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A Face Oculta Do Mundialismo Verde
A Face Oculta Do Mundialismo Verde
Pascal Bernardin
http://www.euro92.org/edi/biblio/bernardin2.htm
Os visitantes deste site já conhecem o nome de Pascal Bernardin, tanto pela alusão
que a ele fiz no meu artigo “Ideário do absurdo” quando pelos comentários de Charles
Lagrave no link O império ecológico e o totalitarismo planetário. Agora encontrei esta
conferência dele na página do Instituto Euro 92 (onde há dezenas de outras leituras
importantíssimas), e não pude deixar de transcrevê-la aqui com algumas notas minhas,
malgrado minha falta de tempo para traduzi-la. Se algum visitante puder fazer a
tradução e enviá-la a olavo@olavodecarvalho.org, terá prestado um esplêndido
serviço a todos. – O. de C.
Desde o fim do comunismo, o socialismo bate em retirada ao conceder mais espaço aos
mecanismos que deixam uma maior margem de liberdade aos comportamentos
individuais. Contudo, a ameaça não desapareceu. Embora não se trate de grandes leis
históricas que fariam do Proletariado o instrumento e o veículo do Progresso, trata-se
da Ecologia – mais precisamente, das elites científicas e ecológicas que se
autodenominaram os messias dos novos tempos – que pretendem impor seus objetivos
como elementos reguladores da liberdade dos indivíduos. No texto a seguir, Pascal
Bernardin, autor de “O Império ecológico” mostra como o problema da gestão dos
“bens comuns” é hoje em dia utilizado como álibi para recriar completamente as regras
da justiça e da moral, sempre pretendendo manter-se no estrito limite de uma crítica
liberal. Este texto é a transcrição de uma conferência pronunciada ao Instituto Euro 92
no dia 14 de abril de 1999.
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No curso desta conferência, vou mostrar como e em que medida a política e os temas
ecológicos se articulam com os dois fenômenos políticos maiores do último decênio e
do fim do século, a saber, a perestroika e a emergência da Nova Ordem Mundial.
De início, na primeira parte desta intervenção, quero falar dos objetivos mantidos
pelas elites pós-comunistas que permaneceram de pé, malgrado o desaparecimento
do comunismo e da queda do muro de Berlim, as quais, hoje em dia, estão integradas
no conjunto das elites ditas mundialistas, alojadas no coração das instituições
internacionais. Vocês notarão a diferença entre mundialismo e mundialização.
Conservo o termo mundialismo para descrever a emergência das forças políticas em
nível mundial; reservo o termo mundialização para a emergência de um mercado
global e de instituições econômicas e financeiras globais.
A situação política do último quarto de século tem sido marcada pela queda do muro
de Berlim, e simultaneamente pela instauração de uma “Nova Ordem Mundial”
proposta pelo presidente George Bush. Considero que a análise desses dois
fenômenos permanece ainda muito incompleta. Com efeito, nenhuma explicação real
do fenômeno da perestroika foi dada. Além do mais, os objetivos precisos da
mundialização e do mundialismo permaneceram muito vagos. Dito de outro modo,
estamos, atualmente, num vazio conceptual absoluto; vazio que toca os dois
elementos principais da vida política mundial deste fim de século. Tais são os
elementos que vou pôr em evidência, adotando a ecologia como fio condutor.
De um outro ponto de vista, vou referir-me a Ethics and Spirituals Values, relatório
redigido pelo Banco Mundial, centrado nos valores éticos e espirituais para um
desenvolvimento durável; quer dizer, para um desenvolvimento ecologicamente são,
ou pelo menos pretendido tal.
Da Perestroika à ecologia
Vemos assim surgir uma diferença fundamental entre poder e controle. O exercício do
poder é a técnica tradicionalmente adotada por todos os Estados do planeta. Ela tem
como principal defeito chocar-se contra a revolta latente dos indivíduos que lhes estão
submissos. O exercício do controle é uma técnica toda diferente, que consiste em
colocar as pessoas num quadro tal que elas desfrutarão de um sentimento de
liberdade, às vezes de grande liberdade, ao tempo em que esta liberdade será, na
realidade, estreitamente canalizada num quadro fixado pelos governantes. Esta
oposição entre controle e poder permite assegurar a síntese de numerosos trabalhos,
e de compreender o que está a caminho de ocorrer tanto no Ocidente quanto no
antigo bloco comunista.
Não descrevi, no caso presente, nada mais que as instituições de poder internacional
que estão na iminência de se estabelecerem, com uma hierarquia de níveis, em
princípio mundial, depois continental, regional, nacional, departamental, municipal,
etc.
Uma vez que se tenha esses objetivos na cabeça, não é difícil compreender que a
ecologia constitui uma formidável alavanca para assegurar sua realização.
Enquanto que o buraco na camada de ozônio nada mais é que um balão de ensaio, o
efeito estufa, ele, é verdadeiramente concebido e apresentado como um “objetivo
supra-ordenado” maior. Penso, por exemplo, em Al Gore, quando ele diz que é preciso
criar uma nova civilização, cuja proteção do meio-ambiente será o pivô.
Desde então, o gás acabou. E, desde há muito, não se escutou mais falar do buraco na
camada de ozônio.
O que é preciso reter? Um pequeno artigo de cinco centímetros e meio por quatro e
meio, do prêmio Nobel de química Paul Crutzen, na página vinte quatro de um número
do jornal Le Monde: “quando as previsões apocalípticas foram noticiadas”, lia-se, “não
se conhecia exatamente a amplitude da deterioração da camada de ozônio. Agora,
sabe-se que os danos serão mínimos. A demonstração tem sido feita, de que a camada
de ozônio deteriora-se num rítmo muito lento.” Este é o ponto-de-vista de numerosos
outros cientistas.
Tem-se dito que o buraco seria causado pelos CFC (Cloro-Fluor-Carbono), um produto
químico que se encontra principalmente nas geladeiras. Esses CFC foram fabricados
industrialmente após a segunda guerra mundial, e sua produção em massa marcou os
anos 1960, época do grande boom econômico.
Hoje em dia está quase que admitido e provado que esses modelos eram incapazes de
simular a realidade, portanto, que eles eram falsos.
Como já disse, a literatura científica mostra claramente que, desde 1929, portanto,
muito antes da produção em massa dos CFC, o buraco na camada de ozônio era já uma
realidade. Ele resulta de um fenômeno natural que existe desde sempre e que se
observa em lugares extremamente afastados, principalmente o Polo Sul. O que está
em causa é principalmente a atividade vulcânica natural do globo. Os vulcões lançam
infinitamente mais Cloro na atmosfera que os CFC. Por exemplo, citarei o Monte
Érebo, um vulcão da Antártida em constante erupção, que lança permanentemente
milhares de toneladas de gases, notadamente os compostos clorados, justamente no
lugar onde se situa o famoso buraco na camada de ozônio.
Todas as previsões deduzidas destes modelos até aqui sempre se revelaram inexatas,
muito afastadas da realidade. A mais bela prova de seu erro repousa em sua
incapacidade de dar uma simulação aceitável das evoluções climáticas do passado. As
equações que utilizam são muito simplificadas. Notadamente, elas não integram os
fenômenos de ondas planetárias, que desempenham, neste domínio, um papel
importante.
Não devemos esquecer que o clima é um elemento que varia permanentemente. Por
outro lado, meio grau de aquecimento seria antes uma boa coisa, porque o aumento
da concentração de gás carbônico, que o provocasse, beneficiaria mais que
prejudicaria o crescimento das plantas, portanto à agricultura, às florestas, e mais
geralmente à vida – porque esta se baseia, em princípio, no fenômeno da fotossíntese.
Portanto, que dizer disso, senão que isto com o que tratamos nada mais é que uma
grande “escroqueria”? A maioria dos sábios se esforça em resistir a esta dupla
impostura midiática e política (porque os políticos, caso realmente quisessem, teriam
todos os elementos à sua disposição para saber do que verdadeiramente se trata).
Substancialmente, este princípio diz toda ação deve ser proibida, uma vez que não
esteja provado de maneira indiscutível que ela não introduzirá efeitos negativos.
Fato essencial, este princípio de precaução se encontra desde já, de fato, integrado no
direito, tanto no direito internacional quanto no direito francês. Não se trata apenas
de uma fantasia de intelectuais. Porém, de um instrumento extremamente poderoso
que nos imerge diretamente no universo do pensamento mágico. Com efeito, caso se
o siga ao pé da letra, resulta que desde que alguém vislumbre um perigo, ainda que
imaginário, cria-se uma regra de direito que nos proibe tudo que poderia concretizar
este perigo (imaginário) e nos ordena expressamente fazer o que poderia minimizá-lo.
Deste modo, se um ecologista afirma, de maneira convincente (mas puramente
retórica) que queimar petróleo aumenta a temperatura da atmosfera, mesmo que
ninguém de fato nada saiba a respeito, e se não existe nenhuma prova científica,
resulta do princípio de precaução que esta afirmativa se torna ipso facto verdadeira do
ponto-de-vista do direito, e desencadeia efeitos jurídicos(1).
Sob inúmeros aspectos, é um relatório delirante. Mas existe de fato um tema, daquela
época, e um debate muito vivo, nos Estados Unidos, do qual os maiores intelectuais do
país têm participado. Ele tem-se beneficiado de uma cobertura máxima da mídia.
Este texto remonta aos anos 1965-1967. Mas nós sofremos sua posteridade. No O
Império Ecológico, mostro como toda uma corrente, representada hoje em dia pelo
vice-presidente americano Al Gore, inspira-se nesta problemática.
Mas tudo isso se faz, hoje em dia, sob a cobertura de uma linguagem assim dita liberal,
em nome do liberalismo. A característica desta nova ideologia do poder é a de nos
afirmar que, desde a desaparição do comunismo, estamos livres para fazer o que
quisermos; mas, atenção, somente dentro de certos limites, determinados pelo nível
de emissão de gás carbônico aceitável! Assim, encontram-se conciliados uma certa
aparência de liberalismo, com um construtivismo e um dirigismo totalmente reais,
porque isto que aí se encontra é um encontro “sistêmico” caracterizado, onde os
atores econômicos de nível inferior estão livres para fazer o que querem, mas num
quadro pré-determinado pelas instituições internacionais, em particular as que estão
encarregadas das questões do efeito estufa.
Somos portanto governados pelas leis. A repressão está reduzida ao mínimo. Estamos
libertos de todo sistema totalitário, para entrar em alguma coisa que tem as
aparências de uma sociedade de direito. Mas não se trata senão de aparências de uma
sociedade aberta, porque esta sociedade, uma vez mais, inscreve-se num quadro que
já foi pré-fixado. Há, de alguma maneira, instrumentalização, desvio das idéias liberais,
pela base, do caráter central dado à gestão coletiva de certos “bens comuns” tais
como a atmosfera. A gestão desses “bens comuns” é o álibi, a alavanca que permite,
hoje em dia, chegar a ponto de recriar completamente as regras da justiça e da moral,
sempre pretendendo permanecer no reto caminho da crítica liberal. Isto permite
manipular os valores ou as atitudes, manipular as normas sociais e a sensibilidade.
Esta síntese “sistêmica” oferece, no nível inferior, uma aparência de sociedade aberta,
mas com um escalão superior que se dedica a gerar as regras finalizadas, de onde
resulta uma sociedade que só possui as aparências da abertura. Não estamos mais
numa sociedade aberta. Dela, só possuímos sua aparência. É uma sociedade fechada,
que se inscreve na lógica de um tal arranjo.
O objetivo, ao qual retornarei, é nada menos que criar uma nova civilização. De
maneira global, tem-se alguma coisa que lembra, muito, uma manipulação da
concepção de Deus(3).
A este respeito, os textos das instituições internacionais são explícitos. Eles nos
mostram que a ecologia resume-se geralmente a uma vontade de conduzir os
indivíduos a uma concepção pagã da natureza, onde é a natureza que é a divindade. O
que é assim claramente buscado é uma modificação explícita da concepção do
homem, de Deus, da natureza, do mundo...portanto, uma modificação das concepções
culturais de fundo de nossa civilização.
Nossa civilização está fundada sobre uma concepção judeu-cristã do homem, quer se
trate de cristão, judeu ou mussulmano. Este paradigma – o homem, um ser desejado e
criado por Deus –, está na base do nosso Direito.
(1) No mesmíssimo sentido, e talvez mais fundo ainda, vai o esboço de “código penal
cultural” da Unesco, que comentei em O Futuro do Pensamento Brasileiro (2a. ed., Rio,
Faculdade da Cidade Editora, 1998). -- O. de C.
(2) Uma análise extensiva desse documento encontra-se em The Grening. Plot for
Environmental Control, de Larry H. Abraham, cujo texto integral será em breve
reproduzido neste site. -- O. de C.
(1) Não há de ser coincidência que um dos principais instrumentos teóricos concebidos
para essa manipulação – o “princípio de precaução” – tenha sido criado logo por um
cérebro como o do prof. Hans Jonas, o mais famoso historiador da gnose. Isto não só
vem confirmar a tece célebre de Eric Voegelin sobre a origem gnóstica dos
totalitarismos modernos, mas enfatizar a necessidade urgente de uma compreensão
mais clara do fenômeno gnóstico, compreensão à qual nada contribui o alarmismo
delirante de certos católicos ultraconservadores que, numa verdadeira “lógica dos
gatos pardos”, como diria Ortega y Gasset, distribuem o rótulo de gnose (no sentido
estrito de Hans Jonas) a tudo quanto lhes pareça estranho, temível ou heterodoxo,
incluindo as manifestações mais ortodoxas da mística islâmica e judaica. Voltarei a este
assunto. -- O. de C.