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DIREITOS HUMANOS

DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DE SP

2018
Sumário
1. INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS..................................................................................1
1.1 Conceito.............................................................................................................................1
1.2 Terminologia......................................................................................................................2
1.3 Amplitude...........................................................................................................................2
1.4 Fundamento e conteúdo....................................................................................................2
1.5 Características....................................................................................................................3
1.6 Interpretação......................................................................................................................3
2. RESPONSABILIDADE DO ESTADO E OS DIREITOS HUMANOS...................................................4
2.1 Conceito de responsabilidade internacional......................................................................4
2.2 Finalidades da responsabilidade internacional...................................................................4
2.3 Características da responsabilidade internacional.............................................................5
2.4 Natureza jurídica da responsabilidade internacional.........................................................5
2.5 Obrigações erga omnes e normas de jus cogens................................................................5
2.6 Responsabilidade no sistema interamericano de direitos humanos..................................6
3. GERAÇÕES DE DIREITO.............................................................................................................7
3.1 Considerações Iniciais.........................................................................................................7
3.2 Gerações de Direitos Humanos..........................................................................................7
3.3 As gerações de direitos na jurisprudência do STF...............................................................8
3.4 Críticas ao sistema geracional............................................................................................8
1. INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

1.1 Conceito

Quando se fala em Direitos Humanos, se fala em proteção de direitos no


plano internacional. Quando se fala em proteção de direitos no plano
interno, se fala em proteção dos Direitos Fundamentais.

Direito Humanos é um conceito que provém do Direito Internacional


Público, são os direitos protegidos por tratados e costumes
internacionais e reclamados em instâncias internacionais de direitos
humanos (sistema da ONU e sistemas regionais de proteção – Corte
Europeia de DH, Corte Interamericana de DH, Corte Africana de DH).

Os Direitos Humanos são normas internacionais que protegem os


direitos dos indivíduos (que estão nos Estados que ratificaram o
instrumento protetivo, mesmo que não sejam nacionais daquele país),
aos quais os Estados se submetem.

O que são Direitos Humanos? São direitos básicos, imprescindíveis


para a concretização dos Direitos Humanos.

1.2 Terminologia

Discute-se na doutrina a respeito da terminologia correta para designar os direitos


essenciais a pessoa humana.

A- Direitos do Homem: são aqueles que não estão escritos ou


inscritos, quer em textos internos, quer internacionais. Aceitos como
existentes, mas não positivados.

Observação: Não confundir, pois, em francês, por uma questão da


língua, ao falar em “droit de l’homme” se está referindo aos direitos
humanos.

B- Direitos fundamentais: é uma expressão afeta ao direito


constitucional, interno. O constitucionalismo moderno aponta como
dois pilares fundamentais tanto a forma e organização do Estado, como
os direitos fundamentais.

Atenção: Direitos humanos tem maior amplitude que os direitos


fundamentais.

C- Direitos Humanos: Após a II Guerra Mundial, muitos direitos


passaram a ser protegidos em Tratados Internacionais, quando ganham
o nome de Direitos Humanos. É uma expressão afeta, portanto, ao
direito internacional público e aos tratados internacionais de proteção.

Observação: A CF/88 utilizou de forma tecnicamente correta as


terminações direitos fundamentais e direitos humanos.

Antologicamente não há distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais. Os


Direitos Fundamentais estão positivados no ordenamento jurídico de um determinado
Estado. Já os direitos Humanos estão positivados numa ordem internacional.

1.3 Amplitude

A- Direitos humanos (maior): é expressão que tem maior amplitude.


Se um direito é catalogado como direitos humanos, todas as pessoas
tem direito a essa proteção.

Portanto, é importante destacar que os direitos humanos não podem ser divididos,
mesmo escritos em separado. Eles dependem uns dos outros. Valem para todas as
pessoas do mundo.

B- Direitos fundamentais (menor): tem menor amplitude, pois pode


ser restringidos, por exemplo, aos estrangeiros (exemplo dos
estrangeiros que não votam no Brasil).

C- Distinção entre direitos e garantias

 Direitos: são normas que declaram a existência de interesse, ou seja, são normas
declaratórias;

 Garantias: são normas que asseguram o exercício do interesse, ou seja, são normas
assecuratórias.

Ressalta-se que garantias não podem ser confundidas com remédio constitucional. Esse
instrumento processual que tem por objetivo assegurar o exercício de um direito. Logo,
remédio constitucional é um garantia, mas nem toda garantia é remédio constitucional.

1.4 Fundamento e conteúdo

Hodiernamente vivemos uma crise de fundamentação e legitimidade dos Direitos


Humanos, onde em nome da segurança jurídica e em nome da mundialização do capital
e das esferas produtivas, direitos são desrespeitados e não cumpridos.

A- Inviolabilidade da pessoa: todas as pessoas são invioláveis, os seres


humanos são invioláveis em sua dignidade.
B- Autonomia da pessoa: os seres humanos são seres autônomos, da
sua vida privada ou dentro de sua esfera coletiva.

C- Ética: a fundamentação dos Direitos Humanos não pode ser


somente jurídica, ela também deve ser baseada em valores
(fundamentação axiológica).

D- Dignidade da pessoa: todas as pessoas nascem livres e iguais em


sua dignidade de direitos. Após a II Guerra Mundial, cria-se o Tribunal
de Nuremberg para punir atrocidades cometidas pelas autoridades
alemãs na guerra, bem como o Tribunal de Tóquio para punir
autoridades do Japão imperial, que violaram a dignidade de diversos
grupos sociais.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, estabelece,


em seu art. 11, §1º, que “Toda pessoa humana tem direito ao
respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua
dignidade”.

O art. 1, inciso III da CF/88 declara a dignidade da pessoa humana é um fundamento da


República Federativa do Brasil. Trata-se de uma diretriz a ser observada na criação,
interpretação e aplicação das Normas Jurídicas.

A dignidade da pessoa humana reporta-se a todas e cada uma das pessoas e é a


dignidade da pessoa individual e concreta.

A dignidade é da pessoa enquanto homem e enquanto mulher.

Cada pessoa vive em relação comunitária, o que implica o reconhecimento por cada
pessoa de igual dignidade das demais pessoas.

Cada pessoa vive em relação comunitária, mas a dignidade que possui é dela mesma, e
não da situação em si.

O primado da pessoa e o do ser, não o do ter, a liberdade prevalece sobre a propriedade.

Só a dignidade justifica a procura da qualidade de vida.

A proteção da dignidade das pessoas está para além da cidadania e postula uma visão
universalista da atribuição dos direitos.

A dignidade pressupões a autonomia vital da pessoas, a sua autodeterminação


relativamente ao Estado, às demais entidades públicas e às outras pessoas.

A Filosofia Kantiana mostra que o homem, como ser racional, existe como fim em si,
não simplesmente como meio; enquanto os seres desprovidos de razão têm um valor
relativo e condicionado (ao de meios), eis porque são chamados de “coisas”; ao
contrário, os seres racionais são chamados de pessoas, porque sua natureza já os designa
como fim em si, ou seja, como algo que não pode ser empregado simplesmente como
meio e consequentemente limita na mesma proporção o nosso arbítrio, por ser um
objeto de respeito. E assim se revela como um valor absoluto, porque a natureza
racional existe como fim em si mesmo.

Conceitualmente, os direitos humanos são os direitos protegidos pela ordem


internacional contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às
pessoas sujeitas à sua jurisdição. Por sua vez, os direitos fundamentais são afetos à
proteção interna dos direitos dos cidadãos, os quais encontram-se positivados nos textos
constitucionais contemporâneos.

1.5 Característica

A- Historicidade: Os Direitos Humanos vão sendo construídos e


modificados ao longo da história. Os direitos humanos começaram a
partir dos direitos sociais, em 1919 (OIT), e depois, em 1966, com o
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. Os Direitos Humanos
manifestam-se, são variáveis e relativos a cada contexto histórico.

B- Universalidade: todas as pessoas são iguais em dignidade e direitos.

Com o processo de internacionalização dos direitos humanos,


compreendido como um fenômeno do pós guerra 1945, houve a
necessidade premente de se formaliza, em diversas cartas, declarações e
pactos internacionais, um rol mínimo de direitos, individuais e coletvos,
que os Estados e as Organizações Internacionais se comprometem a
respeitar, manter e promover.

Pela adoção do novo paradigma, o qual situa a tutela dos direitos


humanos como tema de legítimo interesse internacional, foi necessário
restringir o conceito de soberania estatal, a qual se caracterizava, até
então, por sua natureza ilimitada.

C- Essencialidade: é da essência do homem, sob o aspecto material,


pois são da essência, e formal, pois vem antes da própria organização
do Estado.

D- Irrenunciabilidade: significa que mesmo a autorização do


beneficiário não convalida a violação desses direitos.

E- Inalienáveis: não podem ser transferidos, cedidos ou negociados,


gratuita ou onerosamente.

F- Inexauribilidade: são inesgotáveis (art. 5º, § 2º da CF).


Art. 5º, § 2º, da CF/88 “Os direitos e garantias expressos
nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte”.

a) Imprescritibilidade: não prescrevem, podem ser alegados em


qualquer tempo;

b) Vedação do retrocesso (efeito cliquet): não podem retroceder,


retroagir. A amplitude da proteção não pode diminuir. Possível lei
menos favorável não pode derrogar lei anterior mais favorável.

1.6 Legitimação dos Direitos Humanos

O problema da legitimação dos Direitos Humanos encontra-se sustentada através da


teoria política, que deu a questão da legitimidade uma dupla resposta, através da
soberania popular e dos direitos humanos.

O princípio da soberania popular: estabelece um procedimento que em razão de suas


propriedades democráticas traduz direitos fundados na autonomia pública do cidadão.

Os Direitos Clássicos asseguram aos cidadãos, de um determinada sociedade a vida, a


liberdade privada, isto é o espaço para que o cidadão desenvolva seu próprio plano de
vida.

Quais são os direitos fundamentais que cidadãos livre e iguais devem outorgar-se
reciprocamente se querem regular legitimamente sua vida em comum através do
direito positivo?

A soberania popular cria um sistema que vai garantir esses direitos. Portanto, há um
nexo entre a soberania popular é o exercício dos direitos políticos e sociais.

1.7 Interpretação

A- Gramática dos direitos humanos: Todos os instrumentos protetivos


dialogam entre si formando a gramática dos direitos humanos (tratados,
costumes, leis internas, normas constitucionais, etc.).

B- Interpretação conforme os direitos humanos: As leis internas


devem ser interpretadas conforme os Direitos Humanos e não o inverso.
2. RESPONSABILIDADE DO ESTADO E OS DIREITOS HUMANOS

2.1 Conceito de responsabilidade internacional

Responsabilidade internacional é aquela que visa reparar os prejuízos


causados pelos atos dos Estados que violam direitos das pessoas. É o
instituto jurídico que faz ou pretende fazer com que o Estado repare as
violações de direitos humanos cometidas aos cidadãos que estão em seu
território, independentemente de sua nacionalidade. Visa, também,
coibir os Estados da prática de outras violações de direitos.

2.2 Finalidades da responsabilidade internacional

• Preventiva: quando um Estado é condenado, os demais acabam por


ser preventivamente informados da conduta condenada como violadora.
Forma os precedentes e a jurisprudência. Diversos países já aplicam os
precedentes da Corte Interamericana, enquanto o Brasil apenas agora
inicia essa prática.

• Repressiva: na prática é a condenação do Estado e a exigência de


reparação do dano.

2.3 Características da responsabilidade internacional

• Reparação dos prejuízos: uma das finalidades é reparar as vítimas.


por vezes pode não ser uma reparação pecuniária, pois há várias formas
de reparação, como a moral e a simbólica.

• Finalidade educativa: quando há uma condenação a um


determinado país, os demais que estão sujeitos à jurisdição daquele
organismo acabam por ser educados a não realizar as mesmas práticas.

• O instituto desconhece a responsabilidade penal (TPI): a


responsabilidade no plano do direito internacional dos direitos
humanos não conhece a responsabilidade penal, o processo se dá
contra uma pessoa jurídica de direito público externo.

O Estado não pode processar um indivíduo, nem indivíduos uns aos


outros. Apenas os Estados podem ser réus. Não há meio técnico de
responsabilizar criminalmente um indivíduo no sistema regional de
proteção dos Direitos Humanos.

Os sistemas regionais contam apenas com tribunais cíveis, ao passo


que no plano geral há o TPI, que é um tribunal criminal de jurisdição
global.

A proteção dos Direitos Humanos, portanto, se dá por meio dos


sistemas regionais, que são três no mundo: a Corte Europeia (década de
1950), a Corte Interamericana (1969) e a Corte Africana de Direitos
Humanos (1986).

2.4 Natureza jurídica da responsabilidade internacional

A- Doutrina subjetivista (depende da vontade do Estado): depende


da vontade do Estado a prática do ato. Não haveria que se falar em
responsabilidade se não houve vontade de praticar o ato. É a doutrina
que prevalece em vários Estados.

Deve, assim, haver a demonstração do nexo causal, inclusive perante os


sistemas de proteção.

B- Doutrina objetivista: a responsabilização independe da vontade do


Estado. A responsabilidade objetiva prevalece, contudo, quando há
questões graves, evolvendo testes nucleares, armas, etc., que são
deflagradas pelos Estados que não concorrem para a finalização do ato,
mas concorrem na gênese daquele tipo de ato, quando autoriza ou cede
território para a prática de testes, etc. o direito internacional público,
sticto sensu, admite a responsabilização objetiva do Estado.

2.5 Obrigações erga omnes e normas de jus cogens

Fica patente a responsabilidade quando há violação, por exemplo, das


normas de jus cogens. Os tribunais internacionais, no entanto, tem
receio de qualificar uma norma como sendo de jus cogens, por seu
caráter imperativo.

Isso leva os tribunais, muitas vezes, a classificarem essas normas como


obrigações erga omnes, que são similares ao jus cogens, mas podem ser
derrogadas.

• Obrigações erga omnes: são obrigações a todos impostas, que os


Estados devem respeitar enquanto em vigor, porém, diferentemente do
jus cogens, que só pode ser revogado por norma de igual caráter, são
derrogáveis pela vontade dos Estados.

Exemplo: Direito de passagem inocente (transito de aeronaves).


• Normas de jus cogens: são normas imperativas de direito
internacional geral, das quais nenhuma derrogação é possível e que só
podem ser revogáveis por outra norma da mesma natureza. São a todos
impostas, de modo inderrogável, ou derrogável apenas por norma igual,
que a reforme positivamente.

2.6 Responsabilidade no sistema interamericano de direitos humanos

O sistema interamericano tem uma diferença do sistema europeu, o


qual serviu de modelo para o primeiro.

Desde o Protocolo nº 11 de 1998, no sistema europeu os indivíduos


peticionam diretamente na Corte Europeia. Isso provocou um grande
numero de demandas perante a Corte, já que foi retirado o órgão que
fazia um juízo de admissibilidade das demandas, o que agora é feito
diretamente pelos juízes.

O sistema interamericano continua contando com dois órgãos.

• Comissão interamericana: a comissão faz o juízo de admissibilidade


da demanda, e se entender viável a reclamação, ela deflagra uma ação
na Corte Interamericana.

• Corte Interamericana: realiza o julgamento das demandas levadas a


ela pela Comissão ou, ainda, pelos Estados, que podem peticionar
diretamente na Corte contra outros Estados.
3. GERAÇÕES DE DIREITO

3.1 Considerações Iniciais

Com relação às denominadas “gerações de direitos”, ao ser redigida a


Declaração Universal dos Direitos Humanos, divulgou-se a ideia de que
esses direitos seriam sucessíveis em gerações. Tomando-se por base o
lema da Revolução Francesa “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”,
temos que essas gerações seriam, respectivamente, os direitos civis e
políticos, os direitos sociais e os direitos da coletividade.

Contudo, no plano do direito internacional, essa noção é historicamente


incorreta e juridicamente infundada.

Há uma critica com relação ao uso da expressão “geração de direitos”,


pois traz a ideia de sucessão, de substituição. Mais modernamente,
começou-se a usar “dimensão de direitos”, pois os grupos de direitos se
interligariam.

No constitucionalismo contemporâneo essa ideia é mais aceita,


contudo, no direito internacional dos Direitos Humanos não ocorreu da
mesma maneira.

3.2 Gerações de Direitos Humanos

A- Primeira geração (liberdade): são os direitos civis e políticos,


conquista histórica do século 18.

Nasceram se contrapondo ao Estado absoluto, pessoas buscavam


liberdade lato sensu (ninguém pode ser preso ou privado de sua
liberdade sem o devido processo legal).

Pacto Internacional dos direitos Civis e Políticos concluído em Nova


Iorque, em 1966, regulamenta esses direitos no plano internacional.

B- Segunda geração (igualdade): são os direitos econômicos, sociais e


culturais.

Regulamentados internacionalmente no Pacto Internacional dos Direitos


Econômicos, Sociais e Culturais, também em Nova Iorque, 1966.

C-Terceira geração (fraternidade): trata da proteção aos direitos de


grupos ou coletividades, ao meio ambiente. Em 1972, houve a
Convenção de Estocolmo; em 1992, Convenção do Rio de Janeiro;
Johannesburgo; e Rio +20, em 2012.

A partir desses encontros surgiram diversas declarações e tratados


internacionais tratando do direito ambiental.

Não havia, ate então, essa regulamentação, que se desenvolveu de


maneira autônoma para colmatar essa lacuna nas normas
internacionais.

D- Quarta geração (solidariedade): de acordo com Paulo Bonavides,


trata-se dos direitos de comunicação, à proteção dos espaços cósmicos,
etc., e estão ainda em construção no plano dos estados.

No plano internacional é, ainda, bastante incipiente essa discussão.

3.3 As gerações de direitos na jurisprudência do STF

No plano do direito constitucional a expressão geração e dimensão de


direitos tem sido aceita e utilizada (uso de “dimensão” é mais
adequado).

No plano do direito internacional essas expressões são criticadas, pois


não houve uma sucessão na instituição desses direitos, mas foi uma
ideia criada por ocasião da elaboração da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, e que foi aceita pelos países.

O Brasil aceita a terminologia (para se considerar que determinado


assunto é aceito pela jurisprudência, ele deve estar na ementa do
julgado).

O STF entende que o direito ao meio ambiente como direito de “terceira


geração”. na discussão sobre a inconstitucionalidade da “briga de
galos”, se afirmou a violação a direitos de “terceira geração”.

3.4 Críticas ao sistema geracional

O Sistema Geracional transmite a falsa ideia de sucessão, de que uma


geração substituiria a anterior, quando na verdade, há um cumulativo
na proteção. Os direitos podem surgir em ordem aleatória, unindo-se
para garantir uma maior proteção.

O Professor Cançado Trindade entende que o sistema geracional é


historicamente incorreto e juridicamente infundado. Não tem
fundamento jurídico pois não há indícios jurídicos de substituição dos
direitos, ou de hierarquia entre eles.
Historicamente também não é historicamente correto. Os primeiros
precedentes da proteção de direitos foram a Liga das Nações, o direito
humanitário e a Organização Internacional do Trabalho (criada pelo
tratado de Versailles em 1919, que depois foi incorporado pelo sistema
da ONU).

Isso significa que teriam sido assegurados, primeiramente, direitos


trabalhistas, os quais fariam parte de uma segunda geração de direitos.
Antes mesmo dos direitos civis e políticos, supostamente de primeira
geração, assegurados em instrumento internacional apenas em 1966.

No plano internacional é mais acurado tratar dos direitos em


concomitância.
4. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

4.1 Precedentes históricos

Direito internacional dos direitos humanos é um novo ramo do direito


internacional, que já conta com princípios próprios e regras totalmente
autônomas do direito internacional clássico, westfaliano.

A doutrina elenca três precedentes históricos que são a base do


processo de internacionalização dos direitos humanos.

A- Direito humanitário: não se confunde com os direitos humanos,


pois se refere ao direito de guerra, que se estabelece nas situações de
conflitos internacionais.

Busca proteger direitos das pessoas para além do domínio reservado do


Estado (que deixa ao estado uma margem de apreciação nacional para
adotar determinada conduta na seara internacional).

Percebeu-se a necessidade de implementar uma neutralidade protetiva


aos cidadãos dos estados beligerantes.

As Convenções de Genebra sobre direito humanitário é que


regulamentam e dão suporte ao direito humanitário em caso de guerra.

B- Liga das Nações (ou Sociedade das Nações): criada após a I Guerra
Mundial, antecedeu a ONU, com a finalidade de impedir a eclosão de
outros conflitos armados no plano internacional. Ainda que não tenha
logrado êxito em sua missão institucional, ela buscou proteger direitos
humanos para além do domínio dos estados.

Foi no âmbito de sua atuação que se estabeleceu o princípio de que o


estado deve proteger direitos humanos independentemente de qualquer
condição da pessoa.

C- Convenções da Organização Internacional do Trabalho: criada em


capítulo do Tratado de Versailles com escritório, hoje Organização
Internacional do Trabalho, a fim de delimitar standards mínimos de
proteção ao trabalho no mundo. As convenções da Organização do
Trabalho, são aplicadas pelos estados, incluindo o Brasil.

Esse caso se difere dos anteriores, pois aqui são identificados os


sujeitos de direito (gestante, trabalhador submetido a trabalho
insalubre, etc.).

Observação: A Carta Internacional dos Direitos Humanos não é


precedente histórico, pois representa o sistema já formado. Sistema este
composto por: Carta das Nações Unidas, Declaração Universal dos
Direitos Humanos, Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

4.2 Contribuições dos precedentes

A- Indivíduo como sujeito de direito internacional: no passado,


apenas os estados eram sujeitos de direito internacional.
Posteriormente as organizações internacionais. Os indivíduos passam,
através dos tratados de direitos humanos, a ter direitos no plano
internacional contra os próprios estados e a vindicá-los perante cortes e
tribunais internacionais.

Nascimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos: nasce como


disciplina autônoma, a partir de quando passa a ser flexibilizada a
soberania internacional dos estados. O conceito dado por Jean Bodin de
que a soberania é o poder absoluto, ilimitado e ilimitável do estado,
acima do qual nenhum outro pode ter existência é, portanto
flexibilizado.

B- Flexibilização da soberania: para alguns doutrinadores a soberania


é um conceito meramente interno, pois não haveria poder ilimitado na
relação entre iguais no plano externo, sendo ele submisso a tribunais e
normas internacionais.

4.3 Emergência do direito internacional dos direitos humanos

A- Direito do pós-guerra: o Direito Internacional dos Direitos Humanos


é o direito pós 2ª guerra. Celso Lafer aponta que, se a 2ª guerra
representou a ruptura dos direitos humanos, o pós-guerra representou
a reconstrução dos desses direitos.

B- Legado do holocausto: o horror causado pelo holocausto levou a


sociedade internacional a criar um sistema internacional de proteção e
uma arquitetura de proteção desses direitos para que violações dessa
natureza não viessem a se repetir.

C- “Direito a ter direitos” (Hannah Arendt): a proteção tem base,


ainda, na noção de “direito a ter direitos”, conceituada por Hannah
Arendt.

4.4 Estrutura normativa do sistema internacional de proteção aos


direitos humanos

A proteção dos direitos fundamentais, no Brasil, está baseada na nossa


CF. No Direito Internacional dos Direitos Humanos há dois tipos de
sistemas:

O sistema global ou onusiano; e o sistema regional (depende da região


do planeta).
A- Sistemas regionais: são três os sistemas regionais (interamericano,
europeu, e sistema africano), os quais são estabelecidos com base nas
peculiaridades de cada região. A Ásia e a Oceania não contam com
sistemas de proteção, assim como os países árabes.

 Sistema europeu: Convenção Europeia de 1950. É o sistema mais


experiente, com mais julgados.

 Sistema Interamericano: Convenção Americana sobre Direitos


Humanos, de 1969.

 Sistema Africano: Convenção Africana, de 1986, mas a Corte


Africana só iniciou seu funcionamento em 2002.

Observação: o Controle de Convencionalidade deve ser primariamente


exercido pelos juízes internos, especialmente pois a Corte
Interamericana tem uma limitação estrutural quanto ao número de
casos que pode apreciar. Ela detém, portanto, o controle subsidiário.
Deve se fortalecer o juiz interno que vai aplicar o controle de
convencionalidade das leis.

B- Sistema global: Estrutura da ONU é formada por seis principais


órgãos:

 Assembleia Geral: da qual participam todos os países, cada um com


direito a um voto.

 Conselho de Segurança: é formado por 15 membros, sendo 5


permanentes (EUA, Rússia, França, China, Reino Unido) e 10 não
permanentes, alterados a cada 2 anos. Resolve questões de
segurança internacional.

 Corte Internacional de Justiça: formada por 15 juízes, tem sede


em Haia e é sucessora da Corte Permanente de Justiça Internacional
da Liga das Nações. Julga as lides entre estados, com base nas
fontes do direito internacional (elencados no art. 38 do Estatuto da
Corte).

 Conselho de tutela: sistema de tutela para proteger territórios


tutelados.

 Secretariado;

 Conselho Econômico e Social (ECOSOC): é o conselho dos direitos


econômicos, sociais e culturais, no qual se busca a proteção dos
Direitos Humanos. Era composto por duas comissões: a Comissão de
Direito Internacional e a Comissão de Direitos Humanos que, em
2006, foi transformado em Conselho de Direitos Humanos e passou
a ser vinculado diretamente à Assembleia Geral.
5. AS NAÇÕES UNIDAS E A PROMOÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS

5.1 A Carta da ONU e a promoção dos direitos humanos

A Carta da ONU tem como objetivo promover os direitos humanos e


liberdades fundamentais para todos sem distinção de raça, sexo, língua
ou religião. A Carta, contudo, não define quais são esses direitos.

5.2 Direitos humanos e não ingerência em assuntos internos

Principio da não ingerência em assuntos internos, a ONU e seus


membros não podem se imiscuir em assuntos que sejam
“essencialmente internos dos Estados”.

Exemplo: A ONU não pode interferir no resultados de eleições


democráticas em um país.

Questões “essencialmente internas” não é hipótese de violação de


Direitos Humanos. Os Direitos Humanos são assunto de interesse
internacional, portanto não é matéria limitada pelo art. 2º, § 7º da Carta
da ONU.

5.3 Ausência de definição da expressão “direitos humanos e


liberdades fundamentais”

A Organização das Nações Unidas fez previsão em sua Carta dos


direitos humanos e liberdades fundamentais aos quais todos tem
direito.

Percebendo a necessidade de definir os Direitos Humanos, a ONU


reuniu um grupo de juristas para redigir um texto que identificasse tais
direitos.

A Declaração Universal de 1948, em 10 de dezembro de 1948 foi


proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, colmatando
a lacuna deixada pela Carta da ONU no que se refere à definição dos
Direitos Humanos. É composta por 30 artigos, precedidos por um
preâmbulo com sete considerandos. Trata em duas partes virtuais, de
direitos civis e políticos (do art. 1º ao 21) e dos direitos econômicos,
sociais e culturais (do art. 22 ao 30).

Os direitos considerados de terceira dimensão não foram tratados na


Declaração, pois ainda não havia discussão sobre estes no âmbito
internacional.

• Interpretação autêntica da Carta da ONU.

• Colmatação das lacunas sobre a definição de “direitos humanos”.


Observação: não foi denominada declaração “internacional”, para não
haver possibilidade de os Estados optarem por acolhê-la ou não. A
denominação “universal” evidencia caráter de jus cogens, portanto,
inderrogável pela conveniência dos estados.
6. SISTEMA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

6.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos

A- Estrutura:

Proclamada em 10 de dezembro de 1948, nasceu para colmatar a


lacuna deixada pela Carta da ONU quanto a quais seriam os direitos
humanos.

São trinta artigos precedidos de um preâmbulo (este com sete


considerandos);

A Carta adota uma divisão bipartite, não é dividida em capítulos ou


seções. Porém dá para perceber duas grandes partes simétricas que
demonstram direitos, respectivamente, civis e políticos (arts. 1º a 21), e
econômicos, sociais e culturais (do art. 22 ao 30) - (Estado liberal e
Estado social).

Categorias de direitos na Declaração: constam apenas os direitos civis e


políticos, de um lado, e direitos econômicos, sociais e culturais, de
outro. Essa estrutura deu causa ao nascimento do Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos e do Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Socias e Culturais, ambos de 1966.

É importante ressaltar que os direitos ambientais começaram a ser


discutidos a posteriori. Notadamente a partir da Convenção de
Estocolmo da qual resultou a Declaração de Estocolmo (1972).

B- Natureza jurídica: Há duas correntes que divergem acerca da


natureza jurídica da Declaração.

Uma corrente minoritária aduz que a Declaração seria soft law, isto é,
mera Carta principiológica, de caráter recomendativo e sem valor
impositivo para os estados. Isso porque não é Tratado, não houve
ratificação pelos Estados.

A maior parte da doutrina concorda que a Declaração não é Tratado,


pois nasceu de uma Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas
(AGNU). Seria, assim, norma de jus cogens, norma imperativa da qual
só é possível derrogação por outra norma da mesma categoria. Esse tipo
de norma está previsto pelos arts. 53 e 64 da Convenção de Viena sobre
o Direito dos Tratados, de 1969.

Do ponto de vista material, para a maior parte da doutrina, a


Declaração é norma de jus cogens.

Do ponto de vista formal, ela é Resolução adotada pela ONU, e não


Tratado, pois não passou pelos trâmites que um tratado deve percorrer.
Colmata lacunas da Carta da ONU no que diz respeito a quais são os
direitos humanos que a primeira aborda.

C- Relativismo e universalismo cultural: Tema complexo no direito


internacional, pois é uma declaração que se pretende universal. Para
alguns, a Declaração não pode se sobrepor a particularismos culturais
(relativistas), enquanto, para outros doutrinadores, a cultura não pode
se sobrepor a direitos humanos (universalistas).

Para Cançado Trindade, deve haver o respeito às particularidades


culturais desde que não violem direitos humanos.

Frise-se que a Declaração foi aceita por todos os estados, pois todos eles
votaram e não houve votos contrários à sua adoção, apenas algumas
abstenções.

Na Conferência de Viena de 1993 (segunda conferência de direitos


humanos) os estados acordaram que, ainda que respeite os
particularismos culturais, isso não pode dar causa à tolerância para
com violações de direitos humanos. Os estados acataram, portanto,
mais fortemente a tese universalista, reconhecendo, também, e de modo
mitigado, o relativismo.

No parágrafo 5º da Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993,


ficou redigido que todos os direitos humanos são universais,
indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. Os estados devem
tratá-los de forma justa, global, equitativa e com a mesma ênfase. E,
embora particularidades nacionais ou regionais devam ser levadas em
consideração, assim como contextos históricos, religiosos, ou culturais,
é dever dos estados promover e proteger todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos,
econômicos, culturais, etc.

D- Princípios que regem a Carta da Organização das Nações Unidas:

 Indivisibilidade: não há “gerações”, todos os direitos protegem de


maneira conjunta.

 Interdependência: um direito depende do outro, reforçando-se


mutuamente.
 Interrelacionariedade: não há dicotomia entre eles, existe interação
entre uns e outros para proporcionar uma maior proteção.

 Universalidade: todos os seres humanos são titulares dos direitos


humanos.

E- Impacto internacional e interno da Declaração:


• Impacto internacional: a Declaração tornou-se paradigma para
tratados contemporâneos de direitos humanos. Inúmeros outros
tratados de direitos humanos foram elaborados, no âmbito global e
regional, com base em suas diretrizes.

• Impacto interno: no âmbito interno houve a reprodução dos direitos


nas Constituições contemporâneas.

6.2 Pactos de Nova Iorque de 1966

A- Introdução: Denominam-se mecanismos convencionais, aqueles


provenientes de tratados e convenções de direitos humanos.

No plano onusiano, trata-se de mecanismos criados a partir dos Pactos


de 1966. Como já foi mencionado, a Carta da ONU apontou a
necessidade de proteção dos direitos humanos mas não trouxe a
materialidade desses direitos, a qual foi definida na Declaração.

Contudo, mesmo a Declaração, não apontou os mecanismos de


materialização dessas garantias, o que ocorreu apenas com a adoção
dos Pactos Internacionais sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), em 1966, em Nova
Iorque.

B- A criação dos mecanismos de proteção: Tanto o PIDCP quanto o


PIDESC são tratados internacionais, aos quais os países aderiram. Eles
criam os mecanismos de monitoramento.

No entanto, falta amparo à aplicabilidade de direitos na Declaração


Universal.

Por que dois Pactos internacionais? Por questão metodológica apenas,


foram firmados dois Pactos, para evitar que ficasse muito longo um só
instrumento.

6.3 Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos

A- Aspectos gerais: Regulamenta a primeira parte da Declaração


Universal. Foi aprovado por 106 votos a favor e nenhum contra (com 16
ausências), o que demonstra a aceitação desse rol de direitos pelos
estados.

Possui rol de direitos civis e políticos mais amplo que o da Declaração


Universal.

B- Finalidade:

 Para supervisão e monitoramento dos direitos: Relatórios estatais


temáticos submetidos ao Secretário-geral da ONU (que encaminha ao
Comitê de Direitos Humanos). Cabe ao estado relatar as ações
implementadas para a proteção dos DH. Esse mecanismo não tem
muita eficácia, pois os estados tem interesse em promover uma
imagem melhor que a realidade.

 Queixas interestatais: um estado pode peticionar relativamente a


violações perpetradas por outro estado. Contudo, nunca houve um
exemplo prático de utilização desse mecanismo, pois os estados não
tem interesse em se indispor politicamente uns com os outros.

• A possibilidade de petições individuais: foi mecanismo inserido pelo


protocolo Facultativo ao PIDCP (instrumento que teve de ser
separadamente ratificado pelos estados).

Isso ocorreu para acelerar a aceitação pelos estados dos mecanismos do


Pacto, dado que essa previsão de peticionamento individual poderia ser
um entrave à sua aceitação pelos estados.

Faculta ao Comitê (criado pelo Pacto) receber petições individuais.

Indivíduos que aleguem ser vitimas de violações de direitos humanos


por um estado-parte.

O comitê não examinará a questão se a mesma questão estiver sendo


debatida por outra instancia internacional e se o indivíduo não esgotou
os recursos internos.

Se, por exemplo, um caso já está em curso no sistema regional de


proteção, a petição não será analisada por haver litispendência
internacional.

Esgotamento dos recursos internos. Essa regra, clássica de DIP,


pressupõe que existam recursos adequados para prover o acesso à
justiça internamente.

6.4 Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

A- Finalidade: é dar juridicidade à segunda parte da Declaração, ele


visa dar operacionalidade prática aos direitos protegidos.

B- Prevê normas de caráter programático: Isto é, trata de direitos que


não tem aplicação imediata, mas programática.

Ambos os Pactos preveem obrigações aos estados, sendo que o PIDCP


prevê obrigações imediatas e o PIDESC contém normas de caráter
programático.

C- Direitos previstos: direito dos povos à autodeterminação; direito ao


desenvolvimento econômico, social e cultural; direito de homens e
mulheres à igualdade no gozo desses direitos; direito a condições de
trabalho justas e favoráveis; direito ao descanso, lazer e férias
periódicas remuneradas, etc.

D- Sistema de monitoramento: o mecanismo inicialmente previsto foi


o de relatórios (encaminhados ao Secretário-geral da ONU, que os
encaminha com cópia ao ECOSOC e agências especializadas para
análise).

Observe-se que o Pacto não previu as queixas individuais ou por outros


estados.

Em 10 de dezembro de 2008, foi finalizado o Protocolo facultativo


prevendo a possibilidade de comunicações interestatais, além de
queixas individuais. Esse protocolo ainda não está em vigor, pois ainda
há baixa adesão dos estados.

6.5 Mecanismo de Controle não convencionais de controle

A- Aspectos gerais: São mecanismos que não estão previstos em


tratados e convenções internacionais, criados pela então Comissão de
Direitos Humanos da ONU (hoje, Conselho de Direitos Humanos).

Desde o dia 10 de março de 2006 a Comissão tornou-se Conselho de


Direitos Humanos (com 47 assentos). A antiga Comissão, juntamente
com a Comissão de Direito Internacional, era diretamente vinculada ao
ECOSOC.

O atual CDH passa a ser vinculado expressamente à Assembleia Geral


da ONU, e incorpora os mecanismos criados pelo antigo Conselho.

Observação: não confundir o CDH com o Comitê de Direitos Humanos


do PIDCP.

B- Papel do Conselho de Direitos Humanos (CDH): O Conselho estabelece grupos de


trabalhos e relatorias temáticas.

Exemplo: relatoria para os direitos das mulheres; relatoria para os


refugiados na África, etc.

Não há um procedimento formal para o trabalho desses grupos e


relatorias. Há apenas uma autorização para que o Conselho atue para
investigar violações de DH, a qual não provém de tratados, mas de
Resoluções da AGNU ou do ECOSOC.

C- Resolução nº 1.235 do ECOSOC (apartheid e demais temas): Teve


por objetivo investigar a política de apartheid na África do Sul. A
metodologia utilizada para realizar essa investigação foi tida como
adequada para outras a realização de outras investigações, de outros
temas de direitos humanos.

Na prática, essa Resolução teve seu campo de aplicação ampliado,


permitindo investigação sobre a situação de direitos humanos em
qualquer país.

Depois da Resolução 1.235 questionou-se como elaborar os estudos e


relatórios de cada país sobre as violações de DH no mundo.

A resposta foi dada com a Resolução 1.503, que criou o “procedimento


confidencial”. Essa Resolução determinou a confidencialidade das
relatorias e dos grupos de trabalho sobre violações de DH em cada país.

A Subcomissão para a Prevenção da Discriminação e Proteção às


Minorias, por meio da atuação do grupo de trabalho, tem competência
para analisar as comunicações e decidir quais irão à Comissão de
Direitos Humanos, tudo de forma confidencial. O CDH realiza a
investigação e adota um relatório para dialogar com o estado.

Há necessidade de cautela na filtragem das comunicações, por lidar


com soberanias nem sempre dispostas a dialogar.

A maior sanção imposta ao estado é a divulgação do relatório, que


passa a expor a situação vexatória das violações para a sociedade
internacional.

D- Sistema de Revisão Periódica Universal (Peer Review): Estados


submetem periodicamente à ONU relatórios sobre a situação de Direitos
Humanos nos países, sob o escrutínio dos demais (“escrutínio
universal”), apresentando ações que estão sendo tomadas e seus
resultados.

Organizações não governamentais também podem apresentar relatórios


(“shadow reports”).

A Resolução 5/1 do CDH, de 18 de junho de 2007, estabeleceu o


procedimento para a revisão periódica universal, que segue da seguinte
forma:

 Estado apresenta relatório com informações;

 ONU apresenta Relatório com informações sobre o Estado em


revisão, que é um dossiê confeccionado pela ONU com base nas
contribuições recebidas da sociedade civil e organizações não
governamentais;

 Após, o estado revisado recebe perguntas e recomendações dos 47


estados revisores – os membros do CDH (que atuam com a ajuda de
um grupo de 3 estados chamado troika) –, e de observadores do CDH
durante a sessão denominada “Diálogo Interativo” realizada em
Genebra.

6.6 Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos

A- Introdução: São três os sistemas hoje em atuação no mundo: o


Sistema Europeu; o Sistema Interamericano e o Sistema Africano. São
chamados “sistemas”, pois foram criados por tratado que rege seu
funcionamento (assinado e ratificado pelos estados), é ou foi (no caso do
sistema europeu) composto por uma Comissão que recebe denúncias e
uma Corte para julgar violações de DH. Além disso, há um sistema de
peticionamento que possibilite os indivíduos a ingressar no sistema.

Para os indivíduos que se encontram em estados ligados a um dos


sistemas regionais, há a possibilidade de escolher entre peticionar
perante este ou perante o sistema global de proteção da ONU.

Observação: Na Ásia não há um sistema formado de proteção, e o


mundo Árabe possui apenas uma Carta de Direitos Humanos.

B- Sistema Europeu de Proteção dos Direitos Humanos: É pautado


na Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950, que abrange 47
países. A Corte Europeia de Direitos Humanos, com sede em
Estrasburgo, na França, é seu órgão judicante.

Observação: Não confundir com o Tribunal de Justiça da União


Europeia, de Luxemburgo, que lida com questões relativas à integração
entre os 28 países da EU. Hoje já chega a se pronunciar sobre questões
de DH, mas, a rigor, não é uma corte de DH.

 Desenvolvimento do sistema europeu:

Inicialmente havia a Comissão Europeia de Direitos Humanos, que era


o órgão responsável por realizar o juízo de admissibilidade das
demandas.

O Protocolo 11/1998 reformou a Convenção Europeia para permitir o


acesso direto à Corte pelos indivíduos dos estados membros. Em dois
anos de funcionamento do novo sistema, a Corte recebeu mais petições
que nos 40 anos anteriores em que funcionou.

A Corte faz, agora, o juízo de admissibilidade da petição e o juízo de


mérito.

A Corte Europeia desenvolveu o princípio da “margem de apreciação


nacional”, o qual não é adotado no sistema interamericano. Com base
nele, após ser reconhecida a violação pelo estado, este tem a liberdade
de buscar soluções no seu plano interno, que satisfaçam o conteúdo da
sentença.

A condenação da Corte Interamericana, por sua vez, é condena a


medidas mais específicas.

C- Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos:

 Aspectos gerais:

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também denominado


Pacto de San José, é a base do sistema interamericano, que é, segundo
seu próprio preâmbulo, “complementar e coadjuvante das jurisdições
nacionais”.

Com isso, a Convenção fortalece os juízes nacionais e atribui a estes a


condição de juízes internacionais, quando apreciam demandas
envolvendo Direitos Humanos a partir da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos. Isso porque ela não tem condições de julgar a
quantidade de demandas que chegam ao sistema.

Assim, frise-se, é equivocado dizer que a Corte realiza o controle


primário de convencionalidade. Para Ferrajoli, uma norma pode, então,
ser constitucional, mas inconvencional.

O paradigma do controle de convencionalidade latino-americano diz


respeito ao controle realizado internamente pelos juízes nacionais, que
deve ter como paradigma a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos e outras convenções sobre Direitos Humanos.

Não há direitos econômicos, sociais e culturais em seu bojo. Há apenas


uma disposição genérica que aduz que esses direitos devem ser
protegidos. Para sanar essa lacuna, foi redigido o Protocolo de San
Salvador, de 1988.

 Órgãos do sistema interamericano:

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) é o órgão onde


se dá o processamento perante a Comissão, onde os indivíduos podem
peticionar, que tem o locus standi.

A Comissão recebe as denúncias dos indivíduos e, entendendo haver


violação, faz o papel de substituta processual e leva a demanda à Corte.

Corte Interamericana de Direitos Humanos é o tribunal supranacional


latino-americano. Composto por sete juízes de diferentes
nacionalidades, possui competências contenciosa e consultiva. Apenas
os estados e a Comissão podem peticionar perante a Corte.
Ao aderir à Convenção Americana sobre Direitos Humanos o estado
aceita a competência consultiva da Corte, a fim de esclarecer questões
teóricas.

A competência contenciosa da Comissão Interamericana de Direitos


Humanos deve ser aceita pelos estados posteriormente, de forma ad
hoc.

A Constituição Federal e o Código de Processo Civil preveem que


sentença de tribunal estrangeiro só terão efeitos no Brasil após serem
homologadas pelo STJ.

Contudo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos não é um


tribunal estrangeiro, mas um tribunal internacional.

Quanto à execução no plano interno das decisões da Corte


Interamericana de Direitos Humanos, é sentença internacional e tem
exequibilidade imediata em solo nacional. O juiz federal da
circunscrição judiciária do domicílio da vítima pode liquidar a sentença
para que haja o pagamento da indenização.

A saída que tem sido utilizada é através da emissão de decreto


autônomo para que seja retirado do fundo de direitos humanos o valor
a ser pago às vítimas.

D- Sistema Africano de Proteção dos Direitos Humanos

Nasce em 1981, com a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos


Povos.

É utilizada a expressão direito “dos povos” para contemplar todas as


categorias de pessoas (nacionais de um estado, tribos, etc.).

Carta Africana ou Carta de Banjul (Gâmbia). A Carta Africana só


estabeleceu uma Comissão. • A Corte Africana foi criada em 1998 por
um Protocolo à Carta Africana (em vigor desde 2004).

A Carta Africana estabelece deveres individuais e não somente direitos


individuais (deveres do indivíduo para com a família e a sociedade, para
com os semelhantes, etc).

E- Mundo Árabe e Ásia:

Não há “sistema” de proteção. Há uma Carta Árabe de Direitos


Humanos, baseada na Sharia’ah (lei fundamental islâmica).

Na Ásia, há Declaração de Direitos Humanos da ASEAN (Associação das


Nações do Sudeste Asiático) não vinculante e destituída de mecanismos
de monitoramento.
6.7 Carta Democrática Interamericana

A- Aspectos gerais: Foi elaborada no âmbito da Organização dos


Estados Americanos com o fim de auxiliar na proteção e promoção dos
direitos humanos e da democracia nas Américas. Busca fortalecer a
democracia nas Américas e tem foco na ruptura da ordem institucional
e constitucional nos estados americanos.

É um instrumento relativamente recente e é resultado da 3ª Cúpula das


Américas, que ocorreu em 2001, e é compota por um preâmbulo, 6
capítulos e 28 artigos.

A Carta concede aos países possibilidade maior de diálogo para


questões recíprocas em assuntos domésticos relativos a uma alteração
ou ruptura inconstitucional da ordem democrática, especialmente
levando em conta o histórico ditatorial no continente.

Qualquer país membro da OEA poderia acionar os mecanismos da


Carta, tanto em relação a outro estado, quanto a si próprio. Ainda, a
doutrina mais aceita aduz que pode a própria OEA acionar a Carta.

Já aconteceu de a OEA invocar a Carta contra a Venezuela em maio de


2016, em razão da “alteração da ordem constitucional” (escolha de
ministros, prisões arbitrárias, influências no poder judiciário e nas
eleições, etc.).

B- Natureza jurídica da Carta: É instrumento que foi adotado


unilateralmente pela OEA. Não foi um documento discutido e adotado
pelos estados, assinado por estes e incorporado aos ordenamentos
jurídicos internos.

Não seguiu o procedimento de celebração de tratados, portanto, não


pode ser tratado.

Diferentemente da Declaração Universal, não se pode dizer que é um


instrumento de jus cogens. É, assim, instrumento de soft law, o que
significa que não previsão de sanções jurídicas, mas sim políticas.

A Carta Democrática Interamericana tem força mais política que propriamente


jurídica.

Não tem valor de tratado, mas serve de vetor interpretativo aos tratados
internacionais regionais e de guia para os estados em matéria de
democracia. O judiciário pode aplicá-la como diretriz interpretativa para
os julgados de Direitos Humanos.
C- Ruptura da ordem democrática e retorno ao status quo: Quando
a institucionalidade democrática entra em risco. Em havendo ruptura
da ordem democrática, a Carta busca o retorno à situação prévia.

O Capítulo 4 da Carta (arts. 17 ao 22) trata do fortalecimento e


preservação da institucionalidade democrática.

Quando o governo de um Estado membro considerar que seu processo


político institucional democrático ou seu legítimo exercício do poder
está em risco poderá recorrer ao Secretário-Geral ou ao Conselho
Permanente, a fim de solicitar assistência para o fortalecimento e
preservação da institucionalidade democrática.

Quando, em um Estado membro, ocorrerem situações que possam


afetar o desenvolvimento do processo político institucional democrático
ou o legítimo exercício do poder, o Secretário-Geral ou o Conselho
Permanente poderá, com o consentimento prévio do governo afetado,
determinar visitas e outras gestões com a finalidade de fazer uma
análise da situação.

O Secretário-Geral encaminhará um relatório ao Conselho Permanente,


o qual realizará uma avaliação coletiva da situação e, caso seja
necessário, poderá adotar decisões destinadas à preservação da
institucionalidade democrática e seu fortalecimento.

Com base nos princípios da Carta da OEA, e sujeito às suas normas, e


em concordância com a cláusula democrática contida na Declaração da
Cidade de Québec, a ruptura da ordem democrática ou uma alteração
da ordem constitucional que afete gravemente a ordem democrática
num Estado membro constitui, enquanto persista, um obstáculo
insuperável à participação de seu governo nas sessões da Assembleia
Geral, da Reunião de Consulta, dos Conselhos da Organização e das
conferências especializadas, das comissões, grupos de trabalho e
demais órgãos estabelecidos na OEA.”

Quando o estado que mantiver a ruptura, fica suspenso e impedido de


participar dos processos decisórios na OEA. Ele só voltará a participar
da OEA quando houver a situação voltar à legalidade.

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