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República Federativa do Brasil

ASSEMBLelA NACIONAL CONSTITUINTE


DIÁRIO
ANO I - SUPLEMENTO AO N9 99 SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 1987 BRASfLlA - DF

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE


ATAS DAS COMISSÕES
COMISSõES E SUBCOMISSÕES Reunião Data

I - COMISSÃO DA SOBERANIA E DOS DIREITOS E GARANTIAS


DO HOMEM E DA MULHER Termo de 29-5-87
Reunião
I-a) Subcomissão da Nacionalidade, da Soberania e das Relações
Internacionais .
I-b) Subcomissão dos Direitos Políticos, dos Direitos Coletivos e
Garantias .
I-c) Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais .

II - COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS .

lI-a) Subcomissão da União, Distrito Federal e Territórios .


Il-b) Subcomissão dos Estados .
Il-c) Subcomissão dos Municípios e Regiões . IH 6-5-87

IH - COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E SISTEMA DE


GOVERNO .

UI-a) Subcomissão do Poder Legislativo .


IH-b) Subcomissão do Poder Executivo .
UI-c) Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público
2 Segunda-feira 20 DIÃRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987'

COMiSSõES E SUBCOMISSõES Reunião Data

IV - COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO ELEITORAL, PARTIDÁRIA E


GARANTIA DAS INSTITUIÇÕES o ••••••••

IV-a) Subcomissão do Sistema Eleitoral e Partidos Políticos o ••• 7? 30-4-87


8? 55-87
IV)-b) Subcomissão de Defesa do Estado, da Sociedade e de sua 8? Extr. 23-4-87
Segurança o o ••••••••••••• o ••• o ••••••••• o o •• o o o o. o. 9? Extr. 28-4-87
IV)-c) Subcomissão de Garantia da Constituição, Reformas e
Emendas o •••• o ••••••• o ••••

V - COMISSÃO DO SISTEMA TRIBUTÁRIO, ORÇAMENTO E


FINANÇAS o ••••••• o ••••••••••••••• o. o o •• o. o. o'

V-a) Subcomissão de Tributos, Participação e Distribuição das


Receitas o •••••• o •••• o ••••• o ••••••• o o o •• o o o

V-b) Subcomissão de Orçamento e Fiscalização Financeira ....


V·c) Subcomissão do Sistema Financeiro ... o o ••• o • o ••• o •• o ••

VI - COMISSÃO DA ORDEM ECONôMICA o ••••••• ,

VI-a) Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado,


Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Eco-
nômica o o.' o •••
28-4-87
29-4-87
VI-b) Subcomissão da Questão Urbana e Transporte .
28-4-87
VI-c) Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma
Agrária o •••• o. o.' o o. o •••• 14? 6-5-87
15? Exir. 11-5-87
VII - COMISSÃO DA ORDEM SOCIAL .

VII-a) Subcomissão dos Direitos dos Trabalhadores e Servidores


Públicos . 19? 7-5-87
VII-b) Subcomissão de Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente 14? 65-87
15? 7-5-87
lô? 11-5-87
VII-c) Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas
Deficientes e Minorias .

VIII - COMISSÃO DA FAMíLIA, DA EDUCAÇÃO, CULTURA E ES-


PORTES, DA CmNCIA E TECNOLOGIA E DA COMUNICAÇÃO
VIII-a) Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes . 24? 12-5-87
25? 13-5-87
26? 14-5-87
27? (Registro) 14-5-87
28? 15-5-87
29? 18-5-87
VIII-b) Subcomissão da Ciência e Tecnologia e da Comunicação
VIII-c) Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso . 18? 22-5-87
IX - COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO o • o o ••
.Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 3,

COMISSÃO DA SOBERANIA E aqui trazer proposta enfatizando a necessidade de serem


DOS DIREITOS E GARANTIAS corrigidas as distorções rsgíonaís, conseqüência da con-
DO HOMEM E DA MULHER centração econômica em determinadas áreas; frísou que
planejar e orçar são atividades gêmeas e que devem ser
Termo de Reunião regionalizados tanto os planejamentos quanto os orça-
mentos, inclusive o orçamento das estatais. Na seqüência
Aos vinte e nove dias do mês de maio de mil nove- dos trabalhos, o Sr. Antônio Augusto Reis Veloso disse,
centos e oitenta e sete, às quinze horas, estiveram pre- em sua explanação, que compete à Sarem administrar as
sentes à 'Comissão da Soberania e dos Direitos e Garan- transferências federais de recursos para os Estwdos e mu-
tias do Homem e da Mulher, os Senhores Constituintes nicípios. O quarto exporitor, Sr. Delile Guerra de Mace-
Mário Assad, Presidente; Aécio Neves e Anna Maria Rat- do, fazendo uma explanação sobre a atuação da Suframa,
tes, Vic,e-Presidentes; José Paulo Bisol, Relator; João Agri- disse ser a mesma o mais válido instrumento de desenvol-
pino, Costa Ferreira, João Paulo, José Tomaz Nonô, Cleo- vimento regional; terminou dizendo que o Brasil, sem a
nâncio Fonseca, JDão Menezes, Matheus Iensen, Antonío Amazônia, seria um País de segunda grandeza. Iniciando
Mariz, Antônio de Jesus, Maurílio Ferreira Lima, José a segunda parte dos trabalhos, o Sr. Presidente informou
Fernandes, José Carlos Coutinho, Narciso Mendes, Gon- que o prazo reservado aos debates era de uma hora e trin-
zaga Patriota, Francisco Rollemberg e Joaquim Haickel. ta minutos. Inquiriram os 'Conferencistas os Senhores
Apresentaram emendas os seguintes Constituintes: Constituintes: José Dutra, Asdrubal Bentes, Aluízio Cam-
100012-8 a 100023-3 (José oenoíno Neto); W0024-1 a pos e Waldeck Ornélas. Os 'Constituintes Ivo Cersósimo e
100025 (Gosta Ferreira) ; 100026 (Maguiro Vilela) ; Aluízio Campos entregaram propostas ao Sr. Presidente que
100027 (José Fernandes); 100028, 100029 (Nilso sguaresn: determinou fossem distribuídas cópias aos Membros da
100030 a 100042 (Francisco Rollemberg); 100043, 100044 Subcomissão a fim de seguirem a tramitação regimental.
(Hélio Rosas); 100045 a 100047 (Humberto Lucena); Enc,err,ando os trabalhos, lembrou que haverá, às dezessete
100048 a 100053 (Alfredo Campos); 100054 a 100056 (Si- horas, a última audiência pública deste órgão, com a rea-
queira Oampos) ; 100057 a 100062 (Myriam Portella); lização de Painel intitulado "Associativismo Microrregio-
100063 (José Lourençoj ; 100064 (Siqueira Campos); nal de Municipios". Agradecendo a contribuição trazida
100065, 100066 (Del Bosco Amaral); 100067, 100068 (Os- pelos Senhores Exposirores, encerrou a reunião às doze
waldo Lima Filho); 100069 (José Lins); e 100070 a horas e trinta minutos, a qual foi gravada e será publica-
100072 (Antonio Ueno). O Senhor Presidente fez a chama- da no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. E, para
da nominal. Verificando a falta de número regimental, constar, eu, Iriá Fernandes Costa, Secretária, lavrei a pre-
convocou nova reunião para amanhã, trinta de maio, às sente Ata que, lida e aprovada, será assinada pelo Sr.
quinze horas, dando por encerrada a presente reunião ,ql;le Presidente, Constituinte Luiz Alberto Rodrigues.
fora previamente convocada para esta data e horárío,
destinada à discussão do anteprojeto (art. 17, § 1.0 do Re- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Ha-
gimento Interno da Assembléia Nacional Constituinte). E, vendo número regimental, declaro abertos os trabalhos da
para constar, eu, Carlos Brasil de Araújo, Secretário, la- reunião da Subcomissão dos Municípios e Regiões.
vrei o presente Termo de Reunião, que será assinado pelo Convido os Srs. Constituintes a tomarem assento à
Senhor Presidente e encaminhado à publicação. Mesa juntamente com os Srs. convidados.
H.a Reunião Ordinária A Sr.a Secretária procederá à leitura da Ata da reunião
anterior.
Aos seis dias do mês de maio de mil novecentos e oi-
tenta e sete, às dez horas e cinco minutos, reuniu-se a (É lida ,e aprovada a Ata da reunião anterior).
Subcomissão dos Municípios e Regiões, na Sala B-3, do O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Esta
Anexo Ir, da Câmara dos Deputados, em Brasília, DF, sob reunião destina-se à audiência pública para a realização
a Presidência do Sr. 'Constituinte Luiz Alberto 1R0drigues, do painel "Apoio e Articulações Regionais". É a penúltima
presentes os Senhores Membros: Mello Reis, Nestor Duar- audiência pública desta Subcomissão que, ainda hoje, na
te, Eraldo Trindade, José Viana, José Dutra, Aloysio Cha- parte da tarde, às 17h, realizará o painel "Associativismo
ves, Vitor Buaiz, Lavoisier Maia, Mauro Miranda, Wald~k Microrregional de Municípios".
Ornélas, Sérgio Brito, Geraldo Melo, Firmo de Castro, LUIZ
Freire, Edésio Frias, Alexandre Puzyna, Eliezer Moreira, Para darmos início ao painel desta reunião, convido,
Maurício Fruet e Ivo Cersósimo. Compareceram ainda os para tomarem assento à Mesa, o Dr. Henry Kayath, Su-
Senhores Constituintes: Asdrubal Bentes, Aluizio Campos e perintendente da Sudam, o Dr. Antônio Carneiro Leão,
Manoel Ribeiro. Ata - foi lida e aprovada a Ata da reu- Presidente da Comissão de Apoio à Constituinte da Sudene
nião anterior. Abrindo os trabalhos, o Sr. Presidente in- - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste -
formou que a Audiência Pública se destinava à realização e o Dr. Antônio Augusto Reis Veloso, Secretário da Sarem
de Painel sobre D tema: "Apoio e Articulação Regionais", - Secretaria de Articulação com Estados e Municípios.
com a participação dos Senhores Conferencistas: Henry Solicito ao Dr. Delile Guerra de Macedo que tome assento
Kayath, Superintendente da Sudam - Superintendên- junto aos Constituintes. No momento da exposição S. s.a
cia do Desenvolvimento da Amazônia; Antônio Au- tOlllará assento à Mesa.
gusto Carneiro Leão, Representante da Sudene - Su- Antes de iniciar os trabalhos a Presidência lembra
perintendência do Desenvolvimento do Nordeste; An- aos expositores que disporão de vinte minutos para apre-
tonio Augusto Reis Veloso, Secretário da Sarem - Secre- sentar as suas exposições e que, terminada esta fase, tere-
taria de Articulação com Estados e Municípios e Delile mos, então, os debates com os Srs. Constituintes. A Pre-
Guerra de Macedo Superintendente da Suframa - Su- sidência solicita aos Srs. expositores que falem bastante
perintendência da ZOna Franca de Manaus. Inicialmen- próximo ao microfone para que tenhamos uma gravação
te, falou o Sr. Henry Kayath, abordando itens como: nítida, a fim de que possamos confeccionar a Ata circuns-
princípio da autonomia municipal, hipertrofia continuada tanciada desta reunião.
do poder da União, quadros críticos da organização ad- A Presidência concede a palavra ao Dr. Henry Kayath,
ministrativa dos Estados e municípios, desníveis de ri- Superintendente da Sudam, para fazer a sua exposição.
queza entre as Unidades Federativas. Com a palavra, o
Sr. Antônio Augusto Carneiro Leão disse do seu orgulho O SR. HENRY KAYATH - Sr. Presidente da Subco-
pessoal, bem como da instituição que representa, em vir missão de Municípios e Regiões, Deputado Luiz Alberto
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Rodrigues, Srs. Constituintes, minhas Senhoras, meus Se- Nesse sentido, é essencial o fortalecimento, na Ama-
nhores, o enfoque deste tema, objetivando fornecer sub- zônia, da Sudam e dos órgãos estaduais e territoriais
sídios destinados a nutrir a elaboração de anteprojeto que federais de articulação com municípios, que vêm consti-
enfatize o municipalismo na futura Constituição brasilei- tuindo fontes básicas de recursos técnicos a que os mu-
ra, demanda considerar alguns pontos a seguir abordados: nicípios, sobretudo os de menor porte, recorrem em busca
de orientação para solucionar problemas.
1 - Identificam-se algumas constatações na atual es-
trutura do federalismo brasileiro que correspondem a um Assinale-se, outrossim, que a assistência técnica às pre-
grupo sugestivo de preocupações, tais como: feituras e o treinamento de servidores municipais são in-
terfaces de um mesmo processo: o de preparo das admi-
- princípio da autonomia municipal restringido na sua nistrações locais para a melhoria do desempenho de suas
dimensão política, administrativa e financeira; responsabilidades, pois, a rigor, não se pode falar em mo-
dernização de serviços sem capacitação de pessoal.
- hipertrofia continuada do poder da União;
As observações e sugestões sintéticas anteriormente
- quadros críticos em termos de organização admi- esposadas implicam mudanças constitucionais, revisão de
nistrativa dos Estados e Municípios; normas legais, assim como a substituição e reformulação
- acentuados desníveis de riqueza entre certas unida- de instrumentos e práticas organizacionais. Implicam so-
bretudo a concepção de um novo papel para o município
des federadas. na organização governamental, que deve ser o parâmetro
2 - No âmago desse processo, mais desvantajosa se orientador de todas as mudanças.
constata a situação dos municípios, dentre outros, pelos Uma efetiva reforma municipal demandará esforço
seguintes motivos básicos: persistente e auto-sustentável.
- a abertura política, caracterizada, entre outras pe- A exemplo de toda mudança significativa, haverá, por
culiaridades, pelo incremento da demanda por maior par- certo, muitos obstáculos a vencer, ainda que o fortaleci-
ticipação popular, traduzida em processos como movimen- mento do município constitua neste momento aspiração
tos sociais organizados em torno de reivindicações por ser- de todos os segmentos da classe política.
viços públicos e ação de associações de bairro, só tem feito
aumentar a pressão sobre os gestores locais; A experiência sugere que, na área de políticas públi-
cas, a comunidade de objetivos não leva necessariamente
os problemas sociais que aparecem como locais à concordância quanto aos meios. Estes, em geral, são ob-
não podem ser corrigidos ou adequadamente atendidos jeto de discussões e disputas mais calorosas do que aqueles.
pelas autoridades locais;
, E, em tal processo, cabe à Sudam papel de apoio
- a pobreza financeira dos governos locais; de indiscutível importância nos seguintes campos:
_ a penúria dos municípios não os livra, contudo, de - estruturação, dinamização e avaliação do Programa
terem de assumir encargos de outras esferas de governo; de Administração Municipal da Amazônia, visando a for-
talecer os governos municipais no âmbito da promoção e
_ a desmunicipalização crescente dos serviços locais aprimoramento do processo de desenvolvimento regional;
é uma situação transparente, inescondível.
- desenvolver elementos para a realização de estudos
3 - Na verdade uma estratégia em favor do aperfei- e pesquisas voltados para a administração municipal na
çoamento do municipalismo no Brasil não pode deixar de Amazônia, estruturando um sistema de informações com
levar em conta que o fortalecimento dos municípios bra- os municípios, sobre todo e qualquer assunto de natureza
sileiros passa, necessariamente, por uma reforma adminis- administrativa, financeira, contábil, jurídica, de operação
trativa que lhes assegure uma participação mais significa- de serviços urbanos e outros;
tiva na receita pública, mas passa também por uma pro- - atuar em conjunto e de forma integrada com os
funda revisão de seu papel como prestadores de serviços órgãos de articulação e assistência técnica a municípios
adequados à comunidade. em âmbito das unidades federadas visando a desenvolver
Sem dúvida, a revisão da partilha das receitas públi- atividades de capacitação de recursos humanos em admi-
cas é essencial para o revigoramento das instituições locais. nistração municipal; promover atividades voltadas à orga-
Todavia, é igualmente fundamental uma fecunda revisão nização e aperfeiçoamento dos serviços muncipais; desen-
do papel dos municípios na organização governamental, se- volver programas e projetos relacionados ao desenvolvi-
guida de uma definição clara dos limites das responsabili- mento microrregional e afetos à região metropolitana de
dades funcionais que lhes devam caber. Belém; desenvolver programas e projetos em apoio ao de-
Quanto ao preparo dos municípios para o desempenho senvolvimento e aprimoramento da cooperação intermuni-
de seus encargos, destacam-se os seguintes aspectos a con- cipal (Associações de Municípios, Consórcios Intermuní-
cípaís, etc.):
siderar e examinar:
_ estimular e apoiar os municípios a empreenderem, - manter intercâmbio com outras entidades que se
sempre que possível, a modernização gradual dos serviços dediquem também a programas e projetos de assistência
técnica a municípios (IBAM, por exemplo).
locais.
Na Amazônia, cabe papel de medular importância, na Consoante o exposto, como vemos, pelo seu trabalho
estrutura do governo federal, à Sudam, no trato desse nesse terreno na Amazônia, a Sudam desenvolve um his-
assunto em ação articulativa com os órgãos de assistên- tórico esforço, coincidente com a sua vida institucional,
cia a municípios existentes na região em pauta. Além do voltado para o fortalecimento institucional, técnico e fi-
apoio para o desenvolvimento de programas de moderní- nanceiro dos governos locais no âmbito de sua esfera ju-
zação, que se caracterizam por intervenções mais ou me- risdicional de atuação, colocando-se, outrossim, à disposi-
nos abrangentes, é necessária que os municípios possam ção dos labores constituintes para toda e qualquer cola-
dispor de assistência técnica para o trato de problemas boração que vise a fazer do municipalismo no Brasil uma
específicos de natureza jurídica, contábil, urbanística ou idéia-força e, portanto, um instrumento eficaz capaz de
de operação dos serviços, que decorrem da própria dinâ- assegurar aos municípios o cumprimento de um papel con-
mica das administrações locais. dizente com seu significado na estrutura da Federação
Julho de 1987 DIÃRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 5

brasileira, participando eficazmente na construção e aper- União e o Estado - decorrer de que fato? Acreditamos nós
feiçoamento do processo de desenvolvimento nacional, eli- que o desenvolvimento recente do Brasi~ principalmente
minando-o da condição de ente que permaneça inerte e no modelo de substituição de exportaçao e no recente
incapaz ante a magnitude dos problemas com os quais modelo exportador, provocou a grande concentração da
diuturnamente tem de se defrontar e, por encargos, resol- atividade econômica e provocou, em eontraste, uma
ver. ocupação predatória no Norte e no Centro-Oeste, uma
Esta é a posição da Sudam em relação aos municípios, grande concentração de miséria no Nordeste e grandes
em relação ao papel que ela desempenha no trabalho de bolsões de pobreza no Centro-Sul. Esse modelo, que se
coordenar e articular todas as ações para a implantação esgotou, transformou o Brasil na sexta maior poténcia em
de uma infra-estrutura econômico-social na Amazônia. população e o oitavo maior produtor industrial mundial,
mas trouxe consigo uma grande dívida social. Deve, então,
A Sudam tem, na realidade, dois tipos de instrumentos ser considerada dimensão do regional a dimensão da cor-
com os quais conta no sentido de participar ativamente reção das desigualdades regionais, dentro do texto da
das ações na Amazônia. O primeiro deles diz respeito aos Constituição. Como permear o regional no texto todo da
programas resultantes de dotações orçamentárias normais Constituição? Permeá-Io de tal modo que V. Ex. as cons-
e daquelas que são extra-orçamentárias e fazem parte de truam textos em que sejam admitidos princípios que evi-
um programa especial, do tipo Polamazônía. E o segundo tem, daqui a cem ou duzentos anos, que se repitam as
instrumento, também financeiro, diz respeito a recursos desigualdades, e que permitam, também nesse ínterim,
para a iniciativa privada. Através de programas de incen- corríglr as desigualdades.
tivos fiscais, a Sudam participa e colabora financeiramente Acreditamos nós, 'da Superintendência do Desenvolvi-
no sentido de implantar empresas com estrutura capaz mento do Nordeste, que a questão nacional é impedir que
de torná-las focos de desenvolvimento em determinadas existam desigualdades regionais. Como colocar isto? Co-
regiões primeiramente selecionadas. locando essa dimensão de correção das desigualdades per-
O grande papel da Sudam na elaboração desses pro- meando todo o texto da Constituição. Da subcomissão es-
gramas especiais, tipo Polamazônia, é no sentido de se- pecífica de V. Ex.as seria a competência da União não só
lecionar área nas quais tem atuação decisiva, e, junta- para promover o desenvolvimento, mas promovê-lo com
desconcentração econômica. Trouxemos algumas suges-
mente com a estrutura do governo de Estado e do gover- tões específicas que serão distribuídas aos Srs. oonstítuín-
no municipal, induzir à instalação de uma infra-estru- teso A secretária j á deve estar providenciando.
tura econômica nesses municípios. Neste tempo a Sudam
tem mantido convênios e uma série de ajustamentos com Mas queríamos discorrer sobre alguns princípios gerais
as prefeituras locais no sentido de delas receber Infor- em relação aos quais achamos importante que haja uma
mações das suas necessidades, para coordená-las e apre- afirmação de medidas, ou de principios se a Constituição
sentá-Ias através de um documento. Elaboramos, neste for de tendência sintética, para que a legislação comple-
período, o Primeiro Plano de Desenvolvimento da Ama- mentar permita instituir mecanismos, organizações que
zônia da Nova República, baseando-nos em um planeja- coloquem em prática esses princípios.
mento participativo. Todas as prefeituras e comunidades
foram ouvidas e, das sugestões apresentadas, surgiu, en- Em que campos seriam os mesmos mais importantes?
tão, o Plano de Desenvolvimento da Amazônia. Resta- Seriam os mesmos mais importantes, ao nosso ver,' na
nos, agora, conseguir os recursos para que os itens do afirmação do planejamento acoplado com o orçamento, na'
Plano de Desenvolvimento da Amazônia, que beneficia dimensão regional acoplada ao planejamento. Planejar e
os municípios graças a esse planejamento partícípatívo, orçar são, para nós, atividades gêmeas. Se o 'planejamento
implementarmos e começarmos a executar os projetos não for acoplado com o orçamento, a própria função de
específicos. É o que esperamos que aconteça e que se faça planej ar torna-se própria daqueles que preparar os orça-
a partir deste ano de 1987, especialmente no segundo mentos. Então, não adianta se colocar que o planejamento
semestre. deverá ser regionalizado se o orçamento não for também
regionalizado, para tornar claras e transparentes todas as
Era o que tinha a dizer, com os meus agradecimentos, aplicações do Estado - o orçamento em todos os' seus
srs. Presidente. campos. A linião, como sua obrigação, através Cid princípio
de compensação tríbutáría, redlstríbuí receita entre Esta-
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A dos e Municipios. Esse, acho; deve ser o príncípío básico da
Presidência concede a palavra ao Dr. Antônio Carneiro tributação, o princípio básico da transferência; da' com-
Leão, Presidente da Comissão de Apoio à Constituinte, da pensação dos desiguais: Ela dá aos Estados e Municípios
Sudene - Superintendência do Desenvolvimento do Nor- essa compensação, mas os tira para as regiões' desiguais
deste - que disporá também de vinte minutos para sua quando faz a ai>Hcação ido próprio orçamento da União.
exposição. Por exemplo, no orç,amento_da União, hoje, são aplicados,
O SR. ANTôNIO CARNEIRO LEãO - Sr. Constituinte apenas as despesas ~a Uniao. .
Luiz Alberto Rodrigues, Presidente desta subcomissão, Sr. Foi feito um estudo recente pela Sudene em convênio
Constituinte Aloyzio Chaves, Relator, Dr. Henri Kayath, com a Fundação 'Getúlio Vargas e conseguiu-se regionali-
Superintendente da Sudam, Dr. Antonio Augusto dos Reis zar os, orçamentos. de 1970, 1975 e 1980. No orçamento de
Veloso, Secretário da Sarem, Srs. Constituintes, minhas 1980, P9r exemplo" as despesas da União, na região Nor-
Senhores, meus Senhores, de início quero dizer de meu %:
deste" roramde apenas '11 Ora, ·se na redistribuição de
orgulho pessoal e da minha satisfação em vir aqui depor,
apresentar sugestões perante esta Assembléia de grande
recursos tributários, pelos' 'critérios adotadosno Fundo de
Partlcipaçãq 'Clp~ Estados ,e M~nicípl~s, 'aquelas regíões
significado para todo o povo brasileiro. ' ' mais pobres, como" o Nordeste e o Norte,' recebem uma
O tema proposto pela Comissão da Organização do pârcela .maíor, deste Fundo isto que é' dado com' uma mão
Estado foi "Apoio e Articulações Regionais",' Por que o é tirado com 11 outra, através das' aplicações diretas do
orçamento da União. . ', ' . ,,,
problema regional? O problema regional, tão falado ulti- _ ç ' f I

mamente - chega-se até a falar em transformar 'a região E por que 'nãoregionalizal1, tãm:bém o orçamento das
numa criatura constitucional, e existem sugestões' no' sen- estatais? As' éstatais hoje são instrumento, vital para soer-
tido de que se criem instâncias' iritermediárias entre a guer qualquer atividade regional. Quanto' as estatais, de-
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vem ser incluídas na Constituição alguns dispositivos para vemo Federal, em direção ao Estado e muníeípío. Basi-
que elas sirvam também de instrumento de desconeen- camente, dessas transferências federais, as mais impor-
tração espacial da atividade econômica, para permítír tantes são os dois fundos conhecidos: o Fundo de Partici-
uma melhor integração nacional. Na região Nordeste pação dos Estados e IQ Fundo de Participação dos Munici-
vê-se a importância dos investimentos das estatais, prin- pios. Além disso, a Sarem faz um acompanhamento de
cipalmente na Bahia e, mais recentemente, no Mara- toda a alocação de recursos do Fundo Especial, um outro
nhão. Mas, apesar disto, nos últimos dez anos, apenas item de transferência em favor dos Estados e municipios.
uma média de 10% dos investimentos das estatais se E também daquela parcela de encargos gerais da União
concentraram no Nordeste. que o Governo Federal, através do orçamento da União,
Sobre essas participações, das 'estatais, que devem reserva também para uma alocação em favor dos Estados
ser crescentes, as participações regionais no orçamento, e municípios.
na tributação, talvez não para as outras regiões, mas para Além disso, a Sarem, desenvolve um trabalho espe-
a região Nordeste, é de suma importância a questão da cífico de acompanhamento do orçamento ,e das transfe-
função social da propriedade. rências orçamentárias em favor do Distrito Federal, que
SobJ:'!e a reestruturação agrária, talvez no Norte 'e no é uma unidade orçamentária própria. O Distrito Federal,
Centro-Oeste o problema seja mais de colonização e na contíguração atual, é uma unidade pertencente ao
ocupação de terras. No Nordeste, que tem um grande orçamento da União. Além disso, a Sarem, desenvolve e
contingente populacional 'e terras férteis diminutas, a procura fortalecer, revitalizar o seu programa de coope-
reestruturação agrária é essencial para fixar o homem no ração técnica e realmente dar-lhe uma dírnensão ade-
campo, e tornar possível o aumento da produção agrí- quada, atualmente. É um programa da maior importân-
cola. cia que resulta, hoj e, num instrumento da maior rele-
vância na direção do aperfeiçoamento institucional das
Esses pontos nos parecem estar dentro da ótica da unidades ligadas à seeretarta de Articulação com Esta-
Budene, pontos sobre os quais a atuação dos Srs. Consti- dos ,e munícípíos,
tuintes deve ser concentrada, no sentido de poder descon-
centrar a atividade econômica, os serviços socíaís.cas Recentemente, houve uma modificação nas suas atri-
grandes políticas. Todas as regiões subdesenvolvidas têm buições decorrentes do Decreto n.v 94.159, de 31 de março,
grande interesse na afirmação da responsabilidade do Es- que rêtírou duas, funções da Sarem, le as transferiu para
tado no custeio dos serviços sociais: educação, saúde, por- o Ministério da Fazenda. São as funções ligadas às mani-
que, na medida em que se assegurar a responsabilidade festações de prioridade: prioridade para empréstímos ex-
do Estado nesses campos, se estará atendendo àquelas ternos, prioridade para a divida externa, prioridade para
regiões que concentram a miséria. toda a dívida mobiliária dos Governos EBtaduais e Mu-
nicipal. É importante termos uma idéia de qual é a di-
Relativamente aos dados específicos (ao aprofunda- mensão rínanoeíra que está por trás desses instrumentos
mento das questões, estaremos à disposição dos srs, Cons- que apóiam, de certa forma, essa ação de articulação en-
tituintes por ocasião dos debates. O texto traz maiores tre o Governo Federal, os Estados e principalmente no
esclarecimentos 'e sugestões concretas. Agradeço a oportu- âmbito que nos interessa nesta Subcomissão, em apoio aos
nidade que me proporcionaram e espero que a tarefa de municípios. Em 1986, as transterêncías institucionais do
V. Ex.as sírva para construir um Brasil melhor para os Governo Federal em direção 'a todos os Estados e muni-
nossos filhos e netos. Muito obrigado. cípios totalizaram cerca de 80 bilhões de cruzados. A dis-
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A tribuição desses recursos se f,ez em favor principalmente
Presidência concede 'a palavra ao Dr. Antônio Augusto das regiões Norte e Nordeste. Do total, de 80 bilhões de
Reis Veloso, Secretário da Sarem - Secretaria de Arti- cruzados, cerca de 52 bilhões foram reservados para o
culação com Estados e Municipios - que disporá de 20 Norte e Nordeste. Foram efetivamente distribuídos na
minutos para fazer sua exposição. direção das Regiões Norte e Nordeste. A Região Sudeste
levou 28%, a Região Su112% e a Região Oerrtro-Oeste 7%.
O SR. ANTôNIO AUGUSTO REIS VELOSO - Sr.
Presidente desta Subcomissão, nobre Constituinte Luiz Ainda no contexto das atribuições da Sarem, aquelas
Alberto Rodrigues, Sr. Relator, Constituinte Aloysio Cha- funções que ela exercia até pouco tempo permitiram uma
ves, Srs. Constituintes, companheiros que estão partici- alocação de recursos adicionais 'em favor dos Estados e
pando da Mesa, Dr. Henri Kayath, Dr. Antônio Augusto municípios no valor de 70 bilhões de cruzados. Além da-
Carneiro Leão, Dr. Delile Guerra de Macedo, meus Se- queles 80 bilhões de transferências institucionais, foram
nhores e minhas Senhoras. A minha idéia é procurar dar propiciados com recursos a fundo perdido, como distri-
rapidamente uma contribuição, em termos do que repre- buição adicional, que é feita ao longo do exercíeío apro-
senta a experiência 'até agora exercida no campo da Sa- veitando a reserva do Fundo Especial, a SaJ:'!em, alocou,
rem, o que se fez através dessa 'atuação como contribui- através da Seplan, 1,3 bilhões de crusados, E propiciou
ção para os aperfeiçoamentos que podem ser incorpora- mais 70 bilhões de cruzados através daqueles mecanismos
dos a essa experiência. E também procurarei retirar, no de prioridades concedidas para empréstimos externos, no
final, algumas recomendações e sugestões que possam valor de 40 bilhões; 21 bilhões, através da divida mobiliá-
enriquecer o trabalho dos Srs. Constituintes. ria, permitindo o giro da dívida e a emissão de novos tí-
tulos através dos Estados para financiar os seus inves-
A Secretaria de Articulação COm Estados e ~unicí­ timentos. E mais cerca de 9 bilhões para as operações de
pios foi criada em 1972, ,e era um órgão integrante, na crédito interno, tanto de Estados como de municípios.
época, do Ministério do Planejamento ,e Coordenação Ge-
ral, hoje integra a Secretaria d.e Planejamento e Coorde- Através do programa de cooperação técnica foram
nação da Presidência da República. As modificações pos- alocados, em 1986, mais 21 milhões de cruzados, contem-
teriores não interferiram nessa vinculação. A Sarem tem plando principalmente as áreas de treinamento de re-
alguns instrumentos. É importante que conheçamos esses cursos humanos, apoio técnico aos municípios e as associ-a-
instrumentos para saber em que medidas eles devem ser ções intermunicipais. Quanto à área de informações para
aperfeiçoados ou não. As atribuições básícas da Sarem o planejamento, há uma preocupação no sentido de for-
são, hoje, administrar as transferências federais. Um dos talecer os mecanismos de informações sistematizadas pa-
itens importantes dessas atribuições é a administração ra facilitar a ação de planejamento das diferentes esfe-
das transferências federais, que são exercidas pelo Go- ras do governo, há a modernização admínístratíva e o
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 7

aperfeiçoamento dos mecanismos de arrecadação que, em País. Por exemplo, temos um dado altamente relevante:
última instância, fortalecem a ação tributária das uni- em 1981 o total do IeM transferido pelos estados aos mu-
dades da Federação. nicípios, ou seja, aquela participação de 20% dos munící-
pios na arrecadação do ICM, superou o FPM em 136%; em
ç A relação da SAREM com Fundo de Participação dos 1986, o ICM superava o Fundo de Participação apenas em
Municípios é muito relevante. E o principal instrumento 12%. Vejam, bem, houve realmente uma queda vertiginosa
do Governo federal, para a mobilização de recursos em de participação do ICM no conjunto da receita do muni-
direção dos municípios. Conhecemos a realidade brasi- cípio. Isso é fruto, naturalmente, em grande parte, tam-
leira e é bom que tenhamos sempre presentes alguns bém, do crescimento da distribuição de recursos fede'l'ais
dados, para não esquecermos que as soluções têm de es- para os municípios.
tar compatíveis com esta realidade. O primeiro fato con-
creto é que os municípios têm como principal suporte O Fundo de Participação, de 1975 até o ano passado,
de impostos próprios o IPTU e o ISS. Sabemos que esses cresceu em 12%; pulou de 5% para 17%. Isso explica
dois impostos são maís relevantes no contexto daqueles em grande parte essa participação maior do Fundo de
municípios que são mais representativos. Por exemplo, o Participação dos Municípios na configuração da receita
IPTU. Os municípios mais urbanízados, que têm real- tributária dos municípios. Isso significa que os municí-
mente uma categoria de imóveis mais representativos, pios receberam, no período de 12 anos. em média 1% ao
permitem, através do IPTU, que se exerça uma ação ano de crescimento de sua participação nos recursos da
própria de tributação adequada que fortaleça a estrutura União. A região Sudeste, em particular, realmente de-
de recursos próprios do município. pende muito mais do 10M, pois o tem com uma força
maior. Mas mesmo assim essa participação do ICM caiu
O ISS é um imposto que serve mais diretamente aos nesse período. De 1981 para 1986, o 10M, que correspon-
municípios que têm na atividade terciária de serviços uma dia a 366% em relação ao FPM, atualmente está em torno
economia mais intensa. Neste sentido, vemos o seguinte: de 108%. A Região Nordeste é altamente dependente das
no período de 1980 a 1983, o ISS, por exemplo, represen- transrerêncías federais pelas razões conhecidas. Por exem-
tou, em média, cerca de 50% de toda a receita tributária plo, o Fundo de Participação dos Municípios tem sido
de alguns municípios. Por exemplo, Goiânia, Salvador, invariável e permanentemente maior do que o ICM na
Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, Em relação a Região Nordeste. Essa partícípação do Fundo de Partici-
esses municípios e a outros dessa característica, o ISS é pação no período de 1981 a 1986 cresceu ainda mais. O
um imposto da maior importância. Para se ter uma idéia, Fundo de Participação, que era 27% maior do que o ICM,
no ano mais recente, o ISS e o IPTU formavam 99% da hoje está acima de 150%, acima do ICM. li: importante
receita ;própria de Porto Alegre, o Rio de Janeiro tinha que se vej a qual a dimensão desses recursos.
uma configuração de 75% de sua receita própria nesses
dois impostos, São Paulo 85%, Salvador 87% e Goiânia Em 1986 houve um dado que ficou em nossa memó-
86%. ria e é bom tê-lo como parâmetro. Nesse ano, foram efe-
Então, para esses municípios, esses dois impostos são tivamente transferidos, por conta do Fundo de Partici-
fundamentais, mas a realidade do Brasil não é esta. Esta pação dos Municípios, recursos da ordem de 35 bilhões.
é, talvez, uma exceção na configuração nacional. O que O governo federal trasferiu 35 bilhões. Os dois fundos, em
1986, alcançaram cerca de 70 bilhões. Então, 35 foram para
temos, na realidade, é um conjunto maciço de municí- os municípios. Em relação a 1985, o ano de 1986 foi espe-
pios que configuram cerca de 72,5% de todos os muni- cialmente favorável no sentido de carrear recursos para
cípios brasileiros. Tínhamos 4.149 municípios em 1986 os municípios em função da economia crescente, foi um
e 4.179 municípios agora, pois foram criados mais 30. ano de bom crescimento. O País cresceu acima de 8%.
Então, 72,5% desses municípios têm uma população que Houve toda uma repercussão do lançamento do Plano Cru-
não vai além de 25 mil habitantes. São municípios de es- zado com o crescimento das atividades produtivas e o IPI
trutura relativamente débil, com vocação agrícola e que, e o Imposto de Renda beneficiaram-se disso e se beneficia-
por isso, não se podem suportar com sua própria receita. ram, em conseqüência, os municípios, recebendo 17% do
M'Cnos de 11% do,s municípios brasileiros estão na faixa total do IPI e do Imposto de Renda.
de população superior a 50 mil habitantes. Se formos além,
veremos que menos de 2% dos municípios brasileiros têm Em 1986, por exemplo, esse crescimento de 35 bilhões
poulação superior a 156 mil habitantes, ou seja, menos de correspondeu a um acréscimo real de recursos em favor
2% estão naquela faixa dos municípios que recebem a dos municípios de 37,1% em termos reais. O ICM, por
maior cota do Fundo de Participação dos Municípios. exemplo, teve adicionalmente um crescimento acima de
De modo que essa é uma característica da realidade 30% também na quota distribuída para os municípios. No
brasileira que tem de ser levada em conta, quando se conjunto, ICM e o FPM, os municípios receberam adíclo-
imagina um esforço de apoio e de revitalização em dire- nalmnte, em comparação com 1985, 20 bilhões em valores
ção aos municípios do País. constantes, o que representa realmente, se fôssemos teo-
rizar, uma reforma tributária da ordem de 10%, partindo
Outro dado relevante é que por essa razão a capa- de que 1% de 1986 correspondia a 2 bilhões de cruzados.
cidade tributária dos municípios, no conjunto, é baixa.
Um levantamento que fizemos, por exemplo, mostra que E importante notar que tem havido um esforço que
a repartição da receita própria da União, dos estados e dos deve ser reconhecido, embora haj a consciência em todos
municípios configura que em 1957 a União contribuiu os níveis de governo, em todos os níveis da sociedade bra-
com 48%, os estados com 43% e os municípios com 8,5%. sileira, de que há necessidade de se desenvolver um es-
Essa situação dos municípios foi-se deteriorando e nos forço adicional. Reconhecemos esse esforço da transfe-
últimos anos o que se verifica é que a sua capacidade rência de recursos, reconhecemos o esforço de descentrali-
de tributação caiu para um nível que não fica muito zação desses recursos, de dar autonomia de uso dos re-
além de 5%, e somente no último ano alcançou um de- cursos aos estados. Hoje, esses recursos estão sendo dis-
grau acima de 6%. tribuídos automaticamente no sentido de evitar toda aque-
la burocratização na definição de prioriades a nível do
Algumas observações ainda relacionadas com essa governo federal, erroneamente, deixando que o Município
configuração dos muníeípíos brasileiros e de sua partici- defina as suas próprias prioridades. Há todo esse esforço,
pação nas receitas que são, de certa forma, produzidas no embora reconheçamos que mesmo isso é altamente ínsa-
8 Segunda-feira 20 DIÃRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

tisfatório e não resolveu o problema a longo prazo, porque Acredito temos aí, um conjunto de sugestões que estão
realmente não é um problema para ser resolvido a curto incorporadas a esse documento que vai ser distribuído, ao
prazo. qual todos terão acesso. Procuramos reunir aí um conjun-
Toda a legislação recente foi nesse sentido de desbu- to de medidas que podem melhorar todos esses instrumen-
rocratizar, de automatizar a distribuição de recursos de tos existentes. E mais, temos aí o contexto de uma contri-
abolir toda aquela apresentação de planos, todas aquelas buição do governo federal, através de uma comissão inter-
vinculações institucionais. E foi também no sentido de, ministerial de reforma tributária, que trabalhou durante
por exemplo, gerar recursos adicionais na direção de al- dois ou três anos no sentido de reunir informações, como
guns municípios-tipos. Chamo de municípios-tipos os mu- contribuição à Constituinte.
nicípios que estão naquela linha dos 4% do coeficiente do Mas relevante é concluirmos que não é fácil resolver,
FPM e que têm uma população acima de 156 mil habi- a curto prazo, o problema, pela complexidade, pela im-
tantes, mas que não são capitais e têm problemas de ca- portância e pela relevância que significa revitalizar, for-
pitais. Esses municípios foram beneficiados com a legis- talecer e criar a autonomia financeira dos municípios.
lação recente, que criou uma reserva do Fundo de Parti- li: importante que esse trabalho seja contínuo, seja perse-
cipação. guido todo o tempo, seja fortalecido. Vamos ter em conta
No Norte e no Nordeste, ou no conjunto desses 78 que 72,5% dos municípios não chegam a 25 mil habitantes
municípios que se beneficiaram com essa transformação e têm uma forte dependência da União.
legal, há casos em que essa cota extra, essa reserva do O segundo ponto é que, a longo prazo, devem ser per-
Fundo de Partdcípaçâo dos Municípios é superior à quota seguidos, pela Constituinte e pelo País, aqueles parâmetros
normal do Fundo de Participação. básicos que permitam definir claramente a estrutura de
Como conclusão desse dado e apenas para ater-me ao encargos de cada esfera de governo e a estrutura adequa-
tempo estipulado, resumo dizendo que se tomarmos um da de repartição de recursos 'do País na direção das três
quadro que reúna o resultado final dos últimos 20 anos, o esferas de governo. Isto é fundamental. Em cima dessa
que ocorreu na repartição de recursos do governo federal, grande definição é importante preservar um dado essen-
recursos do país, entre a União, os Estados e os Municí- cial: que o Pais não abra mão do seu crescimento, do seu
;pios, podemos chegar a algumas conclusões importantes desenvolvimento li: realmente através do crescimento que
para os trabalhos dos Srs. Constituintes. Por exemplo, se estabelecem os grandes mecanismos de libertação das
se tomarmos o conceito de recursos efetivamente disponí- três e~feras de governo. O ano passado foi exemplo disso,
veis, ou seja, na parte da trníão, todos os seus recursos tri- e sera exemplo permanente: crescendo o País a taxas
butários menos aquilo que ela transfere; da parte dos aríequadas, com' inflação sob controle, permite-se que os
Estados de todos os seus recursos tributários, mais as trans- municípios altamente dependente de uma função de em-
ferências que recebem da União, menos as transferências prego, de uma função de despesa de pessoal, abram mão
de ICM e outras que eles devem fazer para os munícípíos; disso em favor de investimentos, porque receberão recur-
e, 'do lado dos munícípíos, a receita tributária dos mesmos, sos adicionais através desse crescimento.
mais as transferêncías que recebem da União, mais as
transferências que recebem dos Estados. Acho que essa é a grande contribuição que devemos
ter em conta: definir claramente os encargos, definir
Se tomarmos esse conjunto de dados, verificaremos o claramente a repartição de recursos não perder ode vista
seguinte comportamento. - São números, de modo que que o dado essencial é o País e não abrir mão de crescer
servem para ajudar o nosso raciocínio: em 1957, ou seja, permanentemente e com equilíbrio.
há cerca de vinte anos, a União retirava desse bolo 43%,
os Estados 46% e os Municípios 11%. A evolução, nesse pe- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A
ríodo de vinte anos, mostra que os municípios, num dado Presidência socilita aos Srs. Constituintes que não deixem
momento, chegaram a um pico de 17%, o que ocorreu por de assinar o livro de presença, mesmo os que não são
volta de 1967. Naturalmente, esse crescimento dos municí- membros efetivos desta Subcomissão. Informo ainda aos
pios se deu em prejuízo daquela fatia que a União tinha, Srs_ Constituintes que quiserem fazer indagações aos
que era 'de 42,9%, e perdeu participação para 37%. paíneltstas que devem assinar a lista própria.
Os dados recentes mostram que, realmente, nos últi- Tem a palavra o Dr. Delíle Guerra de Macedo, Supe-
mos doze anos houve progresso, houve deliberada ação rintendente da Suframa - Superintendência da Zona
no sentido de canalizar recursos adicionais para o Muni- Franca 'de Manaus - para sua exposição.
cípio. Isso refletiu no quadro da seguinte forma: a parti-
cipação da União, hoje, está em 38%; a dos Estados, em O SR. DELILE GUERRA DE MACEDO - Sr. Presi-
40%, e a dos municípios cresceu para cerca de 21%. dente Luiz Alberto lRodrigues, do Pl\IDB - MG' Sr. Vice-
Presidente Paulo Miranda, do PMDB - GQ' 'meu caro
Nos últimos anos, de 1980 para cá, essa evolução foi amigo 2.o-Vice-Presidente, José Dutra, do pMi:m - AM-
constante, foi permanente: 15% em 1980, 15,9% em 1981 meu caro e querido amigo Aloysio Chaves, do PFL - pi.
e assim sucessivamente, 16%, 16%, 18% e 21%. Este é Relator desta Subcomissão; meus caros amigos Deputado;
um dado que podemos dizer relevante. Jesualdo Cavalcanti, do PiaUí, Firmo Fernandes, do Ceará
O programa de cooperação técnica 'da Sarem ... e Waldeck Ornélas, da Bahia; meu caro Benadcr pelo Rió
Grande do Norte e nosso particular amigo, Lavoisier Maia'
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Se srs, Constituintes, minhas Senhoras e meus Benhores. '
V. s..a precisar de mais dois mínutos para encerrar, pode
dispor desse tempo. Recebi a convocação desta Subcomissão na segunda-
O SR. ANTONIO AUGUSTO REIS VELOSO - pois não. feira e tive a preocupação de elaborar pessoal-mente um
texto por escrito, para que fosse fidedigno nas minhas
Temos um programa de cooperação técnica que real- colocações. Mas não poderia deixar, aqui, neste exato mo-
mente, tem prioridade, este ano. Ele beneficia os institu- mento, de, ouvindo a palavra de Henry Kayath, meu caro
tos de articulação com Os municípios e canaliza este ano, e dileto amígo, Superintendente da Sudam; de Antônio
recursos três vezes maiores que os do ano passado, num Augusto dos Reis Veloso, meu dileto amigo Secretário da
esforço crescente de apoiar os Estados e Municípios atra- Sarem; e de Antônio Carneiro Leão, representantes da
vés desses mecanismos. Sudene, fazer algumas colocações de natureza geral.
Julho de 1987 OlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) : Segun'da-feira 20 9

Começaria dizendo que o problema fundamental do dadas a extensão continental do País e a concentração
País reside, particularmente, na distribuição especial do espacial do seu desenvolvimento.
desenvolvimento, que a questão regional é fundamental Infelizmente, eu tinha apenas dados de 1983.
porque permeía tudo o que se está discutindo nesta As-
sembléia Nacional Constituinte. Viejamos: as atividades econômicas, basicamente lo-
Eu me furtarei ao desejo de falar aqui sobre a Suframa. calizadas nos &,tados de São Paulo e Rio de Janeiro, de-
Apenas darei uma informação, ao final, para lhes dizer terminam as .desígualdades macrorregionais de renda no
que, como instrumento de desenvolvimento a Suframa é Brasil: em 1983, o PIB per capita de São paulo era o do-
o mais válido projeto de desenvolvimento econômico feito bro do PIE do País - US$ 4,100 - e o do Rio de Janeãro,
pelo governo nos últimos vinte anos. Seus resultados são 70% maior - US$ 3,100 - . Tudo indica que essa situa-
palmares, visíveis e necessários, principalmente para a ção permanece ou até se agravou nos últimos anos.
mudança de mentalidade e para industrialização de ponta Além do mais, o processo de desenvolvimento indus-
no País. trial, especialmente concentrado, determinando, em boa
Também reafirmarei aqui que, sem a descentralização medida, a polarização das. atividades terciárias e a ma-
do poder, sem uma melhor repartição de encargos e de crocetalía urbana, explica muito da persistência das de-
renda pública para os Estados e Municípios, talvez não sigualdades regionais de produto per eapíta. São Paulo e
se tenha uma democracia consolidada e uma Constituição Rio de J'aneiro detêm cerca de 70% do produto industrial
perdure no tempo. do PaÍS, mais de 50% dos serviços e 40% da população
urbana. Esses dados indicam a todos nós que se está che-
Srs. Constituintes, o desenvolvimento regional brasi- gando ao ápice da 'concentração e que medidas, devem
leiro, em virtude 'da dimensão continental do País, aliada Ser tomadas por esta Assembléia a fim de que se distri-
às desigualdades de renda entre as regiões e as suas con- bua mais harmonicarnente o crescimento do processo de
dições geoeeológíeas, vai requerer um grande esforço do industrialização, da agricultura le de serviços no Brasil.
Estado, nos próximos anos, na formulação ,e execucão de
programas que possam transformar as estruturas 'socíaís Recentemente, nesta Assembléia, o Deputado Consti-
de base predominantemente tradicional e integrar, econo- tuinte Waldeck Ornélas, em discurso pronunciado em 7
micamente, o espaço nacional. de abril pp. abordando a questão regional, afirmou: "Se
é certo que 'a descentralização requer o fortalecimento
Se isso é verdade, parece-nos que a questão regional, dos Estados e Municípios, e exige o esbabeleeímento de
pelo que representa em seus variados aspectos, deve ser novas bases para o Sistema Tributário Nacional, a des-
considerada, ao nível Legislativo Constitucional, entre as concentração, por sua vez, Impõe a regionalízação das
que serão disciplinares pela Assembléia Nacional consti- ações da União, indispensável para quebrar a coluna ver-
tuinte. tebral do 'centralismo". Finalizava S. Ex.a: "Senhores, va-
O Nordeste brasileiro, pelas crises climáticas, foi a mos: encarar de frente e com coragem a questão regional,
primeira área do País a formar uma consciência regional. se quisermos fazer uma Constituição voltada para o fu-
A Carta Magna de 1934 já previa percentual de "4% da turo". ÉJ verdadeiro o conceito emitido pelo Ilustre depu-
receita tributária para obras e srvíços assistenciais naquela tado pela Bahia, no nosso entender.
região. Mas hoje, Senhores, não é só o Nordeste, mas todas Senhores, não se pensa resolver o problema regional
as regiões periféricas do centro decisório da política econô- sem fortalecer, símultaneamente, os Estados e Municipios.
mico-financeira - o Sudeste do País - que reclamam tra- A descentralização de poder, numa federação, acompa-
tamento diferenciado, em face dos seus problemas, de suas nhada de uma melhor distribuição das rec-eitas públicas,
potencialidades e das diferenciações sócio-econômicas, geo- fortalecerá a União e a democracia nascente.
ecológicas e - por que não dizer? - polítícas.
Não vejo como se deixar de considerar, no plano cons-
Desejamos, rapídamenée, citar como exemplo, em titucional, o fortalecimento da federação, em todos os
virtude dos diferentes e fundamentais problemas que en- seus aspectos e a distribuição espacial do desenvolvimento.
frentam, as Regiões Nordeste e Norte do País. A primeira, Só assim, estaremos construindo o País, do futuro, com
caracteriza-se como uma região subdesenvolvida, sujeita democracia, liberdade e oportunidade para todos os bra-
ao cataclisma das secas periódicas, grandemente povoada, sileiros.
com bolsões de miséria e vida subumana, que atingem du- Apresento a V. Ex. as, apoiando a idéia de todos os
ramente não somente Os nordestinos, mas a consciência na- Secretários das Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do
cional. A segunda - a Amazônia - em contraste com o País, algumas sugestões no campo regional, 'estadual e
Nordeste, é, fundamentalmente, região não-desenvolvida,
isto é, escassamente ocupada, demográfica e economica- municipal sob minha ótica e através do nosso conheci-
mente, com grandes reservas 'de recursos naturais, cujo mento nesses trinta e tantos anos de luta em regiões
potencial de aproveitamento coloca-a em escala planetá- subdesenvolvidas. Acredito que tem de haver dispositivos
ría, que assegurem a participação dos Estados, Distrito Fe-
deral e Municípios nos Impostos arrecadados pela União,
Ambas necessitam de tratamento diferenciado para não mais somente o Imposto de Renda, o IPI, no mínimo
que o objetivo de melhorar a distribuição regional do de- de 40%, sendo 18% para os Estados e 22% para Os Muni-
desenvolvimento brasileiro, no contexto nacional, tenha cípios. E que essa distribuição se faça tomando como cri-
três dimensões: a econômica, a aceleração do crescimento tério 5% à área territorial e 95% tnversamente propor-
das regiões menos desenvolvidas; a social, melhoria da dis- cional à arrecadação per capita das unidades: federadas.
tribuição pessoal de renda, redução de pobreza e elimina- Acredito que devemos destinar, no texto constitucio-
ção da miséria; e a política, descentralização íntergover- nal, 10% da receita arrecadada pela União a programas
namental das ações de promoção do desenvolvimento e de desenvolvimento regional nas áreas do Norte e Nor-
participação da sociedade neste processo. deste do País, sendo 6% pavll. o Nordeste e 4% para o
O objetivo ,de diminuição das desigualdades regionais, Norte.
em todo o mundo contempla um conjunto de questões re- Não há como manter o que deu certo se não se disser
lacionadas com o espaço como 'dimensão do desenvolvi- a-esta subcomissão que é necessário manter a cobrança do
mento, assumindo grande relevância no caso brasileiro, IPI nos termos da legislação atual, dada sua importância
10 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

para a consolidação de programas econômicos que deram Por outro lado, uma noção sobre a gravidade do fenô-
certo e das áreas menos desenvolvidas. meno em perspectiva de médio e longo prazos, não é
Manter, para a cobrança do IVA, a atual sistemáti- obviamente a transmitida pela proporção representada
ca do ICM, nas operações interestaduais, com o objetivo pelas áreas desmatadas em relação aos espaços cobertos
de fortalecer as regiões menos desenvolvidas. da mata. Apoio mais importante para orientar uma po-
litica de preservação de recursos florestais, em defesa
lP.roibir a União e os Estados de concederem ísencões do equilibrio ecológico, seria um estudo prospectivo que
,e anistia fiscal relativamente a impostos de cuja arréca- levasse em conta que o crescimento das áreas desflores-
dação outras unidades participem, a não ser que conce- tadas vem ocorrendo ·em escala exponencial, podendo as-
dam somente sobre a sua parte. sumir, dentro de algumas décadas, proporções íneludível-
Estabelecer que, tanto setorial como globalmente, os mente desastrosas. Temos de conciliar, Srs. Constituintes,
íncentívos fiscais devem ser dados somente para o NOT- o aproveitamento econômico desses imensos recursos com
deste e Norte do País, para atividades econômicas im- o equilíbrio ecológico e a racionalidade de sua exploração.
portantes e que possam contribuir para a diminuição da A regionalização dos orçamentos fiscal e monetário
dívida socíal. das estatais.
Sr. Presidente, venho de uma grande região, de cin- No campo prático, não é possível diminuir as desi-
co milhões de km2, que tem um vasto e importante cam- gualdades regionais de desenvolvimento sem que se tenha
po e desenvolvimento de recursos naturais, especialmente recursos, e bem aplicados. Essa regulação no texto cons-
minerais. Não poderia, aqui, agora, deixar de lembrar aos titucional é importante pelo menos pelos seguintes moti-
Oonstítusntes duas questões fundamentais para o Brasil vos: o da fí.soalízaçâo legislativa, já que se está devol-
futuro: a da exploração dos recursos minerais da Ama- vendo ao Poder Legislativo suas reais atribuições num
zônia e a da exploração dos recursos florestais e sua com- regime democrático: a programação do desenvolvimento
patíbílídade com o meio ambiente. regional, a possibilidade de que se estará assegurando
Quanto à regulação dos problemas. de exploração mi- em um determinado prazo, a diminuição das disparida-
neral, devemos ter em vista essa exploração através de des de crescímento entre as regiões da miséria e da po-
muitos projetos, "os quais se incluem menos em uma po- breza e, por fim, a integração econômica e social da Na-
litica visando centralmente ao desenvolvimento regional ção braslleíra,
e mais em uma política naoíonal relacionada com o setor Chamaria a atenção de todos os presentes para um
externo da eeonomía bvasileira. A rigor, os grandes ínte- dado fundamental: o sistema tributário, a alocação de
resses atendidos, no caso, são, como se sabe, OIS ligados à recursos pelos diversos modos do orçamento, os incenti-
balança comercial brasileira ,e às regiões hegemônícas do vos, sempre tiveram, no Brasil, um amortecedor tremendo
País, utílízadoras de divisas ou disponibilidades cambíaís nas regiões desenvolvidas e, por isso, continuamos cau-
de cuja formação participam e tendem a participar, cada datáríos do desenvolvimento. nacional. Vejam V. Ex.as,
vez mais, as exportações de produtos oriundos das rique- na medida em que concedemos incentivos fiscais- às re-
zas minerais situadas nos espaços amazônicos. Nisso, aliás, giões Norte e Nordeste do País, concedemos às regiões
reside, sem dúvida, uma forma eolonialísta de sucção de desenvolvidas subsídíos, crédito subsidiado, investimentos
recursos" das regiões periféricas para as regiões ricas do poderosos na área de pesquisa e desenvolvimento tecno-
País. lógico e na área de formação de recursos humanos. Te-
A par desse aspecto, devemos considerar a situação mos que, não diminuindo o crescimento dessas áreas,
das populações dedicadas à lavra e ao transporte de mi- também permear o texto constitucional de instrumentos
nérios, que não se beneficiam, em maior escala, direta- e mecanismos capazes de nos fazer crescer mais, con-
mente ou através dos governos locais, dos vultosos resul- tínuadamente. No Brasil - acredito - é um problema
tados econômicos dos empreendimentos em causa. De- de mentalidade: na hora em que se tem qualquer pro-
vemos ter em vista também que as desapropriações efe- blema, se lança mão de mecanismos de imposto. Preo-
tuadas e as construções: realizadas têm, freqüentemente, cupo-me muito que a Constituição não regulando um pro-
sobre as organizações sócio-econômicas tradícíonaís das blema dessa natureza, tudo o mais regulado vá por água
comunidades atingidas, um efeito desestrutueante que abaixo, com novos impostos criados sem que estejam re-
afeta negativamente sua estabilidade ,e condições de exis- gulados na Constituição. Assím, prevejo que para cada
tência. As medidas. visando a minimizar o problema e a novo imposto criado ou fundo estabelecido no futuro haj a
criar um mecanismo compensatório através do qual as um artigo: "Haverá destinação de pelo menos 30% de
populações das áreas de minerações se possam ravorecer recursos para o Nordeste e 15% para a região amazô-
dos grandes projetos nelas instalados, devem, natural- nica".
mente considerar a hípótese da participação do erárío Instituição da região como área espacial de progra-
das Unidades Federadas nos resultados econômicos dos mação - não como nível de poder, mas como área espa-
empreendimentos de exploração mineral localizados nos cial de programação - e prioritária para efeito de eré-
seus respectivos espaços territoriais. díto diferenciado. Os incentivos fiscais representam ape-
nas a pequena importância de 5% do crédito movimenta-
Regulação do problema de equilíbrio ocotógteo e do do nessas regiões. É fundamental o crédito na hora certa
uso predatório dos recursos naturais. e com interesses que o agricultor, o industrial e a peque-
Os aspectos básicos do problema do equilibrio e do na e média empresas podem pagar. Acho que se deve
uso predatório dos recursos florestais da Amazônia de- incluir no texto constitucional um artigo que preveja isso.
vem ter em vista preliminarmente que as dimensões des- Desejamos, também, nobre Presidente, Sr. Relator, ra-
ses dois fenômenos interligados são geralmente subesti- pidamente, fornecer a V. Ex.as algumas informações so-
mados por serem pouco perceptíveis para quem sobrevoa bre as potencialidades dos recursos naturaís da região
a imensa região ou se baseia na visualização das: imagens amazônica, com a finalidade de tornar claro a questão,
do satélite lançado. Um levantamento que compreendesse porque é imprescindível sua regulação no texto constitu-
não apenas os espaços desmatados, mas também as áreas cional. .
onde a floresta vem sendo perturbada e empobrecida pelo
extratívísmo madeireiro, forneceria uma noção maís rea- Temos, calculadamente, só na região em que atuo,
liSta sobre as dimensões' que o problema vem assumindo, ~ milhões e duzentos mil quilômetros quadrados, com
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 11

vinte bilhões de metros cúblicos de madeira comerciali- econômico regional, sugerimos que, nas disposições gerais
zável: 100 mil megawattes de potência energética, 20 mil do texto constitucional, se inclua o seguinte artigo: .
quilômetros de rios navegáveis, 260 milhões de hectares "Ficam assegurados Os íncentívos atualmente
de área florestal. Temos agora em Urucum, no Estado do em vigor e outros que possam ser criados na
Amazonas, a descoberta de grandes poços de petróleo, e Zona Franca de Manaus, pelo prazo necessário
para dar um exemplo, já temos campos, um dos maiores à sua definitiva consolidação."
em terra firme, com vazão de 950 barris de óleo e 22 mil
metros cúbicos de gás associado. Estamos perfurando ou- Caros constítuíntes, para terminar, acredito no regi-
tros poços para dimensionar a grande bacia amazônica. me capitalista, no lucro como formador de poupança e
Já detectado, em nível de exploração, 20 bilhões de metros investimento, acredito na democracia, e só se poderá pre-
cúbicos de gás, a maior reserva brasileira de gás natural, servar a democracia pela descentralização do poder, pela
e há indícios de petróleo em outras localidades. Temos viabilização do que é certo, pelos melhoramentos que
mais, minério de ferro: 18 bilhões de toneladas em Cara- possam ser feitos, pela geração de uma tecnologia de
[ás, a maior concentração mundial de alto teor, alumínio,
ponta e, mais do que isso, pela criação de elites no País,
não só de políticos, mas particularmente de admínístra-
4 bilhões, uma das três maiores concentrações mundiais, dores e técnicos. Sem isso, nem Constituição nem elei-
minério de cobre, um bilhão de toneladas, a maior jazida ções diretas resolverão os nossos cruciais problemas: dis-
do País; estanho, cassiterita em Pitígue, Rondônia, a paridades regionais, dívida social tremenda, mais de 70
maior reserva do País; manganês, 100 mílhões de tonela- milhões de brasileiros que vivem à míngua, não comem
das, segunda reserva do Pais; níquel, 120 milhões de to- sequer uma vez por dia neste colossal País, de grandes
neladas, uma das maiores do País; níóbío, três bilhões de riquezas. V. Ex.as e todos nós, como brasileiros, temos
toneladas, a maior do mundo. E temos mais: zinco, chum- o dever patriótico, político e social de lutar por aquelas
bo, cobalto, ouro, molibdênio, tungstênio, tântalo, caulím, idéias que são a aspiração do povo brasileiro e das re-
calcáreo ·e diamantes. gíões menos desenvolvidas.
Srs. Constituintes, para terminar, desejo, em quatro Muito obrigado, Sr. Presidente. Coloco-me à dícpo-
síção de V. Ex.a para qualquer esclarecimento adicional.
minutos, fazer uma colocação fundamental sobre o ins-
trumento de desenvolvimento que é a Zona Franca de Ma- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Va-
naus. A nosso ver devemos assegurar a V. Ex.as que o mos passar à fase dos debates, prevista para uma hora e
Projeto Zona Franca de Manaus é válido, importante e trinta mínutos de duração. A Presidência solicita aos Srs.
necessário ao desenvolvimento da Amazônia Ocidental, e Constituintes que quiserem endereçar perguntas aos pai-
particularmente do Estado do Amazonas. Reafirmamos nelístas que façam sua inscrição na folha própria.
aqui e agora que o Brasil sem a região amazônica seria Concedo a palavra ao ;primeiro inscrito, Constituinte
um Pais de segunda grandeza. E mais que isso, o desen- José Dutra.
volvimento do País, a partir do século XXI, será ditado
do Norte para o Sul. Benhores, a Zona Fra~ca de Manaus O SR. CONSTITUINTE ALUíZIO CAMPOS - Pela 01'-
possui, hoj-e, um investimento total de 5 bilhões de dóla- dem, peço a palavra.
res, investimento fixo de um bilhão e meio de dólares; O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Com
60 mil empregos diretos somente na indústria; 387 pro- a palavra, pela ordem, o Constituinte Aluízio Campos.
jetos em funcionamento, dos quais 287 em Manaus. Esta-
mos com um índice médio de nacionalização de 75%, O SR. CONSTITUINTE ALUíZIO CAMPOS - Sr. Pre-
para terminar essa falácia de que a Zona Franca é ape- sidente, não quero intervir, mas precisava homenagear
nas um ajuntamento de peças vindas do exterior. Impor- esta Subcomissão com uma sugestão por mim redigida
tamos para a indústria, no ano passado, 500 milhões de que, suponho, vai ao encontro das aspirações predomi-
dólares, e vamos repetir neste ano 500 milhões de dóla- nantes, pelo menos dos expositores que falaram. Trata-se
res. Compramos um bilhão e meio, no Brasil, e, deste de sugestão de institucionalização da região no texto cons-
total, 72% em São Paulo. Beneficiamos as regiões hege- titucional. Se V. E~.a permitir, farei a leitura do texto,
mônícas do País. Lutamos por uma tecnologia de ponta, sem ler a justificativa, e, depois, mandarei cópias para
estamos já no terceiro estágio, que é o desenvolvimento serem distribuídas pela Subcomissão.
tecnológico de produtos. Vencemos o primeiro estágio, O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrtgues) - A
que era o problema da assistência técnica e da comer- Presidência informa 00 Constituinte que está inscrito e,
cialização, do marketing do produto. Entramos no segun- apó.s a participação do Constituinte José Dutra, conce-
do estágio, da tecnologia, e o vencemos que o problema derá a palavra a V. Ex. a para que apresente sua pro-
do la;y out, quer o problema da qualidade dos produtos. posta, já recebida pela Subcomissão.
Os 'produtos da Zona Fmnça, hoje, são os melhores do País,
Se o parque da Zona Franca for íechado, o mesmo acon- Com a palavra o Constituinte José Dutra.
tecerá a certos setores industriais do País. Por que é O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr. Presi-
importante a manutenção do IPI? Porque ~ e aí está o dente, prezados paínelístas, Srs. C'onstituintes, meus Se-
sucesso da Zona Franca - não temos empresas falidas, nhores, minhas Senhoras, tivemos, pela palavra do Prof.
os empresários investem ,e só damos incentivos à produ- Henri Kayath, Superintendente da Sudam, do Dr. Car-
ção, ao produto em si. Isto é fundamental. Por isso esta- neiro Leão, que aqui representa a Sudene, do Dr. Antô-
mos vencendo, A Zona Franca deve ser considerada. Srs. nio Augusto Reis Veloso, representando a Sarem, e do
Constituintes, para resguardar um projeto, o mais sério, Dr, De1ile Guerra de Macedo, meu prezado amigo e com-
o mais importante, em termos econômicos, que existe no panheiro de muitos anos, Superintendente da Suframa,
País. Os dados estão a comprovar, e lanço aqui um con- um quadro, apesar da veemência, aproximado da nossa
vite a todos os Srs. Oonstítuíntes para nos visitar, em realidade.
nome da Superintendência, e ver de perto o que afirmo
aqui. Teremos oportunidade de debater, não em vinte Cabe aqui sublinhar a importância deste painel para
minutos, ou uma hora, mas em um, dois dias, os pro- a elaboração do capítulo que se destina às regiões brasi-
blemas da Zona Franca de Manaus. Para resguardar o leiras, na nova Constituíçâo. Os números focalizados pelo
Projeto Zona Franca de Manaus, sua consolidação e im- Dr. Delile Guerra de Macedo retratam a importância da
portância como instrumento do desenvolvimento sócio- região amazônica para o contexto nacional.
12 Segunda-feira 2D DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Sou daqueles que está convencido de 'que, enquanto o menta de cerca de cem projetos de incentivos fiscais na
governo federal não ocupar física e economicamente a região. Faço essa pergunta ao Dr. Henri Kayath, porque
Amazônia, nunca, nem 03 nossos bisnetos, haverão de me interessa muito tentar pelo menos traçar novos rumos,
pagar essa terrível dívida externa que nos atormenta. Só a nível constitucional, para a Superintendência do Desen-
com nossos recursos naturais, com uma produção indus- volvimento da Amazônia.
trial mais ainda aprimorada, com a criação de novos me- Quero fazer, também, uma pergunta ao Dr. Delile
canismos de desenvolvimento na região é que teremos Guerra de Macedo, a respeito da Zona Franca de Manaus:
condições de atingir o patamar da esperança que ali- todos sabemos que V. s.a enfatizou o tamanho da Amazô-
mentamos em nossos corações. Infelizmente, tanto o Nor- nia, cerca de 5 milhões e 500 mil quilômetros quadrados,
deste, quanto a Amazônia, no curso das suas respectivas quase 2/3 do território nacional, que vêm sendo gerencia-
histórias, têm sido, de um lado, abandonados, de outro dos a nível de desenvolvimento específico, pela Sudam.
lado, esquecidos, propositadamente, e de outro lado ainda, Gostaria de colher sua opinião a respeito da divisão da
desrespeitados pelo governo brasileiro. Amazônia por duas entidades gerenciadoras do desenvol-
Vejam que à vista de toda essa riqueza que está dor- vimento. Imagino, a grosso modo, que a Sudam ficaria
mindo em nosso solo, reclamando sua exploração, conti- dentro da Amazônia Oriental e nós partiríamos para a
nuamos, no Nordeste e na Amazônia, de pires na mão, instituição da Sudam, que seria a Superintendência do
como deixou muito claro o Dr. Antônio Carneiro Leão Desenvolvimento da Amazônia Ocidental.
quando enfatizou as transferências dos Fundos para o Estas eram as duas questões que tinha a formular.
Nordeste e para a Amazônia. A mim me parece que esse SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Tem a
não deve ser o 'caminho, o Município vir a Brasilia pro- palavra o nr. Henri Kayath.
curar recursos, ele deve ter garantido o seu recurso, como
o Estado deve ter assegurada a receita necessária ,para O SR. HENiRI KAYATH - Ouvi, COm atenção, a expo-
poder programar seu próprio desenvolvimento. sição 'do Constituinte José Dutra. Nas perguntas que me
fez, colocaria três pontos que considero fundamentais na
Quando assim falo, entristeço-me, como homem da explicação. Preliminarmente, devo dizer que ouvi falar
Amazônia, como homem do Norte, como homem 'do Ama- doesse trabalho do DI. Grande, muitos oonstítumtes o re-
zonas. Entristeço-me porque vejo que não conseguimos, ceberam, assim como a Associação Oomereial e Federação
apesar da nossa luta, da nossa perseverança e da nossa das Indústrias, mas a Sudam, que seria a principal in-
fé inabalável no futuro, não conseguirmos avançar na teressada em saber a opinião de um intelectual da melhor
ocupação dos espaços políticos. É exatamente por isso que qualidade, até hoje, não recebeu, para que pudéssemos
me estou empenhando nesta Assembléia Nacional Consti- meditar e refletir a respeito do que contém.
tuinte para que se possa diminuir as grandes diferenças,
seja nos campos financeiros, econômico ou político, porque Os pontos que quero assinalar relativamente aos in-
o grande mal da Amazônia, hoje, e até do Nordeste, é exa- centivos fiscais se prendem, primeiro, à questão da cor-
tamente a grande diferença na representação política. Por retagem, que vem ocorrendo há muitos anos - não nesta
sermos poucos, somos humilhados esquecidos, somos até administração - e motivou, em 1975, a mudança da anti-
esbulhados. ga lei na atual no sentido de corrígír essa distorção. Ao
longo desses dez anos, a distorção retornou. A providên-
Feitas estas considerações, gostaria de objetivar minha cia administrativa que adotei na Sudam foi a de não con-
participação neste painel, antes, porém, ressaltando e con- siderar, em hipótese alguma, essa corretagem, entre aspas,
firmando, como homem do Estado, a importância da Zona que é exercitada por aí, como componente financeiro do
Franca de Manaus, não apenas para o Amazonas, para a projeto. O projeto Sudam, o projeto do empresário que
Amazônia Ocidental e ou 'para a Amazônia Legal, mas para está na Budam, não é contaminado por qualquer recurso
este País, importância até de segurança nacional, porque, adicional, principalmente quando do tipo juros, correção
na medida em que não ocuparmos economicamente aquela monetária, encargos financeiros de Illualquer natureza.
área, estaremos abrindo espaço à cobiça internacional. O
problema da Zona Franca de Manaus é de seguranca na- Devo esclarecer que os recursos financeiros de qual-
cional para o País. - quer projeto da Sudam, hoje, são provenientes de três
fontes perfeitamente identificadas, e somente delas: recur-
Gostaria, Sr. Presidente, de formalizar uma pergunta sos de incentivos fiscais, nos quais, qualquer corretagem
ao Dr. Henri Kayath, Superintendente da Sudam, em ou encargo financeiro não é considerado pela Budam ;
relação aos incentivos fiscais: recebi de um advogado do recursos próprios e recursos de terceiros. São estas as
Pará, Dr. Eduardo Grande, um trabalho meticuloso a res- três fontes de recursos para o projeto Sudam. Podem
peito dos problemas que envolvem a Amazônia, hoje, e acontecer encargos financeiros, corretagem etc., mas não
grifei um texto que me chamou a atenção. Fazendo uma são considerados no projeto. Portanto, fica limitado exclu-
análise do crime que se está praticando, com a utilização sivamente a um problema fiscal, de natureza fiscal, e com-
dos incentivos fiscais, na área da Sudam, particularmente petência da Receita Federal e não mais da competência
do Fidam, quando corretores chegam até a aplicar uma da Sudam, porque esses valores não são registrados no
taxa de 40%, para alocar esses incentivos, ele diz textual- projeto Sudam. A corretagem paga pela aquisição desses
mente que o investidor, além de não pagar parte do Im- incentivos tem que ser esplíeada a nível de Receita Fe-
posto de Renda devido, recebia, em dinheiro, parcela ex- deral e não da Sudam, porque ela o excluiu por completo
pressiva do valor deduzido daquele tributo. Nenhuma van- da composição de custos do projeto. Esta colocação do
tagem fiscal era superior a essa, mesmo considerando que, eminente Prof. Grande deve ser direcionada à Receita Fe-
depoís a Fazenda Federal, não mais aceitou como dedutí- deral, que deve pesquisar de que modo esses valores são
vel, para efeito de apuração do Imposto de Renda o deságio ou nao colocados na declaração do Imposto de Renda e
ocorrido nessas transações. Além dísso, temos informações cada uma dentro dos projetos, mas jamais na Sudam, por-
do Norte, a respeito do drama, por que passa a Sudam, que não faz parte do seu elenco financeiro.
no que concerne ao atíngímento das suas reais finalida- Esta a primeira explicação. A segunda a que quero
des. reportar-me é o comportamento dos recursos, dos incenti-
Gostaria que meu prezado amigo Henri Kayath foca- vos fiscais para o projeto Sudam. Os projetos Sudam, des-
lizasse com alguns dados reais o quadro que se experi- de que foi instituída, são da ordem de mil e cem, dos quais
menta hoje na Sudam, que motivou, inclusive, o cancela- oitocentos e setenta estão em implantação. Os incentivos
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 1~

fiscais para atender a esses projetos são insuficientes. Eu serão 'providos de recursos suficientes para cobrir o défi-
teria necessidade de cerca de dez milhões de OTN anuais cit a que há pouco me rererí. Esse mal que nós, da Sudam,
para atender plenamente a esses projetos em implanta- sofremos, e acredito que também a Sudene, tem o mesmo
ção, e minha estimativa de Finam para 1987, por exem-> problema. Era o esclarecimento que queria dar.
plo, é de apenas cinco bilhões de cruzados, na melhor
das hipóteses. Portanto, tenho um déficit de cerca de O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Com
sete bilhões de cruzados para atender, em 1987, aos oito- a palavra o Sr. Delile Guerra de Macedo, para responder ao
centos e setenta projetos em implantação. Constituinte José Dutra.
O terceiro ponto que queria assinalar na sua pergunta O SR. DELILE GUERRA DE MACEDO - Sr. Presíden-
é quanto aos projetos cancelados. Houve uma preocupa- te, Sr. Relator, Srs. Constituintes, caro Constituinte José
ção da Superintendência no sentido de recuperar os pro- Dutra, perdoe-me meu querido amigo Kayath, mas farei
jetos que, por várias razões, se encontravam paralisados. uma colocação não como Superintendente da Suframa, mas
Devo dizer que a preocupação da administração é não como um profissional que tem lutado, nestas três últimas
acusar ninguém, nenhum titular de projeto, de má gestão. décadas, para desenvolver áreas subdesenvolvidas. A região
Partimos do princípio de que é preciso identificar a razão Amazônica é difícil. Reafixmei aqui que ela difere cio Nor-
pela qual esse ou aquele projeto parou de ser implantado. deste pelo seu escasso povoamento e pela integração eco-
E na identificação das causas dos projetos paralisados e nômica, a partir de sua colonização que se deu de maneira
não cancelados, a causa básica está na falta de recursos. muito diferente da do Centro-Sul e do Nordeste brasileiro;
O contrato estabelecido no início do projeto Sudam não deu-se através da calha do rio, tendo a impenetrabilidade
foi cumprido por parte do Governo Feder'al e por parte das florestas, pior do que as montanhas.
da Sudam, o que fez com que o empresário não pudesse, Para um melhor desenvoívímento da Região não há
em tempo hábil, atender ao cronograma físico-financeiro dúvida de que devemos advogar a repartição. Como profís-
da implantação do projeto. Nessa ídentírícação, nossos ipro- sional, talvez não mais estarei na Suframa quando a lei
jetos, que evidentemente estão, paralisados, são passíveis regular isso, mas acho que, considerando a brasilidade da
de cancelamento, não chegam a cem. região Amazônica, deveríamos fazer a seguinte distribuição,
l!: o reparo que queria fazer. Estamos aproximada- facilitar: 1.0 - administração dos incentivos; 2.° - ínte-
mente em torno de 7%. Apenas 7% do total dos projetos ríorízação do desenvolvimento; 3.° - integração de ações
são ,passíveis de cancelamento, ,e 13% estão paralisados. É entre as prefeituras, governos estaduais e governo federal,
preciso não confundir essas duas figuras, paralisados e através das agências de desenvolvimento; 4.° - para que
'cancelados. Os paralisados são passívets de recuperação, e se tivesse presente pelo menos nos núcleos urbanos. Ima-
ginem V. Ex.as que a área da Suframa tem dois milhões e
temos um programa de recuperação para eles, Os cancela- duzentos mil quilômetros quadrados, e mais ou menos três
dos por várias razões, foram da ordem de 7%, de um total milhões e quinhentos mil habitantes concentrados em pou-
de aproximadamente 50 a 60. cas cidades. A Sudam, do jeito que está, facilitaria o volu-
Era a correção que queria fazer. Estes são os fatos. me de recursos financeiros.
O que fazer diante desse déficit de incentivos fiscais? Devo dar aos Srs. Constituintes a informação de que
Quero tornar minhas as palavras do eminente amigo, Dr. talvez a Suframa seja o único órgão no Brasil que não
Delile Guerra de Macedo, quando disse que os incentivos vive às expensas do governo federal, mas com seus pré-
fiscais são instrumentos extrematnente adequados para prios recursos. As transferências que recebemos do orça-
promover o desenvolvimento da Amazônia, que não pode mento da União não representam sequer 4% do nosso orça-
prescindir da sua existência, sob as mais variadas formas, mento total. Recebemos taxa pela prestação doe serviços aos
eles são absolutamence necessários, fundamentais para in- setores comercial e industrial no valor de 3% sobre a ín-
duzir a Amazônia ao desenvolvimento. ternação de mercadorias estrangeiras e 2% sobre a Inter-
li: evidente que existe no estudo dos incentivos fiscais nação de mercadoria nacional. Advogo o princípio de que,
que representam uma dedução do Imposto de Renda um para cada cruzado arrecadado lá, o governo federal coloque
fato para o qual poucos atenta. A lei permite que se dedu- um cruzado no orçamento da Suframa, e assim eu poderia
zam 25% do Imposto de Renda devidos pela pessoa jurí- descentralizar o desenvolvimento econômico de Manaus
dica para os fundos setoriais e regionais. Fiquemos apenas para outras regiões da Amazônia.
nos regionais. -Vinte e cinco por cento desse Imposto de
Renda podem ser deduzidos para o Finam e Finor-, para Vejam que a organização da administração direta solí-
os fundos da Amazônia e do Nordeste. Acontece que as cita isso ao governo, todas solicitam o orçamento total; eu
empresas, as pessoas jurídicas que podem gozar dessa estou solicitando apenas 50% do orçamento, o que aumen-
faculdade legal, não o fazem, e, com isso, o que poderia taria o volume de recursos e a eficiência no exame dos
ser deduzido para os fundos, não o sendo, vai para o Im- casos para os empresários, governos e municípios. Advogo
posto de Renda. que a Sudam, do jeito que está - e, aí, uma colocação pro-
fissional - deveria ficar com a pré-Amazõnía maranhense,
Quero trazer a esta Subcomissão um dado importan- norte de Goiás, Estado do Pará e o Território do Amapá,
tíssimo no estudo que fizemos. Se tomarmos o número de e que a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
cem contribuintes, em 1975, para os fundos regionais - Ocidental ficaria com o Território de Roraima, o Estado do
consideramos padrão o número cem - em 1985, portanto Amazonas, o Estado de Rondônia, a pré-Amazônía mato-
após dez anos de vigência da lei, esse número reduziu-se grossense. Isso já daria uma área de atuação, em nosso
a cinqüenta. O número de pessoas jurídicas deste País caso, de uns 2 milhões e 500 mil quilômetros quadrados.
que deduzem seu Imposto de Renda para dar recursos ao
Nordeste e ao Norte reduziu-se em 50%. Aí está minha Vejam as dimensões e dificuldades de locomoção que
pergunta: O que fazem com o Imposto de Renda? O que temos. Advogo, nobre Deputado, que se faça alguma coisa
faz a Receita Federal, que abocanhá a maior partícípação nesse sentido, independentemente de me encontrar no cargo
dessa receita? Por isso, somas deficitários. Nossa preocupa- de Superintendente. Não é um problema de poder, mas
ção foi manifestada através doe documento apresentado na de eficiência, de aumento de recurso, de resolver mais rapí-
época ao Ministério do Interior, que já está 'em estudo a damente o grande fosso que separa as regiões em desenvol-
nível de Ministérios para uma decisão, que a dedução vimento, as regiões subdesenvolvidas, das desenvolvidas.
seja automática, como" acontece com a dedução do Im- Esta é minha posição como profissional e como brasileiro,
posto de Renda da Embraer, e, assim, os fundos regionais como amazônída que sou, de coração.
14 Segunda-feira 2(1 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A aquela área, e para isso, temos, como primeiro fator, a
Presidência concede a palavra ao Constituinte Asdrubal 'Colonização. Não tem nada a ser desapropriado, porque
Bentes. ali só existem terras públícas, Para o Sul, Sudeste ou para
O SR. CONSTITUINTE ASDRUBAL BENTES - Sr. 'o Nordeste, a desapropriação poderá ser o primeiro fator
Presidente, Srs. Constituintes, nobres expositorés, ao ouvir para a reforma agrária, mas creio eu que para o Norte,
a vibrante, esperançosa e confiante exposição do Dr. Delile, a colonização é o primeiro. Temos o Projeta Jari, que
confesso que durante alguns minutos sonhei, sentindo-me ocupa vários milhões de hectares de terra, dos quais três
um amazônida rico, mas de repente acordei e voltei à rea- milhões e meio não têm sequer um documento hábil.
lidade. Voltei à minha infância nas barrancas do rio Madei- O Dr, Aloysio Chaves, nobre Relator desta Subcomissão,
ra, à minha juventude no Pará e à minha atividade profis- conhece muito bem, porque foi governador do nosso estado
sional na zona mais rica do nosso Estado, o sul do Pará. e paetícípou, atuante como é, para a solução desse pro-
Caí na dura e triste realidade de um povo rico e pobre. blema, que infelizmente até hoje não teve solução. O Jari
ocupa, até hoj e, 5 milhões de' hectares de terra, dos quais,
A grande gama de minérios que possuímos, que, com pelo menos 3 milhões 'e meio são terras devolutas. O Pro-
muita propriedade, foi exposta pelo Prof. Delíle, na realida- ieto Andrade Gutierrez está tentando devolver à União
de à nossa região de quase nada tem servido, pois os suas terras, porque já tem 6 mil familias na área. São
grandes projetos, como o Carajás, Hidrelétrica de Tucuruí, 400 mil hectares de terras, e o oovemo fica preocupando-
Trombetas, Barcarena, têm deixado muito pouco para o se em efetuar desapropriações, elevando os custos para
amazônida em termos de desenvolvimento com a partici- implantação da reforma agrária, quando existe terra dís-
pação da nossa população, e têm deixado muitos e graves ponível. No Baixo Amazonas, em Santarém, há 1 milhão
problemas sociais. A dívida social desses projetos para de hectares de terra, em F1Ol'dlândia, já 'com uma certa
com a nossa região é infinitamente superior aos beneficios
que têm prestado ao nosso País e ao nosso Estado. A alí- infra-estrutura deixada pelos americanos e não aprovei-
quota do Imposto Único sobre Minerais é insignificante, e tadas raeíonalmente até hoje.
mais insignificante é a participação nesta alíquota dos
Estados e Munictpios. Pal'abenizo V. Sa. pela colocação que fez e que vem
ao encontro do nosso pensamento. Há que se descentrali-
Daí por que dirigiria minha primeira pergunta ao Dr. zar, há que se regíonalízar a reforma agrária, e basica-
Delile. Há, sem sombra de dúvida, necessidade de uma mente o município é que tem de ser ouvido, talvez tendo
reforma da política mineralógica. Que tipo de reformas como coordenador não o Incra, porque costumo dizer
apregoaria V. s.a? Disse o Dr, Delile que após a promul- que o Incra é um encravado da vida - não fa:?: nada,
gação da nova Carta, dos impostos a serem criados, 30% não 'tem competência, no sentido vernáculo, para realizar
deveriam ser reivindicados para o Nordeste e 15% para coisa alguma. A União é que deve coordenar e o estado
o Norte. Indagaria: quais os critérios adotados por V. s.a e o município é que devem executar o Plano Nacíonal de
para a diferença de percentual entre o Norte e o Nordeste? Reforma Agrária, regíonalízando-o. Com o Dr, Reis Vel-
Pergunto ao Dr. Delile e, se o Sr. Presidente permitir, 1000, ficou mais do que claro - isso é o óbvio ululante,
teria perguntas também ao Dr. Carneiro Leão, posterior- até - que a concentração ,de recursos nas mãos do Go-
mente. verno Federal é a causa maior do enfraqueeímento da
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - nossa rederaçâo. Eu, que fui prefeito de município pobre
A Presidência solicita ao Constituinte que coloque suas do interior, ríco em beleza natural, com uma das praias
perguntas :para que as respostas possam ser feitas em se- mais lindas - vou f,azer meu comercial do Norte-Nordeste
qüência. deste País, Salinópolis - sofri na pele as agruras de ser
prereíto de um município ríco e pobre, com duas 'POPula-
O SR. CONSTITUINTE ASDRUBAL BENTES - Pois ções, uma fixa, humilde e carente, e uma flutuante, de
não. Ao Dr. KaY8!th, Superintendente da Sudam, no bojo veranístas. A época, recebia 15 mil cruzados de ICM e
da crise da reforma mínísteríal, os governadores do Nor- 73 mil cruzados de Fundo de Partíeípação, em média,
deste propuseram a adoção de uma medida que já vivemos por mês. O que se poderia fa2Jer senão viver de' pires na
por vários anos. A época da Superintendência do Plano mão? E eu aínda tinha dinheiro para comprar o pires.
de Valoriza,ção Econômica da Amazônia, ela era vinculada Hoje, os municípios não têm dinheiro nem para comprar
diretamente à Presidência da República. A idéia foi res- o pires, vão mesmo de mãos abanando, pedindo, implo-
suscitada agora pelos governadores do Nordeste. Indaga- rando, mendigando um direito que é deles.
ria ao Dl'. Carneiro Leão e ao Dr. Kayath como vêem
essa pretensão dos governadores do Nordeste, porque eu Há um caminho muito grande percorrido por certos
a vejo com muita simpatia, ,e quais os benefícios que impostos que devem ser arrecadados no município, mas
adviriam daí para as Regiões Norte e Nordeste? têm de vír 8!0 poder central e, às vezes, perdem a via de
Ao Dr. oameíro Leão, que também com muita pro- retorno, Aí estão como prova o ITR, o ITBI e tantos
priedade distinguiu o Norte do Nordeste, do Sul e do outros, que vão paria os estados 'Ou vêm para a União.
Centro quanto à política fundiária. Fala-se muito de refor- E o ICM? Nosso estado, como todos os da Amazônia, é
ma agrária e faz-se muito pouco. Partindo-se do princípio extremamente penalizado, pois as exportações são isentas
de que o Plano Nacional de Reforma Agrária é uno para de ICM. Para se ter uma idéia, meu estado, para a cons-
todo o País, sem levar em conta as peculíarfdades regio- trução de uma rodovia de 1,200 km,asfalotada no Governo
nais, enquanto no Sul talvez seja válida a política adotada passado, teve de tomar empréstimo externo, quando o
pelo Governo de desapropriações, no Norte é bom que valor das ísenções do ICM coneedídas seria suficiente para
se levem em conta os outros elementos previstos no Esta- construí-la sem nos endividarmos. Creio que há que se
tuto da TeTl'a corno básicos para a efetivação de uma descentralizar. Pediria a V. Ex.a que, com objetividade,
reforma agráría. E, no caso da nossa região, a Amazônia, desse algumas sugestões para essa descentralização, eon-
o rator básico para a implantação da reforma agrária ferdndo ao município uma partícípação mais eretíva na
renda do País.
deve ser a colonização.
Vou dar exemplos. Temos quase em vias de realízação O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
o Proj eto Calha Norte, com 6 mil quilômetros, das fron- Com a palavra o Dr. Delíle Guerra para responder ao
teiras do Peru às fronteiras das Guianas. Temos de ocupar Constituinte Asdrubal Bentes.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 15

o SR. DELILE GUERRA DE MACEDO - Sr. Consti- foi ao contrário. Era uma tentativa de descentralização,
tuinte Asdrubal Bentes, do Pará, começando do fim para mas a política foi de centralização total e descentraliza-
o 'início, tomamos o 'seguinte' critério: a população, a renda ção setorial por Ministérios ou por grupos de sociedades
e a área, e compensamos a renda - que é menor em de economia mista, sistemas que saíram praticamente da
relação ao Nordeste - com a área geográfica, que é maior, administração direta do Estado: sistema Siderbrás, sis-
três vezes a do Norte em relação ao Nordeste. A 'Popula- tema T.elebrás, sistema Radiobrás e todos os sistemas exis-
ção foi igual, o critério 50% e 50%, o que me deu 30% tentes.
e 15%, respondendo objetivamente. Essa concepção original da Sudene ficou muito preju-
Passando à pergunta seguinte: que, tipo de reforma? dicada, porque ela entrou em confronto com o setorial. As
Não estudei a reforma. O que quis deíxar bem claro - e políticas hoje são centralizadas setorialmente. Coma co-
V. Ex. a vai receber meu documento, o que lhe dará, e a locar dimensões espaciais nisto? Nrmalmente, em todos
todos os 'constituintes, possíbílídade de elaborar o texto os planos feitos pela Seplan, somos um setor a mais. Te-
constitucional - em primeiro lugar, é a regulação do mos a política do Governo para o setor agrícola, para o
problema mineral, não só da lavra como do transporte, setor industrial, para o desenvolvimento regional. Então,
para beneficiar as populações. Como bem disse V. Ex. a , nos transformamos em um setor. Daí o corte ter que ser
as populações não participam dos resultados econômicos dentro dos setores, através do planejamento, com um
através das unidades federadas e dos municípios, que corte espacial dentro do planejamento, dentro do orça-
podem fazer programas de desenvolvímento para dimi- mento da administração direta 'e dentro do orçamento das
nuir a dívida social. Esse é o plano, apenas em tese. estatais. Essas entidades terão de se adaptar. E as entida-
O desmembramento não é minha área, mas me coloco à des de prioridade do Poder Executivo são o Norte e Nor-
disposição do constituinte para, como profissional, dis- deste. São ,essas as entidades propícias para fazer a arti-
cutirmos o problema e encontrarmos as soluções. culação com a classe política de Estados e Municípios, com
a sociedade civil.
Sfuo estas as informações que presto ao Constituinte O início da Sudene teve muita execução direta, não
Asdrubal Bentes. existia administração federal na região, fizeram-se di-
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) _ versas sociedades de economia mista, chegamos a ter mais
Com a palavra o Dr. Henri KaY'ath para responder ao de cinqüenta, e hoje só temos duas. Mas hoje todos os
Oonstíbutnte Asdrubal Bentes. Esta;dos se aparelharam, os Municípios - alguns grandes
- melhoraram muito sua atuação, a admínístracão fe-
O SR. HENRI KAYATH - Como a pergunta se prende deral melhorou muito nesses últimos anos. -
a uma provocação vinda do Nordeste, daria precedência
.ao ilustre representante da Budene, Então seria mais um organismo de articulação do go-
verno federal, de fiscalização e controle, para verificar se
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) _ o orçamento, o plenaiamento está sendo executado, infor-
Uma vez que o Dr, Henrí Kayath cede a vez, a pergunta mando ao Congresso, e de administração de alguns instru-
será respondída pelo Dr, Antônio Carneiro Leão. mentos e mecanismos próprios e supostamente temporá-
rios, porque todos esses mecanismos de indução e promo-
O SR. ANTÔNIO CARNEIRO LEÃO - Sr. Presidente, ção ao desenvolvimento, teoricamente, devem ser tempo-
peço licença aos Srs. Constituintes para tentar fazer uma rários nos incentivos fiscais.
breve digressão histórica. A Sudene foi criada através de
amplo movimento popular, que encontrou respaldo no Considero a reivindicação dos Governadores a mais
Centro-Sul que, num momento de aceleração do desen- justa possível, porque não visa à regionalização do Bra-
volvimento econômico, numa fase aguda de substituição de sil, mas à priorização daquelas regiões que têm mais ne-
exportações, com o Plano de Metas do Governo Juscelino cessidade.
Kubitschek se sentia ameaçado por alguma questão so-
cial que viesse do Nordeste, e com a sensibilidade política O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - Com
do Presidente Juscelino Kubitschek, com a onda de modi- a palavra o Dr. Antônio Augusto Reis Veloso.
ficações dos esquemas políticos dominantes, que foram der- O SR. CONsrrITUINTE ASDRUBAL BENTES - Sr.
rotados fragorosamente, em grandes partes do Nordeste Presidente, pela ordem, Gostaria de ouvir a opinião do
nas eleições de 1958 e de 1960. ' Superintendente da Sudam com relação à mesma pergun-
Todas essas condições - as primeiras mobilizações da ta, já que foi dirigida aos dois, para ver se elas convergem
para o mesmo fim.
Igreja com o encontro Idos bispos dos comerciantes as
associações comerciais - permitiram que se criasse' Um O SR. HENRI KAYATH - Sr. Presidente, serei muito
organismo absolutamente original na época, que era uma breve. Concordo plenamente com o que foi dito, e nada
agência de desenvolvimento que visava a coordenar e mais tenho a acrescentar,
compatibilizar a ação do Poder Público federal num deter-
minado espaço físico. A originalidade não estava só na O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A
criação de uma nova entidade administrativa do Poder Presidência passa a palavra ao Dr. Antônio Reis Veloso,
EXecutivo federal. :É que agregava ela um conselho delibe- para responder.
rativo que articulasse ouvindo a classe política 'da região,
onde estavam representados os governadores com um peso O SR. ANTôNIO AUGUSTO REIS VELOSO - Sr. Pre-
de voto de 42%. Isso permitiria uma articulação do Go- sidente, caro Constituinte Asdrubal Bentes, do Pará, par-
verno federal: esse órgão centralizaria as atuações dos ticipo da sua preocupação e a acho inteiramente perti-
diferentes Ministérios dentro daquele espaço físico e lhes nente, no sentido de que haja realmente esforços efetivos
imprimiria maior velocidade e racionalidade. A vinculação na direção da descentralização, da desconcentração, Hou-
direta com o Presidente da República pressupunha uma ve um esforço, que procurei indicar e que todos conhecem,
política 'de prioridade para o desenvolvimento daquela re- mas é e,:,idente que todo esse esforço de descentralização,
gião. vamos dizer, esforço no sentido de liberar os municípios
e Estados de todas aquelas amarras dos planos de aplica-
O -que houve durante esses vinte anos? Hoje é difícil ção, das exigências junto ao governo federal, não é sufi-
localizar o órgão regional. A política, nesses vinte anos, ciente. Há necessidade de se fazer muito mais.
16 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

No documento que distribuí procurei desenvolver um mava GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvi-
elenco de medidas nessa direção, procurando, por exem- mento do Nordeste. Deixei a diretoria do Banco para pre-
plo, determinar mesmo ponto de grande importância. Por sidir esse grupo, que foi também o núcleo, realmente,
exemplo, hoje temos diversos fundos de participação, fun- de onde surgiram os principais trabalhos que contribuí-
dos de transferência do governo federal para os Estados e ram, depois da conversão em Oodeno para a institucio-
Municípios. Entendemos que é conveniente que isso seja nalízação da Sudene. Aí já tínhamos consciência de que
simplificado através da concepção 'de que a repartição se a Sudene devia ser um órgão poderoso, que dispusesse
dê no conjunto da receita tributária da união e de que se de capacidade política para atuar na região, e, também,
evite toda essa parafernália hoje existente. Considero es- para obter recursos suficientes.
te fato de toda a relevância. Vimo-nos batendo por isso E;;sa mentalidade predominou de tal forma que che-
há muito tempo na Sarem, no sentido de que essa descen- gou a um ponto em que o Supermtendente da Sudene era
tralização não seja só de recursos, mas de atribuições, o próprio Ministro do Planejamento do Governo do Sr.
de encargos, de responsabilidades, de tal forma que o João Goulart, o atual Ministro da Cultura, Dr. Celso Fur-
próprio governo federal que, por definião institucional, tado. Verificamos que é imprescindível para o desenvol-
detém a maior soma de poder e de recursos, seja suficien- vimento do Nordeste, agora mais do que nunca, na opor-
temente realista, no sentido de descentralizar a execução, tunidade da Constituinte, estabelecer a luta em favor de
de converter isso numa ação municipal com muito maior instituições que sejam realmente fortalecidas e que dis-
e melhor resultado, não só com muito maior eficiência, ponham de poder e autoridade para atuar com autono-
mas com muito maior eficácia para o contribuinte. Que mia dentro da região para conseguir os meios de coman-
repercuta muito mais diretamente em favor do contri- dar seu próprio desenvolvimento.
buinte que está próximo Ido Município, que está lá perto,
onde são descobertos os mecanismos mais baratos, mais É com fundamento nessa filosofia que apresentei ho-
convenientes e adequados. je sugestão à Mesa da Assembléia Nacional Constituinte
institucionalizando a região num sistema federativo. Esse
Participo inteiramente' da sua preocupação e posso é o primeiro passo. O segundo é declarar que também
imaginar todo seu drama na Prefeitura de Salinópolis, fica institucionalizada a autonomia regional, que, atra-
dependendo, todo dia, das transferências do governo fe- vés de lei complementar, poder-se-ão estabelecer dire-
deral. trizes e normas que assegurem às regiões de desenvolvi-
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A mento retardado recursos técnicos e financeiros suficien-
Presidência concede a palavra ao COnstituinte Aluízio tes para melhorar sua condição econômico-social e pro-
Campos. mover a ação descentralizada dos poderes federais.
. O SR. CONSTITUINTE ALUíZIO CAMPOS - Sr. Pre- A idéia é que cada região, na medida em que vá
sidente os diagnósticos manifestados pelos expositores e constítuíndo-se autonomamente, seja realmente uma
intel1leÍantes resultam da velha e ainda não transposta área de representação do descentralísmo das atívídade.s
realidade de que as disparidades regíonaís dependem, ba- de todos os poderes da República. Exemplo: o Poder Ju-
si-camente, da falta de recursos suficientes, não só nos seus diciário terá órgãos de última instância dentro da região.
motantes, como no próprio esquema das líberações d~s Em vez de haver um Tribunal de Recursos, teremos tan-
disponibilidades, para aplicações oportunas nos investi- tos Tribunais de ~ecursos quantas forem as regiões do
mentes regionais. País, para decídírem com muito mais celeridade e pro-
Quando instituímos a Sudene, já havia no Nordeste, ficiência as questões que estejam submetidas à sua com-
por exemplo, dois órgãos federais de~ti~ados a contrib1!,ir petência. Da mesma forma, na parte, vamos dizer, fiscal,
para o crescimento regional: a C{)mISSaO do Vale do Sao Conselho de Contribuintes Regionais, e na do Poder Exe-
Francisco e a cnesr. A Chesf, com recursos reduzidos, cutivo, as regiões menos desenvolvidas - está aqui um
vinha funcionando com certas limitações, e a Comissão artigo - serão providas de entidades organizadas para
do Vale do São Francisco era conduzida mais por crité- planejar, coordenar e fiscalizar a execução de projetos e
rios políücos, que dispersavam os r~curs?s ~. ela. atribuí- programas destinados a promover seu próprio desenvol-
dos, e não produziam nenhum efeito s~gmfI~at~vo para vimento. Esta é mais uma preocupação dos órgãos cole-
o desenvolvimento regional, sequer na area límítada do giados das entidades regionais, participarão a União e ma-
vale daquele rio. . joritariamente; os Estados que as compõem. Não vamos
ficar como depois de 1964, quando os governadores eleitos
Quando foi constituído o Banco do Nordeste, s_urgiu lndíretamente não tinham nenhuma legitimidade para
como sua primeira providência estatutária, a críaçào de representar os interesses das suas províncias, porque
um organismo com a preocupação de começarmos a fa- eram, tanto quanto os outros, funcionários do Governo
zer análises da economia setorial, definirmos os pontos federal. A Sudene foi inteiramente descaracterlzada nes-
de estrangulamento e também oríentarmos os investimen- se período. Perdeu a força de planejamento e controle fi-
tos nos projetos que pudessem ser rínaneíados pelo ban- nanceiro e perdeu, sobretudo, a autoridade política, por-
co. que o nosso, orçamento, naquela época, era um apenso
Eu era diretor do banco na sua constituição, co-autor do orçamento da Presidência da República, não estava
dos seus estatutos etc. Depois disso veio o Programa de subordinado a ministério algum. Se instituirmos agora a
De..envolvimento Econômico, em substituição ao Progra- autonomia regional, os órgãos existentes para o exercí-
ma de Reaparelhamento do Governo Vargas, veio o Con- cio dessa autonomia não são realmente autônomos, estão
selho Nacional de Desenvolvimento Econômico. Na direto- na jurisdição e na dependência de qualquer outro poder
ria do Banco do Nordeste verificamos que o programa de patamar superior na área federal.
desse reaparelhamento econômico, pelos seus objetivos E há mais outros esclarecimentos, para evitar pro-
nacionais não dava oportunidade de obtermos, para as blemas menores depois. Nenhum Estado deverá perten-
regiões menos desenvolvidas, condição de ajuda neces- cer - como é o caso do Maranhão - a mais de uma
sária para o deslanche de uma luta desenvolvimentista. região, e a área territorial da região não será alterada
Foi a partir daí que procuramos utilizar o Conselho co- sem concordância de todos os Estados componentes. As
mo instrumento que possibilitasse isso. modificações terrítoríaís ou de Estado regionalizado ou
, Não nos concediam recursos e partimos, corajosamen- sua supressão, dependerão também da aprovação dos' de-
te, para a rundação de um grupo de trabalho que se eha- mais ~tados da federação.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 17

Minha proposta é singela, porque eu não queria nem gando divisionismo nem querendo uma política de favores,
posso entrar em detalhes numa regulação constitucional. mas uma política adequada, apropriada, uma política espe-
Isso vai depender de lei complementar que poderá fixar cífica.
,8 estabelecer as diretrizes.
Creio que o desenvolvimento recente do Brasil nos
Submeti ainda ontem essa proposta sintética, que leva a enfatizar a diferenciação regional - não há por que
estou apresentando, à consideração do Ministro Celso Fur- esconder, não há por que omitir, pelo contrário, é preciso
tado, é, na parte jurídica, à consideração do Prof. Paulo tirar partido da rica heteregoneidade que este País nos
Bonavídes. Eles ficaram muito entusiasmados e disseram oferece.
que essa é a luta fundamental para as bancadas nordes- A exposição do Dl'. Reis Veloso, sem dúvida alguma,
tinas, é a luta em favor da autonomia regional, que na salienta a importância das transferências como instru-
Constituição somos obrigados a tratar de maneira gené- mento da redistribuição. Ê preciso estar atento para o
rica, mas determinando que os incentivos só sejam real- que o problema significa. Vimos aqui o problema da vul-
mente prestados àquelas regiões que eu chamo aqui de nerabilidade dos Municípios em relação à cobrança do
desenvolvimento retardado. Para essas regiões será minis- !PTU. Não quer dizer que os tributos devem passar a ser
trada a ajuda indispensável para minimizarmos as dispa- estaduais ou municipais, necessariamente, mas que se
ridades regionais. amplie o sistema de transferência constitucionais obri-
A parte política não me impressiona, porque muita gatórias, casando-se isso, articulando-se, necessariamente,
gente tem a preocupação de que a autonomia regional com uma melhor discriminação de competências entre os
possa comprometer a unidade nacional, a unidade política níveis de governo, tese que também temos desenvolvido.
do País. Nem com Farrapos, nem com a Revolução de Mas não chego a propor um nível de governo regional.
1817 nunca se conseguiu fazer isso. O Brasil está cada vez Creio que não há consciência social a esse respeito e nos
mais unido, à medida em que seu crescimento econômico estaríamos colocando adiante dos fatos, adiante da histó-
identifica as regiões através dos relacionamentos econô- ria, Creio que é preciso estabelecer as bases, fixar-se não
micos e sociais. De maneira que penso que a autonomia uma politica que trate a região isoladamente, como sempre
regional é a solução constitucional e não devemos perder foi tradição na política para o Nordeste, mas que estabe-
a oportunidade de fazer, agora, sua introdução na Cons- leça, que reconheça no País um sistema nacional de re-
tituição, para conseguirmos meios de, com maior auto- giões, e que se passe a trabalhar através de uma política
nomia, melhorarmos a consciência, a educação dos habi- nacional regionalizada.
tantes das regiões menos desenvolvidas e darmos estí- Citava, ontem, numa conversa informal, o exemplo
mulo à formação da sua cidadania, para que haj a capací- do saneamento - necessário e indispensável - do sis-
dade política e, num futuro relativamente próximo, saber- tema Siderbrás, quando a União absorveu uma dívida de
mos defender e conduzir a solução dos nossos problemas. 12 bilhões de dólares, aproximadamente. Isto é uma anlí-
Por isso, para prestar uma homenagem a esta Subco- cação setorial, mas que tem um componente e uma essen-
missão, aqui comparei para trazer e entregar em primeira cialidade regional, especial, se considerarmos que todas as
mão ao Presidente- a proposta que hoje submeti à Assem- grand~s siderúrgicas nacionais estão na Região Sudeste.
bléia Nacional Constituinte. A Uniao se comprometeu a aplicar 12 bilhões de dólares
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A na .Região Sudeste. Essa é que tem de ser a tradução
Presidência recebe a proposta do Constituinte Aluízio espacial dessa decisão setorial. É preciso que haja sem
Campos e determina à Assessoria que faça distribuir cópia dúvida alguma, a regionalização do planejamento 'e do
a todos os membros da Comissão, particularmente ao Sr. orçamento, para dar transparêJ?-cia a essas aplicações, para
Relator, Aloysio Chaves. que possamos mensurar e avaliar esses dados e elementos.
Isso, independentemente da vinculação de aplicações or-
A Presidência concede a palavra ao último Constitu- çamentárias obrigatórias às regiões.
inte inscrito, Waldeck Ornélas.
E, quando falo neste tema, não penso somente no orça-
O SR. CONSTITUINTE WALDECK ORNÉLAS - Caro mento fiscal, mas também no monetário e no das estatais,
Presidente, não desejo formular perguntas. Minha inten- sob pena de mais uma vez dívídírmos a parcela menor.
ção é continuar a pregação que venho fazendo nesta Sub- Isso independentemente de se estabelecerem instrumen-
comissão em relação à questão regional. Creio que este tos adequados e específicos para cada região.
painel, pelo qual me bati desde o primeiro momento, teve, O Dr, pelilé Guerra chamou a atenção para aspectos
sobretudo, pelo seu caráter informativo, o sentido de for- relevantes: a questão mineral, florestal, por via de conse-
mar a convicção da Subcomissão em relação a este as- qüência, a questão ambiental na Amazônia. É 'essa rique-
pecto. É uma pena que não tivessem podido também, za que precisamos aportar na Constituição, a necessidade
pelas circunstâncias e pelo prazo, estar aqui presentes os de tratar diferenciadamente regiões que são distintas, -
Superintendentes da Budene, da Sudesul e da própria necessariamente distintas - e a partir daí podermos: tirar
Secretaria Especial da Região Sudeste. . partido, proveito das possibilidades ,e oportunidades, que
A experiência brasileira, no particular, mostra, antes esses subespaços da Nação nos oferecem de contribuir e
de mais nada, a f.alência do modelo da política regional ex- fortalecer a unidade e a economia nacional.
plicita. Dados a que tive acesso demonstram que esta polí- Dei-me ao trabalho, caro Presidente, de fazer uma
tica tem sido, antes de mais nada, marginal e residual. análise até da composição desta Subcomissão, e vi que ela
O Dr. Delíle Guerra nos trouxe aqui o dado de que os é extremamente favorável à abordagem da questão regío-
incentivos fiscais representam menos que 5%, ou o equi- nal, Temos aqui oito representantes do Nordeste, três do
valente a 5% do crédito. Mas é importante notar que essa Norte, dois do Centro-Oeste, dois do Sul e cinco do
política regional não tem abrangido mais do que 4% dos Sudeste. Dos cinco do Sudeste, um é do Espírito Santo,
recursos do Tesouro, 6% do crédito oficial e 9% dos incen- que tem um programa específico de recuperação econômi-
tivos fiscais. Quando as migalhas são dadas para as re- ca; dois são do Rio de Janeiro, que conhecem nosso tipo
giões periféricas,' para as regiões subdesenvolvidas, elas de problema, porque já sofremos reflexos de uma 'econo-
ganham as manchetes dos jornais, mas, como são migalhas, mia em depressão após a transferência da Capital federal
isso explica por que não resolvem os problemas que nos para Brasilia, e dois são de Minas Gerais, que tem sido
aflingem há tanto tempo. Quando demandamos, quando sempre o Estado símbolo do equilíbrio e do bom senso no
reivindicamos uma política diferenciada, não estamos pre- País. Esta Subcomissão tem uma responsabilidade muito
18 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

grande. O que concluo desses dados é que se esta subco- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Havendo nú-
missão não for capaz de defender 'e assumir a bandeira mero regimental, declaro abertos os trabalhos da reunião
dos interesses regionais, teremos perdido a oportunidade da Subcomissão do Sistema Eleitoral e partidos Políticos.
histórica de dar uma contribuição '00 desenvolvimento do O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Sr. Presidente,
País, e provavelmente nossa geração não terá chance se- pediria a V. Ex.a que dispensasse a Ieítura da Ata.
melhante. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) - A O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Será atendi-
Presidência relembra aos Srs. Constituintes que teremos, do o pedido de V. Ex. a
às 17:00 h, nossa última audiência pública, com o painel (É aprovado o pedido de dispensa da leitura da Ata.)
"Ass{)ciativismo Microrregi{)nal de Municípios". A reunião de hoje é dedicada a OUvir os depoimentos
A Presidência. agradece ao Dr, Hemi Kayath, ao Dr. dos representantes Idos Partidos Políticos já convidados,
Antônio Carneiro Leão, ao Dr, Antônio Augusto Reis Ve- tais como Partido Democrático Trabalhista, Partido da
loso, ao Dr. Delile Guerra de Macedo, que trouxeram con- Frente Liberal e Partido Comunista Brasileiro.
tríbuíções expressivas para a abordagem constitucional
desses assuntos. O Presídente do Partido da Frente Liberal, Constituin-
te Maurício Campos, impossibilitado de comparecer, en-
Cumprida a finalidade da reunião, a Presidência a viou-nos o seu depoimento por escrito, que passo às mãos
encerra, convidando os Srs. Constituintes para 31 reunião do Sr. Secretário para que conste da Ata de nosos traba-
das 17:00 h. lhos.
Está encerrada a reunião.
<Depoimento do Sr. Constituinte Mauricio
Campos a que se refere o Sr. Presidente:)
COMISSãO DA ORGANIZAÇãO
ELEITORAL, PARTIDARIA Senhor Presidente, Senhores Constituintes:
E GARANTIAS 1. Não nos anima qualquer pretensão de revelar no-
nAS INSTITU1ÇõEIS vidades ou aprofundar estudos sobre o problema eleitoral
7.a Reunião Ordinária e partidário, do qual teremos, como comissão temática, de
apresentar hipóteses de soluções à Assembléia Nacional
Aos trinta dias do mês de abril do ano de mil nove- Constituinte.
centos e oitenta e sete, às nove horas e cinqüenta e oito 2. Preocupa-nos, apenas, comunicar aos eminentes
minutos, na sala da Comissão de iRelações Exteriores do colegas nossa visão pessoal dessa questão e procurar nos
Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão do ilustrar no debate seqüente. Não viemos, pois, trazer luzes.
Sistema Eleitoral e Partidos Políticos, sob a Presidência mas buscá-las.
do Constituinte Israel Pinheiro Filho, com a presença dos
Senhores Constituintes Francisco Rossi, Luiz Soyer, Moe- 3. Nossa preocupação é eminentemente prática: o
ma São Thiago, José Agripino, Arnaldo Moraes, Francisco que deve dispor a Constituição sobre o Sistema Eleitoral
Sales, Waldyr PugUesi, Jayme Santana, Lelio Souza, Luiz e Partidário, para permitir, efetivamente, a construção de
Marques, Saulo Queiroz e Lídice da Mata. Havendo nú- mecanismos jurídicos capazes de garantir a prática de
mero regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados uma democracia moderna e duradoura no Brasil?
os trabalhos. O Sr. Constituinte, Luiz Soyer, solicita que 4. O ponto inicial dessa discussão, refere-se, creio eu,
seja dispensada a leitura da Ata da reunião anterior que, à extensão da cidadania. Quem e quem não é cidadão, no
colocada em votação, foi aprovada, O Senhor Presidente sentido estreito do termo?
comunica ao plenário que, em contato com o Senhor Cons- Ou noutras palavras:
tituinte Roberto Freire, do PCB, informou da impossibi-
lidade da presença do representante daquele Partido, na Quem participa e quem não participa da Constitui-
audiência de hoje; e que, o PFL, através do seu Presi!den- ção, provimento e exercício dos poderes nacionais?
te, Constituinte Maurício Campos, enviou justificativa, 5. O ideal democrático é que o universo da cidadania,
também, da ausência daquela agremiação partidária, nes- contivesse todo o universo da população. Isso, porém, é
ta reunião, que será publicada na íntegra. Continuando impossível. A começar pela capacidade de seu exercício
os trabalhos. o senhor Presidente convida o Dr. Ronaldo em função da idade. Assim, sempre haverá de se conside-
Conde, representante do PDT, para compor a Mesa e, em rar as exclusões.
seguida, lhe concede a palavra que, usando-a, expõe o
ponto de vista do seu Partido sobre o Sistema Eleitoral e 6. Além dos menores e dos senis tem-se considerado,
Partidos Políticos no Brasil. Ao terminar a explanação, o nas várias legislações que já tivemos sobre a matéria, a
Senhür Presidente concede a palavra aos Senhüres Cons- exclusão dos analfabetos, dos militares, dos sem rendimen-
tituintes Francisco Rossi, Moema São Thiago e Luiz Soyer, tos, dos que estão sob tutela penal, etc. A medida em que
que formulam interpelações ao expositor. Esgot,ada a pau- aumentam as exclusões, vai se elítízando o regime, o que
ta dos trabalhos .0 Senhor Presidente agradece em nome poderá torná-lo uma "democracia de eupátridas", onde
da Subcomissão e no seu próprio, a presença do ilustre "todo o poder emana do povo" mas "o povo" é reduzido a
convidado, Dr. Ronaldo Conde, do PDT, que muito enalte- uma minoria privilegiada.
ceu os trabalhos de elaboração do anteprojeto, com rele-
vantes subsídios. Nada mais havendo a tratar, o Senhor 7 . O exercício da cidadania é um direito da popu-
Presidente deu por encerrado os trabalhos, às onze horas e laçâo, acredito que todos 'quantos contribuam para a ma-
um minuto, cujo teor será publicado, na íntegra, no Diário nutenção do estado, com impostos ou com trabalho, não
da A~mbléia Nacional Constituinte, convocando os Se- podem dela ser excluídos. Isso inclui, no 'mínimo, os anal-
nhores Constituintes para a próxima reunião a ser reali- fabetos e os militares.
zada dia 5 de maio, às nove horas e trinta minutos com a 8. A partir dessa premissa, poder-se-ão discutir as
seguinte pauta: audiência com os Presidentes dos Parti- bases de um sistema partidário. Nessa questão talvez seja
dos Políticos PMDB PDS, PTB e PV. E, para constar, eu, interessante indagar, pelo menos, sobre os seguintes pon-
Sérgio da Fonseca Braga, Secretário, lavrei a presente Ata tos:
que depois de lida e aprovada, será assinada pelo senhor
Presidente. Qual o papel dos Partidos Políticos?
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUJNTE (Suplemento) Segunda-feira 20 19

Qual sua natureza? inflexíveis foram as regras partidárias que o inesquecível


Quantos partidos deverão existir? Pedro Aleíxo não conseguiu fundar seu partido Democra'ba
Republicano, o PDR. Nas últimas aIeíçôee habilitaram-se
9. lI: consenso, acredito, que a atividade política, num 30 partidos: PDS, P:MDB, PDT, PTB, PT. PFL, PPB, POB,
regime ,democrático, desenvolve-se dentro dos Partidos. PDC, PMN, PH, iPSO, PC' do B, PND, P1\1l3, PAS:ART, PLB,
Em nossa Lei Orgânica dos Partidos estes se destinam PDI, PTN, PJ,PRT,PL,PMO,PTR,PS, PSB, PRP, PNR,
"a assegurar, no interesse do regíme democrático, a auten- PN 'e PON. ..
ticidade do sistema representativo e a defender os direi-
tos humanos fundamentais, definidos na Constituição". 16. Qu'al é a melhor sítuação?
No anteprojeto de Constituição da Comissão Afonso Nossa experíêncía ensina, que nenhuma delas funcio-
Arinos, a matéria está colocada em termos de que "a nou a contento. No pré-64 e no pós-64 houve uma ciranda
organização e funcionamento" dos Partidos Políticos "res- de legendas, muitas sem qualquer expressác política ou
guardarão a soberania nacional, o regime democrátíco, o eleitoral e algumas simples legendas de aluguel. No perío-
pluralismo partidário e os direitos fundamentais ida pes- do de S4 vígeu verdadeira camisa-de-força partidári'a, com
soa humana", agremiações ar<tific1ais, tendo. de se socorrer do recurso
das subíegendas para 'acomodar tendências e interesses
10. Nota-se, em ambos os casos, que o papel imagi- tntrapartídâríos.
nado aos Partidos, extrapola, em muito, as funções de via-
bilizar os pleitos eleitorais, ao 'que, na prática, às vezes, 17. Não se' pode, obviamente, delimitar um número
ficam reduzidos. São, antes, entidades com funções perma- de partidos através de uma íeí. Nem se deve criar condi-
nentes no âmbito das relações políticas implícitas no es- cionamentos artificiais para a formação dos partidos, sob
tado e pressupõem a contínua mobilização da cidadania pena de introduzir-lhes distorções que terminarão por
em torno de interesses fundamentais, suprapartãdos e viciá-los. O caminho, talvez, soej-a o de exigir-lhes repre-
supragovernos, tais como, a soberania nacional, o regime sentatívídade em termos eleitorais, para que assumam
democrático, o pluralismo partidário e a defesa dos di- responsabilidades relativas. Aos partidos de maior repre-
reitos humanos. 8>entativiliade, conferir-se-á maior responsabíüdade no
11. Acredito que os Partidos devam, ainda, debater desempenho 'Cio papel partidário. Há de se preservar, toda-
continuamente as políticas de governo para que possam via, 'espaço para as minorias partidárias, sob pena de se
expressar o ponto de vista da cidadania, sobre a condu- cair num bipartidismo forçado ou, pior ainda, num mono-
ção dos negócios do Estado, pois a autenticidade da repre- partídísmo de fato.
sentação popular não se exaure na eleição do representan- 18. Outro aspecto importante para a autentícídade
te, mas persiste por toda a duração ,do mandato, referen- dos partddos e sua representatívídade é o grau de demo-
dando o cumprimento dos compromissos que o candidato cracia interna que se lhes possa assegurar. Quanto maior
assume. for a participação da base partidária nas decisões mais
12. A importância do papel reservado aos nartidos importantes do partido, maior será, também, a autentí-
obríga-nos a indagar sobre sua natul1eZ'8.. A forma consa- cidade de SUa representação. A criação da mecanismos
grada na legislacão vigente de "pessoa jurídica de díreíto legais que obriguem a essa participação poderá influir
público interno" é plenamente adequada, pois garante a na melhor 'COnformação dos partidos, aos objetivos da
participação 'P'a'l:'tidána a todos quantos o desejem - o democracia.
partido, juridicamente, não pertence a ninguém, a nenhu- 19. Há, por outro lado, uma estreita irA;erd'ependên-
ma pessoa ou grupo fechado - e permite a delimitação cía entre a organização partítíáría, o sistema eleitoral e
dos princípios e dos programas que, segundo seus funda- o regime de governo. Um regime de Executivo forte, como
dores, 'die,vam circunscrever as abívídades políticas de seus o 1J~sic1encialismo 'clássico, prescinde de 'par,tid:os sólidos;
membros e, segundo estes" permaneçam válidas como já um regime parlamentarista não pode prescindir de
díretrízes. uma sólida estrutura partidária. De igual forma, um sis-
13. Resta indlagar se os partidos devam ou não ser tema distrital de eleição fortalece olígarquías locaís,
"ideológleos". Isso, porém, não se consertar i na lei. Será enquanto que um sistema proporcional exige estruturas
"ideológico" o partído mais homogêneo e de menor flexi- partidárias de maior abrangência.
bilidade em matéria de príncípíos e de programas. Não
vejo, porém, necessidade de um partido ser "ideológico" 20. Acredito que a 'democracia, regime da Iíberdade
para ser Iegítímo. Cida:dãos d:e' convicções políücc-ülosó- e, portanto, das oportunidades, 'deva manter amplas por-
ríeas ,diferenciadas podem legitimamente compor uma tas 'abertas ao ingresso da eídadanía na condução do Pais,
agremíação partidária em torno de um programa de go- aoravés de partidos autênticos e -àe um sistema eleitoral
vemo ou de um projeto de poder. O importante, creio, aberto.
para a autenticidade do partido é que seus objetivos reais 21. Dois pontos são importantes na equação desse
estejam expressos ruo programa partddáelo e 'l3. mobilização problema: de um lado, maxímízar as oportunidades de
da cidadania, para 'Compô-lo, faça-se em função desses ingresso do cidadão na vida púbUca, através de um amplo
objetivos. quadro partidário e, até, de candídaturas 'avulsas ou extra-
14. Quando um partidio se '1'eduz a mero cartório partído: de outro lado, garantir a representatívjdade do
homoíogador de candídaturas, .torna-se apenas legenda de mandato popular, ímpedlndo a eleição de candídatos sem
aluguel, o que se, deve evitar para preservar a represen- base de apoio na população. A ínstítuíção do princípio da
tatividade' do quadro partidário. maíoria absoluta, para os cargos majoritários, talvez seja
a solução desse problema.
15. Quantos partidos devem existir?
22. Não menos ímportants é prever as formas de
No pl'é-64 havia 14: PDS, UDN, PTB, PSP, PR, PSB, manipulação eleítoral e de interferência 'de pessoas e de
roa, PTN, PRP, PL, PST, PRT, MTR e POB. Com a grupos na lisura do processo de eleição, quer pelo poder
extãnçâo do PCB, permaneceram 13. No período revolu- eeonômíeo, quer pela máquina admínístratíva em favor
cíonárto existiram 2 e, num certo instante, 3: Arena e de candidatos QU 'de partidos, provendo OIS meios de impe-
MDB; Arena, PP, PMDB e depois PDS e PMDB. Tão dir tais abusos.
20 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

23. Para concluir, gostaríamos de transcrever o co- Oom base neste princípio geral da necessídade do'
mentário do DesembaJrga:dor Osny Duarte Pereira ao pé rortaíecímento dos partidos políticos é que algumas teses,
do capítulo V do anteprojeto de Constituição em Comissão alguns pontos, algumas idéias concretas têm que ser apre-
Afonso Arinos: sentadas para, de certa maneíra, fortalecer e dar consis-
tência a esse nosso princípio geral.
"Se pretendemos atingir a democracia plena,
devemos deixar ao povo, exclusivamente, o poder Eu gosbarra de ressaltar aqui, em primeiro lugar, o
de exercer o voto, e o de acolher, ou de repudiar, respeito à fidelidade partidária. Parece-me que a questão
narttdos e candidatos. ( ... ) da fidelidade partidária é algo que hoje se apresenta
claramente no próprio instinto popular. Se fizermos uma
A vigência da democracia no País se inicia análise, uma avaliação empírica baseada na própria reali-
pela sua prática na vida partidária. Os p':artidos dade política, nos exemplos, nas lições que a vida política
hão de ser miniaturas do estado democrático. brasileira nos dá, veremos que o povo tem uma consciên-
A Constituição exigirá normas estatutárias que cia embríonária, potencial, mas muito clara dos problemas
eliminem, de uma vez por todas, no seio dos par- da fidelidade partidária. Se compararmos os resultados
tídos, o autoritarismo, as "panelas" matreiras, as eleítoraís de 1982 com os de 1986, verificamos que muitos
oligarquias das famílias privilegiadas e dos empre- representantes, eleitos em 1982 por siglas partidárias ao
sários poderosos. Não só eliminem como recomen- longo do período do seu mandato, de uma certa man~ira,
dação programática, mas punam de forma a de- se deslocaram, ínelusíve criando siglas circunstanciais,
sencorajar a propagação desses carunchos do para concorrer às eleíções de 1986 e não conseguiram ser
regime democrático." eleitos. Digo isto com toda a tranqüilidade, porque é um
exemplo que está muito claro na própria bancada d-o
Obrigado. meu partido. Então, verificamos que já existe um instinto
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Não foi popular potencial para ísso, Se o instinto popular cami-
possível ao representante do par-tido Comunista BrasHeiro nha para isso, creio que cabe à Cons,tituinte encontrar
comparecer. contectemos com o Constituinte Roberto me-ios de f-ormalizar esse princípio da fidelidade partidária.
Freire, mas, infelizmente, motivos supervenientes ímpe- Exi...stem outras questões que são polêmicas e que eu
diram a presença de S. Ex. a para depor. gostaria de colocar aqui. Não só, repito, como militante
Temos aqui a presença, hoje, do Dr. Ronaldo Cé_~9r do PDT. mas também como cidadão e como cíentíeta
Oond» Agutar.vepresentante do Diretório Nacional do PDT. social. Existe o problema do voto obrigatório, existe o
Convido S. s.a a parsíctpar da Mesa, concedendo-lhe, voto faeultatívc. A questão que Se coloca é a de que o voto
logo em seguida, a pala-vra pa-ra iniciar a 'exposição. facultativo, numa sociedade corno a nossa, onde grande
parcela da população vive em condllções inóspitas, difíceis
O SR. RONALDO CÉSAR CONDE AGUIAR - F:.m irá dificultar e criar obstáculos à expressão dessa popu~
primeiro IU~9r, eu gostaría de agradecer a oportunidade Iacão que, em dias de eleíções, têm que se deslocar em
de estar 'soui presente na Subcomissão do Sistema Eleito- razão de suas próprias dificuldades. O voto facult~tivo
ral e Partidos Políticos, e exnressar o meu a~adecimento. numa circunstância de crise pode ser utilizado para criar
em esue'Cial 00 Sr. Constituinte Israel Pinheiro Filho. emnectlhos ao direito do exercício de voto da população.
E esclarfecer que eu. como renresentante do Dinetório Deí1e~demos o voto obrigatório no estágio atual em que
Naeíonal do Partido Democrático Trabalhista, falarei du- a sociedade vive. Acreditamos que a sociedade brasíleíra
plamente, na condição de militante político e de cientis- hoje, ainda não pode dispensar a cbrígatoríedade do voto:
ta social. É uma qt;es~ão polêmíea, ~as a-chamas que um dos papéis
Na Qualidade de cidadão brasileiro, quero realcar a da Oonstdtuirite e enfrenta-las porque estão aí na ordem
expectativa popular quanto à Constituinte e à futura do dia.
Oon~tituicíí(). Essa -expectativa cresce na medida em oue
Essa premissa de enfrentar questões polêmicas nos
a vida política do Brasil vai assistindo aos impasses natu- leva. a um~ questão, talve~, mais polêmica ainda, que é
rais de um processo de transíção difícil por que estamos a vinculação de votos. EVIdentemente que a vínculaeão
passando. E a responsabilidade, evídentemente, dos cons- de votos surgiu, como idéia, dentro de um casuísmo e
tItuintes e dessa Constituição, se torna bem maior. dentro de 'Circunstâncias extremamente casuístícas no
E isto me faz colocar a primeira preoeupacão expres- sentido de uma forma paira ravorecer uma dada ten,dên-
sa pelo PDT, 'e creio que expressa pela população brasí- ela eleitoral. Mas, contudo, temos que pensar muito cla-
leíra. pelo povo brasíleíro, que seria uma contribuicão ramente sobre isto 'e temos de enfrentar a questão. Até
que traríamos, aqui, a esta comissão, no sentido do forta- que ponto 'a vincularão do voto definido, expresso, colo-
lecimento dos partidos políticos. Acredítamos que um dos cado em termos mais v-alorosos do que o casuísmo que
elementos básicos da crise, do Impasse institucional que conhecemos, deixa de ser uma expressão real e correta
estamos vivendo é a íncaoacídade histórica brasileira como elemento de fortalecimento dos partidos políticos?
- esba é um dado que não é recente, é históri-co no A outra questão também diz respeito - isto se coloca
Brasil - dos partidos políticos, que não conseguiram se muito na sociedade brasileira - ao voto distrital ao voto
fortale-cer e ganhar consistência ideológica clara, definida, misto, etc. Defendemos com clareza a questão do ~oto pro-
oara representarem os diversos segmentos da população. porcional, evidentemente, com correções que são extrema-
Nós, do PDT, acreditamos que os partidos políticos são mente necessárias.
as grandes células de expressão da sociedade. Acredita-
mos que os síndíeatos, associações e demais formas cor- Outro ponto que entendo que é preciso registrar e é
porativas da sociedade, elas expressem segmentos, setores preciso enfrentar nesta comissão e, por via de conseqüên-
e que tudo isto tem que desaguar nos partidos políticos cia, na Assembléia Nacional Constituinte se refere à ques-
que, pelas suas p.róprias caraoterístíeas, embora firmados tão da liberdade de organização política. Achamos que numa
em ideologias claras, baseadas em princípios políticos defi- sociedade tão desigual, tão complexa, como é hoje a socie-
nidos, são -agremiações -de representação popular capazes dade brasileira, onde se combinam realidades tão distintas,
de reunir, nos seus quadros, setores não corporativos e não se pode deixar de colocar claramerze o problema do
setores mais amplos da sociedade. pluripartidarismo. li: evidente que é preciso que haja um
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 21

esforço partidário muito grande no sentido de definir os Com relação a alguns outros pontos que defendemos,
princípios ideológicos de cada partido. Hoje, sabemos que gostaríamos de falar a respeito da necessidade de ampliar
todos partidos, mais ou menos são, na verdade, de frente. o voto a todos os cidadãos brasileiros. Estou falando aqui
E é preciso que a sociedade brasileira caminhe para parti- especialmente nos praças, cabos e soldados. É importante
dos que expressem polticamente, as diversas tendências que a Constituinte registre na Constituição brasileira dois
que estão claras na sociedade brasileira. princípios extremamente simples e que refletem, funda-
mentalmente, o direito de expressão do cidadão, que seriam
Outro ponto que é importante ressaltar e que diz res- os seguintes: são alistáveis os brasileiros que saibam se
peito diretamente à questão da Constituinte: é o problema exprimir em língua nacional; segundo, são elegíveis os aliso
da desvinculação ou da submissão dos partidos políticos, táveis. No sentido de não haver discriminação de uma par-
principalmente os pequenos partidos, aos rigores e tam- cela da comunidade.
bém aos casuísmos dos tribunais eleitorais. Evidentemente,
que os pequenos partidos são as grandes vítimas desse vín- Achamos também que, hoje, quando se discute em
culo tão estreito aos tribunais eleitorais. O problema de or- outras instâncias o alargamento dos direitos dos cidadãos
ganização partidária fica extremamente difícil, complicado, para a idade de 16 anos, que o direito de voto seja dado,
no sentido de seguir umas regras pré-determinadas, dra- também, às pessoas acima de 16 anos. Porque, quando se
conianas que aí estão, dificultando. O problema de fichas, falava na maioridade a partir dos 18 anos ou dos 21 anos,
o problema de expressão dos partidos, etc. O problema de isso foi fixado numa época em que a sociedade era extre-
impedir que lideranças partidárias, mesmo não sendo cano mamente diferente de hoje, Hoje, um garoto de 16 ou de
didatos, se expressem nos horários dos programas. Todas 17 anos tem já noções básicas, já se expressa amplamente
essas circunstâncias têm que ficar autonomamente para diante da realidade que vive. Eu posso até dar um exem-
serem definidas pelo próprio partido. Se existe um horário plo pessoal. Tenho uma filha de 17 anos que é universitária,
de televisão, cabe aos partidos utilizá-lo como melhor lhe essa menina não pode votar, e é uma menina que atua na
convierem para expressar os seus programas, as suas ideo- Universidade. Hoje, o cidadão de 16 anos é um cidadão
logias e os seus princípios. tão maduro, quanto era o cidadão de dez, vinte, trinta anos
atrás, cidadão de 18 ou 21 anos.
E, aí, falamos de outra questão, extremamente Impor-
tante e que está na ordem do dia, que diz respeito ao livre O último ponto que gostaríamos de deixar registrado
acesso dos partidos aos meios de comunicação. Essa ques- aqui, a respeito do regime de Governo, é que nós do PDT
tão é extremamente complexa, atinge profundamente os defendemos o presidencialismo. Eu gostaria que ficasse
pequenos partidos que surgem, no sentido de criarem alter- registrado que nós do PDT, ao definirmos o presidencialis-
nativas aos Partidos que tiveram origem no bipartidarismo: mo, não estamos de forma alguma defendendo um princípio
eles ficam absolutamente impedidos de terem acesso aos casuístico, dentro do nosso partido. Não estamos defenden-
meios de comunicação. Isso se expressa não só no período do algo que interessa imediatamente ao nosso partido, esta-
eleitoral como no cotidiano. Porque os grandes partidos, mos defendendo, ao falar em presidencialismo, em algo
por serem a maioria, por estarem no poder, mesmo nos que se funda e que se baseia na própria formação histórica
jornais eles são notícias; ao passo que os pequenos parti- brasileira. Quando - e agora estou falando, sobretudo,
dos sequer acontecem e aparecem. E isso é tão importante como um cientista social - vejo discussões, propostas,
não s6 do ponto de vista da liberdade de organização parti. idealizações a respeito de parlamentarismo, de modelos de
dária, como também o problema de expresssão do próprio parlamentarismo, modelo português, modelo espanhol, mo-
Legislativo. Hoje, se fizéssemos uma análise da quantidade delo tropical, etc. sempre gosto de levantar a questão do
de notícias, seja nas televisões, seja nos jornais, seja em fundo histórico. O modelo português não é um modelo, é
qualquer meio de comunicação, veremos claramente o alto o resultado de um processo histórico de Portugal que resuí-
índice de noticiário, a respeito do Poder Executivo e um tou na forma de governo que está lá e que vai se aperfei-
baixo índice de informações sobre o Poder Legislativo. E çoando. Quando nós falamos de transferência de um mo-
quando aparecem é sempre vinculado a alguma crise que delo de um país, ou que está dando certo num país, ou
está localizada no Executivo, e não como trabalho cotidia- que vem sendo bem produtivo neste país, e pensamos em
no, ordinário, normal do Legislativo. Qualquer Deputado transplantá-lo para o Brasil, nós podemos estar criando,
pode fazer um belo discurso, analisar profundamente uma na Constituinte, uma casuísmo de tal envergadura que no
grave questão, no plenário, e a população não tem acesso futuro poderá ser responsável por crises muito mais amo
a esse pronunciamento. Um Ministro diz qualquer coisa, plas, porque vai representar, antes de tudo, uma violação
mesmo que seja algo pouco aproveitável, e vira manchete ao próprio processo histórico brasileiro. Quando falamos
na televisão, nos jornais. O problema dos meios de comu- em presidencialismo, evidentemente, não estamos falando
nicação, de acesso partidário é uma questão extremamente do presidencialismo tal qual está aí, e nós acreditamos que
importante, para o que se devem encontrar fórmulas atra- a crise que hoje se apresenta no regime político no presi-
vés das quais os partidos possam se expressar não só no dencialismo, que tem essa força, resulta não do fato em
sentido de que isso é benéfico e útil para o fortalecimento si, de que a história brasileira, ao indicar o presidencialis-
do partido, como também para o engrandecimento do pró- mo, cometeu um equívoco. E sim que o presidencialismo,
prio Legislativo que representa todos eles. hoje no Brasil, reflete o resultado da ditadura e do poder
que se concentrou no Executivo, em detrimento de outras
Achamos também que a Constituinte tem que definir instâncias de poder, como o Poder Legislativo. É importan-
alguns princípios que deverão ser regidos por legislação te .que se compreenda que o poder concentrado no Executi-
ordinária, a respeito do problema do abuso do poder eco- vo foi o resultado do próprio modelo econômico que se
nômico constante, permanente, seja na fase eleitoral, seja instalou no Brasil e da necessidade que a ditadura teve de
na fase não eleitoral, onde também ele se manifesta, in- °
afastar Legislativo do debate das condições reais deste
País. O que ocorre não é um defeito em si do presidencia-
fluindo em decisões, etc. É importante se criem mecanis-
mos legais e que definam princípios mais rígidos contra lismo, e sim de um parlamentarismo que foi transgredido
o abuso do poder econômico. Fala-se muito no abuso do por toda uma ordem autoritária e ditatorial.
poder econômico na época eleitoral, mas é nesta época
que ele emerge em toda a sua força e fica latente. Ele não É preciso, portanto, que, para não ferirmos a tradição
tem condições, na época eleitoral, de trabalhar na surdina, e a história deste País, sejamos capazes de reformular o
ele tem que emergir. Sabemos perfeitamente que o poder presidencialismo, mas mantendo o parlamentarísmo e ti-
econômico não age simplesmente aí. rando ide nossas ilusões idéias de que o transporte de re-
22 Segunda-feira 20 OIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

gímes, que dão certo em outros países, dará certo no cínar da seguinte maneira: porque o fundamento da per-
Brasil. gunta se baseou no problema de uma legislação capaz de
Agradeço à Subcomissão. romper as barreiras e abrir passo para as situações que
se queria viver. Essa é uma questão tão unívoea,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Vamos não necessariamente a coisa se processa assim, no meu
passar à segunda parte dos nossos trabalhos, às declara- modo de entender. Nós podíamos interpretar um ato le-
ções e interpelações dos Srs. Constituintes. gal, uma legislação, como uma adequação, uma definição
Tem a palavra, preferencialmente, o Sr. [Relator, Cons- de normas, de princípios a uma realidade que vem surgin-
tituinte Francisco Rossi. do. Na verdade, se nós raciocinarmos o inverso, uma legis-
lação com o poder de alterar, talvez nós estejamos entran-
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Eu gostaria de do numa situação extremamente perigosa. Não creio que
agradecer a sua palestra, muito interessante, e formular uma legislação tenha poder de mudar. Desculpe-me, creio
uma questão que eu dividiria em três partes. Claro que que não é sua intenção, mas veja bem, acho que a per-
eu teria mais alguma coisa a perguntar, mas não o farei gunta foi provocativa, e acho que esse é o objetivo da
para não ser cansativo. pergunta. Mas, a legislação casuística talvez seja isso. Ela
Com muita freqüência, nós legisladores, homens pú- criou uma lei para uma situação a ser criada no futuro,
blicos, ouvimos a argumentação de cientistas políticos, para um resultado previsível, e não necessariamente re-
sociais, de que determinada lei não seria interessante num fletiu todo um processo. Quando falei em situações sócio-
econômicas que a população vive, estou falando em coi-
dado momento histórico, em virtude do estágio cultural sas objetivas. Se nós colocamos a população com voto
em que se encontra o nosso povo, ou um determinado povo facultativo - é claro que voto facultativo bate numa ou-
qualquer, por esse mundo afora. Eu perguntaria ao ilus- tra questão importante que é o direito do cidadão se ex-
tre convidado se não conviria ao legislador romper essas pressar ou não se expressar - numa situação, numa rea-
barreiras estabelecídas pelo momento histórico e, quase lidade brasileira tão difícil, onde grande parte da popu-
que numa forma de ficção, romper essas barreiras e se lação vive em períferias longínquas, em situações tão com-
colocar à frente no tempo e, através de uma legislação, plicadas às vezes o exercício do voto implica em ele ter que
abrir caminho para que esse povo se encaixe num outro se deslocar. Se nós colocássemos - e veja o perigo -
estágio cultural político dentro dessa processo histórico. porque aí remetemos o problema ao poder econômico e
O que a gente percebe - e eu queria ouvir a opinião do das pressões que o poder econômico pode fazer, inclusive
ilustre convidado - é que existe uma preocupação muito em cima da legislação, em cima do Poder Judíciário, do
grande e ao que me parece essa preocupação é da maio- tríbunal, da Justiça Eleitoral, criar dificuldades de deslo-
ria dali pessoas, de se adequar a legislação ao estágio, ao camento, fazendo com que a população, pelas suas dificul-
momento histórico, ao estágio cultural em que se encon- dades de deslocamento deixe de votar. Acho que isso é
tra o povo. E não procurar se antecipar no tempo, abrindo muito mais prejuízo, no meu modo de entender, para o
esses caminhos para que essa evolução de um povo, cul- fortalecimento dos partidos, o fortalecimento das institui-
turalmente, possa acontecer. Queria ouvir a opinião do ções e para a democracia, do que colocar, em face do mo-
convidado a este respeito. mento histórico, o problema do voto obrigatório. Essa é a
A outra pergunta é que se o nobre convidado fosse um questão.
Constituinte ele teria uma forma de fazer incluir na Cons-
tituição um dispositivo que coibisse, de uma maneira bem O Deputado também perguntou a respeito de uma le-
simples que fosse uma forma muito clara e normativa, que gislação; como eu proporia o problema do abuso do poder
desse, ~videntemente, origem a uma legislação ordinária, econômico. Realmente, isso é uma questão difícil. Acho
que se coibisse, com esse dispositivo, o abuso do poder eco- que isso aí tem que ter um .grande debate na socie~a~e com
nômico. os sindicatos e tudo o mais, 1SS0 tem de ser definido, Eu
A terceira parte da minha pergunta é com relação ao não tenho como, sinceramente. Inclusive, porque não co-
voto aos 16 anos. Acho até interessante essa possibilidade, nheço os caminhos, os procedimentos, as forças que atuam
mas eu me pergunto: como conciliar o voto aos 16 anos aqui dentro. Como cidadão, como representante de um
se o eleitor, nessa idade, poderá até mesmo, no ato de v~­ Partido pequeno, que não tem força econômica que o sus-
tar, cometer um ilícito penal. Pergunto: ele passaria tente, mas sobretudo como cidadão, é flagrante que há
também a assumir essa responsabilidade penal, aos 16 que haver uma legislação que torne algo mais rígido. Por-
que hoje, no Brasil, o que se vê são situações incríveis de
anos? abuso do poder econômico, fotografadas, denunciadas,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pa- mostradas tão claramente, e nada é feito. Acredíto que
lavra o Dr. Ronaldo Conde Aguiar. nem a legislação atual é posta em prática. Hoje, se faz
com uma sem cerimônia muito grande. E nós vimos. Não
O SR. RONALDO CÉSAR CONDE AGUIAR - Eviden- vou nem falar de exemplos, mas posso citar alguns, o
temente que as questões são dificeis, complicadas para exemplo da campanha de São Paulo, que era poder econô-
discutir: São questões extremamente importantes, mas acho mico contra o poder econômico, de uma forma incrível.
que nós precisaríamos de bastante tempo, mas vou pro- O problema de conciliar o votá, sou favorável à maio-
curar ser bastante sintético. ridade aos 16 anos. Acho que o cidadão, hoje, na socieda-
de brasileira, uma sociedade eminentemente urbana, o ga-
A primeira questão sobre a legislação e estágio de de- roto de 16, 17 anos tem claramente uma maturidade dos
sensolvimento. nossos adolescentes de 18, 20 anos atrás. Muito mais. Hoje,
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Bem, me per- um menino de 16 anos já tem experiências de vida vitais,
mita, porque o ilustre convidad~ fez referência, justamen- como o de 17 anos, muito grande. Sou favorável à maiori-
te, ao estágio cultural em que nos nos encontramos, e que dade aos 16, com direito de voto, sobretudo, aos 16 anos.
talvez o voto facultativo não fosse interessante em virtu- Porque hoje o menino de 16 para 17 anos é aquele menino
de desse estágio. que tinha 16 anos, há vinte, trinta anos atrás. É uma
questão de adequação ao tempo. Aí nós vemos, e eu tenho
O SR. RONALDO CONDE AGl""'IAR - Exatamente. que remeter à primeira pergunta, como um processo histó-
Acho que aí existe uma questão complicada, uma ques- rico, como uma evolução da sociedade implica numa legis-
tão difícil de nós abordarmos. Mas, vamos tentar racío- lação que altere uma legislação antiga, que foi feita para
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 23

uma adequação da época, mas que hoje precisa ser altera- Legislativo um poder de atuação sobre o orçamento. Essa
da. questão me parece paeífíca, essa aí nós não polemíaaremos
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - O nobre de forma nenhuma. Polemizaremos, talvez, na segunda,
Relator ainda tem outra pergunta? começando pelo final da sua explanação, que foi, inclusive,
uma injustiça. Mas, de qualquer maneira, mostra que o
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Eu me dou por PDT tem esse aspecto de discussão pública dos seus pro-
satisfeito e agradeço. blemas. Eu não coloquei o problema do voto facultativo
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- a partir do princípio de que a sociedade não está organi-
vra, então, a nobre Constituinte Moema São Thiago. zada. Eu parti do princípio de como a sociedade está orga-
nizada, social e economicamente. É um pouco diferente.
A SRA. CONSTITUINTE MOEMA sso THIAGO - Eu não falei em termos de SOCiedade não organizada, de
Eu gostaria de agradecer ao companheiro Ronaldo Conde partidos que não conseguem se organizar, logo o voto
Aguiar e gostaria de polemizar com ele. Porque entendo tem que ser obrigatório. Este raciocínio não é o meu. É
que numa sociedade democrática é necessário a conscien- um pouco diferente.
tização dessa sociedade. (Inaudível. Fora do míerorone.)
No meu entendimento, repito, para uma sociedade demo- Eu gostaria também de argumentar e colocar alguma
crática existir necessita, sobretudo, de partidos democráti- coisa que me parece extremamente importante. É claro
que o papel do partido político é organizar, conscientizar
cos. E um dos pré-requisitos da existência desses partidos o povo, tentar arregimentar no sentido daquilo que o par-
nessa sociedade democrática, é a questão do voto facul- tido defende, mas eu acho que essa tese tem que ter uma
tativo. A existência do voto facultativo já foi discutida continuidade. Isto não pode ser colocado meramente como
aqui, nesta Comissão, foi argüida até pelos 'companheiros o objetivo do partido: organizar e conscientizar. Esta aná-
do PC do B, em sentido contrário, com a justificativa de lise não pode parar aí. Nós temos que colocar o seguinte:
que o companheiro colocou aqui, ficaria muito dispendioso organizar e conscientizar para quê? Quando nós colocamos
para o pobre eleitor do interior do Brasil ou para os par- esta pergunta, nós temos que fazê-la da seguinte maneira:
tidos pequenos, transportar, levar o eleitor para votar. o partido tenta organizar e conscíentãzar, 'com base no
Entendo que, no Brasil, nós precisamos, sobretudo, de seu programa, nos seus princípios, com o objetívo de che-
partidos políticos 'e não par.tidos eleitorais, ou eleítoreí- gar ao poder? Se não colocamos que o objetivo dos par-
ros, Quer dizer, o papel do partido político é justamente tidos políticos é chegar ao poder, nós estamos falando
o papel de conscientizar e organizar a sociedade. No mo- numa linguagem muito mais de associações, de sindicatos
mento em que nós tivermos, realmente, o voto facultativo, que propriamente de partidos. E a forma de chegar a~
os partidos políticos terão uma visão de partidos políticos poder, pelo menos a que está aí, é através do voto. Nós
no sentido da organização popular e do trabalho político. precisamos ter um pouco de cautela na hora em que colo-
camos o problema de um partido eleitoral ou eleitoreiro
Um outro aspecto é que acho que é importante tam- porque a eleição é a forma, pelo menos que está aí coloca~
bém, quando se discute a questão dos partidos políticos, da, forma legal, de o :partido cumprir o seu obdetívo para
é a questão do financiamento dos partidos políticos pelo o qual ele foi criado, para chegar ao poder. Temos q~e en-
Estado. Este é um dos pré-requisitos das democracias. E tender essas questões.
nesta questão do financiamento, é importante se discutir
qual é o mínimo da responsabilidade do Estado e o máximo Eu coloco o problema do voto facultativo e não nego
da doação de particulares. Esses são pontos básicos que, e seria a últíma pessoa a negar que o voto facultativ~
realmente, não podemos deixar passar sem discutir e representana algo, no sentido democrático. Mas, nós temos
colocar na Constituição. Porque entendo que, no momento que entender que as nossas defesas de posições têm que
em que o Estado é responsável pelo financiamento dos estar extremamente acopladas à realidade que nós vive-
partidos polítdcos, esses partidos políticos não só estarão mos, no~ ter~os dos objetivos que um partido político
exercendo, na prática, o seu verdadeiro 'papel de conscíen- se ipropoe. EVidentemente que, em tese, não sou contra
zação, de mobilização da sociedade e organização dessa o voto fa~ultativo, mas, na prática, o que representa em
sociedade, mas terão também um respaldo. E eu até cita- nos~a. re;3.hdade, no momento, ainda acho que o voto obrí-
ria, agora, um exemplo, nessas últimas eleições espanho- gatórío t; algo ~que resguardaria, inclusive, o próprio direito
las, que foram exatamente o exemplo de um país que saiu de partãcípaçâo num~ processo eleitoral. Acho que esta
de um processo de autoritarismo, de ditadura fascista, que questao e uma questao polêmica e que nós vamos contí-
entrou na democracia e que consegui colocar essa questão nuar polemizando na sociedade, e espero, dentro do PDT.
do financiamento. Há uma dotação orçamentária do Es- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - A nobre
tado para os partidos políticos. Os Bancos particulares Constituinte ainda deseja uma réplica?
para os partidos são autorizados a adiantar, a fazer em-
préstimos em cima da dotação orçamentária. E após o Concedo a palavra à nobre Constituinte Moema São
processo eleitoral, o partido tem que fazer as suas contas Thiago.
e paga]". Acho que usar o argumento de que a sociedade A SRA. CONSrrfl1UlNTE MOEMA SAo THIAGO - Eu
brasileira não está organizada para o voto facultativo é 160staria de colocar para iluminar um pouquinho mais que
manter a sociedade brasíleíra num estágío opoUtico doe in- temos um partido político embrionário, objetivando' esse
dependência, no atrelamento ao estado das forças conserva- mes,mo status. Mas acho importante, quando o compa-
doras. Para mim esta questão dos votos facultativos é nheíro coloca por que o partido vai a uma eleição é que
Um princípio democrático. E acho que o PDT, como um esse partido existe porque ele é crítico da socieda'de que
Partido Democrático, não pode abrir mão da questão do está aí. E que ele necessariamente tem que orerecer uma
voto facultativo. proposta alternativa à sociedade, Então ele não vai sim-
plesmente, ao voto; vai ao voto com uma proposta' polí-
O ,sR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - OGncedo a tica. E essa proposta política tem que incorporar e refle-
palavra ao Dr, Ronaldo Conde Aguiar. tir as questões de princípios de seu próprio partido. Dai
O SR.. RONALDO CÉSAR CONDK AGUIAR - Vou eu insistir com essa questão do voto facultativo inclusive
começar pela segunda. Realmente, a questão do financia- com? . pré-requisito, em função dos próprios princípios
parciais.
mento na dotação orçamentária para os partidos, eu acho
que é fundamental. É algo que tem que ser conquistado. . O SR. ~ONALDO ÇÉSAR C?ONDE AGUIAR - Eu gos-
Mas, paralelamente a isto, é preciso que se restitua ao taría de dizer o seguínte: veja bem, procurei ser claro
24 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUiNTE (Suplemento) Julho de 1987

quando eu faleí que é objetivo do parttdo político organi- rios - veja bem, eu estou falando em interesse não no
zar e conscientizar. Eu falei para quê? Eu falei no sentido sentido mesquinho da palavra, eu estou falando em inte-
de que o fato se cristaliza ou chega a sua culminância num resse no sentido de princípios de partidos - são transit6-
processo eleitoral. Mas, quando eu falo em organizar e cons- rios. O problema brasileiro é que nós não temos partidos
cientizar, é para quê? Está implícito que se organiza e se historicamente constituídos, onde todos os seus interesses,
conscientiza em cima de proposta política. Evidentemente, seus princípios estejam historicamente definidos. Eles são
que há os partidos que defendem posições críticas, peran- transit6rios, mas esse é o grave problema da realidade
te a realidade. Há outros que defendem melhorias, acaba- brasíleíra. Nós não termos partidos sólidos ideologicamente
mentos na realidade. Não importa. Os partidos têm as constituídos. E eu me referia aqui que todos os partidos,
suas definições biológicas, as suas posições, seus princí- uns mais claramente outros menos claramente, uns mais e
pios e eles os defendem. N6s somos um partido que tem outros menos, são frentes. O que, aqui no Brasil, se precisa
uma proposta crítica, uma proposta de oposiçsão e, eviden- constituídos. Como nós precisamos ter ideologias claras.
temente, que em cima desse discurso é que n6s vamos constituídos. Como nós precisamos ter ideologias clara
procurar nos organizar e conscientizar. neste País em todos os sentidos. Aqui, neste País, n6s
Reitero que, como qualquer partido, e isto daí me não temos um partido que se defina como um partido de
parece da própria essência da Constituição, da existência direita, o que para os de esquerda pode ser um problema
dos partidos políticos, que o objetivo é o poder. Porque, mais em termos da sociedade; uma expressão da socíeda-
de deveria estar numa sociedade pluralista, sociedade que
se nós temos propostas críticas, é que temos propostas n6s temos, o que deveria estar claro, mas ninguém assume.
alternativas, e, se nós temos propostas alternativas, a for- N6s deveríamos ter partidos de centro claramente defini-
ma de colocá-las em prática é através da chegada ao poder. dos, ideologicamente definidos e partidos de esquerda com
Eu acho que esta é uma questão de fundamento que algumas nuances. Até os meios de comunicação. Em qual-
pode levar à discussão do voto facultativo. Acho que a quer país europeu, até nos Estados Unidos, se você quer
polêmica nossa já se bifurcou. O problema do voto faculta- comprar um jornal que defenda o fascismo, a direita, você
tivo ou do voto obrigat6rio é uma questão de decisão, é vai a uma banca de jornal e compra. Aqui, no Brasil, você
uma questão de princípio. N6s temos uma questão ante- encontra colunas dentro de jornais, pretensamente liberais,
rior que vai de uma discussão muito mais ampla, talvez que defendem princípios de direita e encontra, no mesmo
até necessária para se chegar a uma decisão se o voto é jornal, coluna de um jornalista que defende a esquerda.
facultativo ou obrigat6rio, qual é a função do partido polí- Essa miscelânea, no nosso caso aquí, se reflete nos parti-
tico, como organizar, para que organizar, para que cons- dos políticos e têm sido um dos graves problemas de
cientizar e os meios de se chegar ao poder. Eu acho que formulação, de confusão, até com reflexos graves no pro-
essa questão é muito mais de fundo do que a decisão da cesso de organização e mobilização popular. O povo segue
questão do voto facultativo ou obrigat6rio. E n6s não va- muito mais pessoas do que partidos, muito mais frases
mos resolver aqui. escritas por uma pessoa ou alguma coisa, do que propria-
mente princípio de ideologia.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a O SR. LUIZ SOYER - Volto a insistir com o repre-
palavra ao nobre Constituinte Luiz Soyer. sentante do PDT: o PDT é a favor ou contra a vinculação
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Convidado do de votos? Se o cientista social se enobrece com essa sua
Dr. Ronaldo, eu entendo que, todos n6s, Constituintes, aqui participação, qual a posição dele?
viemos com o objetivo de elaborar uma Carta Constitucio- O SR. RONALDO CÉSAR CONDE AGUIAR - A posição
nal, tendo em mente que nos temos que nos desvestir dos do PDT, eu já coloquei aqui. A posição, dentro do PDT, é
interesses partidários atuais, porque transítõríos, e n6s a de que essa questão tem que ser discutida, é preciso
estamos fazendo uma Constituição com a intenção de ser definir uma posição clara a respeito disso. Até para conde-
duradoura. ná-la, até para deníendê-la. A minha posição pessoal, en-
quanto cientista, eu sou contra.
Permita-me perguntar a V. Ex. a qual a sua posição
clara, a posição do PDT, aos cuidados de V. Ex.a, sobre a O SR. LUIZ SOYER - Contra a vinculação?
vinculação: se é a favor ou contra a vinculação de votos. O SR. RONALDO CÉSAR CONDE AGUIAR - Dentro
Eu não pude captar claramente essa posição. da minha perspectiva e dentro daquilo que eu já falei, do
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a instinto popular, eu acho que a vinculação se fará na me-
palavra ao nobre Constituinte Ronaldo César Conde Aguiar. dida que você tiver modos ideol6gicos.
O SR. LUIZ SOYER - Com relação ao voto facultativo
O SR. RONALDO CÉSAR CONDE AGUIAR - O que ou obrígatórío, permita-me discordar do ilustre cientista,
eu falei sobre o problema da vinculação de voto é muito no que tange à possibilidade do poderio econômico, evitar-
clara. Tomei uma posição. Eu coloquei uma questão que se que alguém venha a votar, caso seja facultativo. N6s
acho que precisa ser discutida, inclusive no âmbito dos temos que ver um outro aspecto prático da questão, desse
partidos. A vinculação de voto surgiu dentro do casuísmo, mesmo poderio econômico, também sendo obrigat6rio, em
e n6s vimos como foi essa questão, que tem que ser en- ter condições de fazer esse povo votar, pelas mesmas ra-
frentada polticamente. Eu estou sendo claro. Eu não estou zões.
defendendo a vinculação de voto, não a estou defendendo
peremptoriamente. Eu estou dizendo que questão da vin- Quanto ao voto aos 16 anos, parece-me que o nosso
culação de voto é uma questão polêmica que precisa ser Relator fez uma pergunta e eu não tive uma resposta de
enfrentada. Mas, que traz o pecado original de ter nascido V. Ex. a bastante clara. Ele alegou a permissibilidade para
dentro de um casuísmo. Eu s6 queria esclarecer e dar uma se votar aos 16 anos, se implicaria ou deveria implicar na
posição que também me parece ser muito mais importan- diminuição da idade para a responsabilidade penal. Então,
te pela sua pergunta, que é discutir as questões, além dos teríamos que diminuir a idade também da responsabilidade
interesses partidários que são credit6rios. Eu me permito penal, porque o eleitor, ao dar o voto, poderia até praticar
apenas fazer um comentário a respeito dessa frase de um ilícito penal. Sobre isto parece-me que ele disse que
V. Ex. a não houve um posicionamento nesse sentido. Sou totalmen-
te favorável ao voto facultativo em obediência aos princí-
No meu modo de entender, essa questão tem sido um pios democráticos que V. Ex. a salientou. E também sou
problema grave neste País. Porque os interesses partidá- contra a vinculação do voto.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉiA NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Segunda.feira 20 25

o SR, RONAI.JJO OÉSAR CONDE AGUIAR - Vou-me reunião da Mesa Diretora dos trabalhos da Assembléia
permitir discordar de V. Ex,a numa observação feita, no Nacional Constituinte.
sentido de o poder econôrníco criar obstáculos ao ato do
voto, ao ato de ir votar. Porque nós raciocinamos no O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Nada mais
poder econômíco apenas como processo de influir. Nós va- havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos da pressnta
mos dar um ,exemplo: no iRio de Janeiro, companhias de reunião, convocando outra para o próximo dia 5, ter-
ônibus retiraram coletivos de circulação, reduziram os ça-feira, às 9:30 horas, quando teremos a palavra dos
ônibus em circulação no dia das eleições, e os jornais mos- Presidentes do PMDB, PDS, PTB e -do Partido Verde.
traram os ônibus cheios, pessoas querendo entrar nos ôni-
bus e sem poder, para um dia anormal no Rio de Janeiro, Está encerrada a reunião.
para irem votar. Ademais a confusão que foi feita no sen-
tido de você colocar zonas eleitorais atropeladas, fazendo s.a Reunião Ordinária
extensas. filas e isso se viu muito no subúrbio do Rio de Aos cinco dias do mês de maio do ano de mil novecen-
Janeiro; debaixo do calor, de um sol víolentíssísno, filas tos e oitenta e sete. às nove horas e cinqüenta minutos, na
enormes para entrar em escolas. Não era fila para chegar sala da oomíssão de Relações Exteriores do Anexo II do
na sua seção eleitoral, era fila para entrar numa escola, on- Senado F1ederal, reuniu-se a subcomissão do Sistema Elei-
de dentro dessa escola havia mais de uma seção eleitoral. toral e Partidos Políticos, sob a Presidência do Consti-
Quando nós vemos o problema e dizemos que os ônibus do tuinte Israel Pinheiro Filho, com a presença dos Senhores
Rio de ~ran;:;iro, as companhias tiraram os ônibus, nós vi- Constituintes Arnaldo Moraes, Francisco Sales, Heráclito
mos claramente uma atitude do poder econômico, inclusi- Fortes, Luiz Soyer, Waldyr Pugliesi, José Agripino, Jayme
ve, porque isso aconteceu nas zonas mais pobres, mais Santana, Mauricio Campos, Lélio Souza, Luiz Marques,
afastadas, periféricas da cidade, como um ato de repre- Saulo Queiroz, Airton Cordeiro, Francisco Rossi, Paulo
sália ao Governo do Rio de Janeiro, na ocasião em que Delgado, Lídice da Mata, Ervin Bonkoski, Saldanha Derzi
havia adotado uma política dura para com os donos Ge e Moema São Thiago. Havendo número regimental, o Se-
transportes, inclusive estatísando algumas companhias. Isto nhor Presidente declarou iniciados os trabalhos. O Senhor
não aconteceu nas zonas de classe média, acontecu nas Constituinte, Saulo Queiroz, solicita que seja dispensada
zonas populares, onde, teoricamente, o Governo do Rio de a leitura da Ata da reunião anterior, que, colocada em vo-
Janeiro teria mais votos. Aí me parecia um claro sintoma tação, foi aprovada. O Senhor Presidente comunica ao
de impedimento pelo poder econômico do ato de ir votar. Plenário que estão presentes os convidados Oonstituinte
Oom relação à questão da sublegenda aqui levantada, Jarbas Passarinho, Presidente do PDS, DI'. Paiva Muniz,
somos absolutamente contrários. Inclusive o PDT tem man- Presidente ,do PTB, DI'. Fernando Gabeira, Presidente do
tido uma posição clara e nítida, sobre isso. Podemos dar PV e o Constituinte Mauro Benevides, representante do
vários exemplos, mas apenas para situar, tomemos como PMDB, os quais são convidados para comporem a Mesa.
exemplo o seguinte: nas eleições para o Senado, nós ti- Continuando os trabalhos, o Senhor Presidente comunica
vemos em Brasília o Senador mais votado e não apresen- que os expositores terão vinte minutos para que possam ex-
tamos sublegendas, Nem aqui nem no Rio de Janeiro. Esta por o ponto de vista de cada Partido, sobre o,Sistema Elei-
tem sido uma posição coerente do PDT. Jamais usamos . toral e Partidos Políticos no Brasil. Ao terminar a expla-
expediente para a sublegenda, é uma questão tranqüila, nação dos Senhores expositores, o Senhor Presidente con-
pacífica, é uma questão do PDT, clara, expressa em vá- cede a palavra aos Senhores Constituintes Francisco iRossi,
rios documentos e em pronunciamentos, na prática sobre- José Agripino, Waldyr Pugliesi, Saulo Queiroz, Luiz Soyer,
tudo. É uma opinião pessoal minha. A sublegenda era um Paulo Delgado e Airton Cordeiro, que formulam pergun-
cancro. tas aos Senhores convidados. Esgotada a pauta dos tra-
balhos, o S.enhor Presidente agradece a presença dos ilus-
A questão dos 16 anos. Talvez eu não tenha me expres- tres expositores, e enaItece as contribuições inestimáveis
sado bem. Eu sou a favor de que a maioridade seja a par- trazidas a esta Subcomissão. Nada mais havendo a tratar,
tir dos 16 anos. Um cidadão com 16 anos, - eu quero rei- o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às
terar - com 17 anos um cidadão tem, hoje, maturidade na treze horas e cinqüenta e três minutos, cujo teor será pu-
nossa sociedade, em face da própria modernízação, da ur- blicado, na íntegra, no Diário da Assembléia Nacional
banízação da sociedade. Hoje, um menino de 16, 17 anos Constituinte, convocando os Senhores Constituintes para
tem um grau de maturidade - e isso daí a gente pode a próxima reunião a ser realizada dia seis de maio, às
conversar com psicólogos até - 'e me parece que é algo tão nove horas e trinta minutos, com a seguinte pauta: João
cristalino, muito maior do que um menino de 18 anos de Gilberto, Arnaldo Malheiros, Bolivar Lamounier e Pedro
30 anos atrás. Um menino 30 anos atrás, com 18 anos, era Celso Cavalcante, como expositores, em audiência públi-
até inocente. Hoje, não. Aos 16 anos ele sabe de tudo, a ca. E, para constar, eu Sergio -da Fonseca Braga, Secretá-
televisão está aí. Tanto é que, nas programações, a faixa rio, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada,
da censura começa para menores de 16 anos. A televisão será assinada pelo Senhor Presidente.
diz que: a partir deste momento, os programas são proibi-
dos para menores de 16 anos. E isto já é à meia-noite, ou O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Estão aber-
um pouco antes: vinte e três horas. Um menino de 16 anos, tos os nossos trabalhos.
sej a das classes populares, sej a da classe média ou das Convido o Secretário para proceder à leitura da ata.
classes mais rícas da soeíedade, é um menino muito mais
maduro. Os meninos da classe popular o são por um pro- O SR. CONSTITUINTE SAULO QUEIROZ - Sr. Pr'3-
blema de sobrevivência. E os outros, por uma questão de sidente, sugiro que seja dispensada a leitura da ata, visto
cultura. Então, um menino de 16 a 17 anos - eu dei o que a reunião, hoje, se destina a ouvir opiniões e parece-
exemplo aqui da minha filha -, hoje, entra na uníversí- res de Presidentes de Partidos.
dade, É esta a posição que O PDT e eu particularmente
defendemos. Hoje a carteira de motorista já é dada aos O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Está atendi-
16 anos, já &8 pode tirar. Apenas precisa-se d·e uma autori- da a sugestão do nobre Constituinte Saulo Queiroz.
zação dos pais. Muito obrigado.
A reunião de hoje, como já foi dito, tem como objetivo
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Sr. Presidente, audiência com os Presidentes dos seguintes Partidos Polí-
peço permissão para me retirar, porque eu tenho uma ticos: PIImE, Deputado Ulysses Guimarães, PDS, Sena-
26 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemenfo) Julho de 1987

dor Jarbas Passarinho; PTB, Dr. Paiva Muniz; PV, Dr. O que contém a leí fundamental me ímpressíonou
Fernando Gabeíra, muito, porque é um antigo apenas a respeito de partido
político. Diz a seguinte:
O Presidente ti"lysses Guimarães mandou comunicar a
impossibilidade de comparecer e ficou de enviar um seu "Os partidos colaboram na formação da von-
representante, tade política do povo. Sua fundação é livre. Sua
Vamos passar aos nossos trabalhos e convido o Cons- organízação interna tende a corresponder aos
tituinte Jarbas Passarinho, ao Dr, Paíva Muniz e ao Dr, princípios democrátícos. Deverão prestar contas
Fernando Gabeira que ocupem lugar, aqui, na Mesa Dire- publicamente da procedência dos seus recursos.
tora dos nossos trabalhos. Os partidos que, pelos seus obíetãvos ou pelas ati-
tudes dos seus adeptos, tentarem prejudicar ou
Cada expositor tem um prazo de 20 minutos. eliminar a ordem fundamental, democrática e
livre, ou puser em perigo a existência da Repú-
Têm a palavra o nobre Constituinte Jarbas Passari- blica Federal da Alemanha, são inconstitucionais.
nho. Cabe ao Tribunal Constitucional Federal decídír
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO - Sr. sobre qu-estões de inconstitucionalidade. Final-
Presidente, Srs. Presidentes de Partidos, Srs. Constituin- mente - As paetícularídades serão regulamenta-
tes. das por leís federais."
Na Constituição espanhola:
Acho que, para falar sobre Partidos Políticos, do pon-
to de vista da Constituição, até os 20 minutos seriam de- "Art. 6.° Os partidos políticos expressam o
masiados. Mas a informação que nós tivemos da Comissão pluralismo político. Concorrem na formação e na
é a de que, além de falarmos sobre os Partidos Políticos manifestação da vontade popular, e são instru-
e a Constituição, nós poderíamos fazer uma digressão a mentos fundamentais para a partãcípação polí-
respeito da Lei Orgânica dos Partidos. tica. Sua criação e o exercício das suas atividades
são livres, dentro do respeito à Constituição e a
Eu escolhi quatro Constituições para delas tirar aqui- leí. Sua estrutura interna e funcionamento deve-
lo que nelas contém a respeito dos Partidos Políticos. rão ser democráticos."
A primeira - ainda a Constituição vigente no Brasil Finalmente, na Constituição portuguesa, os partidos
- declara: políticos são tratados da seguinte maneira. Um único
Art. 152. "É livre a criação dos Partidos Polí- artigo, também com três itens:
ticos. Sua organização e funcionamento resguar- "A liberdade de associação compreende o
darão a soberania nacional, o regime democrático, díreíto de constituir ou participar em associações
o pluralismo partidário, e os direitos fundamentais de partidos políticos e de, através deles, 'COncorrer
da pessoa humana, observados os seguintes prin- democratícamente para formação da vontade po-
cípios: pular e a organização do poder político. Ninguém
1 - É assegurado ao cidadão o direito de as- pode estar inscrito, simultaneamente, em mais de
sociar-se livremente a Partidos Políticos. um partido político e nem ser privado do exer-
cício de qualquer direito, por estar ou deíxar de
2 - É vedado a utilização, pelos Partidos Po- estar inscrito em 'algum partido, legalmente cons-
líticos de organização paramilitar. tituído. Os partidos políticos não podem, sem pre-
juízo da filosofia ou Ideologia inspiradora do seu
3 - É proibido a subordinação dos Partidos programa, usar denominação que contenha ex-
Políticos à entidades ou governos estrangeiros. pressões diretamente relacionadas com quaisquer
4 - O Partido Político adquirirá personalida- religiões ou igrejas, bem como emblemas eonrun-
de jurMica, mediante registro dos seus estatutos díveis com símbolos nacionais ou relígíosos,"
no Tribunal Superior Eleitoral. Nesse caso, começando agora nossa análise de Portu-
gal para cá, o que se verifica, desde logo, é que houve
5 - Atuação dos Partidos políticos deverá ser um veto à constétuíçâo dos partidos, chamado cristãos
permanente, de âmbito nacional, sem prejuízo das Partido Democrátíeo Cristão, PDC, ou qualquer organiza-
funções deliberativa dos órgãos estaduais e mu- ção dessa natureza, Porque há proibição, desde logo, de
nicipais." utilizar o nome de qualquer igreja ou o r-elacionamento
É muito interessante nós nos determos sobre isso, com- com ela.
parativamente com as três Constituições que escolhi: a Por outro lado, a liberdade de associação. No caso
lei fundamental da República Federal da Alemanha, Cons- espanhol, a mesma coisa, porque é muito genérica a lei.
tituição espanhola, Constituição portuguesa. Por quê? Ela díz apenas que a estrutura interna e o runeíonamento
dos partidos deverão ser democrácícos. Portanto, não acei-
Nos quatro casos, nós temos uma identidade. São tam partidos que não sejam democráticos.
constítuícões que surgiram a partir de uma mutação vio-
lenta na ordem [urídlca, Então, no caso de Constituição A lei fundamental me parece ser a síntese mais per-
brasileira, não preciso me referir a ela; no caso da lei feita, porque, como mostrei aqui, ela abrange o problema
fundamental, depois de uma segunda guerra, em que a da liberdade na constituição dos partídos, mas dá, desde
Alemanha foi batida da maneira pela qual sabemos; no logo, responsabilidades. Por exemplo, quando os partidos,
caso da Constituição espanhola, depois de uma ditadura pelos seus objetivos ou pelas atitudes dos seus adeptos,
de mais de 40 anos; a mesma coisa, depois de uma dtta- tentarem prejudíear ou eliminar a ordem fundamental da
dura semelhante, em Portugal. república, eles são íneonstítucíonaís.
Como sair de um regime duro, autoritário, um regime Ora, nós, no Brasil, temos o que me parece um excesso
até totalitário, como era o regime alemão, para um regi- de interf-erência da Justiça Eleitoral sobre os partidos.
me democrático? A Justiça Eleitoral, que devia ser, organicamente, prepa-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 27

rada para organizar o eleitor e as eleíções, a Justiça Elei- toral que, como eu dizia, é mais uma Justiça Partidária,
toral, hoje, tem uma mterferêncía que vale rprati~amente que vai analisar o registro do Partido, o seu programa e
como uma Justiça Partidária. o seu estatuto sob dois ângulos. Um ângulo é esse do regis-
Em primeiro lugar, nós devemos compreender que, tro nacional, de características nacionais, e o outro de
para existir um regime democrátdeo, é preciso que e~istam natureza política, porque vai ser o Tribunal Superior Elei-
partidos sólidos e nós, que defendemos um principio plu- toral que vai dizer se o Partido, pelos seus estatutos e pelo
ralista admítímos, portanto, no plural, partãdos sólidos, seu programa, é um partido de índole pluralista democrá-
de preferênci'a até que essa solidez, essa firmeza chegue~ tico ou não.
a ser tradícíonaís, e não aconteça como acontece no Brasil, Isso também é uma falácia porque qualquer Partido
onde os partidos são sazonais, os partidos se extíngüem, que tenha vocação da conquista do poder pela força, ele
se exaurem muitas vezes, 'a partãr do momento em que praticamente retira isso do seu estatuto ou do seu pro-
perdem o p~der. Eu mesmo estou vivendo .essa experiên- grama ;por conveniência momentânea. Com isso, o seu re-
cia; eu fui líder aquí de 41 senadores. HÜJe, com o PDS gistro 'está assegurado. De maneira que a garantia é abso-
em posição secundári~, eu lidero uma bancada, c0:tll;igo, lutamente falsa, e, no entanto, se dá a aparência ao Tri-
de apenas cinco. Entao, a busca do poder, nos partidos bunal Superior Eleitoral de ser uma espécie de reedição
de quadro, nos partidos de orientação burguesa, é uma do atestado ideológico que havia para as pessoas, passa a
busca permanente, que se caracteriza por um certo termo haver, agora, para os partidos como entidades [urídícas.
fisiológico, enquanto que os partãdos de natureza doutrí- A votação mínima; essa votação mínima, por exem-
náría, ou ideológica, esses partãdos têm a convicção, na plo, é importante que se leve em consideração, mas é uma
sua constituição interna, e essa convicção permite que faca de dois gumes. Se nós exigirmos, como a lei comum
eles, mesmo batidos nas eleições, permaneçam lutando. alemã exigia, 5% de votação nacional e, nisso, se inspirou
No TI!OSSO caso, nós já temos uma dífíeuldade de o Senador P·etrônio Portella, para uma das legislação que
caracterizar partidos autônomos; e a Justiça Eleitoral nós temos, se 5% do total nacional tiver que ser cumprido
entra em tudo. Ela entra na organização do registro, por e, depois, distribuído, como era distribuído em nove Es-
exemplo, registro provisório, regístro definitivo. É preciso tados, é muito provável que partidos que tenham identi-
submeter à Justiça Eleitoral. No caso do registro defini- dade própria, de natureza ideológica ou doutrinária, é
tivo, é precíso que haj a diretórios estabelecidos em nove muito provável que esses partidos fossem varridos do
estados e, em 'cada um desses estados, pelo menos 1/5 dos mapa eleitoral do País, nas eleições a que eles se submete-
municípios relacionados. rem. Porque, desde logo, eles não teriam a possibilidade
de atingir esse cociente.
Isso é muito importante sob um aspecto pelo menos, E a desvantagem disso seria colocar esses mesmos
que é o aspecto de considerar o partido como nacional, partidos ou esses partidários nos partidos existentes, com
e não partidos locais, se não, nós teremos os caudilb;os, dupla militância. Eu acho que é preferível, em vez da
teríamos os partidos como o antigo PRP, PRM, Partido dupla militância, cada rio correr no seu leito próprio.
Repúblicano Mineiro, Partido Republicano Paulista,. e os Quando nós tivermos partidos, com identidade ideológica,
partídos devem ser realmente de natureza nacional, com identidade doutrinária, nós teremos partido fortes;
desde que, a partir do consulado Getúlio Vargas, isso foi enquanto nós tivermos partidos que são conglomerados
feito. Foi a primeira modificação que eu entendo de cará- de pessoas, momentaneamente de acordo e buscando des-
ter benéfico em relação à organização partidária. frutar o poder, nós teremos partidos fracos.
Mas nós temos as nossas convenções, que são subor- A filiação partidária, por exemplo, eu considero uma
dinadas também à Justiça Eleitoral. Nós não podemos violência. Há dias, eu perguntava aos jornalistas que con-
fazer convenções, sem a presença de um representante da versavam comigo: "você é militante de algum partido"?
Justiça Eleitoral, muitas vezes pro forma, meramente pro Ele disse: "não, eu não sou". "Então, você está tratando,
forma. na Constituição e na legislação atual, como analfabeto.
Temos ainda os atos de filiação, registro, registro de Você tem o direito ativo do voto, mas não têm o direito
diretório, registro de chapas, fusão, incorporação, tudo passivo do voto. Você não pode ser votado, porque você
isso depende da Justiça Eleitoral. não preencheu uma fichinha, não teve quem abonasse essa
Nós vivemos um período recente no Brasil, aquele da fichinha, e você entrou, no partido, com um registro que
incorporação do PP ao PMDB, quando verificou-se que teve, por seu turno, o aval do Tribunal Ele1toral Ioçal'
foi uma batalha nacional para poder se fazer aquela incor- Então, eu acho que a filiação partidária deveria ser
poração, quando Dr. Tancredo Neves resolveu incorporar alguma coisa também a ser revista nesse processo. Não
o PP ao PMDB. sei se convém eliminá-la de vez, mas, pelo o menos, fazer
com que as pessoas não tenham que ficar dois anos, ao
Então, o que a Lei Orgânica hoje exige, parece-me que sair de um partido para o outro, esperando a possibilidade
merece alguns reparos. Primeiro, eu sou inteiramente par- de ser eleito, ou um ano de filiação, porque, volta e meia,
tidário, como já disse, de uma organização nacional e não
de partidos que sejam uma espécie de quistos. Segundo ° casuísmo funciona, como nas últimas eleições funcio-
nou, nas eleições para as capitais, para as Prefeituras das
uma multiplicidade de legendas, como diz o Senador Sal- capitais, e reduziu-se esse prazo para seis meses.
danha Derzi, que são legendas de aluguel. S. Ex.a me per-
mitiu usar a frase, já que S. Ex.a usou antes de mim. Então, muitas vezes, o Partido díspõe de um quadro
Eu não gostaria de ser grosseiro com ninguém, mas inesperado, há uma oportunidade de utiuizá-Io e não pode
me sirvo de um bom Senador, para citá-lo. De fato, verifi- fazê-lo, porque ele não têm a filiação partidária.
ca-se que essas legendas cresceram e acabaram sendo le- E o domicílio eleitoral foi outro casuísmo inventado,
gendas emprestadas oportunamente para a ou para b. Eu em hora oportuna, pelo o Presidente Castelo Branco, para
já não diria de aluguel, ou, pelo menos, de conveniência. evitar que o movimento de 64 se transformasse em um
Mas os partidos se fracionaram e, quando se verifica que assenhoramento dos Estados, por determinados chefes
a lei exige que a organização partidária sej a caracterizada militares.
por um programa, por um estatuto, que devem também,
por seus turnos, ser submetidos à Justiça Eleitoral, veja
a diferença que aparece aí. Já, agora, há uma Justiça Elei-
Então, daí surgiu °casuísmo de exigir um domicílio
eleitoral de 2 anos, e, ao mesmo tempo, uma reação a
28 Segunda-feira 20 DIÃRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

coisas que aconteceram, como antes de 64, quando o Dl'. Nas últimas eleições, eu estou citando o Constituinte
Jânio Quadros, por exemplo, deixou o Governo do Esta- Jarbas Passarinho, vários diretórios não foram criados,
do de São Paulo, aliás, sem deixar o Governo do Estado porque a nossa direção não tinha estrutura para ir até
de São Paulo, foi candidato no Paraná, como Deputado. o local formar os diretórios municipais.
Então, elegeu-se pelo Paraná e, de qualquer maneira, ti-
nha uma influência muito grande em regiões limítrofes A respeito desse dispositivo de 9 Estados, acho fun-
e de interação constante. damental, por exemplo, que haja uma distribuição geoeco-
nômica, não apenas uma distribuição por Estados, porque
Fundo partidário; é de importância vital, para nós, podemos nos transformar, amanhã, em partidos do Sul, do
definirmos a questão do fundo partidário. Centro-Oeste, do Norte, partidos do Nordeste, quer dizer,
O que existe aí como lei é meramente letra de lei, regionais. Agora, houve uma redução, uma possibilidade,
mas não cumprida. Nós sabemos que mais que uma falá- ainda não foi regulamentada, de 5 Estados. Então, podre-
cia, é uma farsa aquele comitê que deve ser organizado se fazer um partido do Sul, um partido do Norte, um
para regular as eleições e a distribuição dos meios, du- partido do Centro-Oeste, um partido do Nordeste. Acho
rante as eleições. Aquilo é uma farsa total. Então... o que que essa distribuição nacional deveria ser feita, também,
nós sabemos é que, por exemplo, na Alemanha a que me tendo, pelo menos, um número mínimo por região, para
referi, cuj a legislação ordinária eu li, os partidos rece- que haja um sentido nacional do partido.
bem um marco por voto recebido na eleição. Então, ali, Outro problema: ter um sentido nacional de um par-
teve 15 milhões de voto, 15 milhões de marcos. No caso, tido é importante. Evidentemente, constituímos uma Fe-
seria, no Brasil, a União que subsidiaria os partidos a deração e o partido não pode ter unidade de posiciona-
partir da sua potencialidade eleitoral. mento, em função do pluripartidarismo, da possibilidade
A proibição de receber fundos; essa proibição é frau- de cclígações, o que acho legítimo no pluripartidarismo.
dada de várias maneiras. De maneira que, com isso, se Mas é fundamental que haja um referendo. Por exemplo,
verifica também que é desejável que haja uma legislação o partido nacional pode achar conveniente uma compo-
futura que garanta que- os partidos não sejam subsidia- sição, a nível estadual, com um partido com o qual ele
dos, não sejam objeto de auxílios, que não sejam espú- está em oposição a nível nacional. Então, a direção na-
rios interna e externamente. cional tem que assumir a responsabilidade dessa com-
posição, e não transferir o fato, como se ele fosse um
De maneira que isso também se remete à lei orgâ- fenômeno isolado. Se, amanhã o PDS quiser fazer um
nica ou à lei comum. acordo com o PMDB, em qualquer estado, é um problema
regional, mas tem que ter o referendo da direção na-
Finalmente, Sr. Presidente, eu diria que, dentro des- cional, para que o partido tenha uma unidade nacional.
se prazo para falar sobre partidos, eu, sem me tornar No mesmo sentido, acho que as composições municipais
cacete, eu diria que a minha preferência seria pela for- devem ter uma homologação das direções regionais. Só
ma enxuta, concisa e precisa com que se trata o proble- assim, daríamos uma certa uniformidade e uma co-res-
ma na lei fundamental. Os partidos colaboram na for- ponsabilidade da direção, a nível nacional, com relação
mação da vontade política, a sua fundação é livre e eles ao posicionamento. E não se dizer, como é comum "foi
são responsabilizados perante à Corte Constitucional pe- problema regional". É problema regional e um partido
las inconstitucionalidades que praticarem. Esse seria o nacional pode achar conveniente fazer aquela composi-
ponto de vista que eu defendo, a partir do momento em ção regional. Mas não pode se eximir da responsabili-
que .- e trata partido político e Constituição. dade daquela composição.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado! Só assim teríamos uma co-responsabilidade de par-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - Com tido, com uma posição definida, embora atendendo às
peculiaridades de cada regional. Evidentemente, a com-
a palavra o Dr, Paiva Muniz, presidente do PTB. posição política, em um estado, pelo sistema de coliga-
O SR. PAIVA MUNIZ - Constituinte Jarbas Passa- ção, pode haver a conveniência de fazer esta ou aquela
rinho, em verdade, eu ainda faria praticamente todas as composição. Mas a direção nacional de um partido, se
observações feitas por V. Ex.a Essa interferência da Jus- ele é nacional. não pode ficar omissa e deixar de homo-
tiça Eleitoral é de tal ordem que, praticamente, para se logar essa decisão. Tivemos casos, na Presidência do par-
constítuír um partido definitivo, é uma maratona, 'prin- tido, em que a direção nacional não concordava com de-
cipalmente, o problema de filiação, com exigência em 9 terminadas coligações e elas foram feitas à revelia da
estados e um número mínimo de municípios. A Justiça direção do partido, porque existe autonomia das seções
Eleitoral passou a ser uma Justiça dos partidos, como regionais. Então, com um sentido ele unidade dos parti-
S. Ex.a bem acentuou. dos, eu acharia importantíssima a homologação dessas
coligações, a nível municipal, pelos diretórios regionais,
E há dificuldades também de ordem financeira, para e, a nível regional, com a homologação das direções na-
a constituição desses diretórios municipais. No Pará, pa- cionais do partido.
ra se constituir um diretório municipal, em certas zonas,
tem que se pagar uma passagem para instruir um asses- Outro problema que eu citaria aqui é a importância
sor jurídico especializado em Justiça Eleitoral, para 01'- do fundo partidário. Eu não trouxe aqui, mas ia trazer,
q;anizar o partido, e, em alguns municípios, por exemplo, pois recebi a semana passada, a participação do partido,
uma passagem de um dirigente fica na base de 4, 5 mil o PTB, na cota do fundo partidário deste ano. Não sei
cruzados, só para ir ao município conversar, independen- se o PDS já recebeu.
te das despesas de filiação, de impressos, de organização.
A contribuição que recebemos, a cota, foi de 18 mil
Evidentemente, talvez por isso, os partidos que dis- cruzados. Agora, eu chamaria a atenção, porque um par-
põem de poder tenham maior facilidade nessa movimen- tido, para ser permanente, como estabelece a legislação,
tação. Os que não dispõem de poder e facilidade, ou de ele tem uma máquina administrativa. Tem os diretórios
poder econômico que sustente essa estrutura mínima de municipais, regionais, o diretório nacional, tem uma es-
organização de partido vivem na maior dificuldade de trutura de recursos humanos mínimos e materíaís para
organização. o seu funcionamento. E, pela própria ideologia expressa
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 29

na Constituição, os partidos políticos devem ser também Acredito que essa credibilidade é porque os partidos
uma escola de preparação política, de educação política. políticos atuam, com algumas exceções, bissextamente,
O que ocorre de um modo geral? Quem paga a sede durante as eleições. Ao terminar as eleições, as sedes se
é quem tem o recurso. Se ele perdeu numa 'convenção, fecham e vamos esperar a próxima eleição para o seu
ele tira a sede e fica o partido sem sede. funcíonamento, quando 'ele tem o sentido de permanência.
E, esse sentido de permanência, nos partidos políticos,
Outra falácia é o problema relativo a recursos, a ou têm uma base de sustentação de mobilização perma-
imprensa de poder econômico, quando limita a parti- nente, ou então, ficam a critério da imprensa do poder
cipação. econômico, e essa imprensa individualizada, o que é mais
Eu fico na dúvid'a, o que é que é pior: é o partido grave ainda.
se ver na contingência, na sua formação, de receber deter- Achamos também importante esse problema da distri-
minados candidatos que dispõem de recursos econômicos, buição quanto a reoCUTSOS. A dístríbulção de recursos para
mas que não têm nenhuma afinidade com o partido; o fundo partidário deve ser 'Como relatou o Senador Jarbas
também, nas eleições, preocupação da participação de Passarinho, na base da votação, no mínimo de votos, não
recursos para os partidos, mas esses recursos vêm de for- da representação parlamentar, mesmo porque é um refe-
ma pior, isto é, através de um Iebby às pessoas, e o par- rencial que vaí perdendo com o tempo.
tido receber legalmente a participação de pessoa rísíca
ou jurídica. Ela vem da forma pior, que é a forma do O PDS era o maior partido do ocidente e, em 3 ou
individuo ter que dar uma vaga, e é fei,to não em função 4 anos, reduziu a sua bancada. O PMDB, hoje, deve ser
do partido, mas no interesse do lobby daquele candidato. o maior partido do ocidente, mas não sei, daqui a 4 anos.
Quer dizer, o referencial para o fundo partidário, que é
Então, 'tenho hoje as minhas dúvidas se seria mais um fundo limitadíssimo. quando se diz que as organiza-
honesto e mais transparente, se esses recursos fossem ções sindicais dispõem de poder de organização, de ere-
feitos para o partido e não para as pessoas, quer dizer, dibilidade maior, eu lembraria que só o imposto sindical
mesmo porque estabelece a lei que os "partidos políticos obrigatório, compulsório, dá às organizações sindicais
são 'obrigados a duas prestações de 'Contas: uma ao Tri- cerca de 8 a 100 milhões de dólares por ano, tirando as
bunal de Contas e outra à Justiça Eleitoral, mais que organizações patronais, porque, além das organizações
qualquer órgão da admínístração pública. sindicais-patronais, elas dispõem de instrumentos, quer
O que ocorre freqüentemente? Ocorre freqüentemente dizer, de órgãos que vivem de contribuição compulsória,
que esse dísposítdvo de 3, de 5 e de 9% criou certos pro- como Sesi, Sesc, Senai, Senac.
blemas muito sérios. Os partidos que tenham uma base Evidentemente, a nossa estrutura sindical dispõe hoje
ideológica, os partidos que têm programas definidos, são de uma ordem de 200 a 300 milhões de dólares, e os
obrigados a aceitarem candidatos que não se enquadram partddos políticos, no 'Caso do PTB, 18 mil cruzados.
no perfil do partido, porque são candidatos que podem
trazer legendas e garantir o funcionamento do partido. Evidente que as estruturas sindicais têm poder de
mobilização muito maior, perante à sociedade, do que
Nós tivemos que fazer certas concessões ideológicas, os partãdos políticos.
porque teríamos que cumprir uma lei eleitoral. O partido
estaria extinto se nós não fizéssemos determinado número. Uma proposta que serviria para contornar essa situa-
Determinados candidatos tinham 'expressão popular, e nós ção seria o incentivo da imprensa escrita, quer dizer, não
tivemos que aceitar, sob o perigo de que, se não atingís- existe a gratuidade da imprensa escrita, mas poder-se-Ia
semos, nós não garantíríamos a legenda daqueles que dar um Incentivo, assím como se tem a lei cultural, no
foram eleitos e a, permanência no partddo. sentido de que o espaço ocupado, pelo preço da tabela,
seria abatido do Imposto de Renda das empresas, porque
São fases de transição, provenientes, em grande parte, evidentemente não é justo que uma empresa jornalística
pelas dificuldades e o próprío casuísmo da legislação vá custear isso. É preciso haver algum incentivo público
eleitoral. para ressarci-la do 'Custo, de modo que a divulgação dos
partidos políticos seja feita também através' da imprensa
Lembraria, por exemplo, que, além dessas despesas escrita.
correspondentes à manutenção do partido permanente, é
fundamental também 'Certas facilidades, quando se diz, Além disso, há a possíbílídade de, nos' órgãos oficiais
por exemplo: é gratuita a veículação da televisão, da do Governo, as publicações dos partidos políticos também
rádio etc. Mas, a produção desses programas fica a um serem gratuitas. Nos Diários Oficiais, por exemplo.
custo, hoje, de 800 a 1 milhão. Então, não é tão gratuita
assim. Enquanto os partidos políticos não tiverem uma base
de sustentação, serão bissextos, 'atuarão apenas ocasional-
Para se fazer um programa a nível nacional, o custo mente, na oportunídade das eleições; ou, então, ficam
de qualquer empresa para elaboração, roteiro, técnica, entregues àqueles que dispõem de recurso.
tudo isso fica na base de 800 a 1 milhão de cruzados.
Outro problema muito sérío é que, hoje, grande parte
Por outro lado, sugiro que as TVs e as rádios oficiais da eleição depende de o candídato dispor de recursos
gratuitamente devam dar oportunídade da produção des- próprios ou financiados através de lobbies, ou então de
ses programas, porque esses programas, se a veiculação ter acesso aos meios de comunícação. Assístímos, no Rio
é gratuita, entretanto, a produção é de custo relativa- de Janeiro, por exemplo, o partido, pelo qual concorreu
mente elevado. Fernando Gabei:ra, não ter espaço na televísão. Assim,
a distribuição do espaço estratifica um quadro atual e
Chamaria a 'atenção, por exemplo, para um f,ato que não enriquece o pluripartidarismo. Ninguém sabe, então,
é muito sério. Há pouco tempo, uma pesquisa de opinião se a representação, hoje, é autêntíea. Na hora de ir à
pública, feita pela Folha de S. Paulo, deu, como institui- televísâo, determínados partidos dispõem de meio minuto,
ções de credibilidade, as multfnacíonaís, CNBB, as empre- de dois minutos, alguns não dispõem de minuto algum,
sas de televisão, de rádio, sindicatos etc., e os partidos
políticos com um índíce de credibilidade muito baixo.
°
havendo monopólio da eomunícação que, hoje, é impor-
tantíssimo no processo de fazer chegar a sua mensagem,
30 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

a mensagem do seu partído à opinião públic-a para o Não sou doutor e também não sou propriamente o
díseernímento e a escolha, presidente do partido. Ainda não temos uma definição com-
pleta sobre o presidencialismo no País e, desta forma, não
,Sobre 'esse aspecto, acho fundamental que, ainda que adotamos tampouco a idéia de presidente, no nosso parti-
haja o equilíbrio, essa distribuição seja de tal forma a do. De qualquer maneira, somos aqui o representante do
que todos os partidos políticos tenham a mesma igualdade núcleo organizador do Partido Verde que, depois que rece-
e oportunidade, e que a produção desses programas seja beu o convite desta comissão, um convite que considerou
teíta, quer tenha ou não recursos, gratuitamente, pelas bastante progressista, no sentido de se abrir para a socie-
TVs oficiais. dade, nós travamos uma longa discussão a respeito dos
Quanto à estrutura interna, concordo com o Senador temas que a comissão discute e que são temas que nos
Jarbas Passarinho, quando diz que tem que ser mais fle- preocupam muito também.
xível. A primeira discussão que nós travamos foi sobre o regi-
Quanto ao problema da autenticidade, acho que as me do Brasil. Que tipo de governo nós queremos para o
eleições para a escolha dos candidatos devem ser precedi- Brasil? Que tipo de regime nós queremos adotar? E repeti-
das de eleições primárias de todos os filiados do partido, mos, num certo sentido, uma discussão que acredito que
de uma parte, e, a outra, ser resrevada para a direção do já tenha sido travada aqui por V. Ex.as; uma discussão
partido, em função de composições. Mas que pelo menos entre os adeptos do parlamentarismo e os adeptos do
50 ou 60% das escolhas dos candidatos não fossem feitas presidencialismo. Nós temos um grupo, que é um grupo
através do Diretório. Hoje, quem tem o Diretório tem o mais clássico da esquerda, que considera, a partir de uma.
monopólio, tem a ditadura do partido. Isso só pode ser análise do Brasil, que nós discordamos pessoalmente, mas
quebrado. E vai escolher o candidato que essa Direção, que considera que o Brasil é um País que só pode avançar
que esse Diretório - um número limitado - vai determi- num regime presidencialista.
nar. Portanto, é uma falácia também dizer que os partidos A base dessa reflexão dos companheiros, que nós res-
são democráticos, que a escolha é democrática. Quem es- peitamos, é uma base que se situa na idéia de que o Parla-
colhe os candidatos são os detentores das Executivas e dos mento sempre foi, no Brasil, um elemento de reação, um
Diretórios. Assim, uma forma de democratização dos parti- elemento de detenção das forças progressistas brasileiras,
dos é permítír que pelo menos 50% dos candida- que todas as grandes propostas de progresso, no Brasil,
tos a cargos eletivos sejam escolhidos por eleições diretas acabavam morrendo ou pelo menos se atenuando no Par-
e universais de todos os filiados. lamento.
Quanto à interferência da Justiça Eleitoral, digo que Evidentemente que trabalham muito ainda com as úl-
essa Justiça não é Justiça; é bissexta. Isto é, o juiz entra timas lembranças do Brasil e, nós consideramos que essa
em contato com a legislação eleitoral de dois em dois anos proposta presidencialista, baseada apenas nesse argumento,
ou de quatro em quatro anos e tem a sua interpretação não era um aproposta adequada.
pessoal, não sendo um posicionamento permanente. O que
ocorre? Cada juiz tem uma interpretação diferente. Faz-se Outros companheiros levantavam a idéia de um parla-
um Diretório Municipal - e ocorreu por várias vezes - mentarismo puro, achando que realmente o Brasil deveria
e o juiz não o reconhece. E não reconheceu porque não marchar para um tipo de parlamentarismo, que pressupu-
estava presente. A lei determina que haja um observador, nha também a existência de partidos solidamente implanta-
observador esse que ele não mandou. E, assim, toma sua dos e desenvolvidos.
decisão. Quando se recorre, de modo geral, o Tribunal tem Ao cabo dessa discussão, que foi uma discussão muito
solidariedade com o juiz. Em muitos municípios, ,por exem- longa, o consenso acabou repousando numa idéia de que
plo, os diretórios não foram registrados porque o juiz achou podemos marchar para um tipo misto de presidencialismo.
que tinha que publicar no jornal, apesar de não haver
jornal. E exigiu, então, que aquele diretório fosse publica- Um presidencialismo onde tivéssemos um Presidente,
do no jornal da capital. Evidentemente, tudo isso é discutí- eleito por 4 anos, que teria algumas funções bastante deter-
vel, mas existe. Há diretórios nossos que não foram regís- minadas.
trados porque não foram publicados nos jornais locais, os Uma das funções, evidentemente, seria a de ser o chefe,
quais não havia. A lei permite a fixação na Justiça Eleito· o responsável pela defesa do Pais, o chefe das Forças Ar-
ral, no cartório, mas aquele juiz específico exigiu que fosse madas, um presidente que se relacionasse com a parte da
feita a publicação no jornal da capital. defesa do País, através de um contato com o Ministério da
Portanto, essa interferência da justiça é muito grande, Defesa, o Ministro da Defesa, e a transformação dos Minis-
tem que ser simplificado o processo eleitoral, o processo térios militares em Estado-Maior que pudesse ter realmente
de registro, tem que haver uma maior flexibilidade para um contato com esse Ministro da Defesa.
os partidos políticos e a possibilidade de que os diretórios Nós acabaríamos com os ministérios militares, mas,
e os dirigentes de diretórios não dominem nem estabele- não significaria absolutamente que os militares não pode-
çam a ditadura dos diretórios, que impede muitas vezes o riam ser ministros neste País. Eles poderiam ser ministros
crescimento e o desenvolvimento dos partidos políticos. a partir de sua própria competência, como nós temos o
Quem tem um diretório municipal tem uma legenda e tem próprio Senador, que já foi Ministro da Educação e Mi-
um cartório, e escolhe quem quiser. São essas as observa- nistro do Trabalho, não apenas porque era militar, mas,
ções, de um modo geral, que faço a respeito, em idéias ge- porque tem uma competência específica nesse campo.
rais sobre esse problema, em primeiro lugar, da ínteríe-
rên~ia e da falta de recursos e da interferência demasiada Então, achamos que essa idéia seria uma idéia de limi-
da Justiça Eleitoral; em segundo lugar, da falta de unidade tar ao controle da defesa e ao controle também da política
nacional, que só pode ser dada através de uma distribuição externa. Nós achamos que o Presidente da República seria
regional e das homologações, pelos órgãos superiores, para o chefe de Estado, seria também o responsável pela política
que haja uma responsabilidade nacional. externa do País.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pa- Essa idéia de sistema de governo, nós avançamos tam-
lavra o DI.'. Fernando Gabeira, Presidente do Partido Verde. bém para compreensão de que ela tinha que ser: o Presi·
O SR. FERNANDO GABEIRA - Bom dia. Para nós que dente da República teria que ter a possibilidade de dissol-
tivemos apenas um minuto na televisão, vinte minutos para ver o Parlamento pelo menos uma vez, na sua gestão e
falar aqui é um verdadeiro banquete. que o Congresso deveria ser, no nosso entender, a partir
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 31

também das discussões que nós travamos, um Congresso tância e a representatividade do Acre, evidentemente que
unicameral. essa representativídad sría diferente.
Nós, com respeito evidentemente pelas figuras dos Se- Nós queríamos nos organizar naqueles Estados onde
nadores aqui presente e pelo papel que o Senado já teve as nossas idéias hoje florescem mais, sobretudo, em Es-
na história do Brasil, n6s não vemos sentido nesse projeto, tados mais industrializados, mais cosmopolitas e que consi-
nessa discussão que nós travamos, a idéia de um Congresso deramos mais avançados.
separado da Câmara. Nós temos a idéia de uma unícãmara Mas, para isso, nós teríamos que cumprir a legisla-
no País, uma única câmara que pudesse resolver os proble- ção, organizando em Minas, em São Paulo, no Rio de Ja-
mas que estavam colocados por nós. neiro, no Rio Grande do Sul, Paraná, lugares com um
Nós refletimos um pouco também, para trazer nossas número de municípios muito maior. Então, nós somos
opiniões para V. E,xas., sobre o sistema eleitoral. constantemente levados a trapacear nesse campo.
Havia, entre nós, algumas posições de uma votação Nós não queremos trapacear, porque, se não, nós
distrital, mas, nessa posição de votação distrital, nós refle- acabaremos sendo os partidos que nós conhecemos do pas-
timos muito sobre o exemplo francês, e percebemos que sado. Não conheço bem os partidos de hoje, mas, os parti-
ele tinha uma série de limitações. dos do passado foram baseados todos nessa idéia.
Quando nós analisamos um pouco o sistema distrital Nós temos uma tendência a escolher o primo e pedir
francês, nós compreendemos que ele foi criado, até certo ao primo, em determinado município, que organize o di-
ponto, para dificultar a eleição dos Deputados comunistas. retório para nós e vamos nos encontrar com dificulda-
Evidentemente, esse problema não haveria no Brasil, por- des, como encontrei na campanha no Rio de Janeiro, on-
que os comunistas não precisam dessa dificuldade; eles já de fui fazer um discurso, em nome do PT, numa deter-
têm dificuldades próprias que é da sua própria concepção minada região e o representante do PT, que é um par-
de mundo. tido bastante moderno, que nasceu de baixo para cima,
Mas, de qualquer maneira, na França, houve essa ele levantou e disse: "que bom que o nosso representante
criação, houve uma organização tal, que, em um determi- está, pois ele vai defender a nossa posição que é pela
nado distrito, era mais fácil para um Deptuado gaulista pena de morte". Quase caí da cadeira, porque, nem o
se eleger que para um Deputado comunista e isto para PT nem eu tínhamos posição sobre a pena de morte.
nós dificultava muito. Mas, na medida em que a coisa ia chegando para o
Nós passamos, então, a examinar o exemplo portu- interior, a dissolução das posições partidárias era muito
guês, o exemplo proporcional português, onde nós víamos clara.
uma semelhança bastante grande com as possibilidades E nós sentimos que precisamos de uma redefinição,
do Brasil, uma tendência a ser usada, no Brasil, bastante no campo de uma organização.
boa, porque o sistema proporcional português leva em si
um método de correção, uma correção que faz com que O que é necessário para organizar um partido no
o partido mais votado tenha condições de completar as Brasil? Nós achamos que a questão da representativida-
suas cadeiras. de é fundamental.
Mas percebemos também, ao longo do nosso estudo, Nós tivemos uma performance no Rio de Janeiro, em
de nossa reflexão, pelo menos a reflexão que travamos coligação, que nos levou a 8% dos votos, no Rio de Ja-
para virmos aqui cumprir com a nossa missão de dialogar neiro que é um Estado importante.
com os Srs. politicos profissionais, já do Brasil, é que nós
achamos que o sistema misto alemão ainda não teríamos Nós temos núcleos organizados, nos principais esta-
condíções de adotar no Brasil um sistema, onde pudésse- dos do Brasil, e nós precisamos, de alguma maneira, re-
mos combinar a proporcionalidade e também o voto dis- fletir um pouco melhor sobre essa legislação, no sentido
trital, talvez fosse um sistema ideal para nós. de possibilitar que o partido surja sem trapacear, que
Como isso seria no nosso entender, difícil de ser ele não utilize a lei para trapacear. Temos tido dificul-
organizado, nós nos fixamos numa proposta que seria dades em pensar o sistema político brasileiro, em pensar
uma proposta de uma votação proporcional, estudando-se a organização partidária dissociada de um tema que cer-
a possibilidade de caminharmos, a médio prazo, para uma tamente estará sendo discutido numa outra comissão.
votação mista, isto é, uma votação onde tivesse a propor- Esse tema para nós é a relação com a mídia, a relação
ção e o voto distrital. com a imprensa. Passamos por uma dificuldade muito
grande, no Rio de Janeiro. É lamentável que o Presidente
Depois disso, nós começamos a refletir sobre o pro- do PMDB não esteja aqui, hoje, mas, no Rio de Janeiro,
blema que hoje foi o tema da discussão dos dois Presi- tínhamos apenas 1 minuto, enquanto o PMDB era o ver-
dentes de Partidos: a questão dos Partidos poltíicos no dadeiro latifundiário do ar. Tinha 50 minutos para falar
Brasil. e tinha possibilidade de se relacionar com o eleitorado
de maneira tranqüila. Fomos, nesse sentido, golpeados por
Nós temos uma expenencia singular, porque estamos uma lei eleitoral. Eu mesmo vim aqui ao Congresso, amor-
tentando, nesse momento, organizar um Partido político daçado, mostrar que não aceitávamos essa lei eleitoral,
no Brasil e temos sofrido bastante com essa legislação. que nos jogou praticamente uma impossibilidade de co-
Temos sofrido as dificuldades que a legislação nos coloca. municação com os eleitores. Achamos que todos os parti-
Em primeiro lugar, já foi mencionado aqui as dificul- dos políticos devem ter o direito de se expressar e de
dades básicas de nos organizarmos em 20% de 9 Estados. apresentar suas idéias na televisão de uma maneira igua-
Isso nos coloca numa possibilidade de trapacear perma- litária. Mas, ainda assim, não se resolve o problema, por-
nente. Nós temos que ter 20% de diretório num determi- que temos também uma questão vital neste País. Num
nado Estado. Nós podemos trapacear, escolhendo o Acre, livro que acabo de publicar, eu mostro que não há possi-
em vez de escolhermos São Paulo, porque, ao invés de 500 bilidade de uma transformação real do poder no Brasil,
cidades, nós teremos 21 e podemos cumprir a legislação. se não começarmos a mexer nos grandes monopólios da
televisão. Não adianta nada fazermos um belo parlamen-
Mas, nós sabemos que o nível de representantividade, tarismo, se o Sr. Roberto Marinho vai poder derrubar o
o nível de relação, sem evidentemente desmerecer a impor- Governo, praticamente, no momento em que ele quiser.
32 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Ele tem poder para isso. Ele tem condições de desestabíll- um Deputado que, ~r acaso, foi o Deputado no qual
zar um governo. Precisamos começar a refletir sobre isso; votamos, que é capaz de ir à rua e dar uma audiência
refletir sobre as concessões às televisões no Brasil; refle- pública para seus eleitores; está toda sexta-feira no meio
tir sobre as concessões às rádios no Brasil e começar a da rua, com uma banca, dando audiência pública para os
analisar o Brasil um pouco implacavelmente, mostrar co- seus eleitores. Achamos que seria fundamental que se
mo o poder político, na realidade, está associado ao po- começasse a repensar um sistema de defesa para os pró-
der dos meios de comunicação e como em muitos Esta- prios eleitores, para que os eleitores pudessem refletir
dos do Brasil, alguns bem utilizados, utilizados democra- um pouco mais em quem votaram, em determinado mo-
ticamente, reconheço, mas como em outros Estados do mento, até embargar aquele Deputado, aquele Senador ou
Brasil vemos o Deputado, o Senador, que é ao mesmo tem- aquele Presidente da 'República que, num determinado
po o dono da rádio e ao mesmo tempo o concessionário momento, escolheram. Dizemos isso porque vivemos um
da televisão. ~ uma visão que temos que superar, porque processo eleitoral, hoje, no Brasil, e quem está na rua
é uma organização tal, feita para que não haja trans- sente muito bem, que, após as eleições, eleições que cos-
formação no poder. Pensamos que os partidos políticos tumo dizer, em toda parte, tenho muito orgulho de ter
têm que ter uma ajuda, um fundo, no sentido de publi- perdido, porque, num certo sentido, foi a vitória da men-
carem suas próprias revistas, seus próprios jornais, mas, tira sobre a verdade, após as eleições, a palavra que mais
ao mesmo tempo, temos que levar a imprensa a uma corria na boca do povo brasileiro era traição. O povo se
outra reflexão sobre o seu papel. Temos que rever as con- sentiu traído pela evolução da política econômica e com-
cessões. A TV Globo, por exemplo, durante as eleições, preendeu muito claramente que todo o processo político
tinha uma opção por um candidato: então, ela foi capaz que se desenvolveu, no momento próximo das eleições, era
de realizar um debate público, onde nós nos apresenta- um processo político irresponsável, em relação ao Brasil,
mos para mostrar nossas idéias e foi capaz de cancelar e voltado pura e simplesmente para garantir a hegemonia
o segundo debate, porque achou que o seu candidato não do PMDB nos grandes Estados e talvez em todo o País. Nós
estaria bem situado nesse segundo debate. A TV Globo não sabíamos disso. Só soubemos depois, porque os deten-
também era capaz de publicar, no seu programa mais tores da política econômica, que viam que as nossas reser-
ouvido, nas noites de domingo, enquetes feitas pelo Ibope vas cambiais estavam baixando, sabiam da crise que já
em concordância com ela, nas quais ela apresentava um se manifestava através da queda das nossas reservas cam-
candidato, outro candidato e o conjunto dos candidatos biais, no último momento, só no momento final é que
dos partidos considerados menores, a TV Globo enfeixa- nos disseram que as reservas cambiais tinham baixado
va no rótulo de "outros". Não nos dava nome. Dizia: são àquele ponto e nós, no auge da campanha, não nos podía-
os outros. Nós, evidentemente, não temos nenhuma ver- mos dar conta que a situação do Brasil estava caminhando
gonha de sermos "os outros" da TV Globo, porque "os ou- para aquele pé. Isso nos mostrou que é fundamental que a
tros" da TV Globo é o povo brasileiro. Sabemos que o população tenha uma possibilidade de se garantir contra
povo pobre, o povo sorrído do Brasil não aparece na TV os seus eleitos; tenha possibilidade de se garantir contra
Globo a não ser de raspão, a não ser rapidamente ou aquelas pessoas que prometem e não cumprem ou aquelas
para fazer uma figuração. Achamos que não há possi- pessoas que, no processo eleitoral, apresentam uma série
bilidade de pensarmos, nesse sistema eleitoral, de pen- de promessas mirabolantes e acabam enganando o povo.
sarmos em organização de partidos, se dissociarmos o tra- Pensamos que essas reflexões são básicas a respeito de
balho que existe aqui de um trabalho que existe certa- eleição, a respeito de representação e pensamos também
mente em outra comissão, que é uma reflexão sobre os que é a nossa contribuição para os Deputados e Senadores,
que vão cuidar dessa importante questão, possam pensar
meios de comunicação e o peso que esses meios de co- que existe gente no Brasil tentando se organizar politica-
municação têm no Brasil moderno. Não só no Brasil mo- mente, existe gente tentando fazer política junto à popu-
derno, como no mundo moderno. Os Srs. são políticos pro- lação, tentando trabalhar uma nova maneira de fazer po-
fissionais, devem estar refletindo bastante sobre a evo- lítica, tentando pensar uma nova maneira de ser político
lução da política e nós percebemos que, à medida que e essa nova maneira, pensamos, está associada também
a televisão começou a ter um peso, neste País e no mun- às transformações pelas quais o Brasil deve passar. ~ uma
do, a própria natureza do político mudou; o político pas- ilusão de alguns políticos conservadores, é uma ilusão
sou a ser, de alguma maneira, uma espécie de showman. do sistema de televisão no Brasil, de todo o processo de
Não é à-toa que temos, na Presídênela dos Estados Uni- dominação, pensar que o Brasil vai continuar o mesmo
dos, um ator. E não é à-toa que teremos também, como pensar que não vamos transformar o Brasil. Estamos viven':
candidato possivelmente à Presidência da França, um do uma crise final desse mecanismo de dominação. Te-
outro ator, porque essas pessoas, de alguma maneira, se mos que mudar profundamente. A Constituinte representa
exercitaram no trabalho diante das câmeras, se exerci- para nós uma das esperanças de mudança deste País. Tal-
taram num determinado tipo de performance, que é hoje vez não a única, mas uma das esperanças. Uma outra espe-
uma das características da política moderna. Temos que rança evidentemente é uma esperança que queremos já
pensar nisso. Se comecamos a pensar apenas no sistema colocar nas ruas o mais rapidamente possível, que são
eleitoral, se começamos a pensar apenas no partido e as eleições diretas para Presidente da República, a curto
deixamos de lado essa ponta, que é uma ponta de poder prazo, porque achamos também, que, através das eleições
fundamental, não tocaremos no processo brasileiro. Con- diretas para a Presidência da República, vamos fazer final-
tinuaremos vivendo nessa sucessão de "maiores partidos mente o que queríamos fazer há muito tempo: ter um
do ocidente", que se sucedem por outros maiores parti- governo legitimamente eleito, com a base popular, com a
dos do ocidente, mas que, no fundo, são tão conservado- base política necessária para realizar as reformas, que
res e querem apenas manter o status quo neste País. em muitos pontos foram sabotadas, dentro do próprio
governo, e em alguns momentos pelos meios de comunica-
Lamento que o Presidente do PMDB não esteja aqui. ção, mas as reformas necessárias ao Brasil. Achamos que
Eu não queria falar na sua ausência, mas evidentemente é fundamental, não apenas mudar o sistema político não
há outros dignos e importantes representantes do PMDB apenas eleger o novo Presidente, mas mudar a concépção
aqui, que podem considerar essas nossas criticas. de fazer política.
Um outro aspecto que pensamos, depois de toda essa Essa é a nossa contribuição que queríamos trazer para
avaliação, é a relação dos eleitos com seus eleitores, coisa V. Exas., como fruto dessa discussão e também o reconhe-
que é fundamental para nós. No Rio de Janeiro, só temos cimento, pelo fato de nos convidarem, sem sermos um
Julho de 1981 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAl.. CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 33

Partido oficial, sem termos uma presença oficial na polí- enfim, o trabalho desta Subcomissão de que vai, resultar,
tica brasileira, representou uma abertura que só serve 'ao final. a elaboração do texto da Carta Magna do País.
para legitimar ainda mais a Constituinte e mostrar que a Eu gostaria de chamar a atenção dos integrantes desta
Constituinte, nesse aspecto, está buscando, realmente, ou- 'Subcomissão, já que não tive o privilégio de ouvir a ex-
vir os amplos setores da população. Muito obrigado e posição dos outros Presidentes de Partidos, aqui presentes,
estou à disposição. 'eu gostaria de chamar a atenção dos integrantes desta
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pre- 'Subcomissão para um aspecto que se vincula ao exercício
.sença, asora, do S:enado!' COnstituinte Mauro Benevides, das minhas funções como Tesoureiro da Com. Executiva
que representa, neste momento, o Presidente do PMDB, Nacional do PMDB. Ê um enfoque que desejo dar para
Antes de passar a palavra aS. Ex.a , eu darei a palavra ao aqueles que aqui se 'encontram, discutindo matéria de ta-
Sr. Senador J'arbas Passarínho, que a solicitou por dois mi- manha relevância - é aquilo que se relaciona como Fun-
nutos, para terminar o seu pensamento. do Partidário e foi instituído com o objetivo de oferecer
aos Partidos Políticos aquela sustentação de apoio que eles
O SR. JARBAS PASSARINHO (PDS - PA) - É que, fosse permitido uma ação mais positiva, na divulgação do
quando eu fui o primeiro a falar ainda havia metade, tal- seu programa, no enunciar Idas suas diretrizes de ação po-
vez, dos Constituintes aqui presentes. Então, eu gostaria Iítíca, enfim, até mesmo no seu próprio funcionamento.
de dizer que eu interpretei ° convite, tundmentalmente, 'Quando o legislador ordinário concebeu o Fundo Partidá-
para discutir sobre o que, numa COnstituição, deve escre- 'rio, ele teve em mira, sem dúvida, oferecer sustentação de
ver-Se a respeito de partido político, uma vez que este é o 'apoio financeiro às agremiações políticas, para que elas
papel desta Subcomissão. Esta Subcomissão está se orga- 'pudessem realizar esse trabalho de identificação, não ape-
nizando, nos seus trabalhos, para !poder chegar a um con- nas com os seus próprios militantes, mas, sobretudo, com
senso, de !preferência a respeito do que deve constar no 'a opinião pública do País. Foi, sem dúvida, essa grande
texto constitucional a respeito de partldo político. Por inspiração que norteou o legislador ordinário, quando se
isto é que eu trouxe quatro Constituições escolhidas e promoveu a instituição do Fundo Partidário que, basica-
discuti a respeito. Não fiz incursão mais demorada sobre mente, teria a contribuição de cada Partido - aquela con-
os outros aspectos, inclusive esta que o Sr. Fernando Ga- 'tribuição estatutária - e, além dela, o Fundo Partidário
beira fez, mas isto não significa que eu não estivesse à 'disporia de recursos oriundos das taxas e emolumentos
disposição, na hora do debate, de fazê-lo. Acho muito inte- 'cobrados pela Justiça Eleitoral e que são repassados, tri-
ressante, porque vai nos caber, depois, já como Senadores mestralmente. para os Partidos Políticos. Eu diria a V.
e Deputados, o papel relevantíssímo de tazer a legislação ~x.as, integrantes desta Subcomissão, ,que o Fundo Parti-
ordinária e que é esta que nós estamos sentindo que está dárío, hoje, praticamente ínexíste de tão irrisória, e tão
sendo o fundamento principal da nossa preocupação. No lnsignificante e tão desprezível, até, é a quantia que a
meu caso, de Constituição, o que eu quis mostrar, princi- 'cada trimestre é repassada pelo Tribunal Superior Eleito-
palmente com uma redação concisa da República Federal 'ral aos Partidos Políticos. Há mesmo aqueles Partidos que,
da Alemanha, é que o pluralismo está garantido no texto 'guardada a proporcionalidade dos seus integrantes, e o
constitucional - exigido e garantido o pluralismo parti- Fundo Partidário é distribuido, tendo em vista o número
dário e, segundo, a vocação nacional dos partidos e, ter- 'da representação federal, o número dos Deputados Fe-
ceiro, qualquer forma de programa partidário que seja derais, o Fundo Partidário, hoje, distribuído, trimestral-
contrário às instituições democráticas será considerada 'mente, ele, em determinados momentos, deixa de ser re-
inconstitucional e, conseqüentemente, o Partido sofre as 'passado aos Diretórios lRegionais e os Diretórios Regionais
conseqüências. Isto me parece muito claro e definitivo. 'deixam de fazê-lo em relação aos Diretórios Municipais,
Quantos aos outros aspectos - foi o que eu pedi ao Pre- porque as importâncias, com que são aquinhoados os Par-
sidente -, eu estaria, também, à disposição no debate e, 'tidos, são verdadeiramente insignificantes. Perguntar-se-
naturalmente, vai acontecer, para discutir as questões cor- 'la: qual a saída para se oferecer ao Fundo Partidário uma
relatas com a Lei Orgânica dos partidos·e a sistemática de sustentação financeira que permitisse às agremiações polí-
trabalho, não como um político profissional - foi a expres- 'ticas favorecerem os seus diretórios, os seus diretórios na-
são usada pelo nosso representante do PV. Eu me considero cionais, regionais e municipais? Essas quotas, essas taxas
um militante político e não um profissional, porque, quan- 'e emolumentos, recolhidos pela Justiça Eleitoral, isto te-
do preencho qualquer documento, eu tenho que dar a pro- 'ria alguma expressão quantitativa? Eu posso responder,
fissão de origem da qual eu estou arastado há 20 anos mas 'neste momento, que não - são quantias que eu posso di-
não posso escrever lá Senador e nem Deputado - mili- zer - irrisórias. Não teria nenhuma expressão que jus-
tante político, sim; profissional, nem tanto. 'tificasse a sua distribuição aos diretórios regionais e até
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- 'aos diretórios municipais. A grande solução, a grande pro-
vra o nobre Senador Constituinte Mauro Benevides. costa que eu me permitiria sugerir, neste instante, a esta
'Subcomissão, seria a obrigatoriedade de, no Orçamento
O SR. MAURO BENEVIDES (!PMDB - OE) - Sr. Pre- da União, constar um percentual, um décimo da receita
sidentes, srs, Repres,entantes dos Partidos Políticos, 81'S. 'tributária, destinado ao Fundo Partidário que seria, en-
Constituintes integrantes desta subcomissão, aqui deve- 'tão, passando a constituir uma base mais sólida e mais
'ria estar presente, neste momento, o Presidente do PMDB, 'expressiva, o Fundo Partidário, que teria, aí sim, condi-
'o nobre Deputado t.,1ysses Guimarães e, nesses momentos 'ções de ser repassado às agremiações políticas ,e elas dís-
'que antecedem ao término do prazo para apresentação de 'poriam de um ponto de apoio para a realização do seu
emendas, é perfeitamente compreensível que S. Ex.a tenha 'trabalho, para a divulgação das suas mensagens, para rea-
'delegado poderes ao Secretário do Partido, Sr. Euclides lizar as suas convenções partidárias, enfim, tudo aquilo
'Scalco e a mim, Tesoureiro do PMIJB para que, na ímpos- 'que pudesse representar uma sustentação financeira para
'síbílídade do seu comparecimento, o Deputado Euclides 'as nossas agremiações. Eu mesmo me propus a apresentar
'Scalco e eu fizéssemos, aqui, diante desta Subcomissão, 'uma proposta de sugestão de norma à Assembléia Nacio-
'um enfoque a respeito do sistema político e dos Partidos nal Constituinte, e o fiz simplesmente na condição de
'Políticos no texto da Constituição. Evidentemente que, se tJonstituinte. Mas não seria demais alvitrar, neste mo-
'presente o Deputado Ulysses Guimarães, com o seu tiro- rnento, a esta Comissão uma sugestão para que ela própria
'cínío, alicerçado ao longo de tantos anos, dirigindo o an- 'patrocinasse a obrigatoriedade de se dar sustentação ao
'tigo MDB e, agora, o PMDB, S. Ex.a, certamente, oferece- Fundo Partidário, através de um percentual sobre a Re-
'ria subsídios preciosos que poderiam orientar, lastrear, 'ceita Tributária da União. Naturalmente, seria uma varia-
34 Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

ção de décimos da receita tributária, zero vírgula o que há quase 20 anos atrás, quando eu tive a oportunidade
'fosse sobre a receita tributária. E, com isso, então, os Par- de conhecê-lo, mas já conhecia a sua obra, o seu traba-
tidos Políticos teriam condições de, através do Fundo Par- lho, e tinha notícia da sua honradez, e do seu caráter.
tidário, receber uma ajuda que lhes permitisse realizar o Os três, repito, convidados fizeram referência ao Fundo
'seu trabalho, não apenas o trabalho de aproximação com Partidário, mas nós sabemos que nas eleições funciona
os seus militantes, com os seus órgãos de funoíonamento, um outro fundo, que é o fundo das caixinhas, o fundo
'com os seus institutos, com as suas divulgações, com as das propinas, o fundo de origem escusa que mancha, na
'suas publicações, enfim, mas também uma aproximação sua origem, o mandato popular. São compromissos
maior com a própria opinião pública. As campanhas eleí- assumidos com aquele condicionamento de uma reci-
'toraís se realizariam com recursos exclusivamente dos procidade no futuro e o homem público tem que dar re-
'partidos, para que nós não enveredássemos por essa tri- tribuição, pela contribuição dada na campanha política,
'lha ínvia de se solicitar colaboração dessa ou daquela for- repito, às vezes pelas empreiteiras, ou por pessoas inte-
'ma para realização de campanhas políticas, Os próprios iressadas por motivos os mais varíados. Sabemos que
'partidos teriam, através do Fundo Partidário, uma estru- esses recursos, essa soma imensa de recursos dispendida
turação compatível com a sua responsabilidade na vida por certos candidatos, ela se dilui, de certa forma, nos
'política brasileira. E ° Fundo partidário, quantitativa-
mente expressivo, poderia ser exatamente esse suporte
distritos hoje existentes, as circunscrições que são os
próprios Estados, que, pelas suas extensões territoriais,
'que permitiria aos Partidos uma ação política, perma- acabam pulverizando esses recursos, que não aparecem,
nente, proveitosa, que viabilizasse de fato o seu funciona- mas que marcam, sim, favoravelmente ao candidato que
'mento na estrutura política brasileira. Portanto, Sr. Pre- desses recursos dispõe, em detrimento de outros candi-
sidente, fica esse meu enfoque especial, trazendo para datos menos abastados. Então, eu perguntaria aos quatro
'aquí a experiência que temos, como dirigente de Partido e, convidados como encarariam a implantação do voto dis-
'sobretudo, no exercício de uma função que é realmente trital que, seguramente, talvez, esses recursos não
"difícil e que é penosa, porque fluem para a tesouraria do pudessem ser gastos tão escandalosamente como hoje o
Partido aquelas reclamações, aquelas postulações, nas são? E é claro que isso teria que ser complementado,
.campanhas eleitorais, na realização até mesmo de simples talvez, por uma legislação ordinária, que criasse meca-
'convenções de Partido, tudo isso envolve despesa e habí- nismos adequados para uma fiscalização que hoje, na
'tualmente são os Parlamentares e, praticamente só eles, verdade, praticamente ínexíste, Essa a primeira pergun-
"os responsáveis por essas despesas, por essa participação, ta. Mas eu gostaria também de fazer uma pergunta
'enfim, por essa exigência de cada agremiação, Deixo, por- específica ao escritor e jornalista Fernando Gabeira, que
'tanto, com esta Subcomissão a nossa sugestão, no sentido a doutrina democrática enfatiza o componente de ordem
'de que consigne, com a obrigatoriedade de uma emenda à racional da determinação do voto, ou seja, o eleitor, por
'Constituição, um percentual sobre a receita tributária, conhecer o partido, por conhecer o candidato, teria, pela
'para que se constitua uma base de sustentação financeira possibilidade de uma análise objetiva desses candída-
'para o Fundo Partidário. Essa base seria acrescida tam- tos ou desses Partidos, condição de escolher o melhor?
bém daquilo que habitualmente já se faz; a contribuição E eu entendo, e até o ilustre convidado fez referência à
'dos Parlamentares, a contribuição dos militantes, e tudo possibilidade de se criar alguma coisa que defendesse,
'isso víabílízaría financeiramente a existência dos Parti- eu não sei o que seria, talvez o instituto, então, alguma
'dos Políticos. coisa que defendesse o interesse dos eleitores, que, às
vezes, se vêem traídos pelos seus candidatos eleitos. Se
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Passemos à não seria talvez a possibilidade, o momento histórico de
segunda fase do nosso trabalho, a fase das interpelações. se implantar um mecanismo no País que possibilitasse
Com a palavra o Relator, Constituinte Francisco isso? E há quem preconize o voto distrital como uma
Rossi. forma de se fiscalizar melhor o eleito. O voto distrital
é que poderia realmente valorizar esse elemento de
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Eu gostaria ordem racional que determina o voto. E também, escri-
de agradecer a presença do Constituinte Jarbas Pas- tor Fernando Gabeira, se essa proximidade do eleitor,
sarinho, Presidente do PDS; Dr. Paiva Muniz, Pre- em relação ao candidato, não facilitaria talvez o traba-
sidente do PTB, o jornalista e escritor Fernando Gabei- lho de um partido? Eu não conheço bem a proposta do
ra do Partido Verde, agradecendo também a presença Partido Verde, mas que tem um componente de ordem
dd Senador Mauro Benevides, mas eu não poderia deixar ideológica muito forte. Eu não sei se eu completei a pri-
de lamentar a ausência do Presidente do PMDB, Dr, meira formulação, e voltaria um pouco, porque também
Ulysses Guimarães; pois eu tenho que ser franco, e as está relacionada com essa possibilidade da implantação
razões expendídas pelo nobre Senador Mauro Benevides do voto distrital uma melhor fiscalização dos recursos
a mim não me convenceram. Eu creio que o Presidente, que seriam gastos dentro do distrito. Então, é uma per-
talvez não tenha dado a importância que os ilustres gunta que se completa, que se relaciona, no todo, a essa
convidados estão dando ao trabalho desta Subcomissão, possibilidade, talvez a essa conveniência da Implantação
e que vieram trazer contribuição inestimável, para que do voto distrital no País.
nós possamos atingir os objetivos propostos pelo Regi- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a
mento Interno, e que nos compele a entregar o nosso re- palavra ao Senador Jarbas Passarinho.
latório o nosso trabalho no dia 11. Os três convidados,
com exceção do Sr. Fernando Gabeira, Dr. Paiva Muniz, O SR. JARBAS PASSARINHO - Relativamente ao
o Minisro Jarbas Passarinho e o Senador Mauro Benevi- voto distrital, Constituinte Rossi, eu confesso a minha
des fizeram referência ao Fundo Partidário. Antes, eu perplexidade, quando leio os prÓIS e os contras, que, às
queria, apenas para consignar ~os Anais, da êubcomissão, vezes, são os contras dos prós. Quando se diz, por exem-
eu gostaria de expressar a minha satísraçãc de estar plo, que, num voto distrital, o poder econômico é diluído,
podendo interpelar o Senador Jarbas Passarinho que, eu leio argumentos que me parecem extremamente impor-
dentre os homens públicos que inspiraram a minha en- tantes também, que dizem ao contrário, ele é concen-
trada na vida pública, o Ministro Jarbas Passarinho foi trado. Mas também reconheço que determinadas lideran-
um deles, pela sua inteligência, pela sua capacidade, pela ças que existem no distrito elas podem se defender muito
sua honradez, e, ainda, hoje, eu me lembro, com carí- melhor em relação ao azinhavre da votação, aquilo que
nho, o nosso primeiro encontro tido aqui em Brasília, o Garrett chamava o excremento do demônio, funcionan-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 35

do como compra de voto. E isto me leva a crer que o voto finidas ideologicamente, que são, no momento, minori-
distrital, nesse ponto, leva mais vantagem do que des- tárias, e que seriam afetadas enormemente, através do
vantagem em relação ao papel do poder econômico. Mas voto distrital. Essa a primeira dúvida que eu tenho. Por
eu ficaria com o mesmo pensamento do nosso prezado outro lado, eu não sei se a Câmara e o Congresso Nacio-
representante do PV. Eu não iria para o voto distrital, nal se transformariam num grande Congresso de Muni-
puro e simples; eu admitiria exatamente o processo híbri- cípios; e os representantes aqui, que estão discutindo os
do alemão. Então, duas listas, uma lista, onde um can- problemas nacionais, passariam a discutir apenas os pro-
didato, até mesmo por essa razão, tendo maior possibi- blemas de suas comunidades, perdendo o sentido nacio-
lidade de atuar pelo seu nome, tendo maír possibilidade nal. Acho, portanto, que o voto distrital puro representa
de atuar pelo renome que tenha granjeado e não pelo uma extratífícação do conservadorismo. Admito um pro-
dinheiro que possua, ele pode concorrer em todo o distri- cesso misto, ,e este processo misto seria o voto distarital
to, considerado o distrito como o Estado, como um todo. conjugado com o voto proporcional, o que daria oportu-
E os distritos seriam, então reservados, e aí viria o grande nidade, portanto, no voto proporcional das representações
problema, salientando ainda pelo Fernando Gabeira a de ideológicas definidas, minoritárias, e correntes mínorítá-
como fazer o distrito, porque nós sabemos que realmente rçías, Com relação ao problema do fortalecimento das
De Gaulle teve a preocupação de fazer, inclusive, a bases partidárias, a escolha dos candidatos a voto pro-
compatibilização de distritos rurais com distritos indus- porcional deve ser reíta através de lista organizada pelos
triais, para evitar o crescímento do Partido Comunista partidos, dentro de eleíções primárias, dentro do partido.
na França. Aqui, no Brasil, nós teremos que ter o E, se um partido político tem direito a 10 legendas, cinco
cuidado de como saber quem iria fazer esse tipo de dis- legendas, distribuídas por distrito e cinco pela li.sta par-
tribuição, o Tribunal Superior Eleitoral? Certamente, tidária, Só assim uma parte, porque se os deputados são
seria ele. Então, com isso, eu responderia que sou par- detentores de um mandato, esse mandato, existe uma co-
tidário do voto distrital de natureza mista. E acho que, responsabilidade com os partidos. Na verdade, todos os
realmente, de acordo com o fundamento da sua pergun- que estão eleitos, eles o estão em função de uma base de
ta, facilitaria a fiscalização da aplicação do dinheiro no pelo menos 80% que contribuíram para a eleição dos que
distrito. hoje representam, Então, o mandato é do Presidente, mas
é também uma co-responsabilidade do partido. Então, o
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Permita-me nosso pensamento é no sentido de que o voto misto, sendo
uma complementação à minha pergunta, como Relator? metade do voto do distrito, e a outra metade, o voto pro-
Como seria, no entendimento do nobre senador, a ela- porcional, por livre escolha, na ordem de preferência, em
boração dessa lista, que sería, no meu entendimento, pelo função de uma militância partidária e disputas inter-
que o senador expôs, a complementação do voto pelo sis- nas em eleições diretas, dentro do partido.
tema proporcional, como sería a elaboração dessa lista?
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala-
O SR. JARBAS PASSARINHO - Bom, eu disse, em vra o Sr. Fernando Gabeira.
princípio, o Re~ator me deu a honra de me ouvir, e me
fez referências carinhosas, que naturalmente são per- O SR. FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, a
doadas por aqueles que não partilham desse ponto de minha questão coincide com a do Senador Jarbas Pas-
vista a meu respeito, é que eu me preparei mais para saber sarinho e com a do Presidente do PTB. Mas, quero ser
o que é que nós devemos colocar na Constituição. Na sincero com o Relator e com a Comi,ssão, quando discuti-
Constituição, naturalmente, nós não vamos pôr o voto dis- mos este assunto, Ioealízamos uma série de problemas,
trital, vamos fazer na lei ordinária. Mas já estudando Então, não viemos aqui apenas trazer soluções, mas trazer
isso ... também alguns problemas para se pensar um pouco mais
livremente. Em uma Constituição ainda em projeto, temos
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Mas parece-me toda a liberdade para coloca-r na mesa as dúvidas. E uma
que comportaria a inclusão ... das dúvidas que apareceu, nesta idéia ideal do sistema
O SR. JARBAS PASSARINHO - P,elos quatro exem- alemão, é exatamente a complexidade do sístema, No pri-
plos que eu estudei aqui, eu não poria. Eu deixaria real- meiro momento. Nós ficamos muito impressionados com
mente à disposição da lei federal, que ela modificasse. as eleições para Constituinte no nosso Estado. Não sei
E a primeira pergunta é esta sua. Quando seria? Já ouvi se, nos Estados de ca-da um de V. Ex.as a experiência foi
várias opiniões. Ouvi opiniões de, como sempre, meio a a mesma. Mas nós chegamos a ter, em algumas áreas,
meio. Então, há pessoas que admitem 50% na lista geral, 30 ou 40% de votos em branco ou nulos para Constituinte
e 50% na lista distrital, na proporcional e mista. Eu acho porque é uma complexida-de muito grande para o tipo de
que 50 seria um pouco desvantajoso, no momento, talvez eleitor que de um modo geral, às vezes, tende até para
40% contra 60% para implantar, desde logo, a natureza uma posição de mudança. Então, nós teríamos que tra-
do distrital, e, ai sim, a composição seria 60% para dis- balhar um pouco mais, Nós discutimos, por exemplo, a
trito e 40% para a lista geral. Essa era uma opinião íneonveníêncía do distrital, quando se coloca, por exem-
pessoal: plo, a questão do caudilhismo. E nós vimos que o cau-
dilhismo não é uma situação pura e simplesmente do
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- distrito. De repente, pode ser até uma expressão nacional.
vra o Dr. Paiv'a Muniz. O Brasil, na sua história contemporânea, às vezes, dá essa
impressão de que o caudilhismo tem um potencial na-
O SR. PAlVA MUNIZ - Com relação ao voto di.strital cional grande; não é uma problema do distrito, mas nós
puro, primeiro tenho as minhas dúvidas se o poder eco- sentimos que precísamos combinar o distrito e combinar
nômico não influencia da mesma maneira. Evidentemente, também um voto representativo, Por isto, na nossa refle-
eu perguntaria numa eleição municipal para prefeito, xão.nós consideramos o sistema português com esse cor-
qual o custo de hoje para essa eleição? Não seria um retívo, que não me lembro o nome, é um nome estran-
custo elevadíssimo? Portanto, ele vai concentrar o poder geiro, uma espécie de um teorema deles lá, eles contri-
econômico numa área, mas não vai levitar o problema do b?,em, nesse primeiro momento, com uma votação propor-
poder econômico. Outro aspecto que eu tenho dúvida é eíonal, Mas eu acho que o ideal, para o Brasil, era nós
a representação das minorias. Evidentemente, o Congresso chegarmos ao distrital misto, uma parte proporcional.
Nacional tem que ter toda a expressão do pensamento E nós colocamos um outro problema, O Presidente do PTB
das idéias universais, nem sempre majoritárias. Tem os mencionou que a lista deveria ser uma lísba do partido
segmentos religiosos, raciais, quer dizer, de posições de- e nós perguntamos; mas quem é que vai segurar a con-
36 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Sup!emen!o) Julho de 1987

venção? QUBr dizer, vai ser realmente um grande pro- evidência, a culpa não cabe ao legislador, ao legislador
blema, para uma convenção partidária, esse problema de ordinário, que previu a obrigatoriedade dos orçamentos
se escolher os cínco primeiros da lista, quer dizer, vai em cada eleição, à comissão interpartidária, não. Tudo
ser um problema que nós não sabemos como vai explodir isto é fiscalizado por este comitê interpartidário. E vamos
isto, numa convenção. Nós temos tido a oportunidade de buscar as fontes desta distorção, para que não se aponte
ver as convenções sujeitas a mil pressões, a entrechoques. candidatos favorecidos, com apoio de grupos e, dessa for-
ma, se privilegiem, com apoios e com sustentações, intei-
Eleições primárias, seria uma maneira, dentro do par- ramente condenáveis. Portanto, o que posso dizer, neste
tido de resolver, porque, se for à convenção, nos Jstamos momento, é que a legislação que aí está merece ser cum-
sujeitos também a grandes confusões nas convençoes P8:r - prida. Que os Partidos políticos se convençam de que o
tidárias. Então são estes problemas que estamos tratanao, meu Partido, os outros Partidos, que aí estão, na elabo-
quando discutimos a questão do sistema distrital misto, ração de seus orçamentos de campanha, apontem números
que nos pareceu o sistema ideal. que reflitam de fato, os gastos de cada candidato, que
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- haja também, no âmbito de cada agremiação, não apenas
vra o Constituinte Mauro Benevides. ser implantado o voto distrital, mesmo prevalecendo o
voto proporcional, mas que cada Partido exercite o seu
O SR. CONSTITUINTE MAURO BENEVIDES - Sr. poder de fiscalização e controle sobre os gastos do seu
Presidente eu também me situo entre aqueles que. como candidato, e, a seguir, o faça em relação aos gastos dos
o Senador' Jarbas Passarinho, Paiva Muniz! e o Pro!essor demais Partidos, através do Comitê Interpartidário. Era
Fernando Gabeira, se filiam a favgr da I~plantaçao do a modesta colaboração que eu ousava prestar, neste mo-
sistema misto. O distrital puro nao acredito que possa mento, em nome do meu Partido.
vir a prevalecer, nos próximos .anos, na estrutura eleitoral O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Indago se o
brasileira. E entendo que podería responder agora ao ~obre relator está satisfeito.
Relator Rossi, quanto a sua primeira parte da sua I1!t~r­
pelação. Não sei por .que não foi mencionado explícita- O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Era apenas
mente pelos meus emmentes companheiros que aqtn re- uma observação, porque nós já estamos no mês de maio,
presentam o PDS, e o PTB e o PV, no. que. se relacíona e a eleição ocorreu em novembro, eu queria saber quantos
à fiscalização durante as campanhas eleItoraIS.. por que a dos deputados que estão aqui nesta Casa foram interpe-
concentração de recursos deixar daqueles c~ndidatos que lados por partidos, para saber quanto gastou, se alguma
se favoreceriam de apoio de grupos, de apoio de emprei- nota foi apresentada. Esta é a observação.
teiras enfim numa descaracterização daquilo que seria.a O SR. PRESJ!DENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pa-
paI'id~de de recursos à disposição de cada um dos ~andi­ lavra o nobre Constituinte Jarbas Passarinho.
datos. Eu diria ao nobre constituinte, ~om a acu~d~~e,
com a lucidez da sua inquirição, que o Iegislador ordI1!ano O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO -
teve percuciência, para obstaculizar qualquer tentatíva e Acho que o que nós ouvimos aqui do nobre colega Mauro
buscasse invalidar essa paridade de possibilidade e de re- Benevides foi a palavra do tesoureio. Não é à toa que
curso de cada candidato. Tanto isto é verdade que, an~e­ S. Ex.a é tesoureiro do PMDB. Mas, eu perguntaria: como
cedendo à campanha eleitoral, a lei prevê a obrigatorte- fiscalizar isto, especialmente em relação às despesas das
dade, na constituição de um comitê de propaganda, que máquinas administrativas, que são lançadas em favor do
teria a seu cargo a obrigatoriedade de apresentar a ,rela- candidato a ou b, de preferência do Governador que se
ção das despesas, em cada campanha, naturalmente Iden- mantêm no posto? Isto não vai ser contabilizado; isto é
tificando neste cálculo, a despesa de cada candidato. E :-l inteiramente ímpossível de fiscalizar. De maneira que a
lei diz e~plicitamente, é a despesa em cada pleito, enten- mim fica a impressão de que a pureza de sentimentos
dendo-se em cada pleito, não a eleição em si, mas a disputa do Constituinte Mauro Benevides, que sou o primeio a
para cada cargo isoladamente Pleito para governador, testemunhar, fica muito distanciada, numa linha quase
despesa prevista pelo Partido "X", 10 milhões de cr21zados. utópica em relação à possibilidade desta fiscalização. A
Despesa para Senador, se tem sublegenda, se n~o tem pergunta do relator é muito pertinente. As eleições foram
sublegenda se são duas cadeiras, a mesma quantâa para há poucos meses e, se nós fôssemos saber aqui quais fo-
cada candidato para Deputado Federal, a mesma Impor- ram os gastos realizados pelos candidatos, nós vamos ver
tância para cada candidato. O Partido dividira, entre seus uma dícrepâncía enorme. Essa entidade, a que se referiu
postulantes, e apresentaria o total de despesa por cada o nobre colega, não existiu. Houve pessoas que receberam
candidato. A mesma coisa com relação a Deputado Esta- beneficios diretos e outras pessoas que lutaram sozinhas.
dual, para mencionar apenas a eleição que se realizou em De maneira que essa distribuição do fundo, através de um
1986. E não ficaria à cautela da lei, à precaução do legis- comitê - fui eu que isei a expressão farsa -, mas não
lador ordinário ou não, nobre relator, vai mais adiante, se estava presente aqui, o meu amigo Senador Mauro Bene-
os Partidos fraudam a legislação e apresentam quantias vides. Mas, de algum modo, é uma resposta indireta àquílo
irrisórias que não refletem efetivamente o gasto da elei- que eu tinha acabado de falar. Eu achava que Q fundo
ção, isto é algo que deve ser averiguado ,analisado pela era uma falácia e o comitê é uma farsa que os partidos
Justiça Eleitoral e não apenas por ela, porque está pre- cometem em relação ao próprio Tribunal Eleitoral. Como
visto, na legislação, até mesmo a fiscalização interparti- fiscalizar? A mesma coisa da lei Etelvino Lins; é uma
dária, porque todas as despesas da eleição, mesmo estas, lei belíssima no papel. Agora, vá fazer uma companha
que nós pudemos inquinar do vício irremediável, insupe- majoritária na minha região, no Estado do Pará. O que
rável, do engodo e da mistificação, esta despesa tem que vale por uma campanha marjoritária no Estado do Pará
ser aprovada por um comitê interpartidário. Os Partidos vale para uma campanha nacional da Colômbia. Nós temos
se conjugam, apresentam os seus representantes, que são mais quilômetros quadrados do que ela. Temos dificul-
seis representantes de cada partido, formam um grande dade enormes de acesso. Tivemos 6 horas para chegar ao
comitê interpartidário e oferecem o seu parecer a estas local eleitoral, e não tem alimentação. Vai depender da
contas dos respectivos partidos. Se não se cumpre real- alimentação que foi introduzida pelo Tribunal Eleitoral,
mente a legislação, vamos indagar dos Partidos por que para pedir que um homem chegue lá. Ele tem o dever de
eles assim não procedem? Porque a legislação que discipli- votar, ele é digno, votou. Votou numa eleição secreta, tão
na os gastos, em materia eleitoral, a legislação é sábia, é secreta que ele mesmo não sabe em quem votou. De
lúcida, se há mistificação, se há engodo, se há distorção, qualquer maneira, ele volta para o seu local, e, só por essa
se isso existe, se nós Parlamentares constatamos essa injunção de natureza cívica, me parece muito dificil resol-
Julho de 1987 OIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 37

ver. De modo que, eu acho que é preciso um determínio anos, o direito de voto. Isso, para mim, é significativo.
novo. Só insisto que eu acho que não é matéria para Portanto, a segunda parte fica prejudicada, em relação à
constar do texto da oonstttuíção. É tão frágil, e deve ser responsabilidade civil ou penal. Quanto aos Partidos terem
tão tentativa a forma de fazê-lo, que é melhor que seja o direito de fazerem os seus programas e estatutos, con-
uma lei federal. E, depois, esta lei tem que ser submetida tinuo afirmando o meu princípio de que a ConstitUição
a mutações que uma experiência prove, como os exemplos deve dízer que a composição do Partido é livre, ele é livre
que o Partido Verde sofre na pele, diretamente, as difi- 'de estabelecer o seu programa e o seu estatuto. Fugir da
culdades de fazer a sua campanha e que acabou de citar 'conotação Ide política ideológica do Tribunal Eleitoral, do
aqui. Então, isto seria modificada à proporção que a expe- 'Tribunal Superior Eleitoral, que vai dizer se o programa é
riência mostrasse. Não porque nós queremos, amanhã, fa- ou não antídemocrátíca, porque, como se disse na expo-
zer com que ela se modifique apenas com 2/3, de cada 'síçâo, que V. Ex. a me deu a honra de ouvir, desde o come-
caso. Do contrário, nós vamos chegar àquela situação da ço, isto é fácil de mistificar por quem desejar mistificá-lo.
França, no século passado, em que eu já vi uma pessoa Se alguém tiver, como objetivo, a conquista do poder pela
citar isso, mas não citou exatamente a origem, de que a força, não abrir mão da luta de classe, o que leva, evi-
França teve catorze Constituições. Quando chegou um ca- 'dentemente, à conquista do poder pela força, uma vez que
valheiro, lá, entrou numa livraria, e pediu a última Cons- não admite que burguesia integre o poder pacificamente,
tituição, o livreiro esnobando com um ar de enfado com- não dirá isto no seu estatuto. Então, estará dentro do plu-
pleto disse: "Procure ali, nas publicações periódicas". Pu- rípartídarísmo, de acordo com a lei, mas pensará e proce-
blicações ,periódicas, tantas mutações havia na Constitui- derá Ide uma maneira diferente. Assim, eu até preferia que
ção. Nós devemos lutar por uma Constituição que não seja esta ação fosse mais uma ação de outra natureza, que não
assim. Não tão sintética como, por exemplo, num texto propriamente a da submissão ao Tribunal previamente,
que eu li da Constituição espanhola, mas, fundamental- mas sim, levantada, na ocasião em que o procedimento, ou
mente, aquela que eu li da República Federal Alemã, e o comportamento do Partido, se tornarem antídemorcrá-
deixamos, para a legislação ordinária, essa matéria. Era o ticos, ou contrário à República, se a Monarquia não ven-
apelo que eu faria aos meus companheiros Constituintes. cer. Então, se torna contrário à República.
O SR. PRES'IDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala-
vra o Constituinte José Agripino. vra o Dr, Paiva MuniZ.
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ AGRIPINO - Sr. Pre- O SR. PArVA MUNIZ - Sr. Presidente, Platão, na sua
'sídente, eu gostaria de fazer aos 4 representantes dos Par- República disse que na República não deve ter muitas leis
'tidos Políticos aqui presentes duas perguntas. Em primei- para não ter muitos contraventores. Acho que o excesso
ro lugar, se os seus partidos são favoráveis a que o jovem de legislação, inclusive em termos da área eleitoral, faz
de 16 anos adquira o direito de voto, e se concordam que com que haja também um excesso de contravenotres. Eu
"se caracterize a maioria civil desses jovens, também de gostaria também, já numa oportunidade, numa indaga-
16 anos, sujeita às sanções do Código Civil, e do Código ção feita pelo Constituinte Francisco Rossi, de dizer que
Penal. Essa é a primeira pergunta, A segunda é uma co- acho fundamental, por exemplo, na legislação, que a apu-
locação. Pela atual Constituição, o Partido Político é uma ração seja feita imediatamente após a votação. Primeiro
entidade de direito público interno, comparada portanto, porque se houver alguma fraude, esta fraude é tópica, es-
aos Estados e Municípios, com direito a ter a sua própria pecífica, mas, na exaltação da campanha política, no dia
legislação. e o Partido, através do seu diretório, dos seus da companha você tem a fiscalização dos candidatos, e a
'convencionais, elaborarem os estatutos e regimentos. Mas própria fiscalização dos votantes. A própria curiosidade. E
'vem uma preocupação; o Senador Jarbas Passarinho, por se houver uma margem de fraude, esta margem passa a
'exemplo, é favorável a que os Partidos Políticos elaborem ser muito restrita e esta margem pode ser corrigida, atra-
"os seus regimentos, os S'8US estatutos, desde que não firam vés do sorteio de 10% das urnas serem apuradas para
'preceitos constitucionais. O Dr. Paiva Muniz, com muita conferência. Quer dizer, a nível maior. Faz-se o sorteio
'sinceridade, expôs quando aqui falou, as dificuldades que Idas urnas vai-se verificar se houve ou não alguma fraude.
'o Partido sofreu, durante a recente campanha eleitoral, Mas a apuração deve ser feita localmente. Outro aspecto
'na identificação de candidatos, e foi obrigado a colher que é importantíssimo. Assim como no Tribunal do Júri,
'candidatos, porque precisava fazer a sua expressão nacío- você tem o direito de vetar os jurados, evidentemente os
'nal. Estava até fugindo à própria orientação ideológica de Partidos Políticos, também, devem ter o direito do veto a
seu Partido, Por isto, eu gostaria de fazer uma indagação escrutínadores e apuradores, Porque, o que ooorremuíto, no
'aos senhores representantes de Partidos se se considera o interior, é que existem os profissionais de apuração. Quer
Partido, ou se se continua a considerar o Partido uma dizer, os Partidos Políticos devem ter o direito, como tem o
'entidade de Direito Público Interno e, como tal, cada qual Tribunal do Júri, de veta:r ou não aquele apurador, se
'tem o direito de fazer a sua própria legislação, o seu esta- existe suspeita. E a apuração ser imediata. O terceiro as-
tuto, o seu regimento, ou se se consídera e se estabelece pa- pecto é o seguinte: o eleitor tem um medo cívico de en-
drões para elaboração do Partído, padrões para todos os trar, quer dizer, ele não é acostumado, bissextamente ele
Partidos, para determinadas questões partidárias, desde entra numa cabine eleitoral. Ele já entra nervoso, doido
que elas se unüormizem, para evitar o risco da preponde- para ficar livre daquele processo. Então, é fundamental,
'râncía, da esperteza sobre a coerência ideológica e parti- portanto - '8 tivemos o resultado aí, eu apresentaria,
'dária. como sugestão, uma lei eleitoral, em que os votos, quer di-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala- zer, as cédulas fossem separadas, porque o que ocorreu
nas últimas eleições foi que 40 ou 50% votou num candi-
vra o nobre Constituinte Jarbas Passarinho. dato majoritário que, coIbido, saiu correndo. Então, a vo-
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO - Já tação tem que ser separada, ou seja, vota no majoritário,
se sabe, j á repetiu muitas vezes que não há perguntas in- vota no proporcional, de modo que o indivíduo não saia
'discretas; há respostas comprometedoras. Esta primeira, a achando que cumpriu o seu dever. porque ríscou na cédula
respeito do voto com 16 anos, eu sou partidário. Acho que o eleitoral o primeiro nome que surgiu e ficou livre da vota-
'voto tem que ter o limite dos 18 anos, na situação ainda em ção. Agora, com referência às observações do Senador
'que vivemos. E lembro que, ainda muito reoontemente, a Agripino Maia, acho que o processo de comunicação de
Franca da Liberdade, Igualdade e Fraternidad'e, do século massa é de tal ordem, que a criança fica, o tempo todo, na
XVIIi, há bem pouco tempo, reduziu de 21 anos, para 18 televisão acompanha todos os notificários, havendo, por-
38 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

tanto, um processo de amadurecimento precoce da popu- se anteceda esta data oferecida ao eleitor, ao invés de
lação. E faço aqui um testemunho: tenho um garoto de 13 18 anos, 16 anos. Recorda-se o momento em que, com
anos, que, quando chego em casa, à noite, e ele vem dis- sua extraordinária visão de estadista, o saudoso homem
cutir todos os problemas políticos e com uma consciência, públíeo, que foi o Senador Petrônío Portella, em deter-
aos 13 anos, que muitos adultos não têm. Portanto, houve minado momento da vida político-institucional, brasileira
um processo em que, através do sistema de comunicação, apresentou à consideração do Congresso Nacional projeto
a população já tenha acesso muito mais rápido do que de lei estabelecendo a obrigatoriedade de os partidos ins-
tinha anteriormente, evidentemente, em função da pró- tituírem o departamento jovem, e o departamento tra-
pria realidade social que nós vivemos, dos meios de comu- balhista. A lucidez, a acuidade, a sensibilidade, do ilustre
nicação, da influência dos meios de comunicação a matu- representante do Piauí, que se alçou à Presidência do Con-
ridade aos de 16 anos, de discernir, evidentemente já é gresso Nacional e, posteriormente, ao Ministério da Jus-
grande. Isso pressupõe que a legislação eleitoral tem ape- tiça, permítíu que os partidos oferecessem aquela aber-
nas que reduzir a maioridade, para que ele sej a responsá- tura necessária a que os jovens participassem do processo
vel, porque senão ele fica isento de uma responsabilidade político. Os meios de comunicação, Isso foi ressaltado ago-
de punição. Então, na minha opinião, deve ser reduzido ra, têm contríbuído significativamente para aprimorar o
para 16 anos mas deve-se reduzir também maioridade por nível de polítízação da nossa juventude. Conseqüente-
16 anos. Acho que os Partidos devem continuar de direi- mente, se situarmos na faixa de 16 anos, para o exercício
to público interno. A legislação deve dar apenas parâme- do voto, por parte do eleitor, nós Iríamos ao encontro
daquilo que já reflete uma ânsia de participar da própria
tros, régua e compasso, deixando a libel'lC1.ade da estrutura
desde que não fira aqueles parâmetros estabelecidos para juventude 'brasileira. Portanto, a minha manifestação
uma entidade de direito público interno. E maior liberdade pessoal, e não sei se o meu partido assim se posicionará,
para a organização dos Partidos Políticos, desde que não diante das seguidas propostas de emendas, a minha ma-
firam aqueles parâmetros. nifestação pessoal, e faço a ressalva que ela é pessoal,
seria no sentido de se aprovar qualquer 'emenda consti-
o SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- tucional que vier neste sentido. Ainda em recente reunião
vra o Sr. Fernando Gabeira. da Comissão Executiva do partido, o Presidente Ulysses
Guimarães, já, talvez, se antecipando a este debate que vai
O SR. FERNANDO GABEIRA - Vou contl'ibuir com realmente assumir conotações de maior abrangência no
o andamento dos trabalhos, sendo o mais rápido possível. plenário da própria Constituinte, como agora já se inicia
A primeira pergunta: O Presidente do PMDB veio aqui ·e nesta Bubcomíssão, criou uma comíssão integrada por
me disse que não veio à Subcomissão porque ele, como aqueles parlamentares mais jovens, a começar pelo repre-
Presídente da Constituinte, não pode 'expressar posições sentante de Campina Grande, Cássio Cunha Lima, e pediu
pessoais, uma vez que o partido ainda está discutindo. a essa Comissão integrada por seis jovens parlamentares
Então, quero que os Srs. levem em conta também que do PMDB, que oferecessem, no âmbito do nosso partido,
as minhas posições são posições pessoais, ou posições que aquelas condições ideais de funcionamento do nosso de-
refletem um quadro de posições no nosso grupo, ,e não partamento de jovens, a fim de que a juventude peeme-
uma posição fechada. A não ser esta da sua segunda per- debísta tivesse aquela participação aguerrida, presente,
gunta. Nós somos plenamente favoráveis à votação aos resoluta e decidida nos grandes embates do partido. A per-
16 anos. E conseqüentemente, também a responsabílídade gunta. inicial do Senador José Agripino, é sobre se neste
civil, penal aos 16 anos. Neste caso a nossa posição é caso, retroagindo para 16 anos, se também a responsabilida-
idêntica à do PT, que parece que já se reuniu e tomou de penal deveria retroagir a 16anos, Eu diria ao nobre Se-
uma posição a respeito. E é um dos pontos fundamentais nador que esta diferenciação da responsabilidade, a penal
da nossa política a respeito da juventude, sendo que um e a civil, ela permanece. Aos 18 anos, a responsabílídade
outro senador falou em se comprometer e já estou com- penal, e a civil aos 21 anos, não havería a necessidade
prometendo. O outro ponto é que nós somos também con- desta alteração, na legíslação brasileira. Sobre um dos as-
tra o serviço militar obrigatório. Achamos que não deve pectos SUE citados aqui, pelo nobre Presídente do PTB,
haver serviço militar obrigatório que é uma das grandes Paiva Muniz, no que tange à suspeição de escrutinadores
aspirações da nossa juventude masculina no Brasil. O ou- e apuradores, 'eu diria aos membros da comissão que há
tro aspecto que foi colocado na sua pergunta é um aspecto um prazo estabelecido na legislação ordinária que pos-
que vou lhe responder em nível pessoal. Acho que os: par- sibilita aos partidos impugnar, diante dos juizes eleito-
tidos devem ser livres, para definirem os seus estatutos e rais, a indicação de mesários, de escrutínadores, enfim,
regimentos. Existe um aspecto que eu acho que deve re- daqueles que, compondo as mesas receptoras, poderão pos-
gular os outros e que parte de uma visão mais ampla teriormente, como é desejo de S. Ex.a, se transformar, tam-
que eu tenho' da própria Constituição. No meu entender, bém, em mesas apuradoras. Então, se já na própria legisla-
a Constituição brasileira devia começar proibindo ao Bra- ção eleitoral há esta possibilidade, e· se essas: mesas re-
sil ter relações diplomáticas com países que tenham o ceptoras se vier a delegar a incumbência de processar ela
racismo como política oficial. Sou dos que batalham para mesma a apuração do pleito, os partidos, sem dúvida,
o Brasil romper relações díplomátdcas com a Africa do se tornarão muito mais vigilantes ,e severos, na impugna-
Sul e definir isto na sua Constituição. Acho também ção desses: nomes, que vierem a compor as mesas recepto-
que qualquer partido que tenha um conteúdo racista, no ras e se desdobrarão também 'em mesa apuradora da
seu programa e na sua prática polítíca, deve ser proibido eleição. Portanto, já no texto da própría legislação ordi-
de funcionar no Brasil. O resto deve ser uma legislação nária há uma oportunidade de os partidos exercitarem
a partir dos próprios partidos. o seu crivo permanente de fiscalização, da maneira mais
severa possível, impugnando, pura e simplesmente, a in-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - com a pala- clusão desses integrantes das comissões receptoras, ca-
vra o nobre Senador Mauro Benevides. bendo, evidentemente, aos juízes apurarem a fundamen-
tação dessas impugnações que são habitualmente feitas,
O SR. CONSTITUINTE MAURO BENEVIDES - Para sobretudo a nivel municipal, onde a disputa é mais acir-
responder a indagação do eminente companheiro Consti- rada, não há dúvida de que estas impugnações se pro-
tuinte José Agripino Maia, eu diria que, pessoalmente, sou cessem mais enfaticamente pelos partidos politicos.
favorável a que se ofereça uma oportunidade do exercíeío
do voto ao [ovem de 16 anos; há, inclusive, várias pro- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala-
posições, e uma delas com o meu apoio, permitindo que vra o Sr. Constituinte Waldyr Pugliesi.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 39

o SR. CONSTlTillNTE WALDYR PUGLIESI - Sr. O SR. CONSTITillNTE MAURO BENEVIDES - Bem,
Presidente, eu gostaria de deixar bem claro, aqui, uma em relação às eleições separadas, eu diria que a cada
posição também que é uma constatação da exorbitância oportunidade que se ofereça ao eleitor para que ele
da presença da justiça eleitoral, principalmente nas últi- compareça às urnas, e escolha o seu candidato, não há
mas eleições. Cantaram, aí, em prosa e verso a atuação uma dúvida de que estamos contribuindo para aprimorar
da Justiça Eleitoral, mas parece-me que, e nós todos a formação democrática dess-e eleitor. A cada eleição que
cansamos de ver a presença de juízes e até de Ministros ele comparecer, ele saberá melhor escolher os seus re-
do Tribunal Superior Eleitoral, dizendo da colocação que presentantes; então, conseqüentemente, acho que, se
estádios de futebol tinham para abrigar os descumprido- pudermos realizar separadamente esses pleitos, não há
res das leis eleitorais. Todo o trabalho que se fez neste dúvida de que estaremos contribuindo para que se
País foi para desviar a atenção do povo para o tema apríomore e se aperf-eiçoe o sentimento e a formação de
maior que era a Constituinte. No meu Estado, volto mocrática do nosso eleitorado.
a repetir aqui, nesta Comissão, inúmeros juízes eleitorais
tiveram presença maléfica em relação às eleições. Foram No que tange ao voto facultativo, acho que o Brasil
para a televisão dizendo que já tínhamos estádios à ainda não atingiu um estado de amadurecimento de-
disposição para fazer "a La Pinochet", o confinamento mocrático que lhe permita subtrair da Constituição a
dos eleitores. As eleições brasileiras, todas, foram frauda- conotação de voto obrigatório; portanto, acho que esse
das até hoje, essa é a grande verdade. Fazendo referên- voto obrigatório ainda deve permanecer no texto consti-
cia ao Senador Jarbas Passarinho, quero lembrar que ele tucional brasileiro.
disse que um eleitor foi votar de maneira tão secreta O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a
que nem sabe em quem votou. Esse eleitor é fruto da palavra ao Sr. Fernando Gabeira.
dominação que foi imposta à Nação br-asileira p-ela classe
dominante em roda a sua história. Ele é analfabeto, ele O SR. FERNANDO GABEIRA - Eu acho que a pri-
não sabe tomar decisão, porque a classe dominante assim meira questão, continuo respondendo em termos pessoais,
o quer, analfabeto, e é lamentável que nós que estamos porque nossa experiência nas eleições que aconteceram
aqui, nesta hora, não deixemos de maneira bem clara agora foi uma experiência muito negativa nesse ponto
a nossa contrariedade a essa Justiça Eleitoral que existe de vista. Nó? queríamos, a todo instante, enfatizar a
neste País. Aqui, se tem receio de falar da Justiça Eleito- Constituinte, porque nós considerávamos a Constituinte
ral, pensando que ela vá fazer retaliação nas nossas pró- um fato político muito mais importante que a eleição
prias candidaturas na eleição seguinte. Tem-se medo de para Governador do Estado; no entanto, a eleição para
falar da rede Globo, do Estadão, do jogo que esses órgãos Governador do Estado acabou polarizando a atenção dos
de informação fazem sempre em favor de banqueiros. eleitores e nós, com isso, enfraquecemos a Constituinte,
O Estado de S. Paulo por exemplo, está mais preocupado enfraquecemos a reflexão sobre a Constituinte, enfraque-
com a dívida brasileira do que os próprios banqueiros cemos a participação popular na Constituinte e até, in-
internacionais, porque se identifica com eles. Mas eu diretamente, contribuímos para que os votos brancos e
gostaria de dizer o seguinte: a posição em favor do voto nulos fossem maiores.
distrital puro é um verdadeiro crime, no meu entendi-
dimento, que se vai praticar na Nação brasileira. Então, acho que foi uma experiência de que essa
Imagino o Gabeira, por exemplo, candidato a Depu- eleição não deveria ter sido feita junto e, agora, nós
tado Federal confinado num distrito por aqueles que são vivemos uma situação semelhante. Nós estamos lutando
reacionários, por aqueles que são, enfim, contra o avanço, pelas eleições diretas. Somos os golpistas que o editorial
contra a oxigenação da vida brasileira. do Globo indicou ontem, queremos, realmente, eleições
diretas no Brasil, e queremos eleições diretas, já. Depois
Então, ao deixar aqui esta posição clara contra o que a Constituinte for redigida.
voto distrital, eu gostaria de perguntar aos ilustres re-
presentantes partidários também a posição que eles têm Então, nós achamos que se tivermos eleições diretas
a respeito de dois assuntos: primeiro, o voto facultatiVO em 1988, que é o nosso já, depois de redigida a Consti-
que, no meu entendimento também leva à distorção tuinte, seria muito conveniente que essas eleições diretas
daquilo que se pretende fazer neste Pais. E outro proble- não fossem acopladas às eleições diretas para os prefei-
ma: estou fazendo e gostaria de ter a participação de tos nas várias cidades do Brasil, porque, senão, faremos
todos no seguinte. Não seria bom fazermos eleições sepa- as- eleições municipais numa espécie de segmento das
radas? Por exemplo, Presidente da República, Governador eleições presidenciais, quando, na verdade, existem pro-
do Estado, Senadores. Senadores, se bem que reduzidos blemas específicos que têm de ser discutidos nas eleições
os seus mandatos a quatro anos e, depois, dois anos após municipais. ,Temos os grandes problemas urbanos brasi-
a realização dessas eleições, a realização, então, das leiros que, praticamente, não têm uma reflexão amadu-
eleições para Governador do Estado, para Deputado Es- recida, ainda. Temos os problemas do Rio de Janeiro e de
tadual, para Prefeito e Vereadores, com as razões óbvias. São Paulo, das grandes cidades, porque não temos, ainda,
Nesta última eleição, por exemplo, nós não vimos, pra- nenhum o instituto que pense a questão urbana no Brasil,
ticamente, ninguém tratar do assunto mais importante não há grandes proj etos, não há grandes debates sobre a
para a Nação brasileira que era a Constituinte. Tratou-se questão urbana no Brasil e as nossas grandes cidades
de assunto paroquial, menor, mesquinho, cartoriais e se são constituídas de uma maneira tal que espantam até
levou no meu entendimento a uma fraude que está repre- os estrangeiros que não sabem como é que isso pode fun-
sentada aqui no Congresso Constituinte, porque tem cionar, como é que isso realmente existe e, no entanto,
muita gente que se elegeu com discurso mentiroso e nada temos que discutir isso, agora, nas eleições municipais.
mais distanciado do que o discurso que fizeram do que a Então, o ideal para nós é que as eletções sejam realmen-
prática que estão tendo aí. te separadas, a julgar pela experiência que nós tivemos,
Então, seria esta a indagação: a posição a respeito sobretudo, por essa experiência que empobreceu a Consti-
das eleições separadas e em relação ao voto facultativo. tuinte. N{) meu caso, por exemplo, gostaria de estar entre
os senhores, mas houve uma reflexão política que me
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Vamos levou à candidatura ao Governo do Estado. Gostaria de
inverter a ordem. Convidamos para responder-lhe o estar, se 9 povo me desse a mesma confiança que deu
Sr. Constituinte Mauro Benevides. aos -senhores.
40 Segunda-1eira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1981

No outro caso, no voto facultativo, tenho que dizer eleições separadas podem propiciar conflitos maiores en-
também que a nossa tendência, quando díscurtímos isso, tre o Legislativo e o Executivo.
vai ser uma tendência a aprovar a idéia do voto facul-
tativo, porque isso nasce de uma reflexão mais profunda Na minha opinião, as eleições municipais devem ser
do próprio movimento alternativo. separadas das estaduais e as estaduais apenas para Gover-
nadores e deputados estaduais e a federal, para Presidente
Nós considerados que o País muda através de da República e o Congresso Nacional. Evidentemente, o
diversos movimentos. O País muda através do mo- que pode ocorrer é que, num episódio utópico, determi-
vimento social, muda através da arte, muda atra- nada liderança empalme numa eleição emocional, num
vés da cultura e muda também através do Go- tema emocional e não ter condições de presidir esta Nação,
verno, Nós compreendemos o Governo e a atividade porque não tem o respaldo parlamentar. Portanto, acho
pública do politico como uma das dimensões da mudança, que as eleições devem ser separadas, mas conforme os
mas não a única e existem muitas pessoas, entre nós, que niveis, separadas a nivel municipal, estadual e eleições
se recusam pura e simplesmente, a uma participação polí- federais.
tica clássica. Acham que não há sentido em se participar
politicamente e temos lutado muito para dizer que não, Quanto ao voto facultativo, tenho sérias restrições a
há sentido em participar politicamente. Nós temos de ele. :li: preciso engajar a população num processo ainda
atrair mais gente para a participação política, mas, ao mais participativo e o voto facultativo beneficia apenas
mesmo tempo, nós somos um partido e um tipo de orga- determinadas camadas e também a dúvida de que a popu-
nização que está praticamente na ponta, na luta pelos lação participou. Vamos imaginar que compareçam ape-
direitos individauis no Brasil. Não é à-toa que em todas nas 20%. Falta autenticidade da Nação para os eleitos, de
as universidades, nós somos questionados a respeito da modo que tenho dúvida quanto ao voto facultativo.
discriminação do uso da maconha e somos questionados a Agora, estenderia também o problema do voto do
respeito do aborto, porque nós somos o único partido po- analfabeto. É evidente que é preciso que haja uma forma
âítíeo que tem um discurso aberto sobre isso, que não se simbólica de cores, pelo menos o analfabeto poderia dis-
recusa a discutir com a juventude essas coisas e nós até tinguir os Partidos políticos, que ele possa votar, pelo
dissemos que o Partido Liberal, que, às vezes nos hospeda menos, no Partido político, porque hoje, é bem verdade, que
no seu programa de televisão, que gostaríamos de discutir grande parte do analfabeto hoje vota sabendo assinar o
isso com ele. Mas o Partido Liberal no Brasil não cumpre nome, mas o voto do analfabeto poderia ser feito apenas
esse papel ainda, de caminhar para o avanço mais amplo em Partidos, mas através de cores ou de simbolismo.
das liberdades individuais e nós cumprimos este papel. Como diz o Líder José Lourenço, que escreveu para Por-
Nós somos um tipo de organização política que, ao mesmo tugal, dizendo que no Brasil, agora existe o voto do anal-
tempo que tenta resgatar os avanços do socialismo, que- fabeto, mas o eleitor precisa escrever o nome e o número
remos, também, criticar um aspecto do socialismo que, do candidato no qual ele quer votar.
para nós, representou uma traição aos nossos sonhos, por-
que o socialismo não garantiu um nível de liberdade indi- Gostaria de levantar também problema do voto dos
vidual mais amplo que os países capitalistas avançados. cabos e soldados, razão pela qual os cabos e soldados não
Constatamos a experiência de um trabalhador na Sué- votam e quero também dizer aqui, com relação aos juízes
cia e comparando-o com um trabalhador na União Sovié- eleitorais, tivemos, por exemplo, no Rio de Janeiro, não
tica, no socialismo real, nós compreendemos que aquele sei se ocorreu aí com o Fernando Gabeira, a restrição
trabalhador na Suécia desfruta de um nível de liberdade total aos candidatos. Então, ficaram privilegiados aqueles
individual maior do que o trabalhador na União Soviética; que eram conhecidos dos meios de comunicação, porque
então, achamos que isso, num certo sentido, foi uma fa- a Justiça Eleitoral impedia, praticamente, o acesso do in-
lência da visão socialista tal como se colocou e, hoje, divíduo ser conhecido. A sua observação me parece justa,
somos as pessoas que pensam em encaminhar uma posição quer dizer, é um excesso, principalmente durante a cam-
socialista aqui, mas garantindo, em todos os momentos da panha em que não se podia, quem não fosse uma figura
democracia, o avanço das liberdades individuais. Então, é conhecida ou não tivesse poder econômico para ser conhe-
pensando nessa liberdade individual que nós achamos que cido ou dos meios de comunicação, praticamente não po-
o indivíduo, num determinado momento, tem o direito de dia ir ao eleitorado, porque a justiça eleitoral criava toda
achar que ele vai contribuir com a mudança do Brasil, uma série de impedimentos.
através de mil coisas, menos a de votar num candidato à São estas as observações que eu faria a este respeito.
Presidente, a Governador e a Deputado e que ele pode, Primeiro, essa interferência exagerada dos juízes eleito-
contribuir à sua maneira respeitando esse direito. rais e o voto do analfabeto, dos cabos e dos soldados.
Agora na medida em que nós tornarmos o processo O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a
político mais interessante, que nós tornarmos o processo palavra ao Constituinte Jarbas Passarinho.
político mais acoplado às necessidades individuais, às
expectativas de cada um, na medida em que o processo O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO -
político frustrar menos, essa pergunta será um pouco Tenho a impressão de que até agora não se desmentiu um
acadêmica, se é facultativo ou não, todos vão querer vo- conceito de Max Weber que diz que ao Partido político
tar? E o processo politico é uma maneira de se trans- cabe a responsabilidade e a missão de confiscar o poder
formar em socialismo. quando nele não está, porque quando está, é mantê-lo.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a De maneira que muitas pessoas votam em função, exata-
mente, desse objetivo. Por exemplo, voto facultativo. As
palavra a V. Ex.a esquerdas acham que podem ter maior capacidade de en-
O SR. PAIVA MUNIZ - Quanto ao problema de elei- gajamento, de motivação e, então, no momento em que o
ções separadas, acho que as eleições devem ser separadas, voto fosse facultativo, a dolce vita sairia para as praias,
conforme o nível brasileiro. As municipais, as estaduais e sairia para as suas tertúlias, sairia para o seu lazer, en-
as federais, mesmo porque ao eleger um prefeito, evidente- quanto a massa manobrada, ídeologízada poderia votar;
mente esse prefeito precisaria ter um respaldo no Legisla- então, muitas vezes, pessoas votam assim. Não creio que
tivo e evidentemente uma eleição solta vai criar problemas eu esteja fazendo qualquer provocação ao escritor Fer-
de conflito muito grande entre o Executivo e o Legislativo. nando Gabeira. Estou, realmente, querendo fazer uma
Vai-se eleger um prefeito sem o respaldo do Legislativo e as constatação.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 41

A direita por seu turno acha que não pode fazer absolutamente nada a respeito e fiquei em dúvida. S. Ex.a
isso, senão vai perder um pouco dos votos, especialmente fez uma referência ao voto distrital puro e se posicionou
nas cidades da classe média alta ou da classe abastada. visceralmente contra. Então, eu perguntaria ao Deputado
Mas também a direita acha que é bom ter voto faculta- Pugliesi, como membro da Subcomissão que é, e eu como
tivo, porque no interior esse voto facultativo vai se trans- relator, se ele daria uma abertura lem relação ao voto' dis-
formar em obrigatório, Ievaõo pelos currais eleitorais. De trital misto, porque, se eu bem estendi, o deputado so-
modo que aí estão para mim duas colocações contraditó- mente fez referência que seria um crime a existência do
rias e conflitantes. voto distrital puro no País.
Eu acho que o voto facultativo diminui o status do O SR. CONSTITUINTE WALDYR PUGLIESI - Pela
Presidente. Já me dei ao trabalho de verificar algumas visão que eu tenho e acho que dentro do meu partido
eleições americanas em que o Presidente do maior país muita gente também defende este ponto de vista, somos
da área capitalista foi eleito pela maioria da minoria, contra, tanto ao voto distrital puro, quanto também ao
porque o total dos eleitores existentes, menos da metade voto facultativo, pela visão que nós temos.
desse total votou; de maneira que um presidente pode Abro, assim, uma discussão, pessoalmente, para que
sair da maioria da minoria, como presidente de um pais,
Presidente da República. haja, da minha parte, uma aceitacão para esse distrital
misto, fazendo com que essas pessoa'8, por exemplo, e a
Se o voto facultativo ainda fosse gradual, eu ainda gente se lembra dessas eleições na França, quando o De
examinaria essa possibilidade, mas tenho graves dúvidas, GauHe realmente direcionou toda a estratégía política de
como o companheiro já disse aqui, sobre a questão do manutenção do poder para eliminar os comunístas e os
voto facultativo. soelalístas e eles conseguíram. Eles conseguiram. Então,
Quanto às eleições, também funciona o problema da quando nos colocamos contra o voto distrital puro é por-
comodidade e da conveniência de cada um. Não sei se que achamos que o poder econômico vai ser exercido de
entendi bem 'a colocação grupal que fez o Deputado Pu- tal maneira nesses distritos, que os candidatos progres-
gliesi, quando falou: Presidente da República, Governa- sistas, aqueles representantes dos partidos que querem
dores e Senadores e não incluiu Deputado Federal. avançar, serão, fatalmente, derrotados em sua grande
maiona.
O SR. CONSTITú'"'INTE WALDYR PUGLIESI - Pre-
sidente da República, Senadores e Deputados Federais. O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Continua
com a palavra o Sr. COnstituinte Saulo Queiroz.
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO -
Governador, não. E aí está lógico, fica lógico, porque minha O SR. CONSTITUINTE SAULO QUEIROZ - Sr. Pre-
argumentação seria de que, quando um Presidente da sidente, representantes dos partidos políbícos, eu vou me
República é candidato, ele, naturalmente, quer saber com r~stringir, .dentre as várias anotações que fiz, a uma ques-
quem ele vai governar, que maioria el,e vai ter no Par- tao que fOI levantada en passant pelo Presidente do PTB,
lamentarismo, então, ele arrasta, deve arrastar a vota- Dr. Paíva Muniz. Ela se retere a coligacões. Naturalmente
ção do parlamento. O Governador, a dos Deputados E'>ta- que, sem embargo, friso, sem embargo, 'a convicção qu~
duais e o Prefeito, a dos Vereadores. tenho, que tenho certeza é a de todos nós aqui, do enri-
Hoje há uma lista de tal ordem, como disse ainda quecimento que o depoimento de cada um dos senhores
há pouco o Dr. Paãva Muniz, que íntímída o eleitor, ;mes- representa para esta Subcomissão. Eu gostaría que se pos-
mo o eleitor que já está acostumado a. votar. Aquí ~~ sível, ao fim de cada resposta, fosse esclarecido se se
Brasília não sei se as pessoas que nao VIvem em Brasílía trata de uma opinião pessoal ou se é uma tese majoritária
sabem, ~ó para senador ho~ve 66 candidatos, uma lista no partido, que, ao final das contas, os senhores repre-
de 66 candidatos para o eleitor ter que escolher um e o sentam aqui hoje.
prazo que o tribunal deu no Brasil inteiro de um minuto Coligação eu enfocaria sob dois aspectos: a coligação
para cada eleitor votar, o que contaminava mais, emo- majoritária, o que pensam os senhores a respeito das eolí-
cíonalmente, o eleitor. gações nas eleições majoritárias, levando em conta uma
Então uma Iboa parte desses votos em branco derivou- tendência da constituinte, até porque já é norma implan-
se, no meu estender, exatamente a esse desejo a que se tada na constituição em vigor para a eleição de presi-
referiu o Presidente Paiva Muniz de o eleitor se ver livre, dente da república, para eleição em dois turnos. Se seria
o mais depressa possível, da cabine índevassável e não conveniente a manutenção da coligação nas eleições ma-
ficar sujeito a sanções, gozações, etc. Eu, por exemplo, joritárias, no primeiro turno, ou se se deveria restringir
fui objeto de tardança, votei com 1 minuto e meio, mas ao segundo turno, visto que, em não se obtendo maioria
o meu problema era diferente, a caneta não escrevia, tive absoluta no primeiro turno, as coligações no segundo tur-
de pedir uma caneta suplementar para poder escrever. no se tornam naturais e até necessárias para que par-
Mas o minuto te meio para fazer a minha lista no Pará tidos não fiquem alí] ados do processo.
onde não teve tanto candidato como teve em Brasília, por
exemplo. A segunda pergunta, ainda sobre coligação, a coli-
gação nas eleições proporcionais. A opinião dos senhores,
Por outro lado, nós, Senadores, Deputados Federais, Se é válida, ou não, a manutenção de colígacões nas elei-
sabemos que, quando não há uma eleição da qual parti- ções proporcionais. Eu falo em manutenção visto que nas
cipe o prefeito e o vereador, o interesse pela votação últimas eleições elas foram admitidas e se não representa
diminui, cai bastante. Então, a tentatíva de motivar deve prejuízo efetivo à afirmação doutrinária, programática e
ser muito maior, mas nos grupamentos a que se referiu o ideológica dos partidos políticos.
Deputado Pugliesi, e, agora, confirmada, eu concordaria.
O que eu chamaria de eleições gerais e depois, eleições Finalmente, sobre coligações nos dois anos de elei-
não gerais ou particulares. Aí, o Presidente da República ções majoritárias e eleições proporcionais, se os senhores
arrastaria pela luta eleitoral que haveria pela escolha dele, acham que para a manutenção da linha ideológica pro-
numa eleição direta, naturalmente, aqueles que o apoia- gramática dos partidos políticos as coligacões a nível mu-
riam, exceto se ele, infelizmente, se chamasse, como ou- nicipal.e as coligações, a nível federal, 'dev~riam passar
trora, Cristiano Machado, aí era diferente. pelo crIVO, pelo referendum das executivas nacionais ou
das executivas estaduais, conforme o caso dentro da tese
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - O Constituinte levantada, esta, sim, especificamente, pelo Presidente do
Puglíesí fez referência sem que nós houvéssemos falado PTB.
42 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a o SR. MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, faria
palavra ao Dr. paiva Muniz. ressalva de que também neste momento transmito o meu
O SR. PAIVA MUNIZ - Acredito que nenhum de nós, ponto de vista pessoal, ainda mais porque o meu Partido
aqui, representante de partído, muitas das nossas opiniões deverá realizar - e esta é a proposta do ,senador José
foram opiniões pessoais, mostrando um pensamento mé- Fogaça, pendente de decisão da Comissão Executiva, uma
dio, mas não o pensamento Oficial do partido, porque não matéria ide que sou relator - proximamente uma con-
recebemos delegação dos respectivos partidos para um pro- venção nacional para dirimir muitas dessas dúvidas que,
nunciamento oficial do partido. Com a responsabilidade remanescendo nesse próprio debate, existem no seio do
de cada um de nós podemos expressar apenas: um pen- PMDB, entre os seus dirigentes, entre os seus componen-
samento médio, mas não o pensamento oficial. tes, entre os seus Constituintes, enfim, teremos de nos posi-
cionar diante de todas essas teses que aí estão e começam
O SR. CONSTITUINTE SAULO QUEIROZ - Se o a ser discutidas nessa Comissão da Assembléia Nacional
sr. permitir só para que eu possa ratificar, quem sabe Constituinte.
me expressei mal, apenas porque o Presidente do partido
ele tem informação do corpo partidário. E o escritor Fer- Acho que as coligações, tanto as majoritárias quanto
nando Gabeira ele sempre enfatizou isso em todas as suas as proporcionais, elas se exaurem, elas se concluem, elas
colocações, porque era uma tendência média dentro do se exterminam - pelo menos é esse o entendimento - no
partido, senti que ele veio para cá com esse nível de in- próprio ato eleitoral, na própria eleição em si. Quer dizer,
formação. Então, não é uma posição oficial que eu busco. há uma preocupação evidente de se buscar a junção de
Mas se o Sr. teria uma idéia de que é uma tendência forças que viabilize um triunfo eleitoral. E, ultrapassado o
majoritária, predominante dentro do partido, porque isso, período da eleição, evidentemente aquelas forças políticas
sem dúvida, ilustraria a tomada de depoimento que es- passam a divergir, passam a assumir uma outra postura,
tamos fazendo. enfim, naturalmente, as coligações, quer majoritárias, quer
O aR. PAlVA MUNIZ - Seria leviandade de minha proporcionais, elas findam quando concluído o resultado
parte dizer que meu pensamento e a minha expressão das urnas. É possível que haja, excessivamente, coligações
expressam o pensamento do partido. Principalmente por- que se mantenham e que se prolongam, haja vista, por
que neste debate aqui nós apresentamos os temas mais exemplo, a chamada Aliança Democrática que com um
variados, específicos. Evidentemente, que o partido tem manifesto à Nação dentro de idéias que foram alinhadas e
um pensamento geral; no específico, dá liberdade para explicitadas na ocasião, a Aliança Democrática tem-se
opção, quer dizer, conforme a consciência de cada um. mantido e se manteve na eleição do Presidente Tancredo
Muitos dos temas aqui debatidos são temas que nenhum Neves e do Vice José Sarney, cumprido, aí, na lei o dispo-
partido vai colocar como dogma, etc. sitivo de que o Vice-Presidente teria que ser também in-
O SR. CONSTITUINTE SAULO QUEIROZ - Ainda tegrante da legenda do PMDB, o que fez com que o Presi-
sem, naturalmente, querer estimular o debate, mas me dente José Sarney se filiasse ao nosso Partido e com ele
referi especificamente às questões que levantei. se identificasse admiravelmente, como vem fazendo até
hoje. Há quem diga, porém, e o Senador Mário Covas de-
O SR. PAlVA MUNIZ - Com relação à coligação, acho fende este ponto de vista; há quem diga, porém, que o
que ela é inevitável, é de uma tradição brasileira, uma Senador Mário Covas, que no âmbito da Assembléia Na-
tradição universal, é um problema ide coligação que é cional Constituinte essas coligações que prevalesceram na
oriundo do processo pluripartidário. O pluripartidarismo época das eleições e são mantidas hoje a nível de Con-
leva fatalmente à possibilidade de coligação, quer dizer, a gresso Nacional, a nível de Câmara dos Deputados e As-
exíatêncía obrigatória de coligações. :É uma decorrência do sembléias Legislativas para oferecer sustentação político-
próprio pluripartidarismo. Se os Partidos fossem suficien- parlamentar ao atual Governo, a Aliança Democrática não
temente fortes, estruturados, com recursos financeiros deveria prevalecer a nível de :Assembléia Nacional Consti-
para estruturação, de acordo com o que todos nós le- tuinte, uma vez que cada Partido traria para o debate, na
vantamos aqui, possivelmente, pudesse ser até dispensa- apresentação das suas sugestões, das suas idéias, aquilo
da a coligação a nível proporcional que acredito que de- que, ideológica e doutrinariamente, significa o seu pro-
forma um pouco porque as linhas ideológicas são dife- grama, a sua diretriz, a sua orientação a ser transplantada
rentes. Quanto às eleições majoritárias eu acho que é de- para o texto da Carta Magna, que agora se elabora. Por-
corrência do próprio pluripartidarismo. tanto, contínuo pensando que essas coligações que, às vezes,
Quando levantei o problema das coligações municipais, reúnem forças antagônicas na sua ação política-parla-
homologadas pelas regíonaís e as coligações estaduais se- mentar, elas, às vezes, se conjugam. Assistimos a nível na-
riam homologadas pelo Congresso Nacional é que o parti- cional o PMDB, que se coliga com o Partido da Frente Li-
do deve ter uma certa coerência. Evidentemente, que cada beral, praticamente em quase todos os Estados houve um
realidade do município as composições são feitas em fun- confronto entre o PMDB e a Frente Liberal que, a nível
ções daquela realidade municipal. Mas as Idireções esta- nacional, se conjugam para oferecer sustentação político-
duais precisam ter unidade não de impedir, mas pelo me- parlamentar ao Governo do Presidente José Sarney. Em
nos de ter ciência dessas comunicações, mesmo porque alguns Estados o Partido Social Democrático - PDS -,
ocorre, muitas vezes, - e não queremos citar Partidos presidido de forma exemplar, por este extraordinário com-
Políticos - em que fizeram composições e, depois, as lide- panheiro, que é Jarbas Passarinho, se coligou em alguns
ranças disseram: isso é problema regional e não nacional. EStllldos - no seu Estado o Pará, bem como no Piauí -
Ora, evidentemente, e outro problema que vivemos é na com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro. A
direção dos Partidos. Em alguns Estados, não quero citar, nível nacional os dois Partidos debatem, discutem, se con-
a posição do Partido era contrária a que se fizessem certas flitam, e realmente a nível de Estado, foi possível, sob o
coligações. E eles fizeram à revelia Ida direção do Partido, o aspecto estritamente eleitoral, que houvesse essa conju-
que contrariava, inclusive, a orientação nacional do Par- gação de forças que se refletiu no resultado favorável das
tido. Portanto, é fundamental que queremos um Partido urnas. Acho que dificilmente os Partidos Políticos- teriam
Político em que haja uma certa unidade, não que se im- condições de impedir que, a nível municipal, fossem feitas
peça, mas pelo menos uma homologação. coligações com esse ou com aquele Partido. Não há con-
dições. Quem tem vivência política, quem conhece o dia-a-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a dia do interior do País, a formação dos Partidos, as dis-
palavra ao Senador Mauro Benevides. putas eleitorais que se processam, não pode admitir que a
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 43

direção nacional ou a direção regional interfira para im- ção que teríamos era sobre uma coligação onde houvesse
pedir coligações estritamente eleitorais que aí se reali- um confronto entre o programa do partido com o progra-
zam. ma do Partido coligado, digamos, o Partido se coligar com
É este o meu pensamento que externo aqui sem ne-
alguém que tivesse idéias opostas. Então, nesse caso, o
nhum constrangimento, porque a minha vivência de pre- nosso critério era reunir o conselho político e, por sua
sidente de Partido, a nível regional, me faz trazer essa maioria, questionar a coligação. Então, já temos uma
constatação aos Constituintes que aqui se encontram, nes- definição sobre isso.
te momento. O Partido tem, se não o desejar, promover a Agora, nossa reflexão sobre coligação e o debate que
dissolução dos diretórios. E aí, então, encaminhar no prazo houve, que foi o grande problema para nós, fomos um
previsto na lei a dissolução daquele diretório que, coman- pouco condenado à coligação, foi uma coisa que trans-
dando, os ,destinos do Partido naquele município, promo- cendeu um pouco a questão eleitoral, foi uma compreen-
veu a coligação. Acho, portanto, que é um ato meramente são do processo de transformação do Brasil. Pelo tipo de
eleitoral e que a coligação se exaure quando conhecido
resultado das urnas.
° Partidos que somos temos uma consciência muito clara
de que não seremos os responsáveis únicos pela transfor-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - Conce- mação do Brasil. E que esse processo de transformação,
do a palavra ao nobre Constituinte Jarbas Passarinho. que acreditamos que se dá agora, no fim do século, ele vai
depender de uma conjugação de forças muito ampla. A
O SR. .TAlRBAS PASSARINHO - Suponho eu que as primeira idéia mestra que iremos trazer para o pro-
coligações são o pressuposto do pluripartidarismo. É ine- cesso de transformação brasileira é da justiça social. E
vitável que haja. nesse sentido consideramos o Partido dos Trabalhadores
Acho, entretanto, que a pergunta muito bem formula- um Partido preferencial nas nossas coligações, porque ele
da pelo Deputado Saulo, há que distinguir entre a coli- traz dentro dele não só uma prática, como uma aspira-
gação para o âmbito majoritário e a coligação para o âm- ção de justiça social.
bito proporcional. O meu ilustre e prezado amigo, Senador outro aspecto que consideramos fundamental é a
Mauro Benevides, falou no nosso caso pessoal no Pará. preservação do ambiente, porque achamos tudo muito
Hoje, tenho um diploma de Senador, eleito pelo Movimen- interligado. Então, nós nos abrimos para uma coligação
to Democrático Paraense - MDP. Entre parêntesís, então, com o PT, que consideramos muito importante, mas
se escreve "que constituía - o Tribunal coloca isso na definimos também que o campo de coligações no Brasil
diploma - PMDB, PDS, PTB, PC, PC do B. Ora, fui com- vai ser um campo muito mais amplo. Consideramos o
batido permanentemente pelo PC e pelo PC do B durante PMDB um Partido que já está num processo de decadên-
a campanha. E aparece no meu diploma, eleito por eles. cia, e que não é, para nós, um instrumento único de
Por que razão? Um filo ou cripto. Então, por que foi feito transformação do princípio. Notamos a decadência quan-
isso? Porque a lei obriga, hoje, a não poder um Partido se do as pessoas começam a falar em coisas que não acredi-
coligar majoritariamente com outro e, proporcionahnente, tam, isso já é um dado da decadência, para nós é típico.
com um terceiro. Por isso, como havia uma coligação desde Quando um Partido começa a falar em coisas que não
logo majoritária PMDB-PDS no Pará e os outros dois acredita é porque ele já está, realmente, em seu processo
Partidos comunistas eram ligados ao PMDB na proporcío- final. E consideramos que isso não é nenhum desastre.
naI, ele tiveram de aceitar a majoritária também. E nós O PMDB desaparecer como um Partido hegemônico não
também tivemos de aceitar. Acho que a proporcional, co- é um desastre, para nós. Na Espanho também foi assim.
locada pela pergunta do Deputado Saulo Queiroz, a pro- O processo de transformação, no princípio, ainda manteve
porcional violenta, inclusive, a doutrina, já que se diz que muitas características do processo anterior. A primeira
o nosso Partido não tem doutrina, não é verdade. Temos coligação que se fez, o primeiro encontro que se fez, foi
doutrina. É verdade que alguns Partidos têm doutrina ape- parecido com esse que se deu no Brasil, um encontro do
nas numa página de papel. Já fiz conferências sobre Par- passado com o presente, querendo construir o futuro, mas
tidos Políticos no Brasil e sei disso. Outros têm duas à medida que as coisas avançam, é preciso uma defi-
páginas de papel. outros têm doutrina que se tornou ca-
suística a favor do habeas corpus, contra o 477, contra
AI-5, etc. A proporção que isso foi caindo, o programa do
° nição. Hoje a coligação que dirige o Brasil, teoricamen-
te, está sendo mantida a formol. Sabemos que prati-
camente ela não tem uma vida, que ela é uma contradi-
Partido foi, por seu turno, se esvaindo. Mas, de qualquer ção permanente. Se se deixar três pessoas falarem da
maneira, há linhas ideológicas e há linhas doutrinárias que coligação vamos entender três propostas diferentes a
podem ser respeitadas. a respeito do Brasil. Se se deixar o Presidente da Repú-
Então, sou favorável à coligação, como imperativo blica e o Presidente do PMDB falarem ao mesmo tempo
natural do pluripartidarismo, mas no âmbito majoritário. vamos entender também duas propostas diferentes. E os
Quanto a submeter ao Diretório Nacional, fico com três, cada um parte para o seu lado.
o ponto de vista do meu prezado companheiro pelo Ceará, Achamos, então, que o ideal, no caso seria prevermos
Senador Mauro Benevides. E aí respondo praticamente a coligação, não só desse ponto de vista imediato, mas
como uma tendência majoritária do meu Partido: ele também compreendermos que o Brasil precisa de uma
é favorável à coligação e deixa a flexibilidade dos regio- associação de forças para substituir essa força que já
nais a conveniência de coligar-se com quem quiser. está decaindo, que precisamos transformar o Brasil, e que
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a um Partido político sozinho não consegue isso. Temos
palavra ao Sr. Fernando Gabeira. que nos unir e temos que unir os ecologistas, o PT, os
setores do PMDB, ainda comprometidos com a transfor-
O SR. FERNANDO GABEIRA - Para responder um mação, alguns setores do PDT também comprometidos
pouco mais precisamente, eu começaria pelo fim da com a transformação, e um outro instrumento vai sair
sua pergunta. daí. E uma maneira de chegarmos a esse instrumento é
Fizemos uma reunião no Rio de Janeiro, no prin- passarmos por várias coligações; coligações majoritárias
cípio deste ano, e tivemos uma decisão muito clara, para e até coligações para proporcionais.
nós, sobre coligação. E nessa decisão sobre coligação, Um dos pontos fundamentais de sua pergunta é que o
compreendemos que os diretórios municipais seriam livres cenário que v. s.a propõe, no caso, para as eleições pre-
para fazerem as coligações que quisessem. E a única obie- sidenciais, seria um pouco complicado, porque somos fa-
44 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

voráveís a eleições presidenciais em dois turnos, mas se O SR. CONSTITUINTE MAURO BENEVIDES - A
impedirmos a coligação no primeiro turno, vamos condu- minha opinião sobre a sublegenda, a sua extensão, a sua
zir o processo eleitoral do primeiro turno a um candidato existência, a sua extinção, externarei com o maior prazer,
a presidente para cada Partido e pode ser que alguns ainda mais porque, quando ainda prevalecia o bipartida-
Partidos considerem que não tenham nem o candidato rísmo, fui autor de um projeto de lei, submetido ao Se-
nem a representattvídade ainda para aspirar à Presi- nado Federal, em 1977, suprimindo a sublegenda na legis-
dência da República. lação eleitoral brasileira. Defendi, naquele momento aque-
la proposição, mesmo na estrutura bipartidária, em que
O SR. PAlVA MUNIZ - Eu fiz questão de não colocar se situava o quadro político brasileiro. Se no bipartida-
minha opinião, eu falei sobre o cenário, estou colocando o rismo nós já nos insurgíamos contra a sublegenda, por
cenário. que agora teríamos que modificar essa posição, quando o
o SR. FERNANDO GABEIRA - Ê lógico, eu estou pluripartidarismo torna verdadeiramente absurda e esdrú-
colocando o cenário e o ideal seria uma proposta em que xula e despropositada a figura da sublegenda. Quando se
houvesse coligação para o primeiro turno e também para o.ferece ao eleitorado uma série de opções, 14 ou 15 par-
o segundo turno, porque pensamos nesse processo, num tidos que aí estão, já formalmente constituídos não teria
primeiro turno numa amostragem de forças, em termos sentido que a sublegenda viesse a prevalecer n~ estrutura
eleitorais. Num segundo turno, o velho choque que nos e.leitoral brasileira. É uma excrescência, tem que ser abo-
coloca aqui nesta mesa e em toda a parte: o choque Iída, e aquele que achar que não se comporta nas fileiras
entre os progressistas e os conservadores, no segundo e na militância de seu partido busque uma outra sigla
em que possa exercitar a sua atividade política. Sou fron-
turno vai se apresentar isso; o choque entre as forças que talm!3n~e contrário à sublegenda na legislação eleitoral
querem conservar o Brasil no estágio em que está e as brasíleíra,
forças que querem fazer com que o Brasil avance para
o século XXI, com um mínimo de modernidade que pelo O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala-
menos sacuda essa poeira que está nos sepultando. Vamos vra o nobre Constituinte Jarbas Passarinho.
enfrentar isso nas eleíçôes presidenciais, e para isso con- O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO - A
sideramos que as coligações são importantes, mas não idéia é precisamente essa, nobre constituinte. O pluripar-
apenas como uma figura legal, como um exercicio também tidarismo é a negação da possibiidade da sublegenda. A
de democracia, como um exercício de respeito ao outro, sublegenda existiu como uma invenção que pensei fosse
como um exercício de convivência de pessoas de um mineira, mas na verdade foi gaúcha, porque veio do Uru-
mesmo bloco e que não têm necessariamente as mesmas guai, quando tínhamos a chamada camisa de força do bi-
posições sobre tudo, porque o processo de transformação partidarismo. Por isso, havia justificativa. Agora não há.
no Brasil, e estamos falando dos Partidos, ele transcende Com a multiplicidade de partidos existentes não se justi-
os Partidos políticos. É uma tarefa muito superior à ca- fica a sublegenda,
pacidade de um Partido político, é uma tarefa para um
conjunto de forças que deve se unir num determinado O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala-
momento, e já estamos mais do que na hora de ter vra o Dr. Paiva Muniz.
chegado esse momento, estamos com esse momento em O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Sr. Presiden-
atraso, precisamos realmente começar a pensar nas te, antes da opinião do Dr. Paiva Muniz, quero dizer que
eleições para Presidente da República, na correlação de estou perguntando, quer dizer, estou a favor da sublegenda,
forças que vaí se dar no primeiro turno e depois no sou totalmente contra. Estou perguntando para ratificar
segundo turno, onde vamos estar para poder garantir o meu pensamento.
realmente um Governo que tenha uma base popular e
realize as reformas que esse Governo que aí está não O SR. PAIVA MUNIZ - Ao defender a coligação, evi-
conseguiu realizar, e que hoje realmente é quase um dentemente, sempre fui contra a sublegenda. E ao defender
retrato na parede. a possibilidade de coligação, também não existe mais ne-
nhum sentido, e tenho a impressão que é uma expressão
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Retorno a que deve desaparecer de noso vocabulário político, o pro-
palavra ao Dr. Paiva Muniz para completar seu racio- blema da sublegenda,
cínio e seu ponto de vista.
O SR. PAIVA MUNIZ - Primeiramente, a opinião O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala-
que darei é pessoal. Acho que as direções dos Partidos vra o Sr. Fernando Gabeira.
têm alguma responsabilidade com as coligações. Eviden- O SR. FERNANDO GABEIRA - Não temos nenhuma
temente os diretórios regionais ou as comissões executi- discussão sobre o assunto. A tendência geral seria de negar
vas vão' ter ciência, e, cada município é uma própria isso e achar que se resolve por si próprio, mas não temos
realidade local, a divisão é localizada. Mas eu chamaria nenhuma definição. Eu, pessoalmente, sou contra.
a atencão para um ponto que o Senador Constituinte O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Faltam ainda
Mauro Benevides levantou, de que existe a possibilidade três Srs. Constituintes. Eu faria, então, apelo para que as
de o díretórto nacional dissolver. Digo a S. Ex.a que não perguntas ficassem reduzidas e as respostas fossem o mais
existe. E, por exemplo, há o problema do PFL, com a possível sucintas.
executiva nacional, com vários Ministros com o poder
nas mãos e não conseguiu impedir a coligação, em São O SR. CONSTITUINTE RACHID SALDANHA DERZI
Paulo, para o apoio ao Paulo Maluf. De modo que, na _ Eu pediria uma prioridade, ainda que pequena, a V. Ex.a
verdade, a Justiça hoje tem mais poderes do que as porque a Secretária passou por aqui e eu havia dito a ela
direções partidárias. que na hora eu queria, mas que o meu lugar era esse.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Nobre Sena-
vra o Constituinte Luiz Soyer. dor, Constituinte Saldanha Derzi, vamos seguir a ordem de
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Sr. Presidente, inscrição. Tem a palavra o Constituinte Paulo Delgado.
quero ser bastante suscinto, perguntando a opinião dos O SR. CONSTITUINTE PAULO DELGADO - Sr. Pre-
ilustres expositores sobre a questão da sublegenda. sidente, eu gostaria de fazer duas indagações aos repre-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala- tantes de Partidos políticos. A primeira delas é que hoje é
vra o nobre Constituinte Mauro Benevides. claro e notório para todos nós, que a reserva de frustração
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~'A NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Segunda.feira 20 45

do eleitor brasileiro com os eleitos parece que se esgotou e o onde haja audiências públicas, onde o parlamentar se
resultado das últimas eleições mostrou isso bem clara- sinta realmente responsável por um conjunto de eleitores,
mente. Estamos diante de uma instituição pública, que apresente proj etos de seus eleitores. Conseguimos agora
são os Partidos políticos, como a instituição de menor cre- na Constituinte essa vitória, que é de apresentar um pro-
dibilidade no Brasil, e os políticos, como aqueles que jeto com 30 mil assinaturas. Já estamos em campo para
ocupam, numa escala de respeitabilidade pública, talvez o colher algumas dessas 30 mil assinaturas em alguns pro-
lugar menos prestigiado. Diante disso, a minha primeira jetos, mas o 'eleitor ainda pode se manifestar em três
pergunta é no seguinte sentido. Pois percebi na discussão, apenas. Pelo Regimento Interno da Cons.tituinte, só pode-
por exemplo, sobre o voto distrital, no qual havia embu- mos nos manifestar, enquanto eleítores, em três, mas acho
tida a idéia de assegurar ao eleitor o controle sobre o que um grupo de eleitores pode lhe procurar, apresentar
mandato, o controle sobre os candidatos. Como defensor um projeto e ele ser encaminhado por V. Ex. a Acho que
do voto proporcional, porque sou do PT, eu gostaria de os mecanismos de controle vão nascer também da polítí-
saber dos representantes dos Partidos políticos, qual a zação e da organização maior dos eleitores, Acho que esse
posslbíídade de se introduzir dispositivos constitucionais é um elemento fundamental, e sobre isso é que realmente
que assegurem ao eleitor a cassação democrática de man- estamos preocupados na renovação, acho que é por aí que
datos que fraudem a sua vontade, ou seja, a modificação se pode fazer alguma coisa, Não quero me alongar muito
do sistema hoje, onde se tem o mandato como um poder porque há uma outra face de sua pergunta que não vou
outorgado a quem é eleito, e não como um poder delegado responder, porque não tenho muita coisa interessante a
por aquele que elege. dizer sobre o assunto, já que concordamos plenamente
A segunda questão é em relação à preocupação dos com a idéia; voto do analfabeto, partícípacão dos anal-
representantes dos partidos políticos em relação e se con- fabetos, voto dos encarcerados. Existe apenas um aspecto
sagrar na Constituição o princípio da legibilidade e não que acho que o PT deveria incorporar na SUa posição,
o princípio da inelegibilidade; ou seja, defendemos o alis- porque ainda não vi o documento final. Ê: que no caso
tamento de todos os brasileiros maiores de 16 anos, in- de reconhecermos o direito de os militares votarem, que
clusive os encarcerados, com direito a voto, e defendemos é fundamental, reconhecermos também a impossibilidade
a extensão da elegibilidade aos analfabetos, que hoje são de serem julgados com dispositivos próprios. Por exemplo,
alistáveis, mas são inelegíveis, e aos militares da ativa, no Rio de Janeiro circula agora um abaixo assinado para
desde que se licenciem do serviço ativo. São essas as duas os policiais militares poderem votar. E a sua posição, a
questões que eu gostaria de fazer aos representantes dos minha, e acredito que é a de todos, que os policiais mili-
partidos políticos. tares podem votar, mas eles não podem, e têm que ser
julgados também, normalmente 'eles não podem ser jul-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala- gados por seus crimes dentro da corporação. Tive a opor-
vra o Sr. Fernando Gabeira. tunídade de escrever um documento sobre a violência no
O SR. FERNANDO GABEIRA - Tenho muito p~azer Brasil e propus ao Ministro da Justiça, na época, mas as
em responder a essa pergunta, uma vez que V. Ex.a e um coisas não andaram muito. Quer dizer as polícias mili-
dos representantes que acompanho, aqul, através .de minha tares têm o direito de votar, mas também têm que ser
família. V. Ex.a teve o voto de meu pai, e vou dizer a ele julgadas de uma maneira que todos julgam; um deputado
que V. Ex.a está atuando. não vai ser julgado por um deputado. Portanto há que
se retirar esse fórum especial das polícias militares que
Quero dizer que não ~enho ainda, e nós,. em nos~a ainda é uma das coisas do passado. Penso que temos que
discussão não temos uma formula para conseguir determí- garantir o direito de voto mas também que questionar
nar basta~te bem o poder do eleitor no Brasil. Nós, quando este privilégio.
fizemos a campanha, e todos fizemos campanha aqui, sa-
bemos muito bem que o eleitor é muito reconhecido no O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala-
momento em que ele vai votar, é uma pessoa que todos vra o Dr. Paiva Muniz.
reconhecemos. Uma vez passada a eleição, ele se defronta O SR. PAIVA MUNIZ - Com relação ao problema
com o candidato como um voto abstrato, "eu votei e~ do aspecto da fidelidade partidária, entendo, por exem-
você" mas ele não tem nenhum poder, porque na reali- plo, como sugestão, e é só, pessoal, o problema é fechar
dade aquela pessoa foi eleita por 36/40/50 mil votos e ele questão, e inclusive, pela legislação, é possível a perda do
se defronta como um voto, e antes não se sente poderoso. mandato, em tese. Acho que o fechamento de questão
Então, pensamos, como um dos aspectos para; es~i­ deve partir da Bancada, com respaldo da direção do par-
mular esse processo, é estimular tambem a organizaçao tido. E o diretório só pode determinar ou fechar deter-
dos eleitores, de um determinado candidato, e exigir desse minada questão se é ponto específico, claro, do programa
determinado candidato, por exemplo, que faça uma coisa do partido. O programa do partido especifica determinado
que propusemos ao nosso ,candidato no R~o. ~'e .Janeiro, posicionamento 'e se um determinado posicionamento da
ele aceitou e ele mesmo e que tomou a InICIatIVa, que bancada é um posicionamento que fere especificamente
seria o candidato aceitar a apreesntaçâo de projetos de pontos, evidentemente a iniciativa pode ser do diretório,
seus eleitores. No caso de candidato à Constituinte, acei- mas a co-responsabilidade deve existir; quer dizer, mes-
tar que alguns eleitores faç~m um projeto e. ele apresente mo sendo a iniciativa do diretório ou da bancada, deve
como seu ainda que ele nao concorde Inteiramente com ter, em matéria de fechamento de questão, o respaldo da
aquele projeto. Este é um dado. O outro seria estimular- direção e da bancada do partido. Essa a minha opinião.
mos a pressão dos eleitores numa determinada corres- Acho muito difícil e até impraticável você exigir do
pondência dos eleitores com seus representados; isso é eleitor que casse um mandato determinado, ele vai ser
uma coisa que no Brasil ainda não existe esse lobb(Y tão cassado naturalmente se ele não correspondeu, nas elei-
grande dos eleitores, cobrando cada uma das medidas dos ções. Por isso, o regime democrático pressupõe a perio-
deputados ,e senadores constituintes. Gostaríamos de esti- dicidade de mandato. Aquele que não cumpriu, eviden-
mular isso também. E gostaríamos de pensar num meca- temente, vai ser julgado dentro do princípio da periodi-
nismo que a partir da coleta de determinado número de cidade.
assinatura:s, um determinado deputado ou senador, pudes- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) Com a
se ser questionado por seus eleitores, mas não chegamos
ainda a uma definição precisa de qual é o mecanismo que palavra o Senador Jarbas Passarinho.
vai vigorar nesses casos, mas achamos que é possível, por O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO -
aí. Primeiro, estimulando uma nova visão de mandato, Creio que nada seria aceitável, sequer pensar na possí-
46 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

bilidade de uma cassação do mandato do deputado, por- grandezas e misérias da vida militar. Tem que ter tam-
que eleito por uma sigla com comprometimento, ele foge bém os seus tipos de restrições. Eu permaneceria com a
a esse comprometimento e frauda, Acho que o Fernando inelegibilidade das chamadas praças de pré. E aceitando
Gabeira com a do Dr. Paiva Muniz. Porque se o estatuto que os militares da ativa, quando candidatos, passassem
atuação, a partir do eleitor, para cobrar esse resultado. para a reserva obrigatoriamente antes das eleições.
E a minha resposta, portanto, articula ,a do Fernando
Gabeira com a do Dr. Paiva Muniz. Porque se o estatuto O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala-
da fidelidade, e nós já discutimos isso ao longo do tempo, vra Mauro Benevides.
se o estatuto da fidelidade permanecesse, aí então, a pos- O SR. CONSTITUINTE MAURO BENEVIDES -
sibilidade sería exatamente essa de, através da ação da Entendo, Sr. Presidente, Srs. Constituintes que a grande
jus,tiça, mais uma vez, fazer a cassação do mandato do colocaçã<? feita pelo representante do PT 'foi aquela que
deputado ou do senador, do representante, que tivesse se relaciona com a restauração da credibilidade dos
iludido, fraudado e frustrado o seu partido no seu pro- partido~ Políticos. Acho que tudo o que pudermos fazer
grama. Note que no seu próprio partido, quando se tratou no sentido de assegurar essa credibilidade fazendo com
do Colégio Eleitoral, houve perdas. Houve perdas no seu que os Partidos, cumprindo os compromi~sos assumidos
partido porque pessoas admitiram que tinham que ir ao durante a campanha eleitoral, mantenham sintonia com
Colégio Eleitoral. Embora fosse até uma questão fechada, a Comunidade, tudo isso deve ser feito, porque servirá
ela seria automaticamente repudiada na Justiça Eleitoral, para revítalízar a própria estrutura democrática do País
como foi o caso do PTB, do Deputado Cury, ao tempo estrutura da qual os Partidos são, sem dúvida o grand~
da Presidência da Sra. Ivete Vargas. instrumento de ação politica. Então o nosso ~sforço di-
O SR. PAIVA MUNIZ - l!: bem verdade que, no caso reeíonado para que. os Partidos possam adquirir essa
aí, foi um erro processual, foi dado assim um [ulgamento credibilidade, em percentuais elevados, esse esforço deve
sem entrar no mérito, não? ser realizado. E aqui mesmo, na Assembléia Nacional
Constituinte, esse esforço da reaquisição de credibilidade
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO - Bem, plena, esse esforço vem sendo desencadeado não apenas
eu concluí apenas porque o mandato dele foi mantido. atravás da multiplicidade de apresentação de propostas
Então, mantido o mandato, ele disse que não tinha trans- por parte dos Constituintes, de todos os Partidos, todo~
gredido o programa, nenhuma linha programática, e au- el:e~ ofereceram a s,uas propostas as suas sugestões, que
tomaticamente tenha divergido da direção do partido. estão sendo examinadas pelas Subcomissões e, pos-
Porque Maurice Duverger diz bem no seu livro, no famoso teriormente, o serão no Plenário da Assembléia Nacional
livro dele sobre partidos políticos, que os partidos são Constituinte. Então, esse grande esforço de restauração
oligárquicos" 'eles são, na verdade, oligárquicos. Por exem- da credibilidade dos Partidos, não há dúvida deve ser a
plo, acabamos de ver chegar aqui à sala, precedido e nossa grande preocupação no momento. Para 'que a Carta
acompanhado de um batalhão de fotógrafos e repórteres Constitucional, que fomos incumbido de elaborar e espe-
de Televisão, o Dr. Ulysses Guimarães. O partido do Dr. ramos conseguir, quem sabe, até 15 de novembro, essa Car-
Ulysses Guimarães deve ter colhido mais de 15 milhões, ta Constitucional, longe de frustrar a opinião pública bra-
16 milhões de votos; não é? Diz o tesoureiro que é por ai. sileira, ela possa realmente trazendo alento, trazer espe-
E eu pergunto quem o elegeu presidente? Um diretório, rança, trazer novos rumos para o País. No que se rela-
com número infinitamente pequeno, comparando com
o número de eleitores. Portanto, o partido é oligárquico. ciona com a perspectiva de penalização, através do ato
se a fidelidade partidária fosse mantida, haveria pelo extremo da cassaçao de mandato, daqueles parlamen-
menos, um certo respeito, para não haver essa dança, essa tares que descumprírem os seus encargos, os seus deveres
troca de legenda por conveniências pessoais. Mas seria as suas obrigações, os seus compromissos assumidos co~
também uma violência contra a pessoa. Logo, a primeira a comunidade, eu entendo que esse ato cassatórío só se
resposta para mim é contrária à possibilidade de ter um posítívaría na legitimidade e na soberania da manifesta-
dispositivo que leve a isso. Relativamente às ínelegí- ção popular na eleição subseqüente. Quando ele, preten-
dades, eu dou um testemunho pessoal. O Presidente Cas- dendo novamente o voto popular, fosse repudiado pela
tello Branco, na Escola do Es,tado-Maior, que eu freqüen- manifestação das urnas. Aí, então, se caracterizaria, de
tava na época, ele se mostrava muito contrário ao político maneira exemplar, aquela necessidade de se expurgar
que é doublé de militar, ou o doublé de militar que é po- dos parlamentos, dos executivos, aqueles que se distan-
lítico. E ele dizia deve ser político ou deve ser militar. ciarem dos compromissos assumidos no âmbito do seu
Para evitar justamente levar para a Força Armada, a Partido e diante da sua respectiva comunidade.
conotação das suas paixões pessoais, de natureza política. O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pa-
E graças a ele hoje 'existe uma lei que faz com que o lavra o último Constituinte inscrito, Deputado Airton
militar ,eleito, passe automaticamente para a reserva. Eu Cordeiro.
me antecipei, quando fui candidato ao Senado pela pri-
meira vez, e passei para s reserva, antes das eleições, por- O SR. CONSTITUINTE AIRTON CORDEIRO - Quero
que achei que a lei era boa, até certo ponto. Onde ela fazer colocações aos nossos expositores, mas antes, quero
parecia má? Parecia má porque ela pune o vencedor e fazer um rápido comentário sobre a questão do voto facul-
perdoa o vencido, porque ela só manda para a reserva tativo, porque, dos expositores que falaram sobre essa
aquele que é diplomado. Mas aquele que, ao contrário, é matéria, parece-me que o Senador Passarinho e o Se-
candidato, é derrotado, e traz as suas mágoas naturais nador Benevides, têm receio de que a instituição do voto
da derrota, e seu ressenttmento, ele fica no quartel. E fica facultativo seja de uma certa forma excludente para
no quartel fazendo muitas vezes o que seria altamente algumas faixas da população brasileira. E isto é um
inconveniente, como, por exemplo, um tipo de politização equívoco porque o voto facultativo não exclui ninguém, do
dirigida, através de ressentimento. Portanto, acho também' direito de votar. Parece-me que esta questão do voto
que nós ainda chegaremos lá. Quando evoluirmos mais facultativo passa fundamentalmente por um processo de
o País, nós poderemos chegar lá, quando as chamadas reeducação da sociedade brasileira. E a Constituinte,
praças de pré, no passado, possam chegar a ser também para cumprir o seu papel histórico, tem que quebrar essa
eleitores, Mas, no momento, eu acho que os quartéis se sociedade de obrigações, em que nós vivemos, para passar
transformariam numa imensa disputa política, se a elas a conferir a cada um de nós o direito de exercer a nossa
também fosse dado o direito de votar. Então, é uma res- cidadania. Por isso eu defendo o voto facultativo, e faço
trição que Alfred Vigny já descreveu muito bem, são as apenas um comentário para que essa posição fique clara.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 47

As minhas duas questões são as seguintes: o Brasil todo gerais, embora constante da Constituição, ela será a desin-
hoje, discute a necessidade de uma eleição direta para compatibilização prevista na legislação complementar. Nós
a Presídêneía da República. Não uma eleição direta que temos a Lei Complementar n.o 5 que estabelece aquela linha
já está prevista na Constituição, mas a eleição direta para de requisitos, implementos, enfim de imposições referentes
muito rapidamente. Considerando-se a crise econômica, à desíncompatíbílízação, e a própria Carta também, para
que vai gerar uma crise social sem precedentes. E se enga- evitar engodos, que anteriormente se registraram, a Carta
nam aqueles que pensam que nós teríamos hoje uma crise prevê, salvo engano, no § 2.°, do art. 152, uma norma im-
politica nos moldes de 64. Hoje, a crise política seria peditiva para aquele que se afastou para fins de desíncom-
acompanhada de efervescência social. extremamente patíbílízação e não logrou êxito eleitoral, que ele não poderá
perigosa. Por esta razão eu sou defensor da eleição direta voltar a ocupar aquele cargo, na administração, no período
para o ano que vem. Existe um obstáculo. Mencionou-se durante o qual ele serviu. É a norma, salvo engano, o § 2.°,
aqui a questão do calendário eleitoral. Questão extre- do art. 15~. A própria Carta já teve a cautela, já teve a
mamente importante. Ofereceremos uma proposta à Cons- preocupaçao de impedir que essa indústria de desíncom-
tituinte com o seguinte embasamento, e eu gostaria de tíbílízaçâo, aludida pelo nobre interpelante, venha a pre-
ouvir a opinião dos Srs. representantes de Partidos, que valecer. Já existe uma norma na Constituição, e a legis-
estão aqui, sobre esta proposta. Eleição direta para Pre- lação complementar, sem dúvida alguma, vai tornar ainda
sidente da República a 1.0 de junho do próximo ano. mais explícita e mais clara essa norma de desíncompatí-
Concordo inteiramente com a tese de que o Presidente bilização.
deve ser eleito com os Congressistas, com os Deputados O SR. CONSTITUINTE AIRTON CORDEIRO - Per-
Federais e os Senadores. Nós poderíamos esperar um gesto mite-me V. Ex.a, apenas para esclarecer o seguinte: a
de grandeza do Presidente José Sarney, que facilitaria idéia, o objetivo da proposta é exatamente impedir a de-
o papel do Oongresso Nacional, estipulando, ele próprio, sincompatibilização. Porque a grande verdade, Senador, é
o prazo em que se findaria o seu mandato. Mas isso não que os governadores, em especial os governadores esta-
aconteceu. Então, a minha proposta é um pouco mais duais, eles utilizam todo o aparato da máquina adminis-
drástica. Nós, Deputados Federais e Senadores, abriríamos trativa para promoção das duas candidaturas no próximo
mão de um pedaço do nosso mandato, para permitir que passo eleitoral. Então, a situação fica desigual, desleal e
tivéssemos a eleição direta para a Presidência, conjugada imoral. É esse o ponto central da proposta. Não é de re'to-
com a eleição do Senado e da Câmara Federal a 1.0 de mar ou não o seu direito de voltar a ser governador. O
junho do próximo ano. Essa, a Proposta objetiva. E eu que se pretende é que o Governador eleito, ou o Prefeito
gostaria de ouvir o que pensam os Srs. Membros dos eleito, ou o Presidente da República eleito, cumpra o seu
Partidos políticos. A segunda questão: no Brasil se insti- mandato, até para ser leal ao seu eleitorado. E veja V. Ex. a
tuiu a indústria da desincompatibilização dos detentores o que acontece, agora, na questão da sucessão presidencial.
de mandatos executivos, especialmente dos Srs. Gover- Quando se defende eleição presidencial para o próximo
nadores Estaduais, que começam o seu mandato pensando ano, vem, por exemplo, o Governador do Estado de São
no seu próximo projeto eleitoral, ou vêm para o Senado Paulo, e nós temos também o Senador do Paraná, Senador
ou vêm para a Câmara dos Deputados. Apresentamos José Richa, que defendem o mandato do Presidente para
também uma proposta no sentido de tornar inelegíveis o 6 anos, porque certamente estão jogando num projeto
Presidente da República, os Governadores e os Prefeitos pessoal, querem a eleição em 90 para poderem chegar lá.
municipais, enquanto durar o período do mandato para O Governador de São Paulo ainda faz mais o seguinte.
o qual foram eleitos. Seria esta também uma regra mo- Apresenta como proposta alternativa uma eleição com
ralizadora, a meu ver, para que se evite essa verdadeira mandato tampão de 2' anos, para uma outra eleição do
indústria da desincompatibilização, que hoje grassa no Presidente. Isso, num País como o nosso, me parece abso-
Brasil. Essas são as duas questões que eu colocaria, e lutamente tolo, do ponto de vista de operacionalidade,
gostaria de ouvir a opinião dos nossos conferencistas aqui funcionalidade, e até de seriedade. Então essas questões
presentes. todas estão passando por projetos pessoais e com isso não
pode pactuar a Assembléia Nacional Constituinte.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com a pala- O SR. CONSTITUINTE MAURO BENEVIDES - Bom,
vra o Senador Mauro Benevides. entendi, realmente agora, ainda mais clara e medianamen-
O SR. CONSTITUINTE MAURO BENEVIDES - Res- te, o pensamento de V. Ex.a e entendo que, no desenvolver
ponderia, no que diz resto à eleição direta, que há real- do seu raciocínio, aquele que for eleito para cumprir o
mente concordância plena do PMDB, e isso explicitado de mandato, deverá fazê-lo até o seu término. Agora, não
forma muito clara por todos os seus lideres, os mais proe- há dúvida de que isso é uma norma ética e moralmente
minentes e os de menor hierarquia nos quadros partidá- elogiável, porque se o detentor de mandato recebeu uma
rios, todos eles são inteiramentes favoráveis à realização delegação para cumprir um determinado espaço de tempo,
das eleições diretas. A multiplicidade de datas aí está. Uns aquele seu múnus, ou executivo ou parlamentar, ele deve-
propõem eleições 120 dias após a promulgação da Carta, ria fazê-lo. Agora, permita-me apenas lembrar ao nobre
outro propõem eleições no dia 21 de abril, proposta do Constituinte que a figura da renúncia, como ato unilateral
Deputado Miro Teixeira, outros entendem que deve ser em de vontade, essa figura existe, e, então, desapareceria no
15 de novembro de 1988, outros entendem que o mandato caso, explicitamente em termos de legislação eleitoral. E,
do Presidente, ao invés de 6 anos, deve ser um mandato aí sim, na lei complementar, que viesse a se estabelecer em
de 5 anos, guardando-se a tradição republicana brasileira, seqüência dos princípios constitucionais, figuraria essa
mas, em termos de princípios de eleição direta, já consa- norma que, realmente, obrigaria o detentor de mandato a
grado na Constituição, ele já se transformou no consenso cumprir até o seu término o mandato que recebera das
existente em termos de PMDB. Evidentemente eu não me urnas.
arriscaria a responder a pergunta para dizer que a data de O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a
1.0 de junho, agora alvitrada, ela seria realmente a data palavra ao nobre Constituinte Jarbas Passarinho.
ideal, para a realização desse pleito, subtraindo-se do Pre-
sidente Sarney um espaço razoável do seu mandato, con- O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO -
sagrado na Constituição. O princípio da eleição direta é Tenho a impressão de que volto à Citação de Platão feita
consensual em termos de PMDB, variando apenas a data ainda há pouco pelo Dr, Paiva Muniz. '
da sua realização. Quanto ao problema da desíneompatí- O que se vê é que todos nós estamos tentando evitar
bilização, entendo que essa matéria, em seus princípios as contravenções. O Deputado Airton Cordeiro lembra o
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problema do governador que quer se reeleger ou fazer não forma tradição. Mas, acho que quatro anos, o segun-
carreira política ou qualquer ministro de estado e assim do ano, o governador ou o presidente governa, no primei-
por diante. Mas, vejamos o reverso da medalha. Há gover- r?_ ano, com um orçamento qu~ não traduz as suas prío-
nadores que ficaram nos postos, exatamente para garantir rídades, a sua maneira, a sua filosofia de governo; no se-
a eleição dos seus candidatos e jogaram toda a máquina gundo ano, traduz; no terceiro ano já está a candidatura
administrativa nessa eleição. Ai eu -me pergunto qual dos na rua, no quarto é a eleição. Ele não tem como fugir
dois é mais contraventor ou menos contraventor? Fica desse tumulto. Então, nós daríamos pelo menos dois anos,
difícil. dois anos e meio para ele administrar o País e, com isso
Inclino-me muito pela sua tese até meditarei sobre 'então, sou candidato a votar por um mandato de cincó
ela, por um aspecto digamos de ética, embora a política anos. No caso do Dr. José Sarney que Segundo o oonstí-
não seja o ramo da ética. li: que, eleitas as pescas, admi- tuínte Mauro Benevides, convive admiravelmente com o
te-se que elas foram eleitas para exercer aquele mandato PMDB, a decisão fica difícil, porque esta Oonstltuíção foi
que o povo lhes deu no período considerado, e nós já vimos emendada vinte e sete veees e a vigésima quinta emenda
casos em que, havendo incoincidência de mandatos, as foi, precisamente, sobre eleição direta para Presidente da
pessoas abandonaram o mandato, em meio ao curso do República. Eu não 'estava aqui no Congresso. O Senado
mandato, para poderem se candidatar adiante. Vimos até tinha se livrado de mim por quatro anos, e eu não esta-
casos de candidatos à Presidência da República nessas va aqui.
circunstâncias. Então, esta votação mostrou que não se alterou o
Quanto à eleição direta, acho que o deputado colocou mandato. Estabeleceram-se as normas para eleição direta
a questão, quando explicou, agora, de maneira bastante de 1?r:esiden~e e de vice-presidente, regulamentou-se a
imprudente - e imprudente, na medida em que me parece matena e nao se alterou o mandato· então automatica-
que Oscar Wilde dizia que um pouco de sinceridade é mente, ratificou-se o mandato de seis anos: QUe fizemos
comprometedora e muita sinceridade é definitivamente nós, Cons.tituintes?
fatal - porque, quando ele mostrou que havia quem de- Chegamos aqui e a primeira discussão foi sobre a
fen~ess~ candiSlatura por seis anos, por interesses pes-
~?aIS, h~ também os que defendem a candidatura diretas
questão de soberanía da Constituição e, a partir daí, sur-
J a, por mtereses pessoais. São aqueles que têm ainda um gIU . e~ta COIsa estranha, esdrúxula de chamar projeto de
resíduo d~ popularidade e que não podem perdê-la ao lon- deCls~, dentro do processo legislativo, que eu nunca ti-
go de mais quatro anos, o que seria duvidoso. ~a VISto 'em lugar nenhum, como se todos os outros pro-
~etos ~ossem de indecisão. O projeto de decisão passava,
_q SR. CONSTITUINTE AIRTON CORDEIRO - E que InClUSIVe, a poder dizer que o mandato do presidente se
nao e o meu caso! °
extíngülría naquele dia; era projeto.
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO - Só
agora o ~residente me diz que V. Ex.a é do PDT. Eu não A Constituinte acabou com isso. A proposta apresen-
o conhecía. tada, acho que por Maurício Ferreira Lima, dizia que a
Constituinte só pode sobrestar, por projeto de decisão -
O SR. CONSTITUINTE AIRTON CORDEIRO - Acho só ,pode sobrestar -, ameaças ao seu funcionamento. Ora,
que esse momento de humor de V. Ex.a me dá direito de o mandato do Presidente da República não é uma amea-
colocar aqui, perante os senhores, o seguinte: eu era Se- ça ao funcionamento da Oonstdtuínte e, com isso, estaria,
cretário-Geral do Partido a que V. Ex.a me dá direito de então, caracterizado que ele tem os seis anos de man-
Partido Democrático Social. Eu fui Secretário-Geral e dato pela Lei Maior e pela decisão da Constituinte. Como
Presidente do PDS, no Paraná. reduzir isso? Pela iniciativa pessoal dele, sim. Não en-
Como Secretário-Geral e Deputado Estadual, defen- tendo renúncia parcial, não entendo que ele possa renun-
di a aprovação da emenda Dante de Oliveira, que resta- dar por um ano, isso não entendo, mas entendo que ele
belecia as eleições diretas quando nós tínhamos o pro- pode se dirigir ao Congresso, já que a Constituinte se au-
cesso sucessório. Como defendi as diretas, naquela osasíão, tolimitou neste ponto, e pode, com o Congresso, decidir a
quero dizer que hoje, quando defendo diretas, não defen- redução do seu mandato. Isto é uma questão pessoal dele.
do a candidatura do S<1". Leonel Brízola, eu defendo o di- Eu não entendo como fazermos. Por isso é que ainda
reito do povo ,bra.sileiro 'eleger o seu presidente. Quero há pouco o 8'1'. F1ernando Gabeira se referiu a golpísmo
deixar isto muito claro. Aliás, tenho algumas dívergên- ali, mais por causa de um editorial e estou dizendo que aí
elas com a direção nacional do PDT, condenei o centrá- seria, para mim, uma mutilação violenta.
líamo da direção nacional do PDT; então, falo, aqui, de Não podemos colocar este assunto nas disposições
acordo com a minha convicção e faço muita questão de transítôrías, não podemos. Nas disposições transitórias,
'preservar a minha independência. podemos colocar o mandato do Presidente, se não tívés-
O SR. JARBAS PASSARINHO - Mas quero, também, semos nenhum ordenamento jurídico atual, mas temos,
tranqüílíaá-Io, se é que isso o tranqüiliza desde logo. Não e inclusive dentro da Nova República. A vigésima quinta
lhe atríbuí essa intenção pessoal, atribuí aos candidatos, emenda é dentro da Nova República. De modo que, por
aos presidenciáveis, em si, e V. Ex. a foi quem provocou, isso, acho que as eleições diretas são uma conquista. Na
porque citou nomes. hora em que balança eleições diretas com índíretas, acre-
dito que é muito mais frustrante a experiência das indire-
O SR. CONSTITUINTE AIRTON CORDEIRO - Por- tas. Não sou fetichista, e, ainda há pouco, antes de come-
que, certamente, eles têm muitos porta-vozes. carmos esta audiência ofícíalmente eu conversava com o
Sr. Fernando Gabeira e dizia que não sou fetichista das
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO - Mas diretas ou indiretas, mas tenho experiêneías que me Ie-
não estou interpretando o seu caso, como porta-voz de vam a acreditar mais frustrante a indireta do que a di-
um deles. Estou até admitindo que voltamos a discutir reta. As vezes, até a fraude da vontade do eleitor, earac-
uma qu-estão, primeiro acadêmica. Eu acho, hoje, que não terlzada, como vi na minha terra, numa primeira elei-
tem como fugir do mandato de seis anos do atual. Eu sou ções indireta, a que assístí, como estudante ainda de gi-
candidato a votar na Constituição por um mandato de násio.
cinco anos, não por tradição republicana, que me des-
culpe o meu querido colega, aqui, que já saiu, porque só O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - S-enador, Se
há dois casos: de Juscelino Kubitschek e Dutra, mas isso me permite, eu já disse isso em plenário e realmente me
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 49

preocupa a gente deixar o prazo do mandato de alguém namento, e um homem que se enriqueceu na vida pública
ao sabor de uma citacão circunstancial. Isso me preocupa, brasileira e tem alguma contribuição para dar. O Senador
porque se se falass-e em reduzir o mandato do Presidente Mauro Benevides ficou 4 anos afastado. O nosso Fernando
José Sarne:v, no mês de abril ou maio do ano passado, Gabeira poderia estar aqui. Então, acho que um Governa-
seria muito difícil. Preocupa-me muito nós submetermos dor de Estado, mesmo que seja um Governador que não
um princípio constitucional a questões circunstanciais de tenha sido eficiente ou [ulgado como eficiente, ele traz
um dos setores da vida desta Nação, no 'C3.lSO o setor eco- uma bagagem de conhecimento de situações que o diretório
nômico. Por isso, sou também favorável ao príscípío cons- político de uma nação, principalmente que foi enfraque-
titucional. cida, aviltada durante vinte anos, não pode dispensar os
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO- homens que já tiveram experiência, ou como Prefeito ou
Acho que o Constituinte Airton Cordeiro também colo- com um passado. Somos um Pais que dilapidamos tudo,
cou muito bem, quando ele admitiu que, a fazer isso, se inclusive, dilapidamos os nossos homens 'Públicos. Não vejo
fizesse também a mutilação dos nossos próprios manda- nenhum impedimento por 'que o Sr. F1ernando Gabeíra teve
tos. :li: uma linha de coerência total. Resta saber se pode- 'que correr para Preteíto e não correu para Governador
remos fazer isto, dentro do que a Constituinte nos outor- que não correu, também, comitantemente, para Deputado
ga, hoj-e, como direito. Federal. O mesmo, com relação ao senador Jarbas Pas-
sarinho. Então, meu posicionamente, em relação ao ca-
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Gostaria de suísmo desse problema, de usar ou não usar porque, evi-
consignar o meu pensamento em relação à afirmação, da dentemente, este País não pode desperdiçar experiências
maior profundidade, que V. Ex. a acabou de proferir e de homens públicos, embora possamos até discordar, mas
permita-me discordar, apenas porque o meu silêncio po- são homens que, na atividade pública, enriqueceram seus
dería implicar na idéia de que eu estaria 'Concordando. conhecimentos das realidades municipais, regionais. Quer
Entendo que nós, o Poder Constituinte, enquanto no exer- dizer, um Prefeito como aqui o Francisco Rossi é um
cício dessa tarefa de elaboração da nova Constituicão, não homem que pode falar das dificuldades ide uma prefeitura,
tem poderes para reduzir o mandato do presidente, mas porque já exerceu esse cargo. Portanto, essa discriminação
a Constituição gerada pelo Poder Constituinte tem. de ínalegíbiltdade, tudo isso, considero um desperdício por-
Se nós quiséssemos, poderíamos reduzir o mandato do que o diretório político da Nação já foi muito enfraqueci-
Presidente da R,epública. do, ficam muito aviltado e acho que não se pode perder a
experiência de nenhum homem público, que já tenha
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO _ passado e que já tenha exercido funções executivas legis-
Como vê o Sr. Relator, e eu já fui chamado aqui de juris- lativas etc.
ta do iRealengo, que foi a escola que eu cursei não vou en-
trar na discussão do Direito, mas creio que' o seu ponto Diferente do que pensa o Deputado e a minha opinião
de vista não teria unanimidade. Agora, aceito a sua colo- é pessoal, não é partidária acho que não devemos criar
cação e a respeito, porque é meu dever respeitá-Ia. embaraços para o enriquecimento do quadro político, do
diretório político da Nação.
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Também res-
peito a de V. Ex.à O problema de marcar a eleição, dito pelo Deputado
de Goiás, é 'circunstancial. Então, vamos tirar um man-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a dato de um Presidente da República, ou outro, porque ele
palavra ao Dr. Paiva Muniz. está impopular no momento, !daqui a pouco reconõuzí-Io,
O SR. PAIVA MUNIZ - Com relação às eleições di- porque ele está popular novamente ... Evidentemente, não
~~tas, para. Presídents .da República, a posição, inclusive, podemos agir casuisticamente.
ja esta detínída, ou seja, eleições diretas.
No caso específico, do Presidente José Sarney, ele
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Permita-me tem mandato de 6 anos, e se ele deseja reduzir, é proble-
insistir, não se trata do instituto da eleição direta, do ma dele. Agora, para que tenham autoridades, oaatuaís
momento de fazer eleição direta. representantes do Legislativo, ,para reduzir, concordo, mas
que seja reduzido, também, o mandato dos Constituintes,
O SR. PArvA MUNIZ - Num segundo momento, tam- para ter coerência.
bém abordarei este aspecto.
Mas esse é um problema, se a eleição for daquí a 180
Primeiro temos que partir de um principio. Esse quadro dias se vai ser de 4 anos, ou 5 anos, o Partido não tem
político nacional, há 20 anos foi aviltado pelo autoritaris- posição ainda definida. Só tem definida a favor das elei-
mo. Houve um desprezo pela representação popular e o ções diretas.
quadro político empobreceu está réadquíríndo novas for-
ças, nova consistência com as eleições da Constituinte. O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Tem a pala-
vra o Sr. Fernando Gabeira.
Acho que, com o quadro político, um país tem que ter
o seu diretório político extratificado. Diz o Senador Jarbas O SR. FERNANDO GABEIRA - EU sinto que tenha
Passarinho que não é político profissional. Não tenho muita responsabflídade, porque é a última pergunta de
nenhuma inibição, :porque toda a atividade exige profis- um longo debate. Então, creio que eu tenha que Ser multo
sionalização. rápido.
O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO --Se Acho que tivemos uma discussão sobre questões pes-
V. s.a me' permite, é porque, quando preencho ficha de soais ou interesses pessoais, considero que tem uma im-
hotel, e tenho que colocar a profissão, eu não posso escre- portância na História. Acho que tivemos uma ligeira dis-
ver Senador. Este é meu caso. cussão sobre teorias [urfdíoas, também ide sua importância,
O SR. flAlVA MUNIZ - De modo 'que acho um desper- porque- Realengo teve Uma importância enorane na. nossa
dício. Por exemplo, vamos imaginar um homem, o Senador História contemporânea, mas acho que se o Presidente
Jarbas passarinho, foi Governador de Estado, foi Minis- Sarney fosse tão identificado com O· PDS, como é com o
tro do Trabalho, Ida Previdência,' naquela época, foi Minis- PMDB, ele teria, pelo menos, aceitado a sugestão de re-
tro da Educação, foi Senador dá República. Evidentemente, nuncíar, 'ou então propor que o seu mandato fosse' mais
aceítandc Os seus pontos de vista, suas idéias, seu posícío- curto. Agora, iSB{) não acontece,
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Os defensores de uma posição de não diretas já, eles História é também um entrechoque de interesses pessoais.
falam de um presidente de uma maneira abstrata, eles Ela, talvez, não se defina apenas pelos interesses
falam do Presidente José Sarney como se fosse qualquer pessoais, mas há um entrechoque de interesse pessoais.
presidente, em qualquer momento da História. E abstraem Hoje, eu peço aos Srs. Constituintes que olhem além dos
duas coisas, a primeira é fundamental, é que não foi eleito interesses pessoais, a grande vontade popular de modifi-
pelo voto do povo, que é um aspecto fundamental. A se- cação Ideste País, e a grande esperança popular que surge
gunda questão também, é fundamental, é que estamos num no sentdo das eleições diretas darem uma chance de modi-
princípio de um movimento pelas eleições diretas, que co- ficarmos o País. Do ponto de vista didático até aconselha-
meçará nas ruas, com o nosso apoio e, de repente, os Srs. ria - para ser mais pedagógico - que se votasse as elei-
serão confrontados com uma multidão aqui na porta, gri- ções diretas no mesmo dia em que nos derrotaram aqui
tando: eleições diretas, e V. Ex. as poderão discutir, evi- dentro do Congresso, no mesmo dia em que o Congresso
dentemente, com toda a calma a constituição, as diversas nos levou às eleições diretas.
ambições pessoais, as várias possibilidades e nós cantare- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a
mos o Hino Nacional, como cantamos as últimas vezes, e palavra ao nobre Constituinte Luiz Soyer.
mostraremos aos Deputados, que se escondiam atrás das
mesas, para não mostrar que estavam votando contra as O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Acho que
diretas, que eles devem aparecer. Queremos que todos apa- temos que ter a maior clareza possível ao colocarmos as
reçam com as suas posições cristalinamente, mas adverti- nossas idéias.
mos para uma coisa, a solução da crise política, depois de Pelo que tenho notado, está parecendo que não exis-
uma rejeição de uma proposta de diretas como esta, não tem eleíções díretas para Presidente da República. Pare-
será tão fácil como foi a solução da crise política que en- ce-me também, por uma questão de seriedade, que não
frentamos naquele momento. Foi uma política de transi- podemos querer tapear o povo, em pensar que
ção, através de uma eleição indireta, com Tancredo Neves estamos votando agora uma eleição direta, raser um mo-
liderando uma coligação. Teremos muitas dificuldades pa- vimento como se a principal tônica fosse as eleições di-
ra conduzir este País, se conseguimos ignorar, ao mesmo retas para Presidente da República. Não. Temos de dizer
tempo, que o povo não vê solução neste Governo. Em se- que as eleições diretas já estão consagradas na Constitui-
gundo lugar, que este é um governo fraco, que não con- ção. Lá já está escrito que as eleições para Presidente da
segue se entender internamente. Estamos no auge de uma República serão diretas. Isso já está escrito. Não se discute
crise política e não pensamos mais nas eleições ICliretas isso. O que se discute é querer interromper um mandato
como uma única solução, pensamos no que fazer, daqui que foi previamente estabelecido. Agora, por quê? Por
para as eleições diretas. Porque teremos um ano, entre a que eles querem derrubar. Porque ele não foi eleito pelo
sua proposta se for a proposta vencedora, e teremos uma povo? Mas, na época, a lei não previa que seria eleito
crise econômica instalada, uma dificuldade a nível inter- diretamente. Na época da eleição de Sarney não se previa.
nacional, uma dífículdade a nivel nacional, e precisamos, si-
multaneamente, enquanto brasileiros, pensarmos nas. elei- O SR. FERNANDO GABEIRA - Porque não foi eleito
ções diretas, que é uma necessidade que a população vai pelo povo, ele é incapaz. Nós temos muitos eleitos pelo
colocar, e, depois, pensarmos numa solução de emergência povo, que são incapazes, e continuam. Mas quem não é
que cubra esse ano. Então, temos dois problemas pela eleito pelo povo e, além disso, é incapaz, deve ser substi-
frente. tuído.
Então, a sua proposta tem uma inconveniência, que O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER - Acho que aí
me faz lembrar dos tempos em que eu lutava contra ° está fazendo um julgamento - desculpe-me ~ muito
radical. Volto a dizer: se propusesse isso no meio de abril
Partido Comunista, nas grandes assembléias. Os comunis-
tas eram muito preparados e, então, iam com seus quadros ou maio do ano passado, no auge do Plano Cruzado...
para as assembléia e ouvíamos: vamos fazer uma manifes- Creio que a norma constitucional deve ser respeitada.
tação Ide rua. Ai todo mundo ficava em dúvida e dizia: Então, aí, seria realmente um golpe.
vamos, ou não vamos. Então, eu entrava no quadro comu-
nista para boicotar a idéia da manifestação de rua. Mani- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - A Presi-
festação de rua, companheiro, queremos uma coisa muito dência faz um apelo aos Srs. constituintes para que pos-
mais radical, muito mais avançada, queremos greve geral, samos ter uma certa seqüência e um certo disciplinamento
vamos levar greve geral. Então, era difícil para a gente nos nossos idebates,
controlar a assembléia. No final, votavam contra a greve O SR. CONSTITUINTE PAULO DELGADO - Penso
geral. o seguinte: que a questão do debate em relação ao manda-
Sou favorável, pessoalmente, que os constituintes to do Presidente não é objetivo desta nossa discussão. li:
abram mão do seu mandato, que a gente recomece tudo evidente que a posição do meu Partido, PMDB, é de per-
de novo. Mas precisamos muito cuidado com a proposta de ceber que, pelo lado jurídico, vemos que foi um erro a
dissolução da própria Constituinte, porque muitos podem posse do Presidente José Sarney. Porque, na verdade, quem
- não quero dizer que os Constituintes sejam levados por deu posse ao Presidente José Sarney foi o Presidente da
questões pessoais, mas é razoável que, se colocássemos em Comissão Ide Sistematização, quando interpretou, ao ar-
bloco para eles, eleições idíretas-Iá, mais a dissolução da repio de outras interpretações - foi mais rápido na inter-
Constituinte, mais a perda do seu mandato, evidentemente, pretação - que deveria asumir o Presidente José Sarney e
que muitos vão votar contra as eleições diretas para não não o Presidente Ulysses Guimarães, como previa a Cons-
perderem o seu mandato. li: uma hipótese. Então, é pre- tituição. Porque não há Vice-Presidente de um Presidente
ciso que tenhamos muita habilidade numa proposta dessas que não tomou posse.
para que se possa votar, cristalinamente, eleições diretas Pois bem, segundo essa perspectiva que nós hoje ava-
e a continuação do mandato do deputado, para que essa liamos, a oportunidade da defesa das eleições diretas já
questão seja muito clara para todos os que votam, para não é para suprimir o mandato de um Presidente que
que a pessoa possa votar, sabendo que necessariamente ela tenha seis anos, mas é para fixar na Constituinte e ai
°
pode votar nas diretas, sem perigo de pender seu man-
dato. Acho que isso é fundamental, acredito que essa é a
discordo do Senador Jarbas Passarinho - o mandato
transitório do Presidente atual porque ele não é o primeiro
maneira de conduzirmos adequadamente as questões. Acre- Presidente da Nova República, ele é O último Presidente
dito e admito que haja interesses pessoais em jogo, mas a da Velha República. E aí que se fixam as condições de a
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nova eleição fixando todos os mandatos. Penso que o Fer- estamos pretendendo, no dia 15 de novembro de 1988.
nando Gabeira quando interpela o companheiro, aqui do Eleição para tudo, inclusive para Governadores, para se-
Paraná, de que deveríamos ser pragmáticos na questão, nadores, eleição geral para tudo. lí: uma proposta,
não colocando a discussão do mandato do atual Deputado, O SR. FERNANDO GABEIRA - Só para concluir, res-
é um pouco em virtude do quadro que hoje compõe a pró- peito a posição de V. Ex.a; acho uma posição muito in-
pria Assembléia Nacional 'Constituinte. Defendo a proposta teressante. Mas só chamo a atenção de que o PMDB, para
do companheiro do Paraná, mas penso que o nosso man- dirigir o Pais sozinho, hoje, é pouco. Precísamos 'chegar
dato é o mandato originárío das eleições de 1986. Nesse a composições mais complexas, mais sutís. A tarefa de
aspecto ele é diferente do mandato do Presidente José transformação do Brasil transcende ao PMDB. Então, o
Sarney. PMDB vai ter que ter habilidade para se candidatar às
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Concedo a diretas e para, possivelmente, vencer as diretas, mas sa-
palavra ao nobre Constituinte Airton Cordeiro. ber fazer uma composição diferente para um novo mo-
O SR. CONSTITUINTE AIRTON OORDEIRO - Apenas mento histórico. Deixar a direita ou a centro direita a que
para dizer o seguinte: que existe aqui uma razão de natu- ele se uniu, e buscar um entendimento 'com centro es-
reza ética, que localizou bem o Senador Jarbas Passarinho. querda, que será o responsável pelo novo momento histó-
rico, no script que estou prevendo. Evidentemente, o Se-
Jf: evidente que, se o mandato do p,residente está hoje fi- nador Jarbas Passarinho vai me chamar a atenção dizen-
xado em 6 anos, e se vamos subtrair um pedaço do manda- do que nem sempre a História corre do jeito que a gente
to do Presidente da ReJPúbltca, é muito justo que ÓPOT uma quer. Mas a nossa perspectiva é esta: fazer avançar a
razão ética e moral, nós que vamos tirar um pedaço do transição, como se avançou na Espanha; fazer avançar a
mandato dele, abramos mão de um pedaço do nosso man- transição de uma composição que era muito próxima ain-
dato. da do franquismo para uma eomposíção mais adequada
O SR. FERNANDO GABEIRA - Os Srs. não vão tirar, à realidade moderna do País. Achamos que o PMDB será
é o povo que está tirando. um componente vital e, possivelmente, até tenha um dos
seus candidatos 'eleitos, o eleito seja um candidato do
O aR. CONSTITUINTE (Airton Cordeiro) - Ai temos PMDB, mas que ele compreenda que será uma nova com-
de ser objetivos. O que vai acontecer concretamente é isso: posição. Para mudarmos o Brasil, por mais forte que seja
temos de abrir mão dos nossos mandatos. o Partid?, ten::os _que ter humilda~e para reconhecer que
~m Partido ~o nao consegue, Preeísamos de muitos par-
Agora, só para concluir, de minha parte, gostaria de tldo~ e precisamos mais, de gente que não pertença a
dizer o seguinte: a missão histórica do Presidente José Partido nenhum. Uma nova composição, um novo élan
Sarney exauriu no momento em que se fez a transição. que a Nova República não trouxe para nós. Era isso que
Deixou-se de eleger o Presidente indiretamente, o Presi- eu queria dizer.
dente atual e o ex-Presidente Tancredo Neves, foram ao
Colégio Eleitoral para Implodí-Io. Esta implosão pres- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - A Pre-
supunha, a meu ver, a convocação imediata de uma elei- sídêneía, antes de encerrar a reunião, agradece 'a presen-
ção rdireta para Presidente da República. Então, esta mis- ça do Senador Jarbas Passarinho, do Dr, Paiva Muniz, do
são histórica se exauriu. Sr. Fernando Gabeíra, e do Senador Mauro Benevides,
que, com competência e talento, enriqueceram muito os
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Gostaria Anaís da nossa subcomissão.
de chamar a atenção dos Srs. Constituintes de que esse
assunto 'em debate não faz parte da nossa subcomíssão, Antes de encerrar, anuncio a pauta para a reunião
Mas, para não ser arbitrário, concedo a palavra ao Sr. de amanhã, às 9 horas e 30 minutos, com a presença dos
Constituinte Waldyr Pugliesi. Srs. João Gilberto Arnaldo Malheiros, Bolivar Lampunler
e Pedro Cavalcanti.
O SR.' CONSTITUINTE WALDYR. PUGLIESI Eu Está encerrada a reunãão.
sou um daqueles que estão ai totalmente, vamos dizer,
magoados com &S coisas que estão acontecendo. Tenho s.a Reunião Extraordinária, realizada
uma proposta e apresentei-a até publicamente, no Pa- em 23 de abril de 1987
raná. Partind~ de uma constatação de que o PJ.'esi~ente
José Sarney é filho do divertículo de Mekel, ele veio de Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de mil
uma infecção que se verifi'col} na b~rriga do Sr. Tanc.re- novecentos e oitenta e sete, às dezoito horas e quinze
do Neves. Na realidade, ele e o que? Um Presides;t~ ll~­ minutos na SaIa da Comissão de Agricultura - Anexo" II
gítímo e transítórlo. Mas ele não se apercebeu que e ílegí- do senado Federal -, reunni-se a Subcomis.são de Defesa
tímo e transitório. A transitoriedade dele é muíto longa: do Estado, da Sociedade e de sua Segurança, sob a presi-
seis anos' isso não é período de transição. Parece-me ate dência do Senhor Oonstituinte José Tavares, com a pre-
um pedaço do mandato do Presidente ~troessne,r ou do sença dos Constituintes Arnaldo Martins, Asdrubal Ben-
Presidente Pinochet. A grande verdade e essa, nos temos tes, [)aso Coimbra, Hélio Rosas, !Roberto Brant, Sandie
uma grande fraude neste País, que se verificou com a Hauache, Ricardo Fiuza e José Genoino. Havendo número
subida do Sr. José Sarney à Presidência da República. regímental, o Slenhor Presidente declarou iniciados os
Sabem o que 'eu proponho? Aliás, era preciso que, ele ti- trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior,
vesse um gesto de grandeza do tamanho deste PaIS e re- que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se iní-
nunciasse já. Suponhamos que no dia 1.0 de junho 'esti- cio ao expediente no qual foi elaborado um novo roteiro
véssemos assumindo a Presidência da República. Quem? ide trabalhos da Subcomissão, ficando 'assim definido:
Quem ganhou às eleições que se feriram. Assume o Ul;vs- dia vinte e oito de abril, nove horas, Audiência do Pro-
ses Guimarães e faz um governo só do PMDB, verdadeãro, fessor Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, Diretor-Adjunto
e não com esse bando que tomou de assalto o Partido. Mas do Núcleo de Estudos Estratégicos da Urríversldade eleCam-
que fizesse um governo genuinamente do PMDB, ligado pinas; às dezesseis horas, Audiência do Doutor Cyro Vi-
ao programa e ao Estatuto do Partido. E que j á marcás- dal, Presidente da Associação dos Delegados do Brasil -
semos com a convocação dos Governadores presentes, da Adepol; Dia vinte e nove de abril, às 15:00 horas, Audiên-
CGT da CUT, de todo mundo, 'eleições gerais em 15 de cias dos Comandantes Gerais das Policias Militares de
noveinbro de 1988. Teríamos, aí, sim uma transição, se- Pernambuco, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São
ria a ponte dos regimes militares até a democracia, que Paulo e Goiás farão uma exposição sobre o tema: "O
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papel das Polícias Militares"; Dia trinta de abril, às nove Só fica de fora aqui um subtítulo que é o relacionado
horas, palestra com um representante do Conselho de com a Justiça Militar, porque temos que encontrar uma
Segurança Nacional; dia cinco de maio, às nove horas, Au- solução para esse problema, que acho também de vital im-
diência com os Senhores Generais Euler Bentes e Antônio portância. Então, fica de fora só um subtttulo, que não tem
Carlos Serpas, para exporem sobre o tema "O Papel das essa pressa, a gente pode definir isso aí com mais calma:
Forças Armadas e Conceito de Segurança Nacional"; às Justiça Militar, o papel da Justiça Militar ou do Tribunal
dezessete horas, audiência com o Presidente da Associação Miltar, e acho que o Ministro da Justiça seria o mais indi-
dos Delegados da policia Federal.; e dia 6 de maio, às cado para aqui comparecer.
9:00 horas, um representante do Estado-Maio'!." das Forças Cada expositor deverá ter no máximo 15 minutos, por-
Armadas, que falará sobre os temas "Ministério de Defesa que senão será "uma loucura" isso aqui, pois são 6 expo-
e Serviço Militar". O inteiro teor dos debates será publi- sitores.
cado, após a tradução das notas taquigráficas e o compe-
tente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Na- Nada mais havendo a tratar, declaro encerada a pre-
cional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o senhor sente reunião.
Presidente deu por encerrados os trabalhos, às dezenove (Levanta-se a reunião às 19 horas e 10 mínu-
horas, com a seguinte pauta: Avaliação das propostas rece- tos.)
bidas pela Subcomissão. E, para constar, eu, José Augusto
Panisset Santana, Secretário, lavrei a presente Ata que, 9.a Reunião Ordinária, realizada
depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Pre- em 28 de abril de 1987
sidente.
Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de mil
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Está aberta a novecentos e oitenta e sete, às nove horas e quarenta e
reunião. sete minutos, na Sala da Comissão de Agricultura - Anexo
II do Senado Federal, reuníu-sa a Subcomissão de Defesa
Foi definido que, nos termos de audiências públicas, do Estado, da Sociedade e de sua Segurança, sob a Presi-
para o dia 28, que será uma terça-feira, a partir das 9:00h dência do Senhor Constituinte José Tavares, com a presen-
da manhã, nós vamos convidar o Professor Geraldo Ca- ça dos Senhores Constituintes Arnaldo Martins, Asdrubal
vagnere Filho, que é Diretor-Adjunto do Núcleo de Esta- Bentes, Carlos Benevides, Hélio Rosas, Iram Saraiva, Rai-
dos Estratégicos da- Unicamp. mundo Lira, Roberto Brant, Sadie Hauache, Ezio Ferreira,
Ricardo Fiuza, Nivaldo Machado, Ricardo Izar, Telmo Kirst,
E hoje aproveitei a presença aqui do Presidente da César Maia, Ottomar Pinto, José Genoíno, Cardoso Alves,
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Dr. Ciro Prisco Viana, Haroldo Lima e Jarbas Passarinho. Havendo
Vidal l que veio depor na Subcomissão do Poder Judiciário número regimental o Senhor Presidente declarou iniciados
e Ministério Público, e ficou definida a presença dele nesse os trabalhos e passou a leitura da Ata da Reunião ante-
mesmo dia 28, às 16:00 horas. rior, que foi aprovada por unanimidade. Dando continui-
Para dia 29, que é uma quarta-feira,. nós. ~ecidimos dade, o Senhor Presidente convidou o Prof. Geraldo Ca-
convidar os Comandantes-Gerais das Polieías Mill~ares,.?u vagnarí Filho, Diretor Adjunto do Núcleo de Estudos Es-
os seus representantes, dos seguintes Estados: Para, Galas, tratégicos da Universidade de Campinas a tomar assento
Pernambuco São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, pa~a à mesa. Logo após, o Senhor Presidente concedeu a pala-
falar sobre ~ papel das Polícias Militares. E com isso nos vra ao conferencista convidado, que iniciou a sua palestra
adiamos então a visita ao Cindacta, que haveremos de agradecendo a honra com que foi distinguido ;para ser ou-
fazer na' outra semana, e vamos definir a data ainda. vido em sua explanação. A seguir, expôs sobre a elabora-
ção do novo texto constítucíonal, no qual deverão ser
Então, será dia 29, interromperemos para o almoço considerados dois niveis de relação: o das relações Forças
e depois retomamos aos trabalhos. Armadas e Poder Político (Poder Civil) e o das relações
Forças Armadas e sociedade civil. Finalizando, apresenta
No dia 30 conforme ficou definido hoje, nós vamos três propostas: Apoiar a proposta, referente ao assunto
ter audiência do Conselho d~ Seguratl;ça Na~ional, na .par~e em debate, feita no anteprojeto de constituição, elaborado
da manhã, também. Dia 30 e uma quinta-feira, pepOls nos pela Comissão Afonso Arinos aceitar as figuras constitucio-
vamos ter o feriado do dia 1.0, e seguem o. ~abado~ ??- nais de conselho de estado e conselho de defesa nacional
míngo: segunda-feira é um dia, para nos P0.!itlCOS, ~l1flCil, propostas pelo referido anteprojeto; criar o Ministério da
em razão do feriado, pois quase todo~ estarão _de v!agem, Defesa e rejeitar a figura do Comandante-em-Chefe de for-
inclusive o Presidente, mas eu estarei aqui, nao h~ pro- ça singular. Da fase interpelatória, usaram da palavra, pela
blema, até porque eu chego às. 11 horas e 30 minutos, ordem, os seguintes Constituintes: José Genoíno, Sadie
mas poderia chegar. no día anterior, se .fosse o caso. ~n­ Hauache, César Maia, Jarbas Passarinho, Arnaldo Martins,
tão fica para o dia 5 de maio, que e uma tarça-feíra, Raimundo Lira, Roberto Brant, Ottomar Pinto, Asdl'ubal
qu~ndo teremos a presença aqui, evidentemente depen- Bentes e 'O Senhor Relator COnstituinte Ricardo Fiuza,
dendo do nosso Coronel ajudar aí, do General Euler Ben- para as considerações finais. Após o término aos debates,
tes e do General 8erpa; se um dos dois não puder vir, o Senhor Presidente agradeceu ao Conferencista convida-
.o
varhos ver se a gente consegue incluir aqui Genera~ ~u­ do pelo pronto atendimento à solicitação da subcomissão
bens Ludwig, se nenhum dos dOIS puder VIr. Eles vlTU:m e em seguida suspendeu os trabalhos às treze horas e cin-
para falar sobre o papel das Forças Armadas e o conceito qüenta minutos. As dezesseis horas, o Senhor Presidente
de Segurança Nacional. reabriu os trabalhos e convidou o Dr. Cyro Vidal para to-
Nesse mesmo dia 5, na parte da tarde, a gente coloca mar assento à Mesa. Em seguida, iniciou SUa palestra ex-
aqui às 17 horas a presença do Presidente da Associação pondo sobre a prevenção dos crimes, juizado de instrução
dos Delegados de Polícia Federal, para falar sobre o papel e fez menção à matéria publicada no jornal "O Estado de
da Polícia Federal, no Brasil, que é muito importante, S. Paulo" do dia vinte e seis de abril do corrente, sob o
principalmente para nós que somos Constituintes ou par- titulo "Tribunal manda indiciar Secretário de Quércia".
lamentares federais. Então, às 17 horas do dia 5. Finalizando, 'Passou às mãos do Senhor Presidente propos-
ta das autoridade policiais do Pais, objetivando a inserção
E para o dia 6, que é uma quarta-feira, nós vamos da policia civil na nova Carta Constitucional, além de um
eonvídar um representante do EMFA, para falar sobre o trabalho elaborado pelo Dr, Murilo de Maeedo Pereira
Ministério da Defesa e O Serviço Militar. sobre a história da policia, intitulado "Segurança Públiea·
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 53

Polícia". Na fase interpelat6ria, usaram da palavra pela pode deixar de se preocupar com uma problemática tão
ordem, os Senhores Constituintes: Arnaldo Martins, Ot- importante como essa. Eu deixo aí, à reflexão dos colegas,
tomar Pinto, Hélio Rosas, José Genoíno, sadíe Hauache, essa preocupação para, se for ° caso, a comissão ouvir
Ricardo Izar, Roberto Brant e o Senhor Relator Consti- quem de direito, autoridades do GÇlverno e personalidades
tuinte Ricardo Fiúza. Ap6s o término dos debates o Senhor que conheçam o assunto, para trazer à nossa subcomissão
Presidente agradeceu ao conferencista o pronto atendi- espeeífícamente, as suas experiências, para que possamos
mento à solicitação da Subcomissão e confirmou a visita também nos posicionar a respeito desse assunto, mais sob
do Cindacta para as nove horas e trinta minutos do dia o aspecto de segurança, riscos, desvantagens e vantagens
vinte e nove de abril. Lembrou, ainda, para o mesmo dia, de um programa como esse.
às quinze horas, palestra com os Comandantes da Polícia Portanto, eu gostaria, ap6s a palavra do nosso confe-
Militar dos Estados de Goiás, Pernambuco, Minas Gerais, rencista, de colher a opinião dos meus colegas a respeito
Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo. Nada mais havendo desse assunto.
a tratar o Senhor Presidente deu por encerrados os traba-
lhos, às dezoito horas e vinte minutos, cujo teor será pu- Passo, então, a palavra, ao Professor Geraldo Cavag-
blicado na integra, no Diário da Assembléia Nacional Cons- nari Filho que disporá, no minimo, de trinta minutos para
tituinte. E, para constar, eu, José Augusto Panisset Santa- fazer a sua exposição, após a qual abriremos o debate para
na, Secretário, lavrei a presente Ata, que, lida e aprovada, perguntas e esclarecimentos.
será asisnada pelo Senhor Presidente. O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - É com gran-
de satisfação que a Universidade Estadual de Campinas -
ANEXO A PRESENTE ATA DA 9.a REUNIÃO Unicamp - e eu, estamos presentes aqui na Subcomissão
ORDINARIA DA SUBCOMISSÃO DE DEFESA DO de Defesa do Estado, da Sociedade e de sua Segurança.
ESTADO, DA SOCIEDADE E DE SUA SEGURAN· Antes de entrar no assunto propriamente dito, eu gos-
ÇA, REALIZADA EM 28 DE ABRIL DE 1987, AS taria de dizer que por iniciativa da Universidade de Cam-
9:47 HORAS, QUE SE PUBLICA COM A DEVIDA pinas, na pesosa do nosso Reitor, Paulo Renato Costa e
AUTORIZAÇÃO DO SENHOR PRESIDENTE DA Souza, a Unicamp deu início a uma série de debates e en-
SUBCOMISSÃO: contros nacionais sobre os temas mais polêmicos da atual
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Havendo núme- Constituinte. Coube ao Núcleo de Estudos Esitratégicos,
ro regimental para iniciarmos mais uma reunião da nossa ao qual pertenço, realizar esse primeiro encontro realizado
subcomissão, eu a declaro aberta. no dia 23 de abril, em Campinas. Estamos aqui, recebemos
Hoje, para nossa satisfação, temos como conferencista o convite e, para nós, foi um pouco apressado. Por isso,
vou dividir essa primeira parte em três etapas.
o Professor e Coronel da Reserva Geraldo Cavagnari Filho,
que é Diretor Adjunto do Núcleo de Estudos Estratégicos A primeira etapa - peço desculpas aos srs, porque
da Unicamp. Quero agradecer a sua presença, a atenção com vou ler - são conclusões a que o Núcleo de Estudos Estra-
que V. s.a nos distingui, e solicitar do Sr. Secretário que tégicos chegou, depois de dois anos de trabalho. E, logo
proceda a leitura da ata da última reunião. em seguida, daremos a nossa posição. Por último, justifica-
Procede-se a leitura da ata. remos a posição adotada.
1. No debate sobre a defesa do Estado e da sociedade,
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Em discussão a questão central é o controle democrático das Forças Ar-
a ata.
madas. Isto é, como poderá ser estabelecido o controle do
Em votação. poder político sobre estas forças, de modo que fique afas-
Os Srs. e Sras. Constituintes que estiverem de acordo, tada a possibilidade futura de intervenção militar no pro-
permaneçam sentados. (Pausa.) cesso político, assim como fique garantida a participação
efetiva da sociedade civil nas decisões de defesa nacional.
Aprovada.
Os colegas receberam um roteiro do que o Secretário Em tese, este controle poderá ser formalizado no novo
acaba de proceder a leitura. Como podem observar, nós texto constitucional pela redução da influência militar no
temos audiências públicas definidas até o dia seis de maio. nível de decisão política e estratégica, pela integração da
E nunca é demais lembrar que o prazo regimental para o organização militar numa estrutura unírícada e pela ex-
relator apresentar o seu parecer encerra dia onze de maio. clusão da segurança pública da responsabilidade militar.
De maneira que, praticamente, a nossa agenda de audíên- 2. Na elaboração do novo texto constitucional, devem
cías públicas está caminhando par.a, o fim. ser considerados dois níveis de relação: o das relações
lSe algum colega tiver alguma entidade que gostaria Forças Armadas e Poder Político (Poder Civil) - a res-
na ver aqui representada, ou alguma personalidade que posta militar às demandas legais deste Poder Político; o
das relações Forças Armadas e Sociedade Civíl- a garan-
pudesse falar a respeito de assuntos atinentes a nOSSa
subcomissão, seria ínteressante que se manifestasse para tia do exercício da cidadania.
qUI.} pudéssemos (IQm o df1Vido tempo, providenciar o convi. São relações que deverão ser estabelecidas e desenvol-
te e, evtdentemente, fixa+: a data. Pessçalmente, gostaria vidas num quadro de estabilidade democrática, onde a. se-
de aproveitar essa oportunidade para colocar à reflexãp gurança do ordenamento político e jurídico repousa na Ie-
dos colegas e, depois, uma eventual díscussão após a fala gttímídade do poder civil e na eficácia decisória do Governo.
do nosso conferencista, uma questão que tenho a impres- Isto é, legitimidade conferida pela sociedade civil e eficá-
são que preocupa a todos n6s, que é o problema nuclear cia na transformação das demandas desta sociedade em
no :j3rasil. Parece-me que a Comissão de Ciência e Tecnolo- objetos de decisão política, (cabe aos Partidos Políticos
gia já estaria avançando alguma coísa nesse sentido, mas operar tal transrormação - pela articulação, agregação
acho que cabe a nós, salvo melhor juizo do Plenár-io, um e transmissão dessas demandas).
estudo' mais aprofundado a respeito desse assunto, sobre
o. aspecto de segurança, sobre o aspecto de rísco que isso, No cenário de estabilidade democrática, não pode exis-
evidentemente, pode acarretar. Sou Ieígo nessa área mas, til' um Estado forte, um único centro de Poder, nem uma
dada a importância dessa problemática, principalmente em sociedade disciplinada que se move por consenso. Ao con-
l'a~o desse triste exemplo, desse triste epísódío que houve trário, há o pluralismo dos centros de poder (embora só
ano passado na Rússia, eu acho que a Constituinte não um centro de-força - que garante o monopólio da víolên-
54 Segunda-feira 2C DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

da legítima sob controle do Estado), a participaç~o é i~­ tícípação da sociedade civil na formulação de decisões
tensa e livre, e o conflíto tanto pode ser uma dísrunção de defesa?
quanto um fator de mudança. Será que as forças conservadoras assimilarão a
Assim como a ação militar Ideve estar circunscrita ao ascensão ao poder, pelo jogo democrático, das forças de
quadro d~ defesa, o conceito de defesa deve assumir um mudança, portadoras de uma proposta sem compromisso
significado estritamente instrumental: garantir o p~tri­ com o status quo?
mônío, o poder legitimamente organizado, a soberania, a Será que as Forças Armadas aceitarão e se submete-
cidadania e a sociedade. A defesa de uma sociedade de- rão a um poder civil legítimo mas considerado não con-
mocrática (e da cidadania) tem sido precária no Brasil, fiável por elas?
porque quer dizer defesa de sua capacidade de exigir, de
participar, de reivindicar. Quer dizer defesa do seu direito Se as respostas a estas questões forem afirmativas,
ao díssenso, do seu direito de resistência ao abuso do poder. o novo texto constitucional terá eficácia. Mas a nossa
3. Não existe uma necessária inter-relação entre de- realidade, de certo modo, 'conspira contra a democracia.
fesa e uso da Força Armada, embora seja exato que, nos Por quê?
casos limites, o recurso ao seu emprego pareça ser a última Porque a autonomia militar no Estado e em face da
alternativa que um Estado possa utilizar para garantir-se sociedade civil é um fato real, concreto, que se manifesta
de agressão, mesmo quando a organização militar deva ter pela função política independente e auto-suficiente exer-
como único e exclusivo fim a defesa armada. O uso dos cida pelas Forças Armadas, pela capacidade militar de
aparelhos militares e o emprego da Força Armada cons- produzir iniciativas com relativa eficácia e pelo espaço
tituem apenas um dos perfis das modalídades defensivas. ocupado pelas Forças Armadas no nível de decisão.
A defesa cuida tanto de agressões vindas do exterior
quanto de agressões vindas do interior. Numa acepção de O fundamento desta autonomia é o controle que as
sentido moderno e democrático, o conceito significa: defe- °
Forças Armadas exercem sobre monopólio da violência
legítima - que pertence, por sua natureza, ao Estado.
sa de uma agressão externa ao espaço, à soberania e aos
interesses nacionais; defesa de uma agressão interna (vin- Controle que lhes permite tutelar o poder civil.
culada ou não a uma decísão e ação externa) às institui- Todo o esforço militar, desde o início do processo de
ções democráticas. abertura, tem-se dirigido para a preservação de sua au-
Segundo esta acepção, as Forças Armadas estão igual- tonomia, do controle de tal monopólio.
mente chamadas a defender o Estado de agressões inter-
nas, que tenham por objetivo a destruição dos sistemas :É a garantia de sua insubordinação futura em face
políticos e administrativo constitucionalmente estabele- de um poder civil legítimo não-confiável.
cidos esta acepção vincula estritamente a resposta mili- 5. A legitimação, pela sociedade civil, de um poder
tar ~os atos de agressão realmente efetuados, limitando, político não-confiável tem sido (e vem sendo) a maior
por isso, a defesa a uma posição defensiva e excluindo as preocupação para as Forças Armadas. Mas o núcleo desta
ações preventivas ou agressivas. preocupação reside na esquerdização do País, via Estado.
No caso da defesa interna há uma distorção, quando Daí todo o "construto teórico", que justifica (para os mi-
passa a abranger a salvaguarda da ordem pública, con- litares) a segurança interna como objeto de sua conduta
trolando a vida política e as suas manifestações de rua. no processo político, a partir da hipótese de guerra
l!: quando a classe política dominnte faz coincidir o con- interna.
ceito de defesa da Pátria e das suas instituições com a Em qualquer país do terceiro mundo, em qualquer país
defesa da ordem social e econômica vigente, o da defesa subdesenvolvido, existe para fins de planejamento militar
do status quo, As Forças Armadas assim utílízadaa tor- uma hipótese de guerra interna; consíderado conflito de
nam-se instrumento de regulação dos conflitos de inte- natureza ideológica, com um inimigo definido como ideo-
resses e das tensões econômicas e sociais do Pais, chegan- logicamente de esquerda. Nesta hipótese, o inimigo inter-
do a desempenhar verdadeiras e autênticas atribuições no é a esquerda revolucionária (ou potencialmente revo-
policiais. lucionária), que deve ser impedida de criar uma situação
Para que não ocorra tal distorção e as Forças Arma- de guerra interna. Se este "inimigo" reagir, tentando criar
das não tomem decisões ou não produzam iniciativas à uma situação revolucionária, ou mesmo pré-revolucioná-
revelia do poder político, devem ser observados os seguin- ria, ele deve ser destruído.
tes principios no estabelecimento do controle democrá- No entanto, a configuração da hipótese de guerra in-
tico destas forças: o de separação nos níveis de decisão terna não é desejável para os militares. Como ela pode
e execução; o de subordinação do poder militar ao poder ser evitada? O inimigo interno deve ser dissuadido, anteci-
civil (ou político). padamente, de qualquer ação desestabilizadora do
Daí os príncípios organizadores: o comando presiden- status quo. Ações desestabtlízadoras do status quo com-
cial das Forças Armadas; a total isenção política das preendem, também, no raciocínio militar, as ações legíti-
Forças Armadas, que comporta o afastamento do seu mas ide exigência, participação e reivindicação que emer-
emprego para fins partidários; a proibição das Forças gem da sociedade civil.
Armadas de exercerem influência na vida política',
enquanto "corpo organizado"; a escolha, por parte do Assim, todo esforço operacional é dirigido para evitar
poder político, dos princípios reguladores da organização a configuração de tal hipótese, dissuadindo o inimigo de
militar; a intervenção da força armada unicamente a conquistas políticas consideradas de alta sensibilidade, de
pedido do poder político e não de espontânea iniciativa alto risco. Para isso, deve ser negada ao (provável) inimi-
dos órgãos militares, tanto para a defesa externa quanto go interno a liberdade ide ação que possibilite a efetiva-
interna. ção de tais conquistas. Daí a importância, para as Forças
Armadas, da manutenção da autonomia militar no Estado,
4. Será que o novo texto constitucional, atendidas do controle militar do monopólio da violência legitima,
estas proposições, inibirá ou impedirá a intervenção mi- como condição da liberdade de ação das Forças Armadas
litar no processo político? Ou garantirá o exercíco da em face do inimigo interno. Condição, ao mesmo tempo,
cídadanía em toda sua plenitude? Ou permitirá a par- de negação dessa Iíberdads a este inimigo.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Segunda-feira 20 55

Não resta dúvida que a admissão de uma hipótese de cíonados pelo fim político - esses fins na guerra, a deci-
guerra interna é a admissão tácita de que o Brasil é uma são cabe, no seu mais alto nível, 'ao poder civil que é o po-
nação dividida. li: a admissão da falência do princípio da der político. A direção da guerra cabe ao poder político.
unidade nacional. Direção da guerra que nós Idizemos não é apenas estabele-
6. As Forças Armadas não cederão espaços sem ele- cer o objetivo da guerra. É, inclusive, definir os objetivos
vado custo Ide remoção. Caberá à sociedade removê-las dos militares da guerra.
espaços indevidamente ocupados. Isto é, depois de forma- Numa estrutura de estado democrático, como é que
lizado pelo novo texto constitucional o controle democrá- se distribui a decisão para se definir o obíetívo da guerraj:
tico das Forças Armadas, terá de ser desencadeado o se- Para se definir os objetivos na guerra? Dependendo d<ll
gundo momento da democratização - a construção da sistema de Governo, de qualquer maneira os: poderes
hegemonia civil. Deverá ser buscada a eficácia constitu- do Estado são representados nesta decisão. No nosso caso!
cional neste segundo momento, mediante a consolidação é o Presidente da República, que teria de ter o 'apoio
das instituições democráticas, o fortalecimento da socie- forçosamente do Congresso Nacional, não somente na
dade civil e a redução da autonomia militar no Estado. declaração do ato de guerra, mas também na tomada
A redução de tal autonomia e a transferência do con- das decisões dos atos de guerra. É verdade que o poder
trole do monopólio da violência legítima para o poder Po- Legislativo não pode viver o dia-a-dia da guerea, mas
lítico decorrerão de um texto constitucional que formalize pode ter a capacidade de controlar as decisões tomadas
o controle democrático das Forças Arm8Jdas e de uma so- no nível do Executivo. Além disso, tem de existír algum
ciedade civil que queira construir a hegemonia civil. Toda elemento dentro deste 'Processo decisório neste mesmo ní-
sociedade democrática é uma sociedade que está perma- vel, que debatem os sem: problemas relativos à guerra.
nentemente insatisfeita. ESSles elementos têm de ser mandados, têm de ter repre-
sentatividade politica. Os funcionários do Estado não têm
Baseado nessas idéias que foram desenvolvidas no Nú- responsabllídade politica. O Ministro do Exército, o Mi-
cleo de Estudos Estratégicos idéias que consubstancio já nistro da Marinha e o Ministro da Aeronâutlea, são repre-
que ~arte de dois anos de pesquisa, a proposta nossa'em sentantes do Governo nas Forças, e não ao contrário.
relação a como esse controle deve ser exercido, é: Não são comandantes de nenhuma Força. As três Forças
- apoiar a proposta, referente ao assunto em debate estão subordinadas ao Presídente da RepúbUca. Ele é um
feita no Anteprojeto de Constituição, elaborado pela Co~ elo polítíco-admínístratívo.
missão Afonso Arinos. Na guerra, o Ministro basicamente é eseanteado na
- aceitar as figuras constitucionais de Conselho de conduta das operações. Os comandantes de teatros de
Estado e Conselho doe Defesa Nacional propostas pelo re- operações são diretamente subordinados ao Presidente da
ferido anteprojeto. República, que é o único que tem responsabílídade polí-
tica perante a Nação. Por isto, foi eleíto pela sociedade,
- criar o Ministério da Defesa e rejeitar a figura do e legitimado 'por ela, para tomar deeísões de alto risco,
Comandante-em-Chefe de Força Singular. de alta sensibilidade.
Meus Senhores, baseado nisto entra a minha terceira
etapa. Quando observamos a proposta da Comissão Arinos,
que existe hoje na Constituição de "67, 'e as tendências de
Qual seria o raciocínio que conduziu nossos estudos se modificar essa Constituição de 67, fazendo algumas
para essas conclusões - servindo como introdução - e a maquiagens nos dispositivos constítueíonaís, nós vemos
essa aceitação da proposta da Comissão Afonso Arinos? que há uma contradição em que se propõe à Constituição
l!: muito comum nós observarmos citarem cláusulas. de 67, no que diz respeito ao que deve ser a decisão de
Guerra é um ato de violência para impor a nossa vontade alto nível no campo da defesa para um Estado democrá-
ao ínímígo. Mais adiante, abandonamos a teoria da guerra tico, para uma sociedade demoerátíea, Onde reside iSso?
abstrata, da guerra absoluta de iKIaus, se tomamos a teo- A primeira coisa, no caso do Conselho de segurance, Na-
_ria da guerra real de Klaus, e dizemos o seguinte: a guerra cional. Os dois únicos membros que têm responsabilidade
é a continuação da política, por outros meios. política no Conselho de Segurança Nacional, são o Presi-
dente e o Vice-Presidente da República. Os demais são
Mas, isto não é suficiente para nós construirmos todo demissíveis ad nutum pelo Presidente. Além disso, '110
um raciocínio para justificar a submissão das Forças Ar- próprio Conselho cabe formular as bases d8i política: de
madas ao Poder Público e, no nosso caso, se pretendemos segurança nacional e definir os chamados objetivos na-
construir um Estado e uma sociedade democrática, tem de cíonaís permanentes. As bases da política nacional são
ser estimado por esta sociedade. formuladas pelo poder político, pelo poder civil. Os obje-
A guerra tem uma origem, tem um motivo, tem uma tivos naeíonaís permanentes são definidos pelo poder civil,
intenção e tem um fim político. Bem, se ela tem uma ori- que representam interesses da sociedade. Então, observa-
gem, ou um motivo, um fim e uma intenção política, a mos que um Conselho totalmente submetido ao Executivo
guerra é um instrumento da política. ~ um instrumento tem todas as atribuições de traçar uma política de defesa
que serve à política, quando falham os instrumentos para e uma 'estratégia para o Paía Observamos, mais adiante,
resolver determinados problemas políticos. Então, a guer- que cabe ao Presidente da República a direção da política
ra surge de uma situação política. Os objetivos da guerra da guerra. Não! O que cabe ao Presidente da República é
são objetivos políticos. O fim da guerra é o fim da política. a direção da guerra, porque se nós colocarmos essa "po-
O fim na guerra, isto é, os objetivos militares na guerra, lítica da guerra", nós teríamos de mais: embaixo, colocar-
decorrem deste fim, destes objetivos políticos. Se ocorre mos a direção da estratégia da guerra." E teríamos de
isso, pergunta-se: quem conduz o poder pol1tico na guer- escolher qual o nível que deveria, então, enoduzír a guerra
ra? Quem conduz a estratégia na guerra? O poder político, no seu nível estratégico. Quando a conduta da guerra nos
e não o poder militar. Por quê? :A finalidade da guerra é dois níveis de decisão - o político e o 'estratégico, -
ganhar a paz, a finalidade das operações militares é obter cabe ao poder político, e não ao poder militar, e não às
a vitória. Mas, se for possível sacrüicar a vitória para se Forças Armadas.
ganhar a paz, sacrifica-se a vitória em benefício da paz. Passando à destinação das Forças Armadas, o que
Porque essa é a decisão do poder político. Bem, se o fim temos observado é o seguinte: dois argumentos têm se
da guerra e os fins na guerra são políticos ou são condi- 'apresentado no debate que eu tenho visto pela imprensa.
56 Segunda-feira 2Q DIÃRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o primeiro diz respeito à tradição, o segundo aos casos Em primeiro lugar, gostaria de registrar para o repre-
exemplares. Quanto à tradição republíeana nós não pode- sentante do Núcleo de Estudos Estratégicos da UNICAP,
remos invocar, porque nossa tradição republicana não é, a importância da Universidade brasileira ter criado um
politicamente, muito exemplar. Se esta tradição não é núcleo de estudos dessa natureza e de ter promovido um
muito exemplar e dificulta mudanças no status quo que seminário sobre uma temática que diz respeito a um
a sociedade reclama, essa tradição não é saudável. assunto crucial para a Assembléia Nacional Constituinte.
A tradição que deve ser aproveitada é aquela que Foi com base nesse ponto de vista que nós apresentamos
permite conservar aquilo que a socíedade aceita e quer, a proposta de convocar o Núcleo de Estudos Estratégicos
mas que, ao mesmo tempo, pemíte que modificações se- da UNICAMP para essa audíêncía pública que agora rea-
jam feitas. lizamos aqui. Professor Cavagnari, no conjunto das dis-
Segundo, os casos exemplares. A primeira coisa que cussões de V. s.a em nenhum momento foi citada, foi
se diga é a seguinte: os níveis de decisão política estra- argumentada a inclusão no texto Constitucional de alguns
tégica nos países desenvoívídos. Em países que têm um preceitos e conceitos que são parte integrante e decisiva
perfil exemplar, esses níveis estão ocupados pelo poder da atual Constituição. Refiro-me precisamente à situação
político. da atual Constituição, que trabalha, na forma de lei, com
os conceitos de segurança nacional.
As missões de segurança interna que dizem, que são Gostaria de ouvir a opinião de V. Ex. a sobre o con-
atribuídas nesses países, não são missões de salvaguarda c~ito de segurança nacional porque, no meu ponto de
da segurança pública. Nós não podemos considerar como VIsta, esse conceito deve ser expelido da futura Consti-
um exemplo o que ocorre na Irlanda do Norte. Naquele tuição. Não apenas o conceito de segurança nacional nos
pais, o caso é quase de uma guerra civil entre duas facções, termos em que está na atual Carta mas também os ins-
em que uma delas quer se separar do Reino Unido. É di- trumentos jurídicos e legais que foram produzidos por
ferente! A ordem pública cabe à polícia. A ordem interna esse conceito. Refiro-me especificamente ao conceito que
cabe às Forças Armadas ,se necessário, mas determinadas f?i materíalízado _atrav~s. do Conselho de Segurança Na-
pelo poder político, e não a iniciativa militar à revelía clO~al ~omo orgao ~axlmo para elaborar os objetivos
desse poder politi co. naC!Onals. Se V. s.a e a favor de expelir do texto consti-
tueíonal esses conceito, qual a sua posição sobre o Con-
A pergunta que seria feita: Qual é a finalidade do selho de Segurança Nacional? - Faço uma diferença em
Ministério da Defesa? É a questão de custo, e é 'a questão relação ao conceito de Estado.
q.e reduzir a função politica das Forças Armadas, dentro
do processo político, de maneira que se reduz essa capa- E a outra questão, especificamente sobre o papel cons-
cidade de intervenção militar no processo político? Quan- titucional das Forças Armadas, na medida em que V. s.a
to à questão de gastos públicos não vou entrar no mérito, defendeu que as Forças Armadas teriam um papel de de-
porque ·a finalidade não é a questão de custos. Pode ser fesa, que é diferente do papel de Segurança Nacional, por-
que os custos sejam mantidos, mas eles podem ser otímí- que a própria Constituição em vigor estabelece, além do
zados com a integração das três Forças. papel de defesa, o papel de segurança nacional, pela Emen-
da n.O 1, de 69. Se se retira das Forças Armadas esta
Qllamto jl. preocup~ção. de reduzir a função ~lítica, tarefa de responsáveis pela segurança nacional, expelido
eu dírí'a que sim, que e objeto de debate nosso, hoje, na esse conceito, se V. Ex.a concorda em extinguir também
sociedade, porque o fantasma _que nos persegue: ~ o d~ das Forças Armadas, os serviços de polícia política que
possibilidade de nova intervenção no processo político. Dal foram montados em função da aplicação do conceito de
querermos reduzir essa influência política das Forças Ar- segurança nacional no sentido concreto.
madas e colocá-las no nível de sua influência técnica nas
decisõés de defesa, e são nas decisões políticas de defesa. , A outra questão que eu formulo a V. s.a é sobre o
Ministério da Defesa. V. s.a argumentou muito bem do
Meus Brs., eu não queria me estender mais, e deixar ponto de vista da hegemonia do poder civil. Eu tenho aqui
as colocações que foram feitas nestas três etapas, numa comigo uma surpresa agradável, a revista Veja desta se-
introdução lida, numa reanrmação da proposta da Co- mana, que diz na sua matéria Ponto de Vista, tem um
míssão Afonso Arinos, e na apresentação de algumas artigo assinado por um capitão-de-mar-e-guerra, que se
idéias para definir, precisamente, o entendimento que pronunciou sobre esta questão no Ministério da Defesa.
nós temos de onde se situa o nível de decisão política e o
nível de décisão de conduta e de direção na guerra. Coloco- Eu abordaria uma outra questão sobre este tema: no
me, agora, à disposição dos Srs., para as perguntas. Brasil, atualmente, nós temos 6 Ministérios militares. Os
três Ministérios da Marinha, Aeronáutica e Exercito, o
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Gostaria de Chefe do SNI na condição de Ministério - aliás, com
convidar o Senador Constituinte Jarbas Passarinho para exceção do Brasil, são poucos os países em que os res-
tomar assento à Mesa, já que é o Presidente da Comissão ponsáveis pelo Serviço de Informação têm status de Mi-
Temática da qual a nossa Subcomisão faz parte. nístro de Estado - o Chefe da Casa Militar e o Coman-
Convidaria o Relator Prisco Viana, para também nos dante-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. En-
honrar com sua presença aqui na Mesa. tão, o número de Ministros militares desse Ministério tem
também o sentido de uma influência pública marcante nos
O Prof.essor Geraldo Cavagnari Filho, Diretor Adjun- próprios assuntos do Governo.
to do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, acaba
de proferi aqui a sua palestra. Agora, então, eu abro um o Ainda outra questão: eu, por discordar da formulação
espaço para o debate. da Comissão Affonso Arinos, que destina às Forças Arma-
Não há, por falha da Secretaria, uma inscrição prévia, das o papel de responsável pela ordem interna, convocada
mas fica a critério dos membros desta Subcomissão e, na pelos poderes constituídos, pela defesa da Pátria, pela
medida em que o colega pretenda formular uma pergunta, segurança do País em relação às ameaças externas, quais
eu imediatamente concederei a palavra. Pelo que vejo, o seriam, na opinião de V. s.a, as razões para esta formu-
Constituinte José Genoíno pede a palavra para um ques- lação de responsáveis pela ordem interna, na medida em
tíonametno. que se as Fo.rças Armadas do. Estado têm o monopólio da
tor~a, o fato de serem responsáveis pela ordem interna,
O SR. CONSTITUINTE JOSE GENOINO - Sr. Pre- mesmo convocados por um poder político, considerando a
sidente e Srs. Constituintes. realidade ~tu!J.I cio Brasíl, considerando a própria ínterre-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 57

rência militar indireta, em muitos momentos - ela pode têm que ter os seus serviços de informações, mas: são
se dar de maneira aberta ou indireta; eu acho que hoje serviços voltados para um determinado tipo de ameaça,
existe uma presença militar, uma certa tutela militar de para um determinado tipo de inimigo, para um deter-
maneira indireta - quais seriam os outros argumentos minado tipo de conjuntura, para um determinado tipo de
para fundamentar essa proposição da Comissão Affonso situação que possibilite, que veja, que antecipe a possi-
Arinos, responsáveis pela ordem interna. Se nós não esta- bilidade futura de um emprego violento no Poder.
ríamos diante de um risco muito grande, de não resolver Então, justifica-se nesse sentido, agora, por que os
o problema crucial que é a desmilitarização do poder polí- Serviços: de Informações no Brasil se tornaram na sua
tico no Brasil? expressão, polícias-políticas? Eles foram criados com esta
O SR. PROFESSOR GERALDO CAVAGNARI FILHO finalidade que eu citei. Nós não tínhamos um órgão, uma
Vamos responder, primeiro, à primeira parte com seção dentro do Conselho de Segurança Nacional que
respeito ao Conselho de Segurança Nacional. No debate cuidasse das informações e eontra-ínformações, mais ba-
que houve no dia 23 de abril na UNICAliJP, o professor sicamente militares. E o País se ressentia da falta desse
Luciano Martins, - que também é professor da UNICAMP órgão. Então, criou-se o serviço Nacional de Informações.
- levantou a seguinte proposta: nós temos de reformular Mas nós não tinhamos especialistas, não tínhamos qua-
a doutrina de segurança nacional. Eu fui um dos debate- dro. E os mais afeitos a esse tipo de trabalho, forçosa-
dores, e dei um aparte dizendo que não concordava com mente fomos procurar nos meios, militares.
ele na preocupação que ele tinha de se reformular a dou- Só que foram recrutados basicamente não aqueles que
trina de segurança nacional. Se nós pretendemos construir seriam os desejáveis para compor o quadro de um Ser-
um Estado democrático, uma sociedade democrática, e es- viço de Informações. O Serviço de Informações, no nível
~amos procurando ?-efinir claramente quais as regras do que eu estou colocando, é uma atividade nova; as infor-
Jogo para que esse Jogo flua e que as partes não recorram mações, é um trabalho de alto nível, Mas é que nós re-
à solução militar, como vívandeíras do quartel - como crutamos os elementos que vieram de uma experiência
falou o falecído Presidente Castelo Branco - a própria policial e, daí, começou a haver uma distorção dentro dos
Constituição é a doutrina de segurança nacional. Ela mes- Serviços de Informações; daí a chantagem política e a
ma é que vai dar a garantia ao EStado, a garantia à socie- chantagem dentro da própria área militar; daí a vigi-
dade e a garantia ao cidadão. Não há necessidade de nós lância na área militar. Há unidade nas Forças Armadas?
termos uma doutrina de segurança nacional. A nossa segu- Há, mas há díssenso também. E o díssenso existe desde
rança nacíonal tem de estar afirmada pelo texto constitu- 1964. Agora, por que que o díssenso não se manifestava?
cional. O conceito que se adotou aqui, que é a garantia dada
Porque não tinha capacidade de se organizar e nem de
pelo EstaJdo em determinada conjuntura, para proteger a articular, porque ele era vigiado. Eu vivi uma época em
Nação contra antagonismos, e aquelas coisas todas é o ra- que o militar tinha medo não de falar, mas tinha medo
ciocínio militar. Todo e qualquer movimento de mudança de ouvir, porque se ele ouvisse e não denunciasse, ele
que piese contra o status quo mesmo que esse movimento estaria comprometido. Eu defendo o Serviço de Informa-
não víese contra as instituições, esse movimento, no plane-ções. O que eu estou condenando é uma distorção de
jamento militar, pasava a ser um movimento desestabiliza- rota, que houve nesse Serviço, inclusive militar.
dor, e caía no campo da segurança nacional .Aí o raciocínio Quanto ao Ministério da Defesa eu li isto hoje de
ia conduzindo a que, no final, uma greve londrina estaria manhã, no avião as declarações desse capitão de mar-e-
ameaçando o poder político aqui em Brasília, desconhe- guerra, e me surpreendi. Eu vinha com 'essa proposta do
cendo que a sociedade tem esse direito de reivindicar, tem Ministério da Defesa não com aquela finalidade que se
e~se direito de exigir, tem esse direito de participar. En-
tao, é um conceito que, numa construção teórica, parece diz d:'e diminuir os custos, mas com a finalidade de se
ser completo. otimizar os custos, e também com a finalidade de se
otimizar o emprego operacional - esta é a finalidade -,
Quando no campo da segurança ele diz o que é a partindo do pressuposto de que do nível de direção da
segurança, quem administra a segurança, para quem e guerra, há um elemento intermediário entre a direção e a
contra quem. Mas, acontece que essa segurança nacional, execução das operações na guerra, que integre essas 3
o conceito que passou a ser aplicado, passou à segurança Forças - porque hoje não existe, e nunca existiu, teatro
de alguns e à insegurança de muitos. E, com isto, a dou- de operações em uma arma só; os teatros de operações
trina de segurança nacional, aliás, existe uma tese no am- são de operações conjuntas ou combinadas.
biente universitário de que nada mais é do que uma ideo- . Então, esse Ministério da Defesa _desde já começaria
logia de segurança nacional, porque a doutrina de segu- a integrar as Forças Armadas, buscando uma uniformi-
rança nacional nada mais foi do que a doutrina de um dade de procedimentos, de objetivos, para se evitar que,
Estado, para um Estado, um Estado julgado ideal pelos no futuro, se nós tivermos um conflito, a Marinha faca
formuladores. O que nós podemos ter é uma doutrina de
defesa, mas essa é doutrina operacional, doutrina para as acitosua guerra, a Aeronáutica faça a sua guerra e o Exér-
faça a sua guerra, como aconteceu com as Forças
Forças Armadas, o que é muito diferente. O que comanda Armadas
os procedimentos, os comportamentos operacionais das defender oargentinas, nas Guerras das Malvinas. Daí eu
Ministério da Defesa.
Forças Armadas, do cidadão, da sociedade, dos partidos
políticos, é a Constituinte. Quanto a questão dos seis Ministros: militares, há um
Daí a colocação que eu fiz de que a Constituição é absurdo aí: o Chefe do EMFA e o Chefe da Casa Militar
que deveria substituir 'a chamada doutrina de segurança a quem foi dado status de Ministro, porque o Chefe da
nacional. Não tocamos no tema de Sregurança Nacional, Casa Militar nada mais é do que um reforço porque grande
porque é tão abstrato, tão abrangente que se formos fazer função dele, mesmo, é ser Secretário do Conselho de Se-
uma reflexão dedutiva a partir dele, nós vamos chegar gurança Nacional. Por isso é que quando a gente vê a
aos maiores absurdos no nível da execução. proposta da Comissão Afonso Arinos, há um aspecto que
deve se tomar cuidado, quando diz que a organização de
Quanto ao papel das Forças Armadas na defesa, no funcionamento desses conselhos, a lei complementar é
que diz respeito ao papel dos serviços de informações, todo que decidirá. Devemos tomar cuidado nessa "lei comple-
país tem que ter os: seus serviços de informações. As in- mentar", que para esses aparatos ·burocráticos desses con-
formações se destinam a alimentar, a subsidiar as deci- selhos não venham a ter influência preponderante mi-
sões tomadas no nível correspondente. As Forças Armadas litar, como ocorre hoje no Conselho de Segurança Na-
58 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

cionaI. Por quê? Porque o Chefe da Casa Militar é o Se- Esse risco nós vamos correr. Porque que nós vamos
cretário do Conselho Segurança Naeíonal - Daí essa in- correr? Porque a ordem interna, na acepção moderna de
fluência. Então, são esses dois: o Chefe da Casa Militar defesa, não está separada num certo sentido da questão
e o Ministro Chefe do EMFA. externa. E as Forças Armadas podem ser chamadas para
defender o Estado e as suas ínstítuíções. Agora, não é
O que é o EMFA? O EMFA é o Estado-Maior do Pre- preservar o Estado ou garantir o Estado contra a socie-
sidente, é o Comandente em Chefe das Forças Armadas. dade. A diferença é muito grande. Justifica-se as Forças
O seu estado-maior é o Estado-Maior das Forças Arma- Armadas em caso de ínsurrêncía mas, não se justificam as
das. Deu-se a ele o status também de Ministro, e com Forças Armadas em conflitos e polêmicas, não se justifica
isso, cresceu o número de Ministros. Ministro-Chefe do o emprego de Forças Armadas para garantir patrimônios
SNI, pela lei pode ser qualquer cidadão, desde que preen- públicos. Não há necessidade de todo esse aparato. Não há
cha os requisitos de idade, de posse dos seus direitos poli- necessidade! Ou as forças policiais são suficientes, ou nós
tícos, como pode ser também qualquer cidadão Ministro temos que modificar todo o sistema policial para atender
do Exército, da Marinha e da Aeronáutica - pode ser a essas finalidades.
um civil. A influência militar, esta vinculação e Serviços
de Informações, decorre, primeiro, do fato de que foram Eu não sei se eu respondi a todas as suas perguntas.
os militares os primeiros que organizaram, os prtmeíros O SR. CONSTITUINTE JOSÉ GENOINO - Muito
que articularam o Serviço de Informações. E criaram-se obrigado.
víeulacões muito estreitas entre o Serviço Nacional de
Informações e as Forças Armadas. Uma das causas que O SR. PRESIDENTE JOSÉ TAVARES - Concedo a
permitiu a militarização do Serviço Nacional de Infor- palavra, pela ordem, à Constituinte Sadie Hauache.
mações foi considerar o exercício de função nesse Servi- A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - V. S a
ço como função militar, porque se não fosse exercício da mencionou o Ministério da Defesa e fez uma referência
função militar, o militar que fosse destacado para lá às Malvinas. Na época eu era jornalista em Manaus, co-
criaria naquele caso dos 2 anos, e não podendo voltar. mandava uma rede de televisão e tive a minha atenção
A partir da hora em que se deu a condição, a mesma totalmente voltada para a Guerra das Malvinas , a
coisa à função militar, ele pode passar 5, 6 e até 7 ou Argentina querendo dominar as Malvínas, No meu enten-
der, aquela situação foi de uma aventura irresponsável
10 anos. e suicida. E não necessariamente porque não havia um
A finalidade do Ministério da Defesa é que, como o Ministério de Defesa. No meu entender, os Ministérios
Estado-Maior do Presidente, estaria subordinado em da Marinha, da Aeronáutica e do Exército estão perfei-
tempo de paz ao Ministro da Defesa, que é o EMFA, e tamente entendidos e entrosados, principalmente na
haveria os Vices-Ministros das 3 Forças com os estados- nossa área do Amazonas.
maiores singulares. E no Serviço Nacional de Informa- O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Vamos
ções não há necessidade de se ter um militar. Mas, há ,primeiro retornar às Malvinas. Nós temos que ver o pro-
uma aberração no Sistema Nacional de Informações, além blema das Malvinas em dois níveis: o nível da decisão
desse caso da função militar: é que quando se criou a política e o nível das operações militares.
Escola Nacional de Informações, tornou-se privativa do
cargo de oficial-general - o civil não pode ser diretor No nível da decisão política, não resta dúvida que
da Escola Nacional de Informações, o que é outra aberra- todo o desastre começou ali. Em que se avaliou maIo qua-
ção. Então, as cunhas da militarização foram plantadas dro, supondo-se que a Inglaterra não reagiria. Inclusive,
legalmente, e elas têm que ser removidas. Para isso, veio à televisão o Embaixador Argentino, no Brasil, Oscar
estamos no ano da Constituinte. Camilion, que disse que não via possibilidade dos ingleses
descerem 8 mil Rm. O segundo aspecto foi, no mínimo, a
Quanto ao papel da ordem interna que nós defen- neutralidade dos Estados Unidos. Como haver esqueci-
demos em todos 0.3 países as Forças Armadas têm a mento que uma potência, quando tem dois aliados e é obri-
missã~ da ordem interna. Mas não podemos confundir gada a decidir em qual dos dois lados ela ficará, natural-
ordem interna, que é a defesa do sistema político do mente o aliado preferencial, o mais importante recebe este
Estado do ordenamento político e jurídico do Estado, apoio. Foi o que ocorreu em relação à Inglaterra e à Ar-
com a' salvaguarda da ordem pública, que diz respeito a gentína neste conflito.
deteimínadas manifestações que ocorrem na sociedade, Vamos ver as operações militares. Primeiramente, os
que é direito dela e que é natural de toda a sociedade desastres militares se fizeram na área do apoio logístico.
CLemocrática. Isso nos não podemos confundir. Agora, E uma coisa que se observa nas Forças Armadas dos países
V. Ex. a levantou o risco. Há risco? Há. Não há risco nos do Terceiro Mundo são as dificuldades de manter o apoio
Estados Unidos, não há risco em qualquer pais da Europa logístico em níveis satisfatórios. É o prhneiro aspecto.
ocidental. Mas, no Brasil, e em qualquer pais do terceiro
mundo há esse risco. E, esse nós temos que correr, porque O segundo aspecto que se revelou na época das Malvi-
nós pr~tendemos fazer um texto constitucional moderno, nas - e dai a criação do Ministério da Defesa, buscando
que dure. Por isso, antes da nossa proposta, dizer que essa uma maior integração - é que nos países do Terceiro
democratização que nós queremos não se encerra com Mundo há outra deficiência, além do apoio logístico, que é
a aprovação dessa Constituição. E sim, inicia-se um a capacidade de exercer o comando das grandes unidades.
segundo momento desta democratização, que é buscar a E é o que ocorre, atualmente, na guerra entre o Irã e o
consolidacão dessas instituicões democráticas, é buscar o Iraque, naquela guerra quase que semi-estabilizada, semi-
fortalecimento da sociedadé civil. Se nós queremos ter paralízada, E uma das grandes vantagens no conflito do
uma sociedade forte, nós temos que deixar que ela exerça Oriente Médio, Árabe e Israelense, é essa capacidade que
o seu direito na experiência diária, porque a democracia possuem os israelenses no exercício do comando de gran-
que se constrói diariamente, é no dia-a-dia, são nos ensi- des unidades, e que não têm os árabes. Bem, a Argentina
namentos que vão se colhendo. E a sociedade só passará a demonstrou exatamente isso: incapacidade no exercício
ser democrática depois que fizer um acervo dessas expe- de grandes unidades, a integração nas operações. Esse foi
riências. Todos os países fizeram isso, com exceção dos o segundo aspecto da Guerra das Malvinas. E este se-
Estados Unidos que já nasceram democratas com a sua gundo aspecto, quanto ao primeiro apoio logístico, é que
Constituição. despertou para a criação Ido Ministério da Defesa. Para que
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 59

se buscasse a uniformidade nesse apoio logístico, que s·e Se nós lermos algumas Constituições, como por exem-
buscasse maior eficiência e eficácia na presteza desse apoio, plo, a dI'L União Soviética, nós vamos ver que a descrição
em relação aos teatros de operações. E, no que diz respei- das Forças Armadas, a Constituição da União Soviética
to ao exercício do comando das grandes unidades, é porque diz: "Com o fim de proteger as conquistas socialista, o
as três Forças, nessa guerra, fizeram suas guerras em se- trabalho pacífico do povo soviético, a soberania 'e a inte-
parado: a Marinha foi praticamente neutralizada com o gridade territorial do Estado, foram instituídas às Forças
submarino nuclear inglês; o Exército quase que ilhado, si- Armadas da União Soviética, estabelecído o serviço militar
tiado, porque lhe faltava o apoio necessário. A única que obrigatório." - é uma definição radicalmente distinta
soube desempenhar as funções táticas e de pequena suní- daquela que nós imaginamos.
dades foi a Aeronáutica. Nã9 poderia vencer um inimigo Se nós pegarmos a Constituição do Chile, que prevê
que tinha uma integração logistica eficiente, eficaz, tinha o Ministério da Defesa, ela diz que: "As Forças Armadas
equipamento e tinha, também, a capacidade de exercer o estão integradas só pelo Exército. A Armada da Força
comando desde Londres, de dirigir a Guerra. E os argen- Aérea, existem para a defesa da pátria, são essenciais
tinos não demonstraram capacidade de dirigir a guerra, para a segurança nacional e garantem a ordem institu-
nem de planejar - e nem de Porto Stanl,ey. cional da República". Uma definição um tanto parecida
Bem, a unificação e a integração e a grande preocupa- com a da Constituição da União Soviética.
ção de integrá-las é procurar esses dois tipos de eficiência, Se nós pegarmos a Constituição de Portugal, nÓS va-
de maneira que, o trabalho que se faz em tempo de paz mos ver que ela diz: "As Forças Armadas incumbe a defe-
se proj ete nos trabalhos em tempo de guerra. sa militar da R-epública". Se nÓS pegarmos a definição
A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Sr. de república portuguesa, ela diz: "A república portuguesa
Presidente, peço a palavra, pela ordem. é um estado de direito democrático baseado na soberania
popular, no respeito e a garantia dos direitos de liberdade
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Pela ordem, fundamentais e no pluralismo de expressão e organização
concedo a palavra. político-democráticas, que tem por objetivo assegurar a
A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Eu gos- transição para o socialismo, mediante a realização da de-
taria, neste exato momento, de dizer que eu entendi o que mocracia econômica, social e cultural e o aprofundamento
V. s.a expôs. Porém, no meu entender, na Guerra das da democracia participativa". A defesa disso tudo é das
Malvinas ocorreu um fato interessante: é que os Estados Forças Armadas.
Unidos, dando apoio à Inglaterra, por seus interesses, ce- Nós vamos de ter que colocar na nossa Constituição
deu. no Atlântico, aquela base de Santa Helena. Sem isso a nossa história. Mas, me preocupa que nós coloquemos
jamais eles poderiam chegar até as Malvinas. E a tecno- na nossa Constituição os nOSSOS traumas.
logia, e os satélites espiões.
Eu sou ex-preso político, fiquei exilado muitos anos,
O que a Marinha e toda a Força Aérea Inglesa tinham? recebi maus tratos daquela época, mas não posso colo-
Informações de onde estavam os navios, onde estavam os car esses problemas numa Carta que tem que ser per-
soldados argentinos, mas não necessariamente por falta manente.
de um Ministério da Defesa.
O que está nos preocupando, com as propostas que
O SR. GIDRALDO CAVAGNARI FILHO Não estou os partidos progressistas - o meu partido, os outros par-
dizendo que a Argentina perdeu a guerra por falta de um tidos progressistas têm feito - e, certamente, na linha
Ministério da Def,esa. O que eu estou dizendo é que, da das colocações que V. s.a fez, é um pouco a colocação
derrota sofrida nas Malvinas, surgiu uma série de casos, desse trauma, é o detalhamento demasiado das nossas
cujo Ministério da Defesa seria uma das soluções para re- preocupações. Se por um lado, as Forças Armadas histo-
solver, atenuar ou encaminhar esse problema. Daí a ricamente constituídas aqui no nosso País; portanto, com
grande preocupação do Relatório Rademaker de integrar os problemas políticos todos que V. s.a bem descreveu.
os trabalhos das Forças Armadas, em forças combinadas, tem preocupações a respeito da nossa ação política, e
desde o tempo de paz, e de maneira que esse trabalho in- querem traduzir essas preocupações na Carta Constitu-
tegrado estivesse sendo gerenciado por uma integração no cional, através do Conselho de Segurança Nacional e das
nível mais alto da decisão político-militar, que seria o definições que foram colocadas aqui há duas sessões an-
Ministério da Defesa. teriores. Por outro lado, nós não podemos reagir da mes-
Esta é uma das recomendações do informe Radernaker ma maneira, colocando essas nossas preocupações pre-
ventivas no texto constitucional em relação às Forças Ar-
a respeito disso. madas, tentando elaborar um texto descritivo e detalhado
Quanto à derrota dos argentinos, existem várias cau- em que nós, formalmente, colocamos todas as salvaguar-
sas, como eu disse da avaliação, do apoio logístico, do das contra a intromissão das Forças Armadas.
exercício do comando - a derrota foi muito rápida - e, Essa a minha preocupação, que eu gostaria que V. s.a
também, das facilidades tecnológicas que tinham os ingle- pudesse desenvolver, sobre que questões são constitucio-
ses, das facilidades de informações que tinham os ingleses, nais e que questões dependem da nossa ação política, pro-
fornecidas pelos asnerícanos. Logicamente que tudo gressivamente colocando as Forças Armadas nas suas ta-
isso concorreu. Eu não poderia dízer a V. s.a que a causa refas próprias, que são observadas nos países desenvol-
da derrota é uma só. São várias as causas. vidos?
Eu analisei mais num aspecto, para mostrar como se O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - As questões
conduziu a proposta Rademaker, para a criação do Mi- constitucionais, antecipadamente nós podemos prever, as
nistério da Defesa, desapareceu a figura do Comandante quanto as questões políticas, será muito difícil taser uma
em Chefe que o tornava quase um senhor feudal, previsão antecipada.
dentro de cada força singular.
Vamos ver a questão constitucional. Nós temos que
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a colocar, na nossa Constituição, um pouco da nossa his-
palavra ao Constituinte César Maia. tória. Mas, naquilo que ela tem de bom e também na-
. o SR. .CONSTITUINTE CÉSAR MAIA A nossa queles traumas, que V. Ex.a citou, naquelas experiências
preocupação é basicamente 'em. relação as quais são as desastradas que ocorreram em todo esse processo, parti-
questões constitucionais e quais, são as questões políticas. cularmente republicano, em que as Forças Armadas estí-
60 Segunda.feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

veram envolvidas. Não vamos pegar nem a Constituição articulados, nem bem organizados. Há muita critica aos
doe Portugal, nem a Constituição da União Soviética ou nossos partidos. Partidos fortes, sociedade forte; sociedade
do Chile, para concluirmos o nosso raciocínio. Vamos pe- forte, partidos fortes.
gar os dois textos; o texto do anteprojeto da Comissão O risco que nós corremos - como eu coloquei na
Afonso Arinos e o texto de 1967, que está um pouco modi- proposta do Constituinte José Genoino - é dessas defi-
ficado, e uma proposta que me deram recentemente que ciências que nós temos. Porque as questões políticas vão
dizem ser a proposta das Forças Armadas, que é a ma- decorrer não somente das indicações que o texto dará,
nutenção do Conselho de Segurança Nacional e daquela mas também da realidade que nós vivemos. Daí eu ter
destinação pela Constituição de 1967. dito, logo no início, que a realidade, num certo sentido,
A destinação constitucional que foi dada na Comissão conspira contra a democracia no sistema brasileiro. E aque-
Afonso Arinos atende, num certo sentido, as questões le instinto golpista ainda existe no Brasil. A nossa extre-
constitucionais que nos interessam, isto é, a questão da ma-direita vive em estado permanente de golpe, de conspi-
defesa externa, que está expressa pelos indicadores da ração. Então, são riscos que nós teremos de correr. Mas,
soberania e integridade territorial. Ela atende nesse as- não é porque teremos que correr esses riscos que os trau-
pecto. Sobre a questão da defesa interna, ela está muito mas vão determinar que nós devemos retirar das atribui-
clara. O que temos que defender na ordem interna par- ções das Forças Armadas a defesa dos poderes e da ordem
tindo do pressuposto de que esta constituição que esta- constitucional. Não caberá a elas decidir à revelia do po-
mos formulando é uma COnstituição desejável, a ordem der político, quando deverão atuar. Caberá ao poder polí-
constitucional, que decorre do texto e os poderes consti- tico tomar esta decisão, e não às Forcas Armadas. Estas
tucionais que irão administrar esta ordem. têm que ficar no nível de execução, não no nível de decio
Nesse aspecto, acredito que as questões constitucio- são política.
nais estão muito bem definidas nesta proposta da Co- O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Antes de pas-
missão Afonso Arinos - a ordem Constitucional, os po- sar a palavra ao próximo Constituinte inscrito, concedo a
deres constitucionais, a estrutura do Estado de direito. palavra ao eminente Constituinte Jarbas Passarinho, que
Vamos ver, agora, o aspecto político. precisa se retirar e é o Presidente da nossa Comissão
temática, que nos honra com a sua presença.
A ciência política ensina que a ~sta~il!d.ade demoerá-
tica repousa basicamente, sobre doís crltéríos: o erltérlo O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO -
da legitimid~de e o critério de eficáiCia deciSória. Muito obrigado, Sr. Presidente.
O da legitimidade é que o poder tem que se! Iegítí- Em primeiro lugar, quero pedir desculpas por ter per-
mamente eleito, escoüüdo pelo voto, mas cabe a SOCIe- dido a prímeía parte da exposição, porque eu estava na
dade escolher ou legitimá-lo. outra Subcomisão, como testemunha-depoente. E caracte-
rizar, exatamente com isso, em relação a esta Subcomissão,
O da eficácia decisória diZ respeito ao desempenho a diferença. Lá eu poderia falar, porque fui convidado
do Governo legitimamente eleito. como presidente nacional do partido. Então, discutiria
propriamente partidos políticos e tudo aquilo que fosse
Bem, o recurso que tem a sociedade, quando_ esse correlato com os temas Aqui, estou no sentido de poder
segundo critério não é atendido, é fazer a renovaçao no participar dos debates, uma vez que presido a Comissão
pleito seguinte. e poderia ser inquinado de tentar influir na decisão das
A sociedade tem de aceitar as regras do jogo, regras Subcomissões, antes de chegarmos à Comissão. Quando
que foram estabelecidas nas questões constitucionais. chegarmos à Comissão, naturalmente eu terei, pelo que o
Regimento de ambas as Casas nos permite, a nós pre-
O que acontece na nossa tradição política republicana sidentes, a oportunidade de passar a Presidência e discutir
é que, quando os recursos da concilação e d_a coptação como um membro comum da Comissão.
falham a intervenção militar surge como solução aos pro-
blemas' políticos. Aí, o que ocorre? As regras do jogo não A palestra do Prof. Cavagnari sugere um desdobra-
foram respeitadas. A única coisa na democracia em que mento muito grande e muito rico para um debate, um
pode haver COnsenso é na regra do jogo. O díssenso é que diálogo. E eu admito que possa ser objeto de nossas dís-
conduz todo processo. cusões na fase final da Comissão. Na fase final da Comis-
são, porém, há uma desvantagem; nos 60 dias destinados
Pois exatamente onde deve haver o consenso é quero ao trabalho da Comissão, como de todas as Subcomissões,
nosso processo há ruptura. ~sso ac~nteceu em 30, :::conte- às Subcomissões cabem 50 dias, e apenas 10 dias para a
ceu em 45 fizemos um ensaio na década de 50, e tivemos Comissão, no final. se reunir e chegar a uma conclusão.
em 64. NaS questões políticas nós temos d~ ver, prímetro De maneira que, dentro desess 10 dias, é possível que
qual a regra do jogo que tem de ser respeitada e ~m de tenhamos, lá na Comissão, a oportunidade de percutir
haver o consenso. Basicamente o texto tem de encammhar; esses temas novamente. E nessa ocasião, eu me reservarei
não quer dizer que o texto ,;á definir com clareza todas o direito que me será concedido, de dar a minha opinião
as regras do jogo, mas ele vai encamínhar como as regras a respeito.
terão de ser estabelecidas. Portanto, não houve uma indelicadeza em chegar aqui
Agora, temos duas p~ecar~edades: a primeira> é que. nós depois de iniciada a palestra, porque eu estava cumprindo
temos uma sociedade CIVl mais moderna que esta ensamdo um dever. E não há se não aqui uma espécie de restrição,
articulações e organizações, que nós observamos na parte que me imposta, pela circunstância de presidir a Comis-
é

moderna do Brasil, e em alguns bolsões nos grandes cen- são, por quanto a de não poder debatê-la desde já.
tros urbanos da parte mais pobre do Brasil. E temos uma Tenho que me retirar agora, e agradeço ao Presidente
sociedade que, por natureza, é até autoritária, porque co- a delicadeza de ter me convidado para a Mesa e me ter
nhece bem só dois critérios na política; o da prepotência proporcionado dar esta explicação.
e o da servilidade. E a sociedade moderna, com mais ins- Muito obrigado.
piração democrática é essa sociedade que se desenvolve
como em São Paulo. Se a sociedade brasileira tem essa O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - O Professor
deficiência, se ela não é uma sociedade forte, não é artí- Geraldo Cavagnari Filho pede novamente a palavra, para
culada nem organizada de um modo desejável, os partidos fazer um adendo em relação ao questionamento que o
políticos por sua vez, também não são fortes, nem bem Constituinte César Maia fez.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Segunda-feira 20 61

o SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Nós estamos vai ser feita dentro de um teatro de operações, só depois
aqui mostrando que o que melhor atende, embora possa de autorizada pelo Comandante em Chefe ela é desenca-
não ser o ideal, é o texto apresentado pela Comissão deada. Exemplo: na guerra franco-prussiana, na guerra
Afonso Arinos. Queremos deixar muito bem claro que re- dos prusíanos contra os austríacos, Helmuth Moltke ha-
jeitamos 67 demaquíagens que possam vir a ser feitas so- via planej ado uma parte da campanha em que teria um
bre esse texto de 67, porque há uma diferença muito gran- objetivo militar muito importante com conseqüências mi-
de entre 67 e o que propõe a da Comissão Arinos. Não litares extremamente fundamentais para a conduta da
podemos observar, no caso do nível de decisão política, guerra. Bismarck resolveu com que ele direcionasse as
quem toma a decisão neste campo, e quais as limitações forças para um objetivo militar secundário sem resulta-
que são impostas pelo texto Afonso Arinos, à execução dos militares. Mas, acontece que ele deter~inou, decidiu:
das ações de defesa interna pelas Forças Armadas, o que "vai ser feito isto e não aquilo que você definiu". Por quê?
não ocorria com o texto de 67. Além de tudo, o texto de 67 Porque para a decisão política da guerra vamos supor,
tinha problemas que a influência de se exercer, dentro do uma ponte, uma cidadezinha sem importância - teria
processo de decisão, a influência militar é muito bem ca- muito mais importância para as negociações de paz com
racterizada. E o texto de 67, retirava - ou retira - o que o inimigo e para a mobilização de aliados ou a neutraliza-
está em vigor, da competência do Congresso, ou dos po- ção de possíveis inimigos, do que a batalha prevista por
deres, ou do poder civil como um todo, a formulação da Helmuth Moltke. Então, aí é o modo como o chefe da
política nacional que, praticamente, fica na mão do Exe- guerra, que é o chefe político, que detém a direção e o
cutivo. (Fora do microfone) controle a conduta da guerra, vai influir, decidindo nos
Isso tem que ficar muito bem claro. Nós Idefendemos assuntos militares. Não são decísões técnicas, são decisões
no projeto aqui, aquela parte que fala de defesa interna, políticas. Porque tecnicamente aquela batalha, prevista
que está muito bem esclarecida; questões constitucionais, por Helmuth Moltke, se justificava mais do que a outra.
poderes constitucionais, ordem constitucional, sendo que Mas, politicamente não dentro do quadro da guerra.
a ordem constitucional, por decisão do Poder. Não sei se consegui esclarecer para V. Ex.a a idéia do
conceito.
O SR. PRESIDENTE (José Taval'es) - Passo a palavra
ao Constituinte Arnaldo Martins. . O.SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - V. Ex.a,
Inclusive, exemplificou com exceção no caso geral. No ca-
O SR. CONSTITti'INTE AJRNALDO MARTINS - Ini- so da exceção, sim. Mas não, no geral. Neste, parece-me
cialmente eu gostaria de complementar uma frase do Sr. q~~ a decisão não pode ficar com o poder político. A de-
Conferencista, emitida há pouco, que dizia que a extrema cisao dentro da guerra, conforme V. s.a conceituou.
direita é golpista. complementaria dizendo que, tanto a
extrema direita, como a extrema esquerda são nocivas ao O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Sinto muito.
nosso País, e que nós devemos seguir uma posição eqüídís- ~as, aí, V. Ex.a está c~n~rariando KIauss e Kíssinger que
tante dessas extremas, tanto à direita quanto à esquerda, sao um dos grandes teóricos. Neste aspecto, fico com eles.
que talvez os destinos do nosso País nós possamos condu- O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a
zi-los melhor. palavra ao nobre Constituinte Raimundo Lira.
O Sr. Conferencista emitiu dois conceitos: no que in- O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO LIRA - Quero
clusive nós o alertamos, de que a direção da guerra cabe inicialmente,. p?-r.abenizar o Professor Geraldo Cavagnari
ao poder político, como também que as tomadas de deci- pela forma dídátíca e clara, com que expôs seus conceitos,
sões, dentro da guerra, devem caber ao poder político. nao deixando nenhuma dúvida com relação àquilo que
A primeira vista, achei ilógico esses dois conceitos, e efetivamente V. s.a pensa, defende e acha.
fui inclusive ao anteprojeto Afonso Arinos, que trata da Com referência à criação, no Brasil, do Ministério da
seguinte questão: compete ao Conselho ide Defesa Nacional Defesa, li ontem à noite, o artigo do Capitão-de-Mar-e-
opinar nas hipóteses de declaração de guerra ou de cele- Guerra, na Veja, onde ele defende a criação daquele or-
bração da paz. ganismo. Mas, apenas podemos verificar que se trata de
Gostaria que o Sr. Conferencista explicitasse melhor um artigo bem escrito onde ele expõe o seu pensamento.
os conceitos emitidos, tendo em vista que os considero iló- Não achei nada que pudesse convencer no aspecto técni-
gicos. A direção, na guerra, cabe ao poder político e as co, político ou prático.
tomadas de decisão, dentro da guerra, devem caber ao Como V. s.a bem disse, o Ministro militar não é co-
poder político. mandante de tropa. No momento em que o Senhor Pre-
sidente da República é o Comandante Supremo das Forças
O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - O entendi- Armadas e tem como seu representante, junto à tropa, o
mento de guerra de conflito armado não é apenas a con- seu Ministro Militar, seja da Marinha, Exército ou Aero-
figuração Ide um teatro de operações. O teatro de guerra é náutica, esse Ministro, histórica e politicamente, funcio-
uma coisa muito mais ampla, envolve um ou mais teatros na de tal forma que tem muito mais ligação de lealdade
e também as chamadas zonas do interIor. ao Presidente da República que, em última análise, re-
As ações de guerra não são necessariamente ações so- presenta parte mais significativa do poder civil. Então, ele
mente militares, são também de outra natureza. A deci- fica mais ligado ao Chefe da Nação, que é representante
são da guerra, isto é, a declaração é a definição do seu do povo, através de eleições diretas - naturalmente vai
objetivo de guerra. Para que serve essa guerra? Para o acontecer isso - e serve também como poder moderador
poder político. do surgimento de liderança de comandantes militares na
As decisões na guerra - o poder militar, bem como própria tropa. Porque, vamos supor: tivemos aqui, no
as Forças Armadas, podem influenciar essa decisão. Hou- passado, uma supremacia muito grande de efetivos e de
ve o caso na Alemanha, em que Roosevelt resolveu fazer equipamentos do UI Exército. em função de uma estraté-
uma guerra, chega quase à ascensão extrema que foi a gia de guerra possível com a Argentina. E se não houvesse
rendição incondicional. E, com Isto ele parou a estratégia o Ministro do Exército, sem dúvida alguma, o Comandan-
futura americana, sacrificou um aliado em potencial, te do lU Exército sempre representaria a maior e a mais
forte, que seriam as condições de ter uma Alemanha uni- poderosa liderança militar dentro da tropa.
fícada - comísso, ele a repartiu como se processam essas Portanto, sou a favor como uma forma de maior equi-
decisões na guerra. Uma batalha ou uma campanha que líbrio político, de maior estabilidade de que não seja
62 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBUIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

criado, no Brasil, o Ministério da Defesa. Porque, se assim problemas políticos. Mas, acontece que esse grau de pro-
o fizermos, correremos o rseo de que os comandantes de fissionalização, ao contrário, pode sofisticar a capacidade
tropa passem a ser, ao invés de Ministro do Exército, Co- de dar o golpe de estado e intervir no proceso político.
mandante do Exército. Teremos. efetivamente, comandan- Mas, também, não é assim. Isso não existe. Os militares
te militares fortíssimos, com grande força de liderança estão nos quartéis. Os militares sempre estiveram nos
nas tropas e com a sua vinculação voltada para o espírito quartéis.
de corpo. Então, estarão, a todo momento e a todo ínstan- Num encontro, fizeram-me uma pergunta, dizendo que
te, defendendo de uma forma Leal, muito firme a sua vivíamos num presidencialismo de Bonaparte. E eu retru-
tropa. Enquanto o Ministro é, histórica e politicamente, quei que não, que é ao contrário. li: diferente pelos fatos
mais um representante Ido poder civil e do próprio Pre- e pelas aparências. Estamos vivendo dentro de uma Cons-
sidente da República, representando, assim, um poder tituição. Para mostrar a V. Ex.as , como é essa autonomia
moderador. militar, como ela é incipiente no exercício da função mili-
Acho que exemplos de sucessos, em outros países, não tar, e como ela é eficiente na tomada administrativa. Por
têm nenhuma referência pelo fato de ser um~Ministério exemplo, o problema da questão nuclear é decorrência
da Defesa. Como V. s.a bem falou, os Estados Unidos já d~ssa autonomia. Quando foi discutida e debatida a ques-
nasceram numa democracia. E se houvesse lá Ministro da tr;tO nuclear na sociedade ~rasileira? É verdade que a so-
Defesa ou não, nenhuma influência teria no comporta- eíedade quer o desenvolvímento da tecnologia de ponta
mento político e militar do país. - e a tecnologia nuclear é um dos itens dessa tecnologia
de ponta - ou será que a sociedade quer a bomba atô-
O caso da Inglaterra também não pode ser visto como mic~? S!3rá que a sociedade quer ser uma potência nuclear?
exemplo, porque é uma das democracias mais antigas e Entao, e aquela capacidade de tomar iniciativa à revelia
mais consolidadas que temos na Europa ocidental. do Pode:r:, Público. Outro exemplo: o problema do Calha
Temos exemplos de Ministérios da Defesa em países Norte. Nao vamos discutir o mérito se é bom ou não o
também com alto grau de instabilidade, ao exemplo das Projeto do Calha Norte. Mas, foi -Um projeto levado a
Filipinas, onde existe uma disputa de poder entre o Mi- debate depois da decisão tomada, com partes da sociedade
nistro da Defesa e {) Oomandante do Exército, sendo que mteressadas no projeto. Então, isso demonstra essa auto-
lá, como no Brasil, o Exército representa o maior con- nomia. O que eu quero dizer a V. Ex.as é que vai ser muito
tingente. difici~ remover as Forças Armadas do espaço ocupado e
~ed':lZlr .es~a_ autonon:ia de tal maneira, que dê segurança
Temos exemplos de outros países sul-americanos, as ínstítuíções previstas pelo novo texto constitucional.
também, em que o fato de se criar um Ministério da Entao, concordo com V. Ex.a que se o Ministério da Defesa
Defesa não vai dar maior estabilidade politica ou inibir não vai resolver esse problema, por que defendemos a
os militares de intervirem na política brasileira. criação. do, Ministério da Defesa? O que ocorre é o seguin-
Temos exemplos, inclusive históricos, no Brasil, e que, te: ao mves dele ser o representante do Governo nas For-
ças Armadas, no Exército, na Marinha e na Aeronáutica
em raros casos intervenções militares foram lideradas eles sã? representantes das Forças Armadas no Governo:
pelo próprio Mi~listro, naquela época, chamado Ministro Por que? Porque um fato que ocorre em toda a sociedade
da Guerra, depois Ministro do Exército. brasileira é o corporativismo. O corporativismo não é um
Tenho a convicção de que, no caso brasileiro, a ma- problema somente militar. Ele existe em quase todas as
nutenção dos três Ministérios, subordinados diretamente instituições brasileiras. Nós temos a comunidade médica
a esses Ministros, ao Presidente da República, é a melhor a OAB, vemos o corporativismo no Banco do Brasil ve~
forma de dar estabilidade política ao Pais e uma sal- mos o corporativismo no Itamarati, etc. Então iss~ faz
vaguarda, pelo menos constitucional, de que ós militares parte do Estado que n?~ construímos. Aliás, construímos,
dificilmente poderão voltar a intervir na vida política nao. Estado que nos fOI Imposto antes da sociedade antes
brasileira. Essa intervenção ou não, depende única e ex- da Nação, um Estado cartoríal. Então, nós não po'demos
clusivamente da credibilidade, do respeito, do trabalho e fugir ao corporativismo. Não é que ele faça um poder
da consolidação do poder civil, no Brasil. O Ministério da liberado, mas porque a formação dele, a estrutura em que
Defesa, eu acho absolutamente desnecessário e Inócuo ele vive leva ele a isso. Por que nós defendemos o Minis-
Seria uma experiência nova para o Pais que poderia t~rio da Defesa? Primeiro, porque ele permitirá a utiliza-
resultar de uma forma muito negativa, porque a nossa çao dos custos na organização e na preparação dos gastos.
própria experiência mostra que os Ministros militares Segundo, porque ele permitirá uma maior eficácia ope-
nas crises militares e políticas, são mais vinculados ao racional, pois desde já nós poderemos integrar as forças
Presidente da República do que à própria tropa que eles, nas operações denominadas constituintes. E terceiro _
tecrícamente, representam. que é. 8: preocupação de todos nós - ele redJ.iz a presença
de rnílítares dentro do processo de decisão' é o voto
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a pa- militar. E, no Conselho de Defesa Nacional s~ ficar essa
lavra ao Professor Geraldo Cavagnari Filho. estrutura atual, V. Ex.a terá 6 votos militares.
O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Eu con- Quando dizem que pretendem reduzir a função poli-
cordo, Mas, eu gostaria de fazer algumas considerações tica das Forças Armadas, pretendem. É um debate que está
A criação do Ministério da Defesa não vai resistir. É proi- na universidade: pretendem reduzir. Não é isto um des-
bido dar golpe de 'estado. prestígio para as Forças Armadas. Graças a Deus nós
temos, uma história oficial muito gloriosa. O qu~ nós
Se a sociedade não entrar num proceso pedagógico, teremos de fazer é que vamos inverter o problema de tal
visando o fortalecimento dos partidos políticos, visando maneira, que as Forças Armadas não venham a cometer
a aceitação, por parte da classe polítíca, das regras do aquilo que cometeram numa fase negra nos anos do auto-
jogo - também, pela Nação - tudo que se puser na Cons- rítarlsmo, que comprometeu a ética dos militares. Não
tituição não adiantará nada a uma decisão militar, tomada aceita dizerem que as Forças Armadas foram torturado-
à revelia do Poder Público, assim como a tese de se au- ras. Esses, a gente deve olhar com repúdio, como eu olho.
mentar a profissionalização dos militares, que é uma tese Agora, não podemos admitir que as Forças Armadas te-
americana, que diz: se aumentar o grau de profisionali- nh!'1m sido ~nvolvidas em todo esse processo. Então, para
zação dos militares, eles estarão voltados para as suas evitar que ISSO ocorra no futuro é que nós devemos colo-
tarefas específicas e deixarão de se preocupar com os car as Forças Armadas no lugar que elas devem ocupar
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 63

num Estado de direito, num Estado democrático, que que é um exemplo de iniciativa privada, um exemplo de
administra uma sociedade democrática. democracia, tem dedicado gastos altíssimos à moderniza-
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a ção de suas Forças Armadas convencionais. Muito obriga-
palavra ao nobre Constituinte Raimundo Lira. do.
O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO LIRA - Sr. Pre- O SR. GERALDO CAVAGNAiRI FILHO - Bem vou
sidente, o Professor abordou uma tese nova que não tinha re~ponder o seguinte: V. Ex.a tocou num tema, num' con-
f~lado na sua brilhante conferência: é que a teoria ame- certo que é o da modernização. E foi bom, porque nós não
ricana de que a sofisticação, a modernização do equipa- podemos desvincular a profissionalização Ido conceito de
~e:r:to das Forças Armadas e O próprio treinamento pro- modernização.
nsstonal, afastam Os militares da política. Em primeiro lugar, temos que ver que tipo de país
O Professor falou que, realmente, não concordava gasta mais do que o Brasil. Os Estados Unidos e a União
totalmente com essa tese, mas eu pessoalmente concordo S.oviéti,9a sã? países que têm responsabilidades planetá-
e, na prática, verificamos que isso efetivamente acontece. rias, sao paises que disputam. Os países europeus todos
Verificamos, aqui no Brasil, o seguinte: nas últimas elei- eles, têm responsabilidades estratégicas. Israel t~mbém
ções, a partir do meu Estado e do Brasil de um modo tem. O Japão é a única exceção, em virtude de uma ím-
geral, tivemos uma quantidade imensa de médicos dispu- posição americana que fez constar na Constituição japo-
tando cargos eleitorais: Deputados Federais, Estaduais, etc. nesa que os recursos para fins militares não poderiam
inclusive, no interior, nas prefeituras. Porque houve uma ultrapassar a 1 % do PIE.
decadência muito grande, nos últimos anos, da receita Vamos ver a questão da modernização, voltando ao
salarial. da receita dos médicos e uma decadência extre- nosso caso, que é o da maioria dos países do Terceiro
mamente grande do nível de equipamentos e moderniza- Mundo, a extensão do conceito de modernização no Ter-
ção dos hospítaís brasileiros. Então, aqueles médicos que ceiro Mundo quer dizer a modernização do equipamento.
se formaram, que se especializaram, que se dedicaram à Então, o que ocorre nisso? A parte mais cara da moderni-
carreira médica, se sentiram inteiramente desestimulados zação do Exército não é o equipamento. A parte mais cara
eITl; função de trabalharem em hospitais totalmente dese- é manter o equipamento em uso em adequadas condições.
quípados ou superados e de darem, também receitas muito Isso é o mais caro. Se eu tenho aquele equipamento, eu
abaixo daquilo que, efetivamente, eles e s~as famílias al- preciso ter uma força que tenha condições de dar, num
mejavam.
determinado nível de operacionalidade, a minha resposta
No meu Estado, por exemplo, parece-me que foram militar exlgída pelo pais. E para manter que as Forças
eleitos 6 ou 7 deputados estaduais médicos, afora os que Armadas mantenham -esss nível de resposta militar ade-
não foram eleitos, foram apenas candidatos. Então, en- quada, há a necessidade de treinamentos, de adestramen-
tendo e concordo inteiramente com a tese americana de tos. E aí é que sai caro o custo da modernização. Então, o
que os países modernizam que as suas Forças Armadas, que ocorre nesses países? Por que nos seus orçamentos não
deixam seus militares satisfeitos e se realizam no seu trei- prevêem isso? :É o equipamento ficar obsoleto, e ocorre que
namento, com os seus equipamentos, num aperfeiçoamen- não sabendo usar o equipamento na guerra, como acon-
to da própria tropa. E, assim, realizados profissionalmen- teceu na Guerra das Malvínas, em que os argentinos até
te, eles fiquem mais isentos de aspirarem colocações ou jogaram os Exocet - que não estouraram - e perderam
postos de mando na política nacional. mais do 2/3 dos Exocet.
Verificamos que os países que dedicam maiores so- Uma modernização das Forças Armadas envolve três
mas para gastos militares são exatamente países que têm aspectos: primeiro, tem que haver uma reforma interna
uma estabilidade maior nesse campo e os militares estão dentro da Força que faz a modernização. Por quê? Porque
voltados mais para as suas atribuições. Temos o exemplo o equipamento vai modificar a doutrina, e a doutrina vai
da Suíça, que gasta 281 dólares per capíta com as suas For- modificar uma série de aspectos dentro da estrutura mi-
ças Armadas, enquanto que o Brasil gasta apenas 11 dó- litar, que reduz espaços de poder que existe em toda ins-
lares per capita, sem levar em consideração os próprios tituição corporativa. Segundo, uma modernização tem de
Estrudos Unidos. Temos o exemplo também da Itália que, estar sustentada com um mínimo de capacitação oíentí-
hoje, é um dos países que tem uma grande estabilidade fica ou tecnológica. E essa capacitação é pesquisa e nós
política e econômica - porque aquelas mudanças de pri- não temos tradição, nenhum país do Terceiro Mundo tem
meiro-ministro, com certa freqüência, não refletem ne- essa tradição. Terceiro, a modernização tem que estar
nhuma instabilidade no sistema político italiano; tanto é apoiada numa proposição estratégica convincente. OS Es-
que eles agora, segundo dados fornecidos por várias enti- tados Unidos têm uma proposição estratégica, a Rússia
dades internacionais, ultrapassaram o Produto Interno tem. a Suíça tem, os países do Terceiro Mundo não têm
Bruto da própria Inglaterra; levando em consideração o essa proposição estratégica convincente. O que é uma
alto grau de existência da própria economia marginal, proposição estratégica convincente? 'É aquela resposta que
eles, na Itália, gastam 153 dólares per eapíta, para manter eu tenho de dar em face de um tipo de ameaça que ve-
as suas Forças Armadas, Isto são dados de 1983, sem le- nha a se configurar contra o interesse nacional. Agora,
var em consideração os Estados Unidos, que estão na or- o País tem de ter a humildade suficiente de reconhecer
dem de 800 dólares per capita, e a própria União Soviética, as suas dificuldades na sua capaeídade estratégica. O que
onde as Forças Armadas são mantidas nos seus devidos acontece é um díscurso que foge à realidade. Temos no
lugares pelo partido, e que têm o maior gasto per capita discurso um espaço geopolítico de interesses; é a Améri-
do mundo, superior à 1.000 dólares por habitante. ca do Sul, é o Atlântico Sul, é a África Austral, mas não
temos capacidade de operar em nenhuma das três áreas,
Então, acho que a tese americana da modernização porque não temos capacidade estratégica. Temos muita
das Forças Armadas e da profissionalização dos militares, desenvoltura no cenário das relações internacionais, mas
efetivamente, como regra geral, é a mais eficiente e a His- no cenário estratégico, que é esse espaço, nós não temos:
tória tem mostrado que funciona. Pode ser que, em alguns Qual é o cenário estratégico brasileiro? Basicamente as
casos, a própria sofisticação e a modernização das Forças nossas fronteiras. Isto não é só no Brasil, é em quase to-
Armadas se voltem contra o poder civil. Mas, se isso acon- dos os países Ido Terceiro Mundo. Sou favorável a que se
tecer, naturalmente será exceção, porque a regra geral dê ~ssa capacidade estratégica ao Brasil; agora, essa ca-
tem mostrado exatamente o contrário. O próprio Japão, paeídade estratégíca nao pode ser dada, não pode ser
64 Segunda-feira 2( DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

construída antes de resolvermos o nosso problema interno O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Passo a pa-
mais grave, que são 2/3 da população vivendo como sub- lavra ao Constituinte Roberto Brant.
nutridos, como miseráveis na pobreza absoluta, na pobre- O SR. CONSTITUINTE ROBERTO BRANT - Profes-
za relativa. E um dos grandes erros da chamada estraté- sor, tanto a sua exposição quanto as suas respostas às
gia total, estratégia nacional que envolvia todas as ativi- interpelações foram bastante estimulantes. E a respeito
dades nacionais, que vem desde Ludendorff, passa pelos delas, eu quero apenar fixar aqui algumas breves consi-
teóricos franoeses de guerra revolucionária, passa por derações:
Beune e phega aos nossos teóricos tupiniquins, é que a mi-
séria é um inimigo que tem que ser combatido, a pobreza Acho que no trato deste problema, a segurança do
também. Só que a estratégia não foi feita contra a misé- Estado, na defesa da sociedade e de assuntos correla-
ria, nem contra a pobreza, ela foi contra o miserável e tos, nós devemos nos indagar primeiro a razão pela qual
contra o pobre. nós estamos aqui. Por que razão, baseados em que moti-
Então, nós temos que modificar os conceitos. A nossa vos e fatores foi convocada uma Assembléia Nacional
capacidade estratégica deve incluir capacidade de resposta Constituinte, para construir uma nova ordem constitucio-
militar. Se não existir isto, não existe capacidade estra- nal? Por que estamos aqui, e o que estamos fazendo
tégica. Por isto que o nosso 'cenário estratégico - e foi a aqui? Sem dúvida, se nós tivéssemos reunidos para redi-
tese que defendi no simpósio de Campinas, em 1984 - gir o que seria a Constituição de 1967, ou a Constituição
é muito pequeno e que, além de tudo, tem uma dificul- de 1969, o próprio nome desta Subcomissão se chamaria
dade muito grande, que nós não reconhemos no discurso, única e exclusivamente, Comissão de Segurança Nacio-
mas que a realidade nos apresenta. Nós temos que de- nal. No entanto, ela se chama Comissão de Defesa do
senvolver uma autonomia dentro de um quadro cuja he- Estado, da Sociedade e da Segurança. Sem dúvida, já é
gemonia dominante, é americana. uma mudança importante de perspectiva. Primeiro, que
nós j á nos restringiremos a tratar da segurança e do
Falam na liderança americana como se fosse o líder Estado. Nós vamos mais além, vamos cuidar também da
do mundo livre, em face do mundo comunista! Não, o defesa da sociedade, muitas vezes diante do próprio Es-
que existe não é a liderança, é a hegemonia americana tado. Então é neste conceito que acho devemos tratar de
que dirige esta parte - e isto se revela no campo estra- numerar as pautas que fazem parte do nosso trabalho.
tégico como temos observado. E líderanças, cujos conten- Sem dúvida nenhuma, a Constituição de 1969 é o momen-
ciosos conosco não podem nem se transformar em amea- to culminante de uma distorção histórica, que chega ao
ças estratégleas, porque essas ameaças s-eriam despropor- ponto de estar inteiramente permeada pela noção de se-
cionais à nossa capacidade. Por isto é que toda capaci- gurança nacional.
dade estratégica é feita e ori-entada para cada tipo de
ameaça e essa ameaça não pode ser desporporeíonal. A segurança nacional não apenas faz parte do títu-
lo VIII, mas impregna a orientação de todo o texto cons-
O profissionalismo no Brasil deve ser estimulado, mas titucional. E chega finalmente ao ponto extremo de decla-
para ser estimulado, ele deve receber uma proposição es- rar o Conselho de Segurança Nacional como responsável
tratégica convincente aos nossos militares; senão, eles pelo estabelecimento dos objetivos nacionais permanen-
inventam, porque eles precisam dessa proposição. Daí a tes, e pela definição das bases da política nacional. Depois
hipótese de guerra interna. deste momento, não era necessário haver mais a Consti-
O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO LIRA - Peço tuição de 1969. Os textos normativos que exigiria a socie-
desculpas aos companheiros constituintes por fazer a dade para funcionar poderiam ser perfeitamente estabe-
última intervenção, porque realmente o nobre Professor lecidos ao nível do Conselho de Segurança Nacional.
Geraldo entrou num outro assunto corelato aos que está- Esta Constituinte, agora, foi convocada exatamente
vamos discutindo: realmente é economicamente inviável, como uma reação a este momento. Foi o movimento da
politicamente errado, e até certo ponto irresponsável, o população brasileira nas praças públicas que exigiam não
PaÍ.'3 querer modernizar hoje suas Forças Armadas com apenas a eleição direta, mas a transformação completa
equipamentos estrangeiros, dependendo naturalmente de da substância da ordem constitucional, que deu lugar à
tecnologias estrangeiras e de peças de reposição estran- convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Então,
geiras. I nós estamos aqui e agora, não para nos esmerarmos na
O Brasil hoje é a 8.a potência industrial do mundo criação de um instrumento de defesa do Estado, mas,
ocidental e é um dos grandes exportadores de armas do principalmente, nos esmerarmos na criação de instru-
mundo, tanto que foi uma das colocações que eu fiz aqui, mentos que protejam e preservem a sociedade e o cidadão
por escrito. Respondo à pergunta do nobre, conferencista diante do Estado e seus diversos braços. '
com relação a esse aspecto, lendo o seguinte: "Adicional-
mente, investir na pesquisa militar sempre foi um recurso As Forças Armadas são o braço militar do Estado, mas
utilizado pelos países mais desenvolvidos para ultrapassar há um outro braço burocrático, que também está im-
barreiras tecnológicas, no que resulta, freqüentemente, pregnado deste sentimento autoritário. As empresas pú-
em benefícios para o uso civil; assim, essa maior capaci- blicas proliferam, as agências governamentais de regu-
tação tecnológica propiciará à indústria nacional maior lação proliferam, e todas elas com aquela autonomia
competitividade para exportar, aí incluído o sofisticado que V. s.a citou: a mesma autonomia que foi dada ao
setor de armamentos com conseqüente aumento da oferta braço armado, foi dada também ao braço burocrático do
de emprego no País, e aporte de divisas, beneficiando a Estado e age completamente à revelia do poder político,
Nação como um todo. da Constituinte, pela representação parlamentar.
Para finalizar, é oportuno lembrar que quando muito De modo que, neste elenco, nesta pauta, eu diria que
se discute o afastamento dos militares da política e sua o conceito de segurança nacional progrediria muito se
dedtcaeão exclusiva às atividades eminentemente prorís- recuássemos à definição da Constituição de 1946, que
síonata vale imaginar como solução aceitável reaparelhar dispõe simplesmente: "os problemas relativos à defesa do
as Forças Armadas, além de remunerar dignamente os País serão estudados pelo Conselho de Segurança Nacio-
militares. Desta forma, forças dotadas de meios atua- nal". Acho que qualquer avanço além desta definição é
lizados e modernos certamente serão um fator que con- prejudicial ao futuro do Estado democrático. Acho que se
tribuirá para manter os müítares voltados para o seu nós recuássemos à definição da Constituição de 1946, no
aprimoramento profissional". seu art. 179, que diz: "os problemas relativos à defesa do
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 65

País serão estudados pelo Conselho de Segurança Nacio- um texto constitucional. Este conceito tem que ser abolido,
nal, e pelos órgãos especiais das Forças Armadas incum- de segurança nacional, porque não cabe à Constituição
bidos de prepará-las para a mobilização das operações definir uma situação mas, sim, ordenar os instrumentos.
militares". E a defesa é um íntrumento, o caráter da defesa é instru-
mental, por isto que o tempo todo só falei em defesa na-
Acho que nós avançaríamos muito se voltássemos a cional, em defesa externa e defesa interna. Eliminei do meu
este conceito de 1946. vocabulário o termo segurança, a não ser segurança pú-
outro ponto que eu gostaria de estabelecer, aprovei- blica, porque já é um termo consagrado, e só por isto.
tando inclusive uma distinção feita pelo constituinte Cé- Disse que a doturína de defesa nacional vai ser o próprio
.sar Maia, é que o grande objetivo, como V. s.a mesmo texto constitucional: defesa do Estado, da sociedade e do
"precisou, é assegurar progressivamente o controle demo- cidadão. É verdade que eu não abordei aqui o cidadão,
crátíoo do braço armado, - e eu diria, também, do braço porque creio que é objeto de outras Subcomissões, e par-
democrático do Estado - até se chegar o momento em cialmente o problema da sociedade, porque também é
que se assegura completamente a hegemonia do poder ci- objeto de outras Subcomissões. Mas abordei a parte do
vil. Mas isto não é tema exclusivamente constitucional, Estado, e a minha preocupação não foi Com a questão da
nós podemos fazer uma declaração de intenção no texto defesa do Estado somente, mas, de tal maneira limitar
constitucional. Esta é um tarefa política que compete aos esta defesa do Estado, porque o excesso de defesa do
Partidos, compete às Casas Legislativas e compete à so- Estado é o inverso, é a indefesa ou insegurança da socie-
ciedade. No momento em que na plaza de mayo se reúnem dade. É este o equilíbrio que temos que buscar.
450 mí pessoas, diante do Presidente da República da
Argentina, para apoiá-lo diante de uma insurreição mili- A proposta que estou apresentando aqui, em relação
tar, aí sim, está se travando o início de um processo de ao Estado, o enfoque foi mais sobre o aspecto das Forças
hegemonia do poder civi, mobilizado até o limite de suas Armadas.. Por qu~? Porque é_o indicador mais importante
possibilidades. Então, acredito que nós devemos, no texto no que di~ respeito a questao da defesa. Então, a nossa
constitucional, expungír todo trauma, todo traço de res- preocupaçao e que as Forças Armadas, como instrumento
sentimento, a que se referiu o Constituinte César Maia, de ~e:.fesa ~u. da defesa, fiquem subordinados ao nível de
para abrirmos nossos corações para a instituição Forças decisão PO~JtlC;;t, ao poder político, abrangendo o Executi-
Armadas, para os seus membros, para os seus integrantes, vo e o Legíslatívo.. 1!1. que a influência militar seja retirada
e tentar estabelecer com eles, no Brasil que nós vamos deste lllve! de decI~ao, sepa~an.?o órgão de decisão e órgão
construir para a frente, um diálogo e um relacionamento de execuçao. No UIveI do orgao de execução, as decisões
mais dinâmico, mais confiante e mais confiável. seriam técnicas e não políticas. E para o uso do instru-
mento, a decisão não é técnica e sim política. O uso das
Sobre o problema do Ministério da Defesa, eu gosta- Forças Armadas na ordem interna não é uma decisão
ria lele observar ao ilustre Professor que este é um tema técnica, isto é, das Forças Armadas, se devem agir ou não
que não me parece ser estritamente constitucional. Acho e sim, uma decisão política, cabendo a quem de direito to~
que estaríamos avançando demais, pois a tradição cons- mar ~ decisão: o poder político. Por isto a nossa preo-
titucional brasileira apenas se refere ao Poder Executivo cupaçao,
e à figura de Ministro de Estado, deixando que a orga-
nização do Poder Executivo e a sua compartímentação em Quando o Constituinte César Maia falou dos traumas
Ministérios à lei ordinária e às conveniências administra- e?- concord'e! com S. Ex.a que temos que ver a nossa histó~
tivas e políticas que são ditadas pelas circunstâncias. r~a, e também temos de construír o futuro, passando por
clI~a dessas mazelas históricas e desses traumas, para
A criação do Ministério da Defesa pode ser um obje- evítar que outros traumas venham a ocorrer no futuro. E
tivo a que se chegue através .d~ um pr~ces~o, mas eu ach~ esta tem sido a minha pr-eocupação aqui. Mas é que es-
cue não deve ser uma definíçâo constítucíonal porque, ai tou me atendo apenas a uma parte do problema geral.
s·im nós estríamos praticando um ato de preconceito con- Estou buscando uma solução que pode não ser a melhor
tra 'as Forças Armadas, porque nós não estamos tratando - e acredito que não seja - mas que pode ser pensada
de eompartímentar ~ admínistraçâo civil.. r:rós ~stamos numa solução mais global, 'e quando se escrever reaímen-
querendo impor um tIPO de supervisao admínlstratíva que te a Constituição brasileira, como vai se articular o poder
não eminentemente constitucional. político.
Quanto ao papel das Forças Armadas, apenas para V. Ex.a perguntou qual é a preocupação nossa, É ver-
concluir acho que existe uma tradição de ínsenção das dade que quando nos olhamos a nossa realidade chega-
Forças Armadas no processo po~tico e social de;> Pais. Nó!'l mos à conclusão óbvia, "acaciana": o texto constitucional
não poderemos ignorar esta realidade. O que nos temos e, não será suficiente para inibir a i.ntervenção militar nem
a partir desta realidade, tentar lenta e progressivamente para impedir a intervenção m~litar no futuro, que isto é
construir instituições políticas que nos permitam conviver, um pr.ocesso qu~ tem de contmuar daqui para a frente.
porque o fim desta ingerência decorrente das Forças Ar- Mas disse, também, que todo esforço tem que ser f.eito na
madas só se dará quando a sociedade brasileira tiver um elaboração d'esta Constituição, porque ela será o ponto de
grau de estabilidade e de desenvolvimento muito maior partida, o estabelecimento daquela regra do jogo. É este- o
do que alcançamos hoje. ponto de consenso nosso, estabelecer uma regra do jogo que
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a venha a ser respeitada no futuro, não para proteger só o
palavra ao Professor Geraldo Cavagnari Filho. ~stad?, mas. par~ proteger a sociedade, para. proteger o
cídadão; o eídadão 'em face do Estado; e a SOCIedade para
O PROF. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Logo de garantir aquele seu díreíto mínimo, que é o direito de exi-
início, a primeira coisa que frisamos em nossa participa- gir, é o direito de reivindicar, é o direito de impor as
ção nesta audiência, é que nós não somos constituciona- suas demandas para que sejam acatadas com objetos de
listas, nem temos essa pretensão. Nós trabalhamos com decisão política, num nível adequado. Então, esta é a
questões políticas e questões estratégicas. Nós trabalha- nossa preocupação, esta é a experiência que estamos vi-
mos num nível acadêmico; então, as nossas proposições vendo. É uma experiência histórica, e a nossa preocupa-
têm esse ranço acadêmico, e eu peço desculpas por isto. ção não é fazer a Constituição ideal -, e acredito que
Disse aqui que sou contra o conceito de segurança nacio- nem vamos chegar à desejável - mas, poderemos escre-
nal, por que é um conceito mais para planejamento e ver uma Constituição que ao menos afaste aquelas amea-
questões de análises acadêmicas do que para constar de ças que já vivemos em quase cem anos: de República.
66 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLI§IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Esta é a nossa preocupação! Daí a qualidade de es- cía popular, e a gente sabia que a liderança nacional de
tarmos debatendo as questões importantes dentro do então, o poder político constituído tinha uma simpatia
texto constitucional. Esta sua preocupação nós a temos nítida por 'este movimento. E este movimento contraria-
também, no mesmo sentido; podemos diferir apenas em va frontalmente a vontade da maioria nacional, ha.j!lo vis-
aspectos adjetivos e não substantivos. ta a inquietação geral que havia neste País e as: mani-
E vou responder, retomando as duas que pedi à Mesa. festações ruidosas do povo nas ruas contra esse fato.
Exportação de material bélico. O Brasil é o maior pro- Por outro lado, sabemos que quando Hitler era chan-
dutor e exportador de material bélico do mundo, é ver- celer do Regime Parlamentarista alemão, foi durante o
dade: 1,5%"da fatia do mercado mundial, mas um nível seu exercício de Primeiro-Ministro que o movimento na-
tecnológico de média sofisticação. Isto tem que ficar mui- zista se avolumou, as organizações paramilitares cresce-
ram e Hitler símplesmente via com simpatia aquilo, a
to bem esclarecido. qual ponto que foi irresistível o domínio político do na-
tnveetímento na pesquisa militar. Por que foi feito zismo na Alemanha. E as Forças Armadas ficaram como
isto? Nós não temos tradição de pesquisa no Brasil, é uma que segregadas no quartel, porque Hitler nunca iria, dar
coisa recente. Quando começou o investimento na pesqui- ou pedir o envolvimento de Wermacht, das Forças Ar-
sa militar? A primeira preocupação com a pesquisa mi- madas Alemãs numa manifestação ou numa atuação con-
litar, e a pesquisa científica civil não estava nem esbo- trária às SD's, às organizações paramilitares do seu par-
çada nestes 20 anos, em face daquela autonomia que as lli~ -
Forças Armadas desenvolveram no Estado, proporcionan- E quando o poder político observar, ou ver com sim-
do a capacidade de trabalho para delas reivindicarem patia esses movimentos de alteração abrupta da ordem
esses inves.timentos. E elas o fizeram, à revelia da socie- constitucional e legal brasileira, quem é que vai tomar a
dade, à revelia do poder político também, e se a.esenvol-· iniciativa? Seria o Judiciário? Porque, muitas vezes, o
veram, próprio Legislativo majoritariamente é favorável a esses
O retorno desses investimentos não deve ser conde- movimentos? Muitas vezes até pelos discursos de alguns
nado. O que é condenável é atrelar a pesquisa científica líderes que empolgam aquela maioria, aquele grupo que
tecnológica do País à pesquisa cíentíríca tecnológica mi- não tem opinião definitiva sobre o assunto. Esta é uma
litar - isto é que é condenável. questão.
Então, o que deve haver é uma retormulação da nossa Obviamente, concordamos com V. s.a com relação à
política científica, de tal maneira que a parte militar se direção estratégica da guerra pelo poder político. Já di-
subordine dentro dessa grande política, ,e não seía autô- zia oíemenlean: "A guerra é um assunto séI10 demais
noma, separada com projetos paralelos. Esse é o ponto para ser tratada por generais". Mas, na sua política, já
que deve ser condenado. Não deve ser condenado o que se os Generais da França diziam: "A guerra é um assunto
obteve neste campo, e sim a maneira como foi obtido. sério demais para ser tratada por políticos".
Isto é que tem de ser alterado, profundamente. Mas, não Hitler conduziu a II Guerra Mundial. Ele manobrava
é objeto da Constituição, basicamente é pesquisa militar. as tropas como bem queria, a decisão política e estraté-
O que vai ser objeto são aspectos mais amplos e abran- gica. E V. s.a vai dizer depois: mas ele também entrou
gentes da ciência e tecnologia, mas que devem já olhar na tática. Mas, um dos grandes males que ele caIDSOU foi
para esse aspecto aqui. justamente pela sua interferência nos aspectos estraté-
Ô SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Passo a pa- gicos dessa Guerra.
lavra ao nobre Constituinte ottomar Pinto. Como bem disse aqui o nosso Constituinte de Ron-
O SR. CONSTITUINTE OTrOMAR PINTO - V. s.a, dônia V. s.a, ao citar o caso Moltke versus Bísmarck
na sua brilhante exposição, colocou uma tese da maior citou uma exceção - não a regra - e a gente não deve
oportunidade e, nesta tese, que objetivaria a intervenção nunca tirar ilações a partir dos casos excepcionais.
das Forças Armadas no processo político institucional bra- Por outro lado, lembro-me bem, quando estudava nos
sileiro, freqüentemente, colocou como instrumentos para Estados Unidos e, na Universidade que eu freqüentava,
a concepção desse macroobjetivo a redução da influência havia um número muito grande de oficiais americanos
militar no nível de decisão política e estratégica, inte- egressos do Vietnã. E, lá, as Forças Armadas beneficia-
gração da organização da estrutura unificada, ou seja, vam quem passou 2, ou 3 anos no Vietnã, com PLD ou
Ministério da Defesa, exclusão da segurança pública, da mestrado e, constantemente - a queixa ,era repetitiva -
responsabilidade militar. diziam eles: nós estamos perdendo esta guerra porque
Oreío ser isto o que está realmente escrito no traba- esta guerra está sendo comandada de Capitol. HiU, .esta
lho de V. s.a, e que a ação militar deveria estar circuns- guerra está sendo comandada das bancas dos: jornalístas
crita ao quadro de defesa, com significado de defesa es- e editorialistas do Times.
tritamente instrumental. Então, muitas vezes, na escolástica, a gente eneon-
Disse V. s.a, ao longo de sua exposição, que somente tra soluções cartesianas para tudo, a gente consegue re-
- e é isto que está explicitado no anteprojeto constitu- duzir as variáveis a um número límttadíssímo, a uma
cional da Comissão - a pedido do poder político é que as equação do primeiro grau Y = X; mas, na realidade,
ForçaSl Armadas poderiam, como instituição, interferir existem muitas condicionantes ·envolvendo as questões
no processo de defesa interno ou externo. que interessam à sociedade e, de modo especial, à gran-
de sociedade que é o Estado brasileiro nacíonal.
No processo de defesa externa, é óbvio que o poder Então, gostaria que V. s.a trouxesse novos argumen-
político sempre terá o maior açodamento em tomar essa tos, novos exemplos justificadores, larga mann, do acerto
iniciativa, mas, muitas vezes, a liderança política insti- dessa decisão de ser comandada a guerra estrategica-
tucionalizada não tem vontade e não deseja reprimir ou mente pelos polítíeos ou, mais .especificamente, pelo Par-
obstar certos movimentos diferentes, o que tendem a mu- lamento.
dar o status quo, ou, melhor dizendo, por exemplo, no
caso de 1963/64, em que havia realmente uma ondà eres- O Ministério da Defesa existe nos Estados Unidos.
rente no sentido da socialização do nosso Ipais, na insta- Data venia, na Argentina já existia o Ministério da De-
lação de um República sindicalista, ou de uma democra- fesa por ocasião da Guerra das Malvínas, Então, o exem-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 67

pIo argentino é um mau exemplo de Ministério da De- nencial. Isso é que temos de considerar. Não vamos com-
-fesa. parar com a Rússia, os Estados Unidos oU a França. Va-
Por outro lado, disse V. s.a - com muito acerto, di- mos comparar com Egito, Siria, Bolívia, Argentina, que são
-ga-se de passagem - que os Ministros militares são r,e- os parceiros do nosso convivia estratégico. Isto e a pro-
presentantes do Governo junto às forças singulares e não fissionalização, realmente, fazem com que o militar fique
'o converso, isto é, representantes das forças singulares mais motivado para a sua carreira. Ele se entu-
junto à estrutura do Executivo. se eles são representan- siasma. Se ele tem equipamento fabricado no país
tes do Governo junto às instituições militares - as for- dele, que não fica quebrado o tempo todo nos quartéis, se
-ças singulares - evidentemente que a lealdade deles está ele tem discussões estratégicas e táticas, se ele se exer-
fundamentalmente voltada para o Líder da Nação, seja 'Cita, se ele tem uma remuneração condigna e não um
-0 Primeiro-Ministro, seja o Presidente da República, do salário de fome, que lhe permita fazer viver a sua famí-
que para a sua instituição, pela própria convivência. E lia com dignidade, ele cada vez se entusiasma mais pela
V. s.a sabe que a lealdade é um traço fundamental da sua carreira, porque V. Ex. a sabe ,e participou disso ao es-
vida do militar. O militar desleal, na minha opinião, se colher a carreira das armas, que foi para lá por idealismo.
'existir, é uma exerescêncía. Então, o convívio dos Minis- Eram estas as colocações que eu queria fazer. Só para
tros militares, diuturno e permanente, com o Ohefe do encerrar, V. s.a exalta muito a defesa nacional e exorciza
Poder Executivo ou com a expressão máxima da lideran- a segurança nacional. O conceito de segurança nacional que
ça nacional, é um penhor de que as instituições não vão foi dado aqui, nesta subcomissão, pelos instrutores da
se envolver em movimentos que não eorrespondam, ou ESG, era de preocupação com a integridade territorial,
não convenham aos interesses da liderança nacional. Não com a independência pátria e 'com a garantia do díssenso
"Vou discutir esse problema de otimização de custos e efí- - pelo menos foi o que disseram os Professores da ESG.
cácia operacional, porque o EMFA existe para fazer tam- Não se trata de uma Nação dividida, uma Nação em guer-
bém essas otimizações: eficácia operacional, padroniza- ra, uma facção contra a outra. Segundo, a segurança na-
ção de comunícações, de equipamentos etc. cional preconiza medidas para assegurar a conquista e a
Eu queria dizer a V. s.a que eu me alinho com os manutenção dos objetivos nacionais permanentes. Os
'Constituintes que divergem das excelsas virtudes do Mi- objetivos nacionais permanentes são aqueles que estão
nistério da Defesa. Nos Estados Unidos: existe um posi- inscritos na Carta Constitucional brasileira, 'esse que V.
cionamento de queixa das forças singulares contra a pre- s.a já conhece sobejamente, e mais outros. Amanhã, pode
sença do Ministério da Defesa. estar até nesta Constituição: o objetivo nacional perma-
nente é acabar com a pobreza do Nordeste; é a defesa
O Coronel Nossy, exemplo dos nossos dias, faz parte das jazidas minerais brasileiras; é aeaoar com o analfa-
de uma instituição de um pais onde exiSte um Ministério betismo, reduzir a zero o analfabetismo no Brasil.
da Defesa e, por conseguinte, esse Ministério da Defesa
também propiciaria tl supremacia de uma força singular Discordo de V. s.a com relação à exorcização da se-
em relação às demais. Há exemplos, que V. s.a sabe, dos gurança nacional e do primado da defesa. Tenho a im-
meis castrenses, de que tudo o que mistura com abaca- pressão, no meu fraco e não profissional entendimento,
te, sai verde. Não quero fazer com isso uma afirmação des- que não são conceitos que se confrontam, que se colidem,
primorosa em relação ao Exército brasileiro, que é emí- mas devem ser conceitos convergentes que, se estimula-
nente, é imparcial, é uma instituição voltada para uma dos e implementados, poderão trazer a estabilidade e o
missão difícil, árdua e áspera. progresso à nossa Pátria.
Acreditamos que a identidade das forças singulares O PROF. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Vou pro-
é fator de estabilização institucional no Brasil. Por ou- curar ordenar a minha resposta.
tro lado, o que se vê é que a gente condena muito a par- Vamos ver, primeiro, o caso do conceito de seguran-
ticipação dos militares, os militares saindo do quartel para ça. Não quer dizer que não exista a segurança, que não se
a vida civil brasileira, mas, ninguém diz que foram os po- trabalhe 'com a segurança. Vejo que é desnecessário cons-
líticos, pela falência dos partidos políticos, que querem tar da Constituição a segurança, porque a própria Cons-
ser mais pragmáticos do que programáticos, neste País, tituição já é elaborada em condições de dar segurança,
são os partidos dos arranjos e das conciliações - é esta de produzir a segurança desejável para o Estado, para a
a tradição brasileira dos partidos. políticos. Por isso é que sociedade e para o cidadão. Então, não é preciso repetir.
há um vazio de poder em muitas circunstâncias e os po- O que ela tem de ordenar e de organizar no texto são os
líticos foram, invariavelmente, no seu pragmatismo, bus- instrumentos que vão proporcionar a segurança. E um
car nos quartéis o apoio que eles não tiveram nos par- dos instrumentos é a defesa.
lamentos, ou nas praças públicas ou no meio dos traba-
lhadores brasileiros. Antes disso, vou passar à questão da Nação dividida.
V. Ex.a falou em 64, que a sociedade veio e quis a mu-
É muito simplista, no meu entendimento, essa colo- dança. Então, algo de errado estava acontecendo. Não
cação de que o envolvimento freqüente das Forças Arma- vou entrar no mérito da questão, qual era a coisa errada
das na vida política brasileira se deveu ao Interesse do que estava acontecendo, porque a sociedade reagiu e ela
militar. Sabemos que só perderam as Forças Armadas, poderá vir a reagir novamente. Algo de errado estava
chegando inclusive à convicção de que esses envolvimentos acontecendo, ela reagiu e ocorreu 64. A República de
eram prejudiciais à Instituição, pela sua imagem perante Weimar, que V. Ex. a citou no caso de Hitler, caracters-
o povo, pelo desalento nos jovens que não ouscavam mais zou-se por erros 'e omissões. Daí ter aparecido Hitler.
a carreira militar devido a essa interferência. Sempre Assim como erros ,e omissões foram cometidos durante a
perderam como lobby no regime autoritário de 64 para vigência da Carta Constitucional de 46, e nós tivemos um
cá. As Forcas Armadas brasileiras caíram de uma parti- 64. Não quero fazer uma comparação - longe disso _
cipação de "cerca de 2% do PIB para 0,6%, nos seus gastos. mas quero mostrar como é que houve a ruptura no proces-
so político. De um lado, as duas ameaças que vieram.
Volto a repetir aqui a tese do nobre Constituinte, de Hitler foi bem-sucedido. Então, não podemos _dizer que
que quando existe uma indústria bélica nacional, quando isso não venha a ocorrer no futuro.. Dai a grande preo-
se acentua a nacionalização da indústria bélica, pode ser cupação nossa em elaborar um texto constitucional. Não
que o nível seja até mediano, mas em relação ao teatro que vá impedir a ocorrência desses fatos, mas um texto
sulamericano, em relação ao Terceiro Mundo, ela é expo- constitucional que permita 'e estimule a sociedade a se
68 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

organizar, e a classe política também, para que haja res- missão de Hitler nos assuntos táticos de, estratégica opera-
peito à regra do jogo estabelecida. Quando V. Ex.a falou cional e de estratégia das operações militares propriamen-
que a classe política vai procurar os quartéis, infelizmen- te dita foi incompetência. EI,e extravasou os limites e foi
te, na tradição politica brasileira sempre foi a direita que incompetente também na direção política da guerra - e
procurou os quartéis. não na estratégica. O grande erro de Hitler foi político.
Outra coisa que existe no nosso processo politico é Por exemplo: a Campanha da Rússia, em que ele achava
que sempre disseram que as Forças Armadas eonstituíam que asfixiava a União Soviética tomando o centro político,
um poder moderador, e elas nunca foram moderadoras, quando ele poderia ter estrangulado primeiro a União So-
porque elas sempre moderaram favorável ao mesmo tema viética, não se detendo às portas ide Moscou e indo para
da alternativa. Leningrado. Hoje está dito. Então, o erro foi político, por-
que essa decisão não foi estratégica. Qual era a finali-
A questão da Nação dividida - por que a Nação divi- dade dele? A destruição da União Soviética. Este era o
dida? Qual é a preocupação que existe no meio militar? fim político de toda a política da guerra nazista em relação
Qual é o critério que está enraigado dentro do meio mili- à União Soviética.
tar? V. Ex.a veio de lá, e eu também. É o anticomunismo!
V. Ex.a tocou também na exceção para contra-atacar
O SR. CONSTITli"INTE OTTOMAR PINTO - Não a minha posição. Eu tinha dado uma exceção de Maltke-
objetivamente. Esta é uma colocação conjuntural. Estru- Bísmarck, mas existem outras exceções nesse caso da
turalmente, as Forças Armadas se preocupam com a pre- guerra, também. Por que os EUA não entraram pelos Bal-
servação ... cãs? Por que as Forças Aliadas não entraram pelos Balcãs?
O PROFESSOR GERALDO CAVAGNARI FILHO - Eu Porque a decisão dos chefes militares americanos foi muito
não estou defendendo o comunismo. O que eu estou mos- mais influente nos tipos de decisão, do que Churchill. Há
trando aqui são fatos para mostrar o que existe do anti- outros casos, também. Por que os Estados Unidos perde-
comunismo; existe desde 1935, haja vista que na História ram a Guerra no Vietnã? Eles não perderam a guerra mi-
brasileira só quem reverencia a "Intentona" são os mili- litarmente, mas politicamente. Aí não foi problema de
tares. falsa atribuíção de função. Foi incompetência política na
direção da guerra. A Guerra de Vietnã foi incompetência
Bem, o anticomunismo! Então, o grande medo que as na direção da guerra. Por isso é que eles perderam.
Forças Armadas têm é que se configure no País, através de
um texto constitucional elaborado, um poder não confiá- Na questão da Argélia, a mesma coisa: incompetência
vel e elas tenham que se submeter a ele, é a esquerdização política na fase inicial da Guerra da Argélia, porque eles
do País. Eles têm medo e isto está dito em todas as Ordens já tinham perdido a Indochina, quando De GauHe assumiu
do Dia. Mas eu não estou defendendo se a posição das o comando como Presidente da República. Quando ele re-
Forças Armadas é boa ou má. Eu estou fazendo aqui uma tomou a direção política da guerra, acabou com a guerra
análise. Estou mostrando o aspecto objetivo do debate. na Argélia.
Então, existe. Por que a Nação dividida? Existe a hipó- V. Ex. a disse que eu toquei em duas coisas. Eu não falei
tese da guerra interna. A grande preocupação das Forças em duas coisas. V. Ex.a tocou como se fosse uma afirmação
Armadas é dissuadir esse inimigo que elas consideram um minha. Eu não quis reprovar, nem falei em tom de des-
inimigo interno, de vir a conquistar o poder. Essa é a gran- prezo que a nossa tecnologia bélica é de sofisticação média.
de preocupação. E elas, com sua autonomia, reduzem a Eu mostrei uma realidade. Somente isso. Essa foi a minha
liberdade de ação desse inimigo, para evitar que se confi- preocupação.
gure a chamada hipótese de guerra interna. Mas, se ocor- Segundo, eu não falei que há símplísmo em ver tudo do
rer a hipótese ide guerra interna, elas vão para destruí-lo. interesse militar. Os militares não intervêm no processo
Essa é uma realidade e nós não podemos abrir mão, Ve- político por um interesse militar e interesse da força. Eles
jamos o exemplo de quando começou a Nova República: acham que são os salvadores da Pátria. Eles acham que a
as fichas do SNI, que corriam no Governo da Nova lRepú- salvaguarda da Nação é uma responsabilidade Ideles. Não
blíca, impedindo que cidadãos fossem nomeados para é o interesse militar. Eles fazem até com desprendimento
cargos públicos porque tinham fichas suj as no SNI. E o que aquilo, não procurando lucros, nem favores. Agora, se apa-
era sujeira nas fichas? Então, isso tem de ser analisado rece um militar, depois, no usufruto das mordomias e des-
também. Por que a Nação dividida que eu digo? Se eu mandos, isso é outra coisa e não podemos comprometer
reconheço que na sociedade existem inimigos da minha as Forças Armadas. É diferente. Eu só queria fazer essa
posição, inimigos que devem ser destruídos, se necessários, reparação, porque não foi abordagem minha.
esta Nação não tem unidade, não pode ter. A unidade é a
minha unidade, é a unidade de minha parte que defendo, E o Ministério da Defesa? O Ministério da Defesa só
excluindo aqueles. É isso que nós temos que superar. Mas vai nos proporcionar algo quando tivermos uma proposição
isso não vai ser superado pelo texto constitucional. O texto estratégica. V. Ex. a falou que o Partido Verde tomará o
constitucional é a primeira tentativa de se formalizar um controle ...
acordo político que dure e que tenha eficácia no futuro. O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR PINTO - Eu citei
Esta é a finalidade. em tom de bagle. Poderá haver hegemonia de uma Força
Quanto ao poder político na guerra, eu disse na minha em relação à outra.
tese - aliás, não é minha - que a 'direção da guerra e na O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Então, va-
guerra é do poder político. O poder político não é só o mos ver. Qual é a relação de poder dentro da estrutura
Congresso. O poder político que exerce efetivamente a di- militar? É a do Exército, porque é o úníco que tem capaci-
reção da guerra e a direção na guerra é o Chefe do Estado, dade de intervenção no Iprocesso político. É o único que tem
o Chefe de Governo, dependendo da organização política hegemonia e 'capacidade de direção da intervenção. 8,8 o
de cada país, ou a mesma figura como é o caso brasileiro. Exél''Cito não estiver associado à outra força para razer a
É ele quem dirige. Bom, mas ele tem que ter o respaldo
político para o exercício dessa função. E o respaldo polí- intervenção, essa intervenção será mal sucedida. Isto por-
tico é do Poder Legislativo, daí a minha colocação. que a 'estrutura do Exército permite isso. s. nossa estru-
tura territorial é atualmente, uma estrutura de ocupação.
Hitler era o poder político na Alemanha nazista. O A chamada estratégica de presença é um estrategia de
respaldo era o Partido Nazista. O que houve da intro- dissuasão ao inimigo interno.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 69

Mas se nós criarmos o Ministério da Defesa, essa re- O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Eu não
A chamada estratégia de presença é uma estratégia de disse que há um inimigo interno no Brasil. O que disse
lação de poder pode ser alteram. Eu não quero dizer que é que no raciocínio e no planejamento militar, a figura
vai ser, nem que deva ser, mas ela pode ser alterada, desde do inimigo interno está presente, é real. Para mim, não
que o seu l)oder polítíco reformule as proposições estraté- existe o inimigo interno.
gicas e defina as proposições convíncentes, com a partícípa- V. Ex.a está confundindo estratégia de teatro com
ção da sociedade, tenho "certeza de que no quadro em que vi- estratégia de guerra. A estratégia de teatro é da respon-
vemos atualmente, e no futuro do qual estamos nos apro- sabilidade dos comandantes de teatro. Por isso que os
ximando, essa relação terá de ser alterada, porque as ~o.ssas comandantes de teatro são subordinados diretamente ao
responsahilidades da Marinha e da For~~ Aerea terão de Chefe de Estado. E a estratégia de guerra é da responsa-
crescer. Isto está claro. As rssponaabílídades terrestres bilidade do Chefe de Estado. Há uma diferença. Estratégia
terão de ser enxugadas, Aí é o caso de pegar o gWhSO e co- de guerra engloba operações militares, mas o detalhe das
locar no pescoço do leão. Como isso vai ser feito? ~em, operações militares é da estratégia de teatro, da responsa-
isso aí é outro problema. Já me perguntaram: e depoís do bilidade dos comandantes de teatro que estão subordina-
texto pronto, se elas quisere~ dar um glope de estado, dos diretamente ao Comandante-em-Chefe, que é o Chefe
como é que vão fazer? Eu nao posso responder porque de Estado.
não sou adivinho. E também não sou adivinho sobre o
que irá ocorrer se essas proposíções forem definidas pelo V. Ex.a é muito hábil na semântica.
poder político legitimado pela sociedade ~ es:s~ propo- Sobre a questão de se alguém foi melhor sucedido ou
sições políticas trazerem, como eonsequencra !og:c~, a al- não - Hitler em Dunquerque. A decisão de parar era dele,
teração dessa relação. Isto é, 'em que as _atrl~UlçOeS na- porque a História até hoje não explicou qual era a inten-
vais ou aeronavaís crescerão no futuro? .Nao s.el: Isso pode ção política de Hitler em mandar parar as forças alemãs
acontecer. E o Ministério da Defesa vaa a~m~n~trar isso. em Dunquerque. Agora, ele errou na decisão política e
Haverá uma questão de conflito interno, e IOglCO. Agora, também errou na decisão estratégica, porque aquela in-
o que irá ocorrer, eu não sei. ~as a lógica manda uma tenção política que ele desejava jamais poderia vir a se
coisa a realidade pode produzir para outro ~ado. Estou configurar em decisão política. Presume-se que ele espe-
racio~inando com a lógica, e não com a realidade, por- rava a rendição ou um acordo com a Inglaterra. A deci-
que não conheço a realidade futura. são política era procurar uma paz negociada com a In-
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR PINTO - Sr. Pre- glaterra. Foi uma decisão estratégica infeliz, de Hitler.
sidente, peço a palavra, pela ordem. _ Os Aliados foram muito bem sucedidos, mas V. Ex.a
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Pois não, no- nao esqueça que a estratégia de guerra foi conduzida por
bre colega. Roosevelt e Churchill.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR PINTO - Nobre Agora, se um ou outro foi mais permeável à influên-
professor, a colocação que V. s.a fez, da condução estra- cia militar e às decisões de teatro, isto é, outra coisa.
tégíca da guerra, Hitler, por exemplo, mandou parar o Roosevelt, na História, foi mais permeável. E por ter sido
bombardeio em Dunquerque e as Forças Expedicionárias mais permeável, os erros que ele cometeu foram depois
Francesa ~ Inglesa escaparam, vindo aqueles mesmos ho- criticados por Churchill.
mens depois. ajudar o colapso do Exército Alemão. Veja o A SiRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Sr. Pr'3-
desempenho ruim. Stalin também comandava estrategi- sidente, gostaria de fazer uma ressalva aqui.
camente a guerra. E V. s.a sabe o sacrifício imenso dos
homens do Exército Vermelho, o seu patriotismo, o seu O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Pois não.
heroísmo; eles se sacrificaram muito. Veja, por outro la- A SRA. CONSTITUINTE SADm HAUACHE - O nosso
do, o desempenho das Forças Americana e Inglesa, onde ilustre Professor citou que somente a Direita é que costu-
o comando estratégtco era dOS: comandantes dos teatros. ma solicitar ao Exército, ou seja, às Forças federais. Mas,
Agora, entendo que a tragédia da doutrina "Cavagnari" na última eleição no meu Estado, houve um caso típico
- perdoe-me a nomínação, porque V. s.a está tomando em que foi a Esquerda que solicitou a presença das Forças
como princípio básico toda a sua doutrina de defesa na- federais na contagem dos votos, e lá permaneceram. Fo-
cional, é que há no País um inimigo interno, que a preo- ram eles que chamaram não a Direita, mas a Esquerda.
cupação exclusiva diuturna, permanente das Forças Ar-
madas é esse inimigo interno, que é o comunismo. Em O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Eu não to-
cima desse princípio, V. s.a elaborou toda uma teoria de quei nesse assunto. Não acho nada demais a Esquerda ou
defesa interna. Por isso é que na hora em que começa- a Direita solicitarem Forças federais para cumprir uma
mos a analisar com descomprometímento a teoria, ve- determinação que está dentro da Constituição e das leis.
mos as contradícões. Na realidade, não é isso. A grande A SRA. CONSII'ITUINTE SADIE HAUAOHE' - Des-
preocupação das 'Forças Armadas deve ser com os ObJeti- culpe, mas V. s.a disse: "a Direita costuma ... "
vos nacionais permanentes. Esse problema de comunismo
ou não, direta QU não, é um problema conjuntural. E;!n O ,SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Sim, mas
1964, ele aflorou porque representava uma ameaça nao para golpe de Estado.
só potencial, como iminente à sobrevívêneía do Estado O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a
do Brasil. Justamente por isso foi colocado no cerne das palavra ao Consltituinte Asdrubal Bentes, penúltimo ins-
reflexões dos militares. Mas, hoje, os partidos de esquerda crito.
estão integrados na comunhão política brasileira, defen-
dendo no Parlamento, na Imprensa e até nos púlpitos das O SR. OONSTITUINTE ASDRUBAL BENTES - Caro
igrejas os seus pontos de vista. Não há uma ameaça imi- Professor, não sou miiltar, não entendo de tática ou de
nente, súbita e violenta à ordem constituída. Então, isso estratégia militar, muito menos de doutrina. Sou um cida-
foi alijado das preocupações imediatas das Forças_ Arma- dão brasileiro trazido a esta Casa pela vontade livre e
das. Hoje, as hipóteses de guerra que prevalecem sao con- soberana do povo de minha terra para ajudar, com a
tra inimigos externos. Não vou citar o caso, porque trata- minha pequena íntelígêneía, muito boa vontade e muita
se de um assunto confidencial, um assunto muito sigiloso, dedicação, na elaboração de uma nova Carta Magna que
e V. s.a deve saber muito bem disso. Eram somente essas venha representar realmente a sociedade brasileira como
as colocações que queria fazer. um todo. Não vejo porque se estabelecer esta diferencia-
70 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

ção entre o cidadão civil e o cidadão militar. Para mim, que formaliza essa segurança é a Constituição. É desne-
todos são cidadãos, são brasileiros e devem ser tratados cessário a doutrina de segurança nacional como existe,
do mesmo modo com a única máxima da nossa Carta e como existem as doutrinas de segurança nacional no
Magna: "Todos são iguais perante a lei, sem privilégios Terceiro Mundo, que são feitas para o estado autoritário.
e sem discriminações". Também não vejo o por que deste V. Ex.a pode ver que nessas doutrinas, eles trabalham com
temor de um lado e de outro, de Direita e de Esquerda. dois conceitos básicos: Estado 'e nação. Ora, a tendência
Acho que a sociedade, como um todo, tem vários segmen- de nação é a busca da unidade, mas desconhece a socie-
tos e a nosa Carta Magna deverá representar exatamente dade; a tendência da sociedade é a divisão. Eles não tra-
aquilo que representam os segmentos dentro da sociedade balham com essa categoria de análise na doutrina de
brasileira. Confesso que, com mais um pouco, eu já sairia segurança nacional. Então, o texto constitucional já é a
daqui quase preparado em termo de tática ou estratégia formalização da segurança do Estado, da sociedade e do
militar. Até achei interessante o debate, que touxe ao cidadão. A doutrina de defesa, não cabe à Constituição
meu conhecimento algo para mim novo porque, realmente, formalizá-la. Ela organiza os instrumentos de defesa, e
sempre fui um homem que procurei a paz em toda a um deles chama-se Forças Armadas. Quanto à doutrina
minha vida, muitas vezes não a tenha encontrado. operacional de defesa, os instrumentos listados na Cons-
V. S a referiu-se aí à doutrina de defesa e à doutrina tituição é que vão elaborá-la, não fugindo à Constituição,
de segurança nacional. Gostaria de saber, para ser mais que é o texto diretriz. Essa doutrina de defesa é uma dou-
objetivo, quais as semelhantes diferenças, quais as vanta- trina operacional.
gens e desvantagens de uma e de outra ou se ambas não Essa foi a explicação que dei durante a minha expo-
se confundem e se diferenciam apenas por uma questão sição e o debate sobre o problema de segurança nacional
de semântica? e defesa. Por isso é que rejeito o conceito de Segurança
Outra colocação que gostaria de fazer, já como ama- Nacional, porque a própria Constituição em si já é a
zônía, sofredor e sofrido, esquecido de todos e de tudo, segurança. Ela vai definir a segurança do Estado, da socie-
num momento importante da vida nacional, quando se dade e do cidadão. Não adianta criar a segurança só para
dividem os Ministérios ao bel-prazer e influências pes- o Estado; nós temos que criá-la para a sociedade, e uma
soais, particulares, familiares e amigáveis é que nós, da das formas de segurança para a sociedade, é o direito ao
Amazônia, que representamos mais de 40% do território díssenso.
nacional, nunca fomos ouvidos nem cheirados, a não ser O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a
para tirar o que é nosso e jogar para o exterior, deixando palavra ao nobrs Constituinte José Genoino.
o buraco da vergonha dos nossos minérios e, um miserável
Imposto Único sobre Minerais; nós, da Amazônia, que te- O SR. JOSl!: GENOINO - Sr. Presidente, tenho duas
mos sido apenas para uns o pulmão do mundo, para outros perguntas importantes ao Professor Cavagnari.
a grande esperança do pagamento da dívida externa e a A primeira diz respeito aos mecanismos coercitivos
solução dos problemas nacionais; nós, da Amazônia que de defesa do Estado. Os professores da ESG defenderam
esquecidos como sempre, temos de levantar a noss~ vo~ a manutenção dos instrumentos atuais acrescentando mais
e _ouvir V. s.a falar do Projeto Calha Norte. Confesso que um que seria o estado de recessão econômica. A OAB
nao tenho grandes conhecimentos do Projeto Calha Norte, defendeu a proposta Affonso Arinos. Eu tenho a posição
mas parece-me que a Amazônia principalmente onde se de que os mecanismos de coerção do Estado só devem ser
implantará esse projeto, ainda é um imenso va:rlo demo- acionados em casos de guerra externa. Gostaria de ouvir
gráfico à espera de colonízação, à espera de desbrava- a opinião de V. s.a sobre isso, especificamente estado de
mento e à espera de um desenvolvimento que tenha como sítio e estado de emergência
razão de ser o homem.
A outra, não é uma pergunta - embora possa parecer
Vejo opiniões das mais diversas sobre o Projeto Calha em função da sua condição pessoal, mas é uma pro-
Norte, uns achando que ele simplesmente afeta o problema posta que vou defender no texto constitucional. Talvez
de segurança nacional e, outros, o de desenvolvimento V. s.a seja a pessoa adequada porque conviveu, como mili-
nacional. Creio que um e outro serão o objetivo desse tar, e agora está convivendo dentro da universidade, como
pro] eto, pela sua proximidade das fronteiras com o Peru, brilhante professor universitário.
Guianas, exatamente para a ocupação pelos brasileiros,
daquela área que ainda é uma das poucas coisas virgens Faria a seguinte pergunta: Há uma formação estri-
que existem neste País. tamente militar e há uma formação acadêmica.
De maneira que gostaria de ouvir de V. s.a algo sobre Qual a opinião de V. s.a de que a instrução propria-
o Projeto Calha Norte, que representa mais uma espe- mente acadêmica, militar, pudesse ser feita nas universi-
rança para nós, que vivemos na Amazônia, que temos dades? E a instrução estritamente militar se prendesse
vivido apenas de esperança e sofrimento. às academias militares? Como é que V. s.a vê a questão
de uma relação dos militares com a sociedade, e aquilo
O SR GERALDO CAVAGNARI FILHO - Não tenho que seria específico da. natureza da atividade militar?
condições de falar sobre o Projeto Calha Norte, porque o Essa é uma proposta que vou fazer no texto constitucional
conheço muito pouco. Quando fiz a colocação do Projeto sobre a qual gostaria de ouvir a sua opinião.
Calha Norte, não quis estabelecer um juízo de valor, se
ele é ou não um bom projeto. Apenas o utilizei como exem- Finalmente, sobre a questão do Ministério, acho que
plo para mostrar como é que a capacidade de iniciativa não é o caso de criar um Ministério da Defesa, mas se
militar tem uma certa eficácia, como é que essa autono- criar na Constituição, os Ministérios Permanentes, dei-
mia se move sem a participação da sociedade. E mostrei xando ao Presidente da República a possibilidade de criar
o seguinte: que o Projeto Calha Norte deveria ter sido Ministérios extraordinários.
discutido antes da decisão, com a sociedade. Ele está sendo O SR. GERALDO CAVAGNARI FILHO - Quanto ao
debatido depois da decisão. Então, mostrei apenas como Ministério da Defesa, quero deixar bem claro o seguinte:
exemplo. Agora, se ele é bom ou não, não entrei no mérito quanto à proposta da criação, não é que vá aparecer na
da questão. Pode ser que ele seja bom. Constituição o Ministério da Defesa. Não vai aparecer,
Quanto às doutrinas de segurança e de defesa nacio- porque é função das Forças Armadas. Agora, como elas
nais, deixei claro aqui que a segurança deve abranger Es- vão se organizar administrativamente, a lei complementar
tado, sociedade e cidadão, e que o melhor instrumento é que vai dizer. Mas, foi colocado aqui para mostrar que
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACiONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 71

um dos critérios para reforçar a nossa proposta seria deve ser revisto, que se deve permitir ao militar ir à uni-
a integração das Forças Armadas quer dizer, buscando versidade. E seria muito bom ir à universidade.
aqueles itens que relacionei aqui. Nós estamos tendo uma experiência muito boa agora,
Vamos ver prímeíro o estado de recessão econômica com este Núcleo de Estudos EstratégiCOS em Campinas.
e mais um que não apareceu na Constituinte, mas apareceu Ele trabalha numa área basicamente da pesquisa, da refle-
numa entrevista. xão e do debate. É um Núcleo que não trabalha na área
da docência, do ensino, e estou sentindo uma aproximação
Com referência ao estado de recessão econômica e dos militares que nos procuram para troca de idéias, para
ao chamado conflito artificial, o Presidente da República participar dos nossos seminários, para receber textos, etc.
deu uma entrevista ao jornalista Cláudio Abramo - Folha Então, essa é uma aproximação saudável, por que nós, no
de S. Paulo - não me lembro qual foi a edição- onde Núcleo de Estudos Estratégicos, não pretendemos formular
Sua Excelência admite o conflito como fator de mudança, doutrina. O nosso Núcleo pretende formular a reflexão,
não somente o conflito como uma disfunção na sociedade. a pesquisa e o debate livre de todas as posições possíveis
Aliás nós colocamos aqui que o conflito pode ser tanto que, aliás, é da natureza da universidade: um fórum livre
uma 'disfunção, como um fator de mudança. Ele coincide de debates. li: isso que pretendemos lá.
com a nossa posição. Mas, no final da entrevista, Sua
Excelência coloca aquele conflito que deve ser combatido, No nosso Núcleo, temos elementos de matrizes polí-
que é o conflito artificial. Quem trabalha nessa área de ticas os mais variados - temos civis e temos militares.
ciência política ou de sociologia vai sentir muita dificul- Isso é muito importante. Só para dar uma idéia, a corres-
dade em transformar esse conflito artificial em uma cate- pondêncía civil e militar com o nosso Núcleo é de 140
goria de análise. Não vai trabalhar com isso, porque o pessoas, no Brasil, fora o exterior. Isso mostra que há
aspecto do subjetividade é muito grande para dizer o que uma aproximação, que alguém está vendo que tem de ir
é ar,tificíal ou não; porque em princípio todo conflito é ao Núcleo.
político, tem um ingrediente político.
Criou-se o Núcleo para se levar o debate à sociedade,
No planejamento de defesa, esses conflitos artificiais, e, a via mais indicada é a universidade. Por isso se tentou
como estado de recessão econômica, não serão úteis? institucionalizar os estudos estratégicos dentro da uni-
Serão. São muito úteis para o planejamento de Estado- versidade, porque ela é a via mais indicada. E, ao mesmo
Maior no caso de defesa. São dois perigos que existem tempo, fazer propostas as mais variadas, de maneira que
na execução da defesa interna: admitir que existem con- a sociedade crie o hábito do debate de determinados as-
flitos artificiais e permitir que se crie a figura de estado suntos dos quais ela está excluída, e que a sociedade polí-
de recessão econômica. Rejeito o conflito artificial, rejeito tica está marginalizada, que são os assuntos políticos
a proposta do estado de recessão econômica, e concordo estratégicos.
com o que está aqui no anteprojeto da Comissão Afonso
Arinos, com aquelas medidas coercitivas que devem ser Então, a f inalidade do nosso Núcleo não é dirigida
previstas na Constituição. para as Forças Armadas, mas à sociedade civil e à soci-e-
dade política. Se as Forças Armadas chegarem a nós, será
Quanto à formação militar. O oficial das Forças A!- ótimo. Agora, não temos compromissos; não fazemos for-
madas tem uma formação universitária e uma formação mulações laudatórias: o nosso discurso não é apologético,
proflssíonal tecnicamente, o oficial brasileiro das três mas é análise pura e simples.
Forças é muito bom.
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a
A formação universitária deixa a desejar. Não a for- palavra ao nobre Relator.
mação universitária na área das ciências exatas, ~as .na
área das ciências humanas, porque o estudo das ciencias O SR. RELATOR (Ricardo Fiúza) - Sr. Presidente e
humanas envolve o debate, e o debate faz a cabeça. Srs. Constituintes, brilhante professor que nos brinda hoje
Então, a conduta de todos os estudos das ciências com a sua palestra tão importante para a formulação do
melhor juízo dessa Subcomissão.
humanas é uma conduta unilateral.
Como deveria ser, no futuro, a formação militar? O Tenho feito um esforço muito grande, como Relator,
militar deveria freqüentar a universidade, mas tendo a para tentar não participar dos debates, para que o rela-
sua formação universitária também nas escolas mílítares tório realmente reflita o máximo possível da média do
e complementando na universidade, na pós-graduação, pensamento da sociedade aqui representada pelos mem-
mestrado e doutorado? Sou favorável. O militar ganha bros da Subcomissão e pelos eminentes conferencistas
bolsa de estudo, seu vencimento, seu salário, e deve ir que nos brindam com a sua presença.
para a universidade só para estudar e completar a sua Apenas duas ou três perguntas para melhor utilizar,
graduação na área que lhe interessa e que interessará tam- no relatório, os conceitos aqui emitidos.
bém à Força. E, se for o caso, voltar à universidade para
fazer a ;pós-graduação, se assim for desejo da Força e Estou ficando cada dia mais convencido de que há
dele. Por que não se faz? A culpa está dos dois lados quase unanimidade, no tocante a um aspecto que imagi-
Pois houve uma época que as' universidades brasileiras nava que a Subcomissão fosse mais heterogênea. É o fato
eram consideradas viveiro de comunistas. de que a Subcomissão admite - e a unanimidade dos
conferencistas aqui presentes, também - intervenções das
Em 1983, fui proibido de dar uma palestra sobre aná- Forças Armadas no papel político, na política interna de
lise estratégica a nível conceitual na Unicamp, porqpe segurança. Todas essas, entretanto, absolutamente subor-
era considerada uma universidade de comunistas. Entao, dinadas a um mecanismo constitucional rígido - não só
havia esse preconceito, e acredito que há ainda um pouco. subordinadas, mas autorizadas. Elas agiriam sempre com
Há também o preconceito acadêmico. A universidade sem- instrumentos do poder civil, nessas questões absoluta-
pre reagiu à entrada do militar, como é de direito, sem o mente previstas em lei.
vestibular, como deveria ter permitido a el~ freÇl.üentar
a universidade. Seria muito bom para a universidade e Como muito bem disse, acho que a Constituição pode
para a sociedade. Essa formação seria aberta 360 graus definir o que é Segurança Nacional e refletir os objetivos
nesta área. Mas a universidade reagiu. Agora a universi- de um conceito embutido no próprio texto constitucional,
dade está vendo que esse preconceito foi inútil e que e as salvaguardas.
72 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Anotei uma série de perguntas. Mas, para não ser re- Se relegarmos a atual posição de ministro a um cargo
petitivo como durante os debates elas foram se esclare- absolutamente militar, forçosamente vamos levá-los, num
cendo, estou passando por cima. momento de crise, a ter apenas visão e soluções militares.
Declara a distinção entre defesa de sistema do orde- E a lealdade, que deveria ser feita ao Chefe de Estado,
namento político e jurídico do Estado, que não é segu- fica automaticamente transferida exclusivamente à cor-
rança pública - esse é um ponto que está ficando extre- poração a qual eles representam.
mamente claro. Acho que um Ministro da Def,esa, comandando todo
. Democratizaçã? não se encerra com a Constituição, e um aparato militar, teria uma tendência a ser um super-
sim com o fortalecimento da sociedade - esse é um ponto
ministro, embora Roberto Campos tenha dito, muito inte-
absolutamente substantivo de toda a discussão da elabo- ligentemente, há alguns anos, que só existem supermí-
ração da Oonstituinte, que é extremamente fundamental. nistros onde há supermínístros, o homem que dá dimen-
Repito sempre, que a forma é o limite do conteúdo, que são a seus cargos. Essa a posição do Relator. Não quero
não adianta se tentar artificializar um processo didático, emitir juízos de valores, o que aliás tem me custado bas-
tante, para não eivar de suspeição um relatório que espero
cultural, de formação de instituições sólidas neste Pais, fazer no menor tempo possível.
porque a oonstítíução será mais uma entre tantas e será
desmoralizada no nascedouro. Da minha parte, Sr. IPresidente, agradeço a ipresença
do eminente Professor, e de poder discordar de ilJosições
Traumas, reflexão dos traumas, legitimidade, eficá- em que foi muito brilhante o eminente cientista político.
cia decisória, o dissenso natural da democracia, a absoluta
e ímperíosa necessidade de eliminar a possibilidade de Muito obrigado.
iniciativas por parte dos militares a nível decisivo, são os A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Gos-
pontos que acho substantivos. taria de mais uma vez aqui lembrar, e não discutir, pelo
Acho interessante as observações feitas. Nós não es- adiantado da hora. A Esquerda também procurou as For-
tamos discutindo questões de objetivo, e sim doutrinas, a ças Armadas para um GoLpe em 1961, na renúncia de
respeito do sentimento militar de que' o Ministro militar Jânio Quadros. Um Governador do Rio Grande do Sul,
não se sente num cargo político, representativo da socie- progressista, procurou os quartéis para o seu movimento
dade cívíl num Ministério e, sim representante das Ar- da legalidade. Não sei se V. s.a está lembrado. Ess,e mesmo
mas. Continuo, ainda, não convencido da necessidade do Sr., hoje ex-Governador do Rio de Janeiro, procurou um
Ministério da Defesa. Continuo convencido de que a antiga sargento em 1963, para colocá-lo contra os oficiais.
estrutura ainda era melhor. Poderia citar alguns exemplos Era isso que gostaria de lembrar, porque estou bem-
que já foram citados aqui, mas vou tentar traduzir um informado.
ponto que me parece preocupante. Uma vez foi dito que os
americanos criticam o Ministro da Defesa, que coexiste pa- O SR GERALDO CAVAGNARI FILHO - Mas V. Ex. a
ralelamente com os Ministérios da Marinha e da Aeronáu- pegou a exceção.
tica. A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Toda
regra tem exceção. Tenho certeza absoluta que na hora
Acho que a união das três Forças Armadas num Mi- em que a Esquerda ganhar o poder, ela passa a ser Direita,
nistério da Defesa - esse ponto é apenas para reflexão e e os quartéis irão apoiá-la também.
amadurecimento - sem dúvida, poderá ter um efeito
inverso do que se pretende: de se criar uma hipertrofia O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Dado ao adian-
do podr militar, um crescimento exagerado, pela unifica- tado da hora, vamos interromper a nossa reunião, não
ção num só Ministério. vamos encerrá-la, porque às 16 horas temos a segunda
etapa deste nosso dia. Portanto, agradeço a presença do
Na minha opinião, além dos cursos que podem ser Professor e Coronel da Reserva, Geraldo Cavagnari Filho,
Ultilizados, não Só nesta atividade, como em qualquer da Unicamp. Agradeço, também, a presença dos Colegas
outra, mas um excesso de centralização burocrática. Esse Constituintes e os convoco para o nosso reencontro às 16
Ministério da Defesa permítíría um rebaixamento dos horas, quando estaremos aqui para ouvirmos as palavras
Oomandantes das três Armadas, colocando um Ministro, do Presidente da Associação dos Delegados de Policia do
que é uma posição política, ou seja, os atuais Ministros Brasil, Dr. Ciro Vidal e repetir que a reunião não está
das três Armas numa posição de inferioridade e redução encerrada. Apenas há uma interrupção para que possa-
da sua capacidade de influir politicamente num processo mos, na segunda fase, concluí-la.
decisório, que teria um leque mais fechado do Ministério Muito obrigado.
da Defesa, um só órgão decidindo.
(Levanta-se a reunião às 13 horas e 17 minu-
Esp.era-se e a~mite-se - é um 'Pressuposto - que tos.)
numa epoca de crise os comandantes militares das três
Armas exerçam atributos típÍ'COS de Ministros, e não es- O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Havendo núme-
sencialmente de militares. Eles deveriam participar de ro regimental, declaro abertos os trabalhos desta Subco-
soluções políticas, evitando crises, evitando recursos à missão de Defesa do Estado, da Sociedade e da sua Segu-
força, pelo menos restringindo-a ao indispensável. rança. Estamos reiniciando nossos trabalhos nesta tarde,
e digo que estamos reiniciando porque pela manhã a
Este acesso direto de três Mlnis,tro militares, estri- Subcomissão esteve reunida para colher o depoimento de
tamente ao Presidente da República, Ipossibilitaria um ca- um representante do Núcleo Estados EstratégiCOS da Uni-
minho em várias direções, por exemplo, alternativas ma- camp, e depois interrompemos para o almoço.
nifestariam influências, que acho úteis num mo~ento
de crise. Acho que reduzi-los simplesmente à condição de Esta Subcomissão vai colher o depoimento do Presi-
apenas comandantes militares, correspondería provavel- dente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil,
mente a uma atitude de maior isolamento em relação ao Delegado Cyro Vidal, a quem convido nesta oportunidade
Presidente e às forças políticas em geral, porque eles hoje, para fazer parte da Mesa.
como Ministros, não são comandantes militares, mas têm O Dr. Cyro representa, neste ato, os Delegados de
um cargo político. Polícia do Brasil. A Subcomissão decidiu que ouviria as
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 73

entidades representativas das diferentes áreas que se refe- meída, da Direção Ge.ral da Polícia Civil do Dístríto Fe-
rem a sua competência. deral: Dr. Mário Gustavo stuart, Corregedor-Geral da
Na parte específica de policia ou de segurança públi- Policia do Dãstríto Federal; Dr. Álvaro Oaetano dos San-
ca, quer me parecer que é a primeira oportunidade que tos, Coordenador de Polícia Circunscricional; Dr. Leonar-
o Dr, Cyro Vidal depõe nesta Comissão. do Agripa de Vasconcelos, Coordena:dor de Polícia Espe-
cializada; Dr, Adelmo Paranhos, Coordenador da Polícia
Amanhã, a Subcomissão terá a satisfação de ouvir T,écnica; 'e ainda delegados de Policia dos recantos mais
os representantes das Polícias Militares de seis Estados, di'Versos do lPaís.
na seqüência de nossos trabalhos. Nesta oportunidade, vou
passar a palavra ao Delegado Cyro Vidal, que terá o tempo Fiz questão, Sr. Presidente José Tavares, de mencio-
que julgar necessário para fazer a sua explanação. Nor- nar as autoridades presentes, para que os Srs. Constituin-
malmente o tempo tem oscilado entre 30 a 40 até 50 tes, e em especial V. Ex. a possam sentir a importância que
minutos, dependendo do orador. Depois do Dr. Cyro Vidal, damos a este depoimento e aqui fique realmente consigna-
vamos abrir o debate, para perguntas dos Constituintes. da a palavra da Polícia Civil do País.
Eu só relembraría aos colegas que toda vez que fossem Sr. Presidente, afinal de contas, o que é a polícia? A
raser uso da palavra, declinassem o nome, para facilitar polícia nada mais é do que uma entidade prestadora de
Os trabalhos da Taquigrafia e da gravação. serviços. Tenho dito, nesta Casa, que a policia tem o papel
primacial de defesa do povo e de proteção da sociedade. A
Com a palavra o Delegado Cyro Vida!. Polícia Oívíl. não deseja privilégios, não quer justiça espe-
cial, não pretende ser julgada por tribunal especial, pelo
O SR. OYRO VIDAL - Dr, José Tavar,es, Presidente contrário, deseja um julgamento, de forma ordinária, do
da Subcomi.5\São de Defesa do Estado, da Sociedade e de cidadão.
sua segurança.
Deseja ainda mais, Sr. Presidente, que seus atos te-
Antes de iniciarmos nossas explicações, peço permis- nham efetivo controle não só dos órgãos de comunicação,
são a V. E'x.a para nomear as autoridades que aqui com- como, e principalmente, das autoridades constituidas do
pareceram, de todo Pais, com a finalidade precípua de âmbito administrativo, através das corregedorias de poli-
dizer a V. Ex. a e aos senhores constítuíntes desta Subco- cia e através das corregedorias da magistratura e do Poder
missão do respeito que temos pela Casa, da honra que Judiciário.
temos pelo convite formulado por V. Ex.a e, principal- O que nós desejamos é que não se faça confusão en-
mente, pela oportunidade de dizer a V. Ex.a e aos se- tre os conceitos de segurança pública e de segurança in-
nhores constttuíntes o que a Polícia Civil de todo o Pais terna. Entendemos que segurança pública nada mais é do
pensa em relação à segurança pública. Permita-me, tam- que, repito, a prestação de serviços à comunidade, objeti-
bém, Presidente José Tavares, mencionar aqui que no vando a defesa da população, objetivando proporcionar
recente congresso de comissões civis, iniciado há dias em segurança à própria coletividade. Não compete à Polícia
São [P'aulo, fui escolhido por todas as entidades de comis- Civil, como não compete à polícia como um todo, a ativi-
sários civis no Brasil, com muita honra, para represen- dade de segurança interna, atividade de defesa do pólo,
tá-los aqui. Assim sendo, quem fa1a, com muita honra, atividade de defesa territorial ou atividade de ocupação
nesta Subcomissão, não é só o representante dos delega- territorial. Essas são as atividades próprias das organiza-
dos de Policia do País, mas, o representante de todas' as ções militares. Entendemos que a polícia é eminentemente
policias do Brasil. civil, porque ela deve ter, repito pela terceira vez, a sua
Encontram-se aqui conosco o Dr. Amandío Augusto atividade voltada para a defesa do cidadão, para a pres-
Malheiros Lopes Delegado-Geral da PuJicia Civil de São tação de serviço à comunidade, para a defesa da própria
Paulo: o Dr, Re~ato Ottoni, Diretor-Geral da Policia Civil coletividade. Se nós, estudarmos a Constituição atual, po-
do Estado do paraná; Dr, Amértco Passos Lopes, Delega- deremos verificar que não existe o sistema de segurança
do-Geral da !Polícia Oivil da Bahia; Dl'. Lúcio T,adeu Ri- pública alocada nessa Carta. Na verdade, existem regras
beiro de Campos, Delegado-Geral do Território do Amapá; para a' Polícia Federal, regras para a Polícia Militar, como
reserva das Forças Armadas Federal, para o Ministério
Dr. Tiés Montebelo, Presidente da Associação de 1P01;c~a Público, para o Poder Judiciário, para o funcionalismo
do Rio de Janeiro' Dr. Jorge, Diretor-Geral da PollCla público, de forma geral, para, repito, a segurança geral,
de Mato Grosso d~ Sul, e Presidente da Associação dos a segurança interna e a segurança externa, mas não exis-
Radioipolícia de Mato Grosso do SUJ1; Dr. Aloysio Franco te, na atual Constituição, dispositivo de qualquer nature-
de Oliveira Suplente Constituinte desta Casa e Diretor- za que se preocupe com a proteção do cidadão. Que o ci-
Geral da Àcademia de Polícia do Rio Grande do Sul; dadão, Presidente José Tavares, possa sair na via pública
Dr, Manoel Alves da Silva, Presidente da Associação ~e sem ter necessidade de fazê-lo armado; que o cidadão
De1egados de Polícia do Rio Grande do Norte; Dr. Zalr, possa sair à via pública sem o medo e sem o receio de ser
Suplente oonstítuínte nesta Casa, e ex-Presidente da assaltado na esquina, sem que o seu patrimônio seja visi-
Associação da Polícia Civil do Estado de São Paulo; r». tado por amigos do alheio ou sem que sua filha. seja estu-
Antonio de Melo Lima P.residente da Assocíaçoâ da Poli- prada ou seja motivo de qualquer crime contra os costu-
cia Civil do Piauí' Dr, 'AmyJ." Neves Ferreira da Silva, IPre- mes.
sídente da Associ~ção, do Es'tado de São Paulo; DT. Ivair
de Freitas Gar,cia, ex-Deputado Flederal, ex-Deputado Es- O que, na verdade, pretendemos é que a polícia previ-
tadual e lPr,esidente da Comissão de Estudos Constitucio- na os crímes: é que a polícia, em ocorrendo o fato infra-
nais da !Policia Civil; Dr. Reinaldo de Magalhães, Pre- cional, reprima os crimes; que ela tenha uma estrutura
sidente da Associação dos Funcionários da Políeía _Civil própria para tal; que tenha uma formação profissional
do Estado de MinaS! Gerais, Presidente da Assoctacão de para isto, formação que se inicia nas academias de poli-
Polícia do Estado de Minas Geraís: Dl'. Ivo, Presidente cia, após a sujeição em concurso público regular de provas
da Associacão de Ráidiopolícia do Paraná; Dr, Aderoa; e títulos.
Silva P,l'esidente da Associação de Rádiopolícia do Dis- Queremos, Sr. Presidente, que a polícia realmente
trito 'Federal; Dr, Miguel Batista de Siqueira, Pr'esidente preste serviços ao povo; que não seja um algoz da popula-
da Assocíacão da Polícia de Goiás, ilustres autoridades do ção; não se vincule à víolêneía, para obter a certeza de
Dístríto Federal e da IPlQlícia Federal; Dr, Roberto de Al- autoria ou materíalídade do fato; queremos que a polícia
74 Segunda-feira 2( DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

sej a respeitada como organização prestadora de serviços. Repelimos, de pronto, e com toda a veemência, a ati-
Digo, com a mais absoluta isenção de ânimo, Sr. Presi- vidade de Polícia Judiciária, é própria da Polícia Civil,
dente, que na verdade a Revolução priorizou o segmento preparada, estruturada, com competência e profissionali-
fardado da policia, o segmento uniformizado da policia, zada como tal.
priorizou o segmento militarizado da polícia, agigantando- Fala-se muito, Sr. Presidente, em Juizado de Instru-
o de tal maneira que chega, hoj e, ao volume de trezentos ção. Eu não precisaria recordar a V. Ex.a e aos Srs. Cons-
mil homens em todo o País, volume hoje dito, pela ma- tituintes as palavras do eminente jurista e Ministro da
nhã, na Comissão de Defesa Ido Estado. Justiça, em 1941, Francisco Campos, quando, na Exposi-
O que entendemos, na realidade, é que a Revolução, ao ção de Motivos do Código de Processo Penal, dizia que o
ter priorizado o segmento militarizado, colocou em segun- Brasil é um País continente, dizia que o Brasil não tinha
do plano a defesa do indivíduo e da sociedade, e deixou pa- a estrutura de um pequeno país europeu, onde se pudesse
ra o segmento inferior a própria proteção do meio comu- fazer a apresentação do elemento probante imediatamen-
nitário. te à autoridade judiciária, como ocorre em alguns países
europeus. E dizia, ainda, que o inquérito policial era a
Em contrapartida, Sr. Presidente, Srs. Constituintes, maior segurança para o próprio indivíduo, porque era ali,
o que temos hoje é a aspiração quase permanente, é um na sedimentação da prova e no conhecimento da prova
objetivo que deixou de ser transitório para se transformar do indiciado que ele teria a sua oportunidade de defesa;
em objetivo nacional permanente, se me permito utilizar não uma defesa secreta, mas uma defesa aberta; não uma
da expressão ida Escola Superior de Guerra, no sentido de defesa reservada, mas uma defesa franca, a posteriori,
que o cidadão tenha segurança. em juízo.
Veja V. Ex. a que as últimas enquetes que procederam Países existem, de larguíssíma tradição judiciária.
jornais do mais alto nível, como o O Globo, do Rio de Ja- Aponto a V. Ex. a Portugal, aponto a V. Ex.a a Itália, onde
neiro, como o .Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, como a o juiz de instrução é o delegado de polícia, apenas com
Folha de S. Paulo, como a Zero lIIora, do Rio Grande do nome alterado; aponto a V. Ex.a. os commíssaíres de poli-
Sul, como O Estado de Minas Gerais, como O Estado de S. ce, na França, que fazem a Polícia Judiciária; aponta a
Paulo, colocaram, sem qualquer dúvida, sem qualquer equí- V. Ex.a os inspetores de polícia na Inglaterra; aponto,
voco, que a aspiração primeira da população é a segu- ainda, nos Estados Unidos, o papel dos tenentes e capitães
rança pública. de polícia, que receberam essa nomenclatura em razão
Todos nós, sejamos povo, sejamos policiais - e per- da tradição da Guerra de Secessão, mas que são apenas
mitam-me até avançar, Sr. Presidente - e até V. Ex.llB, tenentes e capitães na sua escrita, porque têm estrutura
quando saem à via pública, saem temerosos, porque não absolutamente civil.
temos segurança. Ouvimos, cedo, na Subcomissão dos Estados, o repre-
sentante do Exército nacional informar, com toda a cer-
É exatamente isto que a polícia Civil deseja deixar teza, que a pretensão da colocação de um segmento uni-
bem evidente. A investigação criminal, como primeiro ele- formizado, militarizado da polícia é com a finalidade da
mento da Polícia Judiciária, como passo primeiro na per- defesa interna, e que a prestação de segurança pública
secução criminal, que vai oferecer os elementos necessá- é uma prestação supletiva. Entendemos absolutamente o
rios ao órgão acusador oficial, para que este possa per- contrário; entendemos que a polícia tem, por atividade
seguir a autoria do fato até a setnença final, deve ser primeira, a prestação de segurança pública, a proteção do
uma atividade exclusiva de cidadãos policiais devidamente indivíduo e da própria sociedade.
habilitados como tal, e habilitaJdos pelo seu curso de for- É por isto, Ex. a , que preparamos uma proposta para
mação jurídica, habilitados nas academias de polícia, ha-
bilitados pelos seus cursos de formação técnica e habili- ser entregue a esta Subcomissão. Nesta proposta, deixa-
tados pelos seus cursos profissionalizantes. mos evidente que a Polícia Civil dos Estados, dos Terri-
tórios e do Distrito Federal responderá pela manutenção
Esta investigação policial deve ser própria da Polícia da ordem e da segurança públicas, inclusive nos respec-
Civil. Quando se pretende, Sr. Presidente, a avocatura do tivos municípios, e atuará preventiva ou repressívamen-
inquérito, a avocatura da investigação policial por outro te, exercendo também as atribuições de Policia Judiciária,
órgão que não seja a polícia, o que se pretende, na verda- com exclusividade, na apuração das infrações penais, na
de, ê -a supervisão da -atividade policial por quem não está sua autoria e na apresentação do elemento probante em
capacitado e estruturado como tal. juízo.
Sabemos perfeitamente de propostas que pretendem Entendemos que na Constituição, no capítulo espe-
passar ao Ministério Público esta função de avocar o cífico "Da Segurança Pública" deve existir uma reserva
inquérito policial, supervisioná-lo e dirigi-lo. Não tem o para a Polícia Civil, deve existir, inclusive, um registro
organismo acusador oficial condição elementar estrutu- para a ínstítuíçâo policial. Gostaríamos, Sr. presidente e
ral para tal fiscalização. E ainda mais, Sr. Presidente e Srs. Constituintes, que essa reserva e esse registro fossem
Srs. Constituintes, não tem o Ministério Público compe- feitos a nível de legislação complementar, uma legislação
tência legal para tal. Por quê? Porque não tem a complementar abrangente, que tornasse uniforme a Polí-
competência profissional. cia Civil em todo o País, razão pela qual elaboramos a
proposta de que, no capítulo futuro da Carta Maior, que
EIn se aceitando essa avocatura, teríamos o desequilí- diz respeito à segurança pública, estaria a reserva nestas
brio na persecução criminal; nomeia-se o juiz, pre- condições: lei complementar, denominada "Lei Orgânica
sidindo o procedimento crímínal, já na sua fase proces- da Polícia Civil", estabelecerá normas gerais relativas à
sual penal. De um lado, a defesa, de outro, a acusação. Se organização, ao funcionamento, à diseiplína, aos deveres,
nessa fase preambular acusatória competisse também ao às obrigações e às vantagens da Polícia Civil, dependendo,
Ministério Público a formação da prova, sem dúvida que inclusive, Ex.a , dessa estrutura, dessa espinha dorçal da
teríamos o desequilíbrio entre a defesa e a acusação. Na própria polícia, a atividade fim, que é a segurança
verdade, quem acusa, estaria praticamente se colocando pública.
numa fase de prejulgador, porque toda investigação feita Nós, ainda da Polícia Civil do Brasil, entendemos
ao arrepio da própria defesa, ao arbítrio da própria acusa- que deva ser delegado aos Estados, para sua economia
ção, colocaria a defesa num. plano inferior. interna, a estruturação das suas organizações policiais.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 75

Finalmente, deixaria bem claro a V. Ex.a que, na pretensão punitiva do Estado não tinha sido elaborada em
nossa opinião, na opinião da Polícia Civil do Brasil, prazo rápido.
entendemos que o inqlérito policial, o procedimento Na verdade, a prescrição não se deveu à policia; na
vestibular é absolutamente necessário, como meio mais verdade, a prescrição se deveu, Sr. Presidente e Srs. Cons-
democrático da apuração de uma infração penal. E o tituintes, às falhas da Justiça.
jornal de domingo O Estado de S. Paulo publica, em no-
ticiário geral, matéria que eu gostaria, a posteriori, de Sabem V. Ex.as também que é vox populi, voz corrente,
passar a V. Ex.a, onde consta que a Primeira Câmara que todas as vezes - e V. Ex.a tem certeza e como pro-
do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo fissional do direito já ouviu - a policia prerÍde e a Justiça
determínou, Sr. Presidente e Srs. Constituintes, a instau- solta.
ração de inquérito policial contra o ex-Procurador-Geral Quantas vezes, Sr. Presidente e Srs. Constituintes, a
de Justiça de São Paulo e atual Secretário de Estado de policia acaba levando sobre si a carga da irresponsabili-
neresa do Consumidor, Paulo Salvador Frontini, pela dade, quando essa irresponsabilidade não é nossa. O que
prática de crime de condescendência criminosa; e deter- :pretendemos é que a policia seja prestadora de serviços
minaram os senhores juízes da Primeira Câmara do Tri- a comunidade, é que a polícia seja vista como organismo
bunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, a responsável, um organismo que pretende, na verdade a
instauração, pela polícia, de inquérito contra o Procurador de.fesa do próprio cidadão, v'!ltada para a prevenção'do
da Justiça Honarete Ferrari, pela prática de crime de enme, voltada para a repressao quando este crime ocor-
prevaricação. rer, mas sempre com o respeito, com dignidade com obe-
diência à lei e com atenção aos direitos individuais e
'Vejam V. Ex. as que a Justiça Criminal especializada, coletivos.
que o Tribunal de Alçada Criminal d.e São Paulo, 1.:!~ dos
tribunais de segundo grau de maior responsabílídade ~ por isto que esta:~os representando aqui a V. Ex.a
deste País, vem a público dizer que a apuração de infra- a opmiao da _PO~lCI~ CIVIl do Brasil; e esta opinião, Sr.
cão penal de um Procurador-Geral de Justiça, de um ex- Presidente, nao e so nossa; é de jurista da mais alta no-
Procurador-Geral do Estado, de um atual Secretário de meada, como Rui Barbosa, Pontes de Miranda Afonso
E'Stado e de um Procurador de Justiça devem ser, vestibu- Ari?os, Gilberto Freire, Raimundo Faoro, e qu~ntas au-
larmerite, apurados, através de inquérito policial. tor~d~des do Poder Judiciário não se vêm manifestando
decídídamente n? .sentido de que a atividade policial é
Não se diga pois que o inquérito policial é uma peça emmentemente CIVIL Queremos o reconhecimento, o regis-
arcaica, é uma peça do passado; é uma peça tão presente tro, o assento da policia na própria Constituição.
que um tribunal especializado determina à polícia a apu-
ração de infração de altas autoridades da magistratura. Sabemos, Sr. Presidente, que muitas vezes a nossa
atividade, a nossa autoridade é contestada, é discriminada
Eu gostaria, a posteriori, de passar este recorte a e vista com olhos não muito bons pela sociedade. Reco-
V. Ex.a , lembrando também que foi apresentado, contra nhecemos as nossas seqüelas, mas não pretendemos fugir
essa" decisão do Tribunal de Alçada Criminal, um embargo ao julgamento da Justiça, da Justiça ordinária, da Justiça
de declaração, julgado improcedente e que teve, portanto, comum, porque entendemos que somos homens, mulheres
percurso procedimental adequado. policiais extraídos da sociedade comum. Sabemos ainda'
Sr. Presidente, muito se fala sobre a militarização da Sr. Presidente, de inúmeras dificuldades de ordem insti~
polícia e sobre a civilização da polícia. Na verdade, a polí- tu<:ional.e _de ordem ~ons~tucional que poderão advir para
cia é uma atividade civil, na verdade, o policiamento é a imposiçao desta fílosofía. Mas a verdade é que ela se
uma atividade cicil. No momento e mque alguém telefona impõe. l!: por esta razão que faço a entrega solenemente .a
para um homem de polícia e o chama para atender a uma V. Ex.a de. um trabalho sobre a história da policia, realí-
ocorrência, esta ocorrêncía é um fato-crime que se regis- zado pelo Ilustre ,Profesor, delegado de policia, Pro Murilo
tra, é um fato contravencional que se registra, é uma de Macedo Pereíra, onde V. Ex.a poderá com os Srs
infração de legislação penal ou de legislação especial que Constituintes, verificar a evolução históric'a da atividad~
se registra, Sr. Presidente, e quem a deve atender é aquele policial. Buscada, inclusive, no pretório de Roma essa
que está capacitado para atuar. Aí, já ingressa a Policia a~ividade é eminentemente. exercida por autoridad~ poli-
Judiciária. Portanto, esse atendimento de, ocorrência é cíal, buscada, como eu dísse, entre os comissários de
muito próprio, é ínsito à própria atividade de Polícia Ju- Frar;ça, entre os inspetores da Inglaterra, entre os chefes e
XerIf~s. dos Estados Unidos a atividade policial dirigida
diciária a posteriori, o inquérito policial com prazq redu-
por CIVIS. Ao mesmo tempo, tenho ainda a honra de fazer
zidíssimo. chegas às mãos de V. Ex. a a proposta da Polícia Civil do
. Sobem os Srs. Constituintes que o Código de Pro- Brasil, objetivando a inserção da nossa instituição na
cesso Penal chega a ser muitas vezes draconiano contra a Carta constitucional.
autoridade policial. E sabem os Srs. Constituintes que a Quero que V. Ex.a e os Srs. Constituintes recebam
autoridade policial muitas vezes é responsabilizada de na- essa colaboração como manifestação do, mais profundo
tureza administrativa, quando permite que esse prazo seja respeito a esta Casa. Aqui estamos todos, hoje, incorpo-
dilatado sem que haja uma ordem judicial para tanto. .rados com autoridades de todo o País, que fiz questão de
As prescrições de processo, as prescrições de inqué- nomear a V. Ex.a , para que V. Ex.a sinta da nossa preo-
rito, ,Sr. Presidente e Srs. Constituintes, não ocorrem nas cupação, para que V. Ex.a sinta do nosso respeito por
gavetas nem nas prateleiras das delegacias de polícia. esta Casa, e para que V. Ex.as realmente reconheçam o
direito da polícia civil a ter um assento na Carta cons-
A semana passada, quando aqui estivemos com, um titucional. .
grupo de autoridades para prestigiar a nossa fala em uma O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Abrimos agora
determinada Gomissão, especificamente na Comissão, do o espaço para as perguntas. O Constituinte Arnaldo Mar-
Poder Judiciário e da Magistratura, o Constituinte ,pelo tins, de Rondônia, tem a palavra.
Rio Grande do Sul, Ivo Mainardi, dizia, com todas as le-
tras, que mais de dois mil proeedímentos no seu EEitado O SR. CONSTITUINTE ARNA!JD0 MARTINS - Sr
haviam sido arquivados' porque estavam prescritos, e Delegado, inicialmente, queremos parabenizá-lo pela" bri~
prescritos porque a pretensão acusatória do Estado não Ihante exposição aqui feita, mas gostaríamos de ter algu-
houvera sido motivada. Dissera ele que a prescrição da mas respostas: A .prímeíra delas, é, previsto; ínclusíve, no
76 Segunda.feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Anteprojeto Afonso Arinos, que a polícia civil teria uma tiva e investigação criminal, V. Ex.a coloca a dicotomia
parte que seria uniformizada. de mando, separa, elabora a dicotomia de comando, de
Gostaria de saber de V. s.a o seguinte: se nós já um lado, o comando para o policiamento, de outro lado,
temos uma polícia uniformizada, que é a polícia militar, o comando para investigação e para polícia administrativa.
qual o motivo por que nós transformaríamos tudo em Não me parece que essa seja uma medida de boa
polícia civil, para depois uniformizar? ordem administrativa. A divisão de comandos implica mui-
A segunda pergunta é a seguinte: parece-nos que se- tas vezes em conflitos, implica muitas vezes em confronto,
gurança pública poderá muito bem ser resolvida através cada um por vezes pretendendo ou usurpar ou sobrelevar
de uma polícia militar encarregada de uma vigilância os- a posição de outrem. Nós entendemos que a polícia tem
tensiva e preventiva, de uma polícia civil, na base da in- características eminentemente civis.
vestigação criminal, e da polícia judiciária. Queríamos sa- O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - A
ber de V. s.a o que seria contrário se tivéssemos uma mesma coisa V. s.a pensa com relação ao Corpo de Bom-
secretaria de segurança tendo os dois braços, policia mili- beiros?
tar, para vigilância ostensiva e preventiva, e a polícia civil O SR. CYRO VIDAL - Sr. Constituinte, fiquei admi-
para investigação criminal, e a polícia de justiça. ' rado, estive recentemente, a convite de governos de outros
Gostaríamos de saber o que é contrário a isso. países, na Europa, em ver que os corpos de bombeiros
sã? todos eles voluntários nós não vimos corpo de bom-
O SR. CYRO VIDAL - Sr. Constituinte Arnaldo Mar- beíro sequer pago pelo Estado. O corpo de bombeiros é
tins, aceite V. Ex. a os agradecimentos pela sua interposi- voluntário em quase todos os países da Europa. Isto tam-
ção. Gostaria de deixar bem claro um fato. bém ocorre nos Estados Unidos. O corpo de bombeiros
A polícia uniformizada é uma polícia civil com seg- é uma atividade municipal, dentro do município, o muni-
mento uniformizado, mas não com estrutura militar. A cípio exercitando essa atividade.
Polícia Militar tem estrutura militar, tem inclusive todo O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Concedo a pa-
um apoio militar. lavra ao Constituinte Otomar Pinto.
Nós entendemos, e a proposta Afonso Arinos também O SR. CONSTITUINTE OTOMAR PINTO - Dr. Cyro
trata desse aspecto, que a atividade policial é civil que Vidal, antes de mais nada queremos manifestar o nosso
polícia militar é polícia dos militares. ' apreço pelo entusiasmo com que V. s.a defendeu as teses
Quando se fala em polícia uniformizada, nós temos de ocupação de todo o espaço da segurança pública pela
Constituinte Arnaldo Martins, uma polícia com cidadão tra~ Polícia Civil.
jando um uniforme, para que ele possa ser distinguido de Entendemos, diversamente de V. s.a, que a Polícia
outro na via pública. Militar, como a Polícia Civil fazem parte da cultura do
Permita-me V. Ex. a um exemplo bastante grosseiro: povo brasileiro.
quando V. Ex.a chega num determinado local, por exem- Não é possível, no desenho de uma nova ordem cons-
plo, num restaurante, V. Ex. a sabe quem é a pessoa que titucional no Brasil, simplesmente se desejar apagar a pre-
o serve, porque ele está com uniforme. Quando V. Ex. a sença da Policia Militar nas ruas, no patrulhamento, no
chega aqui nesta Casa, V. Ex. a encontra guardas de segu- policiamento ostensivo e no policiamento preventivo. Isso
rança da Casa que não são militares e são civis e exercem faz parte da vida brasileira.
um policiamento ostensivo dentro desta Casa. Esse é um
policiamento de segurança, este é um policiamento osten- Lembro-me que menino, no interior de Pernambuco,
sivo. Entendemos que atividade de polícia não necessita na década de 1930, 40, a única autoridade policial que eu
ser militarizada, necessita ser tão-somente uniformizada, conhecia no sertão de Pernambuco era a Policia Militar.
para que seja distinta dos demais segmentos sociais. Só vim a conhecer a Polícia Civil quando, no curso cien-
tifico, fui estudar no Recife.
Nós já tivemos, Ex.a até 1969, em todo o País, e em
São Paulo, com contingente superior a 15 mil homens, a Por outro lado, V. s.a há de convir, apesar de sua
Guarda Civil. Temos hoje, por exemplo, em diversos países reiterada manifestação do alto nível de profissionalização
da Europa, as chamadas polícias de Segurança Pública, as da Polícia Civil, que esta não é a regra no território na-
chamadas Guardas Civis, a chamada Guarda Civil da Es- cional. Pelo contrário, onde este aprimorado grau de pro-
panha, a Polícia de Segurança Pública de Portugal, a Po- fissionalização existe é mais talvez na Região Centro-Sul
lícia de Segurança da Itália. ou limitadas às Capitais.
Então, na verdade o que nós informamos a V. Ex.a Essa Polícia Civil, por exemplo, sofre uma influência
e o que nós dissemos aqui, e o que se pretendeu, sem muito grande dos governos locais, até mesmo das oligar-
dúvida na Comissão Afonso Arinos é que o segmento uni- quias regionais.
formizádo da Policia Civil não seja um segmento militari- Então, quando V. s.a defende com vigor, com entu-
zado. A policia não necessita de quartéis, de estrutura de siasmo religioso, o inquérito policial pelas polícias civis,
companhia, de pelotão, de batalhões, de regimentos mili- em desmedro, em desfavor do juizo de instrução criminal,
tarizados ao extremo para a sua atividade de segurança eu me contraponho a essa tese porque todos nós sabemos
pública; não discuto o aspecto de segurança interna, de do constrangimento que sofre o cidadão num inquérito
'ocupação de solo e de defesa territorial. policial; ele fica entregue ao arbítrio do delegado. Muitas
Posso dizer a V. Ex.a que hoje pela manhã o General vezes até ele vai ser inquirido ou investigado, mas a sua
Osvaldo Gomes, representante do Exército nesta Casa, que indiciação já foi previamente estabelecida nos gabinetes
veio como representante do Exército, disse com todas as da prefeitura ou do Governo do Estado. Conhecemos muita
letras que na 'SUa opinião a Polícia Militar deve ter pre- gente que já passou por esses dissabores; é inquirida, res-
cipuamente atividade de segurança interna e supletivamen- ponde aquilo que sabe e, no fim, o delegado diz: "é, mas
te atividade de segurança pública. eu vou indicar o senhor, porque os meus elementos de
Em segundo lugar, quando V. Ex.a diz que poderia convicção me autorizam a isso".
'Ser feita esta divisão entre a Polícia Militar, para a vigi- Daí por que nós entendemos e a Constituição de Por-
lância ostensíva, e Polícia Civil, para polícia administra- tugal preconiza essa solução, a neoessidade do contradi-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 77

tório, desde a peça preambular do processo criminal, que fissional como é, que nós teremos que amealhar essas
é o inquérito ou que outro nome venha a ter. provas em algum repositório, teremos que buscar laudos
Então, essa colocação eu gostaria de fazer aqui a V. perícíaís, oitivas testemunhais, reconhecimentos, acarea-
s.a: consideramos imprescindível que o cidadão brasileiro, ções. Até mesmo qualquer perícia feita em local tem que
nesta nova ordem social e constitucional que se vai im- ser guardada num determinado documento que leve o
plantar, tenha o seu advogado de defesa participando da nome de inquérito, que leve o nome de procedimento ves-
peça vestibular do processo criminal, e que, a partir dali, tibular, que leve o nome de procedimento policial, pouco
já comece a se estabelecer o contraditório, e não que ele importa, mas que tenha que ser depositado no inquérito.
fique submetido ao arbítrio da autoridade policial, nem Eu gostaria de lembrar a V. Ex.a com relação, tam-
sempre com o alto grau de profissionalização que V. s.a bém ainda ao juizado de instrução. No Brasil nós temos
disse que os delegados do Brasil têm. Nem todos o têm. 4.60Ó municípios aproximadamente, e temos aproximada-
Muitas vezes nem sequer um delegado formado encontra- mente 1.000 comarcas. Isso não quer dizer que haveria
mos. Encontramos um comissário ou investigador imbuído possibilidade, nos 4.600 municípios, de se fazer o juizado.
dessa autoridade. V. Ex. a poderia vir aqui com a seguinte resposta: coloca-
Por outro lado, eu gostaria de perguntar ao senhor o se, em cada município, um juiz, um promotor ou um dele-
seguinte: nós sabemos que o :processo criminal é um seg- gado. Veja o ônus que tal fato custaria para todo o Estado.
mento, é um capitulo pequeno de todo o ordenamento Não está muito distante o tempo em que, em Minas Ge-
jurídico de uma sociedade. Será que os oficiais da polícia rais, o promotor era ad hoc, talvez obtido entre os cida-
ou os sargentos da Polícia Militar não poderiam receber dãos comuns do povo. Não está muito distante o tempo
esse grau de profissionalização durante o seu curso e, con- em que, no Paraná, o juiz exercia, também, a função de
comitantemente com a polícia civil, respeitando os traços juiz de paz. O juiz de paz era o juiz de direito no impe-
culturais da vida brasileira, exercerem simultaneamente dimento do juiz de direito - V. Ex.a sabe disso - mas
essa tarefa? Por que dissociar, se já existe, é uma reali- houve uma evolução. Hoje nós não temos mais promotores
dade tangível da sociedade brasileira? Por que não manter ad hoc, e eles têm uma legislação complementar a partir
esses diversos segmentos prestadores de serviço público, o de 1981 que privatizou essa atividade. Hoje não mais temos
policial fardado, militarizado e o policial civil, na tarefa juízes de paz, farmacêuticos ou qualquer outra runção que
comum de, quando for o caso, fazerem essa apuração cri- exerciam, no impedimento do juiz de direito, esta magis-
minal? tratura profissional. Nós temos que ganhar o campo. Nós
temos que buscar a melhoria para a segurança pública.
V. s.a mesmo disse que os próprios delegados são E sabe V. Ex. a , ilustre Constituinte ottomar Pinto, a segu-
juízes de instrução. Eu até acho que isso pode acontecer. rança tornou-se, hoje, quase que uma palavra de ordem;
Agora, é necessário que haja a presença participante e em todo local, em qualquer enquete, em qualquer entre-
ativa do advogado de defesa. vista, o primeiro ponto que se coloca é exatamente este.
Então, Dr, Cyro Vidal, eu gostaria que V. s.a escla- J!: o medo permanente, a falta de segurança, a falta de
recesse se não seria possível o aproveitamento desses ele- tranqüilidade. No que diz respeito, ainda, a V. Ex.a, na sua
mentos da Polícia Militar com essa instrução pequena - sugestão de que segmentos da Polícia Militar pudessem
ela não é muito grande - do Direito Processual brasi- realizar atividades de polícia judiciária, eu diria a V, Ex.a
leiro e, ao mesmo tempo, a presença do advogado, a pre- que nós estaríamos então, praticamente, dentro do Estado
sença do contraditório desde o início da instrução cri- militar, onde tudo seria militarizado, faltando tão-somente
minal. a Justiça para ser militarizada. Nós temos, na realidade,
O SR. CYRO VIDAL - Ilustre Constituinte ottomar que ter o poder civil, e a autoridade policial é eminente-
Pinto, limito-me apenas a dizer a V. Ex. a que eu não disse mente civil.
que o delegado de polícia era um juiz de instrução. Apenas O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR PINTO - Sr. Pre-
disse que, na Itália, o juiz de instrução era o delegado de sidente, eu só queria fazer mais uma indagação ao nobre
polícia. Recebe o nome de juiz de instrução, mas, na rea- Dr, Cyro Vidal, que tão brilhantemente tem instruído esta
lidade, a sua atividade é de autoridade policial. Eu não Subcomisão, mostrando ângulos novos de um problema
pretendi e, também, não tenho essa veleidade e não me que nós até desconhecemos. Mas, Dr. Cyro Vidal, segurança
sinto com pretensão de apagar a Policia Militar dos escri- interna de acordo com fi. doutrina da ESG, que foi citada
tos nacionais. Eu apenas entendo que a segurança pública por V. Ex.a , é um assunto que se liga, fundamentalmente,
é uma atividade civil. Disse a V. Ex.a, disse ao Sr. Pre- às Forças Armadas. Segurança pública, esta sim, os lití-
sidente e aos Srs. Constituintes que eu ouvi, hoje cedo, o gios, antagonísmos entre cidadãos, entre, um cidadão e a
representante das Forças Armadas dizer, com todas as sociedade, entre grupos societários, este assunto diz res-
letras, que a atividade primeira da Polícia Militar é a se- peito basicamente à Policia, seja a Polícia Civil, Judiciá-
gurança interna, e a atividade segunda é a segurança pú- ria, repressiva, no conceito atual, seja a Polícia Militar
blica. Aliás, essa mesma informação consta no manual preventiva, ostensiva, e com uma conotação não tão im-
distribuído pelo Exército sobre esse assunto. portante como a Civil, mas emprego eventual como ,ele-
mento do Judiciário. Até concordo com V. S.a. que seja
Entendo que, para a atividade de policiamento, não há afastada do segmento judiciário essa valência da Polícia
necessidade de uma estrutura militar, mas, também, con- Militar. Mas a sua presença como elemento preventivo,
cordo com V. Ex.a que existem razões históricas, até mes- a presença dela como órgão de patrulhamento, V. s.a
mo em nosso País, para se manter essa estrutura militar. que é um profissional da segurança, sabe que a atividade
Mas há que se ter coragem de fazer inclusive algumas re- patrulheira é fundamental para a tranqüilidade da co-
voluções históricas, sem o que, Ex.a , nós continuaremos munidade. Não é apenas ficando na delegacia, sendo cha-
quase que num passo permanente a pretender o mesmo mada ou acionada pelo telefone ou pelo rádio que a polí-
Estado. Pode ser que no futuro, em 40, 50 anos, o juizado cia vai dar segurança ao cidadão. A atividade patrulheíra
de instrução seja possivel para os delitos de autoria co- é muito importante, e eu acho que, em vez de pegae um
nhecida e para aqueles cuja materialidade do fato seja cidadão da Polícia Civil e botar uma farda e dizer "você
provada, porque para os delitos de autoria desconhecida, é um patruheíro", por que não aproveitar a Polícia Mi-
Constituinte Ottomar Pinto, para os delitos que necessi- litar, com a sua tradição, já incorporada: aos costumes e
tam de investigação, V. Ex.a há de convir comigo, pro- hábitos brasileiros nesse mister? Esta é uma pergunta que
78 Segunda·feira 21l DIÁRIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

solicito que V. s.a responda. Ainda gostaria de focalizar apresentar os prós. ou os contras a respeito. Em um prazo
um outro aspecto. l!1 que nos 4.600 municípios brasileiros bastante rápido, V. Ex.a. irá receber de nós, pessoalmente,
não existem juízas em todos eles" mas existem advogados. essa 'correspondência. Obrigado.
Por que não instituir um cídadão que podia até ser eleíto O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Muito obri-
ou escolhido pelo juiz da comarca para juiz ad hoc no gado, Dr. Cyro Vidal.
T,ribunal de Instrução? Então nós teríamos lá o delegado
de polícia fazendo todo o processo investigatório, e na Concedo a palavra ao segundo Constituinte inscrito,
hora de fechar esse relatório, de ouvir esse cídadão pre- Deputado Hélio Rosas de São Paulo.
sumivelmente indiciado no crime, no processo, lesse juiz
estaria presente, representando a comunidade, represen- O SR. CONSTITUINTE HÉLIO ROSAS - Inicialmente,
tando o Poder Judiciário. O delegado, ou quem as vezes quero cumprimentar o Dr. Cyro Vidal, que é do meu
dele fizesse, colheria as provas, ou se não houvesse um Estado, e de cuja cultura, capacidade, combatividade eu já
acusador, um representante do Ministério Público, pode- tinha tido oportunidade de informar os Constituintes desta
riam até colocar um advogado também lá ad hoc. Em Subcomissão.
todas as bibocas do Brasil existe advogado. Então, a OAB Desejo fazer a S. s.a três perguntas. A proposta é evi-
colocaria esse advogado. E a 'Comunidade seria represen- dente, está inclusive no trabalho que me chegou às mãos,
tada por ense juiz ad hoc. E o indiciado ou infrator pro- pretende retirar das Polícias Militares, que nem precisariam
curaria o seu advogado, para defendê-lo. ter ° nome de Polícias Militares, IPoderiam ser Força
Eu pergunto a V. s.a se isso não funcionaria como Pública e, como o senhor bem lembrou, no Estado de São
uma forma mais democrática de prestação jurisdicional, Paulo é a fusão da Força Pública com a Guarda Civil,
desde o seu mais baixo nível até o mais eleívado, mantendo com suas tradicionais missões de zelar pela segurança dos
o que existe. cidadãos e de preservar a ordem pública, transferindo essas
missões para as Policias Civis. Eu pergunto se isso não
E há também aquela pergunta que fiz, aquela; colo- contraria frontalmente a realidade nacional, pois as Policias
cação da Polícia Militar como elemento de patrulhamento, Militares estão organizadas em todos os Estados, em todos
como elemento preventívo e, eventualmente, supletiva- os Territórios e no- Distrito Federal com efetivos muitas
mente, subsidiariamente a Policia Civil nos lugares onde vezes superiores aos das Policias Civis. Desmontar uma
não houvesse autoridade, promover 'a colheita de provas, organização policial em pleno funcionamento, com toda
para que o minitribunal de Instrução Criminal fizesse a essa estrutura, para se montar outra, não representará
peça vestibular do processo. elevados custos? Quem pagará esses custos e quem colherá
os beneficiós?
O SR. CYRO VIDAL - Permita-me V. Ex. a que eu
preste à sua inteligência as mais honradas homenagens, Na segunda pergunta, eu quero destacar o brilho com
porque, realmente, é o sístema do attorney americano, que o nosso conferencista defendeu o inquérito policial.
que é eleito. Sabe V. Ex. a perfeitamente que; nas comarcas Eu só não fiquei convencido' da sua excelência por eu ter
americanas, nos chamados: condados americanos, o attor- uma convicção, que foi SOlidificada em toda uma vida de
ney é eléíto, Em 'alguns Estados americanos, os juízes, os reflexões. Quero, sem uma linguagem técnica, transmitir
judges, também são eleitos. Em outros estados, eles são essas informações, para que V. s.a, se puder, com a sua
funcionários: do Estado. Esse, realmente, é o processo ideal. capacidade, me convença do contrário. Primeiro, o inqué-
No dia 'em que nós tivermos o delegado de polícia eleito, rito policial só existe na legislação processual penal aqui
o attorney eleito, o judge eleito, quem sabe se nós esta- do Brasil. e de um 'país da Africa.' Então, é a primeira
remos no espaço ideal. oonresso 'a V. Ex.a que eu estou reflexão. Por que os países democráticos, os países desen-
ouvindo pela primeira vez a adoção desse sistema aqui volvidos não adotam esse inquérito, policial? Segundo, a
no Brasil, rasão pela qual eu me permiti, com a maior falibilidade do .ínquéríto é conhecida de todos nõs, inclu-
lealdade, 'elogiar a proposta de V. Ex.a. l!: uma proposta sive tem-se impedido que se encaminhe nó sentido de' aí-
a 'qual eu não tenho eondíções de responder, por me faltar gtimas medidas que são vontade nacional. Há uma ínrí-
boas-e suficiente. Acho,_porémr que é uma proposta. de carae- nidade de pessoas a quem se pergunta sobre a pena de
terístíéas avançadíssímas, onde se elegeria o prefeito, se morte, a resposta invariável é de que, para certos casos,
elegeria 'a 'Câmara' Municipal, se elegeria o attorney, se como o caso de estupro, de seqüestro, a pena tem que ser
elegeria o. juiz, quer ,dize,r, o sistema praticamente todo apena de morte. Mas depois vem a reflexão. Eu sou contra,
ele eleito, como ocorre 'em alguns, Estados americanos e pela falibilidade do inquérito da Justiça e principalmente
que não ocorre nos países 'da Europa. V. Ex. a , realmente, do inquérito policial. E lembro o famoso caso dos irmãos
coloca uma questão' sobre a qual nós ainda não temos Naves, dois irmãos que foram condenados. O· juiz tinha
uma opinião formada, mas eu lhe prometo estudar com que condenar, porque o inquérito policial tinlia a peça da
OS meus companh-eiros .e lhe apresentar algumas suges- confissão, a peça da reconstituição do crime e, no entanto,
tões ,á: respeito. . nem tinha havido o crime. Os dois ficaram 23 anos na
Quanto BiQ problema do' patrulhementofeíto por atí-. prisão, um morreu na prisão.
vidade militar, eu lembro a V. Ex.a que até 27 aUlOS 'atrás, O terceiro fato é que, realmente, o inquérito policial
ess,e patrulhamento, em grande maioria. dos Estados, era tem sido fonte de muitos casos de injustiça e de corrupção.
teíto pela Guàorda Civil.. Com c .advento da R,eyol11,ção, a E não raras vezes é escola, se bem que escola primária,
partir de 1969, eu já disse isto aqui, a R~volução priorizou da arte de tortura. Eu tenho um caso recente que vivi de
a organízação militar por Interesses e por uma doutrina um amigo que era inocente e se montou um processo con-
da própria Revolução, e simplesmente apagou, como se tra ele de uma grande violência que o delegado, meu
não tivesse exístído, a Guarda- Civil. Na realidade, hoje, amigo do Detran de São Paulo, se dispôs e disse: "O que
é o sistema que se adota, Er!.tendemos, porém, que esse eu posso fazer é, se o juiz me telefonar, eu digo para ele
sistema deva ser substituído por um sistema de natureza,
absolutamente civil. . .' , " que tudo que está no inquérito não é verdade". O rapaz
pagou o que não podia. Ele era do Norte, mudou-se de
Sr. Presidente, 'eu gostada" de: dizer que eu. prometo São Paulo, porque ficou num estado abaladissimo pelo
ao Corístituinte Ottomar Pinto, faço pública essa promes- que sófreu em decorrência do inquérito policial, completa-
sa, através do ex-Deputado Ivait oarcía, que é o-Presí- mente' deturpado da realidade. E tenho casos remotos,
dente da' Comissão de Estudos oonstttucíonars da nossa passados que eu vivi, de um criminoso que assassinou um
Polícia Civil de São Paulo, de estudar a sua proposta; e motorista de praça na minha região e aprontou-se um pro-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 79

cesso do qual ele foi absolvido. Depois, o advogado me pela conduta violenta, agressiva e não aceita de alguns
contou como ele conseguiu preparar o processo para absol- elementos seus. Então, na realidade, o que é necessário é a
vê-lo. Ele foi absolvido. Passou um mês, ele assassinou profissionalização absoluta da polícia, e que o inquérito
a mulher, a sogra e o sogro. Então, essa vivência que eu policial seja realmente presidido e dirigido pela autoridade
tenho do inquérito policial deixa-me na circunstância de policial, como aliás se pretende no próximo projeto do Có-
que eu analiso com muita reserva toda a defesa desse ins- digo de Processo Penal. É o aperfeiçoamento da peça in-
tituto do inquérito policial. Acho que no mínimo tinha que vestigatória.
se fazer um esforço para tentar aperfeiçoá-lo. E, finalmente, quando V. Ex.a menciona as dificulda-
Por outro lado, eu não vejo como não se defender o des evidentes de se substituir as atividades Idas Polícias
juizado de instrução criminal, o juiz distrital e o juízo de Militares, eu também concordo plenamente com V. Ex.a
turma. Sei das implicações que existem para que seja im- São 300 mil homens hoje, fardados, militarizados, reservas,
plantado esse Juizado, que, sem margem de dúvidas, até forças auxiliares e que executam, como disse hoje o repre-
hoje não encontrei ninguém que não reconheça que seja sentante do Exército, supletivamente a função de segu-
um avanço, um aperfeiçoamento. E é para mim simpática rança pública. Não seria uma mudança assim como num
demais a proposta feita recentemente em Campinas, por passe de mágica. Evidente que não há condição como tal.
nosso atual Delegado-Geral de São Paulo, Dr. Amândío, de Seria uma mudança lenta, uma mudança progressiva,
que os delegados de polícia assumam as funções de juizes mas que se chegasse ao desiderato de que ativiJdade de se-
nos Juizados de Instrução. gurança pública fosse eminentemente civil.
Então, são estas três perguntas que faço a V. s.a: a O SR. PRESIDENTE (José Tavar,es) - Com a palavra
razão de terminar com a Policia Militar, com a função o Constituinte José Genoino, de São Paulo.
tradicional da Polícia Militar, o inquérito, e a defesa do O SR. CONSTITUINTE JOSÉ GENOINO - Dr. Cyro
Juizado de Instrução. Vidal, em primeiro lugar, quero expressar a minha concor-
O SR. CYRO VIDAL - A V. Ex.a as homenagens da dância em relação a um conceito básico que deve ser esta-
Polícia Civil. Já conheço V. Ex.a há muitos anos, sempre belecido na Constituição, que é o conceito de segurança
tive por V. Ex.a o máximo respeito, V. Ex. a sabe muito pública, no sentido da segurança da sociedade, dos cida-
bem disso, e é um prazer receber as questões de V. Ex.a dãos etc. A partir do estabelecimento desse conceito, e ex-
Só lhe peço permissão para poder alterar a ordem das pressando essa concordância, eu gostaria Ide alguns escla-
respostas. recimentos de V. s.a no seguinte sentido. Na proposta aqui
encaminhada, na primeira parte da proposta e aqui na
O problema do Juizado de Instrução, sabe V. Ex.a e segunda, fala aqui da competência do poder de polícia na
sabem os ilustres Constituintes que militam na área cri- forma da lei, objetivando não só a defesa da ordem públi-
minal são advogados criminalistas, alguns aqui que o são, ca, da segurança pública, da salubridade, como também
o problema do Juizado de Instrução estará na razão direta dos interesses econômicos e sociais. A minha indagação é
da estrutura judiciária. Hoje, por exemplo, qualquer con- se não está posto aí um conceito bastante abrangente,
travenção não demora menos do que um ano para ser jul- no que diz respeito ao papel, às tarefas da polícia, de
gada, e' a manifestação do Deputado Ivo Mainardi, na Co- segurança pública. E tem relação com essa questão
missão de Defesa do Estado, foi absolutamente severa e a segunda parte do trabalho quando fala de duas
séria ao dizer que se todos os delitos contra a vida, se questões relacionadas entre si, que é a manutenção
a partir de hoje não ocorresse mais nenhum homicídio da ordem da segurança pública e, num segundo mo-
na Capital de São Paulo, e fossem julgados todos os pro- mento, das atividades de Polícia Judiciária. Não seria
cessos preparados para o Júri de delitos contra a vida, mais correto a definição de Polícia Judiciária? Isto
nós demoraríamos 19 anos para julgá-los. Então, se a Jus- posto, a minha indagação a V. s.a é em relação à tarefa
tiça Criminal não tem a mínima condição hoje de julga- de segurança pública ser muito precisa na nossa Oonsti-
mento de pequenas infrações, e o grande número de pres- tuíção, para não dar margem a muitos fatos que se vêm
crições da pretensão punitiva muitas vezes nem sequer verificando no dia-a-dia, nesse processo recente que o País
chegando até à fase da formalização da sentença, ocorre vive, a participação da policia, em alguns momentos, in-
que a Justiça não tem condições. Haveria necessidade de clusive da Polícia Civil, em atividades de repressão a gre-
uma revolução da própria Justiça para que fosse possível V2S, -movímentos sociais. Não estaria, com essa abrangên-
o Juízo de Instrução. Sabe V. Ex. a , por exemplo, no Rio cia do conceito, incluindo esse problema?
de Janeiro, que processos contra o jogo do bicho jamais
são julgados e são todos eles prescritos, e aqueles que A outra indagação que faria a V. s.a é no sentido da
julgados são, acabam tendo a pretensão punitiva do Estado Polícia Militar. Considerando correto o conceito de que a
prescrita, em razão da prescrição retroativa. Então, have- segurança pública deva ser incluido na Constituição como
ria necessidade de uma revolução na Justiça para que se tarefa da Polícia Civil, e principalmente, prioritariamen-
pudesse instalar ou instaurar no País o Juizado de Ins- te, da polícia fardada, eu, que tenho posição favorável à
trução. desmilitarização do poder, já expressei isto aqui, tenho
uma dúvida qus gostaria de esclarecer. Com relação ao
Concordo perfeitamente com V. Ex.a quando cita ca- Corpo de Bombeiros, à Policia de Trânsito, como é que
sos de violência policial e quando cita casos de malversa- seria feito o-polícíamento preventivo e ostensivo sem que
ção de inquéritos policiais, mas concordo em gênero, nú- ele não seja fardado? Identifico, inclusive, no policiamen-
mero e grau, quando V. Ex.a diz da necessidade do apri- to preventivo junto à população uma certa contenção pre-
moramento da peça procedimental. Nós temos aqui no ventiva daquilo que pode ocorrer: Como seria feito esse
País o nome de "inquérito policial"; recebe também em trabalhe de policiamento preventivo, no sentido da popu-
Portugal esse mesmo nome; recebe nos Estados Unidos o lação, sem que tivesse um contingente fardado? Acho que
nome de "autos de investigação", que outra coisa não são a existência de um contingente fardado da Polícia Militar
do que inquérito policial; recebe o nome na Franca de não significa, necessariamente, a subordinação ao papel
"autos de instrução", que são verdadeiros inquéritos poli- de defesa do Estado. Então, por exemplo, na discussão
ciais. O que o inquérito policial é, Dr. Hélio Rosas, e V. do papel da PM, eu vou defender o ponto de vista de que
Ex.a sabe disso muito bem, é o repositório de provas. Agora, a PM terá como função principal a segurança pública.
concordo, muitas vezes é utilizado para aplicação de vio- Então, como relacionar, numa sociedade complexa como a
lência, mas. não pode a instituição pagar pelo erro, pagar nossa" esss trabalho de um policiamento ostensivo, sem
80 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

que não exista um corpo organizado fardado? Refiro-me da Europa. li: atividade de mílícía, já não seria tanto ati-
à Polícia de Trânsito, ao Corpo de Bombeiros e ao poli- vidade de polícia.
ciamento ostensivo nas cidades, em qualquer lugar. O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - Sr.
Então, essas são as indagações que formulo a V. s.a, Presidente, peço a palavra pela ordem.
expressando à Comissão minha concordância à sugestão O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - V. Ex.a tem a
do Deputado ottomar Pinto; inclusive gostaria de ter por palavra.
escrito a sugestão de S. Ex.a , de incluir esse tipo de ação
da sociedade, de proteção do cidadão, na fase primeira do O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - Foi
inquérito policial. Acho que isso é uma coisa importante; um assunto levantado pelo Sr. Presidente da Associação
talvez não seja objeto desta Subcomissão, mas na Comis- que, numa proposta Ida Associação, fala na criação das
são do Poder JUidiciário, seria muito importante que essa guardas municipais. Já no anteprojeto Afonso Arinos, ele
sugestão fosse formulada. a fixa para municípios de mais de 200 mil habitantes.
O SR. CYRO VIDAL - Nobre Deputado José Genoíno, Qual o seu pensamento a respeito? Na sua sugestão, é pre-
visto de modo geral, já na Comissão Afonso Arinos, foi
estendo a V. Ex.a também as homenagens de toda a Polícia prevista para municípios de mais de 200 mil habitantes. O
Civil do Brasil. que o senhor acha a respeito?
O artigo a que V. Ex.a se refere é o Police Power, do O SR. CYRO VIDAL - Constituinte Arnaldo Martins,
Estado, de maneira ampla, é o poder de polícia administra- entendemos que esse é um assunto de economia interna
tivo. A União, os Estados, os Municípios, Territórios Fe- dos municípios. Não vej o por que se vincular uma guarda
derais terão poder de polícia. li: o poder de polícia das pos- municipal a um município de 200, 100 ou de 30 mil almas.
turas municipais, é o poder de polícia de trânsito, é o Parece-me que esse é um problema de economia interna
poder de polícia de fiscalização de feiras livres, é o poder municipal. Hoje, por exemplo, no Estado de São Paulo -
de polícia de fiscalização de mercadorias, é o poder de permita-me dar um exemplo, não gosto de fazer menção
polícia de fiscalização de farmácia, de restaurantes, é ao Estado de São Paulo - já existem mais de 100 guardas
exatamente esse o conceito que aqui se encontra. Não o municipais implantadas em municípios do interior. Na
que polícia de segurança, que também estaria embutido verdade, nós entendemos que esse é um assunto de econo-
nesse conceito, mas aqui o que se pretendeu, realmente, mia interna do município. Se o município entender que ele
é dizer que a União, os Estados, os Municípios, os Terri- deva ter uma guarda municipal para o exercício do police
tórios Federais e o Distrito Federal também são detento- power, do poder de polícia municipal, sem interferência,
res do poder de polícia na sua acepção mais ampla de evidentemente, nas atividades próprias do Estado não vejo
direito administrativo. por que a limitação em relação a 200, ou 100 Ó u50 mil
Quando V. Ex.a fala em definição da Polícia Judiciária, habitantes. E me permita dizer a V. Ex.e. que há casos em
nós entendemos, e estudamos isso profundamente, que que pequenas comunidades de 50, 60 ou 30 mil habitantes
essa definição não deva constar Ida carta constitucional, a têm problemas conjunturais e institucionais muito mais
não ser que nós tivéssemos uma Constituição semelhante graves do que comunidades com 100 ou 200 mil habitantes.
à portuguesa, com 500 artigos. Mas se pretende, realmente, O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - Mas
uma Oonstítuíção mais enxuta, uma Constituição mais é que o anteprojeto prevê guarda municipal Só para mu-
elástica, esse conceito de Polícia Judiciária deveria cair nicípios com mais de 200 mil habitantes. Então, quer dizer
para a legislação ordinária, ou para a legislação comple- que está vedando para os municípios que têm menos
mentar, seja ele o Código de Processo, ou seja ela a Lei habitantes.
de Organização e Estrutura das Polícias.
O SR. CYRO VIDAL - A nosso proposta é elástica.
Quando V. Ex.a fala do problema da Policia de Trân-
sito, de um segmento uniformizado, veja bem, o problema A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Sr.
que diz respeito à Polícia de Trânsito, hoje, no meu Estado, Presidente, peço a palavra pela ordem.
na sua Capital, em São Paulo, a Prefeitura pretende exer- O SR. PRESIDENTE (Jos,é Tavares) - V. Ex.a. tem
cer essa atívídade, o policiamento de trânsito através da a palavra.
Guarda Municipal metropolitana, por entender que essa
é uma atividade própria do municipio, e não seria uma . A SRA. CS~NSTI~UINTE SADIE HAUAOHE - Eu gos-
atividade própria do Estado. Então, veja V. Ex.a , o guarda tana de arguir aqui sobre uma preocupação constante
metropolitano é uniformizado, ele será perfeitamente dis- minha, porque venho de um Estado do Norte o Amazo-
tinto do cidadão comum. li: a Guarda Civil, só que em vez nas. Eu tinha uma consciência formada a il.'espeito de po-
de colocada sob c jugo, sob a orientação e subordinação lícia tremenda, terrível. A única policia em que eu sem-
do Estado, ela ficará subordinada ao próprio Município. pre confiei foi na Po.lícia ~o Exército. Mas qualquer po-
líeía eu sempre acheí terrível. E todo mundo quer criar
Aliás, nesta nossa proposta, nós também inserimos maí:S uma. coisa ~este País. li: a co~a mais séria que já
um dispositivo, em que os municípios poderão criar e man- OUVI na mínha VIda. HOJe de manha queriam criar mais:
ter, conforme se dispuser em lei, o Serviço de Guarda Mu- um Ministério; agora mais uma gu~rda municipal. Não
nicipal, e guarda municipal para atividades dessas postu- seria bom que nós nos atívéssemos a organizar õ que te-
ras municipais, que na nossa opinião também se insere mos de uma maneira mais severa? Eu tenho um exem-
o sistema de .trãnsíto, embora hoje esse sistema esteja plo que 'aconteceu comigo, porque eu sou considerada na
vinculado especificamente, e com exclusividade, à polícia minha terra uma mulher destemida. Numa reunião de
Militar. eleição de bairro, um negócio dessa natureza roubaram
a urna, e eu saí correndo para ver quer era. S~bem quem
Finalmente, quando V. Ex.a fala a respeito do proble- era? Um delegado de policia; e ele 'ainda atirou. Por pouco
ma de greves e de movimentos setoriais, de revoluções, não fui atingida. Então, sobre policia eu acho que nós
não no termo revolução stricto sensu, mas revolução, o temos que dar uma outra conotação, porque a; polícia do
que resolve a ação latu sensu, na verdade, aí não seria Brasil está muito largada. Desculpem aqui externar o que
mais policia de segurança, seria policia de defesa interna, penso, porque eu não assisti - a bem da verdade, eu
policia de segurança interna. Seria à semelhança do que tive um problema muito sérío e pensei chegar às 5 horas
faz a Guarda Nacional americana, do que faz a GNER e cheguei às 5h 20 mín., aqui - toda a sua conferência.
portuguesa, do que faz a gendarmaria em vários p'aíses Mas olhando aqui, cria policia, cria Ministério, cria isso,
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUlNTE (Suplemento) Segunda-feira 20 81

cria aquilo. Acho que no nosso Brasil nós temos é que mo- condições. Então, gostaria de saber a sua opinião sobre
realizar. É essa a palavra mágica. Desculpem. Obrigada. isso.
O SR. CYRO VIDAL - Fico muito satísteíto com a O SR. CYRO VIDAL - Sr. Constituinte Ricardo Izar,
sua interferência. V. Ex.a acabou de dizer que temia a no primeiro momento da Polícia Judiciária, nós apenas
Polícia do Exército ... colocamos o conceito em sentido largo, não entramos em
A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Não, na atribuições de natureza mais explícita, porque isso deve
PE do Exército eu confio bastante. ser alocado no Código de Processo Penal, na legislação
penal adjetiva. Mas entendemos, Dr. Ricardo Izar, que,
O SR. CYRO VIDAL - Eu vou dizer a V. Ex.a que na realidade, hoje, '1 Pol'cía Judiciária se ressente de um
V. Ex.a deve confiar em todas as polícias: hoje existentes. mecanismo mais adequado para o exercício de suas ati-
A polícia realmente deve existir para lhe dar proteção vidades, que é a chamada custódia policial.
e lhe dar segurança. E o incidente em que V. Ex.a se ,en-
volveu é profundamente lamentável e deveria merecer Veja bem V. Ex.a: alguém pode ser preso em flagran-
uma punição exemplar. Espero que jamais ocorra com te por crime inafiançável, é imediatamente encarcerado,
V. Ex. a um fato similar. e o flagrante tem prazo certo para ser remetido ao juiz.
No prazo de dez dias da ~avratura do auto. deverá a peça
A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Perdão, ser entregue' ao JIDZ. Entao, durante dez dias o flagrante
eu não disse que não confiava na PM nem na Polícia Civil, é elaborado pela polícia, é encaminhado a juízo, quer di-
~~s nesse tipo de delegado de polícia, nesse tipo de po- zer, a comunicação é feita de imediato, isso é reserva cons-
líeía... °
titucional, não é a publicação, é inquérito na sua for-
O SR. CYRO VIDAL - V. Ex.a disse que confiava na ma de auto de prisão em flagrante, mas sob a fiscaliza-
Polícia do Exército. Mas: espero que V. Ex.a confie na nos- ção do Judiciário. Quando se comunica 'a prisão em fla-
grante por dispositivo constitucional, está previsto no §
sa policia, não só na Policia do Exército. 12 do art. 153 da Constituição, tem-se o prazo fatal de
A SRA. CONSTITUlNTE SADIE HAUACHE - Eu dez dias para poder encaminhar o procedímento ao juiz.
espero que moralizem todas. E, veja bem, este procedimento é controlado pelo juiz. En-
tretanto, quando há necessidade da elaboração de uma
O SR. CYRO VIDAL - Esse é o aspecto principal. E investigação, onde nós entendemos que a autoridade po-
foi exatamente isso que eu dísse aqui, antes de V. Ex.a licial poderia ter o direito legal de custodíar alguém me-
chegar: é a profissionalização da polícia, é a moraliza- diante comunicação incontinenti ao juiz, quer dizer nu-
ção da 'atividade policial, é o entendimento de que a po- ma continuidade de investigação, priva-se a liberdade de
lícia deva ser uma atividade de proteção de V. Ex. a. da alguém, mas comunica-se imediatamente ao juízo, sem
sociedade e do indivíduo em si, e, não que ela seja utili- essa privação de liberdade. Se ,ela não tiver qualquer res-
zada como força de pressão. Eu dísse isso durante a mi- quício de Iegalídade, será imediatamente relaxada pelo
nha informação, 'e lamento profundamente que V. Ex.a juiz competente, 'como poderia ser com o flagrante, 'esse
não estivesse presente. Lamento profundamente que V. dispositivo. esse mecanismo nós não temos. Então, o que
Ex.a não possa inclusive me argüir a esse respeito. ocorre é a chamada custódia policial, é a chamada custó-
A SRA. CONSTITUINTE SADIE HAUACHE - Obri- dia honesta, aceita pelos Tribunais de forma v-elada, de
gada pela sua atenção. forma encapada, onde o marginal às vezes permanece dois
ou três dias em investigação, andando pelos locais de ve-
O SR. PRESIDENTE (José TavareS) - ooncedo a pa- rificação de delitos, sem que exista um instrumental com-
lavra ao nobre Constituinte Ricardo Izar, doe São Paulo. petente. li: exatamente isto que nós, pretendemos: isso
não é novidade no Brasil, isso existe em quase todos os
O SR. CONSTITUINTE RICARDO IZAR - Prezado países civilizados, inclusive nos países orientais, e se tem
Dr, CY!l.'O Vidal, das perguntas que gostaria de fazer, pelo previsão lem Constituições, como é o caso da Constituição
menos a maioria já foi feita, mas gostaria de ouvi-la a da Venezuela, que prevê esse tipo de decisão temporá~ia
respeito da Polícia Judiciária. De antemão, gostaria de dessa eustódía até o prazo de dois, três dias, m~s sob !IS-
dizer também que sou favorável ao inquérito policial. ealízaeâo judicial, e jamais sob o arbítrio. Entao, retém-
se e comunica-se ao juiz. Posso adiantar a V. Ex.a que
Agora, nessa sugestão da Associação dos: Delegados de esse tipo de procedimento é hoje adotado inclusive no
Polícia do Brasil, estou vendo aqui que uma das atribui- Código de Menores.
ções logicamente da Polícia Civil seria a Polícia Judiciá-
ria. E essa Polícia Judiciária, a meu ver, seria logica- Então veja, Dr. íRicardo Izar, é preso o maior e o
mente a investigação, a preparação de prova e a entrega menor. O maior, se o crime for, por exemplo, afiançável,
do responsável ao Judiciário. Em primeiro lugar, eu gos- é afiançado e é solto; o menor, eu comunico ao juiz, e o
taria de sabel se a Associação dos Delegados está suge- juiz dá autorização para deixá-lo custcdíado até 5 Gil],').
rindo alguma coisa a mais, além disso. Gostaria também Então eu solto o maior e prendo o menor. Isso acontece
de saber se na sua opinião, na opinião da Assccíação, em hoje, diuturnamente, nas nossas unidades policiais. O
termos bel' positivos mesmo, quais seriam os limites da próprio Código de Processo Penal Militar, aplícável nos
Policia Civil e da Polícia Militar? Se ,a Polícia Militar te- casos das espécies de crimes contra segurança nacional,
ria assim 'a função única e exclusivamente preventiva, permite que a autoridade competente que o dirija decrete
e a Polícia Civil seria a Polícia Judiciária, preparando a prisão preventiva - a autoridade, não o [uíz - até 30
todo o inquérito? dias, prorrogável esse período por mais 30 dias, por força
Depois das palavras da nobre Deputada Sadie Haua- de decreto judicial. Entretanto, na perseguição comum,
ehe, eu também gostaria de fazer mais uma pergunta: na perseguição aos crimes normais, nós não temos um
qual seria sua opinião e a opinião da associação em re- instrumental adequado para poder reter aquele marginal,
lação a este mundo que é o Brasil? Por exemplo, sou de com certeza um estuprador com certeza um homicida,
São Paulo, 'acho que o inquérito deve ser feito, deve ha- com certeza um autor de roubo próprio ou roubo quali-
ver por parte da Polícia Civil a função de Policia Judi- ficado. Então, na realidade, essa pretensão será adotada
ciária, e o resto do Brasil me preocupa muito, porque te- quando for elaborada a lei penal adjetiva, o Código de
mos ou delegados, ou alguém respondendo por delegacias Processo Penal.
completamente despreparados, que não teriam condições Quando V. Ex.a fala nestas distinções entre os Estados,
de elaborar um inquérito, não teríam de forma alguma nós acreditamos que, embora vivamos em um Estado fe-
82 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

derado, nós vivemos num Estado federado dentro de outro Eu não questiono essa afirmação, apenas diria que no
federado, porque São Paulo mantém, junto com Minas Ge- Brasil, a peculiaridade da organização brasileira, o militar
rais, Rio Ide Janeiro e mais um ou dois Estads, praticamen- das polícias estaduais não é um mílítar na plena acepção
te 80 a 90% da nossa economia. Então, na realidade, os do termo, porque nós temos as Forças Armadas que são
outros Estados quase que vivem à côté, sob o julgo da eco- realmente militares e temos, no outro extremo, a socie-
nomia mais forte do Estado. Seria uma idéia se lançar dade civil, o poder civil. Eu diria que as Polícias Militares,
toda a legislação não-punitiva, não-repressiva, mas adje- na forma como elas são organizadas, são uma Situação
tiva, aos Estados. Se realmente o Código de Processo fosse intermediária. Elas não são militares quanto as Forças
um código regionalizado, é evidente que nós poderíamos Armadas. O que temos defendido aqui é que inclusive ela se
ter soluções para São Paulo que não seriam compatíveis desligue da tutela e da supervisão das Forças Armadas,
com soluções para o Estado do Acre; soluções para o Rio que são encarregadas, prioritariamente, 'de assegurar a
Grande do Sul que não seriam compatíveis com soluções defessa externa do País e não têm funções relativas à
para o Piauí ou soluções para o Acre. Mas o processo cons- segurança pública, à segurança do indivíduo. O que acho
titucional prevê ainda a privacidade, a exclusividade da é que para realizar o policiamento ostensivo, numa socie-
União para legislar sobre matéria procedimental, pro- dade complexa como a nossa, a policia se realiza, e19, se
cessual, seja de natureza civil, seja de natureza benal, seja organiza militarmente, apenas ela se organiza segundo a
de natureza trabalhista. Mas seria um grande passo se os disciplina militar e segundo os cânones da subordinação
Estados pudessem realmente legislar sobre matéria pro- e da obediência. Creio que isso não a torna militarizada
cessual. no sentido vulgar do termo. Acho que nós temos aí um
nível intermediário, que atende perfeitamente as situações
E, finalmente, V. Ex.a pede os limites das polícias. Nós que existem em todo o mundo, em que a segurança civil. ]i;
entendemos, Ex.a , que a polícia Civil inicia uma atividade algo que deve estar sob o controle da sociedade civil. E
administrativa stricto sensu, li: aquela polícia de expedição tanto isso é verdade que nós pregamos que as Polícias
de atestados, é a polícia de atendimento social, é a polícia Militares sejam exclusivamente subordinadas aos gover-
de expedição de cédula de íríentídade, é a polícia que se nadores de Estado. Quer dizer, não têm nenhuma vincula-
relaciona com as atividades de registro e licenciamento ção com as Forças Armadas. Estamos atendendo a esse
doe trânsito, quer dizer, toda essa gama de atividades ne- requisito de assegurar-se o controle civil sobre a Polícia
cessárias ao exercício da nossa atividade civil; qualquer Militar. Esse controle hoje é amplo e irrestrito.
atestado que V. Ex.a pretenda, qualquer tipo de laudo ou
coisa similar, feita através de uma unidade, através de O outro ponto, já que o senhor fez uma exposição
prestação de serviço administrativo. que me pareceu bastante brilhante, eu concordo com as
suas observações sobre o inquérito policial. O inquérito
O segundo momento é a chamada polícia repressiva; policial é uma peça meramente informativa, mas ele é
Cometido o crime, será investigado. O terce!r? moment:o e essencial, porque se nós estabelecermos o conrradítório
a Polícia Judiciária a continuidade da polícia repressiva, nessa fase, nós estaremos arruinando a investigação cri-
Faltou o momento intermediário, que é a polícia preven- minal. O que eu indagaria ao ilustre Presidente da Asso-
tiva hoje realizada de maneira ostensiva e de maneira ciação dos Delegados é: nós não aperfeiçoaríamos o ms-
priv'ativa das polícias militares. Então esses limites são tituto se estabelecêssemos algum tipo de conexão com o
bem evidentes. Entendemos que essa atividade de polícia, Ministério Público nessa fase mesmo de instauração e
por exemplo, rádio-patrulha, nã? se ins~r~ no context<;, desenvolvimento do inquérito? Na verdade, o inquérito
de polícia preventiva ou ostensiva. A raJdlO-patrulha e se destina ao Ministério Público, porque é o Ministério
uma atividade de polícia judiciária, porque a rádio-pa- Público que vai propor, em nome da sociedade, a ação cri-
trulha existe para o atendime~to de .o?orrênci~s,. por~a.nto, minal. Se ele pudesse estar presente, como no sistema
ela deveria ser própria da Pohcia CIVll. A Polícía MilItar, americano, em que ele está mais presente nessa fase, nós
se permanecer no seu status, ela seria evidente, d'6Stinada, talvez eliminássemos muitas das imperfeições que se atri-
exclusivamente, à polícia de ronda. bui ao inquérito policial, que na vrdade é imperfeito, mas
parece que não tem um substituto melhor para ele.
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Com a palavra
o Constituinte, por Minas Gerais, Roberto Brant. O SR. CYRO VIDAL - Se V. Ex.a me permite, eu não
tenho nada a acrescentar ao seu brilhantismo. Realmente,
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO BRANT - Quero o que precisa é ter um controle civil, quer dizer, desmon-
apresentar duas questões.. A primeira, ~i~ res~~ito à tar 'a máquina militar e transformá-la numa instituição
transferência da competência atual das Policías Ml11tares, civil. Parece-me que essa é a postura. Que'!.' dizer, já que
de realizarem o polícíasnento ostensivo, para a polícia dentro dessa hierarquia e dessa disciplina acaba-se o cer-
Civil. A grande 'demanda da sociedade urbana hoje é por ne da militarização, é o que nós realmente pretendemos.
mais segurança. Durante esses últimos 15 anos o Estado Que seja uma polícia realmente voltada para a atividade
brasileiro se aperfeiçoou em dar I?a~ ~egurança ao Est.ado, de segurança pública, mas sem as características de ati-
negligenciando a segurança do índivíduo, numa conjun- vídade militar. l!: exatamente o que V. Ex.a colocou, em
tura em que a violên~a e a criminalidade se expandem outras palavras. Então, não é simplesmente acabar, é mo-
progressivamente. Entao, eu me pergunto se !,!ssa seria dificar a atual estrutura, transformando, inclusive, essa
realmente uma prioridade constitucional modítícar nesta atividade militar em atividade civil. Nesse segundo mo-
altura a atual situação, ou seja, desmontar uma estrutura mento, no inquérito policial, parece-me que V. Ex.a tem
que está montada há mais de cem anos e que bem ou mal absoluta razão, 'e hoje isso realmente já ocorre. A Lei Com-
funciona com eficácia e com eficiência na maioria dos plementar n.v 40/81, que é a lei complementar do Minis-
Estados brasileiros. l!: uma instituição que está uníversalí- tério Público, parece-me, Ex. a , que é no art. 7.0, ela já
zada, existe em todos os Estaldos, existe em todos os Ter- permite inclusive o controle, e no art. 15, ela já permite o
ritórios e existe também no Distrito Federal. controle não do inquérito policial, mas o controle do
acompanhamento do inquérito. Faço-me mais claro, per-
. Há um ponto aqui na justificativa do projeto da As- mite com que o Ministério Público acompanhe o inqué-
sociação dos Delegados de Polícia de Brasília que diz: rito, que o Ministério Público controle esse acompanha-
"A maioria dos países adiantados do mundo aceita como mento. Mas, na v-erdade, a ínvestígação policial fica ao
absolutamente certa a característica civil do serviço de talante da própria autoridade policial. Nada há que im-
segurança pública." porte. que o representante do órgão acusatório oficial
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 83

acompanhe a investigação, 'e isso exíge previsão legal, pre- municipal à Polícia Civil, senão V. Ex.a teria também
visão de legislação complementar, e em vários Estados absoluta razão, seria uma intervenção descabida do Es-
existe essa acompanhamento. Então, o Ministério Públi- tado no próprio município. É a subordinação da atividade
co terá o controle sobre esse acompanhamento, mas não da guarda municipal, não a guarda municipal em si. Se
efetivo controle sobre a investigação policial, porque se- a guarda municipal ficar apenas com a finalidade de to-
não aí nós estaríamos quebrando o equilíbrio entre a de- mar conta da Casa Municipal e da prefeitura, não have-
fesa, entre o próprio órgão acusador 'e o próprio Estado. rá, em nenhum momento, qualquer intervenção do Es-
Fica; o Ministério Público com a atribuição que já tem tado. Mas no momento 'em que a guarda municipal pas-
hoje, prevista em legislação complementar, de, não digo sa a exercer outra atívídade que não essa, então ela pas-
auxiliar da ínvestígação, mas com o acompanhamento saría à subordinação do Estado.
da própria investigação policial. O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Consulto se
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO BRANT - Eu que- há mais algum Constituinte que gostaria de formular
ro qualificar a minha expressão, no sentido de desmilita- perguntas ao Dr. Cyro Vidal. (Pausa.)
rizar a Polícia Militar. Eu considero que a organização O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - Sr.
das Polícias Militares, baseado na disciplina e na subor- Presidente, aquela experiência em São Paulo não mostra
dinação, é a maneira mais eficiente de elas se organiza- que é negativa uma polícia municipal?
rem para combater a criminalidade violenta. O que eu
considero de assegurar o controle civil é exatamente des- O SR. CYRO VIDAL - V. Ex. a está dando um exem-
vinculá-las da subordinação ao Exército ou Inspetorias plo claro na nossa Capital. Eu pediria, oom todo o <res-
das Policias Militares, que é uma unidade do Exército, e peito a V. Ex.a , que considerasse a Capital de São Paulo,
subordiná-las exclusivamente aos Governadores: dos Es- com a sua guarda municipal, da forma como foi apresen-
tados. Então, nesse sentido elas se tornam instituições tada, de uma atívldade absolutamente anômala. Aquela
civis, embora organizadas 'analogamente em forma de não é a atividade da guarda municipal despejar algumas
organização militar. pessoas que ocuparam terrenos a cacete e balas, essa não
é a atividade da guarda municipal.
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR PINTO - Sr. Pre-
sidente, peço a palavra pela; ordem. Queria só fazer mais O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Eu concedo a
umas considerações. palavra ao Relator, Sr. Constituinte Ricardo Fiúza.
O SR. PRESIDENTE (José Tavares) s Concedo a pa- O SR. RELATOR (Ricardo Fiúza) - Sr. Presidente,
lavra, pela ordem, 00 Constituinte ottomar Pinto. Srs. Constituintes, meu caro companheiro Ivair, que nos
O SR. CONSTITUINTE OTTOMAR PINTO - Repito honrou aqui na Câmara com a sua presença, como Depu-
a nossa admiração pelas colocações do Dr, Cyro Vidal. tado, Sr. Expositor, Dr. Oyro Vidal, na minha condição
Queria apenas fazer mais uma pergunta final a V. s.a de Relator não quero exprímír juízo de valor sobre pon-
Na proposta constítucíonal trazida a esta Subcomissão, tos específicos. Vou reservar-me a ler o trabalho que os
V. s.a preconiza a guarda municipal subordinada à Po- Senhores apresentam, cotejá-lo com o trabaho que as Po-
lícia Civil estadual, Pergunto Soe isso aí não é uma ruptu- lícias Militares também nos encaminharam e amanhã nós
ra do princípio federativo. segundo, a Policia Civil é uma ouviremos os representantes das polícias Militares, para
estrutura eminentemente estadual. Vincular as polícias que o debate na Comissão nos sugira realmente o melhor
estaduais a um sistema nacional de segurança pública, caminho e as melhores alternativas.
tendo como órgão central do sistema o Ministério da Jus-
tíca também não vem isso ferir o princípio federativo, Em princípio, acho que o juiz de instrução é realmen-
qúe' esta Constituinte está lutando para preservar, in- te um passo no aprimoramento fundamental. Cabe ape-
clusíve em áreas vitais, como é a área da tributação. nas discutir quanto à oportunidade ou não, quanto à
Mais ainda; não seria salutar essa dualidade de polícia, capacidade que temos de implantá-lo em um país-contí-
a militar e a civil, como um sistema de peso e contrapeso nente como esse, com quase cinco mil municípios. Mas ne-
in1portan:tissimo? gar que o juiz de instrução seja tecnicamente, do ponto
Foi dito aqui hoje, pela manhã que a Nação busca de vista jurídico, mais perfeito que o inquérito policial,
a unidade, a sociedade democrática visa a divisão. Jus- seria esconder a verdade.
tamente não existe um centro único de poder; existem Acho que nós não devemos, nesta hora, por esta fobia
centros de poder dispersos dentro da soeíedade. Então, militarista de que todos estamos imbuídos, olhar para a
pergunto, também dentro d,ess~ .orientação, se não s~~a Polícia Militar como um instrumento militar.
salutar essa dualidade de políeía, a fardada e a CIvil,
como foi colocadc pelo nobre Constituinte que me ante- A Polícia Militar, assim é denominada por suas ca-
cedeu se ísso não traria só benefícios, além de economí- racterísticas de hierarquia, de corpo permanente, e acho
ctdad~, e sem tratar de uma agressão, de, uma violência fundamental o papel da Polícia Militar no policiamento
contra a cultura e a tradicão brasileira, que é a existên- ostensivo, repressivo de rua, um órgão mais adequado, até
cia das Polícias Militares, com as funções que hoje detêm. no caso de motins.
O SR. CYRO VIDAL - Pois não, Constituinte otto- Nós queremos evitar de qualquer forma a intervenção
mar Pinto. Não há na proposta vinculação alguma das das Forças rmadas na ordem interna do País. Para isso,
polícias civis ao Ministério da Justíça. Não se pretende
criar uma IGPC, uma Inspetoria Geral das Polícias Ci- temos que ter também uma Polícia Militar devidamente
vis, de maneira alguma. Somos totalmente contrários a aparelhada e apta para desempenhar o seu papel, como
este tipo de vinculação. O que se pretende, tão-somente, temos sobremaneira de instrumentalizar a Polícia Civil,
é uma estrutura, é uma espinha dorsal de polícia civil, seja dando-lhe um ordenamento jurídico mais competente,
sem vinculação a qualquer organismo do Ministério da como lhe dando meios para que cada dia melhore. Ninguém
Jus,tiça ou organismo federal, apenas em que as nomen- há de querer dizer que a Polícia Civil do Brasil é perfeita
claturas, as atribuições, OS direitos e as vantagens e os nem a Polícia Militar. Nada é perfeito neste País. Nós
deveres fossem mais ou menos uniformes para todo o somos um País em desenvolvimento, e eu vou tentar com-
Pais. patibilizar os 'diversos documentos recebidos e trazer à.
Comissão para debate.
Em segundo lugar, o que se pretende com as guar-
das municipais não é a subordinação absoluta da guarda Muito obrigado.
84 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Muito bem. deço ao senhor a atenção de ter vindo a nossa Subcomissão,
Creio que a segunda parte da reunião está praticamente de ter atendido ao nosso convite. O senhor não deve ter
concluída. tido muito tempo inclusive para preparar as suas pro-
Eu, em nome da Subcomissão, gostaria de registrar postas, mas de qualquer maneira nós somos muito gratos
aqui o nosso agradecimento ao Dr. Cyro Vidal, a<JS delega- à presença dos senhores, assim como a de todos os dele-
dos de todo o Brasil aqui presentes, pela contribuição que grudas aqui nesta reunião.
trouxe neste momento importante da vida brasileira. Aproveito a oportunidade para relembrar que amanhã,
Esta nossa Subcomissão no início, não se atribuía a ela a partir das 9 horas, nós temos uma visita ao Cindacta,
muita importância, até porque o seu próprio nome passou que é um órgão do Ministério da Aeronáutica. E um outro
a ser algo novo na nossa vida institucional, mas a partir mundo, creio eu, muito desconhecido para a dos membros
dos depoimentos aqui realizados, a partir dos encontros desta Subcomissão, inclusive para mim. Nós políticos, às
aqui havidos, acho que cada um de nós, Constituintes, está vezes, temos o defeito de emitir uma opinião a respeito de
tendo a dimensão da importância no papel desta nossa uma determinada instituição e entidade ou órgão sem
Subcomissão. conhecê-lo.
Hoje nós ouvimos a Policia Civil. Pessoalmente, pela Acho que é uma grande oportunidade que nós temos,
minha formação de advogado, concordo com quase tudo amanhã, para conhecer esse importante organismo público,
que o senhor disse aqui hoje. O que a gente sente, às vezes, dentre outras coisas, de controle de tráfego aéreo em nosso
é uma deformação para a nossa sociedade a respeito das Pais.
atribuições do verdadeiro papel que essa ou aquela institui- Na parte da tarde, a partir das 15 horas teremos aqui
ção realiza. Mas, indiscutivelmente a Policia Civil tem um a satisfação de colher os depoimentos de seis representan-
papel de grande relevância na nossa sociedade. tes 'de comandos de Policias Militares.
Dentro da nossa realidade, nós temos uma Policia Civil Creio que com isso a nossa Subcomissão caminha para
possivel. O senhor fez rapidamente uma digressão a res- o cumprimento do seu dever, que é a coletânea de
peito de momentos em que alguns Estados brasileiros, informações, de experiências, de práticas acertadas ou
há não muito tempo, ainda se valiam de instrumentos trabalhos desta Subcomissão, elaborar o seu parecer o
superados, como Juiz de Paz, delegados não de carreira. E não, e que com isso o nosso Relator poderá, ao final dos
hoje, felizmente, acho que na maioria dos Estados brasi- qual espero seja aprovado evidentemente depois de ampla
leiros, a Polícia Civil já é organizada em carreira. Não sei discussão pela nossa Subcomissão.
se estou certo. Só é organizada em carreira em 1dois Esta-
dos apenas, - o que é profundamente lamentável, porque Portanto, agradeço a todos a presença nesta Subco-
é difícil alguém que não tenha formação jurídica lidar missão.
com Direito, é difícil. Como é que alguém que não se pre- Na'da mais havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos
parou, não concluiu um curso de Direito, pode querer da presente reunião, convocando outra para amanhã às
interpretar a lei, aplicar alei? E o delegado aplica a lei 9:00 hs, com visita ao Cindacta. Está encerrada a reunião.
muitas vezes, a autoridade policial aplica a lei. Então eu
sou daqueles que acho que o cargo de delegado é privativo (Levanta-se a reunião às 18 horas e 25 mí-
de bacharel, tem que ser oriundo de uma carreira organí- 9 horas, com visita ao Cindacta. Está encerrada a reunião.
zada, através de concurso público, sem a menor ingerên-
cia politica, que é outra coisa nociva que ainda infeliz- COMISSAO DA ORDEM ECONôMICA
mente acontece neste Pais, interferência politica remo- 7.a Reunião Ordinária
vendo delegados. Acho que o delegado teria que ter inclusi-
ve os mesmos direitos de inamovibilidade que tem o juiz, Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de mil
porque ele exerce também função de alta relevâneía no novecentos '8 oitenta e sete, às: dezoito horas e três minu-
cumprimento da lei. tos, em sala do Anexo II do Benado Federal, reuniu-se
a Subcomíssão de Princípios Gerais, Intervenção do Es-
Dr. Cyro Vidal confesso ao senhor e aos seus colegas tado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade
aqui presentes que, se nós fôssemos conversar sobre Direi- Econômica, sob a Presidência do Slenhor oonstãtuínte
to, sobre o processo, sobre policia, seja ela civil ou militar, Delfim Netto, com a presença dos seguintes Cons:tituintes:
nós ficaríamos aqui noite a dentro, porque tem muito o Delfim Netto, Beth Azize, Gabriel Guerreiro, Luiz Salo-
que falar. li': realmente uma atívidade de extrema relevân- mão, Vladimir Palmeira, Roberto Campos, Antônio Car-
cia, e que lamentavelmente todos os governos passados que los Franco, Albano Franco, Virgildásio de Senna, Marcos
eu conheço e conheci, a relegaram a um plano extrema- Lima, Ismael Wanderley, Gil César, Joaquim Bevílaequa,
mente secundário. Rubem Medina e Roberto Jafferson. Havendo número
Acho até que o grande indice de violência e de crimi- regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os
nalidade se deve a isso, ao descaso, ao desinteresse com trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior,
que governantes, sejam eles governadores, principalmente que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se ini-
os nomeados, governadores a nível federal, trataram uma cio ao expediente que constou da leitura sumária das su-
questão da maior importância, que é a segurança pública. gestões de números trezentos e trinta e um, trezentos e
cinqüenta e seis, quinhentos e cinqüenta e seis, quinhen-
O cidadão só sabe qual a importância da polítíca na tos e seis, quinhentos: e cinqüenta e nove, quinhentos e
hora em que ele ou a família dele é atingida. Ai é que ele noventa e dois, seiscentos, seiscentos e quatro, seiscentos
vai descobrir que existe Policia Civil, Policia Militar. Ai e onze, seiscentos e treze, seiscentos: e quarenta e seis,
sim, ele passa, de alguma maneira, a esperar dela alguma seiscentos e cinqüenta e cinco, seiscentos e sessenta e
coisa. E os noticiários são ricos sobre isso no dia de hoje. oito, seiscentos e setenta, seíscentos e setenta e cinco,
E graças a Deus eu vejo que os resultados Idas atividades seiscentos e oitenta e dois, seiscentos e noventa e oito,
policiais para os crimes bárbaros que têm ocorrido neste setecentos e vinte e nove, setecentos e quarenta e qua-
Pais, que nos infelicitam, têm sido rápidos e positivos, até tro, setecentos e quarenta e cinco, setecentos e cinqüen-
demais." ta, setecentos e cinqüenta e seis, setecentos e noventa e
três, oitocentos e sessenta e nove, oitocentos e setenta e
Então eu parabenizo V. Ex.a pela sua exposição, pelo dois, oitocentos le setenta e três, novecentos e treze, no-
seu trabalho, pela sua luta à frente da sua entidade; agra- vecentose vinte e oito, novecentos e trinta e dois, nove-
Julho de 1987 OlARia OA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 85

centos e cinqüenta, novecentos e setenta e seis, nove- Passaremos, agora, à discussão da Ordem do Dia que
centos e oitenta e oito, mil e doze, mil e setenta e dois, constará da discussão do item D. 1 - Base do Sistema
mil e oitenta e quatro e mil e noventa e três, de 'autoria Econômico.
dos Constituintes Benedita da Silva, Nyder Barbosa, Ani- Temos três oradores inscritos. Concedo a palavra à
bal Barcellos, Jamil Haddad, Mendes Botelho, !Paulo Zar- ilustre Constituinte Beth Azize.
zur, Adhemar de Barros Filho, Beth Azize, Felipe Men-
des, Gonzaga Patriota, Mozarildo Cavalcanti, Nivaldo Ma- A SRA. CONSTITUINTE BEH AZIZE - Sr. Presidente,
chado, Pedro Canedo, Victor Faccioni e outros, Davi AI- antes de entrar na discussão da pauta, propriamente dita,
ves Silva, Roberto Freire e outros, Aldo Arantes e outros, para esta reunião, eu gostaria de manifestar a V. Ex. a e
Doreto Campanari, Cid Carvalho, Flávio Palmier da Vei- a todos os membros desta subcomissão, uma preocupação
ga, José Carlos Vasconcellos, Mário Maia, Ruy Nedel, Ho- que já está me levando ao desestímulo e, até certo ponto,
mero Santos, Odacir Soares e Ruy Bacelar. Findo o expe- à falta de interesse de participar das reuniões desta subco-
diente, o Senhor Presidente anunciou o debate de Maté- missão. Eu vou ser bem clara e bem rápida.
ria Constitucional, referente ao item B. 1 - Base do Sis- Foi aprovada, aqui, por esta subcomissão, uma pauta
tema Econômico, constante do Termo de Referência, pro- de audiências públicas sobre temas pertinentes a matéria
posto pelo Relator, do qual participaram os Senhores que serão discutidas e votadas por esta subcomissão. E,
Constituintes Beth Azize, Virgildásio de Senna, Luiz Sa- ontem, Sr. Presidente, tivemos a primeira audiência pública
lomão, Joaquim Bevilacqua, Roberto Campos, Ismael e eu manifesto aqui, com muita tristeza, que a "expressão
Wanderley e Vladimir Palmeira. O inteiro teor dos deba-
tes será publicado, após a tradução das notas taquigráfi- audiência pública" não está sendo aplicada como jíeverla
cas e o competente registro datilográfico, no Diário da ser. Porque me parece que numa audiência pública esta
Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a subcomissão não pode ficar ligada, não pode ficar amar-
tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados. os tra- rada a palestras ou conferências de ilustres personalidades
balhos, às dezenove horas e quarenta minutos, convocando que, pelo processo de votação, foram convidadas a partici-
os Senhores COnstituintes para a próxima reuníão a ser par dessas audiências públicas, sem a participação daquilo
realizada amanhã, dia vinte e nove de abril, às nove ho- que eu chamo a legítima representação da sociedade civil
ras e trinta minutos, para continuação do debate de Ma- brasileira. As audiências públicas foram inseridas no Re-
téria Constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de gimento Interno exatamente para permitir a participação
Figueirêdo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois da sociedade brasileira, nessas discussões, junto aos Cons-
de lida e aprovada, será assínada pelo Senhor Presidente. tituintes que irão debater as questões de natureza constí-
tucíonal, E, ontem, eu não me senti bem quando assisti
aqui discursos acadêmicos, como se estivesse nos bancos
ANEXO A ATA DA SÉTIMA REUNIÃO OR- da minha velha e saudosa Faculdade de Direito do Estado
DINARIA D!A. SUBCOMISSÃO DE PRINCíPIOS do Amazonas, onde os professores nem sempre correspon-
GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, RE.GIME diam às nossas expectativas. Estamos assistindo palestras,
DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVI- conferências, no mais puro estilo acadêmico e o mais ínte-
DADE ECONÔMICA, REALIZAD'A EM VINTE E ressante é que isso que eu estou falando é de interesse para
OITO DE ABRIL DE 1987, AS DEZOITO HORAS o meu colega.
E TRÉS MINUTOS, íNTEGRA DO APANHAMEN-
TO TAQUIGRAFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVI- Essas palestras e conferências, repito, não estou ense-
DAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRE- jando nenhum debate que possa levar esta subcomissão à
SIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE determinação' ou ao conhecimento dos ;princípios e das
DELFIM NE,TTO. normas que possam nortear, que possam conduzir o pensa-
mento desta subcomissão no momento da apresentação do
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Estando pre- seu relatório e da votação pelos membros da subcomissão.
sentes treze Srs. Constituintes, declaro aberta a reunião. Vou apresentar um exemplo prático, ainda me referin-
Convido o ilustre Constituinte Luiz Salomão, para que do à audiência pública de ontem. Nós ouvimos aqui ilus-
faça a leitura da Ata. tres figuras que militam na área empresarial, nós ouvimos
pessoas interessadas em discutir as propostas de Consti-
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO (Leitura na tuição, ou para a Constituição. Mas eu vejo, na audiência
Ata.) pública marcada para o dia 4 de maio, Sr. Presidente, em
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obriga- que se vai discutir temas como o subsolo, a União e os
do a V. Ex. a Estados, o monopólio estatal do petróleo e outros mono-
Está em discussão a Ata. (Pausa.) pólios e reservas estratégicas, por exemplo, como convida-
do, o Presidente da Petrobrás; eu vejo aqui, como con-
Passamos à votação. Quem estiver de acordo perma- vidados, o Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia,
neça sentado. (Pausa.) o Presidente do Ibram, o Almirante Gama e Silva, e não
Está aprovada a Ata. estou vendo aqui - e sei que essa foi uma questão já le-
vantada em reuniões anteriores - nenhum representante
A Presidência recebeu e encaminhou ao nobre Sr. da massa trabalhadora do subsolo. Eu me refiro, por
Constituinte Virgildásio de Senna, Relator da matéria, as exemplo, a entidades e sindicatos que representam os ga-
sugestões de números 331, 356, 559, 592, 600, 604, 611, 613, rimpeiros, que representam os trabalhadores do subsolo,
643, 655, 668, 670, 675, 682, 698, 729, 744, 745, 750, 756, os trabalhadores que promovem a circulação da riqueza
793, 869, 872, 873, 913, 928, 932, 950, 976, 988, 1. 012, 1.062, mineral do País - nenhum deles se faz aqui representar.
1.084 e 1.093, dos seguintes Constituintes: Benedita da E o que é mais grave, além de não estarem aqui como
Silva, Nyder Barbosa, Anníbal Barcellos, Jamil Haddad, convidados para debater, eles não podem sequer usar da
Mendes Botelho, Paulo Zarzur, Adhemar de Barros: Filho, palavra para debater o assunto.
Beth Azize, Felipe Mend·es, Gonzaga Patriota, Mozarildo
Cavalranti, Nivaldo Machado, Pedro Canedo, Victor Fac- Então, parece-me, Sr. Presidente, que essas audiências
cioni, Davi Alves Silva, Roberto Freire, Aldo Arantes, Do- públicas não estão alcançando os objetivos para os quais
reto Campanari, Cid Carvalho, Flávio Palmier da Veiga, elas foram inseridas no Regimento Interno da oonstítuín-
J1)sé Oarlos Vasconcelos, Mário Maia, Ruy Nedel, Homero te. Está ficando monótono. Está mais me parecendo uma
Santos, Odacir Soares e Ruy Bacelar. lavagem cerebral e não me parece que. alguém tenha vindo
86 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

aqui para receber nenhuma lavagem cerebral. Nós somos brasileiro 'calcado no capitalismo que vem evoluindo nas
pessoas adultas, somos Constituintes eleitos, somos repre- suas diferentes formas e que já apontou na direção da
sentantes legítimos do povo brasileiro e estamos aqui com sua inviabilidade como forma de resolver os graves pro-
opiniões firmadas e nós queremos aqui é ouvir a opinião blemas sociais que vive o povo brasileiro.
da sociedade civil, para que nós possamos fazer uma Cons-
tituição mais próxima possível do pensamento da Nação A despeito de sermos, a oitava economia do mundo,
brasileira. estamos figurando nos índices sociais sempre na faixa
dos últimos lugares, e ísto eu creio que nenhum brasileiro
É esta a manifestação que eu tinha a fazer nesta reu- tem esperança de resolv-er pela via da persistência do
nião de hoje. modelo eeonômíco vigente. E, inspirado um pouco na
Muito obrigada. Constituição italiana, nação que foi citada 'como exemplo
hoj e, como paradigma das nossas discussões, pelo Cons-
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a tituinte Roberto Campos, gostaria de invocar um princípio
V. Ex.a Só gostaria de acrescentar que esta forma de que está no art. 1.0 da Constituição italiana e tentar
organização decorreu de uma ampla discussão em que introduzi-lo, com a ajuda dos Srs. constituintes, na Cons-
todos tiveram a oportunidade de se manifestar. As pessoas tttuíção brasileira, dando-lhe a seguinte redação:
convidadas foram todas elas eleitas pOT esta subcomissão,
de forma que isso é matéria vencida e nós vamos pros- "O Brasil é uma República Flederativa, constítuída sob
seguir 'como temos feito, como fizemos ontem e como o regime representatívo pela união absoluta dos Estados,
faremos nas próximas reuníões. Distrito Federal 'e territórios e fundada no trabalho do
seu povo."
O SR. RELATOR eVirgildá.sio de senna) - Sr. Pre-
É essa premíssa o postulado que gostaríamos de ver
sidente, soe V. Ex.a me permitir.
introduzido no art, 1.0, a fim de colocar esse componente
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Pois não. da vida econômica, que é o verdadeiro fator de construção
da Nação, como um primado, o prímado do trabalho,
O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna) - Pelo 'apre- para organizar a sociedade e a economía,
ço que merece o pensamento da nobre Constituinte Beth
Azize, desejo informar apenas que a decisão foi uma Se isso for acerto, nós teremos desdobramentos sérios,
decisão do Plenáxio. As pessoas convídadas foram as apro- importantes, seja quanto à organização e funcionamento
vadas pelo Plenário 'e que na constituição dos depoentes do Estado, seja quanto à estruturação das atividades eco-
previstos para esta próxima sessão constava o nome de nômicas e sociais.
duas pessoas representativas de sindicatos naeíonaís de Para tanto, passaria a díscutír a nossa proposta de
garimpeiros e que essas pessoas foram substituídas por redação dos princípios da ordem econômica que agora
outras índíeadas pela comissão. separam-se dos princípios da ordem social, em cima do
De modo que, como informou o presidente, embora anteprojeto da Comissão de Estudos oonstsbueíonaís, pre-
reconhecendo a Iegítãmídade da sua reelamaçâo, 'ela se sidida pelo Oonstãtuínte Afonso A:rinos, que tem, queira-
torna intempestiva, porque o momento próprio já passou mos ou não, uma função reítora nos nossos trabalhos,
para a indicação dessas pessoas. Aquilo que' será possível nas nossas díscussões, A própria divisão das comíssões e
_ se a tanto se decidir o Plenárío e anuir o Sr. Presi- subcomissões obe-deceu, de certa forma, à divisão feita
dente ~, é que, em havendo uma dilatação de prazo para pela comíssão de Estudos Constitucionais. E, por isso, já
apresentação de propostas, se faça uma audíêneía especial se produziu 'essa separação entre os príncípíos da ordem
para ouvir esse segmento ligado tão díretamente às ques- eeonômíca e os princípios da ordem social. Mas se respei-
tões envolvidas nesta subcomissão, ou, segunda hipótese, tado o p-rimado do trabalho, o reconhecimento de que
em havendo um não comparecimento de pessoas já pre- é o trabalho o elemento fundamental de 'construção da
vistas como depoentes, uma substituição pai!.' esses nomes. Nação, de organização da Nação, isso significaria rever
Inúmeras situações de injustiça, como, por exemplo, os
Essas são as hipóteses possíveis € que nós a-companha- salários míseros que são pagos em nosso País. Um País
remos com muita atenção, inclusive, para atender à sua que tem, num quadro elaborado pelo Ministério do Tra-
reclamação, que nos parece justa. balho, a penúltima posição entre os mais baixos salários
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obrigado 'em todo o mundo, perdendo apenas para o Peru, onde a
a V. Ex. a carga semanal era menor do que no Brasil e, quando
feita a homogeneízação, nós ficamos também atrás do
Concedo a palavra, 00 ilustre oonstatuínte Luiz Sa- Peru, vamos verítícac que é preciso rever inúmeros pontos.
lomão. E não nos venham dizer que é uma ques-tão de produti-
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Sr. Presi- vidade, da mão-de-obra, que é decorrência da baixa qua-
dente, Sr. Relator, Srs. .constituintes: lificação, porque, se fizermos essa comparação com empre-
gados qualificados do setor de ponta, da indústria de
Tive ocasião de dis-tribuir aos ilustres membros desta ponta, entre o operário brasileiro e o operário italiano
subcomíssão um conjunto de propostas que abarcam os e 'O operáeío alemão, vamos ver que um torneiro brasileiro,
trabalhos desta subcomissão. Faltou-me, foi um-a falha, um rresador brasileiro, com a mesma produtãvídade e
um lapso, que eu pretendo corrígír dentro de minutos, eventualmente com produtividade maior do que o seu
distribuir aos senhores uma outra sugestão de norma similar alemão ou italiano, está percebendo uma remune-
constitucional que encaminhei à Comissão da Soberania ração que, muitas vezes, é metade ou é um terço daquela
dos Direitos e Gamntias do Homem e da Mulher, rela- que é paga naqueles países desenvolvidos.
tivamente ao art. 1.0 da Constituição.
E essa é a razão de depauperação do mercado interno
Se V. Ex. as me permítãrem gostaria de expor esse essa é a razão da limitação do nosso mercado nacionaÍ
primeiro documento que dis:tribuí a V. Ex.as, remetendo e que produz esse contra-senso de estarmos gastando re-
essa proposta que só posteriormente V. Ex. as terão em cursos do povo trabalhador para dar incentivos a disputar
mãos, e que está baseada no pressuposto de que haj-a um os mercados externos quando temos enormes contingen-
mínimo de consenso nacional sobre a necessidade de revi- tes da população brasileira. marginalizados, alij ados do
sar, de reverter e subverter, mesmo, o modelo econômico mercado.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 87

E eu creio que esse postulado do trabalho, como norma bem e lhe propicia condições de trabalho dignas de ser
principal de estruturação da sociedade e da economia humano. Infelizmente, já trabalhei em São Paulo, ape-
brasileira, é um princípio aceitável, 'aceito por todos os sar de ser carioca de nascimento, e a realidade não é
setores da população. Só os empresários mais retrógrados, bem essa, de modo que a questão da melhoria das con-
só aqueles que se fizeram pela via da especulação finan- dições de trabalho constitui um fator fundamental a per-
ceira, ou das fraudes que são encontradas, sobretudo, no seguir se se pretende valorizar o trabalhador.
setor financeiro, é que podem se opor a esse postulado O segundo princípio da democratização da proprie-
de que é através do trabalho que devemos organizar a dade, e do controle da produção, visa corrigir essa grave
economia. distorção inscrita na Constituição de 1967, que, aliás, vem
Dito ísso, gostaria de me referir à proposta que nume- de 46, dízendo que o trabalhador participará do lucro das
rei como O E-I, no sentido de que a ordem econômica empresas. Isso é mais uma das balelas, uma das ficções
deve visar o desenvolvimento nacional e a justiça social, que a classe dominante, para satisfazer sua consciên-
não da forma praticamente errática como se dá neste cia, colocou na Constituição apenas como um princípio,
País, da produção orientada, não para a satisfação das como mais uma regra a ser descumprida no cotidiano. É
necessidades sociais, mas para auferição mais fácil do preciso caracterizar o que é a democratização da proprie-
lucro. Isto ficou bastante patente na declaração que, on- dade, o que é o controle da produção, através da parti-
tem, aqui fez o Presidente da Fiesp, o Sr. Mário Amato, cipação dos trabalhadores no lucro das empresas como
que ao contrário do que disse a Deputada Beth Azize, já está na Constituição, e também na gestão, mudando
não fez lavagem cerebral. Acho que despiu claramente a a formulação atual da Constituição que prevê a partici-
posição do empresariado paulista sobre qual era a função pação da gestão apenas excepcionalmente.
social - função social ou lucro, disse aqui com todas as Um terceiro princípio é o da coexistência de diferen-
letras - e, além dessa orientação da produção para sa- tes formas de propriedade dos meios de produção, e aqui
tisfação das necessidades sociais, o respeito aos direitos nós estamos referindo espeeírícamente aos meios de pro-
dos trabalhadores e a democratização da renda da pro- dução porque há que modificar também, o art. 153, da
priedade. Esse é outro ponto fundamental, porque o capi- Constituição que engloba no mesmo saco a propriedade
talista brasileiro preza, homenageia a propriedade como dos bens familiares, a propriedade dos meios de produ-
se fosse uma instituição sagrada, mas a quer apenas pa- ção, a propriedade territorial rural, a propriedade terri-
ra si, procura impedir, tanto quanto possível, que essa torial urbana, a fim de proteger o grande proprietário,
propriedade sej a distribuída a todos os segmentos da po- o latifundiário improdutivo, o mau patrão, com o escudo
pulação. Então, se queremos uma ordem econômica que protetor da massa de pequenos proprietários de bens que
vise a justiça social, a democratização da renda, e, por servem apenas para a subsistência de sua família.
conseguinte, da propriedade, há de ser um objetivo a se
perseguir de maneira sistemática. E aí estamos enume- Aqui, neste terceiro item, estamos reconhecendo e de-
rando os oito princípios da ordem econômica que, a nosso sejando a coexistência de diferentes formas da proprie-
juizo, constituiriam uma boa formulação para esse artigo dade, da propriedade privada, da propriedade estatal dos
que, de resto, é a parte mais hipócrita da Constituição meios de produção, e de todas essas formas intermediá-
vigente, essa Constituição que fala da valorização do tra- rias que têm vingado com muita raridade no cenário eco-
balho numa sociedade que paga 50 dólares de salário nômico brasileiro.
mínimo, quando já pagou 40, quase 30, meses atrás. Essa O quarto postulado da liberdade da iniciativa, que
Constituição que é violada, cotidianamente, pelas ativi- também defendemos como sendo aquele capaz de trazer
dades econômicas quando fala da função social da pro- a saudável concorrência no meio das atividades econô-
priedade em contradição com o latifúndio improdutivo que micas, porém não essa liberdade de iniciativa incondi-
está aí, a olhos vistos, sendo responsável pela miséria do cionada da Con.stituição atual, mas sujeita à função so-
nosso povo. cial da propriedade, da tecnologia e da empresa que qui-
Ontem, foi dito aqui, também, pelo mesmo Presiden- sermos caracterizar, como sugere o projeto Afonso Ari-
te da Fiesp, que há bons e maus empresários. nos. Porque a tecnologia que foi defendida, ontem, como
uma forma quase que abstrata, apenas referida à ques-
Infelizmente, só hoje pudemos ter acesso a uma ma- tão da soberania nacional, ela também tem que ter uma
téria publicada no Jornal do Brasil, mostrando que mais função social, porque pode ser fator de agravamento de
da metade dos proprietários rurais deste País sonegam injustiças, de sofrimentos de nosso povo.
o Imposto Territorial Rural. Isso era uma boa contrapro-
va da afirmativa do Sr. Mário Amato. a quinto 'Donto é esse postulado do Projeto Afonso
Arinos, que apenas reproduzo e acho desnecessário justi-
Uma das razões pelas quais os princípios da ordem ficar, o equilíbrio e harmonia do desenvolvimento regio-
econômica, hoje econômica e social, são desrespeitados, nal e setorial para reduzir as desigualdades econômicas
é pela sua formulação genérica, pela sua formulação im- e sociais. É evidente, que para os representantes do capi-
possível de ser referida pelo cidadão prejudicado em seus tal que aqui estiveram ontem, a questão dos desequilí-
direitos. E é nesse sentido que estamos colocando esses brios regionais e setoriais é irrelevante, mas não pode-
postulados, esses princípios, de uma forma que nos pare- mos continuar a ostentar esse quadro contrastante que
ce mais específica, que permite ao cidadão comum argüir, Edmar Bacha chamou de belíndía, da convivência dentro
com base na Constituição, as injustiças de que é vítima. do nosso território, de uma Bélgica e de uma índia, que
traduz nesse objetivo programático de equilíbrio e har-
Assim, a questão da valorização do trabalho tem de monia do desenvolvimento regional e setorial.
ser qualificada no seu significado real, que implica na
justa remuneração do trabalho, dá a garantia do empre- O sexto postulado é o fortalecimento da empresa na-
go, hoje, o principal fator de ínstabílízaçâo do cidadão e cional e pretendemos numa outra contribuição definir
da sua família, e da melhoria das condições de trabalho. ou contribuir para a definição de uma forma mais ge-
nuína e autêntica do que a do Projeto Afonso Arinos e
Outra coisa que nos chocou profundamente, foi a in- que visa definir como nacional o que é verdadeiramente
formacão do mesmo Presidente da Fiesp, de que se des- nacional e não a IBM do Brasil, a Shell do Brasil, como
eéssemos em São Paulo verificaríamos que o empresa-, empresas nacionais, apenas porque estão aqui organiza-
ríado paulista respeita o seu trabalhador, remunera-o ~as, .
88 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBUiA NACiONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o sétimo ponto é que talvez mereça uma atenção cional e que vai agora desenvolver dois projetos faraôni-
maior, que é o reconhecimento como um postulado, como cos, dois projetos dos bons tempos do "milagre brasileiro",
um princípio da ordem econômica: o da intervenção do que são as estradas Norte-Sul e Leste-Oeste: bilhões de dó.
Estado no domínio econômico, não apenas como repressor lares no orçamento de uma companhia limitada, subsidiada
dos abusos e delitos do poder econômico, que hoje está à Vale do Rio Doce, agora transferida para o Ministério dos
inscrito na Constituição, não apenas como agente de fo- Transportes. É assim, sem controle social, sem nenhuma
mento que todo empresário admite e deseja, sobretudo participação do Congresso que o Estado se multiplicou,
quando quer empresar e necessita do Estado para lhes proliferou para sacrificar ainda mais o nosso povo.
ceder crédito, para lhe apoiar e fomentar as atividades, E no art. 2.0 , proponho que a Câmara dos Deputados
não apenas como regulador e controlador das atividades fiscalize, através de uma comissão técnica permanente, a
econômicas, mas também é uma função reconhecida e clás- ser definida no seu Regimento Interno, as atividades das
sica do Estado, mas do Estado como agente de produção, entidades estatais de produção. É o Congresso Nacional, é
como agente de produção que já é, não ficarmos iludindo a Câmara dos Deputados, é esse órgão de representação da
ou tentando nos iludir, escondendo o sol com a peneira sociedade que deve decidir quais os setores da economia
e dizer que a atividade econômica será explorada preferen- que devem ser delegados, ser de responsabilidade do Esta-
cialmente pela iniciativa privada, cabendo ao Estado ape- do, e aqueles que devem ser da responsabilidade da inicia-
nas um papel supletivo, um papel tímido, envergonhado, tiva privada. Não é aceitável que os empresários e os seus
do Estado como agente de produção. ídeólogos aqui se coloquem dizendo que a atividade econô-
Ora, Srs. Constituintes, o Estado brasileiro, como agen- mica é privativa da iniciativa privada, isso é uma formula-
te de produção, é uma realidade irreversível, impossível de ção ideológica, isso não é democrático, a sociedade tem que
ser modificada no curto, no médio e no longo prazo, e ter o direito de opinar, através do Congresso Nacional, so-
estamos dispostos a discutir os diversos aspectos do Es- bre quais são os setores em que o Estado tem condições
tado como agente de produção, descontrolado, arbitrário, de se desempenhar bem e aqueles que ela prefere fiquem
autoritário, que incorporou todos os defeitos da ditadura em mãos da iniciativa privada.
militar e que, por conseguinte, vem sendo um agente, não Os demais artigos fixam que o monopólio e a reserva
necessariamente colado aos interesses da maioria da po- de mercado têm que ser criados em lei e há casos e casos
pulação, mas freqüentemente à disposição dos interesses de monopólios e reservas de mercado artificialmente cria-
dos grandes grupos econômicos, inclusive, dos grupos mul- dos por resoluções, por portarias e que, evidentemente,
tínaeíonaís.
violam, são privilégios concedidos.
E o oitavo postulado, a questão do Estado vou abor- O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - V. Ex. a já
dar - logo a seguir nos artigos que se seguiriam ao pri- esgotou os três minutos.
meiro - a busca da harmonia das atividades econômicas
através do planejamento democrático. Isso como alterna- O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Pois não.
tiva a esse objetivo utópico, essa formulação de princí- De modo que, Sr. Presidente, os demais artigos se referem
pios inatingível que é da harmonia das classes, das catego- ao papel do Estado como repressor do abuso do poder
rias sociais de produção da Constituição atual e foi repro- econômico e como defensor dos direitos do consumidor.
duzido no anteprojeto Affonso Arinos. No artigo seguinte Encerro por aqui, colocando-me à disposição dos com-
procurei propor uma formulação do caráter prioritário panheiros, Deputados e Senadores Constituintes, a fim de
do Estado como agente de fomento, o Estado incentivará debater e aprofundar essa discussão, que me parece crucial
e apoiará o cooperativismo e as pequenas e médias empre- para a ordenação da estrutura econômica nacional.
sas, através de tratamento legal diferenciado, facílítando-
lhes a burocracia contábil, tributária, trabalhista e previ- Muito obrigado. (Muito bem! Palmas.)
denciária, e favorecendo-as quanto o acesso ao crédito e O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Concedo a pa-
dando-lhes preferência nas compras do setor público. Ora, lavra ao Deputado Joaquim Bevilacqua. (Pausa.)
se pretendemos reorientar a economia brasileira das suas
formas mais selvagens de capitalismo mais selvagem para S. Ex. a não está presente.
abrir espaços para a forma de organização econômica, típi-
ca da social democracia, é preciso que o Estado assuma Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Cam-
uma atitude franca e verdadeira em relação ao cooperati- pos.
vismo, às pequenas e médias empresas que são a verdadei- O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Gosta-
ra. .. Consulto a Mesa se tenho tempo marcado? ria de ter tanto a juventude como a autoconfiança que re-
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - V. Ex.a já vela o meu colega Luiz Salomão, na sua apresentação de
esgotou os 15 minutos. hoje.
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Peço a A leitura do seu texto, entretanto, me suscita imediatas
V. Ex. a que generosamente me conceda mais 3 minutos para dúvidas. Há uma palavra incrivelmente sexv, porém, ínorí-
que possa, rapidamente, me referir aos demais artigos. velmente confusa - justiça social - (Palmas). A expres-
são justiça social é altamente subjetiva, quem nos indicou
Passo então, à questão da intervenção do Estado como isso, com soberba claridade foi o Mestre Hayek que fala
agente de produção e à questão crucial, no sentido de fixar que o máximo a que uma sociedade deve aspirar é ter nor-
que a criação, extinção, transformação, aquisição e transfe- mas justas de conduta, normas iguais de aplicação geral
rência de controle de entidades estatais de produção tenha aos indivíduos. Não se pode garantir justiça social, porque
de ser autorizada em lei, não como está previsto no Decre- isso seria garantir resultados e acontece que Deus foi pro-
to-Lei n. o 200, em outra legislação ordinária, mas como fundamente injusto, fez-nos absolutamente desiguais, filhos
um princípio constitucional para impedir a proliferação de uma mesma família, com o mesmo nivel de educação,
de empresas estatais, como se observou e se observa, até com o mesmo treinamento universitário, têm na vida, resul-
hoje, na chamada Nova República. todos completamente diferentes, um pode ser um playboy,
Tive oportunidade, no Plenário da Assembléia Nacio- outro pode ser um grande empresário e, um terceiro, um
nal Constituinte na Câmara dos Deputados, denunciar essa artista. Será isso justo ou injusto? Ninguém sabe dízê-Io.
Valec, uma paper company da Companhia Vale do Rio Tudo o que a sociedade pode prometer aos indivíduos é
Doce, criada sem nenhuma particípação do Congresso Na- que traçará normas justas de conduta. Os resultado» serão
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACiONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 89

função exclusiva do grau de talento e de aplicação dos é um imposto indireto e, assim, transferido à sociedade.
indivíduos. É esse o único conceito compatível com a libero Mas era uma tentativa de resolver esse problema quase
dade. Não se pode impor a justiça social, pode-se apenas insolúvel. Como dar participação nos lucros a empresas
esperar que o Estado formule regras justas de conduta. cronicamente deficitárias? Novamente anuncia-se o quar-
Da mesma maneira que não se pode dizer que o resultado to espírito eminentemente social, senão socialista, do nosso
de um jogo de futebol é justo ou injusto. O que se pode prezado amigo, que o leva a falar em função social da
dizer é se foram ou não obedecidas as regras do jogo. propriedade. Basicamente, a função da propiredade, se-
gundo os princípios lockianos, é proteger a liberdade do
A palavra "justa" volta também no parágrafo único indivíduo contra o Estado O que se deve pensar em regu-
inciso I, fala-se na valorização do trabalho através da lar é o uso eficiente da propriedade, não propriamente sua
justa remuneração. O que será a justa remuneração? O função social.
trabalhador sempre considerará injusta a remuneração
que recebe e o patrão tende a considerá-la exagerada. O inciso VI fala no fortalecimento da empresa nacio-
O que se pode falar é em remuneração adequada à produ- nal, conforme definida nesta Constituição. Eu espero que
tividade, porque é essa a única coisa objetiva. Se a remu- na definição que o Constituinte venha trazer a esse con-
neração for acima da produtividade, ela será injusta para ceito de emprego nacional, ele não queira se pautar por
a sociedade e acabará provocando dasemprego, S'e ela for despontérios como o da Lei de Informática, que desna-
inferior à produtividade, talvez não ocorra um grau sufi- cionalíza inúmeras empresas, definindo como empresa
ciente de satisfação do trabalhador, sendo que a produti- nacional apenas aquela em que há 70% de participação
vidade, como todo mundo sabe, não deriva apenas do tra- no capital nacional e, além disso o burocrata verifique -
balho, há também a contribuição do equipamento neces- de que maneira eu não sei - que existe um efetivo con-
sário à eficácia da produção. No inciso II, há outra idéia trole tecnológico, um conceito altamente subjetivo, que na
extremamente sexy e írresístível e igualmente complexa, realidade desnacionalizou arbitrariamente várias empre-
que é a participação na gestão e no núcelo das empresas. sas. Empresa nacional, no conceito tradicional do Código
Já desde a Constituição de 1967 que se discute, aliás em Comercial, da Lei das Sociedades Anônimas, é a empresa
Constituições anteriores também, o conceito de participa- constituída no País, segundo as leis do País, que pague
ção nos lucros. É de uma infinita complexidade. Eu mesmo impostos e gere empregos. O que nos interessa é o con-
fiz um projeto, que já foi aprovado no Senado e se acha ceito de empregos como um símbolo de poupança e ati-
na Câmara, que regula a participação eventual nos lucros vidade econômica capaz de gerar empregos e impostos.
da empresa. A participação nos lucros tem que ser, pri- Gostaria também de participar, mas sinto-me impos-
meiro, eventual, porque o lucro não é uma ocorrência sibilitado à luz de minha longa experiência, em partici-
necessária. As empresas podem ter prejuízos. Não se pode, par do entusiasmo do caro amigo, o Constituinte- Luiz
portanto, admitir-se habitualidade na distribuição dos lu- Salomão, em incluir 'entre os princípios da atividade eco-
cros, porque não há habitualidade garantida na geração nômica, a busca da harmonia das atividades econômicas
de lucros. Tem que se pensar, portanto, sempre em partici- através do planejamento democrático. Fui, talvez, um dos
pação eventual nos lucros, se lucros houver. pioneiros nesta arte, que eu julgava ciência, e que é mais
uma artimanha que- nós chamamos de planejamento. O
Segundo, essa participação tem que ser objeto de acor- mundo todo está desapontado com o planejamento. O
do mútuo entre a empresa e o empregado. Não pode ser planejamento democrático, então é algo quase que contra-
uma imposição legal, pelo simples fato de que, se for ditório, sígnítíea que um grupo de indivíduos localizados
uma imposição legal, o patrão vai exigir que o empre- numa gerência central interpretam as vontades do cidadão
gado também participe do prejuízo Ele participará dos e estabelecem um plano. Nós estamos vendo que, mesmo
lucros nos anos em que houver lucro; ele terá uma redu- nos países socialistas, há hoje uma preocupação quase
ção de salários ou de patrimônio nos anos em que houver obsessiva de descentralizar, de desplanejar, por assim di-
prejuízo. Ora, isso a ninguém interessa. Tem que se dei- zer, e liberalizar a economia. A China já o fez no setor
xar, portanto, a negociação no mercado, entre trabalha- agrícola e está procurando fazê-lo, enfrentando sérias difi-
dores e assalariados, no esquema de participação. Volunta- culdades, no setor industrial. A Rússia começa a se des-
riamente, no mundo capitalista, já se está generalizando vincular em normas de planejamento. Na maioria dos países
o estatuto mutuamente acordado de participação eventual europeus se procura, hoje, enfatizar as atividades e desen-
nos lucros. E o objeto do projeto que apresentei, e foi fatizar o planejamento central, visando a harmonia das
aprovado pelo Senado, é eliminar os encargos, por exem- atividades econômicas. A harmonia tem que resultar das
plo, de Pís, Pasep, Imposto de Renda e outros encargos forças do mercado. Na realidade, o mercado tende a ser
eventuais, que desestimulam as empresas na promoção desarmônico, mas se corrige com movimentos contínuos
dessa medida muito útil para o aumento da produtividade, e dinâmicos A harmonia planejada implica habitualmente
para o aumento do grau de participação social, que é a em magnífícar erros a partir da autoridade central.
participação eventual nos lucros.
O ilustre Constituinte não chegou a comentar no artigo
Surge, também, um problema que foi enfrentado quan- em causa, mas, na página 3, ele fala em monopólio e reser-
do se quis regulamentar o artigo relevante da Constituição, va de mercado criados em lei. A expressão "reserva de
que é, se não me engano, o art. 165, que é o fato de que mercado" me provoca uma alergia assaz profunda. Reserva
há empresas deficitárias, 'cronicamente deficitá-rias, quase de mercado é a coisa mais antidemocrática que se pode
que vocacionalmente deficitárias. Um grande número de conceber. Reserva de mercado é equilavente à cassação
empresas públicas estão nessa categoria. Os metrôs, as de direitos. Nós falamos, com horror, da cassação de direi-
ferrovias, o Lloyd Brasileiro, por exemplo, são cronica- tos no plano político. Ora, a reserva de mercado é uma
mente deficitários. Como se falar em participação nos cassação de díreítos no domínio econômico; significa,
lucros? Foi por isso que o Ministro Delfim Netto, poste- SImplesmente, que um burocrata, em Brasília, decide quem
riormente, como uma fórmula de adaptação, criou o PIS/ pode e quem não pode produzir. li: o que está sucedendo,
Pasep que, na realidade, era uma forma indireta de parti- por exemplo, em toda área da Informática. O cidadão
cipação dos lucros, através da constituição de um fundo que não é abençoado pela SEI tem simplesmente cassado
comum, obtido através de contribuição de empresas, para o seu direito de produzir, ainda que ele esteja há muito
atender ao caso genérico de empresas não lucrativas. Aí, tempo estabelecido no País. Eu acho que o que deveríamos
então, a participação no Pis e Pasep índepende, a rigor, Incluir na Constituição é o contrário, é a defesa do direito
do grau de lucratividade da empresa. É um impulso ela democrático de ;produzir, cassando-se o direito de reserva
empresa. A desvantagem do sistema é que obviamente de mercado.
90 Segunda-feira. 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) "- Gostaria de discutível, porquanto a formação do PIS/Pasep se faz
esclarecer à Casa que talvez fosse interessante nós come- através de contribuições parafiscais transferidas à socie-
çarmos uma tradição: a contradita poderá ser feita sem- dade, como ele mesmo reconhece, de modo que não cons-
pre, uma única vez, por 10 minutos, como se prevê no tituem, de fato, uma participação no excedente econô-
Regimento do Senado, de forma que isso organizaria as mico gerado pela empresa, e sim numa forma de onerar
discussões. os consumidores, cobrando-lhes a mais para poder formar
Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Luiz Salo- esse fundo que, de resto, não corresponde ao objetivo so-
mão, por 10 minutos. cial da busca da eficiência, da busca da criatividade e
da produtividade.
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Muita Na questão da função social, eu me permito também
obrigado, Sr. Presidente. Eu gostaria de falar sobre os discordar do nobre Senador, quando S. Ex. a imagina que
comentâríos do nobre Constituinte Roberto Campos, agra- a função social da propriedade é proteger o indivíduo do
decendo-lhe a consideração e a generosidade com que Estado. É claro que a propriedade territorial .rural, por
ele examinou a minha proposta, dizendo, desde logo, que exemplo, que é descumprida, é aquela propriedade que
concordo com S. Ex. a quando. se refere ao baixo grau de não gera empregos, que não gera produção de alimentos
definição da expressão "justa remuneração" e da neces- ou de matérias-primas industriais extraídas da terra, que
sidade de associá-la à produtividade. Numa versão inter- não gera impostos, enfim, que não permite que nada me-
mediária, que posteriormente abandonei, fazia menção a nos que 12 milhões de brasileiros vivam em busca de um
essa questão da produtividade, mas levei em conta o fato pedaço de terra para produzir e para morar. Esse é um
de que a questão da justa remuneração, a questão do caso flagrante de injustiça social, meu caro Senador, de
salário haverá de ser tratado na legislação ordinária, on- gente que quer produzir, de gente que tem valor, de gen-
de, evidentamente, a questão da produtividade haverá de te que poderia perfeitamente ter uma existência digna e
ser considerada como um dos referenciais para a quali- que não tem acesso à propriedade da terra. Porquanto
ficação da justa remuneração. Sobre a sua visão cética os institutos que presidem a detenção da propriedade da
da justiça social, confesso que não consigo ter esse tipo terra são profundamente injustos e antidemocráticos.
de sentimento ou impulso, quando examino o quadro de
injustiça social neste País. A minha experiência não é O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Há o
tão longa quanto a do nobre Constituinte, mas não posso Estatuto da Terra ...
deixar de confessar as marcas que adquiri na minha pú- O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMAO - V. Ex.a
blica experiência como Secretário de Obras e do Meio sabe que esta é mais uma lei que não pegou, porquanto
Ambiente do Rio de Janeiro, quando tive oportunidade apesar do seu esforço de rormulação brilhante não só
de verificar que num Estado melhor dotado de infra-es- do ponto ide vista técnico e econômico, mas também brl-
trutura urbana, sobretudo saneamento. as condições de lhante do ponto de visita ideológieo, o Estatuto da Terra
vida de nosso povo mais sofrido estão abaixo dos padrões servhn apenas IJa:ra aumentar o grau de 'concentração
mínimos de dignidade humana, em termos de habitação, da propriedade da fieTra e, também, juntamente com o
em termos de acesso aos serviços públicos e coisas que Estatuto do Trabalhador Rural, o número de párías que
tais, sem contar com uma larga faixa da população bra- vivem no campo brasileiro.
sileira - e tive oportunidade de conviver, como certa-
mente o nobre Constituinte deve ter tido - que sequer Sobre a questão do planejamento, V. Ex. a , que foi o
atingiu esse patamar. Um economista meu amigo, que por Ministtro do Planejamento que mais projetou essa ativi-
sinal é amigo comum do Constituinte Roberto Campos, dade depois do golpe militar de 64, eu gostaria de lembrar
chamou de "quarto extrato" aquele cidadão Ou aquela ci- que falamos aqui em planejamento democrático e, infeliz-
dadã que dificilmente pode ser caracterizado como por- mente, não, reconhecemos esse atributo, na atividade de
tador da cidadania em vista da sua marginalização, em planificação desenvolvida a, partir de 64. Acho que ele
vista da sua impossiblidade de acesso à cultura, à edu- tem característâeas muito próximas das tentativas, da
cação, à saúde e àquelas condições mínimas de existên- União Soviética, através do seu Gosplan, de formular
cia. Eu só discordo do Constituinte quando atribui isso metas econômicas e sociais sem consulta à própria socie-
à desigualdade dos seres humanos e não reconhece que dade. Acho que o exemplo do trabalho desta Constituinte
há fatores sociais determinantes dessa condicão de vida é um exemplo a ser seguido na formulação dos planos
diferenciada. Não é a falta de atributos pessoais, de carac- naeíonaís de desenvolvimento, os planos de desenvolvi-
terísticas individuais. Tem gente de muito valor que se- mento eeonômíeo-socíal, completamente diferente da estó-
quer tem oportunidade de mostrar os seus valores por ria dos PNDS.
causa das estruturas sociais injustas que marcam a rea- Sobre a reserva de mercado, meu caro Senador Oüns-
lidade brasileira. tituinte, tenho certeza que V. Ex. a não tem nada de ingê-
Sobre a sua ponderação na questão da participação nuo, e sabe perfeitamente que a, proteção da indústria,
de grupos, é claro que só se pode participar daquilo que a proteção Ide várías atãvldades se faz através de instiJtu-
existe. De modo que eu não recorreria à palavra "even- tos, como as tarifas aduaneiras, como formas de tributa-
tual" participação dos lucros, porque essa eventualidade ção várias, que podem eríar barreiras contra a competição
seria quase sempre utilizada para justificar a não aber- internacional de competidores muito mais fortes, muito
tura do capital das empresas à participação dos traba- aptos a desestruturar' a incipiente indústria nacional: o
lhadores no lucro das empresas. dumping, as formas de correspondência predatória que
todos conhecemos, que estão nos manuais, são formas de
Esta é uma questão que empresários inteligentes, em- tolher o desenvolvímento da indústria nacional em inú-
presários progressistas têm encarado com muita oportu- meros setores.
nidade. E têm aberto a participação dos grupos não por
imposição legal, mas porque reconhecem que esta é uma V. Ex.a se rerertu à informática, mas se poderia men-
forma de interessar mais os seus empregados nos seus ne- cionar aqui a bíoteenoíogía e a química fina, como setores
gócios e, daí, extrair produtividade mais elevada, sem ne- que estão necessitando de cobertura desse ínstícuto de
cessariamente comprometer a sua folha de salário. O ar- proteção, para efeito de permítíe um desenvolvimenrto
gumento de que o PIS/pasep supriu esta deficiência da nacional de uma rorma relativamente protegida da con-
organização de atividades econômicas é um argumento corrência internacional. Isto, naturalmente, por prazo
Julho de 1987 DIÃRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 91

limitado e 'com controle da sociedade. Por isso prevejo capitalismo que convivam 'com outras formas de produção,
a necessidade de uma autorização legal, de uma anuência até mesmo com o 'Capitalismo de estado, que era a forma
do Congresso Nacional para a instituição da reserva de que estaria ímplícíta nisso, numa convivência entre o
mercado. Muito obrigado. capitalismo da livre empresa e o capítalísmo do estado
como forma de convivência num mesmo tempo, esse
O SR. PRESIDENTE (Delfim Neto) - Concedo a pala- assunto não me parece que mereceu dos nobres compa-
vra ao ilustre Relator. nheiros constétuíntes um debate mais aprorundadc e tal-
O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna) - Si". Pre- vez ele volte 'a ser objeto de nossas consíderações em
sidente, o termo de referência que a Casa adotou para outra reunião.
as nossas discussões nas reuniões temáticas previstas, Enfim, a forma socíalísta da produção, para não vol-
evidentemente não se esgotou nessa primeira reunião. tarmos àqueles modos mais antigos, reportados na litera-
A pedido do nobre Constituinte Luiz Salomão, poderia tura econômica, talvez fosse uma das formas. E a Consti-
se incluir o problema, por exemplo, da dívida externa e tuição é tão livre para tomar decisões que é bem possível
da dívida interna nesse tema. Todavia, nenhum dos que, na 'Consciência de alguém, se retorne a um modo
S1's. 'constituintes quis usar da palavra. escravista de profissão, quem sabe, ou alguma forma
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALoMÃO - Para um parecida.
esc1arecimento. Como o tempo é exíguo, e essa é a prímeí- Este é um dos pontos, Sr. Presidente, que me parece
ra reunião eu preferi me cingir à primeira proposta que que valeria insistirmos para um aclaramento, porquanto
era a do p,apel do estado, atendendo 'assim ao item_ B-l. essas discussões não se farão aqui. Eu quero ser inclusive,
Na oportunidade própria poderemos tratar da questao do na Comissão de SistemllJtização, a pessoa que leve >O con-
capital estrangeiro e da dívida interna. tradiltõrio desta subcomissão. A visão, por exemplo, que
O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna) - No que têm companheíros sobre a própria constituição da Comis-
diz respeito aos sistemas novos de produção, era de se são de Sistematização, que não estarão ali presentes para
esperar que o nobre Constituinte Wladimir PalmeiiI'la usas- Levar o seu pensamento. O contraditório é preciso que
se a palavra para defender o modo de produção específíca, lá exista, que possa aparecer como repercussão das dis-
tal como o nobre Constituinte Roberto oampos, invocou cussões nesta subcomissão.
o modo de produção asiáeíco, corno uma forma mü?erna O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Concedo a pa-
defendida pelo povo chinês, retornando às suas origens. lavra ao nobre Constituinte Roberto Campos.
Mas infelizmente os 81'S. eonstãtuíntes não disseram nada,
nest~ primeira r~união, na extensão do que gostaríamos O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Serei
de ouvir, palra a formação do nosso pens_amento com breve, Sr. Presidente. Apenas para dissipar uma impressão
respeito à média de opiniões da subcomíssáo. que possa ter pairado no ambiente de que meu caro amigo,
Constituinte Virgildásio de Senna, é amigo dos pobres e
Gostaríamos assim ao encerrarmos esta reunião, de de que os liberais como eu não o são. Não se trata disso.
tecer alguns 'co~entári~s que me parecem pertinentes à Eu acho é que devemos ser prudentes no uso de vocábulos
matéria. para não gerar expectativas exageradas que agravem, na
Primeiro a discussão de um ponto que tem sido objeto realidade, a tensão social, porque ela pode provir de um
de muitas considerações, 'aqui e alhures, que é o conceito descompasso entre aspirações e satisfações. O que a socie-
de justiça social. O nobre oonstítuínte Roberto Campos, dade pode prometer a todo mundo é norma justa de oon-
insistentemente tem coloeado a subjetividade deste con- duta. Segundo, o Estado deve ter como um seu princípio
ceíto, Mas parece-me que deveria ser colocado - na orientador a oferta de oportunidade, tanto quanto possível,
minha visão pessoal - para nós, entre aquelas eoísas que equivalentes. Apenas isso. Não pode prometer igualdade
se diz que se Euclides estivesse discutindo os seus !postu- de resultados, porque isto depende da combinação peculiar
a que se referia Maquiavel e Fortuna.
lados, não teria prestado à 'civilização os grandes avanços
que permitiu. Porque a discussão de 'Conceitos 'como este Uma das razões por que a sociedade brasileira, se qui-
impregnam toda a consciência da coletividade, que faz sermos usar o termo, é injusta - eu preferiria usar o
com que a nossa civilização tenha perfeita conseíêncía, termo ineficaz - é exatamente porque o Governo extra-
Ê corno uma daquelas coisas 'a que Santo Agostinho se vasa para funções que melhor poderiam ser realizadas pela
referia em relação à luz: "Se me perguntam o que é a empresa privada e neglicencia o seu dever básico que é o
luz, eu já não sei o que é a luz, mas eu sei que sei o de oferecer oportunidades em termos de acesso à educa-
que é a luz." Eu sei o que é justiça social, eu sei o que ção, acesso à saúde e saneamento, habitação, enfim, os
é viver abaixo do mínimo da ,digni:da,c!:e humana, eu sei bens públicos sociais. Quanto mais o Governo procura agir
o que é condenar-se pessoas a viver em 'condições subuma- como um promotor da industrialização, mais ele "agrava"
nas, em condíções de fome, de prostituição, de 'abandona, a injustiça social, porque ele não tem recursos para as
de doenças, enfim, tudo aquilo que constituí "pinta" e duas tarefas, e a tarefa de oferecer iguais oportunidades
nos remete 'ao quadro de injustiça social. Por isto é que aos cidadãos e a tarefa de liderar a industrialização.
eu acho que a subcomissão tem - e aeredlto todos os
seus membros têm - uma visão clara, claríssima a res- Por isso, favorece, humanamente, a concentração do
peito do que é justiça social e injustiça social, e não se Estado na tarefa básica de oferta de oportunidades tanto
deve ,permitir 'a discussão, de conceitos que não aerescen- quanto possível iguais a todos os cidadãos e a edição e
tarlam nada à formulação contitucional que queremos observância de normas justas de conduta. Os resultados
ver a serviço da nossa coletividade, da nossa gente, da sempre serão consíderados Injustos por aquelas parcelas
nossa libertação da miséria. da sociedade que não atingirem o nível de excelência, Elas
sempre considerarão esse resultado injusto. Para se do-
O problema de remuneração justa, de salário justo, cumentar melhor o relativismo dessas expressões justiça
guarda relação, no meu entendimento, com justiça social social, consideremos o seguinte caso: o governo polonês
_ um é a eontrapaete do outro. No instante em que considera que ao privar o Sindicato Solidariedade do díreí-
admítímos - e está aquí 'como uma interrogação, que to de reivindicação, não está fazendo uma injustiça social.
tálvez fosse pertinente discutir. O nobre Constituinte Ro- Acha que está fazendo justiça social porque esses elemen-
berto Campos parece que não aceita muíto as formas de tos são detrímentosos ao ideal da sociedade comunista.
92 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Quando a nomenclatura soviética se apropria de inú- discussão acadêmica e lutando para que possamos atingir,
meros benefícios, ela não considera isso uma injustiça realmente, não s6 a melhoria, mas o atendimento e a gera-
social, ela considera uma remuneração justa e devida à ção de empregos em todo o Brasil. Eu faço um apelo aos
vanguarda partidária que abriu caminho e espaço para a Constituintes para que sejamos práticos nessa discussão.
revolução. Obviamente, aqueles milhões de cidadãos que Ontem mesmo participei, aqui, da audiência pública. Con-
não têm acesso a essas vantagens, considerarão essa situa- fesso que pouco aprendi ou pouco lucrei com essa audiên-
ção profundamente injusta. É preciso, por isso evitar, tanto cia. Então, acreditamos que, a partir do dia 6, com a ela-
quanto possível termos equívocos. Eu nunca objetei, para boração do projeto, do boneco, formado pelo Sr. Relator,
me referir aqui a um comentário do Luiz Salomão, à pro- com todas as sugestões encaminhadas à Mesa da Consti-
teção aduaneira, apenas eu não acho que proteção adua- tuínte, possamos definir e discutir cada assunto com prati-
neira para a indústira nascente seja reserva de mercado. cidade para que tenhamos e possamos apresentar à socie-
No Brasil, o que se entende por reserva de mercado é o dade um documento transparente que atenda aos objeti·
licenciamento, por um agente burocrático, volátil e capri- vos maiores do povo brasileiro.
choso, do direito de produzir. Tudo o que se quiser fazer E acredito que justiça social não tem cor partidária
via direitos aduaneiros, enquanto a indústria for conside- e todos nós lutamos por isso e o Brasil merece o nosso
rada uma indústria nascente, eu acho perfeitamente razoá- esforço no sentido desse resgate dessa dívida que é imensa,
vel. Aliás, o meu projeto de informática, parado no Sena- que é conjuntural, ditada por problemas nacionais e inte~­
do, dormindo o sono dos justos, prevê uma proteção de nacionais, mas que nós temos o dever de encontrar o cami-
até 200 por cento - que é uma proteção absurda - adua- nho, sem ficar repassando o passado nem ficar acusando
neira, para a Indústria Nacional de Informática. Com duas quem quer que seja, mas encontrando e unindo as forças
condições: primeiro que essa proteção seja declinante no no sentido do futuro. N6s temos que ter a responsabílída-
tempo, cada 5 anos seria revista no sentido descendente. E, de de encontrar esse caminho, do contrário, n6s seremos
segundo, que a essa proteção correspondessem certas obrí- julgados amanhã por discussões acadêmicas que se perde-
gações das empresas beneficiadas. ram no espaço vazio.
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obriga- O SR. PRESIDENTE ('Delfim Netto) - Muito obri-
do. Com a palavra o Sr. Constituinte Ismael Wanderley. gado. Eu esclareço à Subcomissão que estamos usando o
O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY - Eu regulamento que aprovamos, de forma que cada orador
só pode usar a palavra uma única vez, por 15 minutos e,
gostaria de lembrar aos Constituintes da nossa grande res- como eu disse, na contradita, por 10 minutos. Passo a pala-
ponsabilidade em face das propostas em elaboração na vra ao ilustre Constituinte Vladimir Palmeira.
Subcomissão àqual pertencemos. O que nós vivemos, ho] e,
no nosso Brasil, e que já foi frisado e todos estão de acor- O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA - Pri-
do, é que precisamos de alterações no nosso modelo econô- meiro, o Virgildásio gostaria, certamente, de ter uma dis-
mico que venham a atender essa grande maioria de desam- cussão teórica sobre socialismo; no entanto, apesar de
parados, de marginalizados. nós do PT, sermos até acusados de precipitados, não cai-
ría~os nesse equívoco, que era de colocar o socialismo
Mesmo como Constituinte do PMDB, eu não concordo, não por decreto, como faz o Governo Federal com algumas
por exemplo, com o volume de recursos que é destinado outras coisas, mas numa Constituição como se caísse do
ao assistencialismo, de uma forma à da rede, de uma feírí- céu. O socialismo nasce de um amplo movimento social,
nha, supondo-se atender a problemas sociais, sem entrar na concentração do movimento dos trabalhadores e enfren-
no âmago da questão. Defendo, para a região nordestina, tamento social, num processo que exige que a classe tra-
principalmente, porque a conheço, que não podemos deixar balhadora esteja em condições de tomar o poder.
de ter a intervenção do Estado e a empresa pública defici-
tária, se necessário, mas desde que atende aos problemas Ora, isso não parece infelizmente estar próximo no
sociais urgentes que nós vivemos na nossa região. Brasil, de forma que o nosso Partido quer, diante da situa-
Ora, o que eu proponho é que sejamos práticos, que, ção de desigualdade, de injustiça que sofre o povo brasi-
longe das discussões acadêmicas, possamos encontrar os leiro, tentar ver se colocamos algumas reivindicações que
caminhos para que alcancemos essa justiça social, que ê garantam ao trabalhador brasileiro, pelo menos, o que
alguns trabalhadores já conseguiram nos países capitalis-
uma preocupação, acredito, de todos os Constituintes pre- tas mais adiantados. Temos, portanto, pretensões mais
sentes. Se elaborarmos de forma prática e dirigida, de modestas a curto prazo, embora também não confunda-
maneira a alcançarmos esse resultado, nós estaremos cum- mos o socialismo com a economia estatizante da União
prindo o dever e correspondendo à expectativa e à esperan- Soviética, da China e dos países burocratas. Nós temos
ça, que é muito grande, de todos em torno dessa nova uma visão nossa de socialismo, que passa evidentemente
Constituição. Até porque, o povo, na SUa maioria, espera pela socialização dos meios de produção e, no entanto,
um milagre disto aqui, e não terá o milagre. não equivale isso à defesa do que hoje se passa na União
Não será a Constituição que vai lhe dar casa, comida, Soviética, nem o que se passou antes e nem o que se passa
pão. Mas nós precisamos estabelecer pelo menos a respon- exatamente agora. Quer dizer, há um fenômeno mundial
bilidade de metas definidas, de um plano definido na área da economia estatal que tem que ser tratado como tal,
econômica que possa gerar recursos, empregos, e que a no seu funcionamento, no seu mecanismo, nos seus obje-
aplicação desses recursos seja feita de uma maneira coesa, tivos, mas que não corresponde ao que a doutrina socia-
com uma destinação pr6pria. lista colocou como objetivo. As revoluções deste século,
contrariando o pensamento de Lenin, pensar que este sé-
Hoje, n6s temos, em todos os Ministérios praticamente, culo seria o da revolução proletária, na verdade este
um Departamento de Assistência Social. Seja no Senai, século foi de revoluções nacionais, só que fora da Europa,
seja no Ministério da Agricultura, no Ministério da Previ- como a Europa sempre raciocinou a partir dela, conside-
dência Social, enfim, a da LBA, todos eles se superpondo rou encerrada a etapa da revolução nacional ,e colocou que
numa entrega e numa distribuição de alimentos, de comi- a moda seria a revolução internacional, socialista e prole-
dinhas aqui, de uma rede ali, e sem atingir o âmago do tária. O exemplo mostra que foram revoluções de caráter
problema social. nacional, e que essas revoluções, apesar de gerarem uma
Nós temos que definir uma postura que venha resga- economia num País, uma sociedade, um tipo de vida que
tar essa dívida social de forma objetiva, clara, fugindo da não é exatamente o nosso objetivo, tiveram um impacto
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 93

importante no mundo, e, inclusive, em certos casas, sendo ca se estatizaram tanto. Foi um processo evidente de esta-
efetivamente mais produtivas do que o capitalismo para tízação também da economia de intervenção do Estado.
os países subdesenvolvidos. O Estado hoje não é mais um fator, não é um árbitro da
atividade econômica, ele é um agente econômico, é aquela
É evidente que se a gente comparar aqui o crescimento história de você pegar um agente econômico em que o
das economias estatais, até uma certa fase, quando a eco- Estado era um árbitro só voltado para a justiça social,
nomia se torna mais complexa e o País cumpre o primeiro para a garantia de igualdade ou oportunidade, é um retrato
ciclo de industrialização, boa parte dos países que opta- do passado. Então nós queremos é que se reconheça na
ram pela economia estatal tiveram resultados econômicos Constituição o que é evidência, que um Estado é um
muito mais produtivos e efetivos do que os países que agente econômico, e que pode impulsionar pelos mais dife-
permaneceram com capitalismo que se caracterizou pela rentes ramos da economia, sempre se comparando se
dependência, pela incapacidade de crescer autonomamente aquela intervenção é necessária ou não. Mas eu não quero
e pela subordinação e interesses multínacíonaís que se separar aqui e nem dizer que a atívídade do Estado é
formaram e que, de fato, ditam as regras do jogo, a nível complementar, o Estado é um agente econômico, como
internacional. as empresas privadas e a intervenção do Estado deve ser
De forma que essa economia tem que ser cobrada a medida em função das necesidades SOCiais e do regime
seu modo, a União Soviética a partir dos anos 60, por num determinado momento.
exemplo, tem problemas de evidente produtividade, a taxa Portanto, queremos que a intervenção do poder pú-
de crescimento da produtividade da União Soviética come- blico não seja considerada um negócio extraordinário. E.
ça a declinar e começa, realmente, a criar a nível seme- ontem, inclusive, assistimos algumas demonstracões ele
lhante ao dos amerícanos. Mas até aí ela tem uma taxa pode ser retirado em determinado setor, ele pode e~trar
altíssima de crescimento da produtividade, como também num setor novo, sempre que se julgue conveniente do
ocorreu com os próprios países capitalistas no momento ponto de vista do desenvolvimento econômico.
em que davam o grande salto industrial.
Dessa forma, sem também negar os avanços que essas Eu acho que esse é um fato importante, não se pode
economias representaram e as garantias que as revoluções voltar atrás, a intervenção do Estado é inelutável. E o
deram de independência nacional, pelo menos no primeiro que nós podemos tazer é, de um lado, controlar e, de
momento, e sobretudo lá onde houve revolução, não me outro, separar o Estado como empresário efetivo nos se-
refiro à Europa oriental, onde a revolução não exístíu, foi tores tradicionais de produção e, com aquela produção de
ocupação, por parte da União Soviética, mas onde houve serviço ao estilo de Educação e de Saúde, que ao mesmo
revolução, sem dúvida, o Vietnã hoje é mais independente, tempo em que alguns diziam para não limitarmos o Es-
a própria Cuba é mais independente do que era antes, e tado, naquele setor que é seu em redistribuição, de jus-
essa revolução chegou a esse fim, embora não se misture tiça social, que defende que a iniciativa privada tome
com o socialismo, mas eles deram o caminho de permitir conta da educação, da saúde, de serviços tradicionais que
a seus povos ascender a um padrão de vida muito maior o Estado deveria oferecer.
do que países similares que permaneceram num capíta- Eu tenho uma proposta em relação a esse serviço,
lismo nessa fase. eu diria que era preciso separar o conceito estatal do
conceito público, a proposta do nosso partido coloca que
Então, para mim, trata-se, aqui, não de defender a escola deve ser pública gratuita, mas que ela não deve
exatamente o socialismo que eu quero, embora eu já tenha ser estatal. O termo estatal, com uma série de prestações
um pequeno livro que se chama "União Soviética a de serviços no Brasil, tem se confundido freqüentemente
Socialismo Misto", onde eu tento começar a colocar que com um regime ineficiente com cabide de empregos, com
visão eu tenho do processo de transformação social mais empreguísmo desbragado, E nós temos uma visão com-
radical que a nossa sociedade necessita. pletamente d~ferente, nós não queremos que o serviço pú-
No momento penso que nós devíamos discutir o inte- blico seja tratado como um instrumento eventual de po-
resse do trabalhador à luz do que é o capitalismo moderno líticas imediatas de Governo. Nós queremos, portanto,
e tentar obter essas reivindicações à luz, não de fantasmas uma educação, por exemplo, que além de ser pública e
do passado, mas as tendências modernas que o capitalismo gratuita seja democrática.
tem. Nós defendemos que a comunidade na escola escolha
E nisto eu queria dizer que nós tínhamos que levar a sua própria direção; da mesma forma, na saúde, de-
em conta, primeiro, que esse negócio da economia de penda de eleições diretas para diretores de hospitais de
mercado é um mito. Fiquei chocado com a elite empresa- postos de saúde, com a participação da comunidade, mas
rial brasileira que chega aqui, com a exceção da inter- ao mesmo tempo para que não prefigure isso um espí-
venção mais substanciosa do representante da fundação, e rito meramente corporativo, com a participação das asso-
coloca coisas absolutamente contraditórias. Defende a li- ciações dos usuários na direção desse tipo de entidade.
berdade de mercado e pede a intervenção do Estado para E subordinar qualquer tipo de intervenção numa escola
defender a pequena e média empresa e, inclusive, para menos eficiente, num posto de saúde menos eficiente ao
ajudar a pequena empresa em dificuldades, se por acaso Poder Legislativo e não mais ao Poder Executivo. O Po-
há um processo de monopolização no setor econômico, der Executivo para poder fazer uma intervenção em uma
mas essa é uma coisa completamente ultrapassada. Hoje, unidade dessas, teria que contar com a aprovação do Par-
tem-se uma visão completamente liberal, mas quando colo- lamento, nacional e regional.
cada a intervenção efetiva do Estado e na regulação da
economia pelo Estado, exige a proteção do Estado para Dessa forma quero primeiro começar a separar isso,
ajudar a pequena empresa em dificuldades, se por acaso e em segundo lugar subordinar a atividade empresarial,
não conseguem atravessar o processo de concorrência. no sentido mais estrito do Estado, de um lado, o Parla-
mento. De outro, a participação maior também da comu-
Hoje, em todo o mundo, ao mesmo tempo em que se nidade de trabalhadores de uma empresa estatal. Isso per-
verifica um processo, como descrito pelo Professor Rober- mite um julgamento sobre a racionalidade econômica e
to Campos, de uma certa liberalização, aparição de instru- social de criação de empresas. É evidente que algumas
mento de mercado, aferição através do mercado nos países empresas estatais representam um verdadeiro desperdí-
da economia estatal, os países da economia ocidental nun- cio, um absurdo. Todo mundo sabe que há empresas abso-
94 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

lutamente desnecessárias, e que privatizá-las é um ele- O homem é desigual. Todo verdadeiro socialista con-
mento óbvio. sidera que um indivíduo é diferente do outro e que não
De outro lado, a intervenção do poder público, inclu- há indivíduos iguais. Mas, trata-se de estabelecer um mí-
sive da reserva de mercado, revela-se uma necessidade nimo de condições de igualdade ou de pontos de partida
para que o País possa disputar, durante um certo tempo, para que a sociedade e os trabalhadores tenham condi-
durante um certo período, em condições de relativa igual- ções de mobilidade social, de as censo social, num capi-
dade - que, na Verdade, nem igualdade chega a ser - talismo pelo menos mais moderno do que temos hoje,
de começar a poder garantir que este País chegue a ser que é um capitalismo extremamente descriterioso, do
realmente um país em condições de disputar com as gran- ponto de vista da remuneração da classe trabalhadora.
des nações econômicas do mundo. Eu diria que há doís grandes problemas, aqui no nosso
Eu observei a interpretação do Professor Roberto capítalísmo. Primeiro é que ele, praticamente, não quer
Campos, quando dizia que quem foi tão zeloso dos direi- retribuir quase nada a quem cría, através do seu !trabalho,
tos políticos, não podia admitir a cassação econômica. a riqueza nacional. E de outro lado, um 'Capitalismo pre-
datórío em relação às riquezas naturais e ao meio ambien-
Eu não faria a deselegância de propor o processo in- te. São dois elementos que se nós pudéssemos pelo menos
verso, de quem participou nas cassações políticas, agora atenuar, satisfaríamos algumas ambíçõea que a. classe
se espantar com cassações econômicas. Eu acho que nós trabalhadora vem colocando. Tratando de meíhorar um
devíamos discutir, aqui, é se o mecanismo reserva de mer- pouco e de 'COnseguir essa reivindicação é que eu coloco
cado é até o melhor, ou se um outro tipo de política po- o meu mandaeo '€ pretendo colocar a intervenção desta
deria melhor proteger a implantação de uma indústria Comissão.
brasileira de informática. Mas acho que a reserva é um
dos elementos, e que não deveríamos ter preconceito em O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obri-
analisar e discutir a reserva de mercado, ao lado de ou- gado a V. Ex.a
tros instrumentos, inclusive alguns propostos pelo Pro-
fessor. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA -
Sr. Presidente, peço a palavra.
Finalmente, eu queria dizer que é evidente - eu
acredito em ética e, ao mesmo tempo, discuto a raciona- O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Infelizmente
lidade dos regimes da economia; da mesma forma que é impossível. Não podemos romper a combinação inicial.
nós estamos fazendo política, ao defendê-la há toda uma V. Ex. a já usou da palavra, Lamento muito, mas hoje
visão política também por trás do tratamento na ques- não será possível. Amanhã eu terei uma grande satisfação
tão econômica - acredito que há certos valores éticos. de lhe dar a palavra, como primeiro orador, na reunião
Ou justiça social ou alguma condição de vida digna, com de amanhã.
imperfeições, realmente, pois não é um critério de con-
ceitos científicos no sentido estrito, mas são conceitos que o SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA -
iluminam um pouco, para que sentido queremos que uma Para não perder a oportunidade, Sr. Presidente. Serei
sociedade vá. E me parece que, nisso, o Professor Roberto muito breve, só falarei três minutos.
Campos colocau a igualdade de oportunidade. E eu diria
que, sem entrar no negócio de igualdade e oportunidade O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Concedo 'a
ou na questão da justiça social, este Pais positivamente palavra ao nobre Constituinte.
não tem igualdade de oportunidades. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA -
Porque uma coisa é comparar pessoas do mesmo es- Apenas para, com relação ao conceito de valorização do
tatuto social que tiveram destínos semelhantes, por sua trabalho, discordar do ConstiiJuinte Luiz Salúmão, quando
capacidade ou pelos azares da vida, e outra coisa é com- ele quis explíeítar aquilo que consta no atual teXJto: o
parar um regime que é nitidamente desigual do ponto de teabalho como condição de dignidade humana, ele explí-
vista da partida. cita, através da [usta remuneração, da garantia de empre-
go e da melhoria das condíções de trabalho.
Aliás, não é só o caso do Brasil eu tive oportunidade
de morar e estudar, durante 6 anos, na Bélgica, e lá a O texto da Comissão Afonso Arinos apenas coloca a
desigualdade, não é vista. Por exemplo, pode ter um en- valorização do trabalho. Eu diria que ainda a melhor
sino gratuito. Filho de operário, pode chegar, lá na Bél- expressão me parece a do atual texto constitucional. Uma
gica e estudar. Mas vem de quê? Vem da família, vem vez que tivemos, apenas no ano passado, com o :Plano
da formação cultural, do fato do filho do operário ler Cruzado, a criação de cerca de 800 mil mícroempeesas
estórias em quadrinhos e que a grande aspiração da fa- o~ seja, esses trabalhadores não estão empregados, mM
mília operária aos 14 anos, começar a trabalhar e poder
é
sao trabalhadores, embora esses microempresários estejam
fazer o seu programa de fim de semana. Há toda uma sofrendo agora os ereítos do Cruzado Ir.
formação na familia. Uma família de classe média, uma
familia empresarial, tem, nitidamente vida superior à da Ao tentar valorizar a condição do trabalho, a exposi-
classe trabalhadora. ção 'do Constirtminte Luiz 8'alomão exoluíu aqueles traba-
lhadores que, não tendo vínculo empregatícío, não podem
Portanto, para mim, o Estado tem que ter um fator deixai' de ser considerados como trabalhadores, que são
que contraria as normas que o capitalismo tem, de au- os autônomos e os míeroempresáríos,
mentar a desigualdade. E o Estado teria que jogar ao Eu fico com a expressão "eom condição de dignidade
poder público um fator, para que essa desigualdade di- humana", que, aliás, figura no programa do meu partido.
minua. Não que haja uma posição de igualdade. Eu não
acredito que se crie isso, mas que se diminuam as con- Com relação à participação do grupo de co-gestão
dições de desigualdade, de forma a permitir que as famí- há aqui uma posição interessante, porque o Constituínt~
lias mais pobres, que os setores que saem da classe tra- Roberto Campos, ao tempo em que critica o instituto da
balhadora, tenham não a visão mítica de um Pelé, mas participação n~ }uCi!0s eventuais, ao mesmo iliempo, ele
condições de realmente, poder amanhã, terem um míni- reconhece a exístêncía do PIS e Pasep, que é uma inter-
mo de concorrência com aqueles que saíram nas famílias venção do Estado. Quer dizer, neste ponto ele é estatizante.
de classe média e das famílias ricas. E o Constítuinte Luiz Salomão é mais liberal.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 95

Eu fico com a posição da participação nos lucros, Lima, Joaquim Bevilacqua, Ronaldo Cezar Coelho, Afif
tãrando a intervenção do Estado, portanto, desestatízando, Domingos e Roberto Jefferson. Havendo número regi-
mas inserindo a partícípação nos lucros, e também o mental, o Senhor Presidente declarou ínícíados os traba-
instituto da co-gestão, pois estou propondo uma emenda, lhos e passou à leitura da Ata da reuníão anterior, que
no tocante à Previdência Social, a participação tripartite: foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se início ao
do empresário, dos trabalhadores e do Estado, na gestão Expediente que 'constou da leitura sumária das sugestões
dos recursos da Previdência Social. de números oitocentos e setenta e· quatro e novecentos
Esrtou de acordo com o incentivo às cooperatívas, às e dez, de autoria dos Oonstítuíntes Roberto Freire e outros
pequenas e médias empresas, pois acho isso extremamente e César Maia, respectivamente. Findo o Expediente, o
necessário para que nós capitalizemos o processo positivo. Benhor Presidente anunciou o debate de matéria consti-
tucional, do qual participaram os Senadores Constituintes:
Com relacão à reserva de mercado, acho que ela deve Renato Johnsson, Luiz Salomão, Irapuan Costa Júnior,
ser condícíonada. Nós temos o exemplo da Petrobrás, que Antônio Ueno, Gil César, Joaquim Bevílacqua, Roberto
por não termos condícíonado, não termos estabelecido Campos e Virgildásio de senna. Em explicação pessoal,
normas de recíproeídade, na verdade a Petrobrás, duran- usaram da palavra os Senhores Constituintes Robe,rto
te muitos anos ficou apenas importando, refinando e Campos e Luiz Salomão. O inteiro teor dos debates será
distribuindo petróleo e, só depois que houve o choque publicado, após a tradução das notas taquígrárícas e (J
do petróleo é que resolveu refinar, ·e descobriu que o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia
Brasil tinha petróleo sufícíente. E se nós deixarmos, pura Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o
e simplesmente, uma reserva de mercado - aí eu, em Senhor Presidente deu por encerrados os traba1:hos, às
parte, dou razão ao Constituinte Roberto Campos, por isso dezenove horas e quarenta e' um minutos, convocando os
que eu digo que sou ,pela reserva condicionada - se nós SenhoTes Constituintes para a próxima reunião a ser J.1ea-
deixarmos, pura e simplesmente, reservado para meia lízada amanhã, dia trinta de abril, às nove horas e trinta
dúzia de privilegiados, "amigos da Corte", a verdade é minutos, para continuação do debate de matéría consti-
que nó teremos fatalmente, 'como já está ocorrendo, uma tucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo,
falta de componentes inclusive para indústrias impor- SeCiretária, lavrei a presente Ma que, depois de lida e
tantes. Acho que neste passo podemos pegar o exemplo aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente.
japonês, em que há uma fixação de metas a serem atin-
gidas, sem a qual eles perderiam o privilégio dessa reserva
de mercado em alguns setores estratégicos ANEXO A ATA DA OITAVA REUNL\O ORDI-
NARIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCíPIOS GE-
Data venia, tenho que discordar do meu colega Ismael RAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA
Wanderley, quando disse que nós estamos fazendo uma PROPRmDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE
exposíção 'acadêmica, pois ele mesmo, nas suas colocações, ECONôMICA, REALIZADA EM VINTE E NOVE
manifestou uma clara intenção estatizante, ao reconhecer DE ABRIL DE 1987, AS DEZESSETE HORAS E
a necessídade das empresas estatais para a sua região, CINQ"ÜENTA MINUTOS, íNTEGRA DO APANHA-
para o Nordeste. Entretanto, não aeredíto que ele seja MENTO TAQIDGRAFICO, COM PUBLICAÇÃO
um adepto da estatísação da economia como um todo. DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR
PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUIN-
como se vê, esta questão de rotulagem de estatização TE DELFIM NETTO.
e desestatízaçâo, liberalismo e tal, nós temos que encarae
com muito cuidado, nesta Comissão, porque o Constituinte O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Havendo nú-
Roberto Campos é estatizante, no tocante à pax.ticipação mero regimental, declaro abertos os trabalhos desta sub-
nos lucros e, entretanto, o Constituinte Luiz Salomão comissão.
parece ser, nesse aspecto, mais liber-al e deixa às empresas
a partícípação nos lucros, evídentemente, melhorando a O Sr. secretário procederá à leitura da Ata da reunião
produtividade, pois se o empregado também participar anterior.
dos lucros ele dará maior produtividade. (É lida e aprovada a Ata da reunião anterior.)
Exa só, Sr. PJ:1esidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - A Presidência
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Vou encerrar recebeu e encaminhou ao nobre Sr. Constituinte Virgil-
esta reunião, não sem antes dizer que faremos uma dásío de Senna, Relator da matéria, as sugestões de
reunião da Subcomissão no mesmo local, amanhã cedo, n. OS 874 e 910, de autoria dos Srs. Constituintes Roberto
às 9 horas e 30 minutos. Freire e César Maia.
Está encenada a reunião. Esgotada a matéria do Expediente, concedo a palavra
ao nobre Constituinte Renato Johnsson.
(Levanta-se a reunião às 9 horas e 45 mínutos.)
O SR. OONSTITUINTE. RENATO JOHNSSON -
8.a Reunião Ordinária Sr. Presidente, os debates de hoje seriam a continuidade
dos princípios gerais?
Aos vinte e nove dias do mês de abril do ano de mil O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Exato.
novecentos e oitenta e sete, às dezessete horas ,e cinqüenta
minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu- O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON
se a Subcomissão de Príncípíos Gerais, Intervenção do Item b: a base do sistema econômico, sistema capitalista
Estado, Regime da Propriedade do Subso~o € da atividade e Iívee empresa ...
Econômica, soba Presidência do Senhor Constituinte Del- O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Exatamente.
fim Netto" com a presença dos seguintes Constituintes:
Delfim Netto, Gabriel Guerreiro, Gil Oésae, Virgildásio de O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON -
Senna, Antônio oaríos Franco, Raquel Cândido, Luiz Salo- Apenas para iniciar este debate de hoje" gostaria de men-
mão, Hélio Duque, Roberto Oampos, Rena.to Johnsson, cionar que no final de 1985 tíve oportunidade de fazer
Vladimior Palmeira, Irapuan Costa Júnior, Rubem Medina, um pronunciamento, nesta Casa, em defesa da iniciativa
Jalles Fontoura, Albano Franco, Antônio Ueno, Marcos privada. Pesquisando, para fazer este trabalho, 'Pude eons-
96 Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) ~ulho de 1987

tatar alguns dados que me parecem importante trazer a forma fundamentada, apenas na ideologia, de que a atíví-
esta Casa. É que 76% do Produto Interno Bruto de 1985 dade econômica deve ser desenvolvida preferencialmente,
estavam comprometidos pela dívida da União, dos Esta- quase que exclusivamente, s6 supletivamente pela empresa
dos e dos municípios com empreiteiros, fornecedores, estatal, dando um caráter de exclusividade à iniciativa prí-
juros, endividamento interno e externo. Isso representava, vada.
Sr. Presidente, cerca de 227 bilhões de dólares na ocasião. De modo que congratulo-me com o Constituinte Renato
Quer dizer, mostra que a participação do poder público Johnsson pela sua posição lúcida e clara. Talvez pudésse-
é uma participação bastante grande. Hoje, temos uma mos, então, avançar na questão do item B, onde se procura
economia praticamente estatizada, o que nos preocupa definir - este que me parece ponto crucial - os termos de
sobremaneíra, principalmente quando assistimos agora referência desse ponto do temário - o item B-2.6., no que
praticamente todos os governadores de Estado demitindo tange a definição da nacionalidade da pessoa jurídica.
funcionários. Já ouvimos falar na demissão de 20 mil
funcíonários que estavam ociosos em determinados Esta- O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR -
dos, em sociedades de economia mista. Isso mostra que Permite V. Ex.a um aparte?
efetivamente é na livre iniciativa onde a competição, a O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMãO - Pois não.
capacidade gerencial, o poder de eliminar cargos e fun-
ções supérfluas e d-eficitárias faz com que a economia O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JúNIOR -
prospere, faz com que 'Os resultados efetivamente sejam Não quero interpretar o pensamento do Constituinte Rena-
aplicados numa atividade produtiva justamente por essa to Johnsson, mas acho que S. Ex. a prega justamente uma
capacidade de eliminar os cargos e funções supérfluos e menor intervenção do Estado na economia, principalmente
derícítáríos, fazendo com que a economia prospere, avance no que diz respeito à atividade que pode ser exercida pela
e tenhamos bons resultados. empresa privada do que aquela que temos atualmente no
País. O que aliás não é novidade, porque até mesmo os
Então, gostaela que fícasse registrada esta minha países mais estatizados estão hoje em regime de autocrí-
posição, no sentido de que o mtervencíonísmo do estado, tica, estão reclamando da sua posição estatizante.
a partícípação do estado, seja efetivamente na área eco-
nômica, que o Estado cumpra a sua função principal que O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Gostaria de
é a de prover, prestar servíços nos campos da educação, esclarecer ao Plenário que estamos na hora da exposição,
da saúde pública, da segurança pública e da, justiça. e o orador tem direito a 15 minutos para expor. Cada um
Assim, que a intervenção na área econômica seja efetiva- dos participantes tem direito a uma contradita de 10 minu-
mente supletiva, apenas quando ficar efetívamente com- tos, como acertamos ontem, uma única vez. Gostaria que
provada esta necessidade da Intervenção no dominio V. Ex. a prosseguisse.
econômico. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Pois não.
Agora, somos favoráveis, ao monopólio estatal do pe- Não concederei mais apartes.
tróleo. Registramos a nossa posição e foi aprovado pelo De modo, Sr. Presidente, que na proposição que nume-
Congresso. Mas, dezenas e dezenas das socledades de rei como O-E-2, procurei formular uma definição de empre-
economia mista foram criadas sem aprovação legislativa, sa naeíonal, diferente daquelas apresentadas pela Subco-
na União, nos estados e nos munícípíos, fazendo com que missão dos Estudos Constitucionais, que visa exatamente
hoje tivéssemos praticamente uma economia estatizada; caracterizar melhor o que é uma sociedade controlada pelo
os dados de 76 e' 77 não tenho. Mas, esses de que 76% interesse nacional. E, aí, fugi em parte daquela definição
do Produto Interno Bruto de 1985 estavam comprometídos que já foi acoimada de despautério pelo Constituinte Ro-
pela dívida da União, Estados e municípios é certamente berto Campos, contida na Lei de Informática n.O 7.232, no
preocupante. Muito obrigado. (Muito bem! Palmas.) seu art. 12, no sentido de abarcar também as sociedades
civis, aquelas que não são sociedades de capital; são co-
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a merciais, porquanto aquela lei se limitava a esse tipo de
V. Ex. a sociedade. De modo que estamos propondo que seja enten-
Concedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Sa- dida por empresa nacional aquela que é controlada por
lomão. pessoa física, domiciliada e residente no País; portanto,
pode ser uma pessoa nascida no exterior, no estrangeiro,
O SR. CONSTITUINTE LUIZ :SALOMAO - Sr. Pre- por outra empresa nacional e por pessoa jurídica de direito
sidente, pergunto se ainda estamos 'restritos ao item B-1 público interno. Entendemos que o controlador, a pessoa
ou se já podemos avançar no item B-2? natural e jurídica ou grupo de pessoas vinculadas por
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Podemos avan- acordos ou sob controle comum, que é titular de direitos,
ç8!r no item B-2. que de qualquer forma lhes assegurem de modo perma-
nente e incondicionalmente a prevalência da vontade nas
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Inicial- deliberações ou na escolha dos administradores da empresa.
mente, Sr. Presidente, quero congratular-me com a posição Isso me parece relevante, porquanto não s6 é a definição
do Constituinte Renato Jonhsson que, ao fazer aqui a dete- da Lei de Informática, como aquela apresentada pela cha-
sa da economia privada, colocou uma posição que me pa- mada Comissão Afonso Arinos.
rece a mais democrática, e que tentei defender ontem, mas Uma empresa controla a outra sem dela participar do
com o atropelo do tempo, talvez coubesse repisar a minha capital de contratos de assistência técnica. O exemplo mais
posição no sentido de que, na minha opinião, o nosso País claro disso é o da TV Globo, que diz qual é a cor da grava-
já consagra a convivência da empresa estatal e da empresa ta ou o sotaque do apresentador do telejornal de uma
privada. O que me pareceu mais simpático na intervenção emissora do Nordeste ou do Norte sem dispor de um cruza-
do nobre Constituinte Renato Johnsson é exatamente a do sequer do capital dessas sociedades.
visão que coincide com a minha, de que cabe ao Congresso
Nacional estabelecer a divisão de áreas; quais são as fron- Em segundo lugar, que use efetivamente esse poder
teiras que devem ser respeitadas pelo Estado e pela íní- para eleger os administradores e dirigir as atividades da
ciativa privada, contrapondo-se assim, de maneira muito empresa, de modo que não basta ter titular: é preciso que
positiva, à posição aqui defendida anteontem, por alguns use efetivamente esse poder. Em terceiro lugar, que exerça
painelistas no nosso primeiro painel. E afirmam de uma de direito de fato, o poder de gerar, desenvolver, adquirir,
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 97

transferir e variar a tecnologia de produtos em processo da dívida externa correspondem à União ou às empresas
de produção, que é um ponto antecipadamente questiona- por ela controladas.
do pelo nobre Constituinte Roberto Campos, e que me pa- De modo que com estas proposições, penso estar con-
rece trivial de caracterizar, na medida em que a empresa tribuindo para o debate da questão do capital estrangei-
não tenha contratos de prestação de assistência técnica ou ro em nosso País, variável, estratégica, para a afirmação
de uso de marcas, de patentes que tolham o controle efetivo de um desenvolvimento nacional soberano e correspon-
da empresa. dente aos interesses do seu povo trabalhador. Muito obri-
Finalmente, no § 2.° dessa proposição, procuramos, gado, Sr. Presidente.
também caracterizar nas sociedades de capital ou naque- O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a
las que ~ão têm o acervo que o capital implique, também, v. Ex.a
na detenção do direito de votar integralmente em mãos
de nacionais, permitindo uma participação de até 30% Concedo a palavra ao ilustre Constituinte RenatD
do capital não votante ou, em outra forma de controle, Johsson para contraditar.
.das sociedades em mãos de nacionais. No artigo seguinte, O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHSSON - Com
procurei formular uma proposta de fronteiras entre o capi- respeito às palavras do nobre Constituinte Luiz Salomão,
tal nacional e o capital multinacional ou capital estrangeiro. quero esclarecer que efetivamente o meu posicionamento
E arrolei como proposições de áreas privativas do capital é pela não intervenção do Estado na área econômica. A
nacional, os bancos de depósitos - aderindo à proposição intervenção tem de ser a exceção. O Estado é efetivamen-
da Subcomissão de Estudos Constitucionais presidida pelo te um mau gerente. Não conheço nenhum caso de em-
Constituinte Afonso Arinos -, seguradoras, as demais ins- presa pública, de sociedade de economia mista, que tenha
tituições financeiras, os serviços públicos e as mineradoras sido extinta corretamente, de forma séria. As empresas
que devem ser exploradas privativamente por brasileiros públicas não assumem riscos pela sua ineficiência, não
ou por empresas nacionais, superando, assim, aquela fór- vão à falência; e esses riscos é o que movem as empresas
mula demasiadamente aberta da Constituição atual que privadas ao sucesso.
permite às sociedades organizadas no Pais, mesmo de capi-
tal estrangeiro, de exercer atividades de mineração. Gostaria também de mencionar notícia que lemos nos
jornais a respeito do Banco de Desenvolvimento do Rio
Na justificação que apresentei consta um quadro onde de Janeiro, onde as empresas públicas passam a ser ca-
se mostra que 48 milhões de hectares em território brasi- bides de emprego. Há algumas semanas, o Banco Central
leiro estão reservados às multínaeíonaís, as 18 irmãs da noticiou que, pela intervenção que fez em bancos esta-
mineração, vamos chamar assim, num território equivalen- duais, tinha inj etado cerca de trinta a quarenta bilhões
te a duas vezes os Estados de São Paulo e do Rio de Ja- de cruzados. A notícia de ontem é que só no Banco de
neiro juntos, sem que essa reserva para pesquisa em lavra Desenvolvimento do Rio de Janeiro - para poder liqui-
esteja redendo para o País o melhor conhecimento do seu dar esse banco - estava injetando 6,5 bilhões de cru-
subsolo ou a melhor exploração da sua riqueza mineral. zados. É por isso que me assusta, Sr. Presidente, quando
vejo proposta de estatísação de bancos neste País, quan-
Capitulei também, nesse artigo, as emissoras de rá- do estamos frente a essas situações. Muito obrigado.
dio, de televísão e os jornais que na Constituição atual O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obri-
Já estão reservados a brasileiros ou empresas nacionais gado.
sem participação no capital estrangeiro. Previmos, no
§ 1.0 desse artigo, um prazo para que essas empresas se Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Irapuan
adaptem à condição prevista na Nova Constituição; ex- Costa Júnior.
cluímos, como seria óbvio, as instituições financeiras que
não captem depósitos e estejam sediadas em países que o SR. CONSTITUITE IRAPUAN COSTA JÚNIOR -
dêm reciprocidade ao Brasil para que aqui também ope- Para contraditar o meu prezado Constituinte Luiz Salo-
rem, sobretudo para apoiar o comércio externo. Previ- mão, hoje, no mundo, está havendo uma marcha em sen-
mos também no § 3.° a progressiva estatização dos ban- tido contrário. Até as economias mais estatizadas estão
cos '- objeto de tantas propostas já recebidas por esta hoje em processo de prtvatízação, sem falar nos progra-
Subcomissão e que se impõem como forma de regulari- mas da França e da Inglaterra que estão caminhando
zar o mercado financeiro, incontrolável com toda essa ci- para a privatização mais completa da economia,
randa estabelecida. Ele mencionou o sistema financeiro; sua proposta
No artigo seguinte, procurei reproduzir apenas as pro- parece-me ser uma idéia de estatízação progressiva do
postas da Comissão Afonso Arinos, que prevê o estabe- sistema financeiro. Isso foi feito em Portugal depois da
lecimento em lei de limites para a remessa de juros, di- Revolução dos Cravos e, hoje, Portugal volta atrás e re-
videndos, royalties, assistência técnica e bonificações e im- solve privatizar outra vez o seu sistema financeiro, por-
põe a divulgação pelas empresas, que fazem esse tipo de que não funcionou.
remessas, dos valores efetivamente transferidos. Uma ou- No Brasil temos um exemplo clássico. Há um mês,
tra colocação importante desta proposta é o reconheci- houve a intervenção do Banco Central, clara, em cinco
mento da função supletiva do capital estrangeiro, no in- bancos estaduais - e intervenção branca em não sei
ciso lU, a previsão de transferência estrangeira de ter- quantos - e sabemos que estão quase todos eles tísicos.
ras onde existam jazidas, minas, etc. e finalmente, no pa- Aliás, bricam de gangorra. Passam dois anos sendo sa-
rágrafo único desse mesmo artigo o estabelecimento de neados pelo Banco Central, em início de Governo, estão
um rorum no Distrito Federal das dívidas externas assu- subindo e passam dois anos descendo no final de Gover-
midas ou garantidas por pessoa jurídica de Direito Pú- no, na proximidade das eleições, quando estão outra vez
blico. O que significa dizer que praticamente 80% da nos- no caminho de uma nova Intervenção, de um novo sa-
sa dívida externa deva ser aforada no Distrito Federal, neamento do Banco Central. Acho que não podemos esta-
porquanto o processo de estatização da dívida externa tizar mais.
que se opera no País, que já transferiu para o passivo
do Banco Central nada menos que 30 bilhões de dólares, Tenho em mãos, dados pelos quais as dívidas interna
somados com cerca de 50, 60 bilhões de dólares das em- e externa das estatais eram, em 86, de 80 bilhões, en-
presas estatais federais, apontam na direção de que 80% quanto a do Tesouro era de 40 bilhões de dólares. A coisa
98 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

se inverte, porque há os avisos de transferência das dí- a particípação, depois, no resultado da exploração mine-
vidas externas não honradas das estatais para com o Te- ral.
souro Nacional. E vai por aí afora. Seria um absurdo es-
tatizarmos mais. Estamos pagando um preço alto pela Acho muito importante este depoimento da vivência
estatização, quando o mundo inteiro já se convenceu de do problema. No meu caso especifico o que aconteceu é
que a coisa tem que marchar em sentido contrário. que numa exploração direta de ouro, feita para minha
empresa, constatei no balanço da primeira reunião que
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obrigado tive, com a diretoria de que estava havendo prejuízo, É
a V. Ex. a evidente que mandei fechar, para podermos reformular
Concedo a palavra ao nobre Constituinte Antônio Ueno. o processo, fornecer as informações e tentar participar,
através de participação acionária ou de outra maneira
O SR. CONSTITUINTE ANTôNIO UENO - Sr. Presi- qualquer.
dente, Srs. Constituintes:
Falando também na minha experiência como diretor
Também sou contra essa onda de estatização que de uma empresa pública Federal - a EBTU, no caso espe-
ocorre em nosso País. Na segunda-feira, assistimos uma cífico do transporte público defendia-se o vale-transporte e
palestra do Dr. osnv, que citava o Japão, principalmente um subsídio ao usuário do sistema, porque as experiências
o nome do Dr. Akio Morita, que dava a entender que no que se tem da exploração direta pelo serviço público de um
Japão o desenvolvimento econômico foi promovido pelas serviço essencial à população, como é o transporte público,
estatais. que entendo deva ser paulatinamente estatizado, mas desde
Quero dar o meu depoimento para dizer que recente- que saibamos administrar o sistema. Basta comparar o
mente duas das maiores estatais do Japão, a Companhia caso específico de São Paulo, que tem uma frota de quase
de Telefones e a Estrada de Ferro do governo japonês, dez mil ônibus, sendo que dois mil e quinhentos ônibus
foram prívatízadas, porque a Estrada de Ferro do Japão da MTC, que sobra a mesma tarifa que cobra a empresa
teve um déficit estatal muito grande. O Dr. Osny, como privada, e tem um subsídio que já chegou a custar um
defensor das estatais, citou o desenvolvimento japonês, terço do orçamento do município de São Paulo. É preciso
inclusive o presidente da SONY, Akio Morita. Então, trago que cheguemos a fornecer um transporte confiável, barato,
este depoimento para esta Subcomissão, de que o desenvol- de boa qualidade, estatizado. Mas, depois, que tenhamos
vimento do Japão foi baseado na livre iniciativa. consciência, tenhamos experíêneías que assim o justifique.
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a Por que especificamente quero insistir nisso? Porque estou
V. Ex.a
vendo um trabalho que a MPB está distribuindo na Sub-
comissão B. O que sempre foi modelo neste Pais? O
A palavra continua com o Sr. Constituinte. Creio que transporte público de Curitiba, que foi planejado e admi-
seria bom que todos falassem e emitissem a sua opinião, nistrado pela Prefeitura de Curitiba. Quero louvar, aqui,
para que o nobre Relator possa conhecer a opinião de o ex-Prefeito Jaime Lerner, porque quando vinha buscar
todos os participantes desta Subcomissão. recursos na EBTU ele se recusava a apresentar os seus
Com a palavra o Constituinte Gil César. projetos. Achava isso muito importiante, quem asumia
a responsabilidade era a Prefeitura. A Prefeitura de Curi-
O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR - Foi citado, tiba tem dez empresas - pelo menos tinha, há cerca de
aqui, o caso do Banco de Desenvolvimento do Rio de 3 anos - onde, através de um controle de caixa único,
Janeiro. O Banco do Estado de Minas Gerais está muito com tarifa integrada, o passageiro pode usar três ou
bem, com sua saúde financeira muito boa. Mas, em contra- quatro ônibus, três ou quatro viagens com o mesmo tãeket,
partida, os bancos estaduais - como afirmou o colega com o sistema de câmara compensação; ela subsidiava,
a respeito da recente intervenção do Banco Central -, na realidade, o usuário do sistema administrado pela em-
os bancos do meu Estado atravessam - talvez o Bemge presa privada. Desde que haja controle e seriedade, isso
nem tanto mas o Banco Real, sim - uma situação difícíl. pode acontecer. Estou dizendo aos meus colegas, resul-
tados da experiência das funções que exerci e que, evi-
Então, o que se verifica no sistema bancário são as dentemente, há bons resultados na administração através
informações. E as informações que nos chegam são essas do Estado.
de que o Estado não tem funcionado bem na área finan-
ceira, na administração de bancos. Devemos conhecer esses resultados para, através de
Quero fazer esta consideração, porque acho impor- possíveis propostas, conseguir, onde o Estado funciona
tantíssimo manter os bancos de desenvolvimento, aqueles bem, preservar a atividade do Estado; aonde ele não run-
voltados para as atividades de fomento. Acredito que não ciona bem e há um custo que a sociedade não pode pagar,
só no meu Estado, mas tenho informações que o Banco eu não posso concordar. Discuti o assunto com o colega
do Estado da Bahia e outros bancos também voltados para Guerreiro e acho perfeitamente possível; deve ser uma
o fomento, estão indo bem. É preciso diferenciar aquilo obrigação do Estado subsidiar as termoelétricas do Pará,
que está funcionando daquilo que não está funcionando. porque não há alternativa. Agora, julgo também um absur-
Nada melhor que os fatos para nos orientar nos proces- do que inundemos terras em Minas Gerais para subsidiar
sos de decisão. a CBE do Río Grande do Sul, que constitui, como empresa
pública do setor energético, o maior devedor deste País.
Na minha modesta experiência de dois anos como
Secretário de Estado de Minas e Energia, tentei voltar É preciso que se examine caso a caso, que vejamos
a empresa do meu Estado no setor mineral, a Metais onde funciona e onde não funciona. Onde a responsabili-
Minas Gerais - Metamig - com 23 anos de existência, dade se localiza a nível de governo local, ele que assuma
voltar à sua atividade para a pesquisa de mapeamento sozinho a sua responsabilidade e não repasse esse custo
geológico para vender as informações - talvez num depoi- econômico local a uma transferência de renda nacional,
mento, gostaria de ouvir do nobre colega Relator, Virgil- ou seja, transforme o problema local na transferência de
dásio de Senna, como está funcionando a empresa na Bahia, recursos de outras origens. Isso é um absurdo, entendo
do setor mineral, porque gostei muito de uma palestra eu, sob qualquer tipo de conceito que se queira examinar
que foi feita em Belo Horizonte pelo ex-Presidente, na o problema. Por isso que é importante o depoimento,
oportunidade Secretário de Minas e Energia da Bahia, por- entendo eu, de cada colega que tenha uma experiência a
que também me parece que na Bahia a empresa vem viven- nivel local, do funcionamento das empresas estatais. Está
do de royalties daquilo que vende à iniciativa privada com bom? Está ruim? Quanto custa? Com isso, acho que o
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 99

juízo de cada um de nós seria reforçado por essas experiên- Estou 'de acordo com o enunciado dos colegas Renato
cias. Muito obrigado. Johnsson e Gil César no que coneerne à eficiência. Essa
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a questão da eficiência é muito relativa. Tanto a empresa
V. Ex.a estatal ou de capital misto pode ser eficiente, como pode
ser deficiente. O fato de ser Iucratíva ou não também
Com a palavra o Constituinte Renato Johnsson. é muito relativo. Há empresas que não são nem sequer
O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON - Com constttuídas para verdadeiramente obterem lucros, mas
respeito à colocação do Constituinte Gil César, também muito mais para prestar serviços de relevância social, de
fiz, no ano passado, um pronuncíamento nesta Casa a natureza pública.
respeito das boas e das más estatais. Acho que é muito Quero lembrar, também, um setor muito importante
importante que se separe o joio do trigo. Evidentemente, hoje para o Brasil que é o setor da indústria aeronáutica,
existem boas e existem más estataís. O ooverno, quando onde a livre iniciativa fracassou, através de Baby Pígna-
são más estatais, deve mudar os seus administradores ou tary, que tentou fazer o "Paulistinha" e não conseguiu,
fechá-las. Temos assistido, nos últimos anos, uma propo- fracassou. José Carlos de Barros Neiva tentou razer uma
sícão no sentido de se fechar as más estatais, mas não indústria em Ubatuba e divisão de projetos em São José
encontramos a extinção de nenhuma dessas estatais mal dos Campos, onde tíve a oportunidade de 'trabalhar, e
administradas ou dessas estatais defícítárias, Oreío que também não conseguiu prosperar. Somente prosperou a
este é um dos problemas mais sérios. O poder público indústria aeronáutica brasileira quando o poder público
não tem capacidade de eliminar aquilo que não presta. entrou, com o peso político e específico do Ministério da
Esse é um ponto fundamental Creio que as obras públi- Aeronáutica, com a capacidade gerencial de Osíris Silva
cas, sobretudo, devem seguir um critério rigoroso de via- e sua equipe, o know-how adquirido pelo Centro Tecnoló-
bilidade econômica. O que temos que fazer, como um País gico Aeroespacial de São .Tosé dos Campos - CTA, o apoio
pobre que somos e administrando recursos de um povo tecnológico, enfim, toda a infra-estrutura que o poder do
pobre, é primeiro aquelas obras rentáveis para, posterior- Estado conferiu para que a Infraero pudesse ser hoje uma
mente, com os recursos dessas obras rentáveis, fazermos das grandes empresas e, talvez, a maior empresa do Ter-
também as obras sociais. ceiro Mundo em sua área, fazendo convênios até com a
Gostaria de fazer uma colocação com respeito ao pro- Boeíng - e vamos agora produzir peças para o avião
blema do exemplo, que o companheiro Gil César mencio- mais moderno da Boeing. Quer dizer, é uma área que
nou, sobre boas e más estatais. Presidi a Tele'comunicações deu certo, em que houve capacidade gerencial, houve
do Paraná de 1972 a 1979. Sempre fiz uma 'Comparação apoio tecnológíco e apoio governamental, tudo isso bem
com a Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações gerenciado. O que irrita o empresário privado e irrita o
- a CRT. Em 1972, o Paraná tinha 30% menos de tele- povo de um modo geral é a má gestão da coisa pública.
fones do que o Rio Grande do Sul. As empresas CRT e :E ver o dinheiro dele, contribuinte, mal empregado. Por-
Telepar tinham mais ou menos o mesmo número de fun- que quando é o empresário que aplica mal ele pede con-
cionários. Sete anos após, quando deixei a Presidência cordata, vai à falência, quebra etc. Agora, realmente essa
da Telepar, o Paraná tinha 30% a mais, de telefones - noção de impunidade é da mais alta importância quando
inverteu de 30% menos para 30% mais, e 40% menos de se levanta alguns problemas da livre iniciativa - porque
funcionários do que tinha a CRT. Acho que a seriedade realmente o que se verifica em muitos casos é a má ges-
na administração das empresas públicas é fundamental. tão, é o mau diretor do banco, é a má aplicação do
Há boas estatais e más estatais. Agora, o que acho fun- dinheiro, coisa que evidentemente o banqueiro partícular
damental é que efetivamente o Congresso Nacional seja não vai fazer; ele vai zelar. Conhece-se casos de ban-
ouvido quando vai intervir na área econômica, para efe- queíros de porte médio que pessoalmente veríncam a
tivamente constafar se é caso de intervenção, se essa área posição de seu banco, diariamente - conheço casos como
não pode ser efetivamente suprida pela iniciativa privada. esse. O Constituinte Roberto Campos costuma 'dizer que
Muito obrigado. o Estado é uma ficção, o que existe são as pessoas. No
caso da empresa é a mesma coisa. Tanto na empresa
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a privada como na empresa pública, o que existe são as
V. Ex. a pessoas; se são competentes, se têm preparo, e se têm,
Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Joaquim evidentemente, uma dose de sorte, porque há fatores que
Bevilácqua. são aleatórios, que 'escapam às maiores sumídades; temos
várias sumídadss que tiveram altos e baixos nas suas
O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA - atívídades, quer na vida pública, quer na vida empre-
Sr. Presidente, Sr. Relator, nobres Colegas de Subcomissão: sarial. Quanto a esse aspecto da intervenção, acho que é
veríríeo do debate, que a esta altura dos aconteci- muito difícil se obter uma soma imutável, uma norma
mentos haj a uma definição genérica em relação à base permanente, até porque somos um País considerado em
do sistema econômico, ou seja, capítalista, admitindo a evolução. Esperamos isso, estamos em evolução e não
empresa estatal, a Intervenção do poder público, mais ou em involução.
menos de acordo com a convicção ideológica já manifes-
tada aqui pelos membros da Subcomissão. Vou usar aqui uma expressão que me agradou muito,
do Constituinte Roberto Campos. aliás, um homem fun-
Mas, já que o debate entrou na esfera da empresa damente inteligente e que nos força ao raciocínio, quan-
públíca, gostaria também de acrescentar algumas expe- do ele lembra que o lucro excita, a empresa privada ex-
riências porque, afinal de contas, como bem lembrou cita; há uma excitação do homem exatamente por exis-
ontem o Constituinte Ismael Wanderley, não podemos tir essa figura da empresa, que é uma ficção, o Estado
fica.r pretendendo doutrinar, até porque temos aqui gran- é uma ficção, isto tudo é uma ficção; o que existe é o
des professores ·e grandes dcutrínadcres. Acho que cada homem, a pessoa humana, e há a excitação do lucro, da
um de nós pode acrescentar sua experíêneia pessoal, realização pessoal, da ambição, do fato de realizar algu-
algumas observações de caráter pessoal ou de vida pública, ma coisa. Eu diria que também deve existir na gestão
como aqui fizeram os colegas Rena,to Johnsson, Gil César dos negócios públicos, quer na administração direta e na
e Luiz Salomão; todos, aliás, já exercitaram funções pú- indireta, a excitação de realizar o bem-estar social; a
blicas da mais alta relevâncía, excitação de realizar uma boa biografia polítíco-admí-
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nistrativa. Esse deve ser o sentido ético maior, tanto da- riamente deficitária, como penso também que uma em-
quele que exerce uma função pública na administração presa privada, em princípio, pela característica de nossa
direta, quanto daquele que exercita uma função numa administração pública, apresenta realmente melhores
empresa que também tem a sua finalidade social de não condições de eficiência até porque se não for eficiente
só gerar lucros, mas gerar empregos e também bens e irá "pagar o pato"; empresa pública não tem "pato".
serviços. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Muito obriga-
O Oonstdtuínte Gil César, que lamentavelmente se au- do a V. Ex.a Concedo a palavra ao ilustre Constituinte
sentou, tem uma tese que aliás é a minha também, da Roberto Campos.
descentralização de recursos. Parece-me também um dos O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Sr.
grandes males - e hoje ainda fiz um requerimento à Me- Presidente, como cardiopata assumido, proprietário de 4
sa da Assembléia Nacional Constituinte para que fossem pontes de safena, levo sustos enormes quando leio os do-
explicadas essas obras faraônicas - quando falta dinhei- cumentos apresentados pelo meu prezado amigo Luiz Sa-
ro, quando declaramos moratória técnica e se anunciam lomão, a quem admiro de longa data. S. Ex. a está reve-
obras, digamos, sem nenhum menosprezo pelos Estados lando uma evolução mental díferente da minha. Fui so-
envolvidos, mas pelo que existe hoje ligando nada a coisa cíalista na juventude, tinha inclinações dessa ordem, em
nenhuma. Quando se criticam as obras faraônicas do pas- obediência inconsciente ao provérbio norueguês: "Quem
sado, a Transamazônica e isso ou aquilo, temos aqui 2,5 não é socíalísta aos 20 anos não tem coração. Quem per-
bilhões de dólares da Ferrovia do Açúcar - são coisas
que realmente nos assustam. manece socialista aos 40 anos não tem inteligência". De-
pois dos 40 anos, resolvi ser inteligente e abandonei as
Essa concentração de recursos em mãos da União fa- minhas ilusões de socialização econômica, que, no fun-
zem com que, em primeiro lugar; não havendo transpa- do, levam a um certo grau de despotismo político.
rência e nem controle da sociedade, não havendo controle Nosso caro Luiz Salomão é um progressista que está
do Congresso, não havendo sistema de controle efetivo em marcha batida para o passado; o passado é a estati-
desses gastos, nós nem saibamos como é que isso foi em- zação. O presente é a privatização. E isso ocorre, a rigor,
pregado: se há prioridades, se não há, quais são as prio- nos mais variados regimes. Estamos assistindo à priva-
ridades, quais são os critérios, etc. E assim também para tização maciça na França, na Inglaterra, sob regimes
usinas nucleares, programa atômico, etc. conservadores; na Espanha, sob regime socialista; na Itá-
De outro lado, a concentração de recursos em mãos lia, até recentemente, sob um primeiro-ministro socia-
da União faz com que os Estados e municípios sejam lista. Mas, mesmo nos países que se dizem socialistas, já
obrigados a fazer convênios. Vou citar aqui dois casos, há aberturas privatistas. A União Soviética acaba de pu-
experiências pelas quais passei. Por exemplo, em São blicar sua nova lei sobre capitais estrangeiros com vistas
Paulo, à época em que era Prefeito de São José dos Cam- a alta tecnologia, e admite participações estrangeiras a
pos deu-se um programa habitacional. Esse programa nivel de 49% do capital votante. Se lermos o documento
exigia que o município tivesse a sua empresa, até por- do ilustre amigo Luiz Salomão, ele exigiria, como se exige
que a administração direta não podia fazer convênio com na Lei de Informática, que as empresas nacionais dete-
a Caixa Econômica do Estado. Fomos obrigados a criar nham 70% do capital total e a totalidade do capital vo-
uma empresa municipal de habitação. São José dos Cam- tante. Algo muito mais exigente do que se encontra na
pos tinha condições de criar, mas a cidade vizinha, por União Soviética.
exemplo, de Montero Lobato, que vive praticamente da
transferência de recursos da União e do Estado, não ti- O Vietnam acaba de publicar sua nova lei, na espe-
nha condições de eríar - então, não pôde fazer o con- rança - a meu ver, inútil e melancólica - de atrair ca-
vênio. E também outras cidades, como Tremembé, que pital estrangeiro. É uma lei muito mais liberal do que a
não tinha máquina de escrever para fazer a sua folha legislação de informática brasileira, que o nobre consti-
de pagamento, que era feita pela minha prefeitura. tuinte quer estender a todos os outros setores, praticando
o que eu chamaria de estrangulamento do desenvolvi-
No setor de abastecimento, teríamos que fazer um mento nacional e estupro do direito empresarial.
convênio com a Cobal para instalar lá um posto, simples-
mente, como efetivamente instalamos. Tivemos que criar Se isso sucede independente de regimes, por que ago-
uma companhia de desenvolvimento rural e abastecimen- ra surge no Brasil a estatização? É algo inexplicável, é
to para poder fazer esse convênio, coisas desse tipo. Por uma volta ao passado, é sim, um resíduo autoritário, por-
quê? Devido a concentração de recursos também em mãos que as grandes estatizações que aconteceram na Europa
da União. ocorreram sob regimes autoritários. A Alemanha está ago-
ra desestatizando a Volkswagen, que está estatizada, nas-
Essa intervenção do Estado que é um tema amplo, ceu estatizada, aliá,", ao tempo de Hitler, e agora está
que envolve a parte militar, envolve aspectos de controle sendo privatizada. A Alemanha já liquidou a sua partici-
e envolve aspectos públicos, acho da mais alta importân- pação na Companhia Energética WEBA; não só não tem
cia. Acredito que o nobre Relator, em contato com rela- monopólio de petróleo, como a participação que tinha sua
tores de outras subcomissões que cuidam do assunto, há única companhia estatal de petróleo foi agora privatiza-
naturalmente que se informar, se bem que ele também da. Na Espanha, quem criou o estatismo industrial foi o
já foi prefeito, pois é muito importante descentralizarmos Generalíssimo Franco, que criou o INI - Instituto Na-
esses recursos, e não ficarmos aqui rotulando. Sou con- cional da Indústria. E, agora, temos um socialista, Feli-
tra rótulo: fulano é de esquerda, fulano é de direita; fu- pe Gonzales, ocupadíssímo em privatizar o que pode e
lano é intervencionista, fulano é liberal, é ísso, é aquilo. desmantelar essa herança autoritária.
Acho que dependendo do ponto, e dada a dinâmica de Na Itália, a grande estatização ocorreu com Benito
nosso País, que não tem uma estratificação nacional, não Mussolini, através da formação do IRI - Instituto di
tem uma estratificação rural, não tem estratificação eco- Riconstruzione Industriale, que agora está também enga-
nômica nem política, que vamos aqui assumir esta ou jado numa .taref,a de prívatízação. Conseguiu-se, aliás, na
aquela postura sem que isso seja visto como rotulagem. Itália, dois resultados: a melhoria da eficiência das em-
Penso que a empresa pública pode ser eficiente, não presas que permanecem no seio estatal e a pnvatização
necessariamente lucrativa desde que preste serviços; ela de várias delas, com substancial aporte de receita fiscal
pode ter um certo equilíbrio e ser às vezes, até necessa- para o Estado.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira. 20 101

Também no Brasil, a grande estatízação ocorreu na de Inrormátíca, Ele resolveu se aposentar em Portugal.
fase autoritária. A única explicação possível para 'a res- Não era mais residente nem domiciliado no Pais, mudou
surreição do movimento estatizante no Brasil é simples- para Portugal e a empresa ficou desnacionalizada. Chega-
mente que se trata de um entulho autorítárío do qual mos ao ridículo de desnacionalizar uma empresa se a
ainda não nos desfizemos. pessoa jurídica, titular do controle acionário, fisicamente
Participei de um Governo chamado autoritário, que abandonar seu domicílio e residência no País e parti!' para
a rigor, a meu ver, era pouco autoritário, porque haviam o exterior. Estamos privados do direito de aposentadoria
três Governadores: Carlos Lacerda, Adhemar de Barros no Estoril, em Miami Beach ou no Taiti. Aqueles que forem
e Magalhães Pinto, constantemente na televisão, vergas- acionistas, controladores, pessoas físicas de empresas da
tando a política econômica do chamado Governo autoritá- informática podem renunciar à aposentadoria no exterior,
rio, que enfrentava também uma vivaz oposição Iegíslatíva. senão desnacionalizam suas empresas e se privam de todas
as benesses que a legislação lhes confere.
Em épocas posteriores, de adaptação ~l pumeíra crise
do petróleo, iniciou-se um ciclo estatizante no Brasil. Examinemos outro item. Exige-se, para que se con-
Agora, que estamos voltando à democracia política, é tem- figure uma empresa nacional, que os controladores de-
po também de praticarmos a democracia econômica. E monstrem a um funcionário tecnocrata, que provavelmen-
da começará pelo respedto à liberdade d') indivíduo, pelo te não entende nada de informática, que nunca arriscou
respeito à liberdade do empresário. o seu dinheiro; que é apenas um tiranete sentado numa
cadeira em Brasília, esse que hoje é um coronel, tem-se
Vejamos o que se contém Lf;S normas cons'utuc'onaís que demonstrar a esse cidadão que a empresa brasileira
propostas pelo nobre Constituinte Luiz Salomão. Ele toca associada a um grupo qualquer estrangeiro, exerce, de
num ponto crucial; definição de empresa nacional. E re- direito e de fato, o poder de gerar, desenvolver, adquirir,
produz, talvez até com algumas radicalizações, exatamente transferir e variar de tecnologia de produto e de processo
a fórmula desastrosa e inconstitucional, à luz da atual de produção. O sócio brasileiro fica efetivamente proi-
Constituição, da Lei de Informática. bido de realmente contrair um contrato de transferência
Essa lei foi aprovada por voto de Liderança, por de- de tecnologia com o seu sócio. Por quê? Porque o sócio
estrangeiro estaria disposto, certamente, a dar ao seu par-
curso de prazo. É um entulho autoritário dos mais autên- ceiro nacional o acesso à sua tecnologia. Não teria nenhu-
ticos. É uma lei de extrema complexidade que foi passada ma objeção a que essa tecnologia fosse melhorada, gerada,
por decurso de prazo em 45 dias e voto de Liderança. Acre- desenvolvida; agora, transferida, significa simplesmente
dito que não mais que 5 deputados e 2 senadores efetiva- a eliminação do direito internacional de patentes. Um
mente leram a lei. Isso indica o grau de autoritarismo. estrangeiro que transfere tecnologia faz um contrato com
Imediatamente depois de promulgada, veríücou-se que era o sócio; o sócio pode usar essa tecnologia e melhorá-la,
inexeqüível: ela exigia 100% do capital votante em mãos se quiser. Agora, transferi-Ia seria, realmente, anular todo
nacionais. Verificou-se imediatamente que havia um fe- o direito de patente. É um absurdo desse tamanho que está
nômeno, no Brasil, que se chamava sociedade de capital na Lei de Informática e que está aqui repetido. Total
aberto e que as principais firmas brasileiras interessadas absurdo! Não teríamos acesso à tecnologia, simplesmente
em cartório de informática, o grupo sm, o grupo Bra- porque ninguém está disposto a, em se associando a uma
desce, o grupo Elebra e o grupo Itaú, eram sociedades de empresa brasileira, perder o controle de sua tecnologia;
capital aberto. A lei as desnacionalizava, porque sendo so- ele deseja continuar recebendo royalties de terceiros e não
ciedades de capital aberto, com ações votantes ao porta- fazer um donativo à Nação ou a seu sócio.
dor, não podiam jamais demonstrar Que 100% do capital
estavam em mãos de brasileiros, pessoas físicas domicilia- Alguns exemplos concretos, Sr. Presidente, talvez de-
das e residentes no País, como se repete solenemente na monstrem o ridículo da situação que ocorre na Informá-
atual sugestão constitucional. tica e que, agora, se quer estender à alta tecnologia.
O que fez o Governo, então? Por decreto-lei, emendou O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - V. Ex.a dispõe
uma lei. A lei em si já era inconstitucional. Emendar uma apenas de dois minutos.
lei, através de um decreto-lei - fora das hipóteses do
art. 55 da Constituição, que são apenas a criação de cargos O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Eu
públicos, segurança nacional e matéria financeira - é uma pediria a V. Ex. a , Sr. Presidente, um pouco de tolerância,
vasta inconstitucionalidade. Isso teve que ser feito, porque e depois lhe prometeria absoluto silêncio, por pelo menos
senão o grupo Itaú, o grupo Bradesco, o grupo SID e o duas reuniões subseqüentes.
grupo Elebra, grandes beneficiários cartoriais da infor-
mática, seriam simplesmente consideradas empresas não O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - É uma troca
nacionais. razoável.
Na sugestão constitucional que temos perante nós, O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Con-
é repetida já a versão da Lei de Informática modificada. sideremos uma empresa brasileira aqui citada e [ustamen-
A exigência é de apenas 70% do capital total em mãos de te elogiada: a Embraer. O Coronel Osírís Silva, um admí-
brasileiros e a totalidade do capital votante. Mas, rema- nistrador emérito - talvez o mais notável, juntamente
nescem algumas dificuldades que na Lei de Informática com o Dr. Eliezer Batista, dentre os administradores pú-
se encontram e que não foram objeto, talvez, de exame blicos brasileiros - teve uma experiência concreta dos
maior pelo nobre Constituinte. assuntos da Informática. Ele tinha procurado salvar uma
empresa brasileira, na qual a Embraer havia participado,
O artigo inicial de sua postulação define empresa na- uma pequena empresa privada à qual ele confiara a tarefa,
cional da seguinte maneira: que se tornou exagerada para a capacidade da empresa, de
"Considera-se empresa nacional a pessoa ju- nacionalizar trens de pouso. Verificou-se a inviabilidade;
rídica constituída no Brasil e nele sediada, cujo a empresa não tinha capacidade técnica para isso e a
controlador seja pessoa física domiciliada e resi- Embraer, de minoritária, passou a contraladora da empre-
dente no País." sa para salvá-la. E pôs-se, então, a buscar uma diversifi-
cação produtiva que garantisse a rentabilidade do empre-
O problema concreto que surgiu foi O de um portu- endimento, porque a simples produção de trens de pouso
guês, pessoa fisica, que controlava uma pequena empresa para aviões pequenos não seria uma atividade rentável.
102 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Foi então que o Coronel Osíres Silva, procurado por uma financeiras aqui presentes. Generosamente, ele permite uma
empresa das mais famosas em controle de processos in- exceção: essas instituições poderiam sobreviver se houver
dustriais, a Foxbourroughs, mundialmente conhecida, le- reciprocidade no exterior, mas isso não abrangeria as enti-
vou 6 meses negociando com esta empresa e conseguiu dades capazes de receber depósitos. Bancos estrangeiros,
condições que a ele pareceram soberbas: primeiro, con- esses seriam defintivamente nacionalizados.
trole da Embraer de 51%; Foxbourroughs minoritária; Pode-se conceber coisa mais imprudente, neste mo-
segundo, transferência de tecnologia sem royalties; ter- mento em que o Brasil proclamou uma moratória, em que
ceio, cessão do mercado latino-americano dessa empresa os nossos exportadores estão de língua de fora, porque
para a empresa mista constituída; quanto, formação de estão se rarefazendo os créditos de importação e expor-
um núcleo de pesquisa com a importação de 12 tecnólogos, tação à simples apresentação? Espero que isso aqui não
que procurariam, então, redesenhar os produtos, o pro- seja conhecido dos jornais e que não haja nenhum espião
cesso industrial, adaptando-os às condições locais, ou in- de olhos di hall street aqui - porque é evidente, essa
ventar processos e produtos novos mais adequados às con- simples proposta causaria pânico financeiro e uma retra-
dições ambientais da indústria brasileira. ção adicional do crédito ao Brasil.
Qual não foi a surpresa, quando ao consultar a SEI, Vejamos essa pérola de raciocínio, num artigo último
julgando ser uma coisa de rotina a aprovação do contrato, do documento, não é numerado. Diz o seguinte, literal-
ele foi redondamente rejeitado por não se ajustar aos mente:
requisitos que, então eram simples atos normativos, nem
eram sequer lei da SEI. Ele teve que, humilhado, voltar à "Nos investimentos de capital estrangeiro se-
Foxbourroughs e confessar que ele era um administrador rão obedecidos, entre outros, os seguintes princí-
sério mas, infelizmente, o Pais não era totalmente sério. pios: função supletiva de capital estrangeiro ao
O que fez a Foxbourroughs? Foi para a China e fundou, regime especial, transferência" - e depois o se-
junto com o Governo chinês, que ficou com 50% - nem guinte - "os meios e formas de nacionalização
fez questão do controle - a Foxb~urroughs-~hangai Ço~­ de empresas de capital estrangeiro, nos casos pre-
poration, que hoje prospera na Chína, produzmdo SOfISti- vistos nos planos de desenvolvimento aprovados
cados aparelhos de controle industrial. pelo Congresso Nacional".
São coisas dessa natureza que nos seriam impostas se Como é que pode esperar que o investidor estrangeiro
aceitássemos a postulação do meu caro amigo Luiz Salo- tenha um ânimo suicida? Ele viria para o Brasil, sabendo
mão. que um dos princípios que regem a legislação ou o regime
Citarei outro caso concreto, Sr. Presidente, de um de capital estrangeiro é a consideração imediata pelo Con-
empresário brasileiro dos mais eminentes, fora da área de gresso Nacional, de meios e formas de nacionalização. Ele
informática, na área de tratamento e processamento de teria que ser um masoquista. Isso equivale simplesmente
minérios Ele tornou-se sócio de uma empresa americana a uma proibição da vinda de capitais estrangeiros. Se é
para um investimento de cem milhões de dólares. A em- essa a inteção, por que não dizer logo que o Brasil tem
presa brasileira investiria o equivalente a cem milhões .de poupança suficiente para o seu desenvolvimento. Não sei
dólares e a empresa estrangeira ofereceria em tecnologia, de quanto será. O Sr. Funaro disse que é 7%, mas o Fu-
equipamentos e dinheiro vivo, o equivalente a cem milhões naro é até um pouco mais prudente. Ele disse que quer
de dólares. Cinqüenta por cento das ações e mais uma 7%, mas para isso precisa de mais 4 bilhões novos no
ficariam em mãos da empresa nacional. exterior. Além de não pagar o já devido, ele quer 4 bi-
lhões a mais no exterior. Mas, nosso amigo e ilustre
Ao notificar a constituição da empresa ao DCI - Con- Constituinte é mais radical. Na verdade, ele acha que nós
selho de Desenvolivmento Industrial, o tecnocrata sim- não precisamos de nada para o nosso desenvolvimento,
plesmente lhe disse: "quero pensar sobre o assunto e exa- simplesmente deveria proibir, logo, a vinda de capitais
minar o acordo de acionistas". Perguntou o ilustre em estrangeiros. Porque a não ser um investidor totalmente
presário brasileiro: "Mas por quê? O Sr. está arriscando analfabeto, não veria nisso uma condenação à guilhotina.
dinheiro? O governo está arriscando algum dinheiro? Estou E, a meu ver, os investidores estrangeiros, sejam eles
pedindo algum financiamento, isenção de impostos? N~o japoneses, alemães, americanos ou italianos, não têm
estou pedindo nada ao governo e o Sr., tecnocrata, nao ânimo masoquista e nem instinto suicida.
me está dando nada, não tem nenhuma ação da empresa, Somente um pouquinho mais, Sr. Presidente, somente
eu estou arriscando cem milhões de dólares, o Sr. acha que um comentário genérico sobre essa questão de eficiência
eu sou imbecil a ponto de não defender os meus interesses de empresa pública e privada.
tão bem quanto o Sr. os defenderia, o Sr. que é um tec-
nocrata, que nunca viu uma indústria, que não é formado Eu acho que, em termos abstratos, a discussão é um
em metalurgia como eu, que não está arriscando cem pouco ociosa. Tanto a empresa pública como a privada
milhões de dólares? Isso é mera petulância, é mera arro- podem ser eficientes ou ineficientes. O que acho é que
gância". Mas o tecnocrata não se comoveu, disse que ia existe uma presunção ambiental de maior eficiência na
fazer o processamento normal, porque ele sempre gosta empresa privada do que na empresa pública, pelos seguín-
de se certificar de que não há uma cláusula oculta no tes fatores: primeiro, na empresa pública há um perigo
acordo de acionistas, tal que, subreticiamente, permita ao constante de politização e descontinuidade gerencial, o que
estrangeio exercer o controle. Em suma, o empresário bra- não existe na empresa privada; segundo, na empresa pú-
síleío, aos olhos desse tecnocrata, e essa atitude do CDI, blica há maior ínsensíbílídade a custos e menor velocidade
- atitude hoje da SEI - é um misto de corrupto e me- na percepção das reações de mercado do que na empresa
nor, e o tecnocrata é um agente iluminado que sabe o prívada; terceiro, na empresa pública há maior tranqüili-
que é bom, não só para a Nação, mas também para o dade financeira, porque existe sempre a possibilidade de
empresário que arrisca o seu dinheio. amparo estatal, e, portanto, o apuro na eficência, a crite-
Em um dos artigos, o nosso ilustre Constituinte, prevê riosidade na avaliação custo-benefício tende a ser mais re-
a nacionalização -de atividades econômicas tais como ban- laxada, mais tranqüila na empresa pública do que na em-
cos de depósitos, seguradoras e demais instituições finan- presa privada. Com, isso, ambas podem ser eficientes. Há
ceias. Significa praticamente a extinção desses canais de casos de eficiência e de ineficiência de ambos os lados, mas
comunicação financeira, que o Brasil tem com o mundo existe uma presunção ambiental de que a empresa privada,
exterior, e que são representados pelos bancos e entidades numa economia de mercado ou numa economia mista,
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 103

tende a ser mais eficiente. E, não é por outra razão que comecei a minha vida prorlssíonal e que não fica nada a
Itália, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra e, até, os dever às instituições particulares de crédito, a despeito de
países socialistas estão admitindo, hoje, uma orientação sofrer uma permanente perseguição do Banco Central
privatizante. Muito obrigado. que, na verdade, sempre agiu como o comitê dirigente do
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Obrigado a' sindicato dos bancos particulares. li: uma rotina que se re-
V. Ex. a
pete, substituir o Presidente do Banco Central que repre-
senta os interesses do Bradesco, pelo do Itati; depois do
O ilustre Constituinte Roberto Campos usou 10 minu- Itaú pelo do Unibanco, mais adiante volta ao Bradesco,
tos a mais do seu tempo, de forma que, na contradita o nessa rotina, nesse rodízio, que já se tornou monótono na
ilustre Constituinte Luiz Salomão terá também esse ten{po condução ou na titularidade das autoridades monetárias.
adicional.
Outro equívoco que freqüentemente leva alguns Cons-
O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO - Obrigado, tituintes à recriminar a participação do Estado na ativi-
Sr. Presidente. dade econômica, é a aferição - como foi mencionado aqui
Inicialmente, quero rebater o conselho do ilustre Cons· pelo nobre Constituinte Irapuan Costa Júnior, que infeliz-
t~tui1]-t~ ~oberto Campos, ou <ta máxima para os revolu-
mente se ausentou - é a necessidade de financiamento das
c~onanos , de Bernard Shaw, que ele invocou para me con-
estatais, que teria montado a 121 bilhões de cruzados. Sem
síderar sem cabeça, continuado ap6s os 40 anos sendo levar em conta que, nessa necessidade 'de capital estão
socialista e imaginando que, se Bernard Shaw e~tivesse incluídos projetos e inversões produtivas necessári~s, por
vivo, diria também que quem esteve no poder e aos 70 anos exemplo, a assegurar a auto-suficiência do petróleo ne-
não reco.n~~ce os efeitos desastrosos causados pela prática cessário a expandir a nossa produção de energia elé"Í;rica
de suas Id~Ias, pode ser coerente, mas representa um risco que foi exatamente contida pela falta de investimentos n~
para a sociedade, que pode ser um risco de uma verdadeira setor, em decorrência da intenção governamental' de for-
hecatombe. necer energia elétrica subsidiada às empresas priv~das, ex-
portadoras em muitos casos, multinacionais em sua maio-
Acho que há duas ordens de consideração a fazer na ria, até mesmo para a eletrotermia, quer dizer, cometen-
contradita das colocações que foram feitas. A primeira, do um verdadeiro descalabro em matéria de economia
esclarecendo o nobre Constituinte Johnsson de que em energética, utilizaram uma forma tão nobre de energia,
nenhuma das proposições que apresentei, estou propondo para gerar calor.
um processo de estatização crescente da economia brasí-
leira. Exceto, no que tange aos bancos, a que me referirei De modo, Srs. Constituintes, para esclarecer bem a
adiante. Isto porque não teria a coragem e, ao mesmo minha posição, estou propondo que se atribua ao Congres-
tempo, a desdita de propor que um Estado ainda tão so Nacional, como o órgão mais representativo da vontade
antídemocrátíco quanto o que vivemos, onde não se pode da Nação, mais expressivo da comunidade nacional a ta-
sequer eleger o Presidente da República - eu estou com reta de definir que setores devem caber ao Estado: e que
41 anos e não consegui essa façanha de votar para Pres~ setores devem caber à iniciativa privada. E não tornar
dente - não seria eu que proporia a um Estado antíde- axiomática essa preferência da empresa privada como
mocrático que usa, ele sim, o entulho autoritário, o decre- exploradora das atividades econômicas. Esse axioma não
to-lei, o decurso de prazo, para atender aos interesses dos só se revelou inútil, durante todo esse período autoritário
seus apaniguados. Eu não teria sequer a coragem de pro- - porque foi nesse período que o Estado proliferou de
por a estatização da educação e do setor saúde, porque, form..a ~bsurda e sem controle da sociedade, na produção
certamente, a população brasileira não estaria de acordo e?OnOmICa - onde se criaram todos esses a tributos nega-
com a assunção integral pelo Estado dessas atividades, tIVOS da empresa estatal: a mordomia, o empreguísmo o
com uma escola tão ruim e serviços médicos tão precários. afilhadismo e, pior de tudo, a utilização das empresas ~s­
tataís para beneficiar determinados interesses privados.
Os exemplos citados pelo nobre Constituinte Renato O Constituinte Joaquim Bevilácqua mencionou a com-
Johnsson, para repelir a idéia da estatízação, particular-
mente a do DB - Rio levam-me a tecer algumas considera- ponente fundamental dessa discussão, em termos de oon-
tro~~. democ.rático, que é o da impunidade. A impunidade,
ções. Participei do Governo Leonel Brizola e vi o que se argüída ou invocada agora, pelo ex-Ministro Dilson Funa-
passou naquela instituição financeira, que já foi o terceiro ro, para explicar até insuficientemente, o fracasso do Pla-
maior banco de desenvolvimento do País, seguindo apenas no Cruzado. Mas, esta impunidade pública >8 privada é
o BDMG e o BADESP, que foi deteriorado, não por má
gestão dos seus administradores, mas pela transformação responsável pela deterioração dos valores da ética em-
daquela entidade no chamado hospital que abrigou empre- presarial, tanto num setor como no outro. Se não houves-
sas privadas, pessimamente administradas, verdadeiros es- se ess~ imp~ni:dade~ .certamente inúmeros empresários,
cândalos, como por exemplo, o malfadado Montepio da banqueíros e ll1d?strla~s que deram, verdadeiros golpes na
Família Militar, responsável em grande parte pelo rombo praça, nao estariam CIrculando, ate mesmo aqui no Con-
que levou à pique o DB - Rio. gresso, defendendo os seus interesses, em lobbies verda-
deiramente escancarados. E certamente o Estado as em-
Mas, quero dizer ao nobre Constituinte Renato Johns- presas estatais teriam um outro perfil não tão qu'estiona-
son, que a má gestão das instituições financeiras estatais, do do ponto de vista moral.
ou melhor, não é um privilégio dos bancos estatais pois A outra ordem de questões levantadas pelo Senador
há inúmeras instituições financeiras que foram à garra,
sendo. a~ministradas por banqueiros privados. O próprio Roberto Campos, diz respeito ao caráter não me lembro
C.onstltulllte Roberto Campos já passou por essa experiên- mais, se ingênuo, xenófobo ou inoportlfio 'da proposição
CIa, que ele mesmo chama de purificadora da falência de que apresentei. Quando formulamos essa definição de em-
ínstítuíções financei~as mal conduzidas, em grande jogadas presa nacional - inspirados, é verdade, na Lei de Infor-
fínanceíras, no deSVIO de recursos, contrariando a legisla- mátic~ .- não .estamos contemplando aqui nenhum tipo de
ção bancária. benefICIO partícular para as empresas nacionais. Toda a
carga. d.a~ críticas do Constituinte Roberto Campos devem
. !Y.ias, se V. EX.as quiserem um' exemplo- de uma insti- ser dírígídas aos membros da legislatura passada que
tuíção estatal de crédito, administrada de forma tão boa e aprovaram, segundo el,e, por mecanismos remanescentes
em. muitos casos, melhor do que os bancos privados, eu ci': da ditadura, e que a Nova República teima em manter -
taría, por exemplo, o Banco do Brasil, entidade onde eu decurso de prazo, voto de Liderança, ete., infelizmente não
104 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

abolidos na eonstituinte - mas, na verdade, toda a car- rando lucros que representam 25%, 30% dos lucros totais
ga de críticas do nobre Constituinte Roberto Campos se dessas instituições, em escala mundial. É um verdadeiro
dirigiu à empresa nacional, à reserva de mercado criada absurdo, isso sim, que V. Ex.a defenda essa posição, quan-
pela Lei de Informática. Eu não creio que seja objeto de do não temos essa liberdade de abrir, nos Estados Unidos,
discussão nesta sessão da Subcomissão. O que nós estamos na França, na Alemanha ou na Inglaterra, instituições
procurando, com essa definição, é separar o joio do trigo. financeiras para captar depósitos 'e concorrer com os ban-
Não basta a mM, por exemplo, se dizer IBM do Brasil, cos daqueles países. O que V. Ex. a considerou uma con-
para ser uma empresa nacional; não basta que capitais 'Cessão, entre aspas, generosa, é aquilo que nos interessa
estrangeiros, com contratos de gaveta, com side letters, dessas instituições financeiras: a manutenção aqui, de
com artifícios que tais; contratos no setor de tecnologia; escrrtóríos de representação ou de agências, que permitam
contratos de representação, artificialmente se transvistam exatamente o financiamento, do comércio externo. Isso
de empresas nacionais para "mamar nas tetas" da Nação, é o que nos interessa em matéria de presença de bancos
nos incentivos fiscais, nos benefícios creditícios, e se valer estrangeiros. Eles virem aqui para quê? Para cederem
da economia nacional para multiplicar Os seus lucros. tecnologia bancária aos brasileiros? Isso seria um absurdo.
O Constituinte Roberto Campos foi muito claro na sua po- V. Ex.a está aqui desmerecendo os seus amigos banqueiros
sição, já conhecida, quando ele expressou o temor de que nacionais. Imaginar que eles tenham díreíto adquirido
se proposições desse tipo circulassem por aí, um espião de poder aqui, como o Citybank faz, com um número
de Wall street poderia smbananar as nossas negociações rarerertíssímo de agências, ter a maior relação de depó-
internacionais. Isso resulta de uma visão messiânica que sitos por agência, depósitos por funcionários de qualquer
o Constituinte Roberto Campos atribui ao capital estran- outro banco do mundo. Porque é evidente, aqui as multi-
geiro. E, depois que ele, com a sua competência, abriu as nacíonaís canalizam para essas instituições os seus recur-
portas da economia brasileira ou alargou a abertura da sos, os seus depósitos.
porta que já estava aberta, ao capital estrangeiro, o que
nós temos, como resultado desastroso, é essa situação de De modo que, a meu juízo, não se justifica, de nenhu-
comprometimento da soberania nacional a níveis que não ma maneira - quero reafirmar essa posição claramente -
têm paralelo na História brasileira. a presença de bancos de depósitos estrangeiros. E imagi-
nava que V. Ex. a , como ex-banqueiro, compartilhasse des-
Estive pela manhã, em virtude da falta de quorum da se ponto de vista, de defesa dessa atividade, uma ativida-
nossa Subcomissão assistindo à palestra do eminente Em- de quase que coneedída por carta patente a empresas mul-
baixador Saraiva Guerreiro, um dos membros da Comissão tinacionais .
Assessora criada pelo Presidente da República, para ne-
gociar a dívida externa. E, verifiquei, um pouco entristeci- Acho que na questão dos bancos é que está o paradig-
do que S. Ex. a ex-Ministro das Relações Exteriores, tam- ma para a discussão que tivemos ontem sobre a reserva de
bé~ não é portador de nenhuma posição de soberania mercado. Se nós aqui quiséssemos nos reunir em Assem-
para conduzir essas negociações. De fato, o que se passa, é bléia e fundarmos um banco 'com as nossas poupanças,
que pelo processo de colonização não apenas econômico, umas parcas e outras mais vultosas, certamente que a
mas sobretudo cultural, ideológico e político, muitos dos nossa intenção seria frustrada, 'Porque nos é vedado in-
nossos dirigentes que já tiveram oportunidade de condu- gressar no mercado de capttaís para explorar a atividade
zir os destinos da Nação, utilizaram essa oportunidade não bancária privativa dos amigos do Poder.
para servir ao nosso povo, mas sim para acocorar a Nação
aos interesses do capital estrangeiro. Eu não vejo que com- E o que observamos? Nesta prevalência de bancos pri-
ponente nocivo possa ter uma definição do que é empresa vados - muitas vezes, numa quadra da Avenida Rio Bran-
nacional ao nível do que foi aqui proposto, aquela que 'Co ou da Avenida Paulista - há 4 ou 5 agências produzin-
consta do art. 12, da Lei de Informática. Trata-se de dar do o mesmo serviço à população nem sempre de boa qua-
nomes aos bois: empresa nacional é a empresa efetiva- Iídade , O que observamos é a manutenção de uma estru-
mente controlada por brasileiros; diretamente por pessoas tura de custos administrativos desses bancos, rigorosamen-
físicas ou indiretamente, através de outras empresas na- te absurda, que é paga através de taxas escorchantes de
cionais. Não vamos chamar de empresas nacionais aque- juros. Taxas de juros que, definitivamente, não têm ne-
las que têm 49,99% do capital em mãos de estrangeiros, nhuma explicação mais em termos de rolagem da dívida
com sócios que, muitas vezes, não passam de testas de pública.
ferro como tantos que conhecemos. E com essa rotulagem Estou convencido, a partir de análises do ilustre eco-
de et'upresas nacionais - V. Ex.a Constituinte Joaquim nomista Décio Garcia Munhoz, que as taxas de juros,
Bevilácqua, que é contra os rótulos, haverá de me conce- absurdamente altas que sufocam a atividade empresarial
der essa oportunidade de caracterizar como rotulagem de produtiva para alimentar e aquecer a ciranda financeÍira,
empresas nacionais - empresas que são rigorosamente têm como uma base do seu patamar exatamente os eleva-
estrangeiras, mas que apresentam essa característica, aten- dos custos administrativos do sistema bancário nacional.
dem a essa regra [urídíca, de ter 50% mais 1 de suas
ações em mãos de um testa-de-ferro que nasceu aqui mas, De modo, Sr. Presidente e ilustres Constituintes, que
que na verdade, é um títere dos interesses do capital es- em relação ao capital estrangeiro nós não temos 'essa ge-
trangeiro. nerosa visão do Constituinte Roberto Campos e de outros
defensores do capital estrangeiro, de que em relação a ele
De modo que, em relação a essa definição, nobre Cons- tenhamos que prestar homenagens, fazer continências,
tituinte Roberto Campos, V. Ex.a levanta ~ yerbera .contra enfim alargar, ainda mais, a enorme passagem que lhes
'a'penas 'Creio eu, em virtude da sua posiçao vencída na permite sugar, como uma verdadeira bomba de sucção, os
discussão da questão da informática. Certamente V. Ex.a recursos do nosso povo, do nosso País, para o processo de
teria razão em questionar o artigo seguinte, onde propu- acumulação internacional do capital.
semos um elenco de a,tividades econômícas que .dev~Ilam
ser privativas de brasíleíros e de empresas naCIOnaIS. E, O que está patente para nós é que a presença aqui do
dentre elas, V. Ex. a se fixou na questão dos baI2cos ~e capital estrangeiro se dá não por qualquer gesto de gene-
depósito. lI: evidente e seria estranho se V. Ex. a nao estí- r.osidade do capitalista internacional, mas, evidentemente,
vesse aqui defendendo os interesses do Citybank e de o~­ em função da atração que representa para eles a explora-
tras instituições de crédito que estão sediaida~ ;n0 Brasil, ção do amplo mercado interno brasileiro, que só não é
captando a poupança popular, captando depósitos e ge... maioi, Bxatamente porque grande parte da riqueza nacío-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 105

nal, que poderia ser empregada na dinamização do seu patriotismo chamaremos um árbitro para verificar quem
mercado, está sendo ou vinha sendo transferida, de manei- mais serviços prestou ao País. Eu considero isso um exer-
ra absurda, para as matrizes das multinacionais. cício fútil.
De modo que com todo o respeito pela inteligência O Constituinte Luiz Salomão é patriota. Não fiz ne-
'e pela cultura unilateral de S. Ex.a , o Constituinte Rober- nhuma injúria ao seu patriotismo, apenas nego-lhe re-
to Campos, não vejo razão para retificar em nada a; PEo- dondamente o monopólio do patriotismo; também sou
posta que tive a honra de submeter a esta SubCQImssao. patriota. Não me digo nacionalista porque não gosto desta
Mutto ao contrário, as suas críticas e as suas perorações palavra e particularmente não gosto da assocíação
contrárias a alguns desses dispositivos, só servem para habitual entre nacionalismo e socialismo. O fenômeno do
fortalecer a minha convicção de que é preciso insistir nes- nacional-socialismo já, todos sabemos, provocou desas-
sa linha de afirmar a soberania nacional, a defesa das tres em inúmeros países. Eu tenho uma aversão à pa-
riquezas naturais deste Pais, e estancar essa sangria que lavra nacionalismo, porque me lembro do velho Augusto
já exauriu a saúde da nossa economia, implicando no sa- Frederico Schmidt, o poeta, que uma vez me definiu o
crifício de milhões de cidadãos que não têm acesso às con- nacionalista brasileiro como sendo um cidadão que chega
dições mínimas de vida do ser humano. E esta é a razão ao americano para dizer-lhe: ''''Me dá um dinheirinho aí,
fundamental, a meu juízo, da a,tivida/de política e da nossa seu cachorro imperialista". Na realidade, uma atitude
discussão. Não estou tão preocupado quanto o Constituin- assaz freqüente. Por isso, prefiro o nome "patriota". O
te Roberto Campos, sobre como vamos suprir o hiato de erro de fato é que, meu caro Constituinte; existe reci-
recursos externos para fechar o balanço de pagamentos, procidade em matéria de instalações bancárias. Se não
ou se os banqueiros de Wall Street vão se sentir minima- me engano, há 11 bancos brasileiros instalados em Nova
mente ameaçados por uma modesta proposta como essa Iorque, alguns com agêndas plenas, alguns com re-
que tive o prazer de formular. O que me preocupa, real- -presentação. Em Londres lembro-me de 4. Hoje, há uma
mente, o que queima a minha consciência, é o fato de interpenetração bancária, hoje, o mercado financeiro in-
neste País gigante, onde convívem os contrastes mais ternacional é integrado. E, certamente, o Brasil poderia
absurdos da riqueza ostensiva, sobretudo dos banqueiros, obter a reciprocidade em matéria de integração no siste-
é onde também se vai encontrar todos esses defeitos que ma financeiro. Isso é apenas uma questão de fato. O
roram aqui apontados em relação à empresa estatal. Já Brasil não está sendo discriminado, o Brasil tem acesso
trabalhei em muitas empresas privadas - talvez tantas ao mercado financeiro internacional, podendo se instalar
quantas às dos privativistas aqui presentes -, e o que eu vi quando quiser.
de ineficiência, o que eu vi de incompetência do empresa-
riado, do seu nepotismo que tantas vezes entrega a díre- O que -preocupa, na atitude do Constituinte, é pensar
~ão da empresa, ou setores da empresa a seus filhos inca- que-essas coisas são inócuas. A grande vítima da interrup-
pazes, gerando ineficiência, gerando uma série de prejuí- ção dos canais de financiamento internacional são os
zos para a coletividade, não pode ser invocado aquí para -exportadores. Não estamos defendendo o direito dos ex-
contestar uma posição que é essencialmente democrática, portadores de terem acesso ao crédito e o direito dos im-
que não é socialista, não. Aqui não houve nenhuma inten- portadores, estou tentando defender é o desenvolvimen-
ção de propor a socialização da economia brasileira, por- to nacional. Para o ilustre Constituinte, estou defen-
que seria dar um tiro na água numa Constituinte que, dendo o capital estrangeiro. Não é isso. Estou defendendo
evidentemente, não tem essa 'correlação de forças. o desenvolvimento nacional por acreditar que esse desen-
volvimento será mais rápido e mais seguro se, à escassa
O que procuramos, na nossa proposição, foram fron- poupança nacional adicionarmos capital estrangeiro. A
teiras nítídas entre o capital nactonal e o capital estran- evidência de que essa presença de capital estrangeiro é
geiro; e, em relação ao capital nacional, entre o capital útil, pode ser fisicamente comprovada pelo ilustre Cons-
estatal e o capital privado. Espero que, reafirmando essa tituinte. Aposto que ao sair daqui ele tomará um automó-
parte finaJ. do meu pronunciamento, ter deixado claro aos vel; aposto que esse automóvel será um Volkswagen, um
Constituintes que me brindaram com os seus comentá- General Motors ou um Fiat; ele não vai chamar uma
rios, a verdadeira natureza do meu pensamento. ,carroça construída com capitais autenticamente na-
Muito obrigado. cionais.
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Tendo sido O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMãO - Sr. Pre-
citado nominalmente, o ilustre Constituinte Roberto sídente, pela ordem. -
Campos tem o direito ao benefício da explicação pessoal, Fico preocupado de ter insultado o nobre Constituin-
por 10 minutos, sem conceder apartes. te Roberto Campos-e, 'certamente, não era essa a minha
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS - Sr. intenção. Mas, logo que S. Ex.a. desenvolveu sua interven-
Presidente, eu havia prometido não falar por duas sessões ção, sinceramente não consegui localizar, no meu pro-
consecutivas e gostaria de, mesmo não cumprindo to- nunciamento, nenhuma acusação de impatriotismo, de
talmente a promessa, ficar relativamente fiel a ela, falan- entreguismo, de falta de nacionalismo de S. Ex.a Se por
do menos de 1 minuto. algum lapso eu o fiz, quero aqui- me- retratar de público.
'Mas, tenho certeza ~ depois poderemos-apurar nas notas
O ilustre Constituinte Luiz Salomão me fez um ínsuí- -taquígrárícas - que não lhe fiz esse tipo de acusação.
to pessoal e cometeu um erro de fato. O insulto pessoal
é dizer que eu estaria aqui, defendendo interesses de Sobre a sua vida pública, a despeito de-ter-se refe-
bancos estrangeiros ou da comunidade econômica inter- rido a mim como amigo, nunca tive a oportunidade de
nacional. Esse é um antigo truque da esquerda, cujo ra- .ser amigo do Constituinte Roberto Campos, mas sou
cíocínío é o seguinte: eu sou patriota, aqueles que dis- amigo de sua família, de seus sobrinhos, de seus rnhos
cordam de mim servem a interesses estrangeiros. É - fomos contemporâneos de universidade - de sua irmã,
primitiva demais uma acusação dessa natureza. Não vou de sua mãe. Ainda que nunca tenha convivido com o
discutir, Sr. Presidente, vou enviar a minha folha de nobre Constituinte, conheço bastante bem a sua traje-
serviços prestados ao Pais ao Constituinte Luiz Salomão 'tórta. 'E não vím. para Brasília, para o Congresso _Nacio-
e ele, por favor, também, me envie a sua folha de servi- 'nal, para duelar com curriculum vitae, porque acho que
ços. Se um de nós dois quiser desempatar, em ter~os de .não é essa a expectativa dos nossos eleitores.
10S Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Sobre a questão do julgamento que ele propõe, cer- mente socialista, estatizar uma tendência, agora, à nova
tamente acredito que a forma deste julgamento, enquanto privatização. Na Inglaterra, não foi diferente. O primeiro
homens públicos, é através das eleições. governo trabalhista após a 1.a Guerra Mundial, tinha uma
O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Concedo a estatização que se seguiu a uma prívatãaação, e novamente
palavra ao ilustre Relator. assistimos uma prívatíaação, após uma estatização da eco-
nomia.
O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna) - Sr. Pre- A sociedade define este problema no instante apro-
sidente, Srs. Constituintes, e de modo muito especial, o priado .em que o desafio da história lhe é posto. J!: exata-
nobre Constituinte Roberto Campos, ao ilustre Consti- mente por isto que não devemos negar, à história futura,
tuinte Luiz Salomão:
a oportunidade de, em achando conveniente, estatizar al-
Meu pensamento sempre foi o de colocar muito mais guns setores que esta própria sociedade, por via demo-
o debate do argumento do que da pessoa do argumentador. crática, pode vir a privatizar. Negar no texto constitucio-
Se em algum instante, na análise do argumento, ao juízo nal a oportunidade de criar empresa pública de forma
subjetivo, parecer que "Satanás que está pregando qua- democrática 'e sob controle democrático, não me parece
resma", é melhor silenciar, não discutir os argumentos de que seja o caminho que devamos, - na base das infor-
Satanás, sem tentar díabolízar o argumentador na pessoa mações trazidas aqui pelos nobres Constituintes. - trilhar
díabolízada, na elaboração do anteprojeto constitucional.
Acho que as discussões de hoje foram profundamente Era o que tinha a dizer.
enriquecedoras. Ouvimos pontos de vista discordantes.
Eu sei que resultou da 'experiência pessoal do nobre Cons- O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) - Vamos sus-
tituinte Roberto Johnsson, como do depoimento pessoal pender os nossos trabalhos hoje, comunicando a V. Exile
do Constituinte Joaquim Bevilacqua, mesmo do depoimen- que teremos uma reunião amanhã, às 9 horas e 30 mi-
to do Constituinte Gil César e da própria argumentação nutos, neste mesmo local.
do nobre Constituinte Roberto Campos, parece-me dife-
rente do ponto de vista da eficiência à empresa pública (Suspende-se a reunião às 19 horas e 42 mí-
ou privada. O que nos pareceu ressaltar de toda díseussão, nutos.)
do exercício do seu controle, da vigilância das entídaões
ou do corpo político ou privado envolvido no controle das As dez horas e cinqüenta e cinco minutos do dia vinte
empresas, sua efíeíêncía, sua capacidade, sua produtivi- e oito de abril do ano de um mil novecentos e oitenta e
dade ser maior ou menor. Entendendo assim - esse me sete em sala de reuniões do Anexo II do Senado Federal,
pareceu o pensamento médio desta Comissão - nada im- sob 'a Presidência do Senhor Constituinte Dírceu Carneiro,
pede que o Relator contemple a hipótese da presença do presentes os Senhores Constituinte:; José Ulisses de Oli-
Estado como agente produtivo direto, já que a ,eficácia, veira, Manoel Castro, Dirceu Carneiro, Luís Rob~rto Ponte,
a eficiência e outros fatores não dependem exclusiva- Márcio Lacerda, Sérgio Naya, Paulo Zarzur, Gerson Mar-
mente de ser de natureza pública ou privada, a empresa, condes, Luis Marques, Dalton Canabrava e Sérgio Werneck
se não do exercício eficiente ou não dos gestores dessas reuniu-se a Subcomissão para ouvir as entidades convi-
empresas. As causas que levam a empresa privada, pode- dadas ligadas à área de transportes marítimos. Havendo
ríamos citar aqui algumas recentes, grandes, maiores em- núme~o e dispensada a leitura da Ata da Reunião an-
presas industriais do País que entram num processo de terior b Senhor Presidente convocou os seguintes con-
desequilíbrio transitório ou permanente, por exercício de vidadbs a comporem a Mesa: Senhor Almirante João Aboím,
má gestão, seja na indústria, seja na área financeira, da sunamam - Superintendência Nacional da Marinba
enfim, em todas as áreas de atividades, assim do setor Mercante; Senhor Mauricio Monteiro Santana, da Federa-
público e do setor privado. ção Nacional dos Maritimos; Senhor Paulo Sérgio de Mello
Gostaria de, Sr. Presidente, se assim me permitir, de- Cotta, da Associação dos Armadores Brasileiros de Longo
duzir um pouco da exposição do nobre Constituinte Ro- Curso; Senhor Davidson Meira, da Companhia de Navega-
berto Campos" que baliza a história do processo econô- ção Lloyd Brasileiro, o Senhor Lauritis Von Lachmann, da
mico moderno, no sentido de que há uma tendência ma- Associação Nacional dos Armadores de RoU-on, Roll-off e
nifesta pela prívatísação, Pa1"ece-me que deveria aduzir Transporte Intermodal. Na oportunidade, os ilustres con-
algumas informações complementares porque, no parti- vidados fizeram uma exposição sobre assuntos ligados à
cular, a história é muito fluida. Não digo que repita o área de transportes marítimos, pauta anteriormente mar-
pensamento de Toimbee, de que ela se repetirá como uma! cada para hoje. A seguir, o Senhor Presidente abriu os de-
roda, passando em determinado instante pelo mesmo bates e concedeu a palavra ao Senhor Constituinte José
ponto. Mas, a experiência dos últimos anos, da contem- Ulisses de Oliveira. Usaram da palavra, além dos Senhores
poraneidade, mostra um aspecto que eu diria de sístole convidados, os seguintes Constituintes: Luis Roberto Pon-
e diástole nesse campo. Vale dizer, por exemplo, da expe- te, Márcio Lacerda e Sérgio Naya. Durante os debates, o
riência soviética. Sabe o nobre Constituinte Roberto Cam- Senhor Presidente concedeu a palavra, também aos senho-
pos, que após o comunismo de guerra violentíssimo, se res: Deputado Gustavo Faria, Deputado Assis Canuto, Se-
introduziu a prívatízação, através dos primeiros planos, nhor Paulo Eurico de Freitas - Presidente da Associação
que é a eliminação dos gulash como uma forma de voltar Brasileira dos Armadores de Cabotagem e Engenheiro
a socialização, à propriedade do Estado, quando em deter- Cláudio Macedo Dreer - Chefe do Departamento de Vias
minado instante histórico, os próprios fundadores da Re- Navegáveis da Portobrás. Durante a reunião, o Senhor
pública Soviética optaram pela privatização da economia, Presidente recebeu das mãos dos Senhores Maurício Mon-
assim na agricultura como na indústria. teiro Santana e Paulo Sérgio de MeUo Cotta, documentos
Recentemente, a história contemporânea mostra uma referentes à área da navegação marítima, que servirão de
profunda estatízaçâo. A administração atual marcha, evi- subsídio ao que se destina à Subcomíss2c. Agraceeendo a
dentemente, para um processo de aliviar esta estatização. presença dos convidados, e nada mais 1 avendo a tratar,
Na França, por exemplo, com um front poputeur, o go- o Senhor Presidente deu por encerrada [, reunião. às doze
verno Leon Blum estabeleceu-se uma estatfzação, esta- horas e cinqüenta e cinco minutos, lembrando aos Sc;nho-
tísação em grande parte motivada pelos grandes escân- res Constituintes da visita, ainda hoje, ao Excelentíssimo
dalos decorrentes do caso Stavinsky, para, em seguida, Senhor Ministro dos Transportes, José Reynaldo Tavares,
marchar-se para urna prívatízação, e o governo nOV8.- às dezessete horas, e do comparecimento do Excelentíssimo
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 107

Senhor Ministro Deny Schwatz, do Desenvolvimento Ur- O outro ponto seria o abrangido atualmente pelo art.
bano e Meio Ambiente, na Subcomissão, às dezoito horas 173 da presente Constituição, que seria o seguinte: "O
de hoje. Para constar, eu, Marilda Borges Camargo, Se- transporte de pessoas e mercadorias na navegação de ca-
cretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e apro- botagem, interior e de apoio é privativo de empresas bra-
vada, será assinada pelo Senhor Presidente. Sala de Reu- sileiras de navegação e de embarcações de registro brasi-
niões da Subcomissão, em vinte e oito de abril do ano de leiro, salvo caso de interesse nacional comprovado por ato
um mil novecentos e oitenta e sete. do Poder Executivo."
Tem um parágrafo que diz: "_1 lei disporá sobre o re-
ANEXO, TRANSCRIÇãO DAS NOTAS TAQUI- quisito de nacionalidade para propriedade de embarca-
GRÁFICAS DA REUNIAO DO DIA 28 DE MAIO ções de registro brasileiro, para o exercícío das atívidades
DE 1987, ÀS 9 HORAS E 55 MINUTOS, DA SUB- de armadores, comandante, mestre fJ patrão dessas em-
COMISSÃO DA QUESTÃO URBANA E TRANS- barcações, bem como sobre o percentual mínimo de tri-
PORTE, REALIZADA NA SALA DA COl\USSAO pulantes brasileiros nela embarcada."
DE LEGISLAÇãO SOCIAL, SENADO FEDERAL, A Constituição presente fixa a condição, e essa cem-
ALA SENADOR ALEXANDRE COSTA, ANEXO n, díção é de nacionalidade, não só no que se refere aos pro-
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Declaramos prietários como aos armadores, e estabelece que, pelo me-
abertos os trabalhos da nossa Subcomissão, no dia de hoje, nos, 2/3 das tripulações das embarcações brasíleíras Ele-
e convidamos para compor a Mesa, porque vão ser expo- jam constituídas por brasileiros natos.
sitores do nosso encontro de hoje, o Superintendente da A Sunamam considera que esse assunto poderá ser dis-
Sunamam, representado aqui pelo seu Diretor, o Almirante posto em lei e não integrar o corpo da Constituição, sem
João Aboim, o Dr. Maurício Monteiro Bantsna, Presi:lente se fixar no detalhe do percentual. I!l sabido que hoje nossas
da Federação Nacional dos Marítimos; Sr. Paulo Sérgio guarnições têm 100% de brasileiros, é uma situação que
Melo Cotta, Presidente da Associação dos Armadores Bra- existe, que tem sido eficaz, eficiente, as nossas embarca-
sileiros de Longo ourso: o Dr Davidson Meira, Vice-Pre- ções desempenham-se perfeitamente como qualquer con-
sidente da companhía de Navegação do Lloyd Brasileiro; gênere estrangeira, de maneira que a Sunamam nesse mo-
Dr. Laurítís Von Lachmann, Vice-Presidente da (ANART) mento não se fixa nesse percentual de 2/3. Apenas con-
Associação Nacional de Armadores roll-on - roll-off e sidera que, tendo em vista a natureza da Constituição Fe-
transporte IntermodaI. deral, esse assunto seria melhor tratado em uma lei.
Nós dispensamos a leitura da Ata, em prlncípto, e já É só o que eu tenho a dizer, Sr. Presidente.
partíríamos de imediato para as exposições dos nossos
convidados, que terão 20 minutos cada um para as suas O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Agrade-
colocações e, posteriormente, quando todos os expositores cemos a exposição feita pelo Almirante João Aboím e
tiverem esgotado o seu tempo, nós iremos debater pelo passaríamos a palavra ao Dr, Maurício Monteiro Santaila
tempo julgado necessário e oportuno com os participantes. Presidente da Federação Nacional dos Maritimos. '
Começaríamos, então, pelo nosso primeiro convidado, . O SR. MAURWIO MONTEIRO SANTANA - Sr. Pre-
o Diretor da Sunamam, o Almirante João Aboím. sídente, Srs. Constituintes, demais integrantes da Mesa
minhas Senhoras e meus Senhores: '
O SR, ALMIRANTE JOÃO ABOIM _ Exm. o Sr. Pre-
sidente, Srs. Constituintes, Senhoras e Senhores: A Federação Nacional dos Trabalhadores em Trans-
porte Maritimo sente-se honrada - em aqui estar para
Inicialmente, desejo agradecer a honra do convite e, trazer a sua colaboração à eleboraeão da nossa Lei Maior
em particular, a dístlnçáo de convidar-me para participar que será a nossa Constituição. Nós entendemos que ó
da Mesa. momento é por demais oportuno para que se introduza
aquilo que não só os trabalhadores como todos os segmen-
A Superintendência Nacional de Marinha Mercante tos da sociedade brasileira têm se manifestado, como o
fará uma apresentação dos seus pontos através do Geipot, foi através da política de marinha mercante e nós estamos
que está coordenando as atividades de todos os setores do falando especificamente em marinha mercante, já que é
Ministério dos Transportes, para apresentar seu ponto de o nosso setor, embora o transporte pudesse abranger áreas
vista comum. Entretanto, eu não poderia me furtar desta outras que não as que estamos aqui representando -
oportunidade para expor os poucos pontos que a Sunamam mas, no que diz respeito à marinha mercante, os traba-
considera de alta relevância. Naturalmente, tendo sempre lhadores fizeram um trabalho conjunto, que já apresen-
em conta que a Constituição Federal, a nossa Lei Magna, taram ao Presidente da República na oportunidade, mas
deve ser sintética, não deve conter artigos regulamentares entendemos que nele constam pontos e situações que, evi-
e deve ser uma lei permanente, não sujeita a pequenas dentemente, não eorrespondem à Lei Maior, à Consti-
variações, ou a variações de conjunturas, de momento do tuição.
País, ou do próprio sistema de transporte marítimo. De
maneira que, rapidamente, eu desejaria submeter à con- No resumo que estamos encaminhando ao Sr. Pl'esi-
sideração alguns itens que a Sunamam considera funda- dente desta Subcomissão, 'nós apontamos os, setores que
mentais: - gostaríamos de ver protegidos e ressaltados nesta Cons-
tituição. O que ímplíca, de antemão, em pedir uma am-
Um deles é que a nossa Constituição preserve a cabo- pliação da discriminação do setor de transporte marítimo
tagem, a navegação interior e as navegações de apolo ma- na nossa oonstítumte, já que o art. 173 da atual Consti-
rítimo e portuário para empresas e embarcações brasílei- tuição realmente fala simplesmente na questão da cabo-
ras. Uma redação sugerida, fazendo referência à presente tagem, fala na questão da propriedade da embarcação,
Constituição caberia como da competência da União as na nacionalidade do comandante e se refere, como bem
f.'luavias no 'transporta entre portos marittmos braslleiros disse o Almirante Aboím, a 2/3 de tripulantes nacionais.
e no transporte hidrovlá"ill íní eríor, quando transponham Nós vamos começar por aí. Os trabalhadores maríti-
limites de estado e território, bem como 3S travessias In- mos entendem que não há necessidade. Se vamos, discri-
ternacionais, interestaduais, vias que interliguem vias minar a nacionalidade do comandante e determinar que
federais. a nacionalidade brasileira seja a detentora da maioria
108 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

das ações dessas empresas de marinha mercante nacio- Nós gostaríamos de nos referir ao Conselho Diretor
nais, nós teríamos que eliminar esse referencial de 2/3. do Fundo de Marinha Mercante. Estamos propondo que,
Não vemos atualmente razão, por que admitir-se-ia que a exemplo dos armadores - eu não sei se os armadores
em 1934 - já que o texto vem desde 34 - ele contem- propõem - que os marítimos estejam representados no
plasse essa situação, quando o Brasil não tinha uma ma- Conselho e que, ou na Constituinte ou numa lei federal,
rinha mercante ou não tinha uma formação profissional com o tempo, seja permitida e admitida, a exemplo do
adequada. Então, nós !l10S valíamos de capitães ingleses, que o Presidente já nos prometeu no Conselho Monetário
de trípulantes-chefes de máquinas ingleses, portugueses, Nacional e, mais recentemente, numa reunião com Sua
espanhóis e, evidentemente, o legislador quis contemplar Excelência, o Senhor Presidente da República, a parti-
essa situação quando fixou um mínimo de 2/3 brasileiros, cipação dos marítimos no Conselho da Administração
ele já previa uma nacionalização progressiva. ora, não da Empresa de Navegação Lloyd Brasileiro.
se justifica mais, 50 anos depois, que ainda tenhamos Uma proposta polêmica dos trabalhadores - eu
de proteger, de contemplar esse tipo de discriminação com imagino polêmica, mas que já foi colocada - talvez seja
o trabalhador. E, em se falando isso, queremos dizer que, a solução para a questão do endividamento dos empre-
como trabalhadores, nós defendemos, evidentemente, a sários, é que os financiamentos concedidos pelo Governo
manutenção do texto. A nossa proposta, !l10 que diz res- Federal às empresas de navegação sejam condicionados a
peito a isso, é que os proprietários que sejam contem- uma participação acionária na empresa, proporcional ao
plados, os armadores e comandantes dos navios nacionais, volume do capital financiado.
sejam brasileiros natos, assim como 'a totalidac1e dos seus
trípulantes, também brasileiros natos. Acho que com isso, A questão da co-gestão é mais uma aplicação, uma
a gente resolve. extensão ao que couber no setor de transportes maríti-
mos, mas ela já é geral - e acredito que ela virá através
Como disse o Almirante Aboim, não existe tripulante de uma outra Subcomissão - mas nós queremos enfatizar
estrangeiro na marinha mercante brasileira, há mais de aqui também o compromisso da Nova República com Q.3
40 anos, a não ser os poucos naturalizados, porque há uma trabalhadores, Que seja estabelecido <J regime de co-gestão
legislação, uma lei federal que contempla e protege o nas empresas de transporte marítimo estatais, elegendo-se
direito do naturalizado, nós não vemos por que manter os representantes dos trabalhadores, respectivamente,
isso. para as diretorias, conselhos fiscais e conselhos de admi-
E falando de nacionalidade, nós gostaríamoa também nistração.
que contemplada fosse a situação das entidades jurídicas O nosso próximo ponto seria a navegação de ca-
que estão organizadas no setor da atividade da navegação. botagem - e vou me louvar também na informação do
E nós estamos propondo também, que é no mesmo sen- Almirante Aboím, A semelhança da proteção que se dá
tido do art. 173, da atual Constituição, que as pessoas à navegação de cabotagem, que a navegação de apoio ma-
jurídicas organizadas para a atividade da marinha mer- rítimo seja privativa das embarcações nacionais, salvo
cante devam ter o controle societário de um mínimo de casos de necessidade pública. Parece-me que o texto não
60%, direta ou indiretamente por brasileiros natos. En- contempla uma atividade nova, e os armadores falarão
tendo que é um fator de manutenção da soberania e da melhor do que nós, que é a atividade de off-shore. E nó',
nacionalidade brasileira o percentual de, no mínimo, 60% vemos, salvo melhor juízo, que cerca de 50% das embar-
para os proprietários, brasileiros natos, das embarcações cações utilizadas no apoio marítimo são estrangeiras. Há
de empresas de navegação brasileiras. uma necessidade de atualizar e de ampliar a participa-
ção nacional nesse setor e, nesse ponto, trabalhadores e,
Prosseguindo com as idéias que nós apresentamos num creio, armadores marcham de mãos dadas, porque am-
documento e que postaríamos de ver contempladas ou pliaríamos a possibilidade de emprego dos trabalhadores.
referidas na Con,stituinte - e que é uma prática nossa - E nós vemos tripulações asiáticas sendo exploradas, sem
gostaríamos de nos referir à questão dos afretamentos. que possamos fazer nada, tampouco as autoridades bra-
Também o afretamento não existia. A nossa última Cons- sileiras, tendo em vista que elas ostentam bandeiras de
tituição é de 1967, e nesteano inaugurávamos a nova era outros países, principalmente bandeiras de conveniência.
da navegação mercante brasileira; evidentemente que a e fogem a qualquer tipo de controle, a qualquer tipo de
questão do arretamento não aflorava com a intensidade participação do trabalhador dentro dessas trípulações.
e os ef,eitos que preocupam agora, não só o trabalhador Então, em cerca de 180 barcos, creio que 90 barcos sao
como toda marinha mercante brasileira, a ponto de que brasileiros, e o restante é de bandeiras de conveniência.
os dispêndios em afretamentos, no ano passado, já al-
cançavam 500 milhões de dólares. Nós entendemos que A propósito disso, o nosso próximo ponto pede - e
esses arretamentos indiscriminados, sem controle, neces- acredito que também não seja matéria constitucional,
sitariam ser contemplados com um tipo de referência, que mas não poderia deixar de me referir - que a Constitui-
que será a nossa Constituição. Nós entendemos que o ção se refira, em algum dos seus capítulos, a essa pro-
atretamento fosse possibilitado, mas que revertesse esse blemática. Gostaríamos de ver os contratos dessas empre-
atretamento a alguma coisa, um subsidio para reconstru- sas, que praticamente são empresas estrangeiras interna-
ção e ampliação da nossa marinha mercante. das em águas brasileiras, porque entendemos que elas
têm o status de uma empresa estrangeira imigrada para
Este é o ponto que os marítimos defendem aqui neste o território nacional, já que ficam por um ou dois anos
texto: "que sejam taxados gradualmente os arretamentos em águas brasileiras, transportando e fazendo cabotagem,
aos estrangeiros, com reversão dos recursos arrecadados que é uma atividade que necessita da autorização do Pre-
em subsídios ao transporte marítimo. sidente da República, por isso estamos propondo que o
Uma outra partícípação - e aí eu não sei em que controle seja continuado. Apenas que se amplie a ca-
ponto a Constituinte faria essa referência - trata-se botagem, da navegação interior e a atividade de off-shore,
de uma cobrança, de um compromisso do nosso saudoso mais especificamente o apoio marítimo.
Presidente Tancredo Neves, que admitia a participação Estamos propondo que nessas condições, nesses con-
dos trabalhadores a nível de todos os conselhos, órgãos tratos, as empresas estabeleçam um percentual de bra-
paritários, em que fosse possível a representação pari- sileiros, porque, isto sim, seria a aplicação da lei de 2/3
tária de trabalhadores, armadores, patrões e do próprio nesses navios, para que os brasileiros pudessem operar e
Governo, participar, já que as empresas ficam durante um-período
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 109

relativamente grande no Brasil, sem possíbíüdade de de em que se vai razer uma nova Constituição, acho que
colaborar de forma alguma com a questão social no cabe uma pergunta: desejamos ter marinha mercante de
Brasil. Nós temos mais de cinco mil pessoas desemprega- longo curso no Brasil ou pretendemos apenas ficar com a
das no setor marítimo e gostaríamos de vê-los aprovei- cabotagem? Eu não tenho dúvida de que a resposta é sim.
tados nesses navios, através de um experimento como Mas precisamos, o Brasil precisa ter uma marinha mer-
esse, como é a extensão da lei de 2/3 em que 1/3 seria cante de longo curso. E as razões são de duas naturezas:
de brasileiros. uma razão é econômica.
Há também a componente da questão tecnológica. Se O comércio exterior brasileiro gera frete, o transporte
há uma intenção de trocar tecnologia, nada melhor do do nosso comércio exterior, a importação e a exportação
que colocar os brasileiros e acelerar o processo de troca gera frete da ordem de três e meio bilhões de dólares.
de tecnologia com essa permissão e a introdução de bra- Isso foi gerado no ano passado, em ,1986. Acho que é óbvio,
sileiros nesses barcos. seria cansativo explicar, que o Brasil não pode abrir mão
Por fim, o último ponto, que gostaríamos de ver con- de reter pelo menos 50% desses fretes gerais. Não temos
templado, é uma proposta do movimento sindical como condição de ríear pagando, transferindo dívísas-rretes
um todo, principalmente do sindicalismo marítimo. l!J que para o exterior. Então, precísamos ter uma marinha mer-
a navegação marítima seja explorada diretamente pela cante de longo curso, que assegure ao Brasil a retencão
,(i'nião ou mediante concessão ou autorização às empre- desses 50%. .
sas brasileiras. l!J o texto legal, e o texto atual, me parece, A segunda razão é de ordem estratégica. Historica-
já contempla isso, que gostaríamos de ver mantido e não mente, o serviço de transporte sempre foi fornecido pelos
as propostas que foram apresentadas no recente Simpósio países desenvolvidos, sempre eles tiveram frotas exceden-
de Política de Marinha Mercante. tes às suas necessidades de comércio exterior e prestavam
Eu não gostaria de tomar mais o tempo de V. Ex.ss serviço de transporte para os países em desenvolvimento
Estamos encaminhando as nossas propostas ao Sr. Pre- e, co.m isso, levavam as nossas divisas-fretes. O Brasil, a
sidente, através de um documento de síntese, e o do- partír de 1967, começou a desenvolvera sua marinha mer-
cumento que poderia servir de base para uma discussão cante e isso, evidentemente, incomodou os países desen-
mais ampla está aqui, em minhas mãos, que é apolítíeo, volvidos que tiveram, ~m conseqüência, parte de suas fro-
é um documento conjunto de todo o movimento sindical tas sem emprego. EVIdentemente que eles contra-ataca-
da área da construção naval, da área marítima etc... Foi ram, moveram Iobbíes poderosos, mostrando as grandes
apresentado ao Sr. Ministro dos Transportes, mas ele vantagens de deixar para eles a prestação desses servícos
continua útil e é uma fonte de consulta excelente para que eles são mais eficientes, conseguem fazer fretes nia~
os trabalhos dos Srs. Constituintes. baIXOS, etc., e essas matérias são vistas constantemente em
revistas internacionais e até mesmo em páginas especiaü-
Muito obrigado. Era o que eu tinha a dizer. za:das sobre transporte marítimo e construção naval no
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Agradece- Brasil.
mos a exposição feita e os documentos entregues à Sub-
comissão estarão à disposição de todos os membros para Essa situação está agravada atualmente por uma re-
qualquer consulta. cessão mundial. As frotas dos países desenvolvidos são
mais excedentes ainda e, evidentemente, eles procuram o
Passaremos ao terceiro expositor, o Sr. Paulo Sérgio emprego dessas frotas nos outros paises, principalmente
Melo Cotta, Presidente da Associação dos Armadores aqui no Hemisfério Sul. E 'O Brasil, erroneamente, vem
Brasileiros de Longo Curso, a quem concedo a palavra. aceitando essa partícípação dos armadores estrangeiros
O SR. PAULO SÉRGIO MELO COTI'A - Sr. presiden- no nosso 'comércio exterior. Os fretes que são praticados
te da Subcomissão, demais membros da Mesa, Srs. Cons- nas trocas comereíaís entre os países do Hemisfério Norte
tituintes, minhas Senhoras e meus Senhores: são mais altos do que o~ nossos fretes, por uma razão
simples: o valor do frete e proporcional ao valor FOB da
Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer, em nome mercadoria. E lá, em cima, no Hemisfério Norte, são tro-
da Assocíação dos Armadores Brasileiros de Longo Curso, cados produtos manufaturados, enquanto nós exportamos
esta oportunidade de oferecer uma modesta contribuição matéría-prtma, também manufaturados, mas bastante
para a elaboração da nossa futura Constituição. matéría-prima , Então, em condições normais de equílí-
Nós preparamos, dentro da Associação, um documento brío de oferta e demanda de navios, os fretes médios no
que contém todas as nossas propostas para a rutura Cons- Hemisfério Norte são mais altos do que os fretes médios
tituicão. Existe dentro dela uma que difere bastante do no Hemisfério Sul. Hoje em dia, por excesso de navios
que está escrito na constituição atual. E eu vou me ater em função da recessão mundial, esses navios estão send~
a elaborar um pouco em cima dessa modificação que esta- aqui ofertados no Hemisfério Sul, fazendo parte do nosso
mos pretendendo, e as demais propostas eu vou deixar por transporte, uma parte ponderável, inclusive.
escrito para V. Ex. as. Não tenho dúvida de que na hora em que houver um
A àtual Constituição estabelece claramente a intenção equilíbrio entre a oferta e a demanda, esses navios vão
de dar meios para assegurar ·a existência da navegação de voltar a se deslocar atrás dos fretes mais altos no Hemis-
cabotagem, ao diZer que ela é privativa de navios nacio- fério NO'I."te e o nosso eomércío exterior vai ficar sem meios
nais. No entanto, sobre o longo curso, a atual constitui- de ser executado, a menos que tenhamos a segurança de
ção é totalmente omissa. Dessa forma, todos os nossos uma marinha mercante de longo curso.
direitos são presentemente assegurados ou por decretos- Então, estas são as duas razões: uma, de ordem eco-
leis ou, então, por resoluções da Sunamam. Esse ti:po de nômica e uma de ordem estratégíea.
arcabouço não dá a nós, armadores, a estabílídade 'que
desejaríamos para estimular investimentos que são hoje Todos os países desenvolvidos, mesmo com ineficiên-
bastante necessários à marinha mercante nacional. Com cia, mesmo com salários altos para tripulantes, enfren-
essa montagem de legislação, podemos ter racíímente ma- tando todos os problemas, mantêm frota própria por essa
térias que são fundamentais ao interesse da bandeira bra- razão estratégica, para não ter o seu comércio exterior
sileira, mudadas por interesses momentâneos, interesses totalmente controlado por um país que pode, eventual-
até mesmo de G<lverno, por vezes. Então, na opol'tunida- mente, não ter interesse em fazer esse comércio exterior,
110 Segunda-feira 20 DIÂRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

em facilitar a existência desse comércio exterior. Nós de uma marinha mercante forte, eficiente e capaz de ser
podemos chegar até a situações em que interesses estran- competitiva com as marinhas mercantes internacionais.
geiros façam com que o frete do nosso café seja mais alto Temos mantido nas diversas reuniões de fretes, reu-
do que o frete do café da COlômbia, porque eles têm inte- niões com outros armadores, e sentidos justamente a ne-
resse em fazer a exportação porque têm investimento no cessidade de termos essa prescrição de importação de
café da Colômbia. Enfim, há todas as razões para que o cargas e a reciprocidade que hoje é mantida nas confe-
Brasil tenha uma frota mercante de longo curso. rências de fretes com as empresas de outros países.
Como isso pode ser feito? Nós temos que ter, em pri- Era esta colocação muito simples, porque a política,
meiro lugar, uma salvaguarda na Constituição; acho que como eu disse, ela é emanada do próprio Ministério dos
ai é matéria de Constituição, que determinadas cargas, Transportes e nós procuramos nos ater aos ajustes a que
que são as cargas que têm favores fiscais, têm vantagens o comércio nos obriga.
fiscais ou as que são exportadas ou Importadas, pelas em- JjJ isto aí, Sr. Presidente.
presas estatais da administração direta ou indireta, que
essas cargas sejam privativas da bandeira brasileira. O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Nós agra-
decemos a exposição do Dr. Davidson e passaremos à
Em segundo lugar, devemos exigir dos nossos parcei- exposição do Dr, Lauritis Von Lachmann.
ros comerciais a recíprocídade no transporte das cargas
geradas pelo comércio exterior entre nós e eles. Ou seja, O SR. LAURITIS VON LACHMANN - Sr. Presidente,
50% das cargas são transportadas na bandeira brasileira Senador Dirceu Carneiro, Srs. Constituintes, companheiros,
e os outros 50% na bandeira estrangeira. E a prescrição Sras. e Srs.:
de carga à bandeira brasileira é o mecanismo que nos Preliminarmente, desejo agradecer ao convite que nos
vai permitir fazer a barganha com eles. O que nós impor- foi formulado para comparecermos a esta Subcomissão,
tamos, por exemplo, viria tudo na nossa bandeira, mas nós contribuindo, de alguma maneira, para o debate de questões
daríamos 50% para eles. E em contrapartida, eles cede- de transcendência para a eventual reformulação da nossa
riam 50% que eles levam para lá. Enfim, criaria as con- nova Constituição, no que toca a assuntos relativos ao
dições para que 50% dos fretes gerados na bandeira bra- transporte marítimo.
sileira, pelo comércio exterior brasileiro, ficasse no Brasil.
Representamos a ANART, Associação de Armadores
É óbvio que, dada essa condição, haverá maciços in- Nacionais .que se dedica ao transporte de segmentos mo-
vestãmentos de armadores brasileiros. A nossa frota está dernos e progressistas da marinha mercante tais como pe-
obsoleta e necessita de condições para encorajar o inves- troquímícos, intermodais, roll-on, roll-off e outros. Nós
timento. As conseqüências são imediatas, não só a reten- temos investimentos - bem grandes em navios novos e
ção de 50% desses fretes, a geração de empregos para ma- tratamos de estar a par com os nossos concorrentes es-
rítimos e a reatívação da nossa construção naval com mi- trangeiros, em termos de tecnologia e engenharia de trans-
lhares e milhares de metalúrgicos e que hoje está bastante porte moderno.
ociosa, certamente seria retomado o seu desenvolvimento,
se uma matéria dessa fosse de Constituição, para evitar Nós nos alinhamos inteiramente com a proposta da
que interesses momentâneos modifiquem, prejudiquem a Associação dos Armadores Brasileiros de Longo Curso,
porque acreditamos que ela é a que melhor serve aos pro-
nossa marinha mercante. pósitos de proteção da nossa marinha mercante. Essa pro-
Muito obrigado. teção é necessária para um país emergente, um país que
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Nós agra- está tentando criar a sua marinha mercante, de uma ma-
neira consolidada e permanente não só no cenário do-
decemos a exposição teíta e o documento entregue à Sub- méstico, mas especificamente também no de longo curso,
comissão. no de ultramar.
Passaremos para o Dr , Davidson Meira, Vice-Presi- Eu queria, de qualquer maneira, fazer algumas coloca-
dente do Comércio de Navegação do Lloyd Brasileiro. ções porque notamos, por exemplo, que na proposta da
O SR. DAVIDSON MEIRA - Sr. Presidente, demais Sun~mam a palavra "brasileiro nato", que consta de todas
membros. as Constituições, desde a de 1934, não é dado a esse pre-
ceito "brasileiro nato" a relevância que nós achamos
O Lloyd Brasilei-ro sente-se bas.tante honrado por ~r merecida. Somos um país generoso, somos um país onde o
recebido este convite para, através desta Subcomlssao, processo de naturalização é fácil, abreviado, temos uma
partícípar desta exposição. extensão de costas com possíbíídade de navegação per-
manente, durante 365 dias por ano, talvez a maior do
O Lloyd Brasileiro, por se tratar de uma empresa esta- mundo. A da União Soviética, talvez seja a maior, mas
ial tem uma posição sui generís, até mesmo porque nós não há possibiiidade de navegação, senão em dois ou três
cu~primos as determinações e .a política comandada pelo meses, em virtude dos gelos polares. De maneira que, evi-
Ministério dos Transpol1tes e pela Sunamam. E como uma dentemente, somos alvo da cobiça de outros países que têm
empresa 'comercial, que também somos, nós temos a prá- marinha mercante em situação de ociosidade. Nós sabe-
tica e a obrigatoriedade dos resultados operacionais de mos disso e deveremos, então, continuar preservando,
uma empresa desse porte. através da palavra "brasíeíro nato", dificultando a atuação
dessas empresas, embora reconhecendo que isso pode criar
Nós já discutimos com os empresários e armadores certos constrangimentos a bons brasileiros naturalizados,
de longo curso sobre a proposta que eles estão apresen- que, evidentemente, têm dado a sua parcela de contribui-
tando e o Lloyd Brasileiro concorda com essas colocações, ção para o desenvolvimento econômico brasileiro.
porque nós vivemos o dia-a-dia das dificuldades da co-
mercialização e do transporte de cargas. O Lloyd participa Um outro aspecto, também, é justamente a inovação
em quase todos os trades do mundo, inclusive atendendo da proposta Ida Associação Brasileira de Longo Curso, que
a regiões sabidamente deficitárias, como é o caso da linha faz com que o preceito de reserva de cargas, que até então
da Africa e da linha do Oriente Médio. Temos um serviço vigia somente para a cabotagem; sej a estendido para os
regular, nessas regiões, para manter a presença da marinha tráfegos de longo curso. Nós não poderemos ter uma ma-
mercante brasileira nesses locais. Dai, reforçar e endossar rinha mercante somente de cabotagem. Evidentemente, o
as colocações do Engenheiro Paulo Cotta, da necessidade Brasil, que é um país que depende em 90 por cento do
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transporte marítimo para a exportação das suas merca- O SR. ALMIRANTE JOÃO ABOIM - Na verdade, não
dorias, precisa ter uma marinha mercante forte. entendo bem a razão dessa distinção e acredito que ela
não deveria existir.
De maneira que, nesse sentido, nós apoiamos também
a pretensão de, maneira mais sumária e simplificada pos- O SR. CONSTITUINTE JOSÉ ULíSSES DE OLIVEIRA
sível, colocarmos dentro do art. 173, um novo artigo, que - Sr. Almirante, este parágrafo inscrito na Constituição
vier a ser formulado pela Constituição nova, a proteção parece-me que não se aplica aos navios de pesca; não é
devida a esse segmento que se transforma, cada vez mais, necessário que sejam brasileiros, que tenham 2/3 da sua
em parte importante da nossa marinha mercante. tripulação de brasileiros, e é livre o comércio de pesca, o
transporte, a navegação de pesca para navios de qualquer
Eu não queria deixar de fazer também uma colocação, bandeira. É isso?
quanto à parte da proposta enunciada pelo Maurício San-
tana, Presidente da Federação dos Marítimos, no que diz O SR. ALMIRANTE JOÃO ABOIM - De fato é uma
respeito à participação proporcional da União nos finan- abertura que impõe um certo risco. Embora a pesca não
ciamentos que concede às empresas de navegação brasilei- seja enquadrada na Política Nacional de Navegação e Ma-
ras. Quero apenas fazer referência ao seguinte ponto: evi- rinha Mercante, nem a pesca nem a navegação desportiva,
dentemente, o custo de cada navio supera, em muito, os eu acredito que a pesca deve ser nacionalizada, da mesma
20 bihões de dólares, hoje em dia. De maneira que, é muito forma que as demais classes de navegação. Houve uma
normal que em qualquer empresa de navegação já que a época, naturalmente, em que houve uma grande investida
atividade da marinha mercante é uma atividade de Ieasíng, de pescadores estrangeiros - japoneses - que se aproxi-
ninguém tem o capital para comprar toda a sua frota - maram para pescar em nossas águas territoriais. Como
esses financiamentos excedam em muito, e sempre exce- coibir essa atividade, se a nossa própria Constituição abre
derão, o capital social registrado da empresa. De forma esse parêntese enorme, deixando de enquadrá-la como uma
que, uma proposta dessa natureza realmente significaria, atívídade de interesse nacional e uma atividade que deve
de imediato, a estatízação total da marinha mercante. ser regida pelos mesmos sistemas que regem as outras
Eu queria dizer que a marinha mercante brasileira já classes de navegação?
está, numa proporção de aproximadamente 70 por cento No meu entender, esse 'parágrafo - não sei o que os
na mão do Estado brasileiro, seja através do monopólio inspirou no momento em que foi redigida a Constituição
da Petrobrás, que tem a sua própria frota, seja através vigente - mas acredito que deva ser nacionalizada tam-
da participação muito ampla da Docenave no transporte bém. ,
de granéis sólidos e do próprio Lloyd Brasileiro na carga
geral. Achamos que a regra do jogo, que até hoje preva- Eu peço licença para estender também essa nacionali-
leceu até na carga geral, não tanto nos outros segmentos, zação à navegação de apoio. Porque eu vejo que a propos-
que é a da divisão 50-50 entre o Estado e o empresário ta do Senador Afonso Arinos a exclui também desses dis-
particular, é uma fórmula que deve ser pensada, porque positivos. É uma classe recente de apoio às nossas plata-
ela deu resultados positivos. O Lloyd Brasileiro se forta- formas e à prospecção submarina. Essa atividade é re-
leceu e também as empresas privadas assim o fizeram. cente, deve ser nacionalizada. Mas, devemos ter uma certa
Essas eram as colocações que eu queria fazer, Sr. Pre- precaução, porque pode ocorrer o caso de navios de alta
sidente. Muito obrigado. especialização, que venham apenas operar na perfuração
ou numa atividade de engenharia petrolífera, apenas por
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Nós havía- um momento, e depois não sej a necessário. E não há razão
mos convidado também Válter Menezes, Presidente da em se forçar que esse navio seja nacionalizado para ope-
Federação Nacional dos Portuários, mas ele não está pre- rar 6 ou 8 meses e depois ser imobilizado.
sente. E Peter Landsberg, Presidente da Sinnaval, Sindi-
cato Nacional da Indústria da Construção Naval, que tam- De maneira que é uma certa precaução, que estaria
bém não está presente. ao abrigo do interesse nacional, declarado pelo Poder Exe-
cutivo para abrir exceções às condições de nacionalidade
Uma vez cumprida a primeira etapa dos trabalhos da não só das empresas como dos tripulantes. '
nossa Comissão esta segunda etapa ficaria por conta dos Creio que a pesca e a navegação de apoio devem ser
debates. Portanto, estão em debates as colocações feitas incluídas como privativas de embarcações e de tripulações
por nossos convidados. brasileiras, com a ressalva que conste em todas proposi-
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ ULiSSES DE OLIVEIRA ções do interesse nacional permitir que sejam abertas ex-
Sr. Presidente, eu gostaria de fazer algumas perguntas. ceções para cada caso específico.
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - V. Ex.a O SR. CONSTITUINTE JOSÉ ULiSSES DE OLIVEIRA
está com a palavra. - Eu gostaria de formular ao Almirante João Aboim a
seguinte 'pergunta: qual é o papel, hoje, da Sunamam na
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ ULíSSES DE OLIVEIRA política marítima?
_ Eu gostaria de fazer duas perguntas ao Almirante JO~o O SR. ALMIRANTE JOÃO ABOIM - A Sunamam é o
Aboim. A primeira pergunta é sobre o art. 173 da oonstí- órgão executivo do Ministério dos Transportes, é o órgão
tuição, § 1.0 diz o seguinte: setorial para o transporte marítimo e para o interior do
"Os proprietários, armadores e comandantes País. Ela exerce uma função normativa, no sentido do or-
de navios nacionais, assim como dois terços, pelo denamento dessas atividades. Nesse sentido, ela segue a
menos, dos seus tripulantes, serão brasileiros na- política do governo, que estará expressa numa política
tos." nacional de navegação e marinha mercante que está, de-
pois de um ano, em fase conclusiva e que será encaminha-
Agora o § 2.° diz: <da à apreciação do congresso Nacional.
"O disposto no parágrafo anterior não se apli- O SR. CONSTITUINTE JOSl!: ULiSSES DE OLIVEIRA
ca aos navios nacionais de pesca, sujeitos a regu- - Mais uma pergunta. É do conhecimento de todos, que
lamentação em lei federal." nós até fizemos a famosa "guerra da lagosta" no Governo
João Goulart. Temos ai, de ano em ano, o problema de na-
Eu gostaria de saber por que essa distinção entre o vios russos navios japoneses na costa brasileira. É uma
navio de pesca e os demais tipos de navios? celeuma anual esse problema da pesca. Quando foi cons-
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títuída a Comissão, estava preocupado com isso, pelo me- Congresso, há mais de três anos, e é um código que não
nos eu não tenho um conhecimento mais profundo, espera- interessa ao trabalhador-pescador, mas ele tenta dar uma
va que hoje algum representante da navegação maritima arrumação na, questão da pesca.
e, principalmente, o Presidente da Federação Nacional
dos Marítimos, Dr. Maurício Monteiro Santana, fosse fa- Eu me permito dizer, falar do trabalhador, do pesca-
zer alguma proposta neste sentido, com relação a este pa- dor, enquanto trabalhador, aqui, é demagogia da parte da
rágrafo de alto interesse nacional e me parece de alto in- Federação dos Marítimos. Vou dizer mais a V. Ex.a - dos
teresse da Marinha Mercante brasíleíra. Para surpresa 30 ou 40 mil pescadores existentes, catalogados no Brasil
minha, não foi feita nenhuma proposta, nenhuma suges- -, acho que nem uma estatística tem, porque a Sudepe
tão e, principalmente, de onde esperava que viesse uma possui uma, as capitanias possuem outra, o Ministério da
grande defesa, para que mudassem este parágrafo da Agricultura, outra; as colônias, outra, existe até uma confe-
Constituição, da parte do Dr. Mauricio Monteiro, que deve deração de pesca que não representa trabalhadores e, sim,
ser a pessoa mais interessada, poís representa todos os colônia de pesca. Essas pessoas não têm estatística. Desses
trabalhadores na Marinha Mercante, ele não fez esta pro- grupos todos de trabalhadores, só existem 5 sindicatos
posta. regularizados. Dos 5 sindicatos regularizados, que são filia-
dos à federação dos trabalhadores em transportes maríti-
Eu gostaria de saber por que razão. É antieconômíca, mos, o do Rio Grande do Sul está na mão de um Comis-
do ponto de vista dos armadores de cabotagem da navega- sário de Polícia, um pescador é o presidente e viaja. O de
ção ? Não interessa aos trabalhadores em empresas marí- Santos, acaba de sofrer a sua terceira intervenção nos úl-
timas, armadores, estaleiros navais? Por que não houve timos três anos, porque um companheiro foi lá. O de Belém
esta proposta? Talvez seja a mais polêmica de todo o as- do Pará também sofreu intervenção, tanto que se dividiu,
sunto marítimo, aqui, em maúéria constitucional. Não é o maior sindicato, porque está na zona camaroneira. Eles
houve proposta nenhuma. Houv,e proposta em todos os sen- dividiram o sindicato, porque tem problema de corrupção.
tidos, menos para esta, que eu considero a de maior inte- O sindicato de Fortaleza, que acaba de tentar sair, está
resse. na mão de um companheiro que está querendo organizar
Eu gostaria de receber alguma explicação, tanto do um sindicato. Ao promover uma movimentação, uma greve,
Sr. Paulo Sérgio Cotta quanto do Dr. Lauritis e, princi- foi simplesmente piqueteado ao contrário. Foi piqueteado
palmente do Dr. Maurício Monteiro, que tinha, por direito, pelos proprietários da pesca, em Fortaleza, que mandaram
de fazer esta proposta ou, pelo menos, explicar. surrar os pescadores de Fortaleza nos cantos, nos becos
de Mucuripe, para que eles não voltassem nem na assem-
O SR. MAURíCIO SANTANA - Eu fico grato que o bléia. Então, esse é o regime de lá.
ilustre Constituinte tenha colocado isso. Nós representa-
mos também o pescador. Mas, com a devida vênia, acho Infelizmente, os representados no âmbito sindical são
que seria demagógico o trabalhador chegar aqui e defender uma minoria e são achincalhados por todo tipo de res-
a nacionalização da pesca, quando o que nós estamos de- trição. Ê mais fácil ele tirar uma carteirinha na Sudepe
fendendo primeiramente - realmente, passei por um ponto e burlar toda a legislação. Só agora nós conseguimos ser
da maior importância - é que os órgãos nacionais, que obrigatória a assistência da Previdência Social, que era
tratam de transporte marítimo, do transporte aquaviário do Funrural, para esses pescadores. Foi trabalho do Sin-
como um todo, sejam unificados. Nós não podemos admi- dicato de Pesca, do Rio, com o auxilio da federação. E só
tir. Eu diria a V. Ex.a aqui, que estou até impossibilitado agora eles conseguiram carteiras assinadas.
de falar nessa questão, porque, na pesca está a Sudepe, Eu diria a V. Ex.a que eu respeito e acho que é da
está o Ministério da Agricultura, está o Ministério da Ma- maior importância a questão da pesca, mas acho que está
rinha e uma série de outros Ministérios que nós não temos tão atrasada, no Brasil, que duvido, tenho minhas dúvidas
como enfrentar. de que estará nesta Constituição o resgate, a redenção da
pesca e do trabalhador pescador no Brasil.
Eu diria a V. Ex. a que represento um sindicato, mas
o trabalhador-pescador não está definido ainda. Acabo de O SR. ALMIRANTE JOAO ABOIM - Com a devida
sair de uma eleição, no Rio de Janeiro, em que se substi- vênia, eu desejava apenas esclarecer que a pesca é uma
tuiu uma diretoria de um sindicato dos pescadores, que atividade que não é abrangida, não é da competência do
estava na mão dos comerciários do Rio de Janeiro. A nossa Ministério dos Transportes, ela é uma atividade da compe-
luta é tão elementar e tão rudimentar que nós achamos tência do Ministério da Agricultura. Por esse motivo, ela
demagógico chegar aqui e falar em proteção da pesca bra- não é enquadrada nas considerações sobre o transporte
sileira, do trabalhador da pesca brasileira, se este traba- marítimo. Não é uma atividade de transporte, é mais uma
lhador não tem nem carteira assinada na pesca. O trabalha. atividade extrativa-industrial, que escapa ao âmbito do Mi-
dor-pescador não assina carteira. Quais são os órgãos que nistério dos Transportes.
o impedem? A Sudepe. A Sudepe não exige ter a carteira
profissional. A Sudepe exige que ele tenha uma carteiri- É o esclarecimento que eu precisava fazer.
nha de pescador, filiado a uma colônia, que é um aglome- O SR. PAULO SEREJO COTTA - Eu acho que, como
rado de proprietários de barcos, não são pescadores. Quan- armadores - acho que o Sr. Lachmann me autoriza a falar
do aquele pescador que tira do mar o seu sustento pró- -, nós também não concordamos com a importância da
prio, esse é chamado de artesanal. Não tem proteção ne- relevância da matéria, que também não nos diz respeito,
nhuma. Não precisa de ter carteira, não precisa de estar porque nós transportamos carga. E a atividade de pesca
registrado na capitania dos portos, não precisa ter sindi- é, em separado, em outro ministério. Achamos que não era
cato. Esse homem se localiza numa colônia, ele só tem da nossa competência, acho que deve ser tratado no seu
que pagar os 5 ou 10 cruzados mensais, que é o que as foro devido. Por isso não fizemos nenhum comentário,
colônias cobram. nenhuma proposta.
Nós fizemos isso. Eu poderia passar a esta Comissão O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Concede-
os trabalhos realizados em 1984, quando nós organizamos mos a palavra ao Sr. Constituinte Gustavo de Faria.
o primeiro Encontro Nacional da Pesca quando lá esteve
um deputado, que era o presidente da Comissão de Pesca O SR. CONSTITUINTE GUSTAVO DE FARIA - Sr.
da Câmara dos Deputados. Enquanto isto o Código da Presidente, eu pertenço à Bancada do Estado do Rio de
Pesca, que é o documento básico,.dorme nas gavetas do Janeiro, ondea indústria naval é a principal indústria e
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 113

onde os principais armadores, deste Pais,' lá estão loca- do que poderia estar, principalmente pela evasão de fretes
lizados. que temos cansado de observar, de forma a nos deixar até
Foi dito, nesta reunião, é de grande importância que revoltados.
todos os parlamentares prestem bem atenção a este deta- A tradição do Brasil é de ter a sua Marinha Mercante,
lhe. A evasão que existe, da parte do Brasil, em outras uma das suas glórias e orgulho. A Marinha Mercante tem
palavras, o que o Brasil perde, com a evasão de divisas de disponibilidade e com a necessidade que ternos de cons-
frete é uma parte altamente considerável e se isto não estí- truir navios para nos equipar - os navios têm uma vida e
vesse acontecendo, nossa divida externa seria bem menor. como tudo, também, acabam, eles têm até um prazo de
A proporção que a conferência de fretes geralmente vida até curto - é preciso que, nesta Constituinte, fique
impõe ou a proporção que n6s seguimos, aqui em nosso bem claro que quanto ao arretamento, o Brasil não abrirá
País, de 50% do total de nossas exportações e de nossas mão nunca mais dos 50% de que tem direito, que tem sido
importações não vem sendo seguida por quem deveria, vilipendiado, apesar da Sunamam e de outros órgãos que
realmente, fiscalizar e controlar isso. controlam isso. Quero deixar esse registro, pois r.cho da
mais alta importância. Sou testemunha da tentativa de
Eu perguntava, inicialmente, ao Superintendente da desmoralização da Marinha Mercante brasileira e da cons-
Sunamam como tem sido feito por parte da Sunamam trução naval, através da CPI da Sunamam, da qual par-
esse controle de afretamento de bandeiras de fora e de ticipei durante um ano.
bandeiras brasileiras.
Acho que houve interesses internacionais e acho que
O SR. ALMIRANTE JOãO ABOIM - O afretamento houve também falhas da Sunamam, gravíssimas, por oca-
de embarcações estrangeiras é um recurso legítimo - em- sião dessa apuração na CPIo V. Ex. a sabe disso. No entanto,
bora um amigo meu diga que é pirataria - para comple- acho que a Constituinte é o grande momento para que o
mentar a capacidade de transporte da frota mercante bra- assunto de afretamento, que é da mais alta importância
sileira. Quando a capacidade de transporte da frota mer- para o desenvolvimento de tudo, relativo não só à Mari-
cante brasileira está aquém da demanda, em vez de entre- nha Mercante como à construção naval, aos funcionários
gar ao navio estrangeiro, simplesmente, esta carga, a em- e a todos - fique bem claro isso aqui - que o Brasil não
presa brasileira afreta navios, pagando um determinado poderá abrir mão não só dessas várias conferências de
valor de aluguel e faz o transporte, levando essa carga, pesca que têm havido e que não têm sido cumpridas, mas
sob os auspícios da legislação brasileira. que haja uma vigilância total para que todos melhorem,
Esse recurso eu digo que é legítimo, porque nenhum não só os que dela participam como também o País aufira
País pode ter uma frota que transporte a totalidade da os direitos que eu acho que tem.
sua carga movimentada, porque as flutuações são enormes, Eu queria fazer ainda uma pergunta ao representante
as contingências variam. Nós vimos agora, essa impor- do Lloyd. Quando o Lloyd deve hoje?
tação de alimentos que se teve, de repente, e que, de uma
hora para outra, cresceu a demanda de transporte que a O SR. DAVIDSON MEIRA - A sua pergunta, Deputado,
nossa frota mercante não tinha condíções de transportar se refere, vamos dizer assim, à dívida do Lloyd hoje.
e se teve necessidade de recorrer ao a.fretamento. Um afre-
tamento é controlado pela Sunamam, no sentido de que O SR. CONSTITUINTE GUSTAVO DE FARIA - Di-
ela autoriza, quando há necessidade do comércio exterior vida que vem sendo mantida há muito. Sei lá.
brasileiro de transportar determinada carga e em que não
haja condições ou não haja disponibilidade da nossa frota O SR. DAVIDSON MEIRA - O Lloyd Brasilelro -
para fazê-lo. Essa é uma área bastante sensível, merece vou fazer apenas um histórico rápido para poder chegar à
bastante cuidado e eu posso dizer que é levada com bas- resposta - alguns anos fez algumas encomendas de navios,
tante rigor, pela Superintendência, essa avaliação. por interesse, vamos dizer assim, do Governo brasileiro;
navios esses que hoje aparecem numa conta a pagar, do
Eu apenas desejo estender um esclarecimento de que, Lloyd Brasileiro, com um valor muito elevado. Os nossos
quando nós falamos em carga prescrita, não representa a dois navios mais novos, o Lloyd Pacifico e O Lloyd Atlân-
totalidade da nossa carga transportada. Primeiro, a pres- tico, hoje, estariam mais ou menos na ordem de 70 milhões
crição de cargas se tem dado apenas na importação, ela de dólares de custo para o Lloyd Brasieiro. Então, o endi-
:pode ser estendida à exportação, depois de ouvido o vidamento do Lloyd hoje se refere muito mais a um
CONCEX. Atualmente, não há carga prescrita de expor- endividamento escrituraI de aquisição de navios do que,
tação. O café, o cacau e o algodão são transportados por propriamente, endividamento por problemas operacionais.
embarcações indicadas pela 8unamam, de acordo com, uma Nós hoje temos um programa, apresentado ao Ministério
resolução bastante antiga, e essas embarcações são os dos Transportes, de saneamento do Lloyd Brasileiro, onde
navios brasileiros. Mas, no instituto da prescrição, eles não existe um escalonamento de aporte de capital, da ordem
são considerados prescritos na exportação. Portanto, uma de cerca de 300 milhões de dólares. Mas, desses 300 milhões
interpretação dessa atitude é que a carga pertence a quem de dólares, 250 seriam na forma escrítural, que seria a
a compra e o dono da carga tem o direito de indicar quem amortização de financiamento para aquisição de navios.
vai transportá-la, porque a carga diz ímportação. Sendo E somente 50 mihões de dólares que seria o aporte para
uma carga -brasileira, o Brasil tem' o direito de indicar efeito de capital de giro próprio da empresa.
quem vai importar essa carga. ~as, apenas as cargas pres- Respondendo à sua pergunta, de maneira objetiva,
critas, que é como está regulado até hoje e não a tota- seria em torno de 300 milhões de dólares, sendo que 250
lidade. Uma empresa que importe sua carga por sua conta f! de uma forma escritural.
própria, ela é livre de transportar ou de selecionar o trans-
portador. O SR. CONSTITUINTE GUSTAVO DE FARIA -
E qual a intenção do Lloyd com relação a isso?
O SR. CONSTITUINTE GUSTAVO DE FARIA - Al-
mirante, a minha preocupação e a minha -transparência O SR. DAVIDf;lON MEIRA - O Lloyd fez um enca-
da causa me leva a afirmar ao Sr. que, mais do que nunca minhamento ao Ministério dos Transportes, fruto inclu-
isso -deve sei: muito bem observado, porque a nossa Mari- sive, ou paralelo a uma consultoria que foi contratada
nha Mercante, a. nossa Indústría naval-está muito aquém pela Seplan, de uma firma chamada Procenge, em cujo
114 Segunda-feira 2D DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

relatório conclusivo eles enaltecem e definem a priori- Eu acho justo, respondendo a sua pergunta, acho
dade, a importância e a viabilidade da Empresa de Na- muito justo, até mesmo porque o Lloyd é uma empresa
vegação Lloyd Brasileiro. E, para surpresa nossa, porque extremamente viável e, se nós nos abstivermos desses
eles fizeram um trabalho paralelo, o resultado deles foi problemas de endividamento que não foram causados pela
literalmente semelhante ao do Lloyd. Só que nós chega- admiinstração do Lloyd Brasileiro, o Lloyd apresenta os
mos a um número em torno de 300 milhões e eles che- mesmos resultados ou apresentará os mesmos resultados
garam a um número, se eu não me engano, em torno que qualquer empresa de iniciativa privada. Apesar de ter
de 286. Também da mesma forma, 50 milhões seria para linhas que o Lloyd freqüenta, como eu lhe coloquei, sa-
efeito de aporte, para financiamento de capital de giro bidamente deficitárias, que é a linha do Oriente Médio,
e os outros complementos de uma forma eserítural, junto a linha da Africa, o Lloyd Brasileiro, para manter a pre-
ao Fundo de Marinha Mercante, ou junto ao Ministério sença da bandeira brasileira nesses locais ele mantém
dos Transportes, propriamente dito, para sanear o endi- essas linhas apesar do prejuízo operacional dessa viagem.
vidamento passado por navios adquiridos pelo Lloyd O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Continua
Brasileiro. em discussão a matéria exposta.
Como eu lhe disse, nós adquirimos o Lloyd Pacífico Com a palavra o Constituinte Assi,s Oanuto.
e o Atlântico, na época, adquiridos no Japão, numa ne-
gociação do Governo Brasileiro. E isso foi em 1982, se eu O SR. CONSTITUINTE ASSIS CANUTO - Pelas ex-
não me engano. Em 1981 ou 1983 nós adquirimos dois posições que nós ouvimos, nos leva a crer que não há
navios, também na Polônia, que são navios porta-celulose. muita polêmica em torno do assunto. Porque ouvimos
E ai vem de encontro, inclusive, a uma proposta dos representantes da Sunamam, representantes da iniciativa
armadores de longo curso, de que as cargas financiadas, privada, representantes dos trabalhadores marítimos e
ou empresas exportadoras que se beneficiassem de finan- chegamos à conclusão de que, realmente, é necessário que
ciamentos governamentais, tivessem as suas exportações esta Constituinte tenha determinados cuidados, para, na-
feitas por empresas de bandeira brasileira. E esses navios turalmente, agregar algumas modernidades, em termos de
porta-celulose foram adquiridos, na época, pela expansão legislação, no sentido rde proteger a marinha mercante
que estava sendo feita pela Aracruz-Celulose. Foi uma brasileira e, em última análise, salvaguardar os interesses
vinculação, na época, que o Governo brasileiro fez de fi- nacionais.
nanciamento. Nós não participamos dessas negociações. Eu gostaria de fazer duas perguntas mais técnicas.
Todo esse tipo de endividamento que hoje totalizam Uma para o Dr. Paulo Cotta e outra para o Dr. Meira.
250 milhões de dólares, representam um endividamento O Dr. Paulo Cotta, nos disse que há uma cifra em
de financiamento de navios que foram adquiridos pelas torno de três e meio bilhões de dólares, que seria o volu-
autoridades governamentais. me correspondente aos fretes de transporte marítimo. Eu
perguntaria se a participação do Brasil nesse momento
A nossa preocupação e a nossa proposta, que já foi é significativa? Já que me parece que os 50% não são
feita ao Ministério dos Transportes, é que houvesse esse catolicamente obedecidos, segundo afirmou o Constituin-
aporte de capital escalonado. Ele é feito num programa, te Gustavo de Faria. A posição é boa para o Brasil? É a
se eu não me engano, de dois anos de uma parte, para primeira pergunta. E se, em caso positivo, a frota do
efeito de capital de giro próprio da empresa e o resto de Brasil é competente para manter essa posíção a médio e
uma maneira escrituraI entre o próprio Gove_rno. iongo prazo? E, em outros países, como é feito essa reser-
O SR. CONSTITUINTE GUSTAVO DE FARIA - va de mercado de transporte de 50%? Se existe, a nível
E o Sr. acha justo que seja dado esse tratamento ao da comunidade internacional, algum entendimento, algu-
Lloyd? Eu acho que o Lloyd tem que operacionalizar de ma convenção sobre esse assunto? A pergunta para o
uma forma que sua contabilidade possa responder. E as Dr. Meira, ele já o respondeu em parte. l!J se o objetivo
outras companhias que têm também casos semelhantes, do Lloyd, naturalmente quando atua em linhas, chamadas
têm que tipo de tratamento? detíeítárías, linhas remotas, se isso tem um caráter es-
O SR. DAVIDSON MEIRA - Veja bem, Sr. Consti- tratégico, ou um caráter social, ou ambos, e se isso tem
tuinte, eu não gostaria de dar a minha opinião pessoal. significação para o País?

O SR. CONSTITUINTE GUSTAVO DE FARIA - Mesmo sabendo que esse transporte é deficitário é
Mas, o Sr. não está dando a sua opinião pessoal, o Sr. re- Interessante, convém ao País manter essa posição pelo
presenta o Lloyd Brasileiro. simples fato de manter ali a presença da bandeir~ bra-
sileira?
O SR. DAVIDSON MEIRA - Em termos de O SR. PAULO S. COTTA - Respondendo à primeira
Lloyd Brasileiro eu entendo que isso é justo. Até parte de sua pergunta, Sr. Constituinte, no ano passado,
mesmo porque o dono do Lloyd Brasileiro é o Gover- dos 3 e meio bilhões de dólares de rretes gerados pelo
no Federal. Segundo essas negociações que levaram o transporte nosso com o comércio exterior, ficaram no
Lloyd Brasileiro a ter esse nível de endividamento da Brasil, aproximadamente, 1 bilhão e 450 milhões de dó-
sua frota, foram feitos pelas autoridades federais, foram lares.
feitos em nivel de uma negociação.
Quanto à sua segunda pergunta. A frota brasileira
Eu não me recordo, e talvez o Sr. como Parlamentar uma vez, numa exposição, já usei um termo que foi muito
mais antigo. O Sr. se lembre, da negociação do Governo repetido - é a frota obsoleta mais moderna do mundo.
brasileiro com o Japão, para a obtenção de financiamen- Ela é suficiente, em número, para transportar parte de
to. Foi quando o Lloyd Brasileiro adquiriu, em nome do nosso comércio, dentro das regras atuais, as que estamos
Governo brasileiro, os navios Lloyd Pacífico, construído postulando ampliariam a fatia de participação da ban-
no Japão, num estaleiro japonês e o Lloyd Atlântico deira brasileira. Mas, evidentemente, nós passamos por
adquirido na Ishikawajima, com financiamento do gover- um problema grave, que é o da necessidade de renovação
no japonês. E assim foram os navios Purus, Acre, foram da nossa frota. E essa renovação é hoje impedida e jus-
os navios dos poloneses, se eu não me engano, os mais tamente, um dos fatores impeditivos é de novos investi-
antigos, os Itas, foram adquiridos de uma forma, vamos mentos por parte dos armadores brasileiros, é essa ques-
assím dizer, com financiamento externo. tão política. Nós precisamos de um apoio do Governo,
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uma reserva de mercado para longo curso, tal como é conversar com as nossas bases, em função exatamente
feito na cabotagem e na navegação interior. disso.
E a segunda parte do nosso impedimento para novos Estou tomando um pouco do tempo. Mas, com relação
investimentos é, justamente, o problema financeiro de a esse 1 bilhão ,e 400 milhões de dólares, não estão con-
um débito com o Governo. Parte dele, aliás, está sendo tabilizados neste montante os transportes, das empresas
saldado regularmente, na área de navio de carga geral, estatais, Petrobrás?
e parte dele suspendemos o pagamento e entramos com O SR. PAULO S. CO'ITA - Está tudo. Esta cifra de
uma ação na Justiça, tentando resolver a inviabilidade 1 bilhão e 450 milhões de dólares, 'aproximados, engloba
dos navios graneleíros, todos os modos de transportes, e todas as empresas bra-
A parte que estamos saldando, os débitos regular- sileiras.
mente, são navios de carga geral, que são obsoletos, têm Agora, quanto à sua terceira pergunta, de como isso
alto saldo devedor, totalmente inadequados para o trans- é feito internacionalmente, a resposta talvez fosse bas-
porte de nosso comércio exterior, e não temos como nos tante longa, se eu fosse contar toda a história do trans-
lívrar desses navios, para encomendar novas embarcações, porte marítimo, como ,ele é efetuado no mundo inteiro.
porque se tentarmos transferir esses navios, vamos apu- Parte da resposta, eu praticamente dei, quando justifiquei
rar alguma coisa aí como uns 20% do nosso saldo devedor a necessidade de se incluir, na Constituição Brasileira,
com o Governo. Em navio de 7,7 e meio milhões de dóla- uma salvaguarda para o transporte marítimo de longo
res de débito com o Governo, apuraríamos, na melhor curso nacional, em razão do fato de haver frota exce-
das hipóteses, 1 milhão e meio de dólares em venda para dente nos países desenvolvidos, que vêm buscar empregos
o exterior desse navio. aqui nas nossas costas.
Temos que resolver o problema desses navios, temos Mas eu diria que, internacionalmente, as grandes
que nos livrar desses navios. A solução é simples, mas, companhías de transporte marítimo são braços maríti-
infelizmente, não houve ainda decisão do Governo. mos de conglomerados financeiros! muito poderosos e que
Os contratos desses navios são absolutamente legais, se empenham em lutas, algumas delas fantásticas.
eles foram financiados em dólar, quando toda a legislação Vou citar um número aqui, só para V. Ex.a ter idéia
vigente, à época da celebração dos contratos, previa que do que estamos falando. Tem uma área de transporte
esses navios deveriam ser financiados em ORTN. E o muito intenso e de fretes elevados, que é entre os Estados
Governo exigiu o financiamento em dólar, ilegalmente. Unidos e o Extremo Oriente. Existem lá duas conferên-
E até hoje não tomou uma provídêncía para regularizar cias, uma num sentido e outra no outro, uma dos Estados
esse financiamento. O que nos impede de vender o navio. Unidos para o Japão e outra elo Japão para os Estados
Caso voltássemos à OTN, hoje em dia, na época da Unidos. Segundo dados de uma revista internacional es-
contratação dos navios, os saldos devedores desses navios pecializada, somente no ano fiscal que se encerrou em
seriam reduzidos e nos permitiria arcar com o prejuízo. março de 1986 - se não me falha a memória agora - as
Nós sabemos que temos que arcar com algum prejuízo, principais empresas participantes desse transporte, entre
mas não com o prejuízo de 6 milhões de dólares por em- os Estados Unidos e o Extremo Oriente, perderam 233 mi-
barcação. lhões de dólares, porque se estabeleceu uma guerra de frete
O SR. CONSTITUINTE ASSIS CANUTO - Nesse caso, entre pcderosíssímas empresas japonesas, americanas e
estamos entendendo que houve uma mudança da regra chinesas, também. Para assegurar o transporte, os fretes
do jogo, com relação da empresa com O Governo. Acho foram a níveis absolutamente intoleráveis.
que estou entendendo isso. Se o Brasil permitir que, no nosso transporte de longo
O SR. PAULO S. COTTA - Um descumprimento dos curso, se estabeleça uma luta dessa maneira, evidentemente
decretos, que vão prevalecer as empresas estrangeiras.
O SR. CONSTITUINTE ASSIS CANUTO - Aliás, isso Não temos a capacidade de entrar numa competição
não é privilégio só na marinha e só dos armadoras, por- desse tipo. As nossas empresas de navegação não são braços
que quase todos os setores produtivos' da eeonomía so- de conglomerados financeiros, com uma ou outra exceção.
frem essa falta de clareza, ou de cristalinidade nas ações
do Governo, ou a falta de programação, a médio e a longo Mas é necessário que a nossa ordenação de trans-
prazo, com responsabilidade. porte não se espelhe na ordenação do transporte dos Es-
tados Unidos, por exemplo.
A programação, muitas vezes, existe mas ela sossobra
em função, às vezes, de fatos que surgem, fatos esses que E nós temos, inclusive, empresas americanas trafe-
não eram aventados na época das formulações. gando para o Brasil e outras, que vão entrar agora. Não
está decidido.
Isso é um aspecto, que acho, todos os companheiros
Constituintes estão preocupados, no sentido de buscar- Mas, de qualquer maneira, se nós permitirmos esse tipo
mos, dentro da nova Constituição, artifícios de cobrar de competição, que se observa na Europa e nos Estados
responsabilidade do Governo porque se queremos ingres- Unidos, certamente será a falência da empresa de nave-
sar num país de economia moderna, preeísamos progra- gação brasileira.
mar nossas atividades a curto, médio e longo prazos. Estou tentando ser curto, porque senão teria que es-
E se nós não tivermos o respaldo, a responsabilidade pecificar como é feito em cada área. Mas é, mais ou menos
do Governo, fica difícil para o empresário de qualquer assim, é uma luta fratricida entre empresas.
status, de qualquer setor, naturalmente, programar suas O SR. DAVIDSON MEIRA - Deixe-me apenas me
atividades. . esclarecer. A sua pergunta seria a respeito das linhas que
Realmente, 'essas mudanças, 'ess,as alterações, essas eu comentei?
variações têm trazido conseqüências danosas para a eco- O SR. CONSTITUINTE ASSIS CANUTO - Linhas de-
nomia, e deixando nós, os políticos, até certo ponto equi- ficitárias.
vocados. Nós, realmente, temos obrigação de ser o con-
duto entre as' decisões e' as prátíeas 'das decisões e os, O SR. DAVIDSON MEIRA - Vou dar um exemplo
resultados, muitas vezes ficamos até sem mensagem para do que está ocorrendo, nesse momento, que, talvez, ílus-
116 Segunda-feira 20 DIÁRIO PA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

trasse melhor a minha resposta. Nós temos, no Oriente isto estaria a inviabilizar uma maior utilização da possi-
Médio, linhas brasileiras, que são o Lloyd Brasileiro e a bilidade de transporte marítimo de cabotagem no Brasil;
Paulista de Navegação, onde nós vínhamos exercendo esse seria exatamente o problema de serviços portuários no
tradé através de ;ioint venture; e temos, pelo lado oposto que concerne a um grande encarecimento. E o prejuízo
árabe, uma empresa de navegação que é constituida por não é maior, em termos de serviço de longo curso, dada à
7 ou 8 emirados árabes. Há quem diga, evidentemente. que baixa incidência em relação ao custo da tarifa de trans-
nós não temos provas a respeito, que essa empresa seria porte.
subsidiada, através inclusive da cota de combustível. A Essa indagação é da maior importância, porque o dís-
esse respeito, nós não temos evidentemente provas. curso que eu tenho ouvido e está muito espalhado entre
Mas vamos admitir, por hipótese, que o Lloyd Bra- todas as pessoas que, de uma certa forma, têm o trato li-
sileiro se retirasse desse trade. A empresa árabe, a UA8CO, gado ao problema do transporte marítimo no Brasil.
ficaria absoluta, fazendo todo o transporte de navegação
entre o Brasil e o Oriente Médio, e em curto prazo de Fica a pergunta, se o Lloyd tiver alguma informação,
tempo, ela imporia condições. Não há a menor dúvida se realmente essa deformação é uma deturpação muito
disso, que ela imporia condições aos exportadores bra- grande; impossibilidade de interpretação entre portuários,
sileiros, que ela ia ser absoluta no mercado, porque o Lloyd estivadores, tarifas por produtívídade; se modificaram os
estàría fora. equipamentos e, hoje, o sistema de transporte é outro, mas
a legislação é completamente deformada neste setor, en-
Então, a presença do .LÍoyd Brasileiro, nessa região, sejando a auferir remunerações exageradas para uns e
funciona muito mais como instrumento político do Go- insuficientes para outros, em suma, todo um complexo
verno, quer dizer, uma permanência do Brasil nesta re- de deformações que eu acho que não foram trazidas aqui
gião, de tal forma que vai permitir que os exportadores neste debate.
brasileiros tenham sempre alternativas na ut:liz':Jç'í(, desse
transporte. O segundo aspecto é ligado ao setor de longo curso,
que, pelo que auvi da exposição do DT. Paulo Cotta, há
O que nós estamos, de uma certa forma, tentando re- também uma grande dificuldade financeira nas empre-
sclver e estamos contando com uma ajuda b-astante grande sas privadas que estão praticando esse serviço. Ele deu a
do Comandante Abema, Superintendente da Marinha Mer- entender que estaria, na sua raiz, uma deformação nas
cante, é de, através de um entendimento que nós tivemos relações de produção de navio, no que concerne a finan-
com, um representante da UASCO, tentando fazer um sls- ciamentos governamentais e que, portanto, haveria uma
tema conferenciado, ou melhor dizendo, um disciplina- certa reivindicação de que fossem modificadas as condi-
mento do tráfego, porque, como esse tráfego, hoje, não é ções contratuais, colocando-as talvez no pressuposto legal
conferenciado, os fretes e os preços praticados são de cada de quando foram contratados.
empresa. Então, o que faz o árabe nesse caso específico?
Abaixa o frete, gera prejuízos. E, de uma certa forma, nós Então, dentro dessa linha, a minha pergunta é a se-
temos que acompanhar o preço estabelecido por ele, por- guinte:
que, senão, ou nós saímos do mercado, ou vamo'> gerar Primeiro, se há uma desobediência, em termos de de-
prejuízos nessa linha chamada deficitária. creto-lei, seja lá o que for, da parte do Governo, por que
Então, nós já tivemos a primeira reunião com eles, as empresas não autuam juridicamente o Governo, res-
com a presença do Comandante Abema e estamos ten- tabelecendo a verdade jurídica? Isso independente de qual-
tando, através de negociações conjuntas, estabelecer um quer outra providência que devesse ser tomada.
disciplinamento de tráfego para essa área, de tal forma Segundo, deu entender que há navios obsoletos e que
que mínímíníze esse prejuízo e que ambos os países possam foram negociados, de uma certa forma, que as empresas
ter as suas bandeiras nessa região. teriam sido compelidas a tê-los como obsoletos, se eu bem
O SR. PRES:J:DENTE (Dirceu Carneiro) - Continua entendi. Houve algum constrangimento de aquisição de
em discussão. (Pausa.) navios que não fossem desejados pela empresa como os
mais adequados, para manter um transporte moderno pelo
Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto setor privado?
Ponte.
Terceiro, desse transporte de 1 bilhão e quatrocentos
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO PONTE - Sr. Pre- milhões de dólares do setor privado, qual é a participação,
sidente, 81'S. componentes da Mesa, meus companheiros, a fatia, em termos do faturamento no transporte de longo
não sei se, no transporte de cabotagens privado, o Dr. curso? E no setor também de cabotagem, o Lloyd talvez
Paulo Costa também representa esse segmento de trans- pudesse dizer qual é a participação dele em relação às
portadores. empresas privadas nos transportes de cabotagem brasi-
De qualquer sorte, como o Lloyd também faz trans- leira. Quero deixar explicitado um ponto de vista, do qual
porte de cabotagem, se ele não representar, talvez o Lau- eu gostaria de ver uma contestação, de que o setor priva-
ritis possa responder às indagações que eu pretendo fazer do, que eu acho que sempre deve ser prioritário ao setor
sobre esse tema. governamental, mas isso tudo parte do pressuposto de
que não tenha subsidio governamental. No momento em
O SR. DAVIDSON MEIRA - O Lloyd está com as que tiver que receber subsídio governamental, aí as coi-
suas atividades voltadas ao longo curso, mas, esporadica- sas não estão mais funcionando em termos de economia
mente, nós estamos razendo U'U ou outro transporte de de mercado, que é o que eu defendo como tal.
cabotagem, mas, realmente, eu não teria, V'3,1'Y\OS dizer
assim, talvez a resposta às suas indagações. E, na sua exposição mesmo, eu ouvi também do Lloyd,
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO PON'l'~ - Eu a indicação de que o transporte internacional pratica os
deixo, de qualquer sorte, Sr. Presidente, essas dúvidas, fretes subsidiados, por uma disputa de mercado, o que in-
para que, então, possam elas ser esclarecidas por quem víabílízaría a nossa Marinha Mercante se nós ingressásse-
mos nessa economia de mercado internacional.
pratica o transporte de cabotagem. Segundo ou estou in-
formado, há uma grande deformação, em termos de 'custos A minha pergunta é a seguinte: o transporte maríti-
portuários, que pesam muito no transporte de cabotagem mo internacional é monopolizado ou é oligopolizado, me-
e, no que coneerne aos portuários e aos estivadores e que lhor . dito; ou realmente vígem as leis de economia de mer-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 117

eado nos transportes internacionais? Se há uma deforma- somente o nosso custo operacional excede o frete auferido.
ção algum trust, algum grupo que domine esse setor, ou O custo de capital, então, nem pensar.
se pode, numa eventual guerra de fretes, que só tenha o
Lloyd ou uma outra empresa do Oriente Médio; na hipó- O SR. CONSTITUINTE ROBERTO PONTE - Esses
tese de o Lloyd, se retirar e prevalecendo só essa linha, navios foram adquiridos há quanto tempo?
no momento em que ele quisesse praticar fretes abusivos, O SR. PAULO COTTA - Eles foram contratados em
não era possível se trazer outras empresas de transporte 1974, mas entregues ao longo de, eu diria até, 10 anos.
internacional que pudessem vir acudir e fazer com que, Isso é parte da segunda resposta que é a obsolescêncía
pela lei de mercado, se pudesse praticar um transporte da nossa frota. Nós contratamos navios em 1974. Aquela
conveniente para os interesses nacionais? época, havia um certo privilegiamento à construção naval.
Qual é o tempo médio de vida de um navio? Ao Lloyd Chegou-se à conclusão de que o transporte marítimo não
remeteria a pergunta, se estas importações de navios - era problema, o Brasil tinha leis sólidas que garantiam a
eu senti nas entrelinhas, se bem interpretei, uma certa sobrevivência do transporte marítimo, do setor armatoriaI.
crítica por termos importado, comprado navios produzi- Então precisávamos privilegiar a construção naval, por-
dos em estaleiros fora do Brasil, embora pareça que um que gera empregos, etc. Só que privilegiaram demais a
coisa, criaram induções para encomenda de navios que
deles é de estaleiro aqui no Brasil, apenas os recursos se- distorceram as necessidades do armador.
riam externos. Mas, o custo desses recursos seriam maiores
do que o custo em moeda nacional? Nós sabemos, hoje, que Partiu-se do presuposto, que até tem uma certa razão,
o custo para o setor privado nacional, dos outros segmen- de que a seriação de navios levaria ao barateamento desses
tos da produção, estão em preços extremamente mais ele- navios. Então, todos os navios brasileiros foram idênticos,
vados do que qualquer empréstimo estrangeiro. Hoje, o foram comprados para longo curso, navios que são os
juro internacional não passa 4,5% em termos de juro chamados do tipo SB·14. Esse navio foi concebido em 1966,
real se nós descontarmos a inflação internacional. Quan- por uma empresa canadense. Então, ele tem um conceito
do, na moeda interna, os juros internos custam a ~laç~o, adequado à época, 1966.
mais alguma coisa de 25,30% ao ano. Portanto, o fínancía-
mento em dólar estaria beneficiando aquele que toma o Mas, em 1974, quando nós fomos colocar as enco-
financiamento externo, comparativamente aos custos da mendas, a opção que nós tínhamos era essa, era de con-
moeda interna. tratar o SB-14, que já não era o mais adequado. E houve
também, para azar nosso, uma rápida evolução no sistema
Nesses aspectos que ficam as perguntas feitas. de containers. Em poucos anos, a importação brasileira e a
exportação se "eontaínerlízou" completamente. Então, esse
O SR. PAULO COTTA - A primeira resposta seria a navio, que já não era o mais moderno, tornou-se total-
mais simples, seria o tempo médio da vida dos navios. Os mente obsoleto. As formas do navio, arredondadas, seu
financiamentos à construção naval, os financiamentos casco embaixo da linha d'água impedem o aproveitamento
agora aos armadores que, anteriormente, ~ entrada d? do espaço, porque o Container é mais adequado
BNDES como órgão financiador da construçao naval, o fl- em navios que são chamado Box Shapers, que são navios
nanciamento é feito em 15 anos, aqui, no Brasil, e a vida quadrados embaixo, embora tenham duplo fundo, porque
média dos navios é em torno de 15 anos também. Só para é redondo lá embaixa, mas, o espaço disponível é total-
responder, de maneira mais simples a sua pergunta. Mais mente retangular lá dentro, de forma que se encaixam as
ou menos acabam juntas. caixas e a boca do navio, inclusive, tem dimensões múl-
Agora as outras perguntas. V. Ex. a perguntou o que nós tiplas da largura do Containers, justamente para isso.
fizemos com divida contestada pelos armadores. Nós in- Então, há uma ocupação total do porão do navio. Além
gressamos na justiça, já tem um ano. Agora, a solução, do mais, as escotilhas do navio, hoje em dia, são total-
na justiça, V. Ex.a sabe que é lenta. Já está em réplicas e mente abertas, permitindo se colocar o container em qual-
ainda não tivemos o julgamento na primeira instância. Se quer lugar; enquanto esses navios SB-14 tem uma escotilha
tudo correr normalmente, vai levar mais dez anos. Nós pequena em cima do porão, além de ter dois conveses.
vamos ficar impedidos, durante 10 anos, de colocar enco- Então, a caixa, nesse navio, passou a ser um trambolho,
mendas para renovar nossas frotas, Então, nós estamos é uma coisa que só entra no meio do porão e, lá dentro,
tentando uma solução administrativa. Já mostramos à 'com 17 toneladas, não pode ser movimentada. Então,
exaustão, através de documentos encaminhados ao Minis- não se consegue a ocupação dos porões no navio. Nós
estamos competindo, com esses navios, contra navios que
tério dos Transportes, sunamam, enfim a todos os órgãos são do tipo Box Shapers e que têm a escotilha totalmente
que têm a ver com o transporte maritimo, da ilegalidade aberta.
do contrato. E temos até opiniões dadas, como na última
quinta-feira, o Superintendente da Sunamam reconheceu, A nossa capacidade de transporte é bastante inferior
através do Jornal O Globo, que os contratos eram ílegaís, ao nosso competidor e isso vai nos levar à impossibilidade
Então, eu acredito que estejamos próximos ide uma solu- de renovar a frota, porque o nosso rendimento vai ser
ção, vai ser um ato do Ministério dos Transportes de rec?- menor e nós vamos entrar num beco sem saída a curtíssí-
nhecer essa ilegalidade e nos colocar, repor em ORTN, la, mo prazo. Esse navio tem que ser eliminado da bandeira
na base, em OTN, hoje em dia. Quer dizer, que nós pega- brasileira de longo curso, sob pena de nós não termos
mos duas maxidesvalorizações, desde a contratação, em marinha mercante, daqui a alguns anos.
1974, até os dias atuais. Então, nossos custos são muito
mais altos, contrato em dólar do que em OTN, apesar de Agora, por que esses navios também ficaram obso-
a OTN ter saltado recentemente violentamente, mas que, letos? Porque os navios foram encomendados em 1974 e
certamente, também vai haver alguma coisa com o dólar, por várias razões. Vou levar 10 minutos para explicar, sem
uma aceleração das desvalorizações, alguma coisa para entrar em detalhes. A empresa da qual eu sou profissio-
repor. nal, lá trabalho, recebeu dois desses navios em 1984, dez
anos depois da data de encomenda do navio, quando o
Então, para nós, é fundamental que essa solução ne- prazo normal, no mundo inteiro, é de dois anos de entrega.
gociada exista, porque, na justiça, vão acabar Os navios Só que todas as encomendas foram feitas em um mesmo
e nós vamos estar discutindo aí, e sem poder renovar a estaleiro, que tinha atualização para construir esse navio.
frota, na medida em que OoS pagamentos foram suspensos. O navio é projetado no exterior. E foram privilegiadas as
Nós estamos trabalhando com navios graneleiros, em que encomendas de exportação.
118 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

E mais, já com o contrato assinado, o Governo Bra- ainda por cima, não se pode nem usar parâmetros inter-
leíro, através do MIC, resolveu nacionalizar os equipamen- nacíonaís e dizer: mas no Japão custa 9 milhões e você
tos desses navios. Então o construtor naval saiu do Brasil, está querendo cobrar 18 milhões. Eu não sei se, no Japão,
foi ao exterior comprar tecnologia, para voltar ao Brasil, custa 9, é vendido por 9, pelo governo japonês, pode até
construir a fábrica que ia fazer os equipamentos para custar 20 - não acredito - eles são eficientes, realmente
usar no navio que eu tinha contratado há três, 4 anos deve ter um preço menor.
atrás.
Nós criamos uma legislação para compensar o custo
Acresce a isso que, depois, no meio do financiamento, mais alto de um navio, 'construído num estaleiro brasileiro,
da construção, a Sunamam ficou sem dinheiro, o já falado deu-se ao armador um subsidio. O armador comprava o
escândalo da Sunamam. Então, havia uma clásula con- navio mais caro, sabidamente, ao invés de ser a ele ofere-
tratual leonina contra o armador, que dizia que, a cada cido oportunidade de ir à Coréia ou ao Japão 'COmprar o
atraso de qualquer financiamento, por parte da Sunamam, navio pelo menor preço possível, porque não há possibili-
o prazo de entrega do navio era automaticamente pror- dade de a pessoa ser armadora, competindo com preços
rogado, sem que o armador pudesse fazer nada. Fazendo a diferentes. se o armador, que vai competir na minha
história curta, dez anos depois de assinado o contrato, linha, tem o direito de comprar o navio na Coréia ou no
foi recebido um navio que já tinha oito anos de concepção, Japão, e eu posso comprar em outro lugar, mas tenho que
à data de sua contratação. pagar aquele mesmo preço, 'POrque, se eu entrar 'COm a
Então, o navio está completamente obsoleto. Não aten- ferramenta mais cara, a minha rentabilidade é menor, ele
de às necessidades do comércio exterior brasileiro e ainda vai renovar o seu equipamento antes de mim, e vai ofere-
tem um contrato ilegal, feito em dólar, quando a legisla- cer um navio melhor, mais eficiente que o meu. E, cada
ção que regia o assunto à época era clara. Então, duas vez, isso vai me achatando e me deixando numa compe-
legísações: uma, de caráter geral, que dizia que ilegal era tição cada vez mais desvantajosa. Então, sabidamente,
qualquer contrato que impedisse o livre curso do cruzeiro; eu estava comprando um navio mais caro, um navio que
nenhum financiamento podia ser feito em dólar. E mais se fazia a um preço internacional que era médio da Euro-
uma legísação específica - essa é geral de toda a econo- pa, ou seja, o meu 'COmpetidor comprava no Japão e eu
mia brasileira - da área do transporte marítimo, que comprova um navio pelo preço médio europeu.
dizia que a correção monetária para o financiamento da Para compensar isso, foi instituído o adicional frete
construção naval era feita pelo mercado financeiro nacio-
nal mercado nacional de capitais, que também não é em para renovação da marinha mercante no Brasil. O que o
dól~r, segundo eu saiba. De modo que o contrato é ilegal armador arrecadava nesse subsídio, que é uma taxação no
duas vezes, pela Lei Maior ampla e pela lei especifica da frete, foi calculado em média, dependendo de quanta im-
construção naval do transporte maritimo brasileiro. portação ele vai ter, etc., varía com o tamanho da impor-
tação brasileira, mas, em média, faria com que ele equali-
Essa seria a resposta quanto à obsolescêncía, zasse o preço do seu navio com o navio do seu competidor
que comprou no Japão. Aí, vem agora uma sucessão de
Quanto ao item subsidio, esse é um outro assunto decretos-leís, que fez com que esse subsidio, que era do
'complicado. Pelo fato de se saber ou se pensar, à época, armador, mas não era um subsidio, era uma. equalização
que a marinha mercante brasileira era uma tranqüilidade, de preço, esse subsídio, agora, foi transferido integral-
que não haveria problema, já estava estabelecida, tentou- mente para a construção naval, na medida em que, abra-
se fazer um apoiamento à construção naval. ocorre que, vês do Decreto-Lei n.> 1.801, esse subsídio é usado para
sem surpresa nenhuma, o navio braslleiro é mais caro que pagar 'a diferença entre o preço de viabilidade do meu
o navio no exterior. E, aí, temos que fazer também uma navio e o preço que o estaleiro quer cobrar. Deixou de ser
[ustíça ao estaleiro brasileiro: preço de navio é uma coisa um subsídio ao armador e passou a ser um subsidio da
política, não tem nada a ver com o custo do navio, é uma construção naval. No final, eu 'COmpro pelo preço de via-
decisão política de cada pais. Como é uma atividade in- bilidade, mas não tenho subsídio nenhum. Ele é todo da
dustrial que faz demanda de mão-de-obra, então, várias construção naval, para equalizar a diferença de preço.
nações decidiram implementar a construção naval e, den- Então, acabou o subsídio ao transporte marítimo brasileiro.
tre elas, o Japão, por exemplo, a Coréia, os próprios paí-
ses europeus, agora, ultímamente, vieram desistindo da Agora, se V. Ex.a pegar a última publicação da
coisa. Mas, 1)or muito tempo, foi aceito pelo país que era "Unctad", sobre transporte marítimo internacional, V. Ex. a
mais barato subsidiar a 'COnstrução naval do que pagar vai ter duas folhas, em que, do lado esquerdo, são listados
auxílio-desemprego. Então, saiu subsidio e, em todos os os países, em ordem alfabética, e, na vertical, do lado
países do mundo, fez-se subsídio à construção naval. Daí, direito, estão os tipos de subsídio em p,rática no mundo
quando se diz que um navio brasileiro é mais caro do que inteiro. V. Ex. a vai ver que todos os países, que têm tra-
um navio estrangeiro - primeiro isso não é surpresa ne- dição no transporte marítimo, que estão aí competindo
nhuma, porque o computador é mais caro, o carro é mais conosco, todos subsidiam as suas marinhas mercantes de
caro, enfim, tudo no Brasil é mais caro, não vai aí nada uma forma ou de outra. Por quê? Estratégia. li: impor-
contra o estaleiro. E, segundo, o preço do navio, que é tante que se tenha um transporte marítimo, é importante
cobrado ao armador, é uma questão polísíca e, internacio- que o País tenha sua frota para realizar o comércio exte-
nalmente, o preço do navio é muito em função do frete, ríor, 'comandar a sua exportação e importação. Então, o
que está sendo pago por ocasião da encomenda do navio, subsídio é uma prática internacional. se o Brasil não quer
ou, pelo menos, o frete esperado a curto e médio prazos. subsídíar construção naval e transporte maritímo, avisa e
Se o frete que se pode auferir para um determinado tipo fecha, porque não há maneira de se competir sem subsí-
de navio é X, não adianta o estaleiro oferecer à constru- dio. Atualmente, o subsídio está extinto para transporte
ção daquele navio um preço que vai Implícar num frete marítimo. li:- zero, não temos um subsidio. Tudo que for
2X. Ninguém vai encomendar navio. Então, politicamente, chamado subsídio vai para pagar a díterença entre o pre-
os países que são mais ágeis que o Brasil, que legisla tudo ço de viabilidade do armador, que é o preço que ele assu-
isso através de decreto, etc., os países adequam o preço me 'a dívida, e o rpreço que o estaleiro pode fazer o navio.
do navio à realidade de mercado, para assegurar a existên- E, se não obtiver, através da arrecadação desse subsídio,
cia da construção naval. Tudo isso leva que o preço do esse valor necessário, coloca do seu próprio bolso. li: risco
navio brasileiro é um negócio dificil de ser díscutído e, dele, ou seja o navio vai sair do seu preço de viabilid'açle
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 119

e vai passar a ser inviável. É essa a situação quanto a O espaço destinado a essa área era o dia de hole,
subsídio na marinha mercante brasileira. Não sei se teremos, dada a premência do tempo, uma
outra oportunidade. Em todo caso, creio que, para o de-
V. Ex.a fez uma outra pergunta: se havia economia bate, não haveria maiores formalidades para serem cum-
de mercado no transporte marítimo. Eu diria que é aquilo pridas.
que expliquei da outra vez, é uma luta, onde não há regu-
lamentações, onde não é imposta uma ordenação ... O SR. CONSTITUINTE ROBERTO PONTE - Sr. Pre-
sidente, eu aproveitaria, já que está aí o representante
O SR. CONSTITUINTE MARCIO LACERDA - No mo- da Associação Brasileira dos, Armadores de Cabotagem,
mento em que há um subsídio para a construção naval, e para repetir a pergunta, pois S. s.a não estava presente
coloca o navio na equalização de preço que ele seja viável na ocasião.
para o armador, não estaria embutido um subsídio indi-
reto à marinha mercante? Estávamos indagando sobre o problema de deforma-
ções que existiriam em termos de serviços portuários, no
O SR. PAULO COTTA - Eu não entendo assim. que concerne à parte dos portuários e de estivas, e se
O SR. CONSTITUINTE MARCIO LACERDA - V. Ex.a isso realmente era um dos grandes entraves à ampliação
deu um preço que seria considerado de viabilidade, ou viá- da participação no transporte marítimo em termos de
vel para o armador pagar e em condição de competir com transporte dentro do País. Uma das. coisas incompreen-
a política de frete, praticada por outros países ou por síveis, que foram mencionadas aqui, era essa riqueza de
litoral e uma baíxíssíma participação no transporte glo-
outras empresas. É evidente que, se não houvesse bal do País, em relação ao serviço de cabotagem.
esse preço possível, V. Ex.a estaria com o seu na-
vio sendo adquirido por um preço menor, e estaria tendo Temos constatado, aqui e ali, a existência de grandes
necessidade de um sbsídío, para compensar isso. deformações, que nunca conseguiram ser superadas, talvez
devido a legíslações absoletas que regem e que vigoram
O SR. PAULO COTTA - Pelo pressuposto de que sou ainda em termos de tarifas portuárias.
obrigado a comprar no Brasil, porque se eu não fosse
obrigado a comprar no Brasil, eu iria a~ .Japão e compro- A outra pergunta era sobre a participação do setor
va pelo preço internacional. privado, em reíação ao setor estatal, nesse tipo de afre-
tamento, se também há, para esse tipo de serviço, as de-
O SR. MÁRCIO LACERDA Na medida em que formações que foram apontadas, em termo de financia-
V. Ex. a coloca como sendo obrigado a comprar no Brasil mento de navios para o setor de cabotagem, como o setor
um subsídio à construção naval, V. Ex.a estaria também' de longo curso está aqui a denunciar.
evidentemente, colocando a marinha mercante em con~
díçôes de competir. O SR. PAULO EURICO - Respondendo, inicialmente,
ao aspecto da competitividade da navegação de cabota-
O SR. PAULO COTTA - É que eu não chamo isso gem em relação a outros mo dais, que basicamente é o
de subsídio ao transporte marítimo, mas de subsídio à cerne da questão, a navegação de cabotagem tem como
sobrevívêncía da construção naval brasíleíra, porque, se competidor direto, o caminhão. Isto é uma deformação
eu disser que ela tem que fazer pelo preço do .Japão, eu hístóríca, porque historicamente deu-se ênfase, nos trans-
sei que ela vai à falência. Então, o subsídio é a construção 'portes brasileiros ao modal rodoviário. Não somos con-
naval, não ao transporte marítimo, não à armação. trários ao modal rodoviário. Entendemos que o modal ro-
Havia outra pergunta. Era sobre a existência da eco- doviário deva complementar na sua economicidade in-
nomia de mercado no transporte marítimo. As distorções trínseca as pontas em que o transporte, à longa distância,
hoje, são tremendas. A maioria dos navios, na área de seria feito por modagem mais econômica. As deforma-
granel, a que conosco competem, hoje em dia, os navios ções que existem se prendem às interfaces das pontas do
são de propriedade de bancos, porque, em função da re- transporte, porque o transporte marítimo, em si, é, sem
cessão mundial, houve uma cadeía de falências na ar- dúvida, mais econômico do que o transporte rodoviário,
mação internacional. Armadores mais famosos do mundo 'em todos os itens, em termos de performance de consumo,
foram falindo em cadela, Culminou com a falência da- de combustíveis, em termos de custos de escala, custo
quela empresa importante do Japão, proprietária de 125 unitários em termos de quilometragem, tonelada, enfim,
navios, uma das maiores armadoras do mundo, e esses não há nenhuma dúvida quanto a isso.
navios foram retomados pelos bancos que os financiaram. O problema é que, quando o navio bate no porto, ele é
E, como o banco sabe que não consegue vender este navio, cercado por uma tal irracionalidade, por assim dizer, em
porque, justamente, a situação é de crise, ele entrega termos de custo, em termos de burocracia, que tornam
esse navio, a um operador, com a obrigação de tra- essas pontas incompatíveis com a eficiência necessária
zer o juro da divida. Então é esse o frete que é cobrado para o processo.
hoje em dia e é contra esse tipo de frete que o armador
brasileiro tem que competir. Quer dizer, eu tenho uma No tocante à estiva, imaginamos e defendemos que
divida real com o Governo brasileiro e tenho que saldar haja, não só com a estiva, como com todos os setores en-
a minha dívida e estou competindo contra um navio, que volvidos, no caso específico do transporte de cabotagem,
tem por missão buscar o juro da dívida, É essa a situação uma espécie de pacto, - não me preocuparia em definir
do granel brasileiro, hoje em dia. Daí nós termos entrado se é pacto ou entendimento - pelo qual, todas as partes
com uma ação na justiça, por descumprímetno de decreto, envolvidas pudessem ceder um pouco. A estiva ceder, no
enfim, tem todo um embasamento da nossa ação. Não sentido de diminuir o número de estivadores ou a criação
sei se está respondida. da empresa estivadora, enfim, qualquer mecanismo que
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO PONTE - Eu apro- propiciasse, em relação a todos os segmentos envolvidos,
veitaria para anunciar que o Presidente da Associação ao problema dos marítimos, no .,9nt'do de cartões de lota-
Braslleíra dos Armadores de Cabotagem acabou de chegar ção, enfim, se todos os segmentos envolvidos, Inclusive,
aqui, é o Dr. Paulo Eurico. Se alguém tiver alguma per- o próprio Governo, pudessem chegar e colocar a colsa de
gunta sobre cabotagem, S. s.a poderia responder. uma forma muito cartesiana, que seria a seguinte: todos
que estão envolvidos no transporte marítimo e de cabota-
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Autorizei gem estão perdendo em relação ao transporte rodoviário.
a Secretaria a fazer a convocação. O horário era às 9 O que cada um poderia ceder no sentido de viabilizar esse
horas da manhã. meio de transporte? Acho que essa é a equação. Sentamo-
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nos numa grande mesa, com marítimos, estivadores e com do equipamento portuário, por exemplo, como silos, ar-
o próprio Governo, com o IRB, que cria sérias dificul- mazéns de recebimento das cargas etc., ou áreas de retro-
dades, com os financiadores, com o Banco do Brasil, enfim, porto, no caso de exportações, tais como, produtos de aço
com os donos da carga, com os próprios armadores, e defi- e coisas assim.
nirmos basicamente o seguinte: o transporte marítimo de
cabotagem está sucumbindo. O que cada um de nós po- Na carga geral, realmente, é que a situação de desa-
deria fazer para que esse transporte pudesse ser viável? parelhamento do porto se manifesta mais perversa, por-
Acho esse o cerne da questão: todos estão perdendo. Não que, para se poder fazer face à concorrência do caminhão,
adianta puxar a corda que ela vai esticar. nós caminhamos, na navegação de cabotagem de carga
geral, para o container, para o contentor. Então, estamus
Se o armador quer um lucro incompatível com o trans- usando navios roll-on roll-off, navios carreteiros também,
porte, se o estivador quer ganhar mais do que é possível, mas o problema é das pontas. Por exemplo, quando che-
se o marítimo também quer auferir ou quer ter um cartão gamos aos portos, temos uma cadência de descarga, ou
de lotação incompatível com o transporte, e assim por também, nos portos de carregamento uma cadência de
diante; se o Governo quer impor, criar taxas de juros carga, motivada pelo desaparelhamento. Não acredito que
incompatíveis com o tipo de negócio, que tem um retorno o problema maior esteja no custo de ganho do estivador,
lento, acho que é essa equação. li: por aí que temos re- ou no ganho do portuário. Agora, o estivador trabalha a
solver o problema da cabotagem. li: essa a proposta que a bordo do navio. Se, por razão de falta de aparelhamento,
ABAC tem trazido a público. o porto não recebe, com a cadência que o estivador pode
Assumimos a presidência da ABAC há dois meses e mandar a mercadoria, ai há uma quebra do ritmo, embora
estamos caminhando exatamente nesse sentido, numa época não querendo se estabelecer o culpado, encarece, em muito,
razoavelmente conturbada por uma greve de marítimos, o custo de operação.
conseguimos equacionar, e está em fase final de resolu- Não é propriamente o que ganha o homem, mas a má
ção, faltam apenas alguns detalhes, nem por iS80 deixa- condução dos trabalhos. De forma que deve ser feito um
mos de nos preocupar com essa idéia, desse grande en- programa que deve tratar de retirar do caixa único do
tendimento, para que possa ser viabilizada a cabotagem, Governo, a TMP, colocar o recurso a serviço do reapare-
a partir de um esforço conjunto, de concessões múltiplas lhamento dos portos. Isso vale também, inclusive, para
entre todos os setores envolvidos. Creio que isso respon- longo curso, onde os navios estão sofrendo demoras que
deria a sua pergunta. encarecem o frete brasileiro. Dessa maneira, resolvería-
O SR. CONSTITUINTE ROBERTO PONTE - Insisti- mos a questão, passando inicialmente, por cima do pro-
ria em saber se, realmente, o serviço portuário é um elos blema, que não vejo maior, ouc é o problema do custa do
grandes fatores inibidores. Essa deformação na legislação, serviço. É que o serviço não é feito com a eficiência dese-
pela nova Constituição, é uma coisa que se possa corrigir, jada.
porque, por lei, não se conseguiu corrigir. Nem a revolu- O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Concedo a
ção, com todo o poder ditatorial, conseguiu corrigir de- palavra ao Sr. Maurício Santana.
formações. Então, uma nova redação de texto pode viabi-
lizar uma livre competição no serviço portuário. Isso é O SR. MAURíCIO SANTANA - Aproveito a oportuni-
uma das coisas que poderia ajudar. dade da chegada do Dr. Paulo Eurico para acrescentar,
evidentemente, o que o Dr, Lachmann já fez muito bem.
O SR. PAULO EURICO - Não há a menor dúvida. Há
uma ineficiência. Mas acredito que não basta só a legis- Acho que deveríamos enriquecer essa questão, não s6
lação; há que ter um entendimento, porque, se \::SS:l le- da participação dos trabalhadores no engrandecimento da
gislação for beneficiar um lado e não conciliar os inte- marinha mercante, como também a questão do subsídio.
resses, ela vai ser falha. Ela tem que ser fruto de um en- Vou começar pela questão dos portos. Embora não te-
tendimento. Acho que temos condições de dialogar com a nha procuração do meu companheiro Walter Menezes, que
estiva e com os marítimos, no sentido de trazer a racio- é Presidente da Federação dos Portuários e tem toda au-
nalidade ao setor. E, através dessa racionalidade, definir toridade para defender, mas acho que, não s6 a Federação
leis que se coadunem com isso. Se essas leis forem feitas, dos Estivadores, como a Federação dos Portuãríos, já ma-
dificultando ou penalizando um dos setores, que não seja nifestaram, em diversas oportunidades, a disposição de
fruto de uma negociação, ela peca pela base. Esse é um discutir o assunto de forma tripartite. Embora não seja
ponto fundamental. portuário, nem estivador, dou logo um exemplo de que
O SR. LAURITIS VON LACHMANN - Eu gostaría os custos portuários não estão na mão dos trabalhadores.
também de contribuir para ampliar, digamos, o escopo da Olhem a importância da carne. O problema da importação
resposta à pergunta que V. Ex.a fez; acho que realmente, da carne foi uma lástima, em termos de retirada do pro-
no cerne da questão, está o problema do desaparelhamento duto do porto. E a culpa não foi, evidentemente, nem do
portuário. E este, inclusive, motivado, entre outras coisas, trabalhador portuário, nem do estivador. Toda a infra-es-
pelo fato de que a taxa de melhoramento portuário, TMP, trutura do porto parece que estava inadequada para o re-
foi parar na caixa único da União e, de lá, não saiu ainda. cebimento daquela carne. Acho até que quem encomendou,
Acho que é uma luta muito grande para que o Ministério errou na forma da encomenda, que foi em fardos e não
dos Transportes recobre essa taxa, que realmente é co- em carne containerizada. Só para dar um exemplo, embora
brada ao usuário, para fazer investimentos nos portos, que não seja portuário, no caso específico do marítimo, acho
não estão sendo feitos. que o armador também tem culpa, e gostaríamos de dis-
cutir isso. A Federação dos Marítimos, principalmente eu,
Deveríamos dividir o transporte de cabotagem em três que sou marítimo afastado, sou oficial superior de máqui-
segmentos: o granel seco, o granel líquido e a carga geral. nas, trabalhei, durante algum tempo, no Lloyd Brasileiro,
atualmente sou empregado da Aliança, nós temos uma vi-
No granel líquido, os terminais são modernos. Os ter- vência, para fora do problema, muito grande, porque visi-
minais, digamos, são adequados, a uma boa cadência das tamos os portos, compartilhamos com marítimos de outras
cargas e descargas. nacionalidades, visitamos navios de outras nacionalidades,
No caso de granel seco, existem portos que estão con- nos diversos portos do mundo, e tomamos conhecimento
gestionados e já perduram, em maior grau, a inadequação do que se passa lá. Em termos de queixa, acho, têm razão
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 121

na questão do porto. Mas a racionalização tem que ser para reduzir tripulantes. Evidentemente, sobrecarregam o
discutida de forma tripartite. E a nossa proposta é esta: navio e às vezes, não opera, há umas reduções pedidas que
existe uma Convenção Internacional, que é a Convenção impossibilitam o navio de operar. Não pode ser assim.
109, que o Brasil ratificou, que discute e diz que a questão E, por fim, a questão de subsídios. Só para juntar a
das lotações dos navios, o número de homens que vai ope- nossa colaboração, as marinhas mercantes são subsidia-
rar dentro do navio tem que ser discutida de forma tri- das, ou a construção, ou o armador, até em termos de
partite. No Brasil, não é, embora tenha assinado essa tripulação. E o exemplo coreano aí está: sem ter uma fro-
Convenção. E eu me bati por isso, desde que me entendo, ta mercante desse tamanho, tem 120 mil marítimos. O
acho que, desde 1978, quando entrei para o movimento governo coreano protege esses 120 mil marítimos, embar-
sindical, não só como Presidente do Sindicato, como agora cando-os através de convênios nessas frotas mercantes, que
na Federação, tendo uma projeção mais nacional, eu não vem freqüentar as nossas costas. Então, o marítimo bra-
vejo os armadores não aceitam, só se queixam. É claro, sileiro fica desempregado, enquanto o coreano produz em
não'se trata de um armador, como o Dr. Paulo Eurico, massa, a qualificação do nosso marítimo é muito melhor,
com quem temos uma relação muito boa. Mas, de uma está aí a prova da própria marinha e dos armadores, en-
forma geral, a armação tem se mostrado não muito recep- quanto eles conseguem emprego mais do que nós. Sim-
tiva à discussão, de forma tripartite, desses problemas. En- plesmente negociando, barganhando, subsidia~c;Io ess~s
tão, diríamos: vamos rever a questão das tripulações, sen- afretamentos com mão-de-obra barata da Corem e deí-
tados. Só para dar um exemplo: como vai racionalizar? xando sem e~prego os trabalhadores terceíro-mundístas.
Nós temos ainda o enfermeiro mercante, e os armadores No caso, agora são os latino-ameri~a~os que vao concorrc;r
querem tirar o enfermeiro; seria um homem. Para isso, com os brasileiros nesse tipo de atívídade, porque o Brasil,
eles teriam que adotar, as tripulações brasileiras teriam de repente, tomou-se de pruridos e não pode subsidiar.
que adotar à Convenção de Treinamento de 1978, da IMO, Todos eles são subsidiados, de uma forma ou de outra, e
que o Brasil assinou e foi ratificada ao final do Governo todos os países que pretendem ter u!l1a marínha mercan-
Figueiredo, em dezembro de 1985. Essa Convenção é lei te forte subsidiam, ou através da tripulação, ou na cons-
no Brasil. Então, não há um homem a bordo que possa trução ou na própria atividade.
substituir o chamado enfermeiro. Esse enfermeiro não faz
nada a bordo. Eu gostaria de racionalizar o trabalho do Era isso que queria agregar.
enfermeiro a bordo, como tripulante, e obter maiores re· O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Concedo a
sultados na marinha mercante, para que pudesse obter palavra ao Engenheiro Ylá.udio Macedo" Chefe de Depar-
melhores ordenados, porque os nossos salários estão baí- tamento de Vias Navegáveis da Portobras.
xos. Essa é uma questão que gostaria de discutir, não só
como brasileiro, mas como tripulante. Vamos racionalizar Solocito a V. s.a que fale no microfone, porque está
o trabalho na marinha mercante. sendo gravado.
Outra é a questão da alimentação. Todos falam em O SR. CLAúDIO MACEDO - Talvez, eu não seja a
racionalizar. O navio brasileiro tem 30 a 35 tripulantes; e pessoa mais indicada. A minha participação seria de al:!--
26, o navio estrangeiro. Então, a proposta que vem é esta: xiliar, na primeira pergunta do Deputado Mendes, a respei-
corta. Aritmeticamente, se reduz de 30 para 26. E pelas to da parte portuária. Estou, há algum tempo, afastado
mesmas razões que o Dr. Paulo Cotta diz, o navio bra- da parte de operação portuária, estou na parte de vias
sileiro é inadequado, é obsoleto, em termos da existência navegáveis, mas poderia falar alguma coisa sobre porto.
de tripulantes. Nós chegamos ao absurdo, - começando Basicamente, hoje, acho que os problemas portuários
pela cozinha, parte da alimentação - eles têm 3 salões: são dois: um já levantado aqui, em termos da divisão de
um salão para guarnição, um salão para sub oficiais e operação, ou seja, hoje, os portos são operados com a
outro para os oficiais. Isso é fruto de um ranço que leva- capatazia, que é a força que opera em ·terra, comandada
mos para a marinha mercante, que não é bem comercial, pela administração portuária, com força própria, ou suple-
é mais pela origem da Marinha de Guerra. Diria até que, tiva, requisitada dos sindicatos portuários e uma outra
num determinado momento, isso era válido, mas não na f-orça, que é a estiva, que trabalha a bordo das embarca-
marinha mercante moderna. Por que não todos comerem ções. O probelma principal que nós vemos é o operacional.
num só salão? No ano passado, tivemos um seminário, Não existe um comandamento único dessa operação; exis-
em que até ministros comeram no bandejão na Escola de te a administração portnráría, comandando a operação
Saúde Pública. No navio mercante, há um salão para os interna, e existe a parte de estiva, comandando a operação
marinheiros, outros para os suboficiais e outro para os a bordo.
oficiais e, às vezes, um outro para o comandante. Eu não
vejo ninguém atacar esse problema de forma franca e A Portobrás, ano passado, fez os trabalhos de simu-
honesta. lação, o levantamento de rendimento operacional em al-
guns portos brasileiros, um trabalho de tempos e movi-
Gostaria também de falar sobre as formas de marinha mentos, onde detectou, justamente, os gargalos operacio-
mercante e a cabotagem. Há quase 40 e tantas empresas nais. Então, a empresa pode corrigir esses gargalos
de cabotagem, com um ou dois navios só, dando prejuízo, operacionais, quando eles ocorrerem na parte de terra. A
com navios obsoletos. Vamos racionalizar também esse bordo, não existe essa possibilidade, justamente, por falta
sistema. Eu gostaria de discutir essa fórmula dentro do de um comandamento único das operações.
Congresso. Há que se fazer um pool de empresas. Eles fa-
zem pool na navegação internacional, por que não fazê-lo A outra parte, com respeito à deficiência de aparelha-
também na navegação da cabotagem? Por que uma em- mento dos portos, hoje em dia, de fato, como foi levantado
presa de cabotagem disputando com uma outra, no mesmo pelo Lachmann; a TMP saiu da Portobrás - a Taxa de
tipo de trade, no termo dos armadores, na costa brasileira? Melhoramento dos Portos - que foi uma taxa criada jus-
tamente para investir no melhoramento dos portos. Essa.
Tenho certeza de que os portuários, dos quais não te- taxa, hoje em dia, é arrecadada para o Fundo único da
nho representação, estão dispostos a fazer, tanto que estão União e a Portobrás vem tentando, há algum tempo, que
participando de um grupo de trabalho no Ministério dos essa taxa retorne para investimento dirigido, especifica-
Transportes, os estivadores também e os marítimos vêm mente, nos portos. Isso é muito importante, inclusive, tem
se oferecendo. Estou aqui de viva voz. Já tenho sido repe- um trabalho recentemente feito pela Portobrás, que faço
titivo nessa proposta. Queremos discutir com os Srs., mas auestão de depois passar às mãos da Comissão, onde
eles preferem pedir" à autoridade, à Marinha de Guerra, demonstra que, se nós aplicássemos, investíssemos na
122 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

melhoria do portos, apenas os recursos que são perdidos um navio, quase que entrava com a água. É uma expressão
pela própria Nação, por espera e deficiência operacional forte. Pergunto, que relação de percentual, governo e ar-
de desaparelhamento dos portos, esses portos estariam, de mador entram na aquisição de um navio? E a imprensa,
fato, aparelhados para reduzir essa evasão de divisas, que também, tem noticiado uma inadimplência generalizada
é o pagamento de esperas de navios. no sistema marítimo, o Lloyd, através de seu representan-
Temos um trabalho recente que mostra essa evasão te, confessa que, em auditoria recente, chegou a 285, 300
de divisas, com espera e a demora de navios nos portos; milhões de dólares. O que se passa, realmente, com a
esses números não os tenho aqui de cabeça, mas são bas- cabotagem? A preocupação dos parlamentares, acho que
é válida, uma vez que essas empresas são concessionárias
tante alarmantes. Comprometo-me a encaminhar a esta de uma licença outorgada pelo Governo. Por fim, qual a
Comissão, tanto a parte da evasão de divisas, em função posição do Ministério dos Transportes?
de mau aparelhamento e falta de recursos de investimen-
tos, que geram uma operação mais demorada e, por con- O SR. LAURITZ V. LACHMANN - A nossa empre-
seqüência, uma demora maior dos navios nos portos, como sa, até hoje, é a única empresa privada que encomendou
também a parte de estudo, inclusive, de custos que foi navios depois da assunção, pelo BNDES da gestão do
feita, há algum tempo atrás, onde foram verificados os Fundo de Marinha Mercante. Estam~s construindo
custos, de fato, existentes nos portos. atualmente um navio roll-on roll-aff para um serviço que
Hoje, temos dois fatores de custos, nos portos, um nós ternos, uma linha para a Africa Ocidental. Não é certo
que é realmente o custo portuário, onde os usuários pa- que o armador entra Só com a água. Isso talvez possa ter
gam por todo o aparelhamento portuário e as decorações acontecido no passado. O que sucedeu, na contratação
em terra; e um outro custo a bordo, ou sejam, os custos desse navio, foi que, de acordo com as regras vigentes do
de estiva. E os estudos, à época em que estava na área Fundo de Marinha Mercante, o navio foi financiado
de operações, demonstram que esses custos, inclusive são a priori, em 90%, deduzidos desses 90% uma lista de eqUi~
bastante reduzidos se comparados com os custos a bôrdo. pamentos importados, que o armador tem que assumir,
A Portobrás também está desenvolvendo um trabalho tem Que negociar o financiamento no exterior e tem que,
comparativo entre as tarifas portuárias, praticadas no inclusive, se fazer responsável pela desvalorização das
Brasil, e as tarifas portuárias, praticadas internacional- moedas em face da moeda nacional. Então, nós temos
mente. Esse é um trabalho que está sendo desenvolvido, que, no caso desse navio roll-on roll-off que estamos cons-
acredito que seja concluído neste ano e vem demonstrar truindo no Estaleiro Mauá, a lista de importados atinge
que os custos portuários, praticados, hoje, no Brasil, pelo 8% do valor. Nós temos que entrar com 10% do custo
caminhar desse trabalho, eles são mais baratos dos que total. Portanto, de 20 milhões de dólares, nós, a Compa-
os custos praticados nos portos estrangeiros. nhia de Navegação, estamos pagando. dos nossos recur-
sos, 2 milhões de dólares ao longo do prazo de constru-
Aproveitaria a oportunidade, que me foi dada pela
Mesa, de colocar aqui, e voltando à minha área específica
ção do navio, que é de dois anos. Então, ° subsídio que
BNDES nos concede, através do Fundo de Marinha Mer-
de atuação, na Portobrás, a importância, nesse contexto cante, exclui os 10% que o armador paga dos seus pró-
todo, das vias navegáveis interiores, no setor de transporte prios recursos e exclui, também, a lista de importados.
no Brasil. Hoje, a participação do transporte fluvial re- De fo..rma que o subsídio se aplíea somente sobre a parte,
presenta coisa da ordem de 1% do transporte interno do excluídos os 17%, 10% do armador e 8%, melhor dito, da
País, isso, se compararmos esses transportes com as expe- lista de importados. O subsídio foi discutido no Fundo de
riências internacionais dos países principalmente desen- Marinha Mercante e nos foi concedido na razão de 20%.
volvidos, onde a participação da navegação fluvial é gran- De maneira que esses 20%, então, se aplicam sobre a
de, é comprovadamente eficiente e a custos mais baratos parte do financiame~J.to nac!onal. Achamos que é pouco,
e com dispêndios energéticos bem abaixo das outras mo- mas naquela oportunídade nao pudemos discutir. Estamos,
dalidades. Aproveitando esta oportunidade, gostaria de en- agora, em fase final de aprovação de um navio de gás
fatizar para a Comisão de Transporte, que é um ponto eteno. Será o primeiro navio para gás eteno construido
bastante importante nesta Constituinte, começarmos a no País. Moderna tecnologia, um navio que inclusive
olhar com mais importância e a olhar, com realismo, o tem que liqüefazer as cargas a uma temperatura de 104
transporte hidroviário interior que, em todos os outros graus negativos. A lista de importados desse navio ascen-
países, é responsável por uma parcela considerável de de a 27%. Com os nossos 10%, isso equivaleria a um subsí-
transporte e, no Brasil, até hoje, é incipiente. Costumo dio aplicável apenas sobre 63% do valor do navio. Nós
dizer que estamos atravessando uma fase, que é a história fizemos, inclusive, uma sustentação oral no Fundo de Ma-
do ovo e da galinha. O armador privado não investe numa rinha Mercante, reclamando contra isso e conseguimos
frota de navegação fluvial porque não existe a confiabi- que o estaleiro assumisse a lista de equipamentos finan-
lidade da hidrovia. Por outro lado, não se investe na hi- ciados. passando, então, a ser considerada pelo BNDES
drovia, porque não se tem a garantia de transporte do
armador privado e nem a garantia da carga nesta hidrovia. como fazendo parte do preço nacional do navio. Então,
Então, entramos num círculo vicioso que precisa ser rom- com isso, nós vamos ter um subsídio sobre 90%, os nossos
pido, e o passo primeiro é dotar nossas hidrovias da 10% sempre excluídos. Depois de muita luta, tentando
infra-estrutura necessária de transporte para atrás disso, conseguir os 40%, que é o teto máximo previsto para
virem os armadores e as empresas privadas, de forma a subsídio pelo Decreto n.o 1 801, nós, do BNDES, consegui-
dotar a navegação necessária, indispensável, hoje em dia, mos 38,6%. vejam a filigrana, não se pôde dar 40%, apesar
para o próprio desenvolvimento do País. de nós termos comprovado. Da Coréia. nós tínhamos um
navio similiar a 15 milhões e 660 mil dólares, quando o
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - Com a pa- preço de construção dele é de 27 milhões de dólares. De
lavra o Constituinte
.
Sérgio
. Naya. maneira que o armador luta, realmente, para conseguir
O SR. CONSTITUINTE SÉRGIO NAYA - Falamos o subsídio. Nós não queremos uma ferramenta que, além
aqui em subsídio ao armador, em equalização de preços. desse subsídio de preço. da equalização de preço, mereça,
Falamos também em vida útil, em período de financia- ainda, um subsídio adicional. Nós temos que lutar pela
mento de um navio. Falou-se também em linhas defici- nossa fatia de mercado. Nós temos que defender a eco-
tárias e navios obsoletos. nomicidade da nossa atividade.
Em conversa recente com o ex-Presidente do Lloyd, r.: Mas, eu' acho que é preciso abrir os olhos do Mlnís-'
fui informado de que certos armadores, na obtenção de tério dos Transportes, inclusive também do Conselho Di-'
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CQNSTITUIN'rE (Suplemento) Segunda-feira 20 123

retor do Fundo, que eles têm que ser um pouco maís mente pela Sunamam de que o reajuste das prestações, a
realistas em termos da concessão desses subsídios, haja exemplo do Sistema Financ,eiro de Habitação, fazendo um
vista a diferença extraordinária de preço que vigora entre paralelo, não poderia ser tal que tornasse insuportável, em
estaleiros nacionais e estaleiros estrangeiros. E parece-me relação à receita, o pagamento daquela prestação; a mes-
até Incoerente que, de um lado, nós tenhamos uma mon- ma analogia que se faz em relação à equivalência sala-
tanha de dinheiro acumulado no Fundo de Marinha Mer- rial. O que aconteceu? A Sunamam muito bem entendeu,
cante que, de acordo com uma palestra recentemente em face da conjuntura de fretes, e fretes não podiam ser
proferida pelo Engenheiro Márcio Forte, que é o atual ajustados, em conseqüência, a sunasnam tomou uma série
Presidente do BNDES, vai chegar ao fim do ano com 25 de medidas no sentido de limitar esses reajustes. Quando,
bilhões de cruzados, ou seja, 1 bilhão de dólares, e, de em 'dezembro de 81, o Ministro Cloraldino Severo determi-
outro lado, nós tenhamos armadores solicitando o que a nou que se praticasse o contrato a partir da origem, ou seja,
lei deveria dar, que o Governo deveria dar para equalizar a correção da ORTN à origem, simplesmente as prestações
apenas o preço da sua ferramenta. Então, o armador não quadruplicaram de preço, em alguns casos até 6 vezes
entra só com a água. Obrigado. maiores, dependendo Ido tipo do contrato e da época em
que o navio foi entregue, o que tornou totalmente inviável
O SR. CO;.;rSTITUINTE SÉRGIO NAYA - A exposição a 99% dos armadores de cabotagem pagarem as suas dívi-
de V. s.a falava em termos recentes. Eu perguntei no das. Foi só ísso o que aconteceu. Uma falta de sensibili-
passado. dade da autoridade no sentido de que aquele contrato já
O SR. LAURITZ V. LACHMANN - Eu passo a palavra estava novado de fato, e tanto estava novado que diver-
aqui ao Dr. Paulo Cotta. sos armadores entraram na Justiça. Alguns até vão ga-
nhar a ação. Então, a autoridade tem de ter um pouco de
O SR. PAULO COTTA - Eu trabalhei no Fundo da sensibilidade política para não deixar que isso aconteça:
~arinha Meroante; antes de ser funcionário de uma
o armador ser forçado a entrar com uma ação para se de-
empresa de navegação, eu trabalhava no Fundo da Mari- fender de uma ação do Governo. Isso explica, em rápi-
nha Mercante e foi durante a época em que houve a tran- das pinceladas, o que originou a dívida da cabotagem. In-
sição Ida Sunamam para o BNDES. E trabalho nessa em- clusíva isto foi motivo da minha vinda aqui, eu estive com
presa há cerca de ano e meio. Quer dizer, o passado eu não o Senador Mário Covas para levar esse assunto, porque o
vivi, eu ouvi falar. O que houve, realmente, é que no iní- Ministro Funaro deu um voto para dificultar esse proce-
cio da construção naval, da instalação do transporte ma- dimento. Seguramente, vamos reverter esse processo. E a
rítimo brasileiro, as embarcações eram financiadas em até dívída da cabotagem será equacionada dentro de novos
95%. Isso foi no primeiro contrato, não seí nem mais a moldes, com juros diferenciados, com limitações corro re-
data, 1959. E o AFRMM, que era arrecadado, era 100% do lação à tarifa, e assim por diante, e aí será possível pagar,
valor do frete nas cargas de importação. E isso, de lá para porque ao armador não interessa ficar devendo, até porque
cá, vem sendo reduzido e constrangido até hoje em dia, a é uma pecha, é uma nódoa que dificulta a sua comercia-
nível de, como falou meu colega, ser insuficiente para lização. a armador, quando vai ao s-eu cliente, vai numa
equalizar o preço. Não é subsídio, vantagem para o arma- posição inferior, porque os jornais divulgam que ele é ina-
dor. Eu insisto que isso é subsídio à construção naval. Não dimplente, ele vai ao Banco e encontra dificuldades em
é subsídio ao transporte marítimo. Eu posso lhe dar um negociar linhas de crédito. Então, não interessa ao arma-
dado, por exemplo, que eu estive vendo recentemente. A dor perpetuar essa situação. Ele quer equacionar a dívida.
minha empresa, a empresa para a qual eu trabalho, já Agora, para que ela possa ser equacíonada, ela tem que
pagou 252 milhões de dólares de financiamentos. Quer di- ser viável. lir impossível pagar aquilo que não se tem como
zer, essa história de que entra com o mar, eu acho que receita. Esse é um ponto básico. Eu creio ter respondido á
há um certo exagero. No início dos transportes marítimos, questão.
realmente, os navios foram extremamente facilitados.
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Carneiro) - O Sr. Re-
O SR. CONSTITUINTE Sli:RGIO NAYA - Sr. Presi- lator solicita a palavra e eu lembro o tempo que já perma-
dente, eu formulei mais duas perguntas a respeito... O necemos aqui.
que se realmente passa na cabotagem e qual a posição do
Ministério dos Transportes. O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) - Eu gostaria de
O SR. ALMIRANTE .T. ABOIM - Perdão, eu não perguntar ao Almirante .T. Aboim, representante da
entendi. Sunamam, como é feito o procedimento de concessões de
linhas marítimas e outorgado por quem. Quando a empre-
a SR. CONSTITUINTE SlJ:RGIO NAYA - É que a Im- sa solicita uma nova linha, essa distribuição é concessão
prensa tem noticiado - vou repetir, anotei aqui - uma ou qualquer armador pode transportar mercadorias para
inadimplência generalizada do sistema marítimo. a Lloyd qualquer parte do mundo, ou tem linhas determinadas pa-
aqui mesmo confessa a dívida em suas auditorias recen- ra transporte?
tes de 285 a 300 milhões de dólares. O que se passa real-
mente na cabotagem? A preocupação dos parlamentares, O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - V. Ex.a se refere 310
eu acho que é válida, uma vez que essas empresas são transporte internacional?
concessionárias de uma licença outorgada pelo Governo. O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) - ] i ; mesmo cabo-
Qual a posição do Ministério dos Transportes com refe- tagem, também. Se eu tenho um navio, eu posso .transpor-
rência a essas empresas? tar mercadoria para o Rio Grande do Sul, ou para o Ama-
O SR. :ALMIRANTE J. ABOIM - Eu peço perdão zonas? É livre ou está determinado. Cada empresa pode
a V. Ex.a, mas esse assunto escapa à Sunamam, hoje. Esse transportar para parte da costa ou para o Oriente Médio,
assunto será mais do Conselho Diretor do Fundo de Ma- e quem faz o Oriente Médio pode fazer Canadá? E quem
rinha Mercante e não é mais uma atribuição Ida Sunamam, concede essas linhas, quem normaliza, qual o poder?
que eu tenho a honra de estar aqui representando.
O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - Na cabotagem, as
O SR. PAULO EURICO - Eu creio que eu poderia ten- linhas são concedidas pela Sunamam, atendendo a pre-
tar responder ao Constituinte. O que se passou na cabota- tensões ou a pedidos das empresas, tendo em vista, natu-
gem, em termos da dívida que é advogada e badalada pe- ralmente, o tráfego existente, se está servindo, se não está
los jornais, foi que, em dezembro de ,81, o Governo resol- servindo, . se há deficiência ou não, ou se há excesso de
veu alterar a aplicação dos contratos. Havia um entendi- tonelagem oferecida, - porque seria um elemento per-
124 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

turbador, colocar-se muitas empresas em uma determi- O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) - O julgamento
nada linha, deixando desguarnecidas outras linhas neces- de que a empresa tem mercado para ela e se ela é idônea
sárias. A tendência é de se fazer uma liberalização total ou não, cabe à Sunamam.
da 'Cabotagem, no sentido de que as empresas apenas in- Uma outra pergunta: a Marinha de Guerra acha que
formem à Sunamam as :linhas que pretendem manter e certos problemas da marinha mercante decorrem de que
os portos que pretendem freqüentar. A Sunamam, evi- ela não tem o controle da marinha mercante, está afeto
dentemente, precisa ter conhecimento dessas linhas e des- ao Ministério dos Transportes. Se ela normalizasse, se ela
sas intenções, para poder atender a reclamos de outros dirigisse a política da marinha mercante, como faz a
Estados ou de outras localidades que necessitem do trans- Aeronáutica, que dirige o DAC, que dirige a aviação aérea
porte marítimo. comercial, é normalizada, é concentrada pela FAB, o mes-
No transporte internacional, antigamente o Lloyd mo não acontece com relação à marinha mercante. se a
Brasileiro tinha o monopólio de todo o transporte inter- aviação civil é controlada, normalizada, fiscalizada pela
nacional. Depois, foi aberto, em 67, às empresas privadas Aeronáutica, por que a marinha mercante saiu do âmbito
e foi feita uma avaliação das empresas em condições de da Marinha de Guerra para o Ministério dos Transportes?
participar dessas linhas internacionais e foi atribuída uma Gostaria que o Sr. me respondesse.
área a cada empresa. Cada empresa rícou com uma deter- O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - Eu, aqui, preciso
minada, inclusive porque nela está a embutida "a seu ~ri­ tirar o meu boné de Almirante, porque, na realidade, o
se tráfego e de uma maneira geral prevalece esse sensído ,transpor,te marítimo é uma atividade comereíal que escapa
de que o tráfego seí a bem servido. E eu digo bem. servido às finalidades da Marinha de ouerra, e o Decreto-Lei
no sentido de não ser nem de deficiência ou de supera- n.o 200 define muito bem essas atívídades. Eu, apenas,
bundância em excesso, de praça oferecida, com prejuízo diria que o transporte aéreo deveria caber ao Ministério
das empre~as que estão navegando nessas linhas. dos Transportes. A posição seria reversa , Eu acho que o
O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) - Então, a Ministério dos Transportes é que deveria controlar o
Sunamam tem o poder discricionário. Ela pode dar, cor- transporte aéreo, também. Existem nos países sul-ameri-
tar ou aumentar uma linha. Ela tem esse poder? canos, sobretudo na costa Oeste, Peru, Equador, Venezuela,
onde a Marinha de Guerra é a autoridade marítíma da
O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - Eu tenho mui~ marinha mercantil, marinha comercial. Evidentemente a
receio desta palavra díserícíonáría e acho que deve ser eli- Marinha de Guerra não se destina a fazer comércio. A
minada inclusive porque nela está a embutida "a seu cri- noção de custo para a Marinha de Guerra tem um signi-
tério" e isso é coisa que não é correta. Eu acho que os ficado diferente da noção de custo para um empreendi-
critérios devem ser claros, definidos e estabelecidos e mento comercíal. De forma que eu acho que envolver as
devem atender a esse critério. duas 'Coisas, distrair a Marinha de Guerra das suas obri-
O SR. RELATOR (misses Oliveira) - Mas quem n?r- gações, para vir dirigir uma atividade comercial, acho que
maãíza 'Critérios é a sunamam. Então, se ela normaliza, não seria adequado, e creio que a situação atual, a meu
tem o poder de tirar uma empresa, colocar no Oriente Mé-
ver pessoal, está correta.
dio, colocar no Canadá, ou existe um ca~tel do tipo das O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) - Almirante, a
Sete Irmãs, elas se organizaram e foram a Sunamam e a sociedade brasileira, inclusive O Oongresso, tem que ana-
Sunamam normalizou aquilo de acordo com eles. lisar qual seria melhor, a viação aérea ou a marinha mer-
cante. Porque uma é dirigida pelo Ministério e outra con-
O SR ALMIRANTE J. ABOIM - Inicialmente, houve trolada por uma superintendência. Precisa-se saber quais
essa distribuição de linhas. Essas empresas estão prestan- os problemas são maiores, se é na aviação civil- inclusi-
do serviços relevantes ao nosso tráfego. ve amanhã estarão aqui conosco para debater isso - que
O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) -: Almirante, ~u é controlada por um Ministério e a outra não. Então, eu
estou fazendo as perguntas a V. s.a porque amanhã eu
não estou entrando no mérito, se elas sao boas ou mas, irei formular as mesmas perguntas aos representantes da
nem estou questíonando. Só estou perguntando quanto ao
poder da concessão de linhas. Se eu hoje me aSSOCIar ao viação comercial. A Marinha de Guerra, pelos seus poria-
meu colega Deputado, que é armador, e quiser uma nova vozes aqui, dizem que os escândalos da Sunamam não
linha, a quem me devo dirigir, quem vai me conceder essa teriam havido se a Marinha tivesse o controle da política
linha. Se eu quero entrar no mercado, o que faço? mercante. Quer dizer, essa é a opinião deles. Não estou
questionando, não sei se está certo ou errado.
O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - Ir à Sunamam.
Agora, a minha últíma pergunta: eu gostaría de sa-
O SR. RELATOR (Ulisses de Oliveira) - A Sunamam. ber, só para o conhecimento aqui, porque não consta da
Entã{), ela tem o poder direto, de vida e morte. matéria constitucional. O Paulo Cotta disse que nós gas-
O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - Ela tem o poder de tamos 3 bilhões e 500 milhões de dólares. Alguém falou
ísso, O que Brasil paga, como Receita de todos os transpor-
cumprir a lei. tes marítimos é de 3 bilhões e meio. Depois o mesmo Paulo
O SR. RELATOR (misses Oliveira) - E quem faz a Cotta falou que a participação brasileira nesses fretes é
lei? de 1 bilhão e 450 milhões de dólares. Qual é a parte do
Lloyd e qual é a parte das empresas particulares? É
O SR. ALMillANTE J. ABOIM - O Congresso. de 50%?
O SR. RELATOR (Ulisses Oliveira) - O Oongresso fez O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - A posição seria de
a lei e deu à Sunamam o poder. Agora, quem dá a auto- 50% dessa participação, por definição, porque ele parti-
rização da lei? se eu quíser uma linha nova para os Esta- cipa em cada linha, na proporção de 50% do Lloyd e
dos Unidos, hoje, para Los Angeles, quem vai me conceder 50% da empresa privada, que, no momento, essa seria por
essa linha. definição.
O SR. ALMIRANTE J. ABOIM - A Sunamam con- O SR. CONSTITUINTE MAURO CAMPOS - Sr. Pre-
síderará e, se houver uma empresa em condições de ete- sidente, em primeiro lugar eu queria manifestar o meu
tuar esse serviço, não há motivo de se negar. agrado em estar presente a esta reunião da auccomíssão
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 125

de Transportes, uma vez que sendo originário do setor, São questões importantes que, do ponto de vista de
não participando ativamente desta COmissão, aqui cheguei Deputado Constituinte, eu gostaría de absorver e enten-
um pouco atrasado por estar reunido na minha Subco- der com clareza o pensamento do setor marítimo. Muito
missão, onde eu sou titular. Então, eu queria apresentar obrigado, Sr. Presidente.
a minha saudação aos meus antigos companheiro de ma- O SR. MAURíCIO SANTANA - O Dr. Lachmann já
rinha mercante, e dizer da satisfação de ouvir as expo- tinha me colocado essa questão. Vamos começar pela par-
sições e de ouvir as respostas. Queria, de qualquer forma, ticipação acionária. Essa não é uma proposta só do movi-
apresentar duas perguntas, Sr. Presi:dente. Uma, em asso- mento. É uma proposta de todo movimento sindical que
ciação à pergunta colocada pelo Deputado Sérgio Naya, vem das centrais sindicais, e que nós simplesmente ade-
meu companheiro de bancada do PMDB mineiro, no sen- quamos, ela está incluída no documento básico de política
tido da questão da inadimplência. No nosso entendimento, mercante, e que o sindicato dos engenheiros, os metalúr-
a questão não foi respondida a contento, mesmo porque, gico,:; e os mar~timos e estivadores entregaram e pediram.
como disse o Almirante, o Ministério dos Transportes aqui
não está presente. Eu não sei se seria uma praxe normal, E.ntao, a~ questao era de nacionalização. Como, na ocasião,
que poderia ser adotada pela Presidência da Mesa da Sub- ainda nao tinhamos obtido os resultados da CPI e da
comissão, enviar esta pergunta ao Ministério dos Trans- Sunamam, os trabalhadores entendiam, e eu aí concordo
portes, para que ele esclarecesse aos Srs. Parlamentars, com o Dr. Mauro Lucindo, que a proposta é muito abran-
uma vez considerando essa matéria de extrema relevância, gente, mas concordo que a questão desses débitos tinha
porque, inclusive, é uma matéria que, no nosso enten- que ficar protegida, através de um posicionamento do Con-
dimento pode estar ligada efetivamente à questão cons- gresso e até incluído na Constituinte, para que não ocor-
titucional. Essa a primeira questão que eu realmente colo- ressem mais esses empréstimos e depois os escândalos, ou
caria à Presidência da Mesa. pelo menos, os pseudo-escândalos na marinha mercante
não se tornassem um poço sem fundo, e que, a exempl;
A segunda questão eu colocaria ao meu velho com- de outros, dos escândalos da área financeira, não hou-
panheiro Maurício. Rapidamente eu consegui passar os vesse a responsabílízação. E no caso da Marinha Mercante
olhos aqui, numa leitura em diagonal, de um trabalho tendo navios, estaleiros e tendo um patrimônio aind~
apresentado dizendo que eu me associo a uma série de remanescente dessa malversação, dessa má aplicação e
teses aqui apresentadas, e discordo fundamentalmente de até da fraude, o Estado pudesse tomar conta dele. Mas mo
usn ponto, que eu gostaria de ter um esclarecimento maior. lembrava também o caso do estaleiro EMAQ que já tinha
Acho e coloco esta questão, porque acho fundamental, do parttcípação acionária do BNDES e assim me~mo o BNDES
ponto de vista da matéria constitucional, porque ela trata nao se preocupou com o resultado final, que levou pra-
de um problema, na verdade, um problema ideológico, ticamente a liquidação do estaleiro EMAQ. Mas se os fi-
um problema de posicionamento, de participação do Es- nanciamentos são superiores ao patrimônio, ao capital
tado na economia. E a Subcomissão trata, efetivamente, dessas empresas, no caso das empresas de navegação. elas
desta matéria. Diz o documento apresentado pelo com- fatalmente seriam estatizadas, no caso da inadimplência
panheiro Maurício santaca diz o seguinte: e isso se aplicaria a todas. Mas, a idéia é que o Govern~
"O processo de sucatearnento e desnaciona- permaneça e controle, de maneira mais efetiva, através do
lização da marinha mercante brasileira, vem sen- Congresso, a questão dos financiamentos, para que não
do gradualmente aplicado, obedecendo às teses o~orra~ o que .ocorreu c~~ a questão da Sunamam. A posí-
dirigidas pelo capital transnacional e monitora- çao nao e so dos marítímos, mas de todo o movimento
mento pelo Banco Mundial, ao qual eu me filio sindical, que englobava metalúrgicos e, principalmente
e subscrevo." essa proposta é do sindicato dos engenheiros eu lembro~
Eu teria uma discordância quanto ao monitoramento :t;ne muito bem que. ~l!l; entrou na nossa proposta, porque
pelo Banco Mundial, mas é mais: uma questão de forma e uma proposta unítáría,
do que de conteúdo. Entr,e essas teses figura o estímulo e a Agora, com relação à questão da Docenave agradeço
extensiva aplicação das bandeiras de conveniência, pro- a oportunidade para voltar a este assunto. Nós ~o;sidera­
vocando não só a hemorragia de recursos, ano a ano para mos isso um absurdo, e a nossa proposta também não está
o exterior, mas inviabilizando os investimentos. necessá- aqui na Constítuínte, porque nós entendemos que não era
rios à modernização das ambarcações brasíleíras. E eu matéria constitucional, mas é matéria de uma lei maior
continuo subscrevendo, já emendamos num projeto que tem de controle das esta~
Aí, entra numa questão que diz respeito exatamente tais e de participação, para que os afretamentos sejam
a uma empresa estatal brasileira, que é a Doeenave, que, liberados pelo Congresso.
ao longo dos anos, tem adotado uma prática de associação Então, eu. faço um apelo, que fique registrado, porque
seja através de a:ssociaçãocom empresas estrangeiras' estamos perfeitamente de acordo de que é um absurdo, no
seja diretamente usando o artificio da bandeira estran~ momento em que um deputado aqui presente membro
geíra, das .bandeíras de conveniência. Eu gostaria, com
a responsabilidade de representante do setor marítimo da comissão, tem 1!-m projeto que institui a ta~ação dos
que o companheiro analisasse essa questão, porque eu ~ afretamentos, que e do Deputado Gustavo Faria, no mo-
considero importante do ponto de vista, como eu disse mento em que todos nós condenamos esses afretamentos
i.ndiscrimina~os, que uma empresa como a Doeenave, que
de início, ideológico, isto é, uma empresa estatal fazendo
aquilo que a Flederação de Marítima está condenando, e. paga, qU,e .e uma empresa do Governo brasileiro, se asso-
ao mesmo tempo sabemos que as ,empresas privadas não CIe_a notórios grupos financeiros especialistas na explo-
têm esse poder. Ao lado disso, eu gostaria de comple- raçao dessas bandeiras de conveniência que nós chama-
mentar uma outra questão, no meu entendimento fun- mos de pirataria rediviva no mar, que 'uma empresa e~­
damental, que me parece que a Federação caminha paea, tatal faça isso. Segundo, que esses afretamentos não
estatização da marinha mercante brasileira, quando, num passe:n pelo crivo de ninguém, nem da própria Sunamam,-
determinado parágrafo, diz o seguinte: "Os financiamen- acredito que passe. O Congresso Nacional tem que verifi-
tos concedidos pelo Governo Federal às empresas de nave- car essas associações, que eu entendo espúrias; os maríti-
gação, sejam condicionados: a uma participação acioná- mos entendem que são espúrias essas associações, com
ria na empresa, proporcional ao volume do capit~l finan- gr~po ~omo da,Ciamar, da Willianson, grupo dinamar-
ciado." Isso aplicado levaria certamente a um processo ques. Nos gostaríamos de rever essas concessões, de 'rever
de estatízação da marinha mercante brasileira. esses arretamentos e de pedír, realmente a atenção .do
126 Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Congresso, para que não permita esse tipo de arretamen- Daniel Rech. O Presidente agradece a presença dos repre-
to, principalmente numa empresa estatal. Já tínhamos uma sentantes da Comissão Pastoral da Terra. O Deputado Jo-
emenda a um projeto que existe, se me recordo, do Se- nas Pinheiro encaminha à Mesa duas proposições à Subco-
nador Saturnino Braga, e lá está a emenda dos marítimos, missão, referentes aos assuntos "Extensão Rural e Assis-
no sentido de que essas concessões o sejam através do tência Técnica" e "Destinação de !Recursos" para a pri-
Congresso Nacional. Agradeço a oportunidade. Era isso meira proposição. O Relator Oswaldo Lima Filho propõe
que eu tinha a dizer. aos Membros da Subcomissão que se faça a encadernação
de todos os documentos e sugestões recebidos pela Sub-
O SR. PRESIDENTE (Dirceu Cardoso) - Não ha- comissão, no que concordam todos os Constituintes pre-
vendo quem queira usar da palavra, nós agradecemos aos sentes. O Presidente Edison Lobão passa, verbalmente, a
Constituintes que compareceram a esta Comissão, e deba- Presidência ao Segundo-Vice-Presidente, Constituinte Fer-
teram essa questão, e também aos expositores. E quere- nando Santana, que a assume, agradece aos expositores
mos registrar que, durante o desempenho desta Subcomis- suas presenças e, nada mais havendo a tratar, encerra a
são, ela estará aberta para receber as contribuições por reunião às vinte horas e vinte e seis minutos, convocando
escrito, principalmente aquelas que não puderam ser feitas os Membros da Subcomissão para a visita ao primeiro
na oportunidade em que se dedicou 'especificamente para o agrourbano de Brasília, a realizar-se no próximo dia sete
assunto. Muito obrigado. de maio, às oito horas. O inteiro teor dos trabalhos será
Lembro também que hoje, às 17 horas, nós temos en- publicado, após tradução das notas taquigráficas e o com-
contro com o Ministro dos Transportes, e, às 18 horas ou petente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Na-
18 horas e 30 minutos, com o Ministro do Desenvolvi- cional Constituinte. E, para constar, eu, Mauro Lopes de
mento Urbano. Sá, Secretário, lavrei a presente Ata que, depois de lida e
aprovada, será assinada pelo Presidente.
Está encerrada a sessão.
(Levanta-se a reunião às 12 horas e 56 mí- ANEXO A ATA DA DÉCIMA QUARTA REU-
nutos.) NIÃO (ORDINARIA) DA SUBCOMIS'S1i.O DA
POLíTICA AGRíCOLA E FUNDIARIA E DA
14.a Reunião (ordinária) REFORMA AGRARIA, REALIZADA EM 6 DE
MAIO DE 1987, AS 17:19 HORAS, íNTEGRA DO
Aos seis dias do mês de maio do ano de mil novecen- APANHAMENTO TAQUIGRAFICO, COM PUBLI.
tos e oitenta e sete, às dezessete horas e dezenove minu- CA'Ç1íO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO
tos, em Sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a :SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSlíO,
Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Refor- CONSTITUINTE EDISON LOBlíO.
ma Agrária, sob a Presídêncía do Senhor Constituinte Edi-
son Lobão e com a presença dos Constituintes: Jorge O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Srs. Membros
Vianna, Victor Fontana, Oswaldo Lima Filho, Edison Lo- desta Subcomissão de Política Agrícola e Fundiária e da
bão, Ivo Mainardi, Virgilio Galassi, Mauro Borges, Fer- Reforma Agrária, dou por iniciada esta reunião, que se
nando santana, Irma Passoni, Amaury Müller, Jonas Pi- destina a ouvir o Dr. Roberto Rodrigues, da Organização
nheiro, iRachid Saldanha Derzi, Rosa Prata, Alysson Pau- das Cooperativas Brasileiras, e Sr. Hamilton Pereira da
linelli, Aldo Arantes, Ivo Vanderlinde, José Mendonça de Silva, da Comissão Pastoral da Terra.
Morais e Osvaldo Almeida. Havendo número regimental, o Tenho em mãos a ata da reunião matutina. Se os Srs.
Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos, solici- membros da Comissão estiverem de acordo, terá a sua
tando aos presentes seja considerada como lida a Ata da leitura dispensada. (Pausa.)
reunião anterior, que foi aprovada. A seguir, deu-se início
ao Expediente com o Presidente convidando o expositor, Todos estão de acordo.
Dr, Roberto Rodrigues, Presidente ida Organização das (É lida e aprovada a ata da reunião anterior.)
Cooperativas Brasileiras, para dar início à sua palestra.
Usando o tempo regimental, o orador encerra suas pala- Convido o Dr. Roberto Rodrigues para tomar assento
vras e se dispõe aos debates com os Membros da Subcomis- à Mesa.
são. Interpelaram o orador os Constituintes: Ivo Mainardi, V. s.a terá 20 minutos para fazer sua exposição Inicial,
Virgílio Galassi, Fernando Santana, Alysson Paulinelli, e, em seguida, entraremos na fase de debates, com três
Mauro Borges, Rosa Prata, Ivo Vanderlinde. O orador res- minutos para cada Sr. Constituinte, para que possam fa-
ponde aos inteterpelantes e encerra sua exposição. O Pre- zer suas indagações, e três minutos para a resposta de V. S.a
sidente passa a palavra ao Relator que tece considerações
sobre os debates, agradece a presença do conferencista e Tem a palavra o Dr, Roberto Rodrigues.
o enaltece. O orador agradece as palavras do Relator. O
Presidente faz em nome da Subcomissão os agradecimen- O SR. ROBERTO RODRIGUES - Sr. Presidente, Sr.
tos pela aceitação ao convite pelo expoente, encerra essa Relator da Subcomissão, Srs. Constituintes, Senhoras e
parte da reunião e imediatamente convida o segundo ora- Senhores:
dor da reunião, Sr. Hamilton Pereira da Silva, represen- O cooperativismo brasileiro, embora seja um movimen-
tante da Comissão Pa.storal da Terra - OPTo O convidado to relativamente jovem, porque na verdade ele se implan-
toma seu lugar à Mesa e comunica trazer consigo, para tou a partir da primeira metade da década de 60, apesar
participarem dos debates, mais dois representantes da de que já tenha como cooperativas constituídas bem mais
Comissão, Padre Ricardo Rezende e Dr, Daniel Rach. O de meio século, a partir das imigrações européias, no início
Presidente os convida à Mesa. O orador, Hamilton Perei- do século, apesar dessa juventude do sistema cooperativis-
ra da Silva, usando o tempo regimental, encerra suas pa- ta, ele detém hoje uma importante posição econômica den-
Iavras às dezenove horas e dez minutos. O Presidente pas- tro do setor rural, principalmente, em relação ao número
sa a palavra aos Constituintes inscritos para os debates. de cooperativas e à atividade comercial e produtiva, e em
Interpelam o orador os Constituintes: Rachid Saldanha relação a diversos produtos hoje cultivados em todo o
Derzi, Fernando Santana, Aldo Arantes, Mauro Borges, território nacional.
Amaury Müller, Irma Pa.ssoni e Oswaldo Lima Filho. O
expositor responde a todos DE; interpelantes, alternando O documento que estamos distribuindo aos Srs. Cons-
nas respostas os Senhores Padre Rical"do Rezende e nr. tituintes e aos Senhores aqui presentes traz uma série de
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 127

quadros indicativos da participação desses números do nhecido, se refere à excessiva intervenção do Estado nas
cooperativismo brasileiro. relações econômicas da agricultura brasileira.
Devemos afiançar a V. Exas que as questões e pro- Há uma quantidade de argumentos e elementos a
postas apresentadas pelo cooperativismo brasileiro, apre- justificar estas duas colunas dorsais, razoavelmente dis-
sentadas à Assembléia Nacional Constituinte são resulta- criminados nos documentos hoje distribuídos. Eu estarei
dos de uma consulta às bases cooperativistas de todo o à disposição de V. Ex. as para díscutí-Ios se for julgado
interior brasileiro, às 3.000 cooperativas de todo o País, necessário.
que durou - nesta fase de consultas - quase 1 ano e
meio, onde centenas de propostas foram levantadas e de- De qualquer forma, é entendimento do cooperativis-
vidamente selecionadas, resultando depois em três propos- mo brasileiro que essa problemática toda, que culmina
tas genéricas do cooperativismo: uma delas buscando o com o empobrecimento do setor rural brasileiro, passa por
entendimento de que há liberdade de constituição de coope- soluções que teriam também duas colunas dorsais.
rativas, reduzindo, portanto, as intervenções estatais em
relação ao assunto. A primeira delas seria a formulação de uma política
agrícola, elaborada pelo Congresso Nacional, que é, efeti-
O segundo ponto é reconhecido internacionalmente vamente, o legítimo intérprete dos diversos segmentos da
pela Aliança Cooperativa Internacional, que é a ausência sociedade brasileira. Esta lei agrícola definiria e disci-
de tributação de qualquer tipo municipal, estadual ou fe- plinaria a intervenção estatal no campo, definindo os
deral, sobre o ato cooperativo, assim entendida a relação instrumentos e a profundidade da ação governamental,
comercial, ou qualquer relação entre a cooperativa e seus de forma a sinalizar ao produtor rural as regras para
cooperados, ou entre cooperativas afins. trabalhar. Essa lei, necessariamente, terá em vista a polí-
tica tributária, que deve gravar a renda e não o produ-
O terceiro ponto é referente à proposta de que sendo to, a política de crédito e seguro rurais, a política de
o cooperativismo um importante caminho do desenvolvi- investimentos, a política de pesquisa e extensão rurais, a
mento econômico e social para o País, o ensino e a educa- política de formação de recursos humanos e a política
ção cooperativistas devem ser uma ação governamental. fundiária. É evidente que todos os aspectos se inserirão na
Na verdade, embora o cooperativismo tenha uma ex- visão global de uma política econômica que reduza a
pressão no setor rural e uma no setor urbano diferenciada, drenagem de recursos, no setor primário para os demais
é no setor rural que a maior parcela do cooperativismo produtos de economia, garantindo a renda do campo.
se faz apresentar, inclusive, porque o cooperativismo sur-
ge sempre em 'ocasiões de crise. E a agricultura brasileira Esta é então a primeira questão central do nosso en-
viveu, nestes últimos quarenta anos, um sistemático pro- tendimento, a criação de uma lei agrícola com toda esta
cesso de drenagem de recursos no setor primário, para visão de políticas de ordem voltadas ao desempenho fa-
o desenvolvimento do setor urbano industrial, tendo em vorável do setor rural brasileiro.
vista o programa de industrialização que o País adotou e A segunda coluna se refere ao fortalecimento do Mi-
tendo em vista, sobretudo, o processo de substituição de nistério da Agricultura. Não podemos admitir um Minis-
importações adotada na década de 50. De modo que é no tério muito fraco, como é atualmente o Ministério da
setor rural que o cooperativismo tem uma maior partici- Agricultura, que não tem poderes sufietentes hoje para
pação. E é, seguramente, por esta razão, que estamos sen- implementar a política agrícola originária desta eventual
do convocados por V. Ex. a, Sr. Presidente, para prestar lei agrícola aqui proposta. Desejamos um Ministério da
este depoimento aqui hoje, com muita honra e muito orgu- Agricultura que tenha força na área econômica, na área
lho para todos nós. tributária, na área financeira, na área de crédito, para
O que queremos dizer, ligeiramente, para embasar implementar a política agríoota assim direcionada.
uma postura do cooperativismo brasileiro quanto à polí-
tica agrícola, o que é de conhecimento extenso de todos Estas duas colunas que seriam uma solução definitiva,
os Senhores aqui presentes' é que a agricultura brasileira, estável e de longo prazo para garantir a rentabilidade da
nestes últimos 30, 40 anos, apresentou uma claríssima posi- agricultura brasileira, desaguarão num terceiro ponto,
ção de perda de renda vigorosa. E de dois anos para cá, talvez até mais importante do que esses dois aqui coloca-
sobretudo a partir de 1986, com o Plano Cruzado, além dos. Este terceiro ponto seria a organização da iniciativa
dessa perda de renda muito clara, cujas causas poderiam privada, através dos órgãos de classe dos agricultores
ser discutidas oportunamente, se V. Ex.as e os companheí- brasileiros que devem, com competência, se preparar e se
ros Constituintes assim o desejarem, além da questão da organizar para assumir funções que hoje o Estado exe-
perda de renda a agricultura viveu também um processo cuta. com algum problema de competência," com algum
de grande endividamento. O endividamento da agricultura problema de conseqüência, com algum problema de es-
em 1986 foi igual ao dobro do endividamento realizado em tabílídade.vde tal forma a garantir a estabilização da po-
1985. Esta questão toda da perda de renda, do endivida- lítica agrícola a ser implementada, via lei e via execução
mento da agricultura, além dos problemas já devidamente do Ministério da Agricultura como órgão executivo.
discutidos, da influência do Plano Cruzado, de seu lastí- Nesta questão da organização do setor rural, tendo em
mável fracasso, e, sobretudo, de algumas teses muito co- vista uma política agrícola eficiente, tendo em vista os
nhecidas, -referentes à baixa produtividade da agricultura aspectos prlncípaís de execucão desta política agrícola,
brasileira, na verdade, têm suas causas embasadas em é que nós - entendemos que há um espaço significativa-
duas colunas dorsais. A primeira coluna dorsal é reíeren- mente poderoso, portentoso, a ser ocupado pelo coopera-
te a problemas de ordem externa, que estariam situados tivismo brasileiro.
principalmente na questão do protecionismo que os países
concorrentes da. agricultura brasileira oferecem aos seus Sr.- Presidente, Sr. Rela;wre Srs. constítntntes,
produtores rurais, sobretudo a nível de subsídios, impe-
dindo a competição saudável, dentro de uma linha de mero O setor: rural precisa -se orgánízar,' sobretudo do ponto
c.a~a., posítíva, para, os prodútos agrícolas br,asieiros., . de vista sócio-econômico, em' nome de uma agricultura
profissional eficiente que busque a rentabilidade perdida
" E uma segunda -coluna dorsal do problema da perda: e -sírva COm maior competêncíaà Nação. Neste campo, o
da renda da agricultura brasileira, dessa problemática eoeperatívísmo tem papel primordial, desde que conte
todã, aO'einpobl'e'Cimento"do setor; hoje já bastante Cb-: eom -quadros -preparados e recursos adequados,
128 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

As cooperativas podem cuidar da 'extensão rural, par- bens materiais: a propriedade privada é, pois, o resultado
ticipar da pesquisa agrícola, do seguro rural, da fabrica- do trabalho livre e competitivo sob a proteção da lei.
ção e comercialização de insumos, da industrialização da Sob outro ângulo, dadas as igualdades de oportunida-
produção, de um sem número de atividades ligadas ao des que cabe ao Estado prover a todos os cidadãos, a jus-
campo. tiça social plena só se atinge pelo livre funcionamento do
Devem ser, todavia, destacados três aspectos prin- mercado.
cipais: Daí, a propriedade privada no setor primário ser um
- cooperativismo de crédito rural; direito fundamental do cidadão; e se a terra que a com-
- armazenamento e comercialização das safras; põe cumpre sua função social, esta propriedade, indepen-
dente de localização ou atividades produtivas, não pode e
- reforma agrária. não deve ser objeto do Estado para efeito de desapro-
priação e reforma agrária.
COOPERATIVISMO DE CRÉDITO RURAL
Finalmente, uma última imbricação conceitual: a po-
No mundo desenvolvido, as cooperativas de crédito lítica fundiária deve ser considerada um capítulo da polí-
rural são anteriores ao cooperativismo de produção, por- tica agrícola, que, por sua vez, deve ser tratada como um
que o crédito é a alavanca do desenvolvimento. No Brasil, capítulo da política econômica. Não há nenhuma esperan-
como o crédito rural foi sempre bancado pelo Governo, ça de sucesso em uma reforma agrária que se efetive en-
não houve espaço para este segmento que, todavia, hoje quanto a política econômica mantiver marginalizado,
está aberto pela escassez de recursos. através de baixos salários, o cidadão urbano. Porque o
Assim, é imperioso que normativos obsoletos, que hoje mercado interno não se consolidará, as oportunidades não
ainda vígem no Banco Central, eliminando a possibilidade serão iguais para todos e o operário urbano, pobre, não
do cooperativismo de crédito rural decolar, e até mesmo poderá contribuir para resgatar o agricultor, sobretudo o
do cooperativismo de crédito urbano também, no sentido pequeno, da pobreza a que a política agrícola marginal da
de transformar-se num sistema integrado de créditos, política econômica global o remeteu ao longo dos anos.
como ocorre nos países mais avançados do planeta, esses Definidos estes conceitos fundamentais, o cooperati-
normativos obsoletos do Banco Central precisam ser reti- vismo defende uma reforma agrária consistente, sob a
rados. E, nesse sentido, vimos, dessa forma, nesse dia, so- égide do liberalismo e da eficiência econômica. Reconhece,
licitar à Assembléia Nacional Constituinte que se preocupe ao mesmo tempo, a necessidade de atender diretrizes que
com essa questão. Temos insistentemente trabalhado proporcionem ao trabalhador rural acesso à terra visan-
nessa área há mais de 5 anos, com muitas dificuldades de do sua evolução social.
atravessar as resístêncías que o Banco Central oferece
ao segmento de crédito rural cooperativo. E, com tal propósito, está empenhado, desde o anúncio
do PNRA, em participar do processo.
COMERCIALIZAÇÃO E ARMAZENAMENTO DA SAFRA Não entendemos válida a mera divisão e distribuição
As cooperativas detêm 26% da 'capacidade estática de de terras. :m preciso que as pessoas que venham a ser as-
armazenagem no Brasil, localizadas nas áreas em que a sentadas através de reforma agrária, além de serem sele-
pressão da produção é hoje mais intensa. Dentro do obje- cionadas pelo pendor para com a atividade que irão exer-
tivo de expansão da rede nacional, com ênfase ao setor cer, sejam protegidas por um leque de instrumentos que
privado, o cooperativismo atinge, assim, prioridade absolu- lhes proporcionem o planejamento, a extensão rural, a
ta. No entanto, os custos financeiros atualmente assumi- assistência, o escoamento de safra, a comercialização e,
dos pelo crédito rural de investimento tornam tal expan- eventualmente, sua industrialização.
são proibitiva. Os custos atuais (LBC mais 6%) não Por outro lado, não se justifica uma política prote-
podem ser areados pelos produtores, cuja renda cresce cionista que privilegie novos assentados, enquanto a po-
em proporção muito inferior. O Brasil carece de um pro- lítica agrícola geral esmaga e' "desassenta" antigos pro-
grama de estímulo ao desenvolvimento da capacidade de prietários, sobretudo de pequeno porte, como vem hoje
armazenamento no setor privado, coerente com os baixos ocorrendo.
retornos econômicos dessa atividade.
A forma de conciliar o assunto é o assentamento de
A QUESTAO FUNDIARIA trabalhadores rurais sob a coordenação de cooperativas
préexistentes, com idoneidade e tradição capazes de ga-
A primeira grande vertente da questão fundiária é a rantir, aos novos assentados, os benefícios mencionados
função social da terra. acima.
Entendemos que a função social da terra é a de que Neste sentido, tomamos a liberdade de aqui anexar
sua utilização, sem prejuizo da conservação ou aprimo- (anexo 4) documento que tivemos oportunidade de en-
ramento de suas qualidades naturais, permita suprir per- tregar ao Exmo. Sr. Ministro da Reforma Agrária, Nelson
manentemente as necessidades humanas (alimentares, de Figueiredo Ribeiro, em 9 de abril de 1986, bem como ao
energéticas, de vestuário, etc) e favoreça o bem-estar dos Exmo. Sr. Presidente da República, em 22 de maio de
que nela trabalham. 1986, propondo um mecanismo de efetiva pal'ticipação do
Toda terra que estiver cumprindo assim o sua função cooperativismo brasileiro na implementação de uma re-
social, o que se dará pela orientação da ordem econômica forma agrária moderna e justa, através da qual a terra
do mercado -, deve ter seu usuário defendido por uma produtiva não fosse nunca objeto de desapropriação e o
política agrícola consistente, conforme já mencionado. setor reformado não fracassasse de nenhuma maneira.
Nesse documento, propomos um convênio que deveria
Isto leva à nossa segunda grande vertente: a questão ser celebrado entre o Ministério da Reforma e Desenvol-
da propriedade agropecuária. vimento Agrário e a Organização de Cooperativas Brasi-
A instituição da propriedade privada é a contraparti- leiras para a promoção da reforma agrária através de
da material do conceito de liberdade individual. Corres- assentamentos de pequenos produtores rurais, com apoio
ponde ao direito assegurado pela socíedade, do individuo de cooperativas agrícolas. A idéia do convênio proposta
obter através da livre iniciativa, o controle absoluto de pelo OCB ao :Presidente da República, ao Ministro da Re-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 129

forma Agrária e ao Inc:a, em sucessivas ocasii:?e~, objeth~a a favor ou contra? Tem algum posicionamento com rela-
proporcionar a íntegração do sistema cooperattvísta brasí- ção ao módulo máximo de propriedade? A segunda, se há
leiro do 1.0 PNRA, da Nova República, pretendendo, espe- alguma experiência em assentamentos de agricultores. O
cificamente, promover assentamento de pequenos produ- Senhor poderia nos indicar um assentamento feito pela
tores rurais, com o apoio de cooperativas agrícolas. cooperativa, que a Comissão pudesse verificar in loco .
como estão esses agricultores assentados por iniciativa e
A idéia seria a seguinte, Sr. Presidente: o Incra defi- orientação das cooperativas? E, se há algum assentamento,
niria a área em qualquer Estado ou região do País, que gostaria de saber se houve participação dos Governos Fe-
deveria ser objeto de assentamento e reforma agrária, deral, Estadual ou Municipal com relação a esses assen-
comunicaria essa área à OCB - Organização de Coopera- tamentos feitos pela cooperativa? E quanto à proposta do
tivas Brasileiras - que identificaria cooperativas que ,ti- convênio com o Incra, se ouvi bem, não houve nenhuma
vessem tradição de atividade e produção rural dos produ- resposta ainda.
tos vocacionados por aquela área eventualmente a ser de-
sapropriada, e que tipo de cooperativa poderia trabalhar Eram estas as perguntas que formularía a V. S.a
com aqueles produtos com eficiência e com competência.
E, em seguida, o Incra faria um convênio c~m essa coope- O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado,
rativa, indicada pela OCB, e essa cooperatíva, sob a egl- nobre Constituinte Ivo Mainardi.
de do PNiRA, do Estatuto do Trabalh3ldor R,?-ral, se ~ncar­ Com relação à primeira, como o cooperativismo vê o
regaria de selecionar os trabalhadores rurais que viessem problema do módulo máximo, o cooperativismo definiu
a ser assentados, sob a existência de uma cooperativa que conforme pude expor aqui à V. Ex.a, a- questão daquilo que
j á trabalhava no assunto, e não criando uma cooperativa entendemos como sendo a função social da terra. Faço
de cima para baixo, como já ocorreu no passado, com fra- questão ICLe repetir: Entendemos que a função social da
casso muito grande no sistema, porque é conceito conheci- terra é de que a sua utilização, sem prejuízo da conser-
do internacionalmente e reconhecido do ponto de vista vação ou aprimoramento de suas qualidades naturais, per-
pragmático que uma cooperativa só vai bem e só tende ao mita suprir permanentemente as necessidades humanas
sucesso se ela surgir do interesse das bases e de um in- favorecendo o bem-estar dos que nela trabalham. Toda a-
teresse previamente definido por aquelas pessoas que dela terra que estiver cumprindo a sua função social, o que se
necessitam e nunca se foi imposta de cima para baixo por dará pela orientação da ordem econômica do mercado,
uma ação' governamental. Então, essa proposta que o deve ter seu usuário defendido por uma política agrícola
cooperativismo tem é no sentido de que a reforma agrária consistente, conforme já mencionamos. Isso de certa ma-
seja efetivamente implantada no PaIS, com sucesso para neira díreoíona uma postura do sistema cooperativista
impedir fracassos de que já tivemos notícia no passado re- contra o estabelecimento de módulos máximos de maneira
cente do País e em outros países da América Latina e do genéríca.
mundo.
Todavia, gostaríamos de apresentar a- V. Ex.a. uma
Além desta proposta formal do cooperativismo bra- outra questão, que de certa maneira não é uma questão,
sileiro para qual infelizmente, não obtivemos nenhuma digamos, definitiva do assunto, mas indica um posiciona-
resposta de nenhtim órgão à qual. ela foi e!?-ca~in?lZda, o mento conceitual - se V. Ex.a. me permite, gostaria de
cooperativismo defende a necessIdad~ da ~nstItU1çao .de apresentar a relação - aos princípios de cooperativismo
mecanismo de crédito fundiário, de tributação progressrva juntamente com a Frente Ampla da Agropecuária vêm
sobre propriedade rurais ociosas ou utilizadas especula- defendendo modemamente.
tívamente bem como, um imperativo recadastramento dos
imóveis rt'zrais, dados os já conheci~os desvios que infor- Vou ler um trecho do documento:
mações estatísticas ultrapassadas tem anteposto ao pro-
grama. "Desde que o fator impeditivo do desenvolvi-
mento socíal em uma dada localidade, seja a con-
Sr Presidente estas as nossas palavras preliminares. centração exagerada da propriedade da terra, nas
EvideU:temente o a~sunto carece de muito mais tempo para mãos de poucos, cabe ao Estado facilitar o acesso
exposição, mas dada as limitações, p~oc~raram abordar às mesmas, em nome do fortalecimento da estrutu-
O assunto dentro do tempo de que dispúnhamos, e nos ra privada. Isso será feito em caráter supletivo ao
colocamos inteiramente à disposição de V. Ex.as para os mercado sem ferir o patrimônio 'erigido pelo exer-
esclarecimentos que se fizerem necessários. cício da livre iniciativa, através da justa distribui-
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Sr~._ Membros ção. Não há qualquer razão pela qual a lei deva
desta Subcomissão, o nosso tempo nesta r~un1ao vesper- ddscriminar indivíduos com iguais direitos."
tina vai até as 20 horas. P_enso que poderíamos oU;V1r o
representante das Associaçoes das Oooperatlvas ate por Portanto, nobre constituinte, respondendo à questão,
volta de 18 horas e 40 minutos, e, a partir daí, at~ 20 em princípio, atendida a função social da terra, não tería-
horas ouviríamos o representante da CBT. Mas, para ~s~o, mos nenhuma conceituação restritiva de tamanho da pro-
precisamos ser rígidos no cumprimento de nosso horárío. priedade a nível módulo rural. Entretanto, dada a neces-
sidade de que ela cumpra sua função social, não apenas
Concedo a palavra ao nobre Constituinte Ivo Mainardi. no estrito círculo da sua própria interveniência, é possivel
O SR. CONSTITUINTE IVO MAINARDI - Sr. Pre- que a coisa pudesse ser discutida, desde que isso não fosse
atendido adequadamente,
sidente Sr. Relator ilustre Expositor, não sei se ouvi bem,
mas, s~ a memória não me traiu, parece-me que o n,osso Sobre a segunda parte, nobre constituinte, se há ex-
expositor teria declarado que 80% dos pequenos agríeul- periência em assentamentos de agricultores. Há dezenas
tores são cooperativados. de experiências de assentamentos notáveis do cooperativis-
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Não. Perdão, Sr. mo brasileiro. Poderia indicar a cooperatíva do Rio Grande
Constituinte 80% dos cooperativados brasileiros são pe- do Sul, a Cooperativa de Santa Catarina, a Cooperativa
quenos produtores. do Paraná, a Cooperativa de São Paulo, de Goiás, que têm
feito o projeto de assentamento na fronteira agrícola ou
O SR. CONSTITUINTE IVO MAINARDI - Gostaria nesses mesmos Estados, com resultados extraordínáríos.
de fazer duas perguntas. A primeira é como a cooperativa A cooperativa procura fazer o seguinte: identificada a vo-
vê o problema módulo máximo de uma propriedade? É cação' agrícola da região onde é feito o assentamento, a
130 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

cooperativa se instala previamente e leva para lá pessoas política agrícola. Por exemplo, a de pesquisas, a de ex-
que estão dispostas a trabalhar sob a égide da cooperativa, tensão e assistência técnica, a de suprimento de insumos,
desde o suprimento do insumo, da assistência técntca até a inclusive fabricando-os, se for o 'caso, na integração ver-
comercialização. Os resultados são extraordinários. Para tical do processo industrial, no crédito, no suprimento
que V. Ex.a tenha apenas uma pálida ídéía disso ~ e eu de pro] etos agropecuários, no acompanhamento do de-
teria o maior prazer de enviar a esta Comissão uma rela- senvolvimento da safra de produção, na assístêneía de
ção de áreas que poderiam ser visitadas próximas daqui transportes, armazenagem 'e comercíalízação, e até mes-
ou distantes também ... mo no projeto de industrialização e comercialização in-
terna ou 'externa da produção.
O SR. CONSTITUINTE IVO MAINARDI - Uma que
V. s.a indicaria para que
a Comissão pudesse visitá-la. Eu havia me referido a um número aqui de que as
cooperativas brasíleíras dispõem hoje de cerca de 921
O SR. ROBERTO RODRIGUES - De imediato, a Co- indústrias de transformação, sobretudo de pequenos pro-
operativa Agrícola de Cotia, que tem assentamentos no dutores rurais. Cooperativ:as muitos fortes, como as do
Vale do São Francisco, com produtores de produtos hortí- Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul são
cola, que já está sendo exportado depois de dois anos ape- cooperativas substantivamente sncabeçadas por pequenos
nas de assentamento. A Cooperativa Agrícola de Santa produtores rurais, que, índívídualmente, não teriam a me-
Catarina, no Oeste daquele Estado, e a Cooperativa Agrí- nor condição de participar, do ponto de vista de integra-
cola de Ijuí, no Rio Grande do Sul, tem um grande inves- ção econômica, do mercado competitivo, quando este é
timento também no Mato Grosso do Sul que poderia ser vi- draconíanamente capitalista. E essas cooperativas que
sitado, na região de São Gabriel do Oeste. agregam esses produtores e utilizando todo esse instru-
mental de política agrícola com competência, autoridade,
O aR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a e proporcionando sobretudo, a igualdade de oportunidades
palavra ao Constituinte Virgílio Galassi. que a doutrina cooperatívísta prega e deve ser executa-
O SR. CONSTITUINTE VIRGíLIO GALASSI - Acre- da, pode proporcionar realmente a integração econômica
dito que tendo ouvido com atenção a exposição de V. s.a, para todos os produtores que dela sejam associados.
quase nada importa acrescentar à sua palestra. Eu repetiria apenas a V. Ex. a , nobre Constituinte, a
Na parte da manhã de hoje fui acusado de pronun- detínícão clássica do que é o cooperativismo, reconhecido
ciar discurso em defesa de interesses econômicos, quando pela Aliança Oooperatíva Internacíonal. Cooperativismo
defendi a propriedade produtiva contra alguns, exage- é uma doutrina econômica que visa 'corrigir o social atra-
ros da própria reforma agrária, no pressuposto de que o vés do econômico, tendo em vista o bem-estar do homem.
País é o que é exatamente graças a esses imensos mi- O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a
lhões e milhões de propriedades rurais que, sem dúvida palavra ao nobre Constituinte Fernando· Santana.
nenhuma, deram base ao nosso desenvolvimento 'e dá
hoje essa sustentação formidável ao País, trazendo-nos O SR. CONSTITUINTE FERNANDO SANTANA - Dr.
divisas para a nossa balança comercial. Pronunciei-me Roberto, na 'exposição de V. s.a observamos que houve
em defesa da propriedade produtiva, independente do uma crítica correta ao protecionismo dos países desenvol-
seu tamanho. Também defendi que o assentamento dos vidos que dificulta o comércio internacional. Por outro
trabalhadores rurais nas novas áreas de reforma agrária lado, V. s.a defende o Iívre mercado, internamente, mas
se fizesse prioritariamente pela vocação e competência de qualquer modo, pede uma política agrícola que é 'efe-
desse trabalhador rural. Se não existe realmente sobra tivamente feita pelo Governo; parece-me que há aí um
de dinheiro para que possamos proceder à reforma agrá- choque. E, por outro lado, reconhecemos - e V. s.a deve
ria é absolutamente correto ,e justo que dêem preferên- ter uma grande experiência - que ao lado do protecio-
cia aos assentamentos, àqueles mais bem preparados para nismo dos. países europeus e até mesmo dos Estados Uni-
isso. Sem dúvida nenhuma existem milhões nessa con- dos há uma outra politica que nos reduz praticamente
dicão. Só lembro a conveniência de que eles sejam apro- a zero, que é na relação de trocas. Temos preços muitos
veitados prioritariamente. baixos e, geralmente, as eemmoâlttíes - aliás até o no-
me está muito bem dado, porque produzimos comodida-
Gostaria de saber a opinião de V. s.a se a cooperativa des para eles a preços miseráveis. -, por exemplo elas
poderá realmente participar muito na implantação da caem miseravelmente de preço. O cacau, que é Íá da
reforma agrária? O que a cooperativa podería fazer tam- nossa Bahia, desce constantemente, e o produtor preci-
bém para um plano de integração da pequena proprie- sa de dar quatro, cinco, dez vezes cacau para adquirir um
dade agrária no desenvolvimento econômico, quer dizer, implemento agrícola. O mesmo ocorre com o café, com
com base no assentamento de indústrias, comércio, pres- a soja, com o milho, com o feijão.
tação de serviços pela cooperativa? TeJ;lho visitado a,l- De sorte que, a minha pergunta é esta: não acha
guns assentamentos feitos por cooperativas e, sem du- V. s.a que enquanto o mundo não tiver ou não se organi-
vida nenhuma, tenho notado sucesso absoluto. Concordo
com V. s.a Existe a Cooperativa de Cotia, bem como a de zar de tal modo que se modifique completamente o rela-
São Gotardo em Minas Gerais, que são exemplos gra- cionamento comercial entre o Terceiro Mundo e o cha-
tificantes do' que uma cooperativa competente e experi- mado Primeiro Mundo, nós. não teremos praticamente
mentada pode fazer. Santa Catarina também é um exem- uma saída econômica para a agricultura dos países do
plo da pequena propriedade integrada através do seu Terceiro Mundo?
sistema comercial-industrial no contexto nacional. El?-- Em segundo lugar, não acha V. s.a que, internamen-
tão queria a opinião de V. s.a sobre até onde a cooperati- te, também o mesmo processo de espoliação que nos vem
va pode ir realmente nessa integração da pequena pro- do exterior se exerce ínternamente, através das empre-
priedade. sas geralmente multínaeíonaís, que acho uma palavra
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado, bonita, mas não tem nada a ver com o Brasil. Infeliz-
mente, na multinacional não entramos como Nação, por-
nobre Constituinte. que, na realídade, as multínaeíonaís carregam todos os
Como V. Ex.a sabe, uma cooperativa se transforma no seus dividendos e lucros para a sede e nunca para essas
braço mais efetivo para implementação de instrumentos' multínações onde elas agem, Estamos dentro mas explo-
de política agrícola e nesse sentido, uma cooperativa rados por elas, porque na realidade, não levamos nada.
poderá exercitar-se entre .os diversos instrumentos de Gostaria de dizer a V. s.a que esses preços sobem assus-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 131

tadoramente em relação aos próprios preços que a agri- agrícola que tenha em vista a questão da produção de
cultura obtém pelos seus produtos. Isso realmente não insumos no Brasil, buscando uma indústria nacional
ínterrere no sentido do empobrecimento da agricultura? autêntica, e com participação do cooperativismo que pode,
industrializando insumos e distribuindo-os, e integrar a
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado, no- renda 'do produtor.
bre Constituinte Fernando Santana, pelas questões muito
pragmáticas e muito objetivas. Muito obrigado a V. Ex.a
Apenas para desfazer um equívoco eventual. Quando O SR. CONSTITUINTE FERNANDO SANTANA - Só
solicitamos uma lei agrícola brasileira, não solicitamos a queria, Sr. Presidente, dar uma informação. A Nitrofértil,
lei agrícola como partindo do Executivo. Solicitamos uma que é uma empresa nacional, e que produz grande quanti-
lei agrícola que defina as linhas de política agrícola, par- dade de insumos para a agricultura, entrega os seus pro-
tindo do Legislativo que entendemos o legítimo intérprete dutos às multínaeíonaís, que os revendem aos nossos pro-
dos anseios dos diversos segmentos da sociedade brasilei- dutores por dez vezes mais. Não seria o caso de as coopera-
ra. Então, a nossa expectativa é de que a lei agrícola, arti- tivas brasileiras receberem diretamente e exigirem do Go-
culada pelo Congresso Nacional, se faça na interface com verno que entregue diretamente a elas esss produtos, para
os diversos setores da economia ligados ao campo, que não serem revendidos através das multinacionais?
tenham objetivamente interesse no setor. De modo que, o SR. ROBERTO RODRIGUES - Seguramente. Esta
realmente, pedimos uma política agrícola a partir de uma é uma opção fantástica para a agricultura brasileira e
lei agrícola. para o cooperativismo. Infelizmente, nobre Constituinte
Com relação à primeira questão que V. Ex.a com mui- o cooperativismo ainda é exagerado sob outro ângulo. A
ta propriedade levantou no que diz respeito às relações proposta que V. Ex.a aqui aponta, traz vantagens muito
de troca entre os países estrangeiros e o Brasil, é preciso grandes para as cooperativas. Acrescentaria mais alguma
uma nova ordem econômica privilegiando o trabalho, no coisa: temos tido muita dificuldade de encontrar pneus e
Brasil, no mundo, em detrimento d'O capital. Deveria câmaras de ar para as colheitadeiras, e estamos em plena
informar a V. Ex.a alguns fatos: os Estados Unidos hoje safra.
estão gastando, neste ano de 1987, quase 30 bilhões de dó-
lares em subsidias diretos à agricultura americana. E os O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a
países da Comunidade Européia estão gastando 22 bilhões palavra ao nobre Constituinte Alysson Paulinelli.
de dólares em subsídios diretos aos agricultores daqueles O SíR. CONSTIT'ú'"'INTE ALYSSON PAULINELLI _
países, o que, obviamente, ínvíabílíza toda e qualquer ca- Gostaria de parabenizar o expositor especialmente pelos
pacidade de troca com os produtos brasileiros que, con- conceitos que ele emitiu na sua brilhante exposição com
forme V. Ex.a aponta com absoluto preciosismo, têm custos relação ao cooperativismo, à agricultura. V. s.a teceu con-
exagerados pela interveniência também alienígena de fa- siderações de ordem externa, especialmente à excessiva
tores de produção, sobre os quais não temos dominação, e intervenção do Estado nas atividades produtoras. O pro-
o valor da nossa produção também é esmagada nessa rela- dutor brasileiro tem sofrído infelizmente o processo de
ção de troca. Agora, informo a V. Ex.a que tanto os Estados discriminação que esta Constituinte precisa tomar conhe-
Unidos, a população urbana dos Estados Unidos, quanto cimento. Vou citar uma discri'lllinação que considero
a população urbana dos países do Mercado Comum Euro- odiosa.
peu, não estão mais aceitando o gigantesco gasto de subsí-
dios que têm com as agriculturas desses países, Temos Um grande 'esforço tem sido feito neste País, no sen-
recebido, sistematicamente, em nosso Pais visita de técni- tido de permitir às suas cooperativas se desenvolverem,
cos, de estudiosos da Comunidade Econômica Européia a fim de que elas realizem os seus investimentos ao bai-
sobretudo, e temos recebido informações, cada vez sinais xo custo, que elas criem a sua infra-estrutura de servi-
mais claros, de que há nítida tendência nos países, sobre- ços, já que ela é, fundamentalmente, uma prestadora de
tudo europeus, de redução substancial dos subsídios gastos serviços. aos seus produtores. Mas nada disso adianta,
com a agricultura, o que, seguramente, encaminhará países enquanto estiver fora de lei, do estimulo à cooperativa,
produtores com dificuldades - apontadas por V. Ex.a com acontecendo fatos como esses que 'estamos observando
muita clareza, como é o caso do Brasil - para uma nova hoje. A falta de recursos, o administrador público nor-
posição de mercado nas relações externas. Então, acredi- malmente tende a intervir demais na própria ação da
tamos, e é por isso que estamos investindo vigorosamente produção e os recursos são normalmente buscados atra-
no cooperativismo como instrumento de promoção, sobre- vés de impostos, taxas ,e tributos. Hoje, no Brasíl - e o
tudo, na agricultura brasileira, que num prazo de tempo, Brasil é o único País do mundo que enveredou, infeliz-
que não será seguramente muito curto, mas entre dez e mente, neste caminho - há tributação excessiva em cima
doze anos, teremos novas aberturas do mercado interna- do produto agrícola brasileiro. O Brasil, tem infelizmen-
cional que permitirão ao Brasil trabalhar com competên- te, uma população de baixa renda. segundo a própria
cia. Para isso é preciso que estejamos muito atentos, por- Fundação Getúlio Vargas, na população que ela pesquisa,
que há países outros no mundo com a mesma capacidade que era de 5,2 salários mínimos médios, chega a gastar
de produção agrícola do Brasil, e que estão atentos para de 45 a 47% do seu salário em alimentação. Pelos estu-
a questão tributária, para a questão financeira e de crédi- dos da Indef, chega, no caso, a dois salários mínimos -
to, para as quais o Brasil não está devidamente atento. e a própria Indef indica que estamos com mais de 40%
É o caso da Argentina, que já está reduzindo a tributação dos brasileiros recebendo menos de dois salários mínímos
para exportação, ao passo que a tributação para a exporta- - gastam 66% do salário em alimentação. Não vou te-
ção do Brasil ainda é insuportável para o produtor nacio- cer comentários sobre salário mínimo, que é muito mais
nal brasileiro. pronunciado, especialmente quando o salário mínimo cai,
como está caindo agora, em valor relativo. A grande
Em relação à segunda pergunta. Seguramente estamos ;preocupação que temos é S'6r preciso pôr um freio nessa
de pleno acordo com V. Ex.a Insumos que dependem de excessiva ganância tributarista brasileira. O Brasil é o
importação e, portanto, vêm de países estrangeiros, estão único País do mundo, repíto, que chega a tributar o pro-
hoje colocados para nós, no Brasil, a custos praticamente duto agrícola in natura em 24%: 17% de ICM; 2,5% de
insuportáveis para a agricultura brasileira, tendo em vista Funrural; 1 'a 1,5% de Finsocial. Depois, entra aquela
a relação de troca entre o que custa produzir e o que vale série de tributos indiretos: PIS, Pasep, Incra, Imposto
a produção brasileira. Por isso que defendemos uma lei Sindical, etc., dando 24%. Além de prejudicar, de um
132 Segunda4erra 20 DIARIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

lado, o produtor já descapitalizado, que sofre com isso, tema tributário para a agricultura, no qual não fosse tri-
prejudica, do outro, ao consumidor de baixa renda, 'cuja butada a produção, mas a renda do produtor e a terra,
grande parcela do seu salário poderia ser 'aliviada desse porque, aí, seguramente, pagariam aqueles que ganha-
tributo. Ainda cria exatamente nesse ponto intermediá- ram. Hoje, a tributação do ICM, por exemplo, sobre a
rio uma discriminação odiosa com a cooperativa brasí-
íeíra, que sendo uma instituição pluralista, não pode
°
agricultura, não leva em 'consideração se produtor teve
lucro ou teve prejuízo na sua atividade, o que é um absur-
exercer a Caixa 2, não pode ser, sobretudo, aquela que do só encontrado aqui em noSSO País.
faz o jogo da sonegação.
Muito obrigado pela participação de V. Ex. a
Cito como exemplo o grande esforço que foi feito na
década de 70 pelas cooperativas de carne no Brasil, de O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a pa-
colocar os produtos diante dos consumidores. Essas coope- lavra ao nobre Constituinte Mauro Borges.
rativas estão hoje totalmente aniq~ladas por l-!.ffi fa~
simples: os seus concorrentes, atraves da sonegaçao, am- O SR. CONSTITUINTE MAURO BORGES - Sr. Pre-
quilam totalmente a capacidade competitiva da coope- sidente, Sr. COnferencista, Srs. Constituintes, antes de
rativa nessa prestação de serviços. tudo, Dr. Roberto, os meus cumprimentos pela brilhante
exposição e pelas respostas precisas que tem dado aos
Chamo a atenção dos Srs. Constituintes que este. é questionamentos.
um dos pontos mais agudos do estrangulamento ~o SIS-
tema cooperativista brasileiro. Por outro lado, creio que Qualquer reforma agrária termina num assentamento,
há necessidade de premiar-se a cooperativa. é óbvio. Uma série de planejamentos, de medidas jurídicas,
Vou citar um outro exemplo. São as cooperativas de
°
etc, acaba tendo que assentar homem no chão, no solo.
Isto não pode ser, evidentemente, uma coisa programada
crédito. Estamos sofrendo de um processo de deforma- pelo Governo, organizada, e que joga o pessoal lá, fique
ção do crédito agrícola no Brasil. Grand~ esforço se te~ cada um como quiser, e salve-se quem puder. Não é pos-
feito há de se reconhecer, 'em todas as epoeas, no senti- sível. Tem que haver organização, tem que haver alguns
do de fazer chegar o crédito ao pequeno produtor. As parâmetros. Não quero dizer que seja totalmente depen-
normas sempre existiram, sempre pr:emiaram, e isto .sem- dente da programação. Mas se a região, por exemplo, é
pre se coloca em dificuldade, espeCIalmente, pelo gigan- boa para banana, para fruta, pode ser um assentamento
tismo dos bancos. A fórmula é uma só. Este dinheiro exis- voltado para a fruticultura. Se é uma região, por exemplo,
te no interior. Os países mais adiantados, inclusive, par- de área irrigada - aqui quase não se tem falado sobre
tiram para os bancos municipais. Acredito que a coop~­ esses problema, a irrigação é irmã gêmea da reforma agrá-
rativa de crédito é o grande exemplo do banco munící- ria, não se pode pensar em irrigação sem a reforma agrá-
pal, e ° fortalecimento dela será indispensável. Mais ria conseqüente - se vamos ,por exemplo, a uma área de
além da oposição dos homens, especíalmente, _os.moneta- irrigação, é quase que óbvio que a produção vai ser gra-
rístas brasileiros, hoje temos uma 0l;ltra oposiçao as .coope- neira, vai ser, possivelmente, hortícola. também. Então, há
rativas de crédito: essa tremenda ínflação que palra so- de haver uma certa programação. Você não pode ir para
bre o País que aniquila a cooperativa de .crédlto. Díscutír uma área irrigada para plantar culturas não irrigadas.
se o produtor vai pagar 700 ou 750% de Juros na sua atí- ]j'J o óbvio.
vídade agrícola, entre 700 e 750%, a diferença é tão pou-
ca para uma atividade agrícola que nem faz pratíca- Portanto, quando se vai organizar Um assentamento,
mente nenhuma vantagem ao cooperativismo de crédito. parece-me - ainda não tenho convicção disso - que deve
ter dois tipos de chefia: uma chefia inicial, para montar
É indispensável que a Constituição venha levantar o projeto, a chefia do Governo. Vamos precisar de uma
este problema e, sobretudo, criar as condições para que equipe de agrônomos, de extensionistas, de assistência
as cooperativas de crédito se desenvolvam. Parabéns, er. social, de economistas, para estruturar essa comunidade.
Presidente por ter levantado isso aqui, que acho uma Ela não pode agir em função dos interesse e da decisão
das principais alavancas que a Constituição pod.e ofere- de cada um; há de existir um mínimo de díscíplínamento.
cer para que o crédito seja efetivamente democratãzado no Há de se pensar também nos serviços sociais, na assistên-
País. cia do Estado. Isso aí, provavelmente, deve ser pago pelo
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado, Governo: dar educação, dar saúde, e uma série de outros
nobre Constituinte Alysson Paulinelli, pelas suas observa- serviços de natureza social. Agora, tão logo haja a conclu-
ções. são do assentamento, haja o começo de uma alma coletiva,
deve ser feita a cooperativa, logo que for possível, deve
Devo acrescentar apenas que a luta do cooperativis- ser imediatamente organizada a cooperativa. E na medida
mo brasileiro pela promoção do crédito rural cooperativo que essa cooperativa evolua, ela pode praticamente pres-
depois de tantos anos de disputa árdua junto ao Banco cindir daquela chefia inicial que fez a montagem e a
Central eomeea a apresentar alguma luz no fim do tú- organização. Essa cooperativa integrada que deve dirigir,
nel. Afirmo a ·V. Ex.a que, apesar do processo inflacioná- coordenar as atividades no assentamento, deve natural-
rio, o cooperativismo de crédito continua vi!A>rioso, ap~­ mente ser uma cooperatíva integrada de consumo, de
sar das normas restritivas ao seu desenvolvímento, SaI- produção, de venda. Ela vai vender as coisas necessárias
ba V. Ex.a que as cooperativas de crédito não podem ope- à vida do pessoal, vai vender os insumos também, vai for-
rar com 'compensações de cheques, não podem. operar necer o crédito, vai ter equipamentos agrícolas, vai ter
com remuneração de capital de longo prazo, não podem armazéns e silos, vai raser comercialização. Então, deve
remunerar sequer o capital dos associados, não podem re- haver uma certa organização. O pessoal não pode ficar
munerar depósíto a prazo. De modo que, evi<!en~emen!e, completamente solto. Acho que a 'cooperativa é fundamen-
elas estão marginalizadas do processo eeonomico, N~o tal ao sucesso da reforma agrária. Não se vai fazer refor-
obstante esses proibitivos terríveis do banco ,Central, o SIS- ma agrária com produtores a agrícolas médios ou pequenos
tema continua navegando contra essa mare com grande agricultores. Esses pequenos agricultores não têm con-
resultado. dições de isoladamente fazer tudo de ficar auto-suficien-
Com a relação à questão tributária da agríeultura, tes, de produzir, consumir, vender, sem o apoio de uma
apontada por V. Ex.a, ainda ontem ~l'e~távamos.esclar!l- cooperativa. Quer dizer, ela é absolutamente fundamental
cimentos e depoimentos na SUbCO~ls.s~O de TrIbutaç.ao ao sucesso da reforma agrária. Acho que isso deve ser
e solicitávamos que se 'estudasse detínítívamenta um 8IS- pensado, estudado e preparado. acredito que ninguém mais
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 133

do que a OCB, com as cooperativas estaduais, poderá O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrígado,
participar e influir decisivamente na formação dessas co- nobre Constituinte, pelas questões aqui Ievaaitadas.
operativas. Queda saber se V. Ex. a pensa mais ou menos
dentro desta linha ou tem um pensemento diier,ente? Em relação à primeira questão, como o cooperativis-
mo vê o comportamento das centrais de cooperativas em
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado, no- relação às cooperativas menores, escuso-me a V. Ex.a e a
bre Constituinte Mauro Borges. este auditório, pois já comuniquei ao nobre Presidente
A proposta do cooperativismo é de que desde a seleção que esta resposta demorará um pouco mais tempo do que
do pessoal, ,desde do princípio da organização, tendo em os três minutos de que disporia normalmente.
vista a necessidade de se identificar a vocação regional, A condição fundamental de sucesso de uma coope-
para que produto estaria direcionado, a cooperativa disso rativa é a :participação; :participação do cooperado na
participe, tendo em vista que vamos buscar cooperativas cooperativa permanentemente. Esta! questão conceitual
pré-existentes com experiências no setor de atividade da- se insere no pronunciamento do nobre Constituinte Mau-
quele produto agrícola. Se fossemos imaginar um projeto ro Borges. Uma cooperativa tem que surgir das bases,
alternativo, no qual o Governo participasse da progra- como necessidade sentida pelas bases que irão se coope-
mação, depois, vamos dizer, o 'Prato estaria feito e, even- rar em relação a alguma agressão externa àquele' con-
tualmente, feito sem a visão 'Pragmática da iniciativa pri- junto de pessoas que acabam se transformando numa
vada. Poderia proporcíonar-se uma visão mais estatal da cooperativa. Na medida em que elas se organizam numa
organização. De modo que a nossa :proposta difere ligeira- cooperacíva, elas têm uma proposta de ação de defesa
mente daquela que V. Ex.a aqui coloca de que a cooperati- daquela comunidade cooperada. A cooperatíva, portanto,
va, desde o primeiro instante, se instale, até preliminar- passa a ser uma instituição que irá defender os seus as-
mente ao próprio assentamento, na região que será assen- sociados da ação negativa externa 'contra 'eles, numa
tada. linha de ação executiva, de programas de trabalho, ex-
O SR. CONSTITUINTE MAURO BORGES - Quer tensão rural, supri:mindo de insumos, comercialização da
dizer que realmente a cooperativa não iPode ser tão espon- produção, etc.
tânea, assim, partir da base, propriamente dita. Ela tem
que ser sobretudo um empreendimento da iniciativa do Se V. Ex. a me permite, gostaria de fazer aqui alguma
Estado, ela tem que ser programada e começar logo no digressão em relação ao assunto. Uma cooperativa ~e
começo. constitui, naturalmente, a partir de produtores rurais.
São produtores, vamos, dizer assim, que não têm um ní-
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Na verdade, a nossa vel cultural suficientemente grande 'Para tocar uma em-
proposta é de que a cooperativa 'que se instale naquela presa capitalista, se assim se transformar a cooperativa.
região não seja uma nova cooperativa criada, mas seja a Normalmente, a direção da cooperativa é composta por
extensão de uma cooperativa preexistente com experiên- aqueles produtores rurais que constituíram a cooperativa.
cia na atividade que ali será desenvolvida, para que o E como ela começa a prestar serviços com tranqüilidade,
projeto não fracasse sob nenhuma hipótese. Não pode- com eficiência em relação àquílo que é demandado pe-
mos perder projetos nesse tipo de experiência, temos que las bases, ela cresce como ínstituíção e como empresa,
vencer todos. e há um momento em que esse crescimento demanda
uma profissionalização da gestão da cooperativa, impe-
O SR. CONSTITUINTE MAURO BORGES - Muito dindo os antigos dirigentes, que são cooperados e origi-
obrigado. nários de suas bases cooperativas, de contínuarem a exer-
O SR. ROBERTO RODRIGUES - Eu é que agradeço. cer atividade diretiva, porque o nível de competência de-
les foi superado pelo crescimento d8J instituição. Quan-
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a do isso ocorre, normalmente as cooperativas se recor-
palavra ao nobre Constituinte Rosa Prata. rem do mercado de recursos humanos externos para ob-
O SR. CONSTITUINTE ROSA PRATA - Sr. Presi- ter administradores, economistas, agrônomos, técnicos
dente, Sr. Roberto Rodrigues, Sr. Relator, 81'S. Constituin- que irão gerir os negócios da cooperativa daí para fren-
tes, a contribuição do Presidente da OCB é para nós das te, dado o seu crescimento.
mais valiosas, não só porque discorre num tema da maior Temos observado, com muita freqüência, em todo o
importância, 'e o faz com uma competência muito gran- Brasil, nos países do T,erceiro Mundo e até em países mais
de, como também pela contribuição que S. s.a deixa ~a avançados, que profissionais que vêm, 'eventualmente, para
doutrina cooperativista a 'ação que é uma preocupaçao o sistema cooperativo, vêm com a formação, com a idéia
constante desta subcomissão. capitalista de mercado e não entendem a essência da
Tinh8J duas colocaeões para razer, Sr. Presidente, doutrina cooperativista de que a cooperativa é um ins-
aproveitando esta oportunidade e o esclarecimento que trumento de desenvolvimento e não um fim em si mes-
V. s.a nos poderá dar. A primeira, 'como vê o ilustre Pre- ma, de tal forma, que transformam a ação da cooperati-
sidente o comportamento das centrais cooperativas, que va, esses executivos, sempre pensando na boa-fé ,e n8J boa
crescem muitas vezes ,e passam a ser centro de gravita- vontade, nunca pensando de nenhuma maneira que esses
ção das cooperativas, menores, isso trazendo já algumas axecutívos tenham mé-fé ou interesses corruptos, mas
dificuldades e alguns tumultos na área do cooperativis- sempre com boa vontade, transformam a instituição
mo e, sobretudo, expondo, 'em última ação, a ação do cooperativa numa instituição mercantilista. convencional,
cooperado. buscando nos resultados da renda final do exercício o re-
conhecimento do corpo associativo para a sua própria
A.s€gunda colocação diz respeito a um tema que tem competência, porque essa é a visão capitalis.t8J que trata
sido insistentemente focalizado aqui. Ele é um tema con- do mercado de fora.
ceitual e tenho-me servido d8JS oportunidades das audiên-
cias para que, tanto eu próprio, como também o auditó- Ora, quando isso acontece, aos poucos a direção, o
rio, se esclareça ainda cada ves mais, sobre a questão que Conselho de Administração da Cooperativa, composto por
sería da alteração da função social da terra e da obriga- aqueles lavradores que orígínaríamenta 8J constituíram
ção social da terra. Gostaria de ver a apreciação do ílus- vão entregando a gestão total dessa cooperativa a esse~
tre Presidente sobre esta pergunta: esse conceito altera- executivos que são competentes" mas que não têm a ím-
do implicaria na alteração da ação cooperativista? brícação original com o ídeárío do sistema e, sobretudo,
134 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

com as questões que levaram a cooperaltiva a se constituir coisa que não deu certo no cooperativismo, como se em
na sua história original, no seu primeiro momento. todos os outros setores da economia as coisas dessem certo,
O limite dessa questão é que, num determinado mo- como se no Governo as coisas dessem certo. Quando um
mento da trajetória dessa cooperativa, a sua cabeça, re- banco vai à falência, ninguém diz que é o sistema bancá-
presentada pelo órgão diretivo, se separa do seu corpo rio que está falido. Quando uma cooperativa, que é diri-
místico, representado pelos seus associados. A coopera- gida por homens, não dá certo, o sistema sofre. l!: preciso
tiva passa ·a executar ações ou serviços que o cooperado, que isso seja entendido pelo Congresso, pela Constituinte.
eventualmente, não deseja: monta uma loja para ven- Por isso quero cumprimentá-lo, porque V. s.a, no comando
der televisão colorida, quando o cooperado quer uma loja do sistema, tem colocado a cooperativa de forma mais
para vender botina, sapatão e chapéu. Neste momento, a transparente, e o sistema, hoje, busca a assumir a sua
cooperativa começa a fracassar. Daí, nobre Constituinte, própria responsabilidade, se libertando ida ingerência no-
a resposta à questão muito lúcida, colocada por V. Ex. a : civa e excessiva do Estado.
se os seus cooperados e dirigentes não se desligarem do Queria colocar aqui duas questões fundamentais: uma,
processo diretivo e permanentemente mantiverem acesa a necessidade, realmente, nesta Constituinte, colocarmos
a chama da participação, em nenhum momento a coope- no campo da educação o cooperativismo como algo a ser
rativa se reparará dos obj etivos originais para os quais ensinado, como é nos países onde o cooperativismo vingou.
ela foi constituída. Em nenhum momento ela quebrará e Tem que ser uma doutrina conhecida pela sociedade. Hoje,
irá deixar de cumprir seus objetivos sociais, e portanto, V. s.a é professor universitário sabe, quando a matéria
em nenhum momento, por maior que seja essa coopera-
tiva, ela deixará de prestar os serviços! aos seus associados. Cooperativismo é ensinada, ela o é no último semestre dos
cursos de Agronomia e de Veterinária; dá-se apenas uma
Daí a resposta definitiva à questão de V. Ex. a noção. Como é que essa profissional vai para o campo
A cooperativa central é sempre, sob a ótica da ínte- ensJi1nar cooperativismo se não aprendeu, Esta é uma.
gração, a mesma coisa, entre cooperativas de primeiro grau questão que nós, constituintes, temos que nos interar.
ou singulares, que uma cooperativa de primeiro grau ou A questão da tributação é, sem sombra de dúvida, tal-
singular é para os seus associados. Ela faz na escala aquilo vez, depois da educação, porque a educação é fundamental,
que uma cooperativa singular a ela associada não poderia o grande entrave do cooperativismo. Aqui se falou na in-
fazer individualmente, ou seja, a cooperativa singular é justiça da tributação, principalmente do ICM, que incide,
a extensão da atividade do seu cooperado; a central é a mas no cooperativismo incide muito mais pesadamente,
extensão da atívídade da singular. Por.tanto, por via de
conseqüência, num processo íntegracíonísta, a cooperativa porque não pode sonegar e incide sobre os custos agre-
central, desde que, mantida a linha doutrinária de par- gados.
ticipação e permanência, é também, nessa imbricação to- Pergunto a V. s.a: o senhor defende a isenção dos
da, a extensão da atividade do cooperado na sua base. produtos básicos, fundamentalmente, ou defende um cré-
Espero, desta forma, ter esclarecido a pergunta de dito presumido para que o ICM seja menos injusto? Qual é
V. Ex.a a forma? E como tem sido o relacionamento do coopera-
tivismo da OCB junto ao Mirad, ao Incra, no sentido
Em relação à segunda questão, o cooperativismo tem de que o cooperativismo cumpra um papel mais impor-
uma definição formal pela função social da terra, já expli- tante no processo da reforma agrária?
cada aqui, hoje, não levantando o questionamento em
relação à obrigação social, Imaginamos que a função so- Limito-me a isso, até porque sei que o tempo está
cial, suprida conforme aqui mencionado, permite ao sis- limitado.
tema cooperativista e à atividade agrícola, em geral, a
sua livre trajetória na agricultura brasileira. O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado, no-
bre constituinte cooperativista, Ivo Vanderlinde. Em rela-
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a pa- ção à pergunta da tributação, a resposta já havia sido
lavra ao nobre Constituinte Ivo Vanderlinde. apresentada enquanto V. Ex. a não se encontrava neste
O SR. CONSTITUINTE IVO VANDERLIND - Sr. Pre- Plenário. Ontem, na Subcomissão de Tributação, defende-
sidente, Sr. Relator, nobre conferencista. mos a tese de que a tributação sobre o produto agrícola
não pode ser sobre a produção, mas sobre a renda e sobre
Não pude ouvir a palestra do ilustre companheiro co- a terra, de tal forma que nós propomos simplesmente a
operativista, mas como o acompanho na sua luta em d!!- não existência de ICM sobre Produtos agrícolas, mas a
fesa do cooperativismo, como Presidente da Organizaçao tributação sobre a renda, porque o ICM tributa igualmente
das Cooperativas Brasileiras, presidente e cooperatívado, quem ganha e quem perde, quem tem lucro e quem tem
e tendo lido o seu pronunciamento, quero cumprimentá-lo prejuízo na atividade, o que é um absurdo inconcebível
não só pelo seu pronunciamento, mas pela participação para nós!
que primeira vez acontece no cooperativismo brasileiro,
uma participação mais política. Foi pela primeira vez Com relação à segunda questão, o relacionamento da
que o cooperativismo bra-sileiro quebrou o tabu da total OCB junto ao Incra, junto ao Mirad, as nossas propostas
isenção de participação do processo político que erronea- já foram apresentadas aos dois Ministros da Reforma
mente lhe foi imposto pelo Estado, que foi o patrocinador, Agrária que ocuparam aquela Pasta e aos Presidente do
de certa forma, da criação do cooperativismo no Brasil, Incra que ocuparam este órgão, inclusive ao caro amigo,
sob o princípio da total neutralidade política, no sentido ·0 presidente atual do IDera, o Engenhem-o Agrônomo
errôneo. Hoje, o sistema cooperativo está participando Rubem, também S. Ex. a um cooperativista nato de grande
dessa Constituinte em diversas subcomissões, está partici- valor no Rio Grande do Sul e que montou uma 'lias mais
pando dessa Constituinte com uma Frente Parlamentar !importantes cooperativas brasileiras, que é a Cotrijuí, na
Cooperativista, dos quais meia centena eleitos com o apoio cidade de Ijuí, no Rio Grande do Sul.
direto do sistema cooperativo, sem o envolvimento das
cooperativas, o que é importante dizer. Por isso, quero Acredito que o nosso trabalho tem sido objeto de es-
cumprimentá-lo, porque o cooperativismo começa a se tudos naquelas instituições, o Dr. Rubem, Presi-
mostrar mais, a reconhecer que não é um sistema perfeito, ídente do Incra, nosso partdeular amigo, é uma pessoa evi-
e é preciso que se quebrem os tabus de que quando se fala. dentemente interessada neste programa e estamos aguar-
em cooperativa, logo se lembra da Central Sul, alguma. rando um pronunciamento dessa instituição.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 135

o SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - O último in- Ainda hoje recebemos do lucra uma relação, Dr,
terpelante inscrito seria o Constituinte Amaury Müller, Roberto Rodrigues, de proprietários rurais em dez Esta-
que teve de se retirar para o Plenário da Constituinte. dos da Federação que possuem todos eles mais de 100
Concedo, então, ao Sr. Relator, Constituinte Oswaldo mil hectares de terra, somando 36 milhões de hectares.
iJ.,ima Filho que, neste caso, será o último ínterpelante, Alguns deles, como a Manasa, que já possui quatro mi-
lhões; de hectares, esté reduzida a 3 mílhôes e meio de hec-
O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Sr. Presi- tares, e muitos outros assim. Ora, ou nós fixamos um
dente, demaís Constituintes: limite para esse abuso ou, então, ele não terá fim jamais.
Inicialmente devo felicitar o ilustre Presidente da Or- E o abuso terá que seguir um limite, terá que ser esta-
ganização das Cooperativas Brasileiras pela brilhante ex- belecido na Constituição.
qJosição aqui feita, e embora não mantenha total solídaríe- Esta era a observação que tinha a fazer. Mas devo
~ade aos conceitos por S. Ex. a expedidos, certamente apóio salientar, também, que o cooperativismo no Brasil, apesar
grande parte, senão a maioria dos pontos de vista que dos percalços que sofreu ao longo da sua trajetória, foi
defendeu. basicamente e obstinadamente combatido ,pela adminis-
Aliás, neste sentido, ao lado do meu Companheiro, o tração do ex-Ministro Delfím Netto, que perseguiu as co-
Sr. Constituinte Deputado pelo Estado de Santa Catarina, operativas como um adversário tenaz, disposto a extermi-
que é um antigo e vigoroso defensor do ideal cooperati- ná-las. As cooperativas de crédito, raras, continuaram a
vista, Ivo Vanderlinde, subscrevi também uma emenda, existir, e as cooperativas em geral sofreram a conseqüên-
cuja principal destinação será alcançar a isenção dos cia da ação do então Ministro todo-poderoso, Ministro da
tributos sobre o ato cooperativo. Entendo que no regime Fazenda.
capitalista, que certamente ainda há de vigorar no Brasil Esperamos que a Nova República, que está envelhe-
por muitos e muitos -anos, não pelo meu desejo, mas cendo muito rapidamente, possa renovar os direitos do
por uma série de fatores que não dependem da nossa povo de se organizar em cooperativa.
vontade e o voluntarísmo é qualquer coisa de condenável,
inclusive para os socialistas, como o Constituinte Fer- O SR. ROBERTO RODRIGUES - Muito obrigado,
nando Santana, o cooperativismo neste regime capitalista, nobre Constituinte Oswaldo Lima Filho.
e sobretudo no capitalismo selvagem em que vivemos, Realmente, esta postura do sistema cooperativista bra-
por ser o único freio ou o único contrapeso em favor sileiro, propugnando por este artigo que V. Ex.a, para a
dos pequenos e médios produtores rurais. nossa grande honra, subscreverá à Assembléia Nacional
Sou de uma região, da Zona da Mata, de Pernambuco, Constituinte, da imunidade tributária sobre o ato coope-
onde a propriedade é extremamente dividida, onde a refor- rativo, é uma questão da mais absoluta justiça. Na medida
ma agrária praticamente se fez graças às medidas de cré- em que o ato cooperativo, sendo a relação entre o coope-
dito do Governo Vargas e ao trabalho de alguns pioneiros, rado e sua cooperativa, na medida em que a cooperativa
inclusive o meu pai e o Deputado Octávio Correa de Araú- é a extensão das atividades dos seus associados, é abso-
jo, naquela região, mas vejo esses pequenos produtores lutamente inadmissível que esta relação seja tributada de
que sobrevivem com dignidade numa região onde não há qualquer maneira ...
fome, não há nenhuma das características deprimentes O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - V. s.a
da área da grande propriedade produtiva na zona cana- me permite um aparte?
vieira de Pernambuco, mas vejo que eles são extrema-
mente prejudicados, se não roubados pelos intermediários Eu ainda acrescentaria um ponto muito írnportant-
que compram a sua produção a preço baixo; a produção, que esqueci na minha exposição, e que não ouvi o Senhor
em geral, é de gêneros perecíveis, e revendem a cem quilô- aqui pronunciar. l!J importante essa isenção para o custo
metros, na cidade do Recife, Ipor altos preços. Na Ceasa, da alimentação do povo. No Brasil, e aqui foi dito pelo
que foi organizada para reunir a produção hortigranj eira Constituinte Alysson Paulinelli, com quem raramente con-
e de frutas, na Cidade do Recife, gêneros alimentícios, a cordo, mas neste assunto estou inteiramente de acordo
produção está entregue a uma máfia, em que um é dono os alimentos básicos são muito tributados. O milho Ó
do tomate, outro é dono da cebola, outro é dono da fari- feijão, o arroz, a farinha sofrem uma incidência de IeM
nha, e todos chegam lá de "cadíllac" no fim da tarde, muito grande e que só faz encarecer a alimentação popu-
para receber os lucros; ou de galáxís, que são os equiva- lar.
lentes, porque eles gostam dos carros grandes. Lá não O SR. CONSTITUINTE ALYSSON PAULINELLI _
vão, e atuam por intermédio de uma verdadeira máfia de V. ~x.a ~e pern:üte .u~ aparte? Realmente, essa questão
intermediários. Isso se repete em todo o País, se repete da. ímunídade tríbutáría sobre o ato cooperativo será, em
no Rio de Janeiro, por toda parte. O Cooperativismo me primeiro lugar, uma isonomia do Brasil, em relação aos
parece ser, do ponto em que me coloco, a única forma parses maIs_ avançados do mundo quanto à questão coope-
de defesa desses pequenos produtores. POi" isso subscrevi ratívísta, Nao ha pais avançado em que o ato cooperativo
a emenda, lutarei e votarei pela sua aprovação. seja tributado no mundo todo. Em segundo lugar, segura-
Há, evidentemente, -abusos. Há eooperativas que se mente representará a plataforma de lançamento do coope-
transformaram em empórios, perderam o ideal coopera- rativisl?-0 bl."~sileiro para aquele espaço que seguramente
tivista, mas, ainda, a grande maioria das cooperativas bra- ele esta destinado dentro de uma economia em evolução
sieíras presta relevantes serviços aos pequenos produtores. voltada para maior justiça SOCial no nosso País. Muit~
l!J preciso notar, nós, que a todo passo vivemos a citar os obrigado a V. Ex.a
Estados Unidos como modelo, não notamos que o coope- O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Estamos che-
rativismo é uma força muito poderosa na produção agrí- gando ao final das interpelações.
cola dos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia e nos
Estados da Costa Oeste. Concedo a palavra ao Dr. Roberto Rodrigues para as
São estas considerações que desejava fazer, salien- suas considerações finais.
tando que mantenho, apesar daquela minha velha consi- O SR. ROBERTO RODRIGUES - Ser. Presidente,
deração, ao grande número de Companheiros da Subco-
missão, de que não entendemos a possibilidade de uma Sr. Relator, Srs. Constituintes, Senhoras e Senhores:
justa distribuição da propriedade 'territorial sem um limi- Deveria fazer, nesta consideração final uma única
te à propriedade. observação, se me permite o Sr. Presidente: em relação
136 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

a algo que foi aqui levantado pelo companheiro coopera- trabalhadores rurais presentes a este plenário da Comis-
tivista Constituinte Ivo Vanderlinde, de Santa Catarina. são:
Estamos aqui em nome da Comissão Pastoral da Terra,
Realmente, o cooperativismo brasileiro tem buscado organismo anexo da Conferência Nacional dos Bispos do
a ocupação de um espaço político, no sentido mais elevado Brasil, CNBB.
da palavra, 'correspondente ao espaço econômíeo e social
que ele ocupa hoje. O cooperativismo brasileiro, hoje, no Ouvimos atentamente a discussão anterior, e mais
seu 'corpo místico, representado pelos associados e pessoas uma vez nos damos conta das tremendas disparidades,
ligadas a esse movimento, representa seguramente mais da tremenda violência que envolve a questão agrária e
de 10% da população brasileira e representa uma partici- agrícola neste País.
pação poderosa na produção e comercialização, sobretudo A sociedade brasileira, Srs. constituintes e trabalha-
dos produtos agrícolas brasileiros, e não tem um espaço dores rurais, foi sacudida, ao fim do regime militar, pela
polítíco compatível com essa expressão social e econômica. publicação de uma pesquisa que pôs a nu as raízes da
violência do Estado brasileiro contra seus oposítores polí-
Não obstante 'a doutrina cooperativista preveja, como ticos. A partir da documentação existente nas auditorias
V. Ex.a bem colocou, a total isenção de partícípação polí- e tribunais militares, um grupo de cidadãos expôs a chaga
tica, do ponto de vista partidário, entendemos que a da brutalidade, da tortura, dos assassínatoa, dos desapa-
pclítíca está em todo e qualquer tipo de atividade no recímentos de presos políticos. Era a primeira reação da
mundo todo, e o cooperativismo não poderia ficar à mar- sociedade brasHeira, iniciando a necessária, a indispensá-
gem desse processo. vel recaptura da realidade vivida nos porões dos orga-
nismos de segurança e dos tribunais militares, até então
Por ssta razão, Sr. Presidente, Sr. Relator, foi extre- sepultada pelo silêncio oficial.
mamente gratificante o sistema cooperatívísta brasileiro,
através da OCB, participar desta que é seguramente uma É necessária e indispensável a recaptura desses tem-
das mais importantes subcomissões da Assembléia Nacio- pos sombrios para que tenhamos em nossas mãos e diante
nal Constituinte, e foi seguramente gratificante para todos dos nossos olhos os horrores praticados em nome dos inte-
nós, extremamente honroso para todos nós, aqui podermos resses nacionais, em nome da democracia e mesmo em
trazer a palavra do cooperativismo, que busca, sobretudo, nome da liberdade, nesta hora em que os Srs. Constituin-
conforme a doutrina prega, corrigir o social através do tes tomam a si a tarefa de escrever uma Constituição
econômico, buscando o bem-estar do homem brasileiro. que nos devolva ao estado democrático.
Muito obrigado. A este trabalho de pesquisa se chamou Brasil Nunca
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Esta Subco- Mais. O que lhes trago hoje, Srs. Constituintes, poderia
ser definido como uma espécie de Brasil Nunca Mais do
missão agradece ao Dr. Roberto Rodrigues que, em nome Campo. li: o rosário macabro das vitimas da luta pela
da Organização das Cooperativas Brasileiras, trouxe a sua terra; é o levantamento minucioso realizado pelos traba-
experíêncía aqui. O cooperativismo é, sem dúvida, um lhadores rurais brasileiros pelo Movimento Sindical e suas
setor fundamental no sistema de produção do campo. entidades de apoio, dos assassinatos de lavradores e Iavra-
Daí a grande valia de suas informações. Somos-lhe muito doras, homens, mulheres, crianças, velhos e inválidos, das
gratos, e desejamos que suas idéias aprimoradas possam vítimas de uma guerra não declarada, de uma guerra sub-
perdurar. Muito obrigado. terrânea, de uma guerra clandestina que se travou no
País durante todo o período do regime militar, e que não
Srs. membros da oomíssão, a reunião não terminou. arrefeceu com a chegada da Nova República. Esta guerra
Vamos passar à segunda parte, ouvindo os representantes está assentada em alicerces tão profundos quanto aqueles
da Comissão Pastoral da Terra. que sustentaram durante vinte anos a ditadura militar.
Convido o Sr. Hamilton Pereira da Silva, o Padre Esta guerra não conhece códigos; a ferocidade a que che-
Ricardo Rezende e o Dr. Daniel Reck a que tomem assen- gou não conhece limites, como os Srs. Constituintes terão
oportunidade de ver, ao folhear o relato conciso, objetivo
to à Mesa, a fim de que iniciemos a segunda parte desta do pavoroso drama que envolveu nos últimos anos cerca
reunião. de meio milhão de brasileiros.
'Congratulo-me, também, com os membros da Comis- O dossíê contendo assassinatos no campo, crimes e
são, porque, pela primeira vez, conseguimos cumprir O impunidades, que passo agora às mãos do Sr. Presidente
nosso horário. da subcomissão e do Constituinte Oswaldo Lima Filho, Re-
lator desta subcomissão, e colocaremos à disposição de
Quero eomuniear, também, aos membros da Subco- cada partido aqui representado um exemplar, que busca
missão que amanhã, por proposta do consãtuínte Mauro trazer para a sociedade brasileira a face rural daquele
Borges, faremos uma visita aqui à círcunvízínhança 'de Brasil Nunca Mais. Só que esta violência, a violência do
Brasilia para observar algumas experiências que se fize- campo permanece, porque aqui no campo, entra regime,
ram no setor de agrícultura, Haverá um ônibus aqui na sai regime, e a violência permanece, porque essa violência
chapelaria, na entrada principal do Congresso Naeíonal, é filha do monopólio da terra, é filha do latifúndio, e aos
que será utilizado veIos membros desta Subcomissão nesta camponeses deste País, o Estado e o latifúndio não reco-
viagem também de experiência. nhecem o direito à cidadania, não reconhecem sequer o
direito à vida.
Concedo a palavra ao Sr. Hamilton Pereira da Silva,
que terá vinte minutos para fazer a sua exposição inicial. Trago aos Srs. Constituintes fotografias demonstrati-
Ele nos propõe que as indagações dos '8rs. constituintes vas da brutalidade insanável desta violência que, como lhes
sejam respondidas por ele próprio, pelo Padre Ricardo dizia, não conhece limites. São homens, são mulheres, são
Rezende ,e pelo Dl'. Daniel Reck, no que a Subcomissão crianças vitimados por uma brutalidade que, como dizia,
concorda. não conhece limites. Essa brutalidade não alcança apenas
os trabalhadores rurais, esses homens que, cem anos depois
O SR. HAMILTON PEREIRA DA SILVA - Sr. Presi- da abolição, ainda não conseguiram o status de cidadão
dente, Constituinte Edison Lobão, Sr. Relator, Constituin- neste País; alcança também todas as entidades e pessoas
te Oswaldo Lima Filho, Sras. e Srs. constituintes; cidadãos que porventura se aproximam dos trabalhadores rurais
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 137

para lhes prestar apoio e solidariedade. Aqui está a foto se destacam à frente dos trabalhadores que contam 1.118
da Irmã Adelaide Molinari, assissinada em Marabá há mortos, computados neste dossíê, A violência sendo seleti-
três anos. va, é uma violência organizada. :Ê uma violência que de-
Os trabalhadores rurais do Brasil são submetidos não manda a organização, a manutenção de milícias, de jagun-
apenas no limite, à selvageria que agora os Srs. Consti- ços, de pistoleiros profissionais, mantidos pública ou clan-
tuintes presenciam; eles são vítimas da exploração diária destinamente por associações de latifundiários. Essa vio-
nessa atividade econômica que tantas transformações pas- lência organizada inclui, também, forças regulares, polí-
sou no período de 1964 a esta data. cias militares estaduais, freqüentemente envolvidas nos
crimes contra os trabalhadores. Ela é, portanto, uma vio-
Srs. Constituintes, a modernização da agricultura bra- lência de classe. No entanto, a característica principal des
sileira não foi acompanhada da necessária modernização sa violência é que ela é uma violência impune. Os Srs
das relações de trabalho. Assistimos, nos quatro cantos do Constituintes verão a tremenda monotonia do item "Pro
País, a permanência e inclusive a ressurreição de formas vidências Jurídicas" que consta desse dossíê, a frase maís
de exploração de trabalho escravo, e os promotores deste lida será "não se tem notícia'. Não nos deteremos aqui
tipo de exploração estão longe do velho latifundiário de sobre o significado da impunidade como agente alimenta-
esporas e chapelão: são os bancos, são as empresas multi- dor da violência. Estamos, porém, convencidos de que na
nacionais que, junto com o grande capital que avança no medida que formos 'capazes de remover a raiz mestra vío-
campo, estabelece relações de trabalho escravo em nosso lêncía, o monopólio da terra, daremos um passo decísívo
País. para anular a causa mais profunda de tantos crimes contra
Este quadro de violência se traduz também no fato os trabalhadores brasileiros.
de que a concentração da terra experimentada no nosso
País nos últimos vinte anos não conhece paralelo no mundo. A CPT, no entanto, não veio aqui apenas para denun-
Essa é a primeira violência. ciar. Queremos, também, dar a nossa contribuição com
propostas, e a nossa proposta está consubstancíada no
Hoje, para que tenhamos uma idéia, além daqueles articulado defendido aqui já por outras entidades, como a
dados eloqüentes oferecidos há pouco pelo Relator Consti- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura,
tuinte Oswaldo Lima Filho, 4% das propriedades fundiá- que nos sucedeu na reunião de ontem, como a Associação
rias neste País controlam 2/3 das terras agricultáveis. Na Brasileira de Reforma Agrária, e outras entidades, como
monstruosidade desta distorção reside a raiz mestra da o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, que, íntelíz-
violência no campo. Não deve causar surpresa que a mino- mente, não será ouvido por esta SUbComissão. Nós, da
ria beneficiada por essas distorções veja os trabalhadores Comissão Pastoral da Terra~ gostaríamos aqui de frisar
rurais como seus inimigos. No entanto, não podemos admi- alguns aspectos desta 'proposta.
tir que o Estado brasileiro veja os trabalhadores rurais Corre pelo País um certo míto criado pelos inimigos
como seus inimigos, porque a Nação brasileira não termi- da- reforma agrária, de que os defensores da reforma agrá-
na onde termina a cerca do latifúndio. ria, ou seja, o Movimento Sindical, os trabalhadores, as
Srs. Constituintes, o dossiê "Assassinatos no Campo, entidades que a apóiam, só pensam em dar terra; não se
Oríme e Impunidade" busca resgatar das sombras do esque- preocupam com a questão da política agrícola. Não é
cimento não apenas o nome dos cidadãos sacrificados nessa verdade. A nossa preocupação com a política agrícola é
luta desigual; busca também recuperar o próprio sentido uma preocupação essencial. Ocorre que não pedemos, ao
da cidadania, e aqui vale lembrar que nenhum outro setor discutirmos a política agrícola, eliminar a questão da pro-
da sociedade brasileira, como os camponeses, trabalharam priedade fundiária. Estamos tão preocupados com a polí-
tanto pelo fortalecimento da sociedade civil e nesse senti- tica agrícola quanto todos ossetores que atuam, ou, talvez
do pelo fortalecimento da democracia. Organizando seus mais do que os outros setores que atuam na produção
sindicatos, associações, cooperativas, movimentos, os traba- agrícola neste País. Por uma razão muito simples, a produ-
lhadores rurais buscam se autodefender de um Estado, que tividade agrícola no Brasil é balxissíma, e este País, sendo
mais do que um estado autoritário, que a Nova República o País que é - é o País da -fome. Portanto, companheiros,
não conseguiu liquidar, é um Estado absolutista, absolu- temos todo o interesse em discutir a questão da política
tista, no sentido de que o Estado absorve todas as instân- agrícola, mas queremos, junto com a questão da política
cias da sociedade que não sejam braços deste mesmo Esta- agrícola, discutir o direito ao acesso à terra, para milhões
do. Ele busca incorporar, reduzir a sociedade ao seu tacão, de trabalhadores que nos últimos vinte anos foram expul-
e os trabalhadores rurais ,este setor da sociedade que em sos de suas terras por uma política agrária e agrícola que
geral é visto 'como o setor mais atrasado, dá uma líção de tinha como objetivo principal esvaziar 00 campo brasileiro,
modernidade, dá uma lição de democracia. Nós, que esco- porque via nos camponeses uma grande ameaça. Portanto,
lhemos, nesta luta desigual; o lado dos trabalhadores, vie- o que estamos vivendo hoje é a conseqüência de uma polí-
mos aqui para prestar a nossa contribuição junto com o tica agrícola que a Nova República e esta Constituinte
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, junto terá que assumir e equacionar para oferecer uma solução
com o Movimento Sindical, para a construção deste mesmo que possa trazer a estrutura fundiária do País para a con-
Estado democrático. temporaneidade. Precisamos sair do século XIX. Diria
Diria que este dossíê que lhes apresento deveria ter que é até um exagero, porque nós, no Brasil, mais do que
outro nome, não deveria ser apenas um nome neutro, latifúndio, temos verdadeiros feudos medievais.
objetivo, Assassinatos no Campo, Crime e Impunidade, ele A agricultura mais produtiva do mundo, a agricultura
deveria ter o nome de "Latifúndio, nunca Mais". americana, trabalha com uma propriedade média de 137
Srs. Constituintes nós, a partir, não apenas da obser- hectares, o que significa que não temos absolutamente
vação, mas da vivência, localizamos, nessa verdadeira guer- necessidade de acumularmos países dentro do País para
ra civil que se trava no campo, que a violência no Brasil garantirmos produtividade.
rural é uma violência generalizada em primeiro lugar, Queremos, ainda, apresentar um dado a mais. A grande
porque de Norte a Sul do País registram-se conflitos, en- propiredade neste País é, em geral, de baixíssima produti-
volvendo, nos últimos anos, como disse, meio milhão de vidade; a grande produtividade na agricultura brasileira
brasileiros. Sendo uma violência generalizada, no entanto, está- nas mãos da propriedade de 10 a 100 hectares, respon-
ela é uma violência seletiva. São inúmeros os dirigentes sável, em última análise, por 70%. dos alímentos que eon-
sindicais, os dirigentes de eomunídades, as !pessoas que se sumimos.
138 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemenfo) Julho de 1987

Para concluir, Sr. Presidente, Srs. Constituintes, gos- forma Agrária, com o documento entregue ao Sr. Presi-
taríamos de dizer aqui que nas nossas propostas que estão dente desta Subcomissão, em que propomos a democrati-
consubstanciadas neste articulado de vinte pontos, que zação da propriedade fundiária neste País, acompanhada
vamos deixar aqui com V. Ex.as, que foram defendidos por uma política agrícola voltada para a produção de ali-
aqui também por outras entidades, nós defendemos o esta- mentos, e que, de fato, resgate da servidão uma imensa
belecimento de um teto máximo da propiredade em 60 maioria de trabalhadores rurais, hoj e, marginalizados da
módulos. Além do maís, , gostaríamos de submeter à dis- sociedade.
cussão dos Srs. Constituintes, gostaríamos de participar A respeito das convicções de Dom Angélico e do Frei
do debate no conjunto da sociedade, para defendermos a Boff eu recomendaria ao Constituinte procurá-los no
necesidade de fixar, de discipilnar. Não precisamos abso- confessionário. Não creio que seria aqui o lugar e o momen-
lutamente neste momento de agredir a propiredade. É to de discutirmos as convicções desses dois ausentes.
preciso inclusive que a imensa quantidade de cidadãos (Palmas.)
brasileiros tenha o direito de ter propriedade. Nós defen-
demos um limite. para essa mesma propriedade e para a O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a
propriedade rural em 60 módulos. palavra ao oonsíãtuínte Fernando Santana, também Vice-
Presidente desta subcomissão.
Uma outra questão que eu não gostaria de deixar
passar discutindo a questão fundiária deste País, não pode- O SR. CONSTITUINTE FERNANDO SANTANA -
mos esquecer da dívida histórica da Nação brasileira com Sabemos que o Constituinte 8ena:dor Rachid Saldanha
as populações indígenas. É indispensável que incluamos o Derzi é um homem de coração grande e estamos certos
respeito à terra, à cultura e à autodeterminação desses de que irá refletir posteriormente sobre q, contribuição
povos como um tributo que não há de reparar, histori- que a Pastoral da Terra nos trouxe. Ela nos deu uma
camente, a violência que a sociedade brasieira cometeu contribuição mostrando essa gigantesca violência que se
contra eles; mas pelo menos poderíamos assegurar as passa no 'campo, que serve para todos nós como uma
condições mínimas dessas nações indígenas, para que pos- alavanca no sentido de evitar, o quanto antes, que esse
samos estabelecer, no Estado democrático, que haveremos processo de guerra não declarada sela definitivamente
de 'Construir a noção de igualdade, respeitando as diferen- extirpado de nossa Pátria.
ças. Muito obrigado.
Veja, aqui, em meu estado, a Bahia, 115 mortos,
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a contados 'de um a um, e, o últímo deles, uma criança
palavra ao nobre COnstituinte Rachid Saldanha Derzi. de seis meses. Evidentemente, quando as pessoas passam
O SR. CONSTITUINTE RACHID SALDANHA DERZI a não respeitar nem a vida das crianças, nós já temos
- Sr. Presidente, desejo congratular-me comigo mesmo. um grau de violência muito grande.
Na Presidência eventual desta Subcomissão, como 1.o-Vice- Concordo inteiramente que essa violência resulta prin-
Presidente, por várias vezes deixei de submeter à aprecia- cipalmente não dos produtores, mas daqueles la,tifúndios
ção dos Srs. Constituintes a convocação da Pastoral de que querem manter a terra como reserva de mercado.
Terra a esta Comissão. Dizia eu que, não era a esta Subco-
missão que ela deveria comparecer, e sim, à outra; que ela Há mais de 40 anos, exatamente em 1942, começamos
não traria nenhum subsídio a esta Subcomissão, e que nós, a refletir sobre o problema da terra. O expositor, Sr. Ha-
aqui, deveríamos convocar os trabalhadores rurais, os sin- milton Pereira, quando disse aqui que a Nação brasileira
dicatos, a Contag, o sindicato dos proprietários rurais, a não termina nem começa no latifúndio, fez realmente
Embrapa, a Embrater, a organização das cooperativas e o uma síntese perfeita. Nós temos o latifúndio como base
Ministério da Reforma Agrária que hoje esteve aqui e fez de civilização há mais de quatrocentos anos e é justa-
uma belíssima exposição; e que todos estes trariam real- mente essa tradição social do latifúndio que nós ainda
mente alguma contribuição a esta Subcomissão. Então, não conseguimos combater. l!: mais um preconceito que
me congratulo comigo mesmo. Estava certo de que a pre- está instalado na sociedade brasileira, não porque ele
sença da Pastoral da Terra nesta Subcomissão nenhuma tenha sido útil ao nosso desenvolvimento, mas porque se
contribuição viria trazer para o nosso projeto de reforma entranhou na vida da nossa Nação, como um câncer
agrária; e me enganei! se entranha na vida do ser humano. O latifúndio, a nosso
Agora, eu só pergunto ao nobre Conferencista, se o ver, é um câncer. Ele não contribui - considero o lati-
Bispo Dom Angélico, de São Paulo, que comandou uma fúndio como terra improdutiva, vastas regiões improdu-
invasão de terras urbanas naquela cidade, e se o Frei tivas - para o nosso desenvolvimento.
Boff, lá em Itaipava, que comandou também uma inva-
são, ao conjunto habitacional da Cohab naquela cidade, Mas quero parabenizar V. Sa. pela contribuição que
se são, também, da Pastoral da Terra e defendem a inva- nos dá, para que, nós brasileiros, como o nobre Consti-
são das propriedades? tuinte Senador Rachid Saldanha Derzi cita nesse do-
cumentário, a necessidade de excluirmos defínítívamente
O SR. PRESI'DENTE (Edison Lobão) - Concedo a o problema do latifúndio e dar acesso ao homem à terra,
palavra ao Conferencista Amilton Pereira. a fim de que ele produza e trabalhe para construirmos
um Brasil maior e melhor para os nossos filhos.
O SR. AMILTON PEREIRA - Queria dizer ao Consti-
tuinte Rachid Saldanha Derzi que a Comissão Pastoral O SR. HAMILTON PEREIRA - Gostaria de me con-
da Terra, quando se faz presente a esta Subcomissão, é gratular com o Constituinte Fernando Santana e dizer-lhe
para trazer uma contribuição à discussão de um problema que estamos vivendo uma oportunidade única, neste final
que em geral os beneficiários da concentração da terra de Séc.ulo XX, para estabelecermos ou, pelo menos, lan-
no [País não querem discutir. Portanto, tínhamos claro, çarmos as bases para o estabelecimento de uma verdadeira
quando viemos aqui, que iríamos incomodar alguns seto- democracia no Brasil. E, considerando o seguinte, digo
res minoritários da sociedade brasileira, e assumimos essa que não conseguiremos, por maior que seja o nosso cora-
responsabilidade com serenidade e com objetividade. Que- ção, construir uma democracia neste País que não passe
remos informar ao ilustre Constituinte, que a Comissão pela necessária democratização da propriedade fundiária.
Pastoral da Terra veio, sim, contribuir, ao lado de outras
entidades, como a Confederação Nacional dos Trabalhado- O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a
res na Agricultura, como a Associação Brasileira de Re· palavra ao nobre oonstítutnte Aldo Arantes.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 139

o SR. CONSTITUINTE ALDO ARANTES - Queria tão da propriedade produtiva e da propriedade improduti·
inicialmente manifestar a minha discordância à avalia- va. Porque nós, do Partido Comunista do Brasil questiona-
ção do nobre Constituinte Rach1d Saldanha Derzi, de que mos este problema, porque isso coloca uma dificuldade
a CPT não trouxe aquí nenhum subsídio. O Senador não muito grande para a realização da reforma agrária. O Ia-
teve, sequer, a paciência de esperar que a CPT chegasse tífundíârío considera que tendo uma cabeça de gado ou
até o fim de suas exposições, porque em geral as avalia- porque planta alguns hectares de arroz ou de feijão, a
ções são feitas no final do debate. É estranho, tendo a terra é produtiva. Então, é um critério muito elástico,
CPT trazido um livro de 591 páginas, falando dos assas- muito difícil e me parece que teríamos que tomar, talvez,
sinatos no campo, mesmo assim, o senador considere que como referência, um limite determinado da propriedade
não houve nenhum subsídio, a não ser que o senador como referencial fundamental. E a outra coisa - V. s.a
imagine que isso não tem nada a ver com esta subco- já falou de leve mas, acho que tem importância aprofun-
missão. Acho que tem tudo a ver, porque a violência do dar um pouco mais. Aqui, em geral, quando se fala de
campo tem uma raiz e aí é uma das questões que temos reforma agrária, as pessoas são contrárias a ela e outras,
que discutir. A violência no campo está relacíonada com nem são contra, mas estão preocupadas com a questão
a existência do monopólío da propriedade da terra, com o da desorganização da produção. Quando a proposta de
latifúndio e das formas atrasadas e antídemoerátícas não Reforma Agrária, longe de desorganizar a produção, é exa-
só da produção, mas do exercício do poder político. Porque tamente um fator, digamos, de ampliação da produção
nós sabemos que nessas regiões latifundiárias, a violência agrícola, na medida em que irá incorporar grandes contin-
contra o trabalhador rural é a maior possível. Por outro gentes à atividade produtiva. Gostaria de ouvir sua opinião
lado, queria, aqui, me congratular com o Sr. Hamilton sobre essas questões.
Pereira, pelas suas colocações. Acho que, de fato, o centro O SR. HAMILTON PEREffiA - Agradeço ao oonstí-
da reforma agrária é a extinção do latifúndio; essa é tuinte Aldo Arantes e pediria licença aos Srs. para que, a
a questão fundamental. Quando se fala que se quer con- respeito da primeira questão, ao invés de colocarmos, aqui,
trapor à tese daqueles que defendem a reforma agrária numa visão geral a nível nacional, a respeito desse proble-
com a defesa do ,diretto de ;propriedade, na verdade, se ma da mão-de-obra escrava, passássemos a palavra ao Pa-
está pretendendo tergiversar, porque ninguém propôs, dre Ricardo Rezende, testemunha de inúmeros casos de
aqui, nem mesmo aqueles que defendem o caminho socia- escravidão na região sul do Pará.
lista para o País, a socialização da terra. Consideramos
que no estágio em que a sociedade está vivendo, esta O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a
questão seria inviável, porque está estabelecendo-se o res- palavra ao Padre Ricardo Rezende.
peito à propriedade. Agora, o que não se admite, o que
se propõe a extinção, é de uma p-ropriedade que é impro- O PADRE RICARDO REZENDE - É surpreendente
dutiva ou que tenha uma baixa produtãvídade. Concordo descobrirmos de repente, no interior da Amazônia, gran-
com o expositor de que o grosso - e nós temos aqui des grupos econômicos do capital financeiro e do capital
elementos - da produção agrícola no Brasil está nas industrial mais avançado, que utilizam, às vezes, compu-
pequenas e nas médias propriedades. Essa é, exatamente, tadores de técnicas avançadas, de certa forma têm o pé
a razão por que eonsíderamos que o objeto da reforma no Século XXI, mas, simultaneamente também um pé no
agrária é, exatamente, a extinção do latifúndio. Século XV, Século XVI, Século XVII e se utilizam dessa
forma terrível de trabalho humano, que é o trabalho escra-
Ao se discutir a questão da Reforma Agrária, também, vo. Um conjunto de fazendas, tenho aqui 29 fazendas rela-
se coloca, se contrapõe, as propostas da Reforma Agrária cionadas, que já denunciamos diversas vezes, fazendas que
sem levar em conta que, inclusive, muitas dessas proprie- buscam a contratação de trabalhadores para derrubadas,
dades são propriedades griladas. Além de serem proprie- utilizando os empreiteiros - que são conhecidos como
dades muito grandes, muitas delas são propriedades ile- gatos - e, esses homens aliciam trabalhadores no Mara-
gais, griladas. Fala-se, muito, nesta Comissão, que os em- nhão, em Goiás, no Ceará, no Espírito Santo, em Minas
presários enfrentam dificuldades, enfrentam a hostilidade Gerais, em diversos rincões deste País e os levam para
do campo. Mas, não se fala, exatamente, que muito antes o interior das matas e, lá, esses homens são submetidos à
dos empresários são os trabalhadores rurais, que estão nes- escravidão. Dentre as diversas fazendas denunciamos, por
sas regiões, na região onde eu conheço detalhadamente, o exemplo, em 1983, em 1984, em 1985 e este ano voltamos a
Bico do Papagaio, onde estivemos recentemente, e estão denunciar a Vale do Rio Cristalino, que até novembro do
lá há 30, 40, 50 anos - e eu já estive com famílias que ano passado pertencia à Volkswagen do Brasil. Em 1983
estavam nessa região, Senador, há 65 anos e foram expul- estavam retidos no interior da Volkswagen, 800 trabalhado-
sas pela violência do latifúndio, expulsas através de mílí- res, num trabalho de servidão. Depois de insistentes pres-
cias armadas. Essa é uma questão que tem tudo a ver sões, estivemos lá dentro, inclusive com alguns deputados
com o nosso trabalho. Acho que a alternativa real, para a e com a imprensa que constataram as denúncias que fa-
solução desse problema, é, de fato, a democratização da zíamos, e foi feita por parte do Governo do Estado do Pará,
propriedade da terra, através da reforma agrária, que irá uma sindicância, onde a conclusão do Secretário de Segu-
trazer, também, a democratização política do País. Porque rança Pública foi de que, realmente, teria havido trabalho
o monopólio da propriedade da terra tem o seu aspecto escravo no interior da fazenda, que responsabilizava, dire-
econômico, o seu aspecto social e o seu aspecto político. tamente, os empreiteiros e responsabilizava a Volkswagen
Muito do atraso das instituições brasileiras está relacio- por conivência e complascência. No entanto, nada aconte-
nado com a força que o latifúndio tem na estrutura de ceu nem com os empreiteiros e nem com: a direção da
poder neste País. Mas finalizando, gostaria de fazer três Volkswagen. Ela continua sendo detentora da terra e utili-
perguntas ao nosso expositor. Aqui foi colocado de forma zando-se de recursos da Sudam, possivelmente, pelo me-
detalhada, com dados e elementos, a questão da violência nos, 80% do capital dela era capital de incentivos fiscais
do campo. O Sr. fez referência à questão da mão-de-obra e ela acabou, no final, vendendo a fazenda. Há casos de
escrava, acho que esse é um tema importante e gostaria trabalhador como este aqui, que foi assassinado, Valdivi·
que V. s.a o detalhasse mais, porque sei que tem subsídio no Alves de Souza, solteiro, 25 anos, natural de Araguaína,
e isso é importante que esta comissão tome conhecimento, assassinado por Francisco Braz de Souza, no dia 6 de
se bem que, pessoalmente, eu, também tenho conhecimen- maio de 1986, fugindo da Fazenda Espírito Santo. Esse
to desses abusos. Por outro lado, eu também gostaria de rapaz levou um tiro no joelho e morreu na estrada. O seu
ouvir a sua opinião, como a da CPT, ao encarar essa ques- sangue se esgotou todo na estrada. Um outro trabalhador,
140 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Olímpío, fugindo da fazenda Acapulco, da família Lunar- partilhada, sobretudo 'COm aqueles que a produzem. Então,
dellí, que ficou famosa em função daquela retenção de para trazermos como contribuição a esta subcomissão,
algumas cabeças de gado em São Paulo, fugiu da Fazenda junto com as outras entidades, dentro da nossa modéstia,
Acapulco e, entrando na Fazenda Alô Brasil, foi capturado formulamos na nossa proposta um artigo que resulta do
pelo "gato" dentro da Fazenda Alô Brasil. Abriram-lhe a entendimento que nós temos sobre essa questão, que diz
cabeça com um facão; foi enterrado anonimamente, sem o seguinte: a nossa visão é a de que devemos, inclusive,
registro do nome e depois conseguimos identificá-lo; estão indenizar, no processo de desapropriação, no processo de
sendo enterrados diversos trabalhadores rurais, pelo inte- reforma agrária. Não somos pelo confisco puro e simples.
rior do Sul do Pará e em diversas partes do Brasil, enter- A formulação que colocamos é a seguinte:
rados sem que se registre o nome do morto. Este, por
exemplo, Antônio Bispo, foi assassinado no dia 26 de feve- "A indenização r:eferida no art. 1.0, § 4.0, signi-
reiro em Redenção e, possivelmente, há indícios de que fica tornar sem dano, unicamente, em relação ao
está 'ligado ao Jairo Andrade, Tesoureiro da UDR, num custo histórico de aquisição e dos investimentos
conflito, com ele, foi assassinado e enterrado às pressas; realizados pelo proprietário, seja da terra nua,
e no registro, no atestado de óbito, a Polícia coloco~ a seja de benfeitorias, e com a dedução dos valores
palavra defundo, ao invés de colocar o nome dele. Tlve- correspondentes a investimentos públicos e débi-
mos que retirar o corpo dele da cova para poder dar um tos em aberto com as instituições oficiais."
nome ao morto e o trabalhador rural que havia sido assas- Ou seja, não estamos querendo, com esta proposta,
sinado antes deste, dias antes, foi enterrado também, e a nada semelhante àquilo que dizia o Constituinte Aldo
polícia fez registrar no testado de óbito, no local onde Arantes, a socialização...
deveria constar o nome, a palavra "cachorro". Evidente·
mente, o trabalhador rural não é cachorro, apesar de estar O SR. CONSTITUINTE MAURO BORGES - Desculpe-
sendo tratado pior do que cachorro. me, não é a forma de pagar ou de desapropriar, é a título
de estabelecer um certo parâmetro, porque não estou me
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - O próximo referindo a latifúndios gigantescos de 1 milhão de hecta-
constituinte inscrito é o nobre Constituinte Amaury Müller. res, de 1 milhão e 200 mil hectares, porque há latifúndios
Sucede que os senadores constituintes, membros desta por aí que são produtivos, não com um pé de arroz aqui,
comissão, estão sendo convocados para uma votação, ago- um pé de café ali, efetivamente, dentro das exigências
ra, no Plenário do Senado. A rigor, a subcomissão nem da reforma agrária são produtivos, cumprem perfeita-
deveria estar funcionando eoncomitantemente com o fun- mente as suas obrigações sociais. Agora, eu pergunto:
cionamento do Senado nem da Assembléia Nacional Cons- há, restrição a esse tipo de propriedade?
tituinte. Todavia, por uma questão de tolerância e ~de
liberalidade, isso tem sido admitido aqui. Pergunto, entao, O SR. HAMILTON PEREIRA - Nós, Senador, defen-
se o nobre COnstituinte Amaury Müller concorda em que demos a proposta dos 60 módulos e a achamos absoluta-
o Constituinte Mauro Borges, que é o seguinte, possa fazer mente razoável para este País, considerando a diferença
a sua interpelação antes de V. Ex.a? de situações, de fertilidade, de proximidade dos grandes
centros consumidores.
O SR. CONSTITUINTE AMAURY MtJLER - Com
muito prazer. Então, com relação a essas propriedades, achamos que
devem ser fixados como medida de democratizar a pro-
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a pa- priedade, como forma de partilha na fixação de 60 módulos.
lavra ao nobre Constituinte Mauro Borges.
A respeito da segunda questão, que o Sr. levanta, eu
O SR. CONSTITUINTE MAURO BORGES - Inicial- diria apenas o seguinte: que as missões jesuíticas, 'COmo
mente, agradeço ao Constituinte Amaury Müller. A per- as ações da Igreja Católica, ao longo da História foram
gunta que eu ia fazer já praticamente foi feita pelo condicionadas pelo processo histórico vigente e a expe-
Constituinte Aldo Arantes, sobre a questão da CPT, sobre riência vivida nas missões guaranis guardam alguns
os latifúndios produtivos, e cumprimento das obrigações aspectos fundamentais de respeito à própria organização
sociais. Porque notamos aí um preconceito contra o tama- econômica das nações indígenas ali implantadas.
nho da propriedade. É como se fosse um preconceito;
só pode ir a tal ponta. Daí para frente é Iatífúndío e .É um processo de colonização.? É. É um processo de
isso poderia até extrapolar para o setor urbano, onde se colonização. Foi um massacre? Foi, na medida em que
faz mais justiça do que no campo. Mas, de certa forma, esses índios tiveram o obsoluto azar de estar no Iímíte
farei uma outra pergunta: nos Séculos XVII e XVIII, os entre os dois exércitos.
jesuítas realizaram um trabalho muito grande, através Ora, a responsabilidade histórica dos jesuítas, como
das suas missões, as reduções trabalho econômico e social.
Após o Tratado de Madri, de 1750, eles foram arrasados, todo ato histórico é dúbio: eles asseguraram a sobrevi-
arranjaram uma forma, uma desculpa de fazer a chamada vência desses índios, durante um certo período e, ao mes-
Guerra Guaranítica, que foi uma verdadeira hecatombe, mo tempo, esses santuários jesuítas foram os lugares onde
um genocídio. Eu queria ver se o Sr. teria alguma opinião os caçadores de escravos, Os bandeirantes iam apressar
sobre essa questão da experiência das reduções jesuíticas. esses índios. É uma realidade contraditória, dúbia, por-
Foi um trabalho realizado pela Igreja, um trabalho feito tanto; esse é o julgamento que a História faz aos jesuítas.
pelos jesuítas? Acho que foi um trabalho, num certo momento, que
assegura a sobrevivência dos índios e, num certo momento,
o SR. HAMILTON PEREIRA - Senador, aproveitan- acaba por torná-los mais vulneráveis aos seus conquis-
do, então, a pergunta que o Sr. acaba de fazer, a respeito tadores.
desse questão do produtivo e do improdutivo, que o Cons-
tituinte Aldo Arantes havia levantado, e que eu não havia O SR. CONSTITUINTE MAURO BORGES - Não foi
respondido ainda, acho que não há, da parte da Comissão apenas isso, realmente elevou muito o padrão de vida
Pastoral da Terra, em primeiro lugar, um entendimento não só do ponto de vista econômico, mas social. Além
de que haja latifúndio produtivo, a rigor. Agora, isso, no do mais há aqueles que acham, realmente, que o socialismo
entanto, não deve significar que nós sejamos contra a é o caminho. Esta foi a primeira grande experiência socia-
riqueza. Muito pelo contrário, queremos é que ela seja lista, antes de Marx.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 141

o SR. HAMILTON PEREIRA - Senador, eu diria o Tartaruga, Fazenda Peeó, Fazenda Acapulco, Fazenda Lagoa
seguinte: não entendo a experiência das missões jesuítas das Antas, Fazenda Espírito S'anto, Surubim, diversas fa-
como uma experiência socialista, a rigor, porque para zendas, e arrebanham um conjunto de homens, em geral
mim socialismo implica em determinadas condições que jovens, adiantam-lhes um dinheiro, às vezes mil cruzados,
não estavam colocadas ali. 500 cruzados, 800 cruzados e pagam o transporte desses
Acho que aquilo pode ser classificado de uma expe- rapazes, muítos, inclusive', menores, menor de idade, 17,
riência comunitária e, verdadeiramente, foi e tem um sig- 16 anos; e eles são conduzidos pelas estradas vindo lá do
nificado histórico importante. Maranhão, Ceará, em caminhões muitas vezes abertos. E,
na estrada, para que isso seja possível e viável, já se
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Concedo a conta com a cumplicidade da polícia. O trabalhador vem
palavra ao Constituinte Amaury Müller e convido o Cons- cativo de uma dívida, ele já perdeu sua liberdade, já
tituinte Fernando Santana, Vice-Presidente desta Subco- vendeu sua força de trabalho - ele já é escravo, já é
missão, apesar de anticristão, a assumir esta cadeira cris- serviçal de uma dívida.
tã. Chegando em Barreiro do Campo, ele é vendido para
o SR. CONSTITUINTE AMAURY MüLLER - Sr. Pre- o segundo empreiteiro, aí vêm os empreiteiros mais famo-
sidente, Srs. convidados, realmente deploro a ausência sos, como o Chicon, o Abilão, os diversos que existem na
forçada dos Srs. Senadores, porque gostaria que dois deles, região. Estes, então, levam os trabalhadores ou de aviões
pelo menos, ouvissem minha opinião a respeito das suas para o interior das fazendas ou outro transporte.
intervenções. Os trabalhadores chegam desarmados no interior das
Estou convencido, hoje mais do que nunca, de que o fazendas e encontram um grupo chamado "grupo de segu-
homem, desde que saiu das cavernas ou desceu das árvo- rança", que são os pistoleiros, também conhecidos, às
res, sempre divergiu. E esta Subcomissão tem se caracte- vezes, por fiscais. E há os fiscais das empresas e os fiscais
rizado pelas divergências de opiniões a respeito de um do "gato". Eles, os trabalhadores, são levados até o inte-
tema tão importante. rior da mata, mata profunda, e são distribuídos em grupos
As minhas posições eonflítam com as posições do chamados de time; eles são dispersos dois, três quilô-
Constituinte Rachid Saldanha Derzi e Mauro Borges, mas metros; eles não. ficam juntos, são dispersos. Lá dentro
essas divergências têm sido até aqui conscientes, respon- eles entram num circulo vicioso, que não tem saída; eles
sáveis, cada qual procura defender suas idéias, sem nenhum são obrigados a 'Comprar na cantina do "gato", onde os
tipo de agressão a esse respeito. preços são definidos pelo próprio "gato" e a 'Contabilidade
não segue a lógica da contabilidade normal, é a lógica
Por isso, eu queria também, na mesma linha de racio- da ponta da arma. Então, quanto mais o trabalhador
cínio do Constituinte Aldo Arantes, lamentar a interven- trabalha, mais ele deve, não tem saída aquele esquema.
ção, a meu juízo extemporâneo, do Constituinte Saldanha
Derzi, e pedir que o Padre Ricardo prossiga, dedicando-lhe Alguns entram em desespero e fogem pela mata, na
os meus três minutos da resposta à indagação que eu iria tentativa louca de escapar daquele inferno; e enfrentam
fazer, a uma explicação mais detalhada dessa questão da 3, 4, 5 dias na mata para sair na estrada, mais à frente;
mão-de-obra escrava. Porque acho esse tema da maior se ele sobreviver à mata, aos igarapés, aos rios, às cachoei-
importância, para que possamos elucidar as nossas dúvidas, ras, às onças, às cobras, à fome, eles podem ser pegos
nossas inquietações, as nossas angústias e proporcionar na estrada, porque o "gato" tem carro e a fazenda tem
aos demais Membros da Subcomissão, que ainda não estão carro. E se sobreviverem à estrada, eles podem ser presos
convencidos de que a violência, que hoje ensangüenta o pela polícia, porque a polícia participa desse jogo. E se
meio rural brasíleíro, resulta do monopólio da terra, de que forem presos serão assassinados, diante dos outros traba-
a Reforma Agrária é uma necessidade imperiosa e que lhadores como uma lição. podem ser jogados do avião,
acabem até aprovando teses mais progressistas que pos- onde os trabalhadores estão trabalhando, podem ser
sam conduzir exatamente à solução desse problema. Por amarrados para a onça 'comer, e não falta médico para
isso, eu pediria ao Pad~e Ricardo que expusesse, de forma dar laudo - não dizendo que o trabalhador morreu assas-
mais detalhada, mais pormenorizada, essa questão da mão- sinado, mas constando no laudo que morreu de malária.
de-obra. Há um outro caso, em que o trabalhador consegue
o SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Tem a vencer tudo isso e chegar à cidade. Nós temos alguns.
palavra o Padre Ricardo, para responder à indagação do agora, que chegaram a Porto Nacional; foram contratados
Constituinte Amaury Müller. em Porto Nacional no ano passado. Alguns escaparam,
mas tem gente desaparecída, desse grupo de Porto Nacio-
O PADRE RICARDO REZENDE - As empresas, em nal, de Goiás, desaparecida no Pará, desde o ano passado.
geral, têm dois tipos de funcionários, isso quando a em- Eles foram levados para a Volkswagen; a Volks os ven-
presa é tipo Volkswagen, Bradesco, ou Bamerindus. Têm deu; foram vendidos para outras fazendas e se disper-
um tipo de quadro de funcionários que é estável, perma- saram, estão em Porto Nacional.
nente e, em g,eral, muito reduzido - para esses ela assina
carteira, obedece, mais ou menos, os direitos existentes; E o Poder Judiciário participa disso. Nós temos um
mas, ocultamente, existe a mão-de-obra muito maior que caso de um depoimento feito pelo promotor, em que o
envolve, às vezes, mil, mil e quinhentos, setecentos, oito- promotor conseguiu, através de ameaça, porque a polícia
centos, envolve centenas de trabalhadores, aqueles contra- estava junto e o "gato" também, que os trabalhadores
tados, em geral, para derrubadas ou limpeza de pasto. O declarassem que não eram vendidos. Isso em Santana do
mecanismo é através de um endividamento. Eles contratam Araguaia, Estado do Pará. Agora, a fazenda da Volks-
empreiteiros, que são conhecidos como "gatos". Estes ho- wagen foi vendida em novembro do ano passado para
mens, em geral, contratam outro "gato", outro emprei- um grupo japonês. Então é um esquema muito 'complexo.
teiro, outro intermediário na negociação, que sai pelo Nós advertimos o poder público do que existe; é um
mundo buscando trabalhadores; em alguns lugares colo- problema criminal, é um problema trabalhista, é um pro-
cam aviso na rádio, alugam um carro-som e saem pela blema que envolve o Ministério da Justiça e o Mínístérío
cidade convidando trabalhadores para trabalhar na Fazen- do Trabalho, o juiz Iocal, a polícia e, na verdade, ninguém
da Vo1ks'Wagem, que paga muito bem, têm assistência assume a responsabilidade. Isso envolve diversos poderes
médica e fazem promessas em outras fazendas, Fazenda e nenhum assume.
142 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLIÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

A impunidade na questão trabalhista é gravíssima e Isso tem que trazer para nós até mais força e mais
na questão possessória também é muito grave. O Hamilton seriedade, nesse encaminhamento do projeto de Reforma
falava que hoje se mata seletivamente, não se mata mais Agrária.
aleatoriamente; se escolhe quem vai matar, mas, na sele- Queria deixar aqui registrado, porque insisti que a
tividade, se escolhe também matar criança. Como o caso CPT deveria ser ouvida. Durante 8 anos como Deputada,
da Leonilde Resplan, de 13 anos, foi violentada por 18 pis- 4 como Estadual e 4 como Federal, estive por esse País afo-
toleiros e foi queimada viva pelo grupo de Sebastião NaJte- ra, em centenas de ipOsses e em centenas de áreas desapro-
rezona. E não satisfeitos mataram ainda o seu marido e priadas, e dezenas de vezes acompanhei despejos violen-
o cunhado dela. tos. O que percebi? Que no lugar da Polícia Federal brasi-
Agora, o que o Governo faz diante dessa violência tão leira, no lugar dos órgãos oficiais brasieiros - estes órgãos
grande, tão extensa, tão enorme? O Dr. Romeu Tuma oficiais - covardemente não vão, não agüentam o dia-a-
vai à região, como o Ministro da Justiça, e resolve desen- dia do que é acompanhar essa violência do campo. E quem
cadear, depois da morte do Padre Josimo, uma operação eu encontrei? Encontrei os agentes pastorais, os Padres,
chamada desarmamento. Mas desarmamento de quem? os Bispos, os leigos, que acompanham a violência profunda
Desarmaram trabalhadores rurais, porque o desarmamen- da área da terra neste Brasil. E, lamentavelmente, o que
to foi nos ônibus e nos coletívos, e em nenhum aeroporto nós não encontramos foi a defesa civil, que era a obri-
houve o desarmamento, quando as armas são transpor- gação desta Nação fazer.
tadas para os pistoleiros via avião. Nesse sentido era essencial que esta Subcomissão ou-
visse as pessoas que assistem, acompanham, os heróis
É muito grave, porque participam de forma muito nacionais. Quero dizer isso bem claro que, no lugar dos
expressiva forças policiais. Os Srs. devem ter ouvido dizer Parlamentares, às vezes, no lugar de pessoas oficiais que
que morreram, agora, no sul do Pará, dois agentes da deveriam estar lá, estavam os agentes pastorais arriscando
Polícia Civil e dois saíram feridos, daqui de Brasília, as suas próprias vidas constantemente.
policiais que utilizavam armas privativas das Forças Ar-
madas e metralhadoras. Ora, o Ministério da Justiça tinha Aqui queria fazer duas homenagens fundamentais,
sido comunicado, o Mírad tinha sido comunicado, o gover- homenageando todos os trabalhadores.
nador do Estado havia sido comunicado sobre essa pre- Amanhã se comemora um ano da morte do Padre
sença de pistoleiros, utilizando fardas e armamento pesa- Jósímo. Conheci o Padre Jósimo, na visita que fizemos,
do. Nada foi feito, até que os dois morreram e dois saíram com dois Deputados do Parlamento Europeu, no Bico do
feridos. Então, existe uma partícípação nessa violência Papaguaio há dois anos atrás. E o Padre Jósimo foi morto!
do próprio poder público.
Sei que o caráter que se dá aqui é o de que a Igreja
Acho aliás que a geografia da violência se confunde não tem que se meter nisso. Esses são os aliciadores das
com a geografia dos grandes projetos. Lá no sul do Pará invasões, esses são os aliciadores da violência. É assim
estão os maiores projetos agropecuários do País, lá está que são caracterizadas as pessoas da Pastoral da Terra
o grande Projeto Carajás e lá se concentra a maior vio- e os sem-terra.
lência do País. Em 85 mais de um terço das mortes do Acho que a história, um dia, fará justiça, eu tenho
País se deram naquela região do sul do Pará.
plena certeza de que a história fará justiça, porque ne-
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Agora, nhum sangue será derramado em vão.
terminada a exposição do Padre Ricardo, naturalmente a Nesta questão, quero deixar registrada a contribuição
Mesa deixou que corresse normaímente, porque é uma da Pastoral da Terra e dos sem-terra que, lamentavel-
informação importante.
mente, não puderam falar aqui nesta Subcomissão que é
Vamos, então, dar a palavra à nobre Constituinte de extrema importância, é de extrema seriedade. Mesmo
Irma Passoni. eles não tendo sido ouvidos, não é por isso que diminuiu
A SRA. CONSTITUINTE mMA PASSONI - Achei o seu mérito e a sua luta, porque eles estão antes desta
bom que o Constituinte Rachid SaLdanha Derzi dissesse que Constituinte, durante esta COnstituinte e estão depois iesta
ele não 'concordava com essa convocação, porque sabíamos Constituinte, nessa luta constante pela defesa da Reforma
que haveria resístêncía para a convocação da CPT, mas Agrária, e profundamente vinculados à Reforma Agrária.
Nenhum agricultor abandonado deste País foi socorrido
não sabíamos de quem era e ele declarou, aqui, que ele é por órgãos oficiais, da maneira que a Igreja os socorreu,
quem estava impedindo isso.
Lamento que os sem-terra não sejam ouvidos na As- Quero dizer bem claro, também, que eu não sou ne-
sembléia Nacional Constituinte. Faço apenas uma ressalva nhuma indicada para defender Dom Angélico; o crime
de que, graças às viagens, eles foram ouvidos; mas aqui, que se 'comete com os trabalhadores que vão para são
nestas reuniões, não. Isso eu queria registrar e lamentar Paulo; sete milhões de pessoas vivendo em cortiços, em
que os sem-terra não foram ouvidos e, provavelmente, favelas e na sub-humana vida da imensa cidade de São
pelos mesmos motivos pelos quais estava-se impedindo Paulo. Os criminosos que instauraram a desordem urbana,
que fosse ouvida também a CPT. aqueles que não garantiram o direito de morar nesta
Nação, de repente acusam Dom Angélico de promover
Gostaria de dizer que o Constituinte Rachid Saldanha invasões. Isso é cinismo! Isso é algo de alguém que jamais
Derzi, foi o primeiro a pedir esse livro, e disse achar assume a próprio culpa, por exemplo, de não ter distri-
que não era importante. Por que, então, ele pega nesse buído a riqueza neste País.
livro, e faz questão de ficar com ele? Significa que existe
sentido, sim. P.eço perdão ao Constituinte Rachid Saldanha Derzi.
Infelizmente, ele não está aqui, mas eu gostaria de ter
Sinto que, às vezes, nós estamos vendo que vários falado com ele. Eu sou testemunha de que quem criou a
Constituintes não estão aqui; uns porque foram agora violência urbana não foi Dom Angélico, não. Dom Angé-
para a Sessão e outros se ausentaram propositadamente. lico foi um Bispo e é um Bispo que acompanha o dia a
Nós sabemos que, realmente, aqueles que são contra a dia da violência da zona leste, profundamente violentada
Reforma Agrária, jamais poderiam ouvir certos depoi- pela falta de moradia, profundamente violentada por cen-
mentos por serem desafiados na sua consciência. (Palmas.l tenas de desastres que acontecem lá, na questão do trans-
Isso que é o problema sério. porte urbano, como no último da Fepasa, onde mais de
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 143

cem pessoas morreram, e onde estão dezenas de pessoas teiro Valdemar; Fazenda Espírito Santo, em Xinguara, em,
desalojadas pelas enchentes. Então, não há uma política preiteiro, José Aluísio Ferreira da Silva; Faz'enda Surubim,
habitacional; e nós não podemos acusar a Igreja de fazer em Xinguara, fazendeiro João Almeida Nelito, que vendeu
isso. recentemente a fazenda, e existe, agora, um conjunto de
Gostaria, desculpe-me por me estender a isso, mas eu empreiteiros lá; Fazenda Panelâo, em São Félix do Xingu,
tenho que falar, eu fui testemunha durante anos desse o fazendeiro Antônio Goiano, e o empreiteiro João Luís
papel da Igreja na luta da Reforma Agrária e eu não posso Bala; Fazenda Dourado, em São Félix do Xingu, a fazenda
Atlântica, em Boa Vista; Fazenda Sul-àméríca: Fazenda
me calar. Bradesco, o empreiteiro, Carlos Pacheco; Fazenda Novo
Eu só gostaria que o Padre Ricardo lesse a lista das Mundo, em São Geraldo do Araguaia, o fazendeiro Neide
empresas que têm o trabalho-escravo. Porque isso aqui Murad Filho e o empreiteiro Gonçalo. Nos últimos anos
ninguém falou antes; ninguém falou aqui da violência dos ainda tivemos na Fazenda Santa Rosa, Fazenda Vale do
trabalhadores rurais. Foram eles, da Pastoral, os únicos Rio Cristalino, que era da Volkswagen, Fazenda Banco
que abordaram essa questão, e é preciso que seja dito Mercantil, em Santana do Araguaia; Fa:G6nda Inaj-a'1Jorã,
bem claro. em Santana do Araguaia; Fazenda Santa Marina, em Sano
E a outra questão é que se desse a lista das áreas da tana do Araguaia; Fazenda Forqui, em Santana do Ara..
Igreja. Porque há questionamento. Por que a Igreja não guaía: Fazenda Quixadá, em Santana do Araguaia; Fazen..
faz a reforma nas suas próprias áreas? A igreja tem terra da Rio Dourado, em Santana do Araguaia e a própria Fa-
ou não tem terra? E se tem, onde estão? Se é possível zenda Bradesco, em Santana do Araguaia.
que apresente documentação. A SRA. CONSTITUINTE IRMA PASSONI - E as
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Com a áreas da Igreja?
palavra o Padre Ricardo para responder às indagações da O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - O que
Constituinte Irma Passoni. V. Ex.a perguntou? As áreas da Igreja. São 182 mil heeta-
O SR. PADRE RICARDO REZENDE - Bom. Nós te- res no Brasil inteiro.
mos uma lista incompleta. O SR. PADRE RICARDO REZENDE - Esse dado a
A Fazenda Bameríndus é acusada este ano de ter tra- respeito do porque a Igreja não faz a Reforma Agrária nas
balho escravo, e não só de trabalho escravo mas de ter suas próprias terras, tem sido freqüentemente levantado
apoiado uma grande repressão da Polícia Militar no Esta. no debate em torno da Reforma Agrária. Evidentemente,
do do Pará, onde homens foram obrigados a comer excre- levantados por aqueles que, por ignorância ou por má-fé,
mentos, mulheres fora mvíolentadas, meninas de 12 anos querem iludir a questão central.
foram dependuradas, pelos cabelos, na cumeeira da casa.
E o coronel que comandou essa operação de violência, ao Eu diria o seguinte: somando os imóveis, os quintais
invés de estar preso, foi nomeado Secretário de Segurança de Paróquias, por esse Brasil afora, em terras, portanto,
Pública do Estado do Pará. Bamerindus é no Município descontínuas no Brasil inteiro, a Igreja Católica possui
de Xínguara. 179 mil hectares de terra.
O SR. HAMILTON PEREIRA - O Sr. tem o nome d,es- Ora, nós temos proprietários individuais de terras.
se homem? No Estado em que eu moro, por exemplo, uma pessoa só
O SR. PADRE RICARDO REZENDE - É o Coronel An- tem 193 mil hectares, no Estado de Goiás. É sempre útil
tônio Carlos, eu tenho uma carta onde consta o nome dele; que se coloquem as informações; agora, é necessário, tam-
bém, que junto com essas informações, possamos discutir
depois eu posso lhe entregar. dando um cunho de seriedade para essa questão, que é
A Fazenda Panorama, em Redenção, do fazendeiro José tão fundamental, que é a questão da Reforma Agrária.
Humberto, empreiteiro Lourival; da Fazenda Macedônia,
em Redenção, fazendeiro Francisco Macedo, empreiteiro O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Termina·
Adonísio Francisco dos Santos; Fazenda Santa Ernestina, da a indagação da Constituinte Irma Passoni, com as res-
razendeíro Dr. José Cristina de Souza Filho, empreíteíro postas dadas, passo a palavra ao nobre Constituinte Rela·
Silva Brito; Fazenda Tartaruga, desta entrou sem o nome tor Oswaldo Lima Filho, como último argüidor desta reu-
do proprietário. Um dos trabalhadores cuja fotografia eu nião.
tenho, aqui, foi assassinado na Fazenda Tartaruga, em O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Sr. Presí-
Redenção. dente ...
A SRA. CONSTITUINTE IRMA PASSONI - Pela or-
dem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Eventual.
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Pela or- O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Sr. e Srs.
dem, a nobre Constituinte Irma Passoni. Constituintes: Eu lamento que os trabalhos da sessão ordí-
nária do Senado Federal tenham afastado de nossa reunião
A SRA. CONSTITUINTE IRMA PASSONI - Mesmo os meus prezados colegas e prezados Constituintes, Sena·
que sendo lido rapidamente os nomes das fazendas ... dor Edison Lobão e Senador Rachid Saldanha Derzi. Em
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Um mo- parte eles ouviram o depoimento. E, se não houvesse uma
menta, eu vou pedir ao Padre que deixe aqui um original importância maior do depoimento prestado pela Comissão
dessa relação para que seja multiplicada e entregue a cada Pastoral da Terra, bastaria a apresentação desse livro, que
um dos membros da subcomissão. eu considero 'como um outro livro publicado sob os auspí-
c~os da Diocese de São Paulo, "Tortura nunca mais", "Bra·
O SR. PADRE RICARDO REZENDE - Está certo, eu síl nunca mais", como os documentos mais importantes
vou ler aqui rapidamente e deixo o papel. para a História do País. E por que a História é importante?
Fazenda Lamíaadora Pecó, fazendeiro Santana; empreí- Já dizia o mestre José onõno Rodrigues há pouco ralecí-
teiro, o "gato" Edson Gabriel da Silva; Fazenda Acapulco, do, que "os povos que esquecem a sua história correm o
em Santana do Araguaia, fazendeiro Geremias Lunardelli, risco de repeti-la". Por isso é preciso que nós tenhamos
o empreiteiro Antônio Bispo Souza; Fazenda Lagoa das presente fatos como aqueles do livro "Brasil Nunca Mais",
Antas, em Xinguara, o fazendeiro, José Bradenho, emprei· ou como esse livro "Assassinato no Campo", que a Pasto-
144 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

ral da Terra, agora, apresenta como um serviço de máxima dos Brs. membros desta subcomissão, esse limite deve ser
importância para o conhecimento da realidade brasileira. fixado não em 60 módulos, como está previsto aqui, na-
Isso, aliás, para os estudiosos da realidade agrária bra- quela proposta, mas em 1100 módulos.
sileira, é uma constante. A Igrej a tem perdido grandes fi- Do mesmo modo, a suspensão imediata de todos os
guras que se empenharam n81 causa da Reforma A!grária no despejos nos parece demasiadamente arríscada, e capaz de
Brasil, o Padre João Bernardo Burnier, morto, quando desenvolver um agravamento da questão social do campo.
tentavam matar o Bispo Dom Pedro Casaldaliga, o Padre
Jósimo Tavares, vão se somando às vítimas que a ditadu- Entendemos que a imissão imediata da posse, uma
ra fez na Igreja brasileira. vez decretada a desapropriação, se assegure 810 Governo,
à União, aos seus órgãos, ao Incra. Nós evitaremos a
Os depoimentos que nós, o Constituinte Aldo Arantes, principal necessidade em que desaba aquele dispositivo;
eu e a Constituinte R8Iquel Capiberibe, ouvimos em Ara- lporque, uma vez o Incra tome posse imediata, após a
guarína, sábado passado, na reunião que realizamos na decretação da desapropriação, como ocorre, aliás, na desa-
Câmara Munícípal daquela cidade, foram tão comoventes propriação urbana, não haverá despejo.
que a COnstituinte Raquel Oapíberíbe chorou durante a
maior parte dos depoimentos. Foram depoimentos sobre São essas as observações que eu queria fazer, e no
fatos, em grande parte repetidos aqui, pelo Padre Ricardo restante aqui ficam as minhas homenagens à Comissão
Rezende. Pastoral da Terra, e nesse ponto eu secundo aquí as pala-
vras da Constituinte Irma Passoni. Muito obrigado.
Quero dizer à Comissão Pastoral da Terra, na sua
seção de Araguarina de Goiás, que, em cumprimento ao O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Um mo-
compromisso assumido com os depoentes - foram cerca mento, amanhã às 8 horas nós teremos aqui, em frente
de 15 trabalhadores - que prestaram depoimento e fize- à portaria do Senado, um ônibus para levar a subcomissão
ram denúncias naquela reunião, e acabo de dirigir ao a um empreendimento aqui em Brasilia, do Governo do
Sr. Ministro Paulo Brossard de Souza Pinto - e só pude Distrito Federal sobre assentamento com pleno sucesso.
fazê-lo hoje, em virtude do acúmulo de trabalho a que Todos os membros da subcomissão estão convidados para
estou submetido -, um ofício em que narro as denúncias essa visita; o ônibus sairá às 8 horas e retornará antes
recebidas e lhe encamínho cópias das denúncias, da do almoço.
Sr. a Urana Fernandes de Souza, viúva do trabalhador Amanhã haverá reunião a que horas, Sr. Relator?
Hugo Ferreira de Souza, assassínado em 9 de agosto de
1984; do secretário do sindicato local, denúncia do Sr. José O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - A infor-
Ignácio Cardoso, que denuncia o incêndio de dezenas de mação que tenho do Sr. Presidente é que as reuniões da
casas de campo de trabalhadores na fazenda Vale do subcomissão, salvo um requerimento especial, estarão sus-
Juari, dos posseiros daquela fazenda, que, embora já desa- pensas até a apresentação do relatório.
propriada pelo Ministério da Reforma Agrária, continua O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Agora
sendo palco de violências inenarráveis. E, sobretudo, envio nós queremos, 810 encerrar esta sessão ...
dois documentos da mais alta importância - a carta dos
eminentes Srs. Bispos de Marabá, Dom Aldomiro Roçado, A SRA. CONSTITUINTE IRMA PASSONI Pela
Dom Patrício José Ranaram, Bispo de Conceição do Ara- ordem.
guaia; Dr. José Elias Chaves, Bispo de Cametá, e Dom O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) Pela
Erwin Klauster, Bíspo do Xingu, bem como documento ordem, a palavra é da nobre Constituinte Irma Passoni.
intitulado "Declaração de Araguarína", da Ordem dos A SRA. CONSTITUINTE IRMA IPA,SSON! - Eu só
Advogados do Brasil, seção de Goiás. Esses documentos gostaria de ser informada pelo Sr. RelaJtor quando ele irá
estão seguindo hoje para o Sr. Ministro Paulo Brossard apresentar o relatório? Será em reunião da comissão, aqui,
de Souza Pinto, Ministro da Justiça. ou onde será?
Re'Conheço, e todos nós sabemos que a atribuição do O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Evidente-
exercício do poder de polícia não incumbe às autoridades mente que deverá ser na reunião da subcomissão, no
federais e, sim, mais, ao Governo do Estado, e, por isso próximo dia 11.
mesmo, enviei ofício quase idêntico 810 S'r. Governador
Henrique Santillo, com a mesma denúncia e com cópia O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Da sub-
dos mesmos documentos. comissão.
São essas as palavras que eu devia dizer, que não A SRA. CONSTITUINTE IRMA PASSONI - A que
podia deixar de dizer depois dos depoimentos aqui ouvidos. horas?
Quanto às convergências do meu ponto de vista com O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Aí é o
a Comissão Pastoral da Terra, estão expressas em repe- Sr. Presidente quem fixará o horário.
tidos depoimentos meus, nesta Casa, e no esboço do ante- O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Um mo-
projeto que já apresentei aos meus companheiros de mento. Então, os srs, membros da subcomissão serão
subcomissão. Quanto às divergências, também estão na- avisados. Peça a atenção porque é importante isto. Os
quele documento. Sabe a Comissão Pastoral da Terra que, Srs. membros da subcomissão serão avisados, pelo secre-
embora 'concorde com a imissão de posse imediata, para tário, do horário que, no dia 11, a subcomissão se reunirá,
as áreas desapropriadas, embora concorde com a desapro- para ouvir o relatório do Sr. Oswaldo Lima Filho.
priação em Títulos da Dívida Agrária para a terra e para
as benfeitorias, embora concorde com a ímpenhorabílí- O SR. CONSTITUINTE AMAURY MULLER - V. Ex.f~
dade das pequenas propriedades e com muitos outros me permite?
!pontos apresentados no documento comum da Abra, da O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Pois não.
Contag e da Comissão Pastoral da Terra, discordo de Concedo a palavra, pela ordem, ao Constituinte Amaury
alguns pontos constantes naquele documento. Müller.
A questão do Iímíte da propriedade da terra, no meu O SR. CONSTITUINTE AMAURY MüLLER - Ape-
entender, porque é um ponto de vista coletivo de muitos nas para colaborar. Segunda-feira será dia 11, é dia de
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACiONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 145

sessão ordinária da Câmara, segundo o Regimento Inter. rio da Subcomissão, e todas as propostas sejam arquiva-
no da Assembléia Nacional Constituinte. De modo que, esta das para futura consulta de brasileiros que queiram saber
reunião da Subcomissão será pela manhã ou à noite; muitos o que nós estamos fazendo hoje, aqui. (Pausa.)
companheiros poderão viajar no final de semana e poderão Não havendo mais nada a tratar, vou encerrar a pre-
não estar presentes, se não forem prevenidos em tempo sente reunião. Muito obrigado e uma boa noite para todos.
hábil.
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - É lógico; Está encerrada a reunião.
eu concordo inteiramente com a sua preocupação, mas nós (Levanta-se a reunião às 20 horas e 24 mínutos.)
não poderemos mudar o dia da reunião, porque é regimen-
tal; a reunião será no dia lI. 15.a Reunião (Extraordinária)
O SR. CONSTITUINTE AMAURY MüLLER - Sem Aos onze dias do mês de maio do ano de mil noce-
dúvida; mas eu gostaria que, se possível, a Presidência pu- centos e oitenta e sete, às vinte horas e quinze minutos,
desse definir o horário dessa reunião. em sala do Anexo rr do Senado Federal, reuniu-se a
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - É lógico. Subcomissão da Politica Agrícola e Fundiária e da Refor-
Nós vamos providenciar junto ao Presidente e ao Secre- ma Agrária, sob a Presidência do Constituinte Edison
tário para definirem o horário da reunião, e comunicar a Lobão, com a presença dos seguintes Senhores Constituin-
todos os membros essa decisão. (Pausa.) tes: Vicente Bago, Oswaldo Lima Filho, Jonas Pinheiro,
Virgílio Galassi, Victor Fontana, Rosa Prata, Mamo Bor-
Srs., um momento, a visita amanhã da qual lhes falei ges, Jorge Vianna, Amaury Müller, Rachid Saldanha Derzi,
é à Granja do Ipê, aqui em Brasília, a convite do Sr. Se- Ivo Mainardi, Fernando Santana e Mauro Campos. Haven-
cretário da Agricultura, do Distrito Federal, nr, Leônidas do número regimental, o Senhor Presidente declarou ini-
Teixeira de Vasconcelos. É o primeiro agrourbano do Dis- ciados os trabalhos e solicitou fosse dada como lida a
trito Federal. Estará à disposição dos senhores membros da Ata da reunião anterior, que foi aprovada. A seguir, deu-
Subcomissão um ônibus especial, com saída às 8 horas. se início ao Expediente. O Senhor Presidente fez comu-
Antes de encerrarmos a reunião, queremos agradecer nicação de ofício recebido do ~celentíssimo Senhor Pre-
aqui a presença do Padre Ricardo Rezende, de boa estirpe sidente da Assembléia Nacional Constituinte, Deputado
mineira, do Sr. Amilton Pereira Silva e do Advogado Daniel Ulysses Guimarães, referente à composição da subcomis-
Rech, do Secretariado Nacional da Comissão Pastoral da são. Pela ordem, usaram da palvra os Constituintes:
Terra e agradecemos a todos pela presença. Amaury Müller, Victor Fontana, Virgílio Galassi e Fer-
O SR. HAMILTON PEREIRA - Sr. Presidente, pela nando Santana. O Senhor Presidente passa a palavra ao
ordem. Relator, Constituinte Oswaldo Lima Filho, para entrega
do relatório e anteprojeto da subcomissão aos presentes
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Concedo e sua respectiva leitura. Por decisão plenária, o Senhor
a palavra ao Sr. Amilton Pereira. Relator é dispensado de fazer a leitura do documento.
O SR. HAMILTON PEREffiA - Gostaria de passar à O Relator, Constituinte Oswaldo Lima Filho, fez a entrega,
Presidência eventual da Comissão o complemento do dos- formal, à subcomissão, do anteprojeto da matéria. Nada
síê, com a documentação que nos serviu de apoio para as mais havendo a tratar. o Senhor Presidente deu por
denúncias que nós fizemos e das propostas que apresenta- encerrados os trabalhos às vinte horas e vinte e cinco
mos à Assembléia Nacional Constituinte. minutos, 'convocando os senhores constituintes para a pró-
xima reunião a ser realizada quinta-feira, dia quatorze
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Pois não; de maio, às nove horas e trinta minutos, para início da
eu passarei imediatamente às mãos do Sr. Relator. discussão do anteprojeto e recebimento de emendas que
O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Sr. Presí- deverão ser apresentadas pelos membros da subcomissão.
dente, pela ordem. "El, para constar, eu, Mauro Lopes de Sá, Secretário, lavrei
a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assi-
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Com a nada pelo Senhor Presidente.
palavra o nobre Relator, Constituinte Oswaldo Lima Filho.
O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Sr. Presi- ANEXO A ATA DA DÉCIMA QUINTA REU-
dente, são inúmeros, valiosos, os documentos que a subco- NIÃO (EXTRAORDINARIA) DA SLTBCOMISSÃO
missão tem recebido quase cotidianamente. Nesse sentido DA POLíTICA AGRíCOLA E FUNDlÃRIA E DA
faço um requerimento à subcomissão para que ela deter- REFORMA AGRARIA, REALIZADA EM 11 DE
mine que esses documentos sejam encadernados a fim de MAIO DE 1987, AS 20 HORAS E 15 MINUTOS,
que fiquem no Arquivo da Assembléia Nacional Consti· íNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRAFICO,
tuínte, porque muitos desses documento são de fundamen- COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZA-
tal importância. DA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCO-
MISSÃO, CONSTITUINTE EDISON LOBãO.
O SR. CONSTITUINTE AMAURY MüLLER - E mais
ainda ,nobre Relator, devem ser distribuídos para os cons- O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Havendo nú-
tituintes. mero regimental, declaro aberta a reunião.
O SR. RELATOR (Oswaldo Lima Filho) - Em alguns
casos será quase impossível, porque são documentos, al- Esta reunião, de acordo com o Regimento, foi con-
guns de 200 páginas, Constituinte Amaury Müller. vocada para a leitura do Parecer do Sr. Relator. Antes,
dou conhecimento a V. Ex.a& que, em virtude de ter o PL
O SR. PRESIDENTE (Fernando Santana) - Não po- indicado um suplente para esta subcomissão, logo no inicio
dem ser distribuídos. Acredito que apesar de nós não ter- de seu funcionamento, sem que esse partido tenha na
mos número para deliberar a proposta do Sr. Relator, é subcomissão um titular, resolvi fazer uma consulta, como
normal, eu creio, realmente, que isso deverá fazer Presidente da Subcomissão, ao Constituinte Ulysses Gui•
parte do Arquivo da ANC. Então, apesar de não termos marães, Presidente da Assembléia Nacional Constituinte,
número para deliberar, nós decidimos, de plano, que a indagando de S. Ex.a se havia um equívoco ou se o repre-
sua proposta seja devidamente considerada pelo Secretá- sentante .do PL de fato deveria permanecer como suplente
146 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

e, nesta hipótese, suplente de qual titular, porque entendo O SR. CONSTITUINTE VIRGíLIO GALASSI - Se
que não pode haver suplente se não há titular. faltar um titular do PMDB, esse suplente não é do PMDB...
Do Presidente da Constituinte esta Presidência recebe O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Significa o
agora um ofício, que vou ler, para que a Subcomissão dele seguinte: se o PMDB tem, nesta subcomissão, 12 repre-
tome conhecimento: sentantes, ele indicará onze suplentes e mais o do PL.
Confere, mas se não conferisse, assim admitiríamos,
GP-O-199/87-ANC quer dizer, tiraríamos um do PMDB, o último, para que
Brasilia, 11 de maio de 1987. o PL ficasse com este. De toda maneira, o PMDB não
A Sua Excelência o Senhor tem suplentes em número correspondente ao número de
Constituinte Edison Lobão titulares. Então, fica assim deliberado: o representante
Presidente da Subcomissão da Política Agrária e do PL será suplente do PMDB.
Fundiária e da Reforma Agrária Apenas para que a subcomissão tome ciência do expe-
Senhor Presidente, diente que encaminhei ao Presidente Ulysses Guimarães,
peço a atenção dos companheiros para a leitura do ofício
Em atenção ao Ofício n.o 17, de 8 de maio, cuí a cópia tenho em mãos:
em que Vossa Excelência consulta esta Presidência
sobre a atual situação do Partido Liberal na Sub- Brasília, DF, 18 de maio de 1987.
comíssão da Política Agrícola e Fundiária e da OF/017/87-GP
Reforma Agrária, esclareço que, em razão de en- Excelentíssimo Senhor
tendimentos partidários, a vaga destinada ao Par- Deputado Ulysses Guimarães
tido Liberal foi cedida para o Partido do Movi- DD. Presidente da
mento Democrático Brasileiro, ficando, em con- Assembléia Nacional Constituinte
seqüência, com a respectiva vaga de suplente. Câmara dos Deputados
Aproveito a oportunidade para renovar a Senhor Presidente:
Vossa Excelência protestos de apreço. - Consti- Por este intermédio, exponho e solicito de
tuinte Ulysses Guimarães, Presidente da Assem- Vossa Excelência os seguintes esclarecimentos:
bléia Nacional Constituinte.
Para a Subcomissão da Política Agrícola e
Fundiária e da Reforma Agrária, o líder do PL
Isto quer dizer que o representante do Partido Liberal, indicou o Deputado Osvaldo Almeida como su-
segundo o Presidente da Constituinte, é, nesta subcomis- plente. Acontece que, nesta Subcomissão, o men-
são, suplente do PMDB. cionado Partido não possui titular.
É a decisão do Presidente da Assembléia Nacional Através do Ofício n.v 193-ANC, Vossa Exce-
Constituinte. lência nos informa sobre os critérios e os núme-
O SR. CONSTITUINTE AMAURY MüLLER - Sr. Pre- ros da proporcionalidade partidária nas Comissões
sidente, peço a palavra pela ordem. e Subcomissões e, nesse documento, não consta
o PL como participante desta Subcomissão.
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Tem a ,pala-
vra o nobre Constituinte Amaury Müller, pela ordem. Pergunto, então, a Vossa Excelência: como
proceder neste caso? Devo desqualificar a presen-
O SR. CONSTITUINTE AMAURY MüLLER - Por ça do Senhor Deputado Osvaldo Almeida como su-
mais louvável que seja a definição dada pelo Presidente plente de seu Partido ou, se correta sua indicação,
da Assembléia Naeional constítuínte na questão da pre- ele assumiria na ausência de que titular?
sença de um suplente, sem o respectivo titular de um
partido, lamento discordar. Se temos partidos políticos Agradecendo os esclarecimentos de Vossa Ex-
com bancadas representadas na Assembléia Nl1'cional celência, apresento-lhe minhas cordiais saudações.
Constituinte, não vejo como um constituinte que pertence - Senador Edison Lobão, Presidente.
00 PL possa ser suplente de outro partido, o PMDB. Esta, a indagação que fiz. A resposta foi aquela. (Pausa)
Deixo registrada a minha surpresa, a minha perplexi- Tenho em mãos a ata da 14.a Reunião, que peço ao
dade e o meu protesto por essa decisão esdrúxula, esqui- Plenário permissão para não ser lida e seja dada, por-
sita, e rigorosamente antidemocrática. tanto, como lida pelos membros da Subcomissão.
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Fi'Ca regís- Se ninguém se opõe assim será decidido. (Pausa.)
trada a perplexidade e o ,protesto de V. Ex.a A mim me
coube fazer a consulta, e a resposta que tenho é esta que Aprovado o pedido.
acabo de ler. O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Esta reunião,
Nesta hipótese, dou como válida a comunicação do como disse no seu inicio, foi convocada para que o relator
Presidente da Assembléia Nacional Constituinte. leia o seu parecer. É um documento extenso e o relator,
O SR. CONSTITUINTE VIRGíLIO GALASSI - Sr. Pre- embora exausto dos últimos dias de trabalho, se propõe
sidente, peço a palavra pela ordem. a fazê-lo, a menos que os membros da SUbcomissão, que
estão todos de posse de um exemplar, decidam em sentido
O SR. CONSTITUINTE VIRGíLIO GALASSI - Sr. Pre- contrárío.
sidente, isso significa que o Partido Liberal tinha um
suplente nesta subcomissão. Então, essa suplência, pela O SR. CONSTITUINTE - Sr. Presidente, peço a pa-
decisão do Presidente, fica suprida por um suplente do lavra pela ordem.
Partido do Movimento Democrático Brasileiro. É isso, O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Tem a pala-
sr. Presidente? É titular? vra V. Ex. a, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Não. Perdão. O SR. CONSTITUINTE - Sr. Presidente, como o do-
O, suplente é suplente de um titular do PMDB. cumento está em poder de todos os membros desta Bub-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 147

comissão, seria um sacrifício que o nosso querido relator tante da Subcomissão junto à direção da Viação Aérea
lesse o texto. Já fico satisfeito por ter recebido o do- Rio-grandense, para acompanhar as negociações dos tra-
cumento. balhadores e a direção daquela empresa. Prosseguindo os
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Alguém mais trabalhos, o Sr. Constituinte Domingos Leonelli, inicia o
deseja fazer uso da palavra sobre esta matéria? (Pausa.) debate sobre Organização Sindical. Também usam da pa-
lavra em considerações ao tema, os Constituintes: Edmil-
Em votação a proposta de dispensa da leitura do son Valentim, Osvaldo Bender, Augusto Carvalho, Júlio
parecer do relator. Costamilan, Paulo Paim, Mário Lima, Célio de Castro e
Os Srs. Constituintes que a aprovam queiram perma- o Sr. Presidente. O Relator, Constituinte Mário Lima, so-
necer sentados. (Pausa.) licita que se registre em ata uma indagação ao Presidente
da República, o porquê do não reconhecimento das Orga-
Aprovada. nizações Sindicais. A Presidência comunica o recebimen-
Está dispensada a leitura do parecer. to de proposta entregue a esta Subcomissão, pelo Cons-
tituinte Stélio Dias, encaminhada pelo Presidente da As-
Não havendo mais outra questão a ser tratada nesta sembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, Depu-
reunião, convoco os Srs. Constituintes, de acordo com as tado Dilton Lyrio. Nada mais havendo a tratar a Presi-
determinações regimentais, uma nova reunião para o dia dência encerra os trabalhos, às treze horas e trinta minu-
14, às 9:30. Neste período serão publicados os avulsos con- tos, convocando os Srs. Constituintes para a próxima reu-
tendo o parecer do relator. nião a realizar-se hoje, dia sete de maio, às dezessete ho-
A partir do dia 14 até o dia 19, teremos, de acordo ras, com os temas a seguir: reunião pública oficial des-
com o § 1.0 do art. 17 do Regimento, 5 dias destinados à tinada a ouvir os representantes da Confederação dos Pro-
apresentação de emendas pelos membros da Subcomissão, fessores do Brasil, Prof. Tomás Gilian de Luca Wonglon;
assim como a discussão do parecer. da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricul-
tura, Sr. José Francisco da Silva; da Central Única dos
O SR. CONSTITUINTE FERNANDO SANTANA - Sr. Trabalhadores, Sr. Jair Antônio Meneghelli; da Comissão
Presidente, peço a palavra, pela ordem. Nacional Criança e Constituinte, Sr. a Maria Stella Barbosa
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Tem a pala- de Araújo; da Central Geral dos Trabalhadores, Sr. Lou-
vra o nobre Constituinte Fernando Santana, pela ordem. renço do Prado; e da Confederação Nacional do Comércio,
Dr. Newton Rossi. E, para constar, eu, Vera Lúcia Lacer-
O SR. CONSTITUINTE FERNANDO SANTANA - :É: da Nunes, Secretária, lavrei a presente ata que, depois de
tempo demais, Sr. Presidente, primeiro convocar outra lida e aprovada, será assinada pelo Presidente.
reunião para daqui a três dias, depois abrir mais cinco
para emendas. Sei que V. Ex.a está lendo o Regimento, O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Havendo
mas não podemos abreviar um pouco? número regimental, declaro abertos os trabalhos desta reu-
nião da Subcomissão dos Trabalhadores e Servidores Pú-
O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Temos que blicos, do dia 7 de maio, tendo como tema para debate a
ficar adstritos aos termos do Regimento. organização sindical.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a O Sr. Secretário procederá à leitura das atas das reu-
reunião. 'níões anteriores.
(Encerra-se a reunião às 20 horas e 25 mí- São lidas e aprovadas as seguintes atas das 17.a e 18.a
nutos.) reuniões.
19.a Reunião (Ordinária) ,17.a Reunião (ordinária)
Aos sete dias do mês de maio de mil novecentos e oi- Aos seis dias do mês de maio de mil novecentos e oi-
tenta e sete, às nove horas, na sala do Anexo II do Senado
tenta e sete às nove horas, em sala do Anexo II do Se- Federal, reuniu-se a Subcomissão dos Direitos dos Traba-
nado Feder~l reuniu-se a Subcomissão dos Direitos dos lhadores e Servidores Públicos, sob a presidência do Se-
Trabalhadore~ e Servidores Públicos, sob a presidência do nhor Constituinte Geraldo Campos, com a presença dos
Senhor Constituinte Geraldo Campos, com a presença dos !Senhores Constituintes: Titulares: Augusto Carvalho, Cé-
Senhores Constituintes: Titulares: Edmilson Valentim J.io de Castro, Paulo Paim, Osvaldo Bender, Edmilson Va-
Mendes Botelho Osmar Leitão, Paulo Paim, Francisco Küs- lentim, Mário Lima, Ronan Tito, Domingos Leonelli, Car-
ter Célio de Ca~tro Domingos Leonelli, Ronan Tito, Carlos los Cotta, Júlio Costamilan, Teotônio Vilela Filho, Mendes
Cotta Augusto C~rvalho, Osvaldo Bender, Stélio Dias, Botelho e Wilma Maia. Havendo número regimental a
Júlio' Costamilan e Mário Lima. Havendo número regi- Presidência abre a sessão determinando a leitura da Ata
mental a Presidência abre a sessão determinando a leitu- da reunião anterior, que após discussão e votação é dada
ra das Atas das duas últimas reuniões, que após discussão 'como aprovada. Dando prosseguimento aos trabalhos, o Sr.
e votação é dada como aprovada. Dando prosseguimento Presidente propõe aos Constituintes uma abertura de es-
aos trabalhos, o Sr. Presidente torna livre a palavra para paço durante a reunião, para que sejarm. ouvidos, em bre-
o debate sobre o tema "Organização Sindical". A começar ve pronunciamento, o Sr. José Ubirajara Tim, técnico
pelo Constituinte Célio de 'Castro, também os Constituin- em assuntos da pesca, ex-Presidente da Sudepe, e Sra.
tes Osvaldo Bender, Paulo Paim, Edmilson Valentim e Au- !Beatriz Azeredo, assessora-técnica da Seplan, que se en-
gusto Carvalho usam da palavra externando _suas preo- contram presentes. Deliberada favoravelmente pelo ple-
cupações com as greves em seus Estados e no Brasil, soli- riárío desta Subcomissão a sugestão apresentada, a Pre-
darizando-se com os grevistas e propondo que esta Subco- eídêncía convida o Sr. José Ubirajara Tim para fazer uso
missão se manifeste no sentido de solicitar a abertura de do palavra. Em seu pronunciamento, fez um breve relato
negociações com os líderes dos movimentos, buscando um sobre a ativídade pesqueira, confirmando a discriminação
entendimento, dentro do mais breve prazo possivel. Por da mulher, na pesca. Dentro da Sudepe, cuidou da elabo-
unanimidade deste plenário, ficou deliberado que o Cons- ração de uma legislação básica para a atividade da pesca,
tituinte Célio de Castro fosse eleito o representante desta ressaltando que o mesmo não chegou a tornar-se nem pro-
Subcomissão junto ao Governo do Estado de Minas Ge- ,jeto de lei. Em relação à atenção especial à atividade pes-
rais, para acompanhar as negociações dos servidores em queira, afirma existir entraves para o seu desenvolvimen-
greve. E o Constituinte Paulo Paim foi eleito o represen- to. Faz referências ao setor artesanal pesqueiro no Brasil,
148 Segunda·feira 20 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTlTUlNTE (Suplemento) Julho de 1987

e bloqueio ao pescador artesanal, na sua base em terra. A Paraibano. E, para constar, eu, Vera Lúcia Lacerda Nu-
seguir, fala a Sra. Beatriz Azeredo, sobre a importância nes, Secretária, lavrei a presente ata que, depois de lida
de concentrar a discussão nos seguintes princípios: Es- e aprovada, será assinada pelo Presidente.
tabilidade; Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; Se-
guro desemprego; PIS-PASEP; e Participação de lucros. A 18./1 Reunião (Extraordinária)
instabilidade no mercado de trabalho e a proteção aos de- Aos seis dias do mês de maio de mil novecentos e oi-
sempregados devem ser tratados em conjunto. Termina- tenta e sete, às dezessete horas, em sala do Anexo II do
das as exposições, a Presidência declara livre a palavra Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão dos Direitos dos
para interpelações e debate. O Constituinte Célio de Cas- Trabalhadores e Servidores Públicos, sob a presidência do
tro reitera à Mesa pronunciamento desta Subcomissão Senhor Constituinte Geraldo Campos, com a presença dos
dirigido ao Sr. Ministro da Marinha para revogação da Senhores Constituintes: Titulares: Augusto Carvalho, Car-
Portaria que proíbe a mulher de exercer a ativídade pes- los Cotta Francisco Küster, Mário Lima, Mendes Botelho,
queira. Expõe, ainda, notícias da imprensa, veiculadas ho- Wilma Maia, Osvando Bender, Paulo Paim, Dionísio Dal
je, sobre a morte de pescadores, ressaltando o assassina- Prá, Max Rosenmann, 'J\eotônio Vilela Filho, Edmílson
to 'de um menor, a bordo de um barco pesqueiro, quando Valentim, Oélio de Castro, Roberto Balestra, Stélio Dias e
foi alvejado por diversos disparos efetuados por fuzilei- Júlio Costamilan; e O Suplente Nelson Aguiar. A Presidên-
ros navais, sediados no Río de Janeiro. Ainda o Constituin- cia declara aberta a sessão e convida os representantes do
te Célio de Castro solicita que em nome da Subcomissão, Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Só-
seja encaminhado ofício ao Ministro das Minas e Energia cio-Econômicos; Sr. Joel Alves de Oliveira; do Departa-
e ao Presidente da Nuclebrás, manifestando solidarieda- mento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e
de aos servidores em greve e encarecendo a necessidade dos Ambientes de Trabalho, Sr. Remígio Todeschini; e as
de serem mantidas as negociações com os representantes representantes da Mulher Trabalhadora, Sra Maria Elize-
do movimento grevista, para que se chegue a um entendi- te de Souza Figueiredo (Sindicato dos Trabalhadores nas
mento, no mais breve prazo possível. Apoiando o Consti- Indústrias de Fiação e Tecelagem de Salvador, Simões
tuinte Célio de Castro, no mesmo sentido, o Constituinte Filho e Camaçari) e Sra. Antônia Cruz (Coordenadora do
Edmílson Valentim propõe que seja oficiado também o Movimento da Mulher Rural do Brejo Paraibano). Pros-
Ministro do Trabalho. As propostas apresentadas pelos seguindo, o Sr. Presidente passa a palavra ao represen-
Constituintes Célio de Castro e Edmilson Valentim e subs- tante do Dieese, Sr. Joel Alves de Oliveira, que faz ex-
critas pelos Constituintes Teotônio Vilela Filho e Osvaldo planação, ressaltando três pontos básicos: redução da jor-
Bender, foram aprovadas por unanimidade por este ple- nada de trabalho; representação dos trabalhadores nos
nário. Continuando, o Constituinte Célio de Castro apre- locais de trabalho; e a garantia no emprego. A seguir, fala
senta Moção, a qual foi aprovada por unanímídade por a Sra. Antônia da Cruz Silva, que em seu depoimento como
esta Subcomissão, solicitando ao Ministro da Educação, e representante da mulher rural, faz breve exposição das
ao Secretário-Geral do referido Ministério, liberação de dificuldades enfrentadas, nessa área, tanto com relação ao
verba para a reconstrução do prédio do Instituto de Ciên- trabalho, como na discriminação do sexo. Solicita a aten-
cias Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais, des- ção dos Constituintes, no tocante aos direitos da mulher
truído por incêndio, na madrugada de 18 de marco últi- trabalhadora. Em seguida fala a Sra. Maria Elizete de
mo. O Constituinte Mendes Botelho apresenta Moção, Souza Figueiredo, em nome da mulher trabalhadora da
aprovada por unanimidade, por este plenário no sentido área urbana. Expõe o repúdio da classe, para com a dis-
de que seja encaminhado pronunciamento ao Ministro do criminação da mulher; As leis abusivas e autoritárias vi-
Trabalho, dos Transportes, ao Presidente da Companhia gentes no País; Clama por democracia plena, e direitos
Brasileira de Trens Urbanos e ao Presidente da Rede Fer- iguais para todos, apresentando sugestões à Constituinte
roviária Federal, solicitando que se processe negociação no que tange aos direitos ,da cidadã e mulher. O Relator,
com os trabalhadores ferroviários, atendendo suas reivin- Constituinte Mário Lima, usa da palavra e solicita que
dicações, para que seja evitada a paralisação daquela ca- seja registrada em ata a presença, na reunião da Subco-
tegoria, prevista para o próximo dia 12 do corrente. O missão, do Sr. Walter Barelli, Diretor-Técnico do Dieese,
Constituinte Osvaldo Bender apresenta Moção, aprovada da Constituinte Lídice da Mata, do PC do B, da Bahia, e de
por unanimidade pelo plenário desta Subcomissão, para representantes e dirigentes de diversas entidades. Dando
que seja levado ao Governador do Estado do Rio Grande prosseguimento a Presidência passa a palavra ao Sr. Re-
do Sul a preocupação dos Constituintes, com a greve dos mígío Todeschini, representante do Diesat, que fez disser-
servidores públicos daquele Estado, e a manifestação de tação ressaltando os seguintes temas: 1 - Previdência So-
solidariedade com o movimento grevista, apelando para cial: custeio, fraudes, gestão e assistência médico-hospita-
uma negociação e entendimento, no mais breve espaço de lar; 2 - Legislação Acidentária e benefícios previdenciá-
tempo possível. Fi.z.eram uso da palavra, em considerações rios; 3 - Modificações do Capítulo V da CLT: Higiene e
aos assuntos abordados, os seguintes Constituintes: Ed- Segurança do Trabalho; Redução da jornada de trabalho;
mílson Valentim, Paulo Paim, Osvaldo Bender, Augusto Proibição de horas extras em locais insalubres; e o traba-
Carvalho, Mário Lima, Célio de Castro, Teotônio Vilela lho rural. Tedminadas as explanações dos oradores, o Sr.
Filho, Mendes Botelho, Wilma Maia e o Sr. Presidente. Presidente torna livre a palavra para o debate. Fazem uso
Nada mais havendo a tratar, a Presidência encerra os da palavra, em considerações aos assuntos expostos, os
trabalhos, às doze horas e vinte e cinco minutos, convocan- seguintes Constituintes: Osvaldo Bender, Carlos Ootta,
do os Srs. Constituintes para a próxíma reunião a se rea- Paulo Paim, Wilma Maia, Stélio Dias, Max Rosenmann,
lizar, hoje, dia seis do corrente, às dezessete horas, com a Augusto de Carvalho, Edimilson Valentim, Júlio Costami-
seguinte pauta: i&eunião pública oficial destinada a ouvir lan, Mário Lima e Lídice da Mata. O Constituinte Max Ro-
os representantes do Departamento Intersindical de Es- senmann levanta a questão quanto à exclusão de enti-
tatística e Estudos Sócio-Econômicos, Sr. Walter Barelli; dades patronais da relação dos convidados a serem ouvi-
do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de dos por esta Subcomissão. O Constituinte Júlio Costami-
Saúde e dos Ambientes do Trabalho, Sr. Remígio Todes- lan tece considerações ao assunto e propõe que seja votada
chini; As representantes da Mulher Trabalhadora, Sra. a inclusão de representações patronais na pauta da pró-
Maria Elizete de Souza Figueiredo, do Sindicato dos Tra- xima reunião destinada a audiência pública oficial. A
balhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Sal- Presídêncía ratifica a importância considerada, no senti-
vador, Simões Filho e Oamaçarí ; e Sra. Antônia Cruz, da do de ouvir as entidades patronais, e salienta que, em
Ooor-denadoria do Movimento da Mulher Rural do Brejo virtude da exigüidade do tempo, deu-se prioridade, por
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 149

consenso deste plenário, às representações do trabalhado- O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Quero,
res e servidores públicos. E, em deferimento à solicitação aproveitando, dar a informação de que os ofícios pro-
do Constituinte Júlio Costamilan, coloca a proposta em postos, ontem, foram todos encaminhados e devem ter
votação, a qual foi aprovada unanimemente. Nada mais chegado às mãos dos destinatários.
havendo a tratar, o Sr. Presidente encerra a sessão, às Queríamos colocar em votação a proposta do Cons-
vinte e uma horas e cinqüenta e oito minutos, agradecen- tituinte Célio de Castro de que esta Subcomissão se ma-
do a presença dos oradores convidados e convocando os ·nifeste junto ao Governador Newton Cardoso no sentido
Srs. Constituintes para a próxima reunião a ser realizada, de que se abram as negociações com os servidores públi-
amanhã, dia sete do corrente, às nove horas, com a se- cos de Minas Gerais, que estão em greve, ínclusíve com
guinte pauta: Debate de matéria constitucional, tendo os acontecimentos já registrados pelos jornais e que nos
como tema a Organização Sindical. E, para constar, eu, são trazidos também pelo ilustre constituinte.
Vera Lúcia Lacerda Nunes, Secretária, lavrei a presente
ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo' Alguém quer se manifestar sobre a proposta de enca-
Presidente. minharmos telex ao Governador de Minas Gerais, hoje
ainda, sobre esse assunto?
O ·SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Passamos
ao debate do noso tema de hoje - Organização Sindical. Tem a palavra o Constituinte Edmilson Valentim.
Está livre a palavra. O SR. CONSTITUINTE EDMILSON VALENTIM
Quero lembrar que temos assentado 3 minutos para Proporia que, assim como esta Subcomissão enviou a Vol-
intervenção de cada um. ta Redonda representando oficialmente a Assembléia Na-
Tem a palavra o Constituinte Célio de Castro. cional Constituinte, através da Subcomissão dos Trabalha-
dores, a minha pessoa, que fosse enviado um ofício co-
O SR. CONSTITUINTE CÉLIO DE CASTRO - Sr. municando que o Constituinte Célio de Castro estaria
Presidente, ainda não vou intervi na matéria em pauta. representando, oficialmente também, a Subcomissão dos
Quero apenas dar notícia à Presidência e a e~ta Su~co­ Direitos dos Trabalhadores e, Servidores Públicos com o
missão do desempenho da tarefa que nos f oi confiada objetivo a que ele se referiu.
ontem. Estivemos,- acompanhando a comisão de funcioná-
rios em greve, da Nuclebrás, juntamente com o Consti- O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Está em
tuinte Edmílson Valentim, no Ministério das Minas e discussão a proposta.
Eenergia, onde fomos recebidos pelo Ministro e a comis- Tem a palavra o Constituinte Osvaldo Bender.
são teve assegurada, por parte do Ministro, a viabilidade O SR. CONSTITUINTE OSVALDO BENDER - Ape-
de se abrir negociação, imediatamente, com os companhei- nas para nos manifestarmos favoráveis, especialmente
ros da Nclebrás. Posteriormente, chegaram à reunião os pela sugestão apresentada pelo Constituinte Edmilson Va-
Companheiros Luiz Inácio Lula da Silva e Virgilio Gui- lentim, no sentido de que o Constituinte Célio de Castro
marães. seja o porta-voz desta Subcomissão nas negociações.
Também estivemos, anteriormente, com os funcioná- O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Tem a
rios e alunos do ICEX de Minas Gerais, na Secretaria palavra o Constituinte Paulo Paim.
Geral do Ministério da Educação onde também consegui-
mos encaminhar o pedido de verbas para o ICEX, Insti- O SR. CONSTITUINTE PAULO PAIM - Sr. Presiden-
tuto de Ciências Exatas de Minas Gerais. te eu teria, até mesmo a ousadia, de propor a esta Sub-
co'missão que o mesmo encaminhamento que se está dan-
Nesse sentido, Sr. Pr~sidente, a~nda n~s~as. questões, do na questão de Minas Gerais, com o companheiro Célio
quero dar conhecimento a Casa ~ a Presídêncía .de q:!:1.e de Castro, se dê também na questão do Rio Grande do
estou indo, hoje, para Belo Horízonte, onde a sítuação Sul onde o Estado está 'praticamente paralisado e já
está extremamente grave e tensa, sendo que ontem a noite con'seguimos para segunda-feira, às 15 horas, uma reunião
o Governo estadual reprimiu violentamente a manifesta- com o Governador do Estado, o movimento sindical gaú-
cão de professores, médicos, profissionais da área de saúde, cho, na sua amplitude, de uma forma unitária, e ainda
com inúmeras prisões inclusive a prisão do Lider do Par- com as categorias em greve, que ultrapassam a mais de
tido dos Trabalhador~s, na Assembléia Legislativa ~ ~ons­ 10; o Estado está praticamente parado e como vou estar
trangimento com a prisão de um Deputado ConstltulI~te, nessa reunião seria fundamental estarmos com o mesmo
nosso colega, ilustre Deputado Paulo Delgado, do Partldo encaminhamento que o Companheiro fez na questão do
dos Trabalhadores. companheiro ·Célio de Castro.
Tenho também notícia de Belo Horizonte, de que o
Governo, através da Secretar}a de Saúde, j~ demitiu ce~ca O SR. CONSTITUINTE OSVALDO BENDER - Sr.
de 30 grevistas inclusive esta elaborando listas de demís- Presidente, apenas para endossar as palavras do Consti-
são das lidera~ças que participam do moyimento grevista tuinte Paulo Paim, no sentido de que fosse ele, então,
em todos os órgãos da saúde e da educaçao e do trabalho o representante desta Subcomissão no Rio Grande do Sul
do Estado. A situação está extremamente grave. Estou para ser o intermediário com o objetivo de amenizar a
indo hoje para Belo Horizonte para tentar abrir um canal situação.
de negociação com o Governador Newton Car?-oso, que se O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Está livre
recusa terminantemente a conversar com as líderanças do a palavra.
movimento. O SR. CONSTITUINTE DOMINGOS LEONELLI - Sr.
Neste sentido, solicito ao Sr. Presidente que, ouvida Presidente, ainda sobre esta questão, gostaria que' ficasse
esta Subcomissão seja encaminhado urgentemente um registrado em Ata que nos telex que enviássemos, nas
telex ao Sr. Gove~nador e ao Sr. Prefeito de Belo Hori- comunicações que enviássemos às autoridades, constasse a
zonte no sentido de abrir negociações para que haja um preocupação da Subcomissão que cuida dos direitos dos
canal' civilizado de encaminhar o movimento grevista e não trabalhadores sobre o momento que vivemos. Ontem su-
ser tratado como questão policial. Solicito, se possível, gerimos, na Bancada do nosso Partido, além da questão
esse telex em termos de urgência, para que chegue noíe institucional da fixação do mandato do Presidente em 4
às mãos do Governador e do Prefeito da Capital, Sérgio anos, para resolver a questão institucional, de maneira
Ferraz. tranqüila e constitucional, pelo caminho da Constituinte,
Muito obrigado. mas anexamos, também nessa proposta ao nosso Partido,
150 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

proposta que estendo também a esta Subcomissão, a preo- O SR. CONSTITUINTE DOMINGOS LEONELLI - São
cupação com a crise econômica e social, que a essa altura medidas preliminares; não são todas as medidas. São as
já se caracteriza como uma crise social neste País. Acho urgentes e absolutamente indispensáveis para se começar
que em todos os comunicados esta Subcomissão deve ma- a conversar.
nifestar a consciência que tem da gravidade do momento. O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - De modo
Estamos assistindo a um acúmulo de pequenas conflagra- que, nesse ofício, já constaria inclusive a preocupação desta
ções até sociais e trabalhistas de desespero, e o Governo Subcomissão com essa situação nacional ora reinante.
Federal, o Governo do meu Partido ainda não definiu um
conjunto de medidas capazes de enfrentar essa situação. Idêntica proposta com relação ao Constituinte Paulo
A nossa bancada, propusemos ontem que pelo menos três Paim, que seria também o nosso emissário, no Rio Grande
medidas imediatas fossem tomadas: a manutenção e o do Sul para, junto ao Governador do Estado, buscar solu-
aprofundamento da proteção do salário do trabalhador, ção para o problema do funcionalismo do Estado, acompa-
através da manutenção do gatilho salarial e, como patamar nhando o ofício com os mesmos dizeres, com a mesma
mínimo. É o que há de mínimo. Em nenhuma hipótese apreensão, junto ao Governador Pedro Simon.
deve-se pensar em dispensar esse mecanismo único que, O SR. CONSTITUINTE PAULO PAIM - Se me permi-
por enquanto, protege, embora sendo ainda insuficiente, te, gostaria de dizer que a situação do Rio Grande do Sul
a ampliação da medida da moratória, inclusive com audi- é gravíssima. Já consegui audiência para segunda-feira, às
toria da dívida. Não deve haver, em nenhuma hipótese, 15 horas. Serão dois assuntos em pauta: as greves e as
recuo a este respeito, porque não temos recursos, hoje, ocupações. Há mais de 50 mil pessoas que ocuparam os
para recomeçar a pagar a dívida; e, ainda no terreno eco- conjuntos habitacionais.
nômico, a convocação do Ministro da Fazenda a esta Casa,
para que ele apresente à Câmara e ao Senado, em caráter Faria questão que constasse também o assunto das
excepcional, um projeto de lei econômica, um projeto de ocupações, porque a preocupação é comum.
lei que contenha um plano econômico capaz de dar um O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Então, a
rumo econômico ao País. proposta incluiria também a questão das ocupações.
Prolonguei-me um pouco nesta questão de ordem, para Quem estiver de acordo com a proposta queira perma-
inserir, nessas comunicações, uma preocupação com o con- necer como está. (Pausa.)
junto dos acontecimentos. Acho que esta Subcomissão, em
particular, e a Assembléia Nacional Constituinte, como um Aprovado.
todo, não podem desconhecer que estamos dentro de um Vamos providenciar para que os ofícios estejam pron-
caldeirão e que estamos realmente assistindo a uma certa tos, em mãos dos dois emissários, dos representantes da
desagregação econômica, onde o trabalho está sendo o mais Subcomissão, antes que partam.
penalizado. São uma loucura os aumentos de preços. Estão
inteiramente descontrolados. O SR. CONSTITUINTE Cli:LIO DE CASTRO - Peço
a palavra, Sr. Presidente.
A terceira sugestão não era bem sobre a proposta de
vinda do Ministro da Fazenda, mas era sobre a retomada O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Tem a pa-
do controle de preços, como uma medida preliminar ime- lavra o nobre Constituinte.
diata que o Governo teria que fazer. O SR. CONSTITUINTE CÉLIO DE CASTRO - Quero
Creio que a consciência destas questões por esta Sub- registrar em Ata, em virtude dessa missão oficial da Sub-
comissão é importante até para o registro histórico, a fim comissão dos Direitos dos Trabalhadores e Servidores PÚ-
de que não se imagine que, aqui, nós nos manifestamos blicos, a minha ausência na reunião de hoje à tarde, reunião
apenas pontualmente sobre algumas questões. Em cada que considero da máxima importância. Que minha ausên-
uma dessas comunicações acho que deveríamos inserir a cia seja justificada em Ata, exatamente por causa da missão
nossa preocupação com o global. Era essa a questão de que vou desempenhar oficialmente. Muito obrigado.
ordem. O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Será feito.
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Uma con- Passamos, então, à discussão do nosso tema de hoje,
sulta que faz a Mesa. A sua proposta é para que nos ma- "Organização Sindical". Está livre a palavra. (Pausa.)
nifestássemos oficialmente, formalmente, junto à Presidên-
cia da República, com relação a esses três pontos, ou jun- Concedo a palavra ao nobre Constituinte Domingos
to ao Partido ou à Mesa da Casa? Leonelli.
O SR. CONSTITUINTE DOMINGOS LEONELLI - Não. O SR. CONSTITUINTE DOMINGOS LEONELLI -
Informei à Subcomissão aquilo que foi discutido ontem, Preliminarmente, quero assegurar que a eventual - rara,
no nosso Partido, no âmbito do PMDB. Mas o que pro- por sinal - ausência do nosso Relator não implique em
ponho que a Subcomissão faça é que, em cada uma dessas que as propostas aqui colocadas não lhe cheguem às mãos.
comunicações, a cada Governador a que vamos nos diri- Vão chegar às suas mãos, não?
gir, se registre a preocupação com a situação geral do País. O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Beguramen-
te o registro da Ata será apresentado a ele.
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Então, está
em votação a proposta de que o Constituinte Célio de Cas- O SR. CONSTITUINTE DOMINGOS LEONELLI -
tro seja nosso representante, o representante da Subco- Gostaria de registrar, aqui, Sr. Presidente, duas propostas
missão dos Trabalhadores e dos Servidores Públicos, junto que fiz a respeito da questão sindical. Além de evidente-
ao Governador de Minas Gerais, intercedendo no sentido de mente, ter uma posição geral favorável à absóluta auto-
que as negociações se desenvolvam, buscando uma solução nomia da organização sindical, da liberdade, da unicidade
que possa resolver conflitos atualmente existentes de inte- sindical por território, por ramo de serviço, posições essas
resses entre os servidores públicos e' o Governo do Estado. que esta Subcomissão já consagrou praticamente em ou-
Ele já seria o portador do ofício, onde se faria, juntamen- tras reuniões. Apresentei duas propostas à Assembléia Na-
te, as observações propostas pelo Constituinte Domingos cíonal COnstituinte, as quais gostaria de ver, naturalmen-
Leonelli, quanto à manutenção do gatilho, quanto à ques- te, debatidas e discutidas. E registrarei aqui, neste instan-
tão da moratória, à retomada do controle de preços, tendo te, na intenção de que seja apreciada, também, pelo nobre
em vista a situação de crise existente neste País. Relator.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·fe:ra 20 151

A primeira é no sentido de que, ao sindicato, seja O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Gostaria de
dado o poder notificador, ao síndícato ser dado o direito solicitar ao nobre Constituinte que, se tivesse cópia da
de notificar a Justiça do Trabalho, as autoridades com- proposta, que a entregasse ao relator.
petentes sobre a legalidade do funcionamento das empre- Concedo a palavra ao nobre Constituinte Edmilson
sas. Que o sindicato seja parte reconhecida legítima na Valentim.
notificação, inclusive para romper com esse impasse his-
tórico que os organismos ligados ao trabalho do Governo O SR. CONSTITUINTE EDMILSON VALENTIM - Sr.
declaram sempre, de que não têm número suficiente de Presidente, Srs. Constituintes. Acredito ser esse um dos
funcionários para físcalísar a aplicação da legislação tra- últimos temas de grande e fundamental importância que
balhista, da segurança do trabalho e de outros pontos. esta Subcomissão tem a apreciar, no sentido de deliberar
e orientar os trabalhos do relator.
Assim, dar ao sindicato este novo poder, esta nova inves-
tidura de poder notificar, de ser parte, portanto, no pro- A organização sindical, nós teremos e temos que pre-
cesso de fiscalização da legislação trabalhista nas em- gar um pouco a história do nosso País, de 'como vêm se
presas. organizando os trabalhadores nesse periodo. A atuallegís-
A segunda, Sr. Presidente, é no sentido de resolver, de Iação sindical é oriunda de uma carta chamada Carta Del
uma vez por todas, pela lei, pelo caminho 'constitucional, Lavoro, de Benito Mussolini, de 1934, que estipulou, _
uma questão muito difusa, uma fronteira muito difícil fascista, completado por um Constituinte do Plenário, _
entre o direito revolucionário e o direito constituído: a o atrelamento do movimento sindical ao Estado, ao Minis-
questão da presença dos trabalhadores nas empresas. tério do Trabalho, e mais do que isso, conseguiu, através
de vários dispositivos, segurar e castrar de maneira efeti-
Têm os trabalhadores o direito de ocupar suas fábri- va o essencial e o fundamental, no que diz respeito a movi-
cas? Eu acho que essa é uma questão que nem a própria mento de trabalhadores que é a sua liberdade de se orga-
Constituição nem o Direito Formal, resolverão, não é por- nizar, liberdade de atuar, enquanto representante dos tra-
que diz respeito à propriedade privada, aos meios de pro- balhadores.
dução, creio que a ocupação definitiva é impraticável do
ponto de vista legal; ela é reconhecida na prática em Esse processo se agravou nos períodos ditatoriais, não
situações revolucionárias. somente no regime militar, onde o governo, ancorado
numa Iegislação fascista, num regime de pouca liberdade
No entanto, anterior a essa situação limite, a essa num regime onde a falta de democracia era uma cons-
situação extremada, que é a ocupação da fábrica, há uma tante, aumentou ainda mais esse poder, a castração dos
outra questão que poderia até evitar esses extremos; é díreltos à liberdade, da autonomia dos sindicatos. Lem-
que fosse permitido, que fosse assegurado pela Constitui- bro-me de que, antes do golpe militar, a própria vontade
ção, como pretendo, ao sindicato o acesso à fábrica, o e a própria necessidade dos trabaJhadores de se organi-
acesso ao local do trabalho. zarem víeram se contrapondo a essa Iegíslação, e essa
necessidade veio num processo constante que, antes do
Tenho dito que se esta Constituição aprovar a sub- golpe de 1964, - lembramos que a organização máxima
comissão da propriedade à sua função social, o local de dos trabalhadores em nosso País, a CGT, comando-Geral
trabalho não pode ser considerado apenas um terreno ex- dos Trabalhadores, entidade bastante representativa que
clusivo do patrão, do proprietário físico daquele terreno. mobilizava milhões de trabalhadores que cujo princípio
l!: uma comunidade que produz, é uma comunidade que fundamental que realmente dá força a essa massa de tra-
opera naquele teatro de produção, que é a fábrica, que é balhadores é a unidade, calcado também num outro prin-
uma fazenda, que é um escritório. Então, a representação cípio, que é a organização e a democracia sindical, davam
da classe que ocupa aquele espaço, se ela tem essa função naquele período grande força às massas trabalhadoras ~
na sociedade como um todo, essa função tem que estar à sua representação - com o golpe militar nós tivemos
estendida também, ao local específíco do trabalho. E é nesse período, que perdurou de 1964 até ant~s de 1985, n~
nesse sentido, então, que apresentei proposta à Constituin- derrubada do regime militar, nada mais nada menos que
te, no sentido de permitir ao sindicato o acesso ao local d.ez mil síndícalístas a;ssassinados QU presos, ou seja, nós
de trabalho. tívemos ISSO nesse período, quando as Iíderanças dos tra-
balhadores ousavam levantar a sua voz ou ousavam le-
A atividade sindical deverá ter, através do sindicato, vantar-se contra o regime QU contra a situação de penú-
o acesso garantido, não como uma concessão. Assim como ria, de lástima em que foram colocados os trabalhadores
a ocupação da fábrica é discutível legalmente, o acesso brasileiros.
do síndícato não pode ser discutido. O acesso é um direito
que o trabalhador tem ao espaço onde ele dedica 1/3 (um Neste. momento, quando nós discutimos, príncipal-
terço) ou mais da sua vida; não pode ser cons.iderado pro- mente hoje, a nova leglslação e organização sindical, é
priedade privada o espaço do trabalho. A propriedade priva- importante ~ue n?s atentemos sob que princípios, não
da é dos resultados, dos meios de produção e de seus resul- so Q '8stad? dítatoríal, mas a grande massa de empresários
tados, enquanto vivermos no regime capitalista. Agora, do e .de p.atroes que se aproveit~r~m dessa situação, como
espaço vital onde determinada classe, ond~ determma,~o fOI utilizado esse momento polítíco em que vivia o Brasil
conjunto de homens exerce parte da sua VIda, se ele nao para destruir a organização dos trabalhadores. '
tiver, se a sua representação não tiver acesso a esse espa- Primeiramente, a forma de impedir essa roganízação
ço, creio que a função social da propriedade estará com- de impedir o avanço da luta dos trabalhadores, foi a re~
:prometida ou não existirá. pressão clara, concreta, através das prisões, das torturas
l!: o sentido dessas duas proposições, a do sindicato ser e dos banimentos e isso foi utilizado de maneira clara.
parte notificante, poder notificar a justiça, ser parte do Em segundo lugar, foi utilizado o método de captação das
processo da fiscalização do -trabalho e do acesso do sindi- lideranças sindicais, outrora combatidas, naturalmente
cato ao local de trabalho, que eu gostaria de ver aprecia- legítimas representantes dQS trabalhadores, no sentido de
do por esta Subcomissão e inserida finalmente, no nosso ganhar para ajudar nesse processo de segurar o movi-
anteprojeto. mento sindical, é o chamado, cotidianamente no movi-
mento sindical do peleguísmo, e esse atrelamento se deu
Muito obrigado. por diversos, dispositivos. Institui~-~e ,0 chamado imposto
152 Segunda-feira 20 OIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Julho de 1987

sindical, no sentido de que a partir da contribuição de Se, no regime militar, nos períodos de ditadura, os
um dia de trabalho dos trabalhadores, se mantivessem governos e os patrões podiam reprimir de maneira clara,
em seus sindicatos. Mas, com um dispositivo peculiar, que concreta e objetiva o movimento sindical, quando atingi-
era de retirar também dessa contribuição sindical que mos um período mais democrático onde se tem mais esses
os trabalhadores davam, 20% que era c-edido ao Ministério artifícios, a nossa preocupação é, dos patrões e do Estado
do rabalho. impedirem que os trabalhadores se organizem e, justa-
Essa contribuição, nesse período, ajudou, e muito, mente, estimular a sua divisão, através do pressuposto de
para que as lideranças sindicais se acomodassem e com defenderem a liberdade e a autonomia sindical, criarem
isso descaracterizasse, principalmente, os sindicatos, também os seus sindicatos representativos dos trabalha-
tirassem a característica de luta do sindicato e dessem- dores que visem, nada mais, nada menos, do que estimular
lhe a característica de um sindicato existencialista, pater- a divisão dos trabalhador-es. Nesse princípio, nesse senti-
nalista. Uma grande parte das entidades sindicais ade- do, quando entendemos que o movimento síndícal, como
riram a essa 'estratégia, a essa tática do Governo no um todo, na grande maioria, defende o princípio da uni-
regime militar e dos patrões que, cada vez mais, estimu- dade, defende o princípio em que se tem que ter repre-
lavam essa prática nos sindicatos. sentações únicas de trabalhadores e que no meio do movi-
O movimento sindical vem romp-endo com isso, como mento sindical eles, entre si, d-efinam as normas, definam
u mperíodo em que a ditadura, começava a expirar suas úl- como eles se organizem, mas esse princípio, na nossa opi-
timas palavras e, na prática, os trabalhadores começavam a nião, tem que ser garantido, não no sentido de castrar a
romper com isso, apesar de ainda vigorar essa legislação, partícípação dos trabalhadores, mas como objetivo prin-
apesar de ainda vigorarem esses dispositivos que procura- cipal de garantir a unidade e a proteção do movimento
vam atrelar o movimento sindical. dos trabalhadores à ingerência dos patrões e do Estado.
Essa é a nossa preocupação fundamental, quando nós de-
Eu me lembro que, em 1981, o movimento sindical se fendemos a unidade no movimento sindical, através da
reunia na Praia Grande para tirar, dentro do princípio Constituição, porque entendemos que é um objetivo, é um
da unidade, da democracia, da organização, uma orga- anseio da organização dos trabalhadores.
nização de trabalhadores, ali, na Praia Grande, estariam Uma outra proposta, que entendemos também ser po-
as mais representatívas e legítimas entidades sindicais, lêmica, é com relação à contribuição sindical, que, como
que representavam a resistência, representavam o avanço, foi dito aqui, serviu sim, devido à conjuntura atual, para
representavam a vontade de mudança da classe traba- manter sindicatos que não representavam, na realidade,
lhadora. a necessidade dos trabalhadores; serviu para estimular o
E eu pensava, acompanhando aquele movimento, se pelegulsmo, serviu para estimular a descaracterização 'Co-
tiv-esse caído uma bomba naquele momento e tivessem se mo uma entidade de luta em si, como uma entidade assís-
extinguido aquelas lideranças sindicais, que golpe nova- tencíalísta e paternalista.
mente seria dado no movimento sindical! E aí nós te- Nós entendemos que devido ao massacre que o movi-
ríamos mais vinte anos de inanição para o soerguímento mento sindical sofreu, durante todo esse período, hoje que
da repres-entatividade dos trabalhadores, para a conquista ele começa a se organizar e participar, devemos manter
das mudanças. ]f: bom lembrar também, e ontem eu disse essa contribuição e que os trabalhadores, entre eles, deci-
aqui, que a maioria das conquistas dos. trabalhadores não dam como será usada essa contribuição sindical. Porque,
foi feita por constituição, não foi feita pelo Governo, não pelos dados que temos - e a nossa proposta nOO se atém a
foi dada pelo empresário; o avanço dos direitos dos tra- esse detalhe, mas a nível de debates - essa contribuição
balhadores, que hoje temos, foi fruto de luta do movi- poderia ser utilizada para fundos de greve, para fundos
mento sindical, foi fruto de luta dos trabalhadores, atra- de campanha de criação e diversas outras propostas que
vés desse período. E a nossa preocupação, hoje, quando surgiram aqui, no sentido de 'colocar essa contribuição a
nós elaboramos e apresentamos aos Constituintes uma serviço dos trabalhadores.
proposta de organização sindical, por entendermos que,
na Oonstttuíção, deveremos garantir esse princípio de Entendemos que, no momento, a retirada da contrí-
liberdade 'e autonomia sindical para que os trabalhadores buíção sindical poderá afetar e vai afetar diversos síndi-
entre si tenham a liberdade de se organizar e de escolher cates, diversas entidades que representam os trabalhado-
a forma de representação. Propomos, entra outras coisas, res, no sentido da sua infra-estrutura, de garantir que ele,
que cabe aos. trabalhadores decidir sobre a forma e o realmente, tenha condições de efetivar a sua representa-
modo de organização dos sindicatos. Os trabalhadores ele- çOO. Nós temos aqui alguns exemplos, como o da Ordem
gerão o conselho de reconhecimento sindical que definirá dos Advogados do Brasil, que é segmental, onde cada asso-
o âmbito da jurisdição de cada sindicato. Propomos o ciado contribui com sua participação.
poder de greve e o direito de sindicalização a todos os
trabalhadores. Concluindo, Sr. Presidente, nós tivemos aqui a presen-
ça da Andes, propondo a liberação de autonomia sindical,
Com a preocupação de manter o princípio da unidade, e nós não tivemos condições de fazer essa pergunta, de
propomos que, na oonstíuíção, na mesma base territorial, fazer essa avaliação, no momento em que estivéssemos
sei a reconhecido aos trabalhadores o direito à constituição presentes. A Andes é uma Entidade Nacional de Docentes
do sindicato único por ramo de produção. O setor de de Ensino Superior, representa professores universitários,
serviços se organizará por categoria profissional, pois até e, sem dúvida alguma, trabalhadores brasileiros com ra-
organizações de nível superior, livremente criadas, rezam zoável nível de participação e de compreensão política.
esse princípio da unidad-e. NOO ê, na nossa opinião, a que representa a média dos
Sr. Presidente, Srs. Constituintes: entendemos que, trabalhadores brasileiros ou a grande maioria que foi cei-
quando falamos em liberdade e autonomia sindical, como fada, que foi perseguida e que, ainda hoj e, tem receio de
um ans-eio ·e uma reivindicação dos trabalhadores, esta- participar ou são impedidos de participar, porque temem
mos garantindo esse anseio, mas temos todo o cuidado e perder o emprego, temem ser 'COagidos dentro do traba-
preocupação de garantir isso na Constituição, para evitar lho; hoje a média da participação dos trabalhadores ainda
que a segunda forma a que os patrões, a que os empresá- é insuficiente e o exemplo claro e concreto que nós temos
rios ·e a que o próprio Estado têm, para impedir o avanço foi o primeiro de maio de 11987, onde, como já foi dito aqui
dos trabalhadores, que é provocar a sua divisão. pelo Constituinte Domingos Leonellí, a nossa situação, a
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 153

conjuntura política e econômica do Brasil, não é das me- do ser humano e se esquece que aqueles que estão tra-
lhores, muito pelo contrário, caminha e vai de mal a pior. balhando têm os mesmos sentimentos, são pessoas huma-
E no dia que é considerado de luta do movimento sindical nas compostas de alma e coração, e que também sabem
e dos trabalhadores, a participação e a própria organiza- chorar; por isso eu concordo, plenamente, para que te-
ção do movimento sindical - ainda se reerguendo do pro- nhamos sindicatos fortes, livres e soberanos. Quando eu
cesso de ditadura, do processo de regime militar, ainda falo de livres eu devo divergir um pouco daquilo que o
débil, em nossa opinião - um golpe nos sindicatos, atra- nobre Constituinte Valentim apresentava, há poucos ins-
vés da contribuição sindical ajudaria ainda mais a impe- tantes, referente à contribuição obrigatória. Nós temos
dir essa dínãmíea de partícípação dos trabalhadores, con- ouvido reclamos de muitos trabalhadores contra aqueles
tribuiria, ainda mais, para impedir que os trabalhadores e descontos dos dissídios, das diferenças, dos aumentos e de
que os sindicatos, os mais combativos, tenham condições um dia de trabalho durante o ano. Na minha opinião, e
de chegar aos trabalhadores. não apenas a minha, mas nós ouvimos aqui essa sugestão,
apresentada por federações de trabalhadores, as contri-
Quero lembrar, também, que a contribuição será um buições deveriam ser livres, e com isso nós vamos con-
baque, não nos pelegos, mas principalmente nos sindicatos seguir um sindicalismo mais forte, mais consciente, mais
mais combativos. E que os pelegos, na minha opinião, os responsável. Porque, quando o trabalhador contribui por
próprios trabalhadores de movimento sindical, a partir do sua livre e espontânea vontade, ele se sente mais inte-
momento que, com mais liberdade, vão sendo atropelados grado, e se sente parte maior do sindicato. Parece-me
por essa própria vontade de mudança, que os brasileiros que, tudo que é feito com obrigattoriedade, gera um certo
colocam em praças públicas, colocam nas suas votações e descontentamento e um certo atrito. Por isso eu defendo
nas suas eleições. Esses são os conteúdos das nossas pro- que todos sejam filiados, de preferência. Os que não opta-
postas e das nossas preocupações que apresentamos para ram por isso devem ser conscíentízados, pois todo bom
debate nesta Subcomissão. empresário, ou empregador, tenho certeza, vê com bons
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Concedo a olhos as classes organizadas. Na região que represento,
palavra ao nobre Constituinte Osvaldo Bender. por exemplo, não é uma região de indústrias, é uma região
de pequenos agricultores e eles têm muito a reivindicar
O SR. CONSTITUINTE OSVALDO BENDER - Sr. e é muito difícil aqueles pequenos produtores não serem
Presidente Srs. Constituintes: o sindicato ssem dúvida sócios, e, ~mbora não tenham aquele desconto obrigatório,
é a maior ~rma, ou porque não dizer a única arma do tra- eles contribuem, eles pagam. Podemos tomar municípios
balhador e nós gostaríamos que o sindicato pudesse ser daquela região, por experiência, através da própria esta-
livre e s~berano. Há poucos anos não havia o Sindicato dos tística, através de um levantamento feito, onde há esse
Trabalhadores Rurais e, hoje, principalmente, no meu es- sindicato e veremos que os trabalhadores, quer apenas
tado não há um município onde não haja um sindicato trabalhadores quer pequenos proprietários, que eles par-
orgaclzado pelos trabalhadores rurais, especialmente, pelo ticipam, ativamente. Isso ficou provado, mais do que
trabalhador e o pequeno propríetárío, que não passa, tam- nunca, no movimento que foi feito no dia 30 de março
bém de um trabalhador e, aliás, assim ele é considerado. passado, se não me falha a memória, onde houve protes-
Os s~us movimentos conseguiram algumas conquistas, em- tos, referente a reivindicações que dizem respeito à cor-
bora muito 'poucas, ainda pela luta que eles vêm man- reção monetária, muito elevada, que, aliás, incidiu sobre
tendo. Apenas no setor da aposentadoria, eles só conse- empréstimos, sobre investimentos feitos durante o Plano
guiram meio salário mínimo para os trabalhadores rurais Cruzado onde não havia, oficialmente, correção monetá-
acima de 65 anos. A luta é muito grande por todos esses ria. Pelo menos esta era a palavra do Sr. Ministro e do
sindicatos e eu sei que ela existe em todo este País, para próprio Presidente da República, que afirmava que corre-
que a categoria possa ser mais reconhecida, para que a ção monetária nunca mais, juros altos nunca mais. E,
mulher trabalhadora rural também possa fazer parte desse imbuído dessas afirmações, o nosso pequeno produtor in-
sindicato, aliás presenciei, e muitas vezes foi discutido, vestiu e se endividou e, agora, não tinha condições de
de que forma isso seria possível; se o esposo era membro, pagar, e não tinha condições porque a correção mone-
como ela poderia também fazer parte. Então, nessa área, tária incidiu sobre os seus empréstimos, com efeito re-
existe um vasto campo de reivindicações e de melhora- troativo, desde o dia em que fez o empréstimo. Esses mo-
mentos que devemos conseguir e me parece que a própria vimentos conseguiram eliminar a correção monetária eles
Constituição é uma forma de, pelo menos, fazer con- conseguiram também, através desse movimento, um preço
signar, embora, às vezes, exista no papel e a prática é melhor. Agora, em outros movimentos, referente ao plan-
outra. Mas ouvi, atentamente, também o Constituinte que tio do trigo, também em parte as suas reivindicações fo-
me antecedeu, e a minha opinião é por sindicatos plura- ram atendidas.
listas, regionais, porque o País é imenso e nós temos cos-
tumes diferentes. Embora seja uma Pátria única mas me Enfim, um sindicato é uma força, é a união e temos
parece que é a forma melhor para reivindicar, conforme que clamar pela união e, por isso mesmo, Sr. Presidente,
a situação e as necessidades que poderão ser maiores em Srs. 'Constituintes, deixo aqui o meu testemunho para que
uma região e diferente da outra. Então, parece-me que, eles possam ser livres evidentemente, e faço votos para
tudo ser dirigido por um único sindicato, ou uma central, que sempre sejam dirigidos com responsabilidade, com
não seria o que muitos trabalhadores desejam, prova disso consciência daquilo que pode prejudicar, daquilo que é
é que temos tantas centrais onde alguns estão filiados, demasiado, porque tudo que é demais para uma classe,
como a CGT, outros na CUT, e assim por diante. Mas, sem dúvida vai faltar para outra; temos que viver no
isso talvez não seja o maior problema para que possamos equilíbrio, como já afirmei por várias vezes, aqui, e repito
ter sindicatos livres, soberanos, e concordo plenamente mais uma vez, temos que ver toda a roda girar, e todos
quando também o Constituinte Domingos Leonelli propôs os brasileiros clamam e desejam um meio de vida digno.
que o sindicato fosse órgão de fiscalização, que tivesse Esses são os meus votos sinceros, o meu apoio e a minha
acesso aos locais de trabalho e isso vem, justamente, pres- solidariedade para todos os sindicatos. Faço votos que eles
tigiar o bom empregador, porque ele se sentirá até orgu- possam ser livres e soberanos, grandes e fortes e que con-
lhoso em poder mostrar como funciona, e que harmonia sigam todos juntos, trabalharem em paz, em harmonia,
existe no seu local de trabalho, e vai punir o mau empre- construindo com felicidade a grandeza desta Nação, que
gador que, muitas vezes, visa apenas o IUCTO e se esquece é onde nós vivemos, onde nós. moramos e todos nós dese-
154 Segunda·feira 2D DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

jamos isso para que possamos delegar aos nossos filhos estavam contidos e que foram acionados para intervir em
e aos nossos netos um País mais justo, mais humano e sindicatos, para impor o controle até mesmo da admi-
mais digno. Muito obrigado, Sr. Presidente. nistração dos recursos auferidos por essas entidades sin-
dicais. Acho que esta Constituinte, neste momento em
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Concedo que a classe operária, a classe trabalhadora no País se
a palavra ao nobre Constituinte Augusto de Carvalho. mostra como oportunidade singular, depois de quarenta
O SR. CONSTITUINTE AUGUSTO CARVALHO - anos que nos separam da Constituinte de 46, é o momen-
Sr. Presidente o fato recente da nomeação do Sr. Calixto to fundamental. Estão levantando uma questão, que eu
para integrar o Conselho Monetário Nacional é uma prova perguntei antes à companheira Vera, se estaríamos falan-
evidente dos métodos de computação que são aplicados do para as paredes, ou entre nós mesmos, na ausência
pelos governantes, no sentido de dividir o movimento sin- do Sr. Relator, que não poderia captar as nossas propos-
dical, no sentido de torná-lo cúmplice de suas políticas e, tas. Mas a Vera disse-me que está tudo sendo taqui-
principalmente, com o objetivo maior de aprofundar as grafado, está sendo gravado, e depois as notas taquigráfi-
divisões que grassam no movimento sindical. Eu acho que cas são passadas para o Relator. Porque se vamos ficar
a CGT, que tem no Sr. Ovídio Calixto um dos Vice-Pre- 30 vezes falando, até vinte minutos, sem controle de
sidentes ou integrante da cúpula, se descredeneíou peran- tempo, e sem ter um resultado prático posterior, seria
te a classe trabalhadora brasileira, quando, por uma po- perder tempo. Mas a Vera me disse que será tudo tra-
sição unitária, tomada entre as centrais sindicais designou duzido das notas taquigráficas, que serão passadas ao
numa lista, e entre eles o companheiro Walter Brelli, para nosso Relator, para conhecimento do pensamento de cada
integrar o Conselho Monetário Nacional, antiga reivindi- Constituinte.
cação sindical. E ela se descredenciou mais ainda, perante Sr. Presidente, eu queria dizer que nós não podemos
os trabalhadores, quando deveria, na minha opinião e na atravessar este momento histórico da elaboração das
opinião de boa parte dos sindicalistas deste País, recusar novas leis do País, sem tocar, de forma radical, na estru-
esse convite, uma vez que foi uma interferência do Gover- tura sindical fascista que vigora até hoj e. E, para isso, em
no, numa escolha que deveria ser autônoma, ser inde- nossa opinião impõe-se a inscrição definitiva do direito
pendente por parte do movimento sindical brasileiro. dos trabalhadores organizarem os seus sindicatos, como
Então, eu acho que esse fato recente dá para termos uma bem lhes aprouver e como bem decidirem suas assem-
amostra de que maneira o Estado procura captar, tra- bléias, com as propostas complementares de organização
zendo para o seu interior, buscando acumpliciados no de conselhos de trabalhadores que dêem a forma final de
movimento sindical, no sentido de aprofundar a divisão como funcionarão essas entidades. Mas o princípio fun-
da classe operária do movimento sindical brasileiro, para damental de independência conquistado, deve ser prin-
postergar e acomodar a luta de classes. É uma situação cípio auto-aplicável, sem necessidade de lei complementar.
semelhante que a gente vê, em toda a estrutura sindical
montada neste País, que, com o objetivo, exatamente, de Gostaria de registrar minha opinião, nesta questão,
amortecer a luta de classes, criou uma estrutura vin- que eu acho fundamental, e que divide o movimento sin-
culada, corporativa, trazendo ao leito do Estado as solu- dical brasileiro principalmente, em vista da tentativa do
ções que deveriam ser fruto do embate das forças que Governo, a toque de caixa, no momento em que se agrava
são contraditórias, que são conciliáveis, na minha opinião, a crise econômica do País, de desenterrar esse projeto de
entre o capital e o trabalho. Mas o Governo, a partir de Convenção 87. E sob os aplausos do General Evandro
Getúlio Vargas principalmente, procurou trazer ao leito de Souza Mendes, do SNI, o Ministro do Exército, de al-
do Estado, via estrutura sindical corporativa, e via mon- guns banqueiros e de algumas entidades patronais, entre
tagem de uma estrutura complexa da justiça do trabalho, outras entidades, foram cantadas loas à necessidade de
para criar a ilusão, na classe trabalhadora brasileira, de aprovação da Convenção 87. Não sei se nós deveremos nos
que é possível à justiça neutra resolver os embates entre aprofundar na discussão desses príncípíos ou dessas ques-
o capital e o trabalho. E daí a corrupção existente no tões, aqui, na Subcomissão dos Direitos aos Trabalhado-
movimento sindical, que já é quase secular, pelo menos res, mas, no mínimo, o que foi feito, que nós consideramos
data de meio século, quando nós vimos a sucessão de pele- uma afronta do Poder Central, do Poder Executivo, no
gos, notáveis e notórios, atravessando os gabinetes, ora momento em que a Constituinte discute os direitos dos
do Tribunal Superior do Trabalho, ora dos Tribunais Re- trabalhadores, a organização sindical, o direito de greve,
gionais do Trabalho, e até mesmo das Juntas de Conci- o Executivo querer aprovar, via Senado, depois da apro-
liação e Julgamento, usando da força que é decorrente vação pela Câmara, de uma proposta que traz essa diver-
da função que exercem, muitas vezes, na condição de gência no movimento sindical, e não é essa divergência na
dirigentes sindicais, para poder disputar eleições nada posição dos comunistas, nem é divergência em relação ao
lisas, eleições nada sérias. Vimos, então, Tribunais Supe- conteúdo encerrado pela Convenção 87. Todos nós, todas
riores do Trabalho e outras instâncias nessa farsa de as forças comprometidas na resistência contra a ditadura,
composição de uma Corte trabalhista, composta de inte- e agora na consolidação da democracia, em nosso País,
grantes do capital, composta por integrantes do trabalho nenhuma força, pode se colocar contra os princípios de
e por integrantes, neutros, do Judiciário que, por serem, liberdade, de autonomia e de independência dos sindicatos.
exatamente nomeados pelo Executivo, o Movimento Sino E aí eu queria registrar a nossa diferença, conforme falou
dical Brasileiro, por sua experiência, nunca pôde conside- o companheio Valentim, sobre a questão do imposto sin-
rar como séria a Justiça do Trabalho praticada neste dical. O imposto sindical tem que ser derrubado como
País. forma definitiva de colocar para fora essa delegada que
continua infestando o movimento sindical brasileiro. Foi
Acho que é todo um elenco de práticas espúrias de concílíação demais, desde 1943, quando foi instituído,
velhas estruturas, que têm atravessado incólumes esse houve adiamentos atrás de adiamentos, e nunca houve um
período de ditaduras, de Governos mais liberais. Mas, o enfrentamento claro e corajoso dessa questão, que per-
fato que eu queria chamar a atenção, é que essa estru- mitiu que depois de 64, principalmente, essas estruturas
tura sindical se mantém incólume desde a época de sua poderosas que foram montadas para fazer a vitaliciedade
proclamação, de sua consolidação. A ditadura nada pre- quase de mandatos do Sr. Ari Campista e de outros pele-
cisou acrescentar aos instrumentos de repressão e de gos que 'continuam acumulando na vida sindical brasileira.
autoritarismo. O apêndice nessa estrutura, ap6s o golpe Eu acho que o imposto sindical tem que ser abolido. Ai
de 64, foi apenas o recurso aos instrumentos q,ue ali cabe ao movimento sindical a forma dessa extinção, se é
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 155

gradativa, mas um projeto, numa proposta clara de extin- de 87, teremos a grande responsabilidade de nos posícío-
ção desse imposto compulsório, que é bancado pelo Es- narmos, no sentido de que se consagre definitivamente a
tado. Não basta apenas dizermos que os 20% que vão liberdade sindical, a liberdade de participação, e a extinção
hoje para o Estado são suficientes para garantir a auto- dessa obrigação do trabalhador contribuir para o imposto
nomia dos trabalhadores, deve haver - na nossa opinião, sindical. Isto tem que ser eliminado. Precisamos, definiti-
aproveitando, Sr. Presidente - a vontade expressa dos vamente consagrar a liberdade de organização para que
trabalhadores na contribuição para suas entidades sindi- possamos realmente, daqui para a frente, ter um sindica-
cais, e somente as lideranças sindicais comprometidas, lismo livre, um sindicalismo organizado, que possa efeti-
efetivamente, com os trabalhadores terão condições de vamente representar, com autencidade, os trabalhadores.
solicitar ou de ter o apoio da sua categoria, no momento
que for necessário equipar melhor as suas entidades, para Dizia o companheiro que me antecedeu, que se referia
embates com o capital. a respeito da composição da Justiça do Trabalho, do vota-
lato, da representação classista, na Justiça do Trabalho,
Mas, concluindo, Sr. Presidente, eu gostaria apenas de quero dizer, com a experiência, com a vivência, ao longo
dizer que neste momento histórico de inscrição dos direi- desses anos; eu vi muitas lideranças, - e isso é muito
tos fundamentais na Constituinte, nós não podemos dei- importante registrar -, daí muitas lideranças que se des-
xar, em nome de uma liberdade que muitas vezes é camu- figuravam se transformavam de lideranças autênticas, de
flada por parte de empresários, de interesses poderosíssi- verdadeiros condutores da classe trabalhadora, modificarem
mos que querem, em nome da liberdade, contrabandear o as suas posições, as suas condutas, no momento em que,
pluralismo sindical, a divisão dos sindicatos na base, nos numa lista tríplice, foram contempladas com o cargo de
ramos de produção, que vai fazer jogo apenas dos inte- vogal, na Justiça do Trabalho.
resses do capital, e não dos interesses dos trabalhadores
nós achamos que é fundamental inscrevermos, ao lado da Assisti às indicações, muitas vezes, em lista tríplice,
liberdade e da autonomia, da independência dos sindica- para representarem os trabalhadores, como vogais, e, por
tos perante o Estado, a unicidade na base de cada entidade, influências determinadas, eram escolhidos como vogais os
como fator objetivo, para preservar a unidade, que é fun- menos autênticos, os que menos representavam, com au-
damental, dos trabalhadores no embate contra o inimigo tenticidade, a classe trabalhadora. Isso eu registro, aqui,
comum, ou adversário, nesta luta permanente entre o porque é constatação, durante todo o tempo em que estou
capital e o trabalho. O pluralismo que pode desembocar vinculado a essas lutas sindicais, quer como trabalhador,
e o pluralismo partidário, inclusive, como a gente vê, nos quer como sindicalizado, quer como funcionário de sindi-
exemplos europeus, com os sindicatos que divergem até cato, quer como advogado de sindicatos, sempre defenden-
mesmo por questão de produção, por questão político- do o trabalhador. Nunca defendi uma reclamatória traba-
partidária, nós teremos a pulverização de várias entida- lhista de empresário, sempre defendi os trabalhadores, sem-
des, e esta proposta, na minha opinião, apenas faz o jogo pre estive ao lado dos trabalhadores. íl uma orientação
e beneficia o interesse do empresariado, que é sempre que me traçei, por isso eu falo com sinceridade, franqueza
coeso na defesa dos seus privilégios. Essa é a minha opi- e liberdade da constatação que vi. No momento em que
nião, que eu queria deixar para que o relator pudesse tam- se afigura a possibilidade de algum líder sindical ser
bém considerar no seu relatório, e que os companheiros vogal da Justiça do Trabalho, começamos a assistir mu-
pudessem aí questionar e aprofundar o seu debate. danças de posturas, começamos a assistir comportamentos
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Com o pa- diferentes e eu lhes posso dizer que aquele líder sindical
lavra o Constituinte Júlio Costamilan. que se nos afigurava seria um dos grandes condutores,
passa a ser uma pessoa que não mais se interessa, com
O SR. JÚLIO COSTAMILAN - Neste meio século de primazia, pela defesa dos interesses da classe trabalhadora
vida, eu tive a oportunidade de participar da luta sindical, que represento. Os fatos aí estão, a situação aí está, não
como empregado sindicalizado, como empregado do sindi- vou falar nos tribunais e dos representantes classistas, essa
cato, posteriormente, e, definitivamente, depois, como advo- questão da representação deveria ser repensada, para que
gado do Sindicato dos Trabalhadores, dez sindicatos de se desse uma orientação, no sentido de que os sindicatos,
trabalhadores, da minha cidade, com base territorial em ao indicarem os seus representantes, não indicassem listas
6 ou 7 municípios da região. tríplices, ou de outra espécie, mas indicassem aqueles que,
Acompanhei, ao longo desse tempo todo, a luta sindical. realmente, devessem ser o vogal, o representante da classe
Antes de 64, depois de 64, e, agora, depois de 84. A luta, trabalhadora nas Juntas de Conciliação e Julgamento, nos
a reivindicação marcante que sempre se registrou foi o Tribunais Regionais e no Tribunal Superior do Trabalho.
dado do desatrelamento do sindicato do Ministério do Tra- Para encerrar, Sr. Presidente, eu quero dar a minha
balho e do Governo. Pela sua liberdade, e não foram poucas posição, não de hoje, mas de sempre, pela liberdade sindi-
- eu dizia há pouco ao companheiro - não foram pou- cal, pelo sindicalismo livre para que possa, soberanamente,
cas às vezes em que se redigiram manifestos, antes de 64 defender as categorias que representam, e, sobretudo, ca-
e, depois mesmo, sempre tendo como palavra de ordem, minharem no sentido da conquista cada vez maior, dos
a liberdade sindical, o desatrelamento do sindicato do Mi- direitos que têm os trabalhadores de ainda chegar, para
nistério do Trabalho, e contra o imposto sindical. que se possa dizer que alcançaram um estágio de vida que
Ontem, chamou-me a atenção a manifestação do com- realmente se constitua num estágio de vida justo e huma-
panheiro Valentim, quando sustentava que a contribuição no, como merecem todos os trabalhadores.
sindical deveria ser mantida. Ora, eu entendo que a ma- O SR. PRESIENTE (Geraldo Campos) - Com a pa-
nutenção da contribuição sindical é a manutenção do atre- lavra o Constituinte Domingos Leonelli.
lamento do sindicato ao Ministério do Trabalho e ao Go- O SR. CONSTITUINTE DOMINGOS LEONELLI -
verno, porque vincula. No momento em que a contribuição Sr. Presidente, eu gostaria de assinalar, aqui, alguns pon-
sindical se efetiva, ela já obriga a que os sindicatos mano tos, por que me sinto na obrigação de dar a minha melhor
tenham as suas contabilidades vinculadas, conseqüentemen- contribuição ao relatório, ao anteprojeto, à compreensão
te todos os demais aspectos do sindicalismo ficam atrela- desta Subcomissão. Acho que nós estamos tratando, hoje,
dos ao Ministério do Trabalho. Então, continua tudo como ne um tema que está no fio da navalha, entre a questão
antes, coisa que nós precisamos, nesta Constituinte, modi- do desatrelamento, da autonomia, e da manutenção da con-
ficar. Acho que depois de tantos anos, desde a Constituinte quista da unicidade dos trabalhadores. Temos que partir
de 46, que manteve esse atrelamento, nós da Constituinte de dois conceitos anteriores: o que os trabalhadores deste
156 Segunda·fei~a 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemenfo) Julho de 1987

País querem, o que a democracia indica, o que é melhor, vismo quase que absoluto, também, queremos uma parti.
do ponto de vista da saúde democrática; é do desatrela- cípação na sociedade. Para que se possa participar da
mento do sistema sindical, do Governo, do Ministério. sociedade, como um todo, para que Os trabalhadores te-
nham representação no conjunto dos mecanismos sociais
Acho muito perigosa a adoção de uma visão coopera- e governamentais, é preciso que as regras sejam estabe-
tivista absoluta em que desvincula o sindicalismo também lecidas pelos dois lados; para que os trabalhadores tenham
da sociedade. Uma coisa é o vínculo do movimento da representação nos mecanismos, nas estruturas socía's e
estrutura sindical com o Ministério do Trabalho e com a governamentais, é preciso que sua organização obedeça a
estrutura governamental. A outra coisa é a sua desvíneula- um mínimo de normas também sociais, para que haja
ção da sociedade como um todo. Entendo a sociedade como um mínimo de encontro nisso. Creio que vamos ter que
um todo que a maioria dos brasileiros tem o direito de ter uma legislação sindical, uma legislação do trabalho
opinar sobre o movimento sindical e o faz através de leis. que assegure a autonomia, que assegure a liberdade, que
A sociedade se manifesta, Se organiza, em qualquer civi- impeça o Governo de inteferir. Mas é preciso ter normas
lização, em qualquer regime, com suas leis. Então, o con- gerais mínimas. Sei que, aparentemente, não há diver-
junto da sociedade tem o direito de indicar a maneira pela gência a esse respeito, mas quando começamos a exa-
qual essa sociedade se organiza em outras áreas. Acho que minar as questões concretas, começamos a examinar essas
isso não é de se imaginar uma sociedade cooperativista, onde divergências. Quem deve ser o representante dos traba-
cada setor decida sobre a sua própria vida de maneira lhadores no Conselho Monetário Nacional? Um represen-
absoluta, desvinculada da sociedade. É uma visão que até tante da CUT ou da CGT? Assisti a uma terceira orga-
já foi expressa, se não me engano, na década de 30, um nização sindical e consta, hoje, que podemos criar uma
pouco pelo integralismo, que era coisa da sociedade por quarta organização sindical nacional. Então, sou favorável
corporações, quer dizer, você tinha os trabalhadores de que a sociedade deva se manifestar como um todo, sobre
um lado, trabalhadores de tal tipo de outro, sem nenhuma todos os assuntos, inclusive sobre a questão sindical. Te-
interferência da sociedade. Acho isso impossível. É ímpos- mos esse corporativismo absoluto, 'esse absolutismo cor-
sível e eu vou dar exemplo dessa impossibilidade: sou con- porativista. Temos que dar toda liberdade sindical, toda
tra o atrelamento, nenhum atrelamento, mas eu quero que liberdade aos trabalhadores, temos que assegurar isso,
a lei assegure a honestidade sindical. Eu me sinto, não temos que assegurar nenhuma interferência do Governo,
como um trabalhador, mas como o homem, como o cidadão mas temos que assegurar normas gerais que não seí a o
comum, preciso dizer ao meu País, que eu quero que os reconhecimento aos trabalhadores do direito de consti-
sindicatos sejam únicos por setor de produção, de traba- tuição de sindicato único. Porque acho que a sociedade
lho. Vou adiante até da proposta do PC do B que reco- pode se preservar de um pluralismo sindical, que a maio-
nheee aos trabalhadores o direito da constituicão dos sino ria da sociedade não quer, determinando que os sindicatos
dicatos únicos. Não! A sociedade tem o direito de deter- sejam únicos, por ramo. Então é preciso que seja lei cons-
minar, de assegurar essa necessidade que é uma conquista titucional, se] a da Lei maior e das leis menores.
da sociedade como um todo. E é nesse sentido que estou Esta é a questão de fundo que fiz questão de levantar,
colocando questões que são delicadas para a nossa com para deixar bem claro, que uma coisa é desvinculação, o
preensão. Por exemplo, eu tenho uma única restrição à desatrelamento ao Governo, outra coisa é o inevitável
Convenção 87, é possibilitar o sindicato por fábrica. Essa atrelamento à sociedade. A vinculação à sociedade é dese-
a restrição objetiva que eu tenho. Não posso ser contra jável, o que é indesejável é o atrelamento ao Governa.
a Convenção 87 como um todo, e ao mesmo tempo, pre-
tender um total desconhecimento, uma total autonomia Por fim, decorrente ainda deste tema, já colocado
corporativa de qualquer setor da sociedade para decidir aqui, gostaria de falar sobre a questão da contribuicão
sobre sua própria sorte. Acho que a sociedade tem o dí- sindical. Ouço dos sindicalistas do sul, do meu País e dos
reito de influir no conjunto de trabalho, inclusive na ques- homens ligados ao trabalaho, dos homens, sincer~mente
tão da estrutura sindical, o Governo é que não tem esse defensores do trabalho, como é o caso do Deputado JúI:o
direito. Costamilan e sindicalistas, como o companheiro Augusto,
essa investida contra a contribuição síndícal que tem sido
Nesse sentido, quero insistir muito no exemplo que realmente, um dos instrumentos do atrelamento, mas tem
foi citado pelo Deputado Augusto Carvalho. O Depu- sido também o elemento que víabílízou os sindicatos ru-
tado reclama, com razão, que o Governo indicou para o rais de todo o Nordeste. Acho que dificilmente os síndí-
Conselho Monetário Nacional, o Sr. José Calixto. Muito cates rurais, que temos hoje no Nordeste, teriam se tor-
bem! De um lado o sindicalista Augusto Carvalho nado realidade, não fosse a contribuição sindical. As ca-
reclama que seria o movimento sindical quem deveria tegorias que não têm a força dos metalúrgicos, dos ban-
escolher o seu representante e não o Governo - foi isso cários, dos petroleiros dificilmente se organizariam sem
que entendi da observação. Sim, tudo bem! Mas que o empurrão inicial, sem a contribuição, que é uma con-
movimento sindical? Os Senadores exigem participação tribuição guiada pela sociedade. Acho que a formulação
nos órgãos de Governo e com razão, é fundamental colo- que o PC do B faz, aqui, sobre a contribuição sindical
car naquele Conselho - que é mais um conselho de ban- corrige, em grande parte, a deformação. Diz que a con-
queiros, mais do que o Conselho Monetário Nacional - tribuição sindical será descontada em folha de pagamento,
representantes, mais do que um até, um é pouco, porque depositada no Banco do Brasil, que a repassará ao efe-
quantos banqueiros tem lá? Um é pouco. No entanto, tivo sindicato. Acho que é preciso assegurar que essa
quando se coloca a questão: quem escolha? Como seria contribuição sindical não seja um instrumento de atre-
possível, sem unicidade sindical, sem haver uma central lamento, mas acho que ela ainda seja necessária à estru-
única dos trabalhadores, central única mesmo e não ape- tura débil, frágil do sindicalismo no Nordeste, principal-
nas a que tem o nome, mas que tem outra ao lado que mente, que ela não seja controlada pelo Governo, que
é a CGT, decidir quem é o representante, digamos, ela seja repassada automaticamente, que seja do sindi-
para o Conselho Monetário Nacional, poderíamos ín- cato e não do Governo.
dicar mais de um. Então, a CUT, indicava um, Era isso que eu queria colocar.
e a CGT indicava outro, mas na hipótese de haver apenas
um, que fosse apenas um representante dos trabalhadores O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Concedo
do País, como um todo, e um outro representante dos a palavra ao nobre Constituinte Paulo Paim.
patrões. Como é que isso se verificaria? Ao mesmo tempo O SR. CONSTITUINTE PAULO PAIM - Sr. Presiden-
que queremos uma autonomia completa, um corporatí- te, vou começar minha intervenção, colocando de uma
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 157

forma fraternal, já que entendo que está visto e claro que e não é filiada à Central única dos Trabalhadores, a maior
temos duas visões no movimento sindical. Quanto à posi- organíação sindical de Estado, que se chama CPES (Cen-
ção em relação à liberdade e autonomia sindical, e vou tro dos Professores do Estado), tem núcleos em quase to-
começar por onde o Constituinte Leonelli falou, no que das as cidades do Estado. É o movimento síndíeal mais
tange ao Imposto Sindical. organizado do Rio Grande do Sul e corre totalmente fora
do Ministério do Trabalho, é o princípio total de liber-
O nosso entendimento é que o Imposto Sindical já dade e autonomia sindical. É o sindicato mais organizado
deveria ter sido extinto há muito tempo, não deveria ainda politicamente, mais forte, mais contundente nas greves,
estar em vigência e não contribui em nada, na minha inclusive financeiramente, e vive das contribuições dos
concepção, para o crescímento do movimento sindical. E associados.
a nossa proposta é muito clara; temos que assegurar que,
com a extinção do Imposto síndíca), os empregadores res- Não quero me estender, acho que os trabalhadores são
peitem a decisão da assembléia dos próprios trabalhado- os mesmos em qualquer parte do Brasil ou do mundo, é
res. Se eles, decidirem em assembléia que deva ser reco- aquele velho discurso que a classe operária é internacio-
lhido para os corres do sindicato, seja um dia, dois ou três nal, continuo tendo esse entendimento. E repito a minha
dias, eles têm que descontar. No meu entendimento, é convicção, ao Constituinte Leonelli, que se extinguirmos o
muito grave o sindicato não ter capacidade sequer de fa- Imposto Sindical, os sindicatos - no meu entendimento-
zer uma assembléia da sua categoria. Acho que não pode- bem pelo contrário da sua argumentação - respeito a
mos manter aqui uma posição paternalista, no sentido de posição de V. Ex. a - terão um fundo de caixa muito maior
que este ou aquele sindicato poderá desaparecer, se acabar que têm com o Imposto Sindical, uma vez que 'Consigamos
o Imposto Sindical. O mínimo de obrigação consultar a
é
assegurar aqui, na Constituição, que os empregadores de-
sua categoria, se deve ou não descontar para os cofres das verão respeitar a decisão da assembléia dos trabalhadores.
entidades, e assegurar - já temos projeto nesse sentido, Se conseguirmos fazer respeitar a assembléia dos traba-
a nível nacional - que o empregador respeite as contri- lhadores no que tange às contríbuíções sindicais, eles não
buições sindicais dectdídas pela assembléia dos trabalha- terão somente um dia, poderão ter um dia, dois, três, en-
dores. Com isso, a avaliação que faço - inclusive com fim, quantos dias a assembléia assim o decidir.
ampla discussão no Rio Grande do Sul - é que bem ao Fui breve, sucinto e acho que não mexi na questão
contrário, os sindicatos passarão a ter muito mais cruza- polêmica maior.
dos do que têm hoje, vão estar muito mais fortalecidos.
Isso, quanto ao Imposto Sindical. O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Concedo a
palavra ao nobre Constituinte Mário Lima, Relator desta
Vou tentar ser o mais breve possível. Subcomissão .
Segundo: já eoloqueí aqui, em outra oportunidade, que O SR. RELATOR (Mário Lima) - Sr. Presidente,
eu entendo que não será a Constituição que vai dizer se Srs. Constituintes. Alguns companheiros demonstraram
devemos ou não devemos aprovar a Convenção 87. Enten- curiosidade quanto ao posicionamento des-te companheiro
do que os princípios dessa convenção são até defendidos que, eventualmente, é o Relator, e para desfazer essa
amplamente pelo movimento sindical, com algumas restri- curiosidade vou começar pelas palavras do companheiro
ções. Eu, particularmente, e a própria Central única dos Constituinte Domingos Leonelli. Acho que S. Ex.a abor-
Trabalhadores, defendemos a Convenção 87, mas não vou dou um tema de muita profundidade. Há companheiros
entrar aqui no mérito da questão. O que entendo que do movimento síndícal que são corporativistas do lado
temos que ter assegurado na nova Constituição, com muita sindical, mas não aceitam que outro segmento da socie-
firmeza e clareza, é a questão da liberdade e autonomia dade seja corporativista. É preciso que tenhamos muito
sindical. Claro que também entendo que algumas normas cuidado com isso. Ele pretende ser corporatívísta, mas não
deverão existir no futuro, inclusive já falei hoje que existe admite que outro segmento da sociedade o seja. Se há
uma discussão no movimento sindical sobre um código do quem defenda liberdade e autonomia sindical- permitam
trabalho, e que essas normas deverão ser feitas com uma a imodéstia - tem que definir igual a mim.
ampla discussão do movimento sindical. E eu coloco bem Nos últimos trinta anos em que vivi o dia-a-dia do
clara a minha posição, sou favorável ao sindicato por movimento sindical, neste País, sempre existiram duas
ramo de produção, sou a favor da unidade da classe tra- estruturas: a formal e a de fato. Existem aqueles que
balhadora, acho que a questão da palavra unidade nin- sabem das coisas por ouvir dizer e aqueles que sabem das
guém é dono dela, acho que a classe trabalhadora é que coisas por saber fazer, por ter feito. E há, também, o
é dona dela, e tem que lutar para construir essa unidade. problema da verdade que só precisa ser debatida quando
Se, no futuro, vamos ter somente uma central sindical ou não está do nosso lado, porque quando está do nosso lado
não, para mim tem que ser uma decisão da própria classe é absoluta e não cabe muita discussão. E vemos, cons-
trabalhadora. E lembramos que em diversos países do tantemente, esse erro, posso admitir que talvez também eu
mundo onde o princípio da liberdade e a autonomia sin- cometa esse erro. Quando achamos que encontramos a
dical estão assegurados, existe somente uma central sin- verdade, não aceitamos muito debate, mas quando esta-
dical. Eu dizia outro dia e repito algumas que lembro de mos do lado de lá, vamos ter que debater, vamos ter
cabeça: na Argentina é assegurada a liberdade sindical, que ir às assembléias, vamos fazer votação.
existe somente uma central sindical, a COB; da Bolívia, é
incontestável, no meu entendimento, uma das maiores Hoje, os dois grandes problemas que suscitam debate
centrais combativas do mundo, são assegurados os princí- no meio do movimento sindical brasileiro, os dois mais
pios da liberdade e autonomia sindical e há somente uma importantes, a meu juízo, são os do imposto sindical e da
central sindical. No Uruguai a mesma coisa. Pegando os unicidade, porque liberdade e autonomia sindical todo
países mais próximos, poderíamos desenvolver aqui uma mundo quer. A meu juízo - como disse o companheiro
série de países, não tantos quanto colocou o Ministro Leonelli; com muita propriedade - é preciso desvincular
Pazzianotto, até tenho dúvidas sobre algumas por S. Ex.a os destinos dos sindicatos do governo eventual. Nisso todo
colocadas. mundo concorda, porque hoje o Governo que aí está é do
PMD~! amanhã,. nu;m país democrático, você tem que
Nesse sentido é que entendemos e gostaríamos de dar admitir a alternânoía dos partidos no poder poderá ser
um exemplo: temos no Rio Grande do Sul, inegavelmente, do PFL, do PTB, do PT. Se se é realment~ democrata
158 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

temos que admitir que qualquer partido que exista no País da qual resultou 200 demissões. Companheiros, precisa-
pode ganhar a eleição, porque quem vai decretar, quem mos ter muito cuidado. Esse sindicato do qual hoje sou
vai para o poder não é ninguém senão o povo. Então o presidente, depois de ter sido afastado dele, demitido,
que é que acontece? O que todos nós queremos? Funda- cassado e preso, em 1964, ao obter a anistia em 1969, im-
mos um sindicato de petroleiros na Bahia, o primeiro do petrei mandado de segurança, retornei à empresa, e na
Brasil, o Governo disse o seguinte: "Aqui vocês não vão primeira eleição sindical que houve eu me candidatei, e
fazer um só, vão fazer dois." E nós tivemos que fazer a minha categoria me elegeu por maioria absoluta.
dois. Então o que queremos? Queremos uma lei que per-
mita aos trabalhadores criarem os sindicatos que dese- Desde 1964, que não se conseguia quorum no primeiro
jarem. Se disserem: "vamos criar um sindicato". S6 um escrutínio e dessa vez houve quorum, e a nossa chapa
sindicato será criado! Isso é autonomia sindical. Na obteve mais de 2/3 dos votos. Pareceu-me que, em termos
Bahia, por obrigação do Governo, que interpretou uma sindicais, a nossa posição tem um respaldo de base, porque
lei, temos dois sindicatos de petroleiros, quando Só que- temos um sindicato que pode viver sem o Imposto Sindi-
ríamos a criação de um. cal, podemos viver tranqüilamente sem o imposto. Acho
que temos de pensar nesse assunto com mais profundi-
O SR. CONSTITUINTE PAULO PAIM - Os petrolei- dade. Há muito sindicato autêntico, não é só pelego que
ros têm dois sindicatos e os patrões têm um só. vive à custa do Imposto Sindical não, tem muito sindicato
O SR. RELATOR (Mário Lima) - Ligados à área de aí, conversando muito, porque, quando o Imposto Sindical
petróleo e derivados te~.os quatro .sindi~atos ~e t.rab~lha­ cair, de vez, vai ter dificuldade para manter o grau de
dores na Bahia. O que e lSSO? É a fflosofía do síndíealismo eficiência atual. Sou relator do meu sindicato e se depen-
que f~i criada, de maneira pa~r~al, por Getúlio V~r~as, der só do sindicato de que eu sou Presidente, podia acabar
onde se dá a preferência ao síndíeato de base munícípal hoje, temos uma grave responsabilidade. Se a coisa sai
e em segunda alternativa, intermunicipal para, depois, es- errada os culpados seremos nos.
tadual e :por fim nacional. Foi uma legislação copiada da Eu acho que esse assunto comporta um debate, um
Itália e que hoje já não mais existe lá. Então o que que- olhando o outro dentro dos olhos, trazendo o maior núme-
remos? É autonomia para isso. Não se pode sonhar com ro possível de companheiros aqui, filiados às diversas
o corporativismo. O companheiro Leonelli, a meu juízo, foi centrais sindicais, já que todas prestam serviço à classe
de uma felicidade total, na parte filos6fica da questão. .operáría. Todas. Eu vivi a época da CGT, sou amigo
Vamos viver fora da sociedade? E se os banqueiros exi~i­ pessoal do velho estivador que todos conhecem e a última
rem serem corporitivistas - eles já são! Mas ~ lei nao passeata que fizemos em 63, quando comemoramos os 10
lhes dá esse direito. Mas se exigirem? E os motorístas etc.? anos da Petrobrás, a CGT foi à Bahia, tudo isso se alicer-
Isso não pode existir, é loucurol Agora, autonomia todo çava nas duas estruturas, não na legal, mas na permitida,
mundo quer. Por exemplo, hoje existe algumas, ?ezenas na que é hoje, porque, hoje, nós temos duas estruturas:
de sindicatos de bancários, neste País. É aos bancáríos que a permitida e a legal. Acho que a grande tarefa desses
cabe dizer se querem, ao invés de 20, terem só cinco. Essa dirigentes sindicais é criar uma legislação que não será
tem que ser uma decisão dos bancários, se quiserem au- pronta e acabada, mas uma legislação que permita ao
mentar para 60 também terá que ser uma decisão deles. sindicalismo brasileiro existir, de fato e de direito, para
Vou dar outro exemplo: nós, de petróleo - já disse antes, quando mudar o Governo, o sindicato não ficar à mercê
mas vou voltar a repetir - para fazermos um acordo com da ideologia do governante.
a empresa Petróleo Brasil S/A, precisamos acionar 32 sin-
dicatos. Nós não temos ainda um contrato coletivo de tra- Eu disse, aqui, ao Ministro Almir Pazzianoto que o
balho. Os companheiros do México, para fazer um a~ordo movimento sindical viveu, precisamente, de 7 de setem-
com a Pemex, Petróleo Mexicano SIA, só precisam acionar bro de 1961, quando assumiu a Presidência da República
o sindicato. Eles têm, desde 1959, um acordo, um contrato o cidadão João Belchior Marques Goulart, até o dia 1.0 de
coletivo de trabalho e a situação deles, em termos profís- abril de 1964, ampla e total liberdade. Mas as leis, como
sionais é largamente superior à nossa, em termos de pro- disse o Ministro aqui, ficaram em desuso, não foram revo-
teção ~o trabalho ao salário, de garantias, etc. Isto aí gadas. Houve um golpe militar e o governo forte que veio
é uma constatação prática. Em 1962, eu era secretário do aí arrazou com o movimento sindical. A nossa grande
sindicato fiz contato com o México e trouxe aqui um com- tarefa é marcar alguns pontos convergentes, e não pre-
panheiro 'do sindicato de petróleo dos trabalhadores mexi- tenderemos fazer, agora, uma legislação definitiva, final,
canos. Quando veio o golpe militar de 64, eu sofri um como se estivéssemos vivendo num País pronto e acabado,
IPM, porque eu trouxe, na visão dos meus inquiridores, porque essa discussão pode nos levar a não fazer nada. A
um agitador comunista do México para o Brasil. Eu trou- minha geração passou, não tem nenhum dirigente sin-
xe um dirigente sindical altamente especializado, experi- dical do meu tempo, que tenha voltado ao comando do
ente, que nos transmitiu uma experiência muito grande. seu ;indicato, eu voltei porque era o mais jovem de todos.
São estas questões que temos de debater com mais pro- A minha geração passou. E o que é que deixou? Deixou
fundidade. Quando alguém se arvora dono da verdade, eu muita luta, muitas vitórias, mas o que é que deixou no
fico pensando: será que o trabalhador que está lá em campo de instituições? Nada. Eu dizia, naquela época, que
baixo, com pouca chance de opinar, de discutir, será que estávamos nos dividindo por bobagens, que não estávamos
ele está querendo o mesmo que nós? Por que não nos deixando nada para as gerações futuras. E Deus me
aprofundarmos nessa discussão? Porque são duas ques-
tões decisivas no movimento sindical brasileiro. ajudou, e veio o futuro. Todo"" os líderes daquela época,
o grande Riam, por exemplo, que desbancou o peleguísmo
outra questão do movimento sin~cal:. sou, atualmen- da CNTI, o último congresso foi na base do revólver e de
te, presidente de um síndícato que ajudei a f~dar, que policiais, à paisana, defendendo o ponto de vista da eNTI.
fez a primeira greve de trabalhadores de petróleo, n~ste E Riani, esse bravo companheiro de Minas, que o golpe
País. Em que pese o grau de adiantamento que o síndica- militar quase trucida, derrubou aquela turma que traiu
lismo paulista sempre teve, em relação ao re.sto. do Bra- os 'trabalhadores. Fórum Siindical de Santos, quem é que
sil não foi em São Paulo que aconteceu a primeira greve não se lembra? Foi ali que eu comecei Os meus primeiros
de' trabalhadores de petróleo no Brasil, foi na Bahia. Em passos. O advogado sindicalista de lá era o paí de Domin-
São Paulo aconteceu três anos depois. A primeira greve gos Leonelli, Dante Leonelli, eram companheiros que
foi na Bahia em 1969; a segunda foi no Município de participavam das reuniões com o mesmo entusiasmo de
Mauá, em firls de 1963, 'greve esta que foi mal sucedida e um operário, dedicavam mais horas das suas vidas ao
Julho de 1987 OIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 159

sindicato do que muitos de nós. Mas, essas coisas pas- neíra corporativa, ele perde força e se isola. Toda greve
saram, e a grande tarefa da nossa geração, eu que sou quando esquece que nenhuma categoria profissional vive
mais velho e os valorosos companheiros que são mais isolada da sociedade, fracassa. E, com a experiência que
jovens, é começar a criar uma estrutura legal para esse eu tenho, desafio quem me prove o contrário. Em 64, o
sindicalismo brasileiro. Se essa estrutura não sair pronta País sucumbiu por quê? Porque o imperialismo americano
e acabada neste início, nós vamos criar. Não vamos ficar se juntou com a Igreja, com as Forças Armadas, com o
nessa preocupação de fazer tudo pronto e acabado. Penso empresariado e nós nos dividimos por incompetência. O
que esses dois temas se dividem. Os companheiros que movimento sindical se dividiu por incompetência! Por
defendem a unicidade têm razão e os que defendem a plu- isso houve o golpe. Eu já começava a me preocupar com
ralídade também têm razão. certas coisas que estavam acontecendo neste País. E é
muito fácil dividir, somar é que é dificil. Toda vez que
Eu não costumo personalizar as coisas. Não acho que você pretende somar, você tem dificuldade. Dividir é a
Os dois estej am dizendo heresias, penso é que cabe um tarefa mais fácil do mundo. Por isso, não gosto da idéia
debate mais profundo. Eu, por exemplo, costumo errar de permitir que numa mesma categoria, numa mesma
e costumo também acertar, mas deixo sempre bem clara a fábrica exista mais de um sindicato, não duvido da hones-
minha posição. Para a realidade brasileira, hoje, a unici- tidade e da boa intenção de ninguém, mas duvido que
dade sindical será mais útil. Mas, se me provarem que não estejamos correndo mais riscos.
eu estou errado, eu mudo a minha opinião. Eu estou dando
um exemplo. No meu setor, hoje, nós temos 32 sindicatos, Tenho uma posição pessoal, mas no meu relatório
se acabar a unicidade, no próximo acordo com a vou colocar a posição da maioria desta Subcomissão. Neste
Petrobrás nós teremos 62 sindicatos. E saibam os Srs. que, relatório não irá constar a minha posição pessoal, irá
este ano, ainda não fechamoa o nosso acordo sindical, constar a posição da maioria, e uma maioria que tem se
porque não conseguimos ainda que os 32 sindicatos apro- mostrado cônscia das suas responsabilidades, que tem par-
vassem. Os marítimos aprovaram a parte deles, mas o ticipado. Porque se eu estivesse numa Subcomissão de
pessoal de terra - são 16 sindicatos - 10 aprovaram, 6 omissos, eu poderia impor a minha vontade, mas não é
não aprovaram. Então os trabalhadores estão privados, esse o caso.
desde março, de receberem o reajuste. ontem mesmo, eu
mandei um telegrama ao presidente da empresa, interpe- Era isso que eu queria dizer aos ilustres companheiros.
lando-o sobre isso. No nosso setor, por exemplo, a plurali- Muito obrigado.
dade sindical será catastróüca, Eu dou como exemplo o
México, que está ai são e vivo para atestar. Eu vou tentar O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Eu estou
conseguir um acordo coletivo dos trabalhadores do Méxi- inscrito e ainda temos o companheiro Célio de Castro.
co para dar aos meus ilustres pares e vou mostrar quão Eu gostaria de, sobre o tema em debate, dizer da minha
incipiente é o nosso acordo coletivo com a Petrobrás. experiência, talvez bem menos profunda do que a da
Dito isso, quero mais uma vez afirmar que antes de maioria dos meus companheiros de Subcomissão, eu par-
dar o meu relatório como concluído, - isso não é uma ticipei do movimento dos trabalhadores em 1960, tive a
exigência regimental, mas, para praticar os princípios minha carreira interrompida em 1964, com episódios idên-
que defendo - vou submetê-lo a todos os 21 membros ticos ao do nosso relator. Fui preso, impedido de con-
da Subcomissão. Quero ouvir, quero debater, e tenho cer- tinuar à frente da entidade que presidia. Mas, foi graças
teza que o meu companheiro, Presidente, que, a esta altu- àquela atuação, e disso eu estou profundamente conven-
ra, já conhecemos de perto e passamos a admirá-lo, irá cido, que aqui estou, representando o povo do Distrito
me ajudar nisso. Eu faria uma ponderação e pediria ao Federal. Entendo que entre o Brasil de 1946 e o de 87, há
Presidente desta Subcomissão que me aiudasse. Estou uma profunda diferença no que se refere aos trabalha-
indo a Salvador agora, por motivo de força maior - estou dores. Cresceu muito a nossa classe operária, surgiram
com um neto na UTI do hospital, e sendo minha filha novas categorias, como a dos assalariados agricolas, os
desquitada, sou pai e marido também - tenho certeza que bóias-frias, hoje em número de 8 milhões, e nós teremos
o Presidente me substituirá, que proverá as duas fun- hoje, à tarde, aqui mais dados trazidos pelo presidente da
ções. Meu relatório, ou bem ou malfeito, antes de ser Contag, filiados às organizações sindicais. E seguramente
encaminhado formalmente ao Presidente, será mostrado a Constituição de 87 deverá ser bem diferente da que se
a todos os companheiros, que queiram vê-lo. escreveu em 46, no que se refere ao capítulo da ordem so-
cial e dos trabalhadores. Hoje atuam novas leis sociológi-
Companheiros sindicalistas, advogados sindicalistas, cas, em função das mudanças ocorridas em nosso País.
gosto de distinguir o advogado trabalhista do sindicalis- Diferenças profundas ocorreram também no que se refere
ta. porque o advogado trabalhista é aquele que conhece as às lideranças, de um peleguísmo institucionalizado àquela
leis do trabalho, hoje trabalha para um empregado, altura. Nós hoje temos muitas lideranças autênticas, com-
amanhã trabalha para o patrão. Quando ele pega mais prometidas realmente com os trabalhadores. Eu gostaria
notoriedade vai para a multínacíonal, vai defender mul- de me definir sobre os dois temas principais do debate
tínaeíonal, é trabalhista também. O que é advogado sin- de hoje: a questão da unidade sindical ou da pluralidade
dicalista? É aquele que acha que tem que colocar o seu e a questão da contribuição sindical. Eu me filio àquela
conhecimento a serviço do sindicato dos trabalhadores. corrente que, me parece, corresponde à maioria do pen-
Dou muito valor a estes, porque, inclusive, nosso sindica- samento da nossa Subcomissão. Acredito que a unicidade
to deve muito a um advogado sindicalista já morto, cha- é o preceito fundamental que nós devemos defender. Tam-
mado Valter da Silveira, como o Forum Sindical de San- bém apresentei proposta nesse sentido. Faço-a com todo o
tos, que foi uma das maiores entidades sindicais, deste respeito com aqueles que não pensam dessa forma. Mas
País sucumbiu por quê? Porque o imperialismo americano estou profundamente convencido de que a classe domi-
problema do imposto sindical e da organização sindical, nante brasileira representada pelo seu empresariado, que
têm que ser muito debatido e com humildade, porque já demonstrou em nossa História uma capacidade, uma
quanto a autonomia e liberdade sindical, não creio que habilidade muito grande, e a prova disso é que nós - ar-
ninguém em sã consciência possa fazer qualquer reparo.
gumento já tão repetido aqui- - de oitava economia do
Eu gostaria de voltar a me referir às palavras do mundo, somos, no entanto, dos países de maior concentra-
companheiro Domingos Leonelli, quando ele fala do movi- ção da riqueza em todo o universo, nós só poderemos en-
mento sindical, porque todas as vezes que ele age de ma- frentá-la vitoriosamente se conseguirmos garantir a uni-
160 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (SuplemenJo) Julho de 1987

dade do movimento sindical. Quer dizer, numa mesma base das percepções das relações que têm democracia, Estado
territorial, um só sindicato por ramo de produção ou por e sociedade, podemos entender um pouco essa questão e
categoria profissional. Já ouvimos aqui muitas significa- como essa reação veio, em função também de uma situa-
tivas contribuições trazidas pelos que, representando os ção autoritária. Ê preciso ficar claro que organização sin-
trabalhadores, aqui depuseram. E a grande maioria dessas dical é uma forma específica de organização dos tra-
contribuições foram no sentido de defender a unidade. balhadores no regime capitalista. No regime econômico-
A minha consciência dita que eu devo me posicionar dessa capitalista e no que eles traduzem a nível político é cha-
forma, e assim eu votarei. Não apenas na Subcomissão, mado democracia representativa. Nesse sentido, se pe-
mas na Temática e onde mais eu tenha oportunidade de garmos os estudiosos do movimento sindical, verificare-
votar em defesa desse principio. mos que essa constante tem sido assinalada desde os pri-
mórdios do movimento sindical. Essa frase que eu citei
Com relação a essa questão, nós podemos dizer que, aqui é quase Iíteralmente uma frase de Lenin, reteren-
ao defender a unidade, nós não estamos defendendo que a dada por Gramsci. Entã.o, é preciso entender que o sindi-
mesma estrutura sindical, hoje existente, deva permane- cato, o movimento sindical está situado dentro de uma
cer. O desatrelamento em relação ao Ministéiro do Tra- determinada sociedade e dentro de um determinado re-
balho é uma imperiosa necessidade do movimento sin- gime político e econômico. É uma forma que os traba-
dical. Não podemos reescrever a Carta de 64, per- lhadores, a classe operária desenvolveram no correr dos
mitindo que a legislação ordinária, que hoje existe, per- tempos para contrapor a luta entre capital e trabalho.
maneça na Consolidação das Leis do Trabalho, nós temos Se assim entendermos, evidentemente que também per-
que modificá-la profundamente, desatrelando os sindica- ceberemos que essa inserção, numa sociedade democrática,
tos, as federações, as confederações, fazendo com que essas num regime econômico-capitalista, impõe determinadas
organizações não dependam da autorização paternalista normatizações à própria organização sindical. Nesse sen-
do Estado. tido, valho-me de dois publicistas modernos que trata-
ram a questão com muita profundidade e com muita
E com relação à contribuição sindical, sou também competência: Norberto Bobel, no livro "O Futuro da De-
dos que entendem que a suspensão imediata representa- mocracia, em Defesa das Regras do Jogo", explíeíta, cla-
ria um golpe, um profundo golpe no atual movimento sin- ramente, que o sistema democrático tem determinadas
dical. Não que queiramos a contribuição pura e simples, normas, essas normas podem ser autoritárias ou podem
nós achamos que ela deva ser estabelecida para desapare- ser normas democráticas. Essa distinção que Bobel faz en-
cer num determinado tempo, que poderá constar das dis- tre norma autoritária e norma democrática é fundamental
posições transitórias. Primeiro, com a modificação de que para concluir aquilo que eu quero. Um outro autor bra-
elas continuariam existindo, mas já fora do controle do sileiro Sérgio Paulo Ruanê "Razõe,g do Iluminismo", co-
Esta~o. E segundo, que elas deveriam ir se reduzindo pro- loca que a racionalidade, dentro da soci-edade democrata
gressívamente para, num prazo determinado, deixarem de pluralista, começa a ser compreendida na medida em
existir e, pudesse, então, a contribuição espontânea do que as questões de direito 'e de lei têm que ser codificadas.
sindicalizado garantir a existência da organização sindical. Então, é nesse ponto, talvez, que se entenda bem que o
A ~ua pura supressão, neste momento, entendo que pe- movimento sindical não está isolado, a sua organização
gana desprevenido o movimento sindical e faria com que não pode ser pensada e repensada em termos de um
ele se atrazasse durante anos, porque as organizações não isolamento no sistema democrático 'e da sociedade em
estão em condições de, imediatamente, substituir o dinhei- que vivemos. Aí eu entendo um pouco a questão da con-
ro que recebem da contribuição sindical, para manter tribuição sindical e da unidade. Claro que a unidade é
runcíonando o organismo sindical hoje existente. ' uma reivindicação antiga dos trabalhadores. Podemos
analisar o desejo de unidade dos trabalhadores pelo seu
Com este posicionamento me defino perante 08 meus contrário. Quem é mais contra a unidade do movimento
pares quanto à questão ora em debate. do trabalhador? Ê o patronato! Quem é mais contra a
Passo a palavra ao Constituinte Célio de Castro. unidade do movimento do trabalhador? J!: o governo! Já
expressei essa opinião para alguns companheiros, alguns
O SR. CONSTITUINTE CÉLIO DE CASTRO - Quero colegas Constituintes, que me causou um profundo des-
ser breve, Sr. Presidente, dado ao adiantado da hora, mas gosto, uma decepção mesmo: foram as posições assumidas
não poderia deixar de pronunciar-me a respeito dos temas pelo Ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, que, evi-
ora em discussão. dentemente joga tranqüilamente a divisão do movimento
sindical, pelo que ele colocou aqui. Se são esses setores
Acho que O movimento sindical brasileiro é unificado que mais combatem a unidade, e a unidade é sentida
na maioria das suas propostas em relação à organização pelos trabalhadores como uma neeessídade, como um
sindical. Contudo, esses dois pontos ainda geram polêmicas fortalecimento não há como, colocando essa posição dos
e discussões. A questão da unidade e a questão da con- trabalhadores e relacionando com a democracia e socie-
tribuição sindical. dade, codificá-lo em normas. É uma norma democrática
Eu vou tentar, não vou aduzir novos argumentos que o conceito de unidade que parte pela concepção segundo a
já foram colocados aqui, para não cair na redundância, qual haveria um sindicato por base territorial e por ramo
mas eu gostaria de, talvez, entender porque, quais as de produção, é uma norma democrática e tem que ser
razões e os motivos que determinam essa discussão, essa assegurada por lei. A lei é a corporificação das regras do
divergência ainda do movimento sindical. Eu penso que jogo da democracia. Por ai, entendemos como a questão
a questão deve ser entendida numa pesquisa profunda, fica mais lógica, mais clara. E nesse sentido eu discuto a
num entendimento mais amplo das relações entre o sin- questão da chamada contribuição sindical. Aí há uma
dicato, a democracía e a sociedade. Evidentemente que confusão. Toma-se a contribuição sindical como causa
o movimento sindical brasileiro, padecendo dos vícios his- de todos os males do movimento sindical e entendo que
tóricos, aqui já assinalados, e também do reforço desses não, que ela é conseqüêncía, a contribuição sindical é
vícios históricos, tipo autoritário dos últimos 21 anos, conseqüência do movimento sindical, com todas as carac-
gerou-se dentro do movimento sindical brasileiro, como terísticas deformadas que nós temos aí. O movimento
contrapartida, uma idéia de que nós aosotutarízaríamos sindical qu-e possa sanar isso, que caiminha no sentido de
as normas de funcionamento sindical, não sstabeleceado sanar essa irregularidade pode conviver perfeitamente
nenhum limite, nenhuma norma e nem consagrando, no bem com a contribuição sindical. Eu tenho medo que
texto constitucional, nada que fosse absoluto. Acho que ocorra o contrário, que se corte do sindicato a maneira
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 161

dele se manter. O próprio Deputado Paim, cuja opinião dada pelo Constituinte Célio de Castro, esse é o ponto de
me vale muito e cuja amízade já é de longa data, ~ntes vista ético que me faz repelir a contribuição sindical, tra-
mesmo da Assembléia Nacional Constituinte, aceitava balhar pela sua extinção, é que existe urna postura ética
tranqüílamente a contribuição sindical, desde que de~i­ de minha parte de repugnar proposição de contribuição a
dida por uma assembléia geral, Eu acho que a questão quem não é sindicalizado. Esse é um aspecto ético para
está aí clara, todos nós temos, às vezes, pequenas diver- mim fundamental, e acho que tem reflexo inclusive na
gências terminológicas e não de fundo. Acho que quanto própria estrutura montada pelo ordenamento da Justiça
a essa questão de contribuição sindical, poderíamos até do Trabalho e as normas que regulam a relação capita1 e
discuti-la sob urna ótica diferente: o valor do dínheíro. trabalho, impõem que as convenções coletivas e os seus
Tive oportunidade, quando discuti com ~ Al~ízio, 5le ~olo­ resultados sejam colhidos por todos os trabalhadores, in-
car a questão do dinheiro, o :,al~r do d~nh~ro nao e um dependentemente de serem sindicalizados. Isso nos reme-
valor em si, não podemos a-tnbUlr _ao dínheíro, enquanto te a uma inovação, a uma necessidade de modificação
valor em si determinadas conotações a favor ou cont:-a. dessa estrutura, a exemplo do que ocorre hoje nos outros
Vamos fala; em normas éticas do dinheiro. O dínheíro países. Existe uma convenção coletiva onde se beneficiam
depende da utilização. que se faz. dele. Eu tenho certeza apenas os trabalhadores sindicalizados e ainda assim se
que um sindicato presidido por p~Im, pode ter a eondíção fortaleceu o próprio movimento sindical. Acho que são
sindical que ele tiver, que ~le vai ~c·eItar da melhor ma- duas questões que estão vinculadas. Na medida em que
neira possível e nunca vai S€ deixar atrelar por uma nós tivermos sindicatos com grande número de sindicali-
contribuição sindical. Eu tenho certeza de que todos os zação e com seus resultados sendo fruídos apenas pelos
companheiros aqui, que já passaram por uma entld~~e sindicalizados, naturalmente que esse sindicalizado, que
sindical, corno eu passei, nós não ternos nenhUU1.a ~I!L­ vai receber as conquistas concretas obtidas pelo movimen-
culdade em lidar com "essa verba, com essa contríbuíção to sindical, na sua luta, irá se dispor a contribuir com o
dos trabalhadores. o que é preciso é que ~ regras para seu sindicato pelas suas lideranças, reconhecidas e legiti-
isso sejam claras, as chamadas regras do JO~o Çle}lloc:a- madas, tantas vezes quanto seja necessário contribuir para
tico sejam claramente explicitadas. A co~tnbUlçao sm- o próprio sindicato.
dícal, vai ser utilizada de acordo com aquilo que os tJ:a-
balhadores desejam. Tentando olha: essas duas questões Por último, Sr. Presidente, atendendo a uma comuni-
sob outros ângulos e tendo a veleidade dt=; .trazer aqui cação que nos foi feita pelo representante do Sindicato dos
algumas pequenas contribuições, eu c0l?-!llu~rIa que nao Aeroviários aqui de Brasília, está aqui representando tam-
tenho nenhuma dificuldade, pela e~erIencIa. em movi- bém o companheiro da Confederação Nacional dos Traba-
mento sindical, de defender o príneípío da- unidade, uni- lhadores dos Transportes, que nos comunicou que em ra-
cidade, como norma, como regra de JOgo, constante do zão da greve havida na área dos trabalhadores nos trans-
texto constitucional, como também nao tenho. I.!-en~UIIl;a por-tes aéreos a VASP tomou a decisão de demitir 60 fun-
dificuldade em continuar recebendo a co?-tribrnçao sllld!- cionários a partir de hoje. Foi solicitado a esta Subcomis-
cal. Os próprios traba1had?re~, na medI~,a,em fIue yao são que tomasse uma posição, uma vez que a VASP é uma
saneando esse movimento sindical, 'e ele Jll; ~ mU~t? ~fe­ empresa estatal, do patrimônio público brasileiro, para no
rente hoíe, vão dando as respostas na prátíea. o~ en-
tamos d~r OU absolutilizando regras ou absolutilIzando sentido de que fossem sustadas essas demissões, e fosse
a não regr'a, não tem nada, não existe nada. Eram essas encontrado o caminho do diálogo. Eu apelaria, especial-
mente aos companheiros aqui da bancada gaúcha, para
as considerações. que houvesse uma intermediação dos companheiros no
O SR. PRESIDENTE GERALDO OAMPOS - Tem a sentido de equacionar esse problema. Se esta Subcomissão
palavra o Constituinte Augusto Carvalho. pudesse tomar providências no sentido de encaminhar um
telex, pedindo a reabertura do diálogo, seria muito im-
O SR. CONSTITUIN'FE AUGYSTC? CARVA!'HO - ~ portante, a exemplo do que foi soücttado pelo companhei-
Sr. me desculpe a repetiçao da mínha I~te;vençao. Go~ta ro Célio de Castro. Muito obrigado.
ria de deixar registrado, porque o oonstítuínte ~eonelll le-
vantou urna dúvida, e acho que tem que ~er r~gIs·trado n~s O SR. PRESIDENTE GERALDO CAMPOS - Tem a
Anais, o problema da legitimidade da mdlCaça~. qual .serIa palavra o Constituinte Mário Lima.
a Central urna vez que hoje temos 3, que índícaría os O SR. CONSTITUINTE MáRIO LIMA - Sr. Presiden-
represent~ntes do Conselho Monetário Nacional? ~ue~o te concordo inteiramente com o ilustre Constituinte Au-
deixar registrado que foi por consenso das centraIs slI~.di­ g~sto de Carvalho. Não tenho dúvida alguma de que a
cais a indicação do eompanheíro Bar.~lli e ho~ve u;ma lista CUT e a CGT tenham mais representatividade. Mas, no-
de outros nomes a serem díscutídos, ja que nao eXlst~ uma vamente, nos deparamos com o velho dilema da estrutura
central única. outra coisa é dizer, é dar a.info!m~çao aos
companheiros comtitui.nte.s de que ° maI~r síndícato ~a
América Latina é o stndtcato dos Metalurg~cos de Sa:o
de fato e da de direito. Eu também acho que se tivésse-
mos lá o Valter Barelli, se dependesse da minha opinião,
da minha ação pessoal, não teria dúvida alguma, e gosta-
Paulo. E é com muita satisfação que comunico o surgi- ria que isso ficasse registrado em Ata, de que Walter Ba-
mento de uma chapa, congregando os segmentos. mais va- relli apesar de não ser presidente de uma entidade sindi-
riados do pensamento progressista e co~promet:do com o cal 'teria muito mais condição de defender o interesse dos
avance do movimento sindical brasileiro, reunindo seg- trabalhadores deste País. É a contradição a que me repor-
mentos do PT, do PMDB, do PD'! ~ com os compa~heiros tei há ,pouco, da estrutura formal e da estrutura de fato.
do PO do B e do PCB numa umca chapa e CreIO que, A CNTI é a estrutura formal, quando a estrutura de fato é
com a sua vitória pode~á gerar uma situação em que ela a CGT e a CUT. A representatívídade é da OGT e da CUT.
tenha um crédito 'profundO no próprio movimento sindical
e, quem sabe, talvez as próprias 'Centrais sindiCl;is que .hoje O SR. CONSTITUINTE AUGUSTO CARVALHO -
se dividem que estão organizadas de forma dífarencíada, Mas elas são reconhecidas pelo Governo.
possa até favorecer essa unificação tão sonhada por nós O SR. CONSTITUINTE MARIO LIMA - É o reconhe-
comunistas e por todos os representantes do pensamento cimento que não é legal.
progressista no País.
O SR. CONSTITUINTE AUGUSTO CARVALHO -
Por último, Sr. Presidente; acho que essa posição da Elas tiveram uma; audiência com o Presidente da Repú-
contríbuícão sindical, relativamente à questão ética abor- blica.
162 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. CONSTITUINTE MÁRIO LIMA - Não tem contendo uma proposta sobre a Seção Oitava, Dos Servido-
problema, ele pode dar audiência a quem quiser. O país res Públicos, e o Título UI, Da Ordem Econômica e Social,
tem um corpo de leis. Do mesmo jeito que ele :pode tomar pedindo que esta contribuição da Assembléia Legislativa
uma atitude positiva, pode tomar uma negativa. Nenhuma do Espirito Santo fosse encaminhada ao nosso relator, o
nação vive em função de atitudes boas ou más de alguém, que faremos agora, fazendo constar de ata o encaminha-
vive em função de leis, da estrutura formal. mento dessa contribuição, inclusive, depois, manifestare-
mos, por oficio, o recebimento.
O SR. CONSTITUINTE AUGUSTO CARVALHO -
V. Ex.a me permite? É que a CNTI é abrigada na CGT, e Quero então convocar a sessão extraordinária desta
a CGT indicou também o nome do Valter Barellí, então foi tarde, que deverá ser a última desta etapa, antes de en-
por consenso a indicação. trarmos no debate do relatório do anteprojeto a ser elabo-
rado pelo relator.
O SR. CONSTITUINTE MÁRIO LIMA - Estou de
acordo, não há contradição no nosso pensamento. Estou A Sessão de hoje, à tarde, deverá ouvir o Presidente
dizendo que acho que a CGT e a CUT têm mais represen- da Confederação dos Professores do Brasil, a CPB; a Con-
tatividade; considero que o Valter Barelli teria condições federação dos Trabalhadores da Agricultura, a Oontag: da
de prestar melhor serviço, mas é uma contradição. Vá até Central única dos Trabalhadores, CUT; da Central Geral
o Presidente da República e ele dará essa desculpa, Para dos Trabalhadores, CGT; e juntamente com a Confedera-
se saber se amarelo é amarelo não precisa pintar, você ção Nacional do Comércio, possivelmente, a Confederação
abre e vê. Não tenho dúvida alguma de que estaríamos Nacional da Indústria. E, ainda, um representante do mo-
melhor servidos, não tenho dúvida alguma, mas, lamen- vimento da Comissão Nacional da Criança e Constituinte.
tavelmente, por que a escolha? Por quê? Só ele pode res- O SR. CONSTITUINTE STÉLIO DIAS - As empresas
ponder. Eu não sei. confirmaram a presença?
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Só para O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Ainda on-
lembrar, que no dia 1.° de maio o Senhor Presidente da tem mesmo entramos em contato, através de intermediá·
República, na sua alocução aos trabalhadores, entre as rio, e eles asseguraram que pelo menos o da CNC, Confe-
medidas que apresentou como sendo realizações do seu deração Nacional do Comércio, estará presente, atendendo
ooverno, falou no reconhecimento das centrais sindicais. à sua proposta, aprovada pela Subcomissão.
Tem a palavra o Constituinte Paulo Paim. Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a pre-
sente reunião.
O SR. CONSTITUINTE MÁRIO LIMA - Para que não
fique dúvida quanto à minha intervenção, gostaria de re- 14.a Reunião realizada em 6 de maio de 1987
gistrar em Ata. Por que ele não manda uma lei para o
Congresso, reconhecendo isso? Dizer em microfone, em Aos seis dias do mês de maio do ano de mil novecen-
televisão é muito cômodo, agora mandar para o Congresso tos e oitenta e sete, às oito horas e trinta minutos, na sala
uma lei reconhecendo isso seria o ideal. Quando ele quer, de reuniões da Subcomissão - Ala Senador Alexandre
não faz decreto-lei? Faça um decreto-lei, reconhecendo ror- Costa, do Senado .Federal, reuniu-se a Subcomissão de Saú-
malmente as centrais sindicais! de, Seguridade e do Meio Ambiente, sob a Presidência do
Constituinte José Elias Murad, com a presença dos se-
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Tem a pa- guintes Constituintes: Fábio Feldmann, Raimundo Rezen-
lavra o Constituinte Paulo Paim. de, Eduardo Moreira, Cunha Bueno, Carlos Mosconi, Fran-
cisco Coelho, Joaquim sucena, Adylson Motta, Orlando
O SR. CONSTITUINTE PAULO PAIM - Sendo a Bezerra, Gandi Jamil, Alarico Abib, Eduardo Jorge, Maria
Varig gaúcha, quero s6 reafirmar a posição do Augusto de Lourdes Abadia, Geraldo Alckmin, Raimundo Bezerra,
Carvalho, no sentido de que esta Subcomissão encaminhasse Vitor Buaiz, Abigail Feitosa, Doreto Campanari e Sandra
uma posição, inclusive a perspectiva, já que nós gastamos cavalcanti. Havendo número regimental, a Presidência
milhares e milhares de cruzados com a Varig, de ter uma iniciou os trabalhos submetendo à apreciação dos mem-
audiência, em nome da Subcomissão, dos parlamentares bros presentes a Ata referente à décima terceira reunião.
gaúchos com a Varig, para interceder, neste sentido que Não havendo discussão é a mesma considerada aprovada.
ele colocou. Prosseguindo, Sua Excelência dá ciência à Subcomissão,
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Então va- de ofício recebido do Conselho Federal de Medicina, co-
mos colocar em votação a proposta do Constituinte, Au- municando e convidando para um fórum de debates sobre
gusto Carvalho com o acréscimo feito pelo Constituinte saúde, a ser realizado no Rio de Janeiro, no dia 7 de maio,
Paulo Paim e quero acrescentar que, com a viagem dele, e solicita aos membros dà Subcomissão, sobre a possi-
ele seria porta-voz nosso, desta Subcomissão, também no bilidade de alguém representar este órgão, naquele evento.
Rio Grande do Sul, junto à direção da Varig, e todos os Dando continuidade, passa a ler outro ofício, recebido da
representantes do Rio Grande do Sul nesta Subcomissão. Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, no qual
Então, está em votação a proposta para que se faça essa aquela instituição propõe seja realizado naquele Estado,
manifestação e essa representação. Quem estiver de acordo um fórum de debates sobre o tema Saúde, Seguridade e
permaneça sentado. (Pausa.) Meio Ambiente, submetido à apreciação, fica acordado que
após a fase de elaboração do parecer da Subcomissão, re-
Aprovado. torne ao assunto, a fim de ser discutido o mesmo. Em
O SR. CONSTITUINTE PAULO PAIM - Só uma ex- seguida, o Senhor Presidente comunica aos presentes que
plicação, Sr. Presidente, eles seriam portadores de uma a reunião destina-se à audiência pública, com entidades
mensagem escrita da comissão. da área de meio ambiente e do setor de saúde, podendo
a mesma ser desdobrada em duas etapas para haver tempo
O SR. PRESIDENTE (Geraldo Campos) - Através de de ouvir a todos nesta última reunião destinada a essa
um ofício desta Subcomissão. finalidade. Dessa forma, convida os representantes das
Queremos pedir permissão para dar conhecimento à entidades do meio ambiente, para ter lugar à Mesa e
Casa, a pedido do Constituinte Stélio Dias, de oficio que fazerem suas exposições, sendo dada a palavra pela or-
ele encaminhou à Subcomissão, acompanhando um projeto dem, às seguintes pessoas: Dr, Roberto Messías Franco
da Assembléia Legislativa do Estado do Espirito Santo, da Secretaria do Meio Ambiente - Sema, Dr. Carlos AI·
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 163

berto Ribeiro Xavier e Dr. Fernando Colagrossí, do Con- publicado, na íntegra, no Diário da Assembléia Nacional
selho Nacional do Meio Ambiente - oonama, Dr. Angelo Constituinte. E, para constar, eu, Paulo Roberto de Al-
Barbosa Machado, da Sociedade Brasileira para o Pro- meída Campos, lavrei a presente Ata que, depois de lida
gresso da Ciência - SBPC, Dr. Jaime Rozenbjom, do Ins- e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente.
tituto de Estudos dos Problemas Contemporâneos da Co-
munidade - IPCC. Dr, Fernando Salino Côrtes, do Fórum ANEXO A ATA DA 14.a REUNIÃO DA SUB-
de Entidades Ambientalistas Autônomas. Deixando de com- COMISSãO DE SAúDE, SEGURIDADE E DO
parecer o Dr. Eloir Ascânio Hoffig Castilho, representan- MEIO AMBIENTE, REALIZADA EM 6 DE MAIO
te da União dos Defensores da Terra - OIKOS. Dessa DE 1987, AS 8:30 HORAS, íNTEGRA DO APA-
forma, o Senhor Presidente comunica sua ausência, per- NHAMENTO TAQUIGRAFIC'O, COM PUBLICA-
guntando ao Senhor Constituinte Fábio Feldmann, se não 'ÇãO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SE-
gostaria de falar sobre a entidade, uma vez que Sua Ex- NHOR PRESIDENTE DA COmSSAO, CONíS'N-
celência é seu Presidente. Usa então da palavra o Senhor TUINTE JOSÉ ELMS MURAD.
Constituinte Fábio Feldmann, esclarecendo que por ser o O SR. PtRESIDENTE (José Elias Murad) - Havendo
Presidente da referida entidade, cumpria-lhe esclarecer número regimental, declaro abertos os trabalhos da 14.8
que a mesma fora convidada, a sua revelia, uma vez que, Reunião da Subcomissão de Saúde, Seguridade e do Meio
a fim de não ser acusado de favorecê-la, não tomou qual- Ambiente.
quer iniciativa nesse sentido e que esta havia partido do
Líder do PTB, Constituinte Gastone Righi, em requeri- O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da reunião
mento ao Presidente da Subcomissão, indicando inclusive anterior.
o representante que falaria por ela. Feitos os esclareci- É lida e aprovada a ata da 13.8 reunião.
mentos, o Senhor Presidente, comunica que de conformi-
dade com o que ficara acordado, naquela etapa da reunião, O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Antes de
seria abordado somente temas relativos ao meio ambiente, iniciarmos os depoimentos, esta Presidência quer fazer
entretanto, encontrando-se presente o Dr. José da Rocha duas comunicações: a primeira delas é através de um ofí-
Carvalheiro, representante da SBPC, na área de saúde, e cio que foi enviado pela Comissão das Entidades Médicas,
que por motivos outros não poderia fazer sua exposição no seguinte teor:
à tarde, sugere à subcomissão, seja Sua Senhoria ouvido. "A Comissão das Entidades Médicas, organiza-
Não havendo manifestação contrária, o Senhor Presidente dora do VI Encontro Nacional de Entidades Mé-
lhe concede a palavra. Encerrada a fase expositiva, o Se- dicas, tem o prazer de reiterar o convite a V. S.B.
nhor Presidente franqueia a palavra aos Constituintes pre- para participar da abertura solene do referido
sentes, para que aprofundassem sobre os temas aborda- evento, a realizar-se no dia 7 de maio próximo, às
dos, pelos palestristas. Participaram dos debates os Cons- 9 horas, no Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Sua
tituintes: Fábio Feldmann, Sandra Cavalcanti, Raimundo presença é fundamental, pois muito contribuirá
Rezende, Eduardo Jorge, Raimundo Bezerra, Eduardo Mo- para o encaminhamento das propostas da VIII
reira, Carlos Mosconi e Maria de Lourdes Abadia. Devido Oonferêncía Nacional de Saúde."
ao adiantado da hora, o Senhor Presidente suspende a Consulto aos Constituintes aqui presentes, se tem al-
reunião às doze horas e vinte e sete minutos, para reabri- guém em condições de ir amanhã representar esta Sub-
la às dezessete horas com as entidades do setor de saúde. comissão, ou interesse em participar do evento? Se hou-
Reaberta a reunião às dezessete horas, o Senhor Presi- ver, é só comunicar à Presidência.
dente, comunica que esta etapa da reunião destina-se a
ouvir os representantes da área de saúde, que darão suas Há também um outro ofício que não tem data, mas
contribuições nesta última reunião de audiência pública achamos que é uma solicitação muito importante da As-
promovida pela Subcomissão, convidando, pela ordem, para sembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo:
ter lugar à Mesa e fazerem suas exposições as seguintes "Sr. Presidente:
pessoas: Dr. Nelson Proença, da Associação Médica Bra-
sileira - AME, Dr. Mário Rigatto, do Grupo Assessor do T,emos a honra de vir à presença de V. Ex.S
Ministério da Saúde para o controle do tabagismo, Dr, para convidar os Membros dessa Subcomissão para
Jorge Kalil, da Associação Brasileira de Transplante de promover um foro de debates sobre o tema que a
órgãos - ABTO, Dr. Edmundo Castilho, da Unimed, Dr. a titula, bem assim permitir à sociedade espirito-
Jaqueline Pitanguy, do Conselho Nacional dos Direitos da santense, como um todo, a oportunidade de parti-
Mulher, Dr, Eric Rosas, do Centro de Estudos de Saúde - cipar da elaboração da proposta de conteúdo para
Cebes, Dr, Wilson Aude Freua da Associação Brasileira de um novo pacto federal, na visão do povo de todo
Hospitais - ABH, Dr. a Zuleica Portella Albuquerque, da o nosso Estado."
Comissão Nacional Criança e Constituinte; comunicando Neste não há data marcada, parece-me que a data
ao final, a ausência do representante da Associação Brasi- ficaria ao critério desta Subcomissão.
leira de Farmacêuticos, Dr. Mário Teixeira Antônio, tam- A discussão sobre o assunto poderia ficar para uma
bém convidado, para falar na ocasião. Encerrada a fase reunião ordinária, onde decidiriamos a data em que po-
expositiva, passam-se aos debates, usando da palavra os deremos mandar uma representação ao Espírito Santo.
Constituintes: Raimundo Rezende, Eduardo Jorge, Doreto
Campanari, Geraldo Alckmin, Carlos Mosconi. Encontran- A pauta da nossa reunião desta manhã, é de audiên-
do-se presente o Senhor Constituinte Nelson Aguiar, o cias públicas destinadas a ouvir várias entidades: Secre-
Senhor Presidente, atendendo sua solicitação, concede-lhe taria do Meio Ambiente, o Conselho Nacional do Meio
a palavra, quando Sua Excelência aborda aspectos de sua kmbiente, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso
sugestão apresentada à Constituinte, que segundo ele, tra- da Ciência), li"nião dos Defensores da '!Ierra, e IEPCC
ta-se de uma proposta polêmica, por tratar de aspectos (Instituto Ide Estudos dos Problemas Contemporâneos da
relatívos ao aborto. A seguir, a Presidência agradeceu a Comunidade.
presença de todos os expositores, parabenizando-os pelas . Vamos, inicialmente, pela ordem, dar a palavra ao Dr.
suas valiosas contribuições trazidas a esta Subcomissão. Roberto Messias Franco e ao Dr. Luiz Paulo Tavares, são
Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por eles representantes da Secretaria .do Meio Ambiente
encerrada a reunião, às vinte e uma horas, cujo teor será (Sema), aos quais convido para participar da Mesa:
164 Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemenfo) Julho de 1987

Esta Presidência lembra ao caro amigo, Dr. Roberto Entretanto, mais do que ações pontuais na defesa de
Messias, que o tempo regimental é de 10 minutos, com a áreas de preservação, na defesa, por exemplo, do controle
possibilidade de UI~a pequena prorrogação, ao final de das fontes de poluição - cremos que isso deva ser o ponto
todas as apresentações, teremos as perguntas e os debates. central para os Srs. Constituintes na área ambiental -
Concedo a palavra ao Dr. Roberto Messias Franco. ainda é necessário trabalhar para inserir na consciência
do desenvolvimento nacional a perspectiva ambiental ou
O DR. ROBERTO MESSIAS FRANCO - Sr. Consti- ecológica do desenvolvimento.
tuinte José Elias Murad, dígníssímo Presidente desta Sub- Não se trata de ser contra o desenvolvimento, mas
comissão, Srs. Constituintes Membros desta Subcomissão, trata-se de buscar um outro estilo de desenvolvimento ou,
Srs. convidados a esta audíêncía pública da Subcomissão talvez, buscar, através da proteção dos recursos das áreas
de Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente, da Assembléia da diversidade biológica do patrimônio natural e cultural
Nacional Constituinte: inicialmente, gostaria de, em no- que temos, uma nova perspectiva para o desenvolvimento
I:l?-e da Secretaria Especial do Meio Ambiente, do Ministé- que não seja apenas o crescimento ou a inchação de alguns
no do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, agrade- meios de produção que vem, fatalmente, beneficiar apenas
cer a oportunidade de vir aqui expor alguns pontos dos as pequenas minorias da população e de um segmento da
prfncípios que norteiam a nossa ação de trabalho na Idefe- sociedade brasileira.
sa do meio ambiente, por parte do Brasil, propondo algu-
mas perspectivas e fazendo algumas propostas aos Srs. Quando se faz uma nova Constituição, e a partir deste
Membros desta importante Subcomissão. momento, portanto, creio que a sociedade e, em especial,
De íníeío, colocaremos alguns pressupostos sobre os o Congresso que elabora a nova Constituição, devem pen-
quais se basearia o trabalho de defesa do meio ambiente sar, sobretudo, em fazer com que ela seja a tradução de
uma nova perspectiva ecológica para o que queremos de
preocupação tãorecente, mas tão séria para esta geraçã~ desenvolvimento doravante.
e para as' geraçoes futuras de brasileiros.
O que seria essa perspectiva e como se poderia resu-
Na medida em que a sociedade vem se transformando mir? Parece-me que poderíamos alinhavar em quatro pon-
- e a sociedade brasileira pode ser um exemplo de trans- tos: primeiro, o uso dos recursos naturais para a satis-
formação rápida nas suas estruturas e nas suas conse- fação das necessidades das populações locais, dizendo não,
qüências sobre o espaço geográfico, do qual se assenhora a colocando entraves, na medida em que isso signifique uma
sociedade brasileira - percebemos hoje, e com muita cla- opção do povo brasileiro à transferência pura e simples
reza, embora como novidade ainda, que nos encontraimos da riqueza que, do ponto de vista das riquezas dos lugares,
sob a utilização de muitas dessas áreas à beira de um das riquezas de cada região brasileira, significa uma sim-
enorme abismo. ples espoliação - vide Minas com as paisagens da época
Quando, em 1972, íníeíou-se no mundo a consciência de do ouro - e do ponto de vista ecológico, a exportação de
que os problemas ecológicos, de que as ações deveriam se energia e de material e a degradação, portanto, do ecossis-
desenvolver para não permitir que o desenvolvimento da tema ali existente. Colocar-se a exploração das riquezas e
sociedade industrial nos levasse a algo irreversível, pas- a simples exportação, significa também um atentado ao
samos a ter no Brasil uma reação e uma consciência na- patrimônio ecológico do País.
cíonal nascendo desses problemas ambientais. O segundo princípio - parece-me - poderia ser a
Podemos, então, citar algumas áreas da sociedade bra- organização da participação por estruturas horizontais de
sileira que, a partir da década de 70 e, sobretudo, da dé- decisão, ou seja, a participação da população, levando até
cada de 80, começam a manifestar sua preocupação com ao nível municipal a participação nas novas decisões eco-
os aspectos ambientais. Nà sociedade, onde as associações nômicas que tenham as suas repercussões ambientais e
não governamentais assumem um papel cada vez maior sócio-econômicas.
e mais importante, a ponto de termos hoje um cadastro, Gostaria de aqui citar um exemplo - onde no meu
embora parcial e já divulgado pela Sema - inclusive, Estado de origem parece-me muito evidente e flagrante -
trouxe alguns exemplares que estão à disposição dos Srs. que é o caso da legislação mineral, onde não existe ne-
Constituintes e convidados - cerca de 600 entidades não nhuma necessidade de manifestação, por exemplo, do Po-
governamentais de defesa do meio ambiente, criadas e re- der Público Municipal para que se implante um empreen-
gulamentadas especificamente para esse fim. Isso vem de- dimento mineral, portanto, trabalhando nas entranhas ele
monstrar que a sociedade se arma, se harmoniza e se preo- um espaço que pertence a uma comunidade, que pertence
cupa com a questão do meio ambiental. àquele determinado município.
De outro lado, pedimos do Governo algumas ações: Citaria, também, um caso recente - que talvez deva
a criação no ano 1973, da Secretaria Especial do Meio fazer V. Ex.& refletirem, pois trabalham, neste momento,
Ambiente'que, mesmo durante todo esse tempo não contou com o difícil tema da participação popular nas decisões.
com os recursos que lhe deveriam ser destinados para, Recentemente, na cidade paranaense de Antonina, o pre-
efetivamente, enfrentar o problema do controle ambiental, feito fez um plebiscito municipal para saber se a popula-
que passou em 1985 para um novo Ministério, o Ministério ção estava ou não ele acordo com a instalação, naquela
do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Agora, pas- região, de uma fábrica de dióxido de títãnío. Parece-me que
samos por uma fase de maior apoio, de aporte de recur- deve ser aclarado, até constitucionalmente, esse direito e
sos, que podem ser, talvez, consubstanciados como multi- dever dos Poderes Públicos tanto Municipal, quanto Es-
plicação por 10 elo orçamento entre os anos de 1986 e 87 tadual ou Federal terem as suas atribuições constitucionais.
e podemos dizer que vemos nas empresas, nas atividades
econômicas, algumas ações e trabalhos em defesa do meio Um terceiro item, que me parece importante para o
ambiente que teriam - plagiando o Professor, aqui pre- pensamento dos Srs. Constituintes, e que eu ousaria trazer
sente, Angelo Machado - algumas razões, por amor ou como uma modesta contribuição nossa, é a necessidade
por temor, passa realmente a existir a defesa da área am- da valorização do que chamamos de ecotécnícas, ou seja,
biental por parte das autoridades e, também, por uma ne- as técnicas de aproveitamento dos recursos, as técnicas de
céssídade de melhoria ela imagem pública, na medida em desenvolvimento que estejam em simbiose, que sejam res-
que essa introdução da dimensão ambiental, da proteção peitadores dos valores tecnológicos, dos valores da popula-
ambíental dos seus programas, possa ter alguma coisa de ção em cada lugar, quer dizer, muitas vezes quando se vai
significativo. trazer de outros lugares tecnologias importadas a custo,
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACiONAL CONSTITUINTE (suptemento) Segunda·feira 20 165

geralmente, muito caro, estamos, ao mesmo tempo, des- indevido dos solos e do uso abusivo dos agrotóxicos que
truindo técnicas e formas de aproveitamento, formas de acabam por contaminar os rios. O problema da agricul-
utilização do espaço dos recursos que a localidade, a po- tura, carreando milhões de toneladas de solo, anualmente,
pulação, tem, às vezes, há séculos. para os grandes cursos d'água vem trazer conseqüências
Finalmente, gostaria de chamar a atenção para o ponto para esses mesmos cursos d'água; o uso do agrotóxico que
sobejamente discutido e visto da necessidade de solidarie- se por um lado, leva a uma deseconomia enorme, por
dade diacrônica com as gerações futuras, que haja o pre- outro, causa um grande risco aos agrícultcres à medida
ceito de ser necessário legar às gerações futuras o patri- em que eles manipulam inadequadamente o defensivo.
mônio e as condições de qualidade de vida do ambiente. Tudo isso para ser refeito necessita de novos principias,
sobretudo, de um novo estilo de desenvolvimento, em voga,
Entretanto, entre esses príneípíos e a realidade existe que devera ser balizado por uma nova Constituição.
um grande abismo a ser transposto. Existe hoje uma
infinidade de problemas ambientais no Brasil para os quais - Temos hoje, no Brasil, uma estrutura governamental
não estamos, inclusive, dando os primeiros passos para ínstítueíonalmente criada, ainda precária na sua opera~
as suas soluções. Alinhavaria alguns deles: primeiro, o çao, embora tenhamos - parece-me - alguns princípios
problema da expansão urbana. O Brasil, como é do co- que são absolutamente corretos. Por exemplo, onde tra-
nhecimento de todos, com a sua enorme dinâmica de balho dentro da Sema, é a Secretaria Executiva de um
mudanças nos últimos 40 anos, teve uma inversão das Conselho Nacional de Meio Ambiente. Esse Conselho que
porcentagens população urbana/população rural; 30% da existe, que funciona, que trabalha dedicadamente, tem
população urbana que havia na década de 40 hoje é de 70% u:n aspecto. fundamen~almente positivo, que é a participa-
da população brasileira que vive nas cidades e um dado por çao da SOCIedade. EX1stem nesse Conselho os órgãos fe-
exemplo, de que todas as cidades reunidas, na década de derais que têm a ver com a questão ambiental todos os
40, tinham uma população que é igual à cidade de São órgãos est~duais dos Estados brasileiros, a r~presenta­
Paulo hoje. Isso veio trazer, primeiro, um grande desafio, çao da SOCIedade, das organizações profissionais, seja dos
que é o da solução dos problemas sanitários e da polui- trabalhador.es da indústria, do comércio, da agricultura,
ção dos rios pelos esgotos urbanos que, além do alto custo como também das respectivas classes patronais.
para a captação de água, que cada vez mais se torna Do ponto de vista da concepção ela é correta, avan-
distante, dispende enorme custo para o tratamento dos çada; entretanto, na hora de operacionlizá-Ia os recur-
esgotos. Portanto, ecologicamente, assistimos à destruição fO,S . ainda são poucos. Temos recursos pequ~nos ainda.
da fauna e flora com as conseqüências, por exemplo, sobre Vanos Estados brasileiros ainda não têm os seus órgãos
a alimentação porque desaparecem os peíxes, que é de control.e da poluição, de controle ambiental, de con-
alimentação básica de várias populações, além dos pro- trole da bíota nativa e da diversidade biológica eficiente
blemas de saúd-e, dos cursos d'água contaminados que e corretamente equipado. '
passam a correr por ali. É apenas um dado, para que os Srs. Constituintes
Segundo ponto, ainda do meio ambiente urbano, vejam a gravidade da situação, porque temos doze Es-
ligado a esses 70% da população que se concentra nas tados brasileiros que têm menos de dez pessoas traba-
cidades, teríamos a poluição criada pela abertura espe- lhando para o controle ambiental. Como pode um Estado
culativa de enormes áreas que, depois, são deixadas sem - e vamos dar três exemplos, mas poderia ser qualquer
utilização social, e pelos transportes urbanos que também outro Estado - como o Pará, o Amazonas ou o Mato
provocam a poluição, como nos casos de São Paulo e Rio Gros.so, com menos de dez pessoas, fiscalizar a questão
de Janeiro, que chegam a mais de 60% da poluição do ar, ambiental em toda a sua área? li: absolutamente ímpossí-
com todos os problemas de saúde que lhes são afeitos. ve~, por melhores que sejam as intenções, por mais que
Por outro lado, teríamos ainda um outro problema sejam trabalhadoras as pessoas que ali se encontrem. li:
que é o da poluição industrial. Temos uma poluição indus- nesse sentido que temos trabalhado no órgão do Poder
trial com uma componente fundamental e que gera, Executivo, l.ig~d9 à questão, sobretudo, esperando que a
A

sobretudo, uma conseqüência mais grave sobre as popula- nov.a P~)DstItUlçao possa f:;tze-Io, para ser depois, em lei
ções de mais baixa renda que são aquelas que se encon- ordínáría detalhado e mais organizado o papel das es-
tram mais afeitas ou sujeítas a esse tipo de poluição. truturas do Governo, sobretudo, o Federal. de ser o fiel
Em terceiro lugar, desses problemas prá'ticos que
depositário para dar às suas estruturas Estaduais Muni-
cipais e Federais a capacitação para trabalhar em defesa
temos hoje no Brasil, nem a precária situação das áreas do meio ambiente, como um bem um patrímônío de toda
de preservação e de conservação aqui existentes. Um dado a coletividade. '
apenas, que- talvez sirva para assustar ou preocupar a
todos, e que seria necessariamente constitucional para Sr. Presidente, creio que esgotei até os meus cinco
algo se fazer em defesa dessas áreas: temos 13 milhões minutos de tolerância. (Palmas.)
de hectares em áreas federais de preservação Criadas, sob O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agradece-
a guarda de entidades como a Sema e o IBDF. Desses 13 mos ao Roberto - permita-me chamá-lo assim, infor-
milhões, mais de 60% ainda não foi regularizado sob o malmente, de Roberto - um conhecido e amigo de longo
ponto de vista fundiário, ou seja, existem apenas no tempo, um conterrâneo, e dizer que, sem dúvida alguma
panel. Então, vejam V. Ex.as que a situação é precária: sua apresentação vai constituir um auxílio precioso à
além desses 6rgãos não terem regularizado as estruturas nossa Subcomissão.
necessárias para fazer com que a defesa sej a efetiva,
eficaz das áreas de preservação, que entre outras coisas Antes de passar a palavra aos expositores seguintes
são extremamente necessárias para a defesa da diversi- devo dizer que, de acordo com a sugestão feita ontem
dade biológica que deverá ficar para o Brasil futuro, para pelo nobre Relator, vamos ouvir primeiramente a todos
as novas gerações, além disso, cremos que existe muito para depois abrirmos os debates. '
poucos universitários da comunidade eíentífíca, traba- Eu pediria ao Vice-P~esidente, o Constituinte Fábio
lhando nessas áreas preservadas para fazer com que haja ~el~~lDn, que me substituísse por dez minutos na Pre-
novas descobertas de desenvolvimento, novas descobertas sldêncía, porque tenho necessidade de ir a um encontro
da ciência nacional a partir desses pontos. no meu gabinete.
Finalmente. o quarto ponto, que me parece importan- O SR. PRESIDENTE (Fábio Feldmann) Dando
tíssimo também, é o -problema da agricultura, do uso prosseguimento aos trabalhos desta audiência pública, eu
166 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

gostaria de chamar os representantes da Câmara Técnica qual, sem braço escravo e terra farta para gastar e arrui-
de Acompanhamento da Constituinte do Conselho Na- nar, como dizia Sérgio Buarque de Holanda, não para
cional do Meio Ambiente Dr. Carlos Alberto Xavier e proteger ciosamente, seria irrealizável.
Fernanda oolagrosst. Também não é estranho que date apenas de cinqüenta
O SR. CARLOS ALBERTO RIBEIRO XAVIER - Sr. anos a preocupação sistemática com a preservação do
Vice-presidente da Subcomissão, Constituinte Fábio Feld- nosso patrimônio natural e cultural. E ainda que, ini-
mann, Srs. Constituintes, Senhoras e Senhores: cialmente, tenha-se restringido à proteção dos bens his-
Primeiramente, gostaria de passar às mãos do Pre- tóricos, arquitetônicos e artísticos.
sidente desta Subcomissão um documento do Centro Pró- São contemporâneos da Revolução de 1930 dois gran-
Memória da Constituinte contendo parte das propostas des movimentos em defesa da natureza e d3J cultura no
recebidas por esse oentro, criado pelo Ministério da Cul- Brasil. No primeiro deles, cerram fileiras todos aqueles
tura, da Ciência e da Tecnologia, com o apoio da Pró- que defendiam a mudança profunda na regulamentação
Memória, CNPq e Finep, para recolher propostas de toda e controle da exploração da natureza e do uso de seus
a população, criar um canal de comunicação entre o recursos no Brasíl, tendo surgido, naquela década, o Có-
Congresso e a sociedade; dentre outros serviços, também digo de minas, o Código de águas, o Código florestal de
editam o "Jornal Eletrônico", recebem propostas, emitem 1934 e 1937. A eles devemos também a criação das pri-
opiniões, críticas, 'e íso tudo vai-se constituir, de acordo meiras entidades voltadas para a conservação da natu-
com o convênio teíto com o Congresso Nacional, na me- reza. Ess'es pioneiros conservaeíonístas refletiam, confor-
mória desta Constituinte de 1987. me descrito por Alberto Torres, em 1915, preocupação an-
O SR. PRESIDENTE (Fábio Feldmann) - Muito obri- terior com a deterioração das terras pela lavoura do açú-
gado, em nome da Subcomissão. cal' e do café, ou com a devastação das matas, gerando
o despedícío, conforme alertava GHberto Freire, em 1925.
O SR. CAiRLOS ALBERTO RIBEIRO XAVIER - O
documento que estamos entregando a esta subeomíssão Ao segundo movimento deve-se o surgimento do
foi elaborado pela Câmara Técnica de Acompanhamento Servico do Patrimônio Histórico e Artístico NB!Cional
da Constituinte, criado no Conselho Nacional do Meio (SPRAN), criado em 1936, reformado em 1937, e com o
Ambiente, 'e é produto do trabalho de seis membros do arcabouço jurídico definitivo, com o Decreto-Lei n.O 25,
Conselho Nacional do Meio Ambiente, que recolheu todas de novembro de 1937. Quer dizer, desde os anos 30, estava
as propostas das entidades não governamentais" de ins- bem presente o eonceíto hoje predominante do patrimônio
tituições, das pessoas e procurou estabelecer os princípios cultural, o todo constituído pela integração do homem à
norteadores da questão ambiental na nova COnstituição, natureza. Orientada pelo referido decreto-lei, a pioneira
não se atendo apenas à questão 'do meio ambiente, nes- ação de proteção fundamenta-se, por um 1000, IIlO valor
ta Subcomissão. paisagístico excepcional atribuído a certos sítios e aci-
dentes geográficos; por outro, a proteção a determinados
Esse documento apresenta propostas também para sítios, parques, jardins, deu-se em nome do valor histó-
outros capítulos da Constituição, como: dos princípios rico, arqueológico, etnológico.
fundamentais, dos direitos e garantias, das disposições
preliminares, das competências da União, Estados e Mu- D3J experiência cínqüentenáría da conservação do
nicípios 'B do Distrito F!ederal, dos bens do Estado, do patrimônio cultural e natural do Brasil, retiramos vários
Poder Judiciário, da ordem econômica, dos direitos e ga- exemplos de proteção a alguns dos melhores espaços na-
rantias individuais, das comunidades indígenas, da edu- turais, marcados por alguma referência cultural rele-
cação 'e cultura, ciência e tecnologia, Poder Legislativo e vante, desde os parques históricos, jardins, monumentos
sobre a moradia. importantes pela singularidade, como o pão-de-Açúcar,
a Baia de Guanabara, e tem expressões mais complexas,
Como o Dr. Roberto Messias já abordou a questão recentes, como a Serra do Mar, tombados pelos órgãos
por um lado mais abrangente, vou me ater apenas a ler responsáveis pelo patrimônio cultural nos Estados, pri-
um comentário que fiz a respeito dessa proposta, no tem- meiramente em São Paulo e, mais recentemente, na re-
po que me é reservado, e, no final, passareí ,a palavra gião do p.31raná.
à Dra. Fexnanda Oolagrossí, que também participa dessa
Câmara Técnica. O conhecimento e o estudo da natureza devem prece-
der às ações e intervenções econômicas. Economia quer
A natureza como patrimônio cultural do Brasil. dizer, antes de tudo, ordem, arranjo e organização da natu-
Data do inícío da colonização do País a expressão "fa- reza, que é o primeiro e básico fator da produção. Entre-
zer brasil", que significava a exploração intensiva das ri- tanto, os fatores capital e trabalho e suas relações são pri-
quezas que iam sendo identificadas e localizadas pelos mer- vilegiados na análise para a formulação de projeto, en-
cadores da época, em toda a extensão da costa do pau- quanto o capital natural é tomado como um bem infin-
brasíl, território compreendido entre Cabo Frio, no Rio dável, ou como simples fonte de matéria-prima.
de Janeiro, e Cabo de São Roque, no Rio Grande do Os modelos econômicos nas SOCiedades modernas, até
Norte. recentemente, não se preocupavam com o patrimônio in-
Ai se identifica a gênese do caráter predatório do telectual do homem, composto por valores imateriais e
desenvolvimento no Brasil. Este vocábulo que hoje designa bens intangíveis. Estes são tão ou mais importantes do
o natural do Brasil, do Século XVI ao XVIII, denominava que a produção de riqueza e bens materiais que se vê hoje
os indivíduos que se dedicavam ao negócio do pau-brasn. em dia. A mesma preocupação com a proteção do patri-
mônio natural nos leva a pensar na necessidade de revisão
Diz o Frei José Gregório que, ao invés de se chama- de critérios para estabelecimento de taxas de uso de nossas
rem brasilianos ou brasílíenses os habitantes da nova reservas de recursos naturais, através de legislações espe-
terra, o gentílico, porque ficaram sendo designados, era cíficas. Que critério, ou base científica, por exemplo, foi
o mesmo apelativo que se aplic3lva aos negociantes do adotado para a definição da taxa de 50% dos desmata-
pau-brasíl, isto é, brasíleíros, mentos permitidos na Amazônia e de 80% para o resto
Não é de se estranhar que um povo, com esse gen- do País? Com base em que princípio? Neste sentido há
tílico, "tenha oontinuado a praticar, mesmo após a Inde- necessidade urgente de revisão das normas para o' uso
pendência, uma ocupação predatória de seu território, a dos recursos e a definição de critérios para defender o
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 167

patrimônio natural contra os abusos, desperdícios e contra trazer a esta Subcomissão, porque soube que eu teria a
interesses puramente econômicos ou políticos menores, oportunidade de falar também como representante do Con-
como demonstra a experiência recente da colonização do selho Nacional do Meio Ambiente somente ontem, e quero
Estado de Rondônia e a questão fundiária do Jardim Bo- contar simplesmente alguns fatos.
tânico do Rio de Janeiro, por exemplo. V. Ex.as sabem que no trato dos animais domésticos
Existem, hoje, nas regiões tropícaís, cerca de 60 mil que usamos, a morte de um boi, no matadouro, é feita
espécies de plantas ameaçadas de extinção pela fúria ex- por exigência através de sangria, e esses animais são san-
trativista. Este comportamento vem empobrecendo o pa- grados vivos e em plena consciência do seu sofrimento
trimônio genético indispensável à humanidade, muitas e da sua dor; um boi, para ser atordoado, ele recebe golpes
vezes localizadas em regiões nativas, de equilíbrio frágil, na cabeça, através de uma marreta, e esses golpes são
e onde a natureza ainda não foi sequer descrita para a feitos por um homem, depois de certo tempo, cansado.
ciência. Então, esses animais são içados e são sangrados em per-
A importância da proteção ao patrimônio natural não feita consciência. A Organização Mundial da Saúde já
está apenas na consideração material, ou na valorização combate isso, não em termos de um problema humanitá-
econômica dos recursos naturais, mas na relevância cul- rio, mas em termos de saúde pública. Esse animal estres-
tural dos processos adaptativos de grupos sociais ao seu sado muda o PH da sua carne e ele libera a adrenalina,
meio ambiente, práticas não predatórias, mais do que téc- que também vem trazer toxinas na carne que nós utiliza-
nicas conservacíonístas se constituem no conhecimento mos. A Organização Mundial de Saúde recomenda a insen-
ecológico, patrimônio da comunidade, e devem ser man- sibilização, para a higiene dessa carne.
tidas, protegidas, incentivadas, não só como estratégia para No abate dos eqüídeos, por exemplo - e eu trouxe
assegurar a transmissão a gerações futuras do legado cul- aqui uma carta de que existem três abatedouros: um em
tural recebido, mas também para evitar problemas advin- Minas Gerais, outro no Rio de Janeiro e um outro na
dos do êxodo para as grandes cidades. Bahia - eles estão usando o seguinte método: eles colo-
Ao Estado, cabe agir, tendo em vista o interesse maior cam o cavalo num boxe, num pequeno compartimento. O
da sociedade civil, planejando suas intervenções, de forma cavalo não pode se deitar, não pode se sentar, e uma serra
a evitar abusos, e, em áreas protegidas, como os parques circular, a trinta centímetros do chão, é utilizada para
nacionais, reservas biológicas, não se deve restringir a cortar as quatro patas do cavalo. O cavalo, sentindo uma
metodologia de manejo e uso, mas considerar processos dor incrível, não pode se deitar e cai em cima dos cotos,
culturais significativos que importam conservar junto com em cima do corte, e começa a tremer e a suar enorme-
o patrimônio natural. mente, e isto faz com que o seu couro possa ser utilizado,
depois, para sapatos e bolsas, para utensílios finos. Temos
O papel do Estado, portanto, não se esgota na con- aqui a carta, temos a comprovação, temos os nomes dos
servação exclusiva da natureza, já que, como foi dito, pa- três abatedouros.
trimônio natural é o todo constituído pela integração do
homem à natureza, e, por essa razão, é igualmente dever Quero dizer a V. Ex.as que no Hospital da Lagoa, no
do Estado promover a educação para a natureza. Rio de Janeiro, como as cobaias custam dinheiro e os ca-
chorros são tirados da "carrocinha" que os recolhem na
Finalizando, o estilo de desenvolvimento que hoje pre- via pública, e não são vendidos, eles lá estão utilizando,
valece está moldado pela ordem econômica internacional, num hospital conveniado com o Inamps e, portanto, deve-
afetando, em alguma medida, todas as populações da Terra. ria ter pessoal habilitado para isso, estão utilizando esses
Como os sistemas educacionais refletem, necessariamente, cachorros, porque também tem um campo de exposição
o sistema seonômíco dominante, tem sido inevitável a ho- muito maior, para que os enfermeiros aprendam sutura
mogeneização desses sistemas em países do chamado Ter- neles. Esses cachorros têm as cordas vocais cortadas para
ceiro Mundo, mais intensamente neocolonízados, como os não latirem, e são usados, às vezes, quando há a possibi-
da América Latina, onde esse processo de contaminação se lidade de estoque, o curare, que é, como os senhores sabem
verifica de forma mais acentuada. paralisante e não anestesiante. '
Afirma Vicente Sanches que a educação atual acul- Estou citando apenas alguns fatos para mostrar aos
tura o homem. Essa invasão cultural, por não se ajustar às senhores a importância de regulamentar, através da Cons-
realidades locais, estimula comportamentos sociais, tais tituição, o uso em relação aos animais não apenas da
como: o desperdício de recursos naturais, o trato abusivo nossa fauna, mas em relação aos animais que nós usamos.
da natureza, a injustiça e as desigualdades social e eco- . O abate humanitário já foi aprovado na Câmara pelo
nômica, que, em conjunto, são a causa fundamental da Pr01eto de Lei n,v 82/78, e n.O 2.883/76 na Casa de origem.
crise ambiental. Esta com todos os pareceres favoráveis das comissões, e
Passo a palavra à Dr.ê Fernanda Oolagrossi, para ter- vai entrar em pauta no Senado. Um dos paraceres inclu-
minar o tempo que me foi dado. sive, foi de .Tancredo Neves. '
A DR.a FERNANDA COLAGROSSI - Sr. Vice-Pre- Houve uma Circular n.O 10, da Divisão de Carnes, de
sidente da Comissão, Constituinte Fábio Feldmann, um 8 de fevereiro de 1979, do Ministério da Agricultura, que já
lutador do meio ambiente, um líder da nossa causa, 81'S. torna o uso da insensibilização obrigatório para a carne
Constituintes, Sr. Secretário Executivo do Conselho Na- que é exportada para os Estados Unidos. Nos EstaJdos Uni-
cional do Meio Ambiente, Srs. convidados: dos há uma exigência de que nenhum Iugar pode ser li-
ce~cI~qo e pode vender carne que nao seja através de
Tenho a honra de representar aqui algumas das enti- metodos de abate humanitário, justamente por causa da
dades não governamentais ligadas à defesa do meio am- saúde pública. _ -
biente.
~istem três métodos de :insepsibilização, que seria-m
, Depois dos pronunciamentos do Secretário do Meio de pistola de percussao, usando eletricidade e gás carbono.
Ambiente, Dr, Roberto Messias e do Dr. Carlos Alberto Eu quería 'dizer para os senhores também que o abate tem
Xavier, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, eu gos- sido feito para animais de grande porte através de três a
taria de, aproveitando esta ocasião, restringir-me a um quatro marretadas e para búfalo' de 26 a 28 marretadas
assunto" específico. Não preparei nada por escrito para e que isso provoca, realmente, conforme eu já tinha dito;
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estreitameito muito grande nos animais. Quanto à vivis- comunidade se manifestou dizendo que não existe ne-
secção, a situação é a seguinte: existe uma lei, Lei nhuma prática dessa no seu país de origem.
n. O 6.638, de 8 de maio de 1979, publicada já no Diário A SRA. FERNANDA COLAGROSSI - Aproveitando
Oficial, que proíbe as experiências de vivissecção nas es- mais essa oportunidade, queria dizer que isso deve vir das
colas de 1.0 e 2.° graus e locais freqüentados por menores. touradas e vaquejadas, que realmente é uma prática aço-
Essa lei dava ao Poder Executivo o prazo de 90 dias para reana.
regulamentação. Justamente nos biotérios, que são os lu-
gares que podem ser feitas essas experiências, que tives- Queria dizer que, realmente, o Ministro Paulo Bros-
sem um médico veterinário, assistência e fiscalização. sard, com certeza atendendo o Constituinte Fábio Fel·
dmann proibiu realmente essa prática, através de uma
Parece-me que há um desrespeito do Poder Executivo circular que foi para todas as delegacias, porque nós liga-
em relação ao Legislativo, porque essa regulamentação, mos para todas essas delegacias. Nós já sabíamos desse
que deveria ser reíta no Ministério da Educação, através posicionamento do Ministro. Estamos acostumados a con-
da Secretaria de Estudos Superiores, nunca foi feita, até tar com o apoio de S. Ex. a
agora.
Queria dizer aos senhores que no litoral de Santa Ca- As entidades ambíentalístas, de proteção e defesa do
tarina existe uma cultura, de origem açoreana, que se meio ambiente e aos animais, do Rio de Janeiro e São
chama farra do boi - os senhores devem ter lido nos jor- Paulo, pelo menos, telefonaram para todas as delegacias
nais - que é feita na Semana Santa. Lá, um animal é dessas cidades que falei. Inclusive nós pedimos que fi-
comprado, normalmente por um político que doa à cidade cassem de prontidão. Falei depois com o delegado da Pe-
onde é feita, e as cidades, só para os senhores terem uma nha, que me telefonou e disse que o único lugar onde não
noção, é Iguaçu, Tijuca, Porto Belo, Navegantes, Garupaba, houve aprátíca foi em Penha, que nos outros lugares não
Paulo Lopes, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Go- conseguiram segurar a população.
vernador Celso Ramos, Itapema, Oamboríú, Barra Velha,
Praia da Armação e Florianópolis. Esse boi é dado à po- O SR. PRESIDENTE (Fábio Feldmann) - Eu gostaria
pulação pelos políticos locais, normalmente, sobretudo em então de pedir que o Professor Angelo Borbosa Machado
época de eleições, e esse boi tem os olhos furados, tocam viesse à mesa para se manifestar em nome da Sociedade
fogo no rabo, enfiam ferro nas suas cavidades, são corta- Brasileira para o Progresso da Ciência. E dizer, inclusive,
que o Professor Angelo, além de estar representando a
dos lentamente, e quando eles morrem antes do tempo, SBPC, que dispensa maiores comentários, é um professor
porque eles devem morrer apenas no Sábado de Aleluía, reconhecidamente respeitado na área ambiental. Tem al-
outros bois são trazidos. guns trabalhos publicados sobre florestas, inclusive sobre
Eu poderia mostrar aos senhores fotografias de vacas educação ambiental e o papel da floresta na formação das
prenhes que morreram desta maneira e bezerros, também, crianças, e que tem sido um dos militantes do chamado
enfim. Eu poderia trazer filmes para os senhores, inclusi- movimento ecológico, particularmente na comunidade
ve a respeito de todos esses assuntos de que eu falei. científica, de maior peso, e que para mim, que conheço o
Professor Angelo há muitos anos, é uma grande honra
Eu só queria pedir, aqui nesta sala, de tanta impor- tê-lo prestando esse depoimento.
tância para a Constituição, de tanta importância para as
leis que vão nos reger: piedade! Não só aos animais, como O SR. ANGELO BARBOSA MACHADO - Inicialmen-
também à nossa alimentação. E que seja feita na Consti- te, eu gostaria de agradecer, em nome da SBPC, o convite
tuição alguma coisa muito firme e muito séria em relação para falar aqui, agora, sobre o tema da moda atual que é
à morte dos animais que nos alimentam, dos animais que a Constituinte, e apresentar a proposta da SBPC 'para a
nos servem e que nós utilizamos. nova Constituição brasileira. Aproveito também para agra-
decer as palavras amáveis do Constituinte Fábio FeLd-
Era o que tinha a dizer. Muito obrigada. mann, que é um velho amigo.
O SR. PRESIDENTE (Fábio Feldmann) - Eu só gos- Acho que seria desnecessário falar da gravidade da
taria de fazer uma observação, que com relação à farra situação ambiental no Brasil, hoje. O produtor Roberto,
do boi eu me pronunciei na Assembléia Nacional Consti- da Sema, que falou anteriormente, já mostrou alguns as-
tuinte, e representei a Procuradoria Geral da República, pectos dessa situação, onde se nota um desmatamento
pedindo que entrasse com medidas judiciais com base na descontrolado, uma degradação do solo, com o apareci-
Lei de Interesses Difusos, e que impedisse, efetivamente, mento de várias áreas de desertificação, destruição da
a realização da farra do boi. Infelizmente, não sei se chegou fauna, poluição de rios, poluição de centros urbanos, uso
o telex pedindo ao Procurador da República as providên- caótico de agrotóxicos, causando danos à saúde, princi-
cias. Mas e lei, inclusive, determina ao Ministério Público palmente de populações rurais, tudo isso caratcerizando
que ele é competente, hoje, para proteger o animal em ou, digamos, dando um perfil de baixa qualidade da vida
juízo. do povo brasileiro. .
Queria dizer que, depois da farra do boi, e conhecen- Isso reflete uma situação que ocorre no mundo e em
do também essa situação, estou apresentando um disposi- especial no terceiro mundo. E notem que no mês passado
tivo constitucional, uma proposta de dispositivo constitu- saiu um documento produzido por uma comissão da ONU,
cional, que veda a crueldadé contra os animais. que chama a atenção para a gravidade da situação am-
o SR. CONSTITUINTE EDUARDO MOREIRA - Que- biental, especialmente no Terceiro Mundo, correlacionando
tudo isso com o problema de pobreza, de dívida externa,
ro acrescentar com relação à farra do boi, ide Santa Cata- etc.
rina, que foram mortos "86 animais durante a Páscoa des-
te ano, mas à revelia do Governo do Estado, que se mani- Esse documento da ONU mostra que o problema am-
festou contra, mas infelizmente não houve repressão po- biental é atual e é preocupante, em escala mundial prin-
licial, que seria o único modo de evitar. cipalmente no Terceiro Mundo. Mostra esse dom{mento
O SR. :J?lJmSIDEN'l'E (Fábio Feldmann) - Inclusive, também, que as idéias colocadas há algum tempo atrás'
a comunidade açoreana negou que tivesse alguma origem na Conferência de Estocolmo, continuam válidas. '
em seu país essa' prática. Eu gostaria de fazer esse 'reparo Um dos problemas que- vejo da meio ambiente no
porque quando se disse que era urna prática açorearia, a Brasil, diz respeito à legislação. Nós temos uma legisl~ção
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bastante grande sobre meio ambiente. Mas eu costumo do cidadão, a par dos outros direitos já consagrados, como
dizer, e o povo sabe, que neste Pais tem dois tipos de lei: a liberdade, a educação e a saúde.
lei que pega e lei que não pega. :Ê interessante que grande Este é um principio básico, e é de se estranhar que
número das leis ambientais estão na segunda categoria, não conste na nossa Constituição, o díreíto ao meio
ou seja, são leis que não são levadas a sério. O exemplo ambiente sadio é fundamental.
de uma lei que não pega é o Código Florestal, porque se
tivessem respeitado o Código Florestal, nossa situação No nosso art. 2.0 nós damos as estratégias que obri-
florestal não seria como hoje. Um dos problemas é que gatoriamente o Poder Público deveria usar para obter esse
esta legislação não tem o respaldo de princípios consti- meio ambiente sadio, equilibrado e apto para o desenvol-
tucionais, quer dizer, é uma legislação solta, ela não está vimento da vida.
apoiada em conceitos bem formulados na nossa Consti- O terceiro artigo trata da defesa do cidadão ou das
tuição. assocíações lesadas no seu direito ao meio ambiente com
Devo lembrar que na nossa Constituição atual, a essas qualidades.
palavra meio ambiente e ecologia não existem, não foi
falado nunca. Existe apenas um artigo, que é o art. 172 F1nalmente, o quarto artigo -trata da punição daqueles
da Emenda Constitucional n,v 1 de 1969, que fala de ero- que atentarem contra o meio ambiente.
são e de poluição. De tal modo que a nossa Constituição De modo que é um conjunto integrado de quatro arti-
está muito atrasada em relação às Constituições moder- gos. Eu me permitiria, agora, analisar com um pouco mais
nas, surgidas, principalmente, depois da Conferência de de detalhe o segundo artigo que define o dever do poder
Estocolmo. Nessas novas constituições existem capítulos público, através de organismos próprios, e com a eolabo-
muito bem fundamentados, como o de meio ambiente, ração da comunidade. Em primeiro lugar seria assegurar
que dão subsídio à legislação que daí saia. em 'âmbito nacional e regional a diversidade das espécies
Nas Constituições espanhola, portuguesa, e grega, esses e dos ecossistemas, de modo a preservar o patrimônio
aspectos são tratadas seriamente. E, coincidentemente, são genétíco desta Nação. Neste item, o problema da extinção
países que saíram de um regime ditatorial, e que na Nova de espécies animais e vegetais é tratado em termos de
República de cada um levaram a sério o problema do diversidade biológica. A extinção de espécies passaria a
meio ambiente, de tal modo a inseri-lo nas suas Consti- ser inconstitucional, porque diminuiria a diversidade bio-
tuições. lógica e diminuiria o patrimônio genético desta Nação. O
Diante disso, eu vejo a tarefa desta Subcomissão problema de extinção de espécie é tratado em várias
extremamente importante, porque nós estamos muito atra- Constituições. Aliás, eu diria aqui que a Comissão de Meio
sados na problemática ambiental em termos de Consti- Ambiente da SBPC estudou comparativamente pelo menos
tuição. E por esse motivo a SBPC ousou apresentar para 15 Constituições no seu conteúdo ambiental, e esse item é
os Senhores uma proposta já totalmente fundamentada original no sentido de que seja a primeira Oonstítuíção a
como subsídio para os estudos que estão sendo feitos tratar o problema da extinção de espécie em termos de
aqui e agora. Esta proposta é parte de uma proposta mais diversidade biológica. Por quê? porque essa é uma visão
geral da SBPC, que envolve outras áreas, mas cujo texto moderna. Modernamente começa-se a tratar do assunto
específico de meio ambiente foi distribuído aos Senhores em termos de defesa das adversidades.
agora.
No ano passado houve um congresso internacional nos
Esta proposta foi elaborada pela Comissão de Estudos Estados Unidos sobre diversidade biológica, e uma das
de Problemas Ambientais da SBPC, que eu presído. Esta conclusões foi de que há a ameaça de extinção de 1 milhão
Comissão é constituída de zoólogos, ecólogos, geógrafos e de espécies na terra, até o final do século, principalmen-
pelo menos uma pessoa especializada em Direito Ambien- te pela devastação que existe hoje na floresta tropical, que
tal, que é o Professor Paulo Afonso Leme Machado. detém 50% da diversidade do mundo.
. Para, a execução dessa proposta, a Comissão recebeu
subsídios de simpósios e mesas-redondas que têm sido Estudos recentes têm mostrado que o Brasil é o Pais
realizados nas reuniões anuais da SBPC, oS a nossa proposta de maior diversidade biológica do mundo, que tem a fauna
foi discutida e apoiada em alguns encontros conservacío- e a flora mais díversítícada do mundo. Esses estudos fo-
nístas e encontros ambíentalístas e por vários grupos de ram feitos pelo Clube Internacional de Vida Silvestre. Eles
entidades conservacionistas do País. verificaram que os recursos financeiros para a proteção de
espécies são restritos, e que é preciso fix8lr prioridades
Assim eu gostaria agora de passar a uma análise um de ação, e determinar quais os países de maior diversidade
pouco mais minuciosa da nossa proposta, porque é muito para maior concentração, e concentração mais racional
sucinta mostrando as razões que nos levaram a colocar de recursos. E o Brasil veio em primeiro lugar. Assim, a
alguns pontos nesta proposta. Propomos, basicamente, u}U preservação da diversidade biológica é a preservação de
capítulo. É importante que as idéias ~e J?~io ambiente ~ao uma peculiaridade nossa, de algo que temos de rorma mais
estejam dispersas em toda a Oonstdtuíção, mas estejam avançada, mais rica do que os outros países. Mas isso não
em um capitulo conciso, sem prejuízo de que itens de é, em geral, entendido assim. Mesmo do ponto de vista de
meio ambiente possam estar dispersos em outros pontos. educação, do ponto de vista psicológico, não se preza a
Assim nós propomos um capítulo e itens na área ligada diversidade da nossa fauna e da nossa flora. As crianças
a bens da União, da competência do Estado, do Município são educadas para achar que é bonita a mata em que as
etc. árvores são todas iguais, e isso é trazido à criança pela
Eu me permito comentar, apenas ,o capítulo que é importação de imagens que vêm do exterior. Uma criança
proposto agora. O capítulo que nós propomos constitui um disse a mim que acha a nossa floresta muito bagunçada
conjunto integrado de apenas quatro artigos. Eis o art. 1.°: porque as árvores são diversificadas, porque há uma gran-
"Art. 1.0 Todos têm direito a um ambiente de riqueza, e ela é acostumada a achar a floresta bonita
sadio, ecologicamente equilibrado e adequado para como a que vê no cartão postal.
o desenvolvimento da vida, com o dever de o de- Então, na medida em que inserimos como um bem a
fender." ser preservado, a diversidade, nós estamos protegendo as
. Assim, nós. colocamos, a nível de Constituição, o díreí- espécies de animais e plantas, tentando incutir uma men-
to a um ambiente sadio, como um direito fundamental talidade que :valoriza aquilo que é nosso. E essa valoriza-
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ção não é apenas em termos estéticos porque as espécies Banco Mundial. Os estudos de impacto ambiental têm que
da fauna e da nossa flora estão sendo destruídas antes de ser postos como uma rotina, como uma variável nova nos
serem estudadas e o valor genético que existe, começa a trabalhos que decorrem em dano grave ao meio ambíente
ser apreciado. Nós sabemos, por exemplo, que a produção e este é um dos itens da nossa proposta.
de trigo do México foi salva quando se descobriu o trigo Finalmente, refere-se ao problema da educação amo
silvestre na mata, que se embrentizou com o trigo e, assim, biental que deve ser feito em todos os níveis, na forma
conseguiu resistência à praga. Esta, é uma Subcomissão da lei.
em que predominam pessoas ligadas a área da saúde, e eu
me sinto bem aqui porque também sou médico - só que O terceiro item fala, como eu disse, da defesa do
abandonei a Medicina para me dedicar à conservação e à cidadão, lesado nos seus direitos a um meio ambiente sadio
fauna. Vamos lembrar que a maior descoberta de interes- sob a forma de indenização ou de reposição. E o art. 4.°, fi-
se médico já feita neste Continente, foi realizada na mata, nalmente, define o atentado ao meio ambiente como crime
não por 'Cientista, mas pelos índios, que foi o curare. O e não contravenção. Deve ser assim: se uma pessoa dá
curare que se usa nas cirurgias, hoje, foi descoberto na um tiro e mata outra, é um crime. Mas, se uma pessoa,
mata. É um exemplo de que estamos destruindo gens que por negligência, causa um acidente ecológico que mata
podem ser de utilidade prática antes de serem estudados. 100 pessoas, isto não é crime, é contravenção. Contravenção
De modo que nós, da Subcomissão, temos um carinho todo não funciona, não é levada a sério. Faz-se acordo de tole-
especial por este item que acentua a diversidade biológica. rância para contravenção e até governos estaduais estão
fazendo acordo de tolerância - isto não é levado a sério.
O item 2 já foi tratado aqui, e viabiliza esse aspecto, Aliás, a crímínalízação do dano ao meio ambiente já é
em termos da criação de parques e áreas de reserva. O Dr. muito antiga. Nas ordenações filipinas do século XVI, pre-
Roberto, da Sema, já chamou a atenção para o estado de via-se que a devastação florestal era crime. E sabem qual
calamidade em que se encontram nossos parques e áreas era a pena? Degredo para o Brasil - isto explica muita
de reserva. Nesse item, define-se a obrigação do poder coisa.
público de criar essas áreas mas, também, a obrigação de Mas, finalizando esse conjunto de itens da nossa pro-
mantê-los através de serviços públicos indispensáveis à posta, eu gostaria de dizer que nós temos uma enorme
sua finalidade. É preciso acabar a criação de parques de confiança no trabalho desta Subcomissão, que é único,
sentido político no papel. Cria-se no papel e depoís aca- peculiar e diferente de todas as outras. As demais Subco-
bou, some. De modo que isto nós tentamos prever aqui. missões, na maioria das vezes, apenas modificam ou atua-
Um outro item é a ordenação do espaço territorial, de lizam temas de direitos que já existam nas outras Cons-
f-arma a construir paisagens equilibradas. Se houvesse um tituições do Brasil. :É apenas esta que tem a missão his-
planej amento do uso do espaço, não haveria um Cubatão. tórica de elaborar o primeiro capítulo de meio ambiente
Em Cubatão 'concentrou-se uma quantidade enorme de de uma Constituição do Brasil. E é exatamente para aju-
fontes de poluição ao lado de uma mata. A poluição des- dá-los nessa tarefa que a SBPC traz a proposta que acabo
truiu a mata e, com isto, houve a erosão e houve a inva- de analisar. Muito obrigado.
são da própria área urbana, por terra, vinda da Serra do O SR. PRESIDENTE (Fábio Feldmann) - Gostaria
Mar, com um acidente ecológíeo que todos conhecem. Por- de agradecer ao Professor Angelo e passar a presidência
tanto, inserir um item sobre a necessidade de ordenação dos trabalhos ao Constituinte José Elias Murad.
do espaço territorial, é fundamental.
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Nós agra-
Um outro item é o único da Constituição anterior que decemos ao Constituinte Fábio Feldmann por ter nos subs-
fala de poluição e erosão. Um outro item importante: tituído durante esta pequena ausência.
assegurar e promover, com base em principias ecológicos, Como S. Ex. a disse, agradecemos ao nosso querido
um aproveitamento dos recursos naturais em beneficio de amigo, um lutador de longo tempo em defesa do meio
todos, garantindo-se sua reserva e estocagern para gera- ambienta, Professor Angelo Barbosa Machado, pela sua ex-
ções futuras. Aqui, nós temos o fundamento da conserva- posição.
ção, no seu conceito internacional e científico. Conservar
não tem o sentido imobilista que muitos querem dar. Prosseguindo, nós vamos passar, agora, a palavra ao
Existe um sentido de conservar a natureza, de não se poder representante da União dos Defensores da Terra, o Dr.
matar um animal ou uma planta - é o sentido da utílí- Eloir Ascânío Castilho.
zação racional para que não acabe. Aliás, a nossa proposta Com a palavra o Dr. Eloir Ascânio Castilho. (Pausa.)
não usa o termo racional. Isto existe em algumas Consti-
tuições. Para um fazendeiro que tem uma mata, cortar a S. Ex. a não está presente.
mata, fazer carvão e ganhar dinheiro, isto é racional. O que O SR. CONSTITUINTE FABIO FELDMANN - Sr. Pre-
é racional para um, não é para outro. Nós definimos: pro- sidente, peço a palavra.
mover com base em princípios ecológicos, ou seja, a ciên-
cia que vai definir a utilização racional é a ecologia. por O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a pa-
outro lado, aqui prevê a estocagem e a manutenção para lavra o Constituinte Fábio Feldmann.
as gerações futuras. Freqüentemente, se faz oposição entre
economia e eeología. Essa oposição não existe. Eu costumo O SR. CONSTITUINTE FABIO FELDMANN - Sr. Pre-
dizer que a ecologia é a economia a longo prazo, só que sidente, eu queria explicar que sou Presidente dessa entí-
os nossos economistas, em geral, só vêem a curto prazo, dade ecológica, mas que havia sido designado um outro
no período da, sua gestão no órgão em que estão. Talvez representante. Inclusive, a indicação dessa entidade não
eu esteja sendo um pouco rigoroso nessa crítica - poís partiu de mim, foi uma indicação do Lider do PTB, o
já existem economistas de longo prazo - mas, tradicional- nobre Constituinte Gastone Righi. Dou esta explicação para
mente, a divergência é entre ecologia que vê a longo prazo que não se diga, amanhã, que a entidade da qual sou Pre-
e a economia que alguns prevêem sempre a curto prazo. sídente e estou ligado, teve algum prrvílégío nesta Subco-
missão de ser ouvida, ao passo que" muitas outras não o
Há um item sobre a elaboração de estudos de impacto foram. De modo que eu gostaria de deixar registrado isto
ambiental, que é fundamental mas deve ser feito de modo para que, amanhã, fique claro que foi uma sugestão en-
a definir prioridades e alternativas e não simplesmente caminhada pelo Constituinte Gastone Righi, inclusive por-
para enfeitar um pedido de empréstimo no exteríoz ao que iniciou o Dr. Emílio Castilho.
Julho de 1987 DIAR!O DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 171

o SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Nós agra- quia dos serviços existentes mais próximos e mais acessí-
decemos a explicação do nosso companheiro Constituinte veis aos usuários.
Fábio Feldmann. Ouviremos, então, o IPCC, Instituto de
Estudos dos Problemas Contemporâneos da Comunidade. Quanto à carência de serviços de saúde, equipamentos,
Com a palavra o Dr. Jaime Rosenbjon. laboratórios, etc., as nossas estruturas, além de insuficien-
tes, estão desgastadas, desatualizadas, sucateadas, insufi-
O SR. JAIME ROSENBJON - Inicialmente, cabe-me cientes, hoje, pelos indices da Organização Mundial de
agradecer o convite para comparecer a esta Subcomissão. Saúde e que se agravarão, seriamente, até o ano 2000, de-
Eu não trouxe um trabalho escrito porque há duas sema- vida ao nosso crescimento demográfico. Faltar-nos-á cerca
nas nós escrevemos um livro com a proposta do IPCC e de 359 mil leitos para manter os índices da OMS, ou seja,
eu pessoalmente mandei distribuí-lo a cada um dos Srs. teremos que construir nos próximos 14 anos, o equivalen-
Constituintes desta Subcomissão. Se, por ventura, alguém te a 80% dos leitos atualmente existentes.
não o recebeu, eu gostaria de remeter um segundo volume.
O que dizer da qualidade dos hospitais brasileiros? ~
Como médico, nós costumamos enfrentar o problema muito preocupante para quem conhece e visita os hospi-
tentando fazer um diagnóstico para, depois, propor uma tais ao longo de todo o Brasil. A baixa remuneração dos
solução. O problema do diagnóstico da saúde no Brasil, serviços prestados e profissionais de saúde mal remunera-
nos apresenta um panorama muito negro. Primeiro, gas- dos, a mentalidade de se remunerar maIos serviços preso
ta-se muito pouco em saúde no Brasil e, pior do que tudo, tados, levou a uma queda do padrão assistencial desuma-
gasta-se muito mal. As verbas são insuficientes, mal dis- na e quase criminosa. Os hospitais foram sucateados, os
tribuídas, mal aproveitadas e os resultados são os piores profissionais de saúde são mal remunerados, a qualidade
possíveis. Gastamos no ano passado apenas 3,72% do Pffi desses profissionais degenerou-se pois não há treinamen-
brasileiro. O nosso número de hospitais e o número de to em serviço que resista a um tournée de 50 a 60% ao
leítos é baixo, comparado aos índices da Organização ano. Quando se gasta tão pouco em saúde como o Brasil
Mundial de Saúde. O pessoal de saúde de que dispomos, gasta - 3,72% do PIB - como melhorar os hospitais, co-
tanto médicos, como enfermeiras e outro pessoal paramé- mo remunerar melhor os profissionais, como fazer trei-
díco é em número insuficiente para as nossas necessida- namento profissional e humanizar a assistência? É preci-
des. Os indicadores de saúde no Brasil chegam a ser ver- so investir mais para se poder cobrar. Carência de pro-
gonhosos. Nosso índice de mortalidade infantil, nosso fissionais de saúde, falta-nos tudo: médicos, enfermeiras,
índice de doenças transmissíveis e infecciosas que outros técnicos - precisamos investir na sua formação e cuidar,
países já venceram, estão todos os dias nas páginas dos principalmente, da qualificação profissional. Esse tópico,
jornais. Poucos, para não dizer ninguém, se preocupam junto com o anterior, condícíona a má qualidade dos servi-
com a qualidade da assistência oferecida. Nós não nos ços prestados. Quem faz no Brasil audítorâa médica?
preocupamos em saber se o que estamos dando à popula- Quem avalia que o que se gasta, mesmo sendo pouco, é
ção é bom ou ruim. Em Medicina isto é fundamental - bem gasto? Qual a qualidade da nossa assistência? Sabe-
ou a assistência é boa ou não adianta dar absolutamente mos apenas que ela é barata, mas se ela for de má qua-
nada. Nós temos, ainda, segundo dados do IBGE de 1984, lidade nós estamos desserviçando apenas. Grandes dife-
dos 3,72% do PIB gastos em saúde, 2,17% foram gastos, ex- renciações regionais geram necessidades de soluções re-
clusivamente pelo setor privado que, sozinho, é responsável gionais. A constante tentativa de se estabelecer critérios
por 58,4% dos gastos totais de saúde no País. O setor pú- padronízados a nível nacional para um Pais Oontinente
blico gastou 1,55% do PIB dos quais 0,72% foram da Previ- com condições sócio-econômico-culturais tão distintas,
dência e 0,83% dos Governos estaduais e municipais. Com como o que ocorre no Brasil de hoje, gera problemas de de-
tudo isto, nós notamos que estamos vivendo uma crise de saiustes - ou as soluções são super dimensionadas' para
saúde - é um dos grandes problemas que a Nova Repú- as regiões mais carentes ou elas são subdísnensíonadas
blica enfrenta e que está a exigir uma nova política e a para as regiões mais desenvolvidas. Deve-se criar meca-
oportunidade está, evidentemente, nesta Constituição. A nismos de valorização do desempenho institucional; deve-
situação atual apresenta a característica inusitada de não se preocupar com a qualidade do serviço ofertada, contro-
agradar a ninguém. Conseguimos criar um sistema que a lá-la. fiscalizá-la, premiar e incentivar aqueles que in-
todos desagrada - médicos, hospitais, população, empre- vestem e zelam pela qualidade do que se dá à população.
gados da área de saúde e ao próprio Governo. Ninguém Deve-se exigir como política social, que se destine ao aten-
está satisfeito com o que aí está. A lista dos problemas dimento à saúde, verbas nunca inferiores a 10% do pm,
atuais é imensa e alguns merecem ser citados: margina- como ocorre nos países desenvolvidos. O estabelecimento
lização de uma parcela da população; dificuldade de aces- de uma política definitiva sobre a participação ou não da
so ao sistema de saúde; desumanização da assistência; iniciativa privada, diante do exposto de que a iniciativa
má qualidade dos serviços prestados; baixa remuneração privada é, hoje, o seu maior participante na assistência
dos serviços prestados; profissionais de saúde mal prepa- que existe. Da carência que, hoje, apresentamos e que se
rados; carência de equipamentos; laboratórios e serviços tornará calamitosa até o ano 2000, devendo-se construir
de saúde; deficiência na formação dos profissionais de 80% de leitos novos, comparativamente aos 446 mil dísponí-
saúde; centralização excessiva dos poderes decisórios; não veis atualmente e que em cada 100 cruzados gastos, hoje em
participação paritária nas decisões em todos os 'segmentos saúde, a iniciativa privada participa com 58,40 cruza-
envolvidos no sistema; constantes tentativas de estabele- dos e os órgãos públicos 41,60, sendo que todos os recur-
cer critérios padronizados a nível naeíonal, para um país- sos públicos e privados, ainda são poucos e insuficientes à
Contin.ente e com grandes diferenciações regionais: esta- neoessídede de se definir a forma de participação da ini-
belecimento de uma política definitiva sobre a participa- ciativa privada. Ainda perdura nos órgãos governamentais,
ção ou não da iniciativa privada na assistência médica. a convicção de que os empresários do setor de saúde são
Em relação à marginalização de uma parcela da popula- antagonistas do sistema e não seus colaboradores impres-
ção, essa situação é deprimente e precisa cessar. Todos de- cindíveis. Se somos tão poucos e tão pobres, por que mar-
vem ter direito à saúde. Portanto, a saúde deve ser uni- ginalizar a iniciativa privada ou impedir a sua participa-
versal. Este deve ser um principio constitucional. O Go- ção? Por que relegá-la a uma posição secundária e não de
verno é responsável para que esse direito se consubstan- igualdade? Todos são importantes .e, ao invés de antago-
cie, mas não implica em que ele seja necessariamente o nismo, devemos criar atrativos, incentivos, para que um
seu executor. Há dificuldade de acesso ao sistema. Esse maior contingente 'de brasileiros participe da criação de
problema serííssímo, somente pode ser resolvido pela fran- uma infra-estrutura de saúde. Mesmo agregando a todos,
172 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

ainda somos poucos. Diante do exposto, queremos apre- social se desvie no sentido progressivo e onde, 'cada vez
sentar um esboço de proposta de solução. mais, uma parcela maior da nossa população possa, cons-
Existe uma ilusão de que com os recursos do Inamps cientemente e por livre manifestação, escolher a sua for-
se poderá dar assístêncía médica a todos os brasileiros. ma de atendimento.
Esquece-se de que os recursos totais da Previdência, gastos Muito obrigado.
em assistência médica, representam apenas 19,4% do gasto O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Nós agra-
total de saúde hoje no País. A criação das ações integra- decemos ao representante do IPCC (Instituto de Estudos
das de saúde devem ser mantidas e incrementadas, dentro dos Problemas Contemporâneos da Comunidade), Dr.
do objetivo de que a saúde é um direito do cidadão e a Jaime Rosenbjon e convidamos o representante da
assistência tem que ser uníversalízada , Apande, Dr. Fernando Salino Corte.
Mas, o desvio de recursos da Previdência para não O SR. FERNANDO SALINO OORTE - Primeiramen-
contribuintes dela, além de não ser correto, pode g-erar te, bom dia a todos. Nós, como representante da Apande,
problemas futuros aos contribuintes da Previdência. As gostaríamos de apresentar umas propostas objetivas que
ações integradas de saúde devem ter suas fontes de custeio são, na verdade, uma adição ao trabalho que foi apresen-
definidas e sustentadas por toda a sociedade e pelos recur- tado ao Conama. É um trabalho da própria Apande enca-
sos que o Governo recolhe como o Finsocial, FND, Loto minhado ao Conama. Nós continuamos trabalhando até
e outras formas a serem criadas. A política de saúde deve o último momento e preparamos uma adição e eu vou
seguir os seguintes fundamentos: falar só sobre as propostas objetivas aqui.
I - ser universal. Todo cidadão deve ter direito e
acesso à assistência médica; Inicialmente eu gostaria de ressaltar que deveríamos
atentar para o fato de que esta COnstituição é a primeira,
II - ser pluralista. Devemos permítlr toda e qual- realmente, que vai tratar seriamente sobre assuntos de
quer forma de assístêneía onde o cidadão, o brasileiro terá meio ambiente. Então existe a discussão sobre a generali-
o díreíto de escolha do programa que melhor atenda às dade das propostas das leis da Constituinte e no caso do
suas necessidades. Aos médicos deve ser dada a liberdade meio ambiente, algumas propostas necessitam de um pou-
de escolha da forma de exercer o seu trabalho profissio- co mais de especificidade, porque justamente dentro da
nal. Só haverá liberdade de escolha se o sistema for plu- Constituição elas têm um peso e uma salvaguarda maior.
ralista.
Dentro desse espírito nós procuramos abordar os pro-
A Previdência Social deverá operar o seguro estatal blemas relativos ao meio ambiente, ressaltando, inclusive,
compulsório' aos hospitais universitários deverá ser reser- pontos, alguns já colocados. A lei que conside~a~oE u~a
vado o papei de educar e formar os profissi~nai~ da saú!ie, das mais importantes a ser colocada na ConstltUlçao e a
servir a pesquisas e serem o foco de padronísação e radía- que fala sobre a avaliação do impacto ambiental.
ção dos novos conceitos de diagnóstico e tratamento; aos Em relação a essa lei nós temos um ponto de vista
hospitais privados continuará cabendo o papel de investir de que ela precisa ter uma salvaguarda que estabeleça a
onde possa, gerando eficiência através da competição; as atribuição de a quem cabe fazer a avaliação de impacto.
ações integradas de saúde devem ser estruturadas com Por exemplo: hoje em dia uma grande firma de consulto-
suas fontes de custeio próprias, disciplinadas as suas apli- ria pode executar um projeto de uma barragem, ou de
cações a. fim de se garantir os seus objetivos, que é incor- uma. estrada, ou qualquer coisa que cause impacto ao am-
porar a parcela da população marginalizada. pela estru- biente e ela mesma, através de empregados seus ou de
tura atual. um departamento da própria firma, executar a avaliação
É nossa convicção que só seremos um país adulto de estudo e apresentar ao órgão estadual competente.
quando os usuários, os cidadãos 'COnseguirem ex_ercer o seu Nós achamos que isso se presta exatamente aos inte-
papel de cidadão, ou seja, o seu papelde seleção ~ de es- resses aos quais a lei quer combater, porque não pode ha-
colha selecionando os melhores e elImmando os piores, O ver vínculo comercial, nem empregatício ~e maneira algu-
usuário no caso o cidadão brasileiro e somente ele deve ma pela pessoa que faz a avalíaçâo de ímpacto , Entao,
ser o ju'lgador final em qualquer plano, eliminando ao cor- nós sugerimos que a avaliação de impacto seja estabeleci-
rer dos anos as opções que não lhe agradam, restando ape- da em lei, que ela obrigatoriament~ seja feita por .firma
nas aqueles que tiverem a sua aprovaçao e que melhor especializada em estudos ambíentaís, contratada direta-
atenda às suas necessidades. mente pelo órgão estadual do meio ambiente competente.
Por tudo somos defensores da participação da lívre Sem esse dispositivo a lei certamente vai se prestar
iniciativa concomitante e em igualdade de atuação dos justamente ao que ela quer combater, porque podem ocor-
órgãos públicos. rer casos em que são feitos estudos de impacto e a pessoa
Sabemos que quanto mais desenvolvido um país, com é obrigada a assinar, sem ter uma isenção completa, uma
uma população economicamente bem equilibrada e_ hom~­ pessoa que dependa do emprego e acaba não funcionando
genicamente distribuída, mais ser.viços d~ saúd;e sao solí- o objetivo.
citados e exigidos. Sabemos também que a medida em que Em adícão a essa lei também, nós achamos muito
se sobe na. escala social, mais o serviço da iniciativa pri-
vada é solicitado. Parece ser uma triste sina de que só
a
importante colocação de dispositivo que preveja a rein-
tegração - no caso de atividade de mineração, extrati-
procura serviço público quem não tem recursos para pro- vas em geral - do espaço físico ao ambiente circundante,
curar assistência privada. para que não seja predatrio o tipo de exploração.
Recuso-me a ser um derrotista, a aceitar como inevi- Outro aspecto, também, que no nosso entender é mui-
tável a predestinação de sermos sempre um Brasil pobre to importante ser abordado, é o ponto de vista do estudo
sem recursos e nivelar todà a população brasileira na mais de impacto nos assentamentos de reforma agrária, devido
baixa escala social a fim de justificar a elímínação ou a ao impacto natural resultante dos projetos agrícolas e
marginalização da iniciativa privada. .- também ao impacto adicional de edificação de muitas
Tenho a ousadia de sonhar com um Brasil rico, com habitações rurais novas que têm que ser bem planíríca-
uma ,população cada, vez mais- próspera, .onde a escala das para poder não ocasionar impacto ao ambiente.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 173

No capítulo sobre competência comum à União Fe- que tenham sido feitos ao ambiente, porque uma vez que
deral. aos Estados e aos Muncípios nós sugerimos que os entrou no Tesouro Nacional tem que se pedir e batalhar
poderes públicos instituam os planos zonais de energia, muito por isso.
com atualizações plurianuais, divulgando amplamente os Uma sugestão nossa também é que as questões am-
estudos antes da implementação dos mesmos. Isso obje- bientais sejam julgadas em fórum apropriado, que seja
tiva fazer a descentralização da abordagem dos proble- criado um Tribunal de Justiça ambiental. É evidente que
mas, das soluções energéticas esse tipo de abordagem cen- é muito complexo e existe uma burocracia para se criar
tralizada é altamente impactante e resulta em obras fa- um tribunal. Então, a atitude lógica é que se agilize na
raônicas que causam impactos muito importantes. Além justiça comum, enquanto esse fórum não for criado. Mas,
delas serem impactantes, são também comprovadamente, no nosso entender, os problemas ambientais pela sua com-
antíeconômícas, porque gastam energia transportando a plexidade, eles têm direito a uma abordagem num tribu-
própria energia. Nós temos o exemplo prático de rtaipu nal especial, principalmente porque normalmente o réu
e suas linhas de transmissão, que se fossem feitas várias é detentor doe grande poder econômico, e, nesse caso, um
pequenas usinas hidrelétricas, não se teria gasto o impac- tribunal especial daria transparência e agilidade para esse
to adicional com a execução de linhas de transmissão processo.
caríssimas. Outro exemplo dessa abordagem aqui é em
relação ao Pro álcool. Por exemplo, não tem sustentação Existe uma outra questão que gostaríamos de colo-
lógica o Proálcool, abranger a Amazônia. Então, o obje- car. É que as áreas de propriedade privada, protegidas
tivo de estabelecer planos zonais de energia, seria des- por lei contra desmatamento, definidas em percentual da
centralizar as soluções energéticas e adequar as regiões. área total da propriedade, mantenham o mesmo índice
Também com esse objetivo, sugerimos que sejam incenti- l-egal protegido, independente do desmembramento da área
vados pelo Poder Público, investimentos em reciclagem original, por efeito de alienação de parte ou do todo da
industrial, especialmente. Porque, como se falou aqui, para propriedade. Ocorre, que atualmente existe a lei que va-
se fazer uma economia que não seja conflitante com a ria, conforme a região, e estabelece onde há implantação
ecologia, inclusive uma definição clássica de ecologia, é de um projeto agrícola, que 20% da reserva florestal seja
que a ecologia é a economia da natureza, segundo mantida, não pode ser desmatada. Mas acontece que a
HaeckeI. A abordagem é especificamente a reciclagem. pessoa desmata, 80% vende os 80% e tem um índice legal
para que ela seja viável sem causar impacto. Então, o para desmatar, pelo menos na prática está ocorrendo
problema da abordagem da energia, em nosso entender, assim. Então, essa lei é completamente inócua, quer dizer,
é fundamental. E como na natureza, nos ecossistemas, a pessoa desmata, vende uma parte e obtém um novo
existe a reciclagem dentro dos próprios ecossistemas, os índice legal para continuar desmatando. Sugerimos que
próprios animais trocam, entre os sistemas, energia de se atente também para esse problema.
uma maneira eíclíca, sempre fechando os círculos, e na Outra sugestão, é que seja vedada, no território na-
nossa economia, principalmente, ela não fecha círculos cional, a pesquisa sobre método de agressão ao ambiente
nunca, devido à concentração do poder decisório e cen- ou à saúde humana, com fins militares. No caso, para
tralizado das coisas. evitar criação de um fato novo no ambiente, sobre o
Pedimos incentivo também para a agricultura orgâ- qual não se tenha controle.
nica, pesquisa e manejo integrado 'de pragas e projeto Gostaria, também de fazer referência à dotação orça-
de utilização de energia renovável. mentária. Está previsto no anteprojeto constitucional uma
Quanto à parte legal, gastaríamos de reforçar aqui o dotação orçamentária mínima a ser aplicada nas áreas
ponto de vista que foi colocado sobre os danos ao am- de educação, saúde e saúde pública. Nós achamos que a
biente, que não sejam previstos como contravenção, e parte de saúde pública deveria ser desmembrada e estabe-
sim como crime, no Código Penal. Nós achamos também lecer especificamente uma dotação mínima e atribuições
que a lei deva estabelecer as sanções detentivas, pecuniá- para área de saneamento básico e ambiental e medicina
rias e suspensões de atividades. Aqui pode parecer que sanitária, porque saúde pública envolve tipos diferentes
,õeja um problema mais de leis complementares, mas gos- de atuação. Então estabelecer-se uma dotação apenas para
taríamos de ressaltar ponto para ser colocado da maneira a saúde pública, não há controle algum sobre o destino
mais genérica possível, na Constituinte porque esse pro- da verba. Assim devido à originalidade e à complexidade
blema hoje é justamente o que está incentivando as fir- dos objetivos financeiros, nós achamos que deveria haver
mas causadoras de poluição industrial. a fazerem cons- uma complexidade dos objetivos financeiros, nós acha-
cientemente a poluição, porque para eles ainda é van- mos que deveria haver uma dotação míníma, que englo-
tagem pagar a multa e continuar poluindo. basse engenharia sanitária, com problema de abastecimen-
to d'água, e ambiental e a outra para a medicina sani-
Nesse caso, que a lei estabeleça as sanções detentivas, tária, dentro da saúde pública.
pecuniárias e suspensões de atividades, de uma ordem de
grandeza que desestimule, desencoraje o delito. Gostaríamos que fosse considerada a obrigatoriedade
da União, do Governo Federal interferir em medidas tra-
Colocamos também que os Estados -e Municípios pode- tadas, ou convenções internacionais que possam causar
rão legislar supletivamente sobr-e a matéria, bem como danos ambientais ao País. Hoje em dia inclusive com o
avocar a si o aumento dos valores referentes às sanções problema de guerra bacteriológica e a própria abordagem
pecuniárias. Tudo aquilo naquela idéia de descentraliza- do problema nuclear e todos os problemas que afetam a
ção das soluções. ecosfera de uma maneira geral, nós temos que lutar por
Outro ponto importantíssimo que gostaríamos de co- um direito internacional e defender sempre o nosso País
locar é que toda receita oriunda de sanções penais rela- de medidas tomadas lá fora. '
tivas a danos ao meio ambiente, seja necessariamente Por último, nós sugerimos que empresas de capital
investida em pesquisa, programas e projetos ambientalis- estrangeiro, causadoras de poluição ambiental relevante,
tas, através de um fundo criado para este fim. sejam obrigadas a internar no País, por período a ser es-
Nós gostaríamos de fazer uma relação entre causa e tabelecido em lei complementar, a remessa de lucro como
efeito de danos, quer dizer, responsabilizar também. Esse unia forma coativa. A colocação dessa lei - inclusi~e, te-
dinheiro pago como sanção pecuniária de qualquer natu- mos consciência de que é difícil passar - mas a ímportân-
reza, deveria compor um fundo para reparar os danos ~~a da -colocaçâo dessa lei, mesmo que ela. vá a Plenárió e
174 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

não passe, ela já terá cumprido a sua função. Porque nós que emana de uma das suas filiadas, que é a Abraspeo,
consideramos que, devido a vulnerabilidade econômica do que é Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Brasil, graças à dívida externa, devemos considerar a Coletiva. E que, de uma certa forma, já é um desdobra-
possibilidade de acordos financeiros em que grupos es- mento de todo um movimento com raízes sociais imensas,
trangeiros pratiquem o abuso do poder econômico, exi- até pela representatividade, pois a s.a Conferência Nacio-
gindo do governo brasileiro, concessões que, normalmente, nal 'de Saúde contou com mais de 5 mil participantes. Mas
seriam ínadímíssíveís. Que venham aqui se estabelecer não vou cansá-las 'Com a repetição dos princípios básicos
firmas que contribuam para danos ao ambiente, em vir- que emanam da s.a Conferência Nacional de Saúde, dos
tude das leis ambientais dos seus próprios países não per- diversos documentos complementares, entre os quais se
rnítírem que elas lá se estabeleçam. insere o documento produzido pelo 1.0 Congresso Brasileiro
de Saúde Coletiva, que é de uma das associações da SBPC,
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muito a Abraspco e que foi realizado de 22 a 26 de setembro
obrigado ao Dr. Fernando Salino, da APANDE, pela sua do ano passado. Os diversos outros desdobramentos da
apresentação. s.a Conferência Nacional de Saúde, seguramente hão de
ter sido já encaminhados a esta subcomissão.
Como última apresentação, há um pedido, para ouvir-
mos agora de manhã, apesar de ser da área de saúde, um Um desdobramento importante, é a constituição da
outro representante da SBPC, o Dr. José da Rocha Carva- CNRS, Comissão Nacional da Refoürma Sanitária, que ela-
lheiro. bora um texto que tive a grata satisfação de verificar que
está à disposição de todos, sem ter sido distribuído por
O SR. JOSlJl DA ROCHA CARVALHEIRO - A SBPC é mim e que . possivelmente, ccnsolída já o debate numa
a sociedade que congrega no País as associações científicas, outra instância em que realmente se colocam forças, que
em todas as áreas de conhecimento e teve a iniciativa de instante, legitimamente - entendo - tentam defender os
nomear uma Comissão, chamada ocmíssão Constituinte seus interesses, seus direitos nesta fase de elaboração do
da SBPC, da qual fazem parte o Professor Angelo Macha- novo tex·to Constitucional.
do, o Professor Mílton Santos, que hoje está prestando
depoimento em outra Subcomissão, e alguns outros mem- O que eu gostaria, sim, de dizer, em nome da SiSPC,
bros da comunidade científica brasileira. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, é que os
Evidentemente que a SBPC, no documento que enca- cientistas brasileiros não são neutros em relação a esta
proposta, na medida em que entendem que a sua tarefa,
minhou, através da sua Presidente Carolina Bory, há que a sua função, que seu cotidiano, ao mesmo tempo em
duas semanas, faz uma abordagem genérica do que os que é um trabalho de refíexão isento, é um trabalho que
cientistas brasileiros, congregados na sua maior associa- não pode se apresentar como neutro, em relação aos des-
ção científica, pensem em contribuir para os trabalhos da
Ass-embléia Nacional Constituinte. A SBPC isolou 6 tópi- tinos desta Nação brasileira, numa hora importante 'Como
cos, entre os quais se insere o tópico de meio ambiente, o momento constítucíonal que estamos vivendo.
sobre o qual o Professor Angelo Machado, brilhantemente A proposta geral da SBPC já foi encaminhada pela
expôs, a respeito da posição dos cientistas brasileiros. Um Diretoria da Sociedade e vou encaminhar à Mesa - e te-
outro tópico, considerado muito importante é o da saúde, nho vários exemplares - a proposta expeeífíca da SBPC
com o qual cientistas brasileiros se preocuparam em en- para a questão de saúde na Constituinte. A Abraspco, se-
caminhar à Assembléia Nacional Constituinte as suas guramente, já deve ter se pronunciado nesta subcomissão.
contribuições.
A SBPC apenas inova na proposta que foi encaminha-
Eu não quero cansá-los com a repetição de exposição da pela Abraspco, incluindo um § 3.°, ao art. 1.0, que ex-
que seguramente os constituintes já tiveram a oportuni- pressa:
dade de ouvir de outros representantes da comunidade
científica, entre as associações específicas, que já pronun- "O direito a uma orientação sanitária correta,
ciaram nesta Subcomissão. que permita o acesso a métodos seguros de plane-
jamento da prole e garanta meios de controle da
Eu apenas gostaria, neste instante, falando em nome fecundidade e da infertilidade, compõem as múlti-
da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciên- plas ações de assistência à condição da mulher."
cia a maior associação científica do País, de trazer à As-
sembléia Nacional Constituinte, aos membros desta Sub- Essa proposta, de uma certa forma, já está incorpo-
comissão a segurança de que algumas das propostas que rada na proposta final da Comissão Nacional da Reforma
têm sido encaminhadas por associações específicas da área Sanitária, quando alinha entre as dimensões do direito à
da saúde, contam com o respaldo da comunidade científi- saúde, o direito ao estabelecimento do tamanho da prole.
ca, representada pela SBPC. O debate está se travando, Gostaria, para finalizar, de fazer um breve comentá-
neste instante, não apenas nos meios acadêmicos. Evi-
dentemente há o debate a respeito do direito à saúde, do rio a respeito do que os cientistas brasileiros entendem
dever do Estado em garantir esse direito e também há o que está se passando, neste momento, na Assembléia Na-
debate relacionado com a possível organização do arca- cional Constituinte em que forçosamente haverá uma de-
bouço institucional dos serviços de saúde. Então, o debate finição na temática específica da saúde nesses três gran-
abrange três questões básicas. A questão do direito, a des ~ixos, o eixo direito, o eixo da ênfase na organização
questão do arcabouço institucional e a questão do finan- do SIstema e a ênfase nas questões do financiamento.
ciamento. Essas três questões têm encontrado formas de
debates onde se expressam intenções, onde se expressam , Em relação a primeira questão, a questão dos direitos
tendências ideológicas, onde se expressam interesses eon- é bom que se diga de uma maneira clara, que os cíentístas
cretos de parcelas da sociedade brasileira. brasileiros esperam que o texto Constitucional não seja um
mer~.;te~to retóri~, mas que exp~e~se direitos, que sejam
O que a SBPC quer trazer a esta subcomissão é que exequrvezs e que alinhave as condições, mediante as quais
a Associação respalda unge uma das propostas que estão esses direitos poderão ser expressados concretamente pela
em debate com o seu aval. Então, a SBPC, que congrega. cidadania. É bom que se diga os cientistas brasileiros que
a maioria dos cientistas brasileiros, respalda a proposta. investigam na área de saúde, têm uma grande preocupa-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 175

ção em fazer a distinção que os teóricos têm feito, a nível contra o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo.
internacional, entre a atenção primária e a atenção primi- Isso foi em 1972. Como resultado dessa política e dessa
tiva. É bom que se diga que não estamos em busca de es- visão de mundo, encontrada até em textos legais nossos,
tabelecer sistemas paralelos, que apenas cumpram a fina- como II Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico,
lidade de atenção primitiva às populações marginais; e temos a situação caótica do meio ambiente, a que' os de-
atenção de segunda categoria às populações de segunda poentes se referiram; sobretudo em oubatão, onde tive-
categoria. Nós estamos propugnando por um. sistema, que mos oportunidade de estar.
evidentemente seja um alvo a atingir, mas que a consti- Eu gostaria de registrar que exatamente na semana
tuição estabeleça, que ele possa ser atingido, embora re- passada as Nações Unidas reaüzaram a finalização de um
conheçamos que existem determinantes de natureza so- relatório - 15 anos de Estocolmo - em que é feita uma
cial, econômica e política que possivelmente inviabilizarão, :,1Il álí, -s dos 15 anos de Estocolmo. Algumas das propostas
a curto prazo, a implantação desse alvo, mas que a oons- desse relatório foram discutidas aqui, a exemplo da cria-
tItuição preveja um alvo, um objetivo, que possa ser atin- ção de um tribunal internacional dos crimes de genocí-
gido de uma atenção primária, num sistema articulado, dio ambiental. Deixo esses fatos registrados para esta
com r-eferência, com regionalização, enfim, com todas Subcol11~ssãü e quero dizer que esta é a oportunidade que
aquelas características que os senhores já ouviram, aqui, temos de elaborar um modelo constitucional para a ques-
de outros expositores, anteriormente. tão do meio ambiente. Não existe nenhum país do mundo
que tenha um Capítulo e-pecíaí sobre meio ambiente. Al-
Para finalizar, Sr. Presidente, eu gostaria de lembrar guris países que tratam da matéria fazem-no de maneira
um texto, que tive a honra de ser co-partícípe da sua re- superficial e normalmente com realidades absolutamente
dação. O Relator desta subcomissão, o Constituinte Carlos di stíntas da nossa.
Mosconi, foi juntamente comigo e outros companheiros,
membro de uma comissão que elaborou uma proposta, a Oreio que esta subcomtssão, como o Professor Ângelo
pedido do escritório técnico do Pr€sidente Tancredo Neves, Barbosa Machado falou. terá esta oportunidade, de um
que seria a proposta de saúde para o Governo Tancredo País do Terceiro Mundo, que é detentor do maior patri-
Neves - o Constituinte Carlos Mosconi seguramente ain- mônio genético da humanidade, segundo o União Inter-
da tem esse texto - e no qual se inseriram algumas das nacional de oonservacão da Natureza, terá a oportunida-
minhas eontríbuíções pessoais, que eu gostaria de ressal- de realmente de contemplar no seu texto eonstítucíonal,
tar neste momento, não por motivo de orgulho pessoal, a proteção efetiva para esta e para as futuras gerações.
mas porque elas são importantes no contexto. Refiro-me Quero informar também, e e·u gostaria que o Sr. Pre-
especificamente ao trecho que analisa o problema das ten- sidente se rererísse ao assunto, que ficou acertado, de que
dências da atenção médica a nível ínternaeíonal; a nível esta Subcomissão irá ao Pantanal Mato-grossense, nos
mundial. Não vou deixar cópia desse texto, porque presu- dias 26, 27 e 28 de maio, onde terá oportunidade de co-
mo que o Relator, Oonstituinte Oarlos Mosconi, ainda há nhecer um dos complexos ecológicos mais importantes do
de ter cópia dessa proposta, em que se verifica claramente mundo, considerado um dos principais abrigos de fauna
que não estamos, neste momento, por uma oaraeterístíea silvestre do planeta, e que está sendo ameaçado por uma
própria, pessoal, nacional, dos pesquisadores brasileiros modalidade de agentes de destruição.
optando por um sistema unificado de saúde. Mas, isso obe- Havia sido praticamente acertada uma visita, para
dece a uma tendência internacional, que tem sido identi- amanhã, desta Subcomissão, ao Núcleo de Estudos Am-
ficada em todos os países, quer os que organizam a pro- bientais da Universidade de Brasília, mas não houve pos-
dução de modo capitalista, centrais ou dependentes, quer sibilidade de avisar aos membros da Subcomissão. Será
nos países socialistas, uma tendência crescente em todas engendrada pela secretaria uma nova visita, quando te-
essas organizações econômicas e sociais, para que se mar- remos oportunidade de contar com os membros desta
che na área da saúde para um sistema unificado, para E'ubcomiss?o o que é muito importante, e da Universida-
um sistema único, um sistema nacional de saúde. de ce Brasília. para que se possa inclusive discutir, nessa
Era o que eu queria dizer, Presidente. ocasião provavelmente a semana que vem, a proposta
que iá deverá ter sido elaborada pelo Relator desta Sub-
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) comissão.
Vamos passar, agora, aos debates. Já estão inscritos O SR. PRESIDENTE (Jüsé Elias Murad) - Agrade-
dois colegas Constituintes. cemos ao Constituinte Fábio Feldmann.
Antes de dar a palavra ao segundo inscrito, a Oons-
Ooncedo a palavra ao primeiro inscrito, Oonstituinte tituinte Sandra Oavalcante quer levantar uma questão de
Fábio Feldmann. ordem.
O SR. CONSTITUINTE FÁBIO FELDMANN - Eu que- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA OAVALCANTI -
ria fazer algumas perguntas ao Dr, Roberto M. Franco, Não é bem uma questão de ordem. É uma contribuição
mas S. s.a tem uma audiência com o Ministro do Desen- para o., debates de hoje, que eu gostaria de colocar para
volvimento Urbano e Meio Ambiente e teve que se ausen- os meus colegas. É a leitura de um capítulo constitucio-
tar. Assim, vou apenas fazer alguns comentários a res- nal, que existe no Brasil desde 1975. O meu colega Fábio
peito das colocações feitas pelo Secretário Especial do Feldmann referiu-se ao fato de não termos dispositivos
Meio Ambiente. S. s.a referiu-se, sobretudo, à fragilida- legais que falem expressamente de proteção ao meio am-
de dos organismos ambientais. existentes no Brasil, com biente, na nossa legislação de um modo geral. Não tínha-
competência ambiental particularmente a Secretaria Es- mos, até 1975, quando, após a fusão do Estado do Rio de
pecial do Meio Ambiente - SEMA. Esta Secretaria foi Janeiro com o Estado da Guanabara, foi convocada uma
criada em 1973, como uma pressão das nações mais desen- assembléia constituinte para elaborar a Oonstituição da-
volvidas do mundo que ficaram absolutamente chocadas quele Estado, uma Constituição que evidentemente teve
com a postura que o Brasil adotou de que a pior poluição que ser elaborada dentro de todas as limitações impostas
er-a a míséría, e que este .País não iria aceitar, em hipó- pela Emenda Constitucional de 1969, q,ue tirava dos Esta-
tese .alguma, nenhuma restrição à poluição ou qualquer dos. qualquer possibilidade muito inovadora. Tínhamos
tipo de controle ambiental, por entender que isso fazia aquela; camisa-de-força dentro da qual teríamos que nos
parte de. uma conspiração dos países do Primeiro Mundo movímentar. Mesmo assim, víslumbramos.naquela ocasião,
176 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

uma oportunidade rara de, pela primeira vez, levantar a Ve.n, em seguida, os parágrafos todos mostrando como
questão da ecologia, em termos de lei e em termos de lei isso pode acontecer. Eu gostaria de registrar que esta con-
maior. Assim apresentamos, no caso fui eu mesma que tribuição não nasce da cabeça das pessoas. Não sou autora
apresentei, duas sugestões à nossa Constituição: um capí- dessas idéias. Simplesmente, naquela oportunidade, tendo
tulo sobre a proteção ao meio ambiente e um outro sobre participado de um governo que anteriormente se preocupou
a recuperação do solo. Apenas a título de 'colaboração eu demais com os problemas ambientais, que foi o Governo
gostaria que constasse dos anais desta Subcomissão a leí- do Estado da Guanabara, onde o Governador Carlos La-
tura desta contribuição, que me parece resume tudo o cerda, até pelas suas obras publicadas - todos sabem -,
que aqui tem sido dito, não só em matéria de defesa da foi o grande pioneiro da defesa da ecologia no Brasil,
natureza, mas saúde ambiental, engenharia sanítáría, en- criando até polêmica com algumas empresas de especula-
demías, epidemias, tudo decorrente de um cuidado maior ção imobiliária, porque não lhes deu de presente as últi-
com a qualidade de vida ambiental. É o art. 119, que diz o mas reservas de florestas atlânticas da cidade do Rio de
seguinte: Janeiro, corno foi o famoso caso do Parque Lage.
"Art. 119. O desenvolvimento econômico de- Temos, nesse capítulo, um resumo de experiências ocor-
ve conciliar-se com a proteção ao meio ambiente ridas em vários países. Lembro-me de ter passado 40 dias
para preservá-lo de alterações físicas, químicas ou estudando toda essa parte de recuperação do solo na Ad-
biológicas, que direta ou indiretamente sejam no- ministração do VaLe do Tennessee, o ramoso TVA, nos
civas à saúde, à segurança e ao bem-estar das Estados Unidos, uma instituição criada por Roosevelt, des-
populações e ocasionem danos à fauna e à flora. tinada a recuperar a área mais poluída, mais pobre mais
devastada e mais estragada dos Est8ldos Unidos nos anos
Art. 120. O Estado, através de órgão próprio, de 33 e que hoje constitui a terra da promissão em matéria
estabelecerá o plano geral de proteção ao meio de produção de alimentos naquele País.
ambiente, adotando as medidas necessárias à uti-
lização racional da natureza e à redução ao mí- Achei que seria, Sr. Presidente, uma boa colaboração
nimo possível da poluição resultante das ativida- para esta subcomissão, que vem atuando da melhor forma
des humanas. possível pois tenho percorrido todas as outras subcomis-
sões para ver como vai o andamento dos trabalhos e queria
Parágrafo único - Entre outras medidas, o deixar registrado aqui o meu cumprimento aos companhei-
Estado: ros que estão levando esta subcomissão tão a sério. li:: uma
das subcomissões que tem um dos melhores trabalhos, um
a) manterá instituição para estudar, planejar dos melhores desempenhos até agora. E essa é uma forma
e controlar a utilização racional do meio ambien- de colaborar para que esta subcomissão possa apresentar,
te, os fenômenos da urbanização e a reciclagem à Comissão de Sistematização, uma proposta constitucio-
dos recursos naturais; nal, que pode ser inédita em outros países, mas que no
Brasil não é, porque há uma Oonstítuíção estadual que
b) incentivará os municípios a adotar provi-
dências que racionalizem o desenvolvimento e a há mais de 10 anos j á tenta colocar o assunto em termos
legais. Obrigada, Sr. Presidente.
expansão urbana dentro de limites que garantam
a manutenção de condições ecológicas imprescin- O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muito
díveis ao bem-estar da população; obrigado à companheira Constituinte Sandra Cavalcanti,
não só por sua extraordinária colaboração neste momento,
c) promoverá, por todos os meios, a proteção como também pelas palavras elogiosas à nossa subcomis-
de suas florestas, visando a defesa da flora '8 da são, que nós transferimos para todos Os colegas que, real-
fauna, num contexto amplo de preservação do mente, eu como Presidente testemunho, têm Idado o que
equilíbrio ecológico; há de melhor para um bom desempenho nessas áreas tão
d) criará íncentívos fiscais para beneficiar os importantes das quais a subcomissão trata. Muito obrigado.
proprietários de áreas cobertas por matas nativas Concedo a :palavra ao nobre Constituinte Raimundo
ou não e na proporção de sua extensão; Rezende.
e) delimitará zonas de reservas biológicas e O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO iREZENDE - Sr.
florestais para proteção às espécies ameaçadas de Presidente, Srs. Constituintes:
extinção; e
Quero manifestar a nossa satisfação pelo fato de ter-
1) proporcionará assistência eíentífíca, tecno- mos tido alguns oradores que trouxeram os problemas e
lógica e creditícia às indústrias, a fim de trans- as sugestões do tema preservação do meio ambiente, sa-
formar Os resíduos poluentes em matérias-primas lientando o trabalho apresentado pelo Conselho Nacional
proveitosas." do Meio Ambiente e pela Técnica de Acompanhamento
O capítulo seguinte é "Da recuperação do solo", que da Constituinte. Não é surpresa para nós mas é uma ma-
é fundamental quando se fala em proteção ao. meio am- nifestação até de tristeza, observarmos c~mo o nosso País
biente, porque o meio ,ambiente que queremos proteger é no âmbito do meio ambiente, tem sido duramente agredidO:
aquele que ainda não está devastado. Mas há um que já Somos representantes de uma região, o vale do Rio Doce,
está, há um que já foi, há um que já está perdido, mas em Minas Gerais, especificamente Governador Valadares,
não de todo e que pode vir a ser recuperado pelas téc- onde as terras foram atingidas de tal forma que hoje
nicas modernas postas à disposição do homem hoje em temos uma região toda erodida, oferecendo preocupações
graves, sem perspectivas de recuperação. Quanto ao que
dia. foi dito aqui com relação à agressão que sofrem os ani-
"Art. 221. O poder estadual, - no caso era mais em nosso País, sobretudo em alguns abatedores, com
o Estado do Rio de Janeiro - em lei ordinária, atos de selvageria, manifestamos a nossa reprovação e a
disporá sobre a execução de programas estaduais nossa esperança de que esta subcomissão, encampando
ou regionais de conservação e correção do solo essas propostas que foram hoje, aqui, apresentadas, pro-
agrícola, aplicando direta ou índíertamente 03 in- postas com tal objetívídade, Sr. Presidente, que as subs-
vestimentos destinados a alterar a estrutura básica crevemos e fazemos votos e até um apelo ao Relator desta
da produção." . súbcomíssão que elas sejam transformadas em artigos e
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 117

apresentadas com tal ênfase que possam dar à futura tração na Amazônia, que representa mais de 50% da nos-
Constituição meios de combater de forma veemente, todos sa extensão, da nossa área territorial, será, talvez, em ter-
esses absurdos que vêm ocorrendo em nosso Pais. Acres- mos de meio ambiente, o maior crime perpetrado neste
centamos ainda, que quando começamos os nossos traba- País, em todo o seu tempo, em toda a sua História.
lhos nesta subcomissão - e aqui fazemos um parêntese pa-
ra agradecer as referências que nos foram feitas pela nossa O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Alguns dos
Companheira oonstítuínte Sandra Cavalcanti, nome que senhores expositores quer comentar a apresentação do
respeitamos pela sua inteligência, pela sua capacidade de Constituinte Raimundo Bezerra?
trabalho e que vem dando ao nosso País uma contribuição O SR. ANGELO B. MACHADO - Gostaria de comen-
relevante, sempre que participa de qualquer problema - tar que esse problema da esquistossomose na Amazônia é
estávamos preocupados com a futura Constituição e sem- muito sério, principalmente porque está surgindo em áreas
pre manifestamos essa preocupação. A Constituição tem de desmatamento, ou seja, quando se rompe o equilíbrio
que ser abrangente, mas sintética. Hoje, nesta reunião, natural, se favorece a entrada do molusco. Conforme V.
nos permitimos mudar um pouco essa restrição que fazía- Ex. a acentua, não é apenas a entrada do portador da
mos antes a de que a Constituição deve ser sintética. Mas doença, mas a entrada em áreas degradadas, porque nu-
com relação a este assunto que não tem praticamente nada ma área de equilíbrio, num riacho da mata em equilíbrio
na Constituição do nosso País, e mesmo na área da saúde, esses tipos não ocorrem. A degradação ambiental é um
a futura Constituição não pode ser sintética de tal for- exemplo de que saúde e ecologia estão intimamente liga-
ma a prejudicar a inserção do problema e solução de exi- dos. V. Ex. a colocou um exemplo interessante.
gências tão necessárias para coibir aquilo que estamos
enfrentando hoje no nosso País. Não pode ser tão extensa, O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) 1 - Tem a pa-
mas também não deve ser tão simples a ponto de não ter lavra o Sr. Carlos Alberto R. Xavier.
condições para resguardar o mínimo necessário para im-
pedir os abusos que vêm acontecendo em nosso País até O SR. CARLOS ALBERTO R. XAVIER - Sou repre-
aqui. Formulo o nosso apelo ao Relator desta subcomissão, sentante do Ministério da Cultura no Conselho Nacional
para que coloque nas apresentações do nosso trabalho, do Meio Ambiente. Gostaria de, em acréscimo às palavras
para ser enviado à oomíssão de Ordem Social, todos esses do Professor Angelo B. Machado, lembrar uma questão
aspectos aqui colhidos, para que possamos resguardar uma conceitual de que a tangência do patrímônío cultural,
atuação futura. Muito obrigado, Sr. Presidente. étníeo, natural com a questão do meio ambiente estão in-
°
trinsecamente ligados e exemplo disso, que poderíamos
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Estamos reconhecer facilmente, é a questão do pantanal, onde os
nos sentindo muito solitários na direção da Mesa. Convi- sítios arqueológicos, o patrimônio ameríndio, o paleonto-
damos os debatedores presentes para sentarem aqui co- lógico, o espeleológico. Estão todos ameaçados pela explo-
nosco. Dizem que o mineiro é solidário só no câncer. V. ração não planejada. Um exemplo idêntico é o da Ama-
Ex.as podem se sentar. Alguém quer comentar ou respon- zônia; o Parque São Bartolomeu na Bahia, onde conver-
der as colocações do nobre Constituinte Raimundo Re- gem valores da arte, da cultura negra e da natureza está
zende? igualmente ameaçado, 'como disse o Professor Angelo Ma-
chado. Quebrando-se o elo natural se favorece a que to-
O SR. ANGELO B. MACHADO - Foi dito que o minei- dos os outros valores caiam juntos.
ro solidário anenas no câncer, mas solidário também no
meio ambiente, principalmente no vale do Rio Doce que Essa questão do meio ambiente não é uma proteção
conheço muito bem, onde os problemas são muito sérios. exclusiva do fator natural, mas o processo cultural a ele
agregado, da convivência hamõníca das pessoas com o seu
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Essa frase meio ambiente. Há uma ligação em tudo isso.
é muito conhecida, é do Otto Lara Rezende. Trata-se de
uma brincadeira. O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Já que V.
s.a se referiu ao Pantanal Mato-grossense, conforme disse
O primeiro inscrito é o Constituinte Raimundo Bezer- o nobre Constituinte Fábio Feldmann, acrescentaria que
ra. Tem a palavra S. Ex.a dentro de alguns dias, alguns membros desta subcomissão
irão visitar o Pantanal, para colher dados in loco e subsi-
O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO BEZERRA - Sr. diar o 'trabalho do nosso colega Relator.
Presidente, não desejamos formular perguntas, porque os
expositores tiveram aquela felicidade - e isso já era es- Concedo a palavra ao Constituinte Carlos Mosconi, do
perado - de nos deixar inteiramente satisfeitos com o que PMDB -MG.
foi exposto. Queremos apenas comentar um aspecto que O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - Sr. Pre-
nos causou verdadeiro estarrecimento. Dr. Roberto Messias sidente, há alguns dias, fizemos uma visita ao Estado de
informou que na região amazônica temos apenas dez ser- São Paulo para tomarmos conhecimento da situação de
vidores, fiscais 'da Sema. Hoje, sabemos que com a explo- algumas regiões devastadas e 'conhecer também outras
ração, principalmente do ouro, somente Serra Pelada che- áreas melhor preservadas. Em primeiro lugar, fomos a
gou a ter mais sessenta mil garimpeiros. Certamente, te- Oubatâo. Vários Constituintes desta subcomissão estive-
mos mais de duzentos mil na região amazônica. Mém da ram conosco numa visita organizada pelo Deputado Fá-
contaminação pelo mercúrio, fato de mais gravidade, te- bío Feldmann. Em Cubatão vimos um crime, símplesmen-
mos também pessoas infectadas, portadoras de esquístosso- ,te um crime que se cometeu, não contra uma 'cidade, uma
mose, pessoas provenientes de zonas endêmicas, principal- região, de um Estado, e sim contra um País. Essa é a reali-
mente da Zona da Mata, de Pernambuco, de Alagoas, da dade. Ali fí'ca simbolizado não apenas o crime, mas a ím-
Bahia, e esses garimpeiros, sem nenhuma condíção de hi- punídade que existe neste País e a permíssívídads para
giene, sem nenhum ambiente de preservação sanitária, que essas coísas continuem ocorrendo indefinidamente,
estão levando a esquístossomose para a região amazônica. com gravíssimos prejuízos para nós e para as gerações fu-
Sabe;mos que ali existe o caramujo, o molusco hospedeiro, turas. Fico muito preocupado que com esta nova Consti-
intermediário, e sabemos também que, apesar da zona en- tuição não consigamos, através da elaboração de leis ade-
dêmica da Bahia, de Pernambuco, de Alagoas, .de Sergipe quadas, justas, oportunas e competentes mudar este pa-
serem zonas de fácil acesso, somos no Brasil em torno de norama. Creio que é necessário levantar uma consciência
seis milhões de portadores de esquístossomose, A sua pene- nacional, colocar a comunidade para defender o seu pa-
178 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

trimônio, mas de uma forma corajosa, firme, porque, caso S. s.a fazia a exposição, eu me lembrava dos linchamen-
contrário, continuaremos, sem dúvida alguma, 'Com essas tos e, lamentavelmente, é o que vem acontecendo no
devastações criminosas e impunes, ocorrendo em nosso nosso País, para a nossa vergonha, com uma freqüência
Pais. Ouvimos, com muíta atenção, a exposição da nossa crescente, mostrando para todos nós que, no Brasil, as
colega Constituinte Sandra Cavalcanti, e o Rio de .Tanei- leis não são cumpridas. Como gostaríamos que fossem.
ro talvez tenha sido o Estado precursor nesta defesa. Sa- O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Concedo a
bemos que o Estado de São Paulo tem essa preocupação, palavra ao Dr, José da Rocha Cavalheiro.
porque a vimos in loco, inclusive com a Secretaria Organi-
zada para Defesa do Meio Ambiente e também setores O SR. JOSÉ DA ROCHA CAVALHEIRO - Represen-
muitos ativos da sociedade, todos com muito interesse. tando a SBPC. Gostaria de fazer um breve comentário
Vejo, por exemplo, essa questão da mineração em todo o a respeito de uma das questões colocadas, inicialmente,
País. O Es·tado é muito permíssívo. Em troca apenas da de- pelo Constituinte Raimundo Bezerra já comentada pela
fesa de interesses econômicos de pequenos grupos, áreas Mesa. Mas eu não resisto, até pelo vezo de vinculação
são devastadas de uma forma realmente criminosa. Na profissional, de investigador na área de saúde coletiva,
minha região, sul de Minas, bastante minerada, isto acon- a fazer a junção desta área de interpasse entre as con-
tece todos os dias sem qualquer proteção do Estado. Pelo dições de saúde, de doença à população, às questões am-
contrário, há a proteção do Estado a favor do crime. Sr. bientais, à organização econômica e social do País. Penso
Presidente, prezados colegas constituintes, temo que não se que os Constituintes, ao elaborarem a nova Constituição
consiga, através de uma legislação adequada, reverter esta do País, hão de sentir a necessidade de vários desses
situação, que me parece extremamente grave. tópicos. Possivelmente eles entrarão em capítulos com tí-
tulos distintos na Constituição, mas acabarão convergin-
No que se refere à questão da saúde aquí colocada, do. O problema da expansão da esquístossomose, levanta-
estou inteiramente de acordo com a posição do Sr. Cava- do pelo Constituinte Raimundo Bezerra, é uma das ques-
lheiro. Realmente, participamos juntos daquela Comissão tões que podem ser enfocados vários aspectos, entre os
chamada Copag na área da saúde. Espero que, aqui, na quais a imperfeição entre as investigações na área de
Constituinte, possamos dar continuidade àquele trabalho saúde coletiva, na área de medicina social e na área de eco-
que surtiu algum efeito. O panorama de saúde no País logia. É um exemplo típico em que distintos tópicos da
começou a passar por algumas mudanças, por algumas Constituição seguramente se covergirão, para que se possa
transformações que se simbolizam na prática das ações garantir legislação ordinária no futuro para preservar a
integradas da saúde. Considero um avanço, na medida saúde ao povo brasileiro. A esquístossomose é tida sob o
em que o sistema começa a se descentralizar, a se regío- ponto de vista da epídemologla social como uma doença
nalizar e a colocar também a responsabilidade do municí- com focos naturais secundários, focos naturais. Mesmo na
pio na defesa e na definição de uma política de saúde ausência do homem a doença pode ser adquirida, mas
adequada para a sua comunidade. Eram essas as conside- não decorrentes da própria ação do homem, focos secun-
rações que eu queria razer. Muito obrigado. dários, não naturais primários. Penso ser esse um dos
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO MOREIRA - Sr. pontos importantes que alertam para o fato de que o
Presidente, peço a palavra apenas para complementar. texto constitucional, evidentemente, na questão específica
da saúde, convergirá para garantir a saúde. Retomando
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - V. Ex. a é um pouco o que foi dito nas exposições iniciais, creio
o seguinte inscrito aqui. Concedo a palavra ao Constituin- que a própria Reforma Tributária, talvez possa ter uma
te Eduardo Moreira. influência impactante maior sobre funcionamento da or-
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO MOREIRA - Que- ganização do serviço de saúde e o seu financiamento do
ria apenas colocar um adendo, corroborando as palavras que algumas medidas inseridas intensificamente no tópi-
do Constituinte Carlos Mosconi, com relação especifica- co sobre saúde.
mente ao que foi dito, aquí, a respeito da "farra do boi". Para concluir, gostaria de fazer um comentário, ao
Vivemos num Pais suí generís, Houve, realmente, uma que se referiu o Relator Carlos Mosconi. Concordo plena-
campanha popular a nível de televisão, da imprensa fala- mente com o que disse S. Ex. a a respeito daquela reu-
da, escrita e televisada, com relação à "farra do boi". nião da Copag, que as ações integradas de saúde era uma
Houve uma participação do Governo do Estado para que proposta relativamente nova, ainda embrionária. Não di-
fosse evitada. Na realidade, há um estímulo da própria ria pretensíosamente que foi em decorrência e como fruto
comunidade para que esses desmandos continuem ocor- à proposta que aquela Comissão apresentou, mas, enfim,
rendo. Venho de uma região altamente poluída que é o a partir daquele momento, a implantação progressiva das
Sul de Santa Catarina, onde a extração do carvão é alta- ações integradas de saúde, em diversos Estados da Fe-
mente devastadora. Vivendo lá, durante quatorze anos, deração, fazem entrever que o sistema nacional de saúde
percebemos que a própria comunidade se coloca contra tem alguma viabilidade embora existam alguns proble-
qualquer manifestação que possa dificultar o trabalho da mas que, seguramente, serão motivos de legislação ordi-
extração do carvão, porque temos doze mil pessoas com nária que terão que ser resolvidos ainda.
empregos diretos nesta área. Penso que apenas com co-
nhecimento é que vamos mudar essa realidade brasileira. Queria fazer um último comentário, a respeito do aba-
Talvez, a solução fosse estabelecer obrigatoriamente no te de animais que me preocupou muito, realmente. Gostaria
curriculum escolar, o esclarecimento à população a res- de fazer um alerta no que diz respeito à utilização de ani-
peito da preservação do meio ambiente, coisa que hoje mais para investigação científica. :É'preciso que o texto
não existe. E uma campanha popular a nível nacional constitucional seja suficientemente amplo para que não
para que se tornem mais explícitas as conseqüências permita, em determinadas eventualidades, a impossibili-
danosas da indústria brasileira de uma maneira geral. dade de consecução de algumas investigações feitas em
Eram essas as considerações. instituições de pesquisa da maior seriedade, e que muitas
vezes se vê límítada por algumas atitudes. Não gostaria
O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - GOsta- de fazer nenhum comentário que pudesse ter peso político,
ria apenas de fazer mais uma breve observação, com re- mas atualmente, em São Paulo, estamos sofrendo um pro-
lação à exposição feita pela Sra. Fernanda Oolagrossí. blema sério com a negativa da Prefeitura Municipal de
Realmente não impressionou muito essa questão da falta São Paulo de ceder cães errantes, capturados para as íns-
de piedade para com os animais. _No momento em que ti~uiç.ões de inyestigação científica, não apenas na cidade
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBl~IA NACiONAl. CONSTiTUiNTE (Suplemento) SegunCla-{eira 20 179

de São Paulo, mas no Estado inteiro. Isso está ~:x.igin<:lo co ,dignas de sohrevívênoía e muitas vezes, prolongando a
que os médicos veterinários, de maior seriedade e que di- agonia do anímal. Portanto, a Assembléia Nacional cons-
rigem os biotérios sérios das instituições universitárias e tituinte tem realmente que tratar do assunto num diSDosi~
de pesquisa comecem a pensar na criação «íe um cão, de tívo constitucional que repri'lna a crueldade <:lo animal que,
raça nova, possivelmente o fax paulistinha, um cão que realmente, se não for feita com bastante determinação,
seria produzido pelos biotériooS diretamente destinado à fará com que essas práticas continuem. Até em laborató~
investigação científica. Acho que há que se encontrar um rios científicos para a fabricação de vacinas exístem ex-
ponto de equilíbrio, que ;proíba a agressão odienta aos periências que são realmente, inacreditáveis. Para produção
animais no abate, que eventualmente ocorre em determi~ de vacinas muitas vezes se pegam coelhos vivos, colocando-
nadas instituições que não levam a sério as pautas, os os numa espécie de liquidificador ern que eles são tritura-
tõpicos, de ética da condução dos laboratórios de pesquisa dos. Acredito que a tecnologia, inclusive permite, até atra-
que utilizam animais na sua investigação. Ma&, a maioria vés da utilização de anestésicos, através de modalidades
das instituições uniVersitárias preserva esses códigos de tecnológicas, evitar essa crueldade. O que ocorre é que os
ética, alguns explícitos, e outros que existern, maís ou institutos de pesquisas, muitas vezes sem verbas, 'Praticam
menos, implícitos. O relato nos sensibiliza mais, q;)or outro essas modalidades exatatntente por não poderem usar anes-
lado existem algumas situações, circunstâncias que do tésicos e outros instrumentos que pudessem evitar o so-
ponto de vista socíat, 'do avanço da investigação, se a frimento dos animais.
questão não for -tratada com a <ievida profundi<iade, elas
podem ínvíabílízar ou dificultar a consecução de algumas O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Pela or-
in.vestigações sérias. dem, damos a palavra ao Dl'. Fernando Salino Corte.
O SE. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Vou conce- O SR. FERNA.NDO SALINO CORTE - Diretor da
der a palavra, pela ordem, ao Constituinte Fábio Feld- Pande, entidade riáo govemamemaí de meio ambiente.
mann. Gostaríamos de ressaltar, em adição ao que foi expos-
PWiria, pelo ~diantado da hora, que cada um se li- to, que seria de bom tom não se el.U:pregar, na lei, pala-
mitasse aos dois minutos. vras em relação à poluição que dêem sentido de pondera-
bílídade ã lei, como, por exempío, considerável degra.da-
O SR. FABIO :F'.ELDMANN - Queria fazer uma obSer- çâo ambiental, eventualmente poluídoras, 01.1 potencial-
vação que não foi feita aqUi. Obvíamente, a questão ambi- mente poíuídoras, esses tipos de expressões que são muito
entaI é ampla, e esta Subcomissão tratará desta questão, empregadas, que temos 'Visto em muitas sugestões prati-
mas, provavelmente, apresentará sugestões a outras co- camente invalidam quase })or completo a lei. No nosso
missões na interface que existe entre a questão de meio entender, é preciso haver muito cuidado com relação a
ambiente, a questão do desenvolvirnento, a q.uestã.o ds. palavras que dêem sentido de ponderabílídade à lei, no
ordem econômica, e da exploração dos recursos naturais, referente à DQluição.
renováveis e não renováveis.
G-ostariamos, também, de ressaltar aqui, que em rela-
Gostaria de fazer uma observação sobre um tema que ção à economia, a política a ser adotada é uma política
não foi aoorõaão aqui, <.lue (3 a Questão rndígena que é a emplrícs, de observação, antes da execução, da implemen-
interface que existe entre as questões das po:pulações in- tação de programas energéticos, eventualn1ente, no caso,
dígenas e de meio ambiente. Sabe-se que, efetivamente, as causador de pciuíção.
populações indigenas têlU sido objeto de, praticamente,
um genocídio étnico. Os in1dios têm uma cultura milenar Outro ponto que gostaríamos de ressaltar é que na
que os ensinou a conviver com ss florestas tropicais e com parte referente à medicina social seja {l{lnsidel'ada tam-
o ambiente, de forma a que a predação seja feita no nível bém a educação sanitária que, a nosso ver, é a maior ação
mínimo possível. E esta Subcomissão - e falo não como preventiva, Então, que sejam relevadas na Constituição,
Constituinte, mas DOmo ecologista - tem que reSgatar a a educação sanitária, e leis que :possam fazer menção a
divida da ~ociedade brasileira pa.ra com as comunidaàes estímu10s à tecnologia, ao .dasenvolvunento, mas que tra-
indígena e ali também aquela Subcomissão terá oportu- gam também o estímulo ao controle da poluição.
populagõe.s têm de manipu2ação, de manuseio, de l'ivênoia,
oom oS ambientes .que nós, hornens civilizados, homens Toda vez que se falar em estimulo à tecnologia de
brancos não temos. E a união das nações indígenas pediu üeeenvornmento, mencione-se o estimul\) à tecnclogta de
um espaço para uma audiência pública aqui, mas, infe- controla da. poluição, Só isso.
lizmente, não houve tempo. Hoje, a Comissão das Mino- O SR. PRESIDENTE: (José Elias Murad) - Concedo
rias foi ao pará visitar um grupamento, um aldeamento a palavra, pela ordem, à Sra. Fernanda Colagrossi.
indígena e ali, também aquela Subcomissão terá oportu-
nidade de verificar um dos problemas ambientais, de- A SRA.. FERNANDA COLAGROSSl - Queria, em pri-
correntes do garimpo, decorrentes da devastação flores- meiro lugar, agradecer ao nosso Secretário de Saúde,
taL Então quero <ieixar registrada a questão indigena aqui, Constituinte Car10[5 M'Úsconi, e ao Constituinte Fábio Feld-
para que nós, desta Subcomissão, possamos abordar esse mann as palavras que disseram de apoio, de estimulo, de
tema e, inclusive, em plenário, quando for necessário, fazer a.juda, e a força enorme que deram ao nosso pronuneía-
a defesa intransigente dos direitos dos povos indígenas. menta.
E, Dor fim, com relação ao que o Dr. Cavalbeiro falou Queria dizer que nos biotérios - e o Dl'. Cavalheiro
sobre a que.stão da utilização de animais, dizer que efe- falou em biotérios sérios, não sei como poderia haver essa
tivamente, tem que se assegurar a utilização t'tos animais classifica.ção - apenas em termos, talvez, de verbas, exis-
!para pesquisa cientifica. Mas, o que ocorre no Brasil e no te sempre a dificuldade de dinheiro, e o curare é o anes-
mundo é um abuso com relação a essas experiênoias ci- tesíante mais barato que existe e é, sobretUdo, muito me-
entificas, e é um abuso que tem que Ser -reprimido, efeti- nos que o anestestante, um pal'a1isante muscular. Os ani-
vamente. Em São Paulo, algumas entidades ligadas à te- mais são submetidos a experiências apenas com essa mo-
pr.essào da orueldade visitaram alguns desses biotérios, dalidade de anestésico e depois de submetidos são jogados
alguns desses institutos de pesquisas e, realmente, os re- num canil, sem nenhum tipo dl7 físcali.zação de médico
latos são de horror, mesmo instituições da univer.sidade veterinário. Se eles sobrevivem àquela experiência, são
de São Paulo, institUições do maior peso exercem certas submetidos a uma segunda e uma terceira, .d\?pendendo
prátical3 inaceitáveis, submetendo animaisa condições pau- de sua resistência. Evidentemente não somos contra as
180 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

experiências, pois elas precisam ser feitas em seres vivos, brar que isso está de acordo com a nossa proposta e de
e o cachorro é um dos animais necessários para isso. outros colegas, que foram fe~tas aqui, sobre a necesída-
Querfamos, justamente, que houvesse, nesses biotérios, ver- de de erimínalízação dos atentados contra o meio ambien-
ba suficiente e um fiscalização para que essas anestesias te e, uma vez que contravenção não resolve, porque essas
fossem o mais profundo possível, e, dependendo da expe- coisas são contravenções e para tanto são feitos acordos de
riência, que esses animais fossem anestesiados profunda- tolerância, as coisas são toleradas e vem a impunidade de
mente para que não voltassem delas. Isso tudo precisa que S. Ex.a fala.
de dinheiro, de fiscalização, da presença de um médico
veterinário no local e eu não sei exatamente qual seria Gostaria de recuperar também uma outra considera-
a verba destinada, dentro do Ministério da Saúde, dentro ção do Constituinte de Santa Catarina, quando lembrou
das entidades profissionais médicas particulares. áreas extremamente poluídas de carvão, em Santa Cata-
rina, e que a população não reclama porque tem o seu
Então, como não sabemos qual é a verba desses bío- emprego ligado àquela indústria. Ou seja, com medo de
téríos e qual é a quota que poderá ser destinada à con- perder o emprego, as pessoas deixam de reclamar. Vejo
tratacão de um médico veterinário e à compra de anes- nisso quase que um suborno da indústria, para evitar que
tesíantes realmente eficazes, no Brasil, com tanta pobreza as pessoas façam denúncias. Isso acontece também em
e tanta falta de recursos, pedimos aos Srs. a exigência Minas Gerais com as indústrias poluentes, são indústrias
por lei, de maneira que seja colocado na Constituição que capitalizam o lucro e socializam a poluição, o lucro de
de uma forma que dê espaço, depois, para as leis meno- alguns, a poluição de todos e ainda intimidam os empre-
res a fim de evitar a crueldade em relação à vivissecção gados a não reclamarem contra a poluição, porque vão
e da absoluta necessidade dos animais para experiências, perder o emprego. O direito do trabalho já é previsto no
porque acho que, muitas vezes, um filme é suficiente para texto eonstítucíonal, mas cabe a esta Subcomissão colo-
que não haja a repetição da experiência. As vezes, um car um direito novo, o direito ao meio ambiente sadio.
filme que pode ser colocado num vídeo, numa fita, elimi- Vamos ter pessoas que vão trabalhar, mas num meio am-
naria a necessidade da mesma experiência ser repetida. biente sadio, sem favor nenhum, porque será um direi-
Precisamos da presença de um médico veterinário no lo- to garantido pela Constituição.
cal em que serão usados seres vivos em experiências.
Assusta-me também o fato de que o País, embora
Lembrando apenas o que o Constituinte Fábio Feld- aberto à democracia, no seu sentido formal, não está acos-
mann falou ainda há pouco, por exemplo, para experiên- tumado com ela ainda, porque democracia também é o
cias de xampus, para saber até que ponto um xampu é povo aprender a reclamar e exigir os seus direitos. De
irritante aos olhos, eles pegam coelhos e colocam um modo que, a nossa proposta de colocar no texto constitu-
aparelho em que os animais têm que ficar com os olhos cional o direito ao meio ambiente sadio deve seguir a um
abertos e ficam jogando o xampu, em gotas, até saberem trabalho de educação do povo, principalmente no 'caso a
o limite máximo da resistência daquele globo ocular. En- nível de sindicatos, e para isso os profissionais da saúde
tão, falar-se em biotérios sérios, respeito profundamente são extremamente importantes para alertar os sindicatos,
o que ele disse e acho uma necessidade, mas até que que é um direito do empregado, trabalhar num meio am-
ponto podemos controlar, até que ponto esses biotérios sé- biente sadio.
rios têm dinheiro e recursos?
Muito obrigada. Esses processos de educação vão ser muito importantes
para fazer com que o povo passe a exigir e a cobrar esse
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Antes de direito que os Srs. poderão colocar no texto constitucio-
passar a palavra, julgo-me no dever de dizer, também, nal, mas é preciso um trabalho de educação; primeiro,
alguma coisa porque sou farmacologista e o tubo de en- para o povo aprender o que é realmente isso aí e saber lu-
saio do farmacologista é o animal, mas quero dar o meu tar pelos seus direitos.
testemunho de que a questão não é muito relacionada
com o dinheiro não, porque o Sr. Angelo, por exemplo, Isso me irrita muito porque tenho exemplos, em Minas,
sabe e o Sr. Messias Franco também, embora não esteja desse suborno que se faz, como se dar emprego fosse um
mais presente, que dirigi, durante 14 anos, uma escola de favor, quando o emprego é um direito constitucional ao
Medicina, em Belo Horizonte, uma escola pobre. No en- qual estamos acrescentando, eu espero que seja acrescen-
tanto, temos um dos melhores biotérios da região. :Él uma tado outro que é o direito ao meio ambiente sadio.
questão muito importante que V. s.a colocou, Dra, Fer-
nanda, o nosso biotério nunca deixou de ter o médico O SR. CONSTITUINTE FÁBIO FELDMAN - Queria
veterinário, porque há certas experiências que são ine- fazer uma observação, Dr, Angelo, a respeito do salário-
vitáveis, mas fazê-las com um mínimo de sofrimento e insalubridade, porque fala-se muito em meio ambiente e,
algumas coisas racionais, por exemplo, um dos melhores muitas vezes, até por uma questão jurídico-institucional,
anestésicos para cães é o hidrato de cloral, que infeliz- há uma divisão entre o ambiente fabril e do ambiente
mente, não existe mais no mercado, mas é só comprar o geral. Inclusive, em Cubatão, sofremos esse problema, con-
insumo a matéria-prima, que se pode fazer a solução e é cretamente. O Professor Ângelo sabe que a Sociedade Bra-
o melhor anestésico, talvez, para cães e ninguém usa mais, sileira para o Progresso da Ciência, juntamente com as
querem usar tionembutal, querem usar nembutal sódíco, entidades ecológicas, sempre lutou e sofreu essas dificul-
que são muito mais caros. dades e uma grande dificuldade que sempre tivemos foi
monitorar a qualidade ambiental no ambiente fabril, que
Então, é uma questão de racionalização, para poder depende, pela legislação brasileira, do sindicato e do Mi-
realmente trabalhar, continuar as pesquisas, mas dentro nistério do Trabalho, que sempre foi omisso. Não tem
de um menor índice de sofrimento para os animais que co- nenhuma estrutura para tratar da questão da salubrida-
laboram para o avanço da ciência. de dentro da fábrica e o sindicato sempre foi mais do
Pela ordem, está inscrito aqui o Dr. Angelo Machado. que isso, nunca quis enfrentar essa problemática com
seriedade, porque, muitas vezes, o trabalhador depende
O DR. ANGELO MACHADO - Queria recuperar uma daquele adicional de insalubridade, que vai até 20% do
consideração do Constituinte Carlos Mosconi, quando S. salário normativo regional. Acho até que esta Subcomissão
Ex.a diz do problema de Cubatão e da impunidade que teria .que fazer uma sugestão de que a saúde do trabalha-
existe lá em relação a todo o problema que surgiu, e Iem- dor fosse tratada, não pelo Ministério do Trabalho, mas
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 181

pelo Ministério da Saúde. Caberia a este, inclusive, fazer com uma vinculação estreita com o sindicato de trabalha-
a vigilância epidemiológica no ambiente fabril e no am- dores e com uma medida importante nessa área, que acho
biente, como um todo. que pode ser estendida para outros Estados, que foi a
Aproveito esta oportunidade para colocar isto, que te- coragem do Secretário de Saúde de ter colocado sob vi-
gilância epidemiológica, portanto, sob a influência da Se-
mos obrigação moral de acabar, extinguir 'Com o salário- cretaria da Saúde, alguns agravos em Cubatão que, niti-
insalubridade e fazer com que o texto constitucional seja damente, eram decorrentes das más condições de trabalho
claro e dê um prazo a todas as empresas para que elas e das más condições ambientais. Acho que essa é uma
acabem com a insalubridade, através da tomada de me- questão de extrema relevância, de extrema importância
didas tecnológicas que façam isso, e que esse problema do e fico gratificado que o Constituinte Fábio Feldmann
emprego versus meio ambiente tende a se acirrar numa tenha feito uma referência a ela.
crise econômica como esta em curso. Em Cuba tão, durante
muito tempo, o G<>verno do Estado se negava a colocar as O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Não tendo
indústrias em estado de alerta porque haveria uma queda mais ninguém inscrito para usar da palavra ...
da arrecadação tributária e as próprias empresas, diziam A CONSTITUINTE (Maria de Lurdes Abadia) - Sr.
os trabalhadores, iriam investir em equipamentos anti- Presidente, peço a palavra, pela ordem.
poluição, mas, em contrapartida, teriam de despedir um
sem-número de empregados. O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Concedo
a palavra à nobre Constituinte Maria Ide Lourdes Abadia.
Acho que isso tem que ficar registrado. Eu gostaria
de fixar, sintetizando, com relação ao salário-insalubri- A SR.a CONSTITti"'INTE (Maria de Lourdes Abadia)
dade, que é uma questão de saúde é uma questão desta - Com relação ao meio ambiente, tenho discutido com
Subcomissão e que, se não for tratada num capítulo de vários segmentos preocupados com a questão da sobrevi-
saúde, que esta Subcomissão deverá fazer uma recomen- vêncía, porque, hoje, a nossa luta não é nem pelo fato de
dação à Comissão que trata do direito do trabalhador uma conservação da natureza, mas já é uma questão de
para extinguir de vez com uma vergonha que existe ape- vida, e me parece que precisamos aprovar nesta Consti-
nas no Pais, que é o adicional de insalubridade. tuição pelo menos três artigos. Um é a preocupação com
a educação, que não é feita, hoje, nos nossos currículos'
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Concedo a no Brasil, embora ocorra em algumas escolas que têm
palavra ao Sr. Carlos Alberto. essa iniciativa, não há obrigatoriedade. Isso me parece
que faz parte da nossa cultura, é incrível como as pessoas
O SR. CARLOS ALBERTO - Do Ministério da Cultura derrubam as árvores, poluem os rios, e ar e não têm o
no Conselho Nacional do Meio Ambiente. mínimo peso na consciência, acho que deveria haver obri-
Exemplificando, ainda, para complementar o que o gatoriedade, como disciplina prevista nos currículos esco-
Constituinte Fábio Feldmann colocou, tivemos um Minis- lares, da educação para o meio ambiente a conscientiza-
tro da Fazenda, Emane Galvêas, que chegou a declarar ção para o meio ambiente. '
pela televisão que o brasileiro deveria fumar mais por- A outra seria colocar como crime inafiançável o pro-
que assim aumetaría a receita da União. ' blema da poluição, principalmente das nascentes, o pro-
A última consideração que eu queria apresentar aqui blema da destruição, da agressão à natureza. Alguém aqui
aproveitando que todos vimos que o assunto é vasto am~ 'colocou o !problema de que se coloca um palavreado muito
pIo, globalizante, fica difícil, então, a síntese apro~eitar bonito, que é uma escapatóría para que os técnicos argu-
uma síntese apresentada pelo Professor Celso Furtado mentem que não é tão perigoso. Figuei preocupada, um dia
numa última conferência de S. e» mostrando como a Com: desses, quando soube do problema da mercurízação do rio
tituinte pode influir decisivamente em três eixos principais M!lIdeira e o que representa isso para nós, porque não sabía
da questão ambiental, ele reduziu essa questão ampla a que as pessoas podem nascer aleijadas, com problemas ge-
três eixos príncípaís: o primeiro seria uma base Iezal néticos irrecuperáveis. Estamos protegendo o garimpeiro,
uma organização jurídica que atinga os problemas'" dó por uma questão social, e, no fundo, sabemos que eles tal-
meio ambiente e do patrimônio cultural, quer dizer, a vez nem tenham conhecimento do perigo do uso do mer-
~ase .Iegal.s~ria um prímeíro eixo e a C.onstituinte pode cúrio nos garimpos, que estão matando os nossos rios e
Influir decísívasnente nISSO; o segundo seria o aparato ins- nem o que isso virá representar para as gerações futuras.
titucional, a organização do Estado para atendimento Dizem que no Japão há uma lagoa que, há 150 anos,
desse assunto, como o Estado pode se organízar, de que tentam despoluir e ainda não conseguiram, apesar de toda
maneira ele se coloca; e, por último, facilitar o acesso à a tecnologia. E nós não estamos nem ai. São coisas muito
informação veraz completa, atualizada, sobre o meio am- mais sérias do que a gente possa imaginar.
biente, para que o cidadão possa se tornar capaz, e não
tutelado, sobre a questão do meio ambiente. Ele vai exer- Então, a sugestão seria colocar como crime mesmo,
cer os direitos de sua cidadania, se tiver acesso a essas ín- sem muito palavreado, que a pessoa ao ler o artigo, saiba
formações. O Estado tem que oferecer essa condição para. que se cometer um crime contra a natureza será mesmo
o cidadão, para ele abandonar a tutela e começar, real- responsabilizado com penas sérias, assim como o incen-
mente, a exercer seus direitos de cídadâo. Muito obrigado. tivo, porque acho que é muito importante incentivar o
cidadão, a sociedade, que 'conserva a natureza.
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Está ínscrí-
to aqui, para falar, novamente, o Dr. Oarvalheíro, Vou fazer três artigos neste sentido; educação, o in-
centivo àqueles que conservam, preservam e recuperam a
O DR. JOSÉ CARVALHEIRO - Queria só fazer um natureza e criminalizar aqueles que a destroem.
comentário breve a respeito dessa última intervenção do Era essa a colocação que eu gostaria de fazer.
Constituinte Fábi{) Fe,ldmann sobre a vigilância epide-
miológica, dos agravos à saúde humana decorrentes das O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Concedo
condições de trabalho. a palavra ao nobre Constituinte Eduardo Jorge.
Fico gratificado que ele tenha feito menção a isso, O SR. CONSTITUINTE (Eduardo Jorge) - Primeira-
porque participei de uma administração do Estado de mente gostaria de me justificar perante a comíssão e
São Paulo, a última admínístração em que se teve a co- perante às pessoas que vieram à audiência pública, por-
ragem de desencadear um programa de saúde e trabalho que não pude estar presente durante parte da exposição
182 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

porque estava cumprindo uma função partidária e, infe- nacionalmente, para sair com uma proposta de iniciati-
lizmente, tive minha participação prejudicada na Sub- va popular e a data desse possível lançamento, dessa
comissão. Não vou entrar 'em considerações sobre as expo- possível proposta de unidade à qual não sei se se vai
sições, porque não assisti, e gostaria apenas de colocar chegar, seria dia 13, aqui na Câmara. Então, acho impor-
duas questões. tante comunicar ao Presidente e que S. Ex.a comunicasse
Primeiro, em relação à tese desenvolvida pelo Cons- aos outros Constituintes, para que a Subcomissão estivesse
tituinte Fábio Feldmann, em relação à insalubridade. É presente a esse ato, porque se conseguirmos realizar, che-
importante a gente ter consciência de que, quando jun- garmos a esse trabalho de unidade, haverá uma reper-
tarem a Subcomissão de Saúde, Seguridade e Meio Am- cussão muito grande a nível nacional.
biente e dos Direitos dos Trabalhadores, essa questão vai O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muito
ser discutida, na Comissão de Ordem Social e lá várias obrigado ao Constituinte Eduardo Jorge.
posições vão se colocar. A nível dos sindicalistas, que são Praticamente não houve perguntas, pela primeira vez,
vários, na Subcomissão dos Direitos dos Trabalhadores, a nesta nossa Subcomissão, o que mostra a unanimidade de
tendência parece ser por uma legislação mais rigorosa, pensamento, isso é muito bom num tema tão importante.
no sentido de eliminar as condíções insalubres, mas, ao
mesmo tempo, exigir uma taxa maior de insalubridade, Quero dizer que não vamos suspender a reunião, mas
bem maior do que a atual, como forma de reprimir e não fiquem receosos de perder o almoço, não. Vamos
repor, de alguma forma, o prejuízo do trabalhador. fazer o seguinte, vamos interromper e continuaremos a
mesma reunião, às 17 horas, porque, assim, teremos ape-
Pessoalmente, concordo com a tese que o correto é que nas uma Ata.
a saúde do trabalhador não seja vendida, por mais que
se aumente a taxa de insalubridade, ainda continuará Quero agradecer, como Presidente desta Subcomissão,
barato para o empregador pagar a taxa de insalubridade em meu nome e em nome de todos os colegas Constituin-
e não adotar medidas mais rigorosas em relação ao meio tes, aos depoentes que aqui vieram às vezes com sacri-
insalubre. fício até dos seus trabalhos particulares e até, com alguns
deles, foi um reencontro muito agradável, amigos de longa
Acho que, na Comissão de Saúde, no relatório, deve- data, tempos de lutas muito grandes _em relação a este
mos ter um texto sobre essa questão e nos prepararmos e outros temas, como o Professor Angelo Machado, como
para um debate na outra Comissão. Em que sentido acho Roberto Messias Franco e como colegas e companheiros da
que a Oomíssão de Saúde deve se posicionar? Primeiro, SBPC. Pertenço à SBPO há mais de 20 anos e considero,
no sentido de que devem ser usadas todas as medidas como aqui se dísse, que é provavelmente, a ínstituíção
tecnológícas existentes para eliminar a insalubridade no científica maior e mais conceituada do Pais. Então foi
meio ambiente do trabalho. Segundo, em vez de pagar uma satisfação muito grande ouvir os representantes da
o adicional de insalubridade, porque temos que admitir SBPC e todos aqueles que aqui vieram debater conosco
que, por mais que se tente, continuará havendo situações e trazer os subsídios da sua experiência e da sua inteli-
insalubres, pelo menos, na atual fase de desenvolvimento gência.
tecnológico, temos que ter uma opção, ou se paga o tal
adicional de insalubridade, com taxas maiores, como di- Terminando, gostaria de lembrar aos presentes o se-
zem os sindicalistas, ou, uma opção que acho importante, guinte: há quatro ambições do homem moderado, muito
seria reduzir a jornada de trabalho para algumas condi- importantes; algumas utópicas, -outras não tanto, viver
ções de insalubridade, onde, reconhecidamente, não seja muito sem envelhecer: 'comer muito sem engordar, muito
possível eliminá-las. Então, para determinado típo de tra- amor sem procriar é industrializar sem poluir.
balho, em vez de serem 8 horas diárias, 40 horas sema- Acho que a última, talvez, seja a de maior posssíbllí-
nais será estabelecido um horário menor, 4 horas por dade; algumas das outras, como disse, utópicas, mas a
dia, '24 horas por semana e o trabalhador receberá o tecnologia tem demonstrado que a industrialização sem
salário integral, de acordo com a sua categoria. Desta poluir é perfeitamente possível. Vamos lutar por ela. E
maneira, ele trabalharia menos, seria menos exposto àque- aqui um lembrete, uma frase que muitos conhecem, mas
la insalubridade e teria uma sobrevída maior, não ficaria que deve permanecer em nossa memória - "Deus perdoa,
como hoje, quando recebe o adicional de insalubridade o homem esquece, a natureza não perdoa e nem esquece".
e morre 5 anos depois ou se aposenta por doença. Esta
é uma questão importante, que a Comissão precisa ~er Vou encerrar a presente reunião para reabri-la às
muito cuidado na hora de elaborar e vamos ter que dIS- 17:00 horas.
cutir bastante na Comissão de Ordem Social. Está encerrada a reunião. Muito obrigado.
Outro ponto importante em relação a essa questão é, (Suspende-se às 12 horas e 30 minutos e rea-
talvez o direito do trabalhador de se recusar, a ser indi- bre-se às 17 horas e 25 mlnutos.)
cado pela empresa, pela fábrica, a trabalhar num deter- O SR. PRESIDENTE (Raimundo Rezende) - Dando
minado local Insalubre. Seria o direito de se recusar e ser prosseguimento à reunião, teremos agora, na parte da
remanejado para outro setor da empresa. tarde, o depoimento de várias autoridades. Inicialmente,
Acho que, essa questão que o Sr. Fábio Feldmann le- convido o Dr. Nelson Proença, Presidente da Associação
vantou suscitará muita polêmica na Comissão de Ordem Médica Brasileira, para dar início ao seu pronunciamento.
Social. Cada orador dispõe de dez minutos, podendo esse tempo
Outro ponto que gostaria de levantar, ao presidente ser prorrogado por mais cinco minutos.
e demais membros da oomtssão, e, fiquei sabendo hoje, em O SR. NELSON PROENÇA - Sr. Presidente da Sub-
contato com alguns membros da Comissão de Reforma comissão de Saúde, Seguridade e Meio Ambiente, nobre
Sanitária, que está amarrada uma plenária de entidades Constituinte Relator Carlos .Mosconí, srs. Membros da Co-
sindicais, médicas, populares, da área de saúde, para o dia missão:
13, aqui na Câmara Federal, onde será analisada uma pos-
sível proposta de iniciativa popular na área de saúde. Da A Associação Médica Brasileira agradece a oportuni-
mesma forma que está acontecendo na área da reforma dade de trazer a sua colaboração para a discussão sobre a
agrária, na área de educação, essas entidades, a nível saúde na Constituinte. E ao fazê-lo, por escrito, como me
nacional, estão tentando articular, de forma unitária e :l;oi solicitado, desejo enfatizar que o primeiro documen-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 183

to que vou ler, de uma só página e com cinco itens, repre- Aprovou-se também o seguinte:
senta a síntese de uma discussão havida durante os últi- "para que este texto fique completamente
mos anos no âmbito de nossa Associação. Este documento compatibilizado com as teses da Associação Médica
foi aprovado pela Assembléia de Delegados da AME, órgão Brasileira, recomenda-se a inclusão de um item
supremo da entidade, realizada nos dias 31 de outubro e específico, relacionado com a mercantílízação da
1.0 de novembro do ano de 1986. No primeiro item, defini- medicina, isto é, dos sistemas que se organizam
mos como princípio geral: tendo como princípio a obtenção de lucros às cus-
"É dever do Estado organizar, promover e fis- tas da doença."
calizar um sistema de saúde que atenda ao direi- Inclua-se também, no texto a ser apresentado pela
to de cidadania de todo ser humano de obter aten- Comissão Na~ional de Reforma Sanitária uma clara frase
ção à saúde, conforme os padrões da Organização de estímulo às formas de assistência médica, que se consi-
Mundial de Saúde." deram éticas, e que há pouco ?itamos. COI? i~so, a Ass?cia-
ção Médica Brasileira, atraves de .seus orgaos cole~Iados
A grande preocupação ao definir esse item é de as- e particularmente do Conselho Delíberatívo, que reune os
sociar a idéia de um sistema universal, aberto a toda a presidentes de todas a~ federa;das, se Incorpora a pr~p?s.ta
população e dando a ela todo acesso, ao 'Conceito de qua- aprovada pela Comissao NaCIonal de Reforma Barritária.
lidade da Medicina, sem o que cairíamos na dístorção de Inversamente, a proposta apresentada pelo ConselJ:o Fe-
pratícar uma pretensa medicina de massas, porém abso- deral de Medicina, quando cotejada com esta que fOI apro-
lutamente desprovida de resolubílídade dos problemas le- vada pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária, mos-
vados por essa população ao sistema que procura. trou-se menos adequada a proposta da Associação Médica
Brasileira, que acabo de ler.
"Item II - Torna-se necessária a constitui- Passo às mãos do Sr. Presidente o texto desta parti-
ção de um Fundo Nacional de Saúde, de gestão cipação conforme me foi solicitado. Desejo mais uma vez
descentralizada, democratizada e transparente, que registrár o agradecimento pelo convite feito à Associação
conte com um percentual mínimo dos orçamentos Médica e me ponho à disposição dos Srs. membros desta
federal, estadual e municipal, além de outras ver- Subcomissão para as perguntas que entenderem neces-
bas adicionais -loterias seguros, etc." sárias para melhor aclarar a nossa posição.
"Item III - ortaeão de um Plano Nacional O SR. PRESIDENTE (Raimundo Rezende) - Agrade-
de Saúde, com gestão" deseentralízada, hierarqui- cemos o pronunciamento do Dr. Nelson Proença. Achando-
zada, universalizada e regionalizada, com partici- se presente o Presidente efetivo da Subcomissão de Saúde,
pação e gestão democrática em todos os níveis da Seguridade e Meio Ambiente, passo a Presidência ao Cons-
sociedade civil, das organizações dos profissionais tituinte José Elias Murad.
de saúde, dos usuários e dos órgãos governamen- O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agradeço
tais, visando garantir a todos os brasileiros os ao Constituinte Raimundo Rezende. Pela informação que
avanços teenológícos da medicina." V. Ex.R nos forneceu, ao assumirmos a Presidência, tanto
"Item IV - Implementação de uma política o Dr. Nelon Proença quanto o Dr. Mário Rigatto, que é do
nacional de pesquisa e produção de insumos bá- Grupo Assessor do Ministério da Saúde para o Controle
sicos e medicamentos que vise à independência do do Tabagismo, necessitam tomar o avião ainda hoje. Sendo
País do setor químíeo e farmacêutico e que ga- assim, concedo a palavra ao Dr, Mário Rigatto. Faremos
ranta a distribuição gratuita de medicamentos à os debates com esses dois depoentes. Em seguida, passa-
população usuária do sistema de saúde." remos aos outros, se os colegas constituintes estiverem de
acordo.
"Item V - Ficam vedadas as formas de as- O DR. MARIO RIGATTO - Sr. Presidente, Sr. Rela-
sistência médica que têm como principio a mer- tor, Srs. Membros desta subcomissão:
cantilização da medicina e que obtenham lucros
às custas da doença do brasileiro. Estimular as O tabagismo é atualmente o maior problema de saúde
formas de assistência médica étíca, isto sim, es- pública do Brasil, com exceção, talvez, da fome. Estamos
pontaneamente oriundas da iniciativa das comu- perdendo cento e vinte mil irmãos por ano, diretamente
nidades - santas casas, cooperativas médicas tipo em decorrência das práticas tabãgícas. Este número é
Unímeds, etc." cinco vezes superior ao que nós perdemos em decorrência
Esta resolução de 31 de outubro e 1.0 de novembro do alcoolismo e é pelo menos cem vezes superior ao que
continha princípios gerais. O Conselho Deliberativo da nós perdemos por todas as outras drogas somadas. Além
Associação Médica Brasileira reuniu-se apenas quinze de ser um problema muito importante para o indivíduo
dias, em 24 de abril de 1987, em Curitiba, Paraná, e fa- que fuma, o tabagismo tem-se mostrado um problema
zia parte de sua pauta decidir sobre o texto da proposta coletivo. Medicamente, não classificamos mais a sociedade
que iria encaminhar à Assembléia Nacional Constituinte. entre a parte que fuma e a que não fuma, mas entre a
Além de um esboço de texto para a discussão que havia parte que acende o pito e a que fuma o pito dos outros.
sido organizado pelos próprios quadros associativos, fo- Devido à ampla difusão da fumaça e à vida dominante-
ram apreciadas duas outras propostas: uma, feita pelo mente em ambientes fechados - em média vivemos 22
Conselho Federal de Medicina e a outra pela Comissão das 24 horas do dia em ambientes fechados - o tabagismo
Nacional de Reforma Sanitária, que apresenta, inclusive, é um problema de saúde de todos os brasileiros. Nesta
sua proposta. Pelo que vimos está sendo distribuída neste ação à distância, a vítima maior é o feto em gestação.
plenário. Analisando, então, as propostas existentes, con- De acordo com estatísticas da Organização Mundial de
cluimos que a proposta da Oomissão Nacional de Reforma Saúde, o Brasil é o País do mundo que mais crianças
Sanitária, aprovada na reunião de 30 e 31 de março de expõe aos riscos do tabagismo materno por ano. Calcula-se
1987, na cidade do Rio de Janeiro, incorpora quase todos que 750 mil nenéns brasileiros nascem prejudíeados pelas
os princípios "gerais aprovados 'pela Associação Médica práticas tabágícas diretas da mãe ou indiretas do pai ou
Brasileira em sua assembléia de delegados, realizada em do meio em que a mãe vive enquanto está em formação.
31 de outubro e 1.0 de novembro, que acabei de ler. Um dos problemas que muito preocupa em saúde pública
184 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

essa exposição do neném em gestação é não apenas o mem, em essência, o apoio constitucional que, em termos
fato de que eles morrem em número muito maior até o de .saúde pú~1i.ca, entendemos precisaríamos, para poder
momento de nascer, mas é o fato de que eles perdem em Iegíslar específícamente a partir delas e proteger a nossa
definitivo uma parte da sua inteligência. A mãe que fuma gente dos problemas que aqui tentei resumir.
não oferece ao seu neném o oxigênio de que ele precisa,
alimento mais importante durante a gestação. Em decor- a SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agrade-
rência, a criança nasce com menor número de moléculas c'e~os ao Prot. Mário Rigatto. S. s.a está também nos
protéicas cerebrais. Está bem documentado que uma cri- avisando - e a Secretaria já havia nos comunicado _
ança nascida de uma mãe que fumou durante a gestação, q~e o Dr: J?rge Kalil, que vai falar em nome da Associa-
em média se alfabetiza sete meses depois das outras çao ~r~sllelra de Transplante de órgãos também neces-
sita VIaJar. '
crianças. Sete meses de retardo na alfabetização é uma
perda muito considerável de inteligência. Esse fato preo- ba~oncedo a palavra ao Dr, Jorge Kalil, antes dos de-
cupa ainda mais porque quem tem mais crianças neste
País são os pobres, que fumam na proporção de dois a um
em relação às camadas mais ricas. A13 mães mais pobres, _ O SR. JOR~E .KALIL. - Sr. Presidente da Subcomis-
que são as que mais fumam e têm mais filhos, por serem sao, Srs. Oonstítuíntes, ~ com muita honra que venho
pobres fumam cigarros baratos, que são duas a três vezes fala~ 'elE- nome. da ASSOCIação Brasileira de Transplante
mais tóxicos do que os cigarros mais caros. Por serem de orgaos, s?c18dade .J.'€cém-criada para um ,problema
pobres, fumam o cigarro até o fim, e sabemos que a toxi- t~mbém relativamente novo -de saúde em termos de Bra-
cidade aumenta com a aproximação da brasa dos lábios SIL Tra?spl~nte de ór~ãos hoje, no Brasil, não é experí-,
do fumante, numa progressão geométrica. Por serem ment~çao, e uma realídads terapêutica muito bem esta-
pobres, essas mães moram em ambientes promíscuos, b~leCIda. Podemos dizer que atualmente dominamos as
pequenos, onde o fumo passivo se soma ao seu próprio dIferentes etapas dessa tecnologia em praticameÍ11if> to-
fumo ativo. Com essa estatística de que o Brasil lidera d?s. os t~ansplantes que são realizados em termos mun-
o mundo em crianças prejudicadas pelo tabagismo na dIaI~. Alem d~~ ~ansa>lantes de rins e córneas, que se
sua formação fetal, estamos não só comprometendo o dia realíaam em varres lugares do Brasil, há muitos anos,
de hoje 'Com o tabagismo, mas o nosso dia de amanhã. Im1?lantou-se em alguns centros transplantes de execução
Além do problema da saúde, o tabagismo é a mais impor- 1!1aLS elaborada, como o coração, o fígado e a medula
tante causa de incêndios rurais e a segunda mais im- o~sea. O transplante de rins no Brasil é feito há mais de
portante causa na cidade, só batida na cidade pelo curto- VIn~e a~os e Só o grupo da Faculdade de Medleina da
circuito elétrico. É também o maior devastador de flores- Ull1v~rslda?:e de São Paulo já realizou 1. 200 transplantes
rf;as do País. Cada trezentos cigarros fabricados exige o renais. Alem das vantagens médicas e humanitárias, o
sacrifício de uma árvore. O Estado que mais se devastou transplante de rins é muito econômico. Comparando-se
na sua ecologia foi o Rio Grande do Sul, e não é mera () valor gasto em diálise com () valor expendido em trans-
coincidência que ele produz 65% da produção tabágíca plante, mesmo considerando os casos de insucesso estima-
nacional. Se que haja uma economia na ordem de 40% no 'primeiro
ano, 70% no segundo ano e mais de 90% nos anos subse-
Vemos, então, que o tabagismo é um problema nacio- qüentes. Acredito que alguns dos valores que estou dando
nal como um todo que extrapolá os limites da saúde. E se a V. Exas. não seja nenhuma novidade, pois sei que aqui
poderia perguntar: mas se é um tóxico tão perigoso, há muitos colegas médicos e que já trabalharam em áreas
se ele ombreia com a cocaína com a capacidade de viciar, correlatas ao transplante. Do ponto de vista de qualidade
por que não está sujeito às mesmas restrições que os de vida .~o 'Paci~nte em espera de transplante, uma pes-
outros? porque ele começou com outra roupagem. Quando soa debílrtada as :portas da morte, após o transplante
o tabagismo foi apresentado à sociedade, no início do passa a ser uma pessoa praticamente normal. Apesar das
século passado de uma maneira mais ampla e neste século vantagens evidentes dos transplantes doe órgãos em ter-
de maneira epidêmica, tinha fama de ser um produto mos sociais, econômicos e de saúde, aeredítamos que sua
desejável à saúde. Os primeiros relatos sobre o tabagismo prática está muito aquém das necessidades nacionais.
o consideravam uma espécie de remédio. E quando nos Dois entraves nos parecem fundamentais para a resolu-
demos conta, a menos tempo, do grande veneno que era, ção: um de sua direta competência e outro passível de SUa
já estava solidamente apoiado numa legislação muito posi- influência. Até hoje não está regulamentada, por exem-
tiva para ele. Ainda não tivemos a coragem ou a força, plo, a remuneração de serviços da realização de trans-
ou ambos, para mudar a situação. Consideramos neste plantes de órgãos, que na grande maioria dos casos é rea-
grupo assessor que presta assistência ao Ministério da lizada de uma maneira deficitária em instituições de
Saúde, com vistas a criar um programa da contenção a ensino. Acreditamos que sua influência após os tràbalhos
esse flagelo nacional, que é o tabagismo, que duas normas de elaboração da Constituição, deverá ser decisiva para
básicas precisavam figurar no nosso Texto Maior. Esta- esse problema.
mos distribuindo a cada um dos membros da comissão No entanto, o problema mais importante a ser resol-
um conjunto de documentos que ilustram e documentam vido é o da doação de órgãos, que necessita sua especial
tudo o que estou dizendo agora em dez minutos. Há uma atenção. órgãos únicos, como coração e fígado só podem
mensagem, numa simples folha, que contém duas normas ser retirados de cadáveres, e órgãos duplos, como rins,
que nos parece importante destacar. Achamos que deveria podem ter um doador vivo. Mas o doador cadáver
haver algo que dissesse que produtos tóxicos não podem impede quaisquer risco e evita qualquer mutilação. Existe
ser industrializados, comercializados ou propagados livre- legislação brasileira, de 1968, que dispõe sobre a retirada
mente. Eles podem ser industrializados. Produzimos cocaí- de órgãos para transplantes a partir de cadáver. Essa
na no Brasil, é um anestésico; morfina, que é um analgé- Iegislação precisaria ser moderniza-da para que possibilite
sico. Mas tudo isso é produzido dentro de uma legislação a obtenção de maior número de órgãos para satisfazer à
específica e muito cuidadosa. A segunda norma funda- demanda nacíonaã,
mental que achamos poria cobro à situação era uma que
dissesse que atividades que por qualquer mecanismo de Acreditamos que a Constituinte ,poderia prever que
ação comprometam a salubridade do meio ambiente não fosse permitida a doação espontânea de ór:gãos para trans-
podem ser exercidas livremente. Essas duas normas resu- plantes inter vivos evitando-se, porém, sua comercialização.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUINTE (sup'emento) Segunda-feira 2D 185

ESse é um fato que merece bastante consideração e tando a pesquisa e também atuando junto ao público, mos-
reflexão. tr~n?-o o que é o transplante de órgão, o seu significado
médico e humanitário. A sociedade está à dísposíção para
No que se refere a transplantes partindo de órgãos o que for possível ajudar, no que se refere a esta área.
de cadáveres, pensamos que deve ser permítída a sua r·a- Muito obrigado.
tirada, a não ser que haja proibição prévia do doador,
manifestada por escrito ou não. Sabemos que essa nossa O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muito
proposta, que é liberal, poderia ser considerada muito obrigado ao Dr, Jorge Kalil pela sua apresentação.
avançada, tendo em vista os conceitos culturais e reli- Conforme esclarecemos há pouco, vamos abrir espa-
giosos do nosso povo. Acreditamos que os problemas cul- ço agora para o debate dessas três apresentações.
turais sejam devidos em muito à falta de informação, e
é nossa intenção, da sociedade, agir nesta área, tentando Está franqueada a palavra.
informar à nossa população ~obre os ~roblemas relacío- Concedo a palavra ao nobre Constituinte Carlos Mos-
nados Coam a doação. coni.
Quanto aos ,problemas religiosos, a igreja já se pro- O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - Gosta-
nunciou várias vezes em apoío à prática de transplantes, ría de fazer algumas indagações ao Presidente da Associa-
e talvez precisasse uma maior difusão também disso. ção Médica Brasileira.
Esse t1po de legislação é corrente em outros países, Gostaria de dizer ao Professor Mário Rigatto, que tería-
há muitos anos, inclusive em países latinos. Quando ss mos uma satisfação enorme se o fumo pudesse ter seu uso
diz em outros países se pode dizer: não, os países anglo- limitado no País. Eu não fumo, mas já fumei bastante;
saxões têm outro tipo de cultura. Mas há países latinos, sou fumante coletivo, contra a minha vontade. Não sei
como a França, onde esse tipo de legislação, como esta- como nós poderíamos inserir qualquer artigo - não seria
mos propondo, é vigente há mais de 15 anos. Exist'em o caso evidentemente de se colocar no texto constitucio-
outros ,problemas éticos e médicos relacionados aos trans- nal a proibição ao fumo, mas na legislação ordinária, real-
plantes, que poderíarn ser regulamentados literalmente ou mente, deveríamos tomar uma atitude mais corajosa com
entregues para a sociedade iPara normatízaçâo. Assim relação ao fumo, sabendo, evidentemente, do prejuízo que
°
sendo, conceito de morte cerebral, que permite a roemo-
ção de órgãos, é um ,con~ei:txJ médico? e nós poderemos
ele faz e traz aos nossos patrícios brasileiros que são coti-
dianamente submetidos à sua ação nefasta.
contar com a sociedade médica para ajudar os Srs Cons- Com relação à questão do transplante, acho que aí
tituintes ou o Congresso Nacional para legislar. sim, poderíamos talvez pensar na possibilidade de inserir
Quanto à distribuição dos órgãos ~ à qualidade. ?-o no texto constitucional. Acho, inclusive, que é uma exigên-
trabalho médico nos transplantes podería ser supervisio- cia d~ sociedade e. urna necessidade de parte da nossa po-
nado por sociedades médicas. O problema de c~mercializa­ pulação que precisa realmente usar esse procedimento
çãó de órgãos envolve múltiplos aspectos da socíedade, q~e médico.
deverá ser refletido e normatizado pelo Congresso NacIO- Gostaria de saber, do representante da Associação Bra-
nal. sileira de Transplantes, se existe - e aí eu acho que há
Devo salientar que o problema de comercialização é realmente uma dificuldade, com relação à doação do ca-
execrado em todos os países europeus o que, na verdade, dáver - um conceito de morte. Corno é que poderíamos
nos ensinam os Estados Unidos, onde começa a existir conceituar isso em termos claros na lei? Esta pergunta
pessoas que admitem a comercialização de órgãos. Acho faço ao representante da ASsociação Brasileira dos Trans-
que isso realmente envolve muitos aspectos culturais, e só plantes, e gostaria de saber da Associação Médica Brasi-
o nosso Congresso poderia refletir e ditar as normas a leira se esta entidade possui essa definição. Porque eu,
respeito. como relator desta subcomíssão, creio que é de interesse,
mesmo porque recebemos inúmeras propostas com relação
Não vou dar minha. opinião pessoal, mas acho que à doação de órgãos. A dificuldade que vamos encontrar,
o problema deveria ser bastante refletido. no momento de apresentar o relatório, é exatamente esta
Os problemas relacionados com a indução de morte definição. Se já há por parte da Associação Médica Brasi-
para retirada de órgãos é de competência policial. Acho leira, por parte da Associação Brasileira de Transplantes,
que nem seria o caso de ser discutido. por parte do Conselho Federal, uma maneira definitiva so-
bre o conceito de morte cerebral.
Para ser o fórum de reflexão e discussão de todos es-
ses problemas, é que criamos essa sociedade, chamada As- Ainda quanto ao Presidente da Associação Médica
sociação Brasileira de Transplante de órgãos, que foi cria. Brasileira, gostaria de saber qual a posição da associação
da em 20 de dezembro de 1976, à qual tenho a honra de relativamente ao trabalho do profissional médico no ser-
aqui representá-la na condição de Diretor Executivo. Tra- viço público, e também, evidentemente, no setor privado
ta-se de uma sociedade médica, que congrega clínicos, ci- com relação à carga horária. Se a associação já tem uma
rurgiões, imunologistas, envolvidos ativamente com trans- posição, se ela considera a legislação existente corno uma
plantes de órgãos no Brasil. Ela é dirigida par um díretor legislação incorreta. Porque eu também considero, e atra-
executivo, que ouve um conselho deliberativo. Esse conse- vés dos debates que tivemos, aqui, há uma tendência nítí-
lho é composto de representantes das diferentes áreas en- da de que ela seja reformulada, no sentido de se incenti-
volvidas com transplantes. Nós temos representantes de var pelo menos o tempo integral ou a carga horária dupla.
todas as sociedades médicas envolvidas com transplantes Enfim, eliminando o trabalho médico, no serviço público,
de órgãos. Fazem parte desse conselho pessoas que, sem em duas entidades, eliminando isso definitivamente e ín-
dúvida, V. Ex.as já ouviram falar, como o Prof. Emil Sabag, centivando o profissional médico a se dedicar exclusiva-
nr, Zerbini, Dr. Silvano Raia, nr, Tadeu Chhnental, Ma- mente a uma entidade. São essas as índígações que eu gos-
riano, DT. Adib .ratene. taria de fazer. Muito obrigado:
Os objetivos desta sociedade, além de ser um fórum O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - 'Com a
de debates, são o de contribuir para o estabelecimento de palavra o Dr. Jorge Kalil. .
normas legais, relacionadas com transplantes, estimulando O SR. JORGE KALIL - Muito obrigado. Sem dúvida
a criação de centros de doação e bancos de órgãos, fomen- alguma acreditamos que o conceito de morte para que
186 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLIÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

se possa retirar o órgão é o ponto nevrálgico de todo cesso todo. Achamos que toda a legislação federal deve
esse tipo de legislação. E, há alguns anos, o Dr. Nelson ser revista, se não a nível de texto constitucional, pelo me-
Proença, - antes de nós pensarmos em criar essa socie- nos na legislação complementar, no capitulo do trabalho
dade - vem se preocupando com isto, e criou uma comis- profissional, e, isso para qualquer profissional. Ali, onde
são para discutir o assunto. está aviltada a remuneração profissional, naturalmente,
Nós, da Faculdade de Medicina da Universidade de ficam aviltadas também as condições de trabalho. Isto
em qualquer tipo de exercício proríssíonal, vale também
São Paulo, Hospital das Clínicas da Universidade de São para o profissional da medicina, que, submetido a condi-
Paulo, temos adotado como critério de morte cerebral um ções extremamente desfavoráveis, acaba, de alguma for-
diagnóstico clínico de morte cerebral e uma comprovação ma, tendo de compensar essas condições, muitas vezes ra-
gráfica, seja ela uma angiografia, ou um eletroencefalo- zendo uma sucessão de atividades em locais diferentes.
grama, ou síngetíradíosótopos, para ver se tem algum tipo
de atividade cerebral. Acredito que o Dr. Nelson Proença Assim, isto deve ser evitado, através de uma legisla-
poderia dizer do trabalho desta Comissão, que entendo ção que contemple os profissionais de saúde, e, no caso, os
seria importante, inclusive, para orientação. médicos, com um patamar que represente o necessário pa-
ra a subsistência daquele tipo de profissional, que é o mé-
O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - Qual- dico, que tem necessidades, naturalmente, muito acima
quer um dos três procedimentos então definiria a morte daquilo que seria considerado o mínimo de uma população.
cerebral?
O SR. JORGE KALIL - Qualquer um dos três, mais Creio, e tenho fé em que os Srs. Constituintes, pri-
meiro, e, depois, os Srs. Deputados e Senadores do Con-
o diagnóstico clínico. gresso Nacional, saberão, naturalmente, reconhecer a ne-
O SR. CONSTITUINTE CAiRLOS MOSCONI - E o ele- cessidade da revisão de toda essa legislação sobre o tra-
troencefalograma seria feito num prazo mínimo? balho médico e, particularmente, o famoso 3.999.
O SR. JORGE KALIL - Sim; faz-se um eletroence- Em relação ao horário de trabalho, não vejo inconve-
falograma para ver se há alguma atividade cortical. niente em que se institua o tempo integral para o médico,
O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - ÉJ um em uma só instituição, desde que as condições sejam favo-
eletro rotineiro, ou seja, não é um eletro feito num deter- ráveis.
minado tempo, num tempo mais longo? Ainda hoje, conversávamos sobre isto, em relação ao
O SR. JORGE KALIL - Não. Não sou neurorísíolo- trabalho no Incor, onde numerosos profissionais são de
gista, mas, pelo que eu saiba, é um eletro normal. tempo integral; só que não é um tempo integral de linha
de produção; quero dizer, há múltiplas atividades que
O SR. NELSON PROENÇA - Em relação a esta pri- ocupam todo o dia de um profissional, e que vão, desde o
meira parte, transplante de órgãos, a comissão que a As- preparo de temas até a assistência do doente, a partici-
sociação Médica constituiu, em agosto de 1984, tinha como pação em cirurgias, ou então assistência a clínicas, aos
partícípantes figuras da mais alta importância, neste internados, isto é, é toda uma vida profissional, e não
campo, em nosso meio, como o Professor Emil Sabag, o simplesmente um atendimento quantitativo.
Professor Adib Jatene, o Professor Silvano Raya, Profes-
sor Tadeu Chivental, enfim, aqueles que mais se têm des- Assim, quando a pergunta é feita: deve um médico
tacado neste campo. dedicar-se, por oito horas, a um só emprego, numa só ins-
tituição? Isto é válido? Isto é válido, na medida em que
Quatro premissas foram colocadas, e a Comissão pro- não se trate de uma linha de produção, isto é, que ele
curou ater-se a essas quatro premissas, que procuravam não vá atender quatro doentes por hora, oito horas por
equilibrar o avanço técnico com aquilo que representa a dia, vinte dias por mês, porque, senão vamos ver o rebai-
tradição cultural, a moral e a ética. xamento progressivo na sua condição de profissional. Jl'::
Então, esses quatro pontos são os seguintes: primeiro preciso que esta instituição que institua o tempo integral,
- definir com clareza o que é morte cerebral; segundo, institua também todo o conjunto de possibilidades de tra-
uma vez demonstrada claramente a exístêncía de morte balho, que permita a ele, não só atender ao paciente, como
cerebral, a suspensão de qualquer tipo de assistência, com inclusive, desenvolver o seu processo de atualização pro-
equipamentos, seria então autorizada; e, em terceiro lugar, fissional.
a definição em relação ao cessar das funções vegetativas, O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a
que persistem mesmo na vigência de uma morte cerebral palavra o Professor Mário Rigatto.
já comprovada. Em quarto lugar, a autorização expressa
da familia ou da própria pessoa, se assim tivesse feito em O SR. YlÁRIO RIGATTO - Agradeço os comentários
vida. Essas quatro premissas seriam colocadas. do Dr. Carlos Mosconi, e concordo plenamente. Todos nós
Com relação à morte cerebral, nós remetemos para a que temos trabalhado no Ministério da Saúde, achamos
Sociedade Brasileira de Neurologia, que incluiu este pon- que a Constituição não poderá descer a detalhes, como
to como um dos itens de seu congresso. Entretanto, não não poderá, por exemplo, fixar o critério de morte, porque
foi possível haver uma plena concordância entre os mem- o critério, há dez anos, era cardíaco, e hoje é cerebral.
bros da Sociedade de Neurologia, a este respeito, naquela Quando a Constituição estiver funcionando talvez seja
ocasião. Foi um congresso realizado em 1985. Então, o as- outro. Mas, o que nos parecia, Dr. Mosconi, de extrema
sunto ficou ainda em aberto. ~iste a conduta prática, importância, era que tivéssemos algumas diretrizes muito
que é aquela adotada pelos centros que trabalham e que básicas. Então, por exemplo, esta idéia de que produto
se inspiram na experiência do Hospital das Clínicas em tóxico não pode ser propagado livremente, era uma dire-
São Paulo, mas a definição, através da Sociedade Brasi- triz fundamental. O produto mais tóxico que é consumido
leira de Neurologia, que me parece ser a sociedade cienti- pela população brasileira atualmente é o tabaco; e ele é
fica indicada para opinar, e, portanto, uma vez definida propagado em qualquer horário, em qualquer platéia, em
por ela, adotada pela Associação Médica Brasileira, isto qualquer mensagem; ele é vendido em qualquer balcão
ainda não foi feito. à criança de qualquer idade, sem a mínima restrição:
Então, uma norma fundamental que, claro, serviria, não
Finalmente, a última parte, pergunta do Constituinte só ao fumo, mas em geral, era a de que produto tóxico
Carlos Mosconi, é sobre a situação do médico, neste pro- não pode ser nem fabricado, nem comercializado, nem
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTiTUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 187

propagado livremente; ele teria que ser legislado. E, aí, - não creio que haja outra comissão com alcance mais
aproveitaríamos integralmente a sugestão de V. Ex.a, que importante no futuro do que a da saúde - possa ter bem
creio ser, obviamente, a correta, uma legislação específica, presente isso que nós consideramos ser um dos grandes
mas ancorada num princípio fundamental da Constitui- desafios no momento, em termos de saúde pública na-
ção. E o segundo, que postulamos, para proteger o fu- cional.
mante passivo, o fumante coletivo, como V. Ex.a muito
propriamente chamou, era esta ídéía de que houvesse uma O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Continua
diretríz no sentido de que atividade que, por qualquer franca a palavra.
mecanismo, comprometa a salubridade do meio ambiente, O SR. CONSTITUINTE DORETO CAMPANARI - Gos-
não pode ser também exercida livremente. É claro que taríamos, se possível, de ouvir o Dr. Edmundo Castilho
compreendemos ser desejável que uma mina de carvão falar sobre cooperativa médica e depois nós continuaría-
possa funcionar, e ela polui o meio ambiente, mas ela é mos os debates.
legislada, ela é controlada. O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Nós ado-
Assim, se nós tivéssemos essas diretrizes fundamen- tamos esse critério porque, como V. Ex.a já percebeu, o
tais, poderíamos ancorar nelas a legislação especifica ao Presidente da Associação Médica teve até que sair. Então,
tema. por isso é que adotamos essa divisão.
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a O SR. CONSTITUINTE DORETO CAMPANARI - O
palavra o nobre Constituinte Raimundo Rezende. Presidente da Associação Médica Brasileira, o Prof. Nelson
Proenca com a sua cultura, a sua sabedoria, poderia dis-
O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO REZENDE - cutir ba~tante conosco, principalmente o assunto da mer-
Com relação às sugestões aqui apresentadas, estamos de cantilização da medicina e gostaria de saber dele quais
pleno acordo, e as preocupações que nos trouxe o Prof. seriam as suas propostas, mas, lamentavelmente, S. s.a
Mário Rigatto são muito oportunas e válidas. Como su- não está mais presente. Mas vamos perguntar ao Dr. Má-
gestões, o seu primeiro item, quando produtos tóxicos rio. O combate ao -tabagismo, via Oongresso, é muito difí-
não podem ser industrializados, comercializados ou pro- cil, porque temos aqui presenciado que, quando um depu-
pagados livremente, consideramos isto de uma dificuldade tado apresenta uma proposta nesse sentido, imediatamente
muito grande, porque, constitucionalmente, poderíamos existe o lobby das multinacionais de cigarros - vamos
dar algum apoio, gostaramos que pudéssemos resolver o citar apenas a Companhia Souza Cruz - que já comprou
problema; mas, creio que através de leis ordinárias, com- metade do Espírito Santo só para plantar fumo.
plementares, procuraremos ferir o assunto.
Então, torna-se muito difícil. As propostas apresen-
Professor, vivemos uma realidade tão difícil para se tadas pelos congressistas são boas, mas, infelizmente, as
conseguir qualquer progresso com relação ao tabagismo coisas não andam, porque eles chegam ao absurdo de ofe-
no que diz respeito à proibição de fabricação, mas, gos- recer banquetes, coquetéis, justamente na hora em que
taríamos que o Congresso encontrasse, através de suas podemos discutir e aprovar as propostas boas.
leis ordinárias, meios de proibir realmente, ou de tal for-
ma tomar providências que pudessem amenizar esse pro- O homem é teimoso, dizem que o homem não morre,
blema sério, e qualquer medida nesse sentido nós encon- ele se mata. Essa é a verdade.
tramos um obstáculo formidável pela frente, porque con- Gostaríamos de nos dirigir agora ao Dr. Kalil. Fico
traria interesses de firmas multinacionais e contraria in- satísreíto em saoer que há uma Associação Brasíletra de
teresse do governo, que tem, através da propagação desses Transplante de órgãos,
estoques, uma arrecadação de impostos bem considerável. Há uma semana apresentei uma proposta no sentido
Mas, quem sabe podemos amenizar o problema atra- de regulamentar a lei vigente, que é a lei como V. s.a citou,
vés de leis complementares que pudessem proibir a pro- que foi elaborada em 1968, mas não está regulamentada.
pagação, através do meio de massa, inclusive, não só nesse A maior falha é que ela não proíbe a venda de órgãos. E
aspecto, mas também quanto à propagação de medica- tivemos agora esse episódio em Taubaté; isso é um espe-
mentos, que vemos todos os dias, todas as horas, todos táculo deprimente, humilhante, e vexatório o que acompa-
os minutos, através da televisão, que é um meio de pro- nhamos pela imprensa; os doadores já representavam um
pagação de massa e, que sem dúvida, induz o povo a uma número pequeno, agora, parece que sumiram, não se encon-
auto medicação. tram mais doadores.
Então, são dois pontos que poderiam ser atacados no Tive a paciência de fazer um levantamento aqui, no
Congresso, com alguma possibilidade de vencer essa re- Congresso, com relação à transplante de órgãos, muitos
sistência, não só por parte do próprio governo como por se ufanam de que o Brasil é um País em desenvolvimento,
parte dos fabricantes de todos esses produtos. e eu digo que, no que diz respeito a transplante de órgãos,
só nos últimos anos é que houve um grande progresso
Apreciei bastante as suas afirmações, o seu depoi- com transplante de rins e principalmente de coração.
mento, as suas palavras nesta tarde e nosso desejo sincero
é que possamos encontrar meios para ir ao encontro dos Lembramos que na França, em 1947, a lei era muito
interesses da saúde do povo de nosso País. simples, pedia apenas o seguinte: que o diretor clínico do
hospital fizesse uma declaração para que fim o órgão seria
O DR. Y.-ÁRIO RIGATTO - Quero agradecer e é óbvio utilizado, não importava se o doador morresse num hospi-
que o que a saúde pública precisa é de ação no campo da tal particular ou num hospital de filantropia, numa Santa
saúde pública. E o que muito apreciaríamos era que os Casa, suponhamos, o importante era que o diretor clínico
nossos irmãos, que tratam da legislação, nos dessem o assumisse essa responsabilidade, e, em seguida, exigia-se
apoio necessário para que essa ação se possa cumprir; não 3 atestados médicos, atestado de um clínico, atestado de
é nossa pretensão ter idéia de realmente acharmos o rra- óbito, de um cardiologista e de um neurologista.
seado e o local exato em que essa proteção possa ser mais
eficiente. É claro que naquela época eles não tinham os recursos
que nós temos hoje, como V. s.a muito bem argumentou.
Mas,- seguramente, ficaríamos muito satisfeitos, e já
estamos, pela manifestação que ouvimos, de que esse gru- Em W57 criou-se o primeiro banco de olhos, no Rio de
po de tamanha importância dentro do futuro do Brasil Janeiro, que nunca funcionou, porque nunca teve condi-
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ções de ser regulamentado, pois não existia lei que os per- V. Ex. as, mas que, em todo caso, V. Ex.as poderiam influen-
mitisse. É muito bonito dizer que o doador, em vida, pre- ciar de alguma maneira.
encheu uma ficha doando o seu órgão ou seus órgãos, mas
como a legislação é totalmente falha - nós estamos tra- Não sei se respondi a todas as suas perguntas. Com re-
balhando pa,ra regulamentá-Ia - a família manda no mor- lação a mais dados, eu poderia, talvez, passar-lhes em
to e na hora da dor, na hora do sofrimento, ela não deixa correspondência posterior, encaminhando os dados que
que o órgão seja extraído. lhes forem necessários. E, com respeito a número de pes-
soas m fila de espera, quantidade de transplantes sendo
Em 1959, a bancada federal do Rio Grande do Sul, após realizados no Brasil, Estados da F1ederaçáo mais ativos na
a instalação de um banco de olhos naquela capital, tentou área de transplante, nas diferentes áreas. Tudo isso eu
elaborar uma lei aqui no Congresso mais ficou parada; posso lhes passar posteriormente.
depois veio a revolução, o golpe militar de 64 e, pasmem O SiR. CONSTITUINTE DORETO CAMPANARI - A
V. Exas., só em 68 - vejam quanto tempo perdemos - e respeito de coração, também?
que foi apresentada essa lei, que é a Lei n,v 4.579, que
também não é perfeita. Estamos apresentando a nossa O SR. JORGE KALIL - A respeito de coração, tam-
proposta, estamos estudando com carinho mas não temos bém. Posso enviar-lhe todos os dados.
ainda todos os dados e gostaríamos de receber do confe- O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muíto
rencista mais dados para colaborarem conosco, porque hoje obrigado.
terminamos o trabalho da Subcomissão. Já não se pode
mais fazer propostas. E a partir do dia 15, vamos partici- Concedo a palavra ao Dr. Mário iRigatto.
par das Comissões Temáticas, então, aí, poderemos me- O SR. MARIO RIGGATO - Em atenção aos comen-
lhorar a nossa proposta. Nós queremos mais dados para tários muito apropriados que ouvimos sobre as dificulda-
eoíaborar 'com a Associação de Transplantes de órgãos. des econômicas na luta contra o tabagísmo, eu gostaria de
Gstaríamos de fazer uma pergunta a V. s.a Qual é o lembrar um fato. É que tem sido apregoado que nada vai
número de pacientes renais crônicos, que necessitam, no dar para fazer, porque o poderio econômico é tão grande
momento, de transplante renal? Qual é o número de car- que não teríamos recursos ao nosso alcance. Neste sen-
díacos, para termos dados para estudar e melhorar a nos- tido vale lembrar uma lição histórica que o Brasil deu ao
sa proposta? Porque, com relação ao número de cegos, Mundo, e que foi a Abolição da Escravatura. A escrava-
já tivemos conhecimento de que o Brasil, hoje, tem mais tura, do ponto de vista da economia, era mais importan-
de um milhão de cegos, ultraoassando, a própria Índia. te para o Brasil no Século passado, um País, eminente-
Quer dizer, é o País que tem o maior número de cegos mente agropastoril, do que hoje todos os impostos que a
E muitos casos de cegueira foram ocasionados principal- indústria do tabaco possa pagar. E, no entanto, quando o
mente pela fome. É triste sabermos que, no mínimo, 10% povo brasileiro entendeu que a' cor da pele não elimina a
desses deficientes visuais, desses cegos, poderiam recupe- irmandade em que fomos criados, a escravidão terminou.
rar a visão mediante uma enxertia, um transplante de E não houve crise econômica com a Abolição da Escrava-
córnea, mais a dificuldade existe justamente no binômio, tura. Pelo contrário, o País prosperou através de uma sá-
quer dizer, da oferta do órgão e da urgência. Pode-se ter bia elaboração de leis e de políticos muito corajosos e cla-
o paciente que está necessitando, no hospital, mas não se rividentes. O Brasil deu uma lição ao Mundo de como eli-
tem o doador. Então, esse binômio é que está encontrando minamos barreiras e separação que podem prejudicar o
aí a sua dificuldade. futuro de uma Nação. Mas eu reconheço, perfeitamente,
que se pede do político uma contribuição das maiores. Eu
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a quase diria que essa luta contra o tabaco faz lembrar aque-
palavra o Dr. Jorge Kalil e, depois, o Dr. Mário Rigatto. le episódio famoso de Osvaldo Cruz e Rodrigues Alves.
Quando Osvaldo Cruz estava no auge da sua campanha
O SR. JORGE KALIL - Em primeiro lugar, mais uma contra a febre amarela, no Rio de Janeiro, houve tanto cla-
vez coloco-me à inteira disposição para fornecer-lhes to- mor popular contra a ação que ele fazia, invadindo jar-
dos os dados possíveis. V. Ex.a sabe que freqüentemente, dins, quebrando arandelas, proibindo coisas, que ele acho
no Brasil, não temos os números exatos. E uma das preo- que estava pondo em risco o próprio Presidente, que o no-
cupações da nossa Associação é levantar todos os dados. meara para a tarefa, o amigo Rodrigues Alves. E Osvaldo
V. Ex.a sabe também que quando uma pessoa tem um pro- Cruz fez um ofício a Rodrigues Alves, dizendo que ele pe-
blema renal, que leva a uma insuficiência renal crônica, dia demissão, porque não queria que o trabalho dele, os~
ela pode esperar um transplante utilizando uma máquina, valdo Cruz, representasse a queda de um Presidente da
que é a máquina de diálise. Quando temos um paciente que qualidade de Rodrigues Alves. E iRodrigues Alves respon-
tem problemas cardíaco, ele não pode esperar nada. Se deu com um bilhete. E se nunca ninguém leu a biografia
nós não conseguirmos fazer o transplante num breve es- de Rodrigues Alves, não precisa ler, basta ler esse bilhete,
paço de tempo, esse paciente morre. Então, nós, no Ins- porque esse bilhete dizia assim: "Osvaldo, fique, ou caímos
tituto do Coração, em São Paulo, perdemos talvez a meta- juntos". Mas, que beleza! Quer dizer, o País que tem polí-
de dos nossos pacientes, que não chegam a ser transplan- ticos desse quilate não há de ficar amordaçado por peias
tados, porque não temos o órgão adequado. de grandes interesses monetários internacionais. Eu não
No que se refere a transplante renal, estima-se qu, no minimizo, de maneira alguma o tamanho do adversário,
Brasil, existem entre 10 a 12 mil pessoas que se beneficia- porque estamos brigando contra ele há vinte anos. Mas, na
riam de um transplante renal, hoje. Posso dizer que nós, realidade, não reconhecemos a inviabilidade da luta. Acho
na Faculdade de Medicina da cidade de São Paulo, temos que temos condições de enfrentarmos e superarmos as
por volta de 3 mil pessoas em lista de espera, ou sej a, não limitações que aí estão.
temos como transplantar essas pessoas todas, e muitas O 'SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Continua
delas, infelizmente, vão a óbíto antes que nós possamos franca a palavra.
transplantar. E mesmo que nós tivéssemos órgãos suficien-
tes, o HC sozinho não poderia transplantar todos, e por is- O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - Apenas
so que existe uma certa premência para que outros hos- para uma consideração. Eu acho que acontece aqui na
pitais pudessem começar a fazer transplante renal e, Casa muitas vezes uma suposição de que o lobby existe e
para isso, precisa haver remuneração. E por isso que eu ci- que é muito difícil vencê-lo. Aí, passamos para uma passi-
tei aqui, apesar de sáber que não é da competência de vidade e, muitas vezes até uma acomodação. Já tenho
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ouvído, desde que cheguei aqui, essa questão de lobby do nenhuma comercialização, os médicos não receberam nada,
fumo. De que nada se consegue, de que é muito dificil, doe trabalharam de graça. O que foi pago foi apenas o hospital
que é praticamente ímpossível, Mas entendo que se fi- e o material utilizado. E esses rins foram utilizados, isso
zermos um lobby ao contrário aqui dentro, com a cons- sim, para melhorar a qualidade de vida ou para prolongar
ciência levantada entre a classe política de que é preci- a vida de pessoas, até em outras partes do nosso Estado.
so brigar contra isso, tenho convicção absoluta que vamos
vencer essa parada. Eu mesmo apresentei, na última le- Mas eu gostaria de fazer uma observação sobre o pro-
gislatura, um projeto de lei proibindo a propaganda de blema da proibição de propaganda de produtos tóxicos
medicamentos nos veículos ,de comunicação. E lutei até o e de produtos que prejudicam a saúde. Nobre Constituinte
final da legislatura e não consegui que o meu projeto Carlos Mosconi, quando eu era deputado estadual, fui
chegasse ao plenário. Mas isso não é suficiente - não me presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legisla-
sinto derrotado. Acho que nós temos condições de conti- tiva de São Paulo, pedi para o Congresso me mandar a
nuar, talvez até inserir na COnstituição essa proibição. relação de todos os projetos que existiam aqui sobre proi-
Acredito que este momento é importante e a Nação espera bição de propaganda de cigarro. E o computador me
realmente, o povo espera muito desta Constituinte. Nós remeteu lá para São Paulo. Havia "N" projetos, inclusive
queremos que a Constituinte seja soberana derrtro das pos- o seu. E nenhum deles - não é que foram rejeitados -
sibilidades e acredito que vamos vencer, sem dúvida algu- chegou a ser votado. E não é só por causa de proibir
ma, todos ~ess'es Iobbies, que são contra o povo brasileiro. cigarro, não, por causa de lobby, porque nada nesta Casa
foi votado. A verdade é esta, passam-se 4 anos e nenhum
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a deputado consegue fazer com que seja votado ou rejeitado
palavra o Sr. Jorge Kalil. um projeto de lei. Esta é a grande realidade. Convivi com
O SR. JORGE KALIL - Só porque estamos falando deputados federais do meu Estado e todos concluíam o
de lobby, quero trazer um dado. Há alguns anos, conver- seu mandato sem conseguir chegar a Plenário um único
sando com o Ministro da Previdência, quando queríamos pro] eto de lei. li: um regime presidencialista, onde a Mesa
implantar alguns procedimentos em termos de transplante da Casa faz o que quer e os deputados, que são a sobera-
renal o ministro salientou que existia muita dificuldade nia do Parlamento, simplesmente não conseguem nem que
para 'fazer passar isso tudo dentro do ministério, por pro- os seus projetos sejam votados. Acho que isso precisa
blema doe lobby também, que tinha muito interesse eco- ficar registrado, porque não podemos mais tolerar essas
nômico em fogo, 'Como V. Ex.as sabem, em diálise, porque coisas. É muito menos o lobby e muito mais a inércia
o paciente dialisado é um paciente que está rendendo ou muito mais o regime presidencialista, que dificulta que
tanto a médicos como basicamente às instituições que esses projetos sigam avante. Não sei se seria realmente
vendem as máquinas da diálise. E como o Prof. Mário matéria 'Constitucional, também tenho as minhas dúvidas,
Rigatto estava levantando, acredito que. toda a força e mas acho que vale a pena o relator, todos nós, meditarmos
toda a esperança que está sendo depositada pelo povo bastante se talvez não fosse esse o momento maís opor-
brasileiro nesta Constituinte, nós vamos ter que vencer tuno de realmente incluirmos na nossa Carta Magna um
esses lobbies, porque senão não adianta nada pegarmos principio como o que o professor, especialista no assunto,
um avião e vir aqui, para podermos contribuir e trazer aqui expõe.
alguma ajuda a V. Ex.a Inclusive fatos como o de Tau- O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Bom, antes
baté - não sei até que ponto são levantados problemas de passarmos à segunda parte desta reunião, queria fazer
desse tipo, pois tudo isso está sendo identificado pelo dois rápidos comentários como Presidente da Subcomissão
Conselho Regional de Medicina - da comercialização de de Baúde, Seguridade e Meio Ambiente.
órgãos, que V. Sa. levantou. Esse é um problema seriíssímo.
Eu não ficaria surpreso se V. Ex.a for a fundo, de saber Na questão de doação de órgãos, quero dar aqui um
aue foi paga a sala cirúrgica e também o médico que testemunho. Quando fui diretor da Faculdade de Ciên-
tirou o rim. E isso eu não posso dizer que seja comerciali- cias Médicas, de Minas Gerais, fui procurado uma vez
zacão de órgãos, acho que o trabalho do médico foi de por duas moças, num período em que estava havendo
madrugada, tirara rim. Então, acho que vamos ter que uma cri'.e- muito grande de peças anatõmicas, cadáveres,
levantar muito. Evitei aqui falar sobre o caso, porque isso para os alunos, principalmente dos primeiros anos das
está sendo visto pelos colegas do Conselho Regional de faculdades. As moças me procuraram querendo doar os
Medicina, que seria o fórum para isso. Acho que antes seus corpos para a anatomia. Confesso que procurei toda
de debatermos um assunto a nível de jornal de grande a legislação pertinente e não encontrei nada. Curiosamen-
circulação, poderemos discutir isso ou num ambiente como te perguntei a uma delas: por que você, tão moça, está
este ou no Conselho Regional. querendo doar o seu corpo para ir para a anatomia? Ela
me disse o seguinte: "é que tenho um medo terrível de
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Então, eer enterrada viva. Assim, vou ter certeza, que estarei
vamos nos permitir mais uma pergunta de um constituinte. morta, porque estarei toda cortada por seus alunos aí".
Bom, cada um tem seu motivo, mas o fato é que temos
Com a palavra o nobre Constituinte Geraldo Alckmin. até voluntários querendo fazer doações. Então, hoje cedo
se ventilou aqui que a nova Constituição pelo menos terá
O SR. CONSTITUINTE GERALDO ALCKMIN - Eu alguns aspectos hem atualizados e que não constam das
gostaria apenas de fazer duas observações, Sr. Presidente. outras Constituições brasileiras. A questão da proteção do
Uma em relação a esse problema ocorrido em Taubaté, meio ambiente, por exemplo. E agora também, sem dúvi-
que é a minha região, lá do vale do Paraíba, em São da nenhuma, essa r-egulamentação de transplantes de ór-
Paulo. Lamentavelmente, a nossa classe, que é a classe gãos um assunto tão importante.
dos médicos, está muito dividida, principalmente nos meios
universitários, nas universidades, acaba colaborando para A respeito da apres-entação do Prof, Mário Rigatto, que
desprestigiar ainda mais o próprio profissiona:l médico e já é um conhecido de longa data, porque, tal como ele,
impedir o avanço da ciência médica. E nesse caso lamen- temos lutado muito nesse campo da prevenção contra o
tável, brigas menores, por problemas menores lá da uni- abuso de drogas, e consideramos também o tabaco como
versidade, fizeram denúncias totalmente infundadas, que uma delas. Quero corroborar algumas coisas que foram
a imprensa procurou colocar com cores muito fortes e ditas aqui. Acho que nós devemos levar a nossa luta em
que não têm nenhuma procedência. Aliás, não houve etapas. E talvez a mais importante delas é a primeira,
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qual seja, a proibição da propaganda. Porque a propa- Subcomissão de Saúde, onde os Srs. Constituintes convo-
ganda induzindo os jovens principalmente, são as melho- cam representantes dos vários segmentos da sociedade
res, as mais bem feitas, as mais bonitas, jovens atléticos, que têm atuação no campo da saúde e da doença para,
geralmente acompanhados de moças belíssímas, dirigin- trazendo os seus depoimentos, formarem opinião e escla-
do lanchas possantes, domando cavalos bravios, indo até recerem alguns pontos com o objetivo de capacitar me-
ao sucesso com um simples cigarrinho. Então, é esse tipo lhor esses legítimos representantes do povo para, então,
de propaganda indutora, condicionadora, não apresentam poderem, cientes e conscientes, trabalharem efetivamente
o jovem ou o adulto enfisematoso; com tórax de pombo, na elaboração de um texto voltado para os melhores in-
morrendo de fome de ar, pelo tabagismo. Isso eles não teresses do nosso País.
apresentam não. É a propaganda, então, que acho que Em segundo lugar, gastaríamos de dizer que vamos
deve ser a primeira etapa, em que devemos tentar, ver fazer aqui uma profissão de fé cooperativista, porque o
se conseguimos reverter um pouco a situação. cooperativismo é uma doutrina, é uma ideologia, é um
E deixe-me dar um testemunho muito curioso a modelo societário, capaz de humanizar os excessos tanto
V. Ex.as Certa vez em que eu voltava de uma viagem aos do capitalismo selvagem como do capitalismo do Estado,
Estados Unidos, verifiquei em uma daquelas free shop, e apresentar, então, algumas opções na área da saúde,
que vendem aquele material sem impostos, um pacote de ligadas ao cooperativismo, procurando mostrar que o de-
cígarros amerícanos, Curiosamente não havia nada escri- bate não deve ficar tão-somente centrado nos extremos
to no !pacote. Então, perguntei ao propríetárío da loja. de estatízação, pura e simplesmente, ou mercantilização,
Escuta, mas não é obrigatório aqui, nos Estados Unidos, pura e simplesmente.
escrever que fumar cigarro é perigoso para a saúde? Isso Entre os dois extremos, temos uma proposta, temos
não é escrito em cada maço de cigarro, nos Estados Uni- uma vivência, temos uma experiência calcada no coope-
dos? Ele me respondeu o seguinte: é sim, mas só o cigar- rativismo.
ro aqui do interior do país, o cigarro nosso aqui, ameri-
cano, vendido para os americanos. Aqueles exportados pa- E o cooperativismo cabe em qualquer atividade econô-
ra vocês, não. Vocês não têm leis protetoras, não há obri- mica, em qualquer atividade dentro da nossa sociedade.
gatoriedade nenhuma. Então, vejam bem a nossa situa- Por exemplo, quando estamos aqui para falar de saúde
ção. Nós não temos leis suficientemente adequadas para e doença, não poderíamos nos furtar de fazer um apelo
proteger o consumidor brasileiro. E eles chegam a ex- a V. Ex.as para que tivessem condição de mexer na estru-
portar os seus produtos sem a advertência que é obriga- tura deste País, fazendo aquelas reformas que há muito
tória no país de origem. tempo a nossa sociedade pede, para por exemplo, acabar
com a grande concentração de riquezas, procurando fazer
E terminando, gostaria de agredecer sinceramente ao uma distribuição mais justa, procurando acabar com a
Presidente da Associação Médica Brasileira, o Dr. Nelson fome, que ao meu ver é o ponto fundamental gerador
Proença, que teve que se retirar, acho que o avião dele de doença. Então, falando em saúde deve existir uma re-
sai agora, às 18:30 ou 18:45, ao Dr, Jorge Kalil e ao meu forma agrária. E essa reforma agrária sem cooperativismo
caro amigo e companheiro de lutas, de tantas décadas, não existe, não adianta tão-somente distribuir as terras
Prof. Mário Rigatto, cujo nome já veio até assim ligado se não oferecermos condições de apoio técnico, de educa-
tão intimamente - S. s.a tem lutado tanto contra o ta- ção e de conscientização. E, para isso o cooperativismo
bagismo, que quando se fala em Mário Rigatto, todo o é soberano.
mundo lembra do tabagismo, como aconteceu comigo em
relação as outras drogas, por exemplo, à maconha, às ve- O cooperativismo, também, como doutrina democrá-
zes dando origens a situações até constrangedoras. tica baseada na livre adesão, baseada na sociedade de
Lembro-me certa vez que no Estado do' Professor Má- pessoas e não de capital, permite que sejam criados ins-
rio Rigatto, no Rio Grande do Sul, estava havendo um trumentos que tenham condições de coibir os excessos
concurso de tóxícología e havia um professor mineiro en- caracterizados pela hipertrofia do estado-empresa e ao
tre os examinadores convidados, e, no meio da conversa mesmo tempo, inclusive, impedir que o mercantilismo
sobre a tese do candidato, alguém citou meu nome, e aí multinacional invada ainda mais a economia, estabelecen-
um dos examinadores disse o seguinte: "o Murad, aquele do vínculos colonialistas através de uma desnacionalização
cara que lá em Minas anda envolvido com a maconha?" das nossas riquezas.
Então, espero, Prof. Mário Rigatto que V. s.a também Especificamente na área da saúde temos condições de,
não chegue a esse ponto; "o Rigatto aquele cara que anda graças ao que já existe de cooperativismo de trabalho,
envolvido com o tabaco?" representado pelas 150 Unimeds que há no Brasil, con-
gregando cerca de 40 mil profissionais da área da saúde,
Evidentemente, a nossa vida tem sido um empenho atendendo cerca de 7 milhões de usuários ser uma opção
tão grande nessa área, e o Prof. Mário Rigatto tem sido aquelas obrigações do Estado e aquelas propostas repre-
realmente um bastião na defesa da saúde, no que diz sentadas pela medicina liberal e pela medicina com ânimo
respeito ao tabagismo e, praticamente, em todo o setor, de lucro.
porque é especialista das doenças pulmonares.
Nós temos experiências de complexos cooperativos no
Agradecemos, sinceramente, e dispensamos os dois de- mundo, que modificam o ser humano, que humanizam o
batedores, dizendo que esta subcomissão teve o maior pra- ser humano e que evitam levar a extremos que provocam
zer e honra muito grande em contar com a presença e até a destruição de irmãos pela doutrina cooperativista.
com o depoimento de V. s.as Nós temos cooperativismo de trabalho, temos cooperati-
Dando continuidade aos nossos trabalhos, concede- vismo de produção, temos cooperativismo de crédito, temos
mos a palavra ao representante da UNIMED, Dr. Edmun- cooperativismo de serviços e todas essas formas de coope-
do Castilho. rativismo representam uma socialização, entendida como
se oferecer a todos de acordo com as possibilidades.
O SR. EDMUNDO CASTILHO - Gostaríamos de, ini-
cialmente, manifestar a nossa satisfação por estarmos, Especificamente na área da saúde nós poderíamos re-
aqui, presentes neste foro de debates tão importante, num solver o agudo problema, por exemplo, de leitos hospita-
momento histórico extremamente significativo para o lares através de criação de cooperativas de usuários, ou
nosso Pais, qual seja, o Congresso Constituinte e nesta cooperativas de consumidores de saúde, que unidas às
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cooperativas de médicos, às cooperativas de outros pro- sentido, por exemplo, o cooperativismo brasileiro, que é
fissionais da área de saúde, chegariam a uma solução co- a terceira força econômica do País, não ter acesso ao Con-
munitária dentro de um regime de autogestão, dentro do selho de Desenvolvimento Social, ao Conselho de Desen-
regime de co-gestão no campo empresarial e sem negli- volvimento Econômico, ao Oonselho Monetário Nacional.
genciar, com o profundo respeito à dignidade do ser hu- Terminando, eu diria que o Conse'lho Monetário Nacional,
mano, representado pelo doente, sem desrespeito ao exer- integração do cooperativismo através de um banco 00013e-
cicio da profissão de médico. Essa seria uma maneira de ratívísta, integraria e transtormaría o cooperativismo na-
superarmos as deficiências em leitos hospitalares, seria quela estrutura sólida, cheia de justiça SJOci9.1 e capaz de,
uma maneira de resolvermos os problemas críticos porque humanamente, dirimir uma série de dúvidas e problemas
passam os hospitais, j á que a nosso ver um hospital gerido existentes no seio da nossa sociedade.
pelo Estado, um hospital gerido por uma organização, com
animo de lucro, tem tudo para não resolver o problema, O SR.. PRESIDENTE (José Elias' Murad) - Muita
já que o problema hospitalar, a nosso ver, é comunitário, obrigado ao Dr. Edmundo Castilho.
a comunidade tem que se engajar, tem que participar. Concedo a palavra a Sra. Jaqueline Pitanguí, repre-
Historicamente as nossas Santas Casas foram constituídas sentante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
c foram construídas com a participação dessa comunidade.
Hoje, podemos reverter essa situação das Santas Casas que A SRA. JAQUELINE PITANGUI - Exm.o Sr. Pr.esi-
ainda representam 60% dos leitos hospitalares, mercê da dente José Elias Murad, nobre Relator Carlos Mosconi,
doutrina cooperativista. Há modelos cooperativistas tra- da Subcomissão de Saúc1e, Seguridade e Meio Ambiente.
balhando no ramo de medicamentos em vários lugares do Srs. constituintes, Srs. Oonselheíras do conselho Nacional
inundo. dos Direitos da Mulher, que estão aqui presentes repre-
sentantes do movimento de mulheres, s.ras. e srs:
Gostaríamos, para terminar, e ensejar um debate, de
dizer que o movimento Unimed, o Movimento Coopera- Quero agradecer a esta Subcomissão de S'aúde nor
tivista Médico, entende que precisamos, nesse momento, ter convidado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
de reformulação. Precisamos criar condições para a uni- - CNDM, a fazer este pronuncíanamento sobre a Saúde
versalização do direito de assistência médica, acabar com da Mulher.
essas circunstâncias extremamente discriminatórias como S'abemos que a questão da saúde, que diz respeito aos
aquela que permite que tenha acesso à assistência médica serviços médicos e hospitalares se refere, fundamental-
tão-somente os contribuintes da Previdência Social. En- mente ao direito a determinadas condições materiais e
tendemos que os 40 milhões de ruríeolas, que ainda hoje psicológicas de existência, que incluem alimentação, água
são os verdadeiros párias dentro da nossa sociedade, de- potável, saneamento, habitação, condíções ambientais ade-
vam ter acesso a um projeto, a um plano, ao seguro saúde quadas, acesso ao trabalho e ao lazer, bem como o direito
estatal, universal e compulsório, na sua organização, na ao apoio do Estado diante de situações de violência físi-
sua normatização e na sua fiscalização, de modo a permi- ca, sexual ou psíquica.
tir que todos os brasileiros possam, sem características A questão da saúde se insere, portanto, nos parâme-
de indigência, serem atendidos de uma maneira digna tros mais amplos dos conceitos de organização social, de-
através de profissionais responsáveis, qualificados e, den- mocracia e cidadania. 'ti: neste campo que gostaríamos de
tro do possível, num esquema de livre escolha, já que é situar nosso íPronunciamento.
a única maneira, a nosso ver, que a medicina psicosso-
mática é executada, é praticada, e onde o encontro de De fato, o estaoeleeímento de novas .relações entre
uma consciência com uma confiança é fator fundamental ES'tado e a Sociedade passa, necessariamente, pela rede-
de cura. finição do conceito de cídadanía que, em diferentes mo-
mentos históricos e conjunturas ·políticas, adquire signi-
Gostaríamos de dizer que seria extremamente opor- ficados diversos.
tuno agora que determinássemos, por exemplo, que 12% :S8ibemos assim que hoje, ao discutirmos a questão da
do Produto Interno Bruto fosse destínado à saúde do povo saúde como um direito, estamos considerando que o exer-
brasileiro, sem vínculo com a contribuição previdenciária. cício pleno da cidadania requer, não apenas o reconheci-
A nosso ver, H Previdência Social foi criada para oferecer mento de díreítos cívís e dos direitos políticos, mas tam-
benefícios sociais e serviços são oferecidos na medida em bém o reconhecimento dos chamados direitos sociais.
que houver disponibilidade e, como não há disponibilida-
de, ao contrário, há penúria, na prática, o que acontece Neste sentido, O' conceito de cidadania já não se re-
é que não se oferece benefícios sociais de acordo, em sume a idéia, própria ao liberalismo clássico, de proteção
consonâncía com as necessidades. E o que se oferece em do individuo frente ao Estado mas incorpora o direito
termos de assistência médica é de péssima aualificação a participação nas decisões públicas bem como a neces-
na maioria dos casos. Gostaríamos que o Ministério da sidade de que o indivíduo ,tenha asseguradas garantias
Saúde fosse um órgão capaz de coordenar esse seguro- para o exereícío dos' direitos civis e sociais. E mais, o
saúde. Todos os brasileiros deveríam ter acesso a ele, já conceito de cidadania define deveres do Estado frente ao
que 70% da população, por exemplo, é carente e não tem cidadão.
condições de comprar remédios, e deveria recebê-los gra- A 8.a Conferência Nacional de Saúde, realízada em
tuitamente. 1986, resumiu em uma frase, a íncorporaçâo da saúde no
campo [político do debate 'em tomo da cidadania. Refiro-
Tel'lmino ·e fico a disposição do debate, enfatizando, me ao seu lema, A Saúde como Dever do Estado ·e Direito
mais uma vez, que o grande conflito que há no mundo, do Cidadão, expressa claramente as ínterrelações entre
entre capital e trabalho, já foi resolvido em várias partes Estado e Sociedade Civil, neste campo.
do mundo, através do cooperativismo. Acreditamos que
essa doutrina 'Precisa ser mais conhecida e precisa ser Este princípio geral, saúde 'Como dever do Estado e
contemplada nesta nova Carta M8igna com princípios direito do cidadão se operaeíonalíza de formas diversas,
gerais ligados aos ensinamentos do cooperativismo, para pois, estando a questão da saúde relacionada a 'caracte-
que a população, a comunidade, tenha conhecimento do rísticas biológicas e anatomo-fisiológicas diversas, bem
cooperatívísmo e, inclusive, criando algumas condições que como eondíções materiais e psicológicas, a partícularídades
dão uma certa prioridade ao cooperatívísmo. Não tem da vida profissional, a condições ambientais geraís, den-
192 Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

tre outras, nada mais natural que os deveres do Estado oferecer informação, realizar exames clínicos e ginecoló-
e os direitos do cidadão requeiram definições particulares, gicos e permitir o acesso a métodos de regulação da fecun-
em função dos elementos 'que diferenciam a população. didade à significativa parcela da população feminina.
Assim, em uma série de ou,t:ras Oonferências, a ques- Tais propostas do Conselho Nacional do Direito da
tão da saúde foi sendo desdobrada em formas mais esne- Mulher se inserem assim no quadro dos nossos direitos
cíficas tais como a saúde do trabalhador, a saúde do de cidadania e das responsabilidades do Estado para com
consumidor e a I Conferência Nacíonal sobre a Baúde da suas cidadãs.
Mulher, que faço menção especial. Não se trata de propor a intervenção autoritária elo
A discussão sobre a saúde da mulher envolve, por- Estado no campo da saúde da mulher e sim da deríníção
tanto, questões espeeírícas e de particular relevância, e de suas responsabílídades para que possamos exercer os
gostaria de ressaltar algumas destas, Neste âmbito a direitos da reprodução.
natalidade é um tema central na medida em que toca às Repudiamos a implantação de práticas controlistas,
questões da maternidade, da contracepção, da infertili- ligadas a metas demográficas, que vêem no útero da mu-
dade, da 'esterilização e do abOrto, questões estas que tra- lher a causa da pobreza prática nas quais sejamos tratadas
çam uma verdadeira polítíca do corpo, sobre a qual eu como meros objetivos, nas quais nosso corpo seja visto
gostaria de tecer algumas considerações. apenas como um útero, desvinculado do quadro maior de
Como já mencionei, a eXiPans.ão do conceito de cida- nossa saúde integral.
dania se verifica pelo alargamento dos direitos e deveres Ao mesmo tempo em que recusamos tais práticas
que ele passe a englobar. reducionistas, lutamos para ter acesso à informação e aos
Desde o momento em que, no início do século, as meios de regulação da fecundídade, a fim de qu~ possamos
mulheres reivindicavam o direito políeíco básico do sufrá- exeréer nossos direitos nas esferas da reprodução
gio, muito avançamos na eompreensâo da dimensão de Recusamos assim, políticas impositivas, que resultem
nossa discriminação e na reivindicação de nossos direitos. em esterilizaçõ~s massivas ou na utiização indiscriminada
Ao apresentarmos a esta Assembléia Na.cional Cons- de métodos contraceptivos, cujos efeitos colateriais podem
agredir nosso organismo. Da mesma forma, nos insurgimos
tituinte propostas em torno dos direitos da saúde e da contra uma posição de impotência frente a ritmos bioló-
reprodução e ao reivindicarmos uma participação eficaz gicos que, muitas vezes, se impõem sobre os ritmos do de-
e urgente do Estado a;>ara que possamos' exercer, de fato, sejo e das possibilidades concretas. Nós mulheres, lutamos
tais di:reitos trazemos em nossa bagagem a experiência pelo exercício democrático do direito de escolha, conquis-
histórica da' resistência à opressão e da luta contra defi- tado pelos avanços do conhecimento e da ciência no campo
nições legais, hábitos e costumes que atribue~ a nós, da reprodução.
mulheres, o papel de cidadãs doe segunda eategoría,
Receber informações sobre o funcionamento do nosso
Sabemos com clareza I(} que desejamos na área da corpo e ter acesso aos métodos de regulação da fecundi-
saúde em g~ral e do n~o corpo, em particula~. ~este dade mais adequados às características de nosso organis-
sentido, a partir da Carta das Mulhe,res aos, oonstítuíntes, mo, são condições básicas para o efetivo exercício deste
redígtda por mais de 2.000 mulheres em um grande en- direito e o domínio de nosso ciclo reprodutivo.
contro nacional realizado em Brasília, em agosto de 1986,
:É, portanto, fundamental que o Governo permita que
a partir das r'esoluçôes da I oonrerêneía Na,cional da
Saúde da Mulher, em outubro de 1986 e que c0Il:t~u. com o expressivo contingente da população feminina do País,
900 representantes de todos os Estados ,e 'I1errItor~os e
que, por diversas razões, especialmente de ordem econô-
mica, não tem acesso à informação nem a métodos de re-
549 mulheres credenciadas como delegadas a partir do gulação da fecundidade, possa, enfim, libertar-se da lei
amadurecimento desta discussão nos, inúmeros grupos. :e totalitária de submissão ao biológico.
assocíações de muIher~s d;:: todo o J!a.Is, a partãr das dIS-
cussões travadas no ãmbíto dos vanos COnselhos ~gt~­ :É, portanto, no âmbito de um direito historicamente
duais e Munictpais da Condição Feminina, e do próprio novo, o direito à reprodução, e ao domínio de nosso corpo
COnselho Nacional dos Direitos da Mulher e que apresen- que apresentamos nossas propostas.
tamos aos que aqui chegaram pelo voto popular, as pro- Aproveito a oportunidade para colocar que elas já
postas que passarei a enumerar. foram adotadas por inúmeros grupos e entidades femini-
Antes de apresentar nossas propostas, gostaria, n.9: e~­ nas, inclusive pela Secretaria Nacional de Programas Espe-
tanto de lembrar que a sexualidade é ~m~ expenen<:;a ciais da Saúde do Ministério da Saúde.
sociaÍ e não apenas biológica e que o direito de opçao Faço uma rápida leitura das propostas do Conselho
pela maternidade deve ser garantIdo pelo Estado. Nacional dos Direitos da Mulher à Assembléia Nacional
Neste sentido, o Programa de As~istência In~e~ra}. à Constituinte.
Saúde da Mulher (PAlSM), desenvolvído pelo M~~st~r~o DA ,SAúDE
da Saúde e adotado, em maio de 1986, pelo Mllll~terlO
da Previdência Social, vai ao encontro, em suas onenta- Art. :É assegurado a todos o direito à saúde, caben-
cões básicas das nossas demandas. Pretende tratar a repro- do ao Estado garantir condições básicas de saneamento,
dução no quadro maior da saúde integral da mulher, ofe- habitação e meio ambiente.
recendo a informacão e os meios de opção pelo controle
da fecundidade sem, contudo, impô-los totalitariamente.
A fim de resgatar a enorme dívida que o Estado tem Art. Compete ao Estado:
para com as mulheres em idade fértil do País, que se de- I - prestar assístêncía integral e gratuita à saúde
frontam, cotidianamente, sem amparo institucional, com da mulher, nas diferentes fases de sua vida;
a questão da fertilidade, da infertilidade e da reprodução,
é fundamental que seja atribuída prioridade à implanta- II - garantir a homens e mulheres o direito de deter-
ção do PAlSM. Mesmo no quadro geral de precariedade minar livremente o número de filhos, sendo vedada a ado-
que caracteriza as instituições de saúde do País, acredi- ção de qualquer prática coercitiva pelo poder público e
tamos que, desde que haja vontade política, será possível por entidades privadas;
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 193

!II - assegurar o acesso à educação, à informação e acordo com a referida norma, incumbe ao Estado informar
aos métodos adequados à regulação da fertilidade, respei- e assessorar a família sobre o planejamento da reprodução.
tadas as opções individuais; 4. O desenvolvimento das pesquisas científicas e das
IV - regulamentar, fiscalizar e controlar as pesquisas experimentações a serem desenvolvidas no ser humano
e experimentações desenvolvidas no ser humano. merece a fiscalização e controle do Estado, que deve aten-
tar também para a venda, distribuição e comercialização
de meios químícos e hormonaís de contracepção, impe-
Justificação dindo a colocação no mercado de drogas experimentais.
O capitulo constitucional relativo à saúde há de prever Em relação à área de reprodução humana, mais espe-
a obrigação primordial do Estado de assegurar e garantir cificamente à de planejamento familiar, jamais se estabe-
o saneamento básico, a habitação e a execução de toda a leeeu qualquer preceito constitucional. Inseri-lo nesta Carta
política de meio ambiente, Para tanto, deve o Estado esta- é imperioso por ser este um dos grandes problemas víven-
belecer uma política nacional de saúde, oferecendo assis- ciados não só diretamente pela mulher como por toda a
tência médica integrada, sem prejuízo dos serviços da ini- população brasileira.
ciativa privada. Muito obrigada. (Palmas.)
Da mesma forma, cabe ao Estado assegurar condições O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agradece.
satisfatórias à nutrição, desenvolvendo as diretrizes e es- mos a Dra. Jacqueline Pitanguy, Presidente do Conselho
tratégias que assegurem a disponibilidade interna de ali- Nacional dos Direitos da Mulher.
mentos, o incentivo à produção, a regulamentação de ar-
mazenagem e formação de estoques de produtos básicos Pela ordem, concedo a palavra ao Presidente da Asso-
essenciais. Vincula-se ao aqui proposto a redefinição dos ciação Brasileira de Farmacêuticos, Dr. Mário Teixeira An-
critérios de fixação do salário mínimo à luz dos hábitos tônio. (Pausa,)
alimentares e necessidades fundamentais. S. s.a não está presente.
1. O atendimento à mulher pelo sistema de saúde Concedo a palavra ao representante do Centro Brasi-
tem-se limitado, quase que exclusivamente, ao período leiro de Estudos de Saúde, CEBES, Dr. Éric Rosas.
gravidico-puerperal e, mesmo assim, de forma deficiente.
Ao lado de exemplos sobejamente conhecidos, como a assís- . Lembro aos senhores expositores que o prazo é de 10
têncía preventiva e de diagnóstico precoce de doenças gine- minutos.
cológicas, outros aspectos, como prevenção, detecção e O SR. ERIC ROSAS - Sr. Presidente da Subcomissão
terapêutica de doenças de transmissão sexual, repercus- de Saúd~, seguridade e do Meio Ambiente, companheiros
sões biopsicossociais da gravidez não desejada, aborta- Constitumtes e outros companheiros presentes nesta sala.
menta e acesso a métodos e técnicas de controle de ferti-
lidade têm sido relegados a plano secundário. Esse qua- O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde se sente bas-
dro asume importância ainda maior ao se considerar a tante honrado em ter sido convidado a trazer sua contrí-
crescente presença da mulher na força de trabalho, além buíção, neste momento, aos debates da Constituinte acre.
de seu papel fundamental no núcleo familiar. ditando ser este um fórum importante, fundamentai para
os destinos da saúde deste País.
2. O planejamento familiar é questão de suma im-
portância para o futuro dos brasileiros; conceitos dos Corroborando o que muitos companheiros depuseram
mais variados e antagônicos vísejam nas diferentes ten- aqui neste plenário, em sessões anteriores, trazemos a nossa
dências que se expressam atualmente no Pais. contribuição que vem de longa data, deste a fundação dos
CEBES, há dez anos, a referendar certas bandeiras de
É fundamental que a Constituição defina o conceito lutas. Viemos trabalhando e lutando, desde o primeiro Sim·
de planejamento, garantindo o direito de opção do indiví- pósio de Saúde da Câmara, em 1979, quando apresentamos
duo para determinar o número de filhos e o espaçamento nossa tese do sistema unificado de saúde, até mais recente-
entre eles. Este direito deverá ter como contrapartida mente, com a nossa participação na 8.a Conferência Nacío-
o fornecimento pelo Estado não só de informações, como nal de Saúd, cujas teses acreditamos e corroboramos in
dos próprios meios e técnicas anticoncepcionais cientifi- totum.
camente aprovados.
Vivemos, no momento, uma conjuntura de saúde extre-
Por outro lado, deve-se atentar para que o Estado e mamente complicada, uma conjuntura de crise onde o
as entidades privadas, nacionais e estrangeiras, abstenham- estado sanitário deste País é caótico. A rede pública de
se de exercer qualquer tipo de coação ou induzimento serviços se encontra em mau estado, as doenças endêmi-
sobre as pessoas que necessitam do seu serviço. O plane- cas e ~ransmissíveis infestam o Pais, doenças como dengue,
nejamento, no caso não se confundirá com o controle de o perigo da febre amarela volta a rondar, sem falar na
natalidade de cunho puramente demográfico mas respon- esquístossomose, na doença de Chagas, na malária, na tu-
derá às necesidades básicas da população dentro do con- berculose, na hanseníase, nas doenças como pólio, saram-
texto de atendimento à saúde. po, Aids, etc.
3. A obrigatoriedade prevista neste mcíso, pela qual O Estado, no caso, o Governo tem-se mostrado total-
o Estado garantirá o acesso à informação e aos métodos mente incapaz de agir e resolver os problemas que já exis-
contraceptivos, afasta a possibildade de que interesses tem, há tempos e os novos que estão surgindo. Há uma
nacionais ou estrangeiros e de setores governamentais in- falência completa da ação governamental na área de saúde.
terfiram na reprodução humana. Se por um lado, os órgãos públicos são estruturas burocrá-
ticas ineficientes, os organismos privados têm como vetor
Este dispositivo ensejará a criação de condições obje- ftmdamental da sua ação, o lucro e não a saúde da popula-
tivas e domocráticas para que brasieiras e brasileiros deci- çao, Dentro desse quadro trazemos aqui as contribuições
dam sobre o planejamento da procriação. e propostas do CEBES à discussão e ao debate dentro
Outrossim, o inciso vem integrar à Constituição norma dessa conjuntura, procurando enriquecer esses d~poimen­
contida na Convenção sobre a Eliminação de Todas as tos.
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, ratifi- Partimos do princípio básico, aceito na 8.a Conferên-
cada no Brasil ;pelo Decreto n. o 89.4&0, de 20-3-84. De cía, já reproduzido por vários depoentes, que a saúde é
194 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

um direito de todos e um dever do Estado. A partir desse isso, é necessária, a criação de conselhos de saúde demo-
direito básico deve-se procurar estabelecer, na prática, um cráticos, em todos os níveis e que se faça uma retormula-
sistema nacional de saúde que seja coerente com esse çâo do atual Conselho Nacional de Saúde, porque da for-
direito. ma como está constituído não representa os anseios da
Nesse sentido defendemos, primeiro, um sistema unifi- sociedade civil, nem representa as propostas aprovadas na
cada e federalizado de saúde, que esteja sob coordenação s.a Conferência Nacional de Saúde; é um Conselho de Au-
única e que abranja todos os organismos que atuam na toridades Científicas, "de personalidades que representam
saúde, inclusive principalmente, o Inamps, Que esse síste- a si próprios e não um Conselho com representação das
ma seja, ao mesmo tempo descentralizado, e com bases de entidades populares, das entidades profissionais de saúde,
sistemas estaduais e municipais de saúde. Que haja inte- das instituições científicas e públicas envolvidas na presta-
gração das instituições que trabalham no setor saúde e ção de serviço.
dos recursos financeiros destinados a essa área. E que esse Quanto a recursos humanos, colocamos a necessidade
sistema seja uníversalízado, atendendo a toda população, de uma política salarial condigna para os profissionais
sem discriminação, que seja democrático, que o acesso de saúde; defendemos também o emprego único, em tem-
aos serviços de saúde seja possível a todos os segmentos po integral e dedicação exclusiva, que haja concursos
da população e que esse sistema tenha eqüidade, que não públicos para todos os cargos a serem preenchidos no setor
trate de grupos sociais diferentes de forma diferente e que público, que sejam estabelecidos planos de carreira e que
o trabalhador rural seja equiparado com todos os seus di- haja uma redefínição da política de formação de recursos
reitos aos trabalhadores urbanos. humanos nas universidades, tentando-se adequar às ne-
Para isso, na nossa opinião, há necessidade de ímplodir cessidades sociais.
essas estruturas burocráticas do Ministério da Saúde, da Quanto à política de medicamentos, propomos que
Previdência e do Inamps e criar um novo Ministério da haja uma produção estatal dos medicamentos básicos, a
reforma sanitária que seja ágil, capaz e reproduza, na sua lista básica da Ceme, e que seja também desenvolvida a
estrutura organízatíva, as novas idéias da reforma sanita- auto-suficiência na produção de tmunobíoíógíeo. Quanto
ria. à vigilância sanitária, consideramos que é preciso se esta-
Quanto ao financiamento acreditamos que é necessá- belecer uma polítíca muito concreta na defesa da saúde
rio o estabelecimento de um fundo único de saúde em do consumidor, que seja estabelecido um sistema nacional
todos os níveis, federal, estadual e municipal, que seja gerí- de vigilância sanitária voltado para a defesa do consumi-
do democraticamente e com a definição percentual das re- dor, visando melhor controle da qualidade dos medica-
ceitas tributárias arrecada em pelo menos, 12% em cada mentos, dos alimentos, dos agrotóxicos e de outros pro-
nível da União, do Estado e Município e que, mais adiante, dutos que a população consome ou é obrigada a consumir,
se procure estabelecer um percentual do produto interno p-orque são aplicados no meio ambiente e, nesse sentido,
bruto que seja destinado à saúde, entre 10 a 12%. tem-se que fazer frente às pressões dos interesses finan-
ceiros industriais interessados na promoção dos seus pro-
Consideramos, também, que esse sistema tem que ter dutos em detrimento da saúde da população.
uma qualidade fundamental, que é a do atendimento; deve-
mos evitar que exista uma medicina para os ricos, de bom Defendemos também uma política definida, agressiva
atendimento e para os pobres de mau atendimento. Evitar e eficiente no combate ao controle das doenças endêmicas
que continue e se agrave o sucateamento dos serviços pú- e infecto-c-ontagiosas. Com isso citaria que um dos aspec-
blicos que estão precários, com seus equipamentos mal tos estruturais disso seria a descentralização e mesmo a
conservados e com seus atendimentos precários. estatização da Sucam. Que as áreas de saneamento, meio
Há necessidade de se recuperar e investir no setor pú- ambiente e saúde do trabalhador, hoje tão afastadas da
blico, isso significa dignificar o atendimento desse setor, política nacional de saúde, sejam integradas a essa polí-
ao mesmo tempo que se dignifique o setor privado para tica, dentro de um contexto de reforma sanitária.
evitar que a ineficiência, a corrupção e o mau entendímen- Finalmente, encerrando o meu depoimento, como Pre-
campeiam como hoje em dia acontece. sidente do Centro Brasileiro do Instituto de Saúde, deixo
aqui a minha solidariedade aos companheiros do Minis-
Jil preciso que seja bem definida a relação entre o setor tério da Saúde, demttídos arbitrariamente pelo atual Mi-
público e o privado. Defendemos a expansão da rede públi- nistro Roberto Santos.
ca, como foi colocado na s.a Conferência, para que haja
uma socialização progressiva do setor saúde. Neste mo- Muito obrigado. (Palmas.)
mento, não podemos, é claro, abrir mão do setor privado,
na medida em que a própria rede pública é insuficiente O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agrade-
para o atendimento 'e, por outro lado, o seu estado de fun- cemos ao Dr. Eric Rosas e damos a palavra ao DI'. Wilson
cionamento é muito precário, mas com os investimentos, Aude Freua, Presidente da Associação Brasileira de Hos-
e com a recuperação desse setor que se coloque bem clara- pitais.
mente, desde então, o caráter complementar do setor prí-
vado, ele entra onde o setor público não possa atender e O DR. WILSON AUDE FREUA - Sr. Presidente José
que haja uma melhor definição da forma de contrato entre Elias Murad, Sr. Relator, Oonstituinte Dr. Carlos Mosconi;
o setor público e o setor privado, baseado no direito públi- demais Srs. constituintes:
co para que toda vez que os desvios no atendimento ou
na corrupção aconteçam possam ser mais claramente íden- Na ocasião em que se elabora uma nova Constituição,
tificado e a ação do Estado possa ser exercida para a cor- que, conforme se espera, regerá os destinos do País, pelo
reção desses desvios estabelecendo-se um controle, tanto menos, até bem adentro do Sé'culo XXI, é dever de todos
da parte do Estado, como da sociedade civil sobre os servi- os brasileiros fazerem-se partícipes ativos deste processo,
ços de saúde ~úblicos ou privados. Isso remete à participa- sem limitar-se à cômoda atitude do dever cumprido ape-
ção da população. Defendemos que a sociedade civil orga- nas por haver exercido o direito de voto. A participação
nizada deve participar de maneira muito concreta na defi- é mandatória, cumpre sugerir, alertar, propor, assistir aos
nição das políticas de saúde, na aplicação dos recursos constituintes e oferecer-lhes os melhores esforços para que
financeiros, e na qualidade dos serviços prestados. Isso seu trabalho seja profícuo e representativo, trazendo as
em todos os níveis, nacional, municipal e estadual. Para soluções institucionais e os princípios reitores que haverão
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACiONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 195

de nortear o desenvolvimento constante e harmônico da , Da tese.


comunidade nacional. Tal iniciativa promoverá uma melhor qualidade na
Dever de todos os cidadãos mais se impõe no caso prestação de serviços médicos, uma acentuada queda de
das entidades de classe. As entidades de classe, por defí- despesas por parte dos órgãos públicos, bem como esti-
níção legal e por prática efetiva, representam importante mulará o retorno e uma agilização no atendimento médi-
segmento da opinião pública, não podendo omitir-se na co prestado em consultórios particulares, suprimindo o
discussão dos princípios ideológicos que estabelecerão o vínculo Inamps - rede privada hospitalar, introduzindo o
arcabouço institucional a ser consubstanciado na futura vínculo médico-paciente.
Carta Magna. Justificamos tais assertivas da supressão do vínculo.
Ê no cumprimento desse inescusável dever que, a A situação caminha para um impasse, o verdadeiro nó
Associação Brasileira de Hospitais vem oferecer ao caro górdio cujo desastre levará à ruina as organizações hospi-
concidadão constituinte a sua sugestão no que concerne talares não governamentais 'que já não podem sobreviver
ao importante tema da assistência médíca e hospítalar, com a remuneração dos seus serviços mediante os padrões
í'lntendemos que a saúde é primordial, um direito de todos tarifários estabelecidos pelo Inamps. A alternativa seria
~ que é assim que se deve expressar - saúde para todos, a estatização, burocratização da medicina, por via de con-
xequer todos para a saúde. seqüência a assistência médica da Previdência Social tam-
bém poderá extínguír-sa acarretando um impacto de di-
Cada cidadão tem o direito inalienável de procurar fícil superação da estrutura da sociedade.
o que melhor lhe convenha sem prejuízo da coletividade.
O direito inalienável de buscar::} própria felicidade sem Mesmo porque, o Inamps não possui e não dispõe de
o detrimento dos direitos alheios. Esse o princípio básico rede hospitalar própria capaz de suprir a falta de hospi-
da democracia em que desejamos todos viver. A livre ini- tais não governamentais.
ciativa há de ser preservada como base da democracia, e Os entendimentos passarão a ser realizados direta-
há de ser preservada, também, no setor da saúde, aquele mente 'entre o complexo empregador-empregado e o ser-
no qual é mais imperioso o cuidado de cada indivíduo e viço de assistência médica contratada: A assistência per-
importante o seu direito de procurar o melhor para si sonalizada poderá ser feita com mais rapidez, eficiência
e seus dependentes. e atendimento sem filas e sem reclamações.
Ao entregar aos Srs. constituintes a presente sugestão, Caso advenha a insatisfação dos serviços médicos· pres-
estamos cumprindo o duplo dever de apresentar uma solu- tados simplesmnte para o consenso entre empregador-em-
ção por todos desejada, e, mais importante, alertar para pregado haveria troca de assistência médica.
a imperiosa necessidade de preservar a livre iniciativa. . Há que ser estruturada na esfera do Inamps uma fis-
Não há democracia sem livre iniciativa, sem o direito calização permanente eficiente e rápida. Esta fiscalização
de escolher, de buscar o mais conveniente; não há sistema se ateria exclusivamente à esfera 'do empregador man-
de saúde pública que possa proscrever a liberdade de tendo vigilância rigorosa tanto no que concerne às des-
opção no tratamento individual. S{)mente com a livre (pesas médico-hospitalares quanto à· obrigatoriedade na
iniciativa, na assistência médíeo-hospítalar, poderá haver contração de 'assistência médica-hospitalar. .
saúde para todos - democracia e saúde. A função assistencial por parte do Inamps ficaria
Passaremos a colocar a sugestão da Associação Bra- restrita tão-somente à área dos aposentados, pensionistas,
sileira de Hospitais encaminhada aos Srs. constítuíntes. índígentes desempregados, que assim ;melhor poderão ser
atendidos.
São cinco tópicos e decíínaremos em cada um deles a
exposição da tese e explicação. , Da queda da despesa dos órgãos públicos.
1.0 - Os empregados das empresas contri- Toda problemática tem 'sua gênese no binômio custos
buintes da Previdência Social serão atendidos versus receita, enquanto aqueles crescem geométrica e díu-
pelos serviços de saúde regionais, ou por hospitais ;;~rnamente estas encontram-se estagnadas ou somente
livremente contratados pelos empregadores em SM reajustadas a prazos muito dilatados o que redunda
consonância com as aspirações dos empregados. em permanente defasagem trazendo como última conse-
qüência a situação presente de todos conhecida.
2.° - Os empregadores deduzirão de suas Os custos próprios do Inamps para tratamento de pa-
contribuições para o INPS as quantias efetivamen- tologia simples atinge níveis catastroficamente elevados
te desembolsadas com o pagamento da assistência levando em conseqüência o próprio Ministério à défici~
médico-hospitalar, prestada a seus empregados. incontroláveis por mais que se force o aumento da arreca-
3.° - Ao Inamps caberá aprovar e ficalizar dação pelo mesmo, levando o segurado à míngua.
os contratos previstos no item 1, limitando o valor Verificamos pelo mapa de custo unitário <do próprio
global atribuído a cada empresa na conformidade Ina~ps que no mês 10, de 86, uma simples consulta ambu-
do rateio das verbas arrecadadas atualmente, e latoríal para tratamento de um efêmero resfriado comum
destinadas ao setor de assistência médica. custou aos cofres da Previdência Social o exorbitante valo~
de 682 cruzados e 35 centavos, e que o custo de uma alta
4.° - O Inamps, através de hospitais e am- hospitalar atinge cifras de 57 mil, 80 cruzados e 90 centa-
bulatórios próprios ou conveniados, assistirá aos vos, taís cítras momznentaís são devidas a estranhos núme-
aposentados e pensionistas, desempregados e indi- ros denunciados na Imprensa do Rio onde locam-se mais
gentes. ' de 10 funcionários por leito hospítalar, mais 1 e meio mé-
5.' - Ao Inamps 'caberá qualírícar hospitais dico pelos mesmos leitos ,com excesso de 3 mil 365 médicos
.da rede não governamental para dividir com esses nos hospitais próprios <do Rio de Janeiro. E que a média de
a incumbência das pesquisas técnico-científicas, atendímento dos médicos nos hospitais próprios do Inamps
e de apenas dez consultas ao mês. .
bem como. do ensino e formação dos médicos,
dando-lhes condições de desenvolvimento inte- Apesar desse verdadeiro cabide de empregos ouvimos
lectual e científico. ainda da direção do Inamps, através da Imprensa, que há
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falta de servidores devendo ser admitidos milhares de ou- tadual e encontros nacionais. Ele aborda uma gama não
tros servidores, onerando ainda o já deficitário Ministério. somente de fatores específicos do setor saúde, mas em
Ora, isso sangra os cofres públicos levando o Inamps a relação à educação, ao abandono, à violência da criança
uma morte lenta, encontrando-se nos dias de hoje no e especificamente aqui, hoje, estamos tratando do setor
estágio da agonia. saúde. Este documento, realmente, representa o pensa-
Do retorno ao consultório particular. mento de uma grande parcela da população que trabalha
com a criança brasileira, membros da comunidade, ins-
Com a adoção das medidas aqui preconizadas teremos tituições do Governo, instituições filantrópicas e até a
uma assistência médico-hospitalar realmente à altura dos própria criança que participou em alguns momentos, com
nossos foros de País civilizado em marcha acelerada para grupos de crianças de rua. O que queremos trazer para
consolidação de uma sociedade justa, em que a todos são V. Ex.as é que não achamos ser responsabilidade nossa
oferecidas suas oportunidades, devendo em curto espaço a maneira de como redigir, como colocar esses aspectos
de tempo haver uma melhoria na prestação dos serviços relevantes dentro da Constituição. O que pretendemos
médicos pelos hospitais, pois agora ele estará estrita- trazer aqui são subsídios técnicos de problemas que se
mente ligado aos empregados e empregadores bem como passem com a criança - pois sabemos que já existem co-
haverá um salutar retorno à atividade dos consultórios nhecimentos científicos e tecnologias capazes de resolver
médicos com um relacionamento íntimo e mais interessa- a grande maioria dos mesmos - para que V. Ex.as pos-
do tanto do médico como do paciente, pois este aufere seus sam realmente representar essa minoria, em termos de
ganhos diretamente do empregado ou empregador en- poder, mas uma grande parcela da população brasileira;
quanto que aquele aufere o direito da escolha bem como mais de 1/4 da população brasileira é constituída de crían-
dos benefícios do médico de sua confiança. caso 24 milhões de brasileiros estão na faixa de O a 6 anos.
Da melhoria da qualidade dos serviços prestados. Éntão. embora seja uma minoria, em termos de poder,
é uma grande parcela da população brasileira.
lli público e notório que a qualidade e o padrão de as-
sistência ora oferecida aos usuários tanto pela rede estatal Como está a saúde da criança brasileira? Eu diria
quanto pelos hospitais e médicos da rede não governamen- que está muito mal, principalmente porque o Brasil é a
tal encontram-se num estágio degradante tanto para o oitava potência econômica do mundo. Nos últimos anos
profissional médico como para o próprio beneficiário des- o nosso Produto Interno Bruto cresceu 300%, enquanto a
se serviço. nossa mortalidade infantil baixou 'apenas em 14%. Ainda
Pelo esquema proposto nesta tese eliminar-se-á de saí- estamos tão atrasados em termos de saúde de criança que
da um dos elos da cadeia que se tornou muito extensa em usamos o indicador negativo, o indicador de mortalidade,
prejuízo dos associados da Previdência Social que deixam ainda nem nos preocupamos em falar sobre qualidade de
de receber o atendimento que precisam, merecem e pelo vida, ainda estamos falando em indicadores de mortali-
qual pagam, com a necessária presteza e eficiência, pois as dade. O coeficiente de mortalidade infantil no Brasil, da-
filas nos postos de marcação de consultas são diárias e dos do Ministério. em 1983, é de 88 por 1.000. A América
quase intermináveis e os exames de urgência são marcados Latina tem em média o coeficiente de 71 por 1.000. Então
para as ealendas. Dolorosos casos de falecimento de pa- o Brasil, que é uma grande potência da América Latina
cientes já foram constatados enquanto na fila aguarda- tem uma mortalidade infantil acima da média mostran-
vam a sua vez. do a nossa precariedade. Isso em termos médios, e se for-
mos ver isso fracionando por classe sócio-econômica e
O modelo de assistência médica ora sugerido e ora se- por regiões do País veremos que no Nordeste a mortali-
guido entrou em total exaustão e mister se faz sua mu- dade infantil está acima de 100 por 1.000 nascidos vivos.
dança imediata antes que morram pacientes e hospitais. Sabemos também que para as principais causas da mor-
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muito talidade infantil, pré-natal, por doença infecciosa e pa-
obrigado ao Dr. Wilson Aude Freua. rasitária, principalmente a diarréia e as infecções respi-
ratórias, já temos conhecimento científico e tecnologia su-
Prosseguindo, concedo a palavra à representante da ficiente para solucionar esses problemas, o que falta é
Comissão Nacional Criança e Constituinte, Dra, Zuleica uma decisão política nacional para fazê-lo. lli diferente
Portella Albuquerque. de outros tipos de problemas de saúde, que realmente en-
A DRA. ZULEICA PORTELLA ALBUQUERQUE - Sr. volvem tecnologias caras e de alto nível. Em relação à
Presidente, membros da Mesa, Srs. e Sras. Constituintes, criança algumas tecnologias básicas, de comprovada efi-
demais presentes: ~ácia científica e de simples manuseio resolveria grande
Estou aqui representando a Comissão Nacional Crian- parte dos problemas de saúde da população infantil. Sa-
ça e Constituinte. Essa comissão é composta por vários bemos, por exemplo, de dados coletados em várias regiões
mínístérlos: da Saúde, da Educação, da cultura, do Tra- do Brasil que 40% da criança brasileira tem algum défi-
balho. da Justiça, da Previdência, Sociedade Brasileira de cit nutricional, sem discutir aqui os problemas que isso
pediatria, Associações Internacionais como a UNICEF, acarreta em termos de crescimento, desenvolvimento, de
resistência às infecções e de sobrevída da criança brasi-
entre outras. leira. Como mudar essa situação? O primeiro aspecto que
Reunimo-nos com várias instituições para que tivés- não devemos esquecer é que a melhoria das condições de
semos o poder, pelo menos de voz maior, porque consi- saúde não deve ser vista apenas como melhoria na assis-
deramos a criança brasíleira como uma minoria, porque tência do serviço de saúde, ela passa muito mais por me-
não tem direito a voto, não está inserida dentro da força lhoria das condições de vida. A mortalidade infantil varia
produtiva, porque não faz parte do mercado de trabalho, por classe sócio-econômica, varia nas regiões mais desen-
e, sendo assim, a criança não constitui uma pressão polí- volvidas para as menos desenvolvidas; a expectativa de
tica, econômica e social. Então, ela é minoria. Por isso vida é do mesmo jeito. A criança brasileira, quando nas-
achamos que devíamos trabalhar em relação à criança ce, já traz - dependendo da classe social em que ela
unindo esforços de todas as instituições que tenham vín- nasceu -, a expectativa de vida que deve ter e a sobre-
culo com a criança. vida que essa criança vai ter dependendo se ela vem de
uma classe social mais baixa ou pobre, se vem de uma
Os documentos que foram elaborados e distribuídos região mais pobre ou mais rica. A saúde deve ser vista
a V. Ex.a fizeram parte de discussões em nível local, es- num sentido mais amplo. Qualquer melhoria nas condi-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 197

ções de saúde da criança tem que passar por melhorias o setor saúde tem um papel importante, como já
nas condíeões de vida. Políticas sociais voltadas para o frisei, mas não é único. Há necessidade simultânea de
acesso à terra, melhoria das condições de habitação, de políticas sociais que absorvam a grande parcela da popu-
alimentação, melhores condições de renda da sua família lação brasileira que atualmente está marginalizada dentro
implicam, necessariamente, em melhoria das condições do processo produtivo sem usufruir de bens e serviços que
de saúde. Então, não é só a prestação de serviços de saú- o processo de desenvolvimento econômico oferece, com
de. Em relação à prestação de serviços de saúde tem~s salários justos, dignas condições de alimentação, habita-
nesse documento 28 itens importantes, que foram distri- ção, saneamento básico, educação, lazer, proteção do Esta-
buídos para Os Srs. Constituintes, mas que, 1JOr falta de do quanto ao abandono e à violência, entre outros. Como
tempo, vou sumarízar em apenas 4 ou 5 grandes itens on- já falei, não sabemos como isso deve ser colocado na
de poderiam ser englobados todos os aspectos. Constituição. O que procuramos nestes documentos é mos-
trar, reaímente, a situação calamitosa de saúde da eríanca
Sabemos que a criança brasileira só é cidadã a partir brasileira, mostrar que temos já, em nível mundial - e
dos 7 anos de idade, quando a Constituição lembra que nacional, know-how de recursos humanos, tecnologia,
ela deve ter direito à escola. Uma das coisas que achamos inclusive muitas delas em produção nacional, e temos o
importante é que a criança brasileira deve ter garantido conhecimento científico, falta só decisão política de tornar
o direito à saúde como qualquer cidadão brasileiro inde- isso realidade.
pendente da idade. Acho que já na vida intra-uterina,
deve ser garantido esse direito com uma boa assistência O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Muito
à maternidade. Esse é um direito da criança e um dever obrigado Dr. a Zuleica Portella Albuquerque. Há uma soli-
do Estado; temos que garantir isso na Constituição. citação de uma representante que nos procurou no mo-
mento em que começávamos a reunião, parece que ela
Sabemos que uma melhor atenção à saúde, não so- deseja falar alguma coisa sobre o aborto. Vamos conce-
mente à criança, mas à população em geral, exíge a der-lhe a palavra, lembrando-a que dispõe de 10 minutos.
criação de um sistema único de saúde com atenção uni-
versal, igualitária, hierarquizada e descentralizada, o que A DRA. CORA M. B. MONTaRa - Estou represen-
já foi consolidado na 8.a Conferência Nacional de Saúde. tando 88 sociedades femininas do Brasil que não foram
Não existem condições de melhorar a prestação dos serviços ouvidas, são mulheres que realmente lutam pela Pátria,
de saúde se não tivermos um comando único, um sistema pela criança - Pioneiras Sociais de diversos locais do
único de saúde que defina as prioridades e que comande Brasil. Essas mulheres têm que ser ouvidas, por isso estou
o setor. Enquanto tivermos com superposições de ação pedindo alguns minutos.
com vários órgãos atuando no setor saúde, definindo polí- Como me encontro totalmente afônica, passarei a pa-
ticas e fragmentando recursos, não vamos ter uma boa lavra ao meu Secretário-Geral, Sr. Amauri de Souza Melo.
prestação de serviços de saúde. Esse é um consenso nacio-
nal em termos do pessoal que trabalha no setor saúde. O SR. AMAURI DE SOUZA MELO - Sr. Presidente,
sou Procurador de Justiça do Distrito Federal e estou aqui
Achamos que toda a política de saúde para ser de~~­ na qualidade de representante da Sociedade Beneficente
gráfica deve definir suas prioridades, baseados em críté- de Estudos de Filosofia da qual sou Secretário-Geral.
rios epidemiológicos de mortalidade e morbídade, Não Nossa sociedade desenvolve trabalhos não só em Brasília
podemos trabalhar mais definindo política de saúde por mas no Rio de Janeiro, São Paulo e Petrópolis. '
prestígio político ou por currículos de profissionais de
saúde. Temos que ter uma política nacional que defina Agradeço a gentileza de nos terem dado esta pequena
as prioridades baseada em critérios científicos, epídemio- oportunidade. A nossa sociedade requereu um tempo a es-
lógicos de mortalidade e morbidade. Não se podem criar ta ,S~bcomissão, q~e V. Ex.a teria deferido apenas para a
programas por prestígio polítíoo ou por competência técni- proxíma quarta-rsíra, quando temos a intenção de trazer
ca de indivíduos. Achamos que a política de saúde deve à presença desta Subcomissão um professor da Academia
absorver tecnologia de comprovada eficácia técnico-cien- Nacional de Medicina para defender o tema a que nos pro-
tífica, de baixo custo e que permita uma maior extensão pom~. Requ~iro desde já à Subcomissão, que o nosso pedi-
de cobertura, independente dos interesses de indústrias d? .seja def~rldo, porque a nossa tese não teria tempo su-
farmacêuticas, de equipamentos médíeo-hospítalares, o rícíente, hoje, para ser defendida. Achamos que todo mé-
interesse deve ser a saúde da população, Aí lembramos todo contraceptivo é abortivo e faz mal à saúde da mu-
as ações básicas de saúde da criança definida por orga- lher, esta é a tese que pretendo trazer aqui à discussão da
S~bcomissão. Esta é a tese que apenas vou defender atra-
nismos internacionais e que compõem o programa do ves da presença de um professor da Academia Nacional
Ministério da Saúde que é o acompanhamento do ores- de Medicina e coloco à disposição de V. Ex.oas um filme
cimento e do desenvolvímento, as imunizações das doenças sobre o assunto que tanto poderia ser exibido agora como
lmunopreveniveis, o estímulo e a proteção ao aleitamento na próxima quarta-feira. '
materno, a orientação alimentar para o desmame, o com-
bate às doenças diarréicas com a terapia de hidratação O SR. PRESIDEN'IE (José Elias Murad) - Por favor
oral e o combate às infecções respiratórias agudas. o Sr. poderia relacionar os métodos? '
Acreditamos também que existe necessidade de uma O SiR. AMAURI DE SOUZA MELO - O diu e todas as
política de cargos e carreira para o setor saúde mais pílulas abortivas. Mas, um minuto, Dr. Carlos Mosconi, a
humana, com salários justos e dignas condições de tra- tese não é minha é do Professor Herbert Prachedes da
balho. Acreditamos que a política de formação de recursos Academia Nacional de Medicina, que virá na quarta-feira
humanos para o setor saúde deve estar voltada para a defendê-la.
realidade de saúde do Pais e em estreita articulação com O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Mas o Sr.
o setor prestador de serviços de saúde. Não podemos ter poderia apenas relacionar os métodos?
uma díssocíação entre o órgão formador de recursos hu-
manos e o órgão prestador de serviços de saúde. Quer O SR. AMAURI DE SOUZA MELO - Todos os anticon-
dizer, nós devemos formar profissionais de saúde voltados cepcionais são abortivos, todos! Sem exceção! Apenas os
para prestar serviços para a realidade da população bra- métodos naturais não são abortivos. Entretanto escuso-me
sileira. a defender a parte científica porque, evidentemente, a
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minha Sociedade requereu a presença de um Professor de Ouvimos a última apresentação e antes de passar aos
Medicina nessa Subcomissão. debates, como dissemos há pouco, democraticamente, te-
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Essa Presi- mos procurado ouvir a todos, e contínuaremos assim en-
dência solicita que não hajam debates paralelos, e como o quanto for possível manter aquelas condições livres para
ilustre representante que está usando da palavra nos in- expressão do pensamento até mesmo dos presentes. aqui
formou que quarta-feira vai trazer um profissional, pa- tem uma solicitação que passo a ler:
rece que já há um deferimento de nossa parte ... "Sr. Presidente, na impossibilidade, de inter-
O SR. AMAURI DE SOUZA MEW - V. Ex.a deferiu vir como depoente nesta Subcomissão, encaminho
hoje. à plataforma dos docentes do ensino superior para
a Constituinte, para distribuição aos Parlamenta-
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Solicito res Constituintes integrantes desta Subcomissão,
que seja o mais breve possivel em sua explanação. solicitando que a contribuição seja registrada ofi-
O SR. AMAURI DE SOUZA MELO - Muito Obrigado, cialmente através da Presidência, ou de Consti-
Sr. Presidente, usarei menos tempo do que V. Ex.a deferiu. tuinte que a isso se proponha.
Sr. Presidente, é hábito em todos os julgamentos de Grato, antecipadamente, Osvaldo de Oliveira
que participamos resumir o nosso pensamento e numa espé- Maciel. Professor da tiniversiJdade Federal de San-
cie Ide ementa. Resumiria o nosso pensamento hoje da se- ta Catarina, Vice-Presidente da Andes."
guinte maneira: Nenhum de nós tem direitos, nossos di-
reitos existem apenas porque outros se preocupam conosco Professor Osvaldo de Oliveira Maciel esta Presidência
o suficiente para ver que nós, temos: eles não têm outra tem muito prazer, de oficialmente registrar o seu pedido.
origem, não resultam de outra fonte. Parece-me que o Senhor solicitou também a distribuição
deste material, peço ao nosso secretário - se é que já
Sr. Presidente, esta Constituinte vem debatendo lon- não a fez a distribuição, que o faça àqueles que ainda não
gamente, vários aspectos interessantes e importantes da rceberam. Está atendido o pedido do Professor Osvaldo de
nossa sociedade. Fala-se em ecologia, educação, saúde, mas Oliveira Maciel, Vice-Presidente da Andes.
eu diria a V. Ex.a que todos esses são direitos de ter; an-
tes de termos o direito 'de ter Ex.a temos o direito de ser; Vamos abrir agora os debates, dando primeiro a pala-
e é sobre este assunto que vamos nos deter agora. :É pre- vra aos Srs. Constituintes, mas lembro que devido ao
ciso ser para depois ter. adiantado da hora, temos 2 minutos para o Constituinte
e 2 minutos para a resposta pelo apresentador do tema.
A nossa palestra de quarta-feira provará à sociedade
que todos os métodos contraceptivos são abortivos. Diría- Concedo a palavra ao Constituinte Eduardo Jorge.
mos, Sr. Presidente, que é nossa preocupação profunda
ver o avanço da permíssívídade 'Permitindo a utilização in- O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Acho
discriminada da liberdade sexual, vinda Ide Uma forma que aqui, mais uma vez, foi importante a colocação, por
sem responsabilidade. O corpo é igual a tudo aquilo que uma série de entidades, de alguns princípios que já deba-
possamos usar, e que nos causa responsabilidade. Quando temos várias vezes, alguns calcados na 8.a Conferência Na-
dirigimos um automóvel e o usamos mal, respondemos pela cional de Saúde. Importante também a participação do
responsabilidade e pelos danos que causamos, também as- Conselho de Desenvolvimento das Mulheres e da entidade
sim é o uso do corpo. Com o corpo podemos matar, com da Criança na Constituinte, tão bem baseados nos príncí-
um golpe de karatê podemos tirar a vida de uma pessoa, pís da 8.a Conferência de Saúde. E não precisaria falar
a cabeça é boa para pensar, mas com a cabeça, com um de um dos articulares principais da conferência que naque-
golpe, podemos matar; a faca é boa ou má se realmente a le dia, deu grande contribuição.
utilizarmos para o bem ou para o mal; a faca é boa Com relação à acumulação gostaria de saber do Dr.
quando corta o pão e má quando' mata uma pessoa. Assim Erich como ele prevê o caso dos médicos, porque hoje a
a utilização do corpo também pode se constituir numa Legislação Constitucional prevê a acumulação. Como fica-
poderosa arma. E é essa utilização indiscriminada do cor- ria esse problema na visão do Cebes num sistema nacional
po que vai transformando este País, em uma região de pro- de saúde reformulado? E como ficariam os direitos adqui-
funda permíssívídade e é dessa permíssívídade que sai, ridos dos que já acumulam atualmente?
evidentemente,' esse terrível flagelo que é possíbílídade do
aborto. . Em relação à entidade representante das cooperativas
médicas, Dr. Castilho, acho que S. s.a deve precisar me-
Nos Estados Unidos, Sr. Presidente, já existem longos lhor a diferença entre o funcionamento das cooperativas
trabalhos -sobre a chamada Síndrome do Aborto; o Dr. e das outras entidades privadas prestadoras de serviços
Mosconi há de conhecer este trabalho porque copiei do como medicina de grupo e outras - isso não ficou claro'
New J()urnal Medicinal; essa síndrome do aborto exata- o companheiro defendeu o cooperativismo, mas a estrutur~
mente trata de todos os danos psíquicos que são causados própria de como funciona o Unimeds, não foi colocada
a essas pessoas. Esses danos são de tal ordem que são ca- a ponto de podermos diferenciar com clareza na produção
sos quase sempre irrecuperáveis. Sabe-se de Uma Sra. que de serviços e na reprodução de seus capitais como elas
admíttu o aborto ao ser anestesiada julgou ao acordar que se diferenciam.
não tinha feito o aborto porque se arrependera; está re- Em relação à Associação Brasileira de Hospitais, houve
latado nesse jornal médico americano o seu drama ao inclusive um debate muito importante com a Federação
acordar e ir a procura nas latas de lixo dos pedaços de Brasileira dos Hospitais COm a Abran, e Com a Fenaess
seu filho. que os temas trazidos aqui pela ABH foram debatidos
Sr. Presidente, sinto que há necessidade, já que há uma profundamente durante um período inteiro. Não vou fazer
espécie de preconceito, contra a minha pessoa e contra o perguntas, mesmo porque já discutimos muito esse assun-
meu tema, ponho à disposição de V. Ex. a desde já o filme to mas a minha opinião é que não foi colocado naquele
que temos aqui em mãos. dia com tal radicalismo como o foi colocado aqui pela
ABH - até fiquei surpreso com tal conseqüêncía nas
. O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agradece- propostas como a ABH colocou. O próprio Dr. Silo repre-
mos a apresentação, não sei se foi feito o registro, esta- sentante da FBH não chegou a um aprofundamento desse
mos gravando todos os dados. ~~ .
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 199

Realmente o liberalismo e o burocratísmo lJrivile~i~m tuinte Eduardo Jorge. Parece que foi V. s.a o primeiro a
a prívatísacão e do outro lado cria um monstro "l:jurOcrat~Ico ser argüido.' ,
- que foi o que caracterizou todo ~sse período ~a saude O SR. ERIC ROSAS - Em relação à questão da acumu-
no Brasil' acho que o líberaâísmo e o seu necessano mons- lação, lembro-me que o D:t:. ÉS~o Co!deiro, há uns ?i~~,
tro buroérático que o acompanhará inevitavelmente ·par.a se pronunciou contra a legislação exístente q?e po~sIJ:)llI.
fiscalizá-lo de forma ineficiente, teve,a sua vez-no Bras.Il ta ao médico a acumulação de emprego a nível público,
e a conseqüência foi esse caos na saude que estamos vI- propondo a sua reformulação com a qual concordo. Acho
vendo. Então a história é que julgou esse tipo de proposta. que não deve haver privilégios para o médico, que é uma
categoria profissional da área da saúde que tem o direito
Um ponto, que acho importante é, a polêmica relativa de acumular enquanto outros não tem. Agora, a resolução
ao aborto Essa questão está colocada de forma precisa e da situação funcional, isso tem que ser bem estudado por.
delicada ria proposta do Conselho Naciona;l ~as Mulhere;5, que a partir da unificação do sistema e da unificação dos
e também na proposta da Criança na Constltumte - pratí- recursos, temos que procurar formas que garantam os
caniente é a mesma formulação, e estas, por sua vez, .sao direitos trabalhistas e previdenciários de todos os traba-
semelhantes à formulação que está presente. do Projeto lhadores. Porque não só na questão da acumulação, mas se
Afonso Arinos - têm semelhanças entre as tres propostas. não houver uma isonomia salarial é difícil compatibilizar
Tive notícia que houve esse debate sobre 0A a)Jorto ,em salários municipais, federais e estaduais que são níveis dí'
outras Subcomissões e que causou grande polêmica. ~esse ferentes em trabalhos iguais. Então, com o princípio básí-
sentido acho que nós da Comissão de Saude deveríamos co, temos que ter em trabalhos iguais salários iguais. Por
tomar ~ responsabilidade e a ínícíatíva de ~r na nossa
proposta também alguma formulação a respeito para que, isso defendo a isonomia salarial, a reformulação da lei
na Comissão de Sistematização vária~ visões possam se para não haver a acumulação de cargos públicos, e que se
contrapor. As vezes, nós que somos da a!e3L da sau~e pode- procure fórmulas administrativas e políticas suficientes
mos ter uma certa sensibildade e uma visao que nao acon- para preservar e garantir os direitos dos trabalhadores na
tece necesariamente em outras áreas. Então acho, Sr. Prc::- área da saúde e outros diante da questão da unificação da
sidente José Elias Murad, que é uma responsabilidade mtn- carreira de cada categoria profissional, em planos de caro
to grande da Subcomissão de Saúde se abster de dar Ul,?a reira estabelecidos. Isso é algo a ser conseguido gradual.
opinião a respeito desse tema, ~cho que deve con~tar 131m mente - quer dizer, nos primeiros passos da reforma sa-
no nosso relatório. É claro' que e um problema muito com- nitária, da unificação, os funcionários municipais empres-
plexo que tem várias facetas, médica, as seqüelas violentas tados para o Inamps ou para o Ministério da Saúde, isso é
que a~ mulheres sofrem nas clínicas e nOS abortos de forma feito em comum acordo. Mas acho que o princípio básico
tem que ser a isonomia salarial.
precária, quando não chegam à morte; tem fac~ta SOCIal,
importantíssima, de casais, de mulheres que nao podem O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Obrigado.
ou nem querem, por varies motIVOS, levar aquela $raVI- Com a palavra o Dr. Edmundo Castilho da Unimed.
dez adiante e não têm outros recursos, outros métodos
se não pagar nas clínicas particulares ou recorrer, aos O SR. EDMUNDO CASTILHO - Esclarecendo melhor
métodos superprecários que conhegemos. Tem tambelTI; o como funciona a Unimed e quais as diferenças dos outros
aspecto ético e esta é uma questao profundamente dis- sistemas de serviços de atenção médica, diríamos que a
cutida - se é verdade que a Igreja Católica tem, e vejam Unímed surgiu por parte da classe médica, que procurou
bem são alguns setores, e mesmo a jurisprudência e o pen- encontrar uma reação à escalada da mercantilização da
samento teológico da Igreja Católica variou no tempo em medicina no País. Então no momento em que o Estado a
relação a essa questão, e não é cOJ?-seD:so ne1;11 ~t1!almeJ?-te Previdência Social era incapaz de oferecer serviços aos seus
na Igreja católica ou em outra;s IgreJa~ cn~ta m.c,luslV.e beneficiários de uma maneira bastante ampla, abrangente
que já têm uma visão díferencíada, O [udaísmo ja te,!TI e na medida em que esses serviços eram muito insuficien-
outra visão do problema. E!n~ão, é. ~m problema que, ~ao tes, a iniciativa privada, através da medicina mercantilista,
pode ser reduzido a um UDIca ~lsao relígíosa oU; étíca começou a entrar nesse mercado, criando esses grupos
Tem até uma faceta política - nao ~do ponto de VIsta ~o médicos que passaram a auferir lucros sobre o trabalho
natallsmo, porque a legalização ou na? do abo~to nos ~ltl­ dos médicos e sobre doença dos nossos patrícios.
tímos países onde isso aconteceu, nao tem mflue~cladc!
muito a taxa da natalidade para cima O? para baIXO..E Ocorre que as entidades médicas sempre contestaram,
mais o problema do co~~roloe de .~a s~Cledade predcml- sempre combateram mas no campo prático não tinham
nantemente a nível polrtíco-admínístratívo n:asculmo s~­ uma alternativa. Então hístoricaments as cooperativas mé-
bre a mulher, que sempre foi u!l1 setor da sOCle~adc:: domí- dicas surgiram como a reação - quer dizer, mostrando o
nado. Deste ponto de vista, nao quero fazer IrODIa, ma~ seguinte: que era possível, sem mercantilizar, oferecer uma
é até simbólico que tenha sido U!? homem 9-1.!.e venha aqui assistência médica digna e humana. E através de, quê?
colocar argumentos contra esse tipo de posrçao. O ra~lC~­ Primeiro a empresa cooperativa, é de todos os cooperados
lísmo como foi colocado pelo representante da Associação - todos são co-proprietários da empresa, de modo que o
Filosófica de certa forma é conseqüente, porque ;5!3 se médico não se sente explorado; segundo ela oferece aquela
levar às últimas conseqüências a posição de que Ja no medicina em regime de livre escolha, através de atendímen-
encontro do espermatozóide com o ,?vul?, a partir daque~e to em consultório e dentro de um esquema voltado para
momento já há praticamente uma VIda Integral, esse radí- a figura humana cristã do doente. É claro que isso foi um
calismo tem que ser levado até antes disso. PorÇl.ue !,la início, e nesse inicio não tínhamos as convicções ídeológí-
verdade, espermatozóide e ?~lo virt~alm~nte também sao cas e doutrinárias, hoje relacionadas ao cooperativismo;
vida - por isso que a posiçao dele e .radícalmenta contra isso evoluiu e, hoje, temos um projeto inteiro que não
qualquer método é o extremo da posiçao. Vamos ter que termina aí, se ficar só aí, a meu ver, poderia até ser taxado
analísar isso na ~ossa Subcomissão, ,e o Sr. Pres~qente e o de corporativismo ou de alguma coisa que buscava resolver
Relator Carlos Mosconi têm. grande resp~msa~IIIdad~ de o problema de uma maneira de cima para baixo da classe
tentar uma fórmula que seja possível díseutír aqui na médica e de uma população limitada. No entanto, na me.
COnstituinte e que seja possível avançar nesse setor aqui no dida que o cooperatívísmo foi entrando nessa área, foi
Brasil. Muito obrigado. possível criar-se, por exemplo, cooperativas de odontólogos,
de dentistas, de enfermeiros, de elementos técnicos que
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) -'- Pergunt? trabalham na área da saúde e agora as cooperativas de
então, pela ordem, se o Dr, Eric quer responder .ao Oonstí- consumidores de saúde, que para mim é o ovo de Colombo;
200 Segunda.-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

é a comunidade se cooperativando, se unindo à cooperati· que a posição do Conselho Nacional dos Direitos da Mu-
va de trabalho dos médicos, é a comunidade desenvolvendo lher é de levar a discussão sobre o aborto, díseussão ne-
inclusive o hospital que, repito, tem que ser comunitário. cessária, que deve ser feita com tranqüilidade e com a
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a maturidade que já adquiriu no debate nacional que vem
palavra, pela ordem, o Dr, Wilson Friva da Associação sendo feito no País no âmbito da saúde pública. Consi-
Brasileira de Hospitais. deramos que a interrupção da gravidez e o debate sobre
o tema deve ser ampliado de fato, já está sendo. Ao lado
O SR. WILSON FRlVA - Perdoe-me, o nobre Consti- dos casos já previstos .por lei, discute-se em sociedade
tuinte, mas, realmente, não assisti aos debates havidos com médicas, inclusive, o alargamento da Interrupção da gra-
as outras entidades, porém eu diria que a forma de chegar videz para questões como o aborto terapêutico, que não
como radical, deve-se única e exclusivamente da maneira é apenas o aborto necessário pelo risco' imediato de vida.
e até de quem olha um prisma, ter imagens se ela seria Discute-se também a questão da interrupção da gravidez
radical até pela própria estruturação de cada um. com relação a riscos de má formação do fato e a am-
Com certeza, a proposta advinda da 8.a Conferência pliação do conceito de Interrupção da gravidez com rela-
Nacional de Saúde por muitos e tantos também é conside- ção a problemas de ordem psicológica ou material. En-
rada radical. A nossa proposta nobre Constituinte nada fi~,. já há um debate na sociedade civil, nas entidades
tem. de radical. Ela corrobora inclusive os princíp,i.~.s das médicas, nos grupos de mulheres e em outras socíedades
Asaís, procurando evitar que haja a hipertrofia desse síste- com relação à questão do aoorto. O Conselho Nacionaj
!X!a de saúd~ que hoje exist~, levando a desvios, a eorrup- dos Direitos da Mulher chama a atenção no sentido de
çoes num SIstema hípertroríado. Ela procura regionalizar que o âJmbito deste debate é o da saúde pública. O aborto
a assistência médica, estimulando o desenvolvimento local é um problema de saúde pública e devemos garantir nes-
e ~ migração do médico de locais como as grandes capí- ta Constituição o direito à livre opção. O aborto não é
tais s~perpovoada de profissionais, quando outras regiões um método de regulação nem contraceptivo' é um drama
necessI!aII! de pelo menos um clínico, pois socorrem-se com social, não é um crime, e deve ser desloca'do do âmbito
farmacêutícos, enfermeiras e muitas vezes até com curan- penal para o âmbito da saúde pública, mas não propuse-
deiros. mos, neste documento do Conselho entregue aos Srs.
A nossa .i~tençã~ absolutamente é de olhar para um Constituintes, a discussão sobre o aborto. Essa discussão
lado da medicína privada. a nosso lado é de olhar para sim, foi proposta, gostaria de chamar a atenção par~
a medicina, para que haja não uma fiscalízação do Esta· e~e aspecto e iProvavelmente foi :por isso que o oonstí-
do ou de uma au~oridade, mas que haja simplesmente um tumte Eduardo JOl'ge chamou a atenção. A Carta das
aumento do rela~l(~namento entre eu médico, ou eu pacien- Mulh'eres~ à .Assembléia ~acional Constituinte, a que Vos-
te com o meu medico, o meu paciente no local onde resido s.a ~celenCla deve ter tddo acesso, :pcr.oopõe a descrímína-
onde trabalho escolhid? livremente - esta é a nossa tese: Iízação do aborto. Tal carta tem como intermediário o
Falamos sobre os desvios que têm havido e que já são por Ocnselho Nacional dos Direitos da Mulher e foi escrita
~emais conhecidos de todos, mostrando que essa hípertro- num amplo encontro de mulheres. A questão do aborto
fia, e~sa asa lançada sobr~ todo o. povo brasileiro pelo também é proposta na I Conferência N8icional de Saúde
próprío Estado, nao devería ser feita assim. A saúde é da Mulher. De modo que é um dehate que está na socie-
algo muito sério, e deve ser tratada seriamente por pro- dade civil e o Conselho, dentro das suas atribuições é
fissionais da área. um interlocutor entre todas essas entidades. O Gove~no
ouve e a sua posíeão é no sentido de manter a discussão
Penso que devo ter colocado a minha idéia ao senhor. no âmbito da saúde pública.
a SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Com a O SiR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Temos
palavra a Sra. Jacqueline Pitanguy Presidente do Conse- aqui um pedido do nosso colega o Oonstituínte Nelson
lho Nacional dos Direitos da Mulher para responder a Aguiar, Presidente da Subcomissão da Família do Menor
sua parte. e do Idoso, que gostaria de usar da palavra. '
A ~.RA. JACQ~E PITANGUI - Com relação à Concedo a palavra ao Constituinte Nélson Aguiar.
colocação do ~ns·tItumte Eduardo Jorge, especificamente
sob:e_ a questão do aborto, eu gostaria de esclarecer a O SR. CONSTITUINTE NELSON AGUIAR - Primei-
posiçao do .c.~mse1ho Na;.cional dos Díreítos da Mulher, que ramente, saúdo V. Ex.a, o- nobre relator, os Srs. debate-
e uma [pOSIÇao que esta expressa nessas propostas à As- dores, os colegas constituintes e todos quantos fazem
sembléia Naeíonal Constituinte. parte da assistência e da assessoria.
No capítulo da saúde, em nenhum momento mencio- Inicialmente, quero dizer que foi exatamente no âm-
namos a questão do aborto. O que colocamos é que cabe bito daquela Subcomissão que ocorreu a grande polêmíca
ao Estado, garantãr a homens e mulheres o direito de e que ela naturalmente teve origem numa proposta que
determinar livremente o número de filhos, sendo vedada encaminhei à Comissão dos Direitos do Homem e da Mu-
a adoção de qualquer 1)rática coercitiva 'Pelo Poder Pú- lher, tratando da questão a que a Dra. Jacqueline Pitan-
blico e por entidades privadas. Isso porque entendemos gui se referiu. :Minha proposta foi formulada da seguinte
que a discussão sobre o aborto não é matéria constitucio- forma: à sociedade e ao Est8ido incumbe proteger o di-
nal, entendemos que o aborto é uma questão de saúde pú- reito humano à vida a partir da concepção. Este "a par-
blíea e que a discussão sobre este deve se inserir no âmbito tir da concepção" provocou a grande polêmica, porque
da saúde pública. Consideramos que nesse sentido, qualquer algumas senhoras com. as quais conversei acham oue isso
princípio Constitucional - e chamo a especial atenção dos na COnstituição vai determinar a que a Legislação ordi-
Sra. Constituintes, membros desta Subcomissão que qual- nária obstrua algumas conquistas das mulheres, qual seja
quer princípio constízucíonal que venha a garantir o di- o aborto terapêutico e aquele cuja concepção resulte de
reito à vida, desde a sua concepção, estará ferindo um estupro. Concordo com a Dra, Ja.cqueline Pitanguí que esta
direito já adquírído, expresso no Código Penal, que é o não é matéría para a Constituição, mesmo porque, da lon-
da interrupção da gravídez nos casos hoje previstos por ga ínvestígação que fiz noutras Constituições do mundo,
lei, ou sej a, nos casos de estupro e de risco de vida em nenhuma trata desta matéria. No meu ponto de vista pes-
relação à mulher. 'Corremos o risco de vermos o retro- soal, acho que ela não deve ser matéria de nenhuma legis-
cesso com relação à legãslação vigente. Re!pito, portanto, lação, nem da constitucional nem da ordinária. Por quê?
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 26 261

A proposta de proteção do direito _à vida é muito ampla, o SR. CONSTITUINTE DORETO CA:iv.IPANARI -
aliás, toldos os sistemas jurídicos do mundo civilizado vêm- Temos a sede de tomar toda a água de um açude, no
se preocupado com a questão da proteção do direito à vida entanto nos dão uma cacimba. Não é fácil em 3 minutos
e que não se restringe apenas à questão do aborto. Pre- discutir tantos assuntos importantes.
tendemos IProte~ão do direito à vida contra enfermidades, Inicialmente, lembramos à Dr," Zuleica Albuquerque,
contra assassinatos, a desnutrícão que mata, a destruição que fez uma belíssima explanação, que fala sobre a crían-
da natureza, em conseqüência 'contra a vida humana e ca a mortalidade infantil com uma riqueza de detalhes.
animal; enfim, a proteção à vida em todo o seu areabouco. É~iste uma preocupação da doutora com relação à Cons-
Apenas haveria de determinar o momento a partir de tituinte. Podemos adiantar que estamos trabalhando seria-
quando a vida devesse ser protegida. se a partir do nas- mente para dar amparo à maternidade e à criança.
cimento, do primeiro, segundo ou terceiro mês de gravi-
dez ou a partir da concepção. Optei por esta última hipó- Falou sobre o déficit nutricional e lembramos que
tese por entender que não haveria nascimentos se não existem 12 milhões de brasileiros mutilados cerebrais em
houvesse concepção. Na questão do aborto, insisto em que conseqüência da subnutrição e da fome.
o problema de natureza étíca para ser resolvido no campo O DT. Wilson Aude está um pouco pessimista com
da saúde' pública. Mesmo porque as conquistas das mu- o INAMPS, que tem realizado maravilhas neste País, por-
lheres, a que a Doutora .ra,equeline Pitangui se refere, que este tem a competência de dar uma previdência, a
aquelas iPesSiOas que fazem aborto estão indo muito além aposentadoria, mas está atendendo no setor de saúde.
dessas conquistas. Era de se esperar que se fosse uma Hoje temos o AIS, Ação Integrada da Saúde, que não
questão [para a lei disciplinar estariam fazendo aborto tem mais pobre e indigente, todos são atendidos indistin-
adstritas apenas à prescríçâo de natureza legal. Se a lei
penal só fala na possibilidade do aborto sem apenamento tamente, mesmo os trabalhadores rurais.
penal, nos casos de estupro e nos casos terapêutíeos, era A Dr. a Jacqueline Pitanguy colocou bem o planeja-
de se esperar que apenas nesses caso o aborto fosse per- mento familiar e o controle da natalidade, fez bem a
mitido. No entanto, porque não é um problema legal, de diferenca: um -é coercitivo e o outro já está sendo feito
natureza jurídica, estão sendo fei,tos abortos em outros no Estâdo de São Paulo' foi iniciado na última semana
casos. Gostaria que esta questão, ao invés de representar do mês de abril em que' o INAMPS está distribuindo os
assunto para formulação de natureza constitucional ou anticoncepcionais de acordo com a preferência das mulhe-
penal, fosse levada à sociedade para o debate, a fim de res claro que 'com orientação médica, mas também de
que, dispondo de todos os. meios de íntormação ao seu ac~rdo com a CNBB. Falam da violência da mulher e
alcance, a mulher ou o casal que resolvesse faze,r o aborto lembramos que no Estado de São Paulo temos 12 divisõe~
tomasse a sua decisão pessoal. Não vai adiantar nada regionais administrativas, e o governador do estado ~s~a
proibir Ou legalizar. A questão do direito da proteção, à vida colocando delegacia da mulher em todas as sedes de dIVI-
e partãr da concepção, sim. T,emos que proteger a mulher são administrativa. O importante é que a cidade tenha
desnutrida que queira criar o seu filhinho e que às vezes é no mínimo 80 mil habitantes para que exista delegacia
destruído porque ela está com fome. .rá estamos vendo da mulher e isso é muito importante. Lembramos que a
as sociedades modernas protegendo a concepção das ba- mulher ganhará muito espaço se participar mais da vida
leias, proibindo a sua matança em determinadas épocas pública, da vida política. Vejam o exemplo da Constituin-
do ano, para proteger os filhos, a fim de que a espécie te: temos 559 constituintes e só existem 26 mulheres, que
não desapareça, Ora, se existe uma legislação dos ho- estão trabalhando, representando bem, honram e digni-
mens a fim de proteger espécies animais, ,por que não ficam os votos que receberam. Lembramos que existe a
pensarmos também nesse direito em relação ao ser huma- violência no Estado de São Paulo, temos dados oficiais
no? l1: claro que não queria que a minha !proposta fosse que só em Rio Claro 40% das mulheres, em idades férteis,
obstaculizada porque ela tem um alcance muito maior foram esterilizadas. Aí existe o trabalho da Benfa:m, que
do que possam pensar. Quando a 'elaborei, jamais. pensei é o Herodes do século, que continua fazendo isso no Esta-
no fa:to específico do aborto, mas sim no âmbito da vida, do de São Paulo. Não vamos entrar em detalhes com o
que ,precisa ser protegida em todos os '~ampos. ~~e'rro que está ocorrendo no Estado de Alagoas, Pernambuco,
dizendo que lutarei por esta proposta ate no PlenarlO da Rio Grande do Norte e outros estados, ali trabalham bem
Constituinte, independentemente da posição de determi- e fazem mesmo o controle da natalidade, diminuindo
nados setores da sociedade. assim a população brasileira com aqueles 'Objetivos que
Agradeço a V. Ex.a, Sr. Presidente, e digo a todos que todos sabem e não temos aqui tempo para discutir. Entra
a minha proposta não é pacífica. tr::;nqüila. Naquela c~­ dinheiro da Ford, da Rockfeller e de outras entidades.
missão, o que fiz foi respeitar os díreítos dos que se POSI- O Dl'. Eric, que é o presidente do Centro Brasileiro
eíonaram contrários ou a favor, mas lamenteí profunda- de Saúde, colocou a necessidade de termos remédios ao
mente que aquela discussão fosse travada com tamanho alcance dos doentes. Mas lembramos que é duro lutar
emocionalismo de todos os lados, no âmbito daquela sub- contra as multinacionais dos remédios. Em São Paulo,
comissão do que resultou, afinal, um telegrama desaforado Campinas, tínhamos um instituto que estava pronto para
que recebi das mulheres da b~i~ada sa!1tista, como ~e produzir 80 quilos de cristais de insulina, utilizando 800
aqui eu estivesse elaborando matéria que VIsasse a obstruír, toneladas por ano de pâncreas de porco do Rio Grande
obstaeulízar o direito da mulher. Algumas pessoas 'ConSI- do Sul. Estava tudo preparado; além de produzí» insulina
deraram um retrocesso político a minha proposta. No dia que serviria para todo o Brasíl, para a América Latina,
em que uma proposta que visa proteger o direito à vida para exportar, para pagar a dívida externa, ainda tinha
significar retrocesso, já não sei mais o que significa avan- a finalidade de produzir todos os derivados do sangue,
ço. Muito obrigado. soros, hemoglobina e todas as vacinas vírótícas que se
'O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agradece- possa imaginar, e ainda vacinas para a pecuária, brucelose
mos ao nosso colega, Presidente da Subcomissão da Famí- e outras doenças. O nosso governador à época, de triste
lia, do Menor e do Idoso, Deputado Constituinte Nelson memória, Paulo Salim Maluf, para ser gentil ao Presi-
Aguiar, a sua manifestação. dente Figueiredo, entregou aquele instituto à Central de
Concedo a palavra ao nobre Deputado Doreto Cam- Medicamentos e, três meses depois, pasmem os senhores
panari. e as senhoras, em Montes Claros, no norte de Minas
202 Segunda-feira 2lJ DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Gerais, a multinacional, o Laboratório Lilly, norte-ameri- Concedo a palavra ao nobre Constituinte Geraldo
cano, começou a produzir insulina com o nome de bíobrás, Alckímin.
esse brás é só no nome. O SR. CONSTITUINTE GERALDO ALCKMIN - Sr.
Por último, deixamos para comentar sobre o Dr. Ed- Presidente, membros da Mesa, colegas Constituintes:
mundo Castilho, esse grande lider, esse inovador, que está A Constituição de 46 dedicou uma palavra especial ao
inovando para melhor. Entendo que a solução mesmo da sistema cooperativista, que hoje no Brasil reúne mais de 3
medicina no PaÍS é o cooperativismo, para acabar com milhões de cooperados que com suas famílias chegam per-
a mercantilização em todos os sentidos. V. Ex.a falou da to de 10% da população brasileira. Ao sistema cooperati-
fome, que se precisa fazer uma reforma agrária, porque vista, que era inicialmente uma atividade quase que volta-
a maior doença no Brasil é a fome. Segundo a Organiza- da à agricultura, ao campo, aos rurícolas, hoje tem, e todos
ção Mundial da Saúde, 70% da população brasileira é desejamos que assim o seja, uma atividade importantíssi-
subnutrida, e 40% têm fome crôníca, Neste País foi elabo- ma na área urbana. Temos uma experiência, em que o DT.
rado o Estatuto da Terra, mas não foi aplicado, porque Edmundo Castilho é talvez o personagem mais importante
poderia ter feito uma reforma agrária. no País, cooperativista na medicina, que preservou a ética
Só quero fazer uma pergunta ao Dr. Edmundo Cas- médica, porque o profissional médico 'deixou de, com o seu
tilho, se na Unimed, aquele que é cooperado, entendo trabalho, gerar lucros a terceiros, porque a atividade mé-
que o cooperado leva muita vantagem, se após os exames dica nãb pode ser geradora de lucros a terceiros, deixou
ele recebe o remédio gratuitamente ou paga o preço do de transformar o docente em objeto de lucro, em mera
custo? mercadoria para reunir os médicos num sistema coopera-
tivista, de prestação de serviço sério e de boa qualidade,
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Foram ajudando na saúde pública. Entendemos que o EStado tem
feitos comentários e uma pergunta. Passamos a pergunta o dever em relação à saúde e o cidadão o direito. Mas o
ao Dr. Edmundo Castilho. Estado não tem condições de apenas ele exercer a assístên-
O SR. EDMUNDO CASTILHO - Como procurei dei- cia médica, portanto deve buscar apoio, um trabalho ex-
xar claro, o movimento cooperativista médico no Brasil tremamente importante nas entidades comunitárias, nas
tornou-se inovador à medida que invertemos o fluxo do Santas Casas de Misericórdia, nos hospitais filantrópicos
oferecimento do trabalho da cooperativa. Historicamente, sem fins lucrativos e nas cooperativas. A cooperativa tem
j á havia em vários lugares do mundo cooperativas de ser- a vantagem de não ser o individualismo do capitalismo e
viços, ou sej a, os consumidores da área de saúde se coope- não ser o coletivismo estatal. A cooperativa é o sistema
rativavam e compravam os serviços dos médicos, dos hos- solidário, que se caracteriza pela participação e, fazemos
pitais e dos serviços auxiliares. Aqui no Brasil, invertemos, votos que a Constituição que estamos todos com a impor-
nós médicos, nos cooperativamos e oferecemos o nosso ser- tante missão de construir, também diga uma palavra sobre
viço à comunidade para combater a medicina mercantílísta o cooperativismo, para que este possa se expandir, para
e ocupar aquele espaço que surgia, face às insuficiências que o Brasil seja a grande cooperativa, viva sob o sistema
da Previdência Social e dos serviços do Estado. É claro da solidariedade, sob o sistema que não tem as desvanta-
que é um projeto em evolução. gens 00 ambos os lados, mas que prevalece pela participa-
ção.
O problema do medicamento há muito tempo estamos A minha pergunta ao Dr, Castilho é a seguinte: hoje
preocupados, entendendo que o medícamnto deve ser ofe-
recido de maneira gratuita. Em alguns lugares teremos con- se fala muito em cooperativa de consumidores - parece
que a Espanha tem uma experiência neste sentido, em rela-
vênios com a Central de Medicamentos e realmente dís- ção a assistência médica. A minha pergunta é o que o Dr.
tribuimos. Temos que fazer um complexo cooperativo, Edmundo Castilho poderia nos dizer neste sentido.
porque SÓ o médico cooperativado não vai resolver o pro-
blema. Tem-se que cooperativar o hospital, o usuário, () O SR. EDMUNDO CASTILHO - Queríamos agrade-
enfermeiro, o dentista enfim, tem-se que fazer o complexo cer as palavras generosas do ilustre Constituinte, colega
cooperativo. Essa é uma maneira de mudar o ser humano. Geraldo Alckmim e dizer que, na realidade, encontramos
Porque no final das contas terminamos sempre naquela: em Barcelona uma experiência fascinante onde há um hos-
qual é o melhor regime? Qual é a melhor ideologia? Há OS pital de 400 leitos, que era para ser o prédio do Hilton
defensores radicais de todas as posições id-eológicas, no Hotel e foi adquirido e transformado numa cooperativa
entanto, sabemos que senão houver uma catequese, o central, ou seja, uma cooperativa de segundo grau, atra-
aculturamento, ensinamentos, busca de conscientização, o vés da integração da cooperativa de trabalho de médicos
ser humano tem comportamento equivocado. O cooperati- que existe em Barcelona e a cooperativa de consumidores,
vismo, antes de audo, é uma mensagem, uma ideologia que cerca de 200 mil usuários. Esse hospital é magnífico, esti-
busca catequizar, conscientizar, modificar o homem, dan- vemos lá, vimos essa experiência e achamos excelente. Vi·
do-lhe condições humanas muito importantes e muito mos um esquema de co-gestão, onde do lado dos consumi-
significativas. dores de assistência médica há profissionais de todas as
áreas do saber, dando assim um desempenho gerencial
O 'SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Queria operacional de primeira linha, e permitindo que os médí-
fazer uma rápida observação. Não estou aqui para de- 'C08, enfermeiros eparamédícos tenham condições de tra-
fender a Biobrás, que é 'dirigida por um grande amigo e balhar num ambiente saudável em todos os sentidos. Um
colega, o Professor Mário Esguia mas esta é uma empresa hospital de referência, de tecnologia avançada e que dá
genuinamente brasileira. Agora, no caso particular da in- um altíssimo padrão aos seus usuários. Essa cooperativa
sulina, por causa do know-how da Elly Hilly ela fez um de hospital, essa experiência de protótipo está servindo
convênio, que na época era uma maneira de se conseguir, de modelo para a construção de outros hospitais em vá-
do contrário íamos correr o risco de ficar sem a medicação. rias regiões da Espanha. Realmente vimos essa experiência,
ficamos fascinados e estamos empenhados em reproduzi-
Conheço apenas a'parte da Biobrás, que foi a parte la em São Paulo. Já temos, inclusive, em andamento, um
relacionada com o convênio da insulina, tanto que recebi hospital cooperativo na cidade de São Paulo, será um hos-
hoje um telegrama da Biobrás, dizendo que vai inaugurar pital de referência, com todo avanço tecnológico, para
o seu sistema para fabricação com toda a técnica brasí- atender inclusive os usuários dos Unimeds de todo Brasil,
leira, esta semana. De qualquer maneira, do ponto de porque hoje temos Unimeds, desde o Amapá até Santana
São Paulo, acho que o colega tem toda razão. do Livramento, no Rio Grande do Sul.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 203

Para terminar, queremos dizer que uma das diferen- constitucional, acho que a discussão é sempre oportuna
ças mais significativas entre medicina de grupo e Unimed, porque amadurece, é uma questão que ainda não está ma-
é que a segunda começou no interior, veio da periferia para dura na sociedade brasileira. É um assunto que muitas
o centro. Por exemplo, no Nordeste há cooperativas, e no vezes é tratado de uma forma absolutamente emocional
campo, em Erexim, em Juí temos coopreativas muito for- e ignorante, sem que as mulheres que têm sido, ao lon-
tes que atendem inclusive indigentes; pois teêm contrato go do tempo, discriminadas em nosso País, injustiçadas,
com as prefeituras. violentadas, vejam neste momento que, realmente, na no-
A cooperativa não tem fim lucra-tivo, não tem lucro, va Constituição essa situação possa sofrer uma reversão.
tem um sentido social, procura humanizar a assistência A exposição feita pelo Presidente da Associação Bra-
médica e destaca, como disse o ilustre Deputado, o artigo sileira de Hospitais foi muito corporativista, onde ele, ao
3.0 do Código de :Ética, que diz que o trabalho médico só invés de levantar para nós constituintes as vantagens do
pode beneficiar a quem o presta ou a quem o recebe, nun- seu sistema, coloca de uma forma muito sectária e até
ca a terceiros, quer em caráter político ou comercial. radical as desvantagens do seu antagonista, antagonista
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Concedo que considero até entre aspas, pretendendo com isso ga-
a palavra ao nobre Constituinte Carlos Mosconi. nhar espaço. Não creio que o caminho seja esse, Sr. Pre-
sidente, acho que o confronto pode ocorrer, deve ocorrer
O SR. CONSTITUINTE CARLOS MOSCONI - Sr. Pre- dentro de um espírito competitivo porque a nossa socie-
sidente, creio que esta foi a última audiência pública desta dade é uma sociedade do capitalista, mas com uma visão
Subcomissão. Devo dizer a V. Ex a que depois de todas diferente, mostrando, se é que tem, competência, e não
essas audiências e reuniões, destes debates que estabele- apenas procurando salientar os defeitos do outro sistema
cemos nesta Subcomissão, acredito que tenhamos condição que existe, e que num Pais como o nosso, com uma po-
de, com a ajuda dos atuais Constituintes, elaborar um pulação largamente margitalizada, quando grande núme-
relatório condizente com o que vimos aqui. De uma manei- ro de brasileiros não tem acesso nenhum a sistema ne-
ra geral, as propostas, as disposições apontaram quase nhum de saúde, evidentemente que não podemos fazer
sempre numa mesma direção. com que haja prevalência do setor privado sobre o setor
Hoje nesta exposição de agora, à noite, vimos algu- público. ~
mas diferenças até fundamentais. A posição do CEBS já Eram essas as considerações que desejava fazer.
era conhecida por nós, é uma posição com a qual concor-
damos inteiramente, inclusive consideramos um grande O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Consulto
auxílio nesta questão de recursos humanos. O CEBS pra- aos expositores, se alguém deseja dizer alguma coisa so-
ticamente é a entidade que aprofundá mais a discussão bre os comentários do Relator.
com relação ao posicionamento do profisional de saúde, O SR. EDMUNDO CASTILHO - Vou responder uma
nesse novo enfoque de sistema único, de sistema unificado indagação, para esclarecer melhor o nobre constituinte.
que predentemos que o País venha a ter. Acho, portanto, Não há salário no cooperativismo, uma das grandes van-
a contribuição do CEBS muito importante. tagens e uma das grandes modítícações que o cooperati-
Com relação à colocação da Dr. a Zuleica, que já co- vismo busca trazer é acabar com o conflito entre capital
nheço há bastante tempo, também é uma posição com a e trabalho. Não há salário. Todos são co-proprietários da
qual estamos inteiramente de acordo. O nosso País, por cooperativa, e recebem no esquema que chamamos de
uma questão de indefinição política tem, realmente, feito pró-rata, as sobras. Pagas todas as despesas, são ratea-
com que as nossas crianças sejam extremamente injusti- das em função de uma tabela de unidade de trabalho, e
çadas. Não é à toa, Sr. Presidente, que temos uma morta- em função do trabalho que cada cooperado prestou à
lidade infantil vergonhosamente tão alta. E dentro de um cooperativa. Portanto, o capital não é considerado. Com
contexto de uma situação econômica em que temos uma relação ao usuário existe a atuária que é uma ciência
economia em franca evolução, e um produto interno bruto exata, que avalia o que a comunidade pode pagar qual
muito maior do que outros países da América Latina, que seja o custo, e esse custo é pago à 'coopera-tiva pelo usuário,
realmente têm mortalidade infantil muito melhor situada e no caso temos uma série de esquemas, inclusive de mu-
do que o Brasil. Portanto, não é uma questão de impossi- tualísmo, com a participação de vários elementos, não
bilidade, é uma questão de indefinição política, de falta importando, por exemplo o número de filhos da família,
de vontade, esta é que é a verdade, Não é falta de recursos mas sim a competência financeira da família. Havendo,
não, absolutamente, os recuros aparecem, quando existe inclusive, uma escala em que os que ganham mais pagam
uma decisão política os recursos aparecem. mais e os que ganham menos às vezes nem pagam. In-
clusive com a participação dos empresários e dos pa-
Estamos vendo agora a questão da Ferrovia Norte- trões.
Sul, que vai ser paralela à Belém-Brasilía, que tem quase
2.000 km e me parece está orçada em 2 bilhões de dólares. O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Algum dos
Não sou contra a ferrovia, como já disse anteriormente, presentes deseja ainda razer uso da palavra? (Pausa.)
mas houve uma decisão política e vai-se construir a fer- Agradeço aos Srs. expositores, Dr. Edmundo Castilho
rovia. Com relação a essas questões de saúde, Sr. Presi- nosso colega, representando a Unimed, a Dra, Jacqueline
dente, não há essa decisão política, e evidentemente que Pitanguy, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher,
a nossa mortalidade infantil vai continuar alta indefinida- Dr. Eric Rosas, do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde,
mente, até que a mentalidade das nossas autoridades gover- Dr. Wilson Aude Friva da Associação Brasileira de Hospi-
namentais passe por uma transformação. tais, e à Dra. Zuleica Portella Albuquerque, da Comissão
Fiquei com alguma dúvida com relação à questão das Nacional Criança e Constituinte.
cooperativas, príncípalmente no que diz respeito aos salá- Lembro aos Srs. Constituintes que amanhã, às 9 ho-
rios profissionais médicos e a forma de pagamento do ras da manhã, teremos uma reunião ordinária.
usuário.
Achei que a exposição feita pela Sra. Jacqueline Pí- Nada mais havendo a tratar, está encerrada a reunião.
tanguy, foi muita equilibrada, 'e não entrou realmente, (Levanta-se a reunião às 20 horas e 55 minutos.)
como colocou, por uma questão bem determinada, no
aborto. Também considero que o aborto não é matéria 15.a Reunião, realizada dia 7 de maio de 1987
204 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Aos sete dias do mês de maio do ano de mil nove- aos d-emais membros da subcomissão, para conhecimento.
centos e oitenta e sete, às nove horas, na sala de reuniões Feito isso, Sua Excelência dá ciência aos membros da
da subcomissão - Ala Senador Alexandre Costa do sena- subcomissão, que se encontram no recinto os Senhores
do Federal, reuniu-se informalmente a Subcomissão de Dr. Paulo Mente, Presidente da Associação Brasileira das
Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente, sob a Presidência Entidad~s Fechadas de Previdência Privada - Abrappe
do Senhor Constituinte José Elias Murad, com a presença e Dr. Joao Carlos Luiz, Presidente da Assooíacão de Laser
dos seguintes Constituintes: Raimundo Rezende, Carlos e Terapia, que solicitaram debater com os membros da
Mosconi, Cunha Bueno, Francisco Coelho e Abigail Feitosa. subcomissão, como objetivo de darem suas contribuições
Embora não havendo número regimental, o Senhor Pre- como subsídios aos s-eus trabalhos, passando a seguir a
sidente, repetindo procedimento adotado anteriormente, palavra aos mesmos, para suas exposições. Usam da pala-
deu início à reunião a título de uma conversa informal, vra, para debater com os expositores os Constituintes Rai-
a fim de traçar um roteiro dos trabalhos da subcomissão, mundo Bezerra, Cunha Bueno e Eduardo Jorge. Havendo
compreendendo o período do dia onze ao dia vinte cinco que se .aus~ntar, Sua ExcelênCia o ~enhor presidente, pas-
de maio, prazo para entrega do anteprojeto à Comissão sa a direção dos trabalhos a Oonstítuínte Maria de Lour-
Temática, ncando acordado que a subcomissão terá as des Abadia que concede a palavra ao Senhor Relator
seguintes atividades: dia onze, às dezessete horas e trinta ~onstituinte Carlos Mosconi, que declara após a leitur~
minutos, reunião para entrega do relatório, pelo Relator, rínal do. texto, ~aver .encontrado .algumas incorreções, já
ter;d? sido provídencíado as devidas retificações datílo-
Constituinte Carlos Mosconi; dias doze e treze, período grátíeas. Retomando a palavra, a Senhora Presidente de-
em que se dará a publicação em avulsos do mesmo, haverá clara cumprida a finalidade da reunião com a entrega
reunião, sempre às nove horas, para debates entre os' seus do anteprojeto, agradecendo a presença' de todos e con-
membros e algumas entidades que porventura queiram vocando o~ senhores co~sti~uintes para a próxima reunião
se pronunciar; dias quatorze e dezenove, reuniões para a ser realízada amanha as nove horas para discussão
discussão do anteprojeto e recebimento de emendas apre- de matérias constitucion~is. Nada mais havendo a tratar
sentadas pelos seus membros; dia vinte dois, apresentação eneerra-ae a reunião às dez horas e cinqüenta minutos. E,
do parecer do Relator, sobre as emendas e ínícío da vota- ilJ.ara co~tar, eu, Paulo Roberto' Almeida campos, Secretá-
ção do parecer e das emendas, ficando o final da votação, rIo,.laVTo<;l a presente Ata, que depois de lida e aprovada,
caso não se concretize no mesmo dia, para o dia vinte e sera assínada pelo Senhor Presidente.
cinco, segunda-feira, para que não haja reuniões no sába-
do e domingo; dia vinte e cinco, à tarde, entrega do Constituinte José Elias Murad.
anteprojeto à Comissão da Ordem Social e saída para
Mato Grosso à noite; para uma visita ao Pantanal, depen- ANEXO A ATA DA 16.a REUNIAO DA SUB-
dendo ainda da confirmação por parte dos Senhores Oons- COMISSãO DE SAúDE, SEGURIDADE E DO
ti~uintes Júlio Campos e Fá~io Feldmann, que estão orga- MEIO AMBIENTE, INICIADA EM 11 DE MAIO
nízando o evento. Em seguída, o Senhor Presidente con- DE 1987, AS 17:00 HORAS, SUSPENSA, E REI-
vidou a todos os presentes para a reunião a realizar-se NICIADA DIA 12 AS 9:00 HORAS, íNTEGRA DO
na segunda-feira, dia onze, às dezessete horas e trinta APANHAMENTO TAQUIGRAFICO, COM PUBLI-
minutos. Nada maís havendo a tratar, o Senhor Presi- CAÇãO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SE-
dente deu por encerrada a reunião, às dez horas e dez NHOR PRESIDENTE iDA COMISSãO, CONSTI-
minutos. E, para 'Constar, eu, Paulo Roberto Almeida Cam- TUINTE JOSÉ ELIAS MURAD.
pos, secretário, !avre~ a presente Ata que, depois de lida O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Havendo
e aprovada, sera assinada pelo senhor Presidente. n~ero regiment.al, declaro abertos os trabalhos da reu-
mao. da SubcomIssão de saúde, Seguridade e do Meio
16.a Reunião Realizada Ambíente.
Dia 11 de maio de 1987 _ Vamos dar continuidade a nossa reunião, porque ela
Aos onze dias do mês de maio do ano de mil nove- nao chegou a sei' suspensa ontem, enquanto aguardamos
centos e oitenta e sete, às dezessete horas e trinta minu- uma _pequena correção no relatório. Podemos iniciar esta
tos, na Sala de Reuniões da Subcomissão ~ Ala Senador parte da reunião, ouvindo aquelas entidades que solici-
Alexandre Costa, do Senado Federal reuniu-se a Subco- taram não mais o depoímento, porque esse já foi eomple-
~ado na forma regimental em número de 8, mas o debate
missão de Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente sob a
Presidência do ~onstituin~ J.osé Elias Murad, com' a pre- informal sobre os temas que essas entidades pretendem
sença d?s_ seguíntes constítuíntes: Eduardo Jorge, Flori- apresentar.
ceno Paíxâo, Adylson Motta, Francisco Coelho Cunha Bue- convido, inicialmente, o Presidente da Assocíacão
no, Carlos Mosconi Joaquim Sucena Mari~ de Lourdes Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Priváda
Abadia e Raimundo Bezerra. Embora não havendo núme- - Abrappe, Sr. Paulo Mente. que disporá de 10 minutos
ro regimental, o Senhor Presidente consulta os presentes para fazer a sua apresentação, que será submetido a um
s?!!re a 4ispensa _desta formalidade, uma vez que a reu- debate, posteriormente.
mao destina-se tão-somente ao recebimento do Relatório O SR. PAULO MENTE - Sr. Presidente desta Subco-
e Anteprojeto a ser entregue pelo relator. Não havendo missão, José Elias Murad, Srs. Constituintes, a Associa-
discordância, o Senhor Presidente inicia os trabalhos sen- ção Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Pri-
~o dispensada a leitura da Ata da Reunião anterio;, que vada somos hoje 180 instituições constituídas no Pais,
e dada por aprovada. Prosseguindo, Sua Excelência comu- abrangendo um uníverso de 750 empresas e atendemos
nica haver recebido solicitação do Senhor Relator Cons- uma população, hoje, estimada de 1 milhão e 70 mil tra-
tituinte Carlos Mosconi, para adiar por algumM horas balhadores. :É um sistema reconhecidamente complemen-
a entrega de seu trabalho, por estar o mesmo em fase tar ao Sistema Nacional de Previdência social e que, ba-
de impressão, dessa forma, submete à consideração dos síeamente, garante a esses trabalhadores rendas vitalícia"
presentes, o pedido, ficando acordado a suspensão da reu- complementares àquelas garantidas pelo sistema oficial.
nião até o dia seguinte às nove horas, para cumprimento
do trabalho. Reiniciado os trabalhos às nove horas do Pediria licença a V. Ex.as, gostaríamos de exibir, ini-
dia doze, o Senhor Presidente comunica o recebimento do cialmente, um vídeo e dar uma apresentação básica do
relatório e do anteprojeto, determinando sua distribuição nosso sistema.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 205

(Procede-se à exibição de vídeo do sistema de prevídên- vamos ver se temos possibilidade de fazer alguma coísa
cía privada.) importante.
O SR. PAULa lVIENTE - Exas vimos que o Sistema Gostaria de dizer que esta exposição nossa é fruto
de previdência Privada Fechada existe há mais de dez do nosso trabalho. Vivemos desde abril de 1984 até abril
anos no !PaÍS. Devemos distinguir o sistema aberto, que de 1966, na Bolívia e Paraguai e, de 1972 a 1984, estivemos,
é aquele vendido por bancos, por seguradoras e pelos durante oito anos, na Alemanha, e, em outros países, como
montepios existentes do sistema fechado. Somos um sis- Ohina e Sião, vivemos em Bangkok, estivemos no Nepal.
tema constituído exclusivamente dentro de empresas, não Esse é o fruto do ThOSSO trabalho. Salbemos que 40% dos
temos fins lucrativos, somos completamente diferentes das médicos na Alemanha são estrangei-ros, chegando na dé-
entidades abertas que encontramos no mercado. cada de 1960 a 70%, devido ao problema da guerra rnun-
diaL De maneira que fomos secretário e até presidente
Entendemos que a proteção do idoso brasileiro é um da Sociedade durante seis anos' e acreditamos que pode-
sistema de ;previdência privada, que já encontra exem- mos trazer alguma parcela, a apresentação de alguma
plos em muitos países do mundo', principalmente dentro
do sistema europeu e dentro do sistema americano. En- coisa 'que sirva.
tendemos que é um sistema que dá ao idoso a primeira Gostaríamos de dízer - porque todos nós aqui sabe-
necessidade básica, que é a necessidade de renda. Não mos - apenas reiterar, deixar aqui bem claro, que enca-
podemos julgar que um país em desenvolvimento, por- ramos a saúde como a resultante de várias condições. tais
que ainda temos muitos anos de desenvolvimento, pela como alimentação, renda, trabalho, emprego, acesso e
frente, possamos contar com uma previdência do Estado posse da terra, acesso a meios de saúde. Enfim, acredi-
capaz de satisfazer inteiramente a necessidade de renda tamos ser a saúde um liame, um elo, um vinculo que
do idoso. Então, o nosso sistema fechado, sendo um sis- deve unir o nosso povo em suas reivindicações, deve ser
tema sem fins lucrativos, acumula poupanças no presente uma reívíndícacâo máxima e resultante, sem dúvida 11e-
para transformá-las em rendas vitalícias a todos aqueles nhuma, de uma vida que realmente seja digna - sab?-
que a ele se associam no futuro. mos que isso é um pouco difícil, atualmente, no Brasíl,
Começamos em 1977 com um pouco mais de uma mas que vamos tentar eX!:r:fO'L'.
dezena de empresas e entidades constituídas. Como disse, Gostaria de colocar o seguinte: é tão importante que
temos hoje já 180 entidades com 750 empresas, o que mos- haja uma possibilidade econômica, que haja viabilidade
tra, de uma forma muito clara, que o Sistema privado econômica, que o nosso povo ~nha uma renC!a realm~nte
Fechado de Previdência é complementar à Previdência 'Possível, para que possa ser yiavel. uma porçao de COlS::S.
do Es,tado e continuará evoluíndo nesta condição. Por exemplo, foi colocado aqui, OUV1 a posiçao sobre doaça;o
O pleito, de todas essas entidades, que compõem o de órgãos. Gostaria de dizer que somos contra num Pa~s
sistema brasileiro, assim como o pleito, das empresas que subdesenvolvido. E podemos, depois, caso os colegas quer-
a elas estão associados, é o pleito no sentido de que se ram dar minha experiência porque num País subdesen-
reconheça a criação e o funcionamento do Sistema Pri- volvido não é possível uma doação de órgãos, é impor-
vado Fechado como complementar à atividade do Estado. tante que se coloque bem claro, em termo~ práticos bra-
É um pleito muito, simples, mas que assegurará um desen- síleíros, Quer dizer, isso é importante, s:mplesm~nte o
volvimento permanente e não sujeito simplesmente à le- povo que não tem acesso à renda, que esta nas maos de
gislação ordinária que, por vezes, fica sujeito às políticas meia dúzia de brasileiros.
monetárias, às pomicas fiscais do Estado. Pretendemos
que esse sistema realmente venha cada vez mais premiar a sistema que gostaria de propor seria a mudança
e assistir um número maior de brasileiros. Representamos do sistema previdenciário de saúde, através do qual cada
hoje apenas 1 milhão e 700 mil trabalhadores, isto sig- paciente possa escolher o seu médico onde quiser, de
nifica cerca de, 5%, um pouco menos da força de trabalho acordo com sua especialidade, pago pelo próprio Estado.
que temos. São 6 milhões de pessoas em todo o Brasil, Primeiro, a economia que o Estado fará será tão grande
apenas três estados da Nação não possuem entidades de que ele poderá levar a verba dessa economia para uma
Previdência Privada formada. coisa muito importante chamada gratuidade de medica-
ção o que não temos ainda no Brasil. Segundo, é bom
Esperamos que OS Brs, Constituintes possam reconhe- par~ o paciente que não será explorado por trustes inter-
cer o S1&tema Privado como sistema complementar ao do nacionais de saúde, que mercantilizam a nossa saúde,
Estado, garantindo que isso fique constitucionalmente exploram-na, ele vai poder escolher diretamente o seu
comprovado e não apenas sujeito às legislações comple- médico e, caso esse médico, dentista ou psicólogo não lhe
mentares. agrade, ele poderá mudar, no final de cada trimestre.
Mais importante ainda: não terá que se submeter às filas
Muito obrigado. do INPS para tirar uma radiografia, sabe lá Deus quando.
O SR. PRESIDENTE (José Elias Murad) - Agrade- Hoje, o tempo mínimo gira em torno de seis meses. É bom
cemos ao presidente da Associação Brasileira das Enti- para o próprio médico, é bom para o próprio psicólogo
dades FeChadas de Previdência Privada - Abrappe, o Se- ou dentista, porque, à mercê do seu próprio conhecimento,
nhor Paulo Mente, a sua apresentação. ele poderia assim estabilizar-se na sociedade, ele será
escolhído pelos seus pacientes, de maneira que não será
Ooncedo a palavra ao Dr. João Carlos Luiz, presi- explorado por esses trustes internacionais de saúde, po-
dente da Associação de Lazerterapia e ex-presidente do dendo receber do próprio Estado. Aí, então, para aqueles
Sindicato de Médicos da Alemanha. pacientes que, por exemplo, num caso de desastre ete.,
O SR. JaAO OARLOS LUIZ - Sr. Presidente, Srs. queiram ficar num quarto particular, então, ai, dá a pos-
Constituintes, prezados colegas aqui presentes, realmente sibilidade de firmas que, a nível particular, fechada ou
é um prazer muito grande. Gostaria de ter falado, como não, 'possa, então, gerir, administrar essa parte, permi-
estava previsto para o dia 30. Foi feita a nossa plataforma tindo-se que se faça seguro de saúde para eles. Mas todos
que vamos apresentae aqui. O nosso 'projeto, ele não é teriam a seguridade básica em termos de saúde. Esta
para entrar agora em forma de anteprojeto, mas de qual- proposta - é claro que tenho que entregar a quem dese-
quer maneira agradeço a possibilidade de estar aqui e jar - são cerca de 50 páginas e, aqui, não levaria 10 mí-
206 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

nutos, levaria mais ou menos umas 3 ou 4 horas para todos pelos erros de alguns. Existem sim administrações
expor. que não são bem vistas, todavia, são poucas perante um
Gostaria de dizer que estou aqui pronto a responder sistema que abrange hoje 750 empresas, 'e temos lutado, na
nossa associação brasileira, para o aperfeíçoamento dos
as perguntas de qualquer constituinte sobre a viabilidade recursos humanos, e que vem a esse programa exatamente
dela. Gostaria de deixar bem claro que em dois países de encontro a uma atividade mais transparente, mais clara
- na verdade, já três - Colômbia, Equador e Venezuela, para a população. Agora, efetivamente, esse sistema não
países subdesenvolvidos mais ou menos como o nosso, tem fins lucrativos. Tudo aquilo que se arrecada em termos
não tão subdesenvolvidos como o nosso, mas já foi insti- de recursos financeiros - e boa parte desses recursos hoje
tuído em três países sul-americanos, e acreditamos, por- são aplicados em programas de desenvolvimento nacional
tanto, da viabilidade no Brasil. Temos acesso a todas -prova disso que 30% do patrimônio acumulado pelas nos-
essas fontes. Este sistema foi instituído, na época, pelo sas entidades estão canalizados no Fundo Nacional de De-
chefe do poder alemão; na época a CDU de Konrad Ade- senvolvimento, portanto, colaborando com a comunidade
nauer ainda estava no poder; este sistema foi tão bom como um todo, estas rendas revertem em favor dos pró-
que levou, alguns anos depois, o próprio SPD de Willy prios trabalhadores associados. Devemos ser distinguidos
Brandt ao poder, coisa que, em 1979, era totalmente inviá- com relação às entidades criadas por bancos, seguradoras.
vel. Esta proposta levamos na época, como Presidente do
stndíceto dos Paramédicos Estrangeiros na Alemanha, ao Recentemente, foi criado o PAIT - Plano de Aposen-
Nepal e Katmandu e conseguimos a aprovação. E acredi- tadoria Individual do Trabalhador -, este, sim, tem fins
tamos que para a felicidade desse povo depois da institui- lucrativos. São criados pelas instituições tínancelras. Deve-
ção dessa plataforma, através do qual cada médico passa mos ser segregados desse entendimento. Somos entidades
a ser um trabalhador para o próprio Estado, ele passa a fechadas, criadas exclusivamente por empresas e empre-
receber diretamente do próprio Estado. E isso aí leva, gados e todas as rendas obtidas revertem em benefício das
então, a outras coisas como, por exemplo, imediatamente mesmas.
após formado, ele não vai abrir a clínica onde quer, O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO BEZERRA -
senão que de acordo com o interesse da própria comuni- Dando seqüência, gostaria de formular uma segunda per-
dade local. gunta, agora, ao outro expositor.
Estou à disposição dos STs. Constituintes que quiserem Tive uma vivência na Alemanha e, como estrangeiro
formular perguntas. depois, depois de três mêses éramos obrigados a ter o
Muito obrigado. nosso seguro de saúde, o famoso Versicherung. Mas nesse
tempo o Governo em si se obrigava aquelas pessoas, tantos
A SRA. PRESIDENTA (Maria de Lourdes Abadla) os alemães quanto aquelas pessoas que permanecessem
Muito obrigado, Dr. João Carlos Luiz. ipor mais de três meses na Alemanha, a fazerem o seguro
Passamos, agora, à fase de discussão. Gostaria de de saúde, eram obrigados, inclusive, sob pena de não pode-
saber se há algum colega Constituinte interessado 'em for- rem permanecer por lá. Esse sistema que V. s.a fala have-
mular alguma pergunta. ria por parte do Governo a obrigação de pagar os profis-
sionais que atendessem a qualquer pessoa aquele atendi-
O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO BEZERRA - mento. Pergunto: não seria apenas uma forma indireta
Quanto a esse Sistema da Seguridade e Previdência Pri- do seguro-saúde obrigatório, universal com contribuições
vada Fechada, V. Sa. informa que não há fins lucrativos. para que o Governo tivesse esse fundo e,' secundariamente,
Pergunto: a natureza da criação desse tipo de sistema, pagar os profissionais que atenderam as pessoas?
as razões que tiveram, foram razões apenas humanitárias,
razões, talvez, apenas de uma participação social, ou existe O SR. JOãO CARLOS LUIZ - Caro Constituinte Rai-
a razão, talvez, senão lucrativa, mas, pelo menos, como mundo Bezerra, gostaria de dizer o seguinte: talvez, pudes-
mercado de trubalho para aquelas pessoas que comandam se responder esta pergunta com uma outra pergunta. Diria
este sistema? o seguinte: O que pagamos aqui à Previdência para termos
direito à saúde e, na verdade, não a temos. Fizemos um
O SR. PAULO MENTE - Em primeiro lugar, agradeço levantamento e chegamos à conclusão que, entre 70 e 75%,
a pergunta do Sr. Constituinte Raimundo Bezerra, apro- que pagam a Previdência regularmente, e que teriam acesso
veito para agradecer, porque me dá oportunidade de escla- a ela, são obrigados a procurar médicos particulares. Em
recer um fato que tem sido muito comentado ultimamente. outras palavras, se é descontado para ter direito a e não
se pode usar, é inviável. Muito bem. Esse seguro na Ale-
Estas entidades, na verdade, surgem por reivindicação manha é o mesmo seguro, é o mesmo percentual que é
dos próprios trabalhadores das empresas. Desde que essas retirado do patrão e do empregado, ambos contribuindo,
entidades sejam constituídas exelusívamente por inicia- mas somente - V. Ex.a esteve lá, talvez sozinho. Mas se
tiva de empresários e trabalhadores, nós não temos esse estivesse trabalhando numa firma, num hospital ou em
sentimento de atividade lucrativa, porque tudo aquilo que qualquer lugar, seria descontado uma parte totalmente
se ganha, em termos de aplicação na própria economia diferente da parte de previdência propriamente dita, da
brasileira, reverte em favor da própria poupança acumu- parte de saúde. A parte, então, é dividida entre patrão e
lada pelos empresários e trabalhadores. Estas rendas adi- empregado. Agora, apenas se dá opção de escolher o seu
cionais são distribuídas em benefícios. É evidente que médico de 'confiança, o seu psicólogo, o seu dentãsta. Digo
vindas dos próprios trabalhadores, as entídades são admi- que a economia do Estado foi tão grande com a introdu-
nistradas no seu todo por pessoas que são assim associa- ção desse método, isso foi em torno de 1951, por parte
das. São os próprios trabalhadores associados nas enti- de Willy Brandt, na época Deputado Por Berlim Ocidental,
dades que as administram. Evidentemente, por indicação conseguiu o Estado faturar tanto que passou a ser lucrati-
das próprias empresas, já que a maior parte contributória vo a saúde, em termos do próprio Estado. Ele conseguiu
cabe à empresa que institui a entidade de previdência inverter essa renda dirigida e orientada para uma coisa
privada fechada sem fins lucrativos. que, na época, não havia na Alemanha, quer dizer, os
trabalhadores sem trabalho, ou demitidos - que agora já
Temos ouvido muito no nosso mercado financeiro começou no Brasil, de um ano para cá isso - seria o se-
comentários a respeito de algumas administrações de enti- guro-desemprego. E conseguiu inverter essa renda também
dades. Todavia, Sr. constituinte, não -podemos condenar para uma outra coisa muito ímportànte, que é a gratui-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 207

dade de medicação. E os hospitais? Como é que ficavam talvez, com bom resultado em outros países - ouvimos fa-
os hospitais? Penso que na Alemanha Se fazia uma coisa lar no Nepal, que é diferente da Alemanha - mas dificil-
muito importante - eu creio que também fosse impor- mente daria certo nesse estágio em que estamos vivendo
tante no Brasil, porque vamos ter de começar de qualquer no Brasil.
maneira - havendo na verdade, uma emancipação não
somente administrativa, como há, no Brasil, dos Munici- O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Nobre Constituinte
a
pios, mas também política. E para isso é importante uma Raimundo Bezerra, V. Ex. fez uma complementação ou foi
reforma tributária, que dê aos Estados e principalmente uma pergunta? Teria acesso, agora, a uma réplica?
aos Municípios uma independência financeira. Isso de ma- O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO BEZERRA -
neira nenhuma proíbe que entidades católicas, evangélicas, Tranqüilamente. O nosso Presidente é liberal.
espíritas, massônícas judaicas, possam fazer seus próprios
hospitais, e a comunidade vai optar por um ou pelo outro, O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Gostaria de dizer que
da mesma maneira que cirurgias são pagas pelos hospi- esse nosso sistema que estamos colocando, e tivemos o
tais. prazer de levá-lo a outros países da América do Sul, como
:O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO BEZERRA - GDS- já disse, e a outros países da Africa e da Asia, como agora
taria que Y. s.a 'complementasse, quando V. s.a estava nossa sendo
está instituído, por exemplo, em Bangcoc, sem a
ajuda, porque estamos quatro a cinco na Ale-
falando ... manha. Mas gostaria de dízer o seguinte: através desse
O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Dizia que, no final de sistema, aí, sim, que temos a possibilidade de fazer a única
cada trimestre, ou seja, até o dia 31 de março, 30 de medicina realmente importante: que se chama medicina
junho, 30 de setembro, e 31 de dezembro, nos finais cha- preventiva. Porém, apesar de termos de fazer a medicina
mados quartaís, na Alemanha, ou seja, os trimestres, o preventiva e ela, sem dúvida, num País, segundo a Orga-
paciente tem opção de pegar o seu ticket, ele pode esco- nização Mundial de Saúde, a cada três minutos e meio,
lher o seu médico e lá retirar e procurar outro médico; morre uma criança de fome no Brasil, apesar de ser essa
isso obriga o médico a atendê-lo sem para não perder o medicina, temos de ver que o Brasil é um País de grandes
paciente. Claro que aí vai haver uma série de modifica- contrastes. Houve um desses economistas, atualmente, que
ções, possibilitando que 80% dessa renda é dada ao médico existem no Brasil, que tomam conta do Brasil, Sr. Bacha,
pelo número de tickets que não pode ser no máximo 500, se não me engano, que afirmou que o Brasil seria uma
700, 800, dependendo da comunidade. Uma cidade próxima mistura de Bélgica com índia, uma espécie de Belíndia, e
a Westfália é diferente de uma cidade de 20 mil habitan- agora, nobre Constituinte já estamos passando para a Po-
tes, ele vai variar. Mas de qualquer maneira, vamos ter, líndía, de Polônia mais índia e, daqui a pouco, vamos di-
então, o quê? Um número de pacentes em relação a um minuindo.
otorrinolaringologista, a um cardiologista, a um endocri-
nologista, a um psiquiatra, a um anestesista, a cirurgiões, Então, gostaria de dizer que nesse sistema temos exa-
a ortopedístas, enfim, cada especialista. Então, isso obriga, tamente a possibilidade. Por quê? Porque como o Esta-
sem dúvida nenhuma, a um médico atender bem. Há um do, nobre Constituinte, vai ter 'de pagar diretamente aos
feedba.ck, um relacíonamento de médíeo e ;paciente, isso é médicos sem intermediários portanto, médicos ganhando
importante para o Estado e extremamente econômico. diretamente, o que vai ser importante, então, para o Es-
O SR. CONSTITUINTE RAIMUNDO BEZERRA - O V. tado observar? :É: uma coisa muito clara, muito nítida que
sentido da nossa complementação é que esta Subcomissão, derEx.a vai entender agora. Ele vai ser obrigado a enten-
pelo menos, temos observado e já pudemos detectar, tem o medicina o Estado que a mais barata de todas as medicinas é a
objetivo de dar alguma coisa nova em termos de saúde no doem-me preventiva que, aliás, é a única curativa, per-
dizer isso. Depois que alguém está doente nun-
Brasil. Não concordamos e nem achamos que a medicina, ca mais é curado de coisa alguma. Não existe cura para
como é feita, principalmente a medicina através da Pre- absolutamente
vidência seja correta. Concordo com V. s.a quando diz que sa possibilidadenada. Então, o próprio Estado vai ter es-
de começar, então, a se armar dentro da
a saúde do nosso previdenciário mesmo com todas essas medicina preventiva. Então, vou lhe dizer, como, por exem-
Constituições, é Uma saúde que não corresponde àquilo
que contribuiu e que, normalmente, ele vai precisar de uma plo, no Nepal que tínhamos uma condição mais ou menos
complementação através de entidades ou de médico pri- visa idêntica a minha vida durante nove meses no Sião, na di-
vado. com a Mongólia, na China, em que crianças com três
anos de idade, eram chamadas para tampar valões onde
Mas o que gostaria de 'dizer, parece-me que é o espírito se proliferavam mosquitos que deflagravam a febre ama-
aqui da nossa Subcomissão, é que o Brasil, além de ser um rela, que o governo chinês não tinha interesse óbvio em
País de situações geográfíeas diferentes, é um País ainda ver divulgado. Isso estou lhe dizendo sob a gestão de um
de situação sanitária inteiramente deficiente e que as nos- Conselho, em 1977, após a morte, em outubro de 1976, do
sas ações de saúde têm sido dirigidas muito mais para as grande líder Mao-Tsé-Tung. Não estou dizendo isso em
ações primárias de saúde, essa integração de Município- 1949. ,Então, esse trabalho comunitário, vem centralizando
Estado ,e Nação, principalmente objetivando evitar doen- esse trabalho cada vez mais, levando as verbas a esses pe-
ça e dar um grau de sanídade melhor ao povo brasileiro. quenos municípios chineses; o governo conseguiu, então,
Dificilmente, teríamos, sem a participação direta do Esta- fazer uma medicina preventiva, esse mesmo sistema, que
do, condições para termos uma engenharia sanitária que vigorou por muito tempo baseado no sistema social demo-
nos trouxesse condições de habitação condignas e darmos crata alemão, instituído no Nepal com ótimos resultados,
a alimentação para o povo, porque temos 10 a 12 milhões como temos observado. O Estado chega à conclusão que
de crianças de zero a 5 anos com fome, subnutridas, com realmente vai gastar muito menos preveníndo. Os médicos
déficit de oxigenação cerebral, etc. Dificilmente teríamos, vão ser ínserídos nesse contexto, irão trabalhar quando o
através de participação direta de entidades médicas ou de paciente já se declara 'doente, mas, sim, trabalhar, preve-
médicos, condíções de revertermos esse quadro. nindo. Isso não impede absolutamente, continua sendo
basicamente barato e altamente lucrativo essa proposta.
Consideramos prioritário, ao invés de Medicina cura-
tiva no Brasil, ao invés de se curar doença no Brasil, - e O SR. CONSTITli"INTE CUNHA BUENO - Se bem en-
na Alemanha isso pode ser feito, na Europa, de modo ge- tendi a proposta que V. s.a nos traz hoje, na verdade, ela
ral - temos de fazer a Medicina preventíva. Toda a prío- j á vem sendo feita no Brasil cóm algumas limitações, como
rtdade faz CGm que um sistema de saúde, implantado e, os convênios médicos com hospitais, é exatamente a con-
208 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

tratação de serviços profissionais de médicos através de O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Não. Ele vai ter de es-
um hospital para prestar a medicina. O credenciamento colher um hospital, normalmente, universitário que pos-
de médicos brasileiros é um processo bastante burocráti- sa dar para ele uma base boa. Então, aí viria uma escala.
co junto à máquina do Governo, a Um de que o médico Por exemplo, se o hospital fosse um hospital que não ti-
credenciado possa atender um paciente e se ressarcir, se- vesse um professor na sua direção, fosse um hospital que
gundo uma tabela existente pelo nróprío Governo. O que não tivesse rodas as especíalídades, poderia dar - não sei
proponho a V. s.a é que todo médico passe a ser creden- como vou colocar aqui - direito a ele ter, por exemplo,
ciado, seja obrigatório o credenciamento de todo médico, uma especialidade para um ano. Então, clínica médica
seja obrigatório o credenciamento de todo hospital, que seria a especialidade de seis anos, justamente incluindo a
haja uma tabela mais realista no pagamento dessa contra- medicina tropical. Então, ele teria, durante seis anos, de
prestação de serviços e que o Governo não tenha mais hos- passar por vários hospitais, mas, obrigatoriamente, dois
pitais próprios e que contrate somente profissionais da anos num hospital que tivesse o direito de distribuir essa
medicina através da prestação efetiva de serviço. t!: isso? sua espeeíalídade por seis anos. Esse dado faltaria aqui
Se bem entendi é a sugestão que V. s.a nos traz hoje. na nossa colocação. Mas seria o hospital realmente de
grande porte, com isso ele ficaria seis anos trabalhando
O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Nobre Constituinte somente naquele hospital - veja bem - mas muito bem
Cunha Bueno, realmente eu lhe perdôo pelo desconhecl- pago, quer dizer, exige 40 horas de trabalho ......
mento, porque V. Ex.a , sem dúvida, estava ao tele~one, fa-
lando coisas muito mais importantes do que a mmha pa- O SR. CONSTITUINTE CUNHA BUENO - Pago por
lestra. Então, não deve ter prestado a atenção suficiente. quem?
Infelizmente não pôde entender direito isso. O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Pago diretamente pelo
Mas tenho o maior prazer de repetir para V. Ex.a hospital. " Depende do hospital que seja. Coloquei aqui
aqueles dez minutos de palestra que fiz aqui. Basicamente, hospitais. Quando V. Ex.a colocou que houvesse um hospi-
Constituinte Cunha Bueno, queria dizer o seguinte: V. Ex.a tal, por exemplo, hospital do Estado. O Estado pode colo-
falou do credenciamento em todos os hospitais. Quer dizer, car diretamente o seu hospital, que pode ser optado pelo
V. Ex.a pode credenciar quem V. Ex. a queira aqui no Bra- paciente - coloquei isso aqui - em termos de Município,
sil. Por isso não pode tirar o direito, a liberdade do pa- em termos do Estado pode ser também colocado. Então, o
ciente de optar por um médico que ele deseja. Nem sem- paciente opta por esse hospital da mesma maneira que
pre é aquele médico que se credencia - e nós sabemos vai optar por um hospital religioso, por um hospital evan-
gélico, seja ele católico, seja massôníco, ou o hospítal que
muito bem como é que ele se credencia - normalmente, seja, ele vai fazer sua opção. Veja bem, não há finalidade
são favores políticos, devidos a políticos, etc, - ele conse- lucrativa nesses hospitais. Daí, normalmente, ser o muni-
gue um credenciamento e o hospital não consegue. cípio ou, então a própria comunidade religiosa que vai to-
O SR. CONSTITUINTE CUNHA BUENO - O que per- mar conta desse hospital sempre fiscalizado a nível do
guntei é exatamente isso. Embora estivesse ao telefone próprio Estado. Quando o médico já tem a sua formação
estava prestando atenção na sua palestra. básica, dependendo da especialidade; cirurgia, cinco anos;
Agora a pergunta é a seguinte: hoje existem alguns clínica médica, seis anos; otorrino, quatro anos; anestesia,
que se credenciam, outros que não conseguem se creden- quatro anos, enfim, na sua especialidade que já tenha
ciar. A proposta de V. s.a é que todos os médicos fossem feito. Ai sim, ele vai ser especialista e pode, então, abrir
credenciados, todos os hospitais fossem oradencíados? uma clínica sua, particular. Antes, nunca. E, aí, então, o
paciente vai ter a possíbílídade doe escolhê-lo, ele vai ter
O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Não, absolutamente. meio de ser optado pela comunidade. Agora, não vai tra-
Não todos os hospitais. Claro que não. Nem todos os hos- balhar de um hospital para o outro, como acontece comu-
pitais. Aliás, gostaria de dizer que digamos que 9 entre 10 mente no Brasil. Ele larga o INPS às 8 horas da manhã e,
hospitais não teriam direito, na verdade, porque nao se às 8 horas da manhã, na mesma cidade, a 50 quilômetros
colocam em condições dignas, não em termos de apare- de distância, ele pega no hospital do município. Isto é
lhagem, mas em termos de clínica etc. de ter uma colo- comum é o useiro e vezeiro. Isso é comum nas grandes ci-
cação realmente orientada e dirigida, para o operariado dades do Brasil. Ele vai trabalhar somente num hospital
em geral. que possibilite ganhar, claro, trabalhar 4 horas por dia.
O SR. CONSTITUINTE CUNHA BUENO - Desde que E V. Ex. a perguntar-me-ia, agora, Constituinte Cunha
o hospital tivesse condições óbvias. Bueno, sem dúvida nenhuma; o que aconteceria nas outras
O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - t!: o óbvio, mas que, in- horas? Quer dízer, ele vai ter uma integração com a comu-
nidade. Ele vai ter naquele hospital um paciente que sabe
felizmente, não é realmente o prático. que indo lá encontra o professor responsável pelos médi-
O SR. CONSTITUINTE CUNHA BUENO - Mas a pro- cos assistentes, médicos de todo aquele hospital que ele
posta que V. s.a nos traz hoje com a experiência que ad- conhece; ele vai ser diretamente mandado ali pela própria
quiriu em países latino-americanos e em países como a comunidade universitária, pelo hospital da própria co-
Alemanha, o Nepal, o Butão, a índia - agora, V. s.a nos munidade. Quando um colega médico manda para um
fala da Tailândia - seria um sistema onde todo médico ... hospital, para um cirurgião ortopedista, ele sabe, tem op-
O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Vai trabalhar para o ção várias: tem quatro a cinco hospitais. Ele tem opção
em fazer. claro, que os hospitais que desenvolverem me-
próprio Estado. lhor trabalho serão aqueles que prevalecerão, que ficarão
O SR. CONSTITli"INTE CUNHA BUENO - ... passa na sociedade, trabalhando para ela.
a trabalhar para o próprio Estado ou não. O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Gostaria
O SR. JOÃO CARLOS LUIZ - Só que - aí entra de dirigir uma questão ao dirigente das entidades privadas
uma questão interessante - formado, ele não vai traba- de previdência, pedindo a V. s.a que nos esclarecesse me-
lhar diretamente para o próprio Estaido. Ele vai ter que lhor que tipo de empresas são cobertas por esse sistema fe-
escolher um hospital, conforme a sua especialidade como chado de previdência?
médico. O SR. PAULO MENTE - Talvez, o evento a que o
O SR. CONSTITUINTE CUNHA BUENO - Por exemplo, Constituinte Eduardo Jorge quis se referir, digamos, é o
se o hospital não for credenciado. fato de o setor estatal ter sido aquele que iniciou esse tipo
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 209

de atividade no País. Mas constatamos hoje já, com bas- nímo, apesar de que contribui, também, de uma forma
tante alegria, que das 180 entidades formadas no País, 77 mutualista. Se compararmos o nível entre custo e beneff
já pertencem ao setor privado. Temos 103 na iniciativa cio das diversas faixas de :renda, ve:rificamos que há uma
pública, e 77 entidades já formadas no setor privado, sendo distorção. Mas isso é um defeito da legislação comple-
que essas 77 entidades do setor privado abrangem já 525 mentar.
empresas privadas, principalmente, de capital nacional. l!: O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Mas in-
evidente que a lei, que hoje regula a atividade da Previ- sisto na minha pergunta: qual é a média salarial atual dos
dência Privada Fechada, ela não cria incentivos suficien- beneficiários desse sistema?
tes aos trabalhadores para que possam reivindicar, atra-
vés de suas representações sindicais, dos empresários, para O SR. PAULO MENTE - Nobre Constituinte, veja,
que entendam que esse sistema realmente deva servir como temos um nível de adesão nas empresas de 98%, ou seja,
um sistema complementar do Estado, pela impotência do são associados do Sistema os trabalhadores de todas as
Estado de dar tudo aquilo que o trabalhador deseja. :m faixas de renda. Isto significa dizer ...
evidente que a regulamentação toda do sistema precisa O SE. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Quando
ser melhorada. Para isso é que reivindicamos e, por isso, o Ministro da Previdência esteve aqui, S. Ex. a inclusive,
que solicitamos o reconhecimento, a nível constitucional, chegou a nível de detalhe ao dizer que tal benefício pri-
da atividade, para que a lei do Estado não seja uma lei vilegia tal nível de renda, a nível da Previdência Social,
sempre vinculada a interesses casuísticos. Precisamos que que é um sistema muito mais baixo do que o de V. s.a
a nossa legislação seja uma legislação permanente, uma
legislação bem estável que possa, evidentemente, dar ao Então, a minha pergunta em relação a V. s.a é se
empresário incentivos para que criem as suas entidades V. s.a tem esses dados. Qual é a média salarial dos bene-
e, aos trabalhadores, possibilidades de reivindicar e, com ficiários desse sistema?
isto, fazer com que a lei seja sempre mais social e menos O SE. PAULO MENTE - Veja bem, a média salarial
econômica, como tem sido até hoje. é a média salarial que as empresas arrecadam. Cada em-
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Percen- presa tem um salário médio diferente. Desde que partamos
tualmente, com relação a essa distribuição entre as em- do princípio de que 93% em média dos trabalhadores são
presas estatais e privadas, qual é o universo, em termos associados ao Sistema de Previdência Complementar, é
de percentual de trabalhadores, de pessoas cobertas pela evidente que o nível de rendimento de cada associado em
rede estatal e pelo setor privado? cada empresa vai variar de acordo com o salário médio
de cada empresa. Compreendo a sua pergunta e respondo
O SR. PAULO MENTE - Apesar de termos 43% das da seguinte forma: há um determinado - não vou dizer
entidades no meio privado, elas representam hoje apenas privilégio - benefício maior para os empregados de maior
30% em número de segurados. De 1 milhão e 700 mil tra- renda.
balhadores, que são hoje associados ao nosso sistema,
temos 30%, cerca de pouco menos 29% de 650 mil ligados O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Como
a entidades, sustentadas pelo setor privado. assim?
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Setenta O SE. PAULO MENTE - Porque a Previdência Social,
e um por cento, digamos, ainda estão vinculados a nível evidentemente, tem um teto de benefício. Aqueles empre-
estatal. gados que possuem uma renda maior acabam tendo um
decréscimo de renda na Previdência Social muito maior do
O SE. PAULO MENTE - Setenta e um por cento ainda que aquele trabalhador de baixa renda. Então, o Sistema
estão vinculados a nível estatal. Veja bem por que. Porque de Previdência Privada Fechada, talvez, até por esta defí-
toda atividade foi criada a nível estatal. No Brasil temos ciência da Previdência do próprio Estado, acaba comple-
uma situação histórica muito interessante: é que todo bom mentando ou suplementando rendas de uma forma mais
exemplo deve partir do Governo para que depois ele seja eficaz para os trabalhadores que se encontram em faixas
estendido ao setor privado. Isto tem acontecido com o nosso de rendas mais altas. Não quer dizer que ele não deixa
setor. de assistir também os trabalhadores de baixa renda. O que
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - A minha precisamos fazer com a legislação da Previdência Privada
outra questão é em relação à média de aposentadoria, den- é que a fixação de beneficios mínimos para os trabalhado-
tro das aposentadorias complementares, qual é a faixa res das baixas classes de renda, seja mais evidente.
salarial média que é atingida por essa Previdência do setor O SE. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - No ano
privado? passado saiu uma portaria do Ministério da Previdência
O SR. PAULO MENTE - Temos hoje suplemento de limitando em cerca de dois terços a parte da contribuição
aposentadorias que evidentemente premiam ... O Sr. Cons- dos órgãos estatais para a constituição desse fundo. Isto
tituinte perguntava a respeito da renda que é garantida quer dizer que antigamente era até mais do que isso. En-
hoje aos atuais aposentados. :m evidente ... tão, a questão que coloco é se esses recursos das empresas
estatais, que não deixam de ser recursos públicos, são em-
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - E a presas mantidas com o orçamento de toda a Nação, se
média salarial das pessoas que são beneficiadas pela Pre- eles não entram com maior peso do que a contribuição
vidência. desses empregados e das empresas.
O SR. PAULO MENTE -:m evidente que, como temos O SR. PAULO MENTE - Na verdade, o que limitou
uma distribuição de renda muito aquém daquela desejada a contribuição em dois terços para as entidades susten-
no País, a Prevídêncía Prívada Complementar acaba dando tadas com recursos da União, foi o Decreto-Lei n,> 93.597
melhores benefícios àqueles que estão nos patamares de do próprio Presidente Jasé Sarney ...
rendas mais altas. Isto não quer dizer que o trabalhador' O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - De
de baixa renda não seja premiado pelo Sistema de Previ- novembro do ano passado.
dência Complementar. A maioria dos planos fechados exis-
tentes hoje no País garante um benefício mínimo ao tra- O SE. PAULO MENTE - Exatamente, foi quando da
balhador de baixa renda, mesmo aquele que ganha 95% edição do Plano Cruzado lI. Não é verdadeira a infor-
do seu rendimento da ativa da Previdência Social, ele acaba mação' de que a maioria das empresas já estivessem com
recebendo da Previdência Complementar um benefício mí- custos acima disso. Mas tínhamos algumas empresas, por
210 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987'

exemplo, o BNH, que agora acabou sendo incorporado à não tem outra alternativa de sustento de renda a não ser
Caixa Econômica Federal, era uma entidade que possuía o Sistema Privado de Previdência. É ilusório pensarmos
custo um pouco superior a este que foi estabelecido pelo que o Estado poderá, um dia, garantir a plena satisfação
decreto. de renda do idoso brasileiro não vai conseguir mesmo.
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Além Estamos num país em desenvolvimento, há carência de
recursos e, evidentemente, que isso tem que ser ativado-
do BNH, há outros? através do Sistema de Previdência Privada. O que preci-
O SR. PAULO MENTE - Não me recordo das con- samos ...
tribuições das empresas. Seriamente, há outras a nível O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Não
federal que possuíam custos acima disso. Mas é a grande sou contra esse ponto de vista. Agora, não posso ser a
minoria. Não é a maioria. favor de um sistema que usa verba pública dinheiro do
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - V. s» povo, para ,atender prioritariamente, pelo' menos, por
acha correto isso? enquanto, ate quando sanadas essas deficiências em favor
das pessoas 2e grandes salários, enquanto a grande massa
O SR. PAULO MENTE - Não, não acho. do funclonallsmo, a grande massa do povo, inclusive aque-
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - V. s.a les que foram colocados lá, no vídeo não são atingidos.
acabou de reconhecer que são os grandes salários que são por este tipo de sistema. '
corrigidos, porque há uma distorção na seguridade social O SR. PAULO MENTE - Por isso é que nós preten-
do Brasil, então, são os grandes salários que precisam demos, através da associação ...
principalmente ser recompostos. E isso é feito às custas
do dinheiro do Estado? . O SR. 90NSTITUINTE EDUARDO JORGE - A prí-
O SR. PAULO MENTE - Veja, não acho correto, meI,a questão que se tem que fazer no Brasil é aprimorar
o SIstema de seguridade social; esta é que é a prioridade
tanto é que entendemos que o decreto tem uma função ~ossa. E, por outro lado, se, por ventura, continuam exís-
saneadora muito importante perante o déficit público. Màs tíndo empresas privadas na área de seguridade, elas não
também não acho correto que o déficit público comece podem, a m~u ver, ser sustentadas por recursos públicos'
a ser corrigido através dos benefícios sociais que são dados ai a distorção atinge um limite insuportável. Como V. S.~
aos servidores públicos. Acho que há muitos outros gas- me~m? dIsse; a grand~ maioria da população, a grande
tos que devem ter prioridade no corte nos benefícios que maioria dos ídosos esta? em situação difícil e uma parte
são repassados aos servidores públicos. dos recurs?s que poderiam estar sendo destinada a me-
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Mas a lhorar ? SIstema de seguridade social, ainda estão aten-
maioria dos servidores públicos não têm esse acesso a dendo àqueles gran~es s~ários, no meu ponto de vista,
esse tipo de benefício. acho que ha uma distorção muito grande nisso ai.
O SR. PAULO MENTE - Ah! tem. A maioria das O SR. PAULO MENTE - Nós precisamos melhorar a
empresas estatais tem esses planos que garantem bene- legislação complementar, que regula toda esta matéria.
fícios mínimos aos trabalhadores de baixa renda. Eu reconheço que há defeitos que precisam ser corrigi-
dos, mas devemos assegurar que o sistema privado seja
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - As em- ~or:siderac!'0 com? compJ..e~er:tar ao do Estado, porque é a
presas estatais. Mas a maioria dos outros servidores públi- umca opçao do Idoso brasíleíro de garantir a sua renda,
cos normais e mortais não têm acesso a esse tipo de bene- pelo Estado, ele não vai garantir nunca.
fícios. Como V. s.a falou, parece-me que esse tipo de
beneficio alcança principalmente os grandes salários. En- A SRA. PRESIDENTA (Marta de Lourdes Abadia) -
tão, seria uma parte dos funcionários públicos e outra Agradecemos, então, a participação do Sr. Paulo Mente
parte de funcionários dos grandes salários que seriam os e do Dr, Carlos Luiz pela exposição.
grandes beneficiários e com o dinheio do poder público. O SR. JOãO CARLOS LUIZ - Quando coloquei aqui
O SR. PAULO MENTE - Preciso esclarecer o seguin- este tema sobre a saúde, eu fiz uma colocação, porque
te: disse, de início, que o nosso sistema abrange todos os pensei que ela fosse comentada por parte dos srs, Cons-
trabalhadores. E a fixação de benefícios mínimos premia tituintes, o que acabou não acontecendo.
tanto aqueles de baixa renda quanto os de alta renda. (Defeito na gravação. Inaudíve1.)
Há defeitos.
Mas, realmente, ficou uma coisa interessante: quando
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - V. s» disse aos Senhores todos que, dentro do sistema, atual-
reconheceu qUlL-há um percentual maior ... mente, da má distribuição de renda de nossa população,
O SR. PAULO MENTE - Há defeitos na legislação dentro de um capitalismo selvagem - creio que aqui
que precisam ser corrigidos. Todavia, devo lembrar tam- dentro ninguém o negue - um transplante de órgãos no
bém que as contribuições não são iguais. As contribuições Brasil seria totalmente inacessível, Essa alfirmacão
são diferenciadas. Um trabalhador de baixa renda, pela acabou não gerando nenhuma pergunta. •
atual legislação, pode pagar no máximo 3% de seu salário Continua sem nenhuma pergunta pela parte dos
para planos privados de Previdência, enquanto que o de Srs. Constituintes?
alta renda deve pagar no mínimo 7% pela atual legisla-
ção. Então, vou citar apenas um caso que eu víví: na
época em que eu era subehere.; (Rísos.)
O SR. CONSTITUINTE EDUARDO JORGE - Mas de
qualquer forma cerca de dois terços da composição do Mas eu vou fazer essa colocação, porque acho que
fundo vai ser constituído ... é interessante, vivida por mim, ninguém me contou
senão que eu mesmo vivi. Trabalhava num hospital em
O SR. PAULO MENTE - É constituído das empresas Duisburgo, hospital do muníeípío, eu fui chamado para
tanto privadas... As privadas, talvez, tenham um nível uma urgência. Trabalhava no CTI na época, e como fomos
de participação menor. Elas dividem muitas vezes a par- chamados de urgência, fomos de helicóptero. Por coinci-
ticipação nos custos. dência, nós chamávamos Kawasaki sindhrome, síndrome
Agora, nobre Constituinte, o Sistema Privado de Pre- de Kawasaki. Sabe que o alemão quando sai na rua,
vidência é absolutamente necessário e o idoso brasileio aquele negócio ali vem todo, não dá nem para aparecer
.Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 211

os olhos, mas quando bate também, é pedaço de cotovelo O SR. CONSTITUINTE CUNHA BUENO - São três
para um lado, cabeça para o outro. Aconteceu um caso erros. O primeiro erro seria a inclusão de um inciso IV
daqueles. Na hora em que estávamos chegando, chega no art. 2.0 com relação ao capítulo saúde.
uma ambulância de M. Gladbach, uma cidade vizinha de O segundo seria na questão de seguridade, apenas um
Dusseldort, que faz fronteira com essa cidade. Então, o erro de português, "trabalhador rural" em vez de traba-
alemão, por azar, ele pega aquele autoban, auto-estrada e balhador rural. E com relação ao meio ambiente, o art. 4.°
faz a divisão e exatamente naquele ponto; o sujeito caiu ;Flores~a Amazônica, Mata Atlântâca, Pantanal, Zona
num ponto em que ficava com a metade do corpo para Costeira e bacias hidrográficas, que não foram incluídas
dentro de Dusseldorf e metade do corpo para dentro de aqui.
M. Gladbach e para o alemão foi uma verdadeira proble-
mática, quer, dizer, quem ia ter o direito ao corpo? O O SR. RELATOR (Carlos Mosconi) - Sra. Presiden-
.Hospital de Duisburgo, que é o nosso ou o Hospital de ta, consulto V. Ex.a Se devo fazer a apresentação, então,
M. Gladbach, que tinha também chegado lá? Então, eu no momento em que o avulso estiver pronto, seria
já ia entubar o paciente e aí chega, todo apavorado, o amanhã ou depois de amanhã.
médico e de maneira nenhuma me perdoava por fazer A SRA. PRESIDENTA (Maria de Lourdes Abadia) -
isso; porque a batida tinha sido do lado de M. Gladbach, Eu acredito que seria melhor quando tivermos tudo
tinha que ficar para o lado de lá. Eu me senti estranho pronto.
com a briga daquele colega e três enfermeiros e mais o
chofer da ambulância estavam fazendo tudo para levar O SR. RELATOR (Carlos Mosconi) - Todas as suges-
aquele paciente para M. Gladabch. Brigando, briga para tões que entrarem na Comissão eu quero prontas, senão
lá, somos mais próximos e eu argumentei: "Mas estamos não tenho condições de analisar o projeto.
de relicóptero e podemos levar mais rápido para o nosso
hospital em Duisburgo". E ficou aquela briga. "Não, vamos A SRA. PRESIDENTA (Maria de Lourdes Abadia) -
para M. Gladbach e fica aqui". Então, meu enfermeiro me Eu confesso que seria a parte da Secretaria e o Relator
puxa e diz: "É melhor o senhor desistir". "Como? Não está aí e poderia colocar com mais conhecimento.
temos condições de melhor acesso". Então, ele me per- O SR. RELATOR (Carlos Mosconi) - Concordo que
suadiu e fomos embora. Quando nós pegamos o helicópte- isso é uma obrigação da Assessoria da Subcomissão en-
ro, ele falou o seguinte para mim. Vou fazer esta coloca- tregar aos Constituintes desta Subcomissão todas as
ção para que V. Ex.as pensem em casa. "O senhor viu sugestões que chegaram' a ela. Não vejo nenhuma difi-
o que ele tinha no peito"? Respondi que não reparara. culdade nisso.
"Porque eu vi uma coisa muito importante". É que em
1976 começou a se desenvolver exatamente isso que há A SRA. PRESIDENTA (Maria de Lourdes Abadia) -
ago~a no Brasil: doação de órgãos, doação de órgãos, S. Ex.a está comunicando que já foram encaminhadas a
doação de órgãos, como se realmente fosse urna panacéia todos os gabinetes 182 propostas e as últimas serão enca-
pará resolver todos os males, Então tinha: "Eu sou doador minhadas agora.
universal" seguro lá um negocinho vermelho com letri- Está encerrada a reunião.
nhas dou~adas, que todo alemão usa no peito, que doava,
porque agora também já está proibido. Porque houve na (Levanta-se a reunião à 1 hora e 10 minutos.)
legislação alemã urna mudança imensa devido, exata-
mente, aos fatos que depois foram vividos, já que eu não COMISSãO DA FAMíLIA, DA EDUCAÇãO, CULTURA E
estava mais lá. Mas, vejam, bem. Mas qual o problema? ESPORTES, DA CIil;NCIA E TECNOLOGIA E DA
Simplesmente, esse paciente valia um milhão de marcos. COMUNICA!ÇãO
E o professor fulano de tal já tinha encomendado os
olhos, por tantos mil marcos, o rim por tantos mil marcos; 24.a Reunião
o coração por tantos mil marcos; o fígado por tantos mil Aos doze dias do mês de maio do ano de mil nove-
marcos e aquele enfermeiro tinha uma participação muito centos e oitenta e sete, às nove horas e vinte e cinco minu-
importante nisso. tos, na Sala de Reunião da Subcomissão, Ala Senador Ale-
Agora, V. Ex.s imaginem. Se isto existe num capitalis- xandre Costa, Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão
mo social democrata e que há uma tendência à demo- da Educação, Cultura e Esportes, sob a presidência do Se-
cracia, desculpem-me dizer, muito maior do que num nhor Constituinte Aécio de Borba, l.°-Vice-Presidente em
exercício da presidência, com a presença dos seguintes Se-
capitalismo selvagem, V. Ex.as sabem a que vai equivaler nhores Constituintes: João Calmon, Florestan Fernandes,
isso? Não sejam atropelados no meio da rua. V. Ex.as Ubiratan Aguiar, Sólon Borges dos Reis, Louremberg Nu-
podem voltar, por uma oxigenação, que lhe dará a chance nes Rocha, Agripino Lima, Maurício Nasser, Tadeu França,
de voltar à vida, V. Ex.as podem continuar mortos para Antônio de Jesus, Bezerra de Mello, Dionísio Hage, Márcia
sempre, Essa é minha colocação. Pensem bastante, antes Kubitschek e Chico Humberto. Presente também o Se-
de aprovar qualquer coisa neste setor. nhor Constituinte Severo Gomes. Havendo número regi-
mental o Senhor Presidente declara abertos os trabalhos
A SRA. PRESIDENTA (Maria de Lourdes Abadia) - e convida o Senhor Ministro da Cultura, Doutor Celso Fur-
Amanhã teremos uma reunião. Já foi confirmada a pre- tado, a participar da Mesa, registra a presença dos Senho-
sença do Presidente da Siderbrás, que falará sobre meio res Constituintes Marcondes Gadelha e Artur da Távora,
ambiente. respectivamente, Presidente 'e Relator da Comissão Temá-
O SR. RELATOR (Carlos Mosconi) - Sra. Presidenta, tica Oito e justifica a ausência do Presidente desta Sub-
um minuto. Gostaria de consultar a V. Ex.a sobre o rela- comissão, Constituinte Hermes Zaneti. A seguir passa a
tório que está pronto desde ontem e ainda tinha algumas palavra ao Senhor Ministro da Cultura que, por dez mi-
incorreções que estão sendo revistas agora. nutos, presta esclarecimento de grande valia aos Senhores
Constituintes, destacando a importância da preservação
Eu gostaria de comunicar, oficialmente, então, à Sub- do patrimônio e da memória cultural, estímulo à reconhe-
comissão que o relatório está pronto, em termos defini- cida criatividade de nosso povo, defesa da identidade cul-
tivos, apenas estamos procedendo a essas pequenas tural do País e democratização do acesso aos valores cul-
correções e eu pergunto a V. Ex.a ... turais. Foi questionado pelos seguintes senhores Consti-
212 Segunda-feira 20 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

tuíntes: Sólon Borges dos Reis, Louremberg Nunes Rocha, Este documento foi enviado ao Relator da Comissão,
Florestan Fernandes, Artur da Távora, Ubiratan Aguiar, Constituinte Senador Marcondes Gadelha, e eu creio que
Márcia Kubitschek e Chico Humberto. Em seguida, o Se- ele mereceu e merecerá a atenção que a Comissão vem
nhor Presidente passa a palavra ao Senhor osmaríno dando a todos os documentos técnicos que aqui foram
Amâncio Rodrigues, Secretário do Conselho Nacional de d-epositados. Eu queria deixar aqui registrado que esta
Seringueiros, que apresenta o mesmo depoimento j á refe- Comissão foi presidida pelo Jurista Modesto Souza Barros
renciado na Ata da Vigésima-Segunda Reunião. O Consti- Carvalhosa, membro do Conselho Consultivo do Patrimô-
tuinte Tadeu França se posícíona pela imediata suspensão nio Histórico Nacional e pelos Srs. Juristas Rafael Car-
dos processos militares contra civis inocentes na ocupação neíro da Rocha, Arquiteto Augusto Carlos da Silva Teles,
irregular das terras no Paraná, sugerindo o envio de mo- Arquiteto Paulo Ormíndo de Azevedo David, e a Advogada
ção desta Subcomissão às autoridades competentes. O Cláudia Martins Dutra.
Senhor Presidente passa a palavra ao Relator, Constituin- Este material foi todo ele referido para facilidade de
te João Calmon que tece considerações sobre os assuntos exposição, no documento da Comissão Afonso Arinos, isto
hoje abordados no campo da Cultura. Em seguida o Se- simplesmente para uma questão de facilidade de expo-
nhor Ministro encerra sua participação e às onze horas e sição. Eu, evidentemente, não vou aqui ler este documento,
quarenta e três minutos o Senhor Presidente suspende a porque é um documento técnico, amplo, mas poderei evi-
sessão, reabrindo-a às onze horas e cinqüenta e um minu- dentemente responder às questões espeeífícas sobre os
tos para ser votada a sugestão do Constituinte Tadeu documenos que foram entregues à Subcomissão com ante-
França. Sendo esta aprovada, são colocadas em votação, rioridade.
algumas alterações ao cronograma, propostas pelo Senhor
Relator, ficando estabelecido, após discussão, que a vota- Vou em realidade hoje, aqui fazer uma exposição
ção será realizada na próxima reunião, com a presença do geral, rápida sobre a filosofia, 'eu diria, a visão que
Presidente Hermes Zaneti. O Senhor Presidente encerra os temos nós da política cultural, atualmente, no Governo,
trabalhos às doze horas e oito minutos e convoca os Se- e, em seguída me colocarei à disposição dos Srs. Cons-
nhores Constituintes para a reunião de amanhã, quarta- tituintes, para prestar quaisquer esclarecimentos que lhes
feira, dia treze de maio, às nove horas, quando será ouvi- pareçam conveniente.
do, em audiência pública, o Senhor Ministro da Educação, É relativamente recente a idéia de política cultural,
Doutor Jorge Konder Bornhausen, cujo teor será publica- com esta abrangência que emprestamos hoj e em dia.
do na íntegra, no Diário da Assembléia Nacional Consti- O ponto de partida desta visão foi a tomada de consci-
tuinte e, para constar, eu, Sérgio Augusto Gouvêa Zara- ência de que a qualidade de vida nem sempre melhora
mella, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprova- com o avanço da riqueza material.
da será assinada pelo Senhor Presidente.
Com ereíto, a experiência tem demonstrado ampla-
ANEXO À ATA DA 24.a REUNIÃO DA SUBCO- mente, não obstante a elevação do seu nível de vida ma-
MISSÃO DA EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPOR- terial, importantes segmentos da população continuam
TES, REALIZADA EM 12 DE MAIO DE 1987, ÀS prisioneiros dos estreitos padrões culturais.
9:25 HORAS, íNTEGRA DO APANHAMENTO TA- Acumulação de recursos ou o enriquecimento mate-
QUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMEN- rial de uma população com rreqüêncía, desemboca em
TE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE aumento de desperdício, de certas pastas de consumo sem
DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE HERMES produzir um real enriquecimento da vida da população.
ZANETI. A reflexão sobre estes temas conduziu a uma visão cri-
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Havendo tica dos modelos de desenvolvimento que vinham sendo
número regimental, declaro abertos os trabalhos da reu- preconizados com entusiasmo a partir dos anos 50. Esses
nião da Subcomissão de Educação, Cultura e Esportes a modelos se rundem na idéia de que sendo escassos os
qual se destina especificamente a S. Ex.a o Ministro da meios que põe à sua disposição a sociedade, o critério
cultura, Dr. Celso Furtado, que nos dá a honra de vir da máxima eficiência deve preval-ecer sobretudo o mais.
aqui, partilhar conosco, a difícil tarefa de elaborar a; É o critério da racionalidade econômica que preside
Carta Magna. toda o plano de des·envolvimento econômico de nossa
Antes da reunião queríamos diz-er aos companheiros época. Está implícito neste racíocínío que os fins que
Constituintes que o Presidente Hermes Zaneti acaba de presidem a ordem social, possuem um comportamento
nos telefonar dizendo que está a braços com as dificul- autônomo, com respeito aos m-eios, comportamento que
dades que ainda perdura no Rio Grande do Sul, no seio refletem opções, realízadas p-elos homens e pelas mulhe-
do funcionalismo, e até mesmo Assembléia Legislativa, res. em runcão de suas necessidades naturais, de suas
com os professores, ele é um dos intermediários da so- aspirações, é ideais, em duas palavras, o Economista ima-
lução do problema e preferiu ficar na terra atendendo gina que a sociedade sabe o que quer, 'e que portanto os
ao apelo do Governador a vir aqui, como era o seu d-esejo. fins do trabalho social, e definidos independentemente da
organização do sistema de produção.
Feita 'esta ressalva, nós vamos dar a palavra ao Sr. Isto é que é a idéia que está implícita nesta visão
Ministro, e, após sua exposição,. ob~decere~os à regra já otimista do des-envolvimento, é a partir do simples enri-
estabelecida, isto é, passaremos as indagações. quecimento material. Pouca atenção se dá as Inter-rela-
Tem a palavra o Ministro Celso Furtado. cões entre fins e meios ao fato do controle dos meios, por
índívíduos por grupos sociais ou por determinados países,
O SR. CELSO FURTADO - Sr. Pr-esidente, srs. Cons- pode conduzir a manipulação dos fins de outros indiví-
tituintes o Ministério da 'Cultura constituiu um grupo de duos, de outros grupos e de outros países. Oral, os fins a
estudos 'de especialistas, para reunir as nossas experíên- que estou me referindo são na verdade os valor-es das
cias e nossos pontos de vista, no que diz respeito ao es- coletividades e os sistemas simbólicos que constituem as
paço que cabe reservar na Constituinte, para o tema da culturas.
cultura, a parte patrimonial, a parte de inventário, e todas
as temáticas que nós consideramos de natureza consti- Por que não preocupar-se, perguntamos nós, priori-
tucional. tariamente, com o significado das coisas, com os constran-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 213

gímentos que modulam as condições essenciais dos indi- Quando nos referimos a nossa identidade cultural, o
víduos, com a lógica, dos fins? Se a política de desenvol- que temos em conta é a coerência de nosso sistema de
vimento com o objetivo de enriquecer a vida dos homens, valores, do duplo ponto de vista síncrôníco e diacrônico,
seu ponto de partida terá que ser a percepção dos fins, simultaneidade e no tempo. Esse é o círculo maior que
e os objetivos que se propõem alcançar os indívíduos, e deve abarcar a política de desenvolvimento tanto econô-
a comunidade. mica, como social. Somente uma clara percepção de nossa
identidade pode ínstílar sentido e direção ao nosso esfor-
Em outras palavras, a política de desenvolvimento não ço permanente de renovação do presente construção do
pode existir sem uma política cultural. Já anteriormente futuro. Sem isso, estaremos submetidos à lógica dos ins-
partindo de outros ângulos de observação, se havia che- trumentos que se torna tanto mais peremptória quanto
gado a uma visão crítica dos modelos de desenvolvimento tende a nela prevalecer o fator tecnológico, fator domi-
adotados na civilização industrial, é antigo o entendimen- nante da civilização contemporânea.
to de que os processos produtivos dissipam energia e des-
troem recursos naturais não-renováveis. O custo ecológico A partir dessa visão abrangente, foram definidos pelo
do desenvolvimento há muito tempo que é reconhecido e atual governo os seguintes objetivos específicos no campo
indigitado. Mas, o que só tardiamente se chegou a perceber cultural: preservação do patrimônio e da memória cultu-
que o custo em termos de valores, culturais, incluindo os rais; estímulo à reconhecida criatividade de nosso povo;
valores paisagistas do desenvolvimento, é também conside- defesa da identiJdade cultural do Pais ,e democratização de
rado. Isto é uma percepção muito mais recente, de que a acesso aos valores culturais. Patrimônio e memória são
idéia mesma do desenvolvimento que está por exemplo na concebidos, nesse caso, não apenas como acervo da heran-
famosa formulação Schumpeteriana, é de que o desen- ça cultural, como a quem vem do passado, mas como um
volvimento se faz com destruição, é a destruição criati- todo orgânico cuja significação cresce à medida que Se in-
va da famosa frase Schumpeteriana. Essa destruição cria- tegra no viver cotidiano da população. Assim, procura-se
tiva, esse custo em termo de destruíção nunca havia sido articular o trabalho de preservação de nosso patrimônio
contabilizado e nunca se teve em conta de que el,e podia com o estímulo à inovação, dentro da concepção de que o
representar um custo inemsurável pelo fato de que os ato criativo é tanto ruptura como um processo que se ali-
processos culturais não são recuperáveis, quer dizer, o menta da herança cultural e se mantém dentro de uma
produto cultural, uma vez destruído, ele não pode ser subs- identiJdade. Esta herança cultural é captada no seu re-
tituído, propriamente. corte histórico regional, em suas relações com o ecossiste-
ma e, também, levando em conta a estrutura social na
A cultura deve ser observada simultaneamente como qual ela emerge, Em outras palavras, herança cultural não
um processo acumulativo, acumulação simplesmente suas é vista em abstrato, mas dentro do recorte da história, do
também como um sistema, vale dizer, algo que tem coe- recorte do ecossistema e do recorte das estruturas sociais.
rência e algo em que o todo não se explica cabalmente
pelos significados das partes. Como ato de ruptura, a criatividade se alimenta com
freqüência da ação de grupos contestadores que, em uma
Há um que depende do processo de cínergía. Ora, o sociedade aberta, devem encontrar espaço para atuar. A
que caracteriza as sociedades que se inseriram no comér- ação dos jovens e dos movimentos feministas, por exem-
cio internacional, como exportadores de produtos de uns plo, é observada deste ângulo, procurando-se captar as li-
poucos produtos, produtos primários, e que em fase subse- nhas de força do processo de geração de novos valores
qüente conheceram o processo de industrialização com culturais. Demais, como a herança cultural e a criatividade
base na substituição de ímportçaões, o que caracteriza se inserem na pluralidade étnica do País, o avanço na cons-
esta sociedade é que a acumulação ide bens nela é em cientização das populações negras e indígenas é visto como
grande parte comandada do exterior, em função dos in- a ampliação de nosso horizonte cultural.
teresses dos grupos que dirigem as transações internacio-
nais, Sendo assim, a coerência interna do sistema de cul- Sendo a cultura, naquilo que deve preocupar o Go-
tura está permanentemente submetida a consideráveis verno, o fruto dos esforços que realizam homens e mu-
pressões. Se, por exemplo, ou simplesmente pensar, mes- lheres, para melhorar sua qualidade de vida, é no coti-
mo que seja de forma disfuncional, sem nenhuma relação diano que deve ser observado, de preferência, o processo
com o ambiente ou com determinada cultura podem ser cultural. Os ambientes de trabalho, de estudo, os espaços
termas de comportamento levadas a extremos e aprecia- habitacionais e os lugares de culto e de lazer são consi-
Idas. derados como distintas faces de um todo na cultura. A
melhoria da qualidade de vida dá-se mais facilmente quan-
Novos padrões de urbanização podem conduzir à des- do se obtém avanços simultâneos em todos esses elementos.
truição de um patrimônio cultural secular. A visão tradicional da cultura, como simples enriqueci-
É natural, portanto, que o desenvolvimento material
mento do lazer, é profundamente antidemocrática, pois
dos países de economia dependente apresente um custo nada é mais desigualmente distribuído em nossa socieda-
cultural particularmente grande. Esse fato de que são eco- de do que o tempo de lazer.
nomias e que estão ligadas ao exterior, em grande parte, Dentro da mesma ótica, atenção particular é dada à
para receber, digamos assim, valores, faz com que esses melhoria da qualidade de vida de segmentos sociais mais
valores não tenham coerência, com o sistema próprio de vulneráveis, como são as crianças, os deficientes, os idosos,
cultura desses países. os enfermos e os presidiários. É dever do Estado prover
As descontinuidades entre o presente e o passado não os meios para que esses grupos sociais tenham mais fa-
são apenas frutos de rupturas criativas desses países, mas cilmente acesso aos bens e serviços culturais.
comumente refletem a prevalência da lógica da acumula- Também cabe ao Estado apoiar, seletivamente, as dís-
ção sobre a coerência do sistema de cultura. Esta a razão tintas formas de produção cultural, sem interferir na cria-
pela qual a política cultural é particularmente necessá- tividade artística. Na ausência desse apoio do Estado mui-
ria nas sociedades em que o fluxo de bens culturais possue tas das iniciativas surgidas no mundo das artes cênicas,
grande autonomia com respeito ao próprio sistema de cul- plásticas, musicais e literárias estarão condenadas a frus-
tur-a, cuja coerência é, permanentemente, submetida à trar-se, ou a permanecerem circunscritas a reduzidos es-
prova, daí a importância entre nós do conceito de identi- paços sociais. Por outro lado, a grande indústria da cul-
dade cultural que enfeixa a idéia de manter com o nosso tura adquire peso crescente, com reflexos nem sempre po-
passado, uma relação enriquecedora do presente, sitivos no processo de produção e difusão cultural. A co-
214 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

munidade de criadores culturais deve encontrar no Estado Encontra-se, também, no recinto, o Secretário Nacio-
o suporte que lhe permita debater esses probíemas a fim nal do Conselho Nacional dos Seringueiros, que, depois de
de contribuir para a preservação de identidade cultural uma luta muito grande de deslocamento a pé, de grandes
do País. distâncias, viagens de barco e de avião, aqui veio com o
Não menos significativa é a contribuição que pode intuito de, também, apresentar a cultura daquela gente
dar o Estado para a difusão de bens e serviços culturais, à Comissão de Educação, Cultura e Esportes.
apelando para os avanços da tecnologia de comunicações, O Presidente Hermes Zaneti na sexta-feira submeteu
sem descurar aquelas formas tradicionais de difusão que à Comissão a condição de ouvi-lo na manhã de hoje e nós
continuam a ser válidas, hoje. Atenção particular merece incluiremos a participação do Sr. Osmarino Amâncio Ro-
o livro, a obra de arte ou instrumento de difusão de idéias, drigues que, também, terá um tempo à sua disposição
nacional ou traduzido de outros idiomas. para fazer a exposição ao Sr. Ministro.
O intercâmbio externo é considerado como uma forma O primeiro Constituinte inscrito para fazer as suas
a mais de enriquecimento de nossa cultura e como instru- apreciações é Sólon Borges dos Reis, que tem a palavra.
mento de afirmação de nossa presença no cenário inter- O SR. CONSTITUINTE SÓLON BORGES DOS REIS
nacional. - Sr. Ministro que nos honra com sua presença - uma
A orientação básica está sendo no Ministério a busca honra dupla porque se trata de um Ministro da Cultu-
de descentralização, cometendo tarefas a órgãos estaduais ra e porque se trata de V. Ex. a - esposa a tese da pro-
e municipais e a instituições privadas que atuam no campo blemática cultural, permito-me colocar três pontos para
da cultura. Nesse espírito de descentralização e de estímulo reflexão:
a iniciativas nascidas na própria sociedade, o Governo en-
viou ao Congresso um projeto já transformado em Lei 1.0) Se no Ministério da Cultura já houve tempo ou
n,o 7.505, conhecida como Lei Sarney, que cria incentivos condições para uma avaliação dos primeiros efeitos da
à aplicação de recursos financeiros nos distintos campos Lei Sarney, a n.o 7.505.
da atividade cultural, tanto sob a forma de doações e de 2.°) Se o problema editorial tão ostensivo no Brasil
patrocínio como sob a forma de investimentos. Essas ino- - a produção do livro, a edição e a distribuição e o acesso
vações nas relações entre a sociedade civil, os agentes cul- ao livro - ocupa uma preocupação singular e se há me-
turais e o Estado, no campo da cultura, está contribuindo didas do Ministério da Cultura nessa área.
para aprofundar o pluralismo social, em benefício do re-
gime democrático. 3.°) Como o Ministro encara a reivindicação de priori-
dade da Educação básica da escola de 1.0 grau dentro
Cria-se, assim, um vinculo entre a comunidade e os da prioridade nacional da Educação, tendo em vista a
agentes culturais locais. Evita-se a tutela de autoridades função de transmissora da herança cultural que a escola
distantes, e os custos administrativos, inevitáveis, se os re- tem e também a sua runcão de democratizar o acesso a
cursos tivessem que ser arrecadados pelo Governo Federal serviços e bens culturais? "Porque há uma polêmica entre
e aplicados com a intermediação da pesada máquina buro- destinar maiores recursos para a escola superior - 3 °
crática. Estimula-se a iniciativa e reduzem-se os custos ope- grau, a universidade - e acudir a massa brasileira dos
racionais. sete aos quatorze anos, em grande parte analfabeta e hoje
Por outro lado reforça-se a posição das instituições reduzida a uma escola básica, que não corresponde, não
da sociedade civil que se dedicam precipuamente às ativi- só em quantidade como em qualidade, seja qual for o
dades culturais. As empresas que patrocinam atos cultu- conceito de qualidade que se apanha.
rais com vistas a melhorar a sua própria imagem junto O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Tem a pa-
à cidadania terão que fazê-lo com a mediação de insti- lavra para fazer as apreciações o Sr. Ministro.
tuições cult{rrais, se pretendem beneficiar-se da Lei Sarney.
O SR. CELSO FURTADO - Sr. Constituinte Sólon
Trata-se, portanto, menos de um mecenato do estilo Borges dos Reis, infelizmente, não dispomos ainda de
antigo do que de uma aplicação de fundos públicos com dados precisos sobre a aplicação da Lei Sarney, pelo fato
a inte~veniência de entidades culturais surgidas da socie- de que o Ministério da Fazenda ainda não teve tempo de
dade civil. apurar as declarações de Imposto de Renda, estamos es-
Em síntese, buscamos a descentralização, a redução perando esses dados a qualquer momento, mas de forma
dos custos administrativos, a consolidação das entidades indireta podemos já ter uma idéia: temos no Ministério,
culturais e a aproximação entre os agentes culturais e a registrados, várias centenas de projetos que se benefi-
comunidade em que eles estão inseridos. ciaram da Lei Sarney e alguns de muita importância,
tanto no que diz respeito a financiamento, como é o caso
Mais importante ainda é o efeito catalizador dessa da indústria cinematográfica, como no caso de patrocínio,
política, que estimula a iniciativa e viabiliza milhares de como grandes atos que se tornaram possíveis no Brasil
projetos que, sem ela, morreriam no nascedouro. Portanto, como a vinda da Orquestra Filarmônica Mundial que veio
essa política vem reforçar a corrente dominante em nosso ao Brasil graças à Lei Sarney, para iniciar as comemo-
presente quadro histórico, dirigida para a abertura de es- rações do centenário de Villa-Lobos e no caso de doações,
paço à ação individual e para o fortalecimento da socie- todos os dias ocorrem algumas doações importantes e que
dade civil em suas relações com o Estado. chegam ao conhecimento do Ministério, como aconteceu
recentemente: uma firma do Rio Grande do Sul que,
Eram essas as observações iniciais que queria fazer através de instituição cultural do Rio Grande do Sul,
sobre o espírito e a filosofia da política cultural que vem doou esculturas de Steckinghen escultor brasileiro a cinco
sendo seguida pelo Ministério da Cultura. (Palmas.) grandes museus brasileiros. Agora mesmo, no dia 25, vamos
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Queremos inaugurar no Rio de Janeiro, no Paço, uma exposição sobre
registrar o prazer que tem esta Subcomissão de contar, o Brasil Holandês e creio que será a primeira vez que se
nesta reunião, com a presença do Senador Constituinte terá uma visão conjunta, abrangente, da civilização ho-
Marcondes Gadelha que é Presidente da Comissão Temá- landesa-brasileíra, com coisas que vieram da Holanda e do
tica à qual pertencemos, e do mesmo modo o seu Relator patrimônio nacional, desde os grandes pintores até re-
na Comissão Constituinte Artur da Távola que também construção arquitetônica, etc. Tudo foi, na verdade, segu-
nos dá a ho~ra de estar presente a esta reunião. ro, tudo pago dentro da Lei Sarney, que está realmente
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 215

viabilizando esse Ministério que tem um pequeno orça- perfil cultural do brasileiro, em termos de preferência, de
mento, o menor da República, de longe não é? Ampliar gosto, se há alguma pesquisa no ministério para essa iden-
sua área de ação. tificação, do perfil cultural do brasileiro. Gostaria de ter
Mas como disse não temos ainda uma idéia precisa, mais informações a esse respeito.
quantit~tiva de tud~ isso. Com respetío ao I!roblema edi- A minha outra questão diz respeito ao problema de
torial Sr. Constituinte, ele nos preocupa muito, pelo fato, recursos. Os órgãos e entidades 'Culturais, a nivel estadual,
primeIramente, de que a indústria. e~itorial brasileira que estiveram nesta Subcomissão, colocaram como reivin-
cresceu enormemente. O Brasil de hoje e um dos grandes dicação a vinculação no orçamento da União, de 1% para
produtores de livros do mundo. atividades culturais. Na área nossa específica de educa-
O ano passado tivemos uma produção editorial de ção, que já está contemplada com 13%, h~ uma postula-
360 milhões de exemplares. li: uma coisa importante. Por ção de 18% exclusivamente para a educação. Eu gostaría
outro lado o Brasil está sendo hoje em dia orientado, de saber do Ministro se essa postura das entidades esta-
em grand~ parte, na sua produção editori~l por centros duais é também respaldada pelo ministério. Além disso,
de decisão, por grandes organizações que nao sao apenas se o ministério, afora a Lei Sarney, tem alguma outra ini-
brasileiras. A produção editorial brasileira se pode. ver ciativa no sentido de captação de maiores recursos dire-
perfeitamente está em grande parte, hoje em día, orien- cionados ao patrocínio 'Cultural, e se de modo geral, como é
tada para o best seller, para a produção internacional. que 'vê o íntríneamento Educação e Cultura em termos de
Esse é um problema de identidade cultural que n?s favorecimento à cultura e à sua difusão maior a todos os
preocupa muito. Final!-I1ente, o fato de que, sem Ul~a açao recantos do Brasil.
do Governo, um apoio do Governo, nao haverá nem O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pala-
difusão do livro - difusão adequada - por exemplo as vra o Sr. Ministro Celso Furtado.
4 mil e tantas bibliotecas que temos conveniadas ao Mi-
nistério jamais receberão tívros s~ não for por Ul;na ação O SR. CELSO FURTADO - O problema do perfil cul-
do GovernQ - e diga-se entre parenteses que a LeI Sarney tural ou da identidade cultural do povo brasileiro, eviden-
está facilitando isso - e nem publicações de toda orde:n, temente é uma coisa muito elusíva. São essas 'coisas que
de interesse cultural viriam à tona se não fosse também nós sabemos, temos intuição do que é, mas não podemos
por um apoio do INL (Instituto Naci?nal do Livro) .que equacionar, ou definir, porque definir, na realidade, é
pertence ao Ministério. Estamos muito atentos a ISSO, analisar, é traduzir em coisas mais simples, e nada mal
mas também preocupados, para que se faça em harmo- simples do que a identidade, ela vem antes de tudo o mais.
nia com o mundo editorial que hoje em dia é um segmen- Ela está em cada parte e ao mesmo tempo está no todo.
to importante da indústria cultural no Brasil. Por últim?, Portanto, o Ministério não se atreveria, ele mesmo, como
diria uma palavra sobre a prioridade da educação básí- organização, como uma instituição públíca, a estabelecer
ca, Concordo com o Sr. Constituinte de que é :na: educação um perfil. O que fazemos é buscar na sociedade aqueles
básica que se socializa, se faz o homem brasíleíro e se !1
educação básica em grande parte os problemas do Brasil valores que, sendo inalienáveis na sociedade, são parte
decorrem de que nunca se cumpriu o mandato constit~­ desse patrimônio cultural e contribuem para formar esse
cional Que nos vem de muito tempo, de que a educação perfil. O que nós temos em conta, o que nos parece ponto
básica é um direito do cidadão e um dever do Estado. completamente fora de controvérsia, é que o Brasil, dentro
Portanto, não há justificativa para se deixar_ de lado. a da sua identidade cultural, comporta importante plura-
educação básica. Evidentemente que a educação superior lismo cultural. Hoje em dia o Brasil está numa fase de
é fundamental a média é fundamental, todas o sao, mas afirmação do seu pluralismo 'cultural. Por exemplo, as
o que vem primeiro é a educação básica, porque sem ela etnias do Sul do Brasil, que durante muito tempo tiveram
não se forma uma cidadania, sequer governa, e par- mais ou menos suprimidas, consideradas como à parte,
ticularmente, no que diz respeito à herança cultural, por- sua própria herança cultural, hoje em dia se orgulham
que na educação bá,sica é inclu~ive que se .reproduz todo dessa herança cultural, e se afirmam com sua identidade es-
o sistema de prejuízos culturaís que domínam ainda a pecífica. Por outro lado, os negros, que durante muito tem-
nossa vida cultural. li: na educação básica que, por exem- po se pensava apenas num processo de assimilação, que eles
plo, que se exclui a visão do papel posítívo dos af;i~anos eram parte de um todo, evidentemente que eles também
na formacão da cultura brasileira: ai, pelo contrárío, se têm uma identidade própria e aí por diante.
mostra que o africano é simplesmente alguém que chegou
para pegar na enxada e, digamos assim, para criar atraso Então, nós estaremos hoje numa fase, aqui está o
ao Brasil. Esse papel de socializar o homem no sentido Professor Florestan Fernandes, que entende mais disso do
de abri-lo para a vida democrática, para a fraternidade, que eu, porque ele é Sociólogo, e eu sou um simples Eco-
para, finalmente, o próprio enriquecimento e _aces~o. a nomista, é que existe liberdade nessa identidade indubitá-
nossa cultura, isso creio que somente a educação básica vel do Brasil, da sua cultura, que vem do fato de que o
pode dar. Por ísso, o Ministério da Cultura, trabalhando Brasil se formou, durante três séculos, dentro de um pro-
juntamente com o Ministério da Educação, está preocupa- cesso cultural bastante isolado, o Brasil não se fez exposto,
do numa revisão de livros de texto da educação básica e primeiramente porque era um País isolado, não teve renas-
tudo que diz respeito à mensagem cultural que está implí- cimento, não teve reforma, é um País culturalmente iso-
cita em todos esses livros. Muito obrigado. lado. E se implantou no Brasil a colônia mais isolada de
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - O próximo todas, porque no Brasil não tinha escola superior, não
Constituinte inscrito é o Senador Louremberg Nunes Ro- penetravam livros, não havia casas editoras, não havia
cha que tem a palavra. gráficas, nada. Era um País altamente isolado. Esse iso-
lamento do Brasil fez com que a identidade do brasileiro
O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO- fosse muito marcada. Se houvesse, digamos assim, esse
CHA - Sr. Ministro, Srs. Membros da Mesa, demais núcleo inicial, essa matriz inicial da 'cultura brasileira é
Constituintes, apenas duas breves questões, e uma delas hoje perfeitamente identificável, e todo o pluralismo atual
não é questão. O Sr. Ministro falou muito sobre o problema se faz a partir dela, o que faz com que o Brasil sendo um
da identidade cultural. Gostaria de saber - e que ele País completamente novo, porque o País não vem de um
falasse alguma coisa mais sobre isso - e para a comissão processo de conquista e sim de ocupação, porque as civili-
também saber se já se tem mais ou menos delineado um zações que aqui estavam anteriormente ou foram dísper-
216 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

sas ou foram rejeitadas ou expulsas, ou destruídas, e o xímos do Ministério do Desenvolvimento Urbano, do Mi-
que se criou aqui foi um processo cultural novo, a partir nistério da Educação e de outras instituições do Governo.
dos portugueses, da matriz portuguesa, dos recursos afri- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - O próximo
canos, que se aproveitou e tudo o mais. Essa cultura nossa Constituinte inscrito é o Deputado Florestan Fernandes.
é perfeitamente identificável. E hoje em dia, digamos as- V. Ex.a tem a palavra.
sim, dentro do mundo moderno, o Brasil é um País com a
sua própria entidade cultural, o que não impede, e talvez O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
por isso mesmo que ele é tão aberto a contribuições cultu- É uma honra para nós termos aqui Celso Furtado, sem dú-
rais outras, e particularmente a pluralidade cultural que vida o nosso maior economista e uma das expressões mais
vem do processo de enriquecimento étnico do século XIX, altas do pensamento brasileiro. Sou seu amigo e a vida
que é muito recente, evidentemente. Mas isso é um pro- nos jogou em pontos opostos em termos de posições polí-
blema para as universidades, :para os estudiosos, e nós ticas, mas sempre tive por ele um grande respeito intelec-
apenas recolhemos essa informação para nos orientar no tual e a mesma amizade de sempre.
nosso trabalho. Uma conversa que tivemos ali, na anteporta, me leva
Os recursos, Sr. Constituinte, o Ministério da Cultura a fazer uma pergunta provocativa, e que tem me preo-
é tão pequeno, que no orçamento atual ele tem 0,25% dos cupado muito. A natureza da Constituição que nós deve-
gastos previstos no Orçamento da República. 1/4 de 1%. mos elaborar neste instante histórico, tendo em vista as
Portanto, quando se diz 1% seria um avanço enorme. Ago- condições reais do País e a luta que o Brasil deve travar
ra, os Estados estão reduzindo a sua participação. Em para se tornar uma Nação independente. O que nós deve-
quase todos os orçamentos estaduais, observou-se esse ano mos construir aqui, uma Constituição sintética ou uma
uma redução da participação nos gastos em cultura nos Constituição analítica? Os conservadores estão se batendo
°
orçamentos estaduais. Isso porque foi criado Ministério por uma Constituição sintética, é uma maneira de ganhar
a batalha sem travar o combate. E por isso nós devemos
da Cultura, e eles passaram a imaginar: não, isso o Gover-
no Federal que cuide! ou então porque tem a Lei Sarney, insistir nesse ponto, ele é fundamental. Esta é a primeira
etc. Isso seria um erro total, porque a Lei Sarney é para oportunidade histórica que o Brasil tem de construir uma
a sociedade, não é para o Estado, e o Governo Federal tem Constituição em condições nas quais todas as nações que
uma pequena 'Contribuição a dar, não podem os Estados coexistem no Brasil estão interagindo entre si, todas as
portanto, recuar da sua própria contribuição. ' classes estão Interagindo, e o Parlamento está responden-
do as pressões externas e internacionalizando essas pres-
Eu não sou, por outras razões, muito adepto de uma sões. Por isso dou muita importância à resposta que o
discriminação constitucional em matéria de alocação de Ministro Celso Furtado der a esta questão.
recursos. Uma norma constitucional é demasiado rígida
e definitiva, e deve ser de verdade cumprida. Pô-la para A segunda é algo que tem um caráter pragmático.
não cumprir, isso não. Um homem do seu valor, do seu porte, passou no Minis-
tério da Oultura, é um Ministério enjeitado, pobre, mas
Agora, em todos os governos modernos se atribuem deu um salto qualitativo enorme. Pela primeira vez nós
metas nesse terreno. O governo da França, por exemplo, temos a sensação de que existe um Ministério da Cultura.
atribuiu essa meta de 1%, que foi não chegou a ser con- A sua experiência, por pobre que seja, é uma experiência
quistada até hoje mas eles foram se aproximando dessa importante, crucial. Eu gostaria de saber o que essa expe-
meta de 1%. Portanto, eu considero que tudo que se faça riência levaria Celso Furtado a nos indicar aqui, em termos
para aumentar a participação, que é sempre muito pou- de prioridades, de medidas constitucionais na área da cul-
quinho por cento, e tem muito valor para a vida das pessoas tura. A sua visão é uma visão cosmopolita, internacional e
no campo da cultura, eu creio que é benéfico, se bem que cíentítíea, Portanto, eu dou muito valor a essa experiência
não me atreveria a sancionar uma norma rígida, consti- e a essas recomendações. Quer dizer, se nós invertêsse-
tucional sobre isso. mos o papel, e o Celso Furtado fosse Constituinte, com a
Quanto à captação de recursos, também, Sr. Cons- experiência que tem, pela passagem por esse Ministério,
tituinte, estamos empenhados em criar novas fontes, des- quais seriam as prioridades que daria, na Constituição,
cobrir novas fontes. Há tarefas, no campo da cultura, que nessa parte relativa à Cultura?
exigem recursos consideráveis. Por exemplo, a preserva- Agora, nós temos aqui, naturalmente de travar um
ção dos centros históricos. O Centro Histórico de Salva- debate mais amplo, que diz respeito ao nosso próprio ho-
dor, o Centro Histórico de São Luís, as cidades históricas rizonte intelectual. O que caracterizou o trabalho de Celso
de Minas Gerais, as Missões, e por aí adiante, são obras Furtado desde o início e também o impulso da nossa ge-
que envolvem muitos recursos, e não recebem com o pe- ração, foi a identidade com a reforma estrutural. Nós
queno orçamento do Ministério. Estamos discutindo esse rompemos com o Brasil que parece ser, para criar um
assunto e estamos vendo se conseguimos apoio de órgãos Brasil diferente. Não ganhamos nem as batalhas nem a
internacionais, dos quais o Brasil participa, e que têm guerra, mas estamos aqui lutando, dando o exemplo de
dinheiro em cruzados no Brasil. que não se deve baixar as armas. Se Celso Furtado pudesse
refletir independentemente das contingências e das limi-
Portanto não se trata de um problema de endivida-
mento para o Brasil. É verdade que instituições como o
BID têm depositado aqui no Brasil, em cruzados, dinheiro
tações do Governo Sarney, que tem peculiaridades que
estreitam o quadro não só da ação governamental, mas da
importância do próprio Ministério da Cultura, o que seria
que não utilizam, recursos consideráveis. Chegou a ter prioritário, em sua visão, em uma política cultural para
100 mílhôes de dólares. Então, seria perfeitamente natu- o Brasil? Quer dizer, aí o que se poderia recomendar se as
ral que esses recursos fossem encaminhados também para condições concretas fossem mais benéfícas, ou se a nossa
o setor cultural. Assim como podemos recolher, absorver possibilidade de atingir fins mais amplos estivessem aber-
recursos do FAS, da Caixa Econômica, do Finsocial e de tas.
outras áreas para, conjuntamente com o Ministério da
Educação e outros Ministérios evidentemente, levar adian- Em quarto lugar, há uma problemática que foi tocada
te projetos muito mais ambiciosos, como são esses de re- na exposição. A Cultura no Brasil sempre foi matéria de
construção e preservação dos grandes centros históricos elite. Seria írrísórío, mesmo no tím da década de 50 e no
nacionais. Nesses trabalhos todos nós estamos bem pró- início da década de 60, falar em cultura em termos de
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 217

massas. E quando se colocava o problema das massas, se O problema que se coloca para mim é de como conciliar
colocava exatamente o problema das massas como esma- a abrangência com a síntese, e não, digamos assim, ima-
gando o processo cultural qualitativo. Sendo que hoje o ginar uma síntese excludente de muita coisa que está nas
problema da cultura é o problema da plebe, é o problema expectativas do povo brasileiro neste momento.
dos oprimidos. Como liberar os oprimidos? Como criar
condições de auto-emancipação coletiva dos trabalhadores? A minha experiência na área cultural foi muito enrí-
Como gerar uma cultura cívica crítica, uma educação li- quecedora, ela permitiu-me, de alguma maneira, comple-
bertária? Essas são exigências que se inscrevem em tar minha visão do Brasil. Todos os anos que dediquei
nossas ações atuais. Nós pusemos de lado o iluminismo, as a estudar o Brasil, todos os livros que escolhi sobre o
utopias pedagógicas, e, ao mesmo tempo, os preconceitos Brasil, todo esse esforço se realizou dentro de canais
elitistas. Então, eu proponho aqui que as classes oprimi- que estavam pré-estabelecidos pelos métodos com quem
das acabam aparecendo como agentes históricos, são agen- eu trabalhava, pelo campus, e pelo tipo de disciplina em
tes históricos da Cultura e da Educação, e no momento que me enquadrava. O campo da cultura, sendo essencial-
mente o campo dos fins na vida e não dos meios, como
em que a comunicação cultural de massa desaba sobre é o nosso campo específico na Economia, me obrigou a
toda a sociedade, como o verdadeiro ópio da consciência uma reflexão muito maior sobre o Brasil.
crítica. Eu não diria o ópio do povo, para não estabelecer
associações indevidas. Deste ponto de vista, eu considero um privilégio de ter
Então, fica esse problema para nós, o que fazer nessa tido a oportunidade de ocupar este pequeno Ministério,
esfera para evitar a importação de lixo cultural, de pacotes porque considero que é desse ângulo da visão do Brasil
culturais, para elevar a produção qualitativa e criativa como a partir dos fins de sua cultura, da vida dos brasi-
interna, e, ao mesmo tempo, fazer com que esse processo leiros, daquilo que une os brasileiros, daquilo que é a
venha de baixo para cima, como um processo que tem identidade dos brasileiros, daquilo que é importante para
raízes no ecossistema, nas estruturas sociais da sociedade o Brasil que temos que pensar no futuro, inclusive numa
brasileira, enfim, nas transformações que a sociedade civil Constituição. Porque sua preocupação com a defesa da
está sofrendo e que nem todos estão avaliando devidamente. identidade, por exemplo, como podem essas defesas de
identidade se realizar, se não temos um conhecimento muito
São essas as questões que eu tinha a apresentar. Obri- maior, e mesmo um consenso muito maior sobre o que
gado. é relevante para a vida dos brasileiros. Nós somos vítimas
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pa- de duas formas de atraso: o atraso de haver participado
lavra o Ministro Celso Furtado. do desenvolvimento do capitalismo tardiamente e, portan-
to, aceitando uma situação de dependência que prevalece
O SR. CELSO FURTADO - O Professor e Constituinte até hoje, e o outro atraso, de sermos uma sociedade ex-
Florestan Fernandes exige de mim mais do que uma res- tremamente aberta às influências externas. É verdade que
posta, mas um tratado sobre a cultura brasileira no mo- se tivemos três séculos de isolamento que permitiu, de
mento atual, e com uma nota de pé de página e tudo isso, alguma maneira, bem ou mal formar a matriz cultural
uma reflexão sobre uma Constituição que o Brasil final- brasileira, nós fomos, no século XIX, o país mais vulne-
mente se dá com a participação do seu povo. Vou dizer rável ao exterior. Eu não conheço um país onde a influ-
algumas poucas coisas, e peço desde já perdão por não ência européia tenha sido tão brutal como no Brasil, em
ter o necessário poder de síntese para, no tempo que me que passava-se toda a vida cultural dependendo do que se
convém, abordar todos esses temas. dizia fora. O que eu chamei uma vez de "bovarismo", do-
Sobre a natureza da Constituição, diria que este é o minou completamente a vida brasileira.
problema maior. Evidente que nas Constituições mode~na~ O nosso século XIX foi um século em que o Brasil
tenderam a ser mais analíticas. A ilusão de uma oonstãtuí- descobre o estrangeiro, porque ele vivia isolado antes, e
ção sintética, à maneira americana, resulta de não entender se fascina com Paris e com o mundo europeu, seus valo-
o que é a Constituição nos Estados Unidos, que na ve!<!.a- res etc. e passa excessivamente exposto ao exterior. Esse
de está sendo feita permanentemente dentro da tradição excesso de exposição, que l-evou a esse elitismo estéril, a
do Direito americano e pela própria Justiça, pela Suprema isso de subordinar seus cânones externos dominou todo
Corte dos Estados Unidos. É como se o país vivesse em nosso mundo, até a grande Revolta de 22, que foi querer
processo permanent~ ~e adapta9ãC? ,9-e s?a,qonstituição à vomitar isso, teve uma conseqüência que, devo assínalar,
sua realidade. É a umca oonstítuícão sintética, porque a me parece da maior importância, o povo ignorado não
mais sintética de todas, que é a inglesa, não existe, não foi violentado nem violado, esse povo ignorado pelas elites',
está escrita. Aí, sim, se vai ao extremo no poder perma- que diziam que o povo era o atraso, ou o povo não existia
nente de modificação da ordem constitucional dentro das na famosa frase de Gobineaw, dizendo ao Imperador que
tradições, porque são países que dão tremenda ímportãn- o "Brasil é um país que não tinha povo". A ígno-
cia à Common Law e aos costumes. rância total do povo ou então o desprezo pelo povo que
No nosso caso, o que se pode discutir é se a Consti- era o atraso, desde o negro que tinha de embranquecer
tuição pode ser programática ou não, se ela deve de ver- até o povo que teria que se parecer com as elites. Esse
dade' estatuir coisas que são perfeitamente aplicadas de desprezo pelo povo permitiu que se preservasse muitos
imediato, ou coisas que são um programa, que está ímplí- valores populares no Brasil, porque a cultura popular no
éito numa série de normas. Tenho a impressão de que o Brasil até hoje é de uma enorme riqueza, as raízes de
debate que se realiza atualmente nesta Casa está indi- nossa cultura são consideráveis e estão vivas. Pude há
cando a necessidade de cobrir uma superfície muito gran- pouco organizar em Paris, o que vamos fazer também na
de com esta Constituição. Seria uma decepção muito grande União Soviética, paea a China, para vários países do mun-
para o povo brasileiro se não se fizesse nenhuma referên- do uma grande exposição sobre Arte Popular Brasileira
cia, por exemplo, ao problema dos negros no Brasil; seria e a admiração de todos é considerável: como é possível
uma decepção para outros segmentos importantes se não esse País ter toda essa força cultural, vinda do povo!
se tocasse na questão dos deficientes, e por aí adiante. Podemos dizer que o reverso, a contrapartida do elitismo
Portanto, o desafio que se coloca é exatamente esse, de brasileiro foi a preservação de um sistema de cultura de
como numa linguagem constitucional, que tem que ser raízes populares que perseverou e, de alguma maneira,
uma linguagem elevada ao nível de abstração, onde a for- se impôs em muitas coisas e passou depois a dominar.
ma é tão importante, alcançar uma grande abrangência. Porque mesmo os grandes valores das elites brasileiras,
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como o futebol, o carnaval, roraan tomados e assimilados cíonáría, Estávamos todos buscando a mesma coisa, que
por este povo, transrormados em coisa de sua cultura pró- era construir um outro país, a partir dele mesmo, isso é
pria. Por este lado que eu sou otimista com respeito ao que é estranho, a partir dos seus autênticos valores, dessas
nosso processo cultural e a força, a capacidade de defesa massas de oprimidos, dessa cultura latente, dessa força
de nossa cultura. Eu diria que numa Constituição, na área criativa, desse povo brasileiro que nós acreditávamos, se
da cultura, nada deve ser mais importante do que su- não acreditava no povo acreditava no Brasil.
bordinar toda a idéia de desenvolvimento à idéia de pre-
servação de valores. Tomemos, por exemplo, as cidades Eu diria que nas condições mais favoráveis, que eu
brasileiras, que são na verdade gralnde parte do nosso creio que estão no pensamento do Constituinte Florestan
patrimônio cultural e que estão sendo destruídas ou fo- Fernandes, é que se houvessem liberado condições ótimas
para fazer uma Constituição e para fazer reformas e abrir
ram em grande parte destruídas. A idéia de desenvolvi- espaço para uma transformação mais rápida no Brasil.
mento como destruição algo schumpeteriano como eu
dizia, é que deve ser combatido de frente, somente su- Na realidade teremos que considerar isso de vários
bordinando os planos, a urbanização, a preservação do pa- ângulos infelizmente não há tempo para abordar o as-
trimônio cultural. sunto.
O desenvolvimento, a acumulação, a preservação de Mas, a primeira consideração que temos que fazer é
Va10r€1S, colocando a lógica dos fins dentro da lógica dos que nós vivemos num mundo que se contrai, que vai se
meios é que nós poderemos guardar essa identidade que reduzindo um mundo demasiado interdependente, a hu-
é a; única coisa que nós temos, nós somos pobres, somos manidade hoje em dia está num barco só.
fracos, somos dependentes, mas temos uma ídentídade. Há muitos processos históricos que estão por cima
Na Constituição eu diria, e nós sugerimos isso no de nós e do qual nós não podemos escapar, nenhum povo
documento que mandei, que a urbanização seja feita a moderno pode escapar.
partir de uma idéia de valores, e não simplesmente de A verdade é que a premência da tecnologia na nossa
uma idéia constitucional. De uma idéia como os urba- civilização, a revolução de Informática hoje em dia abre
nistas do século XIX imaginaram, que as cidades são outras brechas e conseqüências que nós sabemos.
apenas para servir, não as cidades são uma continuidade
da vida das pessoas, e por outro lado, tudo que diz respeito A permanente, hoje dia, interdependência de espaços
à preservação dos nossos patrimônios paisagísticos, que culturais que estamos sujeitos que criou a grande índüs-
é de uma imensa riqueza e que vão ser destruídos com- tría da cultura que faz com que nós estejamos lendo aqui
pletamente, de um certo progresso. Portanto, dentro da o best seIler que o alemão está lendo, o Japão está lendo
Constituição, se conseguirmos definir desenvolvimento, po- no mesmo ano.
mica social, tudo ÍElSo a partir da lógica de nossos valores, Tudo isso faz com que uma visão do Brasil de hoje
do sentido de nossa identidade, creio que essa Oonstituição não pode deixa~ ~e ser primeiramente uma visão que parta
seja uma Constituição detínítíva, sob esse ponto de vista da nossa condíção de mundo, membros de uma comuni-
ela valeria permanentemente. Se algum dia houver um dade internacional que é altamente interdependente, por-
Brasil, será o Brasil dos nossos valores, da nossa iden- tanto, o que nós temos que buscar primeiramente é espaço
tidade 'e não um Brasil da simples acumulação material, neste mundo internacional através de alianças com os
do desenvolvimento do tipo tradicional. países da América Latina, com os países do Terceiro Mun-
do com outros países, buscar formas de poder no plano
Isso me leva a considerar o problema das reformas internacional para preservar a nossa autonomia de deci-
estruturais e da cultura de elite, de liberação dos opri- são e nossa própria identidade.
midos, que o Constituinte Florestan Fernandes colocou.
Isso nos exigiria um esforço muito grande, eu sou de uma Isso aí a Constituição evidentemente tem que pensar
geração, assim como o Constituinte Florestan Fernandes e nisso, no Brasil como uma Nação do mundo moderno.
outras pessoas que aqui estão, que acreditou muito no
Brasil. Em segundo lugar, nós temos que de verdade romper
com a tradição elitista brasileira. Temos que romper e
As elites brasileiras não ficavam no Brasil, os nossos temos que abrir esses espaços novos, às forças criativas
autores, com a melhor das intenções na verdade se não de nosso povo, e finalmente ao nosso povo que é por-
se envergonhava do Brasil, pelo menos não considerava, ta~o~ de valores e que demonstrou já uma grande força
não acreditava no Brasil senão na vertente do ufanismo críatíva,
completo. Era a idéia que se dizia, como o Professor
Gudin, que o Brasil não tem cultura porque não tem Portanto, no Ministério da Cultura que eu entendo a
carvão, não tem recursos complementares, e outros que di- minha grande ambição, minha grande preocupação é con-
ziam simplesmente que era um país de mestiços, que será seguir que a população, essas forças todas, vamos dizer,
sempre uma cultura secundária, caudatária de outros. Os de ruptura, que são jovens, que são os movimentos femí-
grandes autores do Brasil, não vou citar nomes, mas me nistas, os movimentos dos negros, toda essa força de rup-
acostumei a ler os autores do Brasil. Nós, da nossa gera- tura hoje em dia, e que refletem a tensão que existe nos
ção, acreditamos na cultura do Brasil, influenciada pela controles sociais que sobre elas prevaleceram tanto tempo,
corrente de 22 e pela descoberta de outras formas de que essas forças encontrem possibilidade de ser de se
pensamento. manifestar, e de abrir espaço para que possa o processo
criativo abrir a sua superfície de ampliação.
Portanto, nós sempre estivemos ligados, ao acreditar
no Brasil, em pensar em termos de rupturas ou coisas Essa a nossa filosofia última e creio que se a Cons-
estabelecidas, cristalizadas do passado. Éramos uma gera- tituição também se voltar para isso para a valorização
ção que acreditávamos nos processos históricos, inclusive daquilo que é contestação, que é ruptura e que portanto
nas rupturas históricas. Grande parte de nós acreditava é o começo de algo novo, e a negação que dentro de uma
realmente que o processo revolucionário é uma das formas dialética é a coisa mais criativa que a negação se nos
como o homem constrói o homem. Tudo isso foi uma época voltarmos para isso, creio que seria 'uma Constituição al-
em que vivemos, essa idéia de ruptura, de reforma estru- tamente. moderna e estaríamos dando exemplo a muitos
tural, muitos como eu, insistiam na reforma gradual ou povos, essas classes oprimidas que são agentes ntstõrteos,
estrutural "que fosse; existir uma ruptura maior revolu- como dizia Florestan Fernandes, e que tiveram um papei
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 219

importante, mas, quase sempre oculto, escondido dentro E, ela misteriosamente possui duas faces, o nosso
da nossa vida. mestre Florestan Fernandes fica com uma das suas faces
Por último, eu diria que é um grande orgulho para a que chamou de lixo e que sem dúvida existe e, sem
mim pertencer a uma geração que trouxe o Brasil a este dúvida, corresponde a visão que dela tem os apocalítíeos
processo Constituinte. da cultura de Marx.
Vivi bastante para dizer que não imaginava ter essa Mas, ela possui também uma outra race de desen-
satisfação tão completa, é ver toda a sociedade se reunir volvimento, de contestação, de avanço, a própria cultura
aqui, expor seus pontos de vista, esses milhares de papéis oriunda da tecnologia do disco que é onde o processo
que aqui chegam e que a primeira vista parece uma inun- econômíco se assenta com a maior clareza em empresas
dação, mas, na verdade é a expressão de um profundo multinacionais subordinadas a esquemas muito amplos, a
desejo de participação. própria cultura do disco tem sido portadora de vozes con-
testarias.
Creio que em nenhum lugar do mundo houve uma
Constituição feita com tanta participação como se está E, essa cultura de massa proveniente da cultura do
fazendo hoje no Brasil e a forma como foi organizado o disco já criou no Brasil figuras como Chico Buarque,
trabalho, com essa pluralidade de grupos trabalhando e Caetano Veloso, como Gilberto Gil e fora daí como John
com tanta abertura a todos, isso creio que foi de verdade Lenon e há toda uma integração oriunda misteriosamen-
um fato histórico que vai marcar a nossa vida. te de uma contradição que mora no seio dos sistemas
produtores ou de que eles precisam de uma conexão
E, portanto, eu diria que, neste momento a responsa- emotiva hepática, racional com o mercado. Portanto,
bilidade dos Constituintes é imensa, porque as expectati- nesse momento eles são obrigados a uma forma de acei-
vas são enormes, mas, já estamos no caminho de dar uma tação das correntes culturais ascendentes no mercado.
resposta a ansiedade mais profunda do povo brasileiro que Por outro lado, é verdade, essas formas culturais todas
é criar o seu quadro constitucional, tendo em conta as funcionam como aparelhos ideológicos.
aspirações do seu povo.
- No Brasil, elas não funcionam como aparelhos ideo-
Eu diria que o trabalho dessa Comissão e de todas lógicos do Estado, elas seriam, na visão Althusser apa-
as comissões que aqui estão vão ficar como um marco relhos ideológicos de Estado, porque tratam de garantir
no livro da nossa história. as disseminações das condições ideológicas do sistema
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pa- econômíco dominante.
lavra o Constituinte Artur da Távola. Mas vamos ter que nos defrontar com esse problema
O SR. CONSTITUINTE ARTUR DA TÁVOLA - Sr. ao mesmo tempo, noto que aqui na fala de V. Ex.a não
Ministro em primeiro lugar, gostaria de oumprímentá-lo houve qualquer alusão a esses meios, até porque V. Ex.a,
pela magnífica exposição que estão fazendo e não o cum- como o Professor Florestan Fernandes, pertencem à cul-
primento formalmente, mas, quero cumprimentá-lo essen- tura do moderno - são luminares dessa cultura - e esses
cialmente. meios pertencem à cultura do pós-moderno, cultura de
São raros os Economistas, como disse V. Ex.a que tem a mosaico, fragmentária, sem os estabelecimentos de bases
oportunidade de viver a possibilidade da imersão no muno racionais profundas, que são as da formação de V. Ex.as •
do dos valores e o fato de que um Economista de seu Inusitada, casual, uma cultura que desborda completa-
porte a essa altura da vida proclame que a ciência dos mente os padrões dentro dos quais, até então, se pensou.
valores passa a ser fundamental na orientação das ciências É, portanto, para nós, uma questão crucial a ílumí-
dos meios, realmente é um tema de profunda importância n~ção desse tema por uma inteligência como a de V. Ex.a .
merecedor da mais alta reflexão. Nao vamos ter que legislar sobre a matéria.
O mundo vive uma ditadura articulada do economí- . A batalh~ de meios como rádio e televisão foi per-
cismo da sociedade industrial e da tecnologia. dída no Brasil por todas as instituições fora do capital.
Essas formas ditatoriais se estabelecem nas socieda- 0_ Estado .perdeu essa batalha, o Ministério da Cultura
des socialistas tanto quanto nas capitalistas e, justamente, nao pOSSUl sequer uma emis~o!a de rádio e tampouco um
a descoberta da qualidade de vida que foi o começo da espaço de horárío na televisão. A sociedade organizada
palestra de V. s.a passa a ser um tema que renasce, re- nao tem nenhuma forma de chegar a esse meio. Nada
compondo o mosaico de colocações filosóficas fundamen- contra que esse meio contenha os estímulos as energias
tais ao ser humano. da iniciativa privada, até porque na arte d~ espetáculo,
e a arte do espetáculo faz parte do conjunto de mani-
. Observei, porém, na fala do Ministro, bem como na festações culturais no povo, o acicate do eapítal sempre
interpelação de alguns companheiros uma curiosa obses- tem sido enriquecedor.
são a de que a cultura ou se estabelece ao nível das elites
ou se estabelece intocada, pulcra, genuína ao nível do povo. , Porém, um país não pode conviver com uma cultura
de massas exc~usivamente em nome do capital, como
E, também, em toda a fala de V. Ex. a é tratado como oc?rre no Brasll. Nota-se que no Brasil as vanguardas
cultura permanentemente o que provém dessas duas ma- sejam as vanguardas políticas e as vanguardas de pen~
nifestações ou o que provenha da arte, seja popular, seja sarnento, desconsideram essa cultura porque elas estão
a, chamada arte erudita. . eJ..:l' mãos do capital. Os pensadores afastam-se da refle-
, E, justamente um dos pontos da nossa inquietação xao so?re ela, e é. el~ que hoje permeía a relação interna
nessa Casa, que foi tocado de passagem pelo Constituinte da socíedade brasíleíra consigo mesmo. Não se nota; nas
e nosso mestre Florestan Fernandes é exatamente o esta- elites, uma preocupação e uma vontade de ocupar esses
belecimento de parâmetros ou de marcos para o desen- espaços. Por outro lado, os setores populares não têm
volvimento de uma forma cultural que se estabelece entre a~ess? à ocupação desses espaços, por que esses espaços
essas duas, a chamada cultura de massa. sao vínculados, estreitamente a uma relação mercadológí-
ca. Portanto, ~u pediria a V. Ex.a , já que não pude ver na
, Essa 'forma cultural, está em grande expansão em fala e como nao observo, nunca vejo nas autoridades cultu-
nosso Pais ela é filha direta da'industrialização e da tec- rais do Brasil uma preocupação efetiva com esses setor ele
nologia,' ela é possuída, no sentido do estupro mesmo, pelo é tido como lixo exatamente, e não como um segmento'me-
economícísmo e invade toda a sociedade. . recedor de completa preocupação, eu gostaria de receber
220 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLIÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

de V. Ex. a alguma ajuda, ou do Ministério da Cultura tão entre elite e povo na cultura. Longe de mim de
alguma preocupação nessa direção de que se não esqueç~ d~ pretender, digamos, estabelecer uma dicotomia. Apenas
a importância desses meios na formação. disse que no Brasil as elites deram às costas ao público
e voltaram para fora, para a Europa, estavam muito mais
Eu não concluiria antes sem dar o aparte solicitado preocupados com o barco que ia chegar, com os últimos
ao Constituinte Florestan Fernandes. catálagos de moda em Paris, como qualquer coisa da
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - cultura popular. Então é um fato histórico. Não é, diga-
Eu só queria fazer um esclarecimento. Eu dei o exemplo mos assim, uma coisa que tem que acontecer necessaria-
de lixo cultural, e de pacotes culturais, no contexto de mente, aconteceu na História do Brasil.
uma exposíção. Agora o que estava subentendido ali não
era uma tentativa de repulsa ao pós-moderno e as ma- A cultura - e eu não vou me aprofundar nisso - é
u~ processo e~tremamente complexo. Como todo processo
nífestações contemporâneas da música, da pintura, da
líteratura, o que estava em equação era a valorização de CrIatIVO ele nao pode ser analisado. Ao ser analisado já
um processo seletivo, de modo que a indústria cultural de foi transformado em coisa que preexistia a ele. Como' ele
massa não desabasse de uma forma tão destrutiva sobre é uma coisa criativa, na verdade ele está acima daquilo
a sociedade brasileira. que preexistia. Faz com que ele resista a todo tipo de
análise, que, por definição, é a redução à coisa mais sim-
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pa- ples.
lavra o Ministro Celso Furtado. Na fertilidade artística o que nós vemos é o seguinte:
O SR. CELSO FURTADO - Sr. Presidente Srs. Cons- existe sempre a exemplaridade no povo e n aelite; existe
tituintes: ' uma permanente dicotomia, que diria eu que é entre o
Em realidade, eu fui muito elíptico ou sintético de-
exemplar e o que é excepcional, e aquilo que é corrente.
mais quando disse: Por outro lado, a grande indústria Evidentemente, nem todo o dia surge um músico como
da cultura adquire peso crescente, com reflexos nem sem- Bach, mesmo na cultura alemã, dentro da família Bach
pre positivos no processo de produção e difusão cultural, uma família de grandes músicos. Agora, Bach, na époc~
apenas aflorei o assunto que mereceria, evidentemente, dele, ele compunha música para quê? V. Ex.a sabe muito
b~m disso - Música para o povo e a Igreja. Portanto,
um tratamento mais detido. nao havia uma separação entre a música erudita e a
V. Ex.a toca em um assunto que tem duas vertentes. música popular. Os temas musicais de Bach eram toma-
Por um lado, é °problema da evolução de suporte
dos da música popular, na sua época, porque ele quis
abandonar a tradição do canto orfeônico da música re-
da cultura, que é mais ou menos inevitável dentro de ligiosa católica. para a música protestant~ e essa música
qualquer civilização. O disco não é uma coisa de elite, é era extremamente refinada por ele també~, para as eli-
simplesmente uma evolução tecnológica, é um suporte que tes, nas suas formas de música de Câmara, etc.. Mas havia
pode ser utilizado com quaisquer fins dentro de uma continuidade, era um contínuo perfeito, todo mundo co-
cultura, assim como é o rádio. Por exemplo, hoje em dia, nhecia Bach e apreciava Bach. Então, é um processo cul-
os grupos populares, muitos deles milionários, são grupos tural. Elite e povo aí estão juntos, o que é o importante
tipicamente populares, eles, evidentemente, usam as téc- é a exemplarídade, e o fato de que aquele que tinha gênio
nicas mais modernas de difusão. criativo, e infelizmente todos não temos, encontrava na
O que precisamos ver com clareza é que, na criação sociedade condicões para realizar esse trabalho dentro
cultural, o suporte cultural evolui, com a função da pró- desse aspecto tão amplo.
pria tecnologia. Agora, a mensagem cultural, ela é dife- , O que eu sempre admiro no barroco brasileiro, que
rente. Por exemplo, aquilo que não pode ser reproduzido e a maior expressao da cultura brasileira até hoje, é o
amplamente, o teatro: o teatro só existe um momento, fato de que ele fosse dirigido para toda a sociedade, aos
um concerto só existe uma vez; o disco é uma outra escravos. como aos senhores. Porque a Igreja barroca era
coisa. Ouvir o disco é uma coisa, ir a uma determinada freqüentada por todo mundo. As obras de Aleijadinho eram
peça é uma coisa, outra coisa é ver, digamos, um artigo conhec~das de toda a sociedade. Não havia um elítísmo,
adaptado pelo cinema, já é outra linguagem cultural. Ago- nessa epoca.
ra esse ato criativo, que é único na sociedade capitalis-
ta, tende a ser elitista, porque ele tende a ser muito caro. Eu diria mesmo que o que nós buscamos hoje em dia
Como tudo que é único e é raro no mundo capitalista é é exatamente restabelecer esse contínuo dentro do mundo
caro. Como vemos que o grande teatro passa a ser uma moderno, e a arte pós-moderna, de alguma forma estabe-
coisa difícil. Daí que na Europa todos os países têm pro- lece essa possibilidade de uma participacão muioto maior
grama de difusão do teatro. E um país como a Alemanha, da população, que não tem que ser passivâ diante da cria-
70% do custo do teatro é pago pelo Governo, porque senão ção, todo mundo tem um papel a tomar, a arte passa a
só iriam ao teatro as pessoas muito ricas. A ópera, nem ser algo da vida das pessoas, e isso é, evidentemente uma
se fala. Esse problema aí, a gente vê o que tende a ser forma de reaproximar elites e o povo.
elitista pela própria evolução da técnica. Não é o disco, e
sim, pelo contrário, o disco tende a ser popular, e sim, Eu acho que não podemos desconhecer, e eu di70ia que
o ato único que se manifesta em certas formas da cultu- um certo m?me~to de J.;ústória, particularmente quando
ra, e que devem ser preservadas, porque é uma linguagem a cultura fOI multo dominada por uma elite pode haver
cultural de alta importância. E aí cabe ao GOverno um uma ruptura muito brutal e que essa rupt~ra pode vir
papel muito grande. OU a ópera, digamos, subsidiada - da própria elite. Evidente que o que aconteceu com a cul-
e somente a ópera de Paris tem um subsídio maior do que tura ~o século ~ é um fenômeno quase único, que foi a
o orçamento do meu Ministério - ou então a ópera para negaçao de uma línguagem, e que só vai mudar completa-
duas ou três pessoas. Essa é que é a simples realidade do mente a línguagem da pintura e, portanto, destruir todo
mundo atual. A sociedade pode corrigir, evidentemente, as um paradigma cultural, e isso foi possível como uma re-
distorções que vão são sendo criadas por uma economia vOfta vindo <!a, própria elite contra a asfixia que havia
de mercado. Não é um problema sem solução. criado. o domínio da píntura da burguesia no século XIX
por ~xemplo"o domínio das classes dominantes, das clas~
Agora a questão de V. Ex.a também me leva. a uma s~s ncas ~a epoca sobre a pintura que só queriam aquele
reflexão, que me parece muito interessante, é essa ques- típo de pmtura.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITU!NTE (Suplemento) Segunda-feira 20 221

Portanto, a elite, as castas que nós estamos chamando O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pala-
aqui de elite, podem também se revolucionar em torno vra o Ministro Celso Furtado.
da cultura, e criar uma arte que pode alcançar até o povo. O S'R. CELSO FURTADO - Sr. Constituinte Ubiratam
Isso tudo é uma temática que V. Ex.a colocou, muito Aguiar, a transformação que houve no Ministério da Edu-
rica, mas não se trata, de nenhuma maneira, de se ima- cação, criando-se o Ministério da cultura, não represen-
ginar que estamos colocando à margem a revolução tec- tou propriamente um aumento de gastos, no sentido estri-
nológica nos suportes 'Culturais, que têm que ser utilizadas to da palavra. Pensou-se que fixar uma redução de recur-
para a difusão da cultura, e que temos, evidentemente, so, inicialmente, para cultura, porque o fundo que havia,
que ficar alertas, como no mundo inteiro estamos todos que era comum aos doís ministérios, tícou com o Minis-
alertas à racionalização instrumental, isto é, as leis do tério da Educação. e o Ministério da Cultura foi privado
mercado dominando o mundo da cultura. Nesses são, evi- de recursos que a Secretaria da Cultura antes dispunha.
dentemente, desafios do mundo atual, não somente do Daí essas dificuldades iniciais. Como expliquei aqui, o Mi-
Brasil. nistério da Cultura tem um orçamento que é 37 vezes me-
nor do que o orçamento do Ministério da Educação. Cria aí,
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pala- inicialmente, uma preocupação em não prejudicar em
vra o Constituinte Ubiratan Aguiar. nada o Ministério da Educação, de tirar recursos dele.
O SR. CONSTITUINTE UBIRATAN AGUIAR - Mi- O que se passou foi que as universidades que rece-
nistro Celso Furtado, essa inundação da participação po- biam dinheiro através de órgãos culturais tiveram que
pular a que V. Ex.a fez alusão quando discorria aqui res- obter esse dinheiro também diretamente no Ministério da
pondendo a outros companheiros, ela foi de extrema va- Educação para a cultura e aí se criou um certo desenten-
lia para todos nós, porque abriu um horizonte através das dimento, um certo problema em torno de recursos escassos.
propostas, das sugestões e das colocações que realmente
faziam perante esta Subcomissão. Nós recolhemos dessas Mas o Ministério é um Ministério extremamente leve,
colocações dois pontos, para hoje trazermos aqui à sua porque é um pequeno grupo, formado por grandes insti-
presença, a fim de conhecermos o seu pensamento e a sua tuições que já preexistiam ao Ministério. A Sphan preexis-
posição. te ao Ministério, a Pró-Memória preexiste ao Ministério,
a Funarte preexiste ao Ministério, a Enbrafilme preexistia,
Referem-se basicamente a dois pontos: financiamento todos os grandes órgãos do Ministério já existiam. O Mi-
da cultura e a política cultural do País. nistério propriamente não criou nenhum órgão, foi apenas
No que diz respeito a essa parte do financiamento da uma tentativa de integrar tudo isso dentro de uma visão
cultura, mostravam-se dois momentos vividos pela cultu- global do processo da cultura, e o Ministério insistiu mui-
ra: uma quando integrada no Ministério da Educação e to em que esses órgãos se abrissem mais à sociedade civil,
Cultura, em uma secretaria daquele Ministério, e a outra porque no passado, como eles vêm particularmente de uma
fase, a atual, quando desmembrada, quando, ganhando época autoritária eles eram muito fechados sobre eles
espaço próprio, passou a compor um Ministério hoje diri- mesmos. Agora, a linha do Ministério é sempre a mesma,
gido por V. Ex.a essa de que 'Cultura tem que ser com permanente inter-
-câmbio com a sociedade. As decisões são tomadas com a
Nesse campo do financiamento da cultura, quais as presença de representantes da sociedade. Aí, em cada ór-
dificuldades, quais os avanços verificados no momento gão foram criados conselhos deliberativos, ete., com repre-
atual, em relação àquele momento anterior? Ainda nesse sentantes da sociedade civil e se alijou consideravelmente
tópico do financiamento da cultura, o que se conseguiu o mecanismo de tomada de decisões. Foi essa a maior
em termos de recursos externos, quer através de convê- modificação.
nios, quer através da participação, como agora da Lei Sar-
ney, em que há uma participação através daquele incen- Em seguida, procurou-se obter maior coordenação en-
tivo que foi proposto pela lei para a cultura? O que se tre esses órgãos.
conseguiu nesse campo de financiamento da cultura em Os recursos continuam a ser o grande problema. Para
termos de avanço em relação ao momento anterior, levan- atuar, por exemplo, como V. Ex.as dizem, em produção
do-se também em consideração aquele outro tópico abor- artística, o Ministério não gasta quase nada. Existe o Ina-
dado, que anteriormente nós teríamos uma estrutura leve, cen, que ajuda o mundo do teatro, não produzindo teatro,
já que era apenas uma Secretaria do Ministério da Educa- mas ajudando, aqui e acolá, o mundo do teatro.
ção e Cultura, quando havia um íntimo relacionamento Existe o Instituto de Música, que ajuda os grupos mu-
entre as atividades ela Educação e Cultura, e a estrutura sicais, as bandas de música. Mas o Ministério, depois que
mais pesada, mais densa, atualmente enfrentada pelo Mi- nós chegamos, tem evitado ele mesmo ser produtor artís-
nistério? tico. Ele não tem produção nenhuma, ele ajuda a socieda-
E no campo da política da cultura fizemos questão até de, apóia os grupos que precisam de apoio, etc.. O que o
de registrar as palavras daquele pensamento de entidades meu Ministério tem, sim, com uma grande responsabi-
que aqui passaram, que afirmavam que discurso oficial lidade, é a preservação do patrimônio, e isso o Governo
vem privilegiando e ressaltando a cultura como um con- pode fazer. E quem pode responsabilizar-se pela preser-
junto de prática do cotidiano, de fazer, de falar, ou pensar, vação, conservação, reparo, etc., das obras de arte, das
a forma 'Como os grupos sociais articulam sua forma de igrejas, de tudo isso que está tombado no Brasil? Grande
organizar a vida e a sobrevivência. Entretanto, afirmam parte do orçamento do Ministério é para isso. E já vinha
essas entidades, as políticas desenvolvidas pelos organis- sendo feito através da SPHAN e do Pró-memória. O Mi-
mos oficiais da cultura continuam privilegiando o ângulo nistério, hoje em dia, em colaboração com outros órgãos,
restrito da produção artística. apóia a preservação de documentos, a memória, por exem-
Como superar esse divórcio entre o discurso e a prá- plo, de tudo o que há na cultura brasileira, do que veio do
tica? mundo ferroviário, do mundo da energia. De tudo que
no Brasil existe, ali onde se formou o Brasil, tem a sua
Eram essas duas colocações que nós queríamos trazer memória preservada. E o Ministério apresenta-se, ajudan-
à sua consideração, para ouvir o seu pensamento e a sua do, tecnicamente, principalmente, para que se preserve
posição. a memória. l!J de verdade a atuação principal. O que pode
222 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

fazer o Ministério? Os recursos são parcos e ficam dema- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pala-
siado dentro do mundo patrimonial. Daí, também, vem vra o Ministro.
a crítica de que, na verdade, eles estão voltados só para O SR. CONSTITUINTE cmco HUMBERTO - Pela
o passado, quando a criatividade é tão importante no pre- ordem, Sr. Presidente, porque acho que o meu depoimento
sente no plano da cultura. É uma crítica que tem algum vai-se referir também a esse que a Constituinte Márcia
fundamento. E nós estamos tratando de sanar esses pon- Kubitschek fez. Quero apenas cumprimentar a aproveitar
tos, na medida em que vamos abrindo novos espaços den- da boa vontade do Ministro Celso Furtado, porque nós, a
tro do Ministério da- Cultura. E a Lei Sarney veio exata- população brasileira, estamos sendo massificados pela
mente nos permitir essa abertura de espaços novos. É cultura do eixo Rio-São Paulo através dos grandes meios
isso. de comunicação.
Quanto à questão da prática do cotidiano, o Minis- Não é só por isso, mas também pelo desrespeito que
tério da Cultura está orientado para isso. Temos uma se- essas emissoras promovem, não fazendo a divulgação das
cretária especialmente para isso. Há grupos trabalhando culturas regionais, folclóricas das peças tradicionais mui-
nisso e, aqui, por exemplo, nesta Subcomissão, estiveram ta divulgadas em determinada região. De modo que tem
presentes personalidades dos Ministérios tratando com de- ainda o assédio que se faz, justamente na cabeça dos jo-
ficientes, tratando com os índios, tratando de problemas vens, que passam a não se respeitar, porque eles, não ten-
dos negros, etc.. Temos um trabalho realizado nesse pon- âo tradições a respeitar, eles passam a copiar. E ai nós te-
to, que é muito mais um trabalho de acompanhar a so- mos um modismo em termos de cultura de importação,
oiedade civil, porque isso é uma reivindicação da socie- inclusive, de muitas coisas que não nos interessam, não
dade civil. Não podemos, de fora da sociedade civil, espe- só a nível interno como a nível externo, através dos enla-
rar que ela tome consciência desses problemas. Mas, ali, tados que somos obrigados a engolir, porque, nas televi-
onde existe o começo de um processo de tomada de cons- sões, a entrada nas nossas casas é feita indistintamente,
ciência, nós estamos presentes .aíudando, apoiando. Por- sem que haja uma permissão, pelo menos. Somos assedia-
tanto, esse é um processo que vai ser lento, porque não dos, nessa hora, por falsa cultura, que é divulgada no
cabe a nós, por exemplo, sair pela rua organizando coisas mundo por causa dos grandes índices de massificação.
em torno do problema de negro no Brasil. Esse é um pro-
blema da sociedade brasileira, das universidades, da socie- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pa-
dade civil, de todos os lados, que organizem seus atos que lavra o Ministro Celso Furtado.
nós, então, apoiamos. E tratamos de conhecer qual é o O SR. CELSO FURTADO - É um problema extrema-
estado, digamos assim, das artes, o estado de espírito da mente sensível, mas da maior importância. Eu diria, em
população brasileira. Temos apoiado enormemente tudo o primeiro lugar, que, qualquer que seja a fórmula adotada
que diz respeito à organização emergente de uma socieda- em um pais no que respeita à organização do sistema de
de civiÍ negra no Brasil, e essa é uma preocupação tam- televisão deve haver programas de televisão que sejam
bém nossa. de instituições culturais que sejam do Estado, especifica-
Muito obrigado. mente. Isso é uma coisa normal em qualquer parte do
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pala- mundo, mesmo que a sociedade civil se organize, como nos
vra a Constituinte Márcia Kubitschek. Estados Unidos. Ela mesma financia. Eu, nos Estados Uni-
dos, pagava todo mês uma certa quantia para ter uma
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK - televisão e um rádio de melhor qualidade. O mercado, di-
Sr. Ministro, antes de mais nada, os nossos agradecimen- ga-se de passagem, unítormíza tudo. Ele não gosta de
tos pela sua presença aqui, que muito nos honra. A expo- discrepância. Ele quer, na verdade, atingir o grande pú-
sição de V. Ex.a foi bastante esclarecedora. Tenho certe- blico, as massas. Portanto, natural que em todas as par-
é

za que o nosso ilustre Relator, Constituinte João Calmon, tes, existam televisões que são organizadas com outro es-
ter conseguido vários subsídios a mais para o seu antepro- pírito, seja :por universidades, seja por instituições cultu-
jeto através da palestra de V. Ex. a rais prívadas ou públicas. No Brasil, nós temos as TVs edu-
Gostaria de voltar ao assunto que o nosso ilustre Cons- 'cativas, que transmitem exclusivamente eventos culturais,
que têm certo papel, e que poderá ter um papel muito
tituinte Artur da Távola mencionou, que me preocupa maior, se os Estados der-lhes a atenção que elas merecem,
muito, que é o problema do rádio e da televisão. O Estado de São Paulo tem uma bela televisão, o Rio
No Brasil, as televisões são concessões do Estado a Grande do Sul e Pernambuco, também.
empresas particulares. A mim me parece que deveria. h~­ Estamos preocupados, neste momento, exatamente em
ver alguma maneira de estabel~cer-se na ~ova CO?stltUl- trabalhar conjuntamente com elas, porque elas estão aber-
ção que essas empresas, que sao, vamos dizer aSSIm, ga- tas a toda cooperação cultural, elas estão interessadas
nhas de presente do Estado por certos grupos particula- nessa cooperação cultural.
res, tivessem, ao menos, a obrigatoriedade de transmitir
um pouco mais programas culturais l?ara o nosso povo. _ Esse é um aspecto do problema. Não se trata de di-
Quando eu digo cultura, eu quero dízer, realmente, pro- zer "vamos instituir um regime que seja todo privado ou
gramas culturais, como os que vi, como V. Ex. a sabe muito todo público". O Governo tem de aceitar essa responsabi-
bem, na Europa, nos Estados Unidos, onde todas as tele- lidade de dar meios, direta ou indiretamente, de garantir
visões mesmo as comerciais, têm programas absolutamen- o mundo da cultura para que tenha um peso muito
te dedicados a formas de cultura. Transmitem peças de maior na difusão e no domínio desses suportes, desses ins-
teatro transmitem óperas, transmitem concertos, trans- trumentos que o Congresso está legislando. Agora, no que
mitem: balés. Aqui no Brasil, isso é praticamente inexis- diz respeito a exigir de uma televisão privada um espaço
tente. Então, gostaria de saber de V. Ex.a e gostaria, in- cultural, eu creio que isso é ilusório. Pode-se exigir raeíl-
clusive, que o nosso Relator, Constituinte João Ca~mon, mente, mas quem decide que é cultural neste caso?
através da sua resposta, pudesse talvez colocar' dentro do É a própria televisão privada.
seu anteprojeto alguma eoísa referente ~ isso. Não há uma
maneira de fazer com que as televísões brasileiras possam . 'Na verdade, ele vai querer aquilo que eorrespondeexa-
ª'
a.tenham obrígatoríedade de ter um horário destinado à tamente
gens.
rà sua vocação 'Comercial de maximizar vanta-
esse tipo de programa?
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 223

E o teatro? A televisão dirá "Teatro é cultura?". Sim. perante os Srs. Constituintes e o Sr. Ministro, em nome
É cultura ou não é, mas, em geral, é. Está hem. Teatro é de mais de meio milhão de seringueiros que estão jogados
cultura. Vamos reservar um tempo para isso. Telenovela na floresta Amazônica:
é cultura? Sim, é cultura também, dependendo da defini-
ção. Dallas é cultura? PROPOSTA DOS SERINGUEIROS A
É muito ambíguo o conceito de cultura, neste caso. Não SUBCOMISS!ÁO DE EDUCA!ÇAO, CULTURA
caberia, então, só ao Governo dizer o que é cultura. E ESPORTES DA ASSEMBLÉIA
NACIONAL CONSTITUINTE
Esse é um dos problemas que tentamos evitar.
O documento em anexo apresenta as reivindicações
Portanto, acho mais importante que haja participa- de nós, seringueiros, tiradas no I Encontro Nacional, rea-
ção de televisões de verdade, orientadas por entidades cul- lizado em Brasília, em outubro de 1985. Enormes dificul-
turais, ao lado de outras, comerciais. Nas comerciais, que dades, como o isolamento na mata e a violência a que es-
haja um entendimento progressivo com elas, para que elas tamos submetidos, impediram e impedem que nós serin-
mesmas se interessem pelos programas culturais. É um gueiros nos reunamos mais freqüentemente. Assim, a nos-
problema de educação e de interesse mútuo, no caso. Isso sa proposta contém o que nós seringueiros temos a enca-
se pode conseguir. Pelo menos, estamos tentando traba- minhar à Assembléia Nacional Constituinte, esperando
lhar juntamente a algumas televisões privadas, reservan- que estas reivindicações sej am incorporadas no texto da
do espaços para a cultura. Elas, normalmente, não são nova Constituição Brasileira que está sendo feita agora
completamente avessas a isso. Só que o tempo está muito no Congresso Nacional. - Osmaríno Amâncio Rodrigues,
caro dentro delas, e elas exigem patrocínios caros. A Lei Secretário do Conselho Nacional de Seringueiros.
Sarney veio dar-nos grande ajuda nesse terreno. Porque
com a Lei Sarney eu poderei passar a ter o melhor pro- Nós seringueiros representando os Estados de Ron-
grama de cultura de música sinfônica, naturalmente tra- dônia, Acre, Amazonas e Pará, reunidos em Brasília, de 11
tando, agora, com a televisão 'privada. Quer dizer, progra- a 17 de outubro de 1985, no "I Encontro Nacional de Se-
mas de música de qualidade, com o patrocínio que está ringueiros da Amazônia", tomamos as seguintes resolu-
ali, através da Lei Sarney. Então, fica possível, digamos ções:
assim, ter um espaço cultural na televisão privada e ter
isso mais ou menos sob a orientação, não do Ministério I - DESENVOLVIMENTO DA AMAZôNIA
da Cultura, ou mais de entidades culturais, porque as or-
questras sinfônicas é que vão dizer que programas vão 1. Exigimos uma política de desenvolvimento para
ser apresentados. a Amazônia que atenda aos interesses dos seringueiros e
que respeite os nossos direitos. Não aceitamos uma po-
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK - lítica para o desenvolvimento da Amazônia que favoreça
Eu queria apenas lembrar a V. Ex.a que morou tanto nos às grandes empresas que exploram e massacram trabalha-
Estados Unidos, que o senhor deve ter visto muitas vezes dores e destroem a natureza.
aqueles programas tipo "A life on Lincoln Century", e ou- 2. Não somos contra a tecnologia, desde- que ela es-
tros programas, inclusive da BBC de Londres, como o tea- teja a serviço nosso e não ignore nosso saber, nossas ex-
tro sheakespeariano. V. Ex.a estava dizendo que o Minis- periências, nossos interesses e nossos direitos. Queremos
tério já está tentando fazer uma espécie de convênio, com que seja respeitada nossa cultura, que seja respeitado o
as televisões comerciais para levar ao ar programas sin- modo de viver dos habitantes da floresta amazônica.
fônicos. E não seria possível, então, através da Lei Sarney
e com o patrocínio das empresas, o Ministério da Cultura 3. Reivindicamos que todos os projetos e planos de
ampliar mais isso e apresentar regularmente programas educação, incluam a preservação das matas ocupadas e
como o citado por mim? Teríamos, assim, e aí não era exploradas por nós seringueiros.
nem uma questão de estabelecer que tipo de cultura, pro-
gramas transmitidos do Teatro Municipal do Rio de Ja- II - EDUCAÇAO E CULTURA
neiro, de Brasília, de São Paulo, inclusive as nossas pro-
gramações regionais, como disse o nobre Constituinte Chi- 1. T'Üdos os seringueiros têm direito ao estudo.
co HUmberto. . 2. Queremos escolas de seringueiros em todos os lu-
O SR. CELSO FURTADO - Nós estamos, exatamente, gares e para todas as idades, com qualquer número de
criando esse mecanismo que foi possível por causa da Lei alunos.
Sarn-ey, porque com televisão privada tudo é muito caro. 3. As escolas devem ter garantido o material escolar
Com essa lei, poderemos fazer programas sinfônicos, tea- e merenda, adaptados às condições locais e fornecidos pe-
tro, exatamente como nos Estados Unidos, porque lá é lo Estado.
feito com o patrocínio, evidentemente, de grandes firmas
também. Isso é abertura. 4. Professores seringueiros, escolhidos pela comuni-
dade e que tenham oportunidade de encontros para troca
Agora, as televisões culturais, na verdade, são regio- de experiências entre si e com outras pessoas.
nais porque a dificuldade maior no Brasil é financiar
com~rcialmente uma televisão regional. Só se for em um 5. Calendário escolar que respeite as épocas de plan-
Estado grande como o Rio Grande do Sul, mas, geral- tio e o regime de chuvas da região. ,
mente, as televisões regionais não se autofinanciam; en- 6. É preciso que as Secretarias Estaduais ou Muni-
tão, ficam prisioneiras das cadeias nacionais. cipais se comprometam com o pagamento dos professores'
, O SR., PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Encerradas e com o seu treinamento, a intervalos regulares e com
as inscrições dos Srs. Constituintes, o Sr. Ministro aquíes- garantias de verbas. '
eeu em ouvir o pronunciamento do Secretário Nacional
do Conselho. Nacional dos Seringueiros. Damos a palavra . 7. O'Ministério da Educação deve assumir de fato o
a ele, para que deixe sua mensagem à comissão. compromisso çom a educação na região amazônica, prín-,
eípalmente nos seringais, coordenando as Secretarias Es-
. O SE. OSMARINO AMANCIO RODRIGUES - Quero taduais na execução dessa tarefa,' com a participação dos
agradecer a oportunidade de, neste momento, falar aqui, trabalhadcres e juntamente com o Mlnístérío da Cultura.
224 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

8. lJl preciso que a merenda escolar inclua produtos quem sabe, tantas e tantas coisas, a cartilha ela vem
oferecidos pela região, 'Como sejam a castanha e outros servir para iluminar a nossa consciência.
gêneros alimentícios locais. E nós precisávamos de continuar recebendo mais apoio
9. lJl preciso preservar a cultura da região, devendo para contmuarmos esse trabalho. No Município de Bra-
a escola informar, também, ao seringueiro sobre a reali- síléía, onde eu moro, não tem escolas como essas do Pro-
dade do País. jeto seringueiro, e nós precisamos muito!
10. Que sejam divulgados para o País, histórias, poe- O Projeto Seringueiro teve muitos apoios. Ele fez par-
sias, músicas, receitas e objetos fabricados pelos serin- te de um trabalho maior com um nome muito grande:
gueiros. "Interação entre Educação Básica e os Diferentes Contex-
11. Apoio a projetos de educação 'Como o Projeto Se- tos culturais Existentes no País" e com um apelido de
ringueiro do Acre, bem como outros que tenham a parti- "Projeto Interação". Esse trabalho começou em 1982. Ele
cipação direta dos seringueiros e correspondam às suas foi realizado pela antiga Secretaria da Cultura do Minis-
necessidades. tério da Educação e Cultura, e reuniu Embrafilme, Punar-
te, Inacen, INL e Pró-Memória que hoje são do Ministério
12. Que os treinamentos a serem dados aos monito- da Cultura. Essas instituições trabalharam junto com
res sobre educação levem em conta a Cultura Popular. associação de moradores, sindicatos, grupos de teatros,
Para nós seringueiros, naquela região do Acre e da Ama- universidades, secretarias estaduais e municipais. Até ju-
zônia nunca houve escola, nunca houve saúde, nunca hou- nho doe 1986 o Projeto Interação foi mantido com reeur-
ve estradas de rodagem. Nós andamos por caminhos de sos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
pés, em lombo de burro, ou então, de bois. Esse é o nosso - FNDE/MEC. Dessa data até dezembro de 1986 alguns
transporte, ali, naquela floresta. projetos receberam apoío do Ministério da Cultura.
Hoj to, nós não temos mais o direito, nem a liberdade de E nós, seringueiros, achamos que depois que se sepa-
ter certeza que vamos continuar ali, dada a invasão do la- rou o Ministério da Cultura do Ministério da Educação,
tifundiário, do fazendeiro. Eles estão expulsando a nós, se- rícou difícil para o Ministério da Cultura conseguir re-
ringueiros, tanto para as periferias da cidade, como para cursos para continuar esse trabalho.
o outro lado, no território boliviano. Dentro deste quadro, Nós, seríngueíros, achamos que os dois Ministérios de-
de cinco anos para cá, surgiu o movimento sindical que vem trabalhar juntos, porque a educação não vive sem a
nos deu oportunidade de começarmos a nos juntar e dis- cultura.
cutir o nosso destino. Isso veio nos dar condições de nós
se organizarmos. Hoje, estamos fazendo um trabalho para Então, dentro de toda essa luta que estamos enfren-
tentar garantir a nossa permanência e, também, trazer tando, o que a gente espera é que a gente seja apoiado,
de volta os companheiros que foram expulsos. Mesmo sa- que, nós, seringueiros sejamos respeitados e reconhecidos
bendo que não vamos poder trazer todos! também como cidadãos. E queremos que nossa cultura seja
Em cima disso, começamos a pensar na criação da reconhecida.
escola, a luta pela escola. Hoje, no Município de Xapuri, Eu agradeço a todos e gostaria de dizer que nós os se-
no Acre, tem oito escolas criadas pelos seringueiros atra- ringueiros, não temos nem agulha para tirar um espinho,
vés do Projeto Seringueiro. por isso tiramos o espinho com o próprio espinho. Isso é
Nesse projeto, o seringueiro constrói a escola, o serín- cultura no meio dos seringais. Não temos anestesia, mui-
gueíro é quem é o professor de outro companheiro seu. tas vezes, quando se leva um corte no seringal, usamos
Isso devido justamente nós acharmos que é possível nós, mais de meia garrafa de cachaça para embebedar o com-
os seringueiros, sermos professor, sermos agente de saúde panheiro para costurar o corte. Isso é cultura. E isso, mui-
- um outro trabalho que estamos fazendo lá, construindo tas vezes, não é enxergado pelas pessoas que estão agora
postos de saúde. A partir do ano de 1986, a Secretaria de representando e que são encarregados de fazer esta Cons-
Educação e Cultura do Acre começou a pagar os profes- tituição. A Amazônia está sendo destruída sem terem sido
sores seringueiros dessas escolas. conhecidas as suas culturas e as riquezas. Nós mostramos
que no seringal tem poeta, tem cantor.
Porque o que se viu no passado foi sempre que o se- Eu gostaria de encerrar, agradecendo a oportunidade,
ringueiro - mais ou menos o mesmo caso dos que estão rezando o Pai Nosso dos seringueiros que foi feito pelo pró-
nas periferias das cidades - sempre foi considerado "um prio seringueiro, para mostrar que nós tivemos oportuni-
pessoal que não sabe fazer nada"! E todo mundo sabe dade, nós também temos criatividade, nós também sabe-
fazer as coisas, desde que haja oportunidade! mos fazer cultura. O Pai Nosso dos seríngueíros começa:
O material didático do Projeto Seringueiro é um ma-
terial mesmo nosso, da nossa cultura. Nós achamos que Seringueira que estais na selva, multiplicados
não valia a pena para nós estudarmos ou ensinarmos os sejam vossos dias, venha a nós o vosso leite, seja
nossos companheiros com um material da cidade, que feita a nossa borracha, assim na prensa como na
não tem a ver com a nossa realidade de lá. Em cima disso, caixa, para o sustento de nossas famílias. Nos dai
foi criada a Cartilha Poronga, com a participação dos hoje, perdoai a nossa íngratídão, assim como nós
seringueiros, do Centro de Documentação e Pesquisa da enfrentamos as maldades do patrão. Ajudai a nos
Amazônia (Cedop/Acre) - que hoje não existe mais - libertar das garras do regatão. Amém.
Assessoria do Centro de Documentação e Informação - Este é o Pai Nosso dos seringueiros. O hino dos se-
Cedi/São Paulo e apoio financeiro do Projeto Interação do ringueiros que também é bem curtinho, se os senhores me
Ministério da Cultura. permitem posso cantar também. Chama-se "Panela de
A Poronga foi feita porque nós temos uma luz na Pressão". li: assim:
Amazônia, da qual nós andamos de noite, quando nós Vamos dar valor ao seringueiro, vamos dar va-
vamos cortar nossa estrada de seringa, quando nós vamos lor a esta Nação. Pois é com trabalho desse povo
fazer qualquer viagem. Nós nos alumiamos com ela. Como que se faz pneu de carro e pneu de avião. Fizeram
ela é uma luz que ilumina os caminhos para nós enxer- a sandalinha, fizeram o chínelâo, inventaram a
garmos onde está o toco, onde está a cobra, onde está, botina que a cobra não morde, não.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemênto) Segunda-feira 20 225

Tanta coisa da borracha que, não sei explicar, das, e está terminada a fase de apresentação de testemu-
não. Enconrei pedaço dela na panela de pressão. nhos e de demais provas, e o julgamento será no dia 27
(Bis) Vamos dar valor ao seringueiro, vamos dar de maio próximo.
valor a esta Nação, pois é com o trabalho desse Por entender que é uma questão com a qual nós Cons-
povo que se faz pneu de carro e pneu de avião. tituintes não podemos jamais pactuar é que solicitamos a
(Bis) manifestação dessa Subcomissão, de imediata suspensão
Fizeram a sandalínha, fizeram o chínelão, in- dos processos militares contra civis inocentes e o envio
ventaram a botina, que a cobra não morde, não. dessa moção a Auditoria Militar de Curitiba ao Ministé-
Tanta coisa da borracha que não sei explicar, não. rio do Exército, ao Superior Militar, para que nós pos-
Encontrei pedaço dela na panela de pressão. (Bis) samos, indo em socorro à prática autoritária que ainda
persiste, provar, por atos, que a Constituinte quer ser um
É isso. O seringueiro tem 'cultura nós esperamos que marco de um novo Brasil. Era essa a questão de ordem.
as pessoas que esta Carta Magna, como se chama a Cons-
tituição, levem em conta a questão dos povos da floresta, O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Nós subme-
do seringueiro e do índio. Porque o carro o avião em que teremos a proposição ao Plenário, tão logo encerremos a
todos vocês andam, ele só corre por causa da borracha, do participação do Sr. Ministro nessa reunião. Concedo a pa-
látex que nós, seringueiros, tiramos. lavra ao nobre Relator, Constituinte João Calmon.
E nós precisamos ser reconhecidos como os verdadei- O SR. RELATOR (João Calmon) - Inicialmente, dese-
ros defensores da floresta e os verdadeiros produtores da jo agradecer a magistral contribuição do Ministro Celso
borracha. Furtado e a emocionante manifestação do seringueiro Os-
Agradeço pela oportunidade. Fiz todo um esforço de maríno Amâncio Rodrigues que é Secretário Geral do Con-
ficar aqui, porque, para onde eu vou, vou ter que cami- selho Nacional dos Seringueiros. O Ministro Celso Fur-
nhar seis dias a pé e tem companheiros seringueiros que, tado eu não sei se a minha Intervenção vai provocar um
para chegar na 'capital ou no local do seu município, ele conflito 'entre a sua condição de economista e de Ministro
caminha até um mês para chegar nas cidades. Então, aí da Cultura.
está a questão na Amazônia que muitos não conhecem. De um modo geral, os seus colegas economistas são
E digo que quem não conhece a Amazônia não conhece o contráríos a qualquer vinculação de um percentual
Brasil. dos orçamentos públicos para educação, para cultu-
Quando se discute uma Constituição, deve-se levar ra e para qualquer outra finalidade. Até 1967 as
em consideração os brasileiros, os trabalhadores do Bra- Constituições brasileiras destinavam 3% da receita de im-
sil. e muitas vezes, esquecer, inclusive os Estados Unidos postos federais para o combate às secas no Nordeste.
que já tem a sua Constituição feita. Posteriormente, houve uma vinculação também em favor
do Vale do São Francisco. Depois de aprovada a Constitui-
Então, nossa Constituição tem que ser feita em cima ção de 1967, o então Ministro do Planejamento, hoje Sena-
da realidade em que passamos o dia a dia. A cultura do dor Roberto Campos, economista eminente, defendeu a tese
seringueiro, a cultura do dia-a-dia do seringueiro, deve de que todas as vinculações que constavam da Constitui-
ser levada em consideração. ·(Palmas prolongadas.) Quero ção deveriam- ser eliminadas porque senão a Constituição
passar pessoalmente este documento ao Ministro da Cul- seria loteada. O mesmo ponto de vista foi defendido, pos-
tura, para que a Mesa passe às demais Subcomissões e aos teriormente, pelo atual Constituinte Delfim Netto. Ele de-
demais Constituintes que estão presentes. Muito obrigado clarou,' quando o Congresso Nacional aprovou uma propos-
péla oportunidade. ta de emenda vinculando, obrigatoriamente, o mínimo de
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Quero agra- 13% da receita de impostos federais, e nunca menos de
decer ao Secretário Nacional osmaríno Amâncio Rodri- 25% da receita de impostos estaduais e municipais, para
gues, do Conselho Nacional do Seringueiro, pelo documen- a manutenção e o desenvolvimento do ensino, que o Con-
to que trouxe, e à paciência do Ministro, que se compro- gresso Nacional, ao aprovar essa iniciativa havia esclero-
sado o orçamento, e procurou sabotar, de todas as ma-
meteu a ouvi-lo. neiras, com êxito integral, por sinal, o cumprimento desse
Para a partíeípação final de nossa manhã de hoje, novo dísposítívo constítudíonal. Agora, diante da sua
vamos dar a palavra ao Relator da Subcomissão, Oonstt- magnífica exposição, nós vemos que o Ministério da Cul-
tuinte João Calmon. tura apresenta um quadro de extrema penúria, 'com um
Concedo a palavra ao Constituinte João Calmon. orçamento inferior ao da ópera de París, e com um orça-
mento que é 37 vezes menor do que o do Ministério da
O SR. CONSTITUINTE TADEU FRANÇA - Peço a Educação.
palavra, para uma questão de ordem. Colegas nossos, aqui, desta Subcomissão, apresenta-
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Concedo a ram propostas fixando um percentual mínimo dos orça-
palavra ao nobre constituinte Tadeu França para uma mentos públicos para a cultura. O fórum dos Secretários
questão de ordem. de Cultura havia sugerido a vinculação obrigatória de 1%
O' SR.' CONSTITUINTE TaDEU FRANÇA - Como a do Orçamento Geral da União e nunca menos de 2%' do
questão cultural bastante ampla, nós queremos exata-
é
Orçamento dos Estados, do Distrito Federal e dos muni-
mente neste instante, levar em conta uma realidade: o cípios, para a 'Cultura.
julga~ento de civis inocentes nos tribunais militares nes- O Constituinte Paulo Silva apresentou outra proposta
te Pais continua sendo uma afronta. É nesse sentido que vinculando obrigatoriamente o mínimo de 2% da receita
nós queremos solicitar a V. Ex.a uma moção de solidarie- resultante de impostos da União e nunca menos de 3%
dade desta Subcomissão, em vista do julgamento do pas- da receita de impostos dos Estados, do Distrito Federal e
tor Zernes Fucchs, coordenador da Comissão Pastoral da dos Municípios para a Cultura. Como não há nenhum
Terra do Paraná, que em aw público do dia 25 de julho artigo à Constituição brasileira que proíba sonhar, a
de 1986 denunciou a sítuação de Catandtlva,o desespero Constituinte Márcia Kubitschek, Informalmente, 'sugeriu
das famílias e a ocupação irregular das terras, pelo EXér- percentuais um pouco mais elevados: o mínimo de 9% da
cito, ele está sendo acusado de orensasàs Forças Arma- receita de impostos federais e de nunca menos de 13% da
226 SegunCla.feira 20 DIARIO 'DK'ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

receita de impostos estaduais e do Distrito Federal, e dos dessa região têm muito pouco poder, relativamente pouco
municípios para a Cultura. poder. Ê evidente que a Constituição, na verdade, é o mo-
Esta é a primeira indagação a V. Ex. a, e, ao mesmo mento único em que os representantes da Nação brasileira
tempo, eu pediria, que se fosse possível, a informação estabelecem um parâmetro ou uma referência para que
sobre quanto mais ou menos já tem beneficiado a Cultura esse problema não seja jamais esquecido. Dois por cento
o que estabelece a chamada Lei Sarney. para o Nordeste é muito pouco, mas é uma espécie de
compromisso histórico com uma região que vai precisar
Mas, antes vou tecer um rápido comentário a propó- de três por cento. Foi 2% uma época e passou depois para
sito da intervenção sobre o papel das rádios e da televi- 3%. Ê um compromisso histórico. Sabemos que é total-
são na área da cultura. mente insuficiente. Quando eu criei a Sudene, no Governo
O Código Brasileiro de Radiodifusão determina taxa- Kubitschek, pelo entusiasmo do Presidente Kubitschek, na
tivamente que todas as estações de rádio e televisão deste verdade, pensávamos em muito mais do que isso. O pro-
País devem dedicar 5 horas por semana à Educação e à grama do Diretor da Sudene ia muito mais longe do que
Cultura. Eu era então Presidente da Associação Brasileira isso. Mas aquele mínímum minimorum era, pelo menos,
de Emissoras de Rádio e Televisão - Abert, e pressionei uma garantia de sobrevivência. Aquele era um compro-
o então Ministro da Educação da época, o Senador Jarbas misso do Brasil com uma região e, portanto, isso não pode
Passarinho e o Ministro das Comunicações, Coronel Higino ser julgado como se se tratasse de um quantum de dinheiro
Corseti. Depois de muita insistência, consegui que fosse para isso ou para aquilo. Aí eu continuo convencido de
eliminado o pretexto que impedia que as estações de rádio que os Constituintes devem estabelecer essa norma como
e televisão cumprissem o que determinava e determina o compromisso histórico, porque não é possível que amanhã,
Código Brasieiro de Radiodifusão. Foi regulamentado esse simplesmente porque os interesses ocasionais de outras
artigo do Código e as Emissoras de Rádio e Televisão região do Brasil etc., as maiorias simples do Parlamento
passaram a ser obrigadas a dar essa contribuição à causa reduzam o esforço, que é um esforço que interessa a todos
de Educação e de Cultura. os brasileiros de um ponto de vista muito mais amplo,
Infelizmente, no Brasil, por falta de educação, não que é o de trazer o Nordeste para um nível adequado de
apenas do povo, mas da classe política, e eu diria, muitas desenvolvimento.
vezes, também, da classe dirigente na área do Poder Exe- Agora, no campo da Cultura, eu conheço muito isso
cutivo, esse dispositivo legal foi fraudado da maneira mais em outros países. Na Europa, existe o objetivo de alcan-
revoltante, mais despudorada, de tal maneira que eu me cal' 1% dos orçamentos. Nenhum país da Europa o alcan-
lembro que, visitando uma Capital de um Estado brasi- çou. O país que chegou mais perto, a França, está com
leiro cujo nome eu prefiro omitir, por uma questão de 0,7%. Portanto, eles vêm fazendo esse esforço, lutando etc.
pudor, eu interpelei o Diretor da TV Educativa daquele Jaques Lang, na França, dobrou o esforço relativo que se
Estado por que ele dedicava dezenas de horas por semana realizava na França. Agora, estabelecer 1% vai ser um ob-
à transmissão de jogos de futebol, sem cumprir o que jetivo a ser alcançado algum dia, porque é quase impossí-
determnina o Código Brasileiro de Radiodifusão. Naquela vel do dia para a noite multiplicar por quatro a partici-
época, eu era Deputado, e ele me deu a seguinte resposta: pação. Não digo que seja impossível, mas haverá muita
- Deputado, nós cumprimos o que determina a lei, por- resistência. Inclusive, é preciso equipar o Estado para
que, segundo Nelson Rodrigues, que passou a ser o maior poder aumentar esses recursos. Ora, a Lei Sarney veio per-
sábio do Brasil, o futebol é o balé brasileiro, e nós trans- mitir - é o que nós esperamos, - dobrar os recursos
mitimos muitas horas desse balé brasileiro através da Te- atuais, de uma maneira descentralizada, de uma maneira
levisão Educativa. Então, esse é o esclarecimento que eu prática. Nós estamos esperando, para no decorrer deste
devo dar a respeito da pergunta feita pela nobre Consti- ano, através da Lei Sarney, que a cultura vai absorver pelo
tuinte Márcia Kubitschek. Agora eu pediria ao Ministro menos tanto quanto o Estado está colocando. Dessa ma-
para manifestar a sua opinião a respeito dessa luta em neira, nós passaríamos de 0,25% para 05% metade de
favor de uma vinculação do percentual mínimo dos orça- 1 %. Ê possível que a dinâmica da Lei Sa'rney permita ir
mentos públicos para a cultura. mais lo~g~, ,9.ue n?s al~ancem?s 1%. Agora, pode ser que
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) Concedo a a Oonstítuíção, quiça nao considere o dinheiro da Lei Sar-
palavra ao Ministro Celso Furtado. ~ey: Eu. não sei. I;sso teria de ser decidido, porque, como
e dínheíro que sal em grande parte do Governo deveria
O SR. CELSO FURTADO - Nobre Constituinte João ser, quiçá, capitulado nos recursos do orçamento: Setenta
Calmon, V. Ex a, que tem muita experiência, tanto como P?r <:ento, cmquenta por cento, sessenta por cento do
legislador como homem da Cultura, sabe, perfeitamente, dínheíro da Lei Sarney saem dos cofres públicos.
que no Brasil se é difícil muitas vezes aplicar uma lei, e
sempre é mais difícil se essa lei está no campo da Cultura, Considero que temos que nos esforçar para aumentar.
porque na cultura tudo é tão ilusivo, é tão difícil de esta- a Governo t;'lm que realizar programas e o Parlamento
belecer de demarcar fronteiras, discutir com a televisão o t~m que apoiar o Governo ou ir mais' longe ainda, exi-
que é cultura e o que não é cultura. grudo que esse avanço se dê sistematicamente. Eu não sei
Agora, a questão do quantítatívo Em princípio, to~o se a simples indicação pela Constituição de um quanti-
constitucionalista, todo, digamos aSSIm, estudante de UnI- tativo será surícíents na verdade, 'Para resolver o nro-
versalidade orçamentária pensa que o melhor é que o orça- blema. Eu creio que é um problema, como V. Ex.a - diz,
mento seja um espaço aberto para que aqueles que legislam que vem de educação, de rnobílísaeão da sociedade e é
disponham sobre o programa que, naquele momento, a so- isso que 'nós estamos, de alguma forma, conseguindo e
ciedade pretende executar. Em princípio, a partir des~a. ra- a Lei Sarney está facilitando, a mobilização da sociedade
cionalidade, podemos dizer que lotear e estabelecer rígida- para as atividades culturais. Mas, não há nenhum dogma
mente pedaços orçamentais para isso e para aquilo é.redu- em torno disso. Se amanhã a Oonstítuíção disser 1 % (um
zir muito o poder dos que vao, amanha, atuar defíníndo por cento) para a Cultura, eu fico muito satísreíto com
política. Agora essa restrição tem limites. Eu considero respeito à sorte daqueles que ocuparão no futuro esse
que quando se trata de um problema de absoluta perma- Ministério. "
nên'cia, como é a questão de uma região como o Nordeste,
de uma região que acumulou um enorme atraso, que e um o SR. ~REBIDENTE (Aécio de Borba) - Só nos resta
desafio histórico para o Brasil, criar as condiç~e~ do seu d~­ reiterar os agradecimentos feitos a B, Ex.R o Sr. Ministro
senvolvimento e, tendo em conta que, em condiçoes normais da cultura, que nos deu a honra e o prazer de debater
'e ordinárias, dentro do Parlamento, os representantes conosco a nossa ânsia de fazer uma boa Constituição.
Júlho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE. (Suplemento) Segunda.feira 20 227

A participação dos Sors. Constituintes é por nós tam- Creio. que poderíamos aceitar como !presenças no livro o
bém agradecida. número de Constituintes presentes a esta reunião, de
Destacamos a presença do seoretérío Nacional do modo que pudéssemos aprovar, hoje, mesmo, as sugestões
Conselho dos S,eringueiros, osmaríno Amâncio Rodrigues, do nosso ilustre Relator .João Oalmon.
a quem reiteramos os nossos agradecimentos. Suspende- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Oficial-
mos por cinco minutos a nossa reunião para a ~e~rada mente, não se pode contestar a existência de número.
do Sr. Ministro e voltaremos para votar a proposiçao do Seria apenas uma conveniência da suoeomíssão delíba-
COnstituinte Tadeu França. ([Pausa.) rar com os que aqui estão ou admitir a necessidade da
Esta reunião é ,para que a Subcomissão aprecie a opinião dos demais companheiros.
proposta feita pelo constituinte Tadeu França a respeito Com a palavra o Constituinte Ohi'co Humberto.
do envio de posicionamento desta subcomissão contra o O SR. CONSTITUINTE cmco HUMBERTO - Se-
processo de pessoas cívís inocentes, instaurado' pela Au- nhor Presidente, eu queria saber do ilustre Relat{)l' .João
ditoria Militar do Estado do Paraná. Calmon - sei que essas datas que S. Ex.a colocou estão
Está em discussão a matéria. respeitando o nosso Regimento Interno - se S. Ex.a tem
Não havendo quem queira se pronunciar a respeito, informações das outras subcomissões, se também vão res-
peitar essas datas para a apresentação do antepro] eto,
vamos colocar a matéria em votação. se serão concomitantes com as outras subcomissões ou
Aqueles que a apóíam, permaneçam como estão. se teríamos esse prazo apenas para a nossa subcomissão.
(Pausa.)
O SR. RELATOR (.João oaamom - Tenho a impres-
Aprovada. são que as outras subcomissões vão fazer a mesma coisa
Temos, agora, o relator desta subcomissão, que fez que estamos pretendendo fazer. Porque, do contrário, va-
dentro do 'calendário, sem alterá-lo, uma perspectiva de mos ultrapassar o prazo marcado, que é o dia 25 do cor-
trabalho até à entrega do anteprojeto à Comissão. Gos- rente mês, para o encaminhamento do anteprojeto da
taríamos que S. Ex.a nos desse ciência da sua proposição, subcomissão à comissão Temática.
que estabelece uma participação dos Constituintes e a O 8R. OHICO HUMBERTO - Não sei se V. Ex.a che-
utilizacão do último fim de semana para que, realmente, gou a entender o alcance do meu questionamento. Isso
se alcancem os prazos estabelecidos. solucionaria tanto o problema do alegado quorum, que o
O SR. RELATOR (João Calmon) - Eu imaginei que companheiro Bezerra de Melo jus·tificou, quanto os nossos
nós tivéssemos uma reunião. Eu sugiro a conveniência de trabalhos, que poderiam ser mais ou menos dilatados,
nós termos uma reunião à 'tarde para podermos continuar dentro dessas possibilidades.
esse nosso trabalho. No momento nós não temos número, O 'SR. RELATOR (João Calmon) - Em príneípío, a.
somos, aqui, seis, apenas. Então, a decisão a ser tomada sugestão que eu faria seria a seguinte: ontem, cumprIm<.>s
exige quorum. parcialmente o que determina o iRegl'Inento Interno. DIa
Consulto o nosso emínente Pvesidente se seria possí- 11 de maio apresentamos dois terços do Relatório e do
vel convocarmos uma reunião para a parte da tarde, às anteprojeto. '
17 ou 18 horas, para submetermos à apreciação da sub- Hoje, ouvimos o Ministro da C_ultura. A;nanhã, dia 1~,
comissão uma tentativa de adaptação desses prazos, para ouviremos o Ministro da Educaçao. Depoís de amanha,
que a nossa subcomissão não deíxe de enviar o resultado dia 14 na reunião da tarde, apresentaríamos a parte res-
do seu trabalho à Comissão Temática no dia 25 do cor- tante 'do relatório e do anteprojeto. Começaria, então, a
rente mês, de acordo com o que estabelece o Regimento correr o prazo dia 15 e día 16, (sexta e sábado) para a
Interno da Constituinte. Porque, agora, eu vou sugerir impressão do ~elatório e do anteprojeto e a distribuição
um determinado cronograma, mas não há como aprovar dos avuls-os. No dia 18, segunda-feira, começaríamos a
a minha sugestão, em vista da notória, visível e incon- discussão do projeto e do relatório. Em vez de 5 dias para
testável faJta de quorum. discussão e apresentação de emendas pelos membros da
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Da nossa subcomissão encurtaríamos para 4 dias. Isso nos permiti-
parte, não há nenhuma inconveniência em convoearmos ria o encer~amento da discussão.
a reunião para a tarde de hoje. Pelo calendário, temos: dia 12, terça-feira: depoimen-
O que nos 'preocupa é que o PMDB, no dia de hoí e, to do Ministro da Cultura. Dia 13, quarta-feira: depoi-
deverá deliberar sobre a posição do Parttdo com relação mento do Ministro da Educação. Dia 15, quinta-feira, à.
a mandatos e outros problemas de alta gravidade. Ao tarde: apresentação do final do relatório e do anteprojeto.
que nos parece o assunto se estenderá. por todo o dia. Já Dia 16, sexta-feira e dia 17, sábado: dois dias utiliza-
na manhã de hoje tivemos um número, mas dentro do dos para composição, impressão e distribuição dos avulsos.
prazo antecedeu à chegada e durante a exposíção do
:M:íni8tro. É provável que não se consiga na parte da tar- No Idomingo, dia 17, começa a ser contado o prazo para
de mas faríamos um esforço e convocaríamos a reunião apresentação de emendas e discussão do parecer e do an-
pa'ra às 17 horas, ou para amanhã, na parte da manhã, teprojeto do Relator. Teriamos, então, 4 dias: domingo,
quando teremos, também, a presença do Sr. Ministro da segunda-feira, terça-feira e quarta-feira, até o dia 20.
Educação, às nove horas. Teríamos que antecípar .0 iní-
cio da reunião, o que nos parece um pouco precano, . No dia 21, à tarde, seria feita a apresentação final
do parecer do relatar e a redação final do anteprojeto'.
, Tem a palavra o sr. Constituinte Bezerra de Melo.
Teríamos, ainda, dois dias para discussão e votação.
O' SoR. CONSTITUINTE BEZERRA DE MELO - Se-
nhor Presidente, pelo livro onde estão inscritas as pre- No dia 25, remeteríamos o anteprojeto à Comissão Te-
senças, temos número, se formos convocar novas reuniões mática.
para dar número, diante de tantas reuniões, iPrinclI}al- . É Uma maneira ide procurar adaptar, porque houve
mente à que V. Ex.a se referiu, a respeito do PMDB, acre- esse apelo a que me referi ontem, Um apelo dramático do
dito que iremos retardar ainda mais, rodo o processo. Presidente da Constituinte para não extrapolarmos, não
228 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLI1!IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

ultrapassarmos o prazo, sob pena de não termos Consti- a sugestão do companheiro Constituinte Bezerra de Me-
tuição pronta a não ser em março do ano que vem. lo, que, a partir do momento que estabelecêss~mo~ essas
Esse cronograma, daí o meu escrúpulo 'em tomar uma datas, que se fizesse, por escrito, a comumcaçao aos
decisão agora, exigiria a concordância dos membros <!a constituintes componentes desta subcomissão, no menor
subcomissão em relação à necessidade do trabalho no sa- prazo possível, para que eles se inteirassem também des-
bado, dia 23 e I1() domingo, dia 24, apenas o sacrifício de sas datas. Acredito que é a forma mais fácil de atender-
um fim de semana. mos à solicitação do Presidente Ulysses Guimarães.

O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Quero O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Parece-me
acatar por inteiro a proposta de V. Ex.a, mas parece que que havendo a concordância geral daqueles que aqui se
V. Ex. a está usando não só os dias úteis como também os encontram, consideramos esse calendário elaborado. E,
finais de semana, no caso, os dias 17 e 23. dentro da sugestão do Constituinte Chico Humberto, ::nan-
daremos tirar cópias e enviar a todos os constitumtes,
O SR. RELATOR, (João Calmon) - Só um fim de porque poderiam programar suas vidas até o dia 25, den-
semana: dias 23 e ~"Bábado e domingo. tro do estabelecimento que esta proposição está englo-
O SR. CONSTITUINTE cmco HUMBERTO - Os cin- bando.
co dias para discussão, nobre Constituinte? O SR. RELATOR (João Calmon) - Eu sugeriria, Sr.
O SR. RELATOR (João Calmon) - Diminuiríamos Presidente, por uma questão de escrúpulo, que o Presi-
para quatro dias. dente efetivo desta subcomissão Constituinte Hermes Za-
neti, que não está presente, mas estará amanhã, t?masse
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - O Relator conhecimento desse cronograma, antes de o eonsíderar-
sugere que nos dias 16 e 17, sexta-feira e sábado, ficaria mos definitivamente resolvido.
a parte de impressão. Quem quisesse recebê-lo e apres.e~­
tar emendas o faria no domingo e na segunda-feira nu- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Estamos de
eíaríamos a discussão. :É esta a proposição do Relator. Te- pleno acordo com o que levantou o nobre relator. Todos
ríamos a segunda, terça e quartayara discutir, apresentar receberão o calendário, dele tomarão conhecimento, fica-
as emendas e encerrar a díseussão. rão a par da proposição e do que ficar estabelecido, e,
com a presença do Presidente Hermes Zaneti, ficará mais
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - S!:. Pre- fácil para ser levantado um protesto ou alguma divergên-
sidente, eu entendi muito bem. O problema é que nao va- cia que porventura vier a existir, e também a concordân-
mos ter 'em sã consciência sabemos disso, os nossos com- cia do Presidente efetivo, a quem, sem dúvida alguma,
panheiros constituintes no final de semana, para analisa- devemos uma consideração e um reconhecimento e S. Ex;a
rem esses avulsos e fazerem as sugestões das emendas cor- colocará em discussão e votação, num prazo logo depois
relatas. da presença do ministro, ou como julgar conveniente.
O SR. RELATOR (João Calmon) - Teremos três dias Finalmente, eu queria pedir ao Constituinte Tadeu
úteis: dias 18, segunda, 19, terça e 20, quarta-teíra, q.ue Franca que elaborasse o texto da manifestação desta sub-
pode ser pela manhã e à tarde, até altas horas da noíte, comissão à Auditoria Militar do Paraná, para que à tar-
se houver necessidade. de se for preciso, a revisássemos. Depois encarregaria-
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - ~ E aí m~s à secretaria desta subcomissão de fazer a expedição
encurtaria o prazo que V. Ex. a teria para apresentação do do telex.
relatório. Com a palavra o Constituinte Ohico Humberto.
O SR RELATOR (João Calmon) - Também diminui- O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Ape-
ria o praZo para o Rielator, de 72 horas para 48. Seria um nas uma lembrança, para que não tenhamos amanhã o
sacrifício, porque, do contrário, não cumpríremos os pra- dissabor de não termos novamente os companheiros co-
zos Obviamente se for tomada a decísão geral Ide adia- nosco, de que no início da reunião fosse levantada a ques-
me~to do prazo 'para remessa às Comissões. Temáticas fi- tão da decisão do nosso cronograma, para que os constí-
xada pelo Regimento para o dia 25 de maio, o problema tuintes permanecessem até ao final da nossa reunião pa-
deixa de existir. ra discutirmos o assunto,
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Esta O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Está aceita
data, dia 25, já foi estabelecida? a sugestão.
O SR. RELATOR (João Calmon) - Veio da Mesa da Nada mais havendo a tratar, a Presidência vai en-
Assembléia Nacional Constituinte, de acordo com os pra- cerrar a reunião, convocando outra para amanhã, às 9
zos estabelecidos no Regimento Interno, art. 17, § 4.° horas, quando contaremos com a presença do Sr. Minis-
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK - tro da Educação.
Depois do dia 20 viria o quê? (Encerra-se a reunião às 12 horas e 10 mi-
O BR. RELATOR (João Calmon) - A apresentação nutos.)
do parecer do relator sobre as emendas que serao apre- 25.a Reunião
sentadas nesse período. Aos treze dias do mês de maio do ano de mil nove-
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSOHEK - centos e oitenta e sete, às nove horas, na Sala de Reunião
Seria 21, quinta-feira. da Subcomissão Ala Senador Alexandre Costa, Senado Fe-
O SR. RELATOR _(João Calmon) - Dia 21, à tap~e, deral reuniu-se a Subcomissão da Educação, Cultura e
porque poderíamos prolongar até à poite .se neeessano. Espo~tes com a presença dos seguintes Benhores Consti-
E teríamos, para discussão e votação, q.u~nta e sext~­ tuintes: Atila Lira, Bezerra de Mello, Aécio de Borba,
feiras. No sábado e domingo, seria o saerlfícío que pedí- João Calmon, Sólon Borges dos Reis, Pedro Canedo, Flo-
ríamos aos nossos companheiros, seriam destínados a restan Fernandes, Tadeu França, Ubiratan Aguiar, An-
votação do parecer, já com as emendas apresentadas. tônio de Jesus, Agripino Lima, Octávio Elísio, José Moura,
Louremberg Nunes Rocha, Cláudio Avila e Roberval Pi-
O SR. CONSTITUINTE omoo .HUMB~TO- - Não loto. Presentes ainda, os seguintes Constituintes: Artur
vejo inconveniência nenhuma. Ate gostaria, acatando da Távola, Relator da Comissão Temática Oito, Eunice
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 229

Michiles, Paulo Macarini, Alércio Dias, Osvaldo Coelho, sem resposta, no mínimo continuam como um questiona-
Percival Muniz, José Tomás Nonô, Hélio Costa e Abigail mento. E uma das questões, Sr. ministro, dentre tantas,
Feitosa. Havendo número regímental o Senhor Presiden- é a questão dos recursos para a educação.
te Hermes Zaneti declara abertos os trabalhos e convida
a participar da Mesa o Senhor Ministro da Educação Debatemos bastante o assunto, mas nos ficou a sen-
Doutor .Jorge Konder Bornhausen registrando a presença sação traduzida numa pergunta que vários constituintes
de várias personalidades ligadas à Educação. Tece al- fizeram aqui: onde está o dinheiro? Não é no sentido "de
gumas considerações a respeito dos trabalhos que vêm que o dinheiro tenha sido desviado, no sentido acusatório,
sendo realizados por esta subcomissão destacando a im- mas no sentido sério, no sentido da preocupação de quem,
portância dos depoimentos prestados pelas entidades e enquanto constituinte, sabe que está em vigor a Emenda
personalidades durante as audiências realizadas. A seguir Constitucional n.o 24, conhecida como a Emenda Calmon,
passa a palavra ao Senhor Ministro que através de uma e que as mazelas da educação brasileira continuam, que
explanação abrangente relacionada à educação é ques- as dificuldades de recursos continuam, tanto que esta
tionado pelos seguintes Senhores Constituintes: Ubira- subcomissão a par do seu trabalho permanente de estudar
tan Aguiar, Sólon Borges dos Reis, Atila Lira, Octávio a elaboração da nova Constituição na parte que lhe diz
Eli:io, Florestan Fernandes, Louremberg Nunes Rocha, respeito, acompanhou, com preocupação, a greve das uni-
Pedro Canedo, Cláudio Ávila, Osvaldo Coelho, Tadeu versidades brasileiras, acompanha hoje greves em mais
França, Eunice Michiles, Antônio de Jesus Bezerra de de 10 estados, dificuldades no pagamento de salários dos
Mello e José Tomás Nonô. O Senhor Presidente passa a professores, as escolas com díríeuldades, enfim, continua
palavra ao Relator, Constituinte João Calmon, e ao Se- no ar a pe~gunta.
nhor Ministro que apresenta seus agradecimentos reite- Aprovamos uma emenda, pensando que, com esta
rando a confiança que deposita na nova Carta Magna. aprovação, estaríamos equacionando o problema de recur-
Às doze horas e trinta minutos o Senhor Presidente de- sos para a educação brasileira, mas o problema continua.
clara encerrados os trabalhos, convocando outra reunião Então, esta indagação é importante, porque queremos, a
ordinária para amanhã, dia quatorze quinta-feira, às no- partir da nova Constituição, buscar um caminho que seja
ve horas e trinta minutos, cujo teor será publicado, na uma resposta positiva, concreta ao equacionamento deste
íntegra, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte e, problema. Então, esta é uma das tantas questões que eu,
para constar, eu, Sérgio Augusto Gouvêa Zaramella, Se- nesta introdução, manífesto, porque senti, recolhi do pen-
cretário. lavrei a presente Ata que. depois de lida e apro- samento, da preocupação generalizada dos constituintes,
vada será assinada pelo Senhor Presidente. esta questão.
ANEXO À ATA DA 25.a REUNIÃO DA SUB- Por outro lado, nesta introdução, quero também regis-
CO'\llSSAO DA EDUCAÇAO, CULTURA E ESPOR- trar, porque é de justiça, que numa manhã, aqui nesta
TES, RJEALIZADA EM 13 DE MAIO DE 1987, As subcomissão, quando debatíamos a crise da universidade
9:00 HORAS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TA- brasileira, surgiu a solução de que pedíssemos uma audiên-
QUIGRÁFICO. COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMEN- cia ao Sr. Ministro da Educação. Fizemos aqui, da sala
TE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE mesmo, e fomos atendidos de imediato. O Sr. ministro
DA SUnCOMISSAO, CONSTITUINTE HERMES alterou a agenda e nos recebeu no fim daquele mesmo dia,
ZANETI. no seu gabinete. Lá estivemos cerca de 28 constituintes.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Havendo Devo registrar que, a partir daquele encontro, o Sr. mi-
número legal, declaro abertos os trabalhos desta subco- nistro recebeu a direção da ANDES e ai, sim, encaminhou
missão. uma solução que, afinal, chegou a uma decisão de termi-
nar a greve na universidade e prosseguir, numa comissão
O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da reunião que foi organizada, os estudos para viabilizar uma solu-
anterior. ção mais permanente da universidade brasileira.
É lida a seguinte: Registro isso porque entendo que o diálogo é um
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Queremos instrumento importante para a solução dessas tendências.
saudar a todos os nossos convidados aqui presentes, E com este objetivo de manter um diálogo com o Sr. mi-
Srs. constituintes, especialmente o nosso convidado, o nistro, assim como S. Ex.a nos recebeu, no seu gabinete,
Ministro da Educação, Senador Jorge Bornhausen. Esta es~a!TI0s recebendo V. Ex.a aqui, com muita satisfação,
subcomissão tem se dedicado à educação, cultura e espor- mínístro, para exatamente deste diálogo, desta discussão,
te; manteve oito reuniões públicas para audiência a enti- buscarmos as melhores alternativas para escrevermos a
dades que representem diferentes segmentos da vida nacio- nova Carta Constitucional brasileira.
nal. Decidiu também que, nesta fase, ,poderia aprofundar
os debates sobre alguns assuntos específicos, e por esta Esclareço que o Sr. ministro terá o tempo inicial para
determinação resolveu convidar o Sr. Ministro .da euItura, a sua exposição que, segundo disse-me S. Ex.a, falará
que esteve ontem, e o Sr. Ministro da Educação, que nos cerca de 40 minutos, e, feita a exposição por parte do
dá o prazer de estar conosco hoje, havendo aceito ao Sr. ministro, estará aberta a inscrição para os Srs. cons-
nosso convite. tituintes fazerem as suas indagações, os seus questiona-
mentos. Esta não é uma reunião de audiência pública
Quero dizer que esta reunião não é de inquisição, naquela limitação regimental. Por isso os Srs. constituin-
não é reunião de retaliamento, é uma reunião de estudo, tes, evidentemente dentro do prazo razoável, terão tam-
de preocupação, especialmente no sentido de ouvirmos a bém a sua oportunidade de fazer seus questionamentos e
autoridade maior da educação brasileira, enquanto minis- o Sr. ministro as suas respostas .
tro, para que, com a sua contribuição, possa oferecer ao
processo de elaboração da Constituição brasileira as suas É claro também que, conforme adotamos durante as
sugestões, a sua 'contribuição ao debate. E o fazemos nesta nossas oito reuniões de audiência pública, se, em algum
fase porque já ouvimos as entidades representativas, como momento dos questionamentos, o Sr. ministro entender
já disse, 'POrque já temos o relatório e o anteprojeto entre- de solicitar a um ou outro assessor seu, para que responda
gues pelo relator desta subcomissão, senador João Calmon, determinadas questões, não há nenhum óbice não há
e porque, nesta fase de debate, algumas questões ficaram nenhum problema para que isso ocorra. '
230 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Antes de passar a palavra ao Sr. ministro, quero o ensino básico com repasse da ordem de 2,7 bilhões de
convidar o nosso Vice-Presidente Aécio de Borba para cruzados, determinaram cerca de 18.000 salas de aula
que esteja conosco à Mesa, registrar a presença do nosso novas, reforma em 10.000 escolas e treinamento para
Relator, Senador João Calmon, e dizer, afinal, que o 117.000 professores.
Sr. ministro nos dará o prazer da sua permanência nesta
subcomissão até no máximo às 12 horas. Depois S. Ex.a Este ano, a previsão inicial, que deverá ser alterada
terá outros compromissos, mas queremos acreditar que, até em função do processo inflacionário, é um repasse da
essa hora, teremos bastante tempo para o debate. E para ordem de 3 bilhões de cruzados para que os municípios
aproveitar bem o tempo, passo neste momento a palavra possam atender essas finalidades.
aS. Ex.a o Sr. Ministro da Educação, Jorge Bornhausen. Paralelamente a este processo, nós temos o grande
O SR, JORGE BORNHAUSEN - Exmo. Sr. Presidente problema do analfabetismo no Brasil; são cerca de 20
da Subcomissão de Educação, Deputado Hermes Zaneti, milhões de brasileiros, com mais de 15 anos de idade, em
Exmo. Sr. Vice-Presidente Deputado Aécio de Borba, emi- condições de analfabetismo. E para isso temos a Fundação
nente Senador e Relator desta subcomissão, João Calmon, Educar, que nasceu da transformação do antigo Mobral,
Exmos. Srs. constituintes, Exmas. Senhoras e meus senho- teve um novo direcionamento, visando apenas e exclusi-
res. vamente à alfabetização de brasileiros com 15 anos e mais
idade. Ainda não atingimos, no meu entender, uma ação
Desejo, inicialmente, registrar a minha honra de po- satisfatória na Fundação Educar. No ano passado, a Fun-
der participar dos trabalhos desta subcomissão. Como par- dação Educar atingiu a cerca de 3.500 municípios, e pôde
lamentar, eventualmente, afastado do senado, em face da dar vazão nas salas de aula a 727 mil alunos, dos quais
convocação que recebi do Presidente José Sarney, é para 526 mil iniciando a alfabetização. Mas tivemos ainda 30%
mim um momento muito feliz e oportuno o de estar aqui de evasão e não temos um conhecimento preciso dos resul-
para poder participar, numa manhã, pelo menos, dos tados obtidos nessas salas de aula.
trabalhos históricos da Assembléia Nacional Constituinte.
Agradeço, portanto, ao Presidente da subcomissão, que Temos necessidade de diminuir o corpo da Fundação
teve a iniciativa deste honroso convite, assim como agra- Educar e chegar ao fim da linha, fazendo com que a
deço a sua saudação. descentralização e a municipalização possam ser os ins-
trumentos para a agilização dos objetivos finais da Fun-
Para podermos dar a relativa contribuição que posso dação Educar. Devemos, também, destacar que no ensino
oferecer, procurarei apresentar uma exposição que mos- básico, ações paralelas são importantes e são realizadas
tre, de forma sintética, as ações do Ministério da Educa- através dos governos e especialmente do Governo Federal.
ção, o problema do orçamento do Ministério da Educação, A ação, na merenda escolar, atingiu a cerca de 25 milhões
para que se tenha uma compreensão da importância da de crianças na rede oficial e, já no ano de 1986, nós tive-
vinculação e, finalmente, sugerir alguns princípios que mos o acréscimo de 180 dias para 260 dias de merenda,
possam ser aproveitados, examinados, debatidos na for- além do atendimento às crianças de 4 a 6 anos dentro
mulação do novo texto constitucional. do Projeto Irmãozinho, que atingiu a mais de 6 milhões
O Ministério da Educação tem a obrigação de orien- de crianças, foram 5 bilhões e 400 milhões de cruzados,
tar e ajudar a política educacional no seu todo. Começa- que foram gastos na merenda escolar e bem aplicados.
rei, portanto, a falar sobre o ensino básico. A meta do Devo, ainda, esclarecer que esses recursos não saíram dos
Programa Educação para Todos nos leva a procurar, em recursos- da Emenda João Calmon, saíram do Finsocial,
primeiro lugar, zerar o déficit escolar. As estimativas dentro daquilo que o Governo considera absolutamente
atuais giram em torno de 4 milhões e 300 mil alunos fora correto. Há um outro programa na Fundação de Assis-
da escola. Para ter uma estimativa mais precisa estamos, tência ao Estudante da maior importância; que é o Pro-
nesse momento, realizando um censo escolar em convênio grama Nacional do Livro Didático. Em 1986, este programa
com todas as Secretarias Estaduais. Em segundo lugar, foi lançado e foram entregues nas escolas oficiais 43 mi-
melhorar a qualidade do ensino pela capacitação, habili- lhões de livros. Em 1987, já entregamos 55 milhões de
tação e valorização do professor, com treinamentos para livros; são 98 milhões de livros didáticos, que chegaram
os professores leigos e não habilitados em número elevado às salas de aula num trabalho gigantesco, é a maior dis-
ainda, na rede oficial, chegando a quase 30%. E também tribuição de livros didáticos no mundo e hoje propor-
pela valorização do magistério, uma vez que, a partir de ciona 3 livros por aluno em cada escola oficial. Esses
1987, o Ministério da Educação não repassa recursos a livros não são mais descartáveis e o aluno não é o pro-
municípios, que não tenham o Estatuto do Magistério ou prietário do livro, o livro pertence à escola, ao banco de
Plano de Cargos e Salários, procurando desta maneira ga- livros da escola. Neste programa foram gastos, no ano
rantir o mínimo para o magistério municipal e, com isso, passado, 553 milhões e, este ano, cerca de 800 milhões.
trazer a essencial valorização do magistério. Um novo programa foi lançado este ano no Nordeste, o
de material escolar para o aluno. Cada aluno da rede
Procuramos, através das ações, diminuir o problema oficial de 1.0 grau do Nordeste recebeu caderno, lápis,
da evasão e da repetência. Evasão que chega a 12%, na papel, borracha, caneta esferográfica, lápis de cor, porque
primeira série; e a 17%, na quinta série, do ensino básico; evidentemente nós notamos que nas reglões carentes o
e repetência, que vai a 24,48%, na primeira série e que acompanhamento se torna difícil em face da falta de ma-
fica em 23,5%, na quinta série. Os pontos mais acelerados terial para o acompanhamento do escolar. E nós vamos
de evasão e repetência. Para isso o Ministério realiza precisar ter um programa também para a escola e um
ações. programa para o professor.
Em 1986, através de repasses de recursos para os Esta- Ainda no que diz respeito à Fundação de Assistência
dos, Distrito Federal e Territórios, no valor de 1 bilhão aos Estudantes, nós temos o programa da saúde escolar,
e 800 milhões de cruzados, obtivemos a construção de 3 ainda insuficiente, mas que atendeu, em 1986, a 750 mil
mil 569 salas novas de aula, a reforma de 2 mil 570 esco- alunos e o programa de bolsas de estudo e o programa
las existentes e o treinamento de 118 mil professores. Este das salas de leitura.
ano os convênios com os Estados atingem a cifra de 2,7 bi-
lhões de cruzados, e o Ministério já liberou 34% desses Devemos ainda dar uma palavra sobre o pré-escolar,
convênios. Em 1986, os municípios- foram atendidos para ele encontra-se ainda bem atrasado também. Mas, em
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 231

1986, com recursos da ordem de 308 milhões de cruzados, nas mesmas condições, 30 escolas técnicas, industriais,
já foi possível pagar professores nas escolas municipais mais do que -dobrando o número existente a nível de Go-
e estaduais que atenderam a 600 mil alunos na pré-escola verno Federal, que era de 23; e mais 90 apoios a prefeitu-
e, este ano, praticamente, a nossa dotação foi dobrada ras, Estados, Senai, Senac e outras entidades não lucrati-
para alcançarmos também uma meta dobrada no que vas, idestinadas ao setor, num total de 204 escolas técnicas,
diz respeito aos alunos. já ultrapassando, assim, O' programa estabelecido pelo
Presidente da República.
Devo, em seguida, fazer referências ao ensino de 2.°
Grau. A situação do ensino ide 2.° Grau é uma situação Devo, também agora, passar a fazer referências sobre
bem difícil, porque ele fica espremido entre a obrigação o 'ensino superior, começando pelo ensino de graduação.
constitucional do 1.° Grau e a força do 3.° Grau pela A partir do trabalho elaborado pela Comissão Nacional
qualidade da comunidade universitária. Por isso mesmo para Reformulação da Educação Superior, o Ministério da
nós temos resultados baixos a níveis nacionais. Na popu- Educação criou o Grupo Executivo para Reformulação do
lação estimada de 16 milhões de brasileiros de 15 a 19 Ensino Superior, o Geres. Este grupo trabalhou, durante
anos, apenas 3 milhões se encontram nas escolas de 2.° o ano passado, no segundo semestre, produziu um do-
Grau. Devo destacar no 2.° Grau, o Programa Educação e cumento, que era um anteprojeto sobre o ensino superior.
Trabalho, programa lançado pelo Presidente José Sarney Em face da convocação já existente da Assembléia Nacio-
em fevereiro de 1986, visando a retomada do ensino téc- nal Constituinte, o grupo resolveu trabalhar apenas sobre o
nico como prioritário no Brasil. a Presidente anunciou ensino público federal, e produziu um anteprojeto, que foi
que, durante o curso do seu governo, iria fazer com que apresentado ao Presidente da República e, após uma reu-
se estabelecessem 200 novas escolas técnicas para poder nião, entre o Ministério da Educação, o Ministério do Pla-
atender a uma faixa que, evidentemente, é carente no nejamento e a Casa Civil, foi aprovado, para que fosse
Brasil, porque nós temos deficiência na formação de téc- enviado ao congresso Nacional e apreciado, ainda, no
nicos de nível médio. A preocupação do Ministério foi for- ano de 1986.
mar uma equipe de trabalho que pudesse fazer com que
o plano fosse ágil. Não tivemos qualquer preocupação no Este estudo, este anteprojeto, determinava, entre os
sentido de ter marcas arquitetônicas, tivemos a preocupa- seus aspectos principais, a criação do ente jurídico único
ção de ter agilidade, ganhar no tempo e ter qualidade. universidade, o que acabaria, imediatamente, com a dico-
Dessa forma nós procuramos idividir este trabalho em 4 tomia existente entre fundações e autarquias. E, por via
itens de atendimento: as escolas agrotécnicas de 1.0 Grau, de conseqüência, teria, se aprovado no Congresso Nacio-
ou seja, o retorno dos ginásios rurais; a complementação nal, em 1986, trazido de imediato os benefícios da isono-
dos estudos de 5.a. a 8. a série dentro de estabelecimentos mia, que eram acompanhados dos benefícios previstos, no
apropriados, que são conveniados com as Prefeituras Mu- mesmo projeto, da aposentadoria integral.
nicipais, as Prefeituras dão os terrenos, o Ministério paga a projeto consagrava a autonomia das universidades,
a construção e equipa as escolas e a Prefeitura recebe ain- fazendo com que o seu controle se realizasse, apenas a
da uma ajuda de manutenção, ou no caso da formação posteriori, pelo desempenho, estabelecendo, também, dota-
de uma fundação, também a fundação recebe a ajuda ções globais para as universidades. E o projeto estabele-
indispensável. cia uma lista tríplice para a escolha de reitores, que nas-
O segundo item foi o item das Escolas Agrotécnicas ceria de um colegiado, escolhido pela representação ide
de 2.° Grau, escolas que são feitas pelo próprio Governo professores, alunos e estudantes, mas dando, nesse cole-
Federal e mantidas pelo Governo Federal dentro da antiga giado, prevalência, maioria aos professores, porque a uni-
rede da Ooagrí. versídade é casa do saber.
O terceiro item são as Escolas Técnicas Industriais. E finalmente, consagravam um princípio indispensá-
Devo ressaltar aqui que o Governo Federal, desde a década vel à melhoria de qualidade da universidade brasileira, que
de 50, não tinha acrescentado nenhuma escola técnica é a avaliação. Ninguém chegará realmente à melhoria da
industrial no Brasil. E retomamos, portanto, um processo universidade brasileira, ISe nós não procedermos à avalia-
da maior importância. Só para citar um exemplo, no mês ção. QuaIlldo se fala em crise, quando se fala, em dificul-
de abril, ,eu estive inaugurando a Escola Técnica e Indus- dades, nós temos que imaginar o ente como um ser huma-
trial de Cubatão, com 3 cursos: um de eletrônica, um de no; ninguém pode proporcionar a cura a quem está doen-
informática industrial, outro de processamento de dados, te, sem fazer exames. Assim o é, também, no ente jurídico
com 80 vagas para .eada curso inicialmente. Apresenta- universidade. Precisamos avaliá-la. A experiência da ava-
ram-se para a seleção 2.500 candidatos, numa prova evi- liação na pós-graduação revela, claramente que este pro-
dente do acerto em perseguirmos o ensino técnico indis- eedímento é indispensável à solução e à melhoria dos pro-
pensável neste País. blemas existentes na universidade brasileira.
E um quarto item foi o de apoio às escolas já existen- O projeto não chegou a ser apresentado ao Congresso
tes. lí: claro que com uma injeção de recursos nós podemos Nacional. Manifestações assiduas das organizações de clas-
pegar uma escola estadual 'e fazer com que ela tenha no- se, professores, funcionários e do próprio Conselho de
vos laboratórios, novos cursos, aumente imediatamente o Reitores solicitaram que ele não fosse enviado, e, demo-
número de vagas. Igualmente com as escolas municipais craticamente, o Presidente José Sarney não o enviou, per-
estamos fazendo convênios também com o Senai e com mitindo que continuássemos a discussão.
o Senac, que possuem larga experiência no setor técnico
e que mantém na continuidade as escolas. Esses convê- lí: natural que, advindo, em 1987, a Assembléia Nacio-
nios têm tido um grande resultado porque nós consegui- nal Constituinte, não poderíamos enviar este projeto ao
mos estabelecer praticamente os cursos imediatamente. Congresso Nacional. Teremos que, naturalmente, aguardar
Para que se tenha uma idéia do que já foi alcançado no as regras fundamentais que irão reger a educação brasilei-
programa, nós temos, já conveniadas em execução e algu- ra para, posteriormente, pensar na sua regulamentação
mas em funcionamento, 71 escolas agrotécníeas de 1.° legal. Mas devo destacar que, no ano. de 1986, visando à
Grau; em projeto, contratado, 13 escolas agrotécnicas de melhoria da qualidade e à fiscalização do ensino superior,
2.0 Grau; nas mesmas condições execução e algumas em tivemos medidas altamente eficazes nascidas do Conselho
funcionamento, 71 escolas agrotécnicas de 1.0 Grau; em Federal de Educação: uma no que diz respeito à obrígato-:
projeto contratado, 13 escolas agrotécníeas de 2.° Grau; riedade de 75% de freqüência dos alunos; outra no que diz
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respeito à divisão igualitária do tempo de aula nos dias Devo dizer, inicialmente, que há uma constatação, que
da semana para evitar os cursos de fim de semana. nos leva a uma meditação profunda: enquanto as univer-
sidades públicas têm apenas 6% dos seus cursos notur-
E devo dizer que ainda uma medida fundamental foi nos - e isto é muito importante em função do problema
tomada, através de decreto, suspendendo a criação de no- de financiamento das universidades -, nas particulares
vos cursos, para que possamos proceder, efetivamente, a encontramos 51,2% de cursos noturnos.
uma avaliação. Essa suspensão respeitou as cartas-consul-
tas, j á enviadas ao Conselho Federal até a sua época. As universidades federais, as instituições de ensino
superior federais, em 1985 - e as alterações foram mini-
No ensino superior devemos, também, falar sobre o mas porque as contratações estão proibidas. Posuiam
Programa Nova Universidade. l!J preciso que se tenha idéia 47.886 professores. 'O número de funcionários, 86.671, para
de que este Programa foi uma junção de uma série de o número de alunos de 326.522.
programas que existiam na Secretaria de Ensino Superior.
Não se retirou nenhum recurso de qualquer universidade. O orçamento de 1986 das universidades federais, das
Fez-se, isto sim, um único programa dentro da Secretaria instituições de ensino superior federais, excetuada pequena
de Ensino Superior. Este programa, na sua primeira fase, verba que, depois será salientada quanto às demais insti-
visou, através de três ações denominadas bíblos, micros tuições, atingiu, no final do orçamento de 1985, a 20 bi-
e oficinas, fazer com que a informática ingressasse defini- lhões e 500 milhões de cruzados. Este ano, o orçamento
tivamente na universidade, as bibliotecas fossem melhora- iniciou-se com 19,6 bilhões de cruzados, é natural que
das e os laboratórios e oficinas também. Para que se tenha tendo havido, depois de agosto, uma série de suplementa-
uma idéia, nessa primeira fase, foram despendidos 153 ções, o orçamento final de 1986 tenha sido maior do que
milhões, e só em computadores nós tivemos um acréscimo o de 1987, porque foi calculado sem índice inflacionário,
de 1.345 computadores nas universidades brasileiras. mas já estão ocorrendo, no Ministério do Planejamento,
suplementações no valor de 3 bilhões 970 milhões de cru-
Numa segunda fase, foram analisados os projetos en- zados, para fins de. custeio das universidades.
viados pelas diversas entidades de ensino superior e foram
aprovados 1.960 projetos, que determinaram o envio de Em 1986, o pessoal correspondeu a 14,3 bilhões, o cus-
recursos da ordem de 450 milhões. Devo dizer que desse teio a 4,3 bilhões e os outros programas: o programa do
total de Cz$ 603.000.000,00) seiscentos e três milhões FNDE, da Secretaria de Ensino Superior, do CEDAT, a 1,9
de cruzados) do programa Nova Universidade CZ$ bilhão, somente, portanto os 20,5 bilhões de cruzados.
486.000.000,00 (quatrocentos e oitenta e seis milhões Portanto, se quisermos fazer uma relação física, aluno/pro-
foram para as universidades federais e Cz$ 116.000.000,00 fessor/aluno, vamos ter um professor para 6,8 alunos.
(cento e dezesseis milhões) para as universidades e insti- Mas considerando que nós não temos todos os professores
tuições de ensino não federais, computando-se, aqui, as a 40 horas e sim a 20 horas, e considerando também que
estaduais e as municipais. os alunos estudam 20 horas e não 4 horas, de acordo com
técnicas internacionais, teremos de fazer este ajuste e
Ainda em 1986, por enfrentar o grave problema dos então, teríamos cerca de 41 mil 906 professores, ajustando
hospitais universitários, fizemos um programa de atendi- a 4fr horas para 196 mil e 700 alunos, ajustando a 40 ho-
mento imediato aos casos mais graves, com dispêndio da ras, o que faria com que a relação caísse de um profes-
ordem de Cz$ 149.000.000,00 (cento e quarenta e nove sor para 4,7% alunos, índice que é bem inferior àqueles
milhões), e também demos continuidade a obras. nos Oam- países como a Alemanha, que vai de 1 para 15 dentro des-
pis através do convênio evistente que nos traz recursos sas mesmas técnicas de exame; os Estados Unidos, 1 para
do Bm, o MEC/BID n.O 3, na ordem de Cz$ 200.000.000,00 19; a Espanha, 1 para 17 e a média européia é de 1 para
(duzentos milhões), e acrescentamos no Tesouro mais 12.
CZ$ ~20.000.000,00 (duzentos e vinte milhões). E a pro-
gramação deste ano, excluídos os recursos internacionais, Devo, ainda, no' ensino de graduação, fazer um escla-
vai a Cz$ 600_000.000>,00 (seiscentos milhões). recimento sobre o problema auxílio às entidades não
federais, tema que vem constantemente sendo debatido.
Cabe aqui uma observação. Eu acho que o País gasta O total de auxílios desse orçamento de 20 bilhões e 500
muito na conservação dos prédios públicos escolares e milhões de cruzados para as entidades não federais é
parece até que falta um pouco de amor à escola. E, quando de 236 milhões, 729 mil, 851 cruzados, englobadas aqui as
governador de Estado, eu sempre me sentia flechado, quan- estaduais e as municipais. Se sairmos das estaduais e das
do passava à frente de uma escola e via seus vidros que- municipais e partirmos para as comunitárias, que rece-
brados, o seu muro derrubado e as pessoas dizem: "que bem também participação de progresnas, tipo nova Uni-
governo fraco". versidade, nós teremos 162 milhões, 510 mil, 147 cruzados
Na realidade, o governo não quebra vidros, não des- em '1986, o que não chega a 1,2% do orçamento para o
trói muros, não faz com que sejam destruidos os banhei- ensino superior do Ministério da Educação.
ros, como aqui ocorreu, no Distrito Federal, onde, no ano
pasado, foram necessários Cz$ 12.000.000,00 (doze mi- Devo também salientar que o Crédito Educativo, em
lhões) para consertar os banheiros das escolas públicas do 1986, atendeu a 56 mil alunos com 264 milhões de cruza-
Distrito Federal. dos. Não posso deixar de fazer aqui um capítulo especial
Eu chamo a atenção, porque, se nós fizermos efetiva- para a isonomia. Já relatei que o anteprojeto do Governo
mente uma campanha de conscientização, nós vamos ter de 1986, através da criação do ente jurídico universidade,
mais recursos para o objetivo final da educação. E chamo nós teríamos alcançado a isonomia, ainda no ano pas-
a atenção, dentro desses números, da própria universi- sado. Esta era a' "intenção do Governo.
dade, na conservação, na remodelação, na reforma dos Este ano, antes da abertura do Congresso Nacional,
Oampís. mesmo reconhecendo as dificuldades dos trabalhos, ,do
Finalmente, também ainda em termos de universidade, funcionamento normal da Câmara e do senado Federal,
em cursos de pós-graduação, devo fazer algumas conside- o -Governo enviou projeto de Ieí, criando um plano único
rações a respeito da distribuição, de recursos e a respeito, de cargos e "salários para as fundações e autarquias. Este
também, e sobretudo, de um problema que merece discus- projeto, que veio para o Congresso Nacional, mereceu
são no Brasil, que é o problema de número de professores, urgência em ambas as Casas e aqui teve, como relator,
número de funeíonários e número de alunos. oemínente Presidente desta subcomissão, Deputado Her-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 233

mes Zaneti, e foi aprovado com as emendas que o Parla- em 1989, do número de bolsas no País e multiplicará
mento julgou indispensáveis no respectivo projeto. por 5 as no exterior, também em 1989, passando de 2 mil
Devo lembrar que, imediatamente, apesar do movi- para 10 mil no exterior e 12 mil para 36 mil no País
mento de greve existente, o Governo tornou as providên- até 1989.
cias que deveria ter tomado, ou seja, nomeou imediata- Além disso, o valor das bolsas passou a ser 70% do
mente a Comissão Interministerial e começou a trabalhar salário do professor-assistente no mestrado e do adjunto
de forma a mais rápida possível, a fim de obter resultados no doutorado, reajustável, portanto, de acordo com as
imediatos que possibilitassem vantagens já antecípadas novas tabelas que estão entrando em vigor neste momento.
à classe dos professores e funcionários. No dia 27 de abril,
apresentei exposição de motivos ao presidente da Repú- Temos 10 anos de avaliação bem sucedida. Raramente
blica, em virtude de trabalho já efetivado por esta comis- vejo 'críticas na imprensa, nos meios universitários, na
são, exposição de motivos esta que estabeleceu alguns comunidade acadêmica aos cursos de pós-graduação. Devo
critérios e novas tabelas; critérios que julgo importante dizer que a avaliação permanente é a razão desse sucesso
ser do conhecimento da comissão. Primeiro, uma correção e que 60% dos cursos estão na classe A, ótimo; ou B,
da curva salarial dos docentes, estabelecendo acréscimos muito boa, de acordo com os critérios estabelecidos
de 4%, sempre que houver mudança de nível na mesma pela CAPES.
carreira, e 25% de acréscimo na carreira final, através Devo dizer, também, por dever de justiça, que 85%
de concurso de provas e títulos. da pesquisa está na universidade pública brasileira, com-
Aprovamos o aumento da dedicação exclusiva de 25% preendendo também uma grande atuação das universi-
para 40% e criamos a volta dos incentivos ao mérito e dades estaduais, especialmente de São Paulo.
à competência. Quero me reportar a uma ação, que é indispensável,
Embora não tenha sido, em momento nenhum, colo- que não pode ser esquecida no processo da configuração
cado este assunto com ênfase, entendeu o Governo que da nova Carta Constitucional; a educação especial. Em
deveria fazer com que realmente o mérito e a compe- 1985, foi estabelecido pelo Governo a criação do Comitê
tência fossem fatores de estímulo para a melhoria da Nacional que estudou o problema da educação especial.
qualidade de ensino nas nossas universidades e, por isso, Como resultado desses estudos, nós tivemos a criação da
foram estendidas vantagens de 15% para quem tem mes- Secretaria de Educação Especial. E, de imediato, os bene-
trado e 25% para quem tem doutorado. fícios que vieram em função da criação deste órgão: há
9 anos, aguardava-se a regulamentação de uma portaria,
Como 'contrapartida, o Governo estabeleceu também que permitisse ao Ministério da Educação cumprir a sua
que deveria haver melhor produtividade em relação aos parte no financiamento de bolsas para os deficientes.
recursos aplicados, melhor aproveitamento dos horários Somente o ano passado, depois da criação da Secretaria,
ociosos, de preferência os horários noturnos, que são aque- tivemos a oportunidade de ver essa portaria em vigor e
les essenciais para quem trabalha, extensão do calendário ela vai permitir, com os recursos, este ano de 216 milhões,
escolar e avaliação pública que, repito novamente, é ins- atingirmos a 305 mil alunos, dentro dessas escolas, bene-
trumento que terá que ser implantado, sem o que não ficentes e sem fins lucrativos que temos espalhado em
teremos realmente uma melhoria da qualidade de nossa todo o território nacional.
universidade. No que diz respeito ao desporto, já teve a comissão
Para que se tenha uma idéia, aqueles que têm dedi- oportunidade de ouvir aqui, depoimentos dos integrantes
cação exclusiva na universidade, os professores, o auxi- da equipe do Ministério da Educação, mas vale salientar
liar-1 passará a ganhar 21 mil e 280 cruzados, enquanto um aspecto de vital importância, e que se não vier a ser
o titular, 45 mil e 965 cruzados e, se tiver doutorado, objeto de nenhum artigo constitucional, tem que ser, ne-
57 mil e 456 cruzados. cessariamente, examinado a nível de legislação ordinária,
que me parece o mais acertado: é o problema de recursos
Devo, ainda, no setor de ensino superior, fazer refe- para o desporto nacional.
rências à pós-graduação e à pesquisa. O sistema educa-
cional mais diretamente ligado com a questão da auto- No ano passado, o Congresso Nacional, num esforço
nomiacientífica e independência tecnológica é, realmente, meritório, aprovou o relatório do Deputado Aécio de Bor-
no País, a pós-graduação nas universidades. Ela passou ba, a respeito da alteração da destinação dos recursos da
a ser acompanhada, regulada, pelo MEO em 1975. Para Loteria Esportiva. O projeto, em função de argumentação
que se tenha uma idéia, em 1975, tínhamos 370 cursos do Ministério do Planejamento, foi vetado. Estudamos,
de mestrado e 89 de doutorado. Hoje, temos 870 cursos de a nível de Ministério, o retorno do projeto que possa
mestrado e 346 de doutorado. fazer com que haja uma nova configuração nessa distri-
buição, porque, efetivamente, os recursos orçamentárias
Além disso, temos o programa de bolsas no exterior. são 'pequenos e sofre, sempre, o Ministério a alegação de
Esses cursos de graduação custaram, no ano passado, à que j á temos recursos demais, porque já temos a emenda
União, 140 milhões de cruzados e mais 380 milhões de do Senador João Calmon e, como o esporte não cabe
cruzados para 8.950 bolsas no País, além de 10 milhões dentro daqueles 13%, nós temos sempre uma defasagem
de dólares para 1.100 bolsas no exterior. Lamentavelmen- e temos, portanto, um atendimento insuficiente ao setor.
te, contamos apenas, ainda, com um cientista para 4 mil
habitantes, nível bem baixo para um País que pretende Gabe, aqui também, fazer aqui algumas considerações
ser desenvolvido. a respeito do uso do rádio e da televisão para o ensino
brasileiro, destacando aqui as -ações da Funtevê. Devo es-
A produção anual no Brasil é de 4 mil mestres, 600 clarecer que a Funtevê, que tem no Rio de Janeiro a TVE,
doutores e 500 doutores no exterior. Existe um esforço ela produziu em 1986 um programa de 8 horas diárias,
do Governo, esforço concentrado, que se traduz em duas denominado TVE na Escola, programa 'que vem sendo
ações: a aprovação do terceiro programa nacional de aproveitado pelas televisões educativas e pelas rádios edu-
pós-graduação e o programa de extensão de bolsas de cativas de todo o Brasil. Produziu também um programa
estudo, apresentado conjuntamente -com o. Ministério da da- maior importância na luta pela capacitação dos pro-
Ciência e Tecnologia, que nos levará a uma triplicação, fessores, que é o da qualificação profissional para o ma-
234 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBL,ªIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

gístérío, também um programa da melhor Qualidade El o MEC foi beneficiado com 89% da Emenda Calmon,
iniciou um programa da maior importância denominado destinados a outros órgãos como o Exército, a Aeronáu-
Universidade Viva. O que vem a ser? Nós temos tido tica, órgãos que têm setor educacional, Distrito Federal,
constantemente, nas universidades brasileiras, palestras territórios, o restante.
de ilustres conferencistas que são convidados no exterior
e que vêm trazer os seus conhecimentos a uma determi- Desejo agora dar conhecimento aos S["s. Constituintes
nada universidade; muitas vezes estas palestras são assis- da distribuição dos recursos da emenda do Senador João
tidas por 30, 40, 50 pessoas no máximo. Algumas delas Calmon.
despertam maior curiosidade e lotam os auditórios, mas 1986
essas palestras se perdem naquele auditório. Com o pro-
grama Universidade Viva, temos, então, a oportunidade I Grau, 1.7 bilhão
da gravação das palestras, da distribuição dos vídeos nas Ir Grau, 2.4 bilhões
universidades e da própria utilização desses tapes, através IH Grau, 16.7 bilhões
das nossas televisões educativas, um programa que, então. Administração 1..7 bilhão
justifica o chamamento daquela autoridade como convi-
dada ao Brasil. Pasep 1.2 bilhão
outros 600 milhões
E devo destacar que, recentemente, firmamos um con-
vênio com o Ministério das Comunicações, para o uso do 1987
satélite com os custos reduzidos. Isso vai-nos permitir ter I Grau 1. 8 bilhão
350 pontos novos de retransmissão de televisão educativa
no Brasil, podendo atender 2/3 do território nacional. li Grau 3.1 bilhões
HI Grau 17.2 bilhões
Ainda como palavra final sobre as ações do Ministério,
sobre este relatório mais sintético possível que faço, devo Administração 1.5 bilhão
dizer que há uma preocupação no setor de informática Pasep 1. 3 bilhão
inegável. Por isso, temos o projeto Educon com 5 planos Como V. Ex.as vêem, em 1986,69% da Emenda Calmon
pilotos distribuídos em universidades brasileiras que estão
mais adiantadas no setor de informática. foi destinada ao !II Grau; em 1987, no seu orçamento
inicial, estão destinados 70% da Emenda Calmon.
Realizamos, em 1986, o primeiro concurso nacional de
soft-ware educacional e ainda temos o projeto Formar, O Finsocial, que entra com parcela substancial para
para formação de professores de informática e estamos o Ministério da Educação - e chamo atenção aqui no
trabalhando com os Estados na implantação dos oentros estudo da Subcomissão que, no relatório de outra subco-
de Informática e educação estaduais. missão parece que desaparece o Finsocial, e isto tem que
A segunda parte desta exposição, conforme falei no ser muito bem examinado no que diz respeito ao pro-
início, refere-se ao problema educação e orçamento. É um blema educação, ao problema saúde, que são os dois Minis-
térios que recebem maiores benefícios do Finsocial - nós
capitulo indispensável neste momento e que os Srs. Cons- temos, em 1986, destinados ao Ministério da Educação 5,8
tituintes têm que fixar uma posição política em relação
bilhões do Finsocial, do livro didático ao material escolar,
à educação. A vinculação nasceu na Constituição de 1934 especialmente para a merenda escolar.
e foi conservada no tempo no que diz respeito a Estados
e Municípios, sempre. No que diz respeito à União, ela Em 87, inicial, 7.4 bilhões, dos quais 5.4 para a me-
desapareceu na Constituição de 1967, mas graças a um renda escolar.
esforço extraordinário que acompanhei, nos últimos anos,
do eminente Senador João Calmon, tivemos o retorno da Outro assunto de fundamental Importância para o
vinculação, que passou a produzir os seus efeitos em 1986, exame por esta subcomissão, é que também fui ínfor-
com a fixação de 13% sobre os impostos líquidos. mado, ontem, o dia que foi inicialmente votado o desa-
parecimento progressivo do salário-educação. O salário-
Mas é preciso que se tenha uma idéia da formação educação é aquele que incide sobre 2,5% do salário-con-
do orçamento do Ministério da Educação, para que se tribuição das empresas privadas e públicas. Ele é arre-
possa fazer com que haja uma regra, que venha a ser cadado, uma parte do lapas, uma parte pelo Sistema de
uma regra adequada à nova realidade da nova Constitui- Manutenção de Ensino, ou seja, pelo FNDE.
ção e por isso destaco este capítulo. O orçamento de 1986
- e aqui me refiro ao orçamento final com todas as Em 1986, no lapas, tivemos 3.,9 bilhões; 2 bilhões e
suplementações - ficou assim distribuído: Emenda Cal- 600 milhões para a cota estadual, aquela que vai direta-
mon, 24,3 bilhões de cruzados; salário-educação, cota fe- mente para os Estados, e 1.3 bilhões para a cota federal,
deral, 3 bilhões de cruzados; salário-educação, bolsas de aquela que vem para o Ministério, e 25,% obrigatoriamente
estudo, 500 milhões de cruzados; Finsocial, já me referi é aplicado para os municípios, o que excede em muito,
que é o financiador da merenda, é o financiador do ma- dobra, praticamente, esses 25%.
terial escolar do livro didático, 5,8 bilhões de cruzados;
operações de crédito, 1,4 bilhão de cruzados; outras re- Pelo FNDE, pelo Sistema de Manutenção do Ensino,
ceitas próprias das universidades, loteria esportiva e tivemos a cota estadual, aquela que vai diretamente pura
outras fontes, 6,7 bilhões, totalizando 41,5 bilhões de cru- Os Estados, 3 bilhões e 400 milhões; da cota federal, 1.7
zados, dos quais 24,3 são da Emenda Calmon. bilhões e para a bolsa 500 milhões, totalizando 5.6 bilhões
de cruzados,
Em 1987, o orçamento inicial, sem qualquer inclusão Portanto, tivemos uma arrecadação de 9 bilhões e
de percentual inflacionário, nos dá: a Emenda Calmon, meio, que se aplicou na Educação. :m importante que nos
24,9 bilhões de cruzados; salário-educação, cota federal: estudos da fixação de vinculação à educação, se Teve em
3,3 bilhões de cruzados; salário-educação, bolsa: 600 mi-
consideração aquilo que está sendo estabelecido 'em rela-
lhões de cruzados; Finsocial: 7,4 bilhões de cruzados; ção ao FinsociaJ: e ao salário-educação.
operações de crédito, 1,4 bilhões de cruzados; outras re-
ceitas: 2,1 bilhões de cruzados, totalizando 39,7 bilhões Devo dizer que defendo fUllidamentalmente a neces-
de cruzados. sidade da permanência do salário-educação 'como ínstru-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 235

mento fundamental para o Iprocesso de desenvolvimento nal, embora, ache e 'entenda que a sua regulamentação
educacional no Brasil. deve promover modificações, aíustes e melhorias.
Finalmente, sem pretender, de forma alguma, estabe- Acho que o ensino f,ederaJ deve ter caráter subsidiá-
lecer príncjpíos que não sejam díscutíveís e, partindo do rio, atuando nos dístrícos limites das deficiências locais.
princípio de que o Governo, da forma a mais democrá- No momento em que elas desapareçam, devemos fazer
tica possível, não mandou nenhum modelo para a Assem- com que a ação se estadualíse ou se muníeípalíse, e que
bléia Nacional Constituinte, isso deve ser consignado, pa- os recursos passem a ser canalizados diretamente para o
ra que houvesse' a plena liberdade, liberdade €'88a que Esta:do ou para o MunicLpio, porque, efetivamente, o pro-
também houve na formação dos part1dos políticos para a cesso de fiscalízação e de avaliação local é muito melhor
representação na Assembléia Nacional Constituinte. Não do que o à distância.
caberia, portanto, ao Ministro da Educação, propor arti- Acho que há uma oportuntdade de se escrever na
gos, fórmulas para que viessem aqui ser debatidas e apro- Constituição de que o ensino deverá ser gratuito para
vadas ou não aprovadas. todos os ,pol.'ta:dores de deficiência, de acordo com o que
Mas, respeitosamente, tirando da minha experiência for estabelecido em lei.
de governador, de ex-governador, de parlamentar, de mí- E, finalmente, entendo face à necessidade da valo-
nístro durante 'esse período, ouso colocar algumas ques- rízação do Magistério, daquilo tudo que dissemos em ra-
tõss que, no meu entender, deveriam ser examinadas e, zão do respeito que temos ao Magistério e a sua função,
se aprovadas, inseridas na nova Constituição. de que os cargos iniciais e finais de carrelra de Magis-
Não quero aqui abranger todos os princípios, quero tério, os seus preenchimentos, devem, na letra da Carta
abranger alguns ,pontos que consídero fundamentais. Constitucional, estar previstos mediante concurso de Ipro-
vas e tí:tulos, de forma a mais sucinta possível, dentro
Em primeiro lugar, a educação é um direito de todos de um quadro muito amplo de grandes desafios e insufi-
e um dever do Estado, mas, também da família ,e da so- ciências que nos levam a pensar muito, a debater muito,
eíedade, Acho que não podemos deixar de acrescentar esse a querer o melhor.
problema família e sociedade na Constituição brasileira.
Quantos pois não ajudar ao cumprimento do dispositivo Espero ter dado uma modesta contribuição, procuran-
constitucional que obriga as crianças de 7 a 14 anos" a irem do revelar, nesses três pontos, a transparência das ações
para a escola. Nós não podemos deixar de pensar que realizadas no Ministério, a necessidade do 'estudo pro-
existe também esse fa:tor. rundo do orçamento, e o debate de princípios, alguns
polêmicos, mas que acho indispensáveis nesta subcomis-
S.egundo, o ensino básico obrigatório, começando dos são e nesta Constituinte.-
7 aos 14 anos, ou dos 6 aos 14 anos, e gratuito nos esta-
belecimentos oficiais. Devo dizer como homem público e como ministro que,
naturalmente ' não considero os meus princípios os prin-
Terceiro, o ensino médio gratuito nOS estabeleeímen- cípios da verdade, e que 'enquanto estiver no ministério
tos oficiais para os que demonstrarem efetívo aproveita- respeitarei tudo aquilo que estiver consagrado na Carta
mento e provarem falta ou insuficiência de recursos, Constitucional envidando todos os meus esforços para o
cumprimento dos dispositivos que devem reger a Nação
Quarto, no ensino superior, no meu entender, ires- a partir da sua promulgação.
peitando inúmeras opiniões em contrário, acho que o en-
sino superior, mantido total ou predominantemente com Agradeço mais uma vez as palavras do nobr~ pr.esi-
recursos oficiais das orçamentos públicos, deve ser gra- dente, Constituinte Hermes Zaneti, e me coloco Inteira-
tuito para Os que demonstra:rem ,efetivo aproveitamento mente à disposição dos Srs. Constituintes para, dentro
e provarem a falta ou insuficiência de recursos. das minhas limitações, procurar responder as questões que
aqui forem suscitadas. Muito obrigado. (Palmas.)
Acho que' não flJodemos deixar de esquecer de inserir
um instrumento que compete ao poder público a super- O SR. PRESIDENTE HERMES ZANETI - Agradece-
visão e a avaliação da qualidade do ensino em todos os mos a V. Ex.a Acreditamos que trouxe uma contribuição
níveís. importante a esta subcomissão, e queremos, desde já, di-
zer ao Sr. ministro que havia expectativas de que trou-
O Poder Públíco tem que partir da igualdade de opor- xesse sugestões. Não significa isso que os membros da
tunidades, e ela se faz através do acesso e permanência subcomíssão devam acatar a todas, ou quem sabe, ne-
em qualquer nível de ensino, através de programas que nhuma, ou quem sabe, algumas. Mas havia a expectati-
suplementem as disponibilidades da família e do educan- va de que trouxesse, 'como efetivamente o fez, sugestões,
do paTa que haja realmente justiça social. inclusive de princípios a serem inseridos na Constituição.
Sou a favor do ensino livre, como liberal à iniciativa Há aqui uma lista imensa de inscrições. Em função
particular. Vedada a transferência de recursos' públicos às disto precisaria lembrar aos Srs. constituintes de que pro-
entidades que por si mesma, ou através de mantenedoras, curem manter o mínimo possível de tempo para que to-
tenham finalidade lucrativa ou que remunerem direta- dos tenham oportunidade, considerado que temos previ-
mente ou indiretamente seus dirigentes. são de encerrar esta reunião às 12 horas.
No que diz respeito à vinculação, se tomássemos como Lembrarei ao constituinte, no momento em que tiver
base a atual distribuição, diria que 18% era um valor atingido Os três minutos de tempo, seguindo mais ou me-
justo, aquele que acrescentaria o grande trabalho já con- nos aquele roteiro que já vínhamos adotando como norma.
cretizado na Emenda Calmon.
No mesmo sentido, o mesmo apelo, e com todo res-
Mas, temos que prestar atenção sobre o problema da peito, fazemos a S. Ex.a o Sr. ministro, para que todos
distribuição tributária, flJorque, &e não, podemos fixar um tenham oportunidade de apresentar aqui os seus questio-
percentual que seja maior neste momento, mas que será namentos e trazer as suas contribuições.
menor no futuro. Quero agradecer fraternalmente aos nossos convida-
Por isso, mais uma vez, coloco a necessidade de se dos que se dispuseram ceder os seus lugares aos Srs. cons-
manter o salário-educação como dísposítívo constítucío- tituintes assim que iam chegando, com eonstrangímen-
236 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

to da Mesa, porque a Mesa tem o dever de assegurar lu- dos e os nossos sussuros nos encontros do Conse-
gar nas bancadas aos Srs. constituintes. Percebi que um lho Federal com os conselhos estaduais e com as
número expressivo de nossos convidados teve compreen- próprias universidades, e a nossa reclamação
são e colaboração com esta Presidência. Por isso, quero constante da necessidade de se dar ênfase à in-
registrar o nosso agradecimento. tegração e à humanização ao homem brasileiro,
Passo a palavra ao primeiro constituinte inscrito, através da educação."
Ubiratan Aguiar. Essa a nossa intervenção, Sr. ministro.
O SR. CONSTITUINTE UBIRATAN AGUIAR - Sr. O SR. PRESIDENTE HERMES ZANETI - Obrigado a
ministro, Sr. Presidente, Srs. constituintes, autoridades da V. Ex.a Com a palavra o Sr. ministro.
área educacional, algumas das indagações que íamos for- O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Vou pro-
mular, através das proposições, V. Ex.a já manifestou a curar ser sucinto nas respostas.
sua posição e o seu pensamento a respeito.
Uma dessas indagações dizia respeito a um tema que Colocado o problema do ensino religioso, vou apenas
manifestar a minha opção. Sou a favor do ensino reli-
foi amplamente debatido nesta subcomissão, que era a gioso não-obrígatórío, desde que haja uma discussão e di-
destinação exclusiva dos recursos públicos para as escolas reção de escola, pais de alunos, e haja uma conclusão
públicas ou oficiais. Mas reconheço, o pensamento de da forma desse ensino religioso.
V. Ex.a já está demonstrado aí.
No que diz respeito ao plano de cargos, devemos di-
Ainda a esse respeito, gostaríamos de enfocar o pro- zer que a nossa responsabilidade é a do ministério sobre
blema da lasticidade do ensino, que foi outro tema nas os professores vinculados a nossa rede.
escolas públicas oficiais, também amplamente debatido
no âmbito desta subcomissão e que gostaríamos de conhe- Nesse momento, depois da aprovação da lei da isono-
cer o seu pensamento a respeito. mia, estamos exatamente trabalhando na fixação do plano
Uma outra indagação, Sr. ministro, diz respeito aqui de cargos de 1.0, 2.0 e 3.0 graus do Ministério da Educação.
a um desejo da área educacional, da definição de um A cada estado compete a fixação do seu plano de
plano de carreira para o magistério nos três graus, no cargos e salários, e a cada município também.
âmbito da União, dos estados e dos municípios. Recen- Devo observar que a exigência que fizemos em rela-
temente o Ministério da Educação tem cobrado dos mu- ção aos municípios, trata-se de uma exigência em razão
nicípios o pagamento de um patamar mínimo ao magis-
tério, no que louvamos essa preocupação do ministério. da realidade brasileira.
Por outro lado, sabemos que a União é a grande concen- Eu mesmo, no ano passado, em visita ao Ceará, recebi
tradora da renda nacional, e deixa os municípios e os uma manifestação de professores municipais que ganha-
estados sem terem os meios para o atendimento dessas vam 110 cruzados por mês.
exigências mínimas.
O ministério, para fazer com que haj a consciência
O que pensa o ministério a respeito da definição de do problema, consciência da valorização do magistério,
um plano de carreira para o magistério, nos três graus, determinou que só repassaria, por decreto, recursos aos
no âmbito do município, do estado e da União, sabendo- municípios que efetivamente nos apresentasse o estatuto
se que não se pode pensar na melhoria da qualidade do do magistério e o plano de cargos e salários.
ensino quando não se investe no homem e, no caso, no
professor? Devo dizer que tivemos resultados ótimos. Isto vem
ocorrendo, e isto vai ajudar, efetivamente, a valorização
Gostaríamos ainda, por fim, de perguntar a V. Ex.a do professor e, portanto', via de conseqüência, a melhoria
que pelos dados apresentados, vê-se que há no orçamen- da qualidade do ensino.
to do ministério uma concentração muito grande de re-
cursos no âmbito do lU grau. Não é que o UI grau não Quanto ao problema da concentração de recursos no
precise desses meios para o atendimento das suas neces- 3.0 grau, tive oportunidade de demonstrar no curso das
sidades, mas, há um princípio constitucional de que ao explicações que, efetivamente, temos 70% dos recursos da
I grau não só é dada a obrigatoriedade e a gratuidade, Emenda Calmon, do Ministério da Educação, destinados
mas majoritariamente a destinação dos recursos. ao 3.0 grau, que são aqueles recursos destinados às nossas
universidades e instituições de ensino superior federais,
Quando aqui estiveram algumas entidades da área da já que apenas 11,2% desse orçamento se destina a outras
educação, e dentre elas o Presidente do Conselho Federal, universidades que não federais.
que também hoje nos honra com a sua presença, fizemos
uma indagação ao Presidente do Conselho Federal acerca No cômputo final do orçamento, temos o 3.0 grau
da apreciação dos planos, dos projetos, dos programas do com 49,1 % 'do orçamento do Ministério, que é, sem dúvida,
Ministério da Educação, e como o Conselho Federal apro- um nível elevado. Temos o 2.0 grau com 19,5% e o 1.0 grau
vava esses programas, esses planos se não levava em con- com 13,6%.
ta priorizar, em termos de recursos, o I grau, a exemplo Devemos esclarecer, também, que para o 1.0 grau
do que ocorre com as secretarias estaduais de educação, temos os recursos do salário-educação, quer dos estados.
que submete os seus programas e os seus planos aos con- quer dos municípios, além do cumprimento da Emenda
selhos estaduais por expressa recomendação de disposi- Calmon, no que diz respeito aos impostos próprios e trans-
tivo legal e recomendação do Ministério da Educação? feridos dos estados e municípios, que vêm fazendo com
Diante disso, o Presidente do Conselho Federal nos que haja um crescimento do atendimento ao 1.0 grau.
respondeu o seguinte, textualmente: Finalmente, no que diz respeito ao Conselho Federal
"Devo dizer, com certa tristeza, que esses pla- de Educação, reconheço que o Ministério ainda não tem
nos não estão sendo submetidos ao conselho, nós uma condição de atuação altamente satisfatória. Devo
os desconhecemos especificamente. E nos últimos dizer, também, que mantemos com o Conselho Federal de
anos os planos não foram encaminhados ao eon- Educação o melhor entendimento, procuramos nos acon-
selho. Mas, nem por isso, o ministério e os pode- selhar de acordo com o próprio nome do conselho e dese-
res públicos deixaram de sentir os nossos gemi- jamos que o Conselho tenha uma estrutura mais objetiva.
Julho de 1987 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda.feira 20 237

Esperamos que, depois da configuração do texto Cons- democráticas como senador, se viesse representando o
titucional, possamos, através das leis ordinárias, estabe- Ministro da Educação para trazer as mesmas idéias e
lecer os critérios de acompanhamento de fiscalização e informações, reuniria tanto interesse? Os prefeitos muni-
aconselhamento. cipais não querem cumprir a Emenda Calmon porque
O SoR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Com a pala- dizem que já têm o ensino primário atendido. O que eles
entendem por atendido? Soerá que são três horas de aula,
vra o Constituinte Sólon Borges dos Reis. dentro de uma sala, sem ampliar o Conselho de Educacão?
O SR. CONSTITUINTE sóLON BORGES DOS REIS Sem a qualidade do ensino? o •

- S1". Ministro, vinte milhões de brasileiros, sob uma Sem recursos não podem. As prefeituras não cumprem
Constituição que torna o ensino básico obrigatório, são a convocação compulsória que está na Lei de Diretrizes e
analfabetos. Base que deve anualmente fazer um levantamento do
O Governo Federal destina 70% de seus recursos à alunado e convocar o alunado, os que estão na faixa etá-
área da educação para manter um certo número de uni- ria. O MEC poderia entrar nisso e verificar em que medi-
versidades. Entretanto, o ensino básico, que é o alicerce da essas prefeituras não estão convocando. Mas tudo isso
de todo o processo educacional, sem o qual não se vai mostra que não há uma consciência do problema da edu-
para frente e com o qual muita gente lidera áreas impor- cação, porque as elites não precisam, eles pagam e fazem
tantes da vida pública brasileira, Pietro Ubaldi, que é a educaçao que querem. Já o povão precísa primeiro co-
figura expressiva da arte no Brasil, só fez escola básica; mer, morar, vestir-se. Então, só uma mobilização nacio-
Amador Aguiar só fez o ensino primário e organizou o nal poderia levar a consciência popular de que realmente
maior banco do Pais, e um constituinte, o mais votado a educação é prioritária.
em todo o Brasil, só com a escola primária, lidera não só Quanto às despesas, um ponto importante. Acho que
a categoria de metalúrgico, como também um dos partidos um pais só tem a escola que pode e não a que quer. Senão
mais importantes deste Pais, que é o Constituinte Luís a Bazotolârudia já teria decretada a solução de seus pro-
Inácio Lula da SUva. Só com a escola básica. Sem essa blemas educacionais. E parte do princípio de que podemos
não dá, mas com essa muita gente chega lá. ter uma educação melhor do que temos, depois que defi-
Coloco a V. Ex.a uma reflexão sobre a necessidade, a nirmos/o que é a qualidade da educação, se gastarmos mais
prioridade, a urgência, de dentro da prioridade nacional e melhor.
da educação, defender prioridade e a urgência para o Mas acho que o discurso do Executivo de uma maneira
ensino básico, 1.0 grau. geral - não o discurso de V. Ex a - O discurso de todos
Quanto à alfabetização, tão bem mencionada por os governos do Brasil, e atualmente com muita eutoría, é
V. Ex.a, e partindo do princípio de que o Pais tem e pre- um discurso de Pangloss, é um discurso como seria bom
cisa ter mesmo muitos debatedores, muitos planeíadores, que fosse, como se tapássemos o sol cem a peneira, quan-
mas é carente de fazedores, tenho a notícia de um semi- do, na verdade, não fazemos aquele diagnóstico, não digo
nário regional no Caribe, para examinar alternativas de autópsia, mas o diagnóstico da realidade educacional bra-
alfabetização. sileira. Acho que há muito desperdício, e queria que V. Ex. a
refletisse conosco, porque esta é a hora do estudo.
Ainda, recentemente, no regime socialista da França,
o Ministro da Educação, que é um dos mais radicais, Então pergunto: como se enquadra esta matéria paga?
declarou que a função da escola não é o modismo e sim O ensino das escolas públicas de 1.0 Grau melhorou 55
a alfabetização no 1.0 grau, começar aí a ensinar a ler, milhões de vezes. O Programa Nacional do Livro Didático,
escrever e contar. Temos a experiência nacional. Qualquer Governo José Sarney já distribUiu 55 milhões etc. Entendo
professora primária brasileira tem o seu processo, o seu que essa promoção de rádio, imprensa, televisão, eufórica
método de alfabetização. Acho que não é aí que o carro em torno da realidade nacional, não pode atenuar a nossa
pega, porque sabemos alfabetizar, mas vamos trazer algu- compreensão, deteriorar a nossa visão e dar uma falsa
impressão de que o governo quer se desvencilhar do pro-
ma coisa do Caribe. Só que a experiência lá é outra. blema e não agarrá-lo para uma solução. Proponho essas
Lá é possível transferir, por exemplo, de Cuba para Nica- teses para reflexão, sem entrar na valorização do profes-
rágua, um verdadeiro exército de professores, porque o sor, que é básica, mas é um desafio de toda a sociedade
idioma é o mesmo. Mas aqui, no Brasil, as condições brasileira e de todos os governos.
são diferentes.
Não seria melhor fazer um confronto com a nossa O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
própria experiência, em que todas as campanhas de alfa- gado a V. E~.a
betização aqui fracassaram e, a meu ver, continuam fra- Concedo a palavra ao Sr. Ministro Jorg,e Bornhausen.
cassando?
O SíR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Tenta-
O terceiro ponto que coloco é o da centralização rei, resumidamente, colocar algumas considerações sobre
nacional, sobre o qual o Constituinte Ubiratan já falou. o que nos foi dito pelo ilustre Parlamentar Sólon Borges
O Governo Federal centraliza brutalmente os recursos tri- dos Reis.
butários do Pais e o MEG centraliza o poder de dizer
como deve ser uma escola, como deve ser o professor, como No que diz respeito ao UI Grau, realmente estamos
se aprova um aluno, se há recuperação ou não. E pediria com índices elevados, mas não devemos diminuí-los. De-
uma reflexão sobre uma nova lei de diretrizes e bases vemos ter consciência de que precisamos recursos para o
que mantivesse a unidade nacional, mas não promovesse lU Grau e devemos aumentar os recursos para o I e II
a uniformidade, não saísse como uma camisa-de-força Graus. E isso poderemos fazer através de uma ação da
sobre o ensino. Assembléia Nacional Constituinte, que deverá ser deter-
~iI?-ada essencialme~te pelo problema de alocação obriga-
Estamos na 25.a reunião, mas nenhuma foi tão con- torra de recursos. 80 encontramos o problema. Não pode-
corrida quanto esta. Por que será? Será problemática? mos dímínuír Uma universidade, temos que procurar fazer
Serão as propostas do Ministro, ou o fascínio do poder? com que ela seja geradora de recursos outros para se
Para mim é o fascínio do poder, porque V. Ex. a que é acrescerem aos recursos públicos. Isso é realmente funda-
um senador dos mais dignos, que tem um passado de lutas mental.
238 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÊIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

No que diz respeito a sua consideração sobre Pietro nos remunerado com o salário mmimo. O que impede,
Ubaldi, devo dizer que recebi recentemente aqui em visita portanto, Sr. Ministro, que se possa decidir, a nível de
ao Brasil o Ministro da França, que é um autodidata tam- Município e dos Estados, a pagar o professor do jeito que
bém, possui apenas o curso primário e dirige a educação é necessárío ou em função dos recursos que o MEC trans-
daquele grande país. fere?
Concordo integralmente com a prioridade do ensino Por que esses Estados e Municípios não podem usar
básico. Ela é fundamental. Temos que ter consciência que esses recursos para pagar o chamado gatãlho .salarial?
se constrói uma casa pelos alicerces. Houve momentos em
que isso não ocorreu, iJor isso estamos com o telhado pesa- Acho que este é o País da unanimidade em torno do
Ido e, realmente, temos essa chaga de 120 milhões de anal- que quer mudar, mas vamos dízer, há um clima hoje, in-
fabetos. Se estamos participando de seminários, eles são clusive, de rasgarmos determinadas leis e fazermos isso
frutos de organizações internacionais que desejam o de- na prática. Eis o que queria colocar a V. Ex.a e todos aqui
bate. Não estou dizendo que vamos aproveitar os ensina- presente. Este é um País que quer fazer uma transição
mentos dos países do Caribe, mas pode ser que o Caribe dentro de uma normalidade, que é uma coisa perfeitamente
aprenda um pouquinho daquilo que é muito pouco no inadmissível.
Brasil em termos de alfabetização, porque, como me referi O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a
na exposição, acho que a atuação da Fundação Educar V. Ex.a
deixa a desejar. E tem que haver um enxugamento naquele Queremos, em nome desta Subcomissão, agradecer a
órgão, uma descentralização e uma municipalização. presença expressiva de todos e agora também dos estu-
Por outro lado, no que diz respeito a centralização de dantes que estão aqui mostrando os seus cartazes, suas
recursos, quando coloquei os princípios de que entendia, faixas. Queremos registrar que os professores, os colegas
como aqueles que defendo no processo da nova Constitui- que estão aqui, também, são muito bem-vindos. Apenas
ção, deixei bem claro que o sistema federal de ensino de- faríamos um pedído, no sentido de que as faixas, os caro
verá ter caráter subsidiário, atuando nos dístrítos limites tazes, que estão sendo mostrados, não ímpedíssem nem
das deficiências locais. Defendo efetivamente, e com isso as câmaras de funcionar, nem a visão. De tal sorte que
estou idefendendo o enxugamento do Ministério. :É uma fosse respeitado o direito de todos, para poderem ter aces-
verdade. Acho que o Mínístérío deve ser menor para que so visual à Mesa.
a atuação educacional seja mais desoentralizada e quanto Agradecemos por essa compreensão - e repetimos -
mais municipalizada melhor. são muito bem-vindos a esta Subcomissão.
No que díz respeito aos dados, diria que já citamos 'Com a palavra S. Ex.a o Sr. Ministro da Educação
que estamos realizando com as secretarias estaduais os para a resposta.
censos.
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Devo,
O problema do livro dídático é de conscientização. Re- em rprimeiro lugar, cumprimentar o De[)utado Atila Lira
feri-me no curso da minha "exposíção", da necessidade que foi secretário de Educação de seu Estado, produziu
ide conscientizarmos a população, a criança, o pai, da sua um excelente trabalho e, por isso mesmo, viveu os sofri-
dedicação para com o prédio da escola, para que evitásse- mentos de quem atua no setor educacional. E dizer que
mos efetivamente alguns custos adicionais muito altos. progredimos, se não ousamos, progredimos, porque exis-
O mesmo ocorre no livro didático. Precisamos fazer com tem os limites de ordem legal e fizemos com que, após a
que a criança se conscientize que aquele livro é da escola, criação do fórum de Secretários de Educação, que foi
vai passar para um outro colega, que ele tem que conser- um passo dado recentemente no final do ano passado,
var e por isso se faz uma campanha na televisão onde passássemos a discutir formas de repasses imediatos. Ain-
aparece um desenho animado do livro conversando com da agora no Fórum de Secretários realizados no Nordeste
o aluno. Esta é uma campanha educaoíonal, não é uma do País, ficou decidído que o dinheiro do salário-educa-
despesa que se faz de publicidade. lli, realmente, uma cam- ção, da cota estadual, nem viria a Brasília, poderia ficar
panha para educar o aluno e o pai em relação ao livro diretamente no Estado, recolhido no Banco do Estado, na
didático, para que ele faça a sua conservação, para que Caixa Econômica Federal ou no Banco do Brasil, numa
ele preze aquele livro que vai ser muito importante no seu forma já de aliviar esse processo burocrático. Da mesma
futuro e na sua formação. maneira foi criado no ano passado o Fórum de Secretários
Municipais, e tivemos com isso grandes progressos. Os Se-
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obrí- cretários Municipais estão trabalhando nos critérios do
grudo, Sr. Ministro. salário-educação. Não posso passar díretamente o salário-
Com a palavra o Constituinte Atila Lira. educação da cota federal aos Municípios, que a lei não
permite. Teria que haver uma alteração legal e, por isso
O SR. CONSTITUINTE ATILA LIRA - Sr. Ministro, mesmo, fiz referências da necessidade de manter o salário-
pelo que foi apresentado, a política do. MEC tem se p.re<?- educação, mas de alteração na sua legislação. E quanto
cupado com o 1.0 grau, pelo menos afirmar como pnori- mais descentralizarmos melhor. Por isso é que coloquei,
dade mas também ficou constatado aqui que o ensino como princípio básico, a atuação somente subsídíáría, en-
superior, que consome praticamente todo o esforço do quanto for necessária, da União no processo educacional.
MEC, é ainda feito inadequadamente. No que díz respeito a Estados e Municípios, acho que isso
V. Ex.a também falou aqui em ousar. Podemos ousar, é uma vantagem muito grande. Acho que progredímos,
Sr. Ministro - e pergunto a V. Ex.a se poderia participar mas teremos que progredir muito mais no momento em
disso - na descentralização do direito de decidir pelos que fizermos essas regras gerais e acredito na Assembléia
Nacional Constituinte.
Estados e Municípios? E não vamos argumentar que os
Estados e Municípios participam da elaboração de planos, O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado
porque sabemos que os Municípios e os Estados não têp1 Sr. Ministro.
direito de decídír sobre uma coisa básica, que é a questao Com a palavra o Constituinte seguinte inscrito, Octá-
de aplicar os recursos, por exemplo, no pagamento do salá- vio Elísio.
río mínimo do professor da zona rural. 8abemos do fra-
casso de todos os planos educacionais de livros didáticos, O SR. CONSTITUINTE OCTAVIO ELíSIO - Sr.
de merenda escolar, se não temos um professor pelo me- Ministro, Srs. Dirigentes do Ministério da Educação aqui
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 239

presentes, colegas Constituintes, educadores, estudantes somos favoráveis. Quando se coloca a questão da União,
presentes a esta reunião, inicialmente os nossos agradeci- efetivamente, esta obrigatoriedade, se se colocar em ter-o
mentos pela presença do Sr. Ministro a esta reunião, espe- mos de um dispositivo constitucional, estabelecerá um
cialmente na medida em que nos traz algumas informações conflito com relação à questão do orçamento para o
que, certamente, serão úteis às decisões desta Subcomis- 3.° grau. Nenhum de nós é favorável a que se privilegie
são. o 1.0 grau em detrimento do 2.° e do 3.° O apelo que
Gostaria de raser algumas observações à exposição de temos feito é de que tenhamos mais recursos para a edu-
V. Ex.a e, em cima dela, algumas indagações. Tivemos, du- cação, que o 1.0 grau tenha os recursos de que necessita
rante os debates desta Subcomissão, a presença bastante nos três níveís - União, Estado e MunicDpio. Quero refor-
rica de entidades que vêm lutando há muito tempo pela çar a posição do colega Atíla Lira, no sentido de que
educação no País. Duvido que alguma outra Subcomissão haj a maior flexibilidade de recursos, para que superemos
tenha sido tão rica em propostas, em presença de pessoas, as dificuldades de melhor pagar professores, especialmen-
que vêm nas mais diferentes formas, refletindo, pensando te no que se refere aos municípios. Mas é importante que
e apresentando propostas na área da educação. E, certa- olhemos a questão dos recursos para a educação em ter-
mente, essas propostas serão da maior importância para mos globais.
que esta Subcomissão elabore a sua sugestão em termos
de anteprojeto da nova Constituição. Quais são os recursos canalizados a nível de União,
E:stSidos e Municípios para 1.0, 2.° e 3.° graus? E a nível
Mas em todas as análises, Sr. Ministro, há uma ava- de União, acho que se 70% da Emenda Calmon vai para
liação muito clara da precariedade no ensino no País. a universidade, não podemos esquecer que a quota federal
E a importância de que este País assuma a vontade polí- de salário-educação vai para o 1.0 grau, e isso se agrega
tica de reverter esse quadro, que não vai passar apenas àquela parcela que foi colocada.
por uma nova Constituição, nem por uma nova lei com-
plementar que venhamos a elaborar logo após a Oonstí- Não estou defendendo a universidade. Ninguém mais
tuíção, mas vai dependee basicamente de uma vontade do que eu defendeu nesta Subcomissão recursos públicos
política de que este Pais, superando as dificuldades, mas exclusivamente para as escolas públicas, prioridade efeti-
ousando em termos de educação, reverta esse quadro que vamente para o pré-escolar, para o 1.0 grau, a extensão
toca toda a família brasileira, que é a dificuldade da dessa obrigatoriedade ao 2.° grau de forma gradativa.
escola, a precariedade do atendimento escolar, o mau Mas, entretanto, é indispensável que pensemos como utili-
pagamento dos professores, enfim, todo esse quadro que zar melhor e racionalmente os recursos públicos que hoje
apresenta uma dificuldade bastante grande. Sentimos, na canalizamos para as nossas escolas.
exposição de V. Ex. a, ações objetivas, especialmente de
sua administração, que pinta um quadro bastante favo- Muito obrigado.
rável em termos das ações do seu ministério. O SR. PRES:DDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
Estranhei bastante que ao falar do 2.0 grau, V. Ex.a palavra ao Sr. Ministro da Educação Jorge Bornhausen.
não tenha se referido às escolas normais. A formação do
professor de 1.0 grau nos parece uma questão absoluta- O SR. :MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agradeço
mente fundamental. a contribuição e as considerações do Deputado Octávio
Elísio que tem uma grande experiência no setor, que viveu
Esse ministério teve há poucos anos um programa as dificuldades' de um Secretário de Educação num Estado
que reputo da maior importância. Acho que a lei comple- grande, como é o Estado de Minas Gerais, e que, por isso
mentar que vamos elaborar não pode deixar de recuperar, mesmo, traz uma valiosa contribuição nesta Subcomissão
de resgatar a escola normal, como uma escola formadora de Educação.
de professores, que foi anulada pela Lei n.? 5.692, em
nome de uma falta habilitação de magistério. Devo dizer que, realmente, há precariedade no ensino.
A minha exposição demonstra, pelos números encontra-
Gostaria que V. Ex.a me informasse a respeito de qual dos, essa precariedade, mas não poderia deixar de assi-
a sua proposta, inclusive, como o GERES enfocou a ques- nalar os passos que foram dados no sentido de melhorar
tão da democratização da gestão das universidades. V. Ex.a as condições atuais e que foram passos, na minha opinião,
falou do problema de ociosidade das escolas públicas, muito importantes e que terão resultados dentro de um
universitárias. COncordamos inteiramente com isso. Gos- processo que não consegue se realizar a curto prazo,
taria de saber que ações objetivas o ministério terá ou embora haja a intenção de todos nesse sentido.
vem tendo, no sentido de que essas universidades federais
aproveitem a ociosidade dos seus recursos imobilizados, Quanto ao problema das escolas normais, devo con-
especialmente de prédios, que ficam parados, certamente eordar integralmente. Acho que não estamos afastados do
a maior parte da noite e 'em grande parte dos períodos programa, e estamos trabalhando para o programa das
da tarde. escolas normais. O que houve foi uma questão de priori-
Quero cumprimentar V. Ex.a pela conclusão positiva dade. Quando assumimos o ministério, o Presidente da
das negociações com o magistério universitário, nas nego- República determinou que fosse reativado o ensino técni-
ciações que chegaram a um novo quadro para o magis- co, reatívadas as escolas técnicas, num processo que, aliás,
tério e, especialmente, o quanto foi positivo a retomada acho muito certo. Mas, evidentemente, não abandonei as
dos incentivos aos professores no que se refere ao seu escolas normais, estou trabalhando dentro do ministério.
aperfeiçoamento, em mestrado e doutorado. E na terceira fase do Plano de Escolas Técnicas, devo
entrar no processo das escolas normais que foram real-
Dois aspectos para finalizar. O primeiro deles com mente colocadas num segundo plano, essas coisas que nin-
relação à questão orçamentária. Acho que a tônica nas guém sabe por que ocorrem no Brasil, como os ginásios
discussões até agora ficaram muito ligadas ao fato de que rurais, que estamos reconstruindo com as escolas agro-
a prioridade, a obrigação é o ensino básico, é o ensino técnicas de La grau. Gínásíos rurais que prestaram gran-
fundamental. Tenho também um certo receio de que ao des favores, grandes serviços à educação.
nivel da Carta Constitucional, venhamos definir a priori-
dade na canalização de recursos públicos para o ensíno Vou dar o meu ponto de vista no caso da democrati-
de 1.0 grau (ensino básico), com o qual, em termos globais, zação. Sou muito franco.
240 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o Projeto GERES estabeleceu um crítérío da eleição clusive, a questão de não resolver a exclusividade do des-
de um colegiado. Nesse colegiado haviam os eleitores esco- tino do dinheiro público para serviços públicos, de verba
lhidos por alunos, por funcionários e por profes~r~s,. com pública para o ensino público.
prevalência para os professores, baseado no prmcipio de O segundo ponto está ligado com isso. V. Ex.a real-
que a universidade e uma casa de saber. Dal sarna a mente é um liberal. Quer dizer, há muitos políticos bra-
formação de uma lista tríplice, viria para o Ministério sileiros que se pintam de liberais. V. Ex. a não precisa
da Educação, o Ministro da Educação levaria ao Presi- se pintar, V. Ex. a é um liberal. Tivemos uma prova clara
dente da República para a escolha. A minha posição é disso em uma recente reunião em que debatemos os pro-
um pouco diferente. Aprovei o Projeto GERES no seu blemas dOIS professores do ensino superior no Ministério.
global, porque entendia que este assunto, inclusive, dá Além disso, tem a experíêncía de Ministro, em um Mi-
margens a muitas discussões. Cada um tem o direito de nistério que deu prova de que existiu, em um governo
ter a sua opinião. Naturalmente, na condição de Ministro tmobílísta, que avançou dentro do imobilismo. Além do
da Educação, vou respeitar o que for estabelecido em lei. mais é um intelectual que tem travado suas batalhas por
Agora, no meu entender, o processo deveria terminar na suas posições e suas idéias.
própria universidade, e a escolha deveria ser feita pelos
professores, podendo ser votados professores titulares com Então, interessa muito para nós que V. Ex.a viesse
curso de mestrado ou doutorado que obtivessem maioria aqui fazer certas reflexões que são um enigma do pro-
absoluta de votos dos seus colegas, porque entendo que cesso Constituinte. V. Ex.a é Sen!lJdor, V. Ex.a sabe qual
uma universidade é uma casa do saber. Este é um pen- é a; natureza das nossas tarefas. Já há aqui um embate
samento franco de uma matéria sujeita a críticas, mas triste a respeito de Se a Constituição deve ser sintética
acho que a minha obrigação nesta Subcomissão é dar ou analítica. E há um outro debate aqui que ainda não
o meu ponto de vista. Naturalmente, isso só vai ocorrer, foi colocado e já deverla ter sido colocado, 00 a Consti-
se a lei assim o vier a determinar, se a maioria pensar tuição deve ser estática ou dinâmica. Um 'exemplo de
dessa maneira. Se a maioria não pensar dessa maneira, uma Constituição estática é a da França, que transfere
cumpra-se aquilo que for democraticamente estabelecido muitos problemas centrais para leis ordinárias; um exem-
pela maioria. plo de Constituição dinâmica é a de Portugal que parte
Finalmente, no que diz respeito à ociosidade, a minha de um processo que visa a realizar transformações na cria-
intenção é o aproveítamento de cursos noturnos. Citei na ção de uma nova sociedade.
exposição que só temos nas universidades públicas 6% Ora, na área da educação vivemos esses dilemas por-
de cursos noturnos, o que é pouco, porque, quem pretende que não basta lamentar o analfabetismo, é preciso ter
eretívamente atender bem àqueles que não podem. pagar, planos para eliminá-lo num determinado prazo. Não bas-
àqueles que têm necessidade de ensino gra,tuito, tem que ta dizer que temos recursos ,escassos, é preciso criar ór-
pensar em horário noturno para os que estão trabalhando gãos de planejamento, de descentralízação, que permitam
durante o dia. Então, essa é a díreção que desejo para resolver os principais problemas educacionais brasíleíros.
o aproveitamento dessa ociosidade. V. Ex.a, melhor do que ninguém, sabe o que lestá por traz
No que diz respeíto ao orçamento, concordo integral- disso. Lamento não poder fazer uma 'exposição melhor,
mente que não pode haver um dispositivo consagrando a porque o Sr. Presidente já está soando a campainha.
prioridade da educação básica, porque isso é prioridade Enfim, não posso completar esta parte.
de períodos de governos ou de período de governo. Deus
queira, que '81 realidade 1987, não seja a mesma de 2050. Mas o essencial está naquilo que devemos fazer e o
Uma Constituição não é teíta para um período de gover- que a nova constituição deve representar não como um
no, a Constituição deve ser feita para atuar, se possível, repertório de fórmulas, mas como um conjunto de normas
secularmente. Portanto, concordo integralmente com o que poderão orientar a ação política no sentido de trans-
ilustre parlamentar que, no texto constitucional, devemos formar o Brastl.
dar prioridade à educação. Agora, nos programas, é que O terceiro ponto, queria mencionar somente de pas-
se devem estabelecer, de acordo com as épocas e neces- sagem, e por respeito à Andes, à Sociedade Brasileira
sidades, as prioridades e não no texto constitucional. para o Progresso da Ciência etc., há critica."! que parecem
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- objetivamente fundada."! de que O Projeto Geres tenta
gado, Sr. Minis.tro. desengajar o Poder Público do financiamento da pesqui-
sa básica e 810 mesmo tempo, alimentar a criação de
Concedo a palavra ao Sr. Constituinte Florestan Fler- fontes alterilativas de fmancíamento que ,estariam no
nandes. setor empresarial na vinculação da universidade com a
O SR. CONSTITUINTE (Flor,estan Fern8lndes) - Na iniciativa privada e com a grande indústria. Esse debate
exposição do Sr. MillÍlStro, naturalmente, fiquei com resí- se acentuou, muitos artigos foram publicados em jornais,
duos de questões porque os meus colegas já fizeram uma a."! conferências feitas por educadores respeítáveís puse-
sabatina muito eíea, ram a questão em dois planos: há os defensores e há os
que atacam. Gostaria que V. Ex. a eselarecease a sua pró-
Em primeiro lugar, queria anotar uma coisa: Clau- pria posição. Este auditório teria muito a ganhar com
sewitz afirmava que a melhor técnica de defesa é o ata- isso.
que. E V. Ex.a. tentou mostrar aqui que a melhor técnica
de defesa é a linha marginal. De fato, V. Ex. a se encas- Muito obrigado.
telou detrás de um relatório muito rico para nós, mas O SR. PRESIIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
que poderia ser agregado à sua exposição, para que ti- palavra ao Sr. Ministro da Educa!}ão, Jor~e Bornhausen.
véssemos as informações básicas e, ao mesmo tempo, se
concentrar em outras' questões que são mais importantes, O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Inicial-
pelo menos, para o processo Constituinte. Acho que isso mente, desejo esclarecer que procurei modestaments fazer
é uma contradição que nasce do fato de que a chamada com que pudesse apresentar uma exposição que viesse a
transição não conseguiu resolver os seus dilemas. E ve- dar conhecimento da realidade do Ministério da Educa-
mos a chamada Nova República em conluio com a antiga ção, das suas ações e das suas deficiências, dos seus pro-
ditadura e mantendo orientações que vem de longe, in- blemas e das suas tentatívas de poder superá-los e, ao
.Julho de 1987 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 241

mesmo tempo, fiz uma expressa referência ao problema fissional que não têm nenhum tipo de pesquisa, e há
orçamentário, que considero fundamental no setor edu- cursos que têm formação profissional com pesquisa. Esse
cacional, que entendo deve ser acompanhado com grande entendimento não era comum, esse entendimento, real-
cuidado por parte desta subcomissão, e não poderia dei- mente, foi objeto de críticas. Agora, a minha maior crítica
xar de fazer até mesmo numa homenagem ao seu rela- foi não ter vindo o projeto para o Congresso Nacional,
tor, que é o Senador Jos:o caãmon, a quem o Brasil tanto porque aqui que se decide, aqui é a caixa de ressonância
é

neve no setor de educação. da sociedade brasileira, aqui todos podem participar, todos
Finalmente, coloquei alguns princípios com lealdade. podem assistir, todos podem ver o que se está debatendo
Sei que eles não significam o pensamento comum do~ que e chegar às suas conclusões e dar suas contribuições. As
aqui estão. Existem alguns que poderão comparttlhar, entidades de classes poderiam, dentro das Comissões de
outros que estarão contra. Mas achei que. era o meu dever, Educação, da Câmara e do Senado, ter aprimorado o pro-
como homem público e como liberal, dizer o ~que penso, jeto. Esse problema da indissociabilidade poderia ter sido
embora possa, inclusive, estar errado, porque nao me con- resolvido de outra forma e poderíamos ter alcançado alguns
sidero, de forma alguma, pretendente a ser dono da ver- objetivos fundamentais na melhoria do ensino superior.
dade. Portanto, embora o texto do Projeto Geres possa ser
um texto que não tenha a unanimidade e até não ter
Dentro das colocações feitas pelo nobre Constituinte maioria, ele deveria ter sido objeto de discussão, dentro
e Professor Florestan Fernandes, tenho acompanhado, do local próprio, da casa democrática que é o Congresso
através dos seus escritos, especialmente, na Folha de São Nacional.
Paulo respeito as suas posições sobre o problema da ex-
clusivãdade das verbas públicas. Ainda, recentemente, vi O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado,
um seu artigo a respeito do problema da Pontifícia Uni- Ministro Bornhausen. Com a palavra, o 'Constituinte Lou-
versidade Católica de São Paulo, fazendo considerações a remberg Nunes Rocha.
respeito de uma entrevista dada pelo Reitor daquela Uni- O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO-
versidade, que foi objeto também de um outro artigo do CHA - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Constituintes,
atual Ministro da Fazenda, Proressor Bresser Pereira, lem- Srs. Dirigentes do MEC:
brando o ente jurídico universidade pública, não estatal.
O Estado tem que atuar com as entidades comunitárias S. Ex.a deve ter visto a grande preocupação desta
também; .príorítaríamente, com as entidades públicas, subcomissão com relação à repartição de recursos e o
mas as comunitárias também. Acho que, muitas vezes, o privilégio que tem hoje o 3.0 grau, o que se agravará ainda
Estado não tem como atender a determinado lugar, a com o programa de expansão e melhoria que será implan-
determinada região, porque á entidade comunitária está tado agora.
atendendo bem e com dificuldades. Acho que temos até Esta subcomissão discute hoje, e a Comissão de Di-
um atendimento muito pequeno, como foi o do ano pas- reitos e Garantias Individuais também, uma declaração
sado, de 1,2% para as entidades comunitárias. As Ponti- de inconstitucionalidade por omissão. Então, se o ensino
fícias Universidades Católicas prestam um grande serviço. de 1.0 grau é o prioritário e não o de 3.0 grau, haverá
Acho 'que a idéia de universidade pública não estatal deve um recurso na nova Constituição que será a declaração
ser debatida com profundidade, se não dentro do texto de inconstitucionalida:de por omissão para obstar que
constitucional, mas na sua conseqüência. Fui claro em permaneça essa disparidade entre uma príorídade não
colocar a minha posição aqui de que só é possível esse atendida e um curso que não é prioritário atendido.
repasse -quando não haja fim lucrativo, que a entidade
mantenedora também não tenha fins lucrativos e que não Gostaria, Sr. Ministro, e este é um ponto que não
pague os seus dirigentes. São posições diferentes, mas foi tocado, não se analisou na sua proposta, de analisar
respeito a posição de um :professor emérito, como é o e de ter maiores detalhes sobre o problema do aproveita-
Constituinte Florestan Fernandes. mento e insuficiência econômíea no 2.0 te 3.0 graus. En-
tendo que realmente só se conseguirá resolver uma parte
Quanto à produção de uma Constituição estática e dos recursos para a educação através dessa providência.
dinâmica, não me julgo capaz de poder dar uma opinião É importante, e não se tocou em nenhum momento,
com sinceridade. Acho 'que por não, estar vivendo o mo- que se estabeleçam claramente os critérios de aproveita-
mento da Assembléia Nacional Constituinte- aliás, gos- mento e ínsufícíêneía econômica para que o aluno possa
taria de poder estar vivendo, mas fui convocado ao Minis- gozar da gratuidade no 2.0 e 3.0 graus. Sem isso, efetiva-
térío e tive que sair do Senado- eu não tenho condições mente, não conseguiremos dar grandes soluções à educa-
de ter uma ídéía de como se processa esse trabalho e qual ção no Brasil. Mas, gostaria de maiores esclarecimentos
a melhor forma para adotarmos no Brasil. Porque preci- de V. Ex.a sobre este ponto que entendo fundamental,
samos ter uma fórmula brasileira, não temos que seguir porque eu estudei em uma escola pública do 3.0 grau e
modelo de qualquer outro pais, devemos seguir um mo- tinha colegas que iam para a escola de Mercedes Benz e
delo próprio, de acordo com a realidade brasileira. estudavam de graça, não pagavam nada; enquanto isso,
Quanto ao Projeto Geres, destaquei alguns pontos. milhares de alunos, milhares de crianças não tinham esco-
Tivemos três pontos que foram colocados em debate: um la neste País. Apesar dessa flagrante contradição, a maio-
ria das pessoas, a maioria das entidades continuam a dizer
ponto era o problema da escolha dos dirigentes das uni- que o 3.0 grau tem que ser gratuito, indiscriminadamente.
versidades. Sobre ele: já relatei, falei e dei o meu ponto
de vista. O outro ponto 'era o problema da avaliação, que Aproveitaria, também, uma observação do Constituinte
considero fundamental, ninguém vai conseguir melhorar Octávio Elísio com relação ao problema do curso normal.
o ensino superior neste País sem avaliação. E o terceiro Parece-me que pelas últimas pesquisas, a maior deficiên-
ponto era uma discussão sobre a indissociabilidade do cia de formação está evidentemente nas professoras muni-
ensino e da pesquisa. cipais. Gostaria de saber do Sr. Ministro se não seria
adequado, ou possível, ou conveniente se recuperar aque-
Os autores do Projeto Geres colocaram de que não las licenciaturas curtas de férías, endereçadas prioritaria-
havia indissociabilidade, mas isso não significa, de forma mente à formação de magistério para professores muni-
alguma, diminuição de recursos, para a pesquisa. Enten- cipais, porque me parece que se encontra aí a maior defi-
diam eles que existem cursos de' formação apenas pro- ciência de formação. Obrigado.
242 Segunda.feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a O MEC tem feito avaliação nos diversos cursos de pós-
V. Ex.a Concedo a palavra ao Sr. Ministro. graduação existentes no País? Se tem feito, gostaria de
saber se tem melhorado a qualidade?
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agradeço
as considerações do Sr. Constituinte Louremberg Nunes Nesta Subcomissão, ouvimos várias entidades, comu-
Rocha e quero dizer que, em resposta ao Constituinte nidades universitárias em todos os setores, que têm recla-
octávio Elisio quando coloquei que no texto constitucio- mado o decréscimo de custeio, que as verbas de custeio-
nal não deve~ia estar separado uma prioridade no setor têm decrescido nos últimos anos. Vi aqui, com relação-
educacional é porque acho que a Constituição !em que a 86/87, na exposição que V. Ex.a nos fez - inclusive,
valer no tempo e o tempo pode mudar as condiçoes, mas sobre essa exposição, fizemos esse questionamento a V.
eu diria que educação é a p~ioridade ~as príorídades. Ex.a , e acho que recebeu esse questionamento, talvez essa
Ninguém vai construir este PaIS, um PaIS desenvolvido, exposição assim tão detalhada de dados técnicos tenha
senão dermos prioridade à educação como um todo e no sido em função dessa nossa consulta que fizemos anterior-
mente a V. Ex.a
seu todo.
Gostaria de deixar essas questões, não sem antes,
Quanto ao problema do 2.° e 3.0 graus, os princípios Sr. Ministro, de registrar, como foi registrado pelo nobre-
eu alinhavei no meu pensamento; agora, acho que o pro- Constituinte Octávio Elísio, a participação decisiva de-
blema da insuficiência econômica ou da carência, como V. Ex.a com relação aos professores do nível superior, e
queria ser chamada, ela tem que ser objeto de uma legis- também a participação decisiva que teve o Ministério da
lação própria, uma legislação ordinária, que terá que vir Educação, na pessoa de V. Ex. a , em relação ao término'
ao Congresso Nacional para ser v~tada se o príneípío for da greve dos residentes médicos, e uma grande conquista
estabelecido, volto a dizer, e no período posteríor a Assem- que eles tiveram nesse movimento recente que contou com
bléia Nacional Constituinte. a participação efetiva do Ministério da Educação. Muito
Com relação aos cursos normais, dei a minha posição obrigado.
também favorável à colocação do Constituinte Octávio O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
Elísio e no que diz respeito às licenciaturas curtas, o que gado a V. Ex.a Tem a palavra o Sr. Ministro da Educação·
devo dizer é que esse processo fica a critério dos Conse- Jorge Bornhausen.
lhos Estaduais de Educação, mas quando fiz o relatório
inicial das atividades no Ministério, demonstrei que no O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agradeço
ano passado nós tínhamos enviado os recursos aos Muni- a oportuna intervenção do nobre Constituinte Pedro Ca-
cípios, que permitiram o treinamento de 117 mil profes- nedo. Devo dizer que quando falamos da atuação do Fundo
sores. Ocorre, todavia, que temos alguns problemas. Quan- de Assistência ao Estudante, destacamos o Programa da
do o professor leigo é treinado, normalmente ele deíxa Merenda Escolar, do Material Escolar e do Livro Didático.
- escola, na maioria das _vezes, porque ele cresce e nao E citamos como programas existentes o Programa de Saú-
cresce concomitantemente o seu salário. Então, esta é a de Escolar, o Programa de Bolsas de Estudo e o programa
preocupação do Ministério, de termos o estatuto do magis- de Salas de Leitura.
tério a nível municipal, sem esse estatuto do magistério O Programa de Saúde Escolar reputo da maior impor-
vamos treinar e não vamos, muitos vezes, aproveitar. tância. Ele veio sendo formado a título experimental e
Era essas as considerações, agradecendo a participação, deve agora ganhar o realce indispensável dentro das prio-
muito honrosa, do nobre Constituinte Lourenberg Nunes ridades do ensino de 1.0 Grau. Ele atende municipalmente
Rocha. ou estadualmente as crianças nas escolas com oculistas,
doação de óculos, dentistas, porque muitas vezes o não
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- acompanhamento da criança vem de alguma deficiência.
gado.
Com a palavra o Constituinte Pedro Canedo. Esse programa, em 1986, atendeu a 750 mil alunos,
num universo de mais de 20 milhões de alunos ele é muito
O SR. CONSTITUINTE PEDRO CANEDO - Sr. Pre- pequeno, e por isso mesmo o considerei experimental. Es-
sidente, Sr. Ministro, Srs. Dirigentes do MEC, Professores, tamos realizando trabalhos em conjunto com o Ministério
Estudantes, srs. Constituintes: da Saúde, temos uma equipe montada do Ministério da
Sr. Ministro, sou médico, estou nesta Subcomissão Educação com o Ministério da Saúde para evitar a dis-
porque ela tem uma preocupação muito grande com a persão de recursos. Queremos juntar os recursos do Minis-
saúde, especialmente dos alunos do 1.0 grau, de pouca tério da Educação com os do Ministério ida Saúde não im-
idade. Tanto que apresentei um projeto, uma proposta portando quem execute o trabalho, mas podendo fazer Um
constitucional, tomando obrigação do Estado dar os exa- trabalho mais proveitoso, e esses estudos estão em fase
mes de saúde necessários, indispensáveis, na matrícula final, para que possamos, no orçamento de 1988, alocar
do aluno de 1.0 grau. recursos que possam efetivamente atender a um programa
da maior importância no Brasil.
Pela exposição que S. Ex.a fez aqui não vi nada rela-
cionado à saúde. Gostaria de saber o que o MEC pode No que diz respeito ao critério de mérito e de compe-
apresentar, com relação ao problema da saúde do estu- tência, o que foi adotado pela Comissão Interministerial
dante, em primeiro lugar? de Planos de Cargos e Salários, e que foi aprovado pelo
Presidente da República no dia 27 ide abril, devo dizer que
O Congresso Nacional aprovou a lei da isonomia. E confio de que a volta do mérito e da competência seja
o Ministério da Educação pela proposta do MEc contida fator para a melhoria da qualidade, e que os 15% e 25%
na exposição de motivos encaminhada ao Presidente da que serão acrescidos nos salários dos mestres e doutores
República, prevê incentivos ao professor com título de serão instrumentos para angariar novos mestres e douto-
mestre-doutor. Plenamente favorável, levou a atitude do res, num país onde demonstrei termos apenas um cientista
MEC por isso, mas gostaria de questionar e isso vai acar- para 4 mil habitantes.
retar o - maior interresse nos cursos. Mas, vemos muitas
iniciativas, neste País, que acabam depois por falta de pre- É preferível até que os cursos possam sofrer inicial-
visão, de !preparo, acabam não dando certo. O Mec está mente um certo inchaço - o que não acredito, acho que
preparado para atender essa nova demanda? Essa proposta há vaga suficiente para todos os cursos de pós-gradua-
não significaria uma quebra da isonomia conquistada? ção -, ao mesmo tempo, entendo que com esse estímulo
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 243

vamos ter melhorias. Devo dizer que Em1 relação à avalia- O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agrade-
-ção idos cursos, que citei com muita ênfase - e nos cursos ço ao nobre parlamentar e conterrâneo, Constituinte Cláu-
de graduação ela funciona muito bem - curso de pós- dio Ávila, pela sua participação e por suas colocações.
graduação, através da Capes, e por eomíssões de especia-
listas e de pessoas do mais alto conhecimento, devo regis- Em primeiro lugar, entendo que se nós formos exami-
trar mais uma vez que 60% dos cursos de pós-graduação nar o salário-educação, através da contribuição pelo lucro
no Brasil tem merecido a aprovação A e B, ótimo e muito bruto, vamos retirar a possibilidade de muitas empresas,
bom, o que revela que estamos muito mais adiantados na efetivamente, participarem diretamente dos beneficios do
pós-graduação do que na graduação. salário-educação, porque este salário, recolhido, permite
às empresas, que custeiam 'através de bolsas, o estudo de
Finalmente, no que diz respeito ao custeio, se tivemos seus funcionários ou filhos ide seus funcionários; através
-44 bilhões no final de 1986 e iniciamos o orçamento de de indenização, permite também que a empresa possa
1987 com quantia menor ido que a de 1986, foi porque ressarcir o que foi dispendido pelo funcionário ou filho
tivemos um orçamento preparado em agosto e obtivemos do funcionário na escola, e ainda temos a possibilidade de
uma série de verbas conseguidas de forma suplementar a empresa fazer a sua própria escola.
para o Ministério e para as universidades, entre setembro
e dezembro, e já temos verbas que nos vão ser suplemen- É natural que, se formos partir para a taxação sobre
tadas no valor de 3 bilhões e 970 milhões de cruzados para o lucro bruto, temos que verificar quais as conseqüências.
.as OCC das universidades, ou seja, para Os seus custeios, Tenho a impressão que a atual taxação é melhor, sobre a
para o programa de recuperação dos hospitais, da ordem folha de contribuição das empresas, pois permite um prin-
-de 770 milhões inicialmente, e para o Programa de Re- cípio mais justo. Acho que o problema do lucro deve ser
cuperação dos Campus ida ordem de 600 milhões. um problema basicamente do Imposto de Renda, deve
O Conselho de Reitores nos enviou estudo, cumprimen- ser vinculado ao Imposto Ide Renda. No meu entender, o
tando pelo fato de o Ministério, em 1986, conseguir recupe- processo de arrecadação não deveria ser alterado, mas a
rar os índices de 1981, os mais altos da década de 80. lei e a aplicação do salário-educação têm que ser necessa-
riamente aprimoradas.
Acho que os recursos ainda não são suficientes, mas de-
vemos ter noção de que podemos ganhar no tempo, e, No que diz respeito às bolsas, é uma opção legal. A
fundamentalmente, isso se dará através de maiores ver- empresa é quem está recolhendo o salário-educação; en-
bas para a educação. tão, ela tem o direito de escolher uma escola credenciada,
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- e não pode escolher uma escola pública, porque a escola
gado a V. Ex. a Tem a palavra o nobre Constituinte Cláudio pública já é gratuita. Então, ela indica, - mas é bom que
Ávila. se ressalte que todo o salário-educação arrecadado, em
1986, apenas 600 milhões ide cruzados foram aplicados em
O SR. CONSTITUINTE CLáUDIO ÁVILA - Sr. Pre- bolsas, portanto, menos de 6% do valor do salário-educa-
sidente, Sr. Ministro Jorge Bornhausen, Srs. Constituintes: ção que foi recolhido aos cofres dos Estados, Municipios
Gostaria inicialmente, de cumprimentar a V. Ex.a, Sr. e União. Então, penso ser uma opção legal que deve ser
Ministro, peÍa exposição que nos fez, nesta manhã, eluci- respeitada.
dando uma série de dúvidas levantadas nas reuniões ante- No que diz respeito à municipalização da merenda
riores especialmente no que toca ao orçamento, que todos
verifi~am que os recursos destinados ao 3.° grau, efetiva- escolar é verdade temos sido cautelosos, e ,por quê? Por
mente, é em maior número, mas, na verdade, o que se que o programa funciona bem. O programa vinha fun-
deseja não é a diminuição desse índice, acima de tudo, cionando somente com as Secretarias de Educação dos
a melhoria dos índices ido 1.0 e 2.0 graus. Estados. Esse programa não tem aparecido em manchetes
nos jornais, evidentemente, porque o seu procedimento
Gostaria, porém, de colocar algumas questões ao Mi- anda, de certa forma, bem. Agora, a municipalização é
nistro, especialmente no que toca ao salário-educação. um avanço, porque traz um incentivo à produção local.
Queria saber de V. Ex. a se o atual mecanismo do salário- Ela pode corresponder a uma dieta mais adequada àquela
educação, que é baseado na folha que as empresas apre- região, mas temos necessidade de fazer com que ela dê
sentam ao Iapas, e, por via de conseqüência, ela até pena- os passos devagar, para que a municipalização rápida não
liza aquela empresa que dá mais empregos, como o Sr. Mi- seja um instrumento para quebrar um processo que é
nistro veria a proposta de, por exemplo, este cálculo ser bom, que é o processo da merenda escolar. Foi por isso
fundado sobre o lucro bruto da empresa? Ainda sobre o que agimos com cautela, e até agora temos 155 municípios
salário-educação, gostaria de saber do Ministro se o FNDE, com merenda escolar já munícípalízada. O Estado de São
que tem aplicado o salário-educação através de bolsas, Paulo tem a merenda escolar municipalizada integral-
não está penalizando a escola pública, transferindo mais mente, com bons resultados, devo reconhecer isso, tive a
recursos de bolsas às entidas privadas? E uma terceira co- oportunidade de acompanhar esses resultados na admi-
locação, fruto da nossa experiência como prefeito, é no nistração do Governador Franco Montara e do Secretário
que toca à municipalização. da merenda escolar. Os dados de Educação Mário Pinotti, e acho que caminharemos para
que se tem é que O Ministério ainda, timidamente, está esse processo, mas existem ainda no Brasil muitas pre-
descentralizando esses recursos via prefeituras municipais. feituras sem condições de fazer com que, efetivamente,
Gostaria que V. Ex. a pudesse também nos relatar alguma o processo da merenda possa continuar a ter a mesma
coisa sobre isso. qualidade.
No que tange ao programa de escolas técnicas, porque
o Sr. Ministro apresentou um dado aqui de aproximada- No que diz respeito às escolas técnicas, temos inicial-
mente 200 escolas programadas, e dentro do orçamento mente para o programa deste ano, do orçamento inicial,
ido Ministério, dada a escassez de recursos do 2.0 grau, sem as correções, cerca de 1 bilhão de cruzados, e devo
onde estão os recursos destinados à manutenção dessas dizer que graças à vinculação orçamentária da 'emenda
escolas? do Senador João Calmon, no excesso de arrecadação, na
Lei de Excessos já remetida ao Congresso, estão separa-
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- dos 26,4 bilhões de cruzados para a educação, o que mais
gado a V. Ex.a Tem a palavra o Sr. Ministro Jorge Bor- uma vez revela a importância dessa vinculação e também
nhausen. permite que pela vinculação possamos ter continuidade
244 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

nessas ações cujo orçamento inicial se torne insuficiente, No que diz respeito ao problema da gratuidade do
no curso do ano. ensino, dentro dos princípios apresentados, já fiz a minha
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- manifestação muito clara, e, também, no que diz respeito
gado a V. Ex.a Queremos agradecer ao COnstituinte Ru- ao 2.° grau, conhece o nobre Constituinte o esforço que
berval Pilotto que, estando inscrito e já tendo sido res- faz o Ministério, aliás, muito auxiliado pelo nobre Cons-
pondida a sua questão, abriu mão de sua inscrição. tituinte Osvaldo Coelho que, no seu município de Petro-
Iína, através da Prefeitura Municipal, de uma fundação
Tem a palavra agora o nobre Constituinte Osvaldo que S. Ex.a. ajudou a construir, está realizando um grande
Coelho. trabalho na criação de uma escola técnica industrial e·
O SR. CONSTITUINTE OSVALDO COELHO - Sr. de uma escola agrotécníca de 2.° grau que, certamente,
presidente, a Igreja brasíleíra anuncia a preferência pelos serão instrumentos que beneficiarão uma área que já se
pobres e O Presidente Sarney repete a mesma coisa. Nós, tornou importante pelo setor de irrigação.
os constituintes, representamos uma massa de pessoas O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
pobres, e na hora de tomarmos posições mais nítidas nos gado a V. Ex. a Tem a palavra o nobre Constituinte Tadeu
perturbamos um pouco. Temos que considerar a escassez França.
de recursos Que o País tem para satisfazer os anseios da
Nação. Isso é verdade, de um modo geral, e é verdade no O SR. CONSTITUINTE TADEU FRANÇA - Sr. Mi-
que diz respeito à educação. nistro, quando o aalárío-educação era repassado pelo MEC
havia uma certa norma eqüitativa entre todos os estu-
O nobre Constituinte João Calmon, com entusiasmo, dantes beneficiados. A opção pela empresa fez com que,
com dedicação extrema, consegue aprovar uma vinculação nas regiões notadamente agrícolas, os filhos dos agricul-
constitucional e essa vinculação constitucional dedica 70% tores ficassem praticamente marginalizados por esse pro-
ao 3.° grau. Acho que está na hora de se tomar posições cesso. As verbas das universidades federais, em nosso
mais corajosas. Devemos inverter isso. Temos que atender entendimento, é preciso que haja uma proporcionalidade
ao curso básico, temos que inverter todos os recursos
disponíveis para chegar ao nível médio, e ter a coragem em funcão da clientela acadêmica de cada estado. O que-
de dizer que o ensino universitário é pago, salvo para os vemos é o grande número de entidades federais em alguns
carentes. Os meus filhos estudam numa universidade Fe- estados e um vazio tremendo em outros.
deral de graça, nunca ninguém me pediu nem sequer uma As verbas públicas, para entidades particulares sem
declaração do Imposto de Renda. Então, acho que o mi- fins lucrativos, vemos uma grande contradição. Essas enti-
nistro disse bem: fazer uma avaliação da universidade. dades particulares sem fins lucrativos, parece-nos, não
Acho que a avaliação tem que ser abrangente a este ponto. trariam discernimento bem claro em torno dos mereci-
Visitei países amigos que têm 125 escolas técnicas. mentos efetivos sobre percepção ou não de verbas. Nossas
Eles dão ensino gratuito de boa qualidade, de 6 a 18 anos. universidades têm sido uma grande fábrica de desempre-
As pessoas saem sabendo fazer coisas, prontas para o orça- gados. Consideramos desempregados todos os egressos das
mento. No Brasil se sai do 2.° grau sem saber fazer nada, universidades que trabalham em setores totalmente des-
esta é a verdade. Nesses países que visitei eles têm duas vinculados da formação pela qual, durante tanto tempo,
universidades, com 29 campus, comparando COm o meu se bateram e em função da qual foram dispendídos tantos
Estado de Pernambuco, que tem 6 universidades planta- recursos. Tanto é assim que a nossa universidade tem
das, na cidade do Recife, sem sequer uma só unidade no sido uma grande fábrica de ilusões, também.
interior do Estado, e estou falando de quem não conhece Por essa razão, indagaríamos se existem estudos que
a cidade grande, não conhece a cidade senão a média e estejam verificando a situação dos egressos das univer-
a pequena. A minha comunidade fica a 800 quilômetros sidades? Onde eles estão? Qual o aproveitamento efetivo
de onde estão essas 6 universidades. Quem quiser estudar que estão tendo em função da formação especifica que
tem que percorrer 800 quilômetros. Há o problema espa- lhes foi prodigalizada através das uni-versidades?
cial também das universidades. Elas não podem ficar aga-
salhadas somente nas metrópoles e no litoral. Esses pontos Afirmava V. Ex.a. que quanto mais municipalizada a
devem ser objeto de estudo desta Constituinte. escola, tanto melhor. Vemos a contradição da professora
municipal recebendo o salário mínimo ou menos, por um
São essas as ponderações. Não tenho indagação, tenho período, e três salários mínimos, por exemplo, por uma
um alerta de que tudo isso está errado, precisa ser con- outra jornada estadual.
sertado, porque o povo espera um Brasil novo; toda a
população brasileira espera um Brasil novo e esta Nacão A escola municipal que sustenta, praticamente, a
nova vai ser desenhada nesta subcomissão que trata -da maioria do ensino do País, não tem a menor condição de
educação, porque o problema brasileiro é problema de estruturação. Além disso, a proliferação de universidades
educação, e tem que ser resolvido a médio e longo prazos, sem planejamento e sem definição de cursos, ao sabor das
através da educação. Muito obrigado, Sr. Presidente. conveniências, tem sido responsá-vel pela saturação de pro-
fissionais em certa área.
O SR. PRESIDENTE -(Hermes Zaneti) - Muito obrl-
fado a V. Ex.a. Tem a palavra o Sr. Ministro. No nosso pensamento, são necessários 8 anos para a
educação fundamental, 4 anos para que possamos ter,
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agradeço efetivamente, o aprofundamento a nível de conhecimento
as considerações do nobre Constituinte Osvaldo Coelho, e a universidade tem que ser alvo de maior investimento
que traz a esta Subcomissão observações que não podem em termos de qualidade.
deixar de ser objeto de debates, de exames, para o resul-
tado final desses trabalhos. ' , -,-Setenta por cento, das verbas para as universidades,
da rorma como está, com as características que aponta-
Concordo que tenhamos como prioridade o ensino mos, é o suficiente para entendermos o porquê de o Cons-
básico, o ensino de 2.° grau, mas devemos proceder de tituinte João Calmon afirmar que 83% das nossas crianças
forma a não prejudicar o ensino superior, devemos acres- não concluem o 1.° grau, para entendermos os 20 milhões
centar verbas, acrescentar trabalhos e esforços no ensino de analfabetos no País --". segundo afirmou V. Ex.a. - e,
de 1.0 e 2.° graus. finalmente, gostaríamos de ouvir a opinião de V. Ex. a
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 245

sobre o porquê de a criança, o pai de aluno da pré-escola Como político, como Senador do meu Estado, afirmo
do 1.0 grau, neste País, não ter "poder de fogo"? que nunca recebi um pedido de emprego de um aluno que
Tomamos a liberdade de apresentar, nesta subcomis- saiu da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, todos
são, uma proposta de que pelo menos 51% das verbas saem de lá com empregos.
da União, através do MEC, têm que ser destinadas para Este é um exemplo que temos que perseguir, aumen-
o ensino básico de 1.0 grau, porque se colocarmos na Cons- tar o número de escolas técnicas e então considerar, ali,
tituição apenas a prioridade da educação e ampliarmos a formação fundamental do brasileiro.
para 18 ou 20% as verbas da União, sem especificar, por Infelizmente, não temos nenhum estudo de egressos
não ter "poder de fogo", o ensino fundamental vai estar das universidades, porque isso se realiza, normalmente,
novamente marginalizado no processo brasileiro. através dos censos e só eles poderão nos dar os novos
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a números.
V. Ex.a Com a palavra o Sr. Ministro. Defendo a municipalização, porque defendo a descen-
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agradeço tralização, como defendo a federalização. Se existem, ain-
ao nobre Constituinte Tadeu França. Sobre as conside- da, insuficiências municipais, defendo o princípio de que
rações de V. Ex. a , vou revelar algumas opiniões da minha a União deve permanecer subsidiariamente, até que desa-
pareçam essas insuficiências.
parte.
Quanto à valorização do professor, já me referi à
Primeiro, o salário-educação, que não é aproveitado exigência do Estatuto do Magistério.
em bolsa, vem para o FNDE e é aproveitado nos estados
e muníeípíos para a construção de novas salas de aula, A proliferação de cursos era realidade existente até
para o treinamento de professores e para as reformas nos o ano passado, porque o Conselho Federal de Educação
estabelecimentos de ensino existentes. homologou dispositivo, proibindo a criação de novos cur-
sos, respeitando, naturalmente, as cartas-consultas que
Quanto ao problema da proporcionalidade de verbas, ingressaram até 31 de outubro de 1986, mas para que se
de acordo com os estados e o número de universidades, proceda efetivamente à avaliação e para que não tenhamos
devo concordar integralmente com o Constituinte Tadeu o que o ilustre Constituinte falou: "fábrica de desempre-
França. Há estados que têm cinco universidades federais, gados".
'Como é o caso do Estado do Rio Grande do Sul, e há
estados, como o meu, que têm uma única universidade Quanto à Emenda Calmon, já fiz os comentários e
federal, ou como o Paraná, também. Então, há uma dis- entendo que, realmente, o 2.° grau não tem o "poder de
tribuição que não é adequada entre os diversos estados fogo" referido pelo Constituinte, porque o ensino superior
da Federação. Mas, se adotarmos um sistema realmente tem a classe esclarecida, a Classe acadêmica, a classe uni-
de gratuidade, para quem não pode pagar, não ficaremos versitária, a classe estudantil mais forte. O primário tem
prejudicados por concentrações geográficas e teremos, a base constitucional, tem a vontade dos pais, e o ensino
então, meios para atendermos efetivamente, com justiça intermediário, o ensino de 2.° grau, realmente perde esse
social, o alunado universitário brasileiro. "poder de fogo".
Por outro lado, defendo que as entidades comunitá- No que se refere ao ensino básico, já dei a minha
rias sem fins lucrativos, sem qualquer vencimento por opinião, quanto à sua prioridade dentro do texto consti-
parte de dirigentes ou de dirigentes de sua mantenedora, tucional ao responder às considerações do ilustre Consti-
'possam receber verbas públicas, pois, muitas vezes, o esta- tuinte Octávio Elísio.
°
do e município não têm condições de atender determi- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
gado. Ofereço a palavra à Constituinte Eunice Michiles.
nada área que está sendo bem atendida por uma entidade
comunitária. A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Sr.
Eu diria que temos que fazer uma diferenciação: Presidente, Sr. Ministro, colegas Constituintes:
escola pública é uma 'Coisa, escola comunitária e escola
comercial são outras coisas. Não pertenço a esta Subcomissão, daí ter perdido a
exposição do Sr. Ministro e lamentar por isso.
Que não vá verba pública para escola comercial estou
inteiramente de acordo; que se fiscalize a aplicação e veri- Mas, gostaria de fazer a seguinte consulta, Sr. Minis-
fiquem-se os casos extremamente necessários para as tro: o que pensa o Ministério, ou que planos tem o mesmo,
comunidades, estou de acordo. Agora, não podemos deixar a respeito do pré-escolar? Porque a minha visão é a se-
de reconhecer a realidade brasileira. O ensino gratuito em guinte: a nossa legislação, hoje, fala do menor apenas
todos os níveis, para todos, é um ideal e devemos perse- quando se refere a creches e a sua obrigatoriedade para
guí-Io, mas não podemos estar fora da realidade brasilei- as empresas com mais de 30 mulheres. Depois disso, esque-
ra. ce e só volta a falar na criança na parte da obrigatorie-
Devemos ver o que contamos para podermos realizar dade do ensino fundamental dos 7 aos 14 anos. -
as nossas metas e estamos em uma Assembléia Nacional Então, entendo que é exatamente aí, Sr. Ministro, que
Constituinte corri esta grande e grave responsabilidade, se começa a marginalizar o menor, que hoje representa
de fazer uma radiografia brasieira para que não possamos, uma cifra alarmante: 10 milhões de crianças que peram-
através de qualquer medida popular ou populista, ínvía- bulam pelas ruas.
bilizar os destinos deste País.
. Por outro lado, concordo que a universidade 'brasi- O pré-escolar é absolutamente necessário exatamente
leira, em muitos casos, tornou-se .uma fábula de empregos. para impedir essa marginalização, porque a mulher que
Devo dizer que isso se deu, efetivamente, .porque não te- deixa a criança até um ano de idade na creche e depois,
mos um, 2.° grau adequado, porque se tivéssemos um ensi- até os 6, essa criança fica onde? Ela perambuÍa pelas
no têcrííco no 2.0 grau, dentro desse esforço que está se ruas. .
fazendo agora, a universidade seria a complementação, Quando, então, ~tra na escola, aos 7 anos, ela já se
porque o ensino técnico já daria a habilitação de trabalho acostumou 'a perambular pelas ruas e acha o .ensíno evi-
indispensável e necessária para que .cada brasileiro pudes- dentemente, muito chato, além do que, não tendo ~ondi­
se, realmente, encontrar emprego. ções de concorrer com as outras crianças - melhor ali-
246 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

mentadas e que fizeram um pré-escolar - elas se evadem, Então, a Constituinte Euníce Michiles está convidada
além de serem reprovadas, não voltam mais à escola. a apresentar, junto com o mantenedor da entidade, um
Parece-me de fundamental importância que a Nação projeto especíal paea o atendimento por parte da FNDE.
assuma a responsabilidade do ensino pré-escolar. O aR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
Quero concordar com aqueles que se manifestam, aqui, gado. Com a palavra o Constituinte Antônio de Jesus.
pela necessidade de alguma coisa mais prática em relação O SR. CONSTITUINTE ANTONIO DE JESUS - Se-
ao 2.0 grau, que hoje é apenas um corredor para as uni- nhor Ministro, temos acompanhado atentamente a boa
versidades. explicação e informação de V. Ex.a daquilo que carecemos
Isso me faz lembrar as palavras, um pouco exagera- nesta subcomissão.
das, do nosso saudoso Senador Aderbal Jurema, que dizia O nosso pensamento é uma Constituição que venha
que "o ensino brasileiro poderia ter como símbolo um unir os brasileiros nos princípios de liberdade de escolha,
papagaio: decorativo, falador e só isso". de democracia e justiça social, é que tenhamos uma Cons-
Acho que é um pouco de exagero, mas, de qualquer tituição que seja, realmente, sensata, sólida e praticável.
forma, traz uma simbologia que vale a pena considerar. Neste momento, 'estou aqui a questionar, mentalmen-
te, em se tratando de um Iprocesso democrático, como é
A terceíra pergunta seria uma questão com relação proposto, dentro dele, nós vimos, atualmente, a liberdade
ao salário-educação. Só para exemplificar, há no Ama- de escolha: a pessoa escolhe onde morar, o que comprar,
zonas um caso típico de um padre que tem um trabalho com quem casar etc, Eu diria que temas, ainda, a liber-
fantástico com 600 crianças de rua: ele leva esses me- dade de escolher entre a escola pública, a comunitária
ninos para o seu estabelecimento e procura profissiona- - e dentro dela está também a filantrópica - ou a mer-
lízá-Ios, Durante algum tempo, conseguimos, através do cantilista. São as opções.
MEC, o salário-educação, com o qual ele se sustentava,
e que, depois, foi retirado sob a alegação - justa - de Estou refletindo, em se tratando da proposta unica-
que essa verba, ou esse dinheiro, tem uma aplicação espe- mente de uma escola pública, ou de uma escola estatal.
cífica que é para o filho do trabalhador. Será que o Estado está devidamente democratizado para
assumir essa responsabilidade, que vem rendo desenvol-
Então, vem a pergunta: e aquele que nem tem pai? vida em múltiplas áreas de ensino, com múltiplas opções,
E aquele cujo pai está desempregado? Quem é que se de acordo com as condições, com a escolha da família
responsabiliza por essa criança? E a pergunta concreta: etc.? Será que o Estado está devidamente habilitado para
o que faço com aquele padre, hoje com 800 crianças, que assumir a responsabilidade de 60 ou 70% da área privada,
não têm como mantê-las e que faz um trabalho absolu- que já tem uma estrutura, muitas delas, há mais ~~ um
tamente admirável e indispensável para aquela comuni- século e que vem desenvolvendo um traoalho efIClente
dade? para a comunidade?
Muito obrigada a V. Ex.a. Em se tratando de educação, acho que esta deve ser
a mais democrática possíveí," até mesmo com relação a
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado à uma simples educação física, porque, considerando que o
Constituinte Eunice Michiles. Ofereço a palavra ao Se- aluno seja portador de deficiências não aparentes, que a
nhor Ministro. aluna, príncípalmente a desnutrida,. f~ca .com seu corpo
sob discriminação diante d~ maís prívílegíadas, q!1'~ mui-
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agra- tas escolas não têm dependêncías adequadas a prátíca da
deço a participação da Constituinte Eunice Michiles, eu educação física, que horários inconven~entes par~ chegar
farei rápidas considerações sobre os assuntos aqui colo- ao local causam insegurança para a VIda, que ha alunos
cadas. que recebem a educação física como forma, até,. de cas-
tigo então para a Leí de Diretriz€s e Bases seria .opor-
Em primeiro lugar, sobre o pré-escolar, na explanação tun~ que e~a discíplína ficasse em caráter facultatIvo ...
revelei que entendia que as nOSS8!S ações eram bem insu- Isso também é democracia!
ficientes ainda e que a ação do Ministério é exatamente
a de repassador de recursos para pagamentos de profes- Se ela às vezes, está até ferindo princípios f~i1ia­
sores estaduais e, especialmente, municipais. res, éticos'ou morais, não seria oportuno se refletir?
Com esses recursos, conseguimos fazer com que tos- É muita coisa para se pensar no que diz respeito à
sem atendídas, em 1986, 600 mil crianças no pré-escolar; °
educação e deixo aqui essas considerações e questiona-
mento sobre o Estado: ele está devidament~.dentro desse
com o dobro do orçamento previsto, pretendemos, neste
ano, dar um atendimento a 1 milhão e 200 mil alunos, sistema, para que assuma essa respo~abIlidad.e e cor-
através dessa municipalização e estadualízação do pré- responda a toda ansiedade da populaçao? obrlgado.
escolar. O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
Entendo que é uma preocupação válida, e devo dizer gado a V. Ex.a. Com a palavra o Sr. Ministro.
que, além dos recursos de pagamento de professores, tra- O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Desejo,
balhamos, também, com a merenda escolar, que, em 1986, cumprimentando o Constituinte Antônio de Jesus, dizer
passou a atender aos irmãos dos alunos de 1.° grau. Com que compartilho com os princípios de liberdade e prati-
isso, tivemos quase 7 milhões de crianças atendidas com cabilidade aqui enunciados com muita clareza por V. Ex.a
a merenda, o que também é fundamental para a sua for-
mação. Fui claro, segundo meu ponto de vista, dentro dos
princípios que entendo como aqueles que devem prevale-
Em relação ao caso específico das bolsas, o que existe. cer de que sou a favor do ensino livre. A livre iniciativa
é um problema de ordem legal para o atendimento da pode participar e nós devemos distinguir o ensino público
escola citada, que está fora do círculo formal de 1.0 grau. do ensino comunitário e do ensino comercial.
Mas, devo lembrar que existe, dentro do FNDE, um con-
junto de projetos espeelaís, que visam a atender exata- A opção cabe dentro das condições que forem esta-
mente as emergências e casos excepcionais. belecidas e, também, há a obrígatoríedade de termos o
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 247

ensino gratuito na parte do ensino básico - é fundamen- Eram essas as indagações que queria fazer a V. Ex.a
tal isso, para que todos tenham essas condições mínimas. Muito obrigado.
Acho que o Estado deve participar, fiscalizando e ava- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
liando, e que, realmente, se considerarmos o fator prati- gado a V. Ex. a Com a palavra o Sr. Ministro da Educação.
cabilidade, colocado pelo ilustre parlamentar, vamos ver
que o Estado não tem recursos para poder assumir todos O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Agradeço
esses encargos, se houvesse uma decisão de outra forma a participação do ilustre Constituinte Bezerra de Melo,
dentro da Assembléia Nacional Constituinte. em que foram colocados os problemas a respeito das ver-
bas públicas. Quanto a este assunto, já dei claramente
Quanto à educação física, concordo que deve ser objeto a minha posição.
de estudo posterior, quando viermos a examinar o pro-
blema da Lei de Diretrizes e Bases. Quanto ao problema das escolas, volto a defender
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado. uma classificação: escola pública, escola comunitária e
Ofereço a palavra ao Constituinte Bezerra de Melo. escola comercial. De acordo com esta classificação, consi-
dero como possível de ser atendida a escola comunitária
O SR. CONSTITUINTE BEZERRA DE MELO - prioritariamente atendida a escola pública. '
Sr. Presidente, Sr. Ministro Jorge Bornhausen:
Chegamos, então, à escola comercial. Vamos verificar
Primeiramente, quero cumprimentar V. Ex. a pela bri- o porquê do andamento do processo de mensalidades e
lhante e oportuna exposição no tocante às ações do Mi- das atribuições que foram dadas aos conselhos. Vejamos
nistério da Educação. a realidade brasileira: tivemos o Plano Cruzado, que pro-
Como já se faz tarde e muitas das nossas indagações vocou o congelamento generalizado. Ele retirou do Con-
já foram muito bem respondidas por V. F.x.a, teríamos sell~o Federal de Educação a atribuição de fixação dos
apenas que fazer dois ou três questionamentos. reajustes, porque um decreto superior determinou o con-
gelamento. Terminado o Plano Cruzado e verificada uma
Em primeiro lugar, Br. Ministro, já discutimos ampla- defasagem no início do mês de janeiro através de decreto
mente, profundamente a questão de verbas públicas para do Presidente da República, delegando-nos a alteracão
o ensino público, mas estamos - eu, que pertenço, que das mensalidades do primeiro semestre nós determinamos
sou dirigente de escola privada -, estamos entre dois uma !J1aloração d.e 35% e abrimos ~ oportunidade de
fogos: de um lado, exigem-se verbas públicas exclusiva- negociaçao de ~aIs 15%. Isso foi feito por sugestão da
mente para as escolas públicas; e, de outro lado, exíste CNBB, que considerava haver necessidade de entendimen-
uma política, não sei se do próprio Ministério da Educa- ~ entre pais e p~ofe_ssores, com o 9ue concordo, porque
ção, no sentido de não dar liberdade às escolas privadas Isto forbaleca a eriaçao da Associaçao de País, obrigando
que têm boa qualidade de ensino, que têm bom nível, o pai a acompanhar a escola e o filho.
não dar uma liberdade, pelo menos vigiada, na cobrança
de suas mensalidades. rs~ a~onteceu, se não me falha a memória, no dia
7 de janeiro. Em seguida, o Presidente da República
Isto vem causando um problema muito sério e não atendendo aos reclamos permanentes de descentralizacã~
é do desconhecimento de V. Ex.a que as universidades e rec~nhe~endo que as condições de cada unidade da Fe-
católicas, principalmente, estão labutando com uma crise deração sao comPletamente diferentes, fez com que os
nunca dantes existida. Antes, o Conselho Federal de Edu- poderes de alteração dessas mensalidades passassem para
cação legislava sobre a questão das anuidades ou das os Con~elhos Estaduais de Educação, mais precisamente
semestralidades; esta atribuição passou aos Conselhos como disse o ilustre Constituinte, às Comissões de Encar~
Estaduais de Educação e, mais particularmente, às COmis- gos. A realidade do Acre não é igual à de São Paulo e
sões de Encargos Educacionais dos Conselhos Estaduais t.ambém não poderíamos sair do preço congelado par~ a
de Educação. li?~r~ade absoluta. No momento em que conseguirmos a
Acontece, Sr. Ministro, que essa mudança de atribui- dIVIsa0 concreta entre escola pública, comunitária e co-
ções trouxe imensos problemas para a escola privada. mercial, poderemos chegar lá. Mas é necessário haver
Ainda ontem lemos, num jornal do Ceará, que alunos uma legislação que deíxe bem clara essa diferenciacão
invadiram o Conselho Estadual de Educação, príncípal- para que não haja nenhuma ação escusa, nenhum apro~
mente a Comissão de Encargos, e o Presidente Cláudio veítamento ilícito do recurso público.
Martins teve que fechar o Conselho e comunicar ao gover-
nador do estado que só abriria quando lhe dessem segu- Para chegarmos à liberdade, necessariamente, tería-
rança para isto. - mos que passar pelo preço administrado. As 'escolas de-
veriam abrir no primeiro momento, porque tinham elas
Há uma contradição: querem-se verbas púbãeas só a necessidade de receber a mensalidade em janeiro. A
para escolas públicas, e não se dá liberdade à escola pri- política econômica do Governo tinha que ser coerente.
vada de cobrar as anuidades que ela acha conveniente
para os custos do ensino, quando se oferece ensino de boa Abrimos, agora, as possibilidades maiores de exame
qualidade. Esta seria uma primeira indagação. por parte das Comissões de Encargos, de todos os pedido~
excepcionais. É claro, condicionada à exigência de fisca-
_A segunda indagação seria a respeito da notícia, que lização, porque se vamos admitir que alguém alega um pre-
ouvi ou li em algum lugar, de que o Ministério da Educa- juízo maior e uma necessidade maior, há que se sub-
ção estaria procurando fórmulas de estadualizar as uni- meter também à fiscalização.
versidades federais. Gostaria de saber de V. Ex. a o que
existe de concreto a respeito. Porque este é um assunto O problema das PUC, que tem sido objeto de debates
muito sério. a nível nacional pela sua; qualidade, não é novo, não é
um problema de 1987. Na minha gestão no Ministério,
Em terceiro lugar, indagaria a V; Ex.a se existe, no desde fevereiro de 1986, venho acompanhando os pro-
Ministério da Educação, algum estudo sobre formas alter·- blemas, e o Governo tem procurado ajudar, como fez
nativas de ensino, como, por exemplo, a universidade recentemente, autorizando um empréstimo de cerca de
aberta-o 74 milhões de cruzados à PUC de São Paulo.
248 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Deveremos, na legislação complementar, encontrar os ta Constitucional. Constatei que, tendo nascido na Cons-
caminhos adequados para o problema de verbas públicas tituição de 1934, a vinculação desapareceu, a nível de
e à distinção entre escolas comunitárias e comerciais. União, em 1967. O que ocorreu? Caíram os orçamentos,
Falando em escolas comunitárias, estaria cometendo porque entramos na lei frillo dos números. Quando se vai
uma injustiça se não l-embrasse o extraordinário trabalho fechar um orçamento, procura-se cortar doe quem tem
mais e não de quem precisa mais.
da Campanha Nacional das Escolas de Comunidade, que
vem preenchendo excepcionalmente uma lacuna em todo Se o orçamento não tiver essa vinculação, quando o
o País. Ministério da Educação mandar para o Planejamento o
seu orçamento e tiver que fazer aqueles acertos finais,
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado, aquelas marteladas, aqueles cortes, a Educação brasileira
Sr. Ministro. vai sofrer a martelada e o corte maior porque maiores
Devo registrar que o Constituinte José Moura, que são suas necessidades. Daí o mérito da Emenda João
havia se inscrito, considera já atendida a sua solicitação Calmon, dai a luta pela vinculação e daí por que noí e o
e abre mão da inscrição. Ministério pode funcionar normalmente, porque, quando
entra aqui a lei do excesso de arrecadação, não há ne-
Com a palavra o Constituinte a seguir inscrito José cessidade da briga do Ministério da Educação pelo qui-
Thomaz Nonô. nhão dos 13%, porque ele está consagrado no dispositivo
O SR. 'CONSTITUINTE JOSÉ THOMAZ NONô - constitucional.
Sr. Ministro, o objetivo perseguido no Regimento da <É esta a observação que faço ao ilustre Deputado,
Constituinte, ou seja, Q esclarecimento dos Parlamentares ratificando o meu pensamento da necessidade de -termos
e a introdução de dados novos, está sendo, na manhã de a vinculação de que, se mantido o quadro atual, teremos
hoje, plenamente atingido. necessidade de aumentá-la para 18%, mas que temos
Essa forma esdrúxula, entretanto, de compartimentar que ver o percentual, com base naquilo que vai ser fruto
os Constituintes em 24 guetos, que constituem as subco- do trabalho da Constituinte, no que diz respeito à dis-
missões, está impedindo que os 81's. Constituintes tenham tribuição dos impostos entre Estados, Municípios e União.
uma visão do conjunto. Foi para me atualizar um pouco O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a
quanto à Educação que vem ouvir hoje V. Ex.a , e confesso V.Ex.a Concedo, agora, a palavra ao eminente relator
que estou extremamente satisfeito com o que foi colocado. desta Subcomissão, Senador João Calmon.
Não sou um especialista em Educação. Minha atua- O SR. CONSTITUINTE JoAo CALMON - Ministro
ção parlamentar se prende muito mais ao universo de Jorge Bornhausen, inicialmente, eu desejo felicitá-lo pela
finanças. :É exatamente dentro desse universo que vou sua magistral disposição, que me fez lembrar Uma lição,
fazer duas indagações a V. Ex.a que aprendi numa academia política da República Federal
da Alemanha, o primeiro dever de homem público é ficar
Ouvi de vários companheiros uma série de crítica." em paz com a sua consciência; o segundo dever ide um ho-
a um percentual exagerado na dotação de verbas para a mem público é defender os interesses do seu país; o ter-
universidade. Não me parece procedente. Se contarmos ceiro dever de um homem público é cumprir as diretrizes
que o universo de gastos é de 20(} bilhões de cruzados, do seu partido.
divididos entre União, Estado e Município, um gasto de
20 bilhões representa apenas 10% do que se gasta em V. Ex.a fez uma exposição que exige, sem dúvida ne-
Educação 16 4% do PIB. Não é ainda um número assus- nhuma a coragem de defender pontos de vista, que não
tador. são apoiados pela unanimidade. Há divergências e, eu di-
ria, divergências graves. Em relação a mim, Ministro e
Devemos lutar, tendo em mente sempre que a Emenda Senador Jorge Bornhausen, eu costumo até encarar com
João Calmon fixou um piso e não um teto para as dotações, bom humor esse aspecto do problema, ao declarar que se
devemos lutar para ampliar as dotações às outras faixas nem Jesus Cristo conseguiu unanimidade, quanto mais eu
de ensino. que tenho apenas as iniciais de Jesus Cristo. (RiSOS.)
A pergunta que quero fazer a V. Ex. a , que é híbrido, Esta batalha, que nós estamos travando, realmente
pois é Senador e Ministro e, como tal, conhece os pro- tem características de extraordinária importância. Esta é
blemas do Executivo e do Legislativo, é a seguinte: te- a hora de nós deeídírmos qual vai ser o futuro deste País.
mos notado uma ênfase extrema no sentido de se faze- Se nós não dermos à Educação a máxima prioridade - e
rem vinculações constitucionais em todas as subcomissões ela nunca teve nenhuma prioridade no Brasil, desde o
e em todos os temas que se discutem nesta Casa. ISso não tempo de o Brasil-Colônia, quando o Marquês de Pombal
parece, até certo ponto, um receio com relação ao Exe- proibiu que os jesuítas continuassem a ensinar, até o dia
cutivo, como Poder, afinal de contas aplica o orçamento de hoje - nós continuaremos com esse quadro tão injusto
que recebe? Essa é a questão política que gostaria de e tão desumano, em que uma pequena, uma insignificante
deixar para o Ministro da Educação. minoria detém a maioria esmagadora da renda ido País.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- Mas, para isso, nós precisamos ter coragem, precisa-
gado. 'Com a palavra o Sr. MinistrQ. mos enfrentar criticas, considerando que a grande priori-
dade deste País é, sem dúvida, a Educação; e, dentro do
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUSEN - Devo quadro geral da Educação, nós devemos dar a maior
agradecer a participação do nobre Constituinte J'Osé Tho- atenção ao ensino fundamental. Porque é uma vergonha,
maz Nonõ, assim como as suas considerações, e dizer que, que idevería provocar insônia nos brasileiros, o fato de 487
realmente, defendo a vinculação, porque tive oportunida- anos depois do descobrimento, nós ainda termos 87% das
de de examinar os orçamentos do Ministério da Educação nossas crianças que não terminam a escola de 1.0 Grau.
no curso dos anos. São, portanto, funcionalmente analfabetas.
No ano passado, quando fui chamado para fazer uma Eu não concordo com o diagnóstico da Unesco, se-
palestra na ~cola Superior de Guerra, achei que o tema gundo O qual o superdimensionamento do ensino superior
oportuno, em face da convocação da Assembléia Nacional é um fenômeno característico dos países subdesenvolvi-
Constituinte, deveria ser exatamente a Educação na Car- dos. Se nós levássemos ao extremo este diagnóstico da
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 249

Unesco, nós estaríamos fazendo o [ego das grandes po- Dentre os alunos de ensino de 3.0 Grau, 30% apenas
tências industriais Ido mundo, que gostariam que o Brasil estão freqüentando escolas públicas, apenas 30%; 70%
não conquistasse o lugar de relevo no quadro mundial, freqírentam escolas particulares, e dentro desse conjunto
Realmente, nós precisamos dar prioridade à Educação, de escolas particulares, nós temos de tudo; e eu tenho di-
mas não podemos também subestimar a importância do to isso com a maior ênfase, inclusive num Congresso de
2.0 Grau, e eu diria também, com grande relevo, o 3.0 estabelecimentos de ensino particular.
Grau. Porque do 3.0 Grau que poderá sair a garantia de Na área de ensino particular, há faculdades que são
que o Brasil não correrá, nos próximos anos, o risco de verdadeiros casos de polícia, são fábricas de diplomas. Se
ser uma vítima do colonialismo tecnológico. Nós ficar- nós tivéssemos um dispositivo de fiscalização realmente
mos atrasados, como preconizam muitas das grandes po- eficiente, muitas dessas escolas - diria de nível superior
tências, nós correremos o risco, inclusive, da penda da - de ensino superior do setor privado já ter sido suma-
nossa independência, que hoje não é ameaçada apenas riamente fechadas.
por possibilidade de invasão ou de estabelecimento de ba-
ses navais ou aéreas. Entretanto, nós temos que considerar que, se de re-
pente, entrassem em colapso todas as universidades do
Infelizmente, para levar 'avante esta batalha, nós va- setor privado, eu diria, seria mais lamentável essas uni-
mos ter que enfrentar uma dura luta. O Constituinte Ta- versidades comunitárias, a que o Ministro Jorge Born-
deu França declarou aqui com a maior ênfase: "Críança hausen se referiu, qual seria a pressão sobre as verbas
não tem poder de fogo". Em outras palavras, ele afirma sobre as universidades públicas deste País, das quais tan-
essa verdade tão proclamada por alguns brasileiros. to nos orgulhamos? Se, hoje, 30% dos alunos que fre-
O ex-Ministro Mário Henrique Simonsen destacou que quentam as escolas superiores públicas absorvem 70% dos
a criança tem um débil poder vocal; ela não promove recursos federais para a educação, o que aconteceria nesse
passeata; ela não participa de comícios; ela não tem tí- Pais, se nós tivéssemos de repente, apenas escolas públicas
tulo de eleitor; então nós temos que defender aqui, na de 3.0 grau? Seria realmente um desserviço a esta priori-
Assembléia Nacional Constituinte, a prioridade para o dade do ensino fundamental, e a necessidade de nós dar-
ensino do 1.0 Grau, para o ensino fundamental que é o mos, também, a maior atenção ao ensino de II grau, para
alicerce da educação. Mas nunca condenando a plano se- não corrermos o risco, já denunciado, tantas vezes, de o
cudário o ensino do 2.0 Grau, e eu diria, com muita im- Brasil se transformar num País de analfabetos e de dou-
portância o ensino superior, que é brain trust, onde está o tores.
brain trust deste País. Devo aproveitar essa oportunidade para ficar em paz
Quanto aos percentuais, eu devo dizer, depois de agra- com a minha consciência para fazer uma retificação. Eu
decer as generosas palavras do Ministro em relação a este comentei aqui, numa das nossas últimas reuniões, uma
humilde lutador da causa da educação, que não é lutador, entrevista do Reitor da universidade da Pontifícia Uni-
que não é educador, é apenas lutador, que nós estamos versidade Católica de São Paulo, o Professor Wanderley.
realmente com boa perspectiva de conseguir desenvolvi- Nessa entrevista ele declarou que a PUC, de São Paulo,
mento do percentual mínimo sobre a receita de impostos para não entrar em colapso, para não fechar, obteve um
federais em torno de 18%. empréstimo da Caixa Econômica Federal de 70 e poucos
Obviamente esse percentual é ainda provisório, porque milhões de cruzados, com o aval do Ministério da Educação
só será fixado de caráter definitivo na próxima Consti- e do Ministério do Planejamento. O Reitor da PUC come-
tuição, depois que for definido o sistema tributário que o teu a impropriedade de linguagem, quando ele falou em
País vai adotar. aval do Ministério da Educação e do Ministério do Plane-
jamento, era de se supor que tivesse acontecido no Brasil
Corajosamente, o Ministro Jorge Bornhausen se refe- uma coisa que era impossivel, o Ministério não avaliza
riu também a algumas debílídades, a algumas falhas na empréstimo, apenas o que o Ministro da Educação deixou
área de ensino superior, depois de ter focalizado graves claro, quando eu comentei o assunto com ele, é que o
falhas na área de ensino de 1.0 Grau, inclusive o paga- Mlrrlstérío da Educação e do Planejamento aprovaram,
mento miserável, desumano, que ainda existe hoje, de pro- recomendaram esse empréstimo, mas sem que com isso
fessoras primárias que chegam a receber, em algumas haja nenhuma co-responsabilidade no pagamento do Mi-
áreas pobres do Brasil, metade do salário mínimo e, às ve- nistério da Educação e do Ministério do Planejamento. Em
zes, até 1/3 do salário mínimo. virtude do problema do tempo, porque no Brasil não há
Mas, corajosamente, ele se referiu a um problema que apenas insuficiências de verbas para a Educação, há tam-
existe, que nós devemos encarar corajosamente. É o pro- bém insuficiência de tempo para abordar todos os aspectos
blema da ociosidade nas universidades federais. do problema, eu encerro esta minha rápida intervenção,
com a proclamação de uma certeza que eu tenho, dentro
É realmente necessário que se mude o dispositivo pa- da precariedade da certeza humana. Esta Subcomissão de
ra um aproveitamento melhor, não apenas das instalações, Educação, Sr. Ministro, Sr. Senador Jorge Bornhausen,
mas também do magistério do ensino superior. E há um ou- está realizando um trabalho realmente de alto nível, um
tro problema dramático, que não adianta ignorar ou fin- trabalho primoroso, sem respeitar horários, ouvindo mais
gir ignorar ou dar uma de avestruz e meter a cabeça na de 70 entidades, em vez de ouvir, como as outras, 20 ou
areia; o único problema da educação no Brasil não é a falta 25, nós ouvimos mais de 70 entidades, e aqui, embora,
ou insuficiência de verbas. Esse é um dos problemas, eu di- partíclpem desta Subcomissão, como é lógico, como é nor-
ria, u mdos mais graves problemas, mas também há outros mal, constituintes de várias tendências partidárias e ideo-
problemas que nós teremos que enfrentar bravamente. lógicas, ninguém aqui, jamais, insinuou que tem o mo-
nopólio da verdade, o monopólio do patriotismo, e quem
Existe na área do ensino; em todos os graus, desde o não defende o ponto de vista desses companheiros ím-
1.0 Grau até o 3.0 Grau, no ensino particular e também no
ensino público, há desperdício, há ineficiência, há empre- patriotas é réprobo ou quer a desgraça do nosso País.
guísmo e nós temos que promover realmente uma cruza- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
da nacional para combatermos todas essas deficiências, gado a V. Ex.a, Senador João Calmon, eu quero registrar
porque estamos hoje diante deste quadro, que me assusta, a presença, com muita satisfação, do Relator-Geral da Co-
que me preocupa. missão Temática 8, o Constituinte Artur da Távola.
250 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Antes de passar a palavra ao Sr. Ministro, ressaltan- como aquelas propostas, e já em execução, do aumento de
do a extraordinária oportunidade de sua presença aqui e número de bolsas internas e externas do Pais, para a for-
do conteúdo dos nossos debates, e considerando também mação de cientistas, evitar que possamos amanhã sofrer
diferentes manifestações que aqui foram feitas, nesta ma- desse grande mal.
nhã, Sr. Ministro, e ademais disto, considerando que aqui
está o presidente da confederação de Professores do Brasil °
Ouvi, com atenção, a sua posição sobre problema de
e que vive um problema sério, pois mais de 10 entidades desperdício de dinheiro público. Foi por isso que, dentre
os princípios que enunciei, deixei bem clara a necessidade
estaduais estão em greve com os Governos dos Estados e, de um texto constitucional conter os princípios da fisca-
especificamente, em cima de um ponto de pauta comum lização e da avaliação.
nessas mais de 10 greves estaduais, eu gostaria de que, na
sua intervenção final, pudesse nos dar também a sua pa- Por outro lado, agradeço a V. Ex.a o esclarecimento
lavra especifica e objetiva em cima desta questão. que trouxe a respeito da operação feita com a Caixa Eco-
Ocorre que, para manter o valor aquisitivo dos salá- nômica Federal e a PUC de São Paulo. Na realidade, para
rios, em muitos estados brasileiros, quando eu mesmo pre- que a Caixa Econômica Federal possa apreciar um pleito
sidia a Confederação dos Professores do Brasil, um tra- de uma entidade de ensino superior, ela tem que ter a
balho que está prosseguindo hoje, buscou-se a vinculação prioridade estabelecida pelo Ministério da Educação e o
dos salários dos professores a um piso mínimo traduzido Ministério do Planejamento, o que ocorreu recentemente
em salários mínimos. com a Universidade Católica de São Paulo.
Agora há um questionamento sobre esta vinculação: De outra parte, devo agradecer também a maneira
muitos Governos estaduais não cumprindo isto, os pro- com que o Presidente Hermes Zaneti conduziu esses tra-
fessores decretando greve em função desse descumpri- balhos, para que eles pudessem ser, de certa forma, ser
mento. Então, pediram-me - e eu aqui gostaria de apro- produtivos.
veitar essa oportunidade para ouvir o pensamento de V. E consignar com muita alegria, como ele consignou,
Ex. a sobre essa questão da vinculação do salário mínimo a presença aqui do Relator-Geral, Deputado Artur da
a um piso mínimo para os professores, o seu descumpri- Távola, meu amigo de lutas estudantis, companheiro de
mento e este movimento nacional que se está desenvol- banco universitário, uma das figuras mais ilustres e bri-
vendo em cima disto. lhantes do Congresso Nacional.
O meu Estado mesmo, o Rio Grande do Sul, tem lá E também não posso deixar de dar uma palavra sobre
uma greve já de quase 40 dias em cima dessa questão, muito aquilo que foi colocado pelo Deputado Hermes Zaneti. As-
séria, muito difícil. sumi um compromisso comigo mesmo de ter a coragem
A pergunta é feita por solicitação de colegas profes- lie dizer aqui, nesta oportunidade, tudo que penso.
sores também porque a nível do nosso Governo Federal, Se não estou participando da Assembléia Nacional
por um lado, o Ministro Bresser Pereira recomenda o ga- Constituinte, como Senador, não gostaria de deixar de
tilho salarial às empresas, mas recomenda aos Governos dar a minha participação, dizendo a verdade, porque esta
dos Estados que não apliquem o gatilho aos funcionários é a maior contribuição que posso dar àqueles que estão
públicos. Poderia V. Ex.a dizer: mas os estados são au-
tônomos. Pois, se são autônomos, há a indagação: como é efetivamente trabalhando na Carta Constitucional brasi-
que o Sr. Ministro da .Fazenda recomenda que não apli- leira.
quem o gatilho? E nós entendemos que quando o gatilho Manifestei-me claramente a favor da valorizacão do
não é aplicado a favor. ele é automaticamente acionado professor. Tenho consciência desta necessidade, graças à
contra, porque o não acionamento do gatilho implica na
perda necessária do poder aquisitivo dos salários.
°
experiência feliz que tive de governar meu Estado. En-
contrei problemas com mais de ,lO anos, quando assumi
Enfim, parece que seria oportuno ouvir V. Ex.a e sobre o Governo, dos chamados professores substitutos, porque
o caixa do Ministério da Educação nesse momento para afastavam-se os titulares e colocavam-se os substitutos.
socorrer esses Estados que estão vivendo essas dificuldades. Tínhamos problemas de diminuição de qualidade e au-
mento de custos. Este mal existe e permanece. Para en-
São duas questões obj etivas. evidentemente V. Ex.a frentá-lo no primeiro dia de Governo mandei à Assembléia
não é obrigado a respondê-las, mas neste clima fraterno Legislativa um projeto de lei, que passou a ser apelidado
em que os trabalhos desta manhã desenvolveram, nós con- de "pó de giz", dando uma gratificação de 100% aos pro-
sideramos que poderíamos fazer este questionamento adi- fessores que estivessem nas salas de aula, e de 8 mil pro-
cional, por solicitação das pessoas que aqui estão presen-
tes, e também gostaríamos, se assim for também o desejo °
fessores afastados, tivemos retorno de 6 mil professores
de V. Ex.a, de ouvir a sua resposta. às salas de aula.
O SR. MINISTRO JORGE BORNHAUBEN - Eu dese- Há necessidade, portanto, de estimulo, mas há neces-
jo, inicialmente, as generosas palavras do Senador João sidade de se colocarem os recursos num todo, há necessi-
Calmon, querido amigo, de longa data e que, por isso mes- dade de se ter responsabilidade quando se trata do pro-
mo, se excedeu nas considerações que fez ao meu respeito, blema de vencimento, porque na realidade, se nós temos
absolutamente ímerecídas. uma distribuição de renda, que não é a ideal, não é a
desejável para os Estados e Municípios, também temos um
Quero dizer que concordo plenamente com as coloca- excessivo gasto de pessoal, temos um desperdício, como
ções de V. Ex. a Nós temos que olhar, neste momento, os aqui citou o Senador João Calmon.
problemas da Educação, como prioridade das prioridades;
afirmei isso quando fui eleito governador, e repeti isso na Quero dizer que, quando Governador do Estado de Santa
minha posse como ministro. E, dentro desta prioridade Catarina, trabalhei com uma folha de pessoal média de
das prioridades, temos que trabalhar muito, os desafios 4:8% do que era arrecadado em rOM. Hoje, não acredito
são muito grandes e citou um deles aqui o Senador João que nenhum Estado da Federação tenha esta média, pelo
Calmon, que não podem passar despercebido: a hipótese contrário, a maioria ultrapassa os 100%, e isto não pode
-de nós cairmos no colonialismo tecnológico. Temos que, deixar de ser examinado neste conjunto de ações da As-
necessariamente, através de estudos profundos, de ações sembléia Nacional Constituinte.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 251

Nós temos que, efetivamente, colocar um dispositivo que bém uma intervenção em relação à inclusão dos servidores
determine que as despesas de pessoal não possam ultra- do MEC no Plano único de Classificação e Retribuição de
passar a 50% da sua arrecadação e que dê naturalmente Cargos e Empregos.
prazo para que a medida possa se tornar efetiva. P-orque Eu ia dar uma explicação, mas antes da explicação,
aí não vamos ter o emprego de fantasmas, aí não vamos vou dizer o que o Sr. Ministro nos disse, que esta questão
ter a ociosidade, vamos procurar a melhoria e, na melho- já foi adequadamente estudada e enviada ao Ministério
ria, nós temos que dar a melhoria em primeiro lugar aos da Administração com uma solução apontada pelo Minis-
professores, que exercem a maior e a melhor tarefa neste tério da Educação.
País.
De modo que a notícia é alvissareira e eu confio que,
O problema do gatilho é um problema que vem ao em breve tempo, tenhamos já uma solução adequada para
encontro desta dificuldade existente nos Estados e Muni- o assunto.
cípios. Dificuldade que não é só fruto da distribuição de Devo, apenas, esclarecer, já que S. Ex.a fez referência
Receitas, dificuldade que é fruto também do empreguísmo, que eu era o relator dessa matéria, que fui democratica-
e isto tem que ser di-to com coragem. E para isso nós esta- mente pressionado e, em sendo democraticamente pres-
mos vivendo um momento histórico da Assembléia Nacio- sionado, não escolhi o caminho mais fácil de fazer uma
nal Constituinte. emenda àquele projeto, que seria uma emenda inconsti-
Não acredito que nenhum governante de nenhum Es- tucional, porque a Constituinte, que está em vigor, nos
tado da Federação queira deixar de dar o gatilho. Acre- proíbe, enquanto parlamento, de introduzir textos que al-
dito sim, que estej am eles enfrentando dificuldades que o terem o Orçamento da União, Então resisti às pressões
impossibilitem de, momentaneamente, dar o gatilho. Esta para respeitar a Constituição. Muito mais fácil teria sido
é uma realidade, e dentro desta realidade, temos que viver fazer a emenda, que teria sido derrubada e que, se apro-
este momento, que tem que ser de atitudes corajosas, de vada no Parlamento, cairia depois por inconstitucionali-
saneamento na máquina pública, de enxugamento na má- dade.
quina pública, para que nós tenhamos, efetivamente, re- Parece que o jogo democrático supõe também que, em
sultados no fim da linha. E é por isso que nós vamos en- determinados momentos, mesmo que justa a reivindica-
xugar a Fundação Educar, porque nós gastamos muito na ção, respeitemos a Constituição, mesmo que eu a entenda
sua administração, quando devemos gastar muito mais na injusta, mas que é assim e que estamos trabalhando para
educação, na alfabetização. Acho que os governantes só mudá-la. E que, apesar disto haver ocorrido naquela opor-
terão possibilidade de se afirmar, se tiverem uma linha de tunidade, possamos, agora, nesta Subcomissão, noticiar
coragem. E é por isso que estou, neste momento, cumprin- que, em breves dias, teremos solução para este problema
do uma etapa, para mim, muito oportuna na minha vida com a proposta do Poder Executivo, e esclarecer, mais
pública: a de poder dizer perante esta platéia tão impor- que isto, que, mesmo naquela oportunidade, nós endere-
tante, aquilo que penso, aquilo que sinto. çamos a S. Ex.a um telex fazendo esta solicitação, solici-
tação, que, por iniciativa agora do Poder Executivo, esta-
E ao agradecer esta oportunidade, a colaboração de mos vendo prestes a ser atendido.
todos que fizeram as suas intervenções, àqueles que tive- Amanhã, às 9 horas e 30 minutos, esta Subcomissão
ram paciência de me ouvir, àqueles que, democraticamen- retomará a sua reunião ordinária.
te, aqui colocaram as suas posições através das faixas e
dos cartazes, mas que fizeram com que esta Assembléia Muito obrigado, agredecemos ao Sr. Ministro e a to-
Naci-onal Constituinte vivesse o momento de ampla demo- dos os nossos convidados.
cracia, na condução perfeita dos trabalhos do Presidente Está encerrada a reunião.
desta Bubcomíssâo, eu também desejo expressar os meus
agradecimentos e dizer que o protesto é uma forma de (Levanta-se a reunião às horas e mínutos.)
manifestação democrática e é uma maneira de, efetiva-
mente, serem examinados os pontos que são levantados 26.a Reunião
por aqueles que entendem como certos. Aos quatorze dias do mês de maio do ano de mil no-
vecentos e oitenta e sete, às dez horas e cinco minutos,
Quero nesta oportunidade, portanto, dizer do meu or- na Sala de Reunião da Subcomissão Ala Senador Alexan-
gulho, da minha honra e da minha satisfação, de poder dre Costa, Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão da
tentar prestar um serviço ao meu País, porque acredito Educação, Cultura e Esportes com a presença dos seguintes
no Brasil e acredito no s-eu ruturo. Senhores Constituintes: Átila Lira, Bezerra de Mello,
Muito obrigado. (Palmas prolongadas.) Agripino Lima, Octávio Elísio, Cláudio Ávila, Tadeu Fran-
ça, Antônio de Jesus, Louremberg Nunes Rocha, Florestan
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - A Presidên- Fernandes, Chico Humberto, João Calmon, Paulo Silva,
cia agradece a importante contribuição que trouxe aqui o Márcia Kubitschek e Pedro Canedo. Havendo número re-
Sr. Ministro da Educação, independentemente de concor- gimental, o l.°-Vice-Presidente em exercício da Pre-
darmos ou não, em todo ou em parte, com os pensamentos sidência, Constituinte Aécio de Borba, declara abertos os
que foram aqui expostos hoje. Sem dúvida nenhuma, esta trabalhos. Presta esclarecimentos a respeito do Relatório,
Subcomissão viveu um momento importante dos seus tra- sendo questionado em relação ao mesmo pelos seguintes
balhos, importante pela contribuição do Sr. Ministro, im- Senhores Constituintes: Antônio de Jesus, Florestan Fer-
portante pela contribuição expressíva também dos Srs. nandes, Cláudio Ávila, Octávio Elísio, Pedro Canedo e Lou-
Constituintes, importante pela presença dos cartazes, das remberg Nunes Rocha. O Relator João Calmon participa
faixas, como expressou S. Ex.a , importante pelo momento do debate fazendo referência à elaboração do Relatório. Em
democrático que vivemos. seguida o Presidente Aécio de Borba justifica a necessidade
É possível, Sr. Ministro, que nas palavra que eu colo- de se ausentar e passa a presidência ao 2.0-Vice-Presiden-
quei sobre o salário mínimo e os recursos de caixa para te, Constituinte Pedro Canedo. Este, ao assumir a Presi-
socorrer situações de emergência, haja alguém aqui enten- dência, registra a presença de professores goianos liderados
dido que eu estava fazendo uma reivindicação e, em base pelo Professor Hélio Furtado e de profissionais ligados à
a esse entendimento, mandaram-me um bihete, e eu não imprensa goiana. Fica decidido, após votação, que a apre-
vou me furtar a ler; gostaríamos que V. Ex.a fizesse tam- ciação do anteprojeto final e a apresentação da segunda
252 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

parte do Relatório será realizada na reunião de hoje, às ainda algumas alterações e alguma complementação, o que
dezoito horas. O Constituinte Chico Humberto pede a pa- será feito hoje, às 18 horas, para amanhã ser enviada à
lavra e faz veementes acusações ao Governo do Estado de publicação do avulso a ser discutido. Então, fortalece aque-
Minas Gerais denunciando as agressões sofridas por ele la tese de não se fazer leitura, porque ainda não está de-
próprio e pelos Constituintes: João Paulo, Virgílio ouíma- vidamente concluída. Se tiver que ser assim, que seja na
rães e Paulo Delgado, quando participavam de manifesta- reunião das 18 horas, depois de totalmente registrada e
ções em favor de professores e funcionários públicos na aprovada pelo Relator-Geral.
capital mineira. São solidários ao Constituinte Chico Hum-
berto os Senhores Constituintes: Pedro Canedo, Octávio Com a palavra o Constituinte Florestan Fernandes.
Elísio, Márcia Kubitschek, Cláudio Ávila, Bezerra de Mello, O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
João Calmon e Florestan Fernandes. Por sugestão deste, é Agradeço a gentileza de V. Ex. a Gostaria de chamar a
votada e aprovada a decisão de ser enviado um ofício ao atenção que pelo Regimento, o prazo começa a correr de-
Presidente da Assembléia Nacional Constituinte Ulysses pois dos avulsos estarem impressos. Isto aqui ainda não
Guimarães, contendo as manifestações de repúdio ao des- é a impressão. De modo que creio que o cronograma que
r·e.opeito à soberania desta Assembléia imbuída de sua está sendo distribuído está nos furtando um dia para de-
grande responsabilidade na elaboração de nossa Carta bate e revisão do anteprojeo.
Magna. Às onze horas e vinte e três minutos o Senhor Pre-
sidente declara encerrados os trabalhos, convocando uma O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - De acordo
reunião extraordinária a realizar-se às dezoito horas de com a explicação que nos foi dada pelo Senador João
hoje, dia quatorze, para apresentação da parte final do Re- Calmon, na noite da leitura do relatório, S. Ex. a aludiu
latório e votação do Cronograma, cujo teor será publicado às duas audiências que seriam feitas na 'terça-feira e ontem,
na íntegra no Diário da Assembléia Nacional Constituinte com os Srs. Ministros, e que esses subsídios ainda iríamos
e, para constar, eu, Sérgio Augusto Gouvêa Zaramella, Se- tomar para possíveis complementações ou alterações no
cretário, levarei a presente ata que, depois de lida e apro- relatório que iria fazer. Esta é a razão dessa nova apre-
vada será assinada pelo Senhor Presidente. sentaçao da estrutura que S. Ex. a, para não alterar o prazo
final, redistribuiu, tirando um dia da discussão da matéria
ANEXO A ATA DA 26.a REUNIliO DA SUBCOMIS- e dois dias do seu prazo, para apresentar o relatório e
SÃO DA EDUOAÇÃO, CULTURA E ESPORTES, REA- as emendas. Quer dizer, S. Ex. a refundiu aquele cronogra-
LIZADA EM 14 DE MAIO DE 1987, AS 10 :05 HORAS, ma expresso, estatuído no Regimento, e fez uma composi-
íNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRAFICO, ção de maneira a que não ultrapassasse o dia 25. Inclusive
COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA para isso ficaria a votação determinada para os dias 22,
PELO SENHOR PRESID'ENTE DA SUBCOMISSÃO, 23 e 24, que são os dias de sexta-feira, sábado e domingo.
CONSTITUINTE HERMES ZANETI. Parece-me que feita essa fase preliminar da apresen-
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Havendo tação de emendas e do relatório, aproveitando e atenden-
número regimental, declaro aberta a reunião da Subco- do as proposições e as modificações sugeridas, pouquíssi-
missão de Educacão, Cultura e Esportes, ontem convoca- mas matérias restarão para ser objeto de votação. Acho
da pelo Sr. Presidente Hermes Zaneti, para os debates ini- que há uma parte geral do relatório em que não ocorre
ciais sobre o relatório apresentado pelo Sr. Relator da grandes divergências, haverá sim, naquilo em que S. Ex. a
Subcomissão e, especialmente, para aprovação do crono- não aceitou, das propostas apresentadas, para, efetivamen-
grama final dos trabalhos desta Subcomissão, até a pró- te, sofrerem as alterações e as propostas de emendas se-
xima segunda-feira, dia 25, quando o Regimento Interno rem feitas pelos Constituintes da Subcomissão. Então, é
da Constituinte assinala a obrigatoriedade da entrega do um outro assunto que tem que ser deliberado hoje. Se
anteprojeto, devidamente aprovado por esta Subcomissão, se adota o rígido disposto no Regimento, já estamos ul-
para a Comissão Temática. trapassados, porque ainda não dispomos do avulso. Isso
já é fato irreversível, porque no dia 11 deveria ter sido
Os Srs. Constituintes devem ter recebido, como eu, encerrado; 12 e 13 seriam os dias em que a Gráfica rece-
em seus gabinetes, o relatório geral apresentado pelo Re- beria, e no dia 14 já iniciaria a distribuição de avulsos
lator. Naquela noite, foi lida aqui até uma página antes com o início do prazo de discussão e apresentação de
do término das matérias relativas à educação, ficando esse emendas, que irá até o dia 19. O calendário estritamente
pequeno restante e mais a parte de cultura e esportes determinado pelo Regimento já não podemos mais cum-
cuja leitura não foi feita, em virtude do adiantado da hora. pri-lo na íntegra; temos que adaptá-lo à realidade.
Parece-nos que tendo cada um dos integrantes da Subco-
missão recebido o relatório, torna-se dispensável a sua O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
leitura total, porque ainda teríamos mais de 30 páginas Peço licença para falar novamente. Mas, na realidade, é
a serem lidas. uma coisa meio trágica para nós. Não sei se V. Ex. a leu
o relatório?
Coloco o assunto em discussão na Subcomissão.
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Li, não
O SR. CONSTITUINTE ANTôNIO DE JESUS - Sr. vou dizer a V. Ex. a que haja lido todo, mas especialmen-
Presidente, peço a palavra para uma questão de ordem. te o projeto e alguns comentários sobre matérias apre-
sentadas tive oportunidade de verificá-las.
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Concedo a
palavra ao Constituinte Antônio de Jesus, para uma ques- O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
tão de ordem. Como peça intelectual toda essa introdução acaba sendo
algo extremamente pobre e pouco dignificante para nós,
o SR. CONSTITUINTE ANTôNIO DE JESUS - Muito que somos membros desta Subcomissão. Na parte técnica
obrigado pela oportunidade. Gostaria de saber se o rela- pode haver discrepâncias nas emendas, evidentemente vai
tório é a síntese de tudo o que há na Ata. haver necessidade de muitas propostas de emendas. De
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - A síntese, modo que, eu próprio não sei qual seria a melhor conduta
que acredito ter chegado às mãos de todos, é o relatório a seguir no caso.
integral, mas estou sendo informado pela Secretaria da O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Temos agora
Mesa que o Senador João Calmon o recolheu para fazer a presença do nobre Relator que provavelmente terá alguns
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE {Suplemento} Segunda·feira 20 253

outros esclarecimentos adicionais a serem prestados e fa- final do relatório e o texto do anteprojeto numa reunião
cilitarão a discussão e a aprovação da matéria. a ser convocada para hoje, dia 14, às 18 horas, nos dias 15
e 16, sexta e sábado, haveria a impressão dos avulsos.
Sr. Relator, estávamos aqui divagando sobre o crono- Ainda ontem, para adiantar o trabalho, de comum acordo
grama estabelecido no Regimento Interno, e o cronogra- com o Presidente, o nobre Constituinte Hermes Zaneti,
ma apresentado pelo nobre Relator como disposição dos tentei com o ofício do Presidente a remessa para a Gráfica
dias restantes para a apreciação da matéria, como tam- do Senado, da parte inicial do relatório e o texto do ante-
bém sobre a leitura do material até então elaborado e projeto. Infelizmente, de acordo com a decisão da Mesa da
distribuído, porque segundo tive oportunidade de informar Assembléia Nacional Constituinte, só se pode mandar para
aos nobres integrantes da Subcomissão, o nobre Relator a Gráfica do Senado o trabalho completo e não parcial,
ainda hoje estava em virtude dos depoimentos tomados e a minha intenção era adiantar um pouco o trabalho de
nos dias de ontem e anteontem, fazendo o acréscimo e a impressão. De acordo com essa sugestão teriamos, sexta e
revisão final para a elaboração do texto, que deverá ocor- sábado, o prazo de 48 horas para a impressão e distribui-
re rna reunião convocada para as 18 horas de hoje. Por ção dos avulsos.
isso gostaríamos de ouvir do nobre Relator o que existe
sobre a matéria, principalmente porque havia divergências Outra sugestão do Relator é a utilização do prazo de,
e levantadas questões, de que algumas matérias não esta- no dia 17, domingo a 20 de maio - de domingo a quarta-
riam aproveitadas ou rejeitadas peremptoriamente, e que feira - para a discussão do anteprojeto e apresentação
provavelmente dariam o ensejo a que muitas modificações de emenda; no dia seguinte, dia 21, quinta-feira, às 18
fossem propostas por parte dos Srs. Constituintes. horas, seria apresentado o parecer acompanhado do ante-
projeto; nos dias 22,23 e 24 sexta-feira, sábado e domingo,
Tem a palavra o nobre Relator Senador João Calmon. nós discutiríamos e votaríamos o anteprojeto; e finalmen-
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - te no dia 25, segunda-feira, dentro do prazo estabelecido
Que'ria dizer com todo o respeito que tenho pelo nobre pelo Regimento Interno, seria feito o encaminhamento do
Constituinte João Calmon, que infelizmente o relatório é anteprojeto à Comissão Temática.
extremamente pobre e pouco dignificante para a nossa
Subcomissão. Com todo o respeito que tenho por V. Ex. a , Haveria alguma alteração do cronograma previsto
fiquei extremamente decepcionado com o conjunto da rea- inicialmente, mas cumpriríamos rigorosamente o prazo
lização, e acho que mesmo essa parte geral exigia um tra- estabelecido pela Presidência da Assembléia Nacional Cons-
tamento de uma qualidade diferente. tituinte, para não haver o retardamento dos trabalhos da
Comissão Temática. Esta é a sugestão que o Relator sume-
Respeito V. Ex. a pelo seu passado, por sua capacidade te à apreciação da Subcomissão. Obviamente, o Regimen-
de luta, pela sua devoção ao trabalho e considero-me seu to Interno prevê a possibilidade de o relator não apre-
amigo, apesar dos poucos contatos que temos. Mas vejo-me sentando seu parecer e o seu projeto dentro do prazo mar-
constrangido até em dizer isso em público, porque de fato cado, que é o dia 25, e aí caberia ao Relator da Comissão
a responsabilidade é coletiva, embora V. Ex.a seja o assi- Temática fazer o relatório e apresentar o projeto.
nante e o Relator, portanto, a pessoa responsável pelo que
está escrito. Agora, a Subcomissão tem uma expectativa São essas as sugestões que submeto à apreciação dos
de realização. Estamos preparando alguma coisa para o membros da Comissão de Educação, Cultura e Esporte.
futuro, para amanhã, travando uma batalha que vem há O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Em dis-
anos, desde o começo do século. E eu esperava que V. Ex. a cussão.
fosse o instrumento desse processo e não o Governo.
O SR. CONSTITUINTE CLáUDIO ÁVILA - Sr. Pre-
Por isso sou obrigado a dizer isto, com toda a lealdade, sídente, peço a palavra para discutir.
com todo o respeito, sem querer magoá-lo, mas acho que
é do meu dever fazê-lo. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pa-
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Com a pa- lavra o nobre Constituinte Cláudio Ávila.
lavra o Constituinte João Calmon, Relator da Subcomis- O SR. CONSTITUINTE CLÁUDIO ÁVILA - Sr. Re-
são. lator, eu gostaria apenas de, no cronograma apresentado
O SR. RELATOR (João Calmon) - Sr. Presidente, na e no que toca à reunião do dia 14, hoje, quinta-feira às
reunião passada sugeri ao Presidente da nossa Subcomis- 18 horas, uma informação: se nós todos Os Constituintes
são a realização de uma reunião para que o Relator pudesse integrantes desta Subcomissão, teríamos o relatório, por-
submeter à apreciação da Subcomissão um esboço de cro- que vejo que alguns Constituintes o receberam e eu não,
nograma para os nossos trabalhos até o dia 25, quando o que, no meu entender, impediria a minha participação
teremos de encaminhar o anteprojeto à Comissão Temá- de forma plena, sem tê-lo em mãos, pelo menos até o
tica. Não foi possível marcar essa reunião para ontem e horároí dessa reunião. Ê uma consulta que faço: teríamos
tenho aqui uma sugestão para que seja submetida à Sub- condições de recebê-lo antes dessa reunião das 18 horas?
comissão. Em virtude do acúmulo extraordinário de pro- O SR. RELATOR (João Calmon) - Tentei junto ao
postas encaminhadas à Mesa da Assembléia Nacional Cons- Prodasen a impressão de número suficiente para a distri-
tituinte, num total, do último dia do prazo, de 3.500 pro-
postas, e o relator recebeu no último dia mais de 800 pro- buição a todos os Membros desta Subcomissão. Mas o
Prodasen concordou em apenas entregar alguns, porque
postas, seria humanamente impossível apresentar o re- há acúmulo de trabalho e não se permite a entrega de
latório e o anprojeto no prazo estabelecido pela Mesa da todas as vias. O prazo de dístríbuíção dos avulsos ainda
Assembléia Nacional Constituinte, de acordo com o Re- vai começar a ser contado, porque é da competência da
gimento Interno. Ainda para agravar a situação, a Subco- Gráfica do Senado e não do Prodasen, que não tem con-
missão entendeu que deveria ouvir na terça-feira, dia 12, dições técnicas, segundo informa, para fornecer todas as
o Sr. Ministro da 'Cultura, Dr, Celso Furtado, e no dia 13, cópias.
quarta-feira, ontem, o Ministro da Educação. Somente hoje
à tarde será possível apresentar um relatório, na sua parte O SR. CONSTITUINTE CLÁUDIO AVILA - Sr. Pre-
final, e o anteprojeto para serem discutidos. sidente, peço a palavra.
Então, a sugestão do relator para submeter à decisão O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Concedo a
da Subcomissão, é a seguinte: apresentaríamos a parte palavra a V. Ex. a
254 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. CONSTITUINTE CLÁUDIO ÁVILA - Se o tura, esporte, lazer e turismo. Então, é fundamental que
Prodasen não tem condições de nos apresentar esse rela- concentremos esforços para que essa tarefa seja cumprida.
tório, que este fosse xerocado, para começarmos a dis- Há alguma compressão aqui em termos de data. A
cutir baseados nesse documento. discussão das emendas, que o :Regimento prevê se fazer
O SR. RELATOR (João Calmon) - A informação do em cinco dias, será feita em apenas quatro. Acho que esta
Prodasen é que só poderá nos entregar essas cópias às 18 subcomissão, mantendo essa proposta do relator, deve as-
horas. Podemos, então, desmarcar a reunião de hoje e sumi o compromisso de uma flexibildade e se não tiver-
marcá-la para amanhã. Porque de acordo com o Regi- mos pronta essa discussão, estendê-Ia-emos ao dia 21,
mento Interno não há distribuição de cópias, a não ser porque o Regimento nos garante isso.
na hora da distribuição dos avulsos. Então, esse prazo O que é indispensável é que a subcomissão leve a
nem com-eçou a contar ainda. termo o seu compromisso e a sua obrigação de fazer uma
ampla discussão e apresentar um relatório que, de fato,
O SR. CONSTITUINTE CLAUDIO ÁVILA - Com- corresponda ao pensamento da subcomissão.
preendo o problema de prazo, Senador. Mas é que, na
verdade, como estamos dando um passo de antecipar uma O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - A mim me
reunião para analisar, V. Ex.a há de entender a dificul- parece, nobre Constituinte Octávio Elísio, que as coisas
dade de quem não recebeu o relatório e de, numa simples precisam ser postas exatamente nos seus devidos lugares.
leitura, debatê-lo. . A apresentação do relatório, pelo Regimento Interno,
e tarefa do Sr. Relator. Temos que compreender a exi-
O SR. RELATOR (João Calmon) - Não estamos ante- güidade de tempo que S. Ex. a dispôs, provocado pelo nú-
cipando prazo. mero de audiências concedidas pela subcomissão que atin-
O SR. CONSTITUINTE CLAUDIO ÁVILA - anteci- giram - segundo o número dado por S. Ex.a - a 74, e sua
pando ou realizando a reunião para discutir o relatório au:diência aos dois ministros em dias posteriores àquele li-
sem tê-lo em mãos, a pura e simples leitura, criará cer- míte para a apresentação do seu respectivo relat6rio. Então
tamente dífículdades em relação àqueles que receberam a parte relatório é assunto exclusivo do nobre relator.
o relatório. S. Ex.a está se propondo a fazer a entrega desse relatório
às 18 horas de hoje.
O SR. RELATOR (João Calmon) - A Subcomissão
poderá não aceitar a sugestão da entrega do relatório O SR. RELATOR (João Calmon) - O Sr. Secretário
hoje, na reunião das 18 horas, e marcar uma outra hora, acaba de informar que chegaram algumas cópias com
erros. Como esses erros podem ser relevados, entendo que
amanhã. o relatório poderá ser entregue aos Srs. Constituintes.
O SR. CONSTITUINTE OCTAVIO ELíSIO - Sr. Pre- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Teremos
sidente, peço a palavra. que aguardar a entrega desse relat6rio final proposto para
O SR PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Concedo a o dia de hoje. Depois do relat6rio, o Regimento concede
palavra ao nobre Constituinw Octávio Elísio. um prazo de dois dias para a impressão da matéria e a
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Permi- distribuição dos avulsos. Estamos realmente atrasados,
to-ma fazer uma avaliação da propostaque o Sr. Relato~ porque esse prazo para os avulsos deveria ter-se iniciado
apresentou, especialmente ~s. preocupaçoes colocadas aqui ontem, e não o foi. Então, terá que se iniciar após a
pelo Constituinte Cláudio AVlla. Acho pr~fundamente. e?- entrega do relatório pelo relator.
tranho que tenha encontrado, no meu gabinete, uma copia Acredito que com esse relatório em mãos, a parte
do relatório e que 0.5 outros, vinte mt;~b.ro.s da Su,?comls- que está expedida pelo computador ou impresso, o teor
são não tenham tido o mesmo prívílégío. Entao, que não tem diferença substancial. O projeto, inclusive, já tem
tir~mos uma xerox, para que todos o tenham rapidamente. algumas cópias xerocadas e, já existe o anteprojeto com-
pleto que, acredito, seja o anteprojeto final.
O SR. RELATOR (João Calmon) - Essa tarefa de
tirar xerox obviamente não cabe a mim. Fiz apelos dra- O SR. RELATOR (João Calmon) - O anteprojeto
máticos ad Prodasen e ao secretário da subcomissão. O com alguma alteração decorrente de propostas que ainda
trabalho está realmente muito atrasado, temos a parte estão em estudos.
taauigráfica a ser entregue cobrindo as últimas dez reu- O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - A coisa será
niÕes' não temos sequer o apanhamento taquigráfico. diminuta. Todos os membros da subcomissão recebendo
Não há, assim, condições materiais. Fiz ~ apelo e .con- a matéria, e que já pode estar até sendo distribuída tam-
segui algumas cópias, pedi outras, porque S~l bem o ~ume: bém a todos os Constituintes o modelo que servira de texto
ro de membros da subcomíssão, mas ínfelízmente nao toí para o Prodasen - agora terá que se feito tudo na base
possível. da computação, sob pena de não se obter os prazos devi-
O SR. 'CONSTITUINTE OCTAVIO EL:LSIO - A minha dos - então, acredito que a preparação preliminar de
proposta é que caso não sei a possível pelo Prodasen, que cada um estudar em que diverge do relatório, apresentado
aqueles membros da subcomissão não tenham cópias, que pelo relator, e as possíveis emendas ou a substiutição de
as mesmas sejam obtidas através de xerox. O que é indis- textos a ser feita, já podem iniciar a ser expressas
pensável é que realmente tenhamos a cópia para que pos- Acredito que, agora, temos que nos ater à aprovação
samos discutir, hoje. desse cronograma e aguardarmos a reunião das 18 horas
Não acho razoável, senador que adiemos esta dis- para recebermos o relatório final. E daí, então, o prazo
cussão de ontem. A minha proposta, inclusive, é que co- de 48 horas para a impressão, o prazo de 84 horas, ao
mecemos a discuti desde agora. O cronograma está extre- invés de lOS, seriam cinco dias - só teremos quatro dias
mamente apertado. Não me parece conveniente a segunda - para a apresentação dessas propostas e sua discussão
alternativa, que foi colocada pelo senador, no sentido de em plenário, e, em seguida, passar para a votação. Acre-
que esta subcomissão se omita, em termos de apresentar dito que haja também o interesse - já manifestado, pre-
o seu relatório, e caiba ao relator da subcomissão elabo- liminarmente, por muitos dos Senhores, inclusive, objeto
rá-lo em cinco dias como prevê o Regimento Interno. de proposição no própro plenário - de fazer-se com o
Acho que temos uma responsabilidade histórica, aqui, de relator um tout-fort conjugado para se chegar a esse de-
elaborarmos em relatório que seja o resultado do pensa- siderato almejado. Então, não vejo como não se obter
mento da subcomissão, no que se refere à educação, cul- isso com esse espaço de tempo proposto.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda.feira 20 255

Gostaria de ouvir, então, opiniões para a adoção ou O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Está pre-
não desse cronograma, para que, com base nele, nós nos vista a reunião para o próximo domingo.
posicionássemos em definitivo com relação às etapas a O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Aí, então,
serem cumpridas. o Presídente convocaria depois da reunião de hoje, dentro
Concedo a palavra ao nobre Constituinte Octávio do seu entendimento, para que também tivéssemos a par-
Elísio. ticipação do Presidente na distribuição do sistema, ho-
O SR. CONSTITUINTE (Octávio Elísio) - Aco que rário e conveniência também dos Srs. que, S. Ex.a, na certa,
a aprovação desse cronograma, da minha parte, implica- auscultaria.
ria em que tivéssemos um compromisso de que caso esses O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Sr. Pre-
quatro dias de discussão e apresentação de emendas não sidente, peço a palavra para uma questão de ordem.
sejam suficientes, porque o Regimento nos garante cinco,
que tenhamos a possibilidade de fazê-lo também no dia 2l. O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Concedo a
Então, aceitaríamos o cronograma, mas haveria, por parte palavra a V. Ex.a
da subcomissão, estabelecido que, caso não tenham sido O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Sr. Pre-
suficientes os quatro dias, acataríamos o que é estabelecido sidente, tendo em vista de o nosso cronograma estar bas-
no Regimento que determina a existência de mais um tante apertado, gostaria de saber do Sr. relator se podera-
dia para a discussão das emendas. mos fazer interrogações e algumas discussões, já a respeito
O SR. PRESIDENTE (Aércio de Borba) - Continua desse anteprojeto que S. Ex.a apresentou.
em discussão a matéria. (Pausa.) O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Concedo a
Não havendo quem peça a palavra, encerro a dis- palavra ao Sr. Relator, João Calmon, para responder à
cussão. indagação do Constituinte Octávio If;lísio.
Vamos aprová-la, com a ressalva feita pelo Consti- O SR. RELATOR (João Calmon) - Estava indagando
tuinte Octávio Elísio, de que se ao término do dia 20 não quantos membros da subcomissão já receberam esse ma-
houver sido concluída a discussão de toda a matéria, que terial para termos a idéia de quantas cópias serão ainda
se prorrogue, que se inicie lá pelo dia 21, até que se possa necessárias, e não ouvi a sua pergunta.
colaborar com o relator, ao final, para que S. Ex.a faça a Poderia repetir, por obséquio?
apresentação do seu relatório com a aceitação ou não das
emendas e do material proposto. Acho também que essa O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Senador,
Questão deveria ficar implícita; se houver a necessidade está previsto para a reunião de hoje a apresentação da
do esforço, não podemos solicitar para nós o tempo total parte final do relatório e anteprojeto; a minha dúvida é
e deixá-lo sem tempo nenhum para fazer a apresentação se essa parte final do relatório e do anteprojeto difere des-
de uma tarefa dedicada. sa proposta que temos em mãos.
O SR. RELATOR (João Calmon) - Dependerá do re-
O SR. CONSTITUINTE O:JTÁVIO ELíSIO - Sr. Pre- cebimento que o relator terá de propostas que não foram
sidente acho que a minha proposta subentende o desejo, nem sequer examinadas. Serão examinadas até às 16 ho-
o compromisso, que acho que não é só meu, ~as de toda ras da tarde. Pode ser que chegue às minhas mãos uma
esta subcomissão de se fazer um esforço conjunto com o proposta que me leve a alterar algum artigo do antepro-
relator. Sabemos 'da enorme tarefa e do peso que cai sobre jeto. Assim sendo, não posso afirmar, agora, categorica-
os ombros do Relator, Senador João Calmon. Sabemos da mente, que esse anteprojeto é o texto definitivo. pode
sua competência e da sua capacidade. Agora, sa~emos haver alguma alteração.
muito mais que é extremamente difícil a elaboração de
um relatório que venha a compatibilizar as opiniões e as O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Mas até
posições da subcomissão, E o que imaginamos - tenho o momento em que V. Ex. a tenha feito o exame das pro-
certeza que é o pensamento de S. Ex.a - é que deve ser postas chegadas às suas mãos houve alterações em termos
um esforço coletivo, para o qual nós todos estamos dispos- do anteprojeto que temos em mãos?
tos a dar a nossa colaboração. O SR. RELATOR (João Calmon) - Depende das ou-
tras propostas. Até agora este é o texto do anteprojeto,
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Feitas essas mas não é o texto final, porque ainda estou examinando
ressalvas vamos colocar em votação a aprovação do cro- algumas das propostas que me chegaram depois da reda-
nograma' da subcomissão, proposto pelo relator e que está ção desse anteprojeto.
em mãos de V. Ex.as
O SR. CONS~TUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Tendo
Os Srs. Constituintes que o aprovam queiram perma- em vista que realmente o anteprojeto pode não ser, de
necer sentados. (Pausa.) fato, o que temos, é importante que a discussão se faça a
partir do momento que tenhamos a versão final.
Aprovado. Quero aproveitar a oportunidade, Senador, para dizer
Estamos agora com a ordem de programação estabe- que tive oportunidade de ler e estudar o relatórío que te-
lecida. Teremos hoje, às 18 horas, outra reunião. Recebe- mos em mãos e que, possivelmente, irá diferir do que va-
remos do relator a palavra final, se houve ou não alguma mos receber à tarde. Pareceu-me bastante estranho que
alteração e, se houve, quais são essas alterações a s~rem várias das propostas de constituintes aqui, da subcomissão,
inseridas no relatório que temos em maos e, a partír de não tenham sido incorporadas ao 'seu relatório, especifi-
amanhã, a matéria estará na Gráfica; em 48 horas a te- camente 'Colocadas apenas em anexo. Além disso, reconhe-
remos, no domingo. Aqueles que necessitarem, a subco- cendo o acúmulo de trabalho que teve o ilustre relator, es-
missão permanecerá aqui e, quem quiser recebê-lo, no do- tranhou-me também que propostas trazidas durante as
mingo, terá condições de fazê-lo; pode ser também que o audiências públicas, em grande parte, não foram incorpo-
Presidente queira convocar alguma reunião para o domin- radas em termos de propostas.
go. Se o fizer, estaremos presentes e iniciaremos a dis- No que se refere o anteprojeto do texto constitucio-
cussão. nal, tenho várias observações a raser, mas acho que deve-
O SR. RELATOR (João Calmon) - Dois domingos. riam ser feitas depois da versão final.
256 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Com relação à parte introdutória, que representa de pertina. Também o anteprojeto final será apresentado na
certo modo a justificativa do anteprojeto, e, portanto, deve reunião vespertina.
representar a nossa reflexão, não apenas do quadro edu- Gostaria de índagar aos Srs. Constituintes se inicia-
cacional, mas principalmente uma reflexão política da ríamos agora alguma Idíscussão ou se aguardaríamos a
questão da educação, e nesse ponto a nossa subcomissão reunião das 18 horas, quando tivéssemos em mãos o rela-
foi extremamente rica, porque tivemos aquí o espectro do tório final e o anteprojeto final, para que pudéssemos,
pensamento da educação neste País. Alguma coisa que então, díscutí-Ios,
amadureceu por um debate, que não foi apenas mantido
aqui, mas foi, acima de tudo, um debate que tem uma his- O SR. RELATOR (João Calmon) - Da parte do rela-
tória. Acho que poucas áreas temáticas contribuíram tan- tor há uma total impossibilidade de participar dessa dis-
to com o esforço da sociedade civil a essa Constituinte cussão preliminar, porque ele está aguardando o trabalho
quanto à área da educação; congressos, seminários ocor- de redação do parecer apresentado na reunião de 18 horas.
reram nos últimos anos, e em todos eles, a questão da Eu não teria condições de continuar a participar da reu-
educação na Constituinte foi trabalhada. E a síntese foi, nião e às 18 horas apresentar o relatório e o anteprojeto.
sem dúvida, a contribuição trazida aqui por várias dessas Aproveito a oportunidade para fazer uma ponderação.
entidades. Temos, de acordo com esse cronograma, aprovado pela
Sinto que o relatório do Sr. Relator, como justificativa Subcomissão, o prazo que se estenderá de domingo a quar-
ta-feira ou eventualmente quinta-feira, conforme sugere
ao seu anteprojeto é realmente pobre, no que se refere à o nobre Constituínte Octávio Elísio, para a discussão do
imensa contribuição política que esta subcomissão recebeu. anteprojeto e apresentação de emendas. Mas, segundo to-
Debito essencialmente ao pouco tempo que o relator teve dos nós tomamos conhecimento através dos jornais, na
para elaborar o seu relatório, mas acho que seria extrema- próxima terça-reíra, portanto, dentro desse prazo, haverá
mente importante que esta subcomissão tivesse condícões uma reunião da bancada de senadores e deputados do
de estabelecer subsídios a esse relatório, e defínísse de PMDB para uma votação importante sobre sístssna de
modo claro qual foi de fato a orientação, a base da deci- governo, prazo do mandato do Presidente José Sarney.
são da subeomíssão em termos de um texto constitucional. Não vai ser fácil realizarmos uma reunião aqui, no mesmo
O SR. PRESIDENTE (Aécio de Borba) - Está feita a momento em que estiver se realizando essa reunião com
ressalva. Queria pedir aos meus ilustres pares escusas e votação secreta em uma outra sala, com a participação
passar a Presidência ao 2,o-Vic-e-Presidente, Pedro Canedo, de todos os representantes do PMDB. Esta é apenas uma
porque temos uma audiência marcada com os Parlamen- ponderação que faço em relação ao prazo entre 17 a 24 ou
tares do Nordeste, com o Ministério do Interior às 11:00 21. Haverá a possibilidade de ocorrer esse contratempo.
horas, e eu me comprometi a levar algumas proposições. O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
Então passo a Presidência 00 Sr. Constituinte Pedro Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
Canedo. O 00. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Com a palavra
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Assumindo a o Oonstdtuínte Florestan Fernandes.
Presidência, indago do ilustre Constituinte Octávio Elísio O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
se terminou a sua fala. Tenho a impressão de que o P:MDB já tumultuou muito o
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Termi- processo constituinte, não só aqui, mas em toda a Assem-
nei. bléia Nacional Constituinte. Agora estamos num momento
decisivo. Peço perdão por falar com tanta veemêncía, mas
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Concedo a fico revoltado com o fato de um Partido esmagar uma As-
palavra ao Constituínte Louremberg Nunes Rocha. sembléia Nacional Constituinte com seus problemas. Os
O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO- problemas são dos Partidos e não da Assembléia, e teoIIWS
CHA - Gostaria de saber os horários das reuniões, e se um prazo exíguo para trabalhar. Quer dizer que se o PT
no domingo haverá ou não reunião. agora me der uma obrigação qualquer que entre em cho-
que com o meu trabalho eu vou recusar. Vou dizer: bem,
Só para que fique bem claro. eu cumpro mas nesse caso me retiro da Subcomissão de
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Como tere- Educação, Cultura e Esporte. Agirei dessa maneira.
mos uma reunião às 18 horas de hoje, sugeriria que aguar- Nesse momento não temos mais tempo. Quer dizer, é
dássemos para que díscutíssemos a necessidade ou não de um problema de medida da obrigação histórica que pesa
se fazer essa reunião no próximo domingo. sobre nossas cabeças. Esse assunto já foi largamente de-
batido por congressistas no plenário, queixas amargas fo-
Segundo o cronograma aprovado aqui por esta Subco- ram feitas. Agora, o PMDB traz a política para dentro da
missão, temos o prazo de domingo a quarta-feira para a Assembléia Nacional Constituinte, quando ele deveria le-
discussão do anteprojeto e a apresentação de emendas. vá-la para dentro do Partido e realizar isso tendo nos mo-
O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NtJ:NES RO- mentos em que não entrem um choque com O nosso tra-
CHA - Pois é, mas não se marca horário para ísso. balho. Eu faço se não uma ponderação, um apelo, para
que, daqui por diante, nesses dias que são poucos, nós nos
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Correto. Gos- dediquemos a essa tarefa central. Eu mesmo vou ser obri-
taria de aguardar a reunião das 18 horas, porque inclu- gado a me desengajar de uma obrigação que assumi com a
sive contaremos com a presença do Presidente e podería- Folha de S. Paulo, que irá transtornar todo um projeto que
mos discutir maís a fundo. foi organizado há tempo, que envolve a Universidade de
Srs. Constituintes, dentro dessa pauta do dia 14 temos São Paulo também, mas não tem remédio. Quer dizer, não
uma reunião ordínáría, e o Constituínte Octávio Elísio, são os meus interesses privados que vão prevalecer sobre
questionando sobre se esse anteprojeto poderia ainda so- os meus deveres aqui. Tenho a impressão de que todos nós
frer modificações e, sendo respondido positivamente pe- devamos ter ísso em mente ou então desístir, quer dizer,
lo relator, o início da discussão desse anteprojeto poderia não somos Constituíntes, não temos tarefas aqui e a Nação
se dar a partir das 18 horas. O relatório do próprio ante- que Se contente com aquilo que pôde ser obtido, através
projeto, o anteprojeto final, acredito, Sr. relator, será desse processo tumultuado de trabalho que nós temos vivi-
apresentado também na reunião da tarde, na reunião ves- do, e em grande parte por causa de um Regi!mento castra-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 257

dor, porque é um Regimento castrador. Agora .estam~s Constituinte Chico Humberto aos Anais desta subcomissão,
sentindo esse efeito; terrivelmente castrador. Multo obn- é fundamental que a subcomissão se solidarize com ele e
gado. (Palmas.) manifeste clara e publicamente que esta agressão, sofrida
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Fica registra- por ele e por outros três Constituintes, representa uma
do o protesto do ilustre Constituinte Florestan Fernandes. agressão à soberania da Assembléia Nacional Constituin-
te. Quero pessoalmente me dirigir ao colega Chico Hum-
Continua a palavra com os Srs. Constituintes. (Pau- berto e aos dois outros conterrâneos meus, e não apenas
sa.) manifestar a minha solidariedade pessoal mas, também,
Nada mais havendo a tratar nesta reunião, antes de dízer do meu constrangimento de, como Parlamentar
encerrá-la quero registrar a presença aqui entre nós de eleito pelo PMDB, sentir o processo com que vem sendo
professores, de profissionais da Imprensa, especialmente tratadas as manifestações populares, especialmente aque-
idos professores de Goiás, que fazem uma visita a esta las legitimas que levam reivindicações já conquistadas e
Subcomissão - acredito que não capitaneados, mas li- efetivamente não cumpridas. Neste momento, também,
derados pelo professor Hélio Furtado, Niso Prego e de- trazer a esta subcomissão o meu total apoio e solidarie-
mais professores que aqui compareceram - é que regís- dade ao movimento de greve de professores e funcio-
tramas, com muita honra, a presença dos Senhores aqui nários públicos do meu Estado, pois trazem reivindicações
nesta reunião da Subcomissão. que são justas, acima de tudo porque não pedem nada
além de se garantir o cumprimento da lei e de acordos
Declaro encerrada esta reunião, conv-ocando outra ex- de greves estabelecidos no semestre passado.
traordinária para às 18 horas de hoje.
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Sr. Quero, portanto, que nos Anais desta subcomissão
Presidente, peço a palavra pela ordem. fique assentado que esta Constituinte se acha freqüen-
temente atropelada pelas dificuldades e pelos problemas
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Concedo a pa- de uma conjuntura que traz, acima de tudo, a realidade
lavra a V. Ex. a de um quadro educacional, da miséria educacional que
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Sr. este País está vivendo. Isso, só aumenta em nós a respon-
Presidente, antes de encerrar esta reunião, para que sabilidade; a responsabilidade que temos de que essa nova
ficasse registrado nos Anais, gostaria de dizer que, Constituicão precisa garantir marcos fundamentais para
estivemos ontem na Capital do Estado de Minas Gerais, se reverter esse quadro. Mas, acima de tudo, que com-
em Belo Horizonte, acompanhando as manifestações pa- preendemos claramente de que não há nenhum jeito de
cíncas dos professores, dos servidores do meu Estado, na mudarmos a realidade econômica e social do País apenas
reivindicação de melhores níveís salariais, melhores con- por uma lei e por uma Constituição. Isso terá que ser
dições de trabalho. E fomos mais uma vez afrontados pela feito através de uma sociedade organizada a qual apenas
policia desse truculento Governador de Minas Gerais. que, essa' Constituicão não deve se constituir em empecilhos,
nã-o tendo condições de administrar o Estado de Minas, mas deve efetivamente se constituir em caminhos. Por-
resolve pela força não permitir uma manifestação pacífi- tanto, a manifestação de funcionários públicos e de pro-
fessores em Minas Gerais é uma manifestação efeti-
ca em praça pública dos servidores mineiros e dos pr~­ vamente justa porque traz uma pauta de reivindicações
fessores. Fomos não s6 afrontados moralmente, como fI- que significa, na realidade, uma reivindicação de sobrevi-
sicamente, e gostaríamos de deixar registrado nos Anais vência. Muito obrigado.
desta Subcomissão que as pancadas que lá levamos nós
a orerecemos e dedicamos ao salário vil e baixo que recebe O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Fica regis-
não só o funcionalismo público, os professores, mas como trada a questão de ordem de V. Ex.a e esta subcomissão
a policia que usa da força para fazer a vontade desse tem o prazer de não se surpreender com as manifesta-
tirano que se encontra hoje no poder de Minas Gerais. cões de V. Ex.a. Conhecendo-o e sabendo do seu grande
(Palmas.) trabalho à frente da Secretaria de Educação de Minas
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Gos.taría- Gerais, no Governo passado, tínhamos já a plena certeza
mos ilustre Constituinte Chico Humberto, de regístrar dessa solidariedade que seria manifestada por V. Ex.a
essa' questão de ordem, essa comunicação e~ um outro A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK -
sentido, ou seja, de que o Governador de MI?~S pudesse Sr. Presidente, peço a palavra para uma questão de
usar do bom-senso e pudesse colocar na prática todo o ordem.
discurso do seu partido, quando oposição, e que ~ão veI?
sendo colocado. E V. Ex.a traz a esta subcomissão mais O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Concedo a
uma denúncia da forma pela qual esse governador ve:n palavra à nobre Constituinte Márcia Kubitschek.
administrando o seu Estado, especifica~ente com relação
ao setor educação. Com pesar nós rsgíatramos a questão A SRA. CONSTlTUIN'rE MÁRCIA KUBITSCHEK -
de ordem de V. Ex. a Quero solidarizar-me e dar o meu apoio ao nosso colega
Constituinte Chico Humberto e lamentar muito o que
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO --; ~u aconteceu ontem em Belo Horizonte. Gostaria também de
queria apenas, para completar, dizer que não f~m~s so nos fazer uma pequena pergunta ao Sr. Presidente: esses
os agredidos fisicamente, foram quatro constítuíntes no avulsos vão ser impressos na sexta e no sábado, portanto,
total: Virgílio Guimarães, João Paulo e Paulo Delgado e serão distribuídos no domingo; onde eles serão distribuí-
além de mais de três dezenas de deputados e vereadores dos? Aqui ou nos gabinetes? Porque aos domingos os
de vários partidos que lá estavam, apoiando essa manifes- gabinetes ficam fechados. Sugeriria que esses impressos
tação pacífica. ficassem aqui na subcomissão e n6s, os Constituintes,
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Sr. Pre- viéssemos aqui pegá-los.
sidente, peço a palavra pela ordem. O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - l!: procedente
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Com a pala- o questionamento de V. Ex. a
vra o nobre Constituinte Octávio Elísio. Quero dizer que esta Presidência se informará a res-
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Acho peito, para que esta questão fique resolvida aqui na reu-
que, não apenas acatar e incorporar as denúncias do nião das 18 horas.
258 Segunda-feira:20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Concedo a palavra ao nobre Constituinte Florestan O SR. CONSTITUINTE CLAUDIO AVILA - Desejo
Fernandes. inicialmente, Sr. Presidente, solidarizar-me com o nosso
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - companheiro de Comissão, o Deputado Constituinte Chico
Peço desculpas aos colegas por voltar a falar, é um pouco Humberto, e lembrar aqui as palavras com que o racíoci-
de excesso, mas devo, não só em solidariedade ao compa- nio do Constituinte Florestan Fernandes encerrou a sua
nheiro Chico Humberto como também a três companheiros locução. Não é a primeira vez que verificamos um caso de
do PT. O Constituinte Octávio Elísio quando falou que agressão a um constituinte, nesses últimos dois meses.
havia mais de dois, ignorou um deles; o João Paulo, Paulo Na verdade, a par dos constantes protestos e registros que
Delgado e o Virgílio Guimarães. Então são três; três mili- têm sido feitos em plenário, não se tem tido qualquer tipo
tantes do PT. de resposta ou posicionamento mais firme da Presidência
da Assembléia e da Assembléia, como um todo, de que,
Nós vemos que uma safra de governadores eleitos saem no meu entender, está possibilitando a reincidência, uma
com uma mentalidade autoritária, para não dizer totali- vez que, gradativamente, vamos dando prova de fraqueza,
tária. O procedimento do governador de Minas não é único, aceitando esse tipo de agressão sem uma posição mais
aqui em Brasília isso aconteceu. Em São Paulo estamos concreta.
vendo que está na iminência de acontecer. Provavelmente
existe alguma força que está atuando por cima e através Gostaria, por isso, secundando a posição do Consti-
desses governadores de Estado. Nós não sabemos quais tuinte Florestan Fernandes, sugerir ao Presidente da nossa
são elas ou antes sabemos muito bem que elas continuam subcomissão que esta manifestação à Presidência da As-
a fazer o que sempre fizeram. sembléia Nacional Constituinte, seja feita de forma formal.
no sentido de solicitar até pronto esclarecimento, não o
Agora, o problema central para nós é o governador esclarecimento que tem sido pedido, à medida que o tem-
eleito está sujeito a um código político diferente daquele po permita, ou que a boa vontade da autoridade constituin-
que prevaleceu na ditadura militar. Um governador eleito te deseje, até porque no caso específico, não só a sobera-
para São Paulo ou para Minas, ou mesmo um governador nia da Assembléia Nacional Constituinte foi atingida, mas,
biônico e do Distrito Federal, sob um Governo democrá- também. foi atingida a nossa subcomissão em que um com-
tico, não tem a prerrogativa de usar a violência contra as panheiro de trabalho se vê agredido no momento em que
massas populares, e principalmente não podem escolher se solidariza com companheiros que fazem uma manifes-
professores, funcionários públicos e constituintes como tflP.PO tusta, buscando seus direitos.
vítimas prediletas da agressão. É preciso fazer um pro-
testo um pouco mais rigoroso. Sr. Presidente. deixo, além da solidariedade ao com-
panheiro, esta proposição para que a subcomissão também
A nossa Assembléia Nacional Constituinte está tra- tivesse gestões [unto à Mesa desta Casa no sentido de
tando disso como uma coisa secundária. Acho que se perde termos, efetivamente - além de resnondida as primeiras
a liberdade quando não se luta por ela. Esse é o raciocínio questões com as agressões já sofridas nor companheiros,
fundamental. Não estamos lutando pela liberdade. Esta- aqui em Brasília. caso até de atentados à vida. como sofreu
mos assistindo ao início de um processo escabroso pelo um comnanheiro constituinte, de Minas Gerais, com a ex-
qual a repressão está se restabelecendo, está ganhando es- plosão de uma bomba em sua casa, e agora este fato se
paço e, ao mesmo tempo, reduzindo o espaço dos deputados repete. infelizmente. no Estado de Minas Gerais - atitu-
constituintes, dos senadores constituintes - também um des realmente corajosas e decisivas, neste momento. sob
senador foi aqui agredido - e não temos tomado nenhu- pena de termos, daqui a pouco, companheiros nossos com
ma providência, a não ser aquele falatório no plenário que as vidas ameaçadas.
não leva a nada. Que poder é este? É um Poder Consti-
tuinte, ou não é? O que se quer provar? Que a Assembléia O SR. CO't\TSTITUINTE BEZERRA DE MELO - Sr.
Nacional Constituinte não é soberana!? Que ela deve ser Presidente, pela ordem.
desmoralizada, achincalhada? Não ponho em questão os O SR. PRESIDENTF. (Pedro Canedo) - Concedo a pa-
meus companheiros do PT, nem o Chico Humberto, são lavra ao nobre Constituinte Bezerra de Melo.
políticos que se formaram em uma luta árdua, rebelde,
portanto, sabem o que podem esperar da atividade polí- O SR. CONSTITUINTE BEZERRA DE MELO - Sr.
tica. Estou pondo em questão a natureza do que repre- Presidente, quero associar-me a todas as manif~st~ções
senta esta Assembléia Nacional Constituinte e da relação aqui expressadas pelos nossos companheiros e, príncínal-
que existe entre o processo constituinte e a transformação mente, com o companheiro Chico Humberto e pedir a
da sociedade brasileira. Por isso eu queria pedir a V. Ex. a V. Ex.a que no encaminhamento deste oficio à Presidên-
que se manifestasse, por escrito, ao Presidente Ulysses Gui- cia na Constituinte tivéssemos participação também assi-
marães para que passemos dessa etapa rósea de protes- nando, embaixo, aquilo que a Presidência desta Subcomis-
tos retóricos para exigências formais, e não aceitássemos são escrever, protestando contra essas arbitrariedades e
mais nenhuma manifestação de violência do tipo da que nedíndo medidas formais - como disse o Professor Flores-
tem sido dirigida contra nós. tan Fernandes - sobre essas atitudes que são inteiramen-
Claro que com relação ao PT pode ficar a hipótese te descabidas no momento atual. Creio que esse tempo já
de que se pretende estigmatizá-lo e talvez também o PDT, passou e que estamos numa democracia, onde precisamos
nos afirmar e caminhar dentro de príncípíos que estão
estigmatizar para, em seguida, eliminá-lo. Viveremos isso, aflorando agora muito mais veementemente do que antes.
como outros partidos já viveram, se for o caso. Mas, neste Creio que a manifestação desta subcomissão deva ser real-
momento, se impõe que a soberania da Assembléia Nacio- mente forte, incisiva e que marque realmente a sua posi-
nal Constituinte_ não seja defendida retoricamente pelo ção nesses acontecimentos lamentáveis.
telefone, com desencontros de informações, mas de forma
veemente, que ponha o governador de Minas Gerais e ou- Era o que desejava dizer, Sr. Presidente. Muito obri-
tros que façam a mesma coisa com as suas Polícias Mili- gado.
tares' no lugar que lhes é devido. O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Concedo a
Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado. palavra ao ilustre relator, Constituinte João Calmon.
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Concedo a O SR. RELATOR (João Calmon) - Desejo solidari-
palavra ao nobre Constituinte Cláudio Avila. zar-me com todos os veementes protestos aqui apresenta-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 259

dos contra as violências que têm sido cometidas ultima- pratica ao servidor públíeo de modo geral, no Brasil, por-
mente e lembrar que esse fenômeno não é novo. Quando que usa-se pretextos e pune-se inocentes. E no momento
as universidades federais entraram em greve, no ano pas- em que um Governador do Estado admite punir um ino-
sado, por dezoito dias, uma comissão de parlamentares cente, ele admite punir qualquer número de inocente, e
dirigiu-se ao Ministério da Educação para uma audiência isso vem ocorrendo, indiscriminadamente no Brasil intei-
com o titular da Pasta, quando voltávamos juntamente ro. Então, para registrar esses fatos mas, principalmente,
com outros manifestantes, uma tropa de choque colocou- a nossa solidariedade a todos os professores que vêm so-
se no Eixo Monumental tentando evitar que voltássemos frendo agressões tanto aqui em Brasília, como em Belo
a pé para o Congresso Nacional. Essa escalada de violên- Horizonte, Paraíba e vários rincões do Brasil.
cia, segundo estamos observando, se agrava cada vez mais O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Temos aqui
e ainda, na terça-feira, da semana passada, quando fui uma proposta apresentada pelo Constituinte Florestan
em companhia do Presidente da Subcomissão de Educação Fernandes e que foi aditivamente emendada pelos Consti-
e Cultura, Esporte, Comunicação e Tecnologia, a João Pes- tuintes Cláudio Avila e Bezerra de Melo; proposta no sen-
soa, pouco antes havia ocorrido uma violenta repressão - tido de que esta subcomissão encaminhe um documento,
diria, mesmo, violentíssima repressão - da polícia daquele um expediente ao Presidente da Assembléia Nacional
Estado quanto à manifestação estudantil. Hoje tomei co- Constituinte cobrando um posicionamento do Governador
nhecimento, através dos jornais, que óPresidente José do Estado de Minas Gerais com relacão a esses aconteci-
Sarney se recusara a receber em audiência o Governador mentos que têm sucedido com freqüência.
daquele Estado, Tarcísio Burity por não se 'Conformar com
a atitude tomada pela polícia paraibana contra as mani- ooíoco em votação o envio desse expediente.
festações estudantis. Os Brs , Constituintes que o aprovam queiram perma-
Realmente, devemos adotar essa firme atitude de pro- necer sentados. (Pausa.)
testo para evitar conseqüências ainda mais graves. Todas Aprovado.
essas manifestações são democráticas, admissíveis e qual-
quer tipo de repressão deve merecer - como está mere- O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO-
cendo desta Subcomissão - a nossa mais veemente e in- CHA - Sr. Presidente, para uma questão de ordem.
dignada condenação. O SR. PRESID'ENTE (Pedro Canedo) - Concedo a
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Concedo a palavra 9,0 nobre Constituinte Louremberg Nunes Rocha,
palavra ao nobre Constituinte Louremberg Nunes Rocha. para uma questão de ordem.
O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO- O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO-
CHA - Sr. Presidente, também eu queria trazer a minha CHA - Pela veemência da sua sugestão, eu sugeriria que
solidariedade aos parlamentares, nossos companheiros o Professor Florestan Fernandes fosse um dos redatores do
agredidos em Minas Gerais e a todos os servidores públicos processo.
de Minas Gerais e colocar também que além desta agres- O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Sugestão ple-
são física, palpável, concreta de que têm sido vítimas namente aceita pela presidência.
servidores no Brasil inteiro, há uma outra que também
afeta de igual maneira aos servidores públíeos e, princi- Consulto ao plenário.
palmente, eles são as vítimas. No meu Estado de Mato
Grosso, por exemplo, o Governador, no seu primeiro ato Os Srs. Constituintes que estiverem de acordo perma-
de Gov·erno - anunciou a demissão de servidores já com neçam sentados. (Pausa.)
praticamente cinco anos de serviço, ou seja, sem caracte- Aprovado.
rizar, de nenhuma maneira, mérito. qualidades, quem é
ocioso, fantasmas ou não. Assim, o funcionário público, . Assim sendo, o expediente será elaborado.
de modo geral, foi colocado como suspeito, o servidor públi- O SR. CONSTITUINTE OCTAVIO ELíSIO - Sr. Pre-
co de modo geral. Então, evidentemente, que para abranger sidente, a proposta trazida pelo nobre colega é importan-
uma faixa de cinco anos e cerca de 20 mil funcionários, se te. Acho fundamental - e isso foi um pouco a tônica da
terá cometido injustiça a muitos funcionários. E se um discussão - que haja, de fato, um posicionamento sobre
Governo admite a prática da injustiça, a agressão se torna as questões ocorridas em Minas, ontem, mas também ou-
ainda mais grave e isso vem ocorrendo no Brasil inteiro tras ocorreram, não só em Minas, como em outros Esta-
sob o pretexto de se eliminar fantasmas, mas sem se esta- dos, e é indispensável que o Presidente da Assembléia Na-
belecer, ao mesmo tempo, critérios. cional Constituinte se posicione frente a isso. O que todos
Então, o que se faz, o que tem oeorrído, na verdade, dissemos aqui - e o Professor Florestan Fernandes com
e o meu Estado não está fora disso, é que se coloca para mais ênfase - é que não bastam os protestos em plenário,
fora aqueles indesejáveis politicamente para se admitir não é suficiente a declaração, num discurso do Presidente
aqueles que são amigos do peito sobre pretexto que daqui da Assembléia Nacional Oonstítuínte, de que a soberania
a algum tempo se fará concurso :público. Esta também, n~ da Constituinte e a integridade dos constituintes têm que
minha opinião, é uma agressão terrível que se pratica, ser resguardadas e mais do que isso, acho que o posicio-
hoje no Brasil inteiro, contra o funcionalismo público de namento tem que ser claro e não apenas nesses casos, mas
modo geral e, pior ainda, sob o argumento que se vai em todos os existentes. Esperamos que não ocorram mais
enxugar folha, que se vai fazer uma administração mais fatos como esses daqui para frente, e que esta Assembléia
transparente, negando, evidentemente, como já foi dito Nacional Constituinte se posicione firmemente com rela-
aqui, todos aqueles postulados que o PMDB levou à praça ção à medidas que coíbam essas agressões.
pública e que, a seu ver - pelo menos era o que se dizia
- significaria mudança no trato da coisa pública deste O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Muito bem.
País. Declaro encerrada a reunião, convocando uma ex-
Assim, eu queria consignar, ao lado da solidariedade traordinária, a realizar-se hoje, às 18 horas.
a todos os parlamentares, principalmente ao nosso com- (Levanta-se a sessão às 11 horas e 24 mí-
panheiro Chico Humberto, esta face da agressão que se nutos.)
260 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

27.a Reunião (Registro) No período de segunda a quinta-feira, dias 18, 19, 20


Aos quatorze dias do mês de maio do ano de mil no- e 21, usaríamos para discussão do anteprojeto e apresen-
tação de emendas.
vecentos e oitenta e sete, às dezenove horas, na Sala de
Reunião da Subcomissão, Ala Senador Alexandre Costa, Como todos os Srs. Constituintes receberam o rela-
Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão da Educação, tório e o anteprojeto e já assinaram protocolos devida-
Cultura e Esportes com a presença dos seguintes SE'nho- mente, esta subcomissão encaminha o relatório e o ante-
res Constituintes: Átila Lira, Cláudio Ávila, João Calmon, projeto para a Seção de Avulsos, para a respectiva im-
Florestan Fernandes, Octávio Elísio, Chico Humberto, Paulo pressão.
Silva, Antônio de Jesus e Ubiratan Aguiar. Não havendo Quero ratificar a convocação para a reunião da pró-
número regimental para a abertura dos trabalhos, o Se- xima segunda-feira, às 9 horas e 30 minutos, nesta
gundo-Vice-Presidente da Subcomissão, Constituinte Pedro subcomissão.
Canedo, em exercício da presidência, convoca uma reunião Está encerrada a reunião.
para amanhã, dia quinze de maio, sexta-feira, às nove ho- (Levanta-se a reunião às 10 horas e 46 mínutos.)
ras e trinta minutos para apresentação da parte final do
Relatório e votação do cronograma, cujo teor será publi-
cado na íntegra no Diário da Assembléia Nacional Consti- DOCUMENTOS RECEBIDOS PELA SUBCO-
tuinte e, para constar, eu, Sérgio Augusto Gouvêa Zara- MISSÃO DA EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPOR-
mella, Secretário, lavrei o presente Registro que depois TES A SEREM PUBLICADOS EM ANEXO A ATA
de lido e aprovado será assinado pelo Senhor Presidente. DA 28.a REUNIAO, REALIZADA EM 15 DE MAIO
DE 1987, COM A DEVIDA AUTORIZ,A:ÇÃO DO
28.a Reunião
~~~~~~TU~~~:~S f~~~BCOMISSÃO,
Aos quinze dias do mês de maio do ano de mil no- CRONOGRAMA DA SUBCOMISSÃO
vecentos e oitenta e sete, às dez horas e quarenta minu- DA EDUCAÇãO, CULTURA
tos na Sala de Reunião da Subcomissão, Ala Senador Ale- E ESPORTES
xandre Costa, Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão
da Educação, Cultura e Esportes com a presença dos se- Dia 12-5-87 - Terça-feira
guintes Senhores Constituintes: João Calmon, Octávio Elí- 9:00 horas - Audiência com o Ministro da Cultura, Dr.
sio, Florestan Fernandes, Cláudio Ávila, Tadeu França, Os- Celso Furtado e com o Secretário do Con-
valdo Sobrinho, Antônio de Jesus, Átila Lira, Sólon Bor- selho Nacional de Seringueiros, Sr. Osma-
ges dos Reis, Paulo Silva, Hermes Zaneti e Chico Hum- rino Amâncio Rodrigues.
berto. Havendo número regimental, o Segundo-Vice-Presi-
dente, Constituinte Pedro Canedo, em exercício da Presi- Não haverá sessão vespertina, por coinci-
dência, declara abertos os trabalhos, passando a palavra dência com reunião da bancada federal do
PMDB.
ao Relator, Constituinte João Calmon, que faz a entrega
formal à Subcomissão, da segunda parte do Relatório. É Dia 13-5-87 - Quarta-feira
ainda votado e aprovado o cronograma das atividades a 9:00 horas - Audiência com o Ministro da Educação,
serem desenvolvidas por esta Subcomissão. Nada mais ha- Senador Jorge Bornhausen.
vendo a tratar o Presidente declara encerrados os traba-
lhos convocando os Senhores Constituintes para a próxi- Dia 14-5-87 - Quinta-feira
ma reunião a ser realizada segunda-feira, dia dezoito de 9:30 horas - Reunião da subcomissão
maio, às nove horas e trinta minutos, para discussão do
anteprojeto e apresentação de emendas, cujo teor será 18:00 horas - Apresentação da parte final do relatório e
publicado na íntegra no Diário da Assembléia Nacional anteprojeto
Constituinte e, para constar, eu, Sérgio Augusto Gouvêa Dias 15 e 16·5·87 - Sexta-feira e sábado
Zaramella, Secretário, lavrei a presente Ata que, depois Impressão dos avulsos
de lida e aprovada será assinada pelo Senhor Presidente.
Dia 18 a 21·5·87 - Segunda-feira a quinta-feira
ANEXO A ATA DA 28.a REUNIÃO DA SUB· Discussão do anteprojeto e apresentação de emendas
COMISSÃO DA EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPOR· Dia 22-5-87 - Sexta-feira
TES, REALIZADA EM 15 DE MAIO DE 1987, AS
9:30 HORAS, íNTEGRA DO APANHAMENTO TA· 18:00 horas - apresentação do parecer e anteprojeto
QUIGRAFICO, COM PUBLICl\:ÇÃO DEVIDAMEN· Dias 23 e 24·5·87 - Sábado e domingo
TE AUTORIZADA PEW SENHOR PRESIDENTE
DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE HERMES Discussão e votação do anteprojeto
ZANETI. Dia 25-5-87 - Segunda-feira
O SR. PRESIDENTE (Pedro Canedo) - Declaro aber- 18:00 horas - Encaminhamento do anteprojeto à Comis-
ta a reunião com a destinação específica de dar ciência são Temática.
aos Srs. Constituintes dos programas desta subcomissão e, 29.a Reunião
também, do cronograma da Subcomissão da Educação,
Cultura e Esportes, porque hoje recebemos o Relatório, por Aos dezoito dias do mês de maio do ano de mil nove-
parte do ilustre Relator, Senador João Calmon, e também centos e oitenta e sete, às dez horas e oito minutos, na
o anteprojeto final do relator. Na sexta-feira e sábado Sala de Reunião da Subcomissão, Ala Senador Alexandre
próximos, dia 15 e 16, a impressão dos avulsos, para, nos Costa, Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Edu-
dias 18, 19, 20 e 21 de maio, ou seja, de segunda a quinta- cação, Cultura e Esportes com a presença dos seguintes
feira da semana que vem, a discussão do anteprojeto e Senhores Constituintes: Octávio Elísio, Chico Humberto,
apresentação de emendas. No dia 22 de maio, teremos a João Calmon, Florestan Fernandes, Louremberg Nunes
discussão e votação do anteprojeto desta subcomissão, Rocha, Tadeu França, Sólon Borges dos Reis, Ubiratan
para que, na segunda-feira, dia 25 de maio, se Deus quiser, Aguiar, Márcia Kubitschek, Osvaldo Sobrinho, Antônio de
possamos encaminhar o anteprojeto à Comissão Temática. Jesus e Pedro Canedo. Havendo número regimental, o Pre-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 261

sidente Hermes Zaneti declara abertos os trabalhos, pres- Os Srs. Constituintes que a aprovam queiram perma-
tando esclarecimentos a respeito do incidente ocorrido na necer sentados. (Pausa.)
sessão realizada no dia quinze próximo passado na Assem- Aprovada.
bléia Nacional Constituinte, destacando a estreita relação
entre as Subcomissões e o problema da dívida externa. Ata da vigésima primeira reunião. (Pausa.)
A seguir, coloca em votação as Atas das seguintes reu- Em votação.
niões: vigésima, vigésima primeira, vigésima segunda, vi-
gésima terceira, vigésima quarta e vigésima quinta. Após Os Srs. Constituintes que aprovam queiram perma-
a aprovação destas, faz uma análise do cronograma apro- necer sentados. (Pausa.)
vado na última reunião e registra a presença do Consti- Aprovada.
tuinte Artur da Távola, Relator da Comissão Temática
Oito. O Constituinte Florestan Fernandes solicita a exclu- Ata da vigésima segunda reunião.
são das notas taquigráficas onde constam ponderações Em votação.
feitas sobre o relatório desta subcomissão e o Relator
João Calmon lamenta que tenham ocorrido algumas falhas Os srs. Constituintes que aprovam queiram perma-
na elaboração do mesmo. Em seguida questionam sobre a necer sentados. (Pausa.)
inclusão de novos membros nesta subcomissão os Cons- Aprovada.
tituintes: Octávio Elísio, Chico Humberto, Sólon Borges Ata da vigésima terceira reunião.
dos Reis, Louremberg Nunes Rocha e João Calmon. O Pre-
sidente Hermes Zaneti sugere que seja enviado ofício ao Os Srs. Constituintes que aprovam queiram perma-
Presidente da Assembléia Nacional Constituinte a fim de necer sentados. (Pausa.)
dirimir dúvidas quanto à composição dos constituintes Aprovada.
desta subcomissão. Aberta a discussão do anteprojeto, de-
batem sobre o assunto dos recursos destinados à Educa- Ata da vigésima quarta reunião.
ção e da aposentadoria dos professores os seguintes Se- Os Brs. Constituintes que aprovam queiram perma-
nhores Constituintes: Florestan Fernandes, Octávio Elísio, necer sentados. (Pausa.)
Louremberg Nunes Rocha, Ubiratan Aguiar, Chico Hum-
berto, Sólon Borges dos Reis, Márcia Kubitschek e Tadeu Aprovada.
França. Este último tece considerações sobre seu posicio- Ata da vigésima quinta reunião.
namento em relação à aposentadoria dos professores afir-
mando jamais ter se colocado em posição contrária a estes. Os Srs. Constituintes que aprovam queiram perma-
Quanto à censura, o Constituinte Antônio de Jesus faz necer sentados. (Pausa.)
veemente denúncia sobre os filmes pornográficos solici- Aprovada.
tando que seja registrado seu repúdio contra essas per- Ata da vigésima oitava reuniao. Pediria que viesse
míssívídades, confirmando sua posição em benefício da antes a distribuição da vigésima sexta e da vigésima sé-
integridade da família. Participam do debate sobre este tima e apreciaremos a vigésima oitava na mesma opor-
assunto os Senhores Constituintes: Florestan Fernandes, tunidade.
Octávio Elísio, Sólon Borges dos Reis e Osvaldo Sobrinho. Temos aqui o cronograma de trabalho que esta sub-
O Senhor Presidente sugere que nas duas questões deba- comissão aprovou :e, como Presidente, devo esclarecer
tidas sejam apresentadas emendas ao anteprojeto e par- as razões da minha ausência aqui, na semana passada,
ticipa aos constituintes, o desejo do Professor Paulo Frei- quando, embora estando em Brasília, não pude aqui com-
re de estar presente nesta subcomissão e todos são unâ- parecer em função da minha vinculação à tarefa de
nimes em recebê-lo e ao Professor Moacir Godotti. Às doze conseguir uma auditória à suspensão de pagame-nto da
horas declara encerrados os trabalhos, convocando uma dívida externa.
reunião especial para hoje às quatorze horas e trinta mi-
nutos, quando serão ouvidos os professores Paulo Freire Est?U ~onsci~nte de que os recu~sos que faltam à
e Moacir Godotti, cujo teor será publicado na íntegra, no Educaçao, a Saude, ao Transporte, a Habítaçâo estão
Diário da Assembléia Nacional Constituinte e, para cons- sendo explorados para pagar os juros de uma divida ex-
tar, eu, Sérgio Augusto Gouvêa Zaramella, Secretário, la- terna que o povo brasileiro não fez.
vrei a presente Ata que depois de lida e aprovada será . T.ambém, devo, .em função das notícias de alguns
assinada pelo Senhor Presidente. JOTIlaIS, um esclarecimento aos meus colegas'. Devo dizer
que aquele Projeto de Decisão n.a 1 está sendo objeto
ANEXO À ATA DA 29.a REUNIAO DA SUB- de uma manobra, comandada pelos setores reacionários,
COMISSAo DA EDUCAÇAO, CULTURA E ESPOR- que pretendem fazer prevalecer o seu ponto de vista
TES, REALIZADA EM 18 DE MAIO DE 1987, ÀS violentando o Regimento e violentando também a ex~
10:08 HORAS, íNTEHRA DO APANHAMENTO TA- pressão dos Constituintes.
QUIGRAFICO, COM PUBLICAÇAO DEVIDAMEN- Ocorre, que 190 Constituintes deram a honra, dentre
TE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESInENTE eles os prezados colegas desta Subcomissão de assinar
DA SUBCOMISSAO, CONSTITUINTE HERMES o projeto de decisão. O Relator Bernardo' Cabral deu
ZANETI. parecer favorável e telefonou para minha casa no do-
n;ingO passado à moíte, dizendo que havia perdido o
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Havendo fím de semana para dar parecer favorável já que era
número regimental, declaro abertos os trabalhos da reu- também co-autor do projeto. '
nião da Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes.
Na terça-feira à noite, para surpresa nossa, ao invés
Já foram distribuídas as atas, por isso, vamos pro- de ler o parecer, o Relator da Comissão declarou-se im-
ceder aquela fórmula já combinada na Subcomissão; vou pedido por ser co-autor, ato continuo o Presidente da
dizer qual a ata e se houver observações, não se considera sessão, Aluízio Campos, designou Relàtor o Sr. Prisco
Viana.
'aprovada.
Ata da vigésima reunião. (Pausa.) O Sr. Prisco Viana, dois dias depois, dá parecer por
uma preliminar, dizendo que o assunto não seria objeto
Em votação. de decisão constitucional.
262 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Nós entendemos que a Comissão de Sistematização mentes que vieram de fontes diversas, V. Ex. a se com-
não tem poder para ísto, já que 190 Srs. Constituintes portou com muita lisura e, por isso, merece a solidarieda-
entenderam diferente. de de seus companheiros desta Subcomissão.
No momento da votação - e devo esse esclareci- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
mento aos meus colegas - o Presidente dOIS trabalhos gado, Constituinte Florestan Fernandes.
Senador Afonso Arinos negou-nos o pedido de verifi-
cação de quorum, que é questionável, mas que nós não No dia 12 Ide maio, terça-feira, às 9 horas ficou apro-
rebatemos, preferindo fazer um apelo para que um outro vado e realizou-se a audiência com o Ministro da Cultu-
Constituinte, membro da Comissão, fizesse a solicitação ra, no dia 13, audiência com o Sr. Ministro da Educação, no
que, de imediato, o Constituinte Paulo Ramos, membro dia 14, quinta-feira reunião da Subcomissão, às 18 horas,
ca corulssão . fez. apresentação da parte final do relatório e anteprojeto;
nos dias 15, 16, sexta-feira e sábado, impressão dos avulsos,
Nesta hora, sem que o Presidente Afonso Arinos de- nos dias 18 a 21, segunda 'a quinta-feira, discussão do
negasse o pedido de verificação, sem que proclamasse o projeto e apresentação de emendas.
resultado e sem que encerrasse a sessão, o cidadão Car-
los Sant'Ana levantou-se começou, aos berros e a ba- Inicia-se portanto, hoje, o prazo para discussão do
lançar os braços, dizendo que estava encerrada a ses- projeto e apresentação das emendas, indo até quinta-fei-
são e que eles haviam ganho, coisa que, em nenhum ra. Na sexta-feira, às 18 horas, apresentação do parecer e
momento, o Presidente daquela Comissão disse. anteprojeto, evidentemente aqui o parecer sobre as emen-
das apresentadas, parecer este da lavra do Sr. [Relator Se-
Tenho fita gravada e posso oferecer aqui aos meus nador João Calmon.
colegas e tenho também as notas taquígráftcas, provan-
do que o fato foi exatamente este. Dias 23 e 24, sábado e domingo, discussão e votação do
Quando o Sr. Carlos Sant'Anna começou a fazer isso, anteprojeto, desde logo, portanto, razemos um apelo no
mandou os seus colegas levantarem-se para ,sair. _Vendo sentido ide garantir a presença dos membros desta Subco-
que iam dar como fato consumado uma, sítuaçao qu~ missão no próximo final de semana.
o Presidente não havia decidido eu, corri a Mesa e pedi No dia 25, segunda-feira, às 18 horas, encaminhamen-
13lo Presidente Afonso Arinos que não 'e:ometeSI&81_ 'esta to do anteprojeto à Comissão Temática. Registro aqui a
violência dizendo-lhe três vezes: - "PresIdente, nao co- presença do Relator da Comissão Temática, o Constituin-
meta est~ violência". Claro que com rigor, porque era esta te Artur da Távola.
a postura que me era exigida para salvaguardar a preva-
lência do processo constituinte e do Regimento. Consulto se todos os Srs. Constituintes já estão de
posse desta folha impressa com o roteiro dos trabalhos'
O Deputado Carlos Sant'Anna passou por trás da caso negativo, pediria a nossa Secretária que procedesse ~
cadeira do Constituinte Afonso Arinos e veio a .enfren- sua distribuição.
tar-me para fazer prevalecer o seu ponto de vista aos
berros' Ato continuo pegou o Senador Afonso Arinos, Concedo a palavra ao nobre Constituinte Florestan
ele e 'um outro Dep.J.tado, que não lembro agora quem Fernandes.
era, e o arrastaram para fora da sala. O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
Há uma tentativa especialmente hoje no pequeno No primeiro dia em que tive oportunidade Ide me manifes-
órgão de ímprensa de dizer que nós tentamos agredir .0 tar. ~ respeito do relatório do dígníssímo Constituinte João
Senador Afonso Arinos. Se tivéssemos tentado, assumi- Calmbn, cometi um excesso de linguagem que magoou o
ríamos' acho até que a dubiedade com que S. Ex. a se nosso companheiro Constituinte. Por duas vezes S. Ex.a.
portou' no momento, mereceria uma ação mais enérgica fez, pessoalmente, chegar a mim esta mágoa. Na verdade,
nossa. Em todo caso, como não é verdade, e em respeito eu não precisaria ter usado a palavra que usei, e também
aos meus colegas meus oompanheíros desta SUbCOlffiS- não adianta pedir desculpas por uma palavra que foi re-
são, com quem tiv.emos uma convívêneía fraterna, neste gistrada, os fatos não se alterariam em nada, Só posso
tempo te do, e "'epjto ein respeito }1 verdade, trago aqui salientar que tenho a maior consideração pela pessoa do
esses ratos. Senador, não pretendia atacá-lo como pessoa, mas reve-
Estamos agora com recurso junto à Mesa da Assem- lava um estado de espírito fervilhante e indignado a res-
bléia Nacional Constituinte e estaremos insistindo para peito do conteúdo do relatório. Para me eximir de uma ava-
fazer prevalecer o nosso ponto de vista. liação negativa dos meus colegas e do próprio Constituin-
te João Calmon, cujo respeito e amizade não gostaria de
Insisto que o que escrevermos sobre a Educação deste perder, devo salientar que o meu comportamento, feliz-
País e que dependa de recurso para o seu futuro está um- mente verbal, tem um lastro biográfico. Eu me vi envol-
bilicalmente vinculada à questão Ida dívida externa, as- vido, na década de 50, numa luta cerrada pela transforma-
sim como poderia dizer da saúde, da alimentação, da ha- ção da Universidade de São Paulo, por dentro ida universi-
bitação e das necessidades populares. dade, que terminou de uma forma melancólica com a der-
.'É uma questão que, a nível da Confederação Mundial rota dos professores de espírito renovador, e vítóría da-
de Professores, estamos levando num conjunto de países queles que representavam dentro da Universidade o espí-
e por que eu não faria aqui na minha terra também en- rito clientilista e particularista dos professores de tempo
quando Deputado-Constituinte? parcial, que queriam ser representantes da sociedade na
Universidade não representantes na sociedade da Univer-
Com isto presto dois esclarecimentos: ° primeiro, so-
bre o epísódío em si, e o segundo, justificando a minha au-
sidade. Vi-me na contingência, na década de 60, de buscar
aliados no movimento estudantil e passar a travar num
sência durante a semana passada. campo mais amplo, fora da Universidade, um combate de-
Na minha ausência os 81'S. firmaram um cronograma sigual com companheiros da altura de Anísio Teixeira,
Fernando de Azevedo e outros, pelas causas que nos ba-
de trabalho. tíamos. Tive uma participação tão vigorosa na campanha
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - da defesa da escola pública que muitos chegam a me con-
Quero me solidarizar com V. Ex. a pelos lamentáveis fa- síderar a pessoa que teve um papel marcante de lideran-
tos ocorridos e dizer que acompanhei no plenário os de- ça nesta campanha. Os trabalhos que realizei para esta
poimentos que foram prestados e que, por aqueles depoi- atividade, estão incorporados no livro "Educação e Socie-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 263

dade no Brasil", como no livro do Professor Maciel de Bar- a palavra que ofendeu o Senador seja cancelada dos re-
ros, que hoje está na extrema direita mas que, naquele gistros taquigráficos.
momento, era uma pessoa que se dizia socialista, um socia- Muito obrigado.
lismo naturalmente rosa, que permitia a ele ver os proble-
mas da pedagogia de um ângulo popular, nacionalista e O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito
estrutural. obrigado a V. Ex. a
Esta Presidência recebe esta exposição do Constituin-
Passei pela amarga experiência de lutar contra a te Florestan Fernandes como mais um ato de grandeza
ditadura Vargas, contra o Estado-Novo; era uma luta de S. Ex. a e pede que registros taquígrárícos sejam ex-
realmente efetiva, era um combate clandestino. Depois cluídos a pedido do Constituinte Florestan Fernandes.
enfrentei as agruras de uma segunda ditadura, na qual Portanto, está deferida a solicitação feita pelo Consti-
lutéi como pude até fins de 1968 e início de 1969, na defesa tuinte Florestan Fernandes.
da reforma universitária e de todas as reformas estrutu-
ral" de base, e combati o governo ditatorial em campo Temos previsto para esta reunião a discussão do ante-
aberto, sem armas, a não ser com a arma do pensamento. projeto e apresentação de emendas.
Por fim, fui atingido pelo Ato Institucional, tendo sido Percebo que a nossa Assembléia, depois de uma luta
preso em 1964 e solto porque não foi possível à ditadura que se estendeu pelo final da semana, primeiro, por parte
manter-me nas prisões, como fez com outros intelectuais do Senador João Calmon, nosso Relator, depois, por parte
em São Paulo. da Assessoria, conseguindo, finalmente, trazer aqui cópia
do relatório já impresso, que V. Ex.s têm em mãos. Gos-
Para mim foi doloroso encontrar, de novo, no rela- taria também de pedir à nossa Assessoria, depois, que
tório desta Subcomissão, aquele divisor de águas que favorecesse a todos quantos nos visitam aqui, como nossos
animou a campanha de defesa da escola pública, e que convidados, para que cada um pudesse receber uma cópia
levou à derrota do ensino público no substitutivo apre- do relatório.
sentado sob a responsabilidade do Deputado Carlos O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES
Lacerda, mas realmente redigido pelo Padre Bastos ROCHA - Sr. Presidente, peço a palavra.
D'Avíla, por uma colega nossa do PFL e por várias outras O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
pessoas que são conhecidas. palavra ao nobre Constituinte Louremberg Nunes Rocha.
Hoje nós vemos de novo, dentro de uma Igreja reno- O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES
vada, que rez a opção pelos pobres, que luta pela reforma ROCHA - Gostaria de saber, porque pela leitura rápida
agrária, que foi um baluarte na luta contra a ditadura, que fiz do relatório não consegui detectar, se as notas
que é nossa aliada, eu considero a CNBB, a CPT, e várias taquígrárícas, ou seja, se esses debates que ocuparam
organizações da Igreja Católica aliadas, não circunstan- tanto o nosso tempo, ficaram registrados e se já há um
cialmente, fundamentalmente na luta pela transforma- 'documento relativo a eles, se há alguma coisa, e se o Re-
cão da sociedade brasileira. No entanto, em algumas lator conseguiu captar, colocar nesse relatório algo que
outras questões, a Igreja ainda mantém posições retrógra- envolveu todas as nossas discussões e audiências, alguma
das, como no caso do aborto, aí por princípio de ordem coisa para subsidiar a elaboração do anteprojeto.
moral; como no caso do divórcio, aí por princípio de O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Primeiro,
ordem moral; como no caso do ensino, aí porque a Igreja devo informar que o Diário da Assembléia Nacional Cons-
pretende o império da conquista das mentes. Vejo, neste tituinte é que deverá publicar na íntegra todos os debates
ponto, um elemento fundamental e um desafio terrível, e aqui procedidos. Segundo estou informado, isto ainda não
vejo minha vida num redemoínho: os anos passam, as se deu. Parte disso apenas foi publicado. A publicação
esperanças da juventude se vão, o ânimo de luta se abrangeu apenas as primeiras partes das nossas dis-
mantém e cresce, mas nós não avançamos, nós ficamos cussões, É que há uma sobrecarga de trabalho para os
no mesmo lugar. Foi doloroso para mim encontrar, dentro taquígrafos, compreensível na medida que são os mesmos
do relatório, essa muralha, uma muralha que vai nos taquígrafos que desenvolviam o trabalho normal de Câ-
jogar num precipício, se não soubermos nos entender aqui mara e Senado e, hoje, se vêem a braços com este imenso
e chegarmos a um entendimento comum de natureza volume de notas taquigráficas para procederem à sua
republicana, efetivamente demacrático na sua substância decodificação e publicação no Diário da Assembléia Na-
e que permita entender que se é preciso resguardar os cional Constituinte.
recursos públicos dos chamados mercadores do ensino, é
preciso resguardar os recursos públicos em todos os outros O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO-
fins. destinando-os à criação do sistema público de ensi- CHA - Sr. Presidente, quer dizer que com isso fica claro
no, aberto a todos, indiscriminado e que é substanti- que o Relator não teve acesso às notas.
vamente católico, porque 80 a 90% do nosso professorado O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Primeiro,
é católico, 80 ou 90% do nosso alunado é católico. A Iaicí- com relação à publicação. Haverá a publicação. Segundo,
dade dessa escola pública brasileira é mais uma aparên- em relação à segunda parte da sua pergunta, gostaria de
cia que uma realidade. Mas, não obstante, aí está um ouvir o nosso eminente Relator Senador João Calmon.
elemento crucial, porque se trata de criar um sistema
público de ensino capaz de levar a todos os pontos, a O SR. RELATOR (João Calmon) - Em primeiro lu-
todos os recantos do Brasil, o ensino fundamental, novas gar, desejo agradecer as palavras do nobre Constituinte
oportunidades educacionais para todos, e fazer a revolu- Professor Florestan Fernandes e repetir o que declarei no
ção educacional e cultural a partir da escola. final do meu relatório. O relator recebeu centenas de pro-
postas, de sugestões dos constituintes. Mas quatro cons-
Senti-me agredido por essa situação inesperada e tituintes apresentaram não apenas propostas, mas um
transformei a frustração em agressão verbal, um processo completo anteprojeto, inclusive, com ampla justificação.
que qualquer psicólogo poderia explicar e que o Consti-
tuinte João Calmon, um homem de inteligência refinada, Vou ler aqui o trecho final do meu relatório que diz
poderá entender também. Portanto, essas são as razões o seguinte:
que posso alegar na defesa do comportamento qu~ tive "Três nobres constituintes apresentaram va-
aqui, para explicá-lo e, ao mesmo tempo, para pedir que liosa contribuição, cobrindo as áreas de educação
264 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

e cultura (Octávio Elísio), Sólon Borges dos Reis maneira que essa é uma deficiência, que nós lamentamos
(educação e cultura) e Florestan Fernandes (edu- profundamente.
cação, cultura, esporte e lazer). Quanto ao trabalho da manhã de hoje, eu submete-
O extenso e brilhante trabalho do nobre Cons- ria à apreciação do nosso eminente Presidente e dos inte-
tituinte Florestan Fernandes foi também incor- grantes desta subcomissão, se nós nos limitaríamos à lei-
porado ao relatório como anexo, bem como outras tura do anteprojeto, que já está impresso, sendo dispen-
propostas, a fim de merecer melhor análise não sada a leitura do relatório, porque ele realmente é muito
apenas para a Carta Magna em elaboração, mas extenso, e tomaria um tempo precioso dos nossos eminen-
também para a futura Lei de Diretrizes e Bases da tes colegas.
Educação Nacional. O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
Por isso mesmo, decidiu este Relator em ho- gado a V. Ex. a , Sr. Relator.
menagem aos nobres Constituintes já citados, in-
corporar os três trabalhos como Anexos, que po- Devo informar que as notas taquigráficas foram já
dem servir de precioso subsidio para apresenta- publicadas no Diário da Assembléia Nacional Constituinte
ção de emendas ao anteprojeto, que é marcado até 30 de abril, depois, a pedido do Senador, foram priori-
por todas as notórias deficiências do relator, que zadas aquelas partes correspondentes aos depoimentos.
não é educador, mas apenas um obstinado lutador Esta é a informação que tenho do Sérgio. Depois do dia
desta área em busca permanente de recursos fi- 30 de abril foi retomada a publicação no dia 13 de abril.
~tão, aqui estão as publicações e depois os que tiverem
nanceiros mais vultosos, que liberte o Brasil da mteresse em recolher as notas taquigráficas elas estão à
sua deplorável colocação de 80.0 país do mundo disposição dos Srs. constituintes. '
em dispêndios públicos com ensino em relação ao
Produto Nacional Bruto. i ~ SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Sr.
Os três substanciosos trabalhos desses nobres Presidente, peço a palavra para uma questão de ordem.
constituintes poderão ser aproveitados como ines- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
timável fonte para formulação de emendas ao an- palavra ao nobre Constituinte Chico Humberto, para uma
teprojeto que este Relator ora submete a este ór- questão de ordem.
gão."
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Antes
E prestei a esses três nobres constituintes a home- que nós avançássemos no assunto do Constituinte João
nagem de incluir o texto integral dos seus admiráveis Calmon, se eu bem entendi a proposta do Constituinte
trabalhos a este relatório. Este trabalho, que já está sendo Louremberg Nunes Rocha, a nós nos pareceu que o con-
distribuído hoje, já impresso, tem, pelo menos, o mérito, senso, que teria sido tirado a priori pelos Constituintes
o anteprojeto de um Constituinte que não é educador - desta subcomissão, parece que não foi levado ao antepro-
permito-me repetir - apenas um lutador da causa da Edu- jeto. E eu citaria apenas para exemplificar. Nós discuti-
cação. E as contribuições realmente valiosas do mestre mos aqui, apesar de não ser especificamente desta subco-
dos mestres, que é o Professor Florestan Fernandes, do missão o problema da aposentadoria para o professorado,
Deputado Octávio Elísio, que foi Secretário de Educação onde nós tiramos, com vários depoimentos, que seria su-
de Minas Gerais, e deste inexcedível lutador da causa da gerido 25 anos e, no relatório, a sugestão foi de 30 para
Educação, que é o Deputado Constituinte Sólon Borges dos homem e 25 para a mulher.
Reis. O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - A Presidên-
De maneira que compenso esta subcomissão pela po- cia agradece a V. Ex.a e entende que não há questão de
breza da minha contribuição, dando-lhe este texto com- ordem propriamente a resolver; apenas V. Ex. a buscou
pleto que servirá não apenas de subsidio para a elabora- interpretar a intervenção do Constituinte Louremberg
ção da nossa Constituição, mas também para a elabora- Nunes Rocha. Eu penso possível esse entendimento, no en-
ção da futura Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- tanto, é preciso lembrar que, a rigor, isto não dependeria
cional. de publicação no Diário da Assembléia Constituinte, na
medida em que o nosso Relator, Senador João oaímon,
Quanto à pergunta feita pelo nobre Constituinte Lou- esteve presente em todas essas reuniões.
remberg Nunes Rocha, devo dizer que o Relator tomou
notas durante os depoimentos aqui prestados, a Assesso- De modo que, por esta razão, essa Presidência não vê
ria da Constituinte também fez o mesmo, mas infelizmen- e mais do que isso, depois de acatada a proposição de
te os apanhamentos taquigráficos não estão concluídos até trabalho do Constituinte João Calmon, nós poderemos en-
hoje. A pletora de depoimentos foi realmente acima de trar propriamente na apreciação do relatório e V. Ex.a
qualquer previsão. De maneira que o trabalho se acumulou poderá ter a palavra para aprofundar, inclusive, esta dis-
de tal maneira que não dispomos do apanhamento taquí- cussão que V. Ex.a está colocando agora.
gráfico que, infelizmente, corre o risco de ser publicado O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Sr. Pre-
no Diário do Congresso Nacional, sem que os constituin- sidente, peço a palavra para uma questão de ordem.
tes tenham sequer oportunidade de fazer uma revisão,
que é absolutamente indispensável. Obviamente, os de- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
bates são todos travados na base do improviso, a não ser palavra ao nobre Constituinte Octávio Elísio para uma
casos excepcionais de termos aqui, alguns muito signifi- questão de ordem.
cativos, de colegas nossos que podem fazer uma interven- O SR. CONSTITUINTE OOTÁVIO ELíSIO - Eu gos-
ção logo primoroso, impecável, sem exigir qualquer reto- taria, 'Sr. Presidente, que V. Ex.a me informasse, teIJJdo em
que, mas um razoável percentual precisa corrigir algu- vista que o 'art. 13 do nosso Regimento Interno define que
mas falhas, alguns erros do momento da improvisação. as comissões incumbidas de elaborar o Projeto da Consti-
Esta é uma debilidade que nós vamos apresentar apenas tuição, em número de oito, serão integradas, cada uma,
uma delas, porque realmente o Senado e a Câmara não com 63 membros titulares e igual número de suplentes,
dispunham de estrutura adequada para uma cobertura mas não diz quantos desses membros serão colocados em
eficiente das sessões de 24 subcomissões 'que trabalharam cada uma dessas subcomissões; eu pergunto o seguinte: ea-
pela manhã, à tarde e, às vezes, entrando pela noite. De da Subcomissão terá 21 membros?
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-fe:ra 20 265

o SR. PRESIDEN11E (Hermes Zaneti) - O número ela acata a questão de ordem do Constituinte Octávio
de 21 membros foi o número com o qual instalamos esta Elisio. Peço ao Secretário Sérgio para que contribua com
Subcomissão. Para surpresa nossa, depois recebemos dois esta Presidência, mais uma vez, redígíndo este ofício de
oficios do Sr. Presidente da Assembléia Nacional Consti- solicitações do Sr. Constituinte junto ao Presidente da
tuinte, o Sr. Ulysses Guimarães, remetendo mais dois no- Assembléia Nacional Constituinte.
mes do PFL e depois mais dois do PMDB, de tal sorte que O SiR. CONSTITUINTE SóLON BORGES DOS REIS
esta Subcomissão foi acrescida de mais 4 nomes, alterando - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
de 21 para 25 o número de membros.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
O SR. CONSTITVINTE OCTÁVIO ELíSIO - Quero palavra ao nobre Constituinte Sólon Borges dos Reis, pe-
que seja feita uma interpretação, se é regimental, ou não, la ordem.
essa inclusão desses novos componentes na Subcomissão
de Cultura e Esportes, onde nós temos 25 membros titula- O SR. CONSTITUINTE SóLON BORGES DOS REIS -
res e 23 membros suplentes, contrariando o dispostivo do Estou de pleno acordo com a preocupação do Constituinte
próprio Regimento, que diz que o número de titulares e de Octávio Elísio e com a decisão da questão de ordem de V.
suplentes deve ser igual e achar estranho por que aos 21 Ex. a , independentemente de ouvir o plenário da Comissão.
foram acrescidos 4 nomes para compor esta subcomissão. Mas eu gostaria de saber se esse procedimento da Mesa
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Nós temos da Constituinte ocorreu, única e exclusivamente, com es-
aqui o ofício de 7 de maio. ta Subcomissão ou se foi um procedimento que se aplicou
às demais subcomissões?
Sr. Presidente, de acordo com o que estabele-
ce o iRegimento Interno e a deliberação da Mesa, Em segundo lugar, eu gostaria de ponderar aqui a ale-
tomo a liberdade de encaminhar a V. Ex.a as al- gação de que os quatro constituintes, digamos assim, ex-
terações nas subcomissões a seguir relacionadas. temporaneamente ou posteriormente, indicados para esta
No caso da Comissão 8C para BA, Deputado Fran- Comissão, não teriam participado das reuniões, podem, de-
ça Teixeira. pois trazer uma dificuldade porque não me lembro, agora,
do nome dos quatro, mas um deles eu sei que esteve aqui
Este ofício está assinado por Euclides Scalco e em e, se não ínterferíu, assistiu grande parte dos debates. En-
cima tem: publique-se, meio ilegível, com a letra de Ulys- tão, para a consistência da nossa posição que eu acho que é
ses Guimarães. válida e que deve ser esta mesma, conviria verificar isto.
O SR. OCTÁVIO ELíSIO - Quais são os nomes in- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
cluídos? gado a V. Ex.a
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - França Tei- Esta Presidência tem a responder que, neste Ofício de
xeira e Flávio Palmier da Veiga, ambos do PMDB. 7 de maio ao Presidente Ulysses Guimarães pelo l.°-Vice-
E foram designados orícíalmente Agripino Lima e Líder do PMDB na Assembléia Nacional Constituinte, Sr.
Dionísio Hage, pelo PFL. Euclides Scalco, constam outras alterações. Por exemplo:
Miro Teixeira - 3C para 3B; Nyder Barbosa - 6B para
Se for desejo desta 'Subcomissão, a Presidência pode 6A; Vasco Alves - 7C para 7A; Hélio Costa - 7C para
oficiar ao Sr. Presidente Ulysses Guimarães com estão fun- 7B, 'ou seja, há outras alterações procedidas em outras
damentação, solicitando os esclarecimentos necessários. subcomissões. Assim mesmo. esta Presidência mantém a
questão de ordem que acatou e volta a pedir ao Consti-
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - li: a mi- tuinte Octávio Elísio para que colabore com a Mesa, redi-
nha proposta. gindo o ofício que encaminhará ao Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a Tem a palavra o nobre Constituinte Octávio Elísio
palavra ao Constituinte Louremberg Nunes Rocha. para uma questão de ordem.
O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES RO- O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Nós não
CHA - Sem querer justificar, mas atendendo às circun~­ temos certeza, Sr. Presidente, é que as demais alterações
tâncías das três subcomissões nossas, parece-me que nao propostas neste ofício impliquem também, na existência
houve muito interesse preponderante para preenchimento de um elevado número de constituintes em cada uma das
de todas as posições na Subcomissão da Família, do Menor subcomissões, como é o caso da subcomissão de Educação,
e do Idoso. Eu tenho a impressão que, em função disso, Cultura e Esporte O que é estranho é que esta subcomis-
remanesceram alguns lugares que foram recolocados na são passe a ter 13 membors do PMDB como titulares e
Subcomissão de Educação e Comunicação, apenas para apenas 12 como suplentes - passe a ter 7 do PFL como
tentar dar uma maior ... titulares e apenas 5 como suplentes; tem um membro
titular do PDT, sem ter o suplente; tem um suplente do
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - No entanto, PC do B, sem ter um titular do PC do B; tem um do
esta Presidência, se não houver nenhuma objeção desta PDS e o seu respectivo suplente - do PC e do PL e do
'Subcomissão, acata a proposta do Constituinte Octávio PTB com um titular e os respectivos suplentes.
Elísio, sob o fundamento de que como não participaram
das discussões das audiências públicas até aqui, poderiam, O Regimento Interno prevê que cada Partido terá
eventualmente, os Constituintes designados a posterior não número igual de titulares e suplentes em cada uma das
ter exatamente a apreensão de todo o conteúdo do deba- subcomissões.
te, Ide todo o questionamento que foi apresentado na Sub- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Nós agrade-
comissão. cemos a V. Ex.a e voltamos a insistir - V. Ex.a está ins-
Por outro lado, poderíamos também, dado a essa alte- tado a colaborar com esta Mesa, mais uma vez, redigindo
ração de última hora, eventualmente termos como tenta- o ofício ao Sr. Presidente. Já, no entanto, devo ler o ofício
tiva de 'alterar as tendências nas composições por pro- n.O 191, de 1987 da Assembléia Nacional Constituinte
postas, por posições dentro da Subcomissão. Para salva- Brasília, 7 de maio de 1987:
guardar este rato e que sei que seguramente não é este o "Sr. Presidente, considerando o princípio de
interesse, mas para eventuais tentativas depois de explo- proporcionalidade partidária, previsto no Regi-
ração do fato, como sendo em razão disto, esta Presidên- mento Interno da Assembléia Nacional Constituin-
266 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

te e tendo o Partido do Movimento Democrático VI! - valorização do magistério em todos os


Brasileiro, PMDB, ficado atingido nesta subco- níveis, com estruturação da respectiva carreira e
missão, na sua representação majoritára, esta Pre- garantia de condições condignas para a eficácia
sidência adotou a seguinte decisão nos termos dos do trabalho, inclusive padrões mínimos de remu-
quadros que seguem anexo. neração, fixados em lei federal;
Aproveito a oportunidade para renovar a VIII - participação adequada, na forma da
V. Ex.a protesto de apreço. Constituinte Ulysses lei, de todos os integrantes do processo educacio-
Guimarães - Presidente da Assembléia Nacional nal nas suas decisões;
Constituinte."
IX - superação progressiva das disparidades
Este Ofício nos é endereçado. Na página 2 do quadro regionais e sociais.
a que ele se refere, diz:
Art. 3.° O dever do Estado para com a edu-
"Comissão 8A - 23 membros. Solução: elevar cação pública de todos os brasileiros efetivar-se-á
para 25 membros, compensando-se com um exces- prevalentemente pelas seguintes ações:
so do PFL e uma questão de ordem: PMDB - 13,
PFL - 7; PDS - 1; PDT - 1; PTB - 1; PT - I - garantia de ensino fundamental, com du-
1; PL - 1; PDC - não. Total: PMDB: 13, ou- ração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito
tros: 12." para todos, permitida a matrícula a partir dos seis
anos de idade;
Deixo todo esse material à disposição de V. Ex.a e
peço, mais uma vez, a sua colaboração e acato, também, I! - oferta de vagas em creches e pré-esco-
a sugestão feita pelo eminente Constituinte João Calmon, las para as crianças até seis anos de idade;
nosso relator, no sentido de que se proceda, agora, à TH - atendimento oficializado e gratuito aos
leitura do anteprojeto, - pois foi, exatamente, a situação portadores de deficiência e aos superdotados, em
de que não se leia o relatório mas apenas o anteprojeto. todos os níveis de ensino;
Vamos ouvir, então, a leitura do anteprojeto. IV - garantia de auxílio suplementar ao alu-
Com a palavra o eminente Relator João Calmon para no do ensino fundamental, através de programas
que proceda à leitura do mesmo. sociais que assegurem condições de aproveitamen-
to e continuidade dos seus estudos.
O SR. RELATOR (João Calmon) - Eu estimaria que,
terminada a leitura do anteprojeto, nós já tivéssemos Parágrafo único. O acesso de todos os bra-
número para deliberar porque, por enquanto, nós devería- sileiros à educação fundamental gratuita é um di-
mos ter 12 ou 13 membros desta subcomissão presentes e, reito público subjetivo, acionável contra o Estado
por enquanto, nós temos somente 10 presentes, Sr. Pre- mediante mandado de injunção.
sidente.
Art. 4.° O ensino fundamental será ministra-
O SR PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Esta Pre- do em português, assegurada às minorias lingüís-
sidência, como é uma questão pendente, decide que o ticas autóctones a escolarização nas línguas por-
quorum é de 11 membros. Portanto, temos quorum regi- tuguesa e materna.
mental para prosseguirmos o trabalho. Art. 5.0 O ensino religioso, como parte da
O SR. RELATOR (João Calmon) - educação integral, constituirá disciplina de matrí-
cula facultativa, nas escolas oficiais de ensino fun-
ANTEPROJETO damental e médio.
DA EDUCAÇAO, CULTURA E ESPORTES Art. 6.° O ensino é livre à iniciativa privada,
observadas as disposições legais.
Art. 1.0 A educação, direito de todos e dever
do Estado, será promovida e incentivada por todos Art. 7.0 O provimento dos cargos iniciais e
os meios, com a colaboração da família e da co- finais da carreira do magistério será efetivado me-
munidade, visando ao pleno desenvolvimento da diante concurso público de provas e títulos, quan-
pessoa e ao compromisso do ensino com os prin- do se tratar de ensino oficial.
cípios da liberdade, da democracia, do bem comum Art. 8.° As universidades gozam, nos termos
e do repúdio a todas as formas de preconceito e da lei, de autonomia didático-científica, adminis-
de discriminação. trativa, econômica e financeira.
Art. 2.0 O sistema de educação obedece às Art. 9.° Lei federal definirá incentivos para
seguintes diretrizes: os profissionais de nível superior que, em segui-
I - democratização do acesso e da continui- da ao término de seu curso, exerçam suas ativi-
dade dos estudos; dades em áreas afastadas dos grandes centros ur-
banos.
I! - pluralismo de idéias e de instituições de
ensino, públicas e privadas; Art. 10. Os Estados e o Distrito Federal or-
ganizarão os seus sistemas de ensino, e a União,
III - liberdade de pesquisa e de comunica- os dos Territórios, assim como o sistema federal,
ção, no exercício do magistério; que terá caráter supletivo e se estenderá a todo
IV - adequação aos valores e às condições o País, nos limites das deficiências locais.
regionais e locais; . • § LO' A 'União prestará assistência técnica e
V - descentralização da educação pública, "financeira aos Estados e ao Distrito Federal para
cabendo prioritariamente aos :Estados e Municí- desenvolvimento dos seus sistemas de ensino e
pios o ensino fundamental obrigatório; atendimento prioritário à escolaridade obrigatória.
VI - garantia de ensino fundamental para § 2.° Os Estados transferirão aos Municípios
todos; os encargos da educação pré-escolar e do ensino
Julho de 1987 DIARIO DA ASSÊMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 261

de 1.0 grau sempre que estes alcançarem condições condições de aprendizagem aos seus trabalhado-
técnicas e financeiras suficientes. res menores e a promover o preparo de seu pes-
§ 3.0 Os Municípios só passarão a atuar em
soal qualificado.
outros níveis de ensino quando as necessidades de Art. 18. O Estado garantirá o pleno exercí-
ensino fundamental estiverem satisfatoriamente cio dos direitos culturais e dará proteção, apoio
atendidas. e incentivo a todas as ações de valorização, de-
§ 4.0 Os Municípios com mais de cinqüenta
senvolvimento e difusão da cultura.
mil habitantes organizarão Conselhos de Educa- Parágrafo único. O exercício dos direitos
ção, que velarão pelo ensino ministrado em seu culturais é assegurado:
território, nos termos da lei. I - pela liberdade de criar, produzir, prati-
§ 5.0 Os Municípios a que se refere o pará- car e divulgar valores e bens culturais;
grafo anterior elegerão os membros dos seus Con- I! - pelo dever de cada um respeitar os di-
selhos de Educação pelo voto popular, direto e reitos culturais do outro;
secreto, quando das eleições para a respectiva
Câmara Municipal. lI! - pelo livre acesso aos meios e bens cul-
turais;
Art. 11. A União aplicará, anualmente, nunca
menos de dezoito por cento, e os Estados, o Dis- IV - pela responsabihdade de cada um de-
trito Federal e os Municípios vinte e cinco por fender a cultura e denunciar, na forma da lei, os
cento, no mínimo, da receita resultante de impos- atos a ela contrários;
tos, inclusive os provenientes de transferências, V - pelo reconhecimento pelo Poder Públi-
na manutenção e desenvolvimento do ensino. co dos múltiplos universos e modos de vida da
§~.o Para efeito do cumprimento do dispos- realidade nacional e suas formas de expressão,
to no caput deste artigo, serão apenas considera- preservando aquelas que formam a sua memória
dos os programas de ensino formal do Ministério e identidade, que valorizem e promovam o homem
da Educação, excluído o auxílio suplementar aos brasileiro;
educandos. . VI - pelo compromisso do Estado de res-
§ 2. 0
A repartição dos recursos públicos as- guardar e defender a integridade, pluralidade, in-
segurará prioritariamente o atendimento das ne- dependência e autenticidade da cultura brasileira;
cessidades do ensino obrigatório, conforme lei VII - pelo cumprimento, por parte do Esta-
complementar determine plurianualmente. do, de uma política cultural não íntervencíonísta
§ 3.0 A lei estabelecerá sanções jurídicas e democrática, estimuladora, que considere todos o~
administrativas no caso de não cumprimento des- segmentos sociais, visando a participacão de todos
tes dispositivos. na vida cultural; .
Art. 12. Os sistemas de ensino deverão esta- VIII - pelo dever do Estado de zelar pela
belecer padrões mínimos de eficácia escolar, con- preservação e desenvolvimento da língua portu-
forme lei complementar, zelando pelo seu contínuo guesa, como bem maior de unidade e integração
aperfeiçoamento. culturais.
Art. 13. Os candidatos ao ensino superior, Art. 19. A lei estabelecerá prioridades, in-
quando economicamente carentes e desde que ha- centivos e vantagens para a cultura nacional, es-
bilitados, terão prioridade de acesso até um limi- pecialmente quanto à formação e condições de
te de vagas que a lei estabelecerá. trabalho de seus criadores, intérpretes e estudio-
Art. 14. O desenvolvimento da educação, da sos, produção, circulação e divulgação das obras e
cultura, da ciência e da pesquisa em geral conta- exercício dos direitos de invenção e do autor.
rá com amplos incentivos fiscais, na forma da lei. § 1.0 O patrimônio e as manifestações da
Art. 15. A lei regulará a transferência de re- 'Cultura popular, principalmente as indígenas e
cursos públicos a instituições educacionais priva- afro-brasileiras, terão a proteção especial do Esta-
das que prestem relevantes serviços públicos. do contra ações estranhas que violentem a sua
natureza e autenticidade.
Parágrafo único. As instituições a que se
refere o caput deste artigo: § 2.0 As entidades culturais e os direitos de
invenção e do autor, na forma da lei, estão isen-
a) serão organizadas por comunidades e gru- tos de qualquer imposto federal, estadual ou mu-
pos de caráter social, religioso e cultural; nicipal.
b) comprovarão a não distribuição de lucros, Art. 20. A União aplicará, anualmente, nun-
a reaplicação de eventuais excedentes em educa- ca menos de dois por cento, e os Estados, o Distri-
ção e apresentarão contabilidade aberta e verifi- to Federal e os Municípios três por cento, no míni-
cável pela comunidade e pelo Poder Público. mo, da Receita resultante de impostos, em ativi-
Art. 16. As empresas comerciais, industriais dades de proteção, apoio, estímulo e promoção da
e agrícolas são obrigadas a manter o ensino fun- cultura brasileira, não incluídas nesses percen-
damental gratuito de seus empregados e filhos tuais despesas com custeio.
destes, entre os seis e os quatorze- anos, ou a con- Parágrafo úníeo.A lei definirá quais as ativi-
correr para aquele fim, mediante contribuição tri- dades culturais a serem beneficiadas por esta
butária, na forma que a lei estabelecer. obrigatoriedade.
Art. 17. As empresas comerciais e industriais Art. 21. É' obrigação do Estado organizar,
são ainda obrigadas a assegurar, em cooperação, manter e apoiar o funcionamento de bibliotecas,
268 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

~ arquivos, museus, centros de arte e de estudos e te e cinco) anos de efetivo exercício em funções
casas de cultura, integradas ou abertas aos siste- de magistério, com salário integral.
mas de ensino e às comunidades.
PROPOSTA DE N.o 2
Art. 22. O Poder Público promoverá e incenti-
vará a preservação de sítios, edificações, objetos, IC!ua-se no capítulo relativo aos Estados e
documentos e outros bens de valor cultural - ar- Municípios:
queológico, histórico, científico, artístico, ecológi- Art. Caberá à União intervir no Estado que
co e paisagístico - através do seu inventário sis- não aplicar na manutenção e desenvolvimento do
temático, vigilância, tombamento, aquisição e ou- ensino o percentual de sua Receita de impostos
tras ações de acautelamento e proteção. determinado nesta Constituição.
§ 1.0 Os bens próprios, sob administração ou
tombados pelo Poder Público receberão anual- PROPOSTA DE N.O 3
mente recursos financeiros, através de lei orça- Inclua-se no capítulo relativo ao Poder Judi-
mentária, destinados à sua conservação, manu- ciário:
tenção e permanência de seu valor e interesse Art. O Poder Judiciário só admitirá ações
cultural. relativas à disciplina e às competições desportivas
§ 2.° Toda pessoa física ou jurídica tem o após esgotarem-se instâncias da Justiça Desporti-
direito e o dever de defender o patrimônio cultu- va, que terão o prazo máximo de sessenta dias,
ral do País, denunciando, conforme a lei, as amea- contados da instauração de inquérito, para profe-
ças e crimes contra ele praticados. rir decisão final.
Art. 23. São livres a circulação e divulgação - A propósito da leitura desse anteprojeto devo co-
de obras culturais, respeitados os direitos huma- municar à subcomissão que uma proposta de vinculação
nos e esta constituição. de recursos públicos para manutenção e desenvolvimento
Parágrafo único. Lei especial disporá sobre o do ensino, foi liminarmente rejeitada na Comissão de Sis-
respeito a cada comunidade e criará um conselho tema Tributário, Orçamento e Finanças, Subcomissão de
de ética, composto por membros da sociedade e Tributos, Participação e Distribuição da Receita. Dada a
vinculado ao Ministério da Cultura, para classi- importância desse parecer, que é pequeno, eu pediria li-
ficar os espetáculos e diversões públicas e acom- cença para lê-lo, porque o relator dessa subcomissão não se
panhar as programações das empresas de teleco- opôs apenas à fixação do percentual de 13% ou 18%, ele
municação. não admite nenhuma vinculação de recursos públicos,
para qualquer finalidade. O parecer é o seguinte:
Art. 24. Compete à União criar normas ge-
rais sobre o desporto, dispensando tratamento "O investimento do ensino é tão Importante,
diferenciado para o desporto profissional e não senão mais para o próprio crescimento econômi-
profissional. co, este representa condição de imediata manu-
tenção e melhoria das condições de vida do pre-
Art. 25. São princípios e normas cogentes da sente. A Educação, por sua vez, é a chave e a con-
legislação desportiva: dição imprescindível para que sejamos capazes de
I - o respeito à autonomia das autoridades manter as conquistas feitas, diminuir dependên-
desportivas dirigentes quanto à sua organização cia tecnológica e alcançar progresso na área eco-
e funcionamento internos; nômica social."
!I - a destinação de recursos públicos para A Emenda Constitucional n.v 4, de 1983, acrescentou
amparar e promover o desporto educacional e o o § 4.° ao art. 176 do Estatuto Básico, para determinar que
desporto de alto rendimento; a União aplique nunca menos de 13% e os Estados, o Dis-
!I! - a criação de benefícios fiscais específi- trito Federal e os Municípios, 25% no mínimo da receita
cos para fomentar as práticas desportivas formais resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimen-
e não formais, como direito de todos; to do ensino.
Art. 26. É assegurado o reconhecimento do Agora, o eminente autor - que o relator da subco-
missão - a quem se deve, aliás, a iniciativa da referida
desporto como atividade cultural, gozando de to- emenda constitucional, propõe um aumento do percentual
dos os benefícios institucionais e legais próprios relativo à União, mantendo-se o vigente para os Estados.
da cultura, valorizadas, preferencialmente, as ma- Compartilhamos da preocupação do ilustre autor, consi-
nifestações desportivas de criação nacional. derando, inclusive, a notória deficiência do ensino em todos
Art. 27. Compete à União, aos Estados, ao os níveis no País. É imperioso levar em conta, entretanto,
Distrito Federal, aos Territórios e aos Municípios, que há, infelizmente, inúmeros outros setores da mesma
promover o desenvolvimento do turismo e do lazer, importância do que o ensino, como da saúde, preventiva e
para assegurar o seu acesso a todos os cidadãos. curativa, da assistência social, do menor carente e aban-
Propostas a serem encaminhadas à Co- donado, da repressão ao crime, dos sistemas penitenciá-
missão de Sistematização, nos termos do rela- rios, da Previdência Social etc. Se cada um desses setores
tório: deficitários, no seu atendimento, tivesse fixado na Carta
Magna, percentuais mínimos de participação na arreca-
PROPOSTA DE N.O 1 dação tributária, a União, os Estados e Municípios, em face
da rigidez da sistemática criada, ficariam impossibilitados
Inclua-se no capítulo relativo aos Direitos dos de ajustar o seu orçamento anualmente às reais condições
Trabalhadores: peculiares ao momento, à região e às prioridades ditadas
Art. A ConstitUição assegura aos trabalha- pela própría dinâmica do desenvolvimento.
dores os seguintes direitos: O Relator Constituinte Fernando Bezerra Coelho re-
Inciso: a aposentadoria para o professor após jeita, liminarmente, qualquer vinculação de recursos pú-
30 (trinta) anos e, para a professora, após 25 (vín- blicos para quaisquer finalidades.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLé!A NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 269

Como o relator tem que ficar atento para o que ocorre que a Subcomissão de Tributos assuma a posição de não
em outras subcomissões porque é um trabalho extrema- vinculação de recursos. Nós sabemos que generalizou-se
mente difícil, e porque o relator ainda não recebeu os re- realmente a política de procurar garantir na Constituição
latórios das 24 Comissões Temáticas. Eu descobri, tam- a vinculação de recursos para diversas áreas temáticas
bém, que o Relator da Comissão de Previdência e Assis- e, inclusive, para diversas regiões. Entretanto, acho que
tência Social, o Constituinte Carlos Mosconi, rejeitou, limi- a Educa.ção é a única área onde se firmou uma tradição
narmente, também, qualquer tratamento diferenciado em constitucional, desde 34, com relação à vinculação de
relação à aposentadoria. recursos para a Educação, e isso foi se mantendo, apesar
da Constituição de 67 e a Emenda de 69 terem retirado
De maneira que nós temos que lutar em defesa da a obrigatcríedade de recursos da Uniáo e, posteriormente,
Educação e em defesa dessas reivindicações em várias rren- essa vínculação de recursos foi possível pelai Emenda
tes, nesta subcomissão, em que o relator é contrário a Calmon. A Constituição de 67/69, entretanto, continuou
qualquer vinculação, e na outra subcomissão, em que o a manter a obrigatoriedade de vinculação de recursos
relator é contráiro a qualquer exceção em matéria de apo- minímos, por parte eles Municípios, para a educação bá-
sentadoria. sica.
o SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - Eu não esperava que a Bubcomlssãc de Tributos fosse
Sr. Relator, eu poderia pedir um aparte? condescendente conosco e mantivesse isso. Eu não tinha
e não tenho nenhuma dúvida de que isso será uma luta
O SR. RELATOR (João Calmon) - Com prazer. nossa. O que eu não acho razoável é que nós nos ante-
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - cipemos às decisões que outras Subcomissões venham a
Há um outro assunto afeto a nossa comissão e que causou tomar e não coloquemos no nosso relatório aquilo que
muita controvérsia, e que, de outro lado, suscita muitas Julgarmos que é fundamental. Est,"l Subcomissão não pode,
esperanças, por parte dos intelectuais, dos artistas, enfim, pelo fato de outras subcomtssões terem assumido posl-
de todos que trabalham na área de espetáculos, diversões, cões co-no essas, muito bem colocadas aqui pelo Relator
produção intelectual etc. que é a eliminação da censura João Calmon, deixar de assumir aquelas posições que
e o estabelecimento de uma censura indicativa, como aca- achamos necessária, Não é possível que, a Subcomissão
bamos defendendo. No entanto, devo chamar a atenção de deixe de colocar no seu anteprojeto, como já está, a
V. Ex.a para o fato de que na Subcomissão dos Direitos e questão da vinculação dos recursos parai a Educação.
Garantias Individuais, o Relator, Darcy Pozza, acaba ar- Como eu acho também que não podemos deixar de co-
rolando, no artigo que se refere aos Direitos e Garantias locar a questão da aposentadoria.
Individuais, no item X, ele permite a livre manifestação A aposentadoria já é garantida hoje na Constituição,
do pensamento, vedado na forma da Lei do Anonimato, os vinte e cinco anos para as professoras. O que Dão é
ele trata que é livre a manifestação de crença religiosa, razoável é que haja discriminação, definindo 25 anos
de convicções políticas e filosóficas. No entanto, estabelece nara as professoras e 30 anos para os professores, desde
que as diversões públicas e os espetáculos públicos fiquem que a jm.t.ificativa da concessão desse privilégio s,e fez
sujeitos às leis de proteção da sociedade. Isso significa com base nas condições de exigência que o magistério
a preservação da censura a respeito desse assunto. Eu estabelece sobre aquele que o pratica, Portanto, essas
consultei o Dr. Dalari e ele realmente confirmou essa in- exigências valem tanto para os professores, os trabalha-
terpretação que eu dei. Portanto, aqui nós temos um pro- dores do ensino, do sexo feminino, quanto do sexo mas-
blema, porque, de nossa parte levantamos uma fresta nova culino.
para arejar os ares, que foram conspurcados durante a Portanto, Sr. Relator João Calmon, minha proposta
ditadura e que ainda continuam um pouco mefítico e, no é que, independente das posições de outras Subcomis-
entanto, nós vemos uma comissão com um relator que de- sões, nos mantenhamos aqui as nossas posições e, que
fende posições conservadoras, defende um princípio con- lutemos, naquelas Subcomissões, ou Comissões, ou na
trário àquele que nós propusemos aqui. • Comissão Temática, e rínalmenta em Plenário, para que
prevaleça aquilo que, de [ustlea, nós julgamos impor-
Então, eu queria pedir a atenção de V. Ex.a para esse tante que seja colocada na nossa Subc'Jmissão no que
fato e não sei quais seriam as providências que podería- se refere à vinculação dos recursos e à aposentadoria.
mos tomar com referência ao assunto.
O SR PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado
O SR. RELATOR (João Calmon) - O Relato!' a V. Ex.a
levará em consideração a sugestão de V. Ex.a. Mas devo O Constituinte João Calmon pede para responder
lembrar que essa não é a tarefa de um Relator, nós ao Oonstítuínte Octávio Elísio.
deveremos também dividir as nossas forças de combate
em relação a um trabalho nestas outras Subcomissões, O SR. RELATOR (João Calmon) - Provavelmente
porque se não houver lutadores da causa da Educação, eu Tl<io falei com clareza, nobre Oons'títuínte, .Tal!lais
combatendo essa tendência já apreesntada com tanta eu pensei em deixar de incluir no projeto desta Sub-
nitidez contra qualquer vinculação, nós já vamos perder comissão a vinculação. Isso seria a negação de toda uma
uma batalha importante nesta Bubcomíssão. Como de luta de 18 anos, que é a minha obsessão a minha ídéía
re-sto, como é uma reivindicação do magistério, já aco- fixa. De maneira que acho que o meu português falhou.
lhida pelo Congresso Nacional, que incluiu um artigo O que eu pleiteei, o que eu sugeri, serla a conveniência
especial sobre aposentadoria de professores, nós pode- de, dentro das limitações do acúmulo de tarefas nós
mos também perder um round dessa. luta nessa outra também exercermos uma pressão na área dessa' Sub-
Comissão a que já me referi. comissão, para ver se a opinião, que por enquanto é
isolada, é apenas o parecer do Relator.
O SR. PRESIDENTE (Hermes' Zaneti) - Obrigado
ao Constituinte Relator João Calmon. Percebo que o Nós poderemos fazer, este' sim, um lobby da. mais
Constituinte Octávio Elísio e o Constituinte Louremberg alta nobreza e do mais alto patriotismo junto aos mem-
Nunes Rocha pedem a palavra. bros dessa Comissão, para que seja derrotado o ponto
Primeiro, o Constituinte Octávio Elísio. de vista defendido pelo Relator. Mas se não for der-
rotado, obviamente, nada impede, que esta Comissão con-
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - Sr. Pre- tínue fiel à necessidade dessa vinculação obrigatória,
sidente, Sr. Relator, eu acho que não é de se estranhar defnindo apenas qual será o percentual, porque enquan-
270 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

to o Relator sugere o aumento do percentual para 13%, que eu gostaria de formalizar, ja como um ponto inicial
V. Ex. a , se não me engano, sugere 15%; o nobre Cons- dessa batalha e dessa luta que iremos travar, que esta
tituinte Florestan Fernandse sugere a manutenção de Subcomissão de Educação, Cultura e Esporte oficiasse à
13%. Então, na hora adequada da votação desse artigo, Subcomissão de Tributo,:;, dizendo da posição assumida por
nós deveremos chegar a um acordo sobre qual será o esta Subcomissão, inclusive anexando, se possível, farto
percentual. O Relator entende que deveríamos lutar para documentário trazido pelas entidades de classe e consubs-
chegarmos aos 18% e vamos ver se chegamos a um acor- tanciado no Relatório do Senador João Calmon, para que
do sobre o máximo e não sobre um percentual igual ao elas possam entender em profundidade e na verticali-
atual, ou apenas um pouco superior. dade, as razões dessa posição assumida por quantos fazem
O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO Eu a Educação no País.
c:ueria esclarecer, apenas para me fazer claro. Eu tam- Da mesma forma, como falou o Constituinte Lou-
bém não tive nenhuma intencão de dizer que V. Ex. a remberg Nunes, que se oficie também às entidades que
havia acatado o parecer do R·elator da outra SU?~om.is­ aqui n03 honraram com a sua presença, dizendo ter
são, eu quis apenas firm3;..r aqui a minha posiçao de chegado já ao nosso conhecimento, através do Oonstí-
'achar que esta Subcomissao tem um compromisso de tuinte João Calmon. dessa posição assumída pelo Relator
elaborar um relatório sobre a nossa area, ondeestaques- da Subcomissão de Tributos no sentido de que essa ação
tão é estratégica, é nmdamental, dO_ me~m? modo que.a efetiva das entidades de classe na luta pela Educação se
questão da aposentadoría e ISSO nao signífícará, etetí- faça sentir naquele espaço próprio, que é a Subcomissão
vamente que possamos estar vulneráveis aos pareceres de Tributos porque, como bem frisou o Constituinte Lou-
definidos de outras Subcomissões.' Entretanto, é indis- remberg Nunes, eles saíram daqui na certeza de que aquele
pensável que 'acatemos a sua sugestão de agirmos junto patamar já alcançado de 13%' não seria em momento
às 'respectivas Subcomissões, para fazermos prevalecer algum atingido. A idéia era que poderíamos alcançar
as nossas propostas. novos percentuais e é necessário que eles sejam esclareci-
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado dos de tudo quanto ocorre, já que oficialmente o fato
a V. Ex.a chega ao conhecimento desta Subcomissão.
O seguinte Constituinte inscrito, Louremberg Nunes O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Agradeço a
Rocha. V. Ex.a e apenas tenho a Impressão de que não teríamos
O SR. CONSTITUINTE LOUREMBERG NUNES a competência para dirigirmo-nos oficialmente a outra
ROCHA - Sr. Presidente, Sr. Relator, as minhas pala- 13ubcomissão em função da posição de seu Relator. Creio
vras vão mais ou menos 110 me sm i sentido daquelas do que o caminho adequado será o de membros desta Sub-
Constituinte' Octávio Ellsio e do Constituinte João Cal- comissão, que tenham evidentemente vinculações com
mon. Eu também tinha uma sugestão que foi recusada todo esse setor educacional com a urgência necessária,
pela Subcomissão de Tributos. Participação e tnstrtoui- informá-los desta decisão daquela Sub comíssão, Eviden-
cão das Receitas e me parece que a partir daí nós' ternos temente o desdobramento disso todos podem prever não
verdadeiramente uma bandeíra de luta para a Educaçao, cabe aqui ao Presidente estar a dizer...
porque as entidades que aqui estiveram partiram do O SR. CONSTITUINTE UBIRATAN AGUIAR -
pressuporto, quase todas elas e nós. mesmos de que Sr. Presidente, não vou questionar a Presidência, quero
aquilo que anteriormente estava gcuaJ.1tJdo, os 13~, :pe!- dizer apenas o seguinte: se as- palavras voam e não ficam,
manecería como estava. Na verdade e uma ConstItUlçao se não se registram, apenas queria registrar o fato, se a
nova que se está a fazer e ocorrem c ocorrerão pos~çõ~s' Presidência pode achar que, por se tratar de um fato de
como esta manifestada pelo RelatJOr dessa subcomíssêo uma Subcomissão e que feriria ou que poderia alcançar
referida. normas, eu posso assumir a responsabílidade, mas eu
Então eu acredtío que está na hora, e o Constituinte gostaria que se documentasse, para que não passasse sem
falou em lobby, de a Educação e todas as entidades que que tivesse o crivo da nossa observação, porque se o rela-
aqui estiverem, lutando por determinados itens, se mo- tório é divulgado. ele é do conhecimento público e se ele,
bilizem agora para, pelo menos no nosso caso da edu- numa Subcomissão...
cação se garantir a vinculação, evidentemente, com os O SR. PRESIDE1':fTE (Hermes Zaneti) - Esta Presl-
18%, ou até com 15, ou com 13, mas garantir a vincula- dêneía insiste, Sr. Constituinte, no sentido de nO.3 manter-
cão porque sem esta vínéulação toda essa luta, todo mos dentro do Regimento. Esta Presidência já, agora, com
êss~ trabalho, todos esses debates, darão em nada, por- a sua observação, e evidentemente que democraticamen-
que a educação retroagírá aos tempos anteriores e nada, te podemos discutir isso - decide, enquanto Presidência,
ou quase nada daquilo que fizemos aqui valerá alguma o seguinte:
coisa.
Primeiro. entende a Presidência que não cabe oficiar
Portanto, acredito que é hora de efetivamente jun- a uma outra Subcomissão sobre posições que o Relator
tarmos todas as forças, usarmos até isso junto às enti- adotou, cabe. i,-to sim, a membros desta Subcomissão ofe-
dades vinculadas ou relacionadas com a Educação, para recerem - e isto é regimental. acabei de receber um ofí-
que se comece a' fazer Ull.1a frente ampla no sentido de cio agora, nesse sentido, do Presidente Ulysses Guima-
garantir a vinculação no setor educacíonal. rães, eu já sabia disto, penso que os Brs. Constituintes,
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a também - emendas ao relatório da outra, Subcomissão.
V. Ex.a. Poderemos até fazê-lo subscrevendo-o na nossa condição
de Constituintes ,em conjunto como membros desta Sub-
Eu queria dizer que estão inscritos, pela ordem - comissão.
porque ouvi algum Constituinte reclamando - os Srs.
Constituintes Ubiratan Aguiar, Chico Humberto e Sólon Esta seria uma tarefa, quem sabe atenderia à
Borges dos Reis. preocupação do Constituinte Ubiratan Aguiar. Por outro
lado insisto, informalmente e com a urgência possível,
éoncedo a palavra ao Constituinte Ubiratan Aguiar. que os membros desta Subcomissão deverão informar a
O SR. CONSTITUINTE UBIRATAN AGUIAR - todax as entidades que aqui prestaram o seu depoimento,
sr. Presidente, a minha observação vai no mesmo curs9 que há um conflito com a posição adotada por um outro
das colocações dos companheiros que me antecederam. So Relator de uma outra Subcomissão que, evidentemente,
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 271

vem de encontro à posição que as entidades trouxeram a E na proposta de número 2, onde se diz que caberá
esta Subcomissão. à União intervir no Estado, aplicar na manutenção do
Penso que com isto nós atenderemos à preocupação desenvolvimento do ensino, incluir ali "do ensino e da
do Constituinte Ubiratan Aguiar. Sugiro ao Constituinte cultura", o percentual de sua receita de impostos deter-
minado nessa Constituição.
Ubiratan Aguiar que encabece uma proposta de emenda
àquele relatório e eu, na minha condição pessoal, de São essas as três sugestões que gostaríamos de fazer.
Constituinte, desde logo estou à disposição para assinar
com os demais membros desta Subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a
Esta Presidência consulta o Sr. Constituinte Ubiratan V. Ex.a com a palavra o Constituinte Sólon Borges dos
Reis.
Aguiar se satisfazem estas sugestões.
O SR. CONSTITUINTE UBIRATAN AGUIAR - O SR. CONSTITUINTE SóLON BORGES nos REIS
POi.'3 não, Sr. Presidente, recebo a incumbência e já co- - Recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino
meçamos a trabalhar em cima dessa proposta. são essenciais, porque é preciso realmente gastar mais e
gastar melhor aquilo que se gasta.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Agradeço
a V. Ex.a Há 40 anos fizemos uma campanha popular, que
acredito ter sído pioneira no Brasil, com centenas de milha-
Com a palavra o Sr. Constituinte Chico Humberto. res de assinaturas aos poderes públicos, pedindo mais
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Sr. verbas para a manutenção e desenvolvimento do ensino
Presidente, nós na verdade, gostaríamos de relatar mais - isso foi em 1948 - e especificando onde deveriam ser
uma vez. gastas essas verbas.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Esta Pre- Mas, a rigor, se as coisas fossem como deveriam ser
sídência gostaria de pedir escusas, já que havia concedido não haveria necessidade de figurar na Constituição, por~
a palavra, mas há uma sugestão do nosso eminente Re- que nos :paí~e!, onde o ensino é levad? a sério não figura
lator que também nos parece correta, que seria contarmos na C0.nS~lt.311Ç~O, enquanto que no pais em que figura na
com algum membro da Subcomissão - não sei se o pró- ConstlUj;lçao, lSSO nao e levado a sério. Mas as coisas são
prio Ubiratan Aguiar podia fazer essa gentileza - de como sao e não como deveriam ser' temos que lutar para
propor uma emenda também na Subcomissão referente à mudá-las. ' ,
aposentadoria e também apresentaríamos em conjunto.
A introdução é necessária, porque, senão, não se vai
Esta Presidência concede a palavra ao Constituinte fazer - figurou na Oonstítuíção de 1934, na de 1946 e
Chico Humberto, em seguida ao Con.stituinte Sólon Bor- não se cumpriu a hoje chamada Emenda Calmon. Agora,
ges dos Reis e, depoís, à Constituinte Márcia Kubitschek. há uma luta para que seja cumprida, mas temos que in-
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Sr. troduzir, como uma amostra da determinação, e abrir,
Presidente, a apreensão que tínhamos durante os nossos mesmo, uma exceção, porque a educação deve ser a prio-
debates parece que foi confirmada. Eu havia levantado ridade nacional n.O 1.
aqui a tese de certa timidez de todos aqueles que aqui
estiveram, quanto as propostas do montante a do volume Acontece que se alega na Comissão de Orçamento que
de recursos a ser destinado à educação, e isto agora veio terminaríamos loteando o orçamento, mas devemos loteá-
se confirmar. lo mesmo; por que só o Executivo elabora a proposta
orçamentária? Por que não a Constituição, o Congresso,
Acho que não podemos abrir mão, uma vez que fomos a Iegísação contribuírem para determinar o rumo do or-
delegados pelo detentor maior do poder constituinte, que çamento?
é o povo brasileiro, de elaborarmos essa !l0va Carta M~gna
e de inserir nela o montante a ser destmado a cada area, Eu assumo essa crítica e aceito que estamos real-
Só assim nós estaríamos avançando no processo, avançan- mente, destinando previamente recursos. '
do nos questionamentos e nos anseios populares que de-
Na minha proposta, que foi transcrita aqui, não disse
longam séculos por aí. qual seria o percentual, e afirmei, in fine, que ela não
Mas além dessa questão, nós gostaríamos de ressaltar trata 'do financiamento da educação e do ensino e que a
no anteprojeto, que foi lido pelo senador João Calmon, atribuição de encargos fica na dependência da ordem tri-
quanto à Cultura no seu art. 22 que anseio ... butária que for adotada, uma reforma tributária prelimi-
O SR. RELATOR (João Calmon) - Eu convidaria a nar e urgente para a manutenção e desenvolvimento do
nobre Constituinte Márcia Kubitschek, que cuidou do ca- ensino no País.
pítulo referente à cultura, para me substituir aqui por 5 Daí, conclui-se que a minha cautela foi em vão exa-
minutos e responder à pergunta do nobre Constituinte gerar os percentuais da União, por hipótese, se forem
Chico Humberto. retirados da mesma os impostos, que passariam - e isso
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Mas é possível - para o Estado e para o município, porque
justamente quanto ao anseio da categoria, no sentido de aí já teríamos maiores recursos na educação, e a União
se garantir a recontsrução dos espaços culturais que foram estaria desprovida de recursos.
destruídos isto vem na verdade apenas, e tão-somente,
fazer com' que os espaços culturais assegurados por essa Então, só à vista' do regime tributárió é que, a rigor,
categoria não sejam destruídos, não sejam desmanchados poder-se-ia propor o percentual. Mas devemos propor o
pelo Executivo ou pelo poder público. percentual; votarei a favor, porque não podemos nos omi-
tir .dísso e devemos travar a 'luta" qUE} vai desaguar no
Então ficará colocado no art. 22 também esta garantia. plenário e que será decidida pelo povo brasileiro - essa é
Na proposta de n.o 1, também sugerida pelo Sr. Relator, a mínha oonvicção atual.
nós teriamos também a garantia do exercício das profis-
sões .já regulamentadas, uma vez que há consenso geral , Agora, quanto à questão da censura, não cabe a mes-
sobre o perigo de nós não termos essas garantias pre- ma coisa, o mesmo símile, porque a censura que o Consti-
servadas. Então gostaríamos de inserir isto na proposta tuinte Florestan Fernandes viu na Comissão de Direitos
de número 1. Humanos está, também, no .nosso projeto. Nós temos que
272 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Juiho de 1987

eliminá-la do nosso, porque no artigo 23, Parágrafo único, Tem circulado, não só pela Imprensa em meu Estado,
está escrito que: como também por jornais de amplitude como "O Estado
"Lei especial disporá sobre o respeito a cada de S. Paulo", informes segundo os quais este parlamentar
comunidade e criará um conselho de ética com- teria se posicionado nessa Subcomissão de forma contrá-
posto por membros da sociedade e vinculados ao ria à aposentadoria especial do professor e propondo 30
Ministério da Cultura para classificar os espetá- anos para as professoras e 35 anos para os professores.
culos e idíversões públicos e acompanhar os pro- Desta forma, portanto, como bem coloca o Constituinte
gramas da empresa de telecomunícação." Florestan Fernandes, seria um masoquismo; queremos
apenas solicitar de V. Ex. a a expedição de uma certidão
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - que nos seria de grande valia, para que objetivar pudésse-
Permite-me um aparte? mos que, em nenhum momento, nos colocamos contrários
O SR. CONSTITUINTE SóLON BORGES DOS REIS - à aposentadoria especial do professor e que apenas for-
Sim. mamos uma indagação no sentido de que, comprovan-
do-se o fato de que professoras, no Paraná, estavam se
O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES - aposentando na faixa etária de 39 a 45 anos, computan-
Acho que isso, naturalmente, é uma disposição que está do-se contagem de férias em dobro, se esta aplicação ao
sujeita a emendas. Nós poderiamos manter a parte do con- professor também incide no mesmo processo. Foi no sen-
selho de ética e rejeitar a outra. tido de uma indagação, até mesmo porque, como professor
O SR. CONSTITUINTE SóLON BORGES DOS REIS - da rede estadual de ensino idoParaná, portanto como parte
Tenho para mim que espetáculos de diversão pública de- interessada, jamais me furtaria e seria uma inconveniên-
vem ser livres, Imprensa deve ser livre, rádio deve ser li- cia e uma contradição colocar-me contra uma aspiração
vre, agora, a televisão é que ficaria sujeita a um conse- do magistério do meu Estado.
lho de ética não do poder público, mas da sociedade bra- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - A Presidên-
sileira - é até aí que posso chegar - descartado qual- cia recebe o registro; estou perfeitamente lembrado de que
quer tipo Ide censura polítíca e, muito menos, policial. O o episódio foi nesse rumo que V. Ex.a coloca agora. Solici-
único tropeço estaria na televisão, que é diferente do tea- to ao Secretário Sérgio e ao nosso pessoal da Assessoria
tro, do cinema, do jornal, das revistas. Então, aí teríamos que providencie a busca das notas taquigráficas para que,
que emendar, já não acompanhando o Sr. Relator - pelo a partir delas, possa-se expedir uma certidão com as exa-
menos eu não acompanho. Quanto ao dispositivo de re- tas palavras proferidas pelo Constituinte Tadeu França.
curso, não há dúvida: temos que mantê-lo e travar essa Portanto, esta Presidência defere o pedido do Constituinte
luta naqueles termos que o Presidente disse: "informal, Tadeu França e solicita de imediato as providências da
popular e nacional". Assessoria para que se materialize esse deferimento. Obri-
O grande lobby vai ser aí. gado Constituinte Tadeu França.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri- Não há mais Srs. Constituintes inscritos e tenho uma
gado a V. Ex.a Com a palavra a Sra. Constituinte Márcia proposta a fazer a esta Subcomissão. Convidado pelo Mi-
Kubitschek. nistro da Educação, estive hoje, às 9 horas, na abertura
de um seminário regional da América Latina e Caribe, pro-
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA Kli'BITSCHEK - movido sob os patrocínios da Unesco, da OEA e de outros
Estou de acordo com o Constituinte Sólon Borges dos Reis organismos internacionais, tendo em vista a erradicação
e gostaria de dizer, também que nesse Parágrafo único do analfabetismo na América Latina e Caribe. Encontrei
em relação à censura, houve, como V. E~.as se r_ecordam, os eminentes professores Paulo Freire e Moacir Godoti;
em audiência pública, aquela Sra. que veio de Sao Paulo, O Prof. Paulo Freire manifestou desejo e pediu a oportu-
Presidente do Sindicato dos Artistas, que deu essa idéia nidade de fazer uma visita a esta Subcomissão. Tal pedido
de criar uma comissão de ética, mas só e exclusivamente constituiu-se um prazer para nós. Marquei a visita para
para acompanhar as programações de televisão. Ficou bem hoje, às 14 horas, para poder compatibilizar com o seu
claro, pelo menos para IUÍ'm, naquele dia, que a maioria da horário disponível. Peço a esta Subcomissão a ratificação
Subcomissão acompanhava a idéia da Sra. professora, de do convite. Seria oportuno que o eminente Prof. Paulo
cujo nome não me recordo, de modo que acho que devería- Freire pudesse contar com a presença de todos os mem-
mos realmente modificar um pouco a maneira como esse bros desta Subcomissão. Se aprovada a nossa proposição,
parâgrafo foi e'scrito, porque a tendência da Subcomissão quero reafirmar que foi manifestação sua, que como Pre-
é realmente Ide abolir a censura e de criar uma comissão sidente desta Subcomissão, acatei com prazer.
de ética apenas para a televísão.
Concedo a palavra ao Constituinte Florestan Fernandes.
Em relação ao problema dos recursos que a União
aplicará para a área da Educação e da Cultura! concordo O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
que devemos lutar para que esses recursos sejam, real- Não sei qual a disponibilidade de tempo dos colegas, mas
mente, integrados à Constituição. acho que devemos essa homenagem a um dos mais emí-
V. Ex.as viram que quando fiz a sugestão para a Cul- nentes educadores brasileiros do momento. É uma honra
para nós. Não pudemos ouví-lo, quando tínhamos marcado
tura, eu a fiz bem alta, Infelizmente, o nosso Relator foi anteriormente uma data para prestar depoimento numa
menos "sonhador" que eu. audiência especial. Sua presença constitui uma homena-
Mas, de qualquer maneira, S. Ex. a colocou recursos de gem a esta Subcomissão, não a Paulo Freire, pedagogo
2% para a Cultura e acho que devemos pelo menos lutar que acabou levando para o exterior e, principalmente para
por esses 2 %. as nações subdesenvolvidas, o respeito e admiração pelo
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a Brasil e que, ao mesmo tempo, não encontrou em nosso
V. Ex.a Com a palavra o Constituinte Tadeu França. País o aproveitamento devido às suas técnicas inovadoras
no campo da pedagogia.
O SR. CONSTITUINTE TADEU FRANÇA - Sr. Pre-
sidente é mais uma questão de ordem que se prende a Felicito o Presidente por ter aceito a oferta do Prof.
uma sdlicitação, porque, dada a repercussão e dada ~ co- Paulo Freire e nos felicito pela oportunidade de ouvi-lo.
locação que fizemos perante os colegas, faço questao de Aqueles que não poderem comparecer, naturalmente per-
fazer esta solicitação também em público. derão preciosa conversação, porque Paulo Freire é um há-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 273

bil expositor, homem de posições firmes, que poderá tra- O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
zer-nos contribuição construtiva. palavra ao Constituinte Octávio Elísio. A Presidência já
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - No momento havia registrado antes o pedido de V. Ex.a Tendo em vista
em que o Prof. Paulo Freire se dispôs a fazer-nos essa o acordo de cavalheiros, concedo a palavra ao Constituin-
visita, entendi que era da sua vontade prestar homenagem te Florestan Fernandes.
a esta Subcomissão e o reconhecimento da Assembléia Na- O SR. CONSTITUINTE FLORESTAN FERNANDES -
cional Constituinte. Reitero a vontade desta Presidência Compreendo a posição do nosso companheiro Antônio de
no sentido de estarmos aqui, hoje, às 14 horas. Concedo Jesus. Não acho que seja fanatismo dele a preocupação
a palavra ao Constituinte Antônio de Jesus. com esses assuntos. Está no âmbito da sua atuação como
religioso e homem de consciência, defender suas convic-
O SR. CONSTITUINTE ANTôNIO DE JESUS - Sr. ções e trazer para cá as causas que defende. Respeito sua
Presidente, neste momento em que se discute nesta Sub- atitude e acho que há grande coerência da parte dele.
comissão o conselho de ética e, conseqüentemente, quan- Como é preciso conhecer o corpo de delitos, talvez fosse
do muitos opinam pela extinção da censura vinculada ao conveniente que esta Comissão solicitasse que fossem exi-
Departamento de Polícia Federal, estou com um documen- bidos alguns desses filmes, para podermos apreciar qual
tário em mãos e uma relação de filmes obscenos liberados o grau de gravidade que existe nessa perturbação dos
por medida cautelar pela Justiça Federal da 2.a Vara Fe- costumes.
deral da Seção Judiciária do Rio ide Janeiro, da 6.a Vara,
bem ~omo da 12.a Vara. Envergonho-me, inclusive, diante O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Concedo a
de V. Ex.as de ler o título desses filmes pornográficos, palavra ao Constituinte Octávio Elísio.
afrontosos aos princípios morais de cada um de nós que O SR. CONSTITUINTE OCTÁVIO ELíSIO - A preo-
estamos aqui. Se V. Ex.a me permitir, lerei alguns deles. cupação do Constituinte é coerente com as posições que
São cerca de quatrocentos liberados, como documentário. já assumiu e com a sua formação religiosa já manifesta-
Veja V. Ex.a a estranheza. Mesmo com o Conselho de da aqui, dizendo inclusive dos seus compromissos enquan-
Censura passam tais aberrações. E se for extinto? to Constituinte. Acho que é em decorrência disso que as-
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - A Presidên- sumiu esta posição. O que me parece é que há uma dis-
cia, dentro do tempo que dispõe V. Ex.a , concorda que torção em termos da análise que ele faz. Acho que é exa-
o use, nos limites do seu julgamento. No entanto, ressalva tamente pelo fato de que a censura hoje é um ato poli-
que tende a acatar, evidentemente, as decisões da Justiça. cial, pertence à Polícia Federal, é que esses tipos de ma-
Se a liberação se deu por liminar frente a uma circuns- nifestações apresentadas pelo Constituinte acontecem.
tância jurídica em vigor hoje, esta Presidência não emiti- De outro lado, a questão do cinema deve ser vista
rá nenhum juízo de valor. Portanto, não há razão para que como uma opção daquele que o freqüenta. Se o cinema
se pratique aqui censura sobre o conteúdo do pronuncia- existe, evidentemente vai assistir a este filme quem faz a
mento de V. Ex. a, que é livre para fazê-lo nos termos que opção de assistir a ele. Não haverá nenhum tipo de censura,
o desejar e nos limites físicos do tempo que tem. nenhum ato de repressão, que impeça que determinadas
pessoas assistam àquelas exibições que desejam. O que é
O SR. CONSTITUINTE ANTôNIO DE JESUS - Ve- indispensável, meu prezado colega e companheiro Consti-
jam o que foi liberado em termos de filmes em nosso tuinte Antônio de Jesus, é que esta subcomissão pense a
País: Aberrações Sexuais; O 'último Bacanal; 4. Boca do questão da Cultura, dentro de um processo mais elevado.
Prazer- A Boca Macia; Abre as Pernas, Coraçao; Acom- E quando nós todos nos posicionamos aqui, efetivamente
panha~tes para Tudo - O neg6cio é de arrepiar! - A contrários à censura, porque esta censura, repressiva na
é

Chupeta Erótica' a Doutora é Boa Pacas; A Dupla Pene- mantrestação de liberdade de expressão, tolhe as manifes-
tração do praze~; As Grandes Trepadas; Alucina~ões Se- tações efetivamente culturais do povo brasileiro. Isso que
xuais de um Macaco; A Luta pelo Sexo; A Menma e o V. Ex.a retratou aqui, efetivamente, acontece, vem acon-
Cavalo; A Mulher que 'Seduziu o Diabo. - O neg6cio está tecendo apesar da existência de uma censura políeíal, que,
tudo no diabo mesmo, é coisa do demônio mesmo. Mes- ao contrário de favorecer a cultura, tem efetivamente pre-
mo que alguém critique e digfl que um relígíoso é fa~á­ judicado o desenvolvimento da Cultura no País. Esse é o
tíco, mas numa horas dessas eu seria um covarde se nao ponto que, na minha opinião, deve balizàr a decisão desta
denunciasse isso na nossa Comissão. Continuo, Sr. Pre- subcomissão ao rejeitar a manifestação da Cultura, e
sidente: Animais do Sexo; A Noite das Penetrações; A Noi- acatar li existência de um código de ética pelo qual se res-
te Toda ao Gosto do Freguês - coisa para motel de baixa ponsabilizem aqueles que, com representação de segmentos
categori~ - A Prática do. Sexo Explícito; Afrodite; Apro- da sociedade civil, pelo qual aqueles que exercem qualquer
veitando ao Máximo na Casa dos Prazeres; A Pelada do tipo de manifestação cultural se responsabilizam pelo ato
Sexo; A Pequena Prostituta Ana; Os Bacanais; A Rainha de suas manítestações. (Palmas.)
da Pornografia; A Raiz tio Amor; e assim por diante.
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
. A situação é pior do que se pensa. Isso precisava ficar gado a V. Ex. a
registrado. Concedo a palavra ao nobre Oonstituinte Sólon Borges
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - A Presidên- dos Reis. '.
cia repete que não está entrando no mérito do que V. Ex. a O SR. CONSTITUINTE SóLON BORGES DOS REIS
está dizendo. O sinal é de que seu tempo esgotou, sem en- -- Vê-se que realmente o Constituinte Antônio de Jesus
trar no mérito do seu conteúdo. representa ponderável parcela da opinião pública e assu-
O SR. CONSTITUINTE ANTôNIO DE JESUS - Mui- me uma posição, 'Como já foi dito, coerente com a sua res-
to obrigado. Esta é a minha denúncia. Eu me sentiria co- ponsabilidade perante aqueles que ele representa.
varde se passasse por aqui e não tivesse coragem de dizer Agora, também é claro que o cinema só é visto por
isso. Está documentado e já foi julgado. Mas pensem bem: quem quiser. Mas está generalizada a pornografia em
nós, integrantes de uma Comissão como esta, deixarmos tão alto grau, tão extensa e tão profunda, que eu até suge-
passar algo assim, estaremos destruindo tudo neste País; riria que se criassem salas especiais para filmes não-por-
acaba a família, acaba tudo, não existe mais nada. nográficos, para aquelas pessoas que têm vergonha de as-
274 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLIÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

sístír a filmes não-pornográficos, pudessem ali, num am- Gostaria de dizer ao Sr. Presidente, que aqui no pa-
biente à parte, protegidos pela díscreçâo, assistir aos fil- rágrafo sobre a lei especial, que disporá a respeito de
mes que não são explorações desonestas do sexo e da mu- cada cemunidade e criará o seu conselho de ética, onde
lher. Mas acontece que o assunto nos leva a lembrar, comunidade, e criará o seu conselho de ética, onde diz:
parece que a Embrafilme financia, de preferência, os "composto por membros de sociedade vinculada ao Mi-
filmes pornográficos e deve haver algum interesse nisso, nistério da Cultura", que pelo menos ficasse escrito aqui:
porque a pornografia é uma realidade. Agora, a explora- "Membros de conselho de entidades representativas da
ção no cinema do sexo, principalmente da mulher, que só organização civil". Que ficasse aqui pelo menos isto: "da
perde com isto, aí já não é o sexo natural, é a exploração sociedade civil", pelo mesos isto, para ver se dá oportu-
desonesta do sexo, ainda que no cinema, por isso não me- nidade a algum membro, senão daqui a pouco vêm os
rece censura, ao meu ver, porque o cinema é livre a quem membros de sociedade que a gente não sabe de onde.
quiser procurar, nos faz indagar: corno que anda a Embra- Pelo menos que as instituições da sociedade civil sejam
filme nisto? Há critérios para financiamentos de filmes? representativas, para que a gente possa, pelo menos, mo-
Há prioridade realmente, como se alega, para que alguns ralizar e fortalecer um pouquinho isto aqui.
ganhem dinheiro à custa deste traço da atualidade cultu- Gostaria de poder contar com aquiescência de V.
ral universal? Na realidade, a censura não cabe neste caso. Ex.a e da Subcomissão, porque vou apresentar uma pro-
Eu acho que é aquele conselho de ética mesmo, não do posta de emenda neste sentido.
Poder Público, mas da comunidade, da sociedade brasilei-
ra, que deve classificar e opinar sobre a televisão, não O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Muito obri-
sobre teatro, nem sobre cinema, e muito menos sobre pu- gado a V. Ex.a O caminho é a apresentação da emenda.
blicações. Este o meu ponto de vista, respeitando a de-
é
Nobre Constítuínte Antônio de Jesus, V. Ex.a está já em
cisão da Justiça, que se baseia na lei, e principalmente prazo e em condições de apresentar uma emenda neste
respeitando àqueles que assumem a sua autenticidade, a sentido. A Presidência agradece a V. Ex. a e concede a
sua posição autêntica e que luta pelo que ele considera palavra ao último Constituinte inscrito, Osvaldo So-
certo. Essa gente merece respeito, seja quem for, princi- brínho,
palmente um constituinte que vem sustentar o seu ponto O SR. CONSTITUINTE OSVALDO SOBRINHO - Na
de vista contra a onda da atualidade. verdade, Sr. Presidente, eu concordo com o Constituinte
Sólon Borges dos Reis, no eventual problema de averi-
o SR. PRESIDENTE (Hermes Z'aneti) - Muito obri- guarmos qual tipo de financiamento que a Embrafilme
gado a V. Ex.a Esta presidência foi tolerante ao permitir dá a este tipo de filmes, que realmente estão sendo sub-
uma segunda intervenção dos Srs. Constituintes que já ha- sidiados, ,estão sendo patrocinados; se, na verdade estão,
viam falado, até pela razão que foi trazido um assunto, se há financiamentos para isto. Porque, na verdade, eu
a rigor não enquadrado na discussão do relatório do emi- acredito que um órgão deste, principalmente quando se
nente Relator João Calmon. Dentro desta questão, como trata de uma empresa como a Embrafilme, ela teria que
já houve intervenção sobre o assunto, ofereço a palavra financiar filmes culturais, ajudar na confecção de filmes
aos últimos dois constituintes que a solicitaram, o Consti- que venham a contribuir para o progresso, a tecnologia,
tuinte Antônío de Jesus, que pede uma segunda vez, como o progresso 'Cultural, a preservação dos bens culturais,
também outros que fizeram intervenção por duas vezes. dos costumes. Se, na verdade, está acontecendo de essa
Vou conceder 'a palavra, apenas pedindo aos dois oradores empresa financiar film,es desse tipo, nós deveríamos fa-
que sejam breves, para que possamos encerrar os traba- zer uma lei que coíbísse isso, porque temos de encarar o
lhos na parte da manhã e estarmos em condições de re- problema com mais seriedade. Não vou tão longe quanto
tomar às 14 horas, para recebermos aqui o Pr{)fessor o Constituinte Antônio Jesus, mas acho que alguma coisa
Paulo Freire, porque esta presidência entendeu que está tem que ser feita em termos de coibir certos abusos.
ratificado pela subcomissão o convite, o que os vincula à Esses dias mesmo, eu estava assistindo à televisão na
necessidade de estarem todos aqui às 14 horas. minha casa, já era uma hora da manhã, quando um
programa da sexta-feira entra fazendo strip-tease. O ne-
gócio tem que ser um pouquinho mais seguro, porque, se-
Com a palavra o Constituinte Antônio de Jesus. não, daqui a pouco, na sua casa, no seu sofá, com as suas
crianças, cada um vê o que não quer, ouve o que não quer,
o SR. CONSTITUINTE ANTôNIO DE JESUS - Eu, porque quando entra na sua casa, você, às vezes, vê sem
realmente, fico abismado e pensando para onde é que vai querer. Então, eu acredito que alguma coisa tem sue ha-
cair este Brasil, mas eu sei que, num monte de cascalho, ver e que alguma lei instituísse, depois, na Constituinte,
ainda se encontra uma pedra de diamante. esses conselhos de ética, onde o artista estivesse repre-
sentado, até para que ele julgasse - não precisa ser a
Eu quero lhes dizer que, ao invés de haver salas espe- Polícia Federal, alguém da sociedade, Igreja ou homens
ciais para aqueles que querem assistir a um bom filme, de bem, pais de família - a fim de que se pudesse for-
por que não haver salas especiais ou salas para aqueles mar um Conselho, não para criticar, nem para tirar a
que querem a pornografia? Ponham uma sala especial vontade ou a criação do artista, mas para que' ele se com-
para eles e deixem o cinema livre para aquele que quer pusesse dentro das normas atuais, dentro do comporta-
ir com a sua famílla, e sabe utilizar aquilo que deve, então, mento social e da nossa cultura, porque, caso costrárío, o
ser viabilizado a todos. Eu tenho filhos e tenho netos, e negócio, realmente, vira anarquia. Eu não sou sectário,
quero que, nesta Constituinte, fique registrado que assumi não sou metido a moralista, mas eu ocho que há certos
uma posição, que um dia eles não venham me impingir preceitos culturais e de costumes que devemos preservar,
que fui um irresponsável diante de tomadas de posição porque são importantes para a preservação da família.
aqui. Mesmo que eu perca até a minha vida, mas conti-
nuarei defendendo aquilo que eu acho que é justo para O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Obrigado a
o bem-estar de muitos, que não podem vir aqui assumir V. Ex. a
a posição que eu assumo. E nessa hora, muitos dos Srs. Esta Presidência alerta os Srs. Constituintes por uma
que até reeebem votos de pessoas que lhes confiaram de lembrança muito oportuna do 'eminente Constituinte João
alguma maneira, acho que temos que assumir uma posição Calmon, nosso Relator, de que há formulário especial
justa, equilibrada, porque toda a sociedade brasileira sabe- para a apresestação de emendas. Alerta, também, o nos-
r}). quem somos nós aqui. . so Assessor de que as emendas devem ser recebidas ape-
Julho de 1987 DIARiO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 275

nas quando apresentadas neste papel especial, neste for- salvados os destaques requeridos. Usuando da palavra, o
mulário, para evitar que, eventualmente, tenhamos de- Senhor Relator comunioou que foram substituídos em
pois o prejuízo de, em havendo recebido as emendas em parte, isto é, modificados, acrescidos ou suprimidos, os
papel não adequado e 'expirado o prazo, sei amos coagi- caputs, parágrafos ou ítens na redação anterior do Ante-
dos a não considerar as 'emendas recebidas. Insisto que projeto, através de emendas por ele acolhidas, os seguin-
seí am distribuídos papéis especiais sobre os quais deve- tes artigos: primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e
rão ser lançadas as emendas dos Srs. Constituintes. sexto. Em votação esses artigos foram referendados pelo
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK - plenário e passam a integrar o Anteprojeto final da Sub-
Por favor, uma questão de ordem. comissão. O Senhor Presídente, em seguida, procedeu a
votação dos destaques, sendo aprovados os seguintes arti-
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Com a pa- gos: segundo em seu parágrafo terceiro; terceiro em seu
lavra a Constituinte Márcia Kubitschek. caput; quarto em seu parágrafo terceiro; e sexto em seus
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK - parágrafos segundo e terceiro. Foram rejeitados Os desta-
Eu gostaria de fazer uma pergunta: esses papéis podem ques às emendas de números: 073/9, 026/7, 139/5, 121,2,
ser xerocados? As emendas podem ser recebidas nesse 024/1 e 123/9. Após o processo de votação, o Senhor Presi-
papel xerocado? dente da Comissão Temática Oito, Constituinte Marcondes
Gadelha, solicitou a palavra para comunicar aos presentes
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - A orienta- que a Comissão Temática reunir-se-á a partir Ide vinte e
ção da Assessoria é de que pode haver xerox, é de que o cinco de maio, no Auditório Nereu Ramos, a fim de discutir
documento pode ser xerocado. os Anteprojetos das Subcomissões, entre outras atividades.
A SRA. CONSTITUINTE MARCIA KUBITSCHEK - Prosseguindo, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao
Obrigada. Senhor Relator, Constituinte Eraldo Tinoco, que agradeceu
aos seus ilustres pares pela colaboração recebida durante
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Sr. os trabalhos na Subcomissão, bem assim aos assessores e
Presidente, questão de ordem. aos servidores da Secretaria pelos esforços realizados. Nada
O SR. PRESIDENTE (Hermes Zaneti) - Questão de mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por en-
ordem, para o Constituinte Chíco Humberto. cerrados os trabalhos da Subcomissão da Família, do Me-
nor e do Idoso, às vinte horas e cinqüenta minutos, cujo
O SR. CONSTITUINTE CHICO HUMBERTO - Eu teor será publicado, na íntegra, no Diário da Assembléia
encaminhei uma emenda numa xerox e eles não aceita- Nacional Constituinte, ratificando os agradecimentos do
ram, não receberam, Senhor Relator aos membros da Subcomissão, aos assesso-
O SR. CONSTITUINTE (Hermes Zaneti) - Esta Pre- res e funcionários da Secretaria, destacando a harmonia
sidência solicita à Assessoria, especialmente ao nosso Se- que sempre reinou na Subcomissão, inclusive durante a
cretário Sérgio, que peça por escrito uma orientação da votação. E, para constar, eu Antonio Carlos Pereira Fon-
Mesa sobre este assunto. Já que ele foi verbalmente in- seca, Secretário, lavrei a presente Ata que, depois de lida
tormado de que pode, esta Presídêneía pede que seja por é aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente.
escrito para evitar problemas posteriores. Faço, mais uma
vez, u~ apelo muito especial à nossa Assessoria, no senti- ANEXO A ATA DA 18.a REUNIÃO, DA SUBCO-
do de que dê divulgação nos sons da Câmara e Senado, MISSãO D1\ FAMíLIA, DO MENOR E DO IDOSO,
convidando os Constituinte, membros desta Subcomissão REALIZADA E·M 22 DE MAIO DE 1987, AS 10 :00
- e um apelo a todos, especialmente ao nosso Relator- HORAS, íNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUI-
Geral, Artur da Távola ,e ao nosso eminente Relator, GRAFICO, COR PUBLICA!ÇAO DEVIDAMENTE
Constituinte João Calmon - para que estejam conosco AUTORIZADA PEW PRESIDENTE DA SUBCO-
aqui, às 14 horas, juntamente com todos os membros, MISSAO, CONSTITUINTE NELSON AGUIAR.
Constituintes desta Subcomissão.
O SiR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Havendo
A reunião das 14 horas será uma reunião especial número regimental, declaro abertos os trabalhos da reu-
destinada a receber a visita dos eminentes professores nião da Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso.
Paulo Freir,e e M08!cir Gaboti. Passamos a palavra ao Sr. Relator.
Está encerrada a ceuníão. O SR. RELATOR (Heraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
Srs. Membros da Subcomissão da Família, Ido Menor e do
18.a Reunião Ordinária, Idoso, queremos, inicialmente, fazer uma referência à
realizada em 22 de maio de 1987 grande participação que tiveram os Srs. Constituintes na
análise da matéria, com oferecimento de, nada menos 195
Aos vinte e dois dias do mês doe maio do ano de mil emendas. Por outro lado, queremos fazer um registro íní-
novecentos e oitenta e sete, às idez horas, na Sala da Co- '0ial de que, nesta <etapa do trabalho, infelizmente, o
missão de Municípios - Anexo II do Senado Federal, reu- '~omputador não nos ajudou, não por culpa dos técnicos,
niu-se a Subcomissão da Família do Menor e do Idoso, sob mas acredito que em função, principalmente, de uma dila-
a presidência do Senhor Constituinte Nelson Aguiar, com tação ao prazo de apresentação de emendas.
a presença dos seguintes Constituintes: Roberto Augusto,
Eraldo Tinoco, Eliel Rodrigues, Eunice Michiles, Iberê Fer- A Mesa da Constituinte achou por bem ampliar o pra-
reira, João de Deus Antunes, Maria Lúcia, Matheus Iensen, zo Ide apresentação de emendas em 48 horas sem, entre-
Rita Camata, Sotero Cunha, Vingt Rosado, Antônio Câ- tanto, dilatar o prazo da SubcO'IDÍSs.o. Com isso, natural-
mara, Sandra Cavalcanti e Nelson Carneiro. Havendo mente, inclusive, em respeito à convocação anterior para
número regímental, o Senhor presidente declarou inicia- a reunião de hoje, achamos conveniente dar um tour de
dos os trabalhos e solicitou fosse dispensada a leitura da force 'para que pudéssemos etetívamente oferecer o tra-
ata da reunião anterior, que foi considerada aprovada. O balho; neste instante. Entretanto, tivemos essa dificuldade
Senhor Presidente, Constituinte Nelson Aguiar, prestou que foi, o que chamamos na linguagem leiga, de engasga-
esclarecimentos de como será procedida a votação do An- mento do computador, porque parte da matéria foi digi-
teprojeto e' das emendas apresentadas, finalidade precípua tada na Oráfica do Senado ,e a outra parte no Prodosen.
desta reunião. Colocados em votação, o Anteprojeto foi Só que a transterêncía das informações de um arquivo para
aprovado, bem como as emendas consideradas favoráveis, outro, by pass, em função exatamente do grande número
prejudicadas e contrárias, foram aprovadas em bloco, 1:'es- de emendas, <surgidas à última hora; criou uma dificulda-
276 Segunda.feira 20 OIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

de enorme, e assim, somente na madrugada de hoje, in- que, sem prejuízo das emendas e dos destaques. Uma vez
clusive com o plantão dos nossos ilustres assessores, já votado esse texto, passaremos à apreciação global das
estão todos ali a postos, mas que viraram a noite - e emendas, votando, em globo, as que foram aprovadas,
quero fazer, mais uma vez, uma referência elogiosa à de- cujo parecer é pela aprovação e, em seguida, também sem
dicação desta equipe - somente na madrugada de hoje, prejuízo dos destaques, também em globo, aquelas que
pôde haver a compatibilização do texto das emendas com foram objeto de parecer em contrário. Em seguida a esta
os respectivos pareceres, no computador, o que nos impe- votação, teremos, um a um, o voto das matérias destaca-
diu de distribuir, ainda no dia de ontem, COmO era do nos- das. Cada uma das matérias destacadas deverá ser objeto
so propósito, a matéria. de uma votação específica.
Devo dizer que dispomos de três relatórios para facili- Vale, apenas, a título de redundância, mencionar que,
tar o trabalho dos 'Srs. O primeiro relatório, este mais por exemplo, uma emenda que foi aprovada em globo, ou
volumoso, temos pela ordem numérica Idas emendas de pelo parecer favorável, ou pelo parecer vencido, ela poderá
1 a 195, o texto da emenda, o parecer e a conclusão; se depois ser modificada pela votação e pela aprovação de
pela aprovação, ou pela rejeição ou pela aprovação par- uma outra emenda que altere aquele texto. Então, na
cial da emenda. Este outro relatório de poucas páginas, ele realidade, teremos o texto aprovado em três etapas:
traz a relação das emendas aprovadas, seus respectivos numa primeira etapa o anteprojeto; numa segunda etapa
números, o autor, essa referência aí é um problema mais pelas emendas aprovadas, pelas emendas de parecer fa-
técnico do computador, as emendas aprovadas parcial- vorável; e 'em terceiro lugar, e talvez, o mais importante,
mente, e as rejeitadas. pela votação das emendas que forem destacadas.
Ainda há um outro relatório que está sendo impresso, Se a explicação não estiver 'clara, depois, natural-
no computador, que traz essas mesmas informações cru- mente, o Sr. Presidente, dará os detalhes subseqüentes.
zadas de outra forma. Ou sej a, temos o texto proposto no
anteprojeto, as emendas referentes àquele artigo ou àque- P,eço a um dos componentes da secretaria para me
le parágrafo, e depois, os pareceres idessas respectivas ajudar. Vamos fazer um comentário a respeito das emen-
emendas. É Apenas um relatório adicional que vai facili- das aprovadas.
tar até mais a etapa de redação final do trabalho. A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Queremos dizer também, de uma forma prelímínar, Sr. Presidente, para proceder ao pedido de destaque, existe
que procuramos aproveitar, ao máximo possível, as emen- um formulário especial ou pode ser feito oralmente?
das oferecidas. Aquelas que foram rejeitadas não sígnífíca, O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Secretaria já
em absoluto discordância quanto ao mérito, mas verifica- tem disponível formulário para destaque. Após o comen-
mos que muitas delas, no nosso juízo, apenas davam tário geral que farei sobre a apreciação das emendas, o
uma red~ção um pouco difirente sem, e.ntretanto, ~Eerf~~ Sr. Presidente dará um tempo para que sejam redigidos
rir rio mérito da questao; outras, repetiam proposiçoes Ja os pedidos.
aceitas' outras em que a emenda que foi aceita esclarecia
melhor' a matéria, ou estava, do ponto de vista redacional A Emenda n.O 4, do ilustre Oonstdtuínte Ervin B<Jn-
da técnica legislativa, mais 'apropriada; e ainda, em alguns koski, propõe a inclusão de um parágrafo ao art. 6.°, com
casos, emendas que, a nosso ver, não cabiam nesta Sub- a seguinte, Iledação:
comissão. Tivemos, só para exemplificar, um bom número "Os proventos das aposentadorias e as pen-
de emendas referentes ao pré-escolar. Embora tenhamos sões serão reajustadas nas mesmas proporções
aí, no artigo que diz respeito à assistência ao menor, a dos reajustes coneedídos aos trabalhadores em
obrigação do Estado em assistir a criança até os 6 anos, atividade."
e nisso estaria englobado o pré-escolar, mas em relação à
forma desse atendimento; ou à idade que se possa carac- líl, então, uma emenda aditiva, com a inclusão das pen-
terizar como pré-escolar, entendemos que é um assunto sões, além dos proventos da aposentadoria. Somos pela
referente à Subcomissão da Educação. aprovação pelo fato de ser justo aplicar às pensões o mes-
mo tratamento a ser dado aos proventos da aposenta-
como teremos, a partir de segunda-feira, a conjuga- doria.
ção dos relatórios das três Subcomissões, é evidente,
que uma sugestão ou uma opinião ido constituinte, que A Emenda n,o 2, da ilustre Constituinte Rita Camata,
não estej a amparado no parecer final da Subcomissão de oferece ao § 2.° do art. 3.° a seguinte redação:
Educação e Cultura, esta matéria pode ser objeto de emen- § 2.° As pesquisas e experiências de gené-
da no âmbito da Comissão temática. Achamos, entretanto, tica humana dependem da aprovação dos órgãos
que não era o caso de incluirmos 'essa definição de pré- 'competentes, não sendo permitida:
escolar na nossa Subcomissão.
I - qualquer prática que atente contra a
Não sei se o Plenário gostaria de que fizéssemos vida, a integridade física e a dignidade da pes-
comentários individualizados a respeito de cada uma das soa humana;
195 emendas, ou se faríamos apenas comentários a res-
peito daquelas que foram acolhidas. Talvez isso possa es- II - inseminação post mortem, a matemí-,
clareoer melhor, para efeito de votação. Permito-me, sem dade substitutiva, os bancos de embriões, a ma-
prejuízo das orientações do Sr. Presidente, dizer, mais ou nipulação de embriões humanos, a fe,cundação
menos, como deverá ser o processo de votação, para que in vitro, a críoeonservação de embriões 'com fins
cada um se situe convenientemente, de acordo com a comerciais ou experimentais."
matéria e suas opiniões.
Somos pela aprovação da emenda, uma vez que o
Deveremos, uma vez apresentar o trabalho, e não se texto proposto é mais abrangente, tornando o assunto
trata de discussão, porque a discussão da matéria já está mais claro, Supre, inclusive, a díseussão havida a respei-
encerrada devemos ter algum tempo para o pedido de to do termo in vitro. Rendi-me aos sólidos argumentos
destaque. Qualquer dos srs. membro da Comíssão, que qui- do nosso Presidente e dos> nobres Constituintes.
ser fazer um pedido de destaque de emenda poderá fazê-lo.
Estou chamando pela ordem deste tormuláno, por-
Deveremos, em primeiro lugar, votar o projeto, o an- qué facilita o acompanhamento, uma vez que está pela
t~rojeto orígínal, naturalmente que. votá-lo sem de&~a:- oide;m numéríee. >
Julho de 1987 DIARiO DA ASSEMBLéIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 277

Voerifiquem que, logo após o cabeçalho, numa parte A Emenda n.o 9, do ilustre Constituinte Ervin Bon-
entre essas linhas, tem o número: Emendlt n.o 8C - da koski, diz:
Comissão - 0003. O dígito é apenas de controle. Quando "Acrescentem-s'e ao a:rt. 6.0 os seguíntes pará-
digo "Emenda n.O 3", estão impressas' pela ordem numé- grafos:
rica, 'como se fossem páginas numeradas.
§ 2.° O direito à aposentadoría é assegura-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - do 'ao homem aos 65 anos ,e à mulher aos 60 anos
Bela ordem, Sr. Presid-ente. Ouvi a explícação de V. Ex.a , de idade.
logo no início, estou acompanhando, e verifico que várias
emendas, dadas como rejeitadas, estão 'com uma justifi- § 3.° Ao idoso, não amparado pela Prevídên-
cação, dizendo que assim o foram por já terem sido apro- eía Social, é assegurada a assistência financeira
veitadas em emendas anteriores ou já estarem no corpo do Estado para a sua sobrevivência."
do anteprojeto. V. Ex.a declarou aquí, no início, que as Somos Ilela aprovação, 'em primeiro lugar, por es-
emendas que se encontrassem em tal situação seríam tender a todos os' idosos, Independentemente de compro-
classificadas entre as prejudicadas. oertoj vação d-e trabalho, o apoio de que- necessítam; em segun-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Devo explicar, do, por estabelecer limites dírereneíados para o homem e
ilustre Constituinte Sandra Cavalcanti, que nessa clas- mulher, medida que vem sendo comumente ad-otada, em
sificação, é justa a sua ponderação. face da diferenciação biológica.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Passemos agora à Emenda n.O 22, do ilustre Consti-
A rejeição de uma emenda cuío teor coincide inteira- tuinte Nelson Carneiro, que oferece a seguinte redação:
mente com o de emenda já aprovada, significará, da par- "Desdobre-se o parágrafo do art. 6.°, do an-
te da elaboração dos nossos trabalhos, um conflito e uma teprojeto, em dois parágrafos: § 1.0 - Reajustam-
incoerência. se os proventos da aposentadoria e' pensões nas
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Essa classifica- mesmas proporções dos reajustes concedidos aos
ção foi feita no computador. Com essa dificuldade, que trabalhadores em atividade."
expliquei há pouco, não tivemos, em absoluto, tempo de Objeto já de três emendas anteriores com o
fazer conferência da última emissão do computador. mesmo teor.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - § 2.° O idoso, não amparado pela previdên-
A minha questão de ordem é .a seguinte: no trabalho que cia Social, faz jus, aos sessenta e cinco anos de
vamos fazer em seguida, todas as vezes que a justificati- idade, a uma renda mensal vitalícia no valor de
va impressa no avulso disser que a emenda foi rejeitada, um salário mínimo."
porque aproveitada em artigo, seria bom que nós mesmos
alterássemos para que ° computador pudesse passar a Somos pela aprovação da emenda, por estender os
benefícios aos idosos que' não tenham comprovação de
limpo corretamente.
trabalho e aos pensionistas.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - De acordo.
Prejudicada em função da aprovação de uma segunda. Devo dizer, por exemplo, que neste caso, nós temos
aí um pequeno conflito, uma vez que uma emenda; ante-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco} - A Emenda n.O 3, ríor, diferencia a idade 'entre homem e mulher, e esta es-
tem a seguinte redação: tabelece que, apenas aos sessenta ·e eínco anos, sem di-
ferenciação .de sexo, uma renda mensal vitalícia. Mas
"Dê-se ao parágrafo único, do art. 6.°, a se- coloca aqui um pormenor a mais, que é especificando o
guinte redação: valor de um salário mínimo.
Os proventos da aposentadoria; e as pensões, Então, naturalmente, aprovadas as duas emendas,
nunca inferiores ao salário mínimo, serão rea- não havendo destaque 'e não havendo modificação no tex-
justados nas mesmas proporções idos reajustes to, a redação final terá que compatibilizar as duas emen-
concedidos aos traoalhadores 'em atividade." das. Isto é, diferenciando a idade entre homem e mulher
e acrescentando a questão do valor de um salário mí-
A emenda tem o mesmo teor da de n.O 4. Ambas fo- nimo. é

ram aprovadas, Não há conflito entre as duas. Vamos, agora, à Emenda n,o 25.
A Emeuda n,o 5, do ilustre Constituinte Er"Vin Bon- A Emenda n.? 25 pede que ao aJrt. 30, § 2.0, adite-se:
koski, diz -o seguinte: "A venda de órgãos de pessoa viva."
"O parágrafo único do art. 6.° passa a ser )!: do ilustre Constituinte Nelson Carneiro.
§ 1.°, com a seguinte redação:
Somos pela aprovação da smenda, embora seja o as-
Os proventos da aposentadoria e as pensões sunto da Subcomissão de Saúde ,e Seguridade e Meio Am-
serão reajustados nas mesmas proporções dos biente. Embora entendendo que não seja própría, desta
reajustes concedidos aos traoalhadores em ati- Subcomissão, mas dentro daquele argumento de que uma
vidade." matéria que seja duplicada possa ser corrigida depois, na
Comissão de Sistematização, nós acolhemos a inclusão
Trata-se da mesma matéria. Está aprovada a emenda. desta parte.
Estamos analisando, neste momento, apenas as emen- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI
das aprovadas. Sigam, p.():J; obséquío, a orientação da Pela ordem, Sr. Presidente.
emendas aprovadas. Sigam, por obséquio, ,a orientação da
numeração da - emenda que está na parte superior do O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Pois. não.
formulário. Temos, inicialmente, no quadro o nome do A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALOANTI
autor, a unidade federada e o partido. Em seguida, o nú- IBso significa que, dentro do anteprojeto a ser votado por
mero da emenda. Sigam a seqüência, naturalmente -sal- esta Subcomissão, essai matéria não vai figurar mas: ela
tando algumas emendas que não aparecem como aIlro- será enviada à Comissão como uma sugestão àIlrOVada?
vadas, ' A minha, pergunta é porque, -.estando eu lá, na Oomís-
278 Segunda·feira 20 DIARiO DA ASSEMBLÉiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

são de Sistematização, já seria uma primeira forma de na comunidade, defenda sua saúde e bem-estar,
trabalho que me parece muito inteligente, essa de sepa- quando possível em seu próprio lar, garanta as
rar, agora, nas Subcomissões, matérias que, ou sejam condições de vida e supere o isolamento e a dis-
objeto de lei complementar, ou sejam objeto de lei ordi- criminação de qualquer natureza."
nária, ou sejam objeto de um outro parágrafo, ou um O objeto da emenda é acrescentar essa expressão:
outro inciso, ou um outro a:rtigo da Constituição, mas que "'9.uando possível em seu próprio lar". Somos pela aprova-
não digam respeito diretamente a lesse capítulo. -Essa é çao da emenda no que diz respeito à manutenção no seio
realmente uma idéia muito boa de V. Ex.a, e vai facilitar da família, Quanto· ao restante, já está assegurado na re-
muito o trabalho. dação original.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Ilustre Consti-
tuinte, nós temos aí duas questões para decidirmos: em Emenda n.? 32, também do Constituinte Nelson Carnei-
primeiro lugar, não seí até que ponto nós poderíamos ro, redige-se assim:
aprovar uma matéria não a incluindo no anteprojeto que "Os filhos, nascidos ou não da relação do ca-
encaminharemos à comissão temática. Dentro desta dú- samento, têm iguais direitos e qualificações proibi-
vida, me parece que talvez fosse mais próprio nós colo- bas nas leis ou repartições oficiais quaisquer de-
carmos a matéria no texto, deixando que a Comissão de signações díscríminatórías, relativas à filiação".
Sistematização, no seu trabalho de triagem, identifique
e faça essa separação, colocando o texto onde a Comissão Somos pela aprovação, uma vez que a proposição am-
de Sistematização achar mais conveniente. plia a proteção aos filhos. É um detalhe a mais, natural-
Com relação à matéria, que no nosso entender seria mente, que o texto original, ao proibir discriminações, já
de lei ordinária, já tivemos oportunidade, 'em debates an- vedava essa discriminação nas repartições oficiais, 111as
teriores, de apresentar uma sugestão para que todos essas entendemos que não prejudica. Acolhemos a emenda.
matérias sejam, naturalmente, organizadas e 'encaminha- A Emenda n.O 33, também do Senador Nelson Carneiro,
das depois à Mesa da Constituinte, sugerindo que sejam redige-se assim:
destinadas à Câmara ou ao Senado para um trabalho
posterior. "Para efeito da proteção do Estado é reconhe-
cida a união estável entre homem e mulher como
Eu vi aquí matérias muito bem 'colocadas, com deta- entidade familiar. A lei facilitará a sua conversão
lhe muito precisos, mas que, no nosso entender, deveriam em casamento."
ser objeto de legislação ordinária para que o texto cons-
titucional não fique tão detalhista, inclusive em cer- Somos pela aprovação. A expressão, além de aperfei-
tos aspectos que, entendemos, possam sotrer modificações çoar o texto, evita a conotação de que o E'stado estimula o
mais prontas de 'acordo com a própria evolução da socie- concubinato.
dade. A Emenda n.> 37, do Constituinte Iram Saraiva, acres-
Emenda n.> 27, ainda do ilustre Constituinte Nelson oenta ao § 6.°, do art. 1.0 dando-se ao § 5.° do mesmo arti-
Carneiro. go a seguinte redação:
- Ele propõe uma nova redação ao artigo refel'ente ao "A famílía, célula básica da sociedade, tem di-
menor. Redige-se assim: reito à proteção social, econômica e jurídica do
"O trabalho do menor será regulado em le- Estado com vistas a realização pessoal dos seus
gislação especial, não sendo permítído o íngres- membros.
00 ,de menores de 14 (quatorze) anos no mercado
de trabalho. O sistema educacional lhes assegu- § 5.° A nulidade do casamento pode ser decla-
rará alimentação e preparo para o trabalbo, atra- rada em qualquer época, se for comprovada a nOO-
vés inclusive de aprendizado em estabelecimentos validade de sua origem. O casamento poderá ser
especializados." anulado em qualquer época, se forem comprovados
fatos existentes, no momento de sua celebração,
É uma emenda aditiva, para incluir a possibilidade que contestem sua validade ou se houver sido ce-
de uma legislação tratar do problema do aprendízado em lebrado como vício."
estabelecimentos .especializados.
Somos pela aprovação somente no tocante ao § 5.°
Devo diZier que, a esse propósito, nós acolhemos ou- mediante nova redação. Pela rejeição das demais exposi-
tras emendàs que dão detalhes a essa questão. Então, te- ções, tendo em vista que o texto do anteprojeto já atende
remos oportunidade de ainda apreciar esta matéria. Aco- às preocupações do autor. Aprovação parcial, pois.
lhemos a emenda do eminente Senador, reconhecendo
que o sistema educacional deve assegurar aos menores, Rendemo-nos aos argumentos da discussão, no sen-
alimentação e oportunidade de aprendízado em estabele- tido de não figurar no texto constitucional o problema da
cimentos especializados. anulação. Nas discussões, aqui, vários Constituintes defen-
deram que o problema da anulação como já está regulado
A Emenda n.o 28, também do Constituinte Nelson o prazo de dois anos, seria satisfatório. Então, permanece
Carneiro, sugere: no texto apenas a questão da nulidade, com acolhimento
"Cancele-se a expressão abandonados." de várias emendas a esse respeito.
Isso no que diz respeito ao problema da adoção. Somos Vamos à emenda- n.O 53.
pela aprovação, dado o fato de que a supressão do termo
abandonados abre espaço para um número de beneficia- A SR.a CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
dos com a adoção, uma vez que muitos menores riâo-aban- Peço a palavra pela ordem, Sr. Presidente.
donados, vêm a- ser adotados por motivos diversos. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Pois não, con-
-- A Emendá n.O 29, também do Constituinte Nelson Car- cedo a iPala'V1'a à nobre Oonstituinte Sandra Cavalcanti.
neiro, redige-se assim: A BR.a CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Já
"O Estado e a sociedade têm o dever de am- se pode tentar aqui, neste momento, uma mudança na re-
parar as pessoas idosas, mediante políticas .e pro- dação só para efeito de melhorar o texto? Porque o casa-
gramas permanentes que assegurem a participação mento nunca é anulado, ele é declarado nulo.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 279

o SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - É possível que mesmo sentido eram consideradas aprovadas ,e em outros,
outras emendas j á amparem isso. Então, a sugestão é no rejeitadas.
sentido de que, depois da apreciação de todas as emendas, O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - É em função,
isso possa ser verificado e me parece que seria apenas uma ilustre constituinte, da explicação que já dei há pouco.
sugestão para a redação final, não sendo ... O computador só emitiu esse relatório na madrugada de
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - V. Ex.a me hoje. Tínhamos uma entre duas opções: razermos uma
permite? Nós temos dois institutos do Direito: o da anula- conferência rigorosa e não podermos iniciar o processo
ção e o da nulidade. de votação, como marcado, ou então estarmos sujeitos
a essas pequenas falhas.
A SR.a CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - No
caso aqui é o Ida nulidade. Mas, diante da sugestão da ilustre COnstituinte San-
O SR PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Exatamente, dra Cavalcanti, acredito que essa questão poderá ser re-
o da nulidade. solvida e a assessoria poderá, logo em seguida, fazer as
retífícações, nesse aspecto, para que todas sejam consi-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - deradas aprovadas, ou no máximo a primeira considerada
Então, se é o da nulidade, ele é declarado nulo, não é aprovada e as demais prejudicadas.
anulado. E aí é importante, porque são duas coisas com-
pletamente diferentes. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - parece-me,
e essa foi a orientação do Relator, que as idênticas, as
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Salvo 'engano, iguais, todas "lerão consideradas aprovadas. Porque, na
houve emenda a esse respeito. realidade, o problema da numeração é muitas vezes um
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI problema burocrático.
Houve? A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - São tantas as É da boa técnica legislativa, porque ela foi aprovada.
emendas, que eu já não estou tão seguro. Mas vamos O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Exatamente.
verificar. Se não houve, caberá ao Presidente deflnír Então, seria bom, depois, os nossos ilustres assessores
como a matéria deva ser tratada. fazerem uma verificação, porque o computador tinha, as
A Emenda de n.O 53-, da ilustre Constituinte Maria díversas classificações da emenda, num código e a im-
Lúcia; altere-se o § 2.0 do art. 4.°, do anteprojeto, dando- pressão desse código, se aprovada, se rejeitada, se apro-
se a seguinte l'I€dação: vada parcialmente ou prejudicada, pode não ter havido
essa revisão pela falta de tempo ou pela impossibilidade
"O direito à vida, à saúde e à alimentação de fazê-Ia e, simplesmente, o problema do código do com-
é assegurado desde a concepção, devendo o Es- putador ser modificado, a conclusão se modificaria.
tado prestar assistência àqueles cujos pais não A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
têm condições de fazê-Ia." Mas, mesmo assim o trabalho está muito bom.
Acolhemos a emenda proposta que- aprimora, enri-
quece o texto original. É a inclusão da expressão "O di- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Muito obrigado.
reito à vida". Foi objeto também de várias emendas. Por A seguinte é a Emenda n.o 71, ainda do ilustre COns-
isso, todas estão, neste sentido, acolhidas. tituinte João de Deus Antunes. No § 4.° do art. 4 ° do
A Emenda de n.O 63, do ilustre- Constituinte Sotero anteprojeto, ill.pÓS a expressão "mercado de trabalho",
Cunha, também no sentido de que seja suprimido no °
acrescente-se seguinte:
art. 5.0, o termo "abandonados". É o problema também "Salvo aprendizado em estabelecimentos es-
da questão da adoção. Esta emenda foi acolhida. peclalízados,"
A Emenda n.O 65, também do ilustre Constituinte É o mesmo teor da emenda do ilustre Constituinte
Sotero Cunha. Dê-se ao § 1.0, do art. 3.°, a seguinte re- Nelson Carneiro. Por conseqüêncía, neste caso não houve
dação: falha, ambas aparecem como aprovadas.
"Os programas de planejamento familiar le- A Emenda n.O 72, também do ilustre Constituinte João
varão em conta as condições de haoítaçâo, saú- de Deus Antunes. Suprima-se o § 5.°, do art. 1.0, do ante-
de, educação, cultura, lazer 'e segurança a serem projeto.
conferidos à família."
Somos pela aprovação em parte, acolhendo a supres-
Somos favoráveis à aprovação da emenda. O acrés- são relativa a "anulação do casamento em qualquer tem-
cimo da palavra "segurança" torna o texto mais com- po". li: também uma emenda semelhante a anterior. Como
pleto. ela se ref-eria à íntegrídade do § 5.°, que trata da anula-
ção e da nulidade, consideramos parcialmente aprovada,
A Emenda n.o 67, do ilustre Constituinte João de no que diz respeito à anulação.
Deus Antunes. No § 2.°, do art. 3.° do anteprojeto, subs-
titua-se a palavra "aprovação" por "autorização". O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Se-
nhor Presidente, peço a palavra pela ordem.
Somos favoráveis à aprovação da emenda. A substi-
tuição da palavra "aprovação" por "autorização" confere O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Pois não.
mais precisão ao texto. É naquela questão das experiên- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - La-
cias genéticas, em vez de ser pela aprovação fica pela mento ter chegado tarde, porque os compromissos são
autorização. muitos. Mas eu gostaria de saber se V. Ex.a ao aprovar
AÉmenda n.o 70, também do ilustre Constituinte JoãQ essa emenda, é porque aprovou a outra que excluia todo
o art. S.O?,
de Deus Antunes. No § 4.° do art. 3.0, dizendo que proíbe-
se a: comercialização de órgãos humanos. A mesma ques- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Já apreciamos
tão já apreciada na emenda anterior. uma. anterior que retira a anulação do casamento.
A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Es- ,. O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - V. Ex.a,
tou observando que;: em alguns casos, 'emendas. com O então, mantém a nulidade?
280 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sim. Mantenho O texto já se encontra incluído na Emenda n.O 2, de
a nulidade. maneira mais abrangente. Aceitamos a expressão "autori-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mas, zação prévia" e rejeitamos o restante.
com a devida vênia, acho que há uma confusão muito Quer dizer, como a matéria já estava contida, ao meu
grande. A nulidade do ato jurídico, até na emenda que ver, com mais detalhes na Emenda n.o 2, nós a acolhemos
apresentei, demonstrei que a nulidade é uma tradição em na parte referente à "autorização prévia".
todo o Direito do mundo, que a nulidade pode ser argüida
em qualquer momento, por qualquer pessoa, inclusive A SRA. CONSrrITUINTE SANDRA CAVALCANTI
pelo Ministério Público. De modo que, se pusermos na Pela ordem, Sr. Presidente.
Constituição que a nulidade pode ser argüida a qualquer O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Pois não.
ltempo é repetir um truísmo jurídico.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - V. Ex.a tem todo A SRA. OONBrrITUINTE SANDRA OAVALCANTI
'O direito de solicitar destaque à sua emenda e o Plenário
Aqui, mais uma vez, houve uma complicação no código,
'apreciar de maneira livre e soberana. porque ela é aprovada inteira. O que vai ser aprovado dela,
apesar de ser uma parte, não significa que ela não tenha
Não sei se ficou claro, ilustre Constituinte. Após essas sido aprovada. Se ela é aprovada parcialmente significa
~preciações será aberto um prazo pelo Sr. Presidente para que uma parte só foi aprovada e uma outra não.
'o requerimento de destaques. Então, V. Ex.a poderá fazê-
10 e o Plenário, naturalmente, decidirá o que fica mais _ v:amos passar isto a limpo, dando-a como aprovada,
próprio ao texto. Agradeço. nao e?
O SR. RELATOR (Eraldo Tínoco) - Então, nós fica-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Des- mos assim.
culpe-me ter interrompido, mas é porque, infelizmente,
não tinha podido chegar a tempo. A Emenda n.O 90, também ido ilustre Constituinte Nel-
son Aguiar.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - É sempre um
privilégio ouvir o ilustre 'conterrâneo. ALtere-se a redação do § 3.0 do art. 1.0:
A Emenda n.? 74, do ilustre Constituinte Sotero Cunha. "Entende-se por entidade familiar, para efeito
de proteção do Estado, a União estável entre o
Dê-se ao § 3.°, do art. 4.°, a seguinte redação: homem e a mulher e seus dependentes."
"As crianças e adolescentes em situação irre- Aqui inclui-se a expressão, "seus dependentes" no con-
gular, sem prejuízo da responsabilidade civil ou ceito de entidade familiar. Somos pela aprovação da ex-
penal dos pais, é assegurada a assistência do Es- pressão aditiva, o texto do parágrafo torna mais clara a
tado que os protegerá contra todos os tipos de redação e amplia convenientemente o conceito de entida-
discriminação, opressão ou exploração. Somente de familiar.
é permitido o regime de abrigo especializado nos Devo dizer que, aproveitando também a emenda do
casos de infração prevista na legislação própria." ilustre Oonstituinte Nelson Carneiro, a redação final do
Aqui, também, trata-se daquela retirada da expressão artigo ficará, esta que está aí, acrescido da expressão de
"confinamento". Havia emendas no sentido de substituir que "o Estado facilitará a sua conversão em casamento".
por "internamento", e havia também uma discussão sobre A Emenda n.O 91, do ilustre Constituinte Nelson Aguiar:
a semântica, mas a experiência e o saber, do ilustre Cons-
ti,tuinte Sotero Cunha, nos deu uma redação que, acredi- "Dê-se nova redação ao art. 5.0, suprimindo-se
tamos, supre inteiramente todas as preocupações aqui de- o termo "abandonados" e substituindo-se a ex-
batidas. Somente é permitido o regime de "abrigos espe- pressão "que a Ieí estabelecer" por "da lei."
cializados", nos casos de infração previstos na legislação Então, o texto ficaria:
própria.
"a adoção ide menores" - A expressão "abandona-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Quero para- dos" já foi prevista em outras emendas - "por
benizá-lo inclusive pela felicidade da expressão: "abrigos brasileiros e estrangeiros radicados no Brasil, será
espeeíalízados, muito boa. estimulada pelos Poderes Públicos com assistência
jurídica, incentivos fiscais e subsídios na forma
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Emenda n.? da lei."
75, d-o Ilustre Oonstituinte Sotero Cunha:
Somos pela aprovação, dado o caso de que a supressão
"Dê-se ao § 1.0, do artigo 4.°, a seguinte reda-. do termo "abandonados" abre espaço para um número
ção: o direito à vida, à saúde, à alimentação é maior de beneficiados com a adoção, uma vez que muitos
assegurado, etc., etc ... " menores não abandonados vêm sendo adotados por mo-
É a inclusão da expressão "o direito à vida". tivos diversos.
A garantia de subsídios fornecidos pelos Poderes Pú-
Acolhemos a emenda proposta que aprírnora e enri- blicos é importante para suprir a necessidade das famí-
quece o texto original. Também aí não houve erro do lias carentes que adotam o menor. Enquanto que a alte-
computador, e a emenda está aprovada como deveria estar. ração no texto original, no final do artigo, visa simplificar
A Emenda n.o 88, do ilustre Constituinte -Nelson Aguiar,' a sua redação.
é aprovada parcialmente: A Emenda n.O 92, também do Constituinte Nelson
"Transforme-se o § 2.°, do art. 3.0, em artigo Aguiar:
com a seguinte redação: As pesquisas em genética "Substitua-se o art. 6.° e o seu parágrafo úni-
humana dependem de autorização prévia dos ór- co:
gãos competentes, sendo vedada qualquer prática
que atente contra a vida e a dignidade humana, Ao idoso é assegurado o direito ao apoio eco-
e sua utilização para fins comerciais." nômico, à moradia e ao convívio familiar e comu-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 281

nttárío que evite e supere o seu isolamento e se- cíal, independentemente da qualidade de segurado idos
gregação." seus pais.
"Parágrafo único: Acima de 65 anos, são-lhes Na justificativa, o Constituinte lembra, inclusive, o
assegurados proventos mensais vitalícios não in- caso de uma criança em dificuldades de saúde, de ser re-
feriores a um salário mínimo, reajustados nas jeitada e não ser atendida num posto do Inamps, pelo
mesmas proporções dos reajustes concedidos aos fato de não trazer a carteira de segurado idos seus pais.
trabalhadores em atividade." A Emenda n.O ,113, do ilustre Constituinte Cássio
Somos pela aprovação da emenda, no que diz respeito a Cunha Lima:
estendero amparo a todos os idosos, independente do fa- "Modifique-se o § 3.° do art. 4.° do antepro-
to de comprovarem ou não tempo de trabalho, também no jeto para o seguinte:
que se refere a garantia do rendimento mínimo.
A emenda está aprovada, naturalmente com outras Às crianças e aos adolescentes em situação
emendas a respeito deste art. 6.° também são aprovadas; a irregular, sem prejuízo da responsabilidade civil
redação final terá que comportar todos aqueles textos que ou penal dos pais, é assegurada a assistência do
vierem a ser aprovados. estado, que os protegerá contra todos os tipos de
discriminação, opressão e exploração. Somente é
A Emenda n.O 95, do Constituinte Meira Filho: permitido o regime de internamento, nos casos
"Ao Anteprojeto da Família, do Menor e do de infração, previstos na legislação própria."
Idoso, acrescente-se § 6.° do art. 1.0 e dê-se ao
§ 5.° do mesmo artigo a seguinte redação:
Nós aproveitamos a idéia, mas naturalmente que com-
binada com a do ilustre Constituinte Sotero Cunha, "inter-
A família, célula básica da sociedade, tem di- namentos em entidades especializadas".
reito à proteção social, econômica e jurídica Ido
Estado, com vistas à realização pessoal dos seus A Emenda n,v 116, do ilustre Constituinte Roberto
membros. Augusto:
§ 5 ° Uma vez comprovada a não validade Emenda aditiva, § 6.°
do casamento, este poderá ser declarado nulo em O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Sr. Relator,
qualquer época." vamos interrompê-lo, porque temos a presença do ilustre
É a emenda a que eu me referia que talvez atenda à Presidente da Comissão Temática, Constituinte Marcondes
preocupação da ilustre Constituinte Sandra Cavalcanti. Gadelha, que desej a trazer uma informação para nós.
"Uma vez comprovado O fato, e anterior à O SR. CONSTITUINTE- MARCONDES GADELHA -
união conjugal, que conteste a sua validade, ou Ilustre Relator, meus colegas, eu quero, inicialmente, e
comprovado vício na realização do casamento, este de maneira muito su-cinta, me congratular por esse tra-
poderá ser anulado em qualquer época." balho patriótico, que tem sido conduzido com brilho, com
proficiência, levando à conclusão em tempo hábil, dentro
Somos pela aprovação, no 'tocante ao § 5.°, mediante do prazo, de todas as responsabilidades e obrigações desta
nova redação. Pela rejeição das demais disposições, tendo subcomissão.
em vista que o texto do anteprojeto já atende às preo-
cupações do autor da emenda. Aprovação parcial, portan- Pedi uma breve interrupção ao Sr. Relator, para dar
to. um aviso: ssgunda-feíra começam os trabalhos da Comis-
são n,v 8, e, evidentemente, tínhamos que discutir algu-
É esta a emenda a que me referia, que falava não na
nulidade, mas declarado nulo. mas coisas referentes à locação, prazos etc. Quero comu-
nicar que havia um certo desconforto dos companheíros
A Emenda n.O 99, também do Constituinte Meira Filho: em relação ao local, porque se entendia que em nenhuma
das comissões do Senado haverá espaço sutíeíente para
"Dê-se ao § 4.° do art. 4.° a seguinte radação: abrigar os 63 membros das três subcomissões reunidas.
É vedado o ingresso ide menores de 14 anos no Assím sendo, ouvido o Relator-Geral, Constituinte Artur
mercado de trabalho, facultando-se-Ihes, porém da Távola, tomei a iniciativa de reívíndícar para o fun-
uma aprendizagem em estabelecimentos especiali- cionamento da Comissão n.> 8 o Auditório Nereu Ramos,
zados. Veda-se, igualmente, o trabalho noturno ou da Câmara dos Deputados. Essa foi uma solicitação que
em locais perigosos ou insalubres, a menores de me foi conduzida pelo relator, que certamente deve ter
18 anos." captado essa inquietação, de modo que, na conversa com
A idéia de possibilitar a "aprendizagem em estabele- o Presidente Ulysses Guimarães, tivemos a plena anuên-
cimentos especializados" já tinha sido objeto de duas ou- cia. Quero anunciar que nos instalaremos na segunda-
feira às 10 horas para o recebimento dos anteprojetos
tras emendas, mas é que o ilustre Constituinte acresce o das subcomissões e discussão de algumas normas internas
problema de proibir "o trabalho noturno ou em locais pe- de trabalho da nossa comissão.
rigosos ou insalubres, a menores de 18 anos". Acata-mos,
portanto, a emenda. Vou dar uma idéia muito superficial de prazos: come-
A Emenda n. O 112, do ilustre Constituinte Cássio çamos no dia 25, e o prazo do R,elator, Constituinte Artur
Cunha Lima: da Távola, termina no dia 7 de junho; os trabalhos da
comissão terminam no dia 15 de junho de 1987, com a
"Acrescente-se o seguinte parágrafo ao art. 4.°: entrega do anteprojeto da 'Comissão para a de Sistema-
Toda criança terá direito à assistência social, tização.
sendo ou não seus pais contribuintes dos sistemas É possível, ainda, ouvir algumas personalidades, no
previdenciários." . curso dos nossos debates, que estamos elaborando uma
Acolhemos a emenda proposta por consíderâ-Ia extre- pauta; se houver sugestões elas podem ser encaminhadas
mamente oportuna. Os cuidados com a criança são essen- a. mim ou ao relator-geral, para a apresentação de um
ciais e devem ser prestados também pela Previdência So- roteiro, já na segunda-feira.
282 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Eram as observações e avisos que queria fazer e fico zer a barba. Parabéns pela diligência, constituinte, no
grato pela atenção, congratulando-me mais uma vez pelo cumprímento dos seus deveres para com esta Subcomissão.
trabalho do relator, pela participação íntensíva de todos O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Acolhemos a
e de cada um. Estaremos todos, então, iniciando essa nova emenda da ilustre constituinte, que inova ao estabelecer
fase, essa nova etapa com a consciência, a certeza do a jornada de trabalho para o menor aprendiz nunca su-
dever cumprido. Podemos dízer ao País que esta subco- perior a três horas. Somos pela aprovação.
missão trabalhou dentro dos seus prazos e cumpriu todas
as suas obrigações. A Emenda n. O 121, também da Constituinte Eunice
Michilles:
Haverá uma secretaria, onde o relator ficará insta- "Acrescente-se ao art. 3.0 , o seguinte :parágra-
lado, e será em uma dessas salas que vamos colocar armá- fo:
rios, computador etc. O Auditório Nereu Ramos será ape-
nas :para as reuniões. Lá ficará funcionando a secretaria É responsabilidade do Estado promover a vi-
da Comissão de Sistematização, ao lado, mas o plenário da, não sendo permitido o aborto como método
será nosso. Muito obrigado. de planejamento familiar, cabível, apenas, no ca-
so de estupro, gravidez de alto risco e casos de
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Emenda n.? 116, má formação fetal, como possibilidade de vida
do ilustre Constituinte Roberto Augusto, emenda aditiva vegetativa, de acordo com a lei."
ao art. 1.0:
Somos pela aprovação, em virtude da necessidade de
"Acrescente-se o § 6.0 com a seguinte redação: se limitar os casos em que se admitirá o aborto.
A viúva, ao contrair novas núpcias, não perderá
os direitos previdenciários adquiridos." O assunto do aborto, que foi tão discutido aqui, não
tinha sido objeto de referência no anteprojeto. Dadas as
Somos pela aprovação da emenda pelo alcance social manifestações do debate e oferecimento desta emenda,
que apresenta. Tal medida, que preserva o direito da resolvemos acolhê-la.
viúva, vem estimular a regularização da sociedade coníu- O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Sr.
gal, Sim~ porque, naturalmente, de um modo geral, as . Presidente, Sr. Relator, peço permissão para retroagir um
vruvas tem os seus dependentes que precisam continuar pouco, porque quis acompanhar a redação mas ela avan-
merecendo os seus cuidados, independente de outro casa- çou um pouco. Quando V. Ex.a falou sobre a Emenda n.?
mento.
119, da ilustre Constituinte Eunice Michiles, em que ela
Na redação final, esse aspecto do viúvo, foi lembrado. pede, após a expressão "fundada nos princípios "da pa-
Como temos, no próprio artigo, direitos iguais do homem ternidade" a palavra "livre", quero perguntar como ficou
e da mulher, a redação final, caso a emenda seja apro- a redação desse art. 3.0 : "planejamento familiar, funda-
vada, deverá conter tanto a situação da viúva quanto a do nos princípios da paternidade responsável e dignida-
do viúvo. de humana e no respeito à vida ... " Como ficou essa re-
dação?
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI _ O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - '" "fundado nos
Mas, Sr. Presidente, os viúvos já carregam todos os direi- princípios da paternidade livre e responsável. .. " O obje-
tos previdenciários, no Brasil, há muito tempo. tivo da emenda é acrescentar a palavra "livre" depois
O S~. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Emenda n.o da palavra "paternidade".
119, da Ilustre Constituinte Eunice Michiles:
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Já en-
"Acrescente-se ao caput do art. 3.0 a seguinte tendi. Muito obrigado.
palavra, após a expressão "fundada nos princí- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Emenda n,?
pios da paternidade livre." 122:
Quer dizer, é uma emenda aditiva: "fundada nos "Suprima-se do caput do art. 5.0 , a palavra
princípios da paternidade livre". abandonados". "
Acolhemos a emenda; somos pela aprovação por en- Já foi objeto de apreciação. Esta emenda também foi
riquecer o texto. aprovada.
A Emenda n. o 120, da ilustre Constituinte Eunice Mi- A Emenda n. O 127, do Constituinte Bosco França:
erlles:
"Inclua-se no capítulo referente ao menor,
"Dê-se ao § 4.0 , do art. 4.0 , a seguinte reda- em lugar do § 4.0 , do art. 4.0 , do anteprojeto, o
ção: o trabalho do menor será regulado em le- seguinte dispositivo:
gislação especial, não sendo permitido o ingresso
de menores de 14 (quatorze) anos no mercado de O trabalho do menor será regulado em legis-
trabalho, salvo nas condições específicas da lação especial, não sendo permitido o Ingresso de
aprendiz, com jornada de trabalho nunca supe- menor de 14 (quatorze) anos no mercado de tra-
rior a 3 horas. A estes, quando carentes, será asse- balho, porém será estimulado no período dos 10
gurado pelo sistema educacional a alimentação e (dez) aos 14 (quatorze) anos o treinamento de
o preparo para o trabalho." menores, já nos locais de trabalho, acompanha-
dos de assistência educacional e alimentação."
Esta emenda amplia o conceito da possibilidade do
menor aprendiz, só que cría uma limitação, que achamos É o mesmo princípio do menor aprendiz. Acolhemos
oportuna, com o seu tempo máximo de trabalho em 3 a emenda, concordando com a proposta de se assegurar
horas, aos menores a aprendizagem profissional.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Estamos re- O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Pulou
cebendo o Constituinte Iberê Ferreira, que foi ontem aten- a 129?
der à festa da padroeira da sua cidade. Ele chegou de O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - O nobre Cons-
avião, esta madrugada, e não teve tempo, sequer, de fa- tituinte Eliel Rodrigues está perfeitamente sintonizado com
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 283

o andamento dos trabalhos, lembrou que pulamos a de Foi objeto também de emenda do nobre Constituinte
n. O 129. Portanto, a Emenda n.O 129, do Constituinte Bosco Nelson Caneiro.
França: "Parágrafo único. Os proventos da aposen-
"Inclua-se no capítulo referente ao Idoso no tadoria e reforma, bem como as pensões delas
artigo 6°, parágrafo único, os seguintes disposi- decorrentes, serão reajustados nas mesmas pro-
tivos: porções dos reajustes concedidos aos trabalhado-
res em atividade, não estando sujeitos à incidên-
Art. Os proventos. cia do imposto de renda. Aos 70 (setenta) anos de
"Inclua-se no capítulo referente ao Idoso no idade, é garantida a aposentadoria para os que
artigo 6.°, parágrafo único, os seguintes disposi- assim o desejarem."
tivos: Inclui ai o problema de aposentadoria e reformas,
Art. Os proventos da aposentadoria serão naturalmente amparando os militares, que são reforma-
reajustados nas mesmas proporções e na "mesma dos em vez de aposentados, e as pensões que já tinham
época", dos rea] ustes concedidos aos trabalhado- sido objeto de outras emendas.
res em atividade." Emenda n.O 147, do ilustre Constituinte Iberê Ferreira:
Somos pela aprovação da: emenda, no que diz respeito Dê-se ao art. 4.° e seus §§, do Anteprojeto do
a se reaj ustarem Os proventos dos idosos na mesma épo- Relator, a seguinte redação:
ca dos reajustes concedidos aos trabalhadores. "Art. 4.° A criança tem direito à proteção do
Isso para evitar que órgãos da previdência fizessem Estado e da Sociedade, sem distinção ou discri-
o reajuste no mesmo percentual, mas 10 meses depois. minação por motivo de raça, cor, sexo, língua,
Agora, vamos à Emenda n.? 136, do ilustre Constitu- religião, origem, riqueza, nascimento ou qualquer
inte Augusto Carvalho: outra condição, quer sua ou de sua família, asse-
gurando-se-lhe:
Inclua-se após o art. 5.°, do Anteprojeto Cons- I - proteção especial, por lei e por outros
titucional da Subcomissão da Família do Menor e meios, a fim de lhe facultar o desenvolvimento
do Idoso, o artigo com a seguinte redação:
físico, mental, moral, espiritual e social, de forma
"Art. Pais e filhos adotivos terão assistên- sadia e normal e em condições de liberdade e dig-
cia integral por parte do Ministério da Previdência nidade;
e Assistência Social, através dos respectivos órgãos II - o direito ao nome e à nacionalidade
assistenciais dentro de sua área de atuação." brasileira;
Somos pela sua aprovação, incluindo o assunto como lI! - o direito à alimentação, habitação, re-
§ ao art. 5.°, o texto original refere-se apenas à assistência creação e assistência médica adequadas;
jurídica e aos incentivos fiscais, sendo válido estender os
benefícíos da área da IPrevidência 'e Assistência Social. IV - o direito a cuidados especiais exigidos
por sua condição peculiar de incapacidade física,
A Emenda n.o 139, do ilustre Constituinte Iberê Fer- mental ou socialmente;
reira:
V - o direito à convivência familiar e à edu-
"Dê-se ao § 5.°, do art. 1.0, do Anteprojeto do cação gratuita e compulsória;
Relator, a seguinte redação:
VI - o direito à proteção contra quaisquer
"Art. 1.0 " ..•..•.•••••••••• formas de negligência, crueldade e exploração.
§ 5.° A nulidade do casamento pode ser de- § 1.0 O direito à Saúde e à alimentação é as-
clarada a qualquer tempo." segurado desde a concepção, através da gestante
Com a observação da emenda anterior que fala no e a criança desde o nascimento, devendo o Estado
prestar assistência àquela cujos pais não tenham
casamento declarado nulo, dentro da observação da ilus- condições de fazê-lo.
tre Constituinte Sandra Cavalcanti; é o problema apenas
da redação. § 2.° O direito à educação é assegurado desde
A Emenda n.? 141, do ilustre Constituinte Iberê Fer- o nascimento, devendo o Estado garantir gratuita-
men~ ~s f!1~ílias. que o dese~arem, a educação e
reira: a assístêncla as erranças de ate seis anos em ínstí-
Dê-se ao § 3.°, do art. 1.0, a seguinte redação: tuíções especializadas. '
"Art. 1.° . § 3 ° As crianças e adolescentes em situação
irregular, sem prejuízo da responsabilidade civil
§ 3.0 Para efeito de proteção do Estado é ou penal dos pais, é assegurada a assistência do
reconhecida a união estável entre homem, mulher Estado, que os protegerá contra todos Os tipos de
e seus dependentes como entidade familiar." discriminação, opressão ou exploração.
Também já foi objeto de outra emenda a respeito, § 4.° O trabalho do menor será regulado em
também aprovada. legislação especial, não sendo permitido o ingresso
Emenda n.> 142, do ilustre Constituinte Iberê Ferreira: de menores de 14 (quatorze) anos no mercado de
trabalho, assegurando-se-lhes, pelo sistema edu-
"Art. 6.0 O Estado e a Sociedade têm o dever cacional, a alimentação e o preparo para o tra-
de amparar as pessoas idosas, mediante políticas balho."
e programas permanentes que assegurem oportu- Acolhemos parcialmente a emenda, substituindo o
nidades de participação na comunidade, defendam caput do art. 4.° do anteprojeto pelo caput da proposição
sua saúde e bem-estar, quando possivel em seus em exame.
próprios lares, garantam condições dignas de vida
e impeçam a discriminação de qualquer nature- Quanto aos itens propostos no mesmo artigo, já aca-
za." tamos outras sugestões.
284 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Dentro da colocação da Ilustre Constituinte Sandra ressalvada a observação da Constituinte Sandra Caval-
Cavalcanti, a emenda é totalmente aprovada, desde quan- canti, de que algumas emendas que não aparecem como
do as suas idéias básicas estão realmente amparadas. En- aprovadas por esse 'erro de classificação, mas que têm
tretanto, quanto a sua forma redacíonal, demos: prefe- teor igual a outras que foram aprovadas, então, elas de-
rência a outras emendas ou, então, detalhes de inclusão vem figurar sntre as aprovadas,
de uma palavra. Estou à disposição para qualquer esclarecimento e
Mas, vejam que o fundamento desta emenda é subs- devolvo a palavra ao Sr. Presidente.
tituir aquela expressão da declaração universal do direito A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI _
da criança pelo detalhamento desses direitos, conforme Eu sugeriria - já que encontramos aqui, em várias opor-
está na Carta das Nações Unidas. tuni;dades, emendas dadas como rejeitadas, quando, na
Emenda n.o 168, do ilustre Constituinte' Roberto realidade, foram aprovadas -, que nós repassássemos
Freire: - também, já, as rejeítadas, até para fazer uma diminuição
Acrescente-se, onde couber, o seguinte artigo: nessa carga de rejeítadas, e voltássemos às aprovadas
depois, em globo, com os destaques que vierem a ser soli-
"Art. Quaisquer atos que envolvam agres- citados.
sões físicas e psicológicas na constância das re-
lações familiares serão considerados como crimes O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Pois não. En·-
·e punidos na forma da lei." tão, vamos ao trabalho. Vamos pela ordem numérica.
Acolhemos a emenda, porquanto amplia a proteção A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
dos membros da família. As rejeitadas.
Confesso que acho um tanto redundante essa emenda, O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - As rejeitadas.
desde quando o art. 2.° estabelece direitos iguais etc., e A primeira é logo a de n.? 1, no anteprojeto.
na proteção à família já estaria isso incluído. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Solicito ao
Mas, dentro do espírito benevolente do Relator, de Constituinte Sotero Cunha que ocupe a Presidência.
acatar o máximo possível as emendas, nós aproveitamos O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Dê-se a se-
este texto. guinte redação ao art. 3.°
Emenda n.O 186, do Ilustre Constituinte stélio Dias: "Art. 3. O planejamento familiar, fundado
"Art. 6.° . nos princípios da paternidade responsável, da
Parágrafo único. . . dignidade humana, do respeito à vida e à inte-
gridade física, desde o momento da fecundação,
Art. 7.° Os proventos de qualquer espécíe e é decisão do casal, competindo ao Estado colocar
as pensões devidas não sofrerão incidência de à disposição da sociedade recursos educacionais,
Imposto sobre a Renda." técnicos e científicos para o exercício desse di-
Somos pela aprovação em parte, pois, entendemos! ser reito."
justo que os proventos de aposentadoria e pensões não Vejam que o espírito da emenda já está contido no
devem sofrer incidência do Imposto sobre a Renda. texto original. A díterença é quando inclui a expressão
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Se- "respeito à vida". Como inclusive acatamos, especifica-
nhor Relator, pela ordem. mente, a emenda que trata do problema do aborto, e
como, também, entendemos que na expressão, como está
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Pois não. no texto original, que diz o seguinte:
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - A ex- "O planejamento familiar, fundado nos prín-
pressão "proventos" abrange rendimentos de aposentado- eípíos da paternidade responsável e dignidade
ria? humana e no respeito à vida e à integridade físi-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Parece-me que ca, é decísão do casal, competindo ao Estado
há uma redação mais explícita, em outra emenda, onde colocar à disposição... "
havia uma redação mais detalhada. Quer dizer, já mencionado "respeíto à vida", já in-
Mas, entendemos, quando diz os "proventos", dentro clui todas as etapas no que se refere, por exemplo, à
do espírito em que se insere esse parágrafo que são pro- expressão "desde o momento da fecundação". :É a inova-
ventos de aposentadoria. E já há emenda no sentido de ção do texto, quando diz, especificamente, "desde o mo-
que haja um mínimo. Limita no salário mínimo. mento da fecundação".
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI Então, entendemos que a ciência já estabelecendo
E reajusta sempre que houver o reajuste da categoria na que, em fecundação já existe vida, o respeito à vida jã
ativa. abrange esse termo "desde a fecundação".
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Emenda A SRA. CONSTITUINTE SANDRA ,CAVALCANTI -
n.o 193, do Oonstítuínts Maurício Pádua pede para acres- Eu vou pedir destaque para essa emenda.
centar no § 3.° do art. 2.°, depois da expressão O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Nós temos, na
"ação privada ou pública e garantirá gratui- realidade, várias emendas neste mesmo teor, conforme
dade dos meios. neeessáríos à sua comprovação, verificaremos adiante.
quando houver carência do recurso do interes- A seguinte é a Emenda n.> 6:
sado." "Dê-se ao § 2.°, do art. 3.°, a seguinte re-
é o problema da investigação da paternidade. Não está dação:
no texto da emenda, mas verificamos que se referia ao § 2.° O ser humano deve ser respeitado como
§ 3;° do art. 2.°
pessoa desde o primeiro momento de sua concep-
. Sr. Presidente, com essas apreciações nós comenta- ção, não sendo, portanto, permitida qualquer prá-
mos todas as emendas que mereceram parecer favorável, tica, pesquisa, experiência de genética que atente
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 285

contra a vida e a dignidade da pessoa humana, O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Foi
inseminação post mortem,_ maternidade, etc." muito importante esse detalhe, "educação religiosa à cri-
É o caso que a ilustre Constituinte Sandra Cavalcanti
ança".
já observou. Esta emenda é igual à de número 2. A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALOANTI -
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Então, vamos pedir destaque.
Portanto, ela foi aprovada. O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Mas, tecnica-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A número 6, mente, nós não poderiamos considerá-la aprovada, por-
então, é aprovada. que, na realidade, ela difere da outra que foi aproveitada.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALOANTI -
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Tudo bem. Então, essa fica como rejeitada e vamos pedir
Do Constituinte Ervin Bonkoski. Ela é aprovada in totum. destaque.
Ela consta de um outro texto que é igualzinho.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - caso venha a
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - O teor do § 2.° ser destacada e aprovada, esta emenda modificará a reda-
difere um pouco. Vejamos a Emenda n.O 2. O texto do ção da outra, se a outra também for aprovada.
parágrafo diz o seguinte:
A Emenda n.O 10, diz o seguinte:
"As pesquisas e experiências de genética hu-
mana dependem da aprovação dos órgãos com- "§ 4.° O casamento pode ser dissolvido nos
petentes, não sendo permítida ... " casos expressos em lei, desde que haja a prévia
separação judicial por mais- de quatro anos."
O teor da emenda diz: Amplia o prazo de separação judicial. Não acatamos,
"O ser humano deve ser respeitado como pes- permanecendo a proposta original de dois anos para se-
soa desde o primeiro momento de sua concepção, paração.
etc." A Emenda n.? 11:
Parece-me que este conceito já está no caput do arti- "§ 2.0 O direito à educação é assegurado des-
go, por isso preferi o texto da Emenda n.o 2, embora os de o nascimento, devendo o Estado garantir gra-
tens, tanto, o I, quanto o lI, sejam semelhantes. Então, tuitamente, às famílias que necessitarem, a edu-
seria uma aprovação parcial. cação e a assistência aos menores em instituições
A Emenda n.? 7 diz o seguinte: especializadas, destinando às mães solteiras, viú-
vas, desquitadas ou abandonadas carentes, ajuda
"O planejamento familiar, fundado nos prin- financeira, a fim de educarem dignamente seus
cípios da paternidade responsável, da dignidade filhos."
humana e no respeito à vida e à integridade físi- Parecer contrário. A aceitação dessa possibilidade de
ca, desde o momento da concepção, é decisão do criação de uma subvenção social para mães carentes, des-
casal ... " de que solteiras, viúvas, desquitadas ou abandonadas, para
Essa emenda tem igual teor à da Emenda n.O 1. Então, educarem dignamente seus filhos, embora visando a uma
entendemos que quando se refere ao "respeito à vida" já finalidade justa, não pode ser acatada, pois criaria uma
está entendido que é desde o momento da concepção. A distorção muito grande na tipalidade do Estado.
de n,v 1 fala "desde o momento da fecundação". É apenas A idéia é assegurar as condições essenciais para que
diferença de palavras. todos tenham acesso a educação de boa qualidade, obri-
Essa foi rejeitada mesmo, porque é apenas uma emen- gatória e gratuita dos 7 aos 14 anos, ou a partir do nas-
da aditiva à expressão "desde o momento da concepção". cimento, como está sendo proposto no texto, mas nunca
na forma de subvenção direta. Além de tudo, não haveria
A Emenda n,v 8 diz: como fiscalizar que esses recursos, uma vez transferidos,
não seriam utilizados com outras finalidades que não os
"Oaput do art. 4 - A criança tem direíto à de interesse da criança.
vida, à liberdade, à alimentação, à saúde, à edu-
cação, inclusive religiosa, à profissionalização, à A Emenda n,> 12:
habitação, ao lazer e a conviver com seus pais." "Art. 1.0 A família, célula básica da socieda-
Nós entendemos que, na forma proposta pelo Consti- de, tem direito à habitação ... "
tuinte Iberê Ferreira, está mais completa. Então, rejeita- O objetivo aqui é incluir a palavra "habitação". Nós
mos em beneficio da outra emenda. entendemos que quando falamos na proteção social, eco-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - nômica e jurídíca, já está a proteção a que a família pos-
Mas, na verdade, ela também é aprovada. sa adquirir a sua habitação. Embora entendendo como
fundamental para a existência de uma família ter uma
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Ela é aprovada, habitação condigna, nós achamos que já está contido no
embora aqui tenha um problema a ser esclarecido. Parece- texto e se tivéssemos que expressar aqui habitação, te-
me que há o aproveitamento da emenda, a não ser que ríamos que expressar, também, direito à alimentação, ao
a conjugação de duas emendas exija uma modificação na vestuário, a todas as condições que são essenciais a uma
redação. Parece-me que nós só podemos aprová-la ipsis vida digna da família.
litteris, como foi apresentada, e não apenas a idéia. Aqui, A Emenda n,v 13 propõe o parágrafo único, art. 6.0:
por exemplo, fala no problema especifico do "direito à
vida, à liberdade, à alimentação, à saúde, à educação, in- "Os proventos da aposentadoria e pensões,
clusive religiosa ... " quer dizer, cria o direito à educação nunca inferior a um salário mínimo, serão rea-
religiosa, que parece não é, especificamente, tratada na justados nas mesmas proporções dos reajustes
emenda do Constituinte Iberê Ferreira. concedidos aos trabalhadores em atividade. Aos
60 anos de idade é garantida a aposentadoria pa-
Então, parece-me que é realmente ... ra os que assim desejarem."
286 Segunda·feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Na realidade, o motivo da rejeição é porque ela se O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEmO - Não
chocava com a outra que diferenciava a idade para o seria melhor que em vez de rejeitada ou aprovada se
homem e a mulher aos 60 anos e 65 anos, que me pare- colocasse prejudicada? Existem várias emendas que fica-
ceu mais conveniente, principalmente, quando nós esta- ram prejudicadas pela apreciação de uma outra.
mos eliminando as barreiras da discriminação, para o in-
gresso no serviço público, por idade. Imaginem se nós O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Concordo intei-
baixamos para 60 anos a idade de aposentadoria; uma ramente. Então, a conclusão seria pela prejudicialidade
pessoa poderia ingressar aos 58 anos no serviço público e e não pela rejeição.
aos 60 anos j á estar aposentada. Só uma indagação aos assessores: há essa possibili-
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Eu dade, lá no programa dos computadores, não há?
queria apenas pedir destaque, Sr. relator. (Resposta afirmativa).
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Pois não. O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Então, ela seria
Emenda n.O 14 visa incluir um artigo: prejudicada e não rejeitada.
"Os orçamentos anuais da União, dos estados, Emenda n.O 17:
do Distrito Federal, territórios e municípios espe- "§ 3.0 Aos menores infratores, com ou sem
cificarão, obrigatoriamente, verbas destinadas à a tutela dos pais, o Estado assegura:
execução das políticas de atendimento à criança,
ao adolescente e de amparo aos idosos." I - assistência e proteção contra todos os
tipos de discriminação;
Nós achamos que isso é o óbvio. Se nós estamos crian-
do responsabilidade para que o Estado atenda à crian- I! - orientação educacional e psicológica no
ça e ao idoso, nos orçamentos públicos deverão constar. sentido de integrá-los ao convívio social;
E se isso não ocorrer, cabe ao Legislativo a aprovação lI! - manutenção pelo tempo necessário em
do orçamento específico. prédios adequados e sem a caracterização de con-
finamento."
A Emenda n.O 15, art. 6.°, § 1.0, acrescenta:
Parece-me que é mesma situação da anterior, as idéias
"Art. 6.° . básicas estão amparadas, embora não podendo ser aco-
lhido o texto. Então seria prejudicado. Eu peço aos asses-
§ 1.0 l!J dever do Estado garantir, em insti- sores que anotem, já que estão com o texto aí na mão,
tuições especializadas e dotadas dos recursos in- para eu não ter que parar.
dispensáveis, a assistência necessária aos idosos Emenda n.' 18: Inclui no § 2.° do art. 4.°:
com mais de setenta anos que não tenham con- § 2.° O direito à educação é assegurado des-
dições financeiras para suprirem a própria ma- de o nascimento, devendo o Estado garantir, gra-
nutenção." tuitamente, a educação e a assistência às crianças
Se nós estamos aprovando, inclusive, um dispositivo até quatorze anos, em instituições especializadas."
que privilegie o atendimento no próprio lar, achamos que Nós colocamos no texto 6 anos, porque entendemos
não deveríamos criar aí a garantia de criação de "insti- que a assistência à criança a partir dos 7 anos entra no
tuições especializadas" para esse atendimento. E isso é capítulo da educação. Então, não é o caso de modificar,
um detalhe de política administrativa que, naturalmente, porque são duas coisas diferentes: uma coisa é o amparo
se os Governos a nível estadual, municipal ou federal em instituições como creches ou pré-escolas, e outra coisa
acharem conveniente a criação de instituições de ampa- é a partir dos 7 anos o atendimento nas escolas.
ro ao idoso, a lei não está vedando, pelo contrário está
estimulando, sem precisar declarar desta forma. Emenda n.v 19:
A Emenda n.O 16 diz: "Art. 4.°

§ 4.° O trabalho do menor é regulado em § 1.0 O direito à saúde e à alimentação é as-


legislação especial, observados os seguintes prin- segurado desde a concepção e é dever do Estado
cípios: oferecer a todos, gratuitamente, os equipamentos
I - idade mínima de quatorze anos para sociais indispensáveis a tal fim, até os seis anos."
admissão ao trabalho; Aqui é o problema que já foi debatido e esta proposta
I! - direitos trabalhistas e previdenciários estende este dever do Estado a todos, gratuitamente, e
dos demais trabalhadores; nós entendemos que pode-se tornar mais um artigo utó-
pico e, queria Deus, o Estado possa atender àqueles que
lI! - condições de educação, aprendizagem e são carentes, às famílias que não têm condições de prestar
formação profissional; essa assistência. Então, preferimos o texto original.
IV - proibição do trabalho insalubre ou pe- O texto do anteprojeto tem por objetivo assegurar essas
rigoso, bem como do trabalho noturno, aos me- condições aos que necessitem, e não aos que têm condi-
nores de dezoito anos." ções próprias para suprir essas necessidades.
Deparei-me com a mesma dificuldade; o texto e a A diferença aí é a de assegurar a todos, quando no
intenção do autor já está amparado nas outras emendas texto original assegura àqueles cujas famílias necessitem
e até no texto original. Mas ao acolhermos a emenda, desse amparo do Estado.
teremos que substituir inteiramente o teor do artigo, en-
tão, idéias como aquela das 3 horas diárias para o me- A Emenda n.o 20:
nor aprendiz idéias como a de entidades, podendo aten- "Art. .o Estado cria as condições em cola-
der a menores de 14 anos, em entidades de aprendizagem, boboração com as famílias, escolas, empresas,
estariam prejudicadas. Então, preferimos rejeitar essa e organizações populares, para a promoção de even-
aproveitar as demais. tos de integração cultural, entre jovens, dentro do
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 287

País, e mantendo intercâmbio internacional da A Emenda n. o 27 está aprovada, a 28 está aprovada,


juventude." a 29 está aprovada. A Emenda n.> 30, § 4.0, do art. 1.0:
Propomos a rejeição, porquanto se trata de matéria "O casamento pode ser dissolvido nos casos
de legislação ordínárta e olhe lá, se não de política admi- expressos em lei, desde que haja prévia separação
nistrativa. judicial por mais de 2 anos e somente uma vez."
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI O objetivo desta emenda é permitir apenas uma dis-
E de regime político também. solução do casamento. Nós achamos que isso é matéria
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Exatamente. que deve ser tratada na legislação ordinária, até porque
a própria evolução da sociedade pode impor situações
A Emenda n. O 21: pede a suoressão do art. 5.0 pelo diferentes. Hoje está permitido apenas uma vez pela legis-
teor da justificativa; entendemos que era apenas o § 5.0 lação ordinária, pode ser que o legislador, amanhã ou
do art. 2.0 e aqui, me parece, houve um erro de datilo- depois, ache que deva haver mais de uma vez ou vezes
grafia quando pede a supressão do art. 5.0 , mas como ilimitadas. Achamos que não deveria figurar no texto
tínha~os que nos louvar no texto encaminhado pelo autor constitucional.
da emenda, tivemos que rejeitar. A Emenda n. O 31 foi prejudicada por já ter sido objeto
A Emenda n. o 23, § 3.0 do art. 4.0 : de apreciação anterior. A de n.v 32 foi aprovada, a de
n. O 33 aprovada, a de n.? 34 rejeitada:
A SRA CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Essa é tipicamente uma emenda aprovada. "O casamento poderá ser dissolvido por divór-
cio consensual ou a pedido de qualquer dos côn-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - No § 3.0 do artigo juges."
4..0 do Anteprojeto, onde se diz: Se não fomos nem tanto ao mar, não quisemos ficar
"Somente é permitido o regime de confina- nem tanto em terra. Se de um lado não aceitamos a
mento nos casos de infração prevista da legisla- proposição de ampliar o prazo de separação judicial para
ção própria", diga-se: - "Os menores infratores 4 anos, também achamos conveniente não ter nenhum
não sujeitos à reeducação em instituições apro- prazo de separação judicial, porque entendemos que
priadas, através de cursos profissionalizantes e o prazo para adaptação dos filhos à nova situação e
tratamento especializado." para a eventual revisão da decisão do casal deva ser
assegurado. Achamos mais próprio, portanto, o prazo de
É prejudicada, porque aquela outra redação me parece dois anos e por isso rejeitamos esta emenda.
mais própria. Então, em vez de ser rejeitada passa a 23
a ser prejudicada. A Emenda de n. O 35 propõe, em primeiro lugar:
A Emenda n. O 24: Cancelem-se as expressões "de até "ser caracterizado como família a instituída civil
ou naturalmente."
seis anos".
Nós estamos amparando as uniões estáveis, mas não
E aqui, a mesma explicação da anterior, que amplia quisemos dar o status igual a uma família constituída
para 14: pelo casamento.
O objetivo é garantir a assistência às crianças em ins- O § 2.0 , ele propõe acrescentar um parágrafo, dizendo:
tituições especializadas até os 6 anos: a idade escolar deve
ser regulamentada no anteprojeto da Subcomissão de Edu- "O homem e a mulher têm plena igualdade
cação. de direitos e de deveres no que diz respeito à
administração da sociedade conjugal, pátrio poder,
A Emenda n. O 26: registro de filhos, a fixação de domicílio da famí-
Incluam-se, no final do texto proposto, as lia e titularidade de administração dos bens do
casal."
expressões "ou após cinco anos contínuos de sepa-
ração de fato, comprovados judicialmente". Aí nós entendemos que a única expressão que não
está contida no texto é o problema da fixação do domi-
Achamos aconselhável a reedição do divórcio direto, cílio. Porque entendemos que isto já está contido na
por separação de fato. A regra da exigência de separação administração da sociedade conjugal. A administração
judicial, consensual ou litigiosa, decorridos mais de 3 anos, da sociedade conjugal implica em fixar residência, se
como pressuposto do divórcio, tem-se mostrado, social- não pode haver consenso de onde residir, o casamento não
mente, justa e adequada. O divórcio direto de duração pode ser mantido. Então, somos pela rejeição por essa
apenas de 2 anos tem em vista amparar síutações existen- razao.
tes, e anteriores à Emenda Constitucional n. o 9.
Parece-me que isso cabia quando o divórcio foi insti- A Emenda de n.? 36, permanece o problema da decla-
tuído em que existiam situações, de fato, com separações ração universal dos direitos da criança, mas diz no § 5.0 :
não transformadas em separação judicial. Mas, com a "No caso de separação de um casal, ao côn-
abertura que o novo texto está propondo, inclusive com juge não responsável pela guarda do filho só será
a diminuição para 2 anos, me parece que não sería o permitida a aproximação do mesmo quando essa
caso de permanecer essa regra, de ser possível o divórcio aproximação não vier a prejudicar a educação do
quando houver uma separação de fato. Até porque, geral. filho, pelos riscos de danos morais causados pelos
mente, essa separação de fato pode ser objeto de infor- exemplos perniciosos ou por afronta aos costumes
mações fraudulentas, quando se pede apenas duas teste- estabeíeeídos, de danos físicos causados por atitudes
munhas. indevidas, a perturbação psicológicas ou mentais."
Quer dizer, como a lei e a nossa rproposta está prevendo A legislação ordinária já prevê o caso em que a auto-
a separação judicial e a gratuidade para a separação judi- ridade judicial possa estabelecer isso. Achamos que não
cial, no acolhimento de outra emenda, pareceu-nos que caberia no texto constitucional, até porque eu acho que
esta norma se tornaria dispensável. o cerne da questão é sempre o da possibilidade de os
288 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

filhos conviverem com os pais, da possibilidade de a famí- do idoso, da família 'carente, do preso, do hospi-
lia prevalecer. Então, achamos que é um texto que até talizado pobre, do mendigo, do alcoólasra, do
na prática pode ocorrer um caso ou outro, mas isso deve toxicômano.
ser regulado na legislação ordinária a nosso ver. Reunir-se-ão em federação os conselhos de
A Emenda de n.? 37 foi aprovada parcialmente. ação social ... "
A SRA. CO-;ifSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI
A de n.O 38 altera o § 1.0 do art. 3.°, dando-lhe a Não precisa ler toda não, nós já lemos.
seguinte redação:
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Tipicamente de
§ 1.0 Os programas de planejamento familiar legislação ordinária. Aliás, esse foi objeto do parecer, até
levarão em conta as condições de habitação, saúde, elogiando o detalhe e a preocupação do autor, Maurício
educação, cultura e lazer a serem conferidas à Nasser. Mas entendemos que é matéria de legislação or-
família, assegurando o acesso à educação, à infor- dinária.
mação e aos métodos adequados à regularização A Emenda n.> 42 idem:
da fertilidade, respeitadas as opções individuais."
"instalação de casa do idoso em cada mu-
O texto, na realidade, já está contido no anteprojeto nicípio etc."
original, é apenas uma forma de redação diferente. Entendemos que essa é matéria de legislação ordi-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - nária.
Mas então não é rejeitada, não é? A Emenda n.O 43 diz que:
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Acho que ela é "O Ministério Público dará assistência gra-
prejudicada, por já estar contida no texto. Iguais a essa tuita aos cônjuges sem recursos e em processo de
são inúmeras, que têm o mesmíssimo teor. separação e divórcio, na forma da lei."
Então, a Emenda de n.o 38 passa a ser prejudicada A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
e não rejeitada. Já dá de forma ampla para outras coisas.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Exatamente.
Pela ordem. Aliás, no parecer, V. Ex. a usa exatamente a A de n.O 44 diz o seguinte:
expressão "o texto do anteprojeto já contempla a proposta
do autor a respeito dessa matéria." Prejudicada. "Estendem-se à dona-de-casa os benefícios
da legislação do trabalho, inclusive da aposen-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Foi o caso típico tadoria."
da classificação do computador e não houve tempo de Entendemos que não é matéria desta Comissão, o
fazer a revisão. assunto deve estar tratado na Comissão própria, a de
A Emenda n,v 39 propõe: Seguridade. Por isso não acolhemos a emenda.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI
"Inclua-se no art. 4.° do § 2.°, do anteprojeto Sr. Presidente, no caso por exemplo desta, em vez de ser
dessa Subcomissão o seguinte texto: rejeitada, ela também pode ser prejudicada, pelo fato
O direito à educação é assegurado desde o de ser matéria de outra comissão.
nascimento, devendo o Estado garantir gratuita- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Exatamente. A
mente a educação e a assistência às crianças, até classificação aí deve ser prejudicada e não rejeitada, por-
14 anos de idade, nas instituições especializadas." que, naturalmente, a intenção do autor é válida.
Ê a mesma questão de que entendemos que a partir A Emenda de n.O 45 diz:
dos 7 anos, já objeto da Subcomissão de Educação. "Fica concedida isenção do pagamento de ta-
A Emenda de n.o 40 diz o seguinte: rifa nos transportes coletivos urbanos e dentro
do perímetro das regiões metropolitanas e aglo-
"Inclua-se o seguinte texto no parágrafo úni- merados urbanos, definido por lei, às pessoas com
co do art. 6.°: mais de 65 anos de idade nos horários fora de
Parágrafo único. Os proventos da aposen- pico."
tadoria, equivalentes aos ganhos reais por via Entendemos que a matéria é de legislação ordinária,
'contratual na ativa, serão reajustados nas mes- até porque tem aspectos, por exemplo, o que se entende
mas proporções dos reajustes concedidos aos tra- por horário fora de "pico"? l!: imprecisa e acho que deta-
balhadores em atividade. lhista. A regulamentação do problema do transporte co-
Aos 70 anos de idade é garantida a aposen- letivo urbano é problema de prefeituras municipais. In-
tadoria para os que assim o desejarem." clusíve, isso vai implicar em subsídio, porque alguém tem
que pagar esse transporte. Então, isso naturalmente só
Confesso que não entendi exatamente o teor da emen- pode ser matéria de legislação municipal.
da, me pareceu que ela inclui aí um conceito de salário
real e isso tem implicações com os problemas atuariais. A Emenda de n.o 46 diz:
A Emenda de n.> 41 é também uma longa emenda, "Acrescente-se ao art. 4.° do projeto:
que diz: § 3.° A educação pré-escolar atenderá aos
"Criar-se-á em cada município um Conselho preceitos de higiene pessoal e alimentar e ins-
truirá quanto à nocividade das bebidas alcoóli-
de Ação Social, composto de autoridades e pessoas cas, fumo e drogas."
gradas com fins humanitários e não lucrativos
em trabalhos não remunerados, sem conotação Ê o primeiro objeto da Subcomissão de Educação, no
religiosa ou político-partidária, destinados a exa- caso, não seria rejeitado, e sim prejudicado. E já percebo
minar e resolver o problema da mulher, do menor, que o autor da emenada vai pedir destaque.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda.feira 20 289

A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Social a entidades públicas ou privadas cujo ob-
É educação pré-escolar. jetivo seja a assistência social ao menor."
a SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - A di- Não se trata de matéria constitucional. Se amanhã, ou
ficuldade que eu acho, é que, neste problema, isso é pre- depois, o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social for
ceito educacional. eliminado, o texto constitucional ficaria sem efeito.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Isso aí já fica Emenda n.o 50, § 1.0:
no mérito da emenda, se for destacada. No caso, não se- "§ 1.0 Os programas de Planejamento Fami-
ria rejeitada pelo Relator, e sim prejudicada por enten- liar levarão em conta as condições de habitação,
der que a matéria é da Subcomissão de Educação e Cul- saúde, educação, cultura e lazer a serem conferi-
tura. das às famílias, assegurando o acesso à educação,
A 47 inclui, no projeto, este artigo: à informação e aos métodos adequados à regula-
rização da fertilidade, respeitadas as opções indi-
"Art. Os pais terão o direito e o dever de viduais."
instruir, educar e disciplinar seus filhos, dentro
dos preceitos da obediência filial, da moral, dos Emenda n.o 51, art. 3.°
bons costumes, do amor ao estudo e ao trabalho, "Art. 3.0 O Planejamento Familiar deverá ser
do respeito às leis do País, da solidariedade ao garantido pelo Estado, a homens e mulheres, atra-
próximo e do temor e amor a Deus." vés do direito da livre determinação do número
Somos pela rejeição. O presente projeto tratou da ma- de filhos, sendo vedada a adoção de qualquer prá-
téria no § 2.°, do art. 2.°, estabelecendo princípios gerais, tica coercitiva pelo Poder Público e por entidades
privadas."
sem se prender a detalhes que devam caber à legislação
ordinária. Também o texto já está contido no anteprojeto orígí-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - naI. Entendemos, então, que esse texto aí deve estar rejei-
Ou prejudicada, ou aprovada. tado, embora a idéia esteja assegurada dentro da sugestão.
Ela deve figurar como prejudicada.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Então, ela deve Emenda n.? 52:
ser prejudicada, porque eu não posso acolher, no texto,
dentro da minha sistemática geral, por ser um texto en- "Art. Incumbe ao Estado promover a cria-
xuto, não muito detalhísta, Este é o aspecto que me pa- ção de uma rede nacional de assistência materno-
rece que cabe na legislação ordinária. infantil e de uma rede nacional de creches.
Emenda n.O 48, § 2.0: Parágrafo -úníco , -As creches de que trata este
artigo deverão abrigar crianças de O a 6 anos, sem
H§ 2.0 O homem e a mulher têm direito de prejuízo das obrigações atríbuídas aos emprega-
declarar a paternidade e a maternidade de seus dores."
filhos, assegurada a ambos o direito a contesta-
ção." Também entendemos que não cabe na legislação. Nós
falamos. em instituiç~es especíalízadas, Amanhã ou depois,
Somos pela rejeição, visto que o § 3.°, do art. 2.° do o conceito de educação e de proteção à criança pode mu-
anteprojeto, estabelece regra relativa à investigação de dar, até mesmo desaparecer esse termo creche.
paternidade. A emenda proposta, se aceita, poderá levar Emenda n.o 54:
pessoas a situações constrangedoras, quando se tratar de
declarações falsas. Substitua-se o art. 3.0
Quer dizer, aqui é um problema meio difícil. Acredito "O Planejamento Familiar deve ser garantido
que, na forma em que está proposto no anteprojeto, in- pelo Estado onde as mulheres ... "
clusive com a facilidade da gratuidade etc., estabelecida
em emenda, é mais pertinente, porque, da forma que está É o mesmo texto. Este texto, aliás, é muito repetido.
aqui redigida, pode levar uma pessoa a fazer uma decla- P.arece-me. que foi a~gu~a sugestão de entidade que suge-
ração falsa e criar uma dificuldade, um embaraço, um riram a vários Oonstítuíntes, porque ele aparece com muita
contrangimento enorme, até ser provado que aquela de- repetição.
claração de paternidade no caso, não, existe. Emenda n.o 55:
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEffiO - Este Substitua-se os §§ 3.° e 4.° do art. 4.° pelo seguinte:
texto é tipicamente de direito civil; e em vários códigos "Art. 4.° .
estrangeiros há preceitos que já autorizam a mãe a de-
clarar e confessar ao oficial quem é o presumido pai. En- § 3.° O Estado protegerá as crianças e ado-
tão, o Ministério Público interfere, até que o pai aceite lescentes carentes, assegurando-lhes educação pro-
ou não a paternidade. Se aceita, registra o nome. fissional adequada e s6 por efeito de infração os
submeterá a regime de confinamento, nos casos
Estou fazendo a revisão do Código Civil, na parte de previstos em lei.
família, e fui obrigado a estudar essa legislação moderna.
De modo que é tipicamente de Direito Civil e não pode § 4.0 Legislação especial disporá sobre o tra-
figurar numa Constituição. balho do menor só o admitindo para profissionali-
zar o de idade superior a doze anos, com alimen-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - ]i: bom esolare- tação e assistência médica gratuitas, quando ca-
cer que há uma emenda que estabelece esse oomportamen- rente."
to, e que n6s achamos que era matéria exatamente de
legislação ordinária. Esta foi rejeitada, porque amparamos outros textos.
Emenda n.o 49: A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - E
mesmo porque, não é s6 criança carente que tem que ter
"Art. A lei disporá sobre a destinação de ensino profissional, neste País. Está faltando para muitas
recursos do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento crianças não carentes. .
290 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Emenda n.o 56: O SiR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Só um


Substitua-se o art. 1.0, caput e o seu § 1.0 pelos seguin- plebiscito derruba essa.
tes: O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Emenda n. O 59:
"Art. 1.0 O Estado protegerá a família, livre- Dê-se ao § 2.°, do art. 3.°, a seguinte redação:
mente constituída pelo casamento civil, contraído "O ser humano deve ser considerado como in-
entre homem e mulher .eapazes de mantê-la, de trinsecamente o é, pessoa humana, desde a sua
idade igualou superior a dezoito anos. concepção, não sendo permitida:
§ 1.0 A capacidade de manutenção será com-
provada pelos nubentes, conforme a lei determi- I - qualquer prática que atente contra a vida
nar." e dignidade humanas;
Entendemos que isso ai ja impediria, por exemplo, Ir - manutenção de embriões humanos em vi-
uma pessoa menor de 18 anos de se casar, o que não é da, para fins experimentais e comerciais."
recomendável, principalmente nos dias atuais, pelo estágio Esta emenda não é rejeitada, ela é prejudicada porque
de evolução da sociedade. E caso houvesse, por. exemplo, a redação aceita é mais abrangente e mais precisa.
um caso de gravidez precoce, não poderia haver casamen- Dê-se § 2.° do art. 4.° a seguínts redação:
to, mesmo que esses jovens manifestassem a 'esse respeito.
"É assegurada à criança desde o nascimento,
Então, fomos pela rejeição. devendo o Estado garantir gratuitamente, às fa-
Emenda n.o 57: mílias que necessitarem, a educação temporal, a
Substitua-se o art. 3.° e seus parágrafos pelo seguinte: educação religiosa e a assistência até sete anos de
idade incompletos, em instituições especíalízadas."
"Art. 3.° É facultado o planejamento familiar,
cabendo ao casal a responsabilidade da sua reali- Esta emenda é prejudicada e não rejeitada porque
zação sob. a orientação e com a ajuda do Estado, esses itens estão assegurados no texto proposto. '
quando necessária. Emenda n.o 61:
Parágrafo único. Serão reguladas em lei as Dê-se ao § 3.°, do art. 1.0, a seguinte redação:
pesquisas e experiências de genética humana, que
não poderão atentar contra a vida, a saúde e a "Entende-se por instituição, para efeito de
dignidade das pessoas." proteção do Estado, a união estável entre o ho-
mem e a mulher e seus filhos, juntos ou separa-
Entendemos que o texto aprovado e, com as emendas damente, como entidade familiar."
que foram acolhidas, está melhor colocado. Essa seria pre-
judicada, portanto. Ela é prejudicada, porque o outro texto já ampara;
E'menda n.O 62:
Emenda n.o 58: Anteprojeto "Da Família, do Menor e do Idoso"
Inclua-se onde couber: "Dê-se o parágrafo único do art. 6.° como §§ 1.0
Art. Não se pune aborto praticado por médico es- e 2.° com a seguinte redação:
pecialmente autorizado. § 1.0 Os proventos da aposentadoria, auxílios
§ 1.° A lei regulamentará as condições em que a in- por enfermidade e pensões serão reaj ustados nas
terrupção da gravidez poderá ocorrer. mesmas proporções dos reajustes concedídos aos
§ 2.0 Este artigo somente entrará em vigor se aprova-
trabalhadores em atividade. Aos sessenta e cinco
do por plebiscito que se processará até 180 dias após a anos de idade para o homem, e sessenta para a
promulgação desta Constituição. mulher, é garantida a apos-entadoria, para os que
assim o requererem, sem qualquer obstáculo das
Art. A família instituida civil ou naturalmente, tem autoridades competentes.
direito à proteção do Estado. § 2.° Lei complementar assegurará:
§ 1.0 O homem e a mulher têm plena igualdade de
I - renda mensal vitalícia equivalente a três
direitos e deveres na sociedade conjugal ao pátrio poder, salários mínimos;
ao registro de filhos, a fixação do domicílio da família e a
titularidade e administração .dos bens do casal. Ir - passes gratuitos nos meios de transpor-
§ 2.° Os filhos nascidos dentro ou fora do casamento
te coletivo, explorados diretamente pelo Estado ou
terão iguais direitos e qualificações. dados em permissão ou concessão;
§ 3.° Considera-se atividade econômica aquela reali-
lU - são excluídos do item II deste parágra-
zada no recesso do lar. fo os transportes turísticos, aéreos e marítimos, ga-
rantida, nos dois últimos, redução de 1/3 (um
§ 4.0 É garantido ao homem e a mulher o díreíto de terço) do valor da tarifa cobrada no percurso es-
planejar a família, sendo vedada .quaiquer práticà coerci- o colhido.
tiva pelo Estado, ou entidade privada ou .relíglosa. Somos pela rejeição. Primeiro, porque com a idéia de
§ 5.° Compete ao Estado regulamentar, fiscalizar e uma renda vitalícia de 3 salários mínimos, estaríamos
controlar pesquisas e experimentações desenvolvidas no dando, na realidade, uma proteção maior do que a que tem
ser humano. o trabalhador em atividade, que tem um salário mínimo.
Qualquer ato de violência sexual será considerado cri- , A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
me contra a pessoa humana. Até que a idéia não é má, não é, ST. Presidente? A RacheI
Nós rejeitamos essa emenda, embora uma parte dela de Queiroz conta, só para darmos uma pausa de 2 minutos,
já esteía prevista no texto original, mas -aquí trata-se ba- num artigo dela, quando instituíram o Funrural. ..
sicamente do problema do aborto.' Ela torna o aborto per- O-SR. PRESIDENTE' (Nelson Aguiar) - V. Ex.a sinta-
feitamente amparado. se a vontade, nobre Constituinte, porque está suspensa
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONS1'ITÚINTE (Suplemento) Segunda-fe;ra 20 291

hoje a atividade plenária e nós, então, teremos a tarde Emenda n. ° 73:


toda para votar, inclusive para lembrar Rachel de Queiroz. Substitua-se o § 5.° do art. 1.0 do anteprojeto do Rela-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - tor pelo seguinte, renumerando-se o atual para 6.°, 110S
Os velhinhos preciosos. Então, ela mostrou que, a partir seguintes termos:
do momento em que instituíram o Funrural, os velhinhos, "§ 5.° O divórcio somente poderá ocorrer em
lá no Ceará, começaram a receber e foi uma mudança casos de infidelidade conjugal provada."
completa de atitudes da família em relação a eles, porque
eles passaram a ser uma coisa muito importante dentro . Fomos contrários a essa emenda, por achar que é
de casa. Essa é uma coisa que não podemos esquecer. um retrocesso, inclusive, em relação à atual legislação.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Emenda n. O 63: A emenda n. O 74 está aprovada e a 75 também.
Seja suprímído do art. 5.0 o termo: abandonados. Emenda n.O 76:
Esta emenda está aprovada. Já foi considerada ante- Seja incluída a seguinte norma:
riormente.
Emenda n.o 64-: "Art. O pai e a mãe exercem sobre os filhos
menores ou incapazes o pátrio poder, em igualda-
Dê-se ao § 2,0, do art. 2.°, a seguinte redação: de de condições.
"§ 2.° Os pais têm o dever de 'Criar e educar os Parágrafo único. O exercício do pátrio poder
filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ficará sempre subordinado aos interesses morais e
auxiliar e amparar seus pais, conforme a possibili- materiais do filho."
dade daqueles e a necessidade destes."
Esta emenda está prejudicada e não rejeitada. O prin-
Acho que é redundante. cípio já está assegurado no texto do anteprojeto, apenas não
A Emenda n.O 65, foi aprovada. incluímos este problema de "subordinado aos interesses
morais e materiais do filho", porque isso poderia dar
Emenda n. o 66: dupla interpretação. Por exemplo, o filho menor, cujo
Dê-se ao art. 3.°, eaput, a seguinte redação: pai e a mãe estejam de acordo dentro de uma propriedade,
poderia, instado por alguém dizer: Isso contraria o meu
"Art. 3.0 O planejamento famllíar, fundado nos interesse material, quer dizer, seria uma ditadura dos fi-
princípios da paternidade responsável e dignidade lhos sobre a decisão dos pais.
humana e no respeito à vida, é decisão do casal,
sem ínrrmgír o número I, do parágrafo 2.0 , deste Emenda n. ° 77:
artigo competindo ao Estado colocar à disposição
Ida s~ciedade recursos educacionais, técnicos e "Que seja incluída a seguinte norma:
científicos recomendados pela ciência útil ao caso, Art. As pessoas incapacitadas para o tra-
'em qualquer de suas ramificações, para o exerci- balho serão beneficiadas por uma política que
cio desse díreíto." lhes garanta uma vida digna, com os benefícios
do convívio comunitário, sem prejuízo de possível
Par'ece-me que ela é prejudicada e não rejeitada. readaptação ao trabalho.",
Emenda n.O 67; aprovada. Esta emenda não é rejeitada; é p-rejudicada porque se
Emenda n.? 68: trata de assunto de outra Subcomissão, que trata do defi-
"Acrescente-se ao caput do art. 3.° a expressão ciente.
"desde a concepção", após a palavra "vida" e subs- Emenda n.O 78:
titua-se a palavra "medicina" por ciência." "Que seja incluída a seguinte norma:
Somos pela rejeição da emenda, no que se refere à Art. Qualquer que seja a origem da filia-
expressão "desde a concepção". A expressão proposta é ção, o direito dos filhos é reconhecido em igual-
redundante, pois o respeito à vida já inclui todas as eta- dade de condições."
pas. Se a ciência entende que, a partir do momento da
concepção, já existe vida, então, já estará amparado pelo Ela é prejudicada, porque já está contida no texto.
texto contido no anteprojeto. Emenda n.? 79:
Propomos seja aceita a substituição da palavra medi- "Que seja incluída a seguinte norma:
cina por ciência. Então, desculpem-me, ela não é rejeita- Art. Lei especial disporá sobre o planeja-
da; é aprovada parcialmente. mento familiar, a assistência à maternidade, à
Desculpe-me o Constituinte João de Deus Antunes. infância e à adolescência e sobre a educação dos
O parecer não está compatível com a conclusão. excepcionais."
Emenda n.O 69: Foi rejeitada porque, embora correta a manifestação,
"Acrescente-se o seguinte parágrafo ao art. não está redigida de acordo com a distribuição da siste-
mática de elaboração do texto constitucional. Ela mistura
3.° do anteprojeto: o problema do excepcional com o problema da assistência
§ 3.° ,É vedado qualquer processo de fecunda- à maternidade, com o problema da educação. Então, se
ção ou- procriação artificial." estivéssemos aqui tratando de direitos mais gerais, cabe-
ria. -
A emenda está, na realidade, prejudicada, porque o
texto proposto já ampara essa possibilidade. Está preju- Emenda n.? 80:
dicada. - - "Que seja incluída a seguinte norma:
_ - A Emenda n,o 70 está aprovada.
Art. O Estado garante o direito à vida
- A de n,v 71 também, a de n.v 72 está aprovada parcial- desde a concepção, sendo punidas por lei prática~
mente. . e normas abortivas."
292 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLtlA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Entendemos que isso aqui eliminaria a possibilidade O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Como uma outra
do aborto terapêutico, da gravidez de risco, por isso aco- emenda que modifica o texto original foi acolhida, en-
lhemos a emenda, mais abrangente, rejeitando esta. tendemos que essa emenda deveria ser rejeitada. O pro-
A de n.? 81: blema do conrínamentn foi aeolhído numa emenda. Se
aprovarmos essa emenda, ela voltaria ao texto original
"A maioridade do homem e da mulher se ad- do anteprojeto. Então, entendemos que ela realmente de-
quire aos 18 anos ... " ve ser rej·eitada.
Entendemos que também não é matéria desta Subco- A Emenda n. ° 84:
missão. "Altere-se no § 1.0 do art. 3.0 do Anteprojeto
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Ela é Constitucional da Subcomissão da Familia do
prejudicada. Menor e do Idoso, para a seguinte redação;
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A 82: . § 1.° _Os programas de planejamento ramí-
"Art. O Estado organizará uma política Iíar levarão 'em conta as condições de habitação
familiar que atenda aos objetivos materiais e cul- saúde, educação, cultura e lazer a serem con':
turais da família, assegurando o pleno exercício de feridas às famílias, assegurando o acesso à edu-
sua função soeíal: cação, à informação e aos métodos adequados à
regularização da fertilidade, respeitadas as opcões
I - cooperando COm os pais na educação dos individuais."
filhos;
É igual àquelas outras anteriores. São, na realidade,
II - prestando assistência à maternidade e à prejudicadas e não rejeitadas.
infância; Emenda n. o 85:
lU - regulando impostos e encargos gerais
em harmonia com as responsabilidades familiares; "Dê-se nova redação ao caput do art. 3,0 e
seu § 1.°; transforme-se o § 2.0 em novo artigo:
IV - organizando estruturas jurídicas e téc-
nicas que esclareçam e facilitem o exercício de Art. O planejamento familiar, fundado no
uma paternidade responsável; princípio da paternidade responsável 'e no res-
peito ao direito humano à vida, desde a concep-
V - assegurando a gratuidade do casamento ção, é decisão da família.
civil e a eficácia jurídica do casamento religioso,
observadas as exigências da lei." § 1.0 O Estado assegura à família, para o
exercício desse direito, informações adequadas e
Somos pela prejudicialidade, por motivo de as maté- recursos materiais, levado em conta .a segurança,
rias abordadas na emenda proposta, j á se encontrarem o interesse e as condições sócia-econômicas de
contempladas ~o texto do anteprojeto. É1 portanto, pre- seus membros.
judicada. § 2.0 l!: proibido o planejamento familiar
Emenda n.? 83, emenda aditiva ao art. 4.0 , § 3.°: orientado para controles demográficos e popula-
cionais."
"As crianças e adolescentes em situação irre-
gular, sem prejuízo da caracterização de ,crime de Ela é prejudicada também, porque já está contida
responsabilidade civil ou penal dos pais, e assegu- no texto original, com as modificações sofridas.
rada a assístênela do Estado, que os protegera Emenda n. o 86:
contra todos os tipos de discriminação, opressão "Art. 3.° O planejamento familiar, fundado
ou exploração. Somente é permitido o regime de nos principias da paternidade responsável, dig-
confinamento nos casos de Infração prevista na nidade humana e no respeito à vida. desde ,a con-
legislação própria." cepção, é decisão do casal, competindo ao Esta-
do colocar à d~sposição da sociedade reoureos
Prejudicada. Ela não acrescenta nada ao texto orígí- educacionais, técnicos e eíentíücos recomenda-
nal. dos pela Medicina, para o exercício desse direito."
o SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr. É igual a outras emendas desse mesmo teor. Então,
Presidente, permite? dispensa comentários.
Mas aí estamos emendando o anteprojeto. Se nada Emenda n,» 87:
se modi:Íica; no anteprojeto, ela é 'rejeitada; não é preju- "Art. 3.°
dicada. Quando adita é que prejudica. Aí, _é prejudicada,
porque modifica. Mas, como diz V. Ex. a , nao tenho outro § 1.0 Os programas de planejamento fami-
texto, esse apenas repete o que V. Ex. a já disse no a?te- liar levarão em conta as condições de habitação,
projeto, estamos examinando as emendas ao anteprojeto, saúde, educação, credo religioso, cultura e lazer
a serem conferidas às famílias."
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA C~VA~ANTI - Ela inclui aqui o conceito de credo religioso. Parece-
Então ela é prejudicada pelo fato de que ja esta no ante- me que já está contida no caput do artigo, quando asse-
projeto. Ela não é rejeitada, porque ela tem conteúdo que gura a liberdade de decisão do casal.
não agride os demais projetos. É óbvio que o aspecto da crença religiosa já estará
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mas respeitado nessa decisão.
aí é preciso distinguir quando ela é prejudicada, porque Emenda n.O 88:
contraria ... "TrMlsforme-se o § 2.0 do art. 3.0 em artigo,
com a seguinte redação:
A SRA CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Mas S. Ex.a diz aqui: está prejudicada, visto que nada Art. As pesquisas em genética humana de-
acrscenta ao texto original. Mas ela representa o texto pendem de autorização prévia dos órgãos compe-
original. tentes, sendo vedada:
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 293

I - qualquer prática que atente contra a não é objeto desta subcomissão. Então, ela estaria pre-
dignidade humana; judicada.
II - sua utilização para fins comerciais." O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Essa tam-
Esta foi aprovada parcialmente. Já foi apreciada. bém destaquei por considerar que o deficiente também é
Emenda n.o 89: membro da família.
"Art. 1.° .......•........•.....•.....•..••• O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A Emenda de
§ 6.° Dissolvida a primeira sociedade conju- n.O 95 foi aprovada parcialmente.
gal, cada cônjuge só poderá contrair mais um ca- Emenda n.O 96:
samento civiL"
Dê-se ao caput do art. 6.° a seguinte redação:
Ela foi rejeitada, porque limita o que deve ser objeto
da legislação ordinária. "O Estado e a sociedade têm o dever de am-
parar as pessoas idosas e, as deficientes, mediante
A Emenda n.O 90 foi aprovada, a 91 e a 92 também políticas e programas permanentes que assegu-
aprovadas. rem oportunidades de participação na comuni-
Emenda n. O 93: dade defendam sua saúde ,e bem-estar, garan-
tam 'condições dignas de vida e impeçam a dis-
"Emenda modificativo-aditiva criminação de qualquer natureza."
Transforme-se o § 4.° do art. 4.0 ,em novo É o mesmo problema de incluir o deficiente no capí-
artigo, cuja redação vem a seguir: tulo da familia, quando há uma outra sub~o~issão que
Art. O trabalho do menor será regulado trata especificamente, do problema dos defícíentes. Ela,
em lei especial, sendo-lhe vedado o ingresso no na r~alidade, também está prejudicada e não totalmente
mercado de trabalho em idade inferior a qua- rejeitada.
torze anos. Emenda n,o 97:
§ 1.0 É dever da sociedade 'e do Estado asse- "Acrescente-se o seguinte artigo ao ante-
gurar ao menor adequada preparação profissio- projeto:
nal, levando-se em conta sua vocação e seu inte-
resse. Art. 7.° As famílias fazem jus a um subsídio
§ 2.0 Ao menor ingresso no mercado de tra- para complementar a renda familiar, sempre que
balho são assegurados: se recomendar tal medida para assegurar a sub-
sistência de menores, idosos ou pessoas portadoras
I - salário mensal não inferior a um salário de deficiência, no seu próprio lar.
mínimo;
Parágrafo único. Anualmente, a União, os
II - direitos sociais e previdenciários co- Estados, o Distrito Federal e os Municípios desti-
muns aos trabalhadores adultos; narão 1% da receita tributária para compor o
lU - condições de trabalho que, não atentem fundo de custeio do subsídio familiar, cuja dis-
contra sua integridade física 'e moral." tribuição será regulada em lei complementar."
Somos pela rejeição da emenda, porquanto as pro- Sou de parecer pela rejeição, porque se trata de uma
posições já aproveitadas regulam adequadamente a ma- medida inviável e, se se fosse fazer isso, 1% da receita
téria. Aqui temos alguns conceitos diferentes, como por não daria para atender. Analisando o perfil da família
exemplo, o salário mínimo igual para o menor. Acho que brasileira, talvez, 90% :poderiam ser classificadas como
isso trará limitação ao ingresso de menores, no mercado necessitando de subsídios para complementar a renda
de trabalho, ao invés de facilitar. familiar. Eu mesmo requereria isso ao Estado.
Emenda n.o 94: Esta está rejeitada. Emenda n,o 98:
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Esta eu a "Dê-se ao caput do art. 3.° a seguinte redação:
destaquei. Art. 3.° O planejamento familiar, fundado
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Emenda n.O 94: nos princípios da dignidade humana e no respeito
à vida desde o instante da concepção, é decisão
Substitua-se o art. 4.° (renumerado para 5.°) do casal, competindo ao Estado colocar à disposi-
e seus §§ 1.0, 2.° e 3.°; transforme-se o § 4.0 'em ção da sociedade recursos educacionais, técnicos
novo artigo, eonferíndo-lhe nova redação. e cientificos recomendados pela medicina, para
Art. A sociedade e ao Estado incumbe o exercício desse direito."
prestar assistência à maternidade, à infância, à É igual às demais emendas. Ela estaria prejudicada
adolescência, ao idoso e à pessoa portadora de e não rejeitada. Ela já foi objeto de comentário. É o
deficiência. problema do respeito à vida desde o instante da concepção.
§ 1.0 Toda criança tem assegurados os di- Entendo que essa expressão já está contida no direito
reitos inerentes à vida, à liberdade, à alimentação, à vida.
à saúde, à 'educação, ao abrigo; ao lazer e à con-
vivência familiar e comunitária. Ela estaria rejeitada, porque é uma emenda aditiva.
Se não estamos acatando a inclusão desta expressão
§ 2.° Ao menor em situação irregular, é asse- "desde O momento da concepção", ela deveria, realmente;
gurada assistência especial que o coloque a salvo ser rejeitada.
de discriminação, segregação, opressão e violên-
cia, sob qualquer pretexto," A Emenda n,o 99 está aprovada.
Esta, na realidade, está prejudicada, porque" no que Emenda n.O 100:
se refere ao menor e 'ao idoso, os conceitos estão I3JIIlpa-
rados no texto, com as modificações propostas. Entre- "A pequena propriedade familiar não poderá
tanto, acrescenta aqui o problema dos deficiente", que ser penhorada nem sujeita a qualquer gravame."
294 Segunda·feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Entendemos que é matéria pertinente a outra subco- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
missão. Então, não está rejeitada, não é?
Emenda n.? 101: O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Não. Ela é pre-
"O Estado assegura a todo o cidadão aposen- judicada.
tadoria aos 70 anos de idade, desde que não per- Emenda n.v 103:
ceba qualquer outro beneficio da Previdência É igual. às outras três que já foram comentadas, por-
Social e na forma da lei." tanto, ela é prejudicada.
Ela está rejeitada, porque uma outra emenda acolhida Emenda n.? 104:
Ja reduz essa idade para 60 e 65 anos, respectivamente,
para a mulher e para o homem. No § 4.° do art. 1.0, suprime-se a parte final
que diz: "desde que haja prévia separação judi-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - cial por mais de dois anos."
Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Pois não. Aí torna o divórcio automático. Já ...
O SR. CONSTITillNTE NELSON CARNEIRO - Rejei-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - tado, com os meus aplausos.
Peço desculpas. Eu estava aqui redigindo um pedido de
destaque e perdi a de n.O 100. "A pequena propriedade . O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Emenda n.o 105.
familiar não poderá ser penhorada, nem sujeita a qual- Também igual às anteriores. Ela já foi comentada. Pre-
quer gravame." judicada, portanto.
Ela foi rejeitada? A Emenda n,v 106:
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Ela foi pro- "Dê-se ao § 1.0 do art. 3.° a seguinte redação:
posta pela rejeição. Por considerar que a matéria é per- § 1.0 O direito à saúde e à alimentação é
tinente a outra subcomissão. assegurado, devendo o Estado prestar assistência
àqueles cujos pais não tenham condícões de
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Real- fazê-lo." _ '
mente, é um assunto da Comissão da Ordem Econômica.
~ rejeitada, porque o texto proposto assegura esses
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - ~. Isto aí direitos desde a concepção.'
interfere num problema de toda ordem econômica.
Emenda 107:
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI
Tudo bem! "Dê-se ao parágrafo único do art. 5.° a se-
guinte redação:
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Emenda n.o 102:
Parágrafo único - A adoção por estrangeiros
"Dê-se ao art. 3.° do anteprojeto "Da Família, só é permitida nos casos e condições previstos em
do Menor e do Idoso" a seguinte redação: lei, e desde que para aqueles residentes no País."
Art. 3.° A regulação da natalidade funda- Somos pela rejeição, uma vez que a emenda dificulta
menta-se nos princípios da paternidade respon- o processo de adoção por estrangeiros. Desde que não há
sável, da finalidade do ato matrimonial, da digni- possibilidade de os brasileiros adotarem todas as crianças
dade humana, do respeito à natureza humana e que se beneficiariam com a adoção, deve-se conceder aos
à vida desde a concepção, e é de livre decisão estrangeiros o direito de oferecer um lar aos menores, que
do casal, competindo ao Estado colocar à dispo- dele necessitam, não importasdo onde esse lar esteí a ra-
sição da sociedade recursos educacíonaía, técnicos dicado.
e científicos para o exercício desse direito, observa-
das as convicções de natureza 'ética dos cônjuges. AÍ é realmente um problema de rejeição e eu acho
que a lei deve estabelecer condições, até mesmo o aeom-
§ ,1.0 Os programas de planejamento familiar panhamento pelas representações diplomáticas do País,
levarão em 'Conta as condições de habitação, saú- no Exterior, até uma determinada época, mas eu acho
de, educação, cultura e lazer a serem conferidas que a simples limitação não é o caso.
às famílias. O SR. .PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Ainda por-
I - ~ vedada a adoção de métodos ou práti- que, se S. Ex. a me permite, ao acolher a emenda do
cas que tenham por finalidade a criação de pro- Constituinte Iberê Ferl'eira, esta aí estaria prejudicada,
gramas antinatalistas. quando lá diz: "Toda criança tem direito a uma nacio-
nalidade".
§ 2.0 As pesquisas e experiências de genética
humana dependem da autorização dos órgãos O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Então, está pro-
posta pela rejeição.
competentes, não sendo permitida:
Emenda n.O 108:-
I - qualquer prática que atente contra a
vida, a integridade fisica e a dignidade da pessoa - "Substitua-se § 3.° do artigo 1.0
humana desde o instante de sua concepção; . -
"Have;ndo impedimento legal para novo ca-
II - a manipulação de embriões humanos e samento, do homem ou da mulher, os filhos nas-
os bancos de embriões. cidos de sua uníãó, estável e notória serão con-
siderados 'legítimos para todos os efeitos, regu-
§ 3.0 ~ vedado qualquer processo de fecun- , laudo-se as relações Jurí4icaS entre os pais, como
dação ou de procriação artificial." se casados fossem pelo regime da separação de
bens," '.' - '
Ela está prejudicada, pela redação' acolhida, que é
mais adequada, ao nosso ver. Parece-me .que 'é .matéria de lei ordinária.
Julho de 1987 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACiONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 295

'É um detalhamento daquilo que está previsto no ar- § 3.° A união estável entre, homem e mu-
tigo. lher será protegida, pelo Estado, que garantirá
Pela rejeição. condições para torná-la família de direito."
Emenda n.? 109: Ela não é rejeitada. Ela é prejudicada, porque, com
melhor propriedade, foi acolhida a Emenda n.O 141, com-
"Substitutivo ao anteprojeto do Relator: binada com a de n.o 33.
Art. A familia constituída pelo casametno Ela é prejudicada.
é a célula básica da sociedade e terá direito a Emenda 116: aprovada.
proteção do Estado.
§ 1.0 O casamento será civil e gratuita a sua
Emenda 117: esta está prejudicada também, pois tem
celebração. igual teor a outras anteriores. l!: prejudicada, portanto.
§ 2.° O casamento religioso terá efeitos civis,
Emenda 118:
nos termos da lei. "Substitua-se o art. 3,.° do Anteprojeto Cons-
§ 3.° O casamento pode ser dissolvido nos
titucional. O Planejamento familiar deverá ser
casos expressos em lei. garantido pelo Estado, onde a mulher terá o di-
reito da livre determinação do número de filhos,
§ 4.° A anulação e, a nulidade do casamento sendo vedada a adoção de qualquer prática coer-
podem ser argüidas em qualquer época. citiva pelo Poder Público ou 'entidades privadas."
Art. A lei disporá sobre o planejamento fa- Está prejudicada também, porque está amparada pelo
miliar, fundado nos princípios éticos, morais, da texto.
paternidade rssponsável e da dignidade humana.
Emenda 119: foi aprovada.
Art. A maternídade, a infância e a adoles-
cência terão a assistência e proteção do Estado. Emenda 120: aprovada.
Parágrafo único - A criança tem direito à Emenda 121: aprovada.
proteção do Estado e da SOciedade, nos termos Emenda 122: aprovada.
da Declaração Universal dos Direitos da criança."
Emenda 123:
Nós rejeitamos esta emenda, porque a única inovação
que ela tem é no caso da dissolução do casamento e não Dê-se a seguinte redação ao parágrafo único,
prevê o prazo de separação judicial. No restante, ela do art. 6.°:
coincide com o texto proposto. E, como também o texto "Parágrafo único. Os proventos da pensão
está propondo modificações nos outros artigos, pelo aco-
lhimento de emendas, ela seria na realidade rejeitada. e da aposentadoria serão reajustados nas mesmas
proporções dos reajustes concedidos aos traba-
Emenda n.o 110: Ihadoresem atívídade. A aposentadoria por idade
Ela já foi comentada. l!: o problema "desde o momen- será diferenciada, de acordo com as característi-
to da concepção". No restante, ela já foi comentada em cas de cada região."
outras emendas; ela é prejudicada ·e não rejeitada. Aí, nós estamos rejeitando, porque entendemos que
Emenda n.O 111: esse conceito estaria muito vago. Como acolhemos uma
outra emenda, já estabelecendo diferenciação para o ho-
"Acrescente-se o seguínts parágrafo ao art. 6.0 mem e para mulher e reduzindo a Idade, nós achamos
do anteprojeto: que essa deveria ser rejeitada.
Art. 6.° . Emenda 124:
§ 2.° Será gratuito o acesso dos idosos nos
transportes coletivos urbanos." "Acrescenre-se ao anteprojeto de texto cons-
titucional o seguinte artigo 7.0:
Já consideramos uma anterior, rejeitada por se tratar
de matéria não constitucional. "Art. 7.° O Poder Público criará um órgão
especial de natureza permanente com dotação or-
Emenda 112: Já está aprovada. çamentária da União, dos Estados, dos Municípios
Emenda 113: aprovada. e do Distrito Federal, para traçare implementar
a política social do idoso em todo o Território
Emenda 114: Nacional, com o objetivo de ampará-lo e integrá-
Promover alteração do anteprojeto, conforme 10 à sociedade. Lei Complementar disporá sobre
Relator Deputado Constituinte Eraldo Tinoco abai- a matéria."
xo: Entendemos que toda matéria é objeto de lei ordiná-
"Parágrafo único. Os proventos da aposen- ria. Por isso, propusemos pela rejeição.
tadoria serão reajustados nas mesmas proporções Emenda 125:
dos reajustes concedidos aos Trabalhadores em
atividade. Aos 55 (cinqüenta 'e cinco) anos de "Acrescente-se ao art. 6.° o seguinte pará-
idade, é garantida a .apos:entadorià. para os que grafo:
assim o desejarem," "l!: garantido pensão aos dependentes do se-
Diminui maís ainda a aposentadoria .por id~de, para gurado da Previdência. Social e. ao cônjuge so-
ss 'anos.. .
.. .' brevivente."
Somos pela rejeição. Parece que a matéria está melhor colocada em outra
emenda. Por isso propusemos. a Fejeição de~a emenda.
Emenda:n:o 115: :'
.': A .matéría de assegurar a; pensão ao cônjuge sobre-
"Artigo 1:° vivente já está assegurada em outra.
296 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLéiA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Então, zemos consíderações a respeito, em outras emendas de
eu acho que é prejudicada. igual teor.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Ela é prejudicada, Emenda 134:
desculpe, não é rejeitada, "Inclua-se, no Anteprojeto da Subcomissão da
Emenda 126: Família, do Menor e do Idoso, a seguinte emenda:
"Inclua-se, no capítulo referente ao menor, Disposições Transitórias.
em lugar do art. 5.° do anteprojeto, o seguinte Art. O Serviço Social do Comércio - SESC
dispositivo: e o Serviço Social da Indústria - SESI deverão
Art. A adoção de menores em situação irre- ser unificados, com suas respectivas fontes de
gular, quando feita por brasileiros, será estimu- 'custeio, numa única entidade sob a forma jurí-
lada pelo Estado, com assistência jurídica e in- dica de fundação, tutelada pelo Estado, tendo
centivos fiscais, na forma que a lei estaoeleeer, como função prestar assistência integral ao me-
ficando a pessoa que adotá-lo com as mesmas nor 'em situação irregular."
responsabilidades legais que os pais."
Somos pela reíeíção da emenda, porquanto não se
Parece que é redundante. Por isso, propusemos a re- trata de matéria constitucional. A Constituição não pode
jeição. dizer o que uma entidade privada deva fazer, se deva
A adoção, inclusive pelo texto proposto, deixa até de se associar ou não a outra. E o SESI e o SESC são enti-
haver a discriminação de filho adotivo; passa a ser filho dades privadas.
mesmo. Emenda 135:
A 127 está aprovada. "Inclua-se, após o art. 5.° do Anteprojeto
Emenda 128: Constitucional da Bubccmíssâo da Família, do Me-
nor ,e do Idoso, o artigo com a seguinte redação:
"Inclua-se, no capítulo referente ao Menor,
em lugar do art. 4.0, § 2.° do anteprojeto, o se- "Art. A adoção de menores, em qualquer
guinte dispositivo: condição, deverá ser matéria de rápida e priori-
tária tramitação, nos moldes do procedimento
§ 2.° O direito à educação e à sobrevivência sumaríssimo previsto no art. 275 do Código de
é assegurado desde o nascimento, devendo o Es- Processo CiviL"
tado garantir gratuitamente, às famílias que ne-
cessitam, l!li 'ed:'Ulcação e assistência integral às Entendemos que a matéria deva ser rejeitada, porque
crianças de até 10 anos 'em instituições especia- a Constituição não pode fa:?ler referência a uma lei ordi-
lizadas." nária que poderá, inclusive, cair ou ser modificada, espe-
cialmente o art. 275, dessa lei.
Aqui é o mesmo problema das outras que trataram
do problema da idade. Entendemos que dos sete anos em Mas deverá ser objeto de matéria ordinária.
diante, é objeto da educação regular. A Emenda n.> 136 está aprovada.
A 129 foi aprovada. Emenda 137: altera-se § 1.0, art. 3.°, os problemas de
Emenda 130: planejamento familiar, etc.
"Inclua-se, no capítulo referente ao menor, Esta é igual às demais que já foram comentadas.
em lugar do art. 3.°, o seguinte texto: A emenda está prejudicada.
Àl3 crianças e adolescentes, em situação irre- Emenda n. ° 138, idem à anterior.
gular, sem prejuízo das responsabílídades dos Emenda n,v 139 está aprovada.
pais, é assegurada a assístêncla do Estado que os
protegerá contra todos os tipos de discriminação, Emenda n.O 140, já está comentada anteriormente.
opressão e exploração, garantindo a educação, Essa emenda está prejudicada.
alimentação e preparando-os para o trabalho."
Emenda n.o 141 está aprovada.
Propomos a rejeição, porquanto os §§ 1.0, 2.0, art. 4.°,
asseguram à criança o direito à educação e à alimentação. Emenda n.O 142 está aprovada.
O § 4.°, do mesmo artigo, trata do trabalho do menor. Emenda n.o 143:
Entenda 131: "Dê-se ao art. 5.° do Anteprojeto do Relator
a seguinte redação:
"Substitua-se o art. 3.° do Anteprojeto Cons-
titucional da Subcomissão da F.amília, do Menor "Art. 5.° A lei disporá sobre:
e do Idoso, com a seguinte redação: I - o processo de adoção, resguardando os
Art. 3.° O planejamento familiar deverá ser direitos inerentes à cidadania e à integridade fí-
garantido pelo Estado, a homens e mulheres, atra- sica e mental da criança ou adolescente e com
vés do direito da livre determinação do número normas específicas quanto à adoção por estran-
de filhos, sendo vedada a adoção de qualquer prá- geiros;
tica coercitiva pelo Poder Público e por entidades 11 - constituição e funcionamento de insti-
privadas." tutos de adoção, a quem compete habilitar ra-
Essa emenda está prejudicada, porque temos outras mílías interessadas na adoção, acompanhar e ava-
do mesmo teor que já foram apreciadas, e já está con- liar a integração da criança le do adolescente na
templada nó texto. nova família."
Idem para a de n.O 132. prejudicada também. somos pela rejeição, visto que ° funcionamento dos
A de n.O 133: proposta rejeitada, por se tratar do institutos de adoção serão regidos por liai ordinária. O tex-
problema de passe livre para maiores de 65 anos. Já fi- to constitucional apresentado já determina estímulo para
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Segunda-feira 20 297

adoção, proporcionado pelos Poderes Públicos, na forma casas. Nestes locais, serão postos, à disposição dos
da 1'8í. usuários, serviços de fisioterapia, terapia ocupa-
Ela seria, na realidade, prejudicada, porque a idéia cional, pequenos cuidados de enfermagem, lazer,
de facilitar o processo de adoção já está contido no texto ludoterapia, etc."
proposto. Essa 'emenda foi rejeitada pelo detalhísmo que ela
Emenda 134: "Substitua-se o art. 3.0 do anteprojeto." traz. Não cabe, evidentemente, no texto constitucional,
esse nível de detalhes. Inclusive dizer que o idoso deve
Eslsa está igual as outras anteriores que já foram passar o dia num lugar, 'e, à noite, em outro. Deve ser
comentadas. Está prejudicada. problema de legislação ordinária.
Emenda n. o 145: Emenda n.? 150:
"Dê-se ao item II, do § 2.0 , do art. 3.0 do "Altere-se o § 1.0 do ~l;. 3.0 : Os problemas
Anteprojeto do Relator, a seguinte redação: de planejamento familiar, etc ... "
"Art. 3.0 • • • • • • • • . • . • • • • • . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Essa já é objeto de outros comentários. A emenda é
§ 2.0 .....................................•. prejudicada.
II - a manutenção ou a transferência de A Emenda 151 é de igual teor, cabendo, portanto os
embriões humanos in vitro para procriação ou in- mesmos comentários. '
semínação artificial, ou para fins experimentais
ou comerciais." A Emenda n. O 152 refere-se à anulação 'e a nulidade
do casamento pode ser declarada na forma e condícões
Ela está, na realidade, preíudícada pela Emenda n.? previstas em l-ei. Como já havíamos colhido uma outra
002, que é mais, abrangente e detalhada. emenda que trata apenas da nulidade e não da anulação,
Emenda n. O 146: essa 'emenda deveria ser rejeitada.
"Dê-se ao caput ,e ao § 3.0 do art. 2.0 do Ante- Emenda n. O 153: dá ao § 4.0 , do art. 3.0 , a seguinte
projeto do Relator a redação que se segue: redação:
"Art. 2.0 Os direitos e deveres referentes à "O trabalho do menor será regulado em lei,
sociedade conjugal, ao pátrio poder, ao registro sendo proibido o ingresso de menor de 12 anos no
de filhos, à fixação do domicílio da família e à mercado de trabalho. A lei poderá instituir sis-
titularidade e administração' dos bens do casal tema especial de assistência ao menor carent-e,
são exercidos igualmente pelo homem e pela mu- de modo a lhe possibilitar a iniciação do trabalho,
lher. sem prejuízo da obtenção de escolaridade."
O texto aprovado, com as modificações, é mais ade-
3.0 A lei regulará a investigação de pater-
§ quado, porque, esse, inclusive baixa a idade para 12 anos
nidade, mediante ação civil, privada ou pública. para o ingresso no mercado de trabalho.
A ação pública terá início quando o pai, intimado Emenda n.? 154:
pelo Ministério Público, após o registro feito pela
mãe, não assumir a paternidade do filho, caso em Acrescente-se ao artigo como inciso, o se-
que se lhe garantirá a gratuidade dos meios ne- guinte:
cessários à comprovação da verdade." "Aos cidadãos, com idade mais avançada, serão
Somos pela rejeição da sugestão relativa ao caput. asseguradas condições especiais de moradia, tra-
Entend'emos que a fixação do domicilio integra o rol dos balho opcional, seguridade social, partícípação
direitos e deveres da sociedade conjugal, não necessitando plena na vida de comunidade, vedada a segre-
de ser citado. gação."
Quanto à sugestão referente ao § 3.0 , opinamos pela 1ll prejudicada, por 'estar contida na redacão do texto
rejeição, vez que a expressão que se pretende editar não ~~~ -
tem figurado no texto constitucional, mas sim, na legis- Emenda n. O 155: altera o § 1.0 do art. 3.0
lação ordinária, vista a sua característíca processual.
Emenda n.? 14.7: foi aprovada, parcialmente. Emenda prejudicada por ter igual teor ao das já an-
teriormente comentadas.
Emenda n. O 148: ela já está comentada em textos ante-
riores. Ela é prejudicada e não rejeitada. Emenda n.? 156, também prejudicada, por ter igual
teor ao das anteriormente comentadas.
Emenda n.? 149:
Emenda n. o 157, da mesma forma, prejudicada.
"Inclua-se no artigo 6.0 do Anteprojeto da
Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso: Emenda n. O 158, prejudicada, da mesma forma que
Art. 6.0 O Estado e a sociedade têm o dever as anteriores.
de amparar as pessoas idosas, mediante políticas Emenda n. o 159, já houve comentário a uma outra
e programas permanentes que assegurem oportu- emenda de igual teor. Prejudicada.
nidades de participação na comunidade, defen-
dam sua saúde '8 hem-estar ·e garantam condições Emenda n. o 160:
dignas de vida.
"Dê-se ao parágrafo único do art. 6.0 a se-
Com recursos oriundos do Fundo Nacional de guín te redação:
Saúde provenientes da Receita Tributária e atra-
vés de convênios com os oovernos Estaduais, se- Os proventos da aposentadoria serão reajus-
rão criados Oentro-Día Geriátricos, nos mesmos tados nas mesmas, proporções dos' reajustes con-
moldes das creches hoje existentes. Os idosos c-edidos aos trabalhadores em atividade.
aposentados, com menos de 5 salários mínimos, Garante-se a aposentadoria voluntária, com
passarão o dia, retomando à' noíte para ss suas proventos integrais, aos 70 anos de idade."
298 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Essa emenda foi rejeitada, porque uma outra aeo- tos de solidariedade humana, de amor à liber-
lhida já reduz essa idade. dade e a paz 'entre os povos. Não é permitido o
confinamento.
Emenda n. O 161:
§ 4.0 O trabalho de menor serâ regulado em
Acrescente-se ao texto constitucional o se- legislação especial, não sendo permitido ingresso
guinte: de menores de 14 anos no mercado de trabalho
"A União oferecerá aos Estados e Municípios salvo autorização judicial. Ao menor carente
abandonado será proporcionada uma política edu-
e
recursos, para que o atendimento do menor seja
descentralizado e de forma separada entre o me- cacional e assistencial 1intensa e contínua, pre-
nor carente e o menor infrator." parando-o para o trabalho, com participacão di-
reta da comunidade." •
Parecer contrário. O problema da distribuição dos
recursos públicos entre os diversos níveis do Governo é Parecer contrário, porque as sugestões foram ampa-
matéria atinente a outra Buhcomíssâo. radas no texto original, com as emendas acolhidas.
A emenda 13.0 166:
Em'enda n. O 162:
"Dê-se nova redação ao art. 5.0 :
"Art. 1.0 A família constituída pela umao
estável entre o homem e a mulher, tem direito à "A adoção de menores, feita por brasileiros,
proteção social, econômica e jurídica do Estado, será estimulada pelo Estado, com assistência [u-
na efetivação de todas as condições que permitam rídícae incentivos fiscais, na forma que a lei esta-
a realização de seus membros". belecer. Não é permitida a adoção por estran-
geiros.
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEmO - Essa
emenda é ampla. Parágrafo único. Adoção deve ser uma só,
plena, dela resultando parentesco civil."
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - E9sru emenda
contém uma redação, privilegiando a relação, a união Somos contrários a essa emenda, porque não deve ha-
estável, como forma de constituição da família. Somos ver a limitação de não ser permitida a adoção por es-
pela rejeição. trangeiros. Estabelecemos, sim, a no-ma de que esse tipo
de adoção deve ser regulada em lei que poderá especificar
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Depois, todas as condições de acompanhamentos. etc. . ..
manda que o casamento possa ser instituído, uma vez
ou mais, pelo divórcio, independente de prévias separa- Emenda n.? 167:
ções. Casa-se num dia, separa-se no outro. "Altere-se o parágrafo único do art. 6.0
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Emenda n. O 163: Parágrafo único. "Os proventos da aposen-
"Os § 1.0 e 2.0 do art. 2.0 passam a ter nova tadoria serão iguais aos percentuais percebidos
redação: quando 'em atividade e reaiustados nas mesmas
§ 1.0 Qualquer que sej a a origem da filiação,
proporções de reajustes concedidos aos trabalha-
o direito dos filhos é reconhecido em igualdade de dores na ativa. Aos 65 anos de idade, é garantida
condições, vedado qualquer tipo de discriminação, a aposentadoria para os que assim o desejarem."
inclusive quanto ao registro. SOu pela rejeição.
S 2.° Os pais têm direito à proteção da so- Quanto à equíparação dos proventos, é inviável no
ciedade e do Estado nas relações com os filhos, momento. Quanto ao limite de idade ...
notadamente quanto à manutenção, à educação e O problema é que as aposentadorias serão iguais aos
à realização profissional. percebidos quando em atividade. Nisso, 'entra o problema
§ 3.0 'Jí: dever do Estado instituir uma polí- de cálculo atuarial. Não sei se é o caso de a Constituição
tica social que atenda 'aos cidadãos em todas as estabelecer exatamente essa norma, porque, parece-me
fases de sua vida. que isso traz sérias conseqüências nos institutos previ-
denciários.
§ 4.0 O exercício do pátrio poder ficará sem-
pre subordinado aos interesses morais e materiais Quanto ao problema dos 65 aons, há uma outra emen-
dos filhos." da mais abrangente que ampara a questão.
Somos pela rejeição, uma vez que as matérias aqui A Emenda '0. 0 168 foi aprovada.
tratadas já mereceram atenção do anteprojeto. Emenda n. O 169:
Considerada prejudicada. "Dê-se ao § 1.0, do art. 3.0 do Anteprojeto a
Emenda n.? 164: seguinte redação ... "
Essa repete as demais. Portanto, está prejudicada.
"Suprimam-se os § 1.0 e 2.0 e íneísos do ar-
tigo 3.0 " A Emenda n.O 170, se retere ao planejamento fami-
liar e repete as demais. Considerada prejudicada.
Sou pela rejeição da 'emenda.
Emenda n.? 171:
A opinião dos debates é que as propostas encaminha-
das indicam a necessídade dos parágrafos. Rejeitada. "Os proventos da aposentadoria serão reajus-
tados nas mesmas proporções dos, reajustes con-
Emenda n. o 165: cedidos aos trabalhadores em atividade. Aos 70
"Os §§ 3.0 e 4.0 do art. 4.0 passam a ter a aons de idade é garantido o amparo previden-
seguinte redação: ciário."
§ 3.0 Os menores infratores terão especial Sou pela rejeição, pois as idéias estão eontídas na
proteção do Estado, que lhes assegurará desen- redação orígínal e modífíeada, da mesma forma, pelas
volvimento sadio, estímulando-lhes os -sentímen- emendas já acolhidas.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda.feira 20 299

Emenda n.o 172: claro que, se a Constituição assegura, para efeitos da


"Acrescente-se, onde couber, o seguinte artigo: proteção do Estado, a união estável, como sendo garantida
por esse díreíto, isso inclui, o problema da obtenção de
Art. "O Poder Público instituirá uma poli- benefícios do empregador. Declarar que "a união está-
tica familiar que atenda aos objetivos morais e v-el é f.eita mediante declaração escrita conjunta do ca-
culturais da família, e assegure o pleno exercício sal, independente do tempo de duração," penso que isso
de sua função social, cooperando com os pais na é objeto da lei que regulamente essa questão.
educação dos filhos, prestando assistência 'à ma- Ainda, o problema dessa "anistia civil para todos os
ternidade e à infância." filhos irregularmente declarados", penso que não é obje-
Essa emenda é igual a uma outra já analisada. to de texto constitucional.
Está, portanto, prejudicada. O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - No
Emenda n.? 173: máximo das disposições transitórias.
"Acrescente-se ao art. 7.° ao anteprojeto com a O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - No máximo.
seguinte redação: Emenda n.O 177:
"Lei especial que fixará aposentadoría dos "Inclua-se, onde couber:
bancários, jornalistas profissionais, aeronautas e Art. Os idosos têm direito à segurança
professores." econômica, à isenção de impostos e contribuições,
O assunto não tem nada a ver com o problema do me- direitos à moradia, ao convívio tamíüar ou co-
nor, da família e do idoso. Por isso, rejeitada a emenda. munitário e à proteção da saúdec .
Emenda n.? 174: § 1.0 São idosos todos aqueles que atingem
"Acrescente-se ao art. 7.° ao anteprojeto com a terceira idade, seja por razão de ordem cro-
a seguinte redação: nológica, de problemas de saúde ou ainda apo-
sentadoria por tempo de serviço ou idade de 65
"A lei poderá instituir fundos de prestação ali- anos.
mentícia, destinados a satisfazer os alimentos pa- Art. O Estado garantirá estes direitos me-
ra menores carentes, cujos recursos provirão das diante:
fontes por ela previstos."
Partilhando, embora a grande preocupação do autor I - aposentadoria integral, sem perda de seu
em assegurar recursos para fazer face aos problemas de valor, reajustada na mesma proporção das altera-
carentes, proponho a rejeição da emenda, por se tratar de ções que eventualmente incidirem sobre salários
matéria de legislação ordinária. ou vencimentos dos trabalhadores em atividade;
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - V. Ex. a II - oferta de asilos ou pensões àqueles que
me permite? não dispuserem de abrigo condigno, onde sejam
propiciadas atividades de lazer;
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Pois não, Ex.a
III - oferta de serviços e ações de saúde ade-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Esse quados às necessidades da velhice;
fundo de prestação alimentícia é o que existe no Direito IV - isenção do imposto sobre a Tenda e da
francês, quando da separação oficial, no divórcio, o côn-
juge obrigado a alimentar os filhos, não tem recursos para contribuição de previdência aos aposentados cujos
fazê-lo. Para isso, há um fundo de assistência no Direito proventos constituam, comprovadámente sua
francês. Mas, isso é da legislação civil, como V. Ex.a acen- única fonte de rendimentos; ,
tuou, e não de uma Constituição. Certamente, Sua Exce- V - elaboração de políticas públicas voltadas
lência leu isso no Direito francês. à integração social e realização emocional dos ido-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Por isso, no pare- sos."
cer, declaro que partilho da idéia, embora considerando Somos pela rejeição. As idéias estão contidas no texto
que não seja do texto constitucional. original, sobretudo após acolhidas as emendas anteriores.
A Emenda n.> 175 é igual a outras emendas anteriores. Na realidade, essa emenda seria prejudicada e não rejei-
Por isso, está prejudicada. tada.
A Emenda n.? 176: O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Sr.
Presidente, pela ordem.
"Dê-se a seguinte redação ao art. 3.0; e onde
couber, acrescente-se: O SR. PRESID~NTE (Nelson Aguiar) - V. Ex.a tem
a palavra.
Art. 3.° Para efeito de proteção do Estado e
obtenção de benefícios do empregador, é reconhe- O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Penso
cida a união estável entre o homem e a mulher que é muito importante essa isenção de imposto sobre a
como entidade familiar. renda dos idosos.
Parágrafo único. A comprovação Ide união es- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Já foi amparada
tável é feita mediante declaração escrita conjunta em outra emenda.
do casal, independente do tempo de duração. Emenda n.O 178:
Art. É declarada anistia civil para todos os "Os municípios só passarão a atuar em todos
filhos irregulares declarados ou não declarados, os níveis de ensino quando as necessidades de
que se registrarem até 31 de dezembro de 1989." educação pré-escolar e de ensino fundamental
Sou pela rejeição, tendo em vista tratar-se de ma- estiverem satisfatoriamente atendidas."
téria própria da legislação ordinária. Por exemplo, quan- Pela rejeição, vez que a matéria não se refere à esta
do se fala em obtenção de benefícios do empregador, está subcomissão.
300 Segunda.feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Houve um engano no encaminhamento dessa emenda. Inclua-se no anteprojeto de texto constitu-


Como a matéria poderá ainda ser tratada no encaminha- cional, na parte concernente à Ordem Social (Di-
mento dessa emenda. Como a matéria poderá ainda ser reitos da mulher trabalhadora), o seguinte dis-
tratada na Comissão Temática, acredito até que seria mais positivo."
apropriado classificá-la como prejudicada e não rejeita- Essa emenda foi encaminhada a esta subcomissão, por
da. engano, quando, no seu parecer, na sua justificativa, O'
Emenda n.O 179: da mesma forma prejudicada, diz o autor se dirige a Direitos da Mulher Trabalhadora, na Or-
seguinte: dem Social.
"Art. 3.0, IV, parágrafo único - "O acesso de Portanto, considerada prejudicada.
todos os brasileiros à educação pré-escolar e ao Emenda n.? 189:
ensino fundamental gratuitos é um direito público
subjetivo, adicionável contra o Estado mediante "Torna cada cidadão doador em potencial e
mandato de injunção." proíbe o comércio de órgãos humanos."
A Emenda n.> 180, também prejudicada. Trata-se de Essa emenda é também prejudicada, por não se tratar
matéria da Subcomissão de Educação. de assunto concernente a esta Subcomissão.
A Emenda n.? 181, diz respeito também ao problema Emenda n.O 190, igual às anteriores apresentadas re-
da Educação. Por isso, está prejudicada. ferentes ao planejamento familiar. Portanto está p~eju.
dicada. '
A Emenda n.> 182 está prejudicada, por não se tratar Emenda n.? 191:
de matéria referente a esta subcomissão.
"Ao § 1.0 do art. 3.0 é acrescentada a redação
A Emenda n,v 183 refere-se ao ensino fundamental. aditiva abaixo, no lugar do atual é introduzido um
Está prejudicada. novo § 2.0 , sendo aquele deslocado para constar
como § 3.0
Emenda n.? 184:
Art. 3.0
"Altere-se no § 1.0 do art. 3.0 do Anteprojeto
Constitucional da Subcomissão da Família, do Me- § 1.0 as famílias, e serão exclusivamente
nor e do Idoso, para a seguinte redação: implementados e conduzidos por instituições mé-
dicas públicas.
§ 1.0 Os programas de planejamento fami- § 2.0 Serão asseguradas condições para que a
liar levarão em conta as condições de habitação, população usuária possa exercer controle sobre o
saúde, educação, cultura e lazer a serem confe- planejamento, execução e desenvolvimento desses
ridas às famílias, assegurando o acesso à educa- programas."
ção, à informação e aos métodos adequados à re-
gularização da fertilidade, respeitadas as opções Somos pela rejeição. O acréscimo ao § 1.0 é limitador
individuais." por impedir que instituições particulares, principalment~
a sfilantrópicas, atuam em programas dessa natureza.
Essa emenda está prejudicada. Refere-se a outras
emendas anteriormente analisadas e comentadas. Quanto ao § 2.° que lhe é acrescentado, é redundante,
desde que a sociedade já disporá de mecanismos próprios
Emende. n.> 185: para se proteger de qualquer desvio, tanto nesse aspecto
Acrescente-se art. 7.0 ao anteçrojeto co ma quanto nos demais campos de atuação do Estado. '
seguinte redação: Com relação ao problema do Planejamento familiar
"A constituição assegura ao trabalhador o di- quando impede "serão exclusivamente implementados ~
reito de sacar, integralmente, o saldo de sua conta conduzidos por instituições médicas públicas". Como as
no FGTS, independentemente do motivo da res- normas do próprio caput do artigo traem uma série de li-
cisão contratual." mitações da não ação coercitiva, da liberdade de escolha
do casal, etc. . .. , é evidente que esse texto seria grande-
Essa emenda é proposta à rejeição, por não se tratar mente limitador.
de matéria referente a esta subcomissão. Emenda n,? 192:
A Emenda n. o 186 é aprovada parcialmente. Dê-se nova redação ao caput do art. 4.0:
A Emenda n.> 187: Art. 4.0 "As ações de saúde são funções de
"Acrescente-se art. 7.0 ao anteprojeto com a natureza pública e privada, cabendo ao Estado sua
normatização e controle."
seguinte redação:
Trata-se de matéria estranha a esta Subcomissão.
As prestações previdenciárias prescreverão Emenda considerada prejudicada. Houve engano quanto ao
no prazo de trinta anos, contados da data em que seu encaminhamento, porque o texto do art. 4.° do nosso
forem devidas aos segurados e dependentes." anteprojeto, nada tem a ver com esse problema:
Por não se tratar de assunto pertinente a esta subco- A Emenda n,o 193 foi aprovada.
missão, está prejudicada. Emenda n.o 194:
Emenda n.? 188: "Dê-se nova redação ao § 1.0 do art. 4.°:
"Impõe às empresas o ônus da remuneração § 1.0 O setor privado de prestação de servi-
pela dupla jornada de trabalho das mães-de-fa- ços de saúde será parte integrante das ações de
mília que laboram fora do lar e a obrigatoriedade saúde para cobertura assistencial à população."
de assegurar às trabalhadoras sobre as quais re-
caiam as principais tarefas domésticas direito a Trata-se de matéria não atinente a esta Subcomissão.
emprego em pé de igualdade com os homens. Portanto, está prejudicada.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 301

Emenda n,? 195: e os destaques concedidos. O Regimento não fala, espe-


"Substitua-se o art. 3.° do anteprojeto consti- cificamente, na forma de votação nas subcomissões. Então,
tucional da Subcomissão da Família, do Menor e nós adotamos a forma de votação plenária.
do Idoso, com a seguinte redação:" Nós estamos aguardando a presença dos colegas para
Repete o mesmo de outras emendas anteriores. Por que alcancemos o quorum, para efeito de votação.
isso, está prejudicada. A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Concluída essa parte, devolvo a palavra ao Sr. Pre- Na parte da manhã, durante o 'exame detalhado que foi
sidente. feito de cada emenda, eu acho que ficou muito claro que
aquelas que foram dadas como aprovadas, exceto os des-
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Sr. taques, e as que foram dadas como prejudicadas, exceto
Relator, peço a palavra. destaques, e as que foram dadas como rejeitadas também,
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Ainda estando exceto destaques, elas até poderiam ser eventualmente
dirígíndo os trabalhos, concedo a palavra a V. Ex. a submetidas à votação, independente do número. Estamos
todos de acordo quanto a esta matéria 'e ninguém irá di-
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Nesse vergir,
momento, creio que cabe uma moção de solidariedade, de O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Com a devida
apoio, de reconhecimento ao trabalho de V. Ex. a , na etapa vênia da Comissão, nós poderíamos votar o projeto, com
dessa nossa tarefa. as emendas acolhidas', porque, no meu modo de ver, as
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Muito obrigado emendas foram acolhidas sem maior contestação.
a V. Ex. a
Então, nós só ressalvaríamos os destaques.
Concluída essa parte, passo a palavra ao Sr. Presidente.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Somente a tí-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Gostaria de tulo de facilitar o trabalho dos Srs. membros da Subco-
dizer aos Srs. Membros desta Subcomissão que este tra- missão, nós já temos, elaborado pela nossa Assessoria,
balho só foi possível, graças, mais uma vez, ao competente o texto consolidado, o projeto original, com as modifica-
trabalho da Assessoria - inclusive perdendo horas a fio, ções, ou inclusões, ou supressões das emendas conside-
passando a noite de ontem para hoje - não só os Srs. As- radas, ravoráveís.
sessores desta Subcomissão como a Assessora do Prodasen, Sem ser, naturalmente, um substitutivo, porque não
Dr.a sonía; que nos apóia. s.as foram de uma atuação que caberia, mas a Assessoria elaborou esse trabalho para fa-
merece destaque. cilitar uma visão global dos S1'8. integrantes da Subco-
Outro aspecto: verificamos, nesse trabalho, que as missão. Eu peço, então, à Assessoria para distribuir, para
idéias são muito boas. Mas, quando se tem um número uma visualização. lembrando que não se trata evidente-
tão grande de emendas, de propostas, de sugestões, fica mente de um substitutivo, mas apenas de uma anteci-
muito difícil a conciliação. Louvamo-nos, também, na pos- pação do trabalho de redação final, caso todas aquelas
sibilidade do destaque e de que o Plenário defina algumas emendas favoráveis tossem aprovadas e nenhuma outra
questões que, com toda sinceridade, do ponto de vista pes- contrária fosse aprovada.
soal, tenho dúvidas. Portanto, muitas vezes, quando rejei- É um texto consolidado, apenas para se ter Uma vi-
tamos uma emenda, o fizemos com pesar, porque enten- são global de como ficaria o texto. Isso permite o aten-
demos que trabalho de todos os Srs. Constituintes é um dimento a essa sugestão, no caso, votação conjunta do
trabalho que merece todo louvor e todo apreço. Se hou- anteprojeto, com as emendas já favoráveis, naturalmente
vesse condições de aprovar todas as emendas, seguramente sem prejuízo dos destaques às emendas favoráveis, e, mui-
o faríamos. Podem verificar que a maioria das emendas to menos, sem prejuízo dos destaques das emendas con-
estão prejudicadas por um texto escolhido de outra forma. trárias.
São rejeitadas, na nossa ótica, sem embargos da decisão
do Plenário, são poucas as emendas, algumas até por ques- O SR. CON8TITUINTE ELIEL RODRIGUES - 81'.
tão de conceito, de posicionamento pessoal. Relator, se eu entendi bem, este que nos está sendo en-
tregue agora já seria um aprimoramento do anterior?
Quero louvar o trabalho de todos os companheiros e
tenho a certeza de que o trabalho resultante será uma O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Exatamente,
contribuição muito boa ao texto constitucional. com a incorporação das. 'emendas sugeridas para aprova-
ção, com o voto do Relator pela aprovação.
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Sr.
Presidente, estava com a palavra. Desejaria que constas- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
se da nossa ata essa moção de aplauso. Isso não invalidaria, 'então, que nós já começássemos a
debater os destaques, não é, Sr. Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Nossa Sub- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Não por-
comissão está em reunião permanente. Vamos suspen- que me parece que nós teríamos primeiro que submeter
dê-la, para almoço, durante 2 horas. Retomaremos os à aprovação o projeto, COm as 'emendas acolhidas, res-
trabalhos às 15 horas. salvados os' destaques; a partir de então, nós iríamos de-
(Suspende-se a reunião às 12 horas e 55 minutos.) batê-los. Estamos apenas aguardando a complementação
do quorum de dez, pelo menos, para efeito de votação.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Declaro rea-
berta a nossa reunião. Vamos dar continuidade aos nos- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Eu
sos trabalhos. 'I1emos alguns esclarecimentos, para efeito gostaria de levantar uma questão de ordem, em colabo-
de votação dessa matéria. ração. Eu acho que, concluídos os destaques, acredito que
não sejam muitos, poderíamos formular destaques já a
Eu queria solicitar a atenção dos nobres colegas para esse texto oferecido agora. Assim, para colaborar, é muito
alguns aspectos: vamos passar, dentro em breve, à fase difícil, nesse mundo de emendas, saber qual foi aquela
de votação, e o Regimento disciplina esta matéria, dizen- que justificou essa redação que "os pais têm o dever de
do, no § 4.°, do art. 29, que a votação do projeto, no caso, criar e educar os filhos menores e os filhos maiores têm
o anteprojeto, far-se-á em globo, ressalvadas as emendas o dever de auxiliar e amparar os pais".
302 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Eu gostaria de tirar essa parte final, "e os filhos fazer um levantamento completo de cada caso, para saber
maiores têm", porque isso já deixa de ser um problema quem era aquele velho ou aquela velha que ali estava, nós
da criança, do idoso, da família. Desde que o cidadão é encontramos pessoas integrantes de famílias do Rio de
maior, ele cumpre ou não o direito elementar; ele vai ao Janeiro, de muito boa situação financeira e que se valiam
Código Civil e o Código Civil obriga. Também o menor, do fato de serem ligadas ao Governo para se livrarem de
desde que trabalhe, 'ele é obrigado a assistir à família, uma pessoa idosa, jogando-a dentro de um asilo.
quando a família necessita, quando ele tem uma renda. Então, naquela ocasião, no Estado da Guanabara, nós
Eu não sei qual é a emenda para a qual se pediu destaque. criamos, pela Assembléia Legislativa do Estado, uma co-
Acho que a idéia é boa, mas não deve figurar na Cons- brança relativa à renda familiar daquela pessoa que tinha
tituição. gente ainda asilada. Foi uma forma de abrir vagas para
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Só queria escla- pessoas que não tinham mais ninguém. Porque, diante
recer que a respeito do texto específico que V. Ex.a exem- de terem que pagar, levaram as pessoas idosas para suas
plifica, não houve nenhuma emenda; é o texto orígínal. casas.
Ai, 'então, repete textualmente o texto original, desde que O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Tivemos casos
não houve nenhuma emenda a respeito. piores no Estado do Espírito Santo, na Secretaria de As-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - 1!: sistência Social; algumas pessoas colocam os velhos no
claro, até acho que o nosso trabalho aqui não deva ser "Adauto Botelho", por exemplo, e dão endereço que não
tão regimental, mas deve ser o melhor possível com uma existe; na hora de idevolver não pode, porque não se sabe
colaboração maior possível. Concluído o exame dos des- onde está a família. A irresponsabilidade chega a esse
taques às emendas, nós poderíamos, se os colegas estive- ponto.
rem de acordo, se houver uma ou outra divergência com O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Uma
o texto formulado, fazer alguma sugestão que pode ser Comissão Parlamentar Mista de Inquérito Sobre o Idoso,
aceita ou não. que promovi, há alguns anos, em 78, uma das secretárias
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Eu tenho a im- da Casa São Luiz contava esse episódio. Recolhia o idoso.
pressão e consulto a Mesa a respeito de que caberia des- Os parentes compareciam no 1.0 mês. No 2.° mês, mudavam
taque, alguma expressão, ou algum parágrafo do ante- e não comunicavam a nova residência, nem para ter no-
projeto inicial, não é Sr. Secretário? tícia de que o idoso morreu. Mas digo que esses assuntos
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Do são tranqüilos, na legislação, porque já estão prescritos no
anteprojeto inicial, sim. Nós estamos aqui, vamos con- Código Civil. De acordo com o direito, a prestação de ali-
cluir nossos trabalhos, pratícamente, hoje, e se houver mentos é recíproca entre pais e filhos e extensiva a todos
alguma coisa aqui que tenha sido acolhida pelo Relator, os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em
com a nossa aprovação, inclusive, eu aprovei esse texto grau ... uns em falta de outros. Quer dizer, é uma dispo-
que foi lido hoje, nós podíamos examinar. sição tranqüila no Direito, apenas não se usa. Não pre-
cisa incluir isso, na Constituição.
Mas, há uma consideração que me surgiu: por que
só os filhos maiores são obrigados? O filho menor de de- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Nfis
zoito anos, que pode ter uma grande renda e por que não usamos esse texto, como base para a nossa lei especial.
é obrigado a assistir aos pais necessitados? Então, em O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
vez de deixar que outra' subcomissão corrija, poderíamos tenho uma sugestão que acho que atende perfeitamente a
reexaminar essa 'emenda. esta colocação do ilustre Constituinte Nelson Carneiro.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Esta proposi- Não temos, pelo Regimento, uma votação final da redação.
ção, inclusive, fui eu que apresentei, por colher exem- Não está prevista no Regimento. Deveríamos terminar a
plos de outras Constituições do mundo. Porque, veja bem, votação das emendas, cabendo ao Relator a responsabili-
nós estamos sempre falando que a lei vai disciplinar. a lei dade da redação final. Tanto nesse aspecto, quanto no
vai di:sciplinar; nós não sabemos se vamos ter condições, aspecto de alguma impropriedade em relação ao texto,
se o legislador ordinário vai ter condições de fazê-lo. mesmo o texto aceito co-m .emendas - por exemplo, a
Porque, veja bem, temos casos, muitos casos hoje, em assessoria me mostra agora um parágrafo que fala no Mi-
que há crianças pequenas, há crianças menores que estão nistério 'da Previdência e Assistência Social. Acho que o
sustentando as famílias '8 há filhos maiores que têm con- texto da Constituição não pode se referir a um órgão que
dições de fazê-lo 'e não o fazem; não constitui obrigação pode ser, depois, por uma lei ordinária, ou até por um
para eles. decreto, mudado. Existem esses pequenos aspectos com
relação à redação que, efetivamente, precisam ser adap-
Eu não vejo por que uma família que se sacrífíca para tados.
educar os filhos, o gasto que tem nos 'colégios, depois, ele
se forma, arranja um bom emprego, fica rico, muda de A minha sugestão é a seguinte: concluída a votação,
lugar e não tem obrigação para com a família. teríamos um tempo, talvez meia hora, para uma revisão
da redação final e, no caso das modificações de redação -
Eu acho que nada é melhor do que colocar isso no Bem, naturalmente, comprometer o conteúdo da matéria,
texto da Constituição, porque o legislador ordinário, ao mas de redação - um dos Srs. Constituintes, membro
trabalhar 'esta questão, ele poderia fazê-lo de forma obri- da Subcomissão, poderia pedir, então, um destaque para
gatória, por constar do texto da Constituição. aquela parte e faríamos a revisão da redação, e já sairia
O SiR. CONSTITUINTE, NELSON CARNEIRO - Evi- daqui aprovada uma redação final, o que é até muito mais
dentemente que eu não me restrinjo a este caso. Eu apenas democrático do que 'o previsto no Regimento.
citei um caso: mas, depois, na leitura aqui, cada um de nós Apresento essa sugestão. Na qualidade Ide Relator, estou
pode ter uma dúvida. Nós podíamos fazer uma revisão. inteiramente de acordo com essa sistemática.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA ,CAVALCANTI - A SRA. CONSTiTUINTE SANDRA CAVALCANTI - A
Eu me recordo de ter encontrado no Asilo São Francisco, favor; é uma ótima idéia, muito boa idéia. (Pausa.)
no Rio de Janeiro, quando nós assumimos lá o Governo
do Estado da Guanabara, setecentos e trinta ou setecentos O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Oonsl-íe-
e c;uarenta pessoas idosas, largadas, lá dentro do asilo. rando que somos 16 membros titulares nesta Subcomissão,
Aliás, o asilo numa situação horrível, quando nós fomos dispomos de quorum para deliberação, já que só poderemos
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 303

deliberar por maioria absoluta, com 9 votos. Dessa forma, Sandra Cavalcanti: Para Emenda n.? 9, para a Emenda
submeteremos à apreciação desta ilustre subcomissão o n.O 121, para a Emenda n.? 99, para a Emenda n.o 68 para
anteprojeto do Sr. Relator, com as emendas acolhidas. a Emenda n," 27 e para a Emenda n.O 59. Gostaríamos de
Gostaria de sugerir o voto nominal, começando pelo me- saber se a ilustre Constituinte deseja encaminhar a vo-
nos jovem, ressalvados os destaques, naturalmente, e con- tação?
forme o entendimento quanto à aprovação de emendas, de A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
acordo com sugestão do Sr. Relator, acolhida pela Subco- Desejo.
missão.
A Emenda n.? 9 é de autoria do Constituinte Ervin
Solicitamos a presença da Constituinte Eunice Michiles, Bonkoski. Desejo encaminhar a votação, Sr. Presidente.
para ajudar na aferição dos votos que iremos colher, por
gentileza. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - V. Ex. a tem
Este presidente vota pela aprovação do anteprojeto um prazo de 5 minutos para o encaminhamento de cada
com as emendas acolhidas, ressalvados os destaques. uma das emendas.
Iniciada a chamada para votação. A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - A
Emenda n.? 9, que está aprovada, estabelece:
(Procede-se à votação.)
"O díeeíto à aposentadoria é assegurado, ao
Vai-se proceder à apuração. homem aos 65 anos, à mulher, aos 60 anos."
Votaram "Sim" 11 Srs. constituintes. Não houve ne- E o parágrafo em seguida, diz:
nhurn voto em contrário. "Ao idoso não amparado pela Previdência So-
Declaramos aprovado o parecer, acolhidas as emen- cial, é assegurada a assistência financeira do Es-
das. tado para a sua sobrevivência."
Vai-se passar, agora, à apreciação dos destaques. Parece-me que essa emendas estabelece uma discri-
Não ocorreu nenhum destaque ao anteprojeto. Todos minação, pois a tendência natural hoje em todo o conjunto
os destaques foram com respeito às emendas. (Pausa.) de pronunciamento que temos colhido é a de acabar com
essa discriminação.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
peço a palavra para uma questão de ordem. (Assentimen- Eu pedi destaque, porque gostaria que ficasse regis-
to da Presidência.) Antes da apreciação dos destaques, pela trado. Não acho que em todos os casos e de todas as for-
orientação que recebi da Secretaria, teríamos que votar mas, quer dizer, como um princípio constitucional se deva
globalmente as emendas contrárias. Não sei se seria antes fazer essa distinção de idade, até porque nós temos, no
de votar os destaques das emendas favoráveis, ou se teria País, situações muito diferentes em termos de longevidade.
que se votar antes as emendas favoráveis e, depois, as Há uma emenda apresentada pela Constituinte Eunice Mi-
emendas contrárias e os destaques às emendas contrárias. chiles, em que ela pede que seja levada em conta até a
É isso? situação regional. Nós temos, no interior do País, áreas que
são assoladas por doenças que ainda não foram erradíca-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Bem, então das e que liquidam com as possibilidades de atividades dos
votaríamos os destaques das emendas favoráveis; depois, homens muito antes dos 65 anos, como por exemplo, os
vaiaríamos em globo o parecer das emedas contrárias, que são portadores do mal de Chagas, os que são vítimas
ressalvados os destaques às emendas contrárias. das áreas onde existe malária, impaludismo, etc. Então,
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - acho que fixar na Constituição essa discriminação e esse
Pela ordem, Sr. Presidente. (Assentimento da Presidência) limite, não é um princípio, mas já é praticamente legislar
- É que durante a análise das emendas houve uma alte- sobre a matéria em função de realidades que hoje tem um
ração na classificação das emendas. Então, aqui teríamos retrato, e amanhã podem ter outro.
uma relação de emendas com parecer contrário que, na Talvez o princípio mais correto seria "o direito à apo-
realidade, durante a leitura, foi verificado que não tinham sentadoria é assegurado após 30 anos de trabalho, ou de
propriamente um parecer contrário e integrariam o elenco contribuição para a Previdência Social", qualquer coisa
das emendas consideradas prejudicadas. Não sei se não nessa linha. Eu não vejo como este princípio possa ser real-
seria válido começar pelas que têm parecer favorável, mente posto em prática na nossa Constituição.
salvo os destaques. Mas, em seguida, acho que valeria a
pena examinar não as que tenham parecer contrário, mas Queria só registrar que eu pediria destaque para me
as prejudicadas; ou o contrário, porque - não sei qual manifestar contra esta emenda.
é a praxe que a subcomissão utilizou nesse período, já que O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Está em dis-
houve uma alteração na classificação das emendas. cussão.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sugiro, Sr. Pre- O SR. iRELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
sidente que votados, agora, os destaques das emendas fa- peço a palavra somente para uma questão de ordem.
voráveis, passássemos, em globo, a votar o parecer das
emendas prejudicadas. Depois, caso haja destaques a estas O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Com a palavra
emendas, votaríamos os destaques das emendas prejudica- V. Ex.a
das. Em terceiro, votaríamos os pareceres contrários, em
globo também e, depois disso, votaríamos os destaques O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Para um escla-
das emendas contrárias. ré cimento quanto ao processo de votação; o art. 27 § 5.°
diz o seguinte: '
Apenas pediria à Assessoria que enquanto procedês- "Art. 27
semos à votação dos destaques das emendas favoráveis,
verificasse na relação, neste anexo, quais as emendas que, § 5.° No encaminhamento da votação de ma-
pela apreciação da reunião da manhã, deixaram de ser téria destacada, poderão usar da palavra, por 5
rejeitadas para passarem à condição de prejudicadas. minutos, dois constituintes a favor, tendo prefe-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Temos apre- rência o autor do requerímentc, e dois contra."
sentados os seguintes destaques, pela nobre Constituinte O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Muito bem!
304 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Nós gostaríamos de saber se há um outro Sr. Consti- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Agora já temos
tuinte qua queira usar da palavra para encaminhar tam- levantadas duas objeções. A nobre Constituinte Sandra
bém contrariamente, na forma do art. 27, citado pelo nobre Cavalcanti levanta objeção no tocante à discriminação de
Constituinte. idades e o nobre Senador Constituinte Nelson Carneiro
O SR. CONSTITUINTE ALCENI GUERiRA - Eu gos- levanta objeção com respeito à Previdência Social.
taria, mas queria que V. Ex.a consultasse se não há um O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - li: ti-
constituinte que faça parte da subcomissão, que natural- rar essa expressão "não amparado pela Previdência So-
mente teria preferência. cial". A tese nossa é a de que todo idoso deve ser ampara-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Naturalmente. do, ele será amparado pela assistência financeira do Esta-
do para sua sobrevivência, se ele necessitar; se ele não
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr. bate às portas da previdência Social para pedir essa assis-
Presidente, eu teria uma sugestão: se V. Ex. a escolher dois tência, a mesma não será dada pelo Estado, porque quem
que tenham o mesmo ponto de vista, os dois que são con- tem uma boa fortuna, uma boa situação mesmo sendo idoso
trários terão uma grande vantagem, porque falarão em não necessitará dessa assistência.
último lugar e poderão convencer. Então, sugiro que se O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - A palavra
faça de forma alternada, para que haja sempre uma opor- está rranqueada, com preferência para um membro da
tunidade de defesa do ponto Ide vista dl}quele que argüiu. subcomissão que queria acompanhar a Constituinte San-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Então, fare- dra Cavalcanti. (Pausa.)
mos de forma alternada. Gostaria de saber se há algum Concedemos a palavra ao Constituinte Alceni Guerra.
Sr. Constituinte que queira encaminhá-la de forma dife-
renciada da Constituinte Sandra Cavalcanti. O SR. CONSTITUINTE ALCENI GUERRA - Sr. Pre-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Eu sidente, concordo, em princípio, com a colocação da Cons-
desejo, Sr. Presidente. tituinte Sandra Cavalcanti e entendo a preocupação de
S. Ex. a , porque o preceito constitucional de uma aposen-
O SR. PiRESIDENTE (Nelson Aguiar) - V. Ex. a tem a tadoría aos 60 'e 65 anos, cria, na realidade, dificuldades
palavra. para a legislação ordinária da Previdência Social, que
tem que ter uma maior flexibilidade para se adaptar às
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Eu sou diferentes regiões, aos diferentes segmentos, étnicos, ra-
responsável por haver sido incluído na Constitui9ão de 67, ciais e mesmo 'em relação à atividade de trabalho. Na se-
exatamente essa distinção entre a aposentadorta do ho- gunda parte, preocupa-me muito a redação do parágrafo:
mem e Ida mulher, quando assegurei que a mulher que
trabalhava poderia se aposentar aos 30 anos. enquanto o "Ao idoso não amparado pela Previdência
homem aos 35 anos, por vários motivos que todos nós Social, é assegurada a assistência rínanceíra do
conhecemos, que explicam por que se faz essa distinção. Estado para a sua sobrevivência."
Mas, a nobre Constituinte Sandra Cavalcanti se in- Sabemos que os idosos, no Brasil, pertencem, 'em sua
surge contra o direito à aposentadoria assegurada aos 65 imensa maioria, a um status social mais elevado. E esse
anos ao homem e aos 60 anos à mulher. segmento a que me refiro do status, não tem nenhuma
necessidade, de assistência financeira, como contempla o
Aí, o que se abre é a possibilidade de uma aposentado- parágrafo. E este agrava ainda mais a situação, quando
ria facultativa: que o homem ao completar 65 anos possa fala em "não amparada pela Prevídêncía Social". Pa-
requerer essa aposentadoria, e a mulher poderá fazê-lo aos rece-me, salvo melhor juízo, que exatamente na região
60 anos. Todos nós sabemos que a mulher tem duas ati- de que sou originário, Sul do País, os 'agricultores que
vidades: a dentro de casa e a fora de casa, pelo menos. têm uma situação econômica mais prívlleglada, não têm
E ainda tem aquela terceira ocupação que é a Ide mãe que nenhum tipo de Previdência Social. E o parágrafo como
acorda durante a noite, enquanto o pai está dormindo, para está redigido, abre possibilidade para que essas pessoas
atender aos filhos. que são, como eu disse, de um status social maís ele-
De modo que acho que não tem razão, com a devida vado - tenham assegurada a assistência financeira do
vênia a nobre Constituinte Sandra Cavalcanti. O que se Estado para a sua sobrevivência. Parece-me que o pará-
faz aqui é a aposentadoria facultativa. Quanto aos exem- grafo é por demais generoso e criará uma certa dificul-
plos que S. Ex.a citou são aquelas doenças que justificam dade desnecessária ao Estado, j á que grand-e parte desse
segmento está premiado pela sua própria situação finan-
a aposentadoria antecipada, é exatamente do mal de Cha- ceira.
gas, do câncer e de outras moléstias que determinam a
aposentadoria antecipada. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Concedo a
Aqui não é aposentadoria compulsória, mas aposenta- palavra ao Constituinte Iberê Ferr'eira.
doria facultativa que se abre o ensejo a que a mulher O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - Sr. Pre-
possa requerê-la aos 60 anos e o homem aos 65 - apenas sident-e, com relação à proposta da Constituinte Sandra
é a facultativa. Cavalcanti, quando S. Ex. a diz que se preocupa, pelas di-
Eu acho que é importante anotar, neste artigo, o pará- ferentes regiões que temos no País a minha sugestão é
grafo 3.°: de que poderíamos, ao invés de estabelecermos 60 e 65
anos, colocar o tempo de trabalho: 30, 35 ou 25 anos,
"§ 3.° Ao idoso não amparado pela Previ- porque em algumas regiões, se uma pessoa começa a tra-
dência Social, é assegurada a assistência financei- balhar mais c-edo, ela certamente completará esse tempo
ra Ido Estado para a sua sobrevivência." de trabalho com idade de 60, ou seja, resolve-se o pro-
Eu acho que não precisava dizer "ao idoso não ampa- blema ao 00 estabelecer apenas o tempo de trabalho de
cada profissão.
rado pela Previdência Social", poderia ser "não amparado
pela Previdência Social," porque um é contribuinte da Com relação ao § 3.°, concordo com o Constituinte
Previdência e o outro, que não pode ser contribuinte, tam- Alceni Guerra. Também, só a título de sugestão, acho
bém é amparado. Portanto, bastaria dizer, em geral, que que existem pessoas que são amparadas pela Previdên-
ao idoso é assegurada a assistência financeira do Estado cia Social, mas que têm condições de sobrevivência. São
para a sua sobrevivência. pessoas que nunca contribuíram para a Previdência, mas
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 305

que, ao longo da vida, conseguiram gerar recursos para inserido no artigo que trata do idoso, com o problema da
.a sua sobrevivência sem nenhuma necessidade de Pre- aposentadoria por tempo de serviço. A aposentadorta por
vidência Social. Assim, se pudéssemos colocar nesse § tempo de serviço é uma matéria que deve estar sendo re-
~.o que "aos idosos, sem meios necessários à sobrevivên- gulamentada em outra Subcomissão, em outro capítulo
cia, são assegurados proventos vitalícios", creio que fica- da Constituição. O espírito deste parágrafo e a citação
ria melhor. desde o anteprojeto original, foi no sentido de atender a
Sr. Pl'esidente, essa a minha sugestão. uma vasta gama de sugestões trazidas a 'esta Subcomis-
são, no sentido de que a aposentadoria por idade não de-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Para efeito veria ser compulsória, que não se deveria segregar, afas-
de votação, parece-me que não teríamos competência tando do trabalho uma pessoa que, ao atingir a idade
-para alterar esta emenda. T'eríamos que acolhê-la ou indicada para a aposentadoria por idade, se sentisse ain-
rejeitá-la. da em condições de permanecer no exercício da ativida-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - de. Então, vejam o seguinte, vamos recorrer ao texto ori-
:81'. Presidente, o texto apresentado pelo relator, tendo ginal: _/
aprovado essa emenda e várias outras que aqui estão e "Aos 70 anos de idade, é garantida a aposen-
-que correspondem ao mesmo tema, 'está 'redigido de uma tadoria para os que assim o desejarem",
forma um pouco diferente, e acho que o texto do relator, isto é, deixaria de ser compulsória para ser - permitam-
.sím, atende às nossas preocupações, pois S. Ex. a as 'en- me o neologismo - aceitatória. O indivíduo aceitaria
globou todas nos §§ 1.0, 2.0 , 3.0 'e 4.°. aposentar-se nessa idade, requereria e teria o direito. A
Diz o seguinte: emenda acolhida foi no sentido de descer esse limite de
" . .. Os proventos de aposentadorias e pen- idade previsto no texto, para 65 anos - para os' homens
sões serão reajustados nas mesmas proporções." - 'e 60 anos - para as mulheres, mas permanece o mes-
mo espírito que presidiu o texto original, quer dizer, qual-
- e aí vêm várias emendas sobre isso. quer cidadã ao atingir 60 anos, tendo ela começado a tra-
"§ 2.° Aos 65 anos é garantida a aposentado- balhar aos 59 ou começado a trabalhar aos 14 e não ten-
ria para os homens, e aos 60 anos para as mulhe- do recorrido à aposentadoria por tempo de serviço, po-
res, se assim o desejarem. deria, nesse caso, requerer aposentadorãa por idade aos
§ 3.° Aos idosos, não amparados pela Previ- 60 anos; 'e o homem, nas' mesmas 'condições, aos 65 anos.
dência, são assegurados proventos mensais, vi- O que ocorre é que não se trata, aqui, de um proble-
talícios, não ínreríores a um salário mínimo, ne- ma de redação; trata-se de uma questão de mérito. A
cessários à sua sobrevivência." emenda aprovada, no globo das 'emendas acolhidas, es-
Novamente, no texto do relatório, temos' a mesma tabelece esses limites. Com o destaque pedido, derruba-
díscrímínação. Eu só estou Ievanbando essa questão em da 'essa 'emenda, nós voltaríamos ao texto original que
torno dessa diferença de idade, quer dízer, não veio mo- já foi aprovado em globo, também. Deixaria de ser aos
tivo especial para que se estabeleça limite de idade, por- 65 anos para os homens e aos 60 anos }}8!T.a as mulheres"
que vártas emendas que aqui examínamos, hoje, falam para voltar ao texto original de 70 anos, indistintamente.
em 70 anos para todos, e 'algumas delas foram aprova-
das, algumas foram consideradas aproveitáveis. Acho que A questão do § 2.° da emenda que estabelece o am-
esse limite de idade é que cría uma dificuldade para nós, paro da Previdência Social, foi objeto de outra emenda,
na hora de 'estabelecer um príncípío. também acolhida. Por isto, inclusive, é que a redação, nes-
se texto consolidado é um pouco diferente, inclusive um
Por que não estabelecer, então, um limite de tempo pouco mais propício, ao meu ver, porque, neste 'caso, sem
de trabalho, em vez de limite de idade? Tem tanta gente prejuizo da idéia, nós acolhemos uma outra emenda no
que começa a trabalhar aos 15, 16 anos de idade; no cam- sentido de garantir, inclusive o provento mínimo de um
po, até antes, aos 10 e 12 anos; estamos permitindo a 'en- salário mínímo - nesse caso, de uma pessoa que não tem
trada do menor mais cedo no trabalho. Então, seria mais amparo previdenciário.
razoável que ao término de 35 anos de trabalho, homens
e mulheres tenham o díreíto de requerer a sua aposen- São duas questões diferentes. Não sei se a outra que
tadoria, dentro do espírito, até, das inúmeras emendas trata do problema foi destacada, mas, mesmo que não o
que dentro deste resumo que temos 'em mãos. Embora - tenha sido e derrubada essa emenda" prevalecerá, neste
como me lembra o Constituinte Alceni Guerra - a ten- caso do § 3.0 deste texto consolidado, a idéia contida na
dência mundial seja a de fugi,r da aposentadoria por outra emenda, que foi também acolhida.
tempo de serviço. Esta matéria está delimitada? Não se- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - E
ria melhor assegurarmos o direito da aposentadoria nos a parte do idoso.
termos da lei?
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Lembro aos O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Exato, a parte
Srs. Constituintes que a emenda, como está proposta, deve do idoso, 'e a questão da idade voltaria ao texto original,
ser aprovada ou rejeitada. Não nos cabe emendá-la. dizendo que aos 70 anos, qualquer cidadão brasileiro, in-
dependente de ser homem ou ser mulher, teria direito de
Como a 'emenda foi acolhida pelo Sr. Relator, fran- requerer a sua aposentadoria. Não sei se ficou bem claro
queamos a palavra para saber se S. Ex. a deseja comen- mas, enfim, diante de V. Ex.a há a seguinte decisão: man-
tá-la. tém-se o limite de 70 anos e, no caso, a emenda deveria
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr. ser derrubada - ou modifica-se para menos esse limite
Presidente, pela ordem. Acho que 'a solução estaria no de idade, assegurando aos homens, 65 anos e às mulheres
seguinte: rejeitada, que acaso fosse, a sugestão da Cons- 60 anos como limite para requerimento de aposentadori~
tituinte Sandra Cavalcanti, o 'assunto voltada naquela re- voluntária. E, aí, no caso, a votação deverá ser favorável
visão a que nos propomos, fazer - todos nós - do texto à 'emenda e, portanto, contrária ao destaque.
do substitutivo no art. 6.° E, ai, 'a liberdade é maior para O SR.. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - V. Ex.as têm
redigir um novo texto. alguma duvida? (Pausa.) Parece-me que com direito à
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. presidente, discussão, nós já tivemos quatro Srs. Constituintes. Ape-
permíta-ms os seguintes esclarecimentos. Em primeiro nas para algum esclarecimento, se há alguma dúvida, que
lugar, não se pode confundir o espírito deste parágrafo se manifestem. (Pausa.)
306 Segunda·feira 20 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Não havendo quem se manifeste, vamos colher os vo- tinha, ainda, o texto consolidado. A mim me pareceu que
tos dos Srs. Constituintes, lembrando que, para a apro- o texto consolidado abriu um pouco mais o que está na
vação, precisamos de 9 votos favoráveis. Com menos de emenda do meu querido Líder, o ilustre Senador Consti-
9 votos, a emenda terá caído. tuinte Nelson Carneiro.
A Subcomissão tem 16 membros singulares. É claro que todos nós não participamos da idéia de
Vamos proceder à votação. Os que votarem "Sim" que o menor deve ser 'explorado mas criar dificuldades
estarão aprovando a emenda como está redigida. Os qu~ para o ingresso do menor no trabalho, no Brasil, é não
optarem pelo contrário, dizendo "Não", estarão rejeitando. conhecer a realidade brasileira, é não saber que existem
milhões de menores de 14 anos que são obrigados a tra-
(Procede-se à votação.) balhar, que são levados a isto, até pelas circunstâncias
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente de pobreza em que vivem as suas tamíüas, E, em se va-
antes de passar à votação seguinte, eu tenho uma dúvid~ lendo de uma legislação que proíba, o menor fica sem-
quanto ao processo de votação: uma emenda destacada, pre numa situação clandestina, fica sem a proteção da
para ser derrubada ou para ser aprovada, no caso de uma lei. Eu, na minha experiência como professora e, também,
emenda que mereceu parecer contrário, ela precisa de na área de Assistência Social, sempre colhi um resultado
maioria de votos? muito negativo dessa idade fatal - por que 14 anos? Por
que não 13 anos e meio 'e por que não 15 anos? são nú-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Precisa de meros absolutamente aleatórios que há muitos anos vêm,
maioria absoluta de votos. na legislação brasileira, perseguindo a todos nós. Por
. p SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Por exemplo, na exemplo: o Estado é responsável pela 'educação das erían-
hipotese precedente, !1 derrubada da emenda precisaria ças a partir dos 7 anos - isto 'está desde o tempo do
contar com 8 votos favoráveis ao requerimento? Império e, no entanto, está provado que Se o Estado só
começa a se responsabilizar pela educação 'a partir dos 7
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Exatamente, anos, hoje em dia, ele perdeu uma oportunidade precio-
por ordem natural e por conseqüência. sa de se interessar por esta criança no período anterior e,
Vamos proclamar o resultado: votaram "Sim", 11 SrS. talvez, receba esta criança írremedíavelmente lesada e
Constituintes e "Não", 1 Sr. Constituinte. perdida, como nós estamos vendo acontecer em todos os
nossos setores de ensino municipal, pelos, relatórios que
Fica mantida, então, por 11 votos a 1, a Emenda n. O 9. vão chegando.
Vamos passar a seguir à Emenda n.O 27, também re- Acho que - não sei bem ao certo - o trabalho do
querida pela nobre Constituinte Sandra Cavalcanti - a menor deve ser regulado por uma legislação especial, obe-
emenda é favorável.
deeendo-se a alguns princípios mas, entre esses, ao meu
Solicito ao nobre Relator que proceda à leitura da ver, não está a idade. Esta a condição dele porque, às ve-
mesma. zes um menino de 14 anos, na área rural, filho de uma
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - O texto da fa~í1ia saudável, bem alimentado, é um garotão que pode
emenda diz o seguinte: pegar o trator do pai e ajudar bem. Eu já vi, no Rio. de
Janeiro, pessoas serem multadas porque pegou um menino
"O trabalho do menor será regulado em le- de 13 anos, durante as férias e colocou o garoto trabalhan-
gíslação especial, não sendo permitido o ingresso do na oficina mecânica, para o menino não ficar perdido
de menores de 14 anos no mercado de trabalho. na esquina, conversando besteira e fumando maconha. O
O sistema educacional lhe assegurará alimenta- pai pega o menino e o chama - ele adora ver motor -
ção, preparo para o trabalho, através, inclusive, de e então, fica ali com o pai; passa um Juiz de Trabalho
aprendizado em estabelecimentos especializados." e' multa aquele homem que está tentando evitar que o
Consolidada esta emenda que, junto com outras filho fique num processo de vadiagem. É mui to arriscado
emendas sobre o mesmo assunto, foram aprovadas, o tex- colocar, hoje em dia, na lei, esses números. Eu tenho uma
to passaria a ser o seguinte - § 5.° do art. 4;0, nesse tex- tendência a não gostar dos números. Eu gosto da. idéia
to consolidado: de que é vedado ao menor trabalhar em locais noturnos,
perigosos e insalubres. Acho que ele deve ingressar no mer-
"§ 5.° O trabalho do menor será regulado cado de trabalho na condição de aprendiz. Acho que ele
em legislação especial, obedecendo-se aos seguin- deve, realmente, nesse local de aprendizagem, ter uma
tes princípios: proteção em termos de alimentação e de preparo profissio-
- é vedado ao menor de 18 anos, o trabalho nal. Acho que isto não deve ser destínado, exclusivamente,
noturno em locais perigosos ou insalubres; à criança carente, mas que isto deve ser uma forma de
educação da qual este País está precisando muito, que é
- é vedado ao menor de 14 anos o ingresso o apreço pelo trabalho técnico, pelo trabalho manual.
no mercado de trabalho, salvo em condições de
aprendiz por período nunca superior a 3 horas Então, acho que esta é uma redação extremamente
diárias; conservadora, em termos de uma realidade que é habitual-
mente ultrapassada. Se nós conseguíssemos impedir que no
- será estimulado para os menores da faixa texto figurassem as especificações - e nós temos; aí, al-
de 12 aos 14 anos, a preparação para o trabalho gumas emendas em que essas idades não são assim tão
em instituições 'especializadas. Aos carentes, será definidas -, eu gostaria de poder examinar isto. Mas,
assegurada a alimentação e os cuidados corri vedar ao menor de 18 anos um trabalho noturno, quando
saúde." aquele foi o único emprego que ele de repente arranjou,
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Com a pa- até para ajudar no sustento da família, e às vezes, é um
lavra a ilustre Constituinte Sandra Cavalcanti. trabalho normal que ele pode fazer, acho isto muito peri-
goso para ser posto na Constituição. Acho que o nosso
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Presidente que lidou de perto com esse problema e que
Sr. Presidente, quando eu pedi o destaque desta emenda, trabalhou muito tempo nessa área, .sabe disto. O que nós
na parte da manhã, durante as nossas discussões, eu não tinhamos era que estabelecer as regras gerais' e esquecer
tinha, ainda, não só uma visão global de todo o assunto este negócio de idade, porque um garoto de 18 anos, bem
que sobre o menor viria em seguida, como também não alimentado, bem nutrído.vé uma coisa; um garoto que
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 307

vem de uma área paupérrima, aos 16 anos é raquítico, Então, vamos protestar contra a realidade que temos,
franzino e não corresponde a nem uma criança de 10 anos. mas vamos ter um trato diferente com os nossos
Então, isto vai prejudicar a possibilidade de trabalho dos filhos - e, portanto, colocando-os fora da realidade -,
menores neste País. E, o que é pior, eles vão trabalhar não aceitando tudo, que eles sejam mais alguém sujeito
porque é preciso e a lei vai ficar ao lado daqueles que qui- a esta realidade, quer dizer, vamos ter uma sistemática de
serem explorar, clandestinamente, o trabalho deles. atendimento diferenciada para eles e vamos protestar con-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Antes de pas- tra uma realidade para não deixar desprotegido este conti-
sar a palavra ao próximo Constituinte, eu queria prestar gente de menores. Fiz só esta observação - e talvez nem
uma informação. Inicialmente, quero dízer que a Subcomis- tenha até amparo regimental para fazê-lo - porque a Sub-
são dos Direitos dos Trabalhadores e Bervídcres Públicos comissão dos Direitos dos Trabalhadores e dos Servidores
colocou, no seu parecer, esta proibição, porque uma coisa, Públicos colocou exatamente isto, proibindo o ingresso do
nobre Constituinte Sandra Cavalcanti é o menor traba- menor aos 14 anos no mercado de trabalho.
lhar e outra coisa é o ingresso no mercado de trabalho. Se Gostaria de saber se algum outro Constituinte acom-
nós facultamos, através da lei, o seu ingresso no mercado panharia a Constituinte Sandra Cavalcanti. Parece-me
de trabalho, logo esse menor vai passar a representar a que agora, segundo ficou deliberado, opinaria ...
opção para aquele que tem emprego, para dar-lhe uma O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr.
vaga no lugar do seu pai. Dar emprego ao pai, resulta em Presidente, pela ordem.
criar novas obrigações sociais, no tocante, por exemplo,
ao salário-família. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Perfeítamen-
te, V. Ex. a tem a palavra.
No Estado do Espírito Santo, por exemplo, nós já temos
casos com a Companhia Siderúrgica de Tubarão, através O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Não
da chamada "Bolsa de Emprego" em que ela recebe 84 estava presente a nobre Constituinte Sandra Cavalcanti,
menores aos 14 anos e, aos 18 anos, ela desliga aquele quando da prírneíra vez aqui compareci, e examinamos
menor e o substitui por um outro de 14, sem qualquer juntos este texto inicial, que dizia o seguinte:
direito previdenciário. Ora, isto é ótimo para o empregador! "O trabalho do menor será regulado em le-
Inclusive, o último decreto do Senhor Presidente da Repú- gislação especial, não sendo permitido o ingresso
blica, regulamentando a questão do bom menino, legaliza ,de menor de 14 anos no mercado de trabalho. A
esta distorção. Eu estou escrevendo uma carta ao .senhor estes, quando carentes, será assegurado pelo siste-
Presidente, chamando a atenção para este fato. Ficaria ma educacional, a alimentação e o preparo para
ótimo para o empregador, que não tem nenhuma obriga- trabalho." "
ção trabalhista, não tem nenhuma obrigação social, pre- Foi então que eu lembrei, aqui, a minha experiência de
videnciária, com respeito a esse menor. O decreto pre- menino ~e escola :púb~ic~, em que os meninos saíam para
sidencial desobriga o empregador de pagar esta Previdên- o aprendizado. Dal a ídéía do texto que ofereci, que suge-
cia e fica ótimo para ele acolher o menor na sua empresa re que eles possam, mesmo que ainda que não tenham 14
quando, via de regra, são excelentes trabalhadores, são anos, ingressar no aprendizado.
ótimos trabalhadores. Aí, vai ficar ótimo para o emprega-
dor porque, com esses menores, el,e terá uma mão-de-obra O Relator, apreendeu perfeitamente a hipótese, mas
abundante e, do ponto de vista legal, absolutamente pro- apenas a meu ver - e aí tem razão a nobre Constituinte
tegida. Eu, então, optaria pela forma como apresentei, Sandra Cavalcanti, porque na minha emenda não figura _
inclusive, na minha proposta original, a educação pelo não há por que incluir esta distinção entre os menores de
trabalho. que é uma figura diferente da educação para 14 anos na preparação para o trabalho em instituições es-
o trabalho. Vamos lembrar, por exemplo, o que está es- pecializadas, e excluir os não carentes. São todos menores
crito na Constituição da União das Repúblicas Socialistas de 14 anos que fazem a mesma preparação. Esta expres-
Soviéticas, que proíbe o trabalho para o menor, garantín- são "aos carentes" não tem razão de ser, com a devida vê-
do-se-lhe a educacão pelo trabalho. nia. Será assegurado a todos a alimentação e os cuidados
com a saúde - por que só os carentes? A Constituinte
É diferente porque o menor vai continuar trabalhando. Sandra Cavalcanti suscitou um debate que se reflete no
Eu trabalhei desde os 6 anos Ide idade com o meu pai, na texto do anteprojeto final do ilustre Relator. Acho que a
roça, inclusive. Agora, uma questão é trabalhar e outra emenda deve ser mantida, mas no texto redigido pelo Re-
questão é o ingresso no mercado de trabalho, porque o que lator se deve retirar esta expressão "aos carentes" porque
se está querendo proibir aqui é exatamente o ingresso no o aprendizado deve ser para todos os menores de'14 anos
mercado de trabalho. Aí, estaria o empregador facultado que Jngressem no aprendizado para o preparo ao trabalho.
para arregimentar essa mão-de-obra barata e desprote- Entao. o sistema educacional lhes assegurará alimentação
gida, para colocar. Acho que a lei tem que estar vigilante, e preparo para o trabalho, através, inclusive, de aprendiza-
mesmo porque esta é uma prática já existente em todo do em estabelecimentos especializados.
o mundo civilizado, em toda área de trabalhadores, no O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - O Sr. me permite
sentido de salvaguardar o menor da exploração ao traba- nobre Constituinte?
lho. Lembro-me que tivemos uma das nossas conferencis-
tas, aqui, a Presidenta da SecretarIa do Estado do Menor O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Pois
em São Paulo, em que ela mostrou no seu relatório, me- não.
ninas que ficaram surdos porque estavam trabalhando O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A emenda em
com máquinas barulhentas num período da vida em que discussão não faz referência aos carentes?
o seu aparelho auditivo está em formação; meninos com
a mão decepada, meninos com o dedo mutilado, porque O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Não
foram trabalhar em fábricas, foram trabalhar com má- faz.
quinas. O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - O texto consoli-
Acho que é preciso que esta Nação tenha um pouco dado diz o seguinte: "Aos carentes será assegurada a
mais de responsabilidade para com a sua criançada, com a alimentação e os cuidados com a saúde" - objeto de uma
sua infância, no sentido de garantir os seus direitos, por- outra emenda que eu posso localizar. aqui rapidamente.
que, ao final das contas, 14 anos é uma idade em que a O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - É mui-
criança tem que estar estudando; nos nossos lares é assim. to difícil imaginar, entre tantas emendas, a que diz isto,
308 Segunda-feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTiTUINTE (Suplemento) Julho de 1987

mas acho que é discriminatório. Por exemplo, como é que nidade de aprendizado em estabelecimentos espe-
nós vamos dizer entre os vários meninos que trabalham cializados."
numa mesma oficina, quais são ou não carentes. Quais Esse é o parecer, enquanto que no parecer à emenda
têm direito à alimentação e ao preparo para o trabalho, da Constituinte Eunice Michiles, diz:
e quais não têm. Acho que esta distinção que faz o relator
é prejudicial. "Acolhemos a emenda da ilustre Deputada,
que inova ao estabelecer a jornada de trabalho
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mesmo porque para o menor aprendiz nunca superior a 3 horas.
hoje ocorre uma situação inversa. Dentro das universida- Somos pela inovação."
des por exemplo, são os filhos da alta classe média e das
cla~ses abastadas que estão recebendo alimento pratica- Então, estas duas emendas se 'Completam e é por isso
mente gratuito, dois cruzados ou três cruzados uma que no texto - nós estamos discutindo o texto consoli-
refeição. dado - a Emenda 11.° 27 se refere a um parágrafo que
aqui, no texto consolidado, se consolidou. A minha obser-
O SR. CONSTITUINTE IBER11: FERREIRA - Eu 'Ch~­ vação não é contra o conteúdo, mas simplesmente acho
gueí, inclusive, Sr. Presidente, a apresentar emenda e~l­ que nós deveríamos escapar dessa necessidade de esta-
minando este termo "carente". Eu me preocupo multo belecer 14 anos, 18 anos. A minha observação é nesse
com esta rotulação de "carente" e "necessitado", até por- sentido. Não estou contra o conteúdo da emenda e nem
que, se não tivermos cuidado, nó~ vamos ressuscitar aquele o que ela significa. Acho que num princípio constitucio-
famoso atestado de vida. Alguém tem que atestar que nal, nós deveríamos dizer "trabalho do menor" e não
é carente, que é necessitado. estipular idade. O que é o menor no Brasil? '
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - E, depois, é O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mas se nós
um conceito muito subjetivo. não colocamos a idade, daqui a pouco estão colocando
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - com 10 anos, estão botando para trabalhar com 8 anos.
Na Em,enda n.o 120, da Constituinte Euni'Ce Michiles, ela Lembro-me, na Funabem, quando alguém dizia na ques-
coloca esta discussão toda em termos em que seria, para tão da idade penal, que iriam diminuir de 18 pra 16.
nós, muito mais fácil de aceitar: Eu digo que se é porque estão matando, eu tinha um
garoto que tinha matado duas pessoas com 9 anos, à faca
"O trabalho do menor será regulado em legis- - ,então, vamos reduzir para nove anos. Acho que deve-
lacão especial não sendo permitido o ingresso de mos ter cuidado quanto a esta questão, porque se não
menores de li anos no mercado de trabalho, salvo colocamos um limite de idade - temos que tomar uma
na eondícão específica de aprendiz, com jornada decisão - vamos encontrar garotos de 10 anos que são
de trabalho nunca superior a 3 horas. A estes, rapazínhos fortes, não é verdade? Então, vamos nos ba-
quando carentes, será assegurado pelo sistema sear nisso ,e colocá-lo para trabalhar?
educacional a alimentação e o preparo para o O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
trabalho." o esclarecimento do relator é o seguinte: a forma de
Esta é a redação que, de fato, satisfaz os objetivos redação da Emenda 120, da Constituinte Eunice Michiles,
do estabelecimento de um princípio para constar da Carta. pode ser perfeitamente esclarecedora a este respeito, dis-
pensando a expressão de os carentes receberem alimen-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Naturalmente, tação 'e cuidados com a saúde. Nós temos que 'examinar
o acolhimento desta emenda decorreu do fato de que ela essa 'emenda ...
não colide para mais.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Só queria
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI que V. Ex.a me permitisse o seguinte: o que está em dís-
Ela foi aprovada. cussão para efeíto de votação é a Emenda n,o 27, que
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Sim, mas deve ser considerada naquilo que ela colide com outras
ela não colide para mais. Ela não é restritiva. emendas. Não estamos tratando da emenda da Consti-
tuinte Eunice Mlchiles, mas da Emenda n.O 27. Vamos
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - acolhê-la ou vamos rejeitá-la, 'em função do que ela con-
Foi aprovada mas por exemplo, o texto dela é o inciso lI. tém ou do que ela não contém, porque se fic.armos esta-
O SR. PlmSIDENTE (Nelson Aguiar) - A emenda belecendo esse 'Confronto, não vamos sair daqui hoje. A
da nobre Constituinte Eunice Michiles é o inciso lI, exa- Em'enda n.o 27, no meu modo de ver, não restringe qual-
tamente mas como nós já acolhemos várias emendas, a quer outra emenda, 'apenas há a questão dos 14 anos,
consolid~cão das mesmas num texto só é que resultou mas, a 'emenda da Constituinte Eunic,e Michiles também
dessa .. , eu estou localizando aqui ... contém -;- todas elas, aliás. De modo que eu 'acho que a
única objeção que estou vendo fazer a Ilustre Constituin-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - te Sandra Cavalcanti é no tocante a este limite de idade,
11: a Emenda de n.O 120. porque noutro aspecto ela não colide com outras emen-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mas a expres- das, ,ela não restringe, nem acrescenta. E naturalmente,
são está "carentes"; é do texto consolidado, não da por isso, ela foi acolhida.
Emenda n.? 27. Temos agora a palavra para dois Srs. Constituintes:
Nós estamos discutindo a Emenda n.> 27. Eu gostaria os que quiserem acompanhar a ilustre Constituinte San-
que nos atívéssemos ao conteúdo da Emenda n.? 27. dra Oavalcanti, com respeito ao limite de idade de 14
anos, os que acompanham o Constituinte Nelson Car-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - neiro. Não cabe mais discussão desta emenda, porque ela
Mas a Emenda n,o 27 é praticamente igual à Emenda não contém a palavra "carente".
n.? 120, com a diferença que o parecer da Emenda n.o 27
diz: Gostaríamos de saber se há algum voto em contrário.
(Pausa.)
"Acolhemos a emenda do eminente Senador,
reconhecendo que o sistema educacional deve Está mantida a emenda, com o voto contrário da
assegurar aos menores a alimentação e a oportu- ilustre Constituinte Sandra Cavalcanti.
Julho de 1987 DiARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUiNTE (Suplemento) Segunda·feira 20 309

A seguir, temos a Emenda n. O 68, também com des- A partir do momento em que coloco o direito humano
taque requerido pela ilustre Constituinte Sandra Caval- "a partir da concepção", estou me situando ao fato da vida
canti. humana. E, ai, acho que a discussão vai para o campo cien-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Essa Emenda tífico do fato "vida". Talvez eu esteja abstraindo também.
n.O 68, foi rejeitada e, então, não caberia neste momento Eu gostaria de consultar se outro Sr. Constituinte
a votação. deseja fazer uso da palavra, lembrando que a Constituinte
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI Sandra Cavalcanti insiste no acolhimento da emenda, a
Na revisão, ela foi considerada preiudícada. '\;im de aproveitar a expressão ""desde a concepção?".
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Em função do O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - A
aproveitamento da palavra "medicina" por "ciência". minha intervenção creio que o próprio Relator já a acei-
tou. No art. 4.0, § 1.0, diz que o direito à vida, à saúde e
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - à alimentação é assegurado desde a concepção, devendo o
Essa emenda teve uma aprovação parcial. Onde havia a Estado prestar assistência àqueles que não têm condições
palavra "medicina" no texto original, ele propôs que se de fazê-lo.
colocasse "ciência", e insiste no uso da expressão "desde
a concepção". O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Também está
implicitamente aceito no § 3.° deste mesmo artigo, quan-
Aliás, esta expressão "desde a concepção" surge numa do diz que a responsabilidade do Estado é promover a
boa dezena de 'emendas e foi entendimento do Relator vida, não sendo permitido o aborto como método de pla-
que o direito à vida, pelo fato de estar a ciência estabe- nejamento familiar, cabendo apenas nos casos de estupro,
lecendo que a vida começa a partir do instante da; con- gravidez de alto risco, e malformação fetal, etc.
cepção o~ .do momen~o da fecundação, que isso seria
desneeessãrío. Eu pedí o destaque, IPQ,rque na minha A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
opinião, é absolutamente necessário que edta expressão Neste caso, a emenda do Constituinte João de Deus An-
bem clara, bem explícita, apareça no nosso texto consti- tunes teria que figurar no nosso relatório, não como uma
tucional, para que não haja nenhuma dúvida de que o aprovação parcial, mas como aprovada. E isso é que deve
direito à vida existe a partir do momento da concepção. ser objeto da votação.
Em função até da votação deste destaque, há vários O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Alguma posi-
outros destaques por mim solicitados; há uma emenda ção em contrário? (Pausa.)
da Constituinte Rita Camata, outra do Constituinte So- Aprovada.
tero Cunha, e do Constituinte Eliel Rodrigues também
há qualquer coisa neste sentido. Nós fazemos parte de Temos, a seguir, a Emenda n.o 99 cujo destaque foi
uma corrente de opinião pública muito grande hoje em requerido pela nobre Constituinte Sandra Cavalcanti, a
dia, no Brasil, que defendemos o direito à vida a partir quem passo a palavra.
da concepção. E por que a insistência nesta expressão? A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Por uma razão muito simples: porque em vários outros O assunto já é matéria vencida. Eu retiro o pedido de
itens, artigos e parágrafos da futura Constituição, quan- destaque, porque trata do ingresso do menor no mercado
do se falar em vida, há que se falar em vida do cidadão de trabalho, que acabou de ser discutida e não há neces-
a partir, portanto, do momento do nascimento, quando sidade de voltarmos ao assunto.
ele assume um nome, tem um registro e é visto pela co-
munidade. O SR. PRESIDENTE (l)Telson Aguiar) - Emenda n.?
121, da nobre Constituinte Sandra Cavalcanti.
A defesa que fazemos do nosso ponto de vista é de
que o direito à vida já existe e !precisa ser garantido A SRA CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
quando este futuro cidadão ainda não 'está vísível para Essa emenda é muito polêmica; ela foi aceita pela Sub-
todos nós; mas ele já existe, e existe como tal, com tudo comissão e figura no § 3.°, do art. 3.0 - é de autoria da
o que ele é, desde o momento da fecundação. A Ciência Constituinte Eunice Micbiles:
hoje põe isso à disposição de quem queira saber, mas
ainda não é a tradição, não é aínda o que corre nor- "É responsabilidade do Estado promover a
malmente na cabeça das pessoas. Temos .aínda, uma tra- vida, não sendo permitido o aborto como método
dição muito antiga, que permanece, de imaginar que o de planejamento familiar, cabível apenas no caso
direito à vida é a partir do instante do nascimento. En- de estupro, gravidez de alto risco e casos de mal-
tão, eu insisto em pedir o destaque para que essa emenda formação fetal, como possibilidade de vida vege-
seja aprovada, não apenas a parte relativa à "ciência" tativa, de acordo 'com a lei."
e "medicina", porque não é a Medicina que põe isso à
disposição, mas a Ciência - e esta observação está cor- Aí, volto ao mesmo assunto. A Ciência, hoje, pôs à
reta - mas porque esta expressão "desde a concepção" disposição de nós todos, uma informação precisa e defini-
faz falta no nosso art. 3.° da sobre a existência de uma vida a partir do instante da
fecundação. O aborto deliberadamente provocado é consi-
O BR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Eu quero. derado crime no Brasil e, como tal, foi mantido pela
antes da palavra do constituinte seguinte, lembrar-lhes Subcomissão que estuda os direitos e garantias, no rela-
que tenho uma proposta que encaminhei à Oomíssâo dos tório do Constituinte Darcy Pozza. Já foi pedido que se
Direitos do Homem e da Mulher, pela qual vou brigar retirasse e está sendo, então, tentado no Brasil, agora,
até nos atos finais da elaboração constítueíonal, em que um outro caminho, para que o aborto, de forma indireta
coloco no capítulo dos direitos humanos, dos direitos do e de maneira a ter todas as aparências de legalidade, possa
homem, como um dos seus direitos, o direito à vida. Por ser aceito pela sociedade. É o chamado aborto terapêutico,
isso, eu coloco lá: que se baseia em uma informação que a mãe e o pai têm
"A sociedade e ao Estado incumbe assegurar de que naquele momento está sendo gerado, no ventre
o díreíto humano à vida desde a concepção." materno, um ser que tem defícíêneía e que, portanto, não
tem direito a nascer. Essa colocação é das mais difíceis
Eu faço essa diferenc:i:ação, porque se nós eolocaemos de serem feitas, realmente. Entendemos que, de fato, o
simplesmente o direito à vida, essa discussão pode cair nascimento de uma criança com uma série de malforma-
no campo filosófico, no abstrato. ções é um choque terrível para a família, como o nasci-
310 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

menta de crianças mongolóídes, de crianças cegas, ou fal- figure no texto, pelo menos no texto da Família, do Menor
tando um membro, etc. que não se trata de raeíocínar e do Idoso, que um atestado médico, conseguido sabe
sobre um caso ou uma ocorrência, porque isso pode acon- Deus como, permita uma sentença condenatória de vida.
tecer com qualquer criança já nascida, que já está dentro A SRA CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Peço
de casa, que já tem 2, 3 anos de idade e que, de repente, a palavra, Sr. Presidente, como autora da proposta.
puxa uma panela que estava fervendo junto do fogão,
aquilo lhe cai em cima do rosto, lhe dá um aspecto de O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Paso a pala-
monstro quase para o resto da vida, lhe cega, e ninguém vra para a Sr. a Constituinte Eunice Michiles.
vai tirar-lhe a vida pelo fato de ter acontecido este aci- A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Sr.
dente. Presidente, Srs. Constituintes, eu sempre me coloquei ao
Então, o que estamos discutindo aqui é um princípio. la_do daqueles que são contra o aborto. Agora, entendo que
Não estamos tentado resolver episódios. É impossível dis- nao estamos aqui para legislar para nós mesmos. Temos
sociar a licença que se dá para o aborto terapêutico, de toda uma Nação que será regida por aquilo que escrevemos
uma posição de busca de eugenia, de busca de uma raça aqui. A legislação hoje prevê o seguinte: "É permitido o
mais bem apresentada, que já ocorreu em alguns lugares aborto nos casos de estupro e nos casos de gravidez de al-
de forma cruel. Na história dos bárbaros antigos e dos to risco. "A minha proposta apenas acrescenta "mal for-
gregos, quando a criança nascia defeituosa era jogada do mação fetal", que acho que a Constituinte Sandra Caval-
alto de uma pedra, porque não tinha o direito de sobre- canti não atentou bem para o que foi colocado. Veja bem!
viver. E Hitler mandava para a câmara de gás todas as A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
crianças malformadas que nasciam na Alemanha. Atentei, sim.
O depoimento dos médicos a resp~ito da seriedade des: A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Ape-
ta informação sobre a chamada grav!dez ~t:: alto rlSCO, f?1 nas nos casos de possibilidade de vida vegetativa. Então
ouvido aqui pela nossa Subcomissao varias vezes: ~os não entrariam aqui... '
temos o depoimento dos mais ilustres médicos brasííeíros
que informam que uma mulher cardíaca, com malfor- A SRA. CONSTITli'INTE SANDRA CAVALCANTI -
mação de coração, com válvula mitral toda atrapalhada, Que vão ser todos.
ainda assim a Ciência garante a ela uma gravidez com A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Um
toda a segu~ança. A Ciência avançou m,?:to ?e~sa matéria; momentinho. Então não entrariam aqui o caso de surdez
o feto hoje tem o seu sangue trocado; ja há crrurgias que ou de. cegueira, que foi acrescentado. O que me inspiro~
são feitas na vida intra-uterina. esse tipo de emenda foi um caso prático; sempre nos ins-
Então, o que nós vamos abrir aqui no ~rasil é u?: piramos naquilo que vemos, de uma família que tem uma
precedente que já foi aberto em outros paises, que ja criança - porque é uma criança, embora tenha 42 anos
estão recuando até deste ponto de vista, porque, lamenta- -, 'que jamais disse uma palavra, que apenas se alimenta
velmente, nós não temos a tradição da seriedade. E quem por. mamadeira e que leva uma vida absolutamente vege-
dispuser de recursos, de dinheiro e de um médico que não tativa. Agora, acho, também, que a Constituição que a
seja sério - e, infelizmente, os aborteiros estao ai nas lei não obriga ninguém a fazer nada. Se existem Impedi-
clinicas clandestinas, para mostrar que isso acontece na mentos de ordem moral, ética ou religiosa, a pessoa não
vida brasileira - vamos ter o aborto legalizado pelo ates- está obrigada a fazer. Mas também, não nos compete obri-
tado de que se trata de uma gravidez de alto risco ou de gar uma família a aceitar esse tipo de encargo. Parece-me
malformação fetal, atestado este obtido na esquina, no que seria exigir um pouco demais das convicções das ou-
t~as pessoas; seria querer obrigar que as outras pessoas
primeiro consultório chique, exatamente como o aborto é
tivessem as mesmas convicções religiosas e éticas que nós
praticado ainda hoje. ternos, Não, não estamos legislando para nós mesmos.
Parece-me que a única situação que a nossa Subcomis- Gostaria também de objetar, a respeito do que a
são deveria enfrentar nessa matéria é a de manter um Constituinte 'Sandra Cavalcanti disse, naquilo que ela
princípio fundamental: garantindo o direito à vida, não afirmou, que hoje se tem condições de fazer até interven-
admitir que métodos de planejamento familiar usem o ções íntra-uterinas, que isso tudo é possível, porque a ciên-
aborto como um processo e ficar restrito a isto, porque cia já avançou muito. Mas, eu pergunto: que mulher teria
a lei brasileira já prevê, na sua legislação complementar, recursos, hoje, pa~a fa~er hemodiálise - por exemplo, que
na sua legislação ordinária, nos, seus 'códigos, os casos de em meu Estado nao existe - e ela fosse obrigada a arcar
estupro, que são uma questão de consciência até - eu c?m _aque~a gravidez e c~rrer um risco real de vida, já que
por exemplo, acho que até mesmo nos casos de estupro, la nao existe nenhum SIstema de hemodiálise? Está aqui
não deveria haver uma licença para aborto, porque a um médico que pode afirmar que existem casos de gravi-
vida daquele criança é dela. Ela tem direito de nascer. Se dez em que se a mulher possui apenas um rim ou os rins
nós não defendermos o direito de nascer, nós não temos não funcionam bem, ela vai realmente morr,er' em função
o direito de defender o direito de viver; nós não temos da gravidez, se ela não tiver um atendimento da medicina
como defender o direito de usar a liberdade, de usar as ou da ciência que nem sempre ou muito dificilmente, está
nossas opiniões, de ir contra os poderosos, de afrontar ao alcance dela.
a maré montante de coisas contrárias às nossas opiniões;
nós temos que nos ajeitar e nos adaptar a situações ter- São casos para os quais precisamos atentar embora eu
ríveis. Vamos acabar aceitando a eutanásia, porque os como mãe e como pessoa religiosa, me filie m~ito à ques~
velhos a partir de um determinado momento também tãp da preservação da vida. Mas, são casos para os quais
ficam cegos, .também fica rnsurdos, também ficam sem nos temos de atentar. E volto a afirmar que nós não es-
poder andar, também ficam incontinentes, também ficam tamos aqui legislando para nós mesmos. Há situações e
incapazes, às vezes, de raciocinar, também ficam escle- situações que precisam ser consideradas.
rosados. Essa criancinha que está dentro do ventre mater- Muito obrigada, Sr. Presidente.
no não tem ainda nenhuma possibilidade de defesa, o nosso
velho mais adiante também não vai ter. E é a mesma coisa. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Temos, a se-
É a morte decretada por conveniência de terceiros Eu me guir, inscrito o Constituinte Sotero Cunha, que tem a pa-
oponho a isso. Pedi o destaque desta emenda para solici- lavra. Mas gostaria de saber se S. Ex.a vai falar favorável
tar à nossa Subcomissão a sua rejeição, para que não ou contrariamente à emenda.
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 311

o SR. CONSTITUINTE SOTERO CUNHA - Eu vou mo no estupro. Por isso, defendo e defendo o inocente,
falar favoravelmente à posíção tomada pela nossa querida venha ele como vier. Estarei sempre em defesa do inocente
companheira, com quem estou de pleno acordo. e contra o aborto, em qualquer circunstância. Eu voto,
Acho que a tendência natural de quem procurou abrir portanto, contra. Já deixo aqui o meu voto contra a apro-
uma porta pequena, usando esse método de dizer que a vação dessa emenda.
mulher corre perigo, ou no caso de nascer uma pessoa com A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
defeitos, como disse anossa querida Eunice Michiles, que Sr. Presidente, só para acrescentar o seguinte. Eu não sou
assistiu um caso, isso não justifica milhões que poderão contra todo o texto da Constituinte Eunice Michiles. Acho
acontecer. O caso que foi visto pela nossa companheira que a primeira parte toda da emenda é perfeita e deveria
Eunice Michiles é um caso isolado, ou alguns casos iso- até figurar. "É responsabilidade do Estado promover a vi-
lados. E, quando alguém chama a atenção para o perigo da, não sendo permitido o aborto como método de plane-
de risco de vida da mulher, talvez este que apresentou es- jamento familiar". Essa posição, a Constituinte Eunice
ta lei que está aprovada aí, seja um daqueles que até par- Michiles sempre defendeu. Gostaria de fazer essa justiça.
ticipem desse grande número de abortos que são feitos por porque acompanho o trabalho da Constituinte. Apenas acho
aí afora. que poderíamos, quem sabe, destacar essa expressão que
vem em seguida, que é matéria de lei ordinária, e deixar
Não sei quem foi o autor da lei que dá direito ao aborto isso para uma discussão posterior. Estamos votando a
no caso de risco de vida, ou no caso de estupro, mas eu emenda.
acho 'que é mais fácil perder alguém por uma questão de
risco de vida do que eliminar muitas vidas, entrando por O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr.
essa porta. Mais tarde, o médico vai dizer que mandou ti- Presidente, acho que a nobre Constituinte Sandra Caval-
rar o filho de alguém porque esse alguém corria risco de canti, querendo restringir, está ampliando. O texto restrín-
vída, Ele atesta que corria o risco de vida e o outro mé- ge a possibilidade de aborto a, três hipóteses: amanhã a lei
dico tira. A porta aberta não é pelo caso de alguém estar, ordinária pode fazer cinco hipóteses. De modo que acho
cama V. Ex.a mesmo citou, impossibilitado de falar até os que temos que pensar bem se pode criar... Por exemplo,
40 anos, um monstrozínho, mas é preferível uma vida que o fato da transmissão de doenças. Hoje, já se discute se
não fala, mas que viva e nós não tenhamos tirado a sua a mãe que possui AIDS transmite-a para os filhos. A ciên-
vida antes de nascer, especialmente naquela condição de cia amanhã pode criar essa hipótese que não está prevista
indefeso, porque quando se tira uma vida do ventre de uma aqui. Pode criar várias hipóteses e até pode não criar ne-
mãe, está-se matando um indefeso. E mais tarde, se esse nhuma. Quer dizer, a emenda se restringe a esses três ca-
pudesse voltar e saber que a mãe permitiu quea sua vida sos. Afirmar apenas o princípio, como quer a nobre Cons-
fosse tirada, ele também talvez tivesse o direito de dizer tituinte Sandra Cavalcanti, não tem razão de ser porque,
"Eu vou matá-la, minha mãe, porque você matou-me, quan- dir-se-ia, "é responsabilidade do Estado promover a vida,
do eu ainda estava indefeso". não sendo permitido o aborto como método de planeja-
mento familiar". Primeiro, o Estado não promove a vida,
Portanto, eu concordo plenamente com todos os pon- o Estado assegura, prestígía, estimula, garante a vida, mas
tos de vista da nossa companheira e votarei pela rejeição não promove. Promover é uma ação, um estado. Nenhum
dessa emenda no seu todo, porque sou contra o aborto até Estado faz vida, ele garante a vida. "Não sendo permitido
mesmo em caso de estupro e alto risco de vida. o aborto como método de planejamento familiar". Ora, eví-
Alguém perguntou-me há poucos dias numa entrevis- dentemente que ninguém sustenta que o aborto é um mé-
ta: "E se sua filha for estuprada, você concorda?". E disse todo de planejamento familiar, a não ser aqueles que que-
que concordo plenamente, porque muitos dos estupros que rem diminuir a população. Mas não é esse o objetivo da
acontecem por aí quase na sua totalidade são provocados emenda. Ninguém aqui está pensando em diminuir o núme-
por facilidades das pessoas. ro dos brasileiros nem dos nascimentos. Restringe. Só
pode ser nessas hipóteses. A lei, hoje, já permite o aborto
Lembro-me muito bem que quando estávamos estu- em casos de estupro e de gravidez de alto risco. O que
dando medicina legal, um 'Professor, não me recordo agora teria que se discutir é se os casos de malformação fetal
qual, nos declarou que a mulher tem possibilidades, eu devem ou não ser incluídos; somente isso, porque os mais
declarei isso e vou até onde for possível com esse pensa- já existem na lei penal. E mais ainda, a lei penal pode
mento, que a mulher tem condições sutícíentes para evitar criar outros casos.
o estupro. E até, naquela ocasião ...
De modo que acho que não se deve combater o artigo
A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Com porque é muito amplo. Acho que melhor será não tratar
um revólver na cabeça? do aborto no projeto de lei da Constituição, porque esse
O SR. CONSTITUINTE SOTERO CUNHA - Com um é um assunto de lei penal que pode até ser ampliado ou
revólver na cabeça, sim. Ela pode até perder a vida, mas diminuído. Só não deve ser objeto da Constituição. Esse é
tem condição de evitar. Isso é muito polêmico. É preferível o meu ponto de vista.
admitir e ter um filho, dar à luz um filho que veio de uma O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Muito bem.
situação irregular ... E mais, a mulher não pode estar cer- Pelo Regimento, nós temos dois encaminhando favoravel-
ta que vai engravidar. mente e dois contrariamente. Não estamos discutindo essa
matéria. Essa matéria foi exaustivamente discutida inclu-
O Professor nos contou uma história muito interes- sive o nobre Constituinte já teve ocasião de "espi~afrar"
sante, 'que eu vou contar a V. Ex. a s Um cego estuprou uma m~1Ítas pessoas por causa dessa ressalva. Agora, dois enca-
menina e a menina foi para a delegacia e contou lá a sua mínharam favoravelmente e dois encaminharam contraria-
história. O processo correu. E lá, o Juiz perguntou à me- mente. Ú orgumento dos contrários ...
nina: "Você foi estuprada? De que maneira foi" A menina
respondeu "O ceguinho me segurou, prendeu minhas per- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mi-
nas e eu fiquei sem condições de me locomover." O advo- nha posição é a favor -da extinção do artigo. Acho que o
gado contrário fez a seguinte pergunta: "E quem foi que aborto não é matéria de Direito Oonstitucional é de lei
viu o ceguinho?" , ordinária. '
Essa história nos foi contada porque alguém estava O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Vamos pas-
querendo mostrar que havia condição de defesa, até mes- saí- à votação. Eu quero' lembrar, inclusive, Ex.a, que rece-
312 Segunda-feira 20 DlARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

bi uma carta bastante malcriada do Conselho dos Direitos rejeitada, este assunto desaparece deste capítulo. Fica
da Mulher da Baixada Santista e ela não foi muito reve- para a lei ordinária.
rente conosco. Disse que eu estava restringindo pelo menos
duas conquistas das mulheres - estou apenas passando O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Vamos sub-
uma informação -, que seriam o aborto resultado de con- metê-la, então, à votação. Para que ela seja aprovada, ela,
cepção por estupro e nos casos de enfermidade. E a res- naturalmente, terá de receber um mínimo de nososs votos.
posta que fiz para elas foi que eu lamentava, que as mu- O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Pela
lheres estão indo muito além das suas conquistas. Ora, se ordem, Sr. Presidente. Se por um acaso não alcançarmos
essas são duas conquistas que precisam ser preservadas, esse quorum, como fica a matéria? Pelo que estou obser-
dizia eu, era de se esperar que os que fazem aborto se vando, pelo ponto de vista principalmente do Sr. Consti-
ativessem ao estrito limite das suas conquistas. Então, a tuinte João de Deus Antunes, eu sou pela rejeição daqueles
questão não é por conquistas. Eu tenho a opinião do detalhes de aborto quando há distúrbio na gravidez, mas
Constituinte Nelson Carneiro e se dependesse de mim nem manteria ...
para a legislação ordinária iria. Se dependesse de mim,
neste campo, o Estado deveria oferecer ... O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Nós temos
que rejeitá-la ou acolhê-la.
A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - É
porque V. Ex,a não engravida. Aí, talvez, ,pensasse dife- (Procede-se à votação.)
rente. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Dez votos a
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Aceito a obje- três. A emenda foi rejeitada.
ção de V. Ex.a e espero que V. Ex.a também não fique Temos um último destaque favorável. Emenda n.? 139.
mais grávida. Não tenho condição de saber quem é este Constituinte.
A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Não.
Não fico, mas já fiquei. A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
A Emenda n.> 139 é do oonstttuínte Iberê Ferreira. E diz
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Eu só quero que "a nulidade do casamento pode ser declarada a qual-
lembrar o seguinte. A questão da transigência com o di- quer tempo".
reito à vida é o fato mais lamentável na sociedade huma-
na, inclusive no Brasil. Porque, veja bem, qual é o concei- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Data venia,
to para julgar que alguém é um pequeno monstro? E como mas não é a informação de que dispomos. Ah, sim, o
V. Ex. a citou a Bíblia, citou o fato de ser cristã, eu me destaque é que é de autoria do Constituinte Nelson Car-
lembro daquela passagem quando perguntaram a Jesus a neiro.
respeito do aleijado. Quem pecou? Ele ou os pais? Qual
foi a resposta de Jesus? Nenhum dos dois. Ele nasceu O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr.
assim para quê? Para que se provasse o comportamento Presidente, um equívoco fez com que figurasse como art.
da humanidade nele, disse Jesus. Ele nasceu assim para 5.° o que se lê art. 1.0, § 5.°, uma emenda de minha autoria,
que o nosso comportamento fosse julgado em relação ao que foi recusada pelo Relator, mas que trata do mesmo
fato dele ter nascido daquela forma. Isso é para os que assunto, por isso estou invocando-a. Eu dizia o seguinte:
acreditam nas Escrituras Sagradas. "A nulidade do casamento pode ser argüida a qualquer
momento." E eu citava os arts. 145 e 146 do Código Civil.
De modo que eu venho sustentando a posição de que Como figurou como art. 5.°, em vez de art. 1.0, § 5.°, como
isso passasse para a legislação ordinária, mesmo porque, eu tinha dito, o Relator achou que não tinha pertinência
se nós proibirmos, vai continuar sendo feito; se o legali- com o art. 5.° e rejeitou-a. Mas, ao sustentar que não há
zarmos, o aborto vai ser comercializado. necessidade de incluir a nulidade do casamento que pode
O SR. CONSTITUINTE JoAO DE DEUS - Permita- ser declarada a qualquer tempo, não há necessidade de se
me Sr. Presidente. Só um adendo às informações. Se nós incluir em texto constitucional o que é pacífico na Legis-
deixarmos a porta aberta na íeglslação ordinária, amanhã lação Civil. Aliás, como bem reconhece o eminente relator,
poderemos dizer que somos maioria aqui e que estamos lu- o dispositivo não figura em qualquer texto constitucional,
tando pela não-legalização do aborto. Não estaremos aqui. nos muitos por S. Ex. a consultado. O que levou o Consti-
outros poderão estar, e esta porta que ficou aberta poderá tuinte Iberê Ferreira a apresentar essa emenda, pelo que
ser aproveitada para outros entrarem e contemplarem aqui- vi, foi o art. 208 do Código Civil: "É também nulo o casa-
lo que não estamos querendo. Vamos inserir no texto. Não mento contraído perante autoridade incompetente, mas
estamos aqui para eopíar, mas para inovar e podermos essa nulidade se considerará sanada, se não se alegar
colocar aqui o fato da não-aceitação do aborto. dentro de dois anos da celebração." Por isso, é o único
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Então, nós caso de nulidade que prevalece além de dois anos, que não
temos dois Srs. Constituintes que encaminharam favora- pode ser argüida depois de dois anos. Mas, neste caso a
velmente e dois que encaminharam contrariamente. Aliás, nulidade não é argüida em favor do casamento, porque
parece-me que s6 a autora encaminhou contrariamente. se um casamento, contraído perante autoridade incompe-
Vamos submeter a matéria à votação. tente prevalece durante dois anos, não é justo que se per-
mita que, depois de 20 anos, o cidadão apareça e diga
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Há "não, o Juiz que me casou era incompetente" e possa obter
distinção. A nobre Constituinte Sandra Cavalcanti aceita a nulidade desse casamento. O fato não é original. No
uma parte do artigo. Chile, por exemplo, os civilistas sustentam que, no Chile,
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Não temos não há divórcio porque há nulidade de casamento. Qual
como acolhê-lo em parte, Ex.a Temos que votar a emenda, é a forma de nulidade de casamento? Vamos colocar no
rejeitando-a ou aceitando-a. Rio de Janeiro, que nós todos conhecemos. A noiva mora
no bairro do Flamengo; o noivo mora no bairro de Copa-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - En- cabana. Mas, eles se casaram no bairro da Tijuca. Quem
tão a Constituinte Sandra Cavalcanti tem que aderir à celebrou o casamento não era o Juiz de Paz competente.
tes~ de que o assunto não deve ficar na Constituição. Trinta, vinte anos depois, eles fazem a prova de que casa-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - ram no Juiz incompetente e anulam o casamento, obtêm
Eu estou propondo a rejeição da emenda. Se ela for a nulidade de casamento sem necessidade do divórcio. Isso
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 313

eu discuti muito no tempo em que discutia divórcio aqui o SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Nós gosta-
no Congresso. Mais ainda, muitas vezes eles casavam no ríamos de saber se um outro 81'. Constituinte quer ainda
cartório certo, perante o Juiz certo, mas, depois, na hora usar da palavra. Senador Nelson Carneiro, gostaria de
da dissolução, é muito fácil fazer a prova de que, naquele fazer algum comentário ainda?
ano distante, vinte ou trinta anos passados, eles não mo- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Se
ravam naquele local. Então, com essa fraude, eles conse- nós mantivermos esse artigo, o legislador cívíl pode trans-
guiam anular o casamento. No atual projeto já aprovado
pela Câmara e que ora está submetido ao Senado, do qual formar muitos casos de anulabilidade em nulidade, então
eu, por acaso, sou o'"'Relator, é anulável o casamento por aí nós vamos abrir a porta para tudo, até eu retiro o
incompetência da autoridade celebrante; deixou de ser projeto de posse. Não há necessidade mais, porque é muito
nulidade. A nulidade, em regra, em todos os casos, pode mais fácil anular um casamento com essa largueza do
ser argüida a qualquer momento, era o único caso em que o que ocorre atualmente, porque só neste caso é que
que a nulidade só podia ser argüida a qualquer tempo. a nulidade é consolidada. Depois de dois anos, se alguém
Dentro de dois anos sanava a nulidade. Mas é que isso casou perante um juiz incompetente e não reclamou, está
não é caso de nulidade, é caso de anulabilidade, como bem feliz, tranqüilo, ele pode perder o direito de alegar essa
diz hoje o projeto de Código Civil da Câmara. nulidade.
O SR. CONSTITUINTE IBERl5 FERREIRA - E nos
Daí a minha emenda para que 'não subsista a nuli- casos do art. 183?
dade, neste caso, para ser argüida a qualquer tempo, senão
estamos pondo em risco todos os casamentos, basta que O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Não,
haja um conluio entre marido e mulher; senão não pre- mas aí no art. 208 evidentemente que está aí, 208, V. Ex.e.
cisa nem separação judicial, nem divórcio, nada disso, leia os artigos todos que são citados.
basta um acordo entre eles para anular qualquer casa- O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - E no
mento. Daí a nulidade de qualquer casamento. Foi por 183 nos casos que estabelece aqui, oito casos de nulidade?
isso que eu sustentei que a nulidade não pode subsistir,
porque o ato jurídico deixa de ser nulo para ser anulável O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - De que
já no Código que está sendo votado pelo Congresso Na- não pode casar.
cional. Por isso é que eu pedi destaque para que esse texto O SR. CONSTITUINTE IBERli: FERREIRA - li:, que
fosse excluído do anteprojeto, em defesa do casamento, não pude casar.
da preservação do casamento, eu que tenho sido tantas
vezes acusado de ser inimigo do casamento. O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mas
o único que prescreve é no caso do casamento do art. 208,
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Com a pala- todos podem ser alegados a qualquer tempo. O sujeito
vra o autor. que casa com a filha pode ser alegado a qualquer tempo,
O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - Sr. Pre- é um caso excepcional. Agora no art. 208 é que exata-
sidente, nós apresentamos esta emenda por sugestão de mente aquele caso dos dois anos. Foi o que levou o juiz,
um juiz da Vara de Família, com o objetivo de distinguir certamente encontrou este fato, a sugerir esta nulidade.
o estado de nulidade da anulabílídade, A anulabilidade é O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Gostaria que
prescrítlvo, e a nulidade,' ao contrário, em regra não pres- fosse lido o art. 208, por fineza, que está sendo citado.
creve. Inclusive Washington de Barros diz, sobre o casa-
mento nulo, que a nulidade é de ordem pública e a decre- O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - O art. 208
tação exigida no interesse geral.' Õ casamento anulável, diz aqui ...
decreta-se anulabilidade no interesse privado da pessoa O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Do Código
prejudicada, soma-se a anulabilidade pela ratificação ou Civil, não é?
confirmação, que a nulidade não é suscetível de ratifi- O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - l!: tam-
cação ou confirmação ainda desejada pelas partes. Em
matéria de casamento, porém, sofre essa regra a exceção bém nulo o casamento contraído -perante autoridade in-
prevista no art. 208 do Código que o nobre constituinte competente, art. 192, 194 e 198, mas essa nulidade se con-
acabou de citar é também nulo o casamento contraído sidera sanada se não se alegar dentro de dois anos da
perante autoridade incompetente, mas esta nulidade será 'Celebração. E, parágrafo único: "Antes de vencido este
prazo a declaração da nUlidade poderá ser- requerida por
sanada, será considerada sanada se não for alegada dentro
de dois anos da celebração. li: realmente inconcebível que pessoa interessada ... " etc.
o decurso do tempo torne eficaz ato proibido por lei. Art. 167. li: anulável o casamento contraído com a
infração de qualquer dos números 9 a 12 do art. 183.
Eu pediria o Código para nós vermos aqui. O objetivo
é apenas esse, é de, segunda a intenção do juiz, evitar, O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Isso
pois a nulidade não pode prescrever. No art. 183, dos é anulável.
impedimentos: não podem casar, etc., o adotado como O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - Pois é.
filho superveniente, etc., então se permitimos que a nuli- O que nós queremos é distinguir, deixar bem claro que a
dade prescreve, vamos ter aqui, por exemplo, uma pessoa nulidade do casamento pode ser declarada a qualquer
que casou com o próprio filho, uma pessoa dentro dessa tempo.
proibição e depois vamos dizer que ele tome conhecimento, O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mas
ou até sem saber, mas que depois de dez anos, cinco anos, a nulidade que pode ser declarada a qualquer tempo é
ete., tome esse conhecimento. Então nesse caso, com a exatamente esta.
prescrição aos dois anos ele fica impedido dessa nulidade.
Então diz aqui que realmente a anulabilidade é preserí- O SR. CONSTITUINTE IBERÊ FERREIRA - Uma
tível, agora a nulidade, ao contrário, não prescreve. Então, lei é realmente esse outro artigo ...
é exatamente para dirimir essa dúvida que nós acrescen- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Só na
tamos aqui no § 5.°, do art. 1.0 apenas a nulidade do casa- lei civil é que se pode fazer isso, a não ser que a gente
mento pode ser declarada a qualquer tempo. - ressalve: salvo o ca~o tal, e não é possível, .não há nenhu-
314 Segunda~feira 20 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUI~TE (Suplemento) Julho de 1987

ma Constituição que fale sobre isso como bem anotou 156, Antônio Câmara; 157, Rita Camata; 159, Mansueto
o Relator quando estudou as Constituições. Nenhuma de Lavor; 169, Fernando Henrique Cardoso; 170, Fernando
Constituição do mundo trata de unlídade do casamento, Henrique Cardoso; 175, Marcelo Cordeiro; 177, Jutahy Ma-
apenas o Direito Civil. Nunca, nenhuma Constituição do galhães; 178, Rita Camata; 179, Rita Camata; 180, Rita Ca-
mundo. mata; 181, Rita Camata; 182, Rita Camata; 183, Rita
Camata; ,184, Antônio Câmara; 185, Paes de Andrade;
Q SR CONSII'ITUINTE IBER:Êl FERREIRA - Quero 187, Paes de Andrade; 188, Uldurico Pinto; 189, Uldurico
dizer aqui, faço questão de dizer, até pelo respeito que Pinto; 190, José Freire; 192, Mattos Leão; 194, Mattos
tenho ao Senador Nelson Carneiro, pelo conhecimento Leão; 195, Octávio Elísio; 158, Rita Camata; 143, Iberê
que S. Ex.a tem sobre o assunto, de tanto tempo, e dizer Ferreira; 140, Iberê Ferreira; 125, Eunice Michiles; 110,
que eu apenas estou trazendo aqui, por um dever, a posi- Sandra Cavalcanti; 144, Iberê Ferreira; 145, Iberê Ferrei-
ção de um juiz de uma Vara de Familia que me pediu ra; 152, Orlando Pacheco; 171, Orlando Pacheco; 16, Mau-
para que eu trouxesse. rício Corrêa; 27, Maurício Corrêa; 69, João de Deus Antu-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Inclusive eu nes; 118, Luiz Salomão; 100, José Maurício; 84, Amaury
nunca vi V. Ex. a tão na defensiva como agora. Müller; 115, Roberto Augusto; 150, Benedita da Silva-
151. Benedita da Silva; 64, Sotero Cunha; 59, Soter~
Bom, algum outro S;r. Constituinte? Cunha; 60, Sotero Cunha; 103, Lídice da Mata; 105, Lídice
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - S,r.Pre- da Mata; 102, Lídice da Mata; 138, Augusto Carvalho;
sidente, eu aprovo a proposição do Senador Nelson Car- 137,. Augusto Carvalho; 163, Roberto Freire; 172, Roberto
neiro. FreIre; 31, Nelson Carneiro; 82, Nilson Gibson; 154, João
da Matta; 61, Sotero Cunha.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Bom, então
vamos decidir. Estas as emendas prejudicadas, que devem ser votadas
(Procede-se à votação.) em globo independente dos destaques.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Desta forma, O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Nós as vota-
remos todas num só momento.
a emenda fica rejeitada, fica supressa.
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Ao Se os Srs. Constituintes mantêm a prejudicialidade
dirão "sim", do contrário... '
menos alguém do PMDB, só temos nós dois.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Ah, sim. Des- O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - A
gente tem que ver, Sr. Presidente como é esse detalhe
culpe-me, nós temos ainda dois Srs. constituintes ~x~r­ porque tenho duas emendas nesse meio termo. '
cendo o direito de titularidade com essa subcomíssão.
a
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - V. Ex. pediu
Dez a dois, pela rejeição. destaque?
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Para passarmos O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Sim
à votação seguinte é necessário chamarmos quais as emen- pedi destaque. '
das prejudicadas, que devem ser votadas em globo inde-
pendente do destaque. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Elas serão
votadas depois, separadamente.
São consideradas prejudicadas a de n.O 28, do ilustre
Senador Nelson Carneiro... Talvez este formulário fosse Elas já estão mantidas do destaque, serão votadas
mais adequado para fazer anotação, em seguida, natu- posteriormente uma a uma das que foram solicitadas os
ralmente, na apreciação dos destaques, que já foram soli- destaques.
citados; já estão separadas aqui as emendas prejudicadas O SR. RELATOR ERALDO TINOCO - Confirmado o
que foram destacadas. fato de que todas estão prejudicadas então n6s vamos des-
Emendas n.ss 23, 46 ... tacar aquelas que queremos resgatar.
O 8R. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - V. Ex. a O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Está em
poderia ir dizendo o autor, se for possível? condição de votar? Depende de algum esclarecimento? Não?
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - ... , do Cons- (Procede-se à votacão.)
tituinte Maurício Nasser; 46, do Constituinte Eliel Ro- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Nós temos
drigues ... definidos 8 destaques. Pela ordem numérica n6s temos a
Emenda n.o 7, o destaque é da autoria da Constituinte Sano
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Então dra Cavalcanti.
eu posso apresentar essa?
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Pode, se já está A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Sr. Presidente, este assunto íá é matéria vencida em que
pedido o destaque ele fica mantido. A votação em glob?, nós apresentamos uma emenda em que constava a expres-
pela prejudicialidade, ressalvados os destaques, depoís são "meios de concepção".
serão votados os destaques separadamente.
Retiro o destaque.
Quarenta e sete, do Constituinte Eliel Rodrigues; 50,
da Constituinte Anna Maria Rattes; 51, Constituinte Anna O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Emenda n,?
Maria Rattes; 52, Constituinte Anna Maria Rattes; 54, 46, de autoria do Constituinte Eliel Rodrigues.
Constituinte Maria Lúcia; 57, Constituinte Aluízio Cam- O SR. ELIEL RODRIGUES - Nós solicitamos que
pos' 38 da Constituinte Cristina Tavares; 78, do Consti- fosse acrescentado parágrafo ao art. 4.0, do anteprojeto
tuinte Nilson Gibson; 76, Nilson Gibson; 77, Nilson Gib- do Relator. Esse parágrafo:
son; 83, Francisco Carneiro; 81, Nilson Gibson; 130, Bosco
França; 131, Paulo. R!lJ11os; 132, Paulo Ramos; 128, Bos- "A educação pré-escolar atenderá aos precei-
co França; 126, Bosco Fránça; 86, Nyder Barbosa; 96, tos da higiene pessoal, e alimentar, e instruirá
Meira Filho; 94, Nelson Aguiar; 85, Nelson Aguiar; 117, contra a nocividade das bebíbas alcóolicas, fumos
Vilson80uza, 148, Ronan Tito 155, Sigmaringa seixas;' e drogas."
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 315

Segundo o parecer do Sr. Relator, contrário, porquan- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - De-
to matéria sujeita à Subcomissão de Educação e Cultura; pois de 6 anos é muito mais comum. Nós restríngtmos ao
mas achamos que podíamos inserir, desde que estamos tra- pré-escolar...
tando aqui das crianças e adolescentes em situação irre-
gular, sem prejuízo da responsabilidade civil ou penal dos O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Eu percebo
pais, da assistência do Estado, que protegerá contra todos que a preocupação é aproveitar esta informação de vida
os tipos de discriminação, opressão ou exploração. Acha- pela área de educação à criança, em decorrência desses
mos que o fumo, a bebida e todo esse tipo de coisa que vícios. --J
pode explorar ou prejudicar a criança, pode sair nesta par- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
te do estudo do adolescente como uma decorrência do que exatamente porque entendemos que este é um assunto que
está especificado no § .0 do art. 4.° Daí a razão do nosso transcende ao problema do pré-escolar e diz respeito a
pedido, que fala nesse art. 3.°, sobre o cuidado que devem todo o aspecto educacional, nós achamos que é mais com-
ter tanto os pais como o Estado da assistência que proteja patível com o capítulo da educação. Mencionamos isso no
contra todo tipo de discriminação, opressão ou explora- parecer. Como entendemos também que todos estaremos
ção. Nós queremos zelar pela nossa infância, pela nossa na Comissão temática da Educação, e que lá poderemos
juventude quando se trata da família. li: a razão do nosso apresentar emenda a respeito, consideramos prejudicada a
destaque. emenda em se tratando deste capítulo específico, Da Cri-
ança, já que a forma como foi redigida limita o problema
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - ao pré-escolar.
Sr. Presidente, tenho a impressão de que neste texto do
§ 4.°, utilizando o texto do Relator, e aprovada esta emen-
O SR. PRESI'DENTE (Nelson Aguiar) - Ali vai ser
da que foi rejeitada, estabelecer numa redação que ficas- garantido o direito de reapresentação ...
se assim: as crianças e adolescentes em situação irregular, O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Caso seja ...
sem prejuízo... até a palavra "exploração". Em seguida, O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Ele poderá
um item "a", foi mudada a palavra "internamento", em ser reapresentado, teria que optar? Essa parte do pré-
abrigos especializados, em casos de infração, prevista na escolar tem ser ...
legislação própria. A letra b, a educação pré-escolar aten-
derá aos preceitos de higiene pessoal. Isso acrescentaria O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Se o Plenário
um pouco mais ao artigo; como um princípio realmente é entender que a emenda deve ser aprovada, o Relator en-
muito importante que desde muito cedo figure na educa- contrará a forma mais apropriada de incluí-la no texto,
ção, não só das crianças e adolescentes em situação írre- ou até, ipsis litteris. Entretanto, eu quero apenas dizer
gular. Acho que a emenda do Constituinte Eliel Rodrigues com esta observação, que não sou contrário ao conteúdo
é uma pena que tenha ficado em dificuldade para ser en- que traz a emenda. Acho, entretanto, que não é o capítulo
caixada, mas é uma coisa que realmente está fazendo e o artigo mais apropriados para conter esta idéia, até
muita falta, que desde cedo as crianças sejam alertadas porque, restringindo-se e se incluindo aqui, e, dentro da
para a nocividade das bebidas, do fumo e das drogas. E observação do Senador Nelson Carneiro, ela deve ser apro-
nas crianças e adolescentes em situação irregular, o que se veitada num espaço que lhe dê realmente a expansão que
verifica é que foi também por causa de bebida, de droga o assunto requer e merece.
que muitas dessas crianças acabaram tendo que freqüentar O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr.
esses estabelecimentos. Há uma correlação muito íntima Presidente, peço a palavra pela ordem.
entre esses dois assuntos, e quem sabe depois o Relator
conseguiria numa redação inserir? O SR PRESID'ENTE (Nelson Aguiar) - Concedo a
palavra ao nobre Constituinte Nelson Carneiro, pela ordem.
Eu voto a favor. O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - V. Ex.a
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Não há dúvi- conhece bem o Regimento, mas, eu não sei se nós aqui
da de que a emenda inova, mas temos que nos lembrar podemos adotar a mesma solução que adotam os juizes
que ela só poderia ser acolhida dentro daquela elasticidade quando recebem uma petição para a qual ele não é com-
que se permite do Relator na sua redação final. Portanto, petente para decidir e o remédio é o juízo competente.
temos que optar por recebê-la, aprová-la como está pro- Isso teria sido uma boa idéia, se esta Subcomissão, por
posta, permitindo ao Relator a faculdade de aproveitar a exemplo, tivesse tomado a iniciativa de remeter esta emen-
sugestão de V. Ex. a ou então rejeitá-la. da à Subcomissão que trata da educação. Ao invés de nós
forçarmos a inclusão neste texto, enviar como uma solu-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr. ção de uma ao exame da outra Subcomissão. Da Subco-
Presisdente, eu acho que estamos aqui falando em crianças missão, porque a Subcomissão ainda não encerrou os seus
e adolescentes, e esse princípio de nocividade de bebiba- trabalhos.
das alcõolícas, fumo e drogas tem relativamente muito Mas, não sei se o Regimento permite. A minha dúvida
pouca importância na idade pré-escolar. Acho que na ída- é esta.
de escolar, depois de 6 anos é que a criança começa a ir
à escola onde começa a ter a nocividade da bebida, do O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Não, o Regi-
fumo, da droga. Porque na classe maternal, no pré-esco- mento não trata desta figura.
lar. .. Não quero restringir ao pré-escolar, acho que é O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mas
muito mais grave depois dos 6 anos do que até os 6 ou 7 é uma solução que o Juiz adota e todos os tribunais ado-'
anos. Quero ampliar e não restringir, a emenda restringe tam, seria ...
ao pré-escolar. A idéia é aproveitar a emenda mas não
restringir ao pré-escolar. O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Se me
permite uma explicação, Sr. Presidente, é evidente que
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Dada a má- esta solução que foi remetida a uma outra Subcomissão
xima vênia, nós estaríamos em condições de informar que no momento oportuno, seria uma providência perfeita-
estas pequeninas, muito pequenas crianças de periferia, mente adequada. Entretanto relembro, aqui, as círcuns-
chamada criança de rua, começam a fumar muito cedo ~~ncias e~ que esse parecer, essas emendas foram apre-
binga de cigarro apanhado no chão, a tomar restos de cíadas.: TlIihamos um prazo que foi dilatado pela Mesa
bebidas nos bares, é uma coisa muito comum. da Constituinte, sem que o prazo do Relator fosse amplia-
316 Segunda-feira 20 DIARIO' DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

do. Então, nós teríamos que trabalhar, realmente, num costumes, mas se formos botar todas as regras morais na
regime não de 72 horas mas de 24 horas. E, isso impossi- Constituição ,teremos um rol imenso de regras moraís pa-
bilitou providências dessa natureza. 'Como entendemos que ra incluir na Carta Magna.
o assunto não se esgota, até porque é objeto de apreciação O SR. CONSTITmNTE ELIEL iRODRIGUES - Inclu-
da Comissão temática, onde todos os componentes des.ta sive, temos que ressalvar porque, nem todos são cristãos e
Subcomissão fazem parte, eu entendi que o ator tería, nem todos acreditam em Deus. Aí ...
naturalmente e tem toda a possibilidade de apresentar
essa emenda na Comissão temática; e, sendo um assunto O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEmO - Mes-
de concorrência quanto ao mérito, de to~os os compo- mo que todos acreditassem ...
nentes da Subcomissão já teríamos o apoio de todos os O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Só que
integrantes da subcomi~s~o para 8pr<,>vaçã? dess_a e~enda, o ilustre, agora, não pode perder a perspectiva de que
naquele local mais apropriado. E, InSISto, ISSO nao Impede esta tem que ser uma decisão individual. Não será por
que a Subcomissão entenda de outra forma e que aprove decreto. Quanto a isso seria fácil, a gente só decretava:
a emenda e, aí nós a incluiríamos neste texto. pelo presente decreto, todo mundo é obrigado ...
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Com O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Acho
uma outra redação. que é uma regra moral.
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Eu O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Ainda há ou-
preferia optar pela última sugestão do Sr. Relator. tro Constituinte? O Sr. gostaria de discutir o assunto?
O SR. PRESIDENTE (Nelon Aguiar) - Qual seria a Vamos, então, à decisão.
sugestão?
(Procede-se à votação.)
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES =-- Que a
Comissão se pronunciasse a respeito da aprovaçao, apro- A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MIOHILES - Sr.
vando ou não a minha proposição. Presidente, são 7 votos contra e 3 votos a favor.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Vamos passar O 'SiR. CONSTITUINTE NELSON OARNEIRO - Perma-
à votação. neceu o parecer.
{Procede-se à votação.) O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Exatamente.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Solicito à As- Está rejeitado pela diferença de 4 votos. Eu quero lem-
sessoria que já vá adiantando aí o trabalho, vendo onde brar que não houve quorum para aprovar. Caiu tudo.
encaixar. Parece-me, Sr. Presidente, permita-me, que, no Bom, temos, a seguir a emenda da nossa autoria, a
~ 2.0, quando fala no direit? à educação desde o nasci- Emenda n.O 94. O destaque é da nossa autoria.
mento talvez possa ser incluído, ai, um Item, que caracte- Na justificação feita pelo ilustre Relator, ele diz aqui:
rize esse aspecto que é um aspecto educacional.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - De autoria, "O amparo à maternidade, à infância e a ado-
também, do ilustre Constituinte Eliel Rodrigues, temos lescência 'e ao idoso, já está previsto nos díversos
a Emenda n ? 47: dispositivos do anteprojeto. Quanto ao deficiente,
a matéria está sujeita à outra Subc-omiEsão."
"Inclua-se, no anteprojeto do Relator da Sub-
comissão, o seguínte artigo: Os pais terão o direito Eu, ao apresentar essa emenda como está redigida,
e o dever de instruir educar e disciplinar os seus primeiro quis, no caput do artigo, instituir esta obrigação
filhos, dentro dos preceitos da obediência filial para o Estado ,e para a sociedade, como um direito para a
da moral e dos bons costumes, do amor ao estudo pessoa. O direito da pessoa e obrigação para a sociedade.
e ao trabalho, do respeito à lei do Pais da solida- A sociedade e ao Estado incumbem prestar assistência à
riedade ao próximo e de temor e amor a Deus." maternidade, à infância, à adolescência, ao idoso e à pes-
soa portadora de Ideficiência. Coloquei a pessoa portadora
Observei que no § 2.° do anteprojeto, apresentado pelo de deficiência, porque estamos tratando do direito da fa-
ilustre Sr. Relator, está dito que os pais têm o dever de mília, e é no seio da família que nós temos as pessoas
criar, educar os filhos menores, e os filhos maiores têm portadoras de deficiência. Daqui há pouco, na defesa dos
o dever de auxiliar e amparar os pais. Como isto não direitos da família nós iríamos excluir alguém, pelo sim-
está aqui neste capítulo que fala sobre a família. Nós ples fato desse alguém, embora membro da família, ser
estamos abrangendo mais para alcançarmos os deveres deficiente. Embora esse assunto estar sendo tratado na
filiais e os deveres paternais, não especificando, apenas, Subcomissão das Minorias, achei por bem que nós não o
a questão dos filhos menores ou dos filhos maiores, mas olvidássemos também aqui, mesmo porque, a questão dos
::> dísciplínamento dos pais e o amor ao trabalho e tudo proventos da aposentadoria também, estão sendo trata-
o mais que foi dito nesse nosso destaque, numa inclusão dos na Subcomissão dos Direitos do Trabalhador e do Ser-
no art. 2.° vidor Público, e sobre isso nós deliberamos aqul. Então,
SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr. Pre- isto serviria de argumento para a sustentação que estamos
sidente, eu queria opinar ... fazendo.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Concedo a pa- Na questão embaixo, no § 1.0:
lavra ao nobre Con.stituinte Nelson Carneiro.
"Toda criança tem assegurados os díreítos ine-
O SR. NELSON CARNEIRO - Eu sou o suplente que rentes à vida, à liberdade, à alimentação, à saúde,
mais f,ala. à educação, ao abrigo, ao laze-r e à convivência
familiar e comunitária."
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - V. Ex. a não é
suplente V. Ex.a. é titular ... E, po-r último:
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEmO - Essa "Ao menor em situação irregular é assegura-
é uma regra moral, a que todos nós devemos obedecer. da assistência espeeíal que o coloque a salvo de
Mas, não deve figurar num texto constitucional, porque é discriminação, segregação, opressão e violência sob
uma regra moral. A gente deve educar os filhos nos bons qualquer pretexto."
DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 317

Redigimos, assim, primeiro por entendermos que a Temos a seguir, da ilustre Constituinte Sandra Caval-
Oonstítuíçâo é um Iívro de princípios; não poderíamos ir canti, o pedido de destaque para a Emenda n.O 100.
a muitos detalhes. Sabemos que esses aspectos vão ser A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVADCANTI -
apreciados nas fases seguintes da elaboração constitucio- Sr. Presidente, eu retiro o pedido de destaque
nal.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Retirado o
Entendeu o Sr. Relator que esta matéria já consta das pedido de destaque. Muito bem!
emendas colhidas e, portanto, ela já está prejudicada aqui.
Então eu a submeto à apreetação da Subcomissão mas não Ainda da Constituinte Sandra Cavalcanti temos o pe-
insistirei na sua aprovação a não ser que o entendimento dido de destaque para a Emenda n.O 110.
da Subcomissão seja no sentido de reconhecer que dela A SRA. CoNTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - A
conste algum aspecto que não esteíe contemplado no tex- emenda é de minha autoria, Sr. Presidente, e ela versa
to ou nas diferentes emendas que já foram acolhidas. sobre vários itens que, ao longo da nossa discussão, já vie-
ram debatidos e examinados. A única coisa é, às vezes uma
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - V. Ex.a me per- palavra, um termo que aparece aqui e alí - ela tinha si-
mite, Sr. Presidente? do dada como rejeitada, mas depois na apreciação poste-
rior verificamos que ela tinha sido apenas prejudicada
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Pois não. uma vez que os §§ 1.0 e 2.° já estão amparados no ante-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Quanto ao méri- projeto; o § 3.° também já está amparado pelo acolhi-
mento da Emen(,ia n.o 2.
to, não temos nenhuma dúvida quanto a todos os direitos
que estão aqui assegurados. Tivemos uma dificuldade, úni- Eu só chamaria a atenção do nobre Relator para a
ca, que é a estrutura, como o projeto constitucional está necessidade, talvez por ocasião da redação final, de in-
sendo elaborado. Se nós tivéssemos, por exemplo, um ca- cluir duas ou três expressões que são fundamentais e uma
pítulo tratando, Das Tutelas Especiais, como, aliás, ocorre delas por exemplo, me parece muito importante quando
em algumas Constituições, seria perfeitamente adequado Se trata do problema da família no Brasil; é esse parágra-
da forma como está tratado neste caput do artigo, englo- fo 2.° do art. 3.° da minha emenda: "É vedada a institui-
bando o problema da assistência à maternidade. à infân- ção ou a execução de programas antinatalistas." E isso
cia, à adolescência, ao idoso e à pessoa portadora de defi- não está - quer dizer, a emenda foi considerada prejudi-
ciências. É evidente que neste capítulo ou nesta seção nós cada por ter tido o seu teor aproveitado, mas do que ela
trataríamos igualmente dos detalhes referentes à prote- tem, isso não foi aproveitado. E me tpa-rece que isto não
ção ao menor, ao idoso, ao deficiente e etc. Mas, como está consta do texto do trabalho do Relator.
sendo estruturado o projeto ide Constituição terminamos Também, eu não me refiro, na minha emenda, a um
até essa fase das Comissões e das Subcomissões, nós temos planejamento familiar. Eu gosto mais, até por uma ques-
que elaborar o capítulo referente à família, ao menor e tão da expressão, "a regulação da natalidade". Fundamen-
ao idoso, onde a questão da fa'fiÍlia seria uma seção, a ta-se nos princípios da paternidade responsável - a isto
questão do menor seria uma outra seção e a questão do a Constituinte Eunice Michiles apresentou uma emenda
idoso seria uma outra seção. Esse, inclusive, é o detalha- acrescentando a expressão "livre" que foi adotado pelo
mento que está previsto pela Comissão de Sistematização. Relator - na dignidade humana, no respeito à vida, pas-
Então nós estaríamos no seguinte impasse: em que seção sando a ser decisão do casal. E a partir da adoção das
dessas nós trataríamos, englobadamente, um caput de ar- emendas que agora passaram, a expressão "desde a con-
tigo que engloba tanto o problema do idoso quanto o pro- cepção" portanto volta a ficar incluída, competindo ao
blema da pessoa defictente que já está sendo objeto, in- Estado colocar à disposição da sociedade recursos educa-
clusive, Ide outro texto, Das Minorias e etc. Quer dizer, te- cionais, técnicos e científicos para o exercíoío desse direito,
ríamos, fatalmente, 'que ter uma repetição no texto garan- observadas as convicções de natureza ética dos conjuges.
tindo em dois lugares diferentes esse mesmo direito do Essa expressão final, aqui também não consta do aprovei-
idoso e sse mesmo direito do deficiente. Por outro lado, to- tamento da emenda e ela é fundamental em qualquer pro-
das as outras questões contidas no texto, no § 1.0, no § 2.°, grama de regulação de natalidade.
que se referem especificamente à criança e ao menor em
situação irregular, já estão contidos no texto, parece-me As outras observações coincidem com emendas apre-
que depois de acolhida a Emenda do Iberê Ferreira, com sentadas pela Constituinte Eunice Michiles quando in-
um maior detalhamento. Quer dizer, não há aquela expres- cluiu a palavra "livre", que é muito importante aqui na
são vaga Ide que o que está na Declaração Universal dos paternidade; da Constituinte Rita Camata, da Constituin-
Direitos da Criança já está aceito, mas detalhando esses te Lúcia Braga, d'O Constituinte Sotero Cunha, nós temos
direitos, no texto que foi, inclusive, aprovado anterior- inúmeras emendas tratando e versando sobre essa matéria.
mente. Isso vale dizer que a aprovação dessa emenda A única coisa que de fato desta emenda toda não foi apro-
in totum derrubaria todo aquele art. 4.° no seu detalha- veitada e não aparece em lugar algum, é essa observação:
mento, o que me parece mais apropriado. Poderíamos, efe- que é vedada a instituição ou a execução de programas
tivamente, adaptar um texto ao outro, mas .a principal antinatalistas. Isso é fundamental para o Brasíl. Somos
dificuldade que teve o Relator foi englobar no mesmo um País ainda vazio; essa história de explosão demográ-
caput, os :direitos da criança, do idoso e do deficiente, por- fica é uma balela, nós não temos isso e nós precisamos mais
que foge à estrutura do texto que estamos trabalhando de é de brasileiros muito saudáveis, sadios e ocupando O nos-
acordo com o que foi detalhado no nosso Regimento In- so território; essa conversa é conversa do FMI, não é nos-
terno e detalhado ,inclusive, num modelo ou esqueleto sa. São programas estrangeiros, não são nossos... Eu gos-
preparado pela Comissão de Sistematização para os diver- taria que ao considerar apenas prejudicada a minha emen-
sos capítulos e para os diversos capítulos e seções do tex- da pelo aproveitamento do que ela tem dentro, que a Sub-
to constitucional. comissão se manifestasse pelo aproveitamento do § 2.0.
Acho que deve constar como um princípio da Constituição
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Eu queria, brasileira nós não aderirmos a programas antinatalistas.
então, se a Comissão me permite, já a esta altura, e até
em homenagem ao ilustre Constituinte Iberê Ferreira - E aquele adendo ao que seria o art. 3.0 que está mui-
sua emenda já acolhida no texto do anteprojeto - retirar to, da consolidação, em que se visa colocar à disposição da
o meu pedido de destaque. Não há objeção, não é? sociedade recursos educacionais, técnicos e científicos
318 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

para exercício desse direito, esse adendo, observadas as desse' direito". Ora, é evidente que, na sua essência, um
convicções de natureza ética dos conjuges, é muito im- programa que coloque à disposição das pessoas informa-
portante. li: a minha solicitação dentro do meu pedido de ções e meios para o exercicio livre da decisão quanto ao
destaque. número de filhos e quanto ao seu espaçamento, poderia
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Sr. ser interpretado como sendo a execução de um programa
Presidente... antinatalista.
"li: vedada a instituição ou execução de programas an-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Sim. V. Ex.a tinatalícios." Alguém poderia argüir que seria programa
tem a palavra. antinatalista, posteriormente, por exemplo, quando o Esta-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRç> -: Infe- do resolvesse patrocinar, pela televisão, pelos meios de
lizmente, quando eu cheguei a essa SubcoIDJS~ao.esta comunicação, um amplo programa de informação a res-
manhã já havia começado o debate - a culpa fOI minha, peito dos meios adequados para o exercício livre e cons-
V. Ex.a' marcou para às 9 horas e 30 min.utos ~ ~u não 1?ude ciente dessa paternidade responsável e livre; como tam-
chegar. Mas se estivesse aqui, com a devida vema .da minha bém poderia eonsíderar como um programa antínasalísta
eminente colega de partido Rita Camata, teria votado a colocação "à disposição das famílias de métodos e meios
contra a aprovação de sua emenda. E por. isso mesmo vo~o para o exercício livre dessa paternidade responsável".
contra a aprovação do destaque requerido :eela COnstI- Alguém poderia argüir que isso se trata de um programa
tuínte Sandra Cavalcanti. Acho que nos nao podemos antinatalista, vedado no ,texto constitucional.
imaginar, hoje, se _devem?s proibir a ma~rn~dade substi-
tutiva, a fecundaçao in vltro, quando a Cle~Cla pOlde levar Então, parece-me que o texto, como está colocado,
a um tal estágio que isso se torne uma COIsa tao normal levando em consideração "o princípio da paternidade livre
nos países e no País, que essa proibição vai cair em desu- e responsável, da dignidade humana, do respeito à vida",
so. Mas a ~m.enda Rita Camata foi aprovada. E eu não es- sendo decisão do casal, e dizendo que compete ao Estado
tava presente, não manifestei o meu voto co~tra. De mo- apenas colocar à disposição as informações e os meios, já
do 'que eu aproveito a oportunidade para manifestar o meu deixa naturalmente implícito que é vedado qualquer pro-
voto contrário ao destaque agora apresentado pela Cons- grama que tenha um caráter puramente antinatalista.
tituinte Sandra Cavalcanti porque eu estou inteiramente príncípalmente quando se declara, num parágrafo, que os
contra a solução que a sua emenda contém, e que é a re- programas de planejamento familiar levarão em conta as
produção em grande parte da Emenda n.o 2. condições de habitação, saúde, etc., dando uma conotação
Não quero convencer ninguém e quero deixar registra- que não simplesmente o problema da regulação da nata-
lidade, mas considerando o planejamento familiar como
da a minha posição. algo mais abrangente e mais completo.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Gostaria de
saber se algum outro Sr. Constituinte quer usar da palavra. Estas foram as razões pelas quais não acolhemos, in-
clusive, esse parágrafo. Salvo melhor juízo, mantendo a
O SR CONSTITUINTE IBERÊ: FERREIRA - Parece- posição inicial de achar que já está contido no texto como
me, Sr. p'residente, que a Constituinte Sandra Ca:yalcanti está colocado.
não solicitou para que fosse colocado em votaçao, mas
que ela Irf a retirar o pedido de destaque. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Vamos à de-
cisão? En;ão .cabería a retirada do destaque'. A Br.a retira
, A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - o destaque? Das emendas prejudicadas temos a última a
O que pedi foi que se fizesse atenção para dois aspectos ser considerada, do ilustre Constituinte Iberê Ferreira.
fundamentais da emenda que não foram aproveitados. O SR. CONSTITUINTE mER11: FERREIRA - Sr. Pre-
Inicialmente considerada rejeitada, no decorrer da nossa sidente, o art. 5.0 do anteprojeto do nobre relator esta-
discussão, hoje pela manhã, verificamos que, como a maior belecia que a adoção de menores abandonados, quando
parte do teor da emenda á tinha sido aproveitada, ou feita por brasileiros, será estimulada pelo Estado, com
por aprovação anterior de emendas de outras autorias, ou assistência jurídica e incentivos fiscais, na forma que a
pelo próprio texto do relator, na verdade - e chamo a lei estabelecer. E, em seu parágrafo único, dizía: "A adoção
atenção do meu querido amigo Nelson Carneiro - não por estrangeiros só é permitida nos casos e condições
mais está sendo discutida a emenda, e sim estou solící- previstas em lei."
tándo ao relator se, na hora da redação final, tendo ela
sido considerada prejudicada por já ter sido grande parte Então, Sr. Presidente, apresentamos uma emenda que
acolhida, poderia utilizar algumas expressões. diz exatamente o seguinte:
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Entendo que as "Art. 5.° A lei disporá sobre o processo de
duas preocupações já estão contidas no texto, como está adoção, resguardando os direitos inerentes da ci-
redigido. Em primeiro lugar, porque no texto já se fala dadania e a integridade física e mental da criança
na paternidade livre e responsável. O texto diz: "com ou adolescente ... "
respeito à dignidade humana, com respeito à vida, é de- Cóm normas específicas quanto à adoção por estran-
cisão do casal". Parece-me que esta expressão já leva em geiros. Tiramos .daqui a "palavra abandonada.
conta que essa decisão do casal considera as suas convic-
ções de natureza ética, quando repete "observadas as con- No item lI, a nossa emenda diz:
vicções de natureza ética dos cônjuges?". Se é uma decisão "Constituição e funcionamento de institutos
do casal, é evidente que leva em consideração as suas de adoção, a quem compete habilitar famílias in-
convicções de natureza ética, como leva também em con- teressadas 'na adoção, acompanhar e avaliar a
sideração' as suas convicções de natureza religiosa, que integração da' criança e do adolescente na nova
já foi objeto de outra emenda, a qual foi rejeitada. família."
Por outro lado, a colocação do § 2.° pode - parece-me Esta nossa proposta, Sr. Presidente, tem como obje-
- na interpretação da legislação, colidir com todo o espí- tivo -evítar 'dois ratos' que consideramos da maior gravi-
rito do texto, quando declara que "o Estado deve colocar dade: "Em primeiro lugar; com este trabalho dos institutos
à disposição da sociedade recursos educacionais, técnicos de adoção, que através do trabalho junto às familias iria
e científicos recomendados pela ciência, para o exercício cadastrando 'e' habílitando as famílias que quisessem ado-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL- CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 319

tar crianças, evitaríamos o tráfico de crianças, porque permitindo essas adoções em massa de crianças brasileiras,
junto aos casais que se habilitassem seria feito todo um como ocorre, em geral, com crianças do Terceiro Mundo,
trabalho de pesquisa ,e de preparação para o próprio casal. pretextando o fato de estarem elas abandonadas, em
Em segundo lugar, evitaríamos também um caso co- situação irregular. Nós nos tornamos irresponsáveis, a
mum, ou seja, um casal que pode perder um filho tragi- Nação se torna irresponsável a ponto de abandoná-las e,
camente e que às vezes ad.ota não por um ato de amor, em função do seu abandono, justifica a adoção por estran-
pelo fato de adotar, mas que adota para suprir aquela geiros de forma indiscriminada, como vem ocorrendo.
falta ou a perda do filho. Vamos injustificando a nossa irresponsabilidade com a
adoção por estrangeiro.
Assim, com a criação desses institutos de adoção,
evitaríamos tudo isso e habilitaríamos as famílias. Sobre Além disso, nós nos esquecemos do fato de que a
esses institutos evidentemente a lei disporá sobre eles, criança detém um direito originário à nacionalidade bra-
sobre seu funci~namento. Naturalmente com a participa- sileira; elas nasceram aqui, neste País. Teríamos, então,
ção de entidades da sociedade civil, a fim de que se fizesse que perguntar qual o direito que tenho de decidir sobre
todo esse trabalho de cadastramento e habilitação para a nacionalidade de uma criança brasileira, só porque está
as famílias. em situação irregular, num momento da vida em que ela
não pode opinar, em uma circunstância em que não pode
Nosso objetivo, Sr. Presidente, com a nossa emenda, opinar. Mesmo porque, além do direito brasileiro, esse
é esse. Coloco-a à votação dos nobres companheiros. direito de cidadania, esse direito de nacionalidade da
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - A palavra criança estão agregados ao Direito da Família. A família
está franqueada. muda de país e a criança vai junto, a criança vai embora.
Mas, nesse caso, estamos mudando a nacionalidade da
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Se ninguém quer criança em função de uma família que já mora lá, que
usá-la, Sr. Presidente, gostaria de fazer uso para ... não mora aqui. Portanto, estamos simplesmente transfe-
O SR. OONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - (Iní- rindo a nacionalidade dessa criança, num momento da
cio fora do microfone) ... Por que vamos desejar, agora, vida em que sua família não pode opinar e numa cir-
que deve ser dessa forma? cunstância em que ela, criança, não pode opinar. Quer
dizer que é a pessoa, o juiz, que está decidindo essa
O SR. CONSTITUINTE IBER:m FERREIRA - Não esta- questão. Será que ele está pensando no direito da criança?
mos dizendo a forma, Senador; estamos dizendo que a lei Ou está lançando mão de uma faculdade, apenas, que
criará os institutos. o Código de Menores lhe dá para fazer isso, justificando
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Mas o fato de essa criança estar em situação irregular?
está criando os institutos de adoção, para preparar os Há um livro que gostaria que os estudiosos desse
adotantes. Realmente isso não tem nenhuma compatibili- assunto lessem, Dos Direitos do Menor, do Dr. Raymond
dade com a realidade. Vamos criar, agora, institutos de Gríspum, cientista político e profundo estudioso do assun-
adoção, que são outros órgãos para cuidar de um assunto to, de São Paulo, no qual ele denuncia o fato de crianças
que é cuidado pelo juiz, através do Juiz de Menores, dos do Terceiro Mundo que foram adotadas por cidadãos
assistentes sociais de menores, que acompanham o pro- estrangeiros e que hoje trabalham, menores ainda, em
blema. Acho que não devemos detalhar tanto a Constitui- minas de carvão, na África. Denuncia o fato de menores
ção, sob pena de fazermos uma Constituição maior que brasileiros que foram adotados e que, hoje, são soldados
a de Afonso Arinos. Isso me assusta. A do Senador Afonso no Estado de Israel. Quer dizer, estão defendendo, hoje,
Arinos tem todas as soluções. Ele aí colocou todas as a nacionalidade ísraelíta, Vejam bem isso! Vejam como
hipóteses, num grande trabalho, digno de registro, mas é complicado! Vamos abandonando a nossa infância e
que não foi possível aceitar por ter quinhentos e tantos justificando a sua saída.
artigos.
Há um outro fato que as pessoas que defendem a
A síntese, na Constituição, é indispensável, sob pena adoção por estrangeiros não levam em conta. A adoção,
de termos de detalhar todos os institutos e todas as orga- que deveria ser o extraordinário e comovente gesto de
nizações. Na lei ordinária é ótima; na Constituição, acho amor do casal adotante, virou comércio, está virando
que não deve. negociata, negócio sujo, a ponto de a criança sair daqui
e ir embora para o estrangeiro com um procurador. Não
O SR. PRES'IDENTE (Nelson Aguiar) - Eu queria precisa mais o casal vir aqui para recebê-la do juiz, como
lembrar ao autor da emenda de destaque que já temos era de se esperar. E onde está o período de convivência,
dois institutos de adoção, no Direito Brasileiro e no Código sobre o qual a lei fala, da criança com o casal adotante?
de Menores: o instituto da adoção simples e o instituto Não! Há procuradores que já estão indo levar a criança
da adoção plena, regulados a partir do art. 30 do Código lá fora. Quer dizer que o assunto está descontrolado.
de Menores.
Acho que se a proposta de V. Ex,a visasse a proteger
Acho que a proposta de V. Ex.a não inova. Já temos, a criança, no tocante a esses aspectos todos, estaria
no texto, uma proposta que cria para o Estado a obrigação, inovando. '
inclusive, de subsidiar famílias. E, aí, é outro aspecto, O SR. CONSTITUINTE IBER:m FERREIRA - Parece-
já que reconhece o instituto da adoção. O Estado cria me que no processo de adoção é resguardado o direito
também a figura do incentivo fiscal, da assistência jurí- inerente à cidadania e à integridade física e mental da
dica e do subsídio. Já é um outro aspecto. Inclusive por- criança ou do adolescente, com normas específicas quanto
que, no aspecto em que foi proposta a questão do direito à adoção por estrangeiro.
originário a uma nacionalidade, à cidadania, se ela res-
salvasse a nacionalidade brasileira como um direito ori- :&ltou verificando que li ó art. 5.° do anteprojeto
ginário da criança, visaria a criar dificuldades, realmente, sobre o qual apresentei a emenda. Ele já absorveu algu-
para a adoção por estrangeiros. Acho que todas as vezes ma coisa.
que se discute a adoção de crianças brasileiras :por cida- O S:R. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Essas restri-
dãos estrangeiras, 'esse aspecto fica esquecido. Esse aspecto ções já constam do Código de Menores, da Lei de Adoção.
político é de fundamental importância, porque estamos Só que não estão sendo abservadas.
320 Segunda.feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Quando eu compareci ao Palácio para fazer uma preiudícadas, 'e-stão classificadas como emendas rejeitadas;
sugestão ao Presidente da República, no sentido de conter teríamos que votá-las em globo e ressalvados os desta-
isso, denunciei, da tribuna da Câmara, numa dessas ques que foram feitos.
segundas-feiras, sugeri-lhe uma forma de controlar isso.
Como? Nos portos e nos aeroportos, exigindo que a criança Nós temos agora as emendas rejeitadas, resalvados os
acompanhada de um casal não-brasileiro ou dos casais destaques. Os que mantém a rejeição, naturalmente dirão
brasileiros não saíssem só por apresentarem o passaporte, n,v 13,:
como está ocorrendo. O único documento que se exige, (Chamada para votação.)
hoje, no aeroporto e no porto, na saída da eríança, é a
apresentação do passaporte. Que fosse exigido um alvará Estamos votando as emendas que foram rejeitadas,
do juiz daquela jurisdição. Se eu provasse, como pai, que derrotadas, se V. Ex.a vota por esta rejeição, ressalvados
é meu filho legítimo, com minha mulher, 'Com a certidão os destaques, vários destaques foram apresentados, se
de nascimento, não precisaria disso, é claro. Mas para V. Ex.a vota com o Relator, portanto pela rejeição, das
salvaguardar esta questão, sugeri ao Presidente que deter- emendas, V. Ex.a dirá "sim".
minasse, através do Ministério da Justiça, esse tipo de Ressalvados os destaques, temos por ordem de enume-
controle, que já é obrigação dos juízes. se a criança esti- ração o destaque número 1, da Constituinte Sandra Caval-
ver saindo com um casal estrangeiro, deve-se ver o alvará canti.
do Juiz de Menores da jurisdição onde está o porto ou O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - É retirado o
o aeroporto, para poder controlar isso. E isso não está destaque?
sendo feito. Por isso é que estão saindo com procurador,
com acompanhante, de qualquer jeito. Então, temos, a seguir, destaque para a Emenda 11.0 13:
Eu dizia que a proposta de V. Ex.a, salvo melhor juízo "Dê-se ao parágrafo único a seguinte redação:
- e esse salvo melhor juízo, pode V. Ex a me convencer ,os proventos da aposentadoria El pensões, nunca
com o seu excelente juízo, melhor do que o meu - eu inferiores a um salário mínimo, serão reajustados
acho que não inova muito. nas mesmas proporções dos reajustes concedidos
aos trabalhadores em atividade. Aos 60 anos de
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente, idade, é garantida a aposentadoria para os que
a emenda foi declarada prejudicada por duas razões: pri- assim o desejarem."
meiro, a questão do menor abandonado, que foi uma ques-
tão discutida aqui, na apreciação do anteprojeto. já havia Tive a satisfação de ver aqui no anteprojeto do Sr.
uma outra emenda específica, retirando a palavra, foi Relator, que isto aqui já está assegurado, quando diz no
aceita, então achei que atendia a uma das preocupações § 3.°, do art. 6.°, que:
do autor da emenda; por outro lado, na sua redação não
está previsto esse princípio que me parece muito válido "Aos idosos, não amparados pela !Previdência,
e que já foi inclusive, hoje, no decorrer deste debate des- são assegurados proventos mensais vitalícios
tacado. É o problema da ;possibilidade do estímulo pelo nunca inferiores a um salário mínimo, necessários
Poder Público, tanto do ponto de vista jurídico, quanto à sua sobrevivência."
dos incentivos fiscais e até com o acatamento de outra Então, eu queria registrar, aqui, que se trata apenas
emenda de subsídios, para as pessoas que adotam orían- de aceitar ou rejeítar a questão da idade, que na proposta
ças. O seu texto não especificava isto; por outro lado, do anteprojeto, especifica, caracteriza: aos homens aos
havia uma outra emenda, que também acolhemos, que 65 anos, e às mulheres, 60 anos, se assim o desejarem.
prestava este estímulo, não apenas aos brasileiros, mas a Achamos que é preferível uniformizar a idade para não
estrangeiros radicados no Brasil. Então, por estas razões discriminar, já que todos são iguais perante a lei, sem
nós consideramos a emenda prejudicada, entendendo tam- distinção de sexo, e assim por diante. É a nossa observa-
bém que esta parte do item II, que realmente inova em ção.
relação ao texto, porque traz uma matéria nova, a exis-
tência destas instituições, para a habilitação e famílias, O SR. PRES:BDENTE (Nelson Aguiar) - Não teríamos
etc., nós achamos que era um detalhe que deveria figurar COmo acolhê-la, tendo em vista que já foi adotada em
na lei ordinária. É evidente que isto dentro da preocupa- votação anterior, a diversidade de idade, 60 e 65.
ção que temos da possibilidade de um texto constitucio- Temos a seguir, destaque para a Emenda n.O 24, do
nal mais enxuto, mais, digamos assim, compatível a uma Senador Nelson Carneiro.
norma permanente, quando na realidade esses incentivos
podem ser modificados periodicamente, inclusive esses in- O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - A
centivos da criação de instituições próprias. Esta foi a fixação da idade, a criança até 6 anos, na minha emenda
razão de considerarmos a emenda (prejudicada, embora eu retirava essa expressão de até 6 anos e dizia: é certo
concordando com o seu conteúdo, mas achando que ela está que hoje as expressões têm um sentido que lhe emprestou
melhor colocada neste mesmo texto com o aproveitamento o ilustre Relator, mas a Constituição é feita para através-
destas três emendas específicas a que me referi. sar os séculos 'e projetar-se a decênios, além do ano
2000 ou 2010, a atual limitação não se converterá em mo-
O SR. PRESIENTE (Nelson Aguiar) - Mesmo por- tivo para não atendimento a quem agora se quer proteger,
que V. EX,a coloca aqui uma coisa muito importante na ademais a emenda, se acolhida, não constituirá o obstá-
sua proposta, que salvaguarda a criança na questão da culo à educação, e à assistência devida às crianças de 6
adoção, que é o direito a um nome e à nacionalidade anos, e não impedirá que novos métodos educacionais
brasíleíra, É só legíslar em cima disto, na legíslação espe- estendam este prazo até aos 7 ou 8. Qual a idade em que
cifica. Acho até que a proposta de V. Ex. a termina coli- o menor deixa de ser criança? Hoje, amanhã? Nós esta-
dindo com isto aqui, que é um princípio límpido, e no mos regulando tudo até aos 6 anos, e a Comissão de Edu-
meu modo de ver, absolutamente completo. A criança cação está regulando de 7 anos em diante; de 6 a 7 anos
com direito a um nome e à nacíonalidade brasileira. em diante qual é a situação, é menor, e onde fica o menor
O oBR. CONSTITUINTE mER:í!: FERREIRA - Eu retiro que ainda não completou 6 anos ,e ainda não completou
e levarei na legislação complementar. 7 anos?
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Todas as De modo que, desde que seja criança, isto é um con-
outras emendas, que não roram apreciadas, aprovadas, ou ceito que hoje nós podemos admitir aqui, o conceito vai
Julho de 1987 DlARiO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda·feira 20 321

até 6 anos; mas amanhã pode diminuir ou pode aumen- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Como e~te li-
tar, de modo que esta limitação, até 6 anos, eu acho que mite de idade foi escolhido pelo ilustre Relator, nos lhe
não tem razão de ser, o que nos temos de amparar e a devolvemos a palavra.
criança. Estas as razões.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente, va-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Continua, a mos tentar fazer a exegese, uma palavra complicada, do
palavra aberta, para quem queira encaminhar em contra- texto. O que o § 2,° diz, na sua principal afirmativa, é que
rio. o direito à educação é assegurado desde o nascimento. Es-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - te é que é o ponto fundamenta. O complemen~ t~m a s~­
Só para quem queira encaminhar em contrário? guinte peculíarídade: "devendo o Estado garantir as famí-
lias que necessitam, gratuidade de educação para as crian-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - .Sim, porque ças de até 6 anos em instituições especializadas". Parece-
foi estabelecida esta sistemática, um encaminhamento a me que este texto 'só pode ser efetivamente compatibilizado
favor, e outro contrariamente. quando nós conhecermos o texto aprovado pela Subcomis-
são de Educação,
A SRA. CONSfI'ITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Então, não é o caso, porque eu queria reforçar a obser- A SRA, CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
vação. Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - A Senhora O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A nossa preo-
terá oportunidade, já que nós adotamos a sistemática de cupação aqui, foi a de criar uma obrigação do Estado pa-
que um contrário, um favorável; não havendo, portanto, ra aquelas crianças, antes da chamada ídade escolar, que
nós devolvemos a palavra a V. Ex.a hoje no texto constitucional começa aos 7 anos de idade,
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI mas que pode até estar sendo antecipado para 4 -=- eu
- Eu queria apenas acrescentar um dado que a não sei, qual a conclusão da Subcomissão de Educaç,!to -
mim me parece fundamental, que é esta insistên- em instituições especializadas, visando que em funçao de
cia de nós estabelecermos estes limites doe idade. sugestões que recebemos, fosse um direito da criança a
Houve um período no Brasil, em que o curso Ide creche. E eu me lembro muito bem dos debates, que de-
10 Grau terminava aos 11 anos, e depois o 2.° Grau co- veria ser um direito da cirança e não da mãe da criança. É
;rr;.eçava aos 11 anos; aos 14 anos, os estudantes brasilei- o problema do pré-escolar 'que foi também aqui muito
ros eram obrigados a fazer uma escolha sobre se eles que- defendido ou seja o direito da criança à educação pré-es-
riam ir pelo clássico ou pelo científico; tudo idades !or- colar. Então, veja o princípio consagrado, o princípio prin-
jadas nos gabinetes dos. técI!icos. D~~ante este período cipal do texto, é que o direito à educação é assegurado des-
criou-se também uma legislação permítíndo o trabalho do de o nascimento. Agora, vem o adendo, devendo o Estado
menor aos 14 anos - este bendito 14 anos, que aparece garantir, às famílias que necessitam, gratu!~ade de edu-
aqui ~ todo momento. As crianças terminavam o curso cação, porque entendemos ai que uma ramílía que tenha
primário, não tinham tempo de terminar o curso de 2.0 posses que tenha condições, não deva o Estado, dentro da
Grau mas não podiam, neste intervalo, trabalhar, porque precar'iedade de recursos e a imensa dívida social que nós
só ao~ 14 anos é que podiam ingressar no regime ~e: tra- temos, ter por exemplo o atendimento em creches, ou o
balho. Esse hiato que ficou durante anos, na hístóría da atendimento pré-escolar gratuitamente. Então, somos de-
educação brasileira, é o grande responsável, por exem- fensores de que o ensino chamado fundamental, o estudo
rgular, deve ser não só gratuito como obrigatório. Agor~,
plo, por nós não termos ensino té~ni?O profis~io~al ~es~e não sei, não poderia saber, qual a idade mínima estabelecí-
País. Porque também as escolas técnicas profíssíonaís tI-
nham aquela shistórias dos 14 anos. O Senador Nelson Car- da para esta obrigatoriedade do ensino. Suponhamos que
neiro tem toda a razão. Hoje existem escolas que aos 3 lá. na comissão de Educação e Cultura, se diga que o en-
ou 4 anos de idade já estão introduzindo as crianças no sino é obrigatório e gratuito a partir dos 4 anos de ídade,
uso e na intimidade de um computador: as crianças têm para amparar o pré-escolar. Este texto aqui teria que ser
uma facílídade muito maior que os adultos hoje, para pe- reformulado para dízer que as crianças até 3 anos ou até 4
garem esses aparelhos esquisitos, que ~ós adult~s muitas anos incompletos, para ser mais preciso, que quando esta-
vezes não sabemos nem mexer e estao eles, la, com a mos dizendo {) anos, não estasnos querendo dizer que até
maior tranqüilidade. Acho que o 'que tinha que ficar mui- completar os 6 anos. li: 'como é usado na linguagem: "quan-
to claro aqui na nossa subcomissão, na definição de nos- tos anos você tem?" Tenho 25 anos. "Então, até completar
sos pr~cípios é que a família tem o direito de ter um 26 ele tem 25. É dito na faixa de 6 anos. Então, se a obri-
amparo do Estado, para qu;.e esta criança; de ~ a 3 anos, de gatoriedade for estabelecida como é hoje, no texto consti-
idade - aí sim e isto nao apareceu íntelízmente, esta tucional, a partir dos 7 anos, nós veremos que todas as
emenda vai ter ,que aparecer na hora da Comissão Temá- crianças têm direito à educação, mas que, para os carentes,
tica - tinha a garantia de abastecimen~o suficiente .de não é só educação a partir dos 7 anos, está assegurado o
proteína, de alimentação, para. que ela nao, perca o SIS- atendimento gratuito, pelo Estado, na fase de creches,
tema nervoso central; isto que e uma eonquísta moderna, que ao nosso ver também é uma fase educacional, e que
não figurou ainda na nossa contribuição. De modo que eu também vai amparar este problema de O a 3 anos, o pro-
estou de acordo, eu acho que estabelecer aos 6 anos .. , blema das suas condições, principalmente das suas con-
dições de nutrição. Estou me lembrando aquí do pronun-
A SRA. CONSTITUINTE RITA CAMA~A ~ ~u gos- ciamento de um programa de televisão, esta semana,
taria de citar um exemplo, porqu~ eu sorrí .t~mbe1? ~s~e quando um artista falava muito no computadorzinho, ~as
problema de idade. Quando eu fIZ a 4.ll. serie pnmaria que ele está certo nisto, quer dizer preservar este equipa-
eu tinha 9 anos e para entrar para o 1.0 ano do 1.0 Grau, mento da mente que é a nutrição; e no caso de não estar
tinha idade ma~cada, Então, eu tinha que fazer a 5.11. sé- sendo previsto n~ Subcomissão de Educação o atendimen-
rie e eu não pude cursar a l.a série, porque eu não tinha a to a partir dos 4 anos, com pré-escolar ,e simplesmente a
idade necessária. partir do 7 anos, na chamada educação fundamental, es-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANT~ - taria amparado neste texto. Por isto, embora este texto
E utíve também que esperar um ano para fazer o vestíbu- possa ser modificado na Comissão Temática, acho que va-
lar. leria a pena a sua preservação em função desse aspecto.
322 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Um estarão argumentando, pelo voto, com o ilustre Senado!'
adendo, Sr. Presidente, porque a intervenção do nobre Nelson Carneiro.
relator, trouxe-me uma evocação muito distante da mi- (Procede-se à votação.)
nha infância, quando minha avó materna, baiana, _..
O SR. CONSTITti"'INTE - O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Rejeitada a
Para lembrar a V. Ex.a que o poeta é um burocrata dos emenda e portanto mantido o texto.
sonhos. :,j O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Temos a se-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEliRO - ... guir destaque para a Emenda n.> 26, também do Senador
Nelson Carneiro.
quando a gente fazia 8 anos, e alguém perguntava quantos
anos tem o neto. ela respondia 9, porque 8 ele não fará O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Vou
mais. Ele só vai fazer 9, agora; 8 ele já tinha feito. De ler _a justífícação, que é mais fácil do que expor. A legís-
modo que eu acho que o nobre relator acredita nisto, tan- Iação vigente, art. 175, parágrafo único, da Constituição
to que díz que quem completou 6 anos, já está com 7, já admite esta solução. É o caso que eu quero esclarecer:
mas se há um parâmetro na Constituição atual, que diz Em 1977, quando foi aprovada a emenda do div6rcio
que é dos 7 aos 14 anos, nada impedirá que se diga até 7, criou-se uma situação excepcional, além daquela soluçã~
porque se lá na Comissão de Educação dímínuíram a ida- dos três anos, depois da separação judicial' substituindo o
de, também se diminuirá na Comissão Temática de 7 para desqu~te, s~ admitiu que os casais que estivessem separa.
4, para 3 ou para 5, mas nós é que temos que chegar ao dos ha mais de 5 anos, pudessem requerer o divórcio dire-
patamar existente, e o patamar existente é 7 anos, dai a to. Mas já a lei que regulamentou, entendeu que esse prazo
minha emenda, não só dizendo até 7 anos, até a criança, começaria a correr desde que tivesse sido iniciado antes da
porque a outra é que vai dizer quando começa. Eu não data da emenda constitucional. E o que pretende a deman-
digo quando começa, porque se eu dissesse até 7 anos, até da? É tornar o texto definitivo aquilo que era texto provi-
8, mas eu não digo; eu tiro o limite dos 6 anos, porque a sório. Por quê? porque quem anda pelas Varas de Família
outra comissão como acentuou o relator, é que vai dizer vê que, quem se vale da assistência judiciária, tem o seu
quando começa a idade escolar. Se entender que é 5 anos a processo de divórcio, ou de separação judicial, prolongado
criaça deixa de ser criança para esses efeitos até os 5 por muitos anos. As Varas de Familia estão cheias, isto é
anos. Se for 6 anos ou 7 anos. De modo que acho que não principalmente prejudicial para quem? Para aquele que
prejudica, porque isto não impede aquela assistência e que tem recursos? Não. Para o pobre, que teria de fazer 2
V. Ex.a se refere da necessidade da gratuidade da educa- processos: primeiro o de separação e, depois, outro de
ção para as crianças, sei a de 4, 5, ou de 7 anos, desde que divórcio. Isto muitas vezes repercute fundamentalm~nte
seja criança, qualquer que seja a idade que a lei considere na vida .. _
criança, terá direito a esta proteção.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Permite
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Mas se nõs, sim- V. Ex. a apenas para convocar o Constituinte Roberto Au-
plesmente, adotarmos a emenda no sentido de cancelar a gusto para assumir a Presidência?
expressão de até 6 anos, o texto constitucional passaria a O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Pois
ser o seguinte: O direito à educação é assegurado desde o não. (Pausa.)
nascimento, devendo o Estado garantir, às famílias que
necessitarem, gratuidade de educação, para as crianças em O SR. PRESIDENTE (Roberto Augusto) - Pode con-
instituições especializadas. Então, nós estaríamos chocan- tinuar.
do com uma eventual declaração na Constituição, que o
ensino deve ser obrigatório e gratuito, digamos dos 7 aos O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Na
14 anos. vida dessas pessoas, porque, geralmente, não é porque aqui
tem 4 senhoras, mas, geralmente, são as mulheres que re-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Bom, correm à justiça gratuita, porque elas é que, desamparadas
mas ai a Oomissão Temática é que vai harmonízar. abandonadas pelos maridos, sem alimentos muitas vezes:
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Num texto ou vão buscar amparo na justiça gratuita, e ocorrem faleci-
noutro, eu acredito que a harmonização tenha que ocorrer mento, vendas de bens, e todos estes fatos ocorrem porque
na Comissão Temática. Então, este número de 6 anos, é elas não têm como propor uma ação de separação inicial
um número cabalístico ... e depois uma outra de div6rcio. Ora, o que eu pretendo é
que se assegure, como digo aqui, que esses 5 anos contí-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Ca- nuos, de separação de fato, permitam o divórcio direto,
balístico é o 7, se V. Ex. a me permite. desde que comprovado judicialmente. A alegação de que
pode ser feita por duas testemunhas, depende do juiz. O
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Não, porque ai juiz pode até nem querer testemunha nenhuma. Mas o que
a interpretação da evocação não foi exatamente o que eu a lei exige, e nós estamos expondo é a lei, criando a lei
quis dizer, eu não fui claro. Eu entendo que uma criança manda que esta comprovação seja feita judicialmente, ~
até completar os 7 anos, tem 6 anos. Este é o meu entendi- n6s não podemos antecipar que o juiz vá fraudar a lei:
mento, que até completar os 7 anos ela tem 6. Entendo 6, nós temos que entender que ele vá atender à lei, e esta
e dizendo que aqui está atendido até os 6 anos, quando ela comprovação é indispensável, sob pena de continuarem as
completa 7 já passa para a obrigatoriedade da gratuidade Varas de Família; de justiça gratuita inteiramente intransi-
da educação ... táveis, e os vários processos ocorrem. Vou referir-me ape-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Eu nas a um épis6dio, um fato, a Lei n.o 4.069, 1962, assegura
quis apenas expor o meu ponto de vista, não quero con- o salário-familia à companheira; naquele tempo não havia
vencer ninguém. divórcio, à companheira do funcionário público, que tiver
impedimento por casamento. E as repartições estão eance-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Vamos à de- lando esse salário-familia das famílias modestas, porque
cisão? havendo o div6rcio, não há mais impedimento, s6 que o
divórcio, por si, pela existência da lei, não impede que
Nós orientaremos no sentido de que os que votarem isto ocorra, o que impediria é a decisão, e essa não vem.
com o Relator mantém a rejeição. Quer dizer, os que disse- E, com isto, não s6 elas perdem o direito, pelo art. 5.0 desta
rem "sim", estarão votando com o Relator. Do contrário, lei, à pensão, porque naquele tempo, quando aprovamos,
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 323

tivemos que botar a cláusula: desde que haja impedimento o SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - O parecer é
por casamento, não só elas perdem o direito à pensão dos pela rejeição e a proposta de Senador é pelo acolhimento
funcionários públicos civis e militares, que não se divor- do destaque. Os que votam com o relator poderão dizer
ciaram, como também perdem o direito ao salário-família "acompanho o relator" ou dizer "sim"; do contrário, dirão
durante a vida dos maridos. De modo que esta era uma "não". Vamos proceder à votação.
solução para facilitar o escoamento destes processos que (Procede-se à votação.)
enchem pilhas de todos os cartórios de família. Digo isto
com a isenção de quem, há 5 ou 6 anos, não entra mais Vai ser feita a apuração. (Pausa.)
nos fóruns, nos cartórios de família, porque não tem tem- Votaram oito Constituintes com o relator: cai, por
po, a vida parlamentar acabou por vencer todas as etapas falta de acolhimento. São oito votos contra quatro ,e uma
e tornar todos os tempos, mas que durante 50 e tantos abstenção.
anos, foi só advogado de família. Essa é uma solução hu-
mana, tanto que nós fizemos isto na lei do divórcio, com Emenda n. O 73, de autoria do ilustre Constituinte
um aspecto, no art. 45 da Lei do Divórcio, em 1977, nós EUel Rodrigues.
levamos em consideração sob outro aspecto, estas longas O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Se-
separações de fato, e resolvemos, no art. 45, que, quem es- nhor Presidente, esta é uma questão que estamos apre-
tivesse separado há mais de 10 anos, ou tivesse um filho, sentando dentro do princípio bíblico, princípio evangé-
qualquer que fosse a data da vida em comum, poderia casar lico. Nós, evangélicos, só admitimos o divórcio em caso
pelo regime da comunhão, ainda que tivesse 80 anos - de ínfídelídade conjugal comprovada. De maneíra que é
porque geralmente o homem, durante aquele período, bo- um ponto polêmico mas que levanto aqui como meu ponto
tava os bens todos em seu nome, porque sempre ele se de vista e meu voto favorável é somente haver divórcio
acredita o mais sabido, o mais competente, e depois dos em caso de infidelidade conjugal comprovada. A justifi-
50 anos, a mulher era obrigada a casar pela separação de cativa já está dada em nosso parecer.
bens, e o homem aos 60 anos, e isso importava em que a SR. PRESIDENTE (Nelson !Aguiar) - Em dis-
os bens todos ficavam com o homem e nenhum com a cussão. (Pausa.)
mulher. Esse é o resultado de uma experiência, que acho
que era o momento de ser convertida não em texto provi- Não havendo quem peça a palavra encerro a dis-
sório, como é da lei, mas em texto definitivo. Agora, a cussão.
comprovação, nós não podemos partir do ponto de vista Vamos à decisão pelo voto. Com o relator, rejeita o
da fraude. Nos debates travados com o meu saudoso amigo, destaque.
Monsenhor Arruda Câmara, dizia o Monsenhor Arruda Câ-
mara, se se deixar de fazer leis, por temor à fraude, não Procede-se à votação. (Paus,a.)
se fará lei nenhuma. :É exatamente isto o que eu quero. Vai ser feita a apuração. (Pausa.)
Não podemos ficar presos, por causa da fraude, como o
Relator, no seu parecer, diz que esta fraude já existe, ou Rejeitado o destaque.
pode existir. Tem-se mostrado socialmente justo e adequa- Emenda n.v ao, de autoria da ilustre Constituinte
do o divórcio direto de duração efêmera, tendo em vista Sandra Cavalcanti, matéria vencida.
amparar situações existentes e anteriores à emenda. Se fos-
se para manter o dispositivo não haveria dúvida nenhuma. Emenda n,> 123, da ilustre Constituinte Eunice Mi-
A inovação é exatamente para tornar o que era provis6rio chiles.
em definitivo. Era só o que eu queria dizer. A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES, - Se-
nhor Presidente acrescento apenas aqui, no fim do pará-
O SR. PRESIDENTE (Roberto Augusto) - Nós só grafo, aposentadoria por idade será dírereneíada de acor-
queremos lembrar aos ilustres Constituintes que nós dispo- do com 'as características de cada região.
mos regimentalmente do prazo de 5 minutos, para o enca-
minhamento de nossas propostas. O propósito aqui, Sr. Presidente, é o seguinte: a ex-
pectativa de vida do homem de Santa OaJtarina, Rio
Algum outro Constituinte gostaria de usar da palavra? Grande do Sul e do Paraná, é de pelo menos, dez anos
Como foi acolhida pelo Relator, devolvemos a palavra. Mas, a mais do que do homem do. Nordeste e oito anos a mais
antes, gostaria que o Constituinte Nelson Aguiar reassu- do que o homem do Norte. Então, me paeece absoluta-
misse a Presidência. mente injusto que todos os brasileiros se aposentem na
mesma idade. Evidentemente, que essa matéria seria re-
o SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Nós propusemos gulamentada na lei ordinária, lógico, mas me parece que
a rejeição da emenda, simplesmente por entender que é um princípio de justiça.
as atuais facilidades que estão sendo oferecidas no texto, O SR. PRESIDENTE <Nelson Aguiar) - O perigo que
já são suficientes para regularizar todas as situações de ocorreria aí era só de os velhos do Sul mudarem-se todos
separação, de dissolução do casamento. Entendemos que
este texto, até porque a lel ordinária colocou como sendo para o Norte.
os efeitos ínleíados antes da promulgação da emenda A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Mas
constitucional, que instituiu o divórcio, entendemos que a lei regulamentaria, é lógico.
era um texto transitório; mas, 'efetivamente, entendemos Aos 65 anos, Sr. Presidente, um homem do Rio Gran-
que se tem que considerar o seguinte: a separação judi- de do Sul está hígído, está procurando namorada ainda,
cial, digamos assim, um prazo adequado, ou nós deve- e no Norte, dificilmente, ele chega lá.
riamos, além da separação de dois anos, termos diminuí-
do um 'ano o prazo da separação judicial, críarmos esta O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Peço ai palavra,
outra facilidade para que as sepaeações de fato, desde para uma questão de ordem,
que ocorridas durante 5 anos pudessem levar diretamente O SR,PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Concedo a
ao divórcio. Opinamos, cõntraríamente, porque entende- palavra a V. Ex. a
mos que teria sido uma norma transitória, que o con-
tituinte Nelson Carneiro, em sua argumentação, mostra O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
que, por ter sido transitória 'e por ter produzido bons sem embargo da apreciação da emenda, quero lembrar
efeitos, ela deve ser, agora, digamos, formalizada no tex- que, na realidade, esse texto, se aprovado, automatica-
to constitucional, como norma permanente. mente, derrubará o texto anteriormente aprovado da di-
324 Segunda.feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

ferenciação de 60 a 65 anos de idade, porque não se po- o SR. PRESIDENTE, (Nelson Aguiar) - Derruba espe-
deria ter os mesmos textos com essas duas earaetenstíeas, cificamente o parágrafo que trata do problema de 65 anos
uma dizendo que, seria de 60 e 65 para mulher e o homem para o homem e 60 anos para a mulher.
respectivamente, e outro dizendo que a aposentadoria
seria diferenciada de' acordo com as características de A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
cada região. Então, este texto aqui, que, é maãs abran- Exato, deixa o princípio livre, e a aposentadoria será
gente, uma vez aprovado derruba o anterior. Só este diferenciada de acordo com as características de cada
esclarecímento para efeito de elueídar os Brs, Consti- região.
tuintes. Parece-me uma posição nova, muito oportuna e mui-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mas o des- to séria.
taque é exatamente para isso. O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Eu
teria apenas uma dúvida, porque me parece que V. Ex. a
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - aceita a emenda sem prejudicar aqueles limites.
Sr. Presidente, quando fiz a primeira intervenção, hoje,
levantei essa questão; tinha lido essa emenda e me repor- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Não, no final eu
tei, na hora, lembrando que havia uma emenda da Cons- vou argumentar; eu tenho, no meu juízo pessoal, argu-
tituinte Eunice Michiles, muito mais abrangente, estabe- mentos contrários à emenda em si. Mas, naquela hora
lecendo um princípio, o que num texto de Constituição, eu fui absolutamente neutro, apenas lembrando o fato
a meu ver, é muito mais apropriado. Acho que a emenda de que uma emenda é mais abrangente, mas derrubaria
da Constituinte Eunice Michiles atende, exatamente, aos a outra que estabelece diferença de idade entre o homem
objetivos do 'Capítulo sobre o idoso: os proventos da pen- e a mulher.
são e da aposentadoria serão reajustados nas mesmas
proporcões dos reajustes concedidos aos trabalhadores em O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Uma
atividade e a aposentadoria, por idade, será diferenciada emenda que é, parece, apenas de redação, ainda que for
de acordo com as características de cada região. É um aceita a emenda eu acho que, ao invés de dizer "aposen-
princípio. E, depois, a lei ordinária se encarregará, aten- tadoria nas mesmas condições aos trabalhadores em ati-
dendo às peculiaridades de cada região e às diferenças vidade", "aos que trabalham que estão em atividade".
existentes, de estabelecer esses limites que, hoje, podem Porque a expressão trabalhadores, no Brasil, nã-o inclui
ser esses que estão aqui de 65, 60; amanhã, quem sabe, necessaríamente os funcionários públicos e outros, e a
chegarão à beira dos 70, como já acontece hoje em intenção da nobre Constituinte Eunice Michiles foi incluir
vários países do mundo e outros até em posição muito todos.
melhor. Neste caso, acho que a emenda da Constituinte Acho que, se aprovada a emenda, teria que haver uma
Eunice Mi'Chiles corresponde, muito mais, ao espírito de redação, de tal forma, que não restringisse apenas a-os
um princípio constitucional; dou meu apoio a ela. trabalhadores, aos que trabalham, quer dizer, aos que
exercem alguma atividade, aos que estão em atividade.
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Há uma obser-
vacâo, e ínelusíve chamo a atenção de V. Ex. a F'Oi apro- O 8R. PRESIDENTE, (Nelson Aguiar) - Com a pala-
vada uma emenda, parece-me que do Constituinte Stélio vra agora o nosso ilustre Relator.
Dias, que acrescenta que os reajustes concedidos aos tra- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente
balbadores em atividade, reajustados nas mesmas pro- eu vejo dois argumentos que não recomendam a aprova~
porções e nas mesmas ép-ocas. Esse aspecto, na mesma ção dessa emenda dentro do contexto considerado. Pri-
época, gosto muito, porque pode acontecer que um estado meiro, diz respeito ao problema, porque da forma em que
vá conceder o aumento, mas quando ele achar que foi redigida a emenda derruba o princípio da não-com-
está bom. pulsoriedade da aposentadoria. Vejam que no texto origi-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - nal se refere à aposentadoria dos que desejarem exercer
Sr. Presidente, todas as emendas que apareceram no o direito. Nesse texto permanece a possibilidade da apo-
decorrer da nossa díseussâo, estabelecendo que os pro- sentadoria compulsória por idade. A outra questão é que
ventos de aposentadoria seriam reajustados na mesma embora eu concorde inteiramente com o argumento d~
proporção, elas estão todas também beneficiadas pela apro- que existem realidades diferentes no País, eu acho que
vação dessa emenda; porque ela consagra esse princípio, nós temos que trabalhar pela superação dessas desi-
e inclusive com esse adendo de "na mesma época", uma gualdades.
emenda que teve a aprovação da ... O fato de termos uma expressão dessa natureza na
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mas aqui enten- Constituição, que é um instituto permanente, nós esta-
de o Sr. Relator que essa emenda aprovada derruba a remos justamente consagrando essas desigualdades. Por
emenda anterior, a outra emenda. outro lado, se contraria, aqui, um princípio que eu acho
fundamental, que é o princípio da isonomia. Nós teríamos,
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI ,- aqui, nesse cas-o, a situação, por exemplo, de uma pessoa
Não, não! que mora na cidade de Ibirapuã, na Bahia, que é com-
preendida na Região Nordeste, que é uma região subde-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Porque a senvolvida, em que a expectativa de vida é menor, teria
outra fixa aos 65. uma aposentadoria eventualmente menor do que do outro
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - que mora a 20 km, em uma cidade chamada Serra dos
A outra pode fixar a idade, derruba a idade, mas não Aimorés, em Minas Gerais, mas que já não é compreen-
derruba o princípio da mesma época, não, não. dida na Região Nordeste. Quer dizer, eu acho que con-
traria aqui o princípio da isonomia, nós teríamos realida-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Não derruba des diferentes, difícil de serem estabelecidas na prática.
o princípio.
Então, eu quero acreditar que a recomendação con-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - tida na emenda, embora uma realidade de hoje, eu acre-
Derruba só a fixação da idade. dito que o País tem que trabalhar para a superação dessas
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBL~IA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 325

desigualdades regionais que, em si, já são uma discrimi- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
nação odiosa. E é esse argumento que leva um grupo, que estuda o
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - E nós tam- cálculo atuarial de um sistema previdenciário, a preferir
bém teríamos o fato de que o cidadão mora aqui e resolve estabelecer a aposentadoria por tempo de serviço.
mudar-se para lá. O SR. CONSTITUINTE JOãO DE DEUS - No Sul,
onde plantarmos dá. Eu sou do Sul, e ninguém tem inte-
A SRA. CONSTITUINTE EUNICE MICHILES - Sim, resse em terminar com a indústria do voto no Nordeste.
eu acho que isso aí seria regulamentado por lei, lógico e Então não será a médio prazo que vamos resolver o pro-
evidente que nós não iríamos fazer constar isso na Cons- blema:. Eu acho, no meu modo de ver, que a Constttuinte
tituição, mas seria muito fácil que a lei regulamentasse. Eunice Michiles tem razão.
Quanto à questão da realidade, vamos esperar pelo O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Eu só quero
menos 30 a 40 anos até que o Brasil possa ser considerado acrescentar mais um e final argumento, que é o seguinte:
um País uno, realmente sem diferenças regíonaís. As dife- Concordo que as diferenças regionais existem Como Nor-
renças estão aí, são grandes, são gritantes, e eu acho que deste, ninguém mais do que eu presencia essa realidade
a justiça é exatamente tratar os desiguais de forma desi- gritante. Não olhado sob essa ênfase ou essa ótica, de que
gual. Eu acho que é impossível aceitar que um homem do a miséria é uma indústria de voto, porque todas as mati-
Nordeste, cuja expectativa de vida é de 52 anos, possa zes ideológicas sempre encaram essa realidade, e pro-
ser comparado com um homem do Rio Grande do Sul, curam, às vezes, tirar proveito em todas essas situações,
cuja expectativa é de 72 ou de 70. Eu acho que seria ainda e nós temos visto isso em inúmeros exemplos a esse res-
impor a ele uma penalização maior do que aquela que ele peito, mas o que me parece fundamental é o seguinte: é
já tem por razões de ter que morar em uma regiao como que se nós estabelecermos essa diferença aqui, temos que
o Nordeste. 'estabelecer outras diferenças. Por exemplo: nós estamos
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTE aprovando um texto constitucional que diz que o ingresso
Há um dado ainda do Sr. Relator, que precisa ser lem- no mercado de trabalho deve ser aos 14 anos. É gritante
brado. Há uma dificuldade enorme para separar o cidadão a diferença de uma criança de 14 anos em uma região
que vai-se aposentar por Ibirapuã e por Serra dos Aimo- desenvolvida, para uma criança de 14 anos no Nordeste.
rés, mas há uma dificuldade muito mior ainda, em separar Então, nós teríamos que ter uma diferenciação aí também,
aqueles que, '6 mdetermínadas áreas, não, conseguem che- uma criança de 14 anos no Nordeste, muitas vezes, tem
gar aos 615 anos de idade, 'e que contribuíram à vida inteira uma Idade mental de 8 ou de 10, pelas deficiências alimen-
para a Previdência Social, na expectativa de um dia che- tares, pela dificuldade de saúde, ete., ete., etc.
garem a se aposentar. Então, eu acho que é fundamental a correção dessas
distorções, dessas injustiças. Tenho-me pronunciado
A injustiça, dentro desse cálculo atuarial é flagrante; inúmeras vezes, agora vejo isso como um aspecto global
eles estão contribuindo a vida inteira para uma aposen- e não apenas no aspecto da aposentadoria por idade. Eu
tadoria que para ele não virá jamais, e é da contribuição acho que isso é uma questão mais profunda. Nós estamos
deles que vai viver saudável, em áreas bem saneada e bem tendo aí propostas, por exemplo, para a distribuição do
alimentados no Sul maravilha, por exemplo, aquele que orçamento da União percentualmente pelas regiões, de
consegue ch~gar com toda facilidade aos 70 anos. acordo com os seus índices de renda per capita e de popu-
Esse dado também é dífíeilímo de arerír e, no entanto, lação, uma série de coisas que eu acho fundamental e que
é esse que está funcionando. podem corrigir o problema a médio prazo; pode ser 30
anos. Mas nós vamos ter uma perspectiva de uma Consti-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguia:r) r: Eu gostaria tuição apenas com a duração de 30 anos ou temos que
de usar o tempo para fazer uma observaçao. ver a Constituição em uma perspectiva de tempo perma-
nente? Eu prefiro vê-la como uma norma permanente,. e
Eu conheço, pois também ~ou nordestino, sou d? ::;l~o termos princípios que devam ser alcançados, nem que seja
sertão, mas é preciso nós ouvlrml?s sempre essa hístóría a duras penas.
do Sul maravilha, porque o Sul e ~I!m, e assado ... A O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Muito bem,
verdade é a seguinte: no Sul, também, temos realidades,
manchas, bolsões de miséria íguaízínhos aos do Nordeste. mas ainda para lembrar às pessoas que as crianças das
ramílías ricas nordestinas são íguaízínhas às crianças ricas
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - das familias ricas do Sul. Os velhos das famílias ricas do
O Norte-fluminense quer coisa mais drástica? Nordeste têm os mesmos direitos, gozam dos mesmos pri-
vilégios dos velhos das familias ricas do Sul. Eu acho que
O SR. PRESIDENTE '(Nelson Aguiar) - COJ?-heço fa- a grande questão 'está é na desigualdade estrutural, aí
velas no nosso Estado, o Estado de Mina;s Geraís, Va~oS' é que nós temos que mexer fundo.
dizer, por exemplo, Teófilo .otoni, .que esta ~m uma regH~o
rica de Minas Gerais, que e a regiao dos. <:!iamantes, Teo- E não seria apadrinhando em aspectos aqui, ali ou
filo otoní que é uma cidade de porte médio tem 25 fave- acolá, que nós vamos corrigir a grande e extraordinária
las de fa~er medo. Quer dizer, o cidadão está lá no Sul distorção que aí está, penso eu,
maravilha aí por aí afora, dentro de realidades iguaizinhas
à realidade 'do Nordes, sujeitos à mesma miséria, fome, Agora, vamos à decisão pelo voto?
abandono, enfermidades de variadas espécies, etc. Nós reservamos por último, até por uma questão de
Eu quero lembrar que, trabalhando ainda a que~t~o uma necessidade de prestar homenagem ao seu sacrifí-
da criança eu vi no Sul, no Rio Grande do Sul, uma prisao cio, a Emenda 146, do Constituinte Iberê Ferreira, como
de menor~s no Rio Grande do Sul, igualzinha àquela de último destaque, O sacrifício de viajar à' noite, de teco-
Maragogipe, na Banhi~, a J:!lesma coisa, neD;hum~. dife- teco e tal, até chegar aqui,
rença, lá no Sul maravilha, la perto da Argentína, e Igual-
zinha à de lá. Bom, antes vamos à votação. Acompanhando o Rela-
tor, poderão votar "acompanho o Relator", e "pela apro-
Eu acho que estabelecer essa diferenciação, não meu vação de destaque", ou "aeolhímento do destaque".
modo de ver, nesse momento seria muito difícil e nós
iríamos continuar justificando desigualdades. (!Procede-se à votação.)
326' Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Dez a quatro, veriam amparar mesmo, eles foram a detalhes; e é uma
mantém o parecer do Relator. Constituição pequenininha.
Cento e quarenta e seis do ilustre Constituinte Iberê Ora, esses infelizes são tantos, as vítimas desse pro-
Ferr·eira. Está com a palavra S. Ex. a processo são tantas, as vítimas dessa irresponsabilidade do
O SR. CONSTITUINTE IBER~ FERREffiA - Sr. Pre- homem, especialmente do homem; que eu gostaria que esta
sidente, nós concordamos com o caput do art. 2.°, concor- Constituição pudesse ter num seu artigo dizendo: a Consti-
damos também com a disposição do § 3.° e o que preten- tuição da República Federativa do Brasil tem soberana
demos com essa emenda aditiva, é apenas aperfeiçoar, de força de lei, para ser aplicado. Queria ver esse preceito
forma a viabilizar a ação pública, através de um procedi- aqui sendo aplicado à luz da Constituição, a fim de salva-
mento rápido, quanto à iniciativa e sem que dele resulte guardar o direito de tantas crianças, cujos pais não têm
ônus para o interessado na apuração da verdade. qualquer responsabilidade. Vamos deixar muita coisa para
a legislação específica e corremos muito o risco de criar
O anteprojeto no § 3.0, diz o seguinte: "A lei regulará muitas filigranas jurídicas e conhecemos o jurisdicismo
a investigação de paternidade, mediante a ação civil, pri- deste País. Duvido que outro país tenha tantas leis.
vada ou pública." O SR. CONSTITUINTE NEIlSON CAiRNEIRO - Estou
A nossa emenda diz o seguinte: "A lei regulará a in- inteiramente de acordo com a emenda, não estou contra.
vestigação de paternidade, mediante a ação civil, privada Apenas acho que não deva figurar na Constituição.
ou pública. A ação pública terá início quando o pai, inti- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Gostaria de
mado pelo Ministério Público, após o registro feito pela perder pelo excesso do que por outra coisa qualquer. Somos
mãe, não assumir a paternidade do filho, caso em que se uns miseráveis "línohadeíros" do fórum e sabemos como as
lhe garantirá a gratuidade dos meios necessários à com- coisas ocorrem.
provação da verdade.
Então, vamos fazer o seguinte: vamos colher Os votos,
O objetivo, Sr. Presidente, é apenas para evitar que mas queria que os Srs. Constituintes não se retirasse logo
alguém possa registrar uma criança em nome de um pai, após ...
e esse depois de muitos anos, é que venha inclusive a saber.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - Sr.
Então, no instante em que houver o procedimento, ou Presidente, quando fizemos aquela rearrumação de emen-
seja, a ação pública, logo após a declaração Ida mãe, o juiz Idas aprovadas com emendas que haviam sido rejeitadas,
chame o pai, e se ele concordar, bem; se ele não concor- nas que foram consideradas prejudicadas sobrou a necessí-
dar, ele imediatamente iniciará a ação. dade Ide se fazer um ajuste entre a Emenda n. O 33 com a
O SR. PiRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Imagine se Emenda n.? 61, porque ambas passaram a versar sobre a
V. Ex.a tivesse perdido o avião! mesma matéria e foram consideradas ambas aprovadas.
Passo a palavra ao nosso nobre Relator. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mas ela não
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Eu quero dizer colide, então, eu gostaria de colher os votos, no tocante a
que os argumentos do ilustre Constituinte me convence- esta emenda e, aí V. Ex. a estará com a palavra.
ram totalmente, e por isso eu reforço o meu Parecer no Acho que agora, se votamos com o Relator, estamos
sentido de acatar essa emenda. acolhendo o destaque, já que o Sr. Relator resolveu aco-
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEmO - Sr. lhê-lo.
Presidente, eu quero deixar consignado que eu estou de (Procede-se à votação)
acordo com a emenda, só não estou de acordo com a sua
inclusão como texto constitucional. Acho que a regula- Aprovado por onze votos.
mentação da ação privada ou pública, deve ser da lei Concedo a palavra à ilustre Constituinte Sandra Ca-
civil. Eu diria apenas que a lei regulará a investigação da valcanti, para uma questão de ordem.
paternidade, mediante ação civil, privada ou pública.
Porque a investigação de paternidade, no Brasil, é priva- A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI
da e não pública. O § 3.°, do art. 1.0 :
Só as novas legislações, como eu citei hoje pela ma- "Entende-se por instituição, ;para efeito de
nhã, as dos países escandinavos, da Colômbia e de Portu- proteção do Estado, a união estável entre o homem,
gal é que sugerem essa solução, que deve ser do legislador a mulher e seus filhos como entidade familiar."
civil.
O texto que está proposto pelo Relator é o seguinte:
Nós não podemos descer, na Constítuição, a dizer como
se vai fazer um processo que deve citar o pai, e se o pai não § 3.° do art. 1.0:
reconhecer, eu acho que desde que se diz que a lei regulará
a investigação, a lei da paternidade mediante a ação civil, "Para efeito de proteção do Estado, é reconhe-
privada ou pública já se está criando uma hipótese de in- cida a união estável entre o homem, mulher e seus
vestigação pública. E essa investigação pública deve ser re- dependentes como entidade familiar. A lei facili-
gulada pela lei, e embora possam ser esses os termos, não tará a sua conversão em casamento."
deve figurar como texto constitucional. Só que na justificativa, quer dizer, no parecer do Rela-
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Senador, a tor, ele retirou este texto que está aqui nessa consolida-
judiciosa opinião de V. Ex. a será sempre objeto da minha ção de duas emendas, a de número 33 e a de número 61 e já
atenção e do meu acatamento; Basta a sua sabedoria e a fez o casamento das duas, mas, ao fazê-lo é preciso ainda
sua experiência para justificarem a minha posição, a minha incluir uma expressão que é fundamental, no sentido do
atenção. que é, "junto ou separadamente", quer dizer, é a proteção,
e a aceitação de que é uma entidade famíliar que pode me-
A Constituição da Rússia, que é uma Constituição sin- recer a proteção do Estado. A família formada pela mãe
tética, de apenas 195 artigos, ela chega a «íetalhea quando com os filhos, ou o pai com os filhos, ou os filhos até so-
trata de subsídio à família, às familias numerosas, aos zinhos, abandonados. Quer dizer, juntos ou separadamente.
idosos e tal. Quer dizer, quando eles entenderam que de- Esta expressão consta da emenda que também foi aprova-
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 327

da. É uma redação que precisa ser mais bem conceituada. ção, porque levantei aqui a dúvida de que os filhos maio-
A emenda é do Constituinte Sotero Cunha. res e também os menores, isto é uma questão do Direito
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Queria que Civil. Eles têm o dever de educar e criar os filhos menores.
os ilustres Constituintes me permitissem dizer o seguinte: Não precisa dizer que os maiores têm de auxiliar.
preciso fazer um rápido agradecimento ... O SR. - Já esá
no Código Civil.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Sr. Presidente,
antes que V. Ex. a faça seu agradecimento, encerrando a O SR. - Isto não
reunião, gostaríamos de cumprir aquilo que foi acertado. é a Lei de Alimentos. Estamos trazendo tudo isso para
de fazermos uma revisão geral no texto, evidentemente que uma Constituição.
não precisaríamos perder tempo maior com esta revisão
porque, inclusive, os assessores que aqui estão, estão per- O SR. - Mas aí,
feitamente capacitados a verificar onde ocorrem os pontos ilustre Senador, me permita, mas não é problema apenas
de necessidade de adaptação e farão a revisão final do de redação, porque não houve emenda supressiva a este
texto. respeito, não foi apreciada nenhuma emenda para suprí-
mil' essa expressão.
Então, quero sugerir o seguinte: faria a leitura do
texto como ficou aprovado e qualquer observação, então, O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Na verdade
deveria ser feita para que os assessores pudessem anotar está na lei, mas na prática não é assim. V. Ex. a sabe que
e fazer esta modificação. quando temos de lutar no fórum, é difícil.
Então, ficaria: Capítulo da Família, do Menor e do O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - É só
Idoso, seção da Família. Art. 1.0, que naturalmente será requerer com recursos maiores. .. (fora do microfone)
renumerado. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Porque se
Art. 1.0: levarmos em conta que a lei ordinária vai disciplinar tudo,
não vamos fazer Constituição, vamos fazer só lei ordínã-
"A família, célula básica da sociedade, tem ria, porque terá de ser disciplinado tudo mesmo.
direito à proteção social econômica e jurídica do
Estado com vistas à realização pessoal do seus O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Mas é prin-
membros. cípio de Direito.
§ 1.0 O casamento civil é a forma própria de O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - É
constituição da família, sendo gratuita a sua cele- um princípio de Direito, mas é um Direito Civil. V. Ex. a
bração. não precisa botar se é princípio do Direito Civil, do Direito
Processual, do Direito Penal ...
§ 2.° O casamento religioso terá efeito civil,
nos termos da lei. O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Veja bem,
Senador. Estou sempre aqui para observar e aprender.
§ 3.° Para efeito de proteção do Estado, é re- Promulgada esta Constituição, cai a Constituição que está
conhecida a união estável entre homem, mulher e em vigor e a ordem jurídica que ela tutela.
seus dependentes, como entidade familiar, unidos
ou separadamente. A lei facilitará a sua conversão O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Com
em casamento." isso os filhos maiores vão ter direitos?
Aqui há um problema de redação que teremos que O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguíar) - Não seí. Mui-
verificar. Porque se refere à união do homem e ·da mulher, tos não estão 'tendo, não é verdade?
e seus dependentes e depois diz que a lei facilitará a sua O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Por-
conversão em casamento. Aí tem que haver alguma coisa que ninguém tem, mas acredito que, apenas queria chamar
que explicite que é a união entre o homem e a mulher. a atenção que essa é também?
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - É O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) ~ Inclusive te-
só explicitar: A lei facilitará a união estável, na sua con- mos outras instâncias.
versão em casamento. Alguma coisa assim.
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) -
O SR.
"§ 3.° A lei regulará a ínvestígação da pater-
"§ 4.° O casamento pode ser dissolvido nos nidade mediante ação civil, privada ou pública. A
casos expressos em lei, desde que haja prévia se· ação pública terá início quando o pai, intimado
paração judicial por mais de dois anos." pelo Ministério Público, após o registro feito pela
§ 5.° caiu. Era referente a nulidade do casamento, mãe, não assumir a paternídade do filho, caso em
etc. desaparece o § 5.° que se lhe garantirá a gratuidade dos meios neces-
sários à comprovação da verdade.
Art. 2.° "Os direitos e deveres referentes à sociedade
conjugal, ao pátrio poder, ao registro dos filhos, a titula- § 4.° Quaisquer atos que envolvam agressão
ridade e administração dos bens do casal são exercidos físicas e psicológicas na constância das relações
igualmente pelo homem e pela mulher". familiares serão considerados como crimes e puni-
dos na forma da lei.
"§ 1.0 Os filhos nascidos ou não da relação
do casamento tem iguais direitos e qualificações Art. 3.° O planejamento famiilar fundado nos
sendo proibidas quaisquer designações díscrímí- princípios da paternidade livre e responsável, da
natórias relativas à filiação. dignidade humana e no respeito à vida desde a
concepção é de decisão do casal, competindo ao
§ 2.° Os pais têm o dever de criar, educar Estado colocar à disposição da sociedade recursos
os filhos menores e os filhos maiores têm o dever educacionais, técnicos e científicos, recomendados
de auxiliar e amparar os pais." pela ciência, para o exercício desse direito.
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - §" 1.0 Os programas de planejamento familiar
V. Ex. a me permite? Deixamos para discutir sobre a reda- levarão em conta as condições de habitação, saúde,
328 Segunda-feira 20 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

educação, cultura, lazer e segurança a serem con- O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Voltando, então
feridos às famílias. ao § 3.° leia-se: "É responsabilidade do Estado ... não
§ 2.° As pesquisas e experiências de genética sendo ,permitido o aborto, caiu, então, esta emenda, re-
humana depende de autorização prévia dos órgãos numera-se o § 2.° De quem é?
competentes não se permitindo: "Art. 5.° A adoção de menores por brasileiros
1 - qualquer prática que atente contra a e por estrangeiros radicados no Brasil, será esti-
vida, integridade física e a dignidade da pessoa mulada pelos Poderes Públicos, com assistência
humana; jurídica, incentivos fiscais e subsídios na forma
da lei.
2 - inseminação post-mortem, a maternida- § 1.0 A adoção por estrangeiros só é permiti-
de substitutiva, os bancos de embriões humanos, da nos casos e condições previstos em lei.
a fecundação in vitro a cria ou conservação de
embriões e a procriação artificial com fins comer- § 2.° Pais e filhos adotivos terão assistência
ciais ou experimentais. integral por parte do Ministério da Previdência
§ 3.° É responsabilidade do Estado promover
Social ... "
a vida, não sendo permitido o aborto ... " Aí deve ser retificado por parte dos órgãos previden-
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI - ciários.
Parece que essa parte do aborto caiu. Não foi aprovado. A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Recorro, aí, à votação. Então se fala em aborto, caiu. Assistência integral através dos órgãos asistenciais.
Ficou para a legislação ordinária. O SR. RELATOR (Eraldo Tlnoco) - E previdenciários,
Enquanto a assessoria esclarece essa dúvida, prossigo: porque tem um sentido de previdência, também.
"§ 4.° É proibida a venda de órgãos de pes- " . .. através dos respectivos órgãos assísten-
soa viva." ciais dentro da sua área de atuação."
"secção do Menor: Art. 4.° A criança tem Aí também esse final se torna desnecessário.
direito à proteção do Estado, da sociedade, sem Então, é uma redação neste artigo.
distinção ou discriminação por motivo de raça, Seção do idoso:
cor, sexo, língua, religião, origem, nascimento ou "Art. 6.° O Estado e a sociedade têm o dever
qualquer outra condição quer sua, quer de sua de amparar as pessoas idosas, mediante políticas
família. e programas que assegurem participação na comu-
§ 1.0 O direito à vida, à saúde e à alimenta- nidade, defendam a sua saúde e bem-estar, se pos-
ção é assegurado desde a concepção, devendo o sível em seus próprios lares. Garantam condições
Estado prestar assistência àqueles cujos pais não dignas de vida, impeça discriminação de qualquer
tenham condições de fazê-lo. natureza.
§ 2.0 O direito à educação é assegurado des- § 1.0 OS proventos, aposentadoria e pensões
de o nascimento, devendo o Estado garantir, às serão reajustados nas mesmas proporções, nas
famílias que nescessitarem, gratuidade de educa- mesmas épocas dos reajustes concedidos ... "
ção para as crianças de até seis anos em institui- Aí estão os trabalhadores em attvídade.
ções especializadas.
A SRA CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI
§ 3.0 Toda criança tem direito à assistência
Aos que estão em atividade.
social sendo ou não seus pais contribuintes do
Sistema Previdenciário. O SR. RELATOR (Eraldo Tlnoco) - .,. aos que es-
tão em atvidade, não sofrendo incidência de Imposto So-
§ 4.0 As crianças e adolescentes em situação bre a Renda:
irregular, sem prejuízo da responsabilidade civil
ou penal dos pais, é assegurada a assistência do "§ 2.° Aos sessenta e cinco anos é garantida
Estado, que os protegerá contra todos os tipos de aposentadoria para os homens e aos sesenta para
discriminação, opressão ou exploração. Somente as mulhres, se asírn o desejarem.
é permitido internamento em abrigos especializa- § 3.° Aos idosos não amparados pela Previ-
dos nos casos de infração previstos na legislação dência são assegurados proventos mensais vitalí-
própria. cios não inferiores a um salário mínimo necessá-
§ 5.° O trabalho do menor será regulado em rios à sua sobrevivência.
legislação especial, obedecendo-se aos seguintes
principios: § 4.° O conjugo viúvo ao contrair novas
núpcias não perderá os direitos previdenciários
1 - É vedado ao menor de 18 anos o trabalho adquiridos."
noturno ou em locais perigosos ou insalubres.
2 - É vedado ao menor de 14 anos o ingresso Tem ainda uma emenda do ilustre Constituinte Eliel
no mercado de trabalho, salvo em condições de Rodrigues que foi aprovada no art. 4.0 que diz:
aprendiz por período nunca superior a 3 horas diá- "A educação pré-escolar atenderá aos pre-
rias. ceitos de higiene pessoal e alimentar e instruirá
3 - Será estimulada para os menores da fai- quanto à nocividade das bebidas alcoóllcas, fumo
xa de 10 a 14 anos a preparação para o trabalho e drogas."
em institiuções especializadas; aos carentes será
assegurada a alimentação e os cuidados com a A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
saúde." Dessa emenda tiramos o pré-escolar, colocamos a educa-
ção. Como um todo.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI -
Onde lhes será assegurada alimentação e cuidados com a O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - A educação sem
saúde. colocar o pré-escolar. Indago se há alguma observação
Julho de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Segunda-feira 20 329

ainda quanto à parte redacional. Se a assessoria tem al- e ao rapaz do som, o Frederico, Artur Cordeiro junta-
guma observação? mente com Elder de Paiva Borges. E ainda à Fátima,
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Sr. que não trabalha diretamente aqui, mas nos auxilia lá
Relator, tenho urna divida que gostaria de dirimir. embaixo; à Sônia, do 'Computador, etc.
Estou em dúvida sobre o que ficou em relação à Estou fazendo esse agradecimento porque há dois
Emenda n,v 60, Sr. Relator, porque ela 'Consta como pre- outros assessores que foram lotados nesta Subcomissão,
judicada e não veio a debate. De acordo com as decla- foram colocados à disposição desta Subcomissão e que
rações da assessoria, e conforme eu e a COnstituinte San- não compareceram para trabalhar: Luís Casimira dos San-
dra Cavalcanti estamos acompanhando, estamos muito tos e Iomar Alves Nabute. Oficiei ao Presidente, com apoio,
preocupados com o ensino religioso, a educação religiosa. inclusive, do s.r. Relator, no sentido de que não se per-
Como ficou essa situação? mitisse a esses dois rapazes usufruir das vantagens que
são conferidas aos que estão trabalhando e que fossem
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Não foi desta- suprimidos dos seus vencimentos, porque 'eles não têm
cada esta emenda. o direito de usufruir do trabalho dos que prestaram ser-
O SR. CONSTITUINTE, ELIEL RODRIGUES - Corno viços tão sacrificiais a esta Subcomissão.
fica então essa proposição, em que sentido, vai constar Com isso estamos prestando uma homenagem aos que
do seu parecer? trabalham aqui e manifestando o nosso respeito para com
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Quando se diz o contribuinte. Sei que no Congresso Nacional, a exemplo
que a criança tem direito à proteção do Estado e da do que ocorre pelo País afora, existem aqueles que só
sociedade sem distinção, discriminação por motivo de raça, constam da folha de pagamento, não trabalham, e eu
cor, sexo, língua, religião, origem, naseímento etc., enten- não gosto dessa gente. Por onde passei administrando
demos que já está atendido. alguma 'Coisa, não dei colher de chá a esta gente. Acho
que esta é uma classe de gente perniciosa ao serviço
O SR. CONSTITUINTE ELIEL RODRIGUES - Muito público, que não tem respeito para com o serviço público,
obrigado. Sei que é nosso o cuidado. nem para com o dinheiro alheio; para mim esta é uma
O SR. CONSTITUINTE NELSON CARNEIRO - Art. 6.°, espécie de roubo muito pior do que daquele que rouba
§ 1.0, que substituímos "trabalhadores" por "aos que estão
para matar a fome.
em atividade", mas os proventos da aposentadoria e pen- Quero agradecer aos companheiros. Acho que o nosso
sões, registrados nas minhas proposições, e para os que trabalho junto, a nossa convivência representou a conso-
estão em atividade. Os proventos de aposentadoria e lidação de um respeito muito forte, de uma amizade muito
pensões aos que estão em atividade ou aos trabalhadores, forte entre nós e acho que vamos atuar juntos natural-
aos servidores ou qualquer coisa? Porque tem de ter um mente nos atos de elaboração constitucional nas demais
sujeito. instâncias da Constituinte.
A SRA. CONSTITUINTE SANDRA CAVALCANTI Só quero encerrar dizendo que há passagens do texto
Aos salários dos que estão em atividade. bíblico 'que fazem referência ao agradecimento dizendo
que há duas grandes virtudes, a virtude de dar e de rece-
O SR. RELATOR (Eraldo Tinoco) - Fica, então, ber, mas 'que a virtude de dar é muito maior do que a de
assim: "Aos salários dos que estão em atividade. Na mes- receber. Direi que acima dessas duas virtudes, em reoun-.
ma época dos reajustes concedidos aos salários dos que didade e beleza, naturalmente, está a virtude de agrade-
estão em atividade." eer, Ainda é o Senhor Jesus quem diz que por tudo dai
graças.
Sr. Presidente, se não há mais nenhuma observação
com relação à redação, fica claro, até porque não é exi- No comovente episódio da cura dos dez leprosos, o Na-
gência do Regimento uma aprovação da redação final, zareno sublinha a importância do agradecer, declarando
que será exatamente como ficou aqui estabelecido. Enca- bem-aventurados os que sabem ser gratos e que nisto são
minharemos então à Comissão Temática. diligentes. Como eram dez os que haviam recebido o bene-
fício da cura da lepra, e um só voltou para agradecer Je-
Quero agradecer a grande colaboração que todos os sus, então, pergunta: "Só tu voltaste?" Ele disse: "SÓ eu
companheiros prestaram a este trabalho, a forma como Senhor". Então, Ele respondeu aquela alma bem agrade~
acataram as ponderações e argumentos do Relator e dizer, cída, "bem-aventurado és tu porque voltaste". Quero di-
finalmente, que foi uma honra muito grande, uma satis- zer que estou, com este tipo de agradecimento, aos Com-
fação enorme trabalhar com uma Comissão de tamanha panheiros aqui. Acho que já foi forte demais para mim a
competência e com tamanha preocupação em buscar solu- homenagem que me foi prestada fazendo de mim presiden-
ções adequadas para o texto constitucional. Realmente te desta Subcomissão, considerando, naturalmente as li-
tivemos um debate da maior envergadura e o trabalho mitações, as nossas limitações 'e também a certeza de que
do Relator foi absolutamente simplificado e facilitado entre nós, entre os membros desta Constituinte, há aque-
pela grande competência, espírito público desta Subcomis- les 'que poderiam fazer melhor do que nós.
são, que faço questão que esta observação fique registrada
em ata porque, como Relator, pude sentir de perto o espí- Estamos aqui nesta primeira instância da elaboração
rito e o esforço desta Subcomissão. Muito obrigado. constitucional, terminando um grande esforço. Tenho a
(Palmas.) certeza de que nós trabalhamos aqui pensando no Brasil
e nos brasileiros e tenho certeza de que se conseguirmos
O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Quero, tam- levar até o texto da Constituição promulgada estas inova-
bém, fazer um agradecimento aos assessores Helena Maria ções, vamos produzir extraordinárias mOidíficações no Di-
de Carvalho, Maria Luízo P. Ervilha, Neuza B. Labarrére, reito brasileiro, no campo do direito da família e das rela-
Domingos W. Bisinoto, Humberto Leal Vieira, Lourival ções familiares. Vamos lutar por isso, acho que o com-
Lopes e Ramal' da Costa Nunes e aos 8ecretários Antônio promisso da nossa amizade, do nosso esforço é no sentido
Carlos Pereira Fonseca, Eugênia Maria Pereira Vitorino, de trabalharmos juntos para sustentarmos essas posições.
Jorge Roberto Musialowsky, Paulo Roberto Mendonça Lo- Sei que esta Subcomissão não contou com a presença
pes e o auxiliar Pedro Miguel da Silva, Joel Pinto Capela da Imprensa, da curiosidade de muitos porque aqui não se
330 Segunda·feira 20 DIÁRiO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

estava defendendo o grande capital, aqui não ocorreu, por cerrar, e não sou eu o mais credenciado porque sou sim-
exemplo, o que ocorreu na Comissão que trata da reforma ples sup1ente, mas alguém terá que, em nome da Subcomis-
agrária, que trata da informática, da comunicação, porque são, manifestar a V. Ex.a e ao Relator a gratidão e o aplau-
lá está o interesse do grande capital, os grandes interesses so pela obra realizada e dizer que nós aqui trabalhamos
nacionais e multinacionais. Aqui estamos tratando do di- com um grande capital, o melhor capital que é a criança,
reito individualizado, do direito da pessoa no âmbito da e com a familia; por isto não devemos ter nenhum ciúme,
sua família e por isto acho 'que aqueles que vieram para nemhuma restrição aos que aqui não vieram, porque os
cá não vieram atrás de promoção, vieram porque queriam outros trabalharam com o 'capital que se esvai. nas bol-
trabalhar e exatamente por isto, também, não tivemos sas de valores, nas lutas comerciais e nós, não, trabalha-
dificuldades com o nosso quorum, com a presença dos nos- mos com o melhor capital que é o homem. O homem que
sos Companheiros. Se alguns tiveram que chegar atrasados nasce, o futuro, o Brasil ide amanhã. (Palmas.)
é porque estavam prestando serviços noutra área. As brin- O SR. PRESIDENTE (Nelson Aguiar) - Muito bem!
cadeiras que fizemos aqui queremos dizer que não foram
por quebar a reverência que a solenidade das reuniões O Senador Marcondes Gadelha nos informou que às dez
exige, mas por causa da nossa amizade, do nosso com- horas, da próxima segunda-feira, estará instalada a Co-
panheirismo. Muito obrigado, mesmo, e tenho certeza de missão Temática, da qual passa a fazer parte esta Sub-
que vamos prestar contas a esta Nação com o nosso esfor- comissão. NO' Plenário Nereu Ramos. Devemos estar lá.
ço e o nosso trabalho. Muito obrigado. (Palmas.) Está encerrada a reunião.
O SR. CONSTITli"'INTE NELSON CAfRNEffiO - Mas (Levanta-se a reuníão às 20 horas e 44 mí-
V. Ex.a não pode encerrar. Acho que V. Ex.a não pode en- nutos.)
DIARIO DO CONGRESSO NACIONAL
PREÇO DE ASSINATURA
(Inclusas as despesas de correio)

SEÇÃO I (Câmara dos Deputados)

Semestral............................... Cz$ 264,00


Despesa c/postagem Cz$ 66,00
(Via Terrestre)
TOTAL 330,00
Exemplar Avulso 2,00

5EÇAo 11 (Senado Federal)

Semestral............................... Cz$ 264,00


Despesa c/ postagem Cz$ 66,00
(Via Terrestre)
TOTAL 330,00
Exemplar Avulso 2,00

Os pedidos devem ser acompanhados de Cheque pagável em Brasília


ou Ordem de Pagamento pela CaixaEconômica Federal- Agência --PS- CEGRAF
conta corrente n° 920001-2, a favor do

CENTRO GRÁFICO DO SENADO FEDERAL

Praça dos Três Poderes - Caixa Postal 1.203 - Brasília - DF.


CEP: 70160
Centro Gráfico do Senado Federal
Caixa Postal 0711203
Brasília - DF

I. .EDiçAO DE HOJE 332 PAGINAS , PREÇO -DESTE EXEMPLAR: Cz$ 2,00

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