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Eletrônica Aplicada à Música

Monte um Pedal de
Distorção Valvulado

Alex Baroni

3ª Edição
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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Apresentação

As válvulas estão mais presentes do que nunca hoje em dia. Mais ainda quando
falamos de equipamentos relacionados a música. Mesmo nos dias de hoje existem
fábricas de válvulas, por isso é possível consegui-las sem muito esforço. Na Internet
pode-se encontrar várias pessoas que importam as mesmas e as vendem. Caso
deseje, até é possível conseguir válvulas antigas em estado de nova, o que é
chamado de NOS (new old stock).

Porém sempre que falamos em válvula aparece uma questão, a alta tensão. Isso
porque para a válvula funcionar ela necessita de duas tensões diferentes, uma
chamada alta e a outra baixa. A alta alimenta o circuito de uma forma geral, já a
baixa tensão os filamentos das válvulas. Se os mesmos não estiverem
incandescentes não haverá emissão de elétrons e por isso não há música (falando
de amplificadores e pedais). A alta tensão muitas vezes passa dos 300 Volts.
Trabalhar nessa ordem é sempre complexo por vários fatores principalmente em
relação a segurança.

Porém é possível alimentar ambas as etapas da válvula com baixa tensão.


Fazendo isso, algumas válvulas passam a trabalhar em um regime diferente, abaixo
do que elas precisariam para funcionar, mas com um resultado bem interessante.
Veremos que dessa forma, é possível criar com poucos componentes um
interessante pedal valvulado de baixa tensão.

Essa será a ênfase nesse material. Iremos inicialmente conhecer alguns


componentes eletrônicos que farão parte desse projeto assim como uma breve teoria
de cada um deles, inclusive as válvulas. Depois mergulharemos na construção do
nosso pedal.

Bons estudos.

Alex Baroni

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Índice

Corrente Elétrica, Tensão Elétrica e Resistência........... 04


Geradores.................................................. 04
Pilhas..................................................... 04
Circuitos - Diagramas...................................... 06
Curto-circuito............................................. 06
Blindagem.................................................. 07
Resistores................................................. 07
Potenciômetros e trim-pots................................. 08
Capacitores................................................ 08
LED........................................................ 10
Válvulas................................................... 11
Montando o circuito........................................ 14
Funcionamento em blocos.................................... 16
Diagrama do Pedal.......................................... 17
Pinagem na 12AX7........................................... 18
Chave DPDT................................................. 18
Fonte de alimentação....................................... 19
Sequência de montagem...................................... 21
Sobre o autor...............................................32
Referências Bibliográficas..................................32

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► Corrente elétrica, Tensão elétrica e Resistência ◄

Para um correto entendimento de um circuito, há necessidade de compreendermos o


que vem a ser as três grandezas mencionadas acima, são elas: corrente, tensão e
resistência.
Para que qualquer equipamento funcione precisamos fazer circular por ele elétrons.
Esses são os responsáveis por levar a eletricidade aos elementos internos do circuito. A
circulação dessas pequenas partículas é chamada de corrente elétrica. Porém, para a
corrente circular precisamos de uma força que as empurre. A força que faz esse papel é
denominada tensão.
Assim sendo, podemos ver que só existe corrente (elétrons circulando) se existir
tensão. Em outras palavras, a corrente é consequência da tensão.
Porém, os elétrons não circulam da mesma forma em todos os materiais. Alguns
permitem uma circulação mais intensa e outros sequer conduzem a eletricidade. A esse
fenômeno damos o nome de resistência. Em miúdos, é a oposição criada pelos elementos
à passagem da corrente elétrica (elétrons).
Para conseguirmos realizar cálculos e identificarmos a sua “quantidade”, essas três
grandezas possuem unidades de medida, conforme abaixo:

Tensão – Volt – Abreviada pela letra V.


Corrente – Ampere – Abreviada pela letra A.
Resistência – Ohm – Abreviada pela letra grega Ω.

► Geradores ◄

Se desejarmos manter a circulação de corrente em um circuito por um tempo grande,


precisamos usar os chamados geradores. Eles possuem energia armazenada que pode
aos poucos ser entregue ao equipamento.
Existem geradores capazes de criar dois tipos de corrente elétrica, uma chamada
contínua e a outra alternada. Ambas possuem vantagens e desvantagens que devem ser
avaliadas conforme o caso. A corrente alternada é encontrada nas tomadas de nossas
residências e a corrente contínua em pilhas e baterias, por exemplo. A corrente contínua é
caracterizada pela circulação da corrente sempre no mesmo sentido. Dessa forma os
elétrons saem do polo negativo em direção ao positivo (chamado de sentido natural). Já
na corrente alternada essa circulação se inverte ao longo do tempo. No Brasil a frequência
da rede elétrica é de 60 vezes por segundo. Ou seja, para um ciclo completo da onda,
temos que a frequência da nossa rede é de 60Hz. Alguns países possuem uma frequência
de 50Hz.
Fato é que os circuitos eletrônicos não podem funcionar com corrente alternada e na
maior parte das vezes a corrente alternada precisa ser transformada em corrente
contínua. Quem faz esse papel é a fonte de alimentação. Assim sendo, a fonte de
alimentação não só reduz os 127 Volts da tomada para valores menores, mas também
cria um novo tipo de corrente, a contínua. (em algumas tomadas do Brasil temos 220
Volts).

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► Pilhas ◄

A pilha é um tipo de gerador. São comumente encontradas em vários equipamentos.


Conforme dito acima, elas produzem corrente contínua e por isso já estão prontas para
serem usadas nos aparelhos eletrônicos. O nome pilha veio da forma como o seu inventor
montou esse primeiro dispositivo, literalmente empilhando os elementos que formavam a
mesma. O seu nome é Alessandro Volta. A unidade de medida para tensão, chamada
Volt, é uma homenagem a esse cientista italiano.
Abaixo segue um desenho de como Volta fez a sua pilha.

As pilhas de hoje em dia nada tem a ver com a pilha de Volta, a


não ser o nome “pilha”. Muito mudou e hoje as pilhas possuem
internamente elementos sólidos e pastosos, não mais aquosos.

A pilha comum, dessas que são vendidas em supermercados, é capaz de gerar 1,5
Volts através dos seus polos, enquanto a reação química no seu interior perdurar. Os
tamanhos das pilhas dizem respeito a quanto de corrente as mesmas são capazes de
fornecer. A tensão é sempre a mesma, mas a corrente que pode ser fornecida está
relacionada ao seu tamanho. Dessa forma, observando somente a tensão, podemos
alimentar um mesmo aparelho com pilhas grandes (D) ou médias (C), por exemplo. A
diferença está no fato de que com pilhas grandes ele permanecerá funcionando por mais
tempo do que com pilhas médias.

Obs: Precisamos também conhecer a corrente consumida pelo aparelho para verificar
qual tamanho de pilha irá melhor atender. Os tipos que encontramos tradicionalmente são
AAA (palito), AA (pequena), C (média) e D (grande).

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Representação da pilha
Todos os componentes eletrônicos possuem uma representação gráfica. Será de
extrema importância conhecê-las para poder diferenciar um elemento do outro além de
representar no papel os circuitos. A seguir vemos a representação das pilhas. É comum
haver uma letra e um número para identificar unicamente o componente no circuito.

Veja que nas pilhas quimicamente os


elétrons circulam do polo em que estão
em maior quantidade (-) para o polo de
menor quantidade (+).

► Circuitos - Diagramas ◄

Muitas vezes precisamos representar no papel determinado circuito, para tanto nos
valemos de representações gráficas dos componentes. Sendo assim, podemos desenhar
um circuito completo apenas com papel e caneta. Chamamos esse circuito de diagrama,
esquemático ou esquema. Abaixo temos um circuito real e a sua representação gráfica.
Conforme formos aprendendo sobre um novo componente estudaremos também a sua
simbologia.

● Para identificar o componente no circuito eletrônico, colocamos letras e números ao


lado dos mesmos. Existe uma certa convenção na letra. Assim para um resistor
normalmente usamos a letra R, para um diodo a letra D e assim por diante. Ao lado dessa
informação podemos também ter o valor do componente. Caso contrário o valor dos
componentes virá em uma lista próxima ao circuito.
Veja abaixo a comparação entre a realidade e o diagrama.

Diagrama que representa o circuito ao lado.

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► Curto Circuito ◄
A intensidade de corrente que circula num circuito é determinada pela tensão elétrica
do gerador e pelo consumo do equipamento. Se é esse último um dos determinantes do
consumo de corrente, caso a corrente deixe de passar por ele haverá a criação de um
caminho alternativo para a passagem dos elétrons. Como não existe um receptor para
controlar o consumo de corrente, a mesma tende a circular de forma intensa gerando
calor, caracterizando assim um curto circuito.

► Blindagem ◄

A blindagem é um mecanismo para protegermos os equipamentos eletrônicos do 60Hz


da rede elétrica que trafega pelo espaço onde estamos. A mesma viaja como uma onda
de rádio até a entrada de amplificadores e pedais causando um verdadeiro zumbido nos
nossos equipamentos. Segundo foi descoberto por Michael Faraday, a melhor forma de
resolvermos esse problema é usarmos sempre a Gaiola de Faraday. Essa nada mais é do
que uma blindagem metálica em torno do equipamento com o negativo da alimentação
ligado nessa gaiola. Isso protege o circuito evitando roncos no áudio quando em uso.

► Resistores ◄

Os resistores são amplamente utilizados na eletrônica sempre que desejamos controlar


a corrente ou tensão em um certo nível, causando uma oposição ou resistência. Existem
resistores de vários tipos, os mais comumente usados são os de película ou de filme de
carbono.
Já que esse componente cria uma oposição a passagem da corrente elétrica, nada
mais normal que a sua unidade de medida ser o Ohm. Por vezes quando lidamos com
valores muito grandes fazemos uso dos múltiplos do Ohm, o Quilohm (k) e o Megohm (M).
Os resistores geralmente são componentes pequenos, por isso os valores não são
marcados com letras e números em seu corpo. Assim sendo, utilizamos um código de
cores pintado no corpo do resistor. Veja os detalhes de cada anel colorido na tabela que
se encontra abaixo:

Cor 1o anel 2o anel 3o anel 4o anel


Preto - 0 x1 -
Marrom 1 1 x 10 1%
Vermelho 2 2 x 100 2%
Laranja 3 3 x 1000 3%
Amarelo 4 4 x 10 000 4%
Verde 5 5 x 100 000 -
Azul 6 6 x 1000 000 -
Violeta 7 7 -
Cinza 8 8 -
Branco 9 9 -
Prata - - 10%
Dourado - - 5%

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Simbolicamente o resistor é representado da seguinte forma:

O valor de um resistor é dado por 3, 4 ou até 5 faixas (5 faixas são os chamados


resistores de precisão) coloridas que são lidas da ponta para o centro.
Vamos supor que estamos com um resistor cujas cores na ordem são: amarelo, violeta,
vermelho e dourado.

A primeira e a segunda faixa fornecem os dois algarismos da resistência, ou seja:


Amarelo = 4
Violeta = 7
Formamos assim, a dezena 47.

A terceira faixa nos dá o fator de multiplicação, ou quantos zeros devemos acrescentar


ao valor já lido. No caso temos:
Vermelho = 00 ou x100
Temos então 47 + 00 = 4700 Ohms ou 4,7 kΩ.

A quarta faixa nos diz qual é a tolerância no valor do componente, quando ela existe.
Se esta faixa não existe, temos um resistor de 20%, ou seja, ele pode ter até 20% de
diferença entre o valor real da resistência que ele apresenta e o valor que temos na sua
marcação. No nosso do exemplo anterior, a faixa dourada diz que se trata de um resistor
com 5% de tolerância.

□ Um resistor pode vir a aquecer dependendo da sua aplicação. Essa capacidade de


transferir calor para o ambiente é diretamente proporcional ao seu tamanho. A unidade de
potência é medida em Watts (W).
Existem resistores com potência de dissipação desde 1/8W até resistores com mais de
20 Watts. Ou seja, além do valor ôhmico do componente devemos também observar na
lista de materiais a dissipação mínima necessária.

► Potenciômetros e Trim-pots ◄

Potenciômetros e trim-pots podem ser entendidos como resistores variáveis. Assim,


atuando em um eixo podemos fazer variar a sua resistência.

A seguir temos a representação gráfica do potenciômetro:

Os potenciômetros podem ser usados em diversas funções, como por exemplo, no


controle de volume e tonalidade, pois permitem o seu ajuste a qualquer momento. Os trim-
pots são mais usados quando se deseja um ajuste único, ou seja, somente num
determinado momento. A estrutura do trim-pot não favorece uma atuação por parte de um

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usuário. Tanto potenciômetros quanto trim-pots possuem como unidade de medida o


Ohm.
Os potenciômetros podem ser lineares ou logarítmicos. Os lineares possuem a letra B
ao lado do seu valor ôhmico e os logarítmicos a letra A. Quando trabalhamos com
controles de volume é mais comum usarmos os logarítmicos, para quase todas as outras
situações o linear.

► Capacitores ◄

O capacitor é uma espécie de reservatório de cargas. Quanto mais cargas ele


consegue armazenar, dizemos que maior é a sua capacitância. O capacitor é formado por
duas placas metálicas separadas por um elemento isolante chamado dielétrico. De acordo
com o material usado no dielétrico o capacitor recebe nomes diferentes. Por exemplo: se o
capacitor possui o dielétrico de poliéster o mesmo é chamado capacitor de poliéster.

A capacitância é maior tanto quanto maiores forem as placas do capacitor e também


quanto mais próximas estiverem uma da outra.

Se encostarmos uma placa na outra ou oferecermos um outro percurso para que as


cargas circulem, o capacitor se descarregará.

Capacitor carregando-se
com as cargas obtidas da
fonte de corrente contínua.

Capacitância é medida em Farads (F), mas como é uma unidade muito grande, é
comum usarmos os seus submúltiplos. Temos então o microfarad (µF) que equivale à
milionésima parte do Farad ou 0,000 001 F. Um submúltiplo ainda menor é o nanofarad,
que equivale a 0,000 000 001 F ou a milésima parte do microfarad e é abreviado por nF.
Temos ainda o picofarad (pF) que é a milésima parte do nanofarad ou 0,000 000 000 001
F.

A representação gráfica do capacitor segue abaixo:

Existem capacitores chamados tubulares que são formados por várias folhas de
condutores e isolantes enrolados. Um capacitor muito importante na eletrônica é o
chamado eletrolítico. Uma das armaduras do mesmo é de alumínio, que em contato com

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uma substância quimicamente ativa, se oxida formando uma finíssima camada de isolante
que vai ser o dielétrico. Com esse capacitor podemos atingir grandes capacitâncias com
tamanhos físicos relativamente pequenos.

Os capacitores eletrolíticos são componentes polarizados, ou seja, a armadura positiva


deve ser sempre a mesma. Se houver uma inversão, tentando-se carregar a armadura
positiva com cargas negativas, o dielétrico será destruído e o capacitor inutilizado. A
polaridade negativa do mesmo é definida por uma série de pequenas setas no corpo do
componente.

Além da capacitância, os capacitores possuem ainda uma outra especificação muito


importante: a tensão de trabalho.

Se aplicarmos uma tensão além da especificada pelo componente às armaduras de um


capacitor, a DDP (diferença de potencial) entre estas armaduras pode ser suficiente para
provocar uma centelha que atravessa o dielétrico e causa a destruição do componente.
Nunca devemos usar um capacitor num circuito que possua uma tensão maior do que a
especificada no componente.

Leitura dos valores dos capacitores


Os eletrolíticos já vêm com o seu valor expresso em µF no corpo do componente.
Os cerâmicos de disco, possuem dois tipos de especificações. Para pequenos valores,
temos a especificação direta em picofarads (pF) em que existe uma última letra maiúscula
que indica a tolerância, ou seja, a variação que pode haver entre o valor real e o valor
indicado.
F = 1%
J = 5%
M = 20%
H = 2,5%
K = 10%

Para valores acima de 100 pF pode ser encontrado um código de 3 algarismos


marcado no capacitor.
Neste caso, multiplica-se os dois primeiros algarismos pelo fator dado no terceiro
dígito. Por exemplo, se tivermos um capacitor com a indicação 103:
Temos que acrescentar 3 zeros ao 10 obtendo 10 000 pF.
É claro que devemos considerar a divisão por 1000 se quisermos obter os valores em
nanofarads. Assim, 103 resulta em 10 000 pF, também é o mesmo que 10 nF.

► LED - Diodos Emissores de Luz ◄

No início dos estudos da criação do diodo, foi observado que ao circular uma corrente
pelo mesmo, a sua junção era capaz de emitir uma radiação na forma de luz invisível ou
infravermelha. Esse efeito foi modificado para obter luz visível no nosso espectro luminoso
e foi criado o LED (Light Emitting Diodes). O LED possui uma estrutura semelhante à do
diodo comum, mas com a adição de outros elementos químicos chamados impurezas.

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Os LEDs são capazes de produzir uma luz muito pura. Assim, ao contrário da luz
branca que é uma soma de todas as cores, o LED emite uma única cor ou uma única
frequência. Temos então uma fonte de luz monocromática. Assim como os diodos, os
LEDs também são polarizados e o nome dos seus terminais são iguais aos do diodo. No
corpo do LED a identificação do Catodo (K) é feita através de um chanfro no componente.

Representação simbólica do LED:

Para os LEDs acenderem corretamente precisamos aplicar uma tensão mínima em


seus terminais. Essa tensão varia conforme a cor do LED. Para o vermelho difuso esse
nível mínimo é 1,6 Volts, enquanto que para o amarelo difuso 1,8 Volts e para o verde
difuso 2,1 Volts. Os LEDs brancos em geral funcionam bem com tensões a partir de 3
Volts.

► Válvulas ◄

Ainda hoje as válvulas vêm ganhando cada vez mais prestígio em aplicações
específicas. No caso de amplificadores, como por exemplo, ela ainda é usada por
apresentar uma qualidade dificilmente conseguida com os transistores. Vamos supor um
sinal senoidal, quando a tensão passa pelo ponto próximo de zero volt, o transistor não
acompanha esta variação de modo linear. Nesse cruzamento, chamado de “cross-over”, o
transistor de silício manifesta a sua impossibilidade de trabalhar com tensões abaixo de
0,6V e com isso causa uma distorção do sinal. Esse tipo de distorção é chamada de
distorção por cross-over. Se bem que pequena, ela pode significar uma perda de
fidelidade de sinal que nos amplificadores comuns pode ficar entre 0,1% e 2%.
É fato que existem formas de contornar esse problema apresentado pelo transistor,
mas ainda assim existem várias outras diferenças, como por exemplo, o fato do transistor
ser um componente de estado sólido, enquanto a válvula não. Na válvula é gerada uma
nuvem de elétrons que trafega entre os devidos eletrodos da mesma.

As distorções na válvula são bem baixas e podemos atingir taxas da ordem de 0,001%.
Abaixo vemos a simbologia da válvula, assim como o seu aspecto.

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Um outro diferencial da válvula é a forma como ela trabalha quando em saturação


(distorção). Diferentemente do transistor o resultado sonoro da válvula nessa condição é
muito mais agradável aos ouvidos. Isso se deve à forma como o transistor trabalha fora da
região de amplificação. Após essa região, o transistor deixa de trabalhar linearmente e não
amplifica mais a amplitude do sinal em relação ao que entrou na base desse componente.
Ele trabalha em um modo conhecido por saturação, chamado também por região de
comutação.
Existe uma discussão muito grande entre adeptos de amplificadores valvulados e
transistorizados. Não vamos aqui polemizar mais ainda esse fato. O que pode ser dito é:
existem vantagens e desvantagens entre os dois tipos de amplificadores. Além disso, cada
músico conseguirá atingir o seu timbre com um determinado tipo e modelo (transistorizado
ou valvulado) tendo espaço para ambos no nosso mercado.

Para facilitar o trabalho com as válvulas, quando as mesmas queimam, a sua troca
pode ser realizada com facilidade já que elas sempre são instaladas através de soquetes.
Existem diferentes tipos de soquetes conforme a pinagem da válvula.

Vários foram os tipos de válvulas criadas ao longo da sua evolução, porém somente
falaremos dos seguintes tipos:
- Diodos
- Triodos
- Tetrodos
- Pentodos

Os outros tipos não são muito utilizados no áudio e possuem aplicações bem mais
específicas.

O princípio do funcionamento da válvula foi descoberto sem querer por Thomas Edson
muitos anos antes da invenção da válvula. Somente anos depois um outro cientista viu
aplicação nessa descoberta, sendo criado então o primeiro tipo de válvula, o diodo. A
descoberta de Thomas Edson, o chamado efeito Edson, diz que um elemento quando
aquecido é capaz de emitir elétrons. É por isso que uma válvula possui um elemento
incandescente que precisa estar aquecido para funcionar. Esse elemento é o filamento da
válvula. Os filamentos da válvula podem ser alimentados com diferentes tensões
dependendo do modelo. Porém a tensão mais comum é a de 6,3 Volts. O filamento é
chamado de catodo e a válvula pode ser de aquecimento direto (válvulas muito antigas) ou
ter um catodo separado do filamento, no caso será uma válvula de aquecimento indireto.

A válvula diodo assim como o diodo de estado sólido, tem a característica de deixar
circular corrente somente em um único sentido. Porém, foi a partir da criação dessa
válvula que foi possível a criação de outros tipos que possuem uma característica
fundamental para o surgimento da eletrônica: elas amplificam a intensidade de um sinal
que foi aplicado em sua entrada.
Abaixo temos a simbologia de uma válvula triodo de aquecimento indireto. Ela é
denominada triodo, pois possui em seu interior 3 elementos (sem contar o filamento).

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Grade

Placa

Catodo
Filamento

A válvula tetrodo teve o acréscimo de uma nova placa denominada Grade de


Blindagem.
Já a válvula pentodo como o nome diz, possui cinco elementos e teve a adição de uma
nova placa chamada de Grade Supressora. Essas duas últimas grades adicionadas
tiveram papéis fundamentais para que a válvula pudesse trabalhar adequadamente em
outras aplicações como por exemplo, radiofrequência.

Existem válvulas como a 12AX7, que no seu interior existe mais de uma válvula. Nesse
caso são dois triodos dentro de um mesmo invólucro de vidro. Antigamente fabricavam
válvulas, que em um mesmo invólucro, triodo e pentodo conviviam harmoniosamente. A
12AX7 é a válvula que será usada para montarmos o nosso pedal valvulado. Veja abaixo
parte do datasheet da 12AX7. Na internet podemos encontrar facilmente o datasheet para
várias válvulas assim como outros componentes eletrônicos. Eles nos informam os
parâmetros específicos de cada um dos componentes, como tensão de trabalho, corrente
e potência, por exemplo.

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As válvulas precisam também de uma tensão mais elevada para funcionar. Essas
tensões se situam em torno de 200 Volts até cerca de 350 Volts dependendo do tipo da
válvula. Para conseguirmos essas altas tensões usamos transformadores especiais que
utilizando os 127 Volts da tomada residencial elevam a tensão até os valores que
precisamos. Os amplificadores valvulados também precisam de um outro tipo de
transformador chamado de transformador de saída. Esse transformador é utilizado para
formar um perfeito casamento de impedância na saída dos amplificadores valvulados (alta
impedância), com os alto-falantes que possuem uma impedância muito baixa.
Porém aqui montaremos um circuito muito mais simples, que não usa altas tensões e
nem transformadores de saída. Assim podemos trabalhar de forma segura com a válvula
usando uma tensão de 12 Volts que alimentará o seu filamento e também o circuito
amplificador. Isso permite a montagem desse circuito inclusive por pessoas iniciantes na
área da eletrônica. A forma de funcionamento da válvula é a mesma, porém com uma
baixa tensão. Como não ligaremos a saída diretamente em um alto-falante, não há
necessidade de usarmos transformadores de saída o que torna o projeto mais barato
ainda.

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   !!! – Ao trabalhar com circuitos valvulados de alta tensão todo cuidado é


pouco. As tensões de trabalho são sempre elevadas, da ordem de mais de 300 Volts. Um
choque desses dependendo das circunstâncias pode até levar à morte. Cuidado, muita
atenção.

Montando o Circuito do Pedal Valvulado

A seguir temos todos os componentes que precisaremos para montar o pedal de


distorção.

2 capacitores eletrolíticos 2 capacitores de poliéster de


2 plugues P10 fêmea.
de 200 µF. 0,022 µF.

1 plugue P2 fêmea.
1 resistor de 1 MΩ (marrom,
preto e verde)
1 resistor de 470 kΩ (amarelo,
violeta e amarelo) 1 C.I. 7812
1 resistor de 1 kΩ (marrom,
preto e vermelho)

1 potenciômetro de 50kΩ. 1 LED no soquete.


1 válvula triodo 12AX7.

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1 Knob de plástico 1 soquete para a válvula 12AX7,


1 chave DPDT

1 chave H-H. 1 dissipador de calor para o 7812. Fios para a ligação.

1 Fonte de
alimentação–Eliminador
de pilhas – 12V x 1A

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Funcionamento em blocos do pedal:

127 Volts - Tomada


Atenção: Como o circuito é valvulado a chave
DPDT não deve em hipótese alguma desligar a
alimentação do filamento da válvula quando a
mesmo for acionada. Caso aconteça ela pode
demorar cerca de 10 segundos para voltar a
Fonte de aquecer e o sendo assim o som só iniciará
Alimentação decorrido esse tempo.
12 Volts

LED indicador de que o


pedal está ligado.
PEDAL
VALVULADO
Entrada - Guitarra Saída - Amplificador

Knob para o controle


da distorção

Chave DPDT – Liga


e Desliga o efeito.

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Diagrama do Pedal Valvulado

LED 1 kΩ + 12 Volts

Chave H-H

470 kΩ 0,022 µF Saída


Amplificador
1
Entrada 0,022 µF
Guitarra 2
½ 12AX7

3
1 MΩ
50 kΩ lin

Obs: O filamento da válvula a ser ligado em 12 Volts corresponde aos pinos 4


e 5.

Lista de Componentes:
- 1 válvula triodo 12AX7;
- 2 capacitores de 0,022 µF de poliéster;
- 1 resistor de 1 MΩ x 1/4 Watt (marrom, preto, verde);
- 1 resistor de 1 kΩ x 1/4 Watt (marrom, preto, vermelho);
- 1 resistor de 470 kΩ x 1/4 Watt (amarelo, violeta, amarelo);
- 1 potenciômetro de 50 kΩ Linear;
- 1 chave H-H;
- 1 LED;
- 1 soquete 9 pinos de para a válvula;
- 1 fonte de alimentação 12 Volts x 1A – tipo eliminador de pilhas;
- 2 capacitores eletrolíticos de 2.200 µF x 25 Volts;
- 1 regulador de tensão 7812;

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Pinagem da válvula 12AX7

A contagem dos pinos deve ser feita colocando-se a válvula de cabeça para
baixo e a partir do espaço entre os pinos contamos no sentido anti-horário.

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Ligação da Chave DPDT

A chave DPDT é responsável por permitir tocarmos a guitarra sem o efeito da


distorção ou com o efeito. Assim essa chave cria um by-pass no circuito. A sua
ligação é muito simples. Veja abaixo a estrutura interna desse tipo de chave.

Chave DPDT vista por baixo com uma visão interna.

Lâminas de metal. Com o


pressionar da chave elas
se movem verticalmente
ocupando a posição
pontilhada.

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Diagrama da Fonte de Alimentação

A fonte de alimentação que usaremos para alimentar o pedal é uma fonte comprada
pronta do tipo eliminador de pilhas. Também podem ser usadas pilhas. No caso com 8
pilhas temos 12 Volts para alimentar o circuito. Caso sejam usadas pilhas totalizando 12
Volts, o circuito integrado regulador de tensão (7812) poderá ser eliminado. É sempre
interessante medir a saída da fonte de alimentação que você tenha em casa para esse
uso. Verifique se a mesma tem 12 Volts na saída. Caso seja uma fonte estabilizada, o
regulador 7812 também pode ser eliminado nessa situação. O mesmo trata-se de um
recurso interessante para ser lançado mão, caso sua fonte não seja estabilizada ou tenha
uma saída maior que 12 Volts (até o limite de 30 Volts). Ou seja, mesmo que você entre
com até 30 Volts, o regulador 7812 estabiliza em 12 Volts a saída. Segundo o fabricante o
ideal é que a tensão de entrada do 7812 seja de pelo menos 14 Volts (até cerca de 30 V).
No caso de usarmos pilhas, também podemos substituir os dois capacitores
eletrolíticos de 2.200 µF por somente 1 de 100 µF, já que as pilhas são fontes de corrente
contínua e não geram roncos oriundos do 60 Hz da rede elétrica.

7812

2 x 2.200 µF
12 Volts
Pilhas ou
Fonte

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Sequência de fotos da montagem:

Com a barra Sindal em mãos começamos colocando o capacitor poliéster de


0,022µF e o resistor de 1 MΩ (marrom, preto e verde).

Veja na imagem abaixo o soquete da válvula 12AX7. Esse é um soquete de


fenolite, mas você também encontra de porcelana.

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Na imagem abaixo foi colocado o potenciômetro usando somente dois fios. Já


foram inseridos também 2 fios dos terminais da válvula. São os pinos 2 e 3
respectivamente.

2 3

Agora é feita a inserção do resistor de 470 kΩ (amarelo, violeta, amarelo). No


detalhe, os pinos 2 e 3 da válvula.

2 3

Fios do potenciômetro

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Na imagem abaixo mais um pino da válvula foi ligado, o 1.

2 1
3

Agora colocamos o outro capacitor de poliéster – 0,022µF. Veja que o mesmo


foi ligado junto ao terminal 1 da válvula.

3
1

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Após a inserção do capacitor, vemos a imagem completa do circuito até o


momento.

3
2

Mais um terminal da válvula foi inserido na Sindal, o pino 4 que faz parte de um
dos terminais do filamento da válvula. Nesse mesmo borne da Sindal deve ser
ligado mais um fio que corresponde ao positivo da alimentação. Ainda nessa
foto foi ligado um fio que corresponde ao pino 5 da válvula. Esse será
alimentado pelo negativo da alimentação.

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

4
1 2
5

Abaixo temos uma Sindal separada que usaremos para montar a nossa fonte
de alimentação. Abaixo temos o 7812, que é um circuito integrado regulador de
tensão.

Na imagem a seguir temos o interruptor ligado ao plugue da entrada da fonte


de alimentação.

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Agora ligamos o interruptor e o plugue na Sindal. Veja que somente um dos


fios foi ligado, o vermelho (positivo), que veio da fonte de alimentação. Acima
podemos ver a ponta desse fio vermelho ainda sem ligação.

Mais terminais ligados na Sindal. Agora ligamos o fio que vem da fonte,
negativo no terminal central do C.I. (7812). Esse fio antes passou pelo
interruptor.

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Na imagem abaixo o capacitor de 1000 µF foi inserido. Caso desejemos


colocar mais capacitores eletrolíticos na fonte, devemos colocá-los em paralelo
com esse, sempre observando a sua polaridade.

Detalhe dos dois capacitores colocados em paralelo na fonte de alimentação.


Veja que foram retirados dois fios, um vermelho e outro violeta. São
respectivamente positivo e negativo que agora podem já alimentar o circuito do
pedal.

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Saída - Positivo

Saída - Negativo

Abaixo o detalhe dos plugues P10 de entrada e saída.

Veja que a ponta de cada um dos plugues P10 foi ligada uma na outra.

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Na imagem abaixo temos a inserção da chave DPDT na barra Sindal. Os pinos


numerados de 1 a 5 correspondem aos terminais da válvula. O positivo da
fonte de alimentação (Sindal com o 7812) deve ser ligado também no mesmo
borne do pino 4 da válvula. O negativo deve ser ligado no mesmo borne do
pino 5 da válvula. Repare nas setas vermelha e preta.

3 5

Na imagem abaixo temos todo o circuito montado.

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Após montado o pedal, coloque-o em uma caixinha de preferência metálica.


Ligue em um ponto da caixa de metal um fio e a outra extremidade no negativo
da alimentação do pedal, seja da fonte externa ou pilhas. Isso evitará que o seu
pedal capte ruídos da rede elétrica conforme mencionado no início da apostila.
Caso a sua caixa seja de plástico, blinde-a internamente criando uma
superfície metálica. O meio mais simples de fazer isso é usando folhas de
papel alumínio. Para facilitar use fita dupla face. É claro que existem outros
elementos rígidos metálicos que podem ser usados nessa tarefa também,
como a fita adesiva metalizada própria para essa função.

Em caráter experimental com a intenção de mostrar aos alunos, aparafusei


todo o circuito em uma base de madeira conforme imagem abaixo:

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

A mesma imagem, porém ampliada.

É isso. Bom som e divirta-se!

Abraço, Baroni

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Monte um Pedal Valvulado de Baixa Tensão – Alex Baroni

Sobre o Autor

Meu nome é Alex Baroni e sou aficionado por eletrônica desde criança.
Visite meu site no YouTube chamado Curso Baroni. Inscreva-se e fique sempre
por dentro dos novos vídeos publicados.
http://www.youtube.com/user/cursobaroni?sub_confirmation=1

Esse mesmo material pode também ser encontrado em meu site através do
link:
https://cursobaroni.com.br/apostila_pedal_valvulado/apostila_pedal_valvulado.pdf

Visite também.
http://www.cursobaroni.com.br

Esses dois vídeos meus tratam especificamente do circuito que foi aqui
demonstrado em detalhes. Lá tem inclusive o som dele. São vídeos bem
antigos, por isso não ligue para a qualidade da imagem. Dá uma conferida.
https://youtu.be/Df4Tpmjnib8?sub_confirmation=1
https://youtu.be/Df4Tpmjnib8?sub_confirmation=1

Referências Bibliográficas:
Otávio Markus. Circuitos com Diodos e Transistores. Editora Érica.

Van Valkenburgh, Nooger & Neville. Eletrônica Básica Vol I e II. Ao Livro Técnico S/A.

Otávio Markus. Circuitos Elétricos de Corrente Contínua e Alternada. Editora Érica.

Almir Wirth. Eletricidade e Eletrônica Básica. Editora Alta Books.

Newton C. Braga. Circuitos e Informações Vol II, V e VI. Editora Saber.

Newton C. Braga. Eletrônica Total (Periódicos).

Augusto Benchimol. Uma Breve História da Eletrônica. Editora Interciência.

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