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IV Encontro de Pesquisa e Práticas em
Educação do Campo da Paraíba
III Seminário de Pesquisa e Práticas do Curso
de Pedagogia – Educação do Campo
Editora da UFPB
João Pessoa
2017
UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA
Reitora
Vice-Reitor MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ
BERNARDINA MARIA JUVENAL FREIRE DE OLIVEIRA
EDITORA DA UFPB
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Dr. Alexandre Eduardo de Araújo – UFPB; Prof. Dr. Mariano Castro Neto – UFPB; Prof. Dr. Paulo Palhano – UFPB; Prof. Me. Breno
Henrique de Sousa-UFPB; Prof. Me. Linconly Jesus Alencar Pereira – UFERSA; Prof. Me. Luis Gomes da Silva Filho – UFERSA; Profª.
Drª. Albertina Maria Ribeiro Brito de Araújo – UFPB; Profª. Drª. Ana Cláudia da Silva Rodrigues-UFPB; Profª. Drª. Edineide Jezine –
PPGE/UFPB; Profª. Drª. Francisca Alexandre – UEPB; Profª. Drª. Ivanalda Dantas Nóbrega de Lorenzo-UFCG; Profª. Dra. Lucicléa
Teixeira Lins-UFPB; Profª. Drª. Lucinete Gadelha da Costa – UEA; Profª. Drª. Maria da Conceição Gomes de Miranda-UFPB; Profª. Drª.
Maria do Socorro Xavier Batista – UFPB; Profª. Drª. Nilvania Santos Silva – UFPB; Profª. Drª. Verônica Pessoa da Silva-UEPB; Profª. Me.
Ana Célia Silva Menezes -RESAB; Profº. Dr. Eduardo Jorge Lopes – UFPB; Profº. Me. Ricardo de Carvalho Costa – UFPB; Prof. Me.
Luciélio Marinho da Costa.
ISBN 978-85-237-1353-9
O Evento
Coordenação
Profª. Dra. Deyse Morgana das Neves Correia – IFPB
Profª. Dra. Ivanalda Dantas Nóbrega de Lorenzo – UFCG
Prof. Me. Luciélio Marinho da Costa – CE/UFPB
Profª. Dra. Maria do Socorro Xavier Batista – CE/UFPB
Comissão Organizadora
Aleandra Alves de Holanda
Amelhinha Freire Duarte Silva
Ana Clara da Silva Nascimento
Danielle do Nascimento Leandro
Kamila Karine dos Santos Wanderley
Michelle Cristine de Paula Silva Reis
Sílvia Karla Batista de Macena Martins dos Santos
Suelen Cristina Rodrigues Ferreira
Tatiana Lília do Carmo Irineu
Comissão Científica
SUMÁRIO
Introdução
História do Pronera
É, nesse sentido, além de uma disputa de projetos políticos, sociais, culturais e educacionais,
uma disputa no campo ideológico, presente nas formulações políticas e nas práticas sociais e
culturais dos sujeitos (JEZINE, 2011).
Sendo assim, enfrentando forças hegemônicas assessoradas pela bancada ruralista no
Congresso e implicadas nas ações de criminalização dos movimentos sociais, de cooptação de
lideranças, de burocratização na liberação de recursos, entre tantos outros obstáculos, o
Pronera se materializou, caminhando na contramão do projeto de educação e sociedade
assumido pelo Estado, inserindo-se como ganho público na agenda governamental. Sob a
forma de convênios entre os sujeitos dos movimentos sociais, as universidades e o governo, se
constituiu uma experiência inédita de elevação da escolarização da população camponesa,
democratizando o acesso à educação desde a Educação Básica até o Ensino Superior.
O Pronera, nesse sentido, representa importante instrumento de democratização do
conhecimento, pois, para a maioria dos estudantes atendidos em suas ações, o Programa é
uma das poucas oportunidades de acesso à educação que chega às suas comunidades,
especialmente nos Ensinos Médio e Superior.
alfabetização e dois cursos de escolarização de jovens e adultos nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Atingindo um total de 6.091 estudantes, essa oferta reflete o histórico do
Programa enquanto uma estratégia de enfrentamento ao analfabetismo e à baixa escolaridade
no meio rural e em especial nas áreas de assentamentos (CORREIA, 2013). Na Paraíba, no
final da década de 1990, quando foi iniciado o primeiro curso no estado, o número de
analfabetos ultrapassava 318 mil, quase cinquenta por cento do total da população rural do
estado. No mesmo período, em todo Brasil, o número de analfabetos no campo ultrapassava
seis milhões de pessoas, o que representava cerca de 25% da população rural nacional.
Voltado, em sua concepção e normatização, para o atendimento de jovens e adultos, o
público do Programa é formado por uma população predominantemente adulta, com faixa
etária mais elevada, refletindo que os cursos oportunizaram o acesso à formação de jovens e
adultos que não tiveram a chance de perpassar o caminho escolar na idade regular. De acordo
com os dados registrados na II Pnera (BRASIL, 2015; CORREIA, 2013), a média de idade
mais alta foi identificada nos cursos de alfabetização e escolarização nas séries do Ensino
Fundamental (média nacional de 38,4 anos; média no estado da Paraíba de 38,8 anos). No
Ensino Médio, apresentam-se as médias de idade mais baixas (média nacional de 23,8 anos;
média no estado da Paraíba de 20 anos), porém muito superiores ao índice de escolarização
líquida nesse nível de ensino (de 15 a 17 anos). A média de idade na graduação (27,4 anos no
Brasil; 24,9 anos no estado da Paraíba) também se eleva quanto à faixa etária esperada para
este grau de instrução (18 a 24 anos), no entanto, acompanha uma tendência de todo o Ensino
Superior brasileiro, uma vez que a idade média dos estudantes do Pronera aparece próxima às
evidenciadas no censo do Ensino Superior do ano de 2012, o qual apresentou uma média de
25,5 anos para os matriculados na modalidade presencial e de 33,1 anos na modalidade à
distância.
Ao observar, em última análise, as ações do Pronera ao longo de seus primeiros
quatorze anos, as quais foram listadas na II Pnera, percebemos que seus resultados apontam
mais que números e estatísticas. O conjunto de dados ora sumarizados, além de apresentar a
extensão da experiência e confirmar a busca pelo objetivo de enfrentar a realidade iníqua do
ínfimo atendimento educacional no meio rural, permite visualizar desdobramentos que
sinalizam o alcance mais fundamental do Programa. Por trás dos índices relativos e absolutos
contabilizados, figuram repercussões de caráter e efeito políticos, pedagógicos, sociais e
econômicos. Quais sejam (CORREIA, 2016):
Tão ou mais importante quanto o número de sujeitos que tiveram o direito ao acesso à
educação garantido por meio do Pronera é o sentido da formação oferecida: que finalidade e
concepção segue o projeto de educação do Programa? Não se trata de uma educação rasa e
precária afinada com a reprodução das relações estabelecidas desde o agronegócio,
vilipendiador do homem e da mulher do campo, que mal ensina a ler, escrever e fazer contas,
pois mais que isso é desnecessário. Não é qualquer acesso, qualquer formação, é Educação do
Campo. É uma alternativa contra hegemônica ao projeto de desenvolvimento do campo e às
formas tradicionais de educação rural.
dos convênios, permitindo que as políticas alcancem, de fato, as demandas existentes nos
territórios da reforma agrária. O protagonismo dos movimentos na implementação, gestão e
execução dos cursos configura acúmulo de forças e experiências concretas para fazer do
Programa uma ação na contramão da concepção de desenvolvimento hegemônico do campo
como negócio. A presença dos movimentos gera tensões permanentes dentro da relação tanto
com as universidades quanto com o setor financeiro e administrativo do Programa no Incra,
cobrando liberação de recursos, aprovação de projetos, cumprimento de prazos de conclusão
de cursos, ou seja, impondo ritmo à execução do Programa. É a atuação dos principais
movimentos sociais e sindicais camponeses, mesmo que de forma heterogênea, na CPN do
Pronera, nas comissões estaduais e nas comissões político-pedagógicas dos cursos nas
universidades, que molda uma das características mais marcantes do Programa.
Entendemos, dessa forma, que as ações protagonizadas pelos sujeitos do campo
organizados em coletivos têm dado o tom de mudança na realidade da implantação das
políticas e, a exemplo do Pronera, nas concepções e formas de fazer cumprir os direitos sob a
responsabilidade do Estado. Molina & Jesus (2011) lembram que a presença dos movimentos
sociais e sindicais nas distintas instâncias de execução do Pronera é determinante quando se
faz a leitura da ocorrência de diversas alterações e ampliações do âmbito de atuação do
Programa em períodos considerados curtos, observando-se o ritmo tradicionalmente lento do
processo de implantação, avaliação e alteração de uma política pública no Brasil. É por meio
da gestão participativa que se viabiliza o diálogo entre os diferentes olhares, argumentos e
intenções dos parceiros envolvidos e, de maneira mais ou menos conflituosa, se alcança êxito
no processo de alargamento da esfera pública. Nessa trilha, se consolida o avanço da
consciência do direito à educação e ao acesso ao conhecimento e a garantia real desse direito
aos povos do campo.
3) o foco na formação de professores, que tem uma ação dupla de, ao formar os
educadores, fomentar a ampliação do acesso à educação de outros sujeitos nas próprias
comunidades da reforma agrária
juventude camponesa, diferentemente da geração de seus pais, estão forjadas no trânsito entre
o campo e a cidade.
A falta de oportunidades de lazer, autonomia e acesso à renda própria, associada à
compreensão urbanocêntrica, que deprecia o trabalho na agricultura, e à modernização
agrícola capitalista, que reduz o nível de emprego, leva os jovens a seguirem uma tendência
migratória. As novas relações sociais, valores e projetos, derivados da integração vivida pelos
jovens entre os mundos rural e urbano, trazem mudanças que afetam as esferas do trabalho, do
consumo e do lazer, de modo que a juventude busca ―atividades mais bem remuneradas e
menos fatigantes que a agricultura‖ (CARNEIRO, 2007, p.60).
Não obstante, a percepção do desinteresse dos jovens pelo campo é confrontada pelo
protagonismo dessa mesma juventude na reconstrução do campo a partir da luta por um
processo de permanência qualificada no território camponês. Longe do isolamento e
dialogando com um universo cultural globalizado, o desenvolvimento de uma nova
mentalidade rural coaduna continuar morando na localidade rural e ter acesso à educação e
aos campos tecnológicos do conhecimento, com espaços de lazer, trabalho e respeito aos seus
valores, bens e redes de sociabilidade (CARNEIRO, 2007). No caminho da atenção às
demandas dessa juventude ―em movimento‖ (CASTRO, 2012), as oportunidades de
escolarização, de caráter teórico-pedagógico em acordo com a realidade do campo e que se
integram à formação profissional, vislumbradas no Pronera são compreendidas como subsídio
à tarefa de organização social do território camponês empreendida pela juventude.
Dessa forma, o Pronera se coloca a serviço da ampliação dos espaços de formação e
participação dos jovens, enquanto sujeitos capazes de contribuir com os processos de
mudanças necessários à construção do projeto popular para o território rural brasileiro
(MOLINA & JESUS, 2011). Perfazendo-se questão estratégica para a permanência
qualificada do jovem no campo, o Pronera se alia aos recursos de enfrentamento das
mudanças e crises da realidade do campo, as quais pressionam a juventude entre o ―ficar ou
sair‖ do campo.
Na leitura analítica de suas ações de profissionalização relacionada ao apoio à
produção, na perspectiva de contribuir com a mudança da matriz tecnológica e produtiva das
áreas de reforma agrária, ratificamos a contribuição marcante para a criação, no território
camponês, de um espaço de reconstrução da vida e das famílias, centrado na oportunidade de
trabalho qualificado. A elevação da escolaridade associada à profissionalização nas diferentes
áreas demandadas, visando à promoção do desenvolvimento do campo, pode significar a
ampliação da garantia do acesso à geração de renda a partir da diversificação das pautas
produtivas das famílias, alargando as perspectivas de futuro para os jovens. Nesse sentido,
podemos situar o Pronera envolvido, direta e indiretamente, em processos que buscam
transformação social nos territórios da reforma agrária.
Ensino Fundamental e Ensino Médio nas escolas rurais, o Procampo apoia a implementação
de cursos de Licenciatura em Educação do Campo com formação por área de conhecimento.
A inspiração dos cursos permanentes criados no âmbito do Procampo foram as experiências
dos diversos cursos de formação de professores do Pronera desenvolvidas por todo país.
O Procampo também trouxe do Pronera a possibilidade de ofertar a graduação
utilizando a metodologia da alternância. Sendo comum na oferta da Educação Básica, tendo
em vista o histórico das EFAs, a alternância passou a ser praticada também na estrutura
universitária a partir da adoção nos cursos superiores do Pronera, em diferentes áreas do
conhecimento. Sua exequibilidade no Pronera guiou universidades atualmente ofertantes da
Licenciatura em Educação do Campo a adotarem, de forma permanente, com ingresso anual,
a alternância como organização pedagógica. Exemplo disso são os cursos desenvolvidos na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), UFCG, UFMG, UnB e UFPA (MOLINA &
JESUS, 2011).
O Programa Residência Agrária também é considerado uma ação originária do
Pronera (BRUZIGUESSI, 2011; MOLINA & JESUS, 2011; BRASIL, 2015). Desenvolvido
por meio da parceira entre o Incra, instituições de Ensino Superior, movimentos sociais do
campo e o CNPq, o Programa contempla a especificidade de formar profissionais das
Ciências Agrárias para o trabalho na assistência técnica, social e ambiental em áreas de
agricultura familiar e assentamentos da reforma agrária. Segundo Bruziguessi (2011), a
motivação para a criação do Programa Residência Agrária insere-se no contexto das ausências
e deformações da formação tradicional dos profissionais das Ciências Agrárias, que
desvalorizam as práticas, culturas, demandas e importância da agricultura familiar. Nesse
sentido, o Programa se baseia no enfoque agroecológico e no paradigma da sustentabilidade
visando atender às demandas dos agricultores familiares e não das empresas do agronegócio.
Os ideais do Programa Residência Agrária, assim como suas estratégias educativas,
registram conexões de origem com a Educação do Campo e o Pronera. Para além de ensinar
técnicas de produção compatíveis com a realidade dos agricultores familiares, a formação dos
residentes vislumbra um horizonte de transformações do modelo de desenvolvimento do
campo, vinculado à articulação de saberes e a um pensar e agir crítico e questionador. Para
tanto, a formação ofertada em nível de Especialização, baseia-se no princípio emancipatório e
numa metodologia participativa e integradora, inspirada na alternância e no Estágio
Interdisciplinar de Vivência (EIV), iniciativa organizada pelos movimentos estudantis
(BRUZIGUESSI, 2011). Com essas estratégias, recria-se o currículo da formação em
Ciências Agrárias, a partir da inserção e permanência dos estudantes nos assentamentos e
áreas de agricultura familiar por extensos períodos.
A ampliação dos espaços de formação e qualificação profissional por meio da criação
de novas oportunidades na graduação e na pós-graduação inspiradas nas experiências do
Pronera, como os casos citados do Procampo e do Programa Residência Agrária, alimenta
uma alternativa viável de inserção da juventude no campo, com chances de estender seus
estudos e atuação. Representa ainda a legitimação de um locus simbólico de força contra
hegemônica nas políticas de educação, de emprego e de desenvolvimento, uma vez que
prioriza as demandas dos sujeitos do campo e de suas comunidades, atendendo à necessidade
de mudança e transformação da realidade, rumo a uma nação mais justa e sustentável.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRUZIGUESSI, E. P. Recriando a Formação nas Ciências Agrárias para uma Atuação com
Maior Compromisso Social: estudo de caso do Programa Residência Agrária na Universidade
Federal do Ceará. In: SANTOS, C. A. et al. (Orgs.). Memória e História do Pronera:
contribuições do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária para a Educação do
Campo no Brasil. Brasília: MDA, 2011.
Introdução
A CQP está localizada no sul de João Pessoa – PB fazendo divisa com o município do
Conde. Atualmente, a comunidade apresenta um espaço bastante heterogêneo, pois as casas
quilombolas dividem a área com loteamentos e chácaras, resultantes do primeiro forte
movimento de urbanização na região, a partir da construção do bairro do Valentina Figueiredo
há 30 anos e com o asfaltamento da Rodovia Estadual denominada PB-008, que dá acesso ao
Litoral Sul, cujas belezas naturais atraem turistas, ocasionando a especulação imobiliária na
região (GONÇALVES, 2013).
―Paratibe‖, cuja nomenclatura significa rio das águas claras e peixes prateados, é um
quilombo urbano que tem uma história de 200 anos de posse da terra, cujo auto-
reconhecimento e o reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares somente aconteceu em
11 de julho de 2006, dando o primeiro passo para a demarcação do território
(CAVALCANTE, 2013). Hoje, cerca de 150 famílias fazem parte da Associação Quilombola.
Historicamente, a comunidade se divide em cinco micro-áreas - Estiva, Gruta, Portela,
Paratibe e Maribondo -, onde se vivencia a pesca, a coleta de frutos, as brincadeiras de coco
de roda, os festejos religiosos, utilizando as terras para a garantia de sua reprodução física,
social, econômica e cultural (NASCIMENTO, 2016).
1
A partir de agora, far-se-á uso da sigla EMEFPASSM relativa à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Professora Antônia do Socorro Silva Machado.
2
A partir de agora, far-se-á uso da sigla EQASM relativa à Escola Quilombola Antônia do Socorro Silva
Machado.
3
A partir de agora, far-se-á uso da sigla CQP relativa à Comunidade Quilombola Paratibe.
No início da década de 1950, o horizonte feminino era limitado ao lar, à vida privada,
ou seja, casar, ter filhos e educá-los, enfatizando o tripé mãe-esposa-dona de casa (MALUF;
MOTT, 1998). Entretanto, Dona Antônia do Socorro transgredia o padrão patriarcal da época,
pois ao terminar apenas a 4ª série do fundamental começou a exercer sozinha o ofício de
professora em uma pequena escola particular ao lado de sua casa dentro de seu terreno para
o(a)s educando(a)s naturais de Paratibe (CAVALCANTE; CRISPIM, 2011).
A escolinha era chamada de ―Escola de Dona Antônia‖ e localizava-se na micro-área
da Portela da CQP. Ela era de taipa, tinha apenas uma sala de aula, ―os bancos eram de tábua
com uma mesona, sem carteira‖, com várias séries ao mesmo tempo e com faixa etárias
distintas, ou seja, as classes eram multisseriadas devido à ausência de escola na comunidade
(CAVALCANTE; CRISPIM, 2011, p. 6).
De acordo com Costa (2016), por muito tempo, a ―Escola de Dona Antônia‖
funcionou como um ―grupo escolar‖ autônomo dentro da CQP – na casa da própria
professora. Contudo, no período de 1970-1990, com a forte urbanização de Paratibe, houve
um aumento populacional no entorno da CQP, pois diversos sujeitos sociais de outros locais
adquiriram terras na região, compondo o atual bairro de Paratibe. Consequentemente, ocorreu
um crescimento no número de educando(a)s atendidos pela ―Escola de Dona Antônia, logo
ela ficou pequena, então foi preciso reerguê-la maior em outro espaço.
Ao longo de sua carreira docente, que teve início na década de 1950 e concluiu no
início da década de 1990, ela sempre primou pela educação do(a)s moradore(a)s de Paratibe,
já que a maioria era semianalfabeto(a) e analfabeto(a) (CAVALCANTE, 2013). Ela
aproveitava todas as datas comemorativas para organizar festas dentro da Escola ou até
mesmo em sua casa. Era uma pessoa muito alegre, sorridente, amável, mas também muito
exigente no âmbito escolar (LIMA, 2010).
Dona Antônia adotava na escola medidas muito rigorosas, baseadas em punições e em
castigos, principalmente, para o(a)s educando(a)s que não aprendiam ou que eram
desordeiro(a)s em sala de aula. Conforme relato de E. M. R. de C., ex-diretora geral da
EQASSM,
[...] Dona Antônia era muito respeitada, ela na verdade se impunha, pela
própria presença física dela [...] Então assim, enquanto ela tinha de meiguice
e de afetividade, ela também tinha esse lado dela de se fazer respeitar [...] e
os (educandos) indisciplinados ela [...] conversava muito com os pais, se a
falta era leve a gente deixava sem intervalo, merenda, mas ficava conosco na
sala dos professores [...] os meninos na época não tinham o comportamento
que hoje tem não, eles eram respeitosos, eles eram mais temíveis em relação
a gente (professores) (CAVALCANTE, 2013, p. 104).
Conforme Lemos (2005), os padres jesuítas no século XVI foram os responsáveis pela
incorporação das práticas punitivas no sistema educacional brasileiro, tornando-se uma
cultura corriqueira na vida escolar das crianças até o final da década de 1970. Após o fim da
Ditadura Militar no Brasil, os direitos humanos foram visibilizados na educação brasileira,
principalmente com ratificação da Convenção de Haia (1989) – dos Direitos da Criança e dos
Adolescentes- e com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 e
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB N 9.394/1996).
É preciso frisar que o rigor pedagógico de Dona Antônia sobre o(a)s educando(a)s era
uma prática comum no sistema educativo brasileiro da época, em pleno regime militar, logo
isso não reduz a importância dela enquanto professora em Paratibe. Até porque, segundo
relato da ex-diretora geral de EQASSM, Dona Antônia demonstrava sempre solidariedade e
generosidade para com todo(a)s da CQP.
Ela era uma mulher sensível, amantíssima dos sobrinhos, da família, muito
respeitada na comunidade. Ela se doava por inteiro, não só nessa escola, aos
pais dos alunos, do alunado. Quando muitas vezes dependia da venda de
frutos periódicos, ela cedia o sítio dela, enorme, de caju, para eles tirarem, e
venderem na feira livre (LIMA, 2010, p. 54).
Nos anos de 1970, apesar de ainda criança, E. P. R. - atual diretora adjunta da manhã
da EQASSM -, guardou em sua memória todo o processo de construção da escola quilombola
Antônia do Socorro Silva Machado, desde as lutas, as dificuldades, até as conquistas. Em
entrevista, ela esclarece
a casa de meu avô materno (Domingos José da Paixão) era uma espécie de
Comitê Eleitoral ou Comitê Político, onde eram resolvidas as questões
políticas entre Paratibe e Muçumagro. Ele era um forte líder de Muçumagro,
logo os problemas comunitários eram resolvidos na casa dele através da
mediação com os governos estaduais e municipais (E. P. R., 2016, JOÃO
PESSOA-PB).
Essa decisão gerou um longo debate entre as duas principais famílias de latifundiários
da região - a de Paratibe, representada por Maria Daluz (mãe de Dona Antônia), e a de
Muçumagro, representada por Domingos José da Paixão – sobre a escolha do local, em
Muçumagro ou em Paratibe, em que seria construída a nova unidade escolar de Paratibe (E. P.
R., 2016, JOÃO PESSOA-PB).
Ao final de uma reunião, realizada na residência de Domingos José da Paixão, em que
estavam presentes: ele, Noeme Maria da Paixão Rodrigues, Maria Daluz e Antônia do
Socorro, eles entraram em um consenso de que a escola seria construída em Paratibe, por dois
motivos:
1. Em Muçumagro, já existia uma escola estadual;
2. Dona Antônia do Socorro era ―uma pessoa maravilhosa, a ponto de chegar e doar
junto com a mãe, Dona Maria Daluz, o terreno para fazer esta escola (EQASSM), em
conversa com o prefeito da época‖. Além disso, o terreno doado por ela era bem centralizado,
logo atenderia educando(a)s de várias comunidades, tais como, Paratibe, Muçumagro, Barra
de Gramame, Praia do Sol (E. P. R., 2016, JOÃO PESSOA).
Em abril de 1972, a escola foi registrada com o nome de ―Escola Municipal José
Peregrino de Carvalho‖ pela Gestão Municipal de João Pessoa do prefeito Dorgival Terceiro
Neto (1971-1974), durante a Gestão Estadual da Paraíba do governador Ernani Sátyro (1971-
1975). Inicialmente, em 1972, a escola tinha quatro salas: uma diretoria, duas salas de aula e
uma cozinha, sendo ampliada e reformada apenas em 1991 na Gestão Municipal de João
Pessoa do prefeito Carlos Alberto Pinto Mangueira (COSTA, 2016).
Dona Antônia fazia de tudo nessa escola, resolvia tudo, sabia lidar com todo
mundo como ninguém, era muito ativa e determinada. Foi responsável pela
fundação desta escola e diretora desta unidade escolar entre 1972 até sua
morte em 1992, se estamos aqui hoje é graças à ação dela (COSTA, 2016, p.
86).
No dia 26 de setembro de 1992, Dona Antônia faleceu acometida por um câncer nas
pernas, segundo E. M. R. de C., ex-diretora geral da EQASSM, ― [...] houve uma grande
comoção aqui, foram dois ônibus locados, e ela foi enterrada onde está os pais e a irmã, no
Cemitério da Penha‖ (LIMA, 2010, p. 53). Em face disso, a direção da Escola Municipal José
Peregrino de Carvalho foi assumida pela professora E. M. R., graduada em pedagogia pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Após a morte de Dona Antônia, em frente à escola, construíram um busto em sua
homenagem e, em 1996, a escola já não era mais chamada Escola Municipal José Peregrino
de Carvalho, mas sim Escola Municipal de 1º Grau Antônia do Socorro Silva Machado
devido à reivindicação da CQP e da família de Dona Antônia (COSTA, 2016).
Segundo Paulo Freire (1982), somos seres em relação com o(a) Outro(a) e com o
mundo, criamos e recriamos cultura. A partir dessa concepção, pode-se entender a educação
como um instrumento a serviço da democratização. Ela contribui com as vivências
comunitárias de grupos sociais, através do diálogo, o que proporciona a formação de pessoas
criativas, participativas e transformadoras do mundo. A educação é desenvolvida em todas as
sociedades humanas, mas em algumas delas ela é socializada em locais especializados, a
exemplo das escolas.
De acordo com o Censo Escolar de 2014 (INEP), 27 escolas se declararam como
quilombola no Estado da Paraíba, sendo 26 da rede municipal de ensino e uma escola da rede
estadual de ensino, a EEEFM Arlindo Bento de Morais, localizada na cidade de Santa Luzia.
Dentre todas as escolas declaradas quilombolas no Censo Escolar, duas estão localizadas em
área urbana: a EEEFM Arlindo Bento de Morais de Santa Luzia e a Escola Quilombola
Antônia do Socorro Silva Machado de João Pessoa, enquanto que as demais estão em zona
rural.
A escola – foco deste estudo – é conhecida por Escola Municipal de Ensino
Fundamental Professora Antônia do Socorro Silva Machado (EMEFPASSM)5 na Secretaria
de Educação e Cultura de João Pessoa (SEDEC), porém neste artigo é considerada Escola
Quilombola Antônia do Socorro Silva Machado (EQASSM). Certamente, essa afirmação é
passível a várias discussões, afinal, pode-se indagar: Na EMEFPASSM, localizada nas
proximidades do território quilombola de Paratibe, há uma educação escolar quilombola ou
uma educação quilombola?
No dia 8 de novembro de 2016, na ―IV Semana Afro-Paraibana – Patrimônios
Culturais e Educação‖, promovida pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da
5
A partir de agora, far-se-á uso da sigla EMEFPASSM relativa à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Professora Antônia do Socorro Silva Machado.
Observa-se que do ponto de vista legal, jurídico essas 27 escolas existem, pois
conforme a Resolução CNE/CEB N 8/ 20127: ―Art. 9. A Educação Escolar Quilombola
compreende: II – escolas que atendem estudantes oriundos de territórios quilombolas.
Parágrafo Único. Entende-se por escola quilombola aquela localizada em território
quilombola (grifo nosso)‖. A EMEFPASSM é reconhecida como escola quilombola por estar
localizada nas proximidades e atender educando(a)s do território quilombola de Paratibe.
Contudo, sob outra perspectiva, ela pode não ser considerada quilombola, visto que ainda não
tem um currículo, uma prática pedagógica que atendam a realidade histórica, política,
sociocultural e econômica da CQP.
Em entrevista, o pesquisador W. F. C. 8, professor da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB), afirma que essas 27 escolas do Estado da Paraíba ainda não se concretizaram
como escola quilombola, já que o currículo ainda não corresponde à realidade do(a)s
educando(a)s quilombolas, ou seja, esses sujeitos devem ser respeitados em sua cultura, seu
falar, sua compreensão de mundo, suas religiosidades, para que ele(a)s
meio de socialização dos saberes, das tradições, do ―ser quilombola‖ é via tradição oral
através da convivência e da observação dos mais velhos da comunidade. ―É um processo
amplo de relações que inclui família, membros da comunidade, relações de trabalho, relações
com o sagrado e as vivências inclusive nas escolas, nos movimentos sociais ou em outras
organizações‖.
Por outro lado, a educação escolar – como instituição, sistema de ensino –
historicamente se coloca como negadora das identidades, das diferenças, das memórias dos
diferentes povos e segmentos sociais, do ―ser quilombola‖, pois se constitui como um campo
atravessado por intensas disputas, onde ainda predomina o controle do neoconservadorismo
político e gestor. Dessa forma, a efetivação da educação escolar ainda ocorre sem levar em
conta as situações sociais concretas, tais como, relações étnico-raciais, gênero, meio
ambiente, povos e territórios tradicionais, dentre outras.
Em face do que foi debatido, este artigo defende o nome Escola Quilombola Antônia
do Socorro Silva Machado (EQASSM) não unicamente pelo fato de ela estar localizada nas
proximidades do território quilombola de Paratibe, mas também por existir uma cultura, um
fazer que são levados pelo(a)s educando(a)s de casa – da comunidade quilombola de Paratibe
- para a escola, que despertam e mobilizam gestore(a)s e professore(a)s, toda comunidade
escolar para a mudança do currículo, do projeto político pedagógico, das práticas
pedagógicas, dos livros didáticos, das relações com o(a)s educando(a)s em prol de uma
educação escolar verdadeiramente quilombola.
Em entrevista, o professor W. F. C. da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
afirma que
Nesta pesquisa, entende-se que do ponto de vista pedagógico a escola de Paratibe está
em processo de construção como escola quilombola, pois se percebe o envolvimento e o
empenho de toda comunidade escolar – principalmente de gestore(a)s, professore(a)s,
educando(a)s e liderança da CQP- em construir um novo currículo que dê visibilidade a
identidade negra quilombola com a mudança nas práticas do(a)s professore(a)s, a realização
do Curso de Formação Continuada Étnico-racial ―Saberes e Fazeres Afro-Brasileira e
Indígena na Sala de Aula‖, a construção coletiva do projeto político pedagógico multicultural,
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
38
Considerações finais
Referências
FREIRE, P.. Sobre educação: diálogos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FREIRE, P.. Educação e mudança. 31 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
MALUF, M.; MOTT, M. L.. Recônditos do mundo feminino. In: NOVAIS, F. A.;
SEVCENKO, N. (orgs.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998.
LEMOS, D. C. de A.. Entre a Palmatória e a Moral. In: Nossa História, Ano 2, n.º 15, janeiro
de 2005.
9
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Campina Grande. Bolsista
CAPES- Demanda Social.
Assim, vemos que a ideia de raça esteve impregnada na empreitada colonial, educativa
e civilizatória dos europeus na América, enquanto uma forma de classificação social que foi
se tornando um instrumento de poder político, econômico, epistemológico. O racismo
cumpria, no sistema colonial, a função de manter uma ordem estabelecida e, mesmo no
período pós-colonial, continua a justificar a superioridade de uns contra a inferioridade de
outros.
O capitalismo se instala no Brasil, com a chegada dos portugueses, articulando
colonialismo, patriarcalismo e racismo e esses três pilares vão se verificar na constituição do
campesinato brasileiro enquanto um grupo social marcado por uma situação de invisibilidade
e subordinação. Considerando os traços de dominação coloniais como determinantes na
situação de subordinação em que se forma o campesinato brasileiro e, por entender a
diversidade como um dos traços marcantes na constituição deste campesinato, busco, aqui,
discutir o processo de formação do campesinato brasileiro e das relações de trabalho no
campo enquanto ligadas à histórica concentração de terra no Brasil e ao desenvolvimento do
capitalismo neste país.
Parto da perspectiva de que, mesmo após o fim da situação colonial, a colonialidade
permaneceu enquanto um padrão de poder que se verifica através do racismo, da desigualdade
de classes, do patriarcado, da intolerância contra religiões minoritárias e outras formas de
opressão impregnadas na sociedade. O conjunto de práticas que busca a superação dessa
colonialidade, não apenas por meio da libertação política, mas através do questionamento e
busca por libertação de todas as relações de poder implicadas na cultura, no conhecimento, na
educação, nas mentalidades e na organização socioeconômica é chamado de decolonialidade.
De acordo com Mota Neto (2016), o conceito de decolonialidade
Mota Neto (2016) destaca ainda que a decolonialidade, diferente das teorias
tradicionais, não é pensada exclusivamente por intelectuais, mas é forjada, também no interior
das lutas e dos movimentos de resistência, entre os quais figuram o Movimento Sem-Terra
brasileiro, os zapatistas em Chiapas, os movimentos indígenas e afros na Bolívia, no Equador
e na Colômbia, bem como a Educação Popular, pensada como movimento.
Sendo assim, a Educação Popular, enquanto conjunto de práticas de resistência à
educação formal e de crítica à sociedade instituída (MOTA NETO, 2016) insere-se no
pensamento decolonial. Assim como também deve ser vista a atuação dos movimentos sociais
de luta pela terra, (em especial o MST) ao questionar a injusta estrutura fundiária de nosso
país e promover projetos educativos ao serviço dos camponeses, historicamente desprotegidos
e inferiorizados, como a Educação do Campo.
chegaram e invadiram nosso território (1500) o fizeram financiados pelo nascente capitalismo
mercantil europeu. Como não encontraram ouro nas terras se dedicaram em aproveitar a
fertilidade do solo para produzir produtos agrícolas tropicais de que sua sociedade europeia
precisava. O modelo colonialista agroexportador, denominado de plantation, deixou uma
marca na forma de organização da produção do Brasil, referenciado na exportação em larga
escala para abastecer o mercado europeu, na implantação da monocultura da cana-de-açúcar
(seguida de tantas outras monoculturas até os dias atuais), na exploração da mão de obra
escrava dos negros africanos, na servidão dos indígenas, e mais tarde no assalariamento para
os brancos pobres.
Em relação à propriedade da terra, inicialmente, a forma adotada foi a do monopólio
de todo o território pela Coroa. Porém, para garantir o efetivo aproveitamento das terras para a
produção das mercadorias necessárias para a exportação, a Coroa optou pela ―concessão de
uso‖ com direito à herança através da divisão das capitanias hereditárias e do regime de
sesmarias que distribuía áreas de terra entre produtores, obrigando-os a nelas manter algum
tipo de cultivo.
Somente em 1850 foi que surgiu a primeira lei de terras do Brasil, a Lei nº 601 de
1850 que implantou a propriedade privada das terras, estabelecendo que qualquer cidadão
poderia se transformar em proprietário de terras, com direito à venda e compra, desde que
pagasse determinado valor à Coroa. Essa lei visava, sobretudo, impedir que os futuros ex-
escravos, ao serem libertos, pudessem se transformar em camponeses, pequenos proprietários
de terras, pois, não possuindo nenhum bem, não teriam recursos para ―comprar‖ terras à
Coroa. E, assim continuariam à mercê dos fazendeiros. Também os imigrantes que chegavam
ao Brasil, igualmente, não teriam acesso à terra como sonhavam. Para Stedile (2012), a lei de
1850 foi ―o batistério do latifúndio no Brasil‖, pois regulamentou e consolidou o modelo da
grande propriedade rural, que é a base legal, até os dias atuais, da estrutura injusta da
propriedade de terras no Brasil.
Assim, o campesinato brasileiro teve origem nas populações mestiças que foram se
formando ao longo dos 400 anos de colonização, com a miscigenação entre brancos, negros,
índios, e seus descendentes. Essa população, em geral, não era capitalista, eram trabalhadores
pobres, nascidos aqui. Impedida pela Lei de Terras de 1850 de se transformar em pequenos
proprietários, essa população passou a migrar para o interior do país, pois, nas regiões
litorâneas, as melhores terras já estavam ocupadas pelas fazendas que se dedicavam à
exportação. A longa caminhada para o interior, para o sertão, provocou a ocupação de nosso
território por milhares de trabalhadores, que foram se dedicando a atividades de produção
agrícola de subsistência. Não tinham propriedade privada da terra, mas a ocupavam, de forma
individual ou coletiva, para isso, subordinavam-se aos proprietários dessas terras. Ocorreu
assim, o surgimento do camponês10 brasileiro e de suas comunidades.
10
A categoria camponês é entendida aqui como defini Maestri (2012, p.219): ―núcleo dedicado a uma produção
agrícola e artesanal autônoma que, apoiado essencialmente na força e na divisão familiar do trabalho, orienta sua
produção, por um lado, à satisfação das necessidades familiares de subsistência, e por outro, mercantiliza parte
da produção a fim de obter recursos monetários necessários à compra de produtos e serviços que não produz; ao
pagamento de impostos etc.‖
com o fazendeiro são marcadas pelo sistema patrimonial, não sendo estranho que o fazendeiro
possa ser compadre do camponês. Em nível ideológico, ali está o reino do valor de uso. Tal é
o ambiente sociocultural, econômico e político em que podem surgir movimentos mágico-
religiosos (romarias, curandeiros, padres milagrosos, monges, profetas) ou manifestações de
violência de tipo anárquico (emboscada, vingança, banditismo).
Já, enquanto proletário, o trabalhador rural está prática e ideologicamente divorciado
dos meios de produção, da fazenda, da casa-grande, do fazendeiro ou seus representantes. Seu
―nós‖ são principalmente os outros trabalhadores. E o fazendeiro e seus representantes são os
―outros‖. No nível ideológico, generaliza-se o reino do valor de troca. Nesse contexto o
trabalhador aparece como uma classe política, que tem uma consciência política mais
autônoma. Nessas condições socioculturais, econômicas e políticas surgem as ligas
camponesas e os sindicatos rurais. Em lugar dos movimentos messiânicos ou de banditismo
surgem movimentos políticos de classe, organizados segundo exigências da luta pelo poder e
pela transformação das condições de existência do proletariado rural.
Segundo Brandão (1984), numa sociedade que divide o trabalho e o poder, e que faz de
tal divisão a condição de sua ordem e a base de tantas outras divisões, o sistema de educação
acompanha ao lado de outras práticas sociais essa reprodução e desigualdade.
camponeses daquela região. Onde vemos que os trabalhadores rurais organizados na luta por
seus direitos lutam também pelo acesso à educação.
Ao se constituírem experiências educativas que partiam dos anseios das classes
populares, os movimentos e campanhas acima citadas procuravam articular os conhecimentos
da experiência adquirida na prática com o processo de alfabetização que, por sua vez, era vista
como indissociada da conscientização, por isso mesmo foram experiências abortadas quando
do golpe militar deflagrado em abril de 1964.
A educação do campo
O final da década de 1970 é marcado por intensa movimentação social na luta pela
democratização da nossa sociedade. Nos anos de 1980, quando a ditadura militar já não
conseguia sufocar os conflitos decorrentes das relações contraditórias entre capital e trabalho,
no campo e os movimentos sociais de luta pela terra vão se tornando mais visíveis, entre eles
o MST (Movimento dos trabalhadores rurais sem terra). Criado oficialmente em 1985, o MST
desperta o interesse de pesquisadores pela educação que começa a ser projetada por/nesse
movimento, pois, à medida que ocupam a terra com suas famílias, nos assentamentos
designados pelo Estado, os agricultores começam a demandar uma escola para os filhos,
porém uma escola diferente da escola rural que, historicamente, lhes tem sido oferecida.
Também nos anos 1980, emerge o fenômeno de fechamento e nucleação de escolas públicas
rurais, sob a justificativa de que o número de alunos não era suficiente para a manutenção das
turmas e classes. O MST, então lança a Campanha Nacional Contra o Fechamento de Escolas,
colocando em destaque a existência de dois projetos para o Brasil: um do agronegócio e outro
da classe trabalhadora. O fechamento das escolas atenderia à ideologia de que o campo está
―esvaziado‖ e de que as pessoas que trabalham a terra não necessitam de estudos. De outro
lado, inicia-se a construção no país de um movimento nacional da educação do campo,
contando com a participação de importantes sujeitos coletivos, a exemplo do MST; do
Movimento Docente com amplas lutas pela educação pública, gratuita, de qualidade e para
todos; Movimento dos Pequenos Agricultores; sindicatos de trabalhadores rurais e federações
vinculadas à Confederação dos Trabalhadores da Agricultura; Rede de Educação do
Semiárido brasileiro; Comissão Pastoral da Terra, dentre outras.
A primeira Conferência: Por uma Educação Básica do Campo realizou-se em
Luziânia, estado de Goiás, em 1998. No mesmo ano e como resultado desta Conferência é
criado o Programa Nacional da Educação Da Reforma Agrária- PRONERA. Em 2002, o
Conselho Nacional de Educação-CNE aprova a Resolução CNE/CEB I, de 03/04/2002 que
institui as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Segundo
Caldart (2009), a natureza da educação do campo
Considerações
Movimento da Educação do Campo, que tem como uma das suas matrizes formativas a
Educação Popular.
Machado (2010) defende a necessidade de se considerar a educação do campo como
uma dimensão da diversidade sociocultural e econômica de nosso país, uma vez que
constituem como seus pressupostos básicos:
REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ, Anete; RODRIGUES, Tatiane Cosentino; CRUZ, Ana Cristina Juvenal da.
A diferença e a diversidade na educação. Contemporânea, São Carlos. n. 2, Jul.–Dez. p. 85-
97, 2011. Disponível em:
http://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/38/20
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação Popular. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1984.
CALDART, Roseli Salete. Educação do Campo: notas para uma análise de percurso. In:
Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n. 1, p. 35-64, mar./jun. 2009.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,
1983.
___________. Pedagogia do Oprimido. 58º edição. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,
2014.
IANNI, Octavio. A formação do Proletariado Rural no Brasil (1971). In: STEDILE, João
Pedro. A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL. O debate na esquerda: 1960-1980. 2ª edição.
São Paulo: Expressão Popular, 2012.
MAESTRI, Mário. A ALDEIA AUSENTE: ÍNDIOS, CABOCLOS, CATIVOS,
MORADORES E IMIGRANTES NA FORMAÇÃO DA CLASSE CAMPONESA
BRASILEIRA. In: STEDILE, João Pedro. A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL. O
debate na esquerda: 1960-1980. 2ª edição. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
MACHADO, Ilma Ferreira. Educação do campo e diversidade. In; PERSPECTIVA,
Florianópolis, v. 28, n. 1, 141-156, jan./jun. 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/...2010v28n1p141/17844
SILVA, Maria do Socorro. Da raiz à flor: produção pedagógica dos movimentos sociais e
a escola do campo. In: Molina, Mônica Castagna. Educação do Campo e Pesquisa: questões
para reflexão. – Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006.
Introdução
13
Professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Zumbi dos Palmares, Marí, Paraíba.
nsilva20092009@hotmail.com.
14
Professoara do Departamento de Educação do Campo e do Programa de Pós-Graduação, da Universidade
Federal da Paraíba. socorroxbatista@gmail.com
[...] a história oral pode dar grande contribuição para o resgate da memória
nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realização de
pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar a memória física e
espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A
memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência
dos fatos coletivos (THOMPSON, 1992, p. 17).
Cresci ouvindo meu pai contar essa história, que ficou gravada na minha
memória. Dizia ele: ―Fiquei sem mãe aos oito anos de idade e quando eu
tinha doze anos meu pai também faleceu. Eu e meus irmãos fomos criados
com a minha avó paterna e morávamos em uma casinha bem pequena, no
sítio da minha avó. A gente era muito pobre, tinha dias que não tinha nem o
que comer, não tinha lençol e nas noites de chuva a gente se cobria com os
vestidos da minha avó. O terreno era bem pequeno, mas era tudo que a gente
tinha. Ali a gente criava e plantava para sobreviver. O fazendeiro que era o
dono da maioria das terras da região foi comprando todos os outros terrenos
que faziam extrema com suas terras, por fim o nosso sítio ficou cercado por
todos os lados. Em seguida o grande proprietário das terras soltou todo o seu
gado, e não tendo outra saída, nem a quem recorrer, a gente teve que
abandonar a terra e morar nas terras dos outros e viver quase como escravo.‖
(Relato oral)
O movimento das Ligas Camponesas tem, portanto, que ser entendido, não
como um movimento local, mas como manifestação nacional de um estado
de tensão e injustiças a que estavam submetidos os camponeses e
trabalhadores assalariados do campo e as profundas desigualdades nas
condições gerais do desenvolvimento capitalista no país (OLIVEIRA, 2007,
p. 108).
partido que se propôs a apoiar o movimento dos camponeses e discutir a respeito das questões
agrárias estabelecidas no país (AZEVEDO, 1982).
Andrade (1986) afirma que o movimento dos trabalhadores do campo no Brasil
iniciou-se tardiamente, e aos poucos com o passar dos anos, foi se consolidando e ganhando
força para posteriormente iniciar seu discurso acerca da reforma agrária frente ao latifúndio e
da luta por direitos sociais e trabalhistas. As mobilizações dos trabalhadores tiveram início no
ano de 1940, porém sua expansão e consolidação somente ocorreram entre as décadas de 1950
e 1960, sendo que no ano de 1962 o movimento camponês passou a ser orientado pelas Ligas
Camponesas, que se espalharam por dezenas de municípios, causando preocupação às
autoridades que temiam perder o controle da situação. A partir da criação das ligas, inicia-se
um período de significativa mudança no contexto histórico e político do Brasil e, nessa
mesma época, o advogado e também deputado estadual Francisco Julião solicita a
desapropriação do engenho Galileia através de um projeto apresentado na Assembleia
Legislativa de Pernambuco (BASTOS, 1984).
No ano de 1959, a desapropriação do engenho Galileia foi discutida e aprovada, sendo
que antes da aprovação houve uma grande concentração de camponeses na cidade de Recife
que reuniu centenas de agricultores em frente à Assembleia Legislativa e ao Palácio do
Governo. A mobilização tinha a finalidade de pressionar os deputados para que votassem a
favor do projeto, para que fosse sancionado e transformado em lei (AZEVEDO, 1986).
Sobre isto Rangel ainda ressalta que:
Durante todo o período de existência das Ligas Camponesas, desde a sua criação sua
história esteve pautada pelas frequentes mobilizações de massa. Stedile ressalta que as Ligas
Camponesas, embora tenham militado por um curto período de tempo (apenas dez anos),
―demonstraram sua força, quando se reuniram em Recife, mais de 50 mil camponeses vindos
de todo Estado, em uma grande manifestação, fato este que jamais se repetiu na história
pernambucana‖ (STEDILE, 2012, p. 13).
Na Paraíba, em 1958, na cidade de Sapé surgiu a primeira liga camponesa, tendo como
principal líder João Pedro Teixeira; posteriormente foram surgindo outras ligas em diversos
municípios do estado. Inicialmente foi criada a Associação dos Lavradores e Trabalhadores
Agrícolas de Sapé, PB, com o objetivo de oferecer apoio social e jurídico aos seus associados.
Logo depois, a associação passou a ser um movimento social de luta por mudanças sociais,
políticas e econômicas, que também atuava como órgão de defesa dos direitos dos
trabalhadores do campo, e defendia a reforma agrária em seu discurso. As Ligas cada vez
mais cresciam com grande repercussão entre os levantes populares do campo em toda a
Paraíba, e conquistava um grande número de associados, representando uma ameaça aos
grandes latifundiários e ao poder público, que buscavam meios para reprimir seus
participantes com a finalidade de acabar com o movimento (LEMOS, 2008).
As Ligas Camponesas alcançaram muitas conquistas para os trabalhadores, entre elas a
eliminação do Cambão, do foro e a indenização pelos latifundiários, quando os trabalhadores
eram expulsos injustamente. A Liga Camponesa paraibana foi duramente perseguida e
mediante forte repressão, esta foi aos poucos se desarticulando e enfraquecendo,
principalmente depois dos assassinatos de João Pedro Teixeira, em 02 de abril de 1962 e do
camponês Pedro Inácio de Araújo, no mesmo período. Em seguida, com o golpe militar,
muitos líderes foram presos e outros fugiram para viver de forma clandestina.
A repressão às Ligas Camponesas perdurou por muito tempo, e aconteceu de forma
mais intensa na Zona da Mata paraibana, principalmente nas cidades de Sapé e Mari. Sobre as
perseguições e os massacres ocorridos nesse período, o senhor João de Souza conta um pouco
da história, que foram relatos de fatos vivenciados por sua mãe, e pelas pessoas que moravam
na mesma fazenda em que ela morava:
Contava minha mãe que estes fatos aconteceram na noite em que eu nasci
dizendo: ―O mês de abril me faz recordar acontecimentos que nunca vou
esquecer, pois nesse mesmo mês, no dia 07 de abril, do ano de 1964,
ocorreram muitas perseguições e prisões de pessoas que eram nossos amigos
e vizinhos, alguns eram associados às ligas e ao sindicato, outros não eram.
A gente morava em uma fazenda situada em uma região próxima da cidade
de Sapé e Marí, lembro bem que na noite dos acontecimentos chovia muito
forte, eu estava para dá à luz, sofrendo as dores de parto de um dos meus
filhos, o mais novo dos homens. Eu estava aflita com tudo que estava
acontecendo, do lado de fora só se ouvia o barulho dos carros e os faróis
cortando a escuridão da noite e alumiando as portas das casas. Meu esposo e
outros trabalhadores da fazenda tiveram que abandonar a casa e a família
para se esconderem nos matagais, temendo serem pegos por grupos de
homens armados que rondavam a região durante toda a noite. Lembro que
nessa época muitos camponeses foram presos, um deles era meu vizinho, ele
não quis sair de casa para se esconder e tinha feito a carteira do sindicato a
pouco tempo. Dos que foram levados, alguns só conseguiram voltar para
casa depois de muitos dias. (Relato oral)
Ao ouvir os relatos da história percebemos que mesmo com o passar dos anos, as
pessoas ainda sentem receio de falar sobre os fatos que aconteceram naquela época. Contudo,
estes acontecimentos jamais serão esquecidos, pois passaram a fazer parte da vida de todos
que acompanharam a história, ainda que não tenham tido participação direta.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Fernando Antonio. As Ligas Camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FERREIRA, Marieta M. História oral e tempo presente. In: BOM MEIHY, José Carlos Seb
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LEMOS, Francisco de Assis. Nordeste: o Vietnã que não houve – Ligas Camponesas e o
Golpe de 64. João Pessoa: Linha D‘Água, 2008.
MATOS, Júlia Silveira; SENNA, Adriana Kivanski de. História oral como fonte:
problemas e métodos. Historiæ, Rio Grande, 2 (1): 95-108, 2011.
RANGEL, Maria do Socorro. Medo da Morte e Esperança de Vida: uma história das Ligas
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Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas, 2000.
SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária? São Paulo: Brasiliense, 2001. 106p.
STEDILE, João Pedro (Org.). A questão agrária no Brasil: História e natureza das Ligas
Camponesas 1954-1964. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012. 224p. Indexado em
GeoDados. Disponível em: <http://www.geodados.uem.br>. Acesso em: 17 mar. 2017.
Introdução
A educação como direito é fruto de muita luta dos movimentos sociais para que seja
efetivada no campo, tendo em vista que há muito tempo funcionou como assistencialismo do
governo. Na verdade, o campo sempre foi menosprezado, de modo a ser concebido como
lugar sem vida, atrasado e, sobretudo renegado ao desenvolvimento.
Para combater toda visão negativa que os detentores do poder tinham para com o campo,
entra em cena os movimentos sociais, com suas bandeiras e causas postas e assim vão às ruas,
vão até quem tem o dever de ofertar uma educação não compensatória, mas plena e de
qualidade, o governo, assim deveria ser, mas como em alguns casos não são, os sujeitos
fazedores da história saem da condição de oprimidos e começam a dialogar com seus
opressores. Daí aquela ideia de educação compensatória, bancaria, reprodutivista vai sendo
repensada, reconfigurada e consequentemente sua prática vai sendo mudada no lócus.
A fim de compreendermos melhor como se estabelece estas diferenças, o presente estudo
tem por finalidade compreender a aproximação epistemológica que pode haver entre a
educação do campo e a educação popular permeada pelas práxis dos movimentos sociais. E,
mais especificamente entender as premissas da educação do campo e seus sujeitos sociais,
identificar os processos educativos dos movimentos sociais em prol da educação popular e do
campo e, por fim reconhecer quem são os sujeitos sociais dos processos educativos que
sistematizam um novo saber/fazer nos espaços de aprendizagem.
O aporte teórico desta produção baseia-se na visão de autores como: Molina (2003);
Caldart (2009); Freire (1987); Gohn (2011) e outros. Autores que dialogam acerca destas
especificidades que permeiam a discussão que aqui está proposta como necessária nos
espaços que tendem a visibilizar cada vez mais o aprimoramento epistemológico desta
discussão em pauta.
O método deste estudo é de cunho qualitativo, mediado pelas celeumas: qual a concepção
de educação do campo e da educação popular? Quem são os sujeitos sociais que estão a frente
dos movimentos sociais em prol da efetivação dessa educação nos espaços de aprendizagens?
Método este que perpassa pela revisão de literatura, a qual pode viabilizar a apreensão deste
objeto de estudo em prol da efetivação da educação em suas variantes do campo e popular.
Deste modo, o respectivo estudo teve como resultado que ambas a educação do campo e
a educação popular são permeadas pelos movimentos sociais e precisam continuar na pauta de
discussão de caráter teórico-epistemológico em prol de que se efetivem paulatinamente em
todos os espaços do campo, tendo em vista que ainda é muito recente esta discussão e que
muito precisa almejar enquanto prática nos contextos de ensino aprendizagem.
Por conseguinte foi possível concluir que ainda muito falta a ser conquistado mediante
conjuntura política atual, bem como neste cenário social, pois há muito que se lutar por uma
educação pública e de qualidade para os sujeitos coletivos que em movimento lutam e militam
A história que dá ênfase a educação do campo, inicia-se a priori na década de 60, quando
o Educador Paulo Freire, o propulsor da educação popular teoriza acerca do protagonismo
social, após toda a repressão da ditatura militar, os movimentos sociais baseados nas
concepções da educação como transformadora social, emancipatória e fazedora de sujeitos
protagonistas ascendem uma luta reivindicatória mais consistente e sólida de convicções de
que o paradigma tradicional da educação poderia ser outro. E assim, a educação popular foi se
fortalecendo mediante os Centros de Cultura Popular que Freire organizava. Nesse sentido,
comunga-se do que sopesa Nascimento (2013, p. 7) ao mencionar que:
A educação popular passa a ser ressignificada pelos movimentos sociais, porque eles
estão em constante processo de politização para revidar ao regime de submissão e a quem
detinha o poder de usar de sua mão de obra. Assim os sujeitos poderosos imaginavam que
tinham os menos favorecidos como propriedade sua e os tratavam como serviçais,
expropriando-os dos direitos humanos como a educação, a saúde, a participação política,
econômica e social.
Estes direitos ficavam restritos, é tanto que quem somente podia votar em tempos
remotos era exatamente quem fosse escolarizado, ou seja, a educação lhes dava o direito de
exercer a cidadania, mas que não eram considerados em sua inteireza como seres humanos, e
sim apenas como trabalhadores que mantinham o desenvolvimento capitalista vigente de seus
senhores. Daí os movimentos sociais, entram em cena para reivindicar a educação, a qual não
é mercadoria, porque antigamente era assim que a educação era vista. Os motivos pelos quais
permeiam essa concepção não entram aqui em questão. Segue-se sobre o movimento da
consolidação da educação do campo como direito de todos. Conforme consta na Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 205, declara:
Analisa-se esse artigo destacando a tríade que deve ser consolidada mediante a essência
da educação: pleno desenvolvimento da pessoa; preparo para cidadania e qualificação para o
trabalho. Ao que concerne ao pleno desenvolvimento da pessoa, este somente pode ser
possível pela educação, pois esta dá as condições de inserção social para que as pessoas
possam usufruir da cultura, economia, política e socialmente das benesses sociais. Já o
preparo para o exercício da cidadania, parece que é a desenvoltura do sujeito de forma crítica,
autônoma e reflexiva perante a sociedade, sentindo-se sujeito dessa sociedade que pode
intervir para o seu desenvolvimento. E a qualificação para o trabalho condiz com as
competências e habilidades adquiridas e aprimoradas para que os sujeitos possam se manter
com qualidade e dignidade de vida. Já que a educação está posta neste compendio, cabe aos
corresponsáveis pelo usufruto deste direito.
A LDBEN de nº 9394/96 vem corroborar com a educação do campo quando afirma em
seu artigo 26 que:
Desta feita, é certo que o currículo que deve subsidiar a prática pedagógica do educador
nas escolas do campo deve ser desenvolvido pelos responsáveis do sistema de ensino, levando
em conta as peculiaridades e especificidades inerentes ao público alvo, que está inserido
naquele contexto, ressignificando os saberes oriundos da cultura e identidade dos sujeitos. Já
no artigo 28 da referida Lei ressalta que:
Dessa forma, os conteúdos que devem ser trabalhados nas escolas do campo devem fazer
parte do campo, ou seja, a prática pedagógica do educador deve ser mediada com os
conteúdos do interesse dos educandos, uma vez que é isso que lhes garante a assiduidade em
sala de aula, um ambiente agradável, um ensino claro, objetivo e que tenha sentido para os
educandos e que também levem em conta o tempo em que os educadores precisam se dedicar
ao trabalho na roça para o sustento familiar.
É dessa forma que a Lei está posta, e para que isso realmente aconteça nas escolas do
campo é preciso que se reconheçam o marco legal que garante que as especificidades e
peculiaridades dos povos do campo sejam consideradas no ato ensino-aprendizagem.
Pode ser dessa forma que se estrutura a educação na perspectiva da educação popular,
pois é com os saberes dos militantes que saem de seu senso comum e passam através de
fóruns, assembleias, congressos, encontros e cursos de formação que se sistematizam os
saberes (SANTOS, 2002). O que significa dizer, que a universidade necessita mesmo da
experiência dos movimentos sociais para assim melhor estruturar as aprendizagens, pois
enquanto a universidade, apenas se apropria das teorias acerca dos movimentos sociais, mas
que não dialoga com os sujeitos militantes do campo, não aproxima a teoria da prática é
possível que haja o significante vazio do discurso. Nessa perspectiva, é ressignificado o
processo do discurso acerca da educação popular, pois as práticas sociais que são vivenciadas
a partir do momento em que os pesquisadores se inserem nos movimentos sociais para que
com os diversos saberes possam ser mais significados.
O fato é que os movimentos sociais passam a ser objetos de estudo de pesquisadores,
conforme Gohn (2011, p. 334) salienta em sua justificativa do texto movimentos sociais e
educação. Assim, percebe-se que:
Por conseguinte, é a partir dessas entidades que os movimentos sociais passam a fazer
parte da epistemologia de novos formatos sociais que necessitam ser discutidos, estudados,
dialogados e, sobretudo entendidos. Tendo em vista que quem estar nos movimentos sociais
não são os sujeitos vistos socialmente, mas são aqueles que estão na invisibilidade e que saem
da condição de invisíveis para atores sociais protagonizando um novo tipo de sociedade. Em
sendo assim, Gohn (2011, p. 336) congratula do que Touraine afirma sobre o que são os
movimentos sociais, para ele:
Os movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Eles expressam
energias de resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que
liberte. Energias sociais antes dispersas são canalizadas e potencializadas por
meio de suas práticas em ―fazeres propositivos‖.
São estas ações que viabilizam a transformação social para a nova sociedade que se
deseja. As ações corroboram para que todos atuem em prol dos bens socialmente produzidos,
para que os sujeitos envolvidos se sintam corresponsáveis pelo seu próprio desenvolvimento e
que não culpe o sistema diante da sua condição. Pois os sujeitos envolvidos socialmente,
lutando pelos seus ideais, são atores pertencentes da sociedade e do processo da sociedade que
se deseja.
Nesse movimento de empowerment acontece no seio dos movimentos sociais
processos de aprendizagem significativa (AUSEBEL (1963), NOVAK (1978), ou seja, os
atores sociais saem da condição de sujeitos passivos do processo de aquisição do
15
O empowerment permite aos funcionários da empresa tomarem decisões com base em informações fornecidas
pelos gestores, aumentando sua participação e responsabilidade nas atividades da empresa. Geralmente é
utilizado em organizações com cultura participativa, que utilizam equipes de trabalho autodirigidas e que
compartilham o poder com todos os seus funcionários. Disponível em
https://wwa.tjto.jus.br/coges/index.php/artigos/171-empowerment-o-que-e-e-como-funciona Acesso, 24 nov.
2014.
conhecimento e passam a serem sujeitos ativos deste processo (FREIRE, 1997). Em sendo
assim, em meio as relações interpessoais os sujeitos se moldam as especificidades de seus
movimentos sociais e incorporam a dinâmica própria destes movimentos. Gohn chama
atenção em seu artigo movimentos sociais e a educação ao apresentar as características das
aprendizagens possíveis nos mais variados movimentos sociais.
Assim, para ela, conforme Vygostky a aprendizagem ocorre quando se faz ou se tem
sentido para o sujeito aprendente. Significa, portanto que os movimentos sociais não se
prendem apenas com uma necessidade do sujeito, mas está voltado igualmente para todas as
dimensões complexas que permeiam o desenvolvimento integral daquele que sai da condição
de pobre coitado para emancipado socialmente, sujeito de pertencimento identitário e cultural
daquele grupo/comunidade. Desta forma, estão discriminados os diversos tipos de
aprendizagens que assim estão definidos por Gohn (2011, p. 353):
civil exigem clara vontade política das forças democráticas, organizadas para
a construção de uma sociedade de um espaço público diferente do modelo
neoliberal, construído a partir de exclusões e injustiças (2011, p. 357).
Isto, significa dizer que, a sociedade contemporânea se encontra da forma como está
devido ao protagonismo dos atores sociais que visam uma disputa política e administrativa no
sentido de combater todas as formas de injustiças sociais, de opressão e exclusão social,
características natas do neoliberalismo. Entender que nestes movimentos existem a
possibilidades de revidar o processo desumanizador do qual as classes sociais são vitimas é
importante porque se molda novos sujeitos críticos, reflexivos e autônimos no tecido social.
Contudo, somente uma educação que desaliene a percepção de sujeitos dominados
pelo sistema, é que pode viabilizar o entendimento de que é por meio das lutas sócias que se
chegará a tão sonhada sociedade justa, fraterna e igualitária.
que a produziu e que a move, e que ela ajuda a produzir e mover; que estão
no ‗estado da coisa‘, afinal, e não apenas nas ideias ou entre ideias sobre o
que dela se diz.
Nessa situação conflitosa, se faz necessário fazer jus as contradições e tensões em que
a educação do campo vem se fazendo à medida que se acentua a necessidade desta
modalidade de educação para os povos do campo. Pois, sabe-se que os povos do campo,
conhecidos como sujeitos diversos, possuem especificidades diferenciadas e que merecem
igual atenção. Permear um aprofundamento teórico acerca das contradições e tensões que
transitam no movimento social camponês por uma educação do campo é corroborar com a
efetividade da necessidade das lutas, mobilizações e reivindicações acerca desta educação que
seja para os povos do campo e não sobre os povos do campo.
A realidade que as tensões e contradições são características de violência contra a
dignidade humana, o direito a vida que todos têm. Os conflitos sociais não foram poucos e
ainda não acabou talvez tenham se camuflado, mas que estas contradições e tensões ainda
existem. Por conseguinte, é importante saber como de fato se conceitua a educação do campo.
Então, Caldart, traz em seu bojo, as especificidades concernentes ao como pode ser definida o
movimento da educação do campo, assim se concebe como:
muito usado variamente a preposição do/no. Assim, Caldart, nos explica o sentido
epistemológico da educação do campo, para ela, significa que:
Considerações
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D.P. Educational psychology: a cognitive view. New York, Holt, Rinehart and
Winston. 1963.
CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: notas para uma análise de percurso. Trab.
Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n. 1, p. 35-64,mar./jun.2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
LUCAS, Rosa Elane Antória. Os desafios da transição de uma educação rural para a educação
no e do campo: um estudo de caso na escola estadual de ensino fundamental cândida Silveira
haubman – de tempo integral – Arroio Grande/RS. XIX Encontro Nacional de Geografia
Agrária. São Paulo, 2009.
NOVASKI, Augusto J.C. Sala de aula: uma aprendizagem do humano. In: MORAIS, Regis
de (org.) Sala de aula: que espaço é esse? 6. Ed. Campinas: Papirus, 1993.
16
Especialista em Coordenação Pedagógica pela UFPB
diferentes conflitos e lutas no âmbito do campo, as quais são lutas políticas travadas contra a
exploração capitalista baseada nos interesses do latifúndio.
Podemos citar vários momentos dessa história de lutas e resistências na história do
povo brasileiro: desde 1500 com os indígenas, os escravos rebelados organizados em
quilombos, os posseiros, os trabalhadores do campo, entre outros, como relata Batista
(2006).
No Nordeste, na nossa região, entre Paraíba e Pernambuco salientamos o Movimento
das Ligas Camponesas, no período de 1955 a 1964, em prol da reforma agrária e dos direitos
do cidadão do campo. Momento em que se iniciam com maior organização a fundação de
órgãos de apoio ao trabalhador rural, como por exemplo, os sindicatos.
Com as novas demandas e sujeitos sociais envolvidos na conjuntura político-social
do país nas décadas de 1970 a 1980 se destacaram inúmeros movimentos na luta pela terra,
dentre estes o MST (Movimento Sem Terra), o qual, até os dias atuais questionam a estrutura
agrária do Brasil e lutam não apenas pelo direito à terra, assim como também, pelos direitos
sociais e humanos dos sujeitos do campo.
Dessa forma, as lutas desses sujeitos partem da percepção crítica de si mesmo
enquanto ―ser oprimido, como fala Freire (1987), e impulsiona cada vez mais os sujeitos em
busca dos direitos básicos ao homem do campo. Dentre esses direitos, a educação configura-
se como uma bandeira de luta desses movimentos.
Para Batista (2006), os movimentos sociais fertilizam a educação do campo buscando
valorizar os saberes construídos no âmbito da diversidade dos sujeitos e suas relações
sociais.
Assim sendo, as lutas desses movimentos se intensificaram em torno de uma
educação do campo, no campo e para o campo. Problemas como a falta de escolas,
infraestrutura, currículos inadequados, falta de investimentos e formação docente são
observados com frequência e tem sido pontos de discussão e reivindicação em âmbito
nacional.
Pois, segundo Batista (2006), os sujeitos do campo devem ser reconhecidos como
sujeitos de história e de direitos, que desejam ter suas especificidades respeitadas e tratadas
numa perspectiva de inclusão e alteridade.
Na perspectiva de buscar se firmar como ―ser social‖ vem surgindo vários movimentos
que nos direciona para uma via que inegavelmente não devemos e nem podemos deixar de
olhar, que é os movimentos sociais, trazendo na sua ideologia uma educação popular, onde
busca inserir o homem como agente histórico defendida pelo pensamento freiriano.
O indivíduo para se firma como produtor da sua história, tem que ter seus ideais
firmados numa vivência de mundo, onde ele possa interagir com sua realidade,
transformando e reorganização seu convívio.
As constantes lutas pela uma educação do campo que venha atender as reais
necessidades de uma escola campesina atrelado a uma realidade dos saberes próprios dos
estudantes, hoje está normatizado nas leis (LDB, Decretos e Resoluções).
Nota-se que para se definir uma real educação do campo, a escola e todos os seus
agentes terão que parti da realidade local, aliado ao conhecimento prévio dos estudantes,
estimulando e fazendo com que eles produzam conhecimentos técnicos respeitando as
diferença e igualdades ao qual estão submetidos.
No seu Art. 5º da Resolução CNE/CEB 1, 2002. As propostas pedagógicas das
escolas do campo, respeitando as diferenças e o direito à igualdade e cumprindo imediata e
plenamente o estabelecido nos artigos 23, 26, e 28 da Lei 9.394, de 1996, contemplarão a
diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de
gênero, geração e etnia.
O Decreto18 nº 7.352, de 4 de novembro de 2010, onde dispõe sobre a Política de
Educação do Campo e o Programa Nacional de Reforma Agrária – PRONERA. No seu
artigo 2º traça os princípios da educação do campo, onde diz que:
17
Recomenda-se a leitura da Resolução CNB/CEB 1, nos seus 16 artigos Institui as Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo, de 3 de abril de 2002.
18
Recomenda-se a leitura do Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010.
Com esses princípios legais a educação do campo tem subsidio para garantir o
desenvolvimento político educacional, superando as defasagens históricas de acesso a uma
educação escolar campesina, objetivando uma melhor participação da comunidade e dos
seus agentes.
Na Resolução19 nº 4 de 13 de julho de 2010, onde define as diretrizes curriculares
nacionais gerais para a educação básica, na seção IV, onde trata da educação do campo nos
seus artigos 35, 36, onde prever as peculiaridades da vida no campo e da identidade da
escola do campo. Onde diz que:
Considerações
Diante dos tópicos apresentados neste artigo observamos a atuação dos movimentos
sociais com relação à luta pelos seus direitos a terra e à educação de qualidade, em especial a
educação do campo. Notadamente, a escola pública do campo necessita de um diálogo
político pedagógico mais profundo com o meio na qual está inserida.
19
Recomenda-se a leitura da Resolução nº 4 de 13 de julho de 2010.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17º. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Introdução
O presente estudo tem como objeto ―as concepções que se materializam na educação
infantil em uma escola do campo e seus desafios‖. Resulta da experiência do PIBID/CAPES,
fomentando a parceria da Universidade (UFPE/CAA) com uma escola do campo, em
Caruaru-PE. Como objetivo geral, temos: Compreender como ocorre a materialização das
concepções de educação infantil na sala de aula e seus desafios. E como objetivos específicos:
Analisar as concepções de educação infantil que emergem na sala de aula; elencar os desafios
que se sobressaem na educação infantil na prática docente. Tal estudo justifica-se pela
necessidade de refletir concepções de educação infantil que sejam centradas no sujeito e suas
especificidades, observadas na escola do campo, motivando-nos a analisar a concepção
infantil e seus desafios na prática docente em uma escola do campo. O aporte teórico para
tratar da educação infantil se pautou em Angotti (2006); Barbosa (2008); Bujes (2001) e
Kishimoto (2001), para discutir a educação no campo nos referenciamos em Munarim et al.
(2010). Os resultados apontam para concepções de educação infantil pautadas em rotinas
repetitivas, empobrecidas, materializadas numa perspectiva adultocêntrica, hegemônica e
escolarizada, que pouco contribui com a formação das crianças do campo.
Educação infantil
Dessa forma, concebemos ser necessário buscar fontes teóricas e práticas que
elucidem a compreensão destes elementos formativos que estão inseridos no tempo e espaço
escolares. Há a necessidade de ações e instrumentos lúdicos, dinâmicos, históricos e culturais
imbricados com as ações pedagógicas orientadas pela docente, que estejam articuladas entre
si, considerando e valorizando as especificidades destinadas a educação infantil.
Educação do campo
Metodologia
Como explicitado pela autora, o diário de campo é uma espécie de registro que
possibilita evidenciar e estruturar de forma sistematizada elementos relevantes das nossas
vivências, experiências e observações através da descrição diária e fidedigna dos
acontecimentos, das reflexões realizadas e dos fatos que surgem cotidianamente. Sendo este
considerado um instrumento científico fundamental de registro, observação e de informação,
permitindo-nos rememorar situações e fatos vivenciados.
Os “achados” da pesquisa
Considerando que o estudo teve como objeto ―as concepções que se materializam na
educação infantil em uma escola do campo e seus desafios‖, desenvolvido em 2016, numa
escola do campo em Caruaru-Pernambuco, este teve por objetivos analisar as concepções de
educação infantil que emergem na sala de aula; e elencar os desafios que se sobressaem na
educação infantil na prática docente.
É concebido como perverso o processo de escolarização precoce das crianças na pré-
escola, pautado na rigidez dos horários e atividades, nas rotinas repetidas e empobrecidas
(BUJES, 2001), este, tem sido alimentado pela escola e recebido sérios questionamentos dos
pesquisadores deste segmento da educação básica.
Com base na perspectiva acima exposta nos reportamos ao extrato a seguir:
comprometendo também a interação entre aluno-professor que fica sob um olhar autoritário,
na relação de mandar e obedecer.
Sendo a interação um elemento fundamental na educação, a distorção dessa
compreensão pode acarretar a materialização da concepção adultocêntrica, nessa perspectiva
Kishimoto (2001) afirma que:
escolas, este fato implica em um processo em que os docentes não contam com um
acompanhamento efetivo, um diálogo constante.
No que diz respeito à complexidade de lidar com o movimento das crianças, a docente
utiliza atividades para conter o movimento das mesmas, controlando suas ações, suas falas e
restringindo-as ao acesso de espaços em que ocorram as interações entre si.
Em síntese, na concepção de Paschoal; Machado (2009, p. 80, apud BARRETO, 1998,
p. 25) reiteram que:
Desse modo, vale salientar que no decorrer das experiências educacionais são diversos
os elementos desafiadores emergentes neste contexto da educação infantil que permeiam as
perspectivas históricas e que são vivenciados no chão das escolas, onde nos deparamos com
diferentes realidades e diversos desafios que podem vir a ser superados.
Resultados e Conclusões
Referências
ANGOTTI, Maristela (Org.) Educação Infantil: para quê, para quem e por quê? Campinas,
SP: Editora Alínea, 2006.
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. –
Porto Alegre: Artmed, 2008.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Escola Infantil: Pra que te quero? In. CRAIDY, C. M.
Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2001, p.13-22.
CALDART, R. S. Educação do Campo. In. CALDART, R. S.; PEREIRA, I. B.;
ALENTEJANO, P.; FRIGOTTO, G. (Org.) Dicionário de Educação do Campo. Expressão
Popular. Rio de Janeiro, 2012, p. 257-264.
Introdução
Este texto tece reflexões sobre educação do Campo e sobre escola no campo e foi
motivado a partir das aulas da Disciplina Educação do Campo: Princípios e Fundamentos 20,
do curso de Pós-graduação Especialização em Educação do Campo da Universidade Federal
da Paraíba, Centro de Educação, do Departamento de Educação do Campo, na qual fomos
instigados a conhecer uma escola do campo. Para tanto realizamos uma pesquisa campo na
Escola Municipal Marino Eleóterio no Município de Conde.
20
Ministrada pela Dra. Maria do Socorro Xavier Batista, da UFPB, a qual orientou este trabalho.
historicamente fizeram referência aos povos do campo como pessoas que necessitam de
assistência e proteção, na defesa de que rural é o lugar do atraso. Trata-se do rural pensado a
partir de uma lógica economicista, e não é comum um lugar de vida, de trabalho, de
construção de significados, saberes e culturas.
A criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930, apesar de apontar
para a organização de um sistema nacional de ensino, não contemplou uma estrutura
organizacional para a educação rural, a qual continuou subordinada ao Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio. A partir daquele momento, a população camponesa passou
a ser alvo de campanhas educativas dispersas que tinham como objetivo fixar homens e
mulheres no campo, sendo o ensino primário e o aprendizado agrícola de nível elementar
incluídos nas estratégias dos projetos de colonização agrícola.
Na década de 40 surgiram programas de destaque, tanto sob a responsabilidade do
Ministério da Agricultura como do Ministério da Educação e Saúde.
Na década de 60 e 70 no âmbito nacional foi à criação de programas para o meio rural como:
Superintendência da Política de Reforma Agrária (SUPRA), em 1962; o Instituto Brasileiro
de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário (INDA), nas
décadas de 1970 e 1980 se destacam as lutas dos povos da floresta e o surgimento do conceito
de Educação do Campo, quando no cenário da política brasileira um conjunto de lutas, de
organizações e movimentos sociais no campo questionaram a estrutura agrária existente e
persistente, as desigualdades e reivindicando reforma agrária e mudanças na sociedade
brasileira. A partir da década de 1990 os movimentos sociais do campo se mobilizam e luta
por uma política de educação que contemple as especificidades e a diversidade das diferentes
populações camponesas que vivem do/no campo, assim, a Educação do Campo passa a ser
inserida no ordenamento jurídico das políticas educacionais. As políticas públicas de
Educação do Campo, promovidas pelo Ministério da Educação (MEC), efetivam-se em forma
de Programas como: PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) e o
PROCAMPO (Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do
Campo), que organizam cursos de Licenciatura do Magistério nos anos finais do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio nas escolas do campo.
O PRONERA tem como objetivo ampliar os níveis de escolarização formal dos
trabalhadores rurais assentados, atuando como instrumento de democratização do
conhecimento no campo, ao propor e apoiar projetos de educação que utilizam metodologias
voltadas para o desenvolvimento das áreas de reforma agrária. O programa tem como essência
capacitar os membros das próprias comunidades onde serão desenvolvidos os projetos na
perspectiva de que sua execução seja um elemento estratégico na promoção do
desenvolvimento rural sustentável. De acordo com o artigo: Art.17.
O PRONERA contará com uma Comissão Pedagógica Nacional, formada por
representantes da sociedade civil e do governo federal, com as seguintes finalidades:
A Educação do Campo é aquela que está alicerçada nos valores e atitudes dos
camponeses, que protagonizam essa proposta educativa;
alunos de Educação Infantil e Primeiro Ano, sendo estes nove alunos e a segunda turma com
as séries de Segundo e Terceiro ano com vinte e um alunos, totalizando três classes
multisseriadas que formam esta escola somando o atendimento aos quarenta e seis alunos.
A escola disponibiliza a comunidade quatro professoras, sendo duas pela manhã e
duas à tarde, dispõe de apenas duas salas. Oferta a Educação Infantil, o Ensino fundamental
até o 5 ano e a Educação de Jovens e Adultos – EJA do 1º ao 4º anos o ensino da EJA
acontece em outro prédio. O Regime interno da escola é de elaboração da Secretaria de
Municipal Educação sem nenhuma contribuição do conselho existente na escola, que devido
ao número de alunos este passa a ser consociado com outras escolas de Tambaba, Garapú,
Barra-Gabatam, funcionários, pais e alunos das mesmas.
A Secretaria Municipal de Educação do Conde é a responsável pelo fornecimento da
merenda escolar, como cereais, raízes, carnes, biscoito, atendendo um cardápio estabelecido
para as escolas da rede municipal.
Os alunos são moradores da agrovila do Assentamento Gramame e circunvizinhança
da escola, do povoado indígena Tabajara que desenvolve um projeto cultural na escola e a
comunidade Vilage, advindos de famílias de baixa renda.
Conclusões
Referências
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento sem terra. Expressão popular, 2004.
LEITE, Sergio Celani. Escola Rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo,
Cortez Editora, 1999.
MEIRE S. Azevedo de. (orgs.). Por Uma Educação do Campo: Contribuições Para a
Construção de Um Projeto de Educação do Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional ―Por
uma Educação do Campo, 2004 caderno 5.
Introdução
valorização de quem vive e trabalha no campo. O direito à educação para e com os próprios
sujeitos, ―pretende ser uma etapa significativa na história da construção do direito dos povos
do Campo à educação.‖ (II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo, p.2)
Uma nova perspectiva de sujeito histórico surge com a formação humana vinculada ao
campo como um projeto emancipatório. Dessa forma:
Esta visão do campo como um espaço que tem suas particularidades e que é
ao mesmo tempo um campo de possibilidades da relação dos seres humanos
com a produção das condições de existência social conferem à Educação do
Campo o papel de fomentar reflexões que acumulem força e espaço no
sentido de contribuir na desconstrução do imaginário coletivo sobre a
relação hierárquica que há entre campo e cidade; sobre a visão tradicional do
jeca tatu, do campo como o lugar do atraso. A Educação do Campo
indissocia-se da reflexão sobre um novo modelo de desenvolvimento e o
papel para o Campo nele. Deve fortalecer identidade e autonomia das
populações do Campo e conduzir o povo do Brasil a compreender haver uma
não hierarquia, mas complementaridade: cidade não vive sem campo que
não vive sem cidade. (FERNANDES E MOLINA, 2004, p. 40)
A educação do campo deve ser o ponto de partida par o fim da hierarquia estabelecida
entre campo e cidade. Isso leva ao reconhecimento de uma cumplicidade na qual ambos têm
muito a contribuir.
A Escola precisa ajudar a enraizar as pessoas na sua cultura: que pode ser
transformada, recriada a partir da interação com outras culturas, mas que
precisa ser conservada; porque não é possível fazer formação humana sem
trabalhar com raízes e vínculo; porque sem identificar raízes não há como ter
projeto. Isto quer dizer que a escola precisa trabalhar com a memória do
grupo e com as raízes culturais. (CALDART, 2004, P. 27)
Salas: 8
Banheiros: 3 – 1 masculino, 1 feminino, 1 funcionários
Secretaria: 1
Cozinha: 1
Espaço para lazer
1 Sala de recurso
1 laboratório de informática
Fundação: 11/02/2008
Conquistas
Anexo da Escola Municipal Deputado Flaviano Ribeiro Filho
Construção de salas e espaço para lazer
Laboratório de Informática
Reforma na escola realizada pela empresa Alpargatas
Conclusão
Referências
II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo. Por Uma Política Pública de
Educação do Campo. TEXTO BASE. Luziânia- GO, 02 a 06 de agosto de 2004. Disponível
em: http://www.cnbb.org.br/documento_geral/IIConferênciaNacPorUmaEducCampo.doc
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Editora Companhia das
Letras, 2011.
Introdução
Qual educação?
21
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal Fluminense.
literatura marxista, o trabalho é um processo que permeia todo o ser do homem e constitui a
sua especificidade, o trabalho humano não se separa da esfera da necessidade. Ainda assim,
porém, a relação entre necessidade e liberdade é historicamente condicionada e variável.
Segundo Frigotto (1998), nos processos formativos do início da crise do modo de
regulação social fordista (anos 1950-1960), a educação formal e a qualificação profissional
apareceram como formadores do capital humano². Hoje a educação formal e a qualificação
profissional são situadas como elementos da competitividade, da reestruturação produtiva e da
empregabilidade; no campo ideológico, desloca-se de uma responsabilidade do Estado para
uma questão individual. Nesse deslocamento aparentemente inocente, esconde-se uma
metamorfose na sociabilidade do capital, como também no campo do conteúdo da educação.
Já não há políticas de emprego e renda dentro dessa sociabilidade, mas trabalhadores/as que
devem adquirir novas competências ou habilidades no campo cognitivo, técnico, de gestão e
de atitudes para se tornarem úteis a esse mercado. Aos desempregados, a estes, devem sempre
se requalificar profissionalmente para conseguir emprego, ou criar seus próprios empregos no
mercado informal ou partir para a economia de sobrevivência. Com isso, busca-se sedimentar
uma consciência alienada de que os vencedores ou os incluídos lograram sucesso porque se
esforçaram para tanto.
Frigotto (2010) aponta que há um entendimento equivocado em não considerar a
educação como parte constituída e constituinte de um contexto social mais amplo, uma
sociedade dividida em classes, frações de classes e grupos sociais distintos e desiguais.
Segundo ele, a explicação para esse equívoco se baseia nas visões iluministas, economicistas
e reprodutivistas22. Entendemos que a educação não pode ser analisada isoladamente, mas
compreendida na complexidade de suas relações e dentro de uma totalidade histórica e
contraditória. Ela se define no jogo de poder que é travado entre o projeto societário imposto
pela burguesia e o projeto que segue na contramão, do qual faz parte a classe trabalhadora
brasileira:
Concordamos com a tese que afirma que temos uma "dívida" histórica com a educação
da classe trabalhadora que remete ao período colonial e que perdura passando pelo período
inicial da hegemonia do ideário neoliberal na década de 1990 até os dias de hoje. Os teóricos
sociais, políticos e econômicos, de um lado, nos subsidiam com elementos de análise para
compreendermos a correlação de forças entre as disputas de projetos de sociedade. E por
outro lado, nos permitem entender que o projeto de educação pensado e praticado pela classe
dominante não condiz com uma escola unitária, sendo assim, não se faz necessário lutar para
22
Na primeira visão, a educação é entendida como um instrumento libertador da ignorância e construtor de
cidadania. Na segunda, sob o olhar dos economistas, a educação é propalada como formadora de capital humano
e produtora de competências. E na última nos informa que a educação não é vista como uma força
bidimensional, apenas como unidimensional do capital. Concordamos que a educação está permeada por essas
três visões citadas, "porém, a natureza destas mediações se define pelas relações de poder existentes no plano
estrutural e conjuntural da sociedade" (FRIGOTTO, 2010, p. 29).
que ela seja universal, gratuita, laica e politécnica. Essa disputa de projeto cede lugar a
questionamentos no campo da educação. É nesse sentido que a burguesia tem como projeto
político-pedagógico uma escola dual, com políticas estreitadas ao ensino profissionalizante
para formar o "cidadão produtivo", subserviente e passivo conforme as demandas do capital e
do mercado de trabalho.
A categoria trabalho, já dentro do contexto da sociedade classista, traz uma relação
conflituosa, de força, de poder e de violência. Percebemos que, enquanto imperar o modo de
produção capitalista, a educação também será dividida tanto para a classe que domina, quanto
para a classe dominada. Aos filhos da classe trabalhadora será oferecida uma escola precária,
com baixo grau de escolaridade, serão subtraídas possibilidades de um ensino de qualidade
para esses jovens. Vale ressaltar que estamos retratando duas concepções diferentes de
educação. Uma para os filhos da classe trabalhadora, aos quais impera a urgência para que
ingressem o quanto antes no mercado de trabalho, outra para os filhos da classe burguesa, os
quais irão permanecer mais tempo na escola para que sua formação dialogue com outros
campos do saber.
Entendemos, dessa forma, que a relação trabalho e educação em nosso país está
deslocada do nosso contexto social, ou seja, a compreensão da realidade educacional é uma
prática contraditória e, enquanto tal, se faz constar na luta entre as classes fundamentais. No
entanto, essa luta, tanto na fábrica, como na escola e em outros espaços formativos – sendo
estes aparelhos de hegemonia –, está longe de ser assimilada intelectualmente na direção das
transformações históricas.
Com isso, acreditamos que, além dos desempregados, os trabalhadores/as que estão
excluídos do mercado formal compartilham de outros mundos do trabalho. Sob essa
perspectiva, para os/as trabalhadores/as do Assentamento Capelinha, é primordial tentar
garantir a reprodução ampliada da vida e não somente do capital, considerando que:
Apesar disso, a autora afirma que, na atualidade, a Educação do Campo, como um dos
espaços da educação popular:
pode ser identificada como uma das propostas educativas que resgata
elementos importantes da concepção de educação popular e, ao mesmo
tempo, os ressignifica, atualiza e avança nas formulações e práticas
direcionadas a um público específico. (PALUDO, 2012, p. 285)
Citamos aqui a relevância do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, que,
no caso brasileiro, se revela como um movimento fértil para a discussão e a concretização de
processos educativos populares. De acordo com Caldart (2000), existe uma forma de olhar
para o MST e sua construção histórica que nos permite enxergá-lo como um Movimento
atento à sua questão de educação e pedagogia, que:
Sabemos que o MST tem na luta pela terra sua espinha dorsal, mas ela não é a única.
As próprias escolhas que fez ao longo dos tempos tiveram um caráter específico no sentido de
inserir todos os membros da família no seio da luta. Essas características levaram o
Movimento a desenrolar outras lutas sociais combinadas. Elas envolvem questões
relacionadas à produção, à educação, à saúde, à cultura, entre outros direitos, e se fortalecem
na medida em que se aprofunda, no próprio processo de conscientização de seus integrantes, o
reconhecimento de si mesmos como sujeitos portadores de direitos e merecedores de uma
vida digna.
Com a combinação de diversas formas de luta, o MST acabou construindo um modelo
que congrega múltiplas dimensões, uma delas é a flexibilidade de um movimento social onde
todos podem participar. Caldart (2000) aponta a dificuldade dos estudos sobre movimentos
sociais de definir o MST. Para resolver essa situação e deixar clara a sua posição, o MST
criou "uma denominação para si próprio: uma organização social de massas, em que a
combinação de características contraditórias se coloca exatamente como um dos pilares de sua
identidade" (CALDART, 2000, p. 127).
Inferimos, então, que os integrantes do Movimento não devem ser vistos como vítimas
passivas perante a sociedade, mas sim percebidos como sujeitos detentores de um potencial
ativo, criador e produtivo. Um dos princípios do MST é a luta estrutural contra o capital. Sua
identidade política vem através da superação das relações sociais, pois ―potencializa o
principal traço da humanidade, que é a possibilidade de fazer-se e refazer-se a si próprio,
enquanto contesta a ordem estabelecida, problematiza e propõe valores, transforma a
realidade e se produz como sujeitos da história‖ (CALDART, 2014, p. 133). Logo,
percebemos o MST como espaço formativo e educativo de sujeitos sociais, como luta
germinadora de um modelo de desenvolvimento apartado das necessidades dispensáveis do
capital.
Essa jovem senhora aqui [se referindo à Zenir], ela veio pra cá com três ou
quatro anos, mas ela fazia uma briga na porta da cozinha imensa. Porque
chegou uma época que o coordenador, o Jorge Porfirio, proibiu criança na
cozinha por causa de panela pra lá, panela pra cá. A cozinha era pequena,
mas ela chegava na porta da cozinha e fazia uma pirraça. Ela falava assim:
'eu não saio daqui' [risos]. Ela queria uma faca pra cascar, cascar batata,
inhame, cascar mamão. E teve uma vez que ela cortou o dedo, então,
proibiram. Mas ela fazia uma pirraça, minha filha, ninguém tirava ela da
cozinha, ela queria cascar, cascava o dia todo.
Os saberes produzidos em nosso dia a dia de vida e de trabalho são conhecimentos que
devem ser reconhecidos. Esses saberes produzidos historicamente como valiosos e
indispensáveis para que os sujeitos elaborem uma compreensão do mundo atuem de maneira
autônoma na produção da existência. Assim, esses saberes são oriundos da prática e da
reflexão e guardam em seu surgimento muitos conhecimentos, que na atualidade possuem teor
científico.
É interessante notar a satisfação de Dona Hélia por aprender, através de um curso
promovido pelo MST para o coletivo de saúde, a utilizar plantas medicinais. Ela já sabia
produzir alguns remédios caseiros, mas o fato de aperfeiçoar esse conhecimento através da
Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz foi determinante para o reconhecimento de seu próprio
saber: "eu fui até no centro de pesquisa Oswaldo Cruz, eu fui!".
Dona Regina também lembra dessa experiência:
A doutora Susana era doutora de hospital de Niterói. Ela deu um curso (...),
nós fizemos vários tipos de remédios, cursos de pomada, que passei pra
Dona Nete. O esposo dela tinha problemas de hemorroida. Ela era feita com
erva Maria Preta, o pessoal conhece ela como erva baleeira. (...) Dona Nete
levou, uns tempos depois me procurou aqui pra falar que o esposo dela ficou
curado através dessa pomada. Então nós aprendemos muitas coisas, fazer
tintura pra febre, pra dor e pomadas (...) Foi uma coisa muito importante que
aconteceu no nosso Assentamento.
Porque nós não vamos mais estar aqui e se a gente não construir essa
história, isso vira latifúndio de novo. Nós precisa de tá fazendo isso aí que
você tá fazendo. É muito bom pra nós, não é só pra você não. Você vai tá
divulgando essa história que cada um de nós constrói nossa história. Você
está escrevendo isso que Regina, Hélia, Nete falou. O jovem amanhã que
estiver estudando na escola, vai tá lendo isso. Isso é bom pra nós, pros
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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nossos filhos, pros nossos netos. Assim por diante. Meus netos, eu quero que
tenham um futuro melhor que eu. [grifo nosso]
Nós hoje tem que tá resgatando nossos jovem. Falo pros meus filhos, por
melhor que papai do céu seja, não estarei mais aqui daqui a vinte anos, e não
vai tá aqui os cinco que começaram isso aqui. E quem vai ter que tá
seguindo é ela [aponta para Daniela, neta de Dona Nete], é ela. [grifo nosso]
Concordamos com ele no entendimento de que a luta deve continuar, pois ela
ultrapassa os limites da conquista da terra pura e simplesmente. Uma das estratégias centrais
para a manutenção da luta contra o modo de produção capitalista é a de insistir em se agrupar
e elaborar diversas maneiras coletivas para a manutenção da vida e para a formação de
sujeitos de transformação da realidade.
Com efeito, segue viva e atual a ideia de luta de classe como motor da história. Zé
Brum, a partir de sua experiência de luta, ensina como sentir de forma mais branda, na alma e
na pele, as contradições entre trabalho e capital: "um bambu sozinho é fraco, mas quando se
junta com os demais se torna forte e aguenta mais o vento".
Conclusões
Referências
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento sem terra: escola é mais do que escola.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
CORAGGIO, José Luís. Da economia dos setores populares à economia do trabalho. In:
KRAYCHETE, Gabriel; LARA, Francisco; COSTA, Beatriz (Org.). Economia dos setores
populares: entre a realidade e a utopia. Petrópolis: Vozes, 2000.
COSTA, Dora Henrique da; TREIN, Eunice. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável
sob a ótica da relação trabalho e educação. In: VENTURA, Jaqueline; RUMMERT, Sonia
(Org.). Trabalho e Educação: Análises Críticas sobre a escola básica. Campinas: Mercado da
letras, 2015.
Introdução
A prática da leitura e da escrita é o maior resultado que pode ser atingido em todo o
processo no âmbito escolar, no entanto, para que este objetivo seja realizado, é necessário que
a escola saiba buscar um caminho que sirva e que na verdade seja condizente para com a
realidade dos discentes, de modo responsável e com atitudes voltadas para o sucesso escolar
de todos, independentemente de qualquer classificação entre os sujeitos na situação de
aprendizes.
Saber ler e saber escrever significa a abertura de uma grande porta para o mundo, mas,
para que a escola possa alcançar este nível de desenvolvimento pleno, é obvio , que haja um
encadeamento sistemático de atividades , ora no sentido diagnostico ou formativo em relação
as práticas que favoreçam o desenvolvimento pleno do ser humano através da linguagem
verbal ( leitura e escrita), assim como da linguagem não-verbal e nos dias atuais, ainda temos
que acrescentar a linguagem virtual, realizada através dos aparelhos eletrônicos ( celular e
computador ), usados atualmente em grande escala como meio de comunicação por quase
todos os alunos da Educação Básica nas mais variadas e diferentes classes sociais e territórios
(urbanos e rurais ).
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Justificativa
Para um maior entendimento, diz Oliveira, Gislene C. 2015, p.16 que o sistema
nervoso coordena e controla todas as atividades do organismo, desde as contrações
musculares(...) Integra sensações e ideias , opera os fenômenos de consciência, interpreta os
estímulos advindos da superfície do corpo. Daí, ser este corpo um receptáculo maior
enquanto fonte onde resgatamos a nossa identidade , nossos desejos e nossas limitações.
Afinal o homem é o seu corpo em desenvolvimento através das sensações e percepções.
Salientando ainda que segundo Chazaud, 1976, p. 33, que a emoção é o fator
fundamental das relações entre os indivíduos. Emoção é um movimento; movimento do corpo
e da alma.
Por essas afirmações destes teóricos verifica-se que à medida que o desenvolvimento
intelectual do ser humano ocorre em justaposição que o analfabetismo e a ignorância vai
sendo superado na sociedade, surge uma nova perspectiva que consiste em si apropriar de
novas práticas educativas, para a aquisição de novas habilidades intelectuais, principalmente
o da aprendizagem da leitura e da escrita , ou seja , para usá-las socialmente e responder
adequadamente as respectivas demandas sociais de sua utilização pelos sujeitos populares.
Portanto, é por isso que trouxemos para esta discussão a questão da prática da
psicomotricidade como fundamento para o desenvolvimento da aprendizagem da leitura e
escrita , tomando como norteamento as aulas de linguagem de forma mais significativas ,
aproximando da escola do campo o estudo da língua e a prática social de acordo com sua
realidade social e cultural através do conhecimento do seu próprio corpo e a relação com o
poema popular e a música com estimulante na condução do movimento do corpo.
Afinal, no ambiente escolar tudo contribui ou se estabelece para o insucesso escolar,
principalmente pela justificativa que usam grande parte dos profissionais, não haver na escola
recursos materiais para desenvolver um bom trabalho ou uma educação de qualidade. No
entanto, na grande falta do material didático, seria a hora de se aproveitar o próprio corpo
como recurso para uma maior desenvolvimento intelectual dos alunos através do
multiletramento.
Neste caso, realizamos algumas atividades usando como recursos didáticos a música e
a dança (ciranda), por ser uma dança que coloca o corpo em movimento e que exige do sujeito
um certo desenvolvimento psicomotor, através dos elementos indispensáveis na realização da
atividade, assim como : o equilíbrio, a tonicidade , a lateralidade e o ritmo, onde estes e
outros elementos psicomotores são desenvolvidos , mediante a intenção planejada pelo
professor a ser desenvolvida com a turma para se obter um maior desenvolvimento no
processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita.
Principalmente na aquisição da leitura, por exigir do sujeito (discente) alguns
desenvolvimentos prévios, por isso, buscamos relacionar a psicomotricidade ao letramento.
Um dos múltiplos desafios a ser enfrentado pela escola é o de fazer com que
os alunos aprendam a ler corretamente. (... ) Isto é lógico, pois, a aquisição
da leitura é imprescindível para agir com autonomia nas sociedades letradas,
e ela provoca uma desvantagem profunda nas pessoas que não conseguem
realizar essa aprendizagem. (SOLÉ, 1998, p 32).
Objetivos:
Metodologia
Esta pesquisa foi realizada sob tipo qualitativa empregando-se a técnica da observação
participante durante alguns encontros e aplicação de atividades, tendo-se como contexto
principal o estudo de alguns teóricos sobre psicomotricidade e letramento e o
desenvolvimento de uma sequência didática com os alunos do 9º (nono) ano do Ensono
Fundamental da Escola Estadual Arnaldo Maroja situada no assentamento do Grande
Alagamar no Município de Salgado de São Félix-PB.
A escola encontra-se situada em um local considerado de difícil acesso e atende
principalmente aos alunos que são moradores próximos da Escola e das comunidades vizinhas
do mesmo assentamento , como : Maria de melo, Piacas, Urnas e furnas . Os próprios alunos
da me4sma comunidade ( Alagamar ) enfrentam dificuldades para chegarem a Escola, por
residirem distantes e grande parte das casa ficarem nas serras ( partes mais altas ) que
dificultam o percurso, principalmente no período chuvoso.
Foto – 1 : Escola Estadual Arnaldo Maroja - local onde foi desenvolvido a sequência didática com os alunos do
9º ano do Ensino Fundamental. Escola do Campo.
Foto - 2: Recepção da Gestora Escolar Profa. Aldineide Bernardo da Silva, na primeira visita para
reconhecimento da Escola e da turma.
O estudo teórico foi de grande valia para entendermos alguns conceitos teóricos e
conhecer pensamentos e afirmações segundo as pesquisas já realizadas sobre os assuntos que
se encontram focados neste trabalho.
Quanto a sequência didática se deu normalmente, após uma visita à Escola para
conversarmos com a Gestora Escolar e conhecermos a turma , onde tivemos o primeiro
diálogo totalmente informal para buscar ambiente, reconhecimento da realidade da escola e
da turma através do contato direto com os alunos para aplicação das atividades.
Em primeiro lugar, em sala de aula usamos uma música para reflexão e relaxamento
da turma , como um dos principais movimentos para avaliação psicomotora. Usamos ainda
uma música de uma ciranda, dança que inspira exigência de alguns dos elementos
psicomotores, assim como: ritmo, lateralidade, esquema corporal, tonicidade, coordenação
corporal, e outros para observação e análise e uma possível forma de se trabalhar o
desenvolvimento da psicomotricidade dos alunos e alunas.
Dando continuidade as atividades em um outro dia, aproveitando o texto da mesma
música, buscamos trabalhar as habilidades da leitura coletiva, tendo como respaldo e recurso
o movimento corporal desenvolvido durante a dança com esta mesma música. Salientando
que, por se tratar de uma comunidade e uma escola do campo, a ciranda é uma dança que
comum e que não causa nenhum constrangimento para a realização da mesma.
No entanto, foi uma forma viável de relacionarmos a psicomotricidade e o
multiletramento, na medida em que fomos usando a linguagem verbal e não verbal, ou seja, o
texto escrito, a música, a dança e principalmente o movimento corporal através da dança e a
interpretação reflexiva do texto como forma de se trabalhar leitura e escrita com os alunos na
escola do campo.
Resultados
Antes de tudo é preciso parar, refletir e inovar a prática pedagógica. Trazer para o
ambiente escolar a relação da psicomotricidade e o multiletramento foi uma forma inovadora,
que consideramos ter rendido um bom resultado com perspectivas de futuro com um
aproveitamento maior.
Se trabalhar uma sequência didática nas aulas de Língua portuguesa incluindo
psicomotricidade na busca de querer tornar os alunos letrados deu certo, imagine, fazendo a
inclusão deste proposta em um currículo escolar com duração de um ano letivo em todos os
anos do Ensino Fundamental.
Conclusção
do Campo. Salientando que estes alunos já prenderam esta língua, muito antes de chegarem à
escola, porém de acordo com a realidade cultural de sua família, havendo assim, a
possibilidade de variedades linguísticas que devem ser respeitadas a vez e a voz dos alunos e
assim trabalhadas para que eles não percam a confiança em si próprio em relação ao uso e
emprego da língua, como forma de manter a relação com os outros e com o mundo. É preciso
ensinar-lhe a utilizar adequadamente a linguagem em instâncias públicas , a fazer uso da
língua oral de forma competente. Eleger a língua como conteúdo escolar, exige o
planejamento especial e de ação pedagógica de forma a garanti , na sala de aula , atividades
sistemáticas de ― fala, escrita e reflexão sobre o uso da língua .É fundamental que essa tarefa
didática se organize de modo, que os alunos possa participarem das atividades de forma
mais informais e coloquiais, pelo fato de já dominarem ao entrar na escola a outras mais
estruturadas e formais , sendo assim , que eles possam conhecer u usar outros modos de
funcionamento da língua e principalmente, aprender e usá-los de acordo com as orientação
da escola e que o conteúdo trabalhado lhe valha a pena e usando contextos significativos.
E assim, considerando que o ensino deve ter como meta formar leitores que sejam
também capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos -
e que a relação entre essas duas atividades deve ser compreendida e para esta realização é
fundamental que a escola possa trabalhar o desenvolvimento psíquico e motor dos alunos.
Referências
ALVES, Fátima. Psicomotricidade : corpo ação e emoção. 4 ed. Rio de janeiro. WAk.
2008. Rio de janeiro.
CHAUZAD, Jacques. Introdução a psicomotricidade. Editora Manole.são Paulo, 1976.
FONSÊCA, Vitor da. Psicomotricidade. Livraria Martins Fontes. Editora Ltda.1983 – São
Paulo.
LOVISARO, Martha. A psicomotricidade aplicada na escola. Wak editora. 2 ed. Rio de
janeiro. 2011.
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade . Educação e reeducação num enfoque
psicopedagógico. Editoras Vozes. 20 ed. 2015.
PCN – Língua Portuguesa – Volume 2 – 3 ed. Brasília – 2001.
PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino . 2 ed. Editora sulina. 2013. FNDE.
ROJO, Roxane. Letramentos Múltiplos: escola e inclusão social. São Paulo. Parábola
editorial. 2009. 128p.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leituras - 6 ed. Porto Alegre. Artmed . 1998
SILVA, Jaqueline Luzia da. Letramento : Uma prática em busca da (re)leitura do mundo. Rio
de janeiro: WAK. Ed. 2009.
Introdução
Este trabalho foi desenvolvido de acordo com a proposta de uma das disciplinas do
Curso de Especialização em Educação do Campo, da Universidade Federal da Paraíba-UFPB.
Onde buscou-se apresentar uma experiência a partir de uma visita a uma escola no campo.
Nesse sentido, a discussão está estruturada da seguinte forma: inicialmente, apresenta-se o
tópico Reflexões sobre Educação do Campo, onde trata da trajetória da Educação do Campo,
dando ênfase a discussão acerca do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária –
PRONERA; em seguida, no tópico Conhecendo uma Escola no Campo, a abordagem ocorre
acerca da infraestrutura, do pessoal envolvido e da proposta pedagógica da escola,
apresentando dessa forma, os resultados acerca da visita realizada.
Entre estas conquistas apresentadas, são notórios também os avanços nas políticas ou
programas de educação do campo, a exemplo do Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária – PRONERA, que foi criado em abril de 1998 pelo Ministério Extraordinário de
políticas fundiárias, a partir das lutas dos movimentos sociais e sindicais do campo. O
PRONERA busca fortalecer a educação nas áreas de Reforma Agrária, através de
metodologias voltadas para a especificidade do campo, objetivando contribuir para a
promoção do desenvolvimento sustentável. Podemos citar como seus princípios básicos a
inclusão, a participação, a interação e a multiplicação, baseando-se na relação indissociável da
educação e do desenvolvimento territorial com condição essencial para a qualificação do
modo de vida da população assentada.
que poderia servir para estas atividades com as crianças, porém as turmas se revezam para o
recreio, pois o referido ambiente tem uma fossa e uma caixa-d‘água e há receio em deixar as
crianças brincarem no local. Com relação à estrutura da escola, essas foram algumas
dificuldades que pude perceber na visita realizada, de acordo com os relatos e a observação do
ambiente escolar.
No que diz respeito ao Projeto Político-Pedagógico da escola, não tive oportunidade
de analisá-lo, mas segundo a direção, o mesmo não considera a realidade do campo, porém
encontra-se em reformulação. De acordo com os relatos, o PPP será reformulado
considerando as especificidades da educação do campo, nesse sentido, as reuniões e
discussões já foram iniciadas. Quando perguntei se a realidade do campo é considerada no
contexto escolar, conforme prevê a legislação da Educação do Campo, mesmo não estando o
PPP voltado para essa questão, a direção afirma que estão tentando trabalhar nessa
perspectiva. A gestora esclarece que, atualmente, nos planejamentos já existem iniciativas dos
professores/as em considerar a realidade da comunidade local no cotidiano escolar, nesse
momento ela cita o nome e uma das professoras que está empenhada em trabalhar nessa
perspectiva. Pelos relatos, a gestora parece empenhada em contribui nesse processo.
A experiência foi muito gratificante pela oportunidade de confrontar a minha
concepção com a realidade vivenciada e de presenciar o entusiasmo da gestão em trabalhar na
perspectiva de uma educação que contemple aquela realidade.
Conclusões
Em face do que foi proposto, discorro aqui sobre algumas considerações: diante da
trajetória da educação do campo, é possível perceber, nessa longa caminhada, avanços no que
diz respeito às lutas, discussões e à legislação, mas ainda é preciso muito trabalho para que
esses avanços cheguem à escola; de acordo com o relato apresentado, a proposta pedagógica
não atende aos princípios da educação do campo, porém percebe-se um comprometimento em
contribuir para que o campo ultrapasse os muros da escola, que a reformulação do Projeto
Político-Pedagógico se concretize e que, com essa concretização, o PPP deixe de ser apenas
um instrumento para constar nos documentos da escola. Se a escola caminhar nessa
perspectiva, pode-se afirmar que o PRONERA está colhendo bons frutos. A educação dos
diferentes grupos tem especificidades que precisam ser consideradas e respeitadas. Para que
isso ocorra, é preciso que os espaços de educação sejam ocupados por sujeitos que tiveram
oportunidades de conhecer a proposta da educação do campo e que essa proposta seja cada
vez mais difundida e considerada no cotidiano escolar.
Referências
Introdução
Os processos que regem a educação possuem, por excelência, uma função social. A
escola enquanto instituição promotora de valores formativos e simbólicos, sempre representou
para as sociedades o aporte basilar para a formação dos cidadãos e cidadãs. Assim sendo, com
o intuito de efetivar a formação do aprendiz na cidadania e para a cidadania, advém a
necessidade de as escolas construírem seus Projetos Político-Pedagógicos.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada instituição de ensino pode e deve se
constituir como referência norteadora de todos os âmbitos da ação educativa nas unidades
escolares. Para tanto, sua elaboração requer, para se caracterizar como expressão viva de um
projeto coletivo, a participação de todos aqueles que compõem a comunidade escolar.
Articular e construir espaços participativos, produzir na coletividade educativa um projeto que
diga não apenas o que a escola é no presente momento, mas também aponte para o que
pretende ser, para que isso ocorra exige-se: metodologia de trabalho, organização e
sistematização das ações.
Mesmo sendo uma exigência normativa, o Projeto Político Pedagógico escolar é antes
de tudo um equipamento, político, produzido de forma coletiva e intencional, que visa
sobretudo, a gestão dos resultados de aprendizagem, através da projeção, da organização, e
acompanhamento de todo o espaço escolar. Na perspectiva de Betini (2005)
23
Graduando em Licenciatura em Educação do Campo pela UFCG-CDSA. Professor da Educação Básica na
área das Ciências Humanas e Sociais, vinculado a U.M.E.I.E.F. José Bonifácio Barbosa de Andrade – Seduc,
Sumé – PB
presente.‖ Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas
rupturas.
O Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Unidade Municipal de Educação Infantil e
Ensino Fundamental José Bonifácio Barbosa de Andrade, estruturado a partir da organização
curricular por áreas de conhecimento24, além de ser uma exigência legal, expressa na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, permite a
apresentação da identidade da referida instituição de ensino e consequentemente da
comunidade onde a mesma está inserida, das suas concepções e de seus projetos a curto,
médio e longo prazo. Além disso, define a natureza e o papel socioeducativo, cultural,
político, ético e ambiental da Escola e dos profissionais que nela desenvolvem suas funções,
bem como sua organização e gestão curricular para subsidiar o seu Regimento Escolar e sua
Proposta Pedagógica, documentos que são os balizadores das ações educativas.
Destacamos que o PPP da U.M.E.I.E.F. José Bonifácio Barbosa de Andrade leva em
conta a trajetória da sua comunidade escolar, a sua história, cultura e o contexto no qual a
escola encontra-se inserida, não só para garantir um percurso formativo de sucesso para os
discentes, como também para cumprir o seu compromisso com a sociedade.
A proposta de currículo integrado se baseia na articulação e inter-relação dos
componentes, das áreas, dos sujeitos e do lugar onde estes vivem. Tal currículo é
compreendido como um processo que articula os saberes científicos das diferentes áreas de
conhecimento com os saberes dos sujeitos e das famílias, tendo como referência a formação
humana e a convivência no semiárido brasileiro.
A perspectiva de trabalhar com projetos curriculares, eixos temáticos ou temas
geradores integrados favorece a ―coletividade‖, uma vez que os profissionais da educação
envolvidos no processo se tornam partícipes, articulando-se em torno de metas comuns a
serem encaradas de maneira cooperativa e responsável frente ao grupo.
A U.M.E.I.E.F. José Bonifácio Barbosa de Andrade, desde 2013, ano de sua
inauguração, abarca as concepções pedagógicas e a forma de suas materializações e suas
ações, com um trabalho sistemático e com determinação, em defesa de uma educação pública
de qualidade e sempre respeitando os sujeitos que estão envolvidos diretamente e
indiretamente no processo de ensino-aprendizagem.
A educação é entendida como um direito social prevista no Art. 6º da Constituição
Federal, assim como a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
A educação, assim, é constituída como um direito de todos e dever do estado e da
família sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade (Art. 205). Não
obstante a estes princípios, a educação toma como uma das bases, art. 206, o pluralismo de
ideias e de concepções pedagógicas.
No tocante as responsabilidades previstas para a escola encontram-se na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), art. 12, a elaboração e execução da proposta
pedagógica. Por sua vez, o art. 13 dispõe que cabe aos docentes a participação na elaboração
da mesma.
24
São fundamentos lógicos globais para o desenvolvimento de um programa educacional numa determinada
instituição de ensino. Conjunto de informações e referenciais metodológicas reunidas a partir de um
determinado ponto de vista e que mantenham relação de complementaridade (Kelly, 1981).
Continuando a prosa
Educação como organizadora e produtora da cultura dos Povos do Campo baseada nos
princípios da gestão participativa e democrática;
Respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais,
políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia;
Valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos pedagógicos com
conteúdos curriculares e metodologias adequadas às reais necessidades dos alunos do
campo, bem como flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;
Entendendo que a aprendizagem da criança começa muito antes dela entrar na escola e
que a criança aprende no contato social estabelecido com os outros membros da espécie
humana através de trocas mediatizadas pelos signos linguísticos construídos social e
historicamente, não mais é possível conceber um processo ensino-aprendizagem unilateral e
vertical, ou seja, onde somente o professor ensina e a criança/aluno age como um mero
receptáculo de informações, muitas vezes vazias, descontextualizadas e sem sentido algum
para a criança, como preconiza uma tendência educacional tradicional.
A proposta se baseia no currículo integrado, compreendido como um processo que
articula os saberes científicos das diferentes áreas de conhecimento como os saberes dos
sujeitos e das famílias, num movimento que se trabalha com as ciências e com a realidade,
tendo como referência a formação humana e a convivência no semiárido brasileiro.
A perspectiva de trabalhar com projetos curriculares, eixos temáticos complexos
temáticos ou temas geradores integrados favorece a ―coletividade‖, uma vez que os
profissionais da educação envolvidos no processo se tornam partícipes, articulando-se em
torno de metas comuns a serem encaradas de maneira cooperativa e responsável frente ao
grupo.
Falar do desenvolvimento infanto-juvenil é falar do processo de desenvolvimento
humano de modo geral. Assim, tanto a criança quanto o adolescente são seres que, antes de
estarem no ambiente escolar, já participam da vida social de forma plena: no
roçado/plantio/criação, em casa, na igreja, nas feiras, nas rodas de conversa; andam, falam,
correm, se comunicam por meio eletrônicos; fazem uso de materiais simbólicos, compram,
vendem, são afetados pela ideologia dominante, ou seja, são cidadãos imersos no contexto
social amplo. Ou como diria Vygotsky (2001, p. 289-290)
Como vemos o mundo em que vivemos? Em que medida somos originais ou apenas
reprodutores de uma percepção já pré-fabricada e padronizada dos diversos fenômenos e
elementos do ambiente que nos cerca, induzida pela cultura hegemônica, por uma forma
rotinizada de vivenciar o mundo?
As Práticas multidisciplinares possuem uma gama de campos de saber que propomos
simultaneamente, mas sem fazer aparecer às relações existentes entre elas. Sistema de um só
nível e de objetivos únicos sem que ocorra cooperação entre os campos do saber.
Já as práticas pluridisciplinares caracterizam-se pela justaposição de diversos campos
de saber situados geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a fazer
aparecer às relações existentes entre elas. Sistema de um só nível e de objetivos múltiplos;
cooperação, mas sem coordenação.
Tem-se ainda, as práticas interdisciplinares, práticas de interação participativa que
inclui a construção e pactuação de uma axiomática (premissa/algo inerente) comum a um
grupo de campos de saber conexos, definida no nível hierarquicamente superior, introduzindo
a noção de finalidade maior que redefine os elementos internos dos campos originais. Sistema
de dois níveis e de objetivos múltiplos; coordenação procedendo do nível superior pautado em
uma tendência de horizontalização das relações de poder.
E por fim, Práticas transdisciplinares, que são campos de interação de médio e longo
prazo que pactuam uma coordenação de todos os campos de saberes individuais e
interdisplinares de um campo mais amplo, sobre a base de uma axiomática geral
compartilhada; tendência à estabilização e criação de um campo de saber com autonomia
teórica e operativa própria. Sistema de níveis e objetivos múltiplos; coordenação com vistas a
uma finalidade comum dos sistemas, sendo possuidor de uma tendência à horizontalização
das relações de poder.
Partindo do pressuposto de que a escola é um espaço que hoje está chamado a ser mais
do que simplesmente transmissor de conhecimento, mas produtor e incentivador de saberes
que emergem da diversidade que é típica da condição humana e que a proposta de educação
no campo não foge a essa regra, é necessário que sejam clarificados alguns conceitos acerca
daquilo que acreditamos ser imprescindível para a plena comunhão entre as várias culturas
que se presentificam na escola.
Significa fazer da escola um tempo de vida e não uma preparação para a vida.
Significa permitir que os estudantes construam a vida escolar. Mas como, por qual caminho
construir essa condição? Isso exige o desenvolvimento de três questões básicas: 1) habilidade
de trabalhar coletivamente, de encontrar seu lugar no trabalho coletivo; 2) habilidade de
abraçar organizadamente cada tarefa; 3) capacidade para a criatividade organizativa. A
habilidade de trabalhar coletivamente cria-se apenas no processo de trabalho coletivo, mas
também significa a habilidade de, quando necessário, dirigir e, quando necessário, de ser
dirigido por seus colegas (PISTRAK, 2005, p.15).
A U.M.E.I.E.F. José Bonifácio Barbosa de Andrade prioriza a aprendizagem dos
valores éticos, morais, conceitos científicos, tecnológicos que não poderiam ser apropriados,
construídos e/ou desenvolvidos fora dela em sua plenitude. Para tanto, se alicerça na
perspectiva da mediação daquele que, em suma, melhor compreende o objeto do
conhecimento. No entanto, os saberes que cada individuo, estudante e professor trazem para a
escola, fruto de suas experiências como sujeitos, são reconhecidos, levando em consideração
os tempos e os ritmos de cada pessoa.
A Organização do currículo e do trabalho pedagógico contextualizado ao modo de ser
e produzir dos sujeitos do campo e à garantia de se dotar essas comunidades de infraestrutura
adequada à plena realização das atividades escolares.
As problemáticas e as potencialidades da vida e do contexto social dos sujeitos, como
ponto de partida para o ensino, possibilitam outras formas de pensar o mundo, as relações
entre as pessoas e o conhecimento dentro e fora da escola, semeando uma cultura e uma
pedagogia da convivência que gradativamente transforma a Escola num centro de produção
de experiências, conhecimentos, atitudes e poderes, pois ―privilegiar um tipo de conhecimento
e destacar entre várias uma possibilidade identitária são operações de poder” (SILVA, 2003,
p.16), que possibilitam o desvelamento das próprias relações de saberes e poderes existentes
nestes contextos.
Referências
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
LIBANEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora
Alternativa, 2004.
Introdução
25
Graduada em Pedagogia, UFPB/ CCHSA. Integrante externa do ―Núcleo de Extensão Multidisciplinar para o
Desenvolvimento Rural‖.
26
Docente do Departamento de Educação do Campus III da UFPB e coordenadora do Núcleo de Extensão
Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural (NEMDR)
Esta pesquisa deu-se por meio de cunho narrativo, uma vez que é pertinente ao estudo
realizado, por ser considerada uma abordagem de investigação e um instrumento pedagógico
de formação. A metodologia adotada será a narrativa autobiográfica onde o memorial servirá
como um dos instrumentos utilizados para produção e análise dos dados, seguido da revisão
bibliográfica. Segundo Nóvoa (2010, p.168), essa abordagem reforça o princípio segundo o
qual
Embora muitos vejam as ações da pesquisa apenas como elaboração de projeto, nós
afirmamos que este conceito vai muito além. Por isso, em primeiro lugar, o aluno ingressante
na Universidade deve receber orientação e buscar conceber a consciência da importância e do
significado do processo de pesquisa no âmbito acadêmico, seguido de um suporte, para que o
próprio se insira numa prática de pesquisa logo no primeiro ano de ingresso na Universidade.
Deste modo, podemos pensar que, uma vez inserido no campo da investigação científica, o
aluno não se contente apenas em ser um mero receptor de conhecimentos, de forma que passe
também a buscar e questionar este conhecimento.
Se assim não o fosse "a iniciação" não teria êxito. Do contrário, viria reforçar o
pensamento de passividade muitas vezes vigente nos graus de ensino anteriores à
Universidade e, até mesmo, em muitas Instituições de ensino superior, nas quais predominam
a mera transmissão de informações, numa perspectiva ―bancária‖ (FREIRE, 1987). É papel da
Universidade promover a autonomia do pensamento e da reflexão crítica, visto que não se
pode admitir que a prática docente alimente a passividade, ao invés de despertar a
espontaneidade e a criatividade do aluno. Sendo a "iniciação" considerada um começo, cabe
às instituições acadêmicas instigar o/a discente a um caminhar empreendedor, ou seja,
conduzir seus educandos desde seu ingresso a buscar trilhar caminhos dentro dos projetos de
pesquisa, objetivando a ascensão desses alunos no que concerne ao conhecimento empírico
associado ao teórico.
Até então buscamos apontar nosso posicionamento – via vários estudos teóricos –
concebendo a pesquisa científica como uma forma de produzir conhecimentos, estabelecendo
respostas a dados problemas, apresentando-se muitas vezes como um processo complexo, o
que exige habilidades específicas, desenvolvimento e organização dos trabalhos acadêmicos.
Nessa ótica, foi essencial nossa participação em alguns projetos de pesquisa desenvolvidos
pela Universidade Federal da Paraíba, aos quais se integram professores, alunos e comunidade
na mútua troca de saberes e experiências, que se fundam para ampliação e divulgação do
conhecimento adquirido.
realidade do campo, as visitas às escolas em 2011 e 2012, através das atividades de extensão,
possibilitou conhecer as especificidades contidas no âmbito da realidade do campo, como o
difícil trajeto percorrido por educadores e educandos até a chegada da escola, à medida que
enfrentam muitos desafios.
Em 2012, já como bolsista do Projeto ―Núcleo de Extensão Multidisciplinar para o
Desenvolvimento Rural: contribuições para a Educação do Campo‖ (Edital PROEXT-2011).
Ana Caline Alexandre da Silva teve a oportunidade de viajar para o Ceará juntamente a
integrantes do NEMDR, e discentes do Curso de Especialização em Educação para
Convivência com o Semiárido Brasileiro e as professoras Nilvania dos Santos Silva e
Albertina Maria de Araújo, onde participamos de uma roda de conversa com professores da
escola municipal ―João Pereira de Lima‖, situada em Tamboril (CE), na qual foi apresentada
propostas de intervenção pedagógicas calcadas na educação contextualizada para a realidade
dos alunos daquele semiárido.
Em meio a tantas novidades houve o inusitado, para todos nós, que foi o fato de
termos que ir até a escola num pau de arara algo jamais imaginado por alguns integrantes de
nossa equipe, que nunca tinham visto, muito menos utilizado este tipo de transporte. Uma
experiência ótima, enquanto vivência e aprendizagem cultural associada à história do sujeito
campo, mas chocante quando fomos transportados de uma forma comum apenas na época dos
nossos avós e bisavós. No entanto, hoje, infelizmente, ainda é parte do cotidiano de várias
escolas, especificamente as situadas nos campos do nosso país.
Durante esta viagem ainda visitamos a escola Dom Fragoso, situada na área do campo
de Independência – CE, na qual, durante a estadia de toda equipe, foi possibilitada a troca de
saberes e experiências, inclusive sobre o regime de pedagogia da alternância e técnicas de
agricultura agroecológica, envolvendo docentes e discentes, a partir da segunda fase do ensino
fundamental, passando pelo médio técnico e até o superior. Foi gratificante conhecermos
novos lugares, pessoas com saberes e culturas diversificadas, ampliando a compreensão de
―Campos‖.
Ainda em 2012, ligada às ações da pesquisa já mencionada, Ana Caline Alexandre da
Silva continuou com o processo de elaboração e publicação de trabalhos voltados para
divulgação das mesmas, apresentando o trabalho ―Escola ativa e suas contribuições ao ensino
oferecido pelas escolas do/no campo da microrregião do brejo paraibano‖, no I Seminário
Estadual de Educação do Campo, II Seminário de Educação do Campo do Recôncavo e Vale
do Jequiriçá, III Encontro de Educação do Campo de Amargosa-BA, em setembro de 2012.
Esta experiência foi mais uma oportunidade que ela teve com à familiarização com os
trabalhos acadêmicos para eventos de âmbito nacional, bem como com a temática Educação
do Campo. Só que, desta vez, em outro Estado; a Bahia. Uma oportunidade, que serviu como
subsídio para aprimorar e vivenciar o valor e as metas do ―Movimento dos Trabalhadores
Sem-Terra‖ (MST).
Para Ana Caline Alexandre da Silva, em particular, que estava pela primeira vez
participando de um evento coordenado por militantes. ―Uma vez que, dado ao meu pouco
conhecimento em relação a esta educação e informações distorcidas, por muitas vezes cheguei
a criticar de forma negativa suas ações‖ (SILVA, A.C. A, 2014). Para tanto, acredito que é
mediante eventos como esse que os envolvidos podem ampliar seus conhecimentos, isto
porque ―é na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como
processo permanente‖ (FREIRE, 1996, p. 64). Isto é, à medida que tomamos consciência do
nosso ―eu‖ e do coletivo nos consideramos como seres inconclusos continuamos na busca
incessante pelo conhecimento. Assim, participar de um evento como esse, em Amargosa
(BA), veio fortalecer ainda mais nossos conhecimentos sobre ―Pedagogia do Movimento‖,
dado a grande influência dos militantes presentes, em particular dos responsáveis pela
organização do seminário, ligados a movimentos sociais.
Ligada a projetos de extensão voltados para os docentes e alunos da graduação do
CCHSA/UFPB, profissionais da educação e alunos das escolas municipais situadas no campo
dos municípios do Brejo Paraibano, em particular Bananeiras e Solânea, atuei como uma das
responsáveis pela organização do I e II Seminário do NEMDR (Núcleo de Extensão
Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural), em 2012 e 2013, respectivamente. Em
ambos, viu-se diante de outro desafio: ―abrir o cerimonial destes eventos, mas, como sempre,
a professora coordenadora do projeto estava por perto me dando força e dizendo que era
capaz‖. Uma ação singela, mas importante, que se respalda nas palavras de Freire (1996)
quando diz: um dos saberes necessários à prática educativa é o respeito à autonomia do ser
educando, seja criança, jovem ou adulto. Respeito este que deve ser um imperativo ético, e
não um favor que se concede, ou não, uns aos outros.
Durante este período, participei de uma análise feita ao ―projeto trilhas‖ - Criado pelo
Instituto Natura em parceria com o Ministério da Educação, no sentido de avaliar sua eficácia
ou não enquanto ferramenta pedagógica ao fortalecimento do ensino-aprendizagem da leitura
e da escrita nas escolas no/do campo da PB. Sendo esta mais uma ação que resultou
positivamente em minha vida acadêmica, que foi o desenvolvimento intelectual e profissional,
no que tange conhecer e participar da implantação e execução de programas interligados às
Políticas Públicas para melhoria na qualidade da educação ofertada para a comunidade
campesina.
Partindo desta experiência surgiu mais uma oportunidade de divulgação, calcada num
trabalho de cunho bibliográfico, pelo qual tive o prazer de retornar à cidade de Amargosa na
Bahia, junto a outros discentes que fazem/fizeram parte do NEMDR, para divulgar mais uma
vez o resultado de nossas ações no I Seminário internacional de educação do campo da UFRB
II Seminário Estadual de Educação do Campo da Bahia III Seminário De Educação do Campo
do Recôncavo e Vale do Jequiriçá e o IV Encontro de Educação do Campo de Amargosa.
Proporcionando-nos, ainda, reencontrar amigos conquistados na primeira viagem, e realizar
outras, que vieram para somar em nossa vida de forma colaborativa.
Ainda referente às atividades do ano de 2013, no auditório do CCHSA/UFPB – houve
o lançamento do 1º livro dos docentes e discentes vinculados ao NEMDR, intitulado:
―Educação do Campo: relatos de experiências‖, contendo 12 artigos que relatam as atividades
ligadas a projetos de pesquisa e de extensão desenvolvidas via CNPq/UFPB/NEMDR.
Publicado pela editora: Universitária UFPB, com parceria do
PROEXT/CNPq/CCHSA/NEMDR. Tendo como organizadores os professores: Eduardo Jorge
Lopes da Silva, Nilvania dos Santos Silva, Ana Claudia da Silva Rodrigues e Gabriel de
Medeiros Lima. Para Ana Caline Alexandre da Silva – participar da autoria de dois artigos
que compõe este livro foi um dos marcos mais importante para o seu crescimento pessoal e
profissional.
Algumas considerações
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1987.
______, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996, p, 64.
NETO, José Francisco de Melo. Extensão popular e produção do conhecimento. 2ª. ed. - João
Pessoa: Editora da UFPB, 2014.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. - 4ª ed - São Paulo: Atlas, 2002.
LUCKESI, C. C. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Cortez, 1985.
NÓVOA. A. A formação tem que passar por aqui: as histórias de vida no Projeto Prosalus. In:
Nóvoa, A; FINGER, M (orgs.), O Método (auto) biográfico e a formação. Natal/São Paulo,
EDUFRN/Paulus, 2010.
PROBEX, Programa de bolsa de extensão. Disponível
em:http://www.cear.ufpb.br/arquivos/assessoria/EDITAL_PROBEX_2015.pdf Acessado em:
20 de mai. de 2015.
PIERSON, Alice Helena Campos; CORTEGOSO, Ana Lucia; ARAÚJO FILHO, Targino de.
Flexibilização curricular: experiências e perspectivas. In: THIOLLENT, Michel et al. (org.).
Extensão universitária: conceitos, métodos e práticas. Rio de Janeiro, v. 1, p. 41-55, 2003.
SILVA, A. C. A. et al. Associando pesquisa e extensão: dos estudos teóricos á intervenção em
escolas no campo de Borborema- pb. In: Seminário Internacional do Núcleo de Extensão
Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural (NEMDR) (1: 2015: Bananeiras, PB). Anais
do 1º Seminário Internacional do Núcleo de Extensão Multidisciplinar para o
Desenvolvimento Rural e 1º Seminário Nacional do Grupo de Pesquisa, Currículo e Práticas
Educativas, de 28 a 30 de setembro de 2015. João Pessoa: Editora da UFPB, 2015, p. 82-100
SOUZA, Eliseu Clementino. Pesquisa narrativa e escrita (auto) biográfica: interfaces
metodológicas e formativas. In: SOUZA, Eliseu Clementino; BARRETO, Maria Helena
Mena (org.). Tempos, narrativas e ficção: a invenção de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006,
p. 135 – 147.
SAVIANI, D. Extensão Universitária: uma abordagem não extensionista. In: Educação e
Sociedade. São Paulo: Cortez-Autores Associados, (8): 61-73, jan. 1981.
Introdução
Uma breve história das ligas camponesas na Paraíba à luz do pensamento de Elizabeth
Teixeira
27
Pedagoga, com área de aprofundamento na educação do Campo. Atualmente, trabalha como educadora infantil
das cirandas que atendem as crianças de filhos de assentados e quilombolas que estudam no Programa do
PRONERA, nos Cursos de Pedagogia e História, pela UFPB. Além disso, é integrante do Coletivo de Educação
do MST. Trabalho orientado pela profa. Dra. Ana Paula Romão de S. Ferreira (DHP/CE/UFPB).
28
Cambão também conhecido como ‗canga‘ ou ‗obrigação em diária‘. Tratava-se de um imposto a ser pago em
serviço braçal nos dias de descanso, sábado à tarde e domingo, ultrapassando os direitos trabalhistas, que já
haviam sido conseguidos no meio urbano. Enquanto os trabalhadores reivindicavam pagar em forma de foro, os
latifundiários, em especial os usineiros cobravam o cambão (LEMOS, 1996).
Nos anos 1950, o tema voltou a ganhar fôlego no bojo de intensas discussões
sobre aa necessidade de desenvolvimento e industrialização. Nesse momento
o latifúndio consolidou o sentido que ganhara, anteriormente, como
sinônimo de monopólio da terra, atraso tecnológico e relações de trabalho
marcadas pela dependência e exploração [...] o latifúndio passou a ser
significado como ‗emblema mítico‘ e foi contra essa figura que se voltavam
as organizações que falavam em nome dos trabalhadores do campo
(associações de lavradores, Ligas Camponesas e, posteriormente, sindicatos
rurais) (CALDART; PEREIRA; LENTEJANO; FRIGOTTO, 2012, p. 446).
A elite brasileira associava a luta por reforma agrária à prática do comunismo em suas
propagandas constantes. Após o golpe de 64, o termo latifúndio ganhou força legal
institucionalizada, através do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964).
Nessa legislação passou a se classificar quatro tipos de imóveis rurais: minifúndios, de
tamanho inferior a um móvel rural; latifúndio por exploração, com área de 1 a 600 módulos,
com fins especulativos; latifúndio por extensão, com área superior a 600 módulos,
independente do tipo e característica da produção e empresa agrícola, que seriam imóveis com
área de 1 a 6oo módulos, caracterizado por serem propriedades com exploração racional do
solo.
O Estatuto da Terra possuía inúmeras contradições, quanto a quem podia ou não
solicitar a posse da terra. Mas ainda, assim, apregoava o fim gradual dos minifúndios e
latifúndios, considerados fontes de tensão social, desde a Li de Terras, de 1850, que deixou de
fora pessoas escravizadas, ex-escravos, indígenas, mulheres e analfabetos. Segundo Caldart
(2012, p. 447), ―O Estatuto da Terra previu as condições institucionais que possibilitavam a
desapropriação por interesse social e a transformação do latifúndio em empresas‖. Ou seja,
caso ficasse caracterizado que a terra estava improdutiva, um determinado grupo social que
desejasse ocupar e plantar poderia requisitar a condição de empresa agrícola. Tal debate de
confronto de interpretação de ideias no meio judiciário continuou até a Constituição de 1988,
quando esta afirmou em seu artigo 5º, XXIII, ―a propriedade deve atender a sua função
social‖ (BRASIL, 1988).
Além disso, durante o período dos Governos Castelo Branco, Costa e Silva, Médici
(esse, principalmente), Ernesto Geisel e Figueiredo os camponeses eram tratados como
criminosos e fichados na polícia federal, caso fossem ligados a alguma associação ou
sindicato (CITADINO, 2006).
Nesse contexto, a imposição de episódios violentos e a chamada ―doutrina de
Segurança Nacional‖ condicionaram a perseguições, aprisionamentos seguidos de torturas e
mortes de pessoas ligadas aos movimentos campesinos, em especial, às Ligas Camponesas.
Como foi o caso das mortes de Pedro Fazendeiro e Negro Fuba. Segundo relatos de
familiares na Comissão Nacional da Verdade instalada em 2012, para apurar os crimes de
estado realizados na ditadura, eles foram achados mortos muitos anos depois carbonizados.
No caso de Pedro Fazendeiro, que era chamado de ―Fazendeiro‖ porque vendia tecidos
(conhecido também por fazendas), ele fora preso no quartel do 15 RI, em Cruz das Armas,
João Pessoa, e foi dado como solto, mas nunca retornou a família. E João Alfredo, conhecido
como Nego Fuba, possivelmente, foi queimado vivo em caldeirões das usinas, com a
conivência do estado militarista, uma vez que ficou preso também no 15 RI, mas seu corpo foi
encontrado carbonizado, após anos, próximo a usina (BRASIL, 2014).
Ambos tinham por função cadastrar camponeses/as que quisessem se filiar a
Associação das Ligas Camponesas em Sapé. Até a advogada deles sofreu privação e tortura
física e psicológica para não mais defendê-los.
Sendo assim, o retrato dessa memória com todos os seus mosaicos sobre estas e outras
perseguições aos camponeses estão consagradas e registradas no Relatório Nacional da
Comissão da Verdade (Lei 12.528 de 18 de novembro de 2011). No livro correspondente à
Comissão Camponesa da Verdade.
E, além de justiça social, e reparação indenizatória, também, se anseia por luta para
que esses registros possam fazer parte do ensino de história no currículo escolar.
Compreendemos ainda que todo o contexto da Ditadura Civil e Militar violou
profundamente os direitos humanos e o direito à memória. Para Bosi (1994, cp.): ―A recriação
do passado feita por pessoas simples vivas de história, é diferente da versão oficial que se lê
nos livros‖. E essa recriação ―rouba as lembranças do passado e o sentido das pedras da
cidade‖. Nesse entendimento, essa memória precisa ser ―penetrada pela alegria do concreto‖.
[...] a educação do campo fundamenta suas ações de acordo com a LDB, mas
contempla adequações necessárias às peculiaridades da vida no campo e de
cada região, definindo componentes curriculares e metodologias apropriadas
às necessidades e interesses dos educandos, incluindo a adequação do
calendário escolar às fases dos ciclos agrícolas, às condições climáticas e às
características do trabalho do campo, retratando as lutas e a resistência
dos povos do campo pelo acesso e permanência na terra (BRASIL, 2016,
p.36). (GRIFO NOSSO).
De acordo com Moreira (1997), o currículo deve levar em conta a experiência de seus
alunos para melhor compreensão do assunto nas disciplinas, o ambiente escolar deve adequar
o currículo as experiências no cotidiano do aluno compreender a vida e sociedade que viver.
Segundo Grispino (2005) o currículo contextualizado apresenta temas do dia-a –dia da
comunidade como ―moradia, famílias, artesanatos, comercio, agricultura, literatura e outros‖ e
a escola cria projetos que vão ao encontro do perfil do aluno.
Para Caldart (2004, p.316): ―Os movimentos sociais não têm sido figuras muito
presentes nas teorias pedagógicas; nem como sujeitos educativos, nem como interlocutores da
reflexão sobre educação‖. Nesse sentido, é necessário no currículo contextualizado pensar os
saberes locais e a memória das lutas, de tal forma que possa refletir processos de
aprendizagens e de ligação com a cultura e a história.
Por tanto, ao pensarmos o currículo contextualizado para as escolas no campo,
refletimos sobre os seguintes desafios: trabalhar com temas geradores, a exemplo de:
identidade, memória, equidade, etc. Sobre o tema ―memória‖ há inúmeras possibilidades de se
discutir sobre uma perspectiva inter, trans e multidisciiar e de forma transversal: associar uma
linguagem escrita envolvendo representação simbólica dos sujeitos do campo que tombaram
na luta pelo direito à terra; Resolver u elaborar problemas, ou representar gráficos
contextualizando o número da violência no campo; trabalhar as quatro operações matemáticas
através de problemas que tenha haver com as necessidades de compra e venda da produção
agrícola; realizar produções textuais sobre as lideranças camponesas; trabalhar o ensino de
artes através de pesquisa em registro fotográfico de pessoas que simbolizam a luta das Ligas
Camponesas ou realizar aulas campo em museus ou memoriais de trabalhadores rurais, a
exemplo do Memorial das Ligas Camponesas, localizado no município de Sapé-PB;
apresentar filmes, como ‗Cabra Marcado para Morrer‖ .
Enfim, existem inúmeras formas de pensarmos e efetivarmos o currículo
contextualizado a partir das Diretrizes Operacionais da Educação do/no campo, e de acordo
com os Parâmetros Curriculares de cada modalidade de Ensino.
A Escola Boa Vista foi construída na década de 1950 às margens da antiga estrada que
ligava a Fazenda Boa Vista do povoado de Maraú ao núcleo urbano da cidade de Sapé. Hoje
PB 004 que liga a cidade de Sapé a cidade de Cruz do Espírito Santo em direção a capital
Paraibana.
A princípio a escola era mantida pelo proprietário da fazenda com a função de
alfabetizar os filhos dos trabalhadores rurais da referida fazenda, como forma de atender as
pressões manifestadas no Movimento das Ligas Camponesas de sapé.
O nome da escola obedeceu a exigências dos proprietários da Fazenda, visto que fazia
parte do complexo de moveis da mesma. A partir da década de 1970 a referida escola foi esta
estadualizada, sendo agora pertencente e obedecendo as orientações da Secretaria de
Educação do Estado e mantida pela mesma, más, gestada por pessoas indicada pelo
proprietário da Fazenda.
Com a falência da Usina Santa Helena pertencente ao Grupo de Usinas da família
Ribeiro Coutinho, a qual era proprietária da Fazenda Boa Vista, que gerou um número
O perfil do corpo docente, quanto a sua formação se encontra em sua maior parte com curso
superior completo (56%), e boa parte em andamento (33%).
No gráfico 2, percebemos a experiência no campo do ensino:
Fonte: Idem.
O gráfico 2 demonstra que o corpo docente é formado por profissionais com bastante
experiência, em sua maior parte.
Apresentaremos um quadro resposta com breve descrição sobre suas respostas referente ao
conhecimento e aplicação dos conteúdos sobre Ligas Camponesas:
PROFESSOR 1 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Ouvi falar na escola‖; ―Não visitei o
Memorial das Ligas‖; ―Não ouvi falar em Elizabeth Teixeira‖; ―Não conheço o
documentário Cabra Marcado para Morrer‖; ―Não trabalho com esse
conteúdo/temática‖; ―A escola não dispõe de material didático‖ e ―Desconheço
algum Projeto sobre o tema Ligas Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 2 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Ouvi falar nas aulas ministradas por
professores‖; ―Não visitei o Memorial das Ligas‖; ―Sim ouvi falar em Elizabeth
Teixeira‖; ―Já participei em palestra com Elizabeth Teixeira‖; ―Sim conheço o
documentário Cabra Marcado para Morrer‖ ―Assisti em aulas e vi na internet‖;
―Sim trabalho com esse conteúdo/temática‖; ―Com materiais de leitura
complementares e filmes‖; ―A escola não dispõe de material didático‖ e
―Desconheço algum Projeto sobre o tema Ligas Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 3 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Nas escolas, reunião entre professores e
palestra‖; ―Sim visitei o Memorial das Ligas‖; ―Toda ano, em excursão‖; ―Sim
ouvi falar em Elizabeth Teixeira‖; ―Palestra e excursão com alunos‖; ―Sim
conheço o documentário Cabra Marcado para morrer‖; ―Assisti em casa‖; ―Sim
trabalho com esse conteúdo/temática‖; ―Trabalho através de conversa
informativa e palestras‖; ―Sim, a escola dispõe de material didático‖ ―A escola
dispõe de livros informativos‖ e ― Sim, conheço Projeto sobre o tema Ligas
Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 4 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Aqui no Assentamento Boa Vista, nas
assembleias‖; ―Não visitei o Memorial das Ligas‖; ―Sim ouvi falar em
Elizabeth Teixeira‖; ―Aqui, também, ouvi falar em Elizabeth Teixeira‖;―Não
conheço o documentário Cabra Marcado para morrer‖; ―Não trabalho com esse
conteúdo/temática‖; ―A escola não dispõe de material didático‖ e ―Desconheço
algum Projeto sobre o tema Ligas Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 5 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Aqui no Assentamento Boa Vista, nas
assembleias‖; ―Não visitei o Memorial das Ligas‖; ―Sim ouvi falar em
Elizabeth Teixeira‖; ―Aqui, também, ouvi falar em Elizabeth Teixeira‖;―Não
conheço o documentário Cabra Marcado para morrer‖; ―Sim trabalho com esse
conteúdo/temática na EJA‖; ―Os alunos mais velhos que acompanharam a luta
pela posse relatam os acontecimentos até a conquista―A escola não dispõe de
material didático‖ e ―Desconheço algum Projeto sobre o tema Ligas
Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 6 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Ouvi falar no assentamento João Pedro
Teixeira‖; ―Sim visitei o Memorial das Ligas‖; ―Foi em abril de 2015‖; ―Sim
ouvi falar em Elizabeth Teixeira no Memorial‖; ―Sim conheço o documentário
Cabra Marcado para morrer‖; ―Assisti na universidade‖; ―Sim trabalho com
esse conteúdo/temática‖; ―Trabalho através de aula e vídeos‖; ―A escola não
dispõe de material didático‖ e ―Desconheço algum Projeto sobre o tema Ligas
Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 7 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―em minha cidade‘; ―Sim visitei o Memorial
das Ligas‖; ―Sim ouvi falar em Elizabeth Teixeira no Memorial‖; ―Não conheço
o documentário Cabra Marcado para morrer‖; ―Sim trabalho com esse
conteúdo/temática‖; ―Trabalho através de rodas de conversas‖; ―A escola não
dispõe de material didático‖ e ―Desconheço algum Projeto sobre o tema Ligas
Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 8 ―Sim, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―em minha cidade‘; ―Sim visitei o Memorial
das Ligas‖; ―Sim ouvi falar em Elizabeth Teixeira no Memorial‖; ―Não conheço
o documentário Cabra Marcado para morrer‖; ―Sim trabalho com esse
conteúdo/temática‖; ―A escola não dispõe de material didático‖ e ―Desconheço
algum Projeto sobre o tema Ligas Camponesas na escola‖.
PROFESSOR 9 ―Não, já ouvi falar sobre as Ligas‖; ―Não visitei o Memorial das Ligas‖; ―Não
ouvi falar em Elizabeth Teixeira‖; ―Não conheço o documentário Cabra
Marcado para morrer‖; ―Não trabalho com esse conteúdo/temática‖; ―A escola
não dispõe de material didático‖ e ―Desconheço algum Projeto sobre o tema
Ligas Camponesas na escola‖.
Fonte: Idem.
constar no PPP. Nesse sentido, seria melhor realizar práticas educativas para efetivar no
currículo a memória dos povos do campo e suas trajetórias de lutas pela reforma agrária.
Considerações finais
Nesse sentido, acreditamos que esse cenário diz muito sobre o fato de que a nossa
hipótese se confirmou, no sentido que existe lacunas no currículo sobre os conteúdos
referentes a memória histórica dos povos do campo. A escola do campo, sobretudo, a que está
ligada a um processo de lutas precisa trazer em seu currículo essa abordagem de forma
planejada e avaliada em suas reuniões pedagógicas. Sabemos das inúmeras dificuldades e de
fato já existe/ocorre essa discussão, mas ainda está longe de atender o que apregoa vários dos
documentos oficiais com suas diretrizes para a educação do campo.
Referências
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Revista Educação. Pedagogia Contemporânea. Currículo e Política Educacional. São Paulo:
Editora Segmento, 2016. Disponível em: http://www.edrev.info/reviews/revp11.htm. Acesso
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BANDEIRA, Lourdes Miele, Neide. Silveira, Rosa Maria Godoy (orgs). Eu Macharei na
Tua Luta! A vida de Elizabeth Teixeira, João Pessoa. Ed Universidade/
UFPB,1997.CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo:
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BERMAM, Louse. Novas Prioridades para o Currículo. Porto Alegre: Globo, 1975.
Bosi, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão
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CITTADINO, Monique. Poder local e ditadura militar. São Paulo: Edusc, 2006.
GRISPINO, Izabel Sadalla. Prática pedagógica. São Paulo, 2005. Disponível em: Acesso
em: 13 de maio de 2016.
MOREIRA, Antônio Flavio Barbosa (Org.). Currículo: Questões atuais. Campinas SP:
Papirus, 1997 (coleção magistério: Formação e Trabalho, Pedagógica).
PIRES, Angela Monteiro. Educação do campo como direito humano. São Pulo: ed. Cortez,
2012.
SOUZA, Francisco de Assis Lemos. Nordeste: o Vietnã que não houve - Ligas camponesas e
o golpe de 64. Londrina/João Pessoa: Ed. da Universidade Estadual de Londrina/Ed. Da
Universidade Federal da Paraíba, 1996.
Introdução
O interesse por este estudo surge da vivência enquanto professora da educação básica
de escola do campo no município de Santa Rita, PB, tendo percebido a necessidade de
investigação das concepções de educação que estão sendo pensadas no Projeto Pedagógico de
escola do campo.
Assim, vamos ao longo deste estudo discutir sobre o projeto pedagógico da Escola
Municipal Rita de Cássia de Almeida Mesquita, relacionando as leis e princípios da educação
do campo, trabalharemos concepções de educação, educação do campo e projeto pedagógico,
compreendendo o ensino escolar como possibilidade de produção de conhecimentos
contextualizados, reflexão crítica e atuação social.
A partir deste entendimento, o problema de pesquisa deste estudo consiste em
investigar quais as concepções e fundamentos de educação que estão sendo pensadas no
Projeto Político Pedagógico de escola do campo?
Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo geral investigar concepções e
fundamentos de educação existentes no Projeto Político Pedagógico da escola do campo do
município de Santa Rita/PB e os seguintes objetivos específicos: refletir sobre o contexto
histórico da Escola Municipal Rita de Cássia; descrever as características e funcionamento da
escola; analisar as concepções e fundamentos de educação presentes no Projeto Político
Pedagógico, relacionando com os princípios da educação do campo.
Fundamentação teórica
De acordo com estas diretrizes, o projeto político pedagógico contribui para o acesso e
permanência do estudante no espaço escolar, assim como também para a conquista de uma
escola com qualidade social que considera o estudante como centro no processo de ensino-
aprendizagem e respeita as diversidades e pluralidades culturais.
A partir das Diretrizes Nacionais podemos perceber que a organização do currículo
escolar do ensino básico deve permitir, portanto criar e recriar a cultura, a identidade, a
valorização da história local, conforme podemos observar no artigo 11 da mesma: ― A escola
de Educação Básica é o espaço em que se ressignifica e se recria a cultura herdada,
reconstruindo-se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias das
diferentes regiões do País.
Neste sentido, o projeto do currículo escolar precisa ser contextualizado a realidade,
aos interesses dos estudantes, considerando a região onde está inserida a escola,
principalmente as especificidades do povo do campo.
Para Caldart (2004) o projeto de educação do campo ocorre com a identificação dos
sujeitos, com as suas especificidades, identidades, diversidades, movimentos sociais para que
o sujeito do campo possar permanecer no seu ambiente, tendo condições de atuar, de dirigir a
vida para um futuro digno.
De acordo com Batista (2016), a Educação do Campo tem como base a busca de
garantida de direitos, permitindo que a vida no campo seja valorizada, com trabalho e
educação para o povo do campo.
[...]a Educação Popular, que tem suas raízes nos movimentos de cultura
popular e nas experiências de Paulo Freire, educador que fazia uma crítica à
educação escolar tradicional e denunciava o foco do ensino na transmissão
de conteúdos alheios à realidade dos educandos, porque proporcionavam
uma formação alienante. Ele apontava uma outra perspectiva de educação
que tivesse as classes populares como protagonistas cujo primado da
formação e do processo de ensino e de aprendizagem fosse centrado numa
leitura crítica e engajada da realidade social, a qual contribuísse para a
organização dos setores oprimidos e apontasse para a transformação da
realidade de opressão vivida pelos indivíduos, que contribuísse para a
emancipação e os tornasse sujeitos de sua história e construtores de uma
nova sociedade.(BATISTA, 2007 p.1)
Metodologia
Resultados
Quando chegou a comunidade de Cidade Verde para morar, a gestora narra que
encontrou uma fábrica de castanha, onde acontecia trabalho infantil, crianças com muitas
dificuldades, machucadas, passando fome, os adultos tendo sua força de trabalho explorada ,
percebeu também que existiam mães que queriam colocar os seus filhos para estudar, mas a
escola próxima, Anaíde Beiriz (João Pessoa) não tinha vagas para que estas crianças
pudessem frequentar um espaço escolar.
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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Eu parei aqui, olhei aqui, contei aqui 60 casas. Só tinha 60 casas aqui. Ai eu
parei e disse: Se eu conseguir um lugar para este menino estudar você vai
ficar feliz, não vai? Dai em diante eu fiquei impaciente por duas coisas, pela
situação de eu ver o menino com a cabeça machucada, segundo ver a mãe
chorando e terceiro ver em outro momento uma mãe juntando dinheiro pra
comprar uma geladeira e eu disse e muita força de vontade né? (Gestora
escolar)
Em seguida foi em busca do funcionamento da escola, o que não foi uma conquista
fácil, as dificuldades foram diversas, precisou comprovar junto ao município de Santa Rita
que as terras de Cidade Verde se tratavam exatamente de áreas do campo da referida cidade
para provar que a escola seria construída ou iria funcionar realmente em Santa Rita para que
pudesse conseguir apoio, visto que nas proximidades desta área de terra encontra-se a divisão
entre os municípios de Santa e Rita e João Pessoa.
Foto4: Escola Rita de Cássia como anexo da Escola Municipal Flaviano Ribeiro Filho.
A Foto 5 traz a imagem de área em frente a escola Rita de Cássia, a estrada não é
asfaltada, o que revela a dificuldade de acesso para que estudantes, professores e demais
profissionais chegam a escola.
Este acesso é dificultado ainda mais no período chuvoso, onde as ruas próximas que
também não são calçadas, sem infraestrutura ficam alagadas, escorregadias, contribuindo para
que alguns estudantes não frequentem a escola nestes momentos.
trata exatamente de tentar garantir que as pessoas da comunidade Cidade Verde pudessem ter
o direito a educação garantido.
A escola Rita de Cássia tem atualmente 364 estudantes e conta com o apoio de 23
professores, sendo 22 concursados, 1 contratado, outros 11 funcionários de apoio,
englobando vigias, merendeiras,auxiliar de serviços, perfazendo um total de 34 funcionários e
oferece os seguintes níveis de ensino, conforme pode ser visto na Tabela abaixo:
O PPP da referida escola tem como base de fundamentação autores, como Libâneo,
Paulo Freire e Isabel Parolin. O PPP (2016) traz a ideia colocada por Libâneo (1994) de que é
preciso ver a atuação educativa não somente como uma necessidade da vida em sociedade,
mas sim promover que os estudantes tenham acesso à cultura, à construção de conhecimentos
que possam permitir ações no meio para transformação das problemáticas sociais.
Para atuação educativa, a escola entende as ações mediadoras dos professores como
fundamentais para o ensino, sendo função da escola disponibilizar os meios, as condições
necessárias para o alcance de seu objetivo maior que é a aprendizagem dos estudantes.
A aprendizagem significativa, por sua vez só pode acontecer se tiver sentidos para o
educando, se abranger os conhecimentos históricos e sociais, valorizar identidades, permitir a
autonomia, a reflexão e criticidade. Neste sentido, o currículo parte do pressuposto que a
educação deve ser voltada para a qualidade, integrando reflexão e atuando de forma flexível,
adequando-se a necessidade do conhecer, sendo o aluno sujeito ativo, capaz de atuações,
análises para ampliação de saberes, sendo o educador um intermediário da aprendizagem,
adequando conteúdos a realidade.
Um aspecto abordado pelo projeto de ensino da escola Rita de Cássia é o fato da
valorização do conhecimento oriundo das experiências, da bagagem que o estudante traz
consigo, assim como o fato da aprendizagem acontecer de modo natural. Já a educação
formal, sistematizada, que ocorre no espaço escolar precisa desenvolver novos conhecimentos
e habilidades para atuar em sociedade. Isto é importante para prática educativa em sala de
aula, que deve acontecer com naturalidade, assim como ocorre em outros espaços educativos,
sendo o interesse a mola propulsora para que a aprendizagem seja ampliada.
Considerações
A escola Rita de Cássia foi criada por uma iniciativa particular, uma luta para
conquistar o direito à educação, visto que a escola mais próxima não tinha vagas suficientes
para comportar os estudantes, assim como também para mudar a realidade de opressão da
comunidade de Cidade Verde, onde existia trabalho infantil e grande exploração da mais valia
da populaçao, aos poucos foi conseguindo apoios de pessoas envolvidas com uma educação
preocupada com transformação social, assim como o envolvimento da comunidade, que aos
Referências
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2009.
IBGE.Cidades.http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=251370&search=p
araiba|santa-rita. Acesso em: 28 de março de 2017.
Introdução
mundialmente por proferir uma educação libertadora no campo, Paulo Freire foi um dos
grandes percursores de uma batalha viva no desempenho em mostrar que podia libertar os
homens do campo da escravidão do não saber, da escuridão do conhecimento da leitura.
O entendimento dessa escravidão ou escuridão é entender que o homem que não se
apropria da leitura, se torna obscuro em suas lutas, sendo fragilizado em sua criticidade.
Ainda sobre a importância de Paulo Freire na educação do campo, onde apresentou o tempo
todo um olhar perspicaz e confiante sobre os trabalhadores, fortalecendo as lutas sociais não
só pela educação, mas também outros direitos na vida dessas pessoas tão esquecidas pela
sociedade burguesa que foi construída desde o império.
As lutas sociais se torna base fundamental para a educação do campo de qualidade, foi
partindo dos movimentos que começou as reivindicações para um ensino que atendesse as
demandas de uma população que vivem na roça, que reconhecesse a sua cultura e seu modo
de viver.
O discurso Teórico e político a favor da reforma agrária se difundiu no pós-guerra
principalmente com fim do regime militar, porém ainda muito camuflado pelo governo em
proteção dos grandes latifundiário da agricultura canavieira, e entre outros. A política agrária
no Brasil foi divulgada por muito tempo com algo que ia tirar a propriedade de alguns que
possuía pequenos hectares, enquanto os grandes proprietários de terras se escondiam nesse
conceito para preservar suas riquezas e continuar imperando o poder sobre as mãos de obras
baratas que os enricava.
Conforme Caldart (2004, p. 149-150):
[...] é a luta do povo por políticas públicas que irão garantir o seu direito à
educação e a uma educação que seja no e do campo. No: o povo tem direito
a ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação
pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e
às suas necessidades humanas e sociais.
29
MST, é um movimento de massa que luta, basicamente, por terra, pela reforma agrária e por mudanças na
sociedade.
desapropriados para ceder a posse a famílias rurais que não tinha condições financeiras de
adquirir por via de compra seu pedaço de chão, e foi dessa forma que muitas propriedades
juntamente ao INCRA começaram a legalizar a demarcação dos assentamentos.
A importância de falar dessa organização no País para educação, é que, a luta desse
movimento social não ficou somente no direito a terra, porém surgiram outras preocupações
sobre essa população, via uma necessidade de uma construção pedagógica para as famílias
que fazem parte desse meio. E, Fernandes cita SOUZA (2007, p.15) para afirmar a respeito
da educação do campo:
camponesa está ligada ao trabalho e a cultura do meio, e se deve apropriar desse atributo para
a construção do projeto político pedagógico, documento esse, relevante para dá segmento ao
trabalho contextualizado dos povos, povos que podemos distinguir como ribeirinhos,
extrativistas, pescadores, agricultores familiares, enfim todos que utilizam da terra para o seu
sustento.
Uma sociedade é construída com a sua memória histórica ao longo dos anos, de
geração em geração, e não fica para trás a construção da identidade da roça, que por muito
tempo foi degradada pelos intelectuais, morar na zona rural é tido como um ser incapaz,
ingênuo, sem conhecimento. Essa qualificação para os indivíduos do campo foram levados
pela escola formal em seus currículos, repassados pelos seus formadores que viam as crianças
que lecionavam como seres sem conhecimento prévio nenhum. Isso precisou ser
desconstruído ao longo de muitos movimentos e pesquisas científicas desenvolvidas por
estudiosos no setor acadêmico.
Quando falamos do ensino nas escolas rurais, não podemos esquecer-nos do
conhecimento prévio que os alunos adquirem com as experiências com o mais idosos, que
nunca ouviu falar sobre os chás, a época do plantio de alguns tipos de alimentos, o período
que se leva para colher, como capinar, enfim preparar o solo para receber as novas plantas ,
isso tudo são petrechos que uma escola camponesa deve está atenta para reter no
desenvolvimento de suas aulas, que professores sejam capazes de enxergar e mediar aulas
que busquem integrar a base curricular comum com a realidade local. Portanto, é preciso
entender que:
As escolas do campo estão aí. São escolas que deveriam ser mais do que
escolas, numa perspectiva pedagógica que se faz a parte da comunidade. As
escolas do campo devem ser espaços de reconstrução da memória coletiva e
histórica de toda a comunidade; por isso, a importância dos atores sociais,
não somente educadores com educandos, mas com todos os que vivem a
realidade da comunidade. Para isso, é preciso que sejam assumidas posturas
pedagógicas que venham a enriquecer a possibilidade do diálogo e,
posteriormente, a implantação de muitas educações, diferenciadas e
alternativas, para as várias realidades existentes no Brasil. ( Rosa apud
Caetano, 2008, p.8)
Nos relatos iremos identificar as personagens por uma letra do alfabeto para preservar
sua imagem e anonimato.
Vejamos o questionário que foi aplicado aos pesquisados:
Personagem B
1- Sim
2- Não
3- Não
4- Acho que sim
5- Sim, por que ela fica no campo
6- Não
7- Não
8- -
9- Não
10- Acho que sim, não sei dizer.
Personagem C
1- Sim
2- Sim porque muitas pessoas não têm condições de comprar.
3- Não sei
4- Sim, o sítio onde meu marido é meeiro, ele e outros estão lutando junto ao INCRA
para fazer a reforma agrária lá.
5- Sim, por que as pessoas que estudam vivem no campo.
6- É importante, pr que as crianças crescem valorizando as coisas do campo como
meus filhos que valorizam muito, ainda não trabalham por são pequenos.
7- Não
8- Não tenho noção.
9- Não conheço.
10- Não tenho conhecimento
Personagem D
1- Sim.
2- Não sei explicar.
3- Si, mas não sei o que é.
4- Não sei informar.
5- Sim, porque ela fica na zona rural.
6- Porque estuda perto das suas residências e aprende a lidar com o campo.
7- Não
8- Ensinam sobre os alimentos que pode plantar na terra e comer.
9- Não conheço
10- Antes tinha uma horta na escola
Personagem E
1- Sim
2- Melhorias para os agricultores
3- Não sei
4- Não sei
5- Sim, pois nela estudam crianças que moram no sítio, filhos de agricultores
6- Não
7- Acho que não
8- Tem mais oportunidade de estudo.
9- Não
10- Já teve horta escolar
e decretos que a legislação permite funcionar com propósitos da valorização da terra. Ainda
pode perceber que, sobre os movimentos da reforma agrária, dentre elas, estavam informadas
por que aconteceu e acontece, porém distante dos seus interesses. Para a personagem E,
mesmo que vivendo na zona rural, participa de associação, ainda está sem um conhecimento
teórico do que seria a reforma agrária, ficando lacunas sobre as demais respostas.
Percebe-se que mesmo sendo pessoas que vive e trabalham no campo, são indivíduos
totalmente desprovidos das histórias de lutas, e que se tornam mais fácies de manipulação
pelo poder dominante.
Diante dessa situação será necessário um repensar do papel dessa escola que esta
inserida no campo, pelo fator visível a mesma não deve ser somente uma transmissora do
conhecimento em cima de um currículo comum, mas sim buscar a comunidade no geral para
tornar publico a importância da luta dos direitos pela terra e consequentemente a uma
educação de qualidade aos moradores.
Nessa visão, Rosa apud Caetano, faz ênfase para a educação do campo, a seguir:
Considerações finais
Referências
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento sem terra. São Paulo: Expressão
Popular, 2004.
PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. — São Paulo: Companhia
das Letras, 2011.
Introdução
O sucesso escolar no campo é um tema relevante, uma vez que realidades foram
negadas, silenciadas por muito tempo, em que a valorização era dada ao urbano. Os contextos
são diferentes entre campo e cidade, bem como entre os mais diversos campos existentes.
Nenhuma comunidade, grupo ou tribo é igual a outro. São fatores que vão desde a estrutura
física até os sujeitos. Já existem estudos com relação à Educação do Campo, pois há espaço
na LDB, onde foram criadas as diretrizes operacionais, os princípios básicos para a Educação
do Campo, e já existe, mesmo sendo descontínua e rara, a formação para o educador que atua
no campo.
O desconhecer da história da Educação do Campo, seus princípios e fundamentos,
bem como a não realização de formações continuadas específicas para os educadores do
Campo parecem ser evidências que geram insatisfação no processo de ensino-aprendizagem,
justificando assim, o insucesso escolar ocorrido.
Com o objetivo de analisar a relação entre sucesso escolar e práticas educativas na
Educação do Campo, foi realizada uma pesquisa Qualitativa. Foram realizadas coletas de
informações referentes às escolas no campo por meio de documentos cedidos à pesquisa pela
Secretaria de Educação e Cultura do Município Verde, além de documentos da escola (Projeto
Político Pedagógico - PPP, Projetos escolares, lei de criação da escola, decretos, regimentos
escolares. Foi feito uso de entrevistas a professores que tenham obtido sucesso escolar com
alunos, mesmo que relativo, e posteriormente foram feitos confrontos entre uma análise destes
dados e os quadros teóricos.
A pesquisa foi realizada no Município Verde, que possui quarenta escolas municipais;
destas, vinte e sete estão localizadas no campo. Os professores investigados foram os que
trabalham nas escolas municipais localizadas no campo e que possuem turmas multisseriadas
nos turnos manhã e/ou tarde; nesse caso, há vinte e três escolas.
Os dados coletados foram organizados em tabelas e seus resultados analisados à luz
das dimensões propostas pelos Princípios Básicos da Educação do Campo, que serviram de
parâmetro para identificar a percepção dos professores do Campo em consonância com o
sucesso escolar. Diversos estudos vêm sendo realizados a fim de contribuir com as mudanças
que se pretendem no contexto da Educação do Campo. Ressaltamos a participação das
camadas populares enquanto sujeitos no seu próprio processo de formação. Logo, lançamo-
nos a analisar estudos que nos levassem a melhor compreender a trajetória da história da
Educação do Campo, considerando as práticas pedagógicas que apontassem caminhos ao
sucesso escolar.
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Professora da Rede Pública Municipal de Mamanguape-PB. Mestre em Ciência da Educação-ULHT- Portugal.
Doutoranda em Ciências da Educação pela UniGrendal
Nesse sentido, a Lei 4024, quanto à educação rural, não assegurou a escolarização à
população rural. O papel da escola do campo é entender o tipo de ser humano que ela precisa
ajudar a formar, e como esta escola pode colaborar com a formação dos novos sujeitos que
estão no campo, que seus ideais possam ser alcançados mesmo vivendo na área rural. A
concepção de Educação do Campo em relação à formação sociopolítica do educador baseia-se
na perspectiva de que: ―a Educação do Campo visa à formação de educadores a partir da
consciência política democrática, à medida que o sujeito social interage participativa e
criticamente com a realidade, vivenciando e fortalecendo as identidades e os grupos locais
organizados e intervindo em sua realidade, numa perspectiva transformadora‖ (Araújo e Silva,
2011, p.56).
A escola poderá criar possibilidades de transformação na vida das pessoas por meio de
uma educação que considere para além dos conteúdos, uma escola que reconheça os
educandos enquanto sujeitos sociais e culturais de direitos que lutam por sua libertação.
Em estudos, Vendramini (2007, p.123) elucida que ―a Educação do Campo não
emerge do vazio e nem é iniciativa das políticas públicas, emerge de um movimento social, da
mobilização dos trabalhadores do campo, da luta social‖.
Nesse sentido, Canário (2000 apud Vendramini 2007, p.129) comenta que ―a escola
do campo precisa estar em sintonia com as mudanças que acontecem no local, com as novas
necessidades criadas e recriadas e com expectativas de formação que vão se constituindo de
acordo com o modo de vida e trabalho, que também estão em transformação‖.
A escola precisa revolucionar suas práticas pedagógicas, de modo a experimentar
novas possibilidades, saindo da educação bancária para a educação libertadora, ou seja, do
ensino decorativo, depositado, para um estágio em que se encontre o exercício da cidadania.
Araújo e Silva (2011, p.93) apontam que: ―Ao utilizarem a pedagogia da Alternância
como uma proposta de conhecimento do lugar, os professores passam a funcionar como
motivadores dos estudantes, para que conheçam suas realidades, visando contribuir no
processo de organização em grupos sociais com finalidades variadas, como também nas
associações dos assentamentos, para se buscar a transformação de seus lugares‖.
Diante do exposto, a pedagogia da alternância propõe a formação integral dos
educandos, de modo que possam tornar-se sujeitos participativos e conscientes no espaço
onde vivem, desenvolvendo o aspecto libertador na prática.
profissional especializada, não havendo preocupação com a formação dos camponeses para a
cidadania, portanto, a educação era tida como desnecessária.
Quanto aos alunos que entravam na escola, os professores, em suas práticas de ensino,
não consideram a vivência deles, suas ―bagagens‖, como se nada aprendessem com seus
familiares e com a comunidade, isto é, o currículo era deslocado da realidade de vida e cultura
no campo, sendo os saberes campesinos classificados como ultrapassados, contribuindo para a
negação da identidade do camponês.
Conforme Jesus (2006, p.21), ―em meados da década de 1940 é criada a Comissão
Brasileira-Americana de Educação das Populações Rurais (CBAR), em conformidade com a
política externa norte-americana; voltada para a realização de projetos que contribuíssem para
o desenvolvimento das comunidades rurais, realizaria debates, palestras, seminários etc., nos
quais professores especialistas repassariam informações às comunidades rurais‖.
É importante salientar que o intento de fixar o homem na terra, por volta de 1930, de
acordo com Lovato (2008, p.3) tinha em vista ―atender aos interesses da elite dominante na
manutenção da ordem social e econômica. Assim, o Ruralismo Pedagógico defende a reforma
da escola rural‖. A educação rural foi planejada e organizada para atender aos interesses do
capital, seguindo uma lógica urbana ligada à produção. À época, a educação levada ao Campo
tinha o sentido de fascinar o ambiente escolar da roça para assim transformar em instrumento
eficiente de fixação do homem no campo.
Nas últimas décadas, o termo ―Educação do Campo‖ vem se expandindo. A
denominação Educação do Campo carrega um conjunto de conhecimentos e práticas que
instiga as políticas a compreenderem o campo como espaço emancipatório, como um
território de construção da democracia e da solidariedade, porque se transformou num lugar
não apenas de lutas pelo direito a terra, mas também pelo direito à educação, saúde, entre
outros objetivos, e essas lutas acabaram por colocar na pauta novas políticas culturais,
econômicas e ambientais para o campo.
Reis (2011, p. 276) descreve: ―A educação do campo é aquela construída a partir dos
interesses da comunidade à qual está ligada.‖ Assim, as ações educativas a serem
desenvolvidas no espaço escolar deverão estar em consonância com os modos de vida e
problemas do campo.
De acordo com Araújo e Silva (2011) a formação sociopolítica, a participação
democrática e cidadã, constituem termos chaves para o início de uma reflexão acerca do tema
Educação do Campo e Formação de Professores; suas implicações na organização social em
áreas de assentamento rurais como espaços de lutas e resistências, contra a expropriação do
lugar de trabalho e vida. Faz-se necessário reanimar esses povos no intuito de se fazerem
sentir enquanto vida, reconhecendo sua história, seu local e mundo. As possibilidades de se
fazer aprender por meio da relação e inter-relação com todos os indivíduos, respeitando a
diversidade, e com uma concepção onde é preciso criar e recriar diferentes mecanismos para a
construção de saberes é sem sombra de dúvidas relevante para um processo de vivência,
liberdade, autonomia.
Diversas situações precisam ser recuperadas para que a Educação do Campo seja
compreendida e respeitada pelo Estado enquanto direito universal. A discussão sobre a
educação escolar das crianças que residem no campo fica fragmentada, quando lhes são
implantados os valores e costumes urbanos, porque a realidade deles é outra. O que eles
aprendem na escola deverá ter um valor utilitário para a vida. Assim, construir um trabalho
pedagógico que compartilhe, com seus modos próprios de vida, sua cultura, história,
memória, valorizando os saberes locais é de grande relevância no intuito de evidenciar a
formação do ―eu histórico‖ do camponês.
Ferreira e Brandão (2011) dispõem sobre a Educação do Campo quanto à identidade:
É necessário que ações sejam desenvolvidas na escola, de modo que, não se prepare
apenas para a vida na cidade, mas que se reconheçam as distintas formas de existência, de
manifestações da vida e de relações sociais com a natureza, auxiliando o educando a
desenvolver habilidades para o exercício da cidadania. Salientamos a necessidade de se
modificar a perspectiva de abandono do campo e de se reafirmar as identidades.
Para Antônio e Lucini (2007, p.178) a discussão sobre ―a constituição histórica das
práticas educativas emerge das necessidades de diferentes grupos sociais em acessar
educação‖.
Elucidamos neste ponto a questão da pertinência de se ter uma escola que seja do
campo, isto é, que atenda aos interesses do camponês, que traga à tona discussões em termos
de causas, desafios, história e prática educativa escolar para além do ler e escrever, visando o
desenvolvimento sociocultural e econômico.
A educação do campo rejeita a imposição de um modelo pedagógico que nega as
culturas, os saberes, os modos de produção da vida do camponês. Suas ações são permeadas
por elementos historicamente construídos, a educação escolar do campo emerge a partir de
contextualizações mais próximas e íntimas da realidade do lugar, das pessoas que compõem
este lugar. A partir da análise e da proposição de Perin (2007) torna-se relevante destacar que
a Educação do Campo deverá contemplar o método pedagógico, que será levado em conta à
realidade e fazer referências às culturas, experiências e modos próprios de vida dentre outras
tantas, um olhar voltado para aqueles que vivem no campo no sentido mais abrangente desde
suas riquezas culturais e aspectos de humanização até as limitações que são comuns a esses
sujeitos nos diferentes espaços que habitam.
formações são feitas para os professores e não com eles, eis aí uma das possíveis chaves para
a questão do insucesso, não seria então melhor construir novas práticas ao invés de ditar como
estas o deveriam ser?
O cenário da organização familiar é um dos pontos que explicam a trajetória do
sucesso, mas nessa organização fazem-se necessárias interações efetivas e afetivas. É o
acompanhamento da família com participação e não coação. O papel da família como
norteadora e motivadora é de grande relevância para o processo de êxito educativo.
Os perfis descritos por Lahire (1997 apud Piotto, 2009) são características de
organização familiar que explicam trajetórias escolares bem-sucedidas na inexistência, total
ou parcial, de capital cultural. E mesmo quando esse capital existir serão necessárias
interações afetivas e efetivas.
A família, sem sombras de dúvidas é um dos grandes colaboradores para o êxito
escolar dos educandos, é o primeiro ponto e o que caminhará com o educando ao longo da sua
vida, rumo à trajetória do saber por meio do aprender, ou pelo menos deveria ser. Mas,
devemos levar em consideração que a família não é o único ponto a se considerar, existem
outros fatores que corroboram para o sucesso escolar.
À guisa de conclusão, Dourado e Oliveira (2009, p.210, 211 e 212) descrevem 12
aspectos fundamentais em prol do movimento nacional de educação de qualidade dentre eles
destacamos: ― ...Os processos educativos e os resultados escolares, em termos de uma
aprendizagem mais significativa, resultam de ações mais concretas com os objetivos de
democratização dos processos de organização e gestão‖.
Desta forma, uma educação de qualidade está relacionada ao processo de ensino-
aprendizagem em sua totalidade em conexão socioeducativa-cultural, onde as práticas
escolares em sintonia com o sucesso escolar estão ligadas a fatores dentro e fora da escola,
pois a educação está presente na família, no trabalho, na cultura, nas organizações sociais e
não apenas na escola. A escola é uma possibilidade de caminho a ser seguido levando em
consideração diversos aspectos conforme supracitados.
E é, portanto neste sentido que Perrenoud (2003, p.22) aponta que o sucesso escolar,
na sua forma atual, só tem sentido se articulado a:
a. Uma definição coletiva e democrática dos objetivos da escolaridade;
b. Uma limitação desses objetivos, deixando um amplo espaço para a diversidade
cultural.
Assim, devemos considerar que compete à escola construir e aplicar propostas
educativas visando o melhor para a obtenção do sucesso escolar. Edificando diversas
maneiras para se efetivar o capital cultural efervescendo o socioeducativo. A educação é um
processo que permite ao homem a produção de si mesmo com mediações e ajuda do outro.
Conforme Carvalho (2010, p.1) os principais fatores para levar um aluno a alcançar o
sucesso são: ―família, professor/escola competente, autoestima do aluno/força de vontade,
saúde geral dos alunos e recursos econômicos‖. Nenhum dos fatores possuem força
determinante em sua totalidade, havendo uma relação entre eles. Ainda, Carvalho (2010, p.8),
apresenta que ―vários fatores atuam interligados uns com os outros, ora podendo um ter mais
destaque do que o outro‖.
Na ação pedagógica é de suma relevância possibilitar um aprender que tenha
conectividade entre a escola, a família, a comunidade, ao mundo como um todo. Os saberes
precisam ter sabores que são os significados, a relação que o educando faz entre ele próprio e
o mundo que o cerca.
Quanto à categoria Definição Geral de Educação do Campo, consideramos, conforme
análise das entrevistas, que as particularidades que existem na forma de trabalho educativo
entre cidade e campo devem ser respeitadas. Os valores de determinadas práticas possuem
significados diferentes para grupos distintos. Essas muitas formas às quais os entrevistados se
referem estão relacionadas à vida, ao espaço do qual o aluno faz parte, que permite ao
professor trabalhar diretamente com a terra, os animais, a falta de recursos, por exemplo:
água, energia elétrica, saneamento básico, hospital e até mesmo as carências relativas à
infraestrutura da escola e equipamentos. Não obstante, apontamos que não se pode apenas
levar em consideração aprendizagens características referentes ao campo, o alunado tem que
estar preparado intelectualmente tanto para situações ligadas à sua realidade no campo quanto
para aspectos gerais referentes à cidade e ao mundo de uma forma geral.
É relevante no campo escolar abordar estudos específicos da comunidade na qual a
escola encontra-se inserida. Tais características mantêm viva a história de um povo. Leva-os a
ter um espírito crítico necessário, tanto para seu autoconhecimento quanto para seu
reconhecimento de pertença, de luta por direitos que são comuns a todos, bem como os
específicos dos camponeses, o que lhes impulsiona a uma energia transformadora.
No processo de investigação quanto à categoria Princípios Básicos para Educação do
Campo, destacamos que há liberdade de ação na construção de suas práticas; os conteúdos e
procedimentos metodológicos atendem à realidade dos alunos; a avaliação é feita de forma
contínua e cumulativa. Contudo, ainda existem alguns entraves, a exemplo de: falta de
transporte, falta de biblioteca, má qualidade nas instalações físicas, equipamentos e materiais,
falta de atendimento especializado aos alunos com distorção idade/série e que trabalham; e
falta de documentos que disponham sobre o que é necessário conhecer ao final de cada série.
Quanto às descobertas relacionadas à categoria Práticas Educativas e Sucesso Escolar
apontamos que as práticas educativas bem sucedidas são as que acarretam em sucesso escolar,
conforme as declarações dos entrevistados; eles utilizam uma gama de métodos para alcançar
o sucesso escolar. O modo como são abordados os conteúdos varia, e eles costumam trabalhar
em grupo por acreditar que a aprendizagem ocorre com maior facilidade. Declararam-se
motivados para o trabalho, mostrando-se abertos para o dinamismo em suas aulas. Em geral,
os professores consideram que têm alcançado bons resultados. Os professores entrevistados
não costumam fixar-se num único método de ensino, variam conforme necessidade.
Os alunos vêm reagindo bem aos métodos utilizados em sala e os entrevistados
acreditam que para que os métodos aplicados resultem é preciso sempre renovar suas práticas
não esquecendo de se autoavaliarem quanto ao desejado, fazendo ajustes quando necessário,
além de diagnosticar as dificuldades que possivelmente surjam, buscando meios que resultem
na aprendizagem.
Considerações finais
Por meio deste artigo, estabelecemos como objetivo principal analisar a relação entre
práticas educativas e sucesso escolar na Educação do Campo do Município Verde. A
investigação empreendida até aqui nos permite chegar a algumas conclusões provisórias a
serem corroboradas ou contrariadas por outros estudos.
Tendo em conta os objetivos da nossa pesquisa, mediante as análises feitas das falas
dos sujeitos entrevistados, buscamos possíveis explicações sobre o que eles pensam acerca da
Educação do Campo, se em suas práticas estão seguidos os princípios básicos para Educação
do Campo e se, consequentemente, tais práticas levam ao sucesso escolar. Os recursos
metodológicos utilizados na edificação do trabalho contribuíram de forma imprescindível na
tarefa de juntar dados suficientes para se chegar a uma análise das falas e dos argumentos de
nossos entrevistados.
Os resultados sobre os princípios básicos para Educação do Campo observados nas
práticas (descritos nas falas) dos 8 (oito) professores analisados nesta investigação remetem-
se a duas vertentes; por um lado, os conteúdos atendem a realidade dos alunos, sendo
problematizados com questões referentes à realidade local. Os procedimentos metodológicos
atendem aos interesses tendo em vista as expectativas e necessidades dos alunos. Contam com
uma avaliação que segue os princípios básicos para Educação do Campo sendo realizada de
modo contínuo e cumulativo havendo processos de recuperação. Além de haver liberdade de
ação na construção de suas práticas onde são pré-definidos objetivos e procedimentos de
projetos a serem executados de modo conhecido e construído por todos que compõem a
comunidade: funcionários em geral da escola, pais, família, alunos, comunidade, bem como a
apresentação de seus resultados por meio de exposição, reuniões, culminâncias.
Por outro lado, em quase todas as escolas pesquisadas, os alunos na sua maioria não
trabalham; mas entre aqueles que trabalham e recebem um atendimento diferenciado, caso em
que o professor relaciona tempo-escola com tempo-comunidade o alunado consegue alcançar
bons resultados, diferentemente daqueles que trabalham e não recebem quaisquer estímulos,
não havendo bom desempenho. Ressaltamos também a ausência de um atendimento
especializado para os alunos com distorção idade/série; temos que três alunos estão com
distorção idade/série e nenhum deles tem acesso a programas específicos. A maior parte dos
alunos não usa transporte escolar, pois não necessitam; porém, aqueles que precisam do
transporte, este, quando existe, é usado de modo insatisfatório. Não há bibliotecas em
nenhuma das escolas pesquisadas e os acervos que as escolas possuem são insuficientes para
atender a demanda, contam com cantinhos improvisados onde são amontoados alguns livros e
jogos. Os professores não estão satisfeitos com a qualidade das instalações físicas,
equipamentos, livros e materiais. As escolas não possuem nenhum documento que apresente
como critério o que os alunos deverão desempenhar ao final de uma determinada série.
No tocante às declarações pelas entrevistas, quanto às práticas dos professores,
mediante o sucesso escolar, destaca-se que os professores utilizam diversos métodos para
alcançar o bom desempenho do alunado. Sem haver preferência por um ou outro método.
Utilizam o método expositivo, o método de ajuda direta aos mais fracos e o método de
descoberta para os que são capazes de alguma autonomia. Quanto aos conteúdos propostos,
eles não trabalham à risca e trabalham com temáticas baseadas na discussão socioeconômica e
cultural da comunidade local abordando uma visão frente à realidade. Geralmente, primeiro
relacionam conteúdos à problemática cotidiana para só depois serem vistos de forma teórica.
Acreditam alcançar melhores avanços na aprendizagem quando trabalhando em grupo,
pois evidenciam que o processo de interação entre os pares se dá de modo mais intenso. A
Referências
______. (2004). Pedagogia diferenciada para uma aprendizagem eficaz. Revista Lusófona de
Educação, v.4, p. 33-50. Disponível em:
recil.grupolusofona.pt/handie/10437/1409?show=full. Acesso em 25 de março de 2013.
LEITE, S. C. (1999). Escola Rural: Urbanização e Políticas Educacionais. 1a Ed. Cortez: São
Paulo.
Introdução
Vários são os discursos que hoje proferem a necessidade de uma sociedade que a
igualdade seja uma realidade concreta, ao mesmo tempo que se valoriza o reconhecimento das
diferenças de todos (as). Igualdade e diferença então se apresentam em uma constante tensão
também no cotidiano escolar.
Antes de adentrar na discussão em torno da Educação em Direitos Humanos, é
necessário e pertinente a conceituação dos termos igualdade e diferença, para que não
possamos ser levados a confusões de natureza semântica e epistemológica, comprometendo
assim o ponto focal de nosso debate.
A constatação inicial é que igualdade e diferença apresentam um aspecto polissêmico.
Uma breve reflexão no cotidiano escolar nos leva a entender que o conceito de igualdade
sempre foi concebida como homogeneização, uniformização, cabendo á escola a tarefa de
padronizar alunos (as) de diferentes origens através de seus processos formativos.
Já o conceito de diferença é concebido de forma sinonímica a deficiência, um
problema a ser revolvido pelos educadores e pela escola, visto que historicamente a escola
tentou anular as diferenças, tratando todos (as) de forma padronizada onde a diferença sempre
foi rejeitada.
Percebe-se então que desde a existência das primeiras instituições educativas, um dos
grandes desafios a serem enfrentados girou em torno de promover a articulação entre a
igualdade e a diferença, em outros termos pode-se dizer que
Ela tem como pressuposto fundamental a ideia do campo como lugar de novas
possibilidades e de desenvolvimento sustentável, enxergando-o como espaço e território do
camponês, lugar de vida, moradia e existência e não apenas como lugar de produção de
alimentos para atender as demandas do mercado capitalista. Nesse caso, podemos pensar o
território camponês como espaço de vivência, como espaço de produtor de signos sociais e,
portanto, com uma identidade que lhe é peculiar.
Já a Educação Rural é uma proposta pedagógica que visa a formação do indivíduo
unicamente para o trabalho, atendendo aos interesses do agronegócio, e consequentemente do
sistema capitalista. Nas palavras de Brandão
A educação rural desse modo, parte da ideia do campo como lugar arcaico e atrasado,
e que por isso merece ser abandonado. Nesse caso, homens e mulheres do campo vistos como
seres rústicos sem educação e sem inteligência e a escola nesse sentido, serviria para
―domesticá-lo‖.
Assim, para que exista uma efetivação da proposta da Educação do Campo, é
necessário encará-lo não como uma proposta ou projeto educacional, mas como assunto de
política pública. Só assim poderemos concretizar a propositura presente em nossa constituição
da educação como direito público subjetivo e universal. É pertinente perceber que a
universalização da educação, não se resume apenas a presença de todos na escola, mas sim
uma educação pensada de acordo com a realidade de todos.
A proposta da Educação do Campo deve estar inteiramente aliada a um projeto de
desenvolvimento sustentável do campo. É necessário que a proposta de educação para os
povos do campo, esteja dentro de um projeto maior de campo, articulado com outras políticas
públicas sociais, tais como saúde, lazer, habitação.
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
195
outros termos, pode-se dizer que esse paradigma propõe que o território camponês não está no
fim, enxergando-o como espaço de socializações.
Cabe aqui nesse momento esclarecer uma confusão de natureza semântica e
epistemológica entre um projeto de educação do campo e não apenas com os sujeitos
campesinos ou para os mesmos sujeitos. O para o sujeito supõe uma proposta criada sem a
participação efetiva do homem camponês, algo criado distante da sua realidade. Já o com,
apesar de supor a sua participação, pressupõe uma participação limitada tendo em vista que o
sujeito do campo não tinha vez nem voz. Por fim, um projeto de Educação do povo do campo,
significa antes de mais nada, uma proposta que priorize a e reconheça as suas identidades,
valorizando a sua realidade social e política.
A escola, por se constituir como instituição responsável pelo processo de humanização
dos seres humanos, se institui em papel de fundamental importância na desconstrução
histórica da identidade camponesa e de seu território, concebendo-o como um sujeito
identificado com a sua terra e portanto, respeitem a sua identidade.
A Educação do Campo traz uma proposta pedagógica de valorização e reconhecimento
da identidade camponesa, seus valores, sentimentos, habilidades, interesses e os saberes,
representados em uma cultura, levando em consideração os modos de ser, de se relacionar dos
povos do campo. Essas questões devem ser incorporadas tanto nos projetos pedagógicos,
quanto nas políticas públicas.
A Educação do Campo surge como uma proposta educacional que tenha o sujeito do
campo como protagonista da história, como principal representante do seu povo, de sua gente
e de seu território, que o faça sentir prazer e satisfação de pertencer ao campo, que o leve a
verdadeiramente assumir a sua identidade de camponses/as. Destarte, é necessário
resgatar o valor do campo como espaço de vida, moradia, lazer.
Só assim o campo poderá ser concebido como espaço de moradia, desmistificando a
lógica do sair para estudar ou do estudar para sair, pensando em uma educação que tenha
como base o cultivo das identidades e a recuperação dos valores sociais do campo, articulados
entre a igualdade e as diferenças.
Metodologia
Resultados e discussões
Considerações finais
A discussão presente nos permite considerar de que há um clamor social pelos Direitos
Humanos, ao mesmo tempo em que, aqueles mesmo que clamam, são os mesmos
responsáveis pelas constantes violações de direitos que permeiam a sociedade brasileira em
seu cotidiano. Nesse caso, percebemos a importância de uma Educação em e para os Direitos
Humanos, por entender-se que, do ponto de vista da legislação, houveram consideráveis
avanços, tratando-se agora de um trabalho que conscientize e sensibilize os sujeitos da
sociedade para a necessidade de garantia e promoção dos direitos fundamentais. Esse
processo deve começar na escola.
Por fim, entender que o debate acerca dos Direitos Humanos deve se realizar de forma
coletiva, onde todos (as) se coloquem como cidadãos ativos e participativos na busca pela
efetivação da igualdade dos direitos de todos. Traduzindo em outros termos, não podemos ter
uma visão individualista, fragmentária da sociedade e nos preocuparmos apenas com um
grupo específico, no nosso caso, a garantia do direito a educação aos sujeitos do campo, mas
sim trabalhar para que o exercício da cidadania possibilite a luta pela efetivação dos direitos e
a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Estamos fazendo a nossa parte.
Referências
Candau, Vera Maria. Sacavino Suzana Maria. Educação: Temas em debate. 1º ed. Rio de
Janeiro: 7 Letras, 2015.
Silva, Aida Maria Monteiro. Tavares, Silva. Políticas e fundamentos da Educação em Direitos
Humanos. São Paulo: Cortez, 2010.
ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares. Silva, Margarida Sônia Marinho do Monte. Estratégias
para elaboração do Plano de Ação em Educação em Direitos Humanos. FLORES, Elio
chaves; FERREIRA, Lúcia de Fátima Guerra; MELO, Vilma de Lourdes Barbosa e Melo
(orgs.). Educação em Direitos Humanos e Educação para os Direitos Humanos. João
Pessoa: Editora da UFPB, 2014. 307-336p.
Introdução
Este trabalho é fruto das inquietações que surgiram durante as discussões na disciplina
Educação do Campo, ofertada pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
Contemporânea pela Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste, e
também dos pensamentos que vem surgindo diante do cenário atual em que se encontra a
educação, principalmente no que se refere à dimensão campesina.
Ao discutir a Educação do Campo nos dias atuais é impreterivelmente falar do legado
histórico que a mesma foi submetida ao longo dos tempos através dos fatos que a configuram.
Pensar a educação do campo é pensar na luta dos povos campesinos pelo direito a uma
educação de qualidade para todos.
Nesse sentido, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) é um dos
herdeiros desse processo histórico de resistência e de luta para o campo brasileiro, além desse,
outros movimentos também lutam por essa causa, a exemplo da CPT (Comissão Pastoral da
Terra) e a FETAPE (Federação dos trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco).
Da resistência dos trabalhadores subalternizados expostos a condições escravizadas,
foi surgindo a discussão da educação do campo, que vem tomando uma dimensão de luta pela
situação a qual esta é exposta. Nesse diálogo inicial, compreendemos que a educação do
campo, nasce então da articulação com os movimentos sociais, que mediante a situação
precisavam resistir.
Dessa resistência à luta pela terra, os paradigmas e as condições subalternas às quais
os sujeitos do campo foram submetidos vão sendo quebrados. Portanto concebidos como
sujeitos educativos, que lidam com esta realidade, precisamos compreender como a educação
pública tem sido pensada e discutida em todas as esferas sociais.
Dialogar sobre a Educação do Campo é muito mais que, pensar uma educação
diferenciada que atenda ao público dessa localidade, pensar a Educação do Campo é também
pensar numa escola de direito, numa escola que mesmo em meios a tantas lutas precisa resistir
e existir para aqueles povos que muitas vezes estão tão distantes, dos centros urbano, sejam
estes: ―assalariados, assentados, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas,
remanescentes de quilombolas, enfim todos os povos do campo do Brasil‖ (BORGES E
SILVA 2012, p.215), para que possam ter acesso a educação e uma educação que lançar-se
para a construção de um projeto de Campo diferenciado.
Nesse sentido, apresentamos como questão de pesquisa: o sistema educacional atual
tem garantido o direito à educação aos sujeitos do campo? Para tanto temos como objetivo
geral: Analisar se o sistema educacional atual tem garantido o direito à educação aos sujeitos
do campo. E como Específicos: I) Identificar como tem sido tratada a escola multisserida do
Desenho metodológico
[...] este tipo de pesquisa trabalha com um universo dos significados, dos
motivos, das aspirações, das crenças dos valores e das atitudes. Esse
conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade
social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre
o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e
partilhada com seus semelhantes. (2009, p.21)
A partir das falas dos sujeitos procedemos à análise de conteúdo estabelecendo uma
relação entre suas falas e a relação com o nosso objeto de estudo. Este tipo de análise: ―tem
como ponto de partida a mensagem - seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa,
figurativa, documental ou diretamente provocada‖ (FRANCO, 2008 p.19). Estas podem
expressar um significado e um sentido que deverá ser interpretado, considerando-se as
condições textuais, sob uma concepção crítica e dinâmica da linguagem.
Para o levantamento dos dados, elegemos os seguintes sujeitos de pesquisa: 03 (três)
professores das escolas do campo sendo todos(as) eles(as) de escolas multisseriada, o qual
trataremos nessa pesquisa como D1, D2 e D3, nomes ( nomes fictícios) a escolha dos sujeitos
esta relacionada a presença direta desses com a escola o que para nós é fundamental no
desenvolvimento da pesquisa para dialogarmos sobre nosso objeto: escola de direito.
Como técnica de análise de dados utilizaremos a categorização que de acordo com
Franco:
O contato com esse material nos permiti interpretar e tratar os dados de modo que eles
sejam organizados em unidades de acordo com os temas relacionados ente si dando origem às
categorias de análises as palavras e expressões mais recorrentes nas falas dos sujeitos.
Para tratar os dados coletados através das respostas dos questionários, levamos em
consideração a organização da Análise do conteúdo via análise temática proposta por
(BARDIN 1977), quando nos mostra as fases a qual se referem aos dados coletados, são elas:
a pré-análise; a exploração do material e o tratamento dos resultados, inferência e
interpretação.
Nesse sentido, a citação a cima deixa evidente que esse tipo de escola, está
diretamente relacionada aos povos do campo, e se faz necessário que suas especificidades
sejam respeitadas para a construção de experiências que possibilitem a construção de novos
saberes atrelada aos trabalhadores do campo.
Dessa forma a educação do campo marcada pela luta dos trabalhadores terá outra
perspectiva a partir do momento que a educação for pensada nesse viés, levando em
consideração o horizonte de direitos que cabem ao homem, a mulher, a criança e ao jovem
que vivem no campo, com as suas histórias e o seu modo de viver.
A escola do campo precisa ser vista com outros olhares. O que ainda predominam são
imaginários negativos em relação a escolas multisseriadas, que por vezes são nomeadas de
escolas de baixa qualidade por não acompanhar o modelo seriado das escolas localizadas na
cidade. Mais o que muitas pessoas não sabem é que mesmo no modelo urbano existem essas
escolas, uma vez que as escolas multisseriadas ―são espaços marcados predominantemente
pela heterogeneidade reunindo grupos com diferenças de série, de sexo, de idade, de
interesses, de domínio de conhecimentos, de níveis de aproveitamento, etc (HAGE, 2006,
p.5).
Nesse sentido, a escola multisseriada, pode estar presente tanto no campo quanto na
cidade. E a sua existência é necessária para a comunidade, principalmente do campo
continuem estudando. É preciso romper com as concepções reducionistas de escola
multisseriada. A escola multisseriada é uma escola possível, que tem muito a ensinar, portanto
não é um fardo como muitos professores assim pensam, além disso:
vez que estamos vivenciando momentos de lutas, em que as políticas públicas de educação,
precisam ser repensadas no sentido de uma melhoria na qualidade da educação que está sendo
ofertada.
A Constituição deixa evidente, portanto, que todos os sujeitos têm direito de estudar,
de ser educado, entretanto esse direito a educação tem sido tomado como um desafio. Como
sabemos o direito à educação escolar é um assunto que não perdeu nem perderá sua
atualidade, principalmente diante das mudanças que estamos enfrentando nos dias de hoje.
O desafio que está posto, para a educação do campo, é pensar como a escola pública
pode oferecer uma educação de qualidade aos seus sujeitos? Que qualidade estamos falando?
Questões como estas carecem ser repensadas no sentido de um renascer de melhores na
condições de ensino.
A educação é um passo fundamental na vida dos sujeitos para que estes possam ter
melhores condições de vida. Lutar pelo direito de ter escolas do e no campo campo e dessa
forma acesso a educação é exigir que das autoridades, políticas públicas que possam garantir
o direito humano do acesso ao ensino. Dessa maneira:
Diante do que nos propõe Haddad (2012) em seu pensamento, podemos inferir que, é
necessário romper com uma educação destinada a parte elitizada e ―empoderada‖, é preciso
que esta chegue a alcance a todos(as), a educação por sua vez é a base constitutiva para a
formação das pessoas por isso, é de suma importância o acesso a ela.
Nessa mesma linha, Horta (1998) sinaliza que: ―A educação figura como um direito
fundamental de natureza social previsto na constituição brasileira ( tida como constituição
cidadã) e como direito social.‖( 1998, p. 10). Segundo esse pensamento, a educação é um
direito de todos e, portanto, trata-se de uma dimensão social.
Ter direito a educação nas escolas do campo é antes de mais nada romper com os
estereótipos de que essa educação é atrasada e que as escolas multisseriadas são um mal para
essas comunidades, é preciso portanto de uma equidade educacional para que a educação do
campo seja reconhecida e que as pessoas dessa localidade possam ter direito a uma educação
de qualidade, tal qual como é pensada a educação para os centros urbanos.
Hoje a consolidação normativa do direito a educação aparece no Brasil de maneira
mais forte que alguns anos atrás. Contudo, a sua garantia de realização, ainda esta por se
fazer, há muitos desafios de infraestrutura, do pedagógico e até mesmo a existência das
escolas do campo que de maneira expressiva nos deixa questionamentos outros sobre que
direito a educação tem sido destinado a educação dos povos do campo.
Após muitas lutas sociais, hoje a educação tornou-se um direito de todos, entretanto,
há muitas ressalvas a serem questionadas quanto à garantia desse direito. Temos visto na
atualidade que a educação do campo vem passando por desafios no que se refere a manter as
escolas do campo abertas. O que temos visto, mesmo com os avanços recentes, é que, estes
não foram suficientes para redirecionar as políticas educacionais, no sentido de uma educação
de qualidade e que possa ser direcionada a toda população.
Entendemos por escola multisseriada: [...] espaços marcados predominantemente pela
heterogeneidade reunindo grupos com diferenças de série, de sexo, de idade, de interesses, de
domínio de conhecimentos, de níveis de aproveitamento, etc. (HAGE, 2006, p.5). Nesse
sentido buscando responder nosso primeiro objetivo:) Identificar como tem sido tratada a
escola multisserida do campo.
Questionamos junto aos professores da rede municipal de ensino de Lagoa dos Gatos:
1) Quais as iniciativas e políticas públicas necessárias para as escolas do campo e como estas
têm sido tratadas pelos governantes? 2) Na sua localidade há um movimento consciente de
valorização das escolas do campo como escolas que ajudam no processo de humanização, e
de reafirmação dos povos do campo como sujeitos de seu próprio destino, de sua própria
história? 3) Diante dos desafios que a educação vem enfrentando nos últimos tempos é
possível ensinar numa escola multisseriada?.
As respostas nos permitiram construir algumas considerações. Ao tratar das iniciativas
e políticas públicas necessárias para as escolas do campo e como esta tem sido tratada a D2
responde:
[...] Bem, diante dos desafios procuro trabalhar de forma que trago a
realidade dos alunos para dentro da sala de aula, se não temos materiais de
apoio para realizar as atividades, precisamos adaptar a nossa realidade. Não
vou dizer que é fácil, enfrentamos dificuldades, mais, quando se quer faz.
Tudo isso para ajudar nossos alunos e mostra a importância do estudo para
suas vidas. (Extrato do questionário, do D2, dezembro. 2016).
Como podemos perceber, apesar dos desafios existentes, o ensino é possível nessas
escolas, quando aqueles que estão a frente estão destinados a fazerem a diferença. Esse
depoimento revela a resistência de educadores que de fato procuram fazer a diferença em seu
trabalho em turmas multisseriadas. No âmbito dessa abordagem Pereira (2015) destaca que:
Nesse sentido, é preciso que todos aqueles que se comprometem com a educação do
campo tenham em seu projeto de ensino propostas viáveis e objetivas no sentido de que
atendam as especificidades dos sujeitos do campo. Os desafios que inviabilizam as práticas
escolares existem e precisam ser encarados em busca de melhores soluções para que as
escolas funcionem.
A escola multisseriada do campo vista hoje como um espaço de desafios, e em muitas
cidades relegadas ao abandono pela administração pública, é um local que reúnem diferentes
sujeitos e com pensamentos diversos, é uma escola possível de continuar existindo conforme
nos mostra os professores que nelas trabalham, e são nessas escolas que muito se observa a
resistência, e a vontade de fazer o diferente por parte daqueles que acreditam na educação.
A educação como direito aqui compreendida por Haddad (2012): como um direito
humano, [...] que deve ser garantido a todos os seres independente de qualquer condição
pessoal (2012, p.217) vem articulada nessa categoria enquanto direito de todos. E é por assim
compreende-la que nos propomos a discutir quais são os desafios para a garantia desse direito.
Buscando responder ao segundo objetivo específico: Compreender a importância da
escola multisserida para garantir o direito ao acesso a educação aos sujeitos do campo.
Buscamos juntos aos sujeitos da pesquisa dialogar sobre: como a escola multisseriada pode
contribuir para a permanecia dos sujeitos do campo? Quais são os principais desafios que
permeiam a educação do campo? Qual a importância da escola multisseriada para os sujeitos
do campo?
A fala dos sujeitos mostra uma preocupação nas condições de funcionamento das
escolas do campo como infere na fala da D3 ao falar sobre os desafios que estão presentes na
educação do campo:
[...] São muitos, mais o que mais nos preocupa é o fato de saber que eles
querem extinguir as escolas do campo, é dessa forma que eles falam,
extinguir as escolas. Como falar em uma educação que possa ajudar a
população se os políticos querem acabar com essa educação que é própria da
Como podemos perceber a fala chega a ser um desabafo dessa professora que mostra
ter aproximações com o pensamento de defesa de uma escola pública de qualidade para todos,
que é destinada aos povos campesinos. O que revela que os sujeitos que trabalham com esta
realidade se preocupam com o direito a educação dessas crianças e jovens.
Dentro dessa mesma discussão a D1 salienta que:
[...]a escola multisseriada é vista por muitas pessoas como uma escola sem
futuro, mais nós que estamos aqui na comunidade todo santo dia, sabemos o
quanto essa escola é importante para as pessoas que moram aqui. Os desafios
são principalmente de recursos, para o ensino. Os governantes não estão
preocupados se a escola do campo está aberta ou vai fechar eles não querem
mesmo é investir isso dificulta um pouco nosso trabalho de sala. (Extrato do
questionário, do D1, dezembro. 2016).
[...] Não basta ter escolas no campo; queremos ajudar a construir escolas do
campo, ou seja, escolas com um projeto político pedagógico vinculado às
causas, aos desafios, aos sonhos, a história e à cultura do povo trabalhador
do campo. (FERNANDES, OSFS E CALDART, 2008, p.27)
triste quando uma escola fecha. A comunidade fica esquisita e a maioria dos
pais acompanham a saída do filho para outra comunidade de forma que
aquela escola acaba sendo esquecida. Por isso, se as escolas do campo
permanecem abertas e com condições de estar ali, a comunidade ao redor
fica muito mais animada, além de garantir que a cultura não se desvaneça.
(Extrato do questionário, do D2, dezembro. 2016).
Desse modo, cabe destacar ainda que a falsa ideia da escola urbana ser melhor que a
do campo, tem levantado muitos debates em relação ao determinante geográfico. O que pode
dizer se a educação esta caminhando em direção de um bom desenvolvimento, não são as
questões geográficas apenas, mais os fatores que envolve a política de investimento para estas
escolas. Desse modo:
Aproximações conclusivas
Na perspectiva do que foi exposto ate aqui, percebemos que, não existem assuntos
inéditos porém, as interpretações e os pensamentos apresentados pelos teóricos e pelos
sujeitos da pesquisa representam para nós caminhos para que possamos aprender, criticar e
dialogar sobre como tem sido pensada a educação do campo.
Diante do que foi apresentado sobre o direito a educação nas escolas do campo,
percebemos que embora as políticas públicas tenham tentado tratar a educação do campo de
uma forma diferenciada da qual vinha sendo feita nos últimos tempos, não percebemos muitos
avanços nesse cenário, uma vez que os sujeitos dessas localidades enfrentam diariamente
situações de dificuldade, para permanecer estudando com uma qualidade mínima de condição
nessas escolas.
Outro ponto que merece a nossa atenção diz respeito a importância dessas escolas
multisseriadas para os povos campesinos. A pesquisa deixou evidenciado que essas escolas
apresentam-se como um dos fatores fundamentais para o acesso a educação dos sujeitos do
campo, na sua própria localidade, e que portanto a sua não existência implica numa
dificuldade para dar continuidade aos estudos.
As reflexões expostas neste texto ainda precisam de aprofundamentos. Pensamos que a
educação do campo não é uma educação de faz de conta, é uma educação que carece ser
respeitada e resinificada. Essa compreensão de escola de direito a qual estamos dialogando
leva-nos a perceber que, os desafios das escolas multisseriadas não vão se resolver apenas no
plano pedagógico mais na questão política geral.
Por fim, é preciso que a educação do campo esteja alicerçada a valorização dos povos
do campo no sentido de melhoria e qualidade de vida desses e que as políticas públicas
tomem essa dimensão como ponto de partida para suas ações.
Referências
____________. Por uma educação do campo: traços e uma identidade em construção. In:
ARROYO, Miguel; CALDART, Roseli; MOLINA, Monica (org). Por uma educação do
campo. 2. Ed. Petrópolis, rio de Janeiro: Vozes, 2004.
Introdução
31
Graduanda do 3º período do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
Percussos da pesquisa
com uma abordagem exploratória, que de acordo com Gil (2002, p.41) proporciona maior
familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mas explícito a construir hipóteses e
aprimoramento das ideias. Utilizando o método de entrevista como forma de coletar dados
para
Que através das respostas foi possível fazer uma análise sobre a participação e
conhecimento que toda a comunidade tem sobre o PPP da escola, onde cada um responderia
de acordo com seu conhecimento. Essas questões eram apresentadas aos entrevistados sem
que houvesse nenhuma interferência do entrevistador, cujo trabalho desse era apenas registrar
as respostas dadas.
De acordo com Gadotti (1994) ―até muito recentemente a questão da escola limitava-
se a uma escolha entre ser tradicional ou moderna. Essa tipologia não desapareceu, mas não
responde a todas as questões atuais da escola‖. Principalmente depois modernização da
sociedade, a escola ficou com questões mais complexas com relação a sua forma de
organização em meio tantas mudanças, onde passou questionar a se mesma. Qual será
realmente o papel da instituição escolar nessa nova sociedade? Não adiantava mais rever
apenas a metodologia de ensino, mas rever também seus fins.
Nesse contexto o Projeto Político Pedagógico da escola passou a ser visto como algo
fundamental para reorganização dos trabalhos da escola, como um documento que serviria de
ajuda para solucionar os entraves encontrados diariamente. Não dever ser visto apenas como
um plano, pois é o que ocorre em muitas ocasiões, em que o projeto da escola é confundido
como um simples plano que contém as ideias de planejamento do diretor, que deve ser
compridas ao logo do o ano letivo.
No Projeto Político Pedagógico não deve ser colocado apenas às ideias do gestor ou da
secretaria de educação, esses não são os únicos responsáveis pela sua construção. ―A
multiculturalidade é marca significativa do nosso tempo‖ (GADOTTI, 1994, p.1), por isso
não há como um Projeto Político pedagógico da escola, que é a instituição responsável pela
formação do ―bom cidadão‖, conter ideias/sugestões apenas de um membro ou de órgãos
distantes de sua realidade. Pois esta está inserida em meios diversos, com indivíduos com
características diferenciadas.
Ao se construir um Projeto Político Pedagógico da escola é necessário ver quais as
intenções de fazer, de realizar, antever o que realmente quer para o futuro diante do que se
tem no presente.
campo e construído de forma diferente? Todos os PPP devem ser construídos a parti dos
mesmos princípios sempre objetivando um ensino de qualidade, mas que na escola do campo
deve conter assim como toda escola suas especificidades, com metodologias contextualizadas
e que seus indivíduos devem ter uma participação efetiva como qualquer outro sendo
localizada no campo ou da cidade.
Mas tratando-se de educação do campo encontraremos sempre alguns entraves em
todos os sentidos sejam eles no ensino, na estrutura física, na participação dos indivíduos,
pois há sempre a aquela visão de que para a escolinha do campo qual quer coisa serve que
seus beneficiários devem estar inseridos na zona do conformismo, onde suas condições de
ensino-aprendizagem não irão passar daquela apresentada. Mas que assim como qualquer
outra instituição escolar a escola do campo encontra dificuldades que devem ser superadas na
sua forma de organização.
Para que ocorra essa superação e necessário a participação de todo o corpo escolar
(pais, alunos, funcionários e órgãos competentes) que esse vise uma educação de qualidade
ligada diretamente com as origens campesinas, que esse corpo escolar construa seu currículo
em cima de suas raízes culturais fornecendo ao educando a importância da valoração das suas
origens. Para essa construção ser possível os movimentos sociais de trabalhadores do campo
começarão a reivindicar direitos instituídos nas políticas públicas, onde se destinava a
ampliação e qualificação da oferta de educação básica e superior as populações do campo.
Que de acordo com o que dispões as políticas de educação do campo e o Programa de
Educação na Reforma Agrária-PRONERA.
Com esses princípios garantidos, conseguimos ter um ensino ―próximo‖ das realidades
encontradas nas escolas do campo, se forem aplicadas corretamente. Mas, de certa forma, são
encontradas nas escolas do campo algumas resistências na participação e defesa desses
princípios. Na maioria das vezes, por falta de conhecimento das leis ou até mesmo por não
querer se envolver com as questões da escola.
Os funcionários da escola acabam trabalhando de forma individual, sem interagir com
os colegas de trabalho sobre qualquer assunto que na envolva sua função na escola, os pais e
alunos (as) pensam que e responsabilidade apenas do diretor organizar e planejar as atividades
pedagógicas ou não da escola, que ocasiona então, a centralização de poder nas mãos de um
seguimento. Questão essa que deve ser repensada, pois todos devem se sentir responsáveis por
essa organização. Para se ter uma educação de qualidade, não pode haver nenhum seguimento
escolar desligado da gestão da escola. Devem ser firmada uma aliança de gestão democrática
a partir do diálogo. Assim como diz Dalmás (2011, p.27 apud ARROJO; ROCHA;
O Projeto Político Pedagógico da escola do P.A. Nova Vida tem uma estrutura
completa com todos os requisitos necessários para uma boa execução das propostas de
organização da escolar. Nele contém a introdução, os fundamentos do PPP, diretrizes da
educação incluindo as da educação do campo, a caracterização externa da escola que parte da
fundação histórica da comunidade em que ela está localizada, ambiente físico e ambiente
socioeconômico dos educandos e de todos da comunidade geral; caracterização interna com
quadro de funcionários, situação do patrimônio, recursos/materiais, tabela de programas e etc.
Metas prioritárias, plano de trabalho e implantação, avaliação do plano e referências
bibliográficas. São elementos que de acordo com VEIGA (1998, p.6) contribuem para uma
boa organização do PPP e das metas contidas nele e se analisados corretamente trará
contribuições relevante para a construção do Projete Político Pedagógico.
Percebemos, deste modo, que o referido documento não está atualizado, pois ainda
estão com as informações do ano de 2016. O projeto já deveria estar com as novas
atualizações do ano. Existem muitos erros de digitação que dificultam na compreensão da
leitura. Faltam algumas informações necessárias para a organização do trabalho escolar. É
necessário também fazer alterações no quadro de funcionários e resultados anuais, pois, conta
apenas os resultados do ano de 2011. Esses são exemplos que mostram que não há
reformulação anual desse documento, algo que é fundamental para a sua efetivação.
Com relação às identidades da comunidade é claro ver que existe uma relação
próxima, no PPP contém informações relevantes sobre a origem da comunidade e seus
princípios culturais. Esse acaba sendo um fator bastante importante na elaboração de um PPP,
principalmente quando a escola se localiza em comunidades do campo.
Mas o que mais nos chamou a atenção foi que nas páginas iniciais do documento há
uma lista da equipe de elaboração do projeto que é composta pela diretora que atuava na
gestão passada, pela coordenadora de educação, e por duas professoras onde essas afirmam
não te ter contribuído de nenhuma forma com essa elaboração. Não há também registro de
participação dos pais e alunos, nem data que aconteceu a elaboração. Um dos resultados do
estudo é a não participação de todos que compõe a comunidade escolar nesse processo que
norteia o processo de ensino-aprendizagem das crianças. Algo lamentável, pois o
planejamento participativo é um instrumento a serviço de uma nova concepção na construção
da escola (DALMAS, 2011).
Uma construção de um PPP onde não há participação de todos, dificulta o
funcionamento organizacional da escola em vez de trazer contribuições para um
desenvolvimento de um ensino de qualidade. Para que isso ocorra, precisa haver na escola
uma elaboração coletiva de forma democrática. Os indivíduos da escola precisam ver que, o
projeto de uma escola não é responsabilidade apenas da direção, pelo contrário, todos devem
se sentir responsáveis no processo de construção de autonomia como elemento natural do ato
pedagógico. Sendo que a gestão democrática é uma exigência do próprio PPP e exige, em
primeiro lugar, uma mudança no pensamento dos membros da comunidade escolar.
Nos períodos do Tempo Comunidade da disciplina Práticas Pedagógicas II realizamos
uma entrevia com a comunidade escolar. Objetivamos conhecer qual o tipo de aproximação
da comunidade escolar sobre que se refere à construção, aplicação e avaliação do projeto
político pedagógico da escola. Foram entrevistados todos os professores, duas ASDs, o vigia e
três mães de alunos. Não encontramos nenhuma resistência ao aplicarmos as entrevistas.
Todos colaboram de maneira positiva, sempre nos incentivando a irmos mais além às nossas
pesquisas, pois, os sujeitos da escola nos enxergavam como uma forma de trazer ―bons
olhares‖ para a escola.
Através das entrevistas semiestruturadas conseguimos fazer uma análise sobre o
conhecimento que a comunidade escolar tinha sobre o Projeto Político Pedagógico da referida
escola. A maioria dos entrevistados afirma conhecer pouco ou quase nada sobre o Projeto
Político Pedagógico da escola, com uma exceção apenas da diretora que conhece o
instrumento profundamente de outras experiências profissionais, mas com relação ao PPP da
escola do P.A. Nova Vida conhece muito pouco, pois está na gestão da escola citada há pouco
mais de um mês, e ainda não encontrou tempo para avaliá-lo. Mas é notável seu amplo
conhecimento sobre esse instrumento de organização escolar e disponibilidade de atualizá-lo
junto à equipe.
Alguns entrevistados comparam o documento com um regimento parecido com o da
associação dos moradores da comunidade. Alguns entrevistados disseram ser o documento
que contém as regras da escola, assim como o da associação. Percebemos, desta forma, que
apesar do pouco conhecimento formal de alguns funcionários, eles possuem um entendimento
experiencial das finalidades do PPP. Outros entrevistados como as mães não sabem do se trata
esse instrumento.
Com relação à construção do PPP nenhum dos entrevistados disse ter participado.
Segundo relatos dos professores, essa construção foi realizada por uma professora que
trabalhava na escola há mais ou menos cinco anos atrás. Conforme a fala de alguns
entrevistados, para a elaboração do projeto, foi utilizado um modelo de outra escola e adaptou
para a escola de Nova Vida. Um aspecto que infelizmente dificulta ainda mais a compreensão
desse instrumento de tanta importância para a escola. Pois as propostas e metas contidas no
PPP devem de acordo com Freitas (1991, p.23 apud VEIGA, 1998, p.2) nascer no próprio
―chão da escola‖, ou seja, ser construído frente às lutas encontradas na própria escola e pelos
membros que a pertencem e não ser inventadas ou adaptadas por alguém ou contexto distante
da escola. De acordo com uma professora entrevistada, depois de alguns anos houve o
interesse de reformulação através da proposta do Projeto Aquiflora que ela participou no ano
de 2009, mas que não chegou a concluir.
A representação de pais, o vigia e as ASDS afirmaram que é responsabilidade apenas
do diretor (a) construir o Projeto Político Pedagógico da escola e a sua constante atualização.
Um dos entrevistados justificou esta resposta dizendo esse que: ―já que ele (a) é quem manda
na escola‖. Percebemos, portanto, o quanto a visão sobre a construção do PPP e a própria
Gestão Democrática ainda são pouco discutidas com alguns sujeitos que compõem a escola.
Ainda permanece a ideia que deve existir uma gestão unilateral e individualista, que não
necessite da participação da comunidade escolar, como afirma Veiga (1994).
Na fala da diretora e os professores, é perceptível a ideia que todos devem participar
da construção do PPP, pois todos têm responsabilidade de educar e, que devem mostrar isso
na participação direta na organização da escola. Todos afirmaram também, que cabe a todo
mundo executar as propostas contidas Projeto Político Pedagógico da escola, mas deixam
claro que essa execução não acontece como deveria ser.
No momento da entrevista os pais afirmaram que a construção deve ser feita apenas
pelo gestor, mas que cabe a todos botar em prática suas propostas. Aqui, percebemos que os
próprios pais centralizam o ―poder‖ nas mãos da gestão, ficando eles ―livres‖ da
responsabilidade dessa construção. Onde vemos a necessidade desses reverem o conceito de
gestão, revendo que o gestor (a) não é o único capaz de promover essa construção, pelo
contrário, a gestor (a) é escolhido por sua capacidade e competência de liderar um projeto
coletivo, sendo esse construído de forma democrática por todos que estão inseridos.
O Projeto Político Pedagógico foi tratado com algo fundamental para escola nas
palavras de uma das mães. Ela afirmou que ―toda instituição tem que haver um princípio que
à ajude a funcionar e na escola não e diferente, embora não aconteça cem por cento no dia a
dia, mas deve ter, para os momentos de maior precisão‖. Compreendemos, deste modo, que o
PPP dessa instituição infelizmente é visto apenas como regras a serem compridas.
Com relação às identidades da comunidade todos disseram ser um elemento
importante nas propostas de trabalhos da escola, pois irá ajudar aos educandos/as e aos outros
componentes da escola a valorizar suas raízes, principalmente por se tratar de uma escola
localizada na zona rural. Sobre esta perspectiva, um dos entrevistados afirma que ―no futuro
próximo, quando eles forem estudar noutro lugar ou morar fora não se envergonhem de suas
origens‖.
Considerações finais
funcionamento. É algo que acaba dificultando o progresso da escola como um todo, pois não
há como trabalhar naquilo que não conhecemos. Essa é um dos exemplos de muitas situações
que infelizmente ainda encontramos nas escolas do campo, que são tratadas com descaso, na
sua maioria pelos nossos governos.
―O PPP das escolas públicas se caracterizam com tentativa da comunidade escolar
construir ―sua utopia possível‖ no enfretamento as tendências que configuram a escola
pública e que descaracterizam sua função social.‖(ARROJO; ROCHA 2016,p.9)Na escola do
campo não é diferente, todos vedem vê-se com responsáveis nessa luta, como elo de uma
corrente que não pode ser quebrado, que cada um tem muito com quer contribuir no processo
de formação de cidadãos conscientes. Resultando num processo dinâmico que só acontecera
se de fato for trabalhado de forma coletiva com um agir democrático, investindo na interação
da comunidade e levando em consideração as necessidades do meio em que a escola esta
localizada.
Referências
Introdução
Com a revolução industrial e tecnológica dos últimos anos o meio ambiente vem
sendo explorado de modo a esgotar diversas fontes de matéria-prima. Cada vez mais as
pessoas utilizam os recursos ambientais para benefício próprio, inicialmente sem sofrer as
causas de seus atos. Com o surgimento diário de novos produtos, as pessoas consonem sem
parar e com isso o ambiente é quem sofre as consequências, pois os equipamentos mais
antigos são trocados por novos e mais modernos, assim, esses materiais serão jogados a céu
aberto causando grandes impactos ao ambiente.
O modo capitalista que impera atualmente induz as pessoas a uma cultura de
―consumistas de novidades‖, levando aos descartes de objetos que rapidamente ficam
ultrapassados, assim, todos os objetos antigos serão descartados e jogados no ambiente, tendo
como consequência a poluição ambiental, pois não há espaço suficiente para tanto lixo. Além
disso, a produção diária de excedentes vem interferindo diretamente nas mudanças climáticas,
que está ficando mais instável e com estações do ano menos definidas, pois, para produzir
novos produtos será necessário explorar o ambiente e todas essas atividades degradam e polui,
tornando assim, o clima incerto com estações não definidas.
A partir de tais problemas, é preciso que a sociedade se envolva em ações que
busquem mitigar os atuais impactos ambientais e garantir que os recursos naturais estejam
disponíveis para as próximas gerações. NARCIZO (2009) comenta que países como Estados
Unidos, depois de sofrer as causas dos desgastes ambientais, começam a recuar e passaram a
planejar estratégias urgentes e globais para tentar amenizar estes problemas, passando a agir
localmente para obter resultados que beneficiarão universalmente.
Nesse sentido, a escola pode exercer importante papel ao implementar projetos de
educação ambiental para que as crianças e os jovens percebam a importância da preservação e
adquiram hábitos saudáveis, sendo estimuladas a pôr em prática o que aprenderam na escola
em sua vida cotidiana.
É necessário que o ser humano perceba tais problemas e comece a mudar seus hábitos
quanto à utilização dos recursos naturais, pois, são poucos os que percebem e quando
mentalizam, não põem em prática as ações ambientalmente sustentáveis.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura,
UNESCO (2005, p. 44), ―Educação ambiental é uma disciplina bem estabelecida que enfatiza
a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preserva-lo e de
administrar seus recursos adequadamente‖. Por isso, deve ser trabalhada desde cedo na escola,
para que as crianças se tornem sujeitos conscientes de seu papel, preservando para que as
futuras gerações possam utilizar desses recursos para a sua sobrevivência.
Justificativa
Essa realidade acarreta outros danos que se enfrenta diariamente na escola, tais como o
acúmulo de moscas na cozinha, principalmente na hora em que está sendo preparado o lanche,
assim dificultando a higienização do ambiente. Diante desta realidade, buscou-se elaborar
uma proposta de educação ambiental, onde analisou-se os fatos que prejudicavam a escola
para discutir a melhor forma de resolvê-los.
O lixo jogado no ambiente de maneira irregular atrai vários animais, como ratos,
baratas e moscas que causam muitas doenças as pessoas, devido sua infestação neste local,
além de contaminar o solo e prejudicar os seres decompositores que atuam neste espaço,
incentivando que outros populares deem o mesmo destino ao lixo.
Compreende-se que educação ambiental deve ser iniciada desde pequenos, em casa,
com os pais, depois a educação ambiental deve ocorrer na escola, fazendo parte do dia-a-dia
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Objetivos Específicos:
Metodologia
Já para a fase 2, cada aluno expos seu conhecimento sobre problemas ambientais
retratados nos noticiários, onde puderam relatar através de mesa redonda o que esses impactos
causam a população e o que seria similar aos acontecimentos de nossa escola. Diante disso,
foram elaborados cartazes que demonstram o conhecimento dos alunos referente a esta
temática e posteriormente, foi aplicado um questionário com 11 questões aberta que discorre
sobre o conhecimento dos alunos por relação à educação ambiental.
Diante da execução do tema trabalhado e tendo em mãos os dados, elaboramos tabelas
utilizando a frequência das respostas dos alunos que representou o conhecimento deles diante
do tema abordado.
Resultados e discussões
.
Fonte: Pesquisa de campo, 2016.
é guardado em sacos plásticos e 03 vezes por semana o caminhão passa recolhendo esse
material.
Essa conduta influenciou bastante as crianças a mudarem seus hábitos, estes, sendo os
principais envolvidos neste projeto, pois, se desde pequenos for trabalhado a educação
ambiental, elas se tornarão sujeitos envolvidos e preocupados com o ambiente.
Conclusão
Referências
CHAGAS, W. F. Estudo de patógenos e metais em lodo digerido bruto e higienizado para fins
agrícolas, das estações de tratamentos de esgotos da Ilha do Governador e da Penha no Estado
do Rio de Janeiro, 2000. 89 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Programa da
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2000.
NALINI, R. Justiça: Aliada Eficaz da Natureza. In: TRIGUEIRO, A. (coord.) Meio Ambiente
no Século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento.
Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e representação social. 5ªed. São Paulo, Cortez: 2002.
(Questões da nossa época; v. 41).
Introdução
Do ponto de vista do jogo, para uma criança com menos de dois anos de
vida, o que predomina na prática das regras é o estágio motor e individual,
marcado pela ação de esquemas ritualizados (PIAGET, 1994). Nesses, as
―regras‖ são os jogos individuais, motores, estabelecidos de acordo com o
desejo e o ritmo das crianças. A ausência de simbolismo, de representação
em pensamento não permite a realização de jogos simbólicos, impedindo-a,
ainda, de formar regras. (SILVA, 2008, p. 86)
O jogo nessa fase seria mais algo para trabalhar a coordenação, pois como afirma
Piaget nesta fase a criança ainda não consegue formular regras.
Após esse período, dar-se início os jogos simbólicos, dos 2 a 7 anos de idade, nesta
fase ela irá começar a representar, a simbolizar alguma atividade da vida real, porém este
período é marcado pelo egocentrismo e o jogo,
Este período ao qual a criança está vivendo também é chamado de heteronomia, onde
a ela se encontra extremamente egocêntrica e o jogar irá se transformar em uma atividade na
qual a criança vai buscar a atenção para si, o professor neste caso deve promover jogos nos
quais possibilite a interação da criança com o meio.
E por último chegamos aos jogos de regras mútuas, em que a criança passa pelo estado
de autonomia das operações concretas. Neste caso Piaget ainda afirma que,
Resultados e discussões
Como foi falado no início de nossa discursão com objetivo de entendermos a partir das
perspectivas das crianças do campo, como o jogo pode proporcionar o desenvolvimento da
moralidade, os dados aqui apresentados são recortes de uma pesquisa- ação feita por nós
membros do NEMDR em parceria com a Universidade Federal da Paraíba.
Para iniciarmos a pesquisa confeccionamos alguns jogos com materiais recicláveis,
sendo denominados de boliche de garrafas PET; bingo de palavras; Trilha da higiene e caça-
frases. Após a confecção dos jogos feitos por nós membros do NEMDR, fomos desenvolver
nossa pesquisa nas escolas do campo salientado que no final de nossa a execução dos jogos
nas salas de aulas deixávamos os jogos nas respectivas escolas, para uso posterior pelo
professor.
No momento da aplicação do jogo, houve uma conversa entre as crianças, nas quais
elas davam seu ponto de vista sobre o jogo.
Criança B: ―Já sei, tu segura aqui e eu coloco a liga, enquanto vocês procuram as outras
palavras‖
Neste momento na fala das crianças podemos perceber indícios de posturas as quais
podem estar ligadas à sentimentos ligados ao individualismo e/ou coletivismo, marcados, por
exemplo, pelo egoísmo ou companheirismo, a partir do momento em que a criança pediu
ajuda dos outros membros da equipe, bem como o surgimento da solidariedade que nesse
sentido segundo o MST,
embasadas em posturas típicas da fase de autonomia moral. Elas sabiam o que era certa,
conheciam as regras, mas, diante da impossibilidade de receberem punição, escolheram não
seguir as regras, agindo fundamentadas no respeito unilateral, típico da heteronomia
(adequada ao período de 3 a 10/11 anos de idade).
Só quando se encontrarem na fase da autonomia o sujeito, conforme La Taille, ―elege
a equidade e a reciprocidade como princípios de seus juízos e ações morais‖. O sujeito ―vê a
si próprio como representante da humanidade (e não mais de determinado grupo social)‖.
Seus valores ―transcendem aqueles da sua comunidade‖ (2006 apud Silva, 2009,p. 100 )
Por isso ao escolher quebrar uma regra a criança está fazendo um juízo de valor, não
apenas quebrando esta regra sem está ciente disso. Podemos perceber portanto que o jogar
propicia muitas situação nas quais a formação de valores irá estar sendo abordada, restando ao
professor traçar objetivos para facilitar essa conscientização para as crianças.
Nossa próxima situação ocorreu quando uma das equipes já tinha terminado de achar
as sete palavras do jogo caça-frases. Em determinado momento uma das crianças (da equipe
que já tinha terminado) levantou e foi até a mesa das crianças que ainda não tinham terminado
de completar o jogo, ao chegar lá ela disse ―eu sei que palavra falta‖, neste momento todas as
crianças da equipe que tinha terminado levantaram e foram ajudar a equipe. Percebemos com
isso que o jogo proporciona muitas possibilidades de interação e socialização, bem como este
sentimento de solidariedade que foi muito ativo neste momento.
Nosso segundo jogo aplicado neste dia foi o jogo boliche de garrafas pets, para
iniciarmos esse jogo empilhamos na frente da sala nove garrafas pets uma na frente da outra,
ressaltando que nas garrafas foram colados por nós pesquisadores números de 0 à 9.
Dividimos a turma em duas equipes grandes, e pedimos que um aluno de cada equipe fosse
derrubar os ―pinos‖, sendo que a equipe inimiga iria somar os números das garrafas
derrubadas, a regra desse jogo era simples, ganhava a equipe que fizesse a soma mais rápido.
Um aluno foi chamado para jogar a bolinha e derrubar os ―pinos‖ então um das
crianças da sua equipe gritou:
Criança G: _ “Ei, tu tem que jogar a bola e derrubar todas as garrafas que é pra gente
ganhar o jogo” e ela ainda diz: “Bote força nessa mão, até o vento derruba essas garrafas”.
Neste momento todas as crianças ficaram incentivando o representante da sua equipe
para derrubar as garrafas, dizendo palavras como “vai lá”, “tu consegue”, “a gente vai
ganhar”, “joga com calma”. Neste caso podemos perceber que o jogo proporcionou
oportunidades de motivação, levando a equipe a ajudar o colega. Este é um dos propósitos de
se utilizar os jogos, pois eles,
Fizemos contanto com a escola dia 07 de junho de 2016. Participando das atividades
discentes de graduação voluntários ou bolsistas nesta pesquisa, juntamente com alunos e a
professora da respectiva escola, aqui denominada ―B‖, situada no município de Pilões (PB).
Iniciamos propondo o jogo trilha da higiene, nesse jogo, são divididas as funções de
cada participante, um é responsável por jogar o dado e o outro por andar com o pino nas
"casinhas" do caminho. Algumas dessas "casinhas" apresentavam desenhos com descrição
que remetiam a bons hábitos de higiene e recebiam uma vantagem para avançar no caminho
até a chegada. Já outras tinham imagens de maus hábitos, fazendo assim com que o
participante voltasse ou permanecesse no mesmo lugar, ocasionando uma desvantagem.
No momento da aplicação do jogo um dos pinos que a criança jogou caiu em uma
prenda que dizia ―escovar os dentes é bom ou ruim?‖. Neste momento perguntamos se era
bom ou ruim escovar os dentes e as crianças responderam:
Criança A: “é ruim”.
Pesquisadora: “Tem certeza que escovar os dentes é ruim?”
Criança A: “é ruim”!
Criança B:”escovar os dentes né ruim não!”
Pesquisadora pergunta para todas as crianças: “Escovar os dentes é ruim gente”?
Coro: “É booooom!
Ressaltamos que essa turma também era multisseriada e que a criança que respondeu
que escovar os dentes era bem pequena, pode-se perceber através de nossas observações que
muitas das crianças menores não queriam socializar com a turma preferindo ficar em silencio,
ou brincando sozinhas, mesmo nós chamando-os para participar, neste caso
Algumas considerações
Concluímos com esse trabalho que o jogo é um grande aliado do professor em sala
de aula, pois é um meio muito efetivo de chamar atenção das crianças e fazê-las entender
determinados assuntos, pois é comprovado cientificamente que nós aprendemos quando
gostamos do que está nos sendo ensinado.
Com a finalização de nossa pesquisa podemos compreender que;
a) O jogo quando aplicado de maneira correta numa perspectiva educacional é um grande
instrumento que ajudará o professor;
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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d) O professor como mediador tem que atrelar o uso desses jogos com o processo
educativo, não apenas deixar as crianças jogar para ―passar o tempo‖.
Por último ressalta-se que neste ensaio analisamos parte dos dados de uma
investigação fundamentada na ―pesquisa-ação‖, principalmente nos momentos de aplicação
de oficinas com os jogos num determinando tempo/época e espaço/contexto. O que requer
cuidados com relação a generalização das interpretações e conclusões obtidas e aqui
apresentadas.
Referências
BARBOSA, Marinalva Silva; SILVA, Ana Karla Oliveira; SANTOS, Wendson Avelino dos;
SILVA, Nilvania dos Santos. Jogos educativos: contribuições para o processo de formação
moral de crianças do campo do município de Pilões-PB- Anais V Seminário Internacional
de Práticas Educativas – V SECAMPO, de 10 a 12 de novembro de 2016, Mamanguape
CCAE/UFPB, 2016.
FRIEDMAN, Adriana. Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo:
Editora Moderna, 1996.
MOVIMENTO DOS SEM TERRA. Como fazer a escola que queremos. (1992) Cadernos de
Educação n° 01. In: Dossiê MST Escola: documentos e estudos 1990-2001. Caderno de
Educação n° 13 (edição especial), São Paulo: Setor de Educação do MST, 2005, p.51-82
PIAGET, Jean. Os procedimentos da Educação Moral. In: MACEDO, Lino de Macedo et al.
(org). Cinco Estudos de Educação Moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996 (Coleção
Psicologia e educação), p. 01-36.
SILVA, Nilvania dos Santos. Formação moral das crianças: construção de regras
fundamentais aos valores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de
Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós- Graduação em Educação. Natal, 2008.
Introdução
Hoje, a Educação do Campo tem como principal objetivo oferecer atos educativos que
estejam voltados para as pessoas que fazem parte deste meio, possibilitando propostas
pedagógicas que valorizem tal diversidade e os processos de inserção e transformação do
campo, oferecendo-lhes também melhorias significativas nas condições de vida da sociedade
rural.
No que se refere ao objetivo deste estudo, verifica-se que a instituição pesquisada se
encaixa nos moldes da educação citada, visto que a comunidade participante da escola são
famílias oriundas de classes menos desfavorecidas, onde a maioria dessas famílias sobrevive
apenas com o auxílio das bolsas do governo. A escola de regime integral é pertencente à
periferia do bairro de Paratibe, localizada no bairro do Valentina de Figueiredo, em João
Pessoa, Paraíba.
Faz-se necessário que as práticas educativas estejam voltadas diretamente ao contexto
social dos estudantes, evidenciando suas especificidades, e não fantasiando uma realidade
inexistente, contrária da vida em sociedade dessas crianças.
Portanto, a adição é a operação que é caracterizada como a mais natural na vida das
crianças, pois é presente nas ações, experiências desde cedo, onde de acordo com Piaget o
raciocínio das crianças se concentra nestes aspectos de junção.
Já a subtração, objeto de estudo desta pesquisa, não é considerada tão natural na
infância, visto que, traz informações contrárias que só vão sendo construídos com o
Verifica-se que as três ideias propostas da operação de subtração são essenciais para a
formação dos alunos, e podem ser desenvolvidas, para um melhor entendimento, a partir de
situações reais que envolvam o contexto dessas crianças, e com o auxílio do material de
manipulação, onde o aluno lida diretamente com as três ideias, solicitando que representem os
problemas utilizando o material de diferentes maneiras.
A ludicidade nesta fase deve ser objeto sempre ativo no ensino-aprendizagem, visto que estão
inseridas no universo infantil, caracterizando um trabalho de caráter experimental e tornando-
o a aula dinâmica, logo, os professores devem propor situações didáticas que explorem este
universo, desafiando-os a resolverem as atividades propostas por meio do manuseio de
materiais concretos.
Podem ser objetos reais que tem aplicação no dia a dia, ou podem ser objetos
que são usados para representar uma ideia. Esses materiais são
caracterizados pelo envolvimento físico dos alunos em uma situação de
Quando utilizado como recurso didático, eles se destacam por seus aspectos
significativos que levam os estudantes a apresentarem características dinâmicas e
participativas, levando-os a construírem conceitos e atribuindo significados às suas ações,
visto que, cada um com sua particularidade, também irão desenvolver estratégias próprias
para a execução de exercícios e até mesmo para as denominadas situações cotidianas. A
inserção destes materiais provoca nos alunos a motivação, o interesse em aprender,
oferecendo-lhes um ambiente descontraído para a reflexão e trabalhando ao mesmo tempo
com relações lógicas desenvolvidas pelos alunos. A utilização desses materiais possibilita
também aos estudantes aflorarem o cognitivo. Ao professor é atribuída a responsabilidade de
orientar os alunos nas atividades solicitadas, visto que, é sugerido aos alunos inicialmente
explorarem os materiais de modo livre para fazerem o reconhecimento e serem apresentados
claramente, para posteriormente os alunos interpretarem e entender para que vão usar
determinado material.
É importante destacar também que deve haver a correlação das atividades ao mundo
real das crianças, trazendo exemplos de acordo com sua realidade, inicialmente observando o
espaço escolar e seus arredores. Concordamos com Van de Walle (2009) ao afirmar que:
Muitos autores como Toledo e Toledo (1997), Van de Walle (2009) e Farias, Azêredo
e Rêgo (2016) também orientam que os estudantes sejam estimulados a questionarem,
discutirem sobre suas descobertas e dúvidas, durante o processo educativo. Na realização de
atividades cabe ao professor mediar os conceitos principais para que o estudante descubra os
de elementos específicos do conteúdo, através de perguntas e/ou desafios.
Procedimentos metodológicos
Resultados
Vale salientar que as questões foram retiradas do próprio livro didático utilizado pelos
estudantes: Coleção Ápis Alfabetização Matemática – 2° ano do autor Luiz Roberto Dante,
São Paulo, publicado no ano de 2014. Logo após, verificou-se que, quando aplicadas no pré-
teste, foi informado por meio de conversa formal com a professora regente, que os alunos já
tinham resolvidos às respectivas questões, porém quando avaliados, percebemos que o nível
de aprendizagem em relação ao estudo proposto, apresentava déficits. Com base nos dados
analisados, podemos perceber que o nível de conhecimento matemático em relação à temática
dessa instituição do 2º ano não está satisfatório.
A partir de então, foram desenvolvidas atividades durante a intervenção quase sempre
com o auxílio de materiais concretos, como material dourado, dinheiro, e após foram
realizadas atividades do livro didático, visto que é um exemplar considerado excelente, de
acordo com as atividades propostas para o 2° ano do ensino fundamental, fazendo um maior
aproveitamento do contexto dos alunos, com recursos que estão disponíveis para os mesmos.
Após nove encontros com os alunos da turma pesquisada, no décimo dia, foi aplicado
um pós-teste para verificar se esses estudantes compreenderam melhor as três ideias da
subtração, a partir do uso dos materiais concretos, como estratégia para facilitar o aprendizado
no desenvolvimento do ensino da matemática, conforme apresentado na Tabela 2.
Mediante as respostas apresentadas e comparando-as com os resultados do pré-teste,
verificou-se que os alunos internalizaram significativamente as três ideias da subtração após a
intervenção, conforme as descrições abaixo:
Na primeira questão, responderam acertadamente 93,75% da turma e apenas
6,25%, e quando comparadas ao pré-teste, percebe-se que o nível de
conhecimento da respectiva ideia, melhorou positivamente.
Considerações finais
Esta pesquisa teve como objetivo inicial analisar as principais concepções dos alunos
aos realizarem operações matemáticas, em específico, a subtração, na escola pública de João
Pessoa, Paraíba, visto que a educação matemática ainda é desenvolvida muitas vezes seguindo
o modelo tradicional, não levando em consideração recursos que auxiliem no ensino dos
alunos, visando construir um aprendizado de qualidade.
Para atingir o objetivo durante a vigência do estudo, foram desenvolvidas atividades
durante a intervenção quase sempre com o auxílio de materiais concretos, como material
dourado, dinheiro, e após foram realizadas atividades do livro didático, visto que é um
exemplar considerado excelente, de acordo com as atividades propostas para o 2° ano do
ensino fundamental, fazendo um maior aproveitamento do contexto dos alunos, com recursos
que estão disponíveis para os mesmos.
Ao final do estudo, constatou-se que os alunos obtiveram resultados significativos no
tocante à compreensão da subtração, objeto da pesquisa, alcançando de modo positivo, a
iniciação aos conceitos de subtração. Percebemos também, que houve um maior interesse
desses alunos ao terem como recurso didático materiais concretos que possam oferecer-lhes
uma vivencia real das situações que são propostas, e, consequentemente, inovando as aulas,
tornando-as mais dinâmicas.
Referências
DALTOÉ, K.; STRELOW, S.. Trabalhando com material dourado e blocos lógicos nas
séries iniciais. Disponível em: http://www.somatematica.com.br/artigos/a14/. Acesso em
25.set.2016.
ter dele consciência. Sua imersão na realidade, da qual não pode sair, nem
‗distanciar-se‘ para admirá-la e, assim, transformá-la, faz dele um ser ‗fora‘
do tempo ou ‗sob‘ o tempo ou, ainda, num tempo que não é seu. O tempo
para tal ser ‗seria‘ um perpétuo presente, um eterno ‗hoje‘ (FREIRE, 1979,
p. 7-8)
À vistas dos achados ora dialogados, narramos a seguir uma tática metodológica por
nós desenvolvida em sala de aula, na perspectiva de uma Educação Lúdica, possibilitando ao
docente a articulação das três dimensões (brincar, criar e sentir) articuladas entre razão e
sensibilidade. Para tanto, contamos com o apoio de dois autores de suma importância como
Mariotti (2000) - com sua sensibilidade, na reflexão do ser representando a prática; e Maslow
(1975) - com sua sensibilidade no vivenciar, com quem aprofundamos o nosso conhecimento
do sentir. Assim, foi possível eleger as categorias abaixo como pilares para o
desenvolvimento de uma educação sensível, com o objetivo de despertar a emoção e
sensibilidade através do lúdico nos alunos.
atividades lúdicas, na qual irá permitir uma maior aproximação e relação entre professor e
aluno; Da Autopreservação - relacionando a questão da insegurança do aluno ao iniciar uma
atividade ou dificuldade de expressão, nesse sentido temos que saber esperar para poder agir,
esperar o tempo do aluno, respeitando sua individualidade; Dos Relacionamentos - saber
aproximar-se do aluno por meio do diálogo, para podermos entendê-lo melhor, percebendo
suas dificuldades e potencialidades; Da autoestima - motivando-o para o que ele tem de
melhor, para que ame a si e ao seu próximo no desabrochar desse sentimento, possibilitando
diversas oportunidades para que o aluno perceba que está apreendendo conhecimento; Da
Autorealização - as atividades lúdicas fluem e proporcionam sensações maravilhosas,
proporcionando o sentir-se bem em sala de aula, no qual esse Ser, o aluno, abraçará a vida.
Assim, ressaltamos: quem ama estende a mão, e quem estende a mão se prepara para o abraço
(MARIOTTI, 2000, p. 314).
Quando o docente abraça a vida assume a responsabilidade social de ampliar a sua
ação profissional na perspectiva do Ser, fluindo necessariamente pelo desabrochar da
verdadeira essência da educação sensível. Foi nesta perspectiva que começamos a efetivar
uma aula com sentido e muita ludicidade possibilitando muitos resultados: melhor
desempenho dos alunos em várias disciplinas cursadas, presenciar a empolgação no participar
da aula às 7 horas da manhã, alto nível de produção científica dos alunos em congressos
nacionais obtendo destaque com premiação em pesquisa e extensão, não haver preocupação
com avaliação ou notas e sim interesse no aprender se envolvendo e contribuindo com
inúmeras ações, perceber o fluir do conhecimento e sua relação com a vida cotidiana,
buscando o equilíbrio entre a razão e sensibilidade na formação para a vida.
Nesse sentido acreditamos na possibilidade de se construir de forma sensível e
prazerosa qualquer conhecimento. Isto proporcionará um maior empenho de cada um e
principalmente um enorme prazer no desenvolver do processo criativo na construção desse
conhecimento, pensando criticamente a vida na dimensão do profissional. Significa também
conhecer e reconhecer o conhecimento, o que exige busca, invenção e reinvenção constante.
Concordamos com França (2003) quando afirma que os estudos acerca da ludicidade são sem
dúvida, um conhecimento acelerador, um pensamento cíclico que revigora as relações
professor-escola-saberes, que sugere uma abordagem muito diferente dos relacionamentos
sociais em sala de aula. Essa natureza dinâmica do saber impõe um acelerado ritmo de
permanentes renovações, mudanças, reajustes e construções, em um jogo de beleza que
rejuvenesça e amadureça o pensamento criativo-criador. Essa nova agenda de ação amplia os
espaços de debates, acalenta os interesses e aguça as inquietações de estudiosos críticos e
comprometidos com os acontecimentos político-sociais que vivemos em nossa sociedade
(FRANÇA, 2003).
Quando nos permitimos devanear em pensamentos que nos transportam para um
estado de afetividade, causando-nos bem-estar, começamos a entender e principalmente a
sentir o que seja uma educação sensível. Seja de prazer, de alegria, de amor, de carinho ou
satisfação. Na maioria das vezes nos emocionamos, mas não nos permitimos viver o
sentimento de tal emoção. A maneira como o aluno se sente na participação de uma atividade
em sala de aula é bastante influenciada pelas condições que nós docentes proporcionamos.
Para que este processo se concretize e possamos exercitar uma educação sensível se faz
necessário aceitarmos o convite de Antônio Damásio (2000) a sentir a verdadeira essência da
vida que é o amor, não só com emoção, mas com sentimento. Sobre os sentimentos apresenta
Lacroix (2006, p. 38) o Homo Sentiens, no qual a experiência das coisas e dos seres só é
interessante quando irrigada pela emoção, não a emoção efêmera, mas a emoção sentida. Para
o autor ―ser significa sentir‖, a sensibilidade se torna o fio condutor para essa emoção sentida,
vivida e experienciada.
O autor revela que uma coisa é você ser tomado pela emoção, outra coisa é você ter
consciência dessa emoção. É sentir e poder dizer o que sente em várias linguagens: seja no
olhar, no sorriso, na respiração e no abraço. Esse sentimento é expresso da forma mais pura
possível, na qual precisamos assumir um compromisso de viver continuamente em um
processo de redimensionamento de concepções para o surgimento de novos saberes, de novas
teorias, proporcionando um olhar cuidadoso para o desenvolvimento de uma docência
sensível. É proporcionar experiências lúdicas para que o novo se componha, não como se ele
fosse externo à prática docente, e sim algo corporalizado no interior humano de forma
consciente, entendendo que é na inter-relação do brincar, criar e sentir que se materializam as
possibilidades de uma educação pautada em metodologias lúdicas.
nascimento até a fase adulta as relações afetivas que são constituídas, pois possibilitam
noções de limites e espaços que poderão ser aprimoradas de acordo com seu
desenvolvimento.
Conforme dialogamos no estudo, percebemos que a aprendizagem com foco no
racional pode interferir nos sentidos de tal forma que ela extingue e contraria sua tendência
própria e particular. A automatização prejudica a receptividade necessária dos sentidos pela
atividade do pensamento, antecipando preconceitos. Como resultado, temos o
empobrecimento da sensibilidade pela imposição de forma no tempo/espaço errado. Diante
desta dicotomia existente nos dias atuais, na qual os docentes acreditam que o brincar não está
diretamente relacionado com o processo de aprendizagem, deixando-o à margem da aula, nos
fez lembrar da importância do lúdico apresentada por Schiller (1993). O lúdico em Schiller
significa conceito de liberdade de maneira que, ―o ser humano só joga quando realiza o
significado da palavra homem, e só é um ser plenamente humano quando joga‖ (SCHILLER,
1993, p. 64).
A experiência lúdica permite um salto qualitativo na experiência humana, que se
converte numa manifestação formadora e transformadora que humaniza e equilibra,
restaurando aquela harmonia perdida na divisão do trabalho e na especialização. Nessa
perspectiva o autor contribui com nossa pesquisa quando revela o impulso lúdico como o
equilíbrio que o homem consegue quando se libera das limitações da sensibilidade e da razão,
a partir de um salto dialético que supera esta oposição. Tal impulso lúdico não é um instinto
particular e puramente espontâneo, ele é uma síntese entre um impulso sentimental que
estabelece a forma e uma força de ordem biológica que impõe o sensível. É pela sua dupla
constituição que o impulso lúdico, presente na relação com a beleza, torna-se significativo
para a Educação Significativa. Se, de um lado, o objeto do impulso sensível é o que Schiller
chama de ―vida‖, isto é, ―todo o ser material e toda a presença imediata nos sentidos‖, e, de
outro, o objeto do impulso formal é o que ele chama de ―forma‖, isto é, ―todas as disposições
formais dos objetos e todas as suas relações com as faculdades do pensamento‖, então ―o
objeto do impulso lúdico pode ser chamado de forma viva, um conceito que serve para
designar todas as qualidades estéticas dos fenômenos, tudo o que em resumo entendemos no
sentido mais amplo por beleza‖.
Nenhum dos dois impulsos deve ultrapassar os limites, pelo contrário, o ideal é manter
os dois equilibrados para convertê-los em um terceiro impulso, o lúdico. A Estética estabelece
o elo entre a razão e a sensibilidade, daí a importância da educação estética para a formação
dos indivíduos, para a educação. Uma educação lúdica deve permitir a experiência do jogo de
equilíbrio entre a razão e a sensibilidade, tanto no caso do docente que media o processo de
ensino aprendizagem, como do aluno que percebe o ambiente e se relaciona com o mesmo. A
importância do lúdico na formação humana na Educação do Campo é o eixo que equilibra o
homem dominado pela razão e também àquele dominado pelos sentimentos.
Segundo Kant (1996), o prazer estético provém exatamente do livre jogo entre a
faculdade da imaginação, que compõe o múltiplo da intuição, e a faculdade do entendimento,
que unifica as representações. Se no interesse cognitivo o entendimento deveria subordinar a
imaginação e no interesse moral ela deveria calar-se para que a razão pudesse agir livremente,
no desinteresse estético ela apenas entra num jogo, livre, com o entendimento, e é esse jogo
que produz o prazer estético. Esse jogo entre razão e sensibilidade nos remete a seguinte
indagação: Como proceder no dar aula para obter esse equilíbrio entre razão e sensibilidade?
Pensamos que corporalizando o sentir-pensar e o pensar-sentir, possibilitando o sentir
caminhar com a cognição tendo o lúdico como equilíbrio e articulador do processo, atribuindo
novos significados a educação.
Acreditamos ter começado a construir uma resposta, dentre muitas, para se trabalhar o
processo de aprendizagem na Educação do Campo a partir do vivido, correndo todos os riscos
que o pioneirismo nos impõe. Muitas incertezas, mas uma profunda certeza no coração:
jamais perder a esperança!
Paulo Freire nos deixou um legado que nos obriga a sermos esperançosos diante dos
desafios da vida, quando apresentou a Pedagogia da Esperança como um reencontro a
Pedagogia do Oprimido, o mestre que sempre defendeu a corporalização das palavras, nos
relata:
[...] Não entendo a existência humana e a necessária luta para fazê-la melhor,
sem esperança e sem sonho. [...] A desesperança nos imobiliza e nos faz
sucumbir no fatalismo onde não é possível juntar as forças indispensáveis ao
embate recriador do mundo. Não sou esperançoso por pura teimosia mas por
imperativo existencial e histórico. [...] Minha esperança é necessária mas não
é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela a luta fraqueja e titubeia.
Precisamos de esperança crítica, como o peixe necessita de água despoluída
(FREIRE, 1997, p.5).
(1996) ao relatar de quando entro em sala de aula devo ser um questionador da minha própria
aula, para levar aos alunos serem investigadores dos seus próprios conhecimentos.
É interessante que a educação seja gestacionada dentro da própria comunidade, por
conhecer melhor sua realidade e necessidades (ROTHES, SILVA, GUIMARÃES, SANCHO
& ROCHA, 2006), com o olhar voltado para o possível e que lhe seja benéfico na formação.
Os recursos educativos externos são excelentes oportunidades para a comunidade se fazer
perceber diante dos recursos internos que se tem e que possa reconstruir o que se tem em seu
próprio desenvolvimento comunitário. Essa é a esperança para remodelar um novo tempo!
Referências
ARROYO, Miguel G. Currículo, Território em Disputa. 5. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
FRANÇA, T. L. de. Educação para e pelo lazer. In: MARCELLINO, N. C. (Org.). Lúdico,
educação e educação física. Ijuí: Ed. Unijuí, (Coleção Educação Física), 2003.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Trad. Moacir Gadotti e Lílian Lopes Martin. Rio de
Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1979.
KANT. Sobre a Pedagogia. Trad. Francisco Fontanella. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 1996.
MASLOW, A. Motivation and Personality. New York: Harper & Row, 1975.
MORIN, Edgar. O método 2. A vida da vida. Porto Alegre, RS: Sulina, 2002.
SANTOS, Roseli Alves. In SAQUET, Marcos Aurélio, SUZUKI, Júlio César et MARAFON,
Glaucio José. Territorialidades e Diversidade nos Campos e nas Cidades Latino-
americanas e Francesas. São Paulo: Outras Expressões, 2011.
SCHILLER, F. Sobre a educação estética do ser humano numa serie de cartas e outros
textos. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1993.
Introdução
Este trabalho refere-se a um recorte de um projeto que tem como objetivo geral
analisar o ensino de Matemática na Educação Infantil em escolas do Campo da rede
municipal de Igarassu. Os objetivos específicos são: identificar o perfil dos professores da
Educação Infantil do campo; levantar e analisar os conteúdos matemáticos e recursos
trabalhados pelos professores na realização das atividades e verificar como se dá a articulação
do ensino da Matemática escolar com os conhecimentos matemáticos das crianças do Campo.
O processo de aprendizagem da Matemática antecede a educação formal e é
potencializado pelas relações e interações que se estabelecem no espaço sociocultural dos
indivíduos. Todavia, a escola possui um papel social muito importante porque pode oferecer
oportunidades para ampliar os conhecimentos matemáticos e suas possibilidades de usos
desde muito cedo. A criança antes de sua trajetória escolar inicia sua aprendizagem a partir de
suas interações com o meio e com os adultos. Nesse percurso, ela se depara com diversas
situações nas quais a Matemática faz parte, tais como aquelas que envolvem números,
relações entre quantidades e noções sobre espaço.
Nessa perspectiva, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil declara
ainda que ―a instituição de educação infantil pode ajudar as crianças a organizarem melhor as
suas informações e estratégias, bem como proporcionar condições para a aquisição de novos
conhecimentos matemáticos‖ (BRASIL, 1998, p. 207).
Neste sentido, a importância em pesquisar a Matemática na Educação Infantil do
Campo emerge na formação e valorização dos saberes matemáticos produzidos no Campo e
na construção da identidade dos sujeitos desses contextos. Pois, dentre as realidades sociais
brasileiras, os contextos campesinos apresentam muitos desafios para a implementação dos
diferentes níveis de escolarização.
Para tanto, este projeto de pesquisa foi motivado pelas questões: Como se dá o ensino
de Matemática para as crianças da Educação Infantil do Campo? Que conteúdos matemáticos
estão sendo ensinados no âmbito desse contexto escolar? Como se dá a articulação dos
conhecimentos matemáticos da criança do campo com os saberes matemáticos ensinados na
escola?
Ao abordar a Educação do Campo o tema desta pesquisa refere-se a contextos
educativos marcados pelo esquecimento e pela pouca efetividade de políticas públicas que
promovam o acesso e melhoria, além disso, são poucas as pesquisas que investigaram a
Educação Infantil do Campo (SILVA, 2012).
Desenvolver pesquisas que desvelem a realidade do Campo e os saberes nele
produzidos é de grande relevância, uma vez que os indicadores da Educação do Campo no
Brasil ainda são preocupantes. Segundo Barbosa, Carvalho e Elias (2013) são poucos os
estudos referentes à Educação Matemática em contextos da Educação do Campo.
A Matemática é componente da proposta pedagógica da Educação Infantil, assim
como outras diferentes linguagens, e sua abordagem ―tem a finalidade de proporcionar
oportunidades para que as crianças desenvolvam a capacidade de estabelecer aproximações a
algumas noções matemáticas presentes no seu cotidiano, como contagem, relações espaciais
etc.‖ (BRASIL, 1998, p. 215).
No âmbito das realidades campesinas nacionais deve-se levar em consideração e
garantir um direito legitimado de oferta, acesso e permanência das crianças à Educação
Infantil do Campo, considerando os baixíssimos índices de atendimento e instituições para
essa faixa etária no campo (BRASIL, 2014). Ressaltando que o conhecimento adquirido neste
contexto é rico, singular e formador da identidade desses sujeitos, assim como o
conhecimento formal que eles aprendem ao longo de sua trajetória escolar.
No âmbito dessa discussão, a nossa participação no Grupo de Pesquisa em Educação
Matemática nos Contextos da Educação do Campo – GPEMCE tem contribuído para
compreender sobre a importância de pesquisas que corroboram com a melhoria dessa etapa da
educação, trazendo a lúmen a realidade e práticas pedagógicas do Campo.
A Educação Infantil no Brasil foi sendo visualizada aos poucos como uma área de
conhecimento, com seus saberes específicos e que ao longo dos tempos foi dialogando com
outros níveis de educação. Neste sentido, a criança foi reconhecida em seu direito social a
partir da Constituição de 1988, a qual afirma o atendimento em creches e pré-escolas,
reconhecendo a Educação Infantil como dever do Estado para com a educação. Ela traz como
característica a ênfase no estabelecimento de políticas públicas universais, a concepção de
educação como um direito de todas as crianças desde o nascimento e a concepção de criança
cidadã, sujeito de direitos, cujo desenvolvimento é indivisível. Afirma ainda a Educação
Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, estabelecendo como dever do Estado
garantir a educação de crianças de 0 a 5 anos de idade no sistema formal institucional. A
partir dessa definição novos marcos legais são estabelecidos, visando ao processo de
integração das creches e pré-escolas ao setor educacional (BRASIL, 1988). Nesse processo,
houve a participação de vários atores como os movimentos comunitários, das mulheres, dos
trabalhadores, da redemocratização do país, como também, dos próprios profissionais de
educação para o reconhecimento da Educação Infantil.
A partir desse reconhecimento da Educação Infantil na sociedade, percebe-se que ela
vem, com o passar dos tempos, em um processo intenso de revisão de concepções sobre a
educação das crianças, seja em espaços coletivos, de seleção e fortalecimento de práticas
pedagógicas, que sejam mediadoras de aprendizagens significativas para elas, bem como do
seu desenvolvimento como um todo.
Entretanto, ao se voltar o olhar para as crianças do Campo percebe-se um
distanciamento do acesso e permanência a essa importante etapa da educação. Apesar dos
avanços na Educação Infantil disseminados em artigos, livros e materiais didáticos que
contribuem com o trabalho docente outras questões como as especificidades das crianças do
Campo e dos povos tradicionais no que se refere aos seus modos de vida, rotinas, tempos,
relação com o ambiente natural, não são consideradas nessa produção acadêmica, bem como
na política pública da Educação Infantil, especificamente a do Campo.
Diante desse reconhecimento social e institucional para com a Educação Infantil de
modo geral, é interessante ampliar essa discussão e compreender como a criança do campo
está sendo contemplada em seus direitos de acesso a essa primeira etapa da educação básica.
Trazendo para uma discussão mais ampla, no que se refere ao ensino nas salas de
Educação Infantil do campo é preciso ter muito cuidado para promover um ensino pautado no
modo de qualidade de vida do campo, evitando práticas pedagógicas descontextualizadas, sem
sentido para as crianças, não reconhecendo que grande parte dos municípios brasileiros possui
perfil rural. Neste sentido, leva esses sujeitos a se submeterem exclusivamente às lógicas
relacionais e temporais característicos dos centros urbanos onde possuem maior poder de
difusão e circulação de conhecimentos.
De acordo com Silva et al. (2012) há fronteiras entre a cidade e o campo que não são
nítidas, mas existem entre elas relações de continuidade. Quando não se considera essa
realidade as formas de atendimento educacional às crianças do campo (no próprio campo ou
em instituições das cidades), são acolhidas muitas vezes com adaptações precárias. Não se
coloca no centro da ação pedagógica a concretude da vida da criança do campo como: ―seus
espaços de convívio, seus ritmos de viver o tempo, sua participação na produção coletiva de
seus familiares e de suas comunidades, seus brinquedos e brincadeiras organicamente
vinculados aos modos culturais de existir‖ (SILVA et al. 2012, p. 36).
É através da experiência e saberes do campo que as crianças desse contexto vão
produzindo e apreendendo o conhecimento na relação imediata com sua cultura. Neste
sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010b)
declaram que o currículo é:
É nesse sentido, que essa pesquisa coaduna com as orientações das Diretrizes
Curriculares no que tange à articulação dos conhecimentos dos alunos do Campo, de suas
vivências, com os conteúdos matemáticos ensinados na escola, no qual faz parte dos objetivos
específicos.
Entretanto, outro fator de grande relevância ao tratar com a educação da criança do
Campo remete às práticas que venham afetar a construção de sua identidade e a auto estima,
caso não seja levado em conta e valorizados seus grupos culturais e familiares no cotidiano
das instituições educacionais. Isso levanta a questão da suposta superioridade da cidade, seus
modos de vida, suas práticas educativas e as formas de organização de atendimento à criança
transferidas para as salas de aula das escolas do campo, na qual leva a expressão
discriminatória do campo como lugar de atraso se comparado ao encantamento produzidos
pela riqueza do mundo urbano. O professor como mediador do conhecimento produzido em
sala de aula deve ficar atento a essa dicotomia (campo e urbano) para superá-la no
planejamento de suas ações pedagógicas com os sujeitos do campo. Para tanto, é essencial ele
ter essa percepção ética, estética, política e epistemológica indispensável aos profissionais que
trabalham com a educação do campo (SILVA et al., 2012).
As autoras argumentam que ―Especialmente neste contexto, necessitamos aprofundar
discussões sobre Educação Infantil para as crianças do Campo de modo a garantirmos formas
efetivas e qualificadas de sua implantação em todo o país‖. Acrescentam ainda que, a questão
central não é apenas o porquê em ofertar a Educação Infantil para as populações do Campo,
mas sim como garantir o direito à creche e à pré-escola para as populações campesinas que o
desejam, respeitando as demandas das famílias, suas formas de relação com a produção e as
especificidades das crianças do campo (SILVA et al. 2012, p.48).
Diante desses dados alarmantes, da falta de acesso das crianças do Campo à Educação
Infantil, a presente pesquisa se desafia a investigar e contribuir para a Educação Infantil do
Campo no que se refere ao ensino da Matemática para as crianças desse contexto,
evidenciando na prática docente, os conteúdos matemáticos e recursos didáticos trabalhados
nas salas de Educação Infantil do Campo (BRASIL, 2014, p.4).
algumas noções matemáticas presentes no seu cotidiano, como contagem, relações espaciais
etc.
Sendo assim, ―a Educação Matemática praticada em nossa sala de aula não pode se
desvincular dos modos próprios de pensar matematicamente o mundo experimentado pelo
homem/mulher do campo em suas práticas sociais‖ (BRASIL, 2014, p. 21)
Nessa perspectiva, o ensino da Matemática na Educação Infantil do Campo se insere
nesse modo de pensar a cultura, as práticas e os saberes do Campo. No entanto, o modelo do
ensino de Matemática que ainda perdura na sociedade está associado à memorização,
repetição de exercícios, aplicação de fórmulas e conceitos, enfim, trata o ensino de forma
mecânica, descontextualizada e tradicional (MONTEIRO; CRUZ; ALVES, 2012). Ecoa a
ideia de que aprender a Matemática é difícil e sinônimo de reprovação, especialmente em se
tratando do ensino da Matemática nos contextos do Campo, onde a lógica do ensino é
marcada pela realidade urbana.
Borba e Santos (2005, p.294) afirmam que a Educação Matemática não é uma
justaposição de duas áreas do conhecimento, uma vez que sintetiza questões filosóficas,
sociais, culturais e históricas, entre outras. A Matemática é um canal por onde a Educação se
faz produzir e contribuir para a cidadania do professor e do aluno.
Para Knijnik (2001), o ensino da Matemática tem sido fator de exclusão social e, como
tal, está na raiz da evasão escolar e do desinteresse, quase sistêmico, da Matemática pelos
alunos. É preciso entender tais fenômenos de forma crítica no sentido de permitir o direito dos
alunos ao ensino de qualidade e condições materiais mínimas para lhes propiciar a construção
de conceitos matemáticos com autonomia.
Neste sentido, o trabalho pedagógico na sala de aula passa por diversos processos os
quais pode ser potencializado a aprendizagem de um determinado conteúdo utilizando
diferentes recursos. Normalmente, os professores têm em mãos o recurso material como: livro
didático, revista, jornal, vídeos; enfim, algo palpável. No entanto, existe o recurso humano tão
presente na sala de aula e os professores não se dão conta que pode ser utilizado no processo
de ensino-aprendizagem.
O estudo de Monteiro, Carvalho e François (2014) se destaca por trazer uma discussão
sobre o ensino da Matemática em escolas do Campo, já que aponta que a maioria das
pesquisas em Educação Matemática no Brasil concentra-se em escolaridade nas áreas
urbanas. Em se tratando do ensino da Matemática na Educação Infantil do Campo as
referências são ainda mais gritantes, já que a oferta da Educação Infantil do Campo é recente
e não atende toda a população campesina. Dados esses elencados no Ministério da Educação e
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (BRASIL, 2010, p. 4). Nesse entendimento, o
ensino da Matemática na Educação Infantil do Campo deve priorizar o diálogo dos saberes
escolares com a cultura, com o modo de vida do camponês e suas atividades produtivas,
problematizando sua realidade.
Ensinar Matemática na Educação Infantil do Campo, dentro dos seus princípios
norteadores representa, por si só, um grande desafio a ser enfrentado pelos educadores(as) e
instituições formadoras (LIMA; LIMA, 2013, p.8). Segundo Frigotto (2011) a questão está
em politizar o ensino da Matemática na busca em contribuir com a construção de um projeto
societário fundamentado em tais princípios.
Método
A escolha pelo município de Igarassu partiu do fato de que nesta rede de Ensino já
havia uma abertura para as pesquisas e trabalhos do GPEMCE. Nas pré-escolas do Campo
daquele município estão matriculadas as crianças de 4 e 5 anos que estão vinculadas aos
denominados grupos IV e V, sendo que há 86 professores de Educação Infantil 4 e 5 anos e 15
professores de creches.
Neste trabalho apresentamos os dados de um questionário aplicado à 15 professoras do
Campo. O questionário continha questões de identificação e perguntas abertas, pois
acreditamos que as respostas seriam mais fiéis ao propósito de nossa pesquisa. Como parte da
identificação dos professores, foi acrescentado um item sobre a idade dos professores. Os
dados sobre esse item estão na Tabela 1 abaixo, que mostra que a maioria dos professores das
escolas do Campo tem a faixa etária entre 41 a 50 anos.
0 a 5 anos 11
6 a 10 anos 04
Fonte: elaborado pelos autores
A maioria dos professores tem experiência entre 0 a 5 anos como docente na Educação
Infantil do Campo, como mostra a tabela 3. No que se refere a formação superior dos
professores, os dados dos questionários indicaram que apenas 3 professores não possuem
curso superior, 3 de cada escola, conforme apresenta a Tabela 4 abaixo.
Professores Áreas
Escolas do Gestão Escolar, Coordenação Pedagógica, Professor da Educação
Campo Básica, História Contemporânea do Brasil.
Fonte: elaborado pelos autores
Respostas Total
1. Oportunidade 04
4. Gestão 03
2. Gosto por ensinar 03
3. Dificuldade dos alunos 02
5. Desconhecimento do contexto da escola 01
Não responderam 02
Total 15
Fonte: elaborado pelos autores
Tabela 10. Quantas vezes por semana ensina Matemática (professores do Campo)
Todos os dias 01
Não especificou quantas vezes trabalha 04
Total 15
Fonte: elaborado pelos autores
Jogos 06
Materiais pedagógicos 01
Materiais de encaixe 01
Recursos tecnológicos 03
Lego, bambolês, Cordas, boliche, tapete 01
Não. 01
Sim. Mas não especificou. --
Espaço físico --
Não responderam 05
Fonte: elaborado pela autora
Nos próximos itens focalizaremos nas respostas dos professores do Campo, os quais
são vinculados mais diretamente aos objetivos da pesquisa. Assim, as respostas dos
professores do Campo ao item que tratava do planejamento das aulas de Matemática estão
apresentadas na Tabela 13
Tabela 13. Planejamento das aulas de Matemática citado pelos professores do Campo.
Considerações finais
completamente distintas das crianças do Campo. É por isso que as lutas dos movimentos
sociais reivindicaram essa educação específica para que não se perca a riqueza de
conhecimento e cultura inerente do Campo e nem impossibilite esses sujeitos de crescerem,
aprenderem e tornarem-se cidadãos dignos dos mesmos direitos que toda a população.
Com os dados dos questionários de maneira geral, pudemos conhecer um pouco o
perfil dos professores e identificar através de seus discursos o que motivou em atuar na
Educação Infantil, os conteúdos trabalhados, os recursos, o planejamento das aulas, como a
formação dá suporte para as aulas, quais as facilidades e dificuldades que encontram em
ensinar a Matemática, de que forma identifica os conhecimentos matemáticos dos alunos,
como explora esses conhecimentos e se as crianças verbalizam o conhecimento matemático
específico da sua realidade do campo. Vimos nessas respostas o trabalho diferenciado de
cada professor, bem como alguma preocupação com a questão do Campo. Ressaltamos que
um dado bastante relevante encontrado nessa etapa da pesquisa foi identificar que os
professores do Campo e urbanos participavam da mesma formação continuada, dado esse que
mudou a configuração inicial da pesquisa tendo que considerar nas perguntas que não era
específica do Campo também as respostas dos professores urbanos.
No dia da aplicação do questionário na formação continuada, alguns professores
mostraram interesse em participar da pesquisa pela falta e necessidade de se apropriar mais da
Matemática por ser insuficiente o que é proposto pela rede de Igarassu. Neste sentido
apontamos a relevância dessa pesquisa em conhecer as práticas no ensino da Matemática que
estão sendo desenvolvidas nas salas de Educação Infantil do Campo.
Essas visitas foram importantes para compreender aspectos da realidade das escolas do
Campo bem como entender a estrutura de organização da Educação Infantil na rede municipal
de Igarassu. São esperados como principais resultados de pesquisa, um corpus de dados que
possam constituir-se de evidência documental e empírica relacionada às práticas de ensino e
de aprendizagem da Matemática na Educação Infantil em contextos de Educação do Campo.
Esses dados e suas análises poderão contribuir para subsidiar as políticas de educação
vinculadas a esse nível de escolarização.
Referências
MONTEIRO, C. E.F.; CARVALHO, L.; FRANÇOIS, K. What field school teachers say
about the teaching of mathematics: A study in the Northeast of Brazil. Revista
Latinoamericana de Etnomatemática, 7(1), 4-18, 2014.
MONTEIRO, C. E. F.; CRUZ, F. M. L.; ALVES, I. O que dizem os pais sobre o ensino e a
aprendizagem de matemática em escolas rurais. Roteiro (UNOESC), v. 37, p. 23-50, 2012.
SILVA, A. P. S.; PASUCH, J.; SILVA, J. B. Educação Infantil do Campo. 1. ed. São Paulo:
Cortez, (Coleção docência em formação), 2012.
Introdução
Este trabalho foi fruto do Trabalho de Conclusão de Curso-TCC, cujo tivemos como
intuito explorar a operação de multiplicação em uma turma do 5° ano do Ensino do Ensino
Fundamental por meio da Resolução de Problemas, para analisarmos quais contribuições o
professor pode almejar e também para verificarmos quais as concepções dos estudantes no
decorrer da intervenção.
O trabalho foi desenvolvido na Escola Municipal João Lins Vieira, localizada no
município de São Miguel de Taipu- Paraíba.
Este estudo foi de grande relevância, pois nos proporcionou aprofundamento na
discussão teórico-prática do desenvolvimento cognitivo dos estudantes de uma escola pública
quando utilizamos uma metodologia diferenciada que não é utilizada pelos professores da
instituição investigada.
Desta forma buscamos abordar a metodologia da Resolução de Problemas, explorando
sobretudo a operação básica da multiplicação ao abranger o conceito de proporcionalidade, da
adição repetida, análise combinatória e área retangular no conteúdo de multiplicação.
A disciplina de matemática é vista por muitos estudantes como um ―bicho de sete
cabeças‖, pois esses aprendem a solucionar as questões solicitadas por uma obrigação para
não serem reprovados. O professor utilizando métodos tradicionais não instiga os estudantes a
darem sentido aos números na sua vida cotidiana. Pois, conforme Farias, Azeredo e Rêgo
(2016, p.25) os estudantes necessitam ser estimulados a aprender atribuindo significado a suas
ações e percebendo que são capazes de fazer matemática.
Pensando nas dificuldades e nas realidades existentes do processo de ensino da
matemática é que elegemos a seguinte problemática de estudo: Quais as contribuições
metodológicas da Resolução de Problemas que o professor pode construir no processo de
ensino e aprendizagem de discentes ao discutirmos a operação aritmética de multiplicação, em
uma turma do 5° ano do Ensino Fundamental?
Com base nessa problemática estabelecemos o seguinte objetivo geral: Analisar as
contribuições metodológicas de ensino da Resolução de Problemas ao explorar a operação de
multiplicação utilizando materiais concretos em uma turma do 5° ano de uma escola do
Ensino Fundamental do município de São Miguel Taipu - PB.
Para atingirmos nosso objetivo geral elencamos os seguintes objetivos específicos: a)
Identificar o perfil dos estudantes, da família e da instituição de ensino investigada; b)
diagnosticar o nível de desenvolvimento cognitivo dos estudantes participantes com relação
aos conceitos de multiplicação no início do estudo; c) elaborar e aplicar tarefas didáticas que
assim o fosse, nada mais seria que um simples exercícios, que se baseia em aplicação de
técnicas rotineiras em sua resolução (POZO, 1998).
Ao trabalhar com essa metodologia o professor deve levar em consideração os
conhecimentos prévios dos estudantes, explorando-os de modo significativo com a
matemática do dia a dia. Segundo Farias, Azeredo e Rêgo (2016), o ensino baseado na
Resolução de Problemas pressupõe promover nos alunos a construção de conteúdos
conceituais, atitudinais e procedimentais, assim como a utilização de conhecimentos
disponíveis, para dar respostas a situações variadas e diferentes daquelas de origem.
Foi pensando nessa proposta metodológica de ensino que conduz, e proporciona ao
estudante a curiosidade, a pesquisa e a possibilidade de elaborar estratégias de Resolução de
Problemas que surgiu a proposta de desenvolver esse trabalho com uma turma do 5° ano do
Ensino Fundamental da Escola Municipal João Lins Vieira localizada na zona rural do
município de São Miguel de Taipu-PB.
E por ser uma turma do campo os problemas propostos foram planejados e elaborados
conforme a realidade do meio, onde esses estudantes vivem. Levando em consideração ao
trabalhar com a Resolução de Problemas os quatro passos designados por Polya (1995) para
que se chegue ao resultado proposto que são os seguintes: compreender o problema;
estabelecer o plano; executar o plano; e verificar o resultado obtido.
Na etapa compreender o problema o estudante tem que ler e entender para poder então
traçar caminhos para chegar ao resultado. Após a compreensão do problema o estudante deve
estabelecer um plano de resolução, isto é, identificar qual(ais) operações deve ser utilizado
para desenvolver estratégias de resolução. Depois de identificada a operação o estudante tenta
solucioná-las, logo após a última etapa a qual o verifica se as respostas estão corretas.
Sendo assim, procuramos aproximar as situações com o meio dos estudantes,
explorando nas questões desenvolvidas nomes de objetos, elementos, brinquedos, frutas,
verduras, profissões relacionada ao campo, dinheiro estabelecendo a ideia de compra e venda,
jogos com dados e também com caixas de fósforos tentando chamá-los a atenção para o que
estava a sua volta.
Um exemplo de questões elaboradas e utilizadas na pesquisa é do tipo: José planta
tomates. Ele tem um terreno aonde cavou 70 buracos e em cada um deles colocou 5 sementes.
Acreditando que cada semente brotará pergunta-se: quantos pés de tomates ele terá?
Essa questão traz em seu enunciado uma discussão que as crianças participantes já se
identificam em seu cotidiano. Ainda podemos abranger a discussão da profissão de agricultor,
pois todos os estudantes tem uma relação direta com a agricultura, uma vez que é essa a
profissão da maioria de seus pais.
Trabalhar com a metodologia da Resolução de Problemas é de fundamental
importância, pois o professor pode fazer alterações e adaptações nos problemas matemáticos
levando em conta a base sociocultural dos estudantes, fazendo uso nas exemplificações dos
conteúdos de elementos visuais e de objetos do meio onde as crianças estão inseridas.
No caso da proposta da educação do campo vale mencionar que há diferenças da
educação no campo como define Caldart (2004) que o povo tem direito a ser educado no lugar
onde vive e a uma educação pensada no seu lugar e baseada em sua cultura, baseada nas
necessidades humanas e sociais de cada comunidade. Estas duas concepções de educação se
diferenciam à medida que uma está preocupada em ter uma escola na zona rural onde
mundo a sua volta, aplicando seus conhecimentos de vida aos numéricos, que seja
―numeralizado ou alfabetizado‖ matematicamente, isto é, saber utilizar os conceitos lógico-
matemáticos nas situações que lhe são exigidos os tais.
Segundo Nunes e Bryant, (1997), ser numeralizado significa ser capaz de pensar e
discutir sobre as relações (numéricas, geométricas, métricas, álgebras), utilizando as
convenções de nossa própria cultura, tendo familiaridade com números e desenvolvendo as
habilidades para resolver problemas cotidianos, além de compreender informações
matemáticas em sistemas convencionais.
Precisamos compreender os conceitos matemáticos para desenvolvê-los em situações
cotidianas, que o ensino de matemática prepare o sujeito para atuar na vida e nas diversidades
que encontramos em nosso Estado e no nosso país.
E para melhor exemplificarmos os conceitos da multiplicação durante o período de
intervenção da pesquisa na sala de aula procuramos utilizar como meio os materiais concretos
e também manipulativos em nossos exemplos como: o material dourado, palitos de fósforos,
dados, dinheiro fictícios e o calendário. De acordo com Farias, Azeredo e Rêgo (2016, p.85)
as atividades que devem ser auxiliadas com os materiais concretos devem:
Metodologia da Pesquisa
Nº QUESTÕES
1 João comprou 25 quilos de tomates no sacolão de seu Bio, sendo que cada
quilo custou 3,00 reais. Qual foi o valor da compra de João?
2 Maria resolveu colher cajus no cajueiro de sua casa, ela levou 6 cestas para
colhê-los e em cada um ela colocou 28 cajus. Quantos cajus ela colheu no
total?
3 Júlio vende bananas na feira e em cada penca contém 8 bananas, ele vendeu 7
pencas a seu Barnabé. Quantas bananas seu Barnabé comprou no total?
4 Dona Zefa tem 60 cédulas de R$ 50,00. Quanto ela tem em reais no total?
5 Seu José comprou 20 caixas de tomates para vender no seu supermercado. Em
cada caixa havia 30 unidades de tomates. Quantos tomates ele comprou no
total?
Considerações Finais
Esta pesquisa teve como objetivo inicial investigar quais contribuições metodológicas
da Resolução de Problemas que o professor pode almejar no processo de ensino aprendizagem
de discentes ao discutirmos a operação aritmética em uma turma do 5° ano do Ensino
Fundamental, procurando entender quais concepções dos estudantes ao resolverem problemas
da operação de multiplicação por meio de situações problemas.
Ao longo do estudo verificamos que os estudantes desenvolveram satisfatoriamente as
atividades, adquirindo melhor domínio da leitura, da interpretar de pequenos textos, e de
elaborar estratégias exitosas para as resoluções das situações matemáticas propostas,
compreendendo que não existe um único modo de solucionar os problemas de matemática.
Vale salientar que o uso dos materiais concretos foi de fundamental importância para
que os estudantes entendam o conceito da multiplicação. Ao manusearem estes elaboraram
possibilidades, testaram hipóteses e se permitiram pensar as questões propostas em busca de
sua resolução.
Considerando que o nosso objetivo foi alcançado, o estudo também possibilitou pensar
a matemática com outro olhar para o ensino escolarizado, considerando a Resolução de
Problemas como metodologia principal de nosso trabalho.
Ao final foi possível verificar que ao longo das intervenções no espaço da sala de aula
o trabalho metodológico diferenciado possibilitou a compreensão dos estudantes sobre o
conceito principal da multiplicação, a soma de parcelas iguais. Percebemos também o
aumento da concentração dos estudantes, o seu interesse nas reflexões nos experimentos, a
busca de soluções para os problemas, aumento da: criticidade, autonomia, estímulo para os
cálculos, leitura, interpretação textual e escrita.
E por ser os participantes desta pesquisa estudantes de uma escola do campo
procuramos explorar questões envolvendo a realidade existente e elaborar questões
contextualizadas de acordo com os sujeitos, profissões familiares e comunidade em geral, pois
segundo Caldart (2004, p.153):
Povos estes que têm direito a dignidade durante o processo de ensino aprendizagem,
necessitando considerar as realidades dos campesinos, para que os conteúdos escolares não
venham ser desenvolvidos de forma isolada, principalmente na Resolução de Problemas, que
devem ser elaboradas com situações cotidianas dos participantes para que a matemática tenha
coerência com os estudantes e que estes possam se interessar e adquirir os conhecimentos
básicos necessários para sobreviverem com decência no e para o campo.
Referências
_______. Instituto Anízio Teixeira. Dados dos exames nacionais. INEP/MEC, Brasília: 2015.
Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/situacao-do-aluno
CALDART, Salete Roseli, Por uma educação do campo: traços de uma identidade em
construção In: ARROYO, Miguel Gonzalez, MOLINA, Mônica Castagna (Orgs). Por uma
educação do campo. Petropólis, RJ: Vozes, 2004.
FARIAS, Severina Andréa Dantas de. AZEREDO, Maria Alves de. RÊGO, Rogéria
Gaudêncio do. A matemática no ensino fundamental: considerações teóricas e
metodológicas. João Pessoa-PB: Editora Universitária da UFPB, 1° edição, 2016.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6° edição. São Paulo: Atlas,
2011
NUNES, Terezinha; BRYANT, Peter. Crianças fazendo matemática. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
POZO, Juan Ignácio. (org). A solução de problemas: Aprender resolver, resolver para
aprender. Reimpressão 2008, Porto Alegre: Artmed, 1998.
Introdução
35
Maria Oliveira de Moraes é Professora da Educação Básica da Rede Municipal de João Pessoa e aluna da Pós
Graduação na UFPB Especialização em Educação do Campo
36
Maria do Socorro Arruda Diniz Pires é Professora da Educação Básica da Rede Municipal de João Pessoa e
aluna da Pós Graduação na UFPB Especialização em Educação do Campo.
Para Xavier (2006) os diferentes movimentos têm sua atuação no campo de acordo
com os contextos socioeconômicos e políticos, e as diferentes demandas assumidas,
reivindicações e estratégias de lutas, não cabendo essa definição caracterização e velhos e
novos movimentos sociais.
No cenário brasileiro, a década de 60 foi um marco, no que se refere às lutas sociais e
emancipatórias, encabeçada pelos movimentos sociais, principalmente, no campo político
resultando no golpe militar, mas a maior luta se dá pelas ligas camponesas como símbolo de
resistência, iniciando suas atividades no Nordeste pernambucano e se expandindo para a
Paraíba, com extensão por todo Brasil. Nessa luta muitos camponeses desapareceram, foram
presos e muitos mortos.
Com intuito de conter as manifestações, sob o Comando Militar, a partir de 1964, os
Movimentos Sociais e as Ligas Camponesas foram os principais alvos a serem eliminadas. E
para garantir a ordem propagada pelos militares é elaborado um instrumento jurídico da terra,
atendendo dessa forma, aos grandes proprietários, denominado de Estatuto da Terra, em
conjunto com o Estatuto do Trabalhador Rural, passa a ser o fundamento legal com vistas a
regulamentar ―os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rural, para os fins de
execução da Reforma Agrária e promoção da política agrícola‖ Lei nº 4.504, de 30 de
novembro de 1964.
Décadas decorridas, os graves problemas no campo ainda perduram, e estão bem
visíveis no que se refere à Educação, como sinalizou a I CNEC:
Segundo Xavier (2006) a partir de 1980 foram diversos os movimentos de luta pela
terra, destacando-se em 1985 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que se
auto-define como ―um movimento de massas de caráter sindical, popular e político que luta
por terra, reforma agrária e mudanças na sociedade‖.
Nas últimas décadas os movimentos sociais vêm intensificando sua ação no campo no
que se refere ao conjunto de suas lutas pela terra, pela agricultura familiar, pelo trabalho, pela
vida e dignidade foram construindo-se sujeitos coletivos de direitos, entre eles do direito à
educação.
Nesses processos sociais e culturais as educadoras e os educadores do campo e da
floresta foram assumindo novos compromissos, redefiniram seu perfil profissional, busca
novas formações para se adequar-se ao contexto. Reinventaram concepções e práticas
educativas. Desenvolveram pesquisas e construíram um corpo teórico sobre a educação do
campo. Formaram-se e qualificaram reinventando formas novas de acesso aos cursos de
magistério e pedagogia.
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
287
Percebe-se que construir uma política para educação do campo é pensar em estratégias
que ajudem a reafirmar identidades do campo. Neste sentido, o governo brasileiro instituiu as
Diretrizes Operacionais para a Educação básica nas Escolas do Campo, aprovadas pelo
Conselho Nacional de Educação – Resolução CNE/CEB, n. 1, de 03 de abril de 2002. O
documento é uma conquista, resultado das discussões e dos trabalhos do GPTE, que
consolidou reivindicações históricas das organizações e movimentos sociais que lutam por
uma educação de qualidade para os diversos sujeitos, povos com identidades diversas que
vivem no campo, como: agricultores familiares, trabalhadores rurais sem terra, quilombolas,
assalariados rurais, povos da floresta, ribeirinhos, pescadores, extrativistas e outros.
Ressalta-se que em fevereiro de 2004, o governo brasileiro criou, na estrutura do
Ministério da Educação e Cultura (MEC), a Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (SECAD), que conta com a Coordenação Geral da Educação do
Campo. De acordo com as Diretrizes Operacionais de educação no Campo em seu Art. 1º:
campo, no mundo rural, e a Educação do Campo tem um vínculo como base na Educação
Popular.
Nesse sentido, a II CNEC (Conferência Nacional por uma Educação do Campo) luta
para que seja reconhecida a especificidade das formas de viver e de ser e que o processo de
educação se dê de maneira a ―formar-se, socializar-se, aprender, de produzir e relacionar-se
com o conhecimento, com as ciências e a tecnologia, com os valores e a cultura‖. Para a partir
do reconhecimento de suas especificidades sejam elaboradas políticas públicas e estratégias
específicas de eficaz implementação.
Conclusão
Na visita a escola, percebemos que apesar da escola ser caracterizada como escola
Quilombola, e dos esforços da profissional que acompanhar os trabalhos pedagógicos, vimos
que ainda há a muito a ser constituído pedagogicamente. Não tivemos acesso ao PPP da
escola, mas a supervisora sinalizou que estava sendo reconstruído. Os projetos pedagógicos
desenvolvidos contribuem para a formação e permanência do aluno.
A escola tem uma boa localização e um corpo completo para seu funcionamento, com
um número bom de alunos para sua estrutura física.
A educação básica ofertada no campo deve ter por objetivo a oferta de uma educação
de qualidade que assegure o direito do estudante e permanência na escola.
A literatura mostra que os movimentos sociais estão muito atentos na luta pela
educação do campo. Já houve nos últimos anos muitas conquistas sobretudo na questão das
políticas públicas, como PNLD, PNAE, PDDE, Transporte na Escola, entre outros. Mas ainda
carece de grande avanço, como um currículo sem amarras, mas definido para atender as
especificidades do povo do campo.
Acreditamos na luta pela busca efetiva da identidade da Educação do Campo, e
historicamente, constatamos que o que houve de avanço, foi por meio de mobilização dos
movimentos sociais, dos quais destacamos principalmente o MST, fortalecido com a presença
de outros movimentos. Essa mobilização culminou em duas Conferências como já citamos
anteriormente.
Referências
ARROYO, Miguel Gonzalez. CALDART, Roseli Salete. MOLINA, Mônica Castagna (Orgs.)
Por uma educação do campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
BATISTA. Maria do Socorro Xavier. O campo como território de conflitos, de lutas sociais e
movimentos populares. In: SCOCUGLIA, Afonso Celso; JEZINE, Edineide (Orgs.).
Educação Popular e movimentos sociais. João Pessoa: Ed Universitária, 2006.
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento sem Terra. Expressão popular, 2004
Educação do Campo: campo- políticas públicas – educação / Bernardo
Mançano Fernandes ... [et al.] ; organizadora, Clarice Aparecida dos
Santos. -- Brasília : Incra ; MDA, 2008, 109 p. ; 19cm -- (NEAD Especial ; 10).
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 30ª edição 2004.
―Primeira Conferência Nacional ‗Por uma educação básica do campo‘: texto preparatório‖. In:
ARROYO, Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Por
uma educação do campo. Petrópolis: Vozes, 2004.
Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) 9394/96. Brasília: DF: Camara dos
Depultado, Coordenação de Publicação 1996.
http://www.incra.gov.br/sites/default/files/uploads/institucionall/legislacao--/legislacao-
federal/leis/lei_n4504_301164.pdf (acesso 14/04/2017)
Introdução
formação moral/O jogo do boliche e o Caça palavra silábico. O bingo trazendo primeiramente
os animais conhecidos pelos alunos, para depois apresentar outros. A trilha da formação moral
para utilizar além da leitura a compreensão do que os discentes entendem por certo e errado a
partir de questionamentos que realizamos através da mediação dos jogos, como também a
existência do respeito ao próximo e a convivência socialmente dita, respeitando o outro na sua
subjetividade. O boliche desenvolvendo habilidades matemáticas como o raciocínio lógico e a
obtenção de conteúdos matemáticos indispensáveis para o seu cotidiano. O caça palavra
silábico, promovendo a curiosidade, a leitura e o entendimento das palavras.
Todos esses jogos foram confeccionados com a parceria do NEMDR (Núcleo de
extensão multidisciplinar para o desenvolvimento rural) e do CCHSA (Centro de Ciências
Humanas, Sociais e Agrárias), apresentando voluntários que compõem o NEMDR, sob a
orientação da Professora Doutora Nilvania dos Santos Silva, coordenadora do projeto de
extensão citado no início deste ensaio. Os materiais utilizados para a confecção dos jogos
foram adquiridos com ajuda de nossos parceiros e através da coleta de reciclados.
Vale salientar que todos os jogos eram individuais e em grupo e que também após
nossa intervenção os jogos ficam na escola sob cuidados da professora para serem utilizados
sempre que se achar necessário. Nossa intervenção com os jogos acontecem como uma
disputa, de maneira que todos obedeçam às regras. No momento em que algumas de nós
estivermos fazendo essa mediação com os jogos, a outra vai registrando e anotando algumas
observações importantes, quanto ao grau de conhecimento de cada aluno. Essas observações
nos serviram como resultado em relação à eficácia dessa intervenção com os jogos, no
processo de aprendizagem dos educandos.
Nesse tópico abordaremos como foi feita a escolha dos jogos e sua produção, que
ocorreram a partir de uma pesquisa bibliográfica, partindo da realidade vivenciada pelos
alunos, com o objetivo de possibilitar uma interação maior com os educandos, uma vez que os
mesmos muitas vezes, se mostram muito retraídos, e por essa razão escolhemos jogos que de
certa forma eles conhecem, com animais e palavras que já fazem parte do seu cotidiano,
facilitando assim a mediação e interação entre todos.
Sabendo que através dos jogos temos embasamento nos elementos das diversas
práticas corporais, pois durante a sua intervenção imediata e a sua prática são explicitadas
possibilidades de reflexões acerca da visão de mundo do educando, da sua prática social, da
sua interação entre professor e meio, e que a educação ocorre em diferentes ambientes, sejam
eles institucionalizados ou não. Torna-se evidente que ensinar não é apenas transferir
conhecimentos/conteúdos como uma forma de depósito uma ―educação bancária‖, a qual os
alunos são meros agentes passivos, responsáveis por apenas receber o conhecimento que é
repassado pelos professores, sem fazer nenhum tipo de questionamento, já que apenas o
professor detém o saber. Segundo Freire:
Quanto aos jogos, optamos pelo bingo dos animais, onde foi utilizado para a sua
confecção cartolinas coloridas, folha ofício A4 para produzir as caixinhas que será uma para
colocar as palavras que eram chamadas pela pessoa que esta mediando o jogo e a outra para
conter todas as palavras que serão distribuídas com as crianças, nesse caso são nove palavras
aleatórias que as crianças deveram colocar no espaço da cartela. Esse jogo tem o objetivo de
oportunizar aos educandos reconhecer os elementos da escrita; identificar as diferentes
linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de
comunicação; respeitar as regras de jogo; esperar a sua vez; lidar com a perda durante um
jogo e propiciar a interação com a brincadeira e com os colegas de classe.
O jogo do boliche é constituído por dez garrafas pet enumeradas de 0 a 9 com EVA.
Para dar início ao jogo dividimos a turma em duas equipes e pedimos para cada grupo
escolher um nome para identifica-los, depois disso as crianças se revezam para arremessar a
bola e derrubar o maior número de garrafas, enquanto um arremessa à bola a outra equipe é
responsável por somar a quantidade de pontos do grupo adversário. Esse jogo tem por
finalidade, trabalhar o raciocínio lógico das crianças com operações matemáticas nessa
situação a adição, além de estimulá-las com o próprio pensamento, a criatividade e a
capacidade de resolver problemas, incentivar o trabalho em equipe, como também a interação
entre os participantes da brincadeira e o respeito que deve predominar entre os envolvidos.
Para produzir o caça-palavras foi necessário isopor, tampinhas de garrafas pet, cola
quente, cola de isopor, folha ofício A4 e ligas para unir as sílabas. Em cada tampinha são
coladas sílabas que contém palavras de cumprimentos como bom dia, boa tarde e etc. Este
jogo tem o objetivo de ensinar as crianças, obedecerem regras e respeitar o outro, também é
uma forma divertida de trabalhar a percepção visual, o raciocínio lógico e estimular o
processo de aquisição da linguagem e da escrita, ganhará o grupo que obtiver o maior número
de palavras encontradas.
Por último, temos o jogo da trilha da formação moral, que foi produzido com
cartolinas, régua, lápis de cor, e tampinhas de garrafas pet. Inicialmente foi desenhado à trilha
na cartolina e durante o percurso foram colocadas algumas observações, estas relacionadas ao
respeito e a ética. O movimento dos participantes no jogo ocorre de acordo com o número
obtido ao lançar o dado no chão e com o percurso indicado na trilha, onde dois jogadores
tentam chegar até o fim. De acordo com o número e as observações indicadas na trilha o
participante poderá avançar ou retornar uma ou duas ―casas‖. Esse jogo favorece ao educando
identificar os números, compreender a sequência numérica, desenvolver o raciocínio lógico
matemático e propicia uma melhor integração social, cultural e cognitiva dentro do contexto
escolar.
Aqui vamos descrever as ações/ intervenções realizadas na Escola Antônio Sinésio dos
Santos com a mediação dos jogos já citados. Ao chegar na escola fomos todas muito bem
acolhidas e de início vê-se a curiosidade das crianças e da professora com relação ao que de
fato nós poderíamos contribuir naquela manhã. Uma vez que nosso primeiro contato foi feito
com a professora através de ligações onde a mesma nos detalhou sobre a quantidade de
crianças, a localização correta da escola para facilitar no momento da visita e o horário de
funcionamento da instituição.
Após ser realizado esse primeiro contato com a professora, marcamos o transporte e
consequentemente o dia da realização de nossa atividade com o uso dos jogos. Conhecedoras
que a aprendizagem é parte de um processo de evolução contínua construída socialmente com
a partilha e que o professor é o responsável em atuar como mediador ajudando o sujeito a
desenvolver suas potencialidades. E apoiadas em Vigotsky quando ele ressalta que a boa
aprendizagem promove o desenvolvimento e que o bom ensino é aquele que apresenta uma
orientação prospectiva, ou seja, dirigida ao que o aluno ainda não é capaz de fazer sozinho,
mas já é capaz de fazer com auxílio de um outro mais experiente, iniciamos a nossa
intervenção com a apresentação de ambas as partes professora/discentes e nós extensionistas.
A turma foi dividida em dois grupos nomeados pelos discentes por grupo 1- Homem
Aranha e Grupo 2- Super Men, feita a escolha dos grupos demos início a nossa intervenção
com os jogos. Na primeira atividade que foi o jogo do boliche as crianças mostraram interesse
em participar, responderam as questões matemáticas na medida em que derrubavam as
garrafas e mesmo sendo uma disputa entre os grupos um ajudava o outro, já que o processo de
aprendizagem acontecia com a aquisição de conteúdos matemáticos e percebia-se o incentivo
e motivação por parte dos participantes.
A segunda atividade realizada foi o bingo dos animais, nessa notamos um déficit de
leitura, em grande parte da turma ao anunciar a palavra sorteada muita crianças precisavam de
auxílio, mesmo todas as palavras estando distribuídas em um cartaz colado no quadro branco,
era necessário apontar a palavra para assim associar uma palavra a outra. Nesse jogo
especificamente vimos à necessidade de se trabalhar outras atividades voltadas à leitura, quem
sabe outros jogos, uma vez que mesmo sem ter o domínio da leitura todos tentaram e se
esforçaram para soletrar e marcar suas palavras.
Figura 4 – As crianças brincando com o jogo do bingo dos animais
A terceira atividade cumprida foi à trilha da formação moral, onde os dois grupos se
enfrentavam para chegar ao final da trilha e ganhar o jogo, para essa atividade foi necessário
assim como o do bingo e o do caça palavras que ainda vamos descrever, um domínio parcial
de leitura e por este motivo essas atividades não tiveram o êxito esperado por nós, em
compensação percebemos que as crianças se interessaram muito em realizá-las. De modo que,
a proposta se baseia em uma construção contínua através de outros métodos que ativa o
interesse de aprender dos discentes.
O caça palavras com tampinhas de garrafa pet foi bastante proveitoso, além de formar
palavras previamente colocadas como Bom dia e Boa tarde e dividir as crianças em equipes,
elas foram capazes de formar outras que não estavam previstas, isso claro com ajuda de nós
extensionistas, uma vez que já falamos da dificuldade de leitura existente entre elas.
Após a mediação dos jogos, sugerimos concluir nossa manhã com uma dinâmica e de
imediato todas as crianças aceitaram, então partilhamos a dinâmica do pirulito que trabalha a
colaboração ao próximo e ajuda a refletir a importância do outro no nosso dia a dia. A
dinâmica acontece da seguinte maneira: Todos os participantes recebem um pirulito e devem
segurar o pirulito com a mão direta, com o braço estendido, apenas levado para a direita ou
esquerda, mas sem dobrá-lo. A mão esquerda fica livre, para trás e não poderá ser usada,
depois pedimos para que desembrulhem o pirulito já na posição correta e tentem colocar na
boca do colega sem dobrar os braços e todos devem chupar o pirulito.
Houve várias tentativas sem êxito, quando decidimos intervir e ajudá-los a cumprir a
dinâmica, as crianças perceberam que teriam que oferecer o pirulito a pessoa do lado e assim
todos foram contemplados com o pirulito. Todas as crianças participaram e se divertiram
bastante, percebemos que ao propor uma nova atividade a turma fica motivada e dar o melhor
para alcançar o objetivo individual e em grupo.
Chegando ao fim de nossas intervenções, vimos que existe uma necessidade gritante
em ajudar essas crianças a desenvolver habilidades fundamentais para esse processo de
formação escolar. Conhecedoras dessas necessidades e preocupadas com essa formação
escolar vemos nos jogos as possibilidades de aprendizagem que os mesmos proporcionam,
pois através deles ocorre o desenvolvimento integral da criança, trabalhando o cognitivo, o
afetivo, a linguística, a relação social, motora e moral.
Enxergando que o processo para que a aprendizagem aconteça de maneira eficaz não
depende exclusivamente do sujeito em questão e sim de inúmeros fatores, dentre os quais
podemos citar a formação do professor, a família, a escola e toda sua estrutura física, a
história que cada criança traz consigo e suas perspectivas de futuro, temos que nos
conscientizar de que a escola não é apenas um local de transferir de maneira mecânica
conteúdos estabelecidos pelo professor ou pelo sistema de ensino. Seu compromisso atual é
bem maior, seu compromisso é com a formação física, moral e intelectual de cada indivíduo
participante dessa formação, promovendo a integração do educando a sociedade, fornecendo
elementos positivos para essa construção. Sendo a aprendizagem um processo de assimilação
de determinados conhecimentos e modos de ação física e mental, organizados e orientados no
processo de ensino aprendizagem.
Para isto, a escola não pode perder de vista que a aprendizagem de um novo conceito
circunda da interação com um outro já aprendido, seja em casa ou na própria escola. Logo, as
experiências vivenciadas que o aluno traz consigo favorecem novas aprendizagens. Para
Piaget, o conhecimento não pode ser visto como algo aceito desde o nascimento ou de acordo
com a teoria inatista, na qual a criança nasce programada para falar nem tão pouco ser
considerada algo simples como registro de concepções e informações.
Portanto, o conhecimento resulta das ações e interações dos sujeitos com o ambiente
onde vivem, já que o conhecimento é uma construção que vai sendo montada desde a
infância, segundo o interesse dos indivíduos e através da interação com objetos, sejam eles
físicos ou culturais.
possíveis falhas. Nessa situação relatada, os jogos foram colocados como uma proposta para
que a professora possa estar trabalhando com seus alunos outras formas que contribuam para
o processo de aprendizagem, tirando as crianças do monótono das aulas, uma vez que a
interação proporcionada pelos jogos venha trabalhar a parte cognitiva, afetiva e motora das
crianças.
Considerações finais
Depois de realizar a mediação com os jogos na Escola Antônio Sinésio dos Santos,
percebeu-se o quanto essas atividades podem ocasionar um fortalecimento no processo de
aprendizagem dos alunos, bem como apoio prático pedagógico em suas atividades, uma vez
que, a professora afirmou ter dificuldades em desenvolver atividades similares com seus
alunos, já que a mesma não compreende os motivos que levam seus discentes a não aprender
o que ela ensina durante as aulas.
Enquanto participantes do núcleo de extensão NEMDR, reconhecemos a necessidade
que a sala de aula apresenta, no que se refere à prática da leitura, pois durante o jogo do caça
palavras silábico, da trilha da formação moral e principalmente do bingo dos animais foi
possível identificar a grande dificuldade de leitura que os alunos apresentam, visto que no
jogo do bingo colamos um cartaz no quadro branco com todas as palavras que o jogo incluía
para facilitar no momento de saber qual palavra foi chamada, mesmo assim os discentes não
sabiam e perguntavam a nós se eles tinham aquela palavra. Também verificamos um déficit
na disciplina de matemática, pois notamos que os alunos durante a soma dos números no jogo
do boliche tentavam acertar de maneira casual, ou seja, eles muitas vezes falavam 12, 13, 14
até que nós enquanto extensionistas confirmasse a resposta. Cientes de que o
desenvolvimento cria potencialidades, mas que a aprendizagem concreta só se desenvolve
Referências
PIAGET, Jean, 1896-1980. O juízo moral na criança/ Jean Piaget; tradução Elzon Lenardon.
São Paulo: Summus, 1994, p.34.
Introduçao
Este artigo apresenta alguns momentos históricos que marcaram a educação na década
de 1990, com a criação do Movimento Nacional por Educação do Campo (MNED), resultado
das articulações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que requereram
as políticas públicas voltadas para a Educação do Campo, a construção de materiais didáticos
específicos à realidade rural e os investimentos na expansão da oferta dos anos inicias do
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Buscando avançar na compreensão das políticas públicas para Educação do Campo,
iniciamos nossa pesquisa na comunidade de Assentamento de Nova Vida-Upanema-RN,
analisando as condições do ensino entre o campo e a cidade. Verificamos que o município de
Upanema-RN conta hoje com várias comunidades rurais e escolas rurícolas, porém, na
maioria delas, oferece apenas ensino de nível infantil, na Escola
Municipal Antônio Paula da Silva, localizada no Assentamento Nova Vida a qual
tomamos como ponto de partida para nosso estudo e, em seguida as propostas de ensino das
escolas urbanas, bem como as instituições Escola Municipal Professora Maria Gorete de
Carvalho Macêdo e a Escola Estadual José Calazans Freire, que ofertam o ensino fundamental
e médio e atendem à demanda das comunidades rurais.
O objetivo deste artigo é analisar as condições de ensino entre o campo e a cidade,
buscando compreender o processo sócio histórico da atuação e participação das organizações
e movimentos sociais do campo e da cidade, possibilitando o reconhecimento na construção
de políticas públicas para o sujeito do campo.
A metodologia de pesquisa deu-se por meio de observação e rodas de conversas com a
população rural, alunos, mães, pais, Associação de Moradores, Sindicatos, educadores e
profissionais da educação das três escolas pesquisadas. Assim, abordamos o tema a partir da
observação do contexto da comunidade de Assentamento Nova Vida-RN, sua origem e
trajetória na articulação de um movimento social que luta pela subsistência e educação. Além
disso, somos alunas do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC), da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), representamos 35% (trinta e cinco por
cento) dessa comunidade.
37
Estudante do Curso de Educação do Campo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
38
Estudante do Curso de Educação do Campo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
39
Doutora em Estudos da Linguagem pela UFRN e professora Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas
da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
Como observamos, essa nova modalidade nasce de outro olhar sobre o campo, à
medida que os sujeitos camponeses se e aprendem formam no dia a dia a dinâmica da luta
social e cultural organizada em espaço coletivo, considerando que as condições de ensino
entre o campo e cidade perpassam a proposta de educação que estamos acostumados no meio
rural.
No entanto, vejamos a análise das escolas abordadas por nossa pesquisa, começando
pela Escola Municipal Antônio Paula da Silva, localizada no Assentamento Nova Vida.
Atualmente, funciona apenas no turno matutino, sendo o horário das 7h às 11h 20min. Atende
alunos de 04 anos de idade, pré-escolar do 1° e 2° níveis, 1° ao 5° anos do ensino
fundamental, em regime seriado. Em seu Projeto Político Pedagógico, a escola em
conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) tem por
finalidade: ―proporcionar ao educando formação necessária para o desenvolvimento de suas
potencialidades, como elemento da auto realização, preparação para o trabalho e para o
exercício consciente da cidadania [...]‖ (PPP, 2012). Percebemos que os estudantes de 6° ao
9° ano do ensino fundamental e ensino médio que residem na comunidade de Assentamento
Nova Vida frequentam as escolas urbanas. Como na Escola Municipal Professora Maria
Gorete de Carvalho Macêdo, uma escola que atende alunos da Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente cerca de 70% (setenta por
cento) dos alunos atendidos pelo sistema de transporte escolar são oriundos da zona rural em
virtude da distância da escola até a localidade de suas comunidades.
A outra, Escola Estadual José Calazans Freire é referência na comunidade de
Upanema-RN, por ser a primeira escola de ensino médio. Atualmente, atende alunos de
ensino fundamental e médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), conta com uma boa
estrutura física, além de laboratórios de informática e de ciências, salas de vídeo, Grêmio
Estudantil, entre outros espaços. A escola desenvolve projetos educativos, programas,
palestras, formação para professores, reuniões e confraternizações para o fortalecimento do
trabalho escolar. Observando o desenvolvimento das escolas, percebemos que não há
educação especializada aos estudantes rurais, são oferecidas outras atividades aos alunos, por
meio dos programas Mais Educação, Atleta na Escola, Aquiflora.
Por observações da pesquisa em relação à família na escola, percebemos que parte dos
pais de alunos da comunidade assentada participa das atividades escolares, ao contrário das
outras duas escolas urbanas que, não possuem acompanhamento familiar constantes nas suas
tarefas escolares. A Escola Municipal Antônio Paula da Silva é uma das poucas privilegiadas
por contar com moradores da comunidade no seu quadro de docente, conhecem a realidade
local, a importância das atividades do espaço rural e sua cultura, preservando os eventos
comemorativos com a participação das famílias, entre outros. Verificamos uma diferença
entre convivência familiar na escola rural com as escolas analisadas da cidade.
No entanto, a participação dos movimentos sociais na formulação de políticas públicas
para o campo foi criada a partir de 1999, pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário
(MDA), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável para Agricultura
Familiar (CONDRAF), e do Ministério da Educação (MEC), em 2003, o Grupo Permanente
de Trabalho de Educação do Campo (GPT), representam um avanço para a implementação da
política pública de diversidade na Educação do Campo.
Considerando as práticas das organizações políticas educacionais, as experiências de
Educação Popular que contribuem na organização do povo, as propostas políticas da classe
trabalhadora, conscientizando, transformando sujeito em agente político, e contribuindo com
articulação dos compromissos políticos, assumidos por meio dos movimentos sociais
populares.
Nesse sentido, a Educação Popular deve ser realizada de diferentes campos de atuação,
entre a Educação Formal ministrada em instituições criadas e organizadas, com o objetivo de
educar e construir o saber de cada indivíduo. Concretizando assim, as palavras do educador
Paulo Freire, a saber: ―A educação das massas se faz, assim, algo de absolutamente
fundamental entre nós. Educação que, desvestida da roupagem alienada e alienante, seja uma
força de mudança e de libertação‖ (PAULO FREIRE; 2014, p.52).
Consideraçoes finais
Referências
CALDART, Rosely Salete. Movimentos Sociais e Educação. 8ª ed. São Paulo. Cortez
Editora. 2012.
CALDART, Rosely Salete. Educação do Campo: Notas para uma Análise de Percurso.
Porto Alegre, 2008. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/upload/d/Caldart.pdf. Acesso
em: 03/06/2015.
FREIRE. Paulo. Educação Como Prática da Liberdade. 38. ed. São Paulo/Rio de Janeiro.
Paz e Terra, 2014.
FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. 3ª ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1970.
Introdução
40
Graduanda do 3º período do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
41
Graduanda do 3º período do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
42
Professora do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
professores devem ter conhecimento dos planejamentos que rege a escola. Essa decisão deve
ser discutida com os pais de alunos, com os próprios alunos e a comunidade escolar, para que
possam também participar das decisões e se posicionarem de forma crítica. Um dos meios de
apresentar é através do diálogo, reuniões nas escolas, mostrar e explicar como funciona o
documento e quais são as metas que querem alcançar, pois o projeto é o que cada professor
vai trabalhar durante todo o ano letivo com os educandos. Porém, todavia, sabemos que nem
todas as escolas seguem esse contexto de democratização e nem possibilita pais e alunos a
terem conhecimento de como funciona o Projeto político-pedagógico, e a maioria das escolas
trazem consigo um sistema de hierarquização.
Em uma pesquisa feita ao PPP desta escola, constatamos que ele não está atualizado
há cincos anos, e que o mesmo não contextualiza a realidade dos alunos que frequenta a
escola. Durante a pesquisa foi constatado no PPP da escola que havia grande número de
alunos da zona rural, como também alunos de comunidade quilombolas do município.
Ao analisarmos o PPP nos chamou atenção o fato de o documento falar pouco sobre a
história de Portalegre R/N fala apenas da participação de índios e portugueses. Nos chamou
atenção o fato do PPP não mencionar em nenhum momento a história dos povo negros.
Sabemos como em todo o país o negro também esteve presente na história e na fundação
dessa cidade. Entendemos que no PPP da referida escola deve contar a história das
comunidades quilombolas existentes na cidade, tendo em vista que vários alunos que estudam
na instituição, são Afro-descentes quilombolas.
Neste sentido, é fundamental inserir a origem da comunidade quilombola no PPP da
escola que está fundamentada na Lei n° 10.639/2003 que se torna obrigatório o ensino da
História e da Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas brasileiras neste sentido o PPP se
encontra desatualizado. Cabe à gestão rever a situação com uma discursão voltada para
igualdade social, considerando as comunidades quilombolas que habitam na cidade. Lei n°
9.394/96, 1996 - LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi elaborada com
objetivo de proporcionar nas escolas o ensino da cultura Afro-brasileira, proporcionando as
relações igualitárias, respeitando e valorizando a cultura negra, que também justifica a
necessidade de atualizar o PPP desta escola.
A cultura Afro-brasileira é uma temática que precisa ser desenvolvida dentro da
instituição todos os dias, e não apenas em dias comemorativos. E de acordo com a lei
10.639/2003, criar um caminho que venha trabalhar a cultura Africana e Afro-brasileira como
uma disciplina cotidiana.
Caminhos da pesquisa
Uma gestão escolar tem a missão de contribuir com a elaboração do Projeto Político
Pedagógico dentro da escola. Além disso, a participação de seguimentos, como pais de
alunos, alunos, conselhos escolares, tornam o processo de discursão mais democrático e, ao
mesmo tempo, capaz de favorecer a elaboração de um documento mais fiel, frente à realidade
da escola. Necessariamente, ampliar essas discussões será uma atitude bastante favorecida
pelo uso das tecnologias educativas, ela que cada vez mais disputam a atenção e a
participação dos alunos, motivando-os a produzir de forma crítica com as discussões dentro
da escola que permeia o campo educativo, seja emitindo pontos de vistas positivos ou
negativos, que servirão de base para pensar nos caminhos pelos quais a escola deseja
percorrer.
tornar a escola democrática hoje significa modifica-la a fim de que cada vez
maior parcela das camadas populares nela ingresse e permaneça. Dessa
forma a escola poderá cumprir aquilo que lhe é especifico, enquanto
instância social que luta pela transformação: a socialização do saber.
(PIMENTA 2002, p12)
Portanto, por mais que a autora Veiga (2005) nos dê um posicionamento de como é
para funcionar e de como é construído o Projeto Político-Pedagógico nas escolas, ainda nos
deparamos com incorreções acerca de como colocar em prática os projetos e sua e efetiva
fiscalização que já se estende a anos. Há muitas coisas a se fazer pela frente. Muitos tabus a se
quebrar, para deixarmos de ser um sistema hierárquico, para nos tornamos um sistema
democrático, onde teremos mais ajudam dos pais, alunos, comunidade e funcionários, para
ajudamos a traçar uma metodologia que venha ajudar a mudar a realidade vivenciada por
muitos gestores e gestoras escolas. Esse processo poderia auxiliar no alfabetizar da população
sem destingir as classes sócias.
Portanto, o PPP é um documento que serve de base para direcionar as ações
pedagógicas que venham ser desenvolvidas na escola, encaminhado a instituição de ensino
com objetivo de formação do aluno. O mesmo deve ser construído sempre com resultado do
trabalho coletivo, contemplando as opiniões e sugestões de toda comunidade escolar, (alunos,
funcionários, pais de alunos e professores). Deste modo, devemos mantemos o PPP em nossas
escolas como um sistema democrático com a participação de toda comunidade escolar.
O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente,
reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão.
Um de suas tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidades
metódicas com que devem se aproximar dos objetos cognoscíveis. (FREIRE,
1996, p.9)
Segundo Gadotti (2011) de nada adiantaria uma Lei de Gestão Democrática do Ensino
Público que concede autonomia pedagógica, admirativa e financeira as escolas, se o gestor,
professores, alunos, e demais atores do processo desconhecem o significado político da
autonomia. Para esse autor, o exercício dessa autonomia não e dádiva? Mas sim uma
construção continua individual e coletiva.
Gadotti (2011) ressalta que a gestão democrática de uma escola não se limita apena na
autonomia pedagógica, administrativa e financeira, mas sim no aspecto de que a instituição
deve buscar um método de formar os alunos em cidadãos críticos, ou formar um indivíduo
que participe e que seja produtor do seu próprio saber, e que estejam aptos a socializar com o
mundo, para serem capazes de enfrentar o mundo com o trabalho profissional e com atitude
humanizada e de respeito. Então, cabe a gestão e á política pública proporcionar aos alunos
um ambiente de interação de aprendizagem significativa em prol do aluno.
A equipe pedagógica tem a incumbência na responsabilidade dos alunos em exercícios
e tarefas docentes. Essa ética na manifestação e descriminação de gêneros, raças e de classe
sociais, respeitando uns aos outros, percebemos que o papel do educador é mérito, pois ele
não apenas transmite conteúdos para os alunos nos ensina a pensar ensinamentos pra vida. Se
um professor não tiver autonomia com os seus alunos, e não levar a sério seu trabalho não
estará apto para uma autonomia democrática.
Freire (1996) demostra que a segurança com que a autoridade discente se move
implica uma a outra, a que se funda na sua competência profissional. Nem uma autoridade
docente se exerce ausente desta competência, o professor que não leva a sério a sua formação,
que não estude que não se esforça para esta a outa? De sua tarefa não tem força moral para
coordenar as atividades de sua classe.
Segundo Freire (1998) ensinar exige pesquisa, respeito aos saberes dos educandos,
criatividade, exige estética e ética e curiosidade, pressupôs-se que não ocorre o processo de
aprendizagem efetiva sem que aja estimulação da curiosidade daqueles que estão adquirindo
Considerações finais
Referencias
PARO Vitor Henrique. Gestão democrática na escola pública. São Paulo: Ática, 2001.
RIBEIRO, Sonisvaldo de Souza, SANTOS, Silva Alves dos. O trabalho coletivo na rotina
escolar e a construção do projeto político-pedagógico. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/638-4.pdf Acesso em: 24 de
Março de 2017.
SOUZA, Débora Quetti Marques de. Gestão democrática da escola pública: desafios e
perspectivas. -UFPE. deboraquetti@eg.com.br
Introdução
Esse texto apresenta reflexões preliminares de uma pesquisa em andamento que tem
como título Educação do campo e a infância camponesa: múltiplos olhares, a qual tem como
objetivo conhecer e analisar diferentes olhares sobre as dimensões sociais e os diferentes
aspectos da vida das crianças do campo, a partir das crianças, pais e educadores com vistas a
melhor compreender e orientar as ações pedagógicas nas escolas do campo.
A reflexão que aqui fazemos se refere ao olhar de uma professora do 4º ano do Ensino
Fundamental da Escola Tiradentes localizada no assentamento Tiradentes, no município de
Mari-Pb. Buscamos identificar a visão da professora sobre a infância do seu tempo e a
infância contemporânea, destacando as convergências e divergências identificadas na visão da
entrevistada.
No primeiro momento apresentamos as contribuições da Sociologia da Infância para
reconhecimento do protagonismo das crianças. Nesta perspectiva as crianças são vistas como
parte integrante da sociedade na qual estão inseridas, são produtos da cultura existente mas
também são produtoras de novas culturas, são influenciadas mas também influenciam o meio
em que vivem, através da interação com os outros, adultos e crianças, vão estabelecendo suas
relações sociais, adquirindo conhecimentos, desenvolvendo-se intelectualmente,
politicamente, socialmente e culturalmente.
No segundo momento apresentamos as infâncias camponesas, seus aspectos,
características, como as crianças veem o campo, onde ocorrem as brincadeiras para quem
mora na zona rural, como é o modo de vida no campo, como o MST pensa a escola do campo.
No terceiro momento apresentamos as nossas reflexões sobre o olhar da professora
entrevistada, analisamos trechos da sua entrevista contextualizando com os dias atuais para
nos servir de base para comparação entre as diferenças e semelhanças vistas por ela sobre as
infâncias.
43
Estudante do Curso de Pedagogia com área de aprofundamento em Educação do Campo, da Universidade
Federal da Paraíba. Aluna do programa de Iniciação Científica/PIBIC/CNPq/UFPB.
44
Estudante do Curso de Pedagogia com área de aprofundamento em Educação do Campo, da Universidade
Federal da Paraíba. Aluna do programa de Iniciação Científica/PIBIC/CNPq/UFPB.
45
Coordenadora da Pesquisa e Professora Doutora da Universidade Federal da Paraíba.
Considerando que a pesquisa tem como foco as dimensões sociais, culturais e políticas
das crianças camponesas percebeu-se a necessidade de estudos voltados para a infância que
sejam feitos a partir da perspectiva da sociologia da infância, que assume as crianças como
atores sociais, capazes de não só interagir com o meio em que vivem, mas também de
construírem cultura, costumes, expressarem opiniões, sentimentos, anseios e desejos. A
pesquisa feita pela perspectiva da sociologia da infância dá voz ás crianças, coloca a criança
como produtora de conhecimento, vê a infância como um período de maturação da vida e
desenvolvimento humano que acontece não alheio ao mundo, mas em meio a conflitos sociais
e, imerso em uma cultura já existente, as crianças são produtos dessa cultura, mas também
produtoras de novas culturas. Assim como afirma Sarmento (p.362, 2005):
Nesse contexto as crianças atribuem sentido as coisas, através da interação com seus
pares vão estabelecendo relações sociais, criando círculos de amizades, desenvolvendo
conceitos sobre o mundo que as cercam. Vendo-as desse ponto de vista favorece-nos entendê-
las e compreender o modo como elas veem e interagem com a cultura, a escola e a sociedade
da qual fazem parte, enfim o mundo ao seu redor.
Para pesquisar as crianças através delas mesmas é preciso mais que observar, analisar
e registrar, faz-se necessário ao pesquisador romper a barreira que é comum entre o mundo
dos adultos e o das crianças, que dificulta a comunicação, para romper essa barreira é
necessário utilizar caminhos que despertem a curiosidade da criança, a vontade de fazer, que
leve o pesquisador a obter a intimidade necessária com a criança para poder ouvi-la e entendê-
la. Uma boa alternativa para que isso aconteça é através da brincadeira, que é uma forma que
a criança tem de se expressar, revelando seus pensamentos, sentimentos e emoções.
O brincar é uma fase da infância que é de extrema importância na vida de uma criança,
pois a brincadeira é uma ação lúdica que proporciona a criança desenvolver-se em vários
aspectos. Através da brincadeira a criança imagina, cria, aprende regras, aprende a respeitar a
vez do outro, a ganhar e a perder. Desenvolve-se intelectualmente, socialmente e
culturalmente.
Quando a criança brinca ela revela muito sobre sua vida, nas suas representações
simbólicas como desenhos, por exemplo, está expressando suas histórias e vivências, aquilo
que já está internalizado nas mesmas, assim como afirma Vygotsky (1984, p.117):
Adentrar nesse mundo imaginário que é o brincar para as crianças, e ter a sensibilidade
para entendê-las, torna-se um obstáculo que se faz necessário ultrapassar para que seja
possível alcançar os objetivos relevantes à pesquisa, requer do pesquisador um olhar atento e
a capacidade de compreender os sentimentos e emoções que estão sendo revelados pela
criança.
Faz-se necessária a participação ativa das crianças nas pesquisas para o
desenvolvimento de uma consciência político, pedagógica e teórico-metodológica em relação
ao mundo social e cultural das crianças, somente através do desenvolvimento dessa
consciência será possível entender as crianças em seus vários aspectos, atender seus anseios,
desejos, necessidades e constituí-las como sujeitos sociais ativos.
Como aponta Sirota (2001), ¨trata-se de compreender aquilo que a criança faz de si e
aquilo que se faz dela, e não simplesmente aquilo que as instituições (escola, Estado e família)
inventam para ela¨. Faz-se necessário ouvir suas experiências e interpretá-las, colocando-as
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
322
como protagonistas no papel de relatar sua própria infância. Assim como orienta Sarmento e
Pinto (1997, p.78):
Infâncias camponesas
A criança que vive no campo tem uma infância diferente da criança que vive no meio
urbano, no campo as crianças são mais livres, a maioria de suas brincadeiras acontecem ao ar
livre junto com seus amigos, as brincadeiras são as mais diversas e variam de acordo com o
lugar onde este campo está localizado, se mais próximo ou mais distante de uma área urbana,
se é assentamento, ou comunidade quilombola, ribeirinha, caiçaras... Todos esses espaços são
diferentes, e isso influenciará na infância, no modo como a criança se desenvolverá, sua
cultura, suas relações sociais, seu modo de agir, pensar, falar, sua identidade com o meio em
que vive. Assim como afirma Silva et al. (2013, p.16):
A partir deste ponto de vista temos o entendimento de que existem múltiplos campos e
diferentes infâncias. O tipo de infância que se tem é resultado da junção de vários elementos e
contextos, como: local onde o indivíduo está inserido, composição e estrutura familiar, cultura
imposta pela sociedade, gênero, geração, etnia, classe, religião. Todos esses elementos
contribuirão para o desenvolvimento cultural, político e social da criança.
A infância camponesa de assentamento da reforma agrária é o foco da nossa pesquisa.
Crianças assentadas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), já
demonstram certa consciência sobre a importância do campo, veem o campo como seu lar,
transmitem uma ligação forte com a terra e a satisfação de viverem na zona rural, de serem
criadas ¨livres¨, sem preocupações com trânsito, assaltos, sequestros, que é uma realidade para
quem vive no meio urbano. Elas têm noção de tudo que acontece ao seu redor, das lutas por
direitos, da união da comunidade, da agricultura familiar, da relação com o meio ambiente.
Isso faz parte da infância em locais de assentamento, as crianças de tanto escutar sobre esses
assuntos passam tanto a reproduzi-los, como também a produzi-los, e assim vão formando
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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seus conceitos, suas crenças, criando relações sociais, dando continuidade à cultura local, e
contribuindo para novas culturas. São influenciados e também influenciam no meio em que
vivem. Segundo afirma Silva et al. (2013, p.17):
Propõe-se assim que a criança do campo seja visibilizada como sujeito que,
em relação com outros segmentos geracionais, compõe, é afetada e afeta seu
ambiente físico e social; é produto, mas também produtora das relações,
espaços e tempos que configuram a paisagem do meio.
Uma escola onde se educa partindo da realidade; uma escola onde professor
e aluno são companheiros e trabalham juntos – aprendendo e ensinando; uma
escola que se organiza criando oportunidades para que as crianças se
desenvolvam em todos os sentidos; uma escola que incentiva e fortalece os
valores, do trabalho, da solidariedade, do companheirismo, e do amor à
causa do povo. Uma escola que tem como objetivo um novo homem e uma
nova mulher, para uma nova sociedade e um novo mundo.
Essa é a concepção de escola que o MST propõe, uma escola que se preocupa com a
formação integral do aluno, que busca fomentar no discente uma formação política,
ideológica, crítica reflexiva, para que ele possa enxergar a realidade da sociedade na qual está
inserida. O MST acredita que através da educação as pessoas podem transformar suas
realidades e assim surgir uma nova sociedade com menos injustiças e mais igualdades.
Trabalhar, eu nunca trabalhei não, menina eu era tão impossível que minha
mãe me colocou pra estudar de manhã e de tarde, minha mãe era costureira,
trabalhava muito e eu estudava de manhã e de tarde e minha irmã tomava
conta, eu também brincava, de pula corda, burrica, rouba bandeira, esconde-
esconde, passa anel e brincava de roda.
A professora relata que nunca trabalhou em sua infância, só estudou pela manhã e pela
tarde, isso é algo raro para aquela época, onde a maioria das crianças que moravam na zona
rural tinham a obrigação de ajudar seus pais no roçado.
Em outra parte da entrevista perguntamos se as crianças ajudam os pais na roça (como
chamam suas plantações), ela respondeu ¨têm muitos que ajudam¨, como podemos observar
essa prática é comum na zona rural, para as crianças (foram perguntadas em oficina realizada
anteriormente) isso não é visto como um trabalho, é apenas uma ajuda que estão dando a seus
pais, só que não deixa de ser um trabalho que futuramente pode prejudicar o desempenho nos
estudos ou até ser motivo de evasão escolar. Como podemos confirmar nos dados abaixo46:
Sobre de que brincava, ela relata brincadeiras tradicionais como: pula corda, burrica
(gangorra), rouba-bandeira47, esconde-esconde, passa anel e brincadeira de roda, são
brincadeiras que fazem parte também da infância contemporânea, muitas escolas fazem o
resgate de brincadeiras antigas com o objetivo de dá continuidade a nossa cultura.
Essas brincadeiras são saudáveis, diferentes de algumas brincadeiras de hoje, como de
luta, por exemplo, que remete a agressividade, essas brincadeiras tradicionais também
promovem a socialização entre as crianças, e faz com que saiam do sedentarismo que é uma
realidade que podemos observar nos dias atuais, muitas crianças brincam com brinquedos
tecnológicos como: celular, tablet, computador, vídeo game, que as tornam sedentárias, essa é
uma prática observada mais em crianças que moram na cidade, pois as crianças do campo
brincam no terreiro de suas casas de brincadeiras que exige movimentar-se.
Perguntamos a entrevistada a respeito da feira do município, se as crianças participam
junto com seus pais. Ela respondeu:
Participam sim, às vezes faltam a escola na Sexta feira pra ajudarem os pais
a preparar as coisas pra feira que acontece aos Sábados.
Então a partir de sua resposta, a indagamos sobre como a escola vê isso e como ela,
consegue repor essas aulas que eles faltam, qual o seu olhar para essa situação que as crianças
vivenciam? A entrevistada replicou:
46
Disponível em: http://www.girasolidario.org.br/noticias/trabalho-infantil-no-campo-cultura-ou-necessidade
5
Os participantes são divididos em dois grupos com o mesmo número de crianças. Delimita-se o campo e, em
cada lado, nas duas extremidades, é colocada uma bandeira. O jogo consiste em cada grupo tentar roubar a
bandeira do outro grupo, sem ser tocado por qualquer jogador adversário. Quem não consegue, fica preso no
local onde foi pego e parado como uma estátua, até conseguir que um companheiro de equipe o salve tocando-o.
Vence o grupo que tiver menos participantes presos ou quem pegar primeiro a bandeira, independente do número
de crianças ―presas‖.
Nós colocamos uma falta justificada porque os pais eles avisam antes, então
no meu ver as crianças estão tendo um tipo de atividade também, porque lá
na feira eles também estão aprendendo, e depois eu exploro isso em sala de
aula, na matemática, eu levo feijão, pedaço de pau pra representar a
macaxeira e aí eles vendem por kg, estão aprendendo com material concreto,
eu gosto de trabalhar assim, e eles gostam muito de matemática, ainda não vi
um aluno meu dizer que não gosta de matemática, mas porque? Pela maneira
que eu ensino.
Uns sim, ótimo, outros não, porque eu tinha meninos que não conheciam
nem as vogais, aí eu chamei logo os pais, fiz uma reunião porque de 20
alunos, 8 não sabiam ler mesmo, sem saber o alfabeto, aí eu fiquei pensando
como agir porque se não for com o apoio dos pais a gente não da nenhum
resultado, aí convidei os pais pra uma reunião e pedi pra que eles colocassem
os filhos num reforço e que olhassem o que eles estavam fazendo, porque os
pais todos eles sabem ler aqui, eles tem preguiça de ajudar. Aí todo dia eu
mandava texto, verso, poema, textinho diferente pra eles lerem em casa pra
os pais observarem, e eu acho que isso serviu demais, muito, porque os
meninos vão com aquele intuito de ler pros pais, pra eles entenderem a
historinha, e foi bom demais porque os pais ficaram nos pés deles, lendo e
escrevendo junto com eles e no final do ano eu consegui, dos 8, 6 saíram
lendo.
Sim, porque na rua que eu moro na casa que eu tenho na cidade eu não vejo
uma criança se quer brincando na rua, aqui no assentamento não, eles
brincam de bola, andam de bicicleta, eles têm mais liberdade, mas brincam
mais sozinhos ou com os irmãos, porque as casas são distantes umas das
outras, então a socialização deles se dá mais na escola mesmo.
Considerações finais
nas escolas, pois muitas têm feito esse resgate cultural de brincadeiras antigas, como: pular
corda, brincar de roda, esconde-esconde, passa anel, burrica (gangorra), amarelinha.
Podemos apontar como diferença o uso de tecnologias, que no tempo de infância da
professora não existia e hoje é comum vermos crianças com smartphones, vídeo games,
computadores, elas crescem já familiarizadas com o mundo virtual. Embora não tenhamos
visto muitas crianças no assentamento fazendo uso dessas tecnologias, ouvimos relatos nas
entrevistas, que elas gostam muito e se os pais permitissem elas fariam uso constante.
Ao analisarmos o olhar da professora sobre a infância das crianças do assentamento
concluímos que a infância delas é uma infância tranquila, que acontece em meio aos estudos,
a família, as brincadeiras com os amigos, o trabalho na roça da família, aos passeios com os
pais, às missas e cultos nas igrejas existentes no assentamento, as festas que acontece na
escola, a constante presença na feira, as reuniões do MST que às vezes vão com os pais.
Assim vai se configurando a infância camponesa, imersas em todos esses ¨universos¨,
as crianças vão se constituindo sujeitos de direitos, criando seus conceitos, valores e ideais
para o mundo ao seu redor.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Maria M. Martinho. A Gente Aqui o que Gosta mais é de Brincar com os
Outros Meninos: as crianças como atores sociais e a (re) organização social do grupo de
pares no quotidiano de um Jardim de Infância. Doutorado em Ciências da Educação.
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto, 2002.
Introdução
Este artigo é parte das reflexões que estão sendo realizadas na pesquisa sobre a
infância camponesa, que se encontra em andamento, cujo título do projeto de pesquisa:
Educação do Campo e a Infância Camponesa: Múltiplos Olhares. E o presente artigo traz
reflexão ao plano de trabalho I: Educação do Campo e a Infância Camponesa no
Assentamento Zumbi dos Palmares, no município de Mari/PB.
A pesquisa tem como sujeitos as crianças, pais e professores da escola do
assentamento Zumbi dos palmares. Mas neste texto buscamos identificar as visões de uma
mãe com relação aos significados da vida das crianças no campo, problematizar a imagem
construída pela mãe em relação aos diferentes significados de infância no campo e identificar
as brincadeiras e afazeres que as crianças vivenciam no cotidiano do campo.
Foi utilizada a entrevista para coletar os dados com o intuito de identificarmos a visão
de uma mãe sobre as infâncias, nesse sentido, foram realizadas perguntas direcionadas sobre:
Como foi sua chegada ao acampamento? Sua profissão? Quantos filhos têm, idade e se
estudam na escola do assentamento? Como é o seu cotidiano e dos seus filhos? Quais as
brincadeiras da sua infância e dos seus filhos? Além de outras perguntas que nos deu
embasamento para a compreensão da sua visão sobre as infâncias.
A metodologia do projeto de pesquisa assume uma abordagem qualitativa que está
sendo realizada através de pesquisa de campo com entrevistas com crianças, professores, pais
e mães. E para a obtenção dos dados das crianças estão sendo realizadas oficinas com
brincadeiras sobre a sua infância.
48
Estudante do Curso de Pedagogia com área de aprofundamento em Educação do Campo, da Universidade
Federal da Paraíba. daniele.leandro1@gmail.com.
49
Coordenadora da Pesquisa e Professora Doutora da Universidade Federal da Paraíba.
50
Estudante do Curso de Pedagogia com área de aprofundamento em Educação do Campo, da Universidade
Federal da Paraíba. Michellecristine.ufpb@gmail.com.
considerada por instituições ou agentes sociais‖ (QUINTEIRO, 2002, 139). Portanto sendo
para a utilização de conceitos em oposição ao adultocêntrimos para a criança.
Nesse sentido ―é importante destacar que a critica fundamental diz respeito à visão de
criança considerada como tábula rasa a qual os adultos imprimem a sua cultura‖
(QUINTEIRO, 2002, 139). Na percepção que a criança não tinha voz, a sua infância era a
preparação para a fase adulta e eram passivas na construção da sua história. E desta forma
sendo moldado para os propósitos dos adultos.
De acordo com Abramowicz & Oliveira (2010) na década de 1980 houve o aumento
de produções teóricas de sociologia com temas relacionados à infância. Com isso, percebemos
o interesse de pesquisadores por essa área, assim contribuindo para o aumento de estudos e
desta forma tendo a ampliação e aprofundamento no campo da Sociologia da Infância.
Em 1990 no Brasil começou a utilização da Sociologia da Infância para o estudo da
criança, com isso percebemos que tempos pouco tempo de pesquisas sobre essa temática,
Apesar disso, esse campo teórico trouxe contribuições importantes para a compreensão sobre
a infância. De acordo com Quinteiro (2002, p.141):
Na opinião das autoras Abramowicz & Oliveira (2010, p. 42). ―[...] a Sociologia da
Educação permaneceu durante um longo período presa à definição durkheimiana de
imposição dos valores adultos sobre a criança, levando estas a permanecerem no silêncio
‗mudas‘‖. Em outras palavras, elas ficavam a mercê e a domínio dos valores morais e
culturais atribuído pelos adultos.
A partir das pesquisas realizadas através da Sociologia da Infância as crianças foram
ganhando espaço nos estudos e dentro da sociedade, a inserção se deu por se compreender a
criança como sujeito e ator social do seu processo de socialização. Logo, ouvindo o que elas
têm a dizer sobre elas, tendo uma participação ativa e sendo protagonistas da sua biografia.
Do ponto de vista de Abramowicz & Oliveira (2010, p. 43):
As autoras Abramowicz & Oliveira (2010) fazem uma reflexão de como são
produzidas as histórias das crianças. Pois entendem que as crianças não têm uma participação
ativa no processo da escrita da sua história, dos registros fotográficos e não são elas que
escrevem sua própria história. Porque a sua vida é contada e retratada por terceiros. Deste
modo, na visão das autoras por as crianças ocuparem um espaço a margem na história,
dificulta encontrar material produzida a partir delas e o que se encontra são produções escritas
por adultos a partir da visão das crianças.
Seguindo esse raciocínio Quinteiro (2002, p. 140) afirma que: ―no âmbito da
Sociologia, há ainda resistência em aceitar o testemunho infantil como fonte de pesquisa
confiável e respeitável‖. Porém, vem aumentando a quantidade de produções acadêmicas
sobre a infância e um que podemos destacar é o livro Infâncias do Campo51, o qual retrata
vários estudos relacionados à infância camponesa a integrando por dá espaço para que elas
sejam ouvidas e protagonistas da sua história.
As atividades das crianças do campo no meado do século XX também estavam
direcionadas para o trabalho no campo com a família, podendo ser na agricultura, na criação
de animais e nos afazeres domésticos. O trabalho infantil contribuía para o sustendo da
família, pois em sua maioria eram famílias numerosas com renda muito baixa. Nesse sentido
as autoras Astigarraga & Passeggi (2013, p. 218) afirmam que:
Por as crianças terem que trabalhar na lida com o campo e por outros fatores
educacionais e sociais elas não frequentavam a escola. Isto de certa forma ainda ocorre nos
tempos atuais, pois uma grande quantidade de moradores da zona rural não concluem seus
estudos. Os dados do IBGE de 2011 atestam que a taxa de analfabetismo na zona rural era de
21,2%, nas zonas urbanas a taxa encontrada foi de 6,5%.
Podemos observar na atualidade que os pais veem na educação uma porta para o
acesso ao conhecimento e para uma vida melhor. Nesse sentido, estão incentivando os filhos
aos estudos e a terem uma formação, sem, no entanto, se distanciar do trabalho no campo para
que a raiz camponesa não seja perdida.
Com os avanços dos estudos sobre a infância camponesa podemos observar a
modificação dessas duas realidades da infância do ontem (dos pais) e a infância de hoje (dos
51
Livro produzido por SILVA, Isabel de Oliveira e; SILVA, Ana Paula Soares (orgs). Infâncias do campo, o
qual integra vários estudos sobre as infâncias camponesas.
[...] elas (as crianças) iam aprendendo a formar a sua identidade e eu como
educadora ia aprendendo e formando minha identidade junto com elas. É
tanto que a minha experiência de escola é no assentamento [...]. Aprendi
muita coisa com essas crianças, elas estavam me vendo ali como se eu
estivesse formando elas, mas estava sendo formada junto com elas. (grifo
nosso).
As crianças mencionadas pela entrevistada, algumas são pais das crianças que hoje
estudam na Escola Zumbi de Palmares. Podemos perceber que foi uma construção de
identidade que se dá conjuntamente entre educandos e educadora. Esse trabalho educacional
incluía uma reflexão da criança no território que ela estava inserida, uma criança sem terra.
Ela só veio a ser assentada da reforma agrária em 2006, após se casar, pois antes ela
morava com os pais no assentamento. Uma das conquistas das mulheres assentadas é que elas
são a titular da terra, como diz a mãe: ―A titular da terra somos nós mulheres e nem adianta os
homens dizerem que são eles, porque todas nós já sabemos que é nossa‖.
52
Basicamente, o assentamento rural é um conjunto de unidades agrícolas independentes entre si, instaladas pelo
INCRA, onde originalmente existia um imóvel rural que pertencia a um único proprietário. Cada uma dessas
unidades, chamadas de parcelas, lotes ou glebas é entregue pelo Incra a uma família sem condições econômicas
para adquirir e manter um imóvel rural por outras vias. A quantidade de glebas num assentamento depende da
capacidade da terra de comportar e sustentar as famílias assentadas. O tamanho e a localização de cada lote são
determinados pela geografia do terreno e pelas condições produtivas que o local oferece. Fonte:
http://www.incra.gov.br/assentamento.
A infância e o brincar
Em seu caso por ela ser professora o seu dia a dia inclui o trabalho na escola,
completando com o serviço na agricultura e sem esquecer de mencionar a terceira jornada de
trabalho, o trabalho doméstico. Pois, após sair da escola tem-se os afazeres da casa que são
compartilhados com os filhos.
A partir desse momento iremos discorrer sobre as infâncias na visão de uma mãe
trazendo elementos da sua fala para apresentar: o cotidiano, as brincadeiras, a escola e a sua
concepção em relação ao trabalho. Portanto será realizada uma junção da sua infância com a
infância atual. Desde modo para percebemos as semelhanças e diferenças existentes nessas
infâncias.
Ao ser perguntada se as crianças são felizes vivendo no assentamento, ela responde
que:
Quando a entrevistada menciona o dia a dia das crianças, a mesma faz uma
comparação de um modo geral. Porque ela diz que a vida das crianças poderia ser melhor e
que a tecnologia está interferindo no modo como as crianças interagem e brincam.
Ressalta que:
Mas nos dados já coletados junto com as crianças essa afirmação da mãe não foi
detectado, pois foi constatado que as crianças brincam ao ar livre, de brincadeiras tradicionais
como: pega-pega, de correr, de toca, de corda, jogar bola etc.
As crianças quando passam o final de semana com o pai na casa da avó vivenciam
também a sua infância, por brincar ao ar livre junto com seus primos, de brincadeiras
tradicionais e até a mãe relata que os filhos nem pensam em tecnologia. Pois a sua diversão é
brincar com os familiares.
A mãe enfatiza o uso da tecnologia pelas crianças na atualidade, que difere da sua
infância, dizendo que na sua infância as crianças:
Portanto podemos compreender na fala da mãe 1 que a função da escola vai além do
desenvolvimento da leitura e da escrita, nela inclui a formação do ser humana e valores da
vida. Com isso deve-se trabalhar a identidade sem terra e as questões da realidade do campo
no âmbito da escola.
O trabalho
Atualmente o trabalho que lhe detém mais tempo é o de professora, mas realiza o
trabalho na agricultura também com maestria e leva os filhos para os ensinar o manejo com a
terra, percebendo essa afirmação em suas palavras:
Os filhos participam do seu cotidiano tanto na escola como no trabalho no roçado, ela
incentiva a educação e ao do trabalho como princípios para as conquistas pessoas. E assim,
ela pretende que através do contato com o roçado as crianças aprendam e criem identidade no
território onde estão situados.
Em relação às atividades domésticas das crianças, ela relata que:
Ajuda na casa do filho tem que ser de uma forma participativa que eles
entendam que todo mundo na casa tem que se ajudar e que a casa não é eu
que tenho que fazer, não é só eu que tenho que trabalhar. Que todo mundo se
ajudando fica tudo mais fácil porque a conquista é de todos.
Em sua fala podemos constatar a importância das divisões das tarefas domésticas, na
qual todos/as sãos partes essenciais para que o trabalho seja realizado harmonicamente e.
Assim, a união da família contribui para a compreensão dos filhos de como deve ser realizado
um trabalho participativo e solidário.
Considerações Finais
Os Pais conectados com a cultura do campo, tanto vividos por eles como pelos seus
antepassados, buscam atualmente para seus filhos uma nova perspectiva de vida. Rompendo
com a cultura rural a qual eles viveram, onde o trabalho na roça estava em primeiro lugar e os
estudos para quando sobrasse tempo. Portanto, observar-se essa ruptura com o aumento de
anos de estudo a cada geração e ao novo olhar dos pais na divisão do tempo para o estudo e
para o trabalho na agriculta familiar.
Há diferenciação das infâncias, o qual a mãe tinha um trabalho continuo para ser
realizado na sua infância e poucos momentos para desfrutar da fase de ser criança e enquanto
seus filhos podem vivenciar a infância. Assim, existem diferenciações entre as infâncias, mas
tem suas semelhanças pelas brincadeiras, por viverem essa fase no campo, num espaço livre e
em contato com a natureza.
Portanto podemos observar algumas semelhanças nas brincadeiras de antigamente e as
atuais, que vem passando de geração em geração. Ou seja, as crianças estão dando
continuidade as suas raízes através das brincadeiras. Portanto mesmo com os avanços da
tecnologia as brincadeiras tradicionais ainda estão sendo um meio de diversão das crianças.
Referências
SILVA, Isabel de Oliveira e; SILVA, Ana Paula Soares da; MARTINS, Aracy Alvez.
Infâncias no e do campo: como as crianças vivem, brincam, estudam e compartilham
experiências? In: SILVA, Isabel de Oliveira e; SILVA, Ana Paula Soares da; MARTINS,
Aracy Alvez (Orgs.). Infâncias do campo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
A educação básica, como direito para a diversidade dos povos do campo foi mantida
por muitas décadas em amnésia. Um descaso que, segundo Caldart (2004, p.149), está
atrelado ao encurtamento dos horizontes políticos e educacionais para os povos do campo, o
qual por muito tempo foram vistos, a partir de estereótipos pejorativos e preconceituosos, com
a falta de um olhar cuidadoso e compromissado na garantia da equidade de direitos.
Desta forma, é possível afirmarmos que historicamente houveram muitas lutas em
busca do reconhecimento do trabalhador rural e do povo do campo, e entre elas o
fortalecimento de mobilizações em torno de uma educação voltada a esta população, que
fosse tanto de igualdade e qualidade, quanto de reconhecimento e valorização das
especificidades de suas raízes, de seus fazeres e saberes, o que motivou as ações de busca por
políticas públicas, especialmente no que tange a educação escolar satisfatória a partir da
realidade de seus sujeitos. Para BATISTA (2011, p.107),
Indo de encontro com esse víeis, destacamos que no Brasil, as décadas de 1960 e 1970
foram de momentos marcantes. Houve maior penetração do capital internacional na
economia, resultando num crescimento das contradições do capital nacional que se
desenvolvia. A partir disso houve o crescimento do movimento operário e camponês, o
surgimento de partidos de esquerda e de grupos e entidades que almejavam a transformação
da estrutura da atual sociedade destas décadas, bem como o empenho de alguns setores das
Igrejas com as lutas sociais. Assim, houve também o crescimento e a divulgação de
experiências por meio da participação e organização popular que, através da educação, viam
um dos instrumentos que proporcionaria uma maior conscientização política, assim como
social, uma visão que se configurava como uma nova forma de ação, que questionava o
arbítrio interno e a dependência externa e exigia mudanças nas estruturas econômicas e
53
Pedagogo, com área de aprofundamento em Educação do Campo, aluno do curso de pós-graduação em
Educação do Campo do Departamento de Educação do Campo da UFPB. Coordenador Pedagógico do Ensino
Fundamental dos Anos Finais no município de Sobrado-PB.
54
Pedagoga, Especialista em Orientação e Supervisão Escolar. Licenciada em Ciências Naturais pela UFPB.
Professora da Educação Básica no município de Pilar-PB.
sociais, visando a uma maior inclusão social da população pobre e trabalhadora. Neste
período, as lutas pelas reformas de base, reformas eleitorais, tributárias, agrárias, urbana,
bancária e universitária, foram fortalecidas. Por parte da ditadura militar houve uma forte
repressão a todos estes movimentos sociais, tanto no campo, quanto na cidade foram vistos
como opositores, sujeitos desertores, perturbadores da paz e das leis institucionais.
A década de 1970, foi marcada pelas lutas e resistências coletivas, em busca do resgate
de direitos da cidadania cassada e contra o autoritarismo vigente. Foi um período de
organização dos movimentos sociais, bem como da luta pela democracia. No campo
educacional, sobressaem as iniciativas de educação popular através da educação política, da
alfabetização de jovens e adultos, da formação de lideranças sindicais, comunitárias e
populares. É nessa década, por exemplo, que surge a Comissão Pastoral da Terra (CPT),
organização da Igreja Católica, mas com participação de outras igrejas, em defesa dos
posseiros, na luta pela reforma agrária e pela permanência na terra.
Nos anos 80, houveram ganhos, a exemplo da organização e fundação da Central
Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983, e do Movimento Sem Terra (MST), em 1984. A
CUT, representando o movimento sindical brasileiro que se opunha à prática sindical
conservadora, contou desde a sua fundação com participação dos trabalhadores rurais. O MST
se consolidou no Brasil como um movimento combativo e expressivo na luta pela reforma
agrária e tem contribuído para uma reflexão e uma prática de educação do campo. No campo
educacional os debates e as iniciativas sobre a educação para a cidadania e a escola cidadã,
marcaram a década de 1980 e contribuíram decisivamente para que se inscrevesse algumas
conquistas dos trabalhadores na nova Constituição promulgada em 1988, entre as quais vale
ressaltar a compreensão e proclamação da educação como direito.
Na década de 1990, ocorre no Brasil o desenvolvimento do ideal e práticas
democráticas. Essa democratização se faz presente em várias localidades do País, apesar de
nos últimos tempos termos enfrentado grandes retrocessos na garantia de vários direitos
adquiridos em uma trajetória de lutas e conquistas.
Com relação à educação do campo, houve alguns avanços. Apesar da nova LDB ter
reformulado o ensino técnico no Brasil a partir das exigências do Banco Mundial,
desmantelando a educação unitária, e desvinculando o ensino profissional da formação geral,
pela primeira vez na legislação houve uma referência explícita à especificidade e
diferenciação quanto à oferta de educação básica para a população rural, no artigo 28.
O avanço na legislação quanto à questão específica da oferta de educação para a
população rural foi o resultado da articulação dos movimentos sociais e do acúmulo das várias
experiências já existentes, tais como, os Centros Familiares de Formação por Alternância, as
escolas do MST, a escola ativa, as reivindicações e experiências educativas do movimento
sindical, entre outras.
No final dos anos 90, os movimentos sociais do campo conseguem articular o
movimento ―Por uma Educação Básica do Campo‖ que teve na I Conferência, em julho de
1998, em Luziânia-Go, seu ponto alto e desencadeou todo um processo que vem crescendo,
possibilitando o aprofundamento e a construção de um projeto de educação do campo. Todo
esse movimento pela educação do campo e toda a articulação das entidades, movimentos e
das experiências contribuíram para a aprovação, em 2002, pela Câmara de Educação Básica,
55
No intuito de resguardar o anonimato da escola campo da pesquisa e de seus profissionais,
considerando a ética profissional, não divulgaremos os referidos nomes. A escola receberá o nome
fictício de Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Campo do Campo. O momento
prático da pesquisa se torna muito importante para compreensão de forma micro o que ―acontece na
realidade escolar das escolas do campo‖.
Observamos que na Lei de diretrizes e bases da educação (LDB- capitulo I, artigo 23,
inciso 2º), o direito para a diversidade, a garantia de igualdade e atenção às particularidades
de uma comunidade. Entretanto os povos do campo parecem que não tem usufruído desde
benefício em sua legitimidade, sendo mantidos por décadas no esquecimento, um descaso no
tocante as especificidades do povo e educação do campo, que sempre foram pensadas de
forma generalizada e com estereótipos do urbanocentrismo. Segundo (MARTINS, 1989,
p.12),
Ou seja, é preciso levar em consideração que a escola do campo traz marcas de outrora
onde durante muito tempo as diferenças foram convertidas em desigualdades e que para
alcançar tal superação, a oferta da igualdade de direitos pode estabelecer o primeiro passo
para a transformação de muitas realidades, entendo sua história e a historicidade dos sujeitos
envolvidos, construindo a partir destas, metas e objetivos para alcançar as mudanças
necessárias.
Se faz necessário construir uma escola no campo, que possa ser vista como um lugar
onde especialmente as crianças e os jovens possam sentir orgulho de sua origem. Esta
construção deve partir do projeto educativo dos sujeitos do campo, tendo o cuidado de trazer
para dentro da escola as matrizes pedagógicas ligadas às práticas sociais, ou mais
especificamente, combinar estudo com trabalho, com cultura, com organização coletiva, com
uma postura de transformar o mundo ao seu redor. Mas, para isso, é preciso conceber um
modelo educacional que trabalhe a produção do conhecimento desde questões relevantes para
a intervenção social nessa realidade, até os aspectos mais simples do cotidiano dos alunos.
A partir da realidade da escola visitada, foi possível observarmos que ainda há muito a
se fazer. A escola do campo precisa de melhores infraestruturas, condições de trabalho que
tornem o processo de ensino aprendizagem mais prazeroso, eficaz e significativo. O/a
professor/a necessita de formações continuadas para desempenhar melhores resultados e seus
gestores precisam de autonomia diante da proposta de uma educação do campo de qualidade,
onde possam no mínimo construir um calendário de acordo com as especificidades e
realidades do povo e da escola do campo.
Apesar da gestora nos informar que recebe o planejamento anual no que tange o
calendário escolar e que ele pode ser revisto de acordo com as condições sociais observando o
contexto da comunidade e de inserção da Instituição na comunidade, observamos que não há
uma adaptação mais especifica realizada pela escola, uma vez que seguem o mesmo
calendário que as demais escolas urbanas recebem. Esta foi uma das perguntas que realizamos
durante a entrevista com a gestora. Além desta e das perguntas referente ao foco funcional da
Instituição, realizamos as seguintes perguntas:
Em resposta a primeira questão do quadro, a gestora relatou que os/as alunos/as que a
escola recebe são alunos/as da comunidade e de outras vizinhas. ―Na grande maioria, são
alunos/as filhos e filhas de pequenos agricultores que usam da mesma para subsistência‖,
disse a gestora. Em relação a segunda pergunta, a mesma nos respondeu que a escola está
sempre buscando e convidando as pessoas da comunidade para participar das ações da escola,
a exemplo da reformulação do PPP que ocorreu no ano de 2016, além das festividades em
datas comemorativas, reuniões de país e mestres ou sempre que necessário e que a
comunidade na medida do possível participa. Ela ainda disse que considera uma relação boa
de ambas as partes e que ainda há muito o que melhorar, mas que o caminho foi dado a esta
questão. Quando perguntada sobre as atividades especificas para a educação do campo, a
mesma relatou que existem apenas em sala de aula quando os/as professores/as ministram
suas aulas. Quando questionada sobre um calendário especifico da escola, disse não ter
autonomia para atribuir mudanças, que segue o calendário sugerido pela rede municipal.
A gestora nos respondeu referente a quarta pergunta, dizendo que desde a sua chegada
na escola (pouco mais de um ano) ainda não teve nenhuma formação sobre a temática. Já em
resposta a quinta pergunta, disse que até o momento não existe nenhum projeto que contemple
a temática, que apenas é trabalhado nas datas comemorativas, a exemplo do dia do agricultor,
dia do trabalhador, etc. De acordo com os marcos normativos da educação do campo (P. 7 e
8),
Isso demonstra que se faz necessário uma reflexão acerca do olhar sobre as pessoas
que vivem no campo, voltado a valorização de suas raízes como fruto de cultura e de
conhecimento. Para tanto, se faz preciso que as escolas por sua vez, possuam esta visão, para
que desta forma, ocorra de fato uma educação que estime e preze a vivencia e historicidade
das pessoas do campo, tornando-as mais significativas a medida que considera os seus saberes
no processo de construção do conhecimento.
Diante o exposto, consideramos que a Instituição visitada/pesquisada precisa atentar
para este olhar, de modo a valorizar de forma mais expressiva as pessoas da comunidade
criando experiências de vivencias mais solidas dentro do contexto escolar, bem como
necessita de autonomia para atribuir mais significado as especificidades da escola do campo,
não apenas sendo o/a professor/a o/a sujeito/a que deve abordar a temática, é um passo, mas
não o suficiente. Se faz mais do que necessário que a escola possa adequar o calendário a
realidade da comunidade estabelecendo vinculo e parcerias com a mesma, criando
possibilidades de envolvimento e projetos que elevem a valorização do conhecimento povo do
campo.
Durante a pesquisa também entrevistamos uma professora que possui uma turma
multisseriada (4º e 5º anos), e a mesma nos respondeu as seguintes perguntas:
Dessa forma, é evidente que as escolas do campo possuem todo direito de adequar
suas realidades de acordo com as especificidades de sua localização, realizando as
intervenções necessárias visto as suas metodologias, planejamento curricular, etc.
Infelizmente as escolas do campo ainda não conseguem realiza-las, algumas vezes
pela falta de autonomia, a exemplo desta pesquisa e em outros momentos por falta do próprio
conhecimento, seja de gestores, seja de professores/as, as formações precisam acontecer em
um patamar mais elevado.
Assim, se faz urgente o reconhecimento e valorização das diferenças, ressaltando
através das mesmas, o respeito e a igualdade, como sendo fundamental para a construção da
democracia participativa e para uma educação no campo de qualidade.
Consideramos esta pesquisa micro, ao mesmo tempo em que pode retratar um pouco
da realidade de muitas escolas do campo brasileiras. Observamos que as escolas do campo
não sofrem apenas com a falta de atenção as especificidades pedagógicas, metodológicas ou
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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curriculares, mas também a infraestrutura que precisa de mais cuidados e melhorias. São
muitas vezes salas de aula improvisadas, espaços inadequados, falta de bibliotecas, refeitórios,
equipamentos quebrados, etc.
Na escola pesquisada constatamos entre outros problemas, uma sala de aula
improvisada (Sala educação infantil, Pré I e II) conforme imagem abaixo.
O campo tem sua especificidade. Não somente pela histórica precarização das
escolas rurais, mas pelas especificidades de uma realidade social, política,
econômica, cultural e organizativa, complexa que incorpora diferentes
espaços, formas e sujeitos. Além disso, os povos do campo também são
diversos nos pertencimentos étnicos, raciais: povos indígenas, quilombolas
(Texto final da II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo).
Ou seja, mais uma vez a luta por uma educação que reflita a partir das especificidades
de um povo é reivindicada como necessidade urgente de reconhecimento e direito desta
população. Fica evidente assim que muito se tem o que conquistar enquanto garantia de
direitos e igualdade.
Considerações finais
Diante desta pesquisa micro e dos estudos e relatos pertinentes a temática, observamos
que a mesma pode retratar uma boa parte das escolas do campo do nosso país. Verificamos
que a educação como direito para a diversidade dos povos do campo foi mantida por décadas
no esquecimento e que a partir da luta e dos movimentos sociais, hoje a educação do campo
se tornou possível, apesar das grandes melhorias que precisam ser alcançadas.
Desta forma, conhecer a nova dinâmica do campo é fundamental, no intuito de
perceber se esses movimentos e essa dinâmica estariam superando ou acentuando essas
desigualdades. Em seguida, pensar e construir um currículo que transforme a realidade do
sujeito do campo pode ser um passo a minimizar toda falta de atenção que mantida por
décadas as pessoas que vivem no campo. As escolas precisam ganhar a autonomia que
precisam para apropriassem da qualidade que a educação do campo merece. A
democratização do acesso e a garantia de permanência também apontam para que a educação
do campo seja tratada como direito a uma escola pública de qualidade.
Referências
CALDART, Roseli Salete. Por uma educação do campo: traços de uma identidade em
construção. In: ARROYO M. CALDART, R. & MOLINA.M (orgs). Por uma Educação do
Campo. Petrópolis: Ed. Vozes, p. 147-158, 2004 a
Introdução
56
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professor (PPGFP) – Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB). kamilakarinesw@hotmail.com.
57
Professora do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professor (PPGFP) – Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB). patriciacaa@yahoo.com
discute a prática da relação entre o currículo da escola do campo e o ensino de história local e
memória nas práticas alicerçadas em uma educação emancipatória
No tópico dois, intitulado ―Ensino de História, memória e história local: no contexto
da Pedagogia do Movimento Sem Terra‖, trazemos a discussão da visão do movimento
perante o ensino de história local e memórias em escolas de áreas de acampamentos e
assentamentos.
No tópico três intitulado ―A proposta das oficinas pedagógicas na Escola Municipal de
Ensino Infantil e Fundamental Zumbi dos Palmares‖ realizamos um breve relato sobre as
propostas de oficinas pedagógicas com metodologias participativas e suas discussões teóricas.
Conceito Definição
a) Conteúdos Devem estar vinculados com a realidade dos povos do
curriculares campo, da agricultura camponesa, como ponto de partida e
base do currículo. Os conhecimentos devem servir de
processo de construção das identidades destes sujeitos e de seus grupos de pertença‖. (CAIMI,
2010, p. 69)
Na proposta de pesquisa trabalharemos com o ensino de História, memória e história
local, no contexto da Pedagogia do Movimento Sem Terra. O MST construiu a sua própria
pedagogia e seus princípios estão fundamentados em matrizes pedagógicas, que colaboram
com o processo de ensino e aprendizagem. A terra significa espaço de vida, de produção,
identidade e de cultura em que ela tem múltiplos significados. Por isso, torna-se importante
retomar essa discussão, no âmbito das experiências dos movimentos sociais populares do
campo, a fim de mostrar seu protagonismo no terreno da Educação do Campo e da construção
de espaços de valorização da história e memória dos assentados e acampados BATISTA
(2007, p.19).
58
―Os PCNs surgiram durante o processo de reforma curricular da Educação Básica que ocorreu no país a partir,
principalmente, da década de 1990, sendo bem recebidos por alguns setores da educação e, como não poderia
deixar de ser, recebendo fortes críticas de outros‖. (MAGALHAES,20015, p. 51)
Quadro 2 - Temas para composição Projeto Político Pedagógico da Escola Zumbi dos
Palmares.
TEMAS SUBTEMAS
1. Identidade e Reconhecimento do sujeito: singular e coletivo
cultura camponesa. Sujeito na sua localidade
Sujeito, cultura e valores;
Sujeito e sua Classe
Sujeito e a luta
Sujeito e a terra
2. Reforma Agrária, A terra e sua função na história e os primeiros indícios
direitos: cotidiano das da agricultura;
lutas e dos A terra e a origem latifúndio;
Movimentos Sociais e A história da exploração da terra e o latifúndio – Vídeo
a participação. de Rosa
A terra na história do Brasil Ex: colonial (as capitanias
hereditárias, a escravidão – índios e negros)
O conceito de Reforma Agrária
E a reforma agraria no Brasil
3. A conquista do
assentamento e a Não definido ainda no PPP os Subtemas.
cidadania
4. Meio ambiente, O meio ambiente
agricultura e Agricultura familiar
sustentabilidade;
Fonte: PPP/2016 em construção.
Na visão de Masetto, (1997, p.35) ―a sala de aula deve ser vista como espaço de
vivência‖. Quando se percebe que pode estudar nas aulas, discutir e encontrar pistas para
questões de sua vida e das pessoas que constituem seu grupo social o ensino torna-se
significativo.
Como suporte de uma vivência significativa e orientada nas oficinas fora da sala de
aula sugerimos a utilização do material do ―Inventar com a diferença: cinema e direitos
humanos‖59. Entendemos que através desse material a prática de reflexão sobre o cinema60 é
possível realizar a relação com o outro e com o território fora dos muros da escola. O
material busca compartilhar saberes e práticas para os interessados em levar o cinema e os
direitos humanos para a educação. Vale salientar que o uso do material é possível de ser
utilizado mesmo que não se tenha experiência com técnicas ou com a linguagem audiovisual
(MIGLIORIN, 2014).
De acordo com Migliorin (2014, p.12), as propostas têm como foco o trabalho
―colaborativo, sem competição, atento ao outro, aberto às diferenças e aos modos de vida que
constituem as comunidades‖. Os processos do cinema com a educação possibilitando a
criação coletiva com as singularidades de cada um. O resultado desses processos são vídeos,
filmes, experiências, narrativas e pensamentos em forma de imagens e sons. Das várias
propostas reunidas do material, escolhemos quatro exercícios para encaminhar as oficinas de
cinema no contexto de história local e memória. Adaptamos algumas dessas atividades para a
realidade da Escola Zumbi dos Palmares.
Conclusão
59
Participamos no mês de janeiro de 2017 do curso: Cinema, Educação e Direitos Humanos. O curso nos deu
subsídios para trabalhar o material produzido pelo departamento de cinema da Universidade Federal Fluminense
e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O material é fruto de algumas práticas e
aprendizados na militância nos direitos humanos e na relação do cinema com a educação.
60
Destacamos que de acordo com Duarte (2009), existe uma diferenciação entre o filme e o cinema. O filme é
resultado de toda uma produção cultural e quando se fala em cinema trata-se de um amplo aparato
multidimensional que engloba fatos que vêm antes, depois ou por fora do filme.
Referências
BATISTA, Maria do Socorro Xavier. Movimentos sociais e educação popular do campo (Re)
constituindo Território e a Identidade Camponesa. In: JEZINE, Edineide; ALMEIDA, Maria
de Lourdes Pinto de. (Orgs.). Educação e movimentos sociais: novos olhares. Campinas:
Alínea, 2007.
CAIMI, F.E. Meu lugar na história: de onde eu vejo o mundo? In: OLIVEIRA, M.M.D.
(Org.) História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, 2010.
MASSETTO, Marcos T.. Didática: A aula como centro. São Paulo: FTD, 1997.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar: por uma história
prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos,
práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 17-36.
RICHARDSON, Roberto Jerry et al. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3 ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
Introdução
O foco do presente artigo é discutir a formação continuada dos (as) professores (as)
que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental em escolas do campo, reiterando a
importância de garantir uma formação específica que tenha como ponto de partida a realidade
e a diversidade dos sujeitos do campo.
A motivação para a escrita sobre esse tema foi suscitada a partir das discussões
realizadas na disciplina Tópicos em Educação Popular: Educação do Campo e Movimentos
Sociais, ministrada pela Profa. Dra. Maria do Socorro Xavier Batista, no curso de doutorado
em educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no ano 2016.
Tal discussão suscitou uma análise da experiência da autora enquanto formadora do
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) na Paraíba. Naquela
oportunidade, chamou-nos a atenção, a partir das leituras realizadas e debates fomentados em
sala, as questões relacionadas à identidade da escola do campo enquanto instituição que tem a
função social de transmitir os conhecimentos acumulados pela sociedade, todavia,
compreendemos que essa função não pode ser cumprida sem se considerar a realidade dos
sujeitos que vivem no campo.
Na discussão relacionada à identidade da escola do campo, evidenciamos a
problemática da formação docente na perspectiva do PNAIC, política de formação continuada
desenvolvida em todo território nacional, destinada também aos (as) professores(as) que
atuam nos anos iniciais nas escolas do campo, apesar de desse programa a realidade do campo
no desenvolvimento das suas ações formativas.
A educação do campo nasce e se fortalece no seio das lutas dos movimentos sociais
comprometida com um projeto contra-hegemônico de sociedade que denuncia o modelo
agrário brasileiro latifundiário, baseado na monocultura e voltado à exportação. A luta dos
movimentos sociais do campo compreende a terra como espaço de vida, de produção, de
61
Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba no curso de
doutorado. Formadora do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB). Integra o quadro de docentes da Secretaria da Educação do Município de João
Pessoa/PB.
62
Professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Doutorando em Educação pelo Programa de
Pós-Graduação (PPGE) dessa instituição.
cultura, anunciando uma nova forma de sociabilidade em que haja cooperação, solidariedade,
garantia de direitos e um modo diferente de se relacionar com a terra e com a natureza.
O conceito de território ultrapassa o significado geográfico, assumindo dimensões
sociais, econômicas, culturais, subjetivas, simbólicas, que contribuem para a construção de
uma identidade camponesa vinculada à terra. Sobre o conceito de camponês, ressalta Batista
(2007, p. 9):
A Educação do Campo nasce das experiências de luta pelo direito à educação e por um
projeto político pedagógico vinculado aos interesses da classe trabalhadora do campo,
contrapondo-se à concepção de educação rural, à ausência ou negação de política de educação
para os povos do campo. Constitui-se como paradigma na conjuntura de crise do latifúndio,
emergência do agronegócio e luta dos movimentos sociais pela terra e pela Reforma Agrária.
A Educação do Campo teve como ponto de partida o I Encontro Nacional de
Educadoras e Educadores da Reforma Agrária – I ENERA, em 1997, fortalecendo-se na I
Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, realizada em Luziânia, GO, no
ano de 1998, reafirmada nas lutas e em sua identidade nas diferentes ações, envolvendo,
progressivamente, um conjunto maior de organizações e entidades. Sobre o conceito em
questão, citamos o seguinte fragmento:
63
Parecer CNE/CEB no 1/2006 (BRASIL, 2006); o já mencionado Decreto no 7.352 (BRASIL, 2010); o
documento Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo, elaborado pelo Grupo Permanente
de Trabalho de Educação do Campo (GPREC) do Ministério da Educação (MEC) Grupo Permanente de
Trabalho de Educação do Campo (GPREC) (Cf. RAMOS; MOREIRA; SANTOS, 2004); Programa Nacional
de Educação na Reforma Agrária - PRONERA; Programa Saberes da Terra.
64
A Resolução no 9, de 16 de dezembro de 2016 (BRASIL, 2016), que estabelece os procedimentos para
transferência de recursos financeiros aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios e para o pagamento de
bolsas aos voluntários que atuem no Programa Brasil Alfabetizado a partir do ciclo 2016, prevê o número
mínimo de 7 alunos para abertura de turmas no campo, conferindo o pagamento de uma bolsa no valor de R$
400,00 (quatrocentos reais) mensais, considerando-se o caráter voluntário da ação alfabetizadora. As turmas
mais específicas no tocante aos critérios para abertura de turmas na zona rural. No entanto, o
caráter de voluntariado estabelecido na relação com os atores responsáveis diretamente pela
ação alfabetizadora (alfabetizador e alfabetizador-coordenador), como também o processo de
seleção destes atores, muitas vezes tutelado pela autoridades políticas locais e baseado na
política do favor, entre outras questões, expõem a fragilidade do programa no tocante à
eficiência em cumprir seu objetivo real que é reduzir os índices de analfabetismo da
população adulta. Salientamos ainda que as formações inicial e continuada oferecidas aos
alfabetizadores também não contemplam a realidade do campo, uma vez que que tendem a ser
ministradas de forma homogênea, sem considerar a demanda real do PBA que se localiza
predominantemente no campo (SANTOS, 2012).
A seguir, analisamos outra variável que expõe a situação de escolaridade (anos de
estudo) da população do campo. Tais dados, mesmo estando relacionados aos jovens e
adultos, implicam na educação das crianças das escolas do campo.
Figura 2: Anos de estudo da população de 15 anos ou mais segundo a localização do
domicílio – 2007
A Figura 2, por sua vez, apresenta a realidade brasileira com relação à média dos anos
de estudo da população brasileira. De forma geral, é possível concluir que a média de anos de
estudos em nosso país ainda está aquém do esperado. Se focamos nossa análise nas regiões
norte (4,7 anos de estudo) e nordeste (3,7 anos de estudo), no espaço rural temos dados que
refletem o atraso do poder público em pensar políticas efetivas em consonância com as
necessidades dos povos do campo como um projeto de nação.
Em uma perspectiva mais ampla, é possível afirmar que a luta de classes está muito
presente na constituição das relações sociais no campo, pois os burgueses, na perspectiva de
manterem sua hegemonia, dificultam a implementação de um projeto educacional que
desperte no indivíduo uma consciência crítica. Qualquer ação que venha na contraposição
dessa ordem hegemônica é marginalizada pela mídia e pelo ideário neoliberal. Como exemplo
atual, temos, na grande mídia, uma série de propagandas que visam instituir o agronegócio
como setor indispensável à economia nacional.
devem ser acompanhadas por um alfabetizador-coordenador responsável por acompanhar no mínimo 5 turmas
para fazer jus ao recebimento de uma bolsa no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais (Cf. Anexo I, p.
32-33 da referida Resolução).
Figura 4: Taxa de docentes SEM formação superior que atuam nos ANOS FINAIS do
ensino fundamental – Grandes Regiões - 2007
A formação docente vem sendo tema recorrente nos debates sobre a educação
nacional. O distanciamento entre os currículos desenvolvidos pelas agências formadoras e a
realidade encontrada pelos egressos, ao se depararem com a escola pública brasileira, é o
paradoxo que norteia as discussões. No presente artigo, estamos evidenciando a formação
continuada do professor que atua na educação do campo, a partir das ações formativas do
PNAIC.
É preciso retomar a compreensão sobre a especificidade da Educação do Campo, já
discutida no primeiro tópico do presente artigo, na relação com a realidade material que a
constitui historicamente e com a diversidade de seus sujeitos. O arcabouço legal, os
documentos normativos, os relatórios que sistematizam as práticas educativas dos
movimentos sociais que lutam por uma escola do campo no campo evidenciam a importância
de garantir a identidade dessa escola com as lutas dos movimentos sociais pela transformação
social.
É fundamental retomar esse aspecto, pois não é possível pensar sobre a educação do
campo e no campo sem pensar acerca da identidade do professor que atua nessas escolas. O
professor, nesse contexto, possui relevante papel, como profissional que irá colocar em prática
um projeto educacional que visa – para além da função social da escola, que é garantir os
conhecimentos acumulados pela sociedade ao desenvolvimento da crítica a uma versão
dominante da história, contada pelos mais fortes, pelos que detêm os meios de produção.
Defende-se a especificidade dessa formação como uma estratégia para a garantia do direito à
educação dos povos do campo.
No modelo capitalista em vigor, agravam-se os números de desemprego, de pobreza e
de exclusão social. Abre-se a livre concorrência que visa ao lucro acima de qualquer política
social; prega-se o individualismo, a competitividade, a produtividade e a eficácia. Nessa
perspectiva, exige-se da educação a sua adequação ao modelo econômico e, sob o discurso do
formação continuada, nesse modelo de gestão, é baseado na cultura das competências a serem
desenvolvidas/avaliadas, estando a serviço da demanda de mercado, desconsiderando as
questões da formação humana e/ou cidadã.
Ao se considerar a problemática em questão, o conceito de educação do campo está
hoje em disputa porque há uma diferença muito importante entre o momento histórico atual e
o momento em que a educação do campo foi instituída, entre lutar para que o rural voltasse à
agenda do país e o rural (via agronegócio) como pilar do modelo de desenvolvimento
econômico neoliberal assumido pelo Brasil (CALDART, 2009).
A autora supracitada apresenta três vertentes para melhor compreender a educação do
campo como fenômeno concreto. Temos afirmado que a educação do campo não se
compreende (ou não pode ser pensada) fora da tríade: campo, educação e políticas públicas.
Para Caldart (2009), a análise deve considerar que o Estado age por meio das políticas que
adota, com base no movimento da disputa em torno de projetos políticos que acontece na
sociedade, sendo território da luta entre as classes sociais em confronto e entre os interesses,
por vezes conflitantes, entre frações de uma mesma classe.
Nesse contexto, há a necessidade de se considerar a realidade dos sujeitos como ponto
de partida na construção dos currículos, como também de se considerar essa realidade no
processo formativo dos professores. Ademais, tornam-se imprescindíveis a confecção de
material didático em consonância com a realidade local; financiamento para a concretização
de ações e, finalmente, a formação de professores(as), condizente com certos desafios
inerentes ao magistério.
Percebemos que as políticas públicas que são implementadas ainda estão distantes das
condições reais de existência dos sujeitos. Essas são pensadas dentro de um modelo
homogêneo e linear e não conseguem abarcar as necessidades reais dos contextos político,
social e econômico do nosso país. As escolas do campo, como as escolas urbanas de periferia,
ainda vivem realidades de muita carência e abandono por parte do poder público.
Enfrentamos o desafio da falta de interesse dos gestores municipais em investir na
infraestrutura escolar e da falta de conhecimento e de aplicação das Diretrizes Operacionais
das escolas do campo, por parte dos gestores e educadores.
Ao analisarmos a trajetória das ações voltadas para escolarização das populações do
campo, evidencia-se que muito avançamos quanto ao campo normativo e legal; todavia,
precisamos trilhar caminhos de sucesso para a efetivação do direito a aprender, na qualidade
das ações oferecidas.
Ganham força as tentativas de esvaziamento das políticas públicas construídas com
intensa participação dos movimentos sociais e organizações sindicais do campo. No plano da
política educacional brasileira, em geral, reiteram-se reformas que pouco alteram nossa
herança histórica de atribuição de caráter secundário à educação como direito universal e com
igual qualidade, considerado desnecessário ao projeto de capitalismo dependente em curso.
As parcas ações que envolvem a formação continuada para os professores que atuam
nos Anos Inicias do Ensino Fundamental não garantem especificidades que constituem a
identidade da escola do campo e no campo. Faltam aos profissionais o conhecimento e o
engajamento com os princípios da Educação do Campo, como também é difícil encontrar
professores que sejam da própria localidade. As altas taxas de analfabetismo e poucos anos de
estudo das populações do campo traduzem a ausência de pessoas com a escolaridade exigida
para atuar na educação básica. É preciso quebrar esse ciclo de pobreza e desigualdade e
garantir uma educação que leve em consideração as realidades locais, do campo e no campo.
Referências
CALDART, Roseli. Educação do campo: notas para uma análise de percurso. Revista
Trabalho, Educação e Saúde, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fundação
Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 35-64, mar./jun. 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-
77462009000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 15 jan. 2017.
MUNARIM, Antônio et al. Notas para Análise do Momento Atual da Educação do Campo.
In: FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO DO CAMPO – FONEC, Seminário Nacional,
2012, Brasília. Anais... Brasília/São Paulo: GEPEC, 2012. Disponível em:
<http://www.educampoparaense.com.br/upload/arq_arquivo/2016/03/1354.pdf>. Acesso em:
15 jan. 2016.
RAMOS, Marise; MOREIRA, Telma; SANTOS, Clarice. Referências para uma política
nacional de educação do campo: caderno de subsídios. Brasília: Secretaria de Educação
média e Tecnológica/Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo, 2004.
Introdução
O trabalho a seguir desenvolvido tem como sua temática principal um dos eixos
educacionais que desde as últimas décadas vem ganhando acentuada relevância no contexto
político e educacional – a educação do campo.
Quando nos submetemos a falar da educação do campo somos direcionados
automaticamente no que se refere amplamente o conceito de educação, equivocadamente
pensamos que a educação se resume a escola, mas não, a educação vai muito além disso,
nessa perspectiva podemos seguir a linha de pensamento de Brandão (1985):
Segundo o autor, falar de educação é ser remetido ao fato de que ela é um bem comum
a todos, ou seja, está presente nas mais diversas situações de nosso cotidiano, seja em
qualquer lugar que fomos, salientando que ela pode acontecer de modo formal, informal e não
formal.
Incialmente destacaremos o que é educação formal, informal e não formal. A primeira
diz respeito a educação em locais institucionalizados, veemente a escola. A segunda refere-se
a educação que acontece em espaços como em casa (na família). Por último, a terceira trata da
educação que acontece, por exemplo, entre amigos.
Por muito tempo a escola era vista apenas como uma reprodutora de conhecimentos
pré-estabelecidos, ou seja, não havia o intuito de despertar a criticidade dos alunos. Se nas
escolas urbanas havia essa ideologia, nas escolas do campo não eram nada diferentes.
A visão de campo do que diz respeito à Educação do Campo está em construção. É um
dos desafios do debate político e teórico atualmente. Sendo assim, há questões que estão
incorporadas nessa visão, tais como: a educação do campo é incompatível com o modelo de
agricultura capitalista que combina hoje no Brasil, latifúndio e agronegócio; ela tem um
vínculo de origem com as lutas sociais camponesas; e defende a superação da contradição
aparente rural e urbana.
Para simplificar o que foi dito anteriormente, podemos destrinchar as questões
mencionadas. A primeira questão se refere ao fato de que por muito tempo a agricultura
(aspecto marcante da população do campo) era de subsistência, mas no atual momento que
vivemos a questão capitalista fala mais alto, deixando assim de lado questões de identidade da
comunidade rural. A segunda questão trata de mostrar que a educação do campo teve suas
origens nas lutas sociais camponesas tão fortemente destacadas na história do nosso país, que
por muito tempo sofreu duramente pressão por parte do governo e dos grandes proprietários
de terra. Já a terceira questão busca defender a superação entre a ―superioridade‖ urbana
quanto a rural. Podemos então analisar que a educação do campo é fruto da resistência de um
povo que não aceitou se calar perante as desigualdades oriundas da classe dominante do
Brasil. Mas, infelizmente passou a ser tratada como algo não muito relevante, ―a escola do
campo é tratada como um apêndice da escola urbana, precariamente estabelecida sobre bases
estranhas à sua síntese social, que é responsável por sua condição de existência‖ (MARTINS,
2004).
A educação do campo
Para falar da Educação do Campo é necessário inicialmente partir da questão legal que
assegura essa modalidade de ensino no Brasil:
Básica nas Escolas do Campo servem para mostrar que a escola do campo nasce e se
desenvolve no bojo do movimento da educação do campo a partir das experiências de
formação humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por
terra e educação.
Podemos então definir a educação do campo como:
Analisando bem o que Caldart (2004), é necessário que a Educação do Campo seja
significativa em relação aos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem,
tornando também significativa a Educação do Campo em sua própria essência, isso implica
dizer que a mesma deve possibilitar aos envolvidos pleno êxito em sua formação, sem
Quando a autora menciona essas três combinações de tarefas, somos remetidos a uma
valorização frequente da memória do povo do campo, sendo assim é um desafio na realidade
educativa do campo, ter como base a memória do povo do campo no processo de
escolarização, isso também implica dizer que se deve haver uma adequação aos objetivos e
métodos que se quer trabalhar com a comunidade. Vale salientar que a Educação do Campo
está atrelada aos Movimentos Sociais na disputa pela terra, como a própria autora diz:
Como educadores, sabemos que o primeiro grupo familiar que as crianças têm contato,
é a família, e é no seio da família que busca-se viver sem máscaras, num ambiente em que a
veracidade é uma peça fundamental para o convívio pleno. Vale ressaltar que a formação do
caráter das crianças se dá também através da imitação de atitudes advindas dos pais, e que o
lugar onde a criança está inserida também é forte influência para sua formação. Logo, as
crianças da cidade terão uma formação diferenciada em relação a formação das crianças do
campo.
Como o autor diz, os primeiros conhecimentos adquiridos pelas crianças estão ligados
ao seu habitat, isso implica dizer que antes de ingressar a escola, os alunos do campo já tem
um certo conhecimento prévio, sendo assim a educação que a eles será ofertada deve ser uma
educação que leve esses conhecimentos em consideração. A metodologia que será aplicada e
os conteúdos devem ser adequados ao meio. Para tanto deve ser levado em consideração o
espaço físico, espaço temporal, aspectos da comunidade, dentre outros, para que haja a
garantia de uma educação de qualidade.
Ainda levando em consideração o que Bezerra Neto (1999) traz em sua fala, é
necessário ter essa criticidade em relação ao que está e/ou será ensinado, como o autor fala
que a vida da criança do campo está ligado a roça, mas o que lhes é ensinado tem a ver com a
vida nos centros urbanos, é de extrema importância que isso seja quebrado, pois essa forma de
ensino descontextualizada pode simplesmente acarretar na formação de cidadãos incapazes de
analisar situações criticamente.
Quando se pensa em educação contextualizada é importante ter presente que uma das
primeiras preocupações do (a) professor (a) na sala de aula é conhecer os (a) estudantes, as
suas experiências, entendimentos sobre o mundo e as coisas no mundo. Seja qual for a classe
à qual pertençam ou o ambiente em que vivem, todos (as) chegam à escola trazendo um
mundo de informações que não pode ser desconsiderado na construção do processo de
ensino/aprendizagem. Cabe ao (à) professor (a) construir momentos na sua prática pedagógica
que favoreçam a expressão desse conhecimento prévio e partir dele organizando situações que
proporcionem um ambiente democrático onde todos ensinem e aprendam. Esses já seriam os
primeiros passos da contextualização.
A contextualização do ensino favorece aprendizagens significativas porque é um
processo facilitador da compreensão do sentido das coisas, dos fenômenos e da vida. Enfim;
contextualizar é problematizar o objeto em estudo a partir dos conteúdos dos componentes
curriculares fazendo a vinculação com a realidade situando-os no contexto e retornando com
um novo olhar. A contextualização da educação escolar é, assim, um processo dialético.
Um ponto bastante relevante é levar em consideração a contextualização dos
conteúdos, como destaca Almeida Filho (2007, p.39). Nesse sentido o autor adverte:
Toda vez que o professor for fazer a contextualização deve ter em mente que
ela é necessária para criar imagens do campo que ele irá explorar. É a
contextualização que deixa claro para o aluno que o saber é sempre mais
amplo, que o conteúdo é sempre mais complexo do que aquilo que está
sendo apresentado naquele momento. No entanto, sabendo da amplitude e da
Segundo o autor, o (a) professor (a) deve estar atento (a) e sempre pesquisando
buscando informações que complementem o assunto a ser trabalhado em sala de aula. Isso
ocorre cotidianamente na prática docente comprometida com a qualidade do ensino ainda que
nem todos os docentes tenham domínio do conhecimento teórico acumulado sobre esse
assunto e, certamente, por essa razão nem sempre o façam com tanta eficiência. Antes de se
tomar os fenômenos do contexto como objeto do ensino procedimentos prévios são
fundamentais para que se possa assegurar que os (as) estudantes tenham, efetivamente,
condições de apreender a realidade situando-se nela com capacidade de intervir.
Antes de entrar na sala de aula o (a) professor (a) enfrenta o desafio de transformar o
conhecimento científico (assim entendido, as informações do livro didático sobre um
determinado campo do conhecimento) em conteúdo possível de ser ensinado na sala de aula,
conforme o nível em que se encontram os (as) estudantes e os objetivos a serem alcançados,
ou seja, o professor (a) faz uma adequação do que será ensinado buscando que os objetivos
estabelecidos em seu planejamento possam ser alcançados e transformados em conhecimento
válido para os alunos, onde os mesmos possam ter autonomia para intervir no processo de
ensino e aprendizagem. Então quando a escola se propõe a promover educação
contextualizada deve arquitetar um ambiente no qual possa ter lugar um redimensionamento
de toda a prática pedagógica desde o tratamento dos conteúdos e a sua interação com a
realidade — com a cultura, com o ambiente, com outros saberes produzidos cotidianamente
fora do ambiente escolar.
Considerações finais
A Educação do Campo como vimos, por muito tempo foi tratada como algo não muito
representativo tendo em vista a educação brasileira ofertada nos grandes centros urbanos. Por
muito tempo esse conceito foi discutido e analisado, afim de que tal oferta seja eficaz.
Mesmo sendo uma modalidade assistida pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases),
infelizmente, a Educação do Campo ofertada, ainda nos dias atuais, é concebida fora de
contexto, pudemos então analisar que essa transposição de conhecimentos típicos dos centros
urbanos para a realidade das pessoas do campo é algo extremamente importante, uma vez que
a educação busca o pleno desenvolvimento crítico e uma boa formação de cidadãos.
Algo bastante discutido nesse trabalho é a realidade em que os moradores do campo
estão inseridos, pois uma educação que parte da realidade dos alunos do campo é uma forma
de conquistar os envolvidos.
Defendemos, assim, neste trabalho de pesquisa, a tese de que para o êxito ou fracasso
escolar nos cursos de formação oferecidos nos assentamentos rurais, áreas de quilombolas e
indígenas, devem ser levado em consideração, além do conhecimento escolar, fatores como a
mobilização familiar voltada para as atividades escolares dos filhos, a demanda escolar
relacionada à atividade profissional, o tipo de trajetória social e escolar, as estratégias de
investimento escolar utilizadas pela família, o capital social, o capital cultural, entre outros.
Vimos que, para isso, temos de nos informar porque não se trata de uma ação
espontânea, mas, de uma intencionalidade, o que implica qualificação para a Educação do
Campo que tem como horizonte a transformação da pessoa do campo. Não que,
ingenuamente, deleguemos à escola a responsabilidade pelas mudanças no sentido de
melhoria da qualidade de vida das pessoas, do ponto de vista material. Não é esse o papel da
escola, mas a escola pode colaborar qualificando os sujeitos para que, compreendendo
criticamente a realidade possam intervir sugerindo, propondo, negando, se for o caso, mas
com argumentos, com sabedoria.
Reconhecer o papel fundamental da educação numa sociedade cada vez mais
padronizada como a nossa, no qual, o contexto cultural é o da Globalização, é reconhecer que
a educação seja intercultural e que contribua para afirmar nossos valores culturais e, a partir
disso, possa dialogar e assimilar o conhecimento universal. Em outras palavras, o projeto
educativo que defendemos perpassa pela proposta da Educação do Campo, que é capaz de
formar integralmente o ser humano em toda a sua integridade, reconhecendo suas
singularidades, acreditando que esta educação ressignifica a vida, a cultura, o trabalho e a
dignidade de jovens trabalhadores (as) do campo.
Neste sentido, percebemos que os (as) jovens rurais hoje, possuem maior capacidade
de organização, por isso, é preciso estimulá-los à geração de capital social. No entanto, sabe-
se das suas dificuldades em ter acesso aos meios de produção, aos instrumentos necessários,
ao financiamento, realidade essa que pode ser superada através de ações que capacitem e
formem profissionalmente com ênfase no desenvolvimento local e na economia social,
agregando a juventude na participação sócio comunitária, pois o (a) jovem que estuda,
trabalha e participa de um grupo social, constrói um projeto de vida, no qual, se percebe
enquanto sujeito de direito e, sobretudo, um ator fundamental e estratégico para o seu
desenvolvimento e o desenvolvimento da sua comunidade.
Enfim, como informado na introdução, essas páginas representam lembretes,
advertências e esperamos que possam motivar a curiosidade colocando indagações, pois, são
elas que movem os sujeitos na busca de satisfação da curiosidade.
Referências
ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Transposição Didática: por onde começar. São Paulo:
Cortez, 2007.
BEZERRA NETO, Luiz. Avanços e retrocessos da Educação Rural no Brasil. 2003. Tese
(Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2003.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Abril Cultura; Brasiliense.
1985.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez,
2000.
Introdução
Maio
(20 horas Reuniões semanais para leituras e discussão de bibliografia pertinente ao
semanais) projeto
Dezembro
(20 horas
semanais) Avaliação e elaboração do relatório
1. 2.
1. Fachada da sede provisória sem a identificação do nome da escola.
2. Obra onde será a sede da escola que encontra-se inacabada desde dezembro de 2013.
´´A faixa etária é maior, mas tem alguns que tem muita dificuldade na leitura Tem uns que
não conhecem nem o alfabeto todo, pense... É um comportamento não muito bom, peguei
uma turma de peso, mas graças a Deus venho controlando na medida do possível Já
melhoraram muito no comportamento e ainda deixam muito a desejar vc vai ver E é pq houve
uma grande mudança Quando peguei a turma, só Jesus na causa Mas aos poucos tô
conseguindo, é difícil mas tão bem melhor.``
Águas em minha casa – na qual o público alvo foram os alunos do primeiro ao terceiro ano,
turno manhã. Objetivou-se a discussão sobre as maneiras que podemos preservar e evitar o
gasto desnecessário de águas. Foram sugeridas práticas que podemos reutilizar as águas em
casa e também na escola. Trazendo a discussão sobre de onde vem as águas que bebemos,
água potável, reservatórios de água potável da comunidade, águas contaminadas -
transmissoras de doenças.
Imagens - o público alvo foi a turma do primeiro ao terceiro ano, turno manhã. Tendo
como referência o reassentamento e ressignificação do lugar. Para desenvolver esta oficina,
foi sugerida que as cadeiras ficassem na posição de circulo. As imagens impressas em
colorido representavam espaços de vivências - parques infantis, campos de atuação, território
de produção de cultura e sociabilidades, rios, lagos, imagens de computadores em rede
mundial - a discussão leva em consideração a globalização e o avanço tecnológico, na qual a
escola do campo também pode ter acesso a informação, tecnologias que possam se ajustar a
seu modo de vida. A dinâmica foi a circulação de 25 imagens passando por cada aluno(a), na
qual, todos os alunos tiveram acesso e escolharam a imagens que mais lhes chamavam
atenção. A atividade foi de observar, falar e descrever o que a imagem representava para si.
As imagens que foram mais comentadas pelos alunos foram a da piscina, campo de futebol e a
escola com o parque. Também destacam-se duas figuras de computadores em rede. Nas
indagações sobre as imagens dos computadores - para que serve - o professor da turma lembra
que ´´tem alguns computadores encaixados por traz da porta da sala de aula`` explicando
maneiras de como se fazer uso de computadores nas atividades escolares. Os alunos citam
diversas atividades que podemos fazer com o computador ´´estudar, pesquisar, desenhar,
escrever``.
Horta escolar - o público alvo foi a turma do primeiro ao terceiro ano-turno manhã.
Devido a sede provisória da escola não oferecer espaço adequado para produzir uma pequena
horta, a sugestão foi trabalhar a oficina reajustando a temática para Horta em minha casa. O
objetivo foi sensibilizar os alunos para práticas ambientalmente sustentáveis e a sociabilidade
com as experiências de seus familiares de plantar legumes, verduras, temperos no quintal de
suas moradias – prática comum no lugar. Com o propósito de que o excedente de verduras e
temperos cultivados pode ser levado para a merenda escolar. No final da oficina foi sugerida
uma atividade para casa, na qual o aluno teria que observar e descrever quais cereais,
legumes, verduras e temperos são cultivados no quintal de sua moradia pelos seus familiares.
Horta escolar e Arborização65 - o público alvo foi a turma do quarto e quinto ano - turno da
tarde. Uma proposta pedagógica, educativa e escolar, onde o objetivo não é formar futuros
agricultores, e sim, conscientização para novas práticas sustentáveis. Em seguida, com
equipamentos de multimídia apresentamos o vídeo Educando com a Horta escolar.
Posteriormente, realizamos a discussão sobre a importância de plantar arvores, por oferecer
sobra e profícuo ambiente arborizado e ventilado. Foram entregues 21 mudas de Jambeiro. A
65
A escolha do Jambeiro se procedeu por ser de média estatura, de boa adaptação, por oferecer excelente sobra
com sua forma piramidal e por falta de arvores no reassentamento. Para produzir as mudas de Jambeiro, foi
efetuada a coleta dos frutos de três pés dentro da UFPB. Em seguida, houve a separação das sementes da polpa.
Com terra e adubo orgânico foi produzida uma sementeira. Após a germinação, cada planta foi inserida em
saquinho tornando-as prontas para o plantio. No total, foram produzidos 80 jambeiros.
sugestão de arborização foi de cada aluno e aluna fizesse sua escolha do local para plantar o a
muda de Jambeiro, dedicando-se aos cuidados e responsabilidades de regar todos os dias.
Excursão eco pedagógica (aula de campo) – Foi realizada no dia 30 de novembro para o
parque Arruda Câmara localizado em João Pessoa. Na chegada ao Parque fomos
recepcionados por a equipe de educação ambiental para as orientações necessárias no
percurso de trilhas, visitação aos locais dos animais e brincadeiras nos parques infantis. Por
fim, o percurso rápido pela praia de Cabo Branco, porém o ônibus não teve autorização da
secretaria de educação para estacionar próximo a praia ´´por ser o ônibus escolar``.
Possibilitando apenas a visão ampla da orla marítima.
Foi de suma importância manter o diálogo com toda a comunidade escolar. Ouvir as
indagações e respostas dos alunos nos assuntos abordados nas oficinas. O uso de
equipamentos de multimídia tornando a atividade pedagógica dinâmica para a concentração e
assimilação dos conteúdos da temática abordada. Após a entrega das mudas de Jambeiro
presenciamos dois alunos de maneira espontânea plantando no quintal de uma moradia. Vale
ressaltar o engajamento da comunidade escolar para a implementação do projeto. A
colaboração da secretaria de Educação e Cultura do município de Itatuba-PB em
disponibilizar o transporte escolar para a excursão; da participação dos professores da escola
das mães e de um pai acompanhando os alunos na excursão. Presenciar a alegria dos alunos e
alunas em conhecer o novo de maneira pedagógica.
Vale ressaltar que em outubro de 2016, foram instalados dois ventiladores de parede
em cada sala de aula na sede provisória da escola, na qual, caracteriza-se o reconhecimento
por parte de setores competentes da precariedade no estabelecimento de ensino. No dia
07/12/2016, foi enviado um Memorando para a secretaria de Educação e Cultura do
município solicitando as instalações dos computadores que se encontram encaixados na escola
e; da identificação da escola no reassentamento inserindo o nome da escola na parede externa
da sede provisória.
Por fim, a Educação ambiental crítica caracteriza-se por uma reafirmação de uma
Educação problematizadora, emancipatória e libertária (FREIRE, 1984), um ensino que se
abre para a comunidade com seus problemas sociais e ambientais, sendo estes conteúdos de
trabalho pedagógico na qual visa analisar os problemas socioambientais em sua raiz, livre de
análises reducionistas ou tendências predominantemente ideológicas do sistema dominante
como é o caso da Educação ambiental tradicional conservadora (DIAS e BOMFIM, 2007).
Romper com a ordem política, cultural, econômica dominante podem ser os primeiros
atributos de uma Educação ambiental crítica.
Podemos afirmar que o desafio de promover a Educação ambiental crítica está por não
ter uma prática visível consolidada, como acontece com a proposta conservadora. A EA-
Crítica ainda tem pouca projeção é pouco difundida em relação à educação ambiental
conservadora (DIAS e BOMFIM, 2007). Além do mais, o campo teórico da Educação
ambiental Crítica não é de fácil construção, necessitando de reflexões interdisciplinares, de
diferentes campos, de conhecimentos históricos, políticos, econômicos e sociais.
Referências
FREIRE Paulo. A educação como prática de liberdade. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1967.
Introdução
Por sua base na oralidade e sua maneira descontraída, a música serve de estímulo para
que os estudantes possam se expressar de modo divertido e, ao mesmo tempo, adquirirem
conhecimentos e valores. Em razão disso, os professores devem trabalhar em sala de aula com
temas abordados nos livros didáticos, mais precisamente nas Ciências Humanas e Sociais, de
maneira atraente e que, dialogados com a música, sirvam de momentos gratificantes e
harmonizadores para o ambiente escolar.
tradicional banda de pífanos que, mesmo sem utilizar o canto, expressa em cada nota as
peculiaridades dos alunos, alunas e de seus familiares que moram perto da escola.
A escola deve ser um local aberto às diversas propostas que surjam como um atrativo
que propicie uma nova metodologia de ensino. Entendemos que a escola e seus profissionais
prezando por essas metodologias que envolvam os alunos e deixando de se pautar apenas em
uma metodologia tradicional, despertam o olhar dos discentes para uma nova forma de
aprender. E foi pensando nisso e levando em consideração o contexto da escola que julgamos
essencial trabalhar com o recurso musical, um atrativo que os jovens contemporâneos não
abrem mão em seu dia-a-dia.
Logo, é necessário que pensemos uma escola mais dinâmica e que esta seja um local de
alegrias e aprendizados, como fundamentada nos ensinamentos de Freire (2000, p. 37):
Sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vive sisuda. A seriedade
não precisa ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e
convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque é séria, se dedique
ao ensino de forma não só competente, mas dedicada ao ensino e que seja
uma escola geradora de alegria. O que há de sério, até de penoso, de
trabalhoso, nos processos de ensinar e aprender, de conhecer, é não
transformar este ―que fazer‖ em algo triste. Pelo contrário, a alegria de
ensinar e aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas
constantes. Precisamos é remover os obstáculos que dificultam que a alegria
tome conta de nós e não aceitar que ensinar e aprender são práticas
necessariamente enfadonhas e tristes. É por isso que eu falava de que o
reparo das escolas, urgentemente feito, já será a forma de mudar um pouco a
cara da escola do ponto de vista também de sua alma.
Lamentavelmente essa escola que Paulo Freire vislumbrava ainda não é uma realidade
predominante em nosso país. De um modo geral, ainda predomina um modelo de escolas
tradicionais que se atêm apenas ao quadro e ao livro didático. Na contramão dessa
predominância, o modelo de escola do campo procura valorizar e reafirmar o seu
compromisso em dinamizar e construir caminhos mais lúdicos no que se refere aos recursos
didáticos para um despertar mais consciente, no que diz respeito à construção do
conhecimento com os demais sujeitos do campo. Nesse sentido, entendemos que a música é
um elo muito importante para que este interesse em aprender com prazer e alegria seja
efetivado neste novo modelo de educação.
As lições teóricas que tratam sobre o uso da música no ensino das Ciências Humanas e
Sociais orientam para o fato de que, antes de se levar uma música para a sala de aula, é
fundamental ter o conhecimento sobre ao que a mesma quer transmitir em sua letra. E foi
nesse sentido que passamos a pesquisar uma canção que tivesse relação com o tema do livro
didático que estava sendo trabalhado em sala de aula, qual seja: a importância de cuidar do
meio ambiente. Assim, terminamos por escolher a música ―Herdeiros do futuro‖, dos autores
Toquinho e Elifas Andreatto, cuja letra segue abaixo:
Notamos que a letra da música tem como proposta a valorização dos recursos naturais e
a importância de se preservar o meio ambiente. Portanto, uma música que retrata bem a
realidade das pessoas que vivem diretamente no campo, que cuidam da terra como um dos
bens mais preciosos que existem e que tem a natureza como sua maior riqueza.
A aula foi dialogada partir da música, slides, imagens e um texto com a letra da música
apresentada durante a aula. Para enriquecer a aula, sobre a importância do meio ambiente e
como devemos cuidar dele, foi levado a música ―Herdeiros do Futuro‖, que ao final, foi feita
uma discussão acerca da letra da música, a qual falava sobre os elementos vitais que
encontramos no meio ambiente e como podemos cuidar cada dia melhor, como deve-se evitar
os desmatamentos e cuidar do ar, já que necessitamos dele para sobrevivermos.
No primeiro momento da ação a aula foi dialogada e expositiva, com slides que traziam
informações sobre a temática abordada em sala de aula, no caso seria a importância da música
como instrumento didático no ensino Fundamental I, mais precisamente na turma do 6º ano.
Logo em seguida foi exibido um vídeo que tratava da importância de se preservar o
meio ambiente, sonorizado com a música ‖Herdeiros do Futuro‖, ao mesmo tempo em que foi
entregue uma cópia da letra da música a cada aluno, para quê, em seguida, todos pudessem
cantar acompanhando a música.
Após a exibição do vídeo foi feita uma roda de diálogo onde os alunos puderam abordar
o tema em pauta, com sugestões de como cuidar do meio ambiente e o que não se deve fazer
para não degradá-lo, onde foi instigada a opinião de cada um para que a preservação do meio
ambiente fosse cada vez mais ativa. Depois de um intenso diálogo, os alunos passaram a
realizar uma produção textual, relatando aquilo que mais lhes chamou a atenção na música
trabalhada.
Ao final foi feita uma dinâmica em que a turma foi dividida em duas equipes que
escolheram um ritmo musical e cantaram a música para todos da turma. A dinâmica retratava
o respeito que se deve ter por cada estilo musical se mostrando que todo ritmo tem seu valor,
com a participação inteira da turma, todos ganharam doces, como forma de que todos foram
vencedores, por reconhecerem que todos os estilos devem ser respeitados e pela participação
de cada um.
A música pode contribuir para que os alunos não percam suas raízes, culturas,
costumes e região aonde habitam. A título de exemplo, verificamos a ação desenvolvida na
Escola do Campo ―José Bonifácio‖, onde pudemos concluir que foi produtivo trabalhar a
linguagem musical com os estudantes, sobretudo por que escolhemos uma música que relata a
vivência das pessoas que vivem no campo, a valorização da terra, da água, enfim do meio
ambiente de maneira geral. Outra maneira atrativa é abordar o momento histórico em que
estamos vivenciando, assim também como se deve fazer ligações com momentos passados
trazendo uma discussão atuante para sala de aula. Portanto, a música serve como uma
ferramenta a mais nos meios de ensino.
Considerações finais
ensino e aprendizagem. Deve-se ressaltar que toda música deve trazer consigo um contexto
significativo para ser discutido em sala de aula. Sendo assim, fica cada vez mais comprovado
a importância de trazer novas metodologias de ensino para sala de aula, dentre outras áreas, as
das Ciências Humanas e Sociais.
Referências
GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. São Paulo: Summus,
1988.
http://www.overmundo.com.br/branco/a-musica-na-sala-de-aula-recurso-facilitador
WWW.portaleducao.com.br/pedagogia/artigos/2803/a-musica-na-sala-de-aula
https://www.escribo.com.br/5-motivos-para-inserir-musica-nas-escolas/
https://pibidhistoriauepb.wordpress.com/2012/12/27/artigo-cientifico-a-musica-como-
instrumento-didatico-novas-formas-de-ensino-aprendizagem-em-historia/
http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/os-recursos-naturais-na-voz-
toquinho.htm
Introdução
O trabalho ora proposto objetiva apresentar uma vivência de leitura com alunos (as) do
2º Ano do Ensino Médio em uma Escola do campo na região do Cariri paraibano, tendo como
fator motivacional a aprendizagem Matemática de maneira contextualizada e interdisciplinar.
Para tanto, foi preciso explorar atividades pedagógicas que estabeleciam conexões
matemáticas que implicavam em associar as ideias matemáticas com outras áreas do
conhecimento, em especial as de Linguagens. Alguns autores literários fizeram da mistura da
Matemática com a Literatura um ambiente lúdico para a aprendizagem matemática. Essas
obras literárias trabalham a linguagem matemática de uma forma muito agradável ao passo
que nos ensina com a leitura, jogos, brincadeiras, desafios, lógica, entre outras ferramentas.
É a partir dessas possibilidades de construção significativa dos conceitos matemáticos,
tendo por base a Leitura Literária, que o referido trabalho tem por objetivo relatar uma
vivência com a obra Poesia de Matemática, de Millôr Fernandes. A partir dessa vivência da
prática docente do PIBID Diversidade foi possível constatar que o ensino de Matemática
associado à Leitura Literária, permite ao professor criar, em sua prática, experiências de
ensino que motivem os educandos a compreenderem o que estão estudando, familiarizando-os
com a linguagem matemática contemplada em especial nos textos poéticos, possibilitando aos
jovens leitores a capacidade de estabelecer relações cognitivas entre a linguagem literária,
conceitos da vida real e a linguagem da matemática formal.
aspectos vão de encontro a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (9.394/96)
quando explica que, ―na oferta da educação básica para a comunidade rural, os sistemas de
ensino poderão adaptar conteúdos curriculares e metodologias aplicadas às reais necessidades
e interesses dos alunos do campo e às peculiaridades da região.‖
O acesso aos gêneros literários pelos estudantes da Educação Básica se dá, quase
sempre, através dos livros didáticos que são utilizados de um modo bastante pragmático. Por
outro lado, pesquisas realizadas em sala de aula revelam que crianças e jovens, quando
colocados diante da leitura literária de modo mais livre, em que podem pronunciar-se, revelar
seus sentimentos, suas intuições e compreensões sobre o texto lido o gosto pela leitura assume
alguns valores antes inimagináveis.
A teoria da Recepção é uma das correntes da crítica literária que tem embasado
inúmeras pesquisas que se voltam para a formação do leitor de literatura. Esta teoria assegura
que o texto só existe a partir da atuação do leitor, daí resulta a soberania do leitor na recepção
crítica da obra de arte literária. Com a mudança do foco de investigação para a recepção, o
fato literário passa a ser descrito a partir da história das sucessivas leituras por que passam as
obras, as quais se realizam de um modo diferenciado através dos tempos.
Trazida para sala de aula, esta concepção coloca em foco não o ensino de um saber
(historiográfico, estilístico), mas a possibilidade do confronto do leitor com o texto. Neste
sentido, pode-se aplicar ao ensino a importante reflexão de Jauss quando afirma a literatura (o
texto literário) ―[...] é, antes, como uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada
da leitura, liberando o texto da matéria das palavras e conferindo-lhe existência atual‖
(JAUSS, 1994, p. 25).
Dessa maneira, o professor possui uma grande tarefa quanto ao ensino de literatura,
pois é ele o responsável em obter noções que acabam por funcionarem como critérios para a
crítica e avaliação das obras, como também para a coordenação das ações de leitura e
interpretação ao nível do aluno. Segundo Petit (2008, p. 166), ―não é a biblioteca ou a escola
que desperta o gosto de ler, por aprender, imaginar, descobrir. É um professor, um
bibliotecário que, levado por sua paixão, a transmite através de uma relação individual‖.
Cabe destacar, que não é apenas para principiar a leitura, para legitimar ou manifestar um
desejo de ler, que o papel de um mediador aos livros se revela primordial, mas, sobretudo, no
acompanhamento do trajeto do leitor.
Aliada a essas considerações, os documentos oficiais como as Orientações
Curriculares para o Ensino Médio (2006) e os Referenciais Curriculares da Paraíba (2007)
privilegiam a leitura das obras e o debate, favorecendo a formação de leitores mais eficientes
e críticos. Nesse sentido, pensar a prática de ensino de literatura hoje pressupõe aliar uma
metodologia mais dialógica, ou seja, permitir ao leitor dialogar com o texto, com os colegas e
o professor sobre as questões suscitadas pelo texto.
É fato que um número considerável dos (as) alunos (as) revela apatia tanto pela leitura
quanto pela resolução de problemas matemáticos, por consequência, apresentam níveis de
proficiência insuficientes no tocante à leitura, interpretação e produção de textos, isso porque
não conseguem reconhecer a ideia principal de um texto, extrair informações que podiam ser
inferidas, estabelecer relações entre textos, efeitos de sentidos decorrentes do uso de uma
expressão ou da pontuação, ler gráficos, diagramas, dados estatísticos, nomenclaturas
matemáticas, entre outras operações.
Tal obra foi lida e apreciada em sala de aula pelos alunos, que se divertiram com a
construção poética feita a partir de vários conceitos matemáticos e com as ilustrações que
configuravam o livro. Os alunos ficaram admirados com a história de amor, ou mais
precisamente o triângulo amoroso entre a (Incógnita, o Quociente e o Máximo Divisor
Comum) contada em versos e, principalmente pela linguagem matemática usada nessa poesia.
Os alunos afirmaram, durante a discussão, que muitos desses conceitos não tinham
conhecimento, isso aponta para uma fragilidade no ensino da disciplina de Matemática, que
pode reverter em algo positivo como o despertar para o interesse em aprofundarem um pouco
mais nos estudos desta ciência. Para complementar tal vivência poética, foi exibida o vídeo em
animação do livro Poesia Matemática que também foi bem recepcionado por esses jovens
leitores dado seu caráter lúdico.
Além dessa experiência, elaboramos uma Coletânea Matemática, que integrava
poemas e canções que também foram trabalhados seguindo esse mesmo viés da linguagem
Matemática. Os alunos sentiam dificuldades para compreender os sentidos suscitados pelas
poesias, uma vez que exigia dos leitores uma capacidade em entender os conteúdos
matemáticos neles representados. Para minimizar tal dificuldade, tivemos que mediar e
contextualizar toda a trama poética explorando todos os elementos da linguagem matemática,
tais como expressões, fórmulas, conceitos, grandezas, enfim evidenciar como essa ciência se
faz presente em toda a parte.
Conclusões
Referências
COLOMER, T. Andar entre livros: a leitura literária na escola. Trad. Laura Sandroni. São
Paulo: Global, 2007.
LOBATO, Monteiro. Aritmética da Emília. São Paulo: Editora Globinho – Globo, 2009.
PETIT, Michèle. O papel do mediador. In: ______. Os jovens e a leitura. Trad. Celina Olga
de Souza. São Paulo: Ed. 34, 2008. p. 147-189.
SMULLYAN, Raymond M. Alice no país dos enigmas: incríveis problemas lógicos no país
das maravilhas; tradução Vera Ribeiro; revisão técnica Luiz Carlos Pereira. Rio de Janeiro:
Zahar, 2000.
TAHAN, Malba. O homem que calculava. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.
TEIXEIRA, Rafael Montoito (2007). Uma visita ao universo matemático de Lewis Carrol
e o (re)encontro com a sua lógica do nonsense. 2007. 190f. Dissertação (Mestrado em
Educação: educação matemática). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
Este artigo apresenta uma síntese de uma pesquisa realizada sobre a infância no
território de reforma agrária do MST. Vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFPB) intitulado Educação do Campo e a Infância
Camponesa: Múltiplos Olhares, referente ao Plano de Trabalho 2, Educação do Campo e a
Infância Camponesa no Assentamento Tiradentes – Mari/PB.
A investigação teve como objetivo geral o conhecimento e a análise de diferentes
olhares sobre as dimensões da vida das crianças do campo: sociais, lúdicas, as visões sobre
diferentes aspectos da vida com vistas a melhor compreender e orientar as ações pedagógicas
nas escolas do campo. Os objetivos específicos foram: identificar e problematizar as imagens
construídas pelos adultos, especificamente, os professores e pais com relação aos diferentes
significa dos de infância no campo; identificar a concepção e as proposições do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para a infância; destacar e problematizar as
imagens que as crianças têm sobre a infância no campo; identificar a visão das crianças sobre
o campo e a terra; identificar as brincadeiras, afazeres que as crianças vivenciam no cotidiano
no campo e na escola.
A pesquisa de natureza qualitativa, foi desenvolvida através de diferentes
procedimentos metodológicos: observação, oficinas envolvendo temas como brincadeiras
infantis, a vida no Assentamento, a escola. Nesse trabalho o nosso recorte apresenta no
primeiro momento uma contextualização sobre a Educação do Campo e depois o
Assentamento e a Escola como territórios do brincar da infância camponesa.
Os sujeitos da investigação empírica foram as crianças, os pais e duas professoras. As
crianças são estudantes de 4º e 5º ano, com idades variando de 09 a 12 anos, de duas escolas
em assentamentos do MST, Tiradentes e Zumbi dos Palmares, no município de Mari-Pb. As
crianças são estudantes do 4º e 5º Anos do Ensino Fundamental, com idades variando de 09 a
12 anos, de duas escolas em assentamentos do MST, quais sejam: Tiradentes e Zumbi dos
Palmares, no município de Mari-Pb. Foram entrevistadas duas professoras, um pai e duas
mães.
O Assentamento Tiradentes é formado por 160 famílias assentadas e mais 60
agregadas, o que resulta num total de 220 famílias que residem nessa comunidade. Localizado
no município de Mari com a área territorial de 154,822 km, compõe a Microrregião de Sapé.
67
Graduada em Pedagogia com área de aprofundamento em Educação do Campo pela Universidade Federal da
Paraíba. Estudante do curso de Especialização em Educação do Campo no Centro de Educação da Universidade
Federal da Paraíba. E-mail: clara.edcampo@gmail.com
68
Doutora em Sociologia. Professora Titular da Universidade Federal da Paraíba. Professora doutora do
Programa de Pós - graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, na linha de pesquisa
Educação Popular . E - mail : socorroxbatista@gmail.com .
Essa educação que confronta o modelo do capitalismo não deve ser aplicada de
qualquer maneira, é uma educação que tem identidade com o povo. A respeito disso, Caldart
(2002, p. 25 – 36) definiu sete traços da identidade da Educação do Campo, conforme o
quadro a seguir:
Arroyo (2004, p. 91 – 108) afirma que os movimentos sociais vêm trabalhando para
colocar o campo na agenda pública e buscando sempre um tratamento público do direito dos
povos do campo à educação, a consequência disso é: recuperar o atraso da herança ou como
um fardo recebido de um passado ainda não superado; um trato menos ―privado‖ do público,
a reprodução do uso provado do público é uma das determinantes mais perversas na
reprodução do atraso e da precarização da educação dita rural; Um equacionamento menos
mercantil, desatrelar a educação da pressão que o mercado faz por atrelar as suas demandas ao
próprio mercado; O campo é outro e está a exigir novas políticas; e política pública como
garantia de direitos.
Os movimentos sociais do campo, especialmente o MST, luta na busca de mudanças,
em que a vida, cultura, história e identidade dos povos do campo sejam valorizadas. Sendo o
MST um movimento do coletivo, ele é composto por mulheres, homens e crianças. Pois é
importante perceber que o Sem Terrinha de hoje será um Sem Terra de amanhã. Por isso, o
Movimento cuida para que o campo seja também um lugar das crianças. No capítulo a seguir
apresentaremos o assentamento e a escola como um território de brincadeiras na infância
campesina dos Sem Terrinhas.
A história da Escola Tiradentes está intimamente ligada à história da luta que deu
origem ao assentamento, pois, paralelamente à sua constituição, foi necessário criar uma
escola que atendesse aos filhos dos acampados. Nesse primeiro momento, a escola começou
utilizando o espaço de uma antiga fábrica de alimentos para, em seguida, passar para um
antigo galpão mais perto do acampamento. Posteriormente, passou a funcionar na casa da
antiga Fazenda Gendiroba. No entanto, ficou muito mais distante das residências dos alunos,
que tinham que percorrer um longo caminho até lá. Isso, aliado ao fato de uma infraestrutura
insatisfatória para o exercício da atividade escolar, acarretou inúmeras manifestações dos
assentados, liderados pelo MST, que reivindicavam melhorias na escola. E suas
reivindicações foram atendidas e saíram vitoriosos, desde do final 2012 o Assentamento
Tiradentes possui uma escola localizada dentro da agrovila e com uma das melhores
estruturas do amplo rural, considerada uma escola modelo do município de Mari.
Conforme a direção da escola a concepção de gestão adotada é a de democrático –
participativa. As famílias do assentamento sempre tiveram influência na escola e as decisões
dos pais são levadas em consideração, a diretora falou o exemplo de uma reivindicação das
famílias que haja a liberação dos estudantes e o término das aulas mais cedo quando ocorre
chuva, os pais definiram isso em reunião de pais e essa deliberação constou em ata. Tal
decisão se dá pela preocupação dos pais com o deslocamento das crianças durante a chuva e
em função das crianças participarem de atividades de plantação, recolher os animais e além
dessas questões. Também é motivo de preocupação dos pais que as crianças sofram acidentes
na escola, pois o pátio é da cerâmica e quando molhada as crianças escorregam e podem
sofrer acidentes. Assim, sempre que chove a merenda é realizada dentro da sala de aula e
depois as crianças são liberadas.
A escola conta como profissionais dezessete (17) professores, duas merendeiras, uma
auxiliar, um zelador, duas diretoras, um secretário. Quanto à infraestrutura a escola conta com
um poço artesiano e a água é distribuída por canos a todos os espaços necessários como
cozinha e banheiros e bebedouro. O prédio construído para a escola, em 2012 foi fruto de luta
organizada da comunidade desde o período do acampamento, quando ainda lutavam pela
terra. Diferente de muitos lugares no campo que as escolas funcionam em casas doadas, em
galpões e prédios improvisados. Os espaços existentes na escola são os seguintes: Cozinha,
sala da diretoria, sala dos professores, seis salas de aula, banheiros para os estudantes e para
profissionais da escola, pátio central, sala de informática e videoteca; Equipamentos
existentes são: Fogão, mimeógrafo, geladeira, TV, som, ventilador, DVD, projetor,
computador e ar condicionados. A merenda é ofertada regularmente, composta, em boa parte,
por alimentos produzidos dentro do próprio assentamento. Os Níveis de ensino são Infantil,
Fundamental I e II, formados por nove turmas, sendo que nenhuma são multisseriadas.
Os professores fazem os planejamentos das aulas em reunião com a direção e
supervisora escolar, juntos decidem os passos que vão seguir. Eles desenvolvem sequencias
didáticas baseadas em datas comemorativas.
Quanto ao Relacionamento Interpessoal percebemos em observação que a turma tinha
uma grande ligação, todos moram perto uns dos outros e cresceram juntos, o que facilita essa
interação e relação. Mesmo fora da escola eles brincam juntos. Quase todas as crianças
estudam desde Educação Infantil na escola, visto que é a única escola do assentamento,
A professora da turma investigada também é assentada e conhece todas as crianças
desde o nascimento. Ela tem uma relação amigável com os pais, avós, irmãos das crianças
aumentando o vínculo deles, além de que, ela foi diretora da escola por muitos anos e já tinha
um conhecimento de todos.
A Organização da Coletividade é muito grande, por terem já uma convivência do
passado as crianças trabalham todos coletivamente, inclusive existe um aluno que é portador
de necessidades especiais na sala de aula e ele se sente a vontade de ficar com a turma, pois os
outros o incluem/ajudam em todas as atividades.
Por meio das brincadeiras buscamos conhecer as vidas das crianças, visto que são nas
brincadeiras que elas podem expressar o seu mundo, saberes e vivências. Como Iza e Mello
(p. 288, 2009) afirmam:
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
CALDART, Roseli Salete. Por uma Educação do Campo: Traços de uma identidade em
construção. In: Educação do Campo: identidade e políticas públicas/ Edgar Jorge Kolling,
Paulo Ricardo Cerioli, osfs e Roseli Salete Caldart (organizadores).– Brasília, DF:
Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, 2002. Coleção Por uma
Educação Básica do Campo, n.º 4.
Introdução
17% cursavam o Ensino Médio regular. Entre os de 15 e 17 anos que estão fora da escola,
48,1% estudaram apenas do primeiro ao quinto Anos. Na faixa etária subseqüente (18 anos ou
mais), dos que estão fora da escola, 45% estudaram apenas da 1ª a 4ª série e, 14%
responderam que nunca frequentaram a escola. Dos que estão fora da escola nesta faixa etária,
a maioria é homem (55,3%), ao contrário do que se percebe entre os que estudam (51% são
mulheres).
Outra pesquisa por amostragem realizada pelo INCRA em 2010, sobre a qualidade de
vida, produção e renda do campo, especificamente nas áreas dos assentamentos da reforma
agrária, identificou que o Brasil tem 923.609 famílias vivendo em 8.763 assentamentos, numa
área de 75,8 milhões de hectares. Quanto ao indicador grau de escolaridade da população
assentada a pesquisa apontou que entre esta população somente 0,51% tem curso superior
completo, 0,77% tinham superior incompleto, 5,23% concluiu o Ensino Médio e 7,24%
incompleto. No Ensino Fundamental 26,97% da população cursou do 5º ao 9º e 42,88%
frequentaram do 1º ao 4º ano. O mais grave desse quadro é a persistência do índice de 16,%
de analfabetos. Os piores indicadores estão nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, seguido da
região Norte. No Nordeste, o índice de não alfabetizados é de 18,41%,no Centro-Oeste de
13,86% e no Norte é de 11,06%. Em todas as regiões do País, a metade da população, em
média, tem apenas 4 anos de escolaridade. Um quarto da população conclui o Ensino
Fundamental.
Diante da magnitude da questão educacional no campo destaca-se como essencial a
formação continuada dos educadores, como um importante aspecto para a melhoria da
educação e para a concretização da política de Educação do Campo, especialmente tomando
como ponto de partida o Ensino de Geografia transdisciplinar, capaz de comportar o debate
acerca da realidade dos Educandos e o reconhecimento e a valorização dos recursos locais,
conforme defendem os movimentos e reconhece o Decreto nº 7.352, de 4 de Nov. de 2010.
Assim como a política da Educação do Campo em seu ordenamento jurídico, o ensino
de geografia propõe a leitura de mundo como ponto de partida para a emancipação e
libertação dos sujeitos. De acordo com Moreira (2007, p. 105) ―A Geografia é uma forma de
leitura do mundo. A educação escolar é um processo no qual o professor e seu aluno se
relacionam com o mundo através das relações que travam entre si, na escola e nas idéias‖.
Em seu mais recente trabalho sobre os aspectos e o destino do pensamento geográfico,
Rui Moreira (2007, p. 105-118) dedica um capítulo do seu livro para refletir sobre o papel
desempenhado pela escola na produção e no fazer geográfico. Segundo este autor, outrora ter-
se-ia uma Geografia supostamente ―com forma e sem conteúdo‖, uma vez que cabia à mesma
apenas empregar princípios lógicos como localização, distribuição, distância, extensão, etc.;
como, segundo ele, há muito, esses princípios teriam sido abandonados, restou uma Geografia
―com conteúdo e sem forma‖, por essa razão, caberia um resgate do arcabouço teórico-
metodológico da Geografia nos ―ambientes que formam o mundo vivo da Geografia. E a
escola, sem dúvida é um deles‖ (MOREIRA, 2007, p.118). O autor propõe uma reflexão
crítica da escola para atender à tarefa maior que seria atualizar os princípios, categorias e
conceitos da Geografia moldados ao tempo presente.
Para tanto, torna-se essencial a formação continuada dos educadores como um
instrumento de apropriação dos conhecimentos acerca dos princípios políticos, sociais,
filosóficos e pedagógicos da Educação do campo que permitam a inserção nas escolas das
políticas e as práticas educativas desse paradigma de educação do campo nas escolas do meio
rural especialmente nas dos assentamentos rurais. Assim, os projetos realizados pretendem
contribuir para a formação continuada de professores de modo que atue na organização e
execução dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das escolas já mencionadas, através de
oficinas pedagógicas baseadas nos princípios da Educação do Campo e de propostas de novas
metodologias e linguagens no Ensino de Geografia, buscando inserir práticas pedagógicas
interdisciplinares, tendo como eixo curricular articulador do ensino, os temas geradores.
Os temas geradores, herdados da teoria educacional freireana, buscam extrair da
realidade dos sujeitos que vivencia a experiência educativa, questões, problemas elementos da
vida, da cultura e da produção, no caso desse projeto os camponeses assentados, para serem
discutidos, problematizados e estudados à luz da troca de conhecimentos da experiência e da
ciência, buscando construir sínteses que possibilitem um conhecimento sobre a realidade dos
assentamentos, da realidade local, nacional e global, vislumbrando uma perspectiva de
transformação social.
As lutas que os movimentos sociais vêm empreendendo como resultado das
contradições do modo capitalista de organização social, econômica e política, imposto pelos
colonizadores portugueses, vem assumindo diferentes formas de organização, plataformas e
estratégias de luta, como reflexo das contradições da luta de classes postas em diferentes
conjunturas da formação social brasileira.
Nos anos mais recentes os movimentos denunciam e disputam tanto acerca de
questões estruturais como o modelo de desenvolvimento do capitalismo globalizado
incluindo-se a crítica ecológica, as questões de etnia, geração, identidade cultural e
reconhecimento da diversidade cultural.
No contexto brasileiro das duas últimas décadas do século XX a partir das lutas sociais
são reconhecidos novos direitos e novos sujeitos de direito. Nessa perspectiva, a educação
passa a ser questionada pelos sujeitos organizados no campo, de modo a dar impulso à
construção de uma proposta que contribua com o projeto de sociedade e de campo brasileiro
que valorize a terra como instrumento de vida, de cultura, de produção, constituindo uma
identidade de campo e de camponês que se reflita na escola do campo incluindo no projeto
político da escola os sujeitos sociais a quem se destina, a saber: agricultores/as familiares,
assalariados/as, assentados/as, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas,
remanescentes de quilombos, enfim, todos os povos do campo brasileiro.
Nas lutas são definidas identidades e a identidade camponesa se dá na luta, na
conquista de território camponês e para firmar e reafirmar essas identidades as propostas
educacionais dos movimentos sociais que defendem uma Educação do Campo, como uma
proposta educativa que considera como matriz os interesses culturais, sociais e econômicos
dos sujeitos que habitam e trabalham nos campos do Brasil. Daí a proposição deste projeto
pautado na promoção do Ensino de Geografia interdisciplinar contextualizado com as
realidades dos sujeitos e de seus lugares de vivências.
A gênese da concepção de Educação do Campo remonta aos movimentos populares da
década de 1960, ente outros se destacando os Centros Populares de Cultura (CPC) e o
Movimento de Educação de Base (MEB), e nas experiências e reflexões dos movimentos nos
territórios de luta e de conquista, quando desde a itinerância dos acampamentos no calor da
luta o coletivo formado pelas as famílias vão construindo alternativas educacionais para seus
filhos como as escolas itinerantes, as escolas família agrícolas, as casas familiares rurais, os
coletivos de formação, fundamentadas numa pedagogia da indignação, da libertação, da
esperança de inspiração freireana vão construindo a identidade da educação do campo.
Proposições que vão se fortalecer nos encontros, seminários e conferencias que vem sendo
realizadas desde os anos de 1990.
Esses momentos foram impulsionadores do debate da Educação do Campo, que
assume um compromisso com a vida, com a luta e com os movimentos sociais que buscam
construir um país onde se possa viver com dignidade. Resgata o direito dos povos do campo à
educação básica, pública, ampla e de qualidade.
Na ótica dos movimentos a Educação torna-se fundamental para o entendimento e a
superação da exploração, da opressão, das injustiças e da exclusão da população que vive no
campo. Nesse sentido os fundamentos de uma proposta de educação precisam ser amplamente
difundidos e discutidos pelos professores e gestores que atuam em escolas, em particular no
campo, no sentido de compreender a problemática, contribuindo para repensar a prática
pedagógica que nelas se desenvolve.
No percurso do movimento Por uma Educação do Campo, várias foram as conquistas
do ponto de vista da inserção nas definições legais do ordenamento da educação, a exemplo
do Parecer CNE/CEB Nº: 36/2001; da Resolução CNE/CEB 1, de 3 de abril de 2002;
Referências para uma política nacional de educação do campo; Parecer CNE/CEB Nº:
23/2007; Resolução nº 2, de 28 de abril de 2008; Parecer CNE/CEB Nº:1/2006; Decreto nº
7.352, de 4/11/2010; Resolução CNE/CEB 4/2010, dentre outros.
Quanto aos avanços também ocorreram nas políticas ou programas de Educação do
Campo destacam-se o PRONERA – Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária;
Saberes da Terra; Procampo - Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em
Educação do Campo; Programa Nacional de Educação do Campo; PRONATEC CAMPO;
dentre outros. O Decreto n° 7.352/2010 garante o estatuto de política de Estado à Educação
do Campo. No Art. 1º afirma: ―A política de educação do campo destina-se à ampliação e
qualificação da oferta de educação básica e superior às populações do campo, e será
desenvolvida pela União em regime de colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação
e o disposto neste Decreto‖.
Ressalta-se também, no artigo 2º a definição dos princípios da educação do campo:
respeito à diversidade do campo em seus aspectos diversos; incentivo à formulação de
projetos político-pedagógicos específicos para as escolas do campo, estimulando o
desenvolvimento das unidades escolares; desenvolvimento de políticas de formação de
profissionais da educação; valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos
pedagógicos e controle social da qualidade da educação escolar. Pois se percebe as
proposições defendidas pelos movimentos sociais sendo contempladas na lei.
Não obstante todas essas definições legais e programas em execução desde 1998, com
a criação do PRONERA, as escolas do campo continuam, em sua grande maioria alheias a
essa perspectiva de educação e continuam vivenciando precárias condições de funcionamento.
Por isso, a discussão sobre Educação do Campo junto aos sujeitos que atuam na escola:
professores, supervisores, gestores, dentre outros, não pode ser adiada, se torna premente,
uma vez que é imprescindível que eles se apropriem dos fundamentos dessa perspectiva
educacional contribuindo que eles repensem a educação que se vem fazendo nessas escolas e
as práticas pedagógicas por eles desenvolvidas. Nesse caminho, a formação continuada
constitui-se como espaço privilegiado para difusão e reflexão de um ideário educativo.
A demanda de educadores com formação específica para atuar nas escolas do campo
ainda não foi atendida, pois existe um grande contingente desses profissionais atuando sem ter
a compreensão do novo sentido atribuído à Educação do Campo. Essa situação expressa um
processo de formação inicial que não contemplou a realidade do campo, sendo urgente
constituir espaços de caráter formativo no interior da escola, favorecendo aos professores a
oportunidades de conduzir a efetivação da Educação do Campo no dia-a-dia das escolas que
atuam.
Na formação de educadores do campo, seja inicial ou continuada, alguns temas devem
ser contemplados: Princípios Pedagógicos da Educação do Campo que são: a) o papel da
escola enquanto formadora de sujeitos articulada a um projeto de emancipação humana; b) a
valorização dos diferentes saberes no processo educativo; c) os espaços e tempos de formação
dos sujeitos da aprendizagem; d) o respeito à temporalidade do homem do campo; e) o lugar
da escola vinculado à realidade dos sujeitos, e por fim, f) a Educação do Campo como
estratégia para o desenvolvimento sustentável (MEC, 2004).
Uma reflexão sobre o currículo que discuta a diversidade do campo, currículo
contextualizado, a interdisciplinaridade. O currículo contextualizado, segundo Souza (2005, p.
98), ―[...] fundamenta-se na idéia de que só é possível dar mais sentido ao processo ensino
aprendizagem se construído considerando a historicidade dos sujeitos sociais, pautando-se na
complexidade de tais processos históricos‖. O currículo da Educação do Campo deve, pois,
ser contextualizado, de modo que o processo de ensino-aprendizagem aconteça num contexto
de significados, proporcionando assim, que os educandos associem o seu cotidiano às
discussões feitas em sala de aula. A discussão sobre currículo nessa perspectiva está
contemplada no Dossiê MST Escola: ―O currículo deve ser desenvolvido a partir da realidade
próxima das crianças e através das experiências práticas‖. (MST, 2005, p.52).
O currículo contextualizado respalda-se na crítica da realidade vivida por homens e
mulheres. É essa concepção que os movimentos sociais do campo têm ajudado a construir,
reforçando sua identidade com a terra, com a cultura, com um projeto de sociedade. Ele vem
sendo questionado pelas reflexões críticas sobre as concepções de currículo tradicionais que o
entendiam como um conhecimento neutro, posto que apoiado pela perspectiva positivista de
ciência e de educação que o representavam como um conjunto de conhecimentos que
deveriam ser transmitidos pelo professor e assimilados pelos estudantes numa simples
reprodução dos conhecimentos produzidos pelos cientistas ‗iluminados‘ que por serem
produzidos por processos metodológicos seguindo o rigor científico não podiam ser
questionados. Porém desde as perspectivas críticas e pós-críticas essa compreensão de
currículo vem se redefinindo. Sendo assim o currículo passa a ser entendido de forma mais
abrangente como salienta Sacristán (2000, p.15-16)
Portanto, o currículo não é neutro, nem é mediador de práticas educativas neutras, nem
tampouco um conjunto de conhecimentos neutros, mas veicula um conjunto de saberes que
orientam práticas que estão definidas por relações de poder, por posições políticas,
ideológicas e culturais hegemônicas, como evidencia Moreira (2001, p.5).
É nesta perspectiva que as escolas do campo, coadunadas com as preconizações dos
documentos que definem as políticas de Educação do Campo que indicam, especialmente no
Decreto 7.352/2010, Art. 2o que apresenta os princípios da educação do campo, no IV -
valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos pedagógicos com
conteúdos curriculares e metodologias adequadas às reais necessidades dos alunos do campo,
bem como flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às
fases do ciclo agrícola e às condições climáticas (grifo nosso).
A Educação do Campo quando é vinculada à realidade dos sujeitos está compatível com
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96), em seu artigo 28º, ao referir-se à escola
rural quando anuncia que os ―[...] sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias a
sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região‖ (BRASIL, 1996). A
perspectiva de vincular à Educação do Campo à realidade dos sujeitos que vivem e estudam
nesse espaço é, pois, reforçada pelas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo (CNE/CEB/, 2002), quando indica que a identidade da escola é definida
pela sua vinculação aos problemas inerentes à sua realidade, às temporalidades, aos saberes, à
memória coletiva, à ciência, à tecnologia e aos movimentos sociais.
Portanto, urge que as escolas do campo incluam nos projetos político-pedagógicos um
currículo um processo de construção do conhecimento que dialogue, problematize a realidade
sócio histórica do educando, de modo a incorporar nas aulas, nas atividades formas de
resgatar a cultura, os valores, a história, a memória e os saberes dos camponeses que os alunos
expressam na sala de aula, resultado da sua vivência como filhos de agricultores que habitam
e trabalham no campo.
Para que essa concepção de currículo se materialize o diálogo é o fundamento, o elo
que possibilita a mediação entre os diferentes saberes no processo de ensino e aprendizagem,
especialmente no tocante ao Ensino de Geografia como possibilidade de desenvolvimento e a
valorização dos distintos saberes dos sujeitos do campo, com uma educação que se realize no
campo e pelos seus sujeitos, pois possibilita que todos se sintam parte ativa do ato educativo.
Freire (2005, p.91) realça o diálogo como algo da essência humana.
Dentre esses saberes, destacamos os saberes relacionados à compreensão do espaço
geográfico, o objeto de estudo da geografia, a qual adotou inicialmente, a postura tradicional
ainda presente no ensino, na atualidade nas escolas, fato que culminou na crise vivenciada
pela Geografia Escolar, cujo viés tradicional tem como bases o Positivismo pautado numa
educação conteudística, de transmissão de conteúdos, também intitulada por Paulo Freire
(1995) como Educação Bancária, a qual se vê desprovida da multidimensionalidade que
caracteriza a educação e a formação humana.
Considerações
Referências
______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996: Nova LDB (lei nº 9394).
Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.
______. O campo como território de conflitos, de lutas sociais e movimentos populares. In:
CALDART, R. S.; ARROYO, Miguel Gonzalez; MOLINA, Mônica Castagna (Orgs.). Por
Uma Educação do Campo. Petrópolis: Vozes, 2005. v. 1.
FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e prática da libertação.3. ed. São Paulo: Moraes,
1980.
MARTINS, Dadá. Desvendando a paisagem. Discutindo Geografia. São Paulo, ano III, n.14,
pp. 56-58, São Paulo, s/d. Páginas consultadas <http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-
pedagogica/tem-muitas-historias-brasil telas-tarsila-424884.shtml> consultada em 2 de agosto
de 2009<http://www.culturabrasil.pro.br/portinari.htm> consultada em 2 de agosto de 2009.
SACRISTÁN, J.Cimeno. O currículo uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed,
2000.
Introdução
Nas reflexões de Jesus, é possível perceber que a falta de autonomia financeira para
materializar os cursos do Procampo, compromete o desenvolvimento das atividades
pedagógicas, bem como altera a estrutura de tais cursos que foram construídos pela força e
luta dos movimentos sociais para atender as demandas da Educação do Campo.
Para essa autora, a Educação do Campo é uma das estratégicas para ampliar a cons-
ciência e para reinventar o trabalho no campo,
Considerações finais
Durante o estudo foi possível evidenciar que o Procampo, embora se caracterize como
uma política pontual, contribui para o fortalecimento da formação do docente do campo, além
de dar visibilidade a formação deste profissional, visto que coloca-se como desafio ao
desenvolver a formação por área de conhecimento, em regime de alternância pedagógica, nas
escolas do campo.
Em relação ao Pronacampo constatou-se que foi através deste programa que o curso de
licenciatura em Educação do Campo foi institucionalizado tornando-os permanentes, visto
que esses cursos até o ano de 2012 funcionavam através de editais específicos nas instituições
ofertantes, fato que não assegurava a continuidade dos cursos os quais muitas vezes se
resumia apenas na materialização de uma turma única.
É importante ressaltar a importância desses programas ao trazerem a Licenciatura em
Educação do Campo com uma nova ideia de escola através do modelo de alternância. Esse
modelo de educação visa valorizar a cultura do campo, o cultivo da terra, a qualidade de
vida e o equilíbrio harmônico do ambiente com a vida do povo que vive no/do campo,
ao oportunizar aos estudantes a materialização de projetos que tratem de questões especificas
das suas comunidades, seja no contexto das escolas, seja no campo.
No tocante ao curso de licenciatura em Educação do Campo, se constitui em um
marco importante que contribui para repensar as escolas do campo, visto que as
especificidades que orientam a formação do educador por área do conhecimento auxiliam no
processo de reflexão e análise da organização do trabalho pedagógico e da gestão nas escolas
do campo.
Referências
JESUS, Sônia Meire Santos Azevedo de. Educação do campo nos governos FHC e Lula
da Silva: potencialidades e limites de acesso à educação no contexto do projeto neoliberal.
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 55, p. 167-186, jan./mar. 2015. Editora UFPR.pp-176-
186.
Introdução
Sabe-se que construir uma educação do campo significa pensar também numa escola
sustentada no enriquecimento das experiências de vida, da formação humana, nos processos
de produção da agricultura familiar camponesa, não em nome da permanência, nem da
redução destas experiências, mas em nome da reconstrução dos modos de vida, pautada na
ética da valorização humana bem como no respeito às diferenças.
Dessa forma, a escola do campo precisa ser capaz de ajudar na construção de um
―processo mais amplo de humanização, e de reafirmação dos povos do campo como sujeitos
de seu próprio destino, de sua própria história‖ (CALDART, 2000, p. 26). E para que esse
projeto aconteça assegurando os princípios da Educação do Campo, é preciso pensar também
na formação dos professores que atuam nesse contexto, visto que os dados do INEP (2011)
mostraram a precarização da formação desses professores, tais dados mostraram que pouco
mais de um terço (35%) dos professores que trabalham nas escolas rurais não tem formação
adequada para lecionar. Contudo, formar esse contingente de 118.736 profissionais é apenas
um dos desafios do Ministério da Educação, o qual lançou em 2012, o Programa Nacional de
Educação do Campo (Pronacampo)69 um programa de formação de professores que objetiva
atender as necessidades dessa formação, pois, além de promover a formação dos professores
do campo, investe também na compra de materiais didáticos específicos para o campo, de
automóveis para transporte, reforma de escolas, construção de novos espaços e compra de
equipamentos para atender as demandas do campo. No entanto, essa iniciativa é considerada
um passo importante, mas não suficiente para combater a precarização dessa formação tendo
em vista a complexidade do problema.
Na área rural, a quantidade de professores que possuem diploma de nível superior
corresponde a 43,8% do total (CENSO, 2010). É possível observar através desses dados é
possível observar a dimensão da precarização dessa formação e a evidente necessidade de
políticas públicas voltadas para formação dos professores que trabalham no campo, pois,
esses dados nos confirmam o tamanho descaso do governo para com a educação do campo,
bem como com a formação dos profissionais que materializam essa educação.
Dessa forma, defender a formação dos professores que estão no campo é uma das
prioridades dos Movimentos Sociais e o Pronacampo é uma das políticas que o governo
lançou para atender as reivindicações desses movimentos no âmbito da formação de
professores, que se constitui em uma das prioridades desse projeto.
O Programa de Apoio às Licenciaturas em Educação do Campo - PROCAMPO70 faz
parte do eixo 2 do subprograma do governo. É nesse eixo que se localiza a responsabilidade
do Estado em apoiar a implantação dos 42 novos cursos de Licenciatura em Educação do
Campo que estão sendo implantados/implementados nas universidades brasileira desde 2009
(MOLINA, 2014).
Esse programa foi criado pelo Ministério da Educação em 2009, visando apoiar a
implantação/implementação de cursos regulares de licenciatura em Educação do Campo nas
instituições públicas de ensino superior de todo o país, voltados especificamente para a
formação de educadores para a docência nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino
Médio nas escolas rurais.
É um programa que visa atender as necessidades postas pelos Movimentos Sociais e
Sindicais do Campo em relação aos sujeitos do campo prevendo a criação de condições
teóricas, metodológicas e práticas para que os educadores possam atuar na construção e
reflexão do projeto político-pedagógico das escolas do campo.
É um curso que se diferencia dos demais cursos regulares pela sua organização
curricular que é composta por etapas presenciais, equivalentes a semestres de cursos
regulares, em regime de alternância entre tempo-escola e tempo-comunidade, bem como a
69
O Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo) é uma ação do Governo Federal resultado da
mobilização dos movimentos sociais e sindicais do campo, com apoio do MEC. Oferece apoio técnico e suporte
financeiro para estados e municípios implementarem suas políticas de Educação do campo.
www. Contag. Org.br.
70
O Procampo tem a missão de promover a formação superior dos professores em exercício na rede pública das
escolas do campo e de educadores que atuam em experiências alternativas em educação do campo, por meio da
estratégia de formação por áreas de conhecimento, de modo a expandir a oferta de educação básica de qualidade
nas áreas rurais, sem que seja necessária a nucleação extracampo.
Entretanto, é preciso olhar esse processo de expansão das LEDOCS com muita
responsabilidade para que ela não aconteça de forma que possa subsumir os principais
critérios que as definem como projetos que visam atender os princípios das escolas do campo.
É preciso ficar atento ao processo de institucionalização das universidades (IESs) processo
que se fará presente no crescimento tanto da oferta dos cursos quanto das vagas para que esses
critérios não sejam desrespeitados.
É necessário defender a presença dos movimentos sociais e sindicais do campo nesses
cursos de graduações, essa presença poderá significar a ruptura do intenso processo de
mercantilização da produção do conhecimento que se faz presente na Educação Superior. Esse
vínculo direto dos camponeses nesses cursos de formação de professores, bem como a luta
desses pelo o acesso e permanência na terra e no território, a conquista das escolas neles
existentes é de fundamental importância nesse processo de expansão.
Considerando a conjuntura política e social que o pais está vivenciando, a
concretização da oferta desses cursos, bem como a conquista dos fundos públicos do Estado
para manutenção, extensão e permanência desses cursos representa uma vitória para os
Movimentos Sociais e sindicais, dentre esses o MST que, de acordo com Neto (2009)
E a expansão das LEDOCs está dentro desse processo, porém, é preciso se atentar aos
desafios que esta traz a manutenção dos princípios da memória da educação do campo para
que ao invés de potencializá-los, estes venham a regredi-los. É necessário ficar atento e
analisar a forma que está se consolidando essa concepção de Educação do Campo no âmbito
do Ensino Superior.
É preciso analisar como é que está acontecendo a estratégia de ingresso dos sujeitos
campesinos nessas turmas, se esse público está realmente adentrando e permanecendo nesses
cursos, como é que está sendo estruturado os vínculos desses cursos com as escolas do
campo, bem como a forma que está sendo colocada a concepção de alternância nessas
licenciaturas.
Pois, o sentido da LEDOC está posto no vinculo das lutas por outro modelo de campo
e de desenvolvimento, se apondo ao atual modelo de agronegócio em detrimento da
agricultura familiar. Uma educação para atender as especificidades do campo precisa ser
construída a parti das perspectivas da Educação do Campo, conforme afirma (CALDART,
2004, p. 18) tal educação ―é exatamente a de educar as pessoas que trabalham no campo, para
que se encontrem, se organizem e assumam a condição de sujeitos da direção de seu destino‖.
E é nessa licenciatura que está depositado a ideia de orientação para uma educação que
oriente os sujeitos do campo a superar os desafios postos por inúmeros fatores que tem
afetado esses povos a exemplo do agronegócio que através da implementação de suas
maquinas de alta tecnologias reduz a mão de obra do camponês, fator que pode leva-lo a
migrar de sua região para cidade e/ou para outra região.
É importante ressaltar que desde a realização da I Conferência Nacional por Uma
Educação Básica do Campo – CNEC, em 1998, que na pauta de reivindicações dos
Movimentos estava a exigência de uma Política Pública específica para dar suporte e garantir
a formação de educadores do campo. Somente na realização da II Conferência Nacional em
2004, foi que se consolidou esse processo como uma das prioridades requeridas pelo
Movimento Por Uma Educação do Campo, o Procampo se configurou em uma dessas
políticas.
Porém, inicialmente esses cursos foram apresentados através de editais onde as IESs,
concorriam a esses editais e implantavam uma turma em suas instituições sem garantia de
permanência, fato que negava a continuidade da formação para alguns sujeitos do campo, a
partir de suas especificidades e necessidades.
Diante desse contexto, os movimentos procuraram pressionar o governo a mudar a
situação de tais cursos, que estes passassem de temporários para permanentes, regularizando-
os como os demais cursos das universidades, assegurando aos sujeitos do campo o direito de
continuar seus estudos e permanecer no campo, visto que
com a realidade específica das populações do campo. Esta metodologia intenciona evitar que
o ingresso de jovens e adultos na Educação Superior reforce a alternativa de deixar de viver
no campo, bem como objetiva facilitar o acesso e a permanência no curso dos professores em
exercício nas Escolas do Campo (MOLINA; SÁ, 2011).
A matriz curricular proposta pelo curso desenvolve uma estratégia multidisciplinar de
trabalho docente, organizando os componentes curriculares a partir de quatro áreas do
conhecimento: Artes, Literatura e Linguagens; Ciências Humanas e Sociais; Ciências da
Natureza e Matemática e Ciências Agrárias.
Ao desenvolver os conteúdos dessas áreas os professores universitários precisam fazer
relação com as questões que envolvem cada área no campo, para que no tempo acadêmico
não se perca de vista o principal objetivo do curso que é atender as demandas do campo.
Outro fator importante a ser considerados durante o processo de implantação desse curso é
garantir a participação dos sujeitos do campo não somente nos cursos, mas também na
construção das políticas públicas que lhes são ofertadas se constitua na principal diferença na
concepção e elaboração de tais políticas.
Observa-se que durante a primeira década de sua história esse ato se tornou muito
forte para garanti esse princípio, porém ao longo dos anos tem-se percebido que essa
participação foi se perdendo. De acordo com Molina, essa participação tem
Esse processo formativo precisa ser desenvolvido não somente dentro do contexto
escolar, mas também fora dele juntamente com a comunidade que já detém seu conhecimento
o qual se agregará aos conhecimentos científicos transformando-os em novos conhecimentos
que sirvam como elementos que possam subsidiar a classe em suas lutas contra a
intensificação da lógica de acumulação do capital no meio rural, principalmente o
agronegócio que tem prejudicado o território camponês. De acordo com Jesus e Carvalho
(2015)
71
O agronegócio é um novo tipo de latifúndio e ainda mais amplo, agora não concentra e domina apenas a terra
mas também a tecnologia de produção e as políticas de desenvolvimento‖ (FERNADES; MOLINA, 2004, p. 41),
principalmente no meio rural.
domínio das técnicas, das bases científicas para pensar, quadros conceituais, os métodos de
trabalho, são alguns elementos que não podem faltar a uma formação profissional‖.
Considerações finais
Referências
JESUS, Sônia Meire S. Azevedo de; CARVALHO, Jailda E. Nascimento do. A formação de
professores na educação superior e o fechamento de escolas no campo sergipano. In:
Anais do XXIII Seminário Nacional da Rede Universitas/Br: políticas de educação superior
no Brasil: A expansão privado-mercantil em questão. Universidade Federal do Pará, Belém,
2015. p. 1235-1247.
campo da formação e do trabalho docente. (Org.) Leôncio Soares [et al.]. – Belo
Horizonte: Autêntica, 2010. pp. 407-525.
NETO, Luiz Bezerra. A educação rural no contexto do MST. In: Educação do campo:
recortes no tempo e no espaço. (Org.) Gilberto Luiz Alves. Campinas, SP: Autores
Associados, 2009.
Sites utilizados:
Introdução
Por mais seletiva e excludente que seja a universidade, ainda assim, em seu
interior, reaparecem divisões sociais, diferentes políticas e projetos culturais
distintos, ou seja, a universidade é uma instituição social e, nessa qualidade,
ela exprime em seu interior a realidade social das divisões, das diferenças e
dos conflitos.
72
Mestre em Educação pelo PPGE/UFPB (2011). Atualmente é Professora efetiva lotada no Curso de Pedagogia
da UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral, Floriano/PI.
INCRA, possibilitando que a UFPB começasse a desenvolver projetos pelo programa desde
1998.
Esses cursos tiveram início no estado, no período 1999/2001, com a realização do
Curso Normal em Nível Médio (Magistério), no Campus III da Universidade Federal, na
cidade de Bananeiras/PB (com a formação de 32 alunos), e do Curso de Alfabetização de
jovens e adultos (para 1.200 alunos), no Campus I, em João Pessoa.
A implantação e realização desses cursos no estado vêm traduzindo a luta dos
movimentos sociais do campo pela busca de caminhos próprios para uma educação
democrática e emancipatória ao conceberem uma inovação na perspectiva de educação e
escola que se inscrevem na construção de uma nova hegemonia pedagógica e social.
Médio, que já vinha sendo desenvolvida pela UFPB. Para a realização do curso houve a
mobilização inicial por parte da CPT, que através de seus dirigentes procurou firmar parceria
com a UFPB, através do Centro de Educação. Conforme relata a coordenadora do Curso de
Pedagogia, a professora Maria do Socorro Xavier Batista durante entrevista concedida (2011).
Adotando o regime de alternância, o Curso foi criado para a duração de quatro anos
letivos, com carga horária total de 3.210 (três mil) horas/aula, divididas em Tempo-Escola e
Tempo-Comunidade. Essa proposta pedagógica se baseia em dois tipos de atuação, em cada
disciplina: ―uma atuação intensiva, presencial e outra não presencial, sob a forma de trabalho
dirigido e executado na comunidade de origem das/os educandas/os. A parte intensiva se fará
de forma concentrada em uma semana de atividades, com um total de 80% das horas/aula‖
(UFPB, 2007). Os componentes curriculares presenciais são ministrados no Centro de
Educação da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. A prática das disciplinas e do
estágio supervisionado ocorre nos assentamentos, compreendendo o Tempo Comunidade.
obtendo êxito. A coordenação do MST na Paraíba propôs a criação de uma turma de História
na UFPB, recebendo um aceite de imediato por parte da direção do Departamento de História
do CCHLA/UFPB.
Não obstante, durante o processo de discussão e aprovação do Curso nas instâncias
deliberativas da Instituição, se evidenciaram as contradições de diferentes posições políticas
presentes no corpo docente, dificultando sua aprovação nas instâncias da Universidade, como
afirma o professor do Departamento e Coordenador do Curso, José Jonas Duarte da Costa, em
entrevista concedida durante a pesquisa (2010):
Uma experiência inédita, embora outros cursos desse tipo, em outras áreas
do conhecimento, estejam em vigência. Para a Universidade, representa um
desafio porque cobra reflexões e criatividade no sentido de novos formatos
curriculares, organização peculiar de conteúdos, novas práticas de ensino-
aprendizagem e sistema de avaliação também dotado de especificidades
(UFPB, 2004, PPP História).
A metodologia da Alternância fez com que o curso fosse marcado por temporalidades:
O Tempo Escola (TE) e o Tempo Comunidade (TC). O TE também era definido por tempos
que definiam a estrutura político pedagógica da turma sob a influencia da organização dos
movimentos sociais, especialmente do MST, trouxe a auto-organização dos estudantes em
equipes ou brigadas, como denomina o MST, que definiam tarefas de coordenação, de
organização de equipes de estudos, de atividades extraclasse, de lazer. Outro aspecto
importante que destaca a diferença dessa turma era a mística utilizada pelos alunos antes ou
durante as aulas.
Até o momento da pesquisa o Curso teve apenas uma turma com duração de quatro
anos, realizada no período de 2004 a 2008. A promoção desse Curso se deu pela
Superintendência Regional do INCRA na Paraíba através do PRONERA em parceira firmada
com a UFPB e a Via Campesina. O coordenador do curso, o professor Marcos Barros de
Medeiros (2011) relata em entrevista concedida (2011) que muitas das dificuldades se deram
na sua aprovação:
Para chegar até essas etapas eles (os projetos) sofreram incompreensões,
processos paravam, pareceres equivocados... As pessoas que estavam
fazendo a leitura não tinham uma idéia da vivência do que estava
acontecendo no curso e acabavam centralizando de uma forma muito seca,
nua e crua em cima do que estava ali escrito.
Outro contratempo encontrado que dificulta e atrasa a execução dos cursos foi o
repasse de recursos por parte do INCRA, como ressalta a coordenadora do Curso de
Pedagogia, Maria do Socorro Xavier Batista (2011):
convencional de ingresso que nós temos aqui... é um processo extremamente cruel contra os
pobres, contra os excluídos socialmente‖.
Os cursos forçaram a universidade repensar-se, a abrir-se para o povo, para responder
as necessidades das populações mais pobres do país, a dialogar com sujeitos desse processo
histórico.
presença dos alunos, pela discussão, pela problematização trazidas por eles.
Isso foi chamando a atenção de todos os professores que se envolveram com
o curso, porque a maioria deles também não tinha conhecimento da realidade
do campo, mas, a problematização trazida pelos alunos fez com que as
disciplinas deles também abordassem a realidade do campo.
Essa questão também foi abordada pelo Coordenador do curso de Ciências Agrárias
(2010) quando enfatiza que ―o PPP do curso se ajustou à turma, à medida que os próprios
professores começaram a ter os contatos com os alunos, os conteúdos começaram a ser
redefinidos, uma vez que o projeto pedagógico havia internalizado um projeto pré-existente e
que, portanto, ele era desvinculado desse tema‖.
No Curso de Ciências Agrárias foram os alunos e professores convidados ligados aos
movimentos sociais e à Educação do Campo que inseriram a essa perspectiva educacional
como enfatiza o Coordenador do Curso, Marcos Barros de Medeiros (2010):
A gente também não tinha nenhuma percepção do que era essa educação do
campo, com o advento do curso nós passamos a conviver com os professores
ligados ao campo da educação do campo através de encontros, através de
reuniões, seminários, congresso nacional, tivemos acesso a toda a leitura, a
todos os textos produzidos, e a gente comprou esse material, chegamos a
distribuir com todos os alunos da turma, os professores também tiveram
acesso a esse material, e passou a ter um pouco de diálogo sobre o tema.
Como sendo uma das formas de materializar a Educação do Campo, as propostas dos
Cursos alertam que a formação a ser promovida nessa base metodológica tem como
fundamento básico a perspectiva de poder construir uma prática de educação que se
comprometa socialmente com os trabalhadores dos assentamentos em áreas de reforma
agrária possibilitando-lhes construir, com autonomia, um novo tipo de experiência educativa e
consolidar a educação do campo.
Ela supõe um período de carga horária das disciplinas com atividades que
são realizadas nas comunidades, e isso é uma riqueza muito grande, porque
nós temos assistido o resultado dos trabalhos que os alunos desenvolvem na
comunidade, e isso tem apresentado uma diversidade de atividades que eles
vêm desenvolvendo na comunidade que mostra a dinâmica, mostra a
importância que esse curso tem para as comunidades de onde esses alunos
vêm.
Outro aspecto que merece ser destacado é o compromisso politico dos estudantes, eles
representam suas comunidades, na universidade eles representam um coletivo, pois eles são
indicados pelos movimentos e pela comunidade para participarem do curso. Esse
compromisso também se reflete nas atividades desenvolvidas nas áreas de assentamentos
rurais onde residem os estudantes durante o Tempo Comunidade, elas partiam de temas que
emergiam das suas realidades, de ―situações-problemas‖, como relata o coordenador do Curso
de Ciências Agrárias, Marcos Barros de Medeiros (2010):
Um desafio, que também pode se constituir como alternativa é a ideia que esse
conhecimento que os estudantes estão adquirindo no curso possam levar para os professores
nas escolas para ver se sensibilizam a todos a modificarem um pouco a sua concepção de
educação, dentro dessas escolas, e especialmente nas escolas dos assentamentos rurais.
A formação desse educador nessas experiências, assim como a economia camponesa e
seu modo de vida peculiar são interligados ao ambiente que os circunda, aponta para uma
concepção de escola que não é vista como uma entidade fechada em si mesma, alheia à
dinâmica social, mas inserida, marcada, fazendo parte, tendo sua função nessa dinâmica como
enfatiza Arroyo (2010, p. 14),
Uma das ênfases na formação será posta a partir de uma visão da escola e da
docência, contextualizadas a partir do estudo da dinâmica tensa e complexa
do contexto social do campo, das tensões econômicas, sociais, políticas,
culturais que marcam a escola e, sobretudo, dos seus sujeitos, mestres,
alunos, famílias, comunidades. Conhecer essas realidades, formar nas
capacidades, artes e sensibilidades sociais para conhecê-las, pesquisá-las,
teorizá-las, para nelas intervir, passa a ser central nos perfis de docentes-
educadores a serem formados.
Considerações
Referências
_______. Entrevista concedida à autora dessa pesquisa. João Pessoa, fevereiro de 2011.
COSTA, José Jonas Duarte da. Entrevista concedida à autora dessa pesquisa. João Pessoa,
PB, outubro de 2010.
MEDEIROS, Marcos Barros de. Entrevista concedida à autora dessa pesquisa. João
Pessoa, PB, outubro de 2010.
RIBEIRO, Simone da S.; BEGNAMI, João B.; BARBOSA, Willer A. (Orgs.). Escola
Família Agrícola: prazer em conhecer, alegria em conviver. Belo Horizonte: AMEFA;
Viçosa, MG: CTA/ZM; Anchieta: UNEFAB, 2002.
Introdução
73
Para Bardin (2011), a seleção do corpus sujeito à análise depende da aplicação coerente de um conjunto de
regras que possam garantir que não houve abandono de dados relevantes ao objeto, nem tampouco a inclusão
de material não pertinente à análise. A autora aponta ainda quatro possíveis regras de seleção, são elas: a) regra
da exaustividade, b) regra da representatividade, c) regra de homogeneidade e d) regra da pertinência.
Educação do Campo, Currículo e Avaliação nos textos das comunicações orais das
Reuniões da ANPED
GT 03 GT 04 GT 05 GT 12
ANO RA Tota Tota Tota
Usados Total Usados Usados Usados
l l l
2004 27ª 15 -- 14 02 22 01 12 --
2005 28ª 20 01 13 -- 15 01 18 02
2006 29ª 11 -- 13 -- 17 -- 10 01
2007 30ª 09 -- 16 01 24 -- 15 02
2008 31ª 12 02 18 01 16 -- 17 02
2009 32ª 07 01 12 -- 12 -- 18 01
2010 33ª 12 -- 13 -- 20 01 18 01
2011 34ª 17 03 13 -- 22 01 29 01
2012 35ª 15 02 21 01 19 02 15 --
2013 36ª 08 01 09 -- 17 01 18 02
Total 126 09 142 05 184 07 170 12
74
Diz respeito ao primeiro contato com os documentos a serem analisados, buscando estabelecer as primeiras
aproximações, bem como criar intimidade do pesquisador com o material.
75
Considera todos os elementos que estão agrupados em conjuntos de seleção, no caso deste levantamento,
considerar todos os textos da RA selecionada.
76
Compreende dados de uma amostra significativa para o objeto a ser analisado, bem como para o universo
inicial. Assim, correspondeu ao mapeamento dos descritores nos resumos dos textos selecionados.
77
Diz respeito aos documentos que contenham informações relevantes e imprescindíveis à análise. Para este
levantamento, esta fase correspondeu a leitura na íntegra dos trabalhos cujos resumos foram selecionados e, a
partir desta leitura, selecionou-se os textos que de fato atendiam aos objetivos da análise a qual nos
propusemos realizar.
A análise dos textos deste GT nos apontou que as temáticas de Currículo e Avaliação
não são diretamente contempladas, pois mesmo havendo textos que tratassem de
conhecimentos, de tempos pedagógicos ou de práticas docentes, não há objetos que tomem
essas temáticas como cerne. Nesse sentido, podemos afirmar que o GT 03 contempla
prioritariamente a temática Educação do Campo. Desta forma, a análise nos aponta os núcleos
de sentido que compõem esta temática, são eles: a) Práticas Educativas da Educação do
Campo; b) Trajetória Política de constituição do movimento social pela Educação do Campo;
e c) Disputas nos marcos legais para a Educação do Campo.
No primeiro núcleo estão localizados os trabalhos que tratam dos tempos e modos
pedagógicos da Educação do Campo, e ainda o trabalho que trata de conhecimento e prática
educativa. O segundo núcleo agrega a maioria dos trabalhos analisados, uma vez que 05 dos
09 trabalhos analisados apresentam a trajetória de constituição do Movimento Nacional pela
Educação do Campo. Por fim, o terceiro núcleo agrega os trabalhos que se dedicam a analisar
as disputas legalistas e judicialistas pela efetivação das políticas de Educação do Campo.
Ao analisarmos a adoção da abordagem teórico-metodológica nos textos,
identificamos que neste GT apenas dois trabalhos assinalam a adoção de uma abordagem
teórica. Um deles à abordagem das Representações Sociais e o outro a abordagem de Pesquisa
Qualitativa. Apesar de não se autodenominarem, é possível apontar que os demais trabalhos
possuem forte vinculação ao materialismo histórico-dialético, porém não cabe a nós fazer tal
classificação.
Por fim, observamos que as instituições as quais os trabalhos encontram-se vinculados
são em grande maioria universidades públicas. Dos 9 textos, 5 estão vinculados a
universidades situadas no sul, 2 em universidades nordestinas, 1 de uma universidade do
sudeste e 1 de uma universidade do norte do Brasil. Tal distribuição geográfica da produção
acadêmica pode dar indícios de uma concentração ou ainda de uma maior difusão das
pesquisas realizadas nesses territórios. Não podemos deixar de frisar que a ANPED se
constitui enquanto um locus de enunciação privilegiado, veiculando a produção acadêmica de
referência.
Passamos a análise do segundo GT 04 – Didática, onde foram mapeados 05 textos que
atenderam aos nossos objetivos, critérios, regras e descritores. Os textos se localizaram em 04
das 10 reuniões analisadas, esse destaque para a quantidade de reuniões nos oferece elementos
para refletir sobre a concentração das temáticas em cada reunião, bem como a ausência delas.
Seguindo a lógica proposta, o quadro que se segue apresenta o esboço inicial dos dados
mapeados no GT 04.
GT 12 – Currículo
RA Autor Título Inst. Abordagem
Proposta de voluntariado na escola: Teoria do
Rejane Klein UNISINOS
produção de saberes no currículo Discurso
28ª Tendências teórico-metodológicas
Ozerina
em estudos de política curricular: o UERJ Não informada
Oliveira
que dizem teses e dissertações
O valor da nota/conceito de
29ª Paulo Sgarbi participação: currículo avaliação na UERJ Não informada
brincadeira de ser Deus
Currículo único, transmissão de
Ciclo de
saberes universais e naturalização de
Ana Oliveira UERJ Políticas de
saberes acadêmicos: ―velhas‖
Ball
concepções nas políticas curriculares
30ª Ainda ―as partes da árvore‖: seleção,
organização e distribuição do
Geovana
conhecimento na sala de aula nas UDESC Não informada
Lunardi
séries iniciais do Ensino
Fundamental
Ciclo de
Múltiplas faces nas políticas
Idelzuíte Lima UFCG Políticas de
curriculares
Ball
31ª
Antônio
Epistemologia e currículo: ―novos
Chizzotti; PUC-SP Não informada
paradigmas‖
Branca Ponce
Currículo e hierarquia dos saberes
32ª Flávia Góes escolares; onde está a educação UFOP Não informada
física?
33ª José Backes; As epistemologias dos estudos UCDB Estudos
Diante destes dados podemos identificar que a produção acerca da temática Currículo
é bastante forte neste GT, obviamente, por se tratar do GT de Currículo. Nesse sentido,
observamos que a temática Educação do Campo não se configura como objeto de análise dos
trabalhos analisados, e a temática Avaliação é contemplada, mesmo que timidamente, mas
frisamos que sua aparição não se dá no sentido de composição independente, mas sim no
sentido de composição de núcleo de sentido para compreensão da temática currículo.
A composição dos núcleos de sentido da temática currículo se distribui da seguinte
forma: a) teoria curricular; b) conteúdos curriculares; c) política curricular; e d) currículo e
avaliação. O primeiro núcleo comporta os textos que se debruçam sobre a análise da
constituição e manifestações das teorias curriculares no âmbito das epistemologias. O
segundo núcleo aponta para os processos de seleção e distribuição de saberes no interior de
práticas curriculares. O terceiro núcleo irá nos apresentar o debate acerca das políticas
curriculares, seus processos de formulação, as suas tensões e contingências. Por fim, o quarto
núcleo é composto pela relação entre currículo e avaliação, tomando as discussões acerca da
seleção, validação e da qualidade veiculadas na avaliação e seus rebatimentos no currículo.
Quanto a adoção de uma abordagem teórico-metodológica observamos um movimento
diferente do que ocorreu nos outros GT, pois a quantidade de textos que não nomearam essa
vinculação é de apenas 05 trabalhos. Observamos a predominância do uso da Teoria do
Discurso na produção do conhecimento acerca do currículo, e ainda frisamos que em alguns
dos trabalhos que não fazem a afiliação por esta abordagem, adotam referenciais que nos
direcionam para essa opção. Da mesma forma, que os 02 trabalhos que afirmam adotar a
abordagem do Ciclo de políticas de Ball, também apontam elementos teóricos do uso da
Teoria do Discurso. Destacamos ainda a presença de 01 texto que se afilia a abordagem dos
Estudos Culturais.
Se observarmos a vinculação institucional dos pesquisadores nos trabalhos analisados
percebemos um predomínio já recorrente nas análises que é a vinculação às universidades
públicas, salvo as publicações vinculadas a UNISINOS, UDESC e UCDB, vinculadas a
universidades privadas. No caso do GT 12 outro aspecto nos chama atenção, que é a presença
substancial dos pesquisadores vinculados à UERJ, são um total de 05 dos 12 textos
analisados.
Podemos concluir que há um lugar de referência para a produção acadêmica sobre
currículo, se considerarmos a localização geográfica dessas instituições, obtemos a seguinte
02
01
02
01
05
02 01
06
03
04
05
01
A análise da vinculação institucional dos textos mapeados nos apontou dois dados
relevantes. Primeiro, a produção que circula na ANPED está vinculada majoritariamente a
universidades públicas, reiterando a tradição da trajetória de constituição da universidade no
Brasil, ou seja, arraigada no pilar da pesquisa, da produção de verdades. Obviamente, que essa
análise é bastante limitada para traçarmos considerações mais contundentes, entretanto, esses
dados podem nos suscitar esse encantamento.
O segundo dado refere-se à concentração territorial e geográfica dos lugares
institucionais aos quais se vinculam os textos em questão. Observamos que 75% da produção
analisada encontra-se vinculada as instituições situadas no sul e no sudeste do Brasil. Esse
dado poderia nos suscitar outro encantamento: será que somente se produz conhecimento nas
regiões sul e sudeste? Como essa hegemonia se sustenta em tantos setores, a exemplo da
exploração econômica, na supervalorização cultural? Como essa hegemonia se materializa em
na veiculação das pesquisas acadêmicas?
Por fim, concluindo o levantamento que nos propomos realizar, chegamos à descrição
das abordagens teórico-metodológicas presentes nos textos mapeados na ANPED. Para isso,
organizamos os dados da tipologia de abordagens no Gráfico que se segue.
Não Informada
3% 3%
6%
Pesquisa Qualitativa
12%
Etnografia
6%
61% Teoria do Discurso
9%
Ciclos de Política
Representações Sociais
Estudos Culturais
possam ser reestabelecidos os direitos às suas especificidades sem que isso descaracterize ou
homogeneíze suas diferenças.
Referências
ARROYO, Miguel. Gonzales. Outros Sujeitos, Outras Pedagogias. Petrópolis, RJ: Vozes,
2012.
Introdução
O artesanato desde os primórdios sempre esteve com o homem, e estava também nos
processos de desenvolvimento. Com o decorrer do tempo o artesanato ele se modificou e se
inovou, mas sempre carregando com si a história a e cultura de um povo que a tem como algo
simbólico. Acerca da história do artesanato, ele veio de um contexto em que,
[...] a palavra artesanato significa um fazer ou o objeto que tem por origem o
fazer ser eminentemente manual. Isto é, são as mãos que executam o
trabalho. São elas o principal, senão o único, instrumento que o homem
utiliza na confecção do objeto. O uso de ferramentas, inclusive máquinas,
contexto sócio econômico no Brasil. ―Dessa forma, o trabalho com a palha da carnaúba
consiste num saber, numa estratégia, de resistência frente às adversidades encontradas no
semi-árido nordestino, nosso campo de estudo‖. (QUEIROZ NETO, 2011, p.12).
Anteriormente nessa prática realizada havia uma integração dos familiares nesse
processo. Mesmo estando em profissões diferentes, os sujeitos estavam se sentiam marcados
por essa cultura e sempre quando podiam a praticavam, seja homem ou mulher, para eles seria
como uma forma de entretenimento com a família. Segundo Queiroz Neto (2011, p.53-54):
É inegável que a cultura está sempre em transformação como coisa viva que
é, mas, pode-se afirmar que o atual processo de produção se modifica,
gerando um grande dilema para o artesão: ele tem necessidade de modernizar
seu produto para sobreviver, mas, por outro lado, não pode perder seus traços
identitários [...]. (FERREIRA, 1995, p. 94-95) P.22
O local da produção é conhecido como galpão, chamado assim por ter muito espaço e
muitos cômodos. Como previsto, com um local apropriado a produção teve um grande
aumento, fornecendo agora a pintura de esteiras e tranças, materiais enviados direto para a
Petrobras.
A partir da parceria dos artesãos com a empresa de petróleo Brasileiro S.A (Petrobrás)
por meio da ACOMSEF, a produção extensiva deste produto aumentou, fortalecendo a
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
479
Considerações finais
Contudo, foi possível compreender a importância do artesanato desde sua origem até o
contemporâneo. Também a sua grande importância na cultura, pois o produto no artesanato
nasce primeiramente para atender a necessidade no dia a dia dos sujeitos, neste processo o
objeto é repensado e melhorado, e as técnicas são passadas de geração para geração.
Todas essas definições não são distantes da realidade da comunidade Palheiros 3, onde
os moradores desenvolveram o artesanato, através da palha da carnaúba. Neste processo os
sujeitos da comunidade se juntaram e fundaram a Associação Comunitária Seguindo em
Frente – ACOMSEF, desenvolvendo técnicas para conseguir ganhar renda com o artesanato.
Assim, vendo que o artesanato tem uma riqueza de conteúdos que são construídos no
decorrer da historia, e traz consigo o contexto das vivencias de uma determinada sociedade,
pode ser utilizado como metodologia pedagógica em sala de aula. Neste trabalho a educação é
de suma importância, pois busca relacionar o extrativismo da carnaúba como a prática
educativa. Diante dessa prática, a escola juntamente com o professor pode atender as
demandas da comunidade, possibilitando que os alunos conheçam o seu contexto e possam
inovar.
Referência
BARBOSA, Márcia Silvana Silveira. O papel da escola: Obstáculos e desafios para uma
educação transformadora, 2004, 234 p. (Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-
Graduação em Educação - FACED) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRS,
Porto Alegre.
LIMA, Ricardo Gomes. Artesanato e arte popular: duas faces de uma mesma moeda? Rio de
Janeiro: CNFCP, 2003. Disponível em:
<http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Artesanato/Artesanato_e_Arte_Pop/CNFCP_Artesanato_Arte_
Popular_Gomes_Lima.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2017.
Introdução
Este artigo procura mostrar a importância da escola como instituição social, onde a
complexidade de valores, conhecimentos e saberes são trabalhados para desenvolver no
educando uma consciência capaz de respeitar e valorizar suas raízes, vencendo dificuldades,
exclusão e preconceitos, enfrentamentos que vive e convive no seu dia a dia como sujeito do
campo.
Partindo do princípio que o homem do campo tem sua essência no espaço onde vive,
trabalha com sua família, estuda e luta por uma vida digna. É no diálogo entre a educação e a
cultura local que se vai construindo o conhecimento e a valorização do sujeito a partir da sua
vivência com o meio social e natural; pois para que exista uma educação do campo seus
sujeitos precisam viver da agricultura familiar, isto é uma educação do campo para o campo.
É dentro deste contexto que a educação do campo trabalha paradigmas capaz de superar o
modelo capitalista dominante.
A partir desse estudo surgiram questionamentos sobre a importância da cultura e do
tradicionalismo religioso na formação do caráter e da ideologia dominante na localidade e seu
entorno. De forma contextualizada valores, direitos e deveres são trabalhados na escola, mas é
no convívio familiar e comunitário que a criança absorve seus primeiros valores de respeito a
si mesmo e a sua realidade camponesa, tornando evidente a relação de poder que exerce a
cultura religiosa na educação e na identidade do seu povo.
Resultante das experiências dos mais velhos, esse tradicionalismo vem acrescentando,
se modificando e se consolidando na vivência entre as gerações passadas e presente, num
processo que vem se complementando com a formação do indivíduo que se identificam com o
campo e interagem entre si e com seu entorno.
Desenvolvimento
fé, mas consciente do valor de cada um, paradigmas que vão além das crenças, mas se
manifestam de forma real no espaço de vivência, refletida no comportamento e disciplina
escolar, gerando uma discussão sobre a importância dos valores cristãos na família e na
comunidade.
Considerações Finais
Referências
CALDART, Roseli Salete (orgs). Por uma Educação do Campo: Identidade e Politicas
Públicas. V.4. Brasília, 2002.
FONTOURA, Márcio Magalhães (orgs). Tarefas Atuais dab Educação. Rio de Janeiro:
Wak Editora, 2010.
SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 4ª ed. São Paulo: Editora Nobel, 1998.
Introdução
Educação Ambiental, o campo de definição é amplo e com concepções distintas. É diante dos
desafios que todo processo de mudança representa que a Educação Ambiental apresenta-se
como ferramenta de formação e conscientização.
Seguindo esta linha de raciocínio percebemos que a educação, seja ela em caráter
formal ou informal, sempre trará resultados significativos. Além disso, a Educação Ambiental
possibilita o envolvimento dos sujeitos em questões ambientais no sentido de diagnosticar e
propor soluções para minimizar os problemas dos mesmos. Com esse propósito a Educação
Ambiental sugere que cada vez mais sejam desenvolvidas ações e práticas educativas que de
fato valorizem a totalidade do conceito de meio ambiente. Em muitos casos compreendemos
meio ambiente como sendo uma representação da natureza, caracterizando o que Carvalho
denomina de ―Visão Naturalista‖.
Esta visão segundo a autora reduz o conceito de meio ambiente e é posta para a
população através das representações ofertadas pela mídia.
Frente a estas acepções percebemos que ao longo do tempo por mais que as definições
se mostrem distintas, todas acabam enfatizando o caráter da coletividade como elemento
fundamental na concretização dos valores propostos pela Educação Ambiental. As relações
humanas e interpessoais precisam estar fundamentadas no princípio do ser e não apenas do
ter. O modelo de desenvolvimento atual propõe um consumo desenfreado de bens materiais
que em muitos casos são logo descartados por que o mercado consumista já propôs algo ainda
mais moderno.
É indiscutível, no que se refere à Educação Ambiental, que um dos maiores desafios
enfrentados pelos defensores da causa é a própria conceituação do termo, que mesmo
possuindo ampla definição é posta em muitos casos de maneira reduzida, seja através da
mídia ou dos próprios conceitos adquiridos ao longo da vida escolar.
Tal redução interfere diretamente na forma como nos relacionamos com o meio
ambiente. Em muitos casos a natureza e tudo o que lhe cerca são vistos como fonte copiosa de
matéria prima a disposição do ser humano. Da mesma forma ocorre com os desastres
ambientais, que assustam a todos, mas não os mobilizam a pensar em desenvolver ações só
por que ocorreram em outro estado, país ou continente.
O processo de conscientização precisa estar atrelado na relação entre o ―eu‖ e o
―outro‖ em que se reconheça que o ser humano necessita do outro para que possa realmente
constituir-se humano. Porém, por vivermos em uma sociedade individualista, em muitos
casos, o outro é visto apenas como um concorrente e por isso precisa ser negado.
78
A definição dada aos sujeitos contribuintes da presente pesquisa não objetiva inferiorizar ou elevar qualquer
dos envolvidos. Para uma melhor identificação dos sujeitos que foram entrevistados em nossa pesquisa, optamos
por denominá-los como sendo do Campo ou da Cidade, tendo em vista a especificidade do universo empírico
deste trabalho. O diferencial de nossos estudos está justamente na comparação entre o modelo de Educação
Ambiental desenvolvido por uma escola do campo e outra da cidade.
Uma forma das pessoas construírem com atitudes práticas, meios que
permitam conservar o meio ambiente, melhorando a qualidade de vida das
gerações atuais e futuras. (Professora do Campo)
Ambiental. Uma educação que vai além das discussões sobre meio ambiente e desastres
ambientais, trata-se de uma educação que valorize a complexidade humana em suas mais
diversas questões, sociais, afetivas, econômicas, de relações, gêneros e diversidades.
Uma educação que efetivamente ofereça subsídios reais para uma formação humana e
social. A participação da família, bem como o envolvimento de toda comunidade escolar, no
processo de desenvolvimento das discussões e trabalho com a Educação Ambiental é
fundamental. A parceria com outras instituições para o desenvolvimento de palestras e
debates é posto pela professora do campo como desafio em sua prática e, ao mesmo instante,
servem de sugestões para o fortalecimento desta prática.
Em síntese, os desafios propostos pelas entrevistadas são diversos e distintos. Inquieta-
nos saber por que a professora do campo apresentou bem mais desafios que a professora da
cidade. Teria a escola do campo um tratamento diferenciado das demais escolas por parte da
Secretaria de Educação? Não é nossa intenção adentrar nestas questões, porém vale lembrar
que ambas as escolas estão localizadas em um mesmo município e recebem apoio e
orientação de uma mesma secretaria para o desenvolvimento de suas ações.
As professoras encerraram suas falas apresentando o que esperam da Educação
Ambiental e quais as contribuições que esta traz ao contexto escolar.
visão reducionista do que de fato vem a ser Educação Ambiental. É fato e deve ser
considerado que falar em Educação Ambiental logo nos remete à ideia de meio ambiente, com
árvores e seres vivos, uma fonte de matéria prima que deve ser usada pelo ser humano para
atender suas necessidades de forma planejada e consciente para que nunca venha a faltar. No
entanto, aí está a questão. Proporcionar uma verdadeira Educação Ambiental é romper com
estes paradigmas e visões pré-estabelecidas e naturalistas.
Os alunos foram questionados com questões que objetivavam descobrir como a escola
tem trabalhado a Educação Ambiental. Para o aluno da cidade este trabalho vem acontecendo
a partir da utilização de diversos recursos metodológicos, ―com vídeos, trabalhos, palestras e
plantação de horta na escola.‖ (Aluno da Cidade).
Assim como descreveu a professora e a própria gestão da escola, as estratégias de
ensino têm sido diversas. Neste caso da fala do aluno da cidade, cabe destacar a construção da
horta na escola. Advinda dos recursos do Programa Mais Educação, desenvolvido na escola
há dois anos, este foi um dos momentos descritos pelo aluno que ele considera ter visto um
pouco mais sobre Educação Ambiental.
O aluno do campo descreveu que a escola tem trabalhado a Educação Ambiental,
[...] de forma frequente, mas ainda não é uma matéria fixa da escola, nós
estudamos mais nas datas comemorativas como dia do meio ambiente, dia da
árvore, algo que aborde o tema como a composição do lixo, degradação do
solo e etc. (Aluno do Campo).
Mais uma vez a ideia de ter a Educação Ambiental como disciplina fixa da escola é
posta pelo aluno do campo. Frente à necessidade de conscientização que vivemos é pouco
reduzir os conteúdos e discussões sobre Educação Ambiental apenas a datas comemorativas.
A transversalidade em Educação Ambiental, proclamada em diversos espaços, vai muito além
de pinturas e apresentações durantes a festividade da escola.
A proposta da Educação Ambiental sugerida pelos programas de incentivo, políticas
públicas e os PCNs é bem clara: desenvolver ações que favoreçam o verdadeiro significado
dos preceitos que regem a Educação Ambiental. Na busca pela compreensão de seu real
significado, serão aguçados valores humanos que favoreçam uma melhor relação entre todos
os seres, bem como o convívio social e natural.
Os alunos entrevistados informaram os principais assuntos já estudados e que fazem
referência à Educação Ambiental:
Considerações Finais
direito de todos e está assegurado por lei. Assim é tarefa da escola desenvolver ações, através
de projetos ou disciplinas específicas que valorizem o desenvolvimento desta consciência.
Percebemos que toda ação, por menor que seja, é significativa. As breves discussões
aqui postas buscam afirmar que, a partir do que temos e com o compromisso de inovar
adotando estratégias eficazes, o trabalho com a Educação Ambiental é possível. Ao articular
ações, discussões, sujeitos, comunidade, governantes e demais instâncias, é possível o
desenvolvimento e a formação ecológica. As ideias, muitas vezes, por se mostrarem
aparentemente irrealizáveis têm uma dimensão de utopia que levam as pessoas a se
empenharem nelas tornando possível a sua prática.
Referências
Introdução
A educação está presente onde não há a escola e por toda parte pode haver
transferências de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer
criado um modelo de ensino formal e centralizado. Na espécie humana a
educação não continua apenas o trabalho da vida. Ela se instala dentro de um
domínio de trocas de símbolos, intenções, padrões de cultura e de relações
de poder.
assessoria direta dos(as) camponeses(as) para com outros camponeses(as), no qual aprendem
uns com os outros e trocam conhecimentos sobre técnicas, práticas e organização da produção
entre eles/elas e usam a estrutura de camponeses(as) promotores(as), possibilitando encontrar
soluções para problemas locais comuns e trazendo inovações locais: técnicas e tecnologias
que são adaptadas à realidade e às necessidades da comunidade. Nesse contexto se enquadra
um pouco da educação não formal empregada, por algumas ONGs e organizações ligadas à
luta da terra (SOFALA, 2007).
Como prova da demanda por extensão rural, foi demonstrada em uma pesquisa
realizada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) encomendada ao Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) em setembro de 2009 mostrou dados
alarmantes como das 1000 famílias entrevistadas em todo o Brasil, 37% responderam não
produzem nada; quase 11% produzem, mas não o suficiente para a família; 24,6% só
produzem o necessário para sobreviver e 27% tiram algum lucro da terra; 83% dos assentados
não têm formação técnica; só 9% têm trator, a maioria ainda usa ferramentas como foice,
enxada, carro de boi; 75% não têm crédito rural do Programa de Assistência à Agricultura
Familiar - PRONAF; e 46% das propriedades não estão mais na mão de quem recebeu a terra
do governo e são irregulares, sendo isso um efeito de anos de esquecimento da extensão rural
no país e ao mau emprego do dinheiro público (SENAR, 2009).
Por outro lado, no Censo Agropecuário de 2006 realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de
agricultores familiares, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este
contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões de hectares, ou
seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Estes
resultados mostram uma estrutura agrária concentrada no país: os estabelecimentos não
familiares, apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da
área ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37ha, e a dos não
familiares, de 309,18ha (IBGE, 2009).
A Região Nordeste contém metade do total dos estabelecimentos familiares
(2.187.295) e 35,3% da sua área total. Nela, os estabelecimentos familiares representaram
89% do total dos estabelecimentos e 37% da área total (IBGE, 2009).
O Censo de 2006 ainda apresenta a utilização das terras dos estabelecimentos, segundo
a classificação das agriculturas. Dos 80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45%
eram destinados a pastagens, enquanto que a área com matas, florestas ou sistemas agro-
florestais ocupava 24% das áreas e as lavouras, que ocupavam 22%. A agricultura não
familiar também seguia esta ordem, mas a participação de pastagens e matas e/ou florestas era
um pouco maior (49% e 28% respectivamente), enquanto que a área para lavouras era menor
(17%). Destaca-se a participação 10% em média da área das matas destinadas à preservação
permanente ou reserva legal nos estabelecimentos familiares, e de outros 13% de áreas
utilizadas com matas e/ou florestas naturais. Apesar de cultivar uma área menor com lavouras
e pastagens (17,7 e 36,4 milhões de hectares, respectivamente), a agricultura familiar é
responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do país, como importante
fornecedora de alimentos para o mercado interno.
A floricultura comercial começou no Brasil nos anos de 30 do século XX e em
Pernambuco nos anos 60 do século XX. Já a floricultura tropical iniciou em 1993 e houve
expansão até 2008 quando, pela indisposição dos produtores pernambucanos quanto a
associativismo e cooperativismo, além da crise econômica mundial que se acometeu no
mesmo ano, fazendo que outros estados nordestinos produtores de flores buscassem esse
nicho de mercado, que de certo modo Pernambuco se encontra enfraquecidos, apesar do
grande crescimento nos anos de 1990 e 2000, com patamares antes vistos em torno de 40% de
crescimento ao ano (ISHIGURO, 2011).
Metodologia
Após a consolidação dos movimentos de luta da terra nos anos de 1990, Pernambuco
acometeu de diversas ocupações a fim de minimizar a primazia da monocultura das usinas e
propriedades produtoras de cana de açúcar (ANDRADE, 2005), sendo que o direito da terra
chegou à zona da mata sul, mais especificamente nas terras da antiga usina Esteliana, no ano
de 1993, mais precisamente no município de Ribeirão, no engenho Águas Claras, e outros
integrantes do MST e da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras
Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE) demarcaram as terras para a ocupação e
começaram ali a desenvolver suas atividades agrícolas (BRASILEIRO, 2012).
O assentamento Águas Claras está localizada no município de Ribeirão, trata-se uma
área de 150ha dividida da seguinte forma: área comunitária 5ha, estradas 1ha e área de lotes
143ha, divididos entre 30 famílias, perfazendo uma média de 5ha por lote de acordo com a
estrutura topográfica da localidade. O assentamento Águas Claras também possui maior parte
do seu território coberto com monocultivo da cana. As áreas de sistemas agroecológicos estão
concentradas na sua porção oeste, onde o relevo é mais movimentado devido à presença dos
primeiros degraus do Planalto da Borborema (BRASILEIRO, 2012).
Com a desapropriação do engenho Águas Claras em 1993 para projeto de reforma
agrária a família que participa como sujeitos da pesquisa neste estudo de caso ocupou um lote
no qual hoje em dia mora, tendo conquistado a terra, mas não o financiamento para plantar
continuou a trabalhar para as usinas até obter recursos para investir em sua propriedade.
Somente, no ano de 2000 com a chegada do Curso do PRONERA, que trouxe a
proposta de alfabetização com qualificação profissional, foi que se deu o primeiro contato
com o Centro Sabiá, que apresentou uma proposta produtiva diferente da convencional. Uma
proposta de produção diversificada com o nome de Sistema Agroflorestal. A partir então,
iniciou-se a agrofloresta no assentamento Águas Claras no município de Ribeirão.
Nesta área a forma de manejo é diferenciada, bem como, a diversificação das espécies
plantadas, além da cobertura morta para proteção e, ao mesmo tempo reposição dos nutrientes
ao solo. É interessante observar nas fotografias que serão apresentadas no apêndice A que a
propriedade do agricultor tem seus limites com um lote cultivado com monocultivo de cana-
de-açúcar.
A propriedade ―Sítio das Flores‖ trabalha com a ideia de agricultor experimentador, no
qual além de praticar os princípios agroecológicos, também ensina aos interessados suas
experiências empíricas, sendo de grande importância para manutenção do meio ambiente e,
sobretudo a soberania e alimentar de sua família, além de uma fonte de renda para
manutenção da área.
Resultados e discussões
Outro dado importante fornecido foi que a ONG só tem conhecimento da propriedade
de Sr. Pedro que produz flores tropicais em todos os locais assistidos pelo SABIÁ, mostrando
ainda mais a importância da propriedade e da experiência, além de ser o estudo de caso
fundamental com uma das premissas metodológica do presente estudo. Segundo Ishiguro
(2011) reforça essa possibilidade plausível de atrelar a produção de flores tropicais com o
consorciamento com agroflorestas, favorecendo o desenvolvimento local.
A apresentação de forma aligeirada das ações da ONG na região e para com os
agricultores experimentadores deu-nos uma visão mais abrangente, reforçando ainda mais a
importância da ONG junto com os agricultores, porém, com a visita de campo pode notar que
esse apoio ainda tem alguns problemas a serem resolvidos, sobretudo no que tange a sucessão
familiar.
A importância desses intercâmbios para a propriedade e a família, é a troca de saberes,
a visibilidade e a promoção da inovação técnica, e, sobretudo a preocupação com meio
ambiente. A propriedade já capacitou variadas pessoas, podendo ser observado no qual dentro
da propriedade possui um caderno de visitas que foram contabilizados mais de 1800 visitantes
ao longo desses 13 anos de transição agroecológica, além de ser o aporte prático para a ONG
SABIÁ, pois se utiliza da propriedade e da experiência dos seus assentados para a capacitação
de outras pessoas interessadas em estudar e aplicar tais metodologias.
Os intercâmbios agroecológicos são construídos com o objetivo de estabelecer e
proporcionar a trocas de saberes entre os sujeitos e atores sociais, bem como fortalecer na
base os processos de articulação e consolidação das iniciativas agroecológicas em
desenvolvimento na Mata Sul e no estado de Pernambuco como um todo, e é fundamental
entre os agricultores adeptos das práticas alternativas, pois estabelece os fluxos e a
perpetuação do conhecimento tradicional, além de permitir uma hibridização entre o
conhecimento técnico-científico com o saber tradicional, base do conhecimento
agroecológico.
Considerações finais
um elemento que diferencia as demais SAf‘s por ser outra fonte de renda e outro produto
agrícola e muito se adéqua as agroflorestas, que dá o suporte financeiro em períodos de
entressafra dos produtos alimentares produzidos na propriedade.
Mesmo com todas as qualidades da atuação da ONG na propriedade estudada, foi
notada problemas referente a choque de geração e de gênero, algo que precisará ser estudado
em outro momento e também um apoio mais efetivo tanto financeiro como institucional para
com a família, que afeta diretamente no desempenho socioeconômico da propriedade
estudada, necessitando urgentemente de suporte.
Esse trabalho é só uma contribuição para futuros trabalhos e que essa exceção
estudada saia dessa condição de ―exceção‖ e seja de fato regra, algo cotidiano e comum, que a
agroecologia, as agroflorestas e o desenvolvimento sustentável se faça valer e que usemos a
experiência da propriedade Paraíso das Flores uma rica fonte de inspiração e força, que
possamos assim com a educação do campo, seja ela formal, informal ou não formal, ensinem
e sejam de fato práticas na vida das novas gerações, que o jovem de fato se interesse pelas
relações com o campo, que sejam mais coerentes e que possam de fato mudar essa trágica
hegemonia da cana-de-açúcar.
Referências
_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13ª ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1996.
PEIXOTO, M. Marcos Legais dos Serviços Precursores de ATER no Brasil. In: Congresso
Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural, CONBATER Londrina: Associação dos
Engenheiros Agrônomos de Londrina, 2008.
SENAR. 37% dos assentados têm renda equivalente a 1/4 de salário mínimo. SENAR
Roraima, 2009. Disponível em: <http://www.faerr-senar.com.br/noticia/assentamentos>
Acesso em: 26 ago. 2015.
Introdução
Concepção de estágio
80
Estudante de Graduação do 10º Período do Curso de Pedagogia com área de aprofundamento em Educação do
Campo. Bolsista do PIBIC – Projeto de Iniciação Cientifica 2016/2017.
educando para a vida cidadã e para o trabalho‖. Tal definição aponta para uma concepção
técnica que limita a atividade de estágio apenas como uma atividade prática, sobrando
espaço para outras concepções.
As teóricas nesse assunto, Selma Garrido Pimenta e Maria Socorro Lucena Lima
(2005/2006) entendem que, o estágio se constitui como um campo de conhecimento, o que
significa atribuir-lhe um estudo de validação e produção do conhecimento científico, que
supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental, ou seja, um campo de
conhecimento que vai além da prática. Ainda segundo Pimenta e Lima (2005/2006)
enquanto campo de conhecimento, o estágio se produz na interação dos cursos de formação
com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas. Para os autores Roerch
(1999), Tracz e Dias (2006 p.1) ―o estágio é uma chance que o acadêmico tem para
aprofundar conhecimentos e habilidades nas áreas de interesse do aluno‖. Além disso, é
neste momento da formação que os sujeitos reconhecem a realidade cotidiana de sua futura
profissão na área da educação.
Diante do exposto, percebe-se que essas concepções se diferenciam em alguns
aspectos: enquanto na concepção legal o estágio é entendido limitadamente como uma
atividade prática, numa concepção mais crítica dos teóricos nesse assunto, o estágio
ultrapassa os limites da prática e abre caminhos para a pesquisa, em que torna-se possível
fazer uma reflexão sobre a prática.
Considerando todas essas contribuições teóricas sobre os conceitos que definem a
atividade de estágio supervisionado, podemos compreende-la como uma a atividade teórica,
prática e metodológica que de forma considerável, possibilita vivências e experiências
únicas aos discentes, contribuindo muito na formação de futuros profissionais da educação.
A escola não precisa estar situada necessariamente no campo para ser do campo. Por
tanto o conceito de ―Escola do Campo‖ se refere às particularidades do sujeito, e vai além do
espaço geográfico. Um bom exemplo disso são os estágios que acontecem nas escolas da
zona urbana, que atendem sujeitos oriundos do campo. Poucas foram as escolas localizadas
no campo em que ocorreram estágios supervisionados.
O Curso de Pedagogia possui em sua estrutura curricular disciplinas teóricas e práticas
voltadas para uma área de aprofundamento específica intitulada de Educação do Campo, e
parte das turmas atendidas pelo Curso em questão, traz em sua identidade elementos oriundos
da realidade do campo. Daí a relação intrínseca dos campos de estágios com a educação do
campo.
Estágio Supervisionado I
sob a orientação da Profª Drª Edneide Jezine. Funcionando nos três turnos, a referida Escola
atende crianças e adultos daquela região.
Figura.1:.Escola.Fazenda.Santa.Luzia..Disponível.em:.<https://www.google.com.br/maps/place/escola
%2Bfaze nda%2Bsanta%2Bluzia/@-7.139> Acesso em: 17 de fevereiro de 2017.
Este estágio foi realizado em dupla, no horário da noite, pois não havia condições, na
época, de estagiar durante o dia, por conta do trabalho. Ocorreram algumas dificuldades pela
distância e o horário, por se tratar de uma escola da zona rural, fomos de moto em
companhia de familiares. Enfrentamos frio, chuvas, lamas e buracos. Mesmo diante a tantas
dificuldades, conseguimos executar as atividades proposta pela disciplina, que foram as
observações e a realização de uma entrevista com a direção da Escola. A diretora chama-se
Valéria Gomes Ribeiro de Araújo, a mesma é formada em pedagogia e também
especializada em gestão escolar. O alunado é formado por crianças, jovens e adultos que
fazem parte da comunidade Fazenda Santa Luzia, e sítios distantes. As famílias são todas de
baixa renda que trabalham na agricultura e fazem parte do programa do governo federal
Bolsa Família.
Com essas características podemos perceber que a comunidade tem muito do que
participar e socializar seus anseios, e aproveitam a escola pra tal. Concebendo a educação
como um‖ o processo permanente entre o mundo da escola e o universo da escola‖,
pretende-se que o profissionalismo significa compromisso com um projeto político
pedagógico, participação na construção coletiva do projeto pedagógico (Libâneo, 1998), que
felizmente ocorre nessa instituição, mesmo com todas as dificuldades.
Diante dessa primeira experiência, destacamos que a importância de uma gestão
participativa, na visão da diretora da Escola, é algo fundamental e que sempre trabalhou
nessa perspectiva de participação escolar nas decisões coletivas a favor da qualidade no
processo de aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, torna-se indispensável para a Escola,
atualmente, reafirmar seu duplo papel social, transmitir cultura, adequando seu trabalho às
necessidades e a realidade do educando, da família e da comunidade.
Estágio Supervisionado II
Figura 3: Acervo pessoal. Atividade extraclasse: cuidando da horta. Data 11 de nov. 2014.
Também ocorreram atividades fora da sala de aula. Há uma pequena horta no quintal
da Escola, nela os alunos aprendem a cuidar da natureza, plantam macaxeira e verduras, e
algumas vezes ainda usam a produção como merenda. Nesse dia os alunos fizeram uma
limpeza, aguaram as plantas e colheram algumas verduras.
Essas foram experiências muito produtivas, pois possibilitou a realização de
atividades pedagógicas de forma contextualizada em que houve uma troca significativa de
conhecimento.
81
O Projeto ―Justiça em seu bairro: Mulher merece Respeito" é uma ação social promovida pelo Poder
Judiciário da Paraíba, através do Juizado da Violência Doméstica e Familiar da Comarca de João Pessoa, visa
combater a violência contra mulher. Disponível em: <http://direito.mauriciodenassau.edu.br/projeto-justica-
em-seu-bairromulher-merece-respeito-fmnjp/> Acesso em: 08 mar. 2017.
diálogo nos remete ao que disse Freire (1996, p.161), em seu livro sobre a ‗Pedagogia da
Autonomia‘: ―O professor precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas
momentos de liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus
alunos‖. Além do diálogo aberto e confiança, a professora é uma grande incentivadora de
seus alunos, e isso faz toda a diferença.
Durante a regência em sala de aula foram abordados diversos conteúdos, nas
dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal. Em uma das intervenções realizadas, foi
contemplado o tema transversal ―Trabalho, Dinheiro e Consumo‖. Foi realizada uma
atividade de matemática em que os alunos puderam comparar preços; conhecer a história do
dinheiro; analisar situações problemas da sua própria realidade; interpretar tabelas; analisar
tabelas; gerenciar as finanças; descrever valores.
Estágio Supervisionado IV
Figura 5: Acervo pessoal. Escola Municipal de Ensino Fundamental e EJA Monsenhor João
Coutinho. Data: 20 de abr. de 2016.
Assim como no estágio anterior, este também foi realizado à noite, e em grupo
composto por três estudantes, e a turma escolhida para observação e regência foi mais uma
vez a EJA – Educação de Jovens e Adultos, do 4ª e 5ª ano do Ensino Fundamental. Teve a
supervisão da Professora Marinalva Fontes Henrique e orientação da Profª Drª Evelyn
Faheina.
Dessa experiência destaca-se a importância de se trabalhar as disciplinas de Geografia
e História, com os alunos da EJA. Temas como a ―História da democracia no Brasil‖, a ―O
lixo e a reciclagem‖, foram bem exploradas em sala de aula.
Tanto a História como a Geografia são ciências fundamentais que devem ser
trabalhadas na educação de base, de forma prática e objetiva que contemple a todos os
alunos no alcance de uma aprendizagem efetiva. O período de estágio nessas disciplinas
proporcionou aos nós discentes uma experiência concreta no nosso contexto profissional.
Através das atividades realizadas durante todo este estágio foi possível perceber os principais
aspectos que caracterizam um cotidiano escolar.
Sobre esse cotidiano, Pimenta e Lima (2006, p. 9) ressaltam que:
Estágio Supervisionado V
Figura 8: Acervo pessoal. Evento PrimaFest ocorrido no dia 07 de outubro de 2016. Último dia de
estágio.
Com isso foi possível perceber que a diretora tem autonomia para criação de
iniciativas que colaboram com as atividades pedagógicas da Escola, mesmo sem ajuda
financeira, quase sempre ganha apoio dos alunos. Esse evento elevou a autoestima dos alunos,
82
O Projeto ―Práticas Pedagógicas e Cidadãs‖ visa abordar a prática da cidadania em toda comunidade escolar
como forma de estreitar os laços, principalmente, entre família e escola, a fim de amenizar os índices de
evasão e repetência em nossa unidade de ensino. Disponível em:
<https://escolaluizalimalobo.blogspot.com.br/> Acesso em: 17 de fev. 2017.
Considerações finais
Referências
BRASIL. MEC. LDB. Cartilha esclarecedora sobre a lei do estágio: lei nº 11.788/2008.
Brasília: MTE, SPPE, DPJ, CGPI, 2008. 22 p. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/08/cartilha-mte-estagio.pdf > Acesso
em: 17 de fev. de 2017.
FÁVERO, Maria L.A. Universidade e estágio curricular: subsídios para discussão. In:
ALVES, Nilda (org.) Formação de professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 1992.
LOBO, Escola Luíza Lima. Projeto Político Pedagógico. Reformulado em 2016. Prefeitura
Municipal de João Pessoa - Secretaria de Educação. Disponível na Escola do referido
Estágio.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo:
Cortez, 2004. (Coleção docência em formação. Séries saberes pedagógicos). Disponível em:
<https://www.revistas.ufg.br/poiesis/article/view/10542> Acesso em: 10 de jan. de 2017.
Introdução
Metodologia
Referencial Teórico
83
O primeiro programa nacional a produzir e distribuir LD específicos e diferenciados para as escolas
campesinas seriadas e multisseriadas.
Resultados e discussão
4) Leia o texto e responda. Luísa e Paulo moram na cidade. Nas férias eles
sempre vão com seus pais, Ana e Carlos, para o sítio da avó Manuela. Lá,
eles brincam o dia inteiro com os primos Henrique e Marcos, que moram
com a avó (LD. GEO. 3º ANO, p. 374).
O texto relata de início a distinção territorial de Luísa e Paulo, que moram na cidade
com seus pais; Ana e Carlos. A condição para ir ao campo é as férias, período em que a
movimentação da cidade cessa para que haja descanso de seus habitantes. Percebemos a
representação de campo como um lugar da não movimentação, onde as pessoas podem
brincar o dia inteiro. Uma curiosidade despertada na leitura do enunciado e que não é
explorada é o fato de Ana e Carlos brincarem com Henrique e Marcos, que supostamente
também estariam de férias numa adequação ao calendário escolar urbano. Esta representação
ajuda a fortalecer a ideia de campo como um lugar bucólico, onde as pessoas se relacionam
os lugares que mais atraem migrantes são as grandes cidades, porque elas
oferecem mais oportunidades de trabalho e de estudo. Também há pessoas
que se mudam para cidades menores e outras que deixam as cidades e se
mudam parta o campo. Essas pessoas, muitas vezes, estão em busca de um
lugar mais tranquilo (LD. GEO. 3º ANO, p. 374).
84
O Pós de pós-colonial refere-se aqui estritamente ao tempo.
Campesina Precária, mediante as noções de Campo como lugar precário; Campo carente
de instituições; Campo não industrializado. Inicialmente a Concepção de Sociedade
Campesina Precária é apresentada no tópico ―História é construída por todos‖, a partir da
seguinte atividade:
Ressaltamos que o texto escolhido investe em uma visão de pobreza para a sociedade
campesina sem problematizar as relações de poder assimétricas que podem ser percebidas no
contexto no fragmento de texto utilizado na atividade. Este fragmento demonstra as relações
de poder presentes nas atividades de extração mineral nos territórios campesinos. Há o
tratamento desta sociedade campesina subalternizada (e não o campo de forma geral) como
desigual. Trata-se da conversão dos diferentes em desiguais. Diferentes porque não
suficientemente regulados pela modernidade/colonialidade. Desiguais porque pertencendo ao
lado subalternizado e expropriado desta visão societal.
Chama a atenção, em igual medida, a forma como o cenário campesino é tratado em
articulação com a natureza e, particularmente com a aproximação com os animais.
Destacamos a influência do pensamento abissal neste enunciado, uma vez que o contrário da
modernidade, a tradição foi enclausurada pela Colonialidade do Saber como o lugar perto da
natureza, portanto primitivo, que não pode coexistir com a tecnologia historicamente
acumulada (SANTOS, 2010b). Esta impossibilidade de coexistência acaba por se consolidar
com a Colonialidade do Ser, uma vez que os sujeitos considerados primitivos não são
modelos de identidade válidos na sociedade moderna/colonial.
que ganhava como agricultor. A primeira coisa que ele fez quando chegou
foi passear pelas ruas e conhecer a cidade. Logo conseguiu um trabalho de
vendedor numa floricultura. Como entendia de jardinagem, Andarino foi
mostrando ao dono como cuidar melhor das flores e deixá-las mais bonitas.
Depois de algum tempo, ele ficou sócio da floricultura (LD. GEO. 3º ANO,
p. 376).
Chama de pronto a nossa atenção a curiosa relação entre o nome do tópico do livro
(Gente que chega, gente que vai) e o nome dado ao personagem (Andarino) que
intencionalmente ou não estabiliza a identidade campesina como uma identidade nômade,
retirante. No decorrer do texto, diz-se que José Andarino procurou a cidade porque queria
ganhar mais do que ganhava no campo, o que reitera a condição presente mas não única nos
territórios campesinos. Em seguida, narra-se que Andarino conseguiu um emprego em uma
floricultura e como entendia de jardinagem, foi se relacionando de maneira instrutiva com o
dono da jardinagem até se transformar em seu sócio. Neste trecho temos presente a relação de
suprimento da carência campesina de um bom emprego através da assunção empreendedora
de Andarino. Destacamos que, segundo o texto, o que possibilitou Andarino a alcançar o
emprego foi o seu conhecimento sobre jardinagem, uma vez que era agricultor. O exercício
que se segue à atividade diz: ―a) Onde José Andarino morava: no campo ou na cidade? Como
você sabe? b) Para onde José Andarino Migrou? Por que ele migrou? c) José conseguiu o que
queria? Explique‖ (LD. GEO. 3º ANO. p. 376).
A primeira pergunta da atividade pergunta se José Andarino era do campo ou da
cidade e como a aluna ou aluno sabe disso. Neste sentido, o fato do personagem ter sido
agricultor é implicitamente fundamental para a associação entre agricultura e campo. Esta
associação se fortalece com a descrição de sua migração e com as perguntas que se seguem,
como a segunda, que trata do lugar para onde o personagem migou e por que ele fez isso. Por
fim, na última pergunta da questão proposta, há a pergunta se José conseguiu o que pretendia
ao migrar para a cidade.
Deste modo, a figura de Andarino representa a condição cambiante de quem abandona
seu território de origem para residir nos centros urbanos, quando então é possível estar
presente. Esta presença, todavia, se refere ao atrelamento a um território urbano hegemônico e
aos seus critérios de legitimidade.
Trata-se do tópico ―Água: usar bem para ter sempre‖ através da Ilustração que traz
uma mulher campesina irrigando sua horta e desperdiçando água com uma mangueira. Trata-
se da vinculação do desperdício de água, aos sujeitos campesinos realizando suas atividades
de cultivo. Não existe problematização sobre os principais sujeitos e territórios que consomem
a água, senão a constatação de que uma atividade aparentemente de Agricultura Familiar
promove o desperdício da água. Assim, a atividade naturaliza uma pretensa relação entre
atividade campesina familiar e desperdício de água.
O silenciamento da problematização sobre o uso da água por grandes monoculturas de
produção, mais do que colocar a produção familiar como principal encarregada do desperdício
de água, a torna a única responsável por esta forma de degradação ambiental. Assim, a
Muitos lugares não são atendidos por um sistema de coleta de lixo. Nesses
casos, o lixo costuma ser enterrado, queimado ou levado até uma cidade
próxima para ser encaminhado aos aterros sanitários. No campo, é
fundamental que todas as embalagens dos produtos químicos usados nas
plantações sejam devolvidas aos distribuidores para não contaminar o solo e
os rios (LD. GEO. 2º ANO, p. 393).
Uma primeira impressão geral dá conta de que os lugares descritos no tópico como
não possuindo sistema de coleta de lixo e que por isso, produzem repercussões que agridem a
natureza podem estar localizadas tanto no campo, como na cidade. Em seguida, o campo
aparece como preocupação no enunciado e o motivo desta preocupação se deve à dispersão
das embalagens dos produtos químicos utilizados nas plantações, que devem ser devolvidos
aos distribuidores para não causar danos ao solo e aos rios dos territórios campesinos. Não
existe a problematização envolvendo territórios urbanos e campesinos sobre a produção de
lixo em larga escala e a degradação do planeta. Esta condição está implicitamente associada
ao campo pela ênfase apresentada pelo LD. Nestas assertivas associa-se o campo ao lugar de
produção agrícola agressora da natureza pelos agrotóxicos. Trata-se, evidentemente, de uma
redução da compreensão dos variados sistemas de produção campesina. Aqui a pergunta,
poderia caber nos materiais didáticos: que campo produz com agrotóxicos? Será que a
produção de alimentos que lança mão de agrotóxicos que é realizada ―no‖ campo é
genuinamente ―do‖ campo?
Compreendemos que as afirmações contidas no referido LD estão fundamentadas em
um silenciamento que acaba por ser fundante do enunciado produzido: o silenciamento da
Agricultura Familiar Campesina (a que não se utiliza de agrotóxicos). Decorrente deste
silenciamento, produz-se a não existência dos povos campesinos que desenvolvem a
Agricultura Familiar.
Este modelo de produção familiar prioriza uma relação de horizontalidade com a
natureza e com a soberania alimentar dos povos do campo, portanto não prescinde da
dinâmica de acumulação e consumo a qualquer custo, como nos alimentos contaminados com
―veneno‖. Da ausência imposta à Agricultura Familiar emergem sentidos que nos permitem
inferir que o campo ao qual se refere o LD em questão é o campo priorizado pelo
Agronegócio. Este campo é concebido apenas como um lugar de produção capitalista,
portanto um objeto inerte e monocultural, cuja dinâmica não sendo própria, serve apenas para
legitimar os interesses exteriores.
Desta forma, reforça-se a Monocultura da Produtividade Capitalista (SANTOS,
2010a), de tal forma que o campo é apenas um lugar e não um território. Conforme Fernandes
(2005), o lugar se define pela visão setorial de sua complexidade organizacional. O
Agronegócio enxerga o setor econômico como uma latência que pode lhe ser produtiva. No
quando voltadas aos interesses dos coletivos sociais campesinos que lutam por modelos
outros de educação e de sociedade produz uma Ecologia de Produtividades (SANTOS,
2010a) fundamentadas na compreensão agroecológica dos territórios. Isto é, compreendem
que o modelo de produtividade pertence ao território e não o território como refém dos
interesses do capitalismo.
Em relação ao terceiro subtópico que trata da contaminação dos rios e lagos,
ressaltamos que podem ser ocasionadas, segundo o livro por duas razões; a utilização de
produtos químicos nas plantações e por substâncias nocivas utilizadas no extrativismo
mineral. Cabe ponderar, uma vez mais, que a utilização de agrotóxicos nas plantações no
campo não cabe genericamente em uma noção tão polissêmica teórica e politicamente como é
o campo. Da mesma forma, sobre o extrativismo mineral respondem diferentes sujeitos,
vinculados a diferentes modelos de extração e de produtividade, cuja problematização é
ausente no livro.
Conclusão
Referências
ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. Por uma educação do campo. 5. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
FREITAG, B.; COSTA, W. F.; MOTTA, V. R. O livro didático em questão. São Paulo:
Cortez, 1989.
SANTOS, B. S. A gramática do tempo para uma nova cultura política. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2010a.
VALLA, J. A Análise de Conteúdo. In: SILVA, A. S.; PINTO, J. M. (Org.). Metodologia das
Ciências Sociais. 4. ed. Porto: Edições Afrontamento, 1990.
VEIGA, José Eli da. Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula. 2. ed.
Campinas, SP: Autores Associados, 2013.
Introdução
propostos por Ibiapina (2008, p. 34), para quem o processo colaborativo, no contexto da
investigação científica significa:
85
O termo ―Sessão Reflexiva‖ adotado nessa pesquisa está de acordo com o que propõe Ferreira (2007), para
designar o espaço de formação, autoformação, colaboração entre os sujeitos envolvidos na pesquisa, pois para a
Ibiapina (2008) a construção desse espaço na Pesquisa Colaborativa constitui sessões de estudo. São
terminologias diferentes para designar o mesmo procedimento.
86
Para o aprofundamento de questões suscitadas nas sessões reflexivas, foram realizadas, entrevistas individuais
com os participantes do GT, bem como foram aplicados questionários junto aos estudantes da escola, no intuito
de buscar aproximações com as expectativas e o quanto elas poderiam estar sendo percebidas nas discussões
produzidas no GT. Questionários também foram aplicados junto aos membros do GT a fim de identificar
eventuais necessidades formativas que pudessem ser trabalhadas durante as sessões.
87
O Grupo Colaborador desta pesquisa, composto por dois professores, duas supervisoras, uma gestora, uma
representação das responsáveis pelos estudantes e uma auxiliar de secretaria, foi formado pela escola,
anteriormente ao desenvolvimento desta pesquisa, através de assembleia, para orientar as discussões sobre a
elaboração do Projeto Político Pedagógico – PPP e do currículo escolar da instituição. Ou seja, quando nos
referimos ao Grupo Colaborador de nossa pesquisa, estamos fazendo referência, também, ao Grupo de Trabalho
do PPP da escola onde desenvolvemos o trabalho.
Mais do que garantir um espaço natural que já era das comunidades, a luta pela
RDSEPT pode ser considerada como uma luta de resistência contra-hegemônica, mesmo que
em pequena escala, pois, como já foi discutido anteriormente, se constituiu num movimento
de iniciativa comunitária, promovida por populares, que foi ganhando força e o apoio de
entidades defensoras do meio ambiente, comunidade acadêmica, instituições locais e de
trabalhadores da pesca, no momento em que o processo de globalização econômica apontava
em nosso Estado, a ilusão da carcinicultura e da rede hoteleira como progresso para a região.
Porém, até o início do trabalho investigativo, a escola oficialmente não tinha inscrito
em seu Projeto Político Pedagógico a tematização de aspectos sócio-ambientais relacionados à
Reserva, não obstante, anualmente, executar projetos de ensino voltados para a abordagem da
temática meio ambiente, contemplando as questões históricas e ambientais que envolvem a
RDSEPT e incluindo em suas atividades as ações que o IDEMA desenvolve nas escolas, no
período próximo ao aniversário da Reserva, como nos revela a fala da colaboradora Gavião ao
se referir ao currículo da escola e a RDSEPT:
88
Sessão reflexiva realizada em: 22/7/2015.
89
Sessão reflexiva realizada em: 22/7/2015.
90
Sessão reflexiva realizada em: 22/7/2015.
A escola ainda não tinha pensado nesse tema da Reserva dentro do PPP, é
um pecado, mas nós não tínhamos pensado. Mas, é um fato importante a ser
contemplado no PPP já que aqui é uma Reserva. Acho que podemos pensar
em elaborar projetos pedagógicos para serem trabalhados pelo menos uma
vez por ano, direcionando-os à Reserva, já que a gente trabalha mais de um
projeto por ano, um deles poderia estar relacionado à história da Reserva.
O fato é que, passados doze anos de sua constituição, a RDSEPT ainda não foi
incorporada pelo currículo da escola, como matriz das práticas curriculares escolares em suas
múltiplas possibilidades e vetores, embora sua presença não seja ignorada, merecendo um
tratamento que dialoga com o que versa as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica
nas escolas do Campo, nos Artigos 4º e 5º, quando aponta para que os temas a serem
trabalhados nas escolas devem ligar-se ao mundo do trabalho e ao desenvolvimento no
campo, inseridos numa parte específica do currículo, devendo resgatar os conhecimentos que
germinam das experiências e das lutas das comunidades, transformando-as num espaço de
conhecimento que deve ser investigado e potencializado.
[...] pra mim é novidade saber que o Alferes é escola do campo. A gente
sempre recebeu material urbano, porque é o mesmo material que vem pra
Macau. Sempre nos encontros do Pacto Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa (PNAIC), a gente via que, por exemplo, o pessoal da Salete e da
Luzia91 já recebia material diferente, que era voltado para o campo, mas a
gente não.
Mas também, reflete a pouca (ou nenhuma) inserção das Diretrizes Operacionais da
Educação do Campo entre determinados segmentos das gestões escolares que, por isso,
ignoram que, conforme as referidas Diretrizes (2001, p. 1),
91
Comunidades próximas da localidade Barreiras.
saberes que os sujeitos do campo elaboram em suas relações, no modo pelo qual, lutam,
resistem se afirmam como sujeitos de direitos. Acerca dessa questão, Ramos et al. (2004, p.
37) ressaltam que:
Referências
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. Petrópolis: Vozes, 2000.
DAYRELL, Juarez. A Escola como espaço sócio-cultural. In: DAYRELL, Juarez (Org.).
Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. pp.136-
161.
KOLLING, Edgar J.; NÉRY, Ismael José (Ir.); MOLINA, Mônica C. (Org.). Por uma
educação básica no campo: (memória). Brasília: Editora da UnB, 1999.
RAMOS, Marise N.; MOREIRA, Telma M.; SANTOS, Clarice A. dos. Referências para
uma política nacional de educação do campo: caderno de subsídios. Brasília: Secretaria de
Educação Média e Tecnológica, Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo,
2004.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. As Culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, Tomaz
Tadeu da (Org.) Alienígenas em sala de aula. Petrópolis: Vozes, 1995. pp. 159-177.
Introdução
92
Aluno do curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo da UFERSA.
93
Professora do Centro de Ciências Exatas e Naturais da UFERSA.
94
Vale ressaltar que teoricamente existe uma diferença entre educação rural e educação do campo (ver
ARROYO, CALDART, MOLINA, 2004; FERNANDES, MOLINA, 2004; ALENCAR, 2011). Utilizamos, em
alguns momentos, educação rural, população rural, escola (s) rural (is), pois os documentos legais que foram
utilizados como referência, bem como os dados do INEP fazem uso desse termo. Porém, do ponto de vista
conceitual coadunamos com os referenciais que adotam a terminologia e paradigma da educação do campo.
95
Este trabalho, é parte do trabalho monográfico de conclusão de curso, em andamento, que tem como objetivo
traçar o perfil docente dos professores de Ciências Naturais que atuam em escolas do campo no município de
Aracati/CE.
Referencial Teórico
A matriz teórica desse artigo será construída a partir das categorias: Educação do Campo e
Formação Docente. Vamos apontar, brevemente, a história da educação do campo e seus marcos legais.
Em relação a formação docente, nos pautamos nas reflexões apontadas em Alencar (2010) que discuti a
formação docente na perspectiva de atender a educação do campo em um novo paradigma imposto por
esta.
96
Esses são os dados mais recentes do INEP (2015) sobre o panorama da educação nos Estados e Municípios.
[...] A palavra rural adquire um sentido mais restrito, sendo a palavra campo
algo mais abrangente que incorpora diversos aspectos da vida campesina,
estando esta última mais coerente para representar a concepção que atenda às
demandas de uma educação com características específicas e que esteja
voltada para o desenvolvimento de sujeitos atuantes em seu processo
histórico (BARAÚNA, p. 293).
Para o acesso a uma educação de qualidade é imprescindível que haja uma formação
docente de qualidade, isso implica uma a apropriação de uma série de saberes que o
qualificam. Para Carvalho e Gil-Pérez (2005) uma sólida formação teórica depende da
apropriação de saberes específicos, saberes integradores e saberes pedagógicos. A educação
do campo requer saberes integradores e pedagógicos específicos a realidade dos povos do
campo, que atentem para efetivação da educação do campo no novo paradigma proposto97.
Para Alencar a formação docente exige do professor identificação com a proposta de
educação nos moldes apregoados, e não como uma adaptação do que acontece nas escolas
urbanas.
Decorridos quase dez anos da Conferência de Luziânia, os movimentos sociais do
campo continuam na luta para que os sistemas de ensino discutam um currículo para a área
rural que não seja adaptado da área urbana e que a formação de professores: inicial,
continuada ou em serviço, não reproduza o currículo da área urbana, na rural; que a formação
de professores não se paute na fragmentação do conhecimento, nas particularidades das
disciplinas e na negação da realidade, da história e da luta do povo da área rural (ALENCAR,
2010, p.209).
De modo a atender uma formação docente que contemple a nova compreensão de
educação do campo, e não apenas como uma adaptação do urbano, Alencar (2010, p. 216)
compreende-se que:
97
O novo paradigma da educação do campo está em oposição a educação rural. A Educação do campo é um
projeto que nasce dos povos do campo que busca romper com a dicotomia rural/urbano e com a pretensa
superioridade do urbano sob o rural, que busca a valorização do campo como um lugar de vida, de produção e
desenvolvimento, que reconhece suas especificidades, diversidade, culturas, memórias e histórias (ALENCAR,
2010).
A legislação é bem clara quando coloca que a educação básica deve ser ministrada por
docentes com formação superior em Licenciatura, quer em Pedagogia, quer em áreas
específicas do saber. O gráfico mostra que o percentual de docentes com ensino superior nas
etapas de ensino infantil, fundamental e educação de jovens e adultos (EJA), em sua maior
parte, estão acima dos 50%, atingindo no EJA, onde são ofertadas, quase 100%, a exceção da
escola E9 (75%) e E27(33,3%). A média geral é de aproximadamente 70% dos professores
com formação superior.
Vale salientar que as escolas E4 e E17, na etapa de Ensino Infantil, não ofertam esse
ensino e, portanto, a coluna não aparece no gráfico, já para as escolas E6, E20 e E23, para
mesma etapa, o percentual de docentes com formação superior é zero (também não aparece no
gráfico). Na etapa de Ensino Fundamental, as escolas E15 e E25 não ofertam essa etapa de
ensino e a escola E23 não tem docente com ensino superior. Para o EJA todas as colunas que
não aparecem é porque a escola não oferece essa etapa formativa, não havendo nenhuma
escola com índice zero.
Embora os números sejam bons, sobretudo se compararmos com a realidade de alguns
anos atrás é importante salientar que o ideal é que todos os docentes tenham formação em
nível superior, como exige a legislação atual, e que está formação seja em licenciatura. É
sabido a importância dessa formação para a qualidade da educação em todos os níveis e
modalidades.
Vamos agora analisar os dados referente a adequação de formação e atuação docente,
ou seja, o INEP classifica, segundo a tabela abaixo, a adequação da formação do docente à
disciplina que leciona.
GRUPO DESCRIÇÃO
1 Docentes com formação superior de licenciatura na mesma disciplina que
lecionam, ou bacharelado na mesma disciplina com curso de complementação
pedagógica concluído.
2 Docentes com formação superior de bacharelado na disciplina correspondente,
mas sem licenciatura ou complementação pedagógica.
3 Docentes com licenciatura em área diferente daquela que leciona, ou com
bacharelado nas disciplinas da base curricular comum e complementação
pedagógica concluída em área diferente daquela que leciona.
4 Docentes com outra formação superior não considerada nas categorias anteriores.
5 Docentes que não possuem curso superior completo.
Gráfico 3 - Percentual de docentes por grupo de indicador de adequação da formação do docente para o ensino
infantil
De acordo com o gráfico 3 é possível perceber que a maior parte dos docentes da
educação infantil pertencem aos grupos 1 (com formação adequada a sua atuação), 3 (com
formação diferente da que leciona) e 5 (sem formação superior, com as respectivas médias
34,5%, 20,16% e 44,53%. As escolas E4 e E17 não possuem dados referentes a elas. Esses
dados evidenciam algo que deve ser um motivo de preocupação: a maior parte dos docentes
não possuem formação da sua área de atuação.
Gráfico 4 - Percentual de docentes por grupo de indicador de adequação da formação do docente para o ensino
fundamental
O gráfico 4 mostra que a maior parte dos docentes do ensino fundamental também
pertencem aos grupos 1 (com formação adequada a sua atuação), 3 (com formação diferente
da que leciona) e 5 (sem formação superior), mas com as respectivas médias 29,4%, 41,2% e
28,4%. As escolas E4 e E17 não possuem dados referentes a elas. Diferente da educação
infantil, para o ensino fundamental é possível perceber que a maior parte dos docentes se
encontra no grupo 3, situação ainda mais precária do que a do ensino infantil, pois embora o
índice dos docentes com formação superior seja maior, o índice de docentes com a formação
adequada a disciplina lecionada é menor.
Gráfico 5 - Percentual de docentes por grupo de indicador de adequação da formação do docente para o EJA
Assim como as etapas anteriores vemos, de acordo com o gráfico 5, que para o EJA a
maior parte dos docentes também pertencem aos grupos 1 (com formação adequada a sua
atuação), 3 (com formação diferente da que leciona) e 5 (sem formação superior), com as
respectivas médias 16,4%, 66,9% e 16,7%. As escolas E4 e E17 não possuem dados
referentes a elas. Apresentam, assim como no ensino fundamental, alto o índice de docentes
com a formação não adequada a disciplina lecionada.
Embora os dados acima analisados não indiquem aspectos diretamente relacionados a
discussão sobre a educação do campo, no que rege as concepções e discussões somadas ao
longo do tempo sobre o ensino para a população do campo, os dados indicam que não
estamos, ainda, caminhando para uma educação de qualidade uma vez que há tanto, carência
de docentes com formação superior, como de docentes com formação adequada ao que
leciona.
Referências
_________. Educação do Campo. In: CALDART, Roseli Salete e al. (org.) Dicionário da
Educação do Campo. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
CARVALHO, ANA. M. P. de, Daniel Gil Perez. O saber e o saber fazer dos professores.
In: CASTRO, A. D. de; CARVALHO, A. M. P. de (org.) Ensinar a Ensinar - Didática para a
Escola Fundamental e Média. São Paulo: Pioneira, 2001, pp. 107-121.
Introdução
98
Ensaio elaborado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado ― FORMAÇÃO MORAL: a ―Coleção
Novo Girassol: saberes e fazeres do campo‖ como material didático mediador na construção de valores dos
Sujeitos do Mundo Rural‖, apresentado por Ana Viviane Miguel de Azevedo, em fevereiro de 2017, como
requisito para conclusão do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Campus III da Universidade Federal da
Paraíba.
99
Integrante externa do ―Núcleo de Extensão Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural‖ (NEMDR) do
Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias.
100
Docente do Departamento de Educação do Campus III da UFPB e coordenadora do Núcleo de Extensão
Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural (NEMDR).
as sociedades, através da moral todas as sociedades são regidas por regras e estabelecem
condutas que devem ser obedecidas e respeitadas por todos os sujeitos. Nessa perspectiva
Desenvolvimento
Desta forma, neste ensaio, o norteador foi a busca de imagens que possam servir
como oportunidades didáticas para possibilitar aos profissionais da educação ensinarem
conhecimentos chaves para a formação moral, aprendizagem de regras, princípios e valores
essenciais para a vida rural.
O profissional de educação pode vim a trabalhar a formação moral, como a
solidariedade e a humildade. Nessa perspectiva a solidariedade pode ser conceituada segundo
o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra:
Quer dizer que, para uma ação consciente, o sujeito precisa ter refletido sobre sua
atitude para, em seguida, poder tomar uma decisão que permita compreender a situação na
perspectiva do outro, em nome do coletivo. O que implica, se necessário, ajudá-lo, sem
pretender receber nada em troca. Com isso, no capítulo 2 da 3º Unidade do livro de
Matemática e Ciências do 4º ano, vê ilustração 01, tem uma imagem em que acreditamos que
o docente da escola situada no campo, para mediar um processo de construção desses valores,
precisa vivenciar e adotá-los, praticando em sua vida.
Fonte: ―Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo‖, Matemática e Ciências 4º ano (2014, págs. 75 e
76).
A imagem mostra duas situações, uma que um casal de idosos pede informação sobre
o ônibus que passa em algum lugar específico e percebemos que o motorista os trata com toda
amorosidade e com humildade e solidariedade ele explica qual o ônibus eles precisam pegar
para chegar no lugar que eles pretendem. Na segunda situação acontece o inverso, o casal de
idosos é a figura de quem ajuda, que orienta, informa. Ou seja, em uma o casal estar
precisando de ajuda e já na outra o casal é quem ajuda sendo solidário. Partindo de reflexões,
mas, indo além, o profissional de educação pode auxiliar na elaboração de situações de
aprendizagem que favoreçam aos seus discentes subsídios para que adotem valores como esse
na sua vida.
Utilizando a ilustração 01 o profissional da educação, em especial os do campo, pode
usar ela para abordar alguns valores dentre eles a solidariedade, humildade, amorosidade. Em
que o profissional pode pedir para os alunos comparar as imagens e ver o que muda nas duas
situações e levá-los a refletir sobre isso, que tem momentos em que precisamos de ajuda e em
outros momentos nós precisamos ajudar, e esse precisar remete que a uma atitude consciente
que temos ou que precisamos ter nos vários momentos de nossa vida.
Na unidade 4 do mesmo livro, temos outra imagem que pode ser trabalhado a
solidariedade, união, cooperação. Salientamos que partindo dessa perspectiva a cooperação é
um valor que está relacionado tanto com a partilha como com a solidariedade e ainda segundo
o MST (2002) o trabalho coletivo é uma forma de cooperar, de ajudar, de ser companheiro.
Com isso, percebemos que ao trabalhar um valor, indiretamente estamos trabalhando outros
valores.
Fonte: ―Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo‖, Artes 1º, 2º e 3º ano (2014, p.80)
A imagem mostra uma tela de artes com várias brincadeiras apresentadas, juntamente
com a qual há uma mensagem que sugere, no livro, uma discussão sobre quais as brincadeiras
são mais preferidas pelos alunos e como é uma atividade de Matemática pergunta-se também
se tem mais meninos do que meninas.
Porém, como o profissional da educação é um sujeito autônomo ele pode ampliar essa
discussão para abordar a construção de valores a união entre as pessoas para poderem brincar
juntos, a cooperação, a ajuda ao outro no momentos das brincadeiras, pode questionar quais
são as brincadeiras que podem ser brincadas sozinhas ou não e se eles preferem brincar
sozinhos ou com os outros amigos, com isso também estará abordando o valor da pessoa, a
importância do outro na nossa vida, fazendo assim que eles reflitam sobre todas essas
questões.
Ainda mais, o profissional pode sugerir que os alunos construam um jogo ou
reformulem uma brincadeira já existente, em que todos possam participar independente de ser
menina ou menino, que eles iriam construir as regras do jogo ou brincadeira que estejam
atreladas a formação moral, principalmente aos valores.
Ainda na 3ª unidade, sendo agora no capítulo 5 do mesmo livro, há uma imagem de
crianças montando uma horta, conforme visto na ilustração 03. Em que pode ser discutido os
valores da solidariedade, da valorização da agricultura e companheirismo. O companheirismo,
assim como a valorização da natureza, da terra que é entendida como ações que dão
assistência para que o sujeito possa valorizar e permanecer no campo, nesse sentido trazemos
a agricultura familiar que é uma das atividades que valorizam a terra:
Fonte: ―Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo‖, Matemática e Ciências 4º ano (2014,
p.111)
A ilustração mostra um grupo de crianças que estão montando uma horta e ficaram
encarregados de plantar as salsinhas e a proposta do livro é apenas uma atividade de
matemática. Porém, o profissional pode ir além no sentido de propor uma atividade concreta,
em que, os alunos possam tocar na terra e ir percebendo a valorização da terra, a cooperação
entre os envolvidos, bem como a solidariedade e a união.
O profissional da educação pode engrandecer esta discussão, focando na formação
moral, especificamente nos valores, tais como o respeito, a valorização da vida, a união e o
trabalho coletivo. Diante disso vamos focar o valor do trabalho coletivo que segundo o MST
(2002, p.15) ―No trabalho coletivo não se trabalha menos: se trabalha diferente‖, precisamos
lutar e refletir sobre essa ―diferença‖, que ela pode ser interpretada como ajudar o próximo,
compartilhar as dificuldades, as alegrias, o trabalho, a comida, enfim, precisamos ser diferente
nesse mundo de padrões e temos a necessidade de levar os outros a refletirem sobre esses
valores em especial as crianças que estão no processo de construção de seus conhecimentos,
de seu desenvolvimento.
Fonte: ―Coleção Novo Girassol saberes e azeres do campo‖, Matemática e Ciências 4º ano (2014, p.163)
Assim, os PCN‘s ressaltam que cada sujeito tem o direito de expressar e viver sua
cultura, seus costumes, suas crenças, porém, cada sujeito também tem o dever de considerar o
outro, bem como, a natureza e esse respeito a natureza significa cuidar dela, não queimar, não
desmatar, utilizar meios que ela possa crescer com cuidados e não devemos utilizar meios que
acabem com a natureza.
Esta e outras amostra traz indícios que a partir desse recurso didático, o profissional de
educação pode focar a formação moral dos sujeitos do campo, estritamente na construção de
valores percebidos através do olhar sensível que o profissional/ pesquisador precisa ter para
identificar e estudar como pode vim a ser trabalhado os valores em sala de aula.
Algumas considerações
Referências
BONJORNO, José Roberto et al. Novo Girassol: saberes e fazeres do campo: matemática
e ciências, 4º ano. São Paulo: FTD, 2014 (Coleção Novo Girassol: saberes e fazeres do
campo).
LA TAILLE, Yves de. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
MST. Para soletrar a liberdade nº 1: nossos valores. Reforma agrária: por um Brasil sem
latifúndio! Caderno do educando, 2002.
SÁ-SILVA, Jackson Ronie; ALMEIDA, Cristóvão Domingos de; GUINDANI, Joel Felipe.
Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História &
Ciências Sociais, nº 1, 2009.
SILVA, Nilvania dos Santos. Formação moral das crianças: construção de regras
fundamentais aos valores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
2011.1527. Tese (Pós-Graduação em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2008.
Introdução
Este programa é uma ação de imensa relevância para auxiliar a educação básica, que
passa por necessidades em alcançar seus objetivos básicos, como por exemplo, o de conseguir
fazer com que os alunos consigam aprender a leitura, a escrita e as operações matemáticas
básicas. Mas, colabora de forma igual ou maior para com o licenciando, pois esses recebem
uma bolsa de auxílio, que o ajuda, tanto nas atividades desenvolvidas pelo programa, quanto
em sua permanência na Universidade.
As atividades que os pibidianos realizam são, desde reuniões semanais para
planejamento das atividades em sala, pesquisas para obtenção de novas ideias de trabalhos,
fabricação de materiais para demonstração e seguinte construção com os alunos em sala, entre
outras, sempre com o acompanhamento do Supervisor. Após os planejamentos, são marcadas
as atividades, que levam em consideração as turmas e seus respectivos conteúdos.
Na escola Agrotécnica Deputado Evaldo Gonçalves de Queiroz, são realizadas as
atividades em sala, por várias vezes, na forma de oficinas, onde busca auxiliar os alunos a
adquirirem maior gama de conteúdos, já que a educação básica, por muitas vezes deixa a
desejar, seja pelo pouco tempo para o professor ―dar‖ todos os conteúdos, seja pelo pouco
interesse do alunado para com a educação, em alguns casos.
Numa educação pública com defasagem de qualidade como é a do nosso país, toda
ação voltada para auxiliar sua melhoria será muito bem-vinda.
Os PCN‘s designam conteúdos que, como pode ser observado, dificilmente poderão
ser totalmente contemplados pelas aulas dos professores, já que nossos calendários escolares
possuem muitos feriados, vários imprevistos, dentre outros empecilhos.
Uma forma de contribuir, que os alunos do PIBID realizam, são atividades através de
oficinas pedagógicas. Define-se o tema através de um planejamento com todos os
participantes do programa e Supervisor, pesquisa-se sobre o determinado tema, prepara-se a
oficina, seja com material para exposição, seja com o material para construção de objetos em
sala, daí então é que se realiza a oficina. Para Paviani e Fontana (2009, pág. 78), Uma oficina
pedagógica é,
As oficinas fazem com que os alunos tenham mais interesse em fazer as atividades em
sala de aula. É uma forma diferente de ensinar para os alunos, sendo que eles se engajam mais
no desenvolvimento do conteúdo e da atividade. Com isso o PIBID, faz com que os seus
membros tenham experiências em sala de aula, faz das aulas algo diferente que ajude no
aprendizado dos alunos, e ao mesmo tempo tenta mudar o paradigma tradicionalista que ainda
existe muito ainda nas escolas. Mudar é preciso, os modos mecânicos de ensino devem ser
revistos para o resultado final da aprendizagem dos alunos, com isso, usar de mecanismos
auxiliares para poder obter um ensino de qualidade, é satisfatório para todos.
As finalidades da oficina pedagógica, segundo Paviani e Fontana (2009, pág. 78), são
basicamente, ―a articulação de conceitos, pressupostos e noções com ações concretas,
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
569
Metodologia
Resultados e Discussão
Conclusão
Sabendo que a realidade educacional no Brasil, relativa à escola pública, deixa muito a
desejar em termos de qualidade, é preciso valorizar ações como as do PIBID, pois se trata de
um enorme auxílio para com essa.
As oficinas são importantíssimas para o alunado das escolas públicas, pois esses
podem ter acesso a conteúdos que possivelmente não o teriam em sua totalidade. Embora, seja
preciso um planejamento bem estruturado para que não se repitam conteúdos, para que não
sejam trabalhados conteúdos supérfluos, entre outras possíveis ―precipitações‖.
Todos têm a ganhar com ações como as do PIBID, os alunos das escolas públicas
recebem atenção e conteúdos, proporcionando-os acesso a conhecimento. Os membros do
PIBID, além de receberem a bolsa para ajuda em suas atividades e até em suas permanências
no ensino superior, aprendem bastante, tanto na parte pedagógica, como na parte didática, mas
principalmente na parte da experiência, pois essa ira para o resto de sua vida.
Referências
ANEXOS
Foto 2 – Selecionando os materiais para serem entregues aos alunos (peças redondas do jogo ―torre de Hanói‖ e
cordões) para que eles fizessem as medições de circunferência e diâmetro.
Foto 3 – Auxiliando alunos a encontrarem os valores das medições em uma régua desenhada em tamanho
original no quadro.
Foto 4 – Alunos fazendo as medições utilizando cordões e peças do jogo ―torre de Hanói‖.
Introdução
101
Professor da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG - CDSA, Campus de Sumé - PB. Mestre em
Educação Matemática - UEPB.
102
Professor da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE - Recife -PE, Atua no Programa de Pós-Graduação
em Educação Matemática e Tecnológica - EDUMATEC. PhD em Educação pela University of Warwick -
Inglaterra.
(ex. assistindo TV, lendo jornais, olhando para anúncios publicitários e propagandas enquanto
fazem compras ou visitam websites na internet e etc.)".
Sabemos que o objetivo de um pesquisador ao interpretar dados estatísticos não são os
mesmos de um consumidor numa loja virtual ou de um eleitor lendo pesquisas de opinião
sobre os candidatos num período de campanha. Da mesma forma que os professores e seus
estudantes também têm intenções específicas no que se refere ao uso de dados estatísticos,
assim, os contextos não são fixos e desempenham diferentes papeis em suas interpretações.
Portanto, essas situações até aqui apresentadas, nos evidenciam um cenário complexo
em que se constitui a atividade de compreensão e o uso da Estatística nesse atual contexto de
mundo.
O Letramento Estatístico
Apesar de ter se tornado uma política pública nacional, e por conseguinte, ter sido
―instalada‖ nas redes públicas de ensino, municipais e estaduais de ensino, ainda são grandes
os desafios da Educação do Campo. No âmbito das gestões de grande parte das redes de
ensino e nos discursos e práticas de muitos professores, a Educação do Campo ainda não foi
desenvolvida conforme foi pensada.
Segundo Molina e Sá (2012), a definição de escola do Campo conquistada no decreto
7.352/2010, compreende aquelas localizadas em área rural ou que atendam populações do
campo ainda que situadas em área urbana.
Adquirir o rótulo de escola do Campo, não necessariamente é garantia de que tal
escola atenda as orientações da Educação do Campo, mesmo porque faltam professores
formados na perspectiva dos princípios que motivaram a luta por essa abordagem específica
para as populações do Campo.
Assim, é comum encontrar dirigentes e docentes de escolas públicas do Campo que
não compreendem nem agem de acordo com os princípios da Educação do Campo (FARIAS;
MACÊDO; MONTEIRO, 2015).
Atualmente, em diversas universidades públicas estão sendo criados cursos de
graduação para a formação inicial de professores para atuarem em escolas do Campo (Molina,
2015). Todavia, esse processo ainda é desafiador. Em particular, ainda é incipiente a
discussão da formação de professores que vão ensinar Matemática e Estatística em contextos
de Educação do Campo.
Alcântara, Monteiro e Lima (2014), ao analisarem um programa de formação de
professores do Campo, identificaram que num universo de 124 professores participantes da
pesquisa, 75% deles afirmaram ter estudado conteúdos estatísticos na formação inicial
(graduação). Entretanto, desses, apenas 35% lembravam de alguns tópicos estatísticos que
foram estudados e listaram corretamente tais conteúdos num dos itens de um questionário
aplicado.
Considerando a formação inicial dos professores e que tais conteúdos já haviam sido
introduzidos na formação continuada que estavam cursando, esses resultados apontam para a
necessidade de se investigar, de maneira mais aprofundada, o ensino de conteúdos estatísticos
no âmbito da formação de professores de escolas do Campo.
Diversos estudos contemporâneos têm enfatizado a diversidade relacionada aos
processos de ensino e aprendizagem da Matemática em variados contextos socioculturais
(D‘AMBROSIO, 1990; LERMAN, 2006; SOLOMON, 2009).
Apesar de uma tendência internacional de se considerar as especificidades da
Educação Matemática, no Brasil ainda são poucas as pesquisas que investigam o ensino e a
aprendizagem dessa área de conhecimento em determinados contextos. Por exemplo, poucos
são os estudos que discutem sobre como acontece o ensino de Matemática em milhares de
escolas públicas do Campo do país.
Knijnik e Wanderer (2014) argumentam que os conhecimentos matemáticos têm
estado vinculados ao poder econômico de classes socioeconômicas dominantes. Os conteúdos
de Matemática, as práticas de ensinar e aprender Matemática na escola estariam vinculados
aos valores e interesses dessa classe dominante.
Assim, a escola estaria considerando apenas alguns saberes de Matemática, negando a
importância de conhecimentos e práticas vinculados a contextos específicos, tais como
aqueles que são desenvolvidos em áreas rurais. As autoras enfatizam que os conhecimentos
instituídos nos currículos escolares de Matemática devem ser acessíveis aos estudantes de
todas as classes e contextos sociais. Elas argumentam que os estudantes deveriam pensar e
repensar situações matemáticas a partir de suas realidades, especialmente aqueles que
exercem atividades profissionais nas quais são trabalhados conteúdos matemáticos.
Essa perspectiva de integração dos saberes dos cotidianos dos estudantes no âmbito da
educação escolar em contextos do Campo ainda constitui-se um grande desafio. Neste
sentido, se considerarmos por exemplo, as orientações e o material didático do Programa
Governamental Escola Ativa que vigorou até 2012 para escolas multisseriadas do Campo,
podia-se constatar que o mesmo não atendia as tal perspectiva.
Alves e Monteiro (2011) analisaram a coleção de livros didáticos de Matemática para
o Ensino Fundamental, e constataram que esses recursos didáticos abordavam minimamente
conteúdos de Estatística (aproximadamente 2% do total das tarefas), desconsideravam os
contextos sociais ou abordavam de maneira pejorativa e preconceituosa, por exemplo com
imagens estereotipadas da população do Campo.
Lima (2015) tece algumas considerações sobre os atuais livros didáticos usados para o
ensino de Matemática para escolas do Campo e que foram aprovados pelo Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD) o qual constitui-se numa ação governamental que avalia e distribui
livros didáticos escolares. Segundo aquela autora, é preciso aprofundar a reflexão sobre a
utilização de um mesmo recurso pedagógico em milhares de escolas do Campo num país
como é o Brasil, com dimensão continental e com tantos diferentes contextos sociais.
Defendemos que se faz urgente o aprofundamento teórico e metodológico sobre
conteúdos curriculares de Matemática (que incluem os de Estatística) no sentido de favorecer
com que sejam atingidos os princípios da Educação do Campo de valorizar a cultura e os
conhecimentos locais no âmbito do ensino e da aprendizagem desses conteúdos (FRANÇOIS
et al., 2015).
Assim, o reconhecimento oficial da Educação do Campo como política pública
nacional foi uma conquista muito importante. Todavia, continua a ser um grande desafio, a
implantação dessa política de maneira que respeite os princípios para os quais foi criada.
Adler et al. (2005) afirmam que a educação tem sido massificada ao redor do mundo
como consequência de políticas globais. De alguma maneira geral, a massificação tornou
acessíveis conteúdos curriculares de Matemática para um número expressivamente maior de
pessoas, mas essa expansão perece que não foi acompanhada pela busca de um ensino que
garantisse a aprendizagem significativa. Essa situação seria, entre outras causas, consequência
das incipientes iniciativas nacionais e internacionais que apoiassem a qualificação de práticas
docentes e repercussão positiva para o ensino escolar.
No âmbito de discussões teóricas sobre contextos do ensino de Matemática em escolas
do Campo, não se pode negar a importante contribuição da Etnomatemática (D'AMBROSIO,
1990) e da Educação Matemática Crítica (SKOVSMOSE, 2001).
Todavia, faz-se necessário investigar e desenvolver situações, tarefas e atividades nas
quais se possam propor uma vinculação mais explícita de aspectos socioculturais com
conteúdos curriculares ensinados nas escolas do Campo, por exemplo, no que se refere aos
conteúdos de Estatística.
Solomon (2009) argumenta que a análise dos contextos sociais e culturais nos quais
estudantes vivem é essencial para compreender como tais estudantes aprendem ideias
matemáticas. Entretanto, aquela autora também enfatiza que faz-se necessário o contexto
social da escola, pois também influencia no modo como os estudantes desenvolvem suas
identidades de participação ou marginalização no que refere a construção de conhecimentos
formais escolares.
Neste sentido, a maneira como professores e seus alunos tratam os conhecimentos
formais, tais como as noções estatísticas podem ter repercussões para suas vidas como
cidadãos, e para as comunidades nas quais participam.
Considerações
Referências
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prospective teachers. Statistique et Enseignement, v. 6, n. 1, p. 3-23, 2015.
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research? Statistique et Enseignement, v. 1, n. 1, p. 5–20, 2010.
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2003. p. 391- 405.
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Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio, Expressão Popular, 2012.
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aprendizagem de matemática em escolas rurais. Roteiro (UNOESC), v. 37, n. 1, p. 23-50,
2012.
STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of qualitative research: Techniques and procedures for
developing grounded theory. Londres: Sage, 1998.
WELSH, E. Dealing with data: Using NVivo in the qualitative Data Analysis Process.
Qualitative Social Research, v. 3, n. 2, p. 1-9, 2002.
Introdução
103
Doutora em Educação. Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe. Grupo
de pesquisa: Educação e Movimentos Sociais – GPEMS, Grupo de Estudos e Pesquisas Identidades e
Alteridades – GEPIADDE. Email: mari.santos@uol.com.br
104
Graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho.
Membro do grupo de pesquisa: Educação e Movimentos Sociais – GPEMS. Email: wanderleias@yahoo.com.br
105
Graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho.
Membro do grupo de pesquisa: Educação e Movimentos Sociais – GPEMS. Email: Dantas.zelia@gmail.com
Uma escola do campo não é, afinal, um tipo diferente de escola, mas sim é a escola
reconhecendo e ajudando a fortalecer os povos do campo como sujeitos sociais,
que também podem ajudar no processo de humanização do conjunto da sociedade,
com suas lutas, sua história, seu trabalho, seus saberes, sua cultura, seu jeito
(CALDART, 2000b, p. 66).
estabelecer algumas reflexões mais específicas sobre a importância das práticas sociais serem
representadas no currículo escolar, e nos levou a continuar pesquisando nessa temática.
Nesse texto apresentamos alguns dos resultados da pesquisa realizada do segundo
projeto no período corresponde entre agosto de 2014 e julho de 2015. A pesquisa foi
desenvolvida em cinco dos oito territórios sergipanos em povoados e assentamentos de
reforma agrária. Participaram trabalhadores do campo e professores das escolas do campo.
Buscando atingir os objetivos da pesquisa fizemos uso procedimentos metodológicos
considerados como ―do tipo etnográfico‖ para tanto priorizamos a entrevista e a observação
participante como instrumentos metodológicos.
A entrevista, enquanto procedimento relevante para esta pesquisa, não foi utilizada
como uma simples técnica de coleta de dados. Ao fazer uso desse procedimento, não
estávamos interessados em garantir a ―pureza‖ das informações coletadas, desconsiderando a
subjetividade das informações e nossa interferência como pesquisadora. Compreendemos,
seguindo Silveira (2002, p. 126), como um jogo no qual as pessoas envolvidas (entrevistados
e entrevistador) ocupam lugares diferentes, têm objetivos também diferenciados, mas todos
exercem seu poder, ou seja, mesmo que, aparentemente, quem entrevista conduz as perguntas
para seus objetivos de pesquisa, quem é entrevistado também determina o que vai ser dito
sobre o que lhe foi perguntado: seleciona a sua fala a partir do que considera importante ser
expresso, ser conhecido pelos entrevistadores ou, ainda, o que ele ou ela (indivíduo
entrevistado) acha que seus entrevistadores querem ouvir. A esse respeito, Silveira (2002, p.
130) diz que:
Quando realizamos as entrevistas, tentamos como diz Silveira (2002, p. 134), ocupar o
lugar de ―provocador de outras verdades, outras histórias, outras lógicas‖, compreendendo
que não teríamos de nossos entrevistados e entrevistadas ―a verdade‖ e que, ao analisar suas
falas, o faria ancorada em um conjunto de referencias que nos possibilitariam significá-las de
determinada forma. É desse lugar que significado ao meu e aos seus mundos, as minhas e as
suas coisas, as nossas culturas.
A observação direta e participante foi também um recurso metodológico relevante no
desenvolvimento da parte empírica dessa pesquisa. Fazer uso desse recurso nos possibilita um
maior envolvimento com o grupo, indispensável para nossa compreensão de alguns aspectos
das práticas sociais e também das unidades de medida. Necessário se faz enfatizar que esse
conhecimento ―do outro‖, de suas práticas culturais nunca acontece na sua totalidade, ou seja,
conhecemos do outro o que ele nos permite conhecer. E o que conhecemos, elaboramos e
ressignificamos esse outro a partir do nosso olhar, da nossa cultura (SANTOS: 1997).
Pela densidade e complexidade do trabalho, essa pesquisa foi estruturada para ser
desenvolvida em etapas. Na primeira etapa a delimitação de abrangência da pesquisa.
Inicialmente eram oito territórios, entretanto, a dificuldade de acesso a algumas comunidades
campesinas levou a uma redefinição alterando para cinco territórios (Baixo São Francisco,
Agreste Central, Médio Sertão, Alto Sertão e Centro Sul). Na segunda etapa identificamos e
entrevistamos trabalhadores e professores do campo sobre suas práticas e unidades de
medidas. A terceira etapa (ainda não concluída) é dedicada a análise dos dados e informações
resultante das entrevistas e observações. A quarta e última etapa, da socialização dos
resultados, pretendemos publicar artigos e produzir material pedagógico ainda não foi
desenvolvida.
A Pesquisa
Ainda sobre a variação do celamim, outra assentada afirma algo semelhante. Diz ela:
―Um quarto de mandioca vai dar uns 40 celamins de farinha. O celamim tem vários tamanhos,
pode ter 9, 10 ou 11 litros. A medida maior é a melhor‖ (Dona Maria107.
Entretanto parece que há certa confusão em relação a essa medida. Sr. Robério108 do
povoado Cajueiro dos Potes faz a seguinte descrição do celamim e do litro:
106
Assentado no assentamento Santaninha, Pacatuba, território Baixo São Francisco.
107
Assentada no assentamento Santaninha, Pacatuba, território Baixo São Francisco.
108
Pequeno agricultor do Povoado Cajueiro dos Potes, Aquidabã, território Médio Sertão.
Nos temos também o litro. Ele tem a característica de pesar, a gente enche
ele de farinha, de feijão, de milho. A farinha dependendo da época do ano dá
800 gramas cada litro. Se for feijão ou milho se for um terreno bom com
cloreto de potássio ele vai dá um quilo. Se colocar na balança vai dá
certinho um quilo. Então é 10 litros desses pra encher ela (a medida). E duas
medidas de 10 litros dá um celamim que se pesar na balança vai dá 20
quilos(Sr. Robério).
...a história do quilo na farinha foi uma confusão pra aceitar, e muita gente
não obedece. Toda farinha aqui tem que passar pela medida do celamim.
Nem que, quando sair daqui, seja pesada, mas a gente já sabe quantos
celamins saiu e quantos quilos tem cada um.
A Educação
109
Assentado no assentamento Santana dos Frades, Pacatuba, território Baixo São Francisco.
(...) nas obras, observei a presença dos filhos de seu Aristides, de seu Pedro, de seu
Luís e de Valmir já aprendendo o oficio de pedreiro. Os mais jovens (...) Idnei e
Ivonei, com idades de oito e treze anos (...) Por muitas vezes, Ivonei tentou assumir
a tarefa de ―misturar a massa‖ sozinho, mas foi impedido peloservente, que lhe
permitia somente encher os baldes com água. Porém quando o servente se
descuidava, ele enchia a pá de areia e jogava na betoneira, participando do
processo de preparação da massa que seria usada para o concreto de uma laje.
Considerações Finais
O estudo realizado até o momento nos mostrou que as unidades de medida que
integram a cultura campesina, como a braça, o palmo, a polegada, o celamim e a vara,
somente ―entravam‖ na escola de forma muito indireta e eventualmente, mesmo fazendo parte
da vida cotidiana da maioria dos povoados e assentamentos. Apenas nas aulas de artes, as
alunas e os alunos eram convidados a apresentar o artesanato da sua comunidade. A partir das
narrativas que escutamos e do que observamos, esse tem sido o único espaço no qual a escola
de cada um daqueles povoados tem permitido que os saberes das práticas sociais das famílias
que ali vivem se façam presentes.
Pudemos constatar, por ocasião da pesquisa de campo, que, naqueles povoados e nos
dois assentamentos, havia um descompasso muito grande entre a vida escolar das crianças e
jovens assentados e a vida camponesa ―fora‖ da escola. Os saberes presentes nas práticas
sociais que eram criados e recriados pelas pessoas da comunidade pareciam não ser do
A fala das professoras nos faz pensar sobre o lugar que a escola tem ocupado no meio
rural e sobre o quanto a cultura camponesa, no âmbito da educação matemática, está ali
ausente. A pesquisa nos mostrou que as práticas sociais da produção e as unidades de medida
nelas envolvidas fazem parte ―da história, do trabalho, da cultura‖ dos camponeses dos
povoados e assentamentos de pesquisados.
O tempo (um ano) para desenvolvimento do projeto foi insuficiente para apresentar
conclusões, visto que faltam ainda três territórios e nos cinco pesquisados só conseguimos
abranger o trabalho na agricultura. Provavelmente outras práticas, a exemplo das práticas
―artesanais‖ nos assentamentos, nos demais povoados poderão apresentar outras unidades de
medida ou enfatizar as que apareceram somente em dois territórios. Portanto continuar o
desenvolvimento desse projeto será fundamental para uma possível proposta de trabalho
110
Assentada e professora em Santana dos Frades. Pacatuba, território Baixo São Francisco.
111
Primeira professora dos assentamentos Santaninha e Santana dos Frades, Pacatuba, território Baixo São
Francisco.
Referência
CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. Vozes, Petrópolis – RJ,
2000a.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. 6 ed. São Paulo, Cortez,
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Cultural na Pós-Modernidade. DP&A, Rio de Janeiro, RJ, 2003.
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Estado e Sociedade. IN: ANDRADE, Márcia Regina et cols (Org.) A Educação na Reforma
Agrária em Perspectiva: uma avaliação do programa nacional de educação na reforma
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RAMOS. Marise Nogueira. A Pedagogia por Competências. 3ed. São Paulo: Cortez, 2006.
SOUTO MAIOR, Armando. Quebra-quilos: lutas sociais no outono do império. São Paulo:
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dobram nos corpos produzindo o que somos. In: Educação & Realidade, n.22,jul/dez., 1997.
p. 81-115.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O currículo como fetiche. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
Introdução
Objetivos:
Fundamentação teórica
Metodologia
focada a pratica dos alunos, ou seja onde eles possam exercer suas próprias funções, quando
montamos a oficina de construção de Pufs, Onde utilizamos apenas garrafas pets de 2 (dois)
litros, fila isolante, jornal, papelão, ou seja ainda utilizando a teoria dos 3 (três) R, reduzir,
reciclar reaproveitar. Matérias que encontram em nossas casas, na rua, em fim mostrar para
eles, discente o quanto é importante reutilizar o que nos temos, para produzir novos objetos,
como os pufs, que se usar a criatividades ficam belas artes, para uma sala um quarto, em fim
salientando que a pratica construtiva desse material torna os alunos empolgados para ver os
resultados deles mesmos, com tão poucos utensílios. Vejam a segui na figura número 2 e 3.
Construímos jogos de ciências sobre as cadeias alimentares, onde montamos o jogo com
cartolina e papelão e impressões de figuras, recortamos e formulamos as cadeias.Em seguida
aplicamos nas turmas inicias do fundamental II, percebemos que fui uma oficina muito
produtiva pois eles despertaram, uma pratica inovativa, alem de anexem melhor o conteúdos
que afinal para pré adolescentes, a aulas se tornam paralelas com muita facilidade, daí as aulas
praticas são muito proveitosas, diante da perspectiva de nos como bolsistas que observam,
como eles desenvolvem com muito mais intuito em um jogo sendo que estão aprendendo e
prestando mais atenção. Segue a figura (4).
Análise de resultados
Considerações finais
Referências
Introdução
Método
Resultados
Ciências Agrícolas, contudo, para efeito da construção desse artigo, utilizaremos apenas 4
egressos para análise parcial, como pode ser visto na tabela 1 - Caracterização dos egressos:
quanto sexo, faixa etária, formação, atual atividade, ano de formação e campo de atuação
Ambiental.
Pesquisa na
UFPE
(pós-doc)
emprego na área de ensino, seja voltado para educação formal ou não formal‖
(EGRESSA 2).
Como relata a Egressa 2, que direciona sua atuação para o ensino (formal ou não
formal), sendo uma das áreas da atuação do Licenciado em Ciências Agrícolas, trazendo a
visão holística e procura orientar sua formação continuada para atuação docente.
Já a Egressa 3, trouxe a seguinte reflexão, da importância da formação para sua
atuação profissional.
Ser educador hoje é viver intensamente o seu tempo; conviver é ter consciência e
sensibilidade, não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, assim
como não se pode pensar no futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão
emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica,
mas também formam pessoas cidadãs.
O educador é o responsável por estimular o prazer de compreender, descobrir,
construir o conhecimento, curiosidade, autonomia e atenção no aluno. É preciso ensinar a
pensar; a pensar a realidade e não apenas o "já dito" o "já feito", e só reproduzir o
conhecimento, vai de encontro a fala do Egresso 4, que fez a reflexão sobre a atuação como
professor em cursos de nível superior e trazendo consigo novos meios de perder a ―Timidez‖
e conhecer novas ações pedagógicas, métodos e didática. ―Ser educador formado em
Ciências Agrícolas é algo a mais. Em minha opinião, qualquer professor da área de
Ciências Agrárias e afins deveria ter esta formação. Infelizmente não tem. Aqui onde
leciono apenas eu tenho esta formação‖ (EGRESSO 4).
O profissional de LA, é muito desafiado a pensar sua prática agrícola associada aos
princípios da educação, como uma prática pedagógica, como uma ação de ensino e
aprendizagem, estimulando o debate acerca do meio ambiente, sustentabilidade e outros temas
agrários fundamentais.
A Ciência Agrária deve orientar para reduzir as diferenças e desigualdades existentes
entre a sociedade rural e a urbana, promovendo o desenvolvimento amplo, valorizando a
diversidade cultural, ajudando na organização social com todos os membros da família,
melhorando as vias de comunicação do interior, provocando a necessidade da reforma agrária,
propiciando a tecnologia alternativa para a lavoura, criando redes de trocas e fortalecendo a
existência das escolas no campo.
Mas, é inegável o quanto é desafiador, criar estratégias de organização e mobilização
para evitar que se acentuem os desequilíbrios entre regiões, desequilíbrios tão comuns e
graves nos países subdesenvolvidos. Mas, esse desafio é colocado e dado para reflexão
durante o processo de formação do curso de LA.
As diferenças sociais entre o meio rural e urbano são acentuadas, evidenciam como
culturas diferenciadas, por tanto, esse é um ponto desafiador para o licenciado em Ciências
Agrícola, compreender e ao mesmo tempo articular com muitas disciplinas, para serem
demonstradas na semana de culminância112.
112
Semana de Culminância, consiste na atividade realizada no final do semestre, onde todos os períodos
organizam de forma lúdica uma apresentação que contemple todos os conteúdos do semestre.
Para aqueles educandos e educandas de LA, que nunca tiveram contato com
comunidade, e pensar uma proposta de forma interdisciplinar de desenvolvimento, realmente
é um grande desafio, pois até então, muitas vezes em seus cursos do bacharelado, nunca
foram motivados a pensar para além de sua área, muito menos dialogar com aspectos social.
Por meio dessas experiências, podem acessar a teoria pedagógica e vivenciar a prática,
seja por meio de uma visita na escola formal ou mesmo atividade de extensão, como prática
de educação não formal. Analisando nesse viés, vemos à resposta do Egresso 1. Mergulhado
no sentido, tão vasto e amplo das teorias político-pedagógicas adquiridas com a LA, ao longo
dos semestres, foi estudando e praticando de forma interdisciplinar, vemos o profissionalismo
e a preocupação com a práxis tão falada, que fez adquirir mais teorias, conhecimentos e ações
praticadas para melhor desenvoltura em sua carreira.
A separação, a oposição, entre teoria e prática é frequentemente denunciada pelos
educadores, ao mesmo tempo em que é explicitado o desejo de buscar novas formas de
relacionamento entre estas duas dimensões da realidade. Superar a dicotomia entre teoria e
prática, é condição fundamental para a busca de alternativas na formação do educador e
educadora crítica e sujeito da transformação social.
Para Saviani (1996), nos ajuda a entender, quando afirma que a teoria exprime
interesses, objetivos e finalidades, se posicionando a respeito de qual rumo a educação deve
tomar. Neste sentido, a teoria não é apenas retratadora ou constatadora do existente, é também
orientadora de uma ação que permita mudar a realidade. Quanto à prática educacional, ela é
sempre o ponto de partida e o ponto de chegada.
Desta forma, todos os componentes curriculares deveriam trabalhar a unidade teoria-
prática sob diferentes configurações, para que não se perca a visão de totalidade da prática
pedagógica e da formação como forma de eliminar distorções decorrentes da priorização,
sendo assim no curso de LA, tenta une as duas dimensões, como descreve a fala. ―Foi na
visita a um grupo de sem-terra: uma troca de experiência incrível, onde vivenciamos
atividades realizadas por um grupo de trabalhadores e podemos passar um pouco de
teoria para eles” (EGRESSA 3).
Vemos na fala da ―Egressa 3‖ a importância do ofício do professor, uma vez que os
docentes devem ser preparados no sentido de possuírem domínio em sua área, com
conhecimento, prática e clareza em relação à aprendizagem dos alunos e como podem auxiliar
nesse processo. Destacando que a formação transpassa a didática como atualização
acadêmica, pedagógica e transforma que as pessoas aprendam e se adaptem para poder
conviver com mudanças e incertezas.
Considerações
Referências
FERRAZ, B.T & DINIZ, P.C.O. Concepção de docência e desafios para a formação do
educador: (re) pensando as ciências agrícolas no contexto da educação do campo. In:
MACEDO, Geralda, CARVALHO, Maria Elizete Guimarães (Orgs.) Educação escolar do
campo e direitos humanos. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.
CANDAU, V.M (Org.). Rumo a uma Nova Didática. 10 ed. Petrópolis: Vozes. 1999. p.56-
72.
Introdução
113
Artigo é fruto da pesquisa de Iniciação Científica- Pibic/CNPq intitulada ―Formação Continuada das(os)
Professoras(es) das Escolas Localizadas nos Territórios Rurais do Município de Caruaru-PE‖.
114
Este programa é realizado com a parceria do governo federal, e especificamente no município de Caruaru-PE
é o único programa especifico e diferenciado para as escolas dos territórios campesinos. O Programa Escola da
Terra busca promover o acesso, a permanência e a melhoria das condições de aprendizagem dos estudantes de
variadas idades e dos anos iniciais do ensino fundamental (Classes Multisseriadas), do campo e quilombolas em
suas comunidades.
Educação do/no campo e formação continuada de professoras (es): reflexões a partir dos
Estudos Pós-Coloniais Latino-Americanos
115
Esta nomenclatura é utilizada por diversos povos indígenas da América Latina que significa a afirmação das
identidades nativas nos territórios/povos colonizados.
desdobra-se em três eixos: Poder, Saber, Ser. Nesse sentido, ampliando essa discussão Walsh
(2008) pontua um quarto eixo a Colonialidade da Natureza.
A Colonialidade é a outra face da modernidade. O lado perverso do ideário moderno
que se justifica como processo de salvação dos povos considerados inferiores (não europeus)
pelos que se alto-denominam superiores (europeus). Processo esse que se constitui através das
Heranças Coloniais deixadas pela Colonização-Colonialismo presentes, por exemplo, nos
sistemas de ensino e nos processos de formação de professoras (es) da Educação do Campo,
ao deslegitimar os povos campesinos e seus territórios enquanto produtores de conhecimentos
válidos.
Assim, vale evidenciar que essas Heranças coexistem conflitivamente com as lutas dos
Movimentos Sociais do Campo ao compreenderem que ―a Educação do Campo não é para
nem apenas com, mas sim, dos camponeses, expressão legítima de uma pedagogia do
oprimido‖ (CALDART, 2012, p. 261). Nesse sentido, pontuamos que os Estudos Pós-
coloniais Latino-americanos ao questionarem a lógica colonial, apresentam condições de
desenvolvermos relações com os Paradigmas Educacionais que se forjam nos Territórios
Rurais.
Diante disso, compreendemos os Paradigmas como construtos históricos que se
constituem fora da lógica homogênea e linear, coexistindo de forma tensa com outros
Paradigmas. Assim, evidenciamos que dentro dessas tensões estão o Paradigma da Educação
Rural Hegemônico e o Paradigma da Educação do Campo.
O Paradigma da Educação Rural Hegemônico pauta-se na Colonialidade do Poder ao
se configurar em uma relação assimétrica entre os povos rurais, classificados enquanto
inferiores e os povos urbanos, enquanto superiores. Atrela-se a essa lógica hierárquica e
classificatória, a Colonialidade do Saber ao negar a condição epistêmica dos povos dos
Territórios Rurais, legitimando como únicos saberes válidos, os produzidos no território
urbano.
Nesse sentido, justifica-se a oferta de uma educação para os povos do campo
―assistencialista, tecnicista e compensatória com o objetivo de fixar os sujeitos campesinos
nos seus territórios, mas em obediência à agenda urbana de desenvolvimento‖ (SILVA et al,
2014, p.19-20). Ligada diretamente à essa relação perversa, materializam-se também a
Colonialidade do Ser, quando os povos subalternizados interiorizam a ―condição natural‖ de
raça inferior. Assim, constitui-se enquanto uma força opressora, pois segundo Freire (2005,
p.24), ―a opressão só existe quando se constitui em um ato proibitivo do ser mais dos
homens‖. Nesse caso, os povos do campo têm suas identidades inferiorizadas através da
criação de estereótipos aceitáveis ―jecas tatus‖, ―caipiras‖ e ―matutos‖ que os tornam o
modelo do não-ser, do não-humano.
O Paradigma Rural Hegemônico funda-se na Colonialidade da Natureza que se
constitui na relação binária entre mulher/homem e natureza, pautada em ações exploratórias
que tendem favorecer a lógica capitalista, expressa no agronegócio. No entanto, evidenciamos
que essas forças desumanas de exploração se estendem as (os) camponesas/camponeses que
passam a ser vistos como seres naturais, por isso passíveis a exploração (LEMOS, 2013).
Na tessitura do Paradigma Rural Hegemônico ―o campo é visto como uma extensão,
como um quintal da cidade. Consequentemente, os profissionais urbanos, médicos,
enfermeiras, professores estenderão seus serviços ao campo (ARROYO, 2007, p. 159). Desse
Desse modo, evidenciamos que a luta dos Movimentos Sociais Campesino advoga por
uma Educação do/no Campo que considere as especificidades dos povos em suas diferenças.
Assim, nos possibilitam destacar a relevância em propostas de formação específicas e
diferenciadas, formação esta que é ―antes de tudo processo de desenvolvimento humano e
profissional, daí o seu caráter de busca permanente‖ (SANTOS, 2014, p. 64-65).
Nessa tessitura, o Paradigma da Educação do Campo associa-se a Interculturalidade
Crítica, na medida em que busca a partir do diálogo conflitivo, desafiar a invisibilidade das
culturas e identidades dos povos colonizados, questionando e rompendo com as estruturas de
poder (WALSH, 2008). Dessa forma, possibilita afirmar e valorizar, sujeitos outros,
territórios outros e formas outras de produzir conhecimentos.
A Interculturalidade Crítica ao questionar as práticas coloniais que historicamente
silenciaram os povos do campo, evidencia um processo educacional outros. Nesse sentido,
constitui uma Educação Intercultural Crítica. Segundo Walsh (2005, p. 10), para que a
Educação seja de fato Intercultural Crítica, ―es preciso que todas las culturas implicadas en el
proceso educativo se den a conocer y se difundan en términos equitativos‖.
A Educação Intercultural Crítica está alicerçada em uma Pedagogia Decolonial, que
compreende os processos educativos e formativos fora dos cânones coloniais. Esta Pedagogia
Decolonial, se constitui de modo a romper com a Colonialidade do Saber, por reconhecer e
validar formas outras de produção de conhecimentos. Assim, a Formação Continuada,
alicerçada na Pedagogia Decolonial, tem a função de manter as(os) professoras(es) das
Escolas localizadas nos Territórios Campesinos, atualizadas(os) quanto aos saberes próprios
de sua profissão (ARROYO, 2010) e se constitui enquanto, uma prática pedagógica
emancipatória e decolonial.
Metodologia
Esta seção apresenta o caminho metodológico através do qual foi realizada esta
pesquisa. A construção desse percurso é de fato uma das etapas fundantes da pesquisa, que a
cada passo, vai se (re) estruturando de forma não linear, dando origem a uma forma própria de
compreender um dado objeto. A pesquisa apresenta como campo empírico; a Secretaria de
Educação, Esporte, Juventude, Ciência e Tecnologia (SEEJCT) do Município de Caruaru-PE.
Conta com três sujeitos: 1 responsável pela coordenação do Departamento do Campo na
Secretaria Municipal, codificada por (C.D.C) e 2 professoras, codificadas por (P1 e P2), com
os quais realizamos a coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas. A seleção das
(os) professoras (es) sujeitos da pesquisa, ocorreu a partir do seguinte critério: a) a
participação regular nas Formações Continuadas. Como fontes documentais contamos com: o
Manual de Gestão da Escola da Terra e o Projeto Político Pedagógico- Escola da Terra,
documentos esses disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação.
Como técnica de análise de dados, a Análise de Conteúdo, que busca a compreensão
dos fatos para além do imediato, via técnica de Análise Temática, que se efetiva em três fases:
Pré-análise, exploração do material, tratamento e inferências (BARDIN, 1977; VALA, 1991).
Na primeira fase ocorreu o levantamento dos documentos (Manual do Programa Escola da
Terra e Projeto Político Pedagógico da Formação Continuada do Programa Escola da Terra).
Na segunda fase ocorreu a exploração do Corpus Documental que foi construído, de
modo a codificar os dados, construindo núcleos de sentido para que estejam passivos à
análise. A terceira fase ―consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma
comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico‖
(MINAYO, 2010, p. 316). Nessa fase, realizamos inferências e interpretações dos dados,
realizadas com base na abordagem dos Estudos Pós-coloniais Latino-americanos. Pontuamos
que esta pesquisa se estrutura com a finalidade de ir além da certificação e/ou negação dos
pressupostos apresentados, a fim de possibilitar novas interpretações sobre o que estamos
pesquisando.
Esta seção apresenta os resultados que emergiram a partir da análise das entrevistas
semiestruturadas e dos documentos referente ao Programa Escola da Terra. Assim, pontuamos
que a partir do Lugar-Tempo-Conteúdos da Formação Continuada tratado nesta pesquisa,
identificamos o Lugar-Tempo da Formação Continuada promovida pelo Programa Escola da
Terra no Município de Caruaru-PE. Bem como, também, os conteúdos presentes na
Formação.
Desse modo, identificam que o referido curso de aperfeiçoamento é vivenciado pela
Alternância Pedagógica: Tempo-Universidade/ Tempo-Comunidade. Neste sentido,
evidenciamos que o curso de Formação Continuada conta com uma carga horária de “180
horas que serão vivenciadas em Alternância Pedagógica: Tempo-Universidade: 90 horas –
3 módulos de 30 horas e Tempo-Comunidade: 90 horas – 3 módulos de 30 horas‖ (PPP,
2014, p.5).
Compreendemos que a Formação Continuada reconhece a importância de manter uma
relação de ―diálogo entre os saberes escolares e os saberes da realidade das comunidades
atendidas‖ (PPP, 2014, p.5), pois considera a comunidade/escola como lugar-tempo
formativo. Esta relação forja-se na perspectiva da Pedagogia da Alternância (CALDART,
2004) ao valorizar as vivências desenvolvidas tantos nas universidades, escolas como nas
comunidades campesinas, possibilitando a articulação entre esses lugares-tempos.
Na fala a seguir fica evidente como a Formação Continuada se desenvolve no por
intermédio da Alternância Pedagógica:
A formação que a gente participa tem dois momentos que o curso chama de
dois tempos. Bem, participamos de encontros na Universidade Federal de
Pernambuco, aqui em Caruaru e a outra parte do curso acontece nas nossas
escolas mesmo, junto aos alunos, a comunidade. É assim que ocorrem os
módulos do curso, universidade e escola juntos (P1).
Considerações Finais
Referências
CALDART, Roseli Salete. Educação do Campo. In: CALDART, Roseli Salete et al (Org.).
Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Expressão Popular, 2012. p.
257-266.
LEMOS, Girleide Torres. Os saberes dos povos campesinos tratados nas práticas
curriculares de escolas localizadas no território rural de Caruaru-PE. 2013. 185 f.
Dissertações (Mestrado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 2013.
MOLINA, Mônica Castagna; SÁ, Lais Mourão. Escola do Campo.In: CALDART, Roseli
Salete et al (Org.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo:
Expressão Popular, 2012. p. 324-330.
SILVA, Janssen Felipe da, et al. Paradigmas da educação do campo: um olhar a partir dos
estudos pós-coloniais latino-americanos. In: Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul,
v.22, n.2, jul./dez. 2014, p.09-38.
SILVA, Janssen Felipe; ALMEIDA, Lucinalva Andrade Ataide de. Política Permanente de
Formação de Professores: entraves e possibilidades. In: FERREIRA, Andrea Tereza Brito;
CRUZ, Shirleide Pereira da Silva (org). Formação Continuada de professores: reflexões
sobre a prática. – Recife: Ed. Universidade da UFPE. 2010, p.11-33.
SILVA, Janssen Felipe da; SILVA, Filipe Gervásio Pinto da. Organização das Escolas do
Campo do Sistema de Ensino do Município de Caruaru-PE. Relatório final de atividade de
Iniciação Científica. Anais do XX Congresso de Iniciação Científica da UFPE – CONIC.
Recife, 2012.
VALA, Jorge. A Análise de Conteúdo. In: SILVA, Augusto Santos; PINTO, José Madureira
(Org.). Metodologia das Ciências Sociais. Porto, 1991.
Indrodução
A Escola Municipal de Ensino Infantil e de Fundamental I José Rufino dos Santos está
localizada no território dos remanescentes de quilombos do Matão-PB, conforme retrata a
Figura 01. José Rufino dos Santos foi escolhido no ano de 1986 pelo povo do Matão para ser
o patrono da escola. Segundo o gestor escolar a comunidade decidiu fazer a homenagem ao
idoso pelos seguintes motivos: Na época era o idoso mais velho da comunidade, foi o doador
da terra para a construção da escola, pois escola foi construída no seu lote de terra. E o nome
José Rufino representa várias gerações da comunidade. Como relata Ogum (2015):
Olhe tinha Zé Rufino velho que era filho de Mané Rufino e tinha Zé Rufino
novo. O novo era meu sogro, pai de zé. Ai tinha Zeca Rufino que era pai de
meu sogro. E e.. quem começou aqui na comunidade era trei...ou quato
famia. O Zé Rufino vei... anda foi no tempo da escravidão ainda num sabe?
Aqui nessa sede morava um nego vei, irmã de Zé Rufino tombem, a gente
chama ele....Era Severino Rufino, chamava tÍ biu e toda mininada que tinha
aqui, tinha aquele respeito e tumava a bença a ele né? O Vei ficava com
braço cruzado numa janela que tinha assim e que morava na casa de taipa
né?Aí tinha que respeito pro ele né? Todo mundo...aí avei a gente vinha
brincar no terrero dele, aquela mulecada todinha. Avei durmino se aperiava
com a gente. Mai a gente não respondia mau a ele não. A mai hoje é mai
diferente.
salas são amplas e ventiladas, o que facilita quando o professor desenvolve atividades
pedagógicas em grupo. Mas, a escola do Matão precisaria de um melhor espaço físico, tendo
em vista que o acesso à biblioteca no âmbito escolar é fundamental para o desenvolvimento
da leitura na infância.
Segundo Exu, a escola possui um anexo na comunidade vizinha, Manipeba. No
anexo, a estrutura física é ainda mais precária. É algo improvisado: uma das casas da
comunidade foi comprada pela prefeitura do município de Gurinhém para os estudantes que
moram nesta comunidade estudar. No entanto, não foi realizada nem uma reforma no prédio
para favorecer melhor ambiente físico aos alunos. Com pode ser observado nas Figuras 06 e
07, no edifício da Manipeba, as aulas são ministradas nos turnos diurno, vespertino e noturno.
À noite, frequenta a turma de Educação de Jovens e Adultos. O turno da manhã tem turma
única, multisseriada, que funciona na sala de estar da residência, e o turno da tarde fica com a
educação infantil, que funciona em dos quartos da residência por ser mais ventilado.
Figura 02:Residência utilizada como anexo. Figura 03: Sala de aula da educação infantil
Fonte: Acervo pessoal de Marta O. Barros. Fonte: Acervo pessoal de Marta O. Barros.
De acordo Oxumaré (2015) ―É muito mais difícil trabalhar em espaço onde não
oferece condições física. A gente fica sem ter muito o que fazer‖ . Diante desse contexto,
percebe-se que a estrutura física da escola no Matão, bem como o anexo na Manipeba, é
bastante insatisfatória para a realidade de uma escola de comunidade remanescente
quilombola. Este cenário é visualizado tanto nas escolas do Matão e no anexo na Manipeba,
como em muitas escolas quilombolas e/ou rurais. Na maioria das vezes, a falta de estrutura
física e de recursos didáticos nessas escolas é considerada normal para o poder público, pois
estão situadas em zonas rurais distantes e em comunidades quilombolas.
um lugar bom‖; ―tenho saudade do tempo que estudava aqui‖; ―aqui é como minha casa‖.
Estes relatos são bastante significativos, pois estes jovens têm laços afetivos muito fortes com
a escola. Isto é importante para o desenvolvimento de um ensino relevante. De acordo com
Vygotsky (1998), a afetividade é um elemento importante em todas as etapas da vida da
pessoa e tem proeminência fundamental no processo de ensino e aprendizagem, porquanto o
estudante fica motivado a aprender.
Os professores que atuam nesta escola são todos de outros municípios. Logo, eles não
têm o conhecimento amplo da história e cultura da comunidade. Como narra Iemanjá:
[...] O fato de eu não ser da comunidade. Eu não tenho como conhecer todos
os fatos daqui, eu não sou da comunidade. Então, eu sei é... os fatos a partir
do momento que comecei a trabalhar aqui, mas eu não sei a história. Não
conheço a história a fundo daqui (2015) .
Embora existam leis que garantam aos professores de escolas quilombolas o direito
dos educadores de se qualificar para atuar nessas instituições, as oportunidades são restritas.
As formações continuadas são importantes para que o educador tenha possibilidades de
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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Iemanjá (2015) afirmou: ―eu acho assim, que, para nos ajudar, seria necessária uma
formação. A formação é essencial, porque se a gente tiver uma formação, a partir desse
momento, não seremos mais leigos, não é?‖. Esta entrevista permite compreender que a
professora tem consciência da importância da formação para que consiga desenvolver em suas
práticas o estudo da história e cultura local, já que a implantação de disciplinas com essa
temática em licenciaturas é recente. Portanto, muitos professores que estão em exercício, a
exemplo de Iemanjá, não tiveram esta oportunidade. Como relata a professora Iemanjá
(2015):
―Eu nunca participei de curso voltado para a história e cultura afro... essa
parte assim eu considero que fica muito a desejar, né, em nossos cursos,
porque é um assunto tão requisitado hoje, mas nem todos os cursos
apresentam sequer uma disciplina direcionada a essa temática. Na época que
eu fiz, eu terminei em... 2013, mas eu não paguei nenhuma disciplina voltada
para a história e cultura afro‖.
Na esteira de tais considerações, chamamos a atenção para algo muito relevante para a
profissão de educador: a formação continuada, que está integrada às contradições do ser
professor na sociedade contemporânea.
Para que a educação das futuras gerações seja menos excludente, é necessário que os
professores percebam a necessidade de buscar novas metodologias e construir concepções que
busquem inovar suas atividades pedagógicas. É imprescindível oferecer oportunidades aos
nossos estudantes para que eles entendam e respeitem as diferenças étnico-raciais a partir do
ambiente escolar e possam contribuir com o combate ao racismo em sala de aula. Mas, para
isso, o professor também precisa ter formação profissional adequada, que o habilite a refletir
sobre a prática educativa, pois só através de uma formação o professor poderá empreender
mudanças positivas nos aspectos educacionais dos seus estudantes. Para Nóvoa:
Então, a chegada desse material sem ser acompanhado de uma formação fica
um pouco complicado, porque todo o material, quando chega à escola, é
discutido aqui mesmo... boa parte é aproveitado, mas, na íntegra, a gente não
consegue, porque a maioria dos professores que dão aula aqui hoje não são
da comunidade, são de fora. Não que eles não tenham conhecimentos, mas é
diferente se eles morassem aqui. E como eles trabalham em outras escolas,
têm outras experiências, aí têm aquela vida corrida de pedagogo. Então, a
gente não tem o grau de envolvimento que a gente gostaria de ter dentro da
questão afro, mas todo trabalho que é proposto para eles, que é sugerido pela
turma eles fazem com o maior prazer. Eles têm muita vontade de aprender e
garra para fazer as coisas acontecer (Exu,2016) .
Munanga (2005, p. 15) argumenta que, ―por falta de preparo ou devido à forma como
tiveram sua formação inicial, muitos professores reproduzem na sala de aula atividades
pedagógicas que enfatizam o preconceito e o racismo‖. Ademais, ainda existe resistência de
alguns professores em trabalhar as diversidades étnico-raciais e/ou eles não conseguem inovar
suas metodologias para uma educação que valorize a identidade negra no espaço escolar.
Como ressalta Gomes:
Ainda encontramos muitos (as) educadores (as) que pensam que discutir
sobre relações raciais não é tarefa da educação. É um dever dos militantes
políticos, dos sociólogos e antropólogos. Tal argumento demonstra uma total
incompreensão sobre a formação histórica e cultural da sociedade brasileira.
E, ainda mais, essa afirmação traz de maneira implícita a ideia de que não é
da competência da escola discutir sobre temáticas que fazem parte do nosso
complexo processo de formação humana. Demonstra, também, a crença de
que a função da escola está reduzida à transmissão dos conteúdos
historicamente acumulados, como se estes pudessem ser trabalhados de
maneira desvinculada da realidade social brasileira (GOMES, 2005, p. 146).
Considerações finais
Referências
CANDAU, Vera Maria Ferrão (Org.). Magistério: construção cotidiana. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1997. p. 51-68.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 14. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 2001.
__________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2014.
MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de; CASTRO, Paula Almeida de. Etnografia e
educação Conceitos e usos. Campina Grande, PB: EDUEPB, 2011.
NÓVOA, António (Org.). Professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.
Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4758/1/FPPD_A_Novoa.pdf> .
Acesso em: 10 fev. 2016.
Introdução
É comum em estudos sobre a formação continuada de professores nos dias atuais por
em evidência professores e seus saberes. A formação continuada é compreendida como parte
do desenvolvimento profissional que ocorre ao longo da atuação docente, e permite
possibilitar um novo sentido à prática pedagógica, contextualizada a novas circunstâncias e
(re) significada à atuação do professor.
A necessidade de desenvolver um estudo que contemplasse a análise das contribuições
da formação continuada para os professores da Educação do Campo tem suas raízes na minha
história profissional, especialmente a partir de 2009, quando passei a trabalhar com formação
de professoras que atuam no Campo por meio do Programa Escola Ativa onde coordenava os
microcentros, uma espécie de encontro de professores que discutiam dentre outras coisas
sobre as práticas pedagógicas, as metodologias utilizadas e seus desdobramentos de um modo
geral.
Esta ideia se fortaleceu ainda mais quando ingressei no curso de mestrado em
Educação e defini que investigaria sobre práticas educativas e sucesso escolar na Educação do
Campo, na ocasião, quando questionei à respeito das formações continuadas recebidas
anteriormente os professores em suas falas, revelaram nunca ter tido antes uma formação
continuada voltada para a Educação do Campo.
Essa constatação somada ao contato com o cotidiano com professores da Educação do
Campo e às leituras em que eu vinha aprofundando sobre Educação, práticas educativas e
sucesso escolar, possibilitaram um desejo maior de pesquisa quanto à formação de professores
da Educação do Campo.
Com relação a prática da formação continuada, dois anos depois da realização dos
microcentros (encontros de formação mensal realizado com todos os professores da Educação
do Campo do município Verde, assim denominado por uma questão de sigilo), me indaguei:
será que os professores do campo que participaram do Programa Escola Ativa e como
consequência dos microcentros, ao longo da carreira docente perceberam mudanças no
desenvolvimento de seu trabalho?
Nessa perspectiva, busquei amparo na literatura a fim de aprofundar meus estudos
sobre a temática. Pesquisas realizadas por Sacristán (1999); Pimenta (2002); Libâneo (2001);
Araújo e Yoshida (2009) entre outros me deram suporte de modo a compreender a produção
dos saberes docentes, bem como da necessidade dos educadores se apropriarem de uma
formação crítico-reflexiva, de modo a questionarem sobre suas práticas.
116
Professora da Rede Pública Municipal de Mamanguape-PB. Mestre em Ciência da Educação-ULHT- Portugal
Doutoranda em Educação pela UniGrendal
Pereira (2009) em pesquisa sobre a escolarização de trabalhadores rurais nos diz que
os programas educacionais se tratam de um direito. Para Arroyo (2004), é importante salientar
que são longos os caminhos que os movimentos sociais vêm fazendo; temos atualmente
grandes avanços a proclamar: a consciência da construção de uma Política Pública para a
Educação do Campo.
Por meio de um maior comprometimento do poder público, a Educação do Campo
poderá ser a garantia de novos tempos para a história da educação: ela deverá ser reconhecida
como direito de todo ser humano, e assumida como dever do Estado. A Educação dos povos
do campo poderá ser construída com novos olhares em novas bases. Dentre os Programas
direcionados a Educação do Campo temos o Programa Escola Ativa, do qual destacaremos à
seguir:
A palavra formação quer dizer ―estar se formando‖ o que acarreta em uma contínua
aprendizagem.
É relevante apresentar ao professor um olhar diferencial às necessidades emergentes
atuais, aprofundando ideias, conhecimentos, experiências, mecanismos que tragam subsídios
para a pedagogia da formação. O papel da escola no contexto atual está focado em atender
efetivamente a todos e não apenas a uma minoria.
Quanto à formação continuada para professores, em sua maioria são ineficazes,
quando na vivência do fracasso não utilizam a prática docente e pedagógica da escola nos
seus conteúdos. Provavelmente porque não estão preparados o suficiente, daí a relevância de
(re) pensar a formação do professor. Segundo Oliveira; Salvador; Três e Fernandes (1999,
p.8):
A escola precisa (re) construir sua maneira de pensar e agir com base nas necessidades
individuais dos educandos, no que condiz ao ensinar-aprender. Contribuindo de forma
significativa aos desafios da inovação pedagógica. Conforme Araújo e Yoshida (2009, p.1):
Segundo Sacristán (1999) as ações que derivam nas práticas pedagógicas não se
dissociam do componente teórico. A teoria aparece integrada com a prática pela ação. ―Sua
experiência teórica é composta pelos esquemas cognitivos ligados aos seus conhecimentos
práticos e outros encadeados a esses conhecimentos‖ (SACRISTÁN, 1999, p.55).
A formação continuada assim entendida como perspectiva de mudança das práticas no
âmbito dos docentes e da escola possibilita a experimentação do novo, do diferente a partir
das experiências profissionais que ocorrem neste espaço e tempo orientando um processo
constante de mudança e intervenção na realidade em que se insere e predomina esta formação.
Considerações
Referências
ARAÚJO, Paullyane Leal de; YOSHIDA, Sônia Maria P. Ferro. PROFESSOR: DESAFIOS
DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA ATUALIDADE. 2009. Disponível
em:http//:www.ice.edu.br/TNX/storage/.../2009/.../608f3503025bdeb70200a86b2b89185a.pdf
. Acesso em: 18 fev. 2017.
Arroyo, M. A Educação Básica e o Movimento Social do Campo. In:Arroyo, M.; Caldart, R.;
Molina, M. (org.). Por Uma Educação do Campo: Rio de Janeiro, Vozes, 2004.
Pereira, A. A. Por uma escola camponesa. In: Movimentos Sociais, Estado e Políticas
Públicas de Educação do Campo. Org. Maria do Socorro Batista Xavier. João Pessoa: Editora
da UFPB. Pereira, A. A. (2009). Pedagogia do Movimento Camponês na Paraíba: das ligas
aos assentamentos Urais. João Pessoa: Ideia/Editora Universitária, 2011.
Introdução
A educação do campo vem sendo discutida não há muitos anos, pois seus estudos
nesta concepção política se deram somente a partir de 1997, quando houve a primeira
conferência sobre educação do campo, ou seja, o movimento por uma política pública de
educação do campo. Entretanto, é bem verdade que ainda é carente de ser vivenciada na
prática o que a teoria parece ter dado conta de construir ao longo destes anos.
A compreensão da educação do campo verte da multiplicidade da natureza histórica,
política, econômica, cultural e social. Entender o que provocou aos povos do campo estas
dimensões requer um aprofundamento no campo macrossociológico para poder assim
permear alguns adendos. Inclusive, a necessidade da compreensão da atuação dos
movimentos sociais, como o Movimento dos Sem-Terra e o Movimento dos Camponeses,
movimentos estes que desde muitos anos praticamente vem lutando para reinvenção das
escolas do campo e comumente das práticas pedagógicas necessárias para que as
especificidades e peculiaridades dos povos do campo sejam, sobretudo respeitadas e
vivenciadas na escola do/no campo de outro modo, isto é, pelos princípios da educação do
campo, daí a prática pedagógica tende a permear estas vivencias quando de fato o professor é
promotor de outras pedagogias para estes outros sujeitos (ARROYO, 2011).
No intuito de compreender atualmente como se encontra a realidade das escolas do
campo é que se propôs esta pesquisa, tendo por principal objetivo: promover a ampliação do
entendimento acerca destes conceitos como são processados em lócus formativo. E,
especificamente permeia a compreensão da formação identitária do educador/professor do/no
campo; apresenta questões pertinentes aos desafios estabelecidos da multisseriação no/do
campo e promove um olhar voltado para a legislação da formação do educador do/no campo.
O método que sistematiza esta produção científica concerne à revisão de literatura, a
qual corrobora para o entendimento das questões norteadoras, tais como: qual identidade
docente a fomentar para o educador do/no campo? Como promover a formação continuada
dos educadores das escolas multisseriadas do/no campo? Celeumas que permeiam uma
articulação teórica epistemológica no arcabouço sistemático para tal entendimento.
Daí este estudo trouxe como resultado que estas questões supracitadas continuam em
aberto, devido o processo recente que temos da educação do campo enquanto política pública
a ser fomentada com uma formação inicial e continuada adequada as exigências que esta
modalidade de ensino requer.
Portanto, a educação do campo necessita está em pauta de discussão no campo
acadêmico e dos movimentos sociais, estes últimos lutam por uma política pública de
educação do campo, viabilizando assim o direito a educação, sendo este, vivenciado em sua
integralidade nos diversos territórios em que os povos do campo se encontram postos, na
tensão em ter o direito e este ser suprimido pela perspectiva da educação urbanocêntrica. Por
obrigação, como geralmente acontece com os educadores que são da cidade, os quais são
mandados para trabalhar nas escolas no campo, como forma de punição, ao contrario do
educador do campo, o qual de fato desenvolve práticas pedagógicas pertinentes com a
realidade concreta de vida dos sujeitos do campo, ressignificando os saberes que se adquirem
na relação familiar, na relação com a terra, na relação com o trabalho da roça, as metas que
devem ser atingidas no trabalho do campo, para dá conta de uma conta de lavoura chachada,
colheita feita, ou seja, os trabalhos múltiplos que os povos do campo tendem a desenvolver no
seu cotidiano. Em sendo assim, as diferenças destes educadores são observáveis mediante
suas práticas pedagógicas em sala de aula, sua postura política-ideológica, e, sobretudo a
contextualização. Deste modo, vale salientar que se faz necessária esta tentativa de
compreender as identidades dos educadores que estão e são do campo.
Para Santos (2005, p. 135) compreende que ―identidades são, pois identificações em
curso‖, ou seja, identidades no plural configuram as identificações que ocorrem no decorrer
das atribuições sociais que são assumidas ao longo do ato de existir. Neste sentido, Santos
(2005, p. 135) colabora no entendimento de que:
A compreensão deve, portanto ser esta: não existe um eu apenas, mas sim, os eus que
atuam conforme a necessidade sugere. O ser humano em sua complexidade, não pode se
aceitar apenas como eu sou ou eu não sou, pois ele pode vir a ser ou estar sendo, no processo
de vir a ser não existe coerência, linearidade, mas sim, oscilações do que os sujeitos são,
podem ser e estão sendo, mediados pelo contexto e pelos seus afazeres sociais, assim justifica
a identidade como celebração móvel, isto é, a sua retroalimentação constante de
posicionamentos sociais, políticos, pedagógicos, econômicos e culturais.
Neste sentido, existem identidades que devem ser assumidas mesmo que sejam em
processo de desestruturação e restruturação, em sua aceitação ou vivência deslocada, faço-me
explicar melhor, somos seres em constante mutação, daí não estamos sempre em processo de
reorganização. Em sendo assim, Hall (2001, 13) afirma que:
Identificar quais identidades devem ser assumidas no contexto que nos cerca é de
fundamental importância para que se cumpra o papel social de cada um na sociedade. Se os
sujeitos possuem identidades possíveis, diversificadas e itinerantes, obviamente os papéis
sociais são múltiplos e que os contextos e as interações sociais exigem uma postura dos
sujeitos, mesmo que estes estejam desconcertados e cambiantes como um educador ser da
cidade e passar a trabalhar no campo, ou vice-versa, pois se passa por crise de identidade
pessoal, profissional, social e pedagógica. Uma vez que as especificidades de aprendizagens
no campo são diferenciadas da cidade, os sujeitos são outros, o contexto é outro, os níveis de
conhecimento dos educandos também se diferenciam, assim sendo, pode ser denominado de
―jogo da identidade‖ conforme (HALL, 2001, p 20). Nesta perspectiva, entende-se segundo
Hall que ―as identidades são contraditórias, se cruzam ou se deslocam mutuamente‖, tal
situação confere os processos dos quais muitos educadores passam em seus contextos sociais
e de trabalho.
Os processos educativos requerem dos educadores a necessidade do sentimento de
pertença e cumprimento de seu papel social, bem como da identidade reconhecida para que
assim o ensino-aprendizagem possa acontecer de forma substancial. Neste sentido, Pimenta e
Lima (2011, p. 62) chamam atenção para o fato de que ―a construção da identidade, dos
saberes e das posturas especificas ao exercício profissional‖. Ou seja, considerando que não se
tem uma única identidade, em se tratando da identidade profissional da educação, este assume
várias posturas. Sendo, portanto, que a ―identidade profissional docente tem um caráter
interdisciplinar e complexo, podendo receber significados diferentes no campo das áreas
sociais‖ (PIMENTA E LIMA, 2011, p. 62). Significa, portanto que a educação corrobora para
a formação identitária dos sujeitos, especialmente a formação dos educadores do campo,
multisseriadas e unidocentes têm um único professor, que além da atividade docente, acumula
outras tarefas administrativas voltadas para a manutenção da unidade escolar, chegando, na
maioria das vezes, a ter que conciliar as atividades de limpeza com o preparo da merenda‖.
Embora, a realidade encontrada nas escolas não fosse essa, pois nas três escolas tinha as
agentes de limpeza que também faziam a merenda. Neste contexto da educação multisseriada
bastante presente no campo, há necessidade de se expor algumas ideias acerca das estratégias
didáticas que comumente são usadas por educadores do campo, mas, o mais curioso no
momento é a questão do planejamento, pois se o educador possui por exemplo cinco turmas
de diferentes níveis de aprendizagens, logo ele deve fazer cinco planos de ensino? Documento
imprescindível para nortear o fazer pedagógico do educador, pois é possível que o bom
desempenho do trabalho didático do educador se dê com um bom plano de ensino, onde ele
atuará mediado por seu ato de planejar, a fim de atingir seus objetivos para o dia letivo em
suas diversas turmas, contribuindo para o entendimento de que mudar é preciso nesta
realidade.
A multisseriação deve ser tida nas escolas do campo como uma estratégia de
desenvolvimento da prática interdisciplinar, fazendo jus aos diferentes níveis de
aprendizagens e ao mesmo tempo corroborando com o planejamento das estratégias de ação
pedagógica que possam permear com as descobertas de todos, perfazendo uma aprendizagem
significativa em meio à adversidade da realidade da sala de aula multisseriada. Desta forma é
muito importante o planejamento das atividades para todas as turmas mediadas pela
interdisciplinaridade, na perspectiva de ampliar os saberes didáticos.
A atividade pedagógica nas turmas multisseriadas é complexa e exige do educador
planejamentos, cadernetas, estudos, atenções, ou seja, o educador deve ser um sujeito múltiplo
para dar conta destas especificidades do seu local de trabalho. Pois a concepção da educação
multisseriada é nesta perspectiva é desafiadora e ainda mais sem a participação dos pais
acerca do processo de aprendizagem das crianças. Também é compreendido que a sua prática
pedagógica perpassa pelas dificuldades inerentes ao fazer pedagógico. Neste sentido, os
educadores deixam evidente que além da realidade da multisseriação, as crianças têm atrasos
na aprendizagem, situações que requerem mais dedicação dos educadores.
A formação dos educadores é legalmente institucionalizada e deve assim ser garantida
a sua prática. A Lei n. 9394, de 20 de setembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), entre outros aspectos, dispôs de forma específica sobre a formação
dos profissionais da educação. Nesse sentido, vale conhecer as especificidades da formação:
É bem verdade que o marco legal acerca da formação do educador não se encerrou no
que consta na LDB 9394/96, pois esta teve em 6 de agosto alterado o seu artigo 61 pela Lei n.
12.014, com a finalidade de distinguir as categorias destes trabalhadores que devem ser
considerados profissionais da educação, passando a vigorar com a seguinte redação:
Este pressuposto é questão essencial para que o educador possa desenvolver suas
competências e suas habilidades em seu contexto de trabalho. Entretanto a formação inicial
deixa a desejar no que concerne a formação do professor do/no campo, pois os cursos de
pedagogias não demonstram esta preocupação, apenas uma disciplina eletiva e com professor
que não é formado na área. Outra questão é o que foi supracitado, esta não eram a realidade
em muitas escolas rurais, as pessoas que soubessem assinar o nome e politicamente fossem do
partido eram ―agraciadas‖ com uma sala de aula multisseriada na comunidade rural.
Entretanto, com o passar do tempo estes privilégios ainda têm, mas para quem possui a
formação específica, tal como garante a LDB, ao menos com o normal médio. Neste sentido,
foi refletido que:
Considerações
Referências
PIMENTA, Selma Garrido. LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 6 ed. São
Paulo: Cortez, 2011.
RAMALHO, Betania Leite. A Desprofissionalização do Magistério: O caso da Educação
Rural do Nordeste Brasileiro. Tese Doutoral, Bela Terra, Barcelona, 1993.
RAMALHO, Betânia Leite; NUÑEZ Isauro Beltrán. Novos referenciais, novas maneiras de
atuar no Ensino Médio: a formação e a profissionalização como componentes de uma nova
identidade profissional dos professores. Secretaria de Estado de Educação e da Cultura- Natal,
RN 2009.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na
pós/modernidade. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
TEIXEIRA, G. Significado da competência. Disponível no site:
http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=12&texto=728. Acesso em: 29
ago. 2008.
Introdução
A proposta da Escola do Campo como espaço de vida digna é fruto da luta dos
movimentos sociais e das discussões por uma educação básica no/do campo e do ensino
superior, propostas nascentes e vindouras, no cenário de socialização das experiências de
milhões de estudantes camponeses, dos profissionais da educação do campo e de outras áreas
do conhecimento que se amparam na construção de um projeto político para a educação do
campo, no âmbito escolar. Essas escolas se propõem a ―transformar‖ a vida dos estudantes
camponeses que se dedicam momento ao campo, momento à escola, interagindo entre dois
espaços recíprocos, suas experiências cotidianas e os ―saberes disciplinares‖.
Nosso objetivo é discutir o espaço da escola do campo como espaço da diversidade e
da afirmação identitária, focando nosso olhar para o respeito às diferenças étnicas, ao lugar de
cada sujeito do campo que se afirma através de suas múltiplas identidades. Pois, a nova escola
do campo não muda apenas a estratégia da escola, ela vai, além disso. É capaz de transformar
e sim, a vida do campo e dos sujeitos que fazem desse espaço, cotidianamente, um espaço de
afirmações, de afrocentricidades.
Pensar a escola do campo é pensar a cultura escolar, os saberes construídos e as
circularidades de ideias envoltas em diferentes formas de viver e de ser. Um espaço de
diferentes identidades: jovens, adultos, crianças, idosos, homens, mulheres, negros, brancos e
índios. Assim, convidamos o leitor(a) (professor/a-pesquisador/a) para uma reflexão: como
nós professores(as) percebemos as relações étnico-raciais no espaço dessa escola do campo?
Como as diferenças étnicas convivem no espaço escolar da educação do campo? Como nós
professores(as) articulamos essa temática na sala de aula? Como as identidades étnicas estão
sendo construídas no espaço escolar da educação do campo?
Garantir a população do campo o acesso à escola não é suficiente para construir a
igualdade, pois o tratamento pedagógico de estudantes negros(as) oriundos do campo vem
promovendo desigualdades nos estilos e conteúdos das aprendizagens dos estudantes,
contribuindo para trajetórias escolares e ocupacionais desiguais. Mesmo com o acesso
universal à escola, os resultados dos processos educacionais costumam ser desiguais e
perpetuam as injustiças sociais, já que não há igualdade nas condições iniciais de
oportunidades escolares que dificilmente lhe são oferecidas.
117
Mestre em Educação (UFPB), Integrante do GEINCOS-UFPB, Coordenadora Pedagógica João Pessoa-PB.
118
Doutora em Educação (UFPB), Professora da UFPB-DFE-CE, Integrante do GEINCOS-UFPB.
119
Graduando de Pedagogia. Integrante do GEINCOS-UFPB.
Afrocentricidade é a teoria que diz que os povos africanos têm que ver
o mundo desde sua própria perspectiva, o que significa que a pessoa
africana, em todas as situações, é um agente sujeito da sua própria
experiência, não só nas margens da Europa. Durante 400 anos, os
povos africanos têm sido removidos de estar no centro da sua própria
experiência. A afrocentricidade é uma perspectiva que permite aos
povos africanos se relocalizarem ao centro de sua própria experiência
(ASANTE, 2009, p. 112).
racial? Pois, não bastam as políticas de ações afirmativas, defendidas no Brasil. É necessária
uma mudança estrutural da sociedade, que não deve aceitar o jogo da inclusão/exclusão.
Se considerarmos a dificuldade que as escolas ―urbanas‖ têm para a implantação da
Lei 10.639/03120 que inclui no currículo da educação nacional a obrigatoriedade da temática
―História e cultura afro-brasileira‖, é possível compreender que nas escolas do campo não
acontece diferente. As dificuldades advêm de diferentes setores da sociedade, inicialmente há
uma não articulação das políticas educacionais, incluindo aqui a do campo, com as políticas
de igualdade racial.
A maioria dos gestores públicos não vem pautando em suas agendas a questão étnico-
racial e, por isso, as ações e projetos das redes municipais e estaduais de educação não
discutem a temática, bem como a formação continuada que deveria desencadear/aprofundar o
processo de discussão da temática em sala de aula, na maior parte dos municípios, ocorrem de
maneira pontual sem que haja um acompanhamento dos professores(as), quando Cunha
(2001) mostra que é necessário mapear os desafios encontrados pelos(as) professores(as) e
ressaltar as experiências pedagógicas desenvolvidas pelas escolas, onde o modelo de
formação continuada em um formato extensivo e pontual não consegue dar conta.
Outra dificuldade refere-se aos Conselhos Municipais e Estaduais de Educação,
quando muito, dispõem resoluções para a implantação da Lei, mas não acompanham nem
monitoram o cumprimento do dispositivo legal conforme ressalta e indica o Plano Nacional
de Implementação das Diretrizes Curriculares para Educação das Relações Étnico-raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Desta forma, a efetivação de
uma educação para as relações étnico-raciais vem se constituindo numa bandeira de luta de
algumas pessoas inseridas no ambiente escolar que percebem a necessidade e a importância
da temática na construção de uma identidade positiva de negros(as) estudantes.
Sendo assim, cabe-nos voltarmos a duas questões que foram levantadas anteriormente:
como nós professores(as) percebemos as relações étnico-raciais no espaço dessa escola do
campo? Como as diferenças étnicas convivem no espaço escolar da educação do campo?
Através de pesquisa realizada por Andrade (2010) é possível visualizar algumas situações que
tentam responder aos questionamentos acima: uma primeira situação mostra que os
professores continuam a invisibilizar os(as) estudantes negros(as) que compõem a sala de aula
de forma que os apelidos, os xingamentos, as piadas racistas ainda são vistas como
incivilidades ou, no atual momento, como Bulliyng. Há também os que consideram as
referidas situações como sendo parte do processo de violência desencadeado nas escolas.
Assim, faz-se necessário salientar que as diversas formas de preconceitos existentes na
sociedade possuem uma constituição determinada historicamente e ocorrem através de
fenômenos universais, transversais e atemporais e o preconceito racial tem na sua base uma
120
Ao citarmos a Lei 10.639/2003 ao longo do texto, fazermos como forma resistência a todos os retrocessos que
vêm ocorrendo no que concerne aos estudos sobre a cultura africana e afro-brasileira no currículo a partir de
2016, quando as discussões da Base Nacional Comum Curricular e a Reforma do Ensino Médio, desconsideram
efetivamente a implementação da referida Lei no currículo. Contudo, como efetivamente a Lei ainda não foi
revogada e também na fala da nova titular da SEPPIR em entrevista à UOL, em junho de 2016, ela estabeleceu
duas prioridades: a ―implementação concreta‖ da Lei 10.639/2003, que inclui no currículo oficial das escolas
brasileiras a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira. ―Pretendo também estimular ações
que visem promover o respeito às religiões matrizes africanas‖, afirmou ela. Assim, julgamos que a Lei
10.639/2003 permanece vigorando.
ideologia que provoca desigualdades sociais e tem um poder de destruir a pessoa negando sua
identidade. Outra situação visualizada está baseada em fatos que emergem na escola e, que
ora continua ratificar e consolidar a imagem negativa do negro, uma imagem
Esse tipo de situação121 foi percebido quando encontramos uma escola que
desenvolve, há alguns anos, um evento considerado pedagógico (uma gincana), onde os(as)
estudantes participam de atividades como: a corrida do escravo fujão, a cadeira da Sinhá, os
sapatos do nhonhô. Tais atividades reforçam inclusive a separação dos estudantes, onde os
negros assumem a condição de serviçal, pessoas que devem exercer o trabalho braçal e de
transgressores da lei. Os brancos recebem o papel do senhor de engenho, do fidalgo, daquele
que historicamente deteve o poder.
Dessa forma, a escola contribui para apagar a história dos negros e reforçar o racismo
ao utilizar de estratégias que focalizam a submissão e a inferiorização, resultando também no
apagamento da memória do povo africano. É importante, ressaltar que o referido apagamento
histórico não só acontece por meio das atividades desenvolvidas pela escola. Outros
mecanismos também ajudam para que os(as) negros(as) não tenha sua identidade positiva
evidenciada nas instituições de ensino. Nesse momento, lembramos dois relatos de
professoras, em momentos distintos, que nos contavam suas experiências: a primeira
informou que trabalhava com uma atividade de colagem quando um aluno negro de 08 anos
de idade, folheando um livro perguntou-a porque ele era preto e no livro não havia nenhuma
imagem de pessoas negras, eis que a professora pediu para que ele procurasse mais e o
menino reafirmou: ―não tem professora e o livro é bem grosso‖. A segunda professora
reconhecendo que existe racismo nas escolas, relatou que tem um aluno que todos os dias os
colegas o chamam de ― cabeça de fósforo queimado‖ e, por isso, ele chora, se zanga, mas ela
não sabe como fazer a intervenção, porque isso já extrapolou os muros da escola, pois a
vizinhança ratifica e repete as referidas atitudes.
Logo, o processo de ensino-aprendizagem voltado para esses sujeitos precisa ser outro.
Isso também é indiscutível e não é novidade! O que muitos professores (as) não consideram é
que os estudantes negros e do campo travam uma luta pessoal muito grande quando resolvem
iniciar e/ou retomar suas atividades estudantis. São os deveres e as obrigações do dia-a-dia
versus às exigências como discente, enfrentando o medo de fracassar, a ansiedade por
começar e concluir, a perspectiva da melhoria de vida a partir da conclusão dos estudos, entre
outros.
Tantos fatores diferenciados e com influência tão grande na decisão de vida desses
camponeses/afro-brasileiro de se inserir e/ou reintegrar e de permanecer em sala de aula que
121
A situação descrita acima e os relatos das professoras foram coletados por meio da participação das autoras,
na condição de formadoras, em atividades pedagógicas com professores (as) nos município de Guarabira e João
Pessoa, respectivamente.
Mas, isso significa justamente que ela, a escola, como espaço político, deve superar
suas limitações ainda vigentes e buscar, enquanto instância formadora do educando, assumir
sua identidade étnica. Entendendo essa educação, como um processo de recuperação de algo
não aprendido no momento adequado. Portanto necessitamos de uma escola que aponte
propostas que enfatizem as especificidades dos sujeitos que querem aprender nessa etapa da
sua vida, sem negar as suas origens, seja ela camponesa e/ou afro-brasileira.
Por isso, a escola do campo deve se prestar ao papel de escutar as necessidades e
experiências em relação a esse tempo de ser aluno, de ser camponês, de ser afro-brasileiro,
ouvindo as especificidades do seu momento de vida, enquanto sujeito histórico. Pensar a
realidade da Escola do Campo hoje é pensar a realidade dos camponeses e em sua maioria
negra, desempregados, vítimas do processo de marginalização social. Os espaços da educação
do campo precisam ter conhecimento de que seus alunos, jovens e adultos, são oriundos de
espaços sociais múltiplos, revestidos de situações de violência, droga, prostituição, crime,
desemprego, opressão, preconceito, podendo ser entendidos como armas simbólicas de um
viver sofrido, que forma e ao mesmo tempo, deforma, mentes e corpos juvenis.
Muitos professores da Educação do Campo ou das universidades percebem a inclusão
da questão racial como um tema a ser discutido nos horários ―vagos‖ ou uma disciplina
apenas inerente ao currículo do Curso de História, não enxergando como uma discussão que
abrange o campo da educação como um todo.
Diante disso, a realização de uma proposta pedagógica que valorize a questão étnico-
racial nas práticas educativas das Escolas do Campo é eminentemente urgente, que evidencie
a necessidade de desconstruir os preconceitos e equívocos criados historicamente.
Podemos, através de um tipo de educação que valorize o sujeito, independente de sua
classe social, econômica, de sua raça, geração, opção sexual, ou outro, que tenha o diálogo
como mediador de uma relação libertadora/transformadora, construir uma escola do campo
que possa atender as necessidades do tempo de ser criança, jovem-adulto, negro, pobre e
trabalhador. Não podemos esquecer que o ingresso do negro na escola também foi pensado
bem tarde, às vésperas da abolição da escravatura, e isso gerou uma dívida social enorme para
com os afrodescendentes. Dívida que ainda lutamos para mudar!
Defendemos que a reconfiguração da Escola do campo tem que partir do
reconhecimento da especificidade, ou seja, dos sujeitos que fazem o campo, especialmente,
com suas trajetórias de vida, sua participação social e cultural. Ainda é preciso considerar, sua
história de vida e as formas complexas/preconceituosas que marcam os desligamentos
escolares. É necessário que as políticas públicas e as práticas da educação do campo
defendam os tempos de direitos coletivos com variados perfis, com o respeito à diversidade
que vive no/do campo. Afinal, o que se pretende e se aprende na educação do campo, senão
educá-los também para essa luta pelos seus direitos?!
É fundamental que o trabalho de reconfiguração da Escola do Campo reconheça as
diferenças étnico-raciais, permitindo que seus sujeitos se situem num processo humanitário,
no qual o reconhecimento do outro deve passar, necessariamente, pelo amplo respeito aos
seus próprios direitos como pessoa. Nesse sentido, os estudos da história africana, como
sugere a Lei 10.639/03, podem permitir que os alunos e professores reflitam a partir de suas
próprias vivências sociais e do estudo de outros povos e culturas, sobre a questão da ética, dos
princípios humanísticos, dos Direitos Universais do ser Humano.
A Lei 10.639/03 também se refere a data 20 de novembro como Dia da Consciência
Negra, em relação à institucionalização desta data no calendário escolar, Silva (2004) ressalta
que:
iniciais é o convite à comunidade para reflexão no dia 20 de novembro, não como data
comemorativa, e sim, como espaço de valorização, de discussão e de memórias da cultura
afro-brasileira, como espaço de manifestação do respeito a igualdade.
Para isto, é preciso que o professor repense sua prática pedagógica, seu compromisso
com a educação, bem como reconhecer a necessidade de uma formação voltada para as
questões étnico-raciais, aprimorando o seu dizer sobre. Por fim, o que destacamos é a
necessidade de se formar professores (as) do campo preparados para conviver/ensinar no
espaço escolar com a diversidade. Formar professores (as) do campo reflexivos, que busquem
intervir no ambiente escolar a fim de torná-lo menos opressor e mais democrático sem
esquecer que o próprio professor (a) faz parte desse processo de transformação e de
convivência na diversidade.
Contudo, reconfigurar a Escola do Campo somente pelo aspecto da política afirmativa
não basta! É essencial pensar a construção da educação centrada nos direitos dos sujeitos.
Implica também, (re) significá-los como portadores de direitos inalienáveis, à vida, à
liberdade e à educação durante toda vida! Recuperando assim, o foco na educação. Não é
ensino, é educação do campo nos seus tempos e direitos. A partir dos saberes, conhecimentos,
interrogações e significados que aprenderam em suas trajetórias de vida, fazendo destes
pontos de partida para uma pedagogia do campo que se paute no e pelo diálogo, entre os
saberes escolares, os saberes sociais, e especialmente, educar pela/na diversidade.
Devemos assumir a educação do campo numa perspectiva de uma educação
libertadora, fazendo uma interpretação das intricadas trajetórias de vida e luta desses
educandos como um ato político em prol do exercício de sua emancipação.
Não obstante a isso, somente com essa concepção de educação libertadora acreditamos
ser possível enfrentar todas as adversidades que permeiam os espaços e as práticas da
educação do campo. É necessário também investirmos nas políticas de formação de
professores para a educação do campo, que se sensibilizem com a questão étnico-racial e com
a desigualdade social, assumindo o compromisso com a transformação não só do sujeito no
processo educativo, mas com mudanças sociais. Entretanto, persegue-nos uma pergunta
cotidiana: Como trabalhar na escola essa temática? Apontar uma proposta também deve ser
um trabalho e descoberta do cotidiano das escolas, pois o fazer pedagógico deve considerar as
singularidades de cada espaço escolar. Com isso, pretendemos não correr o risco cometido por
outras propostas nacionais, apontadas como ―receita‖ de trabalho pedagógico em referências
as questões étnico-raciais.
É um desafio para nós, professores (as), uma mediação pedagógica que trabalhe as
diferenças étnico-raciais na escola. Todavia, o que devemos propor é a desconstrução da ideia
de igualdade étnica (mito da democracia racial), e avançar na discussão e na concretização de
uma prática pedagógica que valorize o direito e o respeito às diferenças étnicas. Pois, o
discurso da tolerância não dar conta da convivência no espaço escolar, as etnias do campo
necessitam do respeito às singularidades de cada espaço.
Referencias
ANDRADE, Alcilene Costa. Entre a letra e o espírito: o discurso de professores (as) sobre
estudantes negros (as) pós-implementação da Lei 10.639/03 em escola pública. 2010. 152 f.
Dissertação (Mestrado em Educação)– Programa de Pós Graduação em Educação,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. In:
NASCIMENTO, Elisa Larkin. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica
inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009.
BRASIL, Lei n. º 10.639, de 09.01.03: altera a Lei 9394/96 para incluir no currículo oficial da
Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ―História e cultura afrobrasileira‖.
GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998.
______. Quem precisa de identidade?. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença:
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______. The centrality of culture: notes on the cultural revolutions of our time. In.:
THOMPSON, Kenneth (ed.). Media and cultural regulation. London, Thousand Oaks, New
Delhi: The Open University; SAGE Publications, 1997
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MUNANGA, Kabengele (org). Estratégias e políticas de combate à discriminação racial,
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SILVA, Maria Vieira da. O enfoque do negro no currículo escolar: algumas possibilidades
de ressignificação. Revista de Educação Popular, n. 3, p. 16.
SILVA, Tomaz Tadeu da. (org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais.
Petrópolis: Vozes, 2000
Introdução
Sertão x litoral
O termo sertão foi trazido para o Brasil desde a chegada dos portugueses e passou a
impor o ponto de vista do colonizador. Segundo Gilberto Mendonça Teles (Apud Vicentini
1998) sua origem etimológica vem de Sertum, supino de desere, que significa ―o que sai da
fileira‖, passou a ser utilizada na linguagem militar para indicar o que deserta, que sai da
ordem, ou ainda o que desaparece. Vem daí o substantivo desertanum para indicar o lugar
desconhecido aonde ia o desertor, o que facilita a oposição lugar certo e lugar incerto,
desconhecido, não sabido e impenetrável. Sertão ou certão era utilizada em Portugal para
fazer referência ao espaço geográfico dos limites do país, porém distante de Lisboa. Até o
final do século XVIII, foi muito usada pela Coroa Portuguesa nas colônias para nomear o
outro, o distante, e foi incorporado nos discursos dos colonizadores e colonizados. Em 1500,
com a vinda de Pedro Vaz de Caminha, em sua carta afirmava: ―Pelo sertão nos pareceu,
vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa‖.
Podemos constatar que neste discurso de Pedro Vaz de Caminha, temos a formulação
da primeira oposição entre sertão e litoral no Brasil, que é demarcado a partir do ponto de
vista do mar e pode elucidar o sentido usado segundo o qual o sertão é outro lugar, ou ainda
o lugar do outro. Ao se falar dele aparece longe de quem o fala, como algo estranho e
distante. Também é possível inferir que o sertão mesmo observado a partir do mar é
associado ao deserto, ou seja, um território pouco povoado, inóspito e passível de ser
conquistado.
A partir desse contexto podemos afirmar que as regiões pouco povoadas e
desconhecidas, que pertenciam ao território nacional, se configuravam no pensamento social
do século XIX como imensos sertões. A esse respeito Candice Vidal e Souza analisa o
imaginário geográfico presente no pensamento social brasileiro do século XIX e meados do
século XX, que concebe o território nacional como sertão e litoral. Para a autora:
Nos autores brasileiros pesquisados pela antropóloga, que pensaram o Brasil como
sertão e litoral aparece, de forma bastante incisiva, a necessidade de superar a distância entre
a borda oceânica e a hinterlândia, incorporando e atualizando-a em relação ao litoral, visto
como civilizado e contemporâneo (Souza, 1999, p. 102). No imaginário geográfico, presente
nesses discursos, identificava-se o litoral como a porção civilizada e progressista do país, e o
sertão, como um deserto, inculto, bárbaro e selvagem, ou ainda outra nação, como podemos
observar nas palavras de Euclides da Cunha ao relatar a chegada dos novos soldados a
Canudos:
A partir desse objetivo, que é criar um Brasil único, os escritores da nação constroem
um discurso, que em geral dita as regras de conduta e comportamento. Segundo Candice
Vidal e Souza (1999, p. 20) ―as narrativas fundadoras da Nação acompanham a intenção
mítica de não apenas descrever sequência de eventos e personagens, mas também de afirmar
valores e orientações para sua audiência‖.
Souza, em sua pesquisa, caminha pela vertente de análise dos discursos que visa
construir o pensamento social que considera o espaço físico e social da nação. Em relação a
esses discursos é bastante enfática em afirmar que ―desse campo narrativo, emerge a
representação do Brasil como lugar onde há sertão e litoral‖. Em seu trabalho adota essas
designações como categorias articuladoras do discurso construtor da nação, pois estes
aparecem recorrentemente para anunciar a formação do Brasil e a nacionalidade em
construção. Sertão e seu contraponto litoral são no discurso sociográfico, recursos
nomeadores para caracteres percebidos na configuração do País.
Ainda afirma que das leituras desses escritos culturais, ―tem-se como certo que, nas
imagens e valores que remetem a sertão e litoral, está-se ao mesmo tempo fazendo imagens
sobre o Brasil‖. Assegura que ―na sociografia, a ficção de uma idéia de sertão-litoral
antecede e pré condiciona a elaboração de uma idéia de Brasil‖. Ou seja, o Brasil é
imaginado através das categorias sertão e litoral e nesse mapa geo-histórico que vai se
construindo a partir dos discursos, encontraremos territórios e maneiras de viver próprios do
sertão ou do litoral (SOUZA, 1999, p.25).
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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É importante ressaltar, que desde o século XIX, acreditava-se que com a expansão
das ferrovias, o navio a vapor, o desenvolvimento das comunicações, telégrafo e telefones,
produtos da ciência e símbolo da modernidade, os sertões seriam inseridos magicamente, e
na mesma velocidade do trem, ao mundo civilizado. Ideologicamente, a técnica aparecia
como portadora e instauradora dessa nova ordem desejada e tão ―necessária‖ para o
desenvolvimento do país.
A urbanização está, de certa forma, muito associada ao que se convencionou chamar
de modernização. Contudo no século XIX e início do século XX, o termo mais utilizado era
o progresso, na maioria das vezes entendido como a sujeição das forças da natureza ao
homem. Assim, se faz referência basicamente à industrialização, a incorporação de
maquinários (tecnologias), para ajudar a resolver os problemas cotidianos.
A possibilidade de superação das distâncias entre o sertão e as regiões mais
desenvolvidas do país suscitou diversas discussões nacionais, projetos e propostas que
buscavam superar essa dificuldade. Do ponto de vista do Estado, seja no período imperial ou
republicano, a questão se apresentava como um problema não apenas de segurança nas
fronteiras com outros países, mas de garantia da posse dessas terras e manutenção da
integridade do território nacional. O empenho de superar o isolamento e garantir a
comunicação dos sertões com o litoral criava, para o governo, a necessidade de aprimorar a
navegação, construir estradas, pontes, ferrovias e uma rede telegráfica.
A opção pelo litoral é a direção geopolítica sugerida para se reconstruir e fortalecer o
entusiasmo dos brasileiros. Na descrição e no julgamento elaborado pelos escritores do
Brasil os lugares não ocupados, ou na avaliação deles ocupado de forma inadequada, é o
pivô do problema nacional, que está relacionado à horizontalização incompleta da autoridade
única do poder central e dos meios mais produtivos de extração das riquezas de nosso
território. No pensamento social brasileiro daquele momento da história a resistência do
deserto sertanejo desafia e motiva as intenções de construção de uma nação forte e com
autoridade interna. Ocupar o vazio e dominar as insurgências do povo do sertão é o intento
que deve empenhar todos os envolvidos com o projeto intelectual e político de unificar e
homogeneizar a nação (SOUZA, 1999, p. 156).
A partir de meados do século XIX, com os rumores acerca do fim da escravidão no
Brasil, foi crescendo a ideia de que o futuro da agricultura brasileira passaria pela inclusão de
mão de obra europeia, reconhecida como trabalhadora e disciplinada. As elites brasileiras
estavam impregnadas pelas ideologias racistas de final do século, que concebiam índios,
negros e mulatos como descendentes de uma raça inferior ou até mesmo não os concebiam
como humanos. Acreditava-se naquele período que o progresso das regiões sertanejas tornar-
se-ia realidade com a vinda de imigrantes e de moradores das capitais, que pudessem
desbravar os sertões férteis e incultos que compunham o cenário brasileiro.
Contudo a homogeneização étnica não é apresentada, principalmente nos escritos de
Euclides da Cunha, como condição indispensável ao progresso da civilização. Mais
importante seria colocar lado a lado sertão e litoral, unificando os diferentes ritmos
civilizatórios.
Sintonizados com o discurso dominante acerca da indolência dos índios, negros e
mulatos, as elites, viajantes, intelectuais e autoridades acreditavam ser os imigrantes
europeus os trabalhadores perfeitos, pois juntamente com eles viriam de forma natural a
civilização e o progresso. Tais colonos seriam os principais responsáveis pelas mudanças nas
Províncias e eles se incumbiriam da tarefa de transformar a ainda inexplorada natureza em
riquezas. Enfim, acreditavam que por meio da ação civilizadora dos europeus se
transformariam as florestas e desertos em regiões ricas e prodigiosas (VOLPATO, 1993, p.
102).
As bandeiras
Segundo Alcântara Machado (2006, p. 253) até mesmo as ordens religiosas não
resistiam à tentação, principalmente a ordem Carmelita. Organizam várias expedições sob a
alegação de que eram escassos os recursos e bens do convento, e para mantê-lo era
necessário o trabalho dos índios. Os próprios índios aldeados vendiam seus patrícios. Em
troca de uma espingarda se prestavam a chefiar expedições destinadas à escravização de
outros índios.
A imagem que se construiu dos bandeirantes como heróis tinha motivações política
específicas, essa visão romantizada se explica da seguinte forma: com a proclamação da
República, em 1889, os cafeicultores paulistas se tornaram a elite econômica e política do
país até o fim da década de 1920. Nessa atmosfera a construção de uma imagem do
bandeirante corajoso era conveniente para um povo que precisava se afirmar como líder.
Assim, os bandeirantes paulistas serviram como alternativa histórica de que o poder deveria
proceder de São Paulo, já que seu povo seria descendente nato de fortes e heróicos
guerreiros.
122
Acordo firmado por Portugal e Espanha em 1494 para delimitar a extensão de terras que cabia a cada país.
Outro discurso que reforça essa ideia do bandeirante como herói, imprescindível à
nação, podemos encontrar na publicação da série ―Viagem Através do Brasil‖, no volume em
que trata de São Paulo, escrita por Lourenço Filho. O capítulo XXX intitulado ―A lição do
Monumento às Bandeiras‖ o autor faz uma exaltação a importância do sacrifício feito pelos
bandeirantes para alargar as fronteiras da nação, tudo com muita solidariedade em meio a
tanta rudez. Diz o autor se referindo as imagens retratadas no monumento: ―Uns bandeirantes
aí estão, fortes e sadios, e outros, sacrificados pelas doenças do sertão ou pelas flechas
traiçoeiras dos índios... Não vão êles, porém, desamparados. Ao lado, outros os defendem e
protegem, com o próprio corpo...‖. Retrata também em seu discurso que os bandeirantes nos
deixaram uma lição ou um modelo de luta, de sacrifício e de união que devemos, enquanto
nação, reverenciar e imitar. Liderados é claro pelos paulistas que tem a tradição e
experiência:
Nessa união, com base no trabalho criador, cabem tôdas as raças, tôdas as
côres, as vozes de todos os idiomas, as esperanças de tôdas as crenças... O
profundo sentimento de solidariedade humana, sem a qual não se criam os
povos, nem as nações, é que sagra o Bandeirismo como lição inigualável.
Não falam os antigos pioneiros só pelo destemor e arrôjo, nem pela cobiça
que os teria por vêzes impelido, nem ainda pela capacidade de lutar até à
morte, onde, como e quando fôsse necessário...
Não. Êles nos falam hoje como homens capazes de realizar uma tarefa
comum, com sentido de disciplina a uma idéia, que a si mesmos se
impunham... assim puderam os bandeirante de ontem dilatar as fronteiras
materiais da Pátria. Assim puderam os bandeirantes do café e da criação do
gado. Assim ainda hoje falam os trabalhadores do comércio e da indústria e
os bandeirantes da cultura, internados nos sertões...
Êsse ideal do bandeirismo, sintetizado na visão de novos caminhos, e em
forte decisão de abri-los por esfôrço solidário para o bem comum – é que
deve ser transmitido a cada nova geração de brasileiros, os do norte e os do
sul, os do litoral e os do centro... (LOURENÇO FILHO, 1950, p. 206).
Neste sentido, o bandeirante se configura como uma espécie de mito do sertão, pois
lhe coube a tarefa de expandir o território da colônia portuguesa nos séculos XVI a XVIII a
qualquer preço e modo. Segundo Candice Vital e Souza (1999, p.41) esse período é
considerado o da conquista do patrimônio geográfico brasileiro sob a atuação das expedições
bandeirantes, ―que em suas diversas formas de organização, objetivos, seriam o movimento
coletivo de expansão da sociedade colonial, avançando além dos núcleos de povoamento
situados na costa‖.
As bandeiras constituíram-se na fundamental experiência de fronteira da nação
brasileira. O termo fronteira é utilizado na expectativa de mudança de perspectiva em relação
ao sertão, já que estaria relacionada aos processos de incorporação e ocupação de espaços
considerados ―vazios‖123. A categoria fronteira seria capaz de acabar com a separação entre
sertão e litoral, já que este empreendimento significaria a chance da civilização litorânea
chegar ao sertão, fazendo com que o sertão incorporasse as qualidades positivas do litoral, em
outras palavras civilizar os bárbaros.
Já na visão de Cassiano Ricardo, um dos autores que tinha convicção que a
colonização bandeirante formou o Brasil: ―quando a bandeira penetra o sertão, termina a
história de Portugal e começa a do Brasil‖ (RICARDO, 1940, p.XXI). Para o autor as
bandeiras são consideradas como a primeira atitude a projetar uma nação autônoma.
Cassiano em ―Marcha para o Oeste‖ é considerado o narrador do mito de fundação da
nacionalidade brasileira. Em seu discurso objetiva imprimir a idéia de que a bandeira se
torna uma imagem símbolo da brasilidade, oferecendo um sentido de pertencimento aos
sujeitos da comunidade nacional. Em sua visão as conquistas paulistas datam o marco em
que o Brasil se transforma de uma extensão de Portugal para a construção de uma identidade
nacional original. Contudo imaginar que o Brasil constitui culturalmente sua identidade
apenas a partir das bandeiras é ignorar o povo e seus costumes, que já existiam no sertão
brasileiro, muito antes da chegada das bandeiras.
É reconhecido pelos escritores do Brasil, que são analisados por Candice Vidal, que
as bandeiras se caracterizaram como um fenômeno de expansão geográfica, mas sem lograr
êxito na incorporação à vida econômica e política do país. Na análise da antropóloga:
A idéia de um sertão sem lei que necessita ser tutelado e incorporado a nação fica
explicito no discurso de Capistrano de Abreu, um dos autores analisados por Candice Vital:
É com esse olhar que também concebemos o lugar de importância que tem o
sertanejo e seu modo de vida na constituição da identidade cultural brasileira e, portanto,
nessa atmosfera sertaneja que se mistura e processa os brasileiros originais fortalecendo o
orgulho nativo que deveria ancorar a consciência da nacionalidade. Contudo observaremos
que a sociedade sertaneja em algum momento da história do Brasil teve seu momento de
glória, mas posteriormente um processo violento de desqualificação começa a delinear, de
forma preconceituosa, outro lugar na sociedade.
Considerações finais
Este texto buscou recuperar o contexto histórico em que o Brasil constitui sua
brasilidade a partir da divisão entre sertão e litoral, e a inegável depreciação que o território
chamado sertão e sua gente vai sofrendo ao ser nominado pelo outro, que o qualifica ou
desqualifica a partir de suas lentes, e neste caso as lentes da civilização que compõem a
cidade.
Perguntamos-nos: e hoje, onde está o sertão? Para a maioria estará mais adiante, o que
nos leva a pensar que o sertão não existe ou poderemos chegar à mesma conclusão de
Guimarães Rosa (2006, p. 8) ―O sertão está em toda parte...‖, porque o sertão são as pessoas.
Atualmente, com a tentativa de homogeneização das pessoas e dos espaços pelo
mundo capitalista e globalizado, que impõe um padrão a ser seguido por todos, com a chegada
da eletricidade, da telefonia, da indústria no campo, os meios de produção motorizados, as
assimilações que o sertão faz da cidade e que se revela em suas novas formas culturais, que se
associam à urbanidade, fica cada vez mais difícil saber onde estão as fronteiras do sertão. Mas
se entendermos que o sertão é pessoa humana, impregnada de cultura e de história, que
atravessa o espaço e o tempo, chegaremos a conclusão de que o campo/sertão foi construído e
constituído pela ação das pessoas da cidade e o contrário também é verdadeiro, a cidade
também está impregnada da cultura ou da ação e saber dos povos do campo/sertanejos.
Mas o fato do sertão estar misturado à cidade e ao mesmo tempo as relações
estabelecidas serem temporais e espaciais, com várias nuances, não significa que o
sertão/campo e o sertanejo/povos do campo não tenham identidade própria. O sertão/campo
está onde estão os que se identificam e se definem culturalmente como tais, ou seja, mais do
que espaço o sertão/campo é identidade cultural, que se atualiza historicamente e que também
se difere historicamente por meio das estruturas econômicas, sociais e políticas.
Não é possível pensar que o processo de homogeneização da cultura estabelecida pelo
capitalismo trará o fim do sertão/campo, assim como também não é possível imaginar uma
uniformização. Não há uma extinção completa, o que pode haver é uma transformação ou
recriação de culturas, que se transformam, mas não desaparecem. Neste sentido, partimos do
pressuposto de que as situações de contato não têm direção única. Apesar das assimetrias
concretas existentes entre culturas que estabelecem contato, entendemos não haver uma mera
assimilação de uma pela outra. Os contatos não podem ser vistos como caminhos para a
destruição de modos tradicionais de vida, mas como um processo que leva à construção de um
novo estilo de vida, com novas estratégias e alternativas, onde a cultura tem uma dimensão
essencialmente dinâmica e adaptativa (Novaes, 1993).
A cultura, compreendida como ―organização da situação atual em torno do passado‖
(Sahlins, 1999, p.192), é extremamente dinâmica e sujeita a transformações históricas. Se o
evento histórico é interpretado e compreendido a partir da cultura, esta é transformada a partir
da história.
Referências
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
CLIFFORD, James. A experiência etnográfica. José Reginaldo G. dos Santos (org.), Rio de
Janeiro, Ed. UFRJ, 1998.
CUNHA, Euclides Rodrigues Pimenta da. Um Paraíso perdido: reunião dos ensaios
amazônicos. Petrópolis, Vozes, 1976.
_______, Os Sertões (Campanha de Canudos). São Paulo: Editora Martin Claret Ltda, 2009.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989.
LOURENÇO FILHO, M. B. São Paulo. Ilustrações de Percy Lau. São Paulo: Melhoramentos,
1950 (Coleção Viagem através do Brasil).
MACHADO, Alcântara. Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo, 2006.
MURARI, Luciana. Brasil, ficção geográfica: ciência e nacionalidade no país D`os Sertões.
São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: Fapeming, 2007.
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
Introdução
Este texto trata dos sentidos das Culturas Negras que estão nas representações
imagéticas nos livros didáticos do PNLD-Campo 2013. O artigo é fruto de uma pesquisa mais
ampla do trabalho de conclusão de curso (monografia), licenciatura em Pedagogia pela
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Centro Acadêmico do Agreste, como também
das discussões-reflexões abordadas na iniciação científica-PIBIC.
Para este texto temos como objetivo geral: compreender como os sentidos das
Culturas Negras estão sendo atribuídos nas representações imagéticas presentes nos livros
didáticos das coleções do PNLD-Campo. Os objetivos específicos são: a) caracterizar as
imagens atribuídas as Culturas Negras presentes nos livros didáticos em questão; b)
identificar os sentidos atribuídos as Culturas Negras presentes nos livros didáticos em
questão.
No que se refere às fontes documentais dessa pesquisa fazemos uso dos livros do
PNLD-Campo 2013: a) coleção Projeto Buriti Multidisciplinar e b) Coleção Girassol: saberes
e fazeres do campo, tais fontes fazem parte de uma política específica para a Educação do
Campo.
Para o diálogo e reflexões teóricas no percurso do texto e na análise dos dados
fazemos uso da abordagem Teórico-Metodológica dos Estudos Pós-Coloniais que se constitui
enquanto opção epistemológica e política. Os autores para este diálogo são: Quijano (2005);
Mignolo (2005); Grosfoguel (2007). Esta abordagem nos possibilita compreensões que nos
ajuda a fortalecer nossa desobediência à lógica eurocêntrica e da voz aos sujeitos que foram
e/ou são subalternizados, silenciados historicamente e socialmente.
Nesse viés, salientamos a importância de ressaltarmos e valorizarmos os saberes das
Culturas Negras e principalmente da necessidade desses saberes estarem nos livros didáticos
de forma a romper com os modelos eurocêntricos, com as formas da colonialidade.
Dessa forma, além da Introdução, este texto está estruturado da seguinte maneira: 2-
O diálogo sobre as Relações Étnico-Raciais e os Estudos Pós-coloniais; 3- O conceito de
Cultura e Culturas Negras; 4- Currículo e Livro Didático enquanto texto curricular; 5-
Procedimentos Teórico-Metodológicos; 6- Considerações Finais.
124
Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste-UFPE/CAA. Lagoa dos
Gatos/PE, e-mail- ivenilima@gmail.com.
A partir das discussões das Relações Étnico-Raciais e a abordagem dos Estudos Pós-
Coloniais compreendemos de forma mais ampla e crítica questões sobre o período colonial
brasileiro e o enfrentamento dos grupos subalternizados sobre as imposições do sistema
eurocêntrico.
A Educação das Relações Étnico-Raciais imbricada nas discussões de Raça e Etnia
possuem vinculações políticas e epistemológicas com os Estudos Pós-coloniais, pois são
estudos que valorizam os saberes daqueles que historicamente foram/são silenciados
historicamente-socialmente para a construção de sentidos que diferem da realidade,
principalmente da história dos povos Negros, Indígenas.
Na abordagem dos Estudos Pós-Coloniais, utilizamos os autores: Quijano (2005);
Mignolo (2005); Grosfoguel (2007). Utilizamos essa Abordagem por nos possibilitar diálogos
que rompem com os modelos eurocêntricos e por contribuir desde a parte teórica ate a
abordagem metodológica.
Desse modo, ao analisarmos o período colonial brasileiro compreendemos que os
europeus impuseram seu sistema cultural: primeiro sobre os povos que foram denominados
―índios‖ e que já habitavam em suas terras125; segundo sobre os negros sequestrados de seu
continente decorrentes também da imposição da cultura europeia sobre o continente Africano.
Portanto, compreendemos que muitos dos povos negros foram expulsos e
sequestrados de suas terras e transportados em condições não humanas para o Brasil. Segundo
Munanga, esse processo se perpetuou de maneira que ―o negro foi reduzido, humilhado e
desumanizado desde o início, em todos os cantos em que houve confronto de culturas, numa
relação de forças (escravidão X colonização) no continente africano e nas Américas‖ (2009, p.
43).
Assim, essa perda de direitos dos povos colonizados refletiu de maneira que os negros
foram considerados como: uma ―raça‖ intelectualmente incapacitada para o convívio na
―civilização‖ (ÁVILA, 2010). Este reflexo pode ser entendido ao refletirmos sobre o processo
de colonização-colonialismo e suas implicações com a discussão de Raça (um marco do poder
global).
Dessa forma, abordamos o conceito de Raça para refletimos como tal expressão foi
utilizada em benefício do sistema colonial-eurocêntrico-de poder. Assim, este conceito foi
primeiramente usado na zoologia e na botânica para classificar as espécies de animais e
vegetais, em que o botânico sueco Carl Von Linné usou no século XVIII este conceito para
classificar as plantas em 24 raças ou classes.
Dessa maneira, evidenciamos que o termo Raça passou a ser usado não só para
classificar as espécies de animais e vegetais (como Linné as classificou), mas agora a
humanidade. Esta última classificação, segundo Munanga (2004), foi utilizada pelo francês
François Bernier ao classificar a diversidade humana em grupos fisicamente contrastados
denominados raças e dividida em subespécies de acordo com a cor da pele, o tipo físico e
pretensos traços de caráter.
Este conceito após o estabelecimento de classificação da humanidade condiciona a
população negra a condição de Raça inferior, pois seu sentido passa a ser uma ferramenta para
125
Territorialidade denominada Abya Yala: nomeação posta pelos povos indígenas ao território brasileiro antes
da colonização.
operacionalizar o pensamento dos colonizadores frente aos povos negros estabelecidos como
classe subalterna pela condição de Raça inferior.
Contudo, mediante a todas as questões sobre o conceito de Raça o autor Munanga
(2009) esclarece que no mundo existe uma única Raça a humana, em que todos nós fazemos
parte dela como também os marcadores genéticos de uma determinada Raça poderiam ser
encontrados em outras. Embora, entendemos também que ―mesmo que os patrimônios
genéticos dos seres humanos se diferenciem as diferenças não são suficientes para classificá-
los em raças‖ (SCHUCMAN, 2010, p. 44). Nesse sentido, o termo Raça é um conceito
cientificamente inoperante e não uma realidade biológica.
Assim, entender o processo colonização-colonialismo é compreendê-lo vinculado à
discussão de Raça, pois com a ideia de Raça se forja dois pilares: a Racialização e a
Racionalização.
Estes processos são formas de operacionalizar as condições de subalternização, em
que no primeiro processo buscou, a partir de explicações biológicas, justificar a soberania de
uma classe sobre outra, com isso os povos que se diferenciassem da classificação do homem
europeu, branco, heterossexual, cristão e urbano seriam biologicamente inferiores
(MIGNOLO, 2005). O segundo processo, a Racionalização, surge para naturalizar a condição
de inferioridade tornando única e válida apenas as epistemologias dos colonizadores, ou seja,
os saberes dos sujeitos Outros não tem valor científico.
Após a independência das colônias e o fim do Colonialismo seu sistema não foi
aniquilado. Seu padrão de poder eurocêntrico e suas relações políticas e econômicas de
soberania foram ressignificadas se estendendo com a Colonialidade que se constitui como
novo padrão de dominação sobre várias dimensões do colonizado, como os eixos da
Colonialidade do Poder, do Saber e do Ser (QUIJANO, 2005). Estes eixos são formas de
hierarquizações e inferiorizações sobre os povos colonizados.
Na Colonialidade do Poder compreendemos que a uma classificação social baseada
numa hierarquia racial, bem como a uma formação e distribuição de identidades sociais como:
branco, mestiços, índios e negros (QUIJANO, 2000). No eixo da Colonialidade do Saber
ocorre à superioridade do que é dito como sendo válido. Esta forma de Colonialidade nega e
silencia outras formas de produção de conhecimento.
No eixo da Colonialidade do Ser impõe à Cultura Negra a condição de sujeitos servis
e de favor. Neste caso, a Colonialidade do Ser não é somente a criação do estereótipo de
inferior, mas o esforço de torná-lo natural para que haja sua aceitação passiva por parte dos
povos negros.
Evidenciamos também que o processo da Colonialidade não ocorre em sua totalidade,
pois encontra resistências por parte dos povos colonizados que reivindicam dentre outras
questões, os currículos que sustentam a Herança Colonial.
Vale ressaltarmos que o processo da Colonialidade não ocorre em sua totalidade,
pois encontra resistências/lutas por parte dos povos colonizados. Tais lutas estão pautadas
para que não haja o silenciamento e a subalternização das Histórias e Culturas desses sujeitos
Outros. Surge nesse contexto de lutas às ações afirmativas, dentre elas a Lei nº 10.639 e a Lei
nº 11.645/08 que acrescenta o estudo da História e Cultura Indígena. Esta última contempla as
reivindicações de ambos os povos: negros e indígenas.
Percurso Teórico-Metodológico
Resultados e discussões
Culinária 01 02 Culinária 01 -
Artefato 01 04 Artefato - -
Cultural Cultural
Modos de 03 01 Modos de Vida 02 02
Vida
Manifestação 01 Manifestação 05 03
artística - artística
História 03 03 História Afro- 03 16
da África brasileira
Total: 08 Total: 11 Total: 11 Total: 21
Fonte: Coleções didáticas aprovadas e selecionadas pelo PNLD/CAMPO- 2013.
As análises apontam que apesar das reivindicações dos movimentos sociais e das
implementações das Leis nº: 10.639/03 e a 11.645/08 o currículo das imagens não se libertou
do processo Colonização-Colonialismo, pois este processo perverso se estendeu com as
formas da Colonialidade. Tais maneiras estão disseminadas nas intencionalidades do
processo de tensão de disputa do currículo não dando condições para o diálogo sobre
Culturas.
Considerações finais
Referências
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colonialidade y la postcolonialidad imperial. Herencias coloniales y teorias pos-coloniales.
Revista chilena de literatura, Coimbra, 2005.
MUNANGA, Kabengele. Negritude usos e sentidos. Coleção Cultura Negra, 3 edição. Belo
Horizonte, 2009.
OLIVEIRA, Eduardo David de. Cosmovisão Africana no Brasil: para uma filosofia
afrodescendente. Fortaleza: LCR, 2003.
OLIVEIRA, Maria Marly. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, Vozes, 2007.
SATRISTÁN, José Gimenso. Saberes e Incertezas sobre o Currículo. Porto Alegre: Penso,
2013.
SILVA, Janssen Felipe da.; FERREIRA, Michele Guerreiro; SILVA, Delma Joseja da.
Educação das relações étnico-raciais: um caminho aberto para a construção da Educação
intercultural crítica. Revista Eletrônica de Educação. São Carlos, SP: UFSCar, v. 7, n. 01, p.
248-272, mai. 2013.
126
Pensamos o Ensino de História como uma prática sociocultural mutável ao longo do tempo (KARNAL,
2007).
perspectiva folclorista. Nos anos 1960, com o crescimento das críticas marxistas num Brasil
que não conseguia mais esconder as acentuadas desigualdades sociais, os estudos de Florestan
Fernandes denunciaram o mito da democracia racial afirmando a existência do racismo no
país. Não obstante, ainda se pensando em cultura, Fernandes tomava a cultura afro-brasileira
como um campo de espetacularização e alienação política.
Desse modo, foram interpretados, definidos e (des)qualificados os lugares simbólicos
da cultura afro-brasileira, lugares de uma suposta ―autenticidade‖ negra: a culinária ―colorida
e saborosa‖, a indumentária ―típica e chamativa‖, a dança ―selvagem e sensual‖, a música
―frenética e desordenada‖, o candomblé como um ―culto fetichista e primitivo‖, os contos
populares ―supersticiosos‖, a escultura ―grosseira‖, a sexualidade ―permissiva‖, a educação
―folgada‖, o vocabulário ―exótico‖127 (GOMES, 2013). Na lógica explicativa burguesa e
liberal (CHAUÍ, 1985), a cultura afro-brasileira era folclorizada conceitualmente;
intelectualmente definida, colonizada, inferiorizada, política e discursivamente submetida.
Só nas últimas décadas do século XX é que, observando, analisando e reconhecendo
as experiências históricas e os modos de viver da população no Brasil, intelectuais como Peter
Fry, Carlos Vogt, Robert Slenes e o Movimento Negro Unificado (MNU) inauguram o
paradigma que entende a cultura como mediadora de relações políticas, definindo a cultura
afro-brasileira como um conjunto de articulações entre memórias culturais africanas e as
novas experiências sociais impostas aos escravos no cotidiano da vida em cativeiro. Assim, a
cultura é compreendida como um espaço criativo onde existem lutas políticas de diferentes
formas: na linguagem enquanto complexo sistema de significação do mundo, na afetividade,
nos simbolismos e visões de mundo que embasam a lógica própria das práticas culturais
negras.
É interessante perguntarmo-nos por que este último tipo discussão ainda não circula
em nossas escolas. Quais os fatores políticos e culturais que interagem na e com a escola têm
construído barreiras à efetivação de um ensino crítico e contextual sobre a história e cultura
negras em nossas realidades escolares? Tal quadro é demonstrativo do quão forte é, de um
lado, o caráter seletivo, discriminatório e excludente da escola; pois se trata ainda de um lugar
de diferenciação social (ITANI, 1998).
Por muitas vezes, quando um docente aborda as práticas, representações, simbologias
e expressões culturais negras em sala de aula, as reações de muitos alunos e, por vezes, pais,
costumam ser repressivas. As piadinhas, os jargões e as represálias (CAVALLEIRO, 2012;
FAZZI, 2012) que são lançadas sobre a negritude apenas variam em graus de violência, sendo
reflexo de uma tradição pautada sobre um discurso depreciativo que impôs estigmas negativos
às memórias, identidades e culturas negras. Esses conceitos, valores e práticas culturais
adentram nas escolas, perpetuam relações excludentes e geram a falta de conhecimento e
pouco interesse em relação ao tema por parte dos sujeitos que nela interagem.
Assim, a escola constrói saberes direcionados, não só aos corpos, mas também às
subjetividades. Ela distribui discursivamente lugares distintos para serem ocupados por
distintos sujeitos no projeto nacional. As representações do negro e sua cultura se embasam
em saberes que no passado foram legitimados pela ciência, mas que até hoje são difundidas
pela mídia e através das narrativas escolares selecionando e legitimando determinados
127
Esses são adjetivos atribuídos pelos referidos pensadores brasileiros em suas obras.
saberes, definindo identidades e lugares políticos. Destarte, podemos afirmar que a escola
curriculariza a razão instrumental, a lógica separatista, classificatória e o discurso dominador,
também conforme critérios raciais.
O estabelecimento da Lei 10.639/03 é um marco histórico de investida legal na
reversão desse contexto. Já em 2008, após muita luta dos movimentos sociais indígenas, o
governo brasileiro reconheceu a necessidade desses povos também aparecerem, em nossa
educação escolar formal, como sujeitos construtores da história nacional. Para tanto foi
estabelecida a lei nº 11.645 que contempla, além das temáticas negras, também o ensino de
história da cultura indígena. Contudo, o ensino da história da África e da cultura afro-
brasileira ainda não se consolidou como prática pedagógica em muitos estabelecimentos de
ensino do país. Quando da ocorrência de práticas pedagógicas sobre a história da África e da
cultura afro-brasileira, muitas experiências divulgadas, ao longo do Brasil, têm reproduzido
uma noção de cultura afro-brasileira ainda como uma mera contribuição pitoresca e exótica,
que compõe o folclore nacional (OLIVA, 2003; BRAGA, 2013; GOMES, 2013).
Em Alagoas ainda há muito a investigar acerca da implementação de práticas de
ensino sobre o tema, estando, as poucas pesquisas existentes, concentradas em analisar
contextos de ensino da capital ou de sua Região Metropolitana de Maceió (BARROS e
CAVALCANTI, 2006; FRANCO, 2010; FREITAS, 2013; BRAGA, 2013). Estas pesquisas,
contudo, têm constatado que o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira ainda
não se efetivou na educação básica alagoana por diversos motivos: falta de formação docente,
discriminação de professores, alunos e suas famílias, etc. Destarte, há outros micropoderes
que se manifestam cotidianamente interferindo nas demandas curriculares oficiais.
Para além da realidade maceioense, o que se percebe é que faltam estudos sobre as
configurações do ensino de história da África e da cultura afro-brasileira no contexto cultural
do sertão alagoano. Essa é uma lacuna que precisamos começar a preencher estimulando a
produção de investigações, diagnoses e publicações científicas que possam explicar os
dilemas e avanços na implementação dessa temática no cotidiano do ensino local. Afinal,
pensar a educação em Alagoas não é reduzir-se aos processos educativos da capital, do
―centro‖; mas olhar também para as ―periferias‖ onde a educação encontra contextos
políticos, sociais, econômicos, culturais e subjetivos muito específicos. Nesse sentido,
buscamos compreender algumas problemáticas que influenciam nas práticas cotidianas sobre
a história e cultura afro-brasileira em Alagoas, mas direcionando o olhar investigativo a partir
do campo. Perguntamo-nos então, Quais são os saberes e as experiências docentes quanto ao
ensino de história e cultura afro-brasileira vigentes no sertão alagoano? Propõem-se, com
esta pesquisa, problematizar, através dos saberes, relatos e experiências docentes, alguns dos
elementos que têm composto as tramas do ensino de história sobre a cultura afro-brasileira em
outra espacialidade cultural do estado alagoano: o alto sertão.
128
A emergência de racionalidades políticas ou mentalidades, programas, de um governo político cuja
preocupação principal é o gerenciamento calculado das questões e condutas de cada indivíduo a fim de alcançar
certos objetivos alcançáveis (FOUCAULT, 1979; ROSE, 2001).
que possuem quanto a ser professor, à cultura afro-brasileira e atuar como um professor de
história que ensina sobre a cultura afro-brasileira no sertão.
Mas é preciso refletir epistemologicamente para termos uma postura crítica diante dos
dados oriundos de reconstruções biográficas, fato que possibilitará conexões teórico-
metodológicas menos perigosas, pois sabemos que o trabalho de reconstrução de memórias e
de produção discursiva não é algo transparente e imparcial. Do contrário, ocorre atravessado
por relações de poder.
Assim, consideramos, em aprofundamento à perspectiva de Benelli, a proposta de
Nikolas Rose (2001), para quem a preocupação teórico-metodológica em fazer uma história
do ―eu‖ consiste na perspectiva do que ele chamou de uma ―genealogia da subjetivação‖. Não
se trata de incorrer superficialmente numa narrativa sobre as ideias de "pessoa" ou ideias de
―ser professor‖, mas sim, em identificar, relacionar e analisar as práticas, normas, técnicas,
locais e relações de autoridade que agenciam regimes de pessoalidade dos professores de
história, ou seja, refletir sobre ―em que circunstâncias‖ e ―como‖ os saberes sobre a cultura
afro-brasileira constroem e significam as práticas de ensino e as próprias subjetividades
desses docentes. Esse ―eu‖ temporalmente fabricável, subjetivado, mas que se esforça em
transparecer discursivamente como uma identidade estável, centrada, regulada e autorizada é
tomado como o local de um problema histórico a ser pesquisado numa cautelosa perspectiva
biográfica. ―Essa investigação deve se dar ao longo de uma série de trajetórias‖. (ROSE,
2001:37).
Assim, as biografias dos professores entrevistados são importantes instrumentos de
pesquisa. Elas são compostas por tramas em que se cruzam diferentes histórias, instituições,
normas, documentos, conceitos, esquemas de pensamento, técnicas de regulação, problemas
de organização, relações de autoridade etc. Neste sentido, as identidades que parecem
transparecer nos discursos memorialísticos dos docentes não são reveladoras de uma verdade
transcendental sobre ―quem são‖, ―o que sabem‖ e o ―que fazem‖, mas funcionam como
―ideais regulatórios‖, ou mesmo ―planos irreais de projeção‖ nos quais podemos perceber os
desdobramentos do mundo social no sujeito através de discursos autorizados que se cruzam e
que, reorganizados em sua fala, faz-lhes ―imaginar a si próprios como os sujeitos de uma
biografia, a utilizar certas ‗artes da memória‘ a fim de tomar sua biografia estável, a empregar
certos vocabulários e explicações para tomar isso inteligível para si mesmos‖ (ROSE,
2001:50).
Conforme explica Rose, na genealogia da subjetivação, identificam-se as práticas
cotidianas que tornam uma conduta problemática, relacionando-a com os discursos e
programas mundanos que buscam tomar esses problemas inteligíveis e, ao mesmo tempo,
administráveis. Isso não quer dizer que, necessariamente, a tecnologização da conduta
humana seja ruim. Ela é positiva, pois produz algo, capacita e governa certos tipos de sujeitos
dentro de objetivos pré-estabelecidos. Tais considerações nos levam a buscar mapear de que
forma os saberes e práticas docentes dialogam, ou não, com os programas curriculares
estabelecidos a respeito do ensino de história e cultura afro-brasileira.
A produção de histórias de vida se dá por meio de narrativas, aqui entendidas como
discursos, como construções simbólicas, instrumentos de (re)construção da própria
subjetividade (GABRIEL e MONTEIRO, 2014). A narrativa materializa as memórias do
sujeito, dotando-o de sentidos culturais: através de sua narrativa, o indivíduo se repensa, se
falam, como falam, por que o falam e de determinada maneira o fazem, quando e sob que
normas, condições e referências. Assim, a análise do discurso é pensada por nós como o
estudo da perspicácia observável no jogo de poder quando um docente cria discursos,
narrativas e esquemas explicativos a respeito do que seja: ser professor, a cultura afro-
brasileira, os desafios e possibilidades para ministrar aulas nas escolas públicas do sertão
sobre o tema, etc.
Contudo, esses professores não falam apenas a partir de uma vida profissional, mas de
uma vida cultural mais longa e complexa que se desenvolve a lhe interpelar, informar,
tencionar, angustiar, interdiscursar, subjetivar. Compondo um complexo jogo de saber-poder
em torno de um tema caro a uma sociedade de uma história marcadamente racista, os
discursos dos professores sobre seus saberes e práticas não possui um caráter transparente.
Eles compõem tentativas intencionais, localizadas e sempre fluidas de leituras sobre os
processos educativos instalados no sertão alagoano dentro de uma nova relação de poder
(entre pesquisador e participante da pesquisa). Essa noção é importante para uma análise
cuidadosa e eticamente responsável no trato de nosso objeto de pesquisa.
Referências
Introdução
O silenciamento que anos circunda a Educação do Campo não tem, mas sentido, afinal
a construção do direito a uma educação que além de efetivar os sujeitos do campo e da voz as
historias produzidas das precárias salas de aula como na vivencia comunitária dos povos do
campo é urgente.
A ausência de Políticas Públicas que alterem essa realidade é notória, pois o sistema
educacional rural é compreendido ainda como as sobras da educação oferecida no meio
urbano revelando-se opositora as ações educativas que valorizem as especificidades do campo
e seus sujeitos. Vale ressaltar que esse contexto acima apresentado só pode de fato sofrer as
devidas mudanças quando não tivermos apenas escolas que sirvam as políticas urbanas de
gestão, bem como a cultura e sua amplitude esteja presente no meio rural, celebrando e
resgatando os conhecimentos culturais produzidos por seus sujeitos.
Ao afirmar a urgência da ressignificação das escolas do campo, não se trata
necessariamente de escolas agrícolas, ao contrário é urgente um campo que celebre a cultura
local, que fortaleça a identidade de sua comunidade com a busca da cultura que
historicamente foi se perdendo, devido aos grandes avanços tecnológicos em especial o meio
de comunicação de mais fácil acesso a TV que ocupou os lugares das rodas de conversas, as
cantigas de roda na casa de farinha, o reizado, os trovadores, a contação de história, entre
outros.
O Brasil é um país multifacetado, onde as desigualdades socioeconômicas e raciais
acabam por ocasionar relações sociais discriminatórias e excludentes em relação à população
rural, sobretudo nas regiões mais pobres. Fato que podemos constatar nos dados do Censo
Demográfico de 2000 e PNAD 2004 (IBGE, 2007), sublinhados por Elizeu Clementino: no
Nordeste o índice de analfabetismo na região da zona rural é maior que na zona urbana, sendo
na zona urbana de 16,8% e na zona rural é de 37,7%. Assim, o autor aponta que se não houver
iniciativa, nunca haverá mudanças concretas capazes de derrubar a visão de hostilidade que
paira sobre o país, e que, sem luta e quebra de paradigmas não haverá justiça social, muito
menos haverá a mudança dessa realidade excludente.
Assim nasce, a ideia da criação do Projeto Circo Rural: curso de iniciação as artes
circentes, com objetivo de redirecionar o olhar para o campo, buscando entende-lo como o
espaço propício para a fomentação da cultura, onde os sujeitos envolvidos pudessem
reconhecer-se como parte integrante no desenvolvimento do projeto, valorizando o campo
como um espaço também favorável para as múltiplas aprendizagens.
O circo social teve seus primeiros passos na Roma antiga, com o objetivo de
resignificar no centro das arenas os problemas sociais vivenciados, resgatando valores e
introduzindo os saberes corporais do universo ludocircense na execução de seus espetáculos,
onde a magia além de encantar despertava o senso crítico acerca dos temas abordados. Por ser
uma ferramenta capaz de proporcionar a descoberta da identidade individual com base no
respeito mútuo, o circo social torna-se uma metodologia que além de entreter possibilita à
sistematização de saberes necessários a construção de uma sociedade mais justa igualitária.
Desde de antes do século VXIII já existiam registros da prática de atividades circenses
no Brasil, que eram efetuadas por ciganos, os quais chegavam aqui fugidos das perseguições
da Europa. Eles realizavam em solos brasileiros espetáculos que envolviam desde habilidades
sobre cavalos a demonstrações de ilusionismo e adestramentos de animais (MAUÉS, 2004).
O circo no Brasil sofreu influência das companhias de saltimbancos e companhias
circenses de características nômades vindo da Europa para fazerem suas apresentações em
feiras, festas, com intuito de sustento.
O processo de formação do circo brasileiro na visão Silva (1996) com enfoque na
associação familiar e transmissão de sabres, demonstrando que as produções eram resultados
de um longo processo de formação/ socialização/aprendizagem. Ou seja, o espetáculo
circense, longe de ser apenas um produto de entretenimento revelava-se como resultado
visível de um longo rigoroso e complexo processo de formação artística. Com isso, abre-se
nossa percepção não só para os conhecimentos práticos e teóricos desenvolvidos pelos
circenses, mas para os valores que organizam sua atividade e para uma verdadeira pedagogia
no campo da arte.
Ao primeiro contato com a palavra circo, tem-se uma ideia contraditória de que é
apenas um ato de brincar e de entretenimento, classificando-o como uma arte popular sem
objetivos específicos, que historicamente sofre um olhar preconceituoso da sociedade.
ABREU (2007, p. 13), descreve que:
O olhar ligeiro e menos atento pode, muitas vezes, classificar o circo como
atividade menor no mundo dos espetáculos. Nessa visão, ele seria apenas um
decadente modo de produção artística, principalmente se comparado aos
poderosos meios visuais e tecnológicos e ás linguagens consideradas mais
importantes ou qualificadas do ponto de vista cultural. As poucas e pobres
lonas coloridas, que nosso olhar passageiro flagra na periferia das grandes
cidades, parecem atestar o veredicto: o circo está em extinção assim como
outras manifestações culturais, ante o avanço inexorável dos novos meios de
produção e veiculação artísticas. [...].
Nessa perspectiva, vale direcionar um olhar para as inúmeras contribuições que a arte
circense pode trazer para o fazer pedagógico, desde o crescimento pessoal ao aprimoramento
das relações interpessoais, que podem estar imerso no dia a dia do picadeiro, na realização de
atividades que visem o conhecimento do corpo, o respeito ao outro, a compreensão da
cidadania, o teatro e a dança como fonte de expressão, conhecimento do meio onde vivem por
meio de pesquisas temáticas e contação de histórias.
Assim, JÚNIOR & TRINDADE (2000, p.16) abordam uma visão crítica diferenciada
do circo quando afirma que: [...] Não o vemos como um conjunto de técnicas a serem
replicadas, mas como uma proposta político pedagógica aberta, baseada numa perspectiva
dialógica da educação no entendimento da complexidade social. De acordo com MANCILLA
(2006, p.18)
Um antigo desejo realizado com novas ideias, assim começou a trajetória do Circo
Rural Picolino. A busca valeu a pena, hoje temos um circo implantado na beira de um rio
dentro de um sítio com uma área de 10.000m², ocupada com árvores frutíferas e um campo de
futebol gramado; é bom demais.
A principal missão do Circo Rural Picolino é possibilitar as aulas circenses entre
jovens bem como oportunizar um outro olhar sobre o campo e suas especificidades. Para isso
fizemos uma parceria com a Associação de Amparo a Criança e ao Adolescente do Vale do
Jiquiriçá (AACVJ) que já desenvolve há anos algumas atividades.
É inegável a importância da arte educação como agente transformador de qualquer
sociedade, seja ela formal ou não. Pensar a transformação da Educação do Campo é da vez e
voz a seus agentes, proporcionando as vivências com as diversas artes, bem como refletir da
produção cultural já existente.
Metodologia
Estas aulas também são revezadas com as aulas de Dança. Os alunos realizam alongamentos
em um círculo para que todos possam se olhar, trabalhando assim concentração, foco e
compartilhamento.
A metodologia aplicada nas aulas parte das proposições de Viola Spolin e Olga
Reverbel para o ensino de teatro para crianças e adolescentes. Para Reverbel a ludicidade
conduz os alunos a uma espontaneidade que ajuda na construção do imaginário teatral,
enquanto que segundo o método de Spolin, após a criação de cenas os alunos também devem
ser apreciadores do fazer artístico do outro, incentivando desta forma à formação de platéia e
o senso crítico nos apontamentos dos aspectos positivos e negativos, de modo a alcançar o
aperfeiçoamento das técnicas (expressão corporal, vocal, dicção, criação, entendimento do
texto, etc). Juntando estas duas metodologias partimos da espontaneidade para a técnica,
retornando a espontaneidade no ato da apresentação pública. Da mesma forma as técnicas dos
palhaços através da realização de esquetes cômicas, devem partir da apreciação e da
espontaneidade.
Resultados e discussão
OLIVEIRA (2000, p.12) traz uma contribuição muito relevante quanto a a ação do
circo na transformação do ser na afirmação que diz: O circo é um construtor de um ambiente
que induz a uma maior sensibilidade das pessoas. Ele apresenta conflitos que impulsiona o ser
humano a olhar-se o que impulsiona mudanças [...].
Esse fato é constatado na fala de um dos participantes que começou a interagir
socialmente com mais facilidade.
A questão 2 (gráfico 02) tem um enfoque para a localização do circo na zona rural,
para a maioria dos que ingressaram no projeto 60% (6/10) consideram que o contato com a
natureza é excelente para as propostas de trabalho do projeto, para os residentes na zona
urbana o acesso era considerado difícil 20% (2/10), dos que residiam na zona rural
destacaram que a localização favorecia a valorização do campo 20% (2/10).
Quanto à questão 03 (gráfico 02) concernente aos pontos positivos foram destacados
pela maioria dos pesquisados 30% (3/10) que a transformação social foi essencial no projeto,
no ponto de vista do comportamento e também que muitos dos participantes poderiam está
pelas ruas fazendo coisas desagradáveis, mas estavam executando no projeto atividades que
contribuíam para sua formação cidadã, além disso, o aprendizado das atividades circenses
30% (3/10) pode ser vistas como um trampolim de possibilidades tanto reflexivas como
motoras, o desenvolvimento oral foi mencionado por 10% (1/10) dos pesquisados levando em
consideração a perda da timidez com o desenvolvimento das atividades, 10% (1/10)
apresentaram a obtenção de novos conhecimentos, pois havia a busca do conhecimento local,
da história da cidade que era apresentado em forma de peça teatral e os outros 10% (1/10)
elencaram como ponto positivo a interação com os participantes adquirindo novas amizades.
Ao verificar a importância das atividades do projeto para o seu dia a dia questão 5
(gráfico 05) um ponto que chamou atenção foi que 30% (3/10) falaram sobre sua mudança de
conceito em relação ao circo, que antes achavam que era apenas entretenimento e não um
meio para aprender algo, 50% (5/10) discorreram que as atividades proporcionaram
equilíbrio emocional ajudando-lhes a enfrentar os dilemas do dia a dia com mais serenidade,
10% (1/10) apontaram para o poder da elevação da baixa estima apartir das atividades
desenvolvidas e 10% (1/10) não respondeu.
Não é por demais afirmar os inúmeros benefícios que as atividades circenses vão
construindo apartir dos diálogos entre os envolvidos em todo o processo de execução do
projeto, MARQUES (2004, p.19), afirma que [...] os conteúdos basilares do circo social, vão
sendo construídos apartir dos diálogos com os conhecimentos e protagonismo dos meninos e
meninas.
De acordo LOBO e CASSOLI (2007, p. 64) "as práticas de circo social não objetivam
o espetáculo como acontece no circo, mas combinam finalidades de educação e de assistência
social com saberes populares". É uma arte que proclama uma transformação histórica, em
síntese, busca fortalecer o potencial dos educandos através das práticas circenses para
interferir em processos de desenvolvimento humano, tendo como foco principal a elevação de
autonomia e auto-estima, os fortalecendo como sujeitos de direitos e como atores e
protagonistas de transformação social.
Considerações finais
além das magníficas aulas (arte milenar), os mesmos têm a possibilidade da integração e a
vivência com valores fundamentais para o desenvolvimento do ser humano.
É de suma importância que a Educação do Campo possa está atrelada as diversas
expressões culturais compreendendo os aspectos históricos e culturais que envolvem o
entorno da realidade constituídora das significações dos seus educandos (as) com os quais
atuam no processo de ensino e aprendizagem voltando-se para a quebra de paradigmas que
sempre descreveram esse espaço como território atrasado relegado a cultura.
Com a execução do projeto foi possível conhecer diferentes formas de culturas,
quebrando preconceitos a respeito da arte circense e estabelecer uma vivência respeitosa entre
as crianças e adolescentes, refletindo de que modo estão sendo inclusos na sociedade e um
importante repensar no que se refere às relações sociais e a educação. É importante ressaltar
que, o projeto, no ato pedagógico, despertou a consciência crítica dos alunos, para que esses
venham a sensibilizar-se tanto quanto à desigualdade social existentes no país como o seu
papel no processo de transformação.
Contudo, mesmo com o pouco tempo de duração do projeto obteve-se resultado
satisfatório verificando nos educandos o empenho nas atividades desenvolvidas, mudança de
comportamento, apreciação e apropriação da história do município, descaracterização
preconceituosa de estigmas historicamente construídos acerca das atividades culturais
populares e, sobretudo o nascer de um novo olhar para a Educação do Campo, afinal a lona
estendida entre as árvores e no entorno do rio simboliza a luta e resistência dos sujeitos do
campo.
Referências
ARROYO, Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Por
uma Educação do Campo. 5. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
JÚNIOR, Bores Trindade & TRINDADE, Alberto Affonso Marques. Circo Social no Brasil,
2000.
MARQUES, Daniel da Silva. O palhaço negro que dançou a chula para o Marechal de
Ferro: Benjamim de Oliveira e a consolidação de circo teatro no Brasil – mecanismos e
estratégias artísticas como forma de integração social na Belle Époque carioca, 2004.
MAUÉS, Moreira. Palhaços travadores: uma história cheia de graça, 2004. Dissertação
(Mestrado em Artes Cênicas). Ppgac da UFBA, Salvador, 2004.
OLIVEIRA, Zezo de. Fundador da Escola Pernambucana de Circo e atual diretor da Escola
Nacional do Circo, 2000.
SILVA, Erminia - O circo sua arte e seus saberes: o circo no Brasil do final do século XIX a
meados do XX. Campinas: Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia
Ciências e Humanas. Dissertação de Mestrado, 1996.
Introdução
129
Estudante do Curso de Educação do Campo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
130
Professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA). Pedagogo formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre e Doutorando em
Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professor do Curso de Licenciatura em Educação do Campo.
131
Estudante do Curso de Educação do Campo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
O nome Upanema deriva do tupi e significa água ruim, ou rio sem peixe. A história de
Upanema surgiu a partir do rio Upanema, nascido ao pé da serra do Patu, atravessa os
municípios de Augusto Severo, Caraúbas e vai desaguar no Rio Mossoró, não existindo nada
mais antigo na querida Upanema, junto ao rio nascem seus carnaubais verdejantes que
afloravam em suas margens, florescendo assim pelas suas riquezas naturais e fertilidade do
seu solo que ele banhava.
No tocante a sua população destacamos que ela se fez à margem esquerda do rio,
sendo oriunda de índios pêgas, os primeiros habitantes da região conhecida na época, como
Curral da Várzea. No ano de 1867, o padre Francisco Adelino de Brito, natural do município
de Campo Grande-RN, a partir do processo de catequização, característico do período das
missões deu início ao povoado utilizando faixas de terras doadas por fazendeiros das
redondezas. Logo, a fama das terras férteis e do clima úmido da localidade atraiu inúmeras
famílias de agricultores, vindas de várias partes da região, com o objetivo de fixarem moradia.
Entretanto, entre os anos de 1867 – 1890, o povoado teve três nomes nas primeiras
décadas relacionados ao Rio Upanema. O primeiro nome denominava-se Rua da Palha, em
alusão as casas que eram feitas, basicamente, com folhas de carnaubeira. Destaque-se neste
momento a singular importância da carnaúba para a confecção de moradias não somente
indígenas, mas também dos primeiros habitantes não índios que chegavam à região.
Para o professor Costa (2011, p.32) ―É que os verdes carnaubais, nascidos às margens
do rio, pensavam na história de quem construía suas moradias com as palhas das
carnaubeiras‖. O segundo nome foi o Curral da Várzea e o terceiro refere-se à Conceição de
Upanema, sobre a Paroquia de Campo Grande-RN. Lembramos que no ano de 1874, o
povoado ganhou sua primeira escola. No entanto, no segundo semestre dos anos de 1890
passaram a chamar de Upanema. E por fim, no dia 16 de setembro de 1953, pela lei estadual
nº 874, Upanema-RN emancipou-se de Campo Grande-RN.
Atualmente Upanema-RN concentra uma população de 12.992 habitantes segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, 2010). A cidade mantém sua economia
à base da piscicultura – destaque a grande importância da barragem de Umari, que garante
meios de sobrevivência para dezenas de famílias – da agricultura, pecuária e a extração da
carnaúba.
A cidade de Upanema detém hoje um grande potencial ao desenvolvimento
sustentável, tendo em vista sua relativa diversidade de fontes econômicas, sobretudo o uso da
carnaúba enquanto matéria prima importantíssima para a indústria e que neste trabalho ocupa
lugar central na análise.
Desenvolvimento
Considerações finais
Referências
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo relatar a importância das atividades realizadas
através do PIBID Diversidade na escola do Campo: Unidade Municipal de Educação Infantil
e Ensino Fundamental José Bonifácio Barbosa de Andrade, localizada no distrito Pio X,
município de Sumé - PB. Que foram desenvolvidas durante os anos de 2015, 2016 e início de
2017.
A educação é um direito de todos, e dever do estado e da família, no entanto ainda
deixa muitas lacunas quando se trata da educação básica. Com o Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência Diversidade os futuros educadores em específicos do campo,
quilombolas e indígenas tem a oportunidade de desenvolver, construir atividades
diferenciadas, lúdicas e contextualizadas que são de grande relevância, tanto para os
educandos das escolas onde atuam quanto para sua formação enquanto futuros educadores, e
de conhecer a realidade em sala de aula, antes de se efetivar como professor. O PIBID
Diversidade propicia metodologias alternativas para que os discentes/docentes busquem da
melhor maneira possível como lidar com as dificuldades presentes na educação no Brasil. O
mesmo, é um elo entre o meio acadêmico e escolar que propicia ao futuro educando a teoria
da universidade com a prática, proporcionando-lhes assim uma formação continuada entre a
teoria e prática, além de conceder bolsas aos educandos matriculados em cursos de
Licenciatura em Educação do Campo e Indígenas.
O PIBID Diversidade atua por área de conhecimento, assim como o curso de
Licenciatura em Educação do Campo, são três áreas de conhecimento: Ciências da Natureza e
Matemática, Linguagens e Códigos, e Ciências Humanas e Sociais.
Objetivos
Relatar a importância do PIBID Diversidade, na escola de educação básica do
Campo, e para os futuros Educadores.
Relatar a importância as atividades desenvolvidas pelo PIBID Diversidade
subprojeto Ciências da Natureza e Matemática, durante o ano de 2015 até o
presente momento, na escola José Bonifácio Barbosa de Andrade.
Identificar as Ações do PIBID Diversidade, como um processo de construção
do conhecimento entre escola e a Universidade.
Referencial teórico
A Educação de qualidade é algo que se busca a cada dia para nossas escolas, e quais
são essas qualidades que sempre faltam? São melhores condições de trabalhos, tanto na
educação básica quanto na superior; valorização dos profissionais; qualificação de qualidade
durante a formação do docente; programas que incentivem e mantenham os licenciados no
curso de formação de professores e outros mecanismos que venha a tornar o campo
educacional mais instigante e prazeroso.
Nesse itinerário nós que fazemos parte da Educação do Campo, precisamos de muitos
meios que melhore a Educação no Campo, ou seja, profissionais formados em cursos
específicos para atuarem em escolas do Campo, e escolas de qualidade no campo, de
programas como o PIBID Diversidade que é de fundamental importância para a formação
docente, porque o mesmo além de enriquecer o futuro profissional de conhecimentos e de
metodologias, proporciona o contato com seu futuro campo de trabalho, também o ajuda a
custear despesas durante o curso com bolsa. O profissional do campo precisa sempre estar
buscando uma educação contextualizada, um processo de ensino aprendizagem, partindo dos
conhecimentos prévios dos educandos, para, a partir daí se construir novos conhecimentos.
Sabemos como era a visão do campo por muitos anteriormente, de forma
estereotipada, ou seja, as pessoas, os sujeitos do campo eram vistos sem capacidade, sem
detentor do conhecimento. Mas isso vem mudando desde os movimentos sociais em meados
da década de 60. Hoje temos a Educação do Campo como uma modalidade de ensino, entre
outras políticas, e é nessa perspectiva que ainda temos muito o que melhorar, pois como relata
Freire: ―Há uma dívida social, e também pedagógica, com milhares de crianças, jovens e
adultos do campo que estão privados de uma educação básica de qualidade‖ (1979, p.96).
O PIBID DIVERSIDADE é um programa de muita significância, pois através do
mesmo ocorre à integração, intercambio entre educação básica e educação superior. Nas
escolas atuamos por áreas, ou seja, cada área desenvolve atividades relacionadas com as
disciplinas da mesma. Portanto um trabalho interdisciplinar e contextualizado, ou seja, que
envolve o conhecimento como um todo, isso é importante porque se constrói o conhecimento
integrado e não fragmentado, é o que traz a LDB no seu Art. 28. Na oferta de educação básica
para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua
adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região. E os PCNs, que seguem eixos que
buscam a interdisciplinaridade e contextualização.
O PBID DIVERSIDADE é um programa de muita relevância na educação, pois
através do mesmo, os bolsistas desenvolvem em coletivo com professores das escolas
materiais didáticos, atividades pedagógicas diferenciadas, e com isso o futuro docente, ao
terminar seu curso estará bem mais preparado para entrar no campo de trabalho, no qual
atuará. A educação, o processo de ensino/aprendizagem, é um campo onde se precisasse da
interação humana, ou seja, de troca de relações para a construção do conhecimento. Nesse
sentido, é o que relata Silva, ―é preciso ter contado com os/as educandos (as), com as relações
e rituais que são desenvolvidos em sala de aula... (2009, p. 99) ‖. Portanto o contato com o
seu futuro campo de trabalho é uma pre experiência, o que é muito importante, pois coloca o
futuro profissional à real situação que irá encontrar. E assim, pensar nas melhores estratégias
para atuar no processo de ensino/aprendizagem.
Metodologia
Resultados
Figura 13: finalização da horta Figura 14: horta com plantio de coentro
Considerações finais
é o trabalho coletivo que é promovido entre professores da escola e futuros docentes que são
os bolsistas em curso.
Portanto, foram e são momentos de grande aprendizado para todos, ficamos muito
satisfeitos com as atividades desenvolvidas tendo a certeza que estamos no caminho certo, o
PIBID DIVERSIDADE é um programa que só traz melhorias para a educação como toda.
Referências
Disponível em <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid/pibid-diversidade>
acesso em 27 de outubro de 2015.
Disponível em <http://sistemica.org.br/> acesso em 27 de outubro de 2015.
FREIRE; Paulo, Educação e Mudança: Paulo Freie, tradução de Moacir Gadotti e Lillian
Lopes Martin. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979
Coleção Educação e Mudança vol.1
FREIRE; Paulo, Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à pratica educativa / Paulo
Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura
CADERNO PEDAGOGICO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: Praticas pedagógicas e
formação docente de educadores (as) do campo/ organização de Alessandra da Costa Lunas,
Eliene Novaes Rocha. Brasília, 2009.
Introdução
Este trabalho tem como finalidade mostrar a experiência da ‗Ciranda do saber‘ sendo
uma proposta de intervenção pedagógica a partir da produção de material áudio visual
temático (curtas metragens) e organizado a partir de uma metodologia participativa que
envolve a equipe do Subprojeto de Ciências Humanas e Sociais-CHS/Ensino Médio do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID-Diversidade
(Coordenação, Supervisão e bolsistas) a comunidade escolar da Escola Estadual Jornalista
José Leal Ramos, particularmente as turmas do ensino médio, turma da Educação de Jovens e
Adultos - EJA e os moradores do município de São João do Cariri- PB.
Sendo esta proposta uma estratégia de educação contextualizada, onde a idéia é pensar
um currículo que busquem ―contextualizar o processo de ensino-aprendizagem com a cultura
local, considerando as potencialidades e limitações do semiárido, transformando-o num
espaço de promoção do conhecimento, produção de novos valores e a divulgação de
tecnologias apropriadas à realidade local‖ (LIMA, 2011, p. 92).
Como metodologia utilizou-se a revisão bibliográfica e como referencial teórico
utilizou Martins (2004); Lima (2011); Menezes e Silva (2011); Farias (2009), Freire (1996),
onde o viés teórico segue os princípios da educação do campo, onde percebemos que há uma
necessidade de contextualização de conteúdos no espaço escolar da escola Jornalista Jose Leal
Ramos, para melhor compreender a realidade local e regional através de novas propostas
pedagógicas, onde intitulamos a ―ciranda do saber‖ com uma proposta curricular
contextualizada para produção de conhecimentos em sala.
Educação contextualizada
A UNICEF (2003) aponta que 350 mil crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos
estavam fora da escola. O censo de 2000 revela que no Semi-árido a estrutura de educação
atendia menos de 20% das necessidades. Esses dados se referem ao conjunto, campo e cidade.
No que se refere ao currículo escolar, independente do lugar onde se localize a escola - no
campo ou na cidade, os materiais didáticos ou de apoio à construção da aprendizagem, com
raras exceções são, além de referenciados em outras realidades; quando abordam o Semiárido,
continuam desenhando uma imagem de miséria, pobreza e ignorância e de impossibilidade de
se viver nessa região. Salientando que a maioria dos materiais de didáticos são elaborados na
região Sudeste do país, assim com a educação contextualizada vem para acabar com esse
estereótipo de pobreza e miséria que se colocou aos sertanejos, sendo assim mostrando
Currículo
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (9.394/96) afirma que, ―na
oferta da educação básica para a comunidade rural, os sistemas de ensino poderão adaptar
conteúdos curriculares e metodologias aplicadas às reais necessidades e interesses dos alunos
do campo e às peculiaridades da região. ‖
O currículo não existe neutralidade, há sempre uma questão de poder, onde a
conteúdos e metodologia selecionados a fim de tornar sujeitos com determinada visão de
mundo, sociedade e homem. Para Martins (2004): ―No currículo descontextualizado não
importa se há saberes; se há dores e delícias; se há alegrias e belezas. A educação que
continua sendo ―enviada‖ por esta narrativa hegemônica, se esconde por traz de uma desculpa
de universalidade dos conhecimentos que professa, e sequer pergunta a si própria sobre seus
próprios enunciados, sobre seus próprios termos, sobre porque tais palavras e não outras,
porque tais conceitos e não outros, porque tais autores, tais obras e não outras. Esta narrativa
não se pergunta sobre os próprios preconceitos que distribui como sendo seus ―universais‖.
Desde aí o que se pretende é, portanto, colocar em questão estes universais. O que está por
traz da idéia de ―Educação para a convivência com o Semi-Árido‖ é, antes de qualquer coisa a
defesa de uma contextualização da educação, do ensino, das metodologias, dos processos. ‖
(p.31-32).
Conteúdos totalmente descontextualizados não permitem que se evidencie como os
conhecimentos e as práticas envolvem, necessariamente, questões de identidade social,
interesses, relações de poder e conflitos interpessoais (Wortham,2006)
O currículo não é um veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas
sim um lugar em que ativamente, em meio a tensões, se produz e se reproduz a cultura.
Currículo refere-se, portanto, a criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e Silva,
1994).
Os atores do currículo contextualizado são educadores, educandos e comunidade,
entendemos que seja um processo político-pedagógico, dialético e dinâmico, onde todos
podem contribuir no processo de ensino-aprendizagem. Sendo a realidade local e regional a
base do processo de aprendizagem.
O currículo contextualizado exige a inclusão de questões locais, regionais e de
contexto que, historicamente não mereceram atenção nem destaque dentro do ensino, das
metodologias e processos da educação burguesa (Menezes E Silva, 2011)
Paulo Freire afirma que, “em mundos diversos a educação existe diferente”. A partir
desta afirmação constatamos a necessidade de contextualizar os espaços educativos a partir da
realidade vivida e experimental.
O currículo contextualizado descolonializa com os discursos e narrativas vindos ―de
fora‖, que nega as construções e saberes locais. Sendo que são os saberes e experiências locais
que validam, re-significam e reconstroem os saberes e conceitos globais.
O que se quer afirmar com a contextualização do currículo é que ele seja o veículo, o
interlocutor dos saberes locais, com os saberes globais, que seja visto como campo de
transgressões e que permita a possibilidade de criação. (Menezes E Silva, 2011)
Para se adequar os currículos ao contexto local, deve se tratar da história local, social,
econômica adaptando a todas disciplinas de forma contextualizadas e que o material
pedagógico fosse específico para a realidade de cada região. Pois dentro da região semi-árida
existem diferentes elementos que são particulares de cada região ou Estado.
O currículo apresenta termos locais, como costumes, moradias, famílias, artesanatos,
comércio, agricultura, literatura e outros. Os livros didáticos passam a levar em consideração
características regionais, bem mais que universais.
O currículo contextualizado passa a imagem da própria vida, a aprendizagem é
extraída das situações encontradas. A escola cria projetos que vão de encontro ao perfil do
aluno, de suas características, despertando assim seu interesse, atraindo-o ao ensino. Ela está
sempre aberta a novas táticas de abordagem. É uma escola que atua de forma integrada e
responde aos anseios dos alunos, desenvolvendo suas competências e habilidades, responde
aos anseios da comunidade; integra-se e ajusta-se à sua clientela.
O currículo, enquanto espaço de luta, de criação e de recriação não pode ser relegado
ao segundo plano na agenda dos educadores porque através dele, efetiva-se o processo de
inclusão ou de exclusão de certos saberes. Esse espaço onde se constroem identidades sociais,
culturais e políticas. (Lima, 2001)
Nº ETAPA DESCRIÇÃO
Realização de dinâmica pedagógica com as turmas do
1. Escuta ensino médio e da EJA para a escolha do tema gerador do
curta metragem.
2. Reunião de formação da equipe PIBID/CHS-Ensino
Formação Médio sobre o tema gerador escolhido na dinâmica
pedagógica.
3. Captação de Captação das imagens no Município de São João do
imagens Cariri – cidade onde esta localizada a unidade escolar
onde é desenvolvido o projeto.
4. Edição das Edição das imagens e produção do curta metragem.
imagens captadas
5. Intervenção na Realização da intervenção nas turmas do ensino médio e
escola EJA – roda de dialogo tendo como material
problematizador o curta metragem com tema predefinido
na dinâmica pedagógica na escuta e gravado com sujeitos
do próprio município onde esta localizado a unidade
escolar – o objetivo é os estudantes se reconhecem nos
personagens.
6. Avaliação Reunião de avaliação e organização do cronograma da
escuta para escolha do próximo tema gerador.
Considerações finais
comunidade escolar e não escolar, onde são os principais personagens do nosso projeto. Essa
estratégia de ensino é participativa e dialógica onde tornam o ambiente escolar mais prazeroso
e dinâmico.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 7ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu. Currículo, Cultura e Sociedade. São
Paulo: Cortez, 1994.
Introdução
Referencial teórico
132
Aluna do Curso de Licenciatura em Educação do Campo e bolsista do PIBID – DIVERSIDADE - CHS.
133
Professor Doutor do Curso da Licenciatura em Educação do Campo – CDSA/UFCG /Coordenador da
LECAMPO/UFCG e Coordenador do Subprojeto PIBID – DIVERSIDADE – Ciências Humanas e Sociais –
CDSA/UFCG.
O saber geográfico era alheio ao aluno. Por esta razão, o ensino de geografia
esteve muitas vezes subjugado a patamares de menor importância. O aluno, e
mesmo o professor, eram excluídos deste processo, elemento fundamental
para a formação do indivíduo. (OLSZEWSKI , 2010).
A partir da lei nº 5.562/71 com a institucionalização do ensino dos estudos sociais nas
escolas brasileiras, o ensino de Geografia e História ficou restrito apenas ao antigo segundo
grau de forma que os conteúdos eram tradicionais e não apresentava uma nova forma de
ensinar (SCMMIDT, 2009).
Na década de 1980, a Geografia e a História ensinadas nas escolas e universidades
brasileiras foram objeto de debates e inúmeros estudos, tornando-se um campo de pesquisa de
teses, dissertações e publicações como livros e artigos especializados.
De acordo com Souza (2007) o ensino de Geografia hoje não deve estar apenas
voltado para a compreensão do espaço geográfico ou preocupado em descrevê-lo, uma vez
Assim a sociedade moderna segue uma ideia capitalista de forma que a Geografia não
pode ser descritiva, mas crítica em meio ao que ocorre no espaço geográfico e com os que
nele habitam, de modo a compreender, por exemplo, que habitação precária não diz respeito
ao relevo, mas a uma condição social criada no mundo moderno e muito mais presente na
atualidade.
Não é suficiente falar como deve ser o ensino de Geografia hoje, sem falar na
renovação do ensino para aqueles que serão os futuros professores (as) desta ciência que
segundo Pontuschka (2009), faz-se necessário uma formação permanente para a ampliação
dos conhecimentos.
Já o ensino de História é fruto de estudos e documentos escritos para reflexão e
compreensão em oposição ao ensino tradicional, que estava organizado segundo as ideias e
interesses de representantes da ditadura militar no Brasil, que não se interessavam pelo ensino
de uma História crítica e que levasse o cidadão a condição de ator de sua própria história.
Professores e alunos passam a ser considerados e percebidos como sujeitos de sua própria
história diante da reestruturação curricular para o ensino de História, com materiais que
possibilitam o rompimento com o sistema tradicional adotado nas escolas brasileiras.
A partir do posicionamento de alguns críticos ao modelo eurocêntrico é que começam
a surgir novos passos para um ensino de Geografia e História mais crítico e que não seja tão
somente descritiva ou assistida, mas que venha a formar cidadãos que sejam sujeitos de sua
própria história e escrevê-la, ao invés de assistir a uma história contada pelas concepções
europeias acerca do mundo e do ser humano.
A Literatura de Cordel
O ponto de partida da poesia popular nordestina data do ano de 1830, a partir dos
primeiros divulgadores como o poeta Ugolino de Sabugi dentre outros. O cordel que hoje
conhecemos como livreto ou folheto teve início em meados de 1893 a 1900 tendo como os
maiores divulgadores, Leandro Gomes de barros, filho natural de Pombal - PB; Silvino
Pirauá, natural de Patos – PB dentre outros grandes nomes que contribuíram para a
perpetuação da literatura de cordel e preservação da cultura.
De acordo com Prata (2011) é possível o ensino com auxílio do cordel.
Percebemos na resposta dada por Freire um forte elemento da poesia como ferramenta
potencial para aprendizagem dos conteúdos da sala de aula e da vida, uma vez que segundo o
mesmo precisamos ler não somente livros, mas a vida e o contexto onde estamos inseridos.
A poesia pode ser construída em estilo livre e metrificada, o que é mais presente na
poesia dos cantadores de repente que seguem uma combinação de métrica e rimas,
combinações entre linhas e sílabas tônicas a exemplo das seguintes estrofes, décima e quadra
respectivamente.
Cenas da seca
João Batista Siqueira (cancão)
Ao despertar a manhã a
Todo mundo só ouvia b
O lamento da acauã a
Perdida na serrania b
Entre as antigas fruteiras c
Criadas nas ribanceiras c
Ninguém via mais um fruto d
O vento varria a terra e
E a cigarra na serra e
Não se calava um minuto d
A estrofe em dez linhas segue o estilo usado pelos cantadores de repente que
combinam métrica e sonoridade rimando entre si. A 1ª e a 3ª, 2ª e 4ª, 5ª e 6ª, 7ª e 8ª, 9ª e 10ª.
Procedimentos metodológicos
Resultados e discussões
Depois dessa pesquisa na academia fomos para a sala de aula e iniciamos revisando os
conteúdos que já vinha sendo trabalhado em sala de aula.
Seguindo com o 2º momento, foi abordado para os alunos, através de uma aula
expositiva dialogada, no intuito de explicar o que é o cordel, porque usar o cordel na sala de
aula, e como se construir um cordel. Esta aula foi de extrema importância, pois não se pode
trabalhar o cordel sem antes conhecer o cordel.
Cariri paraibano
Lugar onde nasci
Foi aqui que me criei
Viajo de norte a sul
Nesta estrofe citada anterior as fotos, a aluna retrata sua trajetória que como muitos de
seus colegas tiveram que viajar em busca de uma qualidade de vida melhor, pois nosso lugar é
difícil e as vezes a única solução é sair para outras cidades. A própria aluna relata que ―muitos
viajam e acabam refazendo a sua vida em outro lugar, mas nunca esquecem o seu pedacinho
de chão, seus valores, nossa gente‖.
Essas estrofes revelam a cultura do lugar, quando fala da banda de pífanos que é o que
dar visibilidade a comunidade, pois é uma tradição de muitos anos atrás e é passada de pai
para filhos. E ao mesmo tempo revela a identidade da cultura do forró que é muito forte na
comunidade, e os eventos que marcam este lugar é justamente os famosos forrós. Um aluno
falou que ―eu viajava para trabalhar e uma das coisas que mais eu sentia falta era o forró
daqui, quando estava lá eu passava o ano inteiro me preparando para vim passar as férias no
mês de junho aqui na Paraíba, porque aqui só tem graça no mês de junho que é quando tem os
forró e o povo que moram em outras cidades estão todos aqui, é um momento de reencontro‖.
As rochas sensacionais
Umburana de cheiro
Serve para sinusite
Cebola branca serenada
Para curar a bronquite.
É perceptível nessas estrofes que uma aluna escreveu o que faz parte da identidade
local onde a mesma nasceu e foi criada, além disso, se observa os saberes populares passados
de geração em geração, quando ela cita o uso das plantas medicinais.
O 4º momento foi a finalização do cordel e construção da capa do cordel, em que os
alunos deram continuidade na produção dos versos, na ocasião estiveram presentes alguns
alunos que não assistiram a aula com as exposições sobre a literatura de cordel, mas como
todo nordestino é criativo isso não foi um problema pois os mesmos produziram os versos
sem nem um erro. Todos tiraram duvidas e assim finalizaram os versos. Depois dos versos
finalizados fizemos então a produção da capa do cordel, a produção era de escolha conjunta
da turma, mas com elementos que representassem sua comunidade.
Por fim, o 5º momento foi realizado uma discursão com professores, coordenadores e
alunos para saber o grau de aquisição do conhecimento através do cordel. Neste momento
fizemos o levantamento dos conteúdos que tinham surgido nos versos e vimos que realmente
os alunos conseguiram expressar o conhecimento em forma de cordel.
Considerações finais
Esta pesquisa foi de grande importância para compreender o ensino das Ciências
Humanas e Sociais, através da produção do cordel no processo de ensino-aprendizagem nas
escolas do campo e também importância para os alunos, a professora regente da turma, a
pesquisadora e para a Ciência Humanas, que ―ganhou‖ mais um recurso didático eficaz, a ser
utilizado pelos professores em sala.
Os alunos necessitam de metodologias e recursos inovadores, pois a forma tradicional
da memorização, não condiz com o tempo vivido atualmente. Tempo este da informatização e
globalização, que detém de inúmeros atrativos a esses jovens e adultos. Apesar da Literatura
de Cordel não ser algo novo, mas, para os alunos que nunca tinham lido ou construído, a
literatura foi um incentivo ao reconhecimento da cultura e a percepção das disciplinas
trabalhadas.
Percebe-se que a atividade realizada foi relevante para aprendizagem dos alunos, pois
os mesmos desenvolveram por meio do cordel em sala de aula uma melhor compreensão do
conteúdo, expressando em estrofes um pouco dos conhecimentos populares e dos conceitos
geográficos, revelando sua identidade e sentimento de pertença com a comunidade que os
mesmos habitam.
Os alunos revelaram em versos o que muitas vezes não o fazem oralmente, dialogando
de forma extrovertida e até intuitiva, costumes da comunidade, conhecimentos e crenças
populares, cultura e resistência.
Na nossa percepção houve um maior interesse por parte dos discentes com relação aos
conteúdos, por meio das possibilidades oferecidas pela literatura de cordel que para eles era
difícil a princípio, mas através do nosso diálogo e construção conjunta de uma poesia na
lousa, todos perceberam que a poesia tida para alguns como dom, para outros ficou claro que
trata-se uma vivência.
Assim, como resultado final, os versos construídos pelos alunos compõem um cordel
que caracteriza a sua comunidade com o que é comum e peculiar com relação a mesma
Referências
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ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
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CALDART, R. S. (Org.). Educação do campo: identidade e políticas públicas. 2. ed.
Brasília: UnB, 2002. V. 4. 136 p. (Educação do Campo).
CARLOS, Ana F. A. A geografia na sala de aula. 8°ed. São Paulo: Contexto, 2006.
CASTROGIOVANNI, Antônio (Org). Ensino de geografia: práticas e textualizações no
cotidiano. 2° ed. Porto Alegre: Mediação, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 2009.
FREITAS, Nacelica Barbosa et al. Relação campo – cidade: o ensino de geografia e as
especificidades do semiárido. In:__. Caderno multidisciplinar – Educação e contexto do
Semiárido: múltiplos espaços para o exercício da contextualização. V1 – Juazeiro/BA: selo
editorial RESAB, 2009. P 105 – 118.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6° ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 5° ed.
São Paulo: Atlas, 2009.
MARTINS, Josemar da Silva. Anotações em torno do conceito de educação para a
convivência com o Semiárido. In: RESAB. Educação para a convivência como Semiárido
Brasileiro – Reflexões teóricas – práticas da RESAB. Juazeiro – BA: Secretaria Executiva da
RESAB, 2006. P. 115-146.
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PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do ensino de história e geografia. 3 ed. São
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PONTUSCHA, N. N; OLIVEIRA, A. U. (org). Geografia em Perspectiva: ensino e
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PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender
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Prata, Arysttótenes da Silva. Literatura de cordel e sala de aula: A cultura popular
comocaminho para a educação contextualizada no Cariri Ocidental paraibano /– Sumé –
PB, 2011.
Introdução
A decadência do meio ambiente é a relação não existente que a maioria dos homens
fazem em relação ao meio ambiente, pois se acham a parte, e não percebem que a nossa
existência humana se dá pelo simples fato de sermos seres vivos dependentes de outros seres
para sobreviver, e essa concepção é abordada de maneira implícita nos livros didáticos nas
escolas quando mostra que na cadeia alimentar aparecem apenas animais irracionais e plantas,
excluindo o homem desse meio como parte integrante desse todo.
A proposta de se trabalhar a Educação ambiental e Meio Ambiente surgiu no curso de
Licenciatura em Educação do Campo a partir de experiências vivenciadas pelo PIBID
Diversidade – subprojeto Ciências da Natureza e Matemática na escola do Campo do Pio X.
A partir das atividades desenvolvidas pelo PIBID Diversidade na escola percebemos que a
escola em si pouco se fala sobre Educação Ambiental, e não desenvolve nenhuma prática
continua pra se trabalhar essa temática.
Nessa perspectiva a pesquisa ―Educação Ambiental no contexto da Educação do
Campo: O caso da Unidade Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental José
Bonifácio Barbosa de Andrade – Pio X‖ que possui como objetivo geral verificar se a
educação ambiental é trabalhada de forma interdisciplinar na escola do campo UMEIEF José
Bonifácio Barbosa de Andrade- Distrito de Pio X- Sumé -PB.
Como Também, os seguintes objetivos específicos:
Compreender o processo de desenvolvimento da educação ambiental e sua
implantação no contexto escolar;
Discutir teoricamente a educação ambiental no contexto da educação do
campo;
Identificar os conteúdos da educação ambiental presentes nas disciplinas que
compõem a grade curricular da escola;
Identificar as disciplinas que mais trabalham as temáticas ambientais e suas
metodologias no contexto escolar;
Verificar a concepção de educação ambiental e sua relação com a educação do
campo, na concepção dos professores e alunos e identificar se a educação
ambiental e trabalhada de forma interdisciplinar na escola.
Nessa pesquisa utilizamos dos pressupostos da pesquisa qualitativa. A pesquisa foi
desenvolvida por etapas, a primeira etapa consistiu em identificar o objeto a ser pesquisado,
na segunda etapa foi realizada uma pesquisa bibliográfica para fundamentação dos objetos a
serem pesquisados, a terceira etapa consistiu na pesquisa de campo e por último a elaboração
do resultado da pesquisa.
Nossa pesquisa está estruturada em quatros seções, na primeira seção intitulada ―A
Educação Ambiental no contexto da escola do campo” nessa primeira seção discutiremos o
surgimento da EA os movimentos que deram início a se repensar o comportamento humano
em relação a natureza desde a década de 60 até os dias atuais.
Na segunda seção intitulada ―Procedimentos metodológicos da pesquisa” nessa
seção apresentaremos os canais utilizados através da pesquisa teórica e metodológica para a
demonstração de como e onde foi realizado o estudo da pesquisa, na Unidade Municipal de
Educação Infantil e Ensino Fundamental José Bonifácio Barbosa de Andrade localizada no
distrito de Pio X –Sumé –PB.
Na terceira seção intitulada ―A Educação Ambiental na escola do campo Unidade
Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental José Bonifácio Barbosa de
Andrade possibilidades e desafios” nesse capítulo identificamos o público alvo da pesquisa
(alunos e professores), identificando no caso dos alunos o sexo, a idade, localidade onde
residem, a concepção dos mesmos em relação ao Meio Ambiente, e no caso dos professores
identificamos o perfil docente, a concepção dos professores em relação ao meio ambiente e se
eles trabalham essa temática em suas respectivas disciplinas.
Na quarta seção são as considerações finais onde fizemos um resumo das concepções
dos professores e alunos em relação ao Meio Ambiente, elencamos os desafios enfrentados
pelos professores para se trabalhar essa temática, e elaboramos possibilidades de se trabalhar
a EA nas disciplinas que identificamos que não trabalham como a matemática e a música e
esperamos que essa pesquisa possa servir de auxilio para os professores trabalharem de forma
contínua essa temática problematizadora e de essencial importância para a conservação da
vida.
A educação Ambiental
O homem ao passar dos tempos desde o seu surgimento como parte integrante da
natureza, passa a se sentir como um ser a parte dessa, tomando iniciativas individuais, não
percebendo que a natureza vive em constante harmonia com todos os seus integrantes em um
equilíbrio harmônico. A partir do momento em que parte desse sistema passa a funcionar de
maneira individual retirando mais do que o necessário a sua sobrevivência, evidentemente
causará um desequilíbrio. Atualmente a individualização chegou a seu extremo, e o homem
passa a perceber que atitudes precisam ser tomadas e o ser humano precisa ser reeducado
sobre as relações existentes entre homem e natureza. (GUIMARÃES, 2011)
De acordo com o autor Herckert (2004), a educação ambiental nasceu com o objetivo
de gerar uma consciência ecológica em cada ser humano, preocupada com o ensejar a
oportunidade de um conhecimento que permitisse mudar o comportamento volvido à proteção
da natureza. Como diz Moretto (2010), este novo enfoque busca, através de uma consciência
crítica, o surgimento de um novo modelo de sociedade, onde a preservação dos recursos
naturais possa ser compatível com o bem-estar socioeconômico da população.
Educação do Campo
Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo, viabilizando uma diferente
concepção de escolarização para os sujeitos do campo.
Cavalcante (2010) considera que atualmente a maior dificuldade que se encontra a
educação do campo é um projeto de implementação da participativa e efetiva proposta para
manter o homem do campo no campo, no que se refere a qualidade de vida desses indivíduos
no ambiente do qual fazem parte.
A partir dessas perspectivas de que a educação do campo precisa partir da realidade dos
sujeitos, com recursos didáticos voltados a essa educação e incentivo político, entra a
responsabilidade social e função da escola por meio do conhecimento científico e tecnológico
fundamentar o processo de construção de conhecimentos para a qualidade de vida no campo.
Metodologia
(1997), Cavalcante (2010), Vendramini (2008), Silva (2001), Abílio e Sato (2012), Gil
(2008), Marconi e Lakatos (2009), Marconi e Lakatos (2011),Barros e Lehfeld (2010),
Rodrigues (2015), Santos (2007), Gil (2012). . Esses abordam as seguintes temáticas:
Educação Ambiental, Interdisciplinaridade, Educação do campo e Educação Ambiental e sua
relação com a Educação do Campo.
No segundo momento foi feito uma pesquisa de campo, onde fomos a priori ter o
primeiro contato direto com a pesquisa junto ao público alvo de nossa pesquisa, que foi
realizada na Escola do Campo Unidade Municipal de Educação Infantil e Ensino
Fundamental José Bonifácio Barbosa de Andrade, localizada no distrito de Pio X, município
de Sumé – PB, onde foi utilizado os questionários como técnica para coleta dos dados.
A pesquisa foi realizada com a aplicação de questionários para os professores em geral
e alunos do 6º ao 9º anos do ensino fundamental II.
Os questionários foram compostos por questões fechadas e abertas que abrangiam os
seguintes temas: Educação Ambiental, Educação do Campo, interdisciplinaridade e Meio
Ambiente. As questões fechadas foram no sentido de quantidade e as abertas foram no sentido
de que alunos e professores quisessem destacar algo a mais sobre as perguntas em questão.
Analisamos os dados numa abordagem qualitativa de forma descritiva que segundo
Marconi e Lakatos (2009), que se trata de uma aproximação entre a análise qualitativa e
quantitativa, na qual os dados coletados poderão ser apresentados de forma de gráficos e
tabelas e discutidos através da descrição.
Considerações
lixo, não fazer queimadas, não desmatar, evitar jogar lixo nas ruas e nos rios, e não
desperdiçar água.
A partir dessas concepções sobre o MA percebemos que os educando entendem a
dimensão dos problemas ambientais e sabem o que precisam fazer para evitá-los, mas o que
falta é exemplo e orientação, acredito que o adulto é o espelho de uma criança e todas as suas
ações são refletidas e projetadas na mesma proporcionalidade.
Em relação aos professores da escola identificamos que mais da metade é contratada, e
os que são contratados são os formados em Licenciatura em Educação do Campo e os efetivos
formados por área de conhecimento, isso nos mostra a necessidade de haver concurso público
para que as escolas do campo possuam como docentes efetivos educadores do campo,
legalmente amparados pela legislação vigente, garantindo os direitos do educando e educador
do campo.
Na pesquisa realizada com os professores perguntamos qual a concepção de Meio
Ambiente para eles, as respostas nem todas foram claras, alguns coloca o homem como parte
integrante da natureza e outras não, colocam o homem a parte como se natureza fosse uma
coisa e o homem outra. Acredito que essa falta de concepção holística dos professores
interfere de maneira significativa na concepção dos educandos em relação ao MA, pois as
respostas são parecidas tanto as dos professores quanto a dos alunos, pois elencam o MA com
base nos seus recursos naturais reforçando a hipótese de que o exemplo é recíproco.
Foi identificado na pesquisa que a disciplina que menos trabalha a Educação
Ambiental na escola é a Matemática, como também a música é o recurso didático menos
utilizado no contexto escolar para abordar a temática. Desta forma, indicamos por meio de
pesquisa bibliográficas de trabalhos que são desenvolvidos em outras escolas com essas
disciplinas de maneira exemplar e apontamos algumas possibilidades de se trabalhar a
Matemática e a Música com a temática EA.
Os desafios encontrados na nossa pesquisa não começam na sala de aula e sim na
formação dos professores nas academias, até o presente momento de nossa pesquisa a
disciplina Educação Ambiental é ofertada como optativa na academia, e podendo vir a ser
obrigatória nas escolas, de que adianta ser obrigatória na escola se o professor muitas vezes
não tem a menor ideia de como trabalhar? E nesse ponto é onde entra também a discussão da
formação continuada do profissional da educação para exercer com excelência a prática
docente, é necessário que as duas correntes (educação básica e educação superior) trabalhem
de maneira linear e coerente para que o trabalho seja desenvolvido na prática além das
escolas, que os trabalhos sejam desenvolvidos não apenas nas salas de aulas ou no pátio das
escolas que a construção do conhecimento quebre as barreiras que separam escola e
comunidade.
É importante se trabalhar a Educação Ambiental de forma transdisciplinar pelo fato de
ser uma temática problematizadora de discussão e impacto mundial que pode ser trabalhada
por todas as disciplinas em busca da compreensão da complexidade dessa temática, por esses
motivos se faz necessário que a escola onde é o espaço de formação do cidadão crítico e
responsável por levar os educandos através de seu trabalho específico a compreender a sua
realidade, situar-se nela, interpretá-la e contribuir para sua transformação, cumpra o seu papel
de educar para o presente e o futuro.
Referências
Introdução
134
Pesquisa orientada pela profª Drª Maria Fernanda dos Santos Alencar (UFPE/CAA) email:
fernanda.alencar@ufpe.br. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo e Quilombola
(GEPECQ) e membro do Núcleo de Pesquisa, Extensão e Formação para a Educação do Campo
(NUPEFEC/UFPE/CAA).
135
Estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia-CAA/UFPE, do 7º Período.
Fundamentação teórica
Entendemos que a Educação do campo tem como foco principal uma formação humana
e pedagógica que incorpore em seu currículo as especificidades dos sujeitos campesinos,
tornando-os sujeitos autônomos, participativos e constituintes de sua formação que se vincula
aos aspectos da valorização coletiva e individual, históricos, cultural e social. Nessa
perspectiva Munarim et al. (2010, p. 12) explicita que:
Metodologia
Nossa análise pauta-se sobre o ponto de vista do docente e sua concepção em torno do
processo de contextualização do campo e da vivencia do sujeito campesino na perspectiva do
ensino e aprendizagem; e, nesse sentido, realizamos significativas reflexões sobre a Educação
do campo no cerne do processo de ensino e aprendizagem, partindo das concepções docentes
sobre a temática analisada, entendendo-o como um processo complexo que precisa ser
refletido, pensado e analisado.
A Educação do campo busca atender e resgatar também as diferenças históricas e
culturais, retratando a diversidade sociocultural do campo, a valorização da identidade, do
trabalho, dos diferentes saberes e a efetivação dos direitos dos povos campesinos
(ALENCAR, 2010). Nesse cenário, a educação surge como elemento de conscientização,
valorização e emancipação das lutas camponesas por melhores condições de vida e
reconhecimento de suas raízes. ―A pretensão é que a escola do campo incorpore a luta do seu
povo, a sua cultura, as suas memórias e que o campo seja reconhecido como lugar de vida, de
produção, com um projeto de desenvolvimento‖ (ALENCAR, 2010, p. 209). Em sua fala
destaca a necessidade de articular o ensino com os diversos conhecimentos e saberes, com o
trabalho realizado pelos povos campesinos podendo tornar-se a escola um instrumento
emancipatório destes sujeitos, revelados no processo ensino e aprendizagem sendo
resinificados por meio de um processo chamado de contextualização.
A contextualização no processo de ensino e aprendizagem possibilita uma maior
aproximação com a vivência dos sujeitos em que possibilitando que a educação seja também
constituída por eles, tornando-se protagonistas do seu processo formativo. Estabelece assim
uma relação de emancipação dos sujeitos que possibilita a visibilidade das diferentes culturas,
memórias, histórias, diversidade e produção sobre suas experiências cotidianas no meio
cultural e social entrelaçados com seus conhecimentos formativos que passam a ter muito
mais significância e sentido para eles. Nesse sentido, a concepção da docente trata que:
É necessário que de fato, o profissional se inteire e faça parte dessa luta e historicidade
dos povos, que possibilite a criticidade, a reflexão, o enfrentamento das lutas juntamente com
os sujeitos, valorizando suas identidades. É muito importante conhecer esses sujeitos e suas
realidades, viabilizando sua maior interação e planejamento com os mesmos, como descrito
na seguinte fala:
[...], mas a educação do campo trabalha a realidade dos alunos ali inseridos
numa devida comunidade, trabalhando com os recursos oferecidos do que
vem do campo, facilitando a melhor compreensão dos alunos nas atividades
(EXTRATO DE ENTREVISTA, D1, OUTUBRO DE 2016).
Então, trabalha-se numa perspectiva em que eles constroem suas aprendizagens, com
vivências práticas em que possam realizar a troca de saberes, troca de experiências, o diálogo
de forma a interpretar seu contexto em torno da comunidade. Nessa perspectiva, Sancristán e
Gómez (2000) compreendem que:
Os dados apontam que dessa forma há um processo que ocorre com interatividade,
representatividade e multicuturalidade em que:
Considerações finais
Referências
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. Ed.6. São Paulo:
Cortez, 2008.
ALENCAR, F. S. Educação do campo e a formação de professores: construção de uma
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Introdução
Metodologia
136
Professor Doutor do Curso da Licenciatura em Educação do Campo – CDSA/UFCG /Coordenador da
LECAMPO/UFCG/Coordenador do Subprojeto PIBID – DIVERSIDADE – Ciências Humanas e Sociais –
CDSA/UFCG.
137
Aluna – Lecampo – UFCG e Bolsista do PIBID – Diversidade Ciências Humanas e Sociais.
138
Aluno – Lecampo – UFCG e Bolsista do PIBID – Diversidade Ciências Humanas e Sociais.
Referencial teórico
Diante desse pensamento, Caldart (2002, p. 23) expõe que é necessário que se
estabeleça uma educação que seja no e do campo, ―[...] No: o povo tem direito a ser educado
no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar, e com
a sua participação, vinculada à sua cultura e às necessidades humanas e sociais.‖ Deve-se
pensar em uma educação que considere o campo não só como espaço de produção, mas
também como território de relações sociais, de cultura, de relação com a natureza, ou seja,
como território de vida. Arroyo, Caldart e Molina (2009), através do livro ―Por Uma
Educação do Campo‖, valorizam a importância de considerar o contexto campo, pois
Resultados e discussões
Roda de leitura
Oficinas pedagógicas
Para interagir com as leituras realizadas nas rodas de leituras no processo de formação
continuada dos professores, estão sendo realizadas oficinas no decorrer do desenvolvimento
do subprojeto, com o objetivo de interagir os bolsistas, como os professores titulares das
escolas, supervisores e a coordenação do subprojeto. As temáticas das oficinas são escolhidas
de acordo com as ações que serão executadas no contexto escolar.
Formação Continuada
Exposição de Mapas
Produção Croqui
Aulas de Campo
Produção de Cartazes
Produção de Maquetes
Místicas
Cordel/Grupo de Dança
Jogos Pedagógicos
Jogos Pedagógicos
Considerações
Referências
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VESENTINI. José Wiliam (org). Geografia e ensino: textos críticos. 11° ed. São Paulo:
Papirus, 2009.
Introdução
Fundamentação teórica
Objetivos
Objetivo geral:
Explanar a teoria de forma pratica e dinâmica com os alunos.
Objetivo especifico:
Aplicar na pratica o que foi visto na teoria, avaliando o que realmente os alunos absorveram
sobre o conteúdo.
Implementar novas ideias buscando a aprendizagem também fora da sala de aula.
Metodologia
Esse trabalho foi desenvolvido em 4 etapas, a primeira etapa como mostrada nas
figuras 1 e 2 planejamento do projeto, onde bolsistas, supervisão e coordenação se reuniram
para planejamento das atividades e projetos que seriam desenvolvidos na escola, dentre eles o
projetos de Pitágoras.
Na terceira etapa mostrada nas figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10, foi a parte prática do trabalho,
onde construímos juntos com alunos dos 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II, a Horta de
Pitágoras, que possui esse nome por que a horta é no formato do Teorema de Pitágoras.
Na quarta e última etapa mostrada nas figuras 11, 12, 13, 14 e 15 é o momento de
finalização do projeto com o plantio e irrigação das hortaliças como coentro, alface entre
outras.
Recursos didáticos
Garrafas pet;
Tintas;
Areia;
Pá;
Enxada;
Esterco;
Sementes de hortaliças;
Análise de resultados
Considerações finais
Referências
Introdução
Fundamentação teórica
O forno solar é praticamente uma estufa transparente, pois ele absorve os raios solares
transformando em energia e fazendo com que os alimentos cozinhe, a uma temperatura que
pode variar de acordo com o ambiente e os materiais utilizados na confecção do mesmo, onde
ele pode chegar de 80ºc a 150ºc. segundo site sempre sustentável (2017) ―O forno solar nada
mais é do que uma estufa com cobertura transparente para dar passagem aos raios do sol e
impedir que o calor saia; ou seja, uma caixa térmica receptora e concentradora de raios
solares.‖
O forno solar em relação á educação ambiental e a sustentabilidade são ações
desenvolvidas pelo homem para suprir suas necessidades atuais com a consciência de
preservar os recursos utilizados para garantir a sobrevivência das futuras gerações.
Para o desenvolvimento da Educação Ambiental é necessário que se considere todos
os aspectos que a compõem. Trabalhada de forma interdisciplinar a Educação Ambiental trás
em seus aspectos vários conteúdos que sejam identificados e discutidos por as diversas áreas
do conhecimento. A interdisciplinaridade é um elo de discussão sobre determinado tema entre
as diversas áreas do conhecimento, cada uma dando sua contribuição a partir um olhar
científico.
O primeiro forno solar foi criado em 1767 como visto no site Wikipédia (2016):
―O forno solar é um tipo de forno descrito por Nicholas de Saussure por volta de 1770 e
criado por Horace de Saussure em 1767.‖ Com relação a este mesmo site relatamos sua
historia abaixo:
Por volta de 1770, Nicholas de Saussurre descreveu os primeiros
experimentos com fornos solares do tipo caixa com o objetivo de preparo de
alimentos. Ele projetou uma caixa retangular isolada com a parte de cima
envidraçada, onde a tampa refletora concentrava a radiação para dentro da
caixa. A radiação era então convertida em ondas infravermelhas pelo
fundo preto mate, e ficava aprisionada pela tampa de vidro, aquecendo os
alimentos até cerca de 160 ºC. Assim, eram facilmente cozidos ou assados.
Objetivos
Objetivo geral:
Demonstrar o gral de importância que os alunos dão sobre o aquecimento global, a
preservação do meio ambiente e a importância da reciclagem.
Objetivo especifico:
Verificar a participação dos alunos na aula prática;
Analisar o conhecimento da turma com relação a o tema proposto;
Buscar novas ideias, para serem apresentados em aula prática e teórica.
Metodologia
Esse trabalho foi desenvolvido em 4ª etapas, a primeira etapa como mostrada nas
figuras 1 e 2 planejamento do projeto, onde bolsistas, supervisão e coordenação se reuniram
para planejamento das atividades e projetos que seriam desenvolvidos na escola, dentre eles o
projeto forno solar.
Na terceira etapa mostrada nas figuras 6ª, 7ª, 8ª e 9ª, foi a parte prática do trabalho,
onde construímos juntos com alunos dos 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II, o forno solar.
Recursos didáticos
Considerações finais
Referências
Introdução
Referencial teórico
desafios postos pela realidade. Libâneo (2004), ao abordar a importância da prática educativa
na sociedade, afirma que a educação:
lugar, e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às necessidades humanas e sociais.‖
Deve-se pensar em uma educação que considere o campo não só como espaço de produção,
mas também como território de relações sociais, de cultura, de relação com a natureza, ou
seja, como território de vida. Arroyo, Caldart e Molina (2009), através do livro ―Por Uma
Educação do Campo‖, valorizam a importância de considerar o contexto campo, pois
Metodologia
Resultados e discurssão
Conclusão
Por fim, e considerando que o referido objetivo desta pesquisa, foi de grande
importância, por vir a contribuir fomentando discussões acerca da necessidade de se pensar
em práticas pedagógicas que possa tornar o ensino de Geografia mais dinâmico e instigante
como bem diz Wright (1947) ―O conhecimento geográfico não está nos livros de geografia,
está no mundo.‖ Para o autor a geografia caminha para um diálogo com saberes de outras
ciências aguçando aos vários rumos do conhecimento.
Na fonte deste pensamento, buscamos na construção de recursos didáticos,
transportarem para o campo de ensino e aprendizagem, condições, valores que venham a
fortalecer esse diálogo na construção do conhecimento, de maneira lúdica e prazerosa. Dar-se-
á a uma ação ativa motivadora do ensino de Geografia nas escolas do campo, que acolha
todos a estímulos de forma participativa que contribua para o fortalecimento da LECAMPO
não ao retrocesso mais para um avanço de um comprometimento coletivo, que ajam como fios
condutores em todos os papéis importantes co-responsáveis por uma boa educação para todos
os povos tradicionais, valorizando os temas educacionais num conexão e aglutinamento na
generosidade de atuarmos como docentes na transcrição dos seus direitos, e não nos
negligenciarmos; portanto, é fato que, ao longo da história foram marginalizados.
Percebem-se que os reais motivos dessa pesquisa é dar dinamismo as aulas de
Geografia, verificando o potencial dessas produções no processo ensino e aprendizagem que
por muitas vezes estavam ausentes na sala de aula, possibilitando, não só no presente mais
dando suportes para a disciplina no futuro.
Os alunos mostraram-se a todo tempo envolvidos e satisfeitos com a proposta
inovadora realizada a partir dessa pesquisa desenvolvida, redefinindo que o espaço rural em
sua pluralidade fortalecendo como importante e necessária tornar possível e evidenciar as
diferentes possibilidades de ensino aprendizagem em seu cotidiano. Entende-se e se fez
necessário, identificar através dos recursos construídos a concepção do rural valorizando seus
saberes prévios agregados em sua História de vida como povos tradicionais.
Referências
Introdução
A EJA e o currículo
(…) creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade docente
democrática deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos e a
segurança em se mesma. E a segurança que expressa na firmeza com que
atua, com que decide, com que respeita as liberdades, com que decide com
que discute suas próprias posições, com que aceita rever-se (Freire,2016,
p.89).
seu artigo 2º diz [...] tem por finalidade o pleno desenvolvimento da educação, seu preparo
para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.
Discussões da análise
Considerações finais
Referências
Introdução
141
Graduanda do 4º período do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
142
Graduanda do 4º período do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
143
Professora do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – LEDOC da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA.
Salientando o que foi citado acima, o presente artigo retrata, em linhas gerais, a
Educação de Jovens e Adultos, seu percurso histórico, sua finalidade e demonstra o olhar de
alguns sujeitos envolvidos nesta modalidade de ensino.
O objetivo deste artigo tem sua particularidade voltada aos indivíduos do Campo que,
por alguns motivos, não tiveram oportunidades ou recurso para uma educação de qualidade
quando criança, e que buscam ter um ensino na fase adulta. Pensando nisso, o objetivo
principal da pesquisa é saber a importância da Educação de Jovens e Adultos sob a ótica
dos/as educandos/as que a vivencia.
O trabalho está organizado em cinco partes. A primeira parte do artigo tratará da
Educação de Jovens e Adultos e o seu amadurecimento para uma educação popular, voltada
aos interesses dos indivíduos envolvidos. A segunda parte irá nos mostrar o perfil dos sujeitos
envolvidos na modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A terceira parte
tem como principal finalidade o olhar do/a educando/a, a respeito da Educação de Jovens e
Adultos, ou seja, a percepção que estes sujeitos têm sobre esta modalidade de ensino. A
quarta parte tem sua finalidade voltada para as conclusões finais do presente artigo. Na quinta
e última parte são as referências utilizadas para a construção do artigo, que foram de
fundamental importância para a construção do mesmo.
Esta pesquisa é de natureza qualitativa, pois responde a questões particulares aos que
se refere à EJA, conforme afirma Minayo (2010). Se preocupando com uma realidade que
não pode ser quantificada. A metodologia utilizada para este estudo foi a pesquisa
bibliográfica, enriquecida com algumas entrevistas semiestruturadas que foram realizadas
com moradores do Assentamento Terra da Esperança na cidade de Governador Dix - Sept
Rosado, complementando desta forma a pesquisa a respeito da Educação de Jovens e Adultos
sobre os olhares dos educandos.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem que ser uma educação que cause no/a
educando/a um impacto na vida dele, gerando uma qualidade de vida. Para que isso seja
possível é preciso levar em consideração a complexidade que envolve esta modalidade de
ensino. Podemos citar, por exemplo, a formação do/a educador/a. Se não houver uma
formação em que o/a educador/a, seja facilitador/a e entenda a realidade do/a aluno/a, o
programa entrará no caminho do fracasso.
Freire (1980, p.25), ―[...]estou absolutamente convencido de que a educação, como
prática da liberdade, é um ato de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade‖. É por
isso que o/a educador/a precisa respeitar as condições culturais que se encontram seus/as
alunos/as, buscar conhecer a sua sala de aula e, principalmente, seus/as educandos/as e
estabelecer uma comunicação entre eles. Nesse sentido, o diálogo, a comunicação entre
professor/a e aluno/a é fundamental para a criação de entusiasmo pela participação
É importante salientar que o saber popular se refere ao que está ao nosso ―redor‖, ou
seja, práticas do nosso cotidiano. Conhecimentos que vêm do/a agricultor/a, do/a
trabalhador/a da zona urbana, o que está na periferia, no campo ou na cidade; seja onde for, a
educação tem que ser despertada de acordo com a realidade dos sujeitos envolvidos. Tem que
desperta nele/a a vontade, a curiosidade de aprender. Por isso é necessário e importante buscar
a realidade, as experiências e o cotidiano do/a educando/a.
A construção da formação do conhecimento dos sujeitos envolvidos na EJA, é sempre
a vivencia dos mesmos; pois só através dela que se dará sentido ao que está sendo trabalhado
em sala de aula. Só a partir, dessa forma de ensino que o educador/a conseguira causa a ação
transformadora nos seus educandos/as para que possam avançar no conhecimento através das
práticas cotidianas. Os saberes que os educandos/as da Educação de jovens e adultos trazem é
uma riqueza incalculável, são saberes que são adquiridos, produzidos e reproduzidos em
diversos espaços das suas vidas; e reconhecer – los é valorizar saberes que são fundamentais
para a formação dos mesmos, que causara uma autonomia e emancipação nos educandos/as.
Freire (1996, p. 33) nos mostra, nesse sentido, que ―sem a curiosidade que me move,
que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino‖. Desta forma, o/a
educador/a começara a trabalhar a formação dos indivíduos, trazendo, a partir de suas vidas,
da sua curiosidade, a vontade para aprender transformando, assim através da educação e os
formandos sujeitos críticos, nos quais deixaram de ser ingênuos e transformando o que neles
já existe e na constante procura de saberes contextualizados com sua realidade.
O educador ou educadora respeitando os sonhos, os medos, as dúvidas, os desejos que
os/as educando/as têm, terão o ponto de partida para a formação transformadora. Como diz
Paulo Freire (2011, p.23), ―É possível vida sem sonho, mas não existência humana e história
sem sonho‖. Então, como esclarece o referido autor, é necessário o sonhar, para que seja
possível todas as nossas conquistas. Tudo começa através de um sonho e, a partir de um
sonho, é que conquistamos as nossas metas.
A educação popular quando colocada em prática, se torna uma facilitadora na
educação, pois educar acerca das experiências dos educandos/as fortalece o processo de
identificação destes/as com o contexto educacional. Desta forma, o educador tem que se sentir
como se fosse do próprio meio. Não basta apenas ensinar ou ler a respeito de Educação de
Jovens e Adultos, é preciso entender, conhecer, ter contato. Só assim o educador/a e a
educação conseguirão dar possibilidades de transformação real aos educandos e educandas
que estão inseridos/as nesse processo.
O fato do jovem ou adulto estar procurando melhorar seu grau de escolarização após
sua infância ocorre por vários aspectos. Conseguir um emprego, se inserir em um grupo
religioso, por exemplo, pode exigir esforço individual. Além dos obstáculos naturais da
relação com a escola, das tentativas anteriores muitas vezes frustradas, outros motivos que
atinge esse processo é a conquista do espaço e a temporalidade para se dedicar aos estudos.
Destacamos que, conforme afirma Freire (2011), as ações didáticas pedagógicas, na maioria
das vezes, não são atraentes para estes sujeitos, dificultando o processo de aprendizagem de
novas competências e habilidades que, possivelmente, auxiliariam no convívio social e
humano.
Em contrapartida, a motivação dos jovens pela escola se dá através da busca de
concluir seus estudos para entrar ou conquistar melhores posições no mercado de trabalho,
sendo que alguns trabalham durante o dia e destina um pouco de seu tempo de descanso para
ir a escola com esperança de um dia conseguir algo melhor através do estudo. Estes sujeitos
encontram na EJA essa opção de conciliar trabalho e estudo.
Nas salas de aula da EJA, geralmente, encontramos uma diversidade no público. São
pessoas negras, brancos, pescadores, mulheres, trabalhadores/as rurais, empregados/as
domésticos/as entre outros profissionais, tendo também desempregados, indígenas, pessoas
com deficiências, livres ou privadas de liberdade e idosos. Nesse sentido, para se ter uma base
dessa diversidade podemos observar no Documento Base Nacional: Desafios da Educação de
Jovens e Adultos no Brasil.
Quando menina, nosso pai não deixava ir a escola e era muito longe e assim
eu não aprendi nada. Mas agora depois que veio uma professora para nos
ensinar a ler, foi muito bom. O mais difícil foi pegar no lápis, mas depois
aprendi a fazer o nome direitinho e a ler. Hoje até leio para meus netos.
Aprendi a dar valor às coisas que me rodeia e tento aprender de tudo um
pouco. (Flor ex - educanda da EJA)
Nesse contexto, para Freire (1987, p.68) ―Ninguém educa ninguém, ninguém educa a
si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo‖. O autor deixa claro que
educar é um processo de inter - relação, ou seja uma relação mútua, uma troca de saberes
onde nenhum dos sujeitos é dono do saber, mas buscam aprender nas experiências que cada
um tem.
Como expressa Gadotti (1996, p.86). ―Justamente na relação dialógico-dialética entre
educador e educando; ambos aprendem juntos‖. E nos sujeitos que compõem o EJA todos
eles têm sua particularidade, ou seja, todos têm algo a oferecer que são a suas experiências
vividas no decorrer de sua trajetória. Os adultos da EJA carregam em si diversidade e muita
riqueza de cultura que é muito importante ser levando em conta no decorrer de sua formação.
Bom eu gostei demais quando veio a escola aqui pro sítio. Como na época
não tinha local, foi aqui mesmo no meu alpendre. Aqui mesmo em casa,
coloquei todo mundo pra estudar. Alguns desistiram, mas eu e outros
aprendemos até a ler; hoje já consigo escrever os meus cordéis, pois antes eu
só falava e ficava ao vento as palavras, mas agora escrevo tudo. (Sabiá ex -
educanda do EJA)
Quando a escola veio para cá eu não quis ir. Me achava muito velha para
aprender a ler e escrever. Quando criança a gente tinha que trabalhar, aí não
frequentei a escola. A escola era muito longe, tudo era difícil naquele tempo.
Aí a professora apareceu aqui e conseguiu me convencer. Toda noite eu ia
mesmo cansada. Quando aprendi a fazer meu nome, foi uma felicidade
imensa. Hoje eu já sei ler e escrever. (Margarida ex - educanda do EJA)
Freire (1987, p. 49) mostra que ―nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão de
mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa‖. Então, tudo se
torna possível quando se tem diálogo. O diálogo abre caminhos, abre portas e através da
comunicação é que há a transformação dos sujeitos.
Ao voltar ao espaço escolar essas educandas buscavam não somente aprender a ler e
escrever, mas também um ambiente de transformação e emancipação política e social. A
muito se discute que a educação é capaz de transformar a vida de um indivíduo, e a EJA
possibilita ao aluno a oportunidade dos mesmos reescrevam suas próprias histórias de vida, se
tornando autônomo e independente.
Eu não dava valor aos estudos quando novo, mas resolvi ir por causa de uns
amigos. A professora vinha aqui na comunidade mesmo. Fiquei muito feliz
quando aprendi a ler, que devido a isso continuei meus estudos e agora estou
indo estudar na cidade através de supletivo. (Bem-te-vi ex - educando do
Mova Brasil)
Os depoimentos acima retratam o olhar de jovens e adultos que tiveram suas vidas
transformadas graças a modalidade de ensino que a EJA fornece. Nas falas dos/as
educandos/as é possível notar o quanto a Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi importante
na vida deles.
Tais relatos foram obtidos através de uma pesquisa realizada com ex educandos/as da
EJA no município de Governador Dix- ept Rosado no Assentamento Terra da Esperança no
intuito de percebermos suas experiências nesta modalidade de ensino. E é notável através das
palavras de cada um/a deles/a, o quanto uma educação voltada ao seu cotidiano, pode
transformar a vida de um indivíduo.
Considerações finais
Com o desenvolver deste artigo, a pesquisa sobre a temática e a coleta de dados, foi
possível compreender a importância da modalidade de ensino que é a Educação de Jovens e
Adultos (EJA) na vida e na formação de sujeitos.
Tudo que foi abordado neste artigo faz parte de um processo de evolução e
amadurecimento que o EJA passou ao decorrer dos anos. Destacamos que foi de suma
importância para o seu fortalecimento e o impacto que ela causa na vida dos sujeitos que por
alguns motivos pessoais ou por falta de oportunidades não puderam dar continuidade nos
estudos quando crianças. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) transforma a realidade dos
sujeitos partindo da própria realidade. Dando importância ao que no cotidiano dos indivíduos
já existe.
Este artigo também possibilitou conhecer um pouco a realidade dos sujeitos
envolvidos na EJA e, através de seus depoimentos, do olhar desses sujeitos, perceber o quanto
uma educação popular, contextualizada, de acordo com as realidades dos indivíduos pode
fazer diferenças significativas em sua formação, como também para a importância da
socialização e integração social desses sujeitos.
Este artigo e a sua construção em si nos possibilitou conhecer sujeitos, às suas
realidades, as suas histórias que foram contribuições significativas ao estudo. Foi possível
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Introdução
144
Pedagoga pela Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste-UFPE/CAA. Lagoa dos
Gatos/PE, e-mail- ivenilima@gmail.com.
Conteúdo via Análise Temática (BARDIN, 1977, VALA, 1999), por nos possibilitar acessar
os núcleos de sentidos que constituem o nosso objeto de pesquisa.
Nesse intuito, buscando responder aos objetivos estabelecidos evidenciamos
compreensões a partir do diálogo com os autores: Educação do Campo: Batista (2014);
Caldart (2002, 2008, 2009); Freitas (2011); Lima; Franco (2014); Maciel (2011); Munarim
(2011); Rocha; Passos, Carvalho, (2004); Souza e Mendes (2012). Educação da EJA: Cury
(2000); Galvão (2007); Mainar (2015); Schwartz (2012). Currículo: Araújo (1986); Bonafé;
Rodriguez (2013); Joly (2007); Fonseca; Medeiros (2006); Sacristán (2013); Silva (2000);
Silva (1999).
Assim, além da Introdução, o presente texto está estruturado da seguinte maneira: 2-
apresentamos a discussão sobre a Educação do Campo: um olhar além da escolarização 3-
Um olhar sobre a Educação da EJA; 4- apresentamos a discussão sobre currículo e livro
didático e imagem; 5- destacamos a metodologia desenvolvida expondo um diálogo entre a
discussão teórica e os dados coletados e 6- nossas conclusões.
145
BRASIL. Ministério da educação. secretaria de educação continuada, alfabetização, diversidade e inclusão –
SECADI. Educação do Campo: marcos normativos/ secretaria de educação continuada, alfabetização,
diversidade e inclusão- Brasília: SECADI, 2012.
na obediência, pois o acesso à leitura e a escrita eram considerados desnecessários para tais
segmentos sociais (CURY, 2000).
Nesse sentido, após esse início de ―experiência‖ de uma ―educação‖ para pessoas
adultas, destacamos um dos avanços importante para a realização de fato dessa modalidade de
formação:
Dessa forma, sabemos que a Educação segundo, a Declaração dos Direitos Humanos é
direito de todos. Nessa perspectiva, a educação como direito básico de todos os cidadãos
deveria contemplar todos os sujeitos em suas singularidades. Contudo, o que se percebe,
segundo a trajetória da escolarização, é que muitos dos sujeitos adultos foram excluídos (por
diversos fatores) do acesso à escola. Tal exclusão se constituiu ainda mais para os sujeitos do
campo que eram e muitas vezes ainda são considerados sujeitos de não direitos.
Assim, inserimos que existem diversos fatores que dinamizaram a exclusão de pessoas
analfabetas ao acesso a educação. Hoje, portanto o debate se insere também na reflexão de
que mesmo sendo ofertado o acesso o mesmo não constitui em permanência, pois convivemos
ainda com elevadas taxas de exclusão ou fracasso escolar, principalmente nas redes públicas
de ensino e no contexto do território campesino. Garantindo a oferta do ensino, mas nem
sempre a permanência.
Além disso, no âmbito escolar, muitas vezes, pautamos conteúdos que desconsideram
os saberes já adquiridos dos sujeitos. Dessa maneira, acreditamos que a oferta do acesso para
os sujeitos da Educação da EJA é sem dúvida uma oportunidade para as pessoas que estão
ingressando pela primeira vez ou para aqueles que estão retornando. Entretanto, para ambos
os sujeitos, acreditamos como necessário um trabalho pedagógico que permita aos educandos
uma autoidentidade e valorização da cultura dos discentes e de sua comunidade, pois
precisamos compreender que estes são produtores de saberes.
Contudo, compreendermos que a escola se insere como crucial para um trabalho de
valorização e de autoestima dos sujeitos, como também que possa acolher e valorizar os
saberes já adquiridos dos sujeitos, ou seja, o saber vivido, suas experiências, bem como
compreender o campo (lugar de vivencia dos sujeitos) como territorialidade de
epistemologias.
Portanto, inserimos como fundante na escolarização da educação de Jovens e Adultos
o debate sobre os procedimentos didáticos, pois segundo a autora Schwartz:
Currículo: um diálogo necessário para a valorização dos saberes dos povos campesinos
Nesta cessão realizamos uma discussão sobre currículo, enfatizando sua definição e
posteriormente um diálogo sobre livro didático e imagem, bem como compreendendo a
importância da inter-relação do livro didático e a educação do campo.
O currículo não deve ser concebido apenas como uma relação de conteúdos
ou conhecimentos delimitados ou isolados, estabelecendo tópicos estanques,
em relação ―fechada‖, sem integração envolvente e ampla com todos os
aspectos do conhecimento (FONSÊCA e MEDEIROS, 2006, p. 105).
original‖ (1986, p. 443), sendo assim imagem é uma linguagem e esta se constitui como uma
informação, um texto ou o seu complemento.
Nesse sentido, entendemos o quanto as imagens são importantes instrumentos de
representações históricas, antigas e contemporâneas. No caso dos livros didáticos suas
representações podem levar interpretações distorcidas caso não sejam analisadas com um
olhar criterioso, repassando dessa maneira valores culturais de um discurso hegemônico.
Percurso Teórico-Metodológico
discussão de forma crítica, mas apenas sobre uma forma de desmatamento que é
necessário como elemento de desenvolvimento social.
Nas categorias de arte e comunidade são elementos importante para o debate sobre os
povos do campo, pois nos permite evidenciarmos as diferenças culturais entre os vários povos
existentes do campo. Embora, na categoria de arte encontramos elementos apenas no volume
1 e 2 e sobre os povos indígenas e camponeses. Tais elementos encontrados nesta categoria
evidenciam imagens sobre: esculturas, danças, enfeites com sementes, vaso de cerâmica,
utensílios feitos de madeira, cesto de fibra vegetal. Embora, não encontramos uma discussão
de valorização, mas os mesmo sendo apresentados de forma funcional, não rompendo com os
padrões eurocêntricos. Destacamos esse fator, pois compreendemos que os elementos
apresentados são arte dos povos do campo e não apenas artesanato.
Considerações Finais
Referências
GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Preconceito contra analfabeto/ São Paulo: Cortez, 2007.
LIMA, Iranete Maria da Silva; FRANCO, Maria Joselma do Nascimento. Um olhar sobre a
formação continuada de educadores/as do programa PROJOVEM CAMPO-SABERES DA
TERRA- em Pernambuco. In: LIMA, Iranete Maria da Silva; FRANCO, Maria Joselma do
Nascimento. CUNHA, Kátia Silva. Reflexões e Ações sobre Educação, Estado e
Diversidade. Ed: 2- UFPE, Recife, 214, p. 359-375.
MORAIS, Artur Gomes de, e ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de. Alfabetização e
Letramento: o que são? Como se relacionam como alfabetizar letrando?
SILVA, Tomás Tadeu da. Teorias do Currículo: uma introdução crítica. Belo Horizonte:
Autêntica, 2000.
Introdução
146
Aluno do curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo da Universidade Federal Rural do
Semi-Àrido.
147
Aluno do curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo da Universidade Federal Rural do
Semi-Àrido.
148
Professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas no curso de Licenciatura em Educação do
Campo da Universidade Federal Rural do Semi-Àrido.
sendo a EJA entendida por nós como um projeto contra hegemônico, é natural que venha
acompanhada pela luta.
De maneira sucinta, entendemos que essas lutas não param por aqui, pois precisa-se de
mais investimentos para dar procedimento a esse processo e também a necessidade de
professores capacitados para atuarem nessas turmas da EJA, elevando o processo de ensino e
aprendizagem, sabendo a importância da educação como forma de contextualização do ser.
É nos últimos 50 anos que a EJA se tornou pública. Desde a década de 20 e 30, havia
discussões sobre a implementação de um ensino que viesse favorecer os jovens e adultos. No
entanto não foi tão rápida para colocar em uso a prática formulada. O processo demorou
alguns anos, sendo que só a partir do ano de 1946, se oficializou essa campanha.
A tradição que nós temos é que só é possível inserir um sistema de ensino válido nas
escolas se você trabalharmos com uma uniformidade de propostas. Para (ROMY
SCHINZARE (Org.), 2008 p. 10), a uniformidade atua ―tratando burocraticamente, de forma
igual, situações diferentes, sem considerar as individualidades dos educandos, as várias e
possíveis abordagens e estratégias dos professores e as condições reais de cada escola‖.
Porém ao fazermos isso abandonamos a possibilidade de trabalhar a unidade de princípios,
isso acaba sufocando toda a riqueza que a EJA tem como modalidade e faz com que
diminuímos os voos que poderíamos dar com as novas metodologias e modos de educar.
Existem em meio à diversidade encontrada no público EJA, ao menos três grupos que
foram precocemente excluídos dos seus direitos educativos; o primeiro formado pelos idosos,
que não concluíram a educação básica pela falta de oportunidade e o segundo e mais
numerosa nas turmas de EJA, ocupando 100 % da turma pesquisada, formado pelas pessoas
que abandonaram os seus estudos precocemente tanto por fatores sociais quanto por fatores
escolares. E o terceiro formado por pessoas que apresentam altos índices de repetência. Como
mostra o gráfico a seguir:
Gráfico 2. O tempo em anos que os alunos ficaram sem estudar antes de reingressarem
Nesse gráfico podemos ver a diversidade etária nos alunos da EJA da cidade de
Upanema-RN, 32,2 % dos estudantes nunca deixaram de estudar antes de ingressarem na
turma de EJA por apresentarem um alto índice de reprovação. Isso é resultado de processo
educativo excludente que não considera a heterogeneidade e sequer a realidade vivida pelos
estudantes que compõem essa modalidade. Esse processo resulta até hoje em altos índices de
desistência dentro das próprias turmas de EJA como veremos no gráfico a seguir:
Os conteúdos com 54,8% das pessoas entrevistadas se tornam a maior queixa dos
estudantes. O trabalho do educador na EJA é dialogar com o conhecimento do aluno, não é
repor ou dar continuidade de onde ele parou como se a vida tivesse congelado no tempo.
Tomita (2011) lista os tipos de queixa que são mais frequentes entre os alunos da EJA, entre
elas estão: transmissão ativa do professor e passividade dos alunos; professores desmotivados,
sem preparo que visavam só salário; conteúdos mal ministrados e cobrados para decorar;
Considerações
Referências
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1977. 93 p.
Tradução: Rosisca Darcy de Oliveira.
GADOTTI, Moacir. Por uma política nacional de educação popular de jovens e adultos /
Moacir Gadotti. — 1. ed. — São Paulo : Moderna : Fundação Santillana, 2014.
ROMÃO, J.E. Educador popular. In: OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F.
DICIONÁRIO: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade
de Educação, 2010. CDROM
Introdução
149
Professora do Departamento de Educação-DE da Universidade Federal da Paraíba -UFPB, Campus III,
Bananeiras – PB. luciclealins@yahoo.com.br
150
Professor do Departamento de Educação-DE da Universidade Federal da Paraíba -UFPB, Campus III,
Bananeiras – PB.
nalgumas ações e em práticas que são resquício, ainda, do distante medievo feudal. Para tanto,
consideramos as palavras de Jacques Le Goff (2003):
Essa possibilidade de metodologia em História dialoga com outros veios como a (1)
História Local, a (2) Micro História, a (3) História do Tempo Presente e a (4) História do
Cotidiano. No primeiro caso porque leva em consideração uma pequena localidade territorial
e isto, em hipótese alguma quer dizer que esteja separado do geral, ao contrário, firma-se nas
relações diversas entre um polo e outro, em que se concretiza; no segundo, porque estabelece
um vínculo forte com os pequenos detalhes das ações dos sujeitos na sua vivência e não como
queria a história tradicional, centrar-se nos grandes fatos, acontecimentos que determinariam
os rumos da humanidade, são as pequenas ações que movem outras consideradas pelo
conservadorismo como determinantes do movimento histórico; e terceiro, porque o tempo que
estamos retratando é de uma grande proximidade do momento em que vivemos, chega a ser o
que aconteceu ontem na sala de aula, na hora do almoço, antes da entrevista, mesmo sendo
passado, de uma proximidade extensiva ao momento presente; no quarto, pois são as micro
ações que se desenrolam no dia a dia dos sujeitos ativos e que, senão coletadas, estarão
condenadas ao esquecimento, pois muitos atos repetitivos do cotidiano se perdem porque os
envolvidos viciam seu olhar na reprodução de suas atividades diárias.
Deste modo, a perspectiva teórica adotada, não será apenas um norte epistemológico,
mas uma metodologia possível de associar diálogo, interação e conhecimento como campos
integrantes.
Seguir os caminhos propiciados pela já vasta produção de história oral – que ganhou
espaço e firmeza no meio acadêmico através de muitas insistências de profissionais que
teimavam ir de encontro a oficialidade no trato com as fontes, principalmente pela crítica
acirrada dos mais conservadores que acreditavam que para se considerar história, precisava-se
ser fato ocorrido em um passado muito remoto, mediado pelo documento escrito e oficial
canônicos, como faz uso do termo Circe Bittencourt (2004) – no momento pareceu-nos a
melhor forma de elucidar os silêncios em que estão incluído os artífices da luta.
Mesmo na atualidade, após longo percurso de uma metodologia inicialmente
marginalizada, seguiremos a linha de pensamento que é comum àqueles que trabalham com o
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
835
domínio cultural, com a oralidade e História Oral. Como caracteriza Bom Meihy (1996), A
história oral é um recurso moderno usado para elaboração de documentos, arquivamento e
estudos referentes à vida social de pessoas. Ela é sempre uma história do tempo presente e
também conhecida como história viva. Como história dos contemporâneos, a história oral tem
de responder a um sentido de utilidade prática e imediata. Isso não quer dizer que ela se
esgote no momento da apreensão e da eventual análise das entrevistas. Mantém um
compromisso de registro permanente que se projeta para o futuro sugerindo que outros
possam vir a usá-la. E salientamos a possibilidade de ainda serem usadas como fontes por
eventuais futuros pesquisadores.
Como aponta o autor acima, a metodologia como um recurso moderno, mas no sentido
em que compreendemos na atualidade, principalmente naquilo que veio se consubstanciar
durante o pós-guerra, principalmente depois da II Guerra mundial, quando as vozes e
lembranças dos participantes do grande massacre, através da manifestação oral, passaram a
fazer seus depoimentos: soldados contavam seus dias nas trincheiras, judeus falavam da
miserável situação a que foram levados e, esses e outros, encontraram psicólogos,
historiadores, antropólogos, sociólogos, ávidos por compreender através daquelas narrativas,
prováveis respostas para o terrível acontecimento, para as condições de selvageria que ainda
faziam parte da vida humana em pleno século XX. Esses relatos ainda se constituem em
verdadeiras fontes na atualidade, mesmo após terem sido estudados por vários pesquisadores.
Os primórdios da história estão assentados na oralidade, pois nem o pai da História,
Heródoto, na Antiguidade, esteve isento das narrativas dos viajantes para fazer as suas, que se
transformaram em História posteriormente. E o historiador mais conservador não poderá
negar tal fato, mesmo aquele que defende que não há história entre povos ágrafos,
erroneamente codinomeinados de primitivos. Afinal, quando não existia a palavra escrita, era
através da oralidade que as tradições, os conhecimentos, a vida dos povos eram passadas de
geração para geração e o direito consuetudinário se tornou prova contundente do valor da
tradição.
Ainda para Bom Meihy ao se reportar à história do tempo presente e história viva
reforça o que foi explicado anteriormente ao nos referirmos às várias vertentes de se fazer
história, na atualidade. Quando se refere a sua utilidade prática e imediata, levando-se em
consideração que ela não se esgota ali na interpretação das narrativas, permanecendo como
registro para possíveis estudos futuros, fortalece a nossa compreensão de processo, de
dinâmica e de que esta pesquisa só tem sentido quando retornar aos seus sujeitos que
responderam aos questionários e fizeram parte das entrevistas. Que nessa continuidade de
diálogo, novos diálogos se efetivarão. Dessa forma, entramos no aspecto social da História.
Paul Thompson (1998, p. 20) diz:
O respeito pelo valor e pela importância de cada indivíduo é portanto, uma das
primeiras lições de ética sobre a experiência com o trabalho de campo com a
História Oral. [...] Nossa arte de ouvir, baseia-se na consciência de que
praticamente todas as pessoas com quem conversamos enriquecem nossa
experiência. Cada um dos meus entrevistados [...] representou uma surpresa e
uma experiência de aprendizado. (1997, p.17)
Os entrevistados são pessoas que vivem ou estão ligadas às atividades dos assentamentos,
portanto merecem todo respeito pelo valor e pela importância de suas contribuições no
processo. Cada indivíduo é um elemento chave para enriquecer o conhecimento, pois traz em
sua subjetividade sua carga de experiência e expressividade.
Institucionalmente, as ações propostas agregam e mobilizam diferentes segmentos da
universidade como professores/pesquisadores e alunos. A partir da inserção destes atores,
efetivamente se busca nas ações, consolidar a relação teoria e prática, na tão almejada práxis,
gerando processos de investigação em diversos campos da esfera social, através de pesquisas
Considerações
A compreensão do passado, nos dias atuais, e antes mesmo do século XXI, no século
passado, recebeu um alargamento de possibilidades de forma de ser pesquisado. Condições
tecnológicas modernas, bem como novos questionamentos, pressupondo as necessidades do
presente e sobre o vir a ser, não poderiam deixar estanque a compreensão do historiador e
demais pesquisadores. Antes se falava classicamente em ciências auxiliares da História,
erguidas sobre a hierarquia rígida. Atualmente abriu-se o debate acirrado sobre o diálogo
151
Visitamos os assentamentos: N. Sra. do Perpetuo Socorro, N. Sra. do Livramento, N. Sra. das Graças, São
Domingos, Boa Vitória, Santa Vitória e Goiamanduba.
Referências
BOM MEIHY, José Carlos S. Manual de história oral. São Paulo: Loyola, 1996.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.5,
n.10, p. 200−212, 1992.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006.
FEBVRE, Lucien. Combates pela história. 3. ed. Lisboa: Presença, 1989.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 3. ed. Campinas: Unicamp, 1994.
______. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
MAIA, Felícia Assmar. Direito à memória: o patrimônio histórico, artístico e cultural e o
poder econômico. Movendo Idéias, Belém, v8, n.13, p.39-42, jun 2003.
SILVA, Severino Bezerra da. Assentamentos Rurais: Territórios de Conflito e
Sociabilidade Camponesa. 2003. Tese (Doutorado em Educação), PUC, São Paulo.
______.Utopia, sociedade e movimentos sociais. Revista Conceitos. João Pessoa. Associação
dos docentes da UFPB, v.5, n.7, p.52-62, Jan./Jun. 2002.
THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São
Paulo: Cia. das Letras, 2002.
YUNES, Eliana. Memória, identidade e humanidades. In.: PINTO, Selma de Oliveira Bastos
(Org.). Educação patrimonial: memória e identidade da cidade de Goiás - patrimônio pra
que te quero! Goiana: Superintendência do Iphan, 2010.
Resumo: A preocupação com a cura para doenças através das plantas sempre se fez presente
na vida do homem. Com o passar do tempo, o homem adquiriu mais conhecimentos e deu
início a produção de medicamentos farmacêuticos, porém, apesar do avanço tecnológico, a
cura por meio das ervas passa entre as gerações, sendo fortemente difundido nos dias atuais.
Buscando valorizar o conhecimento popular na região do cariri paraibano. O projeto
―Produção de cartilhas com plantas medicinais‖, nasceu do desejo de valorizar o
conhecimento popular adquirido pelos alunos e que foram passados através dos seus pais,
avós e pessoas mais velhas da região e objetivou estimular o interesse dos alunos pelo
conhecimento popular sobre as ervas medicinais mais utilizadas na região. As atividades
foram desenvolvidas com alunos no nono ano do Ensino Fundamental II, da U.M.E.I.E.F.
José Bonifácio Barbosa de Andrade, localizada no Distrito do Pio X, município de Sumé-PB,
pela equipe do PIBID Diversidade da área de Linguagens e Códigos. A pesquisa teve início
com um diálogo sobre as ervas que curam e quais eram as mais conhecidas entre a turma.
Através da pesquisa ação, os alunos entrevistaram as pessoas mais velhas e discutiram sobre
as plantas mais utilizadas na região, sua indicação e modo de uso. Com o resultado das
pesquisas, os alunos deram início à produção de uma cartilha, estimulando assim o trabalho
da leitura e da escrita em conjunto com as práticas do cuidar de si, elemento fundamental da
cultura corporal, trabalhando assim a interdisciplinaridade. Na cartilha gerada, os alunos
escolheram o matruz, o cajueiro roxo, a erva-doce e a romã como plantas que curam mais
populares utilizadas pelos mais velhos no cariri paraibano. Através deste projeto, foi possível
ampliar as competências na linguagem oral e escrita, bem como valorizar o conhecimento
popular e estimular o uso das plantas medicinais entre os mais novos em uma época onde
medicamentos farmacológicos estão sendo manipulados pela população em geral de modo
inconsequente e muitas vezes, desnecessária. Também foi possível estimular o interesse dos
alunos na incorporação do uso dos benefícios das ervas e plantas existentes em sua horta ou
em seu quintal, que em muitos casos apresentam a mesma eficácia ou um resultado mais
favorável do que os remédios farmacêuticos. Esse trabalho fez- se importante na medida em
que valorizar os conhecimentos dos alunos e de seus familiares no que diz respeito a suas
experiências cotidianas e passadas, e a partir daí produzir cartilhas com essas experiências é
grandioso. Com isso resolvemos realizar uma atividade que venha valorizar os conhecimentos
populares, esses que sempre esteve presente e que vem sendo passado de pessoas para pessoas
ao longo da história, além de trabalhar leitura e escrita e história das ervas medicinais e dos
conhecimentos populares desde da pré-história e ampliar a visão para perceber como os
conhecimentos dos alunos e seus familiares sobre as ervas medicinais e principalmente na sua
região podem ser compartilhados como os outros alunos. A metodologia foi desenvolvida da
seguinte forma: 1º momento foi desenvolvido primeiramente um conhecimento prévio dos
alunos sobre ervas medicinais, conversa com os alunos para saber se os alunos tem
conhecimento sobre esse tema, foi feito uma introdução sobre as ervas medicinais e os
conhecimentos dos familiares dos alunos a respeito do tema, na sequência exibição de slides
explicando sobre os conhecimentos populares, vídeos relacionados ao assunto, e em seguida
vamos sugerir aos alunos a respeito disso em nossas aulas. Exibição de matérias mostrando
algumas ervas da pré-história que permaneceram até os dias de hoje, fizemos a sugestão de
montar um herbário nas cartilhas dos alunos. 2º momento demos início as produções,
primeiramente vamos fazer uma pesquisa junto com os alunos tentando resgatar dos pais dos
alunos, dos avós, algumas ervas medicinais que eles usam para curar alguma doença em casa,
qual o tipo de erva que eles usam. E teve como resultado final a produção da cartilha com os
conhecimentos adquiridos com seus familiares sobre as ervas, depois da produção das
cartilhas, elas foram levadas para a escola e expostas na culminância, que ao final de cada
bimestre é exposto os trabalhos para toda comunidade escolar. E o que ficou de mais
significativo foi que no dia da culminância da escola, que é o dia em é feita a exposição de
todos os trabalhos desenvolvido na escola durante o bimestre, a primeira coisa que os alunos
fizeram foi procurar as cartilhas na exposição. Mostrando a expectativa que eles tinham com
relação a essa produção. E como é significativo esse conhecimento para os alunos,
principalmente pela valorização da cultura popular predominante na comunidade da escola.
Referências
BRANDÃO, M.G.L., MONTEMOR, R.L.M. Sabedoria antiga em risco. Ciência Hoje 42,
77-79, 2008.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar as experiências e reflexões relativas às
ações de pesquisa, ensino e extensão desenvolvidas pelo coletivo sociocultural e educacional
Maracastelo, através do Projeto AfroEducação Maracastelo, que atua em escolas públicas e
organizações não governamentais da cidade de João Pessoa/PB. Tais relatos são frutos de um
percurso que transitou em caminhos do conhecimento acerca da Pedagogia Griô (Pacheco,
2006) e arte educação adentrando espaços formais e não formais da educação, sob a
perspectiva da Lei 10.639/03. Esta iniciativa se concretizou a partir da parceria do coletivo
cultural independente Maracastelo e do Centro de Educação da Universidade Federal da
Paraíba, através do Projeto de Pesquisa AfroEducação coordenado pelo Prof. Wilson
Honorato Aragão. Este diálogo entrelaçou ideais que se fundamentam na compreensão de
que, como pressupõe a Lei 10.639/03, seja necessário que, no âmbito da educação em todos
os seus níveis, mas principalmente em sua base, a História da Cultura Afrobrasileira e
Africana devem ser trabalhadas de forma mais efetiva e responsável, a fim de quebrar
preconceitos. A metodologia adotada se norteia no método pesquisa-ação (Thiollent, 2002),
com práticas que relacionam atividades artísticas e pedagógicas em sintonia com a pesquisa
acadêmica que a acompanha. Obtendo resultados a partir de 2015, após o primeiro ano
enquanto projeto de extensão, a fundamentação das ações pedagógicas propostas foram se
aperfeiçoando a partir da ampliação do campo de pesquisa do projeto, que ao longo desse
período incluiu novos direcionamentos. Estes surgem como uma luta para proteção dos
saberes tradicionais da memória oral e dos seus mestres, trazendo propostas que possam
contribuir para a viabilização dessa educação lúdica e voltada para a realidade e construção da
identidade, e que nesta nova etapa de trabalho, o projeto, a partir de 2017, passará a absorver,
pesquisar e vivenciar as práticas e resoluções das Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Quilombola (Brasil, 2012) juntamente ao PROLICEN/UFPB. De forma geral, o
plano de ação do AfroEducação Maracastelo está focado na valorização e difusão das
expressões e manifestações tradicionais brasileiras e afrobrasileiras como ferramenta de
educação e transformação social, trabalhando identidade cultural através da arte, da dança, da
música e das brincadeiras presentes nos folguedos tradicionais brasileiros. As ações
executadas incluem subprojetos como a Oficina Aberta Maracastelo, atividade gratuita que
aborda didaticamente danças, músicas e brincadeiras presentes nestas manifestações,
proporcionando uma oportunidade de vivência e reflexão para o público. A partir do
envolvimento e assiduidade nas oficinas abertas, os participantes interessados passam a
compor o grupo artístico, o qual se propõe a fomentar e valorizar estas expressões, através de
estudos e práticas adquiridas no contato com mestres e artistas da cultura popular. Como fruto
da pesquisa-ação, foi desenvolvido o subprojeto ―Educador-Brincante‖, uma proposta didática
baseada na Políticia Nacional Griô, instituída pelo Projeto de Lei 1786/2011, que destaca a
dissociação cultural entre as escolas e as suas comunidades, entre as gerações de tradição oral
(de raízes afro-indígenas) e as novas gerações de tradição escrita como questão a ser
enfrentada e superada para a construção de uma identidade e de um modelo nacional
autônomo e soberano de desenvolvimento. Sua metodologia, aplicável nos diversos espaços
da educação, propõe inicialmente a sua adaptação à realidade da instituição em que será
desenvolvida a partir de um período de planejamento e diagnóstico e encontros de formação
para os voluntários da extensão e da pesquisa de diversas áreas, tais como Pedagogia, Artes
Visuais, História, Letras, Biologia e Música. A partir de uma linguagem própria e inovadora,
criada juntamente as vivências possibilitadas pelos subprojetos citados anteriormente, estes
planejamentos didáticos são elaborados com base nas manifestações culturais brasileiras e nas
suas dimensões que abrangem princípios civilizatórios afro-brasileiros como a musicalidade, a
oralidade, a circularidade, a corporeidade, a cooperatividade e a ludicidade, princípios estes
originários da África e de seus descendentes que corporificam um conjunto de aspectos e
características existenciais, espirituais, intelectuais e materiais, objetivas e subjetivas, que se
constituíram e se constituem num processo histórico, social e cultural (Trindade, 2005).
Foram executadas ações e intervenções artísticas no bairro Castelo Branco e outras
comunidades, praças, instituições de ensino, Ong´s que trabalham com contra turno escolar,
casas de cultura e religião afro-brasileira, dentre outros. A proposta é integrar espaços
educacionais à cultura e a identidade comunitária, paraibana e brasileira. Estas vivências são
parte fundamental na construção de espaços multiculturais, que tenham enfoque político no
respeito às diferenças e as lutas sociais contra posicionamentos preconceituosos em todas as
suas formas. Tais ações são avaliadas como iniciativas que enfrentam um retrocesso para
educação, que buscam reforçar a validação das questões socioculturais e políticas que vão
além do espaço escolar, sendo complementar à educação formal e suprindo uma carência de
sensibilidade e qualificação para com as questões relativas às problemáticas étnico-raciais nos
ambientes escolares, que se encontram em processo de adequação à lei 10.639/03. A análise
do nosso sistema educacional público demonstra que as entidades escolares ainda não estão
preparadas para responder de maneira efetiva às necessidades das classes populares que
chegam ao espaço escolar. Muitas vezes estas instituições demonstram incapacidade de
penetrar no mundo sociocultural destes novos atores que ocuparam o seu espaço, tornando
frequente a veiculação de valores do grupo dominante. A metodologia utilizada, embasada na
identificação cultural, potencializa as considerações neste âmbito, na transformação social, na
quebra de pensamentos e atitudes que reforçam o preconceito. A presença e a relação
construída do Maracastelo com mestres e brincantes tradicionais, a partir da pedagogia griô,
são de grande significado para o Coletivo, que reconhece a grandiosidade dessa riqueza de
conhecimento e o quanto ela pode ser enriquecedora na formação de jovens e crianças. A
partir do viés do trabalho em grupo, acredita-se que há o desenvolvimento da percepção dos
participantes do grupo enquanto agentes transformadores e enquanto coletivo mobilizado, em
causas sociais educacionais, culturais e ambientais.
Referências
Resumo: O presente projeto discute o trabalho realizado com a Literatura de Cordel, dentro
do Projeto literatura de cordel: resgatando a cultura e incentivando a leitura, realizado pelas
bolsistas do Programa de Iniciação a Docência, Subprojeto Linguagens e Códigos, com
alunos do ensino médio de escola de tempo Diurno do município de Monteiro-PB. Que
tiveram como foco pensar em como resgatar o prazer pela leitura e pensar em proporcionar
aos leitores, uma forma de lazer, conhecimento e diversão. Essa não é uma proposta fácil a se
cumprir, porém é necessária para a formação de leitores. Percebe-se que o cordel é uma
modalidade literária popular, que com o passar dos anos vem ganhando dimensão no cenário
nacional. Por ser uma literatura de cunho popular, no que diz respeito ao seu enredo e à
divulgação, o Cordel tem se tornado uma prática recente no ensino do gênero na maioria das
escolas públicas do Brasil. Eles não têm a característica de ser impessoal ou imparcial, pelo
contrário, na maioria das vezes usam várias técnicas de persuasão e convencimento para que o
leitor acate a ideia proposta. A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é
impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Também são
utilizados desenhos e clichês zincografados. Ganhou este nome, porque, em Portugal, eram
expostos ao povo amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados
populares ou até mesmo nas ruas. O cordel chegou ao Brasil no século XVIII, através dos
portugueses. Aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos
encontrar este tipo de literatura, principalmente, na região Nordeste do Brasil. Ainda são
vendidos em lonas ou malas estendidas em feiras populares. Em algumas situações, estes
poemas são acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público. Uma
das características desse tipo de produção é a manifestação da opinião do autor a respeito de
algo dentro da sua sociedade. Sendo tão acessível e adaptável, pode ser trabalhado a partir de
várias vertentes. Com isso, a criação de cordéis, permite ao professor adotar estratégias
diferenciadas com os seus alunos, tornando-os mais dinâmicos com o processo de aquisição
do conhecimento. Nessa perspectiva, as relações tradicionais de ensino são alteradas,
conforme novas metodologias são inseridas no contexto acadêmico, distanciando o obsoleto,
redimensionando o ensino e as práticas pedagógicas. Esse trabalho teve como objetivo
incentivar o alunado à prática da leitura, associando a realidade representada no texto com a
realidade dos alunos em questão, evidenciando as heranças culturais regionais e locais. A
Metodologia foi desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Médio Bento Tenório de Sousa,
localizada no município de Monteiro/PB, com alunos do Ensino Médio. Primeiramente
apresentamos o projeto aos alunos, com exibição de vídeos de alguns poetas cordelistas,
repentistas e xilogravuristas. Em seguida, falamos da importância da leitura de cordel e, onde
ela pode contribuir para uma melhor escrita e uma boa leitura e interpretação de texto. Em
seguida, fomos conhecendo as lendas da região, de acordo com a compreensão dos alunos. A
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
850
partir das lendas e mitos locais, pelo os quais os estudantes se mostraram interessados,
propomos-lhes a escrita dos cordéis. Para tanto, antes de iniciar o cordel, demos algumas
instruções sobre como fazer o cordel, como são as rimas e quantas estrofes cada um deveria
produzir. Após o processo de desenvolvimento dos textos, partimos então para a parte prática,
onde seriam confeccionados os livretos. Fez-se necessária uma rápida oficina para que os
alunos conhecessem a história e como acontece a produção do desenho que estampa a capa do
cordel, a xilogravura. Com o término da oficina, os alunos estavam aptos e prontos para
estampar nas capas dos seus cordéis a arte que melhor representa cada texto ali escrito. Por
fim, cada um intitulou e fez a leitura de seu cordel para os colegas de sala. Dessa forma, foi
possível perceber que o cordel torna-se uma ferramenta de ensino, por ser de fácil acesso e
adaptação, podendo ser trabalhado a partir de várias vertentes. É notório que os alunos do
campo, quando trabalham um texto que esteja relacionado com o contexto sociocultural da
realidade dos sujeitos do campo, tendem a ter maior interesse pela leitura. É papel do
educador, incentivar o aluno o hábito da leitura, aumentando o nível de conscientização que o
transformando em sujeito crítico, ajudando assim a adquirir habilidades próprias para atuação
na sociedade, exercendo a cidadania com uma nova visão de mundo e uma nova forma de ver
as relações sociais.
PEREIRA, Regina Celi Mendes. Prática de leitura e escrita na escola - construindo textos
e reconstruindo sentidos. João Pessoa – UFPB - 2011. – Volume 9
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152
―São escolas onde um professor atua em múltiplas séries, concomitantemente, reunindo em algumas situações
estudantes da pré-escola e dos anos iniciais do ensino fundamental em uma mesma sala de aula‖. (HAGE, 2010,
p.01).
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formação de leitores proficientes. RN, 2009. Disponível em: http://www.webartigos.com.
Acesso em 10 de março de 2017.
153
Pedagoga formada pela Universidade Norte do Paraná. Professora Efetiva do Município de Joaquim Nabuco,
Atuando na Educação do Campo.
das observações, entrevistas e análise dos dados, foi de professores que apesar da formação
superior em licenciaturas, entre elas pedagogia, história, matemática e letras, pudemos
observar as dificuldades de inserção na educação do campo, as dificuldades de adaptação ao
Multisseriado vão desde as impossibilidades de concluir seus objetivos didáticos, até a evasão
que as escolas do campo enfrentam justamente pela realidade em que se encontram. Os
professores relataram não haver apoio pedagógico, os mesmos estão atuando na educação do
campo desde 2011 nesse munícipio, e ainda assim não se encontram adequados ao que seria a
educação do campo de fato, utilizam métodos, livros e partes dos programas aplicados a zona
urbana, não compreendem e nunca foram instruídos como adequar os conteúdos para a
realidade campesina, relatam os ambientes precários em que se encontram as escolas do
campo. No entanto acreditam que a educação é de suma importância para as comunidades
campesinas, e que precisa de melhorias e mais esforços tanto da parte deles, quanto
investimentos em formação continuada por parte da secretaria de educação local, que
direcione os trabalhos para que de fato a educação do campo progrida, e possa ser
efetivamente do campo e não no campo. Além de atuar como professora na educação do
campo em Joaquim Nabuco-PE, compreender o quanto é angustiante trabalhar no
Multisseriado, sem orientações apropriadas, direcionamento adequado de como produzir uma
educação do campo que valorize a os alunos dessa realidade, realizando um planejamento
voltado para eles, com suporte de bons livros didáticos, trabalho de formação continuada
conosco, entre tantas outras falhas nesse sistema, tendo em vista o crescimento dos números
de aprovação e avanços de nossos alunos nesses 6 anos de trabalho no munícipio, podemos
perceber em como podemos contribuir positivamente para a educação do campo, apesar dos
entraves, ver a evolução acadêmica e social de nossos educandos é gratificante. Diante dessa
pesquisa, e experiência vivida, percebemos a complexidade de estudar e atuar na educação do
campo, o quanto esse estudo se trata de reflexão acerca de um ambiente que está em constante
atividade, em que é necessário levantamento de auto estima de nossos alunos, incentivo a não
desistência da escola, precisamos encarar junto com nossos professores a realidade
campesina, o quanto estes precisam de apoio para refletirem acerca de suas práticas e
compreenderem quanto a educação do campo vai além de políticas públicas em educação, é
ponderação para a vida. É pensamento de todos os métodos para uma realidade de turmas
heterogêneas e o quanto esse ambiente pode ser rico para nosso aprendizado enquanto
docentes e estudantes/pesquisadores em educação. Entretanto é importante destacar, que a
pesquisa apresentou dados interessantes em relação a heterogenia das turmas multisseriadas,
os docentes afirmaram em unanimidade, que apesar da falta de orientação, quando atuando de
forma que os alunos mais velhos ensinando aos mais novos, tinham grande ganho em sua
aprendizagem, de maneira que assimilavam os conteúdos e desenvolviam habilidades de
forma natural e prazerosa, inclusive habilidades para além da sala de aula, no que tange a
formação social de seres humanos que tem empatia e se relacionam de forma solidária uns
com os outros. Ante o exposto, podemos concluir o quão importante é a valorização da
educação do campo, e quanto nos falta em formação continuada para apresentar resultados
satisfatórios em nossas escolas, é fato salientar que as turmas multisseriadas resistem e são
um ambiente de rica troca de conhecimentos, e que mesmo habitando a zona urbana é valido
para nós enquanto docentes entender a vida na zona rural, quais as questões primordiais para
esses povos, como ajudar através da educação os avanços desse cenário, e contribuirmos para
essa luta por justiça e igualdade, bem como valorização dos homens, mulheres e crianças
campesinas.
Palavras-Chave: Educação do Campo, Desafios Educacionais, Práticas Docentes
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo relatar as experiências realizadas através do
PIBID Diversidade (Linguagens e Códigos) na Escola do Campo Bento Tenório de Sousa
situada no assentamento Santa Catarina do Município de Monteiro – PB. Nesse contexto,
abordamos diversas temáticas que se relacionam à comunidade e ao entorno da escola, desse
modo, fomentando a prática de atividades artísticas.
Objetivos
Metodologia
154
Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo – Linguagens e Códigos – UFCG/CDSA.
155
Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo – Linguagens e Códigos – UFCG/CDSA
ainda assim, aproveitamos as letras das músicas para a observação das variações linguísticas
como forma de enriquecer o ensino da língua portuguesa, bem como o fortalecimento, de
questões sociais, econômicas, politicas e educacionais inseridas nas letras das canções e,
assim, reafirmando o compromisso com à Educação do Campo e com o fortalecimento da
mesma no âmbito do semiárido.
Resultados e discussões
Conclusões
Referências
Resumo: O presente trabalho tem por finalidade relatar e socializar a experiência da Proposta
Pedagógica da educação do Campo na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino
Fundamental Zumbi dos Palmares que está localizada no Assentamento Zumbi dos Palmares,
no Município de Mari-Pb. A mesma atende a 72 (setenta e dois) alunos, a maioria são
crianças advindas de famílias que recebem auxilio do governo federal. A instituição começou
suas atividades em Junho de 2002 em um galpão de uma casa de farinha, ainda na época do
acampamento, e foi registrada no MEC no mês de Dezembro do mesmo ano. Funcionava em
situação precária, de forma improvisada, havia apenas um salão onde funcionava a sala de
aula, não tinha banheiro adequado, sistema de esgoto, nem água encanada e os professores
tinham somente a formação básica. No ano de 2003 passou por uma pequena reforma com a
finalidade de melhorar as condições estruturais do local, quando o galpão foi dividido em
duas salas de aula. Anualmente faziam-se pequenas melhorias na pintura, no telhado, contudo
as condições mínimas de funcionamento ainda não eram satisfatórias. No ano de 2009 os
alunos foram transferidos para o prédio de uma escola pertencente ao Estado, o mesmo foi
cedido para a Prefeitura e nesse prédio a instituição funciona até os dias atuais, contando com
duas salas de aula, duas salas para a secretaria, refeitório, dois banheiros. As experiências com
a proposta da Educação do Campo tiveram início no ano de 2006, quando a professora Dr.ª
Maria do Socorro Xavier Batista veio fazer uma visita à escola, juntamente com alguns
estagiários da Universidade Federal da Paraíba, e tomando conhecimento da situação da
escola se interessou para desenvolver um projeto de extensão e acompanhamento pedagógico
com a finalidade de contribuir para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem na
escola e também com a formação social, intelectual e cidadã dos sujeitos do campo. A
proposta contou com o apoio da gestora da escola, a Sr.ª Edjane de do Nascimento Cruz e de
toda equipe escolar, assim as reuniões para planejamento e acompanhamento das atividades
desenvolvidas aconteciam mensalmente. Inicialmente eram escolhidos temas geradores para
serem trabalhados em sala de aula e a cada encontro esses temas eram debatidos e eram
pensadas atividades didáticas, as quais eram desenvolvidas pelos professores com seus alunos
e no próximo encontro se faziam amostras dos trabalhos desenvolvidos, as experiências eram
socializadas e avaliadas juntamente com toda equipe. Os principais temas trabalhados foram:
História do Assentamento (da luta pela terra desde o acampamento), agricultura familiar
(desdobrando-se produção de mandioca, estudo do solo), o trabalho na agricultura familiar, a
cultura local, identidade do campo, Importância da Terra, meio ambiente (com subtemas lixo
e água, reserva florestal), folclore, Agrotóxico versus agricultura orgânica. Falta de chuva
prejuízos para a agricultura, entre outros. Essas temáticas eram trabalhadas de forma
interdisciplinar com atividades práticas, com uso de vídeos, músicas, com aulas de campo em
Referências
Resumo
Conclusões
Referências
Introdução
porque no processo das salas multisseriadas existe uma gama de saberes, haja vista, o número
de crianças, em níveis diferentes de aprendizagem que se dividem em uma única sala, com um
único professor e que este consiga dar continuidade a aprendizagem numa sala de múltiplos
ritmos e variações.
Objetivos gerais
Desenvolvimento
O trabalho inicia-se através da escolha das histórias que devem contemplar a todos os
níveis. Com isso o professor deve fazer uma leitura prévia do livro e determinar a melhor
forma de desenvolver a contação, como também, quais os conteúdos que podem contemplar
com aquela narrativa. Para isso se faz necessário um tempo reservado para que se produzam
os personagens da história, jogos relacionados ao livro e atividades. Como trabalhamos com
educação do campo, observei que as crianças se identificam muito com narrativas que tenham
animais, pois, se aproxima da realidade deles. Para agradar a todos os níveis de
aprendizagem desde a educação infantil, é importante também histórias com repetições, e de
fácil entendimento, pois, enriquece o vocabulário das crianças e as obrigam a trabalhar a
sequência dos fatos para uma melhor compreensão do que foi lido. Vale salientar que o
trabalho didático se fez a partir de uma sequência didática, onde a cada dia retomaríamos a
história dando continuidade através de atividades relacionadas ao livro, criando desde a
educação infantil uma rotina de contação, onde as crianças param para ouvir tendo um
momento para cada atividade. Ao iniciar a contação o professor deve preocupar-se em
envolver-se na história, dando entonações diferentes aos diálogos, fazendo inferências no
decorrer da contação, fazer a pré-leitura do livro com as crianças, explorando todos os
elementos da capa, trabalhar quem é o autor do livro e até caracterizar-se diferente para que as
crianças participem e fiquem atentos a tudo. Preferencialmente na hora das atividades é
importante a grupalização das crianças, para que elas possam trocar idéias e aprendizagens e
que as atividades não sejam homogêneas, haja um respeito às fases que elas se encontram,
com isso, o trabalho flui e as aprendizagens acontecem, sem tornar a aula chata para as
crianças e de melhor desenvolvimento para o professor.
Conclusão
Contar histórias é uma arte que favorece relações e media aprendizagens. Além de
facilitar o trabalho em salas multisseriadas, onde em um único espaço temos diversos níveis
de aprendizagens, porém, nesse espaço encontra-se uma pluralidade de saberes com os quais
podem facilitar a dinâmica da contação de histórias. Não temos aqui uma receita, mas sim, o
desejo que essas crianças do campo se desenvolvam em todos os aspectos e que a escola seja
Resumo
O presente relato de experiência é fruto do curso de extensão por mim ofertado enquanto
professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no Centro de
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA), atuando mais especificamente no
Unidade de Educação do Campo (UAEDUC). O curso foi desenvolvido junto à Secretaria
Municipal de Educação do Município de Sumé – PB. O curso foi intitulado ―CONCEPÇÕES
DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: avaliar para conhecer e promover os
sujeitos da avaliação‖ e teve como público alvo as/os professoras/professores das escolas
situadas em territórios campesinos. Traçamos enquanto objetivo geral: compreender como se
organizam os processos de avaliação da aprendizagem escolar com vistas à promoção dos
estudantes e ao aperfeiçoamento da prática docente. E como objetivos específicos: a) discutir
o papel da avaliação da aprendizagem para a promoção da educação contextualizada; b)
identificar lacunas no processo de avaliação da aprendizagem; c) discutir e reconfigurar a
localização dos sujeitos e objetos da avaliação a partir das especificidades da Educação do
Campo. Para alcançar tais objetivos trabalhamos com base no seguinte itinerários de
conteúdos: a) A natureza e o sentido da Avaliação em Educação; b) O campo da Avaliação
Educacional; c) Pressupostos da Avaliação da Aprendizagem; d) A questão ética e prática da
Avaliação; e) A estrutura da Avaliação; f) Planejamento e Avaliação; g) Avaliação para
conhecer: tipos de avaliação; e h) Instrumentos e procedimentos Avaliativos. As intenções
que embasaram a escolha dos objetivos e do itinerário de conteúdos deram-se atreladas a
compreensão de que a Avaliação da Aprendizagem é um dos elementos responsáveis pela
organização do trabalho pedagógico, evidenciando os arranjos e as regulações necessárias ao
alcance dos objetivos educacionais. Ela pode ser também compreendida como espaço de
circulação dos conhecimentos considerados como válidos. Conhecimentos esses que estão
diretamente atrelados às bases da proposta de educação e de sociedade que se pretende
disseminar. Nesse sentido, de um lado, a Avaliação da Aprendizagem assentada num projeto
de educação liberal conservador, certamente assumirá o papel de ferramenta de controle de
condutas (LUCKESI, 2011), oferecendo uma visão instrumental do conhecimento
(ÁLVAREZ-MÉNDEZ, 2002) e utilizando as mais perversas formas de amedrontar e coagir
os educandos, para fins de manutenção da segregação entre os ditos aptos ou merecedores de
ascensão. Por outro lado, um projeto de educação engajado com a ideia de justiça e
transformação social, compreende e utiliza a Avaliação como processo dialógico, que articula
os sentidos que atribuímos à formação do sujeito, à compreensão do que é conhecimento,
agindo na direção de ajustar os caminhos mais apropriados para promover essa relação.
Diante dessa compreensão das funções da avaliação a serviço de uma educação justa e
Referências
ÁLVAREZ-MÉNDEZ, Juan Manuel. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
ARROYO, Miguel Gonzalez. Currículo, território em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
Resumo
Este pesquisa faz parte dos estudos sobre Educação do Campo que estou desenvolvendo junto
à Universidade Estadual de Londrina/PR. Trata-se de um projeto de Pós-Doutoramento
PNPD/CAPES. Os estudos que venho realizando são frutos da realização inicial do Projoem
do Campo Edital 09/2009, concluído no mesmo ano. Neste período de experiências, agrego
outros conhecimentos em Educação do Campo por meio da iniciativa de um projeto que
formulamos junto ao Pronera/Incra/2010. Do mesmo modo lecionei na Especialização em
Fundamentos da Educação: praticas pedagógicas interdisciplinares entre 2012-2014 para
professores da rede publica estadual. Considero como elemento de grande relevância as
experiências que realizei por meio dos trabalhos de campo nos acampamentos e
assentamentos de reforma agraria nos Estados nordestinos. Para compreender as formas e o
conteúdo da Educação do/no Campo, como elemento fundamental da questão agrária é
preciso conceber inicialmente as complexidades dos territórios envolvidos. Aqui
identificamos apenas dois territórios, que apresentam significados suficientes para
compreendermos a necessidade da Educação do Campo e no Campo. O primeiro trata dos
trabalhadores camponeses. O segundo território trata do Agronegocio monocultor. Diante
destes dois territórios antagônicos, caracterizamos como objetivo, a criação de ações que
permitam a constituição de um paradigma de Educação do e no campo que supere o modelo
tradicional de educação e, que, gere perspectivas de desenvolvimento territorial nos
assentamentos e para a classe trabalhadora do campo, para além das formas capitalistas de
educar. Tendo em vista que as escolas localizadas na zona rural, não contemplam as
perspectivas do significado de Educação do/no Campo, mesmo aquelas escolas subsidiadas
pelos municípios e, que são alocadas nos próprios assentamentos de reforma agrária. Trata-se
de uma perspectiva de intervenção de forma concreta no processo de erradicação do
analfabetismo dos trabalhadores rurais com e sem terra, diante da criação de instrumentos
didático-pedagógicos que fundamentem a Educação do/no Campo nestes lugares de
diferenças territoriais. A Metodologia que estamos utilizando nestes estudos parte
prioritariamente dos princípios fundamentais da Educação do/no Campo, orientado por suas
matrizes pedagógicas e cumprindo também as orientações das Diretrizes Operacionais da
Educação Básica do Campo, Resolução CNE/CEB, N.o 01 de 03 de abril de 2002.
Acrescentamos também a importância do Decreto Presidencial N.o 7.352 de 4 de novembro
de 2010, que dispõe sobre a Política Pública de Educação e o Programa Nacional de Educação
na Reforma Agrária (PRONERA). Será considerado o processo social de formação humana
156
Prof. Dr. da Universidade Estadual da Paraiba. Coordenador do CEAT - Centro de Estudos Agrários e do
Trabalho. Bolsista PNPD/CAPES pela Universidade Estadual de Londrina, sob a supervisão da Profa. Dra.
Eliane Tomiasi Paulino. Membro do LATEC - Laboratório de Analises Territoriais Campo-Cidade.
dos trabalhadores rurais sem terra no sentido de melhorar as condições de vida e de trabalho
das famílias assentadas e acampadas. Da mesma forma tomaremos como base os indicativos
da melhoria das condições de acesso a educação pública e de qualidade no aspecto do Plano
Nacional de Reforma Agrária. Com vistas do Trabalho de Campo, o que nos faz publicar
fenômenos como esse é a urgência que se faz diante dessas realidades sociais no conjunto do
território que compõe as mesorregiões, tanto do sertão quanto das outras áreas do Estado.
Neste circuito estão inseridos os movimentos sociais que lutam por terra e por reforma agrária
no estado da Paraíba. Refiro-me aos seguintes movimentos: (MST) Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, (CPT) Comissão Pastoral da Terra e (MAB) Movimento dos
Atingidos por Barragens, alem de outros com causas especificas como os indígenas e
quilombolas. Todos atuantes no Estado da Paraíba. Mas nossa proposta inicial é analisar
somente os acampamentos do MST e da CPT, tendo em vista que somente acampamentos
destes dois últimos movimentos foram analisados in loco, a partir do trabalho de campo.
Como resultados parciais, estamos apenas divulgando a pesquisa em eventos regionais,
nacionais e internacionais por meio de banners, resumos e artigos. Ate o momento publicamos
um 1 artigo científico no XVI ENCUENTRO DE GEÓGRAFOS DE AMÉRICA LATINA,
que esta ocorrendo em La Paz - Bolivia, entre os dias 17 a 21 de Abril de 2017. Nossas
expectativas ate a conclusão da pesquisa é: Atender os Assentamentos e suas respectivas
escolas rurais, propostos neste projeto de pesquisa, tendo em vista que os trabalhadores
acampados não usufruem do direito a uma escola no acampamento; Desenvolver/participar 1
trabalhos de conclusão de curso de graduação em Geografia ao longo dos 12 meses da
pesquisa; Promover um Seminário de formação/capacitação sobre a proposta pedagógica da
Educação do/no Campo, para os alunos pesquisadores, professores e lideranças dos
movimentos sociais do campo, envolvidos neste projeto e nas pesquisas inerentes à questão
agrária do Semiárido; Organizar e fortalecer o Centro de Estudos Agrários e do Trabalho
(CEAT/Campina Grande/PB), coordenado por mim junto ao Departamento de Geografia do
Centro de Educação - Campus I.
Referências
Introdução
Objetivos
Geral
- Observar a paisagem da comunidade, identificando os elementos naturais e sociais
apresentados no espaço do campo, citando sua utilidade para o desenvolvimento local.
Específicos
- Compreender o conceito de paisagem e sua variação de acordo com o ambiente;
- Reconhecer a paisagem como sendo elemento de transformação;
- Diferenciar os elementos que compõem a comunidade de Zumbi dos Palmares.
Metodologia
A partir do planejamento da aula, buscou-se a participação do alunos através de:
1- Roda de conversa sobre o tema exposto, com apresentação de imagens que mostra os
diferentes tipos de paisagem. Caracterização da comunidade em que eles residem:
árvores, plantações, construções, utilização dos recursos naturais, ambientes de lazer e
principais fonte de renda.
2- Saída a campo para entendermos na prática o conceito de paisagem. Observação do
ambiente, tipos de atividades que os moradores estavam fazendo naquele momento.
Observação e caracterização dos elementos naturais e sociais existentes nesta
comunidade. A utilização destes elementos para melhoria da vida das famílias e como
eles são utilizados pela comunidade. A chuva muda a paisagem? Traz benefícios?
Problemas? Quais?
3- Aplicação de um questionário com questões abertas sobre o tema;
4- Atividade em grupo para elaboração em cartolina de uma paisagem de seu interesse.
Depois exposição destes trabalhos e o porquê de ter escolhido aquela imagem.
Resultados
Esta atividade foi desenvolvida em apenas uma manhã através das atividades
mencionadas acima, onde nós saímos do espaço escolar para o extra escolar com o objetivo de
conhecer sobre o tema na prática, observando, analisando e comparando. A aplicação do
questionário foi bastante produtiva, com questões abertas para que eles respondessem de
acordo com seu conhecimento. Teve-se um pouco de dificuldade em responder as questões
devido a escrita, mas com calma e auxílio do professor todos responderam com sucesso cada
questão. Com relação ao trabalho em grupo, a confecção de um desenho que retratasse uma
paisagem que eles acham interessante, todos destacaram imagens de sua rotina, ou seja, o
espaço campesino onde residem.
Conclusão
Observou-se nesta atividade que os alunos se interessaram na aula por fazer parte do
seu cotidiano, como foi citado neste relado. A saída a campo despertou o interesse deles na
participação e desenvolvimento da aula. Todos tiveram a chance de expor, questionar e
perguntar sobre a temática citada.
Referências
Novo girassol saberes e fazeres do campo: língua portuguesa, geografia e história, 4° ano. --
1. Ed.-- São Paulo: FTD, 2014. – (coleção novo girassol saberes e fazeres do campo).
Resumo
Este trabalho relata nossa experiência com o projeto de Extensão: "Juventude do Campo:
identidades e representações", em desenvolvimento desde primeiro semestre de 2016 no
Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal da Grande Dourados
– UFGD. O projeto tem por intencionalidade a formação de agentes culturais nos
assentamentos rurais, na perspectiva da educação e cultura para a visibilidade social junto aos
jovens do campo. Orienta se nas discussões recentes acerca do desenvolvimento integral e
sustentável nas áreas de reforma agrária, em especial a discussão sobre a relação entre
desenvolvimento territorial, cultura e educação.A relação com estes/as acadêmicos/as tem
permitido uma aproximação maior da problemática dos assentamentos e suas escolas.
Diagnósticos feitos nesta área apontam para persistência do êxodo rural entre as camadas mais
jovens desta população. Percebe-se assim toda a complexidade que envolve o
desenvolvimento das comunidades. Sobretudo, chama atenção a demanda apresentada pelas
gerações mais novas por projetos de desenvolvimento nos assentamentos que contemplem
ações na área de cultura e lazer. A utilização e a busca pelo domínio de ferramentas
tecnológicas e o investimento em equipamentos de tecnologia nas unidades produtivas,
fazem-se necessárias com ações que extrapolem o espaço escolar trabalhando questões
concernentes a identidade do jovem assentado, sobretudo na formulação de seu projeto de
vida, na constituição de espaços de lazer e na socialização.Observa-se a necessidade do
desenvolvimento de abordagens teóricas e metodológicas capazes de suscitar junto a
educadores e educandos/as das escolas do campo a reflexão sobre as identidades,
considerando os complexos processos de transição e conflito a que estão sujeitos. O desafio
teórico da presente proposta consiste então em apostar numa leitura da realidade junto aos
jovens e adolescentes, onde o campo ressurge como um território específico, um espaço de
vida, alternativo à cidade, onde camponeses são atores sociais, protagonistas de seus
processos. Nesse sentindo, por meio do acesso as linguagens como a arte cênica, a música, o
cinema e a fotografia, o objetivo geral é propiciar a grupos de professores das escolas
estaduais e municipais dos assentamentos e aos acadêmicos do Curso de Licenciatura do
Campo, espaços para manifestação de suas demandas, reflexão e elaboração de seus projetos
de vida. As oficinas tem buscado explorar e oportunizar um fazer artístico que prime pela
criatividade, de forma que as práticas sejam cada vez mais autônomas e possam assim
imprimir as sensações e o realizar artístico de forma protagonista. No termo criatividade não
há um consenso em relação a sua definição, mas um ponto convergente é a urgência do novo,
algo que para alguns setores da sociedade é tido como inovador e pode não ser a outros
setores (BEINEKE, 2012). Nesse caso o campo, como um espaço de vida, ainda observamos
poucas ações de formação, produção e circulação das linguagens artísticas que estamos
tratando.Para isso propomos como objetivos específicos: - Através de oficinas de teatro,
música, cinema e fotografia junto a jovens e adolescentes de escolas do campo, sistematizar
narrativas biográficas e representações de identidade étnico-racial, de gênero e de geração que
possam referenciar materiais didáticos na educação do campo; - Oferecer aos jovens e
adolescentes instrumentos de ação cultural e comunicação social, avançando na inclusão
social e ampliação da cidadania; - Avançar na tomada de consciência acerca da distribuição
de papéis e espaços sociais nos assentamentos de reforma agrária, na complexidade que
envolve as relações de geração e gênero nas comunidades e a relação cidade-campo como um
todo; - Contribuir, através do levantamento do universo temático junto aos jovens, suscitado
pelas ações de pesquisa e extensão, com o desenvolvimento e disseminação das políticas de
Educação do Campo, tanto no contexto imediato das escolas dos Assentamentos quanto no
trabalho de pesquisa articulado pelos programas abrigados na UFGD.O projeto articula
algumas referências teórico/metodológicas, em especial a História de Vida (TABONE, 2002;
VELHO, 1994); a Estética do Oprimido (BOAL, 2009) e o Cinema, Educação e Direitos
Humanos (Projeto Inventar com a Diferença MIGLIORIN, Cezar [et al.]. 2014) . Cada uma,
propõe a descolonização da memória e do imaginário do ser humano através de diálogo
cultural com outros, por meio de processos de sensibilização, auto-leitura, auto-
conscientização e transformação coletiva. Utilizando teatro, dança, música, cinema,
fotografia, escultura e poesia – linguagens de expressão, reflexão e performance – essa teoria
metodológica busca uma leitura alerta do mundo através de uma auto-leitura íntima e
questionadora de nossa subjetividade, para revelar suas histórias de subjugação, auto-
sacrifício e exclusão, inscritas em nossos gestos e reflexos pessoais e coletivos. Para a partir
dessas construções e consciência de si e do outro orientar projetos de vidas individuais e
coletivo.
Conclusão
Referências
BARRETO, Ângela Rabelo et al. Alcançar os excluídos da educação básica: crianças e
jovens fora da escola no Brasil. Debates ED Nº 03 Brasília: UNESCO, 2012, disp.
http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002163/216306por.pdf (jan. 2015)
BEINEKE, Viviane. Revista Educação UFSM, ISSN – 0101- 9031.v 37, n.1 p 45-60.
BOAL. Augusto. Estética do oprimido. Rio de Janeiro : Garamond, 2009
CASTRO. Elisa Guaraná de. Os jovens estão indo embora?: Juventude Rural e Reforma
Agrária, in Revista Proposta no 107/108 DEZ 2005/MAR 2006
IV Encontro de Pesquisas e Práticas em Educação do Campo da Paraíba ISBN 978-85-237-1353-9
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Resumo
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Professora formadora do Programa Escola da Terra (MEC/UFRN/SEEC-RN) e orientadora do Projeto de
Intervenção. Possui graduação em Pedagogia (UFRN-2004), Mestrado em Educação (UFRN-2012), Doutoranda
do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN (2014-2017), vinculada à Linha de Pesquisa Práticas
Pedagógicas e Currículo, desenvolvendo pesquisa na área de Formação Docente no Campo.
Realizamos uma reunião com os pais para apresentar a proposta do projeto e a necessidade da
parceria entre escola e família. Na perspectiva de Caldart (1999), a escola do campo é um
lugar rico em conhecimento que tem contribuído para a formação do ser humano e para a
construção da identidade do camponês. A criança que chega à escola representa uma nova
oportunidade de ser e fazer no mundo. (DELGADO e MÜLLER, 2005). Face a essa
compreensão, afirmamos que a criança, desde cedo, já tem a capacidade de valorizar o meio
social no qual, com o incentivo do adulto, esses hábitos alimentares saudáveis serão mais
aguçados, especialmente porque é a partir dessa fase da vida que ela vai se apropriando
progressivamente de sua cultura. (SILVA e PASUCH, 2010). Nesse entendimento, realizamos
as seguintes etapas didáticas: 1) Palestra para alunos e responsáveis sobre a importância da
boa alimentação, com a nutricionista da secretaria municipal de saúde; 2) Em parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), foi oferecido às mães das crianças um
curso de fabricação de doces e outro de fabricação de produtos derivados da macaxeira,
durante duas semanas, no contraturno na escola; 3) Contação de histórias com o livro
―Camilão, o comilão‖ de Ana Maria Machado; 4) Confecção de cartazes pelas crianças
alusivos ao tema; 5) Atividades linguísticas com letras e nomes das frutas, com auxílio de
material concreto, tais como imagens, alfabeto móvel e atividades xerocadas; 6) Roda de
conversas, caixa de surpresas e atividades de desenhos referentes à alimentação saudável; 7)
Exibição de vídeos 'O Pomar' e 'Amanda no País das Vitaminas', para discutir sobre o que se
come e o que se deve comer, além de como produzir alimentos livres de agrotóxicos; 8)
Vivência musical com a música 'Come-Come'; 9) Construção de mini-horta para formar
atitudes de sustentabilidade e compromisso ecológico individual e social; 10) Aula-passeio
pela comunidade para observação e identificação das árvores frutíferas; 11) Ao final do
Projeto, fizemos a salada de fruta com as crianças, estimulando o consumo de frutas e
mostrando práticas de higiene. Como avaliação da aprendizagem, observamos que foi
possível problematizar e debater com alunos, responsáveis e a comunidade a respeito da
importância alimentação saudável. Percebemos maior aceitabilidade das frutas por parte das
crianças. Além disso, o Projeto promoveu a valorização e o estímulo à prática da agricultura
como atividade econômica, cultural, social e saudável. Assinalamos que isso foi possível
devido ao trabalho coletivo local, demonstrando que a intervenção produziu experiências as
quais incidiram diretamente em mudanças de atitudes, valores e ressignificação de saberes
sociais tão imprescindíveis no projeto de vida para o campo.
Referências
CALDART, Roseli Salete. Por Uma Educação do Campo: traços de uma identidade em
construção. In.: KOLLING, Edgar Jorge, CERIOLI, Paulo Ricardo e CALDART, Roseli
Salete. Educação do Campo: identidade e políticas públicas. Brasília, DF: Articulação
Nacional ―Por Uma Educação do Campo", Coleção Por Uma Educação do Campo, n. 4, 1999.
Resumo
Deste ponto de vista pedagógico, compreendemos que estas mudanças nas políticas
educacionais produzem imposições, reorientações e rupturas com os itinerários formativos de
muitas crianças, jovens e adultos que compõem o alunado da Educação do Campo no Brasil e,
mais especificamente, das escolas de Caraúbas-PB. O Currículo é território político-
epistêmico no qual se expressam disputas de poder sobre as intencionalidades, as formas, as
cosmovisões e as práticas que legitimam e levam a cabo determinado projeto pedagógico de
formação de sujeitos. Sempre que há Currículo, há disputa de poder pelo pedagogicamente
válido e socialmente legitimável (SANTOMÉ, 2013). Assim, o Currículo se apresenta como
uma dimensão educacional marcada pelas seleções culturais, políticas e pedagógicas e pelos
consensos temporários decorrentes destas disputas (SACRISTAN, 2000). Ressaltamos que no
contexto campesino, o Currículo foi historicamente alvo de disputas epistemológicas,
ancoradas em disputas por projetos de sociedade e de formação para os povos do campo.
Estas disputas se expressam também nas atuais reformas educacionais, que por sua vez que
ancoram em disputas sociais e políticas mais amplas que as presidem. Assim, a zona de
conflito está nos latifúndios territoriais e nos latifúndios dos conhecimentos curriculares.
Neste sentido, torna-se necessário a escuta e o diálogo com os outros sujeitos protagonistas
das outras pedagogias gestadas no campo (ARROYO, 2012) através dos encontros formativos
realizados. As intenções que embasaram a escolha dos objetivos e do itinerário de conteúdos
deram-se atreladas a compreensão de que a Avaliação da Aprendizagem é um dos elementos
responsáveis pela organização do trabalho pedagógico, evidenciando os arranjos e as
regulações necessárias ao alcance dos objetivos educacionais. Nesse sentido, de um lado, a
Avaliação da Aprendizagem assentada num projeto de educação liberal conservador,
certamente assumirá o papel de ferramenta de controle de condutas (LUCKESI, 2011),
oferecendo uma visão instrumental do conhecimento (ÁLVAREZ-MÉNDEZ, 2002) e
utilizando as mais perversas formas de amedrontar e coagir os educandos, para fins de
manutenção da segregação entre os ditos aptos ou merecedores de ascensão. Por outro lado,
um projeto de educação engajado com a ideia de justiça e transformação social, compreende e
utiliza a Avaliação como processo dialógico, que articula os sentidos que atribuímos à
formação do sujeito, à compreensão do que é conhecimento, agindo na direção de ajustar os
caminhos mais apropriados para promover essa relação. A metodologia utilizada nos
encontros foi a de roda de conversa junto aos professores (as) do município de Caraúbas-PB,
priorizando a relação de contextualização entre os temas apresentados e o cotidiano escolar
dos professores (as) participantes. A vivência das intervenções mostrou: a) a ausência de
discussão coletiva sobre algumas reformas educacionais (BNCC, Escola Sem Partido,
Reforma do Ensino Médio, etc); b) entraves de contextualização curricular relacionados aos
livros didáticos e à prática curricular; c) resistências metodológicas de contextualização dos
professores através de projetos e práticas curriculares próximas do contexto sócio-cultural dos
alunos; e) lacunas na formação inicial e continuada acerca da avaliação da aprendizagem para
além da sua dimensão prática; f) necessidade promover debates sobre a avaliação enquanto
espaço de poder e de disputa por poder.
Referências
ÁLVAREZ-MÉNDEZ, Juan Manuel. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
SACRISTÁN, J. G. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed,
2000.
Resumo
Referências
Resumo
Esse trabalho tem o objetivo socializar uma atividade realizada sobre o Tema Gerador
―Reserva Ambiental‖ na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental
Tiradentes, localizada no assentamento de igual nome, no município de Mari/PB. A história
dessa escola confunde-se com a história do assentamento, uma vez que começou a funcionar
num galpão da Antiga Fazenda Gendiroba, já no momento do acampamento. No ano seguinte
foi transferida para uma casa, permanecendo até o ano 2010. Após várias discursões com o
gestor público e paralisações para construção de uma escola os assentados conseguiram
construção do um prédio próprio. Conforme dados de matrícula, no ano de 2017, a escola
atende aproximadamente 200 estudantes da Educação Infantil, Anos Iniciais e Finais do
Ensino Fundamental, nos turnos manhã e tarde.
O mau uso da reserva ambiental pelos assentados despertou o interesse dos professores
da escola em elaborar um plano de atividades para problematizar o tema em sala de aula. A
introdução do tema para os estudantes aconteceu através de uma apresentação para todos os
estudantes da escola, utilizando-se o teatro de fantoches, que, de forma lúdica, problematizou
a degradação da reserva ambiental, provocada pelo seu mau uso. Em sala de aula, cada
professor conduziu as atividades de acordo com o nível de aprendizagem dos estudantes. As
atividades pedagógicas, tematizando a reserva ambiental durou vários dias, através de
atividades, perpassando pela interdisciplinaridade. As aulas não se restringiam a sala de aula,
pois provocavam os educandos a interação com situações, envolvendo os moradores do
assentamento.
Das atividades realizadas, destaca-se a aula de campo com os estudantes na reserva
para observar a degradação da área, tipos de insetos, animais e plantas existentes, coletas de
tipos de folhas, registro fotográfico e catalogação de insetos. Em sala de aula a temática foi
abordada através de atividades diferenciadas, tais como: confecção de cartazes, convites,
produção de textos, produção de panfletos com os 10 mandamentos sobre reserva. A
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Professora da Educação Básica no município de Mari/PB, atuando na Escola Municipal de Educação Infantil
e Ensino Fundamental Tiradentes-Assentamento Tiradentes.
culminância das atividades aconteceu com a realização de uma caminhada feita pelos
estudantes e professores, pelo assentamento, momento em que foi entregue aos moradores um
panfleto confeccionado pelos próprios estudantes, denominado por ele de ―Os dez
mandamentos da Reserva Ambiental‖, versando sobre a preservação da área.