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ARTIGO
________________________________________________________

Levantamento do uso de anabolizantes e suplementos nutricionais em


academias de musculação

F. R. Inácio
Acadêmico de Fisioterapia UNIPINHAL

C. E. R. Costa
Acadêmico de Fisioterapia UNIPINHAL

A. R. de Barros
Acadêmico de Fisioterapia UNIPINHAL

P. A. Granjeiro
Professor de bioquímica básica do curso de Fisioterapia UNIPINHAL

Resumo

Este estudo revela que um número crescente de jovens faz uso de esteróides
anabolizantes androgênicos (EAA) e suplementos nutricionais, a fim de
obterem um ganho rápido de massa muscular. Seu uso, contudo, provoca
inúmeros efeitos colaterais fisiológicos e psicológicos que afetam a saúde.
Foram aplicados questionários em academias de musculação das cidades de
Poços de Caldas, Águas de Lindóia, Monte Sião e Espírito Santo do Pinhal, para
verificação do uso dessas substâncias, a determinação do grau de informação
sobre as mesmas e a forma de aquisição e indicação. Foram entrevistadas 64
pessoas, entre homens e mulheres, com idade entre 15 e 40 anos. Notamos
que: a) o uso de academia se deve à busca da hipertrofia muscular e de
atividade física; b) entre os suplementos utilizados, os de maior incidêcia são
os Aminoácidos Ramificados (64,28%) e a Creatina (64,28%); c) as indicação
para o seu consumo foi feita nas próprias academias (64,28%). A freqüência
de uso de suplementos é diária e sua aquisição se faz em lojas especializadas,
a partir da orientação dos educadores físicos. Devido aos impedimentos legais,
somente 14,06% revelaram o uso de anabolizantes, sendo que a maioria,
freqüenta a academia há mais de 3 anos (66,66%), apresentando idade entre
18 a 25 anos (66,66%). O uso de anabolizantes é associado a suplemento
alimentar com o objetivo de manter ou aumentar o volume de massa
muscular. A conclusão deste estudo é que, mesmo sabendo dos riscos
envolvidos, são os homens mais jovens que fazem uso de esteróides para
obter hipertrofia muscular acelerada e que apesar das proibições legais, a
aquisição de esteróides não é dificultada.

Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 13, Jul./Dez. 2008– ISSN 1679-8678
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Abstract

This study shows that an increasing number of young persons have been using
androgenic anabolic steroids (AAE) and nutritional supplements in order to get
muscular mass in a short period of time. There are several physiologic and
psychological collateral effects that affect human health in this practice. Forms
were applied to a group of practitioner at fitness academies at the cities of
Poços de Caldas, Águas de Lindóia, Monte Sião e Espírito Santo do Pinhal, in
order to point out the consumption of these substances, to determine the level
of information about them and the way they are gotten and prescribed. Forms
were answered by 64 persons, men and women, aged between 15 and 40
years. The most relevant data obtained are: a) fitness centers are looked for
to get muscular hypertrophy and for physical activity; b) the most consumed
supplements by costumers are amino acids (64,28%) and creatine (64,28%);
c) they are prescribed at the fitness centers (64,28%). Supplements are
bought at specialized shops, on a basis of daily consume, under the guidance
of the physical trainers. Due to legal restrictions against its consumption, only
14,06% of the practitioner interviewed confessed the use of “anabolic
steroids”. They are between 18 and 25 years old (66,66%) and have been
frequenting fitness academies for more than 3 years (66,66%). Steroids are
combined with dietary supplements in view of maintenance or increase of
muscular mass. The conclusion is that the youngest fitness practitioner are the
most important consumers of substances for muscular hypertrophy, even that
they know the risks involved. They do not find any difficulty to get these
steroids in the market.

Introdução

Um número crescente de jovens vem fazendo uso abusivo de esteróides


anabolizantes androgênicos (EAA), popularmente conhecidos como “bombas”, a fim
de obter um ganho rápido de massa muscular, e que ultrapasse aquele alcançado por
meio de simples exercícios físicos6. Em 2002, Assunção2 relatou que os usuários
acreditam que os EAA ajam tanto de maneira direta, ocasionando hipertrofia
muscular, quanto indireta, proporcionando "sessões de atividade físicas mais
intensas", por tornarem o usuário mais disposto, menos fatigável e mais motivado.
O uso desses esteróides tem relatos de milhares de anos. Na Grécia antiga, por
exemplo, testículos de carneiros (fonte de testosterona) eram usados por campeões
olímpicos para um melhor desempenho. No final do século XIX, um fisiologista francês
chamado Charles Eduard Brown-Séquard, com o intuito de rejuvenescer, injetou em si
mesmo certo líquido derivado de cães e porcos da Índia. Ao final de tal experimento,
ele relatou que tanto sua força física quanto sua energia intelectual progrediram. Já
no século seguinte, por volta da Segunda Guerra Mundial, os andrógenos eram usados
no tratamento de certas doenças ligadas à debilidade crônica, na depressão e na
recuperação de grandes cirurgias. Entretanto, foi a partir de 1954, com atletas russos,

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que tais substâncias começaram a ser realmente difundidas, principalmente nos


esportes, seu uso foi, porém, vedado pelo Comitê Olímpico Internacional.
Atualmente, essas drogas têm sido usadas também por não-atletas que buscam
aumentar massa e força musculares através da hipertrofia muscular, assim como
melhorar a aparência. Entretanto, a hipertrofia muscular não é o único efeito do uso
de anabolizantes. Há inúmeros efeitos colaterais fisiológicos e psicológicos. Dentre os
mais comuns, os efeitos secundários como pêlo facial, engrossamento da voz,
aumento de pêlos no corpo, amenorréia, aumento de apetite, crescimento do clitóris e
diminuição dos seios (nas mulheres); ginecomastia, atrofia testicular, impotência,
diminuição da contagem dos espermatozóides, calvície (nos homens); acnes, queda
do cabelo, distúrbios da função do fígado, tumores no fígado, coágulos de sangue,
retenção de líquido no organismo, aumento da pressão arterial, risco de adquisição de
doenças transmissíveis, como AIDS e hepatite. Também, foi observado que a
interrupção do uso de anabolizantes determina uma síndrome de abstinência, durante
a qual surgem sintomas adrenérgicos e craving ("fissura"), bem como depressão7.
Para o uso de nadrolona e mesterolona foi observado o aparecimento de hematoma
hepático subcapsular e subseqüente e hemorragia intra-abdominal em atletas de
culturismo. No caso do uso de testosterona pode causar icterícia e adenocarcinoma de
17
fígado .
O uso incorreto dos anabolizantes também implica em múltiplos efeitos
psicológicos. Nos Estados Unidos, foi feito um amplo estudo com usuários de EAA,
demonstrando que 25% dos indivíduos sofriam de algum tipo de transtorno de humor,
desde mania e transtorno bipolar até depressão profunda14. Em 2002, Silva et al.18
apontam a correlação entre o uso indiscriminado de EAA e atos agressivos em geral,
chamando atenção para mudanças súbitas de temperamento, síndromes
comportamentais e, inclusive, crimes contra a propriedade. Mencionam ainda
aumento da irritabilidade, raiva e hostilidade, ciúme patológico, alterações da libido e
sentimentos de invencibilidade. Desta forma, categorizaram os efeitos psicológicos
dos EAA em três subdivisões. Na primeira, enquadram-se os efeitos imediatos do mau
uso: aumento da confiança, da energia e da auto-estima, acompanhados por um
maior entusiasmo e motivação, além de insônia, menor fadiga, habilidade para treinar
com dor, irritação, raiva e agitação, ou seja, efeitos ligados a mudanças de humor e
euforia. Na segunda categoria, correspondente ao uso prolongado com doses
exageradas, observa-se perda de inibição, com alterações ainda mais acentuadas do
humor. Na terceira categoria, os efeitos tornam-se mais graves por haverem evoluído
de sentimentos de agressividade para comportamentos violentos, hostis e anti-sociais.

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Homicídio, suicídio e abuso infantil são algumas conseqüências desses acessos de


fúria. No plano cognitivo, Silva et al.18 (2002) encontraram com maior freqüência
sintomas como distração, esquecimento e confusão mental.
Em 1999, Lise7 descreve estudos envolvendo jovens atletas usuários e não-
usuários de EAA, cujos resultados apontam para uma maior agressividade, maior
impulsividade e menor cooperatividade do primeiro grupo em relação ao segundo. Tal
agressividade pode levar a crimes, como assassinatos, por parte de alguns usuários.
Também demonstra que o narcisismo patológico e a personalidade anti-social estão
relacionados com o uso de EAA, e que o uso abusivo poder vir a causar graves
distúrbios de humor. Segundo Assunção2 (2002), o uso indevido de esteróides
anabolizantes pode trazer conseqüências psicológicas ainda mais graves. Isso
acontece quando o usuário passa a apresentar sintomas de um transtorno dismórfico
corporal, a dismorfia muscular.
Silva et al.18, (2002) ainda formulam a hipótese de que casos de esquizofrenia
aguda podem ser gerados pelo uso do esteróide metandienona. Já o uso de
oxandrolona e oximetolona estaria ligado a casos de mania, hipomania, confusão
mental, paranóia e depressão.
Alguns estudos revelam que os EAA podem causar dependência, eventualmente
levando a síndromes de abstinência que podem desencadear crises comportamentais.
Outros estudos parecem demonstrar que tais efeitos comportamentais podem estar
relacionados com o uso de metandiona, devido à alteração da função serotoninérgica
causada por ela18. Devido à abstinência ocasionada pela interrupção do uso dos EAA,
Wroblewska21 (1996) percebeu sintomas como: perda de controle, depressão, fadiga,
inquietação, perda de apetite, insônia, decréscimo da libido e dores de cabeça.
Já os suplementos nutricionais podem ser definidos como produtos feitos de
vitaminas, minerais, produtos herbais, extratos de tecidos, proteínas e aminoácidos e
outros produtos, consumidos com o objetivo de melhorar a saúde e prevenir
doenças21. A American Dietetic Association (ADA) afirma que a melhor estratégia
nutricional para a promoção da saúde e redução do risco de doença crônica é obter os
nutrientes adequados através de uma alimentação variada, porém, também considera
apropriado o uso de suplementos de vitaminas e minerais quando evidências
científicas bem aceitas e revisadas demonstram segurança e eficiência em seu
consumo. Em 2002, Percego13, relacionou a qualidade de vida à prática de atividade
física diária e a uma alimentação equilibrada e saudável, havendo necessidade de
suplementação somente se o atleta for de alta performance.

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Preocupado com essas mudanças comportamentais de culto ao corpo e dos


comprovados riscos causados pelo uso indiscriminado de suplementos nutricionais e
anabolizantes por praticantes de academias, o presente trabalho tem o intuito de
fazer um levantamento do perfil de usuários de academias no que diz respeito ao uso
de EAA e Suplementos.

Resultados

Dos indivíduos entrevistados 31,87% são de Poços de Caldas-MG, 48,43% de


Águas de Lindóia-SP, 26,56% de Monte Sião-MG e 3,12% Espírito Santo do Pinhal-SP,
regiões do Sudeste do Estado de São Paulo e Sul de Minas. No gráfico 1 é possível
observar que fazem uso de suplementos alimentares 71,42%, com idade entre 15 e
25 a anos; 17,85%, entre 26 e 30 e 10,71%, entre 31 e 40. A escolha por fazer
academia foi avaliada e observamos que a atividade física (57,81%) e a hipertrofia
(54,68%) apresentam maior interesse, seguidos pela necessidade de emagrecer
(15,62%) e a indicação médica (4,69%) como podemos ver no gráfico 2. Entre os
suplementos, o percentual de usuários é de 56,25%, sendo os mais usados
Aminoácidos Ramificados (64,28%) e Creatina (64,28%), seguidos por Carnitina
(46,42%) e Albumina (42,85%) (gráfico 3). As indicações para o seu consumo, como
podemos analisar no gráfico 4, foram feitas em academias (64,28%), por amigos
(28,57%), pelos meios de comunicação (7,14%) e por indicação médica (3,57%). A
maior freqüência apresentada do uso de suplementos foi a diária (82,14%), apesar de
uso semanal (10,72%) e mensal (7,14%) consideráveis. No gráfico 5 observamos que
a aquisição dos suplementos acontece em lojas especializadas (75%), seguida de
Drogarias (21,42%) e, discretamente, nas próprias academias (3,57%). Um dado
importante é que 82,72% dos entrevistados sabem dos riscos causados pelo abuso
dessas substâncias. As academias em sua grande maioria (96,42%) dispõe de
profissionais habilitados a dar orientação aos seu freqüentadores.
Mas, o quadro mais preocupante está relacionado ao uso de anabolizantes, uma
vez que constatamos 14,06% dos freqüentadores de academia os utilizam (gráfico 5).
Se aliarmos o fato dessas substâncias serem ilegais e a restrição em responder, por
parte de alguns freqüentadores, podemos constatar abuso. No gráfico 6, observamos
que a idade dos usuários é de 18 a 25 anos (66,66%), de 26 a 30 anos (22,22%) e
de 31 a 40 (11,11%). O tempo de academia é de 22,22% com menos de 1 ano,
11,11% de 1 a 3 anos e 66,66% com mais de 3 anos. A associação de anabolizantes
com suplementos se faz presente em 88,88% L-Carnitina, e 77,77% com Aminoácidos

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ramificados e em 66,66% ,com Albumina e com Creatina (gráfico ausente). O


objetivo dos usuários de anabolizantes está relacionado, em 88,88%, com a
manutenção da hipertrofia; em 44,44%, com a manutenção da atividade física, por
11,11%, com o emagrecimento (gráfico ausente).

Gráfico 1: Idade dos usuários de Suplementos Alimentares

100%
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80%
70%
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50%
40%
30%
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15 a 25 anos 26 a 30 anos 31 a 40 anos

Gráfico 2: Interesse dos praticantes de academias

100%
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Indicação Hipertrofia Emagrecer Manter Outros
Médica Atividade
Física

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Gráfico 3: Suplementos Alimentares mais utilizados

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Carnitina Albumina Aminoácidos Creatina Outros
Ramificados

Gráfico 4: Indicação do uso de Suplementos Alimentares

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
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0%
Amigos Indicação Meios de Acadêmias
Médica Comunicação

Gráfico 5: Percentual dos usuários de Anabolizantes

100%
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10%
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Não Usam Usam

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Gráfico 6: Idade dos usuários de Anabolizantes

100%
90%
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70%
60%
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20%
10%
0%
18 a 25 anos 26 a 30 anos 31 a 40 anos

Discussão

Em 2002, a Revista Brasileira de Ciência e Movimento15 relatou que a maioria


dos usuários de suplementos e anabolizantes tinham idades entre 18 e 26 anos e
nível médio de escolaridade. Em nossa região, jovens entre 15 e 25 anos relataram
terem acesso a essas substâncias, demonstrando uma queda na idade dos que se
expõem ao problema, frente ao relatado sobre o início da década. Os números que
indicam esse uso prematuro de suplementos e anabolizantes estão mostrados nos
gráficos 2 e 3. Em Belo Horizonte, no ano de 1999, Ribeiro16 demonstrou que os
usuários estão na faixa etária de 15 a 18 anos. Nos EUA, foram realizadas pesquisas,
nos anos de 1991 e 1992, com o objetivo de quantificar o uso indevido de EAA e, já
naquela época, observou-se que os estudantes do Ensino Médio, sendo 4% a 11% dos
homens e 0,5% a 2,5% das mulheres, já haviam feito uso dessas substâncias3.
O interesse maior por praticantes de academia consiste em manter uma
atividade física, como relatado por Nahas11, em 2001. Também demonstrou que o
movimento do corpo é necessário para satisfazer necessidades ergonômicas, como
peso, postura, movimento necessário às articulações e circulação – através da queima
de calorias, alongamento e movimento. Uma boa condição muscular proporciona
maior capacidade para realizar as atividades diárias, com eficiência e menos fadiga;
permite atividades esportivas com melhor desempenho e menor risco de lesões,
ajudando também na postura, tornando os músculos fortes, protegendo assim as
articulações, diminuindo risco de lesões ligamentares e dores nas costas. A resistência

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cardiorespiratória juntamente com a composição corporal são componentes


relacionados à saúde e oferecem proteção contra o aparecimento de distúrbios
provocados pela vida sedentária, reafirma Toscano19 em 2001. Já a hipertrofia acaba
sendo um estímulo ao uso dessas substâncias. Em 1990, Parraga12 observou que há
uma influência negativa do meio social, responsável pela exigência do padrão estético,
não importando os meios e métodos necessários a sua aquisição, uma vez que a
sociedade estabelece, através da mídia, o modelo de corpo ideal.
Quanto ao uso de suplementos, a ingestão excessiva de proteína e
aminoácidos, através dos alimentos ou suplementos protéicos, tem mostrado os
efeitos danosos à saúde. Proteínas em níveis acima de 15% das calorias totais podem
levar a cetose, gota e sobrecarga renal, aumentar a gordura corporal, desidratação,
promover balanço negativo de cálcio e induzir perda de massa óssea, como descrita
por Mahan e Escott-Stump13, em 1996. Garcia14 em 1999, em seu estudo, preconiza
que os aminoácidos de cadeia ramificada e glutamina são os mais utilizados para
produção de energia durante exercícios intensos, principalmente para evitar
3
acentuado catabolismo protéico muscular. Ayllón , em 2001, esclarece que a creatina
é um componente inorgânico natural, obtido pela ingestão de carne, especialmente
pescado, e pode ser sintetizado no pâncreas, fígado e rins, utilizando os aminoácidos
arginina, glicina e metionina. É a principal molécula de ressíntese de ATP nos
primeiros 10 segundos de atividades físicas máximas. Com sua suplementação, a
ressíntese de ATP é mais eficiente e a recuperação mais rápida. Araújo e Soares1, em
1999, notaram que o consumo de aminoácidos é duas vezes maior que a da creatina.
Em nosso trabalho, constatamos que o consumo de aminoácidos e creatina está na
mesma proporção. Em 1995, Van Hall et al.20, relataram que o uso de aminoácidos
tem sido proposto com o objetivo de melhorar a função muscular, além de reduzir a
relação e retardar o inicio da fadiga. No caso da creatina, o seu uso está relacionado
com o aumento da força e a velocidade das atividades que predominam como fonte
energia o sistema ATP-fosfocreatina.
Quando se questionou sobre quem orientou o uso dos produtos, as informações
foram diversas, sendo que os suplementos foram, em sua maioria, indicados por
nutricionistas ou professores/instrutores de academias, como relatado pela Revista
Brasileira de Ciência e Movimento15 em 2002 e constatado nesta pesquisa, que a
grande maioria (64,28%) foi orientada por profissionais da própria academia (gráfico
6).
Alguns metabólitos dos esteróides anabolizantes estão relacionados a alterações
nos testes de função hepática, icterícia e peliose hepática, não podendo suas

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alterações serem observadas pelos usuários. Em 2000, Fonseca & Thiesen4


demonstraram que alguns marcadores enzimáticos hepáticos, como a transaminase
oxalacética (TGO) e transaminase pirúvica (TGP), podem estar elevadas mesmo nos
halterofilistas sem uso de anabolizantes, pois são liberadas pelo músculo e tem
grande importância no metabolismo das proteínas.
Moura10, em 1984, afirmou que o “ganho de massa” referido com o uso de
anabolizantes está relacionado à síntese de proteínas no músculo esquelético,
principalmente devido à regulação da transcrição do RNA ribossômico, quando
aplicado por períodos curtos. Esses efeitos, provavelmente se perdem ou diminuem,
após algumas semanas, ou mesmo pelo uso continuado da droga. Em 1998, Macedo
et al.8 analisaram 305 atletas de academias, utilizando questionários, e constataram
que a maioria eram homens, com idade média de 22 anos, e adquiriam a droga em
farmácias, sem receita médica. Observaram que 35,1% desconheciam os efeitos
colaterais e que 28,4% acreditavam que doses adequadas não trariam danos à saúde.
Isso deve ao fato dos entrevistados saberem que a aquisição acontece por atos
ilegais, por serem considerados drogas de efeito anabólico e assim não revelando os
locais de compra dessas substâncias.

Conclusão

O uso indevido de EAAs e suplementos causa diversos males nos indivíduos,


mas um número cada vez maior de jovens os utilizam. Os EAA, juntamente com os
suplementos, são utilizados, indiscriminadamente, por atletas, praticantes de
atividade física e, inclusive, por adolescentes e crianças para prática esportiva
recreativa. Isso ocorre devido ao comércio livre (mercado negro, farmácias de
manipulação, farmácias veterinárias) e à obtenção sem prescrição médica ou com
prescrição médica indevida. Essas substâncias são em sua maioria de procedência
duvidosa, manipuladas sem cuidados adequados de higiene, provocando, muitas
vezes, doenças infecto-contagiosas. Os dados apontam para a falta de informação dos
jovens entrevistados sobre a extensão dos danos à saúde decorrentes do uso de
anabolizantes, mostrando que, para muitos, o desejo de desenvolver massa muscular
e alcançar um suposto corpo ideal se sobrepõe ao risco de efeitos colaterais. A
comunidade científica vem alertando a sociedade quanto ao uso indiscriminado e aos
efeitos nocivos do mau uso dessas substâncias.
Frente a essa problemática, autoridades governamentais de diversos países se
posicionaram a respeito do assunto, criando políticas de combate ao abuso de EAA

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dentro e fora do esporte. Além da intervenção de profissionais da saúde, que, ao


interagirem com os indivíduos, devem questionar durante a entrevista o uso indevido
dessas substâncias, os pais também devem desencorajá-los. É importante a
divulgação e orientação das pessoas envolvidas na prática esportiva sobre
necessidades nutricionais e efeitos dos produtos utilizados para melhorar o
desempenho e a aparência física.
Campanhas publicitárias e educacionais que alertem sobre esse problema
fazem-se necessárias, pois a intervenção educacional tem demonstrado ser um
instrumento efetivo no combate ao uso dessas substâncias por adolescentes,
diminuindo, assim, as chances de um prejuízo maior à saúde. Não há estudos
suficientes, de longa duração, para dizer se o uso de suplementos traz benefícios ou
malefícios aos usuários.

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Wroblewska, AM. Androgenic-anabolic steroids and body dysmorphia in young men. J.


Psychos. Res, v.42, p.225-234, 1996.

Autor responsável: Paulo Afonso Granjeiro


R. Abelardo César, 62 Apto 81 Centro
Espírito Santo do Pinhal – SP 13990 000
Telefone: (19) 3661 1089 e (19) 8181 9817
Fax: (19) 3651 9602
pagranjeiro@uol.com.br

Trabalho apresentado no Encontro dos Estudantes de Fisioterapia do Sudeste


Guarapari – ES
28, 29, 30 Abril e 1 de Maio 2006

Trabalho apresentado no lll Simpósio de Pesquisa, Extensão e Ensino (SIMPE - UNIPINHAL) –


Espírito Santo do Pinhal – SP
09 – 11 de Maio de 2006

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Prof. Dr. Paulo Chaves de Rezende Martins, da Universidade de


Brasília, pelos seus valiosos comentários e revisão crítica do trabalho.

Data de recebimento: 15 /09/08


Data de aceite: 12/10/08

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You are free: to copy, distribute and transmit the work; to adapt the work.
You must attribute the work in the manner specified by the author or licensor

Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 13, Jul./Dez. 2008– ISSN 1679-8678

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