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O centro temático da Carta aos Colossenses do qual emanam todas as implicações práticas e

teológicas é, sem dúvida, a reflexão cristológica localizada ao início do texto (1,15 – 3,11). Tudo o
mais gravita em torno do mistério de Cristo, “escondido por séculos e gerações” (cf. 1, 26): a
salvação também é destinada aos pagãos. Embora tenha sido revelado na “plenitude dos tempos”
(cf. Gl 4,4), este mistério permanece inabarcável para a inteligência humana, tamanha é a sua
riqueza e profundidade.
Jesus Cristo é Senhor do cosmos, “pois tudo foi criado por ele e para ele, ele é anterior a
tudo, e nele tudo tem a própria consistência.” (Cl 1,17), e é também Senhor da Igreja, de quem é a
cabeça (cf. 1, 18). Com efeito, o texto combina as propriedades cósmicas (vv. 15.16.19) com as de
redenção (vv. 14.18.20). O autor da Carta, ao apresentar Cristo como aquele que exerce o seu
domínio sobre toda a criação (preeminência de Cristo sobre toda a criação), afirma que todas as
criaturas, e não somente os homens, participam dos frutos da Redenção. Com isso, o escritor
sagrado deseja combater a heresia disseminada no interior da comunidade de Colossas, a qual
misturava os preceitos dos judaizantes com algumas tradições mistéricas e esotéricas: uma espécie
de heresia gnóstica incipiente. Para eles os acontecimentos históricos e o destino do mundo eram
determinados pelos astros e por criaturas espirituais (dominações, potestades, tronos etc). Nesse
sentido, Cristo seria uma realidade “paralela”, pouco superior ou subordinada a tais potências
espirituais.
A Carta aos Colossenses também apresenta uma catequese batismal, desenvolvida segundo
um esquema tradicional paulino, marcado por expressões como: “co-sepultar”, “co-ressuscitar”,
“co-vivificar”. O batismo é uma espécie de “circuncisão de Cristo” (cf. 2,11), não mais operada na
carne, mas mediante a fé no poder de Deus (cf. 2,12). Aquele que ressuscitou com Cristo deve
deixar as coisas terras e buscar as celestes, “onde Cristo está sentado à direita de Deus.” (Cl 3,1).
Há em 3,5-15 uma pequena lista de vícios e virtudes, que qualificam e distinguem aqueles
que vivem aspirando as coisas da terra daqueles que almejam e buscam as coisas do céu. Aqueles
que se despojaram “da velha condição com suas práticas” (cf. Cl 3,9) e se revestiram da nova são
renovados “à imagem do seu Criador” (Cl 3,10), permitindo que Cristo seja tudo para todos. (cf. Cl
3,11). Acima de todas as virtudes está a caridade, “que é o laço da perfeição.” (cf. Cl 3,14).
Por fim, o autor da carta elenca alguns deveres familiares e sociais, reflexo do ambiente
cultural e social da época (maridos, esposas, filhos, pais, patrões e empregados). O cristão vive
aquilo que crê dentro da concretude de sua existência na sociedade. As normas familiares são o
resultado do evangelho de Cristo atuando no tecido da sociedade.

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