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Brasília
Dezembro de 2014
Resumo: Neste artigo, pretende-se analisar o tratamento dado ao conceito de “crise” por
Fernand Braudel e Reinhart Koselleck, sob o esquema da matriz disciplinar, desenvolvida
por Jörn Rüsen. A partir desse eixo, verifica-se a conexão do conhecimento histórico com
a vida prática, e as diferenças das orientações dadas pelos dois autores a respeito do estudo
do conceito proposto.
1. Introdução
Segundo Assis, a teoria da história de Rüsen “se apresenta como o estudo dos
fundamentos da ciência histórica” (Assis, 2003, p. 1), e se preocupa em conectar os
fundamentos das ciências humanas com os contextos da vida prática. Assim, é a partir do
esquema da matriz disciplinar que se percebe as interações entre as demandas por
conhecimento do passado e a produção de conhecimento histórico científico.
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costumeiramente obtidos nesse campo de investigações intelectuais como
resultados portadores de qualidades que não são exclusivamente empíricas.
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a floresta inteira, o que não contém somente a soma nas arvores, mas a interação entre
elas e todo o sistema que é formado. Sendo o todo, no caso, a história não só como
pesquisa mas como uma consciência histórica. Dessa forma, a teoria da história constitui
a reflexão sobre o pensamento histórico em sua especialidade científica, sendo o campo
em que a visão do conjunto – e não apenas de aspectos separados – é adquirida.
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sobre o qual a o interesse se torna evidente e que torna possível a elaboração de perguntas
especificas ao passado para suprir a carência de orientação.
O terceiro fator é o dos “métodos da pesquisa empírica”, o que faz com que o
conhecimento ganhe fundamentação e caráter empírico. Os métodos de pesquisa empírica
constituem nas regras de procedimentos para a obtenção e interpretação dos dados de
pesquisa.
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Figura 1 – Diagrama da matriz disciplinar
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3. O conceito de “crise” na obra A Dinâmica do Capitalismo, de Fernand Braudel
O autor conceitua a história econômica como sendo a história dos grandes atores,
dos grandes acontecimentos, das conjunturas e das crises. É uma história maciça e
estrutural que evolui lentamente ao longo dos tempos. Para organizar os fatos e
interpretações da história de quatro séculos do mundo, Braudel escolheu tratar dos
equilíbrios e desequilíbrios profundos do longo prazo. A partir desses conceitos, o autor
desenvolve a ideia de “crise”.
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Essa foi uma guerra de embates ideológicos entre dois blocos: o dos Estados Unidos
(capitalista) e o da União Soviética (socialista). Assim, muito se discutia academicamente
sobre a eficiência e desenvolvimento dos dois sistemas, e então havia demanda social em
se estudar o desenvolvimento do sistema capitalista.
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investigado. Assim, aborda questões como variações demográficas, técnicas de trabalho
dos homens, a evolução da moeda e das cidades, os mercados e feiras ao longo dos
séculos, as bolsas e as diversas formas de crédito. Para o autor, não se pode pensar apenas
no tempo curto e nos principais atores, há outros silenciosos que promovem a evolução
da história (Braudel, 1969), e assim parte da análise da vida material do cotidiano das
pessoas para pensar o desenvolvimento do capitalismo.
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Por fim, Braudel conclui analisando que a natureza do capitalismo não mudou
radicalmente, comparando o atual (do seu contexto da década de 1970) com o de antes.
O mundo e o capitalismo atuais mudaram de envergadura e proporções com relação ao
mundo e capitalismo antigos, porém a base se permanece, ajustando apenas às dimensões
ampliadas de troca e meios. O autor explica essa resposta afirmando que o capitalismo
ainda assenta-se sobre uma exploração de recursos e das possibilidades internacionais,
apoia-se em monopólios e não consegue abarcar toda a economia (há uma tripartição:
vida material, economia de mercado e economia capitalista).
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Tem-se como objetivo analisar o verbete “Crise”, presente na obra Geschichtliche
Grundbegriffe - Historisches Lexikon zur politisch-sozialen Sprache in Deutschland
(Conceitos básicos de história – um dicionário sobre os princípios da linguagem político-
social na Alemanha), da qual Koselleck é um dos principais organizadores, publicado em
Stuttgart entre 1972-1997 em nove volumes. Para o planejamento para a realização da
pesquisa empírica deste dicionário de conceitos, Koselleck (1992) afirmou que fez
escolhas de palavras que seriam relevantes do ponto de vista da história dos conceitos.
Assim, “crise” tem importância na construção do pensamento histórico, uma vez que está
presente no contexto das pessoas. Assim como Braudel, Koselleck escreve sobre crises
no período da Guerra Fria, e tem o interesse em aproximar o conceito das situações atuais
do cotidiano.
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O conceito de “crise” surgiu com os gregos, inicialmente nas áreas de teologia,
medicina e direito, e transmitia a oposição de escolhas entre alternativas extremas. Estaria
presente em todas as áreas da vida, inerente à demanda por decisões e escolhas. A partir
do século XVII, o termo expandiu-se para a política, economia, história e psicologia,
sendo posteriormente bastante aplicado em referências às Revoluções Francesa e
Americana. Na História, segundo o autor, “crise” passaria a representar um novo senso
de tempo, indicando e intensificando o fim de um período.
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se estudar o conceito de crise, uma vez que é um tema recorrente em seu contexto da
década de 1970, mas suas conclusões diferem de Braudel, no sentido de que apresenta o
uso e as concepções do termo, e suas mudanças ao longo do tempo. Como função de
orientação, Koselleck então se preocupa com a percepção do conceito de crise e sua
repercussão na sociedade. Dessa forma, suas conclusões são diferentes das de Braudel;
enquanto Koselleck analisa a mudança de significados e usos do conceito, Braudel o
utiliza para explicar o desenvolvimento do capitalismo.
5. Conclusão
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Assim, à luz da matriz disciplinar de Jörn Rüsen, pode-se concluir que a principal
diferença na abordagem do conceito de “crise” pelos dois autores diz respeito às funções
de orientação, na resposta dada à pergunta e na relação com os objetivos de recepção da
tese. As funções de orientação existencial, o quinto fundamento da matriz, se ligam e
retornam ao primeiro fundamento, os interesses, na medida em que fornecem as respostas
às indagações de carência de orientação e se concretizam como conhecimento histórico
científico, atendendo às demandas de conhecimento do passado de forma sistemática.
6. Referências bibliográficas
ASSIS, Arthur Oliveira Alfaix. “Testando” uma teoria da história: a concepção de matriz
disciplinar da ciência histórica de Jörn Rüsen à prova da historiografia de Sergio Buarque
de Holanda. In: Simpósio Nacional de História, 22., 2003, João Pessoa. Anais do XXII
Simpósio Nacional de História: História, acontecimento e narrativa. João Pessoa:
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