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HUMANA CAPITULO 1
Teorias T E O R I A DOS L U G A R E S C E N T R A I S :
e Suas Aplicações O M O D E L O D E CHRÍSTALLER
Introdução e Sequência
res. A abordagem teor';tica de Christaller foi para a geografia do relação a uma dada função, do que aquela que está dis-
povoamento semelhante à de von Thunen para o uso agrícola do posto a percorrer. Algims lugares centrais oferecem mui-
solo e à de Weber para a localização industríal. tas funções. São chamados centros de ordem superior.
Outros, fornecendo menoi número de funções, são centros
de ordem inferior;
Objectivo principal
7. Pressupõe-se que os ceptros de ordem superior, fornecem
O objectivo principal da teoria dos lugares centrais^ e2ypJLcar certas funções (funções de ordem superior) que não são
a organzação espacial das povoações e das áreas de influência, oferecidas pelos centros de ordem inferior. Fornecem tam-
em particular a sua localização relativa e dimensão. ^ bém todas as fiinções (funções de ordem inferior) que são
fornecidas pelos centros de ordem mais baixa que a deles;
8. Todos os consumidores têm o mesmo rendimento e a mesma
Pressupostos e princípios procura de bens e serviços.
Christaller baseou a sua teoria num conjunto de pressupostoo
Há dois conceitos fundamentais subjacentes à teoria de Chris-
que simplificam a realidade. Cada um desses pressupostos foi
taller: o alcance ou o raio de acção de um bem e o limiar mínimo
expresso implícita ou explicitamente;
de um bem. Serão ilustrados através de um caso simples, apenas
1. Existência de uma planície uniforme e sem limites na qual com um bem e um fornecedor. A procura de um bem dependerá do
há igual facilidade de transporte em todas as direcções. seu preço (fig. 1.1). Se o preço aumenta, a procura diniinui., Chris-
Os custos do transporte são proporcionais à distância e taller pressupôs que todos os consumidores dispunham do mesmo
há um único tipo de transporte; dinheiro para comprar um dado bem (pressuposto 8). Assim, um
2. A população está igualmente distribuída por toda a área; consumidor que tenha de se deslocar a um lugar central para
3. Os lugares centrais (povoações) estão localizados nessa adquirir um bem terá menos dinheiro disponível do que um que
superfície para fornecer bens, serviços e funções adminis- viva no próprio lugar central, porque tem de pagar o cujto do
trativas à sua área de influência. São exemplo as lojas de transporte. Ficará, assim, sujeito a comprar menos. Este ^eito
equipamentos (bens), limpeza a seco (serviços) e os de- de fricção da distância, causado peio custo do transix>rte (pres-
partamentos de planeamento urbano (funções administra- suposto 1), provoca o decréscimo da procura com a distância
tivas) ; ao lugar central (flg. 1.2). As pessoas em C não podem comprar
4. Os consumidores desloçam-se ao lugar, central mai^_£ró-
xiinb que forneça a função (bens ou serviços) elesjjro^ Fig. l . l Relação entre a procura e Fig. 1.2 Relação entre a procura c
curam. Minimíziun a distância a percorrer; o preço a distancia
Este padrão hexagonal é o modo mais eficiente de organiza- Fig. 1.7 Ordens de centros e áreas de mercado associadas (k = 3)
ção das áreas de mercado de forma que sejam servidos todos os
possíveis clientes. A s áreas de mercado tèm a dimensão mínima
para que as operações sejam lucrativas. Há também um número Are« de mercado de ordem superior
Área de mercado de ordem média
máximo de fornecedores de um bem; uma vez que estes se loca-
Área de mercado de ordem inferior
lizam em lugares centrais, há também um número máximo de Centro de ordem superior
lugares centrais que fornecem o referido bem. Do ponto de vista Centro de ordem média
dos consumidores, a soma das distâncias que tèm de percorrer Centro de ordem inferior
para obter o bem é minimizada. Com estas propriedades, esta Centro de ordem mais baixa
organização dos lugares centrais e das áreas de mercado é a mais • •' /
Os centros de ordens diferentes distinguem-se, então, pelo tipo centrais (2 -t-1). Assim, os centros de cada ordem servem ou
0 número de funções que fornecem, pela área de mercado, em- dominam três centros: dois de ordem imediatamente abaixo da
prego e população. sua e eles próprios. Este arranjo espacial, característico do prin-
cípio de mercado acima descrito, é conhecido como uma rede
A rede k = 3: o princípio de mercado > k= 3. O valor de k também mostra as relações entre o número
O pensamento de Christaller tem sido ilustrado através da de áreas de mercado de cada ordem. É sempre igual a três vezes
análise do modelo da dimensão e localização das cidades, de o número das áreas de ordem imediatamente superior. A relação
acordo com o princípio de mercado. Mas ele ainda considerou entre os números de lugares centrais de cada ordem é mais com-
mais outros dois princípios: o de tráfego e o administrativo. Os plexa, mas sempre baseada no valor k, excepto para os lugares
arranjos espaciais associados a estes princípios são descritos abre- de ordem superior.
viadamente pelos valores k. O valor k (explicado mais abaixo)
indica o número de centros dominados por outro centro e a rela- As redes k = 4 e k = 7: princípios de tráfego e administrativo
ção entre o número de áreas de mercado de cada ordem. Pode-
mos ver na fig. 1.7 que os centros de ordem inferior estão situa- Christaller também identificou arranjos espaciais que demons-
dos nos extremos das áreas de mercado dos centros de ordem tram outros princípios. Construiu uma rede que tornava mais
imediatamente a seguir. No caso simplificado (fig. 1.9), as pes- fácil a ligação entre os centros. Os lugares centrais são localiza-
soas de um centro de ordem inferior podem escolher entre três dos de tal modo que os centros de ordem inferior se situem ao
centros de ordem superior para bens de ordem superior, uma vez longo de caminhos, em linha recta, entre os centros de ordem
que estão equidistantes desses três centros. Pode çonsiderar-se superior (fig. 1.10). Este arranjo é chamado o principio de trá-
que os clientes de um centro de ordem inferior se podem repartir fego. Comparado com a rede k = 3, o hexágono é um pouco
por trés centros de ordem superior. Cada centro de ordem supe- maior e reorientado. Um centro de ordem baixa só está equidis-
rior recebe, assim, um terço dos clientes dos seis centros de or- nr tante de dois centros de ordeln superior.
lo
dem inferior localizados" nos limites da sua área de mercado
(fig. 1.9); podemos, pois, considerar que serve uma população Fifr 1.10 Explicação da rede k = / ^«^'^ .^Jn^fn^^n.
equivalente a dois centros de ordem inferior ( 6 X ' / 3 ) e também
a sua própria população ( I ) . Então, no total, serve três lugares
Centro de ordem elevada
Fig 1.9 ExpUcação da rede k = J ^.^^ ,,,i,.jrn3,, -,oq Centro de ordem baixa
ordem superior (fig. 1.1 l a ) . Obviamente, é muito mais eficiente Fig. 1.12 O princípio de mercado, k = i , e o sistema G (mostra-se, com
administrar centros inteiros, como acontecia com as redes Ar = 3 todo o detalhe, o sector superior direito)
e k=4, do que partes deles.
Fig. 1.11 (a) Explicação da rede k"= 7; (b) A rede k— 7 (uma orientação
alternativa)—ver p. 31
I N
• Cenlro de onlem superior "Penor Ordem superior
M onenuçlo («) nesu oríenUçto
• Cenlro de ordem inrerior
*• Direcçio dos clientes a partir
dos centros de ordem inrerior
Estes são os princípios básicos e as características de ordem Sul da Alemanha, Munique, o centro de ordem mais elevada, foi
propostos por Christaller. E m resumo: este autor estabeleceu, considerada um lugar L ( A s letras só servem para identificação.)
teoricamente, relações fixas entre as fiinções dos lugares cen- Os valores esperados para um tal sistema L , segundo Christaller,
trais e a dimensão das áreas de mercado e entre as áreas de mer- são apresentados na fig. 1.8.
cado e a população dos lugares centrais. Estas relações produzem Para testar as suas ideias na Alemanha meridional, Christaller
ordens distintas de lugares centrais, que, por sua vez, dominam definiu primeiro um lugar central como sendo o que, possuindo,
um dado número de outros lugares. pelo menos uma «insUtuiçào central», fornece bens e serviços —
por exemplo, uma loja ou um escritório. Depois estabeleceu um
método para quantificar a centralidade. Relacionou-a com o nú-
Exemplo do autor mero de instalações telefónicas de um lugar central, pois con-
siderou ser aquele um bom indicador da importância de um lugar.
Christaller propôs que o princípio de mercado {k=3) era a Definiu um índice a que chamou densidade telefónica (número
determinante principal de um sistema de lugares centrais e, então, de instalações telefónicas por pessoa numa região). Multiplicou-a
tentou encontrar o padrão atrás demonstrado (fig. 1.12). pelo número de pessoas de um lugar central, denominando o
Este sistema pressupõe que o maior centro seja um lugar G , índice obtido importância esperada do lugar. Subtraiu a este nú-
sendo então chamado um sistema G . Este não é o de ordem mais mero a importância real (número de instalações telefónicas do
elevada de um dado sistema, pois acima dos lugares G há ainda lugar central) e o resultado, índice de centralidade, constituiu
os lugares P , L , R T e R . Christaller considerou, em França, uma medida de como o lugar está servido de instalações telefó-
Paris como um lugar R , Bordéus e Lião lugares R T . No caso do nicas em relação a toda a região. Christaller analisou as classes
\
28 GEOGRAFIA HUMANA
Modifícações
Fig. 1.15 Distribuição dos três prindpíos na Alemanha Meridional transparente. E m cada uma é desenhada a área de mercado de
um dos bens. Como cada bem tem uma área de mercado de di-
mensão diferente, a dimensão do hexágono varia de uma folha
^ . 4 ^ l Francoforte
para outra. Estas redes são sobrepostas á rede triangular básica
das explorações agrícolas e centradas numa delas, que se toma
a metrópole. Uma vez que esta é um lugar central para todas as
150 redes, venderá todos os 150 bens.
Tendo seleccionado a metrópole, Losch seguiu algumas regras
para determinar quais as explorações agrícolas que se tomariam
lugares centrais na á r e a Para muitas das redes, a orientação rela-
tiva daquelas não pode variar muito: são as que requerem explo-
rações agrícolas localizadas nos extremos das áreas de mercado,
como k = 3 ç. k = A (figs. 1.9 e I . I O ) . N ã o há problema para as
redes em que as explorações agrícolas se tomaram lugares cen-
trais fornecendo bens associados. Para algumas redes, por exem-
plo k=l, explorações agrícolas diferentes consoante a orien-
tação da rede podem tomar-se lugares centrais (figs. 1.1 l a e
1.1 I b ) . Uma vez escolhida, arbitrariamente, a orientação da rede
k=l, fica imposta a orientação a todas as outras redes. Se es-
colher outra orientação, a rede será organizada de tal forma que
os seus lugares centrais fiquem nos mesmos sectores que ficavam
na rede k = 1. Quando diferentes orientações permitirem escolher
• De acordo com o principio de mercado . D e acordo com o principio admi-
_ _ , • • • ^ r nistrativo (separação) entre explorações agrícolas dentro destes sectores, por exemplo
• De acordo com o pnncipio de trafego < k v ; k = 49, será escolhido o lugar que já ofereça o maior número de
T Sem relação particular com qual-
bens. Se o número de bens oferecidos for o mesmo, selecciona-
quer dos trts princípios
-se o lugar que ofereça o bem de ordem mais elevada
tanciadas (distribuição uniforme e descontínua da população — Pela sobreposição e reorientação das 150 redes, segundo este
matriz de explorações agrícolas em rede triangular). Neste sis- processo, o número de lugares centrais è minimizado e são en-
tema, nenhum fornecedor pode ter lucro excedente, que é o lucro contrados seis sectores ricos, à volta da metrópole (fig. 1.16a),
para além do necessário para manter a empresa Cada bem tem que oferecem muitos serviços. Entre eles ficam seis sectores po-
um limiar próprio e uma área de mercado, que é representada por bres: os seus centros são pequenos e oferecem poucos serviços.
uma função diferente de k. Lõsch verificou que havia mais fun- Estes sectores resultam das regras atrás mencionadas sobre a
ções k do que k= 3, k = 4 e k=l. Construiu hexâgonos maio- orientação das redes. Lõsch seleccionou estas regras porque
res e reorientados para dar k=9, k = l2, k = l3, k = l9 e muitos observou no mundo real esses sectores (fig 1.16b). Entre os
mais. O bem de ordem mais baixa é representado por uma rede sectores rico e pobre localizou as principais estradas irradiando
k= 3, com a mais pequena área de mercado. A ordem seguinte da metrópole e a ela dando acesso. Esta disposição de lugares
é representada por A: = 4, e assim sucessivamente, de tal maneira centrais e de estradas é chamada a paisagem económica lõschiana.
que há 150 redes com funções de k diferentes, representando Algumas características desta paisagem são merecedoras de
áreas de mercado de 150 bens. Imaginem-se 150 folhas de papel nota. Se bem que a maioria dos lugares centrais ofereçam bens de
32 GEOGRAFIA HUMANA TEORIA DOS LUGARES CENTRAIS 33
Fig. 1.16 (a) À paisagem lõschiana: (b) Indianápolis è arredores, dentro Fig. 1.17 Distribuição das cidades por dimensão: (a) escalonada (segundo
de um raio de 100 km o modelo de Christaller): (b) continua (segundo o modelo de Lõsch): es-
cala logarítmica
Exemplos actuais
Grove 4143 3 - 1 1 1
Cholsey 3822 2 1 2 1 1
Berinsfield 3237 1 1 1 1 2
Harwell
Sutton Courtenay
2594
2442
2
2
1 1
1
1
2 -
Drayton 2269 2 1 1 1
Blewbury 1609 2 1
-1 -
Brightwell cum Sotweli 1599 3
-
Crowmarsh GifTord 1509 2 1
- -1
Steventon 1502 2 1
-
Marcham 1447 2 1
- I
East Hendred 1329 3 I
- -
Compton
East Hagboume
1300
1194
2 1
I
-1 -1
Dorchester
Chilton
905
876
2
1
1
_
1
-_
Warborough 871 1
- 1
Streatley 870 1
- -
Long Wittenham 819 1 1
- -
m
Milton 731 2
East Hanney 716 2 1
-
Hampstead Norris 620 1 1
-
C U n o n Hampden 616 2 1
-
Moulsford 591 1 1
-
Culham
South Stoke
577
479
- 1
2
1
1 -_
West Hanney 450 1
-
South Moreton 419 I 1
-
Appleford 415 1
-
East Ilsley
Aston Tirrold
400
373
2
2
1
-_
Upton
North Moreton
369
369
2
1
1
-
Ashampstead 365 1 1
-
Leckhampstead 325 2
- -
- m
Ardington 324 1
West Hagboume 321
-
West Ilsley 320 1
-
West Hendred
Drayton SL Leonard
309
294
2
2 -
_ (T) Observada a populaçio limiar
Chamey Bassett 256 1 1
Brightwalton
Aston Upthorpe
255
225 ] m Note-se que. ne realidade, nem em
todas as povoaçòes mencionadas o
Frilford 215 l valor limiar corresponde à funçAa
Lockinge 198 1
Aldworth 180 1
Denchworth 175 1
Newington 143 1
Garford 104 1
Famborough 90 1
Little Wittenham 66 t
Área de mercado de uma ordem
Lyford 60
\
Grupo II
Bibiliotcca local
Centro de saudc
Jardim público
Centro de arte
Escola secundária
Banco
Mercado
Centro desportivo
Grupo III
Est.cenL de correios
Biblioteca central
Piscina
Cnmpo cie polfe
Salào de dane»
Cinema
Lo(s polivalente
Instituto técnico
Grupo IV
Parque regional
Jardim zoológico
Galeria de arte
Funções Teatro
de ordem Lx>jas especializadas
superior Sala de concertos
Estádio desportivo
CenL de recicl. ind.
InstiL politécnicos
U m dos aspectos mais discutidos na teoria de Christaller é Neste é grande a dificuldade para identificar os tais níveis. Por
o facto de ter sugerido que existem ordens discretas (desconti- causa das distribuições observadas, muitos autores sentem que é
nuas) de povoações (fíg. 1.17). Estas ordens discretas são as mais frequente uma hierarquia segundo uma sequência contínua
classes numa hierarquia escalonada. Tem sido muito difícil de- de povoações (capítulo 4 ) .
monstrar este princípio. Possivelmente, um dos esforços mais É frequente a ocorrência de povoações cujo equipamento está
válidos para identificar uma hierarquia escalonada é o de Berry muito abaixo ou é muito superior ao que seria de esperar tendo
e Garrison, num estudo de 33 lugares centrais na região de Sno- em conta a sua dimensão populacional, como se mostra na fig. 1.24.
homish, no estado de Washington, E U A . Para descobrir se os Podem ser sugeridas muitas razões para explicar estas ocorrên-
centros se agrupavam de acordo com a significância funcional, cias. X pode ser um centro histórico ou um centro turístico, en-
eles analisaram a hierarquia das funções fornecidas pelas cidades. quanto Y pode ser uma comunidade muito recente ou uma povoa-
Descobriram que, em geral, havia uma relação razoável entre a ção-dormitório.
população e a importância funcional (fig. 1.22) e que quatro des- A s implicações espaciais do trabalho de Christaller têm sus-
ses centros eram particularmente pobres nos serviços fornecidos citado muitas investigações. Brush e Bracey fizeram um estudo
em relação à dimensão respectiva. Finalmente, verificaram que comparativo entre os centros de serviços rurais do Sudoeste de
se destacavam nitidamente três grupos distintos ( A , B e C ) ao Wisconsin e os do Sudeste da Inglaterra. Embora estas duas áreas
analisar as povoações de acordo com o número total de activi- sejam diferentes em densidade populacional, urbanização e trans-
dades ou funções. Verificaram, estatisticamente, que as variações porte, em ambas se distinguiram três ordens de centros de servi-
entre estes grupos eram maiores do que as variações dentro deles. ços. A distância média entre os centros de ordem mais elevada
O problema básico para a identificação dos chamados níveis ê de cerca de 13 km, entre os centros de ordem média 5 km-6 km
discretos, ao representar graficamente as relações população/ e entre os centros de ordem mais baixa 3 km-4 km. O facto de a
/ordem, funções/ordem, funções/população e população servida/ ordem mais baixa dos lugares centrais, nas duas regiões, se de-
/área de mercado, é bem ilustrado no exemplo apresentado (fig 1.23). senvolver com intervalos de cerca de 4 km sugere que a determi-
nante original do espaçamento é a necessidade de conseguir ir a
Fig. 1.22 Relação dimensão popu- Fig. 1.23 Relação entre área de co- um centro de comércio local e voltar ao mesmo dia, de carroça
lacional/funções na região de Sno- mércio e população total servida ou a pé.
homish Cíowa) Foram feitas algumas extensões às ideias de Christaller. O tra-
balho de Skinner sobre o mercado e a estrutura espacial na China
Snohomiih
Edmonds
Fig 1.24 Povoações mal equipadas e muito bem equipadas
3-1
Loke Stcveni
40 GEOGRAFIA HUMANA TEORIA DOS LUGARES CENTRAIS 41
Bibliograna
Objectivo principal
maiores produções, ainda è capaz de obter maior rendimento por de produção e produção por hectare. O custo de transporte varia
uma produção mais intensiva^ simplesmente porque obtém um com o volume e a condição de perecibilidade do produto. O pro-
rendimento maior para a produção total (fig. 2.2). A uma maior duto com a renda locativa mais elevada por unidade de terra será
distância do mercado, Brown nào pode permitir-se intensificar sempre produzido, dado que proporciona os maiores rendimentos
a sua produção porque os rendimentos que recebe por maiores e todos ol agricultores desejam maximizar os seus lucros. Dois
colheitas não compensam os maiores custos de transporte para produtos podem ter o mesmo custo de produção e produtividade,
o mercado. Uma cultura mais extensiva é melhor para Brown, mas diferentes custos de transporte (por tonelada/quilómetro) e
desde que possa ser feita a um custo mais baixo, permitindo maio- preços de mercado. Se A é mais dispendioso de transportar por
res rendimentos (fig. 2.2). * tonelada/quilómetro e tem um preço de mercado mais elevado,
Desta explicação se pode ver que a intensificação de produ- A será cultivado mais perto do mercado do que B (fig. 2.4).
ção de um produto decresce com a distância ao mei;cado. O dia-
grama (fig. 2.3) mostra as rendas locativas de dois sistemas de Fig. 2.4 Dois tipos de cultura, renda locativa e distância ao mercado
agricultura, uma intensiva e outra extensiva. Será adoptado o sis-
tema com maior renda locativa.
Fig. 2.3 Renda locativa variando com a distancia ao mercado para di-
ferentes intensidades de produção
2000
Intensiva 'r*- Cultura A —«-U : Cultura B
CO Mercado Distância ao mercado
>
Fig. 2.5 Rendas locativas de duas culturas a distâncias diferentes do mer- Na realidade, preço de mercado, perecibilidade, volume, pro-
cado duções e custos de produção variam usualmente com os produtos.
Quando todos estes factores se combinam, a cultura que produz
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a maior renda locativa por unidade de terra aumentará. Contudo,
11
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•o a renda locativa terá efe ser paga sob a forma de preços de terra
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ou de renda fundiária. Se o agricultor não produz a cultura com
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ã E a maior renda locativa, tem ainda de suportar os elevados encar-
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1 gos da terra. N ã o está, por essa razão, maximizando os seus lucros
e está sujeito a perder.
U
Cultura
GEOGRAFIA HUMANA
UTILIZAÇÃO DO SOLO AGRÍCOLA 55
O feito pode ser visto claramente pela introdução de um rio nave- Fig. 2.9 Manor Farm e Buildings. Farm, em Marcham
gável onde o transporte era mais rápido e custava apenas um dé-
cimo do que por terra, juntamente com o efeito de uma cidade
mais pequena actuando como um centro comercial competitivo.
Mesmo a inclusão apenas de duas alterações produz um mo-
delo muito mais complexo da utilização do solo. Quando todas
as hipóteses simplificativas perdem a rigidez, como acontece na
realidade, pode esperar-se um modelo complexo de utilização
do solo. *
Exemplos actuais
Aglomerados periféricos
I I Caminho-de-ferro
_ _ _ Estrada em eslaçào seca
60 GEOGRAFIA HUMANA UTILIZAÇÃO DO SOLO AGRÍCOLA
61
1. Zona A. Dentro dos limites da aldeia, está sob cultura con- Escala. continental
tínua e é abundantemente fertilizada. O tabaco é a cultura
mais importante, seguindo-se, por ordem de importância, Já em 1925 foi observado que na Europa e na América do
trechos de sorgo, quiabos, cana-de-açúcar e pimentos. Norte estavam organizadas zonas de utilização de terra agrícola
em tomo de centros industriais:
2. Zona B. É uma área quase contínua de terra cultivada,
imediatamente a seguir à aldeia, estendendo-se, no máximo,
I km para lá dos limites da aldeia. Esta terra é cultivada Nestas duas regiões, o desenvolvimento mais intensivo da
continuamente e é fertilizada com o esterco dos cavalos, agricultura verifica-se na região de feno e de pastagem, na
burros, ovelhas, cabras e vacas nativas. O sorigo e o algo- qual se situam os centros industriais; em volta destes estão
dão são as principais produções alimentares e de rendi- organizados, concentricamente, os graus sucessivos de utili-
mento, seguidos do tabaco e do amendoim. zação do solo —cultura de cereais, pastorícia e silvicultura.
3. Zona C. Ocupa de três quartos a meio quilómetro da lar-
gura e nela pratica-se um sistema de .otação do solo. A s Jonasson, de facto, propôs um modelo de distribuição de utiliza-
propriedades são roçadas e cultivadas durante três a quatro ção do solo em volta de uma cidade europeia, teórica e isolada, exi-
bindo uma semelhança considerável com o modelo de von Thúnen
anos e depois a terra fica de pousio durante, pelo menos,
(fig. 2.12).
cinco anos. Os tipos de culturas sà( semelhantes aos da
zona B, mas o algodão ê muito mais importante.
4. Zona D. A zona de terra arável m;.is afastada, não ultra-
passa 3 km a 5 km os limites da a'deia e o matagal denso m?.,'ÍÍ/Sr "'"'"''^ """^ E-ropa teórica.
é dominante. A terra arável é comtituída_ especialmente
pelas glebas dos sítios periféricos, onde, em menor escala, 1 A cidade propria-
se reproduz a utilização das zonai A , B e C. mente dita e estufas
dos arredores ime-
Horticultura diatos, floricultura
Este estudo de caso sugere que uma intensidade decrescente 2 Verduras, frutos,
batatas e tabaco (e
de cultivo com aumento da distância tamòém ocorre dentro e em cavalos)
redor das aldeias tropicais, onde estas áào igualmente mercados, '3 Verduras, ^ado bo-
vino, carneiros para
fontes de mão-de-obra e de fertilizantes. Contudo, deveria salien- carne, vitelos, cul-
tura de forragens,
tar-se que mesmo aqui o meio físico tem um papel a desempenhar. aveia, linho para fi-
Agricultura intensiva
Por exemplo, em parte da zona A existem áreas de fadama, onde com indústria de lac-
bra
4 Agricultra geral,
a planície é inundada anualmente e o lodo mantém a fertilidade. ticínios intensiva
cereais, feno, ani-
Aqui continua a cultivar-se tabaco e cana-de-açúcar. mais domésticos
. (criaçào)
No passado foram observados modelos zonais à volta de algu- Agricultra extensiva 5 Cercais panificáveis
Cidade e linho para óleo
mas aldeias inglesas, como, por exemplo, o sistema primitivo de Estufa Pastoricia extensiva 6 Gado vacum (carne
infield-outfield nas terras altas da Inglaterra. Contudo, actual- Caminho- c criaçào), cavalos
de-ferro (criação), carneiros
mente é difícil identificar zonas em volta das aldeias. Isto deve-se (criação); carnes
em parte a um grande incremento nos transportes, em consequên- salgadas, fumadas,
refrigeradas e enla-
cia do que se tomaram acessíveis tnuitos mais mercados, e em tadas; ossos, sebos
e couros
parte, também, ao facto de muitas propriedades terem sido loca- Silvicultura 7 A área periférica
lizadas fora das aldeias desde o movimento de cercamento. mais afastada; flo-
restas
GEOGRAFIA HUMANA UTILIZAÇÃO DO SOLO AGRÍCOLA 63
62
Uma confírmação ulterior das ideias de Jonasson surgiu em çào de culturas. Se considerarmos o Nordeste da França, a Ho-
1952, quando Valkenburg e Held elaboraram um mapa de inten- landa, a Bélgica, o Sudeste da Inglaterra, o Norte da Alemanha
sidade da agricultura na Europa (fíg. 2.13). Este mostra a pro- e a Dinamarca como o principal mercado da Europa em produtos
dutividade do solo por acre com base em oito culturas largamente agrícolas, o modelo de von Thúnen parece ser aplicável a uma es-
espalhadas: trigo, centeio, cevada, aveia, milho, batatas, beter- cala continental. Contudo, não é tão simples como isso, dado que,
raba açucareira e feno. Para a Europa como um todo, para cada para mencionar apenas um factor, a periferia da Europa tem muito
cultura, o rendimento médio por acre é tomado como um índice menos terra agrícola útil (os Alpes, os Pirenèus e os Apeninos).
de 100 e o rendimento específico de cada pais é calculado em
conformidade. O facto saliente é que a Holanda e a Bélgica lide-
ram em intensidade; a Dinaniarca, a Suiça e a Inglaterra seguem-
Problemas e aplicabilidade
-nas de perto. A aplicação de fertilizantes em tais áreas è factor
principal, assim como a selecção de sementes e a cuidadosa rota-
Embora se possam encontrar exemplos que reflictam alguns
dos princípios de utilização do solo de von Thiinen, não deverá
Fig. 2.13 Imensidade da agricultura na Europa (o índice 100 é o rendi- ser surpreendente que não se verifique o seu modelo original de
mento médio europeu, por acre, de oito culturas principais; fronteiras poli- utilização do solo. Muitos factores mudaram desde 1826, em par-
ticas de 1937) ticular o tipo e o custo relativo do transporte. Obviamente, mui-
tas das hipóteses simplificadas de von Thúnen não se aplicam ao
mundo real.
As alterações principais, em factores que afectam o uso do
solo, derivam da mudança na utilização dos recursos pelo homem
e do desenvolvimento cada vez mais rápido da tecnologia. Por
exemplo, a lenha é agora pouco utilizada como combustível, pelo
que já não exige a sua proximidade do mercado. Londres pode
ser agora abastecida a partir de Devon por comboios contentores
frigoríficos de leite. O incremento da tecnologia do transjwrte e
armazenagem tem baixado os custos de transporte relativamente
aos custos de produção; assim, a produção é possível muito mais
longe do mercado, e cada um dos anéis originais de von Thúnen
pode ser muito mais largo. Porém, anéis mais largos são raramente
distinguíveis, mesmo se um simples mercado pode ser identifi-
cado, porque, dentro de um círculo teórico particular, a produção
pode ser concentrada em certas áreas onde factores físicos, tais
como clima e fertilidade do solo, são especialmente favoráveis.
Estas áreas dentro do círculo, mais do que o circulo total, podem
especializar-se no produto do círculo. Isto conduz mais ao apa-
recimento de regiões do que de círculos, regiões caracterizadas
por um tipo particular de utilização agrícola do solo. Assim, os
custos de transporte e, portanto, a distância ao mercado têm-se
\
tomado relativamente menos importante e, consequentemente, xasse de estar isolado, políticas comerciais sob a forma de comér-
o esperado efeito espacial tem mudado. cio livre, taxas de importação e restrições poderiam afectar o
No mundo real, os agricultores não agem como von Thúnen padrão de utilização do solo.
presumiu. Não agem como economistas. Não são frequentemente Como os exemplos e esta secção mostram, há muitos factores
independentes uns dos outros. A produção cooperativa, tais como que influenciam a utilização do solo, a maior parte dos quais va-
a cultura de verduras na Califórnia e a indústria de Jacticínios riam ao longo do tempo. Von Thúnen compreendeu isto e, em
dinamarquesa, desenvolveu-se desde o tempo de von Thúnen, o particular, previu o efeito da baixa relativa dos custos de trans-
que tem permitido uma maior produção a custos de produção mais porte. O modelo de von Thúnen não pode continuar a ser utilizado
baixos por unidade. Desta escala crescente de produção em áreas para explicar a utilização agrícola da terra, mas a importância
especializadas resultam também, muitas vezes, custos de trans- do princípio fundamental que identifica, isto é, a renda locativa,
porte mais baixos por produto, porque è garantido à companhia nào pode ser subestimada.
de transportes um grande volume de negócios durante um longo
período. Isto de novo amplia a dimensão teórica dos círculos. Na
verdade, von Thúnen pode ser criticado por não ter concebido que Conclusão
uma escala crescente de produção de uma cultura pode conduzir
ao abaixamento dos custos de produção e transporte e, assim, a O trabalho de von Thúnen é particularmente útil de duas ma-
uma modificação da renda locativa e do sistema de cultura. neiras. Chama a atenção sobre os factores económicos, parti-
yjn a g i i c u i i o i c b nào tèm o conhecimento perfeito dos econo- cularmente o custo de transporte e a distância do mercado, fac-
mistas. Não sabem qual será o tempo do próximo ano, ao deci- tores que no passado os geógrafos haviam subordinado aos do
direm qual a cultura a semear. Pessimistas e optimistas podem meio físico quando pretendiam explicar os padrões de utilização
plantar diferentes culturas em idêntica situação; apenas podem do solo. Também introduz o conceito da renda locativa em geo-
calcular quanto outros agricultores semearão da mesma cultura grafia. Este conceito é útil ao estudar a utilização do solo tanto
e, assim, afectar o preço no tempo da colheita por meio do meca- urbana como raral (capítulo 5). As hipóteses rígidas do modelo
nismo da oferta. Mesmo que saibam que os preços estão subindo, têm também conduzido indirectamente a uma maior ênfase da
os cUstos de transporte baixando e alterando-Se, assim, as rendas investigação sobre as formas como os agricultores tomam deci-
locativas, podem não mudar as culturas. Investiram em equipa- sões, a informação que possuem e o seu desejo de inovar. Com
mento, em sementes e em experiência na produção de uma de- este conhecimento tem sido adquirida, gradualmente, uma maior
terminada cultura. Um elemento conservador que se reflecte numa compreensão da utilização do solo. Para o geógrafo, a obra de
má vontade em assumir riscos e em adoptar inovações projecta- von Thúnen, com todas as suas limitações, ainda oferece uma es-
-se no padrão de utilização do solo. Algumas vezes, a política trutura útil à organização de estudos de aldeia e campo. Como
governamental acentua este conservantismo ao conceder subsídios muitos modelos, o residual ou as partes nào explicadas do mo-
e preços de garantia Na verdade, o efeito do custo de transporte delo provam frequentemente ser de grande interesse e levam o
para o mercado pode ser anulado por um organismo de comer- estudioso a uma maior compreensão dos problemas.
cialização, tal como a Câmara de Comercialização de Leite, na
Inglaterra, que paga o mesmo preço a todos os agricultores, inde-
Bibliografía
pendentemente da sua distância ao mercado.
Nào é razoável criticar von Thúnen por não ter previsto o cres- Chishom, M., Rural Settlement and Land Use, Hutchinson, 1956.
cente impacte governamental na economia. Mesmo no seu tempo, Found, W. C , A Theoretical Approach to Rural Land-Use Pattems, A r -
contudo, ele deve ter reconhecido que, logo que o seu estado dei- nold, 1971.
\
GEOGRAFIA HUMANA
oo
nar a localização para produzir um determinado artigo ao mínimo São aventadas outras hipóteses para desenvolver a sua
custo, enquanto von Thiinen vai decidir sobre a melhor utilização teoria pura.
agrícola para uma determinada localização. 7. Os custos do espaço, das instalações e de equipamento,
os juros e a depreciação do capital fixo não variam regio-
nalmente.
Objectivo principal 8. Há um sistema uniforme de transportes sobre uma super-
fície plana.
Weber pretende explicar a localização da actividade indus-
trial em termos de três factores económicos, nomeacfemente os Weber considera três factores regionais que afectam os custos
custos de transporte, os custos da mão-de-obra e as economias de produção: o custo das matérias-primas, o custo do transporte
de aglomeração. A explicação baseia-se na procura da- localiza- das matérias-primas e dos produtos e o custo da mão-de-obra.
ção do mínimo custo de produção. O custo das matérias-primas varia, por exemplo, consoante a
natureza dos depósitos e as dificuldades da sua extracção mine-
ral. Ele sugere que esta variação se vai refiectir no custo do trans-
Hipóteses e princípios porte das matérias-primas de modo que os factores regionais,
que ele considerou afectarem a produção, se reduzem, afinal, aos
Weber admitiu explicitamente três hipóteses que foram man- custos de transporte e aos custos da mão-de-obra. Identificou
tidas em toda a sua anáUse: outro factor local, denominado economia de aglomeração ou
economia de desaglomeraçào. O primeiro corresponde à econo-
1. H á uma distribuição irregular de recursos naturais numa mia que resulta para as fábricas, individualmente, quando operam
superfície plana. Assim, as matêrias-primas, combustível e na mesma localização, pelo facto de utilizarem em comum acti-
água necessários para a produção industrial podem ser vidades como indústrias auxiliares, serviços financeiros e servi-
encontrados apenas em localizaçóes específicas. ços públicos. Quando se considera a localização de uma fábrica
2. O tamanho e a localização dos centros de consumo dos independentemente de outras, aqueles processos e serviços têm
produtos industriais são predefinidos. Os mercados corres- de ser suportados ou gerados pela empresa a um custo muito ele-
pondem, portanto, a pontos na superfície. vado. A s economias de aglomeração incluem também as liga-
3. H á várias localizações fixas de mão-de-obra, sendo conhe- ções de interdependência entre empresas, que envolvem fiuxos
cidos os salários ai praticados. A mão-de-obra é imóvel de produtos entre fábricas, o aproveitamento de uma mão-de-obra
e ilimitada nestas localizações. especializada e as vantagens resultantes da compra maciça de
Outras hipóteses estão implícitas no trabalho de Weber. matérias-primas e das vendas em grande escala dos produtos.
4. A área é uniforme em cultura, raça, clima e sistema polí- Weber sugeriu que muitas destas economias podem ser feitas
tico e económico. quer pelo alargamento da escala de produção de uma empresa, ,
5. Os empresários têm em vista minimizar o custo total de quer pela concentração geográfica de várias empresas. A s econo-
produção. mias de desaglomeraçào traduzem o enfraquecimento das econo-
6. Admitem-se condições de perfeita concorrência em que os mias de aglomeração e, especialmente, o aumento do custo do
recursos e os mercados, nas suas localizações determina- terreno devido à tal concentração geográfica das empresas.
das, são ilimitados e nenhuma empresa tem possibilidade A análise de Weber divide-se em duas secções principais:
de obter, da sua escolha de localização, vantagens mono-
polistas. 1. A identificação do ponto de mínimo custo de transporte. ^
\
70 GEOGRAFIA HUMANA
LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL
71
2. A discussão das circunstâncias em que a produção terá
tendência para as afastar deste ponto, para aproveitar as
vantagens que advém da mào-de-obra mais barata ou da
aglomeração.
,ue não haja custo. LclZlTcaZá^lstrlT ^ ' '''''
O ponto de mínimo custo de transporte
O caso mais simples de localização no ponto de mínimo custo
de transporte envolve um fonte de matéria-prima ( R ) e um mer-
S./7 I
cado ( M ) . Nestas condições, considera-se que os custoí da mão-
-de-obra são iguais em toda a superfície. A fonte de matéria-prima
escolhida é a mais vantajosa entre todas as que fornecem o mesmo
material. A fig. 3.1 mostra o custo de transporte da matéria-prima
necessária a uma unidade do produto, a várias distâncias da
matéria-prima. ao mesmo tempo que revela os custos equiva-
lentes de transporte de uma unidade de produto final para o mer- Custos do transporte
ao produto final para
cado. N a fig. 3.1 está representada outra série de linhas que ligam o mercado (M)
entre si as localizações onde são iguais os custos totais de trans-
porte (transporte da matéria-prima e do produto). Estas linhas
Custos do transporte
chamam-se isodapanes. E óbvio que o ponto de inínimo custo da matéria-prima a
partir de fonte (R)
total de transporte está dentro da isodapane de valor, niais bãlxo.
Neste caso. pode ser em R ou M ou em qualquer lugar ao longo
da linha entre os dois. isodapane custos to-
tais de transporte
Neste exemplo simples, os custos de transporte estão direc-
tamente relacionados com a distância; na análise de Weber são
também influenciados pelo peso da matéria-prima e do produto.
Quanto maior for o peso da matéria-prima a transportar, maiores
serão os custos de transporte. A localização de mínimo custo de
transporte corresponde ao ponto onde é mínimo o custo de reu-
nir a matéria-prima e de distribuição do produto, considerando
sempre o peso e as distâncias a percorrer. A s matérias-primas
ubíquas que podem ser encontradas em qualquer lado, como a
água,- não precisam de ser transportadas e as fábricas que delas
se utilizam em larga medida têm tendência para se localizar mais nL^dS^ror^t/^r" ''"^
lizados na produção chamam-se matérias-primas
^ ° ^ " " ^ « t e uti-
puras. Weber
perto do mercado. A localização das fábricas que empregam prin-
cipalmente matérias-primas localizadas depende da parte do
peso dos materiais que se perde na laboração. Algumas matérias-
-primas só em parte são utilizadas na produção; o resto é des-
perdício. É o caso, por exemplo, do ferro que é extraído do mi- ^^^oJotaLdasmat^^
nério. Estes materiais chamam-se matérias-primas brutas ou
Peso do produto
72 GEOGRAFIA HUMANA LOCAUZAÇÃO INDUSTRIAL 73
O índice é igual a 1 para as indústrias que usam matérias- por unidade de distância e que envolvem outros factores para além
-primas puras, porque nào há perda de peso na produção. O ín- do peso, mais do que um sistema de transporte, e a localização
dice é muito superior ã 1 desde que haja uma perda substancial de um ramo de indústria em vez de uma única fábrica. Os prin-
de peso. Para estas indústrias, o custo de transporte das matérias- cípios básicos de localização já descritos continuam a aplicar-se.
-primas é muito superior ao do transporte do produto. A locali-
zação de mínimo custo de transporte aproximar-se-á mais das Distorções provocadas pelos custos da mão-de-obra
fontes da matéria-prima do que do mercado. A s indústrias em Depois de obter a localização do mínimo custo de transporte,
que o índice de influência da matéria-prima é 1 ou muito próximo Weber introduziu o factor custos de mào-de-obra. E l e quis saber
de 1 localizam-se mais perto do mercado, uma vez «que o custo se o que se ganhava ao deslocar uma indústria para um local com
de transport^; do produto é muito maior do que o custo de trans-
mão-de-obra mais barata ou mais eficiente ultrapassaria o aumento
porte de qualquer das matérias-primas puras a partir d^ sua fonte.
do custo de transporte resultante do facto de se abandonar a
Assim, o tipo de produção avaliado em termos de perda de peso
localização de mínimo custo de transporte. Foram outra vez cons-
afecta a localização de uma fábrica.
truídas isodapanes ou linhas de igual custo de transporte (fig. 3.3).
Na ilustração simples (fig. 3.1) há apenas uma fonte de maté-
ria-prima. Se houver duas, resuha um triângulo de localização
Fig 3.3 Distorções provocadas pelos custos da mão-de-obra: isodapane
(fig. 3.2). A localização do ponto de mínimo custo de trans-
crítica
porte def>ende do peso relativo dos produtos e das duas matérias-
-primas localizadas (fig. 3.2i, ii, iii). No caso representado, a
L | e L , . pontos de mào-de-obra barata
produção está perto de R i , uma vez que a perda de peso é maior
Ri, R i e R , . matérias-primas localizadas
quanto a esta matéria-prima.
A. localização de minimo custo de transporte
Weber aproximou-se mais da realidade ao introduzir muitas
As isodapanes mostram o aumento nos custos
fontes de matéria-prima, custos de transporte baseados em custos de U-ansporte se a produção se deslocar de A
Quando em A , são usadas R, e R ,
Quando em L , , são usadas R , e R ,
Fig. 3.2 O triângulo de localização com duas fontes de matéria-prima, R,
e R^
(i) M Produto 1 -\ Neste exemplo, os valores das isodapanes mostram diferença nos
R , Matéria-prima 2 Peso da matéría-
-prima por tonelada
custos de transporte por produto, que implica outra localização
Localização R j Matéria-prima 1,5
de minimo índice de influência
de produto que não seja a de mínimo custo de transporte. O que se ganha
custo da matéria-prima 3,5 por unidade de produto em resultado de se utilizar a mào-de-obra
mais barata em L , e L 2 é avaliado em £ 3. L , está entre as iso-
dapanes que representam um acréscimo de £ 2 e £ 3 em relação
ao local de mínimo custo de transporte. Valerá a pena o deslo-
(iii) a = 180° - a
camento para L , , uma vez que o que se ganha em mào-de-obra
P=L\ÍO° -b excede o acréscimo dos custos de transporte. No entanto, j á não
e- 180° - c valerá a pena o deslocamento para L 2 , uma vez que a mão-de-
-obra mais barata não compensa o acréscimo de custos de trans-
Também pode ser encontrada a solução porte, superior a £ 4 . Para smiplifícar o processo é marcada a
construindo isodapanes
Triângulo de pesos isodapane-limite, onde se verifica uma economia resultante do
74 GEOGRAFIA HUMANA LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL 75
custo da mào-de-obra (fig. 3.3), a que Weber chamou isodapane Exemplo do autor
crítica. Se a mào-de-obra mais barata se localiza dentro da iso-
dapane crítica, a deslocação é compensadora Se se localiza fora O que é essencial na teoria de Weber pode ser sumariado
dela, nào o é. A mudança de localização para o lugar de mào-de- numa tabela como a da fig. 3.5, em que oito tipos de indústrias
-obra mais barata pode obrigar à mudança nas fontes de matéria- sào evidenciadas consoante a diferente influência dos factores
-prima, porque, na nova localização, outras fontes se revelarão que afectam a sua localização. Note que a indústria B é equiva-
mais vantajosas (por exemplo, a substituição de R i por R j ) . lente à do caso representado na fig. 3.1 e a indústria E corres-
ponde à do triângulo de localização revelado na fig. 3.2. Se, no
Distorções provocadas pelas economias de aglomeração entanto, as duas matériais-primas pesadas utilizadas no tipo E
sofrerem na laboração uma perda de peso muito desigual, a indús-
A análise do factor aglomeração segue uma lógica semelhante.
tria localizar-se-á junto à matéria-prima que sofre mais perda
A economia que resulta da concentração de, digamos, 3 empre-
de peso.
sas é estimada em £ 1 0 por produto, para cada empresa F o i de-
senhada, para cada empresa, a isodapane crítica correspondente
a um aumento de £ 1 0 nos custos de transporte, em relação ao Fig. 3.5 Os principais tipos de orientação locacional de acordo com Weber
local de mínimo custo de transportes (fig. 3.4).
Factofc» de localizaçio Orientação
É compensadora a aglomeração dentro da área limitada pela
intersecção das três isodapanes críticas (fig. 3.4, área sombreada). a
N à o é económica a aglomeração fora desta á r e a Se não houver
•8
E
!2 is
1 t i
e
•s
s
intersecção das isodapanes críticas, não ê compensadora a aglo- m
meração. P
8.
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P i
s < 1
•c
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1 <
São estes os princípios básicos da análise de Weber. E l e foi Z
mais longe e demonstrou o efeito combinado dos três factores
A 1+ •
— custos de transporte, custos de mão-de-obra e economias de B 1 7
aglomeração— na localização de um conjunto de indíistrias que C 1+ 1-1- *
constituem o sector industrial da paisagem económica D 1 •
E 2 *
F — N»o etpecirKadot - V *
Fig. 3.4 Distorções provocadas pelas economias de aglomemção G »• 1» *> *
H " " " y/ *
Exemplos actuais
> â Inteneoçio das 3 isodapane» critica» —
^ compensa a aglomeraçko dentro desta irea
Vários investigadores aplicaram aspectos da teoria de Weber
ao estudo da indústria moderna Wilfi-ed Smith, por exemplo, no
trabalho que em 1955 fez sobre a localização industrial, con-
frontou as hipóteses de Weber, baseadas na perda de peso, com
\
a realidade. Concluiu «não haver dúvida de que algumas indús- De forma semelhante, mas em menor grau, indústrias como
trias preenchem os requisitos de Weber». Por exemplo, na pro- a do lingote de ferro, a da produção de leite e de outros produtos
dução de açúcar a partir da beterraba, o produto final, açúcar, tem derivados do leite apresentam índices da influencia da matéria-
1/8 do peso das matérias-primas utilizadas (beterraba, carvão e cal). -prima muito elevados e encontram-se usualmente perto da loca-
Assim, e como se esperaria, a localização da fábrica de produção de lização das matérias-primas. Smith sugeriu que estas indústrias
açúcar a partir da beterraba está fortemente ligada à área de podiam denominar-se indústrias primárias, uma vez que as maté-
produção de beterraba (fig. 3.6). rias-primas são tratadas directamente a partir de minas ou da
agricultura A transformação inicial è acompanhada de uma enorme
perda de peso. Smith sugeriu também que as indústrias portuá-
Fig. 3.6 A localização das fábricas de açúcar à base de beterraba relacio-
rias, como a moagem, a salga de peixe e a refinaria de petróleo,
nada com as áreas de produção de beterraba em Inglaterra e Gales
são semelhantes, na medida em que a produção se verifica nos
pontos do país que têm acesso mais directo às matérias-primas.
Beterraba por 1000 acres
(404 684 ha) A principal análise estatística que Smith empreendeu foi feita
em relação a sessenta e cinco indústrias, para as quais a infor-
1 10 50 100 mação foi obtida a partir do censo de produçào de 1948. E l e
concluiu que o índice de dependência da matéria-prima, de facto,
• • • • •
100 150 200 300400 isolava os casos extremos de indústrias localizadas junto da fonte
Produçào de açúcar
de beterraba
da matéria-prima ou do mercado, mas tinha menos utilidade quanto
(milhares de toneladas) à maioria das indústrias intermédias. Decidiu que o carvão deve-
ria ser emitido como matéria-prima, classificando-o como fonte
energética. Considerou o índice de dependência da matéria-prima
um instrumento de análise muito imperfeito e prosseguiu na aná-
lise de outros índices que pudessem ser úteis para distinguir tipos
de localização industrial.
Finalmente, Smith, tomando como referência o padrão de loca-
lização de uma sequência particular de indústrias, todas elas
utilizando uma matéria-prima, o aço (fig. 3.7), concluiu que as
27 1447
81 117
84 38
Anilhas, pregos e parafusos 74 IS
Máquinas para a produção de
têxteis 50 5
Fabrico de automóveis Evidência inadequada 7
\
localizações orientadas para a matéria-prima se tomam menos Fig. 3.8 Custos de transporte necessários, por tonelada de aço, para cen-
relevantes à medida que, no processo manufactureiro, o material tros metalúrgicos que servem o mercado de Boston
é sujeito a maior transformação. A sequência de indústrias reve-
Ciutoi de transporte (dólares)
lava claramente «toda a amplitude das mudanças de localizações
ligadas à matéria-prima para localizações totalmente indepen- Localizaçio Feno Carvão Produto
final
dentes da matéria-prima». E m conclusão, Smith alertou para a
necessidade de desenvolver novos instrumentos de análise capa- 4.56 6,01 4,60
Fali River / ^° Labrador ..
zes de permitir o estudo de muitas indústrias modernas não rela- \o da Venezuela . 3,68 5,63 4.60
cionadas com a matéria-prima. * VI I„ j í Ferro do Labrador . 4.56 5.79 6.80
New London < „ . ,,
l Ferro da Venezuela 3.68 5.42 6.80
Isard e Cumberiand, ao estudarem a Nova Inglaterra como Pittsburgh 5.55 1.56 15,20
possível localização para uma indústria integrada do» ferro e do Cleveland 3,16 3,85 15.20
aço, basearam-se implicitamente em muitas das ideias de Weber. Sparrows Point 4.73 4.26 12.40
Concluíram até que o único meio significativo de analisar a loca- Btifalo 3.16 4,27 12.60
Bethiehem 5,56 5.06 10,60
lização da indústria do ferro e do aço era adoptar o tipo de aná- 3.68 4,65
Trenton 10.40
lise weberiana alicerçada em informações de carácter económico.
Uma das suas conclusões foi a de que Fali River e New London, Fome: W. Isard t } . H Cumberiand. «New England as a possible l/Kaiion for «n Imegniied Iron and
dois possíveis locais para a indústria do aço em Nova Inglaterra, Steel Works», in Emnhmir Geography. vol 2fi. Outubro de 1950, p. 24Q.
80
GEOGRAFIA HUMANA LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL 81
Fig. 3.9 Curva de custo no espaço barato. Tanto a teoria de localização como a teoria económica
têm como objectivo a utilização óptima dos recursos.
Como resposta a algumas das fraquezas da teoria tradicional
ac : custo m é d i o da p m d u ç à o de custo mínimo, desenvplveu-se uma escola de pensamento que
de um artiío
Preço atende às interdependências de localização. Nesta perspectiva,
do artigo o padrão espacial de fábricas e áreas de mercado resulta de varia-
produzido
A e B : mareen*; de rendimento ções da procura no espaço e da necessidade de considerar a loca-
lização de fábricas competidoras. Cada empresa procura fornecer
O. mínimo custo total uma área de mercado tão vasta quanto possível, levando em conta
tanto as acções dos consumidores, como as dos competidores.
Hotelling, que está frequentemente associado a esta escola, con-
siderou um duopólio em que, por exemplo, dois vendedores de
gelados competiam entre si para fornecer um produto idêntico
Losch apresentou a primeira teoria geral de localização, em a fregueses que estavam uniformemente distribuídos ao longo da
que a principal variável espacial era a procura. Pressupõe que praia e que iriam mostrar preferência pelo vendedor de gelados
não há variação nos custos de produção e atende às localizações que deles estivesse mais próximo. Na fig. 3.10a, cada vendedor
onde os lucros são máximos, isto é, onde o rendimento total ex- tem à sua conta metade da praia, mas isto permite que um ven-
cede, em larga medida, o custo total. Assim, o objectivo é o lucro dedor mais agressivo se desloque para o centro da praia e apanhe
máximo, em vez do custo mínimo, como no modelo de Weber. parte do mercado do seu competidor (b). Hotelling sugeriu que a
Lõsch desenvolveu uma paisagem económica (capítulo 1) em que solução estável se realizaria quando os vendedores de gelados
as localizações individuais estavam inter-relacionadas. As fra- estivessem no centro da praia, de costas um para o outro, cada
quezas da sua teoria residem na ênfase excessiva dada à procura, um deles servindo uma metade do mercado (c). Isto pressupõe,
na omissão de qualquer variável espacial de custo e na grande contudo, que as pessoas na periferia da praia não decidam dei-
abstracção da realidade. Contudo, Lõsch nunca teve em vista xar de comprar gelados devido à maior distância que terão de
uma teoria realista, mas exactamente um quadro de referência percorrer até ao vendedor. Se o fizerem, os vendedores afastar-
para a análise. -se-ào do meio da praia a igual distância para estarem mais perto
Isard procurou criar uma teoria geral baseada na fusão dos dos extremos (d).
esquemas de von Thiinen, Lõsch e Weber. Ligou a teoria da loca-
lização com outros ramos da teoria económica, particularmente Fig. 3.10 >4 localização de dois vendedores de gelados numa praia
através do princípio de substituição. Greenhut sumariou da se-
guinte maneira o papel do conceito de substituição na teoria da (a) ' A ' i ' A 'i
localização: o problema de saber em que medida a mão-de-obra
pode ser substituída por capital ou terra e vice-versa é basica- (b) ,* -JÈ '•• Vendedor agressivo
mente o mesmo problema que a selecção do local da fábrica entre
várias localizações alternativas. Por exemplo, dados dois sítios (c) j: ', S o l u ç i o de Hotelling
igualmente vantajosos para a localização de uma fábrica, pode
um deles ter terreno mais barato e o outro mão-de-obra mais (d) * Si êi. 'i Se há perda de fregueses
barata. Ao localizar-se no sítio de terreno mais barato, o empre- nos dois extremos
sário está a substituir mão-de-obra mais barata por terreno mais (e) . S o l u ç à o de J a w s
82 GEOGRAFIA HUMANA LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL gS
Greenhut tentou integrar as ideias de mínimo custo e de inter- Fig. 3.11 Representação do mercado nos Estados Unidos da América
dependência de localização, o que conseguiu em larga medida,
tomando como base da localização óptima a maximização dos
lucros totais, em vez da maximizaçào dos rendimentos ou mini- Tamanho do estado proix>rrinn^l
ás jyendas a retalho. 1948
mização dos custos. A teoria era muito ampla e incluía os seguin- = Milhões $1000
tes factores:
Cidades mais importantes W7777^
1. Custo dos factores de localização (custos de transporte, de
mão-de-obra e de transformação). , S à o Francisco 10 Búfalo
L o s Angeles 11 Pittsburgh
2. Factores de procura na localização (interdependência da Minneapolis-St Paul 12 Filadélfia
localização das empresas ou tentativas para monopolizar Milwaukee 13 Baltimore
Chicago 14 Washington ,•
certas secções do mercado). 6 K a n s a s City 15 N e w York Cit"
3. Factores de redução de custos; por exemplo, proximidade 7 S à o I.uis 16 Boston
8 Cleveland
de fornecedores de matéria-prima ou de capital. 9 Detroit
4. Factores de acréscimo de rendimento; por exemplo, ven-
das proporcionadas pela proximidade de compradores.
5. Factores pessoais de redução de custos; por exemplo, boas Potencial de mercado P, = ^ ^' = — + — + ... + ^ "
relações com fornecedores e banqueiros. j=, dij dit di2 dh din
ô. Factores pessoais de aumento de rendimento; por exemplo,
existência de bons contactos com os clientes. em que o potencial de mercado ( P ) no ponto / é o somatório ( Z )
7. Considerações puramente pessoais; por exemplo, prefe- de cada um dos n mercados (/') acessível ao ponto (í) dividido
rências dos empresários pelo local de residência. pela distância respectiva (Í/,,) àquele ponto. Os valores atribuídos
a M correspondem aos valores das vendas a retalho por condado.
Ao mesmo tempo, a importância do mercado como factor de Os custos de transporte foram considerados indicadores da dis-
localização passou a ser considerada relevante, particularmente tância (</). Os valores de P foram calculados para todos os pontos
por Harris, que estudou a localização da indústria nos E U A . Har- (cidades) do mapa (fig. 3.12); com base nesses valores, foram
ris sugeriu que as actividades económicas estavam cada vez mais traçadas linhas de igual potencial de mercado, resultando uma
relacionadas com o mercado e deu o exemplo do aço, uma indús- superfície de potencial de mercado. O mapa mostra a superfície
tria primeiramente dependente da matéria-prima e hoje, no en- em duas dimensões em que as isolinhas de potencial de mercado
tanto, crescentemente dominada pelo mercado. Harris salientou correspondem à dimensão de uma superfície com altos e baixos.
que metade das vendas a retalho nos Estados Unidos da Amé- O valor de cada linha foi expresso em percentagem em relação
rica se realizavam na cintura industrial americana, que se estende à cidade de valor mais elevado, Kova Iorque (o cume da super-
de St. Louis e Milwaukee, a oeste, até Washington e Boston, a fície). Harris concluiu que a existência da cintura industrial era
leste. O seu mapa transformado das vendas a retalho nos Esta- o factor dominante e autoperpetuador da localização industrial
dos Unidos da América provava esta questão (fig. 3.11). nos Estados Unidos da América.
A técnica do potencial de mercado foi utilizada por Harris A mudança de perspectiva mais recente quanto aos estudos
como um indicador abstracto da intensidade do possível contacto de localização industrial corresponde à grande ênfase atribuída
com os mercados. ao processo de decisão. Começou a ser posto em questão o que
era geralmente pressuposto—o homem económico, dispondo de
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Fig. 3.13 Como as características da matéria-prima e do produto (rfectam mação são executados em países avançados, como os Estados
a localização Unidos da América e a Inglaterra. A localização pode corres-
ponder apenas a uma parte de uma equação mais complexa que
Factor Loealiuçlo Exemplo
determina a produção. ^Os objectivos das grandes organizações
Matéria-prima Comprimir algodão em fardos
parecem ser a sobrevivência e o crescimento. É mais provável
Mercado Contentores que estes influenciem decisões quanto a mudanças de localização,
Perda de risco de se deteriorar Matéria-prima Conservas no sentido de aumentar o mercado e de integrar a produção hori-
Aumento deriscode se deteriorar Mercado Padaria zontal e verticalmente, do que se reflictam em tentativas de mini-
Matéria-prima Embalagens t mizar os custos ou até de maximizar os lucros. Por exemplo, na
Mercado Briquetes de carvão
Matéria-prima Gravação de microfilmes altura em que é preciso localizar uma sucursal de uma indústria,
Aumento de risco Mercado Fabrico de explosivos ao optar-se por aproveitar edifícios j á existentes que estão dentro
das margens de rendibilidade (fig. 3.9), poderá garantir-se um
Fonte: E. M. Hoover, An Iniroduction to Regional Economics, Knopf, 1971, p. 47. mercado que estaria perdido caso de pensasse esperar até se de-
terminar a localização de mínimo custo. A disponibilidade de
A hipótese de Weber de que a mào-de-obra era imóvel nào edifícios fabris da indústria têxtil hoje vazios foi um factor de
é inteiramente realista, embora encontre alguma justificação no atracção industrial para a área de Lancashire.
facto de um país apresentar um contraste entre áreas de desem- Finabnente, tal como se verifica tanto na localização da agri-
prego e áreas com falta de mào-de-obra. Fortes ligações à família, cultura como na dos bens e serviços centrais, tem aumentado a
aos amigos e à terra natal, juntamente com a falta de recursos influência do governo na localização industrial Subsídio, edifí-
monetários, explicam frequentemente esta situaçào .e servem de cios (talvez inicialmente isentos de renda) e apoios financeiros
apoio à hipótese de Weber. Contudo, a mobilidade espacial da à deslocação são exemplos dos incentivos governamentais para
mào-de-obra é frequentemente muito nítida, como ilustra o grande que a indústria se desloque para áreas em desenvolvimento, como
movimento de desempregados durante a depressão dós anos 30. o Nordeste da Inglaterra. A o mesmo tempo, a expansão das in-
A mobilidade de um posto de trabalho para outro, entre indús- dústrias acima de certa dimensão pode ser restringida em áreas
trias da mesma área, é muitas vezes impedida pela necessidade mais desenvolvidas, recusando-se os certificados solicitados pelas
de treino e pela relutância em desistir da experiência adquirida empresas. E m países não capitalistas, como a U R S S , o papel
no posto de trabalho anterior. No entanto, a flexibilidade de com- do governo e os factores políticos são preponderantes na locali-
petências e a reciclagem tendem a prevalecer, uma vez que se zação industrial
tomam menos importantes as indústrias que requerem uma longa Weber não ignorou a influência que o tipo de sistema econó-
preparação da mão-de-obra. mico e político pode exercer; mas é improvável que pudesse prever
A medida que a empresa privada, constituída por um só esta- que os incentivos, controlo e propriedades por parte do governo
belecimento e fornecedora de um único produto, ê substituída viessem a ser um facto importante na maioria das economias
pela corporação internacional de produção de vários produtos industriais. O seu trabalho tem sido particularmente importante
em grande escala, aumenta a complexidade da organização indus- para as economias altamente planificadas, nâo capitalistas, onde
trial, o que toma mais difícil a aplicação dos princípios de Weber as suas ideias atraem por nào envolverem o conceito de lucro.
à realidade moderna. Estas corporações têm numerosas fábricas Nestes países, os princípios de Weber têm sido aplicados mais
e escritórios. A produçào pode localizar-se em países de mão- para localizar fábricas do que para explicar a sua localização.
-de-obra barata, como Taiwan, enquanto os projectos de pes-
quisa e de desenvolvimento necessários ao processo de transfor-
88 GEOGRAFIA HUMANA -r LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL 89
Conclusão Karaska, G. J . , e Bramhall, D. F . , Locational Analysis for Manufacturing:
A Selection of Readings, MIT Press, 1969.
O contributo de Weber para a compreensão da actividade Lõsch, A,, The Economics of Location, Yale University Press, 1954.
industrial é imensa Como toda a investigação, tem limitações. Smith, D. M., Industrial Location, Wiley, 1971.
Smith, R. H. T., Taaffe, E . J . , e King, L J. (eds.), Readings in Economic
N ã o explica muitas das mudanças do padrão industrial que na Geography (inclui artigos"Qe W. Smith, Harris, Kennelly, Isar e Cum-
altura nào poderiam ser previstas. Os três factores fundamentais beriand), Rand McNally, 1968.
que salientou ainda tèm uma influência muito grande na locali- Weber, A., Theory of the Location of Industries, traduçào de C. J . Frie-
zação, embora o impacte dos custos de transporte seja muito exa- drich, University of Chicago Press, 1929.
gerado, tendo em conta a indústria actual. O seu trabalho ainda
não foi substituído pelo de autores mais recentes; antes, estes
acrescentaram importantes princípios que, tomados em conjunto Questões para desenvolvimento
com os de Weber, contribuem para explicar um mundo indus-
trial muito mais complexo. 1. Discuta os factores que levam à concentração de tuna grande variedade
de indústrias em grandes áreas industriais. (Cambridge, 1974.)
No final deste capítulo vale a pena fazer um comentário às
2. Como é que a teoria da localização ajuda a explicar os padrões industriais
teorias que foram propostas para explicar a localização de acti- e porque é que só em parte.os explica? (Oxford e Cambridge, 1974.)
vidades económicas (capítulos 1, 2 e 3). Tanto Christaller como 3. O diagrama abaixo ilustra o triângulo de localização de Weber. O triân-
von Thiinen e Weber têm limitações ao explicar apenas sectores gulo é equilátero e nos seus vértices estão duas matérias-primas locali-
zadas ( R | e R j ) e o mercado para um produto da indústria (M). X está
particulares da paisagem económica. Mesmo depois de interliga- no meio de um dos lados do triângulo.
dos os seus modelos, ainda persistem grandes lacunas para a
compreensão do sistema total. Contudo, eles demonstram que è
possível discernir do imenso e profundo caos alguma ordem e. RI
que alguns princípios fundamentais são a base dessa ordem Os
três modelos realçam a importância que a distância e os custos
de transporte assumem na organização espacial da actividade
económica Sem dúvida alguma, o estado actual do conhecimento
acerca da distribuiçào das actividades económicas muito deve
à contribuiçào daqueles autores e é provável que passe ainda
muito tempo atê que uma teoria geral seja proposta ou aceite.
a) Tome em consideração o diagrama em que se aplica o modelo de
Weber. Uma indústria fabrica um produto em que cada imidade con-
Bibliograna tém igual peso das matérias-primas R , e H i e vende este produto ao mer-
cado M. Identifique a localizaçio ( R | , R i , X ou M) em que a indús-
tria beneficia do custo de transporte mais baixo em cada um dos
Estall, R C , e Buchanan, R. O., Industrial Activity and Economic Geo- seguintes casos; explique totalmente as razões em que se baseia:
graphy, Hutchinson, 1961.
Greenhut, M. L , Plant Location in Theory and Practice, University of
i) Ambas as matérías-prímas sào puras, isto é, não perdem peso
North Carolina Press, 1956. durante a laboração;
Hoover, E . M., The Location of Economic Activity, McGraw-Hill, 1948. ii) Ambas as matérías-prímas perdem 50% do seu peso durante a
Hotelling. H . , «Stability in Competition», in Economic Journal, voÍ. 39, laboração;
1929). iii) A matéría-prima R | é pura, mas a matéria-prima R : perde 50%
Isard, W., Location and Space Economy, Wiley, 1956. do seu peso durante a laboração.
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GEOGRAFIA HUMANA
i) Moagem ou serralharia;
ii) Padaria ou indústria do mobiliário. (Joint Matriculation Board,
1976.)