 37º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas.
Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em fevereiro de 2023
Extinção da punibilidade

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal

1.1 Introdução
Em regra, as causas extintivas da punibilidade só alcançam o direito de punir do Estado,
subsistindo o crime em todos os seus requisitos e a sentença condenatória irrecorrível.
Excepcionalmente, a causa resolutiva do direito de punir apaga o fato praticado pelo
agente e rescinde a sentença condenatória irrecorrível. É o que acontece com a abolitio criminis
e a anistia.
Ordinariamente, as causas extintivas de punibilidade estão previstas no artigo 107 do
Código Penal. Todavia, o rol não é taxativo, uma vez que existem outras causas extintivas de
punibilidade previstas no Código Penal e em leis especiais.
Exemplo: art. 312, §3º, art. 342, § 2º, art. 168-A, § 2º, todos do Código Penal.
No nosso estudo, merece especial destaque a decadência e a prescrição.

1.2 Causas de extinção da punibilidade


Conforme o artigo 107 do Código Penal, são causas de extinção da punibilidade:

• Morte do agente
A morte do agente constitui causa de extinção da punibilidade, por conta do princípio da
personalidade da pena, segundo a qual a pena não pode passar da pessoa do condenado
(CF/88, art. 5º, XLV, 1ª parte).
Essa extinção da punibilidade incide sobre todas as espécies de penas, inclusive a pena
de multa. Assim, se, no curso da execução da pena de multa convertida em dívida ativa, o réu
vier a falecer, deve ser declarada extinta a punibilidade do agente pela sua morte, não sendo
possível, assim, direcionar a execução da pena de multa aos seus sucessores.
Isso porque, em sendo personalíssima a responsabilidade penal, a morte do agente faz
com que o Estado perca o jus puniendi, não se transmitindo a seus herdeiros qualquer obrigação
de natureza penal.
Todavia, a própria Constituição Federal prevê a possibilidade de a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (CF/88, art. 5º, XLV, 2ª parte).

• Da anistia, graça e indulto


A anistia, graça e indulto constituem espécies de indulgência, ensejando a renúncia do
Estado ao direito de punir.
São benefícios concedidos por órgãos diversos do Poder Judiciário, mas que somente
ensejam a extinção da punibilidade após decisão judicial.

a) Anistia
Trata-se de espécie de exclusão da incidência do Direito Penal sobre uma ou mais
infrações penais. Não exclui o crime, mas apenas a possibilidade de o Estado punir o agente que
o praticou, razão pela qual tem efeito retroativo.
A competência para concessão de anistia é exclusiva da União e privativa do Congresso
Nacional (CF/88, art. 48, VIII), com a sanção do Presidente da República, só podendo ser
concedida por meio de lei federal.
Não se aplica aos delitos referentes a “prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos” (CF/88, art. 5º, XLIII; Lei
8.072/90, art. 2º, I).

b) Graça
A graça, ao contrário do indulto, é um benefício concedido a pessoa determinada,
condenada definitivamente pela prática de crime comum, consistente na extinção ou comutação
da pena.
Nos termos do art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, a graça não pode ser aplicada em
relação a delitos referentes à prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo e aos definidos como crimes hediondos.
A Constituição Federal não faz expressa referência à graça, sendo esse instituto tratado
pela Lei de Execução Penal como indulto individual (LEP, art. 188).
A competência para concessão da graça é do Presidente da República, nos termos do art.
84, XII, da Constituição Federal, podendo, nos termos do parágrafo único desse artigo, delegar
a atribuição “aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral
da União”.

c) Indulto
O indulto coletivo constitui modalidade de clemência concedida a todo condenado que
preencher os requisitos previstos no Decreto Presidencial publicado geralmente no final de cada
ano. Como se vê, o indulto, ao contrário da graça, tem caráter coletivo e é concedido
espontaneamente.
Assim como a graça, a competência para conceder o indulto é do Presidente da República,
nos termos do art. 84, XII, da Constituição Federal/88, podendo, nos termos do parágrafo único
desse artigo, delegar a atribuição “aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República
ou ao Advogado-Geral da União”.
Os requisitos para a concessão do indulto variam de acordo com cada decreto publicado,
considerando, invariavelmente, requisitos subjetivos (primariedade e bom comportamento
carcerário, sem registro de falta grave ao longo do ano) e objetivos (tempo de cumprimento de
pena).
O indulto pode ser total, quando ensejar a extinção da pena, ou parcial, na hipótese de
diminuição ou comutação da pena, bem como incondicionado ou condicionado.
Nos termos do art. 2º, I, da Lei 8072/90, o indulto não pode ser aplicado em relação a
delitos referentes à prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e
aos definidos como crimes hediondos. O artigo 44 da Lei 11.343/2006 também veda a concessão
do indulto aos condenados pelo crime de tráfico de drogas.

• Lei posterior que deixa de considerar o fato criminoso (abolitio criminis)


A lei penal retroage, atingindo fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, sempre que
beneficiar o agente de qualquer modo (CF, art. 5º, XL; CP, art. 2º). Assim, se a lei posterior deixar
de considerar o fato como criminoso, excluindo da seara penal a conduta como sendo delituosa,
retroagirá para alcançar os fatos praticados antes da sua vigência, com a consequente extinção
da punibilidade dos responsáveis.
A Lei nº 11.106/2005, por exemplo, revogou os artigos 217 e 240, ambos do Código Penal,
deixando de considerar como condutas criminosas a sedução e o adultério. Logo, se, por
exemplo, o agente estava cumprindo pena pela prática do crime de sedução (CP, art. 240), o juiz
da execução penal terá de declarar a extinção da punibilidade do condenado, já que o fato não
mais constitui crime.
Nos termos do artigo 2º do Código Penal, a abolitio criminis gera o efeito de fazer cessar
a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, como, por exemplo, a reincidência,
maus antecedentes, lançamento do nome do réu no rol dos culpados. Assim, se, após extinta a
punibilidade pela abolitio criminis, o agente praticar novo crime, não será considerado
reincidente.
Todavia, não apaga os efeitos civis da prática delituosa, já que a lei fala em cessação dos
efeitos “penais” da sentença.
Se o fato abolido como crime estiver sendo apurado ainda na fase de inquérito policial ou
na fase judicial em sede de juízo de primeiro grau, cumpre ao juiz competente para conduzir a
persecução penal declarar a extinção da punibilidade. No caso de se encontrar na fase recursal,
ou na hipótese de competência originária dos Tribunais, a competência para declaração de
extinção da punibilidade será do respectivo Tribunal.
Se já foi proferida sentença condenatória, encontrando-se na fase de execução criminal,
a competência para a declaração da extinção da punibilidade será do Juízo da Execução
Criminal, nos termos do artigo 66, I, da Lei 7.210/84, e da Súmula 611 do Supremo Tribunal
Federal.

• Prescrição, decadência e perempção


O artigo 107, IV, do Código Penal prevê como causas de extinção da punibilidade a
prescrição, decadência e perempção.
A prescrição será analisada em capítulo próprio, diante da abrangência do tema.

a) Decadência
A decadência é a perda do direito do ofendido e dos demais legitimados de representar,
no caso de ação penal pública condicionada à representação, e de oferecer a queixa-crime, na
hipótese de ação penal privada, em face do decurso do tempo.
Nos termos do artigo 103 do Código Penal e 38 do Código de Processo Penal, o ofendido
ou seu representante legal decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro
do prazo de seis meses, contados a partir do dia em que veio a saber quem é o autor do crime,
ou, no caso da ação penal privada subsidiária da pública, do dia em que se esgotou o prazo para
o oferecimento da denúncia.
Logo, os legitimados para apresentar representação ou oferecer queixa-crime têm o prazo
de 06 (seis) meses, a contar da inequívoca ciência da autoria do fato, para exercer esse direito.
Escoado esse prazo sem iniciativa do ofendido ou do seu representante legal, incide a
decadência do direito de representação ou de queixa-crime, com a consequente extinção da
punibilidade do agente ofensor.
Como se trata de prazo penal, a contagem segue as regras do artigo 10 do Código Penal,
incluindo-se o dia do começo, excluindo-se o último dia, considerando o calendário comum.
Assim, se, por exemplo, o ofendido tomou ciência da autoria do fato no dia 03/03/2012, terá até
o dia 02/09/2020 para oferecer a representação ou ajuizar a queixa-crime. A partir do dia
03/09/2020 já terá incidido a decadência do direito, com a consequente extinção da punibilidade.
O prazo penal não se suspende e não se interrompe, não podendo, ainda, ser prorrogado
para o primeiro dia útil, se cair no sábado, domingo ou feriado. A partir do momento em que o
ofendido tomou conhecimento da ciência da autoria do fato, começa a correr o prazo
decadencial, não havendo suspensão ou interrupção.

b) Perempção
A perempção é uma causa de extinção da punibilidade que incide por conta da inércia
processual do querelante.
A perempção só é possível na ação penal exclusivamente privada, não sendo aplicável à
ação penal privada subsidiária da pública, já que, diante da negligência do querelante, o
Ministério Público retoma a ação penal (CPP, art. 29, parte final).
As hipóteses de perempção estão elencadas no artigo 60 do Código de Processo Penal.
E, segundo se extrai desse dispositivo, a perempção somente é possível após o ajuizamento da
ação penal privada.
Nos termos do artigo 60, inciso I, do Código de Processo Penal, haverá perempção
quando, iniciada a ação penal, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos. Nesse caso, se, após regular intimação, o querelante não se
manifestar no prazo legal de 30 dias, será decretada a extinção da punibilidade pela perempção.
Tomemos como exemplo o querelante deixar de nomear novo advogado, depois de devidamente
intimado a renúncia do advogado que o representava na ação penal.
A perempção incide também quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua
incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do Código
de Processo Penal (CPP, art. 60, II).
Na hipótese de morte do querelante, a legitimidade para prosseguir na ação penal passa
para o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31). Se um desses legitimados
não se habilitar aos autos, a fim de dar prosseguimento ao processo, dentro do prazo de 60 dias,
incidirá a causa de extinção de punibilidade do querelado.
Há perempção quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a
qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais (CPP, art. 60, III). A presença do querelante no ato deve ser
imprescindível. Se o ato permitir ser representado por seu procurador, não haverá perempção.
A falta de pedido de condenação e não apresentação das alegações finais no prazo legal,
se devidamente intimado para tanto, também geram a incidência da perempção (CPP, art. 60,
III, 2ª parte). Assim, ao final da audiência de instrução, nos debates orais o querelante não
formular pedido de condenação ou de procedência do pedido, haverá perempção e, por
conseguinte, a extinção da punibilidade do querelado. Da mesma forma, se os debates orais
foram substituídos por memoriais escritos, por força do artigo 403, § 3º, do Código de Processo
Penal, e o querelante não apresentar essa peça no prazo legal, também incidirá a perempção.
Também gera a perempção quando, sendo querelante pessoa jurídica, esta se extinguir
sem deixar sucessor (CPP, art. 60, IV).

• Da renúncia ao direito de queixa ou perdão aceito nos crimes de ação penal


privada
a) Renúncia ao direito de queixa
É a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a ação
penal privada. Trata-se de ato unilateral pelo qual o ofendido delibera por não ajuizar a queixa-
crime contra o suposto ofensor.
Nos termos do art. 104, caput, do Código Penal: “o direito de queixa não pode ser exercido
quando renunciado”.
A renúncia ao direito de queixa somente pode ser exercida na ação penal exclusivamente
privada, não sendo possível na ação penal privada subsidiária da pública, uma vez que, se o
ofendido não oferecer a queixa-crime, o Ministério Público poderá oferecer a denúncia enquanto
não incidir outra causa de extinção da punibilidade do agente, como, por exemplo, pela
prescrição.
A renúncia pode ser: expressa e tácita. A renúncia expressa constará de declaração
assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais, que não
precisa ser advogado (CPP, art. 50).
A renúncia tácita ao direito de queixa consiste na prática de ato incompatível com a
vontade de o ofendido ou seu representante legal iniciar a ação penal privada (CP, art. 104,
parágrafo único, 1ª parte). Assim, no crime de injúria, por exemplo, mostra-se incompatível com
a vontade de exercer o direito de queixa o ofendido convidar o ofensor para ser padrinho de
batismo do seu filho.
O fato de o ofendido receber a indenização do dano causado pelo crime não implica
renúncia ao direito de queixa, conforme se extrai do artigo 104, parágrafo único, 2ª parte, do
Código Penal. Todavia, em se tratando de crime de ação penal privada de menor potencial
ofensivo, seguindo o procedimento da Lei nº 9.099/95, a composição civil homologada acarreta
a renúncia ao direito de queixa (Lei 9.099/95, art. 74, parágrafo único).
No caso de concurso de pessoas, a exclusão de um dos ofensores indica renúncia ao
direito de queixa contra todos, não podendo o Promotor de Justiça aditar a queixa para nela
incluir o ofensor excluído.
Com efeito, se, por exemplo, são três os autores do crime de ação penal privada, cumpre
ao ofendido oferecer queixa contra todos ou contra nenhum. A exclusão de um importa renúncia
tácita, estendendo-se aos demais, nos termos do art. 49 do Código de Processo Penal.
Nos termos do art. 50 do Código de Processo Penal, a renúncia do ofendido não impede
que seu representante legal inicie a ação penal privada, nem a renúncia do último excluirá o
direito do primeiro.
Conforme dispõe o artigo 31 do Código de Processo Penal, no caso de morte da vítima,
o direito de oferecer a queixa-crime passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Nesse caso, a renúncia de um dos legitimados não se reveste de causa impeditiva ao exercício
da ação penal privada pelos demais.
Havendo duas ou mais vítimas, a renúncia de uma delas não impede o exercício do direito
de queixa pelas demais.
b) Perdão do ofendido
O perdão do ofendido ou do seu representante legal consiste na manifestação, expressa
ou tácita, de desistir do prosseguimento da ação penal privada. É a desistência manifestada após
o oferecimento da queixa, que obsta o prosseguimento da ação penal privada, conforme prevê
o artigo 105 do Código Penal.
O perdão aceito do ofendido é causa extintiva de punibilidade que incide somente na ação
penal exclusivamente privada.
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública (CP, art. 100, § 3º), a desistência
do ofendido de prosseguir com o processo não determina a extinção da punibilidade, mesmo que
o réu aceite o perdão, pois se trata de ação penal pública, devendo o Ministério Público assumi-
la como parte principal (CPP, art. 29).
Depois de iniciada a ação penal privada, o perdão do ofendido pode ser manifestado até
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (CPP, art. 106, § 2º).
No caso de haver dois ofendidos, o perdão concedido por um não prejudica o direito do
outro (CP, art. 106, II).
O perdão é um ato bilateral, dependendo, pois, da aceitação do querelado, já que poderá
recusar o perdão (CP, art. 106, III), optando pelo prosseguimento da ação penal, a fim de provar
sua inocência.
Quando há dois ou mais querelados, o perdão concedido a um deles se estende a todos,
sem que produza, entretanto, efeito em relação ao que o recusa (CPP, art. 51; CP, art. 106, I e
III).
Assim, havendo dois réus, o perdão aceito por um produz efeito de extinguir a punibilidade
também em relação ao outro, salvo se ocorre recusa. Neste caso, a ação penal continua em
relação ao querelado que o recusou.
Nos termos do artigo 58 do Código de Processo Penal, concedido o perdão, mediante
declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o
aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.
Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.

• Da retratação do agente
A retratação significa desdizer-se, retirar o que foi dito, confessar que errou.
Em regra, a retratação do agente não tem relevância jurídica, funcionando somente como
circunstância judicial na aplicação da pena. Excepcionalmente, o estatuto penal lhe empresta
força extintiva da punibilidade (CP, art. 107, VI).
A retratação, como causa de extinção da punibilidade, somente incide nos casos
expressamente previstos em lei, como, por exemplo, nos crimes contra a honra, conforme prevê
o artigo 143 do Código Penal.
Nos crimes contra a honra, a retratação só é cabível na calúnia e na difamação, sendo
inadmissível na injúria. Nos dois primeiros casos, importa à vítima que o ofensor se retrate
negando que ela praticou o fato imputado. Na injúria, porém, não há imputação de fato, mas
atribuição ao ofendido de qualidade negativa, não importando a esta a retratação.
A retratação nos crimes de difamação e calúnia só é possível quando se trata da ação
penal privada, pois o art. 143 do Código Penal se refere expressamente ao querelado.
Também incide na hipótese prevista no art. 342, § 2º, do Código Penal, que trata do crime
de falso testemunho ou falsa perícia, segundo o qual o fato deixa de ser punível, se, antes da
sentença o agente se retrata ou declara a verdade. Essa retratação só é possível até a sentença
final do procedimento em que foi praticado o falso testemunho.

• Perdão judicial
Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a incidência da infração penal
praticada por agente culpável, deixa de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em
lei.
O perdão judicial pode ser concedido, por exemplo, aos seguintes crimes:
a) art. 121, § 5º, do Código Penal: “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária”;
b) art. 129, § 8º, do Código Penal: “aplica-se à lesão culposa o disposto no §5º do art.
121”;
c) art. 140, § 1º, do Código Penal: em relação ao crime de injúria, “o juiz pode deixar de
aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no
caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria;
d) art. 180, § 5º, do Código Penal, em relação à receptação culposa, “Na hipótese do §3º,
se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar
a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no §2º do art. 155.”;
e) art. 242, parágrafo único, do Código Penal, “Dar parto alheio como próprio; registrar
como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito
inerente ao estado civil: Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza”.

O perdão judicial constitui causa extintiva da punibilidade de aplicação restrita. Significa


que não é aplicável a todas as infrações penais, mas somente àquelas especialmente indicadas
pelo legislador.
Trata-se de um direito subjetivo do réu, ou seja, se satisfeitos os pressupostos exigidos
pela norma, deve o magistrado deixar de aplicar a pena.
O juiz deve analisar discricionariamente se as circunstâncias excepcionais estão ou não
presentes. Caso entenda que sim, não poderá recusar a aplicação do perdão judicial, pois, nesse
caso, o agente terá direito público subjetivo ao benefício.
A sentença que concede o perdão judicial é meramente declaratória da extinção da
punibilidade, não surtindo nenhum efeito penal ou extrapenal. É o que se extrai da Súm. nº 18
do STJ, segundo a qual “a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da
punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.
O perdão judicial e, por conseguinte, a extinção da punibilidade atingem todos os crimes
praticados no mesmo contexto pelo agente, e não apenas aquele que ensejou essa causa
extintiva da punibilidade.
Assim, se, por exemplo, o agente, na condução de veículo automotor, provoca um
acidente, resultando na morte da esposa, filho e uma terceira pessoa desconhecida, o perdão
judicial será causa de extinção da punibilidade em relação a todas as vítimas, embora esteja
vinculado diretamente à morte da esposa e do filho do agente.
1.3 Questões sobre extinção da punibilidade

1) QUESTÃO 4 – XXIX EXAME


Em processo no qual se imputava a Antônio a prática do crime de constituição de milícia privada,
foi designada audiência de instrução e julgamento para oitiva das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa. No dia da audiência, as testemunhas de acusação não compareceram,
determinando o magistrado, por economia processual, a oitiva das testemunhas de defesa
presentes, apesar de o advogado de Antônio se insurgir contra esse fato. Na ocasião, foram
ouvidas três testemunhas de defesa, dentre as quais Pablo, que prestou declarações falsas para
auxiliar o colega nesse processo criminal. Identificada sua conduta, porém, houve extração de
peças ao Ministério Público, que, em 09 de abril de 2019, ofereceu denúncia em face de Pablo,
imputando-lhe a prática do crime de falso testemunho na forma majorada. No processo de
Antônio, foi designada nova audiência de instrução e julgamento, ocasião em que foram ouvidas
as testemunhas de acusação; novamente, Pablo, a seu pedido, prestou declarações,
confirmando que havia mentido na audiência anterior, mas que agora contava a verdade, o que
veio a prejudicar a própria defesa do réu. Com base nas declarações das testemunhas de
acusação e nas novas declarações de Pablo, Antônio veio a ser condenado. Pablo, por sua vez,
em seu processo pelo crime de falso testemunho, também veio a ser condenado, reconhecendo
o magistrado a atenuante do Art. 65, inciso III, alínea b, do Código Penal. Considerando as
informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Antônio e Pablo.
A) Qual argumento de direito processual poderá ser apresentado por você para
desconstituir a sentença condenatória do réu? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual o argumento de direito material a ser apresentado pela defesa técnica de Pablo
para questionar a sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
2) QUESTÃO 1 – XXXI EXAME
Após receber informações de que teria ocorrido subtração de valores públicos por funcionários
públicos no exercício da função, inclusive com vídeo das câmeras de segurança da repartição
registrando o ocorrido, o Ministério Público ofereceu, sem prévio inquérito policial, uma única
denúncia em face de Luciano e Gilberto, em razão da conexão, pela suposta prática do crime de
peculato, sendo que, ao primeiro, foi imputada conduta dolosa e, ao segundo, conduta
culposa. De acordo com a denúncia, Gilberto, funcionário público, com violação do dever de
cuidado, teria contribuído para a subtração de R$ 2.000,00 de repartição pública por parte de
Luciano, que teria tido sua conduta facilitada pelo cargo público que exercia. Diante da
reincidência de Gilberto, já condenado definitivamente por roubo, não foram à ele oferecidos os
institutos despenalizadores. O magistrado, de imediato, sem manifestação das partes, recebeu
a denúncia e designou audiência de instrução e julgamento. No dia anterior à audiência, Gilberto
ressarciu a Administração do prejuízo causado. Com a juntada de tal comprovação, após a
audiência, foram os autos encaminhados às partes para apresentação de alegações finais. O
Ministério Público, diante da confirmação dos fatos, requereu a condenação dos réus nos termos
da denúncia. Insatisfeito com a assistência técnica que recebia, Gilberto procura você para, na
condição de advogado(a), assumir a causa e apresentar memoriais.
Com base nas informações expostas, responda, como advogado(a) contratado por Gilberto, aos
itens a seguir.
A) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de Gilberto para evitar
sua condenação? (Valor: 0,60)
B) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em memoriais para
questionar toda a instrução produzida? (Valor: 0,65)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
3) QUESTÃO 3 – 35º EXAME
Em 09 de agosto de 2021, durante uma reunião de condomínio, iniciou-se uma discussão. O
morador Paulo, lutador de vale tudo, chamou Fábio, o síndico, de ladrão. Ato contínuo, Paulo
partiu para cima de Fábio, no intuito de quebrar seu nariz com um soco. Em seguida, Fábio,
praticante de jiu jitsu, golpeou Paulo, que caiu no chão desmaiado. Paulo foi levado para o
hospital, mas foi liberado horas depois. O laudo hospitalar atestou apenas escoriações leves. Em
10 de maio de 2022, em outra reunião de condomínio, Paulo e Fábio encontraram-se novamente.
Fábio já tinha esquecido os fatos ocorridos na ocasião anterior, porque não era pessoa de
guardar rancor. No entanto, Paulo lembrou de tudo que passou, sentiu-se envergonhado perante
os demais condôminos e resolveu seguir em frente para processar Fábio criminalmente. No dia
seguinte, Paulo noticiou o ocorrido na reunião anterior à autoridade policial e apresentou o laudo
hospitalar para comprovar a lesão sofrida. Após os trâmites regulares das investigações, o
promotor de justiça com atribuição para o caso ofereceu denúncia em face Fábio como incurso
nas sanções do crime de lesão corporal leve, previsto no art. 129, caput do CP. A denúncia foi
recebida e determinada a citação do réu. Considerando as informações acima, na condição de
advogado(a) de Fábio, responda aos itens a seguir.
A) Qual tese a defesa pode alegar como preliminar? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Qual tese de direito material pode ser utilizada para a defesa de Fábio? Justifique.
(Valor: 0,65)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
Da relação de causalidade

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal

2.1. Introdução
Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo ou
liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime.
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. Trata-se
de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade.
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para o
resultado. É a chamada concausa.
Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente independente,
dependendo se teve ou não origem na conduta do agente.

2.2. Causas absolutamente independentes


2.2.1. Conceito
São aquelas que não tem origem na conduta do agente. A expressão “absolutamente”
serve para designar que a outra causa independente por si só produziu o resultado. São causas
que não se inserem na linha do desdobramento natural da conduta do agente, ou seja, causas
inusitadas, desvinculadas da ação do agente, surgindo de fonte distinta.
Em síntese, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si sós
produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta.
Há, na verdade, uma quebra do nexo causal.

2.2.2. Espécies de causas absolutamente independentes


a) Preexistentes
Trata-se de causa que existia antes da conduta do agente e produzem o resultado
independentemente da sua atuação. Ou seja, com ou sem a ação do agente o resultado ocorreria
do mesmo modo.
EXEMPLO

O agente desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, que, no entanto,


vem a falecer pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos,
mas porque antes ingerira veneno com a intenção de suicidar.

Nesse caso, há a conduta do agente (efetuar o disparo), mas o que gerou o resultado
morte foi outra causa (o veneno). Essa outra causa é independente da conduta do agente
(porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem
na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado o disparo o resultado ainda assim se
produziria). É preexistente porque essa outra causa (veneno) já existia antes da ação do agente.

b) Concomitantes
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado
independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que
a ação é realizada.

EXEMPLO

“A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a
falecer exclusivamente por força de uma queda de um lustre sobre sua cabeça.

Nesse caso, há a conduta do agente (desferir o golpe de faca), mas o que gerou o
resultado morte foi outra causa (lustre na cabeça). O lustre na cabeça se trata de causa
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente
independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado
desferido o golpe o resultado ainda assim se produziria). É concomitante porque essa outra
causa (queda do lustre na cabeça) ocorreu exatamente no momento da ação do agente.

c) Supervenientes
São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta
desenvolvida pelo agente.
EXEMPLO

“A” ministra veneno na alimentação de “B”. Antes do veneno produzir efeitos,


mas minutos depois de ser ministrado, cai um lustre na cabeça da vítima,
matando-a.

Nesse caso, há a conduta do agente (ministrar veneno), mas o que gerou o resultado
morte foi outra causa (lustre na cabeça). O lustre na cabeça é uma causa independente da
conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente
(porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não ministrado o veneno o
resultado ainda assim se produziria). É superveniente porque essa outra causa (queda do lustre
na cabeça) ocorreu depois da conduta do agente.

2.2.3. Consequências das causas absolutamente independentes


Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema é
resolvido pelo art. 13, caput, do CP: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou seja,
o agente responde somente por aquilo que deu causa.

Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do
agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados
antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se o dolo era de
matar, o agente responderia por tentativa de homicídio.

CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o


agente responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave
ou gravíssima).

2.3. Causas relativamente independentes


2.3.1. Conceito
Causas relativamente independentes são aquelas que tiveram origem na conduta do
agente. Ou seja, essas causas somente surgiram porque o agente desenvolveu uma conduta.
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando dentro
da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas relativamente
independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente.

Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas, que,
ao final, conduzem ao resultado lesivo.

2.3.2. Espécies de causas relativamente independentes


a) Preexistentes
A causa que efetivamente gerou o resultado já existia ao tempo da conduta do agente,
que concorreu para a sua produção.

EXEMPLO

“A”, com a intenção de matar, desfere um golpe de faca na vítima, que é


hemofílica e vem a morrer em face da conduta, somada à contribuição de seu
peculiar estado fisiológico. No caso, o golpe isoladamente seria insuficiente
para produzir o resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de forma
independente, produzindo por si só o resultado.

Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou


efetivamente o resultado morte foi outra causa (hemofilia). Essa outra causa é independente da
conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente
(porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, essa outra
causa não seria desencadeada e o resultado não ocorreria). É preexistente porque essa outra
causa (hemofilia) já existia ao tempo da ação do agente.

Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha
concorrido para ele com dolo ou culpa.
Isso, porque, segundo doutrina majoritária, a imputação do resultado ao agente exige que
ele tenha conhecimento do estado de saúde do agente (que denota dolo) ou que, pelo menos,
que lhe fosse previsível (indicativo de culpa).

Assim, se, por exemplo, o agente não sabia do estado de saúde da vítima ou não lhe era
previsível, não poderia lhe ser atribuído o resultado morte, responderia, pois, pelo delito de
tentativa de homicídio (se agiu com a intenção de matar).

Se, no entanto, pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e, esta em razão da
hemofilia, desconhecida pelo agente, vem a falecer em razão da eclosão de uma hemorragia, o
agente somente será responsabilizado pelo delito de lesão corporal.

b) Concomitantes
A causa que efetivamente produziu o resultado surge no exato momento da conduta do
agente.

EXEMPLO
Considera-se o ataque à vítima, por meio de disparo de arma de fogo, que, no
exato momento da agressão, sofre ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-
se que a soma desses fatores (causas) produziu a morte, já que a agressão e o
ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o
resultado morte.

Nesse caso, há a conduta do agente (disparo de arma de fogo), mas o que desencadeou
efetivamente o resultado morte foi outra causa (ataque cardíaco). Essa outra causa é
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente
independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada,
essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não ocorreria). É concomitante porque
essa outra causa (ataque cardíaco) foi potencializada no exato momento da conduta do agente.

Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha
concorrido para ele com dolo ou culpa.
c) Supervenientes
A causa que efetivamente produziu o resultado ocorre depois da conduta praticada pelo
agente.
EXEMPLO

O agente desfere um golpe de faca contra a vítima, com a intenção de matá-la.


Ferida, a vítima é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por esse
motivo, a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocada pelo
acidente e não pela facada, mas essa independência é relativa, já que, se não
fosse o ataque, a vítima não estaria na ambulância acidentada e não morreria.
Tendo atuado posteriormente à conduta, denomina-se causa superveniente.

Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou


efetivamente o resultado morte foi outra causa (traumatismo decorrente do acidente). Essa outra
causa é independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É
relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse
desferido a facada, a vítima não estaria na ambulância e, portanto, não teria falecido por conta
do acidente). É superveniente porque essa outra causa (traumatismo pelo acidente) surgiu
depois da conduta do agente

Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-naturalístico,


a lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, CP, que excepcionou a regra
geral, exclui a imputação do resultado ao agente, devendo, no entanto,
responder pelos atos anteriormente efetivamente praticados.

Assim, o agente não responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos
anteriores, que, no caso, foi tentativa de homicídio.
CUIDADO

Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente


responderá pelos atos anteriores praticados, no caso, lesão corporal (leve,
grave ou gravíssima).

2.4. Dúvida mais recorrente


E se o agente não sabia e não tinha condições de saber da existência da causa
preexistente ou concomitante, como fica?

No contexto do nexo causal, notadamente nas causas relativamente independentes


preexistentes e concomitantes, a responsabilização do agente depende do elemento psicológico
(dolo) ou normativo (culpa). Assim, o agente somente responderá pelo resultado se tiver agido
com dolo ou culpa em relação à morte, sob pena de responsabilidade objetiva.

Assim, para que o agente responda pelo resultado morte e, portanto, a concausa
relativamente independente preexistente e concomitante deve ser conhecida do agente ou ao
menos existir possibilidade de conhecimento, sob pena de responsabilidade penal objetiva. Foi
o que caiu no XXI exame da OAB. O agente não foi responsabilizado pela morte, porque não
tinha conhecimento da causa preexistente, nem lhe era previsível. Responderia apenas por lesão
corporal.
Exemplo de questão

Paulo e Júlio, colegas de faculdade, comemoravam juntos, na cidade de São Gonçalo,


o título obtido pelo clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima
de confraternização, em determinado momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo
Júlio desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca intensidade do golpe, Paulo
vem a falecer no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte decorreu
de uma fatalidade, porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa,
Paulo tinha uma lesão pretérita em uma artéria, que foi violada com aquele tapa
desferido por Júlio e causou sua morte. O órgão do Ministério Público, em atuação
exclusivamente perante o Tribunal do Júri da Comarca de São Gonçalo, denunciou
Júlio pelo crime de lesão corporal seguida de morte (Art. 129,§ 3º, do CP).
Considerando a situação narrada e não havendo dúvidas em relação à questão fática,
responda, na condição de advogado(a) de Júlio:

A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor:


0,65)

B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique.
(Valor: 0.60)

Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do


dispositivo legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO

A) O(A) examinando(a) deve concluir pela incompetência do Juízo, tendo em vista que
o crime praticado não é doloso contra a vida. Nos termos do Art. 74, § 1º, do Código de
Processo Penal (ou Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CRFB), ao Tribunal do Júri cabe
apenas o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e os conexos. No caso, mesmo
de acordo com a imputação contida na denúncia, o resultado de morte foi culposo; logo,
a competência é do juízo singular.

B) O(A) examinando(a) deve defender que não poderia Júlio responder pelo crime de
lesão corporal seguida de morte, porque aquele resultado não foi causado a título de
dolo nem culpa. O crime de lesão corporal seguida de morte é chamado de
preterdoloso. A ação é dirigida à produção de lesão corporal, sendo o resultado morte
produzido a título de culpa. Costuma-se dizer que há dolo no antecedente e culpa no
consequente. Um dos elementos da culpa é a previsibilidade objetiva, somente
devendo alguém ser punido na forma culposa quando o resultado não querido pudesse
ser previsto por um homem médio, sendo que a ausência de previsibilidade subjetiva,
capacidade do agente, no caso concreto, de prever o resultado, repercute na
culpabilidade. Na hipótese, não havia previsibilidade objetiva, o que impede a tipificação
do delito de lesão corporal seguida de morte. Também poderia o candidato responder
que havia uma concausa preexistente, relativamente independente, desconhecida,
impedindo Júlio de responder pelo resultado causado. Em princípio, a concausa
relativamente independente preexistente não impede a punição do agente pelo crime
consumado. Contudo, deve ela ser conhecida do agente ou ao menos existir
possibilidade de conhecimento, sob pena de responsabilidade penal objetiva.

Agora, se, por exemplo, a intenção fosse de lesionar e resultou morte, tendo
ciência da hemofilia, responde por lesão corporal seguida de morte. Isso já caiu na
prova da OAB.
Exemplo de questão

Wallace, hemofílico, foi atingido por um golpe de faca em uma região não letal do corpo.
Júlio, autor da facada, que não tinha dolo de matar, mas sabia da condição de saúde
específica de Wallace, sai da cena do crime sem desferir outros golpes, estando
Wallace ainda vivo. No entanto, algumas horas depois, Wallace morre, pois, apesar de
a lesão ser em local não letal, sua condição fisiológica agravou o seu estado de saúde.
Acerca do estudo da relação de causalidade, assinale a opção correta.

A) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa relativamente independente


preexistente, e Júlio não deve responder por homicídio culposo, mas, sim, por
lesão corporal seguida de morte.

B) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa absolutamente independente


preexistente, e Júlio não deve responder por homicídio culposo, mas, sim, por lesão
corporal seguida de morte.

C) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa absolutamente independente


concomitante, e Júlio deve responder por homicídio culposo.

D) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa relativamente independente


concomitante, e Júlio não deve responder pela lesão corporal seguida de morte, mas,
sim, por homicídio culposo.

Em relação à causa concomitante relativamente independente, a FGV já considerou que


o agente, no contexto do roubo por meio de ameaça, não responderia pelo resultado morte de
um rapaz jovem e de boa saúde, já que não era previsível que a vítima viesse a falecer. Ou seja,
não basta que haja um nexo naturalístico entre a conduta e o resultado. Para imputar ao agente
o resultado, é necessário que tenha agido com dolo ou culpa em relação à morte.
Em síntese, além de não incidir o latrocínio em decorrência da ameaça, já que o artigo
157, § 3º, II, do CP, prevê que o roubo será qualificado quando da violência resulta morte, se
não tinha como prever eventual resultado morte, ou seja, não agiu nem com dolo ou culpa em
relação ao resultado morte, não responderá pela morte, mas por roubo consumado ou tentado,
conforme o caso. Isso já caiu na 1ª fase da OAB, no IX Exame. Note que o enunciado traz a
informação de que a vítima se trata de um rapaz jovem e de boa saúde, sem histórico de doença
cardiovascular.

Exemplo de questão

José subtrai o carro de um jovem que lhe era totalmente desconhecido, chamado João.
Tal subtração deu-se mediante o emprego de grave ameaça exercida pela utilização
de arma de fogo. João, entretanto, rapaz jovem e de boa saúde, sem qualquer histórico
de doença cardiovascular, assusta-se de tal forma com a arma, que vem a óbito em
virtude de ataque cardíaco. Com base no cenário acima, assinale a afirmativa correta.

A) José responde por latrocínio.

B) José não responde pela morte de João.

C) José responde em concurso material pelos crimes de roubo e de homicídio culposo.

D) José praticou crime preterdoloso.


2.5 Questões sobre nexo de causalidade

4) QUESTÃO 3 – EXAME 2010-02


Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-o na
região toráxica. José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido, mas porque,
com intenção suicida, havia ingerido dose letal de veneno momentos antes de sofrer a agressão,
o que foi comprovado durante instrução processual. Ainda assim, Pedro foi pronunciado nos
termos do previsto no artigo 121, caput, do Código Penal. Na condição de Advogado de Pedro:
I. Indique o recurso cabível;
II. O prazo de interposição;
III. A argumentação visando à melhoria da situação jurídica do defendido.
Indique, ainda, para todas as respostas, os respectivos dispositivos legais.

5) QUESTÃO 1 – XXI EXAME


Paulo e Júlio, colegas de faculdade, comemoravam juntos, na cidade de São Gonçalo, o título
obtido pelo clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de
confraternização, em determinado momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo Júlio
desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca intensidade do golpe, Paulo vem a falecer
no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte decorreu de uma fatalidade,
porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha uma lesão pretérita
em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e causou sua morte. O órgão
do Ministério Público, em atuação exclusivamente perante o Tribunal do Júri da Comarca de São
Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP).
Considerando a situação narrada e não havendo dúvidas em relação à questão fática, responda,
na condição de advogado(a) de Júlio:
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor:
0.60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
6) QUESTÃO 4 – XXV EXAME – REAPLICAÇÃO PORTO ALEGRE/RS
Vitor efetuou disparos de arma de fogo contra José, com a intenção de causar sua morte. Ocorre
que, por erro durante a execução, os disparos atingiram a perna de seu inimigo e não o peito,
como pretendido. Esgotada a munição disponível, Vitor empreendeu fuga, enquanto José
solicitou a ajuda de populares e compareceu, de imediato, ao hospital para atendimento médico.
Após o atendimento médico, já no quarto com curativos, enquanto dormia, José vem a ser picado
por um escorpião, vindo a falecer no dia seguinte em razão do veneno do animal,
exclusivamente. Descobertos os fatos, considerando que José somente estava no hospital em
razão do comportamento de Vitor, o Ministério Público oferece denúncia em face do autor dos
disparos pela prática do crime de homicídio consumado, previsto no Art. 121, caput, do Código
Penal. Após regular prosseguimento do feito, na audiência de instrução e julgamento da primeira
fase do procedimento do Tribunal do Júri, quando da oitiva das testemunhas, o magistrado em
atuação optou por iniciar a oitiva das testemunhas formulando diretamente suas perguntas, sem
permitir às partes complementação. Após alegações finais orais das partes, o magistrado proferiu
decisão de pronúncia. Apesar da impugnação da defesa quanto à formulação das perguntas pelo
juiz, o magistrado esclareceu que não importaria quem fez a pergunta, pois as respostas seriam
as mesmas. Com base apenas nas informações narradas, na condição de advogado(a) de Vitor,
responda aos itens a seguir.
A) Qual o recurso cabível da decisão proferida pelo magistrado e qual argumento de
direito processual pode ser apresentado em busca da desconstituição de tal decisão?
Justifique. (Valor: 0,65)
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado, em momento oportuno, para
questionar a capitulação jurídica apresentada pelo Ministério Público? Justifique. (Valor:
0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
Concurso de pessoas

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal

3.1. Conceito de concurso de pessoas


Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de uma infração
penal. Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se para a
prática de um ou mais delitos.

A doutrina utiliza também as expressões concurso de agentes e codelinquência.

3.2. Requisitos
Não basta a contribuição de duas ou mais pessoas na prática delituosa para caracterizar
o concurso de pessoas. É necessária, ainda, a presença de determinados requisitos, sem os
quais não há como configurar o concurso de pessoas.

Para a incidência do concurso de pessoas devem estar presentes, cumulativamente, os


seguintes requisitos: a) pluralidade de condutas; b) relevância causal das condutas; c) liame ou
vínculo subjetivo; d) identidade de infrações.

3.2.1. Pluralidade de condutas


Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de mais de uma
pessoa na execução de uma infração penal.

Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser autoria e participação, em que há uma
conduta principal e outra acessória, praticadas, respectivamente, por autor e partícipe, bem como
em coautoria, em que há duas condutas principais.
3.2.2. Relevância causal das condutas
Nos termos do art. 29, caput, do CP, quem, de qualquer modo, contribuir para a prática
de um delito incide nas penas a este cominadas. A expressão de “qualquer modo” revela a
amplitude da forma de atuação do agente na empreitada delituosa, seja na forma de contribuição
pessoal, direta ou indireta, física ou moral.

Extrai-se, ainda, do art. 29, caput, do CP, que, para incidir a hipótese de concurso de
pessoas, a conduta do agente deve concorrer para o crime, contribuindo, ainda que
minimamente, para a produção do resultado. É imprescindível, pois, que a conduta do agente
tenha sido relevante para a infração penal, a ponto de, se excluída do curso causal, o resultado
não teria ocorrido da forma como ocorreu.

Em outras palavras, se a conduta não tem qualquer relevância causal, isto é, se não
contribuiu em nada para a produção do resultado, não há que se falar em concurso de pessoas.

A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não configura participação.


Assim, se, sem realizar qualquer outra conduta, simplesmente manifestar que irá concorrer para
a prática de um homicídio que efetivamente foi consumado, o crime não poderá ser imputado ao
agente, por força do concurso de pessoas, uma vez que sua conduta foi absolutamente
irrelevante. Agora, se induzir, estimular, o executor a matar a vítima, o agente será
responsabilizado pelo crime de homicídio, já que sua conduta foi relevante para a produção do
resultado.

Imaginemos que a empregada doméstica de uma residência, profundamente irritada por


ter sido ofendida pela patroa, observa que há uma movimentação suspeita no lado externo da
casa, concluindo que era alguém observando o local para praticar o delito de furto. Para facilitar
o sucesso da subtração, a empregada deixa aberta a porta da frente da residência. Durante a
empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, o agente de
atitude suspeita arrombou a porta dos fundos, ingressou na residência, e subtraiu diversos
objetos. Diante desse quadro fático, a empregada doméstica não deverá responder por qualquer
infração penal, uma vez que a sua contribuição foi absolutamente irrelevante para o sucesso da
subtração.

Para implementação deste requisito, além de ser relevante para o resultado, a


contribuição do agente deve ser antes ou durante a execução do delito. Se posterior ao delito,
não haverá concurso de pessoas, podendo incidir, conforme o caso, um delito autônomo, como,
por exemplo, receptação (CP, art. 180), favorecimento pessoal (CP, art. 348) ou favorecimento
real (CP, art. 349).

3.2.3. Vínculo subjetivo


Além da pluralidade de condutas relevantes para o resultado, afigura-se, ainda,
imprescindível o elemento subjetivo, consistente na conjugação de vontades de cada um dos
agentes para a produção do mesmo resultado.

Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que não
tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o
concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas.

A atuação de cada um dos agentes deve ser voltada para a produção do mesmo resultado.
Trata-se do princípio da convergência de vontades dos agentes voltados para a prática do
mesmo crime, ainda que não haja combinação prévia, ou seja, que um dos agentes não saiba
da contribuição do outro.

No vínculo subjetivo, que caracteriza o concurso de pessoas, basta que um dos agentes
tenha conhecimento que está contribuindo para prática delituosa, ainda que não tenha havido
combinação prévia com o outro agente envolvido no delito. Basta, em síntese, um dos agentes
aderir à conduta ou à vontade de outrem, e concorrer, ainda que sem o conhecimento do outro,
para a produção do resultado.

Consideremos o mesmo exemplo acima, com uma pequena e determinante adaptação.


Imaginemos que a empregada doméstica de uma residência, profundamente irritada por ter sido
ofendida pela patroa, observa que há uma movimentação suspeita no lado externo da casa,
concluindo que era alguém observando o local para praticar o delito de furto. Para facilitar o
sucesso da subtração, a empregada deixa aberta a porta da frente da residência. Durante a
empreitada criminosa, sem saber do auxílio da empregada doméstica, o agente de atitude
suspeita ingressou na residência pela porta da frente deixada aberta, e subtraiu diversos objetos.
Agora, diante desse quadro fático, a empregada doméstica deverá responder pelo furto praticado
na residência, já que sua contribuição foi relevante para o resultado (se não tivesse deixado a
porta aberta, o furto não teria ocorrido da forma como ocorreu), estando, ainda, presente, em
relação a ela a qualificadora do concurso de pessoas, diante da concorrência de vontades, uma
vez que aderiu à conduta e à vontade do agente suspeito.

A inexistência do vínculo subjetivo descaracteriza o concurso de pessoas, podendo,


conforme o caso, ensejar a hipótese de autoria mediata, autoria colateral ou crimes autônomos
e independentes em relação a cada um dos agentes.

3.2.4. Identidade de infração para todos os agentes


Nos termos do art. 29, caput, do CP: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Significa que, via de regra,
todos aqueles que contribuem para a prática de delito responderão pelo mesmo crime.

É a aplicação da teoria unitária ou monista, segundo a qual haverá um único crime para
os diversos agentes. Assim, o agente que anuncia o assalto e realiza a subtração responderá
pelo mesmo crime daquele que o conduziu até o local do roubo, aguardando-o para empreender
fuga, e daquele que planejou toda a atividade criminosa. Os três agentes responderão pelo crime
de roubo majorado.

3.3. Modalidades de atuação no concurso de pessoas


O agente pode atuar no contexto do concurso de pessoas na condição de autor, coautor
ou partícipe. Logo, as modalidades de atuação no concurso de pessoas são: a) autoria; b)
coautoria; c) participação.

3.3.1. Autoria
Para a adequada imputação do delito ao agente, revela-se necessário identificar o seu
modo de atuação na empreitada delituosa, verificando-se se contribuiu para o delito na condição
de autor.

Todavia, diante da omissão do legislador, estabelecer o conceito de autoria não se revela


tarefa das mais pacíficas, surgindo, em razão disso, várias teorias para a definição do conceito
de autor de um crime.
Dentre essas teorias, merecem destaque: a) teoria objetiva (na qual está alojada a
vertente restritiva); b) teoria do domínio do fato.

3.3.1.1. Teoria objetiva ou dualista


A teoria objetiva ou dualista está estreitamente vinculada a um conceito restritivo de autor,
uma vez que estabelece evidente distinção entre a figura do autor e do partícipe, delimitando a
atuação dos agentes na empreitada delituosa, e restringindo a figura do autor à determinada
forma de atuação.

Com efeito, ao contrário da teoria extensiva, que tratava a autoria como figura única,
ampliando sobremaneira seu conceito, a teoria restritiva limita o conceito de autor à determinada
forma de atuação, estabelecendo nítida distinção em relação à figura do partícipe.

Agora, com a teoria objetiva, na vertente restritiva, não há só a figura do autor, mas a
figura do autor e do partícipe.

Para a teoria objetivo-formal, autor é aquele que realiza a ação ou omissão descrita no
verbo nuclear do tipo penal que define o crime ou contravenção. É, em síntese, aquele que
pratica a conduta descrita no tipo penal incriminador. É aquele que pratica, por exemplo, a ação
de “matar” (CP, art. 121); de subtrair (CP, arts. 155 e 157); de constranger (CP, arts. 146, 158 e
213).

Partícipe é aquele que contribui, de qualquer modo, para a empreitada delituosa, mas sem
realizar a ação ou omissão descrita no verbo nuclear do tipo. É aquele que induz, instiga ou
auxilia o autor a executar a conduta descrita no tipo penal.

Assim, o agente que efetua disparos contra a vítima, atuará no crime de homicídio na
condição de autor, ao passo que aquele que induziu a matá-la atuará na condição de partícipe.

Quem ingressa numa agência bancária e, portando uma arma de fogo, anuncia o assalto
e realiza a subtração do dinheiro, atuará no crime de roubo majorado na condição de autor,
enquanto o agente que se posta no lado externo do prédio e aguarda, com o motor do veículo
acionado, o comparsa para empreenderem fuga, atua no delito na condição de partícipe.

E é justamente na adequação típica da conduta do partícipe que reside a importância do


estudo do concurso de pessoas. Com efeito, em tese, a conduta do partícipe seria atípica, pois,
teoricamente, não se enquadra no modelo legal de conduta proibida descrita no tipo penal. Não
existe tipo penal definindo a conduta de “mandar matar” ou “auxiliar a subtrair”. Se não existisse
a norma de extensão do art. 29, caput, do CP essas condutas vinculadas ao partícipe seriam
atípicas, gerando impunidade.

Por meio dessa norma de extensão, que serve como verdadeira ponte, é possível
adequar, ainda que de forma indireta, a conduta do partícipe ao tipo penal que descreve a
conduta criminosa.

Assim, por exemplo, a conduta do autor intelectual ou do mandante do crime será típica,
por força da norma de extensão (ou ponte de ouro) do art. 29, caput, CP, que estabelece a
ligação entre a sua conduta e o tipo penal correspondente.

3.3.1.2 Teoria do domínio do fato


De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle final do fato. É
quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. O
partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática do delito.

Em síntese, a teoria do domínio do fato amplia o conceito de autor, abarcando também o


agente que realiza uma parte necessária da execução do plano global, com o domínio funcional
do fato, mesmo que não constitua um ato típico em sentido estrito. É aquele que domina a
realização do fato, quem tem poder sobre ele, bem como quem tem poder sobre a vontade alheia.

Assim, para a teoria do domínio do fato, a figura do autor não se restringe somente aquele
que executa a conduta descrita no tipo penal, mas também aquele que tem o controle da ação
típica dos demais agentes, inserindo-se, nesse contexto, o autor executor, o autor intelectual, o
autor mediato, bem como o coautor.

O partícipe é aquele que contribui para o delito alheio, sem realizar a figura típica, nem
tampouco comandar a ação. É quem não domina a realização do fato, mas contribui de qualquer
modo para ele.
EXEMPLO 1:

Clodoaldo, Alan e Patrícia, todos maiores e capazes, deliberaram para assaltar


uma empresa local. Em data e hora combinadas, no período noturno e após o
fechamento, Clodoaldo e Alan arrombaram a porta dos fundos da empresa, na
qual entraram e ficaram vigiando enquanto Patrícia subtraía objetos valiosos, que
seriam divididos igualmente entre os três. Como se vê, a rigor somente Patrícia
praticou a ação nuclear do tipo penal que define o crime de furto, já que somente
ela praticou o ato de subtrair. Não há dúvida que Patrícia atuou no delito na
condição de autora. Clodoaldo e Alan não realizaram a ação descrita no tipo
penal, mas, sem dúvida, tinham o controle de toda a ação delituosa, o domínio
final do fato, sendo, portanto, também autores do delito.

EXEMPLO 2:
Clodoaldo, Alan e Patrícia deliberaram praticar um crime de roubo. Clodoaldo se
encarregou somente de emprestar a arma. Alan ficou responsável por transportar
em seu veículo Patrícia até o local do crime e dar-lhe fuga. Patrícia atraiu a vítima
ao local ermo, anunciou o assalto, apontando a arma para a vítima, e, após,
subtraiu sua carteira. Nesse contexto, pela teoria do domínio do fato, Alan e
Patrícia atuaram na condição de autores, já que tinham o domínio de toda
empreitada delituosa, ao passo que Clodoaldo, por ter somente emprestado a
arma, sem o controle de dominar a ação dos comparsas, responderá pelo crime
de roubo majorado na condição de partícipe.

3.3.2. Coautoria
A coautoria é a modalidade de atuação no concurso de pessoas em que dois ou mais
agentes figuram como autores do crime, desenvolvendo a conduta em busca do mesmo
resultado.

A coautoria pode ser parcial (ou funcional) ou direta (ou material).

A coautoria parcial (ou funcional) é aquela em que há divisão de tarefas entre os agentes,
que, somadas, produzem o resultado desejado por todos.
EXEMPLO:

Um dos agentes segura a vítima, enquanto o outro desfere nela golpes de faca.

A coautoria direta (ou material) é aquela em que todos os agentes executam atos iguais,
voltados à produção do resultado.

EXEMPLO:

Mauro e Arnaldo, ambos portando faca, desferem golpes de faca contra a vítima
até levá-la à morte.

3.3.3. Participação
Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o autor ou
coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear do tipo,
concorre de algum modo para a produção do resultado. De acordo com a teoria do domínio do
fato, participação é a contribuição dolosa de menor relevância, em que o agente contribui para o
fato de outrem, sem ter o domínio do fato.

Assim, considerando a teoria restritiva, adotada pelo Código Penal, autor seria o agente
que pratica a conduta descrita no verbo nuclear do tipo incriminador, ao passo que partícipe seria
aquele que contribui, de qualquer modo, para a atividade delituosa, mas sem realizar a conduta
descrita no tipo penal.

EXEMPLO:

Imaginemos a hipótese de Carlos instigar e encorajar Pedro a matar João. Se


efetivamente praticar a ação de matar João, Pedro responderá pelo crime de
homicídio na condição de autor, enquanto Carlos responderá pelo mesmo crime
na condição de partícipe.
Dessarte, a participação é a atividade acessória daquele que colabora para a conduta do
autor com a prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente relevante no sentido de
realização da conduta descrita no tipo penal. Logo, partícipe de um crime é o sujeito que induz,
instiga ou auxilia na prática do crime, sem praticar a conduta típica.

Como se vê, a participação é conduta acessória à do autor, considerada principal.


Somente haverá participação se o agente der início à execução do delito. Se o crime nem sequer
chegar a ser tentado, não haverá participação punível (CP, art. 31).

3.3.3.1. Formas de participação


O art. 29, caput, do CP não delimitou a forma de atuação dos agentes, estabelecendo,
apenas, que quem, de qualquer modo, concorre para o crime responderá nas penas a este
cominadas.

A expressão concorrer “de qualquer modo” se reveste de forma extremamente genérica


para alcançar a conduta daquele que contribuiu, ainda que minimamente, para a produção do
resultado.

Todavia, em termos de participação, a doutrina aponta a existência de duas espécies: a)


participação moral; b) participação material.

3.3.3.1.1. Participação moral


a) Induzir

A participação moral é aquela vinculada ao apoio psicológico dado pelo partícipe,


induzindo ou instigando o autor a praticar o delito.

No induzimento, o agente introduz na mente do autor a ideia criminosa. O autor não tinha
a representação mental da prática delituosa, sendo induzido pelo partícipe a cogitar a execução
do delito. Em síntese, na indução, o partícipe faz surgir na mente do agente a intenção delituosa.
EXEMPLO:

Suponha-se que tenha ocorrido um desentendimento entre Marcelo e João, sem


maiores consequências. Marcelo conta o ocorrido a Fernando, que passa a
induzi-lo a matar João, introduzindo na sua mente a ideia homicida. Se
efetivamente matar João, Marcelo atuará na condição de autor do homicídio, ao
passo que Fernando responderá pelo mesmo delito na condição de partícipe.

É irrelevante que o executor pratique o fato delituoso imediatamente à determinação ou


que o cometa depois de longo tempo. Pode apresentar-se sob as formas de mandato, paga,
promessa, ordem ou artifício.

b) Instigar

Instigar é reforçar uma ideia criminosa já existente. O agente já cogitava a possibilidade


de praticar o crime, sendo apenas encorajado, instigado pelo partícipe.

O partícipe reforça, estimula, a preexistente resolução delituosa. Pode ocorrer de duas


maneiras: a) mediante reforço da resolução de o executor cometer o delito; b) mediante
promessa de ajuda material ou moral após o cometimento por parte do executor. Do contrário,
há determinação e não instigação, embora as duas formas possam coexistir (o partícipe induz e
depois instiga o autor principal a praticar o delito).

EXEMPLO:

Suponha-se que tenha ocorrido um desentendimento entre Marcelo e João.


Marcelo conta o ocorrido a Fernando, manifestando, ainda, a vontade de matar
João. Fernando, então, passa a instigá-lo, reforçando a ideia criminosa,
encorajando Marcelo a levar adiante a conduta delituosa e consumar o seu desejo
de matar João. Se efetivamente matar João, Marcelo atuará na condição de autor
do homicídio, ao passo que Fernando responderá pelo mesmo delito na condição
de partícipe.
Se a pessoa determinada ou instigada a cometer o crime não está sujeita à autoridade do
partícipe, ou é punível (inexistente a impunidade em virtude de condição ou qualidade pessoal),
a sua responsabilidade é igual à do instigador ou determinador.

3.3.3.1.2. Participação material


A participação material se exterioriza na forma de auxílio. O partícipe será aquele que
presta ajuda efetiva na preparação ou execução do delito.
O auxílio é a forma de participação material que corresponde à antiga cumplicidade. Pode
ser prestado na preparação ou execução do delito.
Auxilia na preparação quem fornece a arma ou informações úteis à realização do crime.
Auxilia na execução quem permanece de atalaia, no sentido de avisar o autor da aproximação
de terceiro; quem leva o ladrão em seu veículo ao local do furto; quem empresta a arma ao
homicida.

3.3.3.2. Participação impunível


Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato executório do crime
tenha sido iniciado. Com efeito, o ajuste, a determinação, a indução, instigação e o auxílio
somente serão punidos se o autor der início à execução do delito. Se o crime nem sequer chegar
a ser tentado, a conduta do partícipe não será punível (CP, art. 31).
Imaginemos que Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de
Mafalda e, ao avistá-la, apiedado, nem sequer dá início aos atos executórios. Nesse caso, tanto
Fabrício quanto Félix não sofrerão qualquer tipo de punição, uma vez que o delito nem sequer
chegou a ser tentado.
Trata-se de decorrência lógica do caráter de acessoriedade da participação, uma vez que,
para existir participação punível, afigura-se imprescindível que o autor ao menos tenha dado
início à prática de um fato típico e ilícito.
Essa regra, no entanto, comporta exceção, insculpida na expressão “salvo disposição em
contrário”, que consta no art. 31 do CP.
Com efeito, há situações expressamente previstas em lei em que o ajuste, a determinação,
instigação ou auxílio são tipificados como crimes autônomos, como, por exemplo, nos crimes de
incitação ao crime (CP, art. 286) e de associação criminosa (CP, art. 288). Nesses casos, basta,
respectivamente, a incitação ao crime e a associação de três ou mais pessoas com a finalidade
de praticarem crimes para a tipificação da conduta, independentemente se os crimes objeto da
incitação ou da associação vierem a ser praticados.

3.3.3.3. Participação posterior ao crime


A participação em concurso de pessoas exige que a conduta acessória tenha sido
praticada antes ou durante a execução do delito. Isso porque, diante do caráter de
acessoriedade, a participação do agente deve contribuir para o crime praticado pelo executor até
a fase da consumação.
Se a contribuição do partícipe for posterior à consumação do crime, pode configurar,
conforme o caso, o crime de favorecimento pessoal (CP, art. 348) ou real (CP, art. 349), dentre
outros.
E aqui cabe uma ressalva. Pode ser que a conduta do partícipe se limite a encorajar ou
influenciar o executor a praticar o delito, vindo a ter proveito somente após a consumação do
delito. Nesse caso, o partícipe responderá pelo crime praticado pelo autor, uma vez que sua
contribuição, no sentido de influenciar, instigar, encorajar, ocorreu antes da consumação do
delito.
Contextualizando a situação: Imaginemos que uma pessoa estimule o agente a praticar o
crime de furto de um veículo, sob a promessa de que ficaria com o automóvel, mediante
pagamento em dinheiro. Nesse caso, aquele que estimulou responderá, juntamente com o autor,
pelo crime de furto qualificado, uma vez que sua contribuição foi anterior à consumação do delito.
Se, eventualmente, sua conduta se restringir a atos praticados posteriormente à
consumação do delito, o agente não responderá pelo crime praticado pelo autor, podendo,
conforme o caso, responder por delito autônomo. É o caso do sujeito que, sem qualquer
contribuição anterior, adquire o veículo subtraído sabendo ser produto de furto. Evidentemente
não responderá pelo crime de furto, mas de receptação, previsto no art. 180 do CP, já que sua
atuação ocorreu após a consumação do delito de furto.

FIQUE LIGADO

- AUTOR executa a ação descrita no verbo nuclear do tipo: TEORIA RESTRITIVA


- PARTÍCIPE não executa ação descrita no verbo nuclear do tipo.
Não executa ação
descrita no verbo
nuclear do tipo
PARTÍCIPE Moral Induzir; Instigar

Formas

Material Auxiliar

3.4. Punibilidade do concurso de pessoas


3.4.1. Participação de menor importância – Art. 29, §1º
A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso porque, ainda
que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor
importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade,
naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do
CP, e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido.

O partícipe que houver tido “participação de menor importância” poderá ter sua pena
reduzida de um sexto a um terço, nos termos do art. 29, § 1º.

Trata-se, pois, de uma causa de diminuição da pena.

3.4.2. Da cooperação dolosamente distinta ou desvios subjetivo entre os


participantes – Art. 29, § 2º
O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização de
crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar outra
conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva.

Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais grave que o
pretendido pelo partícipe ou coautor.
EXEMPLO:

“A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, “A”
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade
se a morte da vítima lhe era previsível.

De fato, a solução dada pelo CP leva à punição de “A” pelo delito de lesões corporais, que
foi o crime desejado, cuja pena será elevada até a metade se o homicídio for previsível.

PARTICIPAÇÃO DE COOPERAÇÃO
MENOR DOLOSAMENTE
IMPORTÂNCIA DISTINTA

Autor comete delito


Exclusivamente ao mais grave que o
partícipe pretendido pelo
partícipe ou coautor

Aumenta-se até a
metade, na hipótese
Causa de diminuição
de ter sido previsível
de pena de 1/6 a 1/3
o resultado mais
grave.

3.5. Comunicabilidade das elementares e circunstâncias do crime


Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não
se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa.

Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem, integram


o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso, quando
também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as
circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais
coautores ou partícipes.
EXEMPLO:

“A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a


participação de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário
público) é elementar do crime de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente
que não é funcionário público. Logo, os dois respondem por crime de peculato.

De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor se, sem haver
praticado o fato que as constitui, houveram integrado o dolo ou culpa.

EXEMPLO:

“A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime,
emprega asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, §
2º, III, 4ª figura), a não ser que o meio de execução empregado pelo autor principal
tenha ingressado na esfera de seu conhecimento.

Conforme ESTEFAM (2010, p. 285), da regra contida no artigo 30 do Código Penal


podem-se extrair duas conclusões:

a) Todas as elementares do crime, objetivas, normativas ou subjetivas, comunicam-se a


todos os agentes (se por eles conhecidas). Assim, por exemplo, a condição de funcionário
público, elementar do crime de peculato (CP, art. 312), estende-se ao coautor ou partícipe que
não ostente tal qualidade, fazendo com que ele, embora particular, responda pelo delito.

b) As circunstâncias da infração penal comunicam-se apenas quando objetivas (e forem


conhecidas pelos demais concorrentes). Por esse motivo, o emprego de arma por um dos
agentes no crime de roubo provoca, com relação a todos, a incidência da causa de aumento de
pena daí decorrente (CP, art. 157, § 2º, I). Se subjetivas, serão incomunicáveis.
EXEMPLO:

O motivo egoístico, que qualifica o crime de dano (CP, art. 163, parágrafo único,
IV, primeira figura), não se comunica aos demais concorrentes que tenham
colaborado com o fato por outros motivos.
3.6 Questões sobre concurso de pessoas

7) QUESTÃO 1 – IX EXAME
Raimundo, já de posse de veículo automotor furtado de concessionária, percebe que não tem
onde guardá-lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve ligar para
um grande amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe que ceda a
garagem de sua casa para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela noite. Como
Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao raiar do dia,
Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador.
Considerando as informações contidas no texto responda, justificadamente, aos itens a seguir.
A) Raimundo e Henrique agiram em concurso de agentes? (Valor: 0,75)
B) Qual o delito praticado por Henrique? (Valor: 0,50)
Obs.: Respostas contraditórias não serão pontuadas.

8) QUESTÃO 1 – XXIX EXAME


Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em seu
quarto, verifica que a janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e subtrai
um telefone celular avaliado em R$500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber da conduta
de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também ficou aberta. Tendo
conhecimento que os proprietários eram um casal de empresários muito rico, ingressa no local
e subtrai uma bolsa, avaliada em R$ 450,00. Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno
e Caio são denunciados pelo crime de furto qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),
sendo acostadas as Folhas de Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra
anotação pela suposta prática de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com
trânsito em julgado em ambas. Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada
procedente, sendo aplicada pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa, em regime
inicial aberto, devidamente substituída por restritiva de direitos. Com base nas informações
expostas, intimado(a) para apresentação de recurso, responda, na condição de advogado(a) de
Caio e Bruno, aos itens a seguir.
A) Existe argumento de direito material a ser apresentado para questionar a capitulação
jurídica apresentada pelo Ministério Público e acolhida na sentença? (Valor: 0,60)
B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),
existe argumento em busca da redução da pena aplicada? (Valor: 0,65)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

9) QUESTÃO 3 – XIX EXAME


Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos furtos
no bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00 de um
cartório do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que era funcionário público e
nem que exercia suas funções nesse cartório. Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa
com a facilidade que tiveram para chegar ao cofre do cartório. Descoberto o fato pelas câmeras
de segurança, são os dois agentes denunciados, em 10 de março de 2015, pela prática do crime
de peculato. João foi notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi notificada e citada
por edital, pois não foi localizada em sua residência. A família de Vanessa constituiu advogado
e o processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou conhecimento. Foi decretada a revelia de
Vanessa, que não compareceu aos atos processuais. Ao final, os acusados foram condenados
pela prática do crime previsto no Art. 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre
que, na verdade, Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015,
em razão de prisão preventiva decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da sentença,
ela procura você na condição de advogado(a). Considerando a hipótese narrada, responda aos
itens a seguir.
A) Qual argumento de direito processual poderia ser apresentado em favor de Vanessa
em sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,65)
B) No mérito, foi Vanessa corretamente condenada pela prática do crime de peculato?
Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o mero “sim” ou “não”, desprovido de justificativa ou mesmo com a indicação de justificativa
inaplicável ao caso, não será pontuado.

10) QUESTÃO 4 – XXXI EXAME


Paulo, estudante, condenado anteriormente por crime culposo no trânsito, em 20/08/2019
adentrou loja de conveniência de um posto de gasolina e, aproveitando-se de um descuido dos
funcionários do estabelecimento, furtou todo o dinheiro que se encontrava no caixa. Após sair da
loja sem ter sua conduta percebida, consumado o delito, Paulo avistou sua antiga namorada
Jaqueline, que abastecia seu carro no posto de gasolina, e contou-lhe sobre o crime que praticara
momentos antes, pedindo que Jaqueline, igualmente estudante, primária e sem qualquer
envolvimento anterior com fatos ilícitos, ajudasse-o a deixar o local, pois notou que os
empregados do posto já tinham percebido que ocorrera a subtração. Jaqueline, então, dá carona
a Paulo, que se evade com os valores subtraídos. Após instauração de inquérito policial para
apurar o fato, os policiais, a partir das câmeras de segurança da loja, identificaram Paulo como
o autor do delito, bem como o veículo de Jaqueline utilizado pelo autor para deixar o local, tendo
o Ministério Público denunciado ambos pela prática do crime de furto qualificado pelo concurso
de agentes, na forma do Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal. Por ocasião do recebimento
da denúncia, o juiz indeferiu a representação pela decretação da prisão preventiva formulada
pela autoridade policial, mas aplicou aos denunciados medidas cautelares alternativas, dentre
as quais a suspensão do exercício de atividade de natureza econômica em relação a Jaqueline,
já que ela seria proprietária de um estabelecimento de comércio de roupas no bairro em que
residia, nos termos requeridos pelo Ministério Público. Considerando os fatos acima narrados,
responda, na condição de advogado(a) de Jaqueline, aos questionamentos a seguir.
A) Qual argumento de direito material poderá ser apresentado pela defesa técnica de
Jaqueline para questionar a capitulação delitiva imputada pelo Ministério Público?
Justifique. (Valor: 0,65)
B) Existe argumento para questionar a medida cautelar alternativa de suspensão da
atividade econômica aplicada a Jaqueline? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
11) QUESTÃO 2 – XXXII EXAME
Luiz, no dia 05 de fevereiro de 2019, ingressou na residência de Henrique e, mediante grave
ameaça contra a vítima, buscou subtrair a televisão do imóvel. Após o emprego da grave ameaça
à pessoa e a retirada dos parafusos da televisão, mas ainda quando estava dentro da casa com
o bem, Luiz é surpreendido pela Polícia Militar, que informada dos fatos por vizinhos, realizou
sua prisão em flagrante.
Em sede policial, foi descoberto que Luiz contou com a participação de José, que, sabendo do
plano criminoso do amigo, foi o responsável por dizer o horário em que a vítima estaria sozinha
em sua residência, bem como a porta que teria uma falha na fechadura, facilitando o ingresso
de Luiz no imóvel. Luiz e José foram denunciados pela prática do crime de roubo majorado pelo
concurso de agentes.
Observado o procedimento previsto em lei e confirmados os fatos, foi proferida sentença
condenatória, sendo aplicada a pena mínima possível de 5 anos e 4 meses de reclusão, além
de 13 dias-multa, para José. Já Luiz teve sua pena base fixada acima do mínimo legal, em 4
anos e 6 meses de reclusão e 12 dias-multa, reconhecendo o magistrado a existência de má
conduta social, pelo fato de Luiz possuir 5 condenações sem trânsito em julgado pela suposta
prática de crimes de roubo, apesar de admitir, na decisão, que as anotações constantes da Folha
de Antecedentes Criminais não poderiam justificar o reconhecimento de maus antecedentes.
Não foram reconhecidas agravantes, sendo, na terceira fase, a pena aumentada, no mínimo
possível, em razão da majorante do concurso de agentes. Assim, a pena final de Luiz restou
acomodada em 06 anos de reclusão e 15 dias-multa. Intimado da decisão, o advogado de José
apresentou recurso buscando reconhecimento da modalidade tentada do delito, bem como da
causa de diminuição da participação de menor importância.
Luiz, então, consulta você, como advogado(a), para avaliar o interesse em apresentar recurso
de apelação.
Na condição de advogado(a) de Luiz, esclareça os questionamentos formulados pelo seu
cliente.
A) Não sendo apresentado recurso de apelação por Luiz, poderá ele ser beneficiado pelo
reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa no julgamento do recurso
apresentado por José? E da causa de diminuição de pena da participação de menor
importância? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da redução da pena
base aplicada a Luiz? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Juizado Especial Criminal

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

4.1 Considerações iniciais

Em conformidade com o art. 24, inc. X e XI, da CF, compete à União, aos Estados e ao
DF legislar concorrentemente sobre: a criação, funcionamento e processo do juizado de
pequenas causas (inciso X); procedimentos em matéria processual (inciso XI).

O art. 98 da CF/88 dispõem que os Juizados serão providos por juízes togados ou togados
e leigos competentes para conciliação, o julgamento e execução de infrações de menor potencial
ofensivo. Dessa forma, no dia 26/09/95, foi sancionada pelo Presidente da República a n° Lei
9.099, restringindo sua aplicação ao âmbito da Justiça Estadual. Por subsequente, em 12/07/01,
dispondo acerca da instituição dos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, foi
sancionada a Lei n° 10.259/01.

Juizado Especial Criminal Juizado Especial Criminal


(Justiça Estadual) (Justiça Federal)
Lei nº 9.099/95 Lei nº. 10.259/01

Inobstante a existência de duas legislações, no âmbito do Juizado Especial Criminal


observa-se o regramento previsto na Lei n. 9.099/95, visto que na Lei n. 10.259/01 não há
previsão do procedimento a ser observado (artigo 1º da Lei n. 10.259/01).

Importante registrar que os Juizados Especiais Criminais introduzem a denominada


jurisdição consensual no âmbito criminal, possibilitando alternativas para solucionar as questões
penais utilizando-se da composição civil dos danos, transação penal ou suspensão condicional
do processo.
Artigo 98 da Constituição Federal

Art. 98 da Constituição Federal. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os


Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para
a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e
infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e
sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de
recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.
(Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

4.2 Conceito de infrações de menor potencial ofensivo

A redação original do artigo 61 da Lei n° 9.099/951 conceituava infrações de menor


potencial ofensivo abrangendo as contravenções penais (Lei n° 3.688/41) e aqueles crimes cuja
pena máxima prevista não ultrapassa 01 (um) ano, excetuadosos casos em que a lei preveja
procedimentos especiais.

Porém, com o advento do artigo 2°, parágrafo único, da Lei n° 10.259/01, houve uma
ampliação do conceitode infração de menor ofensivo, considerando como sendo aqueles que a
lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos ou multa.

1 A Lei 9.099/95 trouxe outro conceito importante no artigo 89 – crimes de médio potencial ofensivo – aqueles
cuja pena mínima não ultrapassa 1 ano, destinatários da Suspensão Condicional do Processo. Importante
diferenciar tais crimes daqueles denominados de crimes de bagatela, estes, por sua vez, não possuem previsão
legal, o princípio da insignificância resulta na exclusão da tipicidade (material). Por exemplo: um crime de furto
simples poderá ser um crime de bagatela, todavia não se trata de um delito de menor potencial ofensivo, e sim de
médio.
A jurisprudência e a doutrina posicionaram-se no sentido de que a Lei 10.259/01 teria
ampliado o conceito de infração de menor potencial ofensivo, aplicando o mesmo conceito na
Justiça Estadual.

Atualmente, com o advento da Lei 11.313/06, legislação que alterou as duas leis
supramencionadas, consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos de
ambas as leis (lei 9.099/95 e 10.259/01), as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”, unificando o conceito
e encerrando-se a discussão.

Importante registar que no âmbito dos Juizados Especiais Criminais Federais as


contravenções não serão objeto de julgamento, por força do artigo 109, IV, da
Constituição Federal que exclui da competência de julgamento dos juízes federais o
julgamento das contravenções. Logo, deverá ocorrer a remessa para Justiça
Estadual, conforme consta na súmula 38 do STJ, vejamos: “Compete à Justiça
Estadual Comum, na vigência da CF/88, o processo por contravenção penal, ainda
que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades”.

Observação: As causas de aumento e diminuição de pena (majorantes e minorantes)


deverão ser observadas para definição de competência. Assim, deverão incidir as
causas de aumento que mais aumentem a pena e as causas que menos diminuem.
Por exemplo, no caso de tentativa, deverá incidir a diminuição da pena máxima em
abstrato no mínimo em 1/3 (artigo 14, parágrafo único, CP). Já as agravantes e
atenuantes não serão observadas.

Por fim, outra questão importante é a alteração proferida no artigo 60 da referida lei que
diz respeito às regras de conexão ou continência asseguradas no Código de Processo Penal 2,

2 A quem interessar vale a leitura sobre a pretensão da Procuradoria geral da República, na ADIN 5264, em que
busca obter a declaração de inconstitucionalidade do dispositivo que determina a observância das regras de
conexão e continência, visto que tal regra despreza a competência determinada pelo artigo 98 da CF, que
eis que consta expressamente no parágrafo único que na reunião de processos, perante o juízo
comum ou tribunal do júri, serão observados os institutos da transação penal e da composição
civil.

Conceito de Infração de menor potencial ofensivo

Art. 61 da Lei n. 9.099/95. Consideram-se infrações penais de menor potencial


ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

4.3 Critérios e objetivos dos Juizados Especiais Criminais

O artigo 62 da Lei n. 9.099/95 traz os critérios e objetivos que orientam os Juizados


Especiais Criminais. Vejamos os critérios:

C Celeridade
E Economia processual
I Informalidade
O Oralidade
S Simplicidade

Os atos processuais deverão ser públicos e podem ser realizados no período noturno
e em qualquer dia da semana, de acordo com a disposição das normas de organização
judiciária local.

Para serem válidos, os atos processuais deverão preencher as finalidades para as quais
foram realizados, atendidos os critérios dos princípios mencionados anteriormente. Ou seja,

determina que as infrações de menor potencial ofensivo deverão observar as regras do JECRIM (ver:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=288555).
nenhuma nulidade será pronunciada se não houver a ocorrência de prejuízo para uma das
partes.

Importante registrar que mesmo que tenhamos todos esses critérios voltados a um
procedimento célere, econômico, informal, oral e simples devemos nos ater aos preceitos
constitucionais da ampla defesa e contraditório, no intuito de resguardar os direitos e garantias
daqueles que estão na condição de autor do fato ou acusado.

Critérios e Objetivos

Art. 62 da Lei n. 9.099/95. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos


critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a
aplicação de pena não privativa de liberdade.

• A lei prevê várias alternativas para que se alcance os objetivos de reparação dos danos,
sempre que possível, e a aplicação de pena não privativa de liberdade. Convém ressaltar que é
possível que os objetivos não sejam alcançados e na pior das hipóteses uma pessoa seja ao
final condenada a uma pena privativa de liberdade, ainda que pequena, no âmbito do juizado
especial criminal. Entretanto, o ideal é que seja utilizada alguma medida despenalizadora
prevista na legislação, vejamos um breve conceito:
• Composição civil dos danos: é um acordo de natureza civil, quando realizado gera a
renúncia ao direito de queixa na ação penal privada ou a renúncia à representação nos casos de
ação penal pública condicionada, com a consequente extinção da punibilidade (Art. 74, parágrafo
único, da Lei nº 9.099/952). Essa medida impede a instauração do processo criminal nos crimes
de ação penal pública condicionada à representação e nos casos de ação penal privada.
Entretanto, eventual composição civil de danos nos casos de ação penal pública incondicionada
não gera impedimento para o prosseguimento, sendo o caso de verificar a possibilidade de
transação ou suspensão condicional do processo.
• Transação Penal: autoriza o cumprimento imediato de uma pena restritiva de direitos ou
multa, em contrapartida evita a instauração do processo criminal (Art. 76 da Lei nº 9.099/953).
Em outros termos, é uma proposta feita geralmente pelo Ministério Público para que o autor do
fato aceite uma pena diversa de prisão para evitar o processo. Caracterizando-se nos casos de
ação penal pública uma exceção ao princípio da obrigatoriedade.
• Suspensão Condicional do Processo: possibilidade de acordo com o acusado, depois
de recebida a denúncia, o magistrado suspende o andamento da ação penal e da prescrição.
Em contrapartida, durante determinado lapso temporal (período de prova), o acusado é
submetido a certas condições. Encerrado o período de prova sem a ocorrência de qualquer
alteração, o magistrado declara extinta a punibilidade (Art. 89 da Lei nº 9.099/95). Vale ainda
destacar que o instituto da suspensão condicional do processo não se limita aos delitos de menor
potencial ofensivo da Lei 9099/95, ou melhor, vale para todo e qualquer delito que preencha os
requisitos do artigo 89 da Lei nº 9.099/95, desde que não haja vedação, como ocorre nos casos
envolvendo Lei Maria da Penha.
Apenas a título de informação, é importante registrar que a Lei n. 9.099/95 no artigo 88
dispõe que dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais
leves e lesões culposas.

4.4 Competência no Juizado Especial Criminal

Competência Territorial

Art. 63 da Lei n. 9.099/95. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em


que foi praticada a infração penal.

O Código de Processo Penal (Art. 70) adotou a teoria do resultado, pois a competência é
fixada pelo local da consumação do delito. Já o artigo 63 da Lei dos Juizados Especiais acolheu
a teoria da atividade, ou seja, a competência é fixada pelo lugar em que se deu a ação ou
omissão.

Cuidado:

Na doutrina e na jurisprudência dos Tribunais, prevalece o entendimento de que a


competência dos Juizados Especiais Criminais em razão da matéria apresenta natureza relativa,
pois pode ser alterada por conexão e continência, complexidade da causa ou impossibilidade
de citação pessoal.

4.5 Situações de remessa para o Juízo Comum

Existem algumas situações em que a competência de julgamento no âmbito dos Juizados


Especiais Criminais é afastada por determinação legal. Vejamos:

• complexidade ou circunstância do caso – artigo 77, §2° e § 3°, da Lei n. 9.099/95;


• acusado não localizado para ser citado – artigo 66, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95;
• quando ocorrer conexão ou continência com delitos da competência do Júri ou crimes
mais graves, será afastada a competência – artigo 60 da Lei n. 9.099/95;
• poderá também restar afastada a competência do JECRIM caso incida uma causa de
aumento de pena, ultrapassando o patamar da pena máxima de 2 anos. Por exemplo, nos casos
de concursos material entre dois crimes, aplica-se a regra do acúmulo material somando no caso
as penas máximas (art. 69 do CP), logo se dois crimes com pena máxima de dois forem
praticados no mesmo contexto, somando-se teríamos uma pena máxima de 4 anos, portanto,
restaria afastada a competência do JECRIM;
A lei n. 11.340/06 no artigo 41 exclui a aplicação da Lei n. 9.099/95, logo não há que se
falar em JECRIM nos casos de violência doméstica e familiar.

Aplicação do procedimento sumário

Art. 538 do CPP. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado
especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de
outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.
4.6 Citação no âmbito do Juizado Especial Criminal

O artigo 66 da Lei n. 9.099/95 é claro ao informar que a citação será pessoal ou por
mandado, logo se o acusado não for encontrado o processo será remetido ao juízo comum
(parágrafo único, artigo 66).

A regra é que a citação seja pessoal e no próprio Juizado Especial Criminal, pois a
pretensão legislativa é de que inexistindo acordo entre as partes ou não tendo ocorrido a
transação, seja determinada a citação do acusado no final da audiência preliminar, conforme
consta no artigo 78 da Lei n. 9.099/95.

Não cabe citação por edital no JECRim, pois conforme mencionado não sendo encontrado
o acusado haverá remessa ao juízo comum. No tocante à citação por hora certa a matéria é
controvertida, pois apesar de diversas Turmas Recursais não admitirem esta modalidade de
citação ficta, há Enunciado do FONAJE (Fórum Nacional de Juizados Especiais) admitindo a
aplicação, vejamos o Enunciado n. 110: “No Juizado Especial Criminal é cabível a citação com
hora certa”.

Fase Preliminar:

A fase preliminar ao processo está prevista nos artigos 69 a 76 da Lei n. 9.099/95. Nesta
fase, fica evidenciado o caráter consensual do Juizado, visto que inclui a possibilidade de
composição civil dos danos ou a aceitação da proposta de transação penal como medidas
despenalizadoras, que evitariam a propositura da ação penal.

Termo Circunstanciado:

De acordo com o artigo 69 da Lei n. 9.099/95, a autoridade policial que tomar


conhecimento da ocorrência de uma infração de menor potencial ofensivo lavrará o chamado
termo circunstanciado, que conterá de forma simplificada o relato dos acontecimentos,
indicações de eventuais testemunhas e se for possível o exame de corpo de delito (neste
momento pode ser dispensado).

Trata-se de um relatório singelo, baseado na simplicidade, que contém a identificação das


partes, menção ao fato, indicação de testemunha se houver.

Não se imporá prisão em flagrante para o autor do fato que se comprometer a comparecer
aos atos perante o Juizado Especial Criminal. Entretanto, caso o agente se recuse a assumir o
compromisso de comparecer ao Juizado deverá ser lavrado o auto de prisão em flagrante, o que
não significa que permanecerá preso pois é possível a concessão de liberdade provisória com
fiança pelo próprio delegado, com base no art. 322 do CPP, visto que em se tratando de infrações
de menor potencial ofensivo é plenamente cabível arbitramento da fiança pelo delegado.

Audiência Preliminar:

De acordo com os artigos 70 e 71 a audiência preliminar ocorreria imediatamente, porém


na prática o que ocorre é a remessa do Termo Circunstanciado (TC) ao JECRIM, para após ser
marcada uma data para audiência, sendo as partes intimadas a comparecerem. Há locais em
que a própria autoridade policial determina a data de audiência informando que as partes devem
comparecer ao Fórum no dia designado.

Dessa forma, quando é feita a remessa ao Fórum, haverá a intimação nos termos dos
artigos 67 e 68. Intimação pessoal, informando, além da data da audiência de conciliação a
necessidade de acompanhamento de advogado.

Na audiência preliminar o juiz esclarecerá sobre a possibilidade de composição civil ou de


aceitação da transação (art. 72 da Lei n. 9.099/95).

1ª Fase - Conciliação Civil - Art. 72 a 2ª Fase - Conciliação penal (com


74 (composição civil dos danos) possível Transação Penal)

• Sem atuação do MP; Transação Penal (Art. 76);


• Se for Ação Penal Privada: a • Mitigação ao princípio da
composição gera renúncia à obrigatoriedade. Princípio da
queixa ou representação; discricionariedade regrada.
• Não pagamento? Não é possível
mais exercer a queixa ou
representação. A possibilidade
aqui é a execução do título judicial
(Art. 74).

Importante perceber que neste início da audiência o que temos é apenas o Termo
Circunstanciado, não falamos em acusação ou denúncia/queixa, por isso a nomenclatura
utilizada é de autor do fato, não de acusado.
A composição civil dos danos constitui um acordo de natureza civil, que, se realizado pelas
partes no caso de ação penal privada ou pública condicionada à representação, resultará na
extinção da punibilidade. Nos casos de ação penal pública incondicionada, a composição dos
danos não gera nenhuma consequência no tocante à punibilidade, dando-se continuidade ao
trâmite legal.

Em caso de não haver a composição civil, ou sendo o caso de ação penal incondicionada,
e em qualquer situação não caracterizar possibilidade de arquivamento, será oferecida a
proposta de transação, ainda na audiência preliminar, que se trata de uma proposta de aplicação
de pena restritiva de direito ou pena de multa para evitar que haja processo penal.

A transação é instituto extremamente importante, pois evita o processo e não gera


reincidência ou maus antecedentes. Todavia, há a exigência de preenchimento dos seguintes
requisitos:

• o autor do fato não poderá ter usufruído de outra transação nos últimos cinco anos;
• não pode ter sido condenado definitivamente a crime anterior por pena privativa de
liberdade;
• as circunstâncias, como antecedentes, conduta social, personalidade, devem indicar a
possibilidade da medida.
De acordo com o art. 76 da Lei 9.099/95 a transação poderá ser oferecida pelo Ministério
Público nos crimes de ação penal pública. Entretanto, a doutrina é pacífica no sentido de ser
cabível a transação penal também nas ações penais privadas, o que é controvertido é o
posicionamento de quem seria a função de oferecer a transação. Discute-se, portanto, se o
oferecimento da transação nas ações penais privadas deveria ser feito pelo representante do
Ministério Público ou pelo Querelante, titular da ação penal.

Tem prevalecido nos Tribunais superiores que o querelante é o legitimado a oferecer nos
casos de ação penal privada. No STJ veja RHC 102381/BA, no STF veja a Ação Penal 634,
neste mesmo sentido é o entendimento também adotado por Renato Brasileiro de Lima. Portanto,
inobstante a existência do Enunciado 112 do FONAJE que diz “Na ação penal de iniciativa
privada, cabem transação penal e suspensão condicional do processo, mediante proposta do
Ministério Público”, tem prevalecido a legitimidade do Querelante no âmbito da jurisprudência
dos tribunais.
Caso o Ministério Público não ofereça a transação e o autor do fato preencha os requisitos,
é possível aplicar por analogia a súmula 696 do STF, que se refere à suspensão condicional do
processo.

O cumprimento da transação penal resulta na extinção da punibilidade, já o


descumprimento resulta na retomada da situação no momento que parou, podendo, inclusive,
ser oferecida ação penal (Súmula Vinculante nº 35 do STF). Por fim, importante destacar que da
decisão que aplica a transação, caberá recurso de apelação (art. 76, §5º, da Lei n. 9.099/95).

Observe as regras contidas no artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro, que


excepcionam a aplicação dos artigos 74, 76 e 88 da Lei n. 9099/95, em situações específicas.
Inclusive, foi objeto de questionamento no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil n. XXXIII
– questão n. 4.

Transação nos crimes ambientais

A transação penal nos casos de crimes ambientais, que se caracterizem como infrações
de menor potencial ofensivo, nos termos do art. 27 da Lei 9.605/1998 somente poderá
ser formulada caso tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o
art. 74 da Lei n. 9.099/1995, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Art. 27 da Lei 9.605/98: Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta
de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha
havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo
em caso de comprovada impossibilidade.

Não sendo obtido qualquer acordo, prosseguirá a audiência preliminar e no final será
oferecida a denúncia ou queixa-crime, em regra oralmente, depois reduzida a termo, no momento
será realizada no próprio JECRIM, se possível. Neste momento, inicia-se o procedimento
sumaríssimo.

Em relação ao instituto denominado acordo de não persecução penal, a transação é


preferivel, nos termos do artigo 28, A, §2º, I, do CPP.
Atente-se para o fato de que a audiência preliminar, como o próprio nome remete, precede
à fase processual, logo somente haverá procedimento sumaríssimo se não houver adoção de
nenhuma das medidas anteriores. Leia atentamente o próximo item.

4.7 Procedimento Sumaríssimo (Fase processual)

Como mencionado, ainda na audiência preliminar, não sendo realizado nenhum acordo
ou aceitação de pena restritiva ou pena multa (transação), será oferecida de forma oral a
acusação, que poderá ser uma denúncia ou queixa-crime a depender da situação, conforme
consta no art. 77 da Lei no 9.099/1995. Perceba que, nesse momento, iniciamos o procedimento
sumaríssimo, ou seja, a fase processual, até então não havia menção à acusação formal,
somente existia o termo circunstanciado e proposta de alguma medida despenalizadora
(composição ou transação), para evitar justamente à via processual.

Após o oferecimento oral da acusação, será reduzida a termo, e o acusado, caso presente
na audiência, será citado pessoalmente, no Juizado Especial Criminal, e imediatamente
cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual
também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.
Caso o acusado não esteja presente, será citado na forma do art. 66 da Lei, por mandado a ser
cumprido pelo Oficial de Justiça.

No JECRIM a citação é pessoal no próprio Juizado, pois ela ocorre em regra na audiência
preliminar. Se o acusado não estiver presente será citado pessoalmente por mandado, não
se admitindo citação por edital, sendo inclusive uma hipótese de remessa do procedimento
para uma Vara Criminal, afastando-se assim a competência – art. 66, § único, da Lei n.
9.099/95.

No dia da audiência de instrução e julgamento (art. 81), a sucessão dos atos difere do
procedimento comum ordinário, observe bem a ordem do procedimento sumaríssimo. Vejamos:
Audiência de instrução e julgamento (art. 81)

• proposta de composição ou transação, se não tiverem sido propostas;


• palavra ao defensor para responder à acusação; Da decisão de rejeição da acusação caberá
recurso de apelação (art. 82 da Lei


9.099/95).
juiz decidirá se recebe ou não a denúncia ou queixa;
• em caso de recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa;
• após, o acusado será interrogado, se presente;
• debates orais (acusação e defesa);
• sentença.
Em resumo, identifique as diferenças entre os demais procedimentos, no caso do
sumaríssimo a resposta à acusação é oral; a citação é feita antes do recebimento da acusação,
em audiência e na forma oral; se o juiz optar por rejeitar a denúncia ou queixa, caberá o recurso
de apelação, nos termos do art. 82 da Lei no 9.099/1995. Inclusive, o prazo da apelação neste
procedimento é dez dias.

4.8 Recursos de Apelação e Embargos Declaratórios

É importante mencionar que o recurso de apelação no JECRIM é dirigido à Turma


Recursal, sendo interposto no prazo de 10 dias a contar da ciência da sentença. A petição é
escrita e conterá as razões e o pedido, não se aplicando o artigo 600, § 4° do CPP. Para
contrarrazoar o prazo é o mesmo, 10 dias, artigo 82, §1° e 2°, da Lei n. 9.099/95.
• Hipóteses de interposição de Apelação no JECRIM:

Sentença Absolutória ou Condenatória

É o mesmo raciocínio do CPP, ou seja, de sentença absolutória ou condenatória é cabível o recurso


de Apelação (Art. 82 da Lei nº 9.099/95).

Da Rejeição da Peça Acusatória

•No CPP, o recurso cabível da decisão que rejeita a peça acusatória é o Recurso em Sentido
Estrito (Art. 581, inciso I, do CPP). No entanto, nos Juizados Especiais Criminais, o meio recursal é
a Apelação, sendo obrigatória a intimação da parte adversa para apresentar contrarrazões no prazo
de 10 dias (Art. 82, § 2º, Lei nº 9.099/95).

Da Decisão Homologatória da Transação Penal

É o que estabelece o artigo 76, § 5º, da Lei nº 9.099/95: da sentença prevista no parágrafo anterior,
caberá a Apelação referida no artigo 82 desta Lei.

Já os Embargos Declaratórios no JECRIM o prazo é 5 dias, conforme dispõe o art. 83 da


Lei 9.099/95, poderão ser opostos diante da obscuridade, contradição ou omissão contida na
sentença ou acórdão. Os embargos declaratórios interrompem a contagem do prazo para os
demais recursos.

4.8.1 Observações sobre Recursos no âmbito dos Juizados Especiais


Criminais

No âmbito do JECRIM não é cabível Recurso Especial, há inclusive a Súmula 203 do STJ,
negando o cabimento de Recurso Especial.

Tal posicionamento se justifica, em razão do artigo 105, III, da CF somente mencionar


decisões de Tribunais, não sendo o caso das Turmas Recursais, por isso a ausência de
competência do Superior Tribunal de Justiça para julgamento nesse caso.
Destaca-se que é plenamente cabível Recurso Extraordinário das decisões das Turmas
Recusais (Súmula 640 do STF).

4.8.2 Habeas Corpus e Revisão Criminal no Juizado Especial Criminal

As turmas recursais julgarão os habeas corpus impetrados contra atos de Juízes dos
Juizados. Porém, o julgamento de habeas corpus contra ato das Turmas Recursais Criminais
deverá ser julgado pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado ou Tribunal Regional Federal.

Em relação à Revisão Criminal é possível, quem julgará a ação será a Turma Recursal
Criminal (STJ – CC 47.718/RS).

4.8.3 Pedido de Uniformização de Jurisprudência

De acordo com o artigo 14 da Lei 10.259/01, no âmbito dos Juizados Federais caso haja
violação às questões pacíficas no STJ é cabível o pedido de uniformização de jurisprudência
(artigo 14 da Lei 10.259/01).

O intuito é uniformizar a interpretação de lei federal quando houver divergência entre


decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais (HC
369717/MS,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, Julgado em
25/04/2017,DJE 03/05/2017).

Pedido fundado em divergência entre decisões


Pedido fundado em divergência entre de turmas de diferentes regiões ou proferida em
Turmas da mesma Região = julgado em contrariedade a súmula ou jurisprudência
reunião conjunta das Turmas em conflito dominante do STJ será julgada por Turma de
Uniformização

Não há previsão similar no âmbito do Juizado Criminal Estadual, em situações dessa


natureza a celeuma vem sendo amenizada através das Resoluções do STJ. A Resolução n.
03/2016 prevê:

Art. 1º Caberá às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos Tribunais de Justiça


a competência para processar e julgar as Reclamações destinadas a dirimir divergência
entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e do Distrito Federal e a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de assunção de
competência e de resolução de demandas repetitivas, em julgamento de recurso
especial repetitivo e em enunciados das Súmulas do STJ, bem como para garantir a
observância de precedentes.

Assim sendo, o STJ determinou aos Tribunais o julgamento das Reclamações oriunda das
Turmas Recursais. Inobstante a vigência desta resolução, há quem discuta, e com razão, a
inconstitucionalidade da medida.

4.9 Suspensão Condicional do Processo – art. 89 da Lei 9.099/95

A suspensão condicional do processo, como o próprio nome refere, é um instituto que


viabiliza a suspensão do processo criminal mediante o cumprimento de algumas condições.
Importante destacar que embora esteja previsto no art. 89 da Lei no 9.099/1995 é aplicável em
todos os procedimentos processuais, desde que não haja vedação legal.

A aplicação da suspensão condicional do processo deverá se destinar aos crimes em que


a pena mínima prevista ao delito não ultrapasse um ano3, observando os seguintes requisitos:

• o acusado não esteja sendo processado por outro crime


• não tenha sido condenado por outro crime
• e a culpabilidade, os antecedentes, os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a
concessão do instituto (demais exigências do art. 77 do CP).

Dessa forma, é possível o alcance da suspensão condicional da pena, se a condenação


anterior for à pena de multa - art. 77, §1º, do CP.

Aceita as condições contidas na proposta e previstas no art. 89, §1º e 2º, da Lei 9.099/95,
o juiz receberá a denúncia e suspenderá o processo pelo período de 2 a 4 anos.

3
De acordo com o Item 2 da Edição n. 96 da Jurisprudência em tese do STJ - É cabível a suspensão condicional
do processo e a transação penal aos delitos que preveem a pena de multa alternativamente à privativa de
liberdade, ainda que o preceito secundário da norma legal ultrapasse os parâmetros mínimo e máximo exigidos
em lei para a incidência dos institutos em comento. Por exemplo, ao delito em tipificado no art. 7, IV, 'a', da Lei n.
8.137/1990 que possui a pena mínima cominada em 2 (dois) anos de detenção ou multa, permite a concessão do
benefício legal, conforme julgado do Superior Tribunal de Justiça e entendimento firmado. (RHC 118.353/PB, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/10/2019, DJe 04/11/2019).
Assim sendo, é possível que uma pessoa acusada pelo delito de aborto, previsto no art.
124 do CP, ainda que estejamos diante do procedimento do júri, obtenha a suspensão do
processo, da mesma forma que uma pessoa que esteja respondendo por estelionato, art. 171 do
CP, desde que preencha os demais requisitos do art. 89 da Lei no 9.099/1995.

Importante frisar que se tratando de violência doméstica e familiar contra a mulher não
haverá aplicação de transação ou suspensão condicional do processo, uma vez que o art. 41 da
Lei 11.340/2006 expressamente afasta a Lei nº 9.099/1995, o que resta referendado na Súmula
536 do STJ.

Em regra, o oferecimento da proposta é feito pelo Ministério Público, no momento do


oferecimento da denúncia, conforme a Lei. Porém, poderá ser feita em momento posterior, nos
casos de desclassificação ou procedência parcial da acusação, nos termos da Súmula 337 do
STJ, e ainda nas hipóteses de emendatio e mutatio libelli (artigo 383, §1º, e 384, §3º, do CPP).

O legislador omitiu a possibilidade da suspensão condicional do processo no caso de


ações penais privadas, todavia tem a doutrina e jurisprudência admitem a hipótese. O que é
matéria controvertida é de quem seria a titularidade para o oferecimento da proposta, existindo
duas posições:

No âmbito do STJ, o entendimento é de que a legitimidade seria titular da ação, ou seja,


do querelante. Já o Enunciado 112 do FONAJE é no sentido da legitimidade para o oferecimento
ser do Ministério Público.

Caso não seja oferecida a proposta de sursis processual, aplica-se o teor da Súmula 696
do STF.

Importante, atentar para as seguintes regras quando estivermos diante de concurso de


crime: a) concurso material: suspensão somente será possível se a soma das penas mínimas
não exceder a 1 ano; b) concurso formal e crime continuado a suspensão somente será possível
se o aumento mínimo de 1/6 (arts. 70 e 71 do CP), aplicado sobre a pena mínima do crime mais
grave, não superar o limite de 1 ano. Vejamos as súmulas 243 do STJ e 723 do STF:

• Súmula 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação


às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva,
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,
ultrapassar o limite de um (01) ano.
• Súmula 723 do STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um
sexto for superior a um ano.
Durante o período de prova, a suspensão condicional do processo estará sujeita à
revogação, nos seguintes casos:

• Revogação Obrigatória: art. 89, §3º, da Lei 9.099/95 - se, no curso do prazo, o beneficiário
vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do
dano.
• Revogação Facultativa: art. 89, §4º, da Lei 9.099/95 - se o acusado vier a ser processado,
no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
A consequência da revogação será a retomada imediata do curso do processo e da
contagem do prazo prescricional, não sendo considerado para qualquer finalidade o tempo
cumprido como condição no caso de revogação da suspensão, ou seja será desprezado aquele
período de condições nos casos de revogação. Importante destacar que durante a suspensão
do processo a contagem do prazo prescricional restará suspensa.

Por fim, expirado o período de prova, cumpridas as condições, o juiz declarará a extinção
da punibilidade, nos termos do art. 89, §5º, da Lei 9.099/95.
4.10 Questões sobre Juizado Especial Criminal

12) QUESTÃO 3 – XX EXAME


Andy, jovem de 25 anos, possui uma condenação definitiva pela prática de contravenção penal.
Em momento posterior, resolve praticar um crime de estelionato e, para tanto, decide que irá até
o portão da residência de Josefa e, aí, solicitará a entrega de um computador, afirmando que tal
requerimento era fruto de um pedido do próprio filho de Josefa, pois tinha conhecimento que este
trabalhava no setor de informática de determinada sociedade. Ao chegar ao portão da casa,
afirma para Josefa que fora à sua residência buscar o computador da casa a pedido do filho dela,
com quem trabalhava. Josefa pede para o marido entregar o computador a Andy, que ficara
aguardando no portão. Quando o marido de Josefa aparece com o aparelho, Andy se
surpreende, pois ele lembrava seu falecido pai. Em razão disso, apesar de já ter empregado a
fraude, vai embora sem levar o bem. O Ministério Público ofereceu denúncia pela prática de
tentativa de estelionato, sendo Andy condenado nos termos da denúncia.
Como advogado de Andy, com base apenas nas informações narradas, responda aos itens
a seguir.
A) Qual tese jurídica de direito material deve ser alegada, em sede de recurso de apelação,
para evitar a punição de Andy? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Há vedação legal expressa à concessão do benefício da suspensão condicional do
processo a Andy? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

13) QUESTÃO 4 – XXXIII EXAME


Talita conduzia seu veículo automotor quando sofreu uma colisão na traseira de seu automóvel
causada por Lauro, que conduzia seu automóvel a 120 km/h, apesar de a velocidade máxima
permitida, na via pública em que estavam, ser de 50km/h. A perícia realizada no local indicou
que o acidente foi causado pela violação do dever de cuidado de Lauro, que, em razão da alta
velocidade imprimida, não conseguiu frear a tempo de evitar a colisão. Talita realizou exame de
corpo de delito que constatou a existência de lesão corporal de natureza leve. Lauro, por sua
vez, fugiu do local do acidente sem prestar auxílio. O Ministério Público, ao tomar conhecimento
dos fatos e não havendo composição dos danos civis, ofereceu proposta de transação penal em
favor de Lauro, destacando que o crime de lesão corporal culposa, previsto no Art. 303, § 1º, da
Lei nº 9.503/97, admitia o benefício e que a Folha de Antecedentes Criminais do autor do fato
apenas indicava a existência de uma outra anotação referente à infração em que Lauro foi
beneficiado também por transação penal, mas o benefício foi oferecido e extinto há mais de 06
anos. Talita ficou insatisfeita com a proposta do Ministério Público e procurou você, como
advogado(a), para esclarecimentos. Considerando as informações expostas, responda, na
condição de advogado(a) de Talita, aos itens a seguir.
A) Existe previsão de recurso para questionar a decisão homologatória de transação
penal? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Existe argumento para questionar o oferecimento de transação penal ao autor do fato?
Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

14) QUESTÃO 2 – 36º EXAME


David foi denunciado pela prática do crime de descaminho (Art. 334 do Código Penal), por
supostamente ter importado contêiner contendo 1 tonelada de materiais têxteis de procedência
estrangeira sem a quitação do imposto de importação devido à União, que soma R$ 750,00
(setecentos e cinquenta reais). Na cota que acompanha a denúncia, o Ministério Público Federal
se manifestou pelo não oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo a David,
pois o acusado possui anotação na sua Folha de Antecedentes Criminais (FAC), relativa à
condenação definitiva à pena de multa pelo crime de ameaça (Art. 147 do Código Penal). Sobre
a hipótese apresentada, responda aos itens a seguir.
A) Qual é a tese de mérito que pode ser invocada pelo Defensor técnico de David no caso
concreto? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual é a questão preliminar ao mérito que pode ser invocada pelo Defensor técnico de
David no caso concreto? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
Emendatio Libelli e Mutatio Libelli

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal

5.1 Introdução
No processo penal, o réu se defende dos fatos, sendo secundário a classificação jurídica
constante na denúncia ou queixa.
Segundo o princípio da correlação, a sentença está limitada apenas à narrativa feita na
peça inaugural, pouco importando a tipificação legal dada pelo acusador.
O princípio da correlação está regulamentado nos arts. 383 e 384 do CPP, que dispõem,
respectivamente, dos institutos da emendatio libelli e mutatio libelli.
Na verdade, o estudo desses institutos está intimamente relacionado a dois princípios
básicos em matéria de sentença penal: primeiro, o princípio da consubstanciação, segundo o
qual o réu defende-se dos fatos descritos na denúncia ou na queixa-crime e não da capitulação;
e, segundo, o princípio da correlação da sentença, traduzindo-se este como a necessidade de
amoldar a sentença aos fatos descritos na inicial acusatória. (AVENA, 2013, p. 1089).

5.2 Emendatio libelli


● Conceito
A emendatio libelli está prevista no artigo 383 do CPP.
Ao oferecer a denúncia ou queixa, o acusador deve descrever o fato criminoso e, após,
conferir a ele a respectiva classificação jurídica. O réu, como visto, defende-se dos fatos
relatados e não da classificação dada.
Nessa hipótese, pode ocorrer de o juiz considerar inadequada a classificação jurídica
atribuída ao fato narrado na inicial acusatória.
O fato delituoso descrito na peça acusatória continua sendo rigorosamente o mesmo,
cabendo ao juiz corrigir a classificação atribuída pelo Ministério Público ou querelante ao fato
descrito.
Desse modo, sem que tenha surgido ao longo da instrução nenhum elemento novo ou
circunstância capaz de modificar a descrição do fato contido na denúncia ou queixa, o juiz poderá
dar aos eventos delituosos descritos explícita ou implicitamente na denúncia ou queixa a
classificação jurídica que considerar correta, ainda que, em consequência, venha a aplicar pena
mais grave, sem necessidade de prévia vista à defesa, a qual não poderá alegar surpresa, uma
vez que não se defendia da classificação legal, mas da descrição fática da infração penal.
Exemplo: A denúncia narra que fulano subtraiu, mediante o emprego de fraude para
diminuir ou burlar a vigilância da vítima sobre o objeto subtraído, classificando, no entanto, tal
conduta como sendo estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal, deixando de propor a
suspensão condicional do processo pelo fato de o agente ter sido condenado pela prática de
outro crime. No caso, deve o Juiz dar definição jurídica diversa à atribuída pelo Ministério Público,
condenando o acusado pela prática do crime de furto qualificado pelo emprego de fraude (art.
155, § 4º, inciso II, do CP), sem ofensa ao contraditório ou ampla defesa, nem tampouco do
princípio da correlação entre acusação ou sentença, já que o acusado se defendia do fato de ter
subtraído objeto mediante fraude, conforme narrado na denúncia.

● Emendatio libelli e suspensão condicional do processo - art. 383, § 1º, CPP


Se a nova definição jurídica do fato é viável inclusive para a aplicação de pena mais grave,
naturalmente, o mesmo se dá para a aplicação de benefícios anteriormente não concedidos por
falta de condições.
Em outras palavras, pode ocorrer (o que é mais comum, inclusive) de com a emendatio
libelli o fato atribuído ao agente se enquadrar em crime menos grave, cuja pena mínima não seja
superior a um ano.
Se o crime inicialmente imputado previa pena mínima superior a um ano, o agente, na
visão da parte acusatória, não fazia jus à suspensão condicional do processo, já que não
preenchia o requisito do art. 89 da Lei 9.099/95.
Porém, com a emendatio libelli, a partir da nova definição jurídica, atribuindo-se delito
menos grave, cuja pena mínima não seja superior a um ano, pode ocorrer de o agente passar a
ter direito à suspensão condicional do processo. Nesse caso, o magistrado não poderá proferir
eventual sentença condenatória, mas proceder conforme prevê a lei, ou seja, conceder vista do
processo ao Ministério Público, a fim de que possa oferecer proposta de suspensão condicional
do processo, se for o caso.
Exemplo: A denúncia narra que fulano empurrou a vítima e arrebatou-lhe a corrente do
pescoço, classificando tal conduta como roubo (art. 157 do CP). Após o encerramento da
instrução, o Magistrado se convence de que o fato descrito na denúncia não constitui violência
ou grave ameaça, interpretando a conduta descrita na inicial acusatória como sendo furto simples
(art. 155 do CP). No momento do oferecimento da denúncia, não era cabível a proposta de
suspensão condicional do processo, uma vez que a pena mínima do crime de roubo é de 04
anos. Ao final de instrução, considerando-se a hipótese de furto simples, cuja pena mínima é de
01 ano, passou-se a aventar a possibilidade de suspensão condicional do processo.
Assim, nesse caso, ao receber os autos conclusos para sentença, vislumbrando hipótese
de definição jurídica diversa da contida na exordial, que, por sua vez, poderá ensejar a
suspensão condicional do processo, o Magistrado deverá operar a desclassificação do delito,
limitando-se exclusivamente à correta tipificação da conduta, sem emitir, portanto, qualquer juízo
de valor acerca do mérito (condenação ou absolvição). Em seguida, deverá determinar vista dos
autos ao Ministério Público para que se manifeste acerca da possibilidade da proposta da
suspensão condicional do processo.
Se o juiz proferir sentença condenatória pelo delito de furto, pode-se, em sede de
preliminar de apelação, arguir a nulidade da sentença, pela inobservância do procedimento do
artigo 383, § 1º, do CP.

● Desclassificação – art. 383, § 2º, CPP


Se o juiz, no momento da sentença, verificar que o fato descrito não corresponde à
classificação atribuída na peça acusatória, promoverá a emendatio libelli. E, se com a nova
definição jurídica, verificar que não é o juiz competente para processar e julgar o feito, deverá
encaminhar o processo para o Juízo competente.
Tomemos como exemplo o fato narrado na denúncia ter sido classificado como tentativa
de homicídio, quando, na verdade, trata-se de lesão corporal grave. Nesse caso, o juiz do
Tribunal do Júri verificará que, com a emendatio libelli, e nova definição jurídica do fato descrito
na denúncia, não será competente para processar o feito, devendo encaminhar para o juízo
competente.
O mesmo ocorrerá se observar tratar-se de crime de menor potencial ofensivo. Nesse
caso, caberá ao juiz, motivadamente, realizar a desclassificação, sem, contudo, emitir juízo de
valor acerca do mérito (condenação ou absolvição), devendo, pois, limitar-se à tipificação do
delito, encaminhando, após, os autos ao juízo competente.
Exemplo: A denúncia narra que determinado funcionário público aceitou promessa de
vantagem indevida para retardar ato de ofício, capitulando a conduta como sendo de corrupção
passiva, prevista no artigo 317 do CP. Após o encerramento da instrução, o Magistrado considera
ter ocorrido, em tese, o delito de corrupção passiva privilegiada, previsto no artigo 317,§ 2º, do
CP, cuja pena varia de 03 meses a 01 ano, sendo, pois, crime de menor potencial ofensivo,
devendo, diante disso, sem emitir qualquer juízo de valor acerca do mérito, remeter o processo
ao Juizado Especial Criminal.

5.3 Mutatio libelli


A mutatio libelli está disciplinada no artigo 384 do CPP.
Aqui não ocorre simples emenda na acusação, mediante correção na tipificação legal,
mas verdadeira mudança, com alteração na narrativa acusatória. Assim, a mutatio libelli implica
o surgimento de uma prova nova, desconhecida ao tempo do oferecimento da ação penal,
levando a uma readequação dos episódios delituosos relatados na denúncia ou queixa.
Exemplo: Um sujeito é denunciado pelo crime de furto. Ao longo da instrução, uma
testemunha afirma ter visto o réu apontando uma arma, circunstância que não estava descrita
na denúncia. O juiz não poderá condenar o réu pelo delito de roubo. Deverá dar vista dos autos
ao Ministério Público, para aditamento da denúncia e inclusão da circunstância da arma, abrindo-
se, após, oportunidade à defesa se pronunciar, procedendo-se, se for o caso, à instrução,
mediante a oitiva de até 03 testemunhas, para, somente agora, o juiz proferir sentença.
Em outras palavras, o que caracteriza a mutatio é o surgimento de fato não descrito na
denúncia, razão pela qual a peça acusatória deve ser aditada, para incluir esse fato ou
circunstância, para viabilizar o contraditório e a ampla defesa.

● Procedimento da mutatio libelli


Considerando a hipótese de mutatio libelli, deve o Ministério Público aditar a denúncia, no
prazo de 05 dias, concedendo-se, após, vista dos autos ao defensor para se manifestar também
no prazo de 05 dias (CPP, art. 384, § 2º).
Em sendo admitido o aditamento da denúncia, o Magistrado designará nova audiência
para inquirição de testemunhas, novo interrogatório, debates e julgamento. Nos termos do artigo
384, § 4º, do CPP, na hipótese de aditamento, cada parte poderá arrolar até três testemunhas.
Conforme o artigo 384, § 4º, ao sentenciar o feito, o juiz ficará adstrito aos termos do
aditamento recebido, ou seja, não poderá condenar o réu além dos limites do aditamento.

● Exclusividade dos crimes de ação pública


Veda a lei que o juiz tome qualquer iniciativa para o aditamento da queixa, em ação
exclusivamente privada, pois a iniciativa é sempre da parte ofendida, além de não viger, nesse
caso, o princípio da obrigatoriedade da ação penal, cujo controle é de ser feito tanto pelo
promotor, quanto pelo magistrado.
Ao contrário, regendo a ação privada exclusiva o princípio da oportunidade, não cabe
qualquer iniciativa nesse sentido pelo órgão acusador. Aliás, se o querelante, por sua própria
ação, desejar aditar a queixa, em ação privada exclusiva, deve levar em conta o prazo
decadencial de seis meses.

● Impossibilidade de aplicação da mutatio libelli em grau recursal


A mutatio libelli se aplica somente em 1ª instância, não sendo possível aplicar tal
procedimento em 2ª instância (Tribunal de Justiça). É o que diz a Súmula 453 do STF:
Súmula 453 STF: “Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do
Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em
virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou
queixa.”

5.4 Questões sobre Emendatio libelli e Mutatio libelli

15) QUESTÃO 4 – 2010/01 EXAME


Jânio foi denunciado pela prática de roubo tentado (Código Penal, art. 157, caput, c/c art. 14, II),
cometido em dezembro de 2009, tendo sido demonstrado, durante a instrução processual, que
o réu praticara, de fato, delito de dano (Código Penal, art. 163, caput).
Considerando essa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes
indagações.
A) Em face da nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado pelo
juiz?
B) Caso a nova capitulação jurídica do fato fosse verificada apenas em segunda instância,
seria possível a aplicação do instituto da emendatio libelli?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

16) QUESTÃO 2 – XXVII EXAME


Em cumprimento de mandado de busca e apreensão, o oficial de justiça Jorge compareceu ao
local de trabalho de Lucas, sendo encontradas, no interior do imóvel, duas armas de fogo de
calibre .38, calibre esse considerado de uso permitido, devidamente municiadas, ambas com
numeração suprimida. Em razão disso, Lucas foi preso em flagrante e denunciado pela prática
de dois crimes previstos no Art. 16, caput, da Lei 10.826/2003, em concurso material, sendo
narrado que “Lucas, de forma livre e consciente, guardava, em seu local de trabalho, duas armas
de fogo de calibre restrito, devidamente municiadas”. Após a instrução, em que os fatos foram
confirmados, foi juntado o laudo confirmando o calibre 38 das armas de fogo, a capacidade de
efetuar disparos, bem como que ambas tinham a numeração suprimida. As partes apresentaram
alegações finais, e o magistrado, em sentença, considerando o teor do laudo, condenou Lucas
pela prática de dois crimes previstos no Art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 10.826/2003,
em concurso formal.
Intimada a defesa técnica da sentença condenatória, responda, na condição de
advogado(a) de Lucas, aos itens a seguir:
A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em busca da desconstituição
da sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Reconhecida a validade da sentença em segundo grau, qual o argumento de direito
material a ser apresentado para questionar o mérito da sentença condenatória e,
consequentemente, a pena aplicada? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
17) QUESTÃO 1 – XX EXAME – PROVA REAPLICADA EM PORTO VELHO/RO
Jorge, com 21 anos de idade, reincidente, natural de São Gonçalo/RJ, entrou em uma briga com
seus pais, razão pela qual foi morar na casa de sua tia Marta, irmã de seu pai, na cidade de
Maricá/RJ, já que esta tinha apenas 40 anos e “o entenderia melhor”. Após 06 meses residindo
no mesmo local que sua tia, Jorge subtraiu o carro de Marta, levando-o para uma favela em
Niterói, onde pretendia morar no futuro. No começo, Marta não desconfiou da autoria, porém
após alguns dias, teve certeza de que o autor do crime era seu sobrinho, mas nada fez para vê-
lo responsabilizado criminalmente, em razão do afeto que tinha por ele. Apenas, então,
comunicou à seguradora que seu veículo fora furtado. Jorge, 01 ano após esses fatos, estava
na direção do veículo que havia subtraído quando foi abordado por policiais militares que,
constatando que aquele bem era produto de crime pretérito, realizaram sua prisão em flagrante.
Jorge foi denunciado pela prática do crime de receptação, mas, no curso da instrução, foi
descoberto que, na verdade, o acusado era o autor do crime de furto. O Ministério Público aditou
a denúncia para adequá-la às novas descobertas e, após manifestação da Defensoria Pública,
foi o aditamento recebido. Não houve requerimento de novas provas. Jorge o(a) procura para,
na condição de advogado(a), apresentar as Alegações Finais.
Considerando as informações extraídas da hipótese, responda aos itens a seguir.
A) Qual a principal tese defensiva a ser formulada nas Alegações Finais para evitar a
condenação de Jorge? (Valor: 0,65)
B) Na condição de advogado(a) do acusado, o que você alegaria, no campo processual,
caso o juiz viesse a condenar Jorge, após o aditamento, de acordo com a imputação
original de receptação? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

18) QUESTÃO 3 – VIII EXAME


João e José foram denunciados pela prática da conduta descrita no art. 316 do CP (concussão).
Durante a instrução, percebeu-se que os fatos narrados na denúncia não corresponderiam àquilo
que efetivamente teria ocorrido, razão pela qual, ao cabo da instrução criminal e após a
respectiva apresentação de memoriais pelas partes, apurou-se que a conduta típica adequada
seria aquela descrita no art. 317 do CP (corrupção passiva). O magistrado, então, fez remessa
dos autos ao Ministério Público para fins de aditamento da denúncia, com a nova capitulação
dos fatos.
Nesse sentido, atento(a) ao caso narrado e considerando apenas as informações contidas
no texto, responda fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) Estamos diante de hipótese de mutatio libelli ou de emendatio libelli? Qual dispositivo
legal deve ser aplicado? (Valor: 0,50)
B) Por que o próprio juiz, na sentença, não poderia dar a nova capitulação e, com base
nela, condenar os réus? (Valor: 0,50)
C) É possível que o Tribunal de Justiça de determinado estado da federação, ao analisar
recurso de apelação, proceda à mutatio libelli? (Valor: 0,25)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

19) QUESTÃO 3 – 2009-03 EXAME


Júlio foi denunciado pela prática do delito de furto cometido em fevereiro de 2010. Encerrada a
instrução probatória, constatou-se, pelas provas testemunhais produzidas pela acusação, que
Júlio praticara roubo, dado o emprego de grave ameaça contra a vítima.
Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes
indagações.
A) Dada a nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado pela
autoridade judicial, sem que se fira o princípio da ampla defesa?
B) O princípio da correlação é aplicável ao caso concreto?
C) Caso Júlio tivesse cometido crime de ação penal exclusivamente privada, dada a nova
definição jurídica do fato narrado na queixa após o fim da instrução probatória, seria
aplicável o instituto da mutatio libelli?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

20) QUESTÃO 3 – 2009-03 EXAME


Wilson, primário, foi denunciado como incurso no crime de roubo qualificado mediante lesões
corporais graves, capitulado pelo Ministério Público no artigo 157, §3º, inciso I, do Código Penal.
Ao final da instrução, o Magistrado reconheceu que Wilson efetivamente praticou lesões graves
na vítima, já que ficou com debilidade permanente da função mastigatória, lesão descrita na
denúncia, mas entendeu que não houve subtração ou tentativa de subtração do patrimônio da
vítima, conforme mencionou o Ministério Público na peça acusatória, razão pela qual condenou
o réu como incurso nas sanções do artigo 129, § 1º, inciso III, do Código Penal. Diante do fato
hipotético, considerando apenas as informações narradas, responda:
A) A hipótese retratada caracteriza "emendatio libelli" ou "mutatio libelli"?
B) Poderia o Magistrado proferir sentença condenatória pela prática do crime previsto no
artigo 129, § 1º, III, do Código Penal, sem adotar qualquer outra providência antes?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Reformatio In Pejus

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal

6.1 Introdução
Todos os recursos possuem efeito devolutivo. Significa que a interposição de um recurso
viabiliza a análise total ou parcial da matéria impugnada em primeiro grau. Em síntese, a
interposição do recurso reabre a discussão da decisão combatida no recurso por um órgão
superior, cuja extensão da apreciação pelo Tribunal depende de quem seja o recorrente, ou seja,
se o recurso foi interposto pela acusação ou defesa.
Especificamente em relação à reformatio in pejus, convém seja feito um estudo articulado
considerando quem foi o recorrente: recurso da acusação ou recurso da defesa.

6.2 Recurso da acusação


Extensão do efeito devolutivo visando a agravar a situação jurídica do réu
condenado:
O efeito devolutivo do recurso da acusação é bastante limitado quando voltado a piorar a
situação do réu. Isso porque não pode o Tribunal, por exemplo, reconhecer contra o réu nulidade
não postulada no recurso da acusação. É nesse sentido, aliás, o teor da Súmula 160 do STF,
segundo a qual é nulo o acórdão que reconhece contra o réu nulidade não arguida no recurso
da acusação, excetuados os casos de reexame necessário (já que no caso de reexame
necessário, a devolução é sempre na íntegra).
Imaginemos que após ser proferida sentença absolutória o MP tenha interposto recurso
buscando exclusivamente a condenação do réu, sem arguir qualquer anulação. Nesse caso, não
poderá o Tribunal reconhecer qualquer nulidade, sob pena de haver reforma da decisão
prejudicial ao réu. Isso porque, com a declaração da nulidade, a sentença absolutória (que
favoreceu o réu) também será nula, gerando a possibilidade de ser proferida outra sentença,
agora condenatória. Eis a razão do teor da Súmula 160 do STF, ao considerar nula a decisão do
Tribunal que reconheceu nulidade não arguida pelo réu.
6.3 Recurso da defesa
a) Extensão do efeito devolutivo visando a beneficiar o réu condenado:
Neste caso, a devolução que se opera pelo recurso defensivo é, em regra, integral,
podendo ser decididas em seu favor, no juízo ad quem, temas não enfrentados na impugnação.

b) O efeito devolutivo do recurso da defesa em face da reformatio in pejus:

Art. 617, CPP: O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos
arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser gravada a pena,
quando somente o réu houver apelado da sentença.

Ocorre a reformatio in pejus quando o Tribunal agrava a situação do réu em face de


recurso interposto exclusivamente pela defesa. A reformatio in pejus pode ser direta ou indireta.

6.4 Reformatio in pejus direta


Ocorre quando o próprio Tribunal profere decisão agravando a situação jurídica do réu ao
julgar recurso exclusivo da defesa.
Embora a apelação permita o reexame da matéria decidida na sentença, o efeito
devolutivo não é pleno, ou seja, não pode resultar do julgamento decisão desfavorável à parte
que interpôs o recurso.
Recorrendo apenas o réu, não é possível haver reforma da sentença para agravar sua
situação; recorrendo a acusação em caráter limitado, não pode o tribunal dar provimento em
maior extensão contra o apelado.
Imaginemos que o réu foi condenado à pena de 2 anos de reclusão, sendo interposto
recurso exclusivamente pela defesa (MP não recorreu). Não pode o Tribunal proferir acórdão
elevando a pena do réu, a pretexto de que o juiz de 1º grau não observou a existência de uma
agravante.

6.5 Reformatio in pejus indireta


Trata-se da anulação da sentença, por recurso exclusivo do réu, vindo outra a ser
proferida, devendo respeitar os limites da primeira, sem poder agravar a situação do acusado.
Assim, caso o réu seja condenado a 5 anos de reclusão, mas obtenha a defesa a anulação
dessa decisão, quando o magistrado – ainda que seja outro – venha a proferir outra sentença,
está adstrito a uma condenação máxima de 5 anos.
Se pudesse elevar a pena, ao proferir nova decisão, estaria havendo uma autêntica
reforma em prejuízo da parte que recorreu.
Em tese, seria melhor ter mantido a sentença, ainda que padecendo de nulidade, pois a
pena seria menor.
Em síntese: Imagine-se que o réu, condenado a cinco anos de reclusão, recorra invocando
nulidade do processo. Considere-se, outrossim, que o Ministério Público não tenha apelado da
decisão para aumentar a pena. Se o tribunal, acolhendo o inconformismo da defesa, dar-lhe
provimento e determinar a renovação dos atos processuais, não poderá a nova sentença, como
regra, agravar a situação em que já se encontrava o réu por força da sentença, sob pena de
incorrer em reformatio in pejus indireta, ou seja, o juiz, na nova sentença, estaria limitado a cinco
anos. Se fixar pena superior a cinco anos, poderá ser alegado, em preliminar de apelação,
nulidade da sentença.

6.6 Questões sobre Reformatio in pejus

21) QUESTÃO 2 – XIV EXAME


Gustavo está sendo regularmente processado, perante o Tribunal do Júri da Comarca de Niterói-
RJ, pela prática do crime de homicídio simples, conexo ao delito de sequestro e cárcere privado.
Os jurados consideraram-no inocente em relação ao delito de homicídio, mas culpado em relação
ao delito de sequestro e cárcere privado. O juiz presidente, então, proferiu a respectiva sentença.
Irresignado, o Ministério Público interpôs apelação, sustentando que a decisão dos jurados fora
manifestamente contrária à prova dos autos. A defesa, de igual modo, apelou, objetivando
também a absolvição em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O Tribunal de Justiça,
no julgamento, negou provimento aos apelos, mas determinou a anulação do processo (desde o
ato viciado, inclusive) com base no Art. 564, III, i, do CPP, porque restou verificado que, para a
constituição do Júri, somente estavam presentes 14 jurados. Nesse sentido, tendo como base
apenas as informações contidas no enunciado, responda justificadamente às questões a seguir.
A) A nulidade apresentada pelo Tribunal é absoluta ou relativa? Dê o respectivo
fundamento legal. (Valor: 0,40)
B) A decisão do Tribunal de Justiça está correta? (Valor: 0,85)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

22) QUESTÃO 2 – XI EXAME


Daniel foi denunciado, processado e condenado pela prática do delito de roubo simples em sua
modalidade tentada. A pena fixada pelo magistrado foi de dois anos de reclusão em regime
aberto. Todavia, atento às particularidades do caso concreto, o referido magistrado concedeu-
lhe o benefício da suspensão condicional da execução da pena, sendo certo que, na sentença,
não fixou nenhuma condição. Somente a defesa interpôs recurso de apelação, pleiteando a
absolvição de Daniel com base na tese de negativa de autoria e, subsidiariamente, a substituição
do benefício concedido por uma pena restritiva de direitos. O Tribunal de Justiça, por sua vez,
no julgamento da apelação, de forma unânime, negou provimento aos dois pedidos da defesa e,
no acórdão, fixou as condições do sursis, haja vista o fato de que o magistrado a quo deixou de
fazê-lo na sentença condenatória.
Nesse sentido, atento apenas às informações contidas no texto, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) Qual o recurso cabível contra a decisão do Tribunal de Justiça? (Valor: 0,55)
B) Qual deve ser a principal linha de argumentação no recurso? (Valor: 0,70)
Crimes contra a vida

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

7.1 Homicídio simples – Art. 121, caput, CP


7.1.1 Conceito de homicídio
É a morte de um homem provocada por outro homem. E a eliminação da vida de uma
pessoa praticada por outra.

Trata-se de preservar o bem jurídico “vida extrauterina”. Antes do início do parto, com a
dilatação do colo do útero, há vida intrauterina, constituindo-se, nesse caso, a eliminação da vida
crime de aborto.

7.1.2 Meios de execução


O crime de homicídio admite qualquer meio de execução, por disparo de arma de fogo,
facadas, atropelamento, emprego de fogo, asfixia, veneno, etc... Determinados meios
empregados para a execução do delito podem qualificar o delito de homicídio, como, por
exemplo, o fogo, veneno, explosivo.

Normalmente o crime de homicídio é praticado por meio de uma ação do sujeito ativo; é
possível, todavia, que o crime seja praticado por omissão, como, por exemplo, a mãe,
pretendendo a morte do filho pequeno, deixa de alimentá-lo. Nesse caso, a mãe teria o dever de
agir e de impedir o resultado, nos termos do artigo 13, § 2º, alínea “a”, do Código Penal.

Existe, ainda, a participação por omissão. Suponha-se que um policial, ao dobrar uma
esquina, veja um homem desconhecido estrangulando uma mulher. Ele está armado e pode
evitar o resultado, tendo, inclusive, o dever jurídico de fazê-lo. Contudo, ao perceber que a vítima
é uma pessoa de quem ele não gosta, resolve se omitir, permitindo que o homicídio se consume.
O desconhecido é autor do homicídio e o policial, partícipe por omissão (porque tinha o dever
jurídico de evitar o crime e não o fez) (GONÇALVES, 2013, p. 77).
Para caracterizar ao menos tentativa de homicídio, o meio empregado para causar a morte
deve, no mínimo, ser relativamente eficaz a produzir o resultado. Se a consumação do homicídio
se mostrar impossível no caso concreto, por absoluta ineficácia do meio, tem-se a hipótese do
crime impossível, não sendo punível nem sequer a tentativa, conforme dispõe o artigo 17 do
Código Penal. Em síntese, o fato será atípico.

Assim, arma com balas velhas, que não deflagram; arma com defeito mecânico, sem
potencialidade lesiva; arma de brinquedo = meios absolutamente ineficazes = crime impossível.

Arma com balas velhas, mas que podem ou não disparar = meio relativamente ineficaz =
pode configurar tentativa punível.

7.1.3 Sujeitos do delito


a) Sujeito ativo

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata), como
também o partícipe, que é aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum
modo para a produção do resultado.

b) Sujeito passivo

Sujeito passivo: qualquer pessoa, com qualquer condição de vida, de saúde, de posição
social, de raça, etc.

É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado.

É a vida extrauterina o objeto de proteção do homicídio, enquanto a vida intrauterina fica


no campo do aborto.

Se doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa


menor de 14 anos ou maior de 60 anos (Art. 121, § 4º, do CP).

Se o agente investir, com a intenção de matá-la, contra pessoa já falecida, incidirá a


hipótese de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto (Art. 17 do CP).
7.1.4 Elemento subjetivo
O elemento subjetivo que compõe a estrutura do tipo penal do crime de homicídio é o dolo,
que pode ser direto ou eventual.

O tipo penal do homicídio simples não exige qualquer finalidade específica para sua
configuração. Ao contrário, o motivo do crime pode fazer com que passe a ser considerado
privilegiado (motivo de relevante valor moral ou social) ou qualificado (motivo torpe ou fútil). Se,
entretanto, a motivação do homicida não se enquadrar em nenhuma das hipóteses que tornam
o crime qualificado ou privilegiado, automaticamente será ele considerado simples
(GONÇALVES, 2013, p. 87).

7.1.5 Consumação
Consuma-se o crime de homicídio quando da ação humana resulta a morte da vítima.
Ocorre com a cessação da atividade encefálica, conforme se extrai do artigo 3º da Lei nº 94.34/97
(que disciplina o transplante de órgãos).

A materialidade, ou seja, a existência do crime de homicídio e a causa da morte, é


atestada pelo exame necroscópico, em que o médico legista aponta a ocorrência da morte e
suas causas.

7.1.6 Tentativa
Tratando-se de crime material, o homicídio admite a tentativa, que ocorrerá quando,
iniciada a execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do
agente.

Para a tentativa, é necessário que o crime saia de sua fase preparatória e comece a ser
executado, pois somente quando se inicia a execução é que haverá início de fato típico.

Para o reconhecimento da tentativa devem estar presentes três fatores: a) prova


inequívoca que a intenção do agente era matar a vítima; b) tenha havido início de execução do
homicídio; c) que o resultado morte não tenha ocorrido por circunstâncias alheias à vontade do
agente.
7.2 Homicídio privilegiado – Art. 121, § 1º, CP
O artigo 121, § 1º, do Código Penal, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o
sujeito cometer o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 a 1/3.

7.2.1 Motivo de relevante valor social


Ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. A conduta, então, é
ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade.

EXEMPLO

Pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata um
traficante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para
contê-lo.

7.2.2 Motivo de relevante valor moral


Diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal.

Será motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem
moral, pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável
sofrimento da vítima.

Exemplo: Eutanásia.

7.2.3 Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da


vítima
A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido.
Além da violência emocional, é fundamental que a provocação tenha partido da própria
vítima e seja injusta, o que não significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não
justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita.

EXEMPLO

Conduta de réu cuja filha menor fora seduzida e corrompida por seu ex-empregador; do
que fora provocado e mesmo agredido momentos antes pela vítima.

O texto legal exige que o impulso emocional e o ato dele resultante sigam-se
imediatamente à provocação da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação
injusta e a conduta do sujeito.

Convém ressaltar que tal circunstância não se confunde com a atenuante contida no artigo
65, inciso III, alínea “c”, parte final. Trata-se de cometer um delito sob a influência de violenta
emoção, provocada por ato injusto da vítima.

A diferença reside no fato de que o privilégio requer imediatidade entre provocação e


reação (requisito desnecessário na atenuante) e que a violenta emoção domine o agente (na
atenuante, basta que o influencie).

7.3 Homicídio qualificado – Art. 121, § 2º, CP


7.3.1 Conceito
É o homicídio praticado com circunstâncias legais que integram o tipo penal incriminador,
alterando para mais a faixa de fixação da pena.

Dizem respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de execução,
reveladores de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente.

Portanto, da pena de reclusão de 06 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-


se ao mínimo de 12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada.

Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado é crime hediondo, nos termos do


artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.072/90.
7.3.2 Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe
Trata-se de qualificadora subjetiva, pois diz respeito aos motivos que levaram o agente à
prática de crime.

Torpe é o motivo moralmente reprovável, abjeto, desprezível, vil, que demonstra a


depravação espiritual do sujeito e suscita aversão e repugnância geral em relação ao crime
praticado.

a) Mediante paga ou promessa de recompensa

Na paga o agente recebe previamente a recompensa pelo crime, o que não ocorre na
promessa de recompensa, em que há somente a expectativa de paga, há um compromisso futuro
de pagamento, cuja efetivação está condicionada à prática do crime de homicídio.

b) Motivo torpe

TORPE: é o motivo repugnante, abjeto, vil, que causa repulsa excessiva à sociedade.

Exemplo: matar alguém para adquirir-lhe a herança, por ódio de classe, vaidade e prazer
de ver sofrer.

7.3.3 Motivo fútil


É o motivo insignificante, apresentando desproporção entre o crime e sua causa moral.

Fútil é o motivo insignificante, banal, desproporcional à reação criminosa.

Exemplos de motivo fútil: simples incidente de trânsito; rompimento de namoro; pequenas


discussões entre familiares; o fato de a vítima ter rido do homicida; porque a vítima estava
olhando feio.

7.3.4 Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum
Trata-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito aos modos de execução do crime de
homicídio, os quais demonstram certa perversidade.
a) Emprego de veneno

Meio insidioso existe no homicídio cometido por intermédio de estratagema, perfídia. O


veneno é um meio insidioso.

É necessário, para a incidência da qualificadora, que o veneno seja propinado


insidiosamente. Assim, se há emprego de violência no sentido de que a vítima ingira a
substância, não ocorre a qualificadora, podendo incidir o meio cruel.

b) Emprego de fogo ou explosivo

Meio cruel é aquele que causa sofrimentos à vítima, não incidindo se empregado após a
morte.

O fogo pode ser meio cruel ou de que pode resultar perigo comum, conforme as
circunstâncias.

Explosivo é qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão ou qualquer corpo


capaz de se transformar rapidamente em uma explosão. O emprego de explosivo pode ocorrer
pelo manuseio de dinamite ou qualquer outro material explosivo, v.g, bomba caseira, coquetel
molotov etc.

c) Emprego de asfixia

Asfixia é o impedimento da função respiratória e consequente ausência de oxigênio no


sangue. A asfixia pode ser tóxica ou mecânica. Asfixia tóxica pode se dar pelo ar confinado, pelo
óxido de carbono e pelas viciações do ambiente. As asfixias mecânicas são: enforcamento,
imprensamento, estrangulamento, afogamento e esganadura.

d) Emprego de tortura

É o suplício, ou tormento, que faz a vítima sofrer desnecessariamente antes da morte. É


o meio cruel por excelência. O agente, na execução do delito, utiliza-se de requintes de crueldade
como forma de exacerbar o sofrimento da vítima, de fazê-la sentir mais intensa e demoradamente
as dores.

A Lei nº 9.455/97, ao definir a tortura, comina pena de 08 a 16 anos de reclusão na


hipótese de resultar morte (Art. 1º, § 3º, 2ª parte). Trata-se de crime qualificado pelo resultado e
preterdoloso, em que a tortura é punida a título de dolo e o evento qualificador (morte), a título
de culpa. Aplica-se no caso de haver nexo de causalidade entre a tortura, seja física ou moral, e
o resultado agravador.

Ocorrendo dolo quanto à morte, seja direto ou eventual, o sujeito só responde por
homicídio qualificado pela tortura (Art. 121, § 2º, inciso III, 5ª fig), afastada a incidência da lei
especial.

e) Meio cruel

São cruéis aqueles meios que aumentam inútil e desnecessariamente o sofrimento da


vítima ou revelam brutalidade ou sadismo fora do comum, contrastando com os sentimentos de
dignidade, de humanidade ou piedade.

f) Meio de que possa resultar perigo comum

É aquele que pode expor a perigo um número indeterminado de pessoas, fazendo


periclitar a incolumidade social.

O Código Penal também qualifica o homicídio praticado por intermédio de meio que pode
resultar perigo comum, exemplificando-o com o fogo e o explosivo. Trata-se, conforme visto, de
fórmula genérica, sendo certo que os meios mencionados genericamente devem seguir a mesma
linha do que consta na parte exemplificativa.

7.3.5 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso


que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
Nas hipóteses do inciso IV, do § 2º, do artigo 121, o que qualifica o homicídio não é o meio
escolhido ou empregado para a prática do crime, mas o modo insidioso com que o agente
executa, utilizando, para isso, recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima.

Cuida-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime. Neste
inciso temos recursos obstativos à defesa do sujeito passivo, que comprometem total ou
parcialmente o seu potencial defensivo.

a) À traição

A traição pode ser física, como matar pelas costas, ou moral, exemplo de o sujeito atrair
a vítima a local onde existe um poço.
b) Emboscada

Emboscada é a tocaia. Significa ocultar-se para poder atacar, o que, na prática, é a tocaia.
O agente fica à espreita do ofendido para agredi-lo.

É a ação premeditada de aguardar oculto a presença da vítima para surpreendê-la com o


ataque indefensável. É a espera dissimulada da vítima em lugar por onde esta terá de passar.
Na emboscada, o criminoso aguarda escondido a passagem da vítima desprevenida, que é
surpreendida.

c) Mediante dissimulação

Dissimular é ocultar a verdadeira intenção, agindo com hipocrisia. Nesse caso, o agressor,
fingindo amizade ou carinho, aproxima-se da vítima com a meta de matá-la.

É a ocultação da intenção hostil, do projeto criminoso, para surpreender a vítima. O sujeito


ativo dissimula, isto é, mostra o que não é, faz-se passar por amigo, ilude a vítima, que, assim,
não tem razões para desconfiar do ataque e é apanhada desatenta e indefesa.

d) Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa

Por fim, o Código Penal se refere a recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da
vítima. É necessário que tais meios se assemelhem à traição, emboscada ou dissimulação.

A surpresa cabe na fórmula genérica em estudo. Para tanto é necessário que a conduta
criminosa seja igualmente inesperada, impedindo ou dificultando a defesa do ofendido.

7.3.6 Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de


outro crime
Constituem qualificadoras subjetivas, na medida em que dizem respeito aos motivos
determinantes do crime.

Conexão é o liame objetivo ou subjetivo que liga dois ou mais crimes.

a) Conexão teleológica:

Existe conexão teleológica quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a execução


de outro delito.
O que qualifica o homicídio não é a prática efetiva de outro crime, mas o fim de assegurar
a execução desse outro crime, que pode até não vir a ocorrer.

Exemplo: quem, para sequestrar alguém, mata o guarda-costas que pretendia evitar o
sequestro responderá pelo crime de homicídio qualificado, mesmo que, a seguir, desista de
efetuar o sequestro.

b) Conexão consequencial

Há conexão consequencial quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a ocultação,


impunidade ou vantagem em relação a outro delito.

Na ocultação, o sujeito visa a impedir a descoberta do crime. Ex. o incendiário mata a


testemunha do crime.

Na impunidade, o crime é conhecido, enquanto a autoria é desconhecida. Ex. o sujeito


mata a testemunha de um desastre ferroviário criminoso.

Pode ocorrer que o sujeito execute o homicídio a fim de assegurar vantagem no tocante
a outro delito. Ex. o sujeito mata o parceiro do roubo com a finalidade de ficar com todo o produto
do crime. Não é necessário que a vantagem seja patrimonial, podendo ser moral.

7.3.7 Feminicídio
A partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a ser qualificado
também se praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Nos termos do artigo 121, § 7º, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº
13.771/2018, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto


II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental;

III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;

IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e


III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

7.3.8 Praticado contra agentes de segurança


Qualifica o crime de homicídio quando praticado contra autoridade ou agente descrito nos
artigos 142 e 144, ambos da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.

7.3.9 Emprego de Arma de Fogo de uso restrito ou proibido


Com a derrubada do veto pelo Congresso foi incluída a qualificadora do artigo 121,
parágrafo 2°, VIII, a qual diz respeito sobre o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Trata-se de uma qualificadora objetiva que diz respeito sobre a execução do crime de
homicídio.

7.3.10 Homicídio contra menor de 14 anos


Com o advento da lei 14344/2022 (Lei Henry Borel) foi incluído o homicídio contra menor
de 14 anos no rol das qualificadoras (art. 121, parágrafo 2, inciso X).

Ademais, restou incluída uma causa de aumento específica (art. 121, parágrafo 2b):

§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de:


I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença
que implique o aumento de sua vulnerabilidade;

II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,


cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por
qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.

7.3.11 Homicídio privilegiado-qualificado


Tem sido posição predominante na doutrina e na jurisprudência a admissão da forma
privilegiada-qualificada, desde que exista compatibilidade lógica entre as circunstâncias.

Em regra, PODE-SE ACEITAR A EXISTÊNCIA CONCOMITANTE DE QUALIFICADORAS


OBJETIVAS COM AS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS DO PRIVILÉGIO, QUE SÃO DE ORDEM
SUBJETIVA (motivo de relevante valor e domínio de violenta emoção).

7.4 Homicídio culposo – Art. 121, § 3º, CP


7.4.1 Conceito
É um tipo aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser aplicado. A
culpa, conforme o artigo 18, inciso II, do Código Penal, é constituída de “imprudência, negligência
ou imperícia”. Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo
penal incriminador do homicídio culposo.

7.4.2 Modalidades de culpa


a) Imprudência

A imprudência é a prática de um fato perigoso. Consiste na violação das regras de conduta


ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há sempre um
comportamento positivo.

Exemplo: manejar arma carregada.


b) Negligência

A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. É a


culpa na sua forma omissiva. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria.

Exemplo: deixar arma de fogo ao alcance de uma criança.

c) Imperícia

Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia pressupõe


que o fato tenha sido cometido no exercício da arte ou profissão.

Exemplo: Engenheiro que constrói um prédio cujo material é de baixa qualidade, vindo
este a desabar e a provocar a morte dos moradores.

7.4.3 Concorrência e compensação de culpas


Não há no Direito Penal compensação de culpas. Assim a culpa do pedestre que
atravessa a rua fora da faixa a ele destinada não elide a culpa do motorista que trafega na
contramão.

A culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente, pois se ela foi exclusiva de um é
porque não houve culpa alguma do outro; logo, se não há culpa do agente, não se pode falar em
compensação.

7.4.4 Perdão judicial – Art. 121, § 5º, CP


É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados delitos,
em hipóteses expressamente previstas em lei.

Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele tenha
sofrido com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se torne
desnecessária.

Exemplo: o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua
imprudência, já teve punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do
que qualquer pena que se lhe pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime
existiu, mas a punibilidade é afastada.

7.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio – Art. 122, CP


7.5.1 Conceito de suicídio
É a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo,
realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado.

O Código Penal leva em conta o ato da vítima, que vem a destruir a própria vida.

SE O ATO DE DESTRUIÇÃO É PRATICADO PELO PRÓPRIO AGENTE, RESPONDE


PELO DELITO DE HOMICÍDIO.

7.5.2 Automutilação
A autolesão não é punida. O que constitui crime é a conduta de induzir, instigar ou auxiliar
a vítima a se automutilar, ou seja, de causar lesões em si própria.

7.5.3 Sujeito ativo e passivo


Qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo
eficaz e consciente, a suicidar-se ou a se automutilar.

No caso do sujeito passivo, é preciso ter um mínimo de discernimento ou resistência, pois,


do contrário, trata-se de homicídio, se resultar morte; ou lesão corporal grave ou gravíssima, no
caso automutilação.

Nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o


agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, uma vez que a vitima, tendo
resistência nula, serviu como mero instrumento para que o agente lograsse o seu propósito
criminoso, qual seja, eliminar a vida do inimputável; por exemplo, fornecer uma arma a um louco
e determinar que este atire contra si próprio.
EXEMPLO
O agente que, valendo-se da insanidade da vítima, convence-a a se matar, incide no artigo
121.

6.5.4 Elementos objetivos do tipo


a) Ação nuclear

Trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado). O


agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime.

A participação em suicídio ou automutilação pode ser moral e material. Participação moral


é a praticada por intermédio de induzimento ou instigação. Participação material é a realizada
por meio de auxílio.

Induzir

Induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira
conduta, o agente sugere à vítima que dê fim à sua vida ou se automutile.

Instigar

Instigar é fomentar uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia
que alguém anda manifestando.

Prestar auxílio

Auxílio: Trata-se de forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio material
ao ato suicida. Exemplo. o agente fornece a arma utilizada para a vítima dar fim à sua vida ou se
automutilar.

7.5.5 Elemento subjetivo


É o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de induzir, instigar
ou auxiliar a vítima a suicidar-se ou se automutilar. Não se admite a modalidade culposa.
7.5.6 Consumação e tentativa
O crime de participação de suicídio ou automutilação atinge a consumação com a morte
da vítima ou lesões corporais provocadas em si mesmo.

A maior novidade introduzida pela Lei nº 13.968/2019 foi no sentido de que o crime
previsto no artigo 122 do Código Penal deixou de ser condicionado, já que não mais constitui
condição para a incidência do delito que ocorra o resultado morte ou lesão grave.

Assim, se dos atos para eliminar a sua própria vida ou causar lesões em si mesma, resultar
lesão corporal leve à vítima, ou não resultar qualquer lesão, o agente responderá pelo crime de
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação na modalidade simples (Art. 122,
caput, do CP).

7.5.7 Figuras típicas qualificadas

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza


grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei
nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos
§2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº
13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)

7.5.8 Formas majoradas


a) Se o crime é praticado por motivo egoístico

Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida
alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior
punição.

EXEMPLO

É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar com a herança.
b) Se a vítima é menor

Em segundo lugar, a pena é majorada quando a vítima é menor. Qual a idade para efeito
da majorante?

Se a vítima é maior de 18 anos, aplica-se o caput do artigo 122.

Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de HOMICÍDIO.

A majorante só é aplicável quando a vítima tem idade entre 14 e 18 anos.

c) Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência

A terceira majorante prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada. Ex.: induzir ao
suicídio vítima embriagada.

Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações
supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, é vítima de HOMICÍDIO, e não de
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio.

7.5.9 Pacto de morte


É possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte, deliberando morrer
ao mesmo tempo.

Se cada uma das pessoas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver
responderá por participação em suicídio, tendo por sujeito passivo a outra.

Se uma delas ministrar diretamente o veneno na outra, a que sobreviver responderá por
homicídio.

Em síntese, os atos executórios contra a própria vida devem partir exclusivamente da


vítima.
7.6 Infanticídio – Art. 123, CP
7.6.1 Conceito
Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido,
sob a influência do estado puerperal.

O infanticídio ocorre quando a ação é praticada durante o parto ou logo após. Antes de
iniciado o parto existe o aborto e não infanticídio.

Não incidem as agravantes previstas no artigo 61, inciso II, alíneas “e” e “h”, do Código
Penal (crime cometido contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do
delito de infanticídio. Caso incidissem, haverá bis in idem.

7.6.2 Elementos do tipo objetivo


A ação nuclear é o verbo matar, assim como no delito de homicídio, que significa destruir
a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe.

A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a
superveniência da morte em período posterior.

Admite-se a forma omissiva, visto que a mãe tem o dever legal de proteção, cuidado e
vigilância em relação ao filho.

EXEMPLO

Mãe, sob influência do estado puerperal, percebe que o filho está morrendo sufocado com
o leite materno e nada faz para impedir o resultado morte. Incide, no caso, o disposto no
artigo 13, § 2º, do CP.

Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas


alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas
condições de entender o que está fazendo.

Portanto, o estado puerperal é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas sofridas


pela mulher em face do fenômeno do parto.
É possível que autora possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, como situação preexistente ao parto e que, dada a presença do estado puerperal,
seja ela considerada incapaz de compreender o caráter ilícito da sua conduta ou de se determinar
conforme esse entendimento. No caso, incido o disposto no artigo 26 do Código Penal, podendo
ser inimputável ou semi-imputável, conforme o caso.

O infanticídio pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo


após”.

Não há na literatura médica ou jurídica regra absoluta quanto à duração do estado


puerperal. Há quem adote o parâmetro máximo de sete dias. Todavia, para maioria da doutrina,
a melhor solução é deixar a conceituação da elementar “logo após” para a análise do caso
concreto, entendendo-se que há delito enquanto perdurar a influência do estado puerperal.

7.6.3 Sujeitos do delito


a) Sujeito ativo

A autora do infanticídio SÓ PODE SER A MÃE. Cuida-se de CRIME PRÓPRIO, uma vez
que não pode ser cometido por qualquer autor.

O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede que
terceiro responda por infanticídio diante do concurso de agentes.

b) Sujeito passivo

Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do fato:


durante o parto ou logo após.

Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de aborto.

c) A participação de terceiros no ato

Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado puerperal,
responde ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do
fato, uma vez que se trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime.
Logo, comunica-se aos coautores ou partícipes, nos termos do artigo 30 do Código Penal.
7.6.4 Consumação e tentativa
O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato.

Trata-se de crime material. Diante disso, admite-se a tentativa, desde que a morte não
ocorra por circunstâncias alheias à vontade da autora.

EXEMPLO

A genitora, ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta impedida
por terceiros.

7.7 Aborto – Art. 124, CP


7.7.1 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – Art. 24 do
CP
O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto.

Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo, contudo isso
não afasta a possibilidade de participação no crime em questão.

1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto):

É a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria emprega
os meios ou manobras abortivas em si mesma.

Se um terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime do artigo
124 do Código Penal, mas sim autor do fato descrito no artigo 126 (provocação do aborto com
consentimento da gestante).

2ª figura – Aborto consentido

A mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é


realizada por terceira pessoa.

Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do artigo 124. Contudo, o
Código Penal prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o aborto com o
consentimento da gestante (Art. 126 do CP).
Assim, há a previsão separada de dois crimes: um para a gestante que consente na prática
abortiva (Art. 124 do CP); e outro para o terceiro que executou materialmente a ação provocadora
do aborto (Art. 126 do CP). Há aqui, perceba-se, mais uma exceção à teoria monista adota pelo
Código Penal em seu artigo 29.

7.7.2 Aborto provocado por terceiro – Art. 125, CP


Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto.

Ao contrário da figura típica do artigo 126, não há o consentimento da gestante no


emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento
constitui elementar do tipo penal.

As formas de dissentimento estão retratadas no artigo 126, parágrafo único:

a) Dissentimento presumido

É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de


capacidade civil.

Para o Código Penal, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada mental, não
possui consentimento válido, levando à consideração de que o aborto deu-se contra a sua
vontade.

b) Dissentimento real

Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural supor
que extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na
figura do artigo 125.

7.7.3 Aborto consensual – Art. 126, CP


Para que se caracterize a figura do aborto consentido (Art. 126 do CP), é necessário que
o consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir.
Ausente essa capacidade, o delito poderá ser outro (Art. 125 do CP).
Trata-se de uma exceção à teoria monista (todos os coautores e partícipes respondem
pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a
figura do artigo 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria
naquele tipo penal.

Entretanto, o legislador para punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou
o artigo 126, aplicando a teoria dualista (ou pluralista) do concurso de pessoas.

7.7.4 Aborto legal – Art. 128, CP


a) Aborto necessário ou terapêutico

É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo


perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-lo. A excludente da ilicitude em estudo do crime
de aborto somente abrange a conduta do médico. Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira,
não responderá pelo delito em questão se praticar o aborto por força do artigo 24 do Código
Penal (estado de necessidade, no caso, de terceiro).

b) Aborto humanitário, sentimental ou piedoso

O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando a


gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização.

Para se autorizar o aborto humanitário são necessários os seguintes requisitos:

a) gravidez resultante de estupro;

b) prévio consentimento da gestante ou, sendo incapaz, de seu representante legal.

A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra o
autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério
do médico. Basta prova idônea do atentado sexual.
7.8 Questões sobre crimes contra a vida

23) QUESTÃO 4 – XXIII EXAME


Manoel conduzia sua bicicleta, levando em seu colo, sem qualquer observância às regras de
segurança, seu filho de 02 anos de idade. Para tornar o passeio do filho mais divertido, Manoel
pedalava em alta velocidade, quando, em determinado momento, perdeu o controle da bicicleta
e caiu, vindo seu filho a bater a cabeça e falecer de imediato.
Após ser instaurado procedimento para investigar os fatos, a perícia constata que, de fato,
Manoel estava em alta velocidade e não havia qualquer segurança para o filho em seu colo. O
Ministério Público oferece denúncia em face de Manoel, imputando-lhe a prática do crime
previsto no Art. 121, §§ 3º e 4º, do Código Penal, já que a vítima era menor de 14 anos. Durante
a instrução, todos os fatos são confirmados por diversos meios de prova.
Considerando apenas as informações narradas, responda, na qualidade de advogado(a)
de Manoel, aos itens a seguir.
A) A capitulação delitiva realizada pelo Ministério Público está integralmente correta?
Justifique. (Valor: 0,60)
B) Qual argumento a ser apresentado para evitar a punição de Manoel pelo crime de
homicídio culposo? Justifique. (Valor: 0,65)
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.
2ª Fase do Júri

Aula prevista para ocorrer ao vivo no dia 06/04/2023.

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

8.1 Procedimento do Tribunal do Júri – 2ª Fase

8.1.1 Preclusão da decisão de pronúncia: art. 421, CPP

Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do


Tribunal do Júri. Havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público, em seguida, os autos serão conclusos ao
juiz para decisão.

Procedimento da segunda fase - Fase da Causa (Judicium causae)


Arts. 422 ao 497, do Código de Processo Penal

8.1.2 Preparação e organização do júri

O libelo foi extinto pela nova redação dada pela Lei nº 11.689/2008.

No entanto, de acordo com este artigo, o legislador o substituiu por duas novas peças
(inominadas). Assim, ao receber os autos, após a preclusão da pronúncia, o presidente do
Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no
caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas
que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar
documentos e requerer diligência.
8.1.3 Desaforamento: art. 427, CPP
8.1.3.1 Conceito
É a decisão jurisdicional que altera a competência inicialmente fixada pelos critériosdo
artigo 69 do Código de Processo Penal, com a aplicação estrita no procedimento do Tribunal do
Júri, dentro dos requisitos legais previamente estabelecidos.

A competência, para tal, é sempre da Instância Superior (Câmara ou Turma doTribunal


de Justiça).

8.1.3.2 Interesse da ordem pública

A ordem pública é a segurança existente na Comarca onde o júri deverá realizar-se.


Assim, havendo razoáveis motivos e comprovados de que a ocorrência do julgamento provocará
distúrbios, gerando intranquilidade na sociedade local, constituído está o fundamento para
desaforar o caso.

8.1.3.3 Dúvida sobre a imparcialidade do júri

Não há possibilidade de haver um julgamento justo com um corpo de jurados parcial. Tal
situação pode dar-se quando a cidade for muito pequena e o crime tenha sido gravíssimo,
levando à comoção geral, de modo que o caso vem sendo discutido em todos os setores da
sociedade muito antes do julgamento ocorrer.

8.1.3.4 Segurança pessoal do réu

Em casos anormais e excepcionais, de pequenas cidades, onde o efetivo da polícia é


diminuto e não há possibilidade de reforço, por qualquer motivo, é razoável o desaforamento.
8.1.3.5 Iniciativa do desaforamento

Podem pleitear o desaforamento as partes, agora enumerados pela Lei (Ministério


Público, assistente, querelante ou acusado).

O acusado pode propor por intermédio de seu defensor, mas também diretamente, por
petição sua, afinal no processo penal, existe a autodefesa. O Juiz que preside a instrução pode
representar pelo desaforamento, exceto quando houver excesso de prazo.

8.1.3.6 Suspensão do julgamento pelo relator

O Código de Processo Penal permite que seja determinada a suspensão do julgamento


pelo júri até que o Tribunal possa apreciar o pedido de desaforamento.

8.1.3.7 Inadmissibilidade do pedido de desaforamento

Considerando-se que o pleito de desaforamento somente é admissível entre a decisão de


pronúncia, com o trânsito em julgado, e a data de realização da sessão de julgamento em
plenário, não há fundamento para ingressar com o pedido enquanto pender recurso contra a
referida decisão de pronúncia. Afinal, pode esta ser rejeitada pelo Tribunal e o réu,
impronunciado ou absolvido.

8.1.4 Excesso de Serviço: art. 428, CPP

Na regra atual, somente se poderá pleitear o desaforamento pela demora no julgamento,


caso seja ultrapassado o período de seis meses, contado do trânsito em julgado da decisão de
pronúncia, mas fundado em excesso de serviço comprovado.
8.1.5 Ausência do defensor: art. 456, CPP

Em primeiro lugar, deve-se frisar que, havendo escusa legítima, adia-se a sessão de
julgamento, sem qualquer outra providência. É preciso que a justificativa seja oferecida ao
magistrado até a abertura da sessão em plenário.

Se não houver motivo razoável, o juiz comunica à OAB, seção local, marcando nova data
para o julgamento. Nesta o réu deverá ser, necessariamente, julgado (§ 1º). Para tanto, pode o
réu apresentar outro defensor constituído, logo após a determinação de adiamento. Não o
fazendo, o magistrado intima a Defensoria Pública para que assuma o patrocínio da defesa,
observando o prazo mínimo de 10 dias.

8.1.6 Ausência do acusado: art. 457, CPP

O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente
ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia
desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento
subscrito por ele e seu defensor.

8.1.7 Imprescindibilidade do depoimento da testemunha: art. 461, CPP

É fundamental que as partes, entendendo ser indispensável o depoimento de alguma


testemunha, arrolem-na na fase de preparação para o plenário, com o caráter de
imprescindibilidade.

Não o fazendo, deixa de haver a possibilidade de insistência na sua oitiva, caso alguma
delas não compareça à sessão plenária.

O momento para arrolar testemunhas, no procedimento preparatório, é o previsto no artigo


422 do Código de Processo Penal, após a intimação determinada pelo juiz.
8.1.8 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento
da sessão

Somente ocorre se a testemunha tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibilidade


e houver sido intimada.

8.1.9 Infrutífera condução coercitiva

É possível que, a despeito da tentativa, falhe a condução coercitiva, razão pela qual não
se pode adiar eternamente a realização do julgamento.

Assim, se a testemunha não for localizada para a condução ou tiver alterado o domicílio,
instala-se a sessão.

8.1.10 Realização do julgamento, independentemente da inquirição de


testemunha arrolada

Caso a testemunha tenha sido arrolada sem o caráter de imprescindibilidade, não


comparecendo, o julgamento será realizado de qualquer modo, tendo sido ela intimada ou não;

Se tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibilidade, se for intimada e não


comparecer, é cabível o adiamento, como regra, para que possa ser conduzida coercitivamente
na sessão seguinte.

Entretanto, arrolada com o caráter de imprescindibilidade, mas não localizada, tomando


ciência a parte de que não foi intimada e não indicando o seu paradeiro, com prazo hábil para
nova intimação ser feita, perde a oportunidade de insistir no depoimento.
8.1.11 Preparo para a composição do conselho de sentença: art. 462,
CPP

Para a composição do Conselho de Sentença, o juiz presidente deve checar se as partes


estão presentes, assim como todas as testemunhas indispensáveis, convenientemente
separadas e incomunicáveis. Ultrapassada essa fase, poderá voltar-se à formação do Conselho.

8.1.12 Abertura dos trabalhos: art. 463, CPP

Comparecendo ao menos 15 (quinze) jurados, há quórum para a instalação da sessão,


que será dada por aberta pelo juiz presidente.

O próprio magistrado anuncia o processo a ser julgado (número do processo, nomes do


autor e do réu, classificação do crime) e pede ao oficial que faça o pregão (anúncio na porta do
plenário para que todos tomem ciência, vez que o julgamento é público).

8.1.13 Ausência de quórum: art. 464, CPP

Se o quórum de 15 (quinze) jurados não foi atingido, é impossível instalar a sessão. Deve
o magistrado providenciar o sorteio de suplentes e adiar o julgamento para a data seguinte
desimpedida.

A partir da edição da Lei 11.689/2008, somente se faz o sorteio dos suplentes, caso não
se atinja o quórum mínimo 15 (quinze) e não mais o número legal 25 (vinte e cinco).

Ou seja, se comparecerem 18 (dezoito) jurados, instala-se a sessão, sem sorteio de


suplentes. Se vierem apenas treze, adia-se a sessão e sorteiam-se suplentes até o número
máximo 25 (vinte e cinco).
8.1.14 Reunião prévia do juiz com os jurados: art. 466, CPP

8.1.14.1 Conceito

Somente pode realizar-se, a fim de que o magistrado forneça algumas instruções a


respeito da forma e do julgamento e do procedimento do Tribunal do Júri, se as partes estiverem
cientes e, desejando, possam estar presentes.

8.1.14.2 Incomunicabilidade dos jurados

Significa que os jurados não podem conversar entre si, durantes os trabalhos, nem nos
intervalos, a respeito de qualquer aspecto da causa posta em julgamento, especialmente
deixando transparecer sua opinião.

Logicamente, sobre os fatos desvinculados do feito podem os jurados conversar, desde


que não seja durante a sessão – e sim nos intervalos –, pois não se quer a mudez dos juízes
leigos e sim a preservação da sua íntima convicção.

A troca de ideias sobre os fatos relacionados ao processo poderia influenciar o julgamento,


fazendo com que o jurado pendesse para um ou outro lado.

A incomunicabilidade dos jurados existe para resguardar o princípio do sigilo das votações
do júri (Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “b”, da CF/88), que constitui garantia das liberdades
individuais e, por isso, sua violação configura nulidade absoluta (Art. 564, inciso III, alínea “j”, c/c
o Art. 458, § 1º (atual, 466, §1º).

8.1.14.3 Manifestação da opinião acerca do processo

Em razão da incomunicabilidade, deseja-se que o jurado decida livremente, sem qualquer


tipo de influência, ainda que seja proveniente de outro jurado.

Deve formar o seu convencimento sozinho, através da captação das provas apresentadas,
valorando-as segundo o seu entendimento.

Portanto, cabe ao juiz presidente impedir a manifestação de opinião do jurado sobre o


processo, sob pena de nulidade da sessão de julgamento.
8.1.14.4 Fiscalização da incomunicabilidade durante o julgamento

É atribuição do juiz presidente, razão pela qual não pode ele afastar-se do plenário por
muito tempo, o que coloca em risco a validade do julgamento.

Se algum jurado desejar esclarecer alguma dúvida, a ausência do magistrado prejudica a


formação do seu convencimento, além do que o jurado pode fazer alguma observação
inoportuna, gerando nulidade insanável.

8.1.14.5 Certidão do oficial de justiça

A principal autoridade a controlar a manifestação dos jurados é o juiz presidente.


Entretanto, vale-se dos oficiais de justiça presentes para auxiliá-lo.

Em suma, ao final do julgamento, cumpre ao oficial lançar certidão de que a


incomunicabilidade foi preservada durante todos os momentos processuais.

Exemplo: na sala especial, quando estiverem reunidos em intervalos, o juiz pode não estar
presente, razão pela qual o oficial incumbe-se de fiscalizar a incomunicabilidade.

8.1.15 Formação do conselho de sentença: art. 467, CPP

O Conselho de Sentença no Tribunal do Júri é composta por sete jurados, escolhidos


aleatoriamente, por sorteio, dentre os que comparecerem (mínimo de quinze e máximo de vinte
e cinco).

8.1.16 Recusas motivadas e imotivadas: art. 468, CPP

Para a formação do Conselho de Sentença, essas são as duas possibilidades de recusa


do jurado, formuladas por qualquer das partes.

A recusa motivada baseia-se em circunstâncias legais de impedimento ou suspeição (Arts.


448 e 449, ambos do CPP). Logo, não pode ser jurado, por exemplo, aquele que for filho do réu,
nem tampouco o seu inimigo capital.
A recusa imotivada – também chamada peremptória – fundamenta-se em sentimentos de
ordem pessoal do réu, de seu defensor ou do órgão da acusação. Na constituição do Conselho
de Sentença, cada parte pode recusar até três jurados, sem dar qualquer razão para o ato.

A nova sistemática, introduzida pela Lei nº 11.689/2008, impõe que, havida a recusa
peremptória por qualquer das partes, o jurado está automaticamente excluído da formação do
Conselho de Sentença. Anteriormente, seria preciso coincidir a recusa da defesa com a da
acusação.

8.1.17 Separação do julgamento: art. 469, CPP

Conforme disposto no artigo 468, parágrafo único, do Código de Processo Penal quando
o jurado for recusado imotivadamente (recusa peremptória) por qualquer das partes será
excluída daquela sessão, prosseguindo-se o sorteio para a formação do Conselho de Sentença.

Logo, a cada recusa de jurado, este não mais permanecerá, independentemente de haver
também recusa por parte de outro defensor ou da acusação.

Em ilustração, computando-se 25 (vinte e cinco) jurados presentes, com dois corréus.


Imaginemos que o primeiro defensor recuse os três primeiros jurados sorteados. Serão
excluídos, com ou sem a recusa do segundo defensor e do promotor. Após, outros três jurados,
sorteados na sequência, são recusados por parte do segundo defensor. Serão, também,
excluídos, independentemente da manifestação do promotor. Serão afastados.

Ao todo, nove jurados sorteados foram rechaçados e os envolvidos (dois defensores e um


promotor) já não podem exercer o direito de recusa imotivada (são três para cada parte). Logo,
dos 16 jurados restantes, por sorteio, serão escolhidos obrigatoriamente 7 para compor o
Conselho de Sentença. Não haverá cisão do julgamento.

Caso estivessem presentes apenas 15 jurados, a exclusão de 9, recusa dos pelas partes
presentes, faria com que restassem apenas 6 e ocorreria o denominado estouro da urna. Se tal
se desse, haveria então a separação do julgamento.

O juiz verifica qual é o autor do fato. Será ele julgado em primeiro lugar, como determina
o artigo 469, § 2º, do Código de Processo Penal.
Com relação à preferência de julgamento em caso de separação, impõe-se que, em caso
de separação, seja julgado em primeiro lugar o acusado a quem se atribuiu a autoria do fato, ou,
em caso de coautoria, aplica-se o critério de preferência do artigo 429 do Código de Processo
Penal (presos em primeiro lugar; dentre os presos, os que estiverem há mais tempo na prisão;
em igualdade de condições, os que estiverem há mais tempo pronunciado).

8.1.18 Arguição de impedimento, suspeição ou incompatibilidade: art.


470, CPP

Tão logo sejam instalados os trabalhos, deve a parte interessada em levantar qualquer
causa de impedimento ou suspeição do juiz presidente, do promotor (no caso da defesa arguir)
ou de qualquer funcionário fazê-lo de imediato, apresentando as provas que possuir. Assim, cabe
levar testemunhas, se for o caso, ou documentos para exibição em plenário.

Aceita a suspeição, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido. Rejeitada,
realiza-se o julgamento, embora todo o ocorrido – inclusive a inquirição das testemunhas – deva
constar da ata.

Futuramente, caberá ao Tribunal analisar se houve ou não a causa de impedimento ou


suspeição.

Caso seja arguida contra o jurado, deve ser levantada tão logo seja ele sorteado,
procedendo-se da mesma forma, isto é, com a apresentação imediata das provas.

8.1.19 Estouro da urna: art. 471, CPP

Outra hipótese de adiamento da sessão para outra data é a impossibilidade de formação


do conselho de sentença por insuficiência do número de jurados presentes, com potencial para
o sorteio.

Se comparecerem, por exemplo, quinze jurados (quantum mínimo para a instalação dos
trabalhos), mas houver a recusa motivada, calcada em causas de impedimento ou suspeição,
de vários deles, é possível que o afastamento ocorra em número tal aponto de inviabilizar o
sorteio de sete jurados para compor o Conselho.
8.1.20 Compromisso e entrega de peças aos jurados: art. 472, CPP

Formado o conselho de sentença, os jurados prestarão compromisso e receberão cópias


da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e
do relatório do processo. A lei não mais prevê a realização de relatório pelo Juiz, em plenário.

8.1.21 Instrução em plenário: art. 473, CPP

Em primeiro lugar, ouve-se o ofendido. O Juiz Presidente dirige-lhes as perguntas que


entender necessárias. Em seguida, passa a palavra ao representante do Ministério Público e ao
assistente de acusação, se houver, ou ao querelante (se a ação for privada). Na sequência,
poderá a defesa reperguntar.

Finda a oitiva da vítima, passa-se à inquirição das testemunhas de acusação.


Primeiramente, o juiz faz as perguntas cabíveis. Em seguida, concede a palavra ao Ministério
Público e ao assistente, se houver. Depois, à defesa.

Após, ouvem-se as testemunhas de defesa. Inicialmente, as perguntas são formuladas


pelo juiz. Na sequência, pela defesa. Em seguida, pelo Ministério Público e assistente.

Importante registrar a alteração legislativa que inseriu o artigo 474-A, CPP, que determina
o respeito à dignidade das vítimas ou testemunhas. Neste ponto, devemos nos atentar a eventual
cerceamento de defesa sob o pretexto de proteção. Por certo que todos devem ser respeitados,
mas a audiência de instrução é um espaço de construção da verdade processual.

8.1.22 Interrogatório do acusado: art. 474, CPP

Ao final da colheita das provas em plenário, Ministério Público, o assistente, o querelante


e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado; os jurados
formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.

Nos termos do §3º, do artigo 474 do Código de Processo Penal, não se permitirá o uso de
algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia
da integridade física dos presentes.
Por exceção e quando for absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança
das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes poderá o réu permanecer
algemado.

Por unanimidade, o STF decidiu que o uso de algemas deve ser adotado em situações
excepcionalíssimas, pois, do contrário, violam-se importantes princípios constitucionais, dentre
eles a dignidade da pessoa humana (Súmula vinculante n. 11).

8.1.23. Dos debates: art. 476, CPP

8.1.23.1 Correlação entre acusação e pronúncia

Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a


acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante. O assistente
falará depois do Ministério Público.

A acusação é limitada pela Pronúncia

Art. 476, CPP: Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que
fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.

8.1.23.2 Manifestação inicial do querelante

Ocorre na hipótese de ação privada, em conexão com ação pública, mas com
desmembramento.

Exemplo: dois crimes são cometidos no mesmo cenário, um deles é doloso contra a vida
e o outro, de ação exclusivamente privada, ocorrendo o julgamento isolado do delito cujo
titular da ação é o ofendido.
Nesse caso, manifesta-se o querelante (por meio de advogado) e, na sequência, fala o
Ministério Público, como custos legis (fiscal da lei).

8.1.24 Limite de tempo para as partes: art. 477, CPP

A Lei 11.689/2008 alterou o tempo de manifestação reservado às partes. De duas horas


para acusação e defesa, como tempo original, passou-se a uma hora e meia.

Em relação à réplica e à tréplica modificou-se o tempo de trinta minutos para uma hora.
Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de uma hora
e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1º deste artigo.

8.1.25 Referências proibidas: art. 478, CPP


É vedado às partes:

• fazer referência à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram


admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade
que beneficiem ou prejudiquem o acusado, bem como ao silêncio do acusado ou à ausência de
interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo (trata-se de dispositivo nitidamente
direcionado ao Ministério Público, com prejuízo à acusação);
• a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos
com a antecedência mínima 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte, abrangendo a
leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações,
fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar
sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

8.1.26 Do questionário e sua votação: arts. 482 e 483, CPP

Questionário é o conjunto dos quesitos elaborados pelo juiz presidente, que serão
submetidos à votação pelo Conselho de Sentença, para obtenção do veredicto final.

Nos termos do artigo 483 do Código de Processo Penal, os quesitos serão formulados na
seguinte ordem:
a) Quesito sobre a materialidade do fato

Se o conselho de sentença responder de forma afirmativa a essa questão, seguirá a


votação com a questão seguinte. Se responder negativamente, encerra-se o julgamento com a
absolvição do réu.

b) Quesito sobre a autoria ou participação

O juiz indagará aos jurados se o réu de qualquer modo contribuiu para o cometimento do
delito.

Respondendo o Conselho de Sentença de forma afirmativa, seguirá com a pergunta


seguinte. Caso contrário, encerra-se o julgamento com a absolvição do acusado pelo júri.

Duas situações podem acontecer aqui:

• Caso não haja tese de desclassificação do delito doloso contra a vida para outro
que não seja, o quesito seguinte que deve ser inserido perguntará se “o jurado absolve o
acusado?”
• Se houver alegação de tese de desclassificação para delito diverso do doloso
contra a vida, a questão desclassificatória será dirigida aos jurados sempre antes do quesito que
indaga se “o jurado absolve o acusado?”
É o que se extrai do artigo 483, § 4º, do Código de Processo Penal, ao destacar que uma
vez sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, sera
formulado quesito a respeito, para ser respondido após o segundo ou terceiro quesito, conforme
ocaso.

Da mesma forma, deve ser usado para hipótese de tentativa, nos termos do artigo 483, §
5º, do Código de Processo Penal, que enfatiza que se sustentada a tese de ocorrência do crime
na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da
competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser
respondido após o segundo quesito.

O quesito seguinte será em relação à causa de diminuição da pena alegada pela defesa,
que somente será formulado se o acusado, a essa altura, tiver sido condenado pelos jurados.
Por fim, os jurados são inquiridos sobre a existência de circunstâncias qualificadora ou
causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação.

8.1.27 Sentença: art. 492, CPP

A sentença pode ser:

a) de condenação, devendo, nesse caso, o juiz fixar apena.


b) absolvição, caso em que o réu deverá ser posto imediatamente em liberdade, caso
esteja preso.
Atente-se para a hipótese de desclassificação do crime pelo Conselho de Sentença, nos
casos do artigo 492, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Penal.

Diz-se desclassificação própria quando o Conselho desclassifica para outro crime que
não é da sua competência, sem especificar qual crime, assim o Juiz presidente deverá decidir.
Por exemplo, jurados não reconhecem a tentativa de homicídio, caberá o juiz o julgamento da
lesão corporal. Vale frisar que o Juiz aqui assume capacidade decisória integral, poderá até
mesmo absolver.

Sempre lembrar que sendo possível suspensão condicional do processo ou outra medida
despenalizadora devem ser oportunizadas.

Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação


do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

Já a desclassificação imprópria os jurados reconhecem a incompetência para julgar,


mas indicam o delito cometido. Como ocorre quando reconhecem materialidade e lesões, mas
desclassificam para homicídio culposo. Aqui o juiz deve julgar com base na decisão dos jurados,
estando vinculado.
Caso haja desclassificação o crime conexo que não seja da competência do Júri será
julgado pelo Juiz Presidente.
8.1.28 Execução antecipada da pena no júri: art. 492, inciso I, alínea “e”,
2ª parte, CPP
Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri é competência do Juiz Presidente
determinar a prisão do condenado, se presentes os requisitos da prisão preventiva previstos no
artigo 312 do Código de Processo Penal. Entretanto, destaca-se que com a publicação da Lei nº
13.964/2019 (Pacote Anticrime), foi inserida a regra de execução provisória de pena nos
processos julgados pelo Tribunal do Júri quando o quantum aplicado na sentença condenatória
for igual ou superior a 15 anos (Art. 492, inciso I, Alínea “e”, 2ª parte, do CPP), sem prejuízo do
conhecimento de eventual recurso a ser interposto.
O juiz presidente, excepcionalmente, poderá deixar de autorizar a execução provisória se
houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa
plausivelmente levar à revisão da condenação.
Caso não obtido o efeito suspensivo através de decisão do Juiz Presidente, o Tribunal
que julgar o recurso de apelação poderá atribuir efeito suspensivo à apelação quando
verificar que o recurso interposto não tem propósito meramente protelatório; e a que há questão
substancial que poderá resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou
redução da pena para patamar inferior a 15 anos.
O pedido do efeito suspensivo poderá ser feito no corpo da apelação ou, por meio
de petição endereçada ao relator, instruída com cópias da sentença, razões de apelação e
prova da tempestividade, além das contrarrazões e das demais peças necessárias à controvérsia
(Art. 492, § 6º, do CPP).

• Observação: caso a peça prática seja uma Apelação da 2ª fase do Júri envolvendo uma
condenação cuja pena aplicada seja igual ou superior a 15 anos, tendo o enunciado informado
que o juiz presidente determinou a execução antecipada, deverá ser elaborado um item na peça
processual, a fim de requerer ao Tribunal que conceda efeito suspensivo à apelação (Pedido de
Efeito Suspensivo) – nos termos do art. 492, §6º, CPP. O pedido deverá ser explorar os
fundamentos do §5º, demonstrando que o recurso em questão:
I - não tem propósito meramente protelatório; e
II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo
julgamento ou redução da pena.
IMPORTANTE

Aqui o Recurso cabível é APELAÇÃO, nos termos do artigo 593, inciso III, do Código de
Processo Penal.

PEDIU PRA PARAR

Lembrete: Peça:

Súmula 713/STF Recurso de apelação

PAROU!

8.2 Apelação das decisões do júri

8.2.1 Considerações

• Identificação: Após a decisão dos jurados no Plenário do Júri, o Juiz Presidente passa a
proferir a sentença, restringindo-se, se for sentença condenatória, a fixar a pena.
Assim, a apelação das decisões do Júri tem cabimento contra a decisão proferida pelo
Juiz após o julgamento no Plenário do Júri.

• Base legal: art. 593, inciso III, CPP


A base legal do recurso de apelação contra decisão do Plenário do Júri guarda relação
com o artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal, devendo, ainda, o recorrente
mencionar a(s) alínea(s) pelo qual está recorrendo, ou seja, artigo 593, inciso III, alínea “a” e/ou
alínea “b” e/ou alínea “c” e/ou alínea “d”, sem prejuízo da possibilidade de recorrer por mais de um
fundamento.

Quando a parte pretender recorrer de decisão proferida no Tribunal do Júri deve


apresentar logo na petição de interposição qual o motive que o leva a apelar, deixando expressa
a alínea eleita do inciso III do art. 593 do CPP, ficando vinculado, nas razões de apelação aos
argumentos relacionados ao motivo declinado na interposição. Assim sendo, o Tribunal somente
pode julgar nos limites da interposição.

Nesse sentido é a Súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões
do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”.

Hipóteses de cabimento
Nulidade posterior à pronúncia

Tratando-se de nulidade anterior à pronúncia, a questão já foi analisada na própria decisão


ou em recurso contra ela interposto, operando-se, por conseguinte, a preclusão.

LOPES JÚNIOR (2012, p. 1.224) elenca algumas hipóteses:

• a juntada de documentos fora do prazo estipulado no art.479;


• participação de jurado impedido;
• inversão da ordem de oitiva das testemunhas de plenário;
• produção, em plenário, de prova ilícita;
• uso injustificado de algemas durante o julgamento;
• referências, durante os debates, à decisão de pronúncia ou posteriores, que julgaram
admissível a acusação;
• referências, durante os debates, ao silêncio do acusado, em seu prejuízo;
• e, o mais recorrente: defeitos na formulação dos quesitos.
Se a nulidade ocorrer na própria sentença de pronúncia, o recurso cabível é o Recurso
em Sentido Estrito (art. 581, inciso IV, CPP).

Na hipótese de provimento do recurso, o Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal


deverá determinar a renovação do ato viciado e, até mesmo do próprio julgamento em plenário.

Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos jurados

O juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, não havendo supremacia do juiz togado
sobre os jurados, mas simples atribuições diversas de funções. Os jurados decidem o fato e o
juiz-presidente aplica a pena, de acordo com esta decisão, não podendo dela desgarrar-se.
Como se vê, há duas hipóteses concentradas nesse inciso:

a) decisão contra lei expressa; b) decisão de forma contrária à decisão dos jurados.

Alguns exemplos de decisão contrária à lei expressa (LOPES JÚNIOR, 2012, p. 1226):

• a sentença substitui a pena aplicada pelo homicídio doloso por prestação de serviços à
comunidade em desacordo com os limites do art. 44 do CP;
• fixar o regime fechado para o réu primário condenado a uma pena inferior a 8 anos;
• decidir sobre o crime conexo sem submetê-lo a julgamento pelo júri.
Alguns exemplos de sentença contrária à decisão dos jurados (LOPES JÚNIOR, 2012, p.
1227):

• os jurados absolvem o réu e o juiz profere uma sentença condenatória, fixando a pena, e
vice-versa;
• o júri condena por homicídio qualificado e o juiz realiza a dosimetria considerando a pena
do homicídio simples;
• o júri reconhece uma privilegiadora e o juiz não faz a respectiva redução da pena;
• os jurados acolhem a tese defensiva de desclassificação de homicídio doloso para culposo
e o juiz condena o réu por homicídio doloso;
• os jurados acolhem a tese de crime tentado, e o juiz profere sentença condenatória por
crime consumado, etc.
Se der provimento ao recurso de apelação interposto com base nesta alínea, o Tribunal
ad quem procederá à retificação da sentença, sem necessidade de renovação do julgamento em
plenário do Júri (art. 593, § 1º, CPP).

Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de


segurança

É outra hipótese que diz respeito, exclusivamente, à atuação do juiz-presidente, não


importando em ofensa à soberania do veredicto popular. Logo, o Tribunal pode corrigir a
distorção diretamente.

A aplicação de penas muito acima do mínimo legal para réus primários, ou


excessivamente brandas para reincidentes, por exemplo, sem ter havido fundamento razoável,
ou medidas de segurança incompatíveis com a doença mental apresentada pelo réu podem ser
alteradas pela Instância superior.

Se der provimento à apelação interposta com base na alínea “c”, o Tribunal retificará a
aplicação da pena ou da medida de segurança, sem necessidade de renovação do Julgamento
pelo Júri.

OBSERVAÇÃO

Qualificadoras: Encontra-se pacificado o entendimento no sentido de que a discussão


envolvendo o reconhecimento ou afastamento da qualificadora deve ser abordada com
base na alínea “d” do inciso III do art. 593. Isso significa que, se der provimento ao recurso
de apelação, o réu será submetido a novo julgamento pelo Tribunal do Júri.

Em síntese, a interposição do recurso de apelação visando ao afastamento da


qualificadora deve ser com base no artigo 593, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo
Penal.

Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos

Contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra respaldo em nenhum elemento
de convicção colhido sob o crivo do contraditório. Não é o caso de condenação que apoia em
versão mais fraca.

Só cabe apelação com base nesse fundamento uma única vez. Não importa qual das
partes tenha apelado, é uma vez para qualquer das duas.

Conforme o artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal, se a apelação se fundar no


inciso III, alínea “d”, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é
manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo
julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.
Ocorrer nulidade posterior à
pronúncia.

A sentença do Juiz
Presidente for contrária à
letra expressa da Lei ou à
decisão dos jurados.
Das decisões do Tribunal
do Júri, quando

Quando houver erro ou


injustiça à aplicação da pena
ou da medida de segurança.

Quando a decisão dos


jurados for manifestamente
contrária à prova dos autos.

• Prazo: O prazo para interposição da apelação das decisões do Tribunal do Júri é de 5


(cinco) dias, nos termos doartigo 593 do Código de Processo Penal. Todavia, atenção especial
deve ser dada ao Assistente de Acusação, que possui o prazo de 15 (quinze) dias para recorrer
caso não esteja habilitado ainda no processo, conforme consta no artigo 598 do Código de
Processo Penal. Caso já esteja habilitado, o prazo será de cinco dias.
Peça de interposição: endereçada ao juiz de 1º grau
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA ... VARA CRIMINAL
DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime da competência da Justiça Estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DO ...
TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da Justiça
Federal)4

Processo nº...

FULANO DE TAL, (não inventar dados), por seu procurador infra-assinado,


com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
inconformado com a decisão de fls..., interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, com
base no artigo 593, inciso III (indicar a alínea)5, do Código de Processo Penal.
O presente recurso é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo de 5
dias, na forma do artigo 593, caput, do Código de Processo Penal. Assim, requer seja
recebido e processado o recurso, já com as razões anexas, remetendo-se os autos ao
Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., data...6
ADVOGADO...
OAB...

Competência da Justiça Federal – Art. 109 da CF/88.


4

5
Cuidado: se for contra decisão do Tribunal do Júri indicar o fundamento (uma das alíneas do inciso III, do Art.
593, do CPP). Súmula 713 STF
6
CUIDADO: O ENUNCIADO PODE PEDIR A INTERPOSIÇÃO NO ÚLTIMO DIA DO PRAZO
Peça de razões
A) EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... (se da competência da Justiça
Estadual);
B) EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA REGIÃO... (se da competência da
Justiça Federal)

Apelante: FULANO DE TAL


Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO

Processo nº...

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO


Colenda Câmara (Justiça Estadual) ou Colenda Turma (Justiça Federal)

I) DOS FATOS7

II) DO DIREITO8
A) DAS PRELIMINARES
B) DO MÉRITO

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, com a REFORMA
DA DECISÃO DE 1º GRAU, para o fim ....:
a) Seja declarada a nulidade do processo a partir do ato tal ... e, por consequência, seja
o réu submetido a novo Júri (se pela alínea “a”, do Art. 593, inciso III, do CPP);
b) Seja retificada a decisão, a fim de que prevaleça a decisão dos jurados, no sentido de
que (se pela alínea “b”, do Art. 593, inciso III, do CPP);
c) Seja retificada a pena, a fim de que seja fixada no mínimo legal, fixado o regime
carcerário semiaberto, etc (se pela alínea “c”, do Art. 593, inciso III, do CPP);

7
Fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar nada nem simplesmente
transcrever o enunciado).
8
Cuidado: Observar as hipóteses das alíneas do artigo 593, III, do CPP.
d) Seja o réu submetido a novo Júri pelo Plenário do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º,
do Código de Processo Penal (se pela alínea “d”, do artigo 593, inciso III).

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
Assista como resolver a peça apelação do júri

8.3 Apelação do assistente de acusação no procedimento do júri


8.3.1 Considerações iniciais
A titularidade para o exercício da ação penal pública pertence ao Ministério Público, nos
termos do artigo 129, inciso I, da Constituição Federal/88. Todavia, é facultado à vítima ou seu
representante legal, ou, na sua falta, qualquer das pessoas mencionadas no artigo 31 do Código
de Processo Penal (cônjuge, ascendente, descendente ou irmão), intervir na ação penal,
conforme o disposto no artigo 268 do Código de Processo Penal.
Para intervir na ação penal pública o ofendido deverá, por intermédio de seu advogado,
requerer a sua habilitação. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão,
conforme artigo 272 do Código de Processo Penal, mas só será indeferido o pedido em caso de
ilegitimidade ou falta de procuração. Dessa decisão, não caberá recurso, conforme determina o
artigo 273 do Código de Processo Penal, mas admite-se a impetração de Mandado de
Segurança, conforme o caso.
O assistente de acusação será admitido até o trânsito em julgado, sendo possível que o
assistente venha ao processo só para recorrer, sendo tratado como assistente não habilitado.
Em se tratando de processo por crime de competência do tribunal do júri, na 2ª fase do Júri,
deve-se atentar para a regra do artigo 430 do Código de Processo Penal, que informa que
somente será admitido o assistente que tenha requerido a sua habilitação até 5 (cinco) dias antes
da data da sessão na qual pretenda atuar.
Destaca-se que não cabe assistência de acusação na fase do inquérito policial, eis que
não se tem ação penal, porém nada impede que a vítima ou seu representante constitua um
advogado para acompanhar o procedimento, podendo, inclusive, nos termos do artigo 14 do
Código de Processo Penal requerer diligências.
A participação do assistente encontra amparo no artigo 271 do Código de Processo Penal,
podendo propor meios de provas, requerer perguntas às testemunhas, participar do debate oral
e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos
artigos 584, §1º, e 598, ambos do Código de Processo Penal.
No tocante à legitimidade recursal a atuação do assistente de acusação é restrita e
subsidiária (supletiva). De acordo com a lei, a legitimação recursal é restrita à impugnação das
seguintes decisões: a) impronúncia; b) sentença; c) da decisão que declara extinta a punibilidade
(artigos 584, §1º, e 598, ambos do Código de Processo Penal). O STF ampliou a possibilidade
nos termos da súmula 210, sendo possível a interposição de recurso extraordinário e especial.
Frise-se: o recurso do assistente de acusação será sempre subsidiário ao do Ministério Público,
isso significa que o assistente somente poderá recorrer se a promotoria não fizer.
Por fim, a possibilidade de assistência à acusação é muito criticada por parte da doutrina, por
exemplo, para Aury Lopes o sentimento de vingança gera uma contaminação que em nada
contribui para o processo, além do interesse na vingança, há nítido interesse na condenação a
fim de reforçar o dever de indenizar.

8.3.2 Procedimento
O assistente de acusação poderá em regra arrazoar os recursos interpostos pelo
Ministério Público (Art. 271 do CPP).
Caso não seja interposto o recurso pelo Ministério Público, poderá nas hipóteses dos
artigos 584, §1º, e 598, ambos do Código de Processo Penal, o assistente recorrer.
No que se refere ao Tribunal do Júri, é possível que, diante da inércia de recurso por parte
do Ministério Público, o assistente de acusação recorra nos casos de:
a) Impronúncia
b) Absolvição Sumária9
c) Sentenças da 2ª Fase

¹Embora não tenha previsão expressa, há entendimento jurisprudencial e doutrinário neste sentido (Norberto
Avena).
Das decisões listadas, o recurso cabível é o de Apelação, nos termos dos artigos 416 e
593, inciso III, ambos do Código de Processo Penal.

Prazo para o Assistente de Acusação interpor Apelação das decisões no Tribunal do Júri:
art. 598, CPP
• Prazo de 5 dias para apelar, se já habilitado nos autos.
• Prazo de 15 dias, se não habilitado, contados a partir do escoamento do prazo do MP
(artigo 598 do Código de Processo Penal e Súmula 448 do STF).
• Caso o assistente de acusação já tenha se habilitado, deverá ser observada a Súmula
448 do STF - O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente
após o transcurso do prazo do Ministério Público.

OBSERVAÇÃO
Embora não se trate de recurso, é importante registrar que o assistente de acusação
é legitimado a requerer o Desaforamento no procedimento do Tribunal do Júri,
conforme o artigo 427 do Código de Processo Penal.
Peça de interposição de recurso com pedido de habilitação

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA


CRIMINAL/TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA ...

Processo nº...

Pai da vítima, nacionalidade, estado civil, profissão, RG..., na qualidade de


pai da vítima, por seu procurador infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, requerer a sua HABILITAÇÃO COMO ASSISTENTE DA ACUSAÇÃO,
com base no artigo 268 do Código de Processo Penal, após oitiva do Ministério Público.
Ainda, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o
presente RECURSO DE APELAÇÃO, com base no artigo 593, inciso I, do Código de
Processo Penal, artigo 416 do Código de Processo Penal, e artigo 598 do Código de
Processo Penal.
O presente recurso é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo de
15 dias, de acordo com o artigo 598, parágrafo único, do Código de Processo Penal e
Súmula 448 do STF

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., data...

Advogado...
OAB...
Assista como resolver a peça apelação do assistente de acusação no procedimento
do júri

Assista como resolver a peça contrarrazões de apelação do júri

8.4 Questões sobre 2ª Fase do Júri

24) QUESTÃO (MP-MS-2011)


Tício foi denunciado pela prática de homicídio qualificado pelo motivo torpe (art. 121, § 2º, inc. I,
Código Penal). A denúncia foi recebida e, no decorrer da instrução processual, a defesa requereu
exame de insanidade mental do acusado (art.149 e seguintes do Código de Processo Penal). Ao
final do referido incidente, restou devidamente comprovado que Tício, ao tempo da ação, em
razão de doença mental, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Nos debates, a defesa apresentou como única
tese defensiva a inimputabilidade de Tício. Lastreado em tal premissa, responda,
respectivamente, a seguinte indagação:
Qual decisão deverá ser proferida pelo juiz ao final da primeira fase do procedimento do
júri e qual é o recurso cabível? Justifique.
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Crimes contra o patrimônio

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

9.1 Furto – Art. 155, CP


9.1.1 Conceito
O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de outrem
bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração implica
sempre a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário.

Exige-se o dolo, consistente na vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel.

É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel,


submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o
subtrai apenas para uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a
configuração do tipo penal. Cuida-se na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime,
pela ausência do ânimo de assenhoramento definitivo do bem.

Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir o


instituto do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa
de diminuição da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se
condenado, poderá ter a pena reduzida de 1/3 a 2/3.

Não existe na modalidade culposa.

9.1.2 Consumação e tentativa


Para Damásio e Capez, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto
material é retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre
disponibilidade do autor, ainda que este não obtenha a posse tranquila. A subtração se opera no
exato instante em que o possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la
porque já não está mais consigo.
A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por
circunstâncias alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância
da vítima, submetendo-a à sua própria disponibilidade.

9.1.3 Furto privilegiado – Art. 155, § 2º, CP

Pequeno valor

A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia
equivalente a um salário-mínimo vigente à época do fato.

9.1.4 Furto qualificado – Art. 155, § 4º, CP


a) Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa

É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do objeto


material. A violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto.

Objeto entre
agente e objeto
que pretende
subtrair
Rompimento
Não é o que integra
próprio obejto

b) Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza

Abuso de confiança

É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a decorrente
de amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente,
dessa forma, aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor
vigilância do proprietário sobre os seus bens.
Mediante fraude

É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a vigilância
da vítima e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de empregado
de empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que, a pretexto
de realizar compras em uma loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se dos objetos.

Mediante escalada

Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto por
meio anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica,
necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou
mesmo subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos.

Mediante destreza

Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apossamento do bem
sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos que se
encontrem junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar, etc., que
são retirados sem que ela note.

Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza,
considera-se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do
agente (exemplo: a vítima sente a mão do agente em seu bolso).

c) Com emprego de chave falsa

Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, tendo
ou não formato de chave.

EXEMPLO
Grampo, alfinete, prego, fenda, gazua, etc.

d) Mediante concurso de duas ou mais pessoas.

e) Furto de veículo automotor – Art. 155, § 5º, do CP


Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor.
Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas,
Jet-skies.

Para caracterizar essa qualificadora, afigura-se necessário que o veículo seja


efetivamente transportado para outro Estado ou exterior. Se não ultrapassar a fronteira do Estado
ou do País, essa qualificadora não incide, sendo o crime de furto simples, salvo se presente outra
qualificadora.

f) Emprego de explosivo que cause perigo comum

A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A do artigo 155 do Código Penal prevendo outra
QUALIFICADORA para o crime de furto:

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de


explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

A partir da edição do Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019), o crime de furto com emprego
de explosivo ou de artefato análogo que causa perigo comum passou a ser considerado hediondo
(Art. 1º, inciso IX, da Lei 8072/90).

g) Utilização de substâncias explosivas

A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º do artigo 155 do Código Penal


prevendo outra QUALIFICADORA para o crime de furto:

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de


substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.

9.1.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021


Cumpre ressaltar que a lei 14.155/2021, a qual entrou em vigor em 27 de maio de 2021
acrescentou os parágrafos 4°-b e 4°-c:
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante
fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à
rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei
nº 14.155, de 2021)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de
2021)
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou
vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

9.2 Roubo - Art. 157, CP


9.2.1. Ação nuclear
A ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo subtrair, que
significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um
crime mais grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante o emprego
de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza a
capacidade de resistência da vítima.

São os seguintes os meios executórios do crime de roubo:

a) Violência física (vis corporalis)

Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. Para
caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra lesão corporal leve
ou simples vias de fato, na medida em que a lesão grave ou morte qualifica o crime.

b) Grave ameaça

Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, viciando sua
vontade e impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva criar na
vítima o fundado receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as pessoas
que lhes são caras. É irrelevante a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em que,
utilizada para a prática de crime, torna-se antijurídica.
c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência;

Cuida-se da violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua violência
física ou grave ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos,
soníferos ou hipnotizá-la.

9.2.2. Espécies de roubo: próprio e impróprio


a) Roubo próprio

No roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de defesa)


são praticados contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são empregados
antes ou durante a execução da subtração.

b) Roubo impróprio

ROUBO IMPRÓPRIO ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º).

EXEMPLO
São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do
portão com a res furtiva, alcançando pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou,
então, já na rua, constata que deixou um documento no local, que o identificará, e,
retornando para apanhá-lo, agride o morador que o estava apanhando (garantindo a
impunidade).

Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo entre
a subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador do
roubo se for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse tranquila
da res, sem a vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e,
consequentemente, não pode sofrer qualquer alteração; portanto, eventual violência empregada
constituirá crime autônomo (lesão corporal, por exemplo), em concurso com furto consumado.
9.2.3 Consumação e tentativa
Nos termos da Súmula 582 do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da
posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e
em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada."

9.2.4 Causas especiais de aumento de pena - roubo majorado


(circunstanciado) (Art. 157, § 2º)
A) Se há o concurso de duas ou mais pessoas

Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os bens
jurídicos são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha
ou bando guarnece a paz pública.

B) Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal


circunstância

A pena é agravada se a vítima, regra geral por dever de ofício (caixeiro viajante, empresa
de segurança especialmente contratada para o transporte de valores), realiza serviço de
transporte de valores (dinheiro, joia, etc).

C) Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
estado ou para o exterior

Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de veículo
automotor. Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves,
lanchas, Jet-skies.

D) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade

Ocorre quando o agente segura a vítima por tempo superior ao necessário ou valendo-se
de forma anormal para garantir a subtração planejada.
EXEMPLO

Subjugando a vítima, o agente, pretendendo levar-lhe o veículo, manda que entre no porta-
malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir que seja libertada ou o carro seja
abandonado.

Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “a”, da Lei nº 8.072/90, com a redação
dada pela Lei nº 13.964/2019).

E) Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca

Essa qualificadora foi introduzida pela Lei 13.964/2019, e só terá incidência para fatos
praticados a partir da sua vigência, ou seja, fatos praticados a partir do dia 23 de janeiro de 2020.

Arma branca é aquela em que o instrumento ou objeto é dotado de ponta ou gume, apto
a matar ou ferir uma pessoa. Pode ser arma branca própria, quando fabricada para defesa e
ataque, como, por exemplo, punhal e espada, como pode ser imprópria, não fabricada para
defesa e ataque, mas que reúne potencial para ferir ou matar, como, por exemplo, faca de
cozinha e machado).

Não será apto a majorar a pena do crime de roubo qualquer outro objeto ou instrumento
utilizado no ato do roubo que não se enquadrar no conceito de arma branca, como, por exemplo,
barra de ferro, pedaço de madeira, pedaço de vidro, garrafa quebrada com extremidade
pontiaguda. Nesses casos, será roubo simples, se não incidir outra majorante.

F) Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou


isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.

9.2.5 Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo (Art.


157, § 2-A, do CP)
ATENÇÃO! Importante alteração trazida pela Lei nº 13.654/2018, na qual o roubo “com
emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no artigo 157, § 2º. Já
o roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado no
artigo 157, § 2º-A, inciso I, do Código Penal.
Ou seja, o emprego de arma branca majora o crime de roubo de ⅓ até a metade, ao passo
que o emprego de arma de fogo majora o crime de roubo em ⅔.

A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à vítima
maior potencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir
para configurar o tipo penal do roubo, na figura simples.

Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “b”, da Lei nº 8.072/90, com a redação
dada pela Lei nº13.964/2019).

9.2.6 Roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause


perigo comum
Para caracterizar essa qualificadora, deve restar demonstrada a capacidade de o artefato
causar perigo comum, apto a causar risco a um número indeterminado de pessoas.

Cuidado: curiosamente o legislador considerou hediondo o crime de furto qualificado pelo


emprego de explosivo ou artefato análogo, mas não considera hediondo o crime de roubo com
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Como, à evidência, não
existe analogia in malam partem no Direito Penal, essa omissão do legislador significa que não
será possível considerar esse tipo de roubo como sendo hediondo.

9.2.7 Roubo qualificado pelo resultado - Art. 157, § 3º, CP


Comparando o texto legal com outras previsões semelhantes do Código Penal – “se da
violência resulta lesão corporal grave” ou “se resulta morte” -, constata-se que, pela técnica
legislativa empregada, pretendeu o legislador criar duas figuras de crimes qualificados pelo
resultado, para alguns, crimes preterdolosos.

Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o


entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado
agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual.
A) Crime qualificado pelo resultado lesões graves

É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela presença
de dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões
corporais graves).

HIPÓTESES QUANTO AO RESULTADO MAIS GRAVE:

Lesão grave consumada + roubo consumado = roubo qualificado pelo resultado lesão
grave.

Lesão grave consumada + tentativa de roubo = roubo qualificado pelo resultado lesão
grave, dando-se a mesma solução para o latrocínio.

Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação
dada pela Lei nº 13.964/2019).

B) Crime qualificado pelo resultado morte: LATROCÍNIO

O crime de latrocínio ocorre quando, do emprego da violência física contra a pessoa com
o fim de subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre a
morte da vítima.

Tratando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceiro tanto


pode resultar de dolo (o assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente
desfere um golpe contra o rosto do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo).

Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação
dada pela Lei nº 13.964/2019).

Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não realize o agente a subtração de bens da vítima”.
Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz
singular e não do Tribunal do Júri.”
9.3 Extorsão – Art. 158, CP
9.3.1 Ação nuclear
Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.

A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação


ativa da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude
da ameaça ou da violência sofrida.

A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir,


compelir, forçar, obrigar alguém a fazer (por exemplo: quitar uma dívida não paga), tolerar que
se faça (exemplo: permitir que o rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (exemplo:
obrigar a vítima a não propor ação judicial contra o agente).

O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave ameaça,


os quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe,
etc.).

9.3.2 Consumação e tentativa


A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à produção
do resultado visado pelo sujeito.

Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a


consumação ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer
algo. Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse sentido a Súmula 96 do STJ: “O
crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.

A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo
autor por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa
pretendida, por circunstâncias alheias à sua vontade.
9.3.3 Extorsão qualificada – Art. 158, § 2º, CP
As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo,
caracterizam condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do
resultado.

Inusitadamente, o legislador deixou de considerar hediondo o crime de extorsão


qualificada pelo resultado morte, ao dar nova redação ao artigo 1º, inciso III, da Lei nº 8.072/90,
que passou a prever como hediondo somente a extorsão qualificada pela restrição da liberdade
da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (Art. 158, § 3º);

9.3.4. Extorsão qualificada pela privação da liberdade – Art. 158, § 3º, CP


Trata-se da hipótese em que a privação da liberdade da vítima é condição indispensável
para obtenção da vantagem indevida. É o chamado sequestro-relâmpago.

Exemplo: ladrão constrange a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a


senha, acompanhando-a até caixas eletrônicos de bancos para sacar dinheiro, ocorre o crime
de extorsão qualificada, uma vez que é imprescindível a atuação do sujeito passivo do ataque
patrimonial para a obtenção da vantagem indevida por parte do autor.

Difere do roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima, porque, neste caso, a
restrição da liberdade é irrelevante para obtenção da vantagem indevida. Imaginemos o agente
subtrair objetos da vítima, prendendo-a no banheiro. Trata-se de roubo majorado pela restrição
da liberdade da vítima, pois trancá-la no banheiro não é condição indispensável para a subtração.

9.4 Extorsão mediante sequestro – Art. 159, CP


9.4.1 Conceito e objetividade jurídica
O fato é definido como “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem como condição ou preço de resgate”.

É crime hediondo.

Consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade de


locomoção, ainda que por breve espaço de tempo.
9.4.2 Consumação
A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-se
tempo juridicamente relevante.

Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Assim, enquanto


a vítima estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção o crime estará em fase de
consumação.

Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo a


finalidade de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o
delito está consumado quando a liberdade da vítima é cerceada.

9.4.3 Formas qualificadas – Art. 159, § 1º, CP


a) Sequestro por mais de 24 horas

b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos

c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha

É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa (Art.


288 do CP) em concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in
idem, uma vez que os momentos consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são
totalmente diversos, além do que a figura prevista no artigo 288 do Código Penal existe
independentemente de algum crime vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.

9.4.4 Extorsão mediante sequestro qualificada pelo resultado: lesão grave ou


morte – Art. 159, §§ 2º e 3º, CP
A regra, repetindo, é que, nesses crimes, o resultado agravador seja sempre produto de
culpa. Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o
entendimento doutrinário que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado
agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual.
a) se resulta lesão corporal grave

b) se resulta morte

9.4.5 Delação premiada – Art. 159, § 4º, CP


A Lei nº 8.072/90, que instituiu os crimes hediondos, houve por bem criar, no Brasil, a
delação premiada, que significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar
o(s) comparsa(s) a qualquer autoridade capaz de levar o caso à solução almejada, causando a
liberação da vítima (delegado, juiz, promotor, entre outros).

9.5 Dano – Art. 163, CP


9.5.1 Ação nuclear
Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar. Inutilizar significa tornar inútil ou
imprestável alguma coisa aos fins para os quais se destina. Deteriorar é a conduta de quem
estraga ou corrompe alguma coisa parcialmente.

É o dolo. Não há a forma culposa.

Em que pese o art. 163 CP não exija expressamente um fim especial de agir, a
jurisprudência tem entendido pela necessidade do animus nocendi, que é a vontade específica
de causar um prejuízo patrimonial ao dono da coisa.

Neste sentido, vem se entendendo que a conduta do apenado que rompe a tornozeleira
eletrônica é atípica, justamente pela ausência de tal animus (RHC 151173-RS).
9.5.2 Dano qualificado – Art. 163, parágrafo único, CP

I) VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA A PESSOA

II) COM EMPREGO DE SUBSTÂNCIA INFLAMÁVEL OU EXPLOSIVA, SE O FATO NÃO


CONSTITUI CRIME MAIS GRAVE

III) CONTRA O PATRIMÔNIO DA UNIÃO, DE ESTADO, DO DISTRITO FEDERAL, DE


MUNICÍPIO OU DE AUTARQUIA, FUNDAÇÃO PÚBLICA, EMPRESA PÚBLICA,
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA OU EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS
PÚBLICOS;

IV) MOTIVO EGOÍSTICO E PREJUÍZO CONSIDERÁVEL

9.5.3 Ação penal – Art. 167, CP

De acordo com o artigo 167, a ação penal privada é cabível no crime de dano simples
(caput) e qualificado (somente na hipótese do inciso IV do parágrafo único).
A ação penal pública incondicionada é cabível nas demais hipóteses.

Finalidade
Deteriorar
econômica

Finalidade
Dano Destruir
econômica

Finalidade
Danificar
econômica
Art. 163, caput
Regra: ação
penal privada
Art. 163, p.ú
inciso IV
Ação penal
Exceção: ação
Art. 163, p.ú
penal pública
incisos I, II, III
incondicionada

9.6 Apropriação indébita – Art. 168, CP


9.6.1 Conceito e objetividade jurídica
O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa alheia,
da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, deve ser
exercida pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem.

O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. Tendo o
sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da posse
ou da detenção, comportando-se como se dono fosse.

A apropriação pode ser classificada em:

1º) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PROPRIAMENTE DITA: Ocorre quando o sujeito


realiza ato demonstrativo de que inverteu o título da posse, como a venda, doação, consumo,
penhor, ocultação, etc.
2º) NEGATIVA DE RESTITUIÇÃO: Neste caso, o sujeito afirma claramente ao ofendido
que não irá devolver o objeto material.
9.6.2 Causas de aumento de pena – Art. 168, § 1º, CP
a) Em depósito necessário

O depósito necessário, disciplinado no inciso I, do § 1º, do artigo 168, é apenas aquele


conhecido como miserável, ou seja, levado pela necessidade de salvar a coisa da iminência de
uma calamidade, ou, como define o próprio Código Civil, “o que se efetua por ocasião de alguma
calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque” (Art. 647). Está excluído, por
conseguinte, o depósito legal.

b) Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro


ou depositário judicial

c) Em razão de ofício, emprego ou profissão

Para que se configure a agravante especial em exame é necessário que o sujeito tenha
recebido a posse ou detenção do objeto material em razão do emprego, ou seja, deve existir um
nexo de causalidade entre a relação de trabalho e o recebimento.

Apropriação Posse do objeto


indébita é desvigiada

Inicialmente
Posse
lícita
Apropriar-se
de objeto
Detenção

9.7 Estelionato – Art. 171, CP


9.7.1 Ação nuclear
Consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de artifício, ardil, ou
qualquer meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo
alheio.
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito para
induzir ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial.

O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio grotesco, que
facilmente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato.

9.7.2 Consumação e tentativa


Trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita indevida, em
prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito econômico, causando dano à vítima.
Via de regra, esses resultados ocorrem simultaneamente. Há, assim, ao mesmo tempo, a
obtenção de proveito pelo estelionatário e o prejuízo da vítima.

9.7.3 Fraude no pagamento por meio de cheque – Art. 171, § 2º, inciso VI, CP
Se o indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o devido
pagamento pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência
bancária, não se pode falar em ilícito criminal, ante a ausência de má-fé.

O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da Súmula 246
do STF: “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque
sem fundos”.

Emitir cheque significa pôr em circulação o título de crédito; frustrar o pagamento quer
dizer iludir ou enganar o credor, evitando a sua remuneração.

a) Emitir cheque sem provisão de fundos

O agente preenche, assina e coloca o cheque em circulação sem ter numerário suficiente
na instituição bancária (banco sacado) para cobrir o valor quando da apresentação do título pelo
tomador. No momento da emissão do cheque – que não significa simplesmente o seu
preenchimento, mas a entrega a terceiro – é preciso que o estabelecimento bancário,
encarregado da compensação, já não possua fundo suficiente para cobrir o pagamento.

b) Frustrar o pagamento de cheque


Neste caso, o agente possui fundos suficientes na instituição bancária quando da emissão
do cheque, contudo, antes de o beneficiário apresentar o título ao banco, aquele retira todo o
numerário depositado ou apresenta uma contraordem de pagamento.

C) Consumação

Segundo o artigo 4º, § 1º, da Lei nº 7.357/85, a existência de fundos disponíveis é


verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento. Destarte, o crime se
consuma no momento e no local em que o banco sacado recusa o pagamento, pois só nesse
momento ocorre o prejuízo (trata-se de crime material).

Súmula 521 do STF: “O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do
local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.

Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no banco


sacado, e depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá
arrependimento eficaz, não respondendo ele por crime algum.

Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, ou
seja, após a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súmula 554 do STF: “O
pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal”.

Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a punibilidade


do agente.

9.7.4 Ação penal – Art. 171, § 5º, CP


A Lei nº 13.964/2019, ao incluir no Código Penal o artigo 171, § 5º, passou a considerar
que o crime de estelionato será, via de regra, de ação penal pública condicionada à
representação. Logo, a vítima terá o prazo de 06 meses a contar da ciência da autoria do fato
para manifestar sua vontade acerca da persecução penal, sob pena de, extrapolado esse prazo,
ocorrer a extinção da punibilidade, com base no artigo 107, inciso IV, do Código Penal.

Excepcionalmente, será, no entanto, de ação penal pública incondicionada, se o crime de


estelionato for praticado contra: a) a Administração Pública, direta ou indireta; b) criança ou
adolescente; c) pessoa com deficiência mental; d) maior de 70 (setenta) anos de idade ou
incapaz.

9.7.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021


Cumpre ressaltar que a lei 14155/2021, a qual entrou em vigor em 27 de maio de 2021
acrescentou os parágrafos 2°-A e 2°-B:

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida


com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por
meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou
por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante
a utilização de servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155,
de 2021)

9.8 Receptação – Art. 180, CP


9.8.1 Conceito
Nos termos do artigo 180, caput, do Código Penal, a receptação é o fato de adquirir,
receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.

É pressuposto do crime de receptação a existência de crime anterior. Trata-se de delito


acessório, em que o objeto material deve ser produto de crime antecedente, chamado de delito
pressuposto.

A receptação dolosa pode ser:

A) PRÓPRIA: Constitui receptação dolosa própria o fato de o sujeito adquirir, receber,


ocultar etc, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime (Art. 180, caput,
1ª parte).
B) IMPRÓPRIA: A receptação dolosa imprópria se encontra descrita no artigo 180, caput,
2ª parte. Constitui o fato de o sujeito influir para que terceiro, de boa-fé, adquira, receba ou oculte
coisa produto de crime.

A receptação culposa constitui o fato de o sujeito adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece,
deve presumir-se obtida por meio criminoso (Art. 180, § 3º).

9.8.2 Receptação qualificada – Art. 180, § 1º, CP


Forma qualificada - § 1º: Tem como elemento subjetivo o dolo, seja direto ou eventual.

9.8.3 Receptação culposa – Art. 180, § 3º, CP


Forma culposa - § 3º: O código refere coisa que, “pela sua natureza, deve presumir-se
obtida por meio criminoso”. A expressão “deve presumir-se” é indicativo de culpa na modalidade
imprudência.

9.8.4 Receptação punível autonomamente – Art. 180, § 4º, CP


Receptação punível autonomamente - § 4º: Para a concretização do crime de receptação
não importa se houve a anterior condenação do autor do crime anterior. Porém, é necessário
evidenciar-se a existência do crime anterior.

9.8.5 Perdão judicial – Art. 180, § 5º, CP


Nos termos do artigo 180, § 5º, 1ª parte, do Código Penal, na hipótese da receptação
culposa, se o criminoso é primário, deve o juiz, tendo em consideração determinadas
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. No caso, fixaram a doutrina e a jurisprudência, que,
além da primariedade, deve-se exigir o seguinte: a) diminuto valor da coisa objeto da receptação;
b) bons antecedentes; c) ter o agente atuado com culpa levíssima.
9.8.6 Tipo qualificado – Art. 180, § 6º, CP
Outra forma qualificada: Quando o produto de crime pertencer à União, Estado, Município,
empresa de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Exige-se que o agente tenha
conhecimento disso.

9.9 Escusas absolutórias


9.9.1 Imunidade absoluta – Art. 181, CP
Trata-se da chamada imunidade penal absoluta, também conhecida como escusa
absolutória, incidente sobre os crimes contra o patrimônio, nas seguintes hipóteses:

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou


natural.

9.9.2 Imunidade relativa – Art. 182, CP


Consubstancia-se em imunidade penal relativa ou processual, a qual não extingue a
punibilidade, mas tão-somente impõe uma condição objetiva de procedibilidade.

Neste caso, ao contrário da imunidade absoluta, o autor do crime não é isento de pena,
mas os crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à
representação do ofendido.

9.9.3 Exclusão de imunidade ou privilégio – Art. 183, CP

I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave


ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos.
9.10 Questões sobre crimes contra o patrimônio

25) QUESTÃO 2 – XIII EXAME


Antônio, auxiliar de serviços gerais de uma multinacional, nos dias de limpeza, passa a observar
uma escultura colocada na mesa de seu chefe. Com o tempo, o desejo de ter aquele objeto fica
incontrolável, razão pela qual ele decide subtraí-lo. Como Antônio não tem acesso livre à sala
onde a escultura fica exposta, utiliza-se de uma chave adaptável a qualquer fechadura, adquirida
por meio de um amigo chaveiro, que nada sabia sobre suas intenções. Com ela, Antônio ingressa
na sala do chefe, após o expediente de trabalho, e subtrai a escultura pretendida, colocando-a
em sua bolsa. Após subtrair o objeto e sair do edifício onde fica localizada a empresa, Antônio
caminha tranquilamente cerca de 400 metros. Apenas nesse momento é que os seguranças da
portaria suspeitam do ocorrido. Eles acham estranha a saída de Antônio do local após o
expediente (já que não era comum a realização de horas extras), razão pela qual acionam
policiais militares que estavam próximos do local, apontando Antônio como suspeito. Os policiais
conseguem alcançá-lo e decidem revistá-lo, encontrando a escultura da sala do chefe na sua
bolsa. Preso em flagrante, Antônio é conduzido até a Delegacia de Polícia.
Antônio, então, é denunciado e regularmente processado. Ocorre que, durante a instrução
processual, verifica-se que a escultura subtraída, apesar de bela, foi construída com material
barato, avaliada em R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), sendo, portanto, de pequeno valor.
A FAC (folha de antecedentes criminais) aponta que Antônio é réu primário. Ao final da instrução,
em que foram respeitadas todas as exigências legais, o juiz, em decisão fundamentada, condena
Antônio a 2 (dois) anos de reclusão pela prática do crime de furto qualificado pela utilização de
chave falsa, consumado, com base no artigo 155, § 4º, III, do CP.
Nesse sentido, levando em conta apenas os dados contidos no enunciado, responda aos
itens a seguir.
A) É correto afirmar que o crime de furto praticado por Antônio atingiu a consumação?
Justifique. (Valor: 0,40)
B) Considerando que Antônio não preenche os requisitos elencados pelo STF e STJ para
aplicação do princípio da insignificância, qual seria a principal tese defensiva a ser
utilizada em sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,85)
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.
26) QUESTÃO 2 – VIII EXAME
Abel e Felipe observavam diariamente um restaurante com a finalidade de cometer um crime.
Sabendo que poderiam obter alguma vantagem sobre os clientes que o frequentavam, Abel e
Felipe, sem qualquer combinação prévia, conseguiram, cada um, uniformes semelhantes aos
utilizados pelos manobristas de tal restaurante. No início da tarde, aproveitando a oportunidade
em que não havia nenhum funcionário no local, a dupla, vestindo os uniformes de manobristas,
permaneceu à espera de suas vítimas, mas, agindo de modo separado.
Tércio, o primeiro cliente, ao chegar ao restaurante, iludido por Abel, entrega de forma voluntária
a chave de seu carro. Abel, ao invés de conduzir o veículo para o estacionamento, evade-se do
local. Narcísio, o segundo cliente, chega ao restaurante e não entrega a chave de seu carro, mas
Felipe a subtrai sem que ele o percebesse. Felipe também se evade do local.
Empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao
caso, responda às questões a seguir.
A) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Abel ao praticar tal conduta? (responda
motivando sua imputação) (Valor: 0,65)
B) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Felipe ao praticar tal conduta? (responda
motivando sua imputação) (Valor: 0,60)
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.

27) QUESTÃO 1 – XVII EXAME


Rodrigo, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um estabelecimento
comercial que estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após romper o cadeado
da porta principal, subtraiu do seu interior algumas caixas de cigarro. A ação não foi notada por
qualquer pessoa. Todavia, quando caminhava pela rua com o material subtraído, veio a ser
abordado por policiais militares, ocasião em que admitiu a subtração e a forma como ingressou
no comércio lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 1.300,00 (um mil e trezentos reais),
sendo integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local para confirmar o
rompimento de obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas sanções penais do
Art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. As únicas testemunhas de acusação foram os policiais
militares, que confirmaram que apenas foram responsáveis pela abordagem do réu, que
confessou a subtração. Disseram não ter comparecido, porém, ao estabelecimento lesado. Em
seu interrogatório, Rodrigo confirmou apenas que subtraiu os cigarros do estabelecimento,
recusando-se a responder qualquer outra pergunta. A defesa técnica de Rodrigo é intimada para
apresentar alegações finais por memoriais.
Com base na hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) Diante da confissão da prática do crime de furto por Rodrigo, qual a principal tese
defensiva em relação à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica? (Valor:
0,65)
B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Rodrigo ser, de imediato,
condenado nos termos da manifestação da defesa técnica? (Valor: 0,60)
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.

28) QUESTÃO 4 – XXVIII EXAME


Na manhã do dia 09 de outubro de 2018, Talles, na cidade de Bom Jesus de Itabapoana, praticou
03 crimes de furto simples em continuidade delitiva, subtraindo, do primeiro estabelecimento,
dinheiro e uma arma de brinquedo; do segundo estabelecimento, uma touca ninja e um celular;
e, do terceiro estabelecimento, uma motocicleta. De posse dos bens subtraídos, Talles foi até a
cidade de Cardoso Moreira, abordou Joana, que passava pela rua segurando seu celular, e,
utilizando-se do simulacro da arma para emprego de grave ameaça e da touca, segurou-a pelos
braços e subtraiu o celular de suas mãos. De imediato, Talles empreendeu fuga, mas Joana
compareceu em sede policial, narrou o ocorrido e Talles foi localizado e preso em flagrante na
cidade de São Fidélis, ainda na posse dos bens da vítima e da motocicleta utilizada. Assegurado
o direito ao silêncio e o acompanhamento da defesa técnica, Talles prestou declarações na
delegacia e confessou integralmente os fatos, sendo ele indiciado pela prática dos crimes
previstos no Art. 155, caput, por três vezes, n/f do Art. 71 do CP e do Art. 157, § 2º, inciso V,
também do CP.
Considerando as informações expostas, responda, na condição de advogado(a) de Talles,
aos itens a seguir.
A) Considerando que os delitos são conexos, de qual cidade será o juízo criminal
competente para o julgamento de Talles? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual o argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva realizada
pela autoridade policial? Justifique. (Valor: 0,60)
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.
29) QUESTÃO 2 – XXVI EXAME
Arthur, Adriano e Junior, insatisfeitos com a derrota do seu time de futebol, saíram à rua, após a
partida, fazendo algazarra na companhia de Roberto, que não gostava de futebol. Durante o ato,
depararam com Pedro, que vestia a camisa do time rival; simplesmente por isso, Arthur, Adriano
e Junior passaram a agredi-lo, tendo ficado Roberto à distância por não concordar com o ato e
não ter intenção de conferir cobertura aos colegas. Em razão dos atos de agressão, o celular de
Pedro veio a cair no chão, momento em que Roberto, aproveitando-se da situação, subtraiu o
bem e empreendeu fuga. Com a chegada de policiais, Arthur, Adriano e Junior empreenderam
fuga, mas Roberto veio a ser localizado pouco tempo depois na posse do bem subtraído e de
seu próprio celular. Diante das lesões causadas na vítima, Roberto foi denunciado pela prática
do crime de roubo majorado pelo concurso de agentes e teve sua prisão em flagrante convertida
em preventiva. Na instrução, as testemunhas confirmaram integralmente os fatos, assim como
Roberto reiterou o acima narrado. A família de Roberto, então, procura você para, na condição
de advogado(a), adotar as medidas cabíveis, antes da sentença, apresentando nota fiscal da
compra do celular de Roberto.
Considerando apenas as informações narradas, responda, na condição de advogado(a)
de Roberto, aos itens a seguir.
A) Existe requerimento a ser formulado pela defesa para reaver, de imediato, o celular de
Roberto? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Confessados por Roberto os fatos acima narrados, existe argumento de direito material
a ser apresentado em busca da não condenação pelo crime imputado? Justifique. (Valor:
0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
30) QUESTÃO 3 – XVII EXAME
Ruth voltava para sua casa falando ao celular, na cidade de Santos, quando foi abordada por
Antônio, que afirmou: “Isso é um assalto! Passa o celular ou verá as consequências!”. Diante da
grave ameaça, Ruth entregou o telefone e o agente fugiu em sua motocicleta em direção à cidade
de Mogi das Cruzes, consumando o crime. Nervosa, Ruth narrou o ocorrido para o genro Thiago,
que saiu em seu carro, junto com um policial militar, à procura de Antônio. Com base na placa
da motocicleta anotada por Ruth, Thiago localizou Antônio, já em Mogi das Cruzes, ainda na
posse do celular da vítima e também com uma faca em sua cintura, tendo o policial efetuado a
prisão em flagrante. Em razão dos fatos, Antônio foi denunciado pela prática do crime previsto
no Art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, perante uma Vara Criminal da comarca de Mogi das
Cruzes, ficando os familiares do réu preocupados, porque todos da região sabem que o
magistrado, em atuação naquela Vara, é extremamente severo. A defesa foi intimada a
apresentar resposta à acusação.
Considerando que o flagrante foi regular e que os fatos são verdadeiros, responda, na
qualidade de advogado(a) de Antônio, aos itens a seguir.
A) Que medida processual poderia ser adotada para evitar o julgamento perante a Vara
Criminal de Mogi das Cruzes? Justifique. (Valor: 0,65)
B) No mérito, caso Antônio confesse os fatos durante a instrução, qual argumento de
direito material poderia ser formulado para garantir uma punição mais branda do que a
pleiteada na denúncia? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
31) QUESTÃO 2 – XXV EXAME REAPLICADA EM PORTO ALEGRE/RS
No dia 06 de abril de 2017, João retirou Clara, criança de 11 anos de idade, do interior da
residência em que esta morava, sem autorização de qualquer pessoa, vindo a restringir sua
liberdade e mantê-la dentro de um quarto trancado e sem janelas. Logo em seguida, João entrou
em contato com o pai de Clara, famoso empresário da cidade, exigindo R$200.000,00 para
liberar Clara e devolvê-la à sua residência. Após o pai de Clara pagar o valor exigido, Clara é
liberada e, de imediato, a família comparece à Delegacia para registrar o fato. Depois das
investigações, João é identificado e os autos são encaminhados ao Ministério Público com
relatório final de investigação, indiciando João. Após 90 (noventa) dias do recebimento do
inquérito, os autos permanecem no gabinete do Promotor de Justiça, sem que qualquer medida
tenha sido adotada.
Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) da família
de Clara, aos itens a seguir.
A) Considerando que o crime é de ação penal pública incondicionada, qual a medida a ser
adotada diretamente pela família de Clara e seu advogado em busca da responsabilização
criminal de João? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Em caso de inicial acusatória, qual infração penal deve ser imputada a João? Justifique.
(Valor: 0,60)

32) QUESTÃO 4 – V EXAME


João e Maria iniciaram uma paquera no Bar X na noite de 17 de janeiro de 2011. No dia 19 de
janeiro do corrente ano, o casal teve uma séria discussão, e Maria, nitidamente enciumada,
investiu contra o carro de João, que já não se encontrava em bom estado de conservação, com
três exercícios de IPVA inadimplentes, a saber: 2008, 2009 e 2010. Além disso, Maria proferiu
diversos insultos contra João no dia de sua festa de formatura, perante seu amigo Paulo,
afirmando ser ele “covarde”, “corno” e “frouxo”. A requerimento de João, os fatos foram
registrados perante a Delegacia Policial, onde a testemunha foi ouvida. João comparece ao seu
escritório e contrata seus serviços profissionais, a fim de serem tomadas as medidas legais
cabíveis. Você, como profissional diligente, após verificar não ter passado o prazo decadencial,
interpõe Queixa-Crime ao juízo competente no dia 18/7/11. O magistrado ao qual foi distribuída
a peça processual profere decisão rejeitando-a, afirmando tratar-se de clara decadência,
confundindo-se com relação à contagem do prazo legal. A decisão foi publicada dia 25 de julho
de 2011.
Com base somente nas informações acima, responda:
A) Qual é o recurso cabível contra essa decisão? (0,30)
B) Qual é o prazo para a interposição do recurso? (0,30)
C) A quem deve ser endereçado o recurso? (0,30)
D) Qual é a tese defendida? (0,35)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

33) QUESTÃO 1 – IV EXAME


Maria, jovem extremamente possessiva, comparece ao local em que Jorge, seu namorado,
exerce o cargo de auxiliar administrativo e abre uma carta lacrada que havia sobre a mesa do
rapaz. Ao ler o conteúdo, descobre que Jorge se apropriara de R$ 4.000,00 (quatro mil reais),
que recebera da empresa em que trabalhava para efetuar um pagamento, mas utilizara tal
quantia para comprar uma joia para uma moça chamada Júlia. Absolutamente transtornada,
Maria entrega a correspondência aos patrões de Jorge.
Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
A) Jorge praticou crime? Em caso positivo, qual(is)? (Valor: 0,35)
B) Se o Ministério Público oferecesse denúncia com base exclusivamente na
correspondência aberta por Maria, o que você, na qualidade de advogado de Jorge,
alegaria? (Valor: 0,90)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
34) QUESTÃO 2 – XXI EXAME
No dia 03 de março de 2016, Vinícius, reincidente e específico, foi preso em flagrante em razão
da apreensão de uma arma de fogo, calibre .38, de uso permitido, número de série identificado,
devidamente municiada, que estava em uma gaveta dentro de seu local de trabalho, qual seja,
o estabelecimento comercial “Vinícius House”, do qual era sócio-gerente e proprietário.
Denunciado pela prática do crime do Artigo 14 da Lei nº 10.826/03, confessou os fatos, afirmando
que mantinha a arma em seu estabelecimento para se proteger de possíveis assaltos. Diante da
prova testemunhal e da confissão do acusado, o Ministério Público pleiteou a condenação nos
termos da denúncia em alegações finais, enquanto a defesa afirmou que o delito do Art. 14 do
Estatuto do Desarmamento não foi praticado, também destacando a falta de prova da
materialidade. Após manifestação das partes, houve juntada do laudo de exame da arma de fogo
e das munições apreendidas, constatando-se o potencial lesivo do material, tendo o magistrado,
de imediato, proferido sentença condenatória pela imputação contida na denúncia, aplicando a
pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa. O advogado de Vinícius é intimado da
sentença e apresentou recurso de apelação.
Considerando apenas as informações narradas, responda na condição de advogado(a) de
Vinicius:
A) Qual requerimento deveria ser formulado em sede de apelação e qual tese de direito
processual poder ia ser alegada para afastar a sentença condenatória proferida em
primeira instância? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Confirmados os fatos, qual tese de direito material poderia ser alegada para buscar
uma condenação penal mais branda em relação ao quantum de pena para Vinicius?
Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

35) QUESTÃO 1 – XII EXAME


Carolina foi denunciada pela prática do delito de estelionato, mediante emissão de cheque sem
suficiente provisão de fundos. Narra a inicial acusatória que Carolina emitiu o cheque número
000, contra o Banco ABC S/A, quando efetuou compra no estabelecimento “X”, que fica na cidade
de “Y”. Como a conta corrente de Carolina pertencia à agência bancária que ficava na cidade
vizinha “Z”, a gerência da loja, objetivando maior rapidez no recebimento, resolveu lá apresentar
o cheque, ocasião em que o título foi devolvido. Levando em conta que a compra originária da
emissão do cheque sem fundos ocorreu na cidade “Y”, o ministério público local fez o referido
oferecimento da denúncia, a qual foi recebida pelo juízo da 1ª Vara Criminal da comarca. Tal
magistrado, após o recebimento da inicial acusatória, ordenou a citação da ré, bem como a
intimação para apresentar resposta à acusação.
Nesse sentido, atento(a) apenas às informações contidas no enunciado, responda de
maneira fundamentada, e levando em conta o entendimento dos Tribunais Superiores, o
que pode ser arguido em favor de Carolina. (Valor: 1,25)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

36) QUESTÃO 2 – XX EXAME


Lúcio, com residência fixa e proprietário de uma oficina de carros, adquiriu de seu vizinho, pela
quantia de R$1.000,00 (mil reais) um aparelho celular, que sabia ser produto de crime pretérito,
passando a usá-lo como próprio. Tomando conhecimento dos fatos, um inimigo de Lúcio
comunicou o ocorrido ao Ministério Público, que requisitou a instauração de inquérito policial. A
autoridade policial instaurou o procedimento, indiciou Lúcio pela prática do crime de receptação
qualificada (Art. 180, § 1º, do Código Penal), já que desenvolvia atividade comercial, e, de
imediato, representou pela prisão temporária de Lúcio, existindo parecer favorável do Ministério
Público. A família de Lúcio o procura para esclarecimentos.
Na condição de advogado de Lúcio, esclareça os itens a seguir.
A) No caso concreto, a autoridade policial poderia ter representado pela prisão temporária
de Lúcio? (Valor: 0,60)
B) Confirmados os fatos acima narrados, o crime praticado por Lúcio efetivamente foi de
receptação qualificada (Art. 180, § 1º, do CP)? Em caso positivo, justifique. Em caso
negativo, indique qual seria o delito praticado e justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

37) QUESTÃO 4 – XXV EXAME


Vitor, 23 anos, decide emprestar sua motocicleta, que é seu instrumento de trabalho, para seu
pai, Francisco, 45 anos, por um mês, já que este se encontrava em dificuldade financeira. Após
o prazo do empréstimo, Vitor, que não residia com Francisco, solicitou a devolução da
motocicleta, mas este se recusou a devolver e passou a atuar como se proprietário do bem fosse
inclusive anunciando sua venda. Diante do registro dos fatos em sede policial, o Ministério
Público ofereceu denúncia em face de Francisco, imputando-lhe a prática do crime previsto no
Art. 168, § 1º, inciso II, do Código Penal. Após a confirmação dos fatos em juízo e a juntada da
Folha de Antecedentes Criminais sem qualquer outra anotação, o magistrado julgou
parcialmente procedente a pretensão punitiva, afastando a causa de aumento, mas condenando
Francisco, pela prática do crime de apropriação indébita simples, à pena mínima prevista para o
delito em questão (01 ano), substituindo a pena privativa de liberdade por restritiva de direito.
Considerando apenas as informações narradas no enunciado, na condição de
advogado(a) de Francisco, responda aos itens a seguir.
A) Para combater a decisão do magistrado, que, após afastar a causa de aumento,
imediatamente decidiu por condenar o réu pela prática do crime de apropriação indébita
simples, qual argumento de direito processual poderia ser apresentado? Justifique.
(Valor: 0,60)
B) Qual argumento de direito material, em sede de apelação, poderia ser apresentado
em busca de evitar a punição de Francisco? Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

38) QUESTÃO 4 – VII EXAME


Maurício, jovem de classe alta, rebelde e sem escrúpulos, começa a namorar Joana, menina de
boa família, de classe menos favorecida e moradora de área de risco em uma das maiores
comunidades do Brasil. No dia do aniversário de 18 anos de Joana, Maurício resolve convidá-la
para jantar num dos restaurantes mais caros da cidade e, posteriormente, leva-a para conhecer
a suíte presidencial de um hotel considerado um dos mais luxuosos do mundo, onde passa a
noite com ela. Na manhã seguinte, Maurício e Joana resolvem permanecer por mais dois dias.
Ao final da estada, Mauricio contabiliza os gastos daqueles dias de prodigalidade, apurando o
total de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais). Todos os pagamentos foram realizados em espécie,
haja vista que, na noite anterior, Maurício havia trocado com sua mãe um cheque de R$20.000,00
(vinte mil reais) por dinheiro em espécie, cheque que Maurício sabia, de antemão, não possuir
fundos. Considerando apenas os fatos descritos, responda, de forma justificada, os
questionamentos a seguir.
A) Maurício e Joana cometeram algum crime? Justifique sua resposta e, caso seja
positiva, tipifique as condutas atribuídas a cada um dos personagens, desenvolvendo a
tese de defesa. (valor: 0,70)
B) Caso Maurício tivesse invadido a casa de sua mãe com uma pistola de brinquedo e a
ameaçado, a fim de conseguir a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sua situação
jurídica seria diferente? Justifique. (valor: 0,55)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

39) QUESTÃO 2 – 2010/03 EXAME


Caio, residente no município de São Paulo, é convidado por seu pai, morador da cidade de Belo
Horizonte, para visitá-lo. Ao dirigir-se até Minas Gerais em seu carro, Caio dá carona a Maria,
jovem belíssima que conhecera na estrada e que, ao saber do destino de Caio, o convence a
subtrair pertences da casa do genitor do rapaz, chegando a sugerir que ele aguardasse o
repouso noturno de seu pai para efetuar a subtração. Ao chegar ao local, Caio janta com o pai e
o espera adormecer, quando então subtrai da residência uma televisão de plasma, um aparelho
de som e dois mil reais. Após encontrar-se com Maria no veículo, ambos se evadem do local e
são presos quando chegavam ao município de São Paulo.
Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
A) Caio pode ser punido pela conduta praticada e provada? (Valor: 0,40)
B) Maria pode ser punida pela referida conduta? (Valor: 0,40)
C) Em caso de oferecimento de denúncia, qual será o juízo competente para
processamento da ação penal? (Valor: 0,20)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

40) QUESTÃO 1 – 36º EXAME


Ana Beatriz foi denunciada pelo Ministério Público pela prática dos crimes de falsificação de
documento particular (Art. 298 do CP) e estelionato (Art. 171 do CP), em concurso material (Art.
69 do CP), por ter obtido vantagem patrimonial ilícita às custas da vítima Rita (pessoa civilmente
capaz e mentalmente sã, à época com 21 anos de idade), induzindo-a e mantendo-a em erro,
mediante meio fraudulento. Segundo narra a denúncia, em julho de 2020 Ana Beatriz falsificou
bilhete de loteria premiado e o vendeu para Rita por metade do valor do suposto prêmio,
alegando urgência em receber valor em espécie para poder custear cirurgia da sua filha. Rita,
envergonhada, não procurou as autoridades públicas para solicitar a apuração dos fatos. A
denúncia foi oferecida ao Juízo competente em dezembro de 2020.
Sobre a hipótese, responda aos itens a seguir.
A) Qual é a tese jurídica de mérito que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana
Beatriz? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual é a tese jurídica processual que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana
Beatriz? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação. 
Crimes contra a honra

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

10.1. Calúnia – Art. 138 do CP


10.1.1. Conceito e objetividade jurídica
Calúnia é o fato de atribuir a outrem, falsamente, a prática de fato definido como crime. O
Código Penal tutela a honra objetiva (reputação).

A lei exige expressamente que o fato atribuído seja definido como crime. O fato criminoso
deve ser determinado, ou seja, um caso concreto, não sendo necessário, contudo, descrevê-lo
de forma pormenorizada, detalhada, como, por exemplo, apontar dia, hora, local.

É fundamental, para a existência de calúnia, que a imputação de fato definido como crime
seja falsa. Se o fato for verdadeiro, não há que se falar em crime de calúnia.

O momento consumativo da calúnia ocorre no instante em que a imputação chega ao


CONHECIMENTO DE UM TERCEIRO que não a vítima.

A calúnia verbal não admite a figura da tentativa. Ou o sujeito diz a imputação, e o fato
está consumado, ou não diz, e não há conduta relevante para o Direito Penal.

Já a calúnia escrita admite a tentativa.

Exemplo: o sujeito remete uma carta caluniosa e ela se extravia. O crime não atinge a
consumação, por intermédio do conhecimento do destinatário, por circunstâncias alheias à
vontade do sujeito.

10.2. Difamação – Art. 139 do CP


Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a reputação.
O legislador protege a honra objetiva (reputação). A exemplo do crime de calúnia, o bem
jurídico protegido é a honra, isto é, a reputação do indivíduo, a sua boa fama, o conceito que a
sociedade lhe atribui.

Dizer que uma pessoa é caloteira configura uma injúria, ao passo que espalhar o fato de
que ela não pagou aos credores “A”, “B” e “C”, quando as dívidas X, Y e Z venceram configura a
difamação.

A difamação atinge o momento consumativo quando UM TERCEIRO, que não o ofendido,


toma conhecimento da imputação ofensiva à reputação.

Quanto à tentativa, é inadmissível, quando se trata de fato cometido por intermédio da


palavra oral. Tratando-se, entretanto, de difamação praticada por meio escrito, é admissível.

10.3. Injúria – Art. 140 do CP


Injúria é a ofensa à dignidade ou ao decoro de outrem.

Ao contrário dos delitos de calúnia e difamação, que tutelam a honra objetiva, o bem
protegido por essa norma penal é a honra subjetiva, que é constituída pelo sentimento próprio
de cada pessoa acerca de seus atributos morais (chamados de honra-dignidade), intelectuais e
físicos (chamados de honra-decoro).

Trata-se de crime formal. O crime se consuma quando o sujeito passivo toma ciência da
imputação ofensiva, independentemente de o ofendido sentir-se ou não atingido em sua honra
subjetiva, sendo suficiente, tão-só, que o ato seja revestido de idoneidade ofensiva.

A injúria, quando cometida por escrito, admite a tentativa; quando por meio verbal, não.

10.3.1. Injúria racial – Art. 140, § 3º, do CP


Aquele que se dirige a uma pessoa de determinada raça, insultando-a com argumentos
ou palavras de conteúdo pejorativo, responderá por injúria racial, não podendo alegar que houve
uma injúria simples, nem tampouco uma mera exposição do pensamento (como dizer que todo
“judeu é corrupto” ou que “negros são desonestos”), uma vez que não há limite para tal liberdade.
Assim, quem simplesmente dirigir a terceiro palavras referentes a “raça”, “cor”, “etnia”,
“religião” ou “origem”, com o intuito de ofender, responderá por injúria racial.

10.4. Aspectos pontuais dos crimes contra a honra


10.4.1. Causas especiais de exclusão da antijuridicidade – Art. 142 do CP
A) IMUNIDADE JUDICIÁRIA

Exige-se que haja uma relação processual instaurada, pois é esse o significado da
expressão “irrogada em juízo”, além do que o autor da ofensa precisa situar-se em local próprio
para o debate processual.

B) IMUNIDADE LITERÁRIA, ARTÍSTICA E CIENTÍFICA

Esta causa de exclusão diz respeito à liberdade de expressão nos campos literário,
artístico e científico, permitindo que haja crítica acerca de livros, obras de arte ou produções
científicas de toda ordem, ainda que sejam pareceres ou conceitos negativos.

C) IMUNIDADE FUNCIONAL

O funcionário público, cumprindo dever inerente ao seu ofício, pode emitir um parecer
desfavorável, expondo opinião negativa a respeito de alguém, passível de macular a reputação
da vítima ou ferir a sua dignidade ou seu decoro, embora não se possa falar em ato ilícito, pois
o interesse da Administração Pública deve ficar acima dos interesses individuais.

10.4.2. Ação penal – Art. 145 do CP


A) REGRA

Nos crimes contra a honra, a regra é a de que ação penal privada da vítima ou do seu
representante legal.

B) EXCEÇÕES

I) Resultando na vítima lesão física (injúria real com lesão corporal), apura-se o crime
mediante ação penal pública incondicionada. No entanto, com o advento da Lei 9.099/95, alguns
autores entendem que se trata de ação penal pública condicionada a representação, já que é a
prevista para os crimes de lesão corporal leve.

II) Será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido
contra funcionário público, no exercício das funções (Art. 141, inciso II) e condicionada à
requisição do Ministro da Justiça no caso do nº I do art. 141 (contra o Presidente da República
ou Chefe de Governo Estrangeiro).

Súmula 714 do STF

“É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,


condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a
honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”
IMPUTAR

FALSAMENTE

CALÚNIA - Art. 138 CP

FATO

CRIME

DIFAMAR

FATO

DIFAMAÇÃO - Art. 139 CP


OFENSIVO
REPUTAÇÃO

EXCEÇÃO
VERDADE

DIGNIDADE MORAIS

INTELECTUAIS
INJÚRIA - Art. 140 CP DECORO
E FÍSICOS

EXPRESSÃO
NEGATIVA
Lei de Execução Penal

Aula prevista para ocorrer ao vivo nos dias 10 e 11/04/2023.

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

11.1 Comentários à lei de execução penal

A Lei nº 7.210/84, também conhecida com a Lei de Execução Penal, regula a execução
das penas e medidas de segurança no Brasil.

As penas, conforme o artigo 32 do Código Penal, dividem-se em: penas privativas de


liberdade, restritivas de direito e penas de multa. Já as medidas de segurança estão previstas
no artigo 96 do Código Penal, dividindo-se em: medidas de segurança de internação ou de
tratamento ambulatorial.

Em regra, quando se fala em execução penal, se pressupõe a existência de uma sentença


penal condenatória transitada em julgado. Assim sendo, a partir do esgotamento da via recursal
tem-se que será determinada a expedição / formação do processo de execução criminal,
denominado na praxe jurídica como P.E.C (Processo de Execução Criminal).

O trâmite do processo de execução se dará em Vara de Execução Criminal, quando assim


houver, conforme determinação das regras de organização judiciária de cada Estado. Nesta fase,
o Juiz responsável por este processo é denominado Juiz da Vara de Execução, cujo rol
exemplificativo de sua competência consta no artigo 66 da Lei nº 7.210/84.

É importante registrar que, excepcionalmente, é possível a formação do Processo de


Execução Provisório, ou seja, quando a pessoa estiver executando uma pena que ainda está
sob discussão perante o Poder Judiciário, ou seja, ainda não transitou em julgado a sentença.

Independentemente de ser preso em caráter definitivo ou provisório, a Lei de Execução é


aplicável no que couber.
Para fins da prova prático-profissional, registra-se que os pedidos ao Juiz da Vara de
Execução devem ser elaborados no formato de petições, por exemplo, o apenado pretende
progressão de regime, deverá ser postulado por meio de peticionamento um pedido
fundamentado ao Juiz, através de seu defensor (público ou privado/contratado).

Por fim, em sede de execução penal deverão ser observados todos os direitos e garantias
constitucionais, bem como aqueles previstos em Tratados e Convenções de Direitos Humanos
quando aplicáveis. Neste contexto, enfatiza-se a importância de observar o artigo 5º, inciso LV,
da Constituição Federal/88, que assegura o devido processo legal, exigindo a observância do
contraditório e ampla defesa, também durante a execução penal. Importante, registrar que toda
e qualquer interpretação deve se dar de forma restritiva, assegurando ao máximo a
implementação dos direitos em sede de execução penal, sendo, portanto, vedada a analogia in
mallam partem.

• Finalidade da Lei de Execução Penal


A finalidade da Lei de Execução Penal, nos termos do artigo 1º da Lei de Execução Penal,
está intimamente ligada à ideia de ressocialização, baseada na teoria da prevenção especial
positiva. Além de efetivar as disposições contidas nas decisões penais, objetiva-se proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado ou internado.

Para isso, a Lei de Execução Penal busca viabilizar uma série de institutos para assegurar
o contato com o mundo exterior. Aos condenados à pena de privativa por exemplo: saídas
temporárias, progressão de regime, livramento condicional, entre outros.

Vale destacar que todos os direitos não atingidos pela sentença permanecem inalterados (Art.
3º da LEP), inclusive nos artigos 39 e 41, ambos da Lei de Execução Penal constam listados
alguns deveres e direitos que devem ser observados durante a execução penal.

• Aplicação da Lei de Execução Penal


A Lei de Execução Penal é aplicável a todos que estiverem recolhidos a estabelecimentos
prisionais sujeitos à jurisdição ordinária (Justiça Estadual ou Federal), independentemente da
origem da condenação. Logo, o que se verifica na execução penal é o local de cumprimento de
pena, para determinar o Juízo Competente.
A título de exemplo, se um condenado pela Justiça Federal estiver recolhido num
estabelecimento sujeito à administração Estadual, o Juiz da Vara de Execução Criminal Estadual
será o competente para apreciar os pedidos e acompanhar a execução da pena.

OBSERVAÇÕES:

• Vale destacar que o processo de execução criminal (PEC) tramita junto à Vara de
Execução Criminal da Comarca (VEC), cuja jurisdição pertença o estabelecimento prisional
em que o apenado cumpre pena. Nele constará toda e qualquer informação que gere
alguma modificação na pena ou na sua forma de cumprimento.
• Súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.

• Princípio da Individualização da Pena: art. 5°, inciso XLVI, CF/88 – fase executória
O princípio da individualização da pena na fase da execução manifesta-se incialmente
com a classificação dos condenados segundo seus antecedentes e personalidade (Art. 5º da
LEP). A classificação será feita por uma Comissão Técnica de Classificação (CTC), que
elaborará o programa individualizador da Pena Privativa de Liberdade (PPL)ao condenado ou
preso provisório (Arts. 6 e 7, ambos da LEP).

A Comissão Técnica de Classificação será presidida pelo diretor e composta, no mínimo,


por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social.

Além da classificação, para auxiliar na obtenção de mais elementos para individualização


da pena, o condenado à pena privativa de liberdade em regime fechado será submetido ao
exame criminológico. Ainda, poderão ser submetidos o condenado à pena privativa de liberdade,
em regime semiaberto (Art.8° da LEP).

Frise-se, tais questões ocorrem no início da execução da pena, com a finalidade de


apenas obter mais dados, conhecer a pessoa que está recolhida no sistema penitenciário.
Todavia, convém informar que na maioria das vezes, isso não é cumprido durante a execução
da pena.
ATENÇÃO

Identificação Genética na Execução Penal (Art. 9º- A da LEP): Nova hipótese de falta grave
a recusa em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético.
Leitura Complementar: Recurso Extraordinário 973837 (ver notícia sobre o reconhecimento
da Repercussão Social no RExt:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=319797)

11.2 Detração penal


Conforme o art. 42 do Código Penal:

Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de


prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação
em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.

A partir da alteração legislativa provocada pela Lei nº 12.736/12, tem-se que a detração
penal deverá ser observada, desde logo, na sentença condenatória, conforme previsto no artigo
387 do Código de Processo Penal. Atualmente, a competência do Juiz da VEC é subsidiária, ou
seja, quando não for objeto na sentença, deverá ser observado pelo Juiz da Vara de Execução.
Tal entendimento decorredo artigo 111 da Lei de Execução Penal e do artigo 66, inciso III, alínea
“c”, da Lei de Execução Penal.

Conforme o art. 111 da Lei de Execução Penal:

Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado
da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.

Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao


restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.

A consideração da detração não poderá caracterizar uma conta corrente do indivíduo com
o Estado10.

10
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. DETRAÇÃO. PERÍODO ANTERIOR AO FATO DELITUOSO.
IMPOSSIBILIDADE. 1. É assente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o condenado
Exemplo 1: Pedro comete um crime e permanece preso durante 1 ano, após é absolvido.
Pedro não poderá reaver este período, buscando resgatá-lo.

Exemplo 2: Mário comete um delito de furto simples, na expectativa de não ficar preso,
pois teria direito à detração daquele 1 ano, dito acima, referente a outro delito. Caso seja
condenado, pela prática deste delito, não terá direito à detração anterior, pois geraria uma
contacorrente.

11.3 Regimes Prisionais e Modificação do Regime durante a execução


da pena

Em regra, o regime a ser cumprido vem estabelecido na sentença penal condenatória ou


quando for aplicada a pena em um acórdão pelo Tribunal, pois a fixação do regime inclui uma
das fases da individualização da pena (Art. 59, inciso III, do CP e Art. 110 da LEP). Inclusive,
será estabelecido conforme as regras contidas no artigo 33, §2º e §3º e artigo 59, ambos do
Código Penal.

Entretanto, pode ocorrer de existirem processos distintos, que ainda não iniciaram a
execução da pena, neste caso o resultado da soma das condenações determinará o novo
regime.

Por exemplo: Cross Fox possui uma condenação por um delito de roubo praticado em
Porto Alegre/RS, cuja pena aplicada foi de 5 anos, em regime semiaberto; em comarca distinta,
Caxias do Sul/RS, Cross Fox possui outra condenação à pena de 6 anos, em regime semiaberto.
Nesta situação quando Cross Fox começar a cumprir a pena, o Juiz da Vara de Execução ao
verificar a existência de duas condenações a serem cumpridas, determinará a soma das penas,
no caso totalizará 11 anos, consequentemente o regime prisional será o fechado pelo resultado
apontado.

De outro modo, caso sobrevenha nova condenação durante o cumprimento de uma pena,
a determinação do regime será feita através da soma do restante da pena que está sendo

não faz jus à detração penal quando a conduta delituosa pela qual houve a condenação tenha sido praticada
posteriormente ao crime que acarretou a prisão cautelar. 2. Ordem denegada. (HC 109599, Relator(a): Min.
TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 26/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-048 DIVULG 12-03-
2013 PUBLIC 13-03-2013).
cumprida com a nova condenação, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 111 da Lei de
Execução Penal, vejamos: “Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena
ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime”.

Imagine se Cross Fox estivesse executando uma pena de 10 anos de reclusão e no


momento faltasse 2 anos para terminar, caso sobrevenha nova condenação por outro crime a 8
anos de reclusão, para determinação do novo regime, deverá ser somada a nova condenação
(8 anos) + o restante da pena em execução (2 anos), o total do somatório, no caso 10 anos,
determinará o novo regime, que pela quantidade resultará na imposição de regime fechado.
Destaca-se que nessa situação ocorrerá uma hipótese de regressão de regime (Art. 118, inciso
II, da LEP), que será estudada nos itens seguintes.

Em todas as situações, da mesma forma que ocorre na aplicação da pena, em que o juiz
se socorre da previsão contida no artigo 33, §2º, do Código Penal para a fixação de regime, na
execução penal o resultado da soma deverá ser enquadrado nas regras do artigo 33 do Código
Penal.

11.4 Unificação de Penas

O termo unificação, teoricamente, deveria ser utilizado nos casos em que se evidencia
alguma hipótese de crime continuado (Art. 71 do CP) ou de concurso formal perfeito (Art. 70,
caput, 1ª parte, do CP), pois nesses casos muito embora tenhamos mais de um crime, para fins
de aplicação de pena, considera-se a pena de um deles, se idênticas, ou a mais grave, se
diferentes, e aumenta-se de 1/6 a 2/3 (sistema da exasperação). Em outros termos, pode
transformar diversas penas em uma, por determinação legal.

Destaca-se que caso não tenha sido observada a ocorrência de crime continuado pelo
Juiz da condenação, pois geralmente essas hipóteses são apuradas no mesmo processo, se
isso for constatado na execução da pena, deverá o juiz fazer a unificação da pena, aplicando a
exasperação aqui na fase da execução. Veja o recente julgado exemplificando a questão.

Por fim, fala-se também em unificação de pena, no caso do artigo 75 do Código Penal,
para fins de delimitar o cumprimento da pena em 40 anos, ocasião em que para fins de cálculo
de progressão de regime, livramento condicional permanecerá o total da pena, como orienta a
súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento,
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”.

Chama-se atenção para o fato de que o termo unificação de penas é utilizado de diversas
formas na execução pena, muitas vezes gerando confusão com a hipótese de soma de penas,
pois o artigo 111 da Lei de Execução Penal não traz qualquer conceito a respeito de cada
expressão, somente refere que o regime prisional será fixado pelo resultado da soma ou
unificação das penas.

CONFERIR

AGRAVO EM EXECUÇÃO. UNIFICAÇÃO DE PENAS DECORRENTE DE


CONTINUIDADE DELITIVA. DECISÃO MANTIDA. As práticas delituosas atinentes aos
processos nºs 010/2.13.0002498-1 e 5006934-02.20034047107 aconteceram em
intervalo de tempo inferior a 30 dias (entre 22/01/2013 e 13/02/2013). Ademais, são da
mesma espécie e se perfectibilizaram de maneira muito semelhante, consistindo ambas
em roubo majorado pelo uso de arma de fogo e pelo concurso de pessoas. [...] Decisão
mantida. AGRAVO MINISTERIAL DESPROVIDO. UNÂNIME. (Agravo Nº 70076880152,
Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ícaro Carvalho de Bem Osório,
Julgado em 10/05/2018).
11.5 Regime disciplinar diferenciado: art. 52, LEP

Alterações significativas ocorreram em virtude da aplicação da Lei nº 13.964/19


(Pacote Anticrime)

Redação Anterior Vigência da Lei nº 13.964/19

Art. 52: A prática de fato previsto como Art. 52: A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta
crime doloso constitui falta grave e, grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina
quando ocasione subversão da ordem internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou
ou disciplina internas, sujeita o preso estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
provisório, ou condenado, sem prejuízo diferenciado, com as seguintes características:
da sanção penal, ao regime disciplinar I - duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de
diferenciado, com as seguintes repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie;
características: II - recolhimento em cela individual;
I - duração máxima de trezentos e III - visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem
sessenta dias, sem prejuízo de repetição realizadas em instalações equipadas para impedir o contato
da sanção por nova falta grave de físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso
mesma espécie, até o limite de um sexto de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas)
da pena aplicada; horas;
II - recolhimento em cela individual; IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias
III - visitas semanais de duas pessoas, para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro) presos, desde
sem contar as crianças, com duração de que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
duas horas; V - entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu
IV - o preso terá direito à saída da cela defensor, em instalações equipadas para impedir o contato físico
por 2 horas diárias para banho de sol. e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;
VI - fiscalização do conteúdo da correspondência;
VII - participação em audiências judiciais preferencialmente por
videoconferência, garantindo-se a participação do defensor no
mesmo ambiente do preso.

§ 1º O regime disciplinar diferenciado § 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos
também poderá abrigar presos presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros:
provisórios ou condenados, nacionais ou I - que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do
estrangeiros, que apresentem alto risco estabelecimento penal ou da sociedade;
para a ordem e a segurança do II - sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou
estabelecimento penal ou da sociedade. participação, a qualquer título, em organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, independentemente da
prática de falta grave.

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
disciplinar diferenciado o preso § 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em
provisório ou o condenado sob o qual organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada,
recaiam fundadas suspeitas de ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da
envolvimento ou participação, a Federação, o regime disciplinar diferenciado será
qualquer título, em organizações obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal.
criminosas, quadrilha ou bando. § 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar
diferenciado poderá ser prorrogado sucessivamente, por
períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso:
I - continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança
do estabelecimento penal de origem ou da sociedade; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - mantém os vínculos com organização criminosa, associação
criminosa ou milícia privada, considerados também o perfil
criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a
operação duradoura do grupo, a superveniência de novos
processos criminais e os resultados do tratamento penitenciário.
§ 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar
diferenciado deverá contar com alta segurança interna e externa,
principalmente no que diz respeito à necessidade de se evitar
contato do preso com membros de sua organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais.
§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será
gravada em sistema de áudio ou de áudio e vídeo e, com
autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar
diferenciado, o preso que não receber a visita de que trata o
inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento,
ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da
família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.

Atenção!

A inclusão do preso no Regime Disciplinar Diferenciado, de acordo com o artigo 54 da Lei


de Execução Penal, dependerá de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do
estabelecimento ou outra autoridade administrativa.

A decisão judicial que incluir o preso no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) será
precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de
15 dias, devendo ser fundamentada.

11.6 Progressão de regime

A Lei de Execução Penal adotou o sistema progressivo para o cumprimento da pena, ou


seja, a transferência do regime mais rigoroso para um menos rigoroso mediante a observância
de alguns requisitos, sendo “inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional",
nos termos da Súmula 491 do STJ.

Para fins de progressão de regime, observa-se a pena total, nos termos da Súmula 715
do STF e não o limite máximo de cumprimento da pena, previsto no artigo 75 do Código Penal.

Desta forma, quem estiver executando pena, poderá progredir, ainda que esteja
aguardando definição de recurso (Súmula 716 do STF), bastando o preenchimento do requisito
objetivo (lapso temporal) e subjetivo (bom comportamento), observando as especificidades
referentes à natureza do delito, vejamos:

• Requisitos para Progressão de Regime


O instituto da progressão de regime sofreu profunda alteração com a Lei 13.964/2019.
Vejamos o antigo tratamento legal:

Progressão de Regime Base Legal


Antes da Lei 13.964/2019 anterior à Lei 13.964/2019

Primários e Reincidentes - Crimes Antiga redação do Artigo 112 da Lei


1/6
Comuns 7.210/84
Primários – Crimes Hediondos e
2/5 Equiparados Antiga redação do artigo 2º, §2º, da Lei
Reincidentes – Crimes Hediondos e 8.072/90
3/5
equiparados

A progressão de regime exige o preenchimento de dois requisitos, quais sejam: requisito


subjetivo e objetivo.

Em relação ao requisito subjetivo, foi mantido como requisito para concessão da


progressão o atestado de bom comportamento carcerário emitido pelo Diretor do
estabelecimento prisional, nos termos do artigo 112, § 1º, da LEP. Aliás, o parágrafo 7º do art.
112 da LEP dispõe que o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano da ocorrência do
fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a obtenção do direito.

Entretanto, no tocante ao lapso temporal, previamente estabelecido para o alcance da


progressão ao regime mais brando, o legislador optou por estabelecer uma exigência em
percentual de cumprimento de pena, não mais em formato de fração, excetuando a hipótese da
progressão especial para mulheres do parágrafo 3º do artigo em questão, restando a
seguinte previsão na nova redação:

Progressão de Regime: atual art. 112 da LEP

16% Primário
da pena crime cometido sem violência à pessoa ou grave
ameaça;
20% Reincidente específico
da pena em

25% Primário
da pena crime cometido com violência à pessoa ou grave
ameaça;
30% Reincidente específico
da pena em

40% condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;


da pena

se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte,
50% se for primário, vedado o livramento condicional;
da pena b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

60% se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado


da pena (reincidência específica);

70% se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado


da pena morte, vedado o livramento condicional (reincidência específica).

Somente estarão sujeitos aos novos prazos – que eventualmente trouxerem um


tratamento mais gravoso à progressão de regime – aqueles que praticarem crimes a partir da
data da vigência do Pacote Anticrime (Lei 13.964/19), qual seja, dia 23 de janeiro de 2020.
Neste sentido, sempre que a nova lei trouxer algum benefício ao apenado deverá retroagir, nos
termos do artigo 5º, XL, da CF.

Dentro deste contexto, não se pode olvidar a Súmula 471 do STJ, que assegura a
aplicação do prazo de 1/6 para todos os crimes, inclusive os hediondos e equiparados, desde
que praticados antes do dia 29 de março de 2007, haja vista os efeitos atribuídos ao habeas
corpus n. 82.959-7/SP, julgado pelo Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 2006.

Devemos ficar atentos às lacunas existentes na legislação atual, vejamos:

• Lacuna legislativa – Progressão de Regime nos casos de reincidência em crimes


comuns:
Em relação aos reincidentes não específicos em CRIMES COMUNS a legislação não
trouxe tratamento claro para alguns casos envolvendo apenados reincidentes, caracterizando
uma lacuna, omissão legislativa.

Portanto, quando não houver enquadramento na reincidência específica como a lei


exige, deverá ser adotada uma interpretação mais favorável, atenção aos exemplos:

a) Apenado está cumprindo pena por ROUBO, mas já possui SPCTJ por furto, crime
sem violência, o que fez caracterizar a sua reincidência, porém não específica em crime
com violência, neste caso progredirá incidindo sobre a pena do ROUBO o quantum de 25%
(fração destinada aos primários, pois não podemos equipará-lo ao reincidente específico em
crime com violência e exigir 30% - seria uma interpretação mais gravosa da condição dele).

b) Apenado está cumprindo pena por FURTO (sem violência), porém já possuía
SPCTJ por ROUBO (com violência), neste caso progredirá incidindo sobre a pena de FURTO
o quantum de 20% (neste caso a interpretação não piora a condição do apenado, pois ele é
reincidente em com um crime mais grave, e está sendo tratado como reincidente em crime sem
violência).

• Lacuna legislativa – Progressão de Regime e Crime Hediondo. Reincidente não


específico:
O novo artigo 112, VII, da LEP prevê a aplicação do lapso temporal de 60% para os casos
de delitos hediondos ou equiparados quando reincidentes específicos nestes crimes. Na
legislação anterior não havia esta previsão e a jurisprudência entendia que bastava a
reincidência, não importando se comum ou específica, para permitir a incidência de 3/5 como
lapso temporal para progredir sobre a pena referente ao delito hediondo ou equiparado.
Atualmente, diante da lacuna legislativa se a pessoa tiver sido condenada por um crime
hediondo ou equiparado, e for reincidente em crime comum, deverá ser aplicado 40%, pois a
aplicação de 60% é destinada somente aos reincidentes específicos, resultando aqui uma lacuna
legislativa que conduz a uma situação melhor ao reincidente não específico que possui uma
condenação por crime hediondo ou equiparado.

Por exemplo, condenado por crime de estupro (crime hediondo), que já possui uma
condenação transitada em julgado por um crime de furto (crime comum), neste caso será
aplicado 40% sobre a pena do crime de estupro.

Segue julgado que demonstra o entendimento, vejamos:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. ART. 112, VII, DA LEI DE
EXECUÇÃO PENAL (INCLUÍDO PELA LEI N. 13.964/2019). PACOTE ANTICRIME.
CÁLCULO PRISIONAL. PLEITO PELA APLICAÇÃO DO PERCENTUAL DE 60% (OU 3/5)
DO CUMPRIMENTO DA PENA PARA PROGRESSÃO DE REGIME. RECORRIDO
REINCIDENTE NÃO ESPECÍFICO EM CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. [...]
2. Com efeito, os incisos VII e VIII do art. 112 da LEP, introduzidos pela Lei n. 13.964/2019,
são taxativos e abarcam tão somente a hipótese de reincidência na prática de crime
hediondo ou equiparado. O apenado foi sentenciado por delito hediondo (art. 33, caput,
da Lei n. 11.343/2006), tendo sido reconhecida sua reincidência genérica, decorrente de
condenação anterior pela prática de crime comum (e-STJ fl. 52). Para tal hipótese -
condenado por crime hediondo, mas reincidente em razão da prática de crime comum -,
como bem ponderou o Tribunal a quo (e-STJ fl. 54), inexiste, na novatio legis, percentual
a disciplinar a progressão de regime ora pretendida, sendo certo que os percentuais de
60% (sessenta por cento) e 70% (setenta por cento) foram destinados aos reincidentes
específicos.3. Assim, na espécie, considerando que o apenado, condenado por crime
hediondo (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006), é reincidente em crime comum
(reincidência genérica), conforme se extrai dos presentes autos (e-STJ fl. 52), impõe-
se, ante a omissão legislativa, o uso da analogia in bonam partem, para aplicar o
percentual equivalente ao que é previsto para o primário (art. 112, inciso V, da LEP),
qual seja, o de 40% (quarenta por cento), para fins de cálculo da progressão de
regime prisional, em relação ao crime anterior praticado. 4. Agravo regimental
desprovido. (AgRg no REsp 1918050/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/05/2021, DJe 07/05/2021).

• Informativo n. 681/2020 do STJ: progressão de regime do reincidente não específico em


crime hediondo ou equiparado com resultado morte deve observar 50%.
Execução Penal. Progressão de regime. Crime hediondo. Reincidente não específico.
Requisito objetivo. Lei n. 13.964/2019 (Pacote anticrime). Lacuna na nova redação do art. 112
da LEP. Interpretação in bonam partem.
A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado
com resultado morte deve observar o que previsto no inciso VI, a, do artigo 112 da Lei de
Execução Penal.

No caso condenado por crime hediondo com resultado morte, reincidente não específico,
diante da lacuna na lei, deve ser observado o lapso temporal relativo ao primário. Impõe-
se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a, do referido artigo da Lei de Execução Penal,
exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a progressão de regime.

Tal entendimento foi corroborado no item 2 da Edição 184 da Jurisprudência em Tese do


STJ vejamos:

2) Após a entrada em vigor do Pacote Anticrime, o condenado por crime hediondo ou


equiparado com resultado morte, que seja reincidente genérico, deverá cumprir ao menos
50% da pena para a progressão de regime prisional, pelo uso da analogia in bonam partem.

Observe que no caso do informativo do STJ a situação específica se fosse tratada apenas
com a aplicação da legislação anterior ao Pacote Anticrime resultaria na aplica de 3/5 sobre
a pena do condenado por crime hediondo com resultado morte que fosse reincidente
independente de ser específico ou não (o equivalente a 60%). Neste caso, com resultado
morte, a legislação mais benéfica não foi a que prevê 40% e sim a que aplica 50%. Temos
que pensar um pouquinho mais para entender bem esta questão, mas resta evidente que
entre a legislação antiga que trazia a exigência de 3/5 com a nova que para crimes
hediondos com resultado morte traz 50%, a segunda é melhor.

• Falta grave e Progressão de Regime


O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade
interrompe o prazo para a obtenção da progressão de regime, resultando no reinício da contagem
do requisito objetivo, que terá como base a pena remanescente, nos termos do artigo 112, §6º,
da LEP. Trata-se da incorporação do entendimento jurisprudencial, pois o novel parágrafo
incorporou o teor da Súmula 534 do STJ.
• Progressão de Regime especial para mulheres
Não houve alteração no artigo 112 da Lei de Execução Penal no tocante à progressão de
regime especial para mulheres gestantes ou que forem mães ou responsáveis por criança ou
pessoa com deficiência, prevalecendo a exigência dos seguintes requisitos de forma cumulativa,
que constam no respectivo §3º:

1) não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

2) não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;

3) ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;

4) ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do


estabelecimento;

não ter integrado organização criminosa.

Destaca-se que o cometimento de fato definido como crime doloso ou falta grave,
conforme dispõe a lei, implica na revogação da progressão de regime diferenciada (Art. 112, §4º,
da LEP).

• Tratamento diferenciado para integrantes de organização criminosa – reconhecidos


expressamente em sentença – Art. 2º, § 9º, da Lei n° 12.850/2013
Atualmente, com o Pacote Anticrime em vigência (Lei 13.964/2019), foi introduzida na
legislação uma norma que assegura a vedação da progressão de regime ou do livramento
condicional, bem como de outros benefícios, para os casos de integrante de organização
criminosa, expressamente reconhecido em sentença, ou de condenado por crime praticado por
meio de organização criminosa, quando houver elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo, conforme consta no artigo 2º, §9º, da Lei nº 12.850/2013.

• Progressão para o regime aberto


Frise-se, a progressão para o regime aberto possui algumas condições específicas,
previstas nos artigos 114 e 115, ambos da Lei de Execução Penal, como por exemplo, estar
trabalhando ou possuir condições de trabalhar imediatamente. Neste caso, convém reforçar que
a inexistência, por exemplo, de vaga para trabalho, não autoriza o juiz a suprir essa condição
impondo uma pena restritiva de direito como a prestação de serviços à comunidade, pois
caracterizaria uma afronta à legalidade. Inclusive, há vedação expressa na Súmula 493 do STJ,
matéria já cobrada no exame da OAB.

• Exame Criminológico e Progressão de Regime


No tocante ao exame criminológico, até 2003 era obrigatória a realização para que se
alcançasse a progressão de regime, mas com a redação dada ao artigo 112 da Lei de Execução
Penal, pela Lei nº 10.792/03, foi retirada a obrigatoriedade.

Entretanto, é possível que o Juiz exija a realização do exame, desde que em decisão
motivada, nos termos da Súmula 439 do STJ e Súmula Vinculante nº 26 do STF, parte final, pois
o início desta súmula está prejudicado pela alteração legislativa que permite a progressão de
regime para esses delitos.

• Progressão de regime e crimes contra administração pública


Nos casos de condenados por crimes contra a administração pública, aplica-se, como
requisito para progressão, além do tempo e do comportamento, a reparação do prejuízo gerado
ao erário, conforme dispõe o artigo 33, §4º, do Código Penal.

11.7 Exame criminológico

Há entendimento sumulado sobre progressão de regime e a exigência de exame


criminológico no STF e STJ.

Os Tribunais Superiores têm entendido que, muito embora a nova redação do artigo 112
da Lei de Execução Penal tenha excluído a exigência de realização de exame criminológico para
obtenção de progressão de regime, não caracteriza constrangimento ilegal a submissão do
apenado à realização de exame, desde que devidamente fundamentada a necessidade pelo Juiz
da Vara de Execução Criminal. Neste sentido, temos as seguintes súmulas:

• Súmula Vinculante nº 26 do STF: Para efeito de progressão de regime no cumprimento


de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei nº 8.072/90, sem prejuízo de avaliar se o condenado
preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal
fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
• Súmula 439 do STJ: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso,
desde que em decisão motivada.

Falta grave e Progressão de Regime

• Súmula 534 do STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a
progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa
infração.

11.8 Regressão de Regime: art. 118, LEP

A execução da pena está sujeita a forma regressiva quando o apenado praticar fato
definido como crime doloso ou falta grave (Art. 50 e 51, ambos da LEP).

Nesse caso, antes da regressão de regime deverá ser ouvido, previamente, o apenado
(Art. 118, § 2°, da LEP) audiência de justificativa, sob pena de nulidade. A regressão em caráter
definitivo, está prevista no artigo 118, inciso I, da Lei de Execução Penal exige a oitiva prévia. O
entendimento jurisprudência que afasta a oitiva refere-se à regressão cautelar.

Inclusive, atualmente, a Súmula 533 do STJ que exigia a instauração de PAD


(Procedimento Administrativo Disciplinar) para o reconhecimento de falta disciplinar está
prejudicada pelo seguinte entendimento:

HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO.


EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR - PAD. NULIDADE. OITIVA JUDICIAL DO SENTENCIADO SOB DEFESA
REGULAR. TEMA DE RECURSO REPETITIVO NO STF - RE 972.598/RS.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
I [...]
II O col. Supremo Tribunal Federal já enfrentou a matéria aqui posta, em sede de recurso
repetitivo representativo da controvérsia, no RE n. 972.598/RS, assentando a seguinte
tese: A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação
realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio
Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou
insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave
durante o cumprimento da pena? (RE n. 972.598, Tribunal Pleno, Rel. Min. Roberto
Barroso, DJe de 06/08/2020).
III- No mais, "Para afastar a conclusão do acórdão, absolver o agravado ou desclassificar
sua conduta, seria necessário reexaminar fatos e provas, providência incabível na via do
habeas corpus, de cognição limitada" (AgRg no HC n. 414.750/SP, Sexta Turma, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, DJe de 1º/08/2018). Habeas corpus não conhecido. (HC
620.019/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 09/12/2020, DJe
15/12/2020).

Em relação à exigência de sentença transitada em julgado para o reconhecimento da falta


grave pela prática de crime doloso, há entendimento sumulado vejamos:

Súmula 526 do STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato


definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de
sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração do fato.

As faltas graves estão descritas no artigo 50, 51 e 52 (primeira parte), todos da Lei de
Execução Penal. O Pacote Anticrime introduziu uma nova hipótese de falta grave a recusa em
submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético (Art. 50, inciso VIII, da LEP):

• quando o apenado sofrer condenação, por crime anterior, cuja soma da pena restante com a
nova condenação torne impossível a manutenção do regime (Art.111).
• nos casos de violação com os deveres do monitoramento eletrônico, quando o Juiz da
Execução adotar essa opção, artigo 146, alínea “c”, parágrafo único, da Lei de Execução Penal.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: posicionamento jurisprudencial retirado


do site do Superior Tribunal de Justiça:

(STJ - jurisprudência) Diante da inexistência de legislação específica quanto ao prazo


prescricional para apuração de falta grave, deve ser adotado o menor lapso prescricional
previsto no art. 109 do CP, ou seja, o de 3 anos para fatos ocorridos após a alteração dada
pela Lei n. 12.234, de 5 de maio de 2010, ou o de 2 anos se a falta tiver ocorrido até essa
data. Precedentes: AgRg nos EDcl no REsp 1248357/MS, Rel. Ministra REGINA HELENA
COSTA, QUINTA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 25/11/2013; AgRg no REsp
1414267/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
05/11/2013, DJe 25/11/2013;

A jurisprudência tem admitido a chamada regressão cautelar, que dispensa a oitiva prévia
do apenado (Art. 118, §2º, LEP), passando a exigir audiência somente nos casos de regressão
definitiva.
11.9 Prisão domiciliar: art. 117, LEP

Para cumprir a pena em residência particular o preso deverá estar em regime aberto e se
enquadrar em uma das quatro hipóteses do artigo 117 da Lei de Execução Penal, quais sejam:

• condenado maior de setenta anos;


• condenado acometido de doença grave;
• condenada com filho menor ou deficiente físico ou metal;
• condenada gestante.
Atentar para a Súmula Vinculante nº 56 do STF, vejamos: “A falta de estabelecimento
penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso,
devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE641.320/RS.

Precedente representativo da Súmula Vinculante nº 56 do STF:

"3. Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos


regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis
estabelecimentos que não se qualifiquem como 'colônia agrícola, industrial' (regime semiaberto)
ou 'casa de albergado ou estabelecimento adequado' (regime aberto) (art.33, §1º, alíneas "b" e
"c"). No entanto, não deverá haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e
aberto com presos do regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados:
(i) a saída antecipa da de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao
sentenciado que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas
propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado." (RE 641320, Relator Ministro
Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento em 11.5.2016, DJe de8.8.2016).

11.10 Remição de pena: hipóteses legais

A remição é o computo do período trabalhado ou estudado com o tem pode pena


cumprida, nos termos do artigo 128 da Lei de Execução Penal.

É possível remir tanto pelo trabalho como pelo estudo, inclusive, cumulando as duas
possibilidades.
Todavia, é importante se ater nas regras contidas nos artigos 126 e seguintes da Lei de
Execução Penal.

Por exemplo, remição por trabalho, somente nos casos de regime fechado e semiaberto,
a Lei de Execução Penal omitiu a possibilidade de remição no caso de regime aberto. Os
Tribunais superiores entendem que como não há previsão legal e o trabalho é requisito para
ingressar no regime aberto, não há direito a remição neste caso.

Já a remição por estudo, é possível em todos os regimes prisionais, inclusive, na última


etapa do cumprimento de pena, ou seja, quando o apenado estiver em livramento condicional.

• Trabalho prisional
Espécies de Trabalho Prisional:

a) Serviço interno: qualquer regime poderá trabalhar internamente e a qualquer momento,


desde que existam vagas.

b) Serviço externo:

Em relação ao serviço externo, é importante observar que o artigo 37 da Lei de Execução


Penal atribui ao Diretor do Estabelecimento Prisional a concessão da autorização. Todavia, é
importante registrar que há forte posicionamento doutrinário e deu so prático no cotidiano forense
de que o trabalho prisional no âmbito externo deverá ser autorizado pelo Juiz da VEC (Neste
sentido: Sídio Rosa de Mesquita Júnior, Norberto Avena, entre outros).

11.11 Permissão de saída e saída temporária

Podem obter permissão de saída, os apenados que cumprem pena em regime fechado,
semiaberto e provisórios, mediante escolta, em duas hipóteses:

• falecimento ou doença grave CCADI (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente


ou irmão);
• necessidade de tratamento médico.
Já a saída temporária, sem vigilância, poderá ser concedida a pena dos que cumprem
pena em regime semiaberto.
Vale destacar que foi introduzida em 2010 a possibilidade da utilização de monitoramento
eletrônico, no artigo 122, parágrafo único, da Lei de Execução Penal (redação dada pela Lei nº
12.258/10).

Em outras palavras, a ausência de vigilância direta não impede que o juiz determine a
monitoração eletrônica. Constitui uma faculdade do Juiz, não uma obrigação legal.

Para obtenção da saída temporária, os apenados em regime aberto, deverão preencher


os seguintes requisitos:

• comportamento adequado;
• cumprimento mínimo de 1/6 para apenado primário e de, no mínimo, ¼ para reincidentes;
• compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
O período de duração conforme a lei não poderá ser superior a 7 dias, podendo ser
renovadas por mais 4 vezes, logo faz jus a 35 dias de saída. Com intervalo de 45 dias entre as
saídas. Quando se tratar de saída para fins de estudo o tempo será o necessário para a
realização das atividades discentes.

A Lei nº 12.258/10 também inovou ao estabelecer que o juiz imporá condições ao


apenado, para obtenção das saídas temporárias, permitindo que além das previstas em lei outras
poderão ser estabelecidas, vejamos a nova redação do §1º do artigo 124 da Lei de Execução
Penal:

Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições,


entre outras que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do
condenado:

I - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser
encontrado durante o gozo do benefício;
II - recolhimento à residência visitada, no período noturno;
III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.

O Pacote Anticrime inseriu o § 2º, no artigo 122 da Lei de Execução Penal e dispõe que
não terá direito à saída temporária o condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo
com resultado morte. Infere-se que a lei foi restritiva ao impedir o instituto aos delitos hediondos,
ou seja, aqueles previstos no artigo 1º da Lei nº 8.072/90.
Súmula 520 do STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato
jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.

11.12 Monitoração eletrônica


O monitoramento eletrônico é uma faculdade judicial, pois, de acordo com a lei, poderá
ser definido pelo juiz nos casos definidos em lei, desde que seja necessário.
A lei admite a monitoração eletrônica em duas situações: prisão domiciliar e saída
temporária no regime semiaberto.
O instituto está previsto a partir do artigo 146 – B da Lei de Execução Penal.
A edição em tese de jurisprudência, n. 146, do Superior Tribunal de Justiça traz algumas
decisões envolvendo o monitoramento eletrônico, por exemplo: A inobservância do perímetro
estabelecido para monitoramento de tornozeleira eletrônica configura falta disciplinar de
natureza grave, nos termos dos art. 50, VI, e art. 39, V, da LEP.

11.13 Questões sobre Lei de Execução Penal

41) QUESTÃO 2 – XVIII EXAME


No dia 10 de fevereiro de 2012, João foi condenado pela prática do delito de quadrilha armada,
previsto no Art. 288, parágrafo único, do Código Penal. Considerando as particularidades do
caso concreto, sua pena foi fixada no máximo de 06 anos de reclusão, eis que duplicada a pena
base por força da quadrilha ser armada. A decisão transitou em julgado. Enquanto cumpria pena,
entrou em vigor a Lei nº 12.850/2013, que alterou o artigo pelo qual João fora condenado. Apesar
da sanção em abstrato, excluídas as causas de aumento, ter permanecido a mesma (reclusão,
de 1 (um) a 3 (três) anos), o aumento de pena pelo fato da associação ser armada passou a ser
de até a metade e não mais do dobro. Procurado pela família de João, responda aos itens a
seguir.
A) O que a defesa técnica poderia requerer em favor dele? (Valor: 0,65)
B) Qual o juízo competente para a formulação desse requerimento? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
42) QUESTÃO 2 – XVI EXAME
No dia 03/05/2008, Luan foi condenado à pena privativa de liberdade de 12 anos de reclusão
pela prática dos crimes previstos nos artigos 213 e 214 do Código Penal, na forma do Art. 69 do
mesmo diploma legal, pois, no dia 11/07/2007, por volta das 19h, constrangeu Carla, mediante
grave ameaça, a com ele praticar conjunção carnal e ato libidinoso diverso. Ainda cumprindo
pena em razão dessa sentença condenatória, Luan, conversando com outro preso, veio a saber
que ele havia sido condenado por fatos extremamente semelhantes a uma pena de 07 anos de
reclusão. Luan, então, pergunta o nome do advogado do colega de cela, que lhe fornece a
informação. Luan entra em contato pelo telefone indicado e pergunta se algo pode ser feito para
reduzir sua pena, apesar de sua decisão ter transitado em julgado. Diante dessa situação,
responda aos itens a seguir.
A) Qual a tese de direito material que poderia ser suscitada pelo novo advogado em favor
de Luan? (Valor: 0,65)
B) A pretensão deverá ser manejada perante qual órgão? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

43) QUESTÃO 3 – XXXII EXAME


O apenado Fabrício cumpria pena pela prática do delito de extorsão simples, tendo requerido,
por meio de advogado, a extinção da punibilidade por satisfazer os requisitos, objetivos e
subjetivos, previstos no Decreto Presidencial de Indulto, publicado no ano de 2018 (requisito
objetivo temporal e requisito subjetivo de não possuir falta grave nos últimos 12 meses anteriores
ao decreto).
Enquanto aguardava o deferimento do benefício requerido, no dia 02 de março de 2019, ocorreu
uma rebelião na galeria em que se encontrava. O diretor do presídio, em procedimento disciplinar
próprio, no qual foi garantida a ampla defesa e o contraditório, não conseguindo identificar
aqueles que efetivamente participaram da rebelião, reconheceu que todos os apenados daquela
galeria praticaram falta grave.
Ao tomar conhecimento dessa punição disciplinar, o juiz da execução indeferiu o pedido de
indulto por ausência do requisito subjetivo. Ultrapassado o prazo recursal por desídia da defesa,
novo advogado contratado pela família impetrou habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça, na
busca da extinção da punibilidade. A ordem foi denegada pelo Tribunal.
Considerando a situação fática apresentada, na condição de novo advogado contratado, ao ser
intimado da decisão que denegou a ordem, responda aos itens a seguir.
A) Qual o recurso a ser apresentado pela defesa para combater a decisão do Tribunal de
Justiça que denegou a ordem no habeas corpus impetrado em favor do apenado Fabrício?
Justifique. (Valor: 0,60)
B) Na busca da concessão do indulto e, consequentemente, da extinção da punibilidade,
quais argumentos jurídicos poderão ser apresentados? Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

44) QUESTÃO 3 – 36º EXAME


Marcelo, condenado em regime semiaberto, formulou, por meio de sua defesa técnica, pedido
de remição de penas em razão de trabalho realizado no curso da execução, o qual é executado
mediante supervisão de seu empregador e com autorização do Juiz da Vara de Execuções
Penais. O Juízo, contudo, indeferiu o pedido, sob o argumento de que Marcelo está em prisão
domiciliar, ante a ausência de vagas do regime semiaberto do Estado. Assim, por analogia com
o regime aberto, Marcelo não pode usufruir da remição por trabalho, indeferindo o pedido. A
defesa interpôs Agravo em Execução no prazo de cinco dias da intimação da decisão, o qual foi
inadmitido, sob o fundamento de não estar acompanhado das razões respectivas.
Na qualidade de advogado de Marcelo, responda às perguntas a seguir.
A) Qual o recurso cabível contra a decisão do Juiz que inadmitiu o recurso interposto?
Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual o direito material a ser pleiteado por Marcelo? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou
transcrição do dispositivo legal não pontua.
Livramento condicional

Aula prevista para ocorrer ao vivo no dia 11/04/2023.

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

O livramento condicional como o próprio nome permite concluir é a liberdade mediante


condições. Trata-se da última etapa do cumprimento de pena, não se confundido com progressão
de regime, pois o livramento condicional não integra o sistema progressivo.

O instituto é regulado pelos artigos 83 a 90, todos do Código Penal e artigos 131 a 146,
todos da Lei de Execução Penal, a análise é conjunta dos dois dispositivos legais.

Nesta hipótese, o apenado é liberado do estabelecimento prisional, ficando submetido as


condições previstas no artigo 132 da Lei de Execução Penal, condições obrigatórias e condições
facultativas, que dependerão de cada caso.

Os requisitos a serem preenchidos estão expostos no artigo 83 do Código Penal.

Importante destacar que o lapso temporal exigido para fins de preenchimento do requisito
objetivo não é interrompido pela prática de falta grave, nos termos da súmula 441 do STJ: “A
falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional”.

12.1 Requisitos
Os requisitos do livramento condicional, de ordem objetiva e subjetiva, encontram-se no
artigo 83 do Código Penal.

• Requisitos objetivos:
a) Natureza e quantidade da pena: art. 83, caput, CP:
Tal como ocorre com a suspensão condicional, somente a pena privativa de liberdade
pode ser objeto do livramento condicional. Esse instituto poderá ser concedido à pena privativa
de liberdade igual ou superior a dois anos (Art. 83 do CP). A soma das penas é permitida para
atingir esse limite mínimo, mesmo que tenham sido aplicadas em processos distintos.

b) Cumprimento de parte da pena: art. 83, incisos I, II e IV, CP:

Nos termos do artigo 83, incisos I e II, do Código Penal, o criminoso primário deve cumprir
mais de 1/3 da pena privativa de liberdade.

Assim também o reincidente, desde que não o seja em crime doloso. Para tanto, é
necessário que apresentem bons antecedentes.

Quando o condenado é reincidente em crime doloso, deve cumprir mais da metade da


pena. Por ausência de previsão legal, o agente primário portador de maus antecedentes deverá
cumprir 1/3 para o livramento condicional, já que o inciso restringe somente à hipótese de
reincidente em crime doloso (não é possível analogia in malam partem).

Tratando-se de condenado por prática de tortura, crime hediondo, tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, desde que não seja reincidente
específico em tais delitos, deve cumprir mais de 2/3 da pena (Art. 83, inciso V, do CP). Assim,
sendo reincidente específico não é admissível o livramento condicional. Há reincidência
específica, para efeito da disposição, quando o sujeito, já tendo sido condenado por qualquer
dos delitos hediondos ou demais por sentença transitada em julgado, vem novamente a cometer
um deles.

O Pacote Anticrime trouxe uma nova vedação para o livramento condicional no caso de
crimes hediondos ou equiparado com resultado morte não terá direito ao livramento condicional
(Art. 112, LEP). Registra-se que a restrição somente será aplicada para quem praticar delitos
desta natureza a partir da vigência do pacote. Do contrário estaríamos violando o artigo 5º, inciso
XL, da CF/88.

Há também a previsão do artigo 2º, §9º, da Lei nº 12.850/13 que em caso de manutenção
de vínculos com organização criminosa reconhecida expressamente na sentença como
integrante, não terá direito ao livramento condicional.
O artigo 84 do Código Penal reza que “as penas que correspondem a infrações diversas
devem somar-se para efeito do livramento”.

ATENÇÃO

Artigo 44 da Lei nº 11.343/06: Prazo para Livramento condicional – Associação ao Tráfico


não é delito equiparado a crime hediondo, porém conforme a lei de drogas o prazo para
obtenção de livramento condicional é de mais de 2/3.

• Requisitos subjetivos:
Os requisitos subjetivos estão no artigo 83, incisos III e IV, sendo exigido o bom
comportamento carcerário atestado pelo diretor, por força do artigo 112, §1º, da Lei de Execução
Penal. Ressalta-se que com o pacote anticrime foi inserida a exigência de ausência de prática
de falta grave nos últimos 12 meses.

Requisitos do livramento condicional

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de


liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:

III – comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;

IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;

O exame criminológico poderá ser exigido, desde que devidamente fundamentada a


decisão que o determina (Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas
peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”).

No tocante ao requisito previsto no art. 83, III, b, do CP o STJ tem entendimento que se
trata de “pressuposto objetivo para a concessão de livramento condicional, e não limita a
valoração do requisito subjetivo, inclusive quanto a fatos anteriores à vigência do Pacote
Anticrime, de forma que somente haverá fundamento inválido quando consideradas faltas
disciplinares muito antigas” (Jurisprudência em Tese n. 184 – item 3).
12.2 Hipóteses de revogação do Livramento Condicional

O livramento condicional poderá ser revogado por imposição legal ou por faculdade
judicial. Assim sendo, são duas hipóteses: a) revogação obrigatória; e b) revogação facultativa.

a) Revogação Obrigatória (Artigo 86 do CP): Ocorre quando o liberado vem a ser


condenado irrecorrivelmente à pena privativa de liberdade por crime praticado antes ou durante
o livramento condicional.

b) Revogação Facultativa (Art. 87 do CP): O juiz poderá revogar o livramento condicional


se o liberado descumprir as condições do artigo 132 da Lei de Execução Penal ou vier a ser
condenado irrecorrivelmente por contravenção penal ou por crime cuja pena não seja privativa
de liberdade.

Os efeitos da revogação dependerão se o motivo ocorreu antes ou durante o período de


provas, ou seja, o período do livramento condicional, conforme os artigos 88 do Código Penal e
artigos 141 e 142, ambos da Lei de Execução Penal.

Frise-se: nos casos de revogação obrigatória em razão da superveniência de sentença


penal condenatória irrecorrível por crime praticado durante o livramento condicional, a revogação
resulta na perda do período de provas e na perda do direito ao livramento condicional em relação
à condenação em que violou as regras da liberdade condicional. Caso o crime que gerou a
sentença irrecorrível tenha sido praticado antes do livramento condicional, computa-se na pena
o período de prova, período que esteve livre, podendo ser concedido novo livramento com a
soma das condenações.

12.3 Suspensão do Livramento Condicional

Conforme consta expresso no artigo 86 do Código Penal, somente revoga-se o livramento


condicional se sobrevier sentença penal condenatória transitada em julgado por crime durante o
período de prova, logo atente-se ao fato de ocorrer a suposta prática de crime durante a liberdade
condicional. Neste caso, não poderá haver revogação, e sim a suspensão do livramento, nos
termos do artigo 145 da Lei de Execução Penal.
A decisão sobre a revogação em si, bem como seus efeitos, ficará sujeita ao trânsito em
julgado referente ao novo fato.

• Extinção do Livramento Condicional


O cumprimento do período de prova sem que haja a revogação resulta na extinção da
pena, nos termos do artigo 90 do Código Penal.

Em 2018, foi publicada a Súmula 617 do STJ que refere: “A ausência de suspensão ou
revogação do livramento condicional antes do término do período de prova enseja a extinção da
punibilidade pelo integral cumprimento da pena”.

12.4 Incidentes da Execução Penal

• Conversão da Pena Privativa de Liberdade (PRD) em Pena Restritiva de Direito (PRD):


PPL não superior a dois anos; condenado em regime aberto; cumprido pelo menos ¼;
antecedentes e personalidade indiquem (artigo 180 da LEP).
• Conversão da PRD em PPL (artigo 181 da LEP): ocorrerá na forma do artigo 45 do CP.
• Conversão da Pena Privativa de Liberdade em Medida de Segurança (artigo 183 da LEP)
• Desvio ou Excesso de Execução (artigo 185 da LEP)

12.5 Anistia, Graça, Indulto

São institutos que extinguem a punibilidade, conforme o artigo 107, inciso II, do Código
Penal.

A anistia “é a declaração pelo Poder Público de que determinados fatos se tornam


impuníveis por motivo de utilidade social. O instituto volta-se a fatos, e não a pessoas. Pode
ocorrer antes da condenação definitiva–anistia própria–ou após o trânsito em julgado da
condenação– anistia imprópria. Tem a força de extinguir a ação e a condenação.
Primordialmente, destina-se a crimes políticos, embora nada impeça a sua concessão a crimes
comuns.” A anistia somente é concedida através de lei editada pelo Congresso Nacional.

A graça, por sua vez, é “a clemência destinada a uma pessoa determinada, não dizendo
respeito a fatos criminosos. Trata-se de um perdão concedido pelo Presidente da República,
dentro de sua avaliação discricionária, não sujeita a qualquer recurso, deve ser usada com
parcimônia. É uma medida de caráter excepcional, destinada a premiar atos meritórios
extraordinários praticados pelo sentenciado no cumprimento de sua reprimenda ou ainda atender
condições pessoais de natureza especial, bem como a corrigir equívocos na aplicação da pena
ou eventuais erros judiciários.” É concedida mediante análise do caso individual.

De acordo com o artigo 5°, inciso XLIII, não é permitida nem a graça nem a anistia para
delitos considerados hediondos.

Por fim, o indulto também é uma causa extintiva da punibilidade, no entanto é concedido
de forma coletiva, ou seja, tornou-se comum ao final de cada ano a publicação de um Decreto
concedendo Indulto para todos aqueles que preencherem determinadas condições.

No ano de 2007, foi publicado no dia 11 de dezembro o Decreto nº 6.294/07.

Assim sendo, qualquer preso que preencher as condições passará a ter direito ao indulto,
devendo ser apenas declarado pelo Juiz da Vara de Execuções.

Destaca-se que no mesmo Decreto há previsão legal para a concessão de Comutação de


Pena, porém esta não se confunde com o Indulto, pois não se trata de extinção da punibilidade,
mas sim um abatimento da pena, desde que haja o preenchimento dos requisitos (ver artigos
2°e 4°do Decreto em anexo–somente para exemplificar, pois o Decreto não poderá ser objeto de
questionamento na prova).

12.6 Aspectos gerais relacionados à execução da medida de segurança

• Espécies
a) Internação e tratamento ambulatorial (Art. 96 do CP): prazo máximo de cumprimento da
Medida de Segurança – Súmula 527 do STJ: “O tempo de duração da medida de segurança não
deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado”.

b) Conversão da Pena Privativa de Liberdade em Medida de Segurança – artigo 183 da LEP.

c) Agravo em Execução em Medida de Segurança – Em relação ao agravo em execução quando


interposto de decisão envolvendo Medida de Segurança, é importante atenção ao fato de que a
liberação ou desinternação da pessoa somente ocorrerá após a decisão transitar em julgado.
Portanto, ainda que o juiz da Vara de Execução profira uma decisão no sentido de desinternação,
caso o Ministério Público interponha o recurso de Agravo em Execução, somente após o
julgamento e o trânsito em julgado da decisão confirmando a desinternação que a decisão será
implementada. Por tal razão, por força do artigo 179 da LEP, sustenta-se que nesses casos o
agravo produzirá o efeito de suspender a decisão impugnada, produzindo o chamado efeito
suspensivo.

• Jurisprudência selecionada sobre execução penal:


Seguem algumas decisões sobre execução penal para reforçar o estudo.

Conversão de Pena Restritiva de Direito em Pena Privativa de Liberdade –


Incompatibilidade de cumprimento simultâneo:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL.


SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CONDENAÇÃO À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
CONVERSÃO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS EM PRIVATIVA DE LIBERDADE.
POSSIBILIDADE. INCOMPATIBILIDADE COM CUMPRIMENTO DA PENA
ALTERNATIVA ANTERIORMENTE IMPOSTA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Para a caracterização do crime de associação para o tráfico é necessário o dolo de se
associar com estabilidade e permanência.
2. A jurisprudência deste Tribunal Superior firmou-se no sentido de que, no caso de nova
condenação a penas restritivas de direito a quem esteja cumprindo pena privativa de
liberdade em regime fechado ou semiaberto, é inviável a suspensão do cumprimento
daquelas - ou a execução simultânea das penas. Nesses casos, as penas restritivas de
direito devem ser convertidas em sanção privativa de liberdade, unificando-se as
reprimendas, nos termos dos arts. 181 e 111 da Lei de Execução Penal, respectivamente,
não sendo aplicável o art. 76 do Código Penal (ut, HC 400.480/RS, Rei. Ministro FELIX
FISCHER, Quinta Turma, DJe 21/9/2017).
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 1880437/SE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 10/08/2021, DJe 16/08/2021).

Saída Temporária Informativo 590 – STJ:


DIREITO PROCESSUAL PENAL. PRAZO MÍNIMO ENTRE SAÍDAS TEMPORÁRIAS.
RECURSO REPETITIVO. TEMA 445.As autorizações de saída temporária para visita à
família e para participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social,
se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de
intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta
duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não
se exige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP.
Conversão da Medida de Segurança em Pena:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO. SUPERVENIÊNCIA
DE DOENÇA MENTAL. CONVERSÃO DE PENA
PRIVATIVADELIBERDADEEMMEDIDADESEGURANÇA.INTERNAÇÃO.
MANUTENÇÃO. TEMPO DE CUMPRIMENTO DA PENA EXTRAPOLADO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA.
1. Em se tratando de medida de segurança aplicada em substituição à pena corporal,
prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal, sua duração está adstrita ao tempo que
resta para o cumprimento da pena privativa de liberdade estabelecida na sentença
condenatória. Precedentes desta Corte.
2. Ordem concedida. (HC 373.405/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 21/10/2016).

Mandado de Segurança e efeito suspensivo no Agravo:


EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. MANDADO DE
SEGURANÇA IMPETRADO PELO PARQUET ESTADUAL, COM O FITO DE ATRIBUIR
EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO EM EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL.ILEGITIMIDADE ATIVA. AGRAVO DESPROVIDO.
I - "O manejo do mandado de segurança como sucedâneo recursal, notadamente
com o fito de obter medida não prevista em lei, revela-se de todo inviável, sendo, ademais,
impossível falar em direito líquido e certo na ação mandamental quando a pretensão
carece de amparo legal" (HC n. 368.491/SC, Quinta Turma, Rel.Min.Joel Ilan Pacionik,
DJe de 14/10/2016).
II - Não cabe mandado de segurança com o escopo de dar efeito suspensivo ao
agravo em execução. Ora, nos termos do art. 197 daLEP ("Das decisões proferidas pelo
juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo"), o recurso de agravo em execução
não comporta efeito suspensivo, salvo no caso de decisão que determina a desinternação
ou liberação de quem cumpre medida de segurança(precedentes).
Agravo regimental desprovido. (AgRgnoHC380.419/SP, Rel.Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 28/03/2017, DJe 25/04/2017).

Associação ao tráfico não hediondo:


HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. CRIME
NÃO CONSIDERADO HEDIONDO OU EQUIPARADO. BENEFÍCIOS. REQUISITO
OBJETIVO. PROGRESSÃO DE REGIME E LIVRAMENTO CONDICIONAL. LAPSOS
TEMPORAIS DISTINTOS. CUMPRIMENTO DE 1/6 (UM SEXTO) NO CASO DE
PROGRESSÃO E DE 2/3 (DOIS TERÇOS) PARA O LIVRAMENTO, VEDADA A SUA
CONCESSÃO AO REINCIDENTE ESPECÍFICO. ARTS. 112 DA LEI DE EXECUÇÃO
PENAL E 44 DA LEI N. 11.343/2006. CONSTRANGIMENTO jurisprudência pacífica do
Superior Tribunal de Justiça reconhece que o crime de associação para o tráfico de
entorpecentes (art. 35 da Lei n. 11.343/2006) não figura no rol taxativo de delitos
hediondos ou a eles equiparados, tendo em vista que não se encontra expressamente
previsto no rol taxativo do art. 2º da Lei n. 8.072/1990.
2. Não se tratando de crime hediondo, não se exige, para fins de
concessão de benefício da progressão de regime, o cumprimento de 2/5da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5, se reincidente para a progressão do regime prisional,
sujeitando-se ele, apenas ao lapso de 1/6 para preenchimento do requisito objetivo.
3. No entanto, a despeito de não ser considerado hediondo, o
crime de associação para o tráfico, no que se refere à concessão
do livramento condicional, deve, em razão do princípio da especialidade, observar a regra
estabelecida pelo art. 44, parágrafo único, da Lei n. 11.343/2006, ou seja, exigir que o
cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena, vedada a sua concessão ao reincidente
específico.
4. Ordem concedida para afastar a natureza hedionda do crime de associação para o
tráfico e determinar que o Juízo da Vara das Execuções Criminais da Comarca de São
José do Rio Preto/SP proceda a novo cálculo da pena, considerando, para fins de
progressão de regime e de livramento condicional, respectivamente, as frações de 1/6 (um
sexto) e 2/3 (dois terços).
(HC 394.327/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 13/06/2017, DJe 23/06/2017).

Exame criminológico e fundamentação:


AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO
DE REGIME. EXAME CRIMINOLÓGICO. FACULDADE DO JUIZ, MEDIANTE DECISÃO
DEVIDAMENTE MOTIVADA. IMPOSIÇÃO PELO TRIBUNAL SEM FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
1. Sem razão o regimental, pois a decisão recorrida está de acordo com entendimento
jurisprudencial desta Corte Superior, uma vez que a gravidade abstrata, a longa pena a
cumprir e a reincidência não constituem fundamentos idôneos a justificar a necessidade
de realização de exame criminológico. Precedentes.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no HC 665.874/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 08/06/2021, DJe 16/06/2021).

Regressão cautelar:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE.
REGRESSÃO CAUTELAR AO REGIME PRISIONAL FECHADO. POSSIBILIDADE.
RECURSO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de ser possível a regressão cautelar,
inclusive ao regime prisional mais gravoso, diante da prática de infração disciplinar no
curso do resgate da reprimenda, sendo desnecessária até mesmo a realização de
audiência de justificação para oitiva do apenado, exigência que se torna imprescindível
somente para a regressão definitiva. Precedentes. Recurso ordinário em habeas corpus
desprovido.
(RHC 81.352/MA, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
18/04/2017, DJe 28/04/2017).
Monitoramento eletrônico:
Informativo nº 0597 Processo HC 351.273-CE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade,
julgado em 2/2/2017, DJe 9/2/2017.
Monitoramento eletrônico mediante uso de tornozeleira. Pedido de retirada do
equipamento por desnecessidade. Indeferimento pelo juízo das execuções sem
fundamento concreto. Constrangimento ilegal evidenciado.
Destaque: A manutenção de monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica sem
fundamentação concreta evidencia constrangimento ilegal ao apenado.
Destaque: A não observância do perímetro estabelecido para monitoramento de
tornozeleira eletrônica configura mero descumprimento de condição obrigatória que
autoriza a aplicação de sanção disciplinar, mas não configura, mesmo em tese, a prática
de falta grave.

Prisão domiciliar:
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. NÃO CONHECIMENTO. PRISÃO DOMICILIAR ANTEA INEXISTÊNCIA DE
VAGA NO ESTABELECIMENTO COMPATÍVEL COM OREGIME IMPOSTO. APLICAÇÃO
DO NOVO ENTENDIMENTO DO STF ADOTADO EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL
(RE 641.320/RS). PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DO STJ PARA APRECIAÇÃO DE
HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. POSSIBILIDADE.
AGRAVO DESPROVIDO.
1. [...]
2. A jurisprudência desta Corte Superior é assente no sentido de que, em caso de falta de
vaga em estabelecimento prisional adequado ao cumprimento da pena, ou, ainda, de sua
precariedade ou superlotação, deve-se conceder ao apenado, em caráter excepcional, o
cumprimento da pena em regime aberto, ou, na falta de vaga em casa de albergado, em
regime domiciliar, até o surgimento de vagas.
3. O Supremo Tribunal Federal, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, entende que "a
falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros
fixados no RE 641.320/RS".
4. Os parâmetros mencionados na citada súmula são: a) a falta de estabelecimento penal
adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso;
b) os Juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos
regimes semiaberto e aberto, para verificar se são adequados a tais regimes, sendo
aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como colônia agrícola, industrial
(regime semiaberto), casa de albergado ou estabelecimento adequado -regime aberto-
(art.33,§1º,alíneas"b"e "c"); c) no caso de haver déficit de vagas, deverão determinar: (i)a
saída antecipada de sentencia do no regime com falta de vagas; (ii)a liberdade
eletronicamente monitorada ao preso que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo
ao sentenciado que progride ao regime aberto; e d) até que sejam estruturadas as medidas
alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.
5. "Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, se o caótico sistema prisional
estatal não possui meios para manter os detentos em estabelecimento apropriado, é de
se autorizar, excepcionalmente, que a pena seja cumprida em regime mais benéfico -
estabelecimento adequado ao regime aberto ou prisão domiciliar" (HC 403.312/MG, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe21/8/2017).
6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC420.220/RS, Rel.Ministro RIBEIRO
DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 23/11/2017, DJe 28/11/2017)

Livramento condicional:
DIREITO PENAL. INFLUÊNCIA DA REINCIDÊNCIA NO CÁLCULO DE BENEFÍCIOS NO
DECORRER DA EXECUÇÃO PENAL.
Na definição do requisito objetivo para a concessão de livramento condicional, a condição
de reincidente em crime doloso deve incidir sobre a somatória das penas impostas ao
condenado, ainda que a agravante da reincidência não tenha sido reconhecida pelo juízo
sentenciante em algumas das condenações. Isso porque a reincidência é circunstância
pessoal que interfere na execução como um todo, e não somente nas penas em que ela
foi reconhecida. Precedentes citados: HC 95.505-RS, Quinta Turma, DJe1º/2/2010; e
EDclnoHC267.328-MG, Quinta Turma, Djede 6/6/2014.HC307.180-RS, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em16/4/2015, DJe 13/5/2015.

Livramento e impossibilidade de perda dos dias remidos:


Informativo nº 0539 Período: 15 de maio de 2014. SEXTA TURMADIREITOPENAL.
PRÁTICA DE CRIME DURANTE LIVRAMENTO CONDICIONAL.
O cometimento de crime durante o período de prova do livramento condicional não implica
a perda dos dias remidos. Isso porque o livramento condicional possui regras distintas da
execução penal dentro do sistema progressivo de penas. Assim, no caso de revogação do
livramento condicional que seja motivada por infração penal cometida na vigência do
benefício, aplica-se o disposto nos arts. 142 da Lei 7.210/1984 (LEP) e 88 do CP, os quais
determinam que não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado e não
se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento. A cumulação dessas sanções
com os efeitos próprios da prática da falta grave não é possível, por inexistência de
disposição legal nesse sentido. Desse modo, consoante o disposto no art. 140, parágrafo
único, da LEP, as penalidades para o sentenciado no gozo de livramento condicional
consistem em revogação do benefício, advertência ou agravamento das condições.
Precedentes citados: REsp 1.101.461-RS, Sexta Turma, DJe 19/2/2013; e AgRg no REsp
1.236.295-RS, Quinta Turma, DJe 2/10/2013. HC 271.907-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgadoem27/3/2014.

Livramento e comportamento – absurdo:


EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. LIVRAMENTO
CONDICIONAL. FALTAS GRAVES. AUSÊNCIA DE REQUISITO
SUBJETIVO.LIMITAÇÃO DO PERÍODO DE AFERIÇÃO DO REQUISITO SUBJETIVO.
IMPOSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que, malgrado não
interrompa o prazo para fins de livramento condicional (Súmula/STJ n. 441), a prática de
falta grave impede a concessão do aludido benefício, por evidenciar a ausência do
requisito subjetivo exigido durante a execução da pena, nos termos do disposto no art. 83,
III, do Código Penal.
2. Segundo entendimento fixado por esta Corte, não se aplica limite temporal para a
análise do preenchimento do requisito subjetivo, devendo ser considerado todo o período
de execução da pena, a fim de se averiguar o mérito do apenado. Precedentes. Desse
modo, no caso concreto, o cometimento de 2 (duas) faltas graves durante a execução
penal é causa suficiente para o indeferimento do benefício legal, consoante exposto no
art. 83, III, do Código Penal. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRgnoHC417.233/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
28/11/2017, DJe 01/12/2017).

Livramento e delito e período de provas:

EMBARGOS DECLARATÓRIOSEM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL.NOVO


DELITO PRATICADO DURANTE O LIVRAMENTO CONDICIONAL. NECESSIDADE DE
SUSPENSÃO EXPRESSA DO BENEFÍCIO DURANTE O PERÍODODEPROVA.
PRORROGAÇÃOAUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. EXTINÇÃO DA PENA.
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO
EMBARGADO. PREQUESTIONAMENTO.INCONFORMISMOCOMOJULGADO.
EMBARGOSREJEITADOS.
1. Os embargos de declaração são cabíveis quando houver ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão, nos termos do art. 619 do Código de Processo
Penal, pressupostos não caracterizados na hipótese dos autos.
2. O julgador não é obrigado a manifestar-se sobre todas as teses expostas no
recurso, ainda que para fins de prequestionamento, desde que demonstre os fundamentos
e os motivos que justificaram suas razões de decidir.
3. O livramento condicional deve ser suspenso ou revogado de forma expressa no
curso do período de prova. Do contrário, a pena restará extinta, nos termos dos arts. 90
do Código Penal, e 146 da Lei de Execução Penal. Precedentes.
4. Na hipótese, o embargado cometeu delitos em 12/12/2008 e 12/6/2009, durante o
prazo do livramento condicional, cujo término estava previsto para 30/9/2010. Sobrevindo
a nova condenação, o Juízo da Execução revogou-lhe o benefício em 18/1/2013, com
base no art. 86, I, do Código Penal.
5. Embargos declaratórios rejeitados.
(EDcl no HC 302.641/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIO RNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 17/05/2016, DJe 25/05/2016).

Conversão da PRD em PPL:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.


NÃO CABIMENTO. PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. CONVERSÃO EM PRIVATIVA
DE LIBERDADE. REGRESSÃO DE REGIME. AUSÊNCIA DE OITIVA DO CONDENADO
PARA POSSÍVEL JUSTIFICAÇÃO. NECESSIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CONFIGURADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE
OFÍCIO.
I – [...]
II - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se firmou no sentido de que, para a
conversão de medidas restritivas de direito em pena privativa de liberdade, é indispensável
a intimação do condenado para que esclareça as razões do descumprimento, em
audiência de justificação. assegurando-lhe o direito ao contraditório e à ampla defesa.
III - Na hipótese, ante a mera notícia de que o paciente retirou em cartório, pessoalmente,
o ofício para dar início à prestação de serviços à comunidade, mas não compareceu ao
local indicado, converteu a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, determinou
a regressão de regime e consignou que somente após o cumprimento do mandado de
prisão, seria designada a audiência de justificação (fl. 125), o que configura
constrangimento ilegal.
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para cassar as decisões das
instâncias ordinárias, e determinar ao Juízo da Execução que ouça previamente o
sentenciado em audiência de justificação, antes de decidir acerca da conversão da pena
restritiva de direitos em privativa de liberdade.
(HC 486.269/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2019,
DJe 01/03/2019).
Lei Maria da Penha

Prof. Me. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

13.1. Histórico

Até 1990 temos uma proteção geral: Código Penal.

Após 1990 temos proteções especializadas:

• Lei 8.069/90 – ECA


• Lei 8.072/90 – LCH
• Lei 8.078/90 – CDC
• Lei 9.099/95 – Violência de Menor Potencial Ofensivo
• Lei 9.455/97 – Tortura
• Estatuto de Idoso
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulheres
– ONU – 1979 (vigor em 1981).

• Brasil – Decreto nº 4.377 de 13 setembro de 2002.


• Art. 226, § 8º, da CF/88: O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada
um que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações.
• Ações Afirmativas;
• Caso Maria da Penha Maia Fernandes;
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

13.2 Finalidade da Lei 11.340/06

Conforme o art. 1º da lei 11.340/06:

Art. 1º: Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros
tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e
familiar.

• Coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher;

• Prestar assistência a mulher vítima;

• Proteção para a mulher vítima da violência doméstica e familiar;

• Criação do Juizado Especial de violência doméstica e familiar contra mulher.

ATENÇÃO!

Ela é uma lei multidisciplinar: o ramo que menos é afeito a lei é o Direito Penal;
Não confundir o Juizado Especial Criminal com o Juizado da Lei Maria da Penha.

A Lei Maria da Penha, ao proteger somente a mulher, não seria inconstitucional?

Não. O STF já se manifestou neste sentido. Este foi o argumento do STF: “A Lei 11.340/06
faz parte do sistema especial de proteção. Ela é uma ação afirmativa em relação as mulheres.
Elas são hipossuficientes.”

Qual mulher é protegida?

Conforme o art. 2º da lei:

Art. 2º: Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda,
cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem
violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e
social.
É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes cometidos no
âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher?

Não. Conforme a Súmula 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos


crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

13.3 Requisitos para a aplicação da lei

1) A vítima necessariamente deve ser mulher. Estamos diante de uma violência de gênero.
O agente aproveita que a vítima se encontra em situação de vulnerabilidade, quer seja física,
quer seja econômica, para praticar violência doméstica e familiar.

2) A violência deve ser praticada em um dos contextos do artigo 5º da Lei nº 11.340/06. A


violência deve ser cometida no âmbito da unidade doméstica (art. 5º, inciso I, da Lei 11340/06),
na esfera familiar (art. 5º, inciso II, da Lei nº 11.340/06) ou em qualquer relação íntima de afeto
(art. 5º, inciso III, da Lei nº 11.340/06).

3) Prática de uma das violências do artigo 7º da Lei nº 11.340/06. Vale dizer, basta a
presença de uma das formas de violência (violência física, violência psicológica, violência sexual,
violência patrimonial e violência moral).

É possível a aplicação da Lei Maria da Penha ao homem?

Como regra não, mas é possível aplicar algumas medidas protetivas se forem vulneráveis
(crianças, idosos, deficiente etc.). Exemplo: Lesão Corporal (Art. 129, CP);

É possível a aplicação da Lei Maria da Penha ao transexual?

Tema polêmico ainda não analisado pelos Tribunais Superiores. Parte da doutrina aceita,
mas exige dois requisitos:

a) alteração do sexo em seu registro de nascimento;

b) ter sido submetido à intervenção cirúrgica de reversão genital.


Sujeito ativo:

Homem: neste caso haverá uma presunção absoluta de vulnerabilidade.

Mulher: presunção relativa

a) Mãe contra a filha menor – ok

b) Irmã de 20 contra irmã de 18 – vai depender do caso concreto.

ATENÇÃO!

STJ decidiu que em um crime contra a honra a competência seria do JECrim - CC


88.027/MG.

A empregada doméstica pode ser vítima de violência doméstica e familiar?

No caso da empregada morar na residência é evidente que pode figurar como vítima de
violência doméstica contra a mulher, nos termos do artigo 5º, inciso I, da Lei nº 11.340/06.

Art. 5º: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150,
de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente
de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

13.4 Âmbito familiar

Súmula 600 do STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no


artigo 5º da lei 11.340/2006, lei Maria da Penha, não se exige a coabitação entre autor e vítima.
13.5 Relação íntima de afeto, independentemente de coabitação

1ª corrente: qualquer relação íntima de afeto abrange qualquer relacionamento estreito


entre duas pessoas, inclusive o baseado em amizade, confiança, camaradagem. Professores:
Gabriel Habib e Rogério Sanches Cunha.

2ª corrente: qualquer relação íntima de afeto deve ser interpretada de forma restritiva
para abranger somente relacionamentos com caráter sexual ou amoroso. Exemplo: Namorada,
Amante. Professor: Renato Brasileiro de Lima.

13.6 Direitos assegurados às mulheres

Conforme o art. 3º da lei 11.340/06:


Art. 3º: Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos
à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso
à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e comunitária.

13.7 Obrigações do Estado na lei

Conforme o art. 3º, §1º da lei 11.340/06:

Art. 3º, §1º: O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos
das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

13.8 Família e sociedade

Conforme o art. 3º, §2º da lei 11.340/06:

Art. 3º, §2º: Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias
para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.

ATENÇÃO: COMO INTERPRETAR A LEI

Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina
e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência
doméstica e familiar.
Ou seja, deve ser interpretada em favor da mulher.
13.9 Conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher

Conforme o art. 5º da lei 11.340/06:

Art. 5º: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente
de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual. (homoafetivas femininas).

ATENÇÃO

A aplicação da Lei Maria da Penha (não incidindo a Lei nº 9.009/95) pressupõe


violência de gênero.

O que é violência de gênero?

É a chamada violência preconceito, violência discriminação. É aquela que aproveita a


vulnerabilidade da vítima.

• Basta agredir mulher (gênero) para fazer incidir a Lei Maria da Penha?

Não. Esta agressão tem que ser baseada no gênero. Exemplo: traficante que ameaça sua
ex-mulher que o denunciou.

• Estará sujeito a Lei Maria da Penha?

Não.

13.10 Situações e lugares da violência

Com base nos incisos do art. 5º da lei 11.340/06:


Inciso I: ambiente caseiro, sem a necessidade de haver relação de parentesco. Exemplo:
empregada doméstica;

Inciso II: no âmbito da família, em que se pressupõe relação de parentesco, inclusive com
a sogra. Dispensa a coabitação. Por exemplo, o padrasto que agride a enteada. Decisão no
TJ/RS no sentido de que sim (se consideram aparentado).

Inciso III: qualquer relação de afeto.

Abrange namorados, amantes?

Sim, desde que presente a violência de gênero (decisão do STJ).

Lembrar: “Art. 5º, parágrafo único da Lei 11.340/06: As relações pessoais enunciadas neste
artigo independem de orientação sexual. “

13.11 Direitos humanos

Conforme o art. 6º da lei 11.340/06: A violência doméstica e familiar contra a mulher


constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.

13.12 Formas de violência domésticas e familiares

Conforme o art. 7º da lei 11.340/06, são formas de violência doméstica e familiar contra a
mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua
intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a
manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno
ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação
ou injúria.
13.12.1 Fato não criminoso (atípico) como forma de violência contra a
mulher

A violência pode ser:

• Crime

• Contravenção penal

• Fato atípico

• Proibição de uso de contraceptivo

• Adultério (violência psicológica)

Assim é possível que haja um pedido de afastamento do lar com base em um adultério.

13.13 Das medidas integradas de prevenção: quem participa?

Conforme o arts. 8º e 9º da lei 11.340/06:

Art. 8º: A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher
far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria
Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho
e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com
a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às consequências e
à frequência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de
dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das
medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa
e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a
violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no
inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em
particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência
doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral,
e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de
promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-
governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da
violência doméstica e familiar contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo
de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso
I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito
respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos
relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada


de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da
Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública,
entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o
caso.

§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência


doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual
e municipal.

§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para


preservar sua integridade física e psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração
direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de
trabalho, por até seis meses.
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual
ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável perante o juízo competente.

§ 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá


o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo
os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros
procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica
e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados,
inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os
custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em
situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao
Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem
os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019)

§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e


disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar
amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei
nº 13.871, de 2019)

§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus


de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar
atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº
13.871, de 2019)

§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular


seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou
transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos
comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e
familiar em curso.
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou
transferidos conforme o disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informações será
reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos órgãos competentes do poder público.

13.14 Do atendimento pela autoridade policial

Conforme o arts. 10 e 11 da lei 11.340/06:

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a


mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato,
as providências legais cabíveis.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida
protetiva de urgência deferida.

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento


policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente
do sexo feminino - previamente capacitados.

§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha


de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes
diretrizes:
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a
sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar;
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica
e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e
pessoas a eles relacionadas;
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato
nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida
privada.

§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de


testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte
procedimento:
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá
os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência
doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida;
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em
violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial;
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação
e a mídia integrar o inquérito.

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a


autoridade policial deverá, entre outras providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério
Público e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;


III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro,
quando houver risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences
do local da ocorrência ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis,
inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo
competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável.

13.14.1 Prioridade no ECDL

Conforme o art. 158 do Código de Processo Penal:

Art. 158, CPP: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se
tratar de crime que envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
Conforme o art. 12 da lei 11.340/06:

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o
registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se


apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas


circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o
pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar


outros exames periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de


antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras
ocorrências policiais contra ele;

VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na


hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência
à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento);

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério


Público.

§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da
violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente.
(Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)

§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de


ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos


por hospitais e postos de saúde.

CUIDADO:

Não está dispensado o ECDL no caso de infração de deixar vestígio (Art. 158 do
CPP).

Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de


atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no
âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
(Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o
atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher.

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, julho de 2021)

I - pela autoridade judicial;

II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou

III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado
disponível no momento da denúncia.

§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no
prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção
ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público
concomitantemente.

§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida


protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais


decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as
normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa
à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

13.15 Organização judiciária na Lei Maria da Penha

Conforme o art. 14 da lei 11.340/06:


Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça
Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução
das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme


dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união
estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a


Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens.

§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de


divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver.

ATENÇÃO

Segundo o STJ, é possível que a primeira fase do Tribunal do Júri seja realizada pelo
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, desde que exista essa
previsão na Lei de Organização Judiciária local.

Qual é o órgão jurisdicional competente para processar e julgar um crime praticado


a bordo de navio e aeronave no contexto da violência doméstica e familiar contra a
mulher?

A Justiça Federal será o órgão jurisdicional competente para processar e julgar um crime
cometido a bordo de navio e aeronave, conforme dispõe o artigo 109, inciso IX, da
Constituição Federal/88, ainda que esse crime tenha sido praticado no âmbito da violência
doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 15: É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta
Lei, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
III - do domicílio do agressor.

Art. 16: Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
o Ministério Público.
ADI 4.424 – Incondicionada para as Lesões Leves ou Culposa.

Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Crime de ameaça na esfera da violência doméstica e familiar contra a mulher vale a regra
geral do Código Penal, ou seja, são delitos de ação penal pública condicionada à representação.

Art. 17: “É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição
de pena que implique o pagamento isolado de multa.”

Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa
de liberdade por restritivas de direitos.

13.16 Medidas protetivas de urgência

Conforme os arts. 18 e 19 da lei 11.340/06:

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;


II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando
for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de
anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor.

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,


independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público,
devendo este ser prontamente comunicado.

§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e


poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os
direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.

§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder


novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender
necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o
Ministério Público.
É possível aplicar medidas protetivas para proteger pessoa do sexo masculino?

Com o advento da Lei nº 12.403/11, essas medidas protetivas também passaram a ser
concedidas às vítimas do sexo masculino, com base no previsto no artigo 313, inciso III, do
Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 313, CPP: Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a prisão preventiva: III
– se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas
protetivas de urgência.

ANOTE ESTE ARTIGO!

Art. 20: Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão
preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público
ou mediante representação da autoridade policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo,
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem
razões que a justifiquem.

13.17 Prisão preventiva de ofício pelo juiz

Importante mudança:

• A Lei 12.403/11 proibiu a decretação da preventiva na fase de inquérito.

• A nova lei alterou o artigo 311 do Código de Processo Penal e proibiu o juiz de decretar a
preventiva na fase do Inquérito Policial.

• O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) proibiu a preventiva de ofício em qualquer


momento.
Como fica a preventiva na Lei Maria da Penha?

1ª corrente: Tratando-se de norma especial o artigo 20 da Lei Maria da Penha não foi
abrangido pela novel legislação.

2ª corrente: considerando que o “espírito” da nova lei foi o de proibir o juiz inquisidor a
proibição da preventiva de ofício alcança a Lei Maria da Penha.

Qual prevalece?

Não é possível a decretação da preventiva de ofício pelo magistrado (seja na fase do


Inquérito Policial, seja na fase do processo).

13.17.1 Notificação da ofendida

Conforme o art. 21 da lei 11.340/06:

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor,
especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação
do advogado constituído ou do defensor público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.

13.17.2 Das medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor

Conforme o art. 22 da lei 11.340/06:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão


competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo


de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de


comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de


atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e

VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou


em grupo de apoio.

§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na


legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem,
devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.

§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições


mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003,
o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de
urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior
imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena
de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz


requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.

§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e


nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo
Civil).

13.17.3 Das medidas protetivas de urgência à ofendida

Conforme os arts. 23 e 24 da lei 11.340/06:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de


proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio,
após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a
bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica
mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição,
independentemente da existência de vaga.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;


II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação
de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos
incisos II e III deste artigo.

13.18 Do crime de descumprimento de medidas protetivas de urgênca

Conforme o art. 24-A da lei 11.340/06:

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas
nesta Lei:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu


as medidas.

§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder


fiança.

§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.

13.18.1 Ministério Público – custus legis

Conforme os arts. 25 e 26 da lei 11.340/06:

Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais
decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:

I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social


e de segurança, entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em


situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas
administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas;

III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.


13.18.2 Assistência judiciária

Conforme os arts. 27 e 28 da lei 11.340/06:

Art. 27: Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de


violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o
previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28: É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso
aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da
lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado.

Art. 19: As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

13.18.3 Da equipe de atendimento multidisciplinar

Conforme os arts. 29 a 31 da lei 11.340/06:

Art. 29: Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser
criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada
por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30: Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que
lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao
Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência,
e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas,
voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e
aos adolescentes.

Art. 31: Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz poderá
determinar a manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da equipe
de atendimento multidisciplinar.

13.18.4 Orçamento do judiciário

Conforme o art. 32 da lei 11.340/06:

Art. 32: O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá prever
recursos para a criação e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos
termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
13.18.5 Competências

Conforme o art. 33 da lei 11.340/06:

Art. 33: Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer
e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual
pertinente.

Parágrafo único: Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o
processo e o julgamento das causas referidas no caput.

13.18.6 Registros das medidas protetivas aplicadas

Conforme o art. 38-A da lei 11.340/06:

Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência.


Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados
mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do
Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de
assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas.

13.19 Juizado Especial Criminal e a Lei Maria da Penha

Conforme o art. 41 da lei 11.340/06:

Art. 41: Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995.

• Súmula 536 do STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se


aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

• Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

• Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.
• Súmula 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

13.20 Acordo de não persecução penal (ANPP)

Conforme o art. 28-A DO Código de Processo Penal:

Art. 28-A, § 2º, CPP: O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes
hipóteses:
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos
termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do
processo; e
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar (qualquer
que seja o sexo/gênero da vítima), ou praticados contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino, em favor do agressor.
13.21 Questões sobre Lei Maria da Penha

45) QUESTÃO 4 – IV EXAME


João e Maria, casados desde 2007, estavam passando por uma intensa crise conjugal. João,
visando tornar insuportável a vida em comum, começou a praticar atos para causar dano
emocional a Maria, no intuito de ter uma partilha mais favorável. Para tanto, passou a realizar
procedimentos de manipulação, de humilhação e de ridicularização de sua esposa. Diante disso,
Maria procurou as autoridades policiais e registrou ocorrência em face dos transtornos causados
por seu marido. Passados alguns meses, Maria e João chegam a um entendimento e percebem
que foram feitos um para o outro, como um casal perfeito. Maria decidiu, então, renunciar à
representação.
Nesse sentido e com base na legislação pátria, responda fundamentadamente:
A) Pode haver renúncia (retratação) à representação durante a fase policial, antes de o
procedimento ser levado a juízo? (Valor: 0,65)
B) Pode haver aplicação de pena consistente em prestação pecuniária? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Lei de drogas

Prof. Me. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

14.1 Retrospectiva

Alterações trazidas pela Lei 13.840/19:

• Criou o sistema nacional de políticas públicas sobre drogas (SISNAD);

• Trouxe o plano nacional de políticas sobre drogas;

• A Lei prevê que deverão ser formados “conselhos de políticas sobre drogas”;

• Art. 23-A – passou a prever a internação do usuário (§ 2º - voluntária e involuntária)

• Art. 26-A – acolhimento em comunidade terapêutica

• Art. 50-A (destruição da droga)

A primeira lei especial de Essa lei foi substituída pela


drogas foi a Lei nº 6.368/76 – Lei 10.409/02, que também
trazia os crimes e um trazia crimes e um
procedimento especial. procedimento especial.

A atual Lei de drogas – Lei


O Presidente da República 11.343/06 – trouxe crimes e o
vetou o capítulo dos crimes. procedimento, revogou as leis
anteriores
14.2 Características

Trocou a expressão “Substancia entorpecente” por “drogas”.

Permanece norma penal em branco -portaria 344/98 – SUS/Ministério da Saúde.

Respeito ao Princípio da Proporcionalidade – Traficante e Usuário.

Incrementou a multa - pode ser de até 2 mil dias multas.

Seria possível a combinação de Leis, entre a 6.368/76 e a Lei 11.343/06?

Usar o crime da Lei nº 6.368/76 (que tem pena menor) e o benefício da Lei nº 11.343/06
(no caso, o privilégio do §4º do art. 33), in verbis:

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que
o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa.

Aplicação aos crimes praticados antes da vigência. Não é possível. Questão sumulada -
Súmula 501 do STJ.

Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei nº 11.343/2006, desde que o
resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do
que o advindo da aplicação da Lei nº 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.

14.3 Usuário

Conforme o art. 28 da Lei 11.343/06:

Art. 28: Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas; (dizer que droga faz mal – na prática nada
ocorre, é uma piada)
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

O que analisará o Juiz para que o acusado responda por posse de droga para
consumo e não por tráfico? Apenas a quantidade?

Art. 28, § 2º: Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá
à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.

Qual a competência para julgar a posse de droga para consumo?

Art. 48, § 1º: O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se
houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e
julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995,
que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.

Qual a natureza jurídica do artigo 28?

Há duas correntes:

• Não é crime: Art 1º da Lei de Introdução ao CP (DL 3.914/41): Considera-se crime a


infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei
comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou
cumulativamente.

• É uma infração penal sui generis: O STF entende que é crime, pois se entender que o
artigo 28 não é mais crime, perde o criminoso, mas também desaparece o ato infracional, não
terá mais como educar o adolescente infrator.

14.4 Tráfico propriamente dito

Antes era o artigo 12 e agora é o artigo 33 Lei 11.343/06:


Princípio da continuidade típica:

O tráfico continuou típico, mudou a forma, a roupagem, o


tipo penal.

O artigo 12 tinha 18 núcleos; o artigo 33 continua com os


mesmos 18 núcleos, apenas não se fala mais em
substância entorpecente e sim em drogas; aumentou a
pena.

Art. 33: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas (18 núcleos), ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa.

14.5 Bem jurídico tutelado

Bem jurídico imediato é a saúde pública; tem-se também o bem jurídico mediato, que é
a saúde individual das pessoas que integram a sociedade.

14.6 Sujeito ativo e sujeito passivo

Sujeito ativo: como regra é um crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa,
não exige nenhuma qualidade específica do autor; mas tem um núcleo que o crime é próprio,
“prescrever” somente médico e dentista podem praticar, deve ter a qualidade especifica de ser
médico ou ser dentista.

Sujeito passivo: vítima primária é a sociedade, e a vítima secundária é a pessoa que


foi colocada efetivamente em perigo pelo comportamento do traficante, desde que não seja um
usuário capaz, porque ele é autor do art. 28 e não é vítima.
Vender drogas para crianças e adolescente é crime do artigo 33 da Lei de Drogas,
ou será o artigo 243 do ECA?

Art. 243: Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de
qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: (Redação
dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.

Aplicação do princípio da Especialidade: O Artigo 33 da Lei nº 11.343/06 fala em


“drogas” (Portaria 344 da Anvisa) e o artigo 243 fala em “produtos que causem dependência
física ou psíquica”, não deixa de ser uma droga – só aplica o art. 243 se esse produto não estiver
relacionado na Portaria 344/98 da ANVISA, se estiver relacionado na portaria como droga será
o artigo 33. Pode-se exemplificar com a “cola de sapateiro”.

CUIDADO! CRIME COM MUITOS VERBOS

É um crime plurinuclear, de ação múltipla– praticado mais de um núcleo dentro de


um mesmo contexto fático, o crime continua único; se não houver o mesmo
contexto fático há pluralidade de crimes.

Princípio da Alternatividade: como deve ser tratado o fornecimento de drogas para


alguém, sem a finalidade de lucro, para juntos consumirem?

Antes (durante a vigência da Lei nº 6.368/76) era considerado tráfico (Art. 12 – o artigo é
claro, pune o fornecimento gratuito).

Com o advento da nova legislação a situação foi alterada:

LEI 11.319/08:

Art. 33, § 3º: crime específico para esse agente – lei nova mais benéfica, retroage para os
fatos pretéritos. É tráfico, pois está no art. 33.

Trate-se do tráfico de menor potencial ofensivo. Logo, existe no Brasil o traficante de


menor potencial ofensivo? Sim.
14.7 Elemento normativo indicativo da ilicitude

Conforme o art. 33 Lei 11.343/06:

Art. 33: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas (18 núcleos), ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa.

É indispensável que seja demonstrado o elemento normativo indicativo da ilicitude. No


crime de tráfico de drogas está em o tráfico ser: “sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”.

Em alguns casos existe a autorização.

14.8 Quantidade de drogas: uso ou tráfico?

Qual a quantidade de A quantidade, por si só, não é suficiente para definir se é trafico ou
drogas para a uso;
caracterização de
tráfico?
Precisa de um rol de circunstâncias;

Art. 52 da Lei 11.343/06.

Art. 52: Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram
à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as
circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente.
14.9 Tráfico

14.9.1 Consumação

Consumação: com a prática de qualquer um dos núcleos do tipo. Cabe mencionar que
alguns núcleos configuram crime permanente. Exemplo: manter em deposito, trazer consigo,
guardar.

Tráfico: crime de perigo ou crime de dano? Coloca em risco ou causa lesão ao bem
jurídico?

É Crime de Perigo. Abstrato ou concreto?

Perigo ABSTRATO: o perigo


Perigo CONCRETO: o perigo
é absolutamente presumido
por lei deve ser comprovado

Na doutrina prevalece majoritariamente que o crime é de perigo abstrato (perigo


absolutamente presumido por lei).

14.9.2 Outras figuras e o tráfico

Incorre nas mesmas penas do artigo 33 da Lei 11.343/06 quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-
prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação
de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. (pacote anticrime)
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

14.10 Tráfico privilegiado

A Lei de Drogas prevê, em seu artigo 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também
chamada de “traficância menor” ou “traficância eventual”:

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que
o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa.

Resolução 05/2012: Art. 1º: É suspensa a execução da expressão "vedada a conversão


em penas restritivas de direitos" do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006,
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal nos autos do
Habeas Corpus nº 97.256/RS.

14.10.1 Natureza hediondo do tráfico privilegiado

Segundo o STF, o tráfico privilegiado não é mais considerado hediondo.

A Súmula 512 do STJ está superada e deverá ser cancelada.

Súmula 512-STJ: A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º,
da Lei n. 11.343/2006.

Alteração do Pacote Anticrime (lei 13.964/19):

Art. 112, § 5º, da LEP - Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste
artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º, do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006.
ATENÇÃO!

É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação
da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o
benefício legal previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info
596).

STF
1. O § 4º, do artigo 33 da Lei nº 11.343/2006 dispõe que “Nos delitos definidos no caput e
no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a
conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa”.
2. In casu, a minorante especial a que se refere o § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 foi
corretamente afastada ante a comprovação, por certidão cartorária, de que o paciente está
indiciado em vários inquéritos e responde a diversas ações penais, entendimento que se
coaduna com a jurisprudência desta Corte: RHC 94.802, 1ª Turma, Rel. Min. MENEZES
DE DIREITO, DJe de 20/03/2009; e HC 109.168, 1ª Turma, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA,
DJe de 14/02/2012, entre outros. (...)
STF. 1ª Turma. HC 108135, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/06/2012.

Art. 44: Os crimes previstos nos artigos 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção
ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a
2.000 (dois mil) dias-multa.
*Aplica-se a lei 8.072/90
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou
não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200
(mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para
a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.
*Não é crime hediondo

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput
e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a
4.000 (quatro mil) dias-multa.
*Aplica-se a lei 8.072/90

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à
prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700
(setecentos) dias-multa.
*Aplica-se a lei 8.072/90

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o
paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria
profissional a que pertença o agente.

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano
potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo,
cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena
privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-
multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais,
serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa,
se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias
do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de
missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos
prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais,
recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde
se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de
dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em
transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo,
ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por
qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

CUIDADO COM AS SÚMULAS E O JULGAMENTO ABAIXO:

Súmula 587 do STJ: Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da Lei
11.343/2006, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da
Federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico
interestadual.
Súmula 607 do STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei
11.343/06) se configura com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que
não consumada a transposição de fronteiras.
14.11 Tráfico em transporte público

O artigo 40, inciso III da Lei de Drogas prevê como causa de aumento de pena o fato de
a infração ser cometida em transportes públicos.

Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do meio
de transporte, incidirá essa majorante? NÃO!

A majorante do artigo 40, inciso II da Lei n° 11.343/2006 somente deve ser aplicada nos
casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior. É a posição
majoritária no STF e STJ (REsp 1443214-MS - HC 122258-MS).

ATENÇÃO: Para ter direito à atenuante no caso do crime de tráfico de drogas, é


necessário que o réu admita que traficava, não podendo dizer que era mero usuário.

Súmula 630, STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico


ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a
mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.

14.12 Procedimentos

Artigo 28 segue o procedimento da Lei nº 9.099/95 – artigo 48, § 1ª da Lei nº 11.343/2006.

Condenação prévia por porte de droga para uso próprio não gera reincidência,
vejamos:

“No caso, verifico que a redutora não foi aplicada apenas em razão da reincidência e,
tendo em vista o afastamento dessa agravante, a benesse deve ser reconhecida e
aplicada na fração máxima de dois terços, sobretudo em razão da não expressiva
quantidade de droga apreendida (7,2 gramas de crack)”, concluiu o ministro ao
redimensionar a pena e fixar o regime inicial aberto.
Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ. HC 453.437.
14.12.1 Procedimento especial da Lei nº 11.343/06

Inquérito policial (art. 51)


MP tem 10 dias para oferecer
indiciado preso 30 dias + Remessa ao juiz – art. 54
denuncia, podendo arrolar 5
30 dias- indicado solto 90 – remete ao MP
testemunhas – art. 54, III
dias + 90 dias

Defesa preliminar – art. 55; (onde


fala em acusado, deveria ser
denunciado, ainda não recebeu a Autos voltam ao juiz – Juiz recebe a denúncia,
denuncia para ter acusado); a art. 55, § 4º; juiz decide designa audiência una,
defesa deve arrolar testemunhas, em 5 dias concentrada – art. 56
no máximo 5, sob pena de
preclusão

14.12.2 Audiência una

1. Interrogatório (um dos únicos procedimentos onde o interrogatório não é o último ato processual)

2. Testemunhas de acusação: 5

3. Testemunhas de defesa: 5

4. Debates

5. Julgamento
CUIDADO - HC 127900/AM

No procedimento da Lei de Drogas, o interrogatório deverá ser realizado no início


ou no final da instrução?
• Último julgado do STF tratando de forma específica sobre o tema: decidiu que seria no
início.
• Último julgado do STF tratando sobre o CPPM, no qual se mencionou, em obiter dictum,
o tema na Lei de Drogas: os Ministros afirmaram que o interrogatório deveria ser feito
apenas ao final da instrução.

Atenção aos artigos 394 ao 397 do Código de Processo Penal:

Art. 394, § 4º: As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. (os
procedimentos especiais devem aplicar os art. 395 a 398).

Art. 395: Rejeição da inicial;

Art. 396: Defesa escrita;

Art. 397: Possibilidade de Absolvição Sumária;

14.13 Absolvição sumária

Possibilidade de absolvição sumaria antes da audiência – nos termos do artigo 397 do


Código de Processo Penal, se for o caso, na Lei de Drogas, o juiz pode absolver sumariamente
antes de inaugurar a instrução.

Art. 397: Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o
juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.
14.13.1 Questões pontuais

Redação atual Redação anterior

Art. 32. As plantações ilícitas serão Art. 32. As plantações ilícitas serão
imediatamente destruídas pelo imediatamente destruídas pelas
delegado de polícia na forma do art. autoridades de polícia judiciária, que
50-A, que recolherá quantidade recolherão quantidade suficiente
suficiente para exame pericial, de para exame pericial, de tudo
tudo lavrando auto de levantamento lavrando auto de levantamento das
das condições encontradas, com a condições encontradas, com a
delimitação do local, asseguradas delimitação do local, asseguradas
as medidas necessárias para a as medidas necessárias para a
preservação da prova preservação da prova.

14.14 Prazo para destruição de drogas apreendidas

Em caso de flagrante: 15 dias (art. 50, lei 11.343/06).

Demais casos: 30 dias (art. 50-A – alterado em 2019 - incineradas).

Amostras: destruídas as amostras (determinação judicial – de ofício ou a requerimento ou


representação).
Assista como resolver a peça defesa preliminar da Lei de drogas
14.14 Questões sobre Lei de Drogas

46) QUESTÃO 1 – XXVI EXAME


Insatisfeito com a atividade do tráfico em determinado condomínio de residências, em especial
em razão da venda de drogas de relevante valor, o juiz da comarca autorizou, após requerimento
do Ministério Público, a realização de busca e apreensão em todas as centenas de residências
do condomínio, sem indicar o endereço de cada uma delas, apesar de estas serem separadas e
identificadas, sob o argumento da existência de informações de que, no interior desse
condomínio, haveria comercialização de drogas e que alguns dos moradores estariam envolvidos
na conduta. Com base nesse mandado, a Polícia Civil ingressou na residência de Gabriel, 22
anos, sendo apreendidos, no interior de seu imóvel, 15 g de maconha, que, de acordo com
Gabriel, seriam destinados a uso próprio. Após denúncia pela prática do crime do Art. 28 da Lei
nº 11.343/06, em razão de anterior condenação definitiva pela prática do mesmo delito, o que
impossibilitaria a aplicação de institutos despenalizadores, foi aplicada a Gabriel a sanção de
cumprimento de 10 meses de prestação de serviços à comunidade.
Intimado da condenação e insatisfeito, Gabriel procura um advogado para consulta técnica,
esclarecendo não ter interesse em cumprir a medida aplicada de prestação de serviços à
comunidade.
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Gabriel,
esclareça os itens a seguir.
A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em sede de recurso para
questionar a apreensão das drogas na residência de Gabriel? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Em caso de descumprimento, por Gabriel, da medida de prestação de serviços à
comunidade imposta na sentença condenatória pela prática do crime do Art. 28 da Lei nº
11.343/06, poderá esta ser convertida em pena privativa de liberdade? Justifique. (Valor:
0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Defesa Preliminar

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

15.1 Introdução
Trata-se de procedimento destinado à apuração dos crimes praticados por funcionário
público ou a ele equiparado no exercício da função ou em razão dela contra a administração
pública. É o caso dos crimes previstos nos arts. 312 a 326 do CP e art. 3º da Lei nº 8.137/1990.

15.2 Identificação

PEDIU PRA PARAR

Palavra mágica: Peça:

Notificação Defesa Preliminar

PAROU!

Nos termos do art. 514 do CPP, nos crimes funcionais afiançáveis, após o oferecimento
da denúncia, o réu será notificado para apresentar, no prazo de 15 (quinze) dias, defesa
preliminar. Como se vê, o procedimento especial é voltado aos crimes funcionais afiançáveis.
Considerando que, a partir da edição da Lei nº 12.403/2011, o art. 323 do CPP passou a dispor
que são inafiançáveis os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, os crimes hediondos e aqueles praticados por grupos armados contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático, conclui-se que todos os crimes praticados por funcionário
público contra a administração pública são afiançáveis.
Em que pese divergência doutrinária e até mesmo jurisprudencial, o Superior Tribunal de
Justiça editou a Súm. nº 330, segundo a qual “É desnecessária a resposta preliminar de que
trata o art. 514 do Código de Processo Penal, na ação instruída por inquérito policial”.

Se recebida a denúncia, será o acusado citado, seguindo-se o rito comum, nos temos do
art. 518 do CPP.

15.3 Prazo
Nos termos do art. 514 do CPP, o prazo para apresentar a defesa preliminar é de 15
(quinze) dias.

15.4 Conteúdo
Deve-se buscar no enunciado informações para sustentar a rejeição da denúncia. Ou
seja, causas de rejeição da denúncia, previstas no art. 395 do CPP.

15.5 Estrutura da Peça


Deve-se buscar no enunciado informações para sustentar a rejeição da denúncia. Ou
seja, causas de rejeição da denúncia, previstas no art. 395 do CPP.
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA
COMARCA ... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL)

Processo nº ...

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com
procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar
DEFESA PRELIMINAR, com base no art. 514 do Código de Processo Penal, pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DA TEMPESTIVIDADE
A presente defesa preliminar é tempestiva, já que apresentada dentro do prazo de 15
dias, previsto no artigo 514 do Código de Processo Penal.

II) DOS FATOS

III) DO DIREITO
Após identificar e arguir eventuais preliminares contidas no enunciado, deve-se atacar
a denúncia, buscando a sua rejeição, com base no art. 395 do CPP.

IV) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer o denunciado:
a) seja rejeitada a denúncia.
Nestes termos, Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...
Assista como resolver a peça defesa preliminar de funcionário público
Lei dos crimes hediondos

Prof. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

16.1 Sistemas para definição de Crime Hediondo

Legalista Lei: rol taxativo

Análise do Juiz diante


Sistemas Judicial do caso concreto

Lei: rol exemplificativo


Misto Análise Judicial

• Críticas aos referidos sistemas:


Legalista: só trabalha com o caso em abstrato;

Judicial: subjetivismo judicial;

Misto: rol exemplificativo e subjetivismo.

• Qual sistema adotado pelo Brasil? Sistema Legalista (ou legal)


Por vontade do legislador? Não, mas por imposição do Constituinte Originário.

Segundo o Art. 5, inciso XLIII, da CF/88:

XLIII: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática


da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;

Conforme o art. 1º da lei 8.072/90:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei


no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV,
V, VI, VII e VIII);

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida
de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição;

II - roubo:
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);

III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal
ou morte (art. 158, § 3º); http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2019/Lei/L13964.htm - art5

IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e


3o);

V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).

VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1º-B, com a redação dada
pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou


adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum (art. 155, § 4º-A).
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de
1956;
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm - art5
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2019/Lei/L13964.htm - art5
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art.
18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm - art5
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou
equiparado.

• Observações:
Há Crime Hediondo fora do código penal que são considerados hediondos? Sim.

O Tráfico (Lei 11.343/06), a Tortura (Lei 9.455/97) e o Terrorismo (Lei 13.260/16) – são
equiparados a hediondos.

• Alteração Legislativa:

Art. 394-A CPP: Os processos que apurem a prática de crime hediondo terão prioridade
de tramitação em todas as instâncias.

• Norma programática, fruto de um Direito Penal simbólico;


• Aplica-se aos equiparados;
• Norma processual (Art. 3º do CPP) – aplicação imediata;

16.2 Rol dos crimes hediondos

Art. 1°, inciso I, da Lei nº 8.072/90:


I - homicídio (art. 121), quando praticado (1) em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente, e (2) homicídio qualificado.

Observações preliminares:

Não nasceu hediondo – 4 anos depois se tornou hediondo (Lei nº 8.930/94).


Por que saber? Homicídio antes de 06 de setembro de 1994 não é considerado crime
hediondo, uma vez que a lei jamais irá retroagir para prejudicar o Réu.
16.2.1 Homicídio simples

Para o crime de homicídio simples ser hediondo ele deve ser praticado em atividade típica
de grupo de extermínio, ainda que praticado por uma só pessoa. Trata-se de "homicídio
condicionado”.

CUIDADO

Homicídio simples praticada por Milícia não é hediondo, pois não houve previsão legal
(deve ser “corrigido” pelo legislador).

16.2.2 Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

16.2.3 Feminicídio

§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
16.3 Correntes

1ª corrente: É hediondo, uma vez que lei não excepcionou. É qualificado hediondo.

2ª corrente: deixa de ser hediondo, pois o privilégio prepondera sobre a qualificadora


(STF e STJ).

Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes:

Art. 67: No concurso de agravantes (QUALIFICADORA) e atenuantes (PRIVILÉGIO), a


pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes,
entendendo-se como tais as que resultam dos motivos (SUBJETIVOS) determinantes do
crime, da personalidade do agente e da reincidência.
Cuidado - o Legislador “dormiu”:

§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia
privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
(Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012).

• Somente em atividade típica de grupo de extermínio.


• Se praticado por milícia privada não será hediondo, por falta de previsão legal.

Novo crime hediondo – Lei nº 8.072/90

Art. 1º, inciso I-A: lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição.

Lesão Corporal Funcional (somente a gravíssima ou seguida de morte) é hedionda

Art. 1°, inciso II, da Lei nº 8.072/90 - roubo:

a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, §

Súmulas importantíssimas:

Súmula 603 do STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz


singular e não do tribunal do júri.

Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não realize o agente a subtração de bens da vítima.
• Ponto divergente:
STJ: ocorrendo uma única subtração, porém com duas ou mais mortes, haverá concurso formal
impróprio de latrocínios. (somas das penas)

STF: sendo atingido um único patrimônio, haverá apenas um crime de latrocínio,


independentemente do número de pessoas mortas.

O número de vítimas deve ser levado em consideração na fixação da pena-base (art. 59


do CP). É a posição também da doutrina majoritária.

Art. 1°, inciso III, da Lei nº 8.072/90: extorsão qualificada pela restrição da liberdade da
vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º);
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º);

Houve descuido do legislador ao não acrescentar nos parentes do §3º. Assim,


continuamos a ter a hediondez presente na extorsão com resultado morte, seja quando ela se
apresenta “sozinha”, seja quando ela ocorre em cenário de restrição de liberdade.

Sequestro relâmpago, acrescido pela Lei nº 11.923/09, pelo princípio da legalidade não
é considerado hediondo, haja vista que a referida lei não trouxe acréscimo a Lei de Crimes
Hediondos.

Cuidado: sequestro relâmpago com resultado morte é hediondo.

Art. 1º, inciso VI, da Lei nº 8.072/90: estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º,
3º e 4º);

A Lei nº 12.015/09 trouxe profundas alterações ao Código Penal. Mudou o título que antes
era Crimes Contra os Costumes por Crimes Contra a Dignidade Sexual. Embora mantido
o capítulo DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL.

• Houve a revogação do artigo 214 do Código Penal (atentado violento ao pudor)? Não
há o que se falar em abolitio criminis, mas sim em mera revogação formal e sua readequação
típica no artigo 213 do Código Penal.
Art. 1º, inciso VII, da Lei nº 8.072/90: Epidemia com o Resultado Morte (Art. 267, par. 1
do CP)

Art. 267 do CP: Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:


§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.

Doutrinariamente seria: provocar, motivar, produzir uma doença infecciosa que atinge
grande número de pessoas habitantes da mesma localidade ou região.

Cuidado: somente a epidemia com o resultado morte é crime hediondo.

Art. 1º, inciso VII-B, da Lei nº 8.072/90: falsificação, corrupção, adulteração ou alteração
de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e §
1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998.

Art. 273 do CP - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito
para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado,
corrompido, adulterado ou alterado.

Cuidado:

Art. 273, § 1º-A, do CP: Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os
medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os
saneantes e os de uso em diagnóstico. Excesso Legislativo.

Art. 1º, inciso VIII, da Lei nº 8.072/90: favorecimento da prostituição ou de outra forma
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§
1º e 2º).

Art. 218-B, do CP: Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração
sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

Art. 1º, inciso IX, da Lei nº 8.072/90: furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A).

Art. 155, § 4º-A CP: A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
16.4 Crimes hediondos previstos em leis especiais

Art. 1º, da Lei nº 8.072-90 - Parágrafo único: Consideram-se também hediondos,


tentados ou consumados:

I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de


1956;

II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art.
16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;

IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no


art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo


ou equiparado.

Genocídio: termo criado por Raphael Lemkin (1900 – 1959) ao se referir à política de
extermínio do estado nazista alemão. Consiste na destruição de um grupo étnico ou nação
por motivos raciais, ideológicos, religiosos etc.

16.5 Consequências para os crimes hediondos e equiparados

O artigo 2º da Lei nº 8.072/90 trata sobre as consequências para os crimes hediondos e


os equiparados:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas


afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado.

Observação:

Art. 5°, XLIII, CF: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem.

É constitucional? Poderia o legislador infraconstitucional acrescentar uma vedação que não foi
acrescida pela Constituição?
16.5.1 Correntes

1ª corrente: A vedação do indulto é inconstitucional – as vedações constitucionais são


máximas/taxativas.

2ª corrente: As restrições constituições são mínimas, pois ela diz “a lei considerará...”
logo pode sim a lei aumentá-las.

Quando a Constituição Federal proíbe a graça, já proíbe o indulto, pois este é uma graça
coletiva (STF).

Posição do Supremo Tribunal Federal:


No RHC 84572/RJ entendeu o Supremo que a vedação do indulto é constitucional para
Crimes Hediondos.
Os tribunais não admitem nem mesmo o indulto humanitário (aquele decorrente de uma
grave doença... dignidade das pessoas humana). Neste caso seria aplicada prisão
domiciliar.

Lei 11.464/07
Antes: inciso II – fiança e
Art. 2º da Lei 8.072/90, inciso II - liberdade provisória
fiança

Agora: inciso II - fiança

Logo, a lei aboliu a vedação da liberdade provisória. Pergunta-se: é possível Liberdade


Provisória para Crimes Hediondos?

Sim, pois somente o juiz, diante da análise do caso concreto, pode negar a liberdade
provisória. Não se admite que o legislador, em abstrato, a proíba.
Esse entendimento (do STF) leva a crer que o §2º do art. 310, CPP será declarado
inconstitucional.

Art. 2° da Lei 8.072/90, §1º: A pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado.
(redação anterior) - §1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente
em regime fechado.

Súmulas importantíssimas:

Súmula 718 STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não
constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada.

Súmula 719 STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena
aplicada permitir exige motivação idônea.

Inconstitucionalidade do artigo 2º, §1º, da Lei 8.072/1990:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRÁFICO


DE DROGAS. REGIME INICIAL. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º, §1º, da LEI
8.072/1990. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 1. É inconstitucional a fixação ex
lege, com base no art. 2º, §1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial fechado, devendo o
julgador, quando da condenação, ater-se aos parâmetros previstos no artigo 33 do Código
Penal. 2. Agravo conhecido e recurso extraordinário provido.
(ARE 1052700 RG, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, julgado em 02/11/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018 DIVULG 31-01-
2018 PUBLIC 01-02-2018);

Entendimento sumulado:

Súmula 471 do STJ: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes
da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei
de Execução Penal) para a progressão de regime prisional.
Súmula Vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei
nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os
requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo
fundamentado, a realização de exame criminológico.

16.6 Progressão de regime dos crimes hediondos

Alterações trazidas pelo Pacote Anticrime:

Agora toda a progressão é tratada pela Lei de Execução penal – Art. 112 da Lei nº
7.210/84:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso
tiver cumprido ao menos:

I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido
cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;

II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem
violência à pessoa ou grave ameaça;

III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;

IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com
violência à pessoa ou grave ameaça;

V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário; (aqui continua 2/5)

VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:


a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for
primário, vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime
hediondo ou equiparado; (aqui continua em 3/5)

VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo
ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.

§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa


conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas
que vedam a progressão.
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e
precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também
será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas,
respeitados os prazos previstos nas normas vigentes.

§ 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças (não abrange
adolescente – caso na segunda progressão seu filho já tenha 12 anos, vai para a regra
geral) ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são,
cumulativamente:
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento;
V - não ter integrado organização criminosa (ter integrado associação criminosa será
possível).

§ 4º O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício


previsto no § 3º deste artigo.

§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico
de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.

§ 6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade


interrompe o prazo para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena,
caso em que o reinício da contagem do requisito objetivo terá como base a pena
remanescente.

Art. 3° da Lei 8.072/90: Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá


fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

Conforme o STF, o §3°, do artigo 3º, da Lei nº 8.072/90 deve ser assim interpretado:

• Processado preso recorre preso, salvo se ausentes os fundamentos da preventiva.


• Processado solto recorre solto, salvo se presente os fundamentos da preventiva.

Alterações trazidas pelo Pacote Anticrime

Art. 492, alínea “e”, do CPP: mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão
em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de
condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a
execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem
prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos;

Art. 2º, §4º, da Lei nº 8.072/90: A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960,
de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta)
dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

Art. 1° da Lei nº 7.960/89: Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação
penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);


b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput e
parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela
morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de
sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei nº 13.260, de 2016)

Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da


autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco)
dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

O inciso III é obrigatório, mas sozinho não permite, deve ser combinado com o I ou com o
II.

Art. 3º da Lei nº 8.072/90: A União manterá estabelecimentos penais, de segurança


máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta
periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou
incolumidade pública.

Art. 5º da Lei 8.072/90 – Alteração no artigo 83 do Código Penal.

16.7 Livramento condicional nos crimes hediondos

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de


liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:

I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso
e tiver bons antecedentes;
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;
III - comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo,
prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação
de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

• Reincidente Específico
O que é reincidente específico?

1ª corrente: Prática dois ou mais crimes hediondos ou equiparados do mesmo tipo penal.
Exemplo: Art. 213 e 213 (sim) – Art. 213 e 157 (não).

2ª corrente: Dois crimes hediondos ou equiparados contra o mesmo bem jurídico.


Exemplo: Estupro (Art. 213 do CP) e Estupro de Vulnerável (Art. 217 do CP).

3ª corrente: Dois ou mais crimes hediondos ou equiparados (majoritária).

• Lei de Terrorismo (Lei 13.260/16)


Aplicação expressa da Lei dos Crimes Hediondos

Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, aos crimes
previstos nesta Lei.

Observações:

• Competência da JF e atribuição da PF;


• Aplicação dos meios de investigação da Lei nº 12.850/13;
• Punição dos atos preparatórios – iter criminis.
Pontos relevantes:

a) A Lei não proíbe PRD ou SURSIS, desde que preenchido os requisitos, seria possível, com
exceção do crime de tráfico de drogas (que é equiparado), pois há vedação expressa na lei;
b) É possível trabalho externo do condenado;
c) O Critério adotado para definição dos crimes hediondos é o legal;
d) O rol é taxativo e só admite alteração por iniciativa legislativa;
e) Os crimes que tiverem equivalência no Código Penal Militar não são hediondos;
f) TTT não é crime hediondo e sim equiparado;
g) Envenenamento de água potável não é mais hediondo, mas sua pena foi mantida
falsificação de cosmético e saneantes é crime hediondo;
h) O crime de sequestro relâmpago não foi acrescentado ao rol dos crimes hediondos;
i) A Liberdade Provisória, antes proibida, foi retirada das vedações pela Lei 11.464/07;
j) A progressão de regime passou a ser autorizada;
k) O condenado por crime hediondo e equiparados tem direito de apelar em liberdade, desde
que devidamente fundamentado pelo juiz;
l) A duração da prisão temporária para os crimes hediondos e equiparados é de 30 dias,
prorrogável por igual período, em caso de extrema necessidade.
Embargos infringentes e de nulidade

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

17.1 Conceito
Trata-se de recurso privativo da defesa, voltado a garantir uma segunda análise da
matéria decidida pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal Federal, por ter havido maioria de votos
contra o réu, ou seja, decisão não unânime desfavorável ao réu, ampliando-se o quórum do
julgamento.

Assim, o recurso obriga que órgão do Tribunal seja chamado a decidir por completo e não
apenas com os votos dos Desembargadores que participaram do julgamento da apelação,
recurso em sentido estrito e agravo em execução.

Em determinados Tribunais de Justiça, por exemplo, as Câmaras são compostas por cinco
Desembargadores, participando da turma julgadora apenas três deles. Dessa forma, caso a
decisão proferida contra os interesses do réu constituir-se de maioria (dois a um) de votos, cabe
a oposição de embargos infringentes, chamando-se os demais desembargadores a participarem
do julgamento da matéria divergente.

Tecnicamente, o recurso de embargos infringentes guarda relação com a hipótese em


que o acórdão embargado tenha apresentado divergência em matéria de mérito, atribuindo-se
a nomenclatura embargos de nulidade à impugnação de acórdãos divergentes em matéria de
nulidade processual.

A Banca FGV já cobrou o presente recurso em questão, indicando como resposta


correta a nomenclatura de Embargos Infringentes, considerando que se tratava de conteúdo
envolvendo o mérito, veja a questão n. 04 do Exame XVIII.
17.2 Identificação

Palavras mágicas!
Decisão favorável
Maioria dos votos
Desfavorável ao réu

Apelação
Peça de
interposição

Recurso em
Sentido Embargos
Estrito Decisão não infringentes
Tribunal
unânime / nulidade

Razões de
Agravo em embargos
Execução infringentes ou
de nulidade

17.3 Base Legal

Artigos 609, parágrafo único, do Código de Processo Penal.


17.4 Legitimidade
Dispondo a lei que os embargos infringentes ou de nulidade só podem ser apresentados
pela defesa, não é cabível tal recurso da acusação ou da assistência.

Recurso privativo da defesa

17.5 Cabimento
Considerando que a previsão legal desses embargos se encontra no Capítulo V do Título
II do Código de Processo Penal, que trata “do processo e do julgamento dos recursos em sentido
estrito e das apelações”, os embargos infringentes e de nulidade referem-se apenas ao recurso
em sentido estrito e à apelação e, segundo a jurisprudência majoritária, em agravo em execução,
já que segue o processamento do recurso em sentido estrito.

É pacífico na doutrina e na jurisprudência que não é cabível em revisão criminal e em


habeas corpus.

Não cabe recurso de embargos infringentes nos julgamentos realizados pelas turmas
recursais, porque não possuem natureza de tribunais.

Também não cabem embargos infringentes contra acórdãos de primeiro grau, ou seja,
aqueles proferidos no julgamento de crimes de sua competência originária (nos casos de foro
com prerrogativa de função). Isso porque o próprio artigo 609, parágrafo único, do Código de
Processo Penal, faz expressa alusão às decisões de segunda instância.

Assim, no caso, por exemplo, de determinado prefeito, no exercício do mandato, ser


julgado e condenado pelo Tribunal de Justiça por maioria dos votos, não poderão ser opostos
embargos infringentes, cabendo somente recurso especial e/ou extraordinário, conforme o caso.

17.6 Prazo: art. 609, parágrafo único, CPP


O prazo para a oposição dos embargos infringentes é de dez dias, a contar da
publicação do acórdão, sendo desnecessária a intimação pessoal do réu e de seu defensor,
salvo, no caso deste último, quando se tratar de defensoria pública. A intimação do Ministério
Público também é pessoal.

Por ocasião da interposição, deve o recurso ser devidamente instruído com as razões,
pois não será aberta vista para essa finalidade

Prazo: 10 dias
A contar da publicação do acórdão

17.7 Forma e competência para o julgamento


Os embargos infringentes somente poderão ser opostos por petição, sendo inadmissível
por termo nos autos, já que as razões devem acompanhar a peça de interposição no momento
do protocolo do recurso.

A petição de interposição deve ser endereçada ao Desembargador-Relator do acórdão


embargado, enquanto as razões devem ser dirigidas ao respectivo órgão julgador.

A competência para o julgamento nos Tribunais de Justiça Estaduais depende do Código


de Organização Judiciária de cada Estado. Por isso, sugere-se que as razões sejam
endereçadas ao Tribunal de Justiça. Em sede de Tribunal Regional Federal, o julgamento dos
embargos infringentes opostos contra decisão das turmas incumbe, normalmente, às seções
criminais.
17.8 Estruturação
A estrutura do recurso de embargos infringentes ou de nulidade segue dois momentos,
sendo peça bipartida:

1) interposição do recurso (afirmar que pretende recorrer) e as;


2) razões de recurso.
1) Interposição – para o Desembargador Relator do Acórdão Embargado
Endereçamento: Desembargador Relator da Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de (se crime de matéria da Justiça Estadual) ou Desembargador Federal Relator da
Turma Criminal do Egrégio Tribunal Regional Federal da Região (se crime da competência da
Justiça Federal);

Preâmbulo: nome (desnecessário qualificar, pois já qualificado nos autos), capacidade


postulatória (por seu procurador infra-assinado), fundamento legal (art. 609, parágrafo único,
CPP), nome da peça (Recurso de Embargos Infringentes ou de Nulidade), frase final (pelos fatos
e fundamentos jurídicos a seguir expostos);

Parte final: (Nesses termos, requer o processamento do presente recurso. Pede deferimento,
data, advogado e OAB).

2) Razões recursais
Endereçamento: para Tribunal, dependendo do Regime Interno será dirigido ao Grupo
Criminal na Justiça Estadual / Seção Criminal na Justiça Federal11

Tribunal de Justiça (se da competência da Justiça Estadual); Tribunal Regional Federal (se da
competência da Justiça Federal);

Identificação: embargante, embargado, nº processo...;

Saudação:

Justiça Estadual: Egrégio Tribunal de Justiça – Colendo Grupo Criminal – Eméritos Julgadores;

Justiça Federal: Egrégio Tribunal Regional Federal – Colenda Seção – Eméritos Julgadores

Corpo da peça: I. DOS FATOS: breve relato; II. DO DIREITO: Buscar no enunciado informações
voltadas a prevalecer o voto vencido (favorável ao réu).

Pedido: reforma da decisão + provimento do recurso + pedido específico parte final: termos em
que pede deferimento, local, data e OAB...

11
No Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul a competência para julgamento é atribuída ao Grupo
Criminal. Já no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a competência para julgamento é das Câmaras
Criminais. Portanto, a matéria depende da situação local, conforme Art. 35 do Assento Regimental nº 560/2017.
Art. 35: As Câmaras julgam os recursos das decisões de primeiro grau, os embargos declaratórios opostos a seus
acórdãos, as ações rescisórias, as reclamações por descumprimento de seus julgados, os agravos internos e
regimentais, “habeas corpus”, mandados de segurança e demais feitos de competência originária.”
Peça de interposição:

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DO


ACÓRDÃO Nº DA ... CÂMARA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE ... (se crime da competência da Justiça Estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DO
ACÓRDÃO Nº DA ... TURMA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL
FEDERAL DA REGIÃO (se crime da competência da Justiça Federal)

Processo nº...

FULANO DE TAL (não inventar dados), já qualificado nos autos, por seu
procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, a
presença de Vossa Excelência, inconformado com a decisão de fls., opor o presente
EMBARGOS INFRINGENTES E/ OU NULIDADE com base no artigo 609, parágrafo
único, do Código de Processo Penal, requerendo seja recebido e processado o presente
recurso, pelos fatos e fundamentos expostos nas razões inclusas.
O presente recurso é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo de 10 dias,
na forma do artigo 609, parágrafo único, do Código de Processo Penal

Nestes termos,
Pede deferimento.
Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO... (se da competência da Justiça
Estadual);
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO (se da competência da Justiça
Federal).
Embargante: FULANO DE TAL
Embargado: MINISTÉRIO PÚBLICO
Processo nº...

RAZÕES DE RECURSO DE EMBARGOS INFRINGENTES OU NULIDADE


Colenda Câmara Criminal (Justiça Estadual) / Colenda Seção (Justiça Federal)

I) DOS FATOS
II) DO DIREITO
Deverá ser exposto os motivos que deverá prevalecer o voto vencido.
Por exemplo: O acórdão ora recorrido não merece prosperar, devendo prevalecer os
fundamentos do voto vencido, senão vejamos.
III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja CONHECIDO e PROVIDO o presente, acolhendo o voto vencido,
reformando o acórdão recorrido, para o fim de...:

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...
Advogado... OAB...

Observações:
Ver competência da Justiça Federal no art. 109 da CF/88;
Nos “fatos”, fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar
nada nem simplesmente transcrever o enunciado). Importante: Justificar o cabimento e
admissibilidade do recurso de embargos infringentes;
O mérito deve guardar relação com o voto vencido (basicamente o que poderia ser alegado em
sede de apelação, recurso em sentido estrito e agravo em execução);
E o pedido também deve estar relacionado ao voto vencido.
Assista como resolver a peça embargos infringentes

17.9 Questões sobre Embargos Infringentes e de Nulidade

47) QUESTÃO 4 – XVIII EXAME


John, primário e de bons antecedentes, foi denunciado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Após a instrução, inclusive com realização do interrogatório, ocasião em que o acusado
confessou os fatos, John foi condenado, na forma do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, à pena
de 1 ano e 08 meses de reclusão, a ser cumprido em regime inicial aberto. O advogado de John
interpôs o recurso cabível da sentença condenatória. Em julgamento pela Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça, a sentença foi integralmente mantida por maioria de votos. O
Desembargador revisor, por sua vez, votou no sentido de manter a pena de 01 ano e 08 meses
de reclusão, assim como o regime, mas foi favorável à substituição da pena privativa de liberdade
por duas restritivas de direitos, no que restou vencido. O advogado de John é intimado do
acórdão.
Considerando a situação narrada, responda aos itens a seguir.
A) Qual medida processual, diferente de habeas corpus, deverá ser formulada pelo
advogado de John para combater a decisão da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça?
(Valor: 0,65)
B) Qual fundamento de direito material deverá ser apresentado para fazer prevalecer o
voto vencido? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Embargos de declaração

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

18.1 Cabimento/conteúdo
Trata-se de recurso posto à disposição de qualquer das partes, voltado ao esclarecimento
de dúvidas surgidas no acórdão, quando configurada ambiguidade, obscuridade, contradição ou
omissão, permitindo, então, o efetivo conhecimento do teor do julgado, facilitando a sua aplicação
e proporcionando, quando for o caso, a interposição de recurso especial ou extraordinário.

Ambiguidade: é o estado daquilo que possui duplo sentido, gerando equivocidade e


incerteza, capaz de comprometer a segurança do afirmado. Assim, no julgado, significa a
utilização, pelo magistrado, de termos com duplo sentido, que ora apresentam uma
determinada orientação, ora seguem em caminho oposto, fazendo com o leitor, seja ele
leigo ou não, termine não entendendo qual o seu real conteúdo.

Obscuridade: é o estado daquilo que é difícil de entender, gerando confusão e


ininteligência, no receptor da mensagem. No julgado, evidencia a utilização de frases e
termos complexos e desconexos, impossibilitando ao leitor da decisão, leigo ou não,
captar-lhe o sentido e o conteúdo.

Contradição: trata-se de uma incoerência entre uma afirmação anterior e outra posterior,
referentes ao mesmo tema e no mesmo contexto, gerando a impossibilidade de
compreensão do julgado.

Omissão: é a lacuna ou o esquecimento. No julgado, traduz-se pela falta de abordagem


do magistrado acerca de alguma alegação ou requerimento formulado, expressamente,
pela parte interessada, merecedor de apreciação.
18.2 Identificação
Trata-se de recurso posto à disposição de qualquer das partes, voltado ao esclarecimento
de dúvidas surgidas no acórdão, quando configurada ambiguidade, obscuridade, contradição ou
omissão, permitindo, então, o efetivo conhecimento do teor do julgado, facilitando a sua aplicação
e proporcionando, quando for o caso, a interposição de recurso especial ou extraordinário.

PEDIU PRA PARAR

Peça:
Expressão mágica:

“decisão obscura, contraditória,


Embargos de
omissa ou ambígua...” Declaração

PAROU!

18.3 Base legal


Artigo 382 ou artigos 619 e 620, ambos do Código de Processo Penal.

18.4 Prazo
Os embargos devem opostos no prazo de 02 (dois) dias perante o próprio juiz prolator da
sentença (art. 382, CPP), ou, no caso dos tribunais (art. 619, CPP), endereçados ao próprio
relator do acórdão embargado.

Cuidado: No procedimento do Juizado Especial Criminal, o prazo para oposição dos


embargos de declaração é de 05 (cinco) dias, nos termos do artigo 83, § 1º, da Lei nº 9.099/95.
1º grau tribunal JEC

02 dias
02 dias 05 dias

18.5 Efeito interruptivo


Por analogia ao disposto no artigo 1.026 do Código de Processo Civil, os Embargos de
Declaração possuem o efeito de interromper o prazo para interposição de recurso.

Com a redação do artigo 83, § 2º, da Lei nº 9.099/95, dada alterada pelo Código de
Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), os embargos de declaração no âmbito do Juizado
Especial Criminal passaram também a ter efeito interruptivo.

18.6 Estruturação do recurso


Os embargos de declaração deverão ser interpostos em peça única, já com as razões da
interposição.
I) Endereçamento
Embargos de Declaração contra sentença (art. 382 do CPP)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara do Tribunal do Júri da Comarca (se crime
doloso contra a vida da competência da Justiça Estadual) ou da Seção Judiciária (se crime
doloso contra a vida da competência da Justiça Federal)

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca ... (se crime da
competência da Justiça Estadual);

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal da Seção Judiciária de ... (se crime
da competência da Justiça Federal);
Embargos de Declaração contra Acórdão (art. 619 e 620 CPP)

Excelentíssimo Senhor Desembargador Relator do Acórdão nº... da Câmara Criminal do Egrégio


Tribunal de Justiça do Estado de ... (se crime de matéria da Justiça Estadual);

Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Relator do Acórdão nº .... da Turma Criminal do


Egrégio Tribunal Regional Federal da ... Região .... (se crime da competência da Justiça
Federal).

II) Preâmbulo: nome (desnecessário qualificar, pois já qualificado nos autos), capacidade
postulatória (por seu procurador infra-assinado), fundamento legal (arts. 382 ou 619 e 620,
todos do Código de Processo Penal), nome da peça (Recurso de Embargos de Declaração),
frase final (pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos...);

III) Corpo da peça: I) DOS FATOS: breve relatório; II) DO DIREITO: apontar a contradição,
obscuridade, ambiguidade ou omissão – demonstrar o vício da decisão;

IV) Pedidos: declaração dos embargos, com a correção da contradição, obscuridade,


ambiguidade ou omissão;

V) Fechamento: termos em que pede deferimento, local, data, advogado... e OAB...


Estruturação dos embargos de declaração:

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DO TRIBUNAL


DO JÚRI DA COMARCA ... (se crime doloso contra a vida da competência da Justiça
Estadual) OU DA SEÇÃO JUDICIÁRIA ... (se crime doloso contra a vida da competência da
Justiça Federal)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA
COMARCA ... (se crime da competência da Justiça Estadual)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ... (se crime da competência da Justiça
Federal)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO – Art. 619 e 620, ambos
do CPP

A) DESEMBARGADOR RELATOR DA ... CÂMARA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ... (se o crime é de matéria da Justiça Estadual)
B) DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR DA ... TURMA CRIMINAL DO EGRÉGIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO (se crime da competência da Justiça
Federal)

FULANO DE TAL (não inventar dados), já qualificado nos autos, por seu procurador infra-
assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência opor o presente EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, com base no artigo 382 ou
619 e 620, todos do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a
seguir expostos.

I) DA TEMPESTIVIDADE

II) DOS FATOS


III) DO MÉRITO

IV) DOS PEDIDOS


Ante o exposto, requer sejam recebidos os presentes Embargos e, ao final, declarada a
sentença ou acórdão embargado, corrigindo-se a (omissão, contradição, obscuridade ou
ambiguidade) como medida de inteira justiça.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., data...

Advogado...
OAB...

Observação:
No mérito, demonstrar a obscuridade, contradição, omissão ou ambiguidade.
Prisão processual

Aula prevista para ocorrer ao vivo nos dias 17 e 18/04/2023.

19.1 Introdução

A prisão processual, também chamada de prisão cautelar ou provisória, ocorre por força
da necessidade de segregação cautelar do acusado da prática de um delito durante as
investigações ou no curso da ação penal nas hipóteses previstas na legislação processual penal.

É aquela que ocorre antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Não visa a punição do agente, mas de impedir que volte a praticar novos delitos ou que
adote conduta voltada a influenciar na instrução criminal ou na aplicação da sanção decorrente
da prática delituosa.

Nos termos do artigo 283 do Código de Processo Penal, três são as espécies de prisão
provisória: prisão em flagrante (arts. 301 a 310, todos do CPP), preventiva (Art. 311 a 316
CPP) e temporária (Lei nº 7.960/89).

PRISÃO EM FLAGRANTE
(art. 301/310, CPP)

Espécies de PRISÃO TEMPORÁRIA


prisão provisória (Lei 7.960/89)

PRISÃO PREVENTIVA
(art. 311/316, CPP)
19.2 Prisão em Flagrante

Trata-se de medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e processual, consistente


na prisão, independente de ordem escrita do juiz competente, de quem é surpreendido
cometendo uma infração penal ou quando acabou de cometê-la, ou quando perseguido, logo
após, em situação que faça presumir ser autor da infração, ou, ainda, quando encontrado, logo
depois à prática da infração, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir
ser o autor da infração.

EM SÍNTESE:

Em síntese, a prisão em flagrante ocorre quando presente uma das hipóteses previstas no
artigo 302 do Código de Processo Penal.

A Lei nº 12.403/2011 introduziu o artigo 310, inciso II, do Código de Processo Penal,
suprimindo a possibilidade de a prisão em flagrante prender por si só, na medida em que, se
presentes os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal e inadequada ou insuficiente
a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, o juiz deverá converter a prisão em
flagrante em prisão preventiva.

Logo, forçoso concluir que a prisão em flagrante passou a assumir natureza precautelar,
com duração limitada até a adoção pelo juiz de uma das providências do artigo 310 do Código
de Processo Penal (relaxar a prisão em flagrante, convertê-la em prisão preventiva ou conceder
a liberdade provisória).
19.2.1 Espécies de flagrante: art. 302, CPP

a) Flagrante próprio: art. 302, inciso I e II, CPP

Trata-se de prisão efetivada quando o sujeito está praticando uma infração penal, ou
quando acabou de cometê-la.

A prisão deve ocorrer de imediato, sem qualquer intervalo de tempo entre a prática da
infração e a detenção. Ocorre, pois, quando o agente ainda está no local do crime.

Exemplo: prisão em flagrante no exato instante em que o agente criminoso busca sair da
agência bancária onde praticava o delito de roubo.

b) Flagrante impróprio (QUASE-FLAGRANTE): art. 302, inciso III, CPP

Trata-se da hipótese em que o agente é perseguido, logo após a infração, no contexto


que faça presumir ser o autor do fato.
A definição da expressão “logo após” traduz uma relação de imediatidade, com
perseguição iniciada em momento bem próximo da infração. Aqui o agente já deixou o local do
crime.

É o tempo que decorre entre a prática do delito e as primeiras coletas de informações a


respeito da identificação do autor e a direção seguida na fuga, iniciando-se, logo após,
imediatamente a perseguição. Uma vez cessada a perseguição, cessa a situação de
flagrância. Ou seja, a perseguição deve ser contínua, sem interrupções.

A concepção de perseguição pode ser extraída do artigo 290, §1º, do Código de Processo
Penal, notadamente das alíneas “a” e “b” do parágrafo primeiro.

Não confundir início da perseguição com duração da perseguição. O início da perseguição


deve ser logo após o fato; a perseguição, no entanto, pode perdurar por muitas horas e até dias,
como, por exemplo, em crime de roubo a banco, em que a polícia chega imediatamente ao local,
faz o primeiro levantamento e, de imediato, sai em perseguição dos suspeitos, que se
embrenharam numa mata por mais de 30 horas. Nesse caso, considerando que a perseguição
deflagrada logo após à prática da infração penal foi ininterrupta, eventual prisão em flagrante
será legal.

Se o agente for preso após cessada a perseguição, sem mandado judicial, a prisão será
ilegal, devendo, pois, ser relaxada.

CUIDADO

A perseguição deve ser ininterrupta. Uma vez cessada a perseguição, não há mais situação
de flagrância, devendo-se, a partir de então, efetivar-se a prisão somente munido de
mandado judicial (prisão preventiva ou temporária, conforme o caso).

c) Flagrante presumido: art. 302, inciso IV, CPP

Aqui o agente não é “perseguido”, mas “encontrado”, logo depois da prática da infração
penal, na posse de instrumentos, armas, objetos ou papéis em situação que permita presumir
ser ele o autor da infração.
Quanto ao alcance da expressão “logo depois”, a jurisprudência tem admitido prisões
ocorridas várias horas depois do crime. Não aceita, no entanto, prisão muitos dias depois ao do
crime.

Outras variações das espécies de prisão em flagrante:

a) Flagrante Provocado ou Preparado

O flagrante preparado ou provocado ocorre quando uma pessoa, policial ou particular,


provoca, induz ou instiga alguém a praticar uma infração penal, somente para poder prendê-la.
Nesse caso, não fosse a ação do agente provocador, o sujeito não teria dado início à prática do
delito, pelo menos nas circunstâncias pelas quais foi preso.

Trata-se, na verdade, de hipótese de crime impossível, já que, por força da preparação


engendrada pelo policial ou terceiro para prendê-lo, seria impossível a consumação do crime.
Em síntese, simultaneamente à indução à prática do crime, o agente provocador do flagrante
age para evitar a consumação.

É o que diz a Súmula 145 do STF: “Não há crime quando a preparação do flagrante
pela polícia torna impossível a sua consumação”. Trata-se de hipótese de crime impossível,
que não é punível nos termos do artigo 17 do Código Penal.

Exemplo: Policial disfarçado encomenda de um suspeito de praticar crime de falsidade de


documento uma carteira de identidade fictícia, e, no momento combinado para a entrega
do dinheiro e o recebimento do documento falsificado, realiza a prisão em flagrante.

Em que pese a súmula mencionar somente o flagrante pela polícia, a ilegalidade também
pode decorrer de flagrante preparado por particular.

Exemplo: Suspeitando que a empregada doméstica esteja furtando objetos da residência,


dona de casa deixa uma joia na mesa de centro da sala, ficando à espreita. No momento
em que a empregada pega a joia, a dona de casa, auxiliada ou não por outras pessoas, a
detém, prendendo-a em flagrante. Trata-se de prisão ilegal, já decorrente de flagrante
preparado.
EM SÍNTESE:

O flagrante provocado é ilegal, devendo, pois, a prisão ser relaxada.

Flagrante provocado x usuários de drogas

No contexto de droga, deve-se verificar o caso concreto e as informações que constam


no enunciado.

Imaginemos a hipótese de um policial se disfarçar de usuário de drogas. Esse policial se


aproxima do suspeito e solicita determinada quantia de drogas, que lhe é entregue pelo suspeito.
Em relação ao verbo "vender" não há dúvidas de que se trata de flagrante provocado. Todavia,
o artigo 33 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) prevê 18 condutas. No caso, embora seja
flagrante provocado em relação à conduta vender, a prisão será legal em relação às condutas,
por exemplo, "trazer consigo", "guardar", "ter em depósito", uma vez que em relação às demais
condutas (trazer consigo, guardar etc.), o suspeito não foi provocado ou influenciado a praticar.
Ou seja, quando o policial disfarçado se aproximou, o agente já trazia consigo a droga, sendo,
em razão disso, possível sua prisão em relação a essa conduta de trazer consigo.

Isso foi reforçado pelo pacote anticrime (Lei 13.964/19) que acrescentou o IV ao parágrafo
1º da Lei nº 11.343/06, a saber:

IV - Vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à


preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente.

Agora, se o policial induz o suspeito a fornecer-lhe a droga que, no momento, não a


possuía, ou seja, que não trazia consigo, e por conta da insistência do policial empregou esforço
para conseguir, aí sim se pode falar em flagrante provocado e, portanto, ilegal, uma vez que o
suspeito somente trouxe consigo a droga, porque foi induzido pelo policial a conseguir para ele.

b) Flagrante Esperado

O flagrante esperado ocorre quando a autoridade policial, tomando conhecimento, por


fonte segura, de que será praticado um delito, desloca-se até o local indicado, fica de campana
e realiza a prisão quando iniciado os atos executórios do delito
O flagrante esperado não se confunde com o flagrante provocado, uma vez que, ao
contrário deste, no flagrante esperado não há indução ou instigação da autoridade policial para
que o agente dê início à execução do delito.

O flagrante esperado constitui modalidade de flagrante válido, regular e, portanto, legal.

c) Flagrante Forjado

O flagrante forjado se caracteriza pela criação de provas para forjar a prática de um crime
inexistente. Aqui a ação da autoridade policial ou de um particular visa a simular um fato típico
inexistente, com o objetivo de incriminar falsamente alguém

Exemplo: policial coloca/enxerta droga no interior do veículo de determinada pessoa para


prendê-la pelo delito de tráfico ilícito de entorpecentes.

Trata-se de hipótese de flagrante absolutamente nulo/ilegal, merecendo, pois, ser


relaxado. Nesse caso, o único infrator será o agente forjador, que pratica o delito de denunciação
caluniosa (Art. 339, CP), e, se for agente público, também abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65).

d) Flagrante Retardado ou Diferido ou Ação Controlada

Caracteriza-se pela possibilidade de retardar o momento da prisão em flagrante, não


obstante estar o delito em curso, justamente para buscar maiores informações ou provas contra
pessoas envolvidas em organizações criminosas ou tráfico ilícito de entorpecentes.

O flagrante retardado ou diferido funciona como autorização legal para que a prisão em
flagrante seja retardada ou protelada para outro momento, que não aquele em que o agente está
em situação de flagrância. Trata-se, pois, de uma autorização legal para que a autoridade policial
e seus agentes, que, a princípio, teriam a obrigação de efetuar a prisão em flagrante (Art. 301,
2ª parte, CPP), deixem de fazê-lo, visando a uma maior eficácia da investigação.

Há previsão de ação controlada, com destaque ao flagrante retardado ou diferido, por


exemplo no artigo 53, inciso II, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) e artigo 8º da Lei nº
12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas).
Nos termos do artigo 53, inciso II, da Lei nº 11.343/2006, a não atuação policial na prisão
imediata em flagrante depende de autorização judicial e manifestação do Ministério Público.
Essa autorização judicial está condicionada ao conhecimento do itinerário provável e à
identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

Conforme o artigo 8º, §1º, da Lei nº 12.850/2013, o retardamento da intervenção policial


não exige prévia autorização judicial, mas mera comunicação ao juiz competente que, se for
o caso, fixará os limites da atuação e comunicará ao Ministério Público.

A Lei nº 9.613/98, que trata da Lavagem de Dinheiro, também prevê o instituto da ação
controlada no seu artigo 4º- B, sendo possível suspender a ordem de prisão poderá ser suspensa
pelo juiz, com prévia manifestação do Ministério Público, quando a sua execução imediata puder
comprometer as investigações.

Para aprofundar
INVESTIGAÇÃO:
Diferido/
Cumpre no futuro Art. 53, II, Lei 11.343/06;
retardado Art. 8º, Lei 12.850/13 (Lei das
Organizações Criminosas).

Espera a prática do
delito para prender
Esperado em flagrante. Prisão
LEGAL.

Prisão ILEGAL

Preparado/ Provoca, induz ou


provocado instiga
Súmula 145 STF: crime
impossível
(art. 17,CP)

Forjado Acusa INOCENTE Prisão ILEGAL


19.2.2 Procedimento para a lavratura do auto de prisão em flagrante

Auto de prisão em flagrante é o documento elaborado, via de regra, sob a presidência da


autoridade policial, contendo as formalidades que revestem a prisão em flagrante, tendo por
objetivo precípuo retratar os fatos que ensejaram a restrição de liberdade do agente e, ainda,
reunir os primeiros elementos de convicção acerca da infração penal que motivou a prisão.

Uma vez preso em flagrante, por policial ou particular, o acusado deve ser conduzido à
presença da autoridade policial. Se a autoridade policial considerar se tratar de situação de
flagrância e que o fato constitui crime, determinará a lavratura do auto de prisão, incumbindo-lhe
proceder da seguinte forma:

a) Oitiva do condutor:

O condutor é a pessoa que levou o preso até a Delegacia de Polícia e o apresentou à


autoridade policial. Pode ser policial ou qualquer pessoa. Embora na maioria das vezes o
condutor seja quem procedeu à prisão, não precisa necessariamente ser o responsável pela
detenção do suspeito.

Exemplo: seguranças de determinada loja prendem em flagrante uma pessoa pela prática
do delito de furto e acionam a polícia militar, que conduzem o preso à Delegacia de Polícia.
Será um dos policiais, portanto, quem apresenta o preso ao delegado de polícia, figurando,
assim, como condutor.

b) Oitiva de testemunhas:

Em seguida, devem ser ouvidas as testemunhas que acompanharam o condutor, que,


pelo artigo 304, caput, e artigo 304, §1º, ambos do Código de Processo Penal, devem ser, no
mínimo, duas (referem-se a “testemunhas”, no plural).

Não há vedação a que sirvam como testemunhas agentes policiais.

A falta de testemunhas da infração não impedirá a lavratura do auto de prisão em


flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão assinar a peça pelo menos duas pessoas
que tenham testemunhado a apresentação do preso à autoridade (Art. 304, §2º, do CPP).
Considera-se, portanto, testemunha de apresentação aquelas que presenciaram o momento em
que o condutor apresentou o preso à autoridade policial.

c) Interrogatório do preso:

O interrogatório deve observar as mesmas formalidades exigidas para o interrogatório


judicial, previstas nos artigos 185 a 196, todos do Código de Processo Penal, dentre as quais se
destaca a advertência ao preso do seu direito constitucional ao silêncio, sem que isso possa ser
interpretado em seu desfavor (Art. 5º, inciso LXIII, da CF/8812).

d) Nota de culpa:

Nos termos do artigo 306, §1º e §2º, do Código de Processo Penal, superadas essas
etapas, cumpre à autoridade policial, em até 24 horas após a realização da prisão, encaminhar
o auto de prisão em flagrante devidamente instruído ao juiz competente, bem como entregar ao
preso, no mesmo prazo, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o
motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.

Trata-se a nota de culpa de documento por meio do qual a autoridade policial cientifica o
preso dos motivos de sua prisão, do nome do condutor e das testemunhas.

Se não for entregue nota de culpa, o flagrante deve ser relaxado por falta de formalidade
essencial.

Além disso, a Lei nº 13.257/2016, incluiu o §4º no artigo 304, segundo o qual “Da lavratura
do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.”

12
Esse dispositivo é fundamental para qualquer interrogatório, seja na fase de investigação ou no curso da ação
penal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;
19.2.3 Garantias legais e constitucionais do preso

Da comunicação imediata ao juiz competente e ao Ministério Público

De acordo com o artigo 306 do Código de Processo Penal, a prisão de qualquer pessoa
e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

O artigo 5º, inciso LXII, da Constituição Federal/88 dispõe que a prisão de qualquer pessoa
e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do
preso ou à pessoa por ele indicada.

A ausência da comunicação imediata da prisão em flagrante ao juiz competente e ao


Ministério Público torna a prisão ilegal, devendo, portanto, ser relaxada.

Da comunicação imediata da prisão à família do preso ou à pessoa por ele indicada

Nos termos do artigo 306 do Código de Processo Penal e artigo 5º, incisos LXII e LXIII,
da Constituição Federal/88, cumpre à autoridade policial providenciar a comunicação imediata
da prisão em flagrante à família do preso ou à pessoa por ele indicada, garantindo-lhe, assim, a
assistência da família.

Essa comunicação tem por objetivo certificar familiares acerca da localização do preso,
bem como viabilizar ao preso o apoio e a assistência da família.

A comunicação à família ou à pessoa pelo preso indicada constitui direito subjetivo do


flagrado. Se não for observada essa formalidade pela autoridade policial, a prisão em flagrante
será ilegal, devendo, pois, ser relaxada.

Da assistência de advogado ao preso

Nos termos do artigo 5º, inciso LXIII, parte final, da Constituição Federal/88, o preso tem
direito à assistência da família e de advogado.

A presença de advogado não é imprescindível à lavratura do auto de prisão em flagrante.


De outro lado, se o preso constituir/contratar advogado, não cabe, à evidência, à autoridade
policial vedar a presença do advogado constituído nos atos que integram a lavratura do auto de
prisão em flagrante, podendo o profissional acompanhar a oitiva do condutor, das testemunhas,
bem como o interrogatório do flagrado.

Se o flagrado não informar o nome do seu advogado, deverá a autoridade policial


encaminhar, em até 24 horas, cópia integral do APF à Defensoria Pública, nos termos do artigo
306, §1º, do Código de Processo Penal.

Em síntese, a inobservância de qualquer dessas formalidades gera a ilegalidade da prisão


em flagrante, devendo o juiz, ao receber os autos, deixar de homologar o auto de prisão em
flagrante e determinar o relaxamento da prisão por ilegalidade formal.

GARANTIAS LEGAIS e CONSTITUCIONAIS DO PRESO:


COMUNICAÇÃO AO JUIZ (imediata)
COMUNICAÇÃO AO MINISTÉRIO PÚBLICO
COMUNICAÇÃO FAMÍLIA ou QUEM INDIQUE FALTA É ILEGAL

COMUNICAÇÃO FAMÍLIA ou QUEM INDIQUE


ACESSO A ADVOGADO

19.2.4 Providências judiciais ao receber o auto de prisão em flagrante:


art. 310, CPP

Com o advento da Lei nº 13.964/19, o juiz ao receber o auto de prisão em flagrante, no


prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas, deverá promover audiência de custódia com
a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro
do Ministério Público e deverá adotar uma das providências previstas no artigo 310 do Código
de Processo Penal:

a) Relaxar o flagrante
b) Converter a prisão em flagrante em prisão preventiva
c) CONCEDER LIBERDADE PROVISÓRIA (com ou sem fiança ou medidas
cautelares), salvo se verificar que o agente é reincidente ou integra organização criminosa
ou milícia armada ou porta arma de fogo de uso restrito (§2 do art. 310 do CPP)
Nesse sentido, num primeiro momento, o Magistrado deverá analisar o aspecto formal, a
legalidade do auto de prisão em flagrante, bem como se há situação de flagrância, conforme as
hipóteses do artigo 302 do Código de Processo Penal. Se observadas as formalidades, o Juiz
homologa; na hipótese de alguma ilegalidade, seja formal ou material, o Juiz deverá relaxar a
prisão em flagrante.

Num segundo momento, uma vez homologado o auto de prisão em flagrante, o Juiz
deverá verificar a necessidade de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva ou a
concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança e a eventual imposição de medida cautelar
diversa.

Em sendo legal a prisão em flagrante, o juiz deve verificar se concederá a liberdade


provisória ou se converterá a prisão em flagrante em prisão preventiva13.

Convém ressaltar, por pertinente, que a prisão preventiva somente poderá ser decretada
em substituição da prisão em flagrante se estiverem presentes os requisitos do artigo 312 do
Código de Processo Penal14 E se não for suficiente outra medida diversa da prisão, bem como
se presente uma das hipóteses do artigo 313 do Código de Processo Penal.

Assim, pela leitura do artigo 310, inciso II, do Código de Processo Penal, verifica-se que
a prisão preventiva é a última ratio das medidas cautelares. Ela somente deve ser decretada
quando todas as demais medidas cautelares se revelarem inadequadas e insuficientes para o
caso concreto. Em outras palavras, a insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão
(aquelas previstas no Art. 319, CPP) passou a ser mais um requisito para o cabimento da prisão
preventiva.

Logo, por ser medida de caráter excepcional, o juiz somente poderá converter a prisão em
flagrante em prisão preventiva se estiverem presentes os requisitos dos artigos 312 e 313, ambos
do Código de Processo Penal.

13
Antes da Lei nº 12.403/2011, o agente ficava preso em decorrência da prisão em flagrante. O Juiz simplesmente
homologava o APF e mantinha a prisão em flagrante. Com a alteração, o juiz, se presentes os requisitos, deverá
converter a prisão em flagrante em prisão preventiva. Eis a razão do caráter precautelar da prisão em flagrante (pois
dura até ser convertida em preventiva ou concedida a liberdade provisória).
14
Garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica, conveniência da instrução criminal e aplicação da lei
penal. Será estudado oportunamente.
Em síntese: O juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá, fundamentadamente,
converter a prisão em flagrante em preventiva (inciso II, primeira parte), desde que:

a) a prisão seja legal (inciso I);

b) as medidas cautelares diversas da prisão se revelarem inadequadas ou insuficientes


(inciso II, parte final);

c) o agente não tenha praticado o fato ao amparo das causas de exclusão da ilicitude
previstas no artigo 23 do Código Penal;

d) estejam presentes os requisitos dos artigos 312 e 313, ambos do Código de Processo
Penal.

Caso contrário, será concedida liberdade provisória (com ou sem fiança ou cautelar
diversa da prisão).

Muita atenção devemos dar aos dois últimos parágrafos do artigo 310 do Código de
Processo Penal. Ambos foram introduzidos pelo pacote anticrime e versam sobre situações
relativas à prisão em flagrante e a novidade da audiência de custódia. Segundo o § 3º, autoridade
que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo
estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão.
Percebe-se que desejou o legislador uma tríplice de responsabilidade do agente público que,
dentro da possibilidade de realizar a audiência de custódia, deixa de cumprir seu dever de ofício.

Já o §4º, por sua vez, passa a considerar ilegal, e por consequência passível de
relaxamento, a prisão em flagrante quando, no prazo de 24 horas após sua formalização, não
for realizada a audiência de custódia, sem prejuízo, por óbvio, da decretação da prisão preventiva
quando presentes os pressupostos autorizadores de tal medida coercitiva.

Aqui indispensável mencionar que, por ora, o disposto no §4º, do artigo 310 do Código de
Processo Penal, por força de decisão cautelar do Ministro Luiz Fux do Supremo Tribunal Federal,
proferida nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 6298, 6299, 6300 e 6305, encontra-
se com sua aplicação suspensa. Dessa forma, até que o Pleno de nossa Suprema Corte se
posicione, a não realização da Audiência de Custódia, por si só, não é capaz de ensejar a
ilegalidade da prisão. Nas palavras do Ministro: O dispositivo impugnado fixa consequência
jurídica desarrazoada para a não realização da audiência de custódia, consistente na ilegalidade
da prisão. Esse ponto desconsidera dificuldades práticas locais de várias regiões do país,
especialmente na Região Norte, bem como dificuldades logísticas decorrentes de operações
policiais de considerável".

19.3 Peças práticas no contexto de Prisão em Flagrante

19.3.1 Relaxamento de prisão

Base legal: Artigo 310, inciso I, CPP e Artigo 5º, inciso LXV, da CF/88.

Identificação: o pedido de relaxamento de prisão guarda relação com PRISÃO ILEGAL.

PRISÃO ILEGAL RELAXAMENTO DE PRISÃO

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica: Peça:

“Prisão ILEGAL Relaxamento de prisão

PAROU!

Conteúdo: a prisão ilegal pode decorrer de ilegalidade formal e/ou material.

• Ilegalidade Formal
Ocorre quando o auto de prisão em flagrante não observou as formalidades
procedimentais previstas no artigo 304 e 306, ambos do Código de Processo Penal e dos incisos
do artigo 5º da Constituição Federal/88, notadamente LXI, LXII, LXIII, LXIV.

As ilegalidades formais podem ocorrer durante ou depois da lavratura do auto de prisão


em flagrante.

Além da inobservância das formalidades no artigo 304 e artigo 306, ambos do Código de
Processo Penal e dos incisos do artigo 5º da Constituição Federal/88, notadamente LXI, LXII,
LXIII, LXIV, pode incidir a ilegalidade pelo excesso de prazo da prisão, como, por exemplo, na
conclusão do inquérito policial além do prazo previsto em lei, sem justificativa plausível ou, ainda,
não oferecimento da denúncia de réu preso (prazo 05 dias).

• Algumas ilegalidades formais:


Inobservância das formalidades legais e constitucionais na lavratura do APF.

Não comunicação imediata da prisão à autoridade judiciária.

Não comunicação imediata ao Ministério Público

Não encaminhamento do APF à Defensoria Pública, quando o autuado não informa nome de
advogado.

Não entrega da nota de culpa no prazo de 24 horas.

Não viabilizar assistência de advogado.

Não comunicação imediata à família.

Falta de representação do ofendido, sendo hipótese de prisão decorrente de crime de ação penal
pública condicionada à representação.

Ausência de requerimento da vítima na hipótese de prisão em flagrante por crime de ação penal
privada;

Inversão da ordem de oitiva prevista no Art. 304 do CPP.

Falta de laudo de constatação da natureza da substância entorpecente (Art. 50, §1º, da Lei
11.343/2006).

• Ilegalidade Material
Além das formalidades legais e constitucionais para a lavratura do APF, devem estar
presentes situações autorizadoras da prisão em flagrante.

Nesse sentido, se a prisão realizada não se enquadra em nenhuma das hipóteses do


artigo 302 do Código de Processo Penal, a prisão será materialmente ilegal. Em outras palavras,
se não estiver configurada nenhuma das hipóteses de flagrância, a prisão é ilegal.
Assim, em tese, a ilegalidade da prisão em flagrante, na forma material, ocorre
invariavelmente antes do início da lavratura do auto de prisão em flagrante.

• Algumas ilegalidades materiais:


Preso sem estar em situação de flagrância (art. 302, CPP)

Flagrante preparado/provocado – Súmula 145 do STF

Flagrante forjado

Preso por fato atípico


A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida da competência da
justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime doloso
contra a vida da competência da justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da justiça
federal)
E) EXCELENTÍSSIMO JUIZ DAS GARANTIAS (quando e se a liminar for cassada pelo
STF)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
requerer o RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, com base no artigo 310,
inciso I, Código de Processo Penal e artigo 5º, inciso LXV, da Constituição
Federal/88, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS15

II) DO DIREITO16

15
Fazer um breve relato dos fatos. Não inventar dados. Relatar como ocorreu a prisão.
16
Buscar no enunciado informações que permitam desenvolver teses voltadas à ilegalidade formal e/ou material.
I) DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:


a) O RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, a fim de que possa responder a
eventual processo em liberdade;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Vista ao Ministério Público17

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...

Assista como resolver a peça relaxamento de prisão

17
Alguns autores consideram desnecessária vista ao MP. Por cautela, até porque não há notícia de que ensejaria
perda de pontos, pode-se adicionar o pedido de vista ao MP.
19.4 Liberdade provisória

• Considerações gerais:
Entende-se por liberdade provisória o instituto destinado a conferir ao acusado o direito
de responder ao processo em liberdade, mediante o cumprimento ou não de determinadas
condições.

Nas palavras de Avena, com o advento da Lei nº 11.719/2008, modificada a redação do


artigo 408 (que restou substituído pelo atual Art. 413) e revogado o artigo 594, ficou o instituto
da liberdade provisória limitado à prisão em flagrante.18

18
AVENA, Norberto. Processo Penal Esquematizado. São Paulo: Método. 2013. p. 973.
Esse também é o entendimento de Nucci19, segundo o qual “a liberdade provisória, com
ou sem fiança, é um instituto compatível com a prisão em flagrante, mas não com a prisão
preventiva ou temporária. Nessas duas últimas hipóteses, vislumbrando não mais estarem
presentes os requisitos que a determinam, o melhor a fazer é revogar a custódia cautelar, mas
não colocar o réu em liberdade provisória, que implica sempre o respeito a determinadas
condições”.

A liberdade provisória está prevista no artigo 310, inciso III, do Código de Processo Penal,
segundo o qual ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá, fundamentadamente,
conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança. Está prevista ainda no artigo 5º, inciso LXVI,
da Constituição Federal/88, ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança.

Além disso, o artigo 321 do Código de Processo Penal dispõe que, ausentes os requisitos
que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo
Penal e observados os critérios constantes do artigo 282 do Código de Processo Penal.

Segundo Lopes Júnior, a liberdade provisória é disposta como uma medida cautelar (na
verdade, uma contracautela), alternativa à prisão preventiva, nos termos do artigo 310, inciso III,
do Código de Processo Penal. No sistema brasileiro, situa-se após a prisão em flagrante e antes
da prisão preventiva, como medida impeditiva da prisão cautelar [...]. É a liberdade provisória
uma forma de evitar que o agente preso em flagrante tenha sua detenção convertida em
preventiva.20

• Base legal: art. 310, inciso III, CPP, art. 321 do CPP e art. 5º, inciso LXVI da CF/88.

19
NUCCI, Guilherme Souza. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: RT. 2016, p. 785.
20
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva. 2016, p. 703.
• Identificação:

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica: Peça:

“Prisão flagrante LEGAL” Liberdade provisória

PAROU!

• Conteúdo:
Se a prisão em flagrante se revestir de legalidade, pode o magistrado conceder a liberdade
provisória sem nenhuma restrição, ou, ao contrário, impor ao agente a prestação de fiança e/ou
outra medida cautelar diversa da prisão.

Nos crimes afiançáveis, ausentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva, é


possível a concessão da liberdade provisória com fiança.

Convém registrar, por pertinente, que há crimes inafiançáveis, tais como os crimes de
racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, bem
como crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático. É o que se extrai do artigo 323 do Código de Processo Penal e artigo 5º,
XLII e XLIII, Constituição Federal/88. Nesses casos, se ausentes os requisitos da prisão
preventiva, será possível a concessão da liberdade provisória vinculada a fixação de uma medida
cautelar diversa da prisão, salvo a fiança. Eis as hipóteses de liberdade provisória sem fiança:

a) Ausência dos fundamentos da prisão preventiva: art. 321, CPP

Nos termos do artigo 321 do Código de Processo Penal, ausentes os requisitos da prisão
preventiva, o juiz deverá conceder a liberdade provisória, sendo-lhe facultado, com a observância
dos critérios da necessidade e da adequação previstos no artigo 282 do Código de Processo
Penal, exigir a prestação de fiança com a finalidade de assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial, bem como aplicar outras medidas cautelares diversas da prisão previstas no artigo 319
do Código de Processo Penal.

Se o crime for inafiançável racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo, crimes hediondos, bem como crimes cometidos por grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (Art. 323 do CPP e Art. 5º, incisos
XLII e XLIII, da CF/88), busca-se a liberdade provisória, com pedido subsidiário de fixação de
medida cautelar diversa da prisão.

b) Quando houver indicativos de que o agente praticou a infração penal abrigado


por excludentes de ilicitude: art. 310, §1º, CPP

Trata-se da hipótese em que os elementos constantes no auto de prisão em flagrante


indicam ter o agente praticado o fato em situação de legítima defesa, estado de necessidade,
exercício regular do direito ou estrito cumprimento do dever legal.

Nesses casos, deverá o juiz conceder a liberdade provisória ao agente,


independentemente se o fato praticado caracteriza delito afiançável ou inafiançável.

Embora não esteja previsto no artigo 310, §1º, do Código de Processo Penal, parte da
doutrina entende possível a concessão da liberdade provisória nas hipóteses de excludente de
culpabilidade (embriaguez acidental completa, coação moral irresistível, erro de proibição, etc),
uma vez que, ao final, o agente não será privado de liberdade.

• Liberdade provisória x tráfico ilícito de entorpecentes


A jurisprudência e a doutrina oscilavam em relação ao artigo 44 da Lei nº 11.343/2006,
que veda a concessão de liberdade provisória no crime de tráfico ilícito de entorpecentes.

Todavia, o STF, no julgamento do HC 104.339/SP, considerou inconstitucional o disposto no


artigo 44 da Lei nº 11.343/2006 também na parte que veda a concessão da liberdade provisória,
sob o fundamento de que o dispositivo viola o princípio da presunção da inocência e da dignidade
da pessoa humana, bem como que a Lei nº 11.464/2007, ao excluir dos crimes hediondos e
equiparados a vedação à liberdade provisória, sendo posterior à Lei de Drogas, revogou,
tacitamente, o artigo 44 desta Lei, que proibia o benefício ao crime de tráfico de drogas.
Assim, é possível conceder a liberdade provisória ao agente preso em flagrante pelo delito
de tráfico ilícito de entorpecentes, desde que ausentes os requisitos que autorizam a decretação
da prisão preventiva.

Inconstitucionalidade do artigo 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte que veda a concessão da


liberdade provisória.

• Ofensa ao princípio da presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da


CF/88.
• Ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso
III, da CF/88.
• Ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso
III, da CF/88.
• Liberdade provisória x proibição do art. 310, § 2º, CPP
Ainda que de uma constitucionalidade duvidosa, temos o §2º, do artigo 310 do Código de
Processo Penal que traz, ex lege, a impossibilidade de concessão da liberdade provisória, a
saber:

“§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada
ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
ou sem medidas cautelares.”

A nosso sentir, acreditamos em uma futura declaração de inconstitucionalidade do


mencionado dispositivo, mas, por ora, não temos seu reconhecimento formal.
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)21
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)
E) EXCELENTÍSSIMO JUIZ DAS GARANTIAS (quando e se a liminar for cassada pelo
STF)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
requerer a LIBERDADE PROVISÓRIA, com base no artigo 310, inciso III e artigo
321, ambos do Código de Processo Penal, e artigo 5º, inciso LXVI, da Constituição
Federal/88, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS22

II) DO DIREITO23

21
Ver art. 109 da CF
22
Fazer um breve relato dos fatos. Não inventar dados. Relatar como ocorreu a prisão.
23
Buscar no enunciado informações que permitam desenvolver teses voltadas à ilegalidade formal e/ou material.
* Fazer referência, se for o caso, a fiança e/ou medidas cautelares diversas da prisão
previstas no artigo 319 e 320 do CPP.

III) DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:


a) a concessão da LIBERDADE PROVISÓRIA, a fim de que possa responder a eventual
processo em liberdade;
b) a expedição do respectivo alvará de soltura;
c) fixação de fiança e/ou medida cautelar diversa da prisão;
d) vista ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO... OAB...

Observação: são medidas cautelares diversas da prisão, conforme o art. 319, CPP:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado
ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art.
26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título,
podendo ser cumulada com outras medidas cautelares.

Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades
encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou
acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.

Quando não for o caso de conversão


da prisão em flagrante em preventiva

Liberdade Se indeferido, Se denegado,


Prisão legal
provisória habeas corpus ROC

Ausência dos requisitos da preventiva


- Art. 321, CPP e Excludentes da
Flagrante ilicitude - Art. 310, p.ú, CPP
delito Medidas cautelares - Art. 319, CPP

Prisão ilegal
Relaxamento da Se indeferido, Se denegado,
(formal ou
material) prisão habeas corpus ROC
Assista como resolver a peça liberdade provisória
19.5 Prisão preventiva

• Conceito:
Trata-se de modalidade de prisão processual decretada exclusivamente por juiz
competente quando presentes os pressupostos e as hipóteses previstas em lei (Arts. 312 e 313,
ambos do CPP).

Possui natureza cautelar, uma vez que visa a tutela da sociedade, da investigação criminal
e garantir a aplicação da pena. Por se tratar de medida cautelar, pressupõe a coexistência do
fumus bonis iuris (ou fumus comissi delicti) e do periculum in mora (ou periculum libertatis).

Como repercute na esfera da liberdade do acusado, que constitui direito e garantia


fundamental do cidadão, a possibilidade de decretação da prisão preventiva encontra
embasamento também no artigo 5º, especificamente no inciso LXI, da Constituição Federal/88,
que permite a prisão provisória, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, desde
que precedida de ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Em
síntese, somente é possível decretar a prisão preventiva por “ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente”.

• Necessita de mandado:
Conforme dispõe o artigo 283, §2º, do Código de Processo Penal, a prisão poderá ser
efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitada a garantia fundamental da inviolabilidade
do domicílio, prevista no artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal/88, segundo o qual salvo na
hipótese de prisão em flagrante, a prisão somente pode ser efetivada mediante ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente.

De acordo com o artigo 293 do Código de Processo Penal, durante o período noturno, no
caso de prisão preventiva e temporária, em que se exige mandado de prisão expedido por juiz
competente, é vedado à autoridade policial ingressar em domicílio alheio para efetivar a prisão
do suspeito. Todavia, nesse caso, se o morador consentir com o ingresso no seu domicílio, a
autoridade policial poderá efetivar a prisão.
Durante o período noturno, se o morador não permitir o ingresso no seu domicílio, a
autoridade policial deverá aguardar o amanhecer, com os primeiros raios solares, para invadir,
com ou sem consentimento do morador, a residência e aí sim efetivar a prisão. Se invadir sem
permissão do morador, a prisão será ilegal, devendo ser relaxada.

O mandado de prisão deverá preencher os requisitos do artigo 285, parágrafo único, do


Código de Processo Penal.

19.5.1 Legitimação

Diante do que dispõe o artigo 5º, inciso LXI, da Constituição Federal/88, no sentido de que
ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei, resta claro que a prisão preventiva somente pode ser decretada por
ordem judicial.

Nesse caso, o Magistrado decreta, durante a investigação criminal ou ação penal, a prisão
preventiva, que deve ser cumprida mediante a expedição do respectivo mandado. A prisão
preventiva pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal.

Antes da Lei nº 13.964/19, o juiz poderia decretar a prisão preventiva de ofício na fase
processual, mas nunca na fase inquisitiva (durante o inquérito).

Atualmente, foi retirada por completo a possibilidade de o magistrado decretar a prisão


preventiva de ofício seja na Ação Penal, seja no Inquérito Policial. Veja a nova redação do
dispositivo:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

Dessa forma, a decretação da prisão preventiva de ofício pelo juiz, em qualquer fase da
persecução será ilegal, sendo, nesse caso, cabível relaxamento de prisão.
19.5.2 Pressupostos

Nos termos da parte final do artigo 312 do Código de Processo Penal, alterado pelo pacote
anticrime, a prisão preventiva somente é possível, se, no caso concreto, houver indícios
suficientes de autoria e prova da materialidade e desde que haja comprovação de que o estado
de liberdade do agente gere perigo para a sociedade.

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e
de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Como o dispositivo se refere expressamente a “crime”, forçoso concluir que não cabe
prisão preventiva nas contravenções penais.

EM SÍNTESE:

Indícios suficientes de autoria + prova da materialidade do crime = pressupostos da


preventiva

Cautelaridade

Social Processual

Assegurar a
Garantia da ordem Garantia da ordem Assegurar a
aplicação da lei
pública econômica instrução criminal
penal

Não confundir com clamor Se aplica, por exemplo, a


popular. Deve haver crimes econômicos, nos
gravidade em concreto, o casos em que o autor Não basta o mero receio da Nos casos de fundado
criminoso deve oferecer possa colocar em risco a vítima ou testemunha. receio de fuga do acusado.
perigo real, capaz de abalar situação financeira de
a paz social. instituição ou órgão estatal
19.5.3 Fundamentos da prisão preventiva: art. 312, CPP

De acordo com o artigo 312 do Código de Processo Penal, a prisão preventiva pode ser
decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal, para assegurar a aplicação da lei penal ou em caso de descumprimento das obrigações
impostas por força de outras medidas cautelares.

O §2º, também acrescido pelo pacote anticrime, trouxe a exigência de que a


fundamentação e a motivação da prisão preventiva tenham lastro concreto em fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da prisão.

a) Garantia da ordem pública:

A prisão preventiva para garantia da ordem pública somente deve ocorrer em hipóteses
de crimes que se revestem de especial gravidade no caso concreto, seja pela pena prevista,
seja, sobretudo, pelos meios de execução utilizados. Cabe, ainda, prisão preventiva para
garantia da ordem pública diante do risco de reiteradas investidas criminosas e quando presente
situação de comprovada intranquilidade coletiva no seio social ou de uma determinada
comunidade.

A gravidade em abstrato do crime não autoriza a prisão preventiva. O juiz deve analisar a
gravidade de acordo com as circunstâncias do caso concreto. Se não fosse assim, todo crime
de homicídio ou de roubo, por serem abstratamente graves, autorizariam a prisão preventiva
compulsória.
EM SÍNTESE:

A gravidade em concreto que autoriza a prisão preventiva é aquela revelada não só pela
pena abstratamente prevista para o crime, mas também pelos meios de execução, quando
a perversidade e o desprezo pelo bem jurídico atingido reclamarem medidas imediatas para
assegurar a ordem pública, decretando-se a prisão preventiva. Diante disso, a gravidade
em abstrato não constitui motivo idôneo a embasar um decreto de preventiva, devendo o
Magistrado fundamentar sua decisão, nos termos do artigo 93, inciso IX, da Constituição
Federal/88, artigo 5º, inciso LXI, da Constituição Federal/88, bem como artigo 315 do
Código de Processo Penal.

Embora os tribunais superiores utilizem, em determinadas decisões, a expressão


revogação da prisão preventiva, a FGV, no exame de 2010/03 e XIV Exame, sinalizou no sentido
de considerar, nesse caso, a ilegalidade de prisão, na medida em que, após constar no
enunciado que o juiz decretou a prisão preventiva considerando a gravidade em abstrato do
crime, no padrão de resposta da prova de 2010/03 constou a expressão “Ilegalidade na
decretação da prisão preventiva”. No XIV Exame, após constar no enunciado que “Cristiano foi
denunciado pela prática do delito tipificado no artigo 171, do Código Penal. No curso da instrução
criminal, o magistrado que presidia o feito decretou a prisão preventiva do réu, com o intuito de
garantir a ordem pública, “já que o crime causou grave comoção social, além de tratar-se de um
crime grave, que coloca em risco a integridade social, configurando conduta inadequada ao meio
social.”, a questão seguiu com a seguinte redação, “o advogado de Cristiano, inconformado com
a fundamentação da medida constritiva de liberdade, impetrou Habeas Corpus perante o Tribunal
de Justiça, no intuito de relaxar tal prisão, já que a considerava ilegal”.

Ressalta-se, por pertinente, que o clamor público, por si só, não autoriza o decreto da
prisão preventiva, servindo como uma referência adicional para o exame da necessidade da
custódia cautelar, devendo, portanto, estar acompanhado de situação concreta excepcional, que
justifique a prisão processual.

b) Conveniência da instrução criminal:


É empregada quando houver risco efetivo para a instrução criminal e não meras suspeitas
ou presunções. Ou seja, simples receio ou medo da vítima ou testemunha em relação ao
acusado, não autoriza o decreto da prisão preventiva.

Não cabe prisão preventiva com fundamento na conveniência da instrução criminal


quando se pretende interrogar ou compelir o acusado a participar de algum ato probatório
(acareação, reconstituição ou reconhecimento), sobretudo pela violação ao direito ao silêncio.

Se a prisão preventiva foi decretada exclusivamente com base na conveniência da


instrução criminal, uma vez encerrada a instrução, não há mais motivo para subsistir o decreto,
impondo-se, então, a revogação, conforme se infere dos artigos 316 e 282, §5º, ambos do Código
de Processo Penal. Do contrário, passa a preventiva a se constituir uma forma de execução
antecipada de pena, configurando constrangimento ilegal.

ATENÇÃO

Mera suspeita de fuga não autoriza a preventiva!

c) Garantia da aplicação da lei penal:

Significa assegurar a finalidade útil do processo penal, que é proporcionar ao Estado o


exercício do seu direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é considerado autor da
infração penal.

É a prisão para evitar que o agente empreenda fuga, tornando inútil a sentença penal por
impossibilidade de aplicação da pena cominada.

Todavia, o risco de fuga não pode ser presumido. Tem de estar fundado em circunstâncias
concretas. Logo, não havendo nenhum elemento concreto, mas mera suspeita de fuga, não há
motivo suficiente para o decreto da prisão preventiva.

d) Garantia de ordem econômica:


Nesse caso, visa-se, com a decretação da prisão preventiva, impedir que o agente,
causador de seriíssimo abalo à situação econômico-financeira de uma instituição financeira ou
mesmo de órgão do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à sociedade a impunidade
reinante nessa área.

Equipara-se o criminoso do colarinho branco aos demais delinquentes comuns, na medida


em que o desfalque em uma instituição financeira pode gerar maior repercussão na vida das
pessoas, do que um simples roubo contra um indivíduo qualquer.

e) Descumprimento de obrigações impostas por força de outras medidas


cautelares:

Nos termos do artigo 312, parágrafo único, do Código de Processo Penal, a prisão
preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (Art. 319 do CPP), conforme artigo
282, §4º, do Código de Processo Penal.

Nesse caso, é imprescindível que o juiz atente para a proporcionalidade, devendo sempre
priorizar a cumulação de medidas cautelares ou adoção de outra mais grave, optando pela prisão
preventiva em último caso.

Em síntese, o Juiz deve priorizar a aplicação de medida cautelar diversa da prisão caso
entenda adequada e suficiente diante do caso concreto. Ex: Suponha que o juiz determine a
proibição do acusado de estabelecer contato com pessoa determinada (Art. 319, inciso III, CPP)
e ele descumpre a medida. Nesse caso, o juiz deve, primeiro, optar por substituir a medida ou
aplicar outra em cumulação, para só então, se persistir o descumprimento, decretar a preventiva,
conforme dispõe o artigo 312, parágrafo único, c/c o artigo 282, §4º, do Código de Processo
Penal.

Descumprimento Cumular Decretar


Nova Cautelar
de Cautelar Cautelares Preventiva
19.5.4 Condições de admissibilidade da Prisão Preventiva: Art. 313, CPP

Não se mostra suficiente a presença de um dos fundamentos da prisão preventiva,


devendo, além disso, ser decretada somente em determinadas espécies de infração

a) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a
4 (quatro) anos:

Nos termos desse inciso, somente é cabível a prisão preventiva para os crimes dolosos
com pena máxima, privativa de liberdade, superior a quatro anos.

O limite de 04 anos tem a sua razão de ser, porquanto, se condenado definitivamente, o


agente poderá, se preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código Penal, ter substituída sua
pena privativa de liberdade em restritiva de direitos. Nesse sentido, se condenado o agente não
irá, a princípio, para prisão, com muito mais razão não poderá ser mantido preso quando incide
a seu favor a presunção da inocência.

Além disso, se condenado a pena não superior a 04 anos, o agente poderá cumprir a pena
privativa de liberdade em regime aberto, podendo sair para trabalhar durante o dia e retornar ao
cárcere à noite.

São inúmeros os crimes que, em razão deste inciso, não comportam prisão preventiva,
tais como furto simples (Art. 155 do CP), apropriação indébita (Art. 168 do CP), receptação
simples (Art. 180 do CP), descaminho (Art. 334 do CP), dentre outros.

No caso de concurso material de crimes, somam-se as penas para fins de prisão


preventiva. Nos casos de concurso formal de crimes e crime continuado, considera-se a causa
de aumento no máximo e a de diminuição no mínimo. Em qualquer caso, se a pena máxima for
superior a 04 anos, poderá, em tese, ser decretada a prisão preventiva.

Tratando-se de causas de aumento de pena e de diminuição da pena, deve-se considerar


a quantidade que mais aumente ou que menos diminua, respectivamente, a fim de se chegar à
pena máxima cominada ao delito.
Assim, se uma pessoa primária está sendo processada por crime cuja pena máxima não
excede 4 anos, descabe inicialmente a prisão preventiva, ainda que existam provas de que ela,
por exemplo, está ameaçando testemunhas, podendo, nesse caso, ser aplicada uma das
medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal. Somente se
descumprida a medida cautelar, pode-se aventar a possibilidade de decreto da preventiva, com
base no artigo 282, §4º, c/c artigo 312, parágrafo único, do Código de Processo Penal.

Exemplo: 01: Furto noturno, previsto no artigo 155, §1º, do Código Penal, a pena é
aumentada em 1/3. O furto simples não autoriza o decreto da prisão preventiva, pois a pena
máxima cominada é de 04 anos. Todavia, se for praticado durante repouso noturno, a pena
é aumentada em 1/3, superando os 04 anos e, por conseguinte, autorizando o decreto da
prisão preventiva.
Exemplo 02: Tentativa de estelionato. Conforme o artigo 171 do Código Penal, a pena
máxima cominada ao delito de estelionato é de 05 anos. Na hipótese de tentativa de
estelionato, esta pena poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, conforme dispõe o artigo 14,
parágrafo único, do Código Penal. Se aplicada sobre a pena de 05 anos a redução mínima
(1/3), a pena resultará em 03 anos e 04 meses, quantidade, portanto, incompatível com o
disposto no artigo 313, inciso I, do Código de Processo Penal, o decreto da prisão
preventiva.

b) se o réu ostentar condenação anterior definitiva por outro crime doloso no prazo
de 05 anos da reincidência:

Trata-se da hipótese do réu reincidente em crime doloso. Nesse sentido, ainda que se
trate de crime com pena máxima não superior a quatro anos, poderá ser decretada a prisão
preventiva se o réu for reincidente em crime doloso, desde que presente um dos fundamentos
do artigo 312 do Código de Processo Penal.

Convém ressaltar que, se for reincidente, mas não em crime doloso (registra contra si
sentença condenatória transitada em julgado por crime culposo e depois pratica crime doloso),
somente será possível decretar a prisão preventiva se a pena máxima cominada ao delito superar
04 (quatro) anos, se previsto um dos fundamentos do artigo 312 do Código de Processo Penal.

c) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,


adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência:

Por fim, cabe preventiva se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência.

Além das medidas protetivas previstas na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), a nova
redação do artigo 313 do Código de Processo Penal incluiu os casos de violência doméstica, não
só em relação à mulher, mas à criança, adolescente, idoso, enfermo ou qualquer pessoa com
deficiência.
Essas medidas protetivas estão previstas no artigo 22 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha), artigos 43 a 45, todos do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), e artigos 98 a 101,
todos do ECA (Lei nº 8069/90).

Convém registrar que, neste caso, a prisão preventiva será decretada apenas para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência, indicando, assim, a necessidade de
imposição anterior das cautelares protetivas de urgência.

d) §1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida:

• Pacote anticrime: “Art. 313. § 2º Não será admitida a decretação da prisão


preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como
decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento
de denúncia.”

• Exigência de fundamentação:

Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre
motivada e fundamentada.

§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz


deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.

§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua


relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.
• Necessidade de revisão para manutenção da prisão preventiva:

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se,
no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista,
bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar
a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

19.5.5 Peças privativas de advogado no contexto de prisão preventiva


19.5.5.1 Revogação da Prisão Preventiva

• Base legal: art. 316, CPP

• Identificação: prisão preventiva legal. Quando não mais subsistir o motivo que
ensejou o decreto da prisão preventiva. Trata-se de peça privativa de advogado.

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica: Peça:

“Prisão preventiva LEGAL” Revogação da preventiva

PAROU!
• Conteúdo: buscar no enunciado informações no sentido de que não mais
subsistem os motivos que ensejaram o decreto da prisão preventiva, previstos
no artigo 312 do Código de Processo Penal, ou seja, que o agente não
representa risco à ordem pública, à ordem econômica, à conveniência da
instrução criminal, bem como à aplicação da lei penal.
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com base no artigo 316 do
Código de Processo Penal pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO
* Mencionar, por cautela, o disposto no artigo 5º, inciso LVII, da CF/88 (princípio da
presunção da inocência);
* Demonstrar que cessaram os motivos que ensejaram a prisão preventiva (a ausência dos
fundamentos do artigo 312, CPP).
* Fazer, se for o caso, referência a medidas cautelares, invocando os artigos 282 e 319 e
320 do Código de Processo Penal.
III) DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:


a) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, a fim de que possa responder a eventual
processo em liberdade;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Subsidiariamente, aplicação de medida cautelar diversa da prisão;
d) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO... OAB...
Assista como resolver a peça revogação de prisão preventiva

19.5.5.2 Relaxamento de Prisão Preventiva


• Base legal: art. 5º, inciso LXV, CF/88.

• Identificação e conteúdo: o relaxamento da prisão no contexto da prisão


preventiva poderá ocorrer quando a prisão for ilegal. Trata-se de peça privativa
de advogado.

Exemplos:
Prisão preventiva decretada em crime não listado no rol do artigo 313 Código de Processo Penal;
nos casos de Contravenções Penais; Inobservância dos requisitos essenciais do mandado de
prisão (art. 285, parágrafo único, do CPP); Prisão preventiva sem fundamentação; Prisão
preventiva decretada de ofício pelo juiz.

Pedido de
Se indeferido, Se denegado,
Prisão legal revogação habeas corpus ROC
Juiz decreta a preventiva
prisão
preventiva Pedido de
Se ideferido, Se denegado,
Prisão ilegal relaxamento de
habeas corpus ROC
prisão
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
requerer a RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA, com base no artigo 5º, inciso
LXV da Constituição federal/88 pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) O RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA, a fim de que possa responder a
eventual processo em liberdade;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...

19.6 Prisão temporária

• Conceito:
É prisão cautelar de natureza processual destinada a possibilitar as investigações a
respeito de crimes graves, durante o inquérito policial.

• Hipóteses para a decretação:


A prisão temporária pode ser decretada em relação aos crimes previstos no artigo 1º da
Lei nº 7960/89 e nas seguintes hipóteses:

a) Imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial:

Quando a autoridade policial, atualmente, representa pela prisão temporária, é obrigada


a dar os motivos dessa necessidade, expondo fundamentos que serão avaliados, caso a caso,
pelo magistrado competente.

b) Residência fixa e identidade conhecida

Esses dois elementos permitem a correta qualificação do suspeito, impedindo que outra
pessoa seja processada ou investigada em seu lugar, evitando-se, por isso, o indesejado erro
judiciário.

Aquele que não tem residência (morada habitual) em lugar determinado ou que não
consegue fornecer dados suficientes para o esclarecimento da sua identidade (individualização
como pessoa) proporciona insegurança na investigação policial.
Decretação da
temporária

Requisitos obrigatórios
Requisitos alternativos
(art. 1º, da Lei 7.960/89)

Necessidade de
Fundadas razões preservar a
investigação criminal

Estar o crime cometido Réu não possuir


previsto no rol taxativo residência fixa
da Lei 7.960/89

Réu não fornecer


elementos para sua
identificação

19.6.1 Decretação por autoridade judicial

No caso de prisão temporária, não pode o magistrado decretá-la de ofício. Há,


invariavelmente, de existir requerimento do Ministério Público ou representação da autoridade
policial.

ATENÇÃO!

O juiz NÃO pode decretar de ofício, se decretar de ofício a prisão será ILEGAL!

19.6.2 Prazo

Prazo de 05 dias, prorrogáveis por mais 05 dias.


No caso de prisão temporária pela prática de crime hediondo e equiparados, o artigo 2º,
§4º, da Lei nº 8.072/90, estabelece que o prazo de prisão temporária pode atingir 30 dias,
prorrogáveis por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade.

• Crimes hediondos: 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias.


• Demais crimes: 05 dias, prorrogáveis por mais 05 dias.

19.6.3 Procedimento

A prisão temporária pode ser decretada em face da representação da autoridade policial


ou de requerimento do Ministério Público. Não pode ser decretada de ofício pelo juiz.

No caso de representação da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, tem de ouvir o


Ministério Público.

O juiz tem o prazo de 24 horas, a partir do recebimento da representação ou requerimento,


para decidir fundamentadamente sobre a prisão.

O mandado de prisão deve ser expedido em duas vias, uma das quais deve ser entregue
ao iniciado, servindo como nota de culpa.

Efetuada a prisão, a autoridade policial deve advertir o preso do direito constitucional de


permanecer calado.

Ao decretar a prisão, o juiz poderá (faculdade) determinar que o preso lhe seja
apresentado, solicitar informações da autoridade policial ou submetê-lo a exame de corpo de
delito.

O prazo de 5 dias (ou trinta) pode ser prorrogado uma vez em caso de comprovada e
extrema necessidade.

19.6.4 Revogação da prisão temporária

Base Legal: art. 316, CPP e art. 282, § 5º, CPP


Como não há previsão expressa, considera-se como base legal, por analogia, o artigo 316
do Código de Processo Penal, podendo, ainda, ser considerado o artigo 282, §5º, do Código de
Processo Penal, que trata da revogação de medida cautelar.

A revogação da prisão temporária ocorre no contexto de prisão temporária legal.

19.6.5 Relaxamento da prisão temporária

Base Legal: art. 5º, inciso LXV, da CF/88

O relaxamento da prisão temporária guarda relação com prisão ilegal, que ocorre, por
exemplo, quando o juiz decreta a prisão temporária de ofício; decreta prisão temporária na fase
judicial; quando decreta em face de crime que não consta no rol do artigo 1º, inciso III, da Lei nº
7.960/89.

EM SÍNTESE, ALGUNS EXEMPLOS:

PRISÃO TEMPORÁRIA ILEGAL PRISÃO TEMPORÁRIA LEGAL

✔ Decretação através de
requerimento do MP ou da
autoridade policial;
✔ Decretação de ofício pelo juiz;
✔ Fase investigatória;
✔ Fase judicial;
✔ Imprescritibilidade para as
✔ Em crimes que não constam no rol do
investigações do inquérito policial;
art. 1º da lei 7.960/89.
✔ Se houver dúvida quanto a
identificação civil do acusado e este
se recusar a esclarecê-la.
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, com base no artigo 316 do
Código de Processo Penal e artigo 282, §5º, do Código de Processo Penal, pelos
fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO
* Fundamentar o pedido de revogação da prisão temporária com o disposto no artigo 5º,
inciso LVII, da Constituição Federal/88 (princípio da presunção da inocência).
* Demonstrar a que não subsistem os motivos que ensejaram a prisão temporária.
* Por cautela, se for o caso, fazer referência a medidas cautelares, invocando os artigos
282 e 319 e 320 do Código de Processo Penal.

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Subsidiariamente, a aplicação de medida cautelar, como medida de inteira justiça;
d) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado,
com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
requerer a RELAXAMENTO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, com base artigo 5º, inciso
LXV, da Constituição Federal/88, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir
expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) O RELAXAMENTO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, a fim de que possa responder a
eventual processo em liberdade;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...

19.7 Questões sobre prisão

48) QUESTÃO 4 – XXII EXAME


Diego e Júlio caminham pela rua, por volta das 21h, retornando para suas casas após mais um
dia de aula na faculdade, quando são abordados por Marcos, que, mediante grave ameaça de
morte e utilizando simulacro de arma de fogo, exige que ambos entreguem as mochilas e os
celulares que carregavam. Após os fatos, Diego e Júlio comparecem em sede policial, narram o
ocorrido e descrevem as características físicas do autor do crime. Por volta das 5h da manhã do
dia seguinte, policiais militares em patrulhamento se deparam com Marcos nas proximidades do
local do fato e verificam que ele possuía as mesmas características físicas do roubador. Todavia,
não são encontrados com Marcos quaisquer dos bens subtraídos, nem o simulacro de arma de
fogo. Ele é encaminhado para a Delegacia e, tendo-se verificado que era triplamente reincidente
na prática de crimes patrimoniais, a autoridade policial liga para as residências de Diego e Júlio,
que comparecem em sede policial e, em observância de todas as formalidades legais, realizam
o reconhecimento de Marcos como responsável pelo assalto. O Delegado, então, lavra auto de
prisão em flagrante em desfavor de Marcos, permanecendo este preso, e o indicia pela prática
do crime previsto no Art. 157, caput, do Código Penal, por duas vezes, na forma do Art. 69 do
Código Penal. Diante disso, Marcos liga para seu advogado para informar sua prisão. Este
comparece, imediatamente, em sede policial, para acesso aos autos do procedimento originado
do Auto de Prisão em Flagrante.
Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Marcos,
responda, de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir.
A) Qual requerimento deverá ser formulado, de imediato, em busca da liberdade de Marcos
e sob qual fundamento? Justifique.
B) Oferecida denúncia na forma do indiciamento, qual argumento de direito material
poderá ser apresentado pela defesa para questionar a capitulação delitiva constante da
nota de culpa, em busca de uma punição mais branda? Justifique.
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

49) QUESTÃO 2 – XII EXAME


Ricardo é delinquente conhecido em sua localidade, famoso por praticar delitos contra o
patrimônio sem deixar rastros que pudessem incriminá-lo. Já cansando da impunidade, Wilson,
policial e irmão de uma das vítimas de Ricardo, decide que irá empenhar todos os seus esforços
na busca de uma maneira para prender, em flagrante, o facínora. Assim, durante meses, se faz
passar por amigo de Ricardo e, com isso, ganhar a confiança deste. Certo dia, decidido que
havia chegada a hora, pergunta se Ricardo poderia ajudá-lo na próxima empreitada. Wilson diz
que elaborou um plano perfeito para assaltar uma casa lotérica e que bastaria ao amigo seguir
as instruções. O plano era o seguinte: Wilson se faria passar por um cliente da casa lotérica e,
percebendo o melhor momento, daria um sinal para que Ricardo entrasse no referido
estabelecimento e anunciasse o assalto, ocasião em que o ajudaria a render as pessoas
presentes. Confiante nas suas próprias habilidades e empolgado com as ideias dadas por
Wilson, Ricardo aceita. No dia marcado por ambos, Ricardo, seguindo o roteiro traçado por
Wilson, espera o sinal e, tão logo o recebe, entra na casa lotérica e anuncia o assalto. Todavia,
é surpreendido ao constatar que tanto Wilson quanto todos os “clientes” presentes na casa
lotérica eram policiais disfarçados. Ricardo acaba sendo preso em flagrante, sob os aplausos da
comunidade e dos demais policiais, contentes pelo sucesso do flagrante. Levado à delegacia, o
delegado de plantão imputa a Ricardo a prática do delito de roubo na modalidade tentada.
Nesse sentido, atento tão somente às informações contidas no enunciado, responda
justificadamente:
A) Qual a espécie de flagrante sofrido por Ricardo?
B) Qual é a melhor tese defensiva aplicável à situação de Ricardo relativamente à sua
responsabilidade Jurídico penal?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

50) QUESTÃO 4 – XXIV EXAME


Pablo, que possui quatro condenações pela prática de crimes com violência ou grave ameaça à
pessoa, estava no quintal de sua residência brincando com seu filho, quando ingressa em seu
terreno um cachorro sem coleira. O animal adota um comportamento agressivo e começa a tentar
atacar a criança de 05 anos, que brincava no quintal com o pai. Diante disso, Pablo pega um
pedaço de pau que estava no chão e desfere forte golpe na cabeça no cachorro, vindo o animal
a falecer. No momento seguinte, chega ao local o dono do cachorro, que, inconformado com a
morte deste, chama a polícia, que realiza a prisão em flagrante de Pablo pela prática do crime
do Art. 32 da Lei nº 9.605/98. Os fatos acima descritos são integralmente confirmados no
inquérito pelas testemunhas. Considerando que Pablo é multirreincidente na prática de crimes
graves, o Ministério Público se manifesta pela conversão do flagrante em preventiva, afirmando
o risco à ordem pública pela reiteração delitiva.
Considerando as informações narradas, na condição de advogado(a) de Pablo, que deverá
se manifestar antes da decisão do magistrado quanto ao requerimento do Ministério
Público, responda aos itens a seguir.
A) Qual pedido deverá ser formulado pela defesa de Pablo para evitar o acolhimento da
manifestação pela conversão da prisão em flagrante em preventiva? Justifique.
B) Sendo oferecida denúncia, qual argumento de direito material poderá ser apresentado
em busca da absolvição de Pablo? Justifique.
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

51) QUESTÃO 4 – XVI EXAME


Wesley, estudante, foi preso em flagrante no dia 03 de março de 2015 porque conduzia um
veículo automotor que sabia ser produto de crime pretérito registrado em Delegacia da área em
que residia. Na data dos fatos, Wesley tinha 20 anos, era primário, mas existia um processo
criminal em curso em seu desfavor, pela suposta prática de um crime de furto qualificado. Diante
dessa anotação em sua Folha de Antecedentes Criminais, a autoridade policial representou pela
conversão da prisão em flagrante em preventiva, afirmando que existiria risco concreto para a
ordem pública, pois o indiciado possuía outros envolvimentos com o aparato judicial. Você, como
advogado(a) indicado por Wesley, é comunicado da ocorrência da prisão em flagrante, além de
tomar conhecimento da representação formulada pelo Delegado. Da mesma forma, o
comunicado de prisão já foi encaminhado para o Ministério Público e para o magistrado, sendo
todas as legalidades da prisão em flagrante observadas.
Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir.
A) Qual a medida processual, diferente de habeas corpus, a ser adotada pela defesa
técnica de Wesley?
B) A representação da autoridade policial foi elaborada de modo adequado?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

52) QUESTÃO 1 – XX EXAME


Fausto, ao completar 18 anos de idade, mesmo sem ser habilitado legalmente, resolveu sair com
o carro do seu genitor sem o conhecimento do mesmo. No cruzamento de uma avenida de
intenso movimento, não tendo atentado para a sinalização existente, veio a atropelar Lídia e suas
05 filhas adolescentes, que estavam na calçada, causando-lhes diversas lesões que acarretaram
a morte das seis. Denunciado pela prática de seis crimes do Art. 302, § 1º, incisos I e II, da Lei
nº 9503/97, foi condenado nos termos do pedido inicial, ficando a pena final acomodada em 04
anos e 06 meses de detenção em regime semiaberto, além de ficar impedido de obter habilitação
para dirigir veículo pelo prazo de 02 anos. A pena privativa de liberdade não foi substituída por
restritivas de direitos sob o fundamento exclusivo de que o seu quantum ultrapassava o limite de
04 anos. No momento da sentença, unicamente com o fundamento de que o acusado,
devidamente intimado, deixou de comparecer espontaneamente a última audiência designada,
que seria exclusivamente para o seu interrogatório, o juiz decretou a prisão cautelar e não
permitiu o apelo em liberdade, por força da revelia. Apesar de Fausto estar sendo assistido pela
Defensoria Pública, seu genitor o procura, para que você, na condição de advogado(a), preste
assistência jurídica.
Diante da situação narrada, como advogado(a), responda aos seguintes questionamentos
formulados pela família de Fausto:
A) Mantida a pena aplicada, é possível a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos? Justifique.
B) Em caso de sua contratação para atuar no processo, o que poderá ser alegado para
combater, especificamente, o fundamento da decisão que decretou a prisão cautelar?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

53) QUESTÃO 4 – XX EXAME – PROVA REAPLICADA EM PORTO VELHO/RO


Maria, primária e com bons antecedentes, trabalha há vários anos dirigindo uma van de
transporte de crianças. Certo dia, após mudar o itinerário sempre observado, resolve fazer
compras em um supermercado, onde permaneceu por duas horas, esquecendo de entregar uma
das crianças de 03 anos na residência da mesma. Ao retornar ao veículo, encontra a criança
desfalecida e, desesperada, leva-a ao hospital, não conseguindo, porém, evitar o óbito. Acabou
denunciada e condenada pela prática do injusto do Art. 133, § 2º, do Código Penal (abandono
de incapaz com resultado morte) à pena de 04 anos de reclusão em regime aberto. Apesar de
ter respondido ao processo em liberdade, não foi permitido à Maria apelar em liberdade,
fundamentando o juiz a ordem de prisão na grande comoção social que o fato causou. A família
dispensou o advogado anterior e o(a) procurou para que assumisse a defesa de Maria.
Considerando apenas as informações narradas na situação hipotética, responda aos itens
a seguir.
A) Qual a tese de direito material a ser alegada em eventual recurso defensivo para evitar
a punição de Maria pelo crime pelo qual foi denunciada? Justifique.
B) Qual a medida que deve ser adotada na busca da liberdade imediata de Maria e com
qual fundamento? Justifique.
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

54) QUESTÃO 3 – VI EXAME


Caio, Mévio, Tício e José, após se conhecerem em um evento esportivo de sua cidade,
resolveram praticar um estelionato em detrimento de um senhor idoso. Logrando êxito em sua
empreitada criminosa, os quatro dividiram os lucros e continuaram a vida normal. Ao longo da
investigação policial, apurou-se a autoria do delito por meio dos depoimentos de diversas
testemunhas que presenciaram a fraude. Em decorrência de tal informação, o promotor de justiça
denunciou Caio, Mévio, Tício e José, alegando se tratar de uma quadrilha de estelionatários,
tendo requerido a decretação da prisão temporária dos denunciados. Recebida a denúncia, a
prisão temporária foi deferida pelo juízo competente.
Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
A) Qual(is) o(s) meio(s) de se impugnar tal decisão e a quem deverá(ão) ser
endereçado(s)?
B) Quais fundamentos deverão ser alegados?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

55) QUESTÃO 1 – XXXII EXAME


Gabriel, estudante de farmácia, 22 anos, descobre que seu tio Jorge possuía grave doença no
fígado, que lhe causava dores físicas. Durante seus estudos sobre medicina alternativa em livro
oficial fornecido pela faculdade pública em que estudava, vem a ler que a droga conhecida como
heroína poderia, em doenças semelhantes à de seu tio, funcionar como analgésico e aliviar a
dor do paciente.
Tendo acesso ao material que sabia ser heroína e sua classificação como droga, Gabriel, em 27
de maio de 2019, transporta e entrega o material para o tio, acreditando que, apesar de existir a
figura típica do tráfico de drogas, sua conduta seria lícita diante dos fins medicinais. Avisou que
o material deveria ser usado naquele dia, de forma imediata. No dia 29 de maio de 2019, após
denúncia, policiais militares, com autorização para ingresso na residência de Jorge, apreendem
o material ilícito e descobrem que Jorge o recebera de Gabriel, mas não o utilizou. Em seguida,
comparecem à faculdade de Gabriel e realizam sua prisão em flagrante.
Jorge e Gabriel foram indiciados, após juntada do laudo confirmando a natureza do material, pelo
crime de tráfico de drogas (Art. 33 da Lei nº 11.343/06), mas, em razão da doença, Jorge vem a
falecer naquela mesma data. Ao tomar conhecimento dos fatos, de imediato a família de Gabriel
procura você, como advogado, para esclarecimentos.
Considerando apenas as informações expostas, responda, na condição de advogado(a) de
Gabriel, aos itens a seguir.
A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado para questionar a prisão em
flagrante de Gabriel? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da absolvição de
Gabriel pelo crime pelo qual foi indiciado? Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Habeas corpus

20.1 Conceito: art. 647, CPP


É o remédio judicial que tem por finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou a coação
à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade ou abuso de poder.

20.2 Base Legal

Artigos 647 e 648 do CPP e art. 5º, inciso LXVIII, da CF.

20.3 Espécies
A doutrina costuma apontar, basicamente, duas espécies de Habeas Corpus:

a) Habeas corpus liberatório ou repressivo

Havendo violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso


de poder, pode-se impetrar habeas corpus para afastar o constrangimento ilegal e
restabelecer a liberdade de locomoção do paciente.

b) Habeas corpus preventivo

Se a violência ou coação em sua liberdade de locomoção ainda não ocorreu, mas há


fortes razões para considerar que está na iminência de se configurar, pode-se impetrar
habeas corpus preventivo, buscando o “salvo-conduto”, mediante ordem impeditiva da
coação, conforme prevê o artigo 660, § 4º, do CPP.
20.4 Legitimidade ativa: art. 654, CPP
Pode ser impetrado por qualquer pessoa, independentemente de habilitação legal ou
representação de advogado (dispensada a formalidade da procuração).

20.5 Legitimidade passiva


No polo passivo da ação de habeas corpus está a pessoa – autoridade ou não – apontada
como coatora, que deve defender a legalidade do seu ato, quando prestar as informações.

Acrescenta-se, ainda, que a Constituição Federal não distingue, no polo passivo, a


autoridade do particular, de modo que é possível impetrar habeas corpus contra qualquer pessoa
que constranja a liberdade de locomoção de outrem.

Exemplo: imagine-se os inúmeros casos de internação irregular em hospitais psiquiátricos


ou mesmo da vedação de saída a determinados pacientes que não liquidam seus débitos
no nosocômio.

20.6 Admissibilidade/conteúdo: art. 648, CPP


a) Quando não houve justa causa – Art. 648, inciso I, do CPP: Justa causa é a existência de
fundamento jurídico e suporte fático autorizadores do constrangimento à liberdade ambulatória.
A hipótese trata da falta de justa causa para a prisão, para o inquérito e para o processo.
Só há justa causa para a prisão no caso de flagrante delito ou de ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão ou crime militar.

Falta justa causa para o inquérito policial quando este investiga fato atípico ou quando já estiver
extinta a punibilidade do indiciado.

b) Quando alguém estiver por mais tempo do que determina a lei – Art. 648, inciso II, do
CPP: A nova reforma processual penal, ao concentrar os atos da instrução numa única
audiência, visou, em especial, concretizar o princípio constitucional da celeridade processual,
impedindo, por consequência, que os réus fiquem sujeitos ao constrangimento ilegal da prisão
por excesso de prazo.
c) Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo – Art. 648, inciso III,
do CPP: Só pode determinar a prisão a autoridade judiciária dotada de competência material e
territorial, salvo caso de prisão em flagrante. A incompetência absoluta do juízo também pode
ser reconhecida em sede de habeas corpus.

a) Quado houver cessado o motivo que autorizou a coação – Art. 648, inciso IV, do CPP:
Exemplo: sentenciado que já cumpriu sua pena, mas continua preso.
b) Quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza –
Art. 648, inciso V, do CPP.
c) Quando o processo for manifestamente nulo – Art. 648, inciso IV, do CPP
g) Quando extinta a punibilidade – Art. 648, inciso VII, do CPP

20.7 Competência
a) Do juiz de direito de primeira instância: Basicamente, para trancar inquérito policial. Porém,
se o inquérito tiver sido requisitado por autoridade judiciária, a competência será do tribunal de
segundo grau competente, de acordo com a sua competência.

O juiz não pode conceder a ordem sobre ato de autoridade judiciária do mesmo grau.

b) Do Tribunal de Justiça: Quando a autoridade coatora for juiz de direito e representante do


MP Estadual.

Exemplo: se o promotor de justiça requisita a instauração de inquérito policial, sem lastro para
tanto, o habeas corpus deve ser impetrado perante o tribunal de justiça. No caso, estando a
autoridade policial obrigada a atender a requisição, o promotor de justiça é o verdadeiro
responsável pela coação.

c) Do Tribunal Regional Federal: Se a autoridade coatora for juiz federal (artigo 108, inciso I,
alínea “d”, da CF/88).

d) Do Superior Tribunal de Justiça: Art. 105: Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I -


processar e julgar, originariamente:

- nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos
Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais;

(...)

- os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na
alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral;

e) Do Supremo Tribunal Federal: Art. 102: Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

(...)

i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for
autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo
Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância.
20.8 Julgamento e efeitos

A concessão de habeas corpus


liberatório implica que seja o
paciente posto em liberdade,
salvo se por outro motivo deva
ser mantido na prisão.

b) Quando a ordem for concedida


a) Se a ordem for concedida para
para trancar inquérito policial ou
anular o processo, este será
ação penal, esta impedirá seu curso
renovado a partir do momento em
normal, isto é, haverá o trancamento
que se verificou o vício.
do inquérito policial ou ação penal.

A decisão favorável do habeas corpus pode ser estendida a outros interessados que se
encontrem na situação idêntica à do paciente beneficiado.

20.9 Pedido liminar


Importante destacar que somente será necessária a criação deste item se for evidente a
possibilidade de antecipação de algum pedido. Por exemplo, se estivermos diante de alguém
preso ilegalmente e o conteúdo demonstrado no enunciado demonstrar de forma clara que é
possível convencer o julgador, desde logo, pela concessão da liberdade em caráter liminar, ou
seja, antes do julgamento definitivo da ação impugnativa, o pedido deverá ser realizado.
20.10 Estruturação de Habeas corpus
a) Endereçamento: Juiz ou Tribunal Competente;
b) Preâmbulo: nome e qualificação do impetrante (qualificar, pois se trata de ação - não
inventar dados), fundamento legal (artigo 5º, inciso LXVIII, da CF/88 e artigo 648, inciso...),
nome da peça (Habeas corpus), apontar a autoridade coatora, frase final (pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos);
c) Corpo da peça (Dos fatos e do direito): abordagem voltada ao constrangimento ilegal à
liberdade de locomoção;
d) Pedidos: conforme o fundamento invocado: (a) trancamento do inquérito policial; (b)
trancamento da ação penal (se ainda não existir sentença); (c) extinção da punibilidade; (d)
nulidade; (e) revogação da preventiva; (f) relaxamento da prisão em flagrante; (g) liberdade
provisória (todos com alvará de soltura);
e) Parte final: local, data, advogado e OAB.
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO (se a autoridade coatora for juiz de
direito estadual, por exemplo)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL
PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO... (se
a autoridade coatora for juiz federal, por exemplo)

FULANO DE TAL (nome e qualificação), advogado inscrito na Ordem dos Advogados


do Brasil sob o nº ..., com endereço profissional..., vem, respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, impetrar HABEAS CORPUS, com pedido liminar24, com base no
artigo 5º, inciso LXVIII, da CF/88, combinado com o artigo 647 e 648, inciso..., do
Código de Processo Penal, contra ato do BELTRANO DE TAL (autoridade coatora),
em favor de CICLANO DE TAL (nome do paciente), nacionalidade, estado civil,
profissão, RG..., pelo fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:
I) DOS FATOS
II) DO DIREITO (Do constrangimento ilegal)
1º parágrafo: apontar a tese
2º parágrafo: fundamentar a tese
III) DO PEDIDO
Ante o exposto, o impetrante requer a concessão da ordem de habeas corpus, pra o fim
de
• Determinar o trancamento do inquérito policial ou ação penal (por falta de justa causa)
• Declarar a extinção da punibilidade
• Declarar a nulidade
• Revogar a prisão preventiva, com expedição do alvará de soltura/relaxar a prisão;
• Relaxamento da prisão em flagrante, com expedição do alvará de soltura;
• Concessão de liberdade provisória, com expedição do alvará de soltura;
Nestes termos, espera deferimento.
Local... e Data...
ADVOGADO...OAB...

24
Pedido Liminar, se for preciso, na maioria das vezes é pertinente
Obs.: os fundamentos de mérito do HC se encontram, invariavelmente, no artigo 648
do CPP

Peça resolvida: habeas corpus. Adaptada da questão 03 - XV EXAME

A Receita Federal identificou que Raquel possivelmente sonegou Imposto sobre a Renda,
causando prejuízo ao erário no valor de R$ 27.000,00 (vinte e sete mil reais). Foi instaurado,
então, procedimento administrativo, não havendo, até o presente momento, lançamento
definitivo do crédito tributário. Ao mesmo tempo, a Receita Federal expediu ofício informando
tais fatos ao Ministério Público Federal, que, considerando a autonomia das instâncias, ofereceu
denúncia em face de Raquel pela prática do crime previsto no Art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/90.
Assustada com a ratificação do recebimento da denúncia após a apresentação de resposta à
acusação pela Defensoria Pública, Raquel contrata Wilson para, na condição de advogado,
tomar as medidas cabíveis. Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem
ser inferidas pelo caso concreto acima, redija a peça cabível, sustentando, para tanto, as teses
jurídicas pertinentes.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO...

WILSON, nacionalidade, estado civil, advogado inscrito na Ordem dos


Advogados do Brasil sob o nº ..., com endereço profissional..., vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, impetrar HABEAS CORPUS, com pedido liminar¹, com
base no artigo 5º, inciso LXVIII, da CF/88, combinado com o artigo 647 e artigo 648,
inciso I, do Código de Processo Penal, contra ato do Juiz Federal da Seção Judiciária
de ..., em favor de RAQUEL, nacionalidade, estado civil, RG..., CPF..., pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:

II) DOS FATOS


O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em faze de Raquel pela prática
do crime previsto no artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/90.
Foi ratificado o recebimento da denúncia após a apresentação da resposta à
acusação pela Defensoria Pública
.
III) DO DIREITO
A paciente foi denunciada pela prática do delito previsto no artigo 1º, inciso I,
da Lei 8.137/90, sendo o recebimento da denúncia ratificado pela autoridade coatora.
Todavia, o fato praticado por Raquel é atípico porque não houve o efeito lançamento
definitivo do crédito tributário, nos termos do que se dispõe a Súmula Vinculante nº 24
do STF. Assim, não há justa causa para ação penal, pois o fato atribuído à paciente é
atípico. Logo, verifica-se flagrante constrangimento ilegal à liberdade de locomoção de
Raquel, razão pela qual o trancamento da ação penal é a medida que se impõe.
IV) DO PEDIDO
Ante o exposto, o impetrante requer:
a) Seja expedido ofício à autoridade coatora, a fim de que preste informações;
b) Seja intimado o Ilustre Representante do Ministério Público Federal;
c) A concessão da ordem de habeas corpus, para o fim de que seja trancada a ação penal,
nos termos do artigo 648, inciso I, do Código de Processo Penal.

Nestes termos, espera deferimento.


Local... e Data...
ADVOGADO...
OAB...
Recurso Ordinário Constitucional

21.1 Conceito
Trata-se de recurso destinado a impugnar decisão denegatória de mandado de
segurança, mandado de injunção, habeas data e habeas corpus, decididos em única ou última
instância, interposto no STJ ou STF, conforme a matéria e o tribunal que profere a decisão
recorrida.

Diferentemente do Recurso Especial e Extraordinário, o Recurso Ordinário não exige


prequestionamento para ser conhecido.

No processo penal, o Recurso Ordinário Constitucional em Habeas Corpus é o mais


utilizado, cabível como consta na Constituição Federal/88 quando estivermos diante de uma
decisão denegatória de habeas corpus proferida no âmbito dos Tribunais.

21.2 Base legal

Base legal: Art. 102, inciso II, alínea


STF
“a”, da CF/88

Base legal: Art. 105, inciso II, alínea


STJ
“a”, da CF/88
21.3 Identificação

PEDIU PRA PARAR

Peça:
Expressão mágica:

“denegatória de habeas corpus...” Recurso Ordinário


Constitucional

PAROU!

21.4 Cabimento em matéria penal

No Supremo Tribunal Federal (STF)

a) Decisão denegatória de habeas corpus e de mandado de segurança decididas em


única instância pelos Tribunais Superiores (artigo 102, inciso II, alínea “a”, da CF/88).

Trata-se de recurso destinado a impugnar, em matéria criminal, decisões denegatórias de


habeas corpus e mandado de segurança proferidas em única instância por Tribunais Superiores,
ou seja, Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunal Superior
do Trabalho (TST) e Superior Tribunal Militar (STM).

b) Decisão relativas a crimes políticos (artigo 102, inciso II, alínea “b”, da CF/88).

Entende-se por crime político o delito praticado contra a ordem política e social, previstos
na Lei 7.170/83.

A competência para julgar o crime político é da Justiça Federal, nos termos do artigo 109,
inciso IV, da CF/88.

Considerando a competência firmada no artigo 102, inciso II, alínea “b”, da CF, que não
se refere a decisões de única ou última instância, conclui-se que, tratando-se de crime político,
o 2º grau será, sempre, o STF mediante recurso ordinário.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ)

a) Decisões dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal ou dos


Tribunais Federais, que, em única ou última instância, denegarem a ordem de habeas
corpus (artigo 105, inciso II, alínea “a”, da CF/88).

Nesse caso, impetrado habeas corpus no Tribunal de Justiça contra decisão de um juiz,
em sendo denegado, cabe à parte ingressar com recurso ordinário constitucional para o STJ.

b) Decisões dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal ou dos


Tribunais Federais, que, em única, denegarem a ordem o mandado de segurança (artigo
105, inciso II, alínea “b”, da CF/88).

Trata-se da hipótese de um determinado Tribunal Estadual ou Federal julgar mandado de


segurança ajuizado em caso de sua competência originária e, ao final, denegar a segurança
pleiteada. Nesse caso, cabe Recurso Ordinário Constitucional para o STJ.

21.5 Prazo e processamento do recurso


Nos termos do artigo 30 da Lei nº 8.038/90, será interposto no prazo de cinco dias, com
as razões do pedido de reforma, perante o STJ, quando a decisão denegatória for proferida por
Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.

O mesmo prazo de 05 (cinco) dias para interposição do recurso ordinário constitucional


em habeas corpus deverá ser observado perante o STF, já acompanhado das razões, conforme
Súmula 319 do STF: “O prazo do recurso ordinário para o STF, em habeas corpus ou mandado
de segurança, é de cinco dias”.

O Recurso Ordinário Constitucional para o Supremo Tribunal Federal deve ser


interposto perante o Superior Tribunal (STJ/STM/STE) que proferiu a decisão denegatória do
habeas corpus ou mandado de segurança, mediante petição já acompanhada das respectivas
razões. As razões recursais devem ser dirigidas às Turmas do Supremo Tribunal Federal.

O Recurso Ordinário Constitucional para o Superior Tribunal de Justiça deve ser


interposto perante o respectivo Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que proferiu a
decisão denegatória de habeas corpus ou mandado de segurança. as razões recursais devem
ser dirigidas às Turmas do Superior Tribunal de Justiça.

A petição de interposição deve estar acompanhada das respectivas razões do pedido de


reforma da decisão.

Observação: Na hipótese de recurso ordinário constitucional contra decisão


denegatória de mandado de segurança, o prazo será de 15 DIAS (artigo 33 da Lei nº
8.038/90) para o STJ.

Em regra
Prazo: 05 dias

Peça de interposição endereçada ao presidente do tribunal que proferiu a decisão


recorrida:
A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO... (se o crime da competência da justiça
estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL
PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL... (se o crime da
competência da justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (quando o habeas corpus for denegado no STJ)

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com
procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor
o presente RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL, com base no artigo 102, inciso
II, alínea “a”, da CF/88 (se for da competência do STF) ou no artigo 105, inciso II, alínea
“a”, da CF/88 (se for da competência do STJ), combinado com os artigos 30 e 32 da Lei
nº 8.038/90, requerendo seja o recurso recebido e processado e, no final, remetido ao
Supremo Tribunal Federal (ou Superior Tribunal de Justiça).
O presente recurso é tempestivo, pois interposto dentro do prazo de 5 dias, previsto
no artigo 30 da Lei nº 8.038/1990.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., data...
ADVOGADO...
OAB...
Peça de razões recursais.

COLENDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ou COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA

Recorrente: FULANO DE TAL


Recorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL


Douta Turma
Eminentes Ministros
I) DOS FATOS
II) DO DIREITO
Os fundamentos de mérito invariavelmente guardam relação com as hipóteses do artigo
648 do CPP.
III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, para o fim de que seja
reformado o acórdão, concedendo-se a ordem de habeas corpus, a fim de que
(exemplos...):
Trancamento do inquérito policial ou ação penal (por falta de justa causa);
Extinção da punibilidade;
Nulidade;
Revogação da prisão preventiva, com expedição do alvará de soltura;
Relaxamento da prisão em flagrante, com expedição do alvará de soltura;
Concessão de liberdade provisória, com expedição do alvará de soltura.

Nestes termos, pede deferimento.


Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
Assista como resolver a peça recurso ordinário constitucional
21.6 Questões sobre Recurso Ordinário Constitucional

56) QUESTÃO 2 – XIV EXAME


Cristiano foi denunciado pela prática do delito tipificado no Art. 171, do Código Penal. No curso
da instrução criminal, o magistrado que presidia o feito decretou a prisão preventiva do réu, com
o intuito de garantir a ordem pública, “já que o crime causou grave comoção social, além de
tratar-se de um crime grave, que coloca em risco a integridade social, configurando conduta
inadequada ao meio social.” O advogado de Cristiano, inconformado com a fundamentação da
medida constritiva de liberdade, impetrou Habeas Corpus perante o Tribunal de Justiça, no intuito
de relaxar tal prisão, já que a considerava ilegal, tendo em vista que toda decisão judicial deve
estar amparada em uma fundamentação idônea. O Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
concedeu a ordem, entendendo que a decisão que decretou a prisão preventiva estava
corretamente fundamentada.
De acordo com a jurisprudência atualizada dos Tribunais Superiores, responda aos itens
a seguir.
A) Qual o recurso que o advogado de Cristiano deve manejar visando à reforma do
acórdão? (Valor: 0,65)
B) Qual o prazo e para qual Tribunal deverá ser dirigido? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

57) QUESTÃO 3 – XXXII EXAME


O apenado Fabrício cumpria pena pela prática do delito de extorsão simples, tendo requerido,
por meio de advogado, a extinção da punibilidade por satisfazer os requisitos, objetivos e
subjetivos, previstos no Decreto Presidencial de Indulto, publicado no ano de 2018 (requisito
objetivo temporal e requisito subjetivo de não possuir falta grave nos últimos 12 meses anteriores
ao decreto).
Enquanto aguardava o deferimento do benefício requerido, no dia 02 de março de 2019, ocorreu
uma rebelião na galeria em que se encontrava. O diretor do presídio, em procedimento disciplinar
próprio, no qual foi garantida a ampla defesa e o contraditório, não conseguindo identificar
aqueles que efetivamente participaram da rebelião, reconheceu que todos os apenados daquela
galeria praticaram falta grave.
Ao tomar conhecimento dessa punição disciplinar, o juiz da execução indeferiu o pedido de
indulto por ausência do requisito subjetivo. Ultrapassado o prazo recursal por desídia da defesa,
novo advogado contratado pela família impetrou habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça, na
busca da extinção da punibilidade. A ordem foi denegada pelo Tribunal.
Considerando a situação fática apresentada, na condição de novo advogado contratado, ao ser
intimado da decisão que denegou a ordem, responda aos itens a seguir.
A) Qual o recurso a ser apresentado pela defesa para combater a decisão do Tribunal de
Justiça que denegou a ordem no habeas corpus impetrado em favor do apenado Fabrício?
Justifique. (Valor: 0,60)
B) Na busca da concessão do indulto e, consequentemente, da extinção da punibilidade,
quais argumentos jurídicos poderão ser apresentados? Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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